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www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

1


2 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

3


12<br />

FÓRUM<br />

13<br />

ON-LINE<br />

E MURAL<br />

14<br />

ZOOM+<br />

18<br />

BLOCO<br />

DE NOTAS<br />

SUMÁRIO<br />

22<br />

MÍDIA+<br />

24<br />

IMÓVEIS+<br />

26<br />

EXPERIÊNCIAS<br />

114<br />

CONTE AÍ<br />

6 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

64<br />

VERDE +<br />

CRIATIVA<br />

Os dois termos são recentes,<br />

mas o expressivo crescimento<br />

desses setores demonstra que o<br />

cenário não deve ser facilmente<br />

revertido. Somente o Sebrae<br />

pretende investir na Bahia,<br />

até 2015, R$ 17 milhões para<br />

fomentar o setor de economia<br />

criativa. Diante dos novos<br />

desafios globais, a economia<br />

baiana exibe expoentes que<br />

trabalham com soluções<br />

criativas e sustentáveis.<br />

76<br />

ENTREVISTA<br />

Planejamento estratégico<br />

para inovar e posicionar<br />

marcas. Rodrigo Hurtado e<br />

Ingrid Queiroz comandam a<br />

jovem empresa baiana DMI.<br />

Criatividade, tecnologia são<br />

termos diários na agência que<br />

aposta em uma comunicação<br />

“transmidiática” para<br />

solucionar os desafios<br />

dos clientes.


EDUCAÇÃO 34<br />

A formação de jovens<br />

talentos baianos. Incubadoras,<br />

experiências no exterior<br />

e estudos estão entre as<br />

atividades desses futuros<br />

profissionais.<br />

PRO BEM 58<br />

Soluções para o lixo em hotéis.<br />

Veja o que a Verdecoop e o<br />

Hotel de Lençóis estão fazendo.<br />

MODA 80<br />

As bolsas de Irá Salles. A<br />

baiana formada em Nova York<br />

exporta brasilidade.<br />

MÚSICA 96<br />

Artistas locais produzem novas<br />

sonoridades, criam redes e<br />

reconfiguram a maneira de se<br />

fazer negócios.<br />

NEGÓCIOS 31<br />

START UP 32<br />

Estudantes com espaço internacional<br />

CAFÉ E CULTURA 38<br />

Unir o sabor com a sabedoria<br />

SÃO JOÃO 42<br />

O bate-volta é aposta este ano<br />

[C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48<br />

SUSTENTABILIDADE 49<br />

TENDÊNCIAS 50<br />

Seis caminhos para a gestão sustentável<br />

ESTÁDIOS SOLARES 52<br />

Pituaçu agora com energia solar<br />

CARTA DA TERRA 54<br />

Valores por um mundo melhor<br />

[C] ISAAC EDINGTON 60 | [C] MARCO PELLEGATTI 62<br />

ARQUITETURA 84<br />

Construções sustentáveis<br />

VIAGEM 88<br />

Aventura de moto nos Andes<br />

SABOR 90<br />

Arroz negro de polvo<br />

NOTAS DE TEC 92 | PLANO + 94<br />

LIFESTYLE 79<br />

ARTE & ENTRETENIMENTO 95<br />

3 HISTÓRIAS 102<br />

Maria Adair, Ricardo Franco e Cecília Menezes<br />

FOTOGRAFIA 106<br />

Márcio Mascarenhas conecta Bahia e Londres<br />

APLAUSOS 110<br />

O que merece ser aplaudido<br />

[C] JORGE CAJAZEIRA 112 | [C] MARCO PELLEGATTI 44<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

7


EDITORIAL<br />

Quando questionada por um repórter se o<br />

tema sustentabilidade já tinha sido ultrapassado,<br />

Gro Brundtland, ex-ministra do Meio Ambiente<br />

da Noruega e uma das criadoras do termo<br />

desenvolvimento sustentável, respondeu firme,<br />

sem titubear: “Não. Não passou porque ainda<br />

nem aconteceu.”<br />

Brundtland, aos 73 anos de idade, segue a<br />

caminhada em busca desse mundo mais justo e<br />

sustentável. E ela não está sozinha. Encontra-se<br />

com líderes de nações, empresas, organizações,<br />

dissemina o conceito e contribui com soluções<br />

para os desafios globais.<br />

Soma-se à sustentabilidade, o novo e<br />

abrangente conceito da economia criativa.<br />

Originária do termo “indústrias criativas”<br />

e inspirada no projeto CreativeNation, da<br />

Austrália, de 1994, essa economia defende o<br />

trabalho criativo como fundamental para a<br />

produção não poluente, inovação tecnológica,<br />

geração de emprego e renda, qualificação de<br />

novos profissionais e promoção da inclusão<br />

social.<br />

Ambos, a economia verde e a economia<br />

criativa, ainda podem estar no começo. Porém<br />

reluzem como alternativas viáveis para uma<br />

nova economia global, apoiada pelas Nações<br />

Unidas, tendo como carros-chefes os Estados<br />

Unidos, China e países europeus. O Brasil<br />

também começa a se movimentar nessa direção.<br />

Mas, afinal, de que maneira essas tendências<br />

reinventam o modo se fazer negócio? E como a<br />

Bahia se apresenta nesse cenário?<br />

As páginas da edição 13 da [B + ] descortinam<br />

esses fatos e apresentam o que o setor produtivo<br />

baiano faz a respeito desses temas. Também<br />

mergulhamos fundo para conhecer quem são os<br />

profissionais que reconfiguram a economia do<br />

estado e como os jovens se preparam para esse<br />

novo ambiente de negócios.<br />

O resultado inclui casos de sucesso nas áreas<br />

criativa e sustentável, tanto por parte de grandes<br />

empresas, como também de micro e pequenos<br />

empresários; soluções inovadoras e criativas de<br />

pesquisadores que ganharam destaque nacional<br />

e agora colhem reconhecimento internacional;<br />

perfis de pessoas que fazem da arte uma chave<br />

para abrir portas do mercado e conectar a Bahia<br />

com o cenário global.<br />

Uma edição que retrata a busca de uma<br />

economia cada vez mais dinâmica, moderna e<br />

diversificada.<br />

Boa leitura. A Redação.<br />

8 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

9


EXPEDIENTE<br />

Conselho Editorial<br />

César Souza, Cristiane Olivieri, Fábio<br />

Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho,<br />

Isaac Edington, Jack London, Jorge<br />

Portugal, José Carlos Barcellos, José<br />

Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho,<br />

Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin,<br />

Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos<br />

Segundo e Sérgio Nogueira<br />

Conselho Institucional<br />

Aldo Ramon (Júnior Achievement)<br />

Antônio Coradinho (Câmara Portuguesa)<br />

Antoine Tawil (CDL)<br />

Jorge Cajazeira (Sindipacel)<br />

José Manoel Garrido Gambese Filho<br />

(ABIH-BA)<br />

Mário Bruni (ADVB)<br />

Mauricio Castro (Fieb)<br />

Paulo Coelho (Sinapro)<br />

Pedro Dourado (ABMP)<br />

Renato Tourinho (Abap)<br />

Wilson Andrade (Abaf)<br />

Diretor Executivo<br />

Claudio Vinagre<br />

claudio.vinagre@revistabmais.com<br />

Editor Chefe<br />

Fábio Góis<br />

fabio.gois@revistabmais.com<br />

Repórteres<br />

Brisa Dultra, Carolina Coelho<br />

e Murilo Gitel<br />

10 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Projeto Gráfico e Diagramação<br />

Person Design<br />

Fotografia<br />

Stúdio Rômulo Portela<br />

Revisão<br />

Rogério Paiva<br />

Colaboradores<br />

Ana Paula Paixão, Andréa Castro,<br />

Danilo Lima, Débora Castelo Branco,<br />

Eduardo Santos, Emanuelle Xisto, Felipe<br />

Arcoverde, Felipe Zamarioli, Gina Reis,<br />

Hélio Tourinho, Larissa Seixas, Lilian<br />

Mota, Marcelo Negromonte, Marcos<br />

Maciel, Marisa Viana, Maurício Castro,<br />

Milena Miranda, Raíza Tourinho, Rogério<br />

Borges, Uilma Carvalho, Vinícius Silva,<br />

Yasmin Queiroz, Yuri Rosat<br />

Colunistas<br />

Isaac Edington, Jorge Cajazeira, José<br />

Renato Mendonça, Luiz Marques Filho,<br />

Marco Pellegatti, Núbia Cristina<br />

Portal<br />

Enigma.net<br />

Redes Sociais<br />

Person Mkt<br />

A edição 13 traz na capa a produção da<br />

agência Leiaute. Agradecemos a Raul<br />

Rabelo (diretor de criação), Rogério<br />

Chetto (diretor de criação), Victor Azevedo<br />

(diretor de arte), Adriana Mira (diretora<br />

de atendimento), Gigi Chiacchiaretta<br />

(coordenadora de produção e operações),<br />

Bruna Lopes (relações-públicas), Marcelo<br />

Almeida (arte final), Micheline Chahoud<br />

(revisora), Marina Palmeira (banco de<br />

imagem). Fotos do Stúdio Rômulo Portela.<br />

A cada edição, uma nova equipe é<br />

convidada para produzir a capa da <strong>Revista</strong><br />

[B + ]. Uma iniciativa que visa dar destaque<br />

aos profissionais do nosso mercado.<br />

Tiragem: 10 mil exemplares<br />

Periodicidade: Bimestral<br />

Impressão: Grasb<br />

Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss<br />

170g/m 2 e miolo impresso em papel Couché<br />

Suzano® Gloss, 95g/m 2 , da Suzano Papel e<br />

Celulose, produzidos a partir de florestas<br />

renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada<br />

foi plantada para este fim.<br />

Realização<br />

Editora Sopa de Letras Ltda.<br />

CNPJ<br />

13.805.573/0001-34<br />

Redação [<strong>B+</strong>]<br />

redacao@revistabmais.com<br />

www.revistabmais.com<br />

Publicidade<br />

publicidade@revistabmais.com<br />

Cidinha Collet - gerente comercial<br />

cidinha.collet@revistabmais.com<br />

Itamara Morais<br />

itamara.morais@revistabmais.com<br />

Walter Monteiro<br />

walter.monteiro@revistabmais.com<br />

SALVADOR<br />

71 3012-7477<br />

Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center,<br />

sala 1102, Loteamento Cidadela,<br />

Brotas CEP: 40.280-000<br />

SÃO PAULO<br />

11 3438-4473<br />

Rua José Maria Lisboa. 860/83<br />

CEP: 01.423-001


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11


FÓRUM DE LIDERANÇA<br />

CAPA DA EDIÇÃO 12 DA [B + ], A HISTÓRIA<br />

DE MÔNICA BURGOS E CÉSAR<br />

FÁVERO COM A AVATIM – CHEIRO<br />

DA TERRA PROVOCOU REFLEXÕES<br />

DOS EMPRESÁRIOS E EXECUTIVOS<br />

PRESENTES NO TERCEIRO FÓRUM<br />

DE LIDERANÇA, REALIZADO DIA 16 DE<br />

MAIO, NO RESTAURANTE BABY BEEF.<br />

O café da manhã teve como principal objetivo<br />

promover o empreendedorismo, através da troca de<br />

experiências: “O mais destacável é que as pessoas não<br />

vieram só pra trocar cartões, elas vêm para aprender,<br />

observar novos comportamentos empresariais e aplicar<br />

dentro de seus negócios”, afirmou Mônica, após a<br />

palestra.<br />

Para o membro do conselho editorial da [B + ]<br />

Isaac Edington o Fórum de Liderança visa promover a<br />

economia local, complementando a proposta da revista:<br />

“Nossa missão é estimular o empreendedorismo com a<br />

divulgação de boas iniciativas e de encontros como este,<br />

para que haja um intercâmbio de ideias”.<br />

Patrocinado pela TIM, o Fórum de Liderança<br />

reuniu mais de 120 pessoas do setor produtivo baiano,<br />

proporcionando mais uma vez a oportunidade de debater<br />

o cenário empresarial do estado.<br />

Evandro Mazo (Fieb/Cieb)<br />

Izabella Borges (Sindpacel)<br />

Javier Trinidad<br />

(Diretor Brasil Iberostate)<br />

Ivanilson Medeiros (TIM), Eliana Santos<br />

e Rubem Reis (Grupo São Roque)<br />

Gilson Sampaio<br />

(Diretor Câmara Portuguesa)<br />

Silvio Cruz, Ademar Filho, Patrícia<br />

Leal e Cesar Carvalho (TIM)<br />

12 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Vista geral do Fórum de Liderança<br />

Mônica Burgos entre a equipe da [B + ]. Rubem Passos,<br />

Fábio Góis, Claudio Vinagre, Isaac Edington e Luiz Marques<br />

Cidinha Collet (comercial [B + ])<br />

e Marcos Peixoto (Business TIM)<br />

Potyra Lavor (TV Aratu) recebe<br />

brinde de sorteio da TIM<br />

Fábricio Barreto (Sebrae)<br />

FOTOS: Danilo Lima<br />

Marcos Costa (Comtecno), Luiz Blanc<br />

(ABIH) e Sérgio Guanabara (Sefaz)<br />

Christiane Bruni (Conquest Operadora)<br />

e Mário Bruni (conselheiro ADVB-BA)<br />

Carlos Henrique Barreto (Digital Signage)<br />

recebendo brinde no sorteio da Avatim


ON-LINE E MURAL<br />

[+] NO SITE<br />

www.revistabmais.com<br />

Selecionamos diversos vídeos sobre temas abordados na<br />

matéria MPB com H (pag 96). Você encontra clipes de Lucas<br />

Santtanna, o programa “Mê de Música”, vídeos do mestre<br />

Lourimbau, além de outros conteúdos audiovisuais.<br />

Recebi minha primeira [B + ]. Estou encantada, sem<br />

palavras para descrever o trabalho de vocês!<br />

Flávia Gusmão<br />

Quero registrar a revista [B + ] como uma nova<br />

força e um impulso positivo para nosso estado.<br />

No conselho editorial encontrei nomes de pessoas<br />

especialmente (pró) ativas, com quem já tive a sorte<br />

de trabalhar. Sucesso para a revista e para a Bahia.<br />

Tuzé<br />

Excelente a apresentação de Mônica Burgos. Mostrou a<br />

sua força. Aprendi muito. Parabéns a Avatim e [B + ].<br />

Renata Souza<br />

É um ótimo trabalho que fazem com o cacau<br />

em Ilhéus. A matéria retratou essa história.<br />

Patrícia Póvoa<br />

ERRAMOS! Informações da edição 12 que queremos corrigir:<br />

1. Na matéria a Força da Economia no Interior, o gerente-geral<br />

do Centro das Indústrias do Estado da Bahia é Evandro Mazo.<br />

2. O designer Claudio Marcelo Reis posa na foto com Stephanie<br />

Powers, do Casal Vinte, e não Lynda Carter, a Mulher Maravilha.<br />

FOTO: Daryan Dornelles<br />

Sobre a edição 12<br />

Este rapaz já era desenhista na<br />

quinta série do colégio Anisio<br />

Teixeira. Tive a honra de tê-lo como<br />

aluno. Ainda guardo seus desenhos.<br />

Silvania Capua<br />

Sempre que vejo notícias de meu<br />

amigo, compartilho. Todas as boas<br />

pessoas deviam ter o privilégio de<br />

conhecer esse homem.<br />

Paloma Santos<br />

FOTO: Divulgação<br />

A trajetória do designer Claudio Marcelo foi retratada<br />

na matéria “Talento baiano em Hollywood”<br />

Comentários, sugestões de pautas e<br />

correções: redação@revistabmais.com<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

13


ZOOM+<br />

AEROCLUBE<br />

QUER SER SHOPPING DE VAREJO<br />

O ambiente é de abandono e descaso.<br />

Falar com jornalistas não agrada<br />

a ninguém ali. Fotos, nem pensar<br />

Os novos planos para o antigo<br />

shopping de lazer incluem subir<br />

paredes, trazer grandes redes<br />

varejistas e esperar por um público<br />

ávido por bens de consumo em<br />

vez de entretenimento. Mas<br />

para chegar a esse futuro, o<br />

empreendimento ainda paga caro<br />

por ROGÉRIO BORGES<br />

14 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rogério Borges<br />

Q<br />

uando as obras de reforma do antigo Aeroclube Plaza<br />

Show, na orla da Boca do Rio, foram judicialmente<br />

embargadas, em 2008, a ideia já era recuperar<br />

comercialmente um espaço nascido quase uma década antes,<br />

em 1999, sob o signo da ousadia conceitual. O shopping de lazer,<br />

instalado a céu aberto, como em uma vila à beira-mar, revelou-se<br />

estrategicamente mal-planejado e, anos depois da inauguração, o<br />

conceito já estava ultrapassado. Ainda hoje o Consórcio Parques<br />

Urbanos procura viabilizar aquele espaço. Pretende agora erguer<br />

um shopping tradicional, entre paredes, com grandes lojas de<br />

varejo e muito ar condicionado.<br />

Em agosto completa um ano que a Justiça permitiu a retomada<br />

das obras. Na Enashopp, que administra o Aeroclube, o diretor<br />

Edison Rezende mostra-se incomodado com a demora.


A área, de acordo com o Ministério<br />

Público Federal na Bahia, é parte<br />

de conjunto paisagístico tombado<br />

pelo Iphan desde 1959<br />

“Os empreendedores todos os meses colocam dinheiro lá para<br />

manter a estrutura em funcionamento”, afirma. A grande<br />

preocupação é chegar a um projeto que não sofra objeções por<br />

parte das autoridades, o que resultaria em mais prejuízos para<br />

todos. A área, de acordo com o Ministério Público Federal na<br />

Bahia, é parte de conjunto paisagístico tombado pelo Iphan<br />

desde 1959, que engloba 10 km de faixa litorânea de Salvador,<br />

entre o Jardim dos Namorados e Piatã.<br />

O que estava em questão era o tombamento patrimonial,<br />

além da construção do Parque dos Ventos na área contígua<br />

ao empreendimento. Sobreveio então o conceito “Aeroclube<br />

Shopping & Office”, que utilizava parte da estrutura para<br />

escritórios. Os empreendedores acenam agora com as lojas<br />

âncoras, tradicional estratégia para atrair consumidores – o<br />

que ainda terá que ser submetido aos órgãos competentes.<br />

De acordo com a Enashopp, o projeto em elaboração<br />

atende todas as exigências de todos os órgãos envolvidos.<br />

Por conta disso, a volumetria geral da área a construir, por<br />

exemplo, deve ser menor do que a atual, permitindo alguma<br />

visibilidade para o mar a partir da avenida. Edison Rezende<br />

ainda não sabe quanto, mas uma parte da atual estrutura será<br />

demolida. “Depende do projeto arquitetônico”, reafirma.<br />

Ele conta que o novo formato é fruto de pesquisa: “As<br />

pessoas não querem sofrer com as intempéries, com o sol,<br />

com a chuva”, diz. Além disso, “querem um shopping com<br />

cara de shopping”, incluindo as grandes lojas e não com<br />

ares de parque de lazer. Importante para os empreendedores<br />

é também substituir o público dos espetáculos musicais,<br />

dos cinemas, dos bares e restaurantes pelo consumidor de<br />

eletrodomésticos e de tudo o que ficar bacana na sala de<br />

visitas. Ao contrário do que ocorria nos anos 90, vivemos<br />

tempos de consumo em alta e o empreendimento tem de ser<br />

economicamente viável.<br />

Lojistas<br />

Salvador Oliveira, proprietário da lotérica que ainda funciona<br />

no Aeroclube, espera ansioso por esse público. Embora o<br />

movimento da loja esteja garantido pelo tipo de serviço<br />

prestado, ele quer usufruir dos benefícios de um verdadeiro<br />

shopping e “não ter que fechar às 17h por falta de segurança”.<br />

De acordo com Genilda Macedo, presidente da Associação<br />

de Lojistas do Aeroclube, os quase 20 lojistas remanescentes<br />

pagam apenas o condomínio, que mantém serviços mínimos.<br />

FOTO: Divulgação<br />

Edison Rezende, da Enashopp:<br />

preocupação em atender a todos<br />

os requisitos do licenciamento<br />

Rosângela Coutinho, uma das pioneiras – e<br />

sobreviventes – do antigo Aeroclube, mantém em<br />

funcionamento um misto de banca de revistas e<br />

livraria que representa toda a poupança de uma<br />

família. Ela resiste a abandonar o ponto comercial<br />

por absoluta falta de opção. “Se eu sair daqui, o<br />

investimento se perde”, diz. Na vitrine há uma<br />

página de jornal já amarelecida pelo sol. Não faz<br />

muito tempo que a notícia está lá: “Aeroclube<br />

muda o conceito e negocia com duas âncoras do<br />

setor de varejo”. Rosângela nada sabe sobre o<br />

novo projeto “a não ser o que sai na imprensa”.<br />

Apesar disso, falar com jornalistas não agrada<br />

muito a ninguém ali. Fotos, nem pensar. “Tem sido<br />

muito sofrido tudo isto e faz anos”, explica Genilda<br />

Macedo. “Continuamos à espera da solução”,<br />

diz. Para manter o ponto comercial funcionando,<br />

demitiu os quatro funcionários que tinha. “Faço<br />

tudo: compro, vendo, administro, atendo, limpo,<br />

abro e fecho”, resume.<br />

Assim como Rosângela, Genilda sobreviveu ao<br />

esvaziamento do Aeroclube quando a reforma foi<br />

embargada. A pequena loja de confecções estava<br />

localizada no acesso aos cinemas, fora do grande<br />

corredor central – hoje totalmente em ruínas e há<br />

anos cercado por tapumes.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

15


“Tem sido muito sofrido<br />

tudo isto. Continuamos<br />

à espera da solução”<br />

Genilda Macedo, presidente<br />

da Associação de Lojistas do Aeroclube<br />

Rosângela Coutinho resiste a sair do Aeroclube.<br />

A banca de revista é toda a poupança da família<br />

Em tempos de bonança, o Aeroclube reunia famílias baianas<br />

em áreas para compras, refeições, apresentações e shows<br />

16 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rogério Borges<br />

FOTO: Acervo<br />

Crimes ambientais<br />

Mesmo que um futuro venha a ser viabilizado, o<br />

passado continua a cobrar seu preço. De acordo<br />

com o Ministério Público Federal na Bahia, a Justiça<br />

Federal acolheu em março de 2012 uma denúncia<br />

oferecida contra duas empresas e quatro pessoas<br />

“envolvidas em crimes ambientais durante a<br />

reforma” do Aeroclube. Entre os denunciados estão<br />

a empresa líder do Consórcio Parques Urbanos, a<br />

empresa contratada para administrar o Consórcio,<br />

“bem como dois funcionários à frente das atividades<br />

ilegais e duas servidoras do Instituto do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que emitiram<br />

estudos enganosos para o licenciamento da obra”.<br />

A denúncia, movida pelo procurador da<br />

República André Batista Neves, argumenta que<br />

“quando as obras foram suspensas, o dano ambiental<br />

e paisagístico ao patrimônio tombado pelo Iphan já<br />

estava consumado, tendo sido atestado pelo Instituto<br />

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos<br />

Naturais Renováveis (Ibama)”.<br />

Segundo o MP, o processo de licenciamento<br />

das obras também foi obtido a partir da prática<br />

de crime contra a administração ambiental. Duas<br />

técnicas do Iphan teriam emitido, “na mesma<br />

data, pareceres contrários em relação à decisão de<br />

licenciar a reforma”. No primeiro parecer, reprovam<br />

o projeto de reforma e ampliação, que é submetido<br />

à superintendência do Iphan. O segundo parecer,<br />

assinado pelas mesmas servidoras, é favorável à<br />

obra, ratificado pelo superintendente interino do<br />

Iphan à época.<br />

Segundo a denúncia, o estudo técnico emitido<br />

pelas servidoras “continha informações incompletas<br />

e enganosas”. Em depoimento prestado à Polícia<br />

Federal, as denunciadas teriam admitido a alteração<br />

do parecer “por conta de pressão da imprensa,<br />

empresários, lojistas, associações civis e sociedade<br />

em geral”.<br />

Na denúncia, o MPF-BA requer a condenação<br />

da empresa líder do consórcio, da administradora e<br />

dos funcionários que ignoraram o cumprimento da<br />

lei por “alterar o aspecto ou estrutura de edificação<br />

ou local especialmente protegido por lei” e “em<br />

razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,<br />

artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,<br />

etnográfico ou monumental, sem autorização da<br />

autoridade competente ou em desacordo com a<br />

concedida”. A pena é de reclusão de um a<br />

três anos e multa. [B + ]


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17


Taximov<br />

BLOCO DE NOTAS<br />

Fábrica de queijos<br />

gera emprego e renda<br />

no oeste baiano<br />

Com um investimento de R$ 4,7 milhões,<br />

geração de 140 empregos diretos e mais de<br />

11 mil indiretos, a fábrica de queijos Ki Sabor,<br />

instalada no município de Serra Dourada,<br />

completou 16 anos de produção de<br />

queijo e manteiga em maio. O negócio vem<br />

contribuindo tanto para o desenvolvimento<br />

da região que até recebeu a visita do governador<br />

do estado para celebrar o aniversário.<br />

São mais de quatro mil fornecedores de<br />

leite da região, dentre eles pequenos produtores,<br />

estimulando a agricultura familiar<br />

local.<br />

Para poupar tempo de quem procura por táxi, o sistema de solicitação<br />

de táxi Taximov rastreia, através de GPS, veículos que estejam em um<br />

raio de sete quilômetros do usuário que acionar o serviço, seja por telefone,<br />

site ou aplicativo de smartphone. A expectativa do dono do negócio,<br />

Nathan de Vasconcelos Ribeiro, é que até 2014 seu ramo chegue<br />

às 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo. Por enquanto, apenas<br />

São Paulo recebe o serviço. Os usuários e taxistas devem preencher<br />

uma ficha com seus dados na internet e, ao acionar o sistema, é possível<br />

escolher especificidades como pagamento em cartão de crédito, ar-<br />

-condicionado, bagageiro grande ou um motorista que fale inglês fluentemente.<br />

É possível também usar vouchers, imprimidos pelo site, como<br />

crédito para pagamento das corridas. As informações são do Estadão.<br />

JAC Motors desembarca na<br />

Bahia primeiros automóveis<br />

vindos da China<br />

Mil automóveis modelo J5, da montadora<br />

chinesa JAC Motors, acabam de<br />

desembarcar no Porto de Salvador. A<br />

operação foi uma novidade: até então,<br />

a mercadoria chegava via Porto<br />

de Vitória, no Espírito Santo. A ação<br />

marca o início das operações da JAC<br />

na Bahia, dando início à sequência<br />

de iniciativas que vão culminar na<br />

inauguração, em 2014, da fábrica<br />

baiana.<br />

18 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Secom/BA<br />

Mais um passo para a Fiol<br />

Para a efetiva realização das obras, a Ferrovia<br />

Oeste-Leste ainda precisa de autorizações.<br />

O último avanço foi assinatura de<br />

um termo de cooperação técnica para as<br />

desapropriações das áreas abrangidas pela<br />

Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Rui<br />

Costa, secretário estadual da Casa Civil, e o<br />

presidente da Valec, Eduardo Castello, subscreveram<br />

o documento no dia 23 de maio,<br />

em Ilhéus. O acordo prevê responsabilidades<br />

para os dois envolvidos, para o devido<br />

processo de desapropriação da ferrovia.<br />

FOTO: Secom/BA


Grupo brasileiro alcança ranking<br />

da comunicação mundial<br />

A Advertising Age apontou o Grupo ABC como<br />

o 18º maior grupo de comunicação do mundo,<br />

segundo o ranking tradicional produzido pela<br />

revista americana. É a quinta vez consecutiva<br />

que o grupo brasileiro aparece na escala, que<br />

é liderada pelos gigantes da indústria da propaganda,<br />

WPP, Omnicom e Publicis Groupe.<br />

Associada ao Grupo ABC desde 2011, a Morya<br />

foi uma das grandes responsáveis pelo crescimento<br />

da empresa.<br />

Junior Achivement Bahia inicia<br />

o programa Miniempresa 2012<br />

As escolas públicas e privadas receberam, em<br />

maio, o programa Miniempresa, realizado pela<br />

Junior Achievement Bahia, com a participação<br />

de mais de 80 voluntários das áreas de marketing,<br />

recursos humanos, produção e finanças.<br />

A iniciativa traz a oportunidade, para centenas<br />

de alunos, de criar um produto e experimentar<br />

todas as ações relativas a um negócio,<br />

desenvolvendo seus mecanismos de venda durante<br />

um período de 20 semanas. No final do<br />

programa, as 20 miniempresas dos 16 colégios<br />

participantes vão comercializar seus produtos,<br />

num grande shopping da capital, com direito a<br />

formatura para comemorar a iniciativa. Confira<br />

o resultado no site da [B + ].<br />

FOTO: Divulgação<br />

Pesquisa do Ipea revela: trabalhador<br />

brasileiro quer mais tempo livre<br />

FOTO: Luciana Serra<br />

Da esquerda para direita: Guga Valente, Nizan<br />

Guanaes (Grupo ABC); Cláudio Carvalho; Fernando<br />

Carvalho e Gustavo Queiroz, (diretores da Morya)<br />

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) perguntou a<br />

3.796 brasileiros que moram em áreas urbanas das cinco regiões do<br />

Brasil, com mais de 18 anos, e que trabalham, o que fariam no seu<br />

tempo livre se tivessem sua jornada de trabalho reduzida. Deles,<br />

63,8% dedicariam seu tempo a outras atividades fora do ambiente<br />

de trabalho; para 39%, o tempo de trabalho compromete a sua qualidade<br />

de vida. Já 36,2% disseram que não sentiriam diferença, pois<br />

trabalham mais que as 44 horas semanais previstas na legislação.<br />

Ainda teve gente que falou que o trabalho atrapalha suas relações<br />

pessoais: 9,8% acham que o trabalho prejudica suas relações amorosas<br />

e 5,8% suas relações de amizade.<br />

Empresários baianos<br />

recebem prêmio de qualidade<br />

nos Estados Unidos<br />

O Grupo Empresarial Aldeia, presidido<br />

pelo empresário baiano Raimundo<br />

Lima, conquistou o Prêmio Internacional<br />

de Qualidade, na categoria ouro,<br />

concedido pela Business Initiative Directions<br />

(B.I.D). Presente há mais de<br />

dez anos em Angola, o Grupo Aldeia<br />

presta serviço ao Ministério de Educação<br />

do país e tem atuação nas áreas de<br />

educação, comunicação, agroindústria<br />

e empreendimentos.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

19


BLOCO DE NOTAS<br />

Arrecadação de ICMS<br />

O ICMS arrecadou R$ 1,2 bilhão durante<br />

o mês de abril. O incremento real do<br />

ICMS chegou a 10,22% em relação ao<br />

ano anterior. Foi o melhor resultado<br />

obtido pelo imposto no mês de abril em<br />

toda a série histórica e a terceira maior<br />

arrecadação obtida pela Secretaria da<br />

Fazenda. Esse bom desempenho foi observado<br />

também no IPVA, com aumento<br />

de 8,67%, e no Imposto Sobre Heranças,<br />

grande destaque pelo incremento de<br />

47,17%.<br />

Produtos da agricultura familiar<br />

baiana são apresentados aos<br />

hoteleiros<br />

O ‘Catálogo de Produtos da Agricultura<br />

Familiar’, iniciativa da Seagri/Suaf e da<br />

ABIH-BA, foi lançado para hoteleiros<br />

baianos. Vinte e duas cooperativas estão<br />

listadas no livro, que apresenta cerca<br />

de 50 itens, entre produtos in natura e<br />

manufaturados, do café da Chapada Diamantina<br />

à geleia de umbu que vem do<br />

Sertão. Os empreendimentos que comprarem<br />

a partir de R$ 6 mil nas cooperativas<br />

receberão um selo, o Certificado de<br />

Responsabilidade Social com a Agricultura<br />

Familiar da Bahia, que também se<br />

converterá em promoções e vantagens.<br />

Expansão do comércio baiano<br />

marca o último ano<br />

O aumento dos empregos formais na<br />

Bahia, ações promocionais de empresários<br />

e a ampliação de crédito são as supostas<br />

causas para o crescimento do comércio<br />

varejista baiano, que expandiu<br />

13,4% no volume de vendas, no último<br />

mês de março, em relação a fevereiro,<br />

sendo a maior variação mensal dos últimos<br />

doze meses. A Bahia já registra um<br />

saldo positivo de 11.809 postos de trabalho<br />

durante o ano de 2012.<br />

20 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Prêmio Benchmarking Saúde reúne<br />

referências da área médica baiana<br />

Uma noite requintada marcou a cerimônia de entrega do prêmio Benchmarking<br />

Saúde – Edição Bahia, em que foram homenageados gestores,<br />

empresas e instituições referências no setor médico-hospitalar do mercado,<br />

ao longo de 2011. O prêmio, organizado pelo grupo CriarMed, que edita<br />

a <strong>Revista</strong> Diagnóstico, se encontra na segunda edição e tem a incumbência<br />

de selecionar, entre mais de três mil serviços de saúde da Bahia,<br />

os destaques do setor em suas respectivas áreas de atuação. Foram 102<br />

empresas e personalidades indicadas para participar da disputa: destas,<br />

60 foram eleitas referência nos critérios inovação, credibilidade, novos<br />

investimentos e visibilidade de mercado e receberam troféus de bronze,<br />

prata e ouro.<br />

E-commerce: estados deverão repartir<br />

ICMS de vendas feitas pela internet<br />

FOTO: Divulgação<br />

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, com<br />

apenas três votos contrários da bancada paulista, novas regras para a<br />

distribuição do ICMS cobrado nas compras de produtos pela internet – o<br />

chamado e-commerce. O ponto central da proposta é estabelecer que os<br />

estados de destino das mercadorias, que hoje nada recebem do ICMS,<br />

tenham direito a uma parte do diferencial da alíquota do ICMS nas compras<br />

feitas pelo comércio eletrônico. Essa é mais uma etapa no estabelecimento<br />

de uma nova relação entre a União e os estados que parlamentares<br />

vêm defendendo na Casa, o chamado novo pacto federativo. A Bahia<br />

deixou de arrecadar, no ano passado, R$ 300 milhões por conta dessas<br />

transações feitas a partir de internet.


MÍDIA+<br />

RX30 Produtora cria<br />

filme para GBarbosa<br />

Com o conceito “Nordestino, igual a gente”, o<br />

GBarbosa reafirma seu posicionamento na região<br />

Nordeste do país. O filme de 30 segundos<br />

foi gravado pela RX30 Produtora. As imagens<br />

foram captadas com uma Red One e gravado em<br />

três dias. O filme pode ser assistido no Vimeo da<br />

RX30 Produtora: vimeo.com/40878771<br />

Inscrições abertas para o Prêmio<br />

Colunistas Norte/Nordeste<br />

As agências baianas já podem se inscrever para<br />

concorrer à maior premiação da propaganda brasileira.<br />

Podem participar as peças veiculadas a<br />

partir de janeiro de 2011. Inscrições e informações<br />

pelo site www.colunistas.com.<br />

Leiaute cria anúncio com a<br />

maior ficha técnica do mundo<br />

A agência Leiaute criou anúncio com a maior ficha<br />

técnica do mundo. Para isso, optou por aproximar<br />

e criar uma identificação entre a equipe<br />

e sua marca. A ideia era que cada um personalizasse<br />

o L à sua maneira: pintando, colorindo,<br />

recortando e colando ou desenhando. A proposta<br />

foi mostrar que cada membro, com as suas particularidades,<br />

forma um todo e faz da Leiaute uma<br />

agência diferente e múltipla. Veja o resultado<br />

deste projeto de branding: www.leiaute.com.br.<br />

22 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

APOIO<br />

INSTITUCIONAL<br />

Correio* e iBahia conquistam<br />

prêmio internacional<br />

O jornal Correio* e o portal iBahia receberam, em maio, os prêmios<br />

da principal competição de excelência em marketing, a International<br />

Newsmedia Marketing Association. Com o projeto “Jornalismo de Futuro”,<br />

o Correio* concorreu na categoria Relações Públicas e Serviços<br />

à Comunidade, conquistando o segundo lugar. E o portal iBahia foi o<br />

primeiro veículo brasileiro premiado no ”Best in Show” e na categoria<br />

“Reconhecimento de Marca em Outras Plataformas”, com o painel eletrônico<br />

em forma de outdoor.<br />

Mago cria marca da carreira<br />

solo do cantor Thiaguinho<br />

A agência baiana é a responsável pela marca do ex-Exaltasamba<br />

Thiaguinho. O resultado final foi apresentado ao público na gravação<br />

do DVD, que aconteceu no mês de abril. Os elementos significam:<br />

TH de Thiaguinho, a coroa do “príncipe negro” ou “pretinho<br />

do poder”, as cores do time do coração e, por fim, para dar unidade,<br />

parênteses que traduzem o que cabe dentro do mundo de Thiaguinho.


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

23


IMÓVEIS+<br />

POR<br />

NÚBIA<br />

CRISTINA<br />

OR é vencedora na categoria<br />

Gestão Sustentável<br />

Uma das fundadoras do Green Building<br />

Council no Brasil, a Odebrecht Realizações<br />

Imobiliárias (OR) conquistou a categoria<br />

Gestão Sustentável da 18ª edição<br />

do Prêmio Ademi-BA. “A gestão sustentável<br />

na OR começa ainda na fase de<br />

projeto, quando, depois de identificado<br />

um possível local para um empreendimento<br />

e o desenvolvimento do produto,<br />

realizamos um diagnóstico socioambiental,<br />

identificando que tecnologias podem<br />

ser utilizadas para gerar mais eficiência<br />

e menores impactos, e continuamos<br />

com essa preocupação na construção,<br />

através de uma série de programas nas<br />

obras e nas comunidades do entorno,<br />

assim como na adoção de produtos e insumos<br />

que carreguem valor agregado”,<br />

resume André Sá, diretor comercial e<br />

de marketing da OR. Desde a criação do<br />

Prêmio Ademi, em 1994, a OR foi consagrada<br />

outras 13 vezes.<br />

24 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Mansão Caymmi<br />

Uma das maiores incorporadoras da região Nordeste, com sede no Recife<br />

e filiais em Maceió, Salvador, Fortaleza e Natal, a Moura Dubeux lançou<br />

o Mansão Caymmi, um residencial localizado no Caminho das Árvores.<br />

O valor geral de vendas (VGV) do empreendimento é estimado em R$ 61<br />

milhões. Em um terreno de mais de 2,6 mil m 2 , serão erguidos 64 apartamentos<br />

de 160 m 2 (cada), em uma torre de 32 andares. Infraestrutura de<br />

lazer, quatro quartos e três varandas são alguns dos diferenciais desse residencial.<br />

Os presidentes da empresa, Gustavo e Marcos Dubeux, pretendem<br />

ampliar os investimentos na Bahia lançando mais três empreendimentos<br />

residenciais, um empresarial e um hotel.<br />

FOTO: AlexandreDias<br />

Gustavo e Marcos Dubeux<br />

com Danilo Caymmi<br />

Outlet Premium Salvador<br />

FOTO: Divulgação<br />

Uma das líderes no ranking nacional de shopping centers,<br />

a General Shopping Brasil anunciou, em parceria com o<br />

banco de investimentos BR Partners, o terceiro empreendimento<br />

de outlet no país: o Outlet Premium Salvador. O<br />

novo empreendimento será na Estrada do Coco, BA 099, e<br />

os investidores foram atraídos pelo potencial turístico da<br />

região. “O empreendimento trará grifes nacionais e interna-<br />

cionais com até 80% de desconto”, explica o diretor de mar-<br />

keting e varejo da empresa, Alexandre Dias. O novo centro<br />

de compras terá 27 mil m 2 de ABL (àrea bruta locável) total<br />

projetada em um terreno de 121.020 m 2 . Ao todo, serão 120<br />

lojas e aproximadamente 140 marcas de vestuário, calçados,<br />

enxoval, entre outros. O projeto tem construção em<br />

formato circular. O estacionamento será interno, com vagas<br />

para 2.000 veículos. A General Shopping Brasil é pioneira<br />

em outlets no Brasil.


Nova diretoria<br />

no Circuito de<br />

Alta Decoração<br />

Criar projetos voltados para a melhoria contínua<br />

da qualificação dos profissionais de arquitetura<br />

e decoração, através de parcerias com as<br />

universidades, está entre as prioridades de Tânia<br />

Dias, presidente do Circuito de Alta Decoração<br />

para o Biênio 2012/2013. Sócia da Artimex<br />

e uma das fundadoras do circuito, ela assumiu<br />

a presidência no lugar de Daidone Júnior.<br />

Novo livro de<br />

Fernando Peixoto<br />

A edição on-line do livro “4 Projetos - Fernando<br />

Peixoto Arquiteto” está disponível para<br />

consulta no site www.fernandopeixoto.com.<br />

A publicação destaca três empreendimentos<br />

comerciais e um residencial com a marca do<br />

mestre: o Shopping Paralela, em Salvador; um<br />

hotel de classe econômica, também localizado<br />

na capital baiana; a sede de uma multinacional,<br />

na Suíça; e uma casa de praia em Angra<br />

dos Reis/RJ. Graduado pela Faculdade de Arquitetura<br />

da Ufba, Fernando Peixoto tem mais<br />

de dois milhões de m 2 de projetos residenciais<br />

e comerciais, executados em dez estados do<br />

Brasil e no exterior.<br />

Nova sede do Sinduscon-BA<br />

A sustentabilidade está incorporada ao projeto<br />

da nova sede do Sindicato da Indústria da<br />

Construção Civil do Estado da Bahia, cuja obra<br />

foi iniciada em maio. A ideia é que o imóvel<br />

seja um modelo capaz de estimular as práticas<br />

de construção sustentável entre as construtoras<br />

e incorporadoras baianas. O projeto prevê<br />

implantação de medidores individuais de água,<br />

uso de energia solar, isolamento térmico de paredes<br />

externas, criação de terraços vegetalizados<br />

e a implantação de sistemas inteligentes<br />

de gerenciamento. A área total construída é de<br />

aproximadamente 2.750 m 2 . De acordo com o<br />

presidente do sindicato, Carlos Alberto Vieira<br />

Lima, o projeto será submetido ao processo de<br />

certificação Aqua.<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

INCORPORADA À GESTÃO<br />

FOTO: Divulgação<br />

Mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade<br />

Federal da Bahia (Ufba), a diretora de produtos da Syene<br />

Empreendimentos, Jealva Fonseca, sabe que os bons projetos<br />

se sustentam em três pilares: econômico, social e ambiental.<br />

Palestrante requisitada, ela defende com entusiasmo a adoção<br />

de práticas sustentáveis nos debates onde reúne arquitetos,<br />

estudantes, professores e profissionais do mercado imobiliário.<br />

Neste momento, Jealva e sua equipe ajustam detalhes de<br />

projetos dos próximos lançamentos da Syene: um multiuso,<br />

comercial e residencial, a exemplo do Salvador Prime, além<br />

de um empreendimento comercial. “A sustentabilidade é<br />

levada em conta em todas as etapas desses projetos.”, afirma<br />

a diretora.<br />

Ela assume uma postura de educadora, relembrando a<br />

época em que foi professora da Faculdade de Arquitetura da<br />

Ufba, para explicar que “uma empresa sustentável preserva o<br />

meio ambiente, mantendo a responsabilidade com as questões<br />

econômicas e sociais”. Jealva menciona o exemplo do Syene<br />

Corporate, o primeiro edifício comercial Green Building do<br />

Norte e Nordeste, para reforçar que a empresa do grupo<br />

espanhol Copasa adota práticas responsáveis em relação<br />

aos empregados, fornecedores, parceiros, clientes e toda a<br />

comunidade.<br />

O Corporate obteve a certificação ao conquistar o Selo de<br />

Alta Qualidade Ambiental (Aqua). E mais: o canteiro de obras<br />

do Salvador Prime foi classificado pelo Banco Santander como<br />

obra sustentável. “Esses exemplos demonstram que estamos<br />

focados em analisar critérios de viabilidade econômica, social<br />

e ambiental”, assegura.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

25


EXPERIÊNCIAS<br />

PILATES:<br />

SAÚDE PARA CORPO, MENTE E NEGÓCIOS<br />

“A Physio Pilates<br />

é licenciada por<br />

três empresas<br />

de grande renome<br />

internacional:<br />

Balanced Body,<br />

Gyrotonic<br />

e Polestar<br />

Education”<br />

T<br />

udo começou em 1991, quando Alice,<br />

graduada em dança e mestre em<br />

coreografia, retornou do mestrado nos Estados<br />

Unidos e iniciou o trabalho com o método Pilates<br />

no Brasil. A Physio Pilates está dividida em duas<br />

empresas: a fábrica de equipamentos, situada<br />

no Centro Industrial de Aratu (CIA), e os cursos<br />

de formação de profissionais no Brasil inteiro.<br />

Atualmente, mais de 3.000 centros de atividades<br />

físicas na América do Sul, entre estúdios<br />

independentes e academias que oferecem o<br />

método Pilates e Gyrotonic, tiveram origem a<br />

partir da formação de profissionais ou aquisição<br />

de equipamentos Physio Pilates.<br />

“Os estúdios começaram com Alice, mas<br />

não dizem respeito hoje às atividades do dia a<br />

dia com as quais nos envolvemos. Hoje, essas<br />

unidades são de clientes licenciados da Physio<br />

Pilates, que reconhecem a empresa com todo<br />

o valor e experiência que ela tem”, explica<br />

Soares. De acordo com ele, o faturamento da<br />

Physio Pilates cresceu 10% entre 2010 e 2011.<br />

“Com a queda de juros recente que está sendo<br />

promovida pelo governo, nossa expectativa é<br />

ter uma surpresa positiva em 2012, superando a<br />

marca de 10%”, projeta o empreendedor.<br />

26 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

Uma prática que<br />

traz benefícios<br />

para o corpo e a<br />

mente também<br />

pode ser um<br />

negócio rentável.<br />

Prova disso é a<br />

Physio Pilates,<br />

administrada pelos<br />

sócios e cônjuges<br />

Cláudio Soares e<br />

Alice Becker<br />

O crescimento não é à toa. Na visão<br />

do empresário, entre os fatores que<br />

justificam o sucesso da empresa estão<br />

o processo contínuo de capacitação<br />

dos profissionais (cerca de 70), além da<br />

qualidade dos equipamentos produzidos<br />

na fábrica.<br />

O método Pilates foi criado pelo<br />

alemão Joseph Hubertus Pilates. Em 1923,<br />

Pilates mudou-se para Nova York, quando<br />

abriu o primeiro Studio de Pilates. Muitos<br />

dos alunos de Joseph Pilates abriram<br />

os próprios estúdios e difundiram a<br />

técnica, fazendo também importantes<br />

contribuições para o desenvolvimento e o<br />

aprimoramento do método. Alice Becker<br />

foi a primeira brasileira a se certificar<br />

para instrução da técnica de Pilates.<br />

Em 2007, Juliu Horvarth, criador<br />

do método Gyrotonic, esteve na fábrica<br />

da Physio Pilates, desenvolvendo com<br />

Cláudio equipamentos exclusivos.<br />

Hoje a Physio Pilates foi escolhida pela<br />

Gyrotonic para fabricar e comercializar<br />

os seus equipamentos com exclusividade<br />

para a América do Sul. [B + ]


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

27


EXPERIÊNCIAS<br />

DOCERIA ARGENTINA COM<br />

EMPREENDEDORISMO BAIANO<br />

por<br />

MURILO<br />

GITEL<br />

fotos<br />

RÔMULO<br />

PORTELA<br />

28 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Juntos, eles somam apenas 49 anos de idade, mas já são<br />

responsáveis por expandir no Brasil uma das principais<br />

docerias argentinas. Estamos falando de Rafael Gontijo e<br />

José Andrade, proprietários da franquia da Abuela Goye, no<br />

segundo piso do Salvador Shopping desde 2009


E<br />

specializada em produtos artesanais<br />

patagônicos, a Abuela Goye existe há mais<br />

de 30 anos em Bariloche, onde foi fundada por<br />

colonos suíços, povos de outras nacionalidades<br />

europeias e da própria Argentina. “Morei na<br />

Argentina durante quatro meses para estudar<br />

espanhol, em um intercâmbio, e vislumbrei no<br />

alfajor um grande negócio”, relata Rafael Gontijo,<br />

25 anos, que inicialmente idealizou abrir uma<br />

cafeteria com marca própria, mas não teve a<br />

aprovação do shopping à época.<br />

Foi aí que entrou a pitada de sorte. O<br />

argentino Ricardo Sérgio Tissera, dono da Abuela<br />

Goye, veio passar férias em Salvador há cerca de<br />

três anos. Gontijo, então, entrou em contato com<br />

o empresário, que acabou lhe mostrando algumas<br />

das delícias da famosa doceria argentina.<br />

Fecharam negócio. Dessa vez, o shopping não<br />

demonstrou resistência ao abraçar a ideia que<br />

cresce, em média, 20% ao ano.<br />

“Nossos diferenciais são a gama de produtos<br />

que disponibilizamos, tais como sorvetes,<br />

alfajores, tortas, geleias, bombons, todos com<br />

aspectos patagônicos, de forma artesanal”,<br />

destaca Gontijo. Segundo ele, os produtos feitos<br />

com doce de leite têm mais saída. Um dos carroschefes<br />

é a torta mil folhas, composta por massa<br />

A Abuela<br />

Goye terá mais<br />

duas lojas em<br />

Salvador, além de<br />

Brasília, Recife<br />

e Teresina. O<br />

próximo passo é<br />

também construir<br />

uma fábrica de<br />

pequeno porte no<br />

Brasil.<br />

folhada. Os sorvetes também contam com grande demanda.<br />

De acordo com Gontijo, os dois primeiros anos serviram<br />

como uma fase de estruturação. “Um período para adequar a<br />

marca no Brasil”, completa Andrade, 24 anos. Os jovens sócios<br />

projetam crescimento do negócio. Uma franquia da Abuela<br />

Goye será aberta em junho, no Park Shopping, em Brasília.<br />

Em setembro, Salvador receberá a segunda loja, dessa vez no<br />

Shopping Barra. Um mês depois virá a unidade do shopping<br />

Rio Mar, em Recife. Mas engana-se quem pensa que eles vão<br />

parar por aí.<br />

“Estamos em processo de negociação para abrir mais<br />

três lojas, uma em Salvador, uma em Teresina e a outra em<br />

Brasília”, informaram, sem citar os locais das instalações,<br />

pois ainda falta concretizar as empreitadas. Os empresários<br />

também miram os mercados do Sudeste e do Sul.<br />

Outra meta dos sócios é a construção de uma fábrica de<br />

pequeno porte no Brasil para produção local. “Nesse caso,<br />

importaríamos só os insumos”, explica Andrade. Eles estudam<br />

qual seria o estado mais adequado para este empreendimento.<br />

Atualmente, Gontijo e Andrade importam todos os produtos<br />

disponíveis na Abuela Goye, com exceção do café – as<br />

mercadorias chegam da Argentina de navio.<br />

Uma das dificuldades é que as encomendas precisam ser<br />

feitas com até dois meses de antecedência. “Com uma fábrica<br />

aqui no país, evitaríamos uma série de riscos, como medidas<br />

protecionistas, instabilidade cambial, além de desenvolvermos<br />

a indústria local”, enumera Gontijo. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

29


A<br />

EXPERIÊNCIAS<br />

profissional de expressões pró-ativas e personalidade<br />

repleta de autenticidade conquistou uma gama variada<br />

de clientes em mais de 15 anos de estrada. A designer baiana<br />

Tina Guedes já desenvolveu trabalhos de comunicação,<br />

identidade visual, editoriais e produtos, geralmente de forma<br />

autônoma. Na década de 90, formou-se em administração de<br />

empresas e em desenho industrial. De lá para cá, busca alinhar<br />

o que aprendeu na academia com as experiências de mercado<br />

para criar soluções em design diferenciadas.<br />

Um dos focos dela é a preocupação com a sustentabilidade<br />

de suas peças. Especialista em rótulos e embalagens, Tina<br />

sugere um “novo olhar” para a importância deles e a destinação<br />

adequada ao final do uso. “Já fiz embalagens lindas, mas que<br />

vão imediatamente para o lixo, porque as pessoas consomem os<br />

produtos e as descartam. A embalagem é super importante para<br />

você vender o produto, informar sobre ele, acondicioná-lo da<br />

melhor forma. Porém é fundamental trabalhar com embalagens<br />

ambientalmente corretas, que não desperdicem materiais e que<br />

possam ser reutilizadas”, ressalta.<br />

Perguntada sobre o que considera como suas principais<br />

características, ela não titubeia: “O comprometimento e a<br />

disciplina. Mais importante que o talento é ter comprometimento<br />

com o trabalho. Trabalhamos com prazos muito curtos, com<br />

demandas urgentes”, observa.<br />

Embora tenha desenvolvido como autônoma a maior parte<br />

dos seus trabalhos, Tina também já atuou em equipe, ao ter<br />

prestado serviços para o Liceu de Artes e Ofícios, Pamdesign,<br />

Mago Comunicação e Link Produtora. “Eu me ajusto bem quando<br />

trabalho em projetos de equipe, mas quase sempre fui autônoma.<br />

Eu penso que o trabalho em sociedade funciona quando achamos<br />

30 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

TINA<br />

GUEDES:<br />

“É importante se<br />

trabalhar com<br />

embalagens<br />

ambientalmente<br />

corretas, que<br />

não desperdicem<br />

materiais e possam<br />

ser reutilizadas”<br />

pessoas com talentos complementares. O<br />

trabalho fica meio capenga quando os talentos<br />

são iguais”, acredita.<br />

Entre os trabalhos de Tina, destacam-se as<br />

embalagens para a empresa Aromarketing, em<br />

que desenvolveu criações de papel, papelão,<br />

de vidro (deo colônia), material PET e bisnagas.<br />

No Carnaval, juntou-se à colega designer Ronia<br />

Albiani, que conheceu há 14 anos na Mago, para<br />

desenvolver a comunicação visual do camarote<br />

Cerveja e Cia, e agora elabora projetos para o<br />

Depósito do Sofá, que inaugurou a quinta loja do<br />

grupo, na Pituba. [B + ]<br />

ALGUNS TRABALHOS:<br />

Identidade Visual: Las Margaritas<br />

(restaurante); Camacã (design em madeira);<br />

Mamasson (clínica); Grão Santo (café);<br />

Depósito de Sofá (móveis).<br />

Comunicação Visual: Grande Laguna<br />

Quintas de Sauipe (residencial); Odebrecht<br />

Empreendimentos Imobiliários; Camarote<br />

Cerveja e Cia.<br />

Editoriais: Roberto Alban Galeria de Arte<br />

(Pamdesign); Claro Salvador e Recife, Movicel<br />

e Coelba (gráfica Santa Helena).<br />

Produtos: Baralho; Calendários (Uranus 2);<br />

Presentes personalizados em geral.


START UP 32 | [C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48<br />

NEGÓCIOS<br />

34 38 42<br />

FORMAÇÃO DE<br />

JOVENS LÍDERES<br />

UNIÃO DE CAFÉ<br />

COM CULTURA<br />

BATE-VOLTA<br />

PRO SÃO JOÃO


NEGÓCIOS | start up<br />

BRAILE,<br />

MOTUS<br />

E NASA C riatividade<br />

por LARISSA SEIXAS<br />

Daniel Veiga, Bruno<br />

Rabelo e Bruno Cavalcanti<br />

32 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

Ainda estudantes, mas cheios de conquistas.<br />

A realidade de jovens de duas universidades<br />

de Salvador revela o potencial criativo e metas<br />

audaciosas que vão além da fronteira nacional<br />

não tem hora. Uma prova<br />

dessa afirmação aconteceu com Bruno<br />

Cavalcanti, Daniel Veiga e Lucas Costa<br />

Mendes, estudantes do curso de engenharia<br />

mecatrônica da Universidade Salvador (Unifacs).<br />

Foi durante o intervalo, quando faziam o lanche<br />

na cantina, que desenvolveram o que seria a<br />

impressora em Braile. O motivo era criar algo<br />

barato e que rendesse boas notas. O resultado foi<br />

além.<br />

O trio de estudantes usou uma impressora<br />

jato de tinta sucateada e R$ 300 para adaptar a<br />

máquina e conseguir imprimir o sistema de leitura<br />

com o tato para cegos, inventado pelo francês<br />

Louis Braille no ano de 1827, em Paris. No mercado<br />

internacional, uma similar custa cerca de 2.600<br />

euros. O projeto chamou a atenção dos professores<br />

e foi reconhecido nacionalmente por meio do<br />

prêmio Desafio Brasil 2010 (etapa regional) e Idea<br />

to Product 2010, da Fundação Getúlio Vargas.<br />

A impressora, então, foi o despertar dos<br />

estudantes baianos para o potencial que tinham<br />

para criar produtos que auxiliem as pessoas.<br />

Daniel, 22 anos, e Bruno, 26, deram sequência<br />

em outro projeto. Desta vez, com a participação<br />

de Bruno Soares, 22 anos, criaram uma palmilha<br />

batizada de Motus.<br />

Ela permite o movimento das pernas de<br />

pessoas que sofrem de hemiplegia, uma paralisa<br />

de alguma parte do corpo provocada, em geral,<br />

por doenças cerebrais focais, em especial uma<br />

hemorragia cerebral. A Motus é uma central de<br />

processamento de dados ligada ao músculo por<br />

meio de eletrodos e acionada por sensores que<br />

detectam as características do passo a ser dado<br />

após a retirada do calcanhar do chão. A ideia<br />

partiu de Daniel motivado a ajudar o irmão, que<br />

fazia sessões de fisioterapia, após uma crise de<br />

AVC.<br />

O projeto também foi vencedor e conquistou o<br />

Ideias Inovadoras 2011. Com o prêmio, Daniel foi<br />

convidado a participar do 55º encontro anual


Estudantes de todo<br />

o mundo reunidos no<br />

encontro anual da Clinton<br />

Global Initiative University<br />

da Clinton Global Initiative University, promovido pela<br />

Fundação Bill Clinton, nos Estados Unidos. O evento<br />

abriu portas para a empresa Vitae, formada pelos três<br />

estudantes, que deu início a parcerias com organizações<br />

norte-americanas.<br />

Porém a realidade dos universitários ainda é parecida<br />

com a de boa parte dos cientistas no Brasil. Eles reclamam<br />

da falta de investimento nacional e da burocracia que<br />

acompanha os editais de subvenção. Para Daniel, é<br />

“decepcionante ter que sair do país para ser reconhecido.<br />

Em outra nação, apesar das melhores condições de vida,<br />

você sempre será um estrangeiro, na terra de outro povo e<br />

longe de sua família”.<br />

De malas prontas para a Nasa<br />

Sair do país foi o caminho encontrado pelo baiano<br />

Carlos Andrade Viana Silva, 22 anos, estudante de<br />

ciências da computação da Ufba, para trilhar uma<br />

carreira de sucesso. Após conseguir vaga no Stevens<br />

Institute of Technology, de Hobboken, no estado de New<br />

Jersey, Estados Unidos, por meio do programa Ciências<br />

sem Fronteiras, ele planejou e entrou em uma pesquisa<br />

voluntária de dois meses na Agência Espacial Americana<br />

(Nasa).<br />

Sem passar por nenhum processo seletivo, o que<br />

contou para que Carlos conseguisse a vaga foi uma<br />

estratégia bem planejada. “A engenharia final foi ter<br />

sabido encontrar os pesquisadores dentro da Nasa que<br />

tinham a mesma área de pesquisa que eu e, entre eles,<br />

achar um mentor inativo dentro do grupo. Então, eu não<br />

FOTO: Divulgação<br />

“É decepcionante ter<br />

que sair do país para<br />

ser reconhecido”<br />

Daniel Veiga, estudante<br />

de engenharia mecatrônica<br />

“Quero passar o que<br />

consegui aprender<br />

a outros estudantes<br />

brasileiros e dar a<br />

mesma oportunidade<br />

que tive a eles”<br />

Carlos Andrade, estudante<br />

de ciências da computação<br />

mandei um e-mail em busca de estágio, mas sim de<br />

um mentor”, explica.<br />

Foi dessa forma que conheceu a pesquisadora<br />

com quem desenvolve um projeto no Centro de<br />

Pesquisas Ames. Antes de conversar com ela,<br />

já sabia quais particularidades do seu currículo<br />

deveria exaltar e como fazer a abordagem. Carlos<br />

hoje faz parte de um grupo que realiza pesquisas<br />

em conjunto com as universidades do Havaí e<br />

Drexel, além do capítulo brasileiro que criou para<br />

a Association for Computing Machinery - a única<br />

representação dessa sociedade em todo o país.<br />

O professor Eduardo Almeida, coordenador do<br />

mestrado de ciências da computação da Ufba e<br />

orientador de Carlos, vê com naturalidade e alegria<br />

a conquista do aluno. Para Almeida, o estágio da<br />

Nasa comprova o talento e dedicação dele.<br />

“Eu quero passar o que consegui aprender<br />

a outros estudantes brasileiros e dar a mesma<br />

oportunidade que tive a eles. É bom ter esse tipo<br />

de conquista pessoal, muito maior é quando você,<br />

como orientador, consegue ver o crescimento de<br />

alguém que você ensinou”, projeta Carlos<br />

Andrade. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

33


O presidente Murilo<br />

Vilpert com a equipe<br />

da Empresa Júnior<br />

da Faculdade de<br />

Administração da Ufba<br />

NEGÓCIOS | educação<br />

DE ONDE VÊM OS<br />

JOVENS TALENTOS?<br />

B<br />

asta jogar no Google as palavras “jovem” e<br />

“empreendedor” para encontrar uma profusão<br />

de dicas sobre como trilhar uma carreira<br />

de sucesso. Além dos clássicos livros de autoajuda, a<br />

internet complementa essa extensa bibliografia com dicas<br />

multimídias que “vão te transformar num executivo de<br />

sucesso”. O conteúdo, quase sempre, é o mesmo: a pessoa<br />

deve ser inovadora, criativa, tolerante, resiliente, ter<br />

capacidade de adaptação, falar outras línguas...<br />

Mas o que é mesmo que significa tudo isso? Na prática,<br />

de onde saem os jovens empreendedores? Qual a trajetória<br />

percorrida por novos talentos? O que eles fazem para<br />

conseguir altos postos de trabalho com tão pouca idade?<br />

Ao entrar na Empresa Júnior da Faculdade de<br />

Administração da Ufba, começamos a encontrar algumas<br />

respostas. Uma recepção recentemente reformada, com o<br />

devido símbolo da instituição, dá as boas-vindas aos que<br />

chegam, inspirando empreendedorismo. O presidente,<br />

Murilo Vilpert, está finalizando um processo seletivo e<br />

pede desculpas por se atrasar para a entrevista. Tudo<br />

extremamente profissional.<br />

34 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Conhecimento, experiências, hábitos<br />

de vida e até mesmo esportes... São<br />

muitos os requesitos para a formação<br />

dos novos profissionais. Ter sucesso é<br />

uma equação que inclui muito esforço.<br />

Conversamos com jovens que estão<br />

apostando alto na própria formação<br />

por BRISA DULTRA<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

Na sala de reunião, percebo que estou em frente a<br />

um homem de negócios. Inato ou não, o comportamento<br />

me surpreende quando descubro que Murilo tem<br />

19 anos. De trainee a presidente, ele hoje sabe fazer<br />

pesquisa de mercado, plano de marketing, análise<br />

financeira e plano de negócios, só pra citar algumas das<br />

habilidades adquiridas na EJ.<br />

Murilo conta que existe toda uma preparação para<br />

fazer parte da Empresa Júnior, a começar pelo processo<br />

seletivo, que é bastante semelhante ao de grandes<br />

companhias, como Braskem e Price: “Para entrar na<br />

empresa, na primeira fase, o estudante faz uma prova<br />

escrita e uma redação; depois de aprovado, passa por<br />

uma dinâmica em grupo; só depois vem a última etapa,


[+] NO SITE :<br />

Depoimentos e fotos de voluntários da Aiesc<br />

com a entrevista individual. Um processo que leva cerca<br />

de um mês a um mês e meio”, afirma.<br />

O novo membro passa por cinco diretorias - de<br />

presidência, de gerenciamento de projetos, de análise de<br />

mercado, financeira e de gestão de pessoas -, participando<br />

de grupos de estudos em todas elas. Ao final de cada<br />

rodízio, o estudante faz uma prova preparada pela<br />

diretoria responsável. Para finalizar, é necessário realizar<br />

um estudo de caso fictício, durante dois meses e meio.<br />

O plano de carreira é bem desenhado: trainee, analista,<br />

consultor, consultor sênior e diretor.<br />

Há uma perfeita reprodução do microcosmo business<br />

dentro da Empresa Júnior, com desafios reais, metas e<br />

muito aprendizado. A prestação de serviços para empresas<br />

de verdade torna o trabalho ainda mais exigente. As<br />

consultorias têm em média um valor de R$ 7 mil e o<br />

dinheiro recebido é todo revertido em benefícios para a<br />

própria Empresa Júnior, como reformas e treinamento da<br />

equipe.<br />

Vice-presidente da Associação de Jovens<br />

Empreendedores da Bahia (AJE) e diretor de planejamento<br />

e gestão da Confederação Nacional de Jovens Empresários<br />

(Conaje), Rodrigo Paolilo, 29 anos, ainda arranja tempo<br />

para gerenciar a sua unidade do restaurante Mariposa,<br />

no Boulevard 161. O jovem empreendedor atribui o<br />

sucesso à sua passagem pela Empresa Júnior: “Lá, tive a<br />

possibilidade de aprender e vivenciar a gestão de uma<br />

empresa, os desafios de um líder e o conhecimento de uma<br />

realidade de mercado”. Paolilo destaca ainda o fato de<br />

essa experiência ter lhe trazido maturidade e vivência em<br />

projetos grandiosos. “Isso me deixou um passo à frente,<br />

principalmente pela visão estratégica e sistêmica que não<br />

se aprende nas escolas”, declara.<br />

Ter conhecimento, entretanto, não é suficiente para ser<br />

um jovem talento. Experiências de vida contribuem para<br />

o desenvolvimento da personalidade e aquisição daquelas<br />

tantas qualidades requeridas a um profissional de sucesso.<br />

Nesse sentido, vivências no exterior são mais que bemvindas.<br />

A Aiesec é uma rede internacional de intercâmbios<br />

culturais que permite a milhares de estudantes a<br />

oportunidade de viajar por diversos países e trabalhar<br />

em ONGs como voluntários ou em empresas associadas,<br />

ganhando uma bolsa de trabalho. “A Aiesec envolve<br />

jovens de diferentes formações, culturas e interesses. São<br />

60 mil membros, de diversos países, conectados numa<br />

só plataforma. Assim, eles têm acesso a todas as vagas<br />

disponibilizadas, desde intercâmbios profissionais a<br />

programas de voluntariado, e podem escolher o que está<br />

mais de acordo com o seu perfil”, explica o presidente da<br />

Lais Valverde,<br />

diretora administrativa<br />

da empresa baiana<br />

Master Glasses,<br />

trabalhou na<br />

Colômbia e trouxe<br />

forte sensibilidade<br />

econômica<br />

FOTO: Yuri Rosat<br />

Mateus Miranda passou dois<br />

meses na Argentina e Felipe<br />

Barreto seguiu rumo à Rússia<br />

“Desenvolvemos<br />

competências, criamos<br />

projetos para ONGs locais,<br />

buscamos empresas<br />

parceiras, recebemos os<br />

estudantes estrangeiros e<br />

damos todo o suporte que<br />

precisam quando estão aqui.<br />

É enriquecedor!”<br />

Felipe Barreto, diretor da Aiesec<br />

FOTO: Marcos Varela<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

35


A natação ajudou a formar<br />

a personsalidade de Paolilo:<br />

disciplina, competitividade,<br />

humildade e trabalho em equipe<br />

Aiesec Salvador, Mateus Miranda, que passou dois meses<br />

em La Plata, na Argentina, trabalhando na ONG Banco<br />

Alimentário.<br />

“As pessoas que participam do programa já viajam<br />

sabendo onde vão trabalhar, qual o perfil dessa empresa<br />

ou ONG, as atividades que irão exercer, bem como as<br />

características que devem possuir para tal”, afirma Felipe<br />

Barreto, diretor de relações externas da instituição. Felipe<br />

conta que, em 2011, Salvador recebeu 42 intercambistas<br />

pela Aiesec, de 21 países. “Nosso trabalho no escritório<br />

também é enriquecedor. Desenvolvemos competências,<br />

criamos projetos para ONGs locais, buscamos empresas<br />

parceiras, recebemos os estudantes estrangeiros e damos<br />

todo o suporte que precisam quando estão aqui”, explica<br />

Felipe, que trabalhou na Aiesec da Rússia, quando fez<br />

intercâmbio no país por sete semanas, em São Petersburgo.<br />

Estar em um ambiente multicultural, quebrar<br />

paradigmas, construir um network além das fronteiras do<br />

Brasil são algumas das experiências para quem está ligado<br />

à instituição. Para participar, são apenas duas condições:<br />

ser estudante de alguma universidade (ou ter se formado<br />

há, no máximo, dois anos) e ter entre 18 e 30 anos.<br />

Lais Valverde, diretora administrativa da empresa<br />

baiana Master Glasses, entrou na Aiesec quando cursava<br />

o terceiro semestre de administração de empresas. Lá,<br />

teve seu desenvolvimento como líder e gestora acelerado:<br />

“Após três cargos de liderança, percebo que fiquei mais<br />

resiliente, agucei a minha visão empreendedora. A<br />

autonomia que tinha para construir estratégias, estipular<br />

metas, sugerir investimentos e estabelecer parcerias foi<br />

fundamental para a minha autoconfiança”, afirma Lais,<br />

que trabalhou em uma organização não-governamental em<br />

Medellín, Colômbia.<br />

36 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

A experiência de trabalhar em outro país, como foi o<br />

caso na Colômbia, trouxe a Lais uma forte sensibilidade<br />

econômica. “Eu percebi que cada país tem um estilo de<br />

fazer negócios. A diferença de procedimentos é muito<br />

grande. Quando penso em exportar nossos óculos, já<br />

consigo identificar traços de estilo de modelos, formas<br />

de publicidade e venda que teremos que seguir para<br />

ter sucesso na Colômbia e outros países similares da<br />

América Latina”, conta a diretora da Master Glasses.<br />

Hábitos e criatividade<br />

Hoje, grandes multinacionais, em seus processos<br />

seletivos para trainee, priorizam hábitos de vida a<br />

experiências curriculares. No processo seletivo para<br />

a Red Bull, realizado pela empresa Vereda RH, por<br />

exemplo, uma das atividades da dinâmica em grupo<br />

era responder: “Qual a maior loucura que você já fez na<br />

vida?”. Além disso, a criatividade era a característica<br />

mais valorizada nos participantes do processo, que<br />

tiveram que se apresentar da forma mais inovadora<br />

que encontrassem para uma banca de executivos<br />

estrangeiros.<br />

A arte, nesse sentido, é um importante meio para<br />

estimular a sensibilidade e desenvolver as percepções<br />

criativas. Não só o contato com obras importantes,<br />

mediado por arte-educadores, mas a própria incursão<br />

neste mundo, através da informação e da produção<br />

artística. “Na arteterapia, por exemplo, você busca<br />

o autoconhecimento através da expressão artística,<br />

desenvolvendo sua criatividade e conquistando<br />

autoconfiança”, afirma a arteterapeuta Claudia Reis.<br />

Praticar esportes também é importante para<br />

o futuro empreendedor de sucesso. Paolilo, por<br />

exemplo, destacou a importância da natação em<br />

sua vida profissional: “A atividade ajudou muito a<br />

formar a minha personalidade através da disciplina,<br />

competitividade, humildade, trabalho em equipe. Saber<br />

ganhar e perder é algo muito importante e, quando<br />

convivemos com isso desde cedo, nos preparamos<br />

também para os desafios profissionais”. Lais ressaltou<br />

a dança na sua formação profissional: “Fiz balé durante<br />

sete anos ininterruptos e voltei no ano passado. A<br />

disciplina, superação e leveza são pontos que trago para<br />

cada área da minha vida”.<br />

Muito mais que frequentar lugares específicos, a<br />

história de cada um é muito importante para o sucesso<br />

profissional. Enxergar oportunidades, buscar boas<br />

instituições e abrir o corpo e a mente para vivenciar<br />

novas experiências são só o começo da história. O resto<br />

depende de você. [B + ]


NEGÓCIOS | comércio<br />

CAFÉ E<br />

CULTURA<br />

Instalados em ambienteis culturais, o Solar Café e o Feito a Grão<br />

cativam um público exigente, em busca de charme e cardápios<br />

diferenciados. Um mercado que se consolida em Salvador<br />

por LARISSA SEIXAS E VINÍCIUS SILVA fotos RÔMULO PORTELA<br />

Solar Café, no Museu de<br />

Arte Moderna da Bahia<br />

38 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com


Donos de cafés investem em um<br />

público diferenciado, com interesse<br />

em leitura, cinema e teatro<br />

D<br />

epois do almoço, na hora do lanche ou<br />

acompanhado de uma boa leitura, o café reina<br />

como uma das paixões nacionais. Mas não é só<br />

na produção da semente que o país se destaca. De acordo<br />

com a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), são<br />

consumidas cerca de 314 milhões de xícaras da bebida por<br />

dia. Um número que coloca o Brasil como o segundo país<br />

que mais consome café no mundo, atrás apenas dos Estados<br />

Unidos.<br />

Um novo mercado de café espresso (escrito com “s”, de<br />

“espremido” e não de “rápido”) passou a ser desenvolvido<br />

há 15 anos. Mesmo sendo o maior exportador e produtor da<br />

bebida no mundo, o Brasil só começou a apreciar o café de<br />

qualidade nos anos 2000, e a Bahia a partir de 2006. Antes,<br />

o grão de primeira categoria era exportado para países do<br />

norte da Europa, Japão e Estados Unidos.<br />

Quando o mercado interno percebeu a oportunidade do<br />

café especial, começaram a surgir novas cafeterias, cursos<br />

de especialização de baristas e até concursos de quem faz<br />

o melhor café. Atualmente, esse nicho representa 5% do<br />

total do faturamento da indústria cafeeira nacional, e abre<br />

oportunidades para a expansão de cafeterias dos mais<br />

diferentes formatos, para todos os tipos de público.<br />

Feito a Grão<br />

Alinhando o gosto por cafés especiais a espaço calmo<br />

e rodeado por livros, a cafeteria Feito a Grão iniciou os<br />

trabalhos há cinco anos e acompanhou o crescimento do<br />

café especial em todo o Nordeste.<br />

Georgia Szperor, sócia do Feito a Grão,<br />

acredita no setor e expande a rede para<br />

Recife, Aracaju e São Paulo<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

39


A expansão da empresa começou quando<br />

a rede Saraiva comprou as Livrarias Siciliano.<br />

O então diretor de novos negócios da livraria<br />

visitou diversas cafeterias em shoppings de<br />

Salvador até encontrar o Feito a Grão. Georgia<br />

Szperor foi quem idealizou o café junto com<br />

o marido. Sobre a escolha da Saraiva, ela<br />

explica: “Quando ele visitou o Shopping<br />

Itaigara, sentou no Feito a Grão e gostou da<br />

proposta. A nossa equipe estava bem treinada<br />

para falar sobre a novidade dos cafés especiais<br />

para o público soteropolitano. Foi então que<br />

recebemos o convite para abrirmos uma filial<br />

dentro da primeira Saraiva no Nordeste, que<br />

seria inaugurada no Salvador Shopping”.<br />

A oportunidade serviu para expandir os<br />

negócios, que passou a receber não somente<br />

o público apreciador de café, mas também<br />

pessoas que frequentam ou passeiam<br />

pela livraria e param para fazer algum<br />

lanche. “Para nós, é fantástico estar em um<br />

ambiente cultural. É um público diferenciado,<br />

apaixonado por novos conhecimentos, que<br />

curte café, leitura, cinema e teatro”, exalta<br />

Georgia.<br />

Para a empreendedora, este é um mercado<br />

que vai continuar crescendo. “Estamos<br />

apostando nisso, pois já temos nove lojas<br />

Feito a Grão, sendo quatro em Salvador, uma<br />

em Recife, outra em Aracaju e mais três em<br />

São Paulo”. Ela e seu marido já têm planos de<br />

futuramente franquiar a marca.<br />

40 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Solar Café, no Palacete das Artes.<br />

A maioria dos frequentadores mora<br />

nos bairros próximos ao museu<br />

Solar Café<br />

A mesma atmosfera cultural está presente para quem visita o Solar<br />

Café, nas filiais do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Palacete<br />

das Artes, em Salvador. Aberto em 2008, a partir de um convite<br />

do MAM, o Solar vai além dos drinques de café requintados, e<br />

passa pela gastronomia contemporânea e bom gosto em design,<br />

de quem sabe aproveitar a vista da Baía de Todos os Santos, o que<br />

transforma o espaço em algo intimista e aconchegante. “O projeto<br />

era temporário, mas percebemos que havia uma forte demanda ao<br />

unirmos um espaço gastronômico a um centro cultural”, explica<br />

Maíra D’Oliveira, uma das sócias-gerentes do Solar Café.<br />

A mesma preocupação rege a filial instalada no Palacete<br />

das Artes, no bairro da Graça, que abriga as obras do artista<br />

francês Auguste Rodin. Uma das preocupações das empresárias<br />

é aproveitar o potencial da localização cultural e estabelecer um<br />

diálogo entre o formato do café e a equipe do museu.<br />

“Tanto no Palacete das Artes quanto no MAM, nós treinamos<br />

nossos funcionários para saberem das exposições e as atrações que<br />

estão sendo realizadas no momento. Eles visitam e assistem para<br />

conhecer e também divulgar aos clientes que frequentam o Solar<br />

Café”, explica Maíra.<br />

Normalmente, turistas internacionais e alunos em excursão são<br />

os clientes que mais frequentam ambos os espaços. No entanto,<br />

Maíra garante que 60% do público é local. “No Museu Rodin, a<br />

maioria dos frequentadores mora nos bairros próximos ao Palacete.<br />

Isso cria certa fidelidade e estabilidade nas visitas”, complementa a<br />

sócia Andréa Nascimento.<br />

Para elas, o público de Salvador está cada vez mais exigente,<br />

e essa demanda possibilitou o crescimento do negócio há alguns<br />

anos. Ao unir o charme do espaço com a qualidade do cardápio,<br />

o café atende a vários clientes e momentos, seja uma reunião no<br />

almoço, em um lanche à tarde, ou um romance à noite. [B + ]


NEGÓCIOS | são joão<br />

PROXIMIDADE<br />

DO SÃO JOÃO<br />

AUMENTA VENDA<br />

DE PACOTES DE<br />

BATE-VOLTA<br />

Proprietários de agências de viagem apontam<br />

Lei Seca como um dos principais fatores para<br />

o crescimento do segmento<br />

por MILENA MIRANDA<br />

42 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Mateus Pereira/Secom<br />

I<br />

r e voltar de uma festa sem se preocupar<br />

com onde estacionar, poder conhecer<br />

novas pessoas, repousar enquanto retorna<br />

e evitar custos com hospedagem são algumas<br />

das vantagens vendidas pelas empresas que<br />

oferecem o serviço de “bate-volta”. Em época de<br />

São João, a procura por esse transporte cresce e,<br />

em 2012, a expectativa das agências de viagens<br />

é que aumente ainda mais.<br />

Léa Souza é diretora da Veromundo e conta<br />

que os festejos de São João representam 60% do<br />

faturamento anual da agência. No mês de junho,<br />

a empresa costuma atender cerca de cinco mil<br />

clientes entre pacotes de excursão (que incluem<br />

hospedagem no destino) e bate-volta. Para este<br />

ano, Léa estima um aumento de 20% na procura,<br />

como explica: “O São João será em um fim de<br />

semana, haverá maior demanda pelo batevolta,<br />

já que as pessoas não terão folga para se<br />

hospedar no interior”.<br />

O empresário João Tenório, sócio da empresa<br />

Festas e Farras, oferece há dez anos o serviço.


“Sem dúvida, a maior demanda por<br />

bate-volta e excursão acontece nesse<br />

período do ano”, ressalta. Tenório espera<br />

trabalhar com uma média de 30 ônibus<br />

nos dias das festas de São João. Já<br />

Patrese Dias, sócio da Paladiu’s Eventos,<br />

conta que o período representa 40% do<br />

faturamento da empresa. Este ano, eles<br />

oferecem bate-volta para quatro cidades<br />

do interior da Bahia.<br />

Os destinos mais procurados são<br />

Mata de São João, Santa Bárbara, Senhor<br />

do Bonfim, Jequié, Itiruçu, Catu, Serrinha,<br />

Ibicuí e Feira de Santana, além das<br />

cidades do Recôncavo, como Amargosa,<br />

Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus.<br />

Léa Souza conta que os organizadores<br />

das festas no interior apoiam o trabalho<br />

de bate-volta para beneficiar o trânsito<br />

nas proximidades dos eventos. Afinal<br />

de contas, cada ônibus leva 50 pessoas<br />

que, teoricamente, deixaram os carros<br />

estacionados em casa. O público é<br />

formado, principalmente, por pessoas<br />

de 18 a 38 anos. “Eles preferem ir no<br />

ônibus atraídos pela comodidade e pela<br />

diversão”, acredita João Tenório.<br />

É o caso do gerente comercial Rafael<br />

Chaves. “Gosto do bate-volta, pois além<br />

de não me estressar com engarrafamento,<br />

faço novas amizades, já que o clima no<br />

ônibus favorece a integração e facilita<br />

a ‘paquera’”. Ele afirma que compra<br />

pacotes de bate-volta há dez anos sempre<br />

com a mesma empresa.<br />

“O setor cresceria ainda<br />

mais se a Lei Seca fosse<br />

aplicada com mais rigor”<br />

João Tenório, Festas e Farras<br />

FOTOS: Rômulo Portela<br />

Patrese Dias, sócio da<br />

Paladiu’s Eventos<br />

Léa Souza, diretora<br />

da Veromundo<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

43


FOTO: Acervo Pessoal<br />

“Adoro o bate-volta<br />

pela segurança<br />

e também pela<br />

integração”<br />

Cíntia Castália, publicitária<br />

Há cinco anos contratei uma excursão para o Trivela em<br />

Ilhéus. Foi a maior farra no ônibus e, entre brincadeiras<br />

conheci meu atual namorado. Dois anos depois,<br />

retornamos ao Trivela e, novamente, contratamos o<br />

serviço de transporte ida e volta. Hoje temos amigos em<br />

comum que conhecemos na festa. Adoro o bate-volta pela<br />

comodidade e segurança, de poder beber à vontade sem<br />

ter que dirigir.<br />

“Foi um transtorno. A<br />

empresa só apareceu<br />

seis horas depois do<br />

horário combinado”<br />

Aline Rodrigues, jornalista<br />

Tive uma experiência negativa e não pretendo mais<br />

contratar excursão ou bate-volta. Ano passado, fui com<br />

minhas amigas para Ibicuí. Estava previsto para o ônibus<br />

sair às 20h, mas só viajamos às 2h da madrugada. Ficamos<br />

esperando os monitores aparecerem no Jardim dos<br />

Namorados, local que havíamos acertado previamente,<br />

mas eles chegaram ao local seis horas depois. Para<br />

completar, havíamos comprado o pacote open bar, mas<br />

as cervejas tinham acabado de ser compradas e ficamos<br />

esperando algumas horas para que gelasse. No retorno,<br />

não voltei com o grupo, mas soube que faltou combustível<br />

no ônibus e eles ficaram parados na estrada.<br />

44 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

O clima de paquera<br />

fez Cíntia conhecer o<br />

namorado a caminho<br />

do Trivela<br />

Opções de pacotes<br />

Na acirrada disputa por clientes,<br />

as empresas baianas oferecem<br />

diversos “mimos” extras, como<br />

cobertura fotográfica, serviço de<br />

bordo, presença de monitores, além<br />

de permitir combinações nos pacotes.<br />

O cliente pode escolher um serviço<br />

que inclui água e refrigerante ou<br />

um open bar, que serve cerveja e<br />

canecas de chope. Alguns pacotes<br />

acrescentam uísque, vodca,<br />

energético, espumante, cervejas<br />

nacionais e importadas.<br />

Em geral, o valor do bate-volta em<br />

Salvador varia de R$ 60 a R$ 120,<br />

a depender da distância da cidade.<br />

Para oferecer mais comodidade aos<br />

clientes, as empresas oferecem ainda<br />

pacotes que incluem o ingresso e a<br />

camisa da festa.<br />

Lei Seca<br />

De acordo com as agências de<br />

viagem, a aplicação da Lei Seca nas<br />

estradas contribuiu com o sucesso do<br />

segmento. “O setor cresceria ainda<br />

mais se a Lei Seca fosse aplicada com<br />

mais rigor”, afirma João Tenório. Esta<br />

pode ser a nova realidade, já que<br />

está em tramitação um projeto para<br />

“endurecer” ainda mais a Lei Seca,<br />

criando mecanismos novos para punir<br />

motoristas embriagados.<br />

O projeto prevê a ampliação das<br />

provas contra os motoristas, com<br />

a inclusão de imagens de câmeras<br />

ou celular, testemunhas que podem<br />

ser outros motoristas, pedestres ou<br />

até mesmo os agentes de trânsito,<br />

exames clínicos e perícia. Além<br />

disso, determina o aumento do valor<br />

da multa para quem for flagrado<br />

dirigindo sob influência do álcool, de<br />

R$ 957,69 para R$ 1.915,38. [B + ]


NEGÓCIOS | economia<br />

JOÃOZINHO E<br />

A COSTUREIRA<br />

LUIZ MARQUES<br />

FILHO<br />

Economista,<br />

superintendente da<br />

FEA-Ufba, diretor<br />

da ADVB-BA e<br />

professor da<br />

Faculdade Baiana<br />

de Direito<br />

Nossa presidente, em abril, em visita a<br />

Barack Obama nos EUA, afirmou que o Brasil<br />

não é mais o “Joãozinho que anda errado<br />

e nem mesmo o Joãzinho que anda certo”.<br />

Esta colocação traz subliminarmente a ideia<br />

de que não somos mais economicamente<br />

infantis, nem mesmo adolescentes. Somos<br />

uma economia já quase madura, que venceu<br />

seus vícios anteriores, como a hiperinflação e<br />

a extrema dependência do capital externo, e,<br />

assim, merecemos ser respeitados.<br />

A posição de Dilma deve ser destacada,<br />

mas não podemos esquecer que nosso<br />

governo ainda tenta – infelizmente – resolver<br />

nossos problemas de competitividade usando<br />

o método da costureira: quando a calça rasga<br />

vamos costurá-la, remendá-la.<br />

Se não, o que podemos dizer das ações<br />

tomadas em Brasília em abril último para<br />

aliviar setores industriais afetados pela<br />

dura competição com importados? Foram 15<br />

setores beneficiados com esta medida. Para<br />

eles, isso é muito bom. Mas, e para os outros<br />

setores?<br />

Esta é a velha ideia da política industrial<br />

vertical, escolhendo vencedores, os campeões<br />

nacionais, em detrimento de uma política<br />

horizontal onde todos recebem o mesmo<br />

tratamento.<br />

Esta ação visa ajudar a indústria<br />

tão afetada negativamente pelo câmbio<br />

valorizado. A desindustrialização parece que<br />

chegou para ficar, roubando nossos empregos.<br />

Hoje para alguns setores é mais barato<br />

produzir no México, repito México, do que na<br />

própria China. O Brasil hoje é um país caro.<br />

A produção industrial é caríssima. Parece que<br />

o governo está acordando depois de quatro<br />

anos de câmbio valorizado, que corremos o<br />

risco de ser um país commodity dependente.<br />

Nossa indústria está tomando na cabeça.<br />

46 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Mas não é somente o câmbio, mas<br />

também os custos com transporte,<br />

trabalhistas, tributos, juros aberrantes e<br />

energia elétrica: incrível, mas apesar da nossa<br />

matriz energética ser de base hidroelétrica<br />

(mais barata do que a termoelétrica e a<br />

nuclear)a nossa energia é uma das mais caras<br />

do mundo. Segundo estudo da Federação<br />

das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro,<br />

o preço da nossa energia está 52% acima<br />

da média, considerando 27 países. Parte<br />

relevante deste preço é formada por tributos<br />

indiretos, federais e estaduais, que em<br />

média representam 37% do preço da energia.<br />

Dentro deles o maior peso recai sobre o ICMS<br />

estadual, que encarece o megawatt-hora.<br />

Mas como convencer os governadores<br />

que isto traz um impacto negativo para a<br />

indústria e consumidores em geral? Por mais<br />

que este impacto seja claro, como dizer aos<br />

governadores que a carga do ICMS deve ser<br />

reduzida? Isto só ocorrerá com uma reforma<br />

tributária de verdade, dado que o ICMS é a<br />

principal fonte de recursos para os estados<br />

(exceto para os mais pobres, onde o Fundo<br />

de Participação dos Estados ainda é mais<br />

relevante).<br />

É aí que voltamos ao ponto: estamos<br />

remendando a nossa calça, mas não<br />

construindo calças novas. A reforma<br />

tributária vem sendo discutida desde 1995<br />

ainda no governo FHC, mas entra presidente<br />

e sai presidente e nada muda. Como<br />

convencer um governador a reduzir a sua<br />

receita própria, considerando a necessidade<br />

de gastos que também pressiona o nível<br />

estadual? Assim, se as mudanças estruturais<br />

não acontecem vamos dar um jeitinho com<br />

mudanças conjunturais. Vamos costurar o<br />

que está rasgado.<br />

A recente desoneração da folha de<br />

pagamento sobre setores específicos é boa,<br />

mas não resolve. Outros setores também<br />

demandam algo similar. É fato que não somos<br />

mais o Joãozinho da década de 80, mas não<br />

devemos nos iludir com os bons resultados<br />

econômicos que colhemos nos últimos anos,<br />

temos que trabalhar mais.<br />

Mas, em vez de agirmos hoje<br />

estrategicamente para aumentar a<br />

competitividade de nossa economia, estamos<br />

investindo nossa energia em mais um<br />

escândalo em Brasília. Por falar nisso, qual é<br />

a última novidade da CPI do Cachoeira?


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

47


NEGÓCIOS | gestão<br />

RISCO EMPRESARIAL:<br />

O SPED E A QUALIDADE<br />

DA INFORMAÇÃO<br />

Os contribuintes se esbarram em operacionalizar<br />

o Sped. No momento inicial, a maior preocupação<br />

tem sido apenas enviar os dados, mas como fica<br />

a qualidade dessa informação?<br />

JOSÉ<br />

RENATO<br />

MENDONÇA<br />

Líder de auditoria<br />

e asseguração da<br />

empresa Performance<br />

Parece que foi ontem, mas já se vão cinco<br />

anos desde que começamos a ouvir falar em<br />

Sistema Público de Escrituração Digital (Sped)<br />

e nas profundas mudanças que teríamos nas<br />

rotinas das empresas. Instituído pelo Decreto<br />

nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o Sped<br />

faz parte do Programa de Aceleração do<br />

Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-<br />

2010) e constitui-se em um grande avanço na<br />

informatização da relação entre o fisco e os<br />

contribuintes.<br />

O Sped tem por objetivo trazer<br />

modernidade e transparência, que são<br />

requisitos fundamentais para um país que<br />

busca destaque no cenário mundial e na<br />

atração de investimentos externos.<br />

Desde sua instituição, primeiramente com<br />

os projetos da NFe (nota fiscal eletrônica)<br />

e com o Sped Contábil, o sistema público<br />

continua trazendo novas e mais complexas<br />

obrigações acessórias, como o Sped<br />

Contribuições, o que tem trazido dificuldades<br />

para as empresas. O mais grave é que, se<br />

não enfrentadas de forma adequada, estas<br />

dificuldades poderão se transformar em<br />

multas e outras penalidades para empresas e<br />

empresários.<br />

A Receita Federal, juntamente com os<br />

fiscos estaduais, tem flexibilizado prazos<br />

no processo de implantação do Sped, haja<br />

vista a enorme dificuldade encontrada por<br />

contribuintes e soft houses em adaptar<br />

os sistemas aos leiautes exigidos. Os<br />

contribuintes se esbarram em operacionalizar<br />

e produzir os arquivos nos prazos exigidos<br />

com o mínimo de qualidade para validação. E<br />

48 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

é aí que mora o perigo. No momento inicial, a<br />

maior preocupação de todos tem sido apenas<br />

enviar os dados, mas como fica a qualidade<br />

dessa informação?<br />

Devido à avalanche de obrigações<br />

acessórias criadas a partir do Sped (Sped<br />

Contábil, Fcont, Sped Contribuições, Sped<br />

ICMS/IPI, NFe, NFSe, etc...) e considerando<br />

que atualmente algumas delas estão em<br />

duplicidade, os contribuintes têm que se virar<br />

para fazer acontecer, sendo muitas vezes<br />

um desafio isolado para um determinado<br />

setor dentro da empresa (usualmente, o setor<br />

contábil).<br />

Essa é uma ideia equivocada<br />

O Sped veio para mexer em todos os<br />

processos da empresa. Ou seja, para<br />

avançarmos sem problemas futuros com<br />

o “mundo Sped”. Antes de qualquer coisa,<br />

se faz necessária uma mudança na forma<br />

de enxergar e pensar o projeto como<br />

um todo, deixando de olhar apenas as<br />

“caixinhas”. O Sped é um desafio dos setores<br />

(financeiro, contábil, comercial, produção,<br />

RH, etc), passando pela análise de cadastros,<br />

processos, parametrizações e sistemas.<br />

Devemos ter em mente que os arquivos<br />

transmitidos hoje pelas empresas poderão<br />

ser auditados pelo fisco até 2017, o qual, com<br />

certeza, estará ainda mais aparelhado. Assim,<br />

aquela informação que enviamos sem a<br />

qualidade devida poderá resultar em pesadas<br />

multas.<br />

Outro aspecto que devemos lembrar é<br />

de que os arquivos gerados e transmitidos<br />

ao fisco são assinados digitalmente e têm<br />

valor legal. Para evitar possíveis transtornos,<br />

devemos rever nossos cadastros e<br />

parametrizações, treinar o staff técnico, rever<br />

os processos e, muitas vezes, as empresas<br />

não têm estrutura e capacidade própria para<br />

tanto.<br />

Por isso as consultorias são valiosas e<br />

importantes. Já existem no mercado diversas<br />

soluções de auditoria eletrônica, validadores<br />

de NFe, cujo papel é minimizar os riscos<br />

empresariais relacionados às informações<br />

indevidas (contábeis, fiscais e operacionais)<br />

disponibilizadas para o fisco através do<br />

Sped. Entendo que o empresário consciente<br />

não deve pagar para ver, pois erros de hoje<br />

podem prejudicar ou, até mesmo, inviabilizar<br />

negócios amanhã.


ESTÁDIO SOLARES | 52<br />

A CARTA DA TERRA | 54<br />

EMPRESA VERDE | 56<br />

[C] ISAAC EDINGTON | 60<br />

[C] MARCO PELLEGATTI | 62<br />

DESTINO CORRETO<br />

O aproveitamento do que seria lixo,<br />

seja por meio da reciclagem ou<br />

compostagem, tem ajudado a preservar<br />

a natureza e incrementado a renda de<br />

famílias no estado.<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

56<br />

Apoio:


SUSTENTABILIDADE | tendências<br />

6 tendências da<br />

gestão sustentável<br />

Mais do que uma estratégia de<br />

marketing, a sustentabilidade deve<br />

ser central na gestão dos negócios.<br />

Executivos de empresas enxergam<br />

mais oportunidades do que riscos<br />

nos problemas relacionados à<br />

sustentabilidade. A constatação é parte<br />

de um mapeamento publicado pela<br />

Ernst & Young. O levantamento, feito<br />

com 272 executivos de 24 setores com<br />

faturamento acima de um US$ 1 bilhão,<br />

indicou seis tendências que<br />

estão pautando os negócios:<br />

VANTAGEM:<br />

Gerir uma empresa com sustentabilidade<br />

traz vantagens competitivas. Programas<br />

de eficiência energética e de redução<br />

de emissões são as questões a que o<br />

mercado está mais atento.<br />

RISCOS E OPORTUNIDADES:<br />

Sem dúvida, as questões climáticas estão<br />

na lista de preocupações para as empresas.<br />

Ao todo, 75% dos executivos revelaram ter<br />

metas de redução de emissões. Cerca de 80%<br />

acreditam que a gestão da água afetará os<br />

negócios nos próximos cinco anos.<br />

ENVOLVIMENTO:<br />

Há maior envolvimento dos diretores<br />

financeiros nos processos de avaliação,<br />

gestão e elaboração dos relatórios de<br />

sustentabilidade.<br />

PRESSÃO:<br />

Ao contrário do que se acredita, os acionistas<br />

e ONGs influenciam menos as decisões<br />

sustentáveis nas empresas do que os<br />

funcionários.<br />

SOLUÇÕES:<br />

Escassez de recursos naturais já está<br />

deixando de ser ameaça para se tornar<br />

realidade; 76% dos entrevistados temem que<br />

as empresas sejam afetadas pela falta de<br />

recursos naturais já nos próximos cinco anos.<br />

MARKETING:<br />

Empresas devem divulgar as ações e agir<br />

com transparência perante a sociedade.<br />

50 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Pesquisa irá mapear<br />

exploração de energia<br />

eólica na Bahia<br />

Um estudo encomendado pela<br />

Secti e pela Seinfra vai monitorar<br />

em tempo real os dados eólicos<br />

da Bahia em diversas localidades,<br />

em alturas de 150 metros. O<br />

trabalho deve durar 11 meses e<br />

visa identificar novas fronteiras<br />

do setor ainda não exploradas.<br />

Brasil suspende construção<br />

de usinas nucleares até 2021<br />

No plano de curto prazo, até 2021, o Brasil não considera a construção<br />

de nenhuma usina nuclear além de Angra 3, com obras em<br />

andamento e previsão para começar a operar em 2015. Entretanto,<br />

no plano que considera o horizonte até 2030, há a previsão que haja<br />

espaço para a construção de quatro a oito centrais nucleares. As<br />

duas primeiras seriam construídas no Nordeste.<br />

50% Sawdust<br />

As designers israelenses Adi<br />

Shpigel e Keren Tomer deram<br />

uma nova utilidade para serragens<br />

e sacolas plásticas, ao<br />

misturar os materiais e colocar<br />

para assar no forno, prensados<br />

dentro de moldes metálicos. Os<br />

resultados foram luminárias de<br />

mesa, lustres e até bancos.<br />

Dow Brasil vai utilizar biomassa de<br />

eucalipto como fonte de energia limpa<br />

FOTO: Secom/BA<br />

Com investimento total de R$ 200 milhões, a Dow Brasil usará<br />

biomassa para atender à demanda energética da sede no Complexo<br />

Industrial de Aratu. A operação está prevista para ter início em<br />

março de 2013. O projeto é em parceria com a empresa Energias<br />

Renováveis do Brasil, que vai investir, instalar e operar a usina de<br />

cogeração.


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

51


A<br />

SUSTENTABILIDADE | tendências<br />

ESTÁDIOS SOLARES<br />

Pituaçu foi o primeiro da América Latina<br />

a instalar o sistema de energia solar. Em<br />

seguida, serão Maracanã e Mineirão. A Copa<br />

do Mundo já muda a maneira de se pensar e<br />

construir estádios de futebol no Brasil<br />

luz do sol é a fonte de energia que abastece o estádio<br />

de Pituaçu, em Salvador, desde o dia 10 de abril deste<br />

ano. Com a utilização da fonte alternativa, o Governo do Estado<br />

estima economizar cerca de R$ 120 mil/ano. A energia gerada<br />

e interligada à rede de distribuição da cidade será equivalente<br />

a 630 MW/h ao ano, capaz de abastecer 525 residências. O<br />

projeto custou mais de R$ 5,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões<br />

aplicados pela Coelba (concessionária local), por meio de<br />

financiamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),<br />

e R$ 1,75 milhão pelo governo estadual.<br />

“Quando ocorreu a tragédia da Fonte Nova [em 2007,<br />

parte da arquibancada desabou e sete pessoas morreram, nós<br />

sabíamos que não haveria mais jogos lá por um bom tempo, e<br />

que as partidas seriam levadas para o estádio de Pituaçu. Como<br />

precisávamos de um projeto modelo para os jogos da Copa,<br />

conseguimos, com a ajuda da Coelba e do Governo do Estado,<br />

implantá-lo”, explica Mauro Passos, presidente do Instituto<br />

Ideal, responsável pelo projeto de nome Estádios Solares, que<br />

também instalará energia solar no Mineirão e no Maracanã.<br />

52 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

por MURILO GITEL www.ecod.org.br<br />

FOTO: Secom/BA<br />

No caso do estádio de Pituaçu, uma das<br />

novidades é que o excedente de energia<br />

gerado através da geração solar (270 MW/h)<br />

será utilizado no prédio da Secretaria<br />

Estadual de Trabalho, Emprego e Renda<br />

(Setre), localizado no Centro Administrativo<br />

da Bahia. O consumo médio anual do estádio<br />

é de 360 MW/h. Isso é possível porque os<br />

sistemas fotovoltaicos estarão conectados à<br />

rede elétrica de distribuição.<br />

“Além de ser o primeiro estádio da<br />

América Latina a usar energia solar, Pituaçu<br />

também é a primeira unidade consumidora<br />

a participar do sistema de compensação, que<br />

inclui disponibilizar na rede de abastecimento<br />

toda a eletricidade excedente”, observou<br />

Daniel Sarmento, engenheiro eletricista que<br />

coordenou o projeto da Coelba, que pertence<br />

ao Grupo Neoenergia.<br />

Ao ser perguntado sobre a possibilidade<br />

de a Arena Fonte Nova, em Salvador, também<br />

aderir à energia solar, Mauro Passos afirmou<br />

que acredita na viabilidade do projeto. “Eu<br />

acho que, no avançar da obra da Arena Fonte<br />

Nova, isso vai passar a ser discutido, porque<br />

seria esquisito Pituaçu ter e a Fonte Nova não<br />

ter”, compara.<br />

O consórcio da Arena Fonte Nova,<br />

formado pelas construtoras Odebrecht e<br />

OAS, informou que estuda atualmente a<br />

viabilidade de instalação de energia solar no<br />

empreendimento, cujo andamento da obra já<br />

se aproxima de 60%. [B + ]<br />

Mauro Passos é presidente do Instituto<br />

Ideal, responsável pelos Estádios Solares<br />

FOTO: Divulgação


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

53


F<br />

SUSTENTABILIDADE | tendências<br />

A CARTA<br />

DA TERRA<br />

Valores e princípios<br />

por um mundo melhor<br />

por JÉSSICA SANDES www.ecod.org.br<br />

ormada em engenharia química pela Universidade<br />

Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristina Moreno<br />

dedicou anos de sua vida às atividades empresariais,<br />

com destaque para o setor de papel e celulose. Atuou<br />

nas áreas de tecnologia da informação, processos de<br />

fusão, aquisição e sustentabilidade. Após se aposentar,<br />

decidiu ir em busca de um mundo mais justo,<br />

harmonioso e sustentável. Foi quando se tornou uma<br />

voluntária da Carta da Terra. Hoje ela é a coordenadora<br />

da iniciativa no Brasil.<br />

O que é sustentabilidade para Cristina Moreno?<br />

É a gente viver exatamente daquela maneira que,<br />

quando éramos crianças, deveríamos viver: respeitando<br />

e cuidando de todos e de tudo aquilo que a gente<br />

partilha.<br />

E de que maneira podemos alcançar essa<br />

condição?<br />

A Carta da Terra nos convida a perceber duas coisas<br />

importantes. A primeira é que a gente está procurando<br />

um universo sustentável. Ele só será possível se<br />

tivermos países sustentáveis, organizações sustentáveis<br />

e famílias sustentáveis. Por isso, é importante que todos<br />

façam a sua parte. A outra é o compilado de princípios<br />

éticos, com uma visão absolutamente sistêmica. Uma<br />

das coisas que talvez sejam difícieis para a conquista<br />

54 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

da sustentabilidade seja olharmos a temática de<br />

maneira fragmentada, o que não é. Esse olhar<br />

permeia todos os segmentos que estão expressos<br />

nos quatro pilares da carta.<br />

A Carta da Terra, então, é um documento de<br />

orientação?<br />

Sim. Uma maneira mais amorosa para a gente<br />

cuidar do planeta Terra e de todos aqueles que<br />

aqui habitam. Uma espécie de cartilha.<br />

Como foi processo para elaborar a carta?<br />

Ela foi feita através de uma consulta que demorou<br />

oito anos. A ação avaliou os povos da terra, desde<br />

cientistas e organizações, a tribos indígenas. Por<br />

isso, retrata essa vontade do mundo melhor. Ela<br />

começou a ser rascunhada durante a Eco-92, no<br />

Rio de Janeiro, mas só foi concluída em 2000.<br />

Como as pessoas podem contribuir com esse<br />

movimento?<br />

Esse é um exercício que requer duas coisas: muita<br />

humildade para entender que não somos o centro<br />

das coisas, mas que somos parte desse bem maior.<br />

E requer muito desprendimento. Eu não quero<br />

abrir mão dos avanços tecnológicos que temos,<br />

mas precisamos entender como estamos usando<br />

esses avanços.<br />

A grande dificuldade da mudança é sair do<br />

patamar que a gente está acostumado para ir<br />

para outro, e isso envolve espiritualidade. Digo<br />

espiritualidade por significar cuidar do bem<br />

comum, onde estamos acima das coisas materiais.<br />

Esse é o trabalho de cada indivíduo, começar a<br />

abrir mão do que não precisa ter, vivendo com<br />

mais integridade.<br />

A Carta da Terra<br />

é estruturada<br />

em quatro princípios:<br />

1. Respeito e cuidado pela comunidade da vida;<br />

2. Integridade ecológica;<br />

3. Justiça social e econômica;<br />

4. Democracia, não-violência e paz.


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

55


SUSTENTABILIDADE | empresa verde<br />

PEQUENAS, MAS SUSTENTÁVEIS<br />

Micro e pequenos empresários<br />

baianos se dão conta de<br />

que adotar medidas de<br />

desenvolvimento sustentável na<br />

gestão pode gerar economia e<br />

contribuir com o lucro. Atualmente,<br />

no Brasil, as micro e pequenas<br />

empresas correspondem a 20% do<br />

PIB e geram 60% dos empregos<br />

por MURILO GITEL<br />

56 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Divulgação<br />

E<br />

las representam nada menos que 99% das empresas<br />

brasileiras, correspondem a 20% do Produto Interno<br />

Bruto (PIB) nacional e geram 60% dos empregos no país.<br />

Estamos falando das micro e pequenas empresas. Com resultados<br />

cada vez mais expressivos no Brasil, também merece destaque<br />

a adoção que esses negócios têm feito de medidas no âmbito<br />

sustentável – iniciativas ambientalmente corretas incorporadas à<br />

gestão.<br />

Economizar recursos como energia, água e outros insumos,<br />

o que também significa poupar dinheiro e, ao mesmo tempo,<br />

contribuir com o meio ambiente, estão entre os principais atrativos<br />

de se aplicar a sustentabilidade nas micro e pequenas empresas,<br />

desprovidas de receitas milionárias.<br />

“Lucro e sustentabilidade não são contraditórios. Ao mesmo<br />

tempo em que economizar água e energia ajuda o planeta, também<br />

reduz os custos da empresa, melhora a sua imagem e atrai mais<br />

clientes”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.<br />

Engana-se quem pensa que os micro e pequenos empresários<br />

baianos estão longe dessa tal, parafraseando Caetano, “nova<br />

ordem” empresarial. Um bom exemplo vem da pizzaria Rei da


[+] NO SITE :<br />

Reciclagem de embalagens na região metropolitana<br />

Pizza, situada em Camaçari. Nela, todas as pizzas<br />

são assadas em um forno cujo interior conta<br />

com madeira sustentável. Já o processo de coleta<br />

seletiva inclui um fluxo de estoque, separação,<br />

acondicionamento e encaminhamento para<br />

cooperativas de reciclagem da região.<br />

“Quanto menos lixo você gera, mais você<br />

está sendo consciente. E, na prática, isso surte<br />

efeito não só no restaurante, mas no dia a dia<br />

e em casa. É uma educação para toda a vida.<br />

Precisamos ter consciência da necessidade de<br />

preservar”, destaca Jamilton Pereira, responsável<br />

pelo empreendimento que completa 18 anos no<br />

mercado.<br />

O próximo passo do empresário é fazer a<br />

compostagem do lixo orgânico, para transformar<br />

os resíduos em adubo, que posteriormente será<br />

utilizado na horta da empresa. “Os alimentos<br />

extraídos da horta serão utilizados na produção<br />

das pizzas”, projeta o empreendedor.<br />

Responsabilidade social<br />

Equilibrar os fatores econômico, ambiental e<br />

social é a base do sentido do desenvolvimento<br />

sustentável, conceito usado pela primeira vez em<br />

1987, no Relatório Brundtland, da Organização<br />

das Nações Unidas (ONU). Um modelo de<br />

responsabilidade social nos micro e pequenos<br />

negócios é o da empresa NNSolutions, de Salvador.<br />

Criada em 2009 por um grupo de<br />

pesquisadores da Universidade Federal da<br />

Bahia (Ufba), a empresa desenvolveu o software<br />

Slep, um scanner leitor portátil (para aparelhos<br />

celulares), capaz de captar as informações de um<br />

texto impresso em tinta, e sem o método Braille,<br />

transformando os dados em voz sintetizada.<br />

“O deficiente visual diminui a necessidade<br />

de ter algum ajudante de leitura, ou ‘olho amigo’<br />

como eles costumam falar, para realizar a função<br />

de leitura de um texto, como por exemplo, conta<br />

de luz, cartão de visita, livro”, destaca Acbal Achy,<br />

diretor de negócios da empresa.<br />

Segundo o empreendedor, trata-se do primeiro<br />

software nacional embarcado no celular capaz de<br />

transformar a rotina do deficiente visual. “Também<br />

há a questão da autonomia, pois a pessoa com<br />

dificuldades de leitura, não precisará de um<br />

terceiro que leia para ela, o que acarreta a<br />

melhora da auto-estima e da produtividade dessas<br />

pessoas”, enumera Acbal.<br />

FOTOS: Divulgação<br />

(em cima) A criação dos pesquisadores da Ufba é o primeiro<br />

software nacional embarcado no celular para auxiliar a rotina do<br />

deficiente visual (em baixo) O software Slep é capaz de captar as<br />

informações de um texto e transformar os dados em voz sintetizada<br />

Pesquisa do Sebrae divulgada<br />

em maio aponta que:<br />

80,6% dos micro e pequenos empresários controlam o consumo de<br />

água, 81,7%, o consumo de energia, 70,2% fazem a coleta seletiva de<br />

lixo e 72,4% controlam o consumo de papel;<br />

Apesar dessas ações pontuais, 51,7% informaram não ter o hábito de<br />

usar materiais recicláveis no processo produtivo, 83,4% não fazem<br />

captação da água da chuva ou reutilização de água e 50,9% não<br />

reciclam lixo eletrônico ou pneus;<br />

Para 46% dos entrevistados, a questão ambiental representa<br />

oportunidade de ganhos para a empresa. Por outro lado, 54% deles<br />

afirmam que as chances de lucros relacionadas ao tema ainda não estão<br />

bem evidenciadas: 16% dos empresários acreditam que a questão<br />

representa custos e despesas, e 38%, nem ganhos, nem despesas.<br />

Outra vantagem do software da NNSolutions é a<br />

ambiental. “Impressos em Braille necessitam de muito papel,<br />

o uso do software diminui a necessidade da impressão”,<br />

lembra o empreendedor.<br />

A empresa ainda não teve lucros com a venda do<br />

aplicativo, mas já negocia o fechamento de um número<br />

grande de licenças para uma empresa de destaque no cenário<br />

nacional, adiantou o empresário. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

57


SUSTENTABILIDADE | pro bem<br />

TUDO<br />

SE TRANSFORMA por ANDRÉA CASTRO<br />

Resíduos sólidos, lixo<br />

orgânico, óleo saturado,<br />

cocos verdes e limpeza em<br />

eventos. Todos são matériasprimas<br />

para a Verdecoop<br />

N<br />

ada se cria, tudo se transforma. A frase<br />

pode parecer clichê, mas é sempre oportuna<br />

quando falamos em sustentabilidade.<br />

O aproveitamento do que seria lixo, seja por meio<br />

da reciclagem, compostagem ou outro método de<br />

reutilização, comprova-se como uma excelente alternativa<br />

para os resíduos produzidos, sobretudo em grandes<br />

empreendimentos, como hotéis de maior porte. Ações<br />

desse tipo têm ajudado a preservar a natureza e<br />

incrementado a renda de famílias no estado.<br />

A cooperativa Verdecoop faz parte do Instituto<br />

Berimbau, com sede no município de Rio de Contas, e é<br />

um exemplo disso. Criada em 2005, a entidade recicla e<br />

faz a compostagem dos resíduos descartados nos hotéis do<br />

Complexo Costa do Sauipe e do refeitório da montadora<br />

Ford. Ao todo, são mais de três mil toneladas por ano.<br />

58 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Iniciativas de aproveitamento do lixo<br />

ajudam a preservar o meio ambiente<br />

e a transformar a vida de famílias<br />

carentes no Litoral Norte e na<br />

Chapada Diamantina<br />

FOTO: Divulgação<br />

“Depois que entrei na Verdecoop, me conscientizei,<br />

passei a dar valor ao que jogamos na lixeira. Não<br />

tinha noção do que o lixo pode gerar. Hoje me<br />

preocupo porque penso no futuro do meu filho. Além<br />

do aprendizado, esse trabalho é o que me sustenta”,<br />

relata Edinéia Rodrigues, cooperada da Verdecoop há<br />

um ano e meio e que vive com a renda de R$ 800, toda<br />

proveniente do trabalho na cooperativa.<br />

De acordo com José Santos Souza, gerente<br />

administrativo da Verdecoop, o objetivo da iniciativa<br />

é mobilizar as comunidades do Litoral Norte da Bahia<br />

para conviver e crescer com a atividade turística,<br />

em um processo de integração. Por essa necessidade,<br />

surgiu o Instituto Berimbau. “Uma das soluções<br />

pensadas, hoje uma realidade, foi estimular a criação<br />

de uma cooperativa de reciclagem, com pessoas da


própria região que precisavam de uma<br />

oportunidade. Uma via de mão dupla”,<br />

declara Beraldo Boaventura, coordenador<br />

do Instituto Berimbau.<br />

Do lixo ao luxo, novamente<br />

Hoje, a Verdecoop coleta resíduos, lixo<br />

orgânico, óleo saturado, cocos verdes e<br />

realiza limpeza em eventos. Na estrutura,<br />

conta com um pátio de 1,2 mil m 2 e<br />

possui mais de 50 cooperados, que quase<br />

sempre dependem dessa renda para o<br />

sustento de suas famílias. “Reciclamos de<br />

forma tradicional os resíduos secos (latas,<br />

plásticos, papelão, etc.) Selecionamos,<br />

enfardamos e comercializamos esses<br />

materiais. Já o lixo orgânico passa<br />

por um processo de compostagem e<br />

é transformado em adubo de ótima<br />

qualidade, sem adições químicas,<br />

comercializado junto aos agricultores da<br />

região.”, explica Beraldo. Esse adubo é o<br />

mesmo utilizado no gramado do luxuoso<br />

campo de golfe de 660 mil m 2 , palco de<br />

importantes torneios internacionais.<br />

Em bons lençóis!<br />

Assim como o Litoral Norte, a Chapada<br />

Diamantina é uma das regiões mais belas<br />

e ricas da Bahia, sob o ponto de vista<br />

da sua biodiversidade. É nessa região<br />

que se encontra o Hotel de Lençóis, um<br />

dos três únicos no estado que possuem<br />

o certificado de Gestão Hoteleira<br />

Sustentável da Associação Brasileira de<br />

Normas Técnicas (ABNT). No hotel, mais<br />

de 90% do lixo produzido pelos hóspedes<br />

é reaproveitado.<br />

O material orgânico, que corresponde<br />

a cerca de 80% do lixo produzido, é<br />

levado para a central de compostagem e,<br />

posteriormente, aplicado nos 45 mil m 2<br />

de área verde do hotel. Já os materiais<br />

de plástico, papelão, papel, garrafas PET,<br />

entre outros produtos, são entregues ao<br />

Grupo Ambientalista de Lençóis (GAL)<br />

para reciclagem. As latinhas são doadas<br />

aos próprios funcionários do hotel, que<br />

aproveitam a venda do material para<br />

tirar uma renda extra. Já as garrafinhas<br />

FOTO: Xico Diniz<br />

“O lixo orgânico [dos hotéis] passa por um<br />

processo de compostagem e é transformado em<br />

adubo de ótima qualidade, sem adições químicas,<br />

comercializado junto aos agricultores da região”<br />

Beraldo Boaventura, Instituto Berimbau<br />

A reciclagem da água<br />

excedente da Embasa é usada<br />

no jardim, cachoeira e roda<br />

d’água do Hotel de Lençóis<br />

de água mineral têm um destino particular: são utilizadas por<br />

artesãos locais como recipiente para aguardente.<br />

“O que vai para o lixão mesmo é o papel higiênico e o material<br />

usado para tirar gordura dos alimentos. Sempre tivemos uma coleta<br />

de lixo própria, até porque a coleta municipal, que hoje já melhorou,<br />

nunca foi muito eficiente”, explica o consultor do hotel, Dionízio<br />

Martins. Ele ainda destaca a reciclagem da água excedente da<br />

Embasa para uso no jardim, cachoeira e roda d’água.<br />

Outras iniciativas sustentáveis são postas em prática no hotel:<br />

utilização de energia solar para aquecimento de água; uso máximo<br />

de iluminação natural; utilização de economizadores de energia; uso<br />

preferencial de madeira renovável (com certificação do Ibama), além<br />

do uso de madeira de demolição.<br />

O gerente do hotel, Dário Campos, explica que uma das ações<br />

mais recentes é a atualização do sistema de aquecimento de água<br />

através de energia solar, utilizado desde 1990. Agora eles estão<br />

substituindo por um de última geração. Outra questão destacada é a<br />

parceria com hóspedes e colaboradores nas iniciativas.<br />

“Organizamos um programa de conscientização sobre a<br />

necessidade de se utilizar racionalmente a energia elétrica. São feitas<br />

palestras e colocados cartazes nas salas dos colaboradores para<br />

conscientizar a equipe. Além disso, contamos com uma parceria com<br />

os hóspedes para a substituição de roupa de cama e toalhas com<br />

menor frequência”, destaca Campos. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

59


ISAAC<br />

EDINGTON<br />

Empresário, diretorpresidente<br />

do Instituto<br />

EcoDesenvolvimento e<br />

membro do conselho<br />

editorial da <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

SUSTENTABILIDADE | empreendedorismo<br />

DESAFIAR<br />

A MINORIA:<br />

UMA NOVA GERAÇÃO<br />

DE EMPREENDEDORES<br />

A palavra empreendedor (entrepreneur),<br />

originada do francês, é usada para descrever<br />

uma pessoa que tem, acima de tudo, a<br />

necessidade de realizar coisas novas. O<br />

conceito de empreendedorismo sempre<br />

se associa à pessoa que faz acontecer.<br />

Segundo o psicólogo americano David<br />

McClelland, que dedicou sua vida ao estudo<br />

dos empreendedores e suas características,<br />

imbuído da convicção do papel destes no<br />

desenvolvimento das nações, as pessoas<br />

podem ser divididas em dois grandes grupos:<br />

uma minoria que, quando desafiada por<br />

uma oportunidade, está disposta a trabalhar<br />

com determinação e afinco para conseguir o<br />

que quer, e uma grande maioria que não se<br />

importa tanto assim. McClelland afirma que<br />

as pessoas que têm necessidade de realizar<br />

se destacam porque, independentemente de<br />

suas atividades, fazem com que as coisas<br />

aconteçam.<br />

O empreendedor, com sua aguçada<br />

percepção, está sempre observando recursos<br />

escassos na região onde atua, recursos que<br />

não estejam sendo devidamente explorados<br />

ou até mesmo que não tenham sido alvo da<br />

atenção de ninguém, sendo, no entanto, uma<br />

boa fonte de oportunidade de negócio.<br />

Em resumo, podemos dizer que o<br />

empreendedor identifica uma oportunidade<br />

e cria um meio para aproveitá-la, assumindo<br />

os riscos que qualquer atividade empresarial<br />

oferece. Há, pelo menos, três fatores<br />

mundialmente aceitos que discorrem sobre<br />

por que os empreendedores são importantes<br />

para a sociedade:<br />

1. O empreendedor contribui para a<br />

criação de emprego e crescimento<br />

Cada vez mais, as novas e pequenas empresas<br />

se destacam na criação de novos postos de<br />

60 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

trabalho. Os países com maior aumento nas<br />

taxas de iniciativa empresarial tendem a<br />

ter um maior decréscimo nas suas taxas de<br />

desemprego.<br />

2. A iniciativa empreendedora estimula o<br />

desenvolvimento do potencial pessoal<br />

Uma ocupação não constitui apenas um modo<br />

de ganhar dinheiro. As pessoas utilizam<br />

outros critérios nas suas escolhas relativas<br />

à carreira, tais como a segurança, o nível de<br />

independência, a variedade de funções e o<br />

interesse pelo trabalho. Um estudo britânico<br />

mostrou que, além das motivações materiais<br />

(dinheiro e status social), as pessoas escolhem<br />

ser empreendedoras como meio de satisfação<br />

pessoal (liberdade, independência e desafio).<br />

Tornar-se empreendedor, do ponto de vista<br />

social, pode ser um meio para atingir uma<br />

posição melhor para si mesmo.<br />

3. A capacidade empreendedora e os<br />

interesses da sociedade<br />

Os empreendedores são os condutores da<br />

economia de mercado cujos resultados<br />

permitem que a sociedade disponha de<br />

riquezas, postos de trabalho e variedade<br />

de escolha para seus consumidores.<br />

Nesse sentido, muitas empresas adotaram<br />

estratégias e formas de responsabilidade<br />

social, o que implica a inclusão voluntária<br />

de aspectos sociais e ambientais nas<br />

suas respectivas operações, assim como<br />

nas suas relações com a sociedade. Tais<br />

empresas reconhecem que o comportamento<br />

empresarial responsável serve de base para<br />

seu sucesso.<br />

Entretanto, além de contarmos com<br />

os empreendedores já engajados e sua<br />

capacidade de cooptar seus pares, precisamos<br />

garantir o futuro com uma nova geração de<br />

empreendedores.<br />

Na Bahia, precisamos avançar rápido para<br />

garantir o nosso desenvolvimento. Precisamos<br />

estimular e criar uma nova geração de<br />

empreendedores. Será fundamental<br />

unir forças, atuar de forma integrada e<br />

participativa, com o apoio da academia, da<br />

sociedade civil, do setor produtivo, governos,<br />

veículos de comunicação, entre tantas outras<br />

organizações que podem contribuir muito. O<br />

objetivo é avançar e desafiar a minoria, citada<br />

por McClelland, a fazer acontecer e trabalhar<br />

com afinco em nosso estado.


SUSTENTABILIDADE | desenvolvimento sustentável<br />

ECOSSISTEMAS<br />

DE NEGÓCIOS<br />

CONSCIENTES<br />

Uma plataforma para a<br />

reinvenção da economia local<br />

MARCO<br />

PELLEGATTI<br />

Diretor da Amana-<br />

Key e consultor<br />

sênior. Formado em<br />

administração de<br />

empresas pela USP<br />

e MBA pela Kellogg,<br />

Northwestern University<br />

Em abril deste ano, as Bahamas<br />

assinaram um acordo com a norte-americana<br />

OTE Corporation para a construção de duas<br />

plantas de geração de energia com dez<br />

megawatts cada, por meio do processo de<br />

conversão da energia térmica dos Oceanos.<br />

Nesse processo, a água aquecida da<br />

superfície do mar circula por um conversor<br />

de calor, que transforma em vapor um<br />

produto químico de baixo ponto de ebulição,<br />

como a amônia. O vapor movimenta a turbina<br />

que gera eletricidade. Ao mesmo tempo,<br />

bombeia-se água bem mais fria, de uma parte<br />

profunda do mar, que condensa o vapor em<br />

amônia líquida novamente.<br />

Sistemas como esse já são usados por<br />

diversos países para a geração sustentável<br />

de energia elétrica, mas o caso das<br />

Bahamas contém algo a mais. A água fria,<br />

usada na condensação da amônia, será<br />

bombeada após o conversor para alimentar<br />

um conjunto de empreendimentos com<br />

diversas finalidades: dessalinização de água,<br />

maricultura, aquicultura e resfriamento<br />

de estufas de plantas temperadas. Juntos,<br />

esses empreendimentos formam um<br />

ecoparque industrial, solução que tende a<br />

representar um dos pilares da reinvenção de<br />

economias em direção a um desenvolvimento<br />

verdadeiramente sustentável.<br />

Se a sociedade baiana deseja reinventar<br />

sua economia efetivamente, este pode ser um<br />

conceito de grande valia. Com base nele, há<br />

alguns anos, realizamos um trabalho para um<br />

62 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

banco de desenvolvimento regional que tinha<br />

como propósito promover o desenvolvimento<br />

sustentável na Amazônia. Apoiamos o banco<br />

na realização de um concurso internacional<br />

para a geração de ideias tendo como pano de<br />

fundo o que batizamos de “ecossistemas de<br />

negócios conscientes”.<br />

Esses ecossistemas são uma solução para<br />

o falso dilema entre economia e ecologia,<br />

entre preservar e explorar os recursos de<br />

regiões com grande biodiversidade. Tratase<br />

de um conceito novo, que questiona a<br />

forma de pensar linear e fragmentária, e nos<br />

permite desafiar os limites do possível.<br />

Construir um ecossistema de negócios<br />

conscientes é assegurar a participação<br />

dos vários setores da sociedade (setor<br />

privado, setor público e sociedade civil) na<br />

criação de uma rede de empreendimentos<br />

comerciais e outras organizações, localizada<br />

em uma determinada região geográfica, que<br />

interrelaciona vários ramos de atividade e<br />

agrega diversas competências para satisfazer<br />

necessidades não-atendidas ou mal-atendidas<br />

da sociedade e do planeta.<br />

Os ecossistemas de negócios conscientes<br />

permitem a um conjunto de atores atuar<br />

coordenadamente na construção de mercados<br />

inéditos e inteiros, possibilitando a geração<br />

de um empreendedorismo inclusivo e ético,<br />

assegurando que todos ganhem com isso. Eles<br />

buscam institucionalizar uma verdadeira rede<br />

de relacionamentos “simbióticos” entre atores<br />

públicos, privados e sociedade civil, capaz<br />

de gerar um rápido desenvolvimento social e<br />

criar riqueza para uma determinada região.<br />

Embora o conceito de ecossistemas<br />

de negócios naturalmente traga em seu<br />

bojo a ideia de preservação ambiental, ao<br />

adicionarmos o qualificador “conscientes”,<br />

é também assegurar não apenas um<br />

empreender ambientalmente responsável,<br />

mas um empreender sistêmico, que considere<br />

as necessidades mais amplas da sociedade<br />

e do planeta. Um empreender de atividades<br />

muito relevantes para a sociedade e que<br />

assegure a continuidade da vida para todos,<br />

não só a curto prazo, mas levando em conta<br />

as gerações futuras. Um empreendedorismo<br />

verdadeiramente consciente, que não apenas<br />

escolhe as atividades “certas” para serem<br />

realizadas, mas busca a melhor forma de<br />

implementá-las: em busca do genuíno bem<br />

comum.


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

63


Renata Everett e<br />

Guilherme Valadares,<br />

da Ambiental PV<br />

ECONOMIA VERDE<br />

ECONOMIA CRIATIVA<br />

64 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Pedro de Souza


Diante de novos desafios<br />

globais, a economia<br />

baiana exibe expoentes<br />

que trabalham com<br />

soluções criativas e<br />

sustentáveis. Alguns<br />

podem chamar de<br />

aposta, outros de<br />

tendência, o certo é<br />

que essa realidade<br />

reconfigura a maneira de<br />

se pensar os negócios<br />

por RAÍZA TOURINHO<br />

L<br />

ogo após entrar na universidade, o baiano<br />

Guilherme Valadares foi voluntário em um<br />

evento que iria mudar a vida dele: a Conferência<br />

Mundial das Nações Unidas para o Meio<br />

Ambiente e Clima ou, como foi popularizada, a<br />

Eco 92. O Brasil é sede novamente do evento e<br />

muita coisa mudou na vida de Valadares, nessas<br />

duas décadas. Ele deixou de ser espectador para ser protagonista de<br />

um mundo que muda a cada piscar de olhos. Atualmente, é fundador<br />

e diretor-executivo da Ambiental PV, empresa sediada em Salvador,<br />

considerada em 2011 a melhor consultoria de carbono florestal da<br />

América do Sul pela revista britânica World Finance.<br />

Guilherme Valadares faz parte de uma nova realidade econômica<br />

global. As empresas do presente – e, principalmente, do futuro –<br />

necessitam de muito mais do que uma receita no bolo, como dar<br />

sempre razão ao cliente, para sobreviver no mundo corporativo. E<br />

boa parte do que você precisa compreender para entender os novos<br />

ingredientes pode ser traduzido em economia verde e criativa,<br />

tendências que estão dinamizando o conceito de economia e<br />

representam novos modelos de gestão de negócios.<br />

Os dois termos são recentes, mas o expressivo crescimento desses<br />

setores demonstra que o cenário não deve ser facilmente revertido.<br />

O comércio internacional em bens e serviços culturais cresceu, em<br />

média, 5,2% ao ano entre 1994 (US$ 39 bilhões) e 2002 (US$ 59<br />

bilhões), segundo estimativas da Unesco. Paralelamente, estudos<br />

da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para uma<br />

participação de 7% desses produtos no PIB mundial, com previsões<br />

de crescimento anual em torno de 10% a 20%. Somente o Sebrae<br />

pretende investir na Bahia, até 2015, R$ 17 milhões para fomentar o<br />

setor de economia criativa.<br />

Os setores ligados à economia verde, por outro lado, estimam<br />

um crescimento ainda maior. Para esverdear a economia global é<br />

necessário, de acordo com um relatório do Programa das Nações<br />

Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o investimento de 2% do PIB<br />

mundial por ano, o que corresponde a aproximadamente US$ 1,3<br />

trilhão, nos patamares atuais. O Brasil já concentra 2,65 milhões de<br />

pessoas empregadas nos ramos ligados à área, sendo a meta da OIT a<br />

geração de 20 milhões de vagas verdes até 2030. Na Bahia, já passa<br />

de dois mil o número de trabalhadores nesta nova tendência.<br />

O coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos<br />

Verdes da OIT-Brasil, Paulo Sérgio Muçouçah, afirma que a Bahia é<br />

um dos estados brasileiros mais avançados na geração de empregos<br />

verdes, uma vez que possui uma matriz energética que alinha<br />

biodiesel, energia eólica, hidroelétrica e solar. Além disso, segundo<br />

ressaltou, o estado possui o maior número de agricultores familiares,<br />

o que lhe proporciona “excelente oportunidade para gerar mais<br />

empregos verdes”.<br />

E todo esse cenário ocorre justamente na época em que as<br />

principais economias do planeta passam por uma forte recessão.<br />

Mas o que são, exatamente, esses dois conceitos?<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

65


NORMAS PARA<br />

ECONOMIA VERDE<br />

FONTE: INSTITUTO SUSTENTA<br />

ISO 14001 define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de<br />

Gestão Ambiental (SGA) efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo<br />

de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do<br />

impacto ambiental, com o comprometimento de toda a organização.<br />

CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA VERDE<br />

FONTE: ÉRICA RUSCH/INSTITUTO SUSTENTA<br />

Mudanças na política fiscal • Reforma e redução de subsídios<br />

prejudiciais ao meio ambiente • Emprego de novos instrumentos<br />

de base de mercado • Investimentos públicos para setores-chave<br />

“verdes” • Tornar mais verdes os contratos públicos • Melhoria<br />

das regras, regulamentos ambientais e sua execução<br />

Esverdear<br />

A sustentabilidade, que já foi considerada<br />

apenas moda, ultrapassou as fases em que<br />

funcionava como marketing e tornou-se<br />

bem mais do que uma boa oportunidade<br />

de investimentos, uma necessidade. A<br />

economia verde ainda não possui definição<br />

consensual, nem diretrizes claras, mas já<br />

se tornou suficientemente importante para<br />

ser o tema principal da maior conferência<br />

ambiental das últimas duas décadas, a<br />

Conferência das Nações Unidas sobre o<br />

Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que<br />

reúne representantes de 180 países no Rio de<br />

Janeiro.<br />

O protagonismo das corporações é<br />

essencial à transição para a economia verde,<br />

embora seja este muito mais do que um<br />

modelo de gestão coorporativo. O conceito,<br />

na verdade, vai além ao evocar mudanças<br />

estruturais no próprio modelo econômico<br />

vigente.<br />

66 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Parque de Energia Eólica<br />

em Brotas de Macaúbas<br />

FOTO: Alberto Coutinho/Secom<br />

ISO 26000 norma não certificadora voluntária, reconhecida como<br />

o instrumento para a economia verde. É uma norma técnica que<br />

orienta as empresas de todo o mundo sobre como direcionar seus<br />

negócios para a responsabilidade social e a sustentabilidade.<br />

A definição mais largamente utilizada<br />

para a economia verde foi cunhada pelo<br />

Pnuma, sendo considerada aquela que<br />

promove a melhoria do bem-estar humano<br />

e da igualdade, e, ao mesmo tempo, reduz<br />

significativamente os riscos ambientais. As<br />

três características principais das atividades<br />

dessa economia são: reduzir a emissão de<br />

carbono, ser eficiente no uso de recursos<br />

naturais e ser socialmente inclusiva.<br />

Além disso, a escassez das matériasprimas<br />

e as mudanças climáticas estão<br />

forçando diversos setores a adaptar-se<br />

às condições adversas de produção. E as<br />

corporações não estão olhando para o lado<br />

vazio do copo: o relatório “Adapting for a<br />

Green Economy: Companies, Communities,<br />

and Climate Change” indica que 86% das<br />

empresas consideram que enfrentar o risco<br />

climático representa uma oportunidade de<br />

negócios.<br />

Eureka<br />

Se a economia verde é considerada o<br />

ingrediente principal para reformular a<br />

base econômica global, a economia criativa<br />

pode ser designada como a “cereja do bolo”.<br />

Investir em mentes e soluções em vez de<br />

matérias-primas pode ser realmente uma<br />

boa ideia – principalmente, se for contar a<br />

baixíssima emissão de carbono.<br />

De acordo com o Ministério da Cultura<br />

(MinC), os setores criativos são todos<br />

aqueles cujas atividades produtivas têm<br />

como processo principal um ato criativo<br />

gerador de valor simbólico, elemento central<br />

da formação do preço, e que resulta em<br />

produção de riqueza cultural e econômica.<br />

“É a gestão da criatividade para a geração<br />

de riquezas, abrangendo um conjunto de<br />

setores econômicos que só vivem em função<br />

de criatividade (das artes às mídias digitais)”,<br />

explica Ana Carla Fonseca, especialista<br />

internacional em economia criativa.<br />

A economia criativa é, portanto, a<br />

economia do intangível, do simbólico. Ela<br />

se alimenta dos talentos criativos, que se<br />

organizam individual ou coletivamente para<br />

produzir bens e serviços criativos. A nova<br />

economia possui dinâmica própria e, por


DADOS<br />

ECONOMIA CRIATIVA<br />

FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA<br />

isso, desconcerta os modelos econômicos<br />

tradicionais, uma vez que seus modelos de<br />

negócio ainda se encontram em construção,<br />

carecendo de marcos legais e bases<br />

conceituais.<br />

Supervisor de economia criativa do<br />

Sebrae Bahia, José Élio Souza considera a<br />

área “tímida” e afirma que o potencial do<br />

setor ainda não é bem explorado no estado.<br />

Caracterizada pela produção descentralizada<br />

em micro e pequenas empresas, a economia<br />

criativa é uma atividade transversal. “(Ou<br />

seja,) participa de todas as áreas como<br />

usuária e fornecedora de produtos, serviços<br />

e conhecimento, o que torna capaz de<br />

contribuir em todos os níveis, no fomento da<br />

economia em todo o estado”, afirma Souza,<br />

explicando a extensão da área.<br />

“Do ponto de vista cultural pode se<br />

dizer que houve um avanço da Bahia nos<br />

últimos seis anos. A consolidação de políticas<br />

culturais e a utilização de novas mídias<br />

motivaram o setor criativo a empreender.<br />

Muitas das novas empresas de serviços<br />

criativos vêm galgando passos e ocupando<br />

espaço no mercado”, conta<br />

O músico Vince Athayde, fundador<br />

da Maquinário Produções, acredita que<br />

a consolidação de políticas culturais e a<br />

utilização de novas mídias motivou o setor<br />

criativo a empreender. Para ele, muitas das<br />

novas empresas de serviços criativos galgam<br />

novos passos e ocupam espaço no mercado.<br />

“É preciso modificar a imagem de que a Bahia<br />

ainda tem produções mambembes, pouco<br />

profissionais. Assim, vamos atrair o interesse<br />

dos baianos em permanecer no estado,<br />

pelo reconhecimento de que será possível<br />

desenvolver um trabalho de qualidade aqui”,<br />

diz.<br />

Perspectivas para o novo cenário<br />

Ex-presidente da Petrobras, o secretário de<br />

Planejamento do Estado da Bahia (Seplan),<br />

José Sérgio Gabrielli, ressalta que as empresas<br />

não podem mais ignorar a responsabilidade<br />

social corporativa ou as pressões regulatórias.<br />

“É impossível uma empresa sobreviver sem<br />

ter uma relação adequada com o ambiente<br />

em que ela está colocada e sem ter uma<br />

Setores criativos contribuem<br />

com R$ 104,37 bilhões<br />

(2,84% do PIB brasileiro) ao<br />

PIB do Brasil (2010).<br />

Supera a indústria extrativa (R$78,77<br />

bilhões) e a produção e distribuição<br />

de eletricidade, gás, água, esgoto e<br />

limpeza urbana (R$ 103,24 bilhões).<br />

boa relação com seus trabalhadores, seus<br />

fornecedores e seus clientes. A nova realidade<br />

econômica social exige das empresas uma<br />

nova postura”, afirma.<br />

O professor titular da Faculdade de<br />

Economia da Universidade São Paulo<br />

(FEA/USP) Ricardo Abramovay reitera a<br />

necessidade da adoção de uma atitude<br />

diferenciada das corporações. “A noção<br />

de necessidades (da sociedade) deixou<br />

de ser um tema filosófico abstrato, um<br />

assunto de governo ou de organizações de<br />

consumidores. Tem que integrar o âmago das<br />

decisões empresariais”, ressalta Abramovay,<br />

explicando a importância de o mundo<br />

empresarial levar em conta todos os custos e<br />

os stakeholders.<br />

Deste modo, as empresas inseridas na<br />

economia verde já estão um passo à frente no<br />

novo contexto social. “As organizações com<br />

esse perfil precisam compartilhar práticas e<br />

soluções, e mostrar que a sustentabilidade<br />

BENEFÍCIOS DA ECONOMIA CRIATIVA<br />

FONTE: SEBRAE<br />

Produção não poluente • Inovação tecnológica • Gera<br />

emprego e renda • Gera tributos, taxas e impostos • Estimula<br />

novas qualificações profissionais • Alimenta a economia a<br />

outros segmentos produtivos • Promove inclusão social<br />

São 63.373 empresas ligadas<br />

ao setor, representando<br />

1,86% do total de 3.403.448<br />

empreendimentos do país.<br />

Adriana Souza (Camapet) e Mario Bestetti (Overbrand) exibem produtos da<br />

CamapetBiju, uma união entre os catadores de resíduos e o design social<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

67


Ney Campello, secretário da Secopa, firma o<br />

projeto Territórios Criativos em Salvador, pela<br />

qualificação do Santo Antônio Além do Carmo<br />

deixou de ser apenas um diferencial competitivo para ser condição<br />

necessária ao sucesso do negócio”, afirma Érica Rusch, especialista em<br />

direito ambiental e presidente do Instituto Sustenta.<br />

Segundo ela, as empresas necessitam adotar práticas responsáveis<br />

e sustentáveis, tais como: evitar custos ambientais, minimizar o uso de<br />

matérias-primas, utilizar eficientemente a água e a energia. “Ou seja,<br />

encontrar soluções viáveis e econômicas que controlem e melhorem<br />

o desempenho de uma organização”, explica Érica, acrescentando: “A<br />

transição para uma economia verde trará benefícios a longo prazo que<br />

compensarão possíveis perdas de curto prazo”.<br />

Cenário<br />

Diante da urgência de medidas que mitiguem as mudanças climáticas,<br />

aliadas à criticidade do aumento do consumo energético, o setor<br />

que mais se destaca globalmente na economia verde é o de energia<br />

renovável. Na Bahia, não é diferente. “A nossa matriz energética é<br />

muito suja. Hoje, 10% de nossa energia vem da lenha. É necessário se<br />

intervir nessa questão aqui. É diferente da matriz energética brasileira,<br />

que tem 46% de fontes renováveis”, afirma o titular da Seplan, José<br />

Sérgio Gabrielli.<br />

Segundo o secretário, há diversas iniciativas no estado para o<br />

aumento da eficiência na geração elétrica e no uso dos recursos<br />

68 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

HISTÓRICO DA<br />

ECONOMIA CRIATIVA<br />

FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA<br />

FOTO: Divulgação<br />

O conceito originou-se do termo<br />

indústrias criativas, inspirado no projeto<br />

CreativeNation, da Austrália, de 1994.<br />

Entre outros elementos, o projeto defendia<br />

a importância do trabalho criativo, sua<br />

contribuição para a economia do país e<br />

o papel das tecnologias como aliadas da<br />

política cultural, possibilitando à posterior<br />

inserção de setores tecnológicos no rol<br />

das indústrias criativas.


nos processos agrícolas. No entanto, todas<br />

as atenções do governo estão voltadas ao<br />

grande potencial eólico do estado. “Regiões<br />

importantes do semiárido têm ventos<br />

estáveis e relevo adequado para a energia<br />

eólica. Vamos ter um crescimento grande,<br />

provavelmente, no parque eólico no estado.<br />

E não somente na eletricidade. Começa a ser<br />

atraída para cá toda a cadeia de fornecimento<br />

de equipamentos para a energia eólica”,<br />

conta.<br />

Somente em janeiro deste ano, foram<br />

licenciados 133 projetos para implantação<br />

de complexos de energia eólica no estado.<br />

Atualmente, 57 projetos na área estão<br />

previstos para se instalar na Bahia,<br />

somando o montante de R$ 6,5 bilhões em<br />

investimentos. A previsão é que, até setembro<br />

de 2012, 18 parques estejam em pleno<br />

funcionamento.<br />

Gabrielli também incluiu a economia<br />

criativa como um componente forte na<br />

atividade econômica do estado. Embora o<br />

insumo esteja no campo das ideias, isso não<br />

significa que o setor seja sustentável por<br />

natureza.<br />

“A economia criativa pode ou não<br />

gerar igualdade social e redução de riscos<br />

ambientais - depende de que política obedeça.<br />

Ideias podem gerar serviços (que, claro, são<br />

intangíveis) ou produtos (que podem ter um<br />

passivo ambiental enorme - basta pensar<br />

nos celulares, nas trocas das coleções de<br />

moda em poucos meses e etc). A economia<br />

criativa é mais meio que fim”, enfatiza a<br />

economista Ana Carla Fonseca, que também é<br />

conselheira especial das Nações Unidas sobre<br />

economia criativa.<br />

Visionários. Esse é um dos adjetivos<br />

cabíveis aos empreendedores que olharam<br />

à frente e começam a investir em uma área<br />

ainda incipiente e sem retorno rápido. Tudo<br />

com certa dose de paixão. Em comum, eles<br />

ainda têm a coragem de seguir por um novo<br />

rumo sem se limitar à área de formação<br />

original, além do olhar de que a Bahia é<br />

muito mais do que a capital. Confira nas<br />

páginas a seguir as histórias de algumas das<br />

empresas que escrevem com o seu suor as<br />

linhas da reinvenção da economia baiana.<br />

José Sérgio Gabrielli, secretário da Seplan,<br />

afirma que a nova realidade econômica social e<br />

ambiental exige das empresas uma nova postura<br />

Érica Rusch, presidente do Instituto Sustenta,<br />

acredita que a transição para uma economia<br />

verde trará benefícios a longo prazo<br />

FOTO: Divulgação<br />

FOTO: Divulgação<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

69


AMBIENTAL PV<br />

F<br />

oi durante a temporada que passou estudando<br />

engenharia florestal na Califórnia que o baiano<br />

Guilherme Valadares conheceu a norte-americana<br />

Renata Everett. Não demorou muito para que ela<br />

se tornasse sua mulher e companheira de jornada.<br />

Enfrentando as grandes expectativas da família, os dois engenheiros<br />

fundaram uma pequena empresa de consultoria na cidade natal de<br />

Guilherme, para onde ele sempre sonhou em voltar mesmo depois de<br />

rodar o mundo: Salvador.<br />

O que era então uma história de amor entre dois engenheiros em<br />

um país distante virou um case de sucesso em plena terra do axé.<br />

Em 2001, deixaram de lado os empregos em grandes companhias no<br />

Sudeste brasileiro e partiram para uma pequena sala na Barra, situada<br />

entre um ateliê de costura e um consultório odontológico, para tratar<br />

de um tema até então incipiente no Brasil. “A sustentabilidade não era<br />

algo comum. Ainda hoje é um desafio muito grande”, conta Guilherme,<br />

diretor-executivo da Ambiental PV.<br />

Guilherme Valadares e Renata<br />

Everett enxergam um horizonte<br />

sustentável para o Brasil<br />

“A sustentabilidade<br />

não era algo comum.<br />

Ainda hoje é um<br />

desafio muito grande”<br />

70 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Pedro de Souza<br />

Aos poucos, e muitas negativas depois,<br />

as oportunidades foram surgindo. E eles<br />

souberam aproveitar cada uma. “Tivemos a<br />

humildade de começar pequeno e, ao mesmo<br />

tempo, com uma agressividade positiva. No<br />

segundo mês, já estávamos operando no<br />

verde”. A agressividade que Guilherme cita<br />

foi a de vislumbrar um mercado inexplorado.<br />

“Uma vez, quando trabalhamos com a<br />

Odebrecht, Dr. Norberto me disse: ‘Guilherme,<br />

menos técnica e mais coragem’. Eu acho que<br />

o segredo é esse: mais coragem para fazer as<br />

coisas acontecerem”, diz.<br />

Foi com determinação que ele conseguiu<br />

conquistar como clientes grandes a<br />

Conservation Internacional, The Nature<br />

Conservancy, PriceWaterHousecoopers,<br />

Forest Trends, além da Fundação Odebrecht.<br />

A consultoria já implantou projetos desde o<br />

interior baiano até a Amazônia brasileira e a<br />

América Central.<br />

Os empreendedores tiveram coragem<br />

ainda para passar de consultores a<br />

desenvolvedores de projetos. Foi o caso do<br />

programa Fogões Ecológicos, que aproveita o<br />

potencial do Recôncavo baiano, com apoio da<br />

Natura, beneficiando mais de seis mil famílias<br />

baianas que ainda usam fogão à lenha. O<br />

programa já está capacitando pessoas para<br />

virarem microempresários locais. “Temos<br />

um potencial muito bom no Brasil, mas na<br />

maioria dos casos falta capital financeiro.<br />

Nossa força está justamente em facilitar esse<br />

processo”, diz Guilherme, revelando que<br />

está em fase de criação um fundo de capital<br />

internacional para projetos brasileiros. “Nós<br />

temos a engenhosidade do povo baiano”,<br />

conta.<br />

Os frutos do trabalho duro começam<br />

a aparecer. Em 2011, os leitores da revista<br />

britânica World Finance elegeram a<br />

Ambiental PV como a melhor consultoria de<br />

carbono florestal da América do Sul. Embora<br />

não revele números, Guilherme conta que<br />

a Ambiental PV vem aumentando lucros<br />

e receitas anualmente. “Mesmo durante a<br />

crise”. A receita? Flexibilidade. “Queremos<br />

continuar pequenos, ágeis e flexíveis. Nessa<br />

área, se eu tenho uma estrutura muito<br />

grande, eu morro”.


MAQUINÁRIO PRODUCÕES<br />

I<br />

novação pressupõe coragem. E<br />

foi esta, com uma ajudinha das<br />

portas fechadas do mercado, que<br />

impulsionou o músico Vince Athayde<br />

a pular para o outro lado do balcão.<br />

“Eu era somente músico e quando partia<br />

para difundir o que estava sendo produzido,<br />

o processo travava. Eu tinha o conteúdo,<br />

mas não tinha estratégia. Além do mais,<br />

o mercado estabelecido já dava sinal de<br />

desmoronamento há muitos anos”, conta ele.<br />

Em 2006, aproveitou a oportunidade e<br />

fundou a Maquinário Produções, destinada a<br />

preencher, como conta Vince, o grande espaço<br />

em branco na produção cultural baiana – a<br />

tal da música alternativa. “Vi a necessidade<br />

de construir plataformas para difusão de<br />

uma nova música que estava sendo criada na<br />

Bahia, de um novo recorte estético, e percebi<br />

que isso poderia ser uma estratégia de<br />

mercado em longo prazo”.<br />

FOTO: Divulgação<br />

“Ainda não vendemos<br />

beijo na boca tão bem<br />

quanto os shows<br />

de axé, mas estamos<br />

chegando lá”<br />

Zona Mundi, Conexão Vivo e<br />

Futurama são alguns dos projetos<br />

da Maquinário na Bahia<br />

A iniciativa vem dando certo. A produtora foi responsável pela<br />

vinda de grandes projetos musicais ao estado, como o Conexão Vivo,<br />

além de criar outros de grande visibilidade, tal qual o Futurama e<br />

o Zona Mundi – Circuito Eletrônico de Som e Imagem, no Museu de<br />

Arte Moderna da Bahia.<br />

A inovação não para por aí. “Estruturamos uma rede de<br />

produtores associados a microempresas e empreendedores<br />

individuais. A primeira ação implantada foi a Incubadora de<br />

Festivais e Mostras de Música (Ifem), desenvolvendo festivais nas<br />

cidades polos dos territórios de identidade da Bahia, como Vitória da<br />

Conquista, Juazeiro, Ilhéus e Salvador”. Assim a produtora expandiu<br />

seus territórios, explorando o potencial do interior do estado. “Com<br />

um recorte estético diferenciado, ainda não vendemos beijo na boca<br />

tão bem quanto os shows de axé, mas estamos chegando lá”.<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

Vince Athayde sentiu a<br />

necessidade de construir<br />

plataformas para difusão de<br />

uma nova música que estava<br />

sendo criada na Bahia.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

71


CAMAPET<br />

Adriana deixou de<br />

ser empregada<br />

doméstica e auxiliar<br />

de professora para<br />

ser gerente do<br />

CamapetBiju<br />

“Ao mesmo tempo<br />

que ajuda o meio<br />

ambiente, cria<br />

renda para a gente”<br />

72 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

FOTO: Divulgação<br />

O<br />

riunda de uma família<br />

humilde, Adriana Souza já<br />

conquistou muito no auge<br />

dos seus 28 anos. Após ser<br />

empregada doméstica e<br />

auxiliar de professora, ela, que só estudou<br />

até a quarta série, decidiu embarcar em<br />

um projeto em que nada indicava que teria<br />

êxito: fundar uma cooperativa de material<br />

reciclável. Foi assim que há 13 anos surgiu<br />

na Baixa do Fiscal, a Camapet – Cooperativa<br />

de Coleta Seletiva, Processamento de<br />

Plástico e Proteção Ambiental. Junto a meia<br />

centena de jovens, Adriana acreditou que o<br />

negócio poderia dar certo. E deu.<br />

A Camapet é um empreendimento<br />

associativo e autogestionário e conta<br />

atualmente com 26 cooperados que<br />

sobrevivem da coleta e doação de recicláveis<br />

- plástico, papel, vidro, metais e óleo de<br />

fritura. Mensalmente, a cooperativa coleta<br />

cerca de 50.970 quilos (ou litros, no caso dos<br />

900 litros de óleo) de material reciclável,<br />

sendo que papel e papelão respondem por<br />

78% desse volume. “No início, não tínhamos<br />

quase nada. Hoje é tanto material que quase<br />

não damos conta”, ressalta Adriana.<br />

A iniciativa teve tanto sucesso que<br />

originou a CamapetBiju, em 2005. A<br />

extensão fabrica joias e artefatos pelas<br />

mãos dos cooperados feitos com aquilo<br />

que já foi considerado lixo. São vendidas<br />

por mês aproximadamente 200 peças,<br />

além de decoração em eventos, shows,<br />

como o Festival de Verão, e camarotes no<br />

Carnaval. “Ao mesmo tempo que ajuda o<br />

meio ambiente, cria renda para a gente”, diz<br />

Adriana, que passou de cooperada a gerente<br />

do CamapetBiju.<br />

A Camapet acumula prêmios. Em<br />

2006, faturou o sétimo prêmio Fieb<br />

Desempenho Ambiental, na categoria<br />

Projetos Cooperativos de Responsabilidade<br />

Socioambiental. Em 2009, foi a vez do<br />

Sebrae indicar a cooperativa como uma<br />

das cem melhores unidades de artesanato<br />

do Brasil. Na categoria coleta e separação,<br />

a Camapet ganhou o prêmio Ecopet, da<br />

Associação Brasileira da Indústria do Pet-<br />

Abipet, em 2010.


OVERBRAND<br />

S<br />

alvo se for especialista na área,<br />

esqueça o que você pensa<br />

sobre design. O setor, que já foi<br />

sinônimo só de peças gráficas e<br />

de moda, se expandiu no estado,<br />

incorporando muito mais do que o senso comum<br />

imagina. É o caso do design praticado pela baiana<br />

Overbrand. Especializada em design estratégico<br />

e social, a empresa realiza desde requalificação e<br />

planejamento urbano até soluções de geração de<br />

renda para comunidades específicas. “Design para<br />

a gente é processo”, explicita um dos sócios da<br />

empresa, Mario Bestetti.<br />

A Overbrand foi criada em 2006, quando três<br />

designers que atuavam em áreas sociais resolveram<br />

unir forças. Atualmente com dois sócios, Rodrigo<br />

Lira e Mario Bestetti, a empresa conta com sete<br />

designers fixos, que mal conseguem ocupar os<br />

seus lugares no escritório diante de tanto trabalho<br />

externo.<br />

É o caso dos projetos Caminhos do Oeste,<br />

que potencializa a identidade mercadológica de<br />

destinos turísticos do Oeste baiano; a rede de<br />

produção e comercialização do território sisaleiro,<br />

que requalificou o Centro de Artesanato e Arte<br />

da Região do Sisal de Valente (BA); e o Território<br />

Candeal 2014, que visa a requalificação do bairro<br />

através de investimentos na perspectiva de<br />

território criativo.<br />

Entre projetos de desenvolvimento territorial e<br />

construção mercadológica, a empresa está presente<br />

em diversas cidades da Bahia e em outros três<br />

estados brasileiros, com propostas de expansão<br />

para mais dois. “Mas o estado é muito grande. Não<br />

precisa sair”, conta Mario, ressaltando que ainda há<br />

muito espaço para o crescimento interno.<br />

O cenário não poderia ser melhor para o design<br />

baiano, de acordo com ele. Embora ainda seja<br />

volátil, a área começa a ser pensada no âmbito<br />

governamental e a se consolidar no mercado.<br />

“Estão se criando caminhos onde o design pode ser<br />

inserido”, diz. A cautela, no entanto, é uma marca<br />

da empresa, que, como não poderia deixar de ser,<br />

avalia todo o cenário antes de alçar voos mais<br />

altos. “A coisa não é crescer de forma rápida, mas<br />

sustentável”. A curva de crescimento da empresa é<br />

de 10% a 20%, sempre crescente.<br />

De sorriso tímido mas fácil, Mario se diz<br />

realizado na área. “Nós não oferecemos apenas um<br />

serviço, nós damos esperança às pessoas”.<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

Mario Bestetti apresenta<br />

os bonecos produzidos<br />

por artesãos do projeto<br />

Pracatum, no Candeal,<br />

para a Copa 2014<br />

“Design para a<br />

gente é processo”<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

73


ONDA ELÉTRICA<br />

FOTO: Divulgação<br />

M<br />

arcel Fonseca não se importa de<br />

ser chamado de louco. De certa<br />

forma, vê até como um elogio.<br />

“Todos me chamam de louco.<br />

Imagine o que seria do mundo<br />

sem os loucos?”, justifica. Técnico em quatro áreas<br />

diferentes, ele afirma que encara qualquer coisa.<br />

Há uma década, topou o desafio de ser pioneiro em<br />

uma área na qual ele nunca tinha escutado falar. E<br />

foi assim, “para diversificar os negócios”, que Marcel<br />

começou a dividir o tempo em que administrava<br />

sua imobiliária para investir em geração de energia<br />

solar no interior baiano. O projeto, dependente da<br />

boa vontade dos políticos locais, acabou não tendo<br />

o êxito esperado. Marcel, contudo, não desistiu.<br />

Convencido de que a economia verde representava o<br />

futuro, ele trocou de lado: passou a vender pensando<br />

no consumidor. Visitou quase 200 fábricas na China<br />

para trazer a primeira distribuidora de veículos<br />

elétricos genuinamente baiana para o estado.<br />

Uma scooter elétrica custa R$ 3.645 e, caso<br />

consuma os 60 quilômetros de autonomia da bateria<br />

todos os dias, gasta mensalmente R$ 18 de energia.<br />

A única desvantagem é a potência, que a faz atingir<br />

a velocidade máxima de 45 km/h. “Na Bahia, temos<br />

um grande problema de mudar conceitos”, lamenta<br />

Marcel, ao informar que o maior mercado da<br />

empresa é o Rio Grande do Sul, pela internet, apesar<br />

das duas lojas na capital baiana.<br />

Atualmente, com quatro anos de existência,<br />

a Onda Elétrica já dobrou a produção e começa a<br />

implementar um novo sistema de “representação<br />

fácil” que deve incrementar os negócios. A<br />

expectativa é que a distribuidora cresça até 2.000%<br />

nos próximos anos. “Nos últimos três meses,<br />

estamos vendendo mais do que podemos entregar”.<br />

O percentual, entretanto, ainda é pouco comparado<br />

à ambição do empreendedor. Ele se prepara para<br />

lançar o primeiro veículo elétrico baiano: o Econ, um<br />

triciclo com design futurista, 100% reciclável.<br />

Além disso, Marcel está em fase de captação de<br />

recursos para realizar um sonho de R$ 100 milhões.<br />

Trata-se do Oi Gera, um sistema de abastecimento<br />

elétrico. Ele pretende instalar um equipamento<br />

de geração de energia por meio do lixo, que irá<br />

abastecer gratuitamente os veículos adquiridos na<br />

Onda Elétrica. Assim, de uma vez só, reduzem-se<br />

as emissões de carbono por combustão, os resíduos<br />

sólidos e a energia oriunda de fontes sujas. “Para isso<br />

é preciso que todo o mundo acredite”.<br />

74 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Montado na moto elétrica. Marcel<br />

Fonseca visitou quase 200<br />

fábricas de veículos na China<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

“Os veículos elétricos<br />

são mais taxados do<br />

que os carburados. Falta<br />

interesse do governo”


IN-VENTO<br />

FOTO: Divulgação<br />

O<br />

envolvimento de Gilberto Monte<br />

com a economia criativa é anterior<br />

à popularização do termo. Entre<br />

2003 e 2007, ele trabalhou na<br />

Eletrocooperativa, onde começou a<br />

pensar em inclusão social, digital, e novos modelos<br />

econômicos baseados na criatividade. “Foi um grande<br />

laboratório para as ações que desenvolvemos hoje”,<br />

diz. Após passar outros quatro anos na Diretoria<br />

de Música da Fundação Cultural do Estado da<br />

Bahia (Funceb) e conhecer em Londres diversos<br />

empreendimentos dedicados às indústrias criativas,<br />

ele decidiu virar um empreendedor da área.<br />

Foi assim que surgiu a In-Vento e o Instituto<br />

In-Vento, que, ainda embrionários, pretendem<br />

“ressignificar e provocar transformação do setor<br />

cultural através de inovação, desenvolvimento<br />

de redes de trabalho, e pesquisa”, como conta<br />

Gilberto. A ideia é desenvolver e implementar uma<br />

série de soluções para o mercado da cultura e do<br />

entretenimento, além de ações para fortalecer o setor.<br />

“Precisamos<br />

investir em<br />

inovação, no<br />

risco, no erro.<br />

É nesse cenário<br />

que daremos<br />

o salto”<br />

Gilberto Monte foi da<br />

Eletrocooperativa e hoje<br />

trabalha para “ressignificar<br />

o setor cultural”<br />

Em junho, a In-Vento estreia uma plataforma para<br />

conectar profissionais da área, realizando cursos, palestras e<br />

workshops. No segundo semestre, essas ações culminarão em<br />

uma conferência sobre economia criativa.<br />

De acordo com Monte, a In-Vento já possui diversos<br />

projetos em andamento, focados principalmente no<br />

crowdsourcing e o crowdfunding. “Estamos também<br />

construindo um estúdio crossmedia (música, vídeo e<br />

design), que estará pronto em agosto para pesquisa e<br />

desenvolvimento de conteúdo”, explicita.<br />

Ele acredita que a economia criativa possui um grande<br />

potencial na Bahia. “Através dela, podemos atingir ótimos<br />

índices de desenvolvimento no setor econômico e social.<br />

De uma forma nova, poderemos, sem copiar os tradicionais<br />

modelos desenvolvidos nos Estados Unidos e alguns países<br />

europeus, desenvolver soluções criativas compartilhando<br />

valores que estão ligados à perspectiva de uma nova<br />

economia. A oportunidade é de transformação”, reitera.<br />

O otimismo do empresário tem alicerce na experiência<br />

como gestor público e músico. “Precisamos investir em<br />

inovação, no risco. É nesse cenário que daremos o salto”. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

75


ESTRATÉGIAS<br />

PARA CONECTAR<br />

PESSOAS<br />

ÀS MARCAS<br />

76 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Rodrigo Hurtado e Ingrid<br />

Queiroz comandam a jovem<br />

empresa baiana DMI.<br />

Criatividade e tecnologia<br />

são termos do dia a dia da<br />

agência, que aposta em uma<br />

comunicação “transmidiática”<br />

para solucionar os desafios<br />

dos clientes<br />

por MURILO GITEL<br />

fotos DANILO LIMA<br />

O<br />

ambiente é repleto<br />

de mentes jovens<br />

imersas no universo<br />

da criatividade. Post<br />

its de diversas cores e tamanhos<br />

decoram as paredes de vidro e<br />

servem de guias e ideias para novos<br />

briefings e jobs. Em mais uma tarde<br />

de ebulição criativa, visitamos o<br />

escritório da agência interativa DMI,<br />

na avenida Centenário. Lá, os sócios<br />

e cônjuges Rodrigo Hurtado e Ingrid<br />

Queiroz revelaram o “algo a mais”<br />

que eles têm a contribuir com o<br />

mercado.<br />

Ela, formada em administração<br />

de empresas, e ele, da área de<br />

design e publicidade digital, se<br />

conheceram, namoraram e casaram.<br />

Há cinco anos, o casal deu início<br />

à empresa baiana que apostou em<br />

uma embrionária tendência. Tempos<br />

depois, a investida mostrou que não<br />

era mesmo um blefe e a DMI passou<br />

a colher resultados positivos. Hoje<br />

conta com um crescimento de 30%<br />

ao ano, novos clientes de peso e sede<br />

própria também na maior cidade do<br />

país, São Paulo.<br />

Tudo começou quando a<br />

DMI passou a ser procurada por


tradicionais agências de publicidade de<br />

Salvador, que não tinham a expertise<br />

digital. “Quando fazíamos nosso serviço,<br />

sempre acabávamos oferecendo algo<br />

a mais. Questionávamos por que fazer<br />

apenas um site?”, lembra Hurtado. No<br />

entanto, o diferencial que a DMI propunha<br />

era rechaçado por essas agências parceiras,<br />

que não entendiam as propostas. Era o<br />

momento de declarar independência e<br />

procurar os próprios clientes. Deu certo.<br />

O que tinha de diferente nas propostas<br />

de vocês que ainda não eram aceitas<br />

naquele tempo?<br />

Rodrigo: É que, além de sites, nós já<br />

pensávamos em agregar promoções<br />

(pontuais ou não), oferecer visibilidade<br />

nas redes sociais, gerar conteúdo para<br />

aparelhos portáteis. Enfim, diversas<br />

alternativas. Porém as agências<br />

não entendiam nossas propostas e<br />

diziam que os clientes não queriam<br />

tais serviços. Resolvemos, então, ser<br />

independentes.<br />

O que os diferencia no mercado?<br />

Ingrid: Hoje o nosso diferencial é<br />

oferecer estratégia de planejamento.<br />

Por conhecer essas ações, como<br />

aplicá-las, nós sabemos o que podemos<br />

oferecer e o que os nossos clientes vão<br />

poder colher de resultado.<br />

Rodrigo: Nunca pensamos só no<br />

serviço. Por exemplo: ‘Eu sou uma<br />

empresa que faço o site’. ‘Eu sou a<br />

empresa que faço o mail-marketing’.<br />

Existe um mundo de comunicação<br />

interativa que pode servir para<br />

as necessidades do nosso cliente.<br />

O objetivo é conectar a marca às<br />

pessoas utilizando novas tecnologias.<br />

Já existiram várias ondas. A onda do<br />

e-mail marketing, a onda do Bluetooth,<br />

do mobile, mas nós sempre agregamos<br />

essas possibilidades aos nossos<br />

serviços. Estamos sempre atentos às<br />

novas tecnologias, tentando trazê-las ao<br />

mercado.<br />

Vocês atendem a quais setores atualmente?<br />

Ingrid: Já atendemos a vários setores, como varejo, automobilístico,<br />

produtos de limpeza e até mesmo campanha política.<br />

A comunicação digital pode ser considerada imprescindível hoje?<br />

Rodrigo: Sem dúvida. As empresas começaram a perceber que<br />

precisam investir bem em comunicação digital. Elas precisam<br />

aparecer na internet, ter uma presença nas redes sociais. Fazemos<br />

uma espécie de raio-x para elas, além de identificarmos os melhores<br />

lugares para investirem na internet.<br />

O mercado baiano compreende essa necessidade?<br />

Ingrid: O esforço que temos de fazer para convencer o cliente<br />

baiano de que a comunicação digital é importante é muito grande. A<br />

publicidade off-line aqui ainda é muito tradicional.<br />

Rodrigo: Na verdade, a gente acaba não convencendo eles... Nós<br />

apenas mostramos a realidade. O cliente quer fazer só um site, aí nós<br />

mostramos que o site faz parte de uma estratégia de comunicação,<br />

mas que não é tudo. Podemos idealizar promoções interativas, ações<br />

mobile, alternativas inovadoras que geram resultados de impacto.<br />

Em um mundo cada vez mais conectado e em constante<br />

transformação, como a DMI se posiciona?<br />

Rodrigo: Viramos um tipo de tradutor dessas tendências e as<br />

pessoas que entenderam conseguiram construir suas marcas.<br />

Entendemos as necessidades dos clientes em um nível mais global.<br />

Pensar de forma transmidiática ajuda muito a resolver questões de<br />

planejamento.<br />

Ingrid: Hoje nós temos um núcleo de redes sociais, de mídias<br />

digitais, de criação, de produção para o desenvolvimento de web<br />

(aplicativos, sites, mobile). Temos um atendimento que pode dar<br />

total suporte ao cliente para atender qualquer tipo de demanda. O<br />

A criatividade<br />

é o ingrediente<br />

entre as equipes<br />

de redes<br />

sociais, mídias<br />

digitais, criação,<br />

produção para o<br />

desenvolvimento<br />

de web e<br />

atendimento<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

77


nosso pensamento vem em forma de manifesto.<br />

A gente quer conectar pessoas às marcas. Eu<br />

preciso criar soluções estratégicas de forma<br />

criativa e inovadora para atingir essa meta.<br />

Vocês estenderam a DMI para São Paulo, em<br />

2011. É inevitável estar presente no mercado<br />

de lá?<br />

Rodrigo: Sim. Nossa ida para São Paulo<br />

representa a busca por novos clientes e um<br />

mercado mais maduro. Mas, ao mesmo tempo,<br />

significa que vamos continuar trabalhando<br />

para amadurecer nosso mercado local.<br />

Ingrid: Salvador é um mercado que tem<br />

avançado, mas queremos ir além. Fomos<br />

atraídos pelo mercado de São Paulo, mas<br />

também procurados por ele. As oportunidades<br />

surgiram, nos enxergaram e as propostas<br />

passaram a aparecer.<br />

Quais cases de sucesso da DMI vocês podem<br />

destacar?<br />

Ingrid: Criamos a família GBarbosa. São as<br />

famílias baianas, sergipanas que estão ali. Cada<br />

personagem tem a sua vida, naturalidade e<br />

perfil. As pessoas se identificam. As crianças<br />

adoram o Dudu, que é a criança da família.<br />

Adoram as receitas que dona Ritinha (mãe<br />

da família) dá no blog. Fizemos um hotsite do<br />

Dia das Crianças com o Dudu e um camarote<br />

no Carnaval com os bonecos. O GBarbosa têm<br />

maturado a ideia e investido nisso.<br />

Rodrigo: Como a gente ia trazer o varejo<br />

para a internet, para as mídias digitais e redes<br />

sociais? Não adiantava chegar e dizer: ‘Tomate<br />

por R$ 0,50’. Tinha que ter uma linguagem<br />

específica. Então, a estratégia transmídia foi<br />

essa. No Natal, nós fizemos um filminho da<br />

família GBarbosa, de confraternização, por<br />

exemplo. Esse tipo de ação ajuda a dar suporte<br />

para a marca na hipótese de uma possível<br />

crise.<br />

Ingrid: Outro case é a Perini. Ela têm um<br />

posicionamento muito forte no mercado, mas<br />

não tinham presença na internet. As pessoas<br />

falavam, mas não dialogavam. Criamos o perfil<br />

dela nas redes sociais e hoje a participação é<br />

78 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

“Existe um mundo de comunicação<br />

interativa que pode servir para as<br />

necessidades do nosso cliente”<br />

Rodrigo Hurtado<br />

“O nosso pensamento é em<br />

forma de manifesto. Precisamos<br />

criar soluções estratégicas<br />

de forma criativa e inovadora<br />

para atingir as pessoas”<br />

Ingrid Queiroz<br />

enorme, gerenciamos esse conteúdo e as pessoas adoram. Em<br />

São Paulo, também fazemos trabalhos para grandes empresas<br />

como a Palmolive, Pernambucanas e algumas multinacionais.<br />

Muitos profissionais (publicitários, programadores,<br />

designers) têm um desejo hoje de trabalhar na DMI. O que<br />

vocês fazem para recrutar a equipe?<br />

Ingrid: Nosso processo de recrutar os profissionais é<br />

bastante minucioso. Trabalhamos com pessoas jovens,<br />

alegres, simpáticas, antenadas, dinâmicas, de fácil capacidade<br />

de relacionamento. Olhamos além do currículo, porque o<br />

que contratamos aqui são pessoas. Nós olhamos as pessoas.<br />

Procuramos manter os nossos funcionários motivados<br />

também. Apresentamos os resultados dos trabalhos deles,<br />

procuramos dar salários compatíveis com o mercado, fazemos<br />

um happy hour todas as sextas-feiras.<br />

Rodrigo: Às vezes, o currículo de vida é mais importante que<br />

o profissional. Claro que o profissional também é importante<br />

tecnicamente, mas, às vezes, pode esconder uma pessoa meio<br />

que sem vida. O nosso trabalho não é fácil. Nós temos que<br />

gerar resultado para as marcas, seja de imagem, de vendas.<br />

E os desafios para reter esses talentos?<br />

Rodrigo: Estamos sempre querendo nos desafiar. Propomos<br />

projetos desafiadores, mesmo que não seja para um grande<br />

cliente, mas a gente quer fazer bem feito. Sabemos o valor<br />

que isso pode agregar para uma marca. A nossa equipe é<br />

constantemente desafiada a se reinventar, aprender coisas<br />

novas. [B + ]


90<br />

SABOR<br />

Eduardo Santos ensina a receita<br />

do arroz negro de polvo com<br />

camarões e vieiras.<br />

NOTAS DE TEC | 92<br />

PLANO+ | 94<br />

80<br />

MODA: IRÁ SALLES<br />

84<br />

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL<br />

88<br />

ESCAPADA ANDINA 2012<br />

LIFESTYLE


LIFESTYLE | moda<br />

IRÁ SALLES:<br />

BRASILIDADE COM<br />

SOFISTICAÇÃO GLOBAL<br />

por GINA REIS<br />

Ex-aluna da Parsons School of Design, uma das escolas de arte e design mais conceituadas<br />

no mundo, Irá Salles é uma baiana sem fronteiras. A designer já trabalhou com Carolina<br />

Herrera e desenvolveu peças para o mercado de moda em Nova York e Europa,<br />

criando peças para personalidades como Uma Thurman e a princesa britânica Margaret<br />

80 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com


“Não fui para a Parsons<br />

para aprender a copiar.<br />

Temos que procurar<br />

nos desprender das<br />

regras. Estudei moda<br />

para criar um estilo”<br />

U<br />

m parque de diversões para mulheres de<br />

todas as idades e de todos os estilos. Essa<br />

é a sensação de quem visita o endereço<br />

exclusivo da designer baiana Irá Salles, no Caminho<br />

das Árvores, em Salvador. Impossível não desejar<br />

cada uma das peças expostas nas vitrines, criações<br />

da estilista que se tornou referência no Brasil e<br />

no mundo quando se pensa em acessório de luxo.<br />

Quem conhece o trabalho de Irá Salles não consegue<br />

imaginá-la fazendo outra coisa. Contudo, seu<br />

casamento com a moda e com o mundo dos negócios<br />

aconteceu por acaso. “Sempre amei moda, mas nunca<br />

achei que seria minha profissão. Principalmente<br />

porque na época em que comecei, ser estilista não<br />

era uma carreira muito reconhecida”, conta.<br />

Em casa, a vontade de seu pai era pela escolha<br />

de uma profissão tradicional. Porém a personalidade<br />

intuitiva e criativa falou mais alto. “Acredito que<br />

herdei essa veia artística da minha avó. Ela era<br />

artista plástica e seu dia a dia era muito focado<br />

no viver bem”, lembra. Determinada como toda<br />

escorpiana, Irá decidiu cursar comunicação - período<br />

em que iniciou o namoro com a moda. “Em Salvador,<br />

trabalhei com as marcas Mitchell e The Planet na<br />

área de programação visual. Mas o mercado não<br />

dava muitas perspectivas. Por isso, decidi morar no<br />

exterior e investir na minha formação”.<br />

O destino escolhido foi Nova York (EUA), um<br />

dos principais centros difusores da moda mundial.<br />

Durante três anos e meio, Irá Salles frequentou as<br />

salas de aula de uma das escolas de arte e design<br />

mais conceituadas no mundo: a Parsons School of<br />

Design. Fundada em 1896, a Parsons formou nomes<br />

do design e da arte, como Calvin Klein, Donna Karan,<br />

Tom Ford, Marc Jacobs, Alexandra von Fürstenberg<br />

(filha de Diane von Fürstenberg) e Jason Wu (um dos<br />

estilistas preferidos da atual primeira-dama norteamericana,<br />

Michelle Obama). A escola é um centro<br />

difusor de talentos, parceira de empresas como a<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

Irá Salles no atelier de Carolina Herrera, em NY,<br />

e acompanhada dos colegas de trabalho<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

81


Irá desenhando<br />

modelos das bolsas<br />

que hoje são<br />

exportadas para EUA,<br />

Canadá, Europa,<br />

Oriente Médio e Japão<br />

Desde 2011, as bolsas de Irá Salles fazem<br />

parte do acervo do Tassen Museum of<br />

Bags and Purses, na Holanda<br />

82 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

“A informação chega para todos,<br />

mas o diferencial entre os grandes<br />

gestores está na forma que<br />

se aplica esse conhecimento”<br />

Louis Vuitton, Manolo Blahnik, Christian Laboutin<br />

e Carolina Herrera. No período do curso, os alunos<br />

têm a chance de ouro de acompanhar de perto a<br />

genialidade desses mestres.<br />

Nesse celeiro de ideias e profissionalização,<br />

Irá Salles aprimorou o talento criativo e aprendeu,<br />

sobretudo, os passos essenciais para empreender<br />

com sucesso. “Tive a oportunidade de iniciar<br />

a minha carreira ao lado de Carolina Herrera.<br />

Trabalhei por seis meses com uma grande<br />

designer em uma cidade que é um polo de moda<br />

mundial. Foi, com certeza, um divisor de águas<br />

para a minha carreira”, destaca. Segundo Irá<br />

Salles, essa vivência a conduziu naturalmente à<br />

carreira de estilismo.<br />

Com Carolina Herrera, Irá desenvolveu<br />

modelos para personalidades internacionais, a<br />

exemplo de Uma Thurman e princesa Margaret.<br />

Ainda pela Parsons, a baiana morou por um<br />

tempo em Paris (França), quando pôde conhecer<br />

outro perfil de consumidor, o público europeu.<br />

“Meu foco na moda estava muito no mercado de<br />

Nova York. E nem tudo que eu via em Nova York<br />

era adaptável para o mercado brasileiro. Ir para a<br />

Europa proporcionou uma terceira visão do setor.<br />

Foi muito importante vivenciar in loco o mercado<br />

europeu e perceber que há um comportamento<br />

diferente”, revela.<br />

De acordo com a designer, clima e estilo de<br />

vida são determinantes para o consumo. “Na<br />

Europa, o perfil de consumo é diferente do norteamericano.<br />

As pessoas investem em peças que<br />

durem mais, uma moda mais clássica. No Brasil,<br />

a diversidade é imensa. Na Bahia, as mulheres<br />

usam muito salto. No Rio de Janeiro, não se usa<br />

tanto porque as pessoas andam mais nas ruas. Já<br />

as paulistas têm como referência as tendências de<br />

Nova York”, explica Irá, ao defender que, apesar<br />

da globalização e de uma moda cada vez mais<br />

igual, o consumidor é diferente em cada lugar.<br />

A designer destaca que por conta dessa forte<br />

analogia no setor, as marcas estão procurando<br />

se diferenciar. “Esse é um dos principais pontos<br />

que eu procuro aperfeiçoar na minha marca<br />

atualmente. Criar um produto que seja único,<br />

que tenha uma identidade. Mas que, ao mesmo<br />

tempo, possa ser usado por qualquer mulher, em<br />

qualquer lugar do mundo. Fazemos adaptações<br />

para cada grupo consumidor, porém sem perder a<br />

essência”.


Tudo começou com uma bolsa<br />

Os primeiros passos como estilista já tinham sido<br />

dados, porém a carreira de Irá Salles deslanchou<br />

após um período de férias no Brasil. “Ainda<br />

morando em Nova York, de férias no Brasil,<br />

comecei a fazer bolsas para algumas amigas. Todo<br />

o mundo gostava e queria uma peça. Então, passei<br />

a desenvolver, apresentar e vender pequenas<br />

coleções em Nova York também. O negócio tomou<br />

uma proporção tão grande que tive que voltar<br />

definitivamente para o Brasil, em 2000, para<br />

atender à demanda”, explica.<br />

O sucesso da marca Irá Salles é reflexo do<br />

potencial criativo da designer, porém, sem dúvida,<br />

seu olhar empreendedor é decisivo. “Minha<br />

formação em moda sempre foi pautada em buscar<br />

o novo. Não fui para a Parsons para aprender<br />

a copiar. Temos que procurar nos desprender<br />

das regras. Estudei moda para criar um estilo”,<br />

defende. Para ela, nesse mundo de ideias criativas,<br />

a informação chega para todos, mas o diferencial<br />

entre os grandes gestores está na forma que se<br />

aplica esse conhecimento.<br />

Com um trabalho autoral, sofisticado, moderno,<br />

rico em cores e com um acabamento primoroso<br />

que envolve técnicas manuais, a grife Irá Salles<br />

conquista garotas mundo afora. Na fábrica<br />

localizada no bairro de Nazaré, em Salvador, são<br />

fabricados atualmente cerca de 400 produtos<br />

por mês. Essas peças são exportadas para os<br />

Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio e<br />

Japão. No Brasil, suas coleções são aguardadas de<br />

Manaus a Porto Alegre por consumidoras ávidas<br />

por uma bolsa, sapato ou roupa assinada. A marca<br />

está presente nas principais revistas nacionais e<br />

internacionais de moda.<br />

Um reconhecimento que também chegou ao<br />

mundo das artes. Desde 2011, bolsas selecionadas<br />

por uma curadoria compõem o acervo do maior<br />

museu de bolsas do mundo, o Tassen Museum of<br />

Bags and Purses, em Amsterdã, Holanda.<br />

E não para por aí. Irá tem planos de expansão.<br />

“Queremos crescer de forma planejada. Ampliar o<br />

número de lojas próprias no Brasil, principalmente<br />

no eixo Rio e São Paulo”, revela. Disposição<br />

de uma baiana inquieta que conquista, a cada<br />

criação, novas adeptas de um estilo único e<br />

alegre ao reproduzir o jeito brasileiro de ser, sem,<br />

no entanto, cair nos velhos e já ultrapassados<br />

estereótipos. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

83


A casa foi projetada<br />

envolta de vegetações e<br />

árvores seculares<br />

LIFESTYLE | arquitetura<br />

Q<br />

ual a criança que nunca teve o sonho<br />

de ter uma casa na árvore ou em meio à<br />

natureza? Esse desejo tem se transformado<br />

em realidade para muita gente grande e cheia de<br />

responsabilidade. São pessoas preocupadas em viver<br />

em harmonia com o meio ambiente.<br />

Esse não era bem um sonho, mas se tornou uma<br />

doce realidade para uma família que vive no Horto<br />

Florestal, em Salvador. O proprietário, que prefere não<br />

se identificar, já encontrou um terreno propício para as<br />

soluções ecológicas propostas pelo arquiteto Antônio<br />

Caramelo. Concordou com as ideias e o resultado é<br />

que hoje a família não quer saber de outra coisa senão<br />

desfrutar desse oásis no meio da cidade grande.<br />

“Nossa casa é o nosso paraíso, utilizamos todos<br />

os espaços que foram cuidadosamente projetados. A<br />

possibilidade de viver bem, preservando as árvores,<br />

cria um ambiente de convivência harmoniosa com<br />

84 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Marcelo Negromonte<br />

MORADIA<br />

CONSCIENTE<br />

a natureza, onde ainda tem espaço para micos, coelhos,<br />

patos, perdizes, entre outros, sem perder a beleza e o<br />

conforto”, declara o proprietário.<br />

Porém o jovem empresário, dono da residência, não<br />

chegou com uma ideia bem definida. “A visão dele era<br />

de preservar o verde pela plástica, pelo frescor, pelo<br />

encantamento com a natureza. Nós oferecemos algo<br />

mais: um projeto com um conceito mais amplo, que<br />

contemplasse outros elementos para melhor integrar o<br />

meio ambiente com a estrutura da casa, preservando<br />

a flora e a fauna do local e utilizando recursos<br />

ecologicamente sustentáveis”, explica Caramelo.<br />

O arquiteto ressalta que um projeto ecológico deve<br />

gerar energia limpa, diminuindo a produção de CO 2 .<br />

“Não mexemos em nenhuma árvore. A residência foi<br />

toda construída sobre pilares, que chegam a 13 metros<br />

de altura. Fizemos a casa dando a sensação de se estar<br />

debruçado sobre a paisagem”, descreve o arquiteto.


Projetos residenciais ecológicos são<br />

cada vez mais requisitados tanto nas<br />

grandes capitais como no interior<br />

por ANDRÉA CASTRO<br />

A piscina de<br />

borda infinita faz<br />

a recaptação da<br />

água utilizada,<br />

diminuindo o<br />

consumo<br />

Projeto sob medida<br />

Em um terreno de quase dois mil m 2 , foi construída<br />

a residência de 660 m 2 , distribuída em três planos<br />

interligados, projetada para um casal com duas filhas. A<br />

franca interação com as árvores possibilitou melhores<br />

condições de iluminação e ventilação. À parte estrutural,<br />

foi reservada a missão de esconder o que não precisava<br />

ser mostrado, valorizando a intenção de convivência com<br />

a natureza, o que levou à especificação de uma solução<br />

mista, com parte em estrutura metálica, parte em concreto<br />

e parte em alvenarias.<br />

Além de amplas suítes, varandas e salas, o espaço<br />

também contempla uma passarela de vidro sobre o terreno<br />

e vegetação a mais de 12 metros de altura, integrando a<br />

área social à área de lazer, grandes janelas para ventilação<br />

cruzada e um deque suspenso, onde fica a piscina com<br />

borda infinita. Também integram os ambientes da morada<br />

um espaço gourmet, galeria, academia de ginástica, sauna,<br />

churrasqueira e home theater.<br />

O proprietário ressalta que, além da sensação de bemestar,<br />

a casa oferece vantagens econômicas. “A obra foi<br />

projetada envolta de vegetações e árvores seculares, com<br />

persianas duplas automatizadas que fazem o isolamento<br />

térmico, espaços abertos e claros, com ventilação cruzada,<br />

utilizando energia solar e captação de água para irrigação<br />

automatizada. Ainda a piscina de borda infinita debruçada<br />

sobre o verde faz a recaptação da água utilizada,<br />

diminuindo o consumo”, destaca.<br />

“Não mexemos em nenhuma<br />

árvore. A residência foi toda<br />

construída sobre pilares,<br />

que chegam a 13 metros de<br />

altura. Fizemos a casa dando<br />

a sensação de se estar<br />

debruçado sobre a paisagem”<br />

Antônio Caramelo, arquiteto<br />

FOTOS: Marcelo Negromonte<br />

O espaço foi<br />

construído a mais de<br />

12 metros de altura<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

85


“Apenas através<br />

da observação dos<br />

recursos energéticos<br />

da biorregião, bem<br />

como dos costumes e<br />

tradições locais, será<br />

possível construir<br />

sustentavelmente”<br />

Nagoy Sol, permacultor<br />

e bioconstrutor<br />

Captar luz e calor<br />

solar através de<br />

vidros e garrafas<br />

“Os materiais da região devem<br />

ser priorizados, pois assim quem<br />

se beneficia é o trabalhador e a<br />

economia local”<br />

FOTO: Marisa Viana<br />

FOTO: Marisa Viana<br />

86 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

[+] NO SITE :<br />

Caramelo descreve produtos “high-tech verdes”<br />

Nas marquises da permacultura<br />

Casa de ferreiro, espeto de pau. O famoso ditado popular<br />

certamente não se aplica ao permacultor e bioconstrutor<br />

Nagoy Sol. Ele, que faz parte do corpo técnico do Instituto de<br />

Permacultura da Bahia, decidiu pôr em prática em sua própria<br />

casa todos os conceitos ensinados nas suas palestras. Sol, como é<br />

mais conhecido, construiu uma residência ecológica no município<br />

de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, onde vive com sua<br />

esposa e filha.<br />

Como permacultor, Sol acredita que a família deve se<br />

envolver na construção de sua própria casa. “Com os materiais<br />

convencionais de construção, isso é bem difícil, além de ser<br />

prejudicial à saúde. Quando opto por uma bioconstrução, o<br />

canteiro de obras torna-se uma extensão da minha casa. Dessa<br />

forma, minha companheira e nossa filha, Selva, que hoje tem<br />

3 anos, estiveram bioconstruindo, com barro nas mãos”, conta<br />

satisfeito. Sol recorda também que os filhos dos pedreiros<br />

estiveram por ali brincando com Selva - coisa que não se<br />

vê na construção civil, mantendo um clima familiar e sadio<br />

durante o processo. “Chegamos assim a um lar ecologicamente<br />

correto, confortável, bioclimático, em harmonia com o entorno<br />

socioambiental onde o construímos”, completa.<br />

A permacultura orienta para um modelo ideal de moradia.<br />

A definição de “design” passa a ser mais do que desenho, é o<br />

planejamento consciente, que considera todas as influências e os<br />

elementos do sistema vivo onde sua propriedade está localizada.<br />

“O design permacultural traça estratégias para a utilização da<br />

terra e dos recursos energéticos sem desperdício ou poluição,<br />

integrando a propriedade e todos os organismos vivos em um<br />

ambiente sustentável de cooperação, formando e fortalecendo<br />

ciclos naturais. Ou seja, observar, observar e observar, assim se<br />

faz um bom planejamento.”, conclui Sol.<br />

Dessa forma, o permacultor revela que a receita para a<br />

construção ecológica ideal está na biorregião onde ela está<br />

inserida. Apenas através da observação dos recursos energéticos<br />

dessa biorregião, bem como dos costumes e tradições locais, será<br />

possível construir sustentavelmente. “Um assentamento humano<br />

deve ser socialmente e ambientalmente responsável. Os materiais<br />

da região devem ser priorizados, pois assim quem se beneficia é o<br />

trabalhador e a economia local, que se torna mais rica e diversa”,<br />

destaca.<br />

A utilização de adobão (tijolo de barro) feito no quintal e de<br />

reboco natural sem cimento é bom exemplo de ação responsável.<br />

Além disso, utilizar um sistema de saneamento ecológico<br />

(banheiros secos, bacias de evapo-transpiração para sanitários,<br />

filtros biológicos para água cinza), captar luz e calor solar através<br />

de vidros e garrafas e a captação e armazenamento de água da<br />

chuva, a partir do ponto mais alto da propriedade, são ótimas<br />

formas de minimizar o consumo de energia e otimizar o uso dos<br />

recursos disponíveis, evitando assim o desperdício. [B + ]


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

87


LIFESTYLE | viagem<br />

ESCAPADA ANDINA<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

[DIA 1]<br />

Santiago|CH a Barreal|AR (395 km)<br />

Acordamos antes das 5h, arrumamos nossa<br />

bagagem no carro de apoio e seguimos para<br />

a estrada. Nove motocicletas BMW seriam as<br />

nossas companheiras pelos próximos cinco dias.<br />

A vontade de parar e fotografar era constante.<br />

Um cenário de tirar o fôlego dava boas-vindas<br />

à nossa aventura. Passamos pelos famosos<br />

Les Caracoles - conjunto de 29 curvas, com<br />

ângulos de até 150 graus, até chegar ao topo das<br />

montanhas.<br />

Em solo argentino, uma parada na<br />

entrada do Parque Aconcágua, no cemitério<br />

dos alpinistas. Mais café e chocolate, para<br />

enfrentar os dez graus de temperatura e ouvir<br />

John, o guia australiano, contar a história dos<br />

alpinistas que morreram tentando chegar ao<br />

cume da montanha. Detalhes como botas e<br />

outros equipamentos ao lado dos túmulos nos<br />

impressionaram.<br />

A partir desse momento, começamos a<br />

enfrentar o rípio, estrada de terra com pedra e<br />

cascalho. Concentração total: as motos fugiam do<br />

traçado, a traseira escorregava o tempo todo e a<br />

poeira nos dava pouca visibilidade. Todos mudos.<br />

Foi o trecho mais difícil de toda a aventura.<br />

Porém fomos presenteados com um visual<br />

deslumbrante na pousada Los Patos. Da varanda,<br />

a imponência da cordilheira com seus picos<br />

nevados. Cerveja Quilmes, parrilla e malbec para<br />

fechar o primeiro dia com chave de ouro.<br />

88 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

[DIA 2]<br />

Barreal|AR a Villa Unión|AR (465 km)<br />

Depois de aquecer as motos, por conta da noite fria, partimos<br />

rumo à Villa Unión. A amplitude térmica chamava a atenção: de<br />

5 a 38 graus, eram diversas as sensações. Enfrentamos trechos<br />

de rípio, que se alternavam com o asfalto e pedras na pista.<br />

Depois de uma hora, John reuniu o grupo para mais<br />

instruções, já que entraríamos em uma área com muitas curvas,<br />

pista estreita e grandes despenhadeiros. Seguimos o curso do rio<br />

San Juan e atravessamos uma brecha na cordilheira. Seguimos<br />

com muita atenção, devagar e admirando uma das regiões mais<br />

inóspitas do mundo. Paredes com inclinação negativa nos davam<br />

a sensação de que uma rocha poderia despencar sobre nós.<br />

Muitas fotos e vídeos depois, seguimos para Villa Unión, que<br />

ficava mais ao norte da Argentina, já na Rota 40, famosa estrada<br />

que corta a Argentina do norte ao sul, terminando em Ushuaia.<br />

O dia tinha sido pesado. Jantar na varanda, bons vinhos e<br />

descanso pra mais um dia.<br />

[DIA 3]<br />

Villa Unión|AR a San Juan|AR (498 km)<br />

Com uma paisagem desértica, paramos no parque Ischigualasto<br />

para um tour de 40 km de rípio e terra. Os arqueólogos<br />

encontraram nessa região fósseis de dinossauros que habitaram<br />

o planeta há mais de 200 milhões de anos. Uma das áreas que<br />

mais nos chamaram a atenção foi o Vale de La Luna: formação<br />

argilosa, branca, esculpida pelo tempo e pelo vento. A paisagem<br />

impressiona. O calor também - mais de 35 graus.<br />

Nessa região da Argentina, o fornecimento de gasolina não<br />

é “tão” seguro e poderíamos ficar sem combustível para chegar<br />

a San Juan. Confirmado um posto a uns 150 km que tinha<br />

recebido gasolina no dia anterior, seguimos viagem, “dosando” o


acelerador para controlar o consumo.<br />

Ainda faltavam uns 180 km até nosso oásis nesse deserto.<br />

Foi um trecho difícil. O marcador de temperatura de minha<br />

moto acusava 38,5 graus, o ar que entrava pelo capacete era<br />

quente e exigia concentração na estrada.<br />

Todos queriam chegar ao hotel. San Juan é uma grande<br />

cidade, diferente das vilas onde dormimos nas noites<br />

anteriores. O hotel Del Bono tinha SPA e cassino. Mais uma<br />

vez, a noite foi regada a vinhos malbec e chardonnay.<br />

Maurício Castro em meio a<br />

paisagem composta pelas<br />

cordilheiras e o deserto<br />

por MAURÍCIO CASTRO<br />

Nove amigos que sonhavam<br />

fazer uma aventura com suas<br />

motocicletas encontraram<br />

entre o Chile e a Argentina<br />

o lugar ideal para realizar<br />

o sonho. Acompanhe o<br />

diário de bordo de Maurício<br />

Castro, superintendente de<br />

Comunicação Institucional<br />

do Sistema Fieb de ofício, e<br />

motoqueiro nas horas de lazer<br />

[DIA 4]<br />

San Juan|AR a Mendoza|AR (180km)<br />

O menor trecho de nossa aventura. Combinamos<br />

que seguiríamos até Mendoza sem paradas. A<br />

viagem foi tranquila e rápida. O que mais víamos<br />

eram as parreiras e as centenas de produtores dos<br />

famosos vinhos de Mendoza. Dia claro, céu azul.<br />

Nosso hotel, no centro da cidade, era suntuoso.<br />

Passeamos pelo centro, bebemos umas cervejas<br />

e nos encontramos com John, onde uma van nos<br />

aguardava para seguirmos até a Bodega. Um belo<br />

almoço que derrubou a turma. Voltamos ao hotel<br />

e seguimos para o SPA bem merecido após tantos<br />

quilômetros de estrada.<br />

[DIA 5]<br />

Mendoza|AR a Santiago|CH (385km)<br />

Saímos nos primeiros raios de sol e passamos por<br />

diversas bodegas na Rota 7, até começarmos a subir<br />

a cordilheira em direção a Uspallata, a mesma<br />

cidade em que passamos e abastecemos no primeiro<br />

dia. Uma estrada deliciosa, com muitas curvas.<br />

A sensação de cansaço é incrível quando<br />

estamos a mais de três mil metros de altitude. Na<br />

descida, novamente os Les Caracoles e um dos<br />

pilotos descobriu um medo quase incontrolável de<br />

fazer as curvas fechadas com penhascos. Descemos<br />

três motos, lado a lado, criando uma barreira visual<br />

para ele. Deu certo. Já na base da cordilheira, nosso<br />

último almoço da aventura. Depois disso, chegamos<br />

a Santiago com a sensação de termos vivido<br />

histórias inesquecíveis. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

89


LIFESTYLE | sabor<br />

ARROZ NEGRO DE POLVO<br />

COM CAMARÕES E VIEIRAS<br />

O sócio-diretor da agência Ideia 3 Comunicação é o chef desta seção.<br />

Eduardo Santos ensina a preparar uma receita diferente e saborosa.<br />

E<br />

duardo Santos da Silva morou parte da<br />

infância no exterior, sem o costume de ter<br />

uma cozinheira em casa. Com 9 anos, fez as<br />

primeiras experiências na cozinha ao preparar sanduíches<br />

elaborados, que despertavam o paladar da família. “Mais<br />

tarde, veio o tradicional churrasco para receber os amigos.<br />

Percebi que gostava não só dos elogios, mas também de<br />

saborear o que eu mesmo cozinhava”, lembra.<br />

Quando começou a participar de confrarias<br />

gastronômicas, aprimorou o talento. Passou a se aventurar<br />

em receitas mais complicadas e conquistar novas<br />

habilidades. Para Eduardo, hoje com 47 anos, cozinhar<br />

é uma arte com espírito esportivo, que envolve desafios<br />

e superação. “A cada prato que você consegue elaborar<br />

perfeitamente, na mesma hora surge a vontade de<br />

enfrentar outro mais complicado”.<br />

90 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

A criatividade e o<br />

sabor indescritível do<br />

salame de polvo da<br />

Cantina do Julliu’s.<br />

FOTOS: Divulgação


Qual a sua ligação com a culinária?<br />

A ligação é apenas pessoal e lúdica. Em minhas<br />

viagens, procuro conhecer a culinária local.<br />

Frequento os mercadões e os restaurantes<br />

típicos. Como publicitário, o máximo que posso<br />

fazer é gerir a comunicação de um restaurante,<br />

uma marca de alimentos, coisas assim.<br />

Cozinhar, então, é uma<br />

espécie de fuga da rotina?<br />

Mexer com as panelas e os temperos é uma<br />

forma de fugir do estresse, da rotina vertiginosa<br />

de uma agência de propaganda. Na culinária,<br />

se o molho deve ficar em banho-maria por 40<br />

minutos, não tem discussão. São 40 minutos e<br />

fim de conversa. Diferente da nossa atividade<br />

profissional, quando um dia pode significar<br />

dois ou três. E o “pra ontem” representa cinco<br />

minutos.<br />

[B + ] RECEITA<br />

INGREDIENTES<br />

Recomendado para quatro porções<br />

ARROZ NEGRO<br />

- 02 xícaras de arroz negro<br />

- 1/2 cebola finamente picada<br />

- 02 dentes de alho picadinhos<br />

- 04 filés de aliche<br />

- 100ml de vinho branco seco<br />

- 01 polvo pré-cozido e cortado em lâminas<br />

- 25ml de azeite de oliva<br />

- 1.200ml de água do cozimento do polvo<br />

- 02 colheres de sopa de molho de tomate caseiro<br />

- 30ml de creme de leite - fresco de preferência<br />

- 01 colher de sopa de manteiga gelada<br />

- Salsinha picada<br />

- Sal e pimenta<br />

CAMARÕES E VIEIRAS<br />

- 200g de filé de camarão<br />

- 100g de vieiras<br />

- 01 colher de sopa de manteiga gelada<br />

- 50ml de conhaque<br />

- Salsinha picada<br />

- Azeite de oliva<br />

- Sal e pimenta<br />

- Manjericão<br />

MODO DE PREPARO<br />

Arroz negro<br />

Aquecer o azeite, adicionar o aliche e deixá-lo desmanchar. Juntar a<br />

cebola e o alho. Quando desprenderem os aromas, agregar o arroz.<br />

Fritar por dois minutos, juntar o vinho e deixar evaporar. Adicionar<br />

metade da água do cozimento do polvo quente, tampar e cozinhar o<br />

arroz. Mexer de vez em quando para não grudar no fundo da panela.<br />

Quando o líquido do cozimento for secando, colocar mais água de polvo<br />

quente. Esse processo irá demorar cerca 45 minutos em fogo forte.<br />

Adicionar as lâminas de polvo, o molho de tomate, temperar com<br />

sal e pimenta, um pouco mais de caldo e cozinhar mais dez minutos.<br />

No final do cozimento, adicionar a salsinha, o creme de leite e a<br />

manteiga gelada. Mexer bem.<br />

Camarão, vieira e finalização<br />

Aquecer o azeite e metade da manteiga salteando os camarões e as<br />

vieiras. Após dois minutos, flambar com o conhaque, juntar a salsinha<br />

picada, corrigir o sal, adicionar a manteiga gelada e misturar em fogo<br />

baixo.<br />

Para finalizar, coloque metade do conteúdo da frigideira dentro do<br />

arroz negro de polvo. Misture bem e por cima enfeite com o restante<br />

dos camarões e as vieiras. Regue com o líquido da frigideira. O<br />

manjericão dará o toque final. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

91


LIFESTYLE | notas de tec<br />

O Instagram agora<br />

é câmera fotográfica<br />

Para quem é fã do Instagram e de fotografia,<br />

uma supernovidade. A empresa italiana ADR<br />

Studio criou uma câmera que reproduz fielmente<br />

o ícone do aplicativo. O melhor de tudo é que<br />

a máquina Instagram funciona como a Polaroid<br />

e faz impressão instantânea das imagens. E não<br />

para por aí, pois o papel das fotos funcionará<br />

como um post-it, para ficar mais fácil de compartilhar.<br />

A Instagram Socialmatic ainda não está à<br />

venda, mas o ADR Studio tem planos de lançar a<br />

novidade no mercado. A máquina terá 16 GB de<br />

armazenamento, wi-fi e bluetooth, Touchscreen,<br />

duas lentes principais, primeira para a captação<br />

principal, segunda para filtros em 3D, aplicações<br />

de webcam e QR code capture, zoom óptico,<br />

flash de LED, impressora interna para fazer suas<br />

fotos, cartucho de papel com folhas de papel Instagram,<br />

quatro tanques de cores de tinta e InstaOs<br />

1.0 (que conecta o Facebook ao Instagram).<br />

Unifacs agora tem timeline interativa<br />

A nova timeline da Unifacs permite a visualização<br />

da história da universidade desde 1972,<br />

quando foi criada. Por meio de um sistema que<br />

combina informações da base de dados do Facebook,<br />

o usuário que acessa o aplicativo tem<br />

a sua história interligada com a história da instituição,<br />

personalizada de acordo com os seus<br />

interesses e exibida em tempo real na forma de<br />

um videoclipe. Para conhecer o aplicativo e ver<br />

o que a sua história e a da Unifacs têm em comum,<br />

acesse www.40anos.unifacs.br.<br />

92 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

O QUE TEM NO SEU TABLET<br />

TOP 5 APPS<br />

TOP 10 MÚSICAS<br />

NOME:<br />

LEONARDO<br />

VILLANOVA<br />

CARGO:<br />

COORDENADOR DE<br />

INTERNET DA SECOM/BA<br />

TABLET:<br />

MOTOROLA XOOM<br />

(ANDROID)<br />

POR QUE USA UM TABLET? Para diminuir o peso e<br />

o tamanho da mochila! Conectividade, facilidade para<br />

ter acesso aos perfis de redes sociais e ter à mão um<br />

“dashboard” das principais informações do dia.<br />

GOOGLE READER: Uso o agregador de<br />

feeds (RSS) do Google para receber os alertas<br />

em tempo real.<br />

GOOGLE DRIVE: O Google lançou seu próprio<br />

serviço de armazenamento. Estou testando,<br />

mas promete.<br />

READ IT LATER: Funciona como um marcador<br />

de links para “ler depois”. É bem bacana e fácil.<br />

EVERNOTE: Esse é campeão. Captura,<br />

organiza e acha facilmente qualquer tipo de<br />

informação on-line.<br />

QUICKOFFICE HD: Para criar e editar os<br />

arquivos do Microsoft Office, além do PDF.<br />

01. WISH YOU WERE HERE - Pink Floyd<br />

02. ROMEO AND JULIET - Dire Straits<br />

03. EVERY BREATH YOU TAKE - The Police<br />

04. FLY TO THE MOON - Frank Sinatra<br />

05. SAVE TONIGHT - Eagle Eye Cherry<br />

06. SUBIRUSDOISTIOZIN - Criolo<br />

07. PLÁSTICO BOLHA - Karina Buhr<br />

08. EQUALIZE - Pitty<br />

09. A HISTÓRIA DE LILY BRAUN - Maria Gadú<br />

10. DANÇA DO TEMPO - Armandinho Macêdo


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

93


LIFESTYLE | plano+<br />

LUGAR PREDILETO:<br />

A COZINHA<br />

Cada um de nós tem aquela atividade<br />

para inspirar, relaxar, mudar os ares da<br />

agitada rotina de trabalho. Com nosso<br />

convidado não é diferente. Hélio Tourinho<br />

faz da culinária um dos temperos da vida<br />

H<br />

élio Tourinho Filho, 48 anos, bem que poderia<br />

ter sido um arquiteto ou chef de cozinha. A<br />

segunda opção é a que hoje mais se aproxima<br />

da realidade do diretor comercial do Grupo Bandeirantes<br />

na Bahia. Economista de formação e publicitário de<br />

profissão, Tourinho vive uma rotina intensa de trabalho:<br />

começa o dia atualizando e-mails, participa de reuniões<br />

diárias com a equipe comercial e com clientes do mercado,<br />

além dos compromissos com a Rede Bandeirantes de São<br />

Paulo e a Band Nordeste.<br />

“Sou responsável pela comercialização da TV<br />

Bandeirantes e da rádio Band News na Bahia e Sergipe.<br />

No segundo semestre, vamos ter mais um veículo, o jornal<br />

Metro”, adianta. O tempo é curto, porém ele não deixa de<br />

lado dois hobbies: o tênis e a cozinha. Um é pela atividade<br />

física, o outro envolve um sentimento mais antigo. “É<br />

na cozinha que me realizo. Minha mãe sempre deu aula<br />

de culinária. Aprendi a gostar dessa arte muito cedo”.<br />

Conheça os Planos + de Hélio Tourinho.<br />

Se pudesse trocar de profissão, qual escolheria?<br />

Gostaria de ter sido arquiteto. Tenho fascínio por projetos<br />

e decoração.<br />

Então onde vive dando seus “pitacos”?<br />

Em minha casa e, às vezes, na casa dos outros.<br />

94 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Divulgação<br />

Opina também no seu escritório?<br />

É claro. O ambiente de trabalho influencia na nossa<br />

produtividade. Uma local bem decorado, com cores<br />

alegres e aroma adequado é fundamental para o<br />

desenvolvimento profissional. Contribui também para<br />

fechar negócios.<br />

Cozinhar é um atividade que te acompanha desde<br />

a infância. Você ainda pratica ela constantemente?<br />

Sou um dos fundadores da Confraria Prestigie, um<br />

grupo que existe há mais de dez anos em Salvador.<br />

Nos reunimos para cozinhar no restaurante OUI.<br />

Atualmente, também costumo cozinhar para os amigos<br />

na minha varanda gourmet, testando receitas nas<br />

novas panelas da Le Creuset que trouxe de viagem.<br />

E qual é a sua especialidade?<br />

Na nossa confraria, ganhei o prêmio Prato do Semestre<br />

com o “Badejo dos Deuses”. Bem razoável! [B + ]


ARTE &<br />

ENTRETENIMENTO<br />

96 106<br />

MÚSICA<br />

Artistas definem rumos<br />

alternativos para a música<br />

produzida na Bahia<br />

FOTOGRAFIA<br />

O jovem Márcio Mascarenhas<br />

exercita a liberdade criativa e<br />

expõe em Londres<br />

ARTES 102 | APLAUSOS 110 | BEATLES FOREVER 112


ARTE & ENTRETENIMENTO | música<br />

“Até agora a música não me sustenta,<br />

eu é que sustento a música” - Mestre<br />

Lourimbau, com seus 62 anos.<br />

I<br />

novação. É a palavra que impulsiona alguns setores<br />

da música baiana que atuam do outro lado da<br />

fronteira do axé e do pagode (com todo o respeito<br />

que esses gêneros merecem). Aos poucos, novos tons<br />

surgem em meio ao tum tum tum das últimas décadas.<br />

Os artistas podem até não saber, mas por trás desse<br />

movimento está o conceito de economia criativa, que inclui<br />

os produtos e serviços relacionados ao conhecimento e<br />

à capacidade intelectual, englobando ainda processos,<br />

modelos de negócios e gestão. John Howkins, no livro<br />

“The Criative Economy”, publicado em 2001, diz que<br />

são as atividades em que os indivíduos exercitam a<br />

sua imaginação, explorando seu valor econômico, como<br />

música, cinema, teatro, artesanato, design, software, entre<br />

muitas outras. Já Richard Florida, nos livros “The Rise of<br />

the Creative Class”(2002) e “The Flight of the Creative<br />

96 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Mateus Pereira<br />

MPB<br />

COMH<br />

O conceito de economia criativa na<br />

música da Bahia. Artistas locais<br />

produzem novas sonoridades, criam<br />

redes e reconfiguram a maneira se fazer<br />

negócios – até mesmo sem saber<br />

por LILIAN MOTA<br />

Class” (2005), amplia o conceito, abrindo as portas<br />

também para a educação e a pesquisa científica.<br />

Assim, o setor da economia criativa é hoje o terceiro<br />

maior do mundo, depois do petróleo e dos armamentos.<br />

O termo ganhou mais força no Brasil depois que foi<br />

criada a Secretaria da Economia Criativa, subordinada<br />

ao Ministério da Cultura. A formação de núcleos e<br />

redes de cidades criativas, baseados na colaboração, na<br />

diversidade e na sustentabilidade, é uma das prioridades<br />

na nova pasta. Para além da ideia de indústria cultural,<br />

que trazia junto a palavra exploração, a economia<br />

criativa se propõe a ser uma nova estratégia de<br />

desenvolvimento com distribuição de renda. Boa notícia<br />

para os artistas baianos, que já praticam esse tipo de<br />

economia há bastante tempo, só faltando agora corrigir<br />

algumas distorções e organizar as redes.


Encontros musicais<br />

definem rumos<br />

Um exemplo de movimento musical com<br />

características da economia criativa é o<br />

“Encontro de Compositores”, criado em agosto<br />

de 2010 no Teatro Vila Velha por um grupo<br />

de artistas de diferentes estilos e gerações.<br />

Com um clima de bate-papo em mesa de<br />

bar, os artistas cantam e conversam com a<br />

plateia sobre seus processos de criação, as<br />

histórias por trás de cada música e os últimos<br />

acontecimentos (musicais e extramusicais)<br />

na Bahia e no mundo. Jarbas Bittencourt,<br />

Arnaldo de Almeida, Carlinhos Cor das<br />

Águas, Dão, Deco Simões, Manuela Rodrigues,<br />

Pietro Leal, Ronei Jorge, Sandra Simões e<br />

Thiago Kalu compõem o grupo. Cada um<br />

tem sua carreira individual, mas a parceria<br />

faz a força para enfrentar o mercado e abrir<br />

caminhos.<br />

Jarbas Bittencourt, idealizador do<br />

projeto, ao lado de Arnaldo Almeida, conta<br />

que a atuação coletiva deu novo sentido<br />

ao trabalho dos integrantes do grupo. Para<br />

ele, a economia criativa é “uma forma de<br />

organização que viabiliza ações que não<br />

se ligam às lógicas já estabelecidas pelo<br />

capitalismo, é um novo jeito de dialogar<br />

com o mercado”. Já Manuela Rodrigues, que<br />

também faz parte da turma, acha que “o<br />

artista contemporâneo tem que lidar com o<br />

processo de gestão e condução da própria<br />

carreira, ao mesmo tempo em que precisa<br />

buscar o exercício do coletivo”.<br />

Eu profissional liberal // Sou contra<br />

gabinete, carimbos, clips, fichas e salário<br />

mensal // A favor da adrenalina,<br />

autonomia, maluquice // Novidade no meu<br />

dia a dia // Contra cotidiano, uniforme,<br />

vigilância e cargo de chefia // A favor<br />

da malandragem, um jeitinho, jogo de<br />

cintura é mais garantia // Ao invés de<br />

um emprego, um trabalho // Um cachê,<br />

honorário, a um salário<br />

(Profissional Liberal/Manuela Rodrigues)<br />

FOTO: Vinicio de Oliveira<br />

No Encontro de Compositores, a<br />

parceria faz a força para enfrentar<br />

o mercado e abrir caminhos<br />

Garimpando novos tons<br />

Manuela teve seu último CD, “Uma Outra Qualquer<br />

Por Aí”, lançado por um selo fonográfico baiano, o<br />

Garimpo Música. Criado em 2007 pela produtora<br />

Cada Macaco no Seu Galho, o selo já lançou álbuns<br />

de artistas e bandas como Cascadura, BaianaSystem,<br />

Mateus Aleluia, Os Ingênuos e João Omar. Os<br />

próximos lançamentos serão de Mou Brasil, Opanijé,<br />

Lazzo Matumbi e Mariella Santiago. De acordo com<br />

um dos produtores do Garimpo, Guto Carvalho,<br />

as vendas têm sido ótimas, os pedidos não param<br />

e as lojas já têm espaço reservado para os novos<br />

lançamentos. “É importante criar possibilidades de<br />

ganhos produzindo cultura em Salvador, e mais do<br />

que isso, estamos mostrando que é possível”, diz<br />

Guto.<br />

Outro artista que não precisou sair de Salvador<br />

para gravar um álbum, mas que teve que esperar<br />

muito tempo pela oportunidade, foi Lourival Araújo,<br />

conhecido como mestre Lourimbau. Depois de mais<br />

de 20 anos de carreira, ele conseguiu gravar um<br />

CD ao vivo em 1997, “A Arte de Mestre Lourimbau”,<br />

produzido por Antônio Nykiel e Zezão Castro,<br />

com apoio da Secretaria da Cultura. O CD mistura<br />

capoeira, MPB e jazz. A partir daí, mestre Lourimbau<br />

diz que se tornou mais conhecido e valorizado como<br />

artista. Este ano, foi convidado para participar do<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

97


“O artista contemporâneo tem que lidar<br />

com o processo de gestão e condução da<br />

própria carreira, ao mesmo tempo em que<br />

precisa buscar o exercício do coletivo”<br />

Manuela Rodrigues<br />

projeto Conexão Vivo, junto com uma nova geração, o<br />

que considera um sinal de que as coisas podem mudar.<br />

“Até agora a música não me sustenta, eu é que sustento<br />

a música”, diz ele. Aos 62 anos, mestre Lourimbau se<br />

mantém na estrada, cantando, compondo e tocando seu<br />

berimbau, símbolo de resistência da cultura baiana,<br />

instrumento que ele também fabrica, como artesão,<br />

sendo considerado exímio luthier – não é à toa que<br />

ele é chamado de mestre. Lourimbau já deu aulas na<br />

Universidade Federal da Bahia e na Universidade de São<br />

Paulo, compôs trilhas para o cinema e já se apresentou na<br />

Alemanha e na Suíça.<br />

A guerrilha musical criativa<br />

A tática do baiano Lucas Santtana pode ser diferente da<br />

usada por mestre Lourimbau, mas em ambas a marca<br />

da criatividade musical está presente. Lucas transita<br />

bem à vontade entre música popular brasileira, afrobeat,<br />

dancehall, eletrônica, dub, funk. O cantor e compositor<br />

se destacou no cenário internacional já no primeiro CD,<br />

“Eletro Bem Dodô” (2000): “Mr. Santtana is a musician<br />

supremely conscious of his cultural coordinates”, disse um<br />

crítico do New York Times. Cinco álbuns depois, Lucas, que<br />

vive no Rio de Janeiro, mas mantém um pé em Salvador,<br />

continua apostando na inovação. O CD “Sem Nostalgia”<br />

foi eleito o melhor disco estrangeiro do ano passado pelo<br />

jornal francês Libération e está sendo lançado nos Estados<br />

Unidos, em edição especial. O crítico de O Globo Leo<br />

Linchotte resume a fórmula de sucesso do artista: “Quando<br />

escolhe abrir seu disco com um mashup de violões de<br />

Caymmi, Baden e Jorge Bem, tudo processado digitalmente,<br />

arrancando dali um batidão funk carioca, Lucas Santtana<br />

é muito mais que um brincalhão munido de tecnologia.<br />

Santtana sabe o que está fazendo”, ressalta.<br />

Lucas tem 41 anos, deixou Salvador há 18 porque<br />

“naquele tempo só tinha axé, não via espaço para meu<br />

tipo de música”, diz ele. Quando foi convidado para tocar<br />

flauta na banda de Gilberto Gil, terminou ficando no Rio<br />

de Janeiro, de onde fez a ponte para o mundo. Mas o<br />

artista diz que continua inserido no contexto musical de<br />

Salvador, acompanhando tudo o que acontece e sempre<br />

interagindo com os músicos da terra. Ele conta que seu<br />

primeiro disco saiu por uma grande gravadora, mas depois<br />

o processo mudou: “A cada álbum, vou experimentando<br />

98 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

novos modelos de negócios e adaptando as ações<br />

ao que funciona para mim. Por exemplo, percebi<br />

que o que me sustenta são os shows, então não<br />

vejo problema em oferecer minhas músicas<br />

para o público baixar de graça na internet. Acho<br />

que a tática para o artista hoje é aliar uma boa<br />

qualidade musical a uma gestão competente do<br />

trabalho no mercado, mas sem concessões. A<br />

noção de economia criativa pode ser muito boa,<br />

desde que as ações do governo sejam debatidas<br />

com os artistas”.<br />

Outra cantora baiana que se desviou da<br />

estrada larga do sucesso fácil e vem trilhando<br />

um caminho bem interessante na música é<br />

Márcia Castro, cantora e violonista graduada<br />

pela Escola de Música da Ufba. Gravando<br />

músicas de Tom Zé, Itamar Assumpção, Jorge<br />

Mautner e Sérgio Sampaio, além de conterrâneos<br />

como Roque Ferreira e J. Velloso, Márcia chega<br />

de pés no chão, atenta, e apresenta um currículo<br />

FOTO: Daryan Dornelles<br />

“Mr. Santtana is a musician<br />

supremely conscious of his<br />

cultural coordinates” disse<br />

crítico do New York Times<br />

sobre Lucas Santtana.


FOTO: Mariele Goes<br />

“Nosso maior valor é a<br />

criatividade”, Alex Pinto,<br />

gestor da Rumpilezz<br />

notável para uma artista de 33 anos. Depois do primeiro<br />

CD, “Pecadinho”, foi indicada ao Prêmio TIM como melhor<br />

cantora de pop-rock, se apresentou no Festival de Jazz de<br />

Montreaux, acompanhou Mercedes Sosa em sua última<br />

turnê mundial, fez residência artística no Timor Leste e<br />

uma turnê na Turquia. Mesmo assim, não quer caminhar<br />

sozinha, por isso criou o projeto “Pipoca Moderna”,<br />

promovendo um intercâmbio com cantoras de diferentes<br />

locais: Maryana Aydar e Ana Cañas, de São Paulo, Rita<br />

Ribeiro, do Maranhão, Cláudia Cunha, do Pará, e Mayra<br />

Andrade, de Cabo Verde. Atualmente, está em fase de<br />

divulgação de seu segundo álbum, “De Pés no Chão”.<br />

Márcia Castro diz que hoje existem novas formas de<br />

se relacionar com o mercado, com o fortalecimento da<br />

internet e das redes sociais, ferramentas que ela considera<br />

potentes para divulgação e intercâmbio musical. Inovação<br />

musical para ela é um termo ultrapassado. Prefere falar<br />

em ação: “A minha geração é aquela do artista/produtor,<br />

então a gente corre atrás de edital, de projetos, de<br />

parcerias. Jamais penso a música como um negócio, um<br />

mercado a priori. A música é apenas a música. Depois de<br />

feita, realizada, a gente vê e entende onde ela chega, o<br />

público, etc, e vai vislumbrando como potencializar essa<br />

divulgação. Nunca o contrário, como no marketing, de<br />

estudar a demanda e atendê-la. Assim, não seria arte”,<br />

conclui a cantora, que se define uma cantora baiana,<br />

brasileira e universal, que não faz parte de grupos, mas<br />

gosta de “circular em muitas rodas”.<br />

Pede à banda pra tocar<br />

Ninguém melhor do que os músicos de uma grande<br />

orquestra para saber da importância de atuar em sintonia<br />

para obter um bom resultado artístico. A Orkestra<br />

Rumpilezz é um exemplo dessa experiência. Criada em<br />

FOTO: Daryan Dornelles<br />

Márcia Castro, cantora e<br />

violonista graduada pela<br />

Escola de Música da Ufba<br />

“É importante criar possibilidades<br />

de lucro produzindo cultura em<br />

Salvador, e estamos mostrando<br />

que é possível”<br />

Guto Carvalho, produtor do Garimpo Música<br />

2006 pelo maestro Letieres Leite, é um grupo de<br />

sopro e percussão que se define como afrojazz,<br />

música popular instrumental com roupagem<br />

harmônica moderna. Em pouco tempo, o grupo<br />

caiu no gosto do público e alcançou sucesso<br />

nacional, com diversos prêmios no currículo, entre<br />

eles o de melhor grupo instrumental e revelação<br />

do ano (Prêmio da Música Brasileira), e melhor CD<br />

popular (Prêmio Bravo 2010).<br />

Para o gestor da orquestra, Alex Pinto, a<br />

Rumpilezz é uma prova de que há espaço na<br />

Bahia para todos os tipos de público, e que<br />

fazer música instrumental na terra do axé é<br />

perfeitamente viável, inclusive do ponto de vista<br />

econômico: “Os editais facilitam muito, 60% da<br />

nossa receita vem daí. Este ano, por exemplo,<br />

estamos com uma turnê de 24 concertos, em nove<br />

capitais e outras cidades, e olha que viajamos com<br />

um grupo enorme”. Antes dessa turnê, os músicos<br />

vão se apresentar para o público do bairro de<br />

Plataforma, em Salvador, uma nova audiência<br />

que está sendo conquistada e é muito bem-vinda.<br />

“Nosso maior valor é a criatividade, resultado<br />

de anos de pesquisa do maestro Letieres, sobre<br />

os nossos próprios ritmos, as nossas verdadeiras<br />

raízes, sem se preocupar com formatos pré-<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />

99


O pátio do Museu<br />

de Arte Moderna é o<br />

cenário da jam session<br />

estabelecidos pela indústria da música. A Rumpillez<br />

é uma orquestra artesanal e ao mesmo tempo<br />

sustentável”.<br />

Outra experiência inovadora e bem-sucedida de<br />

música instrumental em Salvador é a Jam no MAM.<br />

Curtir o belo pôr do sol na Baía de Todos os Santos<br />

ao som dos músicos já se tornou programa quase<br />

obrigatório dos fins de tarde de sábado. O pátio do<br />

Museu de Arte Moderna é o cenário da jam session.<br />

Reunindo artistas de vários lugares do Brasil e do<br />

exterior, com sonoridades diversas, a primeira etapa<br />

foi de 1993 a 2001. Em agosto de 2007, o grupo<br />

retomou o projeto, que hoje alcança uma média de<br />

1.300 pessoas a cada apresentação, com ingressos<br />

a R$ 6 a inteira. A banda-base é formada por André<br />

Becker, André Magalhães, Gabi Guedes, Ivan Bastos,<br />

Ivan Huol (diretor musical), Joatan Nascimento,<br />

Orlando Costa, Paulo Mutti e Rowney Scott. O<br />

público é diversificado: famílias com crianças,<br />

adolescentes, jovens de todos os estilos e pessoas<br />

mais velhas curtem o som, baseado no talento, no<br />

improviso e na diversidade.<br />

A Huol Produções, que atua por trás do evento,<br />

também produz o Microtrio, que sai no Carnaval,<br />

além de se dedicar ao teatro, com peças como “A<br />

Geladeira”, “O Olhar Inventa o Mundo”, “Dias de<br />

Folia” e o musical infantil “Papagaio”. “A gente<br />

100 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Eduardo Pelosi/Setur<br />

O setor da economia<br />

criativa é hoje o terceiro<br />

maior do mundo, depois<br />

do petróleo e dos<br />

armamentos<br />

não tem lucro, não sobra capital de giro para outros<br />

investimentos, o grupo ainda depende de patrocínios e<br />

incentivos fiscais. Por outro lado, conseguimos viabilizar<br />

os projetos, com a qualidade desejada, pagando as<br />

pessoas, sem explorar ninguém, e para o artista baiano<br />

isso já é um lucro”, diz a gerente de produção Cacilda<br />

Póvoas.<br />

Mê de música e de mudança<br />

Outra novidade na cena musical de Salvador é o projeto<br />

Mê de Música. Trata-se de uma série de programas de<br />

webtv sobre música na Bahia. Na edição de estreia, o Mê<br />

de Música propõe uma questão: “Música dá dinheiro?”.<br />

Camilo Fróes, que está à frente do projeto, responde:<br />

“Claro que dá dinheiro, se não desse, a música estaria<br />

definhando, e não crescendo, como acontece em todo<br />

o país e também na Bahia. A questão é como ela dá<br />

dinheiro e para quem”, diz o produtor cultural.<br />

Camilo, que também é DJ e em 2007 criou o “Baile<br />

Esquema Novo”, uma discoteca só de música brasileira,<br />

promoveu o lançamento do Mê de Música com uma<br />

batalha de DJs numa casa noturna de Salvador. Ele diz<br />

que o mercado para esse tipo de profissional também<br />

está crescendo, com talentos de projeção nacional como<br />

Mauro Telefunksoul, Mangaio e Lúcio K.<br />

Cacique formado nos becos do Candeal<br />

Se o assunto é música e criatividade, não dá para<br />

encerrar nunca, mas não podemos parar por aqui sem<br />

falar no cacique da tribo, Carlinhos Brown, doutor<br />

em economia criativa formado nos becos do Candeal<br />

e nos grandes palcos do mundo. Cantor, compositor,<br />

instrumentista, performer, ativista social, candidato<br />

ao Oscar, Brown é um baiano que nunca deixou de<br />

escutar a Bahia. Mesmo não sendo unanimidade, o<br />

trabalho social que desenvolve no bairro em que nasceu,<br />

a qualidade de sua música e o projeto estético que<br />

desenvolve em torno dela, agregando cada vez mais<br />

artistas, o credenciam a se tornar um músico do século<br />

21, capaz de transitar em todas as aldeias.<br />

Não é à toa que ele foi convidado pela revista<br />

britânica The Economist para participar do debate<br />

“Brazil Innovation – A Revolution for the 21st Century”,<br />

dentro da Conferência Internacional sobre o Futuro da<br />

Tecnologia e Inovação, com o tema “música como agente<br />

de transformação”. O evento, realizado nos Estados<br />

Unidos, teve um encontro paralelo no Rio de Janeiro,<br />

que discutiu o futuro do empreendedorismo nos países<br />

do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Além do cacau, do<br />

café e dos minérios, o mundo está de olho na nossa


FOTO: Melinda Lerner<br />

Samba da Bahia... // Ê Maria Nega<br />

Tetê, // Você sabe o valor de onde veio<br />

// Você tem a mão calejada // Você<br />

sabe fazer feijoada // Você baila toda<br />

molhada // Não tá nem aí pra dinheiro<br />

(Maria Caipirinha/ Carlinhos Brown)<br />

criatividade, e a música é a linguagem universal<br />

com alto poder de geração de riqueza (material e<br />

imaterial) e transformação social.<br />

Brown tem uma visão inclusiva, por isso<br />

ele não rejeita o Carnaval e a cultura que<br />

se forma em torno dele. Pelo contrário, em<br />

entrevista à Livraria Saraiva, ele resumiu seu<br />

projeto: “O Carnaval termina sendo um centro<br />

de desenvolvimento das comunidades através<br />

da liderança estética, onde se pode falar do<br />

respeito à mulher, do não-abuso sexual, do<br />

desarmamento. Isso existe na cultura brasileira,<br />

muito mais do que o desejo comercial de que o<br />

mundo seja uma audiência”. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 101<br />

+ ]


ARTE & ENTRETENIMENTO | perfis<br />

O NEGÓCIO<br />

DA ARTE<br />

Seja por curiosidade, amor ou visão<br />

estratégica, as artistas Cecília Menezes<br />

e Maria Adair e o publicitário e artista<br />

plástico Ricardo Franco são exemplos<br />

bem-sucedidos no mercado da arte.<br />

Os cuidados vão desde a elaboração<br />

de um bom portfólio até a utilização<br />

dos contatos profissionais adquiridos<br />

durante os grandes eventos de arte<br />

por FELIPE ZAMARIOLLI<br />

FOTO: Rômulo Portela<br />

102 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

Ricardo Franco: o<br />

soteropolitano inquieto<br />

Unindo arte e publicidade, Ricardo Franco explica<br />

um pouco as influências do seu trabalho, na Graal<br />

Comunicação, sempre entre a produção estética e os<br />

negócios. Formado em artes plásticas pela Universidade<br />

Católica do Salvador (Ucsal), o profissional transita<br />

entre os dois mundos – artístico e publicitário, sendo<br />

reconhecido por isso.<br />

“Entendi que direção de arte era minha praia, ainda<br />

quando estagiava. Mesmo exercitando o lado business<br />

do mercado publicitário, apoiei meu trabalho no que<br />

aprendi de arte. E o que faço hoje é retornar ao mundo<br />

artístico”, conta Ricardo.<br />

Sua inquietude faz dele um dos nomes fortes da<br />

nova geração artística. A cada nova obra ou projeto,<br />

muita ousadia e dedicação. Em 2009, criou “Esperança”,<br />

quadro que o projetou. Desde então, desenvolve<br />

projetos que utilizam diversas técnicas, como pinturas<br />

digitais, óleo e acrílico. Em 2010, a tela lhe rendeu um<br />

prêmio no salão Nacional de Artes Plásticas do Rio<br />

de Janeiro, abrindo caminhos para outras exposições.<br />

Na Europa, “Esperança” levou o prêmio de melhor<br />

tema numa exposição em Barcelona. Com esse<br />

reconhecimento, Franco assinou um contrato com a<br />

Galeria de Arte Patrícia Muñoz, na Espanha; em Paris,<br />

expôs no Carrousel du Louvre, pela Ava Galeria; e já<br />

recebeu convites, este ano, para expor na Finlândia, na<br />

Eslováquia, em Portugal e novamente na França. Antes<br />

de retornar à Europa, Ricardo realiza sua primeira<br />

exposição individual no lobby do jornal A Tarde, com<br />

duração de dois meses.<br />

Vários projetos ainda serão iniciados em 2012. Um<br />

deles é o ‘Socializar é Arte e o Cura por Inteiro’, ou<br />

apenas Saci. A ideia é trabalhar o universo artístico<br />

com jovens de rua viciados em drogas, provocando o<br />

aprendizado estético e ampliando seus horizontes. O<br />

trabalho será registrado num documentário.<br />

Publicidade, arte... E fotografia. As imagens<br />

congeladas são mais um canal para expressar sua<br />

criatividade, com composições variadas, que serão<br />

compiladas num livro em processo de impressão.<br />

“Quando você faz arte, todo o processo é importante.<br />

Arte é desdobramento e vivência. O que importa é<br />

o andar, o caminhar. O que faço hoje é retornar ao<br />

princípio, fazendo da produção estética meu rumo. Se<br />

você acredita que sua arte tem um porquê, vá em frente.<br />

Criar é só começar”, filosofou o artista.


Maria Adair: a arte como<br />

o melhor investimento<br />

Do sudoeste da Bahia, da pequena cidade<br />

de Itiruçu, é de onde vem a pintora, artista<br />

intermídia e professora Maria Adair. Aos<br />

15 anos, já fazia as primeiras pinceladas,<br />

até a formação em desenho e plástica pela<br />

Escola de Belas Artes da Ufba, em 1976.<br />

Em 1980, foi aos Estados Unidos com a<br />

bolsa de estudo da Fulbright/Laspau para<br />

estudar nas universidades de Pittsburgh e<br />

de Iowa, onde permaneceu até 1982. Entre o<br />

mundo acadêmico, as exposições nacionais e<br />

internacionais, Maria decidiu, em 1993, abrir o<br />

Atelier Maria Adair em Salvador, localizado no<br />

Pelourinho.<br />

“Por experiência própria, posso assegurar<br />

que o grande ‘negócio’ das artes plásticas é a<br />

oportunidade que o artista tem de levar sua<br />

mensagem para a apreciação de muitas pessoas.<br />

Mas é lógico que é preciso também receber<br />

as cifras de recompensa pelo seu trabalho”,<br />

ressalta a artista.<br />

E é por meio do trabalho de encomenda<br />

que o artista realmente pode gerar receita,<br />

de acordo com Maria Adair. Entre as obras<br />

que ela produziu, destacam-se peças enviadas<br />

para Nova York, Los Angeles e ilha de Sanit<br />

Barthélemy, nas Antilhas Francesas. “Ainda este<br />

ano recebi uma encomenda para fazer pintura<br />

sobre um piano. Enquanto, desde o ano passado,<br />

preparo peças para a grande exposição no<br />

Museu Rodin Bahia, marcada para ser aberta<br />

no dia 22 de agosto deste ano, com o título ‘O<br />

Universo Amado’, em homenagem ao grande<br />

escritor Jorge Amado”, anuncia.<br />

“Durante o processo de criação, o artista,<br />

diferente do que acontece no mundo dos<br />

negócios de modo geral, não tem como<br />

finalidade primordial a venda de seu produto.<br />

Antes de mais nada, o artista produz arte por<br />

necessidade de expressar e comunicar suas<br />

ideias, sendo a venda uma consequência,<br />

ou o resultado de um caso de amor entre o<br />

espectador e a obra. Assim como carreira é a<br />

palavra mais indicada para definir o trabalho de<br />

um artista, em vez de profissão. Todo artista tem<br />

uma carreira a zelar”, conclui.<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 103<br />

+ ]


104 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

Cecília Menezes e as<br />

bonecas de cerâmica<br />

Cecília Menezes descobriu sua paixão pelas<br />

artes ainda criança. Resolveu, entretanto, cursar<br />

administração de empresas, por conta da insegurança<br />

financeira que a carreira artística inspirava.<br />

Aos 40 anos, decidiu que era hora de criar. As<br />

ideias na cabeça e a vontade de produzir eram<br />

maiores do que qualquer estereótipo da atividade<br />

artística. Hoje, a pintora e escultora faz quadros,<br />

aplica texturas em paredes, cria painéis e, seu carrochefe,<br />

lindas bonecas de cerâmica.<br />

O passaporte para o mercado de arte surgiu<br />

na primeira edição da Casa Cor em Salvador: “Fui<br />

convidada por diversos arquitetos maravilhosos,<br />

como Eliane Kruchewsky, Tuvinha Papaléo, Sidney<br />

Quintella, só pra citar alguns, que contribuíram para<br />

divulgar meu trabalho”, diz agradecida.<br />

A partir dos primeiros contatos, Cecília começou<br />

a se relacionar com um público exigente: sua obra<br />

atendia a esse perfil. “Tenho muito orgulho de dizer<br />

que sobrevivo do meu trabalho, que formei minhas<br />

filhas com essa atividade e que me sustento, hoje, com<br />

ela. Sei que poucos conseguem isso. É muito difícil<br />

vender arte neste país. Ela é considerada supérflua”,<br />

declara.<br />

A saída, como sempre, é diversificar. Entre os<br />

projetos em andamento, Cecília produz grandes<br />

esculturas em ferro e cerâmica, para amplos espaços,<br />

a pedido de construtoras. Produz, ainda, as charmosas<br />

bonecas que se tornaram disputados brindes de<br />

empresas. Projetos sob medida fazem parte do<br />

portfólio da artista, que desenvolverá louças para o<br />

restaurante Pitanga, a ser inaugurado no Shopping<br />

Bella Vista. “Os donos queriam uma peça estilizada<br />

e a cerâmica feita à mão era ideal, com sua tradição,<br />

beleza e nobreza”, diz Cecília. Ao todo, ela produz 180<br />

peças de nove modelos diferentes.<br />

“Somos competentes naquilo que gostamos e<br />

sabemos fazer bem. Eu mesma só comecei a dar certo<br />

quando me perguntaram: O que você faz? Qual sua<br />

profissão? E eu respondi: Sou artista plástica”, ela dá<br />

a dica. [B + ]


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 105<br />

+ ]


ARTE & ENTRETENIMENTO | fotografia<br />

106 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

IDENTIDADE<br />

“Isso”, 2011, da<br />

série “Os Corpos<br />

que Habito”<br />

Jovem e cheio de ideias, o<br />

baiano Márcio Mascarenhas<br />

quer conectar a Bahia com o<br />

exterior por meio das artes.<br />

Atualmente em Londres,<br />

foi em busca de uma nova<br />

formação e liberdade criativa.<br />

O resultado já são duas<br />

mostras na terra da rainha<br />

por BRISA DULTRA<br />

DENTRO DA<br />

FOTOGRAFIA<br />

E<br />

ntre um clique e outro, o jovem<br />

fotógrafo Márcio Mascarenhas,<br />

24 anos, nos conta um pouco<br />

sobre os desafios de iniciar a carreira<br />

artística em outro país. Vivendo hoje<br />

em Londres por conta do mestrado<br />

que faz na University of The Arts<br />

London, o baiano realiza sua primeira<br />

exposição em terra estrangeira no mês<br />

junho, quando acontece a vernissage<br />

do trabalho “Os Corpos que Habito”,<br />

na New Gallery, no sul de Londres.<br />

Inspirado em Picasso, Tarcila do Amaral<br />

e na fotógrafa Rineke Dijkstra, Márcio<br />

busca o seu espaço na fotografia<br />

artística.<br />

Conte um pouco de sua trajetória.<br />

Quando começou a fotografar?<br />

Comecei a fotografar na Faculdade<br />

de Comunicação da Ufba. Eu já tinha<br />

desistido de fazer qualquer coisa ligada<br />

às artes - pintura, teatro... Mas quando<br />

me aproximei da fotografia, em 2006, eu<br />

pensei: “Pô, isso eu consigo fazer”.


Por que tinha desistido?<br />

Eu tentei teatro, mas eu não tinha uma boa voz. Eu<br />

também desenhava, fazia umas esculturas, mas era<br />

sempre algo meio tosco. Então, eu achei que arte não<br />

era a minha. Foi quando conheci e encarei a fotografia.<br />

Então foi na graduação que você se envolveu<br />

mesmo com essa técnica... Você tinha sua própria<br />

câmera?<br />

Tinha sim. Minha primeira câmera foi uma Canon<br />

50D, digital. Dava pro que precisava. Não me limitava<br />

a nenhuma área: às vezes trabalhava com moda,<br />

outras com teatro, casamentos, eventos... Fiz isso para<br />

explorar o campo da fotografia.<br />

O que te motivou a encarar um mestrado?<br />

Eu o vejo como um passo para a liberdade da criação.<br />

Eu não queria ficar preso em Salvador, não queria<br />

ficar condicionado nesse início de carreira. Eu acho<br />

que o fato de ser sua cidade limita a criação, acaba te<br />

prendendo.<br />

Quando você está fora do seu lugar, você acaba<br />

enxergando outras coisas...<br />

Isso. A gente entende preconceitos, modos de olhar.<br />

E por que Londres?<br />

O curso de Fotografia Fine Art não tem em todo lugar.<br />

Minhas opções eram Inglaterra ou EUA. Os Estados<br />

Unidos têm uma concepção de arte mais voltada à<br />

plasticidade da obra. Já Londres tem um background<br />

mais rico em termos teóricos e filosóficos. Isso acabou<br />

definindo a minha escolha.<br />

O que é essa plasticidade norte-americana?<br />

É algo que privilegia mais o prazer de ver. Aquela<br />

coisa que você olha e fala: “Isso está muito bem feito!”<br />

Em Londres, você tem uma prioridade do conceito, da<br />

ideia que envolve todo o trabalho. O cuidado técnico<br />

não é a ferramenta mais importante de expressão.<br />

Você não tem que agradar o olho de quem está vendo,<br />

mas, sim, causar alguma sensação. Assim você imerge<br />

mais no conceito do que na obra.<br />

Como a Bahia interfere em seu trabalho?<br />

Muita gente, quando conhece a cultura de um país<br />

considerado mais desenvolvido, acha que o Brasil não<br />

presta e fica sem querer voltar. A Bahia tem muita<br />

coisa rica para mostrar, Londres tem muita coisa para<br />

ensinar. Eu quero juntar os dois.<br />

“Não quero trabalhar a<br />

foto para que ela seja<br />

perfeita, linda, bonita. Eu<br />

quero mais contato com a<br />

filosofia e a cultura”<br />

Como?<br />

Com um intercâmbio cultural. Quero colocar os dois lugares<br />

em contato, não só absorver, mas promover uma troca.<br />

Eu estou começando agora, mas já formei um grupo com<br />

fotógrafos em Londres dedicado a fazer exposições por lá e<br />

que eu pretendo trazer para cá. Quero também formar grupos<br />

aqui para poder levar esses contatos.<br />

Mas isso não é muito complicado?<br />

Se você trabalha com artes, não precisa de deslocamento de<br />

pessoas, só das obras. E, se você tem um agente responsável<br />

por fazer isso, facilita.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 107<br />

+ ]


Como funciona esse grupo de fotógrafos que<br />

você reuniu na Inglaterra?<br />

Decidimos juntar as forças e expor nossos<br />

trabalhos juntos. A ideia que linka o projeto é a<br />

“identidade”. Cada fotógrafo busca sua identidade<br />

dentro da fotografia. Agregamos isso para mostrar<br />

como cada um de nós enxerga essa arte.<br />

Quem participa do grupo?<br />

Um italiano, eu, uma americana, uma inglesa<br />

e um norueguês. O nome é “Equivalentes”.<br />

É justamente essa busca pelo “eu” dentro da<br />

fotografia e da arte.<br />

São fotógrafos jovens que buscam seu “eu”...<br />

O tema “identidade” é geral e pode se aplicar a<br />

muita gente. Meu projeto chama-se “Os Corpos<br />

que Eu Habito”, com forte influência cubista, onde<br />

a imagem apresenta diversas faces de um objeto<br />

no mesmo plano, apresentando vários “eus” num<br />

mesmo corpo. Tem outro que é “Eu Não Vou Viver<br />

Mais Aqui”, no qual a americana investiga a<br />

relação dos jovens que alugam casas e só passam<br />

um ano em Londres, não tendo uma concepção de<br />

moradia fixa.<br />

Como funciona o mercado da fotografia?<br />

Fotografia é voltada para arte, principalmente.<br />

Então, você tem que fazer o seu nome, trabalhar<br />

a concepção do seu trabalho, descobrir onde está<br />

seu público e as galerias que têm o seu perfil.<br />

Estou procurando o meu público. Procurando as<br />

pessoas que podem dar suporte ao meu trabalho.<br />

Além da exposição, seu trabalho está<br />

presente também no projeto Art Below<br />

London, certo?<br />

Tenho uma imagem selecionada para esse projeto.<br />

Eles exibem o material selecionado e levam<br />

também a foto para uma galeria no metrô de<br />

Londres, na galeria London Underground Gallery,<br />

que fica na estação Charing Cross. Isso abre<br />

muitas possibilidades porque é algo de grande<br />

visibilidade.<br />

Londres tem muitas galerias e,<br />

principalmente, um público que<br />

consome artes. E aqui?<br />

Se eu não me engano, de galeria que vende<br />

obra mesmo, acho que é só a Paulo Darzé. Se<br />

108 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

“Litigioso”, 2011, da<br />

série “Os Corpos<br />

que Habito”<br />

FOTOS: Acervo Pessoal<br />

“O cuidado técnico não<br />

é a ferramenta mais<br />

importante de expressão.<br />

Você não tem que agradar<br />

o olho de quem está<br />

vendo, mas, sim, causar<br />

alguma sensação”


“Já formei um grupo com<br />

fotógrafos em Londres<br />

dedicado a fazer exposições<br />

por lá que eu pretendo<br />

trazer para Salvador. Quero<br />

formar grupos aqui para<br />

poder levar esses contatos”<br />

“Em Mim Mesmo”,<br />

2011, da série “Os<br />

Corpos que Habito”<br />

tiver mais, é uma ou duas. De resto, você tem os<br />

museus. Então, o mercado baiano é surrealmente<br />

limitado. E vai desde a cultura: nós não temos a<br />

cultura de consumir artes visuais. Essa cultura<br />

ficou centrada num mercado muito pequeno, da<br />

classe alta, que só consome a mesma coisa, o que<br />

veio do passado.<br />

No Sudeste, existe um movimento de ter mais<br />

feiras e festivais, que são uma boa janela para<br />

novos fotógrafos, como a SP-Arte...<br />

E em Salvador, nada. O MAM é uma instituição<br />

boa, que traz coisas legais, mas é só. Acho que,<br />

através da educação, vai acontecer naturalmente.<br />

Se pessoas como eu, que estão lá fora, começarem<br />

a fazer esse contato, se fotógrafos e produtores<br />

culturais daqui promoverem ações nesse sentido,<br />

começa a se formar um público e as coisas podem<br />

mudar. Eu quero trazer a arte contemporânea<br />

para cá.<br />

Qual é o novo projeto que você está<br />

desenvolvendo?<br />

Ele é chamado “Damas de Honra”, numa<br />

brincadeira com o termo em inglês bridesmaid,<br />

porque ‘maid’, em inglês, quer dizer ‘empregada’.<br />

Nesse trabalho, fotografo empregadas que já<br />

trabalham há 15 ou 30 anos com a mesma família.<br />

Nele, eu quero colidir a cultura da classe média<br />

brasileira que tem a necessidade de ter alguém<br />

cuidando da casa. Quando fui para Londres,<br />

comecei a viver sem empregada e percebi como<br />

é bom e importante viver o ambiente onde você<br />

mora. É importante você cuidar do seu ambiente.<br />

E as pessoas aqui ficam relaxadas com essa<br />

exploração cultural do outro.<br />

O que você define como exploração cultural?<br />

Eu acho que ter uma empregada é uma certa<br />

exploração cultural, já que é uma pessoa que<br />

não teve o mesmo nível educacional que o<br />

patrão. É como se todo aquele espaço fosse<br />

responsabilidade dela. O que é uma contradição,<br />

pois ao mesmo tempo que você deixa a<br />

empregada mexer no seu guarda-roupa, arrumar<br />

sua cama, você não quer que ela coma a última<br />

fatia do bolo ou que ela faça ligações da sua casa.<br />

Isso é delicado. É uma relação de poder muito<br />

estranha. E eu quero trazer isso para<br />

fotografia. [B + ]<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 109<br />

+ ]


ARTE & ENTRETENIMENTO | aplausos<br />

Recôncavo Jazz Festival<br />

acontece em agosto<br />

A primeira edição do Recôncavo Jazz Festival será realizada<br />

entre os dias 23 e 25 de agosto na cidade de<br />

Cachoeira, no interior da Bahia. Com atrações locais<br />

e nacionais, o evento também contará com a participação<br />

do músico internacional Joshua Redman, que<br />

vai tocar ao lado da Orquestra Rumpilezz, liderada por<br />

Letieres Leite.<br />

“Olhos da Rua” e seus<br />

recortes diferenciados<br />

Em algum lugar da cidade, na última terça-feira do<br />

mês, fotógrafos, admiradores e estudantes se reúnem<br />

para a projeção urbana de fotografias. O projeto “Olhos<br />

da Rua” leva para espaços públicos de Salvador imagens<br />

de fotógrafos profissionais e amadores, sobre algum<br />

tema abrangente, selecionadas por uma equipe de<br />

curadores. A exibição é realizada pelo LabFoto Facom,<br />

Instituto Casa da Photographia e o Tuesday Autonomous<br />

Zone.<br />

110 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Yuri Rosat<br />

Margareth Menezes comanda miniturnê junina<br />

Margareth Menezes se prepara para mais uma temporada de apresentações<br />

no São João, que inclui as cidades de Caruaru (PE), Maracanaú (CE), Jaramataia<br />

(AL) e Pendências (RN). Para os shows, o melhor de Luiz Gonzaga, além<br />

de forrós tradicionais, xote, baião, xaxado, maracatu e pé de serra. Além<br />

das apresentações, a artista foi convidada para ser a representante baiana<br />

no especial São João do Nordeste 2012.<br />

Criolo agitou a Concha<br />

Acústica de Salvador<br />

“Moças Aéreas” decola<br />

O espetáculo circense dirigido pela professora e<br />

herdeira do circo Picolino, Luana Serrat, entrou<br />

em cartaz pela segunda vez na primeira quinzena<br />

de maio, no Teatro Martim Gonçalves (Escola<br />

de Teatro da Ufba). Os seis dias de apresentação<br />

levaram o público às alturas com as meninas<br />

voadoras, que fazem acrobacias nos números de<br />

corda, tecido, lira, passeio aéreo e quadrante.<br />

“Talvez não tenha<br />

criança no céu”<br />

O livro da editora Virgiliae marca a estreia literária<br />

de Davi Boaventura, escritor baiano de 26<br />

anos, que começou a escrever o livro aos 18: “Eu<br />

queria botar um sentimento para fora e escrever<br />

a história mais sincera possível dentro de<br />

minhas capacidades”, declara o autor. A trama,<br />

contada numa espécie de diário, prende a atenção<br />

do leitor do início ao fim. A qualidade do<br />

livro chegou a arrancar elogios de Daniel Galera,<br />

que o define como “um relato sufocante dos estertores<br />

de uma adolescência sem rumo”.<br />

FOTO: Yuri Rosat<br />

Quem escolheu Criolo não se arrependeu. O rapper paulista emocionou<br />

a Concha Acústica, no mês de maio, quando cantou músicas do<br />

álbum “Nó Na Orelha”, premiado como melhor CD de 2011 pela revista<br />

Rolling Stone. Em sua segunda visita à cidade, Criolo dividiu o palco<br />

com o DJ Dan Dan.


JORGE<br />

CAJAZEIRA<br />

Executivo da Suzano<br />

Papel e Celulose,<br />

mestre e doutor em<br />

administração de<br />

empresas, presidente<br />

mundial da ISO 26000<br />

para Responsabilidade<br />

Social e presidente do<br />

Sindpacel - Sindicato<br />

Patronal de Papel e<br />

Celulose do Estado da<br />

Bahia<br />

ARTE & ENTRETENIMENTO | off broadway<br />

Paul McCartney tem estatísticas com as<br />

quais todos os artistas apenas sonham. O<br />

mais bem-sucedido artista de todos os tempos<br />

já esteve na lista do Billboard Hot 100 por<br />

71 vezes com os Beatles e mais 43 vezes,<br />

individualmente ou com sua banda Wings.<br />

Para se ter uma ideia do que isso significa,<br />

só em 1964 os Beatles colocaram 31 hits nas<br />

paradas, Elvis emplacou nove sucessos no<br />

mesmo ano.<br />

Acompanho com interesse os artigos e<br />

ensaios que atribuem ao gênio João Gilberto<br />

as maiores influências na música popular<br />

brasileira, em especial, na baiana. Desde o<br />

disco antológico e precursor do axé “Acabou<br />

Chorare” dos Novos Baianos, que é inspiração<br />

gilbertiana pura, até Caetano, Gil, Tom Zé e<br />

Ivete saúdam o inventor da bossa nova como<br />

o mentor maior. Não duvido. Ocorre que é<br />

quase despercebido e até esquecido o papel<br />

fundamental que a dupla John e Paul exerceu<br />

na música brasileira e baiana.<br />

Para começar, lembro que alguns clássicos<br />

da MPB são inspirados ou até mesmo<br />

copiados da dupla de Liverpool. Por exemplo,<br />

a Carolina de Chico Buarque, aquela que<br />

vê o tempo passar na janela, é claramente<br />

inspirada na Eleonor Rigby, que nas palavras<br />

de John e Paul “espera à janela, portando um<br />

rosto que ela guarda em um jarro perto da<br />

porta”. Na sua solidão, a Carolina de Chico<br />

guarda “nos seus olhos tristes, tanto amor, o<br />

amor que já não existe”, enquanto Eleonor<br />

112 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

BEATLES<br />

FOREVER<br />

A oculta influência de Lennon e McCartney na terra do axé


inspira o refrão “todas as pessoas solitárias, de<br />

onde elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de<br />

onde elas são?”<br />

Ademais, o casal incompatível Eduardo<br />

e Mônica de Renato Russo que no primeiro<br />

encontro “Eduardo sugeriu uma lanchonete,<br />

mas a Mônica queria ver o filme do Godard”<br />

também me lembra o Desmond e Molly,<br />

quando “Desmond tem um carrinho no<br />

supermercado enquanto Molly é cantora em<br />

uma banda” na clássica música dos Beatles<br />

“Ob-La-Di, Ob-La-Da”.<br />

Não pode ter uma influência mais direta<br />

que John e Paul sobre mano Caetano. É só<br />

analisar a inspiração da dupla “Lennon e<br />

McCartney” na capa dos seus álbuns Jóia<br />

e Qualquer Coisa. No Jóia, vemos a família<br />

Veloso em pose idêntica ao Two Virgens de<br />

Lennon (1968), no caso sem os pombinhos.<br />

Em Qualquer Coisa, a inspiração vem de<br />

Let it Be (1970), último disco dos Beatles.<br />

Curiosamente, no Qualquer Coisa, Caetano<br />

canta belissimamente a “Eleonor Rigby”, mais<br />

linda só a sua interpretação de “Carolina” no<br />

disco Prenda Minha – Ao Vivo.<br />

Ainda comentando as influências nos<br />

baianos, amo o solo de Armandinho para Day<br />

Tripper, assim como lembro do grande Raul<br />

Seixas no início de carreira, em 1964, com<br />

a banda Raulzito e Os Panteras, cantando<br />

Beatles, incluindo o uso dos terninhos que<br />

marcaram o estilo da banda inglesa.<br />

O mais influente disco produzido no Brasil,<br />

o antológico Tropicália ou Panis Et Circensis,<br />

com nítido caráter de manifesto, inova por um<br />

sincretismo de ritmos jamais ouvido até aquela<br />

época. O disco liderado por Gil e Caetano bebe<br />

na água do Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club<br />

Band. É só ver a capa. Além disso, na música<br />

“Alegria, Alegria”, quando Caetano lembra<br />

que “o sol nas bancas de revistas, me enchem<br />

de alegria e preguiça”, é uma tradução quase<br />

literal da “A day in the life” quando Paul e John<br />

escrevem: “Eu li as notícias de hoje, oh garoto<br />

(…) e embora as notícias fossem um tanto<br />

tristes; bem, não pude deixar de rir”.<br />

John e Paul foram elementos fundamentais<br />

da mais influente banda de rock de todos<br />

os tempos, coautores das mais duradouras e<br />

simplesmente melhores canções que pudemos<br />

escutar. A influência na música brasileira<br />

é real, em especial na música baiana. Pena<br />

que isso não é reconhecido e de certo modo<br />

esquecido.<br />

www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 113<br />

+ ]


CONTE AÍ<br />

EVENTOS E<br />

EVENTUALIDADES<br />

Nos quase 25 anos que atuo na área de entretenimento,<br />

ouvi, vi e convivi com muita coisa. Produzi muitos eventos<br />

de sucesso e também eventos de sucesso algum. Quando<br />

comecei (comecei muito cedo e meio por acaso), tudo<br />

era diferente. Fico pensando que teria sido bem mais<br />

fácil meu primeiro trabalho de produção se existisse<br />

naquela época, por exemplo, o celular. A tecnologia mais<br />

avançada disponível era o rádio de comunicação - enorme<br />

e pesadíssimo. Certa vez, tentando usar a geringonça<br />

durante uma solenidade, um engraçadinho passou e<br />

perguntou como estava o Ba-Vi. Que raiva que eu senti!<br />

Não existe fórmula pronta para produzir um evento<br />

de sucesso, mas, seja qual for o tamanho, formato e<br />

grau de complexidade, uma coisa é certa: sem um bom<br />

planejamento as chances de um resultado ruim são<br />

enormes. Um telão montado próximo a um poste de alta<br />

tensão quase acaba em tragédia. Ora, como eu podia<br />

adivinhar que o maldito poste ia “pipocar” justamente<br />

durante a festa? Aprendi que essas coisas a gente não<br />

“adivinha”, a gente planeja.<br />

O bom planejamento deve, entre outras coisas, prever<br />

os imprevistos ainda que, nem assim, consigamos evitar<br />

alguns vexames. Uma vez tive que avisar “no grito” a<br />

cerca de 800 pessoas que a apresentação teatral daquela<br />

noite seria cancelada por falta de energia - na época<br />

não era comum locar geradores para os eventos. Quase<br />

fui linchada! Em outra ocasião, por exemplo, tive que ir<br />

pessoalmente à cozinha de um bar famoso fritar um peixe<br />

para o cliente que se recusava a comer os peixes fritos<br />

pelas cozinheiras do estabelecimento. Segundo ele “estava<br />

tudo muito gorduroso”. Eu não sei fritar peixe, mas nada<br />

que três metros de papel-toalha não tivessem resolvido.<br />

Alguns eventos são mais complicados que outros, mas<br />

destaco os shows musicais como um dos mais complexos.<br />

Lembro que, há alguns anos, um cantor pediu três moças<br />

à disposição durante sua permanência na cidade. As<br />

especificações eram: uma loira, uma ruiva e uma morena.<br />

Confesso que, depois de ler o contrato, pensei seriamente<br />

em desistir da profissão! Não me imaginava com 50 anos<br />

selecionando “piriguetes” para acompanhar cantores! Ufa,<br />

felizmente foi a primeira e única vez que o contratei (e<br />

desconfio que foi um dos últimos shows que ele fez).<br />

114 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com<br />

FOTO: Divulgação<br />

PAGANA<br />

CARVALHO<br />

Diretora<br />

executiva da<br />

8 Bisz e<br />

produtora<br />

cultural<br />

Um cantor pediu, em contrato, três moças<br />

à disposição durante sua permanência<br />

na cidade. As especificações eram: uma<br />

loira, uma ruiva e uma morena<br />

Também não esqueço de outro pedido bem<br />

inusitado: “Uma rede de proteção no palco do Teatro<br />

Castro Alves para evitar a entrada de morcegos”. E<br />

olha que o teatro havia sido reinaugurado seis meses<br />

antes, com o que existia de mais moderno em termos<br />

de instalações e equipamentos.<br />

Hoje os “pedidos exóticos” já não são tão exóticos<br />

assim. Não que eles não existam, mas diminuíram<br />

bastante. O último “abuso” que me lembro veio da<br />

produção de um (candidato a) famoso cantor nacional.<br />

Ele quis cobrir de fita crepe todas as bebidas do<br />

camarim para evitar que os rótulos aparecessem, já<br />

que não era patrocinado por nenhum deles.<br />

Lidar com as “celebridades” também não é tarefa<br />

fácil. Certa vez precisei “parar” a produção de um<br />

camarote para cuidar de um ex-BBB (desclassificado<br />

logo na fase inicial do programa) que estava na porta<br />

fazendo escândalo porque não conseguia quatro<br />

seguranças para “escoltá-lo” até a entrada do próximo<br />

camarote. Pensei: “Vale a pena essa profissão?”<br />

Poucos minutos depois, lembrei que, ao participar<br />

da produção de um espetáculo no Teatro Castro Alves,<br />

vi Jorge Amado e Zélia Gattai aguardando, com a maior<br />

elegância e paciência, na fila de entrada... Concluí,<br />

então, que fiz a escolha certa. [B + ]


www.revistabmais.com junho 2012 <strong>Revista</strong> [B 115<br />

+ ]


116 <strong>Revista</strong> [B + ] junho 2012 www.revistabmais.com

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