actor que tem andado pelas bocas do mundo desde a apresentação ...
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PARQ NúmeRo 29 se<strong>tem</strong>bRo 2011<br />
diReCtoR<br />
Francisco Vaz Fernandes<br />
francisco@parqmag.com<br />
editoR<br />
Francisco Vaz Fernandes<br />
francisco@parqmag.com<br />
CooRdeNAção<br />
editoRiAl e modA<br />
margarida brito Paes<br />
margarida@parqmag.com<br />
diReCção de ARte<br />
Valdemar lamego<br />
v@k-u-n-g.com<br />
PubliCidAde<br />
Francisco Vaz Fernandes<br />
francisco@parqmag.com<br />
PeRioCidAde:<br />
mensal<br />
dePósito leGAl: 272758/08<br />
ReGisto eRC:<br />
125392<br />
edição<br />
Conforto moderno uni, lda.<br />
NiF: 508 399 289<br />
PARQ<br />
Rua Quirino da Fonseca,<br />
25 – 2ºesq.<br />
1000-251 lisboa<br />
t. 00351.218 473 379<br />
imPRessão<br />
beProfit / soGAPAl<br />
2730-120 barcarena<br />
20.000 exemplares<br />
distRibuição<br />
Conforto moderno uni, lda.<br />
A reprodução de to<strong>do</strong> o material<br />
é expressamente proibida<br />
sem a permissão da Parq.<br />
to<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s.<br />
Copyright © 2008—2011 PARQ.<br />
textos<br />
Ágata C. de Pinho<br />
Ana Rita sevilha<br />
Ana Rita sousa<br />
Carla Carbone<br />
Cláudia Gavinho<br />
Cláudia matos silva<br />
diana de Nóbrega<br />
davide Pinheiro<br />
eduarda Allen<br />
eduar<strong>do</strong> Feteira<br />
Francisco V. Fernandes<br />
ingrid Rodrigues<br />
Joana Guedes<br />
margarida brito Paes<br />
maria João teixeira<br />
maria são miguel<br />
miguel tojal<br />
Paula melâneo<br />
Pedro lima<br />
Pedro Pinto teixeira<br />
Roger Winstanley<br />
Romeu bastos<br />
Rui miguel Abreu<br />
Fotos<br />
bernar<strong>do</strong> l. motta<br />
Carla Pires<br />
Hugo silva<br />
mar mateu<br />
manuel sousa<br />
Nian Canard<br />
Patrícia Andrade<br />
Víctor Celdrán<br />
stYliNG<br />
laia Gomez<br />
margarida brito Paes<br />
marta brito<br />
ilustRAção<br />
bráulio Ama<strong>do</strong><br />
salão Coboi<br />
editoRiAl<br />
Reaproveitamentos<br />
Com as novas entradas, aproveitamos<br />
a grande retrospectiva de Vik muNiz,<br />
no museu Colecção berar<strong>do</strong>, em lisboa,<br />
para o entrevistar e, a partir daí, explorar<br />
o <strong>tem</strong>a <strong>do</strong> “reaproveitamento” (como<br />
ele bem gosta de frisar) e <strong>que</strong> está na<br />
base <strong>do</strong> seu trabalho. Felizmente, este<br />
<strong>tem</strong>a (<strong>que</strong> no brasil é uma condição,<br />
por razões evidentes), estendeuse<br />
a to<strong>do</strong> o planeta, cada vez mais<br />
consciente <strong>do</strong>s recursos limita<strong>do</strong>s. É<br />
um assunto <strong>que</strong> aparece cada vez mais<br />
no discurso <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res, passan<strong>do</strong><br />
para a esfera da consciência pessoal.<br />
o interessante é ver como cada um de<br />
nós interpreta essas preocupações e as<br />
trata até como uma vantagem. Fomos<br />
ao 1300 tAbeRNA e percebemos como a<br />
introdução da cozinha sustentável é uma<br />
reinterpretação deste tipo de conceitos.<br />
estamos cada vez mais impotentes<br />
relativamente às macro-estruturas <strong>que</strong><br />
<strong>do</strong>minam o mun<strong>do</strong> e cada vez mais<br />
liga<strong>do</strong>s às políticas locais, <strong>que</strong> começam<br />
na nossa casa e se estendem ao nosso<br />
ao bairro, à nossa cidade, à nossa<br />
região. ou seja, iremos ser cada vez<br />
mais responsabiliza<strong>do</strong>s <strong>pelas</strong> políticas<br />
locais, o <strong>que</strong> faz muito senti<strong>do</strong> no nosso<br />
contexto europeu, a largos passos de<br />
um federalismo. Vamos apostar?<br />
por Francisco Vaz Fernandes<br />
PARQ NúmeRo 29 se<strong>tem</strong>bRo 2011<br />
Real PeoPle<br />
06—<br />
timba smits<br />
10—<br />
erik spiekermann<br />
14—<br />
João morga<strong>do</strong><br />
you must<br />
16—19<br />
You must shopping<br />
20 — 51<br />
ARx Portugal<br />
Pedro Cabrita Reis<br />
beatriz milhazes<br />
Prouvé Raw<br />
barber&osgerby<br />
mobiletes<br />
Rodrigo Areias<br />
maria imaginário<br />
Go Forth<br />
shaun samson<br />
diesel + Adidas<br />
sneakers, shoes<br />
soundstation<br />
52—53<br />
Anna Calvi<br />
54—55<br />
Active Child<br />
56—57<br />
You Can't Win Charlie brown<br />
58—59<br />
Gaslamp killer<br />
GRande entRevista<br />
60—67<br />
Vik muniz<br />
CentRal PaRq<br />
68—69 Cinema<br />
Waste land<br />
70—71 Cinema<br />
Allen Ginsberg<br />
72—73 Cinema<br />
ouvir os filmes<br />
74—77 Lifestyle<br />
Pogonotrofia<br />
78—81 Design<br />
Jean baptiste Fastrez<br />
moda<br />
82—89<br />
sweet Fall<br />
90—97<br />
dial m for murder<br />
98—107<br />
Wild at Heart<br />
PaRq HeRe<br />
108—<br />
Vis –à-Vis — 1300 taberna<br />
— por Fanny & Fred<br />
110—<br />
Places: design store bCt,<br />
samedi House of Cool<br />
112—<br />
drinks: Vinhos<br />
114—<br />
dia Positivo<br />
JoNAtHAN moRòN fotografa<strong>do</strong> por NiAN CANARd com styling<br />
de CoNFoRto modeRNo + mARGARidA bRito PAes, make-up de<br />
lolA CARVAlHo, hair de olGA HilÁRio (Griffe Hairstyle)<br />
óculos RAY-bAN, cachecol AlexANdRA mouRA e casaco de malha diesel<br />
02 03
T — Pedro Pinto Teixeira<br />
Timba Smits nasceu em Melbourne<br />
mas reside actualmente em Londres. É<br />
um artista, designer, ilustra<strong>do</strong>r e editor<br />
independente, para além de aspirante a<br />
joga<strong>do</strong>r olímpico de ping-pong, <strong>que</strong> nutre<br />
um amor por todas as coisas vintage.<br />
P Há um carácter vintage<br />
<strong>que</strong> atravessa to<strong>do</strong> o teu trabalho.<br />
É correcto afirmar <strong>que</strong> é de<br />
algum mo<strong>do</strong> reminiscente de<br />
uma era pré-computa<strong>do</strong>r?<br />
TM sim, definitivamente.<br />
Na escola fui treina<strong>do</strong> para<br />
desenhar à mão, não existiam<br />
computa<strong>do</strong>res, fazia o meu<br />
design à mão e ainda mantenho<br />
essa abordagem tradicional.<br />
essa é a parte <strong>do</strong> meu trabalho<br />
<strong>que</strong> transcende a era digital. Ao<br />
longo <strong>do</strong>s anos fui integran<strong>do</strong> o<br />
computa<strong>do</strong>r no processo, o meu<br />
trabalho hoje combina o desenho<br />
à mão com as ferramentas<br />
digitais e acredito <strong>que</strong> foi isso<br />
<strong>que</strong> lhe conferiu algum desta<strong>que</strong>.<br />
<strong>tem</strong> a<strong>que</strong>le estilo vintage mas<br />
é, ao mesmo <strong>tem</strong>po, digital.<br />
P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong> destacarias<br />
como grandes influências<br />
ou fontes de inspiração?<br />
TM Coisas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />
Filmes antigos, cartazes de filmes<br />
antigos, anúncios e publicidade<br />
<strong>do</strong>s anos 40, 50 e 60. A<strong>do</strong>ro<br />
anúncios e cartazes antigos de<br />
companhias aéreas por<strong>que</strong> de<br />
alguma maneira publicitam uma<br />
experiência. tento fazer isso<br />
com o meu trabalho, recriar uma<br />
experiência através <strong>do</strong> design,<br />
publicitan<strong>do</strong> uma ideia grandiosa<br />
www.timbasmits.com<br />
reaL peopLe<br />
acerca <strong>do</strong> <strong>que</strong> determina<strong>do</strong>s<br />
produtos ou serviços te podem<br />
oferecer, embora os produtos não<br />
existam realmente. Gosto muito<br />
desse aspecto <strong>do</strong> meu trabalho,<br />
de tentar fazer sorrir as pessoas<br />
<strong>que</strong> são confrontadas com ele.<br />
P Já trabalhaste como<br />
cura<strong>do</strong>r, ilustra<strong>do</strong>r, tipógrafo,<br />
designer e editor. o <strong>que</strong> é<br />
<strong>que</strong> gostas mais de fazer?<br />
TM É difícil escolher apenas<br />
uma coisa por<strong>que</strong> todas elas<br />
são diferentes e todas elas se<br />
relacionam com coisas de <strong>que</strong><br />
gosto. Não existe uma <strong>que</strong><br />
goste mais em detrimento de<br />
outra. obviamente a minha<br />
revista teve um grande impacto<br />
na minha evolução enquanto<br />
designer. se não a tivesse feito,<br />
não sei se gozaria da reputação<br />
<strong>que</strong> tenho hoje como tipógrafo,<br />
ilustra<strong>do</strong>r ou designer, por<strong>que</strong><br />
investi tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> tinha na sua<br />
criação. mas é o <strong>que</strong> gosto mais?<br />
Não, por<strong>que</strong> gosto de tu<strong>do</strong> o<br />
<strong>que</strong> faço da mesma maneira.<br />
Nunca faço nada <strong>que</strong> não gosto<br />
e rejeito muitos clientes. se a<br />
bmW me pedir para colaborar<br />
nalgum projecto e esse pedi<strong>do</strong><br />
vier através de uma agência de<br />
publicidade: recuso. Há bancos<br />
<strong>que</strong> me pedem para colaborar<br />
em projectos: desculpem não<br />
gosto de bancos! só faço aquilo<br />
de <strong>que</strong> gosto realmente.<br />
P Na tua opinião, um<br />
ilustra<strong>do</strong>r deve ter um estilo<br />
muito pessoal ou deve ser capaz<br />
de adaptar-se ao cliente?<br />
TM Acho <strong>que</strong> é um pouco<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. É bom ter um estilo<br />
pessoal mas não deves restringilo<br />
apenas a um formato. existe<br />
um estilo unifica<strong>do</strong>r em to<strong>do</strong><br />
o meu trabalho mas varia<br />
entre ser desenha<strong>do</strong> à mão,<br />
cria<strong>do</strong> digitalmente, até uma<br />
combinação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Posso<br />
desenhar bonequinhos muito<br />
fofos e ao mesmo <strong>tem</strong>po fazer<br />
estes desenhos incrivelmente<br />
detalha<strong>do</strong>s, quase realistas, de<br />
raparigas. mas, no final, existe<br />
uma matriz agrega<strong>do</strong>ra <strong>que</strong> os<br />
relaciona, de alguma maneira.<br />
P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong> te faz feliz?<br />
TM Há dias em nem se<strong>que</strong>r<br />
me visto. Acor<strong>do</strong> e o meu<br />
estúdio está logo ali. estou<br />
T im b a<br />
S m its<br />
06<br />
tão entusiasma<strong>do</strong> para acabar<br />
o <strong>que</strong> <strong>que</strong>r <strong>que</strong> fosse em <strong>que</strong><br />
estivesse a trabalhar na noite<br />
anterior, <strong>que</strong> às vezes são duas<br />
da tarde e ainda não almocei<br />
ou tomei um banho. estou ali<br />
senta<strong>do</strong> de boxers, ao telefone<br />
com clientes ou a responder a<br />
e-mails e eles não sabem <strong>que</strong><br />
nem se<strong>que</strong>r estou vesti<strong>do</strong>.<br />
P o <strong>que</strong> é <strong>que</strong><br />
te deixa furioso?<br />
TM Nunca fico realmente<br />
furioso. sou um tipo bastante<br />
feliz, penso <strong>que</strong> deriva <strong>do</strong> facto de<br />
ter a oportunidade de fazer o <strong>que</strong><br />
gosto. uma coisa <strong>que</strong> me deixa<br />
zanga<strong>do</strong> é: acabei um trabalho<br />
para ti, paga-me agora! Não <strong>que</strong>ro<br />
ter de esperar 90 dias para <strong>que</strong><br />
me paguem. Acho <strong>que</strong> isto pode<br />
mudar com to<strong>do</strong>s os designers<br />
a puxarem para o mesmo la<strong>do</strong>.<br />
os designers têm <strong>que</strong> se levantar<br />
e dizer: paguem-nos agora!<br />
www.havaianas.com
www.spiekermann.com<br />
E ri k<br />
P Com é <strong>que</strong> definirias<br />
aquilo <strong>que</strong> fazes?<br />
ES sou um designer<br />
de comunicação.<br />
P No passa<strong>do</strong> comparaste<br />
a tipografia à música. Podes<br />
explicar essa analogia?<br />
ES sim, muito facilmente.<br />
eu não escrevo a pauta, se<br />
pensarmos <strong>que</strong> a pauta são as<br />
palavras. Há alguém <strong>que</strong> escreve<br />
as palavras e eu interpreto-as.<br />
existe uma grande diferença entre<br />
interpretar uma melodia com um<br />
banjo, com uma grande or<strong>que</strong>stra<br />
ou cantá-la no banho. eu faço este<br />
tipo de escolhas com as palavras,<br />
faço-as soar de maneira diferente.<br />
o <strong>que</strong> é constitui boa<br />
comunicação?<br />
ES boa comunicação é a<strong>que</strong>la<br />
<strong>que</strong> cumpre o propósito, defini<strong>do</strong><br />
pelo cliente, seja ele qual for.<br />
mas, para além de cumprir um<br />
propósito, a comunicação deve<br />
ser capaz de se constituir como<br />
uma experiência prazerosa.<br />
A função são 90% e o prazer<br />
10%. As coisas não têm de<br />
ser feias para funcionarem.<br />
P Como é <strong>que</strong> relacionas<br />
design e acessibilidade?<br />
ES Acho <strong>que</strong> o design<br />
pode ser uma grande ajuda.<br />
se algo é feio e inacessível a<br />
comunicação é mais difícil. se<br />
pensarmos nos formulários<br />
governamentais, existe uma<br />
razão para serem feios, os<br />
governos não <strong>que</strong>rem realmente<br />
comunicar, preferem manter as<br />
reaL peopLe<br />
pessoas a uma certa distância.<br />
A ideia é <strong>que</strong> respondamos às<br />
suas perguntas e vol<strong>tem</strong>os para<br />
as nossas casas. Caso contrário,<br />
se demonstrarem abertura<br />
através de uma comunicação<br />
eficaz, correm o risco de iniciar<br />
um diálogo. Para <strong>que</strong> exista<br />
diálogo, são necessários <strong>do</strong>is<br />
intervenientes, e os órgãos<br />
oficiais <strong>do</strong> governo não gostam<br />
de dialogar por<strong>que</strong> podem ter de<br />
responder a perguntas a <strong>que</strong> não<br />
<strong>que</strong>rem responder. isto também<br />
se verifica nas grandes empresas.<br />
P Podes oferecer a tua visão<br />
sobre a evolução <strong>do</strong>s media no<br />
ecrã e a maneira como a tipografia<br />
<strong>tem</strong> acompanha<strong>do</strong> esta evolução?<br />
ES o ecrã é uma tecnologia<br />
de reprodução de conteú<strong>do</strong>s<br />
como outra qual<strong>que</strong>r, como<br />
a impressão ou a caligrafia<br />
manual. A tipografia para meios<br />
digitais vai ser como a tipografia<br />
para papel, muito brevemente.<br />
existe um standard <strong>que</strong> fomos<br />
desenvolven<strong>do</strong> durante mais de<br />
500 anos e, <strong>que</strong>remos ter um<br />
standard por<strong>que</strong> é bom para nós,<br />
estamos habitua<strong>do</strong>s a utilizá-lo,<br />
T — Pedro Pinto Teixeira<br />
erik spiekermann é um <strong>do</strong>s designers e tipógrafos mais<br />
reconheci<strong>do</strong>s no panorama internacional. Ao longo de mais de 40<br />
anos trabalhou para algumas das maiores marcas mundiais como<br />
a Audi, a Volkswagen e a Nokia. É também presidente da istd<br />
(International Society of<br />
Typografic Designers) e<br />
professor honorário<br />
da ACAdemY oF<br />
ARts em bRemeN.<br />
10<br />
Spi ek er<br />
m a nn<br />
www.edenspiekermann.com<br />
gostamos dele. de momento<br />
estamos a atravessar uma fase<br />
cíclica, não exis<strong>tem</strong> diferenças<br />
substanciais, e por isso não é<br />
algo realmente importante.<br />
P depois de to<strong>do</strong>s estes<br />
anos, existe algum trabalho de<br />
<strong>que</strong> te orgulhes particularmente?<br />
ES Gosto muito <strong>do</strong> trabalho<br />
<strong>que</strong> desenvolvi para o sector<br />
público. desenhamos toda<br />
a sinalética para o sis<strong>tem</strong>a<br />
de transportes de berlim<br />
(bVG). to<strong>do</strong>s os autocarros,<br />
eléctricos e metros são<br />
amarelos, destacam-se na<br />
paisagem visual da cidade<br />
e as pessoas conseguem<br />
encontrá-los muito facilmente.<br />
outro projecto de <strong>que</strong> gosto<br />
bastante foi o trabalho <strong>que</strong><br />
desenvolvemos para os<br />
caminhos-de-ferro alemães<br />
(db bahn). mudamos a cor <strong>do</strong>s<br />
comboios, <strong>que</strong> são agora brancos<br />
ou vermelhos, e redesenhamos<br />
to<strong>do</strong>s os es<strong>que</strong>mas de cor e<br />
comunicação impressa. o sis<strong>tem</strong>a<br />
de caminhos-de-ferro é muito<br />
importante na Alemanha, nós<br />
andamos muito de combóio e,<br />
por ser algo tão presente e visível,<br />
se fossem feios, seria horrível.<br />
Agora, não são tão feios como<br />
costumavam ser, e tenho muito<br />
orgulho nisso por<strong>que</strong> é uma<br />
contribuição para a nossa cultura<br />
visual. Além disso, a comunicação<br />
é eficaz —as pessoas conseguem<br />
encontrar o combóio <strong>que</strong><br />
pretendem com facilidade.<br />
rua de Santa Justa, 85 - Tel. 21 342 2068<br />
avenida de roma, 55B - Tel. 21 796 1635<br />
PEU PISTA<br />
Waterproof<br />
camper.com
www.photo.joaomorga<strong>do</strong>.com/<br />
T — Ana Rita Sevilha<br />
P Quan<strong>do</strong> é <strong>que</strong> a fotografia,<br />
e mais especificamente a<br />
fotografia de arquitectura,<br />
entrou na tua vida?<br />
JM As primeiras fotografias<br />
de acompanhamento de obra,<br />
ainda durante a faculdade,<br />
despertaram-me a curiosidade.<br />
Ainda assim, só no fim <strong>do</strong> curso<br />
é <strong>que</strong> percebi <strong>que</strong> seria muito<br />
redutor ficar fecha<strong>do</strong> dentro<br />
de um atelier confina<strong>do</strong>, a<br />
uma determinada linguagem<br />
arquitectónica. o gosto pela<br />
fotografia de arquitectura<br />
adensou-se no ateliê de Wiel<br />
ARets (em maastricht, na<br />
Holanda), onde tive oportunidade<br />
de fotografar os projectos mais<br />
recentes <strong>do</strong> gabinete. enquanto<br />
fotógrafo de arquitectura<br />
tenho o privilégio de viajar<br />
e abrir horizontes com um<br />
sem número de linguagens,<br />
<strong>que</strong> estariam inacessíveis<br />
em apenas um gabinete.<br />
P Que características<br />
acha <strong>que</strong> um fotógrafo de<br />
arquitectura <strong>tem</strong> de ter?<br />
JM deve ter um amplo<br />
conhecimento da história da<br />
arquitectura para distinguir<br />
diferentes linguagens; estar<br />
atento à actualidade para não<br />
deixar fugir oportunidades e<br />
ter uma insaciante curiosidade<br />
por novos projectos e<br />
autores, seja um t0 no Centro<br />
Histórico <strong>do</strong> Porto ou o<br />
complexo habitacional <strong>do</strong><br />
estoril sol. só quan<strong>do</strong> se é<br />
perfeccionista se consegue<br />
colmatar as horas de espera<br />
por um determina<strong>do</strong> disparo.<br />
reaL peopLe<br />
P esta é um tipo de<br />
fotografia <strong>do</strong>cumental<br />
ou artística?<br />
JM É um estilo de fotografia<br />
<strong>que</strong> começa por ser <strong>do</strong>cumental,<br />
por<strong>que</strong> o seu propósito é o<br />
registo de determinada obra.<br />
Contu<strong>do</strong>, as perspectivas de<br />
João Morga<strong>do</strong> é o exemplo de <strong>que</strong> a<br />
arquitectura não <strong>tem</strong> nem deve ficar<br />
confinada às paredes de um atelier. Pode e<br />
pede-se criatividade, imaginação, vontade<br />
e coragem de arriscar novas formas de se<br />
ser arquitecto. A PArq conversou com<br />
João Morga<strong>do</strong>, um arquitecto <strong>que</strong> se<br />
deixou levar pelo poder das imagens<br />
Jo ã o<br />
abordagem podem <strong>do</strong>tar-lhe<br />
de uma visão artística. o<br />
processo nunca é inverso.<br />
P uma imagem vale<br />
mais <strong>do</strong> <strong>que</strong> mil palavras?<br />
JM Vale de facto, por<strong>que</strong> no<br />
momento decisivo <strong>do</strong> disparo,<br />
consegue-se “roubar” a essência<br />
da obra um dia idealizada<br />
por determina<strong>do</strong> arquitecto,<br />
chegan<strong>do</strong> a compor uma história,<br />
mesmo não sen<strong>do</strong> essa <strong>que</strong><br />
originou o projecto. A Casa H, em<br />
maastricht, de Wiel ARets ou<br />
a Reconversão <strong>do</strong> Palácio das<br />
Car<strong>do</strong>sas, no Porto, são<br />
disso exemplo.<br />
P sentes <strong>que</strong> o teu trabalho<br />
é criativo, em <strong>que</strong> medida?<br />
JM tento ser criativo<br />
quan<strong>do</strong> ao fotografar um edifício<br />
<strong>que</strong> toda a gente conhece,<br />
consigo provocar admiração no<br />
especta<strong>do</strong>r. seja por conta <strong>do</strong><br />
ângulo da obra fotografada, seja<br />
devi<strong>do</strong> à luz. Por exemplo, mais<br />
importante <strong>do</strong> <strong>que</strong> se fotografar<br />
um edifício de grande impacto<br />
visual no seu to<strong>do</strong>, torna-se mais<br />
original dar-se a conhecer os<br />
seus pe<strong>que</strong>nos pormenores.<br />
P os teus trabalhos<br />
fotográficos já foram<br />
premia<strong>do</strong>s em diversos<br />
concursos fotográficos<br />
em Portugal. Quais? o <strong>que</strong><br />
representam estes prémios?<br />
JM os prémios serviram de<br />
alavanca para apostar a sério<br />
na fotografia. Aliás, foi com<br />
alguns <strong>do</strong>s prémios monetários<br />
<strong>que</strong> consegui adquirir muito <strong>do</strong><br />
material profissional de fotografia.<br />
um <strong>do</strong>s galardões foi na categoria<br />
de “Arquitectura indústrial”<br />
com uma fotografia da seca <strong>do</strong><br />
bacalhau no barreiro. outro <strong>do</strong>s<br />
prémios foi atribui<strong>do</strong> pelo<br />
Clube de Fotografia de setúbal<br />
com um trabalho <strong>do</strong> museu <strong>do</strong><br />
Farol de santa marta (Cascais)<br />
Mo r g a <strong>do</strong><br />
14<br />
da dupla AiRes mAteus.<br />
P e quais as mais-valias<br />
e retornos desta profissão?<br />
JM Quan<strong>do</strong> se fotografa<br />
arquitectura não se pensa no<br />
retorno imediato desse trabalho.<br />
Fotografa-se por<strong>que</strong> se gosta.<br />
o retorno, esse, aparece fruto<br />
de muito trabalho e re<strong>que</strong>r<br />
sabe<strong>do</strong>ria e engenho na escolha<br />
de determina<strong>do</strong> projecto ou obra.<br />
A grande mais valia é poder-se<br />
viajar a fazer aquilo <strong>que</strong><br />
mais se gosta, receben<strong>do</strong><br />
como contrapartida o retorno<br />
<strong>do</strong>s media e <strong>do</strong>s próprios<br />
arquitectos <strong>que</strong> me escolhem.
foto — bernar<strong>do</strong> lourenço motta<br />
you muST Shopping<br />
l o s t i n<br />
t H e w o o d s<br />
Camisa PePe JeANs Andy Warhol, sapatos bicolor FRed PeRRY,<br />
sapatos azuis keds, mala PlAtAdePAlo, casaco GANt, luvas<br />
CAmel, cinto PePe JeANs, ténis AdidAs, relógios NixoN, gorro<br />
billAboNG, jarra de madeira WHite & kAki, velas de madeira<br />
AReA, gaiola de madeira AReA, caixa de madeira AReA<br />
styling — margarida brito Paes<br />
ass. styling — inese soncika<br />
you muST Shopping<br />
botins bicolor sPeRRY, botins CAt, cinto HeNRY CottoN`s,<br />
bolsa para ipad luis oNoFRe, camisola de gola alta mANGo,<br />
cachecol tijolo mANGo, cinto de crocodilo PlAtAdePAlo,<br />
carteira FuRlA, luvas PePe JeANs, cinto mANGo, pulseiras<br />
mANGo, cachecol de pêlo beNCH, cachecol cinzento mANGo,<br />
luvas mANGo, cinto vermelho PePe JeANs, colar <strong>do</strong>ura<strong>do</strong><br />
mANGo, pulseiras em pele PlAtAdePAlo, chapéu PePe<br />
JeANs, gaiola de madeira AReA, velas de madeira AReA.<br />
16 17<br />
ass. foto — Pedro melo
foto — bernar<strong>do</strong> lourenço motta<br />
you muST Shopping<br />
Gorro GANt, botas bicolor ClAe, botas castanhas PAllAdium,<br />
casacos cinzento e preto Nike sPoRtsWeAR, casaco verde<br />
de bolsos diesel, mochila GANt, ténis Nike Hyperfuse,<br />
relógios NixoN, relógios CAmel Active, casco impermeável<br />
AdidAs, mala PePe JeANs, velas de madeira AReA, suportes<br />
de madeira AReA, jarra de madeira WHite & kAki<br />
styling — margarida brito Paes<br />
ass. styling — inese soncika<br />
you muST Shopping<br />
Casaco de lã PePe JeANs, luvas compridas lACoste, cinto<br />
vermelho GANt, botas rasas bicolor FlY, botas vermelhas<br />
Goldmud, carteira diesel, mochila FRed PeRRY, botas com<br />
pêlo HuNteR, botas castanhas meRRell, cintos com tachas<br />
diesel, casaco bege PePe JeANs, calças verdes iNsiGHt, leggings<br />
cinzentas diesel, gorro com pêlo PePe JeANs, suportes de metal<br />
AReA, velas de madeira AReA, jarra de madeira WHite & kAki<br />
18 19<br />
ass. foto — Pedro melo
esta vivenda junto ao rio sa<strong>do</strong>,<br />
concebida por NuNo mAteus e<br />
JosÉ mAteus <strong>do</strong>s ARx Portugal<br />
em colaboração com steFANo<br />
RiVA, nasce de uma estreita<br />
relação com os <strong>do</strong>nos da obra<br />
<strong>que</strong> <strong>que</strong>riam usufruir de um<br />
espaço de férias con<strong>tem</strong>porâneo<br />
F — Fernan<strong>do</strong> Guerra<br />
mas, ao mesmo <strong>tem</strong>po, <strong>que</strong><br />
mantivesse a tipologia das casas<br />
locais. Com este programa<br />
preciso, a dupla de arquitectos<br />
recriou a tipologia de uma<br />
casa alentejana manten<strong>do</strong> as<br />
paredes brancas, o telha<strong>do</strong> de<br />
uma água e pátios <strong>que</strong> filtram<br />
a luz indirecta, com o objectivo<br />
de manter uma certa frescura.<br />
A cobertura <strong>que</strong> mimetiza os<br />
telha<strong>do</strong>s de uma água é um <strong>do</strong>s<br />
elementos mais inova<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
projecto e mais interessante<br />
esteticamente. Revestida a<br />
reboco branco, a superfície lisa<br />
é animada por aberturas <strong>que</strong><br />
Casa <strong>do</strong> Possanco, ARX Portugal<br />
T — Francisco Vaz Fernandes<br />
trazem iluminação ao interior<br />
da casa. os mesmos jogos de<br />
luz <strong>que</strong> se criam a partir dessas<br />
aberturas repe<strong>tem</strong>-se nos pátios<br />
ou nas reentrâncias de formas<br />
pouco convencionais, <strong>que</strong> ajudam<br />
a criar perspectivas diferentes da<br />
casa dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ângulos.<br />
o sentimento de clausura<br />
<strong>que</strong> muitas vezes se sente<br />
numa casa alentejana é<br />
completamente mantida e,<br />
por tu<strong>do</strong> isso, esta obra —<strong>que</strong><br />
<strong>do</strong>mina a atenção mediática—<br />
é um exemplo de excelência<br />
da arquitectura portuguesa.<br />
A R X<br />
P or<br />
you muST<br />
t u<br />
20<br />
www.arx.pt<br />
g a l
o museu berar<strong>do</strong> junta grande<br />
parte da colecção de PedRo<br />
CAbRitA Reis, propon<strong>do</strong> a<br />
mais extensa retrospectiva<br />
alguma vez realizada sobre<br />
o artista. A mostra partiu<br />
de um núcleo central de<br />
peças seleccionadas para o<br />
kuNstHAlle de Hamburgo<br />
(Alemanha) <strong>que</strong> transitou para o<br />
CARRÉ d'ARt de Nîmes (França)<br />
e para o m de lovaina (bélgica)<br />
Pe d ro<br />
mas <strong>que</strong>, chegada a lisboa e<br />
dada a grandeza <strong>do</strong> espaço,<br />
foi ampliada para se ter uma<br />
visão mais completa. são 300<br />
obras, algumas <strong>do</strong>s anos 80 (<strong>do</strong><br />
inicio da sua carreira, quan<strong>do</strong> o<br />
artista já se evidenciava entre<br />
a sua geração) e propõem<br />
uma renovação <strong>do</strong>s media. A<br />
possibilidade de uma carreira<br />
internacional seria confirmada<br />
a partir de uma mostra de<br />
artistas con<strong>tem</strong>porâneos<br />
Cabinet d'Amateur, 2007<br />
you muST<br />
portugueses no contexto da<br />
europália em bruxelas <strong>que</strong>, pela<br />
mão <strong>do</strong> mesmo cura<strong>do</strong>r, JAN<br />
Hoet, o levaria à <strong>do</strong>cumenta<br />
de kassel, a plataforma mais<br />
importante para qual<strong>que</strong>r artista.<br />
essencialmente escultóricas, as<br />
suas primeiras obras trazem uma<br />
poética <strong>que</strong> convoca elementos<br />
regionalistas e identitários, numa<br />
época moldada por discursos<br />
pós-modernistas. Por isso não<br />
Ca b ri ta<br />
R eis<br />
T — Francisco Vaz Fernandes<br />
faltou <strong>que</strong>m visse no trabalho<br />
de PedRo CAbRitA Reis um<br />
certo modernismo tardio (a par<br />
de sizA VieiRA, por exemplo) ou<br />
o retomar da Arte Povera <strong>que</strong>,<br />
em última análise, representava<br />
a essência da escultura<br />
europeia, contrapon<strong>do</strong>-se<br />
as propostas objectuais ou<br />
pop vindas da América.<br />
A obra de CAbRitA Reis<br />
ganharia, a partir daí, outra<br />
dimensão, convocan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />
os media, mesmo os mais<br />
tradicionais, para o terreno da<br />
instalação com grande pen<strong>do</strong>r<br />
cénico. o <strong>que</strong> se manteve foi um<br />
discurso de base <strong>que</strong> o liga a<br />
uma ideologia <strong>do</strong> trabalho e da<br />
cultura material como elementos<br />
essencias da vida humana. em<br />
muitas obras, a homenagem ao<br />
trabalho e a ideia de construção<br />
são evidentes, especialmente<br />
no <strong>que</strong> se refere aos materiais<br />
aplica<strong>do</strong>s. Nas suas instalações<br />
surgem repetidamente luzes<br />
florescentes, caixilhos de<br />
alumínio, janelas, portas, vidro,<br />
ladrilhos, cabos eléctricos, etc.<br />
ou seja, to<strong>do</strong>s a<strong>que</strong>les materiais<br />
<strong>que</strong> se podem encontrar dentro<br />
de um estaleiro, sejam novos<br />
ou desperdícios. Neste ultimo<br />
aspecto, é até de referir <strong>que</strong><br />
os materiais são, em geral,<br />
convoca<strong>do</strong>s como elementos<br />
para a construção de uma<br />
memória colectiva, o <strong>que</strong> <strong>tem</strong><br />
grande relevância em grande<br />
parte <strong>do</strong>s seus trabalhos. o<br />
próprio processo de execução<br />
das obras foi sen<strong>do</strong> enfatiza<strong>do</strong><br />
e, a título de exemplo, a última<br />
exposição <strong>do</strong> Centro de Arte<br />
de moderna propunha ao<br />
especta<strong>do</strong>r conviver com<br />
View the grid, 2006 I dreamt your house was a line, 2003<br />
22<br />
o universo <strong>do</strong> trabalho em<br />
execução. Por tu<strong>do</strong> isso,<br />
diria <strong>que</strong> a obra de PedRo<br />
CAbRitA Reis <strong>tem</strong> ganho uma<br />
dimensão dramática, no fun<strong>do</strong>,<br />
a vida de qual<strong>que</strong>r um de nós,<br />
visto em retrospectiva.<br />
até 02.10.2011<br />
museu beRAR<strong>do</strong><br />
praça <strong>do</strong> império<br />
lisboa<br />
Para os atletas "after-hours"
um conjunto de obras da artista<br />
brasileira beatriz milhazes,<br />
constituí<strong>do</strong> por telas de grandes<br />
dimensões, um mobile e várias<br />
gravuras, vão circular em<br />
vários espaços institucionais<br />
europeus entre eles, a Fundação<br />
Gulbenkian. são as últimas obras<br />
da artista e serão apresentadas,<br />
pela primeira vez, na Galerie<br />
max Hetzer, de berlim. dada<br />
a reduzida produção anual e<br />
o eleva<strong>do</strong> nível de procura, a<br />
artista <strong>tem</strong> ti<strong>do</strong> a opção de<br />
fazer circular o maior <strong>tem</strong>po<br />
possível as obras realizadas.<br />
A morosidade de cada quadro<br />
depende da técnica sui generis<br />
de beatriz milhazes. Começa por<br />
pintar com tinta acrílica sobre<br />
folhas de plástico <strong>que</strong> depois<br />
usa como transfer. A imagem<br />
nasce de um decal<strong>que</strong> feito por<br />
you muST<br />
ínfimas partes <strong>que</strong> se sobrepõem<br />
até construir a imagem total.<br />
o seu trabalho pode ser<br />
visto de diferentes prismas.<br />
Remete-nos para o universo<br />
popular e feminino. Alguns <strong>do</strong>s<br />
seus críticos têm referi<strong>do</strong> as<br />
influências das artes decorativas,<br />
dan<strong>do</strong> como exemplo os padrões<br />
típicos da chita, o trabalho<br />
intrinca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s borda<strong>do</strong>s.<br />
T — Francisco Vaz Fernandes<br />
Four Seasons, 2010<br />
Contu<strong>do</strong>, o seu trabalho também<br />
é forma<strong>do</strong> por referências<br />
eruditas, nomeadamente, as<br />
<strong>que</strong> se referem ao paisagista<br />
Roberto burle marx, <strong>que</strong><br />
deixou uma marca profunda<br />
na paisagem e na arquitectura<br />
<strong>do</strong> Rio de Janeiro com a qual<br />
convive diariamente. Ainda nesta<br />
perspectiva, a sua pintura pode<br />
ser vista como o seguimento<br />
<strong>do</strong> mesmo impulso modernista<br />
interpreta<strong>do</strong> pelo sentimento<br />
tropicalista, ten<strong>do</strong> tarsila <strong>do</strong><br />
Amaral como referência.<br />
No entanto, grande parte <strong>do</strong><br />
seu sucesso internacional<br />
explica-se de forma mais simples.<br />
o la<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> das formas,<br />
a presença de cores fortes e<br />
os efeitos psicadélicos fazem<br />
sempre lembrar o êxtase <strong>do</strong>s<br />
senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> encontramos<br />
B e a t r i z<br />
M i l h a z e s<br />
10.09—05.11.11<br />
GAleRie mAx HetzleR<br />
berlim, alemanha<br />
Spring Love, 2010 Summer Love, 2010<br />
24<br />
na Arte barroca, assim como<br />
no Carnaval, e <strong>que</strong> vão ao<br />
encontro da expectativa de um<br />
estrangeiro sobre o brasil. talvez<br />
isso, por si, expli<strong>que</strong> <strong>que</strong>, a 15<br />
de maio de 2008, uma pintura<br />
de beatriz milhazes datada de<br />
2001, tenha si<strong>do</strong> vendida na<br />
sotheby’s, em Nova ior<strong>que</strong>,<br />
por um valor recorde acima<br />
de um milhão de dólares.<br />
SAGATEX, LDA – Tel: +351 22 5089160 – sagatex@net.novis.pt
Pr o u vé<br />
R<br />
w<br />
a<br />
A G-stAR, em colaboração com a<br />
VitRA, recriou vários modelos de<br />
mobiliário propostos por JeAN<br />
PRouVÉ (1901-1984), arquitecto<br />
modernista francés cujo lega<strong>do</strong><br />
<strong>tem</strong> si<strong>do</strong> reavalia<strong>do</strong> e mereci<strong>do</strong><br />
diversas retrospectivas nos<br />
últimos anos. JeAN PRouVÉ<br />
trouxe para a arquitectura<br />
soluções pré-fabricadas,<br />
ten<strong>do</strong> a funcionalidade como<br />
principal critério. Alguns<br />
<strong>do</strong>s seus melhores projectos<br />
foram concebi<strong>do</strong>s para África,<br />
onde equacionou o programa<br />
modernista à realidade de<br />
um clima tropical, crian<strong>do</strong><br />
soluções interessantes.<br />
esta iniciativa da G-stAR<br />
integra-se dentro <strong>do</strong> programa<br />
Raw Crossover <strong>que</strong> <strong>tem</strong> como<br />
objectivo levar a marca para além<br />
das suas fronteiras naturais e<br />
abraçar projectos com os quais<br />
sente afinidades. o espírito<br />
objectivo e prático de PRouVÉ<br />
foi sempre aprecia<strong>do</strong> pela equipa<br />
de criativos da G-stAR, <strong>que</strong><br />
costumava ter no seu atelier<br />
várias cadeiras originais deste<br />
arquitecto. As nove edições<br />
especiais (reinterpretações<br />
<strong>que</strong> introduzem os valores<br />
criativos da G-stAR) estarão<br />
disponiveis nas lojas VitRA.<br />
T — Maria São Miguel Tamborete Solvay, 1951<br />
www.vitra.com<br />
Sofá, 1939<br />
you muST<br />
Jean Prouvé<br />
Cadeirão cité , 1930<br />
vista geral da exposição durante a Art Basel, 2011<br />
26
Ba r ber<br />
&<br />
Osg erby<br />
T — Carla Carbone<br />
Quan<strong>do</strong> começarem as<br />
comemorações <strong>do</strong>s Jogos<br />
olímpicos de londres, a tocha<br />
<strong>que</strong> acompanhará os eventos<br />
da abertura deambulará <strong>pelas</strong><br />
ruas desta cidade cosmopolita<br />
passará por várias mãos. A dupla<br />
de designers edWARd bARbeR<br />
e JAY osGeRbY foi encarregue<br />
de criar esta tocha <strong>que</strong> será<br />
exibida nas próximas olimpíadas.<br />
A forma triangular da tocha é<br />
perfurada, na superfície <strong>do</strong>urada,<br />
por cerca de 8000 orifícios<br />
circulares representan<strong>do</strong> os 8000<br />
caminhantes <strong>que</strong> a transportam.<br />
bARbeR e osGeRbY, mais <strong>do</strong><br />
<strong>que</strong> captarem a nossa atenção<br />
por terem cria<strong>do</strong> a futura tocha<br />
olímpica, despertam também<br />
a nossa curiosidade por terem<br />
M ob i<br />
l e<br />
t e s<br />
F — Inês Honra<strong>do</strong><br />
T — Maria São Miguel<br />
mobiletes são as últimas<br />
criações <strong>do</strong> estúdio PedRitA,<br />
apresentadas pela primeira<br />
vez na galeria show me, de<br />
braga, no início <strong>do</strong> ano. A série,<br />
construída por cinco modelos<br />
em madeira, apresenta perfis<br />
muito semelhantes, varian<strong>do</strong><br />
apenas segun<strong>do</strong> o potencial de<br />
uso. Não são declaradamente<br />
defini<strong>do</strong>s em termos de função,<br />
you muST<br />
Tocha Olímpica<br />
cria<strong>do</strong>, recen<strong>tem</strong>ente, a cadeira<br />
tip ton para a emblemática<br />
VitRA. A tip ton serve para<br />
sentar em <strong>do</strong>is ângulos e lembra<br />
muito uma cadeira de baloiço,<br />
mas numa versão um pouco<br />
radical. esta cadeira existe em<br />
diversas cores fornecidas pela<br />
VitRA e é feita em polipropileno,<br />
um polímero deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
www.pedrita.net www.barberosgerby.com<br />
na verdade, como os próprios<br />
informam, os mobiletes estão<br />
no limiar entre o acessório e<br />
mobiliário e, como tal, à procura<br />
propeno e 100% reciclável.<br />
este material vem identifica<strong>do</strong><br />
no verso <strong>do</strong> objecto com um<br />
símbolo triangular ostentan<strong>do</strong><br />
o número cinco no seu centro e<br />
duas letras “PP” na sua base.<br />
A cadeira, produzida num<br />
único molde, dispensa o uso<br />
de componentes mecânicos,<br />
tornan<strong>do</strong>-a por isso mais<br />
durável. No plano ergonómico,<br />
a cadeira tip ton desenvolve<br />
a actividade muscular no<br />
abdómen e nas costas, fornece<br />
ainda oxigénio para o corpo<br />
e promove a concentração.<br />
Tip Ton, (Vitra, 2011)<br />
Mobiletes, no Palácio Quintela Farrobo (EXD2011).<br />
28<br />
de um lugar próprio <strong>que</strong> apenas<br />
estará completo com a sua<br />
integração no espaço e de acor<strong>do</strong><br />
com a funcionalidade a<strong>do</strong>ptada.<br />
presented by<br />
06 07 08 09<br />
OUTUBRO 2011<br />
Terreiro <strong>do</strong> Paço/Pátio da Galé<br />
Verão/Summer 2012<br />
www.modalisboa.pt
B e gin<br />
n er s<br />
T — Maria João Teixeira<br />
Já nos cinemas, "Assim é o<br />
Amor" —beginners no original,<br />
cujo titulo português não faz<br />
justiça— é o filme indie de<br />
mike mills, perfeito para a<br />
reentrée cinematográfica. Com<br />
eWAN mCGReGoR no papel<br />
principal, maravilhosamente<br />
acompanha<strong>do</strong> por CHistoPHeR<br />
PlummeR e mÉlANie lAuReNt,<br />
o filme acompanha a crise<br />
existencial de um ilustra<strong>do</strong>r,<br />
marca<strong>do</strong> pela morte da mãe<br />
<strong>que</strong> sobre as confissões e<br />
recordações <strong>do</strong> pai, reconstroí<br />
a sua existência implodida<br />
depois <strong>do</strong> sucesso de<br />
thumbsucker, mike mills não<br />
o primeiro encontro entre os<br />
iNteRPol e o sr. dAVid lYNCH<br />
faz lembrar uma das 11 curtas<br />
<strong>do</strong> Coffee and Cigarettes <strong>do</strong><br />
Jim JARmusCH. Não sabemos<br />
se falaram sobre a ressurreição<br />
de elvis, famílias disfuncionais<br />
ou sobre o Rock ou o Pop ou<br />
sobre o uso da nicotina como<br />
insecticida. mas falaram sobre<br />
café e <strong>do</strong> café orgânico produzi<strong>do</strong><br />
pela empresa <strong>do</strong> cineasta<br />
(david lynch signature Cup<br />
Coffee), de cenas <strong>do</strong> Fire Walk<br />
With me, com CHRis isAAk e<br />
you muST<br />
teve problemas em revisitar as<br />
<strong>do</strong>res <strong>do</strong> crescimento e escrever<br />
um argumento biográfico com<br />
uma encenação sob a forma de<br />
pop lírico, segun<strong>do</strong> as palavras<br />
<strong>do</strong> próprio. Vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da<br />
publicidade e da música, mills<br />
conseguiu cruzar referências<br />
e construir uma linguagem<br />
única, talvez comparáveis a<br />
uma soFiA CoPPolA cheia de<br />
kieFeR sutHeRlANd and some<br />
memorable quotes. e dessa<br />
conversa solta e sem agenda<br />
resultou um compromisso, um<br />
esboço para uma colaboração<br />
de dAVid lYNCH no espectáculo<br />
<strong>do</strong>s iNteRPol a realizar-se em<br />
indio, na Califórnia. o Coachella<br />
Valley music and Arts Festival,<br />
mais conheci<strong>do</strong> como Coachella<br />
Fest ou simplesmente Coachella,<br />
evento anual de música e arte.<br />
Nos seus concertos, os iNteRPol<br />
sempre <strong>que</strong> tocavam a música<br />
lights faziam-no envoltos em<br />
vontade de rir. ou seja, ficamos<br />
com uma história acessível e<br />
esperançosa sobre os cépticos<br />
modernos, perfeita para curar<br />
a ressaca das famosas loucuras<br />
de Verão e desgostos diversos.<br />
um feelgood movie disfarça<strong>do</strong><br />
de feelbad movie. e não, não<br />
é uma comédia romântica. É<br />
qual<strong>que</strong>r coisa de novo. Cinema<br />
etéreo sem mais nem menos.<br />
I T o u c h<br />
a R e d<br />
B ut t o n M a n T — Indrid Rodrigues<br />
30<br />
luzes vermelhas. e, coincidências<br />
das improváveis mas <strong>que</strong><br />
vinha mesmo a calhar, dAVid<br />
lYNCH achou <strong>que</strong> talvez eles<br />
achassem curiosa uma pe<strong>que</strong>na<br />
personagem de animação <strong>que</strong> ele<br />
tinha cria<strong>do</strong>, i touch A Red button<br />
man. desta conversa o elvis<br />
pode não ter ressuscita<strong>do</strong>, mas<br />
o <strong>tem</strong>a lights com a animação<br />
de dAVid lYNCH, erguer-se-á<br />
das cinzas com toda a certeza.<br />
o single sairá a 3 de se<strong>tem</strong>bro.
R o d r i g o<br />
A r e i a s<br />
Com a casa esgotada, na<br />
abertura oficial <strong>do</strong> 19º Festival<br />
de Curtas de Vila <strong>do</strong> Conde,<br />
RodRiGo AReiAs passeava<br />
calmo entre <strong>que</strong>m aguardava<br />
expectante a <strong>apresentação</strong><br />
<strong>do</strong> seu filme estrada de Palha.<br />
“está atrasa<strong>do</strong>”, terá dito<br />
mais ou menos 500 vezes. É<br />
um velho conheci<strong>do</strong> deste<br />
festival, premia<strong>do</strong> em 2008 com<br />
a sua curta Corrente e <strong>desde</strong><br />
então não mais <strong>tem</strong> falta<strong>do</strong>.<br />
Com música de RitA Red sHoes<br />
e leGeNdARY tiGeRmAN,<br />
estrada de Palha, a sua<br />
longa em formato western,<br />
apresentar-se-ia nesta noite<br />
como filme concerto, musica<strong>do</strong><br />
ao vivo. Feito com o orçamento<br />
de uma curta, <strong>tem</strong> por base os<br />
escritos de desobediência Civil<br />
de tHoReAu <strong>que</strong> <strong>que</strong>stiona o<br />
respeita<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>que</strong> não<br />
se dá ao respeito. Ainda sem<br />
data de estreia prevista, este<br />
fileme centra-se na acção de um<br />
português, cidadão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
<strong>que</strong> regressa para vingar a morte<br />
<strong>do</strong> irmão, enquanto traduz<br />
tHoReAu. encontra um país<br />
em convulsão social e política<br />
num perío<strong>do</strong> pós regicídio.<br />
<strong>do</strong>mina a lei <strong>do</strong> mais forte, e<br />
Ricar<strong>do</strong> Areias e Victor<br />
Correia em cena de rodagem<br />
de Estrada de Palha.<br />
you muST<br />
travará algumas cruzadas morais.<br />
desistir? lutar? Resignar?<br />
Recusan<strong>do</strong> uma leitura simples<br />
da metáfora sobre Portugal,<br />
o <strong>que</strong> <strong>do</strong>mina neste filme de<br />
AReiAs é uma reflexão política<br />
e filosófica in<strong>tem</strong>poral, sobre<br />
o esta<strong>do</strong> versus cidadão, cuja<br />
actualidade é incontornável.<br />
Portugalidade á parte, é certo<br />
<strong>que</strong> será uma obra apreciada e<br />
compreendida nos quatro cantos<br />
<strong>do</strong> planeta, perante a grandeza<br />
<strong>do</strong> seu <strong>tem</strong>a, simplicidade da sua<br />
câmara e estética narrativa <strong>que</strong><br />
muitas vezes faz lembrar Homem<br />
morto, de Jim JARmusCH.<br />
Com 32 anos RodRiGo AReiRAs<br />
<strong>que</strong> reside em Guimarães de<br />
onde grita a necessidade de<br />
descentralização e descreve de<br />
forma caricatural as viagens<br />
a lisboa resolveu sediar na<br />
sua cidade a ban<strong>do</strong> á Parte,<br />
um aglomera<strong>do</strong> criativo sob<br />
forma de produtora, onde se<br />
juntam muitos <strong>do</strong>s nomes <strong>que</strong><br />
nos fazem encarar o futuro<br />
<strong>do</strong> cinema Português com um<br />
brilho nos olhos. Gente <strong>que</strong><br />
não <strong>tem</strong> me<strong>do</strong> da analogia<br />
ao cinema de GodARd e <strong>que</strong><br />
sabe trabalhar numa lógica de<br />
guerrilha, fazen<strong>do</strong> filmes em<br />
32<br />
T — Maria João Teixeira<br />
contínuo, com baixíssimos<br />
orçamentos e enormes sacrifícios<br />
pessoais. Formam um núcleo<br />
coeso e bastante á parte.<br />
mas se vive no ambiente <strong>do</strong><br />
cinema, RodRiGo também<br />
nunca se afastou de uma outra<br />
paixão, a música. Realiza<br />
vídeos e é cúmplice audiovisual<br />
permanente de PAulo FuRtA<strong>do</strong>,<br />
leGeNdARY tiGeRmAN. um<br />
verdadeiro cineasta rock n´roll,<br />
<strong>que</strong> também é músico quan<strong>do</strong><br />
<strong>tem</strong> <strong>tem</strong>po. <strong>tem</strong>po, coisa <strong>que</strong><br />
por estes dias é o <strong>que</strong> mais<br />
precisa depois de aceitar<br />
coordenar to<strong>do</strong> o cinema da<br />
Guimarães Capital da Cultura.<br />
Despomar Lda, 261860 900<br />
nixonnow.com
M a r ia<br />
I m a g i ná rio<br />
“A maria imaginário é a edNA,<br />
<strong>tem</strong> 25 anos, estu<strong>do</strong>u ilustração<br />
e bd na Arco, não sabe bem se é<br />
ilustra<strong>do</strong>ra ou pintora mas sabe<br />
<strong>que</strong> é apaixonada pelo <strong>que</strong> faz.”<br />
É assim <strong>que</strong> se descreve a artista<br />
<strong>que</strong> descobriu o seu lugar no<br />
desenho, apesar de ter sonha<strong>do</strong><br />
ser maria bailarina, astronauta,<br />
nada<strong>do</strong>ra-salva<strong>do</strong>ra e agricultora.<br />
os gela<strong>do</strong>s colori<strong>do</strong>s <strong>que</strong> pintou<br />
nas paredes velhas da cidade<br />
de lisboa, são hoje uma das<br />
suas principais referências. No<br />
entanto a maior parte <strong>do</strong> seu<br />
trabalho encontra-se em papel e<br />
telas, sen<strong>do</strong> a street art apenas<br />
“uma extensão <strong>do</strong> meu trabalho,<br />
mas por estar à vista de to<strong>do</strong>s<br />
ganha mais projecção”. outro<br />
projecto <strong>que</strong> teve uma grande<br />
aceitação foi o “coraçãozinho de<br />
T — Margarida Brito Paes<br />
you muST<br />
merda” inspira<strong>do</strong> no “cliché <strong>do</strong><br />
coração parti<strong>do</strong> e <strong>do</strong> desamor,<br />
<strong>que</strong> é um <strong>tem</strong>a <strong>que</strong> já bateu<br />
à porta de quase to<strong>do</strong>s nós<br />
e com o qual nos podemos<br />
identificar.” <strong>tem</strong> recebi<strong>do</strong> muitos<br />
convites para participar em<br />
exposições, sen<strong>do</strong> os últimos<br />
uma intervenção num camião<br />
<strong>do</strong> lixo ou, no âmbito WiNe<br />
tAlks & ARts, um conjunto de<br />
www.flickr.com/photos/maria_imaginario/<br />
Quan<strong>do</strong> o vinho entra o juízo sai, 3m x 3m. Wine Talks & Arts.<br />
ler entrevista<br />
completa em<br />
www.parqmag.com<br />
34<br />
After The Utopia<br />
desenhos e instalação em torno<br />
<strong>do</strong> <strong>tem</strong>a <strong>do</strong> vinho. de momento<br />
está a aprender a fazer croché,<br />
depois <strong>que</strong>r aprender a arte da<br />
cerâmica e ter mais bases de<br />
escultura, a fim de tornar o seu<br />
trabalho ainda mais completo e<br />
continuar a derreter os corações<br />
mais endureci<strong>do</strong>s com os<br />
seus desenhos de menina.<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
Go Fo r t h<br />
T — Margarida Brito Paes<br />
you muST you muST<br />
www.goforth.levi.com/<br />
Joe HatcHiban, por VHiLS, na chausseestr. 36, berlin Mitte.<br />
making-of em<br />
www.parqmag.com<br />
A leVis lançou-se nas ruas de<br />
berlim para celebrar o espírito<br />
Go Forth, a nova plataforma<br />
da marca <strong>que</strong> vem unir moda e<br />
arte, como formas de lembrar<br />
e reafirmar os valores sociais.<br />
berlim foi a primeira de quatro<br />
cidades onde se desenvolveram<br />
actividades para celebrar a<br />
nova plataforma, ten<strong>do</strong>-se<br />
realiza<strong>do</strong> vários workshops<br />
para além de um conjunto de<br />
murais cria<strong>do</strong>s por AlexANdRe<br />
FARto, mais conheci<strong>do</strong> como<br />
“VHils”. o artista português<br />
(entrevista<strong>do</strong> na última edição<br />
da PARQ) compôs uma série de<br />
retratos, com a técnica <strong>que</strong> lhe<br />
é particular, de 4 mora<strong>do</strong>res<br />
de berlim <strong>que</strong> no seu dia-a-dia<br />
representam os ideais da<br />
Go Forth. Joe HAtCHibAN é<br />
funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> kARAoke beARPit<br />
Fadi Saad, por VHiLS, na Revalerstrasse<br />
99, Berlin Friedrichshain.<br />
de berlim, um projecto <strong>que</strong><br />
junta centenas de pessoas<br />
para uma tarde de karaoke ao<br />
ar livre. sVeN mARQuARdt<br />
é uma figura carismática da<br />
cidade <strong>que</strong> <strong>tem</strong> <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>,<br />
através das suas fotografias a<br />
preto e branco, as subculturas<br />
<strong>que</strong> a cidade <strong>tem</strong> desenvolvi<strong>do</strong>.<br />
FAdi sAAd dedica-se, através<br />
<strong>do</strong> associativismo, à integração<br />
<strong>do</strong>s imigrantes a<strong>do</strong>lescentes na<br />
sociedade alemã. e por fim, o<br />
artista por detrás de VARious &<br />
Gould, dedica-se à street art.<br />
os workshops, <strong>que</strong> se repe<strong>tem</strong><br />
Sven Marquardt, por<br />
vHILS, na Potsdamer Str.<br />
151, Berlin Schoeneberg.<br />
Various & Gould, por VHils, na schillingsbruecke, junto a ostbahnhof.<br />
36 37<br />
ainda em são Francisco, Nova<br />
io<strong>que</strong> e londres, con<strong>tem</strong>plam<br />
a serigrafia, pretenden<strong>do</strong><br />
homenagear o handmade<br />
e interiorizar os princípios<br />
da arte e inovação.
A louis VuittoN convi<strong>do</strong>u<br />
o artista FRANçois CAdièRe<br />
para fazer as imagens da nova<br />
colecção de lenços da marca.<br />
o fotógrafo, conheci<strong>do</strong> <strong>pelas</strong><br />
suas influências surrealistas e<br />
pela mistura de ilustração com<br />
fotografia, criou oito postais <strong>que</strong><br />
mostram diferentes maneiras<br />
originais de usar os lenços de<br />
seda da louis VuittoN.<br />
Para esta estação, mARC<br />
JACobs não se limitou a reeditar<br />
os tradicionais lenços, já <strong>que</strong><br />
para além <strong>do</strong>s clássicos criou<br />
ainda outros modelos com<br />
franjas, berlo<strong>que</strong>s e laços. os<br />
padrões por sua vez inspiraramse<br />
na mítica cidade de berlim e<br />
misturam vários <strong>do</strong>s <strong>tem</strong>as já<br />
you muST you muST<br />
Fr a n ç oi s<br />
explora<strong>do</strong>s pela marca francesa<br />
como por exemplo os mapas,<br />
os corações, padrões leopar<strong>do</strong><br />
e, como não podia deixar de<br />
ser, o monograma da marca.<br />
uma colecção rica em padrões<br />
e estilos, <strong>que</strong> se adapta a um<br />
público mais jovem, responden<strong>do</strong><br />
com prontidão à tendência<br />
crescente de transformar os<br />
lenços em peças-chave no<br />
guarda-roupa feminino.<br />
www.louisvuitton.com<br />
Ca d i è r e<br />
T — Margarida Brito Paes<br />
S h aun<br />
S a m<br />
s on<br />
T — Francisco Vaz Fernandes<br />
sHAuN sAmsoN ganhou<br />
o prémio <strong>do</strong> international talent<br />
support, mais conheci<strong>do</strong> por<br />
its. Na sua 10ª edição, este<br />
prémio apoia<strong>do</strong> pela diesel<br />
continua a ser um <strong>do</strong>s mais<br />
importantes, reunin<strong>do</strong> um jurí<br />
notável constituí<strong>do</strong> por ViktoR<br />
& RolF, HilARY AlexANdeR,<br />
ANtoNio beRARdi, ReNzo<br />
Rosso e mANdi leNNARd.<br />
Finalista da Central saint martin<br />
of Art de londres, o jovem<br />
cria<strong>do</strong>r americano apresentou<br />
uma colecção de homem onde<br />
se propõem transpor to<strong>do</strong>s<br />
os códigos tipifica<strong>do</strong>s de um<br />
look grunge, propon<strong>do</strong> uma<br />
www.itsweb.org<br />
imagem vibrante e futurista<br />
marcada por silhuetas fluídas<br />
e ten<strong>do</strong> por base o xl. Até ao<br />
joelho com campos em xadrez<br />
e cores sobrepostas, estas<br />
criações surgem-nos como telas<br />
e fazem-nos pensar na pintura<br />
“Faça chuva, faça sol” parece<br />
ser o novo lema da empresa<br />
HAViANAs. Para além <strong>do</strong> chinelo<br />
de de<strong>do</strong> mais conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>, a marca vem agora<br />
propor umas galochas para os<br />
dias de chuva. Aproveitam a<br />
qualidade da borracha como<br />
38 39<br />
de RotHko. se a esse nome<br />
juntarmos a evocação de kuRt<br />
CobAiN teríamos <strong>que</strong> colocar<br />
sHAuN sAmsoN ao la<strong>do</strong> de<br />
uma espiritualidade americana.<br />
Colecção de Shaun Samson<br />
F a ça<br />
C<br />
hu v a<br />
www.havaianas.com<br />
T — Maria São Miguel<br />
matéria-prima base para as<br />
galochas e tu<strong>do</strong> o resto é alma<br />
tropical. Por isso, há muitas<br />
cores inesperadas e impressões<br />
divertidas. A partir de agora,<br />
um dia de chuva deixa de ser<br />
sinónimo de um dia cinzento.
T — Margarida Brito Paes<br />
D i e s e l<br />
depois <strong>do</strong> sucesso da primeira<br />
colaboração com a AdidAs, a<br />
diesel volta repetir a parceria,<br />
propon<strong>do</strong> uma linha de ténis<br />
<strong>que</strong> “é a colisão de <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s,<br />
de duas atitudes similares<br />
perante a vida e a criatividade”.<br />
Ainda assim esta “<strong>tem</strong> mais<br />
AdN diesel <strong>que</strong> a primeira<br />
colaboração, já <strong>que</strong> foi buscar<br />
muita da inspiração ao mun<strong>do</strong><br />
diesel, tanto ao vestuário de<br />
trabalho e aos tratamentos <strong>do</strong>s<br />
materiais como a elementos<br />
típicos das colecções da diesel.”<br />
mas o <strong>que</strong> têm estes ténis de<br />
diferente <strong>do</strong>s já antes fabrica<strong>do</strong>s<br />
pela marca? segun<strong>do</strong> steFANo<br />
Centennial Mid<br />
Rosso esta é uma colecção<br />
“especial e exclusiva. Não<br />
<strong>que</strong>ríamos criar em grande<br />
quantidade, por<strong>que</strong> esta não<br />
é uma operação comercial”.<br />
ZX 700<br />
you muST you muST<br />
Forum Mid Leather Jacket<br />
Assim estes ténis pretendem<br />
ser “objectos de desejo para fãs<br />
e colecciona<strong>do</strong>res de ambas as<br />
marcas”. envolvi<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os<br />
processos da parceria, steFANo<br />
Rosso assume a sua paixão<br />
por ténis e confessa <strong>que</strong> a<strong>do</strong>ra<br />
“comprar todas as edições<br />
+<br />
especiais de ténis <strong>que</strong> encontra,<br />
quan<strong>do</strong> está a viajar”, talvez por<br />
isso tenha si<strong>do</strong> ele o escolhi<strong>do</strong><br />
para dar a cara pela parceria!<br />
Quan<strong>do</strong> <strong>que</strong>stiona<strong>do</strong> sobre<br />
as motivações <strong>que</strong> levaram a<br />
AdidAs e a diesel a juntarem-se<br />
novamente, steFANo assume<br />
a sua responsabilidade. “eu<br />
sou um grande fã da Adidas, e<br />
essa marca fez parte <strong>do</strong> meu<br />
imaginário enquanto crescia.”<br />
mas não foi apenas este fascínio<br />
pela marca desportiva <strong>que</strong><br />
motivou o projecto. “depois da<br />
fantástica colaboração de denim,<br />
onde o conhecimento da diesel<br />
se juntou ao espírito da AdidAs,<br />
nós decidimos fazer o contrário<br />
para começar um novo capitulo<br />
nesta parceria: a herança das<br />
duas marcas juntam-se aplican<strong>do</strong><br />
a nossa essência nos clássicos<br />
ténis AdidAs!” uma parceria <strong>que</strong><br />
promete ser um sucesso e virar<br />
a cabeça de to<strong>do</strong>s os amantes<br />
de ténis. steFANo Rosso já<br />
escolheu os seus preferi<strong>do</strong>s: os<br />
Centennial. Resta esperar pela<br />
colecção e escolheres os teus!<br />
Stan Smith Mid<br />
entrevista de<br />
stefano Rosso e colecção<br />
completa em<br />
www.parqmag.com<br />
Ad i d a s<br />
esta estação, a tecnologia<br />
hyperfuse é a grande novidade da<br />
Nike no <strong>que</strong> se refere ao calça<strong>do</strong>.<br />
esta tecnologia permite <strong>que</strong> as<br />
placas <strong>que</strong> compõem o sneaker<br />
sejam prensadas, pon<strong>do</strong> de<br />
parte todas as costuras. testada<br />
em primeiro lugar no calça<strong>do</strong><br />
Nike Force One Hyperfuse<br />
para bas<strong>que</strong>tebol, só agora é<br />
aplicada na linha de moda Nike<br />
sPoRtsWeAR, procuran<strong>do</strong><br />
explorar outros efeitos estéticos<br />
e trazen<strong>do</strong> uma nova alma aos<br />
clássicos da Nike. esta tecnologia<br />
trabalha com materiais mais<br />
leves e menos espessos, alguns<br />
deles transparentes sobre outros<br />
fluorescentes. em contraste,<br />
deixam a nu a tal sobreposição e<br />
placagem de camadas a partir da<br />
tecnologia hyperfuse. Até agora, a<br />
nova estética desportiva aplicouse<br />
às silhuetas <strong>do</strong> Air Force one,<br />
Air max one e Air max 90. Cada<br />
um desses modelos icónicos<br />
mantém-se livre de superfícies<br />
acidentadas, tal como é exigi<strong>do</strong><br />
actualmente a um sapato de<br />
alta competição. Nesse aspecto,<br />
hyperfuse é mais um passo<br />
na orientação da marca em<br />
direcção ao avanço tecnológico,<br />
H yp er f u s e<br />
T — Francisco Vaz Fernandes<br />
Windrunner Hyperfuse<br />
ao serviço <strong>do</strong> desporto e à sua<br />
aplicação no campo da moda,<br />
exploran<strong>do</strong> novos efeitos visuais<br />
<strong>que</strong> as recentes tecnologias<br />
40 41<br />
permi<strong>tem</strong>. Cortes e colagens<br />
laser foram os primeiros sinais.<br />
Agora <strong>tem</strong>os hyperfuse, cujo<br />
fabrico aerodinâmico e aspecto<br />
minimalista irá ainda passar pelo<br />
clássico casaco Windrunner.<br />
Air Max 90 Hyperfuse Air Max 90 Hyperfuse<br />
Nike Hyperfuse Dunk High<br />
Nike Air Max One Hyperfuse<br />
www.nikesportswear.com
Fr e d<br />
the Pick district é o primeiro<br />
par<strong>que</strong> nacional britânico e<br />
a grande fonte de inspiração<br />
para a colecção masculina<br />
da FRed PeRRY. inaugura<strong>do</strong><br />
em 1951, o par<strong>que</strong> incentivou<br />
toda uma geração à prática<br />
<strong>do</strong> desporto. As caminhadas e<br />
os grandes passeios a cavalo<br />
T — Margarida Brito Paes<br />
you muST you muST<br />
criaram trajes muito próprios<br />
e tradicionais na década de 50.<br />
e é este o espírito vintage <strong>que</strong><br />
a FRed PeRRY recupera para<br />
o próximo inverno, com cores<br />
neutras e padrões axadreza<strong>do</strong>s.<br />
No <strong>que</strong> diz respeito aos teci<strong>do</strong>s<br />
são as malhas e os algodões<br />
<strong>que</strong> pre<strong>do</strong>minam, tanto na<br />
colecção de homem como na<br />
de mulher. A última referida<br />
também foi buscar a sua essência<br />
ao passa<strong>do</strong>, remeten<strong>do</strong>-nos<br />
para o espírito de libertação e<br />
emancipação da mulher. Assim<br />
www.fredperry.com<br />
a roupa desportiva <strong>do</strong> meio <strong>do</strong><br />
século xx, revela-se uma forte<br />
influência para o próximo inverno,<br />
onde as peças-chave <strong>do</strong> guardaroupa<br />
feminino são os pólos, as<br />
parkas e os vesti<strong>do</strong>s camiseiro.<br />
duas colecções <strong>que</strong> nos levam<br />
para o espírito das caminhadas<br />
e <strong>do</strong> contacto com natureza.<br />
P e r r y<br />
Casual, descontraída mas sempre<br />
confortável, mesmo quan<strong>do</strong><br />
trazem modelos de salto alto,<br />
assim se define a colecção da<br />
CAmPeR para esta nova estação.<br />
Focan<strong>do</strong> a atenção apenas nas<br />
edições de sapatos rasos, uma<br />
das maiores surpresas vem da<br />
linha together, em colaboração<br />
com beRNHARd WillHelm, um<br />
Peu Pista<br />
<strong>do</strong>s principais enfant terribles da<br />
moda actual. o designer criou<br />
um modelo de botas em cabedal<br />
preto, com aplicações metálicas<br />
em forma de caveira. sem dúvida,<br />
um mergulhar num universo<br />
gótico <strong>que</strong> o cria<strong>do</strong>r berlinense<br />
tão bem conhece. outra das<br />
tendências <strong>que</strong> a CAmPeR sabe<br />
explorar muito bem é o carácter<br />
manufactura<strong>do</strong> <strong>que</strong> se faz sentir<br />
no AdN da marca através das<br />
mãos de verdadeiros artesãos<br />
<strong>que</strong>, há mais de um século, se<br />
dedicam a fazer sapatos. Neste<br />
T — Maria São Miguel<br />
aspecto rústico e homemade,<br />
uma das linhas mais bem<br />
conseguidadas é a industrial<br />
RAiGueR WiNteR, uma espécie<br />
de mocassins primordiais, tanto<br />
para homem como para mulher.<br />
Apesar <strong>do</strong> aspecto artesanal (<strong>que</strong><br />
melhora com o uso), é um sapato<br />
sofistica<strong>do</strong>, com uma gáspea em<br />
pele, uma palmilha anatómica<br />
Pu para maior amortecimento e<br />
sola de borracha. Ainda dentro<br />
deste tipo de design, desta<strong>que</strong><br />
para os modelos da série<br />
C am p e r<br />
tWs (twins) <strong>que</strong>, em <strong>tem</strong>pos,<br />
foi uma das grandes marcas<br />
de identidade da CAmPeR,<br />
propon<strong>do</strong>, tal como hoje,<br />
uma espécie de mal-casa<strong>do</strong>s,<br />
dadas as óbvias diferenças <strong>do</strong>s<br />
pares. Ainda captan<strong>do</strong> esse<br />
espírito, mas com materiais<br />
mais urbanos e tecnológicos e<br />
responden<strong>do</strong> às necessidades<br />
de um waterproof, o modelo Peu<br />
Pista é um <strong>do</strong>s mais completos.<br />
Apresenta uma construção de<br />
costuras seladas <strong>que</strong> oferece<br />
protecção contra a água e o frio,<br />
ao passo <strong>que</strong> a sua palmilha<br />
87 Pu (com 87 esferas) garante<br />
um amortecimento suave.<br />
Together by Bernhard Willhelm Industrial Boite<br />
F<br />
Ver colecção<br />
completa em<br />
www.parqmag.com<br />
W<br />
Industrial Raiguer TWS<br />
TWS<br />
42 43<br />
www.camper.com
A CoNVeRse trouxe para esta<br />
estação alguns modelos de<br />
inspiração out<strong>do</strong>or <strong>que</strong> têm<br />
raízes no seu próprio passa<strong>do</strong>.<br />
durante a segunda Guerra<br />
mundial, a CoNVeRse modificou<br />
a sua produção de calça<strong>do</strong> para<br />
assim contribuir para os esforços<br />
de guerra, fabrican<strong>do</strong> as botas<br />
para to<strong>do</strong> o exército <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s<br />
uni<strong>do</strong>s. dentro desta categoria,<br />
as Classic boot Hi seguem a<br />
tendência out<strong>do</strong>or e montanha e<br />
vêm com os típicos ataca<strong>do</strong>res.<br />
Relativamente ao modelo Chuck<br />
All star, um modelo <strong>que</strong> esteve<br />
sempre na preferência <strong>do</strong>s jovens<br />
de várias gerações ligadas a<br />
movimentos de contra-cultura,<br />
nota-se um investimento em<br />
várias combinações de xadrez<br />
inspiradas no movimento<br />
grunge americano. Alguns deles<br />
trazem um revestimento de<br />
pelo por dentro, especialmente<br />
dirigi<strong>do</strong> ao público feminino.<br />
Para este mesmo público,<br />
e da<strong>do</strong> o sucesso <strong>que</strong> foi a<br />
primeira colaboração com a<br />
mARimekko, a linha premium da<br />
CoNVeRse volta a ter modelos<br />
de All star com padrões e<br />
cores vibrantes, entre os quais<br />
o da papoila, <strong>que</strong> continua<br />
Al l K e ds x<br />
Converse Lady All Star<br />
T — Maria São Miguel<br />
Converse by John Varvatos<br />
you muST you muST<br />
All Star x Marimekko<br />
Converse All Star<br />
Hi Dashing Tweed<br />
Converse Star Player<br />
Classic Trainer Suede<br />
a ser o ex-libris da marca de<br />
teci<strong>do</strong>s finlandesa. Ainda<br />
na linha premium, desta<strong>que</strong><br />
para os revestimentos nobres<br />
em tweed, um <strong>do</strong>s grandes<br />
símbolos ingleses <strong>do</strong> country<br />
gentleman <strong>que</strong> resulta numa<br />
fusão irreverente e irónica. outra<br />
mistura bem conseguida é a<br />
aplicação de teci<strong>do</strong>s mackintosh<br />
em modelos da JACk PuRCell,<br />
o topo de gama da CoNVeRse.<br />
totalmente impermeável,<br />
este teci<strong>do</strong> de lã ganha uma<br />
textura e perfeição raras.<br />
Converse Chuck Taylor<br />
All Star Boot Hi<br />
S t a r<br />
T — Maria São Miguel<br />
o cria<strong>do</strong>r americano mARk<br />
mCNAiRY, actualmente<br />
considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s maiores<br />
designers de calça<strong>do</strong> masculino,<br />
iniciou uma colaboração<br />
Como to<strong>do</strong>s os produtos<br />
típicos <strong>do</strong>s anos 80, também<br />
a G-shock faz parte desse le<strong>que</strong><br />
de revivalismos <strong>que</strong> o merca<strong>do</strong><br />
urbano consome. A marca<br />
G-shock nasceu dentro da CAsio<br />
em 1983, com o propósito de<br />
fazer um relógio ultra resistente<br />
para um merca<strong>do</strong> juvenil <strong>que</strong><br />
consumia na época muita ficção<br />
científica. A verdade, é <strong>que</strong> os<br />
relógios de origem japonesa<br />
pareciam-se com naves espaciais<br />
e os momentos <strong>que</strong> se perdiam<br />
com as imensas funcionalidades<br />
M a r k<br />
M c N a i ry<br />
com a keds propon<strong>do</strong>, para<br />
esta estação, um modelo<br />
desenvolvi<strong>do</strong> pela marca<br />
nos anos 50. No arquivo da<br />
keds, o modelo tinha o nome<br />
de booster e o trabalho de<br />
mCNAiRY foi actualizá-lo e<br />
dirigi-lo a um público urbano.<br />
são três edições exclusivas,<br />
disponíveis em três cores<br />
distintas: bege, azul-marinho e<br />
branco natural, a contrastar com<br />
N e x x<br />
Num país onde se fala<br />
constan<strong>tem</strong>ente da<br />
necessidade de inovação e<br />
empreen<strong>do</strong>rismo, registamos<br />
um bom exemplo inicia<strong>do</strong> por<br />
4 promotores com experiência<br />
no merca<strong>do</strong> das motas. estes<br />
aproveitaram um segmento<br />
carencia<strong>do</strong> para proporem um<br />
produto diferencia<strong>do</strong> dirigi<strong>do</strong><br />
essencialmente aos skooters. o<br />
pontapé de saída foi um capacete<br />
aberto muito re<strong>do</strong>n<strong>do</strong> revesti<strong>do</strong><br />
a denim (2006), o primeiro <strong>do</strong><br />
G — S h oc k<br />
<strong>do</strong>s relógios faziam viver<br />
em poucos centímetros<br />
quadra<strong>do</strong>s uma espécie de<br />
futurismo. Ficam aqui alguns<br />
<strong>do</strong>s modelos reedita<strong>do</strong>s <strong>que</strong><br />
estão no merca<strong>do</strong> português.<br />
44 45<br />
solas grossas de borracha. tal<br />
como as criações de mCNAiRY<br />
para a sua própria marca, NeW<br />
AmesteRdAN, estes sapatos são<br />
elegantes e com uma execução<br />
milimetricamente perfeita.<br />
género, despertan<strong>do</strong> por isso<br />
a atenção mundial a partir de<br />
blogs, sites e revistas e <strong>que</strong> ainda<br />
hoje representa o espírito criativo<br />
da Nexx. depois o x60 foi ten<strong>do</strong><br />
desenvolvimentos optan<strong>do</strong> por<br />
design retro, alguns deles com<br />
revestimentos em pele ou com<br />
elementos fluor <strong>que</strong> lhes permitiu<br />
concorrer com as marcas<br />
mais conhecidas. A qualidade<br />
<strong>do</strong> produto já é reconheci<strong>do</strong>,<br />
estan<strong>do</strong> hoje a desenvolver<br />
capacetes para a HuGo boss.<br />
T — Maria São Miguel T — Maria São Miguel
T — Cláudia Gavinho<br />
2 1 2<br />
VI P<br />
Are you on the list?<br />
depois de 212 ViP CARoliNA<br />
HeRReRA, um perfume<br />
inspira<strong>do</strong> no estilo de vida<br />
agita<strong>do</strong> de Nova ior<strong>que</strong>, surge<br />
agora a versão masculina da<br />
fragrância, 212 ViP CH for men.<br />
212 Vip Ch, eau de<br />
parfum, 50 ml, 57.40€<br />
212 Vip Ch men, eau de<br />
toilette, 50 ml, 67.44€<br />
o maior lancamento da beNeFit<br />
para este ano é a sua primeira<br />
linha de cuida<strong>do</strong>s faciais. b. Right<br />
Radiant skincare é composta<br />
por 8 produtos, em embalagens<br />
encanta<strong>do</strong>ramente vintage: triple<br />
Performing Facial emulsion<br />
you muST<br />
www.dior.com<br />
www.calvinklein.com<br />
www.benefitcosmetics.com<br />
(hidratante com FPs 15), total<br />
moisture Facial Cream (creme<br />
nutritivo), it’s Potent! eye Cream<br />
(creme de olhos), Foamingly<br />
Clean Facial Wash (espuma de<br />
limpeza), moisture Prep (tónico<br />
facial), ultra radiance (bruma),<br />
F a h r<br />
enh eit<br />
A nova água de colónia da<br />
conhecida fragrância para<br />
homem surge com uma base<br />
poderosa amadeirada fresca<br />
e conserva a assinatura<br />
característica original da<br />
violeta e <strong>do</strong> couro.<br />
aqua Fahrenheit, Dior, eau de<br />
toilette spray, 75 ml, 62.60€<br />
B. R i gh t<br />
46<br />
Refined Finish Facial Polish<br />
(esfoliante) e Remove it makeup<br />
Remover (desmaquilhante).<br />
Benefit, à venda em<br />
exclusivo na Sephora<br />
T — Cláudia Gavinho
marlboro<br />
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le coq sportif<br />
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onitsuka tiger camper<br />
clae palladium<br />
merrell<br />
50 51<br />
nike sportswear<br />
le coq sportif<br />
le coq sportif<br />
merrell
a nn a<br />
C a l v i<br />
t — davide Pinheiro<br />
ANNA CAlVi foi tão<br />
bem sucedida na<br />
estreia em palcos<br />
portugueses no<br />
optimus Alive<br />
<strong>que</strong> se impôs<br />
um regresso em<br />
nome próprio. A<br />
13 de se<strong>tem</strong>bro<br />
vamos poder vê-la<br />
novamente mas<br />
agora a solo no lux.<br />
12.09.2011<br />
HARd Club<br />
Porto<br />
13.09.2011<br />
lux<br />
lisboa<br />
SounDSTaTion anna CaLVi<br />
Pessoal e<br />
transmissível<br />
A cronologia de ANNA CAlVi <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is momentos<br />
decisivos: a edição de um primeiro<br />
álbum no início <strong>do</strong> ano, <strong>que</strong> confirmou a<br />
atenção prestada por figuras com o cartel<br />
de bRiAN eNo ou NiCk CAVe. e um<br />
concerto no optimus Alive <strong>que</strong> marcou<br />
a estreia em palcos portugueses. Foi nos<br />
basti<strong>do</strong>res <strong>do</strong> palco super bock, <strong>que</strong> de<br />
secundário muito pouco <strong>tem</strong>, <strong>que</strong> encontrámos<br />
uma artista de tez pálida e lábios<br />
flamejantes, um pouco como a sua música:<br />
aparen<strong>tem</strong>ente frágil, ganha uma pujança<br />
ao vivo <strong>que</strong> a transforma numa mulher poderosa<br />
e <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>ra da arma <strong>que</strong> <strong>tem</strong> em<br />
mãos, a guitarra.<br />
A dezena de metros entre os camarins e o<br />
palco não permitiam adivinhar a distância<br />
<strong>que</strong> existe entre a artista tímida <strong>que</strong> conversa<br />
a um volume mínimo e o animal de<br />
palco <strong>que</strong> veste uma ja<strong>que</strong>ta de cavaleira<br />
e pega o touro pelos cornos. "sou tímida<br />
mas a<strong>do</strong>ro estar em palco. Não tenho<br />
me<strong>do</strong> nenhum de tocar para muita gente.<br />
Pelo contrário, é muito agradável a sensação<br />
de levar a minha música a mais gente",<br />
contou algumas horas antes de se deparar<br />
com o público português.<br />
Quan<strong>do</strong> ANNA CAlVi voltar<br />
a aterrar no Aeroporto<br />
da Portela —antes, no dia<br />
12 de se<strong>tem</strong>bro toca no<br />
HARd Club portuense—,<br />
estará a dar as primeiras<br />
voltas de uma digressão<br />
por salas, depois de<br />
uma <strong>tem</strong>porada de festivais<br />
em <strong>que</strong> percorreu<br />
os principais palcos europeus.<br />
uma etapa <strong>que</strong><br />
percorreu com o sorriso<br />
de <strong>que</strong>m se está a divertir,<br />
conforme confessou.<br />
"estar em digressão é<br />
diverti<strong>do</strong>. É um desafio<br />
tocar para pessoas de países<br />
tão diferentes. Nunca é igual apesar<br />
de as reacções serem geralmente boas",<br />
defende. o <strong>que</strong> acabou por acontecer num<br />
concerto muito celebra<strong>do</strong> no optimus Alive<br />
em <strong>que</strong> ANNA CAlVi acabou por ser numa<br />
das revelações de um festival menos generoso<br />
<strong>que</strong> em outros anos para com apetites<br />
melómanos.<br />
Quan<strong>do</strong> o ano terminar, a<strong>que</strong>la <strong>que</strong> foi comparada<br />
a PJ HARVeY estará entre o clube<br />
52 53<br />
restrito de novo talento <strong>que</strong> 2011 revelou.<br />
mas ANNA CAlVi não se deixa impressionar<br />
por essa torrente de elogios <strong>que</strong> levou<br />
bRiAN eNo a considerá-la o acontecimento<br />
musical mais importante <strong>desde</strong> <strong>que</strong> PAtti<br />
smitH surgiu. "É muito importante ouvir<br />
essas palavras, sobretu<strong>do</strong> vindas de <strong>que</strong>m<br />
vem mas procuro não me deixar contagiar.<br />
Procuro abstrair-me <strong>do</strong> hype e concentrar-<br />
-me naquilo <strong>que</strong> procuro". e <strong>que</strong> passa por<br />
"encontrar o meu espaço enquanto compositora,<br />
escrever canções ainda melhor e<br />
tocar vidas de mais pessoas".<br />
Já os constantes paralelos com PJ HARVeY,<br />
teimam em não a aban<strong>do</strong>nar —há semelhanças<br />
evidentes assim como diferenças<br />
claras— mas o <strong>que</strong> mais incomoda ANNA<br />
CAlVi é a frequência com <strong>que</strong> esse fantasma<br />
assoma. "eu gosto da PJ HARVeY mas<br />
só mergulhei no universo dela depois de<br />
me terem compara<strong>do</strong> tantas vezes a ela.<br />
Não é <strong>que</strong> me importe mas simplesmente<br />
acho <strong>que</strong> é uma leitura preguiçosa", retorquiu<br />
uma ANNA CAlVi <strong>que</strong> consultava as<br />
notícias no computa<strong>do</strong>r portátil antes de se<br />
entregar à entrevista. mas é bom recordar<br />
<strong>que</strong> o disco foi produzi<strong>do</strong> por Rob ellis,<br />
colabora<strong>do</strong>r de... PJ HARVeY.<br />
No festival, ANNA CAlVi esteve ladeada<br />
por uma secção rítmica e um percussionista<br />
<strong>que</strong> também toca harmonium. uma<br />
dezena de minutos depois de se ter depara<strong>do</strong><br />
com um público ainda a recompor-se<br />
<strong>do</strong> embate com a poderosa intimidade de<br />
JAmes blAke, uma artista de saltos altos<br />
fez strip à alma e tirou tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> tinha<br />
sem precisar de fingir um reality show'.<br />
são essas emoções <strong>que</strong> aguardamos <strong>que</strong><br />
se repitam em <strong>do</strong>ses reforçadas no concerto<br />
<strong>do</strong> lux.
act i ve<br />
C h il d<br />
t — Pedro lima<br />
www.stereobeatbox.com<br />
to<strong>do</strong>s os anos há<br />
um álbum <strong>que</strong><br />
marca a mudança<br />
de estação. em<br />
2011, cabe a ACtiVe<br />
CHild antecipar a<br />
entrada <strong>do</strong> outono<br />
com a magistral<br />
estreia em formato<br />
longa-duração,<br />
You Are All i see.<br />
Fomos descobrir<br />
o seu gospel de<br />
linhas electrónicas<br />
e deixámo-nos<br />
evangelizar por este<br />
ex-menino de coro.<br />
www.activechildmusic.com<br />
SounDSTaTion<br />
Gospel<br />
electrónico<br />
ACtiVe CHild é o novo projecto <strong>do</strong> menino<br />
de coro torna<strong>do</strong> músico indie pop,<br />
PAt GRossi. o cantor estreou-se em 2010<br />
com o pouco divulga<strong>do</strong> eP Curtis lane, <strong>que</strong><br />
expôs pela primeira vez o seu folktronic<br />
assisti<strong>do</strong> por laptop feito a partir de casa,<br />
ecoa<strong>do</strong>, expansivo e textura<strong>do</strong> por várias<br />
layers sobrepostas de vocais celestiais. A<br />
sua sonoridade é, aliás, tão vasta <strong>que</strong> levou<br />
o músico a acompanhar digressões de<br />
artistas com géneros tão distintos como<br />
o pós-dubstep de JAmes blAke, o synth-<br />
-pop sonha<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s sCHool oF seVeN<br />
bells ou o indie-rock <strong>do</strong>s WHite lies.<br />
As canções de ACtiVe CHild são um intrigante<br />
estu<strong>do</strong> de contrastes. os elementos<br />
orgânicos <strong>do</strong> falsetto angélico e invulgarmente<br />
reconfortante de GRossi (uma<br />
mistura de Fleet Foxes, boN iVeR e<br />
ANtoNY HeGARtY), e o delica<strong>do</strong> dedilhar<br />
da harpa lançam uma luz sobre a negritude<br />
assombrada, criada por percussão<br />
cavernosa e sintetiza<strong>do</strong>res de infusão 80’s.<br />
Paisagens sonoras de sofrimento flutuante<br />
<strong>que</strong> não destoariam no interior de um<br />
claustro de igreja.<br />
Apesar de já me ter rendi<strong>do</strong> à música de<br />
ACtiVe CHild, nada me preparou para o<br />
salto <strong>do</strong> artista no muito<br />
antecipa<strong>do</strong> álbum<br />
de estreia You Are All<br />
i see, edita<strong>do</strong> a 23 de<br />
Agosto pela VAGRANt<br />
ReCoRds. o cantor expandiu<br />
as suas ambições<br />
sónicas e transformou o<br />
estúdio num instrumento<br />
para um disco <strong>que</strong> soa<br />
simultaneamente gigantesco<br />
e intimista.<br />
You Are All i see, título<br />
por si só gratificante, é<br />
um álbum de difícil digestão,<br />
denso e satura<strong>do</strong>,<br />
com canções forjadas<br />
em <strong>tem</strong>as como as alegrias e desgostos<br />
das relações amorosas, o amor perdi<strong>do</strong> e<br />
redescoberto, duelos pela monogamia ou<br />
identidade. A colecção de 10 canções com<br />
<strong>que</strong> nos presenteia, demonstra o alcance<br />
grandioso e cinematográfico da visão<br />
artística de GRossi e a sua tentativa de<br />
submergir o ouvinte em ambientes espectrais,<br />
de poder hipnótico e despoja<strong>do</strong> de<br />
excessos. Neste lugar as emoções fluem tal<br />
como afloram à pele, sem filtros ou receios.<br />
aCTiVe ChiLD<br />
54 55<br />
Com sintetiza<strong>do</strong>res triunfantes e reluzentes,<br />
linhas de harpa em contraponto, <strong>tem</strong>as<br />
como Hanging on relembram motion<br />
Picture soundtrack <strong>do</strong>s RAdioHeAd, melhorada<br />
com camada após camada de vocais<br />
cristalinos e acutilantes. High Priestess<br />
e see thru eyes são magníficas incursões<br />
aos territórios da electrónica, pontuadas<br />
por samples, drum machines e tecla<strong>do</strong>s<br />
<strong>que</strong> impulsionam as canções para a frente,<br />
manten<strong>do</strong>-as ao mesmo <strong>tem</strong>po leves<br />
e suspensas no ar. É nesta tensão entre a<br />
aspereza <strong>do</strong>s ritmos digitais e a solenidade<br />
das or<strong>que</strong>strações <strong>que</strong> You Are All i see<br />
vive e respira tão majestosamente.<br />
este álbum deve, sem dúvida, muito à<br />
década <strong>do</strong>urada <strong>do</strong>s anos 80, das baterias<br />
e sintetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s NeW oRdeRs<br />
ou JoY diVisioN às batidas de hip hop<br />
mais dançáveis, polvilhadas com melodias<br />
R&b com a <strong>do</strong>se certa de melodrama.<br />
exemplo máximo deste génio criativo é o<br />
primeiro single <strong>do</strong> álbum Playing House<br />
(<strong>que</strong> a publicação PitCHFoRk definiu<br />
como “à frente <strong>do</strong> seu <strong>tem</strong>po”), em <strong>que</strong><br />
GRossi juntou forças a tom kRell, crooner<br />
experimentalista de canções R&b<br />
mais conheci<strong>do</strong> por How to dress Well,<br />
para moldar uma faixa perfeita de contos<br />
de fadas frágil e sedutora, <strong>que</strong> se enterra<br />
lentamente muito além da epiderme.<br />
Não é difícil prever <strong>que</strong> ACtiVe CHild está<br />
destina<strong>do</strong> para grandes feitos, com o sol<br />
da Califórnia preso na voz e a capacidade<br />
de nos desarmar com palavras de sinceridade<br />
desconcertante.
y ou C a n't<br />
w in C ha rl i e<br />
B r o w n<br />
t — eduar<strong>do</strong> Feteira F — Pedro Gaspar & Nuno sousa dias<br />
o <strong>que</strong> mais há a<br />
dizer de uma banda,<br />
depois de ser<br />
internacionalmente<br />
reconhecida e<br />
classificada como<br />
“brilhante”? bem,<br />
para além de agora<br />
se dedicarem<br />
palavras ao mais<br />
recente albúm <strong>que</strong><br />
lançaram, muitas<br />
mais há a descobrir<br />
sobre o seu percurso,<br />
a sua posição face<br />
aos louvores da<br />
imprensa e <strong>do</strong><br />
público e acerca <strong>do</strong><br />
seu futuro. Quem<br />
as revela é salva<strong>do</strong>r<br />
menezes e tomás<br />
sousa, <strong>do</strong>is membros<br />
<strong>do</strong>s You CAN’t WiN<br />
CHARlie bRoWN,<br />
uma banda <strong>que</strong> afinal<br />
acumula victórias.<br />
SounDSTaTion<br />
No reportório contam com a participação<br />
<strong>do</strong>s Novos talentos Fnac 2009, com <strong>que</strong> se<br />
iniciaram na carreira musical como grupo,<br />
e um eP homónimo lança<strong>do</strong> em 2010. mas<br />
é com Chromatic, assim nomearam o seu<br />
primeiro trabalho de longa duração, <strong>que</strong><br />
os You CAN't WiN CHARlie bRoWN se<br />
afirmam como uma banda de albúm completo.<br />
Para agora, a banda apresenta ao<br />
público um experimentalismo sonoro mais<br />
trabalha<strong>do</strong>. Realiza<strong>do</strong> em estúdio, deixan<strong>do</strong><br />
um pouco de parte a melancolia <strong>que</strong><br />
caracterizou o eP. “tivemos imenso <strong>tem</strong>po<br />
de estúdio e pudemos experimentar<br />
de tu<strong>do</strong> um pouco”, diz tomÁs sousA,<br />
“e o resulta<strong>do</strong> foi nascen<strong>do</strong>”. mas nunca<br />
afasta<strong>do</strong>s de um naturalismo e uma característica<br />
quase artesanal de fazer música,<br />
esta continua a surgir sem qual<strong>que</strong>r<br />
tipo de “agenda” e a reflectir um pouco<br />
de to<strong>do</strong>s os membros da banda. “Algumas<br />
[músicas] já existiam à mais <strong>tem</strong>po <strong>que</strong><br />
o lançamento <strong>do</strong> eP e foram trabalhadas,<br />
mas nunca com um conceito específico”,<br />
explica tomÁs sousA. “Cada boca<strong>do</strong><br />
da música foi pensa<strong>do</strong> <strong>pelas</strong> seis pessoas<br />
para <strong>que</strong> cada um ficasse feliz pelo resulta<strong>do</strong><br />
final”, termina AFoNso meNezes.<br />
Ao ouvir o seu trabalho é difícil não identificar<br />
a banda portuguesa com outras já<br />
na estratosfera musical como GRizzlY<br />
beAR, suRFJAN steVeNs, Fleet Foxes<br />
e ANimAl ColleCtiVe. mas se seria de<br />
esperar <strong>que</strong> estas comparações pudessem,<br />
Pessoal e<br />
transmissível<br />
de certa forma, constrangir a banda, os<br />
<strong>do</strong>is membros desta desmen<strong>tem</strong>-no. “Nós<br />
a<strong>do</strong>ramos a comparação, gostamos <strong>que</strong><br />
vejam as nossas influências nas músicas<br />
e, pelo <strong>que</strong> dizem, vemos <strong>que</strong> estamos a<br />
fazer um bom trabalho se nos comparam<br />
a essas pessoas”, explica tomÁs sousA,<br />
“eles são os nossos í<strong>do</strong>los”.<br />
e nem mesmo depois da critica da les<br />
iNRoCkuPtibles, <strong>que</strong> os catapultou para<br />
uma maior visibilidade internacional, os<br />
You CAN’t WiN CHARlie bRoWN se acanham.<br />
“Posso falar por mim, eu ainda nem<br />
percebi muito bem o <strong>que</strong> se passa e não<br />
sinto qual<strong>que</strong>r pressão”, afirma sAlVA<strong>do</strong>R<br />
meNezes. Assim, para os <strong>do</strong>is elementos<br />
you Can'T win CharLie Brown<br />
56 57<br />
da banda, o mediatismo <strong>que</strong> vivem apenas<br />
se traduz numa coisa. “Para nós é uma<br />
honra e alguma responsabilidade sermos<br />
vistos dessa maneira”, continua tomÁs<br />
sousA, “mas não vemos isso como um<br />
«agora <strong>tem</strong>os de fazer uma coisa excepcional»,<br />
fomos vistos assim e <strong>tem</strong>os de<br />
continuar a fazer o <strong>que</strong> <strong>tem</strong>os <strong>anda<strong>do</strong></strong> a<br />
fazer”. Já sAlVA<strong>do</strong>R meNezes complementa<br />
<strong>que</strong> “se tentarmos forçar alguma<br />
coisa pode não funcionar, e o <strong>que</strong> <strong>que</strong>remos<br />
é <strong>que</strong> as coisas corram bem e <strong>que</strong> as<br />
pessoas gos<strong>tem</strong>”.<br />
Com presença no Festival Paredes de<br />
Coura e ainda a marcar lugar em se<strong>tem</strong>bro<br />
no lux, novos projectos vislumbram-se<br />
no futuro <strong>do</strong>s You CAN’t WiN CHARlie<br />
bRoWN, <strong>que</strong> poderão incluir outras colaborações.<br />
Contu<strong>do</strong>, não poden<strong>do</strong> a banda<br />
pronunciar-se sobre isso, resta ao público<br />
degustar o Chromatic e aguardar notícias.
t h e<br />
Gaslamp<br />
K i ll er<br />
t — Rui miguel Abreu<br />
F — Hugo silva / Red<br />
bull music Academy<br />
Produtor de<br />
GoNJAsuFi, membro<br />
da tribo brainfeeder<br />
de Flying lotus,<br />
dj extraordinário:<br />
GAslAmP killeR<br />
é tu<strong>do</strong> isso e muito<br />
mais, como a sua<br />
passagem pelo<br />
palco Red bull music<br />
Academy no festival<br />
Neopop de Viana <strong>do</strong><br />
Castelo deixou claro.<br />
Primeiro o nome: tHe GAslAmP<br />
killeR, na sua forma abreviada ou tHe<br />
motHeRFuCkiNG GAslAmP killeR em<br />
toda a sua gloriosa extensão. A tradução<br />
pode indiciar uma personalidade com<br />
um pen<strong>do</strong>r surrealista ou absurdista —o<br />
Assassino <strong>do</strong>s Candeeiros a Gás. mas a<br />
realidade é bem mais simples: WilliAm<br />
beNJAmim beNsusseN, tal como consta<br />
na carta de condução, ganhou o seu<br />
nome de guerra no Gaslamp district de<br />
SounDSTaTion<br />
san diego, de onde é natural, por «matar»<br />
todas as pistas de dança. e não no melhor<br />
<strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> o hip-hop por vezes dá<br />
a esse sinónimo de «arrasar»: «em san<br />
diego, onde cresci, esta minha mania de<br />
misturar tu<strong>do</strong> não era muito bem aceite<br />
no início. tinha amigos <strong>que</strong> me chamavam<br />
para os clubes, mas as pessoas não<br />
estavam nada interessadas em ouvir-me<br />
pôr música», conta-nos GAslAmP killeR<br />
nos basti<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Neopop, sobre uma frequência<br />
grave constante proveniente <strong>do</strong><br />
palco principal onde a cura<strong>do</strong>ria da Red bull<br />
music Academy colocou vários artistas a<br />
tocar. No momento em <strong>que</strong> decorre a conversa,<br />
dJ Ride e steReossAuRo actuam<br />
enquanto beAtbombeRs, inundan<strong>do</strong> o camarim<br />
de GAslAmP killeR de um rumble<br />
de graves <strong>que</strong> bem pode servir de aperitivo<br />
para o <strong>que</strong> se há-de seguir, saí<strong>do</strong> das mãos<br />
<strong>do</strong> homem de death Gate. este low end é<br />
território familiar para GAslAmP killeR:<br />
«estas vibrações são a fundação, é o ruí<strong>do</strong><br />
da agulha no vinil, o som da terra, das<br />
cavernas, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> mais obscuro», ironiza.<br />
Na verdade, a famosa noite das quartas-feiras<br />
em los Angeles onde tHe GAslAmP<br />
killeR é residente <strong>tem</strong> por nome the<br />
low end theory. uma designação subtraída<br />
ao imaginário hip-hop (A tribe Called<br />
Quest), mas também uma autêntica declaração<br />
de intenções: «vale tu<strong>do</strong>», exclama<br />
GAslAmP killeR. «No low end theory<br />
não há barreiras. É um sítio em <strong>que</strong> me<br />
sinto em casa, onde posso recarregar baterias<br />
espirituais, onde me inspiro, onde<br />
me cruzo com os meus amigos: J RoCC<br />
está lá, PeANut butteR Wold e mAdlib<br />
estão lá, a minha família da brainfeeder,<br />
dAedelus, toda a gente está lá e a música<br />
é incrível. inspiramo-nos uns aos outros». e<br />
essa inspiração <strong>tem</strong> rendi<strong>do</strong> uma produção<br />
intensa: os skills de digger de GAslAmP<br />
killeR —«tenho mais de 12 mil discos actualmente!»—<br />
têm-lhe permiti<strong>do</strong> fazer uma<br />
série de aclamadas mixtapes onde o rock<br />
psicadélico é nota <strong>do</strong>minante: it’s a Rocky<br />
Road, i spit on Your Grave ou Hell and the<br />
lake of Fire Are Waiting For You são algumas<br />
das mixtapes, <strong>que</strong> se juntam aos eps<br />
my troubled mind e death Gate. «estou a<br />
preparar um novo ep para muito breve»,<br />
revela-nos, oferecen<strong>do</strong> apenas um «more<br />
of that crazy shit» quan<strong>do</strong> nos pedimos<br />
<strong>que</strong> revele o conteú<strong>do</strong> . mas o trabalho<br />
<strong>que</strong> deu mais notoriedade a GAslAmP<br />
killeR foi a produção <strong>que</strong> assinou em<br />
boa parte <strong>do</strong> álbum A sufi and a killer<br />
de GoNJAsuFi. «estou neste momento<br />
a colocar os reto<strong>que</strong>s finais em “A sufi<br />
and a killer part 2”. Não será esse o título,<br />
mas é disso <strong>que</strong> se trata. Foi feito<br />
ao mesmo <strong>tem</strong>po <strong>que</strong> a primeira parte»,<br />
revela GAslAmP killeR, adiantan<strong>do</strong> pormenores<br />
sobre o disco <strong>que</strong> irá suceder ao<br />
aclama<strong>do</strong> registo <strong>que</strong> marcou a estreia<br />
de GoNJAsuFi na Warp. «estes <strong>tem</strong>as<br />
são todas de um perío<strong>do</strong> de 3 ou quatro<br />
anos, têm a mesma vibe, mas é um disco<br />
um pouco mais agressivo, mais obscuro,<br />
com letras mais intensas. são histórias<br />
pessoais, sentimentos íntimos, mas algo<br />
de muito complexo e profun<strong>do</strong>». basta ver<br />
uma foto de GoNJAsuFi para acreditar.<br />
GAslAmP killeR explica <strong>que</strong> <strong>tem</strong> um méto<strong>do</strong><br />
simples de trabalho: pega em discos<br />
<strong>que</strong> acha <strong>que</strong> têm a cara de GoNJAsuFi<br />
—o <strong>que</strong> poderá <strong>que</strong>rer dizer flamenco rock<br />
espanhol <strong>do</strong>s anos 70— «volto a samplar<br />
lAs GReCAs no novo álbum» —ou jazz<br />
etíope <strong>do</strong>s anos 60 ou rock turco da mesma<br />
década— e cria reedits <strong>que</strong> depois servem<br />
gaSLamp kiLLer<br />
58 59<br />
para GoNJAsuFi se inspirar e fazer a sua<br />
parte. «depois misturamos, acrescenta-mos<br />
efeitos e essas coisas. É um processo<br />
muito orgânico, mesmo comigo em<br />
lA e com ele em las Vegas». uma forma<br />
muito particular de viajar no <strong>tem</strong>po e no<br />
espaço. «trata-se de tornar certos discos<br />
relevantes de novo», explica, revelan<strong>do</strong> <strong>que</strong><br />
os detentores originais <strong>do</strong>s direitos destas<br />
canções estão a ser recompensa<strong>do</strong>s<br />
—«e penso <strong>que</strong> percebem o <strong>que</strong> estamos<br />
a fazer», sublinha. É simples: trata-se de<br />
transformar o presente numa dimensão<br />
psicadélica alternativa.<br />
GAslAmP killeR estreou-se a norte, com<br />
um incrível e inspira<strong>do</strong>r set <strong>que</strong> deixou<br />
muita gente abismada e cheia de vontade<br />
de deitar mãos ao trabalho. Houve <strong>tem</strong>po<br />
e espaço para o mais abrasivo dubstep,<br />
para as mais inclassificáveis descidas aos<br />
abismos <strong>do</strong>s sub-graves, mas também<br />
para beAtles ou blACk sAbbAtH, para<br />
dR dRe e para um conjunto enorme de<br />
outras coisas cujo único propósito era fazer<br />
o corpo mexer. e o próprio GAslAmP<br />
killeR não parou em palco, possuí<strong>do</strong> pela<br />
própria energia <strong>que</strong> emanava <strong>do</strong>s pratos.<br />
Podemos certamente apostar <strong>que</strong> não há-<br />
-de tardar a regressar!
granDe enTreViSTa<br />
v i k<br />
Recorren<strong>do</strong> a matérias estranhas como chocolate líqui<strong>do</strong>,<br />
açúcar, lixo, caviar ou diamantes, Vik muNiz desenha<br />
imagens icónicas e banalizadas <strong>que</strong> posteriormente<br />
fotografa e amplia. uma mona lisa em chocolate ou uma<br />
brigitte bar<strong>do</strong>t em diamantes são, a título de exemplo,<br />
<strong>do</strong>is trabalhos de grande impacto <strong>que</strong> contribuíram<br />
para o sucesso de uma carreira internacional a partir<br />
de Nova ior<strong>que</strong>. este processo de criação começou a<br />
ganhar relevância em 1988, quan<strong>do</strong> expôs a série the<br />
best of life, um conjunto de imagens <strong>que</strong> recriava<br />
de memória algumas das mais célebres fotografias<br />
da revista life. simplificadas, testam a memória <strong>do</strong><br />
especta<strong>do</strong>r <strong>que</strong>, facilmente, as reconhece. No conjunto<br />
<strong>do</strong> seu trabalho subsiste a ideia de <strong>que</strong> num mun<strong>do</strong><br />
satura<strong>do</strong> de imagens, pouco mais há para fotografar<br />
por<strong>que</strong> cada um de nós já contém todas as imagens<br />
<strong>do</strong> universo e, como tal, cada uma subsiste na nossa<br />
memória como um fantasma e um ícone. Vistas de<br />
longe, as suas fotografias apelam a um reconhecimento<br />
imediato mas, ao perto, desvendam as particularidades<br />
<strong>do</strong>s materiais e das texturas até à desmaterialização<br />
completa da imagem, <strong>que</strong> subsiste apenas na nossa<br />
memória como um to<strong>do</strong>. Visto ao contrário, o processo<br />
fotográfico permite <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s os materiais orgânicos<br />
e perecíveis <strong>que</strong> entram na composição de cada<br />
uma das suas imagens seja cristaliza<strong>do</strong>. A fotografia<br />
dissipa o pormenor em detrimento da imagem geral<br />
<strong>que</strong> os nossos elementos cognitivos reconhecem<br />
de imediato. são essas memórias e ícones <strong>que</strong> Vik<br />
muNiz nos convida a reencontrar em lisboa, no<br />
museu Colecção berar<strong>do</strong>, a partir de 21 de se<strong>tem</strong>bro.<br />
É a sua maior exposição retrospectiva de sempre<br />
centrada exclusivamente no seu trabalho fotográfico.<br />
t — Francisco Vaz Fernandes<br />
Vik muniz<br />
o mun<strong>do</strong> em<br />
memória<br />
m u n i z<br />
60 61<br />
museu<br />
berar<strong>do</strong><br />
a partir de<br />
21.09.2011
P o seu trabalho está bastante mediatiza<strong>do</strong><br />
e parte <strong>do</strong> público português conhece as suas<br />
séries. Com a exposição retrospectiva <strong>que</strong> o<br />
museu Colecção berar<strong>do</strong> lhe dedica, teve alguma<br />
preocupação em trazer trabalhos novos ou<br />
peças específicas para mostrar em Portugal?<br />
Vik A exposição é composta por trabalhos<br />
<strong>que</strong> vão <strong>do</strong>s anos 80 até hoje e, em geral, são<br />
obras <strong>pelas</strong> quais me tomei conheci<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>,<br />
penso <strong>que</strong> ainda há espaço para a descoberta.<br />
estão incluí<strong>do</strong>s trabalhos iniciais com uma<br />
natureza puramente fotográfica, como era o<br />
caso das nuvens, e ainda obras muito recentes<br />
<strong>que</strong> nunca foram expostas. Aliás, esta mostra<br />
<strong>que</strong> viajou para Nova ior<strong>que</strong>, Chicago e outras<br />
três cidades americanas, chegou ao brasil e foi<br />
reformada. Chamava-se Reflex e agora chama-se<br />
simplesmente Vik. Quis fazer uma coisa diferente,<br />
redesenhá-la para um público maior. ou seja,<br />
Liz Taylor<br />
para a familia, para adultos e crianças, para <strong>que</strong>m<br />
entende arte ou é um mero curioso. A exposição<br />
viajou por cinco cidades brasileiras e agora vem<br />
a lisboa, a primeira paragem na europa. e o <strong>que</strong><br />
poderão ver é uma exposição actualizada, até<br />
por <strong>que</strong>stões de adaptação ao espaço. Não vai<br />
ser exactamente igual à <strong>que</strong> esteve no Rio de<br />
Janeiro e <strong>tem</strong> algumas obras novas, trabalhos <strong>que</strong><br />
entretanto criei e <strong>que</strong> nunca foram expostos.<br />
P sen<strong>do</strong> assim, as obras inéditas<br />
são trabalhos novos <strong>que</strong> estão em<br />
desenvolvimento. Pode descrevê-los?<br />
Vik Vou mostrar uma série nova <strong>que</strong> é feita a<br />
partir de recortes de revistas e de jornais <strong>que</strong> se<br />
chama mountains, resultante de composições de<br />
granDe enTreViSTa<br />
imagens <strong>que</strong> na verdade são pe<strong>que</strong>nas e, depois<br />
de fotografadas, ficam grandes. É um regresso<br />
à <strong>que</strong>stão das transposições de escalas. estas<br />
obras vão ser apresentadas em simultâneo<br />
numa exposição individual em Nova ior<strong>que</strong>.<br />
P Grande parte <strong>do</strong> seu trabalho<br />
reporta-se à fotografia. Como começou o<br />
seu interesse por este meio? Acompanhou<br />
sempre esta arte no seu processo criativo?<br />
Vik os meus primeiros trabalhos eram<br />
essencialmente tridimensionais. Na verdade, eram<br />
objectos, peças conceptuais ligadas à percepção<br />
de objectos coloca<strong>do</strong>s noutros contextos. eu<br />
não <strong>que</strong>ria mexer com a fotografia por<strong>que</strong> o meu<br />
background já era a imagem. Vinha da área da<br />
publicidade e acreditava, na altura, <strong>que</strong> quanto<br />
mais distante desse universo estivesse, mais<br />
possibilidades teria de chegar a uma suposta<br />
“pureza” <strong>do</strong> exercício da arte, <strong>que</strong> viria a descobrir<br />
mais tarde <strong>que</strong> não existia. No entanto, foi<br />
precisamente essa abordagem tridimensional sobre<br />
o significa<strong>do</strong>s desses objectos <strong>que</strong> me aproximou<br />
da imagem. Por <strong>que</strong>stões práticas, ao fotografá-los<br />
para imagens de arquivo ou de divulgação, comecei<br />
necessariamente a confrontar-me com imagens<br />
<strong>que</strong> eram para mim muito mais apelativas <strong>do</strong><br />
<strong>que</strong> os objectos em si. Foi assim <strong>que</strong> começei<br />
a fazer coisas só para serem fotografadas.<br />
P Podemos dizer, então, <strong>que</strong> agora mais<br />
consciente da fotografia e da bidimensionalidade<br />
<strong>do</strong> desenho, o seu processo de trabalho<br />
passou a ser uma recomposição de imagens<br />
antes de as fixar numa fotografia?<br />
Vik o <strong>que</strong> é mais interessante para mim é esse<br />
espaço de negociação <strong>que</strong> se gera entre a origem<br />
e o <strong>do</strong>cumento. entre o <strong>que</strong> é tridimensional e<br />
o <strong>que</strong> é bidimensional. Quan<strong>do</strong> um indivíduo<br />
está à frente de uma das minhas fotografias, <strong>tem</strong><br />
<strong>que</strong> negociar a sua maneira de ler. essa minha<br />
deslocação <strong>do</strong> objecto para imagem <strong>tem</strong> a ver<br />
um pouco com isso. Por outro la<strong>do</strong>, eu nunca<br />
deixei completamente o la<strong>do</strong> tridimensional. o<br />
meu trabalho passou a ser um <strong>que</strong>stionamento<br />
<strong>do</strong> tridimensional e <strong>do</strong> bidimensional, o <strong>que</strong> se<br />
vê em termos de perspectiva, dimensão, volume.<br />
É uma representação de como e porquê se vê.<br />
este ano, por exemplo, fiz duas exposições e<br />
nenhuma delas era de fotografia. uma delas, <strong>que</strong><br />
está agora em brasília, explorou precisamente<br />
todas essas ideias <strong>que</strong> abordava nos anos 80 a<br />
partir de objectos e algumas dessas obras foram<br />
refeitas. A exposição chama-se Relicário. também<br />
fiz recen<strong>tem</strong>ente uma exposição em Nova ior<strong>que</strong><br />
<strong>que</strong> também não incluía fotografia. mas esta de<br />
lisboa é apenas sobre fotografia e ficaram de<br />
fora to<strong>do</strong>s esses objectos <strong>que</strong> fiz nos anos 80<br />
e outros <strong>que</strong> estou a fazer neste momento.<br />
P mas sen<strong>do</strong><br />
esta uma exposição<br />
retrospectiva, qual<br />
a razão de deixar<br />
essa faceta <strong>do</strong> seu<br />
trabalho de fora?<br />
Vik seria redundante<br />
e a exposição já<br />
<strong>tem</strong> uma dimensão<br />
considerável.<br />
P uma curiosidade.<br />
Quan<strong>do</strong> realiza os<br />
seus trabalhos pensa<br />
primeiro na matéria <strong>que</strong><br />
lhe sugere a composição<br />
de uma imagem<br />
ou, pelo contrário,<br />
pensa numa série de<br />
imagens e na matéria<br />
<strong>que</strong> melhor se adapta à execução? ou as<br />
duas coisas surgem ao mesmo <strong>tem</strong>po?<br />
Vik É uma situação natural <strong>que</strong> <strong>tem</strong> esse<br />
<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s. Por vezes, existe uma imagem<br />
<strong>que</strong> gostaria de tratar e procuro um material<br />
adequa<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, na execução também se<br />
<strong>que</strong>stiona o contrário e posso chegar à conclusão<br />
<strong>que</strong> esse material ficaria bem numa imagem<br />
com características diferentes. Nessa pesquisa,<br />
nesse vai-e-vem, depressa concluí <strong>que</strong> esses<br />
<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s da equação estão sempre muito<br />
presentes. No entanto, tenho repara<strong>do</strong> <strong>que</strong><br />
quan<strong>do</strong> escolho as imagens e depois vou atrás<br />
de um material, a tendência é <strong>que</strong> essas séries<br />
sejam menores. Quan<strong>do</strong> tenho um material e<br />
an<strong>do</strong> à procura da adaptação de uma imagem,<br />
em geral, as séries tornam-se mais experimentais<br />
e geram maior número de trabalhos.<br />
P Já agora, a título de exemplo, no caso<br />
da série divas e monstros, umas das suas mais<br />
conhecidas, como foi o processo de criação?<br />
Vik muitas vezes estamos à procura <strong>do</strong><br />
material, outras é o material <strong>que</strong> nos encontra.<br />
Nunca tinha pensa<strong>do</strong> em procurar um monte de<br />
diamantes mas, um dia, um colecciona<strong>do</strong>r <strong>que</strong><br />
<strong>tem</strong> vários trabalhos meus, perguntou-me se<br />
podia desenhar com diamantes e colocou-me um<br />
punha<strong>do</strong> na mão. Apontou uma luz e mostrou<br />
como eram bonitos os brilhos <strong>que</strong> produziam.<br />
Como eram muito pe<strong>que</strong>nos, à medida <strong>que</strong> ia<br />
avançan<strong>do</strong> na experiência, ia pedin<strong>do</strong> mais até<br />
concluir a primeira imagem. inicialmente, imaginei<br />
imagens de assalto ou de alguém a ser agredi<strong>do</strong>,<br />
coisas horríveis de se fazer com diamantes…<br />
depois fiz um exercício, pensan<strong>do</strong> o óbvio: afinal,<br />
para <strong>que</strong> servem os diamantes? e foi um sucesso<br />
incrível por<strong>que</strong>, para algumas pessoas <strong>que</strong><br />
compraram alguns desses trabalhos, era como se<br />
estivessem a adquirir também monte de diamantes<br />
de 20 quilates. Na verdade, o material de base<br />
eram brilhantes mínimos <strong>que</strong>, amplia<strong>do</strong>s, pareciam<br />
ter 20, 30 ou 40 quilates cada. Não era raro as<br />
Vik muniz<br />
Mona Lisa de Geléia de Uva e Mona Lisa<br />
de Manteiga de Amen<strong>do</strong>im, 1999.<br />
62 63<br />
pessoas <strong>que</strong>stionarem<br />
se eram diamantes e,<br />
na verdade, era apenas<br />
uma foto. Nesse caso,<br />
diria como GodARd:<br />
"C’est pas du sang<br />
c’est du rouge" (não é<br />
sangue é vermelho.)<br />
P o seu trabalho <strong>tem</strong>,<br />
também, muito a ver<br />
com a reciclagem<br />
e esse é um <strong>tem</strong>a<br />
caro ao brasil, onde<br />
encontramos outros<br />
artistas com o mesmo<br />
tipo de preocupações,<br />
entre eles os irmãos<br />
CAmPANA.<br />
Vik o FeRNAN<strong>do</strong><br />
e o HumbeRto provêm <strong>do</strong> mesmo background <strong>que</strong><br />
eu. <strong>tem</strong>os a mesma idade, fomos para o mesmo<br />
tipo de escola num subúrbio de são Paulo e <strong>tem</strong>os<br />
muitas outras coisas em comum. Reciclagem<br />
não era para nós um <strong>tem</strong>a tal como é aborda<strong>do</strong><br />
agora por<strong>que</strong> o reaproveitamento não era uma<br />
opção, era uma condição. Quan<strong>do</strong> se nasce numa<br />
casa de pobre, o reaproveitamento está sempre<br />
presente. Não se vai a uma loja de brin<strong>que</strong><strong>do</strong>s.<br />
eu lembro-me <strong>que</strong>, quan<strong>do</strong> encontrava um caixa<br />
de papelão, fazia um carro ou uma casinha. esse<br />
tipo de treino advém de não se ter muita coisa e<br />
obriga a uma posição de reaproveitamento <strong>do</strong> <strong>que</strong><br />
está à nossa volta, crian<strong>do</strong> um universo inteiro<br />
com coisas imediatas e próximas. Não se lida<br />
com materiais inova<strong>do</strong>res. É, até, uma atitude<br />
Saturn devouring one of his Sons,<br />
after Francisco de Goya y Lucientes
pós-moderna diferente, por<strong>que</strong> ainda é utópica,<br />
ainda é positivista, contém uma atitude quase<br />
mágica relativa ao novo. o novo <strong>tem</strong> sempre a ver<br />
com algo <strong>que</strong> está próximo mas não se vê. tanto<br />
no meu trabalho como no <strong>do</strong>s CAmPANA celebrase<br />
o potencial de transformação <strong>que</strong> ainda existe,<br />
mostran<strong>do</strong> a beleza <strong>do</strong> dia-a-dia. A vida prática e<br />
as rotinas levam a <strong>que</strong> os nossos senti<strong>do</strong>s tenham<br />
tendência a ficar entorpeci<strong>do</strong>s e dificultam o olhar<br />
para a singularidades das coisas em nosso re<strong>do</strong>r.<br />
tanto eu como os CAmPANA viemos de escolas<br />
públicas durante a ditadura. Nessa época, as aulas<br />
de arte pareciam aulas de terapia ocupacional para<br />
presidiários. sempre <strong>que</strong> me encontro com eles,<br />
morremos a rir disso. Queira ou não, fui forma<strong>do</strong><br />
por esse tipo de atitude de reaproveitamentos.<br />
e, quan<strong>do</strong> não <strong>tem</strong>os meios, <strong>tem</strong>os <strong>que</strong> nos virar<br />
e fazer o <strong>que</strong> podemos. isso cria perspectivas <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> muito diferentes. onde alguém via uma<br />
mangueira, os CAmPANA já viam o potencial para<br />
fazer uma cadeira. onde<br />
alguém vê um monte de<br />
lixo, eu vejo o potencial<br />
para fazer um desenho.<br />
P Hoje parece <strong>que</strong><br />
vivemos numa cultura<br />
de excessos. tanto na<br />
europa como na América<br />
latina, este <strong>tem</strong>a<br />
tornou-se obrigatório<br />
na agenda política.<br />
Vik eu vivo entre<br />
Nova ior<strong>que</strong> e o Rio de<br />
Janeiro, duas culturas<br />
muito diferentes, e<br />
o <strong>que</strong> um americano<br />
produz de excesso, ou<br />
aquilo <strong>que</strong> desperdiça,<br />
é incomparavelmente<br />
maior <strong>do</strong> <strong>que</strong> um<br />
brasileiro. o excesso <strong>tem</strong><br />
a ver com o potencial<br />
de escolha. Quan<strong>do</strong> se<br />
compra muita comida,<br />
<strong>tem</strong>os mais opções no<br />
momento da concepção<br />
de um prato. Podemos ser mais criativos. Quan<strong>do</strong><br />
não se <strong>tem</strong> muita liberdade económica, o <strong>que</strong><br />
é um conceito também, somos condiciona<strong>do</strong>s<br />
a menos escolhas e a usar ao máximo o <strong>que</strong><br />
<strong>tem</strong>os ao nosso dispor, o <strong>que</strong> é interessante.<br />
isso também <strong>tem</strong> um paralelo nas imagens.<br />
Quan<strong>do</strong> se <strong>tem</strong> mais liberdade de escolha, isso<br />
vai gerar um número de representações maior,<br />
ten<strong>do</strong> o auxílio de uma tecnologia poderosa. É<br />
um tipo de sociedade <strong>que</strong> vive inundada de sinais<br />
de mensagens. Nós vivemos num lixo total. se<br />
fizermos uma analogia entre o lixo material e o lixo<br />
intelectual, chegaremos à conclusão <strong>que</strong> estamos<br />
completamente imersos num lixo gigantesco.<br />
granDe enTreViSTa<br />
P Refere-se ao mun<strong>do</strong> geral ou,<br />
particularmente, aos países <strong>que</strong> vivem<br />
numa fase de capitalismo acelera<strong>do</strong>?<br />
Vik Acho <strong>que</strong> isso é geral, vem <strong>do</strong>s últimos 15<br />
anos, acelera<strong>do</strong> por uma tecnologia gigantesca com<br />
um poder de disseminação da informação muito<br />
forte. se for a África descobre <strong>que</strong>, em qual<strong>que</strong>r<br />
lugarzinho, também exis<strong>tem</strong> satélites e <strong>que</strong> vêem<br />
o mesmo <strong>que</strong> nós. obviamente, nos centros<br />
urbanos, somos mais vitimiza<strong>do</strong>s e por isso o meu<br />
trabalho é, ao contrário <strong>do</strong> <strong>que</strong> muitos pensam,<br />
um exercício de subtracção. Parece <strong>que</strong> estou a<br />
montar mas, na verdade, estou a tirar, a limpar.<br />
P Penso <strong>que</strong> foi um <strong>do</strong>s primeiros artistas da<br />
sua geração a instalar-se em Nova ior<strong>que</strong>. em <strong>que</strong><br />
medida esse passo foi decisivo na sua carreira?<br />
Vik Nova ior<strong>que</strong> <strong>tem</strong> um aspecto prático<br />
por<strong>que</strong> continua a ser um grande centro cultural e<br />
económico. A cidade foi, para mim, uma revelação.<br />
Através <strong>do</strong> convívio <strong>que</strong> fui estabelecen<strong>do</strong>, percebi<br />
como tu<strong>do</strong> aquilo <strong>que</strong> me interessava estava ali,<br />
com a possibilidade de me transformar num artista<br />
plástico. se eu tivesse i<strong>do</strong> para outra cidade, talvez<br />
tivesse segui<strong>do</strong> outro rumo, fosse um cozinheiro<br />
ou um professor. mas, na altura, o ambiente de<br />
Nova ior<strong>que</strong> em torno das manifestações de arte<br />
con<strong>tem</strong>porânea era, sem dúvida, muito forte, o <strong>que</strong><br />
quase me empurrou a permanecer nesse meio e<br />
a ambicionar ser um artista plástico. lembro-me<br />
de, nos anos 80, visitar a primeira galeria <strong>que</strong><br />
abriu em West Village, a zona onde morava. era<br />
bem pe<strong>que</strong>na mas depressa apareceram outras,<br />
igualmente pe<strong>que</strong>nas, e <strong>que</strong> hoje são enormes. eu<br />
cresci com essa geração e com a super-valorização<br />
da arte con<strong>tem</strong>porânea. sou parte desse processo<br />
por<strong>que</strong> comecei a ver trabalhos <strong>que</strong> tinham tu<strong>do</strong><br />
a ver comigo, com as minhas preocupações e com<br />
a minha filosofia. ou seja, eram as <strong>que</strong>stões da<br />
minha geração e eu podia ser parte desse mun<strong>do</strong>.<br />
Nova ior<strong>que</strong> é ainda um lugar muito emblemático<br />
da possibilidade de fazer o <strong>que</strong> se quiser. Quan<strong>do</strong><br />
estou em Nova ior<strong>que</strong>, tenho a sensação de estar<br />
a recarregar essa energia vital. ultimamente,<br />
tenho passa<strong>do</strong> muito <strong>tem</strong>po no Rio de Janeiro, num<br />
ping-pong complementar. A cidade é muito bonita e<br />
muito inspira<strong>do</strong>ra também. existe natureza e gente<br />
muito diferente, de diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de<br />
várias classes sociais. oferece essa diversidade rica<br />
de contacto humano <strong>que</strong>, em Nova ior<strong>que</strong>, é mais<br />
difícil por<strong>que</strong> a segregação social é muito maior.<br />
P estava a falar da geração de artistas<br />
<strong>do</strong>s anos 80 em Nova ior<strong>que</strong>. identificava-se<br />
com o ressurgimento <strong>do</strong> figurativismo?<br />
Vik o figurativismo, no início <strong>do</strong>s anos 80,<br />
suscitava-me um interesse muito marginal. eu<br />
nunca me senti integra<strong>do</strong> num movimento ou num<br />
grupo como, por exemplo, a Picture Generation,<br />
na qual incluo CiNdY sHeRmAN, JeFF kooNs<br />
e RiCHARd PRiNCe. eu sou um artista de nicho.<br />
o meu trabalho não critica a sociedade de<br />
consumo, não se cruza com os estu<strong>do</strong>s sociais,<br />
como acontecia com muitos artistas da época.<br />
eu mantenho-me mais pragmático e procuro<br />
não ser tão objectivista como esses artistas<br />
<strong>que</strong>, na<strong>que</strong>la época, trabalhavam as <strong>que</strong>stões<br />
da imagem. eu relacionava-me marginalmente<br />
com alguns artistas americanos como, por<br />
exemplo, CHARles RAY ou tim HAWkiNsoN.<br />
Vik muniz<br />
The Floor Scrapers, after Gustave Caillebotte WheatField, after Van-Gogh<br />
64 65<br />
P segun<strong>do</strong> <strong>que</strong> consigo perceber, está<br />
sempre interessa<strong>do</strong> numa cultura de massas.<br />
Vik É uma atitude <strong>que</strong> vem directamente<br />
da CiNdY sHeRmAN e <strong>do</strong> JeFF kooNs.<br />
P Agora fala-se muito no ressurgimento<br />
<strong>do</strong> brasil. Passan<strong>do</strong> agora mais <strong>tem</strong>po no<br />
Rio de Janeiro, <strong>tem</strong> em mãos projectos de<br />
responsabilidade social enquanto cidadão e artista?<br />
Vik Aqui, serei sempre o rapaz pobre <strong>que</strong><br />
regressa relativamente bem-sucedi<strong>do</strong>. <strong>desde</strong> <strong>que</strong><br />
comecei a regressar mais continuamente ao brasil<br />
para expor, consegui, paralelamente, desenvolver<br />
actividades sociais. Fizemos o Centro Cultural<br />
Vik muniz no Cais <strong>do</strong> Porto, no Rio de Janeiro.<br />
<strong>tem</strong>os uma escola de fotografia, com o patrocínio<br />
da louis VuittoN, e ainda uma omG <strong>que</strong> se<br />
chama Arte em trânsito e <strong>que</strong> cuida de políticas de<br />
interacção entre educação e arte pública, crian<strong>do</strong><br />
projectos para a perfeitura. É uma <strong>que</strong>stão tão<br />
séria <strong>que</strong> dava até assunto<br />
para outra entrevista.<br />
A produção artística<br />
continua a ser vista por<br />
um segmento muito<br />
pe<strong>que</strong>no da população<br />
e a razão por <strong>que</strong> as<br />
pessoas não vão a galerias<br />
e aos museus é por<strong>que</strong><br />
nunca viram arte. isso<br />
não está no curriculum<br />
das escolas, não está na<br />
ruas, o <strong>que</strong> acaba por<br />
criar fronteiras entre<br />
<strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s. o mun<strong>do</strong><br />
da arte con<strong>tem</strong>porânea<br />
circunscreve o universo<br />
<strong>do</strong>s privilegia<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s<br />
ricos e com boa formação,<br />
<strong>que</strong> se sen<strong>tem</strong> à vontade<br />
num museu. A maior<br />
parte da população e,<br />
no caso <strong>do</strong> brasil seria<br />
à volta de 96%, nunca<br />
entraram num museu,<br />
nem mesmo numa<br />
excursão escolar. Acho<br />
<strong>que</strong> é responsabilidade <strong>do</strong> artista<br />
conseguir contornar esse fosso e levar<br />
mais público aos museus e às galerias.<br />
P Gostaria de fazer projectos de Arte Pública?<br />
Vik Nunca fiz e também nunca tive muita<br />
oportunidade para pensar nisso. os projectos<br />
<strong>que</strong> poderia considerar de Arte Pública eram,<br />
na verdade, mais happenings e performances<br />
<strong>do</strong> <strong>que</strong> algo permanente, como quan<strong>do</strong> envolvi<br />
a brooklyn museum Academy com uma<br />
fotografia minha, enquanto o edifício estava a<br />
ser reabilita<strong>do</strong>. entre esses projectos, o mais<br />
conheci<strong>do</strong> são as nuvens <strong>que</strong> desenhei no céu<br />
mas, como disse, foi algo muito efémero.
granDe enTreViSTa<br />
Vik muniz<br />
Marat (Sebastião) Mother and Children Suellen<br />
66 67
Vidas de luxo<br />
—uma <strong>que</strong>stão<br />
de perspectiva<br />
o melhor tipo de arte<br />
contém em si uma poética<br />
<strong>que</strong> eleva o ser humano,<br />
ultrapassa os limites<br />
<strong>do</strong> sensorial e contradiz<br />
lógicas. esse tipo de arte<br />
contém ainda o poder de<br />
transformar. Altera padrões<br />
de pensamento, eleva a<br />
auto-estima, redimensiona<br />
a profundidade com <strong>que</strong><br />
analisamos o <strong>que</strong> nos<br />
rodeia, tornan<strong>do</strong> o <strong>que</strong> é<br />
aparen<strong>tem</strong>ente pe<strong>que</strong>no,<br />
grande. esse é o caso <strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>cumentário Waste land,<br />
ou lixo extraordinário,<br />
filma<strong>do</strong> durante três anos<br />
na maior lixeira <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />
o Jardim Gramacho,<br />
no Rio de Janeiro.<br />
t — diana de Nóbrega<br />
CenTraL parq — DoCumenTário waSTe LanD<br />
w a st e<br />
l a n d<br />
inesperadamente, o projecto<br />
leva<strong>do</strong> a cabo por Vik muNiz,<br />
artista plástico, ganhou vida<br />
própria e tornou-se num poderoso<br />
veículo de transformação pessoal<br />
e social, tanto para os envolvi<strong>do</strong>s<br />
no projecto como para a<strong>que</strong>les<br />
a <strong>que</strong>m amplificou a voz —os<br />
cata<strong>do</strong>res de materiais recicláveis,<br />
pessoas <strong>que</strong> vivem as suas vidas<br />
no lixo. A ideia inicial de Vik<br />
muNiz e da realiza<strong>do</strong>ra luCY<br />
WAlkeR era <strong>do</strong>cumentar uma<br />
viagem a partir de brooklyn, até<br />
ao Rio de Janeiro, cidades entre<br />
as quais reside, onde se pretendia<br />
homenagear pessoas <strong>que</strong><br />
consideram especiais, cuja vida<br />
baseia-se no último <strong>do</strong>s tabus.<br />
Curiosamente, a lixeira é o único<br />
local no Rio onde os extremos<br />
sociais se misturam. os dejectos<br />
da zona sul, endinheirada, não<br />
são em nada diferentes <strong>do</strong>s<br />
restos produzi<strong>do</strong>s <strong>pelas</strong> favelas. o<br />
aumento da quantidade de lixo é<br />
uma das fracções mais negativas<br />
da cultura de consumo onde<br />
vivemos mergulha<strong>do</strong>s. Representa<br />
tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> ninguém deseja, mas<br />
quan<strong>do</strong> desaparece da visão<br />
(em mais uma ilusão criada pela<br />
cultura corrente) não desaparece,<br />
de facto. É real, está no Jardim<br />
Gramacho ou na lixeira da nossa<br />
cidade. No Rio, exis<strong>tem</strong> pessoas<br />
cuja vida é separar os materiais<br />
passíveis de reciclar por várias<br />
pilhas <strong>que</strong> representam ri<strong>que</strong>za<br />
—em <strong>que</strong> nunca irão tocar.<br />
mas o <strong>que</strong> mais surpreende<br />
a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> contactam com o<br />
<strong>do</strong>cumentário, é a paz e o bom<br />
humor com <strong>que</strong> a maioria destas<br />
pessoas vive o seu quotidiano<br />
tão paralelo à sociedade. e a sua<br />
honestidade. "eles não tocam nas<br />
pilhas de lixo uns <strong>do</strong>s outros",<br />
escreve a realiza<strong>do</strong>ra, luCY<br />
WAlkeR, no seu blogue. A maioria<br />
<strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res não teve escolha:<br />
entre prostituição, tráfico de droga<br />
ou lixo, estas pessoas escolheram<br />
o último —onde a única pessoa<br />
<strong>que</strong> afectam é a eles próprios. e<br />
o orgulho <strong>que</strong> sen<strong>tem</strong> é palpável<br />
em toda a fita— mesmo apesar de<br />
metade <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res <strong>do</strong>rmirem<br />
no lixo, corren<strong>do</strong> o risco de serem<br />
atropela<strong>do</strong>s por camiões, e a outra<br />
metade na pior favela da cidade.<br />
A aura positiva da comunidade<br />
de cata<strong>do</strong>res acaba por afectar a<br />
realiza<strong>do</strong>ra <strong>que</strong> a certo momento<br />
escreve no blog —"À noite<br />
voltávamos para a zona sul e<br />
dirijo-me para um jantar delicioso<br />
num carro á prova de balas.<br />
Preferia estar com os cata<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> <strong>que</strong> com bilionários <strong>que</strong> se<br />
<strong>que</strong>ixam constan<strong>tem</strong>ente <strong>do</strong><br />
preço da arte con<strong>tem</strong>porânea".<br />
são esses os compra<strong>do</strong>res das<br />
obras de arte <strong>que</strong> Vik produz.<br />
os outros "estão no limite da<br />
cultura de consumo", afirma Vik<br />
muNiz, <strong>que</strong> "esperava encontrar<br />
pessoas pobres e rendidas. mas<br />
encontrei sobreviventes".<br />
A equipa de Waste land<br />
rapidamente criou laços com<br />
os cata<strong>do</strong>res e colaborou com<br />
alguns deles como modelos<br />
e compositores na produção<br />
de retratos em grande escala.<br />
tiao, cata<strong>do</strong>r <strong>desde</strong> os 11 anos e<br />
jovem presidente da ACAmJG,<br />
a Associação <strong>do</strong>s Cata<strong>do</strong>res<br />
de materiais Recicláveis de<br />
Jardim Gramacho, grupo em <strong>que</strong><br />
ninguém acreditava, realizou<br />
muitos sonhos. irma, a cozinheira<br />
<strong>que</strong> alimenta os cata<strong>do</strong>res na<br />
lixeira, é uma mulher forte, <strong>que</strong><br />
assume <strong>que</strong> gosta de estar no<br />
lixo e <strong>que</strong> agradece e orgulha-se<br />
das refeições <strong>que</strong> elabora a<br />
partir <strong>do</strong> <strong>que</strong> encontra. zumbi,<br />
intelectual assumi<strong>do</strong>, procura<br />
livros rejeita<strong>do</strong>s para expandir<br />
o seu sonho —uma biblioteca<br />
<strong>que</strong> criou para a comunidade<br />
das favelas. magna não hesitou<br />
em tornar-se cata<strong>do</strong>ra quan<strong>do</strong><br />
o seu mari<strong>do</strong> perdeu o trabalho<br />
—orgulha-se <strong>do</strong> trabalho<br />
honesto. suelem trabalha como<br />
cata<strong>do</strong>ra <strong>desde</strong> os sete anos,<br />
conta dezoito, <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is filhos e<br />
um terceiro vem a caminho. isis<br />
não gosta <strong>do</strong> trabalho <strong>que</strong> faz,<br />
mas acaba por revelar as razões<br />
<strong>que</strong> a levam a estar em Jardim<br />
Gamacho. Valter, o cata<strong>do</strong>r<br />
sénior e guru da reciclagem,<br />
espanta com um espírito<br />
brilhante e palavras sábias.<br />
Com eles, quatro quilos de lixo<br />
aluga<strong>do</strong> e um armazém, Vik<br />
muNiz desenha com lixo os<br />
percursos <strong>que</strong> reproduzem as<br />
fotografias <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res. de<br />
seguida, a partir de um plano<br />
superior, a 22 metros <strong>do</strong> chão,<br />
to<strong>do</strong>s discu<strong>tem</strong> as obras e Vik cria<br />
fotografias a partir de desta nova<br />
visão. os retratos das pessoas são<br />
feitos de nada, delinea<strong>do</strong>s pelo<br />
espaço deixa<strong>do</strong> entre os materiais.<br />
A imitar a arte, na realidade<br />
acontece exactamente a mesma<br />
transformação. É patente não só<br />
a metamorfose <strong>do</strong> lixo em arte,<br />
mas também a transformação<br />
<strong>do</strong> objecto de arte, os cata<strong>do</strong>res,<br />
68 69<br />
por ela mesma. Quan<strong>do</strong> saíram<br />
<strong>do</strong> seu espaço diário, o Jardim<br />
Gamacho, e foram obriga<strong>do</strong>s a<br />
olhar para si próprios pelo óculo<br />
<strong>do</strong> exterior, assim como para o<br />
material <strong>que</strong> constitui as suas<br />
vidas, os cata<strong>do</strong>res mudaram.<br />
A vida e a percepção destas<br />
pessoas foram redimensionadas<br />
com o mesmo material <strong>que</strong> a vida<br />
lhes deu para sobreviverem.<br />
Questões sobre o <strong>que</strong> é a<br />
arte, o <strong>que</strong> é a ri<strong>que</strong>za e o <strong>que</strong><br />
faz o ser humano completo<br />
estão subjacentes a esta<br />
experimentação única, cujos<br />
prémios e reconhecimentos já não<br />
cabem num papel A4: nomea<strong>do</strong><br />
na categoria de <strong>do</strong>cumentário<br />
na última edição <strong>do</strong>s óscares,<br />
melhor <strong>do</strong>cumentário e Pare<br />
lorentz Award idA 2010, Prémio<br />
de melhor <strong>do</strong>cumentário pelo<br />
Público no sundance Film Festival<br />
2010, Pémio de Filme da Amnistia<br />
internacional (berlinale) 2010,<br />
melhor <strong>do</strong>cumentário pelo Público<br />
(berlinale) 2010, entre outros. os<br />
cata<strong>do</strong>res foram reconheci<strong>do</strong>s<br />
dentro e fora <strong>do</strong> seu país.<br />
muNiz recolheu 64,097 dólares<br />
num leilão Phillipe de Pury em<br />
londres, com a venda de um<br />
<strong>do</strong>s retratos. 100% <strong>do</strong>s lucros<br />
foram reverti<strong>do</strong>s a favor da<br />
Associação de Cata<strong>do</strong>res de<br />
materiais Recicláveis de Jardim<br />
Gramacho. este vai ser fecha<strong>do</strong><br />
em breve. Quan<strong>do</strong> perguntámos<br />
aos cata<strong>do</strong>res o <strong>que</strong> eles <strong>que</strong>riam<br />
fazer com o dinheiro <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s,<br />
eles disseram <strong>que</strong> não tinham a<br />
certeza", assinalou a realiza<strong>do</strong>ra<br />
no seu registo digital. "o seu<br />
primeiro pensamento é <strong>que</strong> não<br />
precisam realmente de nada.<br />
eles sen<strong>tem</strong> <strong>que</strong> têm tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong><br />
precisam. As pessoas ricas são<br />
geralmente muito mais rápidas<br />
a dizer para o <strong>que</strong> precisam<br />
de dinheiro. Penso <strong>que</strong> os<br />
cata<strong>do</strong>res sabem exactamente<br />
onde vão parar a maioria das<br />
coisas em <strong>que</strong> as pessoas<br />
gastam dinheiro", afirma.<br />
Co-produzi<strong>do</strong> por FeRNAN<strong>do</strong><br />
meiRelles e com música<br />
de mobY, Waste land, ou<br />
lixo extraordinário, é um<br />
<strong>do</strong>cumentário a não perder.
a ll en<br />
G in s b e r g<br />
t — ingrid Rodrigues<br />
Visões<br />
e Profecias<br />
estreia a 22<br />
de se<strong>tem</strong>bro<br />
através da<br />
midas Filmes.<br />
CenTraL parq — Cinema aLLen ginSBerg<br />
Howl de Rob ePsteiN<br />
e JeFFReY FRiedmAN<br />
com JAmes FRANCo<br />
como protagonista; <strong>actor</strong><br />
<strong>que</strong> <strong>tem</strong> <strong>anda<strong>do</strong></strong> <strong>pelas</strong><br />
<strong>bocas</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>desde</strong><br />
a <strong>apresentação</strong> irónica<br />
e ‘psicotrópica’ nos<br />
óscares mas <strong>que</strong>, assim<br />
mesmo, ganhou um óscar<br />
pela prestação como o<br />
alpinista ARoN RAlstoN<br />
em 127 Hours. este<br />
aparece agora barbu<strong>do</strong><br />
e de lentes grossas, sem<br />
me<strong>do</strong> de escancarar<br />
devaneios sexuais e<br />
com leituras inflamadas,<br />
entranhan<strong>do</strong>-se na vida<br />
de AlleN GiNsbeRG e<br />
dan<strong>do</strong> folgo ao poeta e<br />
poema <strong>que</strong> fizeram nascer<br />
a contra-cultura Beat.<br />
Há <strong>que</strong>m garanta <strong>que</strong> o<br />
entendimento entre o<br />
modernismo americano e a<br />
vanguarda <strong>do</strong> surrealismo<br />
francês tenha chega<strong>do</strong> pela<br />
mão de AlleN GiNsbeRG.<br />
Romântico indisciplina<strong>do</strong> e poeta<br />
agita<strong>do</strong>r, explorou géneros e<br />
<strong>tem</strong>as in<strong>tem</strong>porais e estimulou<br />
a revolução na linguagem da<br />
escrita dissecan<strong>do</strong> a clareza e<br />
limites da palavra obscenidade<br />
e da liberdade de expressão.<br />
Houvesse hoje uma atribuição de<br />
culpas e AlleN GiNsbeRG seria,<br />
certamente, um <strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s<br />
pela origem da expressiva<br />
literatura Beat. Poemas como<br />
Howl ou kaddish são prova<br />
empírica <strong>do</strong>s primeiros passos<br />
para o desmoronamento<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> exasperante e<br />
inibi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> abstraccionismo<br />
<strong>do</strong> formalismo <strong>que</strong> habitava a<br />
escrita e criação poética <strong>do</strong>s<br />
meandros académicos nos anos<br />
50. Aos poucos mas a preceito,<br />
finalmente podia-se respirar<br />
fun<strong>do</strong> e em pleno pulmão<br />
exaltar um discurso directo sem<br />
subterfúgios e metaforismos<br />
pouco exactos, e deixar para trás<br />
o recorrente sufoco da estrutura,<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> ou métrica de outrora,<br />
restabelecen<strong>do</strong> assim, a intenção<br />
da poesia na relação com a vida.<br />
Howl é um poema de palavras<br />
nuas e cruas e <strong>que</strong>, escrito de<br />
peito escancara<strong>do</strong>, em pleno<br />
alvoroço, confere às palavras<br />
um de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r perturba<strong>do</strong>r.<br />
bem ao novo mo<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
fervoroso mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> beletrismo<br />
contraditório e alternativo. Howl<br />
é poema com corpo e alma,<br />
longo e profético, <strong>que</strong> lança<strong>do</strong><br />
no outono de 1956, originou a<br />
AlleN GiNsbeRG uma detenção<br />
com intenção de censura <strong>do</strong><br />
poema sob pena de ser uma<br />
obra carregada de imoralidades<br />
e afrontas. escrutina<strong>do</strong> num<br />
tumultuoso julgamento mas<br />
libera<strong>do</strong> pela suprema Corte,<br />
Howl podia finalmente chegar a<br />
to<strong>do</strong>s comprovan<strong>do</strong>, somente,<br />
<strong>que</strong> to<strong>do</strong>s os contra<strong>tem</strong>pos só lhe<br />
tinham conferi<strong>do</strong> mais lucidez.<br />
o filme de Rob ePsteiN e<br />
JeFFReY FRiedmAN de título<br />
homónimo ao poema, está<br />
longe de ser uma cinebiografia.<br />
É antes um filme em vários<br />
70 71<br />
actos (conten<strong>do</strong> sequências<br />
de animação criadas por eRiC<br />
dRookeR, ilustra<strong>do</strong>r <strong>que</strong> já tinha<br />
trabalha<strong>do</strong> com o poeta no seu<br />
livro illuminated Poems publica<strong>do</strong><br />
em 1996), <strong>que</strong> se vão sobrepon<strong>do</strong><br />
e explican<strong>do</strong>. um em <strong>que</strong> AlleN<br />
GiNsbeRG, interpreta<strong>do</strong> por<br />
JAmes FRANCo, recria uma<br />
entrevista <strong>do</strong> poeta a explicar o<br />
interior da sua poesia, influências<br />
e a sua visão <strong>do</strong> meio cultural<br />
em <strong>que</strong> vive. das suas escolhas<br />
sexuais e da sua necessidade<br />
em uivar sob as estrelas —<br />
hábito esse, <strong>que</strong> viria a servir de<br />
analogia ao título da obra— para<br />
subitamente sermos leva<strong>do</strong>s num<br />
flashback ao bar, à noite em <strong>que</strong><br />
pela primeira vez o poema era<br />
dito ao público, <strong>que</strong> em ricochete<br />
respondia com onomatopeias<br />
de cho<strong>que</strong> e espanto, e <strong>que</strong> em<br />
paralelo a toda essa comoção e<br />
agitação, são nos apresentadas<br />
imagens <strong>do</strong> julgamento,<br />
enquanto o carácter <strong>do</strong> poema<br />
e <strong>do</strong> seu escritor são coloca<strong>do</strong>s<br />
em causa por tes<strong>tem</strong>unhos<br />
contra o nascimento da nova<br />
contra cultura <strong>que</strong> transformava<br />
poesia em prosa incendiária.<br />
Howl não é só um filme sobre<br />
um poeta mas essencialmente<br />
sobre a sua densa poesia.<br />
um filme <strong>que</strong> mostra como<br />
se retrata um poema difícil<br />
de forma corajosa e lírica.
o <strong>que</strong> é <strong>que</strong><br />
CuRtis mAYField,<br />
tom WAits,<br />
miles dAVis e<br />
tHe CHemiCAl<br />
bRotHeRs têm em<br />
comum? to<strong>do</strong>s eles<br />
assinam bandas<br />
sonoras originais<br />
de filmes <strong>que</strong><br />
ficaram na história<br />
<strong>do</strong> cinema —para<br />
ver, rever e ouvir.<br />
mas <strong>que</strong> música é<br />
essa, <strong>que</strong> anda de<br />
mãos dadas com<br />
a sétima arte?<br />
CenTraL parq — Cinema ouVir oS FiLmeS<br />
o u vir os<br />
f il m e s<br />
t — Ágata<br />
Carvalho de Pinho<br />
sPielbeRG disse certa vez <strong>que</strong><br />
sem música, os seus filmes<br />
não existiam. o trabalho de<br />
dAVid lYNCH —twin Peaks:<br />
Fire Walk With me (1992), com<br />
banda sonora de ANGelo<br />
bAdAlAmeNti, sem es<strong>que</strong>cer<br />
blue Velvet— e Wes ANdeRsoN<br />
—com Rushmore e the Royal<br />
tenenbaums, com música de<br />
mARk motHeRsbAuGH—<br />
floresce tanto pelo impacto<br />
visual como sonoro.<br />
A ideia de <strong>que</strong> o som é o parente<br />
pobre da imagem já está para<br />
trás das costas das cadeiras<br />
de cinema há muito <strong>tem</strong>po,<br />
mas será sempre um exercício<br />
interessante permitir à audição<br />
ser o senti<strong>do</strong> privilegia<strong>do</strong>. Fica<br />
entregue à nossa imaginação<br />
um novo cut <strong>do</strong> filme, com mais<br />
atenção nesse departamento.<br />
As bandas sonoras são música<br />
e podem ser ouvidas como tal,<br />
no entanto, a sua natureza,<br />
pela relação <strong>que</strong> estabelecem<br />
com a imagem cinematográfica,<br />
é mais complexa e torna-as<br />
um instrumento precioso<br />
para os cineastas, <strong>que</strong> merece<br />
verdadeiro investimento no caso<br />
português. Com maior ou menor<br />
subtileza, a música sedimenta<br />
a relação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r com o<br />
filme e garante <strong>que</strong> os efeitos<br />
pretendi<strong>do</strong>s pelo realiza<strong>do</strong>r e<br />
pelo compositor são obti<strong>do</strong>s.<br />
mas <strong>que</strong> funções cumpre a<br />
música para cinema? RiCHARd<br />
dAVis, professor na berklee<br />
College of music, apresentou<br />
uma conferência a 28 de março<br />
de 2008, no Novo méxico (alguns<br />
excertos podem ser consulta<strong>do</strong>s<br />
em youtube), onde relembrou<br />
<strong>que</strong>, num filme, a música também<br />
está a contar uma história. ela<br />
pode desempenhar diferentes<br />
papéis —pode sublinhar<br />
determina<strong>do</strong>s aspectos,<br />
acrescentar informações <strong>que</strong><br />
não encontramos na imagem<br />
ou mesmo contradizer e<br />
colidir com o <strong>que</strong> é mostra<strong>do</strong>.<br />
ela também cumpre funções<br />
narrativas e constrói/potencia<br />
a relação emocional <strong>do</strong><br />
especta<strong>do</strong>r com o filme.<br />
em e.t., por exemplo, o <strong>tem</strong>a<br />
principal, <strong>que</strong> ouvimos logo no<br />
início, é repeti<strong>do</strong> ao longo de<br />
to<strong>do</strong> o filme e, na cena final,<br />
esse trecho está investi<strong>do</strong><br />
de tanto e <strong>tem</strong> tal peso para<br />
o especta<strong>do</strong>r, <strong>que</strong> é como se<br />
toda a tensão e tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> ele<br />
foi coleccionan<strong>do</strong> ao longo<br />
<strong>do</strong> filme convergissem para<br />
a<strong>que</strong>le momento. o compositor<br />
an<strong>do</strong>u a prepará-lo para isso,<br />
a colocá-lo numa determinada<br />
posição, através da música. os<br />
grandes compositores, sublinha<br />
dAVis, planeiam a banda<br />
sonora de um filme antes de<br />
escreverem se<strong>que</strong>r uma nota.<br />
Nem to<strong>do</strong>s os realiza<strong>do</strong>res<br />
podem contratar uma or<strong>que</strong>stra<br />
ou um compositor como JoHN<br />
WilliAms —responsável pela<br />
maior parte das bandas sonoras<br />
de sPielbeRG, bem como pela<br />
ost da série star Wars e indiana<br />
Jones de GeoRGe luCAs—,<br />
mas a importância da escolha da<br />
música está lá na mesma, seja<br />
ela a melancolia tecida pelo piano<br />
de beRNAR<strong>do</strong> sAssetti para<br />
Alice de mARCo mARtiNs ou um<br />
<strong>tem</strong>a artesanal <strong>que</strong> um amigo<br />
compõe para a curta metragem<br />
de pe<strong>que</strong>no orçamento de um<br />
estudante de cinema. A música<br />
certa pode potenciar uma cena,<br />
pode coroá-la com a beleza <strong>que</strong><br />
evoca ou realçar o quão terrível<br />
é aquilo <strong>que</strong> nela se prepara.<br />
se fizéssemos uma lista, por<br />
onde começaríamos? 2001: uma<br />
odisseia no espaço, o casamento<br />
perfeito entre a música <strong>do</strong><br />
século xix e a imagética <strong>do</strong><br />
século xxi no clássico de ficção<br />
científica assina<strong>do</strong> por stANleY<br />
kubRiCk? A <strong>do</strong>çura triste das<br />
melodias de CuRtis mAYField,<br />
<strong>que</strong> prevalece no meio da<br />
violência típica <strong>do</strong> subgénero<br />
blaxploitation de <strong>que</strong> é um bom<br />
exemplo super Fly (1972)? de<br />
improviso, miles dAVis compôs,<br />
numa noite, a banda sonora de<br />
Ascenseur pour l'échafaud (1958)<br />
72 73<br />
de louis mAlle. A propósito<br />
de Psycho (1960), beRNARd<br />
HeRRmANN, <strong>que</strong> assina também<br />
Cape Fear e taxi driver (1976)<br />
de mARtiN sCoRsese, lembra<br />
<strong>que</strong> as instruções de AlFRed<br />
HitCHCoCk foram simples:<br />
HeRRmANN poderia fazer o <strong>que</strong><br />
quisesse, mas não devia compôr<br />
nada para a cena <strong>do</strong> homicídio no<br />
chuveiro. essa parte não deveria<br />
ter música. to<strong>do</strong>s sabemos como<br />
é <strong>que</strong> esta história acabou. duke<br />
elliNGtoN assina a banda<br />
sonora de Anatomy of a murder<br />
(1959), manten<strong>do</strong> um traço<br />
sonoro distinto, <strong>que</strong> se funde na<br />
perfeição com as necessidades<br />
de cada cena. e <strong>que</strong>m pode<br />
es<strong>que</strong>cer A Hard day's Night<br />
(1964) de RiCHARd lesteR, com<br />
os beAtles e a ines<strong>que</strong>cível<br />
Can't buy me love? ou the<br />
sound of silence de simoN &<br />
GARFuNkel, em the Graduate<br />
(1967) de mike NiCHols? A<br />
astúcia de HeNRY mANCiNi em<br />
the Pink Panther (1964) também<br />
merece o seu lugar de desta<strong>que</strong>.<br />
A lista continua. Apocalypse<br />
Now (1979), de FRANCis FoRd<br />
CoPPolA, one From the Heart<br />
(1982), <strong>do</strong> mesmo realiza<strong>do</strong>r, com<br />
música de tom WAits, Paris,<br />
texas (1985), por RY CoodeR,<br />
memento (2001), com banda<br />
sonora de dAVid JulYAN, ou the<br />
Virgin suicides (2000) de soFiA<br />
CoPPolA, com banda sonora<br />
original pela dupla francesa AiR.<br />
Num exemplo mais recente,<br />
ainda para ver nos cinemas,<br />
Hanna de Joe WRiGHt dança<br />
ao ritmo <strong>do</strong>s tHe CHemiCAl<br />
bRotHeRs. o filme conta a<br />
história de uma rapariga <strong>que</strong><br />
luta pela sobrevivência num<br />
cenário onde a sua preparação<br />
parece exagerada, mas não<br />
é. A escolha desta dupla de<br />
música electrónica para compôr<br />
a banda sonora e o contraste<br />
<strong>que</strong> daí resulta é, no mínimo,<br />
digno de alguma curiosidade.<br />
A lista continua, mas poderia<br />
começar por aqui.
P o go<br />
n o<br />
tr o f i a<br />
t — eduar<strong>do</strong> Feteira<br />
i — salão Coboi<br />
uma <strong>que</strong>stão<br />
de pêlo<br />
www.pixelspread.com<br />
www.beards.org<br />
CenTraL parq — LiFeSTyLe pogonoTroFia<br />
Catálogo de<br />
estilos em<br />
www.parqmag.com<br />
os leitores de barba rala <strong>que</strong><br />
nos desculpem. e também as<br />
leitoras femininas, para <strong>que</strong> não<br />
pensem <strong>que</strong> o seguinte artigo<br />
é uma ode chauvinista a uma<br />
prática masculina. mas agora<br />
falar-se-à de Pogonotrofia. ou<br />
melhor, da ciência por detrás<br />
da barba e <strong>do</strong> crescimento<br />
desta. Quem o escreve é um<br />
pogonotrófico convicto, de barba<br />
densa e de cor indefinida.<br />
seja por pretensões de um<br />
aspecto mais “experiente”, mais<br />
informal ou talvez mais atraente<br />
mesmo, a realidade é <strong>que</strong> a barba<br />
veio para afincar pé!... ou raiz!<br />
Pode mesmo ser por desleixo,<br />
por falta de vontade de enfrentar<br />
a lâmina pela manhã, ou até<br />
pela ambigua ideia de ser mais<br />
“macho”. mas o resulta<strong>do</strong> é o<br />
mesmo. e <strong>que</strong>m o afirma é o site<br />
beards (bem óbvio para facilitar<br />
a pesquisa), o site mais antigo<br />
da internet dedica<strong>do</strong> à bela arte<br />
de crescer uma barba. mas a<br />
ideia mais importante neste site,<br />
<strong>que</strong> o leva a persistir nas suas<br />
actualizaçôes barbudas, e <strong>que</strong><br />
a PARQ <strong>que</strong>r agora igualmente<br />
defender nas próximas páginas<br />
é simples: ter barba não é coisa<br />
de homem! É coisa de corajoso.<br />
Claro <strong>que</strong> não dizemos isto de<br />
ânimo leve ou sem qual<strong>que</strong>r<br />
apoio factual. e a coragem<br />
não se limita ao perio<strong>do</strong> de<br />
crescimento de barba ou aos<br />
intensivos cuida<strong>do</strong>s <strong>que</strong> esta<br />
re<strong>que</strong>r, para as quais iremos<br />
sugerir algumas dicas. esta<br />
explica-se pelo estatuto social<br />
<strong>que</strong> acumulou durante centenas<br />
de anos. <strong>desde</strong> actos de punição<br />
pública através <strong>do</strong> corte da<br />
barba na sociedade indiana, à<br />
conotação feminina de uma cara<br />
barbeada <strong>que</strong> os espartanos<br />
ridicularizavam enquanto<br />
rapavam os pêlos faciais <strong>do</strong>s seus<br />
inimigos, a barba <strong>desde</strong> sempre<br />
caracterizou a sabe<strong>do</strong>ria, honra<br />
e virilidade de um homem.<br />
74 75
CenTraL parq — LiFeSTyLe pogonoTroFia<br />
e mesmo alguns estu<strong>do</strong>s<br />
científicos avançaram já com<br />
a teoria de <strong>que</strong> esta pode<br />
ser denominada como uma<br />
característica sexual secundária<br />
masculina. ou seja, apesar de<br />
(felizmente) não ser necessário<br />
andarmos a pavonear a barba<br />
em frente da<strong>que</strong>la pessoa <strong>que</strong><br />
mais amamos, a barba funciona<br />
como um “mostrar de penas”<br />
da espécie humana quan<strong>do</strong><br />
toca a escolher um parceiro.<br />
É claro <strong>que</strong> as razões para não<br />
usar barba são compreensíveis<br />
e muitas vezes exteriores<br />
a uma convicção pessoal.<br />
Apesar <strong>do</strong> gigantesco número<br />
de fãs <strong>que</strong> o CHeWbACCA —<br />
sim, referênciamos a mítica<br />
personagem <strong>do</strong> star Wars—<br />
tenha, uma barba capaz de<br />
colocar em <strong>que</strong>stão a identidade<br />
de uma pessoa não é muito<br />
agradável. Principalmente<br />
quan<strong>do</strong> encontramos essa<br />
pessoa a servir-nos um almoço.<br />
mas a ideia de cabelo curto e<br />
barba rala ser ideal para um<br />
homem, <strong>que</strong> surgiu nas décadas<br />
de 20 e 30 e se perpétuou<br />
em campanhas públicitárias<br />
da gillete no perio<strong>do</strong> pósguerra<br />
foi posto finalmente<br />
onde deve ficar: na história.<br />
A Pogonotrofia vive agora<br />
um perio<strong>do</strong> áureo onde não<br />
só representa algum mistério<br />
e sexappeal, mas é também<br />
mensurável em grau de<br />
confiança, tal como avança mAtt<br />
mCiNeRNeY da Pixelspread.<br />
A colocar o bigode à Hitler e<br />
o aspecto de lobisomem no<br />
extremo “desastroso” <strong>do</strong> seu<br />
gráfico, barbas completas ou<br />
ao estilo de filósofo alcançam<br />
o grau máximo de confiança.<br />
e se as celebridades de agora<br />
já o aceitam, como o genial<br />
JoAQuim PHoeNix com a sua<br />
barba de filosofo gonne wild<br />
ou os míticos Fleet Foxes e o<br />
seu folk tão natural quanto as<br />
suas barbas, há ainda grupos<br />
cuja unica existência dedica-se<br />
à barba. <strong>desde</strong> tumblrs como o<br />
beard babes, cujo único re<strong>que</strong>sito<br />
para apresentar fotos e gifs é<br />
ser barbu<strong>do</strong>, como o Concurso<br />
mundial de barbas e bigodes, um<br />
entre os muitos a nível mundial.<br />
mas como foi dito, crescer<br />
uma barba não é para os fracos<br />
de espírito. Apesar de uma<br />
barba curta de três dias ser já<br />
considerada ideal para a maioria<br />
<strong>do</strong>s homens, vários são também<br />
os estilos <strong>que</strong> a podem tornar<br />
mais interessante e dar-lhe a<br />
personalidade <strong>que</strong> cada homem<br />
procura quan<strong>do</strong> deixa crescer a<br />
barba. Claro <strong>que</strong>, adaptan<strong>do</strong>-a<br />
à cara de cada um, há dicas<br />
importantes a não es<strong>que</strong>cer.<br />
76 77<br />
Pormenores como o tamanho<br />
<strong>do</strong> nariz, <strong>do</strong> lábio superior ou<br />
a forma da cara limitam as<br />
opções, expecto para caras<br />
ovais <strong>que</strong> podem basicamente<br />
usar qual<strong>que</strong>r formato. Para os<br />
menos sortu<strong>do</strong>s aqui vão os<br />
avisos: os narizes grandes ou<br />
proeminentes exigem bigodes<br />
maiores; lábios carnu<strong>do</strong>s<br />
deverão usar bigodes separa<strong>do</strong>s<br />
a meio e mais estiliza<strong>do</strong>s;<br />
ou então, para as caras mais<br />
re<strong>do</strong>ndas ou quadradas uma<br />
barba ligeiramente mais longa<br />
no <strong>que</strong>ixo e curta na linha <strong>do</strong><br />
maxilar são preferíveis. e para<br />
terminar num aspecto mais<br />
profissional, uma linha de<br />
limite de barba definida e um<br />
pouco mais abaixo no pescoço<br />
consegue dar-lhe a<strong>que</strong>le ar<br />
capaz de mudar opiniões em<br />
relação à pogonotrofia.<br />
Com isto em conta, só falta<br />
escolher o estilo e usar a barba<br />
com orgulho. entre os 42 estilos<br />
regista<strong>do</strong>s até agora, tipologias<br />
de barba como o Van dyke —<br />
<strong>que</strong> une a pêra ao bigode—,<br />
o zappa —<strong>que</strong> consiste num<br />
bigode extenso até fora <strong>do</strong>s<br />
cantos da boca e completo com<br />
uma mosca debaixo <strong>do</strong> lábio<br />
inferior— ou o old dutch —uma<br />
barba sem bigode, com patilhas<br />
e cujos cantos junto <strong>do</strong> <strong>que</strong>ixo<br />
são maiores e em direcção<br />
exterior ao <strong>que</strong>ixo— tornam-se<br />
uma possibilidade para os mais<br />
aventureiros e <strong>que</strong> esperamos<br />
ver ou cruzar pela rua.<br />
Apelamos assim aos leitores:<br />
atrevam-se a experimentar<br />
estes e outros estilos <strong>que</strong><br />
complementamos no site,<br />
olhem para o espelho de<br />
outra forma e sejam mais <strong>que</strong><br />
homens. sejam corajosos!
CenTraL parq — DeSign Jean BapTiSTe FaSTrez<br />
J e a n<br />
Prototyping<br />
B apt i s t e F as tre z<br />
t — Carla Carbone<br />
78 79
www.jeanbaptistefastrez.com<br />
CenTraL parq — DeSign Jean BapTiSTe FaSTrez<br />
JeAN bAPtiste FAstRez criou<br />
recen<strong>tem</strong>ente umas intrigantes<br />
e coloridas chaleiras <strong>que</strong> dão<br />
pelo nome de Variations autour<br />
d'une bouilloire électri<strong>que</strong>. Partiu<br />
<strong>do</strong> princípio inspira<strong>do</strong>r: se os<br />
objectos industriais beneficiam<br />
da eficiência da produção<br />
em massa, simultaneamente<br />
também são parcos em alma.<br />
são estandardiza<strong>do</strong>s: “em<br />
oposição ao ideal industrial,<br />
um objecto para to<strong>do</strong>s, é uma<br />
produção mais humanizada<br />
e sustentável: qual<strong>que</strong>r coisa<br />
para to<strong>do</strong>s”, como nos diz.<br />
o designer partiu da chaleira<br />
eléctrica como teste para esse<br />
princípio. uma proposta de<br />
introdução de variações numa<br />
peça inteiramente industrial,<br />
coexistin<strong>do</strong> a produção em<br />
massa com a produção artesanal.<br />
de uma mera ferramenta de<br />
trabalho anónima na cozinha,<br />
a chaleira passa a ter um<br />
estatuto de objecto estético,<br />
sem es<strong>que</strong>cer as complexidades<br />
e exigências próprias da<br />
construção e segurança<br />
de um electro<strong>do</strong>méstico,<br />
nomeadamente a legislação<br />
de segurança e as condições<br />
de a<strong>que</strong>cimento <strong>do</strong> aparelho.<br />
os componentes das chaleiras<br />
de FAstRez, sobreduto o<br />
“invólucro” colori<strong>do</strong> e diverso,<br />
é depois desenvolvi<strong>do</strong> por<br />
vários artesãos, sob orientação<br />
<strong>do</strong> designer. Artesãos esses,<br />
mestres <strong>do</strong> vidro e da cerâmica:<br />
“estas variações de chaleiras<br />
eléctricas conduzem à criação de<br />
objectos híbri<strong>do</strong>s <strong>que</strong> se situam<br />
algures entre a produção em<br />
massa e a produção artesanal,<br />
e entre a estética técnica<br />
e as formas orgânicas”.<br />
o designer, para conseguir as<br />
múltiplas formas e as bonitas<br />
cores de chaleiras, encontra-se<br />
regularmente com os seus<br />
artesãos e analisa aspectos<br />
vários e acertos técnicos<br />
obrigatórios (com uma tolerância<br />
de 2mm), bem como lhes<br />
fornece um guia de famílias<br />
80 81<br />
de formas <strong>que</strong> os mesmos<br />
artesãos terão <strong>que</strong> seguir.<br />
As peças são realizadas<br />
totalmente por meios artesanais<br />
mas poderiam ser produzidas<br />
integralmente por meio <strong>do</strong><br />
processo rapid prototyping. “o<br />
processo de rapid prototyping<br />
permite criar formas plásticas<br />
sem o recurso a moldes, pelo<br />
<strong>que</strong> se podem fazer modelos<br />
diferentes. decidi testar estas<br />
possibilidades com uma forma<br />
muito expressiva e ornamental.<br />
esta forma é impossível de ser<br />
produzida em plástico injecta<strong>do</strong>”.
fotografia<br />
mAR mAteu & VíCtoR CeldRÁN<br />
www.gingerstudiobcn.com<br />
styling<br />
lAiA Gómez<br />
s w eet<br />
Fal l<br />
Ass. styling<br />
Cris montenegro<br />
make-up&Hair<br />
inma Cifré<br />
Ass. fotografia<br />
derek Pedrós<br />
modelo<br />
Anna Castro<br />
(Francina models)<br />
vesti<strong>do</strong> sCee bY tWiN set<br />
gancho em forma de flor tARA JARmoN<br />
cinto leVis
lusa tARA JARmoN<br />
lenço odd mollY<br />
underwear mAGeNto AmARillA<br />
camisa ARmANd bAsi<br />
cinto Hoss iNtRoPiA<br />
underwear FeRRYs vintage
casaco de malha tWiN set<br />
lingerie mAGeNto AmARillA<br />
medias CAlze<strong>do</strong>NiA<br />
botas CAmPeR<br />
diadema mAGeNto AmARillA<br />
cardigan immA VAllVeRde<br />
underwear lA PeRlA<br />
botas bRuNo PRemi
vesti<strong>do</strong> tARA JARmoN<br />
colar deliRium
fotografia<br />
mANuel sousA<br />
styling<br />
mARGARidA bRito PAes<br />
d i a l<br />
duarte<br />
camisa FRed PeRRY<br />
calças FRed PeRRY, colete mANGo<br />
lenço tommY HilFiGeR<br />
casaco zeGNA, chapéu CAmel<br />
mala CARAmelo<br />
maegan<br />
vesti<strong>do</strong> Hoss<br />
casaco PAtRiziA PePe<br />
gola Hoss, luvas tommY HilFiGeR<br />
chapéu CARAmelo<br />
carteira Hoss<br />
ass. styling<br />
inese soncika<br />
make-up<br />
Alex me<br />
hair<br />
marcos Pinheiro<br />
m f o r<br />
mu r d er<br />
duarte<br />
camisa mARlboRo<br />
calças FRed PeRRY<br />
casaco CARAmelo<br />
modelos<br />
maegan e duarte (best models)
duarte<br />
fato CARAmelo<br />
maegan<br />
vesti<strong>do</strong> compri<strong>do</strong> NuNo bAltAzAR<br />
brincos e colar da produção
duarte<br />
camisa mANGo<br />
calças tommY HilFiGeR<br />
casaco FRed PeRRY<br />
maegan<br />
blusa mAleNe biRGeR<br />
cinto tommY HilFiGeR<br />
casaco RePlAY, gola Hoss<br />
carteira mANGo, brincos mANGo<br />
anel AleNtus
maegan<br />
vesti<strong>do</strong> mANGo<br />
pulseira mANGo<br />
brincos da produção<br />
duarte<br />
camisa mANGo<br />
calças tommY HilFiGeR<br />
casaco FRed PeRRY<br />
maegan<br />
camisa Hoss, saia tommY HilFiGeR<br />
colete Compri<strong>do</strong> NuNo bAltAzAR<br />
colete deCeNio, clutch Hoss<br />
brincos AleNtus, colar miss sixtY<br />
sapatos RePetto
styling — mARtA bRito<br />
modelos — diogo Guerra (Glam) Joana Alegria (best)<br />
fotografia — CARlA PiRes<br />
agradecimentos a marco reis e Luís por todas as facilidades concedidas.<br />
diogo<br />
boné, camisa leVi's<br />
bandana da produção<br />
calcas diesel<br />
ténis PumA<br />
w il d at<br />
H e a r t<br />
j o a n a<br />
casaco leVi's<br />
polo Amy Winehouse for FRed PeRRY<br />
calções diesel<br />
sapatos Geox<br />
make-up — mané<br />
hair — eric Ribeiro<br />
ass. fotografia — Pedro Antunes
diogo<br />
chapéu e lenço H&m<br />
t-shirt FRed PeRRY<br />
j o a n a<br />
camisola FRed PeRRY
j o a n a<br />
camisola zARA meN<br />
calções elemeNt<br />
meias ANdRom<br />
sapatos uRbAN outFiteRs<br />
j o a n a<br />
camisa FRed PeRRY<br />
soutien H&m.
j o a n a<br />
camiseiro FRed PeRRY<br />
gorro e camisole elemeNt<br />
botas Goldmud<br />
duarte<br />
chapéu FRed PeRRY.<br />
camisa lACoste<br />
calções e botas FlY loN<strong>do</strong>N
duarte<br />
camisa com capuz diesel<br />
t-shirt HooteRs<br />
calções H&m<br />
ténis All stAR CoNVeRse<br />
j o a n a<br />
impermeável com capuz FRed PeRRY<br />
vesti<strong>do</strong> WHite teNt<br />
botas FlY loN<strong>do</strong>N<br />
j o a n a<br />
cardigan lACoste<br />
óculos RAY-bAN, t-shirt FRed PeRRY<br />
duarte<br />
casaco FRed PeRRY<br />
t-shirt mez
F — Patrícia Andrade<br />
muito por acaso, numa noite <strong>que</strong> o fez travar instintivamente<br />
perante o brilho de um edifício industrial,<br />
Fred, motiva<strong>do</strong> pela curiosidade, instalou-se na pe<strong>que</strong>na<br />
esplanada para melhor ajuizar. esteve o <strong>tem</strong>po suficiente<br />
para uma chamada curta a Fanny, <strong>que</strong> depressa<br />
se juntou a ele para uma visita ao novo restaurante de<br />
lisboa, na lx F<strong>actor</strong>y. logo após o reencontro, brindavam<br />
já com duas taças de espumante francês Charles<br />
Pelletier Grand Reserve brut (3,75 euros), num ritual de<br />
boas vindas <strong>que</strong> trazia expectativas elevadas. Fanny<br />
e Fred sentiram-se confortáveis, quase em casa, entre<br />
mesas, cadeiras e outras curiosos recicla<strong>do</strong>s <strong>que</strong><br />
preenchem o espaço, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />
por uma enorme<br />
nave industrial apoiada<br />
em colunas de ferro. Fred<br />
comentou o renascimento<br />
das tabernas, como espaço<br />
de experimentação,<br />
e a reciclagem de ideias<br />
e de materiais, enquanto<br />
olhava distraidamente<br />
para a singular folha de<br />
papel par<strong>do</strong> impressa <strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s com o menu.<br />
Foi, de facto, uma experiência,<br />
concluiria mais tarde<br />
Fanny, <strong>que</strong> tinha pedi<strong>do</strong><br />
como entrada uma<br />
sopa de tomate, ovo Perfeito e tosta de Chouriço<br />
(4,5 euros), deixan<strong>do</strong>-a durante muito <strong>tem</strong>po a pensar<br />
na técnica de execução. Ao centro, impunha-se uma<br />
bola panada crocante, com um ovo escalfa<strong>do</strong> no interior,<br />
oferecen<strong>do</strong> vários níveis de texturas. Já Fred,<br />
pouco da<strong>do</strong> a essas perplexidades, desfazia o gaspacho<br />
sóli<strong>do</strong> <strong>que</strong> acompanhavam os seus três rissóis<br />
de cavala, camarão e choco com uma salada de batata<br />
(12 euros). Aconselharia os de cavala se fosse chama<strong>do</strong><br />
a escolher.<br />
de seguida, Fanny e Fred partilharam um filete de pargo<br />
com arroz malandrinho de tomate (16 euros) <strong>que</strong><br />
trazia um enigmático sabor a maresia e <strong>que</strong> acompanhou<br />
na perfeição uma taça de branco monte Cascas<br />
Reserva 2009, <strong>do</strong> <strong>do</strong>uro (4 euros), sugeri<strong>do</strong> por Ro<strong>do</strong>lfo<br />
tristão, escanção <strong>que</strong> elaborou a carta de vinhos e <strong>que</strong><br />
procura trazer o hábito <strong>do</strong> vinho a copo, ideia <strong>que</strong> pareceu<br />
excelente a Fred, por<strong>que</strong> permite pensar no vinho<br />
certo para cada prato. Já rejubilante, não pediu<br />
mais, nem se<strong>que</strong>r a possibilidade de trocar impressões<br />
com o próprio produtor <strong>do</strong> monte Cascas, <strong>que</strong><br />
ViS-à-ViS<br />
1 3 00<br />
T a ber n a<br />
T — Fred & Fanny<br />
108<br />
se apresentou como um jovem<br />
<strong>que</strong> produz oito vinhos,<br />
de várias regiões, a partir<br />
de uvas compradas. Fanny<br />
e Fred interrogavam-se se<br />
seria sempre assim, encontros<br />
com os próprios produtores,<br />
mas ao mesmo <strong>tem</strong>po<br />
não estranhavam <strong>que</strong> projectos<br />
estimulantes acabassem<br />
por congregar vontades<br />
e entusiasmos <strong>que</strong> se contagiam, tornan<strong>do</strong> os intervenientes<br />
mais participativos, uma inspiração <strong>que</strong> se<br />
nota nos restantes funcionários e <strong>que</strong> fez com <strong>que</strong><br />
essa noite corresse a um ritmo profissional, descontraí<strong>do</strong><br />
e sem arrogância, seguros de estarem a oferecer<br />
um produto de excelência.<br />
tu<strong>do</strong> apontava para um desfecho positivo, ainda abrilhanta<strong>do</strong><br />
por uma costoletinha de vitela barrosã, batata<br />
confitada e grelos saltea<strong>do</strong>s (18 euros), <strong>que</strong> acompanhou<br />
um copo de tinto monte Cascas Reserva 2008<br />
(Alentejo), composto maioritariamente por alicante<br />
bouchet e cabernet sauvignon<br />
(4 euros). A carne<br />
era de uma maciez ímpar<br />
e Fred ainda conjunturou<br />
sobre os tru<strong>que</strong>s para obter<br />
esse resulta<strong>do</strong> <strong>que</strong>, no<br />
final, seria desmistifica<strong>do</strong><br />
pelo chefe Nuno barros,<br />
um <strong>do</strong>s proprietários e<br />
responsável pela carta.<br />
em segun<strong>do</strong>s explicou<br />
<strong>que</strong> o objectivo da 1300<br />
taberna é ter uma prática<br />
de cozinha sustentável,<br />
o <strong>que</strong> implica ir ao<br />
encontro de produtores<br />
nacionais <strong>que</strong> ofereçam<br />
uma qualidade superior<br />
e com eles manter uma relação de fidelidade. As carnes<br />
e peixes estão garanti<strong>do</strong>s, faltam apenas alguns<br />
to<strong>que</strong>s no <strong>que</strong> se refere aos legumes, <strong>que</strong> serão naturalmente<br />
biológicos.<br />
sugestiona<strong>do</strong>s pela cozinha sustentável, Fanny e Fred<br />
entraram no carro a justificar a intensidade de sabor<br />
da sopa de morango com mousse de iogurte grego<br />
e frutos vermelhos (4,5 euros) <strong>que</strong> compartilharam<br />
e <strong>que</strong>, por si, seria um bom pretexto para voltarem,<br />
não houvesse outros.<br />
Lx F<strong>actor</strong>y — Lisboa<br />
seg: 09h30—18h30<br />
ter. & qui: 9h30—00h<br />
sex: 9h30—02h<br />
sáb: 19h30—02h<br />
T— 213 649 170<br />
www.1300taberna.com
Ho us e<br />
o f<br />
C o ol<br />
lisboa, <strong>que</strong> vibra com novos<br />
conceitos, pode ficar ainda mais<br />
preenchida com uma nova loja<br />
<strong>que</strong> abriu na Rua Augusta, uma<br />
das artérias mais animadas<br />
da baixa lisboeta. sAmAdi<br />
House oF Cool é um local<br />
onde o surf, o skate e a moda<br />
se misturam com a arte e onde<br />
é possível relaxar e comer<br />
qual<strong>que</strong>r coisa ou beber apenas<br />
um copo, enquanto se assiste<br />
à actuação de djs em live act.<br />
A loja <strong>tem</strong> <strong>do</strong>is pisos. No<br />
rés-<strong>do</strong>-chão, encontramos uma<br />
secção dedicada às pranchas e a<br />
to<strong>do</strong> o tipo de acessórios como<br />
chapéus, ataca<strong>do</strong>res, piercings,<br />
ténis, sandálias, cintos, toalhas de<br />
praia, biquinis, calções de banho,<br />
bolsas, mochilas e relógios de<br />
marcas como a QuiCksilVeR,<br />
dC, ReeF, NixoN, CoNVeRse,<br />
elemeNt, CARHARt, VoN<br />
ziPPeR, AdidAs, CHoColAt,<br />
VolCom ou billAboNG. No<br />
primeiro piso, encontra-se a<br />
pizzaria bar, a zona chill out com<br />
free wi-fi, exposições de arte<br />
e live djs. Para complementar,<br />
há também uma esplanada em<br />
frente à loja e um pe<strong>que</strong>no bar<br />
aberto directamente para a rua.<br />
sAmedi House of Cool<br />
Rua Augusta, 205/207<br />
lisboa<br />
T — Joana Guedes<br />
parq here — pLaCeS<br />
T — Maria São Miguel<br />
desiGN stoRe bCt<br />
Prç <strong>do</strong> Príncipe Real, 20-21<br />
lisboa<br />
www.bct.pt<br />
De s i g n<br />
S to r e<br />
B C T<br />
t— 211 928 020<br />
em to<strong>do</strong> o processo de renovação<br />
<strong>do</strong> comércio <strong>do</strong> Príncipe Real<br />
fazia falta uma grande loja de<br />
design <strong>que</strong> complementasse<br />
o espaço ocupa<strong>do</strong> por outras<br />
mais pe<strong>que</strong>nas, já existentes.<br />
A proposta foi feita por Rui<br />
mARQues, <strong>que</strong> <strong>tem</strong> quatro<br />
anos de experiência no sector,<br />
<strong>desde</strong> <strong>que</strong> começou com teci<strong>do</strong>s<br />
de decoração de marcas como<br />
kVAdRAt, mAHARAm e FANNY<br />
ARoNseN. o novo espaço nasceu<br />
de uma vontade de compromisso<br />
entre as necessidades de<br />
um showroom, satisfazen<strong>do</strong><br />
profissionais, e a curiosidade de<br />
um público entusiasta de boas<br />
peças de design. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />
a loja é <strong>do</strong>minada por um Citroën<br />
<strong>do</strong>is cavalos e apresenta muitas<br />
marcas para to<strong>do</strong> o tipo de<br />
preços. Relativamente à criação<br />
portuguesa, é possível encontrar<br />
vários modelos de cadeiras e<br />
sofás, como o layers, de mARCo<br />
sousA sANtos (branca),<br />
cadeiras da zeRo 2, apara<strong>do</strong>res<br />
da eGGo e tapetes <strong>do</strong> Piódão,<br />
estan<strong>do</strong> ainda previsto para<br />
breve o lançamento de projectos<br />
de FiliPe AlARCão. Além<br />
desta representação nacional,<br />
a bCt conta com iluminação da<br />
inglesa iNNeRmost, mobiliário<br />
e acessórios da italiana skitsCH<br />
e das nórdicas muuto e mAteR.<br />
A marca alemã Holili oferece<br />
mobiliário de exteriores e a<br />
steelCAse de escritórios.<br />
110 111
R i ba t ejo<br />
Proveniente de uma<br />
região vinícola por muitos<br />
negligenciada, o Ribatejo,<br />
o Quinta da Alorna –touriga<br />
Nacional, Cabernet sauvignon,<br />
Reserva 2008, é um forte<br />
candidato ao "prémio" melhor<br />
relação preço/qualidade. É<br />
um vinho muito perfuma<strong>do</strong>,<br />
surgin<strong>do</strong> no nariz notas de fruta<br />
vermelha madura, especiarias,<br />
e um to<strong>que</strong> de chocolate.<br />
esta relação de aromas é o<br />
resulta<strong>do</strong> da combinação entre<br />
as duas castas <strong>que</strong> dão origem<br />
a este vinho: touriga nacional,<br />
Com o aproximar das primeiras<br />
vindimas <strong>do</strong> ano, começo a<br />
pensar em tintos novamente. e<br />
embora as vindimas comecem,<br />
tendenciosamente, pelo Alentejo,<br />
as sugestões desta vez recaem<br />
sobre uma região bem no topo<br />
<strong>do</strong> país —o <strong>do</strong>uro. Começan<strong>do</strong><br />
pelo primeiro <strong>que</strong> provei, o<br />
Quinta Nova de Nossa senhora <strong>do</strong><br />
Carmo de 2009, <strong>tem</strong> um aroma de<br />
fruta vermelha madura e notas<br />
florais. Na boca, é um vinho cheio<br />
de frescura, com taninos fortes<br />
a marcar presença, resultan<strong>do</strong><br />
num vinho re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>, muito bem<br />
equilibra<strong>do</strong> e com um final de<br />
boca de persistência média. o<br />
T — Romeu Bastos<br />
parq here — DrinkS guia De CompraS<br />
casta rainha em Portugal,<br />
e carbernet sauvignon, uma das<br />
mais plantadas castas a nível<br />
mundial. Na prova, mostra<br />
um vinho equilibra<strong>do</strong>, bem<br />
estrutura<strong>do</strong>, taninos aveluda<strong>do</strong>s<br />
e extremamente bem conjuga<strong>do</strong>s<br />
com os <strong>do</strong>ze meses de estágio<br />
em barricas de carvalho<br />
francês, com um final de boca<br />
teimosamente persistente.<br />
Quinta da Alorna – touriga<br />
Nacional, Cabernet sauvignon,<br />
Reserva 2008, 5€<br />
D o u r o<br />
T — Romeu Bastos<br />
Para muitos fãs dRAmbuie,<br />
um licor a base de whisky,<br />
é uma bebida <strong>que</strong> se bebe<br />
simplesmente com gelo.<br />
Contu<strong>do</strong> gostavamos <strong>que</strong><br />
experiemntassem misturar<br />
esses sabores <strong>que</strong>ntes de mel<br />
e ervas com um pouco de licor<br />
de café. uma bebida para uma<br />
descida de <strong>tem</strong>peratura.<br />
outro exemplar prova<strong>do</strong>, lua<br />
Nova em Vinhas Velhas de 2009,<br />
é um vinho elabora<strong>do</strong> com<br />
mais de vinte tipos de castas<br />
provenientes de vinhas velhas,<br />
<strong>que</strong> fazem com <strong>que</strong> tenha um<br />
carácter tão particular. Com<br />
uma cor rubi muito intensa,<br />
no nariz <strong>tem</strong> aromas de fruta<br />
vermelha, ameixa e especiarias.<br />
Na boca é um vinho fresco,<br />
bem estrutura<strong>do</strong>, com taninos<br />
re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s <strong>que</strong> conferem uma<br />
elegância muito atractiva no<br />
seu final de boca persistente.<br />
lua Nova em Vinhas Velhas, 7€<br />
Quinta Nova, 8€<br />
H oney Mo on<br />
T — Miguel Tojal (www.asdecopas.com)<br />
4 cl Vodka<br />
1,5 cl drambuie<br />
1,5 cl licor de chocolate<br />
0,5 cl mel<br />
técnica: shaker<br />
Copo: taça de martini<br />
decoração: borda de mel<br />
G u i a<br />
C o m p r a s<br />
A VIDA PORTUGUESA<br />
Rua Anchieta, 11 — Lisboa<br />
T. 213 465 073<br />
ADIDAS<br />
T. 214 424 400<br />
www.adidas.com/pt<br />
AFOREST DESIGN<br />
T.966 892 965<br />
www.aforest-design.com<br />
ANA SALAZAR<br />
Rua Do Carmo, 87 — Lisboa<br />
T. 213 472 289<br />
ANDRÉ ÓPTICAS<br />
Av. Da Liberdade, 136 A Lisboa<br />
Telf. 213 261 500<br />
AREA<br />
AmoReiRAs shopping<br />
CenteR, Loja 2159<br />
T. 213 715 350<br />
BCBG<br />
Rua Castilho, 27—Lisboa<br />
T. 226 102 845<br />
BILLABONG — Despomar<br />
T. 261 860 900<br />
BREITLING<br />
Cromometria s.A<br />
T. 226 102 845<br />
BURBERRY, BRODHEIM LDA<br />
T. 213 193 130<br />
CAMPER<br />
Rua stª Justa, 85 Lisboa<br />
CARHARTT<br />
Rua <strong>do</strong> norte,64—Lisboa<br />
T. 213 433 168<br />
CAROLINA HERRERA<br />
Av. Da Liberdade, 150 – Lisboa<br />
CAT — BEDIVAR<br />
T. 219 946 810<br />
CHLOÉ<br />
FÁTIMA MENDES e GATSBY<br />
(PORTO) e STIVALI Lisboa<br />
CONVERSE<br />
T. 214 412 705<br />
www.converse.pt<br />
COHIBAS<br />
T. 256 201 430<br />
CREATIVE RECREATION — Picar<br />
T. 252 800 200<br />
DECODE<br />
tiVoLi FoRUm<br />
Av Da Liberdade, 180 Lj 3B – Lisboa<br />
DIESEL STORE<br />
prç Luís De Camões, 28 – Lisboa<br />
T. 213 421 974<br />
DINO ALVES<br />
T. 210 173 091<br />
EASTPAK —MORAIS&GONÇALVES, LDA<br />
T. 219 174 211<br />
EL CABALLO<br />
Rua ivens, 10 Lisboa<br />
T. 210 460 294<br />
ENERGIE – SIXTY PORTUGAL<br />
T. 223 770 230<br />
FABRICO INFINITO<br />
Rua D. pedro V, 74 – Lisboa<br />
ELEMENT —Despomar<br />
T. 261 860 900<br />
ERMENEGILDO ZEGNA Av. Da Liberdade, 151<br />
T. 213 433 710<br />
ESPAÇO B<br />
Rua D. pedro V, 120 Lisboa<br />
FASHION CLINIC<br />
tiVoLi FoRUm<br />
Av. Da Liberdade, 180, Lj 2 e Lj 5<br />
FERNANDA PEREIRA<br />
Rua da Rosa 195 Bairro Alto<br />
FILIPE FAÍSCA<br />
Calçada Do Combro, 95 – Lisboa<br />
FIRETRAP — BUSCAVISUAL, LDA<br />
T. 917 449 778<br />
FLY LONDON<br />
Av. Da Liberdade, 230 Lisboa<br />
FORNARINA<br />
Lg. Do Chia<strong>do</strong>, 13 Lisboa<br />
FRED PERRY — SAGATEX<br />
T. 255 089 153<br />
FURLA, BRODHEIM LDA<br />
T. 213 193 130<br />
GANT<br />
RiCCon ComeRCiAL LoJAs<br />
Av. Da Liberdade, 38 – Lisboa<br />
Av. Da Boavista 2300/2304, - porto<br />
T. 252 418 254<br />
GAS<br />
T. 223 770 314<br />
www.gasjeans.com<br />
HERMÈS<br />
Largo <strong>do</strong> Chia<strong>do</strong>, 9—Lisboa<br />
T. 213 242 070<br />
H&M<br />
Rua Do Carmo, 42 Lisboa<br />
HOSS INTROPIA<br />
Rua Castilho, 59 A Lisboa<br />
T. 213 878 602<br />
HUGO BOSS PORTUGAL Av.Da Liberdade, 141<br />
Rua garret, 78 Lisboa<br />
T. 212 343 195<br />
K-SWISS — Bedivar<br />
T. 219 946 810<br />
LACOSTE – Devanlay Portugal<br />
T. 217110971<br />
LARA TORRES<br />
www.laratorres.com<br />
LE COQ SPORTIF<br />
T. 220 915 886<br />
www.lecoqsportif.com<br />
112 113<br />
LEE<br />
www.lee-eu.com<br />
LEVI’S —Levi's Portigal<br />
T. 217 998 149<br />
LIDIJA KOLOVRAT<br />
Rua Do salitre, 169<br />
T. 213 874 536<br />
LOUIS VUITTON<br />
Av.Da Liberdade, 190 – Lisboa<br />
T. 213 584 320<br />
LUIS BUCHINHO<br />
Rua José Falcão 122 – porto<br />
T. 222 012 776<br />
MANGO<br />
www.mango.com<br />
MARLBORO CLASSICS<br />
gAiA shopping, FoRUm CoimBRA<br />
e C.C. VAsCo DA gAmA<br />
MELISSA<br />
T. 934 134 392<br />
www.melissa.com.br<br />
MERRELL — BEDIVAR<br />
T. 219 946 810<br />
SIXTY – SIXTY PORTUGAL<br />
T. 223 770 230<br />
MIGUEL VIEIRA<br />
T. 256 833 923<br />
MY GOD<br />
AVis: R. José gomes Ferreira,<br />
11 Lj 251 – Lisboa<br />
C.C. AmoReiRAs: Lj 2142 – Lisboa<br />
NIKE SPORTSWEAR<br />
T. 214 169 700<br />
NIXON — Despomar<br />
T. 261 860 900<br />
NUNO BALTAZAR<br />
Av. Da Boavista, 856 – porto<br />
T. 226 065 083<br />
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Faltava apenas um prego<br />
nas tábuas <strong>do</strong> meu caixão e<br />
assim ficaria, definitivamente,<br />
enterrada viva. A campainha<br />
interrompeu o silêncio sepulcral,<br />
então exclamei «Por deus» —<br />
logo eu, <strong>que</strong> nem acredito na<br />
existência <strong>do</strong> divino— «deixemme<br />
só com o meu triste Fa<strong>do</strong>». o<br />
quarto <strong>que</strong> me acolhe é bafiento,<br />
tal como o meu sofrimento <strong>que</strong><br />
até dá gosto, assim é quan<strong>do</strong> se<br />
ama alguém e o sentimento em<br />
nada é correspondi<strong>do</strong>. Nascida<br />
num país onde se canta de mão<br />
ao peito e de olhos fecha<strong>do</strong>s uma<br />
estranha forma de vida —a <strong>do</strong>r<br />
—morre-se de amor e pronto.<br />
A campainha silencia-me, uma<br />
vez mais, o <strong>que</strong>ixume a <strong>que</strong> me<br />
devotei. maldição, <strong>que</strong>m me<br />
obriga a sair <strong>do</strong> meu sarcófago?<br />
disposta a soltar os cães <strong>que</strong><br />
não tenho, talvez se arranje um<br />
felino atrevi<strong>do</strong>, tão feroz assim<br />
é um caramelo a desfazer-se<br />
na boca. desgrenhada, abro a<br />
porta, olhos remelosos como<br />
<strong>que</strong>m não vê a luz <strong>do</strong> dia há um<br />
milhão de anos. Há, porém, uma<br />
luminosidade a espelhar-se no<br />
meu rosto e vem da imagem<br />
<strong>que</strong> alcanço <strong>do</strong> alto de 1 metro e<br />
90, onde encontro olhos de elfo<br />
<strong>que</strong> me sorriem. A voz leva-me<br />
numa melodia e encandeia-me<br />
DiapoSiTiVo<br />
uma crónica de Cláudia matos silva<br />
www.claudiamatossilva.pt.vu<br />
i— bráulio Ama<strong>do</strong> (www.iusecomicsans.com)<br />
i will survive<br />
os senti<strong>do</strong>s. oiço parcialmente<br />
o <strong>que</strong> me diz, Porfírio, assim se<br />
chama este anjo na terra, <strong>que</strong> tal<br />
como o carteiro, também tocou<br />
duas vezes. Não é vende<strong>do</strong>r, não<br />
recolhe <strong>do</strong>nativos para caridade<br />
nem reúne assinaturas para<br />
uma causa de circunstância.<br />
zombificada e de sorriso tolo nos<br />
lábios, fecho a porta estarrecida<br />
e com os olhos presos numa teia<br />
de aranha suspensa no tecto <strong>do</strong><br />
hall da entrada, e <strong>que</strong>stiono-me,<br />
quan<strong>do</strong> é <strong>que</strong> as tes<strong>tem</strong>unhas<br />
de Jeová começaram a ser<br />
pedaços de mau caminho?<br />
o Porfírio voltaria a bater-me à<br />
porta uma e outra vez, sempre<br />
com o mesmo propósito: falar <strong>do</strong><br />
grande livro de profecias, a bíblia.<br />
os meus intentos mudariam<br />
claramente com as suas visitas<br />
regulares. Por<strong>que</strong> ouvi-lo falar <strong>do</strong><br />
cria<strong>do</strong>r, deus, e como deveríamos<br />
servi-lo para assim alcançar a<br />
nova ordem/vida eterna, abriria<br />
uma janela na minha própria<br />
existência e isso reflectia-se em<br />
pe<strong>que</strong>nas coisas. Calções curtos<br />
e top escortinha<strong>do</strong> à naifada,<br />
prendi o cabelo com um elástico<br />
e ergui um carrapito mesmo no<br />
cocuruto. No centro da minha<br />
sala de estar, sentia-me numa<br />
autêntica pista de dança com o<br />
meu parceiro, a esfregona, e nem<br />
114<br />
precisava fechar os olhos para me<br />
imaginar numa festa psicadélica<br />
<strong>do</strong>s anos 70. A casa arejava, como<br />
há muito não acontecia, o vento<br />
fazia os cortina<strong>do</strong>s ro<strong>do</strong>piar,<br />
eu dançava ao som <strong>do</strong>s indeep<br />
last Night a dJ saved my life<br />
e passava o chão to<strong>do</strong> a pano.<br />
estaria o meu Fa<strong>do</strong> a mudar?<br />
A campainha tocou, assanhada,<br />
abri a porta esperan<strong>do</strong> encontrar<br />
o Porfírio, quan<strong>do</strong> remonta<br />
à minha memória a imagem<br />
de uma velhota amorosa com<br />
cabelo cor de algodão. Chama-se<br />
Cremilde, vem no seguimento<br />
das anteriores visitas, e<br />
convida-me a fre<strong>que</strong>ntar o salão<br />
<strong>do</strong> reino da minha localidade.<br />
talvez o Porfírio tenha percebi<strong>do</strong><br />
os meus reais intentos e assim<br />
tenha coloca<strong>do</strong> a minha fé à<br />
prova. o <strong>que</strong> não sabe é <strong>que</strong>, ao<br />
conhecê-lo, voltei a acreditar<br />
nas pessoas e <strong>que</strong> é possível<br />
fazer o bem sem esperar nada<br />
em troca. Renascida, compro um<br />
bilhete para o concerto de Glória<br />
Gaynor, no Campo Pe<strong>que</strong>no,<br />
dia 8 de outubro. sou uma<br />
sobrevivente de mim mesma,<br />
aconteça o <strong>que</strong> acontecer i Will<br />
survive, por<strong>que</strong> a vida <strong>tem</strong> muito<br />
mais graça se for um hino disco<br />
sound. Quanto à Fé, é preciso<br />
mantê-la... sempre, em nós!