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Considerações sobre a condição da mulher na Grécia ... - Mirabilia

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<strong>Mirabilia</strong> 01<br />

Dec 2001/ISSN 1676-5818<br />

Assim, nos contatos com suas phílai durante a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

domésticas que pressupunham um trabalho coletivo, em ocasiões de visitas às<br />

vizinhas, <strong>na</strong>s i<strong>da</strong>s à fonte, <strong>na</strong> colheita de frutos, as esposas encontravam a<br />

possibili<strong>da</strong>de de dialogarem entre si, transmitindo informações e,<br />

simultaneamente, se mantendo informa<strong>da</strong>s acerca dos acontecimentos e dos<br />

saberes que circulavam <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de políade (Lessa, 1999: 160-161).<br />

Luís Garcia Iglésias trabalha mesmo com a hipótese de uma participação <strong>da</strong><br />

esposa, de forma indireta, <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> política. Segundo este autor, as opiniões <strong>da</strong>s<br />

esposas podiam de fato sensibilizar os maridos <strong>na</strong>s decisões que estes<br />

tomavam <strong>na</strong> Assembléia (Iglésias, 1986: 108).<br />

Com relação à condição femini<strong>na</strong> em Esparta para o mesmo período,<br />

observamos que suas <strong>mulher</strong>es pareciam ter uma “liber<strong>da</strong>de” maior que as<br />

atenienses. Inclusive, Aristóteles <strong>na</strong> Política, ao criticar as falhas do regime<br />

espartano, tratava, logo após a ameaça dos hilotas, a <strong>da</strong>s <strong>mulher</strong>es. Segundo<br />

ele, as esparta<strong>na</strong>s eram até licenciosas, deprava<strong>da</strong>s e luxuriosas. Acusava-as,<br />

principalmente, de man<strong>da</strong>rem nos maridos, deixando subentendido que o<br />

motivo disto estava no fato de muitas viúvas casarem novamente, levando<br />

consigo os direitos <strong>sobre</strong> o lote de terra (kléros) cultivado pelos hilotas.<br />

Observemos suas palavras:<br />

"(...) <strong>da</strong> mesma forma que o homem e a <strong>mulher</strong> são parte <strong>da</strong> família, é óbvio<br />

que a ci<strong>da</strong>de também é dividi<strong>da</strong> em uma metade de população masculi<strong>na</strong> e<br />

outra metade de população femini<strong>na</strong>, de tal forma que em to<strong>da</strong>s as<br />

constituições <strong>na</strong>s quais a posição <strong>da</strong>s <strong>mulher</strong>es é mal orde<strong>na</strong><strong>da</strong> se pode<br />

considerar que metade <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de não tem leis. Foi isto que aconteceu <strong>na</strong><br />

Lacedemônia, pois o legislador, querendo que to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de fosse<br />

igualmente belicosa, atingiu claramente o seu objetivo com relação aos<br />

homens, mas falhou quanto às <strong>mulher</strong>es que vivem licenciosamente,entregues<br />

a to<strong>da</strong>s as formas de depravação e <strong>da</strong> maneira mais luxuriosa. Disto resulta<br />

inevitavelmente que numa ci<strong>da</strong>de assim estrutura<strong>da</strong> a riqueza é<br />

excessivamente aprecia<strong>da</strong>, especialmente se os homens se deixam gover<strong>na</strong>r<br />

pelas <strong>mulher</strong>es (...) Existia tal característica entre os Lacedemônios, e no<br />

período de sua hegemonia muitos assuntos eram decididos pelas <strong>mulher</strong>es (...)<br />

as <strong>mulher</strong>es se tor<strong>na</strong>ram possuidoras de cerca de dois quintos de todo o<br />

território <strong>da</strong> Lacedemônia, por causa do grande número delas que her<strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> prática de <strong>da</strong>r grandes dotes (...) o mau comportamento <strong>da</strong><br />

<strong>mulher</strong> não somente infunde um ar de licenciosi<strong>da</strong>de à própria constituição,<br />

mas também tende de certo modo a estimular o amor à riqueza” (Aristóteles,<br />

Política, VI, 1270 a-b, pp. 60-61).<br />

Ain<strong>da</strong> que seja difícil considerar literalmente as palavras do Filósofo, ao<br />

menos a <strong>mulher</strong> esparta<strong>na</strong> tinha a possibili<strong>da</strong>de de uma vi<strong>da</strong> absolutamente<br />

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