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actor que tem andado pelas bocas do mundo desde a apresentação ...

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PARQ NúmeRo 29 se<strong>tem</strong>bRo 2011<br />

diReCtoR<br />

Francisco Vaz Fernandes<br />

francisco@parqmag.com<br />

editoR<br />

Francisco Vaz Fernandes<br />

francisco@parqmag.com<br />

CooRdeNAção<br />

editoRiAl e modA<br />

margarida brito Paes<br />

margarida@parqmag.com<br />

diReCção de ARte<br />

Valdemar lamego<br />

v@k-u-n-g.com<br />

PubliCidAde<br />

Francisco Vaz Fernandes<br />

francisco@parqmag.com<br />

PeRioCidAde:<br />

mensal<br />

dePósito leGAl: 272758/08<br />

ReGisto eRC:<br />

125392<br />

edição<br />

Conforto moderno uni, lda.<br />

NiF: 508 399 289<br />

PARQ<br />

Rua Quirino da Fonseca,<br />

25 – 2ºesq.<br />

1000-251 lisboa<br />

t. 00351.218 473 379<br />

imPRessão<br />

beProfit / soGAPAl<br />

2730-120 barcarena<br />

20.000 exemplares<br />

distRibuição<br />

Conforto moderno uni, lda.<br />

A reprodução de to<strong>do</strong> o material<br />

é expressamente proibida<br />

sem a permissão da Parq.<br />

to<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s.<br />

Copyright © 2008—2011 PARQ.<br />

textos<br />

Ágata C. de Pinho<br />

Ana Rita sevilha<br />

Ana Rita sousa<br />

Carla Carbone<br />

Cláudia Gavinho<br />

Cláudia matos silva<br />

diana de Nóbrega<br />

davide Pinheiro<br />

eduarda Allen<br />

eduar<strong>do</strong> Feteira<br />

Francisco V. Fernandes<br />

ingrid Rodrigues<br />

Joana Guedes<br />

margarida brito Paes<br />

maria João teixeira<br />

maria são miguel<br />

miguel tojal<br />

Paula melâneo<br />

Pedro lima<br />

Pedro Pinto teixeira<br />

Roger Winstanley<br />

Romeu bastos<br />

Rui miguel Abreu<br />

Fotos<br />

bernar<strong>do</strong> l. motta<br />

Carla Pires<br />

Hugo silva<br />

mar mateu<br />

manuel sousa<br />

Nian Canard<br />

Patrícia Andrade<br />

Víctor Celdrán<br />

stYliNG<br />

laia Gomez<br />

margarida brito Paes<br />

marta brito<br />

ilustRAção<br />

bráulio Ama<strong>do</strong><br />

salão Coboi<br />

editoRiAl<br />

Reaproveitamentos<br />

Com as novas entradas, aproveitamos<br />

a grande retrospectiva de Vik muNiz,<br />

no museu Colecção berar<strong>do</strong>, em lisboa,<br />

para o entrevistar e, a partir daí, explorar<br />

o <strong>tem</strong>a <strong>do</strong> “reaproveitamento” (como<br />

ele bem gosta de frisar) e <strong>que</strong> está na<br />

base <strong>do</strong> seu trabalho. Felizmente, este<br />

<strong>tem</strong>a (<strong>que</strong> no brasil é uma condição,<br />

por razões evidentes), estendeuse<br />

a to<strong>do</strong> o planeta, cada vez mais<br />

consciente <strong>do</strong>s recursos limita<strong>do</strong>s. É<br />

um assunto <strong>que</strong> aparece cada vez mais<br />

no discurso <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res, passan<strong>do</strong><br />

para a esfera da consciência pessoal.<br />

o interessante é ver como cada um de<br />

nós interpreta essas preocupações e as<br />

trata até como uma vantagem. Fomos<br />

ao 1300 tAbeRNA e percebemos como a<br />

introdução da cozinha sustentável é uma<br />

reinterpretação deste tipo de conceitos.<br />

estamos cada vez mais impotentes<br />

relativamente às macro-estruturas <strong>que</strong><br />

<strong>do</strong>minam o mun<strong>do</strong> e cada vez mais<br />

liga<strong>do</strong>s às políticas locais, <strong>que</strong> começam<br />

na nossa casa e se estendem ao nosso<br />

ao bairro, à nossa cidade, à nossa<br />

região. ou seja, iremos ser cada vez<br />

mais responsabiliza<strong>do</strong>s <strong>pelas</strong> políticas<br />

locais, o <strong>que</strong> faz muito senti<strong>do</strong> no nosso<br />

contexto europeu, a largos passos de<br />

um federalismo. Vamos apostar?<br />

por Francisco Vaz Fernandes<br />

PARQ NúmeRo 29 se<strong>tem</strong>bRo 2011<br />

Real PeoPle<br />

06—<br />

timba smits<br />

10—<br />

erik spiekermann<br />

14—<br />

João morga<strong>do</strong><br />

you must<br />

16—19<br />

You must shopping<br />

20 — 51<br />

ARx Portugal<br />

Pedro Cabrita Reis<br />

beatriz milhazes<br />

Prouvé Raw<br />

barber&osgerby<br />

mobiletes<br />

Rodrigo Areias<br />

maria imaginário<br />

Go Forth<br />

shaun samson<br />

diesel + Adidas<br />

sneakers, shoes<br />

soundstation<br />

52—53<br />

Anna Calvi<br />

54—55<br />

Active Child<br />

56—57<br />

You Can't Win Charlie brown<br />

58—59<br />

Gaslamp killer<br />

GRande entRevista<br />

60—67<br />

Vik muniz<br />

CentRal PaRq<br />

68—69 Cinema<br />

Waste land<br />

70—71 Cinema<br />

Allen Ginsberg<br />

72—73 Cinema<br />

ouvir os filmes<br />

74—77 Lifestyle<br />

Pogonotrofia<br />

78—81 Design<br />

Jean baptiste Fastrez<br />

moda<br />

82—89<br />

sweet Fall<br />

90—97<br />

dial m for murder<br />

98—107<br />

Wild at Heart<br />

PaRq HeRe<br />

108—<br />

Vis –à-Vis — 1300 taberna<br />

— por Fanny & Fred<br />

110—<br />

Places: design store bCt,<br />

samedi House of Cool<br />

112—<br />

drinks: Vinhos<br />

114—<br />

dia Positivo<br />

JoNAtHAN moRòN fotografa<strong>do</strong> por NiAN CANARd com styling<br />

de CoNFoRto modeRNo + mARGARidA bRito PAes, make-up de<br />

lolA CARVAlHo, hair de olGA HilÁRio (Griffe Hairstyle)<br />

óculos RAY-bAN, cachecol AlexANdRA mouRA e casaco de malha diesel<br />

02 03


T — Pedro Pinto Teixeira<br />

Timba Smits nasceu em Melbourne<br />

mas reside actualmente em Londres. É<br />

um artista, designer, ilustra<strong>do</strong>r e editor<br />

independente, para além de aspirante a<br />

joga<strong>do</strong>r olímpico de ping-pong, <strong>que</strong> nutre<br />

um amor por todas as coisas vintage.<br />

P Há um carácter vintage<br />

<strong>que</strong> atravessa to<strong>do</strong> o teu trabalho.<br />

É correcto afirmar <strong>que</strong> é de<br />

algum mo<strong>do</strong> reminiscente de<br />

uma era pré-computa<strong>do</strong>r?<br />

TM sim, definitivamente.<br />

Na escola fui treina<strong>do</strong> para<br />

desenhar à mão, não existiam<br />

computa<strong>do</strong>res, fazia o meu<br />

design à mão e ainda mantenho<br />

essa abordagem tradicional.<br />

essa é a parte <strong>do</strong> meu trabalho<br />

<strong>que</strong> transcende a era digital. Ao<br />

longo <strong>do</strong>s anos fui integran<strong>do</strong> o<br />

computa<strong>do</strong>r no processo, o meu<br />

trabalho hoje combina o desenho<br />

à mão com as ferramentas<br />

digitais e acredito <strong>que</strong> foi isso<br />

<strong>que</strong> lhe conferiu algum desta<strong>que</strong>.<br />

<strong>tem</strong> a<strong>que</strong>le estilo vintage mas<br />

é, ao mesmo <strong>tem</strong>po, digital.<br />

P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong> destacarias<br />

como grandes influências<br />

ou fontes de inspiração?<br />

TM Coisas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Filmes antigos, cartazes de filmes<br />

antigos, anúncios e publicidade<br />

<strong>do</strong>s anos 40, 50 e 60. A<strong>do</strong>ro<br />

anúncios e cartazes antigos de<br />

companhias aéreas por<strong>que</strong> de<br />

alguma maneira publicitam uma<br />

experiência. tento fazer isso<br />

com o meu trabalho, recriar uma<br />

experiência através <strong>do</strong> design,<br />

publicitan<strong>do</strong> uma ideia grandiosa<br />

www.timbasmits.com<br />

reaL peopLe<br />

acerca <strong>do</strong> <strong>que</strong> determina<strong>do</strong>s<br />

produtos ou serviços te podem<br />

oferecer, embora os produtos não<br />

existam realmente. Gosto muito<br />

desse aspecto <strong>do</strong> meu trabalho,<br />

de tentar fazer sorrir as pessoas<br />

<strong>que</strong> são confrontadas com ele.<br />

P Já trabalhaste como<br />

cura<strong>do</strong>r, ilustra<strong>do</strong>r, tipógrafo,<br />

designer e editor. o <strong>que</strong> é<br />

<strong>que</strong> gostas mais de fazer?<br />

TM É difícil escolher apenas<br />

uma coisa por<strong>que</strong> todas elas<br />

são diferentes e todas elas se<br />

relacionam com coisas de <strong>que</strong><br />

gosto. Não existe uma <strong>que</strong><br />

goste mais em detrimento de<br />

outra. obviamente a minha<br />

revista teve um grande impacto<br />

na minha evolução enquanto<br />

designer. se não a tivesse feito,<br />

não sei se gozaria da reputação<br />

<strong>que</strong> tenho hoje como tipógrafo,<br />

ilustra<strong>do</strong>r ou designer, por<strong>que</strong><br />

investi tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> tinha na sua<br />

criação. mas é o <strong>que</strong> gosto mais?<br />

Não, por<strong>que</strong> gosto de tu<strong>do</strong> o<br />

<strong>que</strong> faço da mesma maneira.<br />

Nunca faço nada <strong>que</strong> não gosto<br />

e rejeito muitos clientes. se a<br />

bmW me pedir para colaborar<br />

nalgum projecto e esse pedi<strong>do</strong><br />

vier através de uma agência de<br />

publicidade: recuso. Há bancos<br />

<strong>que</strong> me pedem para colaborar<br />

em projectos: desculpem não<br />

gosto de bancos! só faço aquilo<br />

de <strong>que</strong> gosto realmente.<br />

P Na tua opinião, um<br />

ilustra<strong>do</strong>r deve ter um estilo<br />

muito pessoal ou deve ser capaz<br />

de adaptar-se ao cliente?<br />

TM Acho <strong>que</strong> é um pouco<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. É bom ter um estilo<br />

pessoal mas não deves restringilo<br />

apenas a um formato. existe<br />

um estilo unifica<strong>do</strong>r em to<strong>do</strong><br />

o meu trabalho mas varia<br />

entre ser desenha<strong>do</strong> à mão,<br />

cria<strong>do</strong> digitalmente, até uma<br />

combinação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Posso<br />

desenhar bonequinhos muito<br />

fofos e ao mesmo <strong>tem</strong>po fazer<br />

estes desenhos incrivelmente<br />

detalha<strong>do</strong>s, quase realistas, de<br />

raparigas. mas, no final, existe<br />

uma matriz agrega<strong>do</strong>ra <strong>que</strong> os<br />

relaciona, de alguma maneira.<br />

P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong> te faz feliz?<br />

TM Há dias em nem se<strong>que</strong>r<br />

me visto. Acor<strong>do</strong> e o meu<br />

estúdio está logo ali. estou<br />

T im b a<br />

S m its<br />

06<br />

tão entusiasma<strong>do</strong> para acabar<br />

o <strong>que</strong> <strong>que</strong>r <strong>que</strong> fosse em <strong>que</strong><br />

estivesse a trabalhar na noite<br />

anterior, <strong>que</strong> às vezes são duas<br />

da tarde e ainda não almocei<br />

ou tomei um banho. estou ali<br />

senta<strong>do</strong> de boxers, ao telefone<br />

com clientes ou a responder a<br />

e-mails e eles não sabem <strong>que</strong><br />

nem se<strong>que</strong>r estou vesti<strong>do</strong>.<br />

P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong><br />

te deixa furioso?<br />

TM Nunca fico realmente<br />

furioso. sou um tipo bastante<br />

feliz, penso <strong>que</strong> deriva <strong>do</strong> facto de<br />

ter a oportunidade de fazer o <strong>que</strong><br />

gosto. uma coisa <strong>que</strong> me deixa<br />

zanga<strong>do</strong> é: acabei um trabalho<br />

para ti, paga-me agora! Não <strong>que</strong>ro<br />

ter de esperar 90 dias para <strong>que</strong><br />

me paguem. Acho <strong>que</strong> isto pode<br />

mudar com to<strong>do</strong>s os designers<br />

a puxarem para o mesmo la<strong>do</strong>.<br />

os designers têm <strong>que</strong> se levantar<br />

e dizer: paguem-nos agora!<br />

www.havaianas.com


www.spiekermann.com<br />

E ri k<br />

P Com é <strong>que</strong> definirias<br />

aquilo <strong>que</strong> fazes?<br />

ES sou um designer<br />

de comunicação.<br />

P No passa<strong>do</strong> comparaste<br />

a tipografia à música. Podes<br />

explicar essa analogia?<br />

ES sim, muito facilmente.<br />

eu não escrevo a pauta, se<br />

pensarmos <strong>que</strong> a pauta são as<br />

palavras. Há alguém <strong>que</strong> escreve<br />

as palavras e eu interpreto-as.<br />

existe uma grande diferença entre<br />

interpretar uma melodia com um<br />

banjo, com uma grande or<strong>que</strong>stra<br />

ou cantá-la no banho. eu faço este<br />

tipo de escolhas com as palavras,<br />

faço-as soar de maneira diferente.<br />

o <strong>que</strong> é constitui boa<br />

comunicação?<br />

ES boa comunicação é a<strong>que</strong>la<br />

<strong>que</strong> cumpre o propósito, defini<strong>do</strong><br />

pelo cliente, seja ele qual for.<br />

mas, para além de cumprir um<br />

propósito, a comunicação deve<br />

ser capaz de se constituir como<br />

uma experiência prazerosa.<br />

A função são 90% e o prazer<br />

10%. As coisas não têm de<br />

ser feias para funcionarem.<br />

P Como é <strong>que</strong> relacionas<br />

design e acessibilidade?<br />

ES Acho <strong>que</strong> o design<br />

pode ser uma grande ajuda.<br />

se algo é feio e inacessível a<br />

comunicação é mais difícil. se<br />

pensarmos nos formulários<br />

governamentais, existe uma<br />

razão para serem feios, os<br />

governos não <strong>que</strong>rem realmente<br />

comunicar, preferem manter as<br />

reaL peopLe<br />

pessoas a uma certa distância.<br />

A ideia é <strong>que</strong> respondamos às<br />

suas perguntas e vol<strong>tem</strong>os para<br />

as nossas casas. Caso contrário,<br />

se demonstrarem abertura<br />

através de uma comunicação<br />

eficaz, correm o risco de iniciar<br />

um diálogo. Para <strong>que</strong> exista<br />

diálogo, são necessários <strong>do</strong>is<br />

intervenientes, e os órgãos<br />

oficiais <strong>do</strong> governo não gostam<br />

de dialogar por<strong>que</strong> podem ter de<br />

responder a perguntas a <strong>que</strong> não<br />

<strong>que</strong>rem responder. isto também<br />

se verifica nas grandes empresas.<br />

P Podes oferecer a tua visão<br />

sobre a evolução <strong>do</strong>s media no<br />

ecrã e a maneira como a tipografia<br />

<strong>tem</strong> acompanha<strong>do</strong> esta evolução?<br />

ES o ecrã é uma tecnologia<br />

de reprodução de conteú<strong>do</strong>s<br />

como outra qual<strong>que</strong>r, como<br />

a impressão ou a caligrafia<br />

manual. A tipografia para meios<br />

digitais vai ser como a tipografia<br />

para papel, muito brevemente.<br />

existe um standard <strong>que</strong> fomos<br />

desenvolven<strong>do</strong> durante mais de<br />

500 anos e, <strong>que</strong>remos ter um<br />

standard por<strong>que</strong> é bom para nós,<br />

estamos habitua<strong>do</strong>s a utilizá-lo,<br />

T — Pedro Pinto Teixeira<br />

erik spiekermann é um <strong>do</strong>s designers e tipógrafos mais<br />

reconheci<strong>do</strong>s no panorama internacional. Ao longo de mais de 40<br />

anos trabalhou para algumas das maiores marcas mundiais como<br />

a Audi, a Volkswagen e a Nokia. É também presidente da istd<br />

(International Society of<br />

Typografic Designers) e<br />

professor honorário<br />

da ACAdemY oF<br />

ARts em bRemeN.<br />

10<br />

Spi ek er<br />

m a nn<br />

www.edenspiekermann.com<br />

gostamos dele. de momento<br />

estamos a atravessar uma fase<br />

cíclica, não exis<strong>tem</strong> diferenças<br />

substanciais, e por isso não é<br />

algo realmente importante.<br />

P depois de to<strong>do</strong>s estes<br />

anos, existe algum trabalho de<br />

<strong>que</strong> te orgulhes particularmente?<br />

ES Gosto muito <strong>do</strong> trabalho<br />

<strong>que</strong> desenvolvi para o sector<br />

público. desenhamos toda<br />

a sinalética para o sis<strong>tem</strong>a<br />

de transportes de berlim<br />

(bVG). to<strong>do</strong>s os autocarros,<br />

eléctricos e metros são<br />

amarelos, destacam-se na<br />

paisagem visual da cidade<br />

e as pessoas conseguem<br />

encontrá-los muito facilmente.<br />

outro projecto de <strong>que</strong> gosto<br />

bastante foi o trabalho <strong>que</strong><br />

desenvolvemos para os<br />

caminhos-de-ferro alemães<br />

(db bahn). mudamos a cor <strong>do</strong>s<br />

comboios, <strong>que</strong> são agora brancos<br />

ou vermelhos, e redesenhamos<br />

to<strong>do</strong>s os es<strong>que</strong>mas de cor e<br />

comunicação impressa. o sis<strong>tem</strong>a<br />

de caminhos-de-ferro é muito<br />

importante na Alemanha, nós<br />

andamos muito de combóio e,<br />

por ser algo tão presente e visível,<br />

se fossem feios, seria horrível.<br />

Agora, não são tão feios como<br />

costumavam ser, e tenho muito<br />

orgulho nisso por<strong>que</strong> é uma<br />

contribuição para a nossa cultura<br />

visual. Além disso, a comunicação<br />

é eficaz —as pessoas conseguem<br />

encontrar o combóio <strong>que</strong><br />

pretendem com facilidade.<br />

rua de Santa Justa, 85 - Tel. 21 342 2068<br />

avenida de roma, 55B - Tel. 21 796 1635<br />

PEU PISTA<br />

Waterproof<br />

camper.com


www.photo.joaomorga<strong>do</strong>.com/<br />

T — Ana Rita Sevilha<br />

P Quan<strong>do</strong> é <strong>que</strong> a fotografia,<br />

e mais especificamente a<br />

fotografia de arquitectura,<br />

entrou na tua vida?<br />

JM As primeiras fotografias<br />

de acompanhamento de obra,<br />

ainda durante a faculdade,<br />

despertaram-me a curiosidade.<br />

Ainda assim, só no fim <strong>do</strong> curso<br />

é <strong>que</strong> percebi <strong>que</strong> seria muito<br />

redutor ficar fecha<strong>do</strong> dentro<br />

de um atelier confina<strong>do</strong>, a<br />

uma determinada linguagem<br />

arquitectónica. o gosto pela<br />

fotografia de arquitectura<br />

adensou-se no ateliê de Wiel<br />

ARets (em maastricht, na<br />

Holanda), onde tive oportunidade<br />

de fotografar os projectos mais<br />

recentes <strong>do</strong> gabinete. enquanto<br />

fotógrafo de arquitectura<br />

tenho o privilégio de viajar<br />

e abrir horizontes com um<br />

sem número de linguagens,<br />

<strong>que</strong> estariam inacessíveis<br />

em apenas um gabinete.<br />

P Que características<br />

acha <strong>que</strong> um fotógrafo de<br />

arquitectura <strong>tem</strong> de ter?<br />

JM deve ter um amplo<br />

conhecimento da história da<br />

arquitectura para distinguir<br />

diferentes linguagens; estar<br />

atento à actualidade para não<br />

deixar fugir oportunidades e<br />

ter uma insaciante curiosidade<br />

por novos projectos e<br />

autores, seja um t0 no Centro<br />

Histórico <strong>do</strong> Porto ou o<br />

complexo habitacional <strong>do</strong><br />

estoril sol. só quan<strong>do</strong> se é<br />

perfeccionista se consegue<br />

colmatar as horas de espera<br />

por um determina<strong>do</strong> disparo.<br />

reaL peopLe<br />

P esta é um tipo de<br />

fotografia <strong>do</strong>cumental<br />

ou artística?<br />

JM É um estilo de fotografia<br />

<strong>que</strong> começa por ser <strong>do</strong>cumental,<br />

por<strong>que</strong> o seu propósito é o<br />

registo de determinada obra.<br />

Contu<strong>do</strong>, as perspectivas de<br />

João Morga<strong>do</strong> é o exemplo de <strong>que</strong> a<br />

arquitectura não <strong>tem</strong> nem deve ficar<br />

confinada às paredes de um atelier. Pode e<br />

pede-se criatividade, imaginação, vontade<br />

e coragem de arriscar novas formas de se<br />

ser arquitecto. A PArq conversou com<br />

João Morga<strong>do</strong>, um arquitecto <strong>que</strong> se<br />

deixou levar pelo poder das imagens<br />

Jo ã o<br />

abordagem podem <strong>do</strong>tar-lhe<br />

de uma visão artística. o<br />

processo nunca é inverso.<br />

P uma imagem vale<br />

mais <strong>do</strong> <strong>que</strong> mil palavras?<br />

JM Vale de facto, por<strong>que</strong> no<br />

momento decisivo <strong>do</strong> disparo,<br />

consegue-se “roubar” a essência<br />

da obra um dia idealizada<br />

por determina<strong>do</strong> arquitecto,<br />

chegan<strong>do</strong> a compor uma história,<br />

mesmo não sen<strong>do</strong> essa <strong>que</strong><br />

originou o projecto. A Casa H, em<br />

maastricht, de Wiel ARets ou<br />

a Reconversão <strong>do</strong> Palácio das<br />

Car<strong>do</strong>sas, no Porto, são<br />

disso exemplo.<br />

P sentes <strong>que</strong> o teu trabalho<br />

é criativo, em <strong>que</strong> medida?<br />

JM tento ser criativo<br />

quan<strong>do</strong> ao fotografar um edifício<br />

<strong>que</strong> toda a gente conhece,<br />

consigo provocar admiração no<br />

especta<strong>do</strong>r. seja por conta <strong>do</strong><br />

ângulo da obra fotografada, seja<br />

devi<strong>do</strong> à luz. Por exemplo, mais<br />

importante <strong>do</strong> <strong>que</strong> se fotografar<br />

um edifício de grande impacto<br />

visual no seu to<strong>do</strong>, torna-se mais<br />

original dar-se a conhecer os<br />

seus pe<strong>que</strong>nos pormenores.<br />

P os teus trabalhos<br />

fotográficos já foram<br />

premia<strong>do</strong>s em diversos<br />

concursos fotográficos<br />

em Portugal. Quais? o <strong>que</strong><br />

representam estes prémios?<br />

JM os prémios serviram de<br />

alavanca para apostar a sério<br />

na fotografia. Aliás, foi com<br />

alguns <strong>do</strong>s prémios monetários<br />

<strong>que</strong> consegui adquirir muito <strong>do</strong><br />

material profissional de fotografia.<br />

um <strong>do</strong>s galardões foi na categoria<br />

de “Arquitectura indústrial”<br />

com uma fotografia da seca <strong>do</strong><br />

bacalhau no barreiro. outro <strong>do</strong>s<br />

prémios foi atribui<strong>do</strong> pelo<br />

Clube de Fotografia de setúbal<br />

com um trabalho <strong>do</strong> museu <strong>do</strong><br />

Farol de santa marta (Cascais)<br />

Mo r g a <strong>do</strong><br />

14<br />

da dupla AiRes mAteus.<br />

P e quais as mais-valias<br />

e retornos desta profissão?<br />

JM Quan<strong>do</strong> se fotografa<br />

arquitectura não se pensa no<br />

retorno imediato desse trabalho.<br />

Fotografa-se por<strong>que</strong> se gosta.<br />

o retorno, esse, aparece fruto<br />

de muito trabalho e re<strong>que</strong>r<br />

sabe<strong>do</strong>ria e engenho na escolha<br />

de determina<strong>do</strong> projecto ou obra.<br />

A grande mais valia é poder-se<br />

viajar a fazer aquilo <strong>que</strong><br />

mais se gosta, receben<strong>do</strong><br />

como contrapartida o retorno<br />

<strong>do</strong>s media e <strong>do</strong>s próprios<br />

arquitectos <strong>que</strong> me escolhem.


foto — bernar<strong>do</strong> lourenço motta<br />

you muST Shopping<br />

l o s t i n<br />

t H e w o o d s<br />

Camisa PePe JeANs Andy Warhol, sapatos bicolor FRed PeRRY,<br />

sapatos azuis keds, mala PlAtAdePAlo, casaco GANt, luvas<br />

CAmel, cinto PePe JeANs, ténis AdidAs, relógios NixoN, gorro<br />

billAboNG, jarra de madeira WHite & kAki, velas de madeira<br />

AReA, gaiola de madeira AReA, caixa de madeira AReA<br />

styling — margarida brito Paes<br />

ass. styling — inese soncika<br />

you muST Shopping<br />

botins bicolor sPeRRY, botins CAt, cinto HeNRY CottoN`s,<br />

bolsa para ipad luis oNoFRe, camisola de gola alta mANGo,<br />

cachecol tijolo mANGo, cinto de crocodilo PlAtAdePAlo,<br />

carteira FuRlA, luvas PePe JeANs, cinto mANGo, pulseiras<br />

mANGo, cachecol de pêlo beNCH, cachecol cinzento mANGo,<br />

luvas mANGo, cinto vermelho PePe JeANs, colar <strong>do</strong>ura<strong>do</strong><br />

mANGo, pulseiras em pele PlAtAdePAlo, chapéu PePe<br />

JeANs, gaiola de madeira AReA, velas de madeira AReA.<br />

16 17<br />

ass. foto — Pedro melo


foto — bernar<strong>do</strong> lourenço motta<br />

you muST Shopping<br />

Gorro GANt, botas bicolor ClAe, botas castanhas PAllAdium,<br />

casacos cinzento e preto Nike sPoRtsWeAR, casaco verde<br />

de bolsos diesel, mochila GANt, ténis Nike Hyperfuse,<br />

relógios NixoN, relógios CAmel Active, casco impermeável<br />

AdidAs, mala PePe JeANs, velas de madeira AReA, suportes<br />

de madeira AReA, jarra de madeira WHite & kAki<br />

styling — margarida brito Paes<br />

ass. styling — inese soncika<br />

you muST Shopping<br />

Casaco de lã PePe JeANs, luvas compridas lACoste, cinto<br />

vermelho GANt, botas rasas bicolor FlY, botas vermelhas<br />

Goldmud, carteira diesel, mochila FRed PeRRY, botas com<br />

pêlo HuNteR, botas castanhas meRRell, cintos com tachas<br />

diesel, casaco bege PePe JeANs, calças verdes iNsiGHt, leggings<br />

cinzentas diesel, gorro com pêlo PePe JeANs, suportes de metal<br />

AReA, velas de madeira AReA, jarra de madeira WHite & kAki<br />

18 19<br />

ass. foto — Pedro melo


esta vivenda junto ao rio sa<strong>do</strong>,<br />

concebida por NuNo mAteus e<br />

JosÉ mAteus <strong>do</strong>s ARx Portugal<br />

em colaboração com steFANo<br />

RiVA, nasce de uma estreita<br />

relação com os <strong>do</strong>nos da obra<br />

<strong>que</strong> <strong>que</strong>riam usufruir de um<br />

espaço de férias con<strong>tem</strong>porâneo<br />

F — Fernan<strong>do</strong> Guerra<br />

mas, ao mesmo <strong>tem</strong>po, <strong>que</strong><br />

mantivesse a tipologia das casas<br />

locais. Com este programa<br />

preciso, a dupla de arquitectos<br />

recriou a tipologia de uma<br />

casa alentejana manten<strong>do</strong> as<br />

paredes brancas, o telha<strong>do</strong> de<br />

uma água e pátios <strong>que</strong> filtram<br />

a luz indirecta, com o objectivo<br />

de manter uma certa frescura.<br />

A cobertura <strong>que</strong> mimetiza os<br />

telha<strong>do</strong>s de uma água é um <strong>do</strong>s<br />

elementos mais inova<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

projecto e mais interessante<br />

esteticamente. Revestida a<br />

reboco branco, a superfície lisa<br />

é animada por aberturas <strong>que</strong><br />

Casa <strong>do</strong> Possanco, ARX Portugal<br />

T — Francisco Vaz Fernandes<br />

trazem iluminação ao interior<br />

da casa. os mesmos jogos de<br />

luz <strong>que</strong> se criam a partir dessas<br />

aberturas repe<strong>tem</strong>-se nos pátios<br />

ou nas reentrâncias de formas<br />

pouco convencionais, <strong>que</strong> ajudam<br />

a criar perspectivas diferentes da<br />

casa dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ângulos.<br />

o sentimento de clausura<br />

<strong>que</strong> muitas vezes se sente<br />

numa casa alentejana é<br />

completamente mantida e,<br />

por tu<strong>do</strong> isso, esta obra —<strong>que</strong><br />

<strong>do</strong>mina a atenção mediática—<br />

é um exemplo de excelência<br />

da arquitectura portuguesa.<br />

A R X<br />

P or<br />

you muST<br />

t u<br />

20<br />

www.arx.pt<br />

g a l


o museu berar<strong>do</strong> junta grande<br />

parte da colecção de PedRo<br />

CAbRitA Reis, propon<strong>do</strong> a<br />

mais extensa retrospectiva<br />

alguma vez realizada sobre<br />

o artista. A mostra partiu<br />

de um núcleo central de<br />

peças seleccionadas para o<br />

kuNstHAlle de Hamburgo<br />

(Alemanha) <strong>que</strong> transitou para o<br />

CARRÉ d'ARt de Nîmes (França)<br />

e para o m de lovaina (bélgica)<br />

Pe d ro<br />

mas <strong>que</strong>, chegada a lisboa e<br />

dada a grandeza <strong>do</strong> espaço,<br />

foi ampliada para se ter uma<br />

visão mais completa. são 300<br />

obras, algumas <strong>do</strong>s anos 80 (<strong>do</strong><br />

inicio da sua carreira, quan<strong>do</strong> o<br />

artista já se evidenciava entre<br />

a sua geração) e propõem<br />

uma renovação <strong>do</strong>s media. A<br />

possibilidade de uma carreira<br />

internacional seria confirmada<br />

a partir de uma mostra de<br />

artistas con<strong>tem</strong>porâneos<br />

Cabinet d'Amateur, 2007<br />

you muST<br />

portugueses no contexto da<br />

europália em bruxelas <strong>que</strong>, pela<br />

mão <strong>do</strong> mesmo cura<strong>do</strong>r, JAN<br />

Hoet, o levaria à <strong>do</strong>cumenta<br />

de kassel, a plataforma mais<br />

importante para qual<strong>que</strong>r artista.<br />

essencialmente escultóricas, as<br />

suas primeiras obras trazem uma<br />

poética <strong>que</strong> convoca elementos<br />

regionalistas e identitários, numa<br />

época moldada por discursos<br />

pós-modernistas. Por isso não<br />

Ca b ri ta<br />

R eis<br />

T — Francisco Vaz Fernandes<br />

faltou <strong>que</strong>m visse no trabalho<br />

de PedRo CAbRitA Reis um<br />

certo modernismo tardio (a par<br />

de sizA VieiRA, por exemplo) ou<br />

o retomar da Arte Povera <strong>que</strong>,<br />

em última análise, representava<br />

a essência da escultura<br />

europeia, contrapon<strong>do</strong>-se<br />

as propostas objectuais ou<br />

pop vindas da América.<br />

A obra de CAbRitA Reis<br />

ganharia, a partir daí, outra<br />

dimensão, convocan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os media, mesmo os mais<br />

tradicionais, para o terreno da<br />

instalação com grande pen<strong>do</strong>r<br />

cénico. o <strong>que</strong> se manteve foi um<br />

discurso de base <strong>que</strong> o liga a<br />

uma ideologia <strong>do</strong> trabalho e da<br />

cultura material como elementos<br />

essencias da vida humana. em<br />

muitas obras, a homenagem ao<br />

trabalho e a ideia de construção<br />

são evidentes, especialmente<br />

no <strong>que</strong> se refere aos materiais<br />

aplica<strong>do</strong>s. Nas suas instalações<br />

surgem repetidamente luzes<br />

florescentes, caixilhos de<br />

alumínio, janelas, portas, vidro,<br />

ladrilhos, cabos eléctricos, etc.<br />

ou seja, to<strong>do</strong>s a<strong>que</strong>les materiais<br />

<strong>que</strong> se podem encontrar dentro<br />

de um estaleiro, sejam novos<br />

ou desperdícios. Neste ultimo<br />

aspecto, é até de referir <strong>que</strong><br />

os materiais são, em geral,<br />

convoca<strong>do</strong>s como elementos<br />

para a construção de uma<br />

memória colectiva, o <strong>que</strong> <strong>tem</strong><br />

grande relevância em grande<br />

parte <strong>do</strong>s seus trabalhos. o<br />

próprio processo de execução<br />

das obras foi sen<strong>do</strong> enfatiza<strong>do</strong><br />

e, a título de exemplo, a última<br />

exposição <strong>do</strong> Centro de Arte<br />

de moderna propunha ao<br />

especta<strong>do</strong>r conviver com<br />

View the grid, 2006 I dreamt your house was a line, 2003<br />

22<br />

o universo <strong>do</strong> trabalho em<br />

execução. Por tu<strong>do</strong> isso,<br />

diria <strong>que</strong> a obra de PedRo<br />

CAbRitA Reis <strong>tem</strong> ganho uma<br />

dimensão dramática, no fun<strong>do</strong>,<br />

a vida de qual<strong>que</strong>r um de nós,<br />

visto em retrospectiva.<br />

até 02.10.2011<br />

museu beRAR<strong>do</strong><br />

praça <strong>do</strong> império<br />

lisboa<br />

Para os atletas "after-hours"


um conjunto de obras da artista<br />

brasileira beatriz milhazes,<br />

constituí<strong>do</strong> por telas de grandes<br />

dimensões, um mobile e várias<br />

gravuras, vão circular em<br />

vários espaços institucionais<br />

europeus entre eles, a Fundação<br />

Gulbenkian. são as últimas obras<br />

da artista e serão apresentadas,<br />

pela primeira vez, na Galerie<br />

max Hetzer, de berlim. dada<br />

a reduzida produção anual e<br />

o eleva<strong>do</strong> nível de procura, a<br />

artista <strong>tem</strong> ti<strong>do</strong> a opção de<br />

fazer circular o maior <strong>tem</strong>po<br />

possível as obras realizadas.<br />

A morosidade de cada quadro<br />

depende da técnica sui generis<br />

de beatriz milhazes. Começa por<br />

pintar com tinta acrílica sobre<br />

folhas de plástico <strong>que</strong> depois<br />

usa como transfer. A imagem<br />

nasce de um decal<strong>que</strong> feito por<br />

you muST<br />

ínfimas partes <strong>que</strong> se sobrepõem<br />

até construir a imagem total.<br />

o seu trabalho pode ser<br />

visto de diferentes prismas.<br />

Remete-nos para o universo<br />

popular e feminino. Alguns <strong>do</strong>s<br />

seus críticos têm referi<strong>do</strong> as<br />

influências das artes decorativas,<br />

dan<strong>do</strong> como exemplo os padrões<br />

típicos da chita, o trabalho<br />

intrinca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s.<br />

T — Francisco Vaz Fernandes<br />

Four Seasons, 2010<br />

Contu<strong>do</strong>, o seu trabalho também<br />

é forma<strong>do</strong> por referências<br />

eruditas, nomeadamente, as<br />

<strong>que</strong> se referem ao paisagista<br />

Roberto burle marx, <strong>que</strong><br />

deixou uma marca profunda<br />

na paisagem e na arquitectura<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro com a qual<br />

convive diariamente. Ainda nesta<br />

perspectiva, a sua pintura pode<br />

ser vista como o seguimento<br />

<strong>do</strong> mesmo impulso modernista<br />

interpreta<strong>do</strong> pelo sentimento<br />

tropicalista, ten<strong>do</strong> tarsila <strong>do</strong><br />

Amaral como referência.<br />

No entanto, grande parte <strong>do</strong><br />

seu sucesso internacional<br />

explica-se de forma mais simples.<br />

o la<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> das formas,<br />

a presença de cores fortes e<br />

os efeitos psicadélicos fazem<br />

sempre lembrar o êxtase <strong>do</strong>s<br />

senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> encontramos<br />

B e a t r i z<br />

M i l h a z e s<br />

10.09—05.11.11<br />

GAleRie mAx HetzleR<br />

berlim, alemanha<br />

Spring Love, 2010 Summer Love, 2010<br />

24<br />

na Arte barroca, assim como<br />

no Carnaval, e <strong>que</strong> vão ao<br />

encontro da expectativa de um<br />

estrangeiro sobre o brasil. talvez<br />

isso, por si, expli<strong>que</strong> <strong>que</strong>, a 15<br />

de maio de 2008, uma pintura<br />

de beatriz milhazes datada de<br />

2001, tenha si<strong>do</strong> vendida na<br />

sotheby’s, em Nova ior<strong>que</strong>,<br />

por um valor recorde acima<br />

de um milhão de dólares.<br />

SAGATEX, LDA – Tel: +351 22 5089160 – sagatex@net.novis.pt


Pr o u vé<br />

R<br />

w<br />

a<br />

A G-stAR, em colaboração com a<br />

VitRA, recriou vários modelos de<br />

mobiliário propostos por JeAN<br />

PRouVÉ (1901-1984), arquitecto<br />

modernista francés cujo lega<strong>do</strong><br />

<strong>tem</strong> si<strong>do</strong> reavalia<strong>do</strong> e mereci<strong>do</strong><br />

diversas retrospectivas nos<br />

últimos anos. JeAN PRouVÉ<br />

trouxe para a arquitectura<br />

soluções pré-fabricadas,<br />

ten<strong>do</strong> a funcionalidade como<br />

principal critério. Alguns<br />

<strong>do</strong>s seus melhores projectos<br />

foram concebi<strong>do</strong>s para África,<br />

onde equacionou o programa<br />

modernista à realidade de<br />

um clima tropical, crian<strong>do</strong><br />

soluções interessantes.<br />

esta iniciativa da G-stAR<br />

integra-se dentro <strong>do</strong> programa<br />

Raw Crossover <strong>que</strong> <strong>tem</strong> como<br />

objectivo levar a marca para além<br />

das suas fronteiras naturais e<br />

abraçar projectos com os quais<br />

sente afinidades. o espírito<br />

objectivo e prático de PRouVÉ<br />

foi sempre aprecia<strong>do</strong> pela equipa<br />

de criativos da G-stAR, <strong>que</strong><br />

costumava ter no seu atelier<br />

várias cadeiras originais deste<br />

arquitecto. As nove edições<br />

especiais (reinterpretações<br />

<strong>que</strong> introduzem os valores<br />

criativos da G-stAR) estarão<br />

disponiveis nas lojas VitRA.<br />

T — Maria São Miguel Tamborete Solvay, 1951<br />

www.vitra.com<br />

Sofá, 1939<br />

you muST<br />

Jean Prouvé<br />

Cadeirão cité , 1930<br />

vista geral da exposição durante a Art Basel, 2011<br />

26


Ba r ber<br />

&<br />

Osg erby<br />

T — Carla Carbone<br />

Quan<strong>do</strong> começarem as<br />

comemorações <strong>do</strong>s Jogos<br />

olímpicos de londres, a tocha<br />

<strong>que</strong> acompanhará os eventos<br />

da abertura deambulará <strong>pelas</strong><br />

ruas desta cidade cosmopolita<br />

passará por várias mãos. A dupla<br />

de designers edWARd bARbeR<br />

e JAY osGeRbY foi encarregue<br />

de criar esta tocha <strong>que</strong> será<br />

exibida nas próximas olimpíadas.<br />

A forma triangular da tocha é<br />

perfurada, na superfície <strong>do</strong>urada,<br />

por cerca de 8000 orifícios<br />

circulares representan<strong>do</strong> os 8000<br />

caminhantes <strong>que</strong> a transportam.<br />

bARbeR e osGeRbY, mais <strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> captarem a nossa atenção<br />

por terem cria<strong>do</strong> a futura tocha<br />

olímpica, despertam também<br />

a nossa curiosidade por terem<br />

M ob i<br />

l e<br />

t e s<br />

F — Inês Honra<strong>do</strong><br />

T — Maria São Miguel<br />

mobiletes são as últimas<br />

criações <strong>do</strong> estúdio PedRitA,<br />

apresentadas pela primeira<br />

vez na galeria show me, de<br />

braga, no início <strong>do</strong> ano. A série,<br />

construída por cinco modelos<br />

em madeira, apresenta perfis<br />

muito semelhantes, varian<strong>do</strong><br />

apenas segun<strong>do</strong> o potencial de<br />

uso. Não são declaradamente<br />

defini<strong>do</strong>s em termos de função,<br />

you muST<br />

Tocha Olímpica<br />

cria<strong>do</strong>, recen<strong>tem</strong>ente, a cadeira<br />

tip ton para a emblemática<br />

VitRA. A tip ton serve para<br />

sentar em <strong>do</strong>is ângulos e lembra<br />

muito uma cadeira de baloiço,<br />

mas numa versão um pouco<br />

radical. esta cadeira existe em<br />

diversas cores fornecidas pela<br />

VitRA e é feita em polipropileno,<br />

um polímero deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

www.pedrita.net www.barberosgerby.com<br />

na verdade, como os próprios<br />

informam, os mobiletes estão<br />

no limiar entre o acessório e<br />

mobiliário e, como tal, à procura<br />

propeno e 100% reciclável.<br />

este material vem identifica<strong>do</strong><br />

no verso <strong>do</strong> objecto com um<br />

símbolo triangular ostentan<strong>do</strong><br />

o número cinco no seu centro e<br />

duas letras “PP” na sua base.<br />

A cadeira, produzida num<br />

único molde, dispensa o uso<br />

de componentes mecânicos,<br />

tornan<strong>do</strong>-a por isso mais<br />

durável. No plano ergonómico,<br />

a cadeira tip ton desenvolve<br />

a actividade muscular no<br />

abdómen e nas costas, fornece<br />

ainda oxigénio para o corpo<br />

e promove a concentração.<br />

Tip Ton, (Vitra, 2011)<br />

Mobiletes, no Palácio Quintela Farrobo (EXD2011).<br />

28<br />

de um lugar próprio <strong>que</strong> apenas<br />

estará completo com a sua<br />

integração no espaço e de acor<strong>do</strong><br />

com a funcionalidade a<strong>do</strong>ptada.<br />

presented by<br />

06 07 08 09<br />

OUTUBRO 2011<br />

Terreiro <strong>do</strong> Paço/Pátio da Galé<br />

Verão/Summer 2012<br />

www.modalisboa.pt


B e gin<br />

n er s<br />

T — Maria João Teixeira<br />

Já nos cinemas, "Assim é o<br />

Amor" —beginners no original,<br />

cujo titulo português não faz<br />

justiça— é o filme indie de<br />

mike mills, perfeito para a<br />

reentrée cinematográfica. Com<br />

eWAN mCGReGoR no papel<br />

principal, maravilhosamente<br />

acompanha<strong>do</strong> por CHistoPHeR<br />

PlummeR e mÉlANie lAuReNt,<br />

o filme acompanha a crise<br />

existencial de um ilustra<strong>do</strong>r,<br />

marca<strong>do</strong> pela morte da mãe<br />

<strong>que</strong> sobre as confissões e<br />

recordações <strong>do</strong> pai, reconstroí<br />

a sua existência implodida<br />

depois <strong>do</strong> sucesso de<br />

thumbsucker, mike mills não<br />

o primeiro encontro entre os<br />

iNteRPol e o sr. dAVid lYNCH<br />

faz lembrar uma das 11 curtas<br />

<strong>do</strong> Coffee and Cigarettes <strong>do</strong><br />

Jim JARmusCH. Não sabemos<br />

se falaram sobre a ressurreição<br />

de elvis, famílias disfuncionais<br />

ou sobre o Rock ou o Pop ou<br />

sobre o uso da nicotina como<br />

insecticida. mas falaram sobre<br />

café e <strong>do</strong> café orgânico produzi<strong>do</strong><br />

pela empresa <strong>do</strong> cineasta<br />

(david lynch signature Cup<br />

Coffee), de cenas <strong>do</strong> Fire Walk<br />

With me, com CHRis isAAk e<br />

you muST<br />

teve problemas em revisitar as<br />

<strong>do</strong>res <strong>do</strong> crescimento e escrever<br />

um argumento biográfico com<br />

uma encenação sob a forma de<br />

pop lírico, segun<strong>do</strong> as palavras<br />

<strong>do</strong> próprio. Vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da<br />

publicidade e da música, mills<br />

conseguiu cruzar referências<br />

e construir uma linguagem<br />

única, talvez comparáveis a<br />

uma soFiA CoPPolA cheia de<br />

kieFeR sutHeRlANd and some<br />

memorable quotes. e dessa<br />

conversa solta e sem agenda<br />

resultou um compromisso, um<br />

esboço para uma colaboração<br />

de dAVid lYNCH no espectáculo<br />

<strong>do</strong>s iNteRPol a realizar-se em<br />

indio, na Califórnia. o Coachella<br />

Valley music and Arts Festival,<br />

mais conheci<strong>do</strong> como Coachella<br />

Fest ou simplesmente Coachella,<br />

evento anual de música e arte.<br />

Nos seus concertos, os iNteRPol<br />

sempre <strong>que</strong> tocavam a música<br />

lights faziam-no envoltos em<br />

vontade de rir. ou seja, ficamos<br />

com uma história acessível e<br />

esperançosa sobre os cépticos<br />

modernos, perfeita para curar<br />

a ressaca das famosas loucuras<br />

de Verão e desgostos diversos.<br />

um feelgood movie disfarça<strong>do</strong><br />

de feelbad movie. e não, não<br />

é uma comédia romântica. É<br />

qual<strong>que</strong>r coisa de novo. Cinema<br />

etéreo sem mais nem menos.<br />

I T o u c h<br />

a R e d<br />

B ut t o n M a n T — Indrid Rodrigues<br />

30<br />

luzes vermelhas. e, coincidências<br />

das improváveis mas <strong>que</strong><br />

vinha mesmo a calhar, dAVid<br />

lYNCH achou <strong>que</strong> talvez eles<br />

achassem curiosa uma pe<strong>que</strong>na<br />

personagem de animação <strong>que</strong> ele<br />

tinha cria<strong>do</strong>, i touch A Red button<br />

man. desta conversa o elvis<br />

pode não ter ressuscita<strong>do</strong>, mas<br />

o <strong>tem</strong>a lights com a animação<br />

de dAVid lYNCH, erguer-se-á<br />

das cinzas com toda a certeza.<br />

o single sairá a 3 de se<strong>tem</strong>bro.


R o d r i g o<br />

A r e i a s<br />

Com a casa esgotada, na<br />

abertura oficial <strong>do</strong> 19º Festival<br />

de Curtas de Vila <strong>do</strong> Conde,<br />

RodRiGo AReiAs passeava<br />

calmo entre <strong>que</strong>m aguardava<br />

expectante a <strong>apresentação</strong><br />

<strong>do</strong> seu filme estrada de Palha.<br />

“está atrasa<strong>do</strong>”, terá dito<br />

mais ou menos 500 vezes. É<br />

um velho conheci<strong>do</strong> deste<br />

festival, premia<strong>do</strong> em 2008 com<br />

a sua curta Corrente e <strong>desde</strong><br />

então não mais <strong>tem</strong> falta<strong>do</strong>.<br />

Com música de RitA Red sHoes<br />

e leGeNdARY tiGeRmAN,<br />

estrada de Palha, a sua<br />

longa em formato western,<br />

apresentar-se-ia nesta noite<br />

como filme concerto, musica<strong>do</strong><br />

ao vivo. Feito com o orçamento<br />

de uma curta, <strong>tem</strong> por base os<br />

escritos de desobediência Civil<br />

de tHoReAu <strong>que</strong> <strong>que</strong>stiona o<br />

respeita<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>que</strong> não<br />

se dá ao respeito. Ainda sem<br />

data de estreia prevista, este<br />

fileme centra-se na acção de um<br />

português, cidadão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> regressa para vingar a morte<br />

<strong>do</strong> irmão, enquanto traduz<br />

tHoReAu. encontra um país<br />

em convulsão social e política<br />

num perío<strong>do</strong> pós regicídio.<br />

<strong>do</strong>mina a lei <strong>do</strong> mais forte, e<br />

Ricar<strong>do</strong> Areias e Victor<br />

Correia em cena de rodagem<br />

de Estrada de Palha.<br />

you muST<br />

travará algumas cruzadas morais.<br />

desistir? lutar? Resignar?<br />

Recusan<strong>do</strong> uma leitura simples<br />

da metáfora sobre Portugal,<br />

o <strong>que</strong> <strong>do</strong>mina neste filme de<br />

AReiAs é uma reflexão política<br />

e filosófica in<strong>tem</strong>poral, sobre<br />

o esta<strong>do</strong> versus cidadão, cuja<br />

actualidade é incontornável.<br />

Portugalidade á parte, é certo<br />

<strong>que</strong> será uma obra apreciada e<br />

compreendida nos quatro cantos<br />

<strong>do</strong> planeta, perante a grandeza<br />

<strong>do</strong> seu <strong>tem</strong>a, simplicidade da sua<br />

câmara e estética narrativa <strong>que</strong><br />

muitas vezes faz lembrar Homem<br />

morto, de Jim JARmusCH.<br />

Com 32 anos RodRiGo AReiRAs<br />

<strong>que</strong> reside em Guimarães de<br />

onde grita a necessidade de<br />

descentralização e descreve de<br />

forma caricatural as viagens<br />

a lisboa resolveu sediar na<br />

sua cidade a ban<strong>do</strong> á Parte,<br />

um aglomera<strong>do</strong> criativo sob<br />

forma de produtora, onde se<br />

juntam muitos <strong>do</strong>s nomes <strong>que</strong><br />

nos fazem encarar o futuro<br />

<strong>do</strong> cinema Português com um<br />

brilho nos olhos. Gente <strong>que</strong><br />

não <strong>tem</strong> me<strong>do</strong> da analogia<br />

ao cinema de GodARd e <strong>que</strong><br />

sabe trabalhar numa lógica de<br />

guerrilha, fazen<strong>do</strong> filmes em<br />

32<br />

T — Maria João Teixeira<br />

contínuo, com baixíssimos<br />

orçamentos e enormes sacrifícios<br />

pessoais. Formam um núcleo<br />

coeso e bastante á parte.<br />

mas se vive no ambiente <strong>do</strong><br />

cinema, RodRiGo também<br />

nunca se afastou de uma outra<br />

paixão, a música. Realiza<br />

vídeos e é cúmplice audiovisual<br />

permanente de PAulo FuRtA<strong>do</strong>,<br />

leGeNdARY tiGeRmAN. um<br />

verdadeiro cineasta rock n´roll,<br />

<strong>que</strong> também é músico quan<strong>do</strong><br />

<strong>tem</strong> <strong>tem</strong>po. <strong>tem</strong>po, coisa <strong>que</strong><br />

por estes dias é o <strong>que</strong> mais<br />

precisa depois de aceitar<br />

coordenar to<strong>do</strong> o cinema da<br />

Guimarães Capital da Cultura.<br />

Despomar Lda, 261860 900<br />

nixonnow.com


M a r ia<br />

I m a g i ná rio<br />

“A maria imaginário é a edNA,<br />

<strong>tem</strong> 25 anos, estu<strong>do</strong>u ilustração<br />

e bd na Arco, não sabe bem se é<br />

ilustra<strong>do</strong>ra ou pintora mas sabe<br />

<strong>que</strong> é apaixonada pelo <strong>que</strong> faz.”<br />

É assim <strong>que</strong> se descreve a artista<br />

<strong>que</strong> descobriu o seu lugar no<br />

desenho, apesar de ter sonha<strong>do</strong><br />

ser maria bailarina, astronauta,<br />

nada<strong>do</strong>ra-salva<strong>do</strong>ra e agricultora.<br />

os gela<strong>do</strong>s colori<strong>do</strong>s <strong>que</strong> pintou<br />

nas paredes velhas da cidade<br />

de lisboa, são hoje uma das<br />

suas principais referências. No<br />

entanto a maior parte <strong>do</strong> seu<br />

trabalho encontra-se em papel e<br />

telas, sen<strong>do</strong> a street art apenas<br />

“uma extensão <strong>do</strong> meu trabalho,<br />

mas por estar à vista de to<strong>do</strong>s<br />

ganha mais projecção”. outro<br />

projecto <strong>que</strong> teve uma grande<br />

aceitação foi o “coraçãozinho de<br />

T — Margarida Brito Paes<br />

you muST<br />

merda” inspira<strong>do</strong> no “cliché <strong>do</strong><br />

coração parti<strong>do</strong> e <strong>do</strong> desamor,<br />

<strong>que</strong> é um <strong>tem</strong>a <strong>que</strong> já bateu<br />

à porta de quase to<strong>do</strong>s nós<br />

e com o qual nos podemos<br />

identificar.” <strong>tem</strong> recebi<strong>do</strong> muitos<br />

convites para participar em<br />

exposições, sen<strong>do</strong> os últimos<br />

uma intervenção num camião<br />

<strong>do</strong> lixo ou, no âmbito WiNe<br />

tAlks & ARts, um conjunto de<br />

www.flickr.com/photos/maria_imaginario/<br />

Quan<strong>do</strong> o vinho entra o juízo sai, 3m x 3m. Wine Talks & Arts.<br />

ler entrevista<br />

completa em<br />

www.parqmag.com<br />

34<br />

After The Utopia<br />

desenhos e instalação em torno<br />

<strong>do</strong> <strong>tem</strong>a <strong>do</strong> vinho. de momento<br />

está a aprender a fazer croché,<br />

depois <strong>que</strong>r aprender a arte da<br />

cerâmica e ter mais bases de<br />

escultura, a fim de tornar o seu<br />

trabalho ainda mais completo e<br />

continuar a derreter os corações<br />

mais endureci<strong>do</strong>s com os<br />

seus desenhos de menina.<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


Go Fo r t h<br />

T — Margarida Brito Paes<br />

you muST you muST<br />

www.goforth.levi.com/<br />

Joe HatcHiban, por VHiLS, na chausseestr. 36, berlin Mitte.<br />

making-of em<br />

www.parqmag.com<br />

A leVis lançou-se nas ruas de<br />

berlim para celebrar o espírito<br />

Go Forth, a nova plataforma<br />

da marca <strong>que</strong> vem unir moda e<br />

arte, como formas de lembrar<br />

e reafirmar os valores sociais.<br />

berlim foi a primeira de quatro<br />

cidades onde se desenvolveram<br />

actividades para celebrar a<br />

nova plataforma, ten<strong>do</strong>-se<br />

realiza<strong>do</strong> vários workshops<br />

para além de um conjunto de<br />

murais cria<strong>do</strong>s por AlexANdRe<br />

FARto, mais conheci<strong>do</strong> como<br />

“VHils”. o artista português<br />

(entrevista<strong>do</strong> na última edição<br />

da PARQ) compôs uma série de<br />

retratos, com a técnica <strong>que</strong> lhe<br />

é particular, de 4 mora<strong>do</strong>res<br />

de berlim <strong>que</strong> no seu dia-a-dia<br />

representam os ideais da<br />

Go Forth. Joe HAtCHibAN é<br />

funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> kARAoke beARPit<br />

Fadi Saad, por VHiLS, na Revalerstrasse<br />

99, Berlin Friedrichshain.<br />

de berlim, um projecto <strong>que</strong><br />

junta centenas de pessoas<br />

para uma tarde de karaoke ao<br />

ar livre. sVeN mARQuARdt<br />

é uma figura carismática da<br />

cidade <strong>que</strong> <strong>tem</strong> <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>,<br />

através das suas fotografias a<br />

preto e branco, as subculturas<br />

<strong>que</strong> a cidade <strong>tem</strong> desenvolvi<strong>do</strong>.<br />

FAdi sAAd dedica-se, através<br />

<strong>do</strong> associativismo, à integração<br />

<strong>do</strong>s imigrantes a<strong>do</strong>lescentes na<br />

sociedade alemã. e por fim, o<br />

artista por detrás de VARious &<br />

Gould, dedica-se à street art.<br />

os workshops, <strong>que</strong> se repe<strong>tem</strong><br />

Sven Marquardt, por<br />

vHILS, na Potsdamer Str.<br />

151, Berlin Schoeneberg.<br />

Various & Gould, por VHils, na schillingsbruecke, junto a ostbahnhof.<br />

36 37<br />

ainda em são Francisco, Nova<br />

io<strong>que</strong> e londres, con<strong>tem</strong>plam<br />

a serigrafia, pretenden<strong>do</strong><br />

homenagear o handmade<br />

e interiorizar os princípios<br />

da arte e inovação.


A louis VuittoN convi<strong>do</strong>u<br />

o artista FRANçois CAdièRe<br />

para fazer as imagens da nova<br />

colecção de lenços da marca.<br />

o fotógrafo, conheci<strong>do</strong> <strong>pelas</strong><br />

suas influências surrealistas e<br />

pela mistura de ilustração com<br />

fotografia, criou oito postais <strong>que</strong><br />

mostram diferentes maneiras<br />

originais de usar os lenços de<br />

seda da louis VuittoN.<br />

Para esta estação, mARC<br />

JACobs não se limitou a reeditar<br />

os tradicionais lenços, já <strong>que</strong><br />

para além <strong>do</strong>s clássicos criou<br />

ainda outros modelos com<br />

franjas, berlo<strong>que</strong>s e laços. os<br />

padrões por sua vez inspiraramse<br />

na mítica cidade de berlim e<br />

misturam vários <strong>do</strong>s <strong>tem</strong>as já<br />

you muST you muST<br />

Fr a n ç oi s<br />

explora<strong>do</strong>s pela marca francesa<br />

como por exemplo os mapas,<br />

os corações, padrões leopar<strong>do</strong><br />

e, como não podia deixar de<br />

ser, o monograma da marca.<br />

uma colecção rica em padrões<br />

e estilos, <strong>que</strong> se adapta a um<br />

público mais jovem, responden<strong>do</strong><br />

com prontidão à tendência<br />

crescente de transformar os<br />

lenços em peças-chave no<br />

guarda-roupa feminino.<br />

www.louisvuitton.com<br />

Ca d i è r e<br />

T — Margarida Brito Paes<br />

S h aun<br />

S a m<br />

s on<br />

T — Francisco Vaz Fernandes<br />

sHAuN sAmsoN ganhou<br />

o prémio <strong>do</strong> international talent<br />

support, mais conheci<strong>do</strong> por<br />

its. Na sua 10ª edição, este<br />

prémio apoia<strong>do</strong> pela diesel<br />

continua a ser um <strong>do</strong>s mais<br />

importantes, reunin<strong>do</strong> um jurí<br />

notável constituí<strong>do</strong> por ViktoR<br />

& RolF, HilARY AlexANdeR,<br />

ANtoNio beRARdi, ReNzo<br />

Rosso e mANdi leNNARd.<br />

Finalista da Central saint martin<br />

of Art de londres, o jovem<br />

cria<strong>do</strong>r americano apresentou<br />

uma colecção de homem onde<br />

se propõem transpor to<strong>do</strong>s<br />

os códigos tipifica<strong>do</strong>s de um<br />

look grunge, propon<strong>do</strong> uma<br />

www.itsweb.org<br />

imagem vibrante e futurista<br />

marcada por silhuetas fluídas<br />

e ten<strong>do</strong> por base o xl. Até ao<br />

joelho com campos em xadrez<br />

e cores sobrepostas, estas<br />

criações surgem-nos como telas<br />

e fazem-nos pensar na pintura<br />

“Faça chuva, faça sol” parece<br />

ser o novo lema da empresa<br />

HAViANAs. Para além <strong>do</strong> chinelo<br />

de de<strong>do</strong> mais conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, a marca vem agora<br />

propor umas galochas para os<br />

dias de chuva. Aproveitam a<br />

qualidade da borracha como<br />

38 39<br />

de RotHko. se a esse nome<br />

juntarmos a evocação de kuRt<br />

CobAiN teríamos <strong>que</strong> colocar<br />

sHAuN sAmsoN ao la<strong>do</strong> de<br />

uma espiritualidade americana.<br />

Colecção de Shaun Samson<br />

F a ça<br />

C<br />

hu v a<br />

www.havaianas.com<br />

T — Maria São Miguel<br />

matéria-prima base para as<br />

galochas e tu<strong>do</strong> o resto é alma<br />

tropical. Por isso, há muitas<br />

cores inesperadas e impressões<br />

divertidas. A partir de agora,<br />

um dia de chuva deixa de ser<br />

sinónimo de um dia cinzento.


T — Margarida Brito Paes<br />

D i e s e l<br />

depois <strong>do</strong> sucesso da primeira<br />

colaboração com a AdidAs, a<br />

diesel volta repetir a parceria,<br />

propon<strong>do</strong> uma linha de ténis<br />

<strong>que</strong> “é a colisão de <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s,<br />

de duas atitudes similares<br />

perante a vida e a criatividade”.<br />

Ainda assim esta “<strong>tem</strong> mais<br />

AdN diesel <strong>que</strong> a primeira<br />

colaboração, já <strong>que</strong> foi buscar<br />

muita da inspiração ao mun<strong>do</strong><br />

diesel, tanto ao vestuário de<br />

trabalho e aos tratamentos <strong>do</strong>s<br />

materiais como a elementos<br />

típicos das colecções da diesel.”<br />

mas o <strong>que</strong> têm estes ténis de<br />

diferente <strong>do</strong>s já antes fabrica<strong>do</strong>s<br />

pela marca? segun<strong>do</strong> steFANo<br />

Centennial Mid<br />

Rosso esta é uma colecção<br />

“especial e exclusiva. Não<br />

<strong>que</strong>ríamos criar em grande<br />

quantidade, por<strong>que</strong> esta não<br />

é uma operação comercial”.<br />

ZX 700<br />

you muST you muST<br />

Forum Mid Leather Jacket<br />

Assim estes ténis pretendem<br />

ser “objectos de desejo para fãs<br />

e colecciona<strong>do</strong>res de ambas as<br />

marcas”. envolvi<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os<br />

processos da parceria, steFANo<br />

Rosso assume a sua paixão<br />

por ténis e confessa <strong>que</strong> a<strong>do</strong>ra<br />

“comprar todas as edições<br />

+<br />

especiais de ténis <strong>que</strong> encontra,<br />

quan<strong>do</strong> está a viajar”, talvez por<br />

isso tenha si<strong>do</strong> ele o escolhi<strong>do</strong><br />

para dar a cara pela parceria!<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>que</strong>stiona<strong>do</strong> sobre<br />

as motivações <strong>que</strong> levaram a<br />

AdidAs e a diesel a juntarem-se<br />

novamente, steFANo assume<br />

a sua responsabilidade. “eu<br />

sou um grande fã da Adidas, e<br />

essa marca fez parte <strong>do</strong> meu<br />

imaginário enquanto crescia.”<br />

mas não foi apenas este fascínio<br />

pela marca desportiva <strong>que</strong><br />

motivou o projecto. “depois da<br />

fantástica colaboração de denim,<br />

onde o conhecimento da diesel<br />

se juntou ao espírito da AdidAs,<br />

nós decidimos fazer o contrário<br />

para começar um novo capitulo<br />

nesta parceria: a herança das<br />

duas marcas juntam-se aplican<strong>do</strong><br />

a nossa essência nos clássicos<br />

ténis AdidAs!” uma parceria <strong>que</strong><br />

promete ser um sucesso e virar<br />

a cabeça de to<strong>do</strong>s os amantes<br />

de ténis. steFANo Rosso já<br />

escolheu os seus preferi<strong>do</strong>s: os<br />

Centennial. Resta esperar pela<br />

colecção e escolheres os teus!<br />

Stan Smith Mid<br />

entrevista de<br />

stefano Rosso e colecção<br />

completa em<br />

www.parqmag.com<br />

Ad i d a s<br />

esta estação, a tecnologia<br />

hyperfuse é a grande novidade da<br />

Nike no <strong>que</strong> se refere ao calça<strong>do</strong>.<br />

esta tecnologia permite <strong>que</strong> as<br />

placas <strong>que</strong> compõem o sneaker<br />

sejam prensadas, pon<strong>do</strong> de<br />

parte todas as costuras. testada<br />

em primeiro lugar no calça<strong>do</strong><br />

Nike Force One Hyperfuse<br />

para bas<strong>que</strong>tebol, só agora é<br />

aplicada na linha de moda Nike<br />

sPoRtsWeAR, procuran<strong>do</strong><br />

explorar outros efeitos estéticos<br />

e trazen<strong>do</strong> uma nova alma aos<br />

clássicos da Nike. esta tecnologia<br />

trabalha com materiais mais<br />

leves e menos espessos, alguns<br />

deles transparentes sobre outros<br />

fluorescentes. em contraste,<br />

deixam a nu a tal sobreposição e<br />

placagem de camadas a partir da<br />

tecnologia hyperfuse. Até agora, a<br />

nova estética desportiva aplicouse<br />

às silhuetas <strong>do</strong> Air Force one,<br />

Air max one e Air max 90. Cada<br />

um desses modelos icónicos<br />

mantém-se livre de superfícies<br />

acidentadas, tal como é exigi<strong>do</strong><br />

actualmente a um sapato de<br />

alta competição. Nesse aspecto,<br />

hyperfuse é mais um passo<br />

na orientação da marca em<br />

direcção ao avanço tecnológico,<br />

H yp er f u s e<br />

T — Francisco Vaz Fernandes<br />

Windrunner Hyperfuse<br />

ao serviço <strong>do</strong> desporto e à sua<br />

aplicação no campo da moda,<br />

exploran<strong>do</strong> novos efeitos visuais<br />

<strong>que</strong> as recentes tecnologias<br />

40 41<br />

permi<strong>tem</strong>. Cortes e colagens<br />

laser foram os primeiros sinais.<br />

Agora <strong>tem</strong>os hyperfuse, cujo<br />

fabrico aerodinâmico e aspecto<br />

minimalista irá ainda passar pelo<br />

clássico casaco Windrunner.<br />

Air Max 90 Hyperfuse Air Max 90 Hyperfuse<br />

Nike Hyperfuse Dunk High<br />

Nike Air Max One Hyperfuse<br />

www.nikesportswear.com


Fr e d<br />

the Pick district é o primeiro<br />

par<strong>que</strong> nacional britânico e<br />

a grande fonte de inspiração<br />

para a colecção masculina<br />

da FRed PeRRY. inaugura<strong>do</strong><br />

em 1951, o par<strong>que</strong> incentivou<br />

toda uma geração à prática<br />

<strong>do</strong> desporto. As caminhadas e<br />

os grandes passeios a cavalo<br />

T — Margarida Brito Paes<br />

you muST you muST<br />

criaram trajes muito próprios<br />

e tradicionais na década de 50.<br />

e é este o espírito vintage <strong>que</strong><br />

a FRed PeRRY recupera para<br />

o próximo inverno, com cores<br />

neutras e padrões axadreza<strong>do</strong>s.<br />

No <strong>que</strong> diz respeito aos teci<strong>do</strong>s<br />

são as malhas e os algodões<br />

<strong>que</strong> pre<strong>do</strong>minam, tanto na<br />

colecção de homem como na<br />

de mulher. A última referida<br />

também foi buscar a sua essência<br />

ao passa<strong>do</strong>, remeten<strong>do</strong>-nos<br />

para o espírito de libertação e<br />

emancipação da mulher. Assim<br />

www.fredperry.com<br />

a roupa desportiva <strong>do</strong> meio <strong>do</strong><br />

século xx, revela-se uma forte<br />

influência para o próximo inverno,<br />

onde as peças-chave <strong>do</strong> guardaroupa<br />

feminino são os pólos, as<br />

parkas e os vesti<strong>do</strong>s camiseiro.<br />

duas colecções <strong>que</strong> nos levam<br />

para o espírito das caminhadas<br />

e <strong>do</strong> contacto com natureza.<br />

P e r r y<br />

Casual, descontraída mas sempre<br />

confortável, mesmo quan<strong>do</strong><br />

trazem modelos de salto alto,<br />

assim se define a colecção da<br />

CAmPeR para esta nova estação.<br />

Focan<strong>do</strong> a atenção apenas nas<br />

edições de sapatos rasos, uma<br />

das maiores surpresas vem da<br />

linha together, em colaboração<br />

com beRNHARd WillHelm, um<br />

Peu Pista<br />

<strong>do</strong>s principais enfant terribles da<br />

moda actual. o designer criou<br />

um modelo de botas em cabedal<br />

preto, com aplicações metálicas<br />

em forma de caveira. sem dúvida,<br />

um mergulhar num universo<br />

gótico <strong>que</strong> o cria<strong>do</strong>r berlinense<br />

tão bem conhece. outra das<br />

tendências <strong>que</strong> a CAmPeR sabe<br />

explorar muito bem é o carácter<br />

manufactura<strong>do</strong> <strong>que</strong> se faz sentir<br />

no AdN da marca através das<br />

mãos de verdadeiros artesãos<br />

<strong>que</strong>, há mais de um século, se<br />

dedicam a fazer sapatos. Neste<br />

T — Maria São Miguel<br />

aspecto rústico e homemade,<br />

uma das linhas mais bem<br />

conseguidadas é a industrial<br />

RAiGueR WiNteR, uma espécie<br />

de mocassins primordiais, tanto<br />

para homem como para mulher.<br />

Apesar <strong>do</strong> aspecto artesanal (<strong>que</strong><br />

melhora com o uso), é um sapato<br />

sofistica<strong>do</strong>, com uma gáspea em<br />

pele, uma palmilha anatómica<br />

Pu para maior amortecimento e<br />

sola de borracha. Ainda dentro<br />

deste tipo de design, desta<strong>que</strong><br />

para os modelos da série<br />

C am p e r<br />

tWs (twins) <strong>que</strong>, em <strong>tem</strong>pos,<br />

foi uma das grandes marcas<br />

de identidade da CAmPeR,<br />

propon<strong>do</strong>, tal como hoje,<br />

uma espécie de mal-casa<strong>do</strong>s,<br />

dadas as óbvias diferenças <strong>do</strong>s<br />

pares. Ainda captan<strong>do</strong> esse<br />

espírito, mas com materiais<br />

mais urbanos e tecnológicos e<br />

responden<strong>do</strong> às necessidades<br />

de um waterproof, o modelo Peu<br />

Pista é um <strong>do</strong>s mais completos.<br />

Apresenta uma construção de<br />

costuras seladas <strong>que</strong> oferece<br />

protecção contra a água e o frio,<br />

ao passo <strong>que</strong> a sua palmilha<br />

87 Pu (com 87 esferas) garante<br />

um amortecimento suave.<br />

Together by Bernhard Willhelm Industrial Boite<br />

F<br />

Ver colecção<br />

completa em<br />

www.parqmag.com<br />

W<br />

Industrial Raiguer TWS<br />

TWS<br />

42 43<br />

www.camper.com


A CoNVeRse trouxe para esta<br />

estação alguns modelos de<br />

inspiração out<strong>do</strong>or <strong>que</strong> têm<br />

raízes no seu próprio passa<strong>do</strong>.<br />

durante a segunda Guerra<br />

mundial, a CoNVeRse modificou<br />

a sua produção de calça<strong>do</strong> para<br />

assim contribuir para os esforços<br />

de guerra, fabrican<strong>do</strong> as botas<br />

para to<strong>do</strong> o exército <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s<br />

uni<strong>do</strong>s. dentro desta categoria,<br />

as Classic boot Hi seguem a<br />

tendência out<strong>do</strong>or e montanha e<br />

vêm com os típicos ataca<strong>do</strong>res.<br />

Relativamente ao modelo Chuck<br />

All star, um modelo <strong>que</strong> esteve<br />

sempre na preferência <strong>do</strong>s jovens<br />

de várias gerações ligadas a<br />

movimentos de contra-cultura,<br />

nota-se um investimento em<br />

várias combinações de xadrez<br />

inspiradas no movimento<br />

grunge americano. Alguns deles<br />

trazem um revestimento de<br />

pelo por dentro, especialmente<br />

dirigi<strong>do</strong> ao público feminino.<br />

Para este mesmo público,<br />

e da<strong>do</strong> o sucesso <strong>que</strong> foi a<br />

primeira colaboração com a<br />

mARimekko, a linha premium da<br />

CoNVeRse volta a ter modelos<br />

de All star com padrões e<br />

cores vibrantes, entre os quais<br />

o da papoila, <strong>que</strong> continua<br />

Al l K e ds x<br />

Converse Lady All Star<br />

T — Maria São Miguel<br />

Converse by John Varvatos<br />

you muST you muST<br />

All Star x Marimekko<br />

Converse All Star<br />

Hi Dashing Tweed<br />

Converse Star Player<br />

Classic Trainer Suede<br />

a ser o ex-libris da marca de<br />

teci<strong>do</strong>s finlandesa. Ainda<br />

na linha premium, desta<strong>que</strong><br />

para os revestimentos nobres<br />

em tweed, um <strong>do</strong>s grandes<br />

símbolos ingleses <strong>do</strong> country<br />

gentleman <strong>que</strong> resulta numa<br />

fusão irreverente e irónica. outra<br />

mistura bem conseguida é a<br />

aplicação de teci<strong>do</strong>s mackintosh<br />

em modelos da JACk PuRCell,<br />

o topo de gama da CoNVeRse.<br />

totalmente impermeável,<br />

este teci<strong>do</strong> de lã ganha uma<br />

textura e perfeição raras.<br />

Converse Chuck Taylor<br />

All Star Boot Hi<br />

S t a r<br />

T — Maria São Miguel<br />

o cria<strong>do</strong>r americano mARk<br />

mCNAiRY, actualmente<br />

considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores<br />

designers de calça<strong>do</strong> masculino,<br />

iniciou uma colaboração<br />

Como to<strong>do</strong>s os produtos<br />

típicos <strong>do</strong>s anos 80, também<br />

a G-shock faz parte desse le<strong>que</strong><br />

de revivalismos <strong>que</strong> o merca<strong>do</strong><br />

urbano consome. A marca<br />

G-shock nasceu dentro da CAsio<br />

em 1983, com o propósito de<br />

fazer um relógio ultra resistente<br />

para um merca<strong>do</strong> juvenil <strong>que</strong><br />

consumia na época muita ficção<br />

científica. A verdade, é <strong>que</strong> os<br />

relógios de origem japonesa<br />

pareciam-se com naves espaciais<br />

e os momentos <strong>que</strong> se perdiam<br />

com as imensas funcionalidades<br />

M a r k<br />

M c N a i ry<br />

com a keds propon<strong>do</strong>, para<br />

esta estação, um modelo<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pela marca<br />

nos anos 50. No arquivo da<br />

keds, o modelo tinha o nome<br />

de booster e o trabalho de<br />

mCNAiRY foi actualizá-lo e<br />

dirigi-lo a um público urbano.<br />

são três edições exclusivas,<br />

disponíveis em três cores<br />

distintas: bege, azul-marinho e<br />

branco natural, a contrastar com<br />

N e x x<br />

Num país onde se fala<br />

constan<strong>tem</strong>ente da<br />

necessidade de inovação e<br />

empreen<strong>do</strong>rismo, registamos<br />

um bom exemplo inicia<strong>do</strong> por<br />

4 promotores com experiência<br />

no merca<strong>do</strong> das motas. estes<br />

aproveitaram um segmento<br />

carencia<strong>do</strong> para proporem um<br />

produto diferencia<strong>do</strong> dirigi<strong>do</strong><br />

essencialmente aos skooters. o<br />

pontapé de saída foi um capacete<br />

aberto muito re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> revesti<strong>do</strong><br />

a denim (2006), o primeiro <strong>do</strong><br />

G — S h oc k<br />

<strong>do</strong>s relógios faziam viver<br />

em poucos centímetros<br />

quadra<strong>do</strong>s uma espécie de<br />

futurismo. Ficam aqui alguns<br />

<strong>do</strong>s modelos reedita<strong>do</strong>s <strong>que</strong><br />

estão no merca<strong>do</strong> português.<br />

44 45<br />

solas grossas de borracha. tal<br />

como as criações de mCNAiRY<br />

para a sua própria marca, NeW<br />

AmesteRdAN, estes sapatos são<br />

elegantes e com uma execução<br />

milimetricamente perfeita.<br />

género, despertan<strong>do</strong> por isso<br />

a atenção mundial a partir de<br />

blogs, sites e revistas e <strong>que</strong> ainda<br />

hoje representa o espírito criativo<br />

da Nexx. depois o x60 foi ten<strong>do</strong><br />

desenvolvimentos optan<strong>do</strong> por<br />

design retro, alguns deles com<br />

revestimentos em pele ou com<br />

elementos fluor <strong>que</strong> lhes permitiu<br />

concorrer com as marcas<br />

mais conhecidas. A qualidade<br />

<strong>do</strong> produto já é reconheci<strong>do</strong>,<br />

estan<strong>do</strong> hoje a desenvolver<br />

capacetes para a HuGo boss.<br />

T — Maria São Miguel T — Maria São Miguel


T — Cláudia Gavinho<br />

2 1 2<br />

VI P<br />

Are you on the list?<br />

depois de 212 ViP CARoliNA<br />

HeRReRA, um perfume<br />

inspira<strong>do</strong> no estilo de vida<br />

agita<strong>do</strong> de Nova ior<strong>que</strong>, surge<br />

agora a versão masculina da<br />

fragrância, 212 ViP CH for men.<br />

212 Vip Ch, eau de<br />

parfum, 50 ml, 57.40€<br />

212 Vip Ch men, eau de<br />

toilette, 50 ml, 67.44€<br />

o maior lancamento da beNeFit<br />

para este ano é a sua primeira<br />

linha de cuida<strong>do</strong>s faciais. b. Right<br />

Radiant skincare é composta<br />

por 8 produtos, em embalagens<br />

encanta<strong>do</strong>ramente vintage: triple<br />

Performing Facial emulsion<br />

you muST<br />

www.dior.com<br />

www.calvinklein.com<br />

www.benefitcosmetics.com<br />

(hidratante com FPs 15), total<br />

moisture Facial Cream (creme<br />

nutritivo), it’s Potent! eye Cream<br />

(creme de olhos), Foamingly<br />

Clean Facial Wash (espuma de<br />

limpeza), moisture Prep (tónico<br />

facial), ultra radiance (bruma),<br />

F a h r<br />

enh eit<br />

A nova água de colónia da<br />

conhecida fragrância para<br />

homem surge com uma base<br />

poderosa amadeirada fresca<br />

e conserva a assinatura<br />

característica original da<br />

violeta e <strong>do</strong> couro.<br />

aqua Fahrenheit, Dior, eau de<br />

toilette spray, 75 ml, 62.60€<br />

B. R i gh t<br />

46<br />

Refined Finish Facial Polish<br />

(esfoliante) e Remove it makeup<br />

Remover (desmaquilhante).<br />

Benefit, à venda em<br />

exclusivo na Sephora<br />

T — Cláudia Gavinho


marlboro<br />

fly camper<br />

fred perry element<br />

keds hunter<br />

patrizia pepe<br />

you muST Shopping you muST Shopping<br />

united colors benetton<br />

killah<br />

catarina martins<br />

k-swiss<br />

boss green<br />

fly<br />

zilian<br />

replay killah<br />

guess zilian<br />

samsonite pepe jeans<br />

malene birger<br />

ugg<br />

timezone<br />

48 49<br />

ugg<br />

diesel<br />

geox<br />

camper<br />

ugg


nike sportswear<br />

diesel<br />

keds<br />

puma<br />

adidas keds<br />

clae puma<br />

you muST Shopping you muST Shopping<br />

onitsuka tiger<br />

camper<br />

le coq sportif<br />

k-swiss<br />

fred perry<br />

havaianas<br />

onitsuka tiger<br />

converse<br />

element nike sportswear<br />

diesel<br />

adidas converse<br />

onitsuka tiger camper<br />

clae palladium<br />

merrell<br />

50 51<br />

nike sportswear<br />

le coq sportif<br />

le coq sportif<br />

merrell


a nn a<br />

C a l v i<br />

t — davide Pinheiro<br />

ANNA CAlVi foi tão<br />

bem sucedida na<br />

estreia em palcos<br />

portugueses no<br />

optimus Alive<br />

<strong>que</strong> se impôs<br />

um regresso em<br />

nome próprio. A<br />

13 de se<strong>tem</strong>bro<br />

vamos poder vê-la<br />

novamente mas<br />

agora a solo no lux.<br />

12.09.2011<br />

HARd Club<br />

Porto<br />

13.09.2011<br />

lux<br />

lisboa<br />

SounDSTaTion anna CaLVi<br />

Pessoal e<br />

transmissível<br />

A cronologia de ANNA CAlVi <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is momentos<br />

decisivos: a edição de um primeiro<br />

álbum no início <strong>do</strong> ano, <strong>que</strong> confirmou a<br />

atenção prestada por figuras com o cartel<br />

de bRiAN eNo ou NiCk CAVe. e um<br />

concerto no optimus Alive <strong>que</strong> marcou<br />

a estreia em palcos portugueses. Foi nos<br />

basti<strong>do</strong>res <strong>do</strong> palco super bock, <strong>que</strong> de<br />

secundário muito pouco <strong>tem</strong>, <strong>que</strong> encontrámos<br />

uma artista de tez pálida e lábios<br />

flamejantes, um pouco como a sua música:<br />

aparen<strong>tem</strong>ente frágil, ganha uma pujança<br />

ao vivo <strong>que</strong> a transforma numa mulher poderosa<br />

e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>ra da arma <strong>que</strong> <strong>tem</strong> em<br />

mãos, a guitarra.<br />

A dezena de metros entre os camarins e o<br />

palco não permitiam adivinhar a distância<br />

<strong>que</strong> existe entre a artista tímida <strong>que</strong> conversa<br />

a um volume mínimo e o animal de<br />

palco <strong>que</strong> veste uma ja<strong>que</strong>ta de cavaleira<br />

e pega o touro pelos cornos. "sou tímida<br />

mas a<strong>do</strong>ro estar em palco. Não tenho<br />

me<strong>do</strong> nenhum de tocar para muita gente.<br />

Pelo contrário, é muito agradável a sensação<br />

de levar a minha música a mais gente",<br />

contou algumas horas antes de se deparar<br />

com o público português.<br />

Quan<strong>do</strong> ANNA CAlVi voltar<br />

a aterrar no Aeroporto<br />

da Portela —antes, no dia<br />

12 de se<strong>tem</strong>bro toca no<br />

HARd Club portuense—,<br />

estará a dar as primeiras<br />

voltas de uma digressão<br />

por salas, depois de<br />

uma <strong>tem</strong>porada de festivais<br />

em <strong>que</strong> percorreu<br />

os principais palcos europeus.<br />

uma etapa <strong>que</strong><br />

percorreu com o sorriso<br />

de <strong>que</strong>m se está a divertir,<br />

conforme confessou.<br />

"estar em digressão é<br />

diverti<strong>do</strong>. É um desafio<br />

tocar para pessoas de países<br />

tão diferentes. Nunca é igual apesar<br />

de as reacções serem geralmente boas",<br />

defende. o <strong>que</strong> acabou por acontecer num<br />

concerto muito celebra<strong>do</strong> no optimus Alive<br />

em <strong>que</strong> ANNA CAlVi acabou por ser numa<br />

das revelações de um festival menos generoso<br />

<strong>que</strong> em outros anos para com apetites<br />

melómanos.<br />

Quan<strong>do</strong> o ano terminar, a<strong>que</strong>la <strong>que</strong> foi comparada<br />

a PJ HARVeY estará entre o clube<br />

52 53<br />

restrito de novo talento <strong>que</strong> 2011 revelou.<br />

mas ANNA CAlVi não se deixa impressionar<br />

por essa torrente de elogios <strong>que</strong> levou<br />

bRiAN eNo a considerá-la o acontecimento<br />

musical mais importante <strong>desde</strong> <strong>que</strong> PAtti<br />

smitH surgiu. "É muito importante ouvir<br />

essas palavras, sobretu<strong>do</strong> vindas de <strong>que</strong>m<br />

vem mas procuro não me deixar contagiar.<br />

Procuro abstrair-me <strong>do</strong> hype e concentrar-<br />

-me naquilo <strong>que</strong> procuro". e <strong>que</strong> passa por<br />

"encontrar o meu espaço enquanto compositora,<br />

escrever canções ainda melhor e<br />

tocar vidas de mais pessoas".<br />

Já os constantes paralelos com PJ HARVeY,<br />

teimam em não a aban<strong>do</strong>nar —há semelhanças<br />

evidentes assim como diferenças<br />

claras— mas o <strong>que</strong> mais incomoda ANNA<br />

CAlVi é a frequência com <strong>que</strong> esse fantasma<br />

assoma. "eu gosto da PJ HARVeY mas<br />

só mergulhei no universo dela depois de<br />

me terem compara<strong>do</strong> tantas vezes a ela.<br />

Não é <strong>que</strong> me importe mas simplesmente<br />

acho <strong>que</strong> é uma leitura preguiçosa", retorquiu<br />

uma ANNA CAlVi <strong>que</strong> consultava as<br />

notícias no computa<strong>do</strong>r portátil antes de se<br />

entregar à entrevista. mas é bom recordar<br />

<strong>que</strong> o disco foi produzi<strong>do</strong> por Rob ellis,<br />

colabora<strong>do</strong>r de... PJ HARVeY.<br />

No festival, ANNA CAlVi esteve ladeada<br />

por uma secção rítmica e um percussionista<br />

<strong>que</strong> também toca harmonium. uma<br />

dezena de minutos depois de se ter depara<strong>do</strong><br />

com um público ainda a recompor-se<br />

<strong>do</strong> embate com a poderosa intimidade de<br />

JAmes blAke, uma artista de saltos altos<br />

fez strip à alma e tirou tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> tinha<br />

sem precisar de fingir um reality show'.<br />

são essas emoções <strong>que</strong> aguardamos <strong>que</strong><br />

se repitam em <strong>do</strong>ses reforçadas no concerto<br />

<strong>do</strong> lux.


act i ve<br />

C h il d<br />

t — Pedro lima<br />

www.stereobeatbox.com<br />

to<strong>do</strong>s os anos há<br />

um álbum <strong>que</strong><br />

marca a mudança<br />

de estação. em<br />

2011, cabe a ACtiVe<br />

CHild antecipar a<br />

entrada <strong>do</strong> outono<br />

com a magistral<br />

estreia em formato<br />

longa-duração,<br />

You Are All i see.<br />

Fomos descobrir<br />

o seu gospel de<br />

linhas electrónicas<br />

e deixámo-nos<br />

evangelizar por este<br />

ex-menino de coro.<br />

www.activechildmusic.com<br />

SounDSTaTion<br />

Gospel<br />

electrónico<br />

ACtiVe CHild é o novo projecto <strong>do</strong> menino<br />

de coro torna<strong>do</strong> músico indie pop,<br />

PAt GRossi. o cantor estreou-se em 2010<br />

com o pouco divulga<strong>do</strong> eP Curtis lane, <strong>que</strong><br />

expôs pela primeira vez o seu folktronic<br />

assisti<strong>do</strong> por laptop feito a partir de casa,<br />

ecoa<strong>do</strong>, expansivo e textura<strong>do</strong> por várias<br />

layers sobrepostas de vocais celestiais. A<br />

sua sonoridade é, aliás, tão vasta <strong>que</strong> levou<br />

o músico a acompanhar digressões de<br />

artistas com géneros tão distintos como<br />

o pós-dubstep de JAmes blAke, o synth-<br />

-pop sonha<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s sCHool oF seVeN<br />

bells ou o indie-rock <strong>do</strong>s WHite lies.<br />

As canções de ACtiVe CHild são um intrigante<br />

estu<strong>do</strong> de contrastes. os elementos<br />

orgânicos <strong>do</strong> falsetto angélico e invulgarmente<br />

reconfortante de GRossi (uma<br />

mistura de Fleet Foxes, boN iVeR e<br />

ANtoNY HeGARtY), e o delica<strong>do</strong> dedilhar<br />

da harpa lançam uma luz sobre a negritude<br />

assombrada, criada por percussão<br />

cavernosa e sintetiza<strong>do</strong>res de infusão 80’s.<br />

Paisagens sonoras de sofrimento flutuante<br />

<strong>que</strong> não destoariam no interior de um<br />

claustro de igreja.<br />

Apesar de já me ter rendi<strong>do</strong> à música de<br />

ACtiVe CHild, nada me preparou para o<br />

salto <strong>do</strong> artista no muito<br />

antecipa<strong>do</strong> álbum<br />

de estreia You Are All<br />

i see, edita<strong>do</strong> a 23 de<br />

Agosto pela VAGRANt<br />

ReCoRds. o cantor expandiu<br />

as suas ambições<br />

sónicas e transformou o<br />

estúdio num instrumento<br />

para um disco <strong>que</strong> soa<br />

simultaneamente gigantesco<br />

e intimista.<br />

You Are All i see, título<br />

por si só gratificante, é<br />

um álbum de difícil digestão,<br />

denso e satura<strong>do</strong>,<br />

com canções forjadas<br />

em <strong>tem</strong>as como as alegrias e desgostos<br />

das relações amorosas, o amor perdi<strong>do</strong> e<br />

redescoberto, duelos pela monogamia ou<br />

identidade. A colecção de 10 canções com<br />

<strong>que</strong> nos presenteia, demonstra o alcance<br />

grandioso e cinematográfico da visão<br />

artística de GRossi e a sua tentativa de<br />

submergir o ouvinte em ambientes espectrais,<br />

de poder hipnótico e despoja<strong>do</strong> de<br />

excessos. Neste lugar as emoções fluem tal<br />

como afloram à pele, sem filtros ou receios.<br />

aCTiVe ChiLD<br />

54 55<br />

Com sintetiza<strong>do</strong>res triunfantes e reluzentes,<br />

linhas de harpa em contraponto, <strong>tem</strong>as<br />

como Hanging on relembram motion<br />

Picture soundtrack <strong>do</strong>s RAdioHeAd, melhorada<br />

com camada após camada de vocais<br />

cristalinos e acutilantes. High Priestess<br />

e see thru eyes são magníficas incursões<br />

aos territórios da electrónica, pontuadas<br />

por samples, drum machines e tecla<strong>do</strong>s<br />

<strong>que</strong> impulsionam as canções para a frente,<br />

manten<strong>do</strong>-as ao mesmo <strong>tem</strong>po leves<br />

e suspensas no ar. É nesta tensão entre a<br />

aspereza <strong>do</strong>s ritmos digitais e a solenidade<br />

das or<strong>que</strong>strações <strong>que</strong> You Are All i see<br />

vive e respira tão majestosamente.<br />

este álbum deve, sem dúvida, muito à<br />

década <strong>do</strong>urada <strong>do</strong>s anos 80, das baterias<br />

e sintetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s NeW oRdeRs<br />

ou JoY diVisioN às batidas de hip hop<br />

mais dançáveis, polvilhadas com melodias<br />

R&b com a <strong>do</strong>se certa de melodrama.<br />

exemplo máximo deste génio criativo é o<br />

primeiro single <strong>do</strong> álbum Playing House<br />

(<strong>que</strong> a publicação PitCHFoRk definiu<br />

como “à frente <strong>do</strong> seu <strong>tem</strong>po”), em <strong>que</strong><br />

GRossi juntou forças a tom kRell, crooner<br />

experimentalista de canções R&b<br />

mais conheci<strong>do</strong> por How to dress Well,<br />

para moldar uma faixa perfeita de contos<br />

de fadas frágil e sedutora, <strong>que</strong> se enterra<br />

lentamente muito além da epiderme.<br />

Não é difícil prever <strong>que</strong> ACtiVe CHild está<br />

destina<strong>do</strong> para grandes feitos, com o sol<br />

da Califórnia preso na voz e a capacidade<br />

de nos desarmar com palavras de sinceridade<br />

desconcertante.


y ou C a n't<br />

w in C ha rl i e<br />

B r o w n<br />

t — eduar<strong>do</strong> Feteira F — Pedro Gaspar & Nuno sousa dias<br />

o <strong>que</strong> mais há a<br />

dizer de uma banda,<br />

depois de ser<br />

internacionalmente<br />

reconhecida e<br />

classificada como<br />

“brilhante”? bem,<br />

para além de agora<br />

se dedicarem<br />

palavras ao mais<br />

recente albúm <strong>que</strong><br />

lançaram, muitas<br />

mais há a descobrir<br />

sobre o seu percurso,<br />

a sua posição face<br />

aos louvores da<br />

imprensa e <strong>do</strong><br />

público e acerca <strong>do</strong><br />

seu futuro. Quem<br />

as revela é salva<strong>do</strong>r<br />

menezes e tomás<br />

sousa, <strong>do</strong>is membros<br />

<strong>do</strong>s You CAN’t WiN<br />

CHARlie bRoWN,<br />

uma banda <strong>que</strong> afinal<br />

acumula victórias.<br />

SounDSTaTion<br />

No reportório contam com a participação<br />

<strong>do</strong>s Novos talentos Fnac 2009, com <strong>que</strong> se<br />

iniciaram na carreira musical como grupo,<br />

e um eP homónimo lança<strong>do</strong> em 2010. mas<br />

é com Chromatic, assim nomearam o seu<br />

primeiro trabalho de longa duração, <strong>que</strong><br />

os You CAN't WiN CHARlie bRoWN se<br />

afirmam como uma banda de albúm completo.<br />

Para agora, a banda apresenta ao<br />

público um experimentalismo sonoro mais<br />

trabalha<strong>do</strong>. Realiza<strong>do</strong> em estúdio, deixan<strong>do</strong><br />

um pouco de parte a melancolia <strong>que</strong><br />

caracterizou o eP. “tivemos imenso <strong>tem</strong>po<br />

de estúdio e pudemos experimentar<br />

de tu<strong>do</strong> um pouco”, diz tomÁs sousA,<br />

“e o resulta<strong>do</strong> foi nascen<strong>do</strong>”. mas nunca<br />

afasta<strong>do</strong>s de um naturalismo e uma característica<br />

quase artesanal de fazer música,<br />

esta continua a surgir sem qual<strong>que</strong>r<br />

tipo de “agenda” e a reflectir um pouco<br />

de to<strong>do</strong>s os membros da banda. “Algumas<br />

[músicas] já existiam à mais <strong>tem</strong>po <strong>que</strong><br />

o lançamento <strong>do</strong> eP e foram trabalhadas,<br />

mas nunca com um conceito específico”,<br />

explica tomÁs sousA. “Cada boca<strong>do</strong><br />

da música foi pensa<strong>do</strong> <strong>pelas</strong> seis pessoas<br />

para <strong>que</strong> cada um ficasse feliz pelo resulta<strong>do</strong><br />

final”, termina AFoNso meNezes.<br />

Ao ouvir o seu trabalho é difícil não identificar<br />

a banda portuguesa com outras já<br />

na estratosfera musical como GRizzlY<br />

beAR, suRFJAN steVeNs, Fleet Foxes<br />

e ANimAl ColleCtiVe. mas se seria de<br />

esperar <strong>que</strong> estas comparações pudessem,<br />

Pessoal e<br />

transmissível<br />

de certa forma, constrangir a banda, os<br />

<strong>do</strong>is membros desta desmen<strong>tem</strong>-no. “Nós<br />

a<strong>do</strong>ramos a comparação, gostamos <strong>que</strong><br />

vejam as nossas influências nas músicas<br />

e, pelo <strong>que</strong> dizem, vemos <strong>que</strong> estamos a<br />

fazer um bom trabalho se nos comparam<br />

a essas pessoas”, explica tomÁs sousA,<br />

“eles são os nossos í<strong>do</strong>los”.<br />

e nem mesmo depois da critica da les<br />

iNRoCkuPtibles, <strong>que</strong> os catapultou para<br />

uma maior visibilidade internacional, os<br />

You CAN’t WiN CHARlie bRoWN se acanham.<br />

“Posso falar por mim, eu ainda nem<br />

percebi muito bem o <strong>que</strong> se passa e não<br />

sinto qual<strong>que</strong>r pressão”, afirma sAlVA<strong>do</strong>R<br />

meNezes. Assim, para os <strong>do</strong>is elementos<br />

you Can'T win CharLie Brown<br />

56 57<br />

da banda, o mediatismo <strong>que</strong> vivem apenas<br />

se traduz numa coisa. “Para nós é uma<br />

honra e alguma responsabilidade sermos<br />

vistos dessa maneira”, continua tomÁs<br />

sousA, “mas não vemos isso como um<br />

«agora <strong>tem</strong>os de fazer uma coisa excepcional»,<br />

fomos vistos assim e <strong>tem</strong>os de<br />

continuar a fazer o <strong>que</strong> <strong>tem</strong>os <strong>anda<strong>do</strong></strong> a<br />

fazer”. Já sAlVA<strong>do</strong>R meNezes complementa<br />

<strong>que</strong> “se tentarmos forçar alguma<br />

coisa pode não funcionar, e o <strong>que</strong> <strong>que</strong>remos<br />

é <strong>que</strong> as coisas corram bem e <strong>que</strong> as<br />

pessoas gos<strong>tem</strong>”.<br />

Com presença no Festival Paredes de<br />

Coura e ainda a marcar lugar em se<strong>tem</strong>bro<br />

no lux, novos projectos vislumbram-se<br />

no futuro <strong>do</strong>s You CAN’t WiN CHARlie<br />

bRoWN, <strong>que</strong> poderão incluir outras colaborações.<br />

Contu<strong>do</strong>, não poden<strong>do</strong> a banda<br />

pronunciar-se sobre isso, resta ao público<br />

degustar o Chromatic e aguardar notícias.


t h e<br />

Gaslamp<br />

K i ll er<br />

t — Rui miguel Abreu<br />

F — Hugo silva / Red<br />

bull music Academy<br />

Produtor de<br />

GoNJAsuFi, membro<br />

da tribo brainfeeder<br />

de Flying lotus,<br />

dj extraordinário:<br />

GAslAmP killeR<br />

é tu<strong>do</strong> isso e muito<br />

mais, como a sua<br />

passagem pelo<br />

palco Red bull music<br />

Academy no festival<br />

Neopop de Viana <strong>do</strong><br />

Castelo deixou claro.<br />

Primeiro o nome: tHe GAslAmP<br />

killeR, na sua forma abreviada ou tHe<br />

motHeRFuCkiNG GAslAmP killeR em<br />

toda a sua gloriosa extensão. A tradução<br />

pode indiciar uma personalidade com<br />

um pen<strong>do</strong>r surrealista ou absurdista —o<br />

Assassino <strong>do</strong>s Candeeiros a Gás. mas a<br />

realidade é bem mais simples: WilliAm<br />

beNJAmim beNsusseN, tal como consta<br />

na carta de condução, ganhou o seu<br />

nome de guerra no Gaslamp district de<br />

SounDSTaTion<br />

san diego, de onde é natural, por «matar»<br />

todas as pistas de dança. e não no melhor<br />

<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> o hip-hop por vezes dá<br />

a esse sinónimo de «arrasar»: «em san<br />

diego, onde cresci, esta minha mania de<br />

misturar tu<strong>do</strong> não era muito bem aceite<br />

no início. tinha amigos <strong>que</strong> me chamavam<br />

para os clubes, mas as pessoas não<br />

estavam nada interessadas em ouvir-me<br />

pôr música», conta-nos GAslAmP killeR<br />

nos basti<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Neopop, sobre uma frequência<br />

grave constante proveniente <strong>do</strong><br />

palco principal onde a cura<strong>do</strong>ria da Red bull<br />

music Academy colocou vários artistas a<br />

tocar. No momento em <strong>que</strong> decorre a conversa,<br />

dJ Ride e steReossAuRo actuam<br />

enquanto beAtbombeRs, inundan<strong>do</strong> o camarim<br />

de GAslAmP killeR de um rumble<br />

de graves <strong>que</strong> bem pode servir de aperitivo<br />

para o <strong>que</strong> se há-de seguir, saí<strong>do</strong> das mãos<br />

<strong>do</strong> homem de death Gate. este low end é<br />

território familiar para GAslAmP killeR:<br />

«estas vibrações são a fundação, é o ruí<strong>do</strong><br />

da agulha no vinil, o som da terra, das<br />

cavernas, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> mais obscuro», ironiza.<br />

Na verdade, a famosa noite das quartas-feiras<br />

em los Angeles onde tHe GAslAmP<br />

killeR é residente <strong>tem</strong> por nome the<br />

low end theory. uma designação subtraída<br />

ao imaginário hip-hop (A tribe Called<br />

Quest), mas também uma autêntica declaração<br />

de intenções: «vale tu<strong>do</strong>», exclama<br />

GAslAmP killeR. «No low end theory<br />

não há barreiras. É um sítio em <strong>que</strong> me<br />

sinto em casa, onde posso recarregar baterias<br />

espirituais, onde me inspiro, onde<br />

me cruzo com os meus amigos: J RoCC<br />

está lá, PeANut butteR Wold e mAdlib<br />

estão lá, a minha família da brainfeeder,<br />

dAedelus, toda a gente está lá e a música<br />

é incrível. inspiramo-nos uns aos outros». e<br />

essa inspiração <strong>tem</strong> rendi<strong>do</strong> uma produção<br />

intensa: os skills de digger de GAslAmP<br />

killeR —«tenho mais de 12 mil discos actualmente!»—<br />

têm-lhe permiti<strong>do</strong> fazer uma<br />

série de aclamadas mixtapes onde o rock<br />

psicadélico é nota <strong>do</strong>minante: it’s a Rocky<br />

Road, i spit on Your Grave ou Hell and the<br />

lake of Fire Are Waiting For You são algumas<br />

das mixtapes, <strong>que</strong> se juntam aos eps<br />

my troubled mind e death Gate. «estou a<br />

preparar um novo ep para muito breve»,<br />

revela-nos, oferecen<strong>do</strong> apenas um «more<br />

of that crazy shit» quan<strong>do</strong> nos pedimos<br />

<strong>que</strong> revele o conteú<strong>do</strong> . mas o trabalho<br />

<strong>que</strong> deu mais notoriedade a GAslAmP<br />

killeR foi a produção <strong>que</strong> assinou em<br />

boa parte <strong>do</strong> álbum A sufi and a killer<br />

de GoNJAsuFi. «estou neste momento<br />

a colocar os reto<strong>que</strong>s finais em “A sufi<br />

and a killer part 2”. Não será esse o título,<br />

mas é disso <strong>que</strong> se trata. Foi feito<br />

ao mesmo <strong>tem</strong>po <strong>que</strong> a primeira parte»,<br />

revela GAslAmP killeR, adiantan<strong>do</strong> pormenores<br />

sobre o disco <strong>que</strong> irá suceder ao<br />

aclama<strong>do</strong> registo <strong>que</strong> marcou a estreia<br />

de GoNJAsuFi na Warp. «estes <strong>tem</strong>as<br />

são todas de um perío<strong>do</strong> de 3 ou quatro<br />

anos, têm a mesma vibe, mas é um disco<br />

um pouco mais agressivo, mais obscuro,<br />

com letras mais intensas. são histórias<br />

pessoais, sentimentos íntimos, mas algo<br />

de muito complexo e profun<strong>do</strong>». basta ver<br />

uma foto de GoNJAsuFi para acreditar.<br />

GAslAmP killeR explica <strong>que</strong> <strong>tem</strong> um méto<strong>do</strong><br />

simples de trabalho: pega em discos<br />

<strong>que</strong> acha <strong>que</strong> têm a cara de GoNJAsuFi<br />

—o <strong>que</strong> poderá <strong>que</strong>rer dizer flamenco rock<br />

espanhol <strong>do</strong>s anos 70— «volto a samplar<br />

lAs GReCAs no novo álbum» —ou jazz<br />

etíope <strong>do</strong>s anos 60 ou rock turco da mesma<br />

década— e cria reedits <strong>que</strong> depois servem<br />

gaSLamp kiLLer<br />

58 59<br />

para GoNJAsuFi se inspirar e fazer a sua<br />

parte. «depois misturamos, acrescenta-mos<br />

efeitos e essas coisas. É um processo<br />

muito orgânico, mesmo comigo em<br />

lA e com ele em las Vegas». uma forma<br />

muito particular de viajar no <strong>tem</strong>po e no<br />

espaço. «trata-se de tornar certos discos<br />

relevantes de novo», explica, revelan<strong>do</strong> <strong>que</strong><br />

os detentores originais <strong>do</strong>s direitos destas<br />

canções estão a ser recompensa<strong>do</strong>s<br />

—«e penso <strong>que</strong> percebem o <strong>que</strong> estamos<br />

a fazer», sublinha. É simples: trata-se de<br />

transformar o presente numa dimensão<br />

psicadélica alternativa.<br />

GAslAmP killeR estreou-se a norte, com<br />

um incrível e inspira<strong>do</strong>r set <strong>que</strong> deixou<br />

muita gente abismada e cheia de vontade<br />

de deitar mãos ao trabalho. Houve <strong>tem</strong>po<br />

e espaço para o mais abrasivo dubstep,<br />

para as mais inclassificáveis descidas aos<br />

abismos <strong>do</strong>s sub-graves, mas também<br />

para beAtles ou blACk sAbbAtH, para<br />

dR dRe e para um conjunto enorme de<br />

outras coisas cujo único propósito era fazer<br />

o corpo mexer. e o próprio GAslAmP<br />

killeR não parou em palco, possuí<strong>do</strong> pela<br />

própria energia <strong>que</strong> emanava <strong>do</strong>s pratos.<br />

Podemos certamente apostar <strong>que</strong> não há-<br />

-de tardar a regressar!


granDe enTreViSTa<br />

v i k<br />

Recorren<strong>do</strong> a matérias estranhas como chocolate líqui<strong>do</strong>,<br />

açúcar, lixo, caviar ou diamantes, Vik muNiz desenha<br />

imagens icónicas e banalizadas <strong>que</strong> posteriormente<br />

fotografa e amplia. uma mona lisa em chocolate ou uma<br />

brigitte bar<strong>do</strong>t em diamantes são, a título de exemplo,<br />

<strong>do</strong>is trabalhos de grande impacto <strong>que</strong> contribuíram<br />

para o sucesso de uma carreira internacional a partir<br />

de Nova ior<strong>que</strong>. este processo de criação começou a<br />

ganhar relevância em 1988, quan<strong>do</strong> expôs a série the<br />

best of life, um conjunto de imagens <strong>que</strong> recriava<br />

de memória algumas das mais célebres fotografias<br />

da revista life. simplificadas, testam a memória <strong>do</strong><br />

especta<strong>do</strong>r <strong>que</strong>, facilmente, as reconhece. No conjunto<br />

<strong>do</strong> seu trabalho subsiste a ideia de <strong>que</strong> num mun<strong>do</strong><br />

satura<strong>do</strong> de imagens, pouco mais há para fotografar<br />

por<strong>que</strong> cada um de nós já contém todas as imagens<br />

<strong>do</strong> universo e, como tal, cada uma subsiste na nossa<br />

memória como um fantasma e um ícone. Vistas de<br />

longe, as suas fotografias apelam a um reconhecimento<br />

imediato mas, ao perto, desvendam as particularidades<br />

<strong>do</strong>s materiais e das texturas até à desmaterialização<br />

completa da imagem, <strong>que</strong> subsiste apenas na nossa<br />

memória como um to<strong>do</strong>. Visto ao contrário, o processo<br />

fotográfico permite <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s os materiais orgânicos<br />

e perecíveis <strong>que</strong> entram na composição de cada<br />

uma das suas imagens seja cristaliza<strong>do</strong>. A fotografia<br />

dissipa o pormenor em detrimento da imagem geral<br />

<strong>que</strong> os nossos elementos cognitivos reconhecem<br />

de imediato. são essas memórias e ícones <strong>que</strong> Vik<br />

muNiz nos convida a reencontrar em lisboa, no<br />

museu Colecção berar<strong>do</strong>, a partir de 21 de se<strong>tem</strong>bro.<br />

É a sua maior exposição retrospectiva de sempre<br />

centrada exclusivamente no seu trabalho fotográfico.<br />

t — Francisco Vaz Fernandes<br />

Vik muniz<br />

o mun<strong>do</strong> em<br />

memória<br />

m u n i z<br />

60 61<br />

museu<br />

berar<strong>do</strong><br />

a partir de<br />

21.09.2011


P o seu trabalho está bastante mediatiza<strong>do</strong><br />

e parte <strong>do</strong> público português conhece as suas<br />

séries. Com a exposição retrospectiva <strong>que</strong> o<br />

museu Colecção berar<strong>do</strong> lhe dedica, teve alguma<br />

preocupação em trazer trabalhos novos ou<br />

peças específicas para mostrar em Portugal?<br />

Vik A exposição é composta por trabalhos<br />

<strong>que</strong> vão <strong>do</strong>s anos 80 até hoje e, em geral, são<br />

obras <strong>pelas</strong> quais me tomei conheci<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>,<br />

penso <strong>que</strong> ainda há espaço para a descoberta.<br />

estão incluí<strong>do</strong>s trabalhos iniciais com uma<br />

natureza puramente fotográfica, como era o<br />

caso das nuvens, e ainda obras muito recentes<br />

<strong>que</strong> nunca foram expostas. Aliás, esta mostra<br />

<strong>que</strong> viajou para Nova ior<strong>que</strong>, Chicago e outras<br />

três cidades americanas, chegou ao brasil e foi<br />

reformada. Chamava-se Reflex e agora chama-se<br />

simplesmente Vik. Quis fazer uma coisa diferente,<br />

redesenhá-la para um público maior. ou seja,<br />

Liz Taylor<br />

para a familia, para adultos e crianças, para <strong>que</strong>m<br />

entende arte ou é um mero curioso. A exposição<br />

viajou por cinco cidades brasileiras e agora vem<br />

a lisboa, a primeira paragem na europa. e o <strong>que</strong><br />

poderão ver é uma exposição actualizada, até<br />

por <strong>que</strong>stões de adaptação ao espaço. Não vai<br />

ser exactamente igual à <strong>que</strong> esteve no Rio de<br />

Janeiro e <strong>tem</strong> algumas obras novas, trabalhos <strong>que</strong><br />

entretanto criei e <strong>que</strong> nunca foram expostos.<br />

P sen<strong>do</strong> assim, as obras inéditas<br />

são trabalhos novos <strong>que</strong> estão em<br />

desenvolvimento. Pode descrevê-los?<br />

Vik Vou mostrar uma série nova <strong>que</strong> é feita a<br />

partir de recortes de revistas e de jornais <strong>que</strong> se<br />

chama mountains, resultante de composições de<br />

granDe enTreViSTa<br />

imagens <strong>que</strong> na verdade são pe<strong>que</strong>nas e, depois<br />

de fotografadas, ficam grandes. É um regresso<br />

à <strong>que</strong>stão das transposições de escalas. estas<br />

obras vão ser apresentadas em simultâneo<br />

numa exposição individual em Nova ior<strong>que</strong>.<br />

P Grande parte <strong>do</strong> seu trabalho<br />

reporta-se à fotografia. Como começou o<br />

seu interesse por este meio? Acompanhou<br />

sempre esta arte no seu processo criativo?<br />

Vik os meus primeiros trabalhos eram<br />

essencialmente tridimensionais. Na verdade, eram<br />

objectos, peças conceptuais ligadas à percepção<br />

de objectos coloca<strong>do</strong>s noutros contextos. eu<br />

não <strong>que</strong>ria mexer com a fotografia por<strong>que</strong> o meu<br />

background já era a imagem. Vinha da área da<br />

publicidade e acreditava, na altura, <strong>que</strong> quanto<br />

mais distante desse universo estivesse, mais<br />

possibilidades teria de chegar a uma suposta<br />

“pureza” <strong>do</strong> exercício da arte, <strong>que</strong> viria a descobrir<br />

mais tarde <strong>que</strong> não existia. No entanto, foi<br />

precisamente essa abordagem tridimensional sobre<br />

o significa<strong>do</strong>s desses objectos <strong>que</strong> me aproximou<br />

da imagem. Por <strong>que</strong>stões práticas, ao fotografá-los<br />

para imagens de arquivo ou de divulgação, comecei<br />

necessariamente a confrontar-me com imagens<br />

<strong>que</strong> eram para mim muito mais apelativas <strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> os objectos em si. Foi assim <strong>que</strong> começei<br />

a fazer coisas só para serem fotografadas.<br />

P Podemos dizer, então, <strong>que</strong> agora mais<br />

consciente da fotografia e da bidimensionalidade<br />

<strong>do</strong> desenho, o seu processo de trabalho<br />

passou a ser uma recomposição de imagens<br />

antes de as fixar numa fotografia?<br />

Vik o <strong>que</strong> é mais interessante para mim é esse<br />

espaço de negociação <strong>que</strong> se gera entre a origem<br />

e o <strong>do</strong>cumento. entre o <strong>que</strong> é tridimensional e<br />

o <strong>que</strong> é bidimensional. Quan<strong>do</strong> um indivíduo<br />

está à frente de uma das minhas fotografias, <strong>tem</strong><br />

<strong>que</strong> negociar a sua maneira de ler. essa minha<br />

deslocação <strong>do</strong> objecto para imagem <strong>tem</strong> a ver<br />

um pouco com isso. Por outro la<strong>do</strong>, eu nunca<br />

deixei completamente o la<strong>do</strong> tridimensional. o<br />

meu trabalho passou a ser um <strong>que</strong>stionamento<br />

<strong>do</strong> tridimensional e <strong>do</strong> bidimensional, o <strong>que</strong> se<br />

vê em termos de perspectiva, dimensão, volume.<br />

É uma representação de como e porquê se vê.<br />

este ano, por exemplo, fiz duas exposições e<br />

nenhuma delas era de fotografia. uma delas, <strong>que</strong><br />

está agora em brasília, explorou precisamente<br />

todas essas ideias <strong>que</strong> abordava nos anos 80 a<br />

partir de objectos e algumas dessas obras foram<br />

refeitas. A exposição chama-se Relicário. também<br />

fiz recen<strong>tem</strong>ente uma exposição em Nova ior<strong>que</strong><br />

<strong>que</strong> também não incluía fotografia. mas esta de<br />

lisboa é apenas sobre fotografia e ficaram de<br />

fora to<strong>do</strong>s esses objectos <strong>que</strong> fiz nos anos 80<br />

e outros <strong>que</strong> estou a fazer neste momento.<br />

P mas sen<strong>do</strong><br />

esta uma exposição<br />

retrospectiva, qual<br />

a razão de deixar<br />

essa faceta <strong>do</strong> seu<br />

trabalho de fora?<br />

Vik seria redundante<br />

e a exposição já<br />

<strong>tem</strong> uma dimensão<br />

considerável.<br />

P uma curiosidade.<br />

Quan<strong>do</strong> realiza os<br />

seus trabalhos pensa<br />

primeiro na matéria <strong>que</strong><br />

lhe sugere a composição<br />

de uma imagem<br />

ou, pelo contrário,<br />

pensa numa série de<br />

imagens e na matéria<br />

<strong>que</strong> melhor se adapta à execução? ou as<br />

duas coisas surgem ao mesmo <strong>tem</strong>po?<br />

Vik É uma situação natural <strong>que</strong> <strong>tem</strong> esse<br />

<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s. Por vezes, existe uma imagem<br />

<strong>que</strong> gostaria de tratar e procuro um material<br />

adequa<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, na execução também se<br />

<strong>que</strong>stiona o contrário e posso chegar à conclusão<br />

<strong>que</strong> esse material ficaria bem numa imagem<br />

com características diferentes. Nessa pesquisa,<br />

nesse vai-e-vem, depressa concluí <strong>que</strong> esses<br />

<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s da equação estão sempre muito<br />

presentes. No entanto, tenho repara<strong>do</strong> <strong>que</strong><br />

quan<strong>do</strong> escolho as imagens e depois vou atrás<br />

de um material, a tendência é <strong>que</strong> essas séries<br />

sejam menores. Quan<strong>do</strong> tenho um material e<br />

an<strong>do</strong> à procura da adaptação de uma imagem,<br />

em geral, as séries tornam-se mais experimentais<br />

e geram maior número de trabalhos.<br />

P Já agora, a título de exemplo, no caso<br />

da série divas e monstros, umas das suas mais<br />

conhecidas, como foi o processo de criação?<br />

Vik muitas vezes estamos à procura <strong>do</strong><br />

material, outras é o material <strong>que</strong> nos encontra.<br />

Nunca tinha pensa<strong>do</strong> em procurar um monte de<br />

diamantes mas, um dia, um colecciona<strong>do</strong>r <strong>que</strong><br />

<strong>tem</strong> vários trabalhos meus, perguntou-me se<br />

podia desenhar com diamantes e colocou-me um<br />

punha<strong>do</strong> na mão. Apontou uma luz e mostrou<br />

como eram bonitos os brilhos <strong>que</strong> produziam.<br />

Como eram muito pe<strong>que</strong>nos, à medida <strong>que</strong> ia<br />

avançan<strong>do</strong> na experiência, ia pedin<strong>do</strong> mais até<br />

concluir a primeira imagem. inicialmente, imaginei<br />

imagens de assalto ou de alguém a ser agredi<strong>do</strong>,<br />

coisas horríveis de se fazer com diamantes…<br />

depois fiz um exercício, pensan<strong>do</strong> o óbvio: afinal,<br />

para <strong>que</strong> servem os diamantes? e foi um sucesso<br />

incrível por<strong>que</strong>, para algumas pessoas <strong>que</strong><br />

compraram alguns desses trabalhos, era como se<br />

estivessem a adquirir também monte de diamantes<br />

de 20 quilates. Na verdade, o material de base<br />

eram brilhantes mínimos <strong>que</strong>, amplia<strong>do</strong>s, pareciam<br />

ter 20, 30 ou 40 quilates cada. Não era raro as<br />

Vik muniz<br />

Mona Lisa de Geléia de Uva e Mona Lisa<br />

de Manteiga de Amen<strong>do</strong>im, 1999.<br />

62 63<br />

pessoas <strong>que</strong>stionarem<br />

se eram diamantes e,<br />

na verdade, era apenas<br />

uma foto. Nesse caso,<br />

diria como GodARd:<br />

"C’est pas du sang<br />

c’est du rouge" (não é<br />

sangue é vermelho.)<br />

P o seu trabalho <strong>tem</strong>,<br />

também, muito a ver<br />

com a reciclagem<br />

e esse é um <strong>tem</strong>a<br />

caro ao brasil, onde<br />

encontramos outros<br />

artistas com o mesmo<br />

tipo de preocupações,<br />

entre eles os irmãos<br />

CAmPANA.<br />

Vik o FeRNAN<strong>do</strong><br />

e o HumbeRto provêm <strong>do</strong> mesmo background <strong>que</strong><br />

eu. <strong>tem</strong>os a mesma idade, fomos para o mesmo<br />

tipo de escola num subúrbio de são Paulo e <strong>tem</strong>os<br />

muitas outras coisas em comum. Reciclagem<br />

não era para nós um <strong>tem</strong>a tal como é aborda<strong>do</strong><br />

agora por<strong>que</strong> o reaproveitamento não era uma<br />

opção, era uma condição. Quan<strong>do</strong> se nasce numa<br />

casa de pobre, o reaproveitamento está sempre<br />

presente. Não se vai a uma loja de brin<strong>que</strong><strong>do</strong>s.<br />

eu lembro-me <strong>que</strong>, quan<strong>do</strong> encontrava um caixa<br />

de papelão, fazia um carro ou uma casinha. esse<br />

tipo de treino advém de não se ter muita coisa e<br />

obriga a uma posição de reaproveitamento <strong>do</strong> <strong>que</strong><br />

está à nossa volta, crian<strong>do</strong> um universo inteiro<br />

com coisas imediatas e próximas. Não se lida<br />

com materiais inova<strong>do</strong>res. É, até, uma atitude<br />

Saturn devouring one of his Sons,<br />

after Francisco de Goya y Lucientes


pós-moderna diferente, por<strong>que</strong> ainda é utópica,<br />

ainda é positivista, contém uma atitude quase<br />

mágica relativa ao novo. o novo <strong>tem</strong> sempre a ver<br />

com algo <strong>que</strong> está próximo mas não se vê. tanto<br />

no meu trabalho como no <strong>do</strong>s CAmPANA celebrase<br />

o potencial de transformação <strong>que</strong> ainda existe,<br />

mostran<strong>do</strong> a beleza <strong>do</strong> dia-a-dia. A vida prática e<br />

as rotinas levam a <strong>que</strong> os nossos senti<strong>do</strong>s tenham<br />

tendência a ficar entorpeci<strong>do</strong>s e dificultam o olhar<br />

para a singularidades das coisas em nosso re<strong>do</strong>r.<br />

tanto eu como os CAmPANA viemos de escolas<br />

públicas durante a ditadura. Nessa época, as aulas<br />

de arte pareciam aulas de terapia ocupacional para<br />

presidiários. sempre <strong>que</strong> me encontro com eles,<br />

morremos a rir disso. Queira ou não, fui forma<strong>do</strong><br />

por esse tipo de atitude de reaproveitamentos.<br />

e, quan<strong>do</strong> não <strong>tem</strong>os meios, <strong>tem</strong>os <strong>que</strong> nos virar<br />

e fazer o <strong>que</strong> podemos. isso cria perspectivas <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> muito diferentes. onde alguém via uma<br />

mangueira, os CAmPANA já viam o potencial para<br />

fazer uma cadeira. onde<br />

alguém vê um monte de<br />

lixo, eu vejo o potencial<br />

para fazer um desenho.<br />

P Hoje parece <strong>que</strong><br />

vivemos numa cultura<br />

de excessos. tanto na<br />

europa como na América<br />

latina, este <strong>tem</strong>a<br />

tornou-se obrigatório<br />

na agenda política.<br />

Vik eu vivo entre<br />

Nova ior<strong>que</strong> e o Rio de<br />

Janeiro, duas culturas<br />

muito diferentes, e<br />

o <strong>que</strong> um americano<br />

produz de excesso, ou<br />

aquilo <strong>que</strong> desperdiça,<br />

é incomparavelmente<br />

maior <strong>do</strong> <strong>que</strong> um<br />

brasileiro. o excesso <strong>tem</strong><br />

a ver com o potencial<br />

de escolha. Quan<strong>do</strong> se<br />

compra muita comida,<br />

<strong>tem</strong>os mais opções no<br />

momento da concepção<br />

de um prato. Podemos ser mais criativos. Quan<strong>do</strong><br />

não se <strong>tem</strong> muita liberdade económica, o <strong>que</strong><br />

é um conceito também, somos condiciona<strong>do</strong>s<br />

a menos escolhas e a usar ao máximo o <strong>que</strong><br />

<strong>tem</strong>os ao nosso dispor, o <strong>que</strong> é interessante.<br />

isso também <strong>tem</strong> um paralelo nas imagens.<br />

Quan<strong>do</strong> se <strong>tem</strong> mais liberdade de escolha, isso<br />

vai gerar um número de representações maior,<br />

ten<strong>do</strong> o auxílio de uma tecnologia poderosa. É<br />

um tipo de sociedade <strong>que</strong> vive inundada de sinais<br />

de mensagens. Nós vivemos num lixo total. se<br />

fizermos uma analogia entre o lixo material e o lixo<br />

intelectual, chegaremos à conclusão <strong>que</strong> estamos<br />

completamente imersos num lixo gigantesco.<br />

granDe enTreViSTa<br />

P Refere-se ao mun<strong>do</strong> geral ou,<br />

particularmente, aos países <strong>que</strong> vivem<br />

numa fase de capitalismo acelera<strong>do</strong>?<br />

Vik Acho <strong>que</strong> isso é geral, vem <strong>do</strong>s últimos 15<br />

anos, acelera<strong>do</strong> por uma tecnologia gigantesca com<br />

um poder de disseminação da informação muito<br />

forte. se for a África descobre <strong>que</strong>, em qual<strong>que</strong>r<br />

lugarzinho, também exis<strong>tem</strong> satélites e <strong>que</strong> vêem<br />

o mesmo <strong>que</strong> nós. obviamente, nos centros<br />

urbanos, somos mais vitimiza<strong>do</strong>s e por isso o meu<br />

trabalho é, ao contrário <strong>do</strong> <strong>que</strong> muitos pensam,<br />

um exercício de subtracção. Parece <strong>que</strong> estou a<br />

montar mas, na verdade, estou a tirar, a limpar.<br />

P Penso <strong>que</strong> foi um <strong>do</strong>s primeiros artistas da<br />

sua geração a instalar-se em Nova ior<strong>que</strong>. em <strong>que</strong><br />

medida esse passo foi decisivo na sua carreira?<br />

Vik Nova ior<strong>que</strong> <strong>tem</strong> um aspecto prático<br />

por<strong>que</strong> continua a ser um grande centro cultural e<br />

económico. A cidade foi, para mim, uma revelação.<br />

Através <strong>do</strong> convívio <strong>que</strong> fui estabelecen<strong>do</strong>, percebi<br />

como tu<strong>do</strong> aquilo <strong>que</strong> me interessava estava ali,<br />

com a possibilidade de me transformar num artista<br />

plástico. se eu tivesse i<strong>do</strong> para outra cidade, talvez<br />

tivesse segui<strong>do</strong> outro rumo, fosse um cozinheiro<br />

ou um professor. mas, na altura, o ambiente de<br />

Nova ior<strong>que</strong> em torno das manifestações de arte<br />

con<strong>tem</strong>porânea era, sem dúvida, muito forte, o <strong>que</strong><br />

quase me empurrou a permanecer nesse meio e<br />

a ambicionar ser um artista plástico. lembro-me<br />

de, nos anos 80, visitar a primeira galeria <strong>que</strong><br />

abriu em West Village, a zona onde morava. era<br />

bem pe<strong>que</strong>na mas depressa apareceram outras,<br />

igualmente pe<strong>que</strong>nas, e <strong>que</strong> hoje são enormes. eu<br />

cresci com essa geração e com a super-valorização<br />

da arte con<strong>tem</strong>porânea. sou parte desse processo<br />

por<strong>que</strong> comecei a ver trabalhos <strong>que</strong> tinham tu<strong>do</strong><br />

a ver comigo, com as minhas preocupações e com<br />

a minha filosofia. ou seja, eram as <strong>que</strong>stões da<br />

minha geração e eu podia ser parte desse mun<strong>do</strong>.<br />

Nova ior<strong>que</strong> é ainda um lugar muito emblemático<br />

da possibilidade de fazer o <strong>que</strong> se quiser. Quan<strong>do</strong><br />

estou em Nova ior<strong>que</strong>, tenho a sensação de estar<br />

a recarregar essa energia vital. ultimamente,<br />

tenho passa<strong>do</strong> muito <strong>tem</strong>po no Rio de Janeiro, num<br />

ping-pong complementar. A cidade é muito bonita e<br />

muito inspira<strong>do</strong>ra também. existe natureza e gente<br />

muito diferente, de diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de<br />

várias classes sociais. oferece essa diversidade rica<br />

de contacto humano <strong>que</strong>, em Nova ior<strong>que</strong>, é mais<br />

difícil por<strong>que</strong> a segregação social é muito maior.<br />

P estava a falar da geração de artistas<br />

<strong>do</strong>s anos 80 em Nova ior<strong>que</strong>. identificava-se<br />

com o ressurgimento <strong>do</strong> figurativismo?<br />

Vik o figurativismo, no início <strong>do</strong>s anos 80,<br />

suscitava-me um interesse muito marginal. eu<br />

nunca me senti integra<strong>do</strong> num movimento ou num<br />

grupo como, por exemplo, a Picture Generation,<br />

na qual incluo CiNdY sHeRmAN, JeFF kooNs<br />

e RiCHARd PRiNCe. eu sou um artista de nicho.<br />

o meu trabalho não critica a sociedade de<br />

consumo, não se cruza com os estu<strong>do</strong>s sociais,<br />

como acontecia com muitos artistas da época.<br />

eu mantenho-me mais pragmático e procuro<br />

não ser tão objectivista como esses artistas<br />

<strong>que</strong>, na<strong>que</strong>la época, trabalhavam as <strong>que</strong>stões<br />

da imagem. eu relacionava-me marginalmente<br />

com alguns artistas americanos como, por<br />

exemplo, CHARles RAY ou tim HAWkiNsoN.<br />

Vik muniz<br />

The Floor Scrapers, after Gustave Caillebotte WheatField, after Van-Gogh<br />

64 65<br />

P segun<strong>do</strong> <strong>que</strong> consigo perceber, está<br />

sempre interessa<strong>do</strong> numa cultura de massas.<br />

Vik É uma atitude <strong>que</strong> vem directamente<br />

da CiNdY sHeRmAN e <strong>do</strong> JeFF kooNs.<br />

P Agora fala-se muito no ressurgimento<br />

<strong>do</strong> brasil. Passan<strong>do</strong> agora mais <strong>tem</strong>po no<br />

Rio de Janeiro, <strong>tem</strong> em mãos projectos de<br />

responsabilidade social enquanto cidadão e artista?<br />

Vik Aqui, serei sempre o rapaz pobre <strong>que</strong><br />

regressa relativamente bem-sucedi<strong>do</strong>. <strong>desde</strong> <strong>que</strong><br />

comecei a regressar mais continuamente ao brasil<br />

para expor, consegui, paralelamente, desenvolver<br />

actividades sociais. Fizemos o Centro Cultural<br />

Vik muniz no Cais <strong>do</strong> Porto, no Rio de Janeiro.<br />

<strong>tem</strong>os uma escola de fotografia, com o patrocínio<br />

da louis VuittoN, e ainda uma omG <strong>que</strong> se<br />

chama Arte em trânsito e <strong>que</strong> cuida de políticas de<br />

interacção entre educação e arte pública, crian<strong>do</strong><br />

projectos para a perfeitura. É uma <strong>que</strong>stão tão<br />

séria <strong>que</strong> dava até assunto<br />

para outra entrevista.<br />

A produção artística<br />

continua a ser vista por<br />

um segmento muito<br />

pe<strong>que</strong>no da população<br />

e a razão por <strong>que</strong> as<br />

pessoas não vão a galerias<br />

e aos museus é por<strong>que</strong><br />

nunca viram arte. isso<br />

não está no curriculum<br />

das escolas, não está na<br />

ruas, o <strong>que</strong> acaba por<br />

criar fronteiras entre<br />

<strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s. o mun<strong>do</strong><br />

da arte con<strong>tem</strong>porânea<br />

circunscreve o universo<br />

<strong>do</strong>s privilegia<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<br />

ricos e com boa formação,<br />

<strong>que</strong> se sen<strong>tem</strong> à vontade<br />

num museu. A maior<br />

parte da população e,<br />

no caso <strong>do</strong> brasil seria<br />

à volta de 96%, nunca<br />

entraram num museu,<br />

nem mesmo numa<br />

excursão escolar. Acho<br />

<strong>que</strong> é responsabilidade <strong>do</strong> artista<br />

conseguir contornar esse fosso e levar<br />

mais público aos museus e às galerias.<br />

P Gostaria de fazer projectos de Arte Pública?<br />

Vik Nunca fiz e também nunca tive muita<br />

oportunidade para pensar nisso. os projectos<br />

<strong>que</strong> poderia considerar de Arte Pública eram,<br />

na verdade, mais happenings e performances<br />

<strong>do</strong> <strong>que</strong> algo permanente, como quan<strong>do</strong> envolvi<br />

a brooklyn museum Academy com uma<br />

fotografia minha, enquanto o edifício estava a<br />

ser reabilita<strong>do</strong>. entre esses projectos, o mais<br />

conheci<strong>do</strong> são as nuvens <strong>que</strong> desenhei no céu<br />

mas, como disse, foi algo muito efémero.


granDe enTreViSTa<br />

Vik muniz<br />

Marat (Sebastião) Mother and Children Suellen<br />

66 67


Vidas de luxo<br />

—uma <strong>que</strong>stão<br />

de perspectiva<br />

o melhor tipo de arte<br />

contém em si uma poética<br />

<strong>que</strong> eleva o ser humano,<br />

ultrapassa os limites<br />

<strong>do</strong> sensorial e contradiz<br />

lógicas. esse tipo de arte<br />

contém ainda o poder de<br />

transformar. Altera padrões<br />

de pensamento, eleva a<br />

auto-estima, redimensiona<br />

a profundidade com <strong>que</strong><br />

analisamos o <strong>que</strong> nos<br />

rodeia, tornan<strong>do</strong> o <strong>que</strong> é<br />

aparen<strong>tem</strong>ente pe<strong>que</strong>no,<br />

grande. esse é o caso <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>cumentário Waste land,<br />

ou lixo extraordinário,<br />

filma<strong>do</strong> durante três anos<br />

na maior lixeira <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

o Jardim Gramacho,<br />

no Rio de Janeiro.<br />

t — diana de Nóbrega<br />

CenTraL parq — DoCumenTário waSTe LanD<br />

w a st e<br />

l a n d<br />

inesperadamente, o projecto<br />

leva<strong>do</strong> a cabo por Vik muNiz,<br />

artista plástico, ganhou vida<br />

própria e tornou-se num poderoso<br />

veículo de transformação pessoal<br />

e social, tanto para os envolvi<strong>do</strong>s<br />

no projecto como para a<strong>que</strong>les<br />

a <strong>que</strong>m amplificou a voz —os<br />

cata<strong>do</strong>res de materiais recicláveis,<br />

pessoas <strong>que</strong> vivem as suas vidas<br />

no lixo. A ideia inicial de Vik<br />

muNiz e da realiza<strong>do</strong>ra luCY<br />

WAlkeR era <strong>do</strong>cumentar uma<br />

viagem a partir de brooklyn, até<br />

ao Rio de Janeiro, cidades entre<br />

as quais reside, onde se pretendia<br />

homenagear pessoas <strong>que</strong><br />

consideram especiais, cuja vida<br />

baseia-se no último <strong>do</strong>s tabus.<br />

Curiosamente, a lixeira é o único<br />

local no Rio onde os extremos<br />

sociais se misturam. os dejectos<br />

da zona sul, endinheirada, não<br />

são em nada diferentes <strong>do</strong>s<br />

restos produzi<strong>do</strong>s <strong>pelas</strong> favelas. o<br />

aumento da quantidade de lixo é<br />

uma das fracções mais negativas<br />

da cultura de consumo onde<br />

vivemos mergulha<strong>do</strong>s. Representa<br />

tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> ninguém deseja, mas<br />

quan<strong>do</strong> desaparece da visão<br />

(em mais uma ilusão criada pela<br />

cultura corrente) não desaparece,<br />

de facto. É real, está no Jardim<br />

Gramacho ou na lixeira da nossa<br />

cidade. No Rio, exis<strong>tem</strong> pessoas<br />

cuja vida é separar os materiais<br />

passíveis de reciclar por várias<br />

pilhas <strong>que</strong> representam ri<strong>que</strong>za<br />

—em <strong>que</strong> nunca irão tocar.<br />

mas o <strong>que</strong> mais surpreende<br />

a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> contactam com o<br />

<strong>do</strong>cumentário, é a paz e o bom<br />

humor com <strong>que</strong> a maioria destas<br />

pessoas vive o seu quotidiano<br />

tão paralelo à sociedade. e a sua<br />

honestidade. "eles não tocam nas<br />

pilhas de lixo uns <strong>do</strong>s outros",<br />

escreve a realiza<strong>do</strong>ra, luCY<br />

WAlkeR, no seu blogue. A maioria<br />

<strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res não teve escolha:<br />

entre prostituição, tráfico de droga<br />

ou lixo, estas pessoas escolheram<br />

o último —onde a única pessoa<br />

<strong>que</strong> afectam é a eles próprios. e<br />

o orgulho <strong>que</strong> sen<strong>tem</strong> é palpável<br />

em toda a fita— mesmo apesar de<br />

metade <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res <strong>do</strong>rmirem<br />

no lixo, corren<strong>do</strong> o risco de serem<br />

atropela<strong>do</strong>s por camiões, e a outra<br />

metade na pior favela da cidade.<br />

A aura positiva da comunidade<br />

de cata<strong>do</strong>res acaba por afectar a<br />

realiza<strong>do</strong>ra <strong>que</strong> a certo momento<br />

escreve no blog —"À noite<br />

voltávamos para a zona sul e<br />

dirijo-me para um jantar delicioso<br />

num carro á prova de balas.<br />

Preferia estar com os cata<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> <strong>que</strong> com bilionários <strong>que</strong> se<br />

<strong>que</strong>ixam constan<strong>tem</strong>ente <strong>do</strong><br />

preço da arte con<strong>tem</strong>porânea".<br />

são esses os compra<strong>do</strong>res das<br />

obras de arte <strong>que</strong> Vik produz.<br />

os outros "estão no limite da<br />

cultura de consumo", afirma Vik<br />

muNiz, <strong>que</strong> "esperava encontrar<br />

pessoas pobres e rendidas. mas<br />

encontrei sobreviventes".<br />

A equipa de Waste land<br />

rapidamente criou laços com<br />

os cata<strong>do</strong>res e colaborou com<br />

alguns deles como modelos<br />

e compositores na produção<br />

de retratos em grande escala.<br />

tiao, cata<strong>do</strong>r <strong>desde</strong> os 11 anos e<br />

jovem presidente da ACAmJG,<br />

a Associação <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res<br />

de materiais Recicláveis de<br />

Jardim Gramacho, grupo em <strong>que</strong><br />

ninguém acreditava, realizou<br />

muitos sonhos. irma, a cozinheira<br />

<strong>que</strong> alimenta os cata<strong>do</strong>res na<br />

lixeira, é uma mulher forte, <strong>que</strong><br />

assume <strong>que</strong> gosta de estar no<br />

lixo e <strong>que</strong> agradece e orgulha-se<br />

das refeições <strong>que</strong> elabora a<br />

partir <strong>do</strong> <strong>que</strong> encontra. zumbi,<br />

intelectual assumi<strong>do</strong>, procura<br />

livros rejeita<strong>do</strong>s para expandir<br />

o seu sonho —uma biblioteca<br />

<strong>que</strong> criou para a comunidade<br />

das favelas. magna não hesitou<br />

em tornar-se cata<strong>do</strong>ra quan<strong>do</strong><br />

o seu mari<strong>do</strong> perdeu o trabalho<br />

—orgulha-se <strong>do</strong> trabalho<br />

honesto. suelem trabalha como<br />

cata<strong>do</strong>ra <strong>desde</strong> os sete anos,<br />

conta dezoito, <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is filhos e<br />

um terceiro vem a caminho. isis<br />

não gosta <strong>do</strong> trabalho <strong>que</strong> faz,<br />

mas acaba por revelar as razões<br />

<strong>que</strong> a levam a estar em Jardim<br />

Gamacho. Valter, o cata<strong>do</strong>r<br />

sénior e guru da reciclagem,<br />

espanta com um espírito<br />

brilhante e palavras sábias.<br />

Com eles, quatro quilos de lixo<br />

aluga<strong>do</strong> e um armazém, Vik<br />

muNiz desenha com lixo os<br />

percursos <strong>que</strong> reproduzem as<br />

fotografias <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res. de<br />

seguida, a partir de um plano<br />

superior, a 22 metros <strong>do</strong> chão,<br />

to<strong>do</strong>s discu<strong>tem</strong> as obras e Vik cria<br />

fotografias a partir de desta nova<br />

visão. os retratos das pessoas são<br />

feitos de nada, delinea<strong>do</strong>s pelo<br />

espaço deixa<strong>do</strong> entre os materiais.<br />

A imitar a arte, na realidade<br />

acontece exactamente a mesma<br />

transformação. É patente não só<br />

a metamorfose <strong>do</strong> lixo em arte,<br />

mas também a transformação<br />

<strong>do</strong> objecto de arte, os cata<strong>do</strong>res,<br />

68 69<br />

por ela mesma. Quan<strong>do</strong> saíram<br />

<strong>do</strong> seu espaço diário, o Jardim<br />

Gamacho, e foram obriga<strong>do</strong>s a<br />

olhar para si próprios pelo óculo<br />

<strong>do</strong> exterior, assim como para o<br />

material <strong>que</strong> constitui as suas<br />

vidas, os cata<strong>do</strong>res mudaram.<br />

A vida e a percepção destas<br />

pessoas foram redimensionadas<br />

com o mesmo material <strong>que</strong> a vida<br />

lhes deu para sobreviverem.<br />

Questões sobre o <strong>que</strong> é a<br />

arte, o <strong>que</strong> é a ri<strong>que</strong>za e o <strong>que</strong><br />

faz o ser humano completo<br />

estão subjacentes a esta<br />

experimentação única, cujos<br />

prémios e reconhecimentos já não<br />

cabem num papel A4: nomea<strong>do</strong><br />

na categoria de <strong>do</strong>cumentário<br />

na última edição <strong>do</strong>s óscares,<br />

melhor <strong>do</strong>cumentário e Pare<br />

lorentz Award idA 2010, Prémio<br />

de melhor <strong>do</strong>cumentário pelo<br />

Público no sundance Film Festival<br />

2010, Pémio de Filme da Amnistia<br />

internacional (berlinale) 2010,<br />

melhor <strong>do</strong>cumentário pelo Público<br />

(berlinale) 2010, entre outros. os<br />

cata<strong>do</strong>res foram reconheci<strong>do</strong>s<br />

dentro e fora <strong>do</strong> seu país.<br />

muNiz recolheu 64,097 dólares<br />

num leilão Phillipe de Pury em<br />

londres, com a venda de um<br />

<strong>do</strong>s retratos. 100% <strong>do</strong>s lucros<br />

foram reverti<strong>do</strong>s a favor da<br />

Associação de Cata<strong>do</strong>res de<br />

materiais Recicláveis de Jardim<br />

Gramacho. este vai ser fecha<strong>do</strong><br />

em breve. Quan<strong>do</strong> perguntámos<br />

aos cata<strong>do</strong>res o <strong>que</strong> eles <strong>que</strong>riam<br />

fazer com o dinheiro <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s,<br />

eles disseram <strong>que</strong> não tinham a<br />

certeza", assinalou a realiza<strong>do</strong>ra<br />

no seu registo digital. "o seu<br />

primeiro pensamento é <strong>que</strong> não<br />

precisam realmente de nada.<br />

eles sen<strong>tem</strong> <strong>que</strong> têm tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong><br />

precisam. As pessoas ricas são<br />

geralmente muito mais rápidas<br />

a dizer para o <strong>que</strong> precisam<br />

de dinheiro. Penso <strong>que</strong> os<br />

cata<strong>do</strong>res sabem exactamente<br />

onde vão parar a maioria das<br />

coisas em <strong>que</strong> as pessoas<br />

gastam dinheiro", afirma.<br />

Co-produzi<strong>do</strong> por FeRNAN<strong>do</strong><br />

meiRelles e com música<br />

de mobY, Waste land, ou<br />

lixo extraordinário, é um<br />

<strong>do</strong>cumentário a não perder.


a ll en<br />

G in s b e r g<br />

t — ingrid Rodrigues<br />

Visões<br />

e Profecias<br />

estreia a 22<br />

de se<strong>tem</strong>bro<br />

através da<br />

midas Filmes.<br />

CenTraL parq — Cinema aLLen ginSBerg<br />

Howl de Rob ePsteiN<br />

e JeFFReY FRiedmAN<br />

com JAmes FRANCo<br />

como protagonista; <strong>actor</strong><br />

<strong>que</strong> <strong>tem</strong> <strong>anda<strong>do</strong></strong> <strong>pelas</strong><br />

<strong>bocas</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>desde</strong><br />

a <strong>apresentação</strong> irónica<br />

e ‘psicotrópica’ nos<br />

óscares mas <strong>que</strong>, assim<br />

mesmo, ganhou um óscar<br />

pela prestação como o<br />

alpinista ARoN RAlstoN<br />

em 127 Hours. este<br />

aparece agora barbu<strong>do</strong><br />

e de lentes grossas, sem<br />

me<strong>do</strong> de escancarar<br />

devaneios sexuais e<br />

com leituras inflamadas,<br />

entranhan<strong>do</strong>-se na vida<br />

de AlleN GiNsbeRG e<br />

dan<strong>do</strong> folgo ao poeta e<br />

poema <strong>que</strong> fizeram nascer<br />

a contra-cultura Beat.<br />

Há <strong>que</strong>m garanta <strong>que</strong> o<br />

entendimento entre o<br />

modernismo americano e a<br />

vanguarda <strong>do</strong> surrealismo<br />

francês tenha chega<strong>do</strong> pela<br />

mão de AlleN GiNsbeRG.<br />

Romântico indisciplina<strong>do</strong> e poeta<br />

agita<strong>do</strong>r, explorou géneros e<br />

<strong>tem</strong>as in<strong>tem</strong>porais e estimulou<br />

a revolução na linguagem da<br />

escrita dissecan<strong>do</strong> a clareza e<br />

limites da palavra obscenidade<br />

e da liberdade de expressão.<br />

Houvesse hoje uma atribuição de<br />

culpas e AlleN GiNsbeRG seria,<br />

certamente, um <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s<br />

pela origem da expressiva<br />

literatura Beat. Poemas como<br />

Howl ou kaddish são prova<br />

empírica <strong>do</strong>s primeiros passos<br />

para o desmoronamento<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> exasperante e<br />

inibi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> abstraccionismo<br />

<strong>do</strong> formalismo <strong>que</strong> habitava a<br />

escrita e criação poética <strong>do</strong>s<br />

meandros académicos nos anos<br />

50. Aos poucos mas a preceito,<br />

finalmente podia-se respirar<br />

fun<strong>do</strong> e em pleno pulmão<br />

exaltar um discurso directo sem<br />

subterfúgios e metaforismos<br />

pouco exactos, e deixar para trás<br />

o recorrente sufoco da estrutura,<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> ou métrica de outrora,<br />

restabelecen<strong>do</strong> assim, a intenção<br />

da poesia na relação com a vida.<br />

Howl é um poema de palavras<br />

nuas e cruas e <strong>que</strong>, escrito de<br />

peito escancara<strong>do</strong>, em pleno<br />

alvoroço, confere às palavras<br />

um de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r perturba<strong>do</strong>r.<br />

bem ao novo mo<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

fervoroso mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> beletrismo<br />

contraditório e alternativo. Howl<br />

é poema com corpo e alma,<br />

longo e profético, <strong>que</strong> lança<strong>do</strong><br />

no outono de 1956, originou a<br />

AlleN GiNsbeRG uma detenção<br />

com intenção de censura <strong>do</strong><br />

poema sob pena de ser uma<br />

obra carregada de imoralidades<br />

e afrontas. escrutina<strong>do</strong> num<br />

tumultuoso julgamento mas<br />

libera<strong>do</strong> pela suprema Corte,<br />

Howl podia finalmente chegar a<br />

to<strong>do</strong>s comprovan<strong>do</strong>, somente,<br />

<strong>que</strong> to<strong>do</strong>s os contra<strong>tem</strong>pos só lhe<br />

tinham conferi<strong>do</strong> mais lucidez.<br />

o filme de Rob ePsteiN e<br />

JeFFReY FRiedmAN de título<br />

homónimo ao poema, está<br />

longe de ser uma cinebiografia.<br />

É antes um filme em vários<br />

70 71<br />

actos (conten<strong>do</strong> sequências<br />

de animação criadas por eRiC<br />

dRookeR, ilustra<strong>do</strong>r <strong>que</strong> já tinha<br />

trabalha<strong>do</strong> com o poeta no seu<br />

livro illuminated Poems publica<strong>do</strong><br />

em 1996), <strong>que</strong> se vão sobrepon<strong>do</strong><br />

e explican<strong>do</strong>. um em <strong>que</strong> AlleN<br />

GiNsbeRG, interpreta<strong>do</strong> por<br />

JAmes FRANCo, recria uma<br />

entrevista <strong>do</strong> poeta a explicar o<br />

interior da sua poesia, influências<br />

e a sua visão <strong>do</strong> meio cultural<br />

em <strong>que</strong> vive. das suas escolhas<br />

sexuais e da sua necessidade<br />

em uivar sob as estrelas —<br />

hábito esse, <strong>que</strong> viria a servir de<br />

analogia ao título da obra— para<br />

subitamente sermos leva<strong>do</strong>s num<br />

flashback ao bar, à noite em <strong>que</strong><br />

pela primeira vez o poema era<br />

dito ao público, <strong>que</strong> em ricochete<br />

respondia com onomatopeias<br />

de cho<strong>que</strong> e espanto, e <strong>que</strong> em<br />

paralelo a toda essa comoção e<br />

agitação, são nos apresentadas<br />

imagens <strong>do</strong> julgamento,<br />

enquanto o carácter <strong>do</strong> poema<br />

e <strong>do</strong> seu escritor são coloca<strong>do</strong>s<br />

em causa por tes<strong>tem</strong>unhos<br />

contra o nascimento da nova<br />

contra cultura <strong>que</strong> transformava<br />

poesia em prosa incendiária.<br />

Howl não é só um filme sobre<br />

um poeta mas essencialmente<br />

sobre a sua densa poesia.<br />

um filme <strong>que</strong> mostra como<br />

se retrata um poema difícil<br />

de forma corajosa e lírica.


o <strong>que</strong> é <strong>que</strong><br />

CuRtis mAYField,<br />

tom WAits,<br />

miles dAVis e<br />

tHe CHemiCAl<br />

bRotHeRs têm em<br />

comum? to<strong>do</strong>s eles<br />

assinam bandas<br />

sonoras originais<br />

de filmes <strong>que</strong><br />

ficaram na história<br />

<strong>do</strong> cinema —para<br />

ver, rever e ouvir.<br />

mas <strong>que</strong> música é<br />

essa, <strong>que</strong> anda de<br />

mãos dadas com<br />

a sétima arte?<br />

CenTraL parq — Cinema ouVir oS FiLmeS<br />

o u vir os<br />

f il m e s<br />

t — Ágata<br />

Carvalho de Pinho<br />

sPielbeRG disse certa vez <strong>que</strong><br />

sem música, os seus filmes<br />

não existiam. o trabalho de<br />

dAVid lYNCH —twin Peaks:<br />

Fire Walk With me (1992), com<br />

banda sonora de ANGelo<br />

bAdAlAmeNti, sem es<strong>que</strong>cer<br />

blue Velvet— e Wes ANdeRsoN<br />

—com Rushmore e the Royal<br />

tenenbaums, com música de<br />

mARk motHeRsbAuGH—<br />

floresce tanto pelo impacto<br />

visual como sonoro.<br />

A ideia de <strong>que</strong> o som é o parente<br />

pobre da imagem já está para<br />

trás das costas das cadeiras<br />

de cinema há muito <strong>tem</strong>po,<br />

mas será sempre um exercício<br />

interessante permitir à audição<br />

ser o senti<strong>do</strong> privilegia<strong>do</strong>. Fica<br />

entregue à nossa imaginação<br />

um novo cut <strong>do</strong> filme, com mais<br />

atenção nesse departamento.<br />

As bandas sonoras são música<br />

e podem ser ouvidas como tal,<br />

no entanto, a sua natureza,<br />

pela relação <strong>que</strong> estabelecem<br />

com a imagem cinematográfica,<br />

é mais complexa e torna-as<br />

um instrumento precioso<br />

para os cineastas, <strong>que</strong> merece<br />

verdadeiro investimento no caso<br />

português. Com maior ou menor<br />

subtileza, a música sedimenta<br />

a relação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r com o<br />

filme e garante <strong>que</strong> os efeitos<br />

pretendi<strong>do</strong>s pelo realiza<strong>do</strong>r e<br />

pelo compositor são obti<strong>do</strong>s.<br />

mas <strong>que</strong> funções cumpre a<br />

música para cinema? RiCHARd<br />

dAVis, professor na berklee<br />

College of music, apresentou<br />

uma conferência a 28 de março<br />

de 2008, no Novo méxico (alguns<br />

excertos podem ser consulta<strong>do</strong>s<br />

em youtube), onde relembrou<br />

<strong>que</strong>, num filme, a música também<br />

está a contar uma história. ela<br />

pode desempenhar diferentes<br />

papéis —pode sublinhar<br />

determina<strong>do</strong>s aspectos,<br />

acrescentar informações <strong>que</strong><br />

não encontramos na imagem<br />

ou mesmo contradizer e<br />

colidir com o <strong>que</strong> é mostra<strong>do</strong>.<br />

ela também cumpre funções<br />

narrativas e constrói/potencia<br />

a relação emocional <strong>do</strong><br />

especta<strong>do</strong>r com o filme.<br />

em e.t., por exemplo, o <strong>tem</strong>a<br />

principal, <strong>que</strong> ouvimos logo no<br />

início, é repeti<strong>do</strong> ao longo de<br />

to<strong>do</strong> o filme e, na cena final,<br />

esse trecho está investi<strong>do</strong><br />

de tanto e <strong>tem</strong> tal peso para<br />

o especta<strong>do</strong>r, <strong>que</strong> é como se<br />

toda a tensão e tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> ele<br />

foi coleccionan<strong>do</strong> ao longo<br />

<strong>do</strong> filme convergissem para<br />

a<strong>que</strong>le momento. o compositor<br />

an<strong>do</strong>u a prepará-lo para isso,<br />

a colocá-lo numa determinada<br />

posição, através da música. os<br />

grandes compositores, sublinha<br />

dAVis, planeiam a banda<br />

sonora de um filme antes de<br />

escreverem se<strong>que</strong>r uma nota.<br />

Nem to<strong>do</strong>s os realiza<strong>do</strong>res<br />

podem contratar uma or<strong>que</strong>stra<br />

ou um compositor como JoHN<br />

WilliAms —responsável pela<br />

maior parte das bandas sonoras<br />

de sPielbeRG, bem como pela<br />

ost da série star Wars e indiana<br />

Jones de GeoRGe luCAs—,<br />

mas a importância da escolha da<br />

música está lá na mesma, seja<br />

ela a melancolia tecida pelo piano<br />

de beRNAR<strong>do</strong> sAssetti para<br />

Alice de mARCo mARtiNs ou um<br />

<strong>tem</strong>a artesanal <strong>que</strong> um amigo<br />

compõe para a curta metragem<br />

de pe<strong>que</strong>no orçamento de um<br />

estudante de cinema. A música<br />

certa pode potenciar uma cena,<br />

pode coroá-la com a beleza <strong>que</strong><br />

evoca ou realçar o quão terrível<br />

é aquilo <strong>que</strong> nela se prepara.<br />

se fizéssemos uma lista, por<br />

onde começaríamos? 2001: uma<br />

odisseia no espaço, o casamento<br />

perfeito entre a música <strong>do</strong><br />

século xix e a imagética <strong>do</strong><br />

século xxi no clássico de ficção<br />

científica assina<strong>do</strong> por stANleY<br />

kubRiCk? A <strong>do</strong>çura triste das<br />

melodias de CuRtis mAYField,<br />

<strong>que</strong> prevalece no meio da<br />

violência típica <strong>do</strong> subgénero<br />

blaxploitation de <strong>que</strong> é um bom<br />

exemplo super Fly (1972)? de<br />

improviso, miles dAVis compôs,<br />

numa noite, a banda sonora de<br />

Ascenseur pour l'échafaud (1958)<br />

72 73<br />

de louis mAlle. A propósito<br />

de Psycho (1960), beRNARd<br />

HeRRmANN, <strong>que</strong> assina também<br />

Cape Fear e taxi driver (1976)<br />

de mARtiN sCoRsese, lembra<br />

<strong>que</strong> as instruções de AlFRed<br />

HitCHCoCk foram simples:<br />

HeRRmANN poderia fazer o <strong>que</strong><br />

quisesse, mas não devia compôr<br />

nada para a cena <strong>do</strong> homicídio no<br />

chuveiro. essa parte não deveria<br />

ter música. to<strong>do</strong>s sabemos como<br />

é <strong>que</strong> esta história acabou. duke<br />

elliNGtoN assina a banda<br />

sonora de Anatomy of a murder<br />

(1959), manten<strong>do</strong> um traço<br />

sonoro distinto, <strong>que</strong> se funde na<br />

perfeição com as necessidades<br />

de cada cena. e <strong>que</strong>m pode<br />

es<strong>que</strong>cer A Hard day's Night<br />

(1964) de RiCHARd lesteR, com<br />

os beAtles e a ines<strong>que</strong>cível<br />

Can't buy me love? ou the<br />

sound of silence de simoN &<br />

GARFuNkel, em the Graduate<br />

(1967) de mike NiCHols? A<br />

astúcia de HeNRY mANCiNi em<br />

the Pink Panther (1964) também<br />

merece o seu lugar de desta<strong>que</strong>.<br />

A lista continua. Apocalypse<br />

Now (1979), de FRANCis FoRd<br />

CoPPolA, one From the Heart<br />

(1982), <strong>do</strong> mesmo realiza<strong>do</strong>r, com<br />

música de tom WAits, Paris,<br />

texas (1985), por RY CoodeR,<br />

memento (2001), com banda<br />

sonora de dAVid JulYAN, ou the<br />

Virgin suicides (2000) de soFiA<br />

CoPPolA, com banda sonora<br />

original pela dupla francesa AiR.<br />

Num exemplo mais recente,<br />

ainda para ver nos cinemas,<br />

Hanna de Joe WRiGHt dança<br />

ao ritmo <strong>do</strong>s tHe CHemiCAl<br />

bRotHeRs. o filme conta a<br />

história de uma rapariga <strong>que</strong><br />

luta pela sobrevivência num<br />

cenário onde a sua preparação<br />

parece exagerada, mas não<br />

é. A escolha desta dupla de<br />

música electrónica para compôr<br />

a banda sonora e o contraste<br />

<strong>que</strong> daí resulta é, no mínimo,<br />

digno de alguma curiosidade.<br />

A lista continua, mas poderia<br />

começar por aqui.


P o go<br />

n o<br />

tr o f i a<br />

t — eduar<strong>do</strong> Feteira<br />

i — salão Coboi<br />

uma <strong>que</strong>stão<br />

de pêlo<br />

www.pixelspread.com<br />

www.beards.org<br />

CenTraL parq — LiFeSTyLe pogonoTroFia<br />

Catálogo de<br />

estilos em<br />

www.parqmag.com<br />

os leitores de barba rala <strong>que</strong><br />

nos desculpem. e também as<br />

leitoras femininas, para <strong>que</strong> não<br />

pensem <strong>que</strong> o seguinte artigo<br />

é uma ode chauvinista a uma<br />

prática masculina. mas agora<br />

falar-se-à de Pogonotrofia. ou<br />

melhor, da ciência por detrás<br />

da barba e <strong>do</strong> crescimento<br />

desta. Quem o escreve é um<br />

pogonotrófico convicto, de barba<br />

densa e de cor indefinida.<br />

seja por pretensões de um<br />

aspecto mais “experiente”, mais<br />

informal ou talvez mais atraente<br />

mesmo, a realidade é <strong>que</strong> a barba<br />

veio para afincar pé!... ou raiz!<br />

Pode mesmo ser por desleixo,<br />

por falta de vontade de enfrentar<br />

a lâmina pela manhã, ou até<br />

pela ambigua ideia de ser mais<br />

“macho”. mas o resulta<strong>do</strong> é o<br />

mesmo. e <strong>que</strong>m o afirma é o site<br />

beards (bem óbvio para facilitar<br />

a pesquisa), o site mais antigo<br />

da internet dedica<strong>do</strong> à bela arte<br />

de crescer uma barba. mas a<br />

ideia mais importante neste site,<br />

<strong>que</strong> o leva a persistir nas suas<br />

actualizaçôes barbudas, e <strong>que</strong><br />

a PARQ <strong>que</strong>r agora igualmente<br />

defender nas próximas páginas<br />

é simples: ter barba não é coisa<br />

de homem! É coisa de corajoso.<br />

Claro <strong>que</strong> não dizemos isto de<br />

ânimo leve ou sem qual<strong>que</strong>r<br />

apoio factual. e a coragem<br />

não se limita ao perio<strong>do</strong> de<br />

crescimento de barba ou aos<br />

intensivos cuida<strong>do</strong>s <strong>que</strong> esta<br />

re<strong>que</strong>r, para as quais iremos<br />

sugerir algumas dicas. esta<br />

explica-se pelo estatuto social<br />

<strong>que</strong> acumulou durante centenas<br />

de anos. <strong>desde</strong> actos de punição<br />

pública através <strong>do</strong> corte da<br />

barba na sociedade indiana, à<br />

conotação feminina de uma cara<br />

barbeada <strong>que</strong> os espartanos<br />

ridicularizavam enquanto<br />

rapavam os pêlos faciais <strong>do</strong>s seus<br />

inimigos, a barba <strong>desde</strong> sempre<br />

caracterizou a sabe<strong>do</strong>ria, honra<br />

e virilidade de um homem.<br />

74 75


CenTraL parq — LiFeSTyLe pogonoTroFia<br />

e mesmo alguns estu<strong>do</strong>s<br />

científicos avançaram já com<br />

a teoria de <strong>que</strong> esta pode<br />

ser denominada como uma<br />

característica sexual secundária<br />

masculina. ou seja, apesar de<br />

(felizmente) não ser necessário<br />

andarmos a pavonear a barba<br />

em frente da<strong>que</strong>la pessoa <strong>que</strong><br />

mais amamos, a barba funciona<br />

como um “mostrar de penas”<br />

da espécie humana quan<strong>do</strong><br />

toca a escolher um parceiro.<br />

É claro <strong>que</strong> as razões para não<br />

usar barba são compreensíveis<br />

e muitas vezes exteriores<br />

a uma convicção pessoal.<br />

Apesar <strong>do</strong> gigantesco número<br />

de fãs <strong>que</strong> o CHeWbACCA —<br />

sim, referênciamos a mítica<br />

personagem <strong>do</strong> star Wars—<br />

tenha, uma barba capaz de<br />

colocar em <strong>que</strong>stão a identidade<br />

de uma pessoa não é muito<br />

agradável. Principalmente<br />

quan<strong>do</strong> encontramos essa<br />

pessoa a servir-nos um almoço.<br />

mas a ideia de cabelo curto e<br />

barba rala ser ideal para um<br />

homem, <strong>que</strong> surgiu nas décadas<br />

de 20 e 30 e se perpétuou<br />

em campanhas públicitárias<br />

da gillete no perio<strong>do</strong> pósguerra<br />

foi posto finalmente<br />

onde deve ficar: na história.<br />

A Pogonotrofia vive agora<br />

um perio<strong>do</strong> áureo onde não<br />

só representa algum mistério<br />

e sexappeal, mas é também<br />

mensurável em grau de<br />

confiança, tal como avança mAtt<br />

mCiNeRNeY da Pixelspread.<br />

A colocar o bigode à Hitler e<br />

o aspecto de lobisomem no<br />

extremo “desastroso” <strong>do</strong> seu<br />

gráfico, barbas completas ou<br />

ao estilo de filósofo alcançam<br />

o grau máximo de confiança.<br />

e se as celebridades de agora<br />

já o aceitam, como o genial<br />

JoAQuim PHoeNix com a sua<br />

barba de filosofo gonne wild<br />

ou os míticos Fleet Foxes e o<br />

seu folk tão natural quanto as<br />

suas barbas, há ainda grupos<br />

cuja unica existência dedica-se<br />

à barba. <strong>desde</strong> tumblrs como o<br />

beard babes, cujo único re<strong>que</strong>sito<br />

para apresentar fotos e gifs é<br />

ser barbu<strong>do</strong>, como o Concurso<br />

mundial de barbas e bigodes, um<br />

entre os muitos a nível mundial.<br />

mas como foi dito, crescer<br />

uma barba não é para os fracos<br />

de espírito. Apesar de uma<br />

barba curta de três dias ser já<br />

considerada ideal para a maioria<br />

<strong>do</strong>s homens, vários são também<br />

os estilos <strong>que</strong> a podem tornar<br />

mais interessante e dar-lhe a<br />

personalidade <strong>que</strong> cada homem<br />

procura quan<strong>do</strong> deixa crescer a<br />

barba. Claro <strong>que</strong>, adaptan<strong>do</strong>-a<br />

à cara de cada um, há dicas<br />

importantes a não es<strong>que</strong>cer.<br />

76 77<br />

Pormenores como o tamanho<br />

<strong>do</strong> nariz, <strong>do</strong> lábio superior ou<br />

a forma da cara limitam as<br />

opções, expecto para caras<br />

ovais <strong>que</strong> podem basicamente<br />

usar qual<strong>que</strong>r formato. Para os<br />

menos sortu<strong>do</strong>s aqui vão os<br />

avisos: os narizes grandes ou<br />

proeminentes exigem bigodes<br />

maiores; lábios carnu<strong>do</strong>s<br />

deverão usar bigodes separa<strong>do</strong>s<br />

a meio e mais estiliza<strong>do</strong>s;<br />

ou então, para as caras mais<br />

re<strong>do</strong>ndas ou quadradas uma<br />

barba ligeiramente mais longa<br />

no <strong>que</strong>ixo e curta na linha <strong>do</strong><br />

maxilar são preferíveis. e para<br />

terminar num aspecto mais<br />

profissional, uma linha de<br />

limite de barba definida e um<br />

pouco mais abaixo no pescoço<br />

consegue dar-lhe a<strong>que</strong>le ar<br />

capaz de mudar opiniões em<br />

relação à pogonotrofia.<br />

Com isto em conta, só falta<br />

escolher o estilo e usar a barba<br />

com orgulho. entre os 42 estilos<br />

regista<strong>do</strong>s até agora, tipologias<br />

de barba como o Van dyke —<br />

<strong>que</strong> une a pêra ao bigode—,<br />

o zappa —<strong>que</strong> consiste num<br />

bigode extenso até fora <strong>do</strong>s<br />

cantos da boca e completo com<br />

uma mosca debaixo <strong>do</strong> lábio<br />

inferior— ou o old dutch —uma<br />

barba sem bigode, com patilhas<br />

e cujos cantos junto <strong>do</strong> <strong>que</strong>ixo<br />

são maiores e em direcção<br />

exterior ao <strong>que</strong>ixo— tornam-se<br />

uma possibilidade para os mais<br />

aventureiros e <strong>que</strong> esperamos<br />

ver ou cruzar pela rua.<br />

Apelamos assim aos leitores:<br />

atrevam-se a experimentar<br />

estes e outros estilos <strong>que</strong><br />

complementamos no site,<br />

olhem para o espelho de<br />

outra forma e sejam mais <strong>que</strong><br />

homens. sejam corajosos!


CenTraL parq — DeSign Jean BapTiSTe FaSTrez<br />

J e a n<br />

Prototyping<br />

B apt i s t e F as tre z<br />

t — Carla Carbone<br />

78 79


www.jeanbaptistefastrez.com<br />

CenTraL parq — DeSign Jean BapTiSTe FaSTrez<br />

JeAN bAPtiste FAstRez criou<br />

recen<strong>tem</strong>ente umas intrigantes<br />

e coloridas chaleiras <strong>que</strong> dão<br />

pelo nome de Variations autour<br />

d'une bouilloire électri<strong>que</strong>. Partiu<br />

<strong>do</strong> princípio inspira<strong>do</strong>r: se os<br />

objectos industriais beneficiam<br />

da eficiência da produção<br />

em massa, simultaneamente<br />

também são parcos em alma.<br />

são estandardiza<strong>do</strong>s: “em<br />

oposição ao ideal industrial,<br />

um objecto para to<strong>do</strong>s, é uma<br />

produção mais humanizada<br />

e sustentável: qual<strong>que</strong>r coisa<br />

para to<strong>do</strong>s”, como nos diz.<br />

o designer partiu da chaleira<br />

eléctrica como teste para esse<br />

princípio. uma proposta de<br />

introdução de variações numa<br />

peça inteiramente industrial,<br />

coexistin<strong>do</strong> a produção em<br />

massa com a produção artesanal.<br />

de uma mera ferramenta de<br />

trabalho anónima na cozinha,<br />

a chaleira passa a ter um<br />

estatuto de objecto estético,<br />

sem es<strong>que</strong>cer as complexidades<br />

e exigências próprias da<br />

construção e segurança<br />

de um electro<strong>do</strong>méstico,<br />

nomeadamente a legislação<br />

de segurança e as condições<br />

de a<strong>que</strong>cimento <strong>do</strong> aparelho.<br />

os componentes das chaleiras<br />

de FAstRez, sobreduto o<br />

“invólucro” colori<strong>do</strong> e diverso,<br />

é depois desenvolvi<strong>do</strong> por<br />

vários artesãos, sob orientação<br />

<strong>do</strong> designer. Artesãos esses,<br />

mestres <strong>do</strong> vidro e da cerâmica:<br />

“estas variações de chaleiras<br />

eléctricas conduzem à criação de<br />

objectos híbri<strong>do</strong>s <strong>que</strong> se situam<br />

algures entre a produção em<br />

massa e a produção artesanal,<br />

e entre a estética técnica<br />

e as formas orgânicas”.<br />

o designer, para conseguir as<br />

múltiplas formas e as bonitas<br />

cores de chaleiras, encontra-se<br />

regularmente com os seus<br />

artesãos e analisa aspectos<br />

vários e acertos técnicos<br />

obrigatórios (com uma tolerância<br />

de 2mm), bem como lhes<br />

fornece um guia de famílias<br />

80 81<br />

de formas <strong>que</strong> os mesmos<br />

artesãos terão <strong>que</strong> seguir.<br />

As peças são realizadas<br />

totalmente por meios artesanais<br />

mas poderiam ser produzidas<br />

integralmente por meio <strong>do</strong><br />

processo rapid prototyping. “o<br />

processo de rapid prototyping<br />

permite criar formas plásticas<br />

sem o recurso a moldes, pelo<br />

<strong>que</strong> se podem fazer modelos<br />

diferentes. decidi testar estas<br />

possibilidades com uma forma<br />

muito expressiva e ornamental.<br />

esta forma é impossível de ser<br />

produzida em plástico injecta<strong>do</strong>”.


fotografia<br />

mAR mAteu & VíCtoR CeldRÁN<br />

www.gingerstudiobcn.com<br />

styling<br />

lAiA Gómez<br />

s w eet<br />

Fal l<br />

Ass. styling<br />

Cris montenegro<br />

make-up&Hair<br />

inma Cifré<br />

Ass. fotografia<br />

derek Pedrós<br />

modelo<br />

Anna Castro<br />

(Francina models)<br />

vesti<strong>do</strong> sCee bY tWiN set<br />

gancho em forma de flor tARA JARmoN<br />

cinto leVis


lusa tARA JARmoN<br />

lenço odd mollY<br />

underwear mAGeNto AmARillA<br />

camisa ARmANd bAsi<br />

cinto Hoss iNtRoPiA<br />

underwear FeRRYs vintage


casaco de malha tWiN set<br />

lingerie mAGeNto AmARillA<br />

medias CAlze<strong>do</strong>NiA<br />

botas CAmPeR<br />

diadema mAGeNto AmARillA<br />

cardigan immA VAllVeRde<br />

underwear lA PeRlA<br />

botas bRuNo PRemi


vesti<strong>do</strong> tARA JARmoN<br />

colar deliRium


fotografia<br />

mANuel sousA<br />

styling<br />

mARGARidA bRito PAes<br />

d i a l<br />

duarte<br />

camisa FRed PeRRY<br />

calças FRed PeRRY, colete mANGo<br />

lenço tommY HilFiGeR<br />

casaco zeGNA, chapéu CAmel<br />

mala CARAmelo<br />

maegan<br />

vesti<strong>do</strong> Hoss<br />

casaco PAtRiziA PePe<br />

gola Hoss, luvas tommY HilFiGeR<br />

chapéu CARAmelo<br />

carteira Hoss<br />

ass. styling<br />

inese soncika<br />

make-up<br />

Alex me<br />

hair<br />

marcos Pinheiro<br />

m f o r<br />

mu r d er<br />

duarte<br />

camisa mARlboRo<br />

calças FRed PeRRY<br />

casaco CARAmelo<br />

modelos<br />

maegan e duarte (best models)


duarte<br />

fato CARAmelo<br />

maegan<br />

vesti<strong>do</strong> compri<strong>do</strong> NuNo bAltAzAR<br />

brincos e colar da produção


duarte<br />

camisa mANGo<br />

calças tommY HilFiGeR<br />

casaco FRed PeRRY<br />

maegan<br />

blusa mAleNe biRGeR<br />

cinto tommY HilFiGeR<br />

casaco RePlAY, gola Hoss<br />

carteira mANGo, brincos mANGo<br />

anel AleNtus


maegan<br />

vesti<strong>do</strong> mANGo<br />

pulseira mANGo<br />

brincos da produção<br />

duarte<br />

camisa mANGo<br />

calças tommY HilFiGeR<br />

casaco FRed PeRRY<br />

maegan<br />

camisa Hoss, saia tommY HilFiGeR<br />

colete Compri<strong>do</strong> NuNo bAltAzAR<br />

colete deCeNio, clutch Hoss<br />

brincos AleNtus, colar miss sixtY<br />

sapatos RePetto


styling — mARtA bRito<br />

modelos — diogo Guerra (Glam) Joana Alegria (best)<br />

fotografia — CARlA PiRes<br />

agradecimentos a marco reis e Luís por todas as facilidades concedidas.<br />

diogo<br />

boné, camisa leVi's<br />

bandana da produção<br />

calcas diesel<br />

ténis PumA<br />

w il d at<br />

H e a r t<br />

j o a n a<br />

casaco leVi's<br />

polo Amy Winehouse for FRed PeRRY<br />

calções diesel<br />

sapatos Geox<br />

make-up — mané<br />

hair — eric Ribeiro<br />

ass. fotografia — Pedro Antunes


diogo<br />

chapéu e lenço H&m<br />

t-shirt FRed PeRRY<br />

j o a n a<br />

camisola FRed PeRRY


j o a n a<br />

camisola zARA meN<br />

calções elemeNt<br />

meias ANdRom<br />

sapatos uRbAN outFiteRs<br />

j o a n a<br />

camisa FRed PeRRY<br />

soutien H&m.


j o a n a<br />

camiseiro FRed PeRRY<br />

gorro e camisole elemeNt<br />

botas Goldmud<br />

duarte<br />

chapéu FRed PeRRY.<br />

camisa lACoste<br />

calções e botas FlY loN<strong>do</strong>N


duarte<br />

camisa com capuz diesel<br />

t-shirt HooteRs<br />

calções H&m<br />

ténis All stAR CoNVeRse<br />

j o a n a<br />

impermeável com capuz FRed PeRRY<br />

vesti<strong>do</strong> WHite teNt<br />

botas FlY loN<strong>do</strong>N<br />

j o a n a<br />

cardigan lACoste<br />

óculos RAY-bAN, t-shirt FRed PeRRY<br />

duarte<br />

casaco FRed PeRRY<br />

t-shirt mez


F — Patrícia Andrade<br />

muito por acaso, numa noite <strong>que</strong> o fez travar instintivamente<br />

perante o brilho de um edifício industrial,<br />

Fred, motiva<strong>do</strong> pela curiosidade, instalou-se na pe<strong>que</strong>na<br />

esplanada para melhor ajuizar. esteve o <strong>tem</strong>po suficiente<br />

para uma chamada curta a Fanny, <strong>que</strong> depressa<br />

se juntou a ele para uma visita ao novo restaurante de<br />

lisboa, na lx F<strong>actor</strong>y. logo após o reencontro, brindavam<br />

já com duas taças de espumante francês Charles<br />

Pelletier Grand Reserve brut (3,75 euros), num ritual de<br />

boas vindas <strong>que</strong> trazia expectativas elevadas. Fanny<br />

e Fred sentiram-se confortáveis, quase em casa, entre<br />

mesas, cadeiras e outras curiosos recicla<strong>do</strong>s <strong>que</strong><br />

preenchem o espaço, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />

por uma enorme<br />

nave industrial apoiada<br />

em colunas de ferro. Fred<br />

comentou o renascimento<br />

das tabernas, como espaço<br />

de experimentação,<br />

e a reciclagem de ideias<br />

e de materiais, enquanto<br />

olhava distraidamente<br />

para a singular folha de<br />

papel par<strong>do</strong> impressa <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s com o menu.<br />

Foi, de facto, uma experiência,<br />

concluiria mais tarde<br />

Fanny, <strong>que</strong> tinha pedi<strong>do</strong><br />

como entrada uma<br />

sopa de tomate, ovo Perfeito e tosta de Chouriço<br />

(4,5 euros), deixan<strong>do</strong>-a durante muito <strong>tem</strong>po a pensar<br />

na técnica de execução. Ao centro, impunha-se uma<br />

bola panada crocante, com um ovo escalfa<strong>do</strong> no interior,<br />

oferecen<strong>do</strong> vários níveis de texturas. Já Fred,<br />

pouco da<strong>do</strong> a essas perplexidades, desfazia o gaspacho<br />

sóli<strong>do</strong> <strong>que</strong> acompanhavam os seus três rissóis<br />

de cavala, camarão e choco com uma salada de batata<br />

(12 euros). Aconselharia os de cavala se fosse chama<strong>do</strong><br />

a escolher.<br />

de seguida, Fanny e Fred partilharam um filete de pargo<br />

com arroz malandrinho de tomate (16 euros) <strong>que</strong><br />

trazia um enigmático sabor a maresia e <strong>que</strong> acompanhou<br />

na perfeição uma taça de branco monte Cascas<br />

Reserva 2009, <strong>do</strong> <strong>do</strong>uro (4 euros), sugeri<strong>do</strong> por Ro<strong>do</strong>lfo<br />

tristão, escanção <strong>que</strong> elaborou a carta de vinhos e <strong>que</strong><br />

procura trazer o hábito <strong>do</strong> vinho a copo, ideia <strong>que</strong> pareceu<br />

excelente a Fred, por<strong>que</strong> permite pensar no vinho<br />

certo para cada prato. Já rejubilante, não pediu<br />

mais, nem se<strong>que</strong>r a possibilidade de trocar impressões<br />

com o próprio produtor <strong>do</strong> monte Cascas, <strong>que</strong><br />

ViS-à-ViS<br />

1 3 00<br />

T a ber n a<br />

T — Fred & Fanny<br />

108<br />

se apresentou como um jovem<br />

<strong>que</strong> produz oito vinhos,<br />

de várias regiões, a partir<br />

de uvas compradas. Fanny<br />

e Fred interrogavam-se se<br />

seria sempre assim, encontros<br />

com os próprios produtores,<br />

mas ao mesmo <strong>tem</strong>po<br />

não estranhavam <strong>que</strong> projectos<br />

estimulantes acabassem<br />

por congregar vontades<br />

e entusiasmos <strong>que</strong> se contagiam, tornan<strong>do</strong> os intervenientes<br />

mais participativos, uma inspiração <strong>que</strong> se<br />

nota nos restantes funcionários e <strong>que</strong> fez com <strong>que</strong><br />

essa noite corresse a um ritmo profissional, descontraí<strong>do</strong><br />

e sem arrogância, seguros de estarem a oferecer<br />

um produto de excelência.<br />

tu<strong>do</strong> apontava para um desfecho positivo, ainda abrilhanta<strong>do</strong><br />

por uma costoletinha de vitela barrosã, batata<br />

confitada e grelos saltea<strong>do</strong>s (18 euros), <strong>que</strong> acompanhou<br />

um copo de tinto monte Cascas Reserva 2008<br />

(Alentejo), composto maioritariamente por alicante<br />

bouchet e cabernet sauvignon<br />

(4 euros). A carne<br />

era de uma maciez ímpar<br />

e Fred ainda conjunturou<br />

sobre os tru<strong>que</strong>s para obter<br />

esse resulta<strong>do</strong> <strong>que</strong>, no<br />

final, seria desmistifica<strong>do</strong><br />

pelo chefe Nuno barros,<br />

um <strong>do</strong>s proprietários e<br />

responsável pela carta.<br />

em segun<strong>do</strong>s explicou<br />

<strong>que</strong> o objectivo da 1300<br />

taberna é ter uma prática<br />

de cozinha sustentável,<br />

o <strong>que</strong> implica ir ao<br />

encontro de produtores<br />

nacionais <strong>que</strong> ofereçam<br />

uma qualidade superior<br />

e com eles manter uma relação de fidelidade. As carnes<br />

e peixes estão garanti<strong>do</strong>s, faltam apenas alguns<br />

to<strong>que</strong>s no <strong>que</strong> se refere aos legumes, <strong>que</strong> serão naturalmente<br />

biológicos.<br />

sugestiona<strong>do</strong>s pela cozinha sustentável, Fanny e Fred<br />

entraram no carro a justificar a intensidade de sabor<br />

da sopa de morango com mousse de iogurte grego<br />

e frutos vermelhos (4,5 euros) <strong>que</strong> compartilharam<br />

e <strong>que</strong>, por si, seria um bom pretexto para voltarem,<br />

não houvesse outros.<br />

Lx F<strong>actor</strong>y — Lisboa<br />

seg: 09h30—18h30<br />

ter. & qui: 9h30—00h<br />

sex: 9h30—02h<br />

sáb: 19h30—02h<br />

T— 213 649 170<br />

www.1300taberna.com


Ho us e<br />

o f<br />

C o ol<br />

lisboa, <strong>que</strong> vibra com novos<br />

conceitos, pode ficar ainda mais<br />

preenchida com uma nova loja<br />

<strong>que</strong> abriu na Rua Augusta, uma<br />

das artérias mais animadas<br />

da baixa lisboeta. sAmAdi<br />

House oF Cool é um local<br />

onde o surf, o skate e a moda<br />

se misturam com a arte e onde<br />

é possível relaxar e comer<br />

qual<strong>que</strong>r coisa ou beber apenas<br />

um copo, enquanto se assiste<br />

à actuação de djs em live act.<br />

A loja <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is pisos. No<br />

rés-<strong>do</strong>-chão, encontramos uma<br />

secção dedicada às pranchas e a<br />

to<strong>do</strong> o tipo de acessórios como<br />

chapéus, ataca<strong>do</strong>res, piercings,<br />

ténis, sandálias, cintos, toalhas de<br />

praia, biquinis, calções de banho,<br />

bolsas, mochilas e relógios de<br />

marcas como a QuiCksilVeR,<br />

dC, ReeF, NixoN, CoNVeRse,<br />

elemeNt, CARHARt, VoN<br />

ziPPeR, AdidAs, CHoColAt,<br />

VolCom ou billAboNG. No<br />

primeiro piso, encontra-se a<br />

pizzaria bar, a zona chill out com<br />

free wi-fi, exposições de arte<br />

e live djs. Para complementar,<br />

há também uma esplanada em<br />

frente à loja e um pe<strong>que</strong>no bar<br />

aberto directamente para a rua.<br />

sAmedi House of Cool<br />

Rua Augusta, 205/207<br />

lisboa<br />

T — Joana Guedes<br />

parq here — pLaCeS<br />

T — Maria São Miguel<br />

desiGN stoRe bCt<br />

Prç <strong>do</strong> Príncipe Real, 20-21<br />

lisboa<br />

www.bct.pt<br />

De s i g n<br />

S to r e<br />

B C T<br />

t— 211 928 020<br />

em to<strong>do</strong> o processo de renovação<br />

<strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> Príncipe Real<br />

fazia falta uma grande loja de<br />

design <strong>que</strong> complementasse<br />

o espaço ocupa<strong>do</strong> por outras<br />

mais pe<strong>que</strong>nas, já existentes.<br />

A proposta foi feita por Rui<br />

mARQues, <strong>que</strong> <strong>tem</strong> quatro<br />

anos de experiência no sector,<br />

<strong>desde</strong> <strong>que</strong> começou com teci<strong>do</strong>s<br />

de decoração de marcas como<br />

kVAdRAt, mAHARAm e FANNY<br />

ARoNseN. o novo espaço nasceu<br />

de uma vontade de compromisso<br />

entre as necessidades de<br />

um showroom, satisfazen<strong>do</strong><br />

profissionais, e a curiosidade de<br />

um público entusiasta de boas<br />

peças de design. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

a loja é <strong>do</strong>minada por um Citroën<br />

<strong>do</strong>is cavalos e apresenta muitas<br />

marcas para to<strong>do</strong> o tipo de<br />

preços. Relativamente à criação<br />

portuguesa, é possível encontrar<br />

vários modelos de cadeiras e<br />

sofás, como o layers, de mARCo<br />

sousA sANtos (branca),<br />

cadeiras da zeRo 2, apara<strong>do</strong>res<br />

da eGGo e tapetes <strong>do</strong> Piódão,<br />

estan<strong>do</strong> ainda previsto para<br />

breve o lançamento de projectos<br />

de FiliPe AlARCão. Além<br />

desta representação nacional,<br />

a bCt conta com iluminação da<br />

inglesa iNNeRmost, mobiliário<br />

e acessórios da italiana skitsCH<br />

e das nórdicas muuto e mAteR.<br />

A marca alemã Holili oferece<br />

mobiliário de exteriores e a<br />

steelCAse de escritórios.<br />

110 111


R i ba t ejo<br />

Proveniente de uma<br />

região vinícola por muitos<br />

negligenciada, o Ribatejo,<br />

o Quinta da Alorna –touriga<br />

Nacional, Cabernet sauvignon,<br />

Reserva 2008, é um forte<br />

candidato ao "prémio" melhor<br />

relação preço/qualidade. É<br />

um vinho muito perfuma<strong>do</strong>,<br />

surgin<strong>do</strong> no nariz notas de fruta<br />

vermelha madura, especiarias,<br />

e um to<strong>que</strong> de chocolate.<br />

esta relação de aromas é o<br />

resulta<strong>do</strong> da combinação entre<br />

as duas castas <strong>que</strong> dão origem<br />

a este vinho: touriga nacional,<br />

Com o aproximar das primeiras<br />

vindimas <strong>do</strong> ano, começo a<br />

pensar em tintos novamente. e<br />

embora as vindimas comecem,<br />

tendenciosamente, pelo Alentejo,<br />

as sugestões desta vez recaem<br />

sobre uma região bem no topo<br />

<strong>do</strong> país —o <strong>do</strong>uro. Começan<strong>do</strong><br />

pelo primeiro <strong>que</strong> provei, o<br />

Quinta Nova de Nossa senhora <strong>do</strong><br />

Carmo de 2009, <strong>tem</strong> um aroma de<br />

fruta vermelha madura e notas<br />

florais. Na boca, é um vinho cheio<br />

de frescura, com taninos fortes<br />

a marcar presença, resultan<strong>do</strong><br />

num vinho re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, muito bem<br />

equilibra<strong>do</strong> e com um final de<br />

boca de persistência média. o<br />

T — Romeu Bastos<br />

parq here — DrinkS guia De CompraS<br />

casta rainha em Portugal,<br />

e carbernet sauvignon, uma das<br />

mais plantadas castas a nível<br />

mundial. Na prova, mostra<br />

um vinho equilibra<strong>do</strong>, bem<br />

estrutura<strong>do</strong>, taninos aveluda<strong>do</strong>s<br />

e extremamente bem conjuga<strong>do</strong>s<br />

com os <strong>do</strong>ze meses de estágio<br />

em barricas de carvalho<br />

francês, com um final de boca<br />

teimosamente persistente.<br />

Quinta da Alorna – touriga<br />

Nacional, Cabernet sauvignon,<br />

Reserva 2008, 5€<br />

D o u r o<br />

T — Romeu Bastos<br />

Para muitos fãs dRAmbuie,<br />

um licor a base de whisky,<br />

é uma bebida <strong>que</strong> se bebe<br />

simplesmente com gelo.<br />

Contu<strong>do</strong> gostavamos <strong>que</strong><br />

experiemntassem misturar<br />

esses sabores <strong>que</strong>ntes de mel<br />

e ervas com um pouco de licor<br />

de café. uma bebida para uma<br />

descida de <strong>tem</strong>peratura.<br />

outro exemplar prova<strong>do</strong>, lua<br />

Nova em Vinhas Velhas de 2009,<br />

é um vinho elabora<strong>do</strong> com<br />

mais de vinte tipos de castas<br />

provenientes de vinhas velhas,<br />

<strong>que</strong> fazem com <strong>que</strong> tenha um<br />

carácter tão particular. Com<br />

uma cor rubi muito intensa,<br />

no nariz <strong>tem</strong> aromas de fruta<br />

vermelha, ameixa e especiarias.<br />

Na boca é um vinho fresco,<br />

bem estrutura<strong>do</strong>, com taninos<br />

re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s <strong>que</strong> conferem uma<br />

elegância muito atractiva no<br />

seu final de boca persistente.<br />

lua Nova em Vinhas Velhas, 7€<br />

Quinta Nova, 8€<br />

H oney Mo on<br />

T — Miguel Tojal (www.asdecopas.com)<br />

4 cl Vodka<br />

1,5 cl drambuie<br />

1,5 cl licor de chocolate<br />

0,5 cl mel<br />

técnica: shaker<br />

Copo: taça de martini<br />

decoração: borda de mel<br />

G u i a<br />

C o m p r a s<br />

A VIDA PORTUGUESA<br />

Rua Anchieta, 11 — Lisboa<br />

T. 213 465 073<br />

ADIDAS<br />

T. 214 424 400<br />

www.adidas.com/pt<br />

AFOREST DESIGN<br />

T.966 892 965<br />

www.aforest-design.com<br />

ANA SALAZAR<br />

Rua Do Carmo, 87 — Lisboa<br />

T. 213 472 289<br />

ANDRÉ ÓPTICAS<br />

Av. Da Liberdade, 136 A Lisboa<br />

Telf. 213 261 500<br />

AREA<br />

AmoReiRAs shopping<br />

CenteR, Loja 2159<br />

T. 213 715 350<br />

BCBG<br />

Rua Castilho, 27—Lisboa<br />

T. 226 102 845<br />

BILLABONG — Despomar<br />

T. 261 860 900<br />

BREITLING<br />

Cromometria s.A<br />

T. 226 102 845<br />

BURBERRY, BRODHEIM LDA<br />

T. 213 193 130<br />

CAMPER<br />

Rua stª Justa, 85 Lisboa<br />

CARHARTT<br />

Rua <strong>do</strong> norte,64—Lisboa<br />

T. 213 433 168<br />

CAROLINA HERRERA<br />

Av. Da Liberdade, 150 – Lisboa<br />

CAT — BEDIVAR<br />

T. 219 946 810<br />

CHLOÉ<br />

FÁTIMA MENDES e GATSBY<br />

(PORTO) e STIVALI Lisboa<br />

CONVERSE<br />

T. 214 412 705<br />

www.converse.pt<br />

COHIBAS<br />

T. 256 201 430<br />

CREATIVE RECREATION — Picar<br />

T. 252 800 200<br />

DECODE<br />

tiVoLi FoRUm<br />

Av Da Liberdade, 180 Lj 3B – Lisboa<br />

DIESEL STORE<br />

prç Luís De Camões, 28 – Lisboa<br />

T. 213 421 974<br />

DINO ALVES<br />

T. 210 173 091<br />

EASTPAK —MORAIS&GONÇALVES, LDA<br />

T. 219 174 211<br />

EL CABALLO<br />

Rua ivens, 10 Lisboa<br />

T. 210 460 294<br />

ENERGIE – SIXTY PORTUGAL<br />

T. 223 770 230<br />

FABRICO INFINITO<br />

Rua D. pedro V, 74 – Lisboa<br />

ELEMENT —Despomar<br />

T. 261 860 900<br />

ERMENEGILDO ZEGNA Av. Da Liberdade, 151<br />

T. 213 433 710<br />

ESPAÇO B<br />

Rua D. pedro V, 120 Lisboa<br />

FASHION CLINIC<br />

tiVoLi FoRUm<br />

Av. Da Liberdade, 180, Lj 2 e Lj 5<br />

FERNANDA PEREIRA<br />

Rua da Rosa 195 Bairro Alto<br />

FILIPE FAÍSCA<br />

Calçada Do Combro, 95 – Lisboa<br />

FIRETRAP — BUSCAVISUAL, LDA<br />

T. 917 449 778<br />

FLY LONDON<br />

Av. Da Liberdade, 230 Lisboa<br />

FORNARINA<br />

Lg. Do Chia<strong>do</strong>, 13 Lisboa<br />

FRED PERRY — SAGATEX<br />

T. 255 089 153<br />

FURLA, BRODHEIM LDA<br />

T. 213 193 130<br />

GANT<br />

RiCCon ComeRCiAL LoJAs<br />

Av. Da Liberdade, 38 – Lisboa<br />

Av. Da Boavista 2300/2304, - porto<br />

T. 252 418 254<br />

GAS<br />

T. 223 770 314<br />

www.gasjeans.com<br />

HERMÈS<br />

Largo <strong>do</strong> Chia<strong>do</strong>, 9—Lisboa<br />

T. 213 242 070<br />

H&M<br />

Rua Do Carmo, 42 Lisboa<br />

HOSS INTROPIA<br />

Rua Castilho, 59 A Lisboa<br />

T. 213 878 602<br />

HUGO BOSS PORTUGAL Av.Da Liberdade, 141<br />

Rua garret, 78 Lisboa<br />

T. 212 343 195<br />

K-SWISS — Bedivar<br />

T. 219 946 810<br />

LACOSTE – Devanlay Portugal<br />

T. 217110971<br />

LARA TORRES<br />

www.laratorres.com<br />

LE COQ SPORTIF<br />

T. 220 915 886<br />

www.lecoqsportif.com<br />

112 113<br />

LEE<br />

www.lee-eu.com<br />

LEVI’S —Levi's Portigal<br />

T. 217 998 149<br />

LIDIJA KOLOVRAT<br />

Rua Do salitre, 169<br />

T. 213 874 536<br />

LOUIS VUITTON<br />

Av.Da Liberdade, 190 – Lisboa<br />

T. 213 584 320<br />

LUIS BUCHINHO<br />

Rua José Falcão 122 – porto<br />

T. 222 012 776<br />

MANGO<br />

www.mango.com<br />

MARLBORO CLASSICS<br />

gAiA shopping, FoRUm CoimBRA<br />

e C.C. VAsCo DA gAmA<br />

MELISSA<br />

T. 934 134 392<br />

www.melissa.com.br<br />

MERRELL — BEDIVAR<br />

T. 219 946 810<br />

SIXTY – SIXTY PORTUGAL<br />

T. 223 770 230<br />

MIGUEL VIEIRA<br />

T. 256 833 923<br />

MY GOD<br />

AVis: R. José gomes Ferreira,<br />

11 Lj 251 – Lisboa<br />

C.C. AmoReiRAs: Lj 2142 – Lisboa<br />

NIKE SPORTSWEAR<br />

T. 214 169 700<br />

NIXON — Despomar<br />

T. 261 860 900<br />

NUNO BALTAZAR<br />

Av. Da Boavista, 856 – porto<br />

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T. 218 938 140<br />

PALLADIUM — Bedivar<br />

T. 219 946 810<br />

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T. 226 199 050<br />

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REPLAY<br />

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T. 222 011 833<br />

RVCA — Despomar<br />

T. 261 860 990<br />

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R. Do Carmo, 2 Lisboa<br />

T. 213 225 188<br />

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travessa <strong>do</strong> Carmo,1,p0,lj.3—Lisboa<br />

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R. Castilho, 71 C – Lisboa<br />

T. 213 860 944<br />

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UGG — Bedivar<br />

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ZILIAN<br />

Av. António Augusto De<br />

Aguiar, 29 D – Lisboa<br />

WESC<br />

T: 252 800 200


Faltava apenas um prego<br />

nas tábuas <strong>do</strong> meu caixão e<br />

assim ficaria, definitivamente,<br />

enterrada viva. A campainha<br />

interrompeu o silêncio sepulcral,<br />

então exclamei «Por deus» —<br />

logo eu, <strong>que</strong> nem acredito na<br />

existência <strong>do</strong> divino— «deixemme<br />

só com o meu triste Fa<strong>do</strong>». o<br />

quarto <strong>que</strong> me acolhe é bafiento,<br />

tal como o meu sofrimento <strong>que</strong><br />

até dá gosto, assim é quan<strong>do</strong> se<br />

ama alguém e o sentimento em<br />

nada é correspondi<strong>do</strong>. Nascida<br />

num país onde se canta de mão<br />

ao peito e de olhos fecha<strong>do</strong>s uma<br />

estranha forma de vida —a <strong>do</strong>r<br />

—morre-se de amor e pronto.<br />

A campainha silencia-me, uma<br />

vez mais, o <strong>que</strong>ixume a <strong>que</strong> me<br />

devotei. maldição, <strong>que</strong>m me<br />

obriga a sair <strong>do</strong> meu sarcófago?<br />

disposta a soltar os cães <strong>que</strong><br />

não tenho, talvez se arranje um<br />

felino atrevi<strong>do</strong>, tão feroz assim<br />

é um caramelo a desfazer-se<br />

na boca. desgrenhada, abro a<br />

porta, olhos remelosos como<br />

<strong>que</strong>m não vê a luz <strong>do</strong> dia há um<br />

milhão de anos. Há, porém, uma<br />

luminosidade a espelhar-se no<br />

meu rosto e vem da imagem<br />

<strong>que</strong> alcanço <strong>do</strong> alto de 1 metro e<br />

90, onde encontro olhos de elfo<br />

<strong>que</strong> me sorriem. A voz leva-me<br />

numa melodia e encandeia-me<br />

DiapoSiTiVo<br />

uma crónica de Cláudia matos silva<br />

www.claudiamatossilva.pt.vu<br />

i— bráulio Ama<strong>do</strong> (www.iusecomicsans.com)<br />

i will survive<br />

os senti<strong>do</strong>s. oiço parcialmente<br />

o <strong>que</strong> me diz, Porfírio, assim se<br />

chama este anjo na terra, <strong>que</strong> tal<br />

como o carteiro, também tocou<br />

duas vezes. Não é vende<strong>do</strong>r, não<br />

recolhe <strong>do</strong>nativos para caridade<br />

nem reúne assinaturas para<br />

uma causa de circunstância.<br />

zombificada e de sorriso tolo nos<br />

lábios, fecho a porta estarrecida<br />

e com os olhos presos numa teia<br />

de aranha suspensa no tecto <strong>do</strong><br />

hall da entrada, e <strong>que</strong>stiono-me,<br />

quan<strong>do</strong> é <strong>que</strong> as tes<strong>tem</strong>unhas<br />

de Jeová começaram a ser<br />

pedaços de mau caminho?<br />

o Porfírio voltaria a bater-me à<br />

porta uma e outra vez, sempre<br />

com o mesmo propósito: falar <strong>do</strong><br />

grande livro de profecias, a bíblia.<br />

os meus intentos mudariam<br />

claramente com as suas visitas<br />

regulares. Por<strong>que</strong> ouvi-lo falar <strong>do</strong><br />

cria<strong>do</strong>r, deus, e como deveríamos<br />

servi-lo para assim alcançar a<br />

nova ordem/vida eterna, abriria<br />

uma janela na minha própria<br />

existência e isso reflectia-se em<br />

pe<strong>que</strong>nas coisas. Calções curtos<br />

e top escortinha<strong>do</strong> à naifada,<br />

prendi o cabelo com um elástico<br />

e ergui um carrapito mesmo no<br />

cocuruto. No centro da minha<br />

sala de estar, sentia-me numa<br />

autêntica pista de dança com o<br />

meu parceiro, a esfregona, e nem<br />

114<br />

precisava fechar os olhos para me<br />

imaginar numa festa psicadélica<br />

<strong>do</strong>s anos 70. A casa arejava, como<br />

há muito não acontecia, o vento<br />

fazia os cortina<strong>do</strong>s ro<strong>do</strong>piar,<br />

eu dançava ao som <strong>do</strong>s indeep<br />

last Night a dJ saved my life<br />

e passava o chão to<strong>do</strong> a pano.<br />

estaria o meu Fa<strong>do</strong> a mudar?<br />

A campainha tocou, assanhada,<br />

abri a porta esperan<strong>do</strong> encontrar<br />

o Porfírio, quan<strong>do</strong> remonta<br />

à minha memória a imagem<br />

de uma velhota amorosa com<br />

cabelo cor de algodão. Chama-se<br />

Cremilde, vem no seguimento<br />

das anteriores visitas, e<br />

convida-me a fre<strong>que</strong>ntar o salão<br />

<strong>do</strong> reino da minha localidade.<br />

talvez o Porfírio tenha percebi<strong>do</strong><br />

os meus reais intentos e assim<br />

tenha coloca<strong>do</strong> a minha fé à<br />

prova. o <strong>que</strong> não sabe é <strong>que</strong>, ao<br />

conhecê-lo, voltei a acreditar<br />

nas pessoas e <strong>que</strong> é possível<br />

fazer o bem sem esperar nada<br />

em troca. Renascida, compro um<br />

bilhete para o concerto de Glória<br />

Gaynor, no Campo Pe<strong>que</strong>no,<br />

dia 8 de outubro. sou uma<br />

sobrevivente de mim mesma,<br />

aconteça o <strong>que</strong> acontecer i Will<br />

survive, por<strong>que</strong> a vida <strong>tem</strong> muito<br />

mais graça se for um hino disco<br />

sound. Quanto à Fé, é preciso<br />

mantê-la... sempre, em nós!

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