Uso de Remendo de Pericárdio Bovino em Cirurgia da Carótida
Uso de Remendo de Pericárdio Bovino em Cirurgia da Carótida
Uso de Remendo de Pericárdio Bovino em Cirurgia da Carótida
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Artigo Original<br />
USO DE REMENDO DE PERICÁRDIO BO<br />
VINO EM CIRURGIA DA CARÓTIDA<br />
Lannes A. V. Oliveira*<br />
Pedro Puech-Leão**<br />
Domingos Guerino Silva*<br />
Nilo M. lzukawa*<br />
Guilherme Maldonado***<br />
Os autores relatam os resultados com o uso <strong>de</strong> r<strong>em</strong>endo<br />
<strong>de</strong> pericárdio bovino <strong>em</strong> 25 en<strong>da</strong>rterectomias <strong>de</strong> caróti<strong>da</strong>,<br />
com seguimento <strong>de</strong> 1 a 45 meses.<br />
Nesse período <strong>de</strong> seguimento, não ocorreram estenoses,<br />
obstruções, aneurismas, sangramentos ou infecções. Ne <br />
nhum sinal <strong>de</strong> isqu<strong>em</strong>ia cerebral foi observado.<br />
O pericárdio bovino foi consi<strong>de</strong>rado um material <strong>de</strong> fácil<br />
manuseio e a<strong>de</strong>quado para essa finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, abreviando o<br />
t<strong>em</strong>po cirúrgico e evitando a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> safena.<br />
Unitermos: Artéria caróti<strong>da</strong>, <strong>R<strong>em</strong>endo</strong> heterólogo, Aterosclerose<br />
INTRODUÇÃO<br />
Há cerca <strong>de</strong> 20 anos, o pericárdio bovino *(PB) v<strong>em</strong><br />
sendo utilizado como enxerto biológico na cirurgia cardíaca,<br />
para correção <strong>de</strong> cardiopatias congênitas, para confecção<br />
<strong>de</strong> próteses biológicas 3 .4 e como r<strong>em</strong>endo para ampliação<strong>da</strong><br />
via<strong>de</strong>saí<strong>da</strong><strong>da</strong> raiz <strong>da</strong> aorta 2 . Maisrecen t<strong>em</strong>ente,algunsserviços<br />
utilizaram o PB<strong>em</strong> cirurgia vascular periférica<br />
com bons resultados 1.5.<br />
Baseados <strong>em</strong> experiência com o uso do PB <strong>em</strong> outras<br />
localizações, iniciamos há 3 anos o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>sse material<br />
<strong>em</strong> r<strong>em</strong>endos para fechamento <strong>de</strong> artérias caróti<strong>da</strong>s após<br />
en<strong>da</strong>rterectomias. De início, era usado <strong>em</strong> pacientes que<br />
haviam sido submetidos a safenectomia bilateral, nos<br />
quais o uso <strong>da</strong> safena como r<strong>em</strong>endo era impossível; posteriormente<br />
passamos a usar o PB como opção preferencial.<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é analisar os resultados do<br />
uso do PB como r<strong>em</strong>endo <strong>em</strong> en<strong>da</strong>rterectomias Ue caróti<strong>da</strong>.<br />
CASUÍSTICA<br />
Foram realiza<strong>da</strong>s 25 en<strong>da</strong>rterectomias <strong>de</strong> caróti<strong>da</strong><br />
com r<strong>em</strong>endQ <strong>de</strong> PB <strong>em</strong> 22 pacientes, no período <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 87 a set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 90. Em 3 pacientes foi feit a a en<strong>da</strong>rterectomia<br />
bilateral, <strong>em</strong> dois t<strong>em</strong>pos. Oito pacientes<br />
eram do sexo f<strong>em</strong>inino e 14\ do sexo masculino. A i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
dos pacientes variou <strong>de</strong> 48 a 71 anos (média = 61.8). As<br />
lesões eram ateroscleróticas <strong>em</strong> todos os casos. Seis pacientes<br />
tinham história <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes isquêmicos cerebrais<br />
transitórios, e os <strong>de</strong>mais eram assintomáticos. Em todos os<br />
casos, o grau <strong>de</strong> es,tenose foi classificado pela angiografia<br />
como maior do que 70%.<br />
MÉTODO<br />
A avaliação pré-operatória inclui arreriografi'a <strong>em</strong> todos<br />
os casos, precedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> ecografia-Doppler <strong>em</strong> meta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>les.<br />
As en<strong>da</strong>rterectomias foram feitas pela ~êçlllica clássica,<br />
sob heparinização sistêmica. Não foi usa<strong>da</strong> <strong>de</strong>rivação<br />
t<strong>em</strong>porária <strong>em</strong> nenhum caso.<br />
Trabalho realizado no setor <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Vascular do Instituto "Dante<br />
Pazzanese" <strong>de</strong> Cardiologia, São Paulo.<br />
médico do setor <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Vascular<br />
** chefe do setor <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Vascular<br />
*** médico-resi<strong>de</strong>nte do setor <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Vascular<br />
FIGURA 1: Patch <strong>de</strong> pericárdio confeccionado.<br />
*Biocor Ind e Com<br />
4<br />
CIR. VASCo ANG. 7(1):4,6,1991
Lannes A. V. Oliveira e cals.<br />
<strong>R<strong>em</strong>endo</strong> <strong>de</strong> pericárdio bovino<br />
FIGURA 2: Inicia-se a colocação do palch pela caróli<strong>da</strong> inlerna.<br />
IÕ.t!ERI'IUIIIJ DE<br />
04'09'98<br />
19:07:44<br />
FROZEll<br />
FQ7S<br />
SC06<br />
fCHI<br />
FR 10<br />
5S I<br />
liR<br />
DL<br />
••<br />
EEEa<br />
DR45<br />
I<br />
~~~ I.<br />
RX3e •<br />
ãll<br />
'_:_~ "':SAA.,;", 0<br />
FIGURA 4: Ecografia pré-operalória moslrando placa eslenosanle na caróli<strong>da</strong><br />
interna direita.<br />
,u;T.;;)l'iÇI , al~ ""UlfR:'-rtJdne'f'ntron f t"IJ,;;JfI:;t"IQ .. 1.<br />
E PA2ZANESE CardioílSt DOMING/KAMEMC 5-JUN-90<br />
IH<br />
3<br />
FIGURA 3: Palch <strong>de</strong> PB colocado.<br />
Em todos os casos operados, a opção pelo uso do r<strong>em</strong>endo<br />
foi <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à extensão <strong>da</strong> arteriotomia para a caróti<strong>da</strong><br />
interna, sendo que o calibre <strong>de</strong>sta não permitia o fechamento<br />
primario s<strong>em</strong> risco <strong>de</strong> estenose na linha <strong>de</strong> sutura.<br />
O PB foi lavado <strong>em</strong> solução fisiológica, e suturado à<br />
artéria com fio <strong>de</strong> polipropileno 6-0, tendo-se o cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong><br />
posicionar a sua face lisa para a luz <strong>da</strong> artéria, ficando a<br />
face rugosa para o exterior do vaso (Figs. I, 2 e 3).<br />
No pós-operatório, os resultados foram avaliados pela<br />
evolução clínica e pela ecografia-Doppler.<br />
O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> seguimento foi <strong>de</strong> I a 45 meses.<br />
86<br />
FIGURA 5: Arleriografia digilal do mesmo caso <strong>da</strong> figo 4<br />
RESULTADOS<br />
Não hmIVe ocorrência <strong>de</strong> estenose, oclusão, aneurisma,<br />
sangramento, <strong>de</strong>iscência <strong>de</strong> sutura, infecção ou sinais<br />
<strong>de</strong> déficit neurológico durante o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> seguimento.<br />
As ecografias mostraram boa a<strong>da</strong>ptação do material à<br />
pare<strong>de</strong> do vaso, com calibre a<strong>de</strong>quado <strong>da</strong> luz (figs 4, 5 e 6).<br />
DISCUSSÃO<br />
O PB é um material biológico ain<strong>da</strong> pouco utilizado<br />
<strong>em</strong> cirurgia vascular, apesar <strong>de</strong> já ter se mostrado a<strong>de</strong>quado<br />
para r<strong>em</strong>endos arteriais. A dúvi<strong>da</strong> quanto ao comportamento<br />
a longo prazo <strong>de</strong> um enxerto heterólogo po<strong>de</strong> ter<br />
motivado esse fato. Entretanto, estudos histológicos já<br />
CIR. VASCo ANG. 7(1):4,6,1991<br />
lD.HERIIIHIO DE ALllElDA 54 A iHOSP.CORACAO ASS.SAN.SIRIO<br />
FIGURA 6: Ecografia pós-operalória do mesmo caso <strong>da</strong> figo 4, moslrando ausência<br />
<strong>de</strong> eslenose e calibre a<strong>de</strong>quado <strong>da</strong> luz arlerial.<br />
5
Lannes A. V. Oliveira e cals.<br />
<strong>R<strong>em</strong>endo</strong> <strong>de</strong> pericárdio bovino<br />
mostraram tratar-se <strong>de</strong> um material inerte, que serve <strong>de</strong><br />
estrutura para o assentamento <strong>de</strong> uma reação fibroblástica<br />
sobre a sua superfície, não se tendo observado qualquer<br />
reação imunológica <strong>de</strong> rejeiçã0 4 . De fato, Araújo e cols. já<br />
relataram o seu <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> localizações varia<strong>da</strong>s com suo<br />
cesso l .<br />
Os resultados no seguimento <strong>de</strong> até 45 meses foram<br />
bons. Seguimento mais tardio <strong>de</strong>sses casos <strong>de</strong>verá, no futuro,<br />
fornecer informações sobre o comportamento <strong>de</strong>sse<br />
material <strong>em</strong> períodos mais longos.<br />
O PB é um material maleável, resistente, <strong>de</strong> espessura<br />
fina e uniforme e, por não ser poroso, dispensa précoagulação.<br />
Esta última característica, alia<strong>da</strong> a um custo<br />
mais baixo, o torna mais vantajoso <strong>em</strong> relação ao Dracon.<br />
Sua face lisa apresenta trombogenici<strong>da</strong><strong>de</strong> muito baixa.<br />
A preferência pelo PB, nessa situação, sobre o uso <strong>da</strong><br />
safena, permite evitar uma segun<strong>da</strong> incisão, o que traz<br />
menos <strong>de</strong>sconforto no pós-operatório, e preserva a safena<br />
para ser utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> outras operações que possam ser necessárias<br />
no futuro.<br />
CONCLUSÃO:<br />
O uso do PB como r<strong>em</strong>endo <strong>em</strong> en<strong>da</strong>rterectomias <strong>de</strong><br />
caróti<strong>da</strong> produz bons resultados a médio prazo, evita a retira<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> safena e abrevia o t<strong>em</strong>po cirúrgico.<br />
SUMMARY<br />
Bovit