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O método em arquitetura: conciliando HEIDEGGER e POPPER.

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me ajudasse a compreender os fundamentos da <strong>arquitetura</strong>, já que o a tentativa de trilhar o<br />

caminho dos dois Christopher, o ALEXANDER (1966) 2 e o JONES (1968) 3 havia sido<br />

infrutífera.<br />

Até hoje tenho dúvidas se entendi o que era para ser entendido daquilo que li de<br />

<strong>HEIDEGGER</strong>. Entretanto estou certa de que o que eu entendi - ou julguei entender - me<br />

esclareceu muita coisa sobre a natureza do objeto arquitetônico. E isso me pareceu, s<strong>em</strong><br />

dúvida, um caminho seguro para se chegar à resposta da pergunta "o que nos ajudaria a<br />

fazer melhores projetos"<br />

Antes de encontrar <strong>HEIDEGGER</strong> e me afiliar incondicionalmente ao que eu suponho ser o<br />

seu desvelamento do ser dos objetos (no capítulo The Worldhood of the World de Being<br />

and Time) e, portanto, do ser dos objetos arquitetônicos, eu era leitora de <strong>POPPER</strong> 4 . E<br />

também me tornei incondicionalmente afiliada ao pensamento desse filósofo,<br />

principalmente depois de ler Arte e Ilusão, de HERNEST GOMBRICH. 5<br />

<strong>POPPER</strong> me ensinou de modo muito convincente que o <strong>método</strong> de criação (ou o processo<br />

criativo, como prefer<strong>em</strong> alguns autores) é s<strong>em</strong>pre o mesmo, <strong>em</strong> qualquer situação <strong>em</strong> que<br />

ocorre alguma forma de conhecimento, seja nas ciências naturais, ciências sociais e nas<br />

artes. Por que então seria diferente nas áreas de aplicação como, por ex<strong>em</strong>plo, nas<br />

engenharias ou na <strong>arquitetura</strong><br />

Segundo <strong>POPPER</strong> (1997) 6 , as ciências naturais e as ciências sociais part<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre de<br />

probl<strong>em</strong>as; para resolvê-los elas usam o <strong>método</strong> de tentativa e erro, que é o mesmo<br />

utilizado pelo bom senso: t<strong>em</strong>os um probl<strong>em</strong>a, construímos soluções e descartamos, uma<br />

após outra, aquelas que não resolv<strong>em</strong> b<strong>em</strong> o probl<strong>em</strong>a; finalmente ficamos com a que<br />

resolve. Nesse processo se dá o aprendizado. T<strong>em</strong>os então três níveis:<br />

• O probl<strong>em</strong>a (ou situação probl<strong>em</strong>a).<br />

• As tentativas de solução (hipóteses, conjecturas, teorias).<br />

• A eliminação das soluções erradas (avaliação crítica).<br />

A ciência nasce do conhecimento pré-científico, que é o senso comum, ou bom senso.<br />

O probl<strong>em</strong>a é s<strong>em</strong>pre anterior a qualquer observação ou percepção dos sentidos. A<br />

observação e a percepção auxiliam na formulação das hipóteses de solução, nas<br />

conjecturas. A eliminação dos erros se faz pelo <strong>método</strong> crítico. A ciência nasce quando o<br />

espírito crítico se desenvolve, através da discussão. O progresso científico consiste no fato<br />

de que as teorias são suplantadas e substituídas por outras. As novas teorias resolv<strong>em</strong> os<br />

probl<strong>em</strong>as que as antigas resolviam e ainda resolv<strong>em</strong> novos probl<strong>em</strong>as que não eram<br />

cont<strong>em</strong>plados pelas antigas. A teoria de Einstein, por ex<strong>em</strong>plo, resolve o probl<strong>em</strong>a dos<br />

movimentos planetários e da macromecânica <strong>em</strong> geral tão b<strong>em</strong>, ou talvez melhor, que a<br />

teoria de Newton.<br />

Quando conseguimos falsificar uma teoria nós aprend<strong>em</strong>os muito. Aprend<strong>em</strong>os não<br />

somente que ela é falsa, mas a razão pela qual é falsa. Aí nós t<strong>em</strong>os um novo probl<strong>em</strong>a, que<br />

será um ponto de partida para um novo desenvolvimento científico.<br />

Seria o processo de criação arquitetônica diferente disso Sugiro que não. Em <strong>arquitetura</strong><br />

ocorre a mesma coisa. GOMBRICH (1995, p. 329) 7 , filiando-se às idéias de <strong>POPPER</strong> diz:<br />

“A faculdade de manter presentes na mente um grande número de relações é que distingue<br />

todo o des<strong>em</strong>penho mental, seja o de um jogador de xadrez, seja o de um compositor, seja<br />

o de um grande artista plástico.” Eu acrescentaríamos ao elenco de GOMBRICH: seja o de<br />

um arquiteto.

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