Riscos e benefÃcios do uso dos inibidores seletivos da ... - Febrasgo
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Marcelo luís NoMura 1<br />
João luís carvalho PiNto e silva 2<br />
Editorial<br />
Correspondência:<br />
Centro de Atenção Integral à Saúde <strong>da</strong> Mulher – CAISM<br />
Rua Alexander Fleming, 101 – Ci<strong>da</strong>de Universitária Zeferino Vaz<br />
CEP 13084-881 – Campinas/SP<br />
Fone/Fax: (19) 3521-9304<br />
E-mail: psilva@unicamp.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
01/06/2007<br />
Aceito com modificações<br />
25/06/2007<br />
<strong>Riscos</strong> e benefícios <strong>do</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res<br />
<strong>seletivos</strong> <strong>da</strong> recaptação de serotonina para<br />
a depressão durante a gravidez e a lactação<br />
Use of selective serotonin reuptake inhibitors for treatment of depression<br />
in pregnancy and breast-feeding<br />
A depressão é um <strong>do</strong>s problemas clínicos mais importantes durante a gravidez, com<br />
freqüência estima<strong>da</strong> de 10-20% 1,2 . Sabe-se também que o perío<strong>do</strong> perinatal é desencadea<strong>do</strong>r<br />
ou reativa<strong>do</strong>r de quadros depressivos e que a depressão pós-parto possivelmente<br />
é um quadro que se inicia durante a gestação e não é reconheci<strong>do</strong> nesta fase. O obstetra<br />
tem papel fun<strong>da</strong>mental durante o pré-natal no reconhecimento de sintomas que permitam<br />
intervenções precoces e para prevenção <strong>do</strong>s quadros mais graves.<br />
Para a maioria <strong>da</strong>s mulheres com quadros depressivos leves e modera<strong>do</strong>s a psicoterapia<br />
é suficiente para o controle <strong>do</strong>s sintomas. A terapia farmacológica está reserva<strong>da</strong><br />
para os quadros graves, não responsivos à psicoterapia. Dentro <strong>do</strong> arsenal terapêutico,<br />
os antidepressivos cujo mecanismo de ação envolve a inibição seletiva <strong>da</strong> recaptação de<br />
serotonina (ISRS) são os mais comumente prescritos, entre eles a fluoxetina, a paroxetina,<br />
a sertralina, a venlafaxina, a fluvoxamina e o citalopram.<br />
Como to<strong>da</strong> droga psicoativa na gestação, os ISRS possuem efeitos conheci<strong>do</strong>s sobre o<br />
feto e o recém-nasci<strong>do</strong>, além de possíveis efeitos em longo prazo sobre as crianças expostas<br />
durante a vi<strong>da</strong> intra-uterina. Podemos dividir esses efeitos, de acor<strong>do</strong> com o perío<strong>do</strong><br />
estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, em três síndromes distintas: teratogênese, perinatal e comportamental.<br />
O efeito teratogênico <strong>do</strong>s ISRS é considera<strong>do</strong> controverso, mas com evidências recentes<br />
mais preocupantes. Um <strong>do</strong>s maiores estu<strong>do</strong>s foi realiza<strong>do</strong> na Suécia com 6.481<br />
mulheres, totalizan<strong>do</strong> 6.555 recém-nasci<strong>do</strong>s 3 . To<strong>da</strong>s estas mulheres haviam usa<strong>do</strong> ISRS<br />
no primeiro trimestre de gestação, <strong>da</strong>s quais 860 utilizaram fluoxetina, 2.579 citalopram,<br />
908 paroxetina e 1.807 sertralina, e o restante fez <strong>uso</strong> de fluvoxamina e escitalopram.<br />
Como classe farmacológica não houve aumento significativo <strong>do</strong> risco de malformações<br />
maiores (4,7 versus 4,1%, risco relativo – RR=0,89 e intervalo de confiança – IC=0,79-<br />
1,07), confirman<strong>do</strong> os acha<strong>do</strong>s de outros <strong>do</strong>is grandes estu<strong>do</strong>s 4,5 . As <strong>do</strong>enças renais císticas<br />
foram significativamente mais freqüentes nas usuárias de ISRS (RR=3,5 e IC=1,60-6,65).<br />
No entanto, os autores agruparam diversos tipos de <strong>do</strong>enças renais (<strong>do</strong>ença policística<br />
infantil, rim esponjoso, cistos medulares, <strong>do</strong>ença cística obstrutiva), com diferentes<br />
mecanismos patológicos, o que pode enfraquecer a associação com ISRS.<br />
Na análise separa<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> droga, a paroxetina elevou significativamente o risco<br />
de cardiopatias congênitas (RR=1,63 e IC=1,05-2,23). Ocorreram 20 casos entre as<br />
908 usuárias, sen<strong>do</strong> que 13 deles foram de defeitos septais atrial ou ventricular, para<br />
1 Médico Assistente área de Obstetrícia <strong>do</strong> Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.<br />
2 Professor Titular <strong>do</strong> Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas<br />
– UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.
Nomura ML, Silva JLCP<br />
incidência espera<strong>da</strong> de 12 casos. Após excluir mulheres que haviam feito <strong>uso</strong> de outras drogas potencialmente<br />
teratogênicas (anticonvulsivantes, neurolépticos, se<strong>da</strong>tivos, hipnóticos), o RR <strong>do</strong> <strong>uso</strong> de paroxetina para malformações<br />
cardíacas foi de 2,93, com IC=1,52-5,13. Este fato foi relata<strong>do</strong> pelo próprio fabricante (GlaxoSmithKline),<br />
que, após analisar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s de 704 mulheres demonstrou que o RR foi de 2,26, com IC=1,17-4,43 6 .<br />
Outro estu<strong>do</strong> caso-controle, com 1.051 mulheres que usaram ISRS no primeiro trimestre e 150.780 controles,<br />
relatou maior risco de cardiopatias congênitas em fetos expostos a ISRS, mas não se especificou qual droga<br />
apresentou associação mais forte 7 . Um estu<strong>do</strong> com 5.357 crianças com malformações maiores evidenciou risco<br />
aumenta<strong>do</strong> de craniosinostose e onfalocele entre os expostos a ISRS no primeiro trimestre 1 , mas este acha<strong>do</strong> não<br />
foi confirma<strong>do</strong> em outros estu<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s e com casuísticas maiores 3-5 . Revisões sistemáticas e metanálises<br />
confirmam não haver associação entre ISRS como classe farmacológica e malformações maiores 1,8,9 . No entanto,<br />
existe claramente associação entre o <strong>uso</strong> de paroxetina e risco de malformações cardíacas, ain<strong>da</strong> que a evidência<br />
se origine de estu<strong>do</strong>s retrospectivos com algumas falhas meto<strong>do</strong>lógicas comuns a esse tipo de análise. Ain<strong>da</strong><br />
assim nos parece prudente, até que evidências definitivas de estu<strong>do</strong>s de coorte prospectivos e controla<strong>do</strong>s surjam,<br />
avaliar com extremo cui<strong>da</strong><strong>do</strong> o <strong>uso</strong> de paroxetina e avaliar sistematicamente com ecocardiografia os fetos<br />
expostos acidentalmente no primeiro trimestre.<br />
As síndromes perinatais são causa<strong>da</strong>s pelos efeitos residuais <strong>da</strong> droga ou por efeito de abstinência, e podem ocorrer<br />
em até 20-30% <strong>do</strong>s neonatos expostos durante o pré-natal 4 . Para os ISRS, existem síndromes claramente descritas,<br />
caracteriza<strong>da</strong>s pre<strong>do</strong>minantemente por alterações <strong>do</strong> choro, taquipnéia, insuficiência respiratória leve, distúrbios<br />
gastrintestinais e cianose. Apesar de ain<strong>da</strong> não ser totalmente esclareci<strong>da</strong>, na fisiopatologia <strong>da</strong>s alterações neonatais<br />
é interessante a similari<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s sintomas observa<strong>do</strong>s em recém-nasci<strong>do</strong>s com as síndromes observa<strong>da</strong>s em adultos:<br />
síndrome serotoninérgica, síndrome de descontinuação e síndrome colinérgica 10 . Em sua maioria, esses quadros são<br />
de intensi<strong>da</strong>de leve a modera<strong>da</strong> e reversíveis apenas com suporte clínico e farmacológico em alguns casos.<br />
Em 2006, um estu<strong>do</strong> com 377 recém-nasci<strong>do</strong>s com hipertensão pulmonar neonatal persistente demonstrou<br />
que, entre os expostos a ISRS após 20 semanas de gestação, o risco desta complicação era seis vezes maior (OR<br />
ajusta<strong>da</strong>=6,1 IC=2,2-16,8 na análise multivaria<strong>da</strong>) que entre os não expostos 11 . A hipertensão pulmonar neonatal<br />
persistente é caracteriza<strong>da</strong> por insuficiência respiratória grave e hipertensão pulmonar em recém-nasci<strong>do</strong>s com<br />
mais de 34 semanas, com eleva<strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de, e ocorre em <strong>do</strong>is a ca<strong>da</strong> 1.000 nasci<strong>do</strong>s vivos. Embora<br />
o número absoluto de casos seja pequeno (um em ca<strong>da</strong> 100 recém-nasci<strong>do</strong>s expostos), a magnitude <strong>do</strong> risco<br />
é eleva<strong>da</strong>, bem como a gravi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> quadro.<br />
Outro estu<strong>do</strong> comparou os resulta<strong>do</strong>s neonatais de mulheres com depressão trata<strong>da</strong>s ou não com ISRS. O<br />
grupo de gestantes trata<strong>do</strong> com ISRS apresentou maior risco de ter recém-nasci<strong>do</strong>s de baixo peso e de síndrome<br />
de angústia respiratória, mesmo quan<strong>do</strong> as variáveis foram controla<strong>da</strong>s pela gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença 12 . Ou seja, é<br />
possível que a exposição, independente <strong>da</strong> <strong>do</strong>se, seja um fator de risco para resulta<strong>do</strong>s perinatais adversos. Em<br />
estu<strong>do</strong> populacional com 1.782 mulheres que fizeram <strong>uso</strong> de ISRS durante a gravidez, não houve maior risco de<br />
malformações, parto prematuro ou baixo peso ao nascimento nos fetos expostos em qualquer trimestre <strong>da</strong> gestação.<br />
No entanto, 15,7% <strong>do</strong>s recém-nasci<strong>do</strong>s expostos a ISRS no terceiro trimestre necessitaram de internação em<br />
uni<strong>da</strong>de de terapia intensiva ou de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s especiais, compara<strong>do</strong> a 11,2% <strong>do</strong>s expostos no primeiro trimestre<br />
(razão de risco de 1,6 e IC=1,1-2,2) 4 . Este <strong>da</strong><strong>do</strong> mostra que a ocorrência de síndromes perinatais é relativamente<br />
eleva<strong>da</strong> e que estes recém-nasci<strong>do</strong>s necessitam de cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa observação no perío<strong>do</strong> neonatal imediato.<br />
Em revisão de 50 artigos sobre efeitos adversos neonatais <strong>do</strong>s ISRS utiliza<strong>do</strong>s no terceiro trimestre, o autor<br />
conclui que há uma série de efeitos adversos, especialmente nos sistemas nervoso e respiratório em neonatos expostos<br />
a ISRS no final <strong>da</strong> gestação. Alguns desses efeitos não são causa<strong>do</strong>s por toxici<strong>da</strong>de ou abstinência, mas por<br />
um efeito farmacológico direto sobre a regulação <strong>da</strong> respiração e sobre a ativi<strong>da</strong>de parassimpática destes recémnasci<strong>do</strong>s<br />
13 . Ao se analisarem os padrões neurocomportamentais de 17 crianças expostas durante a gravidez a ISRS,<br />
compara<strong>da</strong>s a 17 crianças não-expostas nos <strong>do</strong>is primeiros dias de vi<strong>da</strong>, os recém-nasci<strong>do</strong>s expostos apresentaram<br />
mais tremores, alterações <strong>do</strong> padrão de sono e menor ritmici<strong>da</strong>de na variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> freqüência cardíaca 14 . Outros<br />
autores, em ampla revisão, demonstraram que recém-nasci<strong>do</strong>s expostos a ISRS durante a gravidez, em particular<br />
os expostos no final <strong>da</strong> gestação, apresentam um risco mais eleva<strong>do</strong> <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> síndrome neonatal comportamental<br />
(RR=3 com IC=2,0-4,4), mais comum com fluoxetina e paroxetina. Ressaltam que a maioria <strong>do</strong>s casos<br />
são autolimita<strong>do</strong>s, de pouca gravi<strong>da</strong>de e resolvem-se espontaneamente em cerca de duas semanas 10 . A síndrome<br />
mais grave ocorre em um a ca<strong>da</strong> 313 recém-nasci<strong>do</strong>s expostos. Apesar disso, alguns estu<strong>do</strong>s relatam risco até oito<br />
vezes maior de eventos neonatais associa<strong>do</strong>s ao <strong>uso</strong> materno de ISRS 11 .<br />
332 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):333-6
<strong>Riscos</strong> e benefícios <strong>do</strong> <strong>uso</strong> <strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res <strong>seletivos</strong> <strong>da</strong> recaptação de serotonina para a depressão durante a gravidez e a lactação<br />
Portanto, há evidências suficientes que sugerem alterações comportamentais em recém-nasci<strong>do</strong>s expostos a<br />
ISRS e estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s demonstram que estas drogas devem ser utiliza<strong>da</strong>s com cautela no perío<strong>do</strong> próximo ao parto.<br />
No perío<strong>do</strong> puerperal podem ocorrer agravamentos de quadros depressivos crônicos, fazen<strong>do</strong> com que seja de<br />
particular importância o tratamento farmacológico. Em relação ao aleitamento, há controvérsias na literatura. Alguns<br />
autores também relatam distúrbios neurocomportamentais e alterações <strong>do</strong> sono em recém-nasci<strong>do</strong>s expostos a ISRS<br />
por meio <strong>do</strong> leite materno. Uma revisão de 57 estu<strong>do</strong>s sobre níveis farmacológicos de antidepressivos no sangue<br />
materno e neonatal e no leite materno demonstrou que a sertralina, a nortriptilina (antidepressivo tricíclico) e a<br />
paroxetina são quase indectáveis no sangue neonatal, enquanto que a fluoxetina pode se acumular no sangue fetal,<br />
principalmente em gestantes que fizeram <strong>uso</strong> <strong>da</strong> droga durante o pré-natal. Dos 244 casos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s com <strong>do</strong>sagens<br />
farmacológicas, foram descritos nove casos de efeitos adversos graves, seis deles em mulheres que iniciaram o <strong>uso</strong> de<br />
fluoxetina no puerpério. Os sintomas pre<strong>do</strong>minantes foram irritabili<strong>da</strong>de, dificul<strong>da</strong>de para <strong>do</strong>rmir, choro incontrolável<br />
e dificul<strong>da</strong>des para sugar 15 . Gentile 9 propõe um índice de segurança, calcula<strong>do</strong> pela razão entre o número de eventos<br />
adversos relata<strong>do</strong>s como numera<strong>do</strong>r e o número de relatos de eventos adversos mais o número de relatos de ausência<br />
de efeitos adversos como denomina<strong>do</strong>r. Utilizan<strong>do</strong> este índice, este autor conclui que a paroxetina e a sertralina devem<br />
ser as drogas de escolha para iniciar tratamento de depressão no pós-parto e que a fluoxetina e o citalopram devem ser<br />
evita<strong>do</strong>s. Esta recomen<strong>da</strong>ção deve ser vista com precaução, uma vez que deve sofrer influência de considerável viés de<br />
publicação. No entanto, mesmo que a maioria <strong>do</strong>s efeitos neonatais sejam de intensi<strong>da</strong>de leve, deman<strong>da</strong>m atenção e<br />
<strong>uso</strong> de recursos. São necessários estu<strong>do</strong>s para determinar a melhor conduta no perío<strong>do</strong> periparto, e talvez a redução<br />
<strong>da</strong>s <strong>do</strong>ses no puerpério ou próximo ao parto mereça atenção em ensaios clínicos como uma alternativa.<br />
As conseqüências em longo prazo <strong>do</strong> <strong>uso</strong> de ISRS são menos conheci<strong>da</strong>s e poucas conclusões definitivas podem<br />
ser tira<strong>da</strong>s. As poucas evidências existentes não apontam para a ocorrência de seqüelas tardias 16 , mas este aspecto<br />
é difícil de ser avalia<strong>do</strong> e ain<strong>da</strong> é nebuloso 9 .<br />
Diante <strong>do</strong> exposto acima, é necessário buscar formas alternativas de tratamento de mulheres com depressão no<br />
ciclo grávi<strong>do</strong>-puerperal; porém, uma parcela delas necessitará de tratamento farmacológico e, aparentemente, os<br />
ISRS são drogas eficazes, com relação risco-benefício aceitável. As conseqüências <strong>da</strong> depressão não trata<strong>da</strong> parecem<br />
suplantar os riscos <strong>da</strong> terapia farmacológica pelas evidências atuais. No entanto, há preocupações consistentes em<br />
relação aos ISRS e é preciso buscar qual o melhor antidepressivo para ca<strong>da</strong> mulher individualmente. O mais importante<br />
ao se tomar a decisão de iniciar ou manter o <strong>uso</strong> de ISRS é levar em consideração a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença,<br />
incluin<strong>do</strong> o risco de suicídio, outras condições clínicas associa<strong>da</strong>s, disponibili<strong>da</strong>de de opções terapêuticas nãofarmacológicas<br />
e as possíveis conseqüências <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença psiquiátrica materna para o recém-nasci<strong>do</strong> e a família 1 .<br />
Quan<strong>do</strong> iniciar o <strong>uso</strong>, por quanto tempo manter e os riscos durante o aleitamento devem ser discuti<strong>do</strong>s<br />
entre psiquiatra, obstetra e gestante. A prática, ain<strong>da</strong> muito comum, de suspender medicações antidepressivas<br />
durante a gestação deve ser aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>. O potencial teratogênico <strong>do</strong>s ISRS como classe de drogas é baixo e<br />
não justifica a suspensão <strong>do</strong> <strong>uso</strong>, exceto para a paroxetina, como exposto acima. O risco de agravamento é cinco<br />
a sete vezes maior nas mulheres que interrompem o <strong>uso</strong> abruptamente 17 , e 75% <strong>da</strong>s mulheres que suspendem<br />
o <strong>uso</strong> terão recaí<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> perinatal 18 , com risco de suicídio. Infelizmente as mulheres não são orienta<strong>da</strong>s<br />
adequa<strong>da</strong>mente e mesmo psiquiatras e obstetras incorrem nesse grave erro, condena<strong>do</strong> pela literatura. As<br />
gestantes, por não serem corretamente esclareci<strong>da</strong>s, também suspendem o <strong>uso</strong> de antidepressivos no primeiro<br />
trimestre pelo receio de causar malformações.<br />
Mulheres com antecedente de depressão pós-parto devem ser cui<strong>da</strong><strong>do</strong>samente segui<strong>da</strong>s durante a gestação com<br />
psicoterapia, e o surgimento de sintomas deve indicar avaliação psiquiátrica prontamente. Mulheres com depressão<br />
leve a modera<strong>da</strong> prévia à gestação em seguimento psicoterápico devem manter regularmente consultas com psiquiatra<br />
e iniciar <strong>uso</strong> de medicação se for indica<strong>do</strong>. Mulheres que iniciam a gravidez em <strong>uso</strong> de antidepressivos não devem<br />
suspender a medicação antes <strong>da</strong> avaliação psiquiátrica e devem fazer acompanhamento rigoroso, com avaliações freqüentes<br />
durante o pré-natal e no puerpério. Mulheres que desejam engravi<strong>da</strong>r e estão em <strong>uso</strong> de paroxetina deveriam<br />
discutir com seu psiquiatra a troca por outro ISRS, pela evidência crescente de risco de malformações cardíacas. A<br />
troca <strong>da</strong> paroxetina por outro antidepressivo durante a gravidez deve ser feita somente com a orientação <strong>do</strong> psiquiatra.<br />
No puerpério, o obstetra deve estar atento, pois a incidência de sintomas depressivos é relativamente alta 2 e o<br />
reconhecimento precoce pode evitar o surgimento de quadros graves, com imensas repercussões.<br />
Pediatras devem estar atentos para síndromes neonatais que em sua maioria são leves a modera<strong>da</strong>s, mas, em<br />
raros casos, as manifestações podem ser severas o suficiente para necessitar de tratamento intensivo, em particular<br />
a hipertensão pulmonar persistente.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):333-6<br />
333
Nomura ML, Silva JLCP<br />
Referências<br />
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334 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):333-6
Pedro Vitor LoPes-Costa 1<br />
aLesse ribeiro <strong>do</strong>s santos 2<br />
CLeiCiLene Gomes Pires 3<br />
João de deus Pereira FiLho 3<br />
benedito borGes <strong>da</strong> siLVa 4<br />
Artigos originais<br />
Palavras-chaves<br />
Neoplasias mamárias/quimioterapia<br />
Neoplasias mamárias/irrigação sanguínea<br />
Raloxifeno/<strong>uso</strong> terapêutico<br />
Tamoxifeno/<strong>uso</strong> terapêutico<br />
Antígenos CD34<br />
Neovascularização patológica<br />
Pós-menopausa<br />
Keywords<br />
Breast neoplasms/drug therapy<br />
Breast neoplasms/blood supply<br />
Raloxifene/therapeutic use<br />
Tamoxifen/therapeutic use<br />
Antigens, CD34<br />
Neovascularization, pathologic<br />
Postmenopause<br />
Correspondência:<br />
Benedito Borges <strong>da</strong> Silva<br />
Aveni<strong>da</strong> Elias João Tajra, 1260, apto. 600 – Jockey Club<br />
CEP 64059-300 – Teresina (PI)<br />
Fone: (86) 3232-5063 – Fax: (86) 3215-0470<br />
E-mail: beneditoborges@globo.com<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
15/05/2007<br />
Aceito com modificações<br />
20/07/2007<br />
Efeitos <strong>do</strong> raloxifeno sobre a<br />
angiogênese <strong>do</strong> carcinoma<br />
de mama de mulheres menopausa<strong>da</strong>s<br />
Effects of raloxifene on angiogenesis of the breast carcinoma<br />
of menopausal women<br />
Resumo<br />
ObjetivO: avaliar o efeito <strong>do</strong> raloxifeno sobre a angiogênese <strong>do</strong> carcinoma de mama em mulheres menopausa<strong>da</strong>s.<br />
MétOdOs: dezesseis pacientes menopausa<strong>da</strong>s com carcinoma de mama operável, estádio II (diâmetro >3 cm),<br />
positivo para receptor de estrógeno, foram incluí<strong>da</strong>s no estu<strong>do</strong>. Após confirmação <strong>do</strong> diagnóstico por biópsia<br />
incisional, as pacientes receberam 60 mg de raloxifeno diariamente por 28 dias, previamente à cirurgia definitiva.<br />
Exame imunohistoquímico foi realiza<strong>do</strong> nas amostras tumorais, obti<strong>da</strong>s por ocasião <strong>da</strong> biópsia para diagnóstico e<br />
avaliação <strong>do</strong> status <strong>do</strong> receptor de estrógeno e <strong>da</strong> cirurgia definitiva. O anticorpo monoclonal anti-CD34 foi usa<strong>do</strong><br />
como marca<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s células en<strong>do</strong>teliais. A uni<strong>da</strong>de vascular considera<strong>da</strong> foi qualquer célula ou grupo de células<br />
en<strong>do</strong>teliais cora<strong>da</strong>s, niti<strong>da</strong>mente separa<strong>da</strong>s de microvasos adjacentes, células tumorais ou teci<strong>do</strong> conjuntivo, forman<strong>do</strong><br />
ou não lúmen. A contagem de microvasos antes e após tratamento com raloxifeno foi realiza<strong>da</strong> em dez campos<br />
aleatórios, usan<strong>do</strong> microscópio acopla<strong>do</strong> a sistema de captura e análise de imagem (Imagelab ® ) com magnificação<br />
de 400X. O teste t de Student para duas amostras parea<strong>da</strong>s foi usa<strong>do</strong> para análise estatística <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s (p
Lopes-Costa PV, Santos AR, Pires CG, Pereira Filho JD, Silva BB<br />
Introdução<br />
O desenvolvimento de novos capilares a partir de<br />
vasos pré-existentes é essencial para o crescimento tumoral<br />
e ocorrência de metástases 1,2 . O câncer de mama<br />
é uma neoplasia angiogênio-dependente e a intensi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> angiogênese é inversamente proporcional ao tempo de<br />
sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pacientes porta<strong>do</strong>ras de câncer de mama 3 .<br />
Estu<strong>do</strong>s indicam que a densi<strong>da</strong>de de microvasos, parâmetro<br />
representativo <strong>da</strong> angiogênese, seria fator prognóstico<br />
significante e independente para as pacientes com<br />
câncer de mama, embora menos preditivo que o esta<strong>do</strong><br />
linfono<strong>da</strong>l e o tamanho clínico <strong>do</strong> tumor 4 . A inibição<br />
<strong>da</strong> angiogênese tumoral é uma estratégia terapêutica<br />
importante para o tratamento <strong>do</strong> câncer de mama e, a<br />
propósito, diversas drogas vêm sen<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s com<br />
este intuito, dentre elas, os modula<strong>do</strong>res <strong>seletivos</strong> <strong>do</strong>s<br />
receptores de estrógenos (SERMs) 2,5,6 .<br />
O tamoxifeno, SERM de primeira geração, única<br />
droga aprova<strong>da</strong> até o momento pelo Food and Drugs<br />
Administration (FDA) para quimioprofilaxia e tratamento<br />
<strong>do</strong> câncer de mama 7 , tem se mostra<strong>do</strong> eficaz para reduzir<br />
a quanti<strong>da</strong>de de microvasos e, conseqüentemente, a angiogênese,<br />
em mulheres menopausa<strong>da</strong>s trata<strong>da</strong>s com esta<br />
droga 2,6 . Contu<strong>do</strong>, o tamoxifeno apresenta ação estrogênica<br />
agonista no en<strong>do</strong>métrio e, quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> por longos<br />
perío<strong>do</strong>s, aumenta o risco para hiperplasia e, até mesmo,<br />
carcinoma en<strong>do</strong>metrial em até 3-4 vezes em mulheres<br />
menopausa<strong>da</strong>s 7 . Este fato despertou o interesse pela busca<br />
de SERMs alternativos para quimioprevenção e tratamento<br />
<strong>do</strong> câncer de mama 8 . Por sua vez, o raloxifeno, SERM de<br />
segun<strong>da</strong> geração, inicialmente aprova<strong>do</strong> pelo FDA para<br />
prevenção e tratamento <strong>da</strong> osteoporose, mostrou efeitos<br />
antiestrogênicos na mama e nenhum efeito estimula<strong>do</strong>r<br />
no en<strong>do</strong>métrio em trials clínicos 8,9 . Isto foi comprova<strong>do</strong><br />
Tabela 1 - I<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pacientes e estádios; características <strong>do</strong>s tumores.<br />
Característica<br />
I<strong>da</strong>de (anos)<br />
n %<br />
40-49 1 6<br />
50-59 4 25<br />
60-69 9 56<br />
≥70<br />
Estadiamento<br />
2 13<br />
Iia 9 56<br />
Iib<br />
Tamanho <strong>do</strong> tumor (cm)<br />
7 44<br />
3,0-3,9 11 68<br />
4,0-5,0<br />
Grau histológico<br />
5 32<br />
1 8 50<br />
2 6 37<br />
3 2 12<br />
336 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):337-41<br />
pelo recém-publica<strong>do</strong> Study of Tamoxifen and Raloxifene<br />
trial, que mostrou ser o raloxifeno tão efetivo quanto o<br />
tamoxifeno em reduzir o risco de carcinoma invasivo de<br />
mama, além de ter reduzi<strong>do</strong> o risco para o carcinoma de<br />
en<strong>do</strong>métrio em relação ao tamoxifeno 10 .<br />
Estu<strong>do</strong>s sobre os efeitos <strong>do</strong> raloxifeno na mama,<br />
tanto clínicos observacionais como experimentais,<br />
têm si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s na mama normal, objetivan<strong>do</strong> seu<br />
emprego na quimioprevenção <strong>do</strong> câncer de mama 8,9,11 .<br />
Contu<strong>do</strong>, até onde investigamos, não encontramos na<br />
literatura estu<strong>do</strong>s avalian<strong>do</strong> os efeitos <strong>do</strong> raloxifeno na<br />
angiogênese <strong>do</strong> câncer de mama de mulheres menopausa<strong>da</strong>s,<br />
o que levou à concepção <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<br />
Méto<strong>do</strong>s<br />
Pacientes<br />
O estu<strong>do</strong> foi um ensaio clínico prospectivo. Participaram<br />
deste estu<strong>do</strong> 16 pacientes menopausa<strong>da</strong>s que<br />
buscaram cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s médicos no Setor de Mastologia<br />
<strong>da</strong> Clínica Ginecológica <strong>do</strong> Hospital Getúlio Vargas<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Piauí (UFPI), entre maio<br />
de 2006 e janeiro de 2007. Este estu<strong>do</strong> foi aprova<strong>do</strong><br />
pelo Comitê de Ética em Pesquisa <strong>da</strong> UFPI e to<strong>da</strong>s as<br />
pacientes eram voluntárias e deram seu consentimento<br />
informa<strong>do</strong> e assina<strong>do</strong> prévio ao início <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. As<br />
pacientes eram menopausa<strong>da</strong>s há, no mínimo, um ano,<br />
e tinham carcinoma ductal invasivo, estádio II, com<br />
tumores positivos para o receptor de estrógeno e sem<br />
qualquer tratamento prévio. Foram excluí<strong>da</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
pacientes porta<strong>do</strong>ras de en<strong>do</strong>crinopatias ou em <strong>uso</strong> de<br />
medicação hormonal. O tamanho <strong>do</strong> tumor variou de<br />
3 a 5 cm, e a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pacientes variou de 49 a 72 anos<br />
(média 61,8 anos), conforme Tabela 1.<br />
As pacientes receberam 60 mg de raloxifeno/dia por<br />
um perío<strong>do</strong> de 28 dias previamente à cirurgia definitiva,<br />
inicia<strong>do</strong> após confirmação diagnóstica por biópsia. Foram<br />
retira<strong>da</strong>s duas amostras tumorais por meio de biópsias<br />
incisionais, uma por ocasião <strong>da</strong> confirmação diagnóstica<br />
de câncer de mama, previamente ao <strong>uso</strong> de raloxifeno, e<br />
outra, no 29º dia, por ocasião <strong>do</strong> tratamento cirúrgico<br />
definitivo, após 28 dias de tratamento.<br />
Procedimentos experimentais<br />
Os fragmentos tumorais foram fixa<strong>do</strong>s em formol<br />
tampona<strong>do</strong> por um perío<strong>do</strong> de 12-24 horas. Após a<br />
fixação, as amostras foram processa<strong>da</strong>s e cora<strong>da</strong>s usan<strong>do</strong><br />
hematoxilina-eosina para confirmação diagnóstica de<br />
carcinoma ductal infiltrante. Para identificação <strong>da</strong>s<br />
células en<strong>do</strong>teliais, utilizou-se um anticorpo monoclonal<br />
para o antígeno CD34 (Clone QBend 10, DAKO<br />
Corporation, Carpinteria, USA) na diluição de 1:25 com
soroalbumina bovina. Para recuperação antigênica, foi<br />
utiliza<strong>da</strong> panela a vapor T-Fal ® conten<strong>do</strong> tampão citrato<br />
de sódio (pH=6) a 90°C por 30 minutos. A seguir, as<br />
lâminas foram incuba<strong>da</strong>s com anticorpo primário específico<br />
“overnight” a 4ºC. Após a incubação, as lâminas<br />
foram incuba<strong>da</strong>s com “Em Vision Polymer Component<br />
(Dako)”, sen<strong>do</strong> colori<strong>da</strong>s com 3-3’diaminobenzidina<br />
(Sigma), um substrato cromógeno. Foram utiliza<strong>do</strong>s<br />
teci<strong>do</strong>s de hemangioma hepático como controle positivo.<br />
Os receptores de estrógenos foram identifica<strong>do</strong>s por<br />
meio <strong>do</strong> anticorpo monoclonal anti-receptor de estrógeno<br />
humano (SP1) (Dako). Os tumores foram considera<strong>do</strong>s<br />
receptor de estrógeno positivos quan<strong>do</strong> 10% ou mais <strong>da</strong>s<br />
células neoplásicas apresentavam núcleos cora<strong>do</strong>s para o<br />
anticorpo monoclonal anti-receptor de estrógeno 12 .<br />
Para a contagem de microvasos, utilizou-se o<br />
software Imagelab ® 2.3 para captura e análise de imagem,<br />
desenvolvi<strong>do</strong> pela Softium Informática Lt<strong>da</strong>., e<br />
um microscópio óptico Nikon Eclipse E400 acopla<strong>do</strong><br />
a uma vídeo-câmera digital Samsung colori<strong>da</strong> modelo<br />
SCC-131, ambos pertencentes ao Setor de Mastologia<br />
<strong>da</strong> Clínica Ginecológica <strong>do</strong> Hospital Getúlio Vargas<br />
<strong>da</strong> UFPI. Áreas de maior concentração de microvasos<br />
(hotspots) foram seleciona<strong>da</strong>s com aumento de 40X,<br />
após o que se procedeu à captura <strong>da</strong> imagem e contagem<br />
manual de microvasos em aumento de 400X, em<br />
dez campos aleatórios por lâmina, utilizan<strong>do</strong> o sistema<br />
de análise de imagens Imagelab ® . A uni<strong>da</strong>de vascular<br />
considera<strong>da</strong> foi a de qualquer célula ou grupo de células<br />
en<strong>do</strong>teliais cora<strong>da</strong>s que estavam niti<strong>da</strong>mente separa<strong>da</strong>s<br />
entre si e de microvasos adjacentes, forman<strong>do</strong> ou não<br />
lúmen 13 (Figuras 1 e 2). As médias de microvasos foram<br />
obti<strong>da</strong>s pela relação entre o somatório <strong>do</strong> número de<br />
vasos conta<strong>do</strong>s, pré e pós-tratamento com raloxifeno, e<br />
o número de pacientes que participaram <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
A comparação <strong>da</strong>s médias <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de microvasos<br />
conta<strong>do</strong>s antes e 28 dias após o <strong>uso</strong> de raloxifeno<br />
foi realiza<strong>da</strong> por meio <strong>do</strong> teste t de Student para duas<br />
amostras parea<strong>da</strong>s. Os valores foram considera<strong>do</strong>s estatisticamente<br />
significantes quan<strong>do</strong> p
Lopes-Costa PV, Santos AR, Pires CG, Pereira Filho JD, Silva BB<br />
de microvasos foram 70,2 e 20,8%, respectivamente.<br />
As médias mais erro padrão de microvasos cora<strong>do</strong>s<br />
com anticorpo anti-CD34 pré e pós-tratamento com<br />
raloxifeno foram 44,4±3,5 e 22,6±1,6, respectivamente<br />
(p
<strong>do</strong>teliais, entre outras 21 . Além disso, o raloxifeno tem<br />
mostra<strong>do</strong> reduzir os níveis séricos <strong>do</strong> fator de necrose<br />
tumoral-alfa (TNF-α) pela metade após 24 meses de<br />
tratamento em mulheres menopausa<strong>da</strong>s 22 . O TNF-α<br />
é um peptídeo secreta<strong>do</strong> por macrófagos ativos, cuja<br />
secreção é estimula<strong>da</strong> pela hipóxia tecidual e que tem<br />
se mostra<strong>do</strong> um potente estimula<strong>do</strong>r <strong>da</strong> angiogênese<br />
em ensaios in vivo 23 . O raloxifeno também se mostrou<br />
eficaz em inibir a proliferação celular no teci<strong>do</strong> mamário<br />
normal 11 .<br />
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12.<br />
13.<br />
Efeitos <strong>do</strong> raloxifeno sobre a angiogênese <strong>do</strong> carcinoma de mama de mulheres menopausa<strong>da</strong>s<br />
A angiogênese tumoral é um fenômeno essencial<br />
para o crescimento e disseminação tumoral 1,2 e, em vários<br />
estu<strong>do</strong>s, é cita<strong>da</strong> como fator prognóstico independente<br />
e de grande importância na sobrevi<strong>da</strong> global e tempo<br />
livre de <strong>do</strong>ença 2,13,16,17 , de forma que a inibição deste<br />
fenômeno, utilizan<strong>do</strong> drogas com menos efeitos colaterais<br />
em relação aos quimioterápicos, como os SERMs,<br />
seria importante estratégia que poderia ser considera<strong>da</strong><br />
no tratamento e, possivelmente, na quimioprevenção<br />
<strong>do</strong> câncer de mama.<br />
Sannino P, Shousha S. Demonstration of oestrogen receptors in<br />
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Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):337-41<br />
339
NewtoN eduar<strong>do</strong> Busso 1<br />
CristiaNo eduar<strong>do</strong> Busso 2<br />
LeopoL<strong>do</strong> de oLiveira tso 2<br />
aNtoNio pedro FLores auge 3<br />
reNe eduar<strong>do</strong> Busso 4<br />
LuCiaNa Boaro 4<br />
roBerto adeLiNo aLmei<strong>da</strong> pra<strong>do</strong> 3<br />
Artigos originais<br />
Palavras-chaves<br />
Fertilização in vitro<br />
Técnicas reprodutivas assisti<strong>da</strong>s<br />
Injeções de esperma intracitoplásmicas<br />
Ciclo menstrual<br />
Oócitos<br />
Keywords<br />
Fertilization in vitro<br />
Reproductive techniques, assisted<br />
Sperm injections, intracytoplasmic<br />
Menstrual cycle<br />
Oocytes<br />
Correspondência:<br />
Newton Eduar<strong>do</strong> Busso<br />
Aveni<strong>da</strong> Angélica, 688, 1º an<strong>da</strong>r<br />
CEP 01228-000 – São Paulo/SP<br />
Fone/Fax: 55 (11) 38257-880<br />
E-mail: unifert@uol.com.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
02/01/2007<br />
Aceito com modificações<br />
28/06/2007<br />
Fertilização in vitro com injeção<br />
intracitoplasmática de espermatozóide<br />
em ciclos naturais<br />
In vitro fertilization with intracytoplasmic sperm injection<br />
in natural cycles<br />
Resumo<br />
ObjetivO: avaliar a eficácia <strong>da</strong> fertilização in vitro (FIV) com injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI) em<br />
ciclo natural (CN). MétOdOs: estu<strong>do</strong> clínico retrospectivo que avaliou 70 ciclos de tratamento em 60 casais que se<br />
submeteram ao tratamento de FIV com auxílio <strong>da</strong> técnica de ICSI em CN em clínica priva<strong>da</strong> de 1999 a 2003. Foi<br />
realiza<strong>da</strong> monitorização ultra-sonográfica diária ou em dias alterna<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong>sagem de LH urinário a partir de 16 mm<br />
de diâmetro folicular. Programa<strong>da</strong> captação oocitária quan<strong>do</strong> o folículo atingiu 18 mm de diâmetro e 36 horas após a<br />
administração de gona<strong>do</strong>trofina coriônica humana (hCG – 5000UI) quan<strong>do</strong> o teste de LH era negativo. A transferência<br />
embrionária foi realiza<strong>da</strong> 48 a 52 horas depois <strong>do</strong> ICSI. ResultadOs: foram realiza<strong>do</strong>s 70 ciclos de ICSI em<br />
60 pacientes com as seguintes indicações: fator masculino (47,1%), fator tubo-peritoneal (37,1%), fatores associa<strong>do</strong>s (8,7%)<br />
e infertili<strong>da</strong>de sem causa aparente (7,1%). Do total de 70 ciclos, 18 foram cancela<strong>do</strong>s (25,7% de taxa cancelamento).<br />
Das 52 pacientes que se submeteram à punção ovariana, oócitos maduros foram encontra<strong>do</strong>s em 77% <strong>da</strong>s vezes<br />
(40 ciclos). A taxa de fertilização foi de 70% e as taxas de transferência embrionária por punção e por oócito maduro<br />
foram de 52 e 67,5%, respectivamente. As taxas de gestação por ciclo inicia<strong>do</strong>, ciclo punciona<strong>do</strong> e transferência<br />
embrionária foram 11,4, 15,4 e 29,6%, respectivamente. Das oito gestações, sete foram diagnostica<strong>da</strong>s em pacientes<br />
com i<strong>da</strong>de inferior a 37 anos. A única gestação consegui<strong>da</strong> em pacientes com i<strong>da</strong>de entre 37 e 43 anos evoluiu para<br />
abortamento. COnClusões: ICSI em ciclos naturais parece ser uma opção satisfatória de tratamento, com custos e<br />
índice de complicações (gestação múltipla e síndrome de hiperestímulo ovariano) reduzi<strong>do</strong>s. Os resulta<strong>do</strong>s são melhores<br />
em pacientes mais jovens, com i<strong>da</strong>de inferior a 37 anos.<br />
Abstract<br />
PuRPOse: to evaluate the efficacy of in vitro fertilization (IVF) with intracytoplasmic sperm injection (ICSI) in natural cycle<br />
(NC). MethOds: retrospective clinical trial that evaluated 70 treatment cycles in 60 couples that were submitted to IVF<br />
treatment with ICSI in NC performed in private clinic from 1999 until 2003. It was performed <strong>da</strong>ily ultrasound monitorization<br />
or on alternate <strong>da</strong>ys, and urinary LH <strong>do</strong>sage when the follicle reached 16 mm of diameter. It was scheduled egg retrieval<br />
when the follicle reached 18 mm of diameter and 36 hours after hCG administration when the LH test was negative.<br />
Embryo transfer was performed 48 to 52 hours after ICSI. Results: 70 ICSI cycles in 60 patients were performed and<br />
the indications of treatment included: male factor (47.1%), tubal factor (37.1%), associated factors (8.7%), unknown<br />
infertility (7.1%). Out of 70 cycles, 18 cycles were cancelled (25.7% of cancellation rate). Out of 52 patients that were<br />
submitted to ovarian punction to oocyte retrieval we found mature oocytes in 77% of the cases (40 cycles), in four cases<br />
we collected immature oocytes and in eight cases we could not found it. We had 70% of fertilization rate and only one<br />
fertilized oocyte did not achieve the cleavage stage. So, the transfers rate per punction and per mature oocyte was 52%<br />
and 67.5%, respectively. We had 11.4% of pregnancy rate per cycle, 15.4% per punction and 29.6% per embryo transfer.<br />
COnClusiOns: FIV/ICSI in NC seem to be a satisfactory option of treatment, with low costs and complications (multiple<br />
gestation and Ovarian Hyperstimulation Syndrome), mainly in poor responder patients and in poor populations.<br />
departamento de Obstetrícia e Ginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> santa Casa de Misericórdia de<br />
são Paulo – são Paulo (sP), brasil; Clínica de Fertili<strong>da</strong>de Conjugal – unifert – são Paulo (sP), brasil.<br />
1 Professor <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia e Ginecologia (DOGi) <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa<br />
de Misericórdia de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil; Diretor Clínico <strong>da</strong> Clínica de Fertili<strong>da</strong>de Conjugal – UNIFERT – São Paulo (SP),<br />
Brasil; Diretor Clínico <strong>do</strong> Laboratório de Reprodução Assisti<strong>da</strong> – Alfa – São Paulo (SP), Brasil.<br />
2 Médico Ginecologista <strong>da</strong> Clínica de Fertili<strong>da</strong>de Conjugal – UNIFERT – São Paulo (SP), Brasil; Médico Ginecologista <strong>do</strong> Laboratório<br />
de Reprodução Assisti<strong>da</strong> – Alfa – São Paulo (SP), Brasil.<br />
3 Professor <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia e Ginecologia (DOGi) <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa<br />
de Misericórdia de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil.<br />
4 Embriologista <strong>da</strong> Clínica de Fertili<strong>da</strong>de Conjugal – UNIFERT – São Paulo (SP), Brasil; Embriologista <strong>do</strong> Laboratório de Reprodução<br />
Assisti<strong>da</strong> – Alfa – São Paulo (SP), Brasil.
Introdução<br />
No último quarto <strong>do</strong> século XX ocorreram grandes<br />
avanços na área <strong>da</strong> medicina reprodutiva. O primeiro<br />
e mais importante deles, amplamente divulga<strong>do</strong>, foi a<br />
fertilização in vitro (FIV), com o nascimento de Louise<br />
Brown 1 . Desde então, uma fronteira completamente<br />
nova se abriu.<br />
Dentro deste contexto, novas tecnologias e procedimentos<br />
têm melhora<strong>do</strong> gra<strong>da</strong>tivamente os resulta<strong>do</strong>s<br />
<strong>da</strong> FIV. Dentre estes avanços, as drogas indutoras<br />
<strong>da</strong> ovulação cumprem papel de destaque em to<strong>do</strong> o<br />
processo, não só nas pacientes anovula<strong>do</strong>ras como nas<br />
normo-ovula<strong>do</strong>ras.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a indução <strong>da</strong> ovulação e as técnicas<br />
de FIV com a transferência de mais de um embrião<br />
trouxeram complicações importantes, como a gemelari<strong>da</strong>de,<br />
os riscos ain<strong>da</strong> não confirma<strong>do</strong>s de câncer,<br />
principalmente de ovário 2-4 , e a síndrome de hiperestímulo<br />
ovariano (SHO), complicação decorrente <strong>da</strong><br />
hiperstimulação ovariana. Sua fisiopatologia ain<strong>da</strong> não<br />
é totalmente conheci<strong>da</strong>. Acredita-se, porém, que ocorra<br />
aumento <strong>da</strong> permeabili<strong>da</strong>de capilar media<strong>da</strong> pelo fator<br />
de crescimento vásculo-en<strong>do</strong>telial 3,4 . A incidência de<br />
SHO grave tem si<strong>do</strong> estima<strong>da</strong> em 0,2 a 1% de to<strong>do</strong>s<br />
os ciclos de reprodução assisti<strong>da</strong> e está associa<strong>da</strong> com<br />
mortali<strong>da</strong>de entre 1:45.000-1:50.000 entre as mulheres<br />
submeti<strong>da</strong>s à indução <strong>da</strong> ovulação 5 .<br />
As estatísticas <strong>do</strong> Departamento de Saúde e Serviços<br />
Humanos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s mostraram <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
alarmantes quanto à incidência de gestações múltiplas,<br />
reportan<strong>do</strong> um crescimento de 52% para gemelares,<br />
142% para trigemelares e 123% para quadrigemelares<br />
6 . Segun<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Rede Latino-americana de<br />
Reprodução Assisti<strong>da</strong> 7 , reporta<strong>do</strong>s em 2003, a taxa de<br />
gestação múltipla foi de 50,7% após procedimentos<br />
de reprodução assisti<strong>da</strong>. Desta, 36,9% referem-se às<br />
gestações gemelares, 12,7%, trigemelares e 1,1%, de<br />
quádruplos, diretamente relaciona<strong>da</strong>s ao número de<br />
embriões transferi<strong>do</strong>s 7 .<br />
As altas taxas de prematuri<strong>da</strong>de e de baixo peso ao<br />
nascimento, associa<strong>da</strong>s aos riscos obstétricos, são responsáveis<br />
pelo aumento <strong>da</strong> taxa de morbi-mortali<strong>da</strong>de<br />
entre os recém-nasci<strong>do</strong>s de gestações múltiplas 8 , assim<br />
como pela maior freqüência de lesões neurológicas 9 .<br />
Outro fato a ser observa<strong>do</strong> refere-se ao impacto<br />
econômico para a obtenção de gestações por FIV. A<br />
gestação gemelar implica maior risco de prematuri<strong>da</strong>de,<br />
o que acarreta maior custo hospitalar e de acompanhamento<br />
neonatal. Neste senti<strong>do</strong>, a redução <strong>do</strong> número<br />
de gestações múltiplas pela transferência eletiva de<br />
um embrião economizaria quanti<strong>da</strong>des substanciais de<br />
Fertilização in vitro com injeção intracitoplasmática de espermatozóide em ciclos naturais<br />
recursos 10 . Alguns autores 11 propõem a transferência de<br />
um único embrião, mesmo em ciclos estimula<strong>do</strong>s.<br />
Dentre as condutas emprega<strong>da</strong>s atualmente para<br />
diminuir o risco de gestações múltiplas, a utilização<br />
de menores <strong>do</strong>ses de indutores <strong>da</strong> ovulação parece<br />
ser boa alternativa. Além desta, nos parece oportuno<br />
incluir, nos procedimentos de FIV, a opção <strong>do</strong> ciclo<br />
natural ou espontâneo, atenden<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os requisitos<br />
de uma só vez.<br />
Neste protocolo, não são utiliza<strong>do</strong>s medicamentos<br />
indutores <strong>da</strong> ovulação. É realiza<strong>da</strong> monitorização <strong>do</strong><br />
ciclo natural por meio de exames ultra-sonográficos,<br />
acarretan<strong>do</strong> a seleção natural de um óvulo por ciclo.<br />
Este procedimento possibilita a transferência de um<br />
único embrião, eliminan<strong>do</strong> assim, o risco de ocorrência<br />
<strong>da</strong> SHO e de gestações múltiplas.<br />
No entanto, este protocolo é caracteriza<strong>do</strong> por<br />
taxas de gestação reduzi<strong>da</strong>s. Apesar disto, estu<strong>do</strong>s<br />
demonstram resulta<strong>do</strong>s anima<strong>do</strong>res com ciclo natural<br />
12,13 , em torno de 18,8% de taxa de gestação<br />
por ciclo inicia<strong>do</strong> em pacientes com má resposta em<br />
ciclos anteriores 14 .<br />
Estu<strong>do</strong>s recentes 15,16 têm recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> fortemente<br />
o emprego <strong>da</strong> técnica de injeção intracitoplasmática<br />
de espermatozóide (ICSI) para to<strong>do</strong>s os casos de FIV.<br />
Entre as razões que justificam a indicação <strong>da</strong> ICSI para<br />
to<strong>do</strong>s os casos destacam-se: facili<strong>da</strong>de de caracterizar o<br />
grau de maturação oocitária após a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong>s células<br />
<strong>da</strong> granulosa (denu<strong>da</strong>ção) e maior taxa de fertilização<br />
<strong>do</strong> que a FIV clássica.<br />
Nos tratamentos com ciclos naturais, a chance de<br />
sucesso varia de acor<strong>do</strong> com a recuperação oocitária e com<br />
a taxa de fertilização de um único oócito, explicitan<strong>do</strong><br />
as vantagens <strong>do</strong> emprego <strong>da</strong> ICSI neste estu<strong>do</strong>.<br />
Motiva<strong>do</strong>s por estes resulta<strong>do</strong>s, realizamos avaliação<br />
retrospectiva <strong>da</strong> eficácia <strong>da</strong> FIV com ICSI em<br />
ciclos naturais.<br />
Méto<strong>do</strong>s<br />
Estu<strong>do</strong> clínico retrospectivo no qual se avaliaram<br />
70 ciclos de tratamento de FIV pela técnica de ICSI em<br />
ciclos naturais. O estu<strong>do</strong> foi aprova<strong>do</strong> pelo Comitê de<br />
Ética em Pesquisa Humana <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências<br />
Médicas <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa de Misericórdia<br />
de São Paulo.<br />
As pacientes incluí<strong>da</strong>s neste estu<strong>do</strong> (n=60) foram<br />
recruta<strong>da</strong>s em clínica priva<strong>da</strong> (Clínica de Fertili<strong>da</strong>de<br />
Conjugal – Unifert) e no Departamento de Ginecologia<br />
e Obstetrícia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong><br />
Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa de Misericórdia de São Paulo<br />
de 1999 a 2003.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):342-7<br />
341
Busso NE, Busso CE, Tso LO, Auge APF, Busso RE, Boaro L, Pra<strong>do</strong> RAA<br />
Em relação à etiologia <strong>da</strong> infertili<strong>da</strong>de, os casais<br />
recruta<strong>do</strong>s para este estu<strong>do</strong> apresentaram infertili<strong>da</strong>de<br />
masculina (33 casos; 47,1%), fator tubo-peritoneal<br />
(26 casos; 37,1%), fatores masculinos e femininos<br />
associa<strong>do</strong>s (seis casos; 8,7%) e infertili<strong>da</strong>de sem causa<br />
aparente (cinco casos; 7,1%). A média de i<strong>da</strong>de e o desvio<br />
padrão destas mulheres foram de 35,8±5,4 anos.<br />
Os critérios de inclusão estabeleci<strong>do</strong>s para selecionar<br />
as pacientes no presente estu<strong>do</strong> foram: ciclos menstruais<br />
regulares (26-32 dias); exames clínico e ginecológico<br />
normais; exame ultra-sonográfico pélvico por via vaginal<br />
normal; colpocitologia oncótica normal; i<strong>da</strong>de menor<br />
<strong>do</strong> que 43 anos; ausência de estímulo ovariano anterior<br />
ao ciclo de tratamento por pelo menos três meses;<br />
exame ultra-sonográfico por via vaginal mostran<strong>do</strong><br />
pelo menos um <strong>do</strong>s ovários com acesso fácil à punção;<br />
exame ultra-sonográfico por via vaginal na primeira<br />
avaliação no início <strong>do</strong> ciclo de tratamento evidencian<strong>do</strong><br />
en<strong>do</strong>métrio menor que 5 mm e ausência de cistos<br />
ovarianos remanescentes de ciclos anteriores ao ciclo<br />
de tratamento; ausência de en<strong>do</strong>metriose suspeita ou<br />
previamente diagnostica<strong>da</strong>; sorologias <strong>do</strong> casal (hepatites<br />
B e C, sífilis e HIV) negativos; <strong>do</strong>sagem de prolactina<br />
normal; análise seminal com número de espermatozóides<br />
móveis acima de 5 milhões/mL com o intuito de<br />
excluir fator masculino grave. To<strong>da</strong>s as pacientes foram<br />
submeti<strong>da</strong>s ao tratamento após assinatura <strong>do</strong> termo de<br />
consentimento informa<strong>do</strong>.<br />
A monitorização ultra-sonográfica <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
folicular foi realiza<strong>da</strong> pelo mesmo examina<strong>do</strong>r.<br />
Dosagens de FSH no terceiro dia <strong>do</strong> ciclo menstrual,<br />
assim como as <strong>do</strong>sagens seria<strong>da</strong>s de estradiol, não foram<br />
incluí<strong>da</strong>s na propedêutica, uma vez que as mulheres<br />
incluí<strong>da</strong>s neste estu<strong>do</strong> apresentavam ciclos eumenorréicos<br />
e ovulatórios – fato constata<strong>do</strong> em ciclos anteriores – e<br />
pelo fato de objetivar-se a simplificação <strong>do</strong> protocolo e<br />
diminuição <strong>do</strong>s custos.<br />
As ultra-sonografias foram realiza<strong>da</strong>s diariamente<br />
ou em dias alterna<strong>do</strong>s, a partir <strong>do</strong> oitavo dia <strong>do</strong> ciclo de<br />
acor<strong>do</strong> com o crescimento folicular. Quan<strong>do</strong> o folículo<br />
atingiu 16 mm de diâmetro, <strong>do</strong>sou-se seria<strong>da</strong>mente o<br />
LH urinário (Ovu-Quick) duas vezes ao dia. Se a <strong>do</strong>sagem<br />
fosse positiva, a punção ovariana era cancela<strong>da</strong><br />
ou as pacientes eram orienta<strong>da</strong>s quanto à possibili<strong>da</strong>de<br />
de ovulação prematura e à dificul<strong>da</strong>de de precisar o<br />
momento exato <strong>da</strong> punção. Estas pacientes eram agen<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
para avaliação ultra-sonográfica 34 horas após,<br />
sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> captação oocitária nas que não tivessem<br />
ovula<strong>do</strong> espontaneamente.<br />
Quan<strong>do</strong> a ultra-sonografia en<strong>do</strong>vaginal evidenciava<br />
folículo com 18 mm de diâmetro médio e teste de LH<br />
negativo, era administra<strong>do</strong> 5000 UI de gona<strong>do</strong>trofina<br />
342 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):342-7<br />
coriônica humana (Profasi HP-SERONO) por via intramuscular<br />
e a punção agen<strong>da</strong><strong>da</strong> para 36 horas após<br />
a injeção.<br />
Realiza<strong>da</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa lavagem vaginal com soro<br />
fisiológico previamente à captação oocitária com<br />
agulha de via única, calibre 16 G, guia<strong>da</strong> por ultrasonografia<br />
e com auxílio de aspira<strong>do</strong>r. Após a primeira<br />
aspiração, quan<strong>do</strong> o oócito não era encontra<strong>do</strong>, o<br />
folículo era distendi<strong>do</strong> com 3 a 5 mL de PBS (phosphate-buffered<br />
saline) e o conteú<strong>do</strong> reaspira<strong>do</strong>. Este<br />
procedimento foi repeti<strong>do</strong> até seis vezes na tentativa<br />
de capturar o oócito.<br />
As células <strong>da</strong> granulosa foram retira<strong>da</strong>s de to<strong>do</strong>s<br />
os oócitos obti<strong>do</strong>s para a identificação quanto ao seu<br />
grau de maturi<strong>da</strong>de e os oócitos foram submeti<strong>do</strong>s à<br />
ICSI após quatro horas.<br />
O sêmen foi obti<strong>do</strong> por masturbação e submeti<strong>do</strong><br />
ao processamento seminal pela técnica de gradiente<br />
descontínuo de densi<strong>da</strong>de para preparo e seleção <strong>do</strong>s espermatozóides<br />
móveis e morfologicamente normais.<br />
Dezoito horas após a ICSI, foi realiza<strong>da</strong> avaliação<br />
<strong>da</strong> fertilização por meio <strong>da</strong> identificação <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />
corpúsculo polar e presença de <strong>do</strong>is pro-núcleos. Avaliações<br />
morfológicas foram realiza<strong>da</strong>s a partir <strong>do</strong> estágio<br />
de pró-núcleos até o momento <strong>da</strong> transferência. A<br />
checagem quanto ao desenvolvimento embrionário foi<br />
realiza<strong>da</strong> depois de 24 horas. Embriões foram morfologicamente<br />
avalia<strong>do</strong>s em relação ao número e simetria<br />
<strong>do</strong>s blastômeros e presença de fragmentação 17 .<br />
Os embriões seleciona<strong>do</strong>s foram transferi<strong>do</strong>s<br />
entre 48 e 52 horas após a ICSI usan<strong>do</strong> catéter de<br />
transferência de Frydman soft com mandril (Laboratoire<br />
CCD, Paris, France), orienta<strong>do</strong> por controle<br />
ultra-sonográfico realiza<strong>do</strong> por via ab<strong>do</strong>minal. Após a<br />
realização <strong>da</strong> transferência, as pacientes foram manti<strong>da</strong>s<br />
em repo<strong>uso</strong> por 30 minutos e orienta<strong>da</strong>s quanto à<br />
manutenção de repo<strong>uso</strong> absoluto por 24 horas. Após<br />
este perío<strong>do</strong> as pacientes foram libera<strong>da</strong>s para to<strong>da</strong>s<br />
as suas ativi<strong>da</strong>des habituais.<br />
Mesmo em se tratan<strong>do</strong> de ciclos naturais, a fase<br />
lútea foi suplementa<strong>da</strong> com comprimi<strong>do</strong>s de 200 mg<br />
de progesterona microniza<strong>da</strong> (Utrogestan, Laboratórios<br />
Enila) por via vaginal, em <strong>do</strong>se única diária, inicia<strong>da</strong><br />
no dia prévio à transferência embrionária, com<br />
o intuito de afastar a possibili<strong>da</strong>de de insuficiência<br />
lútea. O <strong>uso</strong> <strong>da</strong> progesterona foi manti<strong>do</strong> até que<br />
a paciente apresentasse sangramento menstrual ou<br />
até que a realização de duas medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> subuni<strong>da</strong>de<br />
beta de gona<strong>do</strong>trofina coriônica, com intervalo de<br />
48 horas entre elas, resultassem negativas. As pacientes<br />
grávi<strong>da</strong>s foram orienta<strong>da</strong>s a manter a utilização <strong>da</strong><br />
progesterona até a 12ª semana de gestação.
As gestações foram <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong>s por duas <strong>do</strong>sagens<br />
de β-hCG séricas realiza<strong>da</strong>s no 12 o e 14 o dia após<br />
a transferência, mas confirma<strong>da</strong>s somente quan<strong>do</strong> os<br />
sacos gestacionais foram visualiza<strong>do</strong>s por ultra-sonografia<br />
por via vaginal e com a identificação <strong>do</strong> embrião com<br />
batimentos cardíacos.<br />
Taxas de fertilização, gestação por ciclo, gestação<br />
por punção e gestação por transferência foram analisa<strong>da</strong>s<br />
e compara<strong>da</strong>s entre os grupos de acor<strong>do</strong> com a<br />
faixa etária <strong>da</strong> paciente por testes não paramétricos<br />
(χ 2 ). Valores de p
Busso NE, Busso CE, Tso LO, Auge APF, Busso RE, Boaro L, Pra<strong>do</strong> RAA<br />
Estas desvantagens, entre outras, fizeram com que<br />
muitos investiga<strong>do</strong>res voltassem a pesquisar a FIV em<br />
ciclo natural, não só em função <strong>da</strong>s melhorias nas técnicas<br />
de recuperação de oócitos, mas também devi<strong>do</strong> aos<br />
melhores resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nos laboratórios 19 .<br />
Entre as vantagens ofereci<strong>da</strong>s pela utilização <strong>do</strong><br />
ciclo espontâneo destaca-se a seleção natural <strong>do</strong> folículo<br />
<strong>do</strong>minante por meio de mecanismos fisiológicos que<br />
levam à seleção <strong>do</strong> oócito sem interferência farmacológica.<br />
Além disso, o en<strong>do</strong>métrio é prepara<strong>do</strong> de forma natural<br />
sem os inconvenientes <strong>da</strong> exposição à concentrações<br />
suprafisiológicas de estradiol.<br />
No entanto, é indiscutível a dificul<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong><br />
para a coleta <strong>do</strong>s folículos. Neste senti<strong>do</strong>, acredita-se<br />
que a monitorização <strong>do</strong> ciclo natural para a recuperação<br />
de oócitos torna-se imprescindível. A importância <strong>da</strong><br />
avaliação <strong>do</strong>s níveis de LH antes <strong>da</strong> administração de<br />
hCG, antecipan<strong>do</strong> sua aplicação caso haja elevação <strong>do</strong><br />
LH, também foi demonstra<strong>da</strong> por outros autores 20 .<br />
A utilização <strong>do</strong> LH, no nosso trabalho, foi critério de<br />
exclusão pela dificul<strong>da</strong>de de precisar o momento adequa<strong>do</strong><br />
para a punção.<br />
Neste estu<strong>do</strong>, a técnica escolhi<strong>da</strong> para a fertilização<br />
<strong>do</strong>s oócitos coleta<strong>do</strong>s foi a ICSI, que se tornou opção<br />
de tratamento para o fator masculino grave 21 e para os<br />
casos de falhas de fertilização ou baixas taxas de fertilização<br />
em ciclos prévios 22 , na tentativa de diminuir<br />
as taxas de falha de fertilização e aproveitar melhor os<br />
oócitos coleta<strong>do</strong>s.<br />
Fizemos avaliação <strong>da</strong> taxa de gestação em praticamente<br />
um ciclo por paciente, mas a literatura ressalta<br />
a importância <strong>da</strong> realização de séries de tratamento 20<br />
que mostram taxas cumulativas de gestação e recémnasci<strong>do</strong>s<br />
vivos, após quatro ciclos, de 46 e 32%,<br />
respectivamente, e ain<strong>da</strong> ressaltam a importância <strong>da</strong><br />
segurança <strong>do</strong> tratamento, <strong>do</strong> menor custo e menor<br />
estresse que envolve esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de FIV. Nesta<br />
série, os autores recuperaram 81,6% de oócitos, obtiveram<br />
70% de fertilização e 24% de gestação por<br />
transferência, valores semelhantes aos por nós obti<strong>do</strong>s,<br />
respectivamente 84,6, 70 e 29,6%.<br />
Existe também a sugestão de que a melhor indicação<br />
de FIV em ciclo natural seria para pacientes com fator<br />
tubáreo, pelo fato de ambos os gametas serem normais<br />
23 . Apesar de não fazer parte <strong>do</strong> objetivo <strong>do</strong> nosso<br />
trabalho, não notamos diferenças entre os fatores de<br />
infertili<strong>da</strong>de, entretanto o número insuficiente de casos<br />
não nos permitiu análise estatística que comprovasse a<br />
tendência numérica.<br />
344 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):342-7<br />
A importância <strong>do</strong> ciclo natural é coloca<strong>da</strong> em<br />
dúvi<strong>da</strong> pela sua baixa eficácia em termos de taxa de<br />
gestação por ciclo inicia<strong>do</strong> com conseqüente alto índice<br />
de cancelamento <strong>do</strong>s ciclos. Em nosso estu<strong>do</strong>, a<br />
taxa total de cancelamento foi de 25,7%. Em relação<br />
a esta alta porcentagem de ciclos interrompi<strong>do</strong>s antes<br />
<strong>da</strong> punção, cabe importante reflexão quanto ao significa<strong>do</strong><br />
destes cancelamentos. As pacientes não sofreram<br />
nenhum procedimento invasivo, não foram submeti<strong>da</strong>s<br />
a nenhuma medicação e o custo <strong>do</strong> tratamento até a<br />
suspensão limitou-se a alguns exames de ultra-sonografia,<br />
o que torna esta alta taxa de cancelamento destituí<strong>da</strong><br />
de valor, apesar <strong>da</strong> carga emocional inerente aos casais<br />
independentemente <strong>do</strong> tipo de técnica.<br />
Quan<strong>do</strong> a eficácia deste tipo de tratamento é medi<strong>da</strong><br />
em termos de taxa de gestação por ciclo, compara<strong>da</strong> com<br />
a de gestação por punção e compara<strong>da</strong> com a de gestação<br />
por transferência, os resulta<strong>do</strong>s são anima<strong>do</strong>res, pois, em<br />
nosso trabalho, foram encontra<strong>da</strong>s taxas de 11,4, 15,4 e<br />
29,6%, respectivamente. Estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s são semelhantes<br />
aos obti<strong>do</strong>s por outros estu<strong>do</strong>s na literatura, nos quais<br />
os autores mostram taxas de gestação de 12,5, 33 e<br />
50%, respectivamente, e ressaltam que estes números<br />
dão suporte à utilização <strong>do</strong> ciclo natural em FIV, não<br />
só pela eficácia mas também pelo baixo custo 24 . Sem<br />
dúvi<strong>da</strong>, resulta<strong>do</strong>s mais fidedignos são os demonstra<strong>do</strong>s<br />
pelas taxas de gestação por transferência, pois quan<strong>do</strong><br />
o ciclo é cancela<strong>do</strong>, independentemente <strong>do</strong> motivo, o<br />
tratamento poderá ser reinicia<strong>do</strong> no mês seguinte.<br />
Extensa revisão <strong>da</strong> literatura foi realiza<strong>da</strong> 11 na<br />
qual foram seleciona<strong>do</strong>s 20 trabalhos com um total de<br />
1.800 ciclos de FIV com ciclo natural, que resultaram em<br />
819 embriões e 129 gestações (7,2% por ciclo e 15,8%<br />
por transferência). Estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s não puderam ser compara<strong>do</strong>s<br />
aos nossos, pela extrema diversi<strong>da</strong>de de número de<br />
pacientes, diagnóstico, faixas etárias e ausência de <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
quanto à utilização ou não de ICSI. Os autores concluem<br />
que a eficácia <strong>do</strong> ciclo natural em FIV é comprometi<strong>da</strong><br />
pela alta taxa de cancelamento encontra<strong>da</strong> – mesmo assim,<br />
é procedimento de baixo custo, seguro e confortável para<br />
as pacientes – e que estu<strong>do</strong>s ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong>s e controla<strong>do</strong>s<br />
deveriam ser realiza<strong>do</strong>s comparan<strong>do</strong> o ciclo natural com<br />
os ciclos estimula<strong>do</strong>s.<br />
A FIV com auxílio de ICSI no ciclo natural é<br />
uma alternativa de tratamento de baixo custo e com<br />
baixo índice de complicações (gestação múltipla e<br />
síndrome de hiperestímulo ovariano) para as pacientes<br />
com baixo poder aquisitivo ou que não respondem à<br />
indução <strong>da</strong> ovulação.
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Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):342-7<br />
345
Adelino MoreirA de CArvAlho 1<br />
riCAr<strong>do</strong> SAntoS SiMõeS 2<br />
Fábio hideo MArtinS oliveirA 3<br />
MAnuel de JeSuS SiMõeS 4<br />
riCAr<strong>do</strong> MArtinS oliveirA-Filho 5<br />
MAry uChiyAMA nAkAMurA 6<br />
luiz kulAy Júnior 7<br />
Artigos originais<br />
Palavras-chaves<br />
Ritonavir/toxici<strong>da</strong>de<br />
Ritonavir/efeitos adversos<br />
Prenhez<br />
Hepatopatias/induzi<strong>do</strong> quimicamente<br />
Nefropatias/induzi<strong>do</strong> quimicamente<br />
Anti-retrovirais<br />
Keywords<br />
Ritonavir/toxicity<br />
Ritonavir/adverse effects<br />
Pregnancy, animal<br />
Liver diseases/chemically induced<br />
Kidney diseases/chemically induced<br />
Anti-retroviral agents<br />
Correspondência:<br />
Adelino Moreira de Carvalho<br />
Aveni<strong>da</strong> Dona Conceição, 320 – Jardim Panorama<br />
CEP 37130-000 – Alfenas/MG<br />
Fone: (35) 3299-3539<br />
E-mail: adelino.carvalho@unifenas.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
27/11/2006<br />
Aceito com modificações<br />
28/06/2007<br />
Análise morfológica <strong>do</strong>s fíga<strong>do</strong>s e rins<br />
no binômio materno-fetal após tratamento<br />
de ratas prenhes com Ritonavir durante<br />
to<strong>da</strong> a prenhez<br />
Morphological analysis of liver and kidneys of pregnant rats<br />
and their fetuses upon chronic Ritonavir administration<br />
Resumo<br />
ObjetivO: avaliar os efeitos <strong>da</strong> administração crônica de três diferentes <strong>do</strong>ses de Ritonavir nos fíga<strong>do</strong>s e rins de ratas<br />
prenhes e seus conceptos <strong>do</strong> ponto de vista morfológico. MétOdOs: Quarenta ratas albinas EPM-1 Wistar, prenhes,<br />
foram aleatoriamente dividi<strong>da</strong>s em quatro grupos: Contr (controle <strong>do</strong> veículo) e três grupos experimentais, Exp20,<br />
Exp60 e Exp180, que receberam, respectivamente, 20, 60 e 180 mg/kg por dia de Ritonavir por via oral. A droga<br />
e o veículo (propilenoglicol) foram administra<strong>do</strong>s por gavagem, desde o primeiro até o 20º dia <strong>da</strong> prenhez. No último<br />
dia <strong>do</strong> experimento, to<strong>do</strong>s os animais foram anestesia<strong>do</strong>s e sacrifica<strong>do</strong>s. Em segui<strong>da</strong>, fragmentos <strong>do</strong>s fíga<strong>do</strong>s e rins<br />
maternos e fetais foram coleta<strong>do</strong>s e prepara<strong>do</strong>s para análise em microscopia de luz. ResultadOs: não observamos<br />
nenhuma alteração morfológica nas vísceras estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s nos Grupos Contr e Exp20. No Grupo Exp60, encontramos,<br />
no fíga<strong>do</strong> materno, hepatócitos com sinais de atrofia e de apoptose (eosinofilia citoplasmática e núcleos picnóticos) e<br />
vasodilatação marcante <strong>do</strong>s capilares sinusóides (congestão). No rim materno, encontramos áreas eosinofílicas e núcleos<br />
hipercromáticos na parede <strong>do</strong>s túbulos contorci<strong>do</strong>s proximais. O fíga<strong>do</strong> e rins maternos <strong>do</strong> Grupo Exp180 tiveram<br />
alterações morfológicas mais intensas <strong>do</strong> que no Grupo Exp60. Não observamos alterações histomorfológicas nos<br />
fíga<strong>do</strong>s e rins fetais em to<strong>do</strong>s os grupos, o que pode ser decorrente <strong>da</strong> ação protetora <strong>da</strong> glicoproteína P. COnClusões:<br />
nossos resulta<strong>do</strong>s mostram que a administração de Ritonavir a ratas prenhes ca<strong>uso</strong>u alterações morfológicas nos fíga<strong>do</strong>s<br />
e rins maternos em <strong>do</strong>ses mais altas que a convencional. Já a ausência de anormali<strong>da</strong>des nos órgãos fetais pode ser<br />
explica<strong>da</strong> pelo papel protetor <strong>da</strong> glicoproteína P.<br />
Abstract<br />
PuRPOse: to evaluate the effect of the chronic administration of three different <strong>do</strong>ses of Ritonavir in the liver and kidneys<br />
of pregnant albino rats and their concepts from a morphological standpoint. MethOds: forty pregnant albino EPM-1<br />
Wistar rats were ran<strong>do</strong>mly divided into four groups: Contr (vehicle control), and three experimental groups, Exp20, Exp60,<br />
Exp180, which received <strong>da</strong>ily 20, 60 or 180 mg/kg of Ritonavir, respectively. The drug and the vehicle (propyleneglycol)<br />
were orally administered by gavage, from the first up to the 20 th <strong>da</strong>y of pregnancy. At the last experimental <strong>da</strong>y, all<br />
the animals were sacrificed under deep anesthesia, and fragments from the maternal and fetal liver and kidneys were<br />
taken and prepared for histological analysis by light microscope. Results: no morphological changes were identified in<br />
Exp20 and control group. In the Exp60 group, we found hepatocytes with signs of atrophy and apoptosis (eosinophilic<br />
cytoplasm and picnotic nuclei) and marked sin<strong>uso</strong>id capillary vasodilation (congestion). The proximal convoluted tubules<br />
of maternal kidneys and liver showed eosinophilic areas and hyperchromatic nuclei, as well as signs of vasodilation. The<br />
maternal kidneys and livers of the Exp180 rats presented more prominent morphological changes than the ones of Exp60.<br />
Regarding the fetal organs, no histomorphological abnormalities were observed in all the groups. COnClusiOns: our<br />
results show that the administration of Ritonavir to pregnant rats, in higher than conventional <strong>do</strong>ses causes morphological<br />
changes in the maternal liver and kidneys. On the other hand, the lack of abnormalities in the fetal organs may be due<br />
to the protective role of glycoprotein P.<br />
1 Docente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de José <strong>do</strong> Rosário Vellano – UNIFENAS – Alfenas (MG), Brasil.<br />
2 Residente <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo – UNIFESP – São<br />
Paulo (SP), Brasil.<br />
3 Residente <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Santa Casa de Misericórdia de<br />
São Paulo – São Paulo (SP), Brasil.<br />
4 Professor Associa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Departamento de Morfologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo<br />
– UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.<br />
5 Professor <strong>do</strong> Departamento de Farmacologia <strong>do</strong> Instituto de Ciências Biomédicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo – USP – São Paulo<br />
(SP), Brasil.<br />
6 Professora Associa<strong>da</strong> <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo<br />
– UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.<br />
7 Professor Titular <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo – UNIFESP<br />
– São Paulo (SP), Brasil.
Introdução<br />
Desde o seu reconhecimento como enti<strong>da</strong>de<br />
nosológica, há cerca de duas déca<strong>da</strong>s, a síndrome <strong>da</strong><br />
imunodeficiência adquiri<strong>da</strong> (AIDS) representa um<br />
desafio médico, devi<strong>do</strong> à sua alta taxa de mortali<strong>da</strong>de<br />
e ao número ca<strong>da</strong> vez maior de infecta<strong>do</strong>s.<br />
Recentemente, o programa de combate a AIDS/<br />
HIV <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (UNAIDS e WHO) relatou<br />
que o mun<strong>do</strong> registrou 5 milhões de novas infecções,<br />
3,1 milhões de mortes, em 2005, e um total de<br />
4,9 milhões de pessoas infecta<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> ano. As mulheres<br />
respondem por 50% de to<strong>da</strong> a população HIV<br />
positiva no mun<strong>do</strong> 1 .<br />
O Ministério <strong>da</strong> Saúde <strong>do</strong> Brasil, em 2005, revelou<br />
que existem aproxima<strong>da</strong>mente 600.000 porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
HIV e mais de 12.000 grávi<strong>da</strong>s contamina<strong>da</strong>s. A taxa<br />
de mulheres porta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> vírus no momento <strong>do</strong> parto<br />
gira em torno de 0,5%. A taxa de mortali<strong>da</strong>de por<br />
AIDS no Brasil encontra-se estabiliza<strong>da</strong> desde 1999,<br />
com média de 6,3 mortes por 100.000 habitantes.<br />
Esse índice é fruto <strong>da</strong> distribuição gratuita de antiretrovirais.<br />
O Brasil é cita<strong>do</strong> como o primeiro país em<br />
desenvolvimento a oferecer a terapia anti-retroviral<br />
gratuita e universal, e um <strong>do</strong>s primeiros a obter sucesso<br />
com essa política 2 .<br />
Desde o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pediatric AIDS Clinical Group,<br />
conheci<strong>do</strong> como Protocolo 076 (ACTG 076), no qual se<br />
demonstrou redução <strong>da</strong> taxa de transmissão vertical em<br />
70% com a administração de anti-retrovirais à gestante,<br />
os benefícios desta terapia vêm sen<strong>do</strong> amplamente<br />
estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s em associação com outras intervenções, como<br />
cesárea eletiva e supressão de aleitamento materno, a<br />
fim de reduzir a taxa de transmissão vertical 3,4 . Embora<br />
inicialmente preconiza<strong>da</strong> a monoterapia, há recomen<strong>da</strong>ções<br />
recentes de que as gestantes não devem ser priva<strong>da</strong>s<br />
<strong>do</strong> <strong>uso</strong> de combinações de drogas potentes, visto que,<br />
atualmente, esses esquemas estão relaciona<strong>do</strong>s a menor<br />
taxa de transmissão vertical 5,6 .<br />
Portanto, o desafio é muito grande e exige, além<br />
de outras medi<strong>da</strong>s como promoção <strong>da</strong> saúde e prevenção<br />
<strong>da</strong> síndrome, o tratamento medicamentoso.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, há, hoje, um arsenal terapêutico que<br />
tem permiti<strong>do</strong> melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e maior<br />
sobrevi<strong>da</strong> para os porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus <strong>da</strong> AIDS ou<br />
com a condição patológica já instala<strong>da</strong>. O arsenal é<br />
rico, mas associa<strong>do</strong> a efeitos adversos que, em muitos<br />
aspectos, precisam ser mais pesquisa<strong>do</strong>s, especialmente<br />
quanto à sua toxici<strong>da</strong>de para as grávi<strong>da</strong>s e<br />
seus conceptos. Neste aspecto, pesquisas reforçam<br />
que o tratamento farmacológico <strong>da</strong> mulher grávi<strong>da</strong><br />
porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV ou com a síndrome já estabele-<br />
Análise morfológica <strong>do</strong>s fíga<strong>do</strong>s e rins no binômio materno-fetal após tratamento de ratas prenhes com Ritonavir durante to<strong>da</strong> a prenhez<br />
ci<strong>da</strong> não se associou a alterações dignas de nota em<br />
vários indica<strong>do</strong>res <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de fetal, tais como<br />
redução <strong>do</strong> índice de Apgar, baixo peso fetal, parto<br />
prematuro, entre outros; insistem que o tratamento<br />
farmacológico <strong>da</strong> grávi<strong>da</strong> HIV positiva é uma exigência,<br />
que traz mais benefícios que problemas para<br />
a mulher e para o feto 7,8 .<br />
Dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> região <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, alta percentagem<br />
<strong>da</strong> população total <strong>do</strong>s infecta<strong>do</strong>s pelo HIV são<br />
mulheres em i<strong>da</strong>de reprodutiva, passíveis de engravi<strong>da</strong>r<br />
e algumas, inclusive, na vigência de terapia anti-retroviral<br />
9 . A utilização de algumas dessas drogas está<br />
formalmente contra-indica<strong>da</strong> nesse perío<strong>do</strong>. Ca<strong>da</strong> vez<br />
mais, tem-se usa<strong>do</strong> a associação de drogas com bons<br />
resulta<strong>do</strong>s terapêuticos, tanto para a mulher grávi<strong>da</strong><br />
quanto para seu concepto, mas persiste a preocupação<br />
com possíveis efeitos colaterais, carecen<strong>do</strong>-se de estu<strong>do</strong>s<br />
mais bem controla<strong>do</strong>s 10 .<br />
Dentro <strong>do</strong> espírito de conhecer melhor um <strong>do</strong>s<br />
integrantes <strong>do</strong> arsenal terapêutico disponível, propusemo-nos<br />
estu<strong>da</strong>r o fármaco Ritonavir, enfocan<strong>do</strong> seus<br />
possíveis efeitos sobre os fíga<strong>do</strong>s e rins de ratas prenhes<br />
e de seus conceptos, levan<strong>do</strong> em consideração os aspectos<br />
morfológicos dessas vísceras.<br />
Embora não haja estu<strong>do</strong>s bem controla<strong>do</strong>s, o Food<br />
and Drug Administration (FDA) americano classificou<br />
o Ritonavir na categoria B de risco para o feto. Por isto,<br />
interessou-nos estu<strong>da</strong>r esse medicamento em relação a<br />
possíveis efeitos indesejáveis sobre a prenhez e os fetos.<br />
No presente trabalho, nossa atenção voltou-se para a<br />
análise <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> <strong>uso</strong> crônico <strong>do</strong> Ritonavir sobre<br />
os fíga<strong>do</strong>s e rins <strong>da</strong>s matrizes e de suas crias.<br />
Méto<strong>do</strong>s<br />
Foram utiliza<strong>da</strong>s ratas (Rattus norvegicus albinus)<br />
adultas, virgens, pesan<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 200<br />
g, forneci<strong>da</strong>s pelo Centro de Desenvolvimento de<br />
Modelos de Experimentação (Cedeme) <strong>da</strong> Escola<br />
Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />
São Paulo (Unifesp/EPM). Este estu<strong>do</strong> foi aprova<strong>do</strong><br />
pelo Comitê de Ética em Pesquisa <strong>da</strong> Unifesp/EPM<br />
(parecer nº. 0276/02).<br />
Os animais foram manti<strong>do</strong>s confina<strong>do</strong>s em<br />
gaiolas plásticas, no biotério <strong>da</strong> Disciplina de Histologia,<br />
com temperatura ambiente controla<strong>da</strong> a<br />
22ºC e iluminação artificial, obti<strong>da</strong> com lâmpa<strong>da</strong>s<br />
fluorescentes, sen<strong>do</strong> o fotoperío<strong>do</strong> de 12 horas claro<br />
(7:00-19:00 h) e 12 horas escuro, com alimentação<br />
e água ad libitum.<br />
Após um perío<strong>do</strong> de sete dias, os animais foram<br />
acasala<strong>do</strong>s na proporção de um macho para três fêmeas,<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):348-53<br />
347
Carvalho AM, Simões RS, Oliveira FHM, Simões MJ, Oliveira-Filho RM, Nakamura MU, Kulay Júnior L<br />
por perío<strong>do</strong> de duas horas. O início <strong>da</strong> gestação (dia<br />
zero <strong>da</strong> prenhez) foi determina<strong>do</strong> pelo encontro de<br />
espermatozóides na vagina <strong>da</strong> rata 11 . Quarenta ratas<br />
prenhes foram então distribuí<strong>da</strong>s, aleatoriamente, em<br />
quatro grupos numericamente iguais: Contr, animais<br />
que receberam 1 mL de propilenoglicol; Exp20,<br />
Exp60 e Exp180, animais trata<strong>do</strong>s, respectivamente,<br />
com 20, 60 e 180 mg/kg por dia de solução oral de<br />
Ritonavir. O veículo e a droga foram administra<strong>do</strong>s<br />
por gavagem, uma vez ao dia, desde o dia zero até o<br />
20º dia <strong>da</strong> prenhez.<br />
Ao termo (20º dia), to<strong>do</strong>s os animais foram<br />
anestesia<strong>do</strong>s com mistura de xilazina (0,1 mg/kg) e<br />
cetamina (0,1 mg/kg), por via intraperitoneal. Após<br />
laparotomia, fragmentos <strong>do</strong>s fíga<strong>do</strong>s e rins <strong>da</strong>s ratas e<br />
de seus fetos foram retira<strong>do</strong>s e mergulha<strong>do</strong>s em formol<br />
a 10% tampona<strong>do</strong> (tampão fosfato 10 mM, pH 7,4),<br />
e processa<strong>do</strong>s para estu<strong>do</strong> histológico à microscopia<br />
de luz. O preparo e o estu<strong>do</strong> histológicos foram realiza<strong>do</strong>s<br />
no Laboratório de Obstetrícia Fisiológica<br />
e Experimental <strong>do</strong> Departamento de Obstetrícia<br />
Figura 1 - Fotomicrografia de lâmina de fíga<strong>do</strong> de rata <strong>do</strong> Grupo Exp60<br />
na qual se observam núcleos picnóticos (setas) H.E. 320x.<br />
Figura 2 - Fotomicrografia de lâmina de fíga<strong>do</strong> de rata <strong>do</strong> Grupo Exp180<br />
na qual se observam núcleos picnóticos (setas) e congestão vascular (*).<br />
H.E. 320x.<br />
348 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):348-53<br />
<strong>da</strong> Unifesp/EPM. Após os procedimentos habituais<br />
de inclusão em parafina, os blocos foram corta<strong>do</strong>s<br />
(5 µm) e as lâminas cora<strong>da</strong>s pela hematoxilina-eosina.<br />
As lâminas foram avalia<strong>da</strong>s em microscópio de luz<br />
marca Carl Zeiss.<br />
Na leitura <strong>da</strong>s lâminas, considerou-se padrão<br />
de normali<strong>da</strong>de para o fíga<strong>do</strong>: bom esta<strong>do</strong> de conservação,<br />
homogenei<strong>da</strong>de de aspecto, identificação<br />
de lóbulos hepáticos íntegros, espaço porta íntegro<br />
e veias hepáticas bem defini<strong>da</strong>s; cordões sinusóides<br />
presentes, íntegros, confluin<strong>do</strong> para veia centro-lobular.<br />
Nos capilares sinusóides entendeu-se como<br />
normal a presença de algumas hemácias. Nas células<br />
hepáticas, consideraram-se normais aquelas com<br />
um ou mais núcleos íntegros, em geral centraliza<strong>do</strong>s,<br />
e nucléolos bem evidentes. No citoplasma, foi<br />
considera<strong>do</strong> padrão de normali<strong>da</strong>de encontrar áreas<br />
basófilas e eosinófilas.<br />
Nos rins, a normali<strong>da</strong>de obedeceu aos quesitos:<br />
bem conserva<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong> corpúsculos renais e<br />
túbulos contorci<strong>do</strong>s proximais e distais íntegros; os<br />
glomérulos forma<strong>do</strong>s por capilares, podócitos, células<br />
en<strong>do</strong>teliais e mesangiais sem alterações histológicas.<br />
Outros itens avalia<strong>do</strong>s: cápsula de Bowman íntegra,<br />
presença de células cúbicas ou poliédricas, apresentan<strong>do</strong><br />
citoplasma eosinófilo e núcleo arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong>.<br />
Na região medular, analisaram-se as alças de Henle<br />
junto aos capilares e túbulos coletores, estes com<br />
citoplasma bem delimita<strong>do</strong> e núcleo esférico, quan<strong>do</strong><br />
dentro <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de.<br />
Quan<strong>do</strong> houve alteração <strong>da</strong> coloração padrão<br />
já bem estabeleci<strong>da</strong> para as estruturas hepáticas,<br />
alteração na morfologia de núcleos, rompimento de<br />
limites de alguma organela citoplasmática, presença<br />
de congestão vascular, tu<strong>do</strong> isto foi entendi<strong>do</strong> como<br />
provoca<strong>do</strong>, provavelmente, pela droga em sua(s) <strong>do</strong>se(s)<br />
de aplicação.<br />
Resulta<strong>do</strong>s<br />
Nos fíga<strong>do</strong>s maternos, notamos que os Grupos<br />
Contr e Exp20 apresentaram padrões de normali<strong>da</strong>de.<br />
Foram visualiza<strong>do</strong>s facilmente lóbulos hepáticos,<br />
espaços porta e veias hepáticas bem delinea<strong>da</strong>s. Os<br />
hepatócitos formavam cordões confluentes para a<br />
veia centro-lobular. Entre os cordões, observavamse<br />
sinusóides hepáticos com núcleos arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong><strong>do</strong>s e<br />
volumosos, geralmente eucromáticos. Já no Grupo<br />
Exp60, que recebeu 60 mg/kg de peso corporal<br />
de Ritonavir, o fíga<strong>do</strong> apresentou alterações morfológicas,<br />
tais como: congestão vascular e alguns<br />
hepatócitos com núcleos picnóticos (Figura 1).
Este quadro morfológico está acentua<strong>do</strong> no Grupo<br />
Exp180 (180 mg/kg), no qual se observa grave<br />
congestão vascular, palidez celular e numerosos<br />
hepatócitos com núcleos picnóticos (Figura 2).<br />
O quadro detecta<strong>do</strong> em Exp60 e Exp180 esteve presente<br />
na quase totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s lâminas desses grupos,<br />
evidencian<strong>do</strong> alteração abrangente e significativa.<br />
Quanto aos fíga<strong>do</strong>s fetais, morfologicamente não<br />
foram observa<strong>da</strong>s quaisquer alterações perceptíveis à<br />
microscopia de luz em nenhum <strong>do</strong>s grupos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />
Observaram-se núcleos de hepatócitos bem evidentes,<br />
células <strong>da</strong> linhagem eritrocitária em diferentes fases<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento e megacariócitos. Não se evidenciaram<br />
os limites <strong>do</strong>s lóbulos hepáticos, padrão<br />
compatível com a normali<strong>da</strong>de morfológica nessa etapa<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong> cria.<br />
A morfologia <strong>do</strong>s rins maternos apresentou-se<br />
muito semelhante nos Grupos Contr e Exp20, nos<br />
quais notamos corpúsculos renais e túbulos contorci<strong>do</strong>s<br />
proximais e distais dentro <strong>do</strong>s padrões <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de.<br />
No entanto, no Grupo Exp60, houve níti<strong>da</strong> dilatação<br />
<strong>do</strong>s vasos sangüíneos peritubulares. No Grupo Exp180,<br />
por sua vez, houve acentua<strong>da</strong> dilatação vascular ao re<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong>s túbulos contorci<strong>do</strong>s, e identificamos núcleos<br />
intensamente cora<strong>do</strong>s (heterocromáticos) e citoplasma<br />
eosinofílico (Figura 3).<br />
O aspecto morfológico <strong>do</strong>s rins fetais mostrouse<br />
semelhante em to<strong>do</strong>s os grupos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s, tanto<br />
no córtex quanto na medula, sem sinais de alteração<br />
celular. Observaram-se glomérulos, túbulos contorci<strong>do</strong>s<br />
(na cortical), e ductos coletores e alças de Henle<br />
(na medular) típicos.<br />
Discussão<br />
O Ritonavir é um sal <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> paratoluenossulfônico,<br />
com ampla distribuição tecidual, metaboliza<strong>do</strong><br />
pelo fíga<strong>do</strong> e por ele excreta<strong>do</strong>, embora uma pequena<br />
quanti<strong>da</strong>de, inferior a 5%, seja elimina<strong>da</strong> pelos rins 12 .<br />
É um inibi<strong>do</strong>r de protease viral com especifici<strong>da</strong>de<br />
para o vírus HIV 1, utiliza<strong>do</strong> com freqüência nos<br />
esquemas de anti-retrovirais combina<strong>do</strong>s para gestantes<br />
contamina<strong>da</strong>s.<br />
Com relação à ação <strong>do</strong> Ritonavir em animais,<br />
em estu<strong>do</strong> prévio utilizan<strong>do</strong> as mesmas <strong>do</strong>ses aqui<br />
emprega<strong>da</strong>s, notamos que a taxa de mortali<strong>da</strong>de<br />
materna e fetal era significativamente maior nas<br />
ratas que receberam 60 e 180 mg/kg de peso corporal<br />
(2/10 e 4/10 mortes maternas, respectivamente)<br />
13 . Por outro la<strong>do</strong>, não observamos nenhuma<br />
alteração nos fetos, presumin<strong>do</strong> que esta proteção<br />
possa ser devi<strong>da</strong> à ação protetora <strong>da</strong> glicoproteína<br />
Análise morfológica <strong>do</strong>s fíga<strong>do</strong>s e rins no binômio materno-fetal após tratamento de ratas prenhes com Ritonavir durante to<strong>da</strong> a prenhez<br />
P, presente na placenta. Deve ser menciona<strong>do</strong> que<br />
já se demonstrou que apenas quanti<strong>da</strong>des irrisórias<br />
de Ritonavir atravessam a barreira placentária<br />
em humanos 14 .<br />
A <strong>do</strong>se de Ritonavir administra<strong>da</strong> no Grupo<br />
Exp20 foi proporcionalmente semelhante à recomen<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
para <strong>uso</strong> terapêutico em humanos, isto é,<br />
20 mg/kg de peso corporal por dia 13 . Os Grupos<br />
Exp60 e Exp180 foram trata<strong>do</strong>s com <strong>do</strong>ses três e<br />
nove vezes superiores à <strong>do</strong>se menor, porque o metabolismo<br />
hepático <strong>da</strong> rata estima-se ser três vezes<br />
mais eficiente <strong>do</strong> que aquele encontra<strong>do</strong> em humanos<br />
e também porque a depuração renal desses animais<br />
é duas vezes mais eficiente.<br />
Com relação aos resulta<strong>do</strong>s, no Grupo Contr não<br />
se observaram quaisquer alterações morfológicas à<br />
microscopia de luz nos fíga<strong>do</strong>s e rins tanto <strong>da</strong>s ratas<br />
quanto de suas crias. Não se registraram também<br />
alterações morfológicas nos fíga<strong>do</strong>s maternos e fetais<br />
<strong>do</strong> Grupo Exp20. No tocante ao fíga<strong>do</strong>, observa-se<br />
uma discordância entre nossos acha<strong>do</strong>s e os apresenta<strong>do</strong>s<br />
por outros pesquisa<strong>do</strong>res 15,16 . Segun<strong>do</strong> estes<br />
autores, <strong>do</strong>ses acima de 60% <strong>da</strong> <strong>do</strong>se terapêutica,<br />
isto é, maiores que 12 mg/kg de peso corpóreo,<br />
aproxima<strong>da</strong>mente, estão relaciona<strong>da</strong>s à toxici<strong>da</strong>de<br />
hepática em ratas. Efetivamente, o Grupo Exp20<br />
recebeu o equivalente a 20 mg/kg de peso corpóreo<br />
e não se observou nenhum efeito hepatotóxico.<br />
Já no Grupo Exp60, nos fíga<strong>do</strong>s maternos, observaram-se<br />
importantes alterações morfológicas, tais<br />
como congestão vascular e alguns sinais indicativos de<br />
necrose, como hepatócitos com núcleos irregulares e<br />
hipercromáticos, provavelmente decorrentes de efeito<br />
tóxico <strong>do</strong> Ritonavir. Neste grupo, administrou-se a<br />
concentração equivalente a três vezes a <strong>do</strong>se terapêutica,<br />
o que per se pode explicar a toxici<strong>da</strong>de celular, ou<br />
Figura 3 - Fotomicrografia de lâmina de rim de rata <strong>do</strong> Grupo Exp180<br />
na qual se podem observar áreas francamente eosinofílicas com núcleos<br />
heterocromáticos (setas) e congestão vascular (*). H.E. 320x.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):348-53<br />
349
Carvalho AM, Simões RS, Oliveira FHM, Simões MJ, Oliveira-Filho RM, Nakamura MU, Kulay Júnior L<br />
seja, alta <strong>do</strong>se <strong>do</strong> fármaco. Nos rins maternos deste<br />
mesmo grupo detectamos apenas vasos sangüíneos<br />
discretamente dilata<strong>do</strong>s.<br />
No Grupo Exp180 (180 mg/kg de Ritonavir),<br />
nos fíga<strong>do</strong>s maternos evidenciaram-se vísceras<br />
muito comprometi<strong>da</strong>s, provavelmente pelo efeito<br />
tóxico <strong>do</strong> fármaco, fato este também registra<strong>do</strong> em<br />
outras pesquisas 17 . A <strong>do</strong>se, neste caso, foi nove vezes<br />
a terapêutica, o que permite interpretar como um<br />
efeito <strong>do</strong>se-dependente, pois as alterações morfológicas<br />
foram muito mais intensas: houve uma congestão<br />
vascular muito mais expressiva e numerosos<br />
núcleos picnóticos. Deve-se ter também em mente<br />
que, talvez, as <strong>do</strong>ses pudessem ter até um efeito<br />
deletério maior, pois é fato bem estabeleci<strong>do</strong> que a<br />
metabolização hepática <strong>da</strong>s ratas é três vezes mais<br />
rápi<strong>da</strong> que a <strong>do</strong> ser humano e a depuração renal é<br />
duas vezes maior.<br />
Já nos rins maternos <strong>do</strong> Exp180, verificaram-se<br />
alterações acentua<strong>da</strong>s, em especial intensa vasodilatação<br />
ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s túbulos proximais, apresentan<strong>do</strong><br />
células com núcleos intensamente cora<strong>do</strong>s e citoplasma<br />
eosinófilo (Figura 3). Estes efeitos provavelmente<br />
vinculam-se ao fato de ser o fíga<strong>do</strong> um órgão alvo <strong>da</strong><br />
concentração preferencial <strong>do</strong> Ritonavir e de ser esta<br />
droga de metabolismo e eliminação hepáticos, restan<strong>do</strong><br />
apenas menos de 5% <strong>do</strong> fármaco para eliminação<br />
renal 12,18 . Esse comprometimento <strong>do</strong>s rins maternos,<br />
Referências<br />
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351
Roseli Mieko YaMaMoto NoMuRa 1<br />
apaReci<strong>do</strong> NakaNo MaRtiNs 2<br />
letícia kaMio teshiMa 2<br />
seizo MiYa<strong>da</strong>hiRa 1<br />
MaRcelo zugaib 3<br />
Artigos originais<br />
Palavras-chaves<br />
Diabetes mellitus<br />
Gravidez em diabéticas<br />
Feto/fisiologia<br />
Ultra-sonografia<br />
Gravidez de alto risco<br />
Líqui<strong>do</strong> amniótico<br />
Respiração<br />
Monitorização fetal<br />
Keywords<br />
Diabetes mellitus<br />
Pregnancy in diabetics<br />
Fetus/physiology<br />
Ultrasonography<br />
Pregnancy, high-risk<br />
Amniotic fluid<br />
Respiration<br />
Fetal monitoring<br />
Correspondência:<br />
Roseli Mieko Yamamoto Nomura<br />
Rua General Canavarro, 280 – Bairro Campestre<br />
CEP 09070-440 – Santo André/SP<br />
Fone: (11) 4991-2481 – Fax (11) 4221-8752<br />
E-mail: roseli.nomura@terra.com.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
17/05/2007<br />
Aceito com modificações<br />
25/06/2007<br />
Movimentos respiratórios fetais em gestações<br />
com diabetes mellitus pré-gestacional<br />
Fetal breathing movements in pregnancies complicated by pregestational<br />
diabetes mellitus<br />
Resumo<br />
ObjetivO: analisar o padrão <strong>do</strong>s movimentos respiratórios fetais (MRF) em gestantes diabéticas no terceiro trimestre<br />
de gestação. MétOdOs: foram avalia<strong>da</strong>s 16 gestantes com diabetes mellitus pré-gestacional e 16 gestantes normais<br />
(grupo controle), com os seguintes critérios de inclusão: gestação única entre a 36ª e a 40ª semana, ausência de outras<br />
<strong>do</strong>enças maternas e ausência de anomalias fetais. No perfil biofísico fetal (PBF), foram avalia<strong>do</strong>s os parâmetros: freqüência<br />
cardíaca fetal, MRF, movimentos corpóreos fetais, tônus fetal e índice de líqui<strong>do</strong> amniótico. Os MRF foram avalia<strong>do</strong>s por<br />
30 minutos, perío<strong>do</strong> em que o exame foi integralmente grava<strong>do</strong> em fita de vídeo VHS para posterior análise <strong>do</strong> número<br />
de episódios de MRF, <strong>do</strong> tempo de duração <strong>do</strong>s episódios e <strong>do</strong> índice de movimentos respiratórios fetais (IMR). O IMR<br />
foi calcula<strong>do</strong> pela fórmula: (intervalo de tempo com MRF/tempo de observação) x 100. No início e no final <strong>do</strong> PBF<br />
foi <strong>do</strong>sa<strong>da</strong> a glicemia capilar materna. Os resulta<strong>do</strong>s foram analisa<strong>do</strong>s pelo teste de Mann-Whitney U e teste exato de<br />
Fisher, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se nível de significância de 5%. ResultadOs: as glicemias demonstraram média significativamente<br />
superior nas diabéticas (113,3±35,3 g/dL) em relação às gestantes normais (78,2±14,8 g/dL, p
Introdução<br />
Os movimentos respiratórios fetais (MRF) ocorrem<br />
no desenvolvimento normal <strong>do</strong> produto conceptual,<br />
iniciam-se a partir <strong>da</strong> 11ª semana de gestação e são<br />
observa<strong>do</strong>s até o termo 1 . A presença de episódios de<br />
MRF constitui um <strong>do</strong>s parâmetros analisa<strong>do</strong>s no perfil<br />
biofísico fetal (PBF), juntamente com a observação<br />
<strong>da</strong> freqüência cardíaca fetal (FCF), <strong>do</strong>s movimentos<br />
corpóreos fetais (MCF), <strong>do</strong> tônus fetal e <strong>do</strong> volume de<br />
líqui<strong>do</strong> amniótico (LA) 2 . Esse méto<strong>do</strong>, utiliza<strong>do</strong> na<br />
propedêutica fetal <strong>da</strong>s gestações de alto risco, avalia a<br />
vitali<strong>da</strong>de fetal, estiman<strong>do</strong> a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oxigenação<br />
<strong>do</strong> sistema nervoso central, poden<strong>do</strong>, em situações<br />
patológicas, indicar a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> hipoxemia e/ou<br />
acidemia fetais. Indiretamente, essa técnica também<br />
avalia a probabili<strong>da</strong>de de óbito fetal e perinatal, além<br />
<strong>do</strong> risco de comorbi<strong>da</strong>des após seu nascimento 3,4 .<br />
Alterações nos padrões <strong>do</strong>s MRF estão associa<strong>da</strong>s<br />
a distúrbios fetais em seres humanos, sen<strong>do</strong> que sua<br />
ausência ou diminuição podem significar hipoxemia,<br />
hipoglicemia, parto pré-termo, infecção ou sofrimento<br />
fetal 5,6 . A avaliação <strong>do</strong>s MRF pelo PBF é méto<strong>do</strong> propedêutico<br />
de grande aplicação nas gestações complica<strong>da</strong>s<br />
pelo diabetes mellitus pré-gestacional, entretanto, os<br />
distúrbios glicêmicos podem interferir no padrão <strong>da</strong>s<br />
ativi<strong>da</strong>des biofísicas fetais 7,8 .<br />
Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s no terceiro trimestre <strong>da</strong> gestação<br />
demonstram que os MRF incidem em 30 a<br />
40% <strong>do</strong> tempo total de observação 9 . São movimentos<br />
episódicos, muito provavelmente devi<strong>do</strong> ao processo<br />
de maturação de grupos neuronais específicos e pela<br />
integri<strong>da</strong>de de estruturas supramedulares <strong>do</strong> sistema<br />
nervoso central 10,11 .<br />
São descritos fatores que alteram o padrão <strong>do</strong>s MRF,<br />
entre eles a hiperglicemia materna, que se associa à<br />
maior ocorrência <strong>do</strong>s episódios. Estu<strong>do</strong>s demonstram<br />
que, após refeições e infusões intravenosas de soluções<br />
de glicose, ocorre aumento <strong>da</strong> incidência de MRF 12,13 . A<br />
hipoglicemia materna, por sua vez, parece relacionar-se<br />
com a redução <strong>do</strong>s MRF 14,15 .<br />
A utilização <strong>do</strong> PBF na propedêutica fetal, em<br />
gestações complica<strong>da</strong>s pelo diabetes mellitus pré-gestacional,<br />
pode ter sua interpretação dificulta<strong>da</strong> por<br />
fatores que possam influenciar nos padrões fisiológicos<br />
fetais, tal como o esta<strong>do</strong> materno hiperglicêmico 6,7 . A<br />
investigação desses aspectos traz maior compreensão<br />
sobre a interpretação <strong>do</strong>s parâmetros biofísicos utiliza<strong>do</strong>s<br />
na prática obstétrica. O presente estu<strong>do</strong> tem o<br />
objetivo de analisar aspectos relativos ao padrão <strong>do</strong>s<br />
MRF em gestações complica<strong>da</strong>s pelo diabetes mellitus<br />
pré-gestacional.<br />
Méto<strong>do</strong>s<br />
Movimentos respiratórios fetais em gestações com diabetes mellitus pré-gestacional<br />
Este trabalho foi desenvolvi<strong>do</strong> na Clínica Obstétrica<br />
<strong>do</strong> Hospital <strong>da</strong>s Clínicas <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de São Paulo (HCFMUSP). A população<br />
estu<strong>da</strong><strong>da</strong> incluiu gestantes com diagnóstico de diabetes<br />
mellitus pré-gestacional, acompanha<strong>da</strong>s no ambulatório<br />
de pré-natal, no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre outubro de<br />
2004 e setembro de 2006. Foram avalia<strong>da</strong>s 16 pacientes<br />
com diagnóstico de diabetes mellitus e 16 pacientes<br />
normais, que constituíram o grupo controle.<br />
Este estu<strong>do</strong> é <strong>do</strong> tipo prospectivo, caso-controle e<br />
transversal. O projeto de pesquisa e o termo de consentimento<br />
livre e esclareci<strong>do</strong> foram aprova<strong>do</strong>s pela<br />
comissão de ética em pesquisa <strong>do</strong> HCFMUSP (Comissão<br />
de Ética de Análise de Projetos de Pesquisa – CAPPesq)<br />
sob o número 436/04.<br />
Foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s os seguintes critérios de inclusão:<br />
diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 ou tipo 2, prévio à<br />
gravidez; i<strong>da</strong>de gestacional entre a 36ª e a 40ª semana;<br />
gestação única; ausência de outras <strong>do</strong>enças maternas<br />
associa<strong>da</strong>s e ausência de anomalias fetais. As pacientes<br />
foram seleciona<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> compareciam para a avaliação<br />
<strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>de fetal, que é conduta rotineiramente realiza<strong>da</strong><br />
no seguimento dessas pacientes. As que preenchiam<br />
os critérios de inclusão propostos foram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a<br />
participar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> após serem esclareci<strong>da</strong>s sobre os<br />
objetivos <strong>da</strong> investigação, assinan<strong>do</strong> o termo de consentimento<br />
livre e esclareci<strong>do</strong> (TCLE).<br />
O grupo controle foi composto por gestantes normais,<br />
seleciona<strong>da</strong>s entre as que compareceram para atendimento<br />
no pré-natal de baixo risco e que preencheram os mesmos<br />
critérios propostos para o grupo estu<strong>do</strong>, mas sem<br />
diagnóstico de diabetes mellitus. Estas gestantes foram<br />
acompanha<strong>da</strong>s até o final <strong>da</strong> gravidez e foram incluí<strong>da</strong>s<br />
somente as que não desenvolveram intercorrência clínica<br />
ou obstétrica e que apresentaram resulta<strong>do</strong> perinatal<br />
normal. As gestantes <strong>do</strong> grupo controle foram também<br />
esclareci<strong>da</strong>s previamente sobre a pesquisa e concor<strong>da</strong>ram<br />
em participar assinan<strong>do</strong> o respectivo TCLE.<br />
O PBF foi realiza<strong>do</strong> utilizan<strong>do</strong>-se aparelho de ultra-sonografia<br />
<strong>da</strong> marca Toshiba ® modelo SSA-220A e<br />
aparelho de cardiotocografia <strong>da</strong> marca Hewlett Packard ®<br />
modelo série 50A. A gravação <strong>do</strong> exame foi realiza<strong>da</strong><br />
por 30 minutos em fita de vídeo VHS, por meio de<br />
equipamento de gravação diretamente conecta<strong>do</strong> ao<br />
equipamento de ultra-sonografia. A análise <strong>da</strong> FCF foi<br />
efetua<strong>da</strong> pela cardiotocografia, realiza<strong>da</strong> com a paciente<br />
em posição senta<strong>da</strong>, com registro <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> cardiotocográfico<br />
por, pelo menos, dez minutos. A cardiotocografia<br />
foi considera<strong>da</strong> normal quan<strong>do</strong> na presença de,<br />
no mínimo, duas acelerações transitórias no perío<strong>do</strong> de<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):354-9<br />
353
Nomura RMY, Martins AN, Teshima LK, Miya<strong>da</strong>hira S, Zugaib M<br />
observação máxima de 40 minutos. O PBF foi realiza<strong>do</strong><br />
com a paciente em posição de semi-Fowler, com o intuito<br />
de se evitar a hipotensão materna. Imediatamente antes<br />
e após a realização <strong>do</strong> PBF, foi mensura<strong>da</strong> a glicemia<br />
materna por meio <strong>da</strong> glicemia capilar.<br />
Os parâmetros biofísicos avalia<strong>do</strong>s pela ultra-sonografia<br />
incluíram: FCF, MRF, MCF, tônus fetal e volume<br />
de LA, observa<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> de 30 minutos.<br />
Os MRF foram toma<strong>do</strong>s como normais quan<strong>do</strong> o feto<br />
apresentou, no mínimo, um episódio com duração<br />
mínima de 30 segun<strong>do</strong>s, ao se visualizar o tórax fetal<br />
no plano sagital. Os MCF foram caracteriza<strong>do</strong>s como<br />
normais quan<strong>do</strong> o feto demonstrou pelo menos um<br />
movimento amplo ou três movimentos lentos. O tônus<br />
fetal foi considera<strong>do</strong> normal na presença de MCF<br />
ou quan<strong>do</strong> o feto revelou movimentos de abertura e<br />
fechamento <strong>da</strong>s mãos no intervalo supracita<strong>do</strong>. O<br />
volume de LA foi aprecia<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />
índice de ILA, conforme técnica proposta por Phelan<br />
et al. 16 . Nessa técnica, é mensura<strong>do</strong> o diâmetro vertical<br />
<strong>do</strong> maior bolsão de LA de ca<strong>da</strong> quadrante <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me<br />
materno e seu somatório em centímetros é denomina<strong>do</strong><br />
ILA. Seus valores foram classifica<strong>do</strong>s como normais<br />
quan<strong>do</strong> foram superiores a 5,0 cm.<br />
Ca<strong>da</strong> parâmetro <strong>do</strong> PBF recebeu a pontuação 2<br />
quan<strong>do</strong> qualifica<strong>do</strong> como normal e 0 quan<strong>do</strong> anormal.<br />
Pelo somatório, houve classificação <strong>do</strong> PBF em normal<br />
(8 ou 10), suspeito (6) ou altera<strong>do</strong> (4,2 e 0).<br />
Para estu<strong>do</strong> específico <strong>do</strong>s MRF, foi utiliza<strong>do</strong> o índice<br />
de movimentos respiratórios (IMR), que corresponde à<br />
porcentagem <strong>do</strong> tempo em que o feto apresentava esses<br />
movimentos. Este índice já foi descrito por Trudinger<br />
et al. 17 , em 1978, e utilizan<strong>do</strong> o mesmo méto<strong>do</strong>, foi<br />
calcula<strong>do</strong> <strong>da</strong> seguinte maneira: IMR = intervalo de<br />
tempo em que o feto apresentou MRF x 100/tempo<br />
total de observação.<br />
Para avaliação precisa <strong>do</strong> IMR, a monitoração <strong>da</strong><br />
parede torácica e ab<strong>do</strong>minal fetal foi feita pela ultra-<br />
Parâmetro<br />
354 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):354-9<br />
Grupo diabetes<br />
pré-gestacional (n=16)<br />
sonografia durante os 30 minutos de observação, e as<br />
imagens grava<strong>da</strong>s em fita de vídeo foram posteriormente<br />
analisa<strong>da</strong>s para a quantificação <strong>do</strong> tempo de duração<br />
de ca<strong>da</strong> episódio de MRF, realiza<strong>da</strong> com o auxílio de<br />
um cronômetro.<br />
As características <strong>do</strong> grupo estu<strong>do</strong> e <strong>do</strong> grupo controle<br />
estão apresenta<strong>da</strong>s na Tabela 1. Não foram observa<strong>da</strong>s<br />
diferenças significativas quanto à i<strong>da</strong>de materna<br />
(29,6±7,2 anos para o grupo estu<strong>do</strong> e 28,8±6,3 anos para<br />
o grupo controle). O número de gestações, a pari<strong>da</strong>de e<br />
a i<strong>da</strong>de gestacional no exame foram semelhantes entre os<br />
grupos. Não foram observa<strong>da</strong>s diferenças significativas<br />
quanto à i<strong>da</strong>de gestacional no exame.<br />
Os parâmetros <strong>do</strong> PBF foram analisa<strong>do</strong>s descritivamente.<br />
Para as variáveis quantitativas, esta análise foi<br />
feita pelo cálculo de médias, medianas e desvios padrão.<br />
A comparação <strong>da</strong>s médias nos grupos foi realiza<strong>da</strong> utilizan<strong>do</strong>-se<br />
o teste não paramétrico de Mann-Whitney<br />
U e a comparação entre as proporções foi avalia<strong>da</strong> pelo<br />
teste exato de Fisher. O nível de significância utiliza<strong>do</strong><br />
para os testes foi 5%.<br />
Resulta<strong>do</strong>s<br />
Tabela 1 - Características maternas e <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> gestação de pacientes normais e <strong>da</strong>s porta<strong>do</strong>ras de diabetes mellitus pré-gestacional.<br />
No presente estu<strong>do</strong>, foram avalia<strong>da</strong>s 32 gestantes,<br />
<strong>da</strong>s quais 16 apresentavam diabetes mellitus pré-gestacional,<br />
sen<strong>do</strong> nove pacientes com diabetes tipo 1 e<br />
sete com diabetes tipo 2, e 16 gestantes normais, que<br />
constituíram o grupo controle.<br />
Quanto à análise <strong>da</strong> glicemia capilar realiza<strong>da</strong> por<br />
ocasião <strong>da</strong> investigação, foi realiza<strong>da</strong> média entre as medi<strong>da</strong>s<br />
antes e após exame ultra-sonográfico, que foi significativamente<br />
maior nas diabéticas (113,31±35,25 g/dL)<br />
em relação às gestantes normais (78,22±14,83 g/dL,<br />
p
a sete e nenhum no grupo controle (0%, p=0,953).<br />
Uma paciente diabética ain<strong>da</strong> está com a gestação<br />
em an<strong>da</strong>mento.<br />
A i<strong>da</strong>de gestacional no nascimento foi significativamente<br />
(p
Nomura RMY, Martins AN, Teshima LK, Miya<strong>da</strong>hira S, Zugaib M<br />
pode necessitar de diferente interpretação de parâmetros<br />
específicos nas gestantes diabéticas, nas quais a FCF basal,<br />
os episódios de variação <strong>da</strong> FCF, os MRF e o ILA podem<br />
estar associa<strong>do</strong>s aos valores de glicemia materna. Tanto os<br />
resulta<strong>do</strong>s falsos-negativos quanto os falsos-positivos são<br />
mais comuns em to<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>da</strong> monitoração<br />
fetal em gestações complica<strong>da</strong>s pelo diabetes, quan<strong>do</strong><br />
compara<strong>da</strong>s a outras gestações de alto risco 20 .<br />
Em fetos normais, a freqüência <strong>do</strong>s MRF apresenta<br />
correlação diretamente proporcional com o desenvolvimento<br />
pulmonar (débito cardíaco e fluxo sanguíneo para<br />
os órgãos vitais como coração, sistema nervoso central e<br />
placenta), contribuin<strong>do</strong> para homeostasia fetal; entretanto,<br />
não há informações em fetos de pacientes diabéticas 1 .<br />
A observação de maiores valores no IMR nas gestantes<br />
diabéticas em relação ao grupo controle, verifica<strong>da</strong> no<br />
presente trabalho, assim como o maior número de episódios<br />
de MRF poderiam ser explica<strong>do</strong>s pela hiperglicemia<br />
materna. Algumas hipóteses que procuram explicar a<br />
fisiopatologia desse mecanismo incluem a hipercapnia<br />
decorrente <strong>do</strong> metabolismo <strong>da</strong> glicose e a imaturi<strong>da</strong>de<br />
relativa <strong>do</strong> sistema nervoso 20,21 . A hipercapnia fetal também<br />
é associa<strong>da</strong> a maior incidência <strong>do</strong>s MRF com maior<br />
profundi<strong>da</strong>de na fase inspiratória, resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> estimulação<br />
de quimioreceptores centrais e periféricos 1 .<br />
Contu<strong>do</strong>, outros mecanismos, além <strong>da</strong> hiperglicemia,<br />
podem estar envolvi<strong>do</strong>s no aumento <strong>do</strong>s MRF nas<br />
gestantes diabéticas. Em estu<strong>do</strong> que analisa o PBF em<br />
gestantes diabéticas com controle glicêmico adequa<strong>do</strong>,<br />
verifica-se maior incidência de MRF, FCF e proporção de<br />
MRF nessas quan<strong>do</strong> compara<strong>da</strong>s às gestantes normais;<br />
entretanto, verificam-se também menores taxas de MCF<br />
e menor número de acelerações <strong>da</strong> FCF 8 .<br />
O aumento <strong>do</strong> volume de LA é alteração que se<br />
correlaciona às gestações complica<strong>da</strong>s pelo diabetes<br />
mellitus, sen<strong>do</strong> que já foi relata<strong>do</strong> que 15% <strong>do</strong>s casos de<br />
polidrâmnio ocorrem em pacientes diabéticas 22 . Uma<br />
teoria aceita é de que a hiperglicemia materna induza<br />
a hiperglicemia fetal e, conseqüentemente, a diurese<br />
osmótica, levan<strong>do</strong> a aumento <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> amniótico. Essa<br />
teoria é confirma<strong>da</strong> por estu<strong>do</strong>s que demonstram, em<br />
gestantes diabéticas, aumento nos níveis de glicose no<br />
LA associa<strong>do</strong> a valores mais eleva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ILA 23 .<br />
Existem estu<strong>do</strong>s que indicam relação entre<br />
polidrâmnio e macrossomia, assim como entre o<br />
356 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):354-9<br />
aumento <strong>do</strong> ILA e maior peso <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>,<br />
tanto em gestantes diabéticas quanto em não-diabéticas<br />
24 . Além disso, estu<strong>do</strong>s verificam relação linear<br />
entre o valor <strong>do</strong> ILA e o peso <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> em<br />
gestantes com diabetes mellitus com mau controle<br />
glicêmico 22 .<br />
A gravidez em pacientes com diabetes mellitus<br />
está associa<strong>da</strong> a maior risco de malformações fetais,<br />
complicações obstétricas e morbi<strong>da</strong>de neonatal. São<br />
relata<strong>da</strong>s maiores taxas de prematuri<strong>da</strong>de, parto cesárea,<br />
macrossomia e malformações fetais em gestantes<br />
complica<strong>da</strong>s pelo diabetes mellitus <strong>do</strong> tipo 1. A ocorrência<br />
de malformações congênitas e de macrossomia fetal<br />
tem correlação com os níveis <strong>da</strong> hemoglobina glica<strong>da</strong><br />
durante a gestação, demonstran<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong><br />
controle glicêmico adequa<strong>do</strong> para prevenção dessas<br />
alterações 25 . No presente estu<strong>do</strong>, recém-nasci<strong>do</strong>s de<br />
gestantes diabéticas apresentaram maior peso no nascimento<br />
que o grupo controle, não sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong><br />
nenhum recém-nasci<strong>do</strong>, no grupo controle, com peso<br />
superior a 4.000 gramas.<br />
Apesar de o resulta<strong>do</strong> final <strong>do</strong> PBF não apresentar<br />
diferença entre os grupos analisa<strong>do</strong>s, nas gestações<br />
com diabetes pré-gestacional verificou-se aumento <strong>do</strong><br />
volume de LA, quan<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong> pelo ILA. O peso <strong>do</strong>s<br />
recém-nasci<strong>do</strong>s também demonstrou ser superior nas<br />
gestações complica<strong>da</strong>s pelo diabetes quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong><br />
com as gestantes normais.<br />
Pela análise <strong>do</strong> padrão <strong>do</strong>s MRF, o presente estu<strong>do</strong><br />
confirma que os fetos de mães diabéticas apresentam<br />
movimentos respiratórios em proporção superior à<br />
observa<strong>da</strong> nas gestantes normais, com maior número<br />
de episódios, o que pode estar relaciona<strong>do</strong> aos maiores<br />
valores glicêmicos observa<strong>do</strong>s durante os exames ou<br />
alterações metabólicas decorrentes <strong>da</strong> hiperglicemia<br />
fetal. A utilização destes parâmetros <strong>do</strong> PBF, na prática<br />
clínica, deve ser considera<strong>da</strong> de forma criteriosa nas<br />
gestantes diabéticas.<br />
Agradecimento<br />
Agradecemos à Fun<strong>da</strong>ção de Amparo à Pesquisa <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> de São Paulo –Fapesp – pela bolsa de iniciação<br />
científica concedi<strong>da</strong> ao aluno Apareci<strong>do</strong> Nakano Martins<br />
para a elaboração <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.
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357
Antonio CArlos VieirA lopes 1<br />
Kleber pimentel 2<br />
AlessAndro de mourA AlmeidA 3<br />
eduAr<strong>do</strong> CostA mAtos 3<br />
mAriA betâniA pereirA torAlles 4<br />
Artigos originais<br />
Palavras-chaves<br />
Amostra <strong>da</strong> vilosi<strong>da</strong>de coriônica/<br />
efeitos adversos<br />
Diagnóstico pré-natal<br />
Anormali<strong>da</strong>des/diagnóstico<br />
Aberrações cromossômicas<br />
Cromossomos humanos par 21<br />
Síndrome de Down<br />
Keywords<br />
Chorionic villi sampling/<br />
adverse effects<br />
Prenatal diagnosis<br />
Abnormalities/diagnosis<br />
Chromosome aberrations<br />
Chromosomes, human, pair 21<br />
Down Syndrome<br />
Correspondência:<br />
Antonio Carlos Vieira Lopes<br />
Rua Dr. José Carlos, 137, apto. 501<br />
Con<strong>do</strong>mínio Edifício Parque <strong>da</strong>s Mangueiras – Acupe de Brotas<br />
CEP 40290-040 – Salva<strong>do</strong>r/BA<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
14/05/2007<br />
Aceito com modificações<br />
04/07/2007<br />
Complicações materno-fetais <strong>da</strong> biópsia<br />
de vilo corial: experiência de um centro<br />
especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil<br />
Fetal and maternal complications of chorionic villus sampling:<br />
results from a specialized center in the Northeast of Brazil<br />
Resumo<br />
ObjetivO: avaliar complicações maternas e fetais após realização de biópsia de vilo corial (BVC) para diagnóstico<br />
pré-natal de alterações genéticas, na ci<strong>da</strong>de de Salva<strong>do</strong>r (BA). MétOdOs: série de 958 gestantes de risco para<br />
cromossomopatias, submeti<strong>da</strong>s à BVC realiza<strong>da</strong> entre a nona e a 24ª semanas de gestação, por via transab<strong>do</strong>minal,<br />
utilizan<strong>do</strong> agulha espinhal 18G 3 1/2 , guia<strong>da</strong> por ultra-sonografia, entre 1990 e 2006. As variáveis para a análise de<br />
complicações imediatas foram cólicas uterinas, hematoma subcoriônico, punção acidental <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de amniótica, <strong>do</strong>r<br />
no local <strong>da</strong> punção, amniorrexe, desconforto ab<strong>do</strong>minal, bradicardia fetal e sangramento vaginal, e para complicações<br />
tardias, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, sangramento vaginal, amniorrexe, infecção e abortamento espontâneo. Complicações obstétricas<br />
e fetais (parto prematuro, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia e malformações anatômicas fetais)<br />
foram também estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Para análise estatística, utilizaram-se o χ² e o teste t de Student ou Mann-Whitney; o nível<br />
de significância foi 5%. ResultadOs: a média de i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s gestantes foi 36,3±4,9 anos. Complicações imediatas<br />
foram encontra<strong>da</strong>s em 182 (19%) casos (cólica uterina em 14%, hematoma subcoriônico em 1,8% e punção amniótica<br />
acidental em 1,3%) e tardias em 32 (3,3%) casos (sangramento vaginal em 1,6%, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal em 1,4%, amniorrexe<br />
em 0,3% e aborto espontâneo em 1,6%). Não foi observa<strong>do</strong> descolamento prematuro de placenta, placenta prévia<br />
ou malformação fetal. COnClusões: a BVC revelou-se procedimento simples e seguro. A BVC pode ser utiliza<strong>da</strong> em<br />
gestantes que necessitam de diagnóstico pré-natal devi<strong>do</strong> ao risco de anomalias genéticas.<br />
Abstract<br />
PuRPOse: to evaluate fetal maternal complications after chorionic villus sampling (CVS) for prenatal diagnosis of genetic<br />
disorders in pregnant women of Salva<strong>do</strong>r (BA), Brazil. MethOds: case-series study of 958 pregnancies with high<br />
risk for chromosomal abnormality submitted to CVS transab<strong>do</strong>minal between the ninth to the 24 th week of gestation,<br />
using an ultrasound-guided 18G 3 1/2 spinal needle, from 1990 to 2006. The variables for the analysis of immediate<br />
complications were uterine cramps, subchorionic hematoma, accidental amniotic cavity punction, pain in the punction<br />
area, amniotic fluid leakage, ab<strong>do</strong>minal discomfort, fetal arrhythmias and vaginal bleeding, and of late complication,<br />
ab<strong>do</strong>minal pain, vaginal bleeding, amniotic fluid leakage, infection and spontaneous miscarriage. Premature labor,<br />
obstetrical complications (abruption placenta and placenta previa) and newborn malformation were also studied. Quisquare,<br />
Student’s “t” or Mann-Whitney tests were used for the statistical analysis; the significance level was 5%. Results:<br />
maternal mean age was 36.3±4.9 years old. Immediate complications ware found in 182 (19%) cases (uterine cramp<br />
in 14%, subchorionic hematoma in 1.8% and accidental amniotic cavity punction in 1.3%). Late complications were<br />
found in 32 (3.3%) cases (vaginal bleeding in 1.6%, ab<strong>do</strong>minal pain in 1.4%, amniotic fluid leakage in 0.3% and<br />
spontaneous miscarriage in 1.6% cases). There was no case of abruption placentae, placenta previa or fetal malformation.<br />
COnClusiOns: CVS is a simple and safe procedure. CVS should be performed in high risk pregnant patients who<br />
need prenatal diagnosis of fetal chromosomal abnormalities.<br />
Materni<strong>da</strong>de Climério de Oliveira <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> bahia – MCO-uFba – salva<strong>do</strong>r (ba),<br />
brasil; Clínica dr. antonio Carlos vieira lopes – salva<strong>do</strong>r (ba), brasil.<br />
1 Professor Adjunto; Chefe <strong>do</strong> Departamento de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Humana <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia – UFBA – Salva<strong>do</strong>r (BA), Brasil.<br />
2 Professor Assistente <strong>da</strong> Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP – Salva<strong>do</strong>r (BA), Brasil; Universi<strong>da</strong>de Católica <strong>do</strong><br />
Salva<strong>do</strong>r – UCSAL – Salva<strong>do</strong>r (BA), Brasil.<br />
3 Acadêmico <strong>do</strong> Programa de Educação Tutorial <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia – UFBA – Salva<strong>do</strong>r<br />
(BA), Brasil.<br />
4 Professora Adjunta de Genética <strong>do</strong> Departamento de Pediatria <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia – UFBA<br />
– Salva<strong>do</strong>r (BA), Brasil.
Introdução<br />
O diagnóstico pré-natal com o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> cariótipo<br />
fetal e testes genéticos continua sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong><br />
por meio de méto<strong>do</strong>s invasivos, pre<strong>do</strong>minantemente<br />
amniocentese clássica (AMC) entre a 16ª e a 20ª semanas<br />
e biópsia de vilo corial (BVC) entre a 10ª e a 12ª<br />
semanas 1 . A recente descoberta <strong>da</strong> presença de DNA<br />
fetal no plasma materno representa possibili<strong>da</strong>de futura<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento de técnica não invasiva para<br />
diagnóstico de <strong>do</strong>enças fetais 2 .<br />
A principal indicação para ambos os procedimentos<br />
(AMC e BVC) tem si<strong>do</strong> a i<strong>da</strong>de materna avança<strong>da</strong><br />
(igual ou superior a 35 anos), por estar associa<strong>da</strong> a<br />
risco eleva<strong>do</strong> de anormali<strong>da</strong>des cromossômicas fetais 3 .<br />
Outras indicações freqüentes são alterações <strong>do</strong>s testes<br />
de rastreamento pré-natal de trissomia, ocorrência de<br />
anormali<strong>da</strong>de cromossômica em gravidez anterior,<br />
identificação de marca<strong>do</strong>res fetais de cromossomopatias<br />
pela ultra-sonografia, ansie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> casal e teste<br />
de paterni<strong>da</strong>de 4,5 .<br />
A BVC foi introduzi<strong>da</strong> na prática médica em<br />
1980, sen<strong>do</strong> inicialmente realiza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> sexta<br />
semana de gravidez e por via transcervical (BVC-TC) 6,7 .<br />
Posteriormente, a via transab<strong>do</strong>minal (BVC-TA) foi<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> como alternativa, objetivan<strong>do</strong> reduzir os riscos<br />
de complicações, sobretu<strong>do</strong> de infecção e interrupção<br />
<strong>da</strong> gravidez 6 .<br />
Foi descrito que a amniocentese precoce (AMP)<br />
acarreta maior risco de abortamento espontâneo (4,4<br />
versus 2,3%) e pé torto congênito (1,8 versus 0,2%)<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>da</strong> com a BVC-TA, realiza<strong>da</strong>s no mesmo<br />
perío<strong>do</strong> 8 . Estu<strong>do</strong> ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> comparan<strong>do</strong> BVC-TC,<br />
BVC-TA e AMC revela taxas de per<strong>da</strong>s gestacionais<br />
totais de 10,9, 6,3 e 6,4%, respectivamente. Quan<strong>do</strong><br />
compara<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is procedimentos (BVC-TC e BVC-TA),<br />
as taxas de per<strong>da</strong>s gestacionais espontâneas foram de 7,7<br />
e 3,7%, respectivamente 9 . Em publicação mais recente,<br />
comparan<strong>do</strong> a AMC e a BVC, to<strong>da</strong>via sem indicação<br />
<strong>da</strong> via de abor<strong>da</strong>gem, as taxas de per<strong>da</strong>s gestacionais<br />
nos <strong>do</strong>is grupos foram semelhantes nos últimos cinco<br />
anos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> (1998 a 2003) 10 . Os resulta<strong>do</strong>s de um<br />
estu<strong>do</strong> ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> internacional incluin<strong>do</strong> 3.775 casos<br />
entre 11 e 14 semanas demonstraram ser a BVC-TA<br />
um méto<strong>do</strong> mais seguro que a AMP, estan<strong>do</strong> esta última<br />
associa<strong>da</strong> a maior risco de pé torto congênito e<br />
interrupção <strong>da</strong> gravidez 11 .<br />
No início de 1990, foi descrito uma possível associação<br />
de BVC com defeitos congênitos em membro<br />
de recém-nasci<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> a este procedimento na<br />
nona semana de gravidez 12 . Mais tarde, diversos relatos<br />
foram publica<strong>do</strong>s identifican<strong>do</strong> a BVC como causa <strong>da</strong>s<br />
Complicações materno-fetais <strong>da</strong> biópsia de vilo corial: experiência de um centro especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil<br />
malformações. Em 1992, a Organização Mundial <strong>da</strong><br />
Saúde (OMS) analisou os <strong>da</strong><strong>do</strong>s de 138.996 gravidezes<br />
submeti<strong>da</strong>s à BVC, revelan<strong>do</strong> um total de 77 fetos e<br />
recém-nasci<strong>do</strong>s com defeitos de membros (64,6% de<br />
membros superiores, 12,5% inferiores e 20,8% em ambos)<br />
13 . Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s, no entanto, estavam<br />
de acor<strong>do</strong> com a distribuição de defeitos de membros<br />
fetais em diversos estu<strong>do</strong>s populacionais. Os autores<br />
concluíram que não havia evidências de aumento <strong>do</strong><br />
risco de defeitos de membros fetais após a realização<br />
de BVC, bem como não existia associação entre a i<strong>da</strong>de<br />
gestacional e a gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença 14 .<br />
Com relação a complicações maternas, existem<br />
poucos relatos, sen<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>s per<strong>da</strong> de líqui<strong>do</strong><br />
amniótico, hemorragias obstétricas tardias e corioamnionite<br />
9 que, entretanto, não foram confirma<strong>da</strong>s por<br />
outros autores 15 .<br />
Embora a BVC seja considera<strong>da</strong>, na atuali<strong>da</strong>de, um<br />
procedimento seguro pela baixa freqüência de complicações<br />
16 , é um méto<strong>do</strong> dependente <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />
opera<strong>do</strong>r e <strong>da</strong> curva de aprendiza<strong>do</strong> 6,10,15,17 . O ver<strong>da</strong>deiro<br />
risco <strong>da</strong> BVC ain<strong>da</strong> não é bem defini<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong> pela<br />
inexistência de trabalhos ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong>s, comparan<strong>do</strong><br />
pacientes expostas ao procedimento com não expostas.<br />
A maioria <strong>da</strong>s publicações tem compara<strong>do</strong> a BVC com<br />
a AMC <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> trimestre, ou com a AMP, realiza<strong>da</strong><br />
na mesma época <strong>da</strong> BVC 11,18 . As publicações nacionais<br />
sobre o assunto são escassas, alguns com casuísticas<br />
pequenas e publica<strong>da</strong>s há quase duas déca<strong>da</strong>s 19,20 . O<br />
objetivo desse trabalho foi avaliar as complicações<br />
maternas e fetais decorrentes <strong>da</strong> realização de BVC-TA,<br />
com a finali<strong>da</strong>de de conhecer a segurança de sua<br />
aplicabili<strong>da</strong>de na prática obstétrica como méto<strong>do</strong> de<br />
diagnóstico fetal.<br />
Méto<strong>do</strong>s<br />
O desenho de estu<strong>do</strong> é uma série de casos com 958<br />
gestantes com gravidezes únicas, submeti<strong>da</strong>s à BVC-TA<br />
para diagnóstico pré-natal, no perío<strong>do</strong> de 1990 a 2006,<br />
em serviço de referência para Medicina Fetal, Clínica<br />
Dr. Antonio Carlos Vieira Lopes, e na Materni<strong>da</strong>de<br />
Climério de Oliveira <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />
(MCO-UFBA). Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram coleta<strong>do</strong>s em formulário<br />
cria<strong>do</strong> e padroniza<strong>do</strong> para o estu<strong>do</strong>. To<strong>da</strong>s as pacientes<br />
concor<strong>da</strong>ram em assinar um termo de consentimento<br />
livre e esclareci<strong>do</strong> e o protocolo de pesquisa foi submeti<strong>do</strong><br />
e aprova<strong>do</strong> pelo Comitê de Ética em Pesquisa<br />
<strong>da</strong> MCO-UFBA.<br />
A média de i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pacientes foi 36,3±<br />
4,9 anos, com limites de 15 e 47 anos, e a mediana,<br />
37 anos. As medianas <strong>do</strong> número de gestações, partos<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
359
Lopes ACV, Pimentel K, Almei<strong>da</strong> AM, Matos EC, Toralles MBP<br />
e abortos foram 2, 1 e 0, e a mo<strong>da</strong> 2, 0 e 0, respectivamente.<br />
Duzentos e oitenta e nove pacientes (30,2%)<br />
eram primigestas, 320 (33,4%) secundigestas e 349<br />
(36,4%) tinham engravi<strong>da</strong><strong>do</strong> três ou mais vezes. A<br />
média <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de gestacional quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> realização <strong>da</strong><br />
BVC foi 13,0±2,2 semanas, sen<strong>do</strong> a mediana e a<br />
mo<strong>da</strong> de 12 semanas. As principais indicações para<br />
o procedimento incluíram: i<strong>da</strong>de materna igual ou<br />
superior a 35 anos em 748 (78,1%) gestantes; ansie<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong> casal em 53 (5,5%); anomalia cromossômica<br />
em filho anterior em 39 (4,1%); malformação fetal<br />
ao exame ultra-sonográfico em 29 (3%); anomalias<br />
cromossômicas em progenitores em quatro (0,4%);<br />
diagnóstico de paterni<strong>da</strong>de em duas (0,2%); <strong>do</strong>ença<br />
metabólica fetal em filho anterior em uma (0,1%);<br />
e outras (consangüini<strong>da</strong>de, história de natimorto,<br />
<strong>do</strong>enças gênicas) em 82 (8,6%). Quinhentos e vinte<br />
e cinco (54,8%) gestantes não tinham relato de filhos<br />
vivos quan<strong>do</strong> realizaram o exame. Nos antecedentes<br />
obstétricos, abortamento espontâneo foi observa<strong>do</strong> em<br />
21,7% (208 casos) e óbito fetal em 0,6% (três casos).<br />
A maioria, 932 casos (97,2%), não relatava nenhum<br />
abortamento espontâneo prévio. A BVC foi realiza<strong>da</strong><br />
por um único obstetra, entre a nona e a 24ª semana de<br />
gestação, por via transab<strong>do</strong>minal e extra-amniótica.<br />
Na anamnese realiza<strong>da</strong> na consulta inicial eram<br />
obti<strong>do</strong>s a identificação <strong>da</strong> paciente, antecedentes<br />
pessoais e familiares, antecedentes obstétricos e<br />
indicação para a realização <strong>da</strong> BVC. Nesta ocasião,<br />
eram apresenta<strong>do</strong>s à paciente ou ao casal detalhes<br />
<strong>da</strong> técnica, seus riscos, possibili<strong>da</strong>de de repetição <strong>do</strong><br />
exame e informações sobre o diagnóstico citogenético.<br />
Fin<strong>da</strong> a entrevista, a paciente era encaminha<strong>da</strong> para<br />
aconselhamento genético.<br />
Em segui<strong>da</strong>, a paciente era submeti<strong>da</strong> a exame<br />
ultra-sonográfico, utilizan<strong>do</strong>-se de aparelho Aloka 2000<br />
com transdutor de 3,5 MHz (Aloka Co., Ltd., Tokyo,<br />
Japan), para confirmação <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de gestacional por meio<br />
<strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> CCN fetal, número de fetos, corionici<strong>da</strong>de<br />
quan<strong>do</strong> aplica<strong>da</strong>, freqüência cardíaca fetal, morfologia<br />
fetal, incluin<strong>do</strong>-se a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> translucência nucal,<br />
localização e espessura <strong>da</strong> placenta, volume subjetivo<br />
de líqui<strong>do</strong> amniótico e malformações uterinas. Normalmente,<br />
não é necessário que a bexiga <strong>da</strong> paciente<br />
esteja cheia, salvo em situações de acentua<strong>da</strong> anteflexão<br />
uterina para corrigir a sua angulação ou afastar alças<br />
intestinais <strong>do</strong> trajeto <strong>da</strong> agulha.<br />
Após lavagem rigorosa <strong>da</strong>s mãos com clorexidina<br />
a 2% (Rioquímica Indústria Farmacêutica, São Paulo)<br />
e <strong>uso</strong> de luvas cirúrgicas, procedia-se à anti-sepsia <strong>da</strong><br />
parede ab<strong>do</strong>minal com o mesmo degermante e colocação<br />
de campo cirúrgico fenestra<strong>do</strong> estéril. Não realizamos<br />
360 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
anestesia local, o que era antecipa<strong>da</strong>mente explica<strong>do</strong><br />
a paciente, por acharmos desnecessário. O transdutor<br />
manusea<strong>do</strong> durante to<strong>do</strong> o procedimento por profissional<br />
experimenta<strong>do</strong> e qualifica<strong>do</strong> era revesti<strong>do</strong> com protetor<br />
esteriliza<strong>do</strong> e, em vez de utilizarmos gel condutor, empregávamos<br />
solução degermante de clorexidina a 2%.<br />
O manuseio <strong>do</strong> conjunto seringa-agulha era realiza<strong>do</strong><br />
pelo opera<strong>do</strong>r.<br />
Uma vez localiza<strong>da</strong> a placenta, uma agulha de<br />
punção espinhal 18G 3½ (Becton, Dickinson Ind.<br />
Cirúrgica Lt<strong>da</strong>., MG) era introduzi<strong>da</strong>, sob orientação<br />
<strong>da</strong> ultra-sonografia, livremente, sem guia de biópsia,<br />
1 a 2 cm acima <strong>da</strong> porção superior <strong>do</strong> transdutor.<br />
Quan<strong>do</strong> no interior <strong>da</strong> placenta, retirava-se o mandril<br />
<strong>da</strong> agulha e a<strong>da</strong>ptava-se uma seringa plástica de 20 mL<br />
(Becton, Dickinson Ind. Cirúrgica Lt<strong>da</strong>., PR), conten<strong>do</strong><br />
5 mL de meio de cultura (Chang medium with<br />
L-glutamine, Irvine Scientific, California, USA).<br />
Executan<strong>do</strong>-se movimentos suaves de vai e vem no<br />
conjunto seringa-agulha, realizava-se aspiração por<br />
pressão negativa contínua na seringa. Antes e após o<br />
procedimento, a freqüência cardíaca fetal era observa<strong>da</strong><br />
utilizan<strong>do</strong>-se o M-mode. Posteriormente, procediase<br />
à retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> agulha e a paciente era solicita<strong>da</strong> a<br />
permanecer em repo<strong>uso</strong> na mesa de exame, por perío<strong>do</strong><br />
de 30 minutos. Após este intervalo, a gestante<br />
era avalia<strong>da</strong> obstetricamente, questiona<strong>da</strong> sobre a<br />
ocorrência de <strong>do</strong>r, tipo e intensi<strong>da</strong>de. Investigava-se<br />
a presença de sangramento vaginal e per<strong>da</strong> de líqui<strong>do</strong><br />
amniótico. Procedia-se a novo exame ecográfico,<br />
visan<strong>do</strong> à vitali<strong>da</strong>de fetal, hematoma subcoriônico<br />
e medi<strong>da</strong> subjetiva de líqui<strong>do</strong> amniótico na câmara<br />
amnica. A paciente era instruí<strong>da</strong> a retornar no caso de<br />
intercorrências como <strong>do</strong>r, febre, sangramento vaginal<br />
e per<strong>da</strong> de líqui<strong>do</strong> amniótico. Consulta de seguimento<br />
era agen<strong>da</strong><strong>da</strong> após 30 dias com a mesma equipe, ou<br />
com o médico assistente <strong>da</strong> gestante.<br />
Obti<strong>da</strong> suficiente quanti<strong>da</strong>de <strong>do</strong> material, 20 a<br />
40 mg, realizava-se a sua análise em placa de Petri<br />
esteriliza<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> de investigar a quali<strong>da</strong>de e a<br />
quanti<strong>da</strong>de <strong>do</strong> vilo corial, além de eliminar excesso<br />
de sangue materno e decídua porventura existentes,<br />
sen<strong>do</strong> envia<strong>do</strong> para análise citogenética na própria<br />
seringa utiliza<strong>da</strong> para punção. Para estu<strong>do</strong>s genéticos<br />
realiza<strong>do</strong>s em outros centros fora de Salva<strong>do</strong>r, o envio<br />
era feito via Sedex 10 (Empresa Brasileira de Correios<br />
e Telégrafos), em temperatura ambiente.<br />
Para a análise citogenética, utilizou-se a técnica<br />
de bandeamento G 21 , e estu<strong>do</strong> molecular por PCR<br />
(reação de cadeia de polimerase) para os cromossomos<br />
13, 16, 18, 21, 22, X e Y 22 , quan<strong>do</strong> havia necessi<strong>da</strong>de<br />
de diagnóstico rápi<strong>do</strong>.
Complicações imediatas foram defini<strong>da</strong>s como<br />
aquelas ocorri<strong>da</strong>s até o segun<strong>do</strong> dia após o procedimento,<br />
incluin<strong>do</strong> sintomas referi<strong>do</strong>s pela paciente<br />
como cólicas uterinas (<strong>do</strong>r tipo cólica no hipogástrio),<br />
desconforto ab<strong>do</strong>minal (sensação de peso ou pressão<br />
no hipogástrio), <strong>do</strong>r no local <strong>da</strong> punção, hematoma<br />
subcoriônico, punção acidental <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de amniótica,<br />
amniorrexe, bradicardia fetal e sangramento vaginal.<br />
Complicações tardias eram aquelas ocorri<strong>da</strong>s <strong>do</strong> terceiro<br />
ao 45º dia após a BVC e incluíam: <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal de<br />
qualquer característica e/ou duração, sangramento<br />
vaginal, amniorrexe, infecção, abortamento espontâneo,<br />
parto prematuro e complicações obstétricas como<br />
descolamento prematuro de placenta normalmente<br />
inseri<strong>da</strong> e placenta prévia.<br />
À época prevista para o parto, realizou-se contato<br />
telefônico com a paciente ou seu médico assistente, ou<br />
consulta aos prontuários hospitalares, visan<strong>do</strong> à obtenção<br />
de <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério.<br />
Eram anota<strong>do</strong>s a i<strong>da</strong>de gestacional à época <strong>do</strong> parto,<br />
tipo de parturição, gênero, peso e anormali<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />
recém-nasci<strong>do</strong>.<br />
Para análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, utilizou-se o programa<br />
estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science),<br />
versão 9.0 (SPSS Inc., Chicago, Illinois). As variáveis<br />
contínuas foram descritas por meio <strong>da</strong> freqüência absoluta,<br />
média ± desvio padrão, mediana e mo<strong>da</strong>. As<br />
variáveis categóricas foram descritas pela freqüência<br />
absoluta e percentual. Para comparações de variáveis<br />
categóricas foi realiza<strong>do</strong> o teste <strong>do</strong> χ² ou o exato de Fisher.<br />
Na comparação <strong>da</strong>s variáveis contínuas foi usa<strong>do</strong><br />
o teste t de Student ou Mann-Whitney.<br />
Resulta<strong>do</strong>s<br />
A taxa de sucesso de obtenção <strong>da</strong> amostra para<br />
a análise citogenética na primeira punção foi 94,7%<br />
(907 casos). Duas e três punções foram realiza<strong>da</strong>s em<br />
5% (48 casos) e 0,3% (três casos), respectivamente.<br />
O resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> cariótipo foi obti<strong>do</strong> em 850 (88,5%)<br />
pacientes. Em 108 (11,2%), não foi possível obteremse<br />
os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cariótipos, devi<strong>do</strong> às seguintes<br />
causas: 39 (4%) não possuíam informações em seus<br />
prontuários; 48 (5%) possuíam outras indicações de<br />
exame que não o diagnóstico de anomalias genéticas;<br />
sete (0,7%) apresentaram contaminação bacteriana <strong>do</strong><br />
material; 12 (1,2%) tiveram acidentes de transporte <strong>do</strong><br />
material e em duas (0,2%), o material foi insuficiente<br />
para a realização <strong>da</strong> análise citogenética.<br />
Em 776 (81%) pacientes, não foi observa<strong>do</strong> qualquer<br />
tipo de complicação materna ou fetal. A complicação<br />
imediata mais freqüente foi cólica uterina em 134 (14%)<br />
Complicações materno-fetais <strong>da</strong> biópsia de vilo corial: experiência de um centro especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil<br />
gestantes, com remissão espontânea em 124 (92,5%)<br />
casos após média de uma hora de observação. Houve<br />
necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> tratamento analgésico em dez (7,4%)<br />
casos com butilbrometo de escopolamina (10 mg)<br />
via oral, em <strong>do</strong>se única. As outras complicações<br />
imediatas estão descritas na Tabela 1. Complicações<br />
tardias foram relata<strong>da</strong>s em 32 (3,3%) gestantes, sen<strong>do</strong><br />
a mais freqüente sangramento vaginal em 16 (1,6%)<br />
conforme Tabela 1.<br />
Quinze pacientes (1,6%) apresentaram abortamento<br />
espontâneo após o procedimento, e ocorreram três óbitos<br />
fetais de causas identifica<strong>da</strong>s: <strong>do</strong>is casos (0,2%) como<br />
complicações de síndromes hipertensivas na gravidez<br />
e um caso (0,1%) por infecção causa<strong>da</strong> por Parvovírus<br />
B19 (Figura 1).<br />
Quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is grupos de pacientes,<br />
com complicações imediatas e sem complicações<br />
imediatas, verificamos que a taxa de abortamento<br />
espontâneo foi maior nas pacientes cujos fetos apresen-<br />
Tabela 1 - Freqüência de complicações imediatas e tardias entre as 958 pacientes<br />
submeti<strong>da</strong>s à biópsia <strong>do</strong> vilo corial por via transab<strong>do</strong>minal.<br />
Complicações imediatas n %<br />
Cólicas uterinas 134 14,0<br />
Hematoma subcoriônico 17 1,8<br />
Punção amniótica acidental 12 1,3<br />
Dor <strong>da</strong> punção ou desconforto ab<strong>do</strong>minal 14 1,5<br />
Amniorrexe 2 0,2<br />
Bradicardia fetal 2 0,2<br />
Sangramento vaginal 1 0,1<br />
Total<br />
Complicações tardias<br />
182 19,1<br />
Sangramento vaginal 16 1,6<br />
Dor ab<strong>do</strong>minal 13 1,4<br />
Amniorrexe 3 0,3<br />
Total 32 3,3<br />
Óbito fetal<br />
Parto a<br />
termo<br />
Parto<br />
prematuro<br />
Abortamento<br />
espontâneo<br />
1 (0,1%)<br />
53 (5,5%)<br />
15 (1,6%)<br />
675 (70,5%)<br />
0 200 400 600 800<br />
Figura 1 - Distribuição <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s gestações após biópsia <strong>do</strong> vilo<br />
corial por via transab<strong>do</strong>minal em 958 pacientes.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
361
Lopes ACV, Pimentel K, Almei<strong>da</strong> AM, Matos EC, Toralles MBP<br />
taram bradicardia durante a BVC (p=0,03). As outras<br />
complicações não estavam associa<strong>da</strong>s com aumento <strong>da</strong><br />
taxa de abortamento espontâneo (Tabela 2).<br />
Comparan<strong>do</strong>-se a i<strong>da</strong>de gestacional média em que<br />
o procedimento foi realiza<strong>do</strong> e interrupção <strong>da</strong> gravidez,<br />
não foi encontra<strong>da</strong> diferença estatisticamente significante<br />
entre as pacientes que evoluíram com abortamento espontâneo<br />
e as que não tiveram abortamento (12,53±1,06<br />
e 12,51±1,08, respectivamente; p=0,93).<br />
Excluin<strong>do</strong>-se os casos sem informação sobre o resulta<strong>do</strong><br />
final <strong>da</strong> gestação (n=188, 19,6%), a taxa de gestação<br />
a termo foi 87,7% (675 pacientes), parto prematuro<br />
6,9% (53) e interrupção total <strong>da</strong> gravidez (intencional<br />
e espontânea), 5,5% (42), conforme Figura 1.<br />
Nenhum caso desenvolveu infecção no sítio cirúrgico<br />
(pele, subcutâneo, peritônio, útero, placenta ou âmnio),<br />
descolamento prematuro de placenta e placenta prévia.<br />
A avaliação <strong>do</strong>s recém-nasci<strong>do</strong>s não mostrou ocorrência<br />
de malformações fetais.<br />
Discussão<br />
A BVC permite coletar células trofoblásticas<br />
oriun<strong>da</strong>s <strong>do</strong> trofoectoderma conti<strong>da</strong>s no vilo corial, que<br />
possui a mesma origem genética fetal. Por se dividirem<br />
muito rapi<strong>da</strong>mente, estas células permitem o diagnóstico<br />
citogenético em poucos dias, tornan<strong>do</strong> a BVC um<br />
procedimento mais precoce que a AMC e que pode ser<br />
realiza<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> nona semana de gravidez 1 .<br />
A BVC é um procedimento que vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong><br />
há mais de 20 anos e é indica<strong>da</strong> principalmente por i<strong>da</strong>de<br />
materna avança<strong>da</strong> (igual ou superior a 35 anos), devi<strong>do</strong> ao<br />
risco de alterações cromossômicas aumentarem com a i<strong>da</strong>de<br />
cronológica <strong>da</strong> paciente, embora a maioria <strong>da</strong>s aneuploidias<br />
ocorra em gestantes abaixo <strong>do</strong>s 35 anos de i<strong>da</strong>de 3,6 .<br />
A decisão <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> presente análise pareceu-nos<br />
pertinente pelas evidências <strong>do</strong> aumento de indicação de<br />
BVC, como conseqüência <strong>da</strong> inclusão de to<strong>da</strong>s as gestantes<br />
no processo de rastreamento de trissomias fetais no prénatal,<br />
principalmente <strong>da</strong> trissomia <strong>do</strong> cromossomo 21,<br />
independente <strong>da</strong> existência de fatores de riscos 23 .<br />
362 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
Com introdução e universalização <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de<br />
rastreamento pré-natal de aneuploidias a to<strong>da</strong>s as gestantes,<br />
há uma tendência a diminuir o número relativo de pessoas<br />
com i<strong>da</strong>de acima de 35 anos que estão sen<strong>do</strong> encaminha<strong>da</strong>s<br />
para a realização de AMC e BVC. Contu<strong>do</strong>, a i<strong>da</strong>de<br />
materna avança<strong>da</strong> continua sen<strong>do</strong> a principal indicação<br />
de exames invasivos no pré-natal para o diagnóstico de<br />
anormali<strong>da</strong>des genéticas, conforme observa<strong>do</strong> na atual<br />
série (78,1% <strong>da</strong>s gestantes tinham i<strong>da</strong>de igual ou superior<br />
a 35 anos). Da<strong>do</strong>s semelhantes foram encontra<strong>do</strong>s em<br />
uma série de 10.741 gestantes na França (media de i<strong>da</strong>de<br />
de 37,3±4,7 anos e mediana de 36 anos) 24 e em estu<strong>do</strong><br />
multicêntrico envolven<strong>do</strong> 1.914 gestantes (média de<br />
i<strong>da</strong>de: 37,0±2,3 anos) submeti<strong>da</strong>s a BVC-TA 11 . To<strong>da</strong>via,<br />
i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s (média de i<strong>da</strong>de: 39,3±2,6 anos)<br />
já foram descritas em estu<strong>do</strong> brasileiro com 1.290 casos<br />
realiza<strong>do</strong> entre os anos de 1985 e 1991 20 . Comparan<strong>do</strong>se<br />
os estu<strong>do</strong>s cita<strong>do</strong>s, observa-se tendência à diminuição<br />
<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de materna entre as pacientes submeti<strong>da</strong>s à BVC<br />
em perío<strong>do</strong>s mais recentes.<br />
Neste estu<strong>do</strong> destaca-se o acha<strong>do</strong> <strong>do</strong> alto percentual<br />
(54,8%) de pacientes sem antecedentes de filhos vivos<br />
na época <strong>do</strong> procedimento. Este fato deve ser considera<strong>do</strong><br />
no momento <strong>da</strong> indicação <strong>do</strong> exame, visto que<br />
a interrupção <strong>da</strong> gravidez faz parte <strong>da</strong>s complicações<br />
<strong>da</strong> BVC 17,20 , embora existam outros fatores que, independente<br />
<strong>da</strong> relação direta com a BVC, influenciam<br />
nas taxas de abortamento. Assim, muitos fetos com<br />
translucência nucal altera<strong>da</strong>, importante indicação de<br />
BVC, são porta<strong>do</strong>res de defeitos congênitos graves, não<br />
cromossômicos 25 .<br />
Na análise <strong>do</strong>s antecedentes obstétricos <strong>da</strong> casuística<br />
apresenta<strong>da</strong> foi encontra<strong>do</strong> um eleva<strong>do</strong> percentual de<br />
abortamentos espontâneos, 21,7% (208 casos), muito<br />
provavelmente associa<strong>do</strong> à i<strong>da</strong>de cronológica materna<br />
avança<strong>da</strong>, é um fator de risco para abortamento espontâneo,<br />
conforme tem si<strong>do</strong> relata<strong>do</strong> na literatura 26 .<br />
Em 776 (81%) gestantes, o que representa mais<br />
de <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong>s casos, não encontramos qualquer<br />
tipo de complicação. Entre as que apresentaram complicações,<br />
a complicação imediata mais freqüente foi<br />
Tabela 2 - Avaliação <strong>do</strong> percentual de abortamento espontâneo em pacientes com complicações imediatas compara<strong>do</strong> com pacientes sem complicações imediatas*.<br />
Complicações n Aborto espontâneo Percentual de aborto p<br />
Cólica uterina 134 2 1,5 0,66<br />
Hematoma subcoriônico 17 1 5,9 0,19<br />
Punção amniótica acidental 12 1 8,3 0,14<br />
Desconforto ou <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal 14 1 7,1 0,16<br />
Amniorrexe 2 - - -<br />
Bradicardia fetal 2 1 50 0,03<br />
Sangramento vaginal 1 - - -<br />
*O percentual de abortamento de pacientes que não tiveram complicação imediata foi 1,2% (9 de 776).
<strong>do</strong>r espasmódica, <strong>do</strong> tipo cólica uterina em 14%, facilmente<br />
controla<strong>da</strong> com repo<strong>uso</strong> por tempo curto ou<br />
<strong>uso</strong> de analgésicos. Dor durante a realização <strong>da</strong> punção<br />
ab<strong>do</strong>minal ou desconforto ab<strong>do</strong>minal foi referi<strong>do</strong> por 14<br />
(1,5%) gestantes. A percepção materna de <strong>do</strong>r durante<br />
o procedimento tem si<strong>do</strong> referi<strong>da</strong> como importante<br />
em diversas publicações, e consideramos um fator de<br />
resistência por parte <strong>da</strong> mulher à aceitação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>.<br />
Aplican<strong>do</strong> a escala visual analógica em 300 gestantes<br />
antes e depois de procedimentos invasivos (AMC,<br />
BVC-TA e BVC-TC), nas quais não foram utiliza<strong>da</strong>s<br />
medicações anestésicas, um estu<strong>do</strong> demonstrou que a<br />
<strong>do</strong>r referi<strong>da</strong> antes <strong>do</strong> exame era maior que a percebi<strong>da</strong><br />
após a sua realização 27 . Os autores concluem haver existência<br />
de correlação positiva entre o nível de ansie<strong>da</strong>de<br />
e a <strong>do</strong>r induzi<strong>da</strong> pelo ato operatório 27 . Estas observações<br />
justificam, na nossa experiência, a não utilização de<br />
anestésico local para a realização <strong>da</strong> punção.<br />
Houve apenas um caso (0,1%) de sangramento<br />
vaginal de pequena intensi<strong>da</strong>de, interrompi<strong>do</strong> espontaneamente<br />
em um dia, e <strong>do</strong>is casos (0,2%) de per<strong>da</strong><br />
de pequena quanti<strong>da</strong>de de líqui<strong>do</strong> amniótico, que<br />
tiveram resolução espontânea após um perío<strong>do</strong> de repo<strong>uso</strong><br />
no leito de 24 horas. Sangramento vaginal tipo<br />
manchas foi relata<strong>do</strong> em 4,5% em uma série de casos<br />
e não estava associa<strong>do</strong> com abortamento espontâneo<br />
pós-procedimento 17 .<br />
Em estu<strong>do</strong> colaborativo ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> canadense<br />
comparan<strong>do</strong> BVC e AMC, foram encontra<strong>da</strong>s taxas de<br />
2,7, 26,6 e 1,4% de cólica ab<strong>do</strong>minal, sangramento<br />
vaginal e per<strong>da</strong> de líqui<strong>do</strong> amniótico, respectivamente<br />
28 . Em uma série de casos envolven<strong>do</strong> 1.844 pacientes<br />
submeti<strong>da</strong>s à BVC-TA, o sangramento vaginal ocorreu<br />
em 33 (1,8%) <strong>do</strong>s casos 1 .<br />
Nos 12 (1,3%) casos de punção amniótica acidental,<br />
ocorreu per<strong>da</strong> de líqui<strong>do</strong> amniótico em <strong>do</strong>is<br />
casos (0,2%), ambos trata<strong>do</strong>s apenas com repo<strong>uso</strong> no<br />
leito e evoluin<strong>do</strong> ao termo sem ocorrência de outras<br />
complicações. O estu<strong>do</strong> colaborativo canadense antes<br />
cita<strong>do</strong> apresentou freqüência de 1,4% de amniorrexe<br />
após BVC 28 .<br />
Hematoma subcoriônico ocorreu em 17 (1,8%) casos,<br />
com tamanho inferior a 2 cm em seu maior comprimento<br />
(<strong>da</strong><strong>do</strong>s não demonstra<strong>do</strong>s) que tiveram resolução espontânea.<br />
To<strong>do</strong>s foram acompanha<strong>do</strong>s com exames ultrasonográficos<br />
semanais e desapareceram completamente<br />
em até duas semanas após a realização <strong>da</strong> BVC.<br />
A conduta preconiza<strong>da</strong> nestes casos era que a<br />
paciente obedecesse a repo<strong>uso</strong> de ativi<strong>da</strong>des físicas<br />
e sexuais, retornan<strong>do</strong> semanalmente para avaliação<br />
ultra-sonográfica. Em to<strong>do</strong>s os casos, houve regressão<br />
espontânea e não estiveram associa<strong>do</strong>s a complicações<br />
Complicações materno-fetais <strong>da</strong> biópsia de vilo corial: experiência de um centro especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil<br />
como abortamento ou sangramento vaginal. Em estu<strong>do</strong><br />
realiza<strong>do</strong> no Paquistão entre 143 gestantes submeti<strong>da</strong>s à<br />
BVC-TA, a maioria para diagnóstico de β-talassemia entre<br />
12 e 14 semanas, foi relata<strong>do</strong> hematoma subcoriônico<br />
em 4,9% (sete de 143 pacientes) 29 . Três cursaram com<br />
pequeno sangramento vaginal após o procedimento, duas<br />
tiveram regressão espontânea após três a seis horas de<br />
repo<strong>uso</strong> hospitalar, enquanto uma paciente evoluiu com<br />
abortamento espontâneo após seis horas. O autor não<br />
descreve o volume <strong>do</strong> hematoma, sen<strong>do</strong> provável que<br />
os mais volumosos possam evoluir para descolamento<br />
<strong>da</strong> placenta e abortamento subseqüente.<br />
As taxas de abortamento espontâneo (1,6%) e óbitos<br />
fetais (0,3%) em nossa casuística foram semelhantes<br />
àquelas descritas em estu<strong>do</strong> não ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong>, no<br />
qual foi encontra<strong>da</strong> taxa de abortamento espontâneo<br />
de 1,65% e per<strong>da</strong>s fetais de 0,5% em 665 gestantes<br />
submeti<strong>da</strong>s à BVC-TA 18 . Taxa de abortamento espontâneo<br />
de 8,4% (346 casos) foi cita<strong>da</strong> entre pacientes<br />
que não realizaram o procedimento 18 . Em outra<br />
publicação, os autores relataram taxa de 1,4% (142<br />
casos) de abortamento espontâneo e 0,3% (31 casos)<br />
de per<strong>da</strong> gestacional em 9.352 BVC-TA realiza<strong>da</strong>s<br />
depois <strong>da</strong> 11ª semana de gestação 24 . Posteriormente,<br />
em estu<strong>do</strong> de série de casos (n=9.886) de BVC-TA<br />
e BVC-TC, sem separar os resulta<strong>do</strong>s por técnica de<br />
exame, foi relata<strong>da</strong> um taxa total de per<strong>da</strong>s fetais de<br />
3,12% (308 casos) 10 . Em estu<strong>do</strong> retrospectivo de 1.355<br />
casos de BVC-TA, principalmente por i<strong>da</strong>de materna<br />
avança<strong>da</strong>, realiza<strong>do</strong>s por cinco diferentes opera<strong>do</strong>res<br />
de um mesmo serviço na China, entre 11 e 13 semanas,<br />
foram encontra<strong>do</strong>s 0,73% (nove casos) de per<strong>da</strong>s<br />
fetais associa<strong>da</strong>s a causas obstétricas independentes<br />
e 1,54% (dez casos) potencialmente decorrentes <strong>do</strong><br />
procedimento 30 . Como a taxa de per<strong>da</strong>s fetais em grupo<br />
controle de pacientes não expostas foi 0,8%, os autores<br />
concluíram que a taxa de per<strong>da</strong>s fetais relaciona<strong>da</strong>s ao<br />
exame foi de 0,74% 30 .<br />
Na análise <strong>da</strong>s complicações imediatas, apenas a<br />
bradicardia fetal esteve associa<strong>da</strong> com maior percentual<br />
de abortamento. Bradicardia fetal tem si<strong>do</strong> relaciona<strong>da</strong><br />
com aborto espontâneo, sen<strong>do</strong> recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> retar<strong>da</strong>r a<br />
realização <strong>da</strong> BVC para observar a evolução <strong>da</strong> gestação<br />
pelo risco de óbito fetal nesses casos 31 . Recentemente<br />
foram descritas alterações <strong>da</strong> freqüência cardíaca fetal em<br />
estu<strong>do</strong> com 300 gestantes submeti<strong>da</strong>s à BVC-TA entre a<br />
oitava e 13ª semanas, sugerin<strong>do</strong> alterações hemodinâmicas<br />
fetais, significativamente associa<strong>da</strong>s à i<strong>da</strong>de gestacional<br />
e i<strong>da</strong>de materna e sem associações com a duração <strong>do</strong><br />
procedimento, número de inserções e sexo fetal 32 . São<br />
desconheci<strong>da</strong>s até o momento quais as repercussões <strong>da</strong><br />
variação <strong>da</strong> freqüência cardíaca fetal a longo prazo.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
363
Lopes ACV, Pimentel K, Almei<strong>da</strong> AM, Matos EC, Toralles MBP<br />
Em 926 (96,7%) gestantes não ocorreram complicações<br />
tardias. Amniorrexe foi encontra<strong>da</strong> em três casos (0,3%),<br />
parecen<strong>do</strong> estar associa<strong>da</strong> com o evento, sen<strong>do</strong> que <strong>do</strong>is<br />
casos foram os mesmos relata<strong>do</strong>s entre as complicações<br />
imediatas. Amniorrexe foi descrita como complicação<br />
materna em 0,86% (17 casos) de uma série de 1984<br />
pacientes submeti<strong>da</strong>s à BVC compara<strong>do</strong> com taxa de<br />
1,2% (583 casos) em pacientes não expostas 15 . To<strong>da</strong>s as<br />
pacientes <strong>da</strong> nossa série que apresentaram amniorrexe<br />
evoluíram até o termo <strong>da</strong> gestação e não apresentaram<br />
outras intercorrências obstétricas ou neonatais.<br />
A taxa de parto prematuro foi de 5,5% (52 casos),<br />
semelhante à encontra<strong>da</strong> (5,4%, n=107 casos) em estu<strong>do</strong><br />
de coorte realiza<strong>do</strong> na Suécia, envolven<strong>do</strong> 1.984 pacientes<br />
submeti<strong>da</strong>s à BVC-TA entre 10 e 12 semanas 33 .<br />
A despeito de relato anterior de malformações fetais<br />
associa<strong>da</strong>s à BVC 34 , não encontramos nenhum caso na<br />
nossa série. Em estu<strong>do</strong> de coorte incluin<strong>do</strong> paciente com<br />
i<strong>da</strong>de varian<strong>do</strong> entre 35 e 49 anos e com gravidez de feto<br />
único, foram compara<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s de AMC (n=21.748<br />
casos), BVC (1.984 casos) e grupo não exposto a procedimentos<br />
(47.854 casos), ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> encontra<strong>da</strong>s taxas de<br />
reduções de membros fetais similares (AMC, 0,4/1000;<br />
BVC, 0,5/1000; e grupo não exposto, 0,5/1000) 33 . Há<br />
ain<strong>da</strong> observação <strong>da</strong> ausência <strong>da</strong> extremi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> terceiro<br />
quirodáctilo como possível efeito teratogênico <strong>da</strong> BVC 35 ;<br />
to<strong>da</strong>via, as conclusões <strong>do</strong>s autores são questiona<strong>da</strong>s pela<br />
pequena casuística e falta de <strong>do</strong>cumentação suficiente 13 .<br />
Referências<br />
1.<br />
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364 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
Acreditamos que a baixa taxa de complicações<br />
encontra<strong>da</strong> em nossa série deva estar associa<strong>da</strong> aos<br />
critérios técnicos rigorosos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para indicação<br />
e a realização <strong>do</strong> procedimento, à inserção única na<br />
maioria <strong>do</strong>s casos e ao fato de não ser realiza<strong>da</strong> punção<br />
intra-amniótica.<br />
Em conclusão, a BVC-TA em nossa instituição<br />
revelou-se um procedimento simples e bastante seguro,<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> larga experiência <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r. A BVC-TA<br />
realiza<strong>da</strong> no primeiro trimestre de gravidez deve ser<br />
considera<strong>da</strong> como méto<strong>do</strong> de escolha para o diagnóstico<br />
pré-natal de aneuploidias, devi<strong>do</strong> às baixas taxas<br />
de complicações apresenta<strong>da</strong>s no presente trabalho. O<br />
fato de ser realiza<strong>do</strong> precocemente na gestação permite<br />
rápi<strong>do</strong> diagnóstico em pacientes identifica<strong>da</strong>s de alto<br />
risco por meio <strong>do</strong>s testes de rastreamento, contribuin<strong>do</strong><br />
para reduzir a ansie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gestante. Apenas profissional<br />
bem treina<strong>do</strong> e experiente deve realizar o procedimento.<br />
Lembramos ser fun<strong>da</strong>mental esclarecer à gestante, ou<br />
ao casal preferencialmente, que o procedimento envolve<br />
riscos, embora de baixa freqüência.<br />
Agradecimentos<br />
Doutora Ingrid Brandão, Doutora Vecirley Mace<strong>do</strong>,<br />
Doutora Luciana Vieira Lopes, Doutor José Tavares Neto,<br />
Professor Doutor Edgar Carvalho, Senhora Darlene<br />
Pimentel e Senhora Maria Luiza Eira<strong>do</strong> Lima.<br />
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reply 154.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):360-7<br />
365
Afonso Celso Pinto nAzário 1<br />
luiz Alberto sobrAl VieirA Júnior 2<br />
JAnine MArtins MAChA<strong>do</strong> 3<br />
Cláudio KeMP 4<br />
Relato de caso<br />
Palavras-chaves<br />
Neoplasias mamárias/induzi<strong>do</strong><br />
quimicamente<br />
Fibroadenoma/diagnóstico<br />
Fibroadenoma/induzi<strong>do</strong><br />
quimicamente<br />
Ciclosporina/efeitos adversos<br />
Transplante renal<br />
Imunossupressores/efeitos adversos<br />
Tolerância imunológica<br />
Doenças <strong>da</strong> mama<br />
Diagnóstico por imagem<br />
Keywords<br />
Breast neoplasms/chemically<br />
induced<br />
Fibroadenoma/diagnosis<br />
Fibroadenoma/chemically induced<br />
Cyclosporine/adverse effects<br />
Kidney transplantation<br />
Immunosuppressive agents/adverse<br />
effects<br />
Immune tolerance<br />
Breast diseases<br />
Diagnostic imaging<br />
Correspondência:<br />
Luiz Alberto Sobral Vieira Júnior<br />
Rua Constante Sodré, 1179/802, Praia <strong>do</strong> Canto<br />
CEP 29055-420 – Vitória/ES<br />
Fone: (27) 3227-7072/ 9982-4597<br />
E-mail:luizsobral@terra.com.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
25/07/2006<br />
Aceito com modificações<br />
23/04/2007<br />
Múltiplos fibroadenomas bilaterais<br />
após transplante renal e imunossupressão<br />
com ciclosporina A<br />
Multiple bilateral fibroadenomas after kidney transplantation and<br />
immunossuppression with cyclosporine A<br />
Resumo<br />
O fibroadenoma é a neoplasia benigna mais freqüente <strong>da</strong> mama feminina e é considera<strong>do</strong> tumor misto, constituí<strong>do</strong><br />
por quanti<strong>da</strong>des variáveis de teci<strong>do</strong> conjuntivo e epitelial. A ciclosporina parece ter implicações no desenvolvimento<br />
de fibroadenomas mamários em pacientes transplanta<strong>da</strong>s renais em i<strong>da</strong>de reprodutiva. Descrevemos o caso no qual a<br />
paciente, em <strong>uso</strong> terapêutico de ciclosporina A, após transplante renal, apresentou vários nódulos mamários bilaterais<br />
na evolução. O exame físico e os acha<strong>do</strong>s de imagem sugeriram fibroadenoma, diagnóstico que foi confirma<strong>do</strong><br />
após biópsias.<br />
Abstract<br />
Fibroadenoma is the most frequent benign neoplasia in the female breast and it is considered a mixed tumor, constituted<br />
by variable amounts of connective and epithelial tissue. Cyclosporine A seems to be related with the development of<br />
mamary fibroadenomas in patients who underwent kidney transplantation in reproductive age. We reported the case in<br />
which the patient, in therapeutic use of cyclosporine A, after kidney transplantation, presented several bilateral lumps.<br />
The imaging and palpable findings suggested fibroadenoma, confirmed after biopsy.<br />
Disciplina de Mastologia <strong>do</strong> Departamento de Ginecologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo<br />
– UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.<br />
1 Chefe <strong>do</strong> Departamento de Ginecologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo – UNIFESP São Paulo<br />
(SP), Brasil.<br />
2 Pós-graduan<strong>do</strong> <strong>da</strong> Disciplina de Mastologia <strong>do</strong> Departamento de Ginecologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> programa de Residência Médica de Mastologia <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Espírito Santo – UFES – Espírito Santo (ES), Brasil.<br />
3 Pós-graduan<strong>da</strong> <strong>da</strong> Disciplina de Mastologia <strong>do</strong> Departamento Ginecologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />
de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.<br />
4 Chefe <strong>da</strong> Disciplina de Mastologia <strong>do</strong> Departamento de Ginecologia <strong>da</strong> Escola Paulista de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />
São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil.
Introdução<br />
O fibroadenoma é o tumor benigno mais comum<br />
<strong>da</strong> mama feminina, com pico de incidência entre a<br />
segun<strong>da</strong> e a terceira déca<strong>da</strong>s de vi<strong>da</strong>, que é também o<br />
perío<strong>do</strong> de mais intensa esteroi<strong>do</strong>gênese no menacme 1,2 .<br />
Deriva <strong>do</strong> epitélio e <strong>do</strong> estroma <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de terminal<br />
ducto-lobular, sen<strong>do</strong> classifica<strong>do</strong> como neoplasia benigna<br />
mista 3 . Apresenta-se como nódulo bem delimita<strong>do</strong> e<br />
móvel em relação aos teci<strong>do</strong>s circunvizinhos, geralmente<br />
único, poden<strong>do</strong>, no entanto, ser múltiplo em 13,4 a<br />
16% 4,5 . Seu diagnóstico pode ser feito clinicamente, por<br />
exame físico, e por méto<strong>do</strong>s de imagem, como a ultrasonografia<br />
e a mamografia. O diagnóstico definitivo é<br />
histopatológico. Na maioria <strong>do</strong>s casos, o fibroadenoma<br />
é solitário e palpável pela paciente. A maioria <strong>do</strong>s fibroadenomas<br />
tem menos que 3 cm de diâmetro e apenas<br />
10% são maiores que 4 cm 5,6 .<br />
As formas múltiplas correspondem a 20% <strong>do</strong>s casos.<br />
É incomum, entretanto, se encontrarem mais que cinco<br />
fibroadenomas na mama 7 , embora já tenham si<strong>do</strong> descritas<br />
síndromes familiares ou hormonais que cursam desta<br />
maneira. Fibroadenomas múltiplos gigantes são ain<strong>da</strong><br />
mais raros, eventuali<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> em a<strong>do</strong>lescentes<br />
negras 5 e que recentemente tem si<strong>do</strong> correlaciona<strong>da</strong><br />
com imunossupressão com <strong>uso</strong> de ciclosporina A 6-8 .<br />
Neste grupo de pacientes, com freqüência recorrem após<br />
excisão ou há o surgimento de nova lesão. Em alguns<br />
casos, os fibroadenomas múltiplos gigantes produzem<br />
aumento global <strong>da</strong> mama com deformi<strong>da</strong>de bilateral,<br />
às vezes sen<strong>do</strong> necessária mastectomia 6 .<br />
A ciclosporina A apresenta vários efeitos adversos<br />
conheci<strong>do</strong>s, tais como piora <strong>da</strong> função renal, hipertensão,<br />
predisposição a infecções, hipertricose, tremor fino,<br />
transtorno <strong>da</strong> função hepática e hiperplasia gengival 9,10 .<br />
Apesar de aumentar a incidência de vários tumores<br />
na mama, em especial <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s linfo-reticulares, a<br />
ciclosporina A diminui o risco relativo para neoplasia<br />
maligna, porém incrementa a incidência de tumores<br />
benignos 11,12 . Seu efeito promotor em tumores benignos<br />
<strong>da</strong> mama <strong>do</strong> tipo fibroadenoma tem prevalência<br />
ain<strong>da</strong> não bem determina<strong>da</strong>, já que as referências na<br />
literatura a este respeito são escassas 7 . Alguns autores 6,8<br />
propõem existir <strong>do</strong>is mecanismos: relação com uma ação<br />
direta sobre os fibroblastos, já que alguns fibroblastos<br />
possuem receptores para ciclosporina A, e ação sobre<br />
o eixo hipotálamo-hipofisário, com diminuição <strong>do</strong><br />
hormônio luteinizante (LH) e de testosterona, poden<strong>do</strong><br />
ocorrer ginecomastia em homens. Neste trabalho,<br />
nosso objetivo foi descrever um caso no qual a paciente,<br />
em <strong>uso</strong> terapêutico de ciclosporina A após transplante<br />
renal, apresentou vários nódulos mamários bilaterais<br />
Múltiplos fibroadenomas bilaterais após transplante renal e imunossupressão com ciclosporina A: relato de caso<br />
na evolução, e realizar levantamento <strong>da</strong> literatura sobre<br />
esta associação, na qual encontramos apenas uma<br />
referência brasileira.<br />
Descrição <strong>do</strong> caso<br />
Paciente <strong>do</strong> sexo feminino, 47 anos, negra, apresentou<br />
menarca aos 13 anos, era primípara e seu único<br />
parto havia ocorri<strong>do</strong> aos 16 anos. Apresentava ain<strong>da</strong><br />
ciclos menstruais regulares.<br />
Foi atendi<strong>da</strong> pela primeira vez no ambulatório<br />
<strong>da</strong> Disciplina de Mastologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />
de São Paulo – UNIFESP – em agosto de 2002, com<br />
queixa de há sete meses ter percebi<strong>do</strong> vários nódulos em<br />
ambas as mamas. Havia si<strong>do</strong> submeti<strong>da</strong> a transplante<br />
renal em agosto de 1998 e, desde então, recebia terapia<br />
imunossupressora com prednisona e ciclosporina A.<br />
Ao exame físico, paciente em bom esta<strong>do</strong> geral,<br />
mucosas cora<strong>da</strong>s, apresentava mamas volumosas com<br />
abaulamentos, sem alterações de pele. Vários tumores<br />
foram palpa<strong>do</strong>s, de consistência fibroelástica, móveis<br />
e regulares, sugerin<strong>do</strong> benigni<strong>da</strong>de. Não havia comprometimento<br />
axilar.<br />
Na mamografia apresentava mamas volumosas,<br />
padrão de alta densi<strong>da</strong>de, e foram identifica<strong>do</strong>s vários<br />
nódulos de bor<strong>do</strong>s regulares bilaterais, sen<strong>do</strong> 12 à<br />
esquer<strong>da</strong> e dez à direita (Figura 1). À ultra-sonografia,<br />
estes nódulos eram hipoecogênicos, porém, com ecogenici<strong>da</strong>de<br />
interna maior que a usualmente encontra<strong>da</strong><br />
em fibroadenoma, de limites precisos, o maior deles<br />
localiza<strong>do</strong> no quadrante súpero-lateral <strong>da</strong> mama esquer<strong>da</strong>,<br />
justa-areolar e medin<strong>do</strong> 4,2 cm (Figura 2). Foi<br />
realiza<strong>da</strong> punção aspirativa com agulha fina, mostran<strong>do</strong><br />
tratar-se de nódulos sóli<strong>do</strong>s.<br />
A análise citológica foi negativa para maligni<strong>da</strong>de e<br />
era representa<strong>da</strong> por esfregaço de fun<strong>do</strong> hemorrágico com<br />
poucas células epiteliais típicas isola<strong>da</strong>s e em fileiras.<br />
Figura 1 - Mamografia: mamas volumosas com múltiplos nódulos de<br />
bor<strong>do</strong>s regulares bilateralmente.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):368-71<br />
367
Nazário ACP, Vieira Júnior LAS, Macha<strong>do</strong> JM, Kemp C<br />
Em fevereiro de 2003, foi submeti<strong>da</strong> à exérese <strong>do</strong><br />
maior nódulo <strong>da</strong> mama direita e de <strong>do</strong>is na mama esquer<strong>da</strong>,<br />
nos quadrantes súpero-lateral e ínfero-medial,<br />
que mediam, respectivamente, 5, 3 e 3 cm. O exame<br />
anatomopatológico mostrou, na macroscopia, nódulos<br />
brancacentos, borrachosos, de contornos bocela<strong>do</strong>s e<br />
bor<strong>do</strong>s bem defini<strong>do</strong>s e, na microscopia, eram representa<strong>do</strong>s<br />
por estroma constituí<strong>do</strong> por trama de células<br />
fibroblásticas com núcleos pequenos e alonga<strong>do</strong>s, que<br />
envolvia uma proliferação atípica de ductos e ácinos,<br />
com níti<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> fibroso, com o componente<br />
epitelial estira<strong>do</strong>, comprimi<strong>do</strong> pelo estroma<br />
em arranjos curvilíneos, confirman<strong>do</strong> a hipótese de<br />
fibroadenoma, varie<strong>da</strong>de intracanalicular, que em<br />
na<strong>da</strong> difere <strong>do</strong>s fibroadenomas comuns (Figura 3).<br />
Atualmente a paciente continua em observação no<br />
ambulatório de mastologia, apresentan<strong>do</strong> nódulos<br />
bilaterais sem crescimento aparente, manten<strong>do</strong>-se em<br />
<strong>uso</strong> de ciclosporina A.<br />
Figura 2 - Avaliação ultra-sonográfica: nódulo hipoecóico com 4,2 cm,<br />
de bor<strong>do</strong>s regulares, com ecogenici<strong>da</strong>de interna um pouco maior que a<br />
usualmente encontra<strong>da</strong> no fibroadenoma.<br />
Figura 3 - Avaliação histopatológica: fibroadenoma HE 40X. Na seta,<br />
observar componente epitelial estira<strong>do</strong>, comprimi<strong>do</strong> pelo estroma em<br />
arranjos curvilíneos, confirman<strong>do</strong> a hipótese de fibroadenoma, varie<strong>da</strong>de<br />
intracanalicular, que em na<strong>da</strong> difere <strong>do</strong>s fibroadenomas comuns.<br />
368 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):368-71<br />
Discussão<br />
A associação entre a ciclosporina A e neoplasias<br />
malignas de outros sítios não mamários já é bem conheci<strong>da</strong><br />
10-12 , ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong> em usuárias de<br />
ciclosporina A aumento <strong>da</strong> incidência <strong>do</strong>s dez principais<br />
tipos de cânceres, em particular de pele e <strong>do</strong> sistema<br />
linfo-reticular. Em contraparti<strong>da</strong>, observou-se menor<br />
incidência de câncer de mama, sen<strong>do</strong> particularmente<br />
baixa no primeiro ano pós-transplante.<br />
Em série de 39 mulheres transplanta<strong>da</strong>s renais 8 foram<br />
encontra<strong>do</strong>s fibroadenomas em 13 de 29 mulheres que<br />
usaram ciclosporina A. As lesões foram múltiplas em<br />
dez, e, em cinco casos, foram bilaterais. Por outro la<strong>do</strong>,<br />
não observaram acha<strong>do</strong>s anormais em dez transplanta<strong>da</strong>s<br />
renais trata<strong>da</strong>s com esteróides e azatioprina, ressaltan<strong>do</strong><br />
que a alta prevalência de fibroadenomas poderia ser resultante<br />
<strong>da</strong> ciclosporina A.<br />
Na mama, parece existir constante equilíbrio entre<br />
os fatores estimula<strong>do</strong>res (estrogênio, progesterona, EGF,<br />
IGF 1 e FGFs) que promovem a proliferação celular e a<br />
família TGF-β, que junto com o fator de necrose tumoral<br />
(TNF) estimulam a apoptose 13 . O fibroadenoma provavelmente<br />
resulta <strong>do</strong> desequilíbrio entre a proliferação e a<br />
apoptose, favorecen<strong>do</strong> o crescimento de tumor benigno,<br />
que se origina concomitante ao desenvolvimento mamário<br />
na puber<strong>da</strong>de. Contu<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> ao lento crescimento,<br />
estes são detecta<strong>do</strong>s entre os 20 e 30 anos 5 . Assim, sua<br />
freqüência, tamanho e crescimento podem, em tese, ser<br />
influencia<strong>do</strong>s por diversos fatores e, nos últimos anos,<br />
têm si<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>s ao <strong>uso</strong> de ciclosporina A 6-8 .<br />
A ciclosporina A inibe os linfócitos 14 por bloquear<br />
a produção de interleucina 2, alteran<strong>do</strong> a regulação<br />
<strong>do</strong> seu gene, e poderia favorecer o crescimento <strong>do</strong>s<br />
fibroadenomas, talvez por alterar a produção de fatores<br />
de crescimento, causan<strong>do</strong> o desequilíbrio entre a<br />
proliferação e apoptose, com uma ação direta sobre os<br />
fibroblastos, já que estes podem possuir receptores para<br />
ciclosporina A 6-8,15-18 . Assim, a ciclosporina A parece<br />
interferir na secreção de citocinas liga<strong>da</strong>s a proliferação<br />
e apoptose <strong>do</strong> epitélio mamário, interferin<strong>do</strong><br />
no crescimento, desenvolvimento e aparecimento<br />
de fibroadenomas múltiplos e gigantes em usuárias<br />
desta droga 6-8,15 , e, em casos graves, a mastectomia<br />
subcutânea pode ser necessária 6,15 .<br />
Pode ocorrer ain<strong>da</strong> ação sobre o eixo hipotálamohipofisário,<br />
com diminuição <strong>do</strong> LH e de testosterona,<br />
já demonstra<strong>da</strong> em ratos, com alteração <strong>da</strong> conversão<br />
periférica de andrógenos em estrógenos, com maior<br />
estímulo proliferativo sobre a mama 6,8 .<br />
Em estu<strong>do</strong> retrospectivo envolven<strong>do</strong> mulheres transplanta<strong>da</strong>s<br />
renais, usan<strong>do</strong> terapia imunossupressora com
ciclosporina A e prednisona, observou-se que fibroadenomas<br />
eram múltiplos e bilaterais, com tamanho médio de<br />
4,2 cm, circunscritos, com alta densi<strong>da</strong>de à mamografia<br />
e, na ultra-sonografia, apresentavam ecogenici<strong>da</strong>de<br />
aumenta<strong>da</strong>, com razão entre diâmetro longitudinal e<br />
ântero-posterior menor que o grupo controle 19 .<br />
Fato que confirma a relação <strong>da</strong> ciclosporina A com<br />
o desenvolvimento de fibroadenomas é o relato de casos<br />
no qual a troca <strong>do</strong> imunossupressor leva à regressão <strong>do</strong>s<br />
nódulos 17,18,20-22 .<br />
Importante estarmos atento à necessi<strong>da</strong>de de diagnóstico<br />
diferencial com linfoma, tumor raro na mama,<br />
mas que tem sua incidência aumenta<strong>da</strong> em usuárias<br />
de ciclosporina e também com tumor filóides, ambos<br />
geralmente únicos 11,12,16 .<br />
Não existe, porém, nenhum estu<strong>do</strong> prospectivo que<br />
tenha avalia<strong>do</strong> a prevalência de fibroadenomas em imunossuprimi<strong>da</strong>s<br />
usuárias de ciclosporina A. O conhecimento <strong>da</strong><br />
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Múltiplos fibroadenomas bilaterais após transplante renal e imunossupressão com ciclosporina A: relato de caso<br />
prevalência de fibroadenomas em pacientes renais crônicas<br />
transplanta<strong>da</strong>s e imunossuprimi<strong>da</strong>s em <strong>uso</strong> de ciclosporina<br />
A bem como o <strong>uso</strong> dessa droga induz ao desenvolvimento<br />
de fibroadenomas pode trazer informações úteis ao melhor<br />
conhecimento <strong>do</strong> mecanismo de controle <strong>da</strong> proliferação <strong>do</strong><br />
epitélio mamário, assim como <strong>do</strong>s mecanismos parácrinos e<br />
autócrinos de interação entre estroma e epitélio na glândula<br />
mamária feminina, buscan<strong>do</strong> melhor juízo clínico para o<br />
manejo <strong>da</strong>s <strong>do</strong>enças mamárias mais comuns.<br />
Acreditamos que a paciente aqui descrita represente<br />
um caso de fibroadenoma induzi<strong>do</strong> pela ciclosporina,<br />
semelhante aos previamente descritos por outros autores.<br />
No entanto, o mecanismo preciso <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> ciclosporina<br />
A precisa ser mais bem eluci<strong>da</strong><strong>do</strong>. Destaca-se a importância<br />
de um efeito medicamentoso ain<strong>da</strong> subestima<strong>do</strong>,<br />
em tempos em que há crescimento em larga escala de<br />
transplantes e terapêutica imunossupressora para várias<br />
<strong>do</strong>enças auto-imunes e inflamatórias.<br />
13. Swiatecka J, Lau<strong>da</strong>nski P, Dzieciol J. Fine needle aspiration cytology<br />
of benign brest disease. Markers of apoptosis and proliferation.<br />
Neoplasma. 2004;51(1):49-55.<br />
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Breast J. 2002;8(3):177-9.<br />
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22.<br />
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4315-9.<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):368-71<br />
369
Renato Passini JúnioR 1<br />
MaRcelo luís noMuRa 2<br />
GabRiel tilli Politano 3<br />
Revisão<br />
Palavras-chaves<br />
Perio<strong>do</strong>ntite<br />
Doenças perio<strong>do</strong>ntais<br />
Citocinas<br />
Complicações na gravidez/<br />
fisiopatologia<br />
Saúde bucal<br />
Gestantes<br />
Medição de risco<br />
Keywords<br />
Perio<strong>do</strong>ntitis<br />
Perio<strong>do</strong>ntal diseases<br />
Cytokines<br />
Pregnancy complications/<br />
physiopathology<br />
Oral health<br />
Pregnant women<br />
Risk assessment<br />
Correspondência:<br />
Renato Passini Júnior<br />
Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> FCM/UNICAMP<br />
Rua Alexander Fleming, 101 – Ci<strong>da</strong>de Universitária – Barão Geral<strong>do</strong><br />
CEP 13083 881 – Campinas/SP<br />
Fones: (19) 3521-9304/ (19) 3521-9335<br />
Fax: (19) 3521-9304<br />
E-mail: passini@caism.unicamp.br<br />
Recebi<strong>do</strong><br />
29/05/2007<br />
Aceito com modificações<br />
26/06/2007<br />
Doença perio<strong>do</strong>ntal e complicações<br />
obstétricas: há relação de risco?<br />
Perio<strong>do</strong>ntal disease and obstetrical complications:<br />
is there a risk relationship?<br />
Resumo<br />
Estu<strong>do</strong>s têm aponta<strong>do</strong> possíveis relações de risco existentes entre <strong>do</strong>enças bucais, principalmente a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal,<br />
e complicações gestacionais, como parto prematuro, nascimento de recém-nasci<strong>do</strong>s de baixo peso e pré-eclâmpsia. As<br />
explicações para tais hipóteses baseiam-se no fato de a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal ser de origem infecciosa, o que poderia<br />
provocar aumento de citocinas inflamatórias no sangue materno, por liberação direta <strong>da</strong> bolsa perio<strong>do</strong>ntal ou por<br />
disseminação de bactérias patogênicas, induzin<strong>do</strong> sua produção sistêmica. Esta suposição fun<strong>da</strong>menta-se no conhecimento<br />
de que a fisiopatologia <strong>da</strong>s complicações obstétricas cita<strong>da</strong>s está associa<strong>da</strong> à presença de algumas citocinas no<br />
sangue materno. O presente trabalho teve como objetivo realizar revisão <strong>da</strong> literatura em busca de evidências para<br />
estas supostas associações. Apesar <strong>do</strong> grande número de estu<strong>do</strong>s clínicos encontra<strong>do</strong>s nesta revisão, observa-se a falta<br />
de padronização meto<strong>do</strong>lógica <strong>do</strong>s mesmos, fato que limita conclusões definitivas a respeito. Por outro la<strong>do</strong>, o fato de<br />
a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal ain<strong>da</strong> não ser comprova<strong>da</strong>mente um fator de risco para as complicações obstétricas não diminui<br />
a importância <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> saúde bucal <strong>da</strong>s gestantes, que devem apresentar condições orais que propiciem<br />
adequa<strong>da</strong> alimentação, sem <strong>do</strong>r e sangramento, e assim manter seu aporte nutricional adequa<strong>do</strong>.<br />
Abstract<br />
Studies have shown possible risk relations among oral illnesses, mainly perio<strong>do</strong>ntal disease and adverse pregnancy<br />
outcomes, such as prematurity, low birth weight and preeclampsia. The explanation for this hypothesis is based on the<br />
fact that perio<strong>do</strong>ntal disease is an infectious state, which may increase maternal serum cytokines through the release of<br />
such agents directly from the perio<strong>do</strong>ntal pocket or by through the dissemination of pathogenic bacteria, inducing systemic<br />
production. This assumption is based on the knowledge that the physiopathology of the pregnancy complications cited<br />
above is associated with the presence of some cytokines in the maternal serum. The present study work has the objective<br />
to review literature in search of evidence to these alleged associations. Although a number of clinical studies have been<br />
found in this review, we noticed a lack of metho<strong>do</strong>logical stan<strong>da</strong>rds, what limits the conclusions about this topic. On<br />
the other side, the fact that perio<strong>do</strong>ntal disease is not yet a confirmed risk factor for adverse pregnancy outcomes <strong>do</strong>es<br />
not reduce the importance of oral health maintenance during pregnancy, since it is important to allow adequate feeding<br />
without pain and bleeding in order to maintain an adequate nutritional supply.<br />
Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas – UNICAMP –<br />
Campinas (SP), Brasil.<br />
1 Doutor, Professor Assistente <strong>do</strong> Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de<br />
Campinas – UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.<br />
2 Doutor, Médico <strong>do</strong> Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas<br />
– UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.<br />
3 Pós-graduan<strong>do</strong> <strong>do</strong> Departamento de Tocoginecologia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas<br />
– UNICAMP – Campinas (SP), Brasil.
Introdução<br />
A gestação é um momento em que a saúde bucal<br />
deve ser acompanha<strong>da</strong> com muito cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, já que, neste<br />
perío<strong>do</strong>, algumas alterações mórbi<strong>da</strong>s podem se tornar<br />
mais prevalentes. Anormali<strong>da</strong>des como hiperemia,<br />
edema e grande tendência ao sangramento gengival<br />
têm si<strong>do</strong> classifica<strong>da</strong>s como gengivite gravídica 1 . A<br />
prevalência dessa alteração varia entre 35 e 100%,<br />
ten<strong>do</strong> sua severi<strong>da</strong>de gradualmente aumenta<strong>da</strong> até a<br />
36ª semana de gestação 2 .<br />
É comumente aceita a teoria de que o brusco aumento<br />
<strong>do</strong>s hormônios femininos circulantes durante a gestação<br />
é responsável pela exacerbação <strong>da</strong> reação inflamatória<br />
gengival, principalmente por sua ação vasodilata<strong>do</strong>ra 3 .<br />
Apesar de a gestação intensificar a reação inflamatória<br />
no teci<strong>do</strong> gengival, o biofilme dentário – acúmulo de<br />
bactérias no dente –, é de fun<strong>da</strong>mental importância<br />
para o desenvolvimento desta afecção, sen<strong>do</strong> que seu<br />
controle por meio de escovação apropria<strong>da</strong> parece evitar<br />
inflamação e sangramento 4 .<br />
A necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s bucais durante a gestação<br />
baseia-se em <strong>do</strong>is motivos principais: as gestantes devem<br />
se alimentar corretamente e, por isso, não seria admissível<br />
que apresentassem <strong>do</strong>r e/ou mobili<strong>da</strong>de dentária,<br />
e infecções perio<strong>do</strong>ntais poderiam se disseminar pela<br />
corrente sanguínea e estimular a produção de citocinas<br />
inflamatórias. Em decorrência <strong>da</strong>s atuais publicações<br />
que relacionam algumas importantes complicações<br />
gestacionais (parto prematuro, recém-nasci<strong>do</strong>s de baixo<br />
peso e pré-eclâmpsia) com a presença de citocinas<br />
também produzi<strong>da</strong>s no perio<strong>do</strong>nto infecciona<strong>do</strong>, esta<br />
revisão buscou avaliar se a literatura disponível permite<br />
suportar tal relação de risco.<br />
Citocinas inflamatórias perio<strong>do</strong>ntais<br />
e sua disseminação sistêmica<br />
A <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal é uma <strong>da</strong>s infecções bucais<br />
mais prevalentes nos seres humanos, sen<strong>do</strong> caracteriza<strong>da</strong><br />
por inflamação e sangramento gengival. Quan<strong>do</strong><br />
os agentes causa<strong>do</strong>res desta afecção não são removi<strong>do</strong>s<br />
periodicamente, tendem a atingir o teci<strong>do</strong> de suporte<br />
<strong>do</strong>s dentes, o osso alveolar, e estimular sua reabsorção<br />
por meio de reação inflamatória 5 .<br />
Nas bolsas perio<strong>do</strong>ntais podem ser isola<strong>da</strong>s diversas<br />
espécies bacterianas, muitas delas gram-negativas e<br />
algumas se caracterizan<strong>do</strong> por alta patogenici<strong>da</strong>de 6 .<br />
Quan<strong>do</strong> o organismo humano reconhece a presença<br />
destas bactérias, inicia-se a reação de imuni<strong>da</strong>de inata,<br />
primeira linha de defesa contra os agentes agressores.<br />
Além <strong>da</strong> atuação <strong>do</strong>s macrófagos fagocitários, há a liberação<br />
de algumas citocinas inflamatórias, proteínas<br />
Doença perio<strong>do</strong>ntal e complicações obstétricas: há relação de risco?<br />
que regulam e coordenam muitas <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s<br />
células responsáveis pela imuni<strong>da</strong>de inata7 .<br />
Diversas são as citocinas inflamatórias encontra<strong>da</strong>s<br />
na bolsa perio<strong>do</strong>ntal, destacan<strong>do</strong>-se a interleucina (IL)<br />
8 1-beta, prostaglandina E , IL-6 e o fator de necrose<br />
2<br />
tumoral alfa (TNF-alfa) 9 .<br />
Se estas citocinas, ou mesmo os agentes infectantes,<br />
permanecessem exclusivamente no interior <strong>da</strong> bolsa<br />
perio<strong>do</strong>ntal, sem atingir a corrente sanguínea, não se<br />
justificariam preocupações buscan<strong>do</strong> relações entre<br />
<strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal e alterações sistêmicas. No entanto,<br />
sabe-se que esta disseminação pode ocorrer, sen<strong>do</strong> o<br />
exemplo mais conheci<strong>do</strong> o risco de desenvolvimento de<br />
en<strong>do</strong>cardite bacteriana após procedimentos cirúrgicos<br />
bucais em pacientes com algumas alterações cardíacas,<br />
o que levou a American Heart Association a preconizar<br />
a profilaxia antibiótica para estes casos10 .<br />
Em relação às citocinas, sabe-se que seus níveis<br />
sanguíneos podem estar aumenta<strong>do</strong>s em pacientes com a<br />
<strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal, sugerin<strong>do</strong> sua disseminação a partir<br />
destes focos. Há evidências de que, imediatamente após<br />
o tratamento perio<strong>do</strong>ntal, ocorre elevação <strong>do</strong>s níveis<br />
séricos de IL-6 e TNF-alfa11 . Este aumento poderia<br />
ser explica<strong>do</strong> de duas maneiras: pela disseminação <strong>da</strong>s<br />
citocinas durante a raspagem <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> infecta<strong>do</strong> ou<br />
pela ação circulante <strong>da</strong>s próprias bactérias, induzin<strong>do</strong><br />
produção <strong>da</strong>s citocinas sistemicamente.<br />
Doença perio<strong>do</strong>ntal e as complicações gestacionais<br />
Basean<strong>do</strong>-se na comprovação <strong>da</strong> disseminação<br />
sanguínea <strong>da</strong>s citocinas e/ou bactérias provenientes <strong>da</strong><br />
infecção perio<strong>do</strong>ntal, acredita-se haver associação entre<br />
esta afecção e o aumento <strong>do</strong> risco de algumas alterações<br />
sistêmicas, principalmente diabetes mellitus 12 e alterações<br />
cardiovasculares 6 .<br />
Pode-se sugerir, também, a relação entre a <strong>do</strong>ença<br />
bucal e outras alterações, que estão comprova<strong>da</strong>mente<br />
relaciona<strong>da</strong>s com a presença e aumento destas mesmas<br />
citocinas, como parto prematuro 13 , recém-nasci<strong>do</strong>s de<br />
baixo peso 14 e pré-eclâmpsia 15-19 . Diversos tipos de<br />
estu<strong>do</strong>s são desenha<strong>do</strong>s para buscar estas relações de<br />
risco; no entanto, conforme discuti<strong>do</strong> adiante, há fortes<br />
restrições nas conclusões destas pesquisas.<br />
Parto prematuro e recém-nasci<strong>do</strong>s de baixo peso<br />
Em 1996, um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo caso-controle com<br />
124 gestantes foi realiza<strong>do</strong> para avaliar se a <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal poderia ser considera<strong>da</strong> fator de risco para<br />
nascimento de prematuros ou de recém-nasci<strong>do</strong>s com<br />
baixo peso (
Passini Júnior R, Nomura ML, Politano GT<br />
pari<strong>da</strong>de, dentre outros), os autores usaram méto<strong>do</strong>s<br />
estatísticos para evitar a interferência de variáveis<br />
confundi<strong>do</strong>ras. To<strong>da</strong>s as gestantes tiveram o perio<strong>do</strong>nto<br />
avalia<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que aquelas <strong>do</strong> grupo de casos<br />
apresentaram piores condições perio<strong>do</strong>ntais que as <strong>do</strong><br />
grupo controle. Tal acha<strong>do</strong> foi significativo, com razão<br />
de chances de 7,9.<br />
Esta pesquisa pioneira estimulou os pesquisa<strong>do</strong>res<br />
dessa área a estu<strong>da</strong>r as relações entre <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal,<br />
prematuri<strong>da</strong>de e outras complicações gestacionais. Atualmente,<br />
centenas de trabalhos já foram publica<strong>do</strong>s neste<br />
senti<strong>do</strong>, mas os resulta<strong>do</strong>s persistem conflitantes 20 .<br />
Sugere-se que infecções podem ser considera<strong>da</strong>s um<br />
<strong>do</strong>s fatores etiológicos <strong>do</strong> parto pré-termo espontâneo 21,22 .<br />
Mesmo que a literatura considere como principais<br />
infecções relaciona<strong>da</strong>s a esta complicação gestacional<br />
aquelas <strong>da</strong> região geniturinária, não se deve desmerecer<br />
sítios infecciosos em outros locais <strong>do</strong> organismo.<br />
Focos infecciosos em ativi<strong>da</strong>de, independente <strong>da</strong><br />
relação topográfica, têm potencial de acometer outras<br />
regiões, principalmente pela corrente sangüínea 10,23 ,<br />
mas, mesmo assim, ain<strong>da</strong> não se tem certeza de que<br />
as bactérias presentes em infecções perio<strong>do</strong>ntais são<br />
realmente perigosas para a gestação.<br />
Com objetivo de resolver esta dúvi<strong>da</strong>, alguns autores<br />
realizaram pesquisa em que injetaram os lipopolissacarídeos<br />
<strong>da</strong>s principais bactérias perio<strong>do</strong>ntopatogênicas<br />
(Porphyromonas gingivalis, Actinobacillus actinomycetemcomitans,<br />
F<strong>uso</strong>bacterium nucleatum) no líqui<strong>do</strong> amniótico de<br />
ovelhas prenhas. Puderam confirmar a patogenici<strong>da</strong>de<br />
destas bactérias, demonstran<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s fetos<br />
foi a óbito. Apenas seis fetos <strong>do</strong> total de 22 infecta<strong>do</strong>s<br />
com os lipopolissacarídeos <strong>da</strong> bactéria Porphyromonas<br />
gingivalis sobreviveram e, nestes casos, foi possível observar<br />
características de inflamação presentes no líqui<strong>do</strong><br />
amniótico e no sangue <strong>do</strong> cordão umbilical 24 .<br />
Apesar <strong>do</strong> fato de estu<strong>do</strong>s em ovelhas não necessariamente<br />
poderem ser transpostos com as mesmas<br />
evidências para seres humanos, os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa<br />
devem ser considera<strong>do</strong>s. Algumas dúvi<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong><br />
permanecem: qual a quanti<strong>da</strong>de de lipopolissacarídeos<br />
que teria capaci<strong>da</strong>de de induzir alterações gestacionais<br />
em humanos? Esta quanti<strong>da</strong>de seria produzi<strong>da</strong> e dissemina<strong>da</strong><br />
a partir <strong>do</strong> perio<strong>do</strong>nto infecta<strong>do</strong>?<br />
Algumas revisões sistemáticas <strong>da</strong> literatura têm si<strong>do</strong><br />
realiza<strong>da</strong>s, buscan<strong>do</strong> encontrar evidências suficientes<br />
para confirmar estas suspeitas. A associação entre <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal e risco de parto pré-termo/nascimento de<br />
baixo peso foi avalia<strong>da</strong> em uma metanálise em 2002.<br />
Segun<strong>do</strong> os autores, poucas pesquisas puderam ser incluí<strong>da</strong>s<br />
na revisão, sen<strong>do</strong> uma <strong>do</strong> tipo coorte e duas <strong>do</strong><br />
tipo caso-controle. Apesar de concluírem que a relação de<br />
372 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):372-7<br />
risco existe, sugeriram mais pesquisas com meto<strong>do</strong>logias<br />
semelhantes, principalmente no que se refere à classificação<br />
<strong>da</strong>s alterações perio<strong>do</strong>ntais, que vem sen<strong>do</strong> muito<br />
questiona<strong>da</strong> nas diversas pesquisas publica<strong>da</strong>s 25 .<br />
Em outra revisão sistemática, os autores avaliaram<br />
se o controle <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal durante a gestação<br />
teria algum impacto sobre a iniciação ou progressão de<br />
complicações gestacionais. Após incluírem apenas 12<br />
<strong>da</strong>s 660 pesquisas encontra<strong>da</strong>s na busca bibliográfica,<br />
concluíram que a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal pode ser um fator<br />
de risco para nascimento pré-termo e/ou de baixo<br />
peso e que são necessários mais estu<strong>do</strong>s longitudinais<br />
e intervencionais, buscan<strong>do</strong> responder se as associações<br />
poderiam ser causais. Estu<strong>do</strong>s intervencionais preliminares<br />
sugerem que a terapêutica perio<strong>do</strong>ntal reduz o<br />
risco de complicações gestacionais 26 .<br />
As possíveis evidências na relação entre <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal e complicações na gestação foram avalia<strong>da</strong>s<br />
em uma revisão de 25 estu<strong>do</strong>s (13 casos-controle,<br />
nove coortes e três pesquisas clínicas), sen<strong>do</strong> que 18<br />
encontraram evidências <strong>da</strong> associação e sete não puderam<br />
confirmá-las. As três pesquisas clínicas sugeriram<br />
que o tratamento perio<strong>do</strong>ntal pode reduzir em 50% o<br />
nascimento de prematuros. Apesar destas conclusões,<br />
os autores também ressaltaram a necessi<strong>da</strong>de de padronizações<br />
meto<strong>do</strong>lógicas nas pesquisas 27 .<br />
Outros autores concluíram em uma metanálise que<br />
gestantes com <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal têm 4,2 mais chances<br />
de desenvolver parto prematuro <strong>do</strong> que as gestantes<br />
saudáveis (4,2; IC 95%=2,6 a 6,9; p
No entanto, outro estu<strong>do</strong> não confirmou esta evidência.<br />
As mulheres seleciona<strong>da</strong>s tinham entre 13 e<br />
17 semanas de gestação. As gestantes <strong>do</strong> grupo experimental<br />
(n=413) receberam tratamento antes <strong>da</strong> 21ª<br />
semana, enquanto aquelas <strong>do</strong> grupo controle (n=410),<br />
após o parto. Apesar de o tratamento melhorar as<br />
condições gengivais, não houve diferença estatística<br />
entre os grupos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s no que se refere à época de<br />
nascimento e peso <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> 20 .<br />
Há grande heterogenei<strong>da</strong>de nos estu<strong>do</strong>s disponíveis<br />
para aferir a relação <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de mensuração<br />
<strong>da</strong> <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal e os desfechos indesejáveis <strong>da</strong><br />
gestação, não sen<strong>do</strong> possível realizar metanálise. Em<br />
36 pesquisas seleciona<strong>da</strong>s, foram utiliza<strong>da</strong>s 13 diferentes<br />
definições para a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal. Pelas limitações<br />
meto<strong>do</strong>lógicas <strong>da</strong>s pesquisas, os autores não puderam<br />
afirmar adequa<strong>da</strong>s conclusões sobre o real efeito <strong>da</strong><br />
<strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal nos desfechos <strong>da</strong> gestação 31 .<br />
Pré-eclâmpsia<br />
A pré-eclâmpsia acomete 5 a 8% <strong>da</strong>s gestantes<br />
<strong>do</strong>s países em desenvolvimento e está relaciona<strong>da</strong><br />
à alta morbimortali<strong>da</strong>de materna e fetal 32 . Gestantes<br />
que desenvolvem pré-eclâmpsia têm maior<br />
risco de morte se compara<strong>da</strong>s com as pacientes sem<br />
esta condição 33 . Por outro la<strong>do</strong>, o nascimento de<br />
recém-nasci<strong>do</strong>s prematuros e/ou de baixo peso em<br />
decorrência de condições mórbi<strong>da</strong>s maternas pode<br />
causar prejuízos permanentes nas crianças, tais como:<br />
asma 34 , alterações visuais, motoras e cognitivas 35 ,<br />
dentre outras.<br />
Apesar de a etiologia <strong>da</strong> pré-eclâmpsia ain<strong>da</strong> permanecer<br />
parcialmente desconheci<strong>da</strong>, relacionam-se alguns<br />
fatores de risco, tais como: primipari<strong>da</strong>de, obesi<strong>da</strong>de,<br />
alterações renais, dentre outras. No entanto, nos últimos<br />
anos, tem-se estu<strong>da</strong><strong>do</strong> a influência <strong>da</strong>s infecções na<br />
pré-eclâmpsia, incluin<strong>do</strong>-se como possível sua relação<br />
com a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal 16 .<br />
Poucos estu<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s relacionaram o risco<br />
entre perio<strong>do</strong>ntite e pré-eclâmpsia, mas a maioria encontrou<br />
aumento <strong>do</strong> risco relativo de desenvolvimento<br />
de pré-eclâmpsia em gestantes com <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal<br />
15-19 . Mais recentemente, outros autores conduziram<br />
estu<strong>do</strong> tipo caso-controle, em que associaram a <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal com a pré-eclâmpsia, apresentan<strong>do</strong> razão<br />
de chances de 4,1 36 e 7,9 37 .<br />
Por outro la<strong>do</strong>, em pesquisa reunin<strong>do</strong> 345 pacientes<br />
(115 casos e 230 controles) não se encontrou<br />
sustentação para a relação de risco, sugerin<strong>do</strong> que as<br />
outras pesquisas talvez tenham falhas meto<strong>do</strong>lógicas,<br />
como tamanho amostral inadequa<strong>do</strong> e análises estatísticas<br />
inapropria<strong>da</strong>s 38 .<br />
Doença perio<strong>do</strong>ntal e complicações obstétricas: há relação de risco?<br />
As explicações para esta relação poderiam se basear,<br />
por exemplo, nas lesões en<strong>do</strong>teliais freqüentemente<br />
encontra<strong>da</strong>s em gestantes com pré-eclâmpsia. Sabe-se<br />
que algumas citocinas inflamatórias, principalmente<br />
o TNF-alfa, têm capaci<strong>da</strong>de de lesar o en<strong>do</strong>télio vascular<br />
39 , sen<strong>do</strong> este fator uma <strong>da</strong>s citocinas presentes e<br />
dissemina<strong>da</strong>s na <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal.<br />
Outras pesquisas encontraram patógenos perio<strong>do</strong>ntais<br />
em placas de ateroma após análises laboratoriais 40 , sugerin<strong>do</strong><br />
relação <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal com aterosclerose,<br />
sen<strong>do</strong> sugeri<strong>da</strong> também a similari<strong>da</strong>de entre as lesões<br />
vasculares placentárias e as lesões ateroscleróticas 18 .<br />
Após avaliação <strong>da</strong> presença de bactérias perio<strong>do</strong>ntopatogênicas<br />
em placentas humanas, observou-se<br />
que 50% <strong>da</strong>quelas pertencentes a gestantes com préeclâmpsia<br />
tiveram colonização positiva para Actinobacillus<br />
actinomycetemcomitans, F<strong>uso</strong>bacterium nucleatum ssp.,<br />
Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia, Tannerella<br />
forsythensis e Treponema denticola, enquanto no grupo<br />
controle (sem pré-eclâmpsia), as bactérias foram encontra<strong>da</strong>s<br />
em apenas 14,3% <strong>da</strong>s placentas, sen<strong>do</strong> estas<br />
diferenças estatisticamente significantes 41 . Esta parece<br />
ser uma evidência importante a favor <strong>da</strong> disseminação<br />
hematogênica de bactérias bucais. Interessantemente,<br />
não se descreve associação com infecção amniótica e<br />
prematuri<strong>da</strong>de neste estu<strong>do</strong>, que poderia ser uma correlação<br />
mais plausível <strong>do</strong> ponto de vista biológico <strong>do</strong><br />
que com pré-eclâmpsia.<br />
Deve-se lembrar que gestantes com pré-eclâmpsia,<br />
independente de afecções bucais, apresentam aumento<br />
<strong>do</strong>s níveis plasmáticos de algumas citocinas, tais como:<br />
IL-6 42 , IL-8 43 , TNF-alfa 44 e IL-10 43 . Este aumento seria<br />
decorrente de um esta<strong>do</strong> inflamatório generaliza<strong>do</strong>,<br />
embora a significância destas alterações na patogênese<br />
<strong>da</strong> pré-eclâmpsia ain<strong>da</strong> permaneça obscura 43 .<br />
Alguns autores analisaram a relação entre <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal e pré-eclâmpsia em revisão sistemática e,<br />
apesar de encontrarem associação entre as duas afecções,<br />
os autores sugerem mais pesquisas neste senti<strong>do</strong>, já que,<br />
até o momento, a literatura é escassa 27 .<br />
A relação de risco entre infecção perio<strong>do</strong>ntal e<br />
complicações gestacionais tem mereci<strong>do</strong> atenção na<br />
atuali<strong>da</strong>de. Há muitos resulta<strong>do</strong>s já publica<strong>do</strong>s, em<br />
que os próprios autores discutem as limitações de suas<br />
conclusões. É possível que esta situação decorra <strong>da</strong><br />
complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s complicações obstétricas, com as<br />
quais se encontraram ou se buscam associações com a<br />
<strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal. A pré-eclâmpsia, por exemplo, é<br />
uma alteração que apresenta etiologia ain<strong>da</strong> desconheci<strong>da</strong>,<br />
com diversos fatores de risco.<br />
O papel <strong>da</strong>s citocinas, principal elo entre <strong>do</strong>ença<br />
perio<strong>do</strong>ntal e complicações gestacionais, também<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):372-7<br />
373
Passini Júnior R, Nomura ML, Politano GT<br />
não foi totalmente desven<strong>da</strong><strong>do</strong>. Não se pode esquecer<br />
que o principal fator a ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong> no momento é a<br />
produção ou mesmo disseminação destas citocinas <strong>do</strong><br />
sítio perio<strong>do</strong>ntal para o sangue <strong>da</strong> gestante. Apesar <strong>da</strong><br />
dificul<strong>da</strong>de em se realizarem alguns tipos de estu<strong>do</strong>s<br />
que possam suportar com credibili<strong>da</strong>de as evidências<br />
<strong>da</strong>s associações suspeitas, é obrigatório que se desenhem<br />
novas pesquisas que avaliem a concentração exata <strong>da</strong>s<br />
citocinas capazes de causar complicações obstétricas<br />
e determinar se esta quanti<strong>da</strong>de pode ser produzi<strong>da</strong><br />
e dissemina<strong>da</strong> pelo perio<strong>do</strong>nto durante a vigência<br />
<strong>da</strong> infecção. Novos estu<strong>do</strong>s clínicos que realizem<br />
tratamento em gestantes com infecção perio<strong>do</strong>ntal<br />
também auxiliariam na correlação <strong>da</strong> diminuição <strong>da</strong><br />
taxa de complicações obstétricas e a relação com este<br />
tratamento. Os conceitos atuais apontam para etiologia<br />
multifatorial, tanto <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong>de quanto<br />
<strong>da</strong> pré-eclâmpsia, e a <strong>do</strong>ença perio<strong>do</strong>ntal pode ser um<br />
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374 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):372-7<br />
aspecto importante para mulheres com determina<strong>do</strong><br />
tipo de resposta imunológica. O estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> interação<br />
genético-ambiental é um caminho interessante para<br />
eluci<strong>da</strong>r a conexão possível entre inflamação, préeclâmpsia<br />
e prematuri<strong>da</strong>de.<br />
Embora a literatura disponível atualmente não permita<br />
concluir efetivamente que infecções bucais podem<br />
influenciar na ocorrência de complicações obstétricas, a<br />
atenção com a saúde bucal <strong>da</strong> gestante não poderá ser<br />
dispensa<strong>da</strong> durante os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s pré-natais e, se possível,<br />
pré-concepcionais. Deve-se recomen<strong>da</strong>r que to<strong>da</strong>s as<br />
mulheres grávi<strong>da</strong>s atentem para sua saúde bucal, com<br />
os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s de higiene, pesquisan<strong>do</strong> sistematicamente<br />
sangramento gengival, <strong>do</strong>r e mobili<strong>da</strong>de dentária.<br />
A avaliação o<strong>do</strong>ntológica periódica <strong>da</strong> gestante pode<br />
permitir que o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com a saúde dentária seja mais<br />
efetivo em prevenir eventuais repercussões de afecções<br />
bucais sobre sua saúde como um to<strong>do</strong>.<br />
12.<br />
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375
Marluce Tavares de Oliveira 1<br />
Carta ao editor<br />
Correspondência:<br />
E-mail: tavaresm2002@yahoo.com.br<br />
Ao Editor <strong>da</strong> RBGO<br />
Carta sobre o artigo “Preferências<br />
de mulheres brasileiras quanto a<br />
mu<strong>da</strong>nças na menstruação”<br />
Recife, junho de 2007.<br />
Entre os trabalhos originais <strong>da</strong> RBGO de fevereiro<br />
passa<strong>do</strong>, foi publica<strong>do</strong> excelente artigo de autoria de Carmen<br />
Porto Ribeiro, Ellen Hardy e Eliana Maria Hebling,<br />
“Preferências de mulheres brasileiras quanto a mu<strong>da</strong>nças<br />
na menstruação”, cujos argumentos encontram ressonância<br />
em autores que defendem a supressão medicamentosa<br />
<strong>do</strong> sangramento menstrual como estratégia que pode ser<br />
utiliza<strong>da</strong> pelas mulheres para definir o espaçamento ou<br />
até mesmo a interrupção de seus ciclos menstruais 1 .<br />
A despeito <strong>do</strong>s argumentos utiliza<strong>do</strong>s – <strong>da</strong> inutili<strong>da</strong>de<br />
ou mesmo prejuízo fisiológico produzi<strong>do</strong> por per<strong>da</strong>s sangüíneas<br />
desnecessárias – a investigação traz à baila a discussão<br />
inseri<strong>da</strong> no campo <strong>do</strong> feminismo contemporâneo, acerca <strong>do</strong><br />
direito <strong>da</strong>s mulheres sobre seus corpos 2,3 , seja na definição<br />
<strong>da</strong> sua função reprodutiva ou na possibili<strong>da</strong>de de poderem<br />
escolher quan<strong>do</strong>, como ou se desejam menstruar.<br />
A experiência acumula<strong>da</strong>, por meio de estu<strong>do</strong>s clínicos<br />
sobre a eficácia na inibição <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de en<strong>do</strong>metrial e<br />
supressão <strong>da</strong> menstruação por drogas que se inserem sob<br />
a categoria de anticoncepcionais – especialmente aqueles<br />
com baixas <strong>do</strong>sagens hormonais 4,5 –, bem como a sua tolerabili<strong>da</strong>de<br />
e a baixa ocorrência de efeitos adversos a médio e<br />
longo prazo têm fomenta<strong>do</strong> a idéia sobre a disposição de um<br />
arsenal terapêutico seguro, razoavelmente accessível e bem<br />
aceito pelas mulheres, como suas usuárias potenciais.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, alguns questionamentos se colocam:<br />
• O quão seguro, a longo prazo, pode ser considera<strong>do</strong><br />
este méto<strong>do</strong> medicamentoso para alterar o<br />
fluxo menstrual, já que o mesmo pode, em muito,<br />
ultrapassar o tempo de exposição habitual quan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> seu <strong>uso</strong> com fins contraceptivos?<br />
• Qual a relação custo/benefício para as mulheres,<br />
seja <strong>do</strong> ponto de vista financeiro (aquisição de<br />
medicamentos por longos perío<strong>do</strong>s) ou <strong>da</strong> segurança<br />
quanto aos efeitos colaterais e reações<br />
não previsíveis?<br />
• O risco potencial para a saúde pelo <strong>uso</strong> prolonga<strong>do</strong>,<br />
que pode resultar em prejuízos para a saúde <strong>da</strong> mulher<br />
que a ele se submetesse, seria compensa<strong>do</strong>, a partir<br />
<strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong>s mulheres que o utilizariam, pelo<br />
exercício <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> "liber<strong>da</strong>de feminina"?<br />
• Ou, ain<strong>da</strong>, será que a população pesquisa<strong>da</strong><br />
tem conhecimento suficiente <strong>do</strong>s riscos e<br />
benefícios para uma escolha consciente para<br />
toma<strong>da</strong> desta decisão?<br />
A transposição automática de resulta<strong>do</strong>s de investigações<br />
de base essencialmente quantitativa e com<br />
indicações diversas <strong>da</strong>s rotineiramente preconiza<strong>da</strong>s,<br />
como a interrupção voluntária <strong>da</strong> menstruação sem fins<br />
contraceptivos, depara-se, entretanto, com limitações tanto<br />
de base conceitual quanto meto<strong>do</strong>lógica, na medi<strong>da</strong> em<br />
que tais estratégias de abor<strong>da</strong>gem não são compreensivas<br />
o suficiente para apreender a constituição <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s<br />
<strong>da</strong> aceitação ou não de tais práticas.<br />
Assim, diferentes apreensões <strong>do</strong> processo saúde-<strong>do</strong>ença<br />
nas concepções populares, relaciona<strong>da</strong>s ao ciclo vital, são<br />
concebi<strong>da</strong>s como sinal de saúde – a menstruação – ou<br />
como <strong>do</strong>enças normais <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de – como reumatismo e<br />
hipertensão nos i<strong>do</strong>sos, tal como referi<strong>do</strong> pelas autoras<br />
<strong>do</strong> artigo em apreço, quanto aos resulta<strong>do</strong>s provenientes<br />
de estu<strong>do</strong> de base qualitativa: “...em estu<strong>do</strong> qualitativo,<br />
desenvolvi<strong>do</strong> por nosso grupo de pesquisa. Neste estu<strong>do</strong>,<br />
observou-se que as mulheres valorizavam a menstruação,<br />
como sinal de saúde e normali<strong>da</strong>de, e que temiam que a<br />
sua falta fosse sinal de algum tipo de anomalia” (p. 77).<br />
Embora partilhemos <strong>da</strong> idéia de que não existe<br />
qualquer conflito fun<strong>da</strong>mental na utilização de méto<strong>do</strong>s<br />
quantitativos e qualitativos 6-8 , sen<strong>do</strong>, inclusive, necessário,<br />
muitas vezes, a utilização de ambos no processo<br />
de geração de teoria sobre determina<strong>do</strong> tema, avaliamos<br />
que o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> hiato existente entre estas<br />
abor<strong>da</strong>gens parece relaciona<strong>do</strong> primordialmente à não<br />
observância <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des e limitações de ca<strong>da</strong><br />
uma delas em particular.<br />
Desta forma, ressaltamos como não suficientemente<br />
fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>, no estu<strong>do</strong> em questão, a afirmação de que<br />
1 Pós-graduan<strong>da</strong> em Saúde Materno-Infantil <strong>do</strong> Instituto Materno Infantil Professor Fernan<strong>do</strong> Figueira – IMIP – Recife (PE), Brasil; Professora<br />
Assistente <strong>do</strong> Departamento de Medicina Social <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Pernambuco – UPE – Recife<br />
(PE), Brasil; Hebeatra <strong>do</strong> Hospital <strong>da</strong>s Clínicas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE), Brasil.
“nossos resulta<strong>do</strong>s dão apoio à nova proposta de que<br />
regular a menstruação, com outros intervalos, poderia<br />
também ser bem aceita por uma parte <strong>da</strong>s potenciais<br />
usuárias. Isto se consegue com particular eficácia com<br />
a pílula de ciclo longo, habitualmente de três meses.<br />
Provocar amenorréia com méto<strong>do</strong>s anticoncepcionais<br />
de longa duração com progestágeno puro já não é tão<br />
consistente.” (p.78), na medi<strong>da</strong> em que, pela análise<br />
<strong>do</strong>s objetivos e resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s neste artigo, tais<br />
aspectos não foram investiga<strong>do</strong>s. Ademais, pelo fato <strong>do</strong><br />
estu<strong>do</strong> incorporar, de forma proporcional, mulheres em<br />
grupos de i<strong>da</strong>de (18-20, 25-34 e 45-49 anos), e anos de<br />
escolari<strong>da</strong>de (12 anos) diferentes, frustrounos<br />
a expectativa de análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s<br />
por estas variáveis, já que o nível de escolari<strong>da</strong>de e o fato<br />
de pertencer a coortes de i<strong>da</strong>de diferentes (mulheres que<br />
nasceram em plena era <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “revolução sexual”,<br />
junto a outras para as quais as conquistas feministas já<br />
se encontravam bem mais consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s) pode exercer<br />
impacto diferente sobre as respostas às questões de pesquisa<br />
investiga<strong>da</strong>s.<br />
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Preza<strong>do</strong> Dr. Jurandyr,<br />
ellen Hardy<br />
Resposta <strong>do</strong> autor<br />
Correspondência:<br />
E-mail: hardy@tunicamp.br<br />
Campinas, 20 de junho de 2007.<br />
Agradecemos o interesse <strong>da</strong> Dra. Marluce Tavares<br />
de Oliveira que analisa com tanto cui<strong>da</strong><strong>do</strong> nosso ar-<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Por outro la<strong>do</strong>, mais uma vez, gostaríamos de enfatizar<br />
a riqueza <strong>da</strong> temática de pesquisa enfoca<strong>da</strong> pelas autoras<br />
cujo estu<strong>do</strong>, ora analisa<strong>do</strong>, também contribui para o<br />
debate <strong>do</strong> tema na busca de evidências para apreensão <strong>da</strong><br />
existência ou não de sensibilização ao <strong>uso</strong> de drogas anticoncepcionais<br />
para prolongamento <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> menstrual<br />
pelas mulheres e, ao mesmo tempo, concor<strong>da</strong>r com elas<br />
quanto ao fato de que “a motivação <strong>da</strong>s mulheres parece<br />
corresponder a um processo mais complexo, que forma<br />
parte <strong>do</strong> conceito de que a mulher já não é mais obriga<strong>da</strong><br />
a cumprir com funções biológicas como engravi<strong>da</strong>r, <strong>da</strong>r à<br />
luz, amamentar e engravi<strong>da</strong>r novamente durante to<strong>da</strong> sua<br />
vi<strong>da</strong> fértil. Liberar-se dessa função biológica, obrigatória<br />
para nossas antepassa<strong>da</strong>s, foi uma <strong>da</strong>s grandes conquistas <strong>da</strong><br />
chama<strong>da</strong> “liberação feminina”. Aparentemente, liberar-se<br />
<strong>da</strong> “obrigação” de menstruar vem a ser como uma segun<strong>da</strong><br />
etapa dessa liberação de condicionantes biológicos típicos<br />
de ser mulher” (p.78).<br />
6.<br />
7.<br />
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Atenciosamente,<br />
Marluce Tavares de Oliveira<br />
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Pública. 2005;39(3):507-14.<br />
Minayo MCS. O desafio <strong>do</strong> conhecimento: pesquisa qualitativa<br />
em saúde. 8ª ed. São Paulo: Hucitec; 2004.<br />
Oliveira CD. O papel <strong>da</strong> inovação no processo <strong>da</strong> estratégia: uma<br />
pesquisa qualitativa em empresas emergentes de base tecnológica<br />
no Brasil [tese]. Rio de Janeiro: Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio de<br />
Janeiro; 2003.<br />
tigo 1 . Para maior clareza, tentaremos responder seus<br />
questionamentos ponto a ponto.<br />
1. Os quatro primeiros questionamentos <strong>da</strong> <strong>do</strong>utora<br />
Oliveira referem-se à segurança e ao custo <strong>do</strong> <strong>uso</strong><br />
de medicamentos para regular o fluxo menstrual<br />
por tempo prolonga<strong>do</strong>. O trabalho refere-se ao<br />
Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):378-80<br />
377
Marluce Tavares de Oliveira<br />
<strong>uso</strong> de hormônios como anticoncepcionais que<br />
poderiam também regular o ciclo menstrual.<br />
O <strong>uso</strong> prolonga<strong>do</strong> de méto<strong>do</strong>s hormonais em<br />
forma continua é assunto que tem si<strong>do</strong> objeto<br />
de pesquisas e escapa ao objetivo <strong>do</strong> nosso<br />
estu<strong>do</strong> 2 . De to<strong>da</strong> forma, o tempo de avaliação<br />
de <strong>uso</strong> contínuo de méto<strong>do</strong>s anticoncepcionais<br />
hormonais é ain<strong>da</strong> escasso e são necessários mais<br />
<strong>da</strong><strong>do</strong>s para poder assegurar que não trazem<br />
nenhum risco para a saúde.<br />
2. Não entendemos a frase “A transposição automática<br />
de resulta<strong>do</strong>s de investigações de base...<br />
quantitativa e com indicações diversas <strong>da</strong>s...<br />
preconiza<strong>da</strong>s, como a interrupção voluntária<br />
<strong>da</strong> menstruação, sem fins contraceptivos.”<br />
Novamente, insistimos que, no trabalho, não foi<br />
indica<strong>da</strong> “a interrupção voluntária <strong>da</strong> menstruação, sem<br />
fins contraceptivos.” Se “transposição automática” se<br />
refere à extrapolação ao universo de nossos resulta<strong>do</strong>s,<br />
deixamos claro, na página 78, que isso não é possível,<br />
tanto pelas razões aduzi<strong>da</strong>s pela <strong>do</strong>utora Oliveira quanto<br />
pela limitação geográfica e numérica <strong>da</strong> amostra.<br />
3. Compartilhamos os conceitos <strong>da</strong> <strong>do</strong>utora Oliveira<br />
nos três parágrafos seguintes. A frase de nosso<br />
trabalho a que faz referência corresponde a um<br />
outro estu<strong>do</strong> com outra população, totalmente<br />
independentes <strong>da</strong> que estamos apresenta<strong>do</strong> e que<br />
não tem contradição real com os deste estu<strong>do</strong>.<br />
Referências<br />
378 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):378-80<br />
4. Discor<strong>da</strong>mos que não está suficientemente<br />
fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> que os “resulta<strong>do</strong>s dão<br />
apoio à proposta de que regular a menstruação<br />
com outros intervalos poderia ser bem aceita<br />
por uma parte <strong>da</strong>s potenciais usuárias (de anticoncepcionais).”<br />
Não é possível ignorar que<br />
apenas 23,5% <strong>da</strong>s mulheres manifestaram preferir<br />
menstruações mensais e que 40% gostariam de<br />
ter intervalos mais prolonga<strong>do</strong>s. É difícil não<br />
concluir que esse resulta<strong>do</strong> sugere fortemente<br />
que muitas mulheres vão aceitar “a pílula de<br />
ciclo longo, habitualmente de três meses”.<br />
5. Referente aos grupos etários e à escolari<strong>da</strong>de, foram<br />
justamente escolhi<strong>do</strong>s para evitar que os resulta<strong>do</strong>s<br />
fossem enviesa<strong>do</strong>s se, por acaso, incluísse apenas<br />
determina<strong>do</strong> grupo etário ou de escolari<strong>da</strong>de. Se o<br />
tamanho amostral pudesse ter si<strong>do</strong> muito maior,<br />
evitaria-se a necessi<strong>da</strong>de de escolha de grupos<br />
específicos; entretanto, essa possibili<strong>da</strong>de estava<br />
fora <strong>do</strong>s recursos disponíveis.<br />
Terminamos agradecen<strong>do</strong> a concordância com<br />
nossa apreciação referente à motivação <strong>da</strong>s mulheres<br />
no último parágrafo de sua carta.<br />
Atenciosamente,<br />
Profa. Dra. Ellen Hardy<br />
Departamento de Tocoginecologia<br />
FCM/ UNICAMP<br />
1. Ribeiro CP, Hardy E, Hebling EM. Preferências de mulheres 2.<br />
Meirik O, Farley TM, Sivin I. Safety and efficacy of levonorgestrel<br />
brasileiras quanto a mu<strong>da</strong>nças na menstruação. Rev Bras Ginecol<br />
implant, intrauterine device, and sterilization. Obstet Gynecol.<br />
Obstet. 2007; 29(2):74-9.<br />
2001; 97(4):593-547.
Autor:<br />
Sérgio PodgAec<br />
orientA<strong>do</strong>r:<br />
Prof. dr. MAuricio SiMõeS Abrão<br />
Resumo de tese<br />
Palavras-chave<br />
En<strong>do</strong>metriose<br />
Imunologia<br />
Cirtocinas<br />
Autor:<br />
LeiLA MAriA geroMeL <strong>do</strong>tto<br />
orientA<strong>do</strong>r:<br />
ProfA. drA. MArLi ViLLeLA MAMede<br />
Resumo de tese<br />
Palavras-chave<br />
Equipe de enfermagem<br />
Parto<br />
Enfermagem obstétrica<br />
Competência profissional.<br />
Padrões de resposta imune em pacientes<br />
com en<strong>do</strong>metriose<br />
Immune response patterns in patients with en<strong>do</strong>metriosis<br />
Tese apresenta<strong>da</strong> ao Programa de Pós-Graduação <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, Área de<br />
Concentração Obstetrícia e Ginecologia, para obtenção <strong>do</strong> Título de Doutor em Medicina, em 12 de setembro de 2006.<br />
ObjetivO: analisar a relação e a pre<strong>do</strong>minância <strong>da</strong>s respostas imunes Th1 e Th2 em pacientes com en<strong>do</strong>metriose.<br />
MétOdOs: entre fevereiro de 2004 e abril de 2005, foram avalia<strong>da</strong>s 98 pacientes dividi<strong>da</strong>s em <strong>do</strong>is grupos de<br />
acor<strong>do</strong> com a presença (Grupo A) ou ausência de en<strong>do</strong>metriose (Grupo B), confirma<strong>da</strong> histologicamente. Foram<br />
coleta<strong>do</strong>s sangue periférico e flui<strong>do</strong> peritoneal de to<strong>da</strong>s as pacientes para a <strong>do</strong>sagem de interleucinas (IL) 2, 4 e 10,<br />
fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa) e interferon-gama (IFN-gama) por citometria de fluxo. Além <strong>da</strong> presença <strong>da</strong><br />
en<strong>do</strong>metriose, foram analisa<strong>do</strong>s a fase <strong>do</strong> ciclo menstrual, o quadro clínico, o estadiamento, o local de acometimento<br />
e a classificação histológica <strong>da</strong> moléstia. ResultadOs: observou-se elevação significante nos valores de interferongama<br />
(mediana de 1,5 pg/mL no Grupo A e de 0,4 pg/mL no Grupo B, p=0,03) e de interleucina-10 (mediana de<br />
38,6 pg/mL no Grupo A e de 15,7 pg/mL no Grupo B, p=0,03) medi<strong>do</strong>s no flui<strong>do</strong> peritoneal <strong>da</strong>s pacientes com<br />
en<strong>do</strong>metriose em relação àquelas sem a <strong>do</strong>ença. As pacientes com en<strong>do</strong>metriose apresentaram alteração significativa na<br />
relação <strong>da</strong>s concentrações de IL-4/IFN-gama (p
Autor:<br />
VilmA GuimArães de men<strong>do</strong>nçA<br />
orientA<strong>do</strong>r:<br />
Prof. dr. feliPe rinAld BArBosA lorenzAto<br />
Co-orientA<strong>do</strong>r:<br />
ProfA drA. mAriA José BezerrA GuimArães<br />
Resumo de tese<br />
Palavras-chave<br />
Mortali<strong>da</strong>de<br />
Câncer de colo <strong>do</strong> útero<br />
Câncer <strong>do</strong> útero<br />
Investigação de óbitos<br />
Perfil epidemiológico<br />
Tendência temporal<br />
Autor:<br />
sAndrA reGinA mArques CArVAlho<br />
orientA<strong>do</strong>r:<br />
Prof. dr. Aderson tAdeu Berezowski<br />
Resumo de tese<br />
Palavras-chave<br />
Ecocardiografia Fetal<br />
Primeiro Trimestre<br />
Ultra-sonografia Transvaginal<br />
Gravidez Normal<br />
Diagnóstico Pré-natal<br />
380 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(7):383<br />
Mortali<strong>da</strong>de por câncer de colo <strong>do</strong> útero<br />
na ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife: tendência temporal<br />
Mortality due to cancer of the uterine cervix in the city of Recife: a time trend<br />
Dissertação apresenta<strong>da</strong> ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Materno Infantil <strong>do</strong> IMIP para a obtenção <strong>do</strong> grau<br />
de Mestre, em 11 de novembro de 2006.<br />
ObjetivOs: analisar a tendência temporal <strong>do</strong>s coeficientes de mortali<strong>da</strong>de (CM) por câncer de colo <strong>do</strong> útero, incorporan<strong>do</strong><br />
a influência <strong>do</strong>s óbitos por câncer em porção não especifica<strong>da</strong> <strong>do</strong> útero (PNE). MétOdOs: realizou-se uma série temporal;<br />
foram incluí<strong>do</strong>s os 1.539 óbitos por câncer de colo e 717 por câncer em PNE <strong>do</strong> útero, em residentes no Recife,<br />
ocorri<strong>do</strong>s entre 1980 e 2004. Teve-se como fonte de <strong>da</strong><strong>do</strong>s o Sistema de Informação sobre Mortali<strong>da</strong>de. Inicialmente,<br />
foram investiga<strong>do</strong>s os 125 óbitos por câncer em PNE, ocorri<strong>do</strong>s entre 2000 e 2004, quanto à localização primária,<br />
por meio de consulta a prontuários, SVO, Registro de Câncer de Base Populacional e médico assistente, crian<strong>do</strong>-se um<br />
fator de correção que foi aplica<strong>do</strong> à série <strong>do</strong>s óbitos por câncer de colo. Obtiveram-se os CM bruto, padroniza<strong>do</strong>s e<br />
corrigi<strong>do</strong>. Na análise <strong>da</strong> evolução temporal <strong>do</strong>s CM, inclusive os por faixa etária, empregou-se a técnica de regressão<br />
linear. ResultadOs: <strong>do</strong>s óbitos em PNE investiga<strong>do</strong>s, 49,6% correspondiam a colo <strong>do</strong> útero. A partir desta proporção,<br />
estimou-se um acréscimo de 362 óbitos por câncer de colo a série. Houve uma tendência decrescente de to<strong>do</strong>s os CM<br />
com R 2 entre 40,1 e 75,4% e p