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Roland Brasil

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Capa<br />

Retrato<br />

e M B r a n C a s e P r e T a s<br />

Reconhecido como um dos mais influentes músicos nacionais,<br />

Oswaldinho do Acordeon adotou o V-Accordion como instrumento do coração<br />

Oswaldo de Almeida e Silva, o Oswaldinho do Acordeon, nasceu em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, no dia 5 de junho<br />

de 1954. A família era do interior da Bahia, mais precisamente da cidade de Euclides da Cunha, próxima a Canudos, de Antônio<br />

Conselheiro. O avô, “Seu” Aureliano, mestre sanfoneiro, ensinou o ofício ao filho, mais tarde conhecido como Pedro Sertanejo.<br />

Este embarcou, em 1946, rumo ao Sudeste em busca da fama, tentando firmar-se na carreira artística. Acordeonista, compositor,<br />

afinador de instrumentos e radialista, inaugurou, 20 anos depois de sua chegada, o primeiro forró da capital paulista, local que<br />

se tornou o principal ponto de encontro de nordestinos. Já em 1964 havia fundado o selo Cantagalo, um dos mais importantes<br />

centros de lançamento de artistas regionais. Por ali passou a maioria dos sanfoneiros, trios e cantores da época, como Dominguinhos,<br />

Genival Lacerda, Abdias, Jacinto Silva, Anastácia e Fúba de Taperoá.<br />

Além de agitador cultural, Pedro Sertanejo gravou mais de 40 discos e compôs cerca de 700<br />

canções, deixando sua marca na maior cidade da América Latina e na história da música<br />

popular brasileira. Sua casa era ponto de encontro de sanfoneiros. Ali eles se reuniam<br />

para tocar, trocar informações ou apenas “prosear”. Os mais freqüentes eram Luiz<br />

Gonzaga, Zé Gonzaga e Sivuca. Em um ambiente tão cultural, era esperado que o<br />

pequeno Oswaldinho demonstrasse interesse por esse universo. A primeira sanfona,<br />

de quatro baixos, surgiu aos 7 meses de vida. E, conforme a criança crescia, o brinquedo<br />

transformava-se em paixão. Com 6 anos, começou a aprender com o pai. Aos<br />

8, estreava em estúdios, participando da gravação da música “Menino do Pirulito”, em<br />

um dos discos dele. Nessa época, seguiu a família rumo a São Paulo.<br />

Bebeu da fonte até os 12, ouvindo e estudando composições<br />

de Gonzaga, Dominguinhos, Manoel Silveira, Sivuca e outros<br />

artistas. Chegando à capital, teve dificuldades em encontrar<br />

um professor. Na cidade grande, o acordeão - vítima<br />

de preconceito assim como os nordestinos - era cultuado<br />

na intimidade. Muitos tocavam, mas evitavam se<br />

apresentar ou lecionar. Por conta disso, durante seis<br />

anos Oswaldinho focou seus estudos no piano.<br />

A grande virada aconteceu quando conheceu o<br />

professor italiano Dante D’Alonzo, que lhe ensinou<br />

música clássica e como tirar o melhor proveito de<br />

seu instrumento nesse gênero. Aprendeu a ler e<br />

escrever partituras, conhecimento que, de certa<br />

forma, foi fundamental para consolidar sua carreira<br />

artística. De volta à Europa, o mestre incumbiu<br />

Paolo Feolla de continuar o trabalho que começara.<br />

O talento do pupilo aflorou ainda mais e rendeu a<br />

Oswaldinho uma bolsa de estudos no Conservatório<br />

Dante, da cidade de Milão, na Itália.<br />

No retorno ao País, utilizou toda essa informação na busca<br />

por uma estética própria, em que suas raízes fundem-se<br />

ao erudito e a outros gêneros. Admirador confesso de Luiz<br />

Gonzaga e Sivuca, não hesitou em tocar Beethoven em ritmo<br />

nordestino ou “Asa Branca” em blues. O ingresso no circuito<br />

MPB ocorreu no grupo Bendegó, pelo qual estabeleceu<br />

contato com a vanguarda da música nacional da época: Odair<br />

Cabeça de Poeta e Grupo Capote, Tom Zé, Moraes Moreira,<br />

Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Fagner, Djavan e Renato<br />

Teixeira, entre outros. A lista daqueles que puderam contar<br />

com seu toque pessoal em gravações e apresentações é<br />

enorme e nela constam desde Alceu Valença e Gonzaguinha,<br />

passando por Elba Ramalho, até Paul Simon, Freddy Mercury<br />

e Al Jarreau, sem esquecer Nelson Ayres e Amilson Godoy,<br />

entre muitos nomes.<br />

A dedicação ao acordeão, no entanto, deixou algumas<br />

seqüelas. Uma hérnia de disco passou a incomodá-lo, a tal<br />

ponto que os movimentos começaram a ficar comprometidos.<br />

Submetido a uma cirurgia, teve medo de ser necessário<br />

abandonar a carreira. Em plena reabilitação, conheceu um<br />

novo instrumento, trazido ao País por Takao Shirahata, presidente<br />

da <strong>Roland</strong> <strong>Brasil</strong>, especialmente para ele. O V-Accordion<br />

ganhou um fã e um patrono. Explorando a tecnologia<br />

embarcada no equipamento sem esquecer suas principais<br />

influências – Dominguinhos, Sivuca, Caçulinha, Orlando Silveira,<br />

Maestro Chiquinho e Pedro Sertanejo, – Oswaldinho<br />

do Acordeon, mais uma vez, funde o moderno e o antigo, o<br />

novo e o tradicional.<br />

O acordeão viveu seu auge e, na seqüência, sofreu<br />

forte declínio. A que você credita esse fato?<br />

O problema surgiu com a Jovem Guarda. Antes disso,<br />

porém, segundo pessoas com mais idade que eu, houve<br />

um encontro de acordeonistas no Maracanã e as sanfonas<br />

estavam muito desafinadas, com um monte de gente tocando<br />

em timbres diferentes. Isso prejudicou a audição de quem<br />

tem ouvido apurado e o acordeão passou a ser considerado<br />

instrumento de conservadores, de velhos. Quando surgiu<br />

o órgão, foi deixado de lado. As pessoas tinham vergonha<br />

porque achavam que era para valsinha, dobrado, forró. Alguns<br />

falavam que ele não estava apto a outros tipos de música,<br />

principalmente aqui no <strong>Brasil</strong>. Quem dava aula fazia questão<br />

de não colocar na placa, de tanta perseguição. Na época do<br />

forró, a gente andava com ele dentro de uma caixa e era preciso<br />

atravessar a rua, porque as pessoas não aceitavam. Era<br />

DOMINGUINHOS E OSWALDINHO<br />

Amigos de longa data e muitas histórias em comum<br />

um preconceito muito grande. Tocava órgão em bailinhos e, de<br />

repente, pegava o acordeão, mas não podia usar o som acústico<br />

que o pessoal me mandava parar. Essa evolução foi gradativa.<br />

Quem “forçou” essa barra, do instrumento sair dos palcos de<br />

forró para os teatros, foi o Dominguinhos, quando começou a<br />

trabalhar com Gilberto Gil e Gal Costa. Naquela época, até Luiz<br />

Gonzaga o esqueceu um pouco, por incrível que pareça.<br />

Você acha que esse panorama está se modificando?<br />

Muito, porque os filhos e os netos das pessoas que<br />

tinham preconceito aderiram ao instrumento com grande<br />

facilidade por causa da tecnologia. Quem está acostumado,<br />

percebe que o acordeão é um teclado de pescoço. Então,<br />

não tem vergonha.<br />

O acordeão no <strong>Brasil</strong> sempre foi muito ligado à música<br />

regional. Em outros países isso é diferente?<br />

Ele faz parte da cultura de todos os países que visitei. Na<br />

França, por exemplo, até hoje usam o mesmo ritmo. Na Itália<br />

e na Alemanha, também. <strong>Brasil</strong>eiro é que gosta de inovar. Para<br />

me destacar e não ser mais um conservador, gravei música<br />

clássica em ritmo de forró. Fui o primeiro a utilizar pedal. A crítica<br />

me massacrou. Disseram que estava perdendo a originalidade,<br />

trocando violão e cavaquinho, instrumentos de regional, por<br />

guitarra e contrabaixo. Nem para fazer São João eles me convidavam.<br />

Falavam que era muito clássico. Mas insisti. Hoje, tenho<br />

personalidade no meu trabalho e tudo que eu fizer, “tá valendo”.<br />

Conquistei esse espaço debaixo de muita bordoada.<br />

Por que foi estudar na Europa?<br />

Estudei música clássica por 18 anos e ganhei uma bolsa<br />

para Milão. Minhas raízes sempre foram nordestinas, no entanto<br />

precisava conhecer mais o instrumento e outros gêneros,<br />

além de aprender a escrever, até para orquestra sinfônica.<br />

Enfim, saber música. Percebi que o acordeão não é regional,<br />

mas universal.<br />

26 Música e Imagem Música e Imagem<br />

27

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