Emma Wildes TraÃda pelo Destino - Recursos.portoeditora.pt
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<strong>Emma</strong> <strong>Wildes</strong><br />
Traída <strong>pelo</strong> <strong>Destino</strong><br />
Tradução<br />
Maria José Santos<br />
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Este livro é dedicado às leitoras que se apaixonaram<br />
por Damien Northfield. Tenho de confessar que eu<br />
própria me perguntei como se sairia o irmão mais<br />
novo do duque de Rolthven quando encontrasse<br />
a mulher certa.<br />
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Agradecimentos<br />
Agradeço sinceramente a Kerry Donovan pela forma como edita, com<br />
uma pitada de humor e muita sabedoria. Como sempre, saúdo Barbara<br />
Poelle, que não poderia ser melhor agente.<br />
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Capítulo 1<br />
Londres, 1816<br />
Uma biblioteca, descobrira, era um sítio agradável para se estar sentada<br />
durante um baile formal.<br />
Em primeiro lugar, era sossegado, pensou Lady Lillian Bourne, satisfeita,<br />
recostando ‐se nas almofadas confortáveis. Era verdade que talvez tivesse<br />
apenas vinte minutos, no máximo – se fosse especialmente ousada –, mas<br />
precisava da pausa e, embora a orquestra mal se ouvisse em pano de fundo,<br />
<strong>pelo</strong> menos não era assaltada por conversas e música de todos os lados. Não<br />
que fosse avessa a socializar; era mais o facto de preferir paz e sossego…<br />
No preciso instante em que pensava no quanto detestava a pressão<br />
de tanto barulho e de tanta gente junta, a biblioteca, de súbito, perdeu o<br />
seu estatuto de refúgio solitário.<br />
A porta abriu ‐se, fechou ‐se e voltou a abrir ‐se quase de imediato.<br />
Lily poderia jurar ter ouvido uma praga murmurada numa voz funda,<br />
masculina, contendo uma palavra intrigante que ela não reconhecia.<br />
– Era para aqui que vínheis, senhor?<br />
A segunda pessoa que falou era uma mulher e a pergunta deixava<br />
transparecer uma sensual entoação feminina. Sentada no canapé forrado<br />
a veludo, numa pose despreocupada e pouco própria para uma senhora,<br />
com as pernas cruzadas ao nível dos tornozelos, Lily teve de resistir ao<br />
impulso de se endireitar para ver quem entrara na sala, mas não estava<br />
assim tão ansiosa por ser descoberta, por isso não se mexeu.<br />
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<strong>Emma</strong> <strong>Wildes</strong><br />
– Sim, para conseguir estar alguns minutos sozinho.<br />
A forte ênfase naquela última palavra passou despercebida à companheira.<br />
O riso da mulher era musical e leve.<br />
– Sois sempre tão brincalhão?<br />
– Sou? – A voz do lorde, quem quer que ele fosse, era seca sem ser ofensiva,<br />
apenas brusca. – Não sabia. Em que posso ajudar ‐vos, Lady Piedmont?<br />
Lady Piedmont? A mulher do homem que alguns especulavam poder<br />
vir a ser o próximo primeiro ‐ministro? Interessante. Lily não se limitava<br />
a seguir os jornais da sociedade; tinha também o cuidado de prestar<br />
atenção às maquinações políticas do sistema de governo inglês e conhecia<br />
bem o nome.<br />
– Penso que sabeis muito bem por que vos segui.<br />
Lady Piedmont podia não ser tão sofisticada como se dizia, mas era<br />
difícil não reparar naquela inflexão sensual murmurada. O tom baixo<br />
e ardente, que lhe dizia que a mulher não queria, de forma alguma, ver<br />
a sua presença ali ser conhecida, e a ausência de resposta indicava poder<br />
estar a acontecer algum tipo de contacto físico.<br />
Como diabo se colocava nestas situações?, perguntou ‐se Lily com um<br />
misto de irritação e constrangimento. Quisera apenas alguns minutos de<br />
paz e sossego antes de ter de enfrentar o olhar pasmado de toda a sociedade,<br />
que não conseguia esconder o interesse ávido em todos os seus<br />
movimentos, não fosse ela tropeçar de novo.<br />
Cair em desgraça uma vez já fora demasiado.<br />
– Miriam – disse o homem desconhecido, a voz um pouco mais funda –,<br />
parai. Recuso ‐me a cooperar.<br />
– Ah, mas há provas do contrário. O vosso pénis está a tornar ‐se<br />
rígido, querido.<br />
– Uma mulher bonita está empenhada em desabotoar ‐me as bragas.<br />
Penso que, com a maior parte dos homens, haveria uma reacção física<br />
previsível, mas isso não significa que eu queira que isto vá mais longe.<br />
– Não. Diz ‐se que sois extraordinariamente bem dotado. Estou bastante<br />
ansiosa por verificar, eu própria, isso mesmo. – As palavras foram<br />
ditas num murmúrio muito baixo e persuasivo.<br />
– Santo Deus, vós, mulheres, não tendes nada melhor para discutir?<br />
Lamento, mas não estou interessado em saciar ‐vos a curiosidade.<br />
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Lady Piedmont não se deixou desencorajar. Muito ofegante, disse:<br />
– Beijai ‐me de novo.<br />
– Não vos beijei da primeira vez – argumentou ele. – Vós é que me<br />
beijastes. É muito diferente, minha querida.<br />
Lily não podia mais conter o impulso, erguendo ‐se com cuidado para<br />
espreitar por cima das costas do canapé. A sala era ampla e comprida e<br />
ela encontrava ‐se na sombra, na extremidade mais distante. O lorde assediado,<br />
mas ainda por identificar encontrava ‐se, sem dúvida, ocupado a<br />
defender ‐se da sua sedutora determinada e com certeza que a atenção<br />
de Lady Piedmont estava concentrada na sua presa, por isso Lily duvidava<br />
que a vissem.<br />
De facto, lá estava a muito bonita Lady Piedmont, que talvez já não se<br />
encontrasse na flor da idade, mas que, ainda assim, podia encostar a maior<br />
parte das jovens inocentes a um canto, com o seu cabelo ruivo flamejante<br />
e as suas formas generosas, e um homem bem ‐vestido, cujas mãos, neste<br />
momento, lhe prendiam os pulsos, numa tentativa óbvia de a impedir de<br />
alcançar a finalidade de lhe desapertar a roupa. A senhora em questão ainda<br />
se encontrava comprimida, de forma muito sugestiva, contra ele, encostado<br />
a uma das estantes. Se se tratasse de uma jovem senhora relutante abordada<br />
por um homem, Lily teria agarrado numa arma à mão como, por exemplo,<br />
a pesada jarra chinesa sobre a mesa à sua direita, e teria ido em seu socorro,<br />
mas, a julgar <strong>pelo</strong> que via, o objecto do desejo de Lady Piedmont era alto e<br />
de ombros largos e parecia mais do que capaz de tomar conta de si próprio.<br />
– Sinto ‐me lisonjeado com o vosso interesse – disse ele com uma<br />
pitada de humor –, mas a nossa ausência simultânea do salão de baile será<br />
notada. Penso que é mais do que prudente o vosso regresso o quanto antes.<br />
– A prudência nunca foi a minha principal virtude.<br />
Lily podia acreditar nisso, sobretudo devido à forma como a mulher<br />
estava colada a ele. Virtude não se aplicava. Veio ‐lhe à cabeça a palavra<br />
descarada.<br />
– Quereis mesmo tornar ‐vos o alvo de uma saraivada de mexericos?<br />
Não, pensou Lily com base na sua própria experiência, acreditai que<br />
não quereis.<br />
– Podemos discutir isto… mais tarde, então? Num outro local mais<br />
discreto?<br />
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– Não.<br />
– Querido, eu…<br />
– Não. – O tom de voz dele era delicado, talvez até indulgente, mas<br />
havia uma determinação implacável subjacente à recusa.<br />
– Por que não? – Denotava ‐se na pergunta um nítido tom de amuo,<br />
que, <strong>pelo</strong> menos, indicava que ela compreendia, por fim, a seriedade na<br />
voz dele ao dizer não.<br />
– Por uma miríade de razões.<br />
Lily sentiu de imediato admiração por ele. Afinal, não era que a maior<br />
parte dos homens da sociedade não cedesse a casos amorosos fortuitos,<br />
mas a recusa daquele lorde não era atenuada por uma variedade de explicações.<br />
Ele não se deu ao trabalho de oferecer as suas razões. Não era não.<br />
Que bom para ele.<br />
Então o homem libertou os pulsos de Lady Piedmont e levantou ‐a,<br />
apesar do resfolgo indignado da reacção dela, e depositou ‐a no corredor,<br />
antes de voltar a entrar, fechando depressa a porta e girando a chave<br />
na fechadura.<br />
Lily baixou ‐se antes de ele se virar, ouvindo ‐o murmurar:<br />
– Que diabo! É melhor que haja brande algures por aqui.<br />
Havia. O tabuleiro com o decantador e os copos encontrava ‐se numa<br />
pequena secretária polida muito próxima do local onde estava sentada<br />
a perguntar ‐se como podia o destino ser tão ardiloso ao ponto de<br />
arquitectar um cenário onde ela, que se esforçava com tanta meticulosidade<br />
por evitar qualquer situação que pudesse ser da menor indiscrição,<br />
se encontrasse de repente fechada numa sala com um cavalheiro<br />
desconhecido.<br />
A sua reputação não sobreviveria a outro escândalo.<br />
Se tivesse havido uma forma de escapar pela janela, ou talvez de se<br />
esconder debaixo de uma conveniente cadeira, tê ‐lo ‐ia feito, mas ele<br />
movimentava ‐se na sua direcção a passo determinado, e a respiração<br />
prendeu ‐se ‐lhe na garganta.<br />
Raios, como diria o irmão mais velho, Jonathan. Que situação<br />
embaraçosa.<br />
Mas, por outro lado, não era como se tivesse feito alguma coisa de<br />
errado, a não ser o mesmo que o seu companheiro indesejado pretendia<br />
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fazer – procurar uma pequena pausa do baile. Não era culpa sua ter atraí ‐<br />
do a importuna Lady Piedmont.<br />
Não havia nada a fazer senão enfrentar a situação com audácia.<br />
O leve e elusivo odor a violetas que detectara ao entrar na sala fora<br />
a pista inicial que lhe dissera haver ali mais alguém. A fragrância adocicada<br />
era mais subtil do que o perfume opressivo a gardénia que Lady<br />
Piedmont usava, mas distinguia ‐se na perfeição e, numa biblioteca impregnada<br />
do odor a couro coberto de pó e a papel em lenta deterioração,<br />
era deslocada.<br />
Depois, houve o subtil sussurrar da seda, à medida que ela se mexia,<br />
denunciando ‐lhe a localização, um canapé que fazia parte de um pequeno<br />
grupo de assentos junto às janelas altas, ao fundo da sala, onde imaginava<br />
que, se alguém ali se instalasse para uma sossegada leitura vespertina<br />
à luz do dia, teria uma bonita vista sobre o jardim.<br />
O local exacto que ele teria escolhido. Já neste momento, pensou<br />
Lorde Damien Northfield, se sentia intrigado com a senhora misteriosa<br />
que imaginava encontrar ‐se num ligeiro estado de pânico devido à descoberta<br />
inevitável que fizera. Também o adivinhava porque, embora o<br />
som da orquestra no salão de baile ainda ali chegasse vagamente, a respiração<br />
acelerada dela era audível por alguém que passara uma grande<br />
parte da Guerra da Península a usar todos os cinco sentidos para se<br />
manter vivo.<br />
O olfacto e a audição estavam muito bem, mas a visão, o tacto e o paladar<br />
costumavam ser os mais interessantes. Este começo era promissor…<br />
Damien conseguia compreender por que motivo não anunciara a sua<br />
presença quando chegara, seguido da ardente Lady Piedmont, mas a verdadeira<br />
questão, para começar, era: por que se escondia na biblioteca?<br />
Uma vez que precisava do brande e porque estava interessado na<br />
resposta a essa pergunta, percorreu o comprimento da sala a claudicar,<br />
a maldita perna doendo ‐lhe a cada passo. A ferida estava curada,<br />
mas os médicos tinham sido muito honestos em relação ao ferimento,<br />
e com razão. Nunca mais voltaria a andar como dantes. Era, em suma,<br />
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um incómodo dos diabos. Numa voz neutra, sem sequer olhar para o<br />
canapé, Damien disse:<br />
– Boa noite.<br />
Houve um curto silêncio, pontuado apenas <strong>pelo</strong> tinido que produziu<br />
ao retirar a tampa do decantador e, em seguida, <strong>pelo</strong> ruído do líquido<br />
a cair num pequeno copo de cristal.<br />
– Sabíeis que estava aqui?<br />
Damien acrescentou a voz suave às impressões que já possuía sobre ela.<br />
Gostou do ritmo e da cadência da pergunta. A senhora misteriosa falava<br />
num contralto encantador, modulado, e, embora fosse tentador virar‐<br />
‐se para ver como era, negou ‐se a fazê ‐lo, tomando um gole do copo.<br />
O brande, conforme descobriu com agrado, era muito macio, do melhor<br />
que a França tinha para oferecer.<br />
– Sim.<br />
Ela endireitou ‐se. Damien soube ‐o <strong>pelo</strong> som dos pés a tocarem no<br />
chão e <strong>pelo</strong> leve – quase inaudível – chiar das molas do canapé.<br />
– Por que não dissestes nada?<br />
– E vós, por que não dissestes? – O brande era inebriante e ele fez girar<br />
o líquido uma vez, antes de tomar um segundo gole, virando ‐se devagar.<br />
A sua primeira impressão foi que a espia silenciosa era deslumbrante.<br />
Não, não era bonita, <strong>pelo</strong> menos não como Lady Piedmont, com<br />
os seus seios generosos e cabelo flamejante, mas… diferente. Atraente.<br />
Memorável, até. O cabelo de uma cor viva que, à luz insuficiente, parecia<br />
castanho ‐claro com reflexos dourados, e o corpo esbelto sem ser<br />
demasiado volu<strong>pt</strong>uoso, o que era bastante agradável, e a pele clara e<br />
suave. O vestido que usava era desprovido de adornos de fitas e rendas,<br />
sendo, em vez disso, simples mas elegante, o decote a realçar as<br />
curvas delicadas dos seios, o cor ‐de ‐rosa a compensar a suavidade da<br />
cor da pele.<br />
O queixo bem ‐feito estava inclinado, em jeito de desafio.<br />
Devia ser uma falha pessoal na sua própria constituição intelectual,<br />
mas achava aquele ar combativo fascinante.<br />
– Eu já cá estava.<br />
Era um argumento válido, por isso, Damien encolheu os ombros, mas<br />
estava a observá ‐la. Alguma vez se libertaria desse hábito? Santo Deus,<br />
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esperava bem que sim. Estava sempre a observar. Isso não era uma opção<br />
na existência que acabara de deixar e não estava a ser ‐lhe fácil ins ta lar‐<br />
‐se nesta nova. Mas não queria passar o resto da vida alerta e em guarda.<br />
Na verdade, até tinha sorte em estar vivo.<br />
– Sim, estáveis. – Damien tomou outro trago da bebida. Fizera inúmeros<br />
interrogatórios e dizia ‐se que era muitíssimo bom nisso. De facto,<br />
sabia que era. – Uma vez que não há ninguém para nos apresentar, e como<br />
acabastes de assistir a uma cena bastante pessoal, penso que a informalidade<br />
se apropria à ocasião. – Fez uma leve vénia. – Lorde Damien Northfield,<br />
ao vosso dispor.<br />
Houve uma perce<strong>pt</strong>ível hesitação, e, em seguida, numa voz fria, ela disse:<br />
– Lady Lillian Bourne.<br />
Damien não regressara à sociedade há tempo suficiente para ter tomado<br />
conhecimento dos mexericos que circulavam, não que ele, de qualquer<br />
modo, se preocupasse assim tanto com os pecados por norma superficiais<br />
da aristocracia, depois de tantos anos sangrentos passados em Portugal<br />
e em Espanha, mas havia alguma coisa naquela voz dizendo ‐lhe que ela<br />
pensava poder o nome significar algo para ele.<br />
Na realidade, significava. Pertencia ‐lhe a ela. Lillian. Gostava do nome.<br />
Era elegante, sem, no entanto, ser demasiado cerimonioso.<br />
– Posso oferecer ‐vos as minhas desculpas <strong>pelo</strong> que ouvistes? – Era o<br />
mínimo que podia fazer, pois se ela fosse uma jovem senhora solteira,<br />
e ele apostaria a vida que o era, aquele não fora o diálogo mais apropriado.<br />
– Parece ‐me que não fostes vós o indecoroso, senhor.<br />
Bonita e inteligente. O tom seco daquela observação não lhe passou<br />
despercebido.<br />
– Estava a fazer os possíveis por dissuadi ‐la – concordou ele com um<br />
leve sorriso que esperava que fosse desarmante.<br />
– Ela é muito bonita.<br />
Damien ficou um pouco surpreendido perante a franqueza dela.<br />
– Sim – voltou a fazer girar o líquido no copo, tomou um gole e em<br />
seguida desenvolveu: – Mas a perseguição descarada não me atrai. Já fui<br />
perseguido o suficiente.<br />
A iluminação era fraca, mas ele detectou ‐lhe o brilho de surpresa nos<br />
olhos. Lady Lillian disse:<br />
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– Essa afirmação é interessante. Ainda estamos a falar de mulheres<br />
entusiásticas que se atiram para os vossos braços?<br />
– Não.<br />
– Foi o que pensei.<br />
Qualquer outra pessoa teria apenas perguntado por que motivo não se<br />
encontrava ela no salão de baile a dançar até lhe doerem os pés, mas raras<br />
vezes seguia por um caminho directo para obter informações. Os seus<br />
métodos eram muito mais subtis.<br />
– Embora já não esteja acostumado ao funcionamento do ton.<br />
Lady Lillian descobriu então, não era previsível. Estava à espera que ela<br />
comentasse ter ouvido falar dele ou que lhe perguntasse por que estivera<br />
ausente do círculo exaltado que mencionara, mas ela não fez nenhuma<br />
das coisas. Em vez disso, levantou ‐se numa agitação de seda cor ‐de ‐rosa<br />
e perfume de violetas.<br />
– Tenho de voltar ao baile e não posso ser vista a sair da mesma sala<br />
que vós. Por mais improvável que fosse alguém estar a observar a biblioteca,<br />
far ‐me ‐íeis, mesmo assim, o favor de esperar um razoável intervalo<br />
de tempo antes de voltardes para a festa?<br />
E agora que a noite acabara de adquirir um caloroso brilho novo, ela<br />
desejava sair.<br />
Por sorte, ele era mestre em negociações.<br />
O sorriso que Damien esboçou era afável.<br />
– Com certeza – fez uma pausa –, se me disserdes por que preferis<br />
esta biblioteca escura à festa.<br />
– Colocais condições para serdes um cavalheiro?<br />
Damien não pestanejou.<br />
– Sem dúvida. Penso que descobrireis que coloco condições em<br />
tudo.<br />
A estratégia costumava ser uma questão simples. Julga o adversário<br />
e reage em conformidade.<br />
– Descobrirei? – repetiu ela com delicadeza, e, na realidade, ele próprio<br />
achou a frase estranha.<br />
Damien Northfield, que era possível ter, outrora, sido mais importante<br />
para a campanha na Península Ibérica do que até o duque de Wellington,<br />
não sabia bem como responder.<br />
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– Se voltarmos a encontrar ‐nos – explicou ele, ambíguo, e observou ‐a<br />
a acenar com a cabeça e a movimentar ‐se com graciosidade em direcção<br />
à porta.<br />
Gostava do oscilar das ancas dela.<br />
Admirava ‐lhe também a curva das costas e a cor suave do cabelo à<br />
luz do candeeiro.<br />
Oh, sim, prometeu em silêncio, voltaremos a encontrar ‐nos.<br />
Porque ela não lhe respondera à pergunta.<br />
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