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www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
1
2 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
3
12<br />
FÓRUM<br />
13<br />
ON-LINE<br />
E MURAL<br />
14<br />
ZOOM+<br />
18<br />
BLOCO<br />
DE NOTAS<br />
SUMÁRIO<br />
22<br />
MÍDIA+<br />
24<br />
IMÓVEIS+<br />
26<br />
EXPERIÊNCIAS<br />
114<br />
CONTE AÍ<br />
6 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
64<br />
VERDE +<br />
CRIATIVA<br />
Os dois termos são recentes,<br />
mas o expressivo crescimento<br />
desses setores demonstra que o<br />
cenário não deve ser facilmente<br />
revertido. Somente o Sebrae<br />
pretende investir na Bahia,<br />
até 2015, R$ 17 milhões para<br />
fomentar o setor de economia<br />
criativa. Diante dos novos<br />
desafios globais, a economia<br />
baiana exibe expoentes que<br />
trabalham com soluções<br />
criativas e sustentáveis.<br />
76<br />
ENTREVISTA<br />
Planejamento estratégico<br />
para inovar e posicionar<br />
marcas. Rodrigo Hurtado e<br />
Ingrid Queiroz comandam a<br />
jovem empresa baiana DMI.<br />
Criatividade, tecnologia são<br />
termos diários na agência que<br />
aposta em uma comunicação<br />
“transmidiática” para<br />
solucionar os desafios<br />
dos clientes.
EDUCAÇÃO 34<br />
A formação de jovens<br />
talentos baianos. Incubadoras,<br />
experiências no exterior<br />
e estudos estão entre as<br />
atividades desses futuros<br />
profissionais.<br />
PRO BEM 58<br />
Soluções para o lixo em hotéis.<br />
Veja o que a Verdecoop e o<br />
Hotel de Lençóis estão fazendo.<br />
MODA 80<br />
As bolsas de Irá Salles. A<br />
baiana formada em Nova York<br />
exporta brasilidade.<br />
MÚSICA 96<br />
Artistas locais produzem novas<br />
sonoridades, criam redes e<br />
reconfiguram a maneira de se<br />
fazer negócios.<br />
NEGÓCIOS 31<br />
START UP 32<br />
Estudantes com espaço internacional<br />
CAFÉ E CULTURA 38<br />
Unir o sabor com a sabedoria<br />
SÃO JOÃO 42<br />
O bate-volta é aposta este ano<br />
[C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48<br />
SUSTENTABILIDADE 49<br />
TENDÊNCIAS 50<br />
Seis caminhos para a gestão sustentável<br />
ESTÁDIOS SOLARES 52<br />
Pituaçu agora com energia solar<br />
CARTA DA TERRA 54<br />
Valores por um mundo melhor<br />
[C] ISAAC EDINGTON 60 | [C] MARCO PELLEGATTI 62<br />
ARQUITETURA 84<br />
Construções sustentáveis<br />
VIAGEM 88<br />
Aventura de moto nos Andes<br />
SABOR 90<br />
Arroz negro de polvo<br />
NOTAS DE TEC 92 | PLANO + 94<br />
LIFESTYLE 79<br />
ARTE & ENTRETENIMENTO 95<br />
3 HISTÓRIAS 102<br />
Maria Adair, Ricardo Franco e Cecília Menezes<br />
FOTOGRAFIA 106<br />
Márcio Mascarenhas conecta Bahia e Londres<br />
APLAUSOS 110<br />
O que merece ser aplaudido<br />
[C] JORGE CAJAZEIRA 112 | [C] MARCO PELLEGATTI 44<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
7
EDITORIAL<br />
Quando questionada por um repórter se o<br />
tema sustentabilidade já tinha sido ultrapassado,<br />
Gro Brundtland, ex-ministra do Meio Ambiente<br />
da Noruega e uma das criadoras do termo<br />
desenvolvimento sustentável, respondeu firme,<br />
sem titubear: “Não. Não passou porque ainda<br />
nem aconteceu.”<br />
Brundtland, aos 73 anos de idade, segue a<br />
caminhada em busca desse mundo mais justo e<br />
sustentável. E ela não está sozinha. Encontra-se<br />
com líderes de nações, empresas, organizações,<br />
dissemina o conceito e contribui com soluções<br />
para os desafios globais.<br />
Soma-se à sustentabilidade, o novo e<br />
abrangente conceito da economia criativa.<br />
Originária do termo “indústrias criativas”<br />
e inspirada no projeto CreativeNation, da<br />
Austrália, de 1994, essa economia defende o<br />
trabalho criativo como fundamental para a<br />
produção não poluente, inovação tecnológica,<br />
geração de emprego e renda, qualificação de<br />
novos profissionais e promoção da inclusão<br />
social.<br />
Ambos, a economia verde e a economia<br />
criativa, ainda podem estar no começo. Porém<br />
reluzem como alternativas viáveis para uma<br />
nova economia global, apoiada pelas Nações<br />
Unidas, tendo como carros-chefes os Estados<br />
Unidos, China e países europeus. O Brasil<br />
também começa a se movimentar nessa direção.<br />
Mas, afinal, de que maneira essas tendências<br />
reinventam o modo se fazer negócio? E como a<br />
Bahia se apresenta nesse cenário?<br />
As páginas da edição 13 da [B + ] descortinam<br />
esses fatos e apresentam o que o setor produtivo<br />
baiano faz a respeito desses temas. Também<br />
mergulhamos fundo para conhecer quem são os<br />
profissionais que reconfiguram a economia do<br />
estado e como os jovens se preparam para esse<br />
novo ambiente de negócios.<br />
O resultado inclui casos de sucesso nas áreas<br />
criativa e sustentável, tanto por parte de grandes<br />
empresas, como também de micro e pequenos<br />
empresários; soluções inovadoras e criativas de<br />
pesquisadores que ganharam destaque nacional<br />
e agora colhem reconhecimento internacional;<br />
perfis de pessoas que fazem da arte uma chave<br />
para abrir portas do mercado e conectar a Bahia<br />
com o cenário global.<br />
Uma edição que retrata a busca de uma<br />
economia cada vez mais dinâmica, moderna e<br />
diversificada.<br />
Boa leitura. A Redação.<br />
8 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
9
EXPEDIENTE<br />
Conselho Editorial<br />
César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio<br />
Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho,<br />
Isaac Edington, Jack London, Jorge<br />
Portugal, José Carlos Barcellos, José<br />
Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho,<br />
Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin,<br />
Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos<br />
Segundo e Sérgio Nogueira<br />
Conselho Institucional<br />
Aldo Ramon (Júnior Achievement)<br />
Antônio Coradinho (Câmara Portuguesa)<br />
Antoine Tawil (CDL)<br />
Jorge Cajazeira (Sindipacel)<br />
José Manoel Garrido Gambese Filho<br />
(ABIH-BA)<br />
Mário Bruni (ADVB)<br />
Mauricio Castro (Fieb)<br />
Paulo Coelho (Sinapro)<br />
Pedro Dourado (ABMP)<br />
Renato Tourinho (Abap)<br />
Wilson Andrade (Abaf)<br />
Diretor Executivo<br />
Claudio Vinagre<br />
claudio.vinagre@revistabmais.com<br />
Editor Chefe<br />
Fábio Góis<br />
fabio.gois@revistabmais.com<br />
Repórteres<br />
Brisa Dultra, Carolina Coelho<br />
e Murilo Gitel<br />
10 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Projeto Gráfico e Diagramação<br />
Person Design<br />
Fotografia<br />
Stúdio Rômulo Portela<br />
Revisão<br />
Rogério Paiva<br />
Colaboradores<br />
Ana Paula Paixão, Andréa Castro,<br />
Danilo Lima, Débora Castelo Branco,<br />
Eduardo Santos, Emanuelle Xisto, Felipe<br />
Arcoverde, Felipe Zamarioli, Gina Reis,<br />
Hélio Tourinho, Larissa Seixas, Lilian<br />
Mota, Marcelo Negromonte, Marcos<br />
Maciel, Marisa Viana, Maurício Castro,<br />
Milena Miranda, Raíza Tourinho, Rogério<br />
Borges, Uilma Carvalho, Vinícius Silva,<br />
Yasmin Queiroz, Yuri Rosat<br />
Colunistas<br />
Isaac Edington, Jorge Cajazeira, José<br />
Renato Mendonça, Luiz Marques Filho,<br />
Marco Pellegatti, Núbia Cristina<br />
Portal<br />
Enigma.net<br />
Redes Sociais<br />
Person Mkt<br />
A edição 13 traz na capa a produção da<br />
agência Leiaute. Agradecemos a Raul<br />
Rabelo (diretor de criação), Rogério<br />
Chetto (diretor de criação), Victor Azevedo<br />
(diretor de arte), Adriana Mira (diretora<br />
de atendimento), Gigi Chiacchiaretta<br />
(coordenadora de produção e operações),<br />
Bruna Lopes (relações-públicas), Marcelo<br />
Almeida (arte final), Micheline Chahoud<br />
(revisora), Marina Palmeira (banco de<br />
imagem). Fotos do Stúdio Rômulo Portela.<br />
A cada edição, uma nova equipe é<br />
convidada para produzir a capa da <strong>Revista</strong><br />
[B + ]. Uma iniciativa que visa dar destaque<br />
aos profissionais do nosso mercado.<br />
Tiragem: 10 mil exemplares<br />
Periodicidade: Bimestral<br />
Impressão: Grasb<br />
Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss<br />
170g/m 2 e miolo impresso em papel Couché<br />
Suzano® Gloss, 95g/m 2 , da Suzano Papel e<br />
Celulose, produzidos a partir de florestas<br />
renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada<br />
foi plantada para este fim.<br />
Realização<br />
Editora Sopa de Letras Ltda.<br />
CNPJ<br />
13.805.573/0001-34<br />
Redação [<strong>B+</strong>]<br />
redacao@revistabmais.com<br />
www.revistabmais.com<br />
Publicidade<br />
publicidade@revistabmais.com<br />
Cidinha Collet - gerente comercial<br />
cidinha.collet@revistabmais.com<br />
Itamara Morais<br />
itamara.morais@revistabmais.com<br />
Walter Monteiro<br />
walter.monteiro@revistabmais.com<br />
SALVADOR<br />
71 3012-7477<br />
Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center,<br />
sala 1102, Loteamento Cidadela,<br />
Brotas CEP: 40.280-000<br />
SÃO PAULO<br />
11 3438-4473<br />
Rua José Maria Lisboa. 860/83<br />
CEP: 01.423-001
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
11
FÓRUM DE LIDERANÇA<br />
CAPA DA EDIÇÃO 12 DA [B + ], A HISTÓRIA<br />
DE MÔNICA BURGOS E CÉSAR<br />
FÁVERO COM A AVATIM – CHEIRO<br />
DA TERRA PROVOCOU REFLEXÕES<br />
DOS EMPRESÁRIOS E EXECUTIVOS<br />
PRESENTES NO TERCEIRO FÓRUM<br />
DE LIDERANÇA, REALIZADO DIA 16 DE<br />
MAIO, NO RESTAURANTE BABY BEEF.<br />
O café da manhã teve como principal objetivo<br />
promover o empreendedorismo, através da troca de<br />
experiências: “O mais destacável é que as pessoas não<br />
vieram só pra trocar cartões, elas vêm para aprender,<br />
observar novos comportamentos empresariais e aplicar<br />
dentro de seus negócios”, afirmou Mônica, após a<br />
palestra.<br />
Para o membro do conselho editorial da [B + ]<br />
Isaac Edington o Fórum de Liderança visa promover a<br />
economia local, complementando a proposta da revista:<br />
“Nossa missão é estimular o empreendedorismo com a<br />
divulgação de boas iniciativas e de encontros como este,<br />
para que haja um intercâmbio de ideias”.<br />
Patrocinado pela TIM, o Fórum de Liderança<br />
reuniu mais de 120 pessoas do setor produtivo baiano,<br />
proporcionando mais uma vez a oportunidade de debater<br />
o cenário empresarial do estado.<br />
Evandro Mazo (Fieb/Cieb)<br />
Izabella Borges (Sindpacel)<br />
Javier Trinidad<br />
(Diretor Brasil Iberostate)<br />
Ivanilson Medeiros (TIM), Eliana Santos<br />
e Rubem Reis (Grupo São Roque)<br />
Gilson Sampaio<br />
(Diretor Câmara Portuguesa)<br />
Silvio Cruz, Ademar Filho, Patrícia<br />
Leal e Cesar Carvalho (TIM)<br />
12 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Vista geral do Fórum de Liderança<br />
Mônica Burgos entre a equipe da [B + ]. Rubem Passos,<br />
Fábio Góis, Claudio Vinagre, Isaac Edington e Luiz Marques<br />
Cidinha Collet (comercial [B + ])<br />
e Marcos Peixoto (Business TIM)<br />
Potyra Lavor (TV Aratu) recebe<br />
brinde de sorteio da TIM<br />
Fábricio Barreto (Sebrae)<br />
FOTOS: Danilo Lima<br />
Marcos Costa (Comtecno), Luiz Blanc<br />
(ABIH) e Sérgio Guanabara (Sefaz)<br />
Christiane Bruni (Conquest Operadora)<br />
e Mário Bruni (conselheiro ADVB-BA)<br />
Carlos Henrique Barreto (Digital Signage)<br />
recebendo brinde no sorteio da Avatim
ON-LINE E MURAL<br />
[+] NO SITE<br />
www.revistabmais.com<br />
Selecionamos diversos vídeos sobre temas abordados na<br />
matéria MPB com H (pag 96). Você encontra clipes de Lucas<br />
Santtanna, o programa “Mê de Música”, vídeos do mestre<br />
Lourimbau, além de outros conteúdos audiovisuais.<br />
Recebi minha primeira [B + ]. Estou encantada, sem<br />
palavras para descrever o trabalho de vocês!<br />
Flávia Gusmão<br />
Quero registrar a revista [B + ] como uma nova<br />
força e um impulso positivo para nosso estado.<br />
No conselho editorial encontrei nomes de pessoas<br />
especialmente (pró) ativas, com quem já tive a sorte<br />
de trabalhar. Sucesso para a revista e para a Bahia.<br />
Tuzé<br />
Excelente a apresentação de Mônica Burgos. Mostrou a<br />
sua força. Aprendi muito. Parabéns a Avatim e [B + ].<br />
Renata Souza<br />
É um ótimo trabalho que fazem com o cacau<br />
em Ilhéus. A matéria retratou essa história.<br />
Patrícia Póvoa<br />
ERRAMOS! Informações da edição 12 que queremos corrigir:<br />
1. Na matéria a Força da Economia no Interior, o gerente-geral<br />
do Centro das Indústrias do Estado da Bahia é Evandro Mazo.<br />
2. O designer Claudio Marcelo Reis posa na foto com Stephanie<br />
Powers, do Casal Vinte, e não Lynda Carter, a Mulher Maravilha.<br />
FOTO: Daryan Dornelles<br />
Sobre a edição 12<br />
Este rapaz já era desenhista na<br />
quinta série do colégio Anisio<br />
Teixeira. Tive a honra de tê-lo como<br />
aluno. Ainda guardo seus desenhos.<br />
Silvania Capua<br />
Sempre que vejo notícias de meu<br />
amigo, compartilho. Todas as boas<br />
pessoas deviam ter o privilégio de<br />
conhecer esse homem.<br />
Paloma Santos<br />
FOTO: Divulgação<br />
A trajetória do designer Claudio Marcelo foi retratada<br />
na matéria “Talento baiano em Hollywood”<br />
Comentários, sugestões de pautas e<br />
correções: redação@revistabmais.com<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
13
ZOOM+<br />
AEROCLUBE<br />
QUER SER SHOPPING DE VAREJO<br />
O ambiente é de abandono e descaso.<br />
Falar com jornalistas não agrada<br />
a ninguém ali. Fotos, nem pensar<br />
Os novos planos para o antigo<br />
shopping de lazer incluem subir<br />
paredes, trazer grandes redes<br />
varejistas e esperar por um público<br />
ávido por bens de consumo em<br />
vez de entretenimento. Mas<br />
para chegar a esse futuro, o<br />
empreendimento ainda paga caro<br />
por ROGÉRIO BORGES<br />
14 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rogério Borges<br />
Q<br />
uando as obras de reforma do antigo Aeroclube Plaza<br />
Show, na orla da Boca do Rio, foram judicialmente<br />
embargadas, em 2008, a ideia já era recuperar<br />
comercialmente um espaço nascido quase uma década antes,<br />
em 1999, sob o signo da ousadia conceitual. O shopping de lazer,<br />
instalado a céu aberto, como em uma vila à beira-mar, revelou-se<br />
estrategicamente mal-planejado e, anos depois da inauguração, o<br />
conceito já estava ultrapassado. Ainda hoje o Consórcio Parques<br />
Urbanos procura viabilizar aquele espaço. Pretende agora erguer<br />
um shopping tradicional, entre paredes, com grandes lojas de<br />
varejo e muito ar condicionado.<br />
Em agosto completa um ano que a Justiça permitiu a retomada<br />
das obras. Na Enashopp, que administra o Aeroclube, o diretor<br />
Edison Rezende mostra-se incomodado com a demora.
A área, de acordo com o Ministério<br />
Público Federal na Bahia, é parte<br />
de conjunto paisagístico tombado<br />
pelo Iphan desde 1959<br />
“Os empreendedores todos os meses colocam dinheiro lá para<br />
manter a estrutura em funcionamento”, afirma. A grande<br />
preocupação é chegar a um projeto que não sofra objeções por<br />
parte das autoridades, o que resultaria em mais prejuízos para<br />
todos. A área, de acordo com o Ministério Público Federal na<br />
Bahia, é parte de conjunto paisagístico tombado pelo Iphan<br />
desde 1959, que engloba 10 km de faixa litorânea de Salvador,<br />
entre o Jardim dos Namorados e Piatã.<br />
O que estava em questão era o tombamento patrimonial,<br />
além da construção do Parque dos Ventos na área contígua<br />
ao empreendimento. Sobreveio então o conceito “Aeroclube<br />
Shopping & Office”, que utilizava parte da estrutura para<br />
escritórios. Os empreendedores acenam agora com as lojas<br />
âncoras, tradicional estratégia para atrair consumidores – o<br />
que ainda terá que ser submetido aos órgãos competentes.<br />
De acordo com a Enashopp, o projeto em elaboração<br />
atende todas as exigências de todos os órgãos envolvidos.<br />
Por conta disso, a volumetria geral da área a construir, por<br />
exemplo, deve ser menor do que a atual, permitindo alguma<br />
visibilidade para o mar a partir da avenida. Edison Rezende<br />
ainda não sabe quanto, mas uma parte da atual estrutura será<br />
demolida. “Depende do projeto arquitetônico”, reafirma.<br />
Ele conta que o novo formato é fruto de pesquisa: “As<br />
pessoas não querem sofrer com as intempéries, com o sol,<br />
com a chuva”, diz. Além disso, “querem um shopping com<br />
cara de shopping”, incluindo as grandes lojas e não com<br />
ares de parque de lazer. Importante para os empreendedores<br />
é também substituir o público dos espetáculos musicais,<br />
dos cinemas, dos bares e restaurantes pelo consumidor de<br />
eletrodomésticos e de tudo o que ficar bacana na sala de<br />
visitas. Ao contrário do que ocorria nos anos 90, vivemos<br />
tempos de consumo em alta e o empreendimento tem de ser<br />
economicamente viável.<br />
Lojistas<br />
Salvador Oliveira, proprietário da lotérica que ainda funciona<br />
no Aeroclube, espera ansioso por esse público. Embora o<br />
movimento da loja esteja garantido pelo tipo de serviço<br />
prestado, ele quer usufruir dos benefícios de um verdadeiro<br />
shopping e “não ter que fechar às 17h por falta de segurança”.<br />
De acordo com Genilda Macedo, presidente da Associação<br />
de Lojistas do Aeroclube, os quase 20 lojistas remanescentes<br />
pagam apenas o condomínio, que mantém serviços mínimos.<br />
FOTO: Divulgação<br />
Edison Rezende, da Enashopp:<br />
preocupação em atender a todos<br />
os requisitos do licenciamento<br />
Rosângela Coutinho, uma das pioneiras – e<br />
sobreviventes – do antigo Aeroclube, mantém em<br />
funcionamento um misto de banca de revistas e<br />
livraria que representa toda a poupança de uma<br />
família. Ela resiste a abandonar o ponto comercial<br />
por absoluta falta de opção. “Se eu sair daqui, o<br />
investimento se perde”, diz. Na vitrine há uma<br />
página de jornal já amarelecida pelo sol. Não faz<br />
muito tempo que a notícia está lá: “Aeroclube<br />
muda o conceito e negocia com duas âncoras do<br />
setor de varejo”. Rosângela nada sabe sobre o<br />
novo projeto “a não ser o que sai na imprensa”.<br />
Apesar disso, falar com jornalistas não agrada<br />
muito a ninguém ali. Fotos, nem pensar. “Tem sido<br />
muito sofrido tudo isto e faz anos”, explica Genilda<br />
Macedo. “Continuamos à espera da solução”,<br />
diz. Para manter o ponto comercial funcionando,<br />
demitiu os quatro funcionários que tinha. “Faço<br />
tudo: compro, vendo, administro, atendo, limpo,<br />
abro e fecho”, resume.<br />
Assim como Rosângela, Genilda sobreviveu ao<br />
esvaziamento do Aeroclube quando a reforma foi<br />
embargada. A pequena loja de confecções estava<br />
localizada no acesso aos cinemas, fora do grande<br />
corredor central – hoje totalmente em ruínas e há<br />
anos cercado por tapumes.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
15
“Tem sido muito sofrido<br />
tudo isto. Continuamos<br />
à espera da solução”<br />
Genilda Macedo, presidente<br />
da Associação de Lojistas do Aeroclube<br />
Rosângela Coutinho resiste a sair do Aeroclube.<br />
A banca de revista é toda a poupança da família<br />
Em tempos de bonança, o Aeroclube reunia famílias baianas<br />
em áreas para compras, refeições, apresentações e shows<br />
16 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rogério Borges<br />
FOTO: Acervo<br />
Crimes ambientais<br />
Mesmo que um futuro venha a ser viabilizado, o<br />
passado continua a cobrar seu preço. De acordo<br />
com o Ministério Público Federal na Bahia, a Justiça<br />
Federal acolheu em março de 2012 uma denúncia<br />
oferecida contra duas empresas e quatro pessoas<br />
“envolvidas em crimes ambientais durante a<br />
reforma” do Aeroclube. Entre os denunciados estão<br />
a empresa líder do Consórcio Parques Urbanos, a<br />
empresa contratada para administrar o Consórcio,<br />
“bem como dois funcionários à frente das atividades<br />
ilegais e duas servidoras do Instituto do Patrimônio<br />
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que emitiram<br />
estudos enganosos para o licenciamento da obra”.<br />
A denúncia, movida pelo procurador da<br />
República André Batista Neves, argumenta que<br />
“quando as obras foram suspensas, o dano ambiental<br />
e paisagístico ao patrimônio tombado pelo Iphan já<br />
estava consumado, tendo sido atestado pelo Instituto<br />
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos<br />
Naturais Renováveis (Ibama)”.<br />
Segundo o MP, o processo de licenciamento<br />
das obras também foi obtido a partir da prática<br />
de crime contra a administração ambiental. Duas<br />
técnicas do Iphan teriam emitido, “na mesma<br />
data, pareceres contrários em relação à decisão de<br />
licenciar a reforma”. No primeiro parecer, reprovam<br />
o projeto de reforma e ampliação, que é submetido<br />
à superintendência do Iphan. O segundo parecer,<br />
assinado pelas mesmas servidoras, é favorável à<br />
obra, ratificado pelo superintendente interino do<br />
Iphan à época.<br />
Segundo a denúncia, o estudo técnico emitido<br />
pelas servidoras “continha informações incompletas<br />
e enganosas”. Em depoimento prestado à Polícia<br />
Federal, as denunciadas teriam admitido a alteração<br />
do parecer “por conta de pressão da imprensa,<br />
empresários, lojistas, associações civis e sociedade<br />
em geral”.<br />
Na denúncia, o MPF-BA requer a condenação<br />
da empresa líder do consórcio, da administradora e<br />
dos funcionários que ignoraram o cumprimento da<br />
lei por “alterar o aspecto ou estrutura de edificação<br />
ou local especialmente protegido por lei” e “em<br />
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,<br />
artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,<br />
etnográfico ou monumental, sem autorização da<br />
autoridade competente ou em desacordo com a<br />
concedida”. A pena é de reclusão de um a<br />
três anos e multa. [B + ]
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
17
Taximov<br />
BLOCO DE NOTAS<br />
Fábrica de queijos<br />
gera emprego e renda<br />
no oeste baiano<br />
Com um investimento de R$ 4,7 milhões,<br />
geração de 140 empregos diretos e mais de<br />
11 mil indiretos, a fábrica de queijos Ki Sabor,<br />
instalada no município de Serra Dourada,<br />
completou 16 anos de produção de<br />
queijo e manteiga em maio. O negócio vem<br />
contribuindo tanto para o desenvolvimento<br />
da região que até recebeu a visita do governador<br />
do estado para celebrar o aniversário.<br />
São mais de quatro mil fornecedores de<br />
leite da região, dentre eles pequenos produtores,<br />
estimulando a agricultura familiar<br />
local.<br />
Para poupar tempo de quem procura por táxi, o sistema de solicitação<br />
de táxi Taximov rastreia, através de GPS, veículos que estejam em um<br />
raio de sete quilômetros do usuário que acionar o serviço, seja por telefone,<br />
site ou aplicativo de smartphone. A expectativa do dono do negócio,<br />
Nathan de Vasconcelos Ribeiro, é que até 2014 seu ramo chegue<br />
às 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo. Por enquanto, apenas<br />
São Paulo recebe o serviço. Os usuários e taxistas devem preencher<br />
uma ficha com seus dados na internet e, ao acionar o sistema, é possível<br />
escolher especificidades como pagamento em cartão de crédito, ar-<br />
-condicionado, bagageiro grande ou um motorista que fale inglês fluentemente.<br />
É possível também usar vouchers, imprimidos pelo site, como<br />
crédito para pagamento das corridas. As informações são do Estadão.<br />
JAC Motors desembarca na<br />
Bahia primeiros automóveis<br />
vindos da China<br />
Mil automóveis modelo J5, da montadora<br />
chinesa JAC Motors, acabam de<br />
desembarcar no Porto de Salvador. A<br />
operação foi uma novidade: até então,<br />
a mercadoria chegava via Porto<br />
de Vitória, no Espírito Santo. A ação<br />
marca o início das operações da JAC<br />
na Bahia, dando início à sequência<br />
de iniciativas que vão culminar na<br />
inauguração, em 2014, da fábrica<br />
baiana.<br />
18 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Secom/BA<br />
Mais um passo para a Fiol<br />
Para a efetiva realização das obras, a Ferrovia<br />
Oeste-Leste ainda precisa de autorizações.<br />
O último avanço foi assinatura de<br />
um termo de cooperação técnica para as<br />
desapropriações das áreas abrangidas pela<br />
Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Rui<br />
Costa, secretário estadual da Casa Civil, e o<br />
presidente da Valec, Eduardo Castello, subscreveram<br />
o documento no dia 23 de maio,<br />
em Ilhéus. O acordo prevê responsabilidades<br />
para os dois envolvidos, para o devido<br />
processo de desapropriação da ferrovia.<br />
FOTO: Secom/BA
Grupo brasileiro alcança ranking<br />
da comunicação mundial<br />
A Advertising Age apontou o Grupo ABC como<br />
o 18º maior grupo de comunicação do mundo,<br />
segundo o ranking tradicional produzido pela<br />
revista americana. É a quinta vez consecutiva<br />
que o grupo brasileiro aparece na escala, que<br />
é liderada pelos gigantes da indústria da propaganda,<br />
WPP, Omnicom e Publicis Groupe.<br />
Associada ao Grupo ABC desde 2011, a Morya<br />
foi uma das grandes responsáveis pelo crescimento<br />
da empresa.<br />
Junior Achivement Bahia inicia<br />
o programa Miniempresa 2012<br />
As escolas públicas e privadas receberam, em<br />
maio, o programa Miniempresa, realizado pela<br />
Junior Achievement Bahia, com a participação<br />
de mais de 80 voluntários das áreas de marketing,<br />
recursos humanos, produção e finanças.<br />
A iniciativa traz a oportunidade, para centenas<br />
de alunos, de criar um produto e experimentar<br />
todas as ações relativas a um negócio,<br />
desenvolvendo seus mecanismos de venda durante<br />
um período de 20 semanas. No final do<br />
programa, as 20 miniempresas dos 16 colégios<br />
participantes vão comercializar seus produtos,<br />
num grande shopping da capital, com direito a<br />
formatura para comemorar a iniciativa. Confira<br />
o resultado no site da [B + ].<br />
FOTO: Divulgação<br />
Pesquisa do Ipea revela: trabalhador<br />
brasileiro quer mais tempo livre<br />
FOTO: Luciana Serra<br />
Da esquerda para direita: Guga Valente, Nizan<br />
Guanaes (Grupo ABC); Cláudio Carvalho; Fernando<br />
Carvalho e Gustavo Queiroz, (diretores da Morya)<br />
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) perguntou a<br />
3.796 brasileiros que moram em áreas urbanas das cinco regiões do<br />
Brasil, com mais de 18 anos, e que trabalham, o que fariam no seu<br />
tempo livre se tivessem sua jornada de trabalho reduzida. Deles,<br />
63,8% dedicariam seu tempo a outras atividades fora do ambiente<br />
de trabalho; para 39%, o tempo de trabalho compromete a sua qualidade<br />
de vida. Já 36,2% disseram que não sentiriam diferença, pois<br />
trabalham mais que as 44 horas semanais previstas na legislação.<br />
Ainda teve gente que falou que o trabalho atrapalha suas relações<br />
pessoais: 9,8% acham que o trabalho prejudica suas relações amorosas<br />
e 5,8% suas relações de amizade.<br />
Empresários baianos<br />
recebem prêmio de qualidade<br />
nos Estados Unidos<br />
O Grupo Empresarial Aldeia, presidido<br />
pelo empresário baiano Raimundo<br />
Lima, conquistou o Prêmio Internacional<br />
de Qualidade, na categoria ouro,<br />
concedido pela Business Initiative Directions<br />
(B.I.D). Presente há mais de<br />
dez anos em Angola, o Grupo Aldeia<br />
presta serviço ao Ministério de Educação<br />
do país e tem atuação nas áreas de<br />
educação, comunicação, agroindústria<br />
e empreendimentos.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
19
BLOCO DE NOTAS<br />
Arrecadação de ICMS<br />
O ICMS arrecadou R$ 1,2 bilhão durante<br />
o mês de abril. O incremento real do<br />
ICMS chegou a 10,22% em relação ao<br />
ano anterior. Foi o melhor resultado<br />
obtido pelo imposto no mês de abril em<br />
toda a série histórica e a terceira maior<br />
arrecadação obtida pela Secretaria da<br />
Fazenda. Esse bom desempenho foi observado<br />
também no IPVA, com aumento<br />
de 8,67%, e no Imposto Sobre Heranças,<br />
grande destaque pelo incremento de<br />
47,17%.<br />
Produtos da agricultura familiar<br />
baiana são apresentados aos<br />
hoteleiros<br />
O ‘Catálogo de Produtos da Agricultura<br />
Familiar’, iniciativa da Seagri/Suaf e da<br />
ABIH-BA, foi lançado para hoteleiros<br />
baianos. Vinte e duas cooperativas estão<br />
listadas no livro, que apresenta cerca<br />
de 50 itens, entre produtos in natura e<br />
manufaturados, do café da Chapada Diamantina<br />
à geleia de umbu que vem do<br />
Sertão. Os empreendimentos que comprarem<br />
a partir de R$ 6 mil nas cooperativas<br />
receberão um selo, o Certificado de<br />
Responsabilidade Social com a Agricultura<br />
Familiar da Bahia, que também se<br />
converterá em promoções e vantagens.<br />
Expansão do comércio baiano<br />
marca o último ano<br />
O aumento dos empregos formais na<br />
Bahia, ações promocionais de empresários<br />
e a ampliação de crédito são as supostas<br />
causas para o crescimento do comércio<br />
varejista baiano, que expandiu<br />
13,4% no volume de vendas, no último<br />
mês de março, em relação a fevereiro,<br />
sendo a maior variação mensal dos últimos<br />
doze meses. A Bahia já registra um<br />
saldo positivo de 11.809 postos de trabalho<br />
durante o ano de 2012.<br />
20 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Prêmio Benchmarking Saúde reúne<br />
referências da área médica baiana<br />
Uma noite requintada marcou a cerimônia de entrega do prêmio Benchmarking<br />
Saúde – Edição Bahia, em que foram homenageados gestores,<br />
empresas e instituições referências no setor médico-hospitalar do mercado,<br />
ao longo de 2011. O prêmio, organizado pelo grupo CriarMed, que edita<br />
a <strong>Revista</strong> Diagnóstico, se encontra na segunda edição e tem a incumbência<br />
de selecionar, entre mais de três mil serviços de saúde da Bahia,<br />
os destaques do setor em suas respectivas áreas de atuação. Foram 102<br />
empresas e personalidades indicadas para participar da disputa: destas,<br />
60 foram eleitas referência nos critérios inovação, credibilidade, novos<br />
investimentos e visibilidade de mercado e receberam troféus de bronze,<br />
prata e ouro.<br />
E-commerce: estados deverão repartir<br />
ICMS de vendas feitas pela internet<br />
FOTO: Divulgação<br />
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, com<br />
apenas três votos contrários da bancada paulista, novas regras para a<br />
distribuição do ICMS cobrado nas compras de produtos pela internet – o<br />
chamado e-commerce. O ponto central da proposta é estabelecer que os<br />
estados de destino das mercadorias, que hoje nada recebem do ICMS,<br />
tenham direito a uma parte do diferencial da alíquota do ICMS nas compras<br />
feitas pelo comércio eletrônico. Essa é mais uma etapa no estabelecimento<br />
de uma nova relação entre a União e os estados que parlamentares<br />
vêm defendendo na Casa, o chamado novo pacto federativo. A Bahia<br />
deixou de arrecadar, no ano passado, R$ 300 milhões por conta dessas<br />
transações feitas a partir de internet.
MÍDIA+<br />
RX30 Produtora cria<br />
filme para GBarbosa<br />
Com o conceito “Nordestino, igual a gente”, o<br />
GBarbosa reafirma seu posicionamento na região<br />
Nordeste do país. O filme de 30 segundos<br />
foi gravado pela RX30 Produtora. As imagens<br />
foram captadas com uma Red One e gravado em<br />
três dias. O filme pode ser assistido no Vimeo da<br />
RX30 Produtora: vimeo.com/40878771<br />
Inscrições abertas para o Prêmio<br />
Colunistas Norte/Nordeste<br />
As agências baianas já podem se inscrever para<br />
concorrer à maior premiação da propaganda brasileira.<br />
Podem participar as peças veiculadas a<br />
partir de janeiro de 2011. Inscrições e informações<br />
pelo site www.colunistas.com.<br />
Leiaute cria anúncio com a<br />
maior ficha técnica do mundo<br />
A agência Leiaute criou anúncio com a maior ficha<br />
técnica do mundo. Para isso, optou por aproximar<br />
e criar uma identificação entre a equipe<br />
e sua marca. A ideia era que cada um personalizasse<br />
o L à sua maneira: pintando, colorindo,<br />
recortando e colando ou desenhando. A proposta<br />
foi mostrar que cada membro, com as suas particularidades,<br />
forma um todo e faz da Leiaute uma<br />
agência diferente e múltipla. Veja o resultado<br />
deste projeto de branding: www.leiaute.com.br.<br />
22 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
APOIO<br />
INSTITUCIONAL<br />
Correio* e iBahia conquistam<br />
prêmio internacional<br />
O jornal Correio* e o portal iBahia receberam, em maio, os prêmios<br />
da principal competição de excelência em marketing, a International<br />
Newsmedia Marketing Association. Com o projeto “Jornalismo de Futuro”,<br />
o Correio* concorreu na categoria Relações Públicas e Serviços<br />
à Comunidade, conquistando o segundo lugar. E o portal iBahia foi o<br />
primeiro veículo brasileiro premiado no ”Best in Show” e na categoria<br />
“Reconhecimento de Marca em Outras Plataformas”, com o painel eletrônico<br />
em forma de outdoor.<br />
Mago cria marca da carreira<br />
solo do cantor Thiaguinho<br />
A agência baiana é a responsável pela marca do ex-Exaltasamba<br />
Thiaguinho. O resultado final foi apresentado ao público na gravação<br />
do DVD, que aconteceu no mês de abril. Os elementos significam:<br />
TH de Thiaguinho, a coroa do “príncipe negro” ou “pretinho<br />
do poder”, as cores do time do coração e, por fim, para dar unidade,<br />
parênteses que traduzem o que cabe dentro do mundo de Thiaguinho.
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
23
IMÓVEIS+<br />
POR<br />
NÚBIA<br />
CRISTINA<br />
OR é vencedora na categoria<br />
Gestão Sustentável<br />
Uma das fundadoras do Green Building<br />
Council no Brasil, a Odebrecht Realizações<br />
Imobiliárias (OR) conquistou a categoria<br />
Gestão Sustentável da 18ª edição<br />
do Prêmio Ademi-BA. “A gestão sustentável<br />
na OR começa ainda na fase de<br />
projeto, quando, depois de identificado<br />
um possível local para um empreendimento<br />
e o desenvolvimento do produto,<br />
realizamos um diagnóstico socioambiental,<br />
identificando que tecnologias podem<br />
ser utilizadas para gerar mais eficiência<br />
e menores impactos, e continuamos<br />
com essa preocupação na construção,<br />
através de uma série de programas nas<br />
obras e nas comunidades do entorno,<br />
assim como na adoção de produtos e insumos<br />
que carreguem valor agregado”,<br />
resume André Sá, diretor comercial e<br />
de marketing da OR. Desde a criação do<br />
Prêmio Ademi, em 1994, a OR foi consagrada<br />
outras 13 vezes.<br />
24 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Mansão Caymmi<br />
Uma das maiores incorporadoras da região Nordeste, com sede no Recife<br />
e filiais em Maceió, Salvador, Fortaleza e Natal, a Moura Dubeux lançou<br />
o Mansão Caymmi, um residencial localizado no Caminho das Árvores.<br />
O valor geral de vendas (VGV) do empreendimento é estimado em R$ 61<br />
milhões. Em um terreno de mais de 2,6 mil m 2 , serão erguidos 64 apartamentos<br />
de 160 m 2 (cada), em uma torre de 32 andares. Infraestrutura de<br />
lazer, quatro quartos e três varandas são alguns dos diferenciais desse residencial.<br />
Os presidentes da empresa, Gustavo e Marcos Dubeux, pretendem<br />
ampliar os investimentos na Bahia lançando mais três empreendimentos<br />
residenciais, um empresarial e um hotel.<br />
FOTO: AlexandreDias<br />
Gustavo e Marcos Dubeux<br />
com Danilo Caymmi<br />
Outlet Premium Salvador<br />
FOTO: Divulgação<br />
Uma das líderes no ranking nacional de shopping centers,<br />
a General Shopping Brasil anunciou, em parceria com o<br />
banco de investimentos BR Partners, o terceiro empreendimento<br />
de outlet no país: o Outlet Premium Salvador. O<br />
novo empreendimento será na Estrada do Coco, BA 099, e<br />
os investidores foram atraídos pelo potencial turístico da<br />
região. “O empreendimento trará grifes nacionais e interna-<br />
cionais com até 80% de desconto”, explica o diretor de mar-<br />
keting e varejo da empresa, Alexandre Dias. O novo centro<br />
de compras terá 27 mil m 2 de ABL (àrea bruta locável) total<br />
projetada em um terreno de 121.020 m 2 . Ao todo, serão 120<br />
lojas e aproximadamente 140 marcas de vestuário, calçados,<br />
enxoval, entre outros. O projeto tem construção em<br />
formato circular. O estacionamento será interno, com vagas<br />
para 2.000 veículos. A General Shopping Brasil é pioneira<br />
em outlets no Brasil.
Nova diretoria<br />
no Circuito de<br />
Alta Decoração<br />
Criar projetos voltados para a melhoria contínua<br />
da qualificação dos profissionais de arquitetura<br />
e decoração, através de parcerias com as<br />
universidades, está entre as prioridades de Tânia<br />
Dias, presidente do Circuito de Alta Decoração<br />
para o Biênio 2012/2013. Sócia da Artimex<br />
e uma das fundadoras do circuito, ela assumiu<br />
a presidência no lugar de Daidone Júnior.<br />
Novo livro de<br />
Fernando Peixoto<br />
A edição on-line do livro “4 Projetos - Fernando<br />
Peixoto Arquiteto” está disponível para<br />
consulta no site www.fernandopeixoto.com.<br />
A publicação destaca três empreendimentos<br />
comerciais e um residencial com a marca do<br />
mestre: o Shopping Paralela, em Salvador; um<br />
hotel de classe econômica, também localizado<br />
na capital baiana; a sede de uma multinacional,<br />
na Suíça; e uma casa de praia em Angra<br />
dos Reis/RJ. Graduado pela Faculdade de Arquitetura<br />
da Ufba, Fernando Peixoto tem mais<br />
de dois milhões de m 2 de projetos residenciais<br />
e comerciais, executados em dez estados do<br />
Brasil e no exterior.<br />
Nova sede do Sinduscon-BA<br />
A sustentabilidade está incorporada ao projeto<br />
da nova sede do Sindicato da Indústria da<br />
Construção Civil do Estado da Bahia, cuja obra<br />
foi iniciada em maio. A ideia é que o imóvel<br />
seja um modelo capaz de estimular as práticas<br />
de construção sustentável entre as construtoras<br />
e incorporadoras baianas. O projeto prevê<br />
implantação de medidores individuais de água,<br />
uso de energia solar, isolamento térmico de paredes<br />
externas, criação de terraços vegetalizados<br />
e a implantação de sistemas inteligentes<br />
de gerenciamento. A área total construída é de<br />
aproximadamente 2.750 m 2 . De acordo com o<br />
presidente do sindicato, Carlos Alberto Vieira<br />
Lima, o projeto será submetido ao processo de<br />
certificação Aqua.<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
INCORPORADA À GESTÃO<br />
FOTO: Divulgação<br />
Mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade<br />
Federal da Bahia (Ufba), a diretora de produtos da Syene<br />
Empreendimentos, Jealva Fonseca, sabe que os bons projetos<br />
se sustentam em três pilares: econômico, social e ambiental.<br />
Palestrante requisitada, ela defende com entusiasmo a adoção<br />
de práticas sustentáveis nos debates onde reúne arquitetos,<br />
estudantes, professores e profissionais do mercado imobiliário.<br />
Neste momento, Jealva e sua equipe ajustam detalhes de<br />
projetos dos próximos lançamentos da Syene: um multiuso,<br />
comercial e residencial, a exemplo do Salvador Prime, além<br />
de um empreendimento comercial. “A sustentabilidade é<br />
levada em conta em todas as etapas desses projetos.”, afirma<br />
a diretora.<br />
Ela assume uma postura de educadora, relembrando a<br />
época em que foi professora da Faculdade de Arquitetura da<br />
Ufba, para explicar que “uma empresa sustentável preserva o<br />
meio ambiente, mantendo a responsabilidade com as questões<br />
econômicas e sociais”. Jealva menciona o exemplo do Syene<br />
Corporate, o primeiro edifício comercial Green Building do<br />
Norte e Nordeste, para reforçar que a empresa do grupo<br />
espanhol Copasa adota práticas responsáveis em relação<br />
aos empregados, fornecedores, parceiros, clientes e toda a<br />
comunidade.<br />
O Corporate obteve a certificação ao conquistar o Selo de<br />
Alta Qualidade Ambiental (Aqua). E mais: o canteiro de obras<br />
do Salvador Prime foi classificado pelo Banco Santander como<br />
obra sustentável. “Esses exemplos demonstram que estamos<br />
focados em analisar critérios de viabilidade econômica, social<br />
e ambiental”, assegura.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
25
EXPERIÊNCIAS<br />
PILATES:<br />
SAÚDE PARA CORPO, MENTE E NEGÓCIOS<br />
“A Physio Pilates<br />
é licenciada por<br />
três empresas<br />
de grande renome<br />
internacional:<br />
Balanced Body,<br />
Gyrotonic<br />
e Polestar<br />
Education”<br />
T<br />
udo começou em 1991, quando Alice,<br />
graduada em dança e mestre em<br />
coreografia, retornou do mestrado nos Estados<br />
Unidos e iniciou o trabalho com o método Pilates<br />
no Brasil. A Physio Pilates está dividida em duas<br />
empresas: a fábrica de equipamentos, situada<br />
no Centro Industrial de Aratu (CIA), e os cursos<br />
de formação de profissionais no Brasil inteiro.<br />
Atualmente, mais de 3.000 centros de atividades<br />
físicas na América do Sul, entre estúdios<br />
independentes e academias que oferecem o<br />
método Pilates e Gyrotonic, tiveram origem a<br />
partir da formação de profissionais ou aquisição<br />
de equipamentos Physio Pilates.<br />
“Os estúdios começaram com Alice, mas<br />
não dizem respeito hoje às atividades do dia a<br />
dia com as quais nos envolvemos. Hoje, essas<br />
unidades são de clientes licenciados da Physio<br />
Pilates, que reconhecem a empresa com todo<br />
o valor e experiência que ela tem”, explica<br />
Soares. De acordo com ele, o faturamento da<br />
Physio Pilates cresceu 10% entre 2010 e 2011.<br />
“Com a queda de juros recente que está sendo<br />
promovida pelo governo, nossa expectativa é<br />
ter uma surpresa positiva em 2012, superando a<br />
marca de 10%”, projeta o empreendedor.<br />
26 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
Uma prática que<br />
traz benefícios<br />
para o corpo e a<br />
mente também<br />
pode ser um<br />
negócio rentável.<br />
Prova disso é a<br />
Physio Pilates,<br />
administrada pelos<br />
sócios e cônjuges<br />
Cláudio Soares e<br />
Alice Becker<br />
O crescimento não é à toa. Na visão<br />
do empresário, entre os fatores que<br />
justificam o sucesso da empresa estão<br />
o processo contínuo de capacitação<br />
dos profissionais (cerca de 70), além da<br />
qualidade dos equipamentos produzidos<br />
na fábrica.<br />
O método Pilates foi criado pelo<br />
alemão Joseph Hubertus Pilates. Em 1923,<br />
Pilates mudou-se para Nova York, quando<br />
abriu o primeiro Studio de Pilates. Muitos<br />
dos alunos de Joseph Pilates abriram<br />
os próprios estúdios e difundiram a<br />
técnica, fazendo também importantes<br />
contribuições para o desenvolvimento e o<br />
aprimoramento do método. Alice Becker<br />
foi a primeira brasileira a se certificar<br />
para instrução da técnica de Pilates.<br />
Em 2007, Juliu Horvarth, criador<br />
do método Gyrotonic, esteve na fábrica<br />
da Physio Pilates, desenvolvendo com<br />
Cláudio equipamentos exclusivos.<br />
Hoje a Physio Pilates foi escolhida pela<br />
Gyrotonic para fabricar e comercializar<br />
os seus equipamentos com exclusividade<br />
para a América do Sul. [B + ]
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
27
EXPERIÊNCIAS<br />
DOCERIA ARGENTINA COM<br />
EMPREENDEDORISMO BAIANO<br />
por<br />
MURILO<br />
GITEL<br />
fotos<br />
RÔMULO<br />
PORTELA<br />
28 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Juntos, eles somam apenas 49 anos de idade, mas já são<br />
responsáveis por expandir no Brasil uma das principais<br />
docerias argentinas. Estamos falando de Rafael Gontijo e<br />
José Andrade, proprietários da franquia da Abuela Goye, no<br />
segundo piso do Salvador Shopping desde 2009
E<br />
specializada em produtos artesanais<br />
patagônicos, a Abuela Goye existe há mais<br />
de 30 anos em Bariloche, onde foi fundada por<br />
colonos suíços, povos de outras nacionalidades<br />
europeias e da própria Argentina. “Morei na<br />
Argentina durante quatro meses para estudar<br />
espanhol, em um intercâmbio, e vislumbrei no<br />
alfajor um grande negócio”, relata Rafael Gontijo,<br />
25 anos, que inicialmente idealizou abrir uma<br />
cafeteria com marca própria, mas não teve a<br />
aprovação do shopping à época.<br />
Foi aí que entrou a pitada de sorte. O<br />
argentino Ricardo Sérgio Tissera, dono da Abuela<br />
Goye, veio passar férias em Salvador há cerca de<br />
três anos. Gontijo, então, entrou em contato com<br />
o empresário, que acabou lhe mostrando algumas<br />
das delícias da famosa doceria argentina.<br />
Fecharam negócio. Dessa vez, o shopping não<br />
demonstrou resistência ao abraçar a ideia que<br />
cresce, em média, 20% ao ano.<br />
“Nossos diferenciais são a gama de produtos<br />
que disponibilizamos, tais como sorvetes,<br />
alfajores, tortas, geleias, bombons, todos com<br />
aspectos patagônicos, de forma artesanal”,<br />
destaca Gontijo. Segundo ele, os produtos feitos<br />
com doce de leite têm mais saída. Um dos carroschefes<br />
é a torta mil folhas, composta por massa<br />
A Abuela<br />
Goye terá mais<br />
duas lojas em<br />
Salvador, além de<br />
Brasília, Recife<br />
e Teresina. O<br />
próximo passo é<br />
também construir<br />
uma fábrica de<br />
pequeno porte no<br />
Brasil.<br />
folhada. Os sorvetes também contam com grande demanda.<br />
De acordo com Gontijo, os dois primeiros anos serviram<br />
como uma fase de estruturação. “Um período para adequar a<br />
marca no Brasil”, completa Andrade, 24 anos. Os jovens sócios<br />
projetam crescimento do negócio. Uma franquia da Abuela<br />
Goye será aberta em junho, no Park Shopping, em Brasília.<br />
Em setembro, Salvador receberá a segunda loja, dessa vez no<br />
Shopping Barra. Um mês depois virá a unidade do shopping<br />
Rio Mar, em Recife. Mas engana-se quem pensa que eles vão<br />
parar por aí.<br />
“Estamos em processo de negociação para abrir mais<br />
três lojas, uma em Salvador, uma em Teresina e a outra em<br />
Brasília”, informaram, sem citar os locais das instalações,<br />
pois ainda falta concretizar as empreitadas. Os empresários<br />
também miram os mercados do Sudeste e do Sul.<br />
Outra meta dos sócios é a construção de uma fábrica de<br />
pequeno porte no Brasil para produção local. “Nesse caso,<br />
importaríamos só os insumos”, explica Andrade. Eles estudam<br />
qual seria o estado mais adequado para este empreendimento.<br />
Atualmente, Gontijo e Andrade importam todos os produtos<br />
disponíveis na Abuela Goye, com exceção do café – as<br />
mercadorias chegam da Argentina de navio.<br />
Uma das dificuldades é que as encomendas precisam ser<br />
feitas com até dois meses de antecedência. “Com uma fábrica<br />
aqui no país, evitaríamos uma série de riscos, como medidas<br />
protecionistas, instabilidade cambial, além de desenvolvermos<br />
a indústria local”, enumera Gontijo. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
29
A<br />
EXPERIÊNCIAS<br />
profissional de expressões pró-ativas e personalidade<br />
repleta de autenticidade conquistou uma gama variada<br />
de clientes em mais de 15 anos de estrada. A designer baiana<br />
Tina Guedes já desenvolveu trabalhos de comunicação,<br />
identidade visual, editoriais e produtos, geralmente de forma<br />
autônoma. Na década de 90, formou-se em administração de<br />
empresas e em desenho industrial. De lá para cá, busca alinhar<br />
o que aprendeu na academia com as experiências de mercado<br />
para criar soluções em design diferenciadas.<br />
Um dos focos dela é a preocupação com a sustentabilidade<br />
de suas peças. Especialista em rótulos e embalagens, Tina<br />
sugere um “novo olhar” para a importância deles e a destinação<br />
adequada ao final do uso. “Já fiz embalagens lindas, mas que<br />
vão imediatamente para o lixo, porque as pessoas consomem os<br />
produtos e as descartam. A embalagem é super importante para<br />
você vender o produto, informar sobre ele, acondicioná-lo da<br />
melhor forma. Porém é fundamental trabalhar com embalagens<br />
ambientalmente corretas, que não desperdicem materiais e que<br />
possam ser reutilizadas”, ressalta.<br />
Perguntada sobre o que considera como suas principais<br />
características, ela não titubeia: “O comprometimento e a<br />
disciplina. Mais importante que o talento é ter comprometimento<br />
com o trabalho. Trabalhamos com prazos muito curtos, com<br />
demandas urgentes”, observa.<br />
Embora tenha desenvolvido como autônoma a maior parte<br />
dos seus trabalhos, Tina também já atuou em equipe, ao ter<br />
prestado serviços para o Liceu de Artes e Ofícios, Pamdesign,<br />
Mago Comunicação e Link Produtora. “Eu me ajusto bem quando<br />
trabalho em projetos de equipe, mas quase sempre fui autônoma.<br />
Eu penso que o trabalho em sociedade funciona quando achamos<br />
30 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
TINA<br />
GUEDES:<br />
“É importante se<br />
trabalhar com<br />
embalagens<br />
ambientalmente<br />
corretas, que<br />
não desperdicem<br />
materiais e possam<br />
ser reutilizadas”<br />
pessoas com talentos complementares. O<br />
trabalho fica meio capenga quando os talentos<br />
são iguais”, acredita.<br />
Entre os trabalhos de Tina, destacam-se as<br />
embalagens para a empresa Aromarketing, em<br />
que desenvolveu criações de papel, papelão,<br />
de vidro (deo colônia), material PET e bisnagas.<br />
No Carnaval, juntou-se à colega designer Ronia<br />
Albiani, que conheceu há 14 anos na Mago, para<br />
desenvolver a comunicação visual do camarote<br />
Cerveja e Cia, e agora elabora projetos para o<br />
Depósito do Sofá, que inaugurou a quinta loja do<br />
grupo, na Pituba. [B + ]<br />
ALGUNS TRABALHOS:<br />
Identidade Visual: Las Margaritas<br />
(restaurante); Camacã (design em madeira);<br />
Mamasson (clínica); Grão Santo (café);<br />
Depósito de Sofá (móveis).<br />
Comunicação Visual: Grande Laguna<br />
Quintas de Sauipe (residencial); Odebrecht<br />
Empreendimentos Imobiliários; Camarote<br />
Cerveja e Cia.<br />
Editoriais: Roberto Alban Galeria de Arte<br />
(Pamdesign); Claro Salvador e Recife, Movicel<br />
e Coelba (gráfica Santa Helena).<br />
Produtos: Baralho; Calendários (Uranus 2);<br />
Presentes personalizados em geral.
START UP 32 | [C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48<br />
NEGÓCIOS<br />
34 38 42<br />
FORMAÇÃO DE<br />
JOVENS LÍDERES<br />
UNIÃO DE CAFÉ<br />
COM CULTURA<br />
BATE-VOLTA<br />
PRO SÃO JOÃO
NEGÓCIOS | start up<br />
BRAILE,<br />
MOTUS<br />
E NASA C riatividade<br />
por LARISSA SEIXAS<br />
Daniel Veiga, Bruno<br />
Rabelo e Bruno Cavalcanti<br />
32 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
Ainda estudantes, mas cheios de conquistas.<br />
A realidade de jovens de duas universidades<br />
de Salvador revela o potencial criativo e metas<br />
audaciosas que vão além da fronteira nacional<br />
não tem hora. Uma prova<br />
dessa afirmação aconteceu com Bruno<br />
Cavalcanti, Daniel Veiga e Lucas Costa<br />
Mendes, estudantes do curso de engenharia<br />
mecatrônica da Universidade Salvador (Unifacs).<br />
Foi durante o intervalo, quando faziam o lanche<br />
na cantina, que desenvolveram o que seria a<br />
impressora em Braile. O motivo era criar algo<br />
barato e que rendesse boas notas. O resultado foi<br />
além.<br />
O trio de estudantes usou uma impressora<br />
jato de tinta sucateada e R$ 300 para adaptar a<br />
máquina e conseguir imprimir o sistema de leitura<br />
com o tato para cegos, inventado pelo francês<br />
Louis Braille no ano de 1827, em Paris. No mercado<br />
internacional, uma similar custa cerca de 2.600<br />
euros. O projeto chamou a atenção dos professores<br />
e foi reconhecido nacionalmente por meio do<br />
prêmio Desafio Brasil 2010 (etapa regional) e Idea<br />
to Product 2010, da Fundação Getúlio Vargas.<br />
A impressora, então, foi o despertar dos<br />
estudantes baianos para o potencial que tinham<br />
para criar produtos que auxiliem as pessoas.<br />
Daniel, 22 anos, e Bruno, 26, deram sequência<br />
em outro projeto. Desta vez, com a participação<br />
de Bruno Soares, 22 anos, criaram uma palmilha<br />
batizada de Motus.<br />
Ela permite o movimento das pernas de<br />
pessoas que sofrem de hemiplegia, uma paralisa<br />
de alguma parte do corpo provocada, em geral,<br />
por doenças cerebrais focais, em especial uma<br />
hemorragia cerebral. A Motus é uma central de<br />
processamento de dados ligada ao músculo por<br />
meio de eletrodos e acionada por sensores que<br />
detectam as características do passo a ser dado<br />
após a retirada do calcanhar do chão. A ideia<br />
partiu de Daniel motivado a ajudar o irmão, que<br />
fazia sessões de fisioterapia, após uma crise de<br />
AVC.<br />
O projeto também foi vencedor e conquistou o<br />
Ideias Inovadoras 2011. Com o prêmio, Daniel foi<br />
convidado a participar do 55º encontro anual
Estudantes de todo<br />
o mundo reunidos no<br />
encontro anual da Clinton<br />
Global Initiative University<br />
da Clinton Global Initiative University, promovido pela<br />
Fundação Bill Clinton, nos Estados Unidos. O evento<br />
abriu portas para a empresa Vitae, formada pelos três<br />
estudantes, que deu início a parcerias com organizações<br />
norte-americanas.<br />
Porém a realidade dos universitários ainda é parecida<br />
com a de boa parte dos cientistas no Brasil. Eles reclamam<br />
da falta de investimento nacional e da burocracia que<br />
acompanha os editais de subvenção. Para Daniel, é<br />
“decepcionante ter que sair do país para ser reconhecido.<br />
Em outra nação, apesar das melhores condições de vida,<br />
você sempre será um estrangeiro, na terra de outro povo e<br />
longe de sua família”.<br />
De malas prontas para a Nasa<br />
Sair do país foi o caminho encontrado pelo baiano<br />
Carlos Andrade Viana Silva, 22 anos, estudante de<br />
ciências da computação da Ufba, para trilhar uma<br />
carreira de sucesso. Após conseguir vaga no Stevens<br />
Institute of Technology, de Hobboken, no estado de New<br />
Jersey, Estados Unidos, por meio do programa Ciências<br />
sem Fronteiras, ele planejou e entrou em uma pesquisa<br />
voluntária de dois meses na Agência Espacial Americana<br />
(Nasa).<br />
Sem passar por nenhum processo seletivo, o que<br />
contou para que Carlos conseguisse a vaga foi uma<br />
estratégia bem planejada. “A engenharia final foi ter<br />
sabido encontrar os pesquisadores dentro da Nasa que<br />
tinham a mesma área de pesquisa que eu e, entre eles,<br />
achar um mentor inativo dentro do grupo. Então, eu não<br />
FOTO: Divulgação<br />
“É decepcionante ter<br />
que sair do país para<br />
ser reconhecido”<br />
Daniel Veiga, estudante<br />
de engenharia mecatrônica<br />
“Quero passar o que<br />
consegui aprender<br />
a outros estudantes<br />
brasileiros e dar a<br />
mesma oportunidade<br />
que tive a eles”<br />
Carlos Andrade, estudante<br />
de ciências da computação<br />
mandei um e-mail em busca de estágio, mas sim de<br />
um mentor”, explica.<br />
Foi dessa forma que conheceu a pesquisadora<br />
com quem desenvolve um projeto no Centro de<br />
Pesquisas Ames. Antes de conversar com ela,<br />
já sabia quais particularidades do seu currículo<br />
deveria exaltar e como fazer a abordagem. Carlos<br />
hoje faz parte de um grupo que realiza pesquisas<br />
em conjunto com as universidades do Havaí e<br />
Drexel, além do capítulo brasileiro que criou para<br />
a Association for Computing Machinery - a única<br />
representação dessa sociedade em todo o país.<br />
O professor Eduardo Almeida, coordenador do<br />
mestrado de ciências da computação da Ufba e<br />
orientador de Carlos, vê com naturalidade e alegria<br />
a conquista do aluno. Para Almeida, o estágio da<br />
Nasa comprova o talento e dedicação dele.<br />
“Eu quero passar o que consegui aprender<br />
a outros estudantes brasileiros e dar a mesma<br />
oportunidade que tive a eles. É bom ter esse tipo<br />
de conquista pessoal, muito maior é quando você,<br />
como orientador, consegue ver o crescimento de<br />
alguém que você ensinou”, projeta Carlos<br />
Andrade. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
33
O presidente Murilo<br />
Vilpert com a equipe<br />
da Empresa Júnior<br />
da Faculdade de<br />
Administração da Ufba<br />
NEGÓCIOS | educação<br />
DE ONDE VÊM OS<br />
JOVENS TALENTOS?<br />
B<br />
asta jogar no Google as palavras “jovem” e<br />
“empreendedor” para encontrar uma profusão<br />
de dicas sobre como trilhar uma carreira<br />
de sucesso. Além dos clássicos livros de autoajuda, a<br />
internet complementa essa extensa bibliografia com dicas<br />
multimídias que “vão te transformar num executivo de<br />
sucesso”. O conteúdo, quase sempre, é o mesmo: a pessoa<br />
deve ser inovadora, criativa, tolerante, resiliente, ter<br />
capacidade de adaptação, falar outras línguas...<br />
Mas o que é mesmo que significa tudo isso? Na prática,<br />
de onde saem os jovens empreendedores? Qual a trajetória<br />
percorrida por novos talentos? O que eles fazem para<br />
conseguir altos postos de trabalho com tão pouca idade?<br />
Ao entrar na Empresa Júnior da Faculdade de<br />
Administração da Ufba, começamos a encontrar algumas<br />
respostas. Uma recepção recentemente reformada, com o<br />
devido símbolo da instituição, dá as boas-vindas aos que<br />
chegam, inspirando empreendedorismo. O presidente,<br />
Murilo Vilpert, está finalizando um processo seletivo e<br />
pede desculpas por se atrasar para a entrevista. Tudo<br />
extremamente profissional.<br />
34 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Conhecimento, experiências, hábitos<br />
de vida e até mesmo esportes... São<br />
muitos os requesitos para a formação<br />
dos novos profissionais. Ter sucesso é<br />
uma equação que inclui muito esforço.<br />
Conversamos com jovens que estão<br />
apostando alto na própria formação<br />
por BRISA DULTRA<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
Na sala de reunião, percebo que estou em frente a<br />
um homem de negócios. Inato ou não, o comportamento<br />
me surpreende quando descubro que Murilo tem<br />
19 anos. De trainee a presidente, ele hoje sabe fazer<br />
pesquisa de mercado, plano de marketing, análise<br />
financeira e plano de negócios, só pra citar algumas das<br />
habilidades adquiridas na EJ.<br />
Murilo conta que existe toda uma preparação para<br />
fazer parte da Empresa Júnior, a começar pelo processo<br />
seletivo, que é bastante semelhante ao de grandes<br />
companhias, como Braskem e Price: “Para entrar na<br />
empresa, na primeira fase, o estudante faz uma prova<br />
escrita e uma redação; depois de aprovado, passa por<br />
uma dinâmica em grupo; só depois vem a última etapa,
[+] NO SITE :<br />
Depoimentos e fotos de voluntários da Aiesc<br />
com a entrevista individual. Um processo que leva cerca<br />
de um mês a um mês e meio”, afirma.<br />
O novo membro passa por cinco diretorias - de<br />
presidência, de gerenciamento de projetos, de análise de<br />
mercado, financeira e de gestão de pessoas -, participando<br />
de grupos de estudos em todas elas. Ao final de cada<br />
rodízio, o estudante faz uma prova preparada pela<br />
diretoria responsável. Para finalizar, é necessário realizar<br />
um estudo de caso fictício, durante dois meses e meio.<br />
O plano de carreira é bem desenhado: trainee, analista,<br />
consultor, consultor sênior e diretor.<br />
Há uma perfeita reprodução do microcosmo business<br />
dentro da Empresa Júnior, com desafios reais, metas e<br />
muito aprendizado. A prestação de serviços para empresas<br />
de verdade torna o trabalho ainda mais exigente. As<br />
consultorias têm em média um valor de R$ 7 mil e o<br />
dinheiro recebido é todo revertido em benefícios para a<br />
própria Empresa Júnior, como reformas e treinamento da<br />
equipe.<br />
Vice-presidente da Associação de Jovens<br />
Empreendedores da Bahia (AJE) e diretor de planejamento<br />
e gestão da Confederação Nacional de Jovens Empresários<br />
(Conaje), Rodrigo Paolilo, 29 anos, ainda arranja tempo<br />
para gerenciar a sua unidade do restaurante Mariposa,<br />
no Boulevard 161. O jovem empreendedor atribui o<br />
sucesso à sua passagem pela Empresa Júnior: “Lá, tive a<br />
possibilidade de aprender e vivenciar a gestão de uma<br />
empresa, os desafios de um líder e o conhecimento de uma<br />
realidade de mercado”. Paolilo destaca ainda o fato de<br />
essa experiência ter lhe trazido maturidade e vivência em<br />
projetos grandiosos. “Isso me deixou um passo à frente,<br />
principalmente pela visão estratégica e sistêmica que não<br />
se aprende nas escolas”, declara.<br />
Ter conhecimento, entretanto, não é suficiente para ser<br />
um jovem talento. Experiências de vida contribuem para<br />
o desenvolvimento da personalidade e aquisição daquelas<br />
tantas qualidades requeridas a um profissional de sucesso.<br />
Nesse sentido, vivências no exterior são mais que bemvindas.<br />
A Aiesec é uma rede internacional de intercâmbios<br />
culturais que permite a milhares de estudantes a<br />
oportunidade de viajar por diversos países e trabalhar<br />
em ONGs como voluntários ou em empresas associadas,<br />
ganhando uma bolsa de trabalho. “A Aiesec envolve<br />
jovens de diferentes formações, culturas e interesses. São<br />
60 mil membros, de diversos países, conectados numa<br />
só plataforma. Assim, eles têm acesso a todas as vagas<br />
disponibilizadas, desde intercâmbios profissionais a<br />
programas de voluntariado, e podem escolher o que está<br />
mais de acordo com o seu perfil”, explica o presidente da<br />
Lais Valverde,<br />
diretora administrativa<br />
da empresa baiana<br />
Master Glasses,<br />
trabalhou na<br />
Colômbia e trouxe<br />
forte sensibilidade<br />
econômica<br />
FOTO: Yuri Rosat<br />
Mateus Miranda passou dois<br />
meses na Argentina e Felipe<br />
Barreto seguiu rumo à Rússia<br />
“Desenvolvemos<br />
competências, criamos<br />
projetos para ONGs locais,<br />
buscamos empresas<br />
parceiras, recebemos os<br />
estudantes estrangeiros e<br />
damos todo o suporte que<br />
precisam quando estão aqui.<br />
É enriquecedor!”<br />
Felipe Barreto, diretor da Aiesec<br />
FOTO: Marcos Varela<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
35
A natação ajudou a formar<br />
a personsalidade de Paolilo:<br />
disciplina, competitividade,<br />
humildade e trabalho em equipe<br />
Aiesec Salvador, Mateus Miranda, que passou dois meses<br />
em La Plata, na Argentina, trabalhando na ONG Banco<br />
Alimentário.<br />
“As pessoas que participam do programa já viajam<br />
sabendo onde vão trabalhar, qual o perfil dessa empresa<br />
ou ONG, as atividades que irão exercer, bem como as<br />
características que devem possuir para tal”, afirma Felipe<br />
Barreto, diretor de relações externas da instituição. Felipe<br />
conta que, em 2011, Salvador recebeu 42 intercambistas<br />
pela Aiesec, de 21 países. “Nosso trabalho no escritório<br />
também é enriquecedor. Desenvolvemos competências,<br />
criamos projetos para ONGs locais, buscamos empresas<br />
parceiras, recebemos os estudantes estrangeiros e damos<br />
todo o suporte que precisam quando estão aqui”, explica<br />
Felipe, que trabalhou na Aiesec da Rússia, quando fez<br />
intercâmbio no país por sete semanas, em São Petersburgo.<br />
Estar em um ambiente multicultural, quebrar<br />
paradigmas, construir um network além das fronteiras do<br />
Brasil são algumas das experiências para quem está ligado<br />
à instituição. Para participar, são apenas duas condições:<br />
ser estudante de alguma universidade (ou ter se formado<br />
há, no máximo, dois anos) e ter entre 18 e 30 anos.<br />
Lais Valverde, diretora administrativa da empresa<br />
baiana Master Glasses, entrou na Aiesec quando cursava<br />
o terceiro semestre de administração de empresas. Lá,<br />
teve seu desenvolvimento como líder e gestora acelerado:<br />
“Após três cargos de liderança, percebo que fiquei mais<br />
resiliente, agucei a minha visão empreendedora. A<br />
autonomia que tinha para construir estratégias, estipular<br />
metas, sugerir investimentos e estabelecer parcerias foi<br />
fundamental para a minha autoconfiança”, afirma Lais,<br />
que trabalhou em uma organização não-governamental em<br />
Medellín, Colômbia.<br />
36 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
A experiência de trabalhar em outro país, como foi o<br />
caso na Colômbia, trouxe a Lais uma forte sensibilidade<br />
econômica. “Eu percebi que cada país tem um estilo de<br />
fazer negócios. A diferença de procedimentos é muito<br />
grande. Quando penso em exportar nossos óculos, já<br />
consigo identificar traços de estilo de modelos, formas<br />
de publicidade e venda que teremos que seguir para<br />
ter sucesso na Colômbia e outros países similares da<br />
América Latina”, conta a diretora da Master Glasses.<br />
Hábitos e criatividade<br />
Hoje, grandes multinacionais, em seus processos<br />
seletivos para trainee, priorizam hábitos de vida a<br />
experiências curriculares. No processo seletivo para<br />
a Red Bull, realizado pela empresa Vereda RH, por<br />
exemplo, uma das atividades da dinâmica em grupo<br />
era responder: “Qual a maior loucura que você já fez na<br />
vida?”. Além disso, a criatividade era a característica<br />
mais valorizada nos participantes do processo, que<br />
tiveram que se apresentar da forma mais inovadora<br />
que encontrassem para uma banca de executivos<br />
estrangeiros.<br />
A arte, nesse sentido, é um importante meio para<br />
estimular a sensibilidade e desenvolver as percepções<br />
criativas. Não só o contato com obras importantes,<br />
mediado por arte-educadores, mas a própria incursão<br />
neste mundo, através da informação e da produção<br />
artística. “Na arteterapia, por exemplo, você busca<br />
o autoconhecimento através da expressão artística,<br />
desenvolvendo sua criatividade e conquistando<br />
autoconfiança”, afirma a arteterapeuta Claudia Reis.<br />
Praticar esportes também é importante para<br />
o futuro empreendedor de sucesso. Paolilo, por<br />
exemplo, destacou a importância da natação em<br />
sua vida profissional: “A atividade ajudou muito a<br />
formar a minha personalidade através da disciplina,<br />
competitividade, humildade, trabalho em equipe. Saber<br />
ganhar e perder é algo muito importante e, quando<br />
convivemos com isso desde cedo, nos preparamos<br />
também para os desafios profissionais”. Lais ressaltou<br />
a dança na sua formação profissional: “Fiz balé durante<br />
sete anos ininterruptos e voltei no ano passado. A<br />
disciplina, superação e leveza são pontos que trago para<br />
cada área da minha vida”.<br />
Muito mais que frequentar lugares específicos, a<br />
história de cada um é muito importante para o sucesso<br />
profissional. Enxergar oportunidades, buscar boas<br />
instituições e abrir o corpo e a mente para vivenciar<br />
novas experiências são só o começo da história. O resto<br />
depende de você. [B + ]
NEGÓCIOS | comércio<br />
CAFÉ E<br />
CULTURA<br />
Instalados em ambienteis culturais, o Solar Café e o Feito a Grão<br />
cativam um público exigente, em busca de charme e cardápios<br />
diferenciados. Um mercado que se consolida em Salvador<br />
por LARISSA SEIXAS E VINÍCIUS SILVA fotos RÔMULO PORTELA<br />
Solar Café, no Museu de<br />
Arte Moderna da Bahia<br />
38 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com
Donos de cafés investem em um<br />
público diferenciado, com interesse<br />
em leitura, cinema e teatro<br />
D<br />
epois do almoço, na hora do lanche ou<br />
acompanhado de uma boa leitura, o café reina<br />
como uma das paixões nacionais. Mas não é só<br />
na produção da semente que o país se destaca. De acordo<br />
com a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), são<br />
consumidas cerca de 314 milhões de xícaras da bebida por<br />
dia. Um número que coloca o Brasil como o segundo país<br />
que mais consome café no mundo, atrás apenas dos Estados<br />
Unidos.<br />
Um novo mercado de café espresso (escrito com “s”, de<br />
“espremido” e não de “rápido”) passou a ser desenvolvido<br />
há 15 anos. Mesmo sendo o maior exportador e produtor da<br />
bebida no mundo, o Brasil só começou a apreciar o café de<br />
qualidade nos anos 2000, e a Bahia a partir de 2006. Antes,<br />
o grão de primeira categoria era exportado para países do<br />
norte da Europa, Japão e Estados Unidos.<br />
Quando o mercado interno percebeu a oportunidade do<br />
café especial, começaram a surgir novas cafeterias, cursos<br />
de especialização de baristas e até concursos de quem faz<br />
o melhor café. Atualmente, esse nicho representa 5% do<br />
total do faturamento da indústria cafeeira nacional, e abre<br />
oportunidades para a expansão de cafeterias dos mais<br />
diferentes formatos, para todos os tipos de público.<br />
Feito a Grão<br />
Alinhando o gosto por cafés especiais a espaço calmo<br />
e rodeado por livros, a cafeteria Feito a Grão iniciou os<br />
trabalhos há cinco anos e acompanhou o crescimento do<br />
café especial em todo o Nordeste.<br />
Georgia Szperor, sócia do Feito a Grão,<br />
acredita no setor e expande a rede para<br />
Recife, Aracaju e São Paulo<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
39
A expansão da empresa começou quando<br />
a rede Saraiva comprou as Livrarias Siciliano.<br />
O então diretor de novos negócios da livraria<br />
visitou diversas cafeterias em shoppings de<br />
Salvador até encontrar o Feito a Grão. Georgia<br />
Szperor foi quem idealizou o café junto com<br />
o marido. Sobre a escolha da Saraiva, ela<br />
explica: “Quando ele visitou o Shopping<br />
Itaigara, sentou no Feito a Grão e gostou da<br />
proposta. A nossa equipe estava bem treinada<br />
para falar sobre a novidade dos cafés especiais<br />
para o público soteropolitano. Foi então que<br />
recebemos o convite para abrirmos uma filial<br />
dentro da primeira Saraiva no Nordeste, que<br />
seria inaugurada no Salvador Shopping”.<br />
A oportunidade serviu para expandir os<br />
negócios, que passou a receber não somente<br />
o público apreciador de café, mas também<br />
pessoas que frequentam ou passeiam<br />
pela livraria e param para fazer algum<br />
lanche. “Para nós, é fantástico estar em um<br />
ambiente cultural. É um público diferenciado,<br />
apaixonado por novos conhecimentos, que<br />
curte café, leitura, cinema e teatro”, exalta<br />
Georgia.<br />
Para a empreendedora, este é um mercado<br />
que vai continuar crescendo. “Estamos<br />
apostando nisso, pois já temos nove lojas<br />
Feito a Grão, sendo quatro em Salvador, uma<br />
em Recife, outra em Aracaju e mais três em<br />
São Paulo”. Ela e seu marido já têm planos de<br />
futuramente franquiar a marca.<br />
40 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Solar Café, no Palacete das Artes.<br />
A maioria dos frequentadores mora<br />
nos bairros próximos ao museu<br />
Solar Café<br />
A mesma atmosfera cultural está presente para quem visita o Solar<br />
Café, nas filiais do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Palacete<br />
das Artes, em Salvador. Aberto em 2008, a partir de um convite<br />
do MAM, o Solar vai além dos drinques de café requintados, e<br />
passa pela gastronomia contemporânea e bom gosto em design,<br />
de quem sabe aproveitar a vista da Baía de Todos os Santos, o que<br />
transforma o espaço em algo intimista e aconchegante. “O projeto<br />
era temporário, mas percebemos que havia uma forte demanda ao<br />
unirmos um espaço gastronômico a um centro cultural”, explica<br />
Maíra D’Oliveira, uma das sócias-gerentes do Solar Café.<br />
A mesma preocupação rege a filial instalada no Palacete<br />
das Artes, no bairro da Graça, que abriga as obras do artista<br />
francês Auguste Rodin. Uma das preocupações das empresárias<br />
é aproveitar o potencial da localização cultural e estabelecer um<br />
diálogo entre o formato do café e a equipe do museu.<br />
“Tanto no Palacete das Artes quanto no MAM, nós treinamos<br />
nossos funcionários para saberem das exposições e as atrações que<br />
estão sendo realizadas no momento. Eles visitam e assistem para<br />
conhecer e também divulgar aos clientes que frequentam o Solar<br />
Café”, explica Maíra.<br />
Normalmente, turistas internacionais e alunos em excursão são<br />
os clientes que mais frequentam ambos os espaços. No entanto,<br />
Maíra garante que 60% do público é local. “No Museu Rodin, a<br />
maioria dos frequentadores mora nos bairros próximos ao Palacete.<br />
Isso cria certa fidelidade e estabilidade nas visitas”, complementa a<br />
sócia Andréa Nascimento.<br />
Para elas, o público de Salvador está cada vez mais exigente,<br />
e essa demanda possibilitou o crescimento do negócio há alguns<br />
anos. Ao unir o charme do espaço com a qualidade do cardápio,<br />
o café atende a vários clientes e momentos, seja uma reunião no<br />
almoço, em um lanche à tarde, ou um romance à noite. [B + ]
NEGÓCIOS | são joão<br />
PROXIMIDADE<br />
DO SÃO JOÃO<br />
AUMENTA VENDA<br />
DE PACOTES DE<br />
BATE-VOLTA<br />
Proprietários de agências de viagem apontam<br />
Lei Seca como um dos principais fatores para<br />
o crescimento do segmento<br />
por MILENA MIRANDA<br />
42 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Mateus Pereira/Secom<br />
I<br />
r e voltar de uma festa sem se preocupar<br />
com onde estacionar, poder conhecer<br />
novas pessoas, repousar enquanto retorna<br />
e evitar custos com hospedagem são algumas<br />
das vantagens vendidas pelas empresas que<br />
oferecem o serviço de “bate-volta”. Em época de<br />
São João, a procura por esse transporte cresce e,<br />
em 2012, a expectativa das agências de viagens<br />
é que aumente ainda mais.<br />
Léa Souza é diretora da Veromundo e conta<br />
que os festejos de São João representam 60% do<br />
faturamento anual da agência. No mês de junho,<br />
a empresa costuma atender cerca de cinco mil<br />
clientes entre pacotes de excursão (que incluem<br />
hospedagem no destino) e bate-volta. Para este<br />
ano, Léa estima um aumento de 20% na procura,<br />
como explica: “O São João será em um fim de<br />
semana, haverá maior demanda pelo batevolta,<br />
já que as pessoas não terão folga para se<br />
hospedar no interior”.<br />
O empresário João Tenório, sócio da empresa<br />
Festas e Farras, oferece há dez anos o serviço.
“Sem dúvida, a maior demanda por<br />
bate-volta e excursão acontece nesse<br />
período do ano”, ressalta. Tenório espera<br />
trabalhar com uma média de 30 ônibus<br />
nos dias das festas de São João. Já<br />
Patrese Dias, sócio da Paladiu’s Eventos,<br />
conta que o período representa 40% do<br />
faturamento da empresa. Este ano, eles<br />
oferecem bate-volta para quatro cidades<br />
do interior da Bahia.<br />
Os destinos mais procurados são<br />
Mata de São João, Santa Bárbara, Senhor<br />
do Bonfim, Jequié, Itiruçu, Catu, Serrinha,<br />
Ibicuí e Feira de Santana, além das<br />
cidades do Recôncavo, como Amargosa,<br />
Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus.<br />
Léa Souza conta que os organizadores<br />
das festas no interior apoiam o trabalho<br />
de bate-volta para beneficiar o trânsito<br />
nas proximidades dos eventos. Afinal<br />
de contas, cada ônibus leva 50 pessoas<br />
que, teoricamente, deixaram os carros<br />
estacionados em casa. O público é<br />
formado, principalmente, por pessoas<br />
de 18 a 38 anos. “Eles preferem ir no<br />
ônibus atraídos pela comodidade e pela<br />
diversão”, acredita João Tenório.<br />
É o caso do gerente comercial Rafael<br />
Chaves. “Gosto do bate-volta, pois além<br />
de não me estressar com engarrafamento,<br />
faço novas amizades, já que o clima no<br />
ônibus favorece a integração e facilita<br />
a ‘paquera’”. Ele afirma que compra<br />
pacotes de bate-volta há dez anos sempre<br />
com a mesma empresa.<br />
“O setor cresceria ainda<br />
mais se a Lei Seca fosse<br />
aplicada com mais rigor”<br />
João Tenório, Festas e Farras<br />
FOTOS: Rômulo Portela<br />
Patrese Dias, sócio da<br />
Paladiu’s Eventos<br />
Léa Souza, diretora<br />
da Veromundo<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
43
FOTO: Acervo Pessoal<br />
“Adoro o bate-volta<br />
pela segurança<br />
e também pela<br />
integração”<br />
Cíntia Castália, publicitária<br />
Há cinco anos contratei uma excursão para o Trivela em<br />
Ilhéus. Foi a maior farra no ônibus e, entre brincadeiras<br />
conheci meu atual namorado. Dois anos depois,<br />
retornamos ao Trivela e, novamente, contratamos o<br />
serviço de transporte ida e volta. Hoje temos amigos em<br />
comum que conhecemos na festa. Adoro o bate-volta pela<br />
comodidade e segurança, de poder beber à vontade sem<br />
ter que dirigir.<br />
“Foi um transtorno. A<br />
empresa só apareceu<br />
seis horas depois do<br />
horário combinado”<br />
Aline Rodrigues, jornalista<br />
Tive uma experiência negativa e não pretendo mais<br />
contratar excursão ou bate-volta. Ano passado, fui com<br />
minhas amigas para Ibicuí. Estava previsto para o ônibus<br />
sair às 20h, mas só viajamos às 2h da madrugada. Ficamos<br />
esperando os monitores aparecerem no Jardim dos<br />
Namorados, local que havíamos acertado previamente,<br />
mas eles chegaram ao local seis horas depois. Para<br />
completar, havíamos comprado o pacote open bar, mas<br />
as cervejas tinham acabado de ser compradas e ficamos<br />
esperando algumas horas para que gelasse. No retorno,<br />
não voltei com o grupo, mas soube que faltou combustível<br />
no ônibus e eles ficaram parados na estrada.<br />
44 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
O clima de paquera<br />
fez Cíntia conhecer o<br />
namorado a caminho<br />
do Trivela<br />
Opções de pacotes<br />
Na acirrada disputa por clientes,<br />
as empresas baianas oferecem<br />
diversos “mimos” extras, como<br />
cobertura fotográfica, serviço de<br />
bordo, presença de monitores, além<br />
de permitir combinações nos pacotes.<br />
O cliente pode escolher um serviço<br />
que inclui água e refrigerante ou<br />
um open bar, que serve cerveja e<br />
canecas de chope. Alguns pacotes<br />
acrescentam uísque, vodca,<br />
energético, espumante, cervejas<br />
nacionais e importadas.<br />
Em geral, o valor do bate-volta em<br />
Salvador varia de R$ 60 a R$ 120,<br />
a depender da distância da cidade.<br />
Para oferecer mais comodidade aos<br />
clientes, as empresas oferecem ainda<br />
pacotes que incluem o ingresso e a<br />
camisa da festa.<br />
Lei Seca<br />
De acordo com as agências de<br />
viagem, a aplicação da Lei Seca nas<br />
estradas contribuiu com o sucesso do<br />
segmento. “O setor cresceria ainda<br />
mais se a Lei Seca fosse aplicada com<br />
mais rigor”, afirma João Tenório. Esta<br />
pode ser a nova realidade, já que<br />
está em tramitação um projeto para<br />
“endurecer” ainda mais a Lei Seca,<br />
criando mecanismos novos para punir<br />
motoristas embriagados.<br />
O projeto prevê a ampliação das<br />
provas contra os motoristas, com<br />
a inclusão de imagens de câmeras<br />
ou celular, testemunhas que podem<br />
ser outros motoristas, pedestres ou<br />
até mesmo os agentes de trânsito,<br />
exames clínicos e perícia. Além<br />
disso, determina o aumento do valor<br />
da multa para quem for flagrado<br />
dirigindo sob influência do álcool, de<br />
R$ 957,69 para R$ 1.915,38. [B + ]
NEGÓCIOS | economia<br />
JOÃOZINHO E<br />
A COSTUREIRA<br />
LUIZ MARQUES<br />
FILHO<br />
Economista,<br />
superintendente da<br />
FEA-Ufba, diretor<br />
da ADVB-BA e<br />
professor da<br />
Faculdade Baiana<br />
de Direito<br />
Nossa presidente, em abril, em visita a<br />
Barack Obama nos EUA, afirmou que o Brasil<br />
não é mais o “Joãozinho que anda errado<br />
e nem mesmo o Joãzinho que anda certo”.<br />
Esta colocação traz subliminarmente a ideia<br />
de que não somos mais economicamente<br />
infantis, nem mesmo adolescentes. Somos<br />
uma economia já quase madura, que venceu<br />
seus vícios anteriores, como a hiperinflação e<br />
a extrema dependência do capital externo, e,<br />
assim, merecemos ser respeitados.<br />
A posição de Dilma deve ser destacada,<br />
mas não podemos esquecer que nosso<br />
governo ainda tenta – infelizmente – resolver<br />
nossos problemas de competitividade usando<br />
o método da costureira: quando a calça rasga<br />
vamos costurá-la, remendá-la.<br />
Se não, o que podemos dizer das ações<br />
tomadas em Brasília em abril último para<br />
aliviar setores industriais afetados pela<br />
dura competição com importados? Foram 15<br />
setores beneficiados com esta medida. Para<br />
eles, isso é muito bom. Mas, e para os outros<br />
setores?<br />
Esta é a velha ideia da política industrial<br />
vertical, escolhendo vencedores, os campeões<br />
nacionais, em detrimento de uma política<br />
horizontal onde todos recebem o mesmo<br />
tratamento.<br />
Esta ação visa ajudar a indústria<br />
tão afetada negativamente pelo câmbio<br />
valorizado. A desindustrialização parece que<br />
chegou para ficar, roubando nossos empregos.<br />
Hoje para alguns setores é mais barato<br />
produzir no México, repito México, do que na<br />
própria China. O Brasil hoje é um país caro.<br />
A produção industrial é caríssima. Parece que<br />
o governo está acordando depois de quatro<br />
anos de câmbio valorizado, que corremos o<br />
risco de ser um país commodity dependente.<br />
Nossa indústria está tomando na cabeça.<br />
46 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Mas não é somente o câmbio, mas<br />
também os custos com transporte,<br />
trabalhistas, tributos, juros aberrantes e<br />
energia elétrica: incrível, mas apesar da nossa<br />
matriz energética ser de base hidroelétrica<br />
(mais barata do que a termoelétrica e a<br />
nuclear)a nossa energia é uma das mais caras<br />
do mundo. Segundo estudo da Federação<br />
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro,<br />
o preço da nossa energia está 52% acima<br />
da média, considerando 27 países. Parte<br />
relevante deste preço é formada por tributos<br />
indiretos, federais e estaduais, que em<br />
média representam 37% do preço da energia.<br />
Dentro deles o maior peso recai sobre o ICMS<br />
estadual, que encarece o megawatt-hora.<br />
Mas como convencer os governadores<br />
que isto traz um impacto negativo para a<br />
indústria e consumidores em geral? Por mais<br />
que este impacto seja claro, como dizer aos<br />
governadores que a carga do ICMS deve ser<br />
reduzida? Isto só ocorrerá com uma reforma<br />
tributária de verdade, dado que o ICMS é a<br />
principal fonte de recursos para os estados<br />
(exceto para os mais pobres, onde o Fundo<br />
de Participação dos Estados ainda é mais<br />
relevante).<br />
É aí que voltamos ao ponto: estamos<br />
remendando a nossa calça, mas não<br />
construindo calças novas. A reforma<br />
tributária vem sendo discutida desde 1995<br />
ainda no governo FHC, mas entra presidente<br />
e sai presidente e nada muda. Como<br />
convencer um governador a reduzir a sua<br />
receita própria, considerando a necessidade<br />
de gastos que também pressiona o nível<br />
estadual? Assim, se as mudanças estruturais<br />
não acontecem vamos dar um jeitinho com<br />
mudanças conjunturais. Vamos costurar o<br />
que está rasgado.<br />
A recente desoneração da folha de<br />
pagamento sobre setores específicos é boa,<br />
mas não resolve. Outros setores também<br />
demandam algo similar. É fato que não somos<br />
mais o Joãozinho da década de 80, mas não<br />
devemos nos iludir com os bons resultados<br />
econômicos que colhemos nos últimos anos,<br />
temos que trabalhar mais.<br />
Mas, em vez de agirmos hoje<br />
estrategicamente para aumentar a<br />
competitividade de nossa economia, estamos<br />
investindo nossa energia em mais um<br />
escândalo em Brasília. Por falar nisso, qual é<br />
a última novidade da CPI do Cachoeira?
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
47
NEGÓCIOS | gestão<br />
RISCO EMPRESARIAL:<br />
O SPED E A QUALIDADE<br />
DA INFORMAÇÃO<br />
Os contribuintes se esbarram em operacionalizar<br />
o Sped. No momento inicial, a maior preocupação<br />
tem sido apenas enviar os dados, mas como fica<br />
a qualidade dessa informação?<br />
JOSÉ<br />
RENATO<br />
MENDONÇA<br />
Líder de auditoria<br />
e asseguração da<br />
empresa Performance<br />
Parece que foi ontem, mas já se vão cinco<br />
anos desde que começamos a ouvir falar em<br />
Sistema Público de Escrituração Digital (Sped)<br />
e nas profundas mudanças que teríamos nas<br />
rotinas das empresas. Instituído pelo Decreto<br />
nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o Sped<br />
faz parte do Programa de Aceleração do<br />
Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-<br />
2010) e constitui-se em um grande avanço na<br />
informatização da relação entre o fisco e os<br />
contribuintes.<br />
O Sped tem por objetivo trazer<br />
modernidade e transparência, que são<br />
requisitos fundamentais para um país que<br />
busca destaque no cenário mundial e na<br />
atração de investimentos externos.<br />
Desde sua instituição, primeiramente com<br />
os projetos da NFe (nota fiscal eletrônica)<br />
e com o Sped Contábil, o sistema público<br />
continua trazendo novas e mais complexas<br />
obrigações acessórias, como o Sped<br />
Contribuições, o que tem trazido dificuldades<br />
para as empresas. O mais grave é que, se<br />
não enfrentadas de forma adequada, estas<br />
dificuldades poderão se transformar em<br />
multas e outras penalidades para empresas e<br />
empresários.<br />
A Receita Federal, juntamente com os<br />
fiscos estaduais, tem flexibilizado prazos<br />
no processo de implantação do Sped, haja<br />
vista a enorme dificuldade encontrada por<br />
contribuintes e soft houses em adaptar<br />
os sistemas aos leiautes exigidos. Os<br />
contribuintes se esbarram em operacionalizar<br />
e produzir os arquivos nos prazos exigidos<br />
com o mínimo de qualidade para validação. E<br />
48 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
é aí que mora o perigo. No momento inicial, a<br />
maior preocupação de todos tem sido apenas<br />
enviar os dados, mas como fica a qualidade<br />
dessa informação?<br />
Devido à avalanche de obrigações<br />
acessórias criadas a partir do Sped (Sped<br />
Contábil, Fcont, Sped Contribuições, Sped<br />
ICMS/IPI, NFe, NFSe, etc...) e considerando<br />
que atualmente algumas delas estão em<br />
duplicidade, os contribuintes têm que se virar<br />
para fazer acontecer, sendo muitas vezes<br />
um desafio isolado para um determinado<br />
setor dentro da empresa (usualmente, o setor<br />
contábil).<br />
Essa é uma ideia equivocada<br />
O Sped veio para mexer em todos os<br />
processos da empresa. Ou seja, para<br />
avançarmos sem problemas futuros com<br />
o “mundo Sped”. Antes de qualquer coisa,<br />
se faz necessária uma mudança na forma<br />
de enxergar e pensar o projeto como<br />
um todo, deixando de olhar apenas as<br />
“caixinhas”. O Sped é um desafio dos setores<br />
(financeiro, contábil, comercial, produção,<br />
RH, etc), passando pela análise de cadastros,<br />
processos, parametrizações e sistemas.<br />
Devemos ter em mente que os arquivos<br />
transmitidos hoje pelas empresas poderão<br />
ser auditados pelo fisco até 2017, o qual, com<br />
certeza, estará ainda mais aparelhado. Assim,<br />
aquela informação que enviamos sem a<br />
qualidade devida poderá resultar em pesadas<br />
multas.<br />
Outro aspecto que devemos lembrar é<br />
de que os arquivos gerados e transmitidos<br />
ao fisco são assinados digitalmente e têm<br />
valor legal. Para evitar possíveis transtornos,<br />
devemos rever nossos cadastros e<br />
parametrizações, treinar o staff técnico, rever<br />
os processos e, muitas vezes, as empresas<br />
não têm estrutura e capacidade própria para<br />
tanto.<br />
Por isso as consultorias são valiosas e<br />
importantes. Já existem no mercado diversas<br />
soluções de auditoria eletrônica, validadores<br />
de NFe, cujo papel é minimizar os riscos<br />
empresariais relacionados às informações<br />
indevidas (contábeis, fiscais e operacionais)<br />
disponibilizadas para o fisco através do<br />
Sped. Entendo que o empresário consciente<br />
não deve pagar para ver, pois erros de hoje<br />
podem prejudicar ou, até mesmo, inviabilizar<br />
negócios amanhã.
ESTÁDIO SOLARES | 52<br />
A CARTA DA TERRA | 54<br />
EMPRESA VERDE | 56<br />
[C] ISAAC EDINGTON | 60<br />
[C] MARCO PELLEGATTI | 62<br />
DESTINO CORRETO<br />
O aproveitamento do que seria lixo,<br />
seja por meio da reciclagem ou<br />
compostagem, tem ajudado a preservar<br />
a natureza e incrementado a renda de<br />
famílias no estado.<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
56<br />
Apoio:
SUSTENTABILIDADE | tendências<br />
6 tendências da<br />
gestão sustentável<br />
Mais do que uma estratégia de<br />
marketing, a sustentabilidade deve<br />
ser central na gestão dos negócios.<br />
Executivos de empresas enxergam<br />
mais oportunidades do que riscos<br />
nos problemas relacionados à<br />
sustentabilidade. A constatação é parte<br />
de um mapeamento publicado pela<br />
Ernst & Young. O levantamento, feito<br />
com 272 executivos de 24 setores com<br />
faturamento acima de um US$ 1 bilhão,<br />
indicou seis tendências que<br />
estão pautando os negócios:<br />
VANTAGEM:<br />
Gerir uma empresa com sustentabilidade<br />
traz vantagens competitivas. Programas<br />
de eficiência energética e de redução<br />
de emissões são as questões a que o<br />
mercado está mais atento.<br />
RISCOS E OPORTUNIDADES:<br />
Sem dúvida, as questões climáticas estão<br />
na lista de preocupações para as empresas.<br />
Ao todo, 75% dos executivos revelaram ter<br />
metas de redução de emissões. Cerca de 80%<br />
acreditam que a gestão da água afetará os<br />
negócios nos próximos cinco anos.<br />
ENVOLVIMENTO:<br />
Há maior envolvimento dos diretores<br />
financeiros nos processos de avaliação,<br />
gestão e elaboração dos relatórios de<br />
sustentabilidade.<br />
PRESSÃO:<br />
Ao contrário do que se acredita, os acionistas<br />
e ONGs influenciam menos as decisões<br />
sustentáveis nas empresas do que os<br />
funcionários.<br />
SOLUÇÕES:<br />
Escassez de recursos naturais já está<br />
deixando de ser ameaça para se tornar<br />
realidade; 76% dos entrevistados temem que<br />
as empresas sejam afetadas pela falta de<br />
recursos naturais já nos próximos cinco anos.<br />
MARKETING:<br />
Empresas devem divulgar as ações e agir<br />
com transparência perante a sociedade.<br />
50 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Pesquisa irá mapear<br />
exploração de energia<br />
eólica na Bahia<br />
Um estudo encomendado pela<br />
Secti e pela Seinfra vai monitorar<br />
em tempo real os dados eólicos<br />
da Bahia em diversas localidades,<br />
em alturas de 150 metros. O<br />
trabalho deve durar 11 meses e<br />
visa identificar novas fronteiras<br />
do setor ainda não exploradas.<br />
Brasil suspende construção<br />
de usinas nucleares até 2021<br />
No plano de curto prazo, até 2021, o Brasil não considera a construção<br />
de nenhuma usina nuclear além de Angra 3, com obras em<br />
andamento e previsão para começar a operar em 2015. Entretanto,<br />
no plano que considera o horizonte até 2030, há a previsão que haja<br />
espaço para a construção de quatro a oito centrais nucleares. As<br />
duas primeiras seriam construídas no Nordeste.<br />
50% Sawdust<br />
As designers israelenses Adi<br />
Shpigel e Keren Tomer deram<br />
uma nova utilidade para serragens<br />
e sacolas plásticas, ao<br />
misturar os materiais e colocar<br />
para assar no forno, prensados<br />
dentro de moldes metálicos. Os<br />
resultados foram luminárias de<br />
mesa, lustres e até bancos.<br />
Dow Brasil vai utilizar biomassa de<br />
eucalipto como fonte de energia limpa<br />
FOTO: Secom/BA<br />
Com investimento total de R$ 200 milhões, a Dow Brasil usará<br />
biomassa para atender à demanda energética da sede no Complexo<br />
Industrial de Aratu. A operação está prevista para ter início em<br />
março de 2013. O projeto é em parceria com a empresa Energias<br />
Renováveis do Brasil, que vai investir, instalar e operar a usina de<br />
cogeração.
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
51
A<br />
SUSTENTABILIDADE | tendências<br />
ESTÁDIOS SOLARES<br />
Pituaçu foi o primeiro da América Latina<br />
a instalar o sistema de energia solar. Em<br />
seguida, serão Maracanã e Mineirão. A Copa<br />
do Mundo já muda a maneira de se pensar e<br />
construir estádios de futebol no Brasil<br />
luz do sol é a fonte de energia que abastece o estádio<br />
de Pituaçu, em Salvador, desde o dia 10 de abril deste<br />
ano. Com a utilização da fonte alternativa, o Governo do Estado<br />
estima economizar cerca de R$ 120 mil/ano. A energia gerada<br />
e interligada à rede de distribuição da cidade será equivalente<br />
a 630 MW/h ao ano, capaz de abastecer 525 residências. O<br />
projeto custou mais de R$ 5,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões<br />
aplicados pela Coelba (concessionária local), por meio de<br />
financiamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),<br />
e R$ 1,75 milhão pelo governo estadual.<br />
“Quando ocorreu a tragédia da Fonte Nova [em 2007,<br />
parte da arquibancada desabou e sete pessoas morreram, nós<br />
sabíamos que não haveria mais jogos lá por um bom tempo, e<br />
que as partidas seriam levadas para o estádio de Pituaçu. Como<br />
precisávamos de um projeto modelo para os jogos da Copa,<br />
conseguimos, com a ajuda da Coelba e do Governo do Estado,<br />
implantá-lo”, explica Mauro Passos, presidente do Instituto<br />
Ideal, responsável pelo projeto de nome Estádios Solares, que<br />
também instalará energia solar no Mineirão e no Maracanã.<br />
52 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
por MURILO GITEL www.ecod.org.br<br />
FOTO: Secom/BA<br />
No caso do estádio de Pituaçu, uma das<br />
novidades é que o excedente de energia<br />
gerado através da geração solar (270 MW/h)<br />
será utilizado no prédio da Secretaria<br />
Estadual de Trabalho, Emprego e Renda<br />
(Setre), localizado no Centro Administrativo<br />
da Bahia. O consumo médio anual do estádio<br />
é de 360 MW/h. Isso é possível porque os<br />
sistemas fotovoltaicos estarão conectados à<br />
rede elétrica de distribuição.<br />
“Além de ser o primeiro estádio da<br />
América Latina a usar energia solar, Pituaçu<br />
também é a primeira unidade consumidora<br />
a participar do sistema de compensação, que<br />
inclui disponibilizar na rede de abastecimento<br />
toda a eletricidade excedente”, observou<br />
Daniel Sarmento, engenheiro eletricista que<br />
coordenou o projeto da Coelba, que pertence<br />
ao Grupo Neoenergia.<br />
Ao ser perguntado sobre a possibilidade<br />
de a Arena Fonte Nova, em Salvador, também<br />
aderir à energia solar, Mauro Passos afirmou<br />
que acredita na viabilidade do projeto. “Eu<br />
acho que, no avançar da obra da Arena Fonte<br />
Nova, isso vai passar a ser discutido, porque<br />
seria esquisito Pituaçu ter e a Fonte Nova não<br />
ter”, compara.<br />
O consórcio da Arena Fonte Nova,<br />
formado pelas construtoras Odebrecht e<br />
OAS, informou que estuda atualmente a<br />
viabilidade de instalação de energia solar no<br />
empreendimento, cujo andamento da obra já<br />
se aproxima de 60%. [B + ]<br />
Mauro Passos é presidente do Instituto<br />
Ideal, responsável pelos Estádios Solares<br />
FOTO: Divulgação
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
53
F<br />
SUSTENTABILIDADE | tendências<br />
A CARTA<br />
DA TERRA<br />
Valores e princípios<br />
por um mundo melhor<br />
por JÉSSICA SANDES www.ecod.org.br<br />
ormada em engenharia química pela Universidade<br />
Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristina Moreno<br />
dedicou anos de sua vida às atividades empresariais,<br />
com destaque para o setor de papel e celulose. Atuou<br />
nas áreas de tecnologia da informação, processos de<br />
fusão, aquisição e sustentabilidade. Após se aposentar,<br />
decidiu ir em busca de um mundo mais justo,<br />
harmonioso e sustentável. Foi quando se tornou uma<br />
voluntária da Carta da Terra. Hoje ela é a coordenadora<br />
da iniciativa no Brasil.<br />
O que é sustentabilidade para Cristina Moreno?<br />
É a gente viver exatamente daquela maneira que,<br />
quando éramos crianças, deveríamos viver: respeitando<br />
e cuidando de todos e de tudo aquilo que a gente<br />
partilha.<br />
E de que maneira podemos alcançar essa<br />
condição?<br />
A Carta da Terra nos convida a perceber duas coisas<br />
importantes. A primeira é que a gente está procurando<br />
um universo sustentável. Ele só será possível se<br />
tivermos países sustentáveis, organizações sustentáveis<br />
e famílias sustentáveis. Por isso, é importante que todos<br />
façam a sua parte. A outra é o compilado de princípios<br />
éticos, com uma visão absolutamente sistêmica. Uma<br />
das coisas que talvez sejam difícieis para a conquista<br />
54 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
da sustentabilidade seja olharmos a temática de<br />
maneira fragmentada, o que não é. Esse olhar<br />
permeia todos os segmentos que estão expressos<br />
nos quatro pilares da carta.<br />
A Carta da Terra, então, é um documento de<br />
orientação?<br />
Sim. Uma maneira mais amorosa para a gente<br />
cuidar do planeta Terra e de todos aqueles que<br />
aqui habitam. Uma espécie de cartilha.<br />
Como foi processo para elaborar a carta?<br />
Ela foi feita através de uma consulta que demorou<br />
oito anos. A ação avaliou os povos da terra, desde<br />
cientistas e organizações, a tribos indígenas. Por<br />
isso, retrata essa vontade do mundo melhor. Ela<br />
começou a ser rascunhada durante a Eco-92, no<br />
Rio de Janeiro, mas só foi concluída em 2000.<br />
Como as pessoas podem contribuir com esse<br />
movimento?<br />
Esse é um exercício que requer duas coisas: muita<br />
humildade para entender que não somos o centro<br />
das coisas, mas que somos parte desse bem maior.<br />
E requer muito desprendimento. Eu não quero<br />
abrir mão dos avanços tecnológicos que temos,<br />
mas precisamos entender como estamos usando<br />
esses avanços.<br />
A grande dificuldade da mudança é sair do<br />
patamar que a gente está acostumado para ir<br />
para outro, e isso envolve espiritualidade. Digo<br />
espiritualidade por significar cuidar do bem<br />
comum, onde estamos acima das coisas materiais.<br />
Esse é o trabalho de cada indivíduo, começar a<br />
abrir mão do que não precisa ter, vivendo com<br />
mais integridade.<br />
A Carta da Terra<br />
é estruturada<br />
em quatro princípios:<br />
1. Respeito e cuidado pela comunidade da vida;<br />
2. Integridade ecológica;<br />
3. Justiça social e econômica;<br />
4. Democracia, não-violência e paz.
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
55
SUSTENTABILIDADE | empresa verde<br />
PEQUENAS, MAS SUSTENTÁVEIS<br />
Micro e pequenos empresários<br />
baianos se dão conta de<br />
que adotar medidas de<br />
desenvolvimento sustentável na<br />
gestão pode gerar economia e<br />
contribuir com o lucro. Atualmente,<br />
no Brasil, as micro e pequenas<br />
empresas correspondem a 20% do<br />
PIB e geram 60% dos empregos<br />
por MURILO GITEL<br />
56 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Divulgação<br />
E<br />
las representam nada menos que 99% das empresas<br />
brasileiras, correspondem a 20% do Produto Interno<br />
Bruto (PIB) nacional e geram 60% dos empregos no país.<br />
Estamos falando das micro e pequenas empresas. Com resultados<br />
cada vez mais expressivos no Brasil, também merece destaque<br />
a adoção que esses negócios têm feito de medidas no âmbito<br />
sustentável – iniciativas ambientalmente corretas incorporadas à<br />
gestão.<br />
Economizar recursos como energia, água e outros insumos,<br />
o que também significa poupar dinheiro e, ao mesmo tempo,<br />
contribuir com o meio ambiente, estão entre os principais atrativos<br />
de se aplicar a sustentabilidade nas micro e pequenas empresas,<br />
desprovidas de receitas milionárias.<br />
“Lucro e sustentabilidade não são contraditórios. Ao mesmo<br />
tempo em que economizar água e energia ajuda o planeta, também<br />
reduz os custos da empresa, melhora a sua imagem e atrai mais<br />
clientes”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.<br />
Engana-se quem pensa que os micro e pequenos empresários<br />
baianos estão longe dessa tal, parafraseando Caetano, “nova<br />
ordem” empresarial. Um bom exemplo vem da pizzaria Rei da
[+] NO SITE :<br />
Reciclagem de embalagens na região metropolitana<br />
Pizza, situada em Camaçari. Nela, todas as pizzas<br />
são assadas em um forno cujo interior conta<br />
com madeira sustentável. Já o processo de coleta<br />
seletiva inclui um fluxo de estoque, separação,<br />
acondicionamento e encaminhamento para<br />
cooperativas de reciclagem da região.<br />
“Quanto menos lixo você gera, mais você<br />
está sendo consciente. E, na prática, isso surte<br />
efeito não só no restaurante, mas no dia a dia<br />
e em casa. É uma educação para toda a vida.<br />
Precisamos ter consciência da necessidade de<br />
preservar”, destaca Jamilton Pereira, responsável<br />
pelo empreendimento que completa 18 anos no<br />
mercado.<br />
O próximo passo do empresário é fazer a<br />
compostagem do lixo orgânico, para transformar<br />
os resíduos em adubo, que posteriormente será<br />
utilizado na horta da empresa. “Os alimentos<br />
extraídos da horta serão utilizados na produção<br />
das pizzas”, projeta o empreendedor.<br />
Responsabilidade social<br />
Equilibrar os fatores econômico, ambiental e<br />
social é a base do sentido do desenvolvimento<br />
sustentável, conceito usado pela primeira vez em<br />
1987, no Relatório Brundtland, da Organização<br />
das Nações Unidas (ONU). Um modelo de<br />
responsabilidade social nos micro e pequenos<br />
negócios é o da empresa NNSolutions, de Salvador.<br />
Criada em 2009 por um grupo de<br />
pesquisadores da Universidade Federal da<br />
Bahia (Ufba), a empresa desenvolveu o software<br />
Slep, um scanner leitor portátil (para aparelhos<br />
celulares), capaz de captar as informações de um<br />
texto impresso em tinta, e sem o método Braille,<br />
transformando os dados em voz sintetizada.<br />
“O deficiente visual diminui a necessidade<br />
de ter algum ajudante de leitura, ou ‘olho amigo’<br />
como eles costumam falar, para realizar a função<br />
de leitura de um texto, como por exemplo, conta<br />
de luz, cartão de visita, livro”, destaca Acbal Achy,<br />
diretor de negócios da empresa.<br />
Segundo o empreendedor, trata-se do primeiro<br />
software nacional embarcado no celular capaz de<br />
transformar a rotina do deficiente visual. “Também<br />
há a questão da autonomia, pois a pessoa com<br />
dificuldades de leitura, não precisará de um<br />
terceiro que leia para ela, o que acarreta a<br />
melhora da auto-estima e da produtividade dessas<br />
pessoas”, enumera Acbal.<br />
FOTOS: Divulgação<br />
(em cima) A criação dos pesquisadores da Ufba é o primeiro<br />
software nacional embarcado no celular para auxiliar a rotina do<br />
deficiente visual (em baixo) O software Slep é capaz de captar as<br />
informações de um texto e transformar os dados em voz sintetizada<br />
Pesquisa do Sebrae divulgada<br />
em maio aponta que:<br />
80,6% dos micro e pequenos empresários controlam o consumo de<br />
água, 81,7%, o consumo de energia, 70,2% fazem a coleta seletiva de<br />
lixo e 72,4% controlam o consumo de papel;<br />
Apesar dessas ações pontuais, 51,7% informaram não ter o hábito de<br />
usar materiais recicláveis no processo produtivo, 83,4% não fazem<br />
captação da água da chuva ou reutilização de água e 50,9% não<br />
reciclam lixo eletrônico ou pneus;<br />
Para 46% dos entrevistados, a questão ambiental representa<br />
oportunidade de ganhos para a empresa. Por outro lado, 54% deles<br />
afirmam que as chances de lucros relacionadas ao tema ainda não estão<br />
bem evidenciadas: 16% dos empresários acreditam que a questão<br />
representa custos e despesas, e 38%, nem ganhos, nem despesas.<br />
Outra vantagem do software da NNSolutions é a<br />
ambiental. “Impressos em Braille necessitam de muito papel,<br />
o uso do software diminui a necessidade da impressão”,<br />
lembra o empreendedor.<br />
A empresa ainda não teve lucros com a venda do<br />
aplicativo, mas já negocia o fechamento de um número<br />
grande de licenças para uma empresa de destaque no cenário<br />
nacional, adiantou o empresário. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
57
SUSTENTABILIDADE | pro bem<br />
TUDO<br />
SE TRANSFORMA por ANDRÉA CASTRO<br />
Resíduos sólidos, lixo<br />
orgânico, óleo saturado,<br />
cocos verdes e limpeza em<br />
eventos. Todos são matériasprimas<br />
para a Verdecoop<br />
N<br />
ada se cria, tudo se transforma. A frase<br />
pode parecer clichê, mas é sempre oportuna<br />
quando falamos em sustentabilidade.<br />
O aproveitamento do que seria lixo, seja por meio<br />
da reciclagem, compostagem ou outro método de<br />
reutilização, comprova-se como uma excelente alternativa<br />
para os resíduos produzidos, sobretudo em grandes<br />
empreendimentos, como hotéis de maior porte. Ações<br />
desse tipo têm ajudado a preservar a natureza e<br />
incrementado a renda de famílias no estado.<br />
A cooperativa Verdecoop faz parte do Instituto<br />
Berimbau, com sede no município de Rio de Contas, e é<br />
um exemplo disso. Criada em 2005, a entidade recicla e<br />
faz a compostagem dos resíduos descartados nos hotéis do<br />
Complexo Costa do Sauipe e do refeitório da montadora<br />
Ford. Ao todo, são mais de três mil toneladas por ano.<br />
58 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Iniciativas de aproveitamento do lixo<br />
ajudam a preservar o meio ambiente<br />
e a transformar a vida de famílias<br />
carentes no Litoral Norte e na<br />
Chapada Diamantina<br />
FOTO: Divulgação<br />
“Depois que entrei na Verdecoop, me conscientizei,<br />
passei a dar valor ao que jogamos na lixeira. Não<br />
tinha noção do que o lixo pode gerar. Hoje me<br />
preocupo porque penso no futuro do meu filho. Além<br />
do aprendizado, esse trabalho é o que me sustenta”,<br />
relata Edinéia Rodrigues, cooperada da Verdecoop há<br />
um ano e meio e que vive com a renda de R$ 800, toda<br />
proveniente do trabalho na cooperativa.<br />
De acordo com José Santos Souza, gerente<br />
administrativo da Verdecoop, o objetivo da iniciativa<br />
é mobilizar as comunidades do Litoral Norte da Bahia<br />
para conviver e crescer com a atividade turística,<br />
em um processo de integração. Por essa necessidade,<br />
surgiu o Instituto Berimbau. “Uma das soluções<br />
pensadas, hoje uma realidade, foi estimular a criação<br />
de uma cooperativa de reciclagem, com pessoas da
própria região que precisavam de uma<br />
oportunidade. Uma via de mão dupla”,<br />
declara Beraldo Boaventura, coordenador<br />
do Instituto Berimbau.<br />
Do lixo ao luxo, novamente<br />
Hoje, a Verdecoop coleta resíduos, lixo<br />
orgânico, óleo saturado, cocos verdes e<br />
realiza limpeza em eventos. Na estrutura,<br />
conta com um pátio de 1,2 mil m 2 e<br />
possui mais de 50 cooperados, que quase<br />
sempre dependem dessa renda para o<br />
sustento de suas famílias. “Reciclamos de<br />
forma tradicional os resíduos secos (latas,<br />
plásticos, papelão, etc.) Selecionamos,<br />
enfardamos e comercializamos esses<br />
materiais. Já o lixo orgânico passa<br />
por um processo de compostagem e<br />
é transformado em adubo de ótima<br />
qualidade, sem adições químicas,<br />
comercializado junto aos agricultores da<br />
região.”, explica Beraldo. Esse adubo é o<br />
mesmo utilizado no gramado do luxuoso<br />
campo de golfe de 660 mil m 2 , palco de<br />
importantes torneios internacionais.<br />
Em bons lençóis!<br />
Assim como o Litoral Norte, a Chapada<br />
Diamantina é uma das regiões mais belas<br />
e ricas da Bahia, sob o ponto de vista<br />
da sua biodiversidade. É nessa região<br />
que se encontra o Hotel de Lençóis, um<br />
dos três únicos no estado que possuem<br />
o certificado de Gestão Hoteleira<br />
Sustentável da Associação Brasileira de<br />
Normas Técnicas (ABNT). No hotel, mais<br />
de 90% do lixo produzido pelos hóspedes<br />
é reaproveitado.<br />
O material orgânico, que corresponde<br />
a cerca de 80% do lixo produzido, é<br />
levado para a central de compostagem e,<br />
posteriormente, aplicado nos 45 mil m 2<br />
de área verde do hotel. Já os materiais<br />
de plástico, papelão, papel, garrafas PET,<br />
entre outros produtos, são entregues ao<br />
Grupo Ambientalista de Lençóis (GAL)<br />
para reciclagem. As latinhas são doadas<br />
aos próprios funcionários do hotel, que<br />
aproveitam a venda do material para<br />
tirar uma renda extra. Já as garrafinhas<br />
FOTO: Xico Diniz<br />
“O lixo orgânico [dos hotéis] passa por um<br />
processo de compostagem e é transformado em<br />
adubo de ótima qualidade, sem adições químicas,<br />
comercializado junto aos agricultores da região”<br />
Beraldo Boaventura, Instituto Berimbau<br />
A reciclagem da água<br />
excedente da Embasa é usada<br />
no jardim, cachoeira e roda<br />
d’água do Hotel de Lençóis<br />
de água mineral têm um destino particular: são utilizadas por<br />
artesãos locais como recipiente para aguardente.<br />
“O que vai para o lixão mesmo é o papel higiênico e o material<br />
usado para tirar gordura dos alimentos. Sempre tivemos uma coleta<br />
de lixo própria, até porque a coleta municipal, que hoje já melhorou,<br />
nunca foi muito eficiente”, explica o consultor do hotel, Dionízio<br />
Martins. Ele ainda destaca a reciclagem da água excedente da<br />
Embasa para uso no jardim, cachoeira e roda d’água.<br />
Outras iniciativas sustentáveis são postas em prática no hotel:<br />
utilização de energia solar para aquecimento de água; uso máximo<br />
de iluminação natural; utilização de economizadores de energia; uso<br />
preferencial de madeira renovável (com certificação do Ibama), além<br />
do uso de madeira de demolição.<br />
O gerente do hotel, Dário Campos, explica que uma das ações<br />
mais recentes é a atualização do sistema de aquecimento de água<br />
através de energia solar, utilizado desde 1990. Agora eles estão<br />
substituindo por um de última geração. Outra questão destacada é a<br />
parceria com hóspedes e colaboradores nas iniciativas.<br />
“Organizamos um programa de conscientização sobre a<br />
necessidade de se utilizar racionalmente a energia elétrica. São feitas<br />
palestras e colocados cartazes nas salas dos colaboradores para<br />
conscientizar a equipe. Além disso, contamos com uma parceria com<br />
os hóspedes para a substituição de roupa de cama e toalhas com<br />
menor frequência”, destaca Campos. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
59
ISAAC<br />
EDINGTON<br />
Empresário, diretorpresidente<br />
do Instituto<br />
EcoDesenvolvimento e<br />
membro do conselho<br />
editorial da <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
SUSTENTABILIDADE | empreendedorismo<br />
DESAFIAR<br />
A MINORIA:<br />
UMA NOVA GERAÇÃO<br />
DE EMPREENDEDORES<br />
A palavra empreendedor (entrepreneur),<br />
originada do francês, é usada para descrever<br />
uma pessoa que tem, acima de tudo, a<br />
necessidade de realizar coisas novas. O<br />
conceito de empreendedorismo sempre<br />
se associa à pessoa que faz acontecer.<br />
Segundo o psicólogo americano David<br />
McClelland, que dedicou sua vida ao estudo<br />
dos empreendedores e suas características,<br />
imbuído da convicção do papel destes no<br />
desenvolvimento das nações, as pessoas<br />
podem ser divididas em dois grandes grupos:<br />
uma minoria que, quando desafiada por<br />
uma oportunidade, está disposta a trabalhar<br />
com determinação e afinco para conseguir o<br />
que quer, e uma grande maioria que não se<br />
importa tanto assim. McClelland afirma que<br />
as pessoas que têm necessidade de realizar<br />
se destacam porque, independentemente de<br />
suas atividades, fazem com que as coisas<br />
aconteçam.<br />
O empreendedor, com sua aguçada<br />
percepção, está sempre observando recursos<br />
escassos na região onde atua, recursos que<br />
não estejam sendo devidamente explorados<br />
ou até mesmo que não tenham sido alvo da<br />
atenção de ninguém, sendo, no entanto, uma<br />
boa fonte de oportunidade de negócio.<br />
Em resumo, podemos dizer que o<br />
empreendedor identifica uma oportunidade<br />
e cria um meio para aproveitá-la, assumindo<br />
os riscos que qualquer atividade empresarial<br />
oferece. Há, pelo menos, três fatores<br />
mundialmente aceitos que discorrem sobre<br />
por que os empreendedores são importantes<br />
para a sociedade:<br />
1. O empreendedor contribui para a<br />
criação de emprego e crescimento<br />
Cada vez mais, as novas e pequenas empresas<br />
se destacam na criação de novos postos de<br />
60 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
trabalho. Os países com maior aumento nas<br />
taxas de iniciativa empresarial tendem a<br />
ter um maior decréscimo nas suas taxas de<br />
desemprego.<br />
2. A iniciativa empreendedora estimula o<br />
desenvolvimento do potencial pessoal<br />
Uma ocupação não constitui apenas um modo<br />
de ganhar dinheiro. As pessoas utilizam<br />
outros critérios nas suas escolhas relativas<br />
à carreira, tais como a segurança, o nível de<br />
independência, a variedade de funções e o<br />
interesse pelo trabalho. Um estudo britânico<br />
mostrou que, além das motivações materiais<br />
(dinheiro e status social), as pessoas escolhem<br />
ser empreendedoras como meio de satisfação<br />
pessoal (liberdade, independência e desafio).<br />
Tornar-se empreendedor, do ponto de vista<br />
social, pode ser um meio para atingir uma<br />
posição melhor para si mesmo.<br />
3. A capacidade empreendedora e os<br />
interesses da sociedade<br />
Os empreendedores são os condutores da<br />
economia de mercado cujos resultados<br />
permitem que a sociedade disponha de<br />
riquezas, postos de trabalho e variedade<br />
de escolha para seus consumidores.<br />
Nesse sentido, muitas empresas adotaram<br />
estratégias e formas de responsabilidade<br />
social, o que implica a inclusão voluntária<br />
de aspectos sociais e ambientais nas<br />
suas respectivas operações, assim como<br />
nas suas relações com a sociedade. Tais<br />
empresas reconhecem que o comportamento<br />
empresarial responsável serve de base para<br />
seu sucesso.<br />
Entretanto, além de contarmos com<br />
os empreendedores já engajados e sua<br />
capacidade de cooptar seus pares, precisamos<br />
garantir o futuro com uma nova geração de<br />
empreendedores.<br />
Na Bahia, precisamos avançar rápido para<br />
garantir o nosso desenvolvimento. Precisamos<br />
estimular e criar uma nova geração de<br />
empreendedores. Será fundamental<br />
unir forças, atuar de forma integrada e<br />
participativa, com o apoio da academia, da<br />
sociedade civil, do setor produtivo, governos,<br />
veículos de comunicação, entre tantas outras<br />
organizações que podem contribuir muito. O<br />
objetivo é avançar e desafiar a minoria, citada<br />
por McClelland, a fazer acontecer e trabalhar<br />
com afinco em nosso estado.
SUSTENTABILIDADE | desenvolvimento sustentável<br />
ECOSSISTEMAS<br />
DE NEGÓCIOS<br />
CONSCIENTES<br />
Uma plataforma para a<br />
reinvenção da economia local<br />
MARCO<br />
PELLEGATTI<br />
Diretor da Amana-<br />
Key e consultor<br />
sênior. Formado em<br />
administração de<br />
empresas pela USP<br />
e MBA pela Kellogg,<br />
Northwestern University<br />
Em abril deste ano, as Bahamas<br />
assinaram um acordo com a norte-americana<br />
OTE Corporation para a construção de duas<br />
plantas de geração de energia com dez<br />
megawatts cada, por meio do processo de<br />
conversão da energia térmica dos Oceanos.<br />
Nesse processo, a água aquecida da<br />
superfície do mar circula por um conversor<br />
de calor, que transforma em vapor um<br />
produto químico de baixo ponto de ebulição,<br />
como a amônia. O vapor movimenta a turbina<br />
que gera eletricidade. Ao mesmo tempo,<br />
bombeia-se água bem mais fria, de uma parte<br />
profunda do mar, que condensa o vapor em<br />
amônia líquida novamente.<br />
Sistemas como esse já são usados por<br />
diversos países para a geração sustentável<br />
de energia elétrica, mas o caso das<br />
Bahamas contém algo a mais. A água fria,<br />
usada na condensação da amônia, será<br />
bombeada após o conversor para alimentar<br />
um conjunto de empreendimentos com<br />
diversas finalidades: dessalinização de água,<br />
maricultura, aquicultura e resfriamento<br />
de estufas de plantas temperadas. Juntos,<br />
esses empreendimentos formam um<br />
ecoparque industrial, solução que tende a<br />
representar um dos pilares da reinvenção de<br />
economias em direção a um desenvolvimento<br />
verdadeiramente sustentável.<br />
Se a sociedade baiana deseja reinventar<br />
sua economia efetivamente, este pode ser um<br />
conceito de grande valia. Com base nele, há<br />
alguns anos, realizamos um trabalho para um<br />
62 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
banco de desenvolvimento regional que tinha<br />
como propósito promover o desenvolvimento<br />
sustentável na Amazônia. Apoiamos o banco<br />
na realização de um concurso internacional<br />
para a geração de ideias tendo como pano de<br />
fundo o que batizamos de “ecossistemas de<br />
negócios conscientes”.<br />
Esses ecossistemas são uma solução para<br />
o falso dilema entre economia e ecologia,<br />
entre preservar e explorar os recursos de<br />
regiões com grande biodiversidade. Tratase<br />
de um conceito novo, que questiona a<br />
forma de pensar linear e fragmentária, e nos<br />
permite desafiar os limites do possível.<br />
Construir um ecossistema de negócios<br />
conscientes é assegurar a participação<br />
dos vários setores da sociedade (setor<br />
privado, setor público e sociedade civil) na<br />
criação de uma rede de empreendimentos<br />
comerciais e outras organizações, localizada<br />
em uma determinada região geográfica, que<br />
interrelaciona vários ramos de atividade e<br />
agrega diversas competências para satisfazer<br />
necessidades não-atendidas ou mal-atendidas<br />
da sociedade e do planeta.<br />
Os ecossistemas de negócios conscientes<br />
permitem a um conjunto de atores atuar<br />
coordenadamente na construção de mercados<br />
inéditos e inteiros, possibilitando a geração<br />
de um empreendedorismo inclusivo e ético,<br />
assegurando que todos ganhem com isso. Eles<br />
buscam institucionalizar uma verdadeira rede<br />
de relacionamentos “simbióticos” entre atores<br />
públicos, privados e sociedade civil, capaz<br />
de gerar um rápido desenvolvimento social e<br />
criar riqueza para uma determinada região.<br />
Embora o conceito de ecossistemas<br />
de negócios naturalmente traga em seu<br />
bojo a ideia de preservação ambiental, ao<br />
adicionarmos o qualificador “conscientes”,<br />
é também assegurar não apenas um<br />
empreender ambientalmente responsável,<br />
mas um empreender sistêmico, que considere<br />
as necessidades mais amplas da sociedade<br />
e do planeta. Um empreender de atividades<br />
muito relevantes para a sociedade e que<br />
assegure a continuidade da vida para todos,<br />
não só a curto prazo, mas levando em conta<br />
as gerações futuras. Um empreendedorismo<br />
verdadeiramente consciente, que não apenas<br />
escolhe as atividades “certas” para serem<br />
realizadas, mas busca a melhor forma de<br />
implementá-las: em busca do genuíno bem<br />
comum.
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
63
Renata Everett e<br />
Guilherme Valadares,<br />
da Ambiental PV<br />
ECONOMIA VERDE<br />
ECONOMIA CRIATIVA<br />
64 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Pedro de Souza
Diante de novos desafios<br />
globais, a economia<br />
baiana exibe expoentes<br />
que trabalham com<br />
soluções criativas e<br />
sustentáveis. Alguns<br />
podem chamar de<br />
aposta, outros de<br />
tendência, o certo é<br />
que essa realidade<br />
reconfigura a maneira de<br />
se pensar os negócios<br />
por RAÍZA TOURINHO<br />
L<br />
ogo após entrar na universidade, o baiano<br />
Guilherme Valadares foi voluntário em um<br />
evento que iria mudar a vida dele: a Conferência<br />
Mundial das Nações Unidas para o Meio<br />
Ambiente e Clima ou, como foi popularizada, a<br />
Eco 92. O Brasil é sede novamente do evento e<br />
muita coisa mudou na vida de Valadares, nessas<br />
duas décadas. Ele deixou de ser espectador para ser protagonista de<br />
um mundo que muda a cada piscar de olhos. Atualmente, é fundador<br />
e diretor-executivo da Ambiental PV, empresa sediada em Salvador,<br />
considerada em 2011 a melhor consultoria de carbono florestal da<br />
América do Sul pela revista britânica World Finance.<br />
Guilherme Valadares faz parte de uma nova realidade econômica<br />
global. As empresas do presente – e, principalmente, do futuro –<br />
necessitam de muito mais do que uma receita no bolo, como dar<br />
sempre razão ao cliente, para sobreviver no mundo corporativo. E<br />
boa parte do que você precisa compreender para entender os novos<br />
ingredientes pode ser traduzido em economia verde e criativa,<br />
tendências que estão dinamizando o conceito de economia e<br />
representam novos modelos de gestão de negócios.<br />
Os dois termos são recentes, mas o expressivo crescimento desses<br />
setores demonstra que o cenário não deve ser facilmente revertido.<br />
O comércio internacional em bens e serviços culturais cresceu, em<br />
média, 5,2% ao ano entre 1994 (US$ 39 bilhões) e 2002 (US$ 59<br />
bilhões), segundo estimativas da Unesco. Paralelamente, estudos<br />
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para uma<br />
participação de 7% desses produtos no PIB mundial, com previsões<br />
de crescimento anual em torno de 10% a 20%. Somente o Sebrae<br />
pretende investir na Bahia, até 2015, R$ 17 milhões para fomentar o<br />
setor de economia criativa.<br />
Os setores ligados à economia verde, por outro lado, estimam<br />
um crescimento ainda maior. Para esverdear a economia global é<br />
necessário, de acordo com um relatório do Programa das Nações<br />
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o investimento de 2% do PIB<br />
mundial por ano, o que corresponde a aproximadamente US$ 1,3<br />
trilhão, nos patamares atuais. O Brasil já concentra 2,65 milhões de<br />
pessoas empregadas nos ramos ligados à área, sendo a meta da OIT a<br />
geração de 20 milhões de vagas verdes até 2030. Na Bahia, já passa<br />
de dois mil o número de trabalhadores nesta nova tendência.<br />
O coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos<br />
Verdes da OIT-Brasil, Paulo Sérgio Muçouçah, afirma que a Bahia é<br />
um dos estados brasileiros mais avançados na geração de empregos<br />
verdes, uma vez que possui uma matriz energética que alinha<br />
biodiesel, energia eólica, hidroelétrica e solar. Além disso, segundo<br />
ressaltou, o estado possui o maior número de agricultores familiares,<br />
o que lhe proporciona “excelente oportunidade para gerar mais<br />
empregos verdes”.<br />
E todo esse cenário ocorre justamente na época em que as<br />
principais economias do planeta passam por uma forte recessão.<br />
Mas o que são, exatamente, esses dois conceitos?<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
65
NORMAS PARA<br />
ECONOMIA VERDE<br />
FONTE: INSTITUTO SUSTENTA<br />
ISO 14001 define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de<br />
Gestão Ambiental (SGA) efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo<br />
de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do<br />
impacto ambiental, com o comprometimento de toda a organização.<br />
CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA VERDE<br />
FONTE: ÉRICA RUSCH/INSTITUTO SUSTENTA<br />
Mudanças na política fiscal • Reforma e redução de subsídios<br />
prejudiciais ao meio ambiente • Emprego de novos instrumentos<br />
de base de mercado • Investimentos públicos para setores-chave<br />
“verdes” • Tornar mais verdes os contratos públicos • Melhoria<br />
das regras, regulamentos ambientais e sua execução<br />
Esverdear<br />
A sustentabilidade, que já foi considerada<br />
apenas moda, ultrapassou as fases em que<br />
funcionava como marketing e tornou-se<br />
bem mais do que uma boa oportunidade<br />
de investimentos, uma necessidade. A<br />
economia verde ainda não possui definição<br />
consensual, nem diretrizes claras, mas já<br />
se tornou suficientemente importante para<br />
ser o tema principal da maior conferência<br />
ambiental das últimas duas décadas, a<br />
Conferência das Nações Unidas sobre o<br />
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que<br />
reúne representantes de 180 países no Rio de<br />
Janeiro.<br />
O protagonismo das corporações é<br />
essencial à transição para a economia verde,<br />
embora seja este muito mais do que um<br />
modelo de gestão coorporativo. O conceito,<br />
na verdade, vai além ao evocar mudanças<br />
estruturais no próprio modelo econômico<br />
vigente.<br />
66 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Parque de Energia Eólica<br />
em Brotas de Macaúbas<br />
FOTO: Alberto Coutinho/Secom<br />
ISO 26000 norma não certificadora voluntária, reconhecida como<br />
o instrumento para a economia verde. É uma norma técnica que<br />
orienta as empresas de todo o mundo sobre como direcionar seus<br />
negócios para a responsabilidade social e a sustentabilidade.<br />
A definição mais largamente utilizada<br />
para a economia verde foi cunhada pelo<br />
Pnuma, sendo considerada aquela que<br />
promove a melhoria do bem-estar humano<br />
e da igualdade, e, ao mesmo tempo, reduz<br />
significativamente os riscos ambientais. As<br />
três características principais das atividades<br />
dessa economia são: reduzir a emissão de<br />
carbono, ser eficiente no uso de recursos<br />
naturais e ser socialmente inclusiva.<br />
Além disso, a escassez das matériasprimas<br />
e as mudanças climáticas estão<br />
forçando diversos setores a adaptar-se<br />
às condições adversas de produção. E as<br />
corporações não estão olhando para o lado<br />
vazio do copo: o relatório “Adapting for a<br />
Green Economy: Companies, Communities,<br />
and Climate Change” indica que 86% das<br />
empresas consideram que enfrentar o risco<br />
climático representa uma oportunidade de<br />
negócios.<br />
Eureka<br />
Se a economia verde é considerada o<br />
ingrediente principal para reformular a<br />
base econômica global, a economia criativa<br />
pode ser designada como a “cereja do bolo”.<br />
Investir em mentes e soluções em vez de<br />
matérias-primas pode ser realmente uma<br />
boa ideia – principalmente, se for contar a<br />
baixíssima emissão de carbono.<br />
De acordo com o Ministério da Cultura<br />
(MinC), os setores criativos são todos<br />
aqueles cujas atividades produtivas têm<br />
como processo principal um ato criativo<br />
gerador de valor simbólico, elemento central<br />
da formação do preço, e que resulta em<br />
produção de riqueza cultural e econômica.<br />
“É a gestão da criatividade para a geração<br />
de riquezas, abrangendo um conjunto de<br />
setores econômicos que só vivem em função<br />
de criatividade (das artes às mídias digitais)”,<br />
explica Ana Carla Fonseca, especialista<br />
internacional em economia criativa.<br />
A economia criativa é, portanto, a<br />
economia do intangível, do simbólico. Ela<br />
se alimenta dos talentos criativos, que se<br />
organizam individual ou coletivamente para<br />
produzir bens e serviços criativos. A nova<br />
economia possui dinâmica própria e, por
DADOS<br />
ECONOMIA CRIATIVA<br />
FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA<br />
isso, desconcerta os modelos econômicos<br />
tradicionais, uma vez que seus modelos de<br />
negócio ainda se encontram em construção,<br />
carecendo de marcos legais e bases<br />
conceituais.<br />
Supervisor de economia criativa do<br />
Sebrae Bahia, José Élio Souza considera a<br />
área “tímida” e afirma que o potencial do<br />
setor ainda não é bem explorado no estado.<br />
Caracterizada pela produção descentralizada<br />
em micro e pequenas empresas, a economia<br />
criativa é uma atividade transversal. “(Ou<br />
seja,) participa de todas as áreas como<br />
usuária e fornecedora de produtos, serviços<br />
e conhecimento, o que torna capaz de<br />
contribuir em todos os níveis, no fomento da<br />
economia em todo o estado”, afirma Souza,<br />
explicando a extensão da área.<br />
“Do ponto de vista cultural pode se<br />
dizer que houve um avanço da Bahia nos<br />
últimos seis anos. A consolidação de políticas<br />
culturais e a utilização de novas mídias<br />
motivaram o setor criativo a empreender.<br />
Muitas das novas empresas de serviços<br />
criativos vêm galgando passos e ocupando<br />
espaço no mercado”, conta<br />
O músico Vince Athayde, fundador<br />
da Maquinário Produções, acredita que<br />
a consolidação de políticas culturais e a<br />
utilização de novas mídias motivou o setor<br />
criativo a empreender. Para ele, muitas das<br />
novas empresas de serviços criativos galgam<br />
novos passos e ocupam espaço no mercado.<br />
“É preciso modificar a imagem de que a Bahia<br />
ainda tem produções mambembes, pouco<br />
profissionais. Assim, vamos atrair o interesse<br />
dos baianos em permanecer no estado,<br />
pelo reconhecimento de que será possível<br />
desenvolver um trabalho de qualidade aqui”,<br />
diz.<br />
Perspectivas para o novo cenário<br />
Ex-presidente da Petrobras, o secretário de<br />
Planejamento do Estado da Bahia (Seplan),<br />
José Sérgio Gabrielli, ressalta que as empresas<br />
não podem mais ignorar a responsabilidade<br />
social corporativa ou as pressões regulatórias.<br />
“É impossível uma empresa sobreviver sem<br />
ter uma relação adequada com o ambiente<br />
em que ela está colocada e sem ter uma<br />
Setores criativos contribuem<br />
com R$ 104,37 bilhões<br />
(2,84% do PIB brasileiro) ao<br />
PIB do Brasil (2010).<br />
Supera a indústria extrativa (R$78,77<br />
bilhões) e a produção e distribuição<br />
de eletricidade, gás, água, esgoto e<br />
limpeza urbana (R$ 103,24 bilhões).<br />
boa relação com seus trabalhadores, seus<br />
fornecedores e seus clientes. A nova realidade<br />
econômica social exige das empresas uma<br />
nova postura”, afirma.<br />
O professor titular da Faculdade de<br />
Economia da Universidade São Paulo<br />
(FEA/USP) Ricardo Abramovay reitera a<br />
necessidade da adoção de uma atitude<br />
diferenciada das corporações. “A noção<br />
de necessidades (da sociedade) deixou<br />
de ser um tema filosófico abstrato, um<br />
assunto de governo ou de organizações de<br />
consumidores. Tem que integrar o âmago das<br />
decisões empresariais”, ressalta Abramovay,<br />
explicando a importância de o mundo<br />
empresarial levar em conta todos os custos e<br />
os stakeholders.<br />
Deste modo, as empresas inseridas na<br />
economia verde já estão um passo à frente no<br />
novo contexto social. “As organizações com<br />
esse perfil precisam compartilhar práticas e<br />
soluções, e mostrar que a sustentabilidade<br />
BENEFÍCIOS DA ECONOMIA CRIATIVA<br />
FONTE: SEBRAE<br />
Produção não poluente • Inovação tecnológica • Gera<br />
emprego e renda • Gera tributos, taxas e impostos • Estimula<br />
novas qualificações profissionais • Alimenta a economia a<br />
outros segmentos produtivos • Promove inclusão social<br />
São 63.373 empresas ligadas<br />
ao setor, representando<br />
1,86% do total de 3.403.448<br />
empreendimentos do país.<br />
Adriana Souza (Camapet) e Mario Bestetti (Overbrand) exibem produtos da<br />
CamapetBiju, uma união entre os catadores de resíduos e o design social<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
67
Ney Campello, secretário da Secopa, firma o<br />
projeto Territórios Criativos em Salvador, pela<br />
qualificação do Santo Antônio Além do Carmo<br />
deixou de ser apenas um diferencial competitivo para ser condição<br />
necessária ao sucesso do negócio”, afirma Érica Rusch, especialista em<br />
direito ambiental e presidente do Instituto Sustenta.<br />
Segundo ela, as empresas necessitam adotar práticas responsáveis<br />
e sustentáveis, tais como: evitar custos ambientais, minimizar o uso de<br />
matérias-primas, utilizar eficientemente a água e a energia. “Ou seja,<br />
encontrar soluções viáveis e econômicas que controlem e melhorem<br />
o desempenho de uma organização”, explica Érica, acrescentando: “A<br />
transição para uma economia verde trará benefícios a longo prazo que<br />
compensarão possíveis perdas de curto prazo”.<br />
Cenário<br />
Diante da urgência de medidas que mitiguem as mudanças climáticas,<br />
aliadas à criticidade do aumento do consumo energético, o setor<br />
que mais se destaca globalmente na economia verde é o de energia<br />
renovável. Na Bahia, não é diferente. “A nossa matriz energética é<br />
muito suja. Hoje, 10% de nossa energia vem da lenha. É necessário se<br />
intervir nessa questão aqui. É diferente da matriz energética brasileira,<br />
que tem 46% de fontes renováveis”, afirma o titular da Seplan, José<br />
Sérgio Gabrielli.<br />
Segundo o secretário, há diversas iniciativas no estado para o<br />
aumento da eficiência na geração elétrica e no uso dos recursos<br />
68 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
HISTÓRICO DA<br />
ECONOMIA CRIATIVA<br />
FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA<br />
FOTO: Divulgação<br />
O conceito originou-se do termo<br />
indústrias criativas, inspirado no projeto<br />
CreativeNation, da Austrália, de 1994.<br />
Entre outros elementos, o projeto defendia<br />
a importância do trabalho criativo, sua<br />
contribuição para a economia do país e<br />
o papel das tecnologias como aliadas da<br />
política cultural, possibilitando à posterior<br />
inserção de setores tecnológicos no rol<br />
das indústrias criativas.
nos processos agrícolas. No entanto, todas<br />
as atenções do governo estão voltadas ao<br />
grande potencial eólico do estado. “Regiões<br />
importantes do semiárido têm ventos<br />
estáveis e relevo adequado para a energia<br />
eólica. Vamos ter um crescimento grande,<br />
provavelmente, no parque eólico no estado.<br />
E não somente na eletricidade. Começa a ser<br />
atraída para cá toda a cadeia de fornecimento<br />
de equipamentos para a energia eólica”,<br />
conta.<br />
Somente em janeiro deste ano, foram<br />
licenciados 133 projetos para implantação<br />
de complexos de energia eólica no estado.<br />
Atualmente, 57 projetos na área estão<br />
previstos para se instalar na Bahia,<br />
somando o montante de R$ 6,5 bilhões em<br />
investimentos. A previsão é que, até setembro<br />
de 2012, 18 parques estejam em pleno<br />
funcionamento.<br />
Gabrielli também incluiu a economia<br />
criativa como um componente forte na<br />
atividade econômica do estado. Embora o<br />
insumo esteja no campo das ideias, isso não<br />
significa que o setor seja sustentável por<br />
natureza.<br />
“A economia criativa pode ou não<br />
gerar igualdade social e redução de riscos<br />
ambientais - depende de que política obedeça.<br />
Ideias podem gerar serviços (que, claro, são<br />
intangíveis) ou produtos (que podem ter um<br />
passivo ambiental enorme - basta pensar<br />
nos celulares, nas trocas das coleções de<br />
moda em poucos meses e etc). A economia<br />
criativa é mais meio que fim”, enfatiza a<br />
economista Ana Carla Fonseca, que também é<br />
conselheira especial das Nações Unidas sobre<br />
economia criativa.<br />
Visionários. Esse é um dos adjetivos<br />
cabíveis aos empreendedores que olharam<br />
à frente e começam a investir em uma área<br />
ainda incipiente e sem retorno rápido. Tudo<br />
com certa dose de paixão. Em comum, eles<br />
ainda têm a coragem de seguir por um novo<br />
rumo sem se limitar à área de formação<br />
original, além do olhar de que a Bahia é<br />
muito mais do que a capital. Confira nas<br />
páginas a seguir as histórias de algumas das<br />
empresas que escrevem com o seu suor as<br />
linhas da reinvenção da economia baiana.<br />
José Sérgio Gabrielli, secretário da Seplan,<br />
afirma que a nova realidade econômica social e<br />
ambiental exige das empresas uma nova postura<br />
Érica Rusch, presidente do Instituto Sustenta,<br />
acredita que a transição para uma economia<br />
verde trará benefícios a longo prazo<br />
FOTO: Divulgação<br />
FOTO: Divulgação<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
69
AMBIENTAL PV<br />
F<br />
oi durante a temporada que passou estudando<br />
engenharia florestal na Califórnia que o baiano<br />
Guilherme Valadares conheceu a norte-americana<br />
Renata Everett. Não demorou muito para que ela<br />
se tornasse sua mulher e companheira de jornada.<br />
Enfrentando as grandes expectativas da família, os dois engenheiros<br />
fundaram uma pequena empresa de consultoria na cidade natal de<br />
Guilherme, para onde ele sempre sonhou em voltar mesmo depois de<br />
rodar o mundo: Salvador.<br />
O que era então uma história de amor entre dois engenheiros em<br />
um país distante virou um case de sucesso em plena terra do axé.<br />
Em 2001, deixaram de lado os empregos em grandes companhias no<br />
Sudeste brasileiro e partiram para uma pequena sala na Barra, situada<br />
entre um ateliê de costura e um consultório odontológico, para tratar<br />
de um tema até então incipiente no Brasil. “A sustentabilidade não era<br />
algo comum. Ainda hoje é um desafio muito grande”, conta Guilherme,<br />
diretor-executivo da Ambiental PV.<br />
Guilherme Valadares e Renata<br />
Everett enxergam um horizonte<br />
sustentável para o Brasil<br />
“A sustentabilidade<br />
não era algo comum.<br />
Ainda hoje é um<br />
desafio muito grande”<br />
70 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Pedro de Souza<br />
Aos poucos, e muitas negativas depois,<br />
as oportunidades foram surgindo. E eles<br />
souberam aproveitar cada uma. “Tivemos a<br />
humildade de começar pequeno e, ao mesmo<br />
tempo, com uma agressividade positiva. No<br />
segundo mês, já estávamos operando no<br />
verde”. A agressividade que Guilherme cita<br />
foi a de vislumbrar um mercado inexplorado.<br />
“Uma vez, quando trabalhamos com a<br />
Odebrecht, Dr. Norberto me disse: ‘Guilherme,<br />
menos técnica e mais coragem’. Eu acho que<br />
o segredo é esse: mais coragem para fazer as<br />
coisas acontecerem”, diz.<br />
Foi com determinação que ele conseguiu<br />
conquistar como clientes grandes a<br />
Conservation Internacional, The Nature<br />
Conservancy, PriceWaterHousecoopers,<br />
Forest Trends, além da Fundação Odebrecht.<br />
A consultoria já implantou projetos desde o<br />
interior baiano até a Amazônia brasileira e a<br />
América Central.<br />
Os empreendedores tiveram coragem<br />
ainda para passar de consultores a<br />
desenvolvedores de projetos. Foi o caso do<br />
programa Fogões Ecológicos, que aproveita o<br />
potencial do Recôncavo baiano, com apoio da<br />
Natura, beneficiando mais de seis mil famílias<br />
baianas que ainda usam fogão à lenha. O<br />
programa já está capacitando pessoas para<br />
virarem microempresários locais. “Temos<br />
um potencial muito bom no Brasil, mas na<br />
maioria dos casos falta capital financeiro.<br />
Nossa força está justamente em facilitar esse<br />
processo”, diz Guilherme, revelando que<br />
está em fase de criação um fundo de capital<br />
internacional para projetos brasileiros. “Nós<br />
temos a engenhosidade do povo baiano”,<br />
conta.<br />
Os frutos do trabalho duro começam<br />
a aparecer. Em 2011, os leitores da revista<br />
britânica World Finance elegeram a<br />
Ambiental PV como a melhor consultoria de<br />
carbono florestal da América do Sul. Embora<br />
não revele números, Guilherme conta que<br />
a Ambiental PV vem aumentando lucros<br />
e receitas anualmente. “Mesmo durante a<br />
crise”. A receita? Flexibilidade. “Queremos<br />
continuar pequenos, ágeis e flexíveis. Nessa<br />
área, se eu tenho uma estrutura muito<br />
grande, eu morro”.
MAQUINÁRIO PRODUCÕES<br />
I<br />
novação pressupõe coragem. E<br />
foi esta, com uma ajudinha das<br />
portas fechadas do mercado, que<br />
impulsionou o músico Vince Athayde<br />
a pular para o outro lado do balcão.<br />
“Eu era somente músico e quando partia<br />
para difundir o que estava sendo produzido,<br />
o processo travava. Eu tinha o conteúdo,<br />
mas não tinha estratégia. Além do mais,<br />
o mercado estabelecido já dava sinal de<br />
desmoronamento há muitos anos”, conta ele.<br />
Em 2006, aproveitou a oportunidade e<br />
fundou a Maquinário Produções, destinada a<br />
preencher, como conta Vince, o grande espaço<br />
em branco na produção cultural baiana – a<br />
tal da música alternativa. “Vi a necessidade<br />
de construir plataformas para difusão de<br />
uma nova música que estava sendo criada na<br />
Bahia, de um novo recorte estético, e percebi<br />
que isso poderia ser uma estratégia de<br />
mercado em longo prazo”.<br />
FOTO: Divulgação<br />
“Ainda não vendemos<br />
beijo na boca tão bem<br />
quanto os shows<br />
de axé, mas estamos<br />
chegando lá”<br />
Zona Mundi, Conexão Vivo e<br />
Futurama são alguns dos projetos<br />
da Maquinário na Bahia<br />
A iniciativa vem dando certo. A produtora foi responsável pela<br />
vinda de grandes projetos musicais ao estado, como o Conexão Vivo,<br />
além de criar outros de grande visibilidade, tal qual o Futurama e<br />
o Zona Mundi – Circuito Eletrônico de Som e Imagem, no Museu de<br />
Arte Moderna da Bahia.<br />
A inovação não para por aí. “Estruturamos uma rede de<br />
produtores associados a microempresas e empreendedores<br />
individuais. A primeira ação implantada foi a Incubadora de<br />
Festivais e Mostras de Música (Ifem), desenvolvendo festivais nas<br />
cidades polos dos territórios de identidade da Bahia, como Vitória da<br />
Conquista, Juazeiro, Ilhéus e Salvador”. Assim a produtora expandiu<br />
seus territórios, explorando o potencial do interior do estado. “Com<br />
um recorte estético diferenciado, ainda não vendemos beijo na boca<br />
tão bem quanto os shows de axé, mas estamos chegando lá”.<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
Vince Athayde sentiu a<br />
necessidade de construir<br />
plataformas para difusão de<br />
uma nova música que estava<br />
sendo criada na Bahia.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
71
CAMAPET<br />
Adriana deixou de<br />
ser empregada<br />
doméstica e auxiliar<br />
de professora para<br />
ser gerente do<br />
CamapetBiju<br />
“Ao mesmo tempo<br />
que ajuda o meio<br />
ambiente, cria<br />
renda para a gente”<br />
72 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
FOTO: Divulgação<br />
O<br />
riunda de uma família<br />
humilde, Adriana Souza já<br />
conquistou muito no auge<br />
dos seus 28 anos. Após ser<br />
empregada doméstica e<br />
auxiliar de professora, ela, que só estudou<br />
até a quarta série, decidiu embarcar em<br />
um projeto em que nada indicava que teria<br />
êxito: fundar uma cooperativa de material<br />
reciclável. Foi assim que há 13 anos surgiu<br />
na Baixa do Fiscal, a Camapet – Cooperativa<br />
de Coleta Seletiva, Processamento de<br />
Plástico e Proteção Ambiental. Junto a meia<br />
centena de jovens, Adriana acreditou que o<br />
negócio poderia dar certo. E deu.<br />
A Camapet é um empreendimento<br />
associativo e autogestionário e conta<br />
atualmente com 26 cooperados que<br />
sobrevivem da coleta e doação de recicláveis<br />
- plástico, papel, vidro, metais e óleo de<br />
fritura. Mensalmente, a cooperativa coleta<br />
cerca de 50.970 quilos (ou litros, no caso dos<br />
900 litros de óleo) de material reciclável,<br />
sendo que papel e papelão respondem por<br />
78% desse volume. “No início, não tínhamos<br />
quase nada. Hoje é tanto material que quase<br />
não damos conta”, ressalta Adriana.<br />
A iniciativa teve tanto sucesso que<br />
originou a CamapetBiju, em 2005. A<br />
extensão fabrica joias e artefatos pelas<br />
mãos dos cooperados feitos com aquilo<br />
que já foi considerado lixo. São vendidas<br />
por mês aproximadamente 200 peças,<br />
além de decoração em eventos, shows,<br />
como o Festival de Verão, e camarotes no<br />
Carnaval. “Ao mesmo tempo que ajuda o<br />
meio ambiente, cria renda para a gente”, diz<br />
Adriana, que passou de cooperada a gerente<br />
do CamapetBiju.<br />
A Camapet acumula prêmios. Em<br />
2006, faturou o sétimo prêmio Fieb<br />
Desempenho Ambiental, na categoria<br />
Projetos Cooperativos de Responsabilidade<br />
Socioambiental. Em 2009, foi a vez do<br />
Sebrae indicar a cooperativa como uma<br />
das cem melhores unidades de artesanato<br />
do Brasil. Na categoria coleta e separação,<br />
a Camapet ganhou o prêmio Ecopet, da<br />
Associação Brasileira da Indústria do Pet-<br />
Abipet, em 2010.
OVERBRAND<br />
S<br />
alvo se for especialista na área,<br />
esqueça o que você pensa<br />
sobre design. O setor, que já foi<br />
sinônimo só de peças gráficas e<br />
de moda, se expandiu no estado,<br />
incorporando muito mais do que o senso comum<br />
imagina. É o caso do design praticado pela baiana<br />
Overbrand. Especializada em design estratégico<br />
e social, a empresa realiza desde requalificação e<br />
planejamento urbano até soluções de geração de<br />
renda para comunidades específicas. “Design para<br />
a gente é processo”, explicita um dos sócios da<br />
empresa, Mario Bestetti.<br />
A Overbrand foi criada em 2006, quando três<br />
designers que atuavam em áreas sociais resolveram<br />
unir forças. Atualmente com dois sócios, Rodrigo<br />
Lira e Mario Bestetti, a empresa conta com sete<br />
designers fixos, que mal conseguem ocupar os<br />
seus lugares no escritório diante de tanto trabalho<br />
externo.<br />
É o caso dos projetos Caminhos do Oeste,<br />
que potencializa a identidade mercadológica de<br />
destinos turísticos do Oeste baiano; a rede de<br />
produção e comercialização do território sisaleiro,<br />
que requalificou o Centro de Artesanato e Arte<br />
da Região do Sisal de Valente (BA); e o Território<br />
Candeal 2014, que visa a requalificação do bairro<br />
através de investimentos na perspectiva de<br />
território criativo.<br />
Entre projetos de desenvolvimento territorial e<br />
construção mercadológica, a empresa está presente<br />
em diversas cidades da Bahia e em outros três<br />
estados brasileiros, com propostas de expansão<br />
para mais dois. “Mas o estado é muito grande. Não<br />
precisa sair”, conta Mario, ressaltando que ainda há<br />
muito espaço para o crescimento interno.<br />
O cenário não poderia ser melhor para o design<br />
baiano, de acordo com ele. Embora ainda seja<br />
volátil, a área começa a ser pensada no âmbito<br />
governamental e a se consolidar no mercado.<br />
“Estão se criando caminhos onde o design pode ser<br />
inserido”, diz. A cautela, no entanto, é uma marca<br />
da empresa, que, como não poderia deixar de ser,<br />
avalia todo o cenário antes de alçar voos mais<br />
altos. “A coisa não é crescer de forma rápida, mas<br />
sustentável”. A curva de crescimento da empresa é<br />
de 10% a 20%, sempre crescente.<br />
De sorriso tímido mas fácil, Mario se diz<br />
realizado na área. “Nós não oferecemos apenas um<br />
serviço, nós damos esperança às pessoas”.<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
Mario Bestetti apresenta<br />
os bonecos produzidos<br />
por artesãos do projeto<br />
Pracatum, no Candeal,<br />
para a Copa 2014<br />
“Design para a<br />
gente é processo”<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
73
ONDA ELÉTRICA<br />
FOTO: Divulgação<br />
M<br />
arcel Fonseca não se importa de<br />
ser chamado de louco. De certa<br />
forma, vê até como um elogio.<br />
“Todos me chamam de louco.<br />
Imagine o que seria do mundo<br />
sem os loucos?”, justifica. Técnico em quatro áreas<br />
diferentes, ele afirma que encara qualquer coisa.<br />
Há uma década, topou o desafio de ser pioneiro em<br />
uma área na qual ele nunca tinha escutado falar. E<br />
foi assim, “para diversificar os negócios”, que Marcel<br />
começou a dividir o tempo em que administrava<br />
sua imobiliária para investir em geração de energia<br />
solar no interior baiano. O projeto, dependente da<br />
boa vontade dos políticos locais, acabou não tendo<br />
o êxito esperado. Marcel, contudo, não desistiu.<br />
Convencido de que a economia verde representava o<br />
futuro, ele trocou de lado: passou a vender pensando<br />
no consumidor. Visitou quase 200 fábricas na China<br />
para trazer a primeira distribuidora de veículos<br />
elétricos genuinamente baiana para o estado.<br />
Uma scooter elétrica custa R$ 3.645 e, caso<br />
consuma os 60 quilômetros de autonomia da bateria<br />
todos os dias, gasta mensalmente R$ 18 de energia.<br />
A única desvantagem é a potência, que a faz atingir<br />
a velocidade máxima de 45 km/h. “Na Bahia, temos<br />
um grande problema de mudar conceitos”, lamenta<br />
Marcel, ao informar que o maior mercado da<br />
empresa é o Rio Grande do Sul, pela internet, apesar<br />
das duas lojas na capital baiana.<br />
Atualmente, com quatro anos de existência,<br />
a Onda Elétrica já dobrou a produção e começa a<br />
implementar um novo sistema de “representação<br />
fácil” que deve incrementar os negócios. A<br />
expectativa é que a distribuidora cresça até 2.000%<br />
nos próximos anos. “Nos últimos três meses,<br />
estamos vendendo mais do que podemos entregar”.<br />
O percentual, entretanto, ainda é pouco comparado<br />
à ambição do empreendedor. Ele se prepara para<br />
lançar o primeiro veículo elétrico baiano: o Econ, um<br />
triciclo com design futurista, 100% reciclável.<br />
Além disso, Marcel está em fase de captação de<br />
recursos para realizar um sonho de R$ 100 milhões.<br />
Trata-se do Oi Gera, um sistema de abastecimento<br />
elétrico. Ele pretende instalar um equipamento<br />
de geração de energia por meio do lixo, que irá<br />
abastecer gratuitamente os veículos adquiridos na<br />
Onda Elétrica. Assim, de uma vez só, reduzem-se<br />
as emissões de carbono por combustão, os resíduos<br />
sólidos e a energia oriunda de fontes sujas. “Para isso<br />
é preciso que todo o mundo acredite”.<br />
74 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Montado na moto elétrica. Marcel<br />
Fonseca visitou quase 200<br />
fábricas de veículos na China<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
“Os veículos elétricos<br />
são mais taxados do<br />
que os carburados. Falta<br />
interesse do governo”
IN-VENTO<br />
FOTO: Divulgação<br />
O<br />
envolvimento de Gilberto Monte<br />
com a economia criativa é anterior<br />
à popularização do termo. Entre<br />
2003 e 2007, ele trabalhou na<br />
Eletrocooperativa, onde começou a<br />
pensar em inclusão social, digital, e novos modelos<br />
econômicos baseados na criatividade. “Foi um grande<br />
laboratório para as ações que desenvolvemos hoje”,<br />
diz. Após passar outros quatro anos na Diretoria<br />
de Música da Fundação Cultural do Estado da<br />
Bahia (Funceb) e conhecer em Londres diversos<br />
empreendimentos dedicados às indústrias criativas,<br />
ele decidiu virar um empreendedor da área.<br />
Foi assim que surgiu a In-Vento e o Instituto<br />
In-Vento, que, ainda embrionários, pretendem<br />
“ressignificar e provocar transformação do setor<br />
cultural através de inovação, desenvolvimento<br />
de redes de trabalho, e pesquisa”, como conta<br />
Gilberto. A ideia é desenvolver e implementar uma<br />
série de soluções para o mercado da cultura e do<br />
entretenimento, além de ações para fortalecer o setor.<br />
“Precisamos<br />
investir em<br />
inovação, no<br />
risco, no erro.<br />
É nesse cenário<br />
que daremos<br />
o salto”<br />
Gilberto Monte foi da<br />
Eletrocooperativa e hoje<br />
trabalha para “ressignificar<br />
o setor cultural”<br />
Em junho, a In-Vento estreia uma plataforma para<br />
conectar profissionais da área, realizando cursos, palestras e<br />
workshops. No segundo semestre, essas ações culminarão em<br />
uma conferência sobre economia criativa.<br />
De acordo com Monte, a In-Vento já possui diversos<br />
projetos em andamento, focados principalmente no<br />
crowdsourcing e o crowdfunding. “Estamos também<br />
construindo um estúdio crossmedia (música, vídeo e<br />
design), que estará pronto em agosto para pesquisa e<br />
desenvolvimento de conteúdo”, explicita.<br />
Ele acredita que a economia criativa possui um grande<br />
potencial na Bahia. “Através dela, podemos atingir ótimos<br />
índices de desenvolvimento no setor econômico e social.<br />
De uma forma nova, poderemos, sem copiar os tradicionais<br />
modelos desenvolvidos nos Estados Unidos e alguns países<br />
europeus, desenvolver soluções criativas compartilhando<br />
valores que estão ligados à perspectiva de uma nova<br />
economia. A oportunidade é de transformação”, reitera.<br />
O otimismo do empresário tem alicerce na experiência<br />
como gestor público e músico. “Precisamos investir em<br />
inovação, no risco. É nesse cenário que daremos o salto”. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
75
ESTRATÉGIAS<br />
PARA CONECTAR<br />
PESSOAS<br />
ÀS MARCAS<br />
76 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Rodrigo Hurtado e Ingrid<br />
Queiroz comandam a jovem<br />
empresa baiana DMI.<br />
Criatividade e tecnologia<br />
são termos do dia a dia da<br />
agência, que aposta em uma<br />
comunicação “transmidiática”<br />
para solucionar os desafios<br />
dos clientes<br />
por MURILO GITEL<br />
fotos DANILO LIMA<br />
O<br />
ambiente é repleto<br />
de mentes jovens<br />
imersas no universo<br />
da criatividade. Post<br />
its de diversas cores e tamanhos<br />
decoram as paredes de vidro e<br />
servem de guias e ideias para novos<br />
briefings e jobs. Em mais uma tarde<br />
de ebulição criativa, visitamos o<br />
escritório da agência interativa DMI,<br />
na avenida Centenário. Lá, os sócios<br />
e cônjuges Rodrigo Hurtado e Ingrid<br />
Queiroz revelaram o “algo a mais”<br />
que eles têm a contribuir com o<br />
mercado.<br />
Ela, formada em administração<br />
de empresas, e ele, da área de<br />
design e publicidade digital, se<br />
conheceram, namoraram e casaram.<br />
Há cinco anos, o casal deu início<br />
à empresa baiana que apostou em<br />
uma embrionária tendência. Tempos<br />
depois, a investida mostrou que não<br />
era mesmo um blefe e a DMI passou<br />
a colher resultados positivos. Hoje<br />
conta com um crescimento de 30%<br />
ao ano, novos clientes de peso e sede<br />
própria também na maior cidade do<br />
país, São Paulo.<br />
Tudo começou quando a<br />
DMI passou a ser procurada por
tradicionais agências de publicidade de<br />
Salvador, que não tinham a expertise<br />
digital. “Quando fazíamos nosso serviço,<br />
sempre acabávamos oferecendo algo<br />
a mais. Questionávamos por que fazer<br />
apenas um site?”, lembra Hurtado. No<br />
entanto, o diferencial que a DMI propunha<br />
era rechaçado por essas agências parceiras,<br />
que não entendiam as propostas. Era o<br />
momento de declarar independência e<br />
procurar os próprios clientes. Deu certo.<br />
O que tinha de diferente nas propostas<br />
de vocês que ainda não eram aceitas<br />
naquele tempo?<br />
Rodrigo: É que, além de sites, nós já<br />
pensávamos em agregar promoções<br />
(pontuais ou não), oferecer visibilidade<br />
nas redes sociais, gerar conteúdo para<br />
aparelhos portáteis. Enfim, diversas<br />
alternativas. Porém as agências<br />
não entendiam nossas propostas e<br />
diziam que os clientes não queriam<br />
tais serviços. Resolvemos, então, ser<br />
independentes.<br />
O que os diferencia no mercado?<br />
Ingrid: Hoje o nosso diferencial é<br />
oferecer estratégia de planejamento.<br />
Por conhecer essas ações, como<br />
aplicá-las, nós sabemos o que podemos<br />
oferecer e o que os nossos clientes vão<br />
poder colher de resultado.<br />
Rodrigo: Nunca pensamos só no<br />
serviço. Por exemplo: ‘Eu sou uma<br />
empresa que faço o site’. ‘Eu sou a<br />
empresa que faço o mail-marketing’.<br />
Existe um mundo de comunicação<br />
interativa que pode servir para<br />
as necessidades do nosso cliente.<br />
O objetivo é conectar a marca às<br />
pessoas utilizando novas tecnologias.<br />
Já existiram várias ondas. A onda do<br />
e-mail marketing, a onda do Bluetooth,<br />
do mobile, mas nós sempre agregamos<br />
essas possibilidades aos nossos<br />
serviços. Estamos sempre atentos às<br />
novas tecnologias, tentando trazê-las ao<br />
mercado.<br />
Vocês atendem a quais setores atualmente?<br />
Ingrid: Já atendemos a vários setores, como varejo, automobilístico,<br />
produtos de limpeza e até mesmo campanha política.<br />
A comunicação digital pode ser considerada imprescindível hoje?<br />
Rodrigo: Sem dúvida. As empresas começaram a perceber que<br />
precisam investir bem em comunicação digital. Elas precisam<br />
aparecer na internet, ter uma presença nas redes sociais. Fazemos<br />
uma espécie de raio-x para elas, além de identificarmos os melhores<br />
lugares para investirem na internet.<br />
O mercado baiano compreende essa necessidade?<br />
Ingrid: O esforço que temos de fazer para convencer o cliente<br />
baiano de que a comunicação digital é importante é muito grande. A<br />
publicidade off-line aqui ainda é muito tradicional.<br />
Rodrigo: Na verdade, a gente acaba não convencendo eles... Nós<br />
apenas mostramos a realidade. O cliente quer fazer só um site, aí nós<br />
mostramos que o site faz parte de uma estratégia de comunicação,<br />
mas que não é tudo. Podemos idealizar promoções interativas, ações<br />
mobile, alternativas inovadoras que geram resultados de impacto.<br />
Em um mundo cada vez mais conectado e em constante<br />
transformação, como a DMI se posiciona?<br />
Rodrigo: Viramos um tipo de tradutor dessas tendências e as<br />
pessoas que entenderam conseguiram construir suas marcas.<br />
Entendemos as necessidades dos clientes em um nível mais global.<br />
Pensar de forma transmidiática ajuda muito a resolver questões de<br />
planejamento.<br />
Ingrid: Hoje nós temos um núcleo de redes sociais, de mídias<br />
digitais, de criação, de produção para o desenvolvimento de web<br />
(aplicativos, sites, mobile). Temos um atendimento que pode dar<br />
total suporte ao cliente para atender qualquer tipo de demanda. O<br />
A criatividade<br />
é o ingrediente<br />
entre as equipes<br />
de redes<br />
sociais, mídias<br />
digitais, criação,<br />
produção para o<br />
desenvolvimento<br />
de web e<br />
atendimento<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
77
nosso pensamento vem em forma de manifesto.<br />
A gente quer conectar pessoas às marcas. Eu<br />
preciso criar soluções estratégicas de forma<br />
criativa e inovadora para atingir essa meta.<br />
Vocês estenderam a DMI para São Paulo, em<br />
2011. É inevitável estar presente no mercado<br />
de lá?<br />
Rodrigo: Sim. Nossa ida para São Paulo<br />
representa a busca por novos clientes e um<br />
mercado mais maduro. Mas, ao mesmo tempo,<br />
significa que vamos continuar trabalhando<br />
para amadurecer nosso mercado local.<br />
Ingrid: Salvador é um mercado que tem<br />
avançado, mas queremos ir além. Fomos<br />
atraídos pelo mercado de São Paulo, mas<br />
também procurados por ele. As oportunidades<br />
surgiram, nos enxergaram e as propostas<br />
passaram a aparecer.<br />
Quais cases de sucesso da DMI vocês podem<br />
destacar?<br />
Ingrid: Criamos a família GBarbosa. São as<br />
famílias baianas, sergipanas que estão ali. Cada<br />
personagem tem a sua vida, naturalidade e<br />
perfil. As pessoas se identificam. As crianças<br />
adoram o Dudu, que é a criança da família.<br />
Adoram as receitas que dona Ritinha (mãe<br />
da família) dá no blog. Fizemos um hotsite do<br />
Dia das Crianças com o Dudu e um camarote<br />
no Carnaval com os bonecos. O GBarbosa têm<br />
maturado a ideia e investido nisso.<br />
Rodrigo: Como a gente ia trazer o varejo<br />
para a internet, para as mídias digitais e redes<br />
sociais? Não adiantava chegar e dizer: ‘Tomate<br />
por R$ 0,50’. Tinha que ter uma linguagem<br />
específica. Então, a estratégia transmídia foi<br />
essa. No Natal, nós fizemos um filminho da<br />
família GBarbosa, de confraternização, por<br />
exemplo. Esse tipo de ação ajuda a dar suporte<br />
para a marca na hipótese de uma possível<br />
crise.<br />
Ingrid: Outro case é a Perini. Ela têm um<br />
posicionamento muito forte no mercado, mas<br />
não tinham presença na internet. As pessoas<br />
falavam, mas não dialogavam. Criamos o perfil<br />
dela nas redes sociais e hoje a participação é<br />
78 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
“Existe um mundo de comunicação<br />
interativa que pode servir para as<br />
necessidades do nosso cliente”<br />
Rodrigo Hurtado<br />
“O nosso pensamento é em<br />
forma de manifesto. Precisamos<br />
criar soluções estratégicas<br />
de forma criativa e inovadora<br />
para atingir as pessoas”<br />
Ingrid Queiroz<br />
enorme, gerenciamos esse conteúdo e as pessoas adoram. Em<br />
São Paulo, também fazemos trabalhos para grandes empresas<br />
como a Palmolive, Pernambucanas e algumas multinacionais.<br />
Muitos profissionais (publicitários, programadores,<br />
designers) têm um desejo hoje de trabalhar na DMI. O que<br />
vocês fazem para recrutar a equipe?<br />
Ingrid: Nosso processo de recrutar os profissionais é<br />
bastante minucioso. Trabalhamos com pessoas jovens,<br />
alegres, simpáticas, antenadas, dinâmicas, de fácil capacidade<br />
de relacionamento. Olhamos além do currículo, porque o<br />
que contratamos aqui são pessoas. Nós olhamos as pessoas.<br />
Procuramos manter os nossos funcionários motivados<br />
também. Apresentamos os resultados dos trabalhos deles,<br />
procuramos dar salários compatíveis com o mercado, fazemos<br />
um happy hour todas as sextas-feiras.<br />
Rodrigo: Às vezes, o currículo de vida é mais importante que<br />
o profissional. Claro que o profissional também é importante<br />
tecnicamente, mas, às vezes, pode esconder uma pessoa meio<br />
que sem vida. O nosso trabalho não é fácil. Nós temos que<br />
gerar resultado para as marcas, seja de imagem, de vendas.<br />
E os desafios para reter esses talentos?<br />
Rodrigo: Estamos sempre querendo nos desafiar. Propomos<br />
projetos desafiadores, mesmo que não seja para um grande<br />
cliente, mas a gente quer fazer bem feito. Sabemos o valor<br />
que isso pode agregar para uma marca. A nossa equipe é<br />
constantemente desafiada a se reinventar, aprender coisas<br />
novas. [B + ]
90<br />
SABOR<br />
Eduardo Santos ensina a receita<br />
do arroz negro de polvo com<br />
camarões e vieiras.<br />
NOTAS DE TEC | 92<br />
PLANO+ | 94<br />
80<br />
MODA: IRÁ SALLES<br />
84<br />
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL<br />
88<br />
ESCAPADA ANDINA 2012<br />
LIFESTYLE
LIFESTYLE | moda<br />
IRÁ SALLES:<br />
BRASILIDADE COM<br />
SOFISTICAÇÃO GLOBAL<br />
por GINA REIS<br />
Ex-aluna da Parsons School of Design, uma das escolas de arte e design mais conceituadas<br />
no mundo, Irá Salles é uma baiana sem fronteiras. A designer já trabalhou com Carolina<br />
Herrera e desenvolveu peças para o mercado de moda em Nova York e Europa,<br />
criando peças para personalidades como Uma Thurman e a princesa britânica Margaret<br />
80 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com
“Não fui para a Parsons<br />
para aprender a copiar.<br />
Temos que procurar<br />
nos desprender das<br />
regras. Estudei moda<br />
para criar um estilo”<br />
U<br />
m parque de diversões para mulheres de<br />
todas as idades e de todos os estilos. Essa<br />
é a sensação de quem visita o endereço<br />
exclusivo da designer baiana Irá Salles, no Caminho<br />
das Árvores, em Salvador. Impossível não desejar<br />
cada uma das peças expostas nas vitrines, criações<br />
da estilista que se tornou referência no Brasil e<br />
no mundo quando se pensa em acessório de luxo.<br />
Quem conhece o trabalho de Irá Salles não consegue<br />
imaginá-la fazendo outra coisa. Contudo, seu<br />
casamento com a moda e com o mundo dos negócios<br />
aconteceu por acaso. “Sempre amei moda, mas nunca<br />
achei que seria minha profissão. Principalmente<br />
porque na época em que comecei, ser estilista não<br />
era uma carreira muito reconhecida”, conta.<br />
Em casa, a vontade de seu pai era pela escolha<br />
de uma profissão tradicional. Porém a personalidade<br />
intuitiva e criativa falou mais alto. “Acredito que<br />
herdei essa veia artística da minha avó. Ela era<br />
artista plástica e seu dia a dia era muito focado<br />
no viver bem”, lembra. Determinada como toda<br />
escorpiana, Irá decidiu cursar comunicação - período<br />
em que iniciou o namoro com a moda. “Em Salvador,<br />
trabalhei com as marcas Mitchell e The Planet na<br />
área de programação visual. Mas o mercado não<br />
dava muitas perspectivas. Por isso, decidi morar no<br />
exterior e investir na minha formação”.<br />
O destino escolhido foi Nova York (EUA), um<br />
dos principais centros difusores da moda mundial.<br />
Durante três anos e meio, Irá Salles frequentou as<br />
salas de aula de uma das escolas de arte e design<br />
mais conceituadas no mundo: a Parsons School of<br />
Design. Fundada em 1896, a Parsons formou nomes<br />
do design e da arte, como Calvin Klein, Donna Karan,<br />
Tom Ford, Marc Jacobs, Alexandra von Fürstenberg<br />
(filha de Diane von Fürstenberg) e Jason Wu (um dos<br />
estilistas preferidos da atual primeira-dama norteamericana,<br />
Michelle Obama). A escola é um centro<br />
difusor de talentos, parceira de empresas como a<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
Irá Salles no atelier de Carolina Herrera, em NY,<br />
e acompanhada dos colegas de trabalho<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
81
Irá desenhando<br />
modelos das bolsas<br />
que hoje são<br />
exportadas para EUA,<br />
Canadá, Europa,<br />
Oriente Médio e Japão<br />
Desde 2011, as bolsas de Irá Salles fazem<br />
parte do acervo do Tassen Museum of<br />
Bags and Purses, na Holanda<br />
82 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
“A informação chega para todos,<br />
mas o diferencial entre os grandes<br />
gestores está na forma que<br />
se aplica esse conhecimento”<br />
Louis Vuitton, Manolo Blahnik, Christian Laboutin<br />
e Carolina Herrera. No período do curso, os alunos<br />
têm a chance de ouro de acompanhar de perto a<br />
genialidade desses mestres.<br />
Nesse celeiro de ideias e profissionalização,<br />
Irá Salles aprimorou o talento criativo e aprendeu,<br />
sobretudo, os passos essenciais para empreender<br />
com sucesso. “Tive a oportunidade de iniciar<br />
a minha carreira ao lado de Carolina Herrera.<br />
Trabalhei por seis meses com uma grande<br />
designer em uma cidade que é um polo de moda<br />
mundial. Foi, com certeza, um divisor de águas<br />
para a minha carreira”, destaca. Segundo Irá<br />
Salles, essa vivência a conduziu naturalmente à<br />
carreira de estilismo.<br />
Com Carolina Herrera, Irá desenvolveu<br />
modelos para personalidades internacionais, a<br />
exemplo de Uma Thurman e princesa Margaret.<br />
Ainda pela Parsons, a baiana morou por um<br />
tempo em Paris (França), quando pôde conhecer<br />
outro perfil de consumidor, o público europeu.<br />
“Meu foco na moda estava muito no mercado de<br />
Nova York. E nem tudo que eu via em Nova York<br />
era adaptável para o mercado brasileiro. Ir para a<br />
Europa proporcionou uma terceira visão do setor.<br />
Foi muito importante vivenciar in loco o mercado<br />
europeu e perceber que há um comportamento<br />
diferente”, revela.<br />
De acordo com a designer, clima e estilo de<br />
vida são determinantes para o consumo. “Na<br />
Europa, o perfil de consumo é diferente do norteamericano.<br />
As pessoas investem em peças que<br />
durem mais, uma moda mais clássica. No Brasil,<br />
a diversidade é imensa. Na Bahia, as mulheres<br />
usam muito salto. No Rio de Janeiro, não se usa<br />
tanto porque as pessoas andam mais nas ruas. Já<br />
as paulistas têm como referência as tendências de<br />
Nova York”, explica Irá, ao defender que, apesar<br />
da globalização e de uma moda cada vez mais<br />
igual, o consumidor é diferente em cada lugar.<br />
A designer destaca que por conta dessa forte<br />
analogia no setor, as marcas estão procurando<br />
se diferenciar. “Esse é um dos principais pontos<br />
que eu procuro aperfeiçoar na minha marca<br />
atualmente. Criar um produto que seja único,<br />
que tenha uma identidade. Mas que, ao mesmo<br />
tempo, possa ser usado por qualquer mulher, em<br />
qualquer lugar do mundo. Fazemos adaptações<br />
para cada grupo consumidor, porém sem perder a<br />
essência”.
Tudo começou com uma bolsa<br />
Os primeiros passos como estilista já tinham sido<br />
dados, porém a carreira de Irá Salles deslanchou<br />
após um período de férias no Brasil. “Ainda<br />
morando em Nova York, de férias no Brasil,<br />
comecei a fazer bolsas para algumas amigas. Todo<br />
o mundo gostava e queria uma peça. Então, passei<br />
a desenvolver, apresentar e vender pequenas<br />
coleções em Nova York também. O negócio tomou<br />
uma proporção tão grande que tive que voltar<br />
definitivamente para o Brasil, em 2000, para<br />
atender à demanda”, explica.<br />
O sucesso da marca Irá Salles é reflexo do<br />
potencial criativo da designer, porém, sem dúvida,<br />
seu olhar empreendedor é decisivo. “Minha<br />
formação em moda sempre foi pautada em buscar<br />
o novo. Não fui para a Parsons para aprender<br />
a copiar. Temos que procurar nos desprender<br />
das regras. Estudei moda para criar um estilo”,<br />
defende. Para ela, nesse mundo de ideias criativas,<br />
a informação chega para todos, mas o diferencial<br />
entre os grandes gestores está na forma que se<br />
aplica esse conhecimento.<br />
Com um trabalho autoral, sofisticado, moderno,<br />
rico em cores e com um acabamento primoroso<br />
que envolve técnicas manuais, a grife Irá Salles<br />
conquista garotas mundo afora. Na fábrica<br />
localizada no bairro de Nazaré, em Salvador, são<br />
fabricados atualmente cerca de 400 produtos<br />
por mês. Essas peças são exportadas para os<br />
Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio e<br />
Japão. No Brasil, suas coleções são aguardadas de<br />
Manaus a Porto Alegre por consumidoras ávidas<br />
por uma bolsa, sapato ou roupa assinada. A marca<br />
está presente nas principais revistas nacionais e<br />
internacionais de moda.<br />
Um reconhecimento que também chegou ao<br />
mundo das artes. Desde 2011, bolsas selecionadas<br />
por uma curadoria compõem o acervo do maior<br />
museu de bolsas do mundo, o Tassen Museum of<br />
Bags and Purses, em Amsterdã, Holanda.<br />
E não para por aí. Irá tem planos de expansão.<br />
“Queremos crescer de forma planejada. Ampliar o<br />
número de lojas próprias no Brasil, principalmente<br />
no eixo Rio e São Paulo”, revela. Disposição<br />
de uma baiana inquieta que conquista, a cada<br />
criação, novas adeptas de um estilo único e<br />
alegre ao reproduzir o jeito brasileiro de ser, sem,<br />
no entanto, cair nos velhos e já ultrapassados<br />
estereótipos. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
83
A casa foi projetada<br />
envolta de vegetações e<br />
árvores seculares<br />
LIFESTYLE | arquitetura<br />
Q<br />
ual a criança que nunca teve o sonho<br />
de ter uma casa na árvore ou em meio à<br />
natureza? Esse desejo tem se transformado<br />
em realidade para muita gente grande e cheia de<br />
responsabilidade. São pessoas preocupadas em viver<br />
em harmonia com o meio ambiente.<br />
Esse não era bem um sonho, mas se tornou uma<br />
doce realidade para uma família que vive no Horto<br />
Florestal, em Salvador. O proprietário, que prefere não<br />
se identificar, já encontrou um terreno propício para as<br />
soluções ecológicas propostas pelo arquiteto Antônio<br />
Caramelo. Concordou com as ideias e o resultado é<br />
que hoje a família não quer saber de outra coisa senão<br />
desfrutar desse oásis no meio da cidade grande.<br />
“Nossa casa é o nosso paraíso, utilizamos todos<br />
os espaços que foram cuidadosamente projetados. A<br />
possibilidade de viver bem, preservando as árvores,<br />
cria um ambiente de convivência harmoniosa com<br />
84 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Marcelo Negromonte<br />
MORADIA<br />
CONSCIENTE<br />
a natureza, onde ainda tem espaço para micos, coelhos,<br />
patos, perdizes, entre outros, sem perder a beleza e o<br />
conforto”, declara o proprietário.<br />
Porém o jovem empresário, dono da residência, não<br />
chegou com uma ideia bem definida. “A visão dele era<br />
de preservar o verde pela plástica, pelo frescor, pelo<br />
encantamento com a natureza. Nós oferecemos algo<br />
mais: um projeto com um conceito mais amplo, que<br />
contemplasse outros elementos para melhor integrar o<br />
meio ambiente com a estrutura da casa, preservando<br />
a flora e a fauna do local e utilizando recursos<br />
ecologicamente sustentáveis”, explica Caramelo.<br />
O arquiteto ressalta que um projeto ecológico deve<br />
gerar energia limpa, diminuindo a produção de CO 2 .<br />
“Não mexemos em nenhuma árvore. A residência foi<br />
toda construída sobre pilares, que chegam a 13 metros<br />
de altura. Fizemos a casa dando a sensação de se estar<br />
debruçado sobre a paisagem”, descreve o arquiteto.
Projetos residenciais ecológicos são<br />
cada vez mais requisitados tanto nas<br />
grandes capitais como no interior<br />
por ANDRÉA CASTRO<br />
A piscina de<br />
borda infinita faz<br />
a recaptação da<br />
água utilizada,<br />
diminuindo o<br />
consumo<br />
Projeto sob medida<br />
Em um terreno de quase dois mil m 2 , foi construída<br />
a residência de 660 m 2 , distribuída em três planos<br />
interligados, projetada para um casal com duas filhas. A<br />
franca interação com as árvores possibilitou melhores<br />
condições de iluminação e ventilação. À parte estrutural,<br />
foi reservada a missão de esconder o que não precisava<br />
ser mostrado, valorizando a intenção de convivência com<br />
a natureza, o que levou à especificação de uma solução<br />
mista, com parte em estrutura metálica, parte em concreto<br />
e parte em alvenarias.<br />
Além de amplas suítes, varandas e salas, o espaço<br />
também contempla uma passarela de vidro sobre o terreno<br />
e vegetação a mais de 12 metros de altura, integrando a<br />
área social à área de lazer, grandes janelas para ventilação<br />
cruzada e um deque suspenso, onde fica a piscina com<br />
borda infinita. Também integram os ambientes da morada<br />
um espaço gourmet, galeria, academia de ginástica, sauna,<br />
churrasqueira e home theater.<br />
O proprietário ressalta que, além da sensação de bemestar,<br />
a casa oferece vantagens econômicas. “A obra foi<br />
projetada envolta de vegetações e árvores seculares, com<br />
persianas duplas automatizadas que fazem o isolamento<br />
térmico, espaços abertos e claros, com ventilação cruzada,<br />
utilizando energia solar e captação de água para irrigação<br />
automatizada. Ainda a piscina de borda infinita debruçada<br />
sobre o verde faz a recaptação da água utilizada,<br />
diminuindo o consumo”, destaca.<br />
“Não mexemos em nenhuma<br />
árvore. A residência foi toda<br />
construída sobre pilares,<br />
que chegam a 13 metros de<br />
altura. Fizemos a casa dando<br />
a sensação de se estar<br />
debruçado sobre a paisagem”<br />
Antônio Caramelo, arquiteto<br />
FOTOS: Marcelo Negromonte<br />
O espaço foi<br />
construído a mais de<br />
12 metros de altura<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
85
“Apenas através<br />
da observação dos<br />
recursos energéticos<br />
da biorregião, bem<br />
como dos costumes e<br />
tradições locais, será<br />
possível construir<br />
sustentavelmente”<br />
Nagoy Sol, permacultor<br />
e bioconstrutor<br />
Captar luz e calor<br />
solar através de<br />
vidros e garrafas<br />
“Os materiais da região devem<br />
ser priorizados, pois assim quem<br />
se beneficia é o trabalhador e a<br />
economia local”<br />
FOTO: Marisa Viana<br />
FOTO: Marisa Viana<br />
86 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
[+] NO SITE :<br />
Caramelo descreve produtos “high-tech verdes”<br />
Nas marquises da permacultura<br />
Casa de ferreiro, espeto de pau. O famoso ditado popular<br />
certamente não se aplica ao permacultor e bioconstrutor<br />
Nagoy Sol. Ele, que faz parte do corpo técnico do Instituto de<br />
Permacultura da Bahia, decidiu pôr em prática em sua própria<br />
casa todos os conceitos ensinados nas suas palestras. Sol, como é<br />
mais conhecido, construiu uma residência ecológica no município<br />
de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, onde vive com sua<br />
esposa e filha.<br />
Como permacultor, Sol acredita que a família deve se<br />
envolver na construção de sua própria casa. “Com os materiais<br />
convencionais de construção, isso é bem difícil, além de ser<br />
prejudicial à saúde. Quando opto por uma bioconstrução, o<br />
canteiro de obras torna-se uma extensão da minha casa. Dessa<br />
forma, minha companheira e nossa filha, Selva, que hoje tem<br />
3 anos, estiveram bioconstruindo, com barro nas mãos”, conta<br />
satisfeito. Sol recorda também que os filhos dos pedreiros<br />
estiveram por ali brincando com Selva - coisa que não se<br />
vê na construção civil, mantendo um clima familiar e sadio<br />
durante o processo. “Chegamos assim a um lar ecologicamente<br />
correto, confortável, bioclimático, em harmonia com o entorno<br />
socioambiental onde o construímos”, completa.<br />
A permacultura orienta para um modelo ideal de moradia.<br />
A definição de “design” passa a ser mais do que desenho, é o<br />
planejamento consciente, que considera todas as influências e os<br />
elementos do sistema vivo onde sua propriedade está localizada.<br />
“O design permacultural traça estratégias para a utilização da<br />
terra e dos recursos energéticos sem desperdício ou poluição,<br />
integrando a propriedade e todos os organismos vivos em um<br />
ambiente sustentável de cooperação, formando e fortalecendo<br />
ciclos naturais. Ou seja, observar, observar e observar, assim se<br />
faz um bom planejamento.”, conclui Sol.<br />
Dessa forma, o permacultor revela que a receita para a<br />
construção ecológica ideal está na biorregião onde ela está<br />
inserida. Apenas através da observação dos recursos energéticos<br />
dessa biorregião, bem como dos costumes e tradições locais, será<br />
possível construir sustentavelmente. “Um assentamento humano<br />
deve ser socialmente e ambientalmente responsável. Os materiais<br />
da região devem ser priorizados, pois assim quem se beneficia é o<br />
trabalhador e a economia local, que se torna mais rica e diversa”,<br />
destaca.<br />
A utilização de adobão (tijolo de barro) feito no quintal e de<br />
reboco natural sem cimento é bom exemplo de ação responsável.<br />
Além disso, utilizar um sistema de saneamento ecológico<br />
(banheiros secos, bacias de evapo-transpiração para sanitários,<br />
filtros biológicos para água cinza), captar luz e calor solar através<br />
de vidros e garrafas e a captação e armazenamento de água da<br />
chuva, a partir do ponto mais alto da propriedade, são ótimas<br />
formas de minimizar o consumo de energia e otimizar o uso dos<br />
recursos disponíveis, evitando assim o desperdício. [B + ]
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
87
LIFESTYLE | viagem<br />
ESCAPADA ANDINA<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
[DIA 1]<br />
Santiago|CH a Barreal|AR (395 km)<br />
Acordamos antes das 5h, arrumamos nossa<br />
bagagem no carro de apoio e seguimos para<br />
a estrada. Nove motocicletas BMW seriam as<br />
nossas companheiras pelos próximos cinco dias.<br />
A vontade de parar e fotografar era constante.<br />
Um cenário de tirar o fôlego dava boas-vindas<br />
à nossa aventura. Passamos pelos famosos<br />
Les Caracoles - conjunto de 29 curvas, com<br />
ângulos de até 150 graus, até chegar ao topo das<br />
montanhas.<br />
Em solo argentino, uma parada na<br />
entrada do Parque Aconcágua, no cemitério<br />
dos alpinistas. Mais café e chocolate, para<br />
enfrentar os dez graus de temperatura e ouvir<br />
John, o guia australiano, contar a história dos<br />
alpinistas que morreram tentando chegar ao<br />
cume da montanha. Detalhes como botas e<br />
outros equipamentos ao lado dos túmulos nos<br />
impressionaram.<br />
A partir desse momento, começamos a<br />
enfrentar o rípio, estrada de terra com pedra e<br />
cascalho. Concentração total: as motos fugiam do<br />
traçado, a traseira escorregava o tempo todo e a<br />
poeira nos dava pouca visibilidade. Todos mudos.<br />
Foi o trecho mais difícil de toda a aventura.<br />
Porém fomos presenteados com um visual<br />
deslumbrante na pousada Los Patos. Da varanda,<br />
a imponência da cordilheira com seus picos<br />
nevados. Cerveja Quilmes, parrilla e malbec para<br />
fechar o primeiro dia com chave de ouro.<br />
88 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
[DIA 2]<br />
Barreal|AR a Villa Unión|AR (465 km)<br />
Depois de aquecer as motos, por conta da noite fria, partimos<br />
rumo à Villa Unión. A amplitude térmica chamava a atenção: de<br />
5 a 38 graus, eram diversas as sensações. Enfrentamos trechos<br />
de rípio, que se alternavam com o asfalto e pedras na pista.<br />
Depois de uma hora, John reuniu o grupo para mais<br />
instruções, já que entraríamos em uma área com muitas curvas,<br />
pista estreita e grandes despenhadeiros. Seguimos o curso do rio<br />
San Juan e atravessamos uma brecha na cordilheira. Seguimos<br />
com muita atenção, devagar e admirando uma das regiões mais<br />
inóspitas do mundo. Paredes com inclinação negativa nos davam<br />
a sensação de que uma rocha poderia despencar sobre nós.<br />
Muitas fotos e vídeos depois, seguimos para Villa Unión, que<br />
ficava mais ao norte da Argentina, já na Rota 40, famosa estrada<br />
que corta a Argentina do norte ao sul, terminando em Ushuaia.<br />
O dia tinha sido pesado. Jantar na varanda, bons vinhos e<br />
descanso pra mais um dia.<br />
[DIA 3]<br />
Villa Unión|AR a San Juan|AR (498 km)<br />
Com uma paisagem desértica, paramos no parque Ischigualasto<br />
para um tour de 40 km de rípio e terra. Os arqueólogos<br />
encontraram nessa região fósseis de dinossauros que habitaram<br />
o planeta há mais de 200 milhões de anos. Uma das áreas que<br />
mais nos chamaram a atenção foi o Vale de La Luna: formação<br />
argilosa, branca, esculpida pelo tempo e pelo vento. A paisagem<br />
impressiona. O calor também - mais de 35 graus.<br />
Nessa região da Argentina, o fornecimento de gasolina não<br />
é “tão” seguro e poderíamos ficar sem combustível para chegar<br />
a San Juan. Confirmado um posto a uns 150 km que tinha<br />
recebido gasolina no dia anterior, seguimos viagem, “dosando” o
acelerador para controlar o consumo.<br />
Ainda faltavam uns 180 km até nosso oásis nesse deserto.<br />
Foi um trecho difícil. O marcador de temperatura de minha<br />
moto acusava 38,5 graus, o ar que entrava pelo capacete era<br />
quente e exigia concentração na estrada.<br />
Todos queriam chegar ao hotel. San Juan é uma grande<br />
cidade, diferente das vilas onde dormimos nas noites<br />
anteriores. O hotel Del Bono tinha SPA e cassino. Mais uma<br />
vez, a noite foi regada a vinhos malbec e chardonnay.<br />
Maurício Castro em meio a<br />
paisagem composta pelas<br />
cordilheiras e o deserto<br />
por MAURÍCIO CASTRO<br />
Nove amigos que sonhavam<br />
fazer uma aventura com suas<br />
motocicletas encontraram<br />
entre o Chile e a Argentina<br />
o lugar ideal para realizar<br />
o sonho. Acompanhe o<br />
diário de bordo de Maurício<br />
Castro, superintendente de<br />
Comunicação Institucional<br />
do Sistema Fieb de ofício, e<br />
motoqueiro nas horas de lazer<br />
[DIA 4]<br />
San Juan|AR a Mendoza|AR (180km)<br />
O menor trecho de nossa aventura. Combinamos<br />
que seguiríamos até Mendoza sem paradas. A<br />
viagem foi tranquila e rápida. O que mais víamos<br />
eram as parreiras e as centenas de produtores dos<br />
famosos vinhos de Mendoza. Dia claro, céu azul.<br />
Nosso hotel, no centro da cidade, era suntuoso.<br />
Passeamos pelo centro, bebemos umas cervejas<br />
e nos encontramos com John, onde uma van nos<br />
aguardava para seguirmos até a Bodega. Um belo<br />
almoço que derrubou a turma. Voltamos ao hotel<br />
e seguimos para o SPA bem merecido após tantos<br />
quilômetros de estrada.<br />
[DIA 5]<br />
Mendoza|AR a Santiago|CH (385km)<br />
Saímos nos primeiros raios de sol e passamos por<br />
diversas bodegas na Rota 7, até começarmos a subir<br />
a cordilheira em direção a Uspallata, a mesma<br />
cidade em que passamos e abastecemos no primeiro<br />
dia. Uma estrada deliciosa, com muitas curvas.<br />
A sensação de cansaço é incrível quando<br />
estamos a mais de três mil metros de altitude. Na<br />
descida, novamente os Les Caracoles e um dos<br />
pilotos descobriu um medo quase incontrolável de<br />
fazer as curvas fechadas com penhascos. Descemos<br />
três motos, lado a lado, criando uma barreira visual<br />
para ele. Deu certo. Já na base da cordilheira, nosso<br />
último almoço da aventura. Depois disso, chegamos<br />
a Santiago com a sensação de termos vivido<br />
histórias inesquecíveis. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
89
LIFESTYLE | sabor<br />
ARROZ NEGRO DE POLVO<br />
COM CAMARÕES E VIEIRAS<br />
O sócio-diretor da agência Ideia 3 Comunicação é o chef desta seção.<br />
Eduardo Santos ensina a preparar uma receita diferente e saborosa.<br />
E<br />
duardo Santos da Silva morou parte da<br />
infância no exterior, sem o costume de ter<br />
uma cozinheira em casa. Com 9 anos, fez as<br />
primeiras experiências na cozinha ao preparar sanduíches<br />
elaborados, que despertavam o paladar da família. “Mais<br />
tarde, veio o tradicional churrasco para receber os amigos.<br />
Percebi que gostava não só dos elogios, mas também de<br />
saborear o que eu mesmo cozinhava”, lembra.<br />
Quando começou a participar de confrarias<br />
gastronômicas, aprimorou o talento. Passou a se aventurar<br />
em receitas mais complicadas e conquistar novas<br />
habilidades. Para Eduardo, hoje com 47 anos, cozinhar<br />
é uma arte com espírito esportivo, que envolve desafios<br />
e superação. “A cada prato que você consegue elaborar<br />
perfeitamente, na mesma hora surge a vontade de<br />
enfrentar outro mais complicado”.<br />
90 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
A criatividade e o<br />
sabor indescritível do<br />
salame de polvo da<br />
Cantina do Julliu’s.<br />
FOTOS: Divulgação
Qual a sua ligação com a culinária?<br />
A ligação é apenas pessoal e lúdica. Em minhas<br />
viagens, procuro conhecer a culinária local.<br />
Frequento os mercadões e os restaurantes<br />
típicos. Como publicitário, o máximo que posso<br />
fazer é gerir a comunicação de um restaurante,<br />
uma marca de alimentos, coisas assim.<br />
Cozinhar, então, é uma<br />
espécie de fuga da rotina?<br />
Mexer com as panelas e os temperos é uma<br />
forma de fugir do estresse, da rotina vertiginosa<br />
de uma agência de propaganda. Na culinária,<br />
se o molho deve ficar em banho-maria por 40<br />
minutos, não tem discussão. São 40 minutos e<br />
fim de conversa. Diferente da nossa atividade<br />
profissional, quando um dia pode significar<br />
dois ou três. E o “pra ontem” representa cinco<br />
minutos.<br />
[B + ] RECEITA<br />
INGREDIENTES<br />
Recomendado para quatro porções<br />
ARROZ NEGRO<br />
- 02 xícaras de arroz negro<br />
- 1/2 cebola finamente picada<br />
- 02 dentes de alho picadinhos<br />
- 04 filés de aliche<br />
- 100ml de vinho branco seco<br />
- 01 polvo pré-cozido e cortado em lâminas<br />
- 25ml de azeite de oliva<br />
- 1.200ml de água do cozimento do polvo<br />
- 02 colheres de sopa de molho de tomate caseiro<br />
- 30ml de creme de leite - fresco de preferência<br />
- 01 colher de sopa de manteiga gelada<br />
- Salsinha picada<br />
- Sal e pimenta<br />
CAMARÕES E VIEIRAS<br />
- 200g de filé de camarão<br />
- 100g de vieiras<br />
- 01 colher de sopa de manteiga gelada<br />
- 50ml de conhaque<br />
- Salsinha picada<br />
- Azeite de oliva<br />
- Sal e pimenta<br />
- Manjericão<br />
MODO DE PREPARO<br />
Arroz negro<br />
Aquecer o azeite, adicionar o aliche e deixá-lo desmanchar. Juntar a<br />
cebola e o alho. Quando desprenderem os aromas, agregar o arroz.<br />
Fritar por dois minutos, juntar o vinho e deixar evaporar. Adicionar<br />
metade da água do cozimento do polvo quente, tampar e cozinhar o<br />
arroz. Mexer de vez em quando para não grudar no fundo da panela.<br />
Quando o líquido do cozimento for secando, colocar mais água de polvo<br />
quente. Esse processo irá demorar cerca 45 minutos em fogo forte.<br />
Adicionar as lâminas de polvo, o molho de tomate, temperar com<br />
sal e pimenta, um pouco mais de caldo e cozinhar mais dez minutos.<br />
No final do cozimento, adicionar a salsinha, o creme de leite e a<br />
manteiga gelada. Mexer bem.<br />
Camarão, vieira e finalização<br />
Aquecer o azeite e metade da manteiga salteando os camarões e as<br />
vieiras. Após dois minutos, flambar com o conhaque, juntar a salsinha<br />
picada, corrigir o sal, adicionar a manteiga gelada e misturar em fogo<br />
baixo.<br />
Para finalizar, coloque metade do conteúdo da frigideira dentro do<br />
arroz negro de polvo. Misture bem e por cima enfeite com o restante<br />
dos camarões e as vieiras. Regue com o líquido da frigideira. O<br />
manjericão dará o toque final. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
91
LIFESTYLE | notas de tec<br />
O Instagram agora<br />
é câmera fotográfica<br />
Para quem é fã do Instagram e de fotografia,<br />
uma supernovidade. A empresa italiana ADR<br />
Studio criou uma câmera que reproduz fielmente<br />
o ícone do aplicativo. O melhor de tudo é que<br />
a máquina Instagram funciona como a Polaroid<br />
e faz impressão instantânea das imagens. E não<br />
para por aí, pois o papel das fotos funcionará<br />
como um post-it, para ficar mais fácil de compartilhar.<br />
A Instagram Socialmatic ainda não está à<br />
venda, mas o ADR Studio tem planos de lançar a<br />
novidade no mercado. A máquina terá 16 GB de<br />
armazenamento, wi-fi e bluetooth, Touchscreen,<br />
duas lentes principais, primeira para a captação<br />
principal, segunda para filtros em 3D, aplicações<br />
de webcam e QR code capture, zoom óptico,<br />
flash de LED, impressora interna para fazer suas<br />
fotos, cartucho de papel com folhas de papel Instagram,<br />
quatro tanques de cores de tinta e InstaOs<br />
1.0 (que conecta o Facebook ao Instagram).<br />
Unifacs agora tem timeline interativa<br />
A nova timeline da Unifacs permite a visualização<br />
da história da universidade desde 1972,<br />
quando foi criada. Por meio de um sistema que<br />
combina informações da base de dados do Facebook,<br />
o usuário que acessa o aplicativo tem<br />
a sua história interligada com a história da instituição,<br />
personalizada de acordo com os seus<br />
interesses e exibida em tempo real na forma de<br />
um videoclipe. Para conhecer o aplicativo e ver<br />
o que a sua história e a da Unifacs têm em comum,<br />
acesse www.40anos.unifacs.br.<br />
92 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
O QUE TEM NO SEU TABLET<br />
TOP 5 APPS<br />
TOP 10 MÚSICAS<br />
NOME:<br />
LEONARDO<br />
VILLANOVA<br />
CARGO:<br />
COORDENADOR DE<br />
INTERNET DA SECOM/BA<br />
TABLET:<br />
MOTOROLA XOOM<br />
(ANDROID)<br />
POR QUE USA UM TABLET? Para diminuir o peso e<br />
o tamanho da mochila! Conectividade, facilidade para<br />
ter acesso aos perfis de redes sociais e ter à mão um<br />
“dashboard” das principais informações do dia.<br />
GOOGLE READER: Uso o agregador de<br />
feeds (RSS) do Google para receber os alertas<br />
em tempo real.<br />
GOOGLE DRIVE: O Google lançou seu próprio<br />
serviço de armazenamento. Estou testando,<br />
mas promete.<br />
READ IT LATER: Funciona como um marcador<br />
de links para “ler depois”. É bem bacana e fácil.<br />
EVERNOTE: Esse é campeão. Captura,<br />
organiza e acha facilmente qualquer tipo de<br />
informação on-line.<br />
QUICKOFFICE HD: Para criar e editar os<br />
arquivos do Microsoft Office, além do PDF.<br />
01. WISH YOU WERE HERE - Pink Floyd<br />
02. ROMEO AND JULIET - Dire Straits<br />
03. EVERY BREATH YOU TAKE - The Police<br />
04. FLY TO THE MOON - Frank Sinatra<br />
05. SAVE TONIGHT - Eagle Eye Cherry<br />
06. SUBIRUSDOISTIOZIN - Criolo<br />
07. PLÁSTICO BOLHA - Karina Buhr<br />
08. EQUALIZE - Pitty<br />
09. A HISTÓRIA DE LILY BRAUN - Maria Gadú<br />
10. DANÇA DO TEMPO - Armandinho Macêdo
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
93
LIFESTYLE | plano+<br />
LUGAR PREDILETO:<br />
A COZINHA<br />
Cada um de nós tem aquela atividade<br />
para inspirar, relaxar, mudar os ares da<br />
agitada rotina de trabalho. Com nosso<br />
convidado não é diferente. Hélio Tourinho<br />
faz da culinária um dos temperos da vida<br />
H<br />
élio Tourinho Filho, 48 anos, bem que poderia<br />
ter sido um arquiteto ou chef de cozinha. A<br />
segunda opção é a que hoje mais se aproxima<br />
da realidade do diretor comercial do Grupo Bandeirantes<br />
na Bahia. Economista de formação e publicitário de<br />
profissão, Tourinho vive uma rotina intensa de trabalho:<br />
começa o dia atualizando e-mails, participa de reuniões<br />
diárias com a equipe comercial e com clientes do mercado,<br />
além dos compromissos com a Rede Bandeirantes de São<br />
Paulo e a Band Nordeste.<br />
“Sou responsável pela comercialização da TV<br />
Bandeirantes e da rádio Band News na Bahia e Sergipe.<br />
No segundo semestre, vamos ter mais um veículo, o jornal<br />
Metro”, adianta. O tempo é curto, porém ele não deixa de<br />
lado dois hobbies: o tênis e a cozinha. Um é pela atividade<br />
física, o outro envolve um sentimento mais antigo. “É<br />
na cozinha que me realizo. Minha mãe sempre deu aula<br />
de culinária. Aprendi a gostar dessa arte muito cedo”.<br />
Conheça os Planos + de Hélio Tourinho.<br />
Se pudesse trocar de profissão, qual escolheria?<br />
Gostaria de ter sido arquiteto. Tenho fascínio por projetos<br />
e decoração.<br />
Então onde vive dando seus “pitacos”?<br />
Em minha casa e, às vezes, na casa dos outros.<br />
94 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Divulgação<br />
Opina também no seu escritório?<br />
É claro. O ambiente de trabalho influencia na nossa<br />
produtividade. Uma local bem decorado, com cores<br />
alegres e aroma adequado é fundamental para o<br />
desenvolvimento profissional. Contribui também para<br />
fechar negócios.<br />
Cozinhar é um atividade que te acompanha desde<br />
a infância. Você ainda pratica ela constantemente?<br />
Sou um dos fundadores da Confraria Prestigie, um<br />
grupo que existe há mais de dez anos em Salvador.<br />
Nos reunimos para cozinhar no restaurante OUI.<br />
Atualmente, também costumo cozinhar para os amigos<br />
na minha varanda gourmet, testando receitas nas<br />
novas panelas da Le Creuset que trouxe de viagem.<br />
E qual é a sua especialidade?<br />
Na nossa confraria, ganhei o prêmio Prato do Semestre<br />
com o “Badejo dos Deuses”. Bem razoável! [B + ]
ARTE &<br />
ENTRETENIMENTO<br />
96 106<br />
MÚSICA<br />
Artistas definem rumos<br />
alternativos para a música<br />
produzida na Bahia<br />
FOTOGRAFIA<br />
O jovem Márcio Mascarenhas<br />
exercita a liberdade criativa e<br />
expõe em Londres<br />
ARTES 102 | APLAUSOS 110 | BEATLES FOREVER 112
ARTE & ENTRETENIMENTO | música<br />
“Até agora a música não me sustenta,<br />
eu é que sustento a música” - Mestre<br />
Lourimbau, com seus 62 anos.<br />
I<br />
novação. É a palavra que impulsiona alguns setores<br />
da música baiana que atuam do outro lado da<br />
fronteira do axé e do pagode (com todo o respeito<br />
que esses gêneros merecem). Aos poucos, novos tons<br />
surgem em meio ao tum tum tum das últimas décadas.<br />
Os artistas podem até não saber, mas por trás desse<br />
movimento está o conceito de economia criativa, que inclui<br />
os produtos e serviços relacionados ao conhecimento e<br />
à capacidade intelectual, englobando ainda processos,<br />
modelos de negócios e gestão. John Howkins, no livro<br />
“The Criative Economy”, publicado em 2001, diz que<br />
são as atividades em que os indivíduos exercitam a<br />
sua imaginação, explorando seu valor econômico, como<br />
música, cinema, teatro, artesanato, design, software, entre<br />
muitas outras. Já Richard Florida, nos livros “The Rise of<br />
the Creative Class”(2002) e “The Flight of the Creative<br />
96 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Mateus Pereira<br />
MPB<br />
COMH<br />
O conceito de economia criativa na<br />
música da Bahia. Artistas locais<br />
produzem novas sonoridades, criam<br />
redes e reconfiguram a maneira se fazer<br />
negócios – até mesmo sem saber<br />
por LILIAN MOTA<br />
Class” (2005), amplia o conceito, abrindo as portas<br />
também para a educação e a pesquisa científica.<br />
Assim, o setor da economia criativa é hoje o terceiro<br />
maior do mundo, depois do petróleo e dos armamentos.<br />
O termo ganhou mais força no Brasil depois que foi<br />
criada a Secretaria da Economia Criativa, subordinada<br />
ao Ministério da Cultura. A formação de núcleos e<br />
redes de cidades criativas, baseados na colaboração, na<br />
diversidade e na sustentabilidade, é uma das prioridades<br />
na nova pasta. Para além da ideia de indústria cultural,<br />
que trazia junto a palavra exploração, a economia<br />
criativa se propõe a ser uma nova estratégia de<br />
desenvolvimento com distribuição de renda. Boa notícia<br />
para os artistas baianos, que já praticam esse tipo de<br />
economia há bastante tempo, só faltando agora corrigir<br />
algumas distorções e organizar as redes.
Encontros musicais<br />
definem rumos<br />
Um exemplo de movimento musical com<br />
características da economia criativa é o<br />
“Encontro de Compositores”, criado em agosto<br />
de 2010 no Teatro Vila Velha por um grupo<br />
de artistas de diferentes estilos e gerações.<br />
Com um clima de bate-papo em mesa de<br />
bar, os artistas cantam e conversam com a<br />
plateia sobre seus processos de criação, as<br />
histórias por trás de cada música e os últimos<br />
acontecimentos (musicais e extramusicais)<br />
na Bahia e no mundo. Jarbas Bittencourt,<br />
Arnaldo de Almeida, Carlinhos Cor das<br />
Águas, Dão, Deco Simões, Manuela Rodrigues,<br />
Pietro Leal, Ronei Jorge, Sandra Simões e<br />
Thiago Kalu compõem o grupo. Cada um<br />
tem sua carreira individual, mas a parceria<br />
faz a força para enfrentar o mercado e abrir<br />
caminhos.<br />
Jarbas Bittencourt, idealizador do<br />
projeto, ao lado de Arnaldo Almeida, conta<br />
que a atuação coletiva deu novo sentido<br />
ao trabalho dos integrantes do grupo. Para<br />
ele, a economia criativa é “uma forma de<br />
organização que viabiliza ações que não<br />
se ligam às lógicas já estabelecidas pelo<br />
capitalismo, é um novo jeito de dialogar<br />
com o mercado”. Já Manuela Rodrigues, que<br />
também faz parte da turma, acha que “o<br />
artista contemporâneo tem que lidar com o<br />
processo de gestão e condução da própria<br />
carreira, ao mesmo tempo em que precisa<br />
buscar o exercício do coletivo”.<br />
Eu profissional liberal // Sou contra<br />
gabinete, carimbos, clips, fichas e salário<br />
mensal // A favor da adrenalina,<br />
autonomia, maluquice // Novidade no meu<br />
dia a dia // Contra cotidiano, uniforme,<br />
vigilância e cargo de chefia // A favor<br />
da malandragem, um jeitinho, jogo de<br />
cintura é mais garantia // Ao invés de<br />
um emprego, um trabalho // Um cachê,<br />
honorário, a um salário<br />
(Profissional Liberal/Manuela Rodrigues)<br />
FOTO: Vinicio de Oliveira<br />
No Encontro de Compositores, a<br />
parceria faz a força para enfrentar<br />
o mercado e abrir caminhos<br />
Garimpando novos tons<br />
Manuela teve seu último CD, “Uma Outra Qualquer<br />
Por Aí”, lançado por um selo fonográfico baiano, o<br />
Garimpo Música. Criado em 2007 pela produtora<br />
Cada Macaco no Seu Galho, o selo já lançou álbuns<br />
de artistas e bandas como Cascadura, BaianaSystem,<br />
Mateus Aleluia, Os Ingênuos e João Omar. Os<br />
próximos lançamentos serão de Mou Brasil, Opanijé,<br />
Lazzo Matumbi e Mariella Santiago. De acordo com<br />
um dos produtores do Garimpo, Guto Carvalho,<br />
as vendas têm sido ótimas, os pedidos não param<br />
e as lojas já têm espaço reservado para os novos<br />
lançamentos. “É importante criar possibilidades de<br />
ganhos produzindo cultura em Salvador, e mais do<br />
que isso, estamos mostrando que é possível”, diz<br />
Guto.<br />
Outro artista que não precisou sair de Salvador<br />
para gravar um álbum, mas que teve que esperar<br />
muito tempo pela oportunidade, foi Lourival Araújo,<br />
conhecido como mestre Lourimbau. Depois de mais<br />
de 20 anos de carreira, ele conseguiu gravar um<br />
CD ao vivo em 1997, “A Arte de Mestre Lourimbau”,<br />
produzido por Antônio Nykiel e Zezão Castro,<br />
com apoio da Secretaria da Cultura. O CD mistura<br />
capoeira, MPB e jazz. A partir daí, mestre Lourimbau<br />
diz que se tornou mais conhecido e valorizado como<br />
artista. Este ano, foi convidado para participar do<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
97
“O artista contemporâneo tem que lidar<br />
com o processo de gestão e condução da<br />
própria carreira, ao mesmo tempo em que<br />
precisa buscar o exercício do coletivo”<br />
Manuela Rodrigues<br />
projeto Conexão Vivo, junto com uma nova geração, o<br />
que considera um sinal de que as coisas podem mudar.<br />
“Até agora a música não me sustenta, eu é que sustento<br />
a música”, diz ele. Aos 62 anos, mestre Lourimbau se<br />
mantém na estrada, cantando, compondo e tocando seu<br />
berimbau, símbolo de resistência da cultura baiana,<br />
instrumento que ele também fabrica, como artesão,<br />
sendo considerado exímio luthier – não é à toa que<br />
ele é chamado de mestre. Lourimbau já deu aulas na<br />
Universidade Federal da Bahia e na Universidade de São<br />
Paulo, compôs trilhas para o cinema e já se apresentou na<br />
Alemanha e na Suíça.<br />
A guerrilha musical criativa<br />
A tática do baiano Lucas Santtana pode ser diferente da<br />
usada por mestre Lourimbau, mas em ambas a marca<br />
da criatividade musical está presente. Lucas transita<br />
bem à vontade entre música popular brasileira, afrobeat,<br />
dancehall, eletrônica, dub, funk. O cantor e compositor<br />
se destacou no cenário internacional já no primeiro CD,<br />
“Eletro Bem Dodô” (2000): “Mr. Santtana is a musician<br />
supremely conscious of his cultural coordinates”, disse um<br />
crítico do New York Times. Cinco álbuns depois, Lucas, que<br />
vive no Rio de Janeiro, mas mantém um pé em Salvador,<br />
continua apostando na inovação. O CD “Sem Nostalgia”<br />
foi eleito o melhor disco estrangeiro do ano passado pelo<br />
jornal francês Libération e está sendo lançado nos Estados<br />
Unidos, em edição especial. O crítico de O Globo Leo<br />
Linchotte resume a fórmula de sucesso do artista: “Quando<br />
escolhe abrir seu disco com um mashup de violões de<br />
Caymmi, Baden e Jorge Bem, tudo processado digitalmente,<br />
arrancando dali um batidão funk carioca, Lucas Santtana<br />
é muito mais que um brincalhão munido de tecnologia.<br />
Santtana sabe o que está fazendo”, ressalta.<br />
Lucas tem 41 anos, deixou Salvador há 18 porque<br />
“naquele tempo só tinha axé, não via espaço para meu<br />
tipo de música”, diz ele. Quando foi convidado para tocar<br />
flauta na banda de Gilberto Gil, terminou ficando no Rio<br />
de Janeiro, de onde fez a ponte para o mundo. Mas o<br />
artista diz que continua inserido no contexto musical de<br />
Salvador, acompanhando tudo o que acontece e sempre<br />
interagindo com os músicos da terra. Ele conta que seu<br />
primeiro disco saiu por uma grande gravadora, mas depois<br />
o processo mudou: “A cada álbum, vou experimentando<br />
98 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
novos modelos de negócios e adaptando as ações<br />
ao que funciona para mim. Por exemplo, percebi<br />
que o que me sustenta são os shows, então não<br />
vejo problema em oferecer minhas músicas<br />
para o público baixar de graça na internet. Acho<br />
que a tática para o artista hoje é aliar uma boa<br />
qualidade musical a uma gestão competente do<br />
trabalho no mercado, mas sem concessões. A<br />
noção de economia criativa pode ser muito boa,<br />
desde que as ações do governo sejam debatidas<br />
com os artistas”.<br />
Outra cantora baiana que se desviou da<br />
estrada larga do sucesso fácil e vem trilhando<br />
um caminho bem interessante na música é<br />
Márcia Castro, cantora e violonista graduada<br />
pela Escola de Música da Ufba. Gravando<br />
músicas de Tom Zé, Itamar Assumpção, Jorge<br />
Mautner e Sérgio Sampaio, além de conterrâneos<br />
como Roque Ferreira e J. Velloso, Márcia chega<br />
de pés no chão, atenta, e apresenta um currículo<br />
FOTO: Daryan Dornelles<br />
“Mr. Santtana is a musician<br />
supremely conscious of his<br />
cultural coordinates” disse<br />
crítico do New York Times<br />
sobre Lucas Santtana.
FOTO: Mariele Goes<br />
“Nosso maior valor é a<br />
criatividade”, Alex Pinto,<br />
gestor da Rumpilezz<br />
notável para uma artista de 33 anos. Depois do primeiro<br />
CD, “Pecadinho”, foi indicada ao Prêmio TIM como melhor<br />
cantora de pop-rock, se apresentou no Festival de Jazz de<br />
Montreaux, acompanhou Mercedes Sosa em sua última<br />
turnê mundial, fez residência artística no Timor Leste e<br />
uma turnê na Turquia. Mesmo assim, não quer caminhar<br />
sozinha, por isso criou o projeto “Pipoca Moderna”,<br />
promovendo um intercâmbio com cantoras de diferentes<br />
locais: Maryana Aydar e Ana Cañas, de São Paulo, Rita<br />
Ribeiro, do Maranhão, Cláudia Cunha, do Pará, e Mayra<br />
Andrade, de Cabo Verde. Atualmente, está em fase de<br />
divulgação de seu segundo álbum, “De Pés no Chão”.<br />
Márcia Castro diz que hoje existem novas formas de<br />
se relacionar com o mercado, com o fortalecimento da<br />
internet e das redes sociais, ferramentas que ela considera<br />
potentes para divulgação e intercâmbio musical. Inovação<br />
musical para ela é um termo ultrapassado. Prefere falar<br />
em ação: “A minha geração é aquela do artista/produtor,<br />
então a gente corre atrás de edital, de projetos, de<br />
parcerias. Jamais penso a música como um negócio, um<br />
mercado a priori. A música é apenas a música. Depois de<br />
feita, realizada, a gente vê e entende onde ela chega, o<br />
público, etc, e vai vislumbrando como potencializar essa<br />
divulgação. Nunca o contrário, como no marketing, de<br />
estudar a demanda e atendê-la. Assim, não seria arte”,<br />
conclui a cantora, que se define uma cantora baiana,<br />
brasileira e universal, que não faz parte de grupos, mas<br />
gosta de “circular em muitas rodas”.<br />
Pede à banda pra tocar<br />
Ninguém melhor do que os músicos de uma grande<br />
orquestra para saber da importância de atuar em sintonia<br />
para obter um bom resultado artístico. A Orkestra<br />
Rumpilezz é um exemplo dessa experiência. Criada em<br />
FOTO: Daryan Dornelles<br />
Márcia Castro, cantora e<br />
violonista graduada pela<br />
Escola de Música da Ufba<br />
“É importante criar possibilidades<br />
de lucro produzindo cultura em<br />
Salvador, e estamos mostrando<br />
que é possível”<br />
Guto Carvalho, produtor do Garimpo Música<br />
2006 pelo maestro Letieres Leite, é um grupo de<br />
sopro e percussão que se define como afrojazz,<br />
música popular instrumental com roupagem<br />
harmônica moderna. Em pouco tempo, o grupo<br />
caiu no gosto do público e alcançou sucesso<br />
nacional, com diversos prêmios no currículo, entre<br />
eles o de melhor grupo instrumental e revelação<br />
do ano (Prêmio da Música Brasileira), e melhor CD<br />
popular (Prêmio Bravo 2010).<br />
Para o gestor da orquestra, Alex Pinto, a<br />
Rumpilezz é uma prova de que há espaço na<br />
Bahia para todos os tipos de público, e que<br />
fazer música instrumental na terra do axé é<br />
perfeitamente viável, inclusive do ponto de vista<br />
econômico: “Os editais facilitam muito, 60% da<br />
nossa receita vem daí. Este ano, por exemplo,<br />
estamos com uma turnê de 24 concertos, em nove<br />
capitais e outras cidades, e olha que viajamos com<br />
um grupo enorme”. Antes dessa turnê, os músicos<br />
vão se apresentar para o público do bairro de<br />
Plataforma, em Salvador, uma nova audiência<br />
que está sendo conquistada e é muito bem-vinda.<br />
“Nosso maior valor é a criatividade, resultado<br />
de anos de pesquisa do maestro Letieres, sobre<br />
os nossos próprios ritmos, as nossas verdadeiras<br />
raízes, sem se preocupar com formatos pré-<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
99
O pátio do Museu<br />
de Arte Moderna é o<br />
cenário da jam session<br />
estabelecidos pela indústria da música. A Rumpillez<br />
é uma orquestra artesanal e ao mesmo tempo<br />
sustentável”.<br />
Outra experiência inovadora e bem-sucedida de<br />
música instrumental em Salvador é a Jam no MAM.<br />
Curtir o belo pôr do sol na Baía de Todos os Santos<br />
ao som dos músicos já se tornou programa quase<br />
obrigatório dos fins de tarde de sábado. O pátio do<br />
Museu de Arte Moderna é o cenário da jam session.<br />
Reunindo artistas de vários lugares do Brasil e do<br />
exterior, com sonoridades diversas, a primeira etapa<br />
foi de 1993 a 2001. Em agosto de 2007, o grupo<br />
retomou o projeto, que hoje alcança uma média de<br />
1.300 pessoas a cada apresentação, com ingressos<br />
a R$ 6 a inteira. A banda-base é formada por André<br />
Becker, André Magalhães, Gabi Guedes, Ivan Bastos,<br />
Ivan Huol (diretor musical), Joatan Nascimento,<br />
Orlando Costa, Paulo Mutti e Rowney Scott. O<br />
público é diversificado: famílias com crianças,<br />
adolescentes, jovens de todos os estilos e pessoas<br />
mais velhas curtem o som, baseado no talento, no<br />
improviso e na diversidade.<br />
A Huol Produções, que atua por trás do evento,<br />
também produz o Microtrio, que sai no Carnaval,<br />
além de se dedicar ao teatro, com peças como “A<br />
Geladeira”, “O Olhar Inventa o Mundo”, “Dias de<br />
Folia” e o musical infantil “Papagaio”. “A gente<br />
100 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Eduardo Pelosi/Setur<br />
O setor da economia<br />
criativa é hoje o terceiro<br />
maior do mundo, depois<br />
do petróleo e dos<br />
armamentos<br />
não tem lucro, não sobra capital de giro para outros<br />
investimentos, o grupo ainda depende de patrocínios e<br />
incentivos fiscais. Por outro lado, conseguimos viabilizar<br />
os projetos, com a qualidade desejada, pagando as<br />
pessoas, sem explorar ninguém, e para o artista baiano<br />
isso já é um lucro”, diz a gerente de produção Cacilda<br />
Póvoas.<br />
Mê de música e de mudança<br />
Outra novidade na cena musical de Salvador é o projeto<br />
Mê de Música. Trata-se de uma série de programas de<br />
webtv sobre música na Bahia. Na edição de estreia, o Mê<br />
de Música propõe uma questão: “Música dá dinheiro?”.<br />
Camilo Fróes, que está à frente do projeto, responde:<br />
“Claro que dá dinheiro, se não desse, a música estaria<br />
definhando, e não crescendo, como acontece em todo<br />
o país e também na Bahia. A questão é como ela dá<br />
dinheiro e para quem”, diz o produtor cultural.<br />
Camilo, que também é DJ e em 2007 criou o “Baile<br />
Esquema Novo”, uma discoteca só de música brasileira,<br />
promoveu o lançamento do Mê de Música com uma<br />
batalha de DJs numa casa noturna de Salvador. Ele diz<br />
que o mercado para esse tipo de profissional também<br />
está crescendo, com talentos de projeção nacional como<br />
Mauro Telefunksoul, Mangaio e Lúcio K.<br />
Cacique formado nos becos do Candeal<br />
Se o assunto é música e criatividade, não dá para<br />
encerrar nunca, mas não podemos parar por aqui sem<br />
falar no cacique da tribo, Carlinhos Brown, doutor<br />
em economia criativa formado nos becos do Candeal<br />
e nos grandes palcos do mundo. Cantor, compositor,<br />
instrumentista, performer, ativista social, candidato<br />
ao Oscar, Brown é um baiano que nunca deixou de<br />
escutar a Bahia. Mesmo não sendo unanimidade, o<br />
trabalho social que desenvolve no bairro em que nasceu,<br />
a qualidade de sua música e o projeto estético que<br />
desenvolve em torno dela, agregando cada vez mais<br />
artistas, o credenciam a se tornar um músico do século<br />
21, capaz de transitar em todas as aldeias.<br />
Não é à toa que ele foi convidado pela revista<br />
britânica The Economist para participar do debate<br />
“Brazil Innovation – A Revolution for the 21st Century”,<br />
dentro da Conferência Internacional sobre o Futuro da<br />
Tecnologia e Inovação, com o tema “música como agente<br />
de transformação”. O evento, realizado nos Estados<br />
Unidos, teve um encontro paralelo no Rio de Janeiro,<br />
que discutiu o futuro do empreendedorismo nos países<br />
do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Além do cacau, do<br />
café e dos minérios, o mundo está de olho na nossa
FOTO: Melinda Lerner<br />
Samba da Bahia... // Ê Maria Nega<br />
Tetê, // Você sabe o valor de onde veio<br />
// Você tem a mão calejada // Você<br />
sabe fazer feijoada // Você baila toda<br />
molhada // Não tá nem aí pra dinheiro<br />
(Maria Caipirinha/ Carlinhos Brown)<br />
criatividade, e a música é a linguagem universal<br />
com alto poder de geração de riqueza (material e<br />
imaterial) e transformação social.<br />
Brown tem uma visão inclusiva, por isso<br />
ele não rejeita o Carnaval e a cultura que<br />
se forma em torno dele. Pelo contrário, em<br />
entrevista à Livraria Saraiva, ele resumiu seu<br />
projeto: “O Carnaval termina sendo um centro<br />
de desenvolvimento das comunidades através<br />
da liderança estética, onde se pode falar do<br />
respeito à mulher, do não-abuso sexual, do<br />
desarmamento. Isso existe na cultura brasileira,<br />
muito mais do que o desejo comercial de que o<br />
mundo seja uma audiência”. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 101<br />
+ ]
ARTE & ENTRETENIMENTO | perfis<br />
O NEGÓCIO<br />
DA ARTE<br />
Seja por curiosidade, amor ou visão<br />
estratégica, as artistas Cecília Menezes<br />
e Maria Adair e o publicitário e artista<br />
plástico Ricardo Franco são exemplos<br />
bem-sucedidos no mercado da arte.<br />
Os cuidados vão desde a elaboração<br />
de um bom portfólio até a utilização<br />
dos contatos profissionais adquiridos<br />
durante os grandes eventos de arte<br />
por FELIPE ZAMARIOLLI<br />
FOTO: Rômulo Portela<br />
102 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
Ricardo Franco: o<br />
soteropolitano inquieto<br />
Unindo arte e publicidade, Ricardo Franco explica<br />
um pouco as influências do seu trabalho, na Graal<br />
Comunicação, sempre entre a produção estética e os<br />
negócios. Formado em artes plásticas pela Universidade<br />
Católica do Salvador (Ucsal), o profissional transita<br />
entre os dois mundos – artístico e publicitário, sendo<br />
reconhecido por isso.<br />
“Entendi que direção de arte era minha praia, ainda<br />
quando estagiava. Mesmo exercitando o lado business<br />
do mercado publicitário, apoiei meu trabalho no que<br />
aprendi de arte. E o que faço hoje é retornar ao mundo<br />
artístico”, conta Ricardo.<br />
Sua inquietude faz dele um dos nomes fortes da<br />
nova geração artística. A cada nova obra ou projeto,<br />
muita ousadia e dedicação. Em 2009, criou “Esperança”,<br />
quadro que o projetou. Desde então, desenvolve<br />
projetos que utilizam diversas técnicas, como pinturas<br />
digitais, óleo e acrílico. Em 2010, a tela lhe rendeu um<br />
prêmio no salão Nacional de Artes Plásticas do Rio<br />
de Janeiro, abrindo caminhos para outras exposições.<br />
Na Europa, “Esperança” levou o prêmio de melhor<br />
tema numa exposição em Barcelona. Com esse<br />
reconhecimento, Franco assinou um contrato com a<br />
Galeria de Arte Patrícia Muñoz, na Espanha; em Paris,<br />
expôs no Carrousel du Louvre, pela Ava Galeria; e já<br />
recebeu convites, este ano, para expor na Finlândia, na<br />
Eslováquia, em Portugal e novamente na França. Antes<br />
de retornar à Europa, Ricardo realiza sua primeira<br />
exposição individual no lobby do jornal A Tarde, com<br />
duração de dois meses.<br />
Vários projetos ainda serão iniciados em 2012. Um<br />
deles é o ‘Socializar é Arte e o Cura por Inteiro’, ou<br />
apenas Saci. A ideia é trabalhar o universo artístico<br />
com jovens de rua viciados em drogas, provocando o<br />
aprendizado estético e ampliando seus horizontes. O<br />
trabalho será registrado num documentário.<br />
Publicidade, arte... E fotografia. As imagens<br />
congeladas são mais um canal para expressar sua<br />
criatividade, com composições variadas, que serão<br />
compiladas num livro em processo de impressão.<br />
“Quando você faz arte, todo o processo é importante.<br />
Arte é desdobramento e vivência. O que importa é<br />
o andar, o caminhar. O que faço hoje é retornar ao<br />
princípio, fazendo da produção estética meu rumo. Se<br />
você acredita que sua arte tem um porquê, vá em frente.<br />
Criar é só começar”, filosofou o artista.
Maria Adair: a arte como<br />
o melhor investimento<br />
Do sudoeste da Bahia, da pequena cidade<br />
de Itiruçu, é de onde vem a pintora, artista<br />
intermídia e professora Maria Adair. Aos<br />
15 anos, já fazia as primeiras pinceladas,<br />
até a formação em desenho e plástica pela<br />
Escola de Belas Artes da Ufba, em 1976.<br />
Em 1980, foi aos Estados Unidos com a<br />
bolsa de estudo da Fulbright/Laspau para<br />
estudar nas universidades de Pittsburgh e<br />
de Iowa, onde permaneceu até 1982. Entre o<br />
mundo acadêmico, as exposições nacionais e<br />
internacionais, Maria decidiu, em 1993, abrir o<br />
Atelier Maria Adair em Salvador, localizado no<br />
Pelourinho.<br />
“Por experiência própria, posso assegurar<br />
que o grande ‘negócio’ das artes plásticas é a<br />
oportunidade que o artista tem de levar sua<br />
mensagem para a apreciação de muitas pessoas.<br />
Mas é lógico que é preciso também receber<br />
as cifras de recompensa pelo seu trabalho”,<br />
ressalta a artista.<br />
E é por meio do trabalho de encomenda<br />
que o artista realmente pode gerar receita,<br />
de acordo com Maria Adair. Entre as obras<br />
que ela produziu, destacam-se peças enviadas<br />
para Nova York, Los Angeles e ilha de Sanit<br />
Barthélemy, nas Antilhas Francesas. “Ainda este<br />
ano recebi uma encomenda para fazer pintura<br />
sobre um piano. Enquanto, desde o ano passado,<br />
preparo peças para a grande exposição no<br />
Museu Rodin Bahia, marcada para ser aberta<br />
no dia 22 de agosto deste ano, com o título ‘O<br />
Universo Amado’, em homenagem ao grande<br />
escritor Jorge Amado”, anuncia.<br />
“Durante o processo de criação, o artista,<br />
diferente do que acontece no mundo dos<br />
negócios de modo geral, não tem como<br />
finalidade primordial a venda de seu produto.<br />
Antes de mais nada, o artista produz arte por<br />
necessidade de expressar e comunicar suas<br />
ideias, sendo a venda uma consequência,<br />
ou o resultado de um caso de amor entre o<br />
espectador e a obra. Assim como carreira é a<br />
palavra mais indicada para definir o trabalho de<br />
um artista, em vez de profissão. Todo artista tem<br />
uma carreira a zelar”, conclui.<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 103<br />
+ ]
104 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
Cecília Menezes e as<br />
bonecas de cerâmica<br />
Cecília Menezes descobriu sua paixão pelas<br />
artes ainda criança. Resolveu, entretanto, cursar<br />
administração de empresas, por conta da insegurança<br />
financeira que a carreira artística inspirava.<br />
Aos 40 anos, decidiu que era hora de criar. As<br />
ideias na cabeça e a vontade de produzir eram<br />
maiores do que qualquer estereótipo da atividade<br />
artística. Hoje, a pintora e escultora faz quadros,<br />
aplica texturas em paredes, cria painéis e, seu carrochefe,<br />
lindas bonecas de cerâmica.<br />
O passaporte para o mercado de arte surgiu<br />
na primeira edição da Casa Cor em Salvador: “Fui<br />
convidada por diversos arquitetos maravilhosos,<br />
como Eliane Kruchewsky, Tuvinha Papaléo, Sidney<br />
Quintella, só pra citar alguns, que contribuíram para<br />
divulgar meu trabalho”, diz agradecida.<br />
A partir dos primeiros contatos, Cecília começou<br />
a se relacionar com um público exigente: sua obra<br />
atendia a esse perfil. “Tenho muito orgulho de dizer<br />
que sobrevivo do meu trabalho, que formei minhas<br />
filhas com essa atividade e que me sustento, hoje, com<br />
ela. Sei que poucos conseguem isso. É muito difícil<br />
vender arte neste país. Ela é considerada supérflua”,<br />
declara.<br />
A saída, como sempre, é diversificar. Entre os<br />
projetos em andamento, Cecília produz grandes<br />
esculturas em ferro e cerâmica, para amplos espaços,<br />
a pedido de construtoras. Produz, ainda, as charmosas<br />
bonecas que se tornaram disputados brindes de<br />
empresas. Projetos sob medida fazem parte do<br />
portfólio da artista, que desenvolverá louças para o<br />
restaurante Pitanga, a ser inaugurado no Shopping<br />
Bella Vista. “Os donos queriam uma peça estilizada<br />
e a cerâmica feita à mão era ideal, com sua tradição,<br />
beleza e nobreza”, diz Cecília. Ao todo, ela produz 180<br />
peças de nove modelos diferentes.<br />
“Somos competentes naquilo que gostamos e<br />
sabemos fazer bem. Eu mesma só comecei a dar certo<br />
quando me perguntaram: O que você faz? Qual sua<br />
profissão? E eu respondi: Sou artista plástica”, ela dá<br />
a dica. [B + ]
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 105<br />
+ ]
ARTE & ENTRETENIMENTO | fotografia<br />
106 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
IDENTIDADE<br />
“Isso”, 2011, da<br />
série “Os Corpos<br />
que Habito”<br />
Jovem e cheio de ideias, o<br />
baiano Márcio Mascarenhas<br />
quer conectar a Bahia com o<br />
exterior por meio das artes.<br />
Atualmente em Londres,<br />
foi em busca de uma nova<br />
formação e liberdade criativa.<br />
O resultado já são duas<br />
mostras na terra da rainha<br />
por BRISA DULTRA<br />
DENTRO DA<br />
FOTOGRAFIA<br />
E<br />
ntre um clique e outro, o jovem<br />
fotógrafo Márcio Mascarenhas,<br />
24 anos, nos conta um pouco<br />
sobre os desafios de iniciar a carreira<br />
artística em outro país. Vivendo hoje<br />
em Londres por conta do mestrado<br />
que faz na University of The Arts<br />
London, o baiano realiza sua primeira<br />
exposição em terra estrangeira no mês<br />
junho, quando acontece a vernissage<br />
do trabalho “Os Corpos que Habito”,<br />
na New Gallery, no sul de Londres.<br />
Inspirado em Picasso, Tarcila do Amaral<br />
e na fotógrafa Rineke Dijkstra, Márcio<br />
busca o seu espaço na fotografia<br />
artística.<br />
Conte um pouco de sua trajetória.<br />
Quando começou a fotografar?<br />
Comecei a fotografar na Faculdade<br />
de Comunicação da Ufba. Eu já tinha<br />
desistido de fazer qualquer coisa ligada<br />
às artes - pintura, teatro... Mas quando<br />
me aproximei da fotografia, em 2006, eu<br />
pensei: “Pô, isso eu consigo fazer”.
Por que tinha desistido?<br />
Eu tentei teatro, mas eu não tinha uma boa voz. Eu<br />
também desenhava, fazia umas esculturas, mas era<br />
sempre algo meio tosco. Então, eu achei que arte não<br />
era a minha. Foi quando conheci e encarei a fotografia.<br />
Então foi na graduação que você se envolveu<br />
mesmo com essa técnica... Você tinha sua própria<br />
câmera?<br />
Tinha sim. Minha primeira câmera foi uma Canon<br />
50D, digital. Dava pro que precisava. Não me limitava<br />
a nenhuma área: às vezes trabalhava com moda,<br />
outras com teatro, casamentos, eventos... Fiz isso para<br />
explorar o campo da fotografia.<br />
O que te motivou a encarar um mestrado?<br />
Eu o vejo como um passo para a liberdade da criação.<br />
Eu não queria ficar preso em Salvador, não queria<br />
ficar condicionado nesse início de carreira. Eu acho<br />
que o fato de ser sua cidade limita a criação, acaba te<br />
prendendo.<br />
Quando você está fora do seu lugar, você acaba<br />
enxergando outras coisas...<br />
Isso. A gente entende preconceitos, modos de olhar.<br />
E por que Londres?<br />
O curso de Fotografia Fine Art não tem em todo lugar.<br />
Minhas opções eram Inglaterra ou EUA. Os Estados<br />
Unidos têm uma concepção de arte mais voltada à<br />
plasticidade da obra. Já Londres tem um background<br />
mais rico em termos teóricos e filosóficos. Isso acabou<br />
definindo a minha escolha.<br />
O que é essa plasticidade norte-americana?<br />
É algo que privilegia mais o prazer de ver. Aquela<br />
coisa que você olha e fala: “Isso está muito bem feito!”<br />
Em Londres, você tem uma prioridade do conceito, da<br />
ideia que envolve todo o trabalho. O cuidado técnico<br />
não é a ferramenta mais importante de expressão.<br />
Você não tem que agradar o olho de quem está vendo,<br />
mas, sim, causar alguma sensação. Assim você imerge<br />
mais no conceito do que na obra.<br />
Como a Bahia interfere em seu trabalho?<br />
Muita gente, quando conhece a cultura de um país<br />
considerado mais desenvolvido, acha que o Brasil não<br />
presta e fica sem querer voltar. A Bahia tem muita<br />
coisa rica para mostrar, Londres tem muita coisa para<br />
ensinar. Eu quero juntar os dois.<br />
“Não quero trabalhar a<br />
foto para que ela seja<br />
perfeita, linda, bonita. Eu<br />
quero mais contato com a<br />
filosofia e a cultura”<br />
Como?<br />
Com um intercâmbio cultural. Quero colocar os dois lugares<br />
em contato, não só absorver, mas promover uma troca.<br />
Eu estou começando agora, mas já formei um grupo com<br />
fotógrafos em Londres dedicado a fazer exposições por lá e<br />
que eu pretendo trazer para cá. Quero também formar grupos<br />
aqui para poder levar esses contatos.<br />
Mas isso não é muito complicado?<br />
Se você trabalha com artes, não precisa de deslocamento de<br />
pessoas, só das obras. E, se você tem um agente responsável<br />
por fazer isso, facilita.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 107<br />
+ ]
Como funciona esse grupo de fotógrafos que<br />
você reuniu na Inglaterra?<br />
Decidimos juntar as forças e expor nossos<br />
trabalhos juntos. A ideia que linka o projeto é a<br />
“identidade”. Cada fotógrafo busca sua identidade<br />
dentro da fotografia. Agregamos isso para mostrar<br />
como cada um de nós enxerga essa arte.<br />
Quem participa do grupo?<br />
Um italiano, eu, uma americana, uma inglesa<br />
e um norueguês. O nome é “Equivalentes”.<br />
É justamente essa busca pelo “eu” dentro da<br />
fotografia e da arte.<br />
São fotógrafos jovens que buscam seu “eu”...<br />
O tema “identidade” é geral e pode se aplicar a<br />
muita gente. Meu projeto chama-se “Os Corpos<br />
que Eu Habito”, com forte influência cubista, onde<br />
a imagem apresenta diversas faces de um objeto<br />
no mesmo plano, apresentando vários “eus” num<br />
mesmo corpo. Tem outro que é “Eu Não Vou Viver<br />
Mais Aqui”, no qual a americana investiga a<br />
relação dos jovens que alugam casas e só passam<br />
um ano em Londres, não tendo uma concepção de<br />
moradia fixa.<br />
Como funciona o mercado da fotografia?<br />
Fotografia é voltada para arte, principalmente.<br />
Então, você tem que fazer o seu nome, trabalhar<br />
a concepção do seu trabalho, descobrir onde está<br />
seu público e as galerias que têm o seu perfil.<br />
Estou procurando o meu público. Procurando as<br />
pessoas que podem dar suporte ao meu trabalho.<br />
Além da exposição, seu trabalho está<br />
presente também no projeto Art Below<br />
London, certo?<br />
Tenho uma imagem selecionada para esse projeto.<br />
Eles exibem o material selecionado e levam<br />
também a foto para uma galeria no metrô de<br />
Londres, na galeria London Underground Gallery,<br />
que fica na estação Charing Cross. Isso abre<br />
muitas possibilidades porque é algo de grande<br />
visibilidade.<br />
Londres tem muitas galerias e,<br />
principalmente, um público que<br />
consome artes. E aqui?<br />
Se eu não me engano, de galeria que vende<br />
obra mesmo, acho que é só a Paulo Darzé. Se<br />
108 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
“Litigioso”, 2011, da<br />
série “Os Corpos<br />
que Habito”<br />
FOTOS: Acervo Pessoal<br />
“O cuidado técnico não<br />
é a ferramenta mais<br />
importante de expressão.<br />
Você não tem que agradar<br />
o olho de quem está<br />
vendo, mas, sim, causar<br />
alguma sensação”
“Já formei um grupo com<br />
fotógrafos em Londres<br />
dedicado a fazer exposições<br />
por lá que eu pretendo<br />
trazer para Salvador. Quero<br />
formar grupos aqui para<br />
poder levar esses contatos”<br />
“Em Mim Mesmo”,<br />
2011, da série “Os<br />
Corpos que Habito”<br />
tiver mais, é uma ou duas. De resto, você tem os<br />
museus. Então, o mercado baiano é surrealmente<br />
limitado. E vai desde a cultura: nós não temos a<br />
cultura de consumir artes visuais. Essa cultura<br />
ficou centrada num mercado muito pequeno, da<br />
classe alta, que só consome a mesma coisa, o que<br />
veio do passado.<br />
No Sudeste, existe um movimento de ter mais<br />
feiras e festivais, que são uma boa janela para<br />
novos fotógrafos, como a SP-Arte...<br />
E em Salvador, nada. O MAM é uma instituição<br />
boa, que traz coisas legais, mas é só. Acho que,<br />
através da educação, vai acontecer naturalmente.<br />
Se pessoas como eu, que estão lá fora, começarem<br />
a fazer esse contato, se fotógrafos e produtores<br />
culturais daqui promoverem ações nesse sentido,<br />
começa a se formar um público e as coisas podem<br />
mudar. Eu quero trazer a arte contemporânea<br />
para cá.<br />
Qual é o novo projeto que você está<br />
desenvolvendo?<br />
Ele é chamado “Damas de Honra”, numa<br />
brincadeira com o termo em inglês bridesmaid,<br />
porque ‘maid’, em inglês, quer dizer ‘empregada’.<br />
Nesse trabalho, fotografo empregadas que já<br />
trabalham há 15 ou 30 anos com a mesma família.<br />
Nele, eu quero colidir a cultura da classe média<br />
brasileira que tem a necessidade de ter alguém<br />
cuidando da casa. Quando fui para Londres,<br />
comecei a viver sem empregada e percebi como<br />
é bom e importante viver o ambiente onde você<br />
mora. É importante você cuidar do seu ambiente.<br />
E as pessoas aqui ficam relaxadas com essa<br />
exploração cultural do outro.<br />
O que você define como exploração cultural?<br />
Eu acho que ter uma empregada é uma certa<br />
exploração cultural, já que é uma pessoa que<br />
não teve o mesmo nível educacional que o<br />
patrão. É como se todo aquele espaço fosse<br />
responsabilidade dela. O que é uma contradição,<br />
pois ao mesmo tempo que você deixa a<br />
empregada mexer no seu guarda-roupa, arrumar<br />
sua cama, você não quer que ela coma a última<br />
fatia do bolo ou que ela faça ligações da sua casa.<br />
Isso é delicado. É uma relação de poder muito<br />
estranha. E eu quero trazer isso para<br />
fotografia. [B + ]<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 109<br />
+ ]
ARTE & ENTRETENIMENTO | aplausos<br />
Recôncavo Jazz Festival<br />
acontece em agosto<br />
A primeira edição do Recôncavo Jazz Festival será realizada<br />
entre os dias 23 e 25 de agosto na cidade de<br />
Cachoeira, no interior da Bahia. Com atrações locais<br />
e nacionais, o evento também contará com a participação<br />
do músico internacional Joshua Redman, que<br />
vai tocar ao lado da Orquestra Rumpilezz, liderada por<br />
Letieres Leite.<br />
“Olhos da Rua” e seus<br />
recortes diferenciados<br />
Em algum lugar da cidade, na última terça-feira do<br />
mês, fotógrafos, admiradores e estudantes se reúnem<br />
para a projeção urbana de fotografias. O projeto “Olhos<br />
da Rua” leva para espaços públicos de Salvador imagens<br />
de fotógrafos profissionais e amadores, sobre algum<br />
tema abrangente, selecionadas por uma equipe de<br />
curadores. A exibição é realizada pelo LabFoto Facom,<br />
Instituto Casa da Photographia e o Tuesday Autonomous<br />
Zone.<br />
110 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Yuri Rosat<br />
Margareth Menezes comanda miniturnê junina<br />
Margareth Menezes se prepara para mais uma temporada de apresentações<br />
no São João, que inclui as cidades de Caruaru (PE), Maracanaú (CE), Jaramataia<br />
(AL) e Pendências (RN). Para os shows, o melhor de Luiz Gonzaga, além<br />
de forrós tradicionais, xote, baião, xaxado, maracatu e pé de serra. Além<br />
das apresentações, a artista foi convidada para ser a representante baiana<br />
no especial São João do Nordeste 2012.<br />
Criolo agitou a Concha<br />
Acústica de Salvador<br />
“Moças Aéreas” decola<br />
O espetáculo circense dirigido pela professora e<br />
herdeira do circo Picolino, Luana Serrat, entrou<br />
em cartaz pela segunda vez na primeira quinzena<br />
de maio, no Teatro Martim Gonçalves (Escola<br />
de Teatro da Ufba). Os seis dias de apresentação<br />
levaram o público às alturas com as meninas<br />
voadoras, que fazem acrobacias nos números de<br />
corda, tecido, lira, passeio aéreo e quadrante.<br />
“Talvez não tenha<br />
criança no céu”<br />
O livro da editora Virgiliae marca a estreia literária<br />
de Davi Boaventura, escritor baiano de 26<br />
anos, que começou a escrever o livro aos 18: “Eu<br />
queria botar um sentimento para fora e escrever<br />
a história mais sincera possível dentro de<br />
minhas capacidades”, declara o autor. A trama,<br />
contada numa espécie de diário, prende a atenção<br />
do leitor do início ao fim. A qualidade do<br />
livro chegou a arrancar elogios de Daniel Galera,<br />
que o define como “um relato sufocante dos estertores<br />
de uma adolescência sem rumo”.<br />
FOTO: Yuri Rosat<br />
Quem escolheu Criolo não se arrependeu. O rapper paulista emocionou<br />
a Concha Acústica, no mês de maio, quando cantou músicas do<br />
álbum “Nó Na Orelha”, premiado como melhor CD de 2011 pela revista<br />
Rolling Stone. Em sua segunda visita à cidade, Criolo dividiu o palco<br />
com o DJ Dan Dan.
JORGE<br />
CAJAZEIRA<br />
Executivo da Suzano<br />
Papel e Celulose,<br />
mestre e doutor em<br />
administração de<br />
empresas, presidente<br />
mundial da ISO 26000<br />
para Responsabilidade<br />
Social e presidente do<br />
Sindpacel - Sindicato<br />
Patronal de Papel e<br />
Celulose do Estado da<br />
Bahia<br />
ARTE & ENTRETENIMENTO | off broadway<br />
Paul McCartney tem estatísticas com as<br />
quais todos os artistas apenas sonham. O<br />
mais bem-sucedido artista de todos os tempos<br />
já esteve na lista do Billboard Hot 100 por<br />
71 vezes com os Beatles e mais 43 vezes,<br />
individualmente ou com sua banda Wings.<br />
Para se ter uma ideia do que isso significa,<br />
só em 1964 os Beatles colocaram 31 hits nas<br />
paradas, Elvis emplacou nove sucessos no<br />
mesmo ano.<br />
Acompanho com interesse os artigos e<br />
ensaios que atribuem ao gênio João Gilberto<br />
as maiores influências na música popular<br />
brasileira, em especial, na baiana. Desde o<br />
disco antológico e precursor do axé “Acabou<br />
Chorare” dos Novos Baianos, que é inspiração<br />
gilbertiana pura, até Caetano, Gil, Tom Zé e<br />
Ivete saúdam o inventor da bossa nova como<br />
o mentor maior. Não duvido. Ocorre que é<br />
quase despercebido e até esquecido o papel<br />
fundamental que a dupla John e Paul exerceu<br />
na música brasileira e baiana.<br />
Para começar, lembro que alguns clássicos<br />
da MPB são inspirados ou até mesmo<br />
copiados da dupla de Liverpool. Por exemplo,<br />
a Carolina de Chico Buarque, aquela que<br />
vê o tempo passar na janela, é claramente<br />
inspirada na Eleonor Rigby, que nas palavras<br />
de John e Paul “espera à janela, portando um<br />
rosto que ela guarda em um jarro perto da<br />
porta”. Na sua solidão, a Carolina de Chico<br />
guarda “nos seus olhos tristes, tanto amor, o<br />
amor que já não existe”, enquanto Eleonor<br />
112 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
BEATLES<br />
FOREVER<br />
A oculta influência de Lennon e McCartney na terra do axé
inspira o refrão “todas as pessoas solitárias, de<br />
onde elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de<br />
onde elas são?”<br />
Ademais, o casal incompatível Eduardo<br />
e Mônica de Renato Russo que no primeiro<br />
encontro “Eduardo sugeriu uma lanchonete,<br />
mas a Mônica queria ver o filme do Godard”<br />
também me lembra o Desmond e Molly,<br />
quando “Desmond tem um carrinho no<br />
supermercado enquanto Molly é cantora em<br />
uma banda” na clássica música dos Beatles<br />
“Ob-La-Di, Ob-La-Da”.<br />
Não pode ter uma influência mais direta<br />
que John e Paul sobre mano Caetano. É só<br />
analisar a inspiração da dupla “Lennon e<br />
McCartney” na capa dos seus álbuns Jóia<br />
e Qualquer Coisa. No Jóia, vemos a família<br />
Veloso em pose idêntica ao Two Virgens de<br />
Lennon (1968), no caso sem os pombinhos.<br />
Em Qualquer Coisa, a inspiração vem de<br />
Let it Be (1970), último disco dos Beatles.<br />
Curiosamente, no Qualquer Coisa, Caetano<br />
canta belissimamente a “Eleonor Rigby”, mais<br />
linda só a sua interpretação de “Carolina” no<br />
disco Prenda Minha – Ao Vivo.<br />
Ainda comentando as influências nos<br />
baianos, amo o solo de Armandinho para Day<br />
Tripper, assim como lembro do grande Raul<br />
Seixas no início de carreira, em 1964, com<br />
a banda Raulzito e Os Panteras, cantando<br />
Beatles, incluindo o uso dos terninhos que<br />
marcaram o estilo da banda inglesa.<br />
O mais influente disco produzido no Brasil,<br />
o antológico Tropicália ou Panis Et Circensis,<br />
com nítido caráter de manifesto, inova por um<br />
sincretismo de ritmos jamais ouvido até aquela<br />
época. O disco liderado por Gil e Caetano bebe<br />
na água do Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club<br />
Band. É só ver a capa. Além disso, na música<br />
“Alegria, Alegria”, quando Caetano lembra<br />
que “o sol nas bancas de revistas, me enchem<br />
de alegria e preguiça”, é uma tradução quase<br />
literal da “A day in the life” quando Paul e John<br />
escrevem: “Eu li as notícias de hoje, oh garoto<br />
(…) e embora as notícias fossem um tanto<br />
tristes; bem, não pude deixar de rir”.<br />
John e Paul foram elementos fundamentais<br />
da mais influente banda de rock de todos<br />
os tempos, coautores das mais duradouras e<br />
simplesmente melhores canções que pudemos<br />
escutar. A influência na música brasileira<br />
é real, em especial na música baiana. Pena<br />
que isso não é reconhecido e de certo modo<br />
esquecido.<br />
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 113<br />
+ ]
CONTE AÍ<br />
EVENTOS E<br />
EVENTUALIDADES<br />
Nos quase 25 anos que atuo na área de entretenimento,<br />
ouvi, vi e convivi com muita coisa. Produzi muitos eventos<br />
de sucesso e também eventos de sucesso algum. Quando<br />
comecei (comecei muito cedo e meio por acaso), tudo<br />
era diferente. Fico pensando que teria sido bem mais<br />
fácil meu primeiro trabalho de produção se existisse<br />
naquela época, por exemplo, o celular. A tecnologia mais<br />
avançada disponível era o rádio de comunicação - enorme<br />
e pesadíssimo. Certa vez, tentando usar a geringonça<br />
durante uma solenidade, um engraçadinho passou e<br />
perguntou como estava o Ba-Vi. Que raiva que eu senti!<br />
Não existe fórmula pronta para produzir um evento<br />
de sucesso, mas, seja qual for o tamanho, formato e<br />
grau de complexidade, uma coisa é certa: sem um bom<br />
planejamento as chances de um resultado ruim são<br />
enormes. Um telão montado próximo a um poste de alta<br />
tensão quase acaba em tragédia. Ora, como eu podia<br />
adivinhar que o maldito poste ia “pipocar” justamente<br />
durante a festa? Aprendi que essas coisas a gente não<br />
“adivinha”, a gente planeja.<br />
O bom planejamento deve, entre outras coisas, prever<br />
os imprevistos ainda que, nem assim, consigamos evitar<br />
alguns vexames. Uma vez tive que avisar “no grito” a<br />
cerca de 800 pessoas que a apresentação teatral daquela<br />
noite seria cancelada por falta de energia - na época<br />
não era comum locar geradores para os eventos. Quase<br />
fui linchada! Em outra ocasião, por exemplo, tive que ir<br />
pessoalmente à cozinha de um bar famoso fritar um peixe<br />
para o cliente que se recusava a comer os peixes fritos<br />
pelas cozinheiras do estabelecimento. Segundo ele “estava<br />
tudo muito gorduroso”. Eu não sei fritar peixe, mas nada<br />
que três metros de papel-toalha não tivessem resolvido.<br />
Alguns eventos são mais complicados que outros, mas<br />
destaco os shows musicais como um dos mais complexos.<br />
Lembro que, há alguns anos, um cantor pediu três moças<br />
à disposição durante sua permanência na cidade. As<br />
especificações eram: uma loira, uma ruiva e uma morena.<br />
Confesso que, depois de ler o contrato, pensei seriamente<br />
em desistir da profissão! Não me imaginava com 50 anos<br />
selecionando “piriguetes” para acompanhar cantores! Ufa,<br />
felizmente foi a primeira e única vez que o contratei (e<br />
desconfio que foi um dos últimos shows que ele fez).<br />
114 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />
FOTO: Divulgação<br />
PAGANA<br />
CARVALHO<br />
Diretora<br />
executiva da<br />
8 Bisz e<br />
produtora<br />
cultural<br />
Um cantor pediu, em contrato, três moças<br />
à disposição durante sua permanência<br />
na cidade. As especificações eram: uma<br />
loira, uma ruiva e uma morena<br />
Também não esqueço de outro pedido bem<br />
inusitado: “Uma rede de proteção no palco do Teatro<br />
Castro Alves para evitar a entrada de morcegos”. E<br />
olha que o teatro havia sido reinaugurado seis meses<br />
antes, com o que existia de mais moderno em termos<br />
de instalações e equipamentos.<br />
Hoje os “pedidos exóticos” já não são tão exóticos<br />
assim. Não que eles não existam, mas diminuíram<br />
bastante. O último “abuso” que me lembro veio da<br />
produção de um (candidato a) famoso cantor nacional.<br />
Ele quis cobrir de fita crepe todas as bebidas do<br />
camarim para evitar que os rótulos aparecessem, já<br />
que não era patrocinado por nenhum deles.<br />
Lidar com as “celebridades” também não é tarefa<br />
fácil. Certa vez precisei “parar” a produção de um<br />
camarote para cuidar de um ex-BBB (desclassificado<br />
logo na fase inicial do programa) que estava na porta<br />
fazendo escândalo porque não conseguia quatro<br />
seguranças para “escoltá-lo” até a entrada do próximo<br />
camarote. Pensei: “Vale a pena essa profissão?”<br />
Poucos minutos depois, lembrei que, ao participar<br />
da produção de um espetáculo no Teatro Castro Alves,<br />
vi Jorge Amado e Zélia Gattai aguardando, com a maior<br />
elegância e paciência, na fila de entrada... Concluí,<br />
então, que fiz a escolha certa. [B + ]
www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 115<br />
+ ]
116 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com