05.01.2015 Views

A inserção internacional do cinema brasileiro e ... - Cultura Digital

A inserção internacional do cinema brasileiro e ... - Cultura Digital

A inserção internacional do cinema brasileiro e ... - Cultura Digital

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A INSERÇÃO INTERNACIONAL DO CINEMA BRASILEIRO E INTERFACES<br />

COM TEMPORADAS CULTURAIS E FESTIVAIS.<br />

João Henrique Catraio Monteiro Aguiar 1<br />

RESUMO: O presente trabalho visa delinear a política <strong>cinema</strong>tográfica contemporânea, de<br />

forma breve, apresentan<strong>do</strong> suas origens e conseqüências. Em seguida, pretende-se apresentar<br />

iniciativas internacionais de relevância para a configuração <strong>do</strong> campo <strong>cinema</strong>tográfico. Ten<strong>do</strong><br />

em vista as duas partes citadas, pretende-se mostrar caminhos segui<strong>do</strong>s pelo Brasil com<br />

alguns exemplos e mostran<strong>do</strong> sua conexão com temporadas culturais e festivais.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Política cultural externa; políticas <strong>cinema</strong>tográficas; temporadas<br />

culturais; festivais; <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong>.<br />

1. Sobre as políticas de <strong>cinema</strong> brasileiras<br />

Dentro da nova orientação da administração pública 2 brasileira, que visava instituir o<br />

modelo gerencial (não mais burocrático) ligada a reforma <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> governo Car<strong>do</strong>so;<br />

surgiram as agências regula<strong>do</strong>ras no plano federal 3 . Ligadas inicialmente ao plano da energia,<br />

infrestrutura e comunicação, passou a ser multissetorial nos planos estaduais. Depois de um<br />

tempo incorporou outros planos, como o <strong>cinema</strong>, que em 2001 resultou na criação da<br />

ANCINE 4 . Porém, antes já existiram idas e vindas das políticas culturais, diversas iniciativas<br />

para o <strong>cinema</strong>, como forma de intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na economia cultural desse setor. Desde<br />

os tempos de Humberto Mauro e Roquette Pinto (com o INCE), passan<strong>do</strong> pelo INC com<br />

inspiração em Alberto Cavalcanti e EMBRAFILME (influenciada pelo <strong>cinema</strong>-novo e por<br />

Paulo Emílio Salles Gomes), até a expansão <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong> com a Retomada.<br />

1 Mestran<strong>do</strong> em Relações Internacionais (UERJ). Bolsista CAPES. E-mail: catraioaguiar@bol.com.br.<br />

2 Que visava aumentar a celeridade processual, dar mais autonomia e independência econômica e decisória,<br />

flexibilizar a execução de serviços públicos com o mínimo de intervenção estatal (e por isso liga<strong>do</strong> às<br />

privatizações), autonomia organizacional jurídica, dar mais credibilidade regulatória, etc.<br />

3 Cf. NUNES, Edson; PEIXOTO, Vitor; RIBEIRO, Leandro M. Agências regula<strong>do</strong>ras no Brasil. In: AVELAR,<br />

Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (orgs.). Sistema político <strong>brasileiro</strong>: uma introdução. Rio de Janeiro: Konrad-<br />

Adenaur-Stiftung / São Paulo: Editora UNESP, 2007.<br />

4 Criação que é tributária de outros esforços anteriores, como o III Congresso Brasileiro de Cinema , de 2000, e o<br />

Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria <strong>do</strong> Cinema, <strong>do</strong> mesmo ano. Ambos propõem mudanças nas<br />

estratégias setoriais e apontam a necessidade de criação de um órgão gestor (AZULAY, 2005). Fruto da<br />

mobilização desse ano é, em parte, a ANCINAV, que chegou a ser pensada em conexão com o campo<br />

audiovisual. Proposta que progressivamente seria aban<strong>do</strong>nada conforme se consolidava a própria ANCINE,<br />

descartan<strong>do</strong> a criação de outra agência regula<strong>do</strong>ra ou a transformação <strong>do</strong> estatuto da que já havia si<strong>do</strong> criada.<br />

1


Dentro <strong>do</strong> desenvolvimento recente <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> no Brasil, depois da difícil situação <strong>do</strong><br />

setor durante a gestão de Ipojuca Pontes na Secretaria de <strong>Cultura</strong> <strong>do</strong> Brasil, virá Sérgio Paulo<br />

Rouanet, para ocupar o mesmo cargo, durante o governo Collor. Surgin<strong>do</strong> então a Lei<br />

Rouanet, que será tão importante para o setor cultural quanto a Lei Sarney, de quase uma<br />

década antes. Dois anos depois da Lei Rouanet, <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> secretário de Fernan<strong>do</strong> Collor,<br />

virá, em 1993, a Lei <strong>do</strong> Audiovisual. Essas leis de incentivo 5 são base para a construção <strong>do</strong><br />

que foi chama<strong>do</strong> de Retomada. Afinal, elas permitiriam a entrada de empresas nos<br />

investimentos culturais, vinculan<strong>do</strong> compromisso empresarial com a sociedade e marketing<br />

cultural; através de uma política de parceria entre trabalha<strong>do</strong>res da cultura, Esta<strong>do</strong> e empresas<br />

privadas (MOISÉS, 1998). Diretriz essa que substitui a orientação de intervenção subsumida<br />

nas políticas estatais anteriores não-neoliberais.<br />

Os atos de incentivo e regulação visavam a possibilidade de captação de recursos,<br />

desburocratização, estímulo a um merca<strong>do</strong> de intermediação cultural, e ações em diversos<br />

setores culturais (aumentadas exponencialmente com as leis de incentivo), assim como<br />

prêmios 6 . No caso da Retomada, verifica-se a inversão de um quadro nocivo <strong>do</strong>s anos 1990,<br />

em que o país estivera com menos de 1% de exibição de filmes <strong>brasileiro</strong>s em seu próprio<br />

território, contrastan<strong>do</strong> com a força <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>do</strong>s anos 1970. Porém, desde as leis de<br />

incentivo houve uma transição, de 47 filmes em 1990, a 12 filmes em 1994, até 40 filmes em<br />

2002; a Retomada também apresentou variedade estética, e temas candentes (como<br />

globalização e exclusão social), além de <strong>do</strong>cumentários de repercussão, lançan<strong>do</strong><br />

<strong>internacional</strong>mente, amplian<strong>do</strong> a produção regional e feminina, em um <strong>cinema</strong> que estava<br />

praticamente dizima<strong>do</strong> (CAETANO, 2007). A Retomada se insere dentro de um panorama<br />

maior, de ciclos, em que foram testadas inúmeras estratégias de proteção e fomento <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />

<strong>brasileiro</strong>, como a cota de tela, a reserva de merca<strong>do</strong>, financiamento, leis, etc. (SIMIS, 2010).<br />

Coroan<strong>do</strong> o ciclo que fez retomar o <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong> a posição que lhe era devida antes da<br />

queda, está a criação da ANCINE, órgão que irá revisar diversas políticas <strong>do</strong> setor cultural em<br />

tela.<br />

A criação <strong>do</strong> Conselho Superior de Cinema e da ANCINE acompanhou uma<br />

perspectiva <strong>internacional</strong> direcionada em quatro eixos: defesa da diversidade cultural, atuação<br />

assertiva no sistema multilateral de comércios e serviços, integração regional, cooperação<br />

5 Na contramão <strong>do</strong>s argumentos favoráveis às leis de incentivo, estariam as críticas de intelectuais e pessoas <strong>do</strong><br />

setor que consideram elas como meio de deslocar um investimento que poderia (e/ou deveria) ser público, e<br />

colocá-lo nas mãos da iniciativa privada, que nem sempre teria fôlego ou interesse em estimular o <strong>cinema</strong>. Junto<br />

com as leis de incentivo também foram cria<strong>do</strong>s prêmios e competições específicas.<br />

6 MOISÉS, José Álvaro. Os efeitos das leis de incentivo. In: SOUZA, Márcio; WEFFORT, Francisco (orgs.).<br />

Um olhar sobre a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Associação de amigos da FUNARTE, 1998. pp. 421-444.<br />

2


ilateral 7 . Porém, cada vez mais é preciso ir além, e criar público, merca<strong>do</strong>, diversificação<br />

econômica e defesa da diversidade; incorporan<strong>do</strong> as manifestações culturais de massa que têm<br />

surgi<strong>do</strong> espontaneamente (em periferias principalmente), desenvolven<strong>do</strong> a economia da<br />

cultura (AZULAY, 2007). Já durante o governo Lula se associou a essa dimensão uma<br />

inserção maior <strong>do</strong> MinC no setor, uma vez que a ANCINE passaria, durante esse perío<strong>do</strong>, da<br />

alçada da Casa Civil para o Ministério da <strong>Cultura</strong> e surgiria a Secretaria de Audiovisual,<br />

também <strong>do</strong> MinC. Junto com o Conselho Superior de Cinema e a ANCINE, a SAV-MinC<br />

compõe o “tripé de formulação/execução <strong>do</strong> audiovisual”.<br />

Outras instituições, como a Cinemateca Brasileira e o Centro Técnico Audiovisual,<br />

também se vinculariam à Secretaria de Audiovisual. A articulação de elos na cadeia produtiva<br />

seria buscada, jogan<strong>do</strong> ênfase também na regionalização e na democratização (principalmente<br />

com o cineclubismo e a difusão-não comercial), houve intenção de realçar o la<strong>do</strong><br />

comunicativo da cultura, e grande esforço na execução <strong>do</strong> projeto DOCTV (BEZERRA;<br />

MOREIRA; ROCHA, 2010). Sobre esse último ponto 8 pode-se inquirir sobre a necessidade<br />

de construir experiências nacionais de difusão, mas também coprodução, orquestração entre<br />

diversos atores (no caso, o MinC, a Fundação Padre Anchieta, a TV <strong>Cultura</strong>, governos<br />

estaduais, entre outros), descentralização e abertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> audiovisual <strong>brasileiro</strong>,<br />

acionamento de toda cadeia <strong>do</strong> audiovisual, etc.<br />

Em geral, ainda que aponte para questões merca<strong>do</strong>lógicas, o eixo em torno <strong>do</strong> qual<br />

gravitam essas ações não são <strong>do</strong> plano econômico ou comunicacional. Eles não estão<br />

vincula<strong>do</strong>s a um ministério de comércio exterior ou da fazenda, tampouco de comunicação.<br />

Eles estão associa<strong>do</strong>s ao ministério que é da cultura... Há a parte cultural dessa atividade<br />

audiovisual; mas também existe a parte mais comercial, industrial, <strong>do</strong>s serviços, <strong>do</strong> comércio<br />

exterior, etc. De grande valia poderia ser considerada a ação <strong>do</strong> MDIC 9 , cuja análise enfoca<br />

ganhos econômicos para o setor. Consideran<strong>do</strong> o campo da indústria cultural 10 , pode-se dizer<br />

7 AZULAY, Jom Tob. Política <strong>cinema</strong>tográfica brasileira na virada <strong>do</strong> século (revista “Diplomacia, Estratégia,<br />

Política” <strong>do</strong> MRE). Fev. 2005. Disponível em: http://ancinet/palavra/politica_<strong>cinema</strong>tigrafica.asp. Acesso em:<br />

03/03/2005. 14 pgs.<br />

8 Sobre o DOCTV, ver: BEZERRA, Laura; MOREIRA, Fayga Rocha; ROCHA, Renata. A secretaria <strong>do</strong><br />

Audiovisual: políticas de cultura, políticas de comunicação. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.).<br />

Políticas culturais no governo Lula. Salva<strong>do</strong>r: EDUFBA, 2010. pp. 137-153.<br />

9 Cf. BRASIL/MDIC. Estu<strong>do</strong>/Relatório Oportunidades de negócios em serviços: Brasil e França. Brasil: MDIC,<br />

2009.<br />

10 Que incluiria as seguintes dimensões: 1. Produção musical, incluin<strong>do</strong> gravação, apresentação ao vivo, edição<br />

musical; 2. Cinema e televisão, incluin<strong>do</strong> produções locais; 3. Mídia de informação e entretenimento nãoimpressa<br />

(como rádio, TV aberta, a cabo e via satélite, internet, telefones móveis); 4. Atividade editorial; 5.<br />

Artes cênicas; 6.Artes visuais; 7. Festivais e turismo cultural; 8. Indústria da moda; 9. Gestão de direitos autorais<br />

e direitos relaciona<strong>do</strong>s. (Ibid. Pg. 63). Curiosamente, a maior parte dessas dimensões citadas estaria presente nas<br />

temporadas culturais escolhidas para estu<strong>do</strong> de caso (Brésil, Brésils; França.Br2009). Isso significa que a<br />

3


que a França é forte, 236 empresas de mídia televisiva, editoras, mídia impressa, <strong>cinema</strong>, e<br />

outras relacionadas ao setor, atuam só no Brasil. Mas o mais importante no caso <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />

<strong>brasileiro</strong>, de acor<strong>do</strong> com o MDIC no seu Relatório, é o apoio e promoção das exportações, e<br />

atração <strong>do</strong>s investimentos estrangeiros. Como essas questões têm importância, é importante<br />

levar em conta as palavras <strong>do</strong> ministério: “(...) o Grupo de Trabalho Econômico e Comercial<br />

de Alto Nível Brasil-França pode se constituir num facilita<strong>do</strong>r 11 ”.<br />

Com relação ao que ocorreu com o <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong> entre 2001 e 2008, pode-se dizer<br />

que sofreu a influência de diversos fenômenos. Como os que já foram menciona<strong>do</strong>s, internos;<br />

e os externos, tais como: as tensões dentro da OMC (em que o Brasil é “protecionista” com<br />

bens culturais, mas “liberal” com bens agrícolas), a globalização cultural, hegemonia cultural<br />

estadunidense, tensões/conflitos mundiais, processos de integração regional, etc. Sobre esses<br />

desafios internacionais pesam questões variadas, como a identidade nacional, as modalidades<br />

de política cultural. Temas que já foram debati<strong>do</strong>s anteriormente no espaço dessa dissertação.<br />

2. Iniciativas internacionais relevantes<br />

Ainda no campo das influências, existem as iniciativas estatais (como as leis, as<br />

autarquias, e os ministérios), mas além delas, existe a articulação com modalidades<br />

internacionais de ação cultural. Nisso entram os grandes eventos, festivais e temporadas, que<br />

são desenvolvidas com mais intensidade principalmente desde a segunda metade <strong>do</strong> século<br />

XX. Aqui pesam fenômenos globais como os festivais europeus, e também a forma de lidar<br />

com o <strong>cinema</strong> que floresceu na França. Da mesma forma, é preciso lidar com referências <strong>do</strong><br />

mesmo continente <strong>do</strong> Brasil (o continente americano), como Hollywood, e outras distantes, de<br />

outros continentes, como Bollywood. A produção de Índia, França e Europa são casos<br />

relevantes, pois são justamente os maiores competi<strong>do</strong>res da produção estadunidense, além <strong>do</strong>s<br />

desafios da pirataria e das leis anti-truste em outros países 12 . O <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong> se vê de<br />

frente a desafios como a expansão global hollywoodiana, e da criação de condições para<br />

coproduções que possibilitem filmes competitivos no merca<strong>do</strong> global <strong>cinema</strong>tográfico.<br />

O <strong>cinema</strong> estadunidense guarda a maior parte <strong>do</strong>s lucros (acima de 70% <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>) na<br />

soma global <strong>do</strong> setor, é bem distribuí<strong>do</strong> <strong>internacional</strong>mente, tem grande desenvolvimento<br />

dimensão econômica e comercial tem importância para as temporadas culturais, mesmo que não seja a única<br />

parte que compõe as mesmas, da mesma forma como as parte culturais e políticas não o são.<br />

11 Op. Cit. Pg. 65.<br />

12 WASKO, Janet. Por que Hollywood é global In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria,<br />

política e merca<strong>do</strong>: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>. Volume IV. São Paulo: Escrituras Editora,<br />

2007. pp. 43-45.<br />

4


técnico/tecnológico, uma estética de apelo global; além de ter o maior merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico de<br />

<strong>cinema</strong> (WASKO, 2007). Associa<strong>do</strong> a isso estão diversos fatores (históricos, políticos, e<br />

econômicos-políticos), conforme Wasko 13 : a orientação comercial desde o início, a expansão<br />

devi<strong>do</strong> à crise <strong>do</strong> setor na Europa entre 1914 e 1945, lobbies estadunidenses e apoio estatal,<br />

distribuição de produtos associa<strong>do</strong>s aos filmes de diferentes espectros de mídia, atração de<br />

talentos locais de outros países, coproduções, propriedade <strong>internacional</strong> de algumas majors 14 .<br />

Características diferenciadas têm Bollywood, centro <strong>cinema</strong>tográfico indiano.<br />

Produzin<strong>do</strong> milhares de filmes por ano, com traços mais liga<strong>do</strong>s ao híndi (que ao inglês ou<br />

árabe), por ação de conglomera<strong>do</strong>s, de gêneros específicos 15 , muita dança e música, e<br />

referências eventuais às tradições ou às questões conjunturais mais candentes (GANTI, 2004).<br />

Conforme Tejaswini Ganti (2004), os custos <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> indiano recaem mais sobre o elenco e<br />

a equipe técnica <strong>do</strong> que sobre a produção e a distribuição, segue nesse senti<strong>do</strong> o fato de eles<br />

usarem uma linha linguistica específica, falada em Rajasthan, Uttar Pradesh e na região norte<br />

em geral. Não usan<strong>do</strong> o(s) dialeto(s) da atual Mumbai, o <strong>cinema</strong> de Bollywood pode se<br />

expandir pela maior parte <strong>do</strong> território nacional. Por ter apelo não necessariamente nacional<br />

foi contraposto a iniciativas <strong>do</strong> próprio governo indiano para o <strong>cinema</strong>, incentivan<strong>do</strong> filmes<br />

“mais artísticos e menos comerciais”. Pesou sobre o desenvolvimento da <strong>cinema</strong>tografia<br />

indiana, em sua vertente nacional, a rejeição de Mahatma Gandhi pelo <strong>cinema</strong>, que,<br />

infelizmente, atrasou a possibilidade de desenvolvimento para além <strong>do</strong> eixo Bombaim.<br />

Principalmente devi<strong>do</strong> à incorporação na <strong>cinema</strong>tografia de diversos países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

de questões ligadas à diversidade cultural, à globalização, e etc., pode-se encontrar uma<br />

expansão de Bollywood dentro das produções mais hollywoodianas. Exemplos disso são os<br />

filmes “Moulin Rouge – Amor em vermelho” (2001) de Baz Luhrmann; e “Quem quer ser um<br />

milionário” (2008) de Danny Boyle. O primeiro foi coprodução <strong>do</strong>s EUA com a Austrália, e<br />

o segun<strong>do</strong> ainda que seja eminentemente britânico, foi produzi<strong>do</strong> pela major Fox e foi<br />

filma<strong>do</strong> na Índia (em Uttar Pradesh, inclusive). Frente ao poder hollywoodiano, os europeus,<br />

13 Idem. pp. 37-41.<br />

14 Op. Cit. pp. 40. Nesse âmbito são de grande importância a News Corp. (Austrália) que controla a Twentieth<br />

Century Fox, a Vivendi (França) que controla a Universal Pictures, e a Sony (Japão) que controla a<br />

Columbia/Tristar. Os filmes produzi<strong>do</strong>s são estadunidenses, muitos ten<strong>do</strong> ganha<strong>do</strong> prêmios no Oscar, mas as<br />

produções estão sob controle de não-estadunidenses. Com relação à Vivendi, ela venderia posteriormente grande<br />

parte de sua participação na Universal para a General Eletric, mas ao mesmo tempo investiria em outros ramos<br />

como o videogame, em que controlaria a Blizzard e a Activision, sen<strong>do</strong> responsável por um <strong>do</strong>s jogos de maior<br />

expressão no início <strong>do</strong> século XXI: Warcraft. Ela agora se apresenta como uma das majors <strong>do</strong> videogame, junto<br />

com Ninten<strong>do</strong>, Microsoft e Sony.<br />

15 Que variaram com o tempo, como, de acor<strong>do</strong> com Ganti: “filmes de santos”, “filmes de acha<strong>do</strong>s e perdi<strong>do</strong>s”,<br />

“entretenimento familiar”; etc.<br />

5


também realizaram diversas coproduções. Mas também desenvolveram formas de apoio<br />

público supranacional (além das políticas estatais) para realização de filmes.<br />

Nos maiores merca<strong>do</strong>s <strong>cinema</strong>tográficos europeus (França, Alemanha, Itália, Reino<br />

Uni<strong>do</strong> e Espanha) existem órgãos nacionais (Unifrance; Marketing GmbH, AIP Filmitalia,<br />

Film Exports Group) que atuam para a promoção <strong>do</strong> filme nacional; mas existem iniciativas<br />

supranacionais como o programa MEDIA (e Media Vendas), o European Film Promotion (e o<br />

programa Film Sales Support), Europa Cinemas, bancos de da<strong>do</strong>s e informações europeus;<br />

ten<strong>do</strong> cada uma das instituições europeias uma função específica (TURÉGANO, 2007). O<br />

MEDIA, por exemplo, desde 1991, treina profissionais, desenvolve projetos, auxilia na<br />

circulação e promoção de obras de <strong>cinema</strong> e audiovisual em eventos e festivais, e atua sobre a<br />

distribuição. Ele inspirou o programa Ibermedia cria<strong>do</strong> em 1997, em uma cimeira de chefes<br />

de governo e de esta<strong>do</strong> da Iberoamerica. Dentro <strong>do</strong> processo de constituição de uma estratégia<br />

européia para o <strong>cinema</strong> pesam as diretrizes maiores <strong>do</strong> projeto de integração europeu, em que<br />

muitas vezes são feitas redes supranacionais que congregam iniciativas nacionais estatais,<br />

forman<strong>do</strong> uma complexa ação multinível.<br />

De destacada importância também são os festivais 16 , que tem origens no século XIX.<br />

Mônaco foi quem organizou em 1898 o primeiro festival de filmes; ainda que só o Festival de<br />

Veneza seja o primeiro a ter regularidade. Eles se articulam com os grandes eventos como as<br />

Exposições Universais. Sen<strong>do</strong> algo cuja origem aponta para a Europa, grande parte das<br />

questões econômicas, políticas, culturais e sociais dentro dessa ação cultural <strong>internacional</strong><br />

estão ilustradas no cenário europeu. O Festival de Veneza foi associa<strong>do</strong> à propaganda e<br />

turismo nos anos 1930, Cannes 17 foi criada inicialmente como reação <strong>do</strong>s futuros alia<strong>do</strong>s<br />

contra o festival italiano, e junto com, Karlovy Vary (1946), Edimbugo (1946), Bruxelas<br />

(1947), a Berlinale (1951), Oberhausen (1954), entre outros, compõem um cenário denso de<br />

festivais <strong>cinema</strong>tográficos europeus ainda na metade <strong>do</strong> século XX (VALCK, 2007).<br />

Tal como os festivais de Salzbourg e de Leipzig, os festivais cita<strong>do</strong>s penderam para<br />

<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s durante um bom tempo: entre ser turístico-comercial, e ser político-ideológico.<br />

Com o tempo, alguns se consolidaram, como Cannes, que atraía o brilho/glamour de<br />

celebridades ricas/famosas, sen<strong>do</strong> quase desnecessário realçar o papel <strong>do</strong>s escândalos e<br />

esforços de autopromoção na configuração desse festival. Porém, nesse caso específico, as<br />

16 Além <strong>do</strong>s festivais, é importante ressaltar a importância <strong>do</strong> público interno para a projeção de filmes, assim<br />

como <strong>do</strong> apoio aos cineastas por empresas ou governos, bem como medidas de exportação de filmes.<br />

17 A primeira teria si<strong>do</strong> criada em 1939, mas fora cancelada poucos após o começo, devi<strong>do</strong> à guerra. A primeira<br />

edição completa <strong>do</strong> Festival de Cannes, sem interrupção, seria somente em 1946.<br />

6


agitações sociais de 1968 e a Nouvelle Vague 18 se contrapunham à associação entre Cannes e<br />

as grandes indústrias <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>, o que permitiu o surgimento em Cannes da Quinzaine des<br />

Réalisateurs 19 . Recentemente, Cannes virou um centro de negócios, compras e vendas <strong>do</strong><br />

setor, dentro de um circuito <strong>internacional</strong> de festivais ten<strong>do</strong> sessões específicas para<br />

determina<strong>do</strong>s tipos de filmes, assim acolheu mais “filmes de festivais” 20 .<br />

Em face dessas questões é importante ressaltar questões específicas da França. Foi<br />

nesse país que surgiu essa arte, com os irmãos Lumière 21 , que com o <strong>cinema</strong>tógrafo,<br />

autocromo, e projeções privadas e públicas criaram condições para que se projetassem toda<br />

uma espécie de arte. O mesmo boom que hoje (início <strong>do</strong> século XXI) se vê na web-arte ou nas<br />

artes tecnológicas que utilizam mídias cada vez mais novas (ou mais velhas), era semelhante<br />

ao que fora observa<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> século XIX, em plena Belle Époque francesa. Daí até a<br />

configuração de Hollywood não demorou muito tempo. Todavia, o que importa é que a<br />

França desde o início da sétima arte tem se projeta<strong>do</strong> de forma diferenciada, a exemplo de<br />

Cannes cuja primeira edição seria em 1939.<br />

Recentemente, há apostas e desafios liga<strong>do</strong>s a diversas esferas: econômico-comercial,<br />

cultural, de financiamento, de penetração em merca<strong>do</strong>s regionais, etc. Os franceses têm como<br />

desafio a língua (francês) <strong>do</strong>s filmes, a concorrência econômica de Hollywood, e a quase<br />

inexistência de estrelas globais 22 (GRAS, 1999); mas tem como apostas a grande produção de<br />

filmes, a grande participação de filmes franceses no merca<strong>do</strong> nacional, ação de instituições<br />

públicas francesas (AUGROS, 2007). Um <strong>do</strong>s maiores sustentáculos dessas apostas, além <strong>do</strong><br />

que é feito supranacionalmente, conforme realça Jöel Augros (2007: 120-124) é a própria<br />

intervenção estatal com taxas (sobre ingressos, sobre vendas de distribui<strong>do</strong>res, sobre difusão<br />

18 Que teve grande influência na <strong>cinema</strong>tografia brasileira da época, ten<strong>do</strong> se correspondi<strong>do</strong> vários diretores<br />

<strong>brasileiro</strong>s e franceses. O “<strong>cinema</strong> <strong>do</strong> autor” e o <strong>cinema</strong> de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” eram<br />

muito próximos em termos de estética e de economia cultural, uma vez que diversos deles eram obras de baixo<br />

orçamento. Eles contrastavam enormemente com o <strong>cinema</strong> comercial, volta<strong>do</strong> para conquistar público, com um<br />

investimento pesa<strong>do</strong> na construção da obra, mais <strong>do</strong> que na formulação de uma proposta artística inova<strong>do</strong>ra.<br />

Encarnan<strong>do</strong>, dessa forma, uma proposta que se diferencia <strong>do</strong> que é feito em Hollywood e também em<br />

Bollywood. Também é proposta diferenciada de <strong>cinema</strong>tografias onde o Esta<strong>do</strong> configura o <strong>cinema</strong> de forma a<br />

promover determina<strong>do</strong>s grupos políticos ou grupos culturais próximos ao grupo que está no poder. Para isso<br />

costumam serem financia<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> (e promovi<strong>do</strong>s no exterior) filmes realistas e <strong>do</strong>cumentários, onde um<br />

<strong>do</strong>s exemplos marcantes é o “Triunfo da vontade”, <strong>do</strong>cumentário que enaltecia o governo hitlerista da Alemanha<br />

Nazista.<br />

19 Esse seria paralelo e independente, incluin<strong>do</strong> os filmes marginais, radicais ou de jovens. Após esse esforço, já<br />

nos anos 1980, cresceriam festivais com <strong>cinema</strong> ativista (com poder de narrar), com terceiro <strong>cinema</strong>, com filmes<br />

independentes, etc.<br />

20 VALCK, Marijke de. As várias faces <strong>do</strong>s festivais de <strong>cinema</strong> europeus. In: MELEIRO, Alessandra (org.).<br />

Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>: Europa. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>. Volume V. São Paulo:<br />

Escrituras Editora, 2007.<br />

21 Eles ganharam uma exposição sobre os autocromos no Ano da França no Brasil (2009).<br />

22 Ainda que existam alguns nomes de peso, como: Gérard Depardieu, Catherine Deneuve, Marion Cotilard, Jean<br />

Reno, Audrey Tautou, Sophie Marceu, Vincent Cassel, entre outros.<br />

7


de filmes pornográficos, sobre o faturamento <strong>do</strong>s canais de televisão), subsídios seletivos e<br />

automáticos 23 , investimentos de canais de televisão. É evidente que essas dimensões de ação<br />

política interna são indissociáveis da política externa, uma vez que regulações e taxações<br />

implicam em incentivos em festivais e coproduções internacionais.<br />

A França resiste aos avanços de outros <strong>cinema</strong>s fortes, como o <strong>do</strong>s EUA, manten<strong>do</strong><br />

eleva<strong>do</strong> seu percentual de filmes nacionais no próprio território. Esse modelo de<br />

preponderância de filmes <strong>brasileiro</strong>s no merca<strong>do</strong> <strong>brasileiro</strong>, ainda que interessante para o<br />

Brasil, não é busca<strong>do</strong> com afinco. Ao invés de conexões com outras <strong>cinema</strong>tografias, de<br />

realçar a nacionalidade e a cidadania, de atuar em conjunto com outras modalidades<br />

audiovisuais, a renda e o número de público atrairiam mais muitos.<br />

3. Opções brasileiras de destaque no plano <strong>internacional</strong>.<br />

Interligan<strong>do</strong> políticas internas e externas encontram-se diversas iniciativas. Entre as<br />

que envolvem Brasil e França está o Programa de Difusão <strong>do</strong> Audiovisual Brasileiro,<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pela Embaixada <strong>do</strong> Brasil na França. Em 2009, houve a inclusão no apoio <strong>do</strong><br />

posto à programação de cinco festivais, mostras e encontros, e a criação de uma videoteca.<br />

Vale lembrar que esse era o ano em que ocorreria o Ano da França no Brasil, e já se sentia na<br />

França os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s com o Ano <strong>do</strong> Brasil na França (2005).<br />

Ainda que a <strong>do</strong>tação orçamentária para a cultura enquanto política ministerial ou<br />

diplomacia cultural não seja muito invejável, ele pode ser utiliza<strong>do</strong> de forma coerente. A<br />

inserção <strong>internacional</strong> <strong>cinema</strong>tográfica <strong>do</strong> Brasil teve nas temporadas culturais 24 (no caso, as<br />

franco-brasileiras de 2005 e 2009) uma força de apoio, pois através delas mais coproduções<br />

surgiram e mais acor<strong>do</strong>s foram firma<strong>do</strong>s ou discuti<strong>do</strong>s. A fim de expandir as benesses desse<br />

contato cultural planeja<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>, o país pode atuar com incentivos a Semanas de<br />

Cinema, Festivais, e Prêmios, como o país tem feito através de embaixadas e sob coordenação<br />

<strong>do</strong> Itamaraty. Inclusive, o MRE participa da seleção de filme <strong>brasileiro</strong> para concorrer ao<br />

Oscar de melhor filme estrangeiro 25 .<br />

23 Os primeiros seriam mais liga<strong>do</strong>s aos filmes mais artísticos, culturais. Os últimos seriam mais liga<strong>do</strong>s a filmes<br />

mais comerciais. Por conta disso, os “automáticos” teriam mais fluxo de investimento que os “seletivos”.<br />

24 Além das temporadas culturais, destacam-se os festivais e os megaeventos enquanto políticas culturais<br />

<strong>internacional</strong>istas de impacto atualmente, e as mesmas podem ser veículo de transformações ensejadas desde os<br />

órgãos multilaterais (AGUIAR, 2011).<br />

25 Para o Oscar 2012 foi seleciona<strong>do</strong> o blockbuster “Tropa de Elite 2”, que não concorreu ao Oscar. Em<br />

compensação, o filme “Rio”, filme de animação produzida nos EUA, com música e anima<strong>do</strong>r <strong>brasileiro</strong>s,<br />

concorreu.<br />

8


A seguir, complementan<strong>do</strong> a visão mais geral apresentada <strong>do</strong> setor <strong>cinema</strong>tográfico,<br />

será feita uma análise a partir <strong>do</strong>s catálogos de filmes coleta<strong>do</strong>s junto ao Itamaraty 26 (que<br />

também contam com a participação de MinC e ANCINE). São 5 catálogos de filmes com<br />

projeção <strong>internacional</strong> e/ou de grande impacto dentro <strong>do</strong> cenário <strong>cinema</strong>tográfico <strong>brasileiro</strong>.<br />

Nesse material são cita<strong>do</strong>s 426 filmes, com especial enfoque sobre os que tiveram a produção<br />

finalizada entre 2004 e 2008 27 . Destacam-se alguns fatores nessas produções, como o amplo<br />

espaço cria<strong>do</strong> desde a América <strong>do</strong> Sul, a América Latina e a Iberoamérica, espaços que<br />

congregam iniciativas brasileiras. Também são de grande relevância os festivais<br />

internacionais realiza<strong>do</strong>s no Brasil, associa<strong>do</strong>s aos espaços cita<strong>do</strong>s.<br />

Afora isso, os <strong>do</strong>cumentários também assumiram grande importância, pois são<br />

difundi<strong>do</strong>s em um cenário <strong>internacional</strong> próprio, que muitas vezes só acolhem <strong>do</strong>cumentários<br />

(e às vezes curtas-metragens). O merca<strong>do</strong> desses filmes é reduzi<strong>do</strong>, e por isso eles precisam se<br />

projetar em festivais; ten<strong>do</strong> inclusive maior número de filmes com cunho ativista ou de<br />

“denúncia social” nesses meios <strong>do</strong> que nos de longa-metragem/ficção. Verifica-se uma<br />

concentração de exibição de filmes <strong>brasileiro</strong>s em festivais internacionais realiza<strong>do</strong>s no<br />

Brasil 28 .<br />

Das 993 exibições 29 internacionais de filmes <strong>brasileiro</strong>s entre 2004 e 2008, foram 397<br />

exibições no Brasil; ou seja, quase 40% das exibições foram realizadas, ao longo desse<br />

perío<strong>do</strong>, no Brasil. As 596 exibições pelo mun<strong>do</strong> são divididas, por regiões 30 . A América <strong>do</strong><br />

Norte e a Europa se constituem como os espaços de exibição mais importantes para os filmes<br />

<strong>brasileiro</strong>s no exterior. E mais que isso, como na Europa há um aumento exponencial de 2004<br />

a 2005, pode-se dizer que houve um papel vital <strong>do</strong> Ano <strong>do</strong> Brasil na França (temporada<br />

cultural franco-brasileira de 2005), no aumento de projeção <strong>internacional</strong> <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> <strong>brasileiro</strong><br />

no cenário europeu (de 44 para 95 exibições).<br />

26 Essa pesquisa fez parte de um conjunto de ações de pesquisa, cuja realização se deve ao mestra<strong>do</strong> que o autor<br />

está cursan<strong>do</strong> e que finalizará ainda no primeiro semestre de 2012.<br />

27 O que não impediria a presença de filmes em festivais ou mostras internacionais anteriores, já que, muitas<br />

vezes, o filme é lança<strong>do</strong> nesses meios para ter visibilidade no lançamento oficial e/ou incentivo econômico maior<br />

para execução da produção.<br />

28 Aqui estão sen<strong>do</strong> contabiliza<strong>do</strong>s festivais pelo local de realização e não pela concepção dele. Se o festival é<br />

latino-americano e não é realiza<strong>do</strong> em toda América Latina, mas só no Brasil, então esse será contabiliza<strong>do</strong>,<br />

aqui, como <strong>brasileiro</strong>.<br />

29 O número de exibições aqui demonstra<strong>do</strong> não é pelos dias em que ele ficou em cartaz. Sen<strong>do</strong> assim, estão<br />

sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s os filmes que foram exibi<strong>do</strong>s como exibição. Por exemplo, se o filme A ficou 10 dias em<br />

cartaz na Itália, e o filme B ficou 1 dia em cartaz na Itália, contarão 2 exibições na Itália (referentes ao filme A e<br />

ao filme B). Se o filme A foi exibi<strong>do</strong> ao mesmo tempo na Itália, no Brasil e na Alemanha, são 3 exibições, uma<br />

em cada país. Se ele foi exibi<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is festivais diferentes nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, então contarão como 2<br />

exibições nos EUA.<br />

30 É importante ressaltar que o México está incluí<strong>do</strong> no segmento da América <strong>do</strong> Norte. O Brasil foi excluí<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

circuito de exibições da América Latina, pois geraria distorções graves se fosse incluí<strong>do</strong>.<br />

9


Todavia, esse aumento não se sustentou nos anos subseqüentes, nem na França, nem<br />

na Europa. Porque foram 46 exibições em 2006, 33 em 2007, e 53 em 2008. Números que<br />

oscilam mais ou menos no padrão da Europa, pois em 2004, o número foi de 44. Ou seja, para<br />

que as temporadas culturais influenciem de fato um setor dentro de uma região <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

elas precisam ser feitas constantemente. E não deveriam ser espaçadas por tanto tempo como<br />

de 10 em 10 anos ou de 5 em 5 anos. Para alcançar os objetivos deseja<strong>do</strong>s, de aumento no<br />

fluxo de exibições em regiões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, é preciso ir além <strong>do</strong>s esforços de integração (que<br />

foram vitais para áreas como Iberoamérica, América Latina e América <strong>do</strong> Sul); e construir<br />

uma perene formulação de temporadas culturais, que sejam realizadas a cada ano em um país<br />

diferente, ou de cada ano incluir um país diferente em temporada cultural no país.<br />

Proposta semelhante fora salientada por Ruy Amaral na conclusão de seu livro sobre o<br />

Ano <strong>do</strong> Brasil na França (AMARAL, 2008), e é reforçada pela análise <strong>do</strong> caso setorial<br />

escolhi<strong>do</strong> aqui. Portanto, essa análise contempla, de fato, uma dimensão em que planejamento<br />

estatal coincide com os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> setor, e, por conta disso, talvez seja necessário repensar<br />

estratégias de longo prazo para além de disputas partidárias ou de grupo de pressão e tornar-se<br />

um planejamento de fato nacional. No campo bi ou multinacional destacaram-se também as<br />

coproduções, destacadas desde o momento inicial da Retomada. De 1995 a 2009 foram<br />

realizadas 79 coproduções 31 , desse número, foram 32 coproduções entre 2005 e 2009<br />

envolven<strong>do</strong> países europeus 32 . Nesse perío<strong>do</strong>, o país passou de 1 coprodução envolven<strong>do</strong> a<br />

França, no perío<strong>do</strong> de 1995 a 2004, para 3 envolven<strong>do</strong> o mesmo país após 2005 (até 2009).<br />

O que ressalta a importância para o aumento da coprodução entre Brasil e França no<br />

momento que seguiu ao Ano <strong>do</strong> Brasil na França. Nesse mesmo perío<strong>do</strong> de metade <strong>do</strong>s anos<br />

1990 até o fim da década de 2000, o que oscilou bastante foi o número de especta<strong>do</strong>res no<br />

Brasil, e o número de salas, que passou por queda vertiginosa da década de 1970 a década de<br />

1990, 33 aumentan<strong>do</strong> desde o fim da década de 1990, o que coincide com o aumento da<br />

31 Ver o site da ANCINE, com a quantidade de co-produções internacionais realizadas por ano e país (1995 a<br />

2009): http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/2010/OutrosRelatorios/1302.pdf.<br />

32 E durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de 1995 a 2009, o parceiro preferencial foi Portugal. De 79 co-produções no total,<br />

foram 41 envolven<strong>do</strong> só Portugal ou Portugal e outro país. O baixo índice de participação <strong>do</strong> Brasil em festivais<br />

internacionais portugueses é preocupante se contrasta<strong>do</strong> com esse da<strong>do</strong>, pois, sen<strong>do</strong> 271 exibições de filmes<br />

<strong>brasileiro</strong>s na Europa de 2004 a 2008, somente 20 foram em Portugal. Para fins de comparação, no mesmo<br />

perío<strong>do</strong>, foram 73 na França, onde o Brasil teve mais exibições na Europa; local com baixo número de<br />

coproduções se compara<strong>do</strong> com Portugal.<br />

33 Cf. SIMIS, Anita. Cinema e política <strong>cinema</strong>tográfica. In: BOLAÑO, Cesar; BRITTOS, Valério; GOLIN, Cida.<br />

(ogs.). Economia da arte e da cultura. Porto Alegre: PPGCOM/UFRGS/ São Cristóvão: OBSCOM/UFS/ São<br />

Paulo: Itaú <strong>Cultura</strong>l/ São Leopol<strong>do</strong>: CEPOS/UNISINOS, 2010. pp. 137-164.<br />

10


produção de filmes nacionais 34 também. Dessa forma, a Retomada, importante para o cenário<br />

interno <strong>do</strong> país, que envolve diversos fatores já cita<strong>do</strong>s, faz com que o país tenha condições<br />

internas para abrigar festivais internacionais e participar de festivais no exterior.<br />

Outro eixo ressalta<strong>do</strong> em catálogos, além das coproduções, é a diversidade cultural<br />

associada muitas vezes às propostas de integração regional nas suas vertentes culturais.<br />

Também surgiram filmes com enorme bilheteria, na casa <strong>do</strong>s milhões, desde 1995, com o<br />

filme “Carlota Joaquina” com quase 1 milhão e meio de especta<strong>do</strong>res 35 , passan<strong>do</strong> por filmes<br />

(no perío<strong>do</strong> de 2004 a 2008) como “Olga” e “Cazuza” em 2004, “2 filhos de Francisco” em<br />

2005, “Se eu fosse você” em 2006, “Tropa de Elite” em 2007, “Meu nome não é Johnny” em<br />

2008. Esse último já na casa <strong>do</strong>s 3 milhões de especta<strong>do</strong>res. Também foram buscadas<br />

conexões entre o <strong>cinema</strong> e a televisão, com fins a ter maior exibição e distribuição, bem como<br />

comercialização de produtos midiáticos associa<strong>do</strong>s aos filmes.<br />

É claro que existem muitos festivais que reforçam as incursões de empresas sobre o<br />

mun<strong>do</strong> das indústrias culturais. Um bom exemplo é o Festival Varilux de Cinema Francês 36 ,<br />

que além da empresa que dá o nome à iniciativa, estão presentes diversas empresas<br />

brasileiras, francesas e de outros países, desde 2010. Também se destacam iniciativas recentes<br />

que fazem uso <strong>do</strong> meio virtual. Em 2011 ocorre o primeiro festival on line de <strong>cinema</strong> francês,<br />

o MyFFF 37 , que trouxe a perspectiva de difusão <strong>cinema</strong>tográfica sem necessidade de deslocar<br />

materiais de <strong>cinema</strong> e nem pessoal envolvi<strong>do</strong>. Portanto, há fortes incentivos para que o campo<br />

<strong>cinema</strong>tográfico tenha uma maior consideração sobre as temporadas culturais. Assim como os<br />

festivais, elas podem incrementar a inserção <strong>internacional</strong> de um país através <strong>do</strong> <strong>cinema</strong>. O<br />

Brasil tem produzi<strong>do</strong> muito desde a Retomada e encontra agora meios para desenvolver maior<br />

inserção, para além <strong>do</strong> que já fora retoma<strong>do</strong>.<br />

34 O que implicaria em um aumento sustenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> percentual de participação de filmes <strong>brasileiro</strong>s dentro <strong>do</strong><br />

próprio merca<strong>do</strong> <strong>cinema</strong>tográfico <strong>brasileiro</strong> (ou market share). Esse índice é enorme nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na<br />

França, que são países que têm sustenta<strong>do</strong> bons números referentes a coprodução e participação <strong>cinema</strong>tográfica<br />

<strong>internacional</strong> ao longo século XX.<br />

35<br />

Sobre a primeira fase da Retomada, demonstran<strong>do</strong> diversos argumentos sustenta<strong>do</strong>s aqui, ver:<br />

BRASIL/MinC/Secretaria <strong>do</strong> Audiovisual. Cinema Brasileiro: um balanço <strong>do</strong>s 5 anos da retomada <strong>do</strong> <strong>cinema</strong><br />

nacional (1995-1999). Brasília: MinC/Secretaria <strong>do</strong> Audiovisual, 1999.<br />

36 Ver: http://www.festivalcinefrances.com/.<br />

37 My French Film Festival ocorreu no seguinte sítio: http://www.myfrenchfilmfestival.com.<br />

11


BIBLIOGRAFIA:<br />

AGUIAR, João Henrique Catraio Monteiro. Em direção ao diálogo entre culturas:<br />

temporadas culturais, grandes eventos e festivais como políticas culturais <strong>internacional</strong>istas.<br />

In: Anais <strong>do</strong> II Seminário Internacional de Políticas <strong>Cultura</strong>is – Desafios: os campos de<br />

formação em gestão cultural e da produção de informações. [CD-ROM]. Fundação Casa de<br />

Rui Barbosa; 2011; Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FCRB, 2011.<br />

AMARAL, Ruy Pacheco de Azeve<strong>do</strong>. O ano <strong>do</strong> Brasil na França: um modelo de intercâmbio<br />

cultural. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2008.<br />

AUGROS, Jöel. O <strong>cinema</strong> francês no fio da navalha In: MELEIRO, Alessandra (org.).<br />

Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>: Europa. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>.<br />

Volume V. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. pp. 115-136.<br />

AZULAY, Jom Tob. Política <strong>cinema</strong>tográfica brasileira na virada <strong>do</strong> século (revista<br />

“Diplomacia, Estratégia, Política” <strong>do</strong> MRE). Fev. 2005. Disponível em:<br />

http://ancinet/palavra/politica_<strong>cinema</strong>tigrafica.asp. Acesso em: 03/03/2005. 14 pgs.<br />

AZULAY, Jom Tob. Por uma política <strong>cinema</strong>tográfica brasileira para o século XXI. In:<br />

MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>: América<br />

Latina. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>. Volume II. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. pp. 65-<br />

97.<br />

BEZERRA, Laura; MOREIRA, Fayga Rocha; ROCHA, Renata. A secretaria <strong>do</strong> Audiovisual:<br />

políticas de cultura, políticas de comunicação. In: RUBIM, Antonio Albino Canelas (org.).<br />

Políticas culturais no governo Lula. Salva<strong>do</strong>r: EDUFBA, 2010. pp. 137-<br />

153.BRASIL/MinC/Secretaria <strong>do</strong> Audiovisual. Cinema Brasileiro: um balanço <strong>do</strong>s 5 anos da<br />

retomada <strong>do</strong> <strong>cinema</strong> nacional (1995-1999). Brasília: MinC/Secretaria <strong>do</strong> Audiovisual, 1999.<br />

BRASIL/MDIC. Estu<strong>do</strong>/Relatório Oportunidades de negócios em serviços: Brasil e França.<br />

Brasil: MDIC, 2009.<br />

CAETANO, Maria <strong>do</strong> Rosário. Cinema <strong>brasileiro</strong> (1990-2002): da crise <strong>do</strong>s anos Collor à<br />

retomada. ALCEU. jul./dez. 2007. Número 15, Volume 8. pp. 196-216.<br />

GANTI, Tejaswini. Bollywood: a guidebook to popular Hindi <strong>cinema</strong>. New York/Lon<strong>do</strong>n:<br />

Routledge, 2004.<br />

GRAS, Pierre. L’exportation du cinéma français. In: CRETON, Laurent. (Ed.) Le <strong>cinema</strong> et<br />

l’argent. Paris : Éditions Nathan/HER, 1999. pp.123-140.<br />

MOISÉS, José Álvaro. Os efeitos das leis de incentivo. In: SOUZA, Márcio; WEFFORT,<br />

Francisco (orgs.). Um olhar sobre a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Associação de amigos<br />

da FUNARTE, 1998. pp. 421-444.<br />

NUNES, Edson; PEIXOTO, Vitor; RIBEIRO, Leandro M. Agências regula<strong>do</strong>ras no Brasil.<br />

In: AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (orgs.). Sistema político <strong>brasileiro</strong>: uma<br />

introdução. Rio de Janeiro: Konrad-Adenaur-Stiftung / São Paulo: Editora UNESP, 2007.<br />

SIMIS, Anita. Cinema e política <strong>cinema</strong>tográfica. In: BOLAÑO, Cesar; BRITTOS, Valério;<br />

GOLIN, Cida. (ogs.). Economia da arte e da cultura. Porto Alegre: PPGCOM/UFRGS/ São<br />

Cristóvão: OBSCOM/UFS/ São Paulo: Itaú <strong>Cultura</strong>l/ São Leopol<strong>do</strong>: CEPOS/UNISINOS,<br />

2010. pp. 137-164.<br />

12


TURÉGANO, Teresa Hoefert de. Apoio público para a promoção <strong>internacional</strong> de filmes<br />

europeus. In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>:<br />

Europa. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>. Volume V. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. pp.<br />

245-272.<br />

VALCK, Marijke de. As várias faces <strong>do</strong>s festivais de <strong>cinema</strong> europeus. In: MELEIRO,<br />

Alessandra (org.). Cinema no mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>: Europa. Coleção Cinema<br />

no Mun<strong>do</strong>. Volume V. São Paulo: Escrituras Editora, 2007.<br />

WASKO, Janet. Por que Hollywood é global In: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no<br />

mun<strong>do</strong>: indústria, política e merca<strong>do</strong>: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Coleção Cinema no Mun<strong>do</strong>. Volume<br />

IV. São Paulo: Escrituras Editora, 2007. pp. 43-45.<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!