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Perguntas e Respostas da Pesquisa Qualitativa - Georeferencial

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Anexo B:<br />

<strong>Perguntas</strong> e <strong>Respostas</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesquisa</strong> <strong>Qualitativa</strong><br />

239


Primeira Pergunta: O geoprocessamento, numa definição sintética, é a ciência e a<br />

tecnologia que, hodiernamente, trata <strong>da</strong>s representações do espaço geográfico. Desta forma, ele<br />

contempla em suas ativi<strong>da</strong>des iniciais a coleta de <strong>da</strong>dos para a construção <strong>da</strong>s representações<br />

(sensoriamento remoto e levantamentos diversos, p.ex.); numa fase subseqüente, a construção<br />

dessas representações (computacionais ou não) em linguagem gráfica; para finalmente, em suas<br />

mais modernas manifestações, promover a intensa análise <strong>da</strong>s informações geográficas<br />

produzi<strong>da</strong>s, como no caso <strong>da</strong>s aplicações em SIG.<br />

Parece adequado considerar que há o concurso <strong>da</strong>s seguintes ciências à base do seu<br />

conhecimento: num primeiro momento, é necessário o conhecimento <strong>da</strong> natureza do espaço<br />

geográfico, para que possa haver uma adequa<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> dimensão espacial do fenômeno<br />

a representar. É portanto a ciência <strong>da</strong> GEOGRAFIA que aduz o conhecimento que permite a<br />

"leitura espacial" do fenômeno; entender, para usar uma definição sintética de Milton Santos, os<br />

sistemas de objetos e os sistemas de ações que substanciam o espaço. Na construção <strong>da</strong><br />

representação, é a ciência <strong>da</strong> CARTOGRAFIA que disponibiliza conhecimentos e técnicas que<br />

permitem, através de uma semiótica particular, independentemente do meio utilizado<br />

(computacional ou não), representar a leitura do fenômeno em tela. Até aqui, o geoprocessamento<br />

confunde-se com a cartografia que sempre existiu. O que o parece diferenciar, no estado <strong>da</strong> arte<br />

atual, é o intenso afluxo de técnicas que a INFORMÁTICA vem disponibilizando para a análise<br />

<strong>da</strong>s informações veicula<strong>da</strong>s pela representação do espaço. À luz destas técnicas, não parece fácil<br />

tornar evidente que há uma revolução essencial na representação, inclusive porque a maioria dos<br />

instrumentos de análise de que o geoprocessamento se serve, não têm na<strong>da</strong> de conceitualmente<br />

novo. A novi<strong>da</strong>de que aflui por conta <strong>da</strong> intensa participação <strong>da</strong> informática, decorre <strong>da</strong><br />

viabilização de instrumentos de análise que seriam de aplicação virtualmente impraticável em um<br />

ambiente gráfico convencional.<br />

O(A) Sr.(a) concor<strong>da</strong> com essa perspectiva epistemológica do geoprocessamento, que<br />

considera geografia, cartografia e informática, as três ciências mais fun<strong>da</strong>mentais?<br />

Qual é o seu entendimento acerca <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação epistemológica do<br />

geoprocessamento?<br />

240


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 1.<br />

Resposta 1-A:<br />

Não há dúvi<strong>da</strong> de que as ciências geográficas e cartográficas atuam no estudo e na<br />

representação do espaço físico. Independente <strong>da</strong> área de conhecimento a que estejam atrela<strong>da</strong>s,<br />

como por exemplo, no planejamento físico-territorial, nas questões ambientais, em estudos de<br />

transportes e recursos hídricos, entre outras. Antes <strong>da</strong> introdução dos computadores estes estudos<br />

já existiam, neste caso, usava-se a base cartográfica para em cima desta efetuar os estudos<br />

temáticos, separando os temas por overlays, a Cartografia trabalha<strong>da</strong> desta maneira recebia a<br />

denominação de Cartografia Temática. Com desenvolvimento <strong>da</strong> Eletrônica foi surgindo uma<br />

nova ciência, a Ciência Computação,que foi sendo incorpora<strong>da</strong> a todos as áreas do conhecimento.<br />

No começo era emprega<strong>da</strong>, apenas, nos pesados cálculos <strong>da</strong> Engenharia Cartográfica. Na déca<strong>da</strong><br />

de 50 surgem os CAD – Computer Aided Design, a Cartografia se beneficia destes programas<br />

computacionais para gerar a saí<strong>da</strong> dos documentos cartográficos em mídia magnética,<br />

teoricamente mais fáceis de manipular e atualizar. Na déca<strong>da</strong> de 60 teve início a geração dos<br />

programas do tipo SIG – Sistemas de Geoinformação, a proposta era desenvolver análises<br />

espaciais com base nos documentos cartográficos produzidos em mídia magnética. Os SIG<br />

chegaram no Brasil na déca<strong>da</strong> de 80 e a sua utilização se encontra ain<strong>da</strong> restrita a visualização<br />

cartográfica, as análises espaciais são esporádicas e em pouquíssimos casos é pensa<strong>da</strong> a<br />

atualização dos <strong>da</strong>dos espaciais que formam a base de <strong>da</strong>dos espaciais. A base cartográfica<br />

continha <strong>da</strong>dos geométricos, portanto, <strong>da</strong>dos gráficos, com precisão métrica de acordo com a<br />

escala, e <strong>da</strong>dos semânticos, <strong>da</strong>dos descritivos, em quanti<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> que permitisse a leitura do<br />

documento cartográfico. Enquanto que, a base de <strong>da</strong>dos espaciais que alimenta o SIG contém<br />

mesmos <strong>da</strong>dos gráficos, mas agora além de ser compatível com a escala deve ser também<br />

considera<strong>da</strong> a aplicação, os <strong>da</strong>dos descritivos devem ser definidos pelo usuário do sistema<br />

aplicativo em SIG, sendo este usuário co-responsável pela construção <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos espaciais<br />

e pela rotina a serem desenvolvi<strong>da</strong>s pelo programa. Dentro deste contexto, creio que não apenas<br />

engenheiros cartógrafos, analistas de sistemas, geógrafos formam o tripé <strong>da</strong>s Tecnologias <strong>da</strong><br />

Geoinformação, pois sua natureza é multidisplinar. O espaço físico pode ser pensado e trabalhado<br />

241


com o globo, área imensa, mas pode também ser um país, uma região, um estado, uma metrópole,<br />

a que nível de detalhe pode-se chegar? Eu ain<strong>da</strong> não tenho esta resposta.<br />

Com relação à terminologia Geoprocessamento, creio que hoje está limita<strong>da</strong> para o<br />

desenvolvimento tecnológico atual. Geo = Terra e anexa<strong>da</strong> a palavra processamento era bastante<br />

coerente quando o objetivo era apenas a manipulação e tratamento de coordena<strong>da</strong>s geográficas,<br />

geodésicas e planas. Entretanto, hoje, e a tendência <strong>da</strong>s Tecnologias <strong>da</strong> Geoinformação é evoluir<br />

rápi<strong>da</strong> e continuamente ain<strong>da</strong> por muito tempo. Mas, o que seriam as Tecnologias <strong>da</strong><br />

Geoinformação?<br />

Eu diria que é o conjunto de tecnologias relaciona<strong>da</strong>s ao conhecimento dos <strong>da</strong>dos<br />

espaciais, <strong>da</strong> Inteligência e Vi<strong>da</strong> Artificial, dos Estudos de Complexi<strong>da</strong>de e Simulação em<br />

Ciências Naturais e Ciências Sociais. A Cartografia disponibili<strong>da</strong>de os <strong>da</strong>dos espaciais na<br />

cobertura de fenômenos e de eventos, naturais e antrópicos, através de documentos cartográficos,<br />

que podem ser obtidos por Topografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto. Os<br />

<strong>da</strong>dos descritivos são tratados com Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados – SGBD. A<br />

construção de sistemas aplicativos em SIG deve ser efetua<strong>da</strong> com base em metodologias de<br />

análise de sistemas, como a Análise Orienta<strong>da</strong> a Objeto – AOO.<br />

Resposta 1-B:<br />

Concordo, porém acredito que a argumentação com a qual trabalho é um tanto diferente<br />

<strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong>. Na área de informática, mais especificamente nas áreas de modelagem de<br />

sistemas de informação e bancos de <strong>da</strong>dos, existe muito acúmulo de conhecimento a respeito dos<br />

processos de observação dos fenômenos naturais e sua transposição para um ambiente<br />

informatizado, usando para isso técnicas de abstração e linguagens para expressar tais<br />

representações de forma conveniente e adequa<strong>da</strong> para uma futura implementação. Assim,<br />

acredito que, no geoprocessamento, não apenas a capaci<strong>da</strong>de de percepção de fenômenos<br />

espaciais provi<strong>da</strong> pela Geografia é importante, mas também é necessária e importante a<br />

capaci<strong>da</strong>de de concepção de formas de representação que sejam tecnologicamente compatíveis<br />

com os sistemas de informação em ambiente computacional. Lembro que, em um SIG, não<br />

necessariamente está-se li<strong>da</strong>ndo com objetos e enti<strong>da</strong>des de cunho espaço-temporal; como um<br />

SIG é um “superset” de um sistema de informação tradicional, também nele são necessárias<br />

242


intervenções no sentido de definir o componente não-espacial <strong>da</strong>s representações e incluir, nos<br />

modelos de <strong>da</strong>dos, objetos e fenômenos de natureza não-espacial.<br />

Concordo com a inclusão <strong>da</strong> Cartografia sob a perspectiva <strong>da</strong> semiótica, uma vez que são<br />

formas de apresentação (deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s representações – formas de codificação dos fenômenos –<br />

obti<strong>da</strong>s anteriormente) às quais as pessoas já estão acostuma<strong>da</strong>s devido à convivência com mapas<br />

convencionais. Acredito, por outro lado, que o geoprocessamento dispõe, tanto na atuali<strong>da</strong>de<br />

quanto potencialmente, de recursos de apresentação que extrapolam os limites convencionais <strong>da</strong><br />

cartografia, e portanto, novamente, a Cartografia é insuficiente para cumprir o papel descrito. É<br />

necessário complementá-la com recursos <strong>da</strong>s áreas de interface homem-computador (IHC),<br />

computação gráfica e processamento digital de imagens, to<strong>da</strong>s liga<strong>da</strong>s à Ciência <strong>da</strong> Computação<br />

e especializa<strong>da</strong>s na compreensão e percepção visual.<br />

Por fim, no que tange à análise, cabe destacar o papel que a Estatística vem cumprindo e<br />

ain<strong>da</strong> tem a cumprir no geoprocessamento, em áreas que estão ain<strong>da</strong> em evolução, mas que terão<br />

importância crescente ao longo dos próximos anos: a geoestatística, a estatística espacial e a<br />

geocomputação.<br />

Resumindo, concordo que geografia, cartografia e informática são fun<strong>da</strong>mentais para o<br />

geoprocessamento, porém não exatamente nas proporções e nos papéis colocados, e acredito que<br />

outras disciplinas são também importantes.<br />

Resposta 1-C:<br />

O Geoprocessamento ou, utilizando uma terminologia mais abrangente, a Geomática é<br />

multidisciplinar e, como tal, envolve diversas áreas de conhecimento. A compreensão e<br />

representação do espaço geográfico, bem como a “extração do conhecimento” a partir desta<br />

representação, através de técnicas de Análise Espacial, é parte do processamento espacial.<br />

Entretanto, não se deve, no meu entendimento, <strong>da</strong><strong>da</strong> a inter-relação <strong>da</strong>s múltiplas áreas de<br />

conhecimento envolvi<strong>da</strong>s, priorizar ou definir como “mais fun<strong>da</strong>mental” uma ou outra, ou até<br />

mesmo um grupo de ciências, sob pena de se desprezar outras. A Matemática e a Estatística, por<br />

exemplo, também são fun<strong>da</strong>mentais no processo de análise e modelagem para<br />

extração/compreensão do conhecimento espacial.<br />

243


No processo de coleta de <strong>da</strong>dos, conforme citado acima, o Sensoriamento Remoto, por<br />

exemplo, é mencionado, junto com ele, outras áreas de conhecimento devem ser considera<strong>da</strong>s,<br />

tais como: Processamento Digital de Imagens, Reconhecimento de Padrões, dentre outras.<br />

Há, também, uma nova ótica para o entendimento <strong>da</strong> Geomática/Geoprocessamento que<br />

considera que a representação através de um mapa não deve ser considera<strong>da</strong> a única forma de se<br />

materializar o espaço geográfico no contexto espacial surgindo novas formas de atuação do<br />

Geoprocessamento, baseados no uso de GPS e outras tecnologias, tais como, Serviço Baseado em<br />

Localização (SBL).<br />

Resposta 1-D:<br />

Tentarei responder a estas duas questões conjuntamente. Em relação a questão número 1 a<br />

melhor resposta seria: não exatamente, e respondo porque. Em primeiro lugar a expressão do<br />

“geoprocessamento” como ciência não é de todo clara para mim. Mas se quisermos comentar<br />

sobre as bases conceituais para o geoprocessamento, e assim tratar <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>s ciências<br />

fun<strong>da</strong>mentais para a sua existência, primeiro preciso aqui redefinir geoprocessamento. No<br />

contexto desta resposta, Geoprocessamento deve ser entendido como o conjunto de tecnologias<br />

que utilizam representações computacionais do espaço geográfico para modelar e analisar<br />

fenômenos espaço-temporais. Se assim aceitamos, então a geografia, principalmente através <strong>da</strong><br />

discussão dos conceitos de espaço geográfico, região, escala e dependência espacial, a ciência <strong>da</strong><br />

computação (diferente de informática!), através dos conceitos e técnicas de estruturas formais<br />

para representação, armazenamento, seleção e recuperação de <strong>da</strong>dos, e matemática, em particular<br />

a geometria (computacional), sistemas discretos e a estatística, e por fim a cartografia, podem ser<br />

os pilares conceituais básicos para esta caracetrização de geoprocessamento. Este entrelace de<br />

bases conceituais nos lança em um grande problema quando queremos falar em um fun<strong>da</strong>mento<br />

epistemológico para o geoprocessamento. Como caracterizar o que é então o conhecimento e<br />

como adquiri-lo quando falamos em geoprocessamento ? Esta é a resposta que espero com a sua<br />

dissertação!<br />

Resposta 1-E:<br />

244


Concordo que essas são ciências básicas para o desenvolvimento do geoprocessamento.<br />

Mas acredito também que os projetos de geoprocessamento são desenvolvidos para alguma coisa<br />

ou alguém. O geoprocessamento responde (quando pode) perguntas formula<strong>da</strong>s por técnicos. Os<br />

projetos de geoprocessamento vêm se limitando a um ou dois campos de atuação, como por<br />

exemplo, a avaliação de impacto ambiental, o planejamento urbano, a epidemiologia, etc. Por<br />

isso, é importante contar com o conhecimento gerado por outras ciências, como a Biologia, a<br />

Saúde Coletiva, a Geologia, Urbanismo, etc. Esses técnicos é que devem formular as questões<br />

que serão encaminha<strong>da</strong>s através do geoprocessamento. Eles precisam ser capacitados para<br />

trabalhar na mesma linguagem dos demais. O geoprocessamento é portanto um conjunto de<br />

técnicas que exigem a multidisciplinari<strong>da</strong>de.<br />

Resposta 1-F:<br />

De início, a resposta 1 exige a definição de 3 termos cruciais: ciência, técnica e<br />

tecnologia. Numa abor<strong>da</strong>gem científica, segundo:<br />

Milton Vargas, em Metodologia <strong>da</strong> <strong>Pesquisa</strong> Tecnológica, Rio de Janeiro, Editora Globo,<br />

1985, 243 p., tem-se que:<br />

Ciência: ´ é o saber teórico ´ – ( p. 14 );<br />

Técnica: ´ característica do Homem quanto à necessi<strong>da</strong>de e a capaci<strong>da</strong>de de fabricar e usar<br />

os instrumentos e utensílios de sua cultura, ou seja: é o saber fazer ´ ( p.13 e 21 );<br />

Tecnologia: ´ estudo dos materiais e dos processos de construção, de fabricação e de<br />

organização utilizados pela técnica, empregando-se para isso teorias e conclusões <strong>da</strong>s ciências ´ –<br />

( p. 14 e 25 );<br />

Eva Maria Lakatos & Marina de Andrade Marconi, em Metodologia Científica, São<br />

Paulo, Editora Atlas, 2ª edição, 1991, 249 p., tem-se que ` A Ciência é todo um conjunto de<br />

atitudes e ativi<strong>da</strong>des racionais, dirigi<strong>da</strong>s ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz<br />

de ser submetido à verificação ` – ( p.19 ). Este conceito é atribuído a Alfonso Trujillo Ferrari.<br />

Numa abor<strong>da</strong>gem de natureza mais coloquial, usando o Dicionário Michaellis ( CD ROM<br />

), tem-se que:<br />

245


Ciência: s. f. 1. Conhecimento exato e racional de coisa determina<strong>da</strong>: C. do bem. 2.<br />

Sistema de conhecimentos com um objeto determinado e um método próprio: A lingüística é uma<br />

c. S. f. pl. Conjunto de disciplinas visando à mesma ordem de conhecimentos: C. naturais.;<br />

Técnica: s. f. 1. Conhecimento prático; prática. 2. Conjunto dos métodos e pormenores<br />

práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão.;<br />

Tecnologia: s. f. 1. Ciência ou tratado acerca dos ofícios e <strong>da</strong>s artes em geral. 2. Aplicação<br />

dos conhecimentos científicos à produção em geral.<br />

Do exposto, pode-se concluir que os conceitos de Ciência e de Técnica apresentam<br />

concordância, enquanto o conceito de Tecnologia, quando apresentado como ciência, apresenta<br />

certa deficiência, pois a aplicação dos conhecimentos científicos não pode ser toma<strong>da</strong> como<br />

ciência. Assim sendo, pode-se assumir que a Ciência é o insumo a Tecnologia, que é o insumo à<br />

Técnica, embora esta possa ser desenvolvi<strong>da</strong> de modo empírico ou aplica<strong>da</strong> sem o conhecimento<br />

<strong>da</strong> Tecnologia envolvi<strong>da</strong>, e esta possa ser desenvolvi<strong>da</strong> sem o conhecimento completo de to<strong>da</strong>s as<br />

ciências envolvi<strong>da</strong>s, ou seja, por exemplo, fazendo somente uso dos seus resultados.<br />

Desta forma, a definição de GEOPROCESSAMENTO – <strong>da</strong> forma mais abrangente<br />

possível seria o conjunto de operações efetua<strong>da</strong>s com <strong>da</strong>dos associados à Terra, entendo-se o<br />

termo semanticamente como sendo a aglutinação do sufixo Geo ( Terra ) ao termo processamento<br />

( operação efetuado com <strong>da</strong>dos ) – fica explicitamente vinculado ao conceito de Técnica.<br />

O Geoprocessamento pode subentender um conjunto restrito ou amplo de ativi<strong>da</strong>des e de<br />

operações, necessitando do suporte de mais ou menos tecnologias, portanto, exigindo a interação<br />

com mais ou menos ciências. É aceito como exemplo de geoprocessamento o posicionamento de<br />

pontos na superfície terrestre ? Neste caso, visualiza-se como parte <strong>da</strong>s ciências envolvi<strong>da</strong>s a<br />

Eletrônica, a Geodesia e a Informática ( Computação ), pois geraram conhecimento consoli<strong>da</strong>do<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> Tecnologia GPS, que através <strong>da</strong>s técnicas de ponto isolado ou dgps ou<br />

posicionamento relativo por duplas diferenças de fase propiciaram as coordena<strong>da</strong>s de interesse. É<br />

aceito como exemplo de geoprocessamento a construção de uma representação digital de<br />

elevações ? Neste caso, visualiza-se como parte <strong>da</strong>s ciências envolvi<strong>da</strong>s a Cartografia ( Leis do<br />

Modelado ), a Matemática e a Informática, pois geraram conhecimento consoli<strong>da</strong>do para a<br />

implementação de sistemas computacionais de Modelagem Numérica de Elevação que, através<br />

de técnicas, por exemplo, de interpolação e de armazenamento de <strong>da</strong>dos, propiciaram a<br />

representação de interesse. Tomando-se como exemplo a construção de um Sistema de<br />

246


Informações Geográficas, o seu objetivo pode requerer tecnologias que requeiram uma ´grande<br />

complexi<strong>da</strong>de´ – e ai a exigência do emprego <strong>da</strong>s Ciências envolvi<strong>da</strong>s pode ser amplo, como a<br />

Geodesia, a Cartografia, o Sensoriamento Remoto, a Estatística, a Informática, a Geologia, a<br />

Geografia, a Meteorologia, a Matemática, as Ciências Sociais, dentre outras, disponibilizando<br />

diversas técnicas distribuí<strong>da</strong>s pelas ativi<strong>da</strong>des de aquisição, tratamento, armazenamento,<br />

modelagem, processamento, visualização, análise, etc dos <strong>da</strong>dos – ou uma ´pequena´<br />

complexi<strong>da</strong>de, com restrito leque de Ciências envolvi<strong>da</strong>s. Neste sentido, arrisco afirmar que<br />

como ciências fun<strong>da</strong>mentais a qualquer nível de Geoprocessamento, com to<strong>da</strong> certeza, estão as<br />

liga<strong>da</strong>s ao estudo e conhecimento <strong>da</strong> Terra - Geociências, <strong>da</strong> Matemática, <strong>da</strong> Estatística e <strong>da</strong><br />

Informática.<br />

247


Segun<strong>da</strong> Pergunta: Uma viagem epistemológica pelo geoprocessamento pode deixar a<br />

primeira impressão de que ele é muito mais uma técnica do que uma ciência. O conhecimento<br />

propugnado por sua produção científica é, em geral, um conhecimento instrumental, que busca,<br />

essencialmente, a instrumentalização do espaço geográfico.<br />

A despeito <strong>da</strong> franca utilização do prefixo "geo" (geoprocessamento, georeferenciamento,<br />

geoinformação, geomática, etc.), que sinaliza o papel central <strong>da</strong> geografia no<br />

seu corpo de conhecimentos, há muito poucas menções às questões epistemológicas desta<br />

disciplina. Em geral, a percepção que o geoprocessamento tem <strong>da</strong> geografia é a de que esta se<br />

incumbe, fun<strong>da</strong>mentalmente, <strong>da</strong> descrição do espaço. A abor<strong>da</strong>gem, na essência, se constitui<br />

numa leitura do espaço que permita selecionar os objetos geográficos <strong>da</strong> paisagem que têm<br />

importância a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> aplicação (os <strong>da</strong>dos), para, nas etapas subseqüentes, implementar<br />

análises que identifiquem "padrões espaciais". "Padrões" é uma <strong>da</strong>s palavras mais recorrentes no<br />

discurso científico do geoprocessamento, deixando a forte impressão de que é exclusivamente o<br />

pensamento geográfico de tradição positivista que se encontra em sua base científica.<br />

Parece haver aqui um aparente paradoxo, pois, ao fim e ao cabo, a geografia é central ao<br />

geoprocessamento, e no entanto, suas questões científicas essenciais são releva<strong>da</strong>s pela maioria<br />

dos estudos científicos do geoprocessamento, que parece preferir passar ao largo destas questões,<br />

para poder construir, "sem culpas", um conhecimento fun<strong>da</strong>do em análises espaciais de padrões e<br />

regulari<strong>da</strong>des.<br />

Dessa perspectiva, o geoprocessamento se parece mais com uma técnica para<br />

processamento e análise de <strong>da</strong>dos, à semelhança <strong>da</strong> estatística, do que propriamente uma forma<br />

de conhecimento geográfico.<br />

O(A) Sr.(a) considera o geoprocessamento apenas como uma técnica para análise de<br />

<strong>da</strong>dos espaciais, ou ele pode ser considerado como uma ciência conexa à geografia, naquilo que<br />

tange à análise do espaço geográfico?<br />

O que o(a) Sr.(a) considera que permite ao geoprocessamento ser considerado como<br />

ciência?<br />

248


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 2.<br />

Resposta 2-A:<br />

Vamos então retomar aqui a discussão inicia<strong>da</strong> com as questões anteriores. No entanto, é<br />

importante em primeiro lugar, estabelecer melhor a a minha visão sobre a formação histórica do<br />

termo e do conteúdo <strong>da</strong>quilo que tomamos por geoprocessamento em nossa discussão. O uso de<br />

“geo” é na ver<strong>da</strong>de uma herança histórica, que permanece por herança através <strong>da</strong> inércia e<br />

preguiça que temos para questionar. O prefixo geo , em minha leitura, não “sinaliza o papel<br />

central <strong>da</strong> geografia no seu corpo de conhecimentos” mas na ver<strong>da</strong>de o desejo de identificação<br />

com a ‘geografia’ como ciência, o que lhe emprestaria então escopo, conteúdo e história. O fato<br />

é que o geoprocessamento, nesta caracterização, só começa a existir com as tecnologias de<br />

informação, e seus problemas teóricos básicos, de fato, ain<strong>da</strong> estão sendo formulados, ou melhor<br />

(re)formulados a ca<strong>da</strong> momento. Neste olhar, não vejo geoprocessamento como ciência, mas<br />

como conjunto de técnicas e de conceitos sobre possibili<strong>da</strong>des de representação computacional<br />

para as definições de espaço geográfico orienta<strong>da</strong>s pela geografia. Assim, ele não “busca,<br />

essencialmente, a instrumentalização do espaço geográfico”, mas é sim um conhecimento<br />

instrumental para a exploração <strong>da</strong>s manifestações teórico-conceituais do espaço geográfico, que<br />

podem vir não somente <strong>da</strong> geografia, mas hoje <strong>da</strong> economia, <strong>da</strong> biologia e <strong>da</strong> ciências sociais. O<br />

geoprocessamento, ao se preocupar então em representar os objetos e fenômenos geográficos em<br />

suas interrelações, agregamentos e singulari<strong>da</strong>des (padrões e processos!) não é a meu ver o<br />

veículo para expressão de somente um pensamento geográfico, o de tradição positivista, é sim o<br />

instrumental que torna possível observar espaços geográficos conceitualmente propostos por<br />

escolas de diferentes tradições. No entanto, é essencial lembrar que, computadores nos<br />

possibilitam expressar uma representação do mundo ou de fenômeno que buscamos<br />

compreender. O que obtemos através de seu uso, são os resultados possíveis <strong>da</strong>s manipulações<br />

sobre estas representações, portanto uma outra representação. Então, é muito saudável e essencial<br />

que sempre tenhamos em mente a necessi<strong>da</strong>de de refletir criticamente sobre a nossa prática<br />

tecnológica, em particular, quando o instrumento que usamos facilmente nos alimenta, e a outros,<br />

<strong>da</strong> esperança de que obtivemos ali , não uma redução, mas a comprensão universal do problema.<br />

249


Resposta 2-B:<br />

Na resposta anterior, já deixei claro que considero o geoprocessamento como um conjunto<br />

de técnicas, não como uma ciência nem como uma tecnologia. Além disso, pode o<br />

geoprocessamento não estar voltado a questão de análise espacial, pode ser ele um produto final,<br />

voltado muito mais para uma aplicação direta do que servir de suporte a um processo de análise.<br />

Nesse sentido, não existe impedimento futuro dos <strong>da</strong>dos ou resultados gerados tornarem-se um<br />

conjunto de <strong>da</strong>dos para outras aplicações. Por exemplo: a determinação de coordena<strong>da</strong>s por<br />

equipes de competição, dedicados a permitir localização; a construção <strong>da</strong> base cartográfica<br />

sistemática do país; a locação de objetos no terreno, dentre outras.<br />

A pergunta ain<strong>da</strong> fica associa<strong>da</strong> ao tipo de análise: se meramente quantitativa, fica claro<br />

que o geoprocessamento não precisa ser ciência. Se qualitativa, o emprego de uma tecnologia<br />

adequa<strong>da</strong> deve ser garantido, de modo a poder prover resultados adequados e satisfatórios. No<br />

entanto, função <strong>da</strong> análise a ser efetua<strong>da</strong>, pode ser que ain<strong>da</strong> exista a necessi<strong>da</strong>de de interação<br />

com profissionais específicos e qualificados.<br />

Resposta 2-C:<br />

Como na primeira pergunta, acredito que o geoprocessamento é um conjunto de técnicas,<br />

que permitem a representação do espaço geográfico. Muitos geógrafos tem por isso um grande<br />

resistência ao uso do geoprocessamento e dos mapas em geral (ver Souza e Katuta, 2000) 1 .<br />

Claramente, os mapas (digitais ou analógicos) são representações grosseiras <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de (outra<br />

palavra pessimamente utiliza<strong>da</strong> por defensores do geoprocessamento). O próprio processo de<br />

seleção de informações que irão compor um mapa é um exercício intelectual de interpretação. É<br />

portanto um ato político, que depende de uma concepção ideológica dessa “reali<strong>da</strong>de”. Os bons<br />

mapas são simples, o que parece um ser paradoxo <strong>da</strong> cartografia (Monmonier, 1996) 2 . A análise<br />

espacial de padrões só levara em consideração os objetos cartografados, que foram selecionados<br />

em uma fase anterior do projeto.<br />

1 Souza e Katuta (2000) Geografia e conhecimentos cartográficos. A cartografia no movimento <strong>da</strong><br />

renovação <strong>da</strong> geografia brasileira e a importância do uso de mapas. Ed. Unesp.<br />

2 Monmonier, M., 1996. How to Lie With Maps, second edition. University of Chicago Press. Chicago.<br />

250


Dos dois lados, os anti-geoprocesamento e os pró-geoprocessamento, superestimam o<br />

poder de síntese do geoprocessamento, exatamente porque o consideram como um campo<br />

autônomo do conhecimento. Acredito que o geoprocessamento só pode ser desenvolvido com<br />

base nas disciplinas interessa<strong>da</strong>s e com a explicitação dos limites e pressupostos geográficos<br />

utilizados. Por exemplo, quando se seleciona uma escala para o desenvolvimento de um SIG,<br />

quais as simplificações que estão sendo assumi<strong>da</strong>s? O que se pode ou não representar nessa<br />

escala?<br />

As fases de aquisição de <strong>da</strong>dos, interpretação e análise espacial podem ter a participação<br />

ou não <strong>da</strong> geografia e de geógrafos, com ou sem a participação dos usuários finais, mas isso não<br />

impede o desenvolvimento de projetos, só o prejudica. Não há como impedir o uso de técnicas de<br />

geoprocessamento, assim como o uso <strong>da</strong> Internet, de programas de estatística. Eles existem e<br />

estão disponíveis para qualquer pessoa minimamente capacita<strong>da</strong>. Por isso o geoprocessamento é<br />

apenas um conjunto de técnicas, isto é, não pressupõe uma base teórica prévia.<br />

Resposta 2-D:<br />

Como dito anteriormente, o Geoprocessamento, entendido no conceito de Tecnologias <strong>da</strong><br />

Geoinformação jamais pode ser tratado como uma técnica, pois se relaciona com diversas<br />

ciências ao mesmo tempo. Não se trata apenas do processamento de <strong>da</strong>dos, mas <strong>da</strong> manipulação<br />

dos <strong>da</strong>dos espaciais que vai desde aquisição, onde primeiro são definidos os <strong>da</strong>dos necessários à<br />

aplicação, sendo necessário aplicar metodologias de análise de sistema; passando pelo processo<br />

em si, que pode ser através de um escaner, de uma mesa digitalizadora, de um sensor remoto<br />

aéreo ou orbital, <strong>da</strong> comunicação entre banco de <strong>da</strong>dos, entre outros. O passo seguinte é o<br />

procedimento de armazenagem dos <strong>da</strong>dos espaciais, que deve ser formulado de maneira coerente<br />

para manutenção <strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de, inclusive com a restrição de acesso por categoria de usuários.<br />

A análise dos <strong>da</strong>dos espaciais só é possível a partir do seu tratamento correto, para que ao ser<br />

solicitado o sistema identifique onde o <strong>da</strong>do está armazenado e seu formato, após utilização<br />

retorne ao devido lugar, no caso <strong>da</strong> geração de novos <strong>da</strong>dos devem ser pensado, com<br />

antecedência onde este <strong>da</strong>dos ficarão no banco de <strong>da</strong>dos, isto envolve procedimento,<br />

processamento e técnica. Por fim a visualização dos <strong>da</strong>dos espaciais, que podem ser no formato<br />

251


de documentos cartográficos no monitor ou em meio analógico, neste caso, impressos, e em<br />

tabela, gráficos, relatórios, por exemplo.<br />

A ciência que conecta as Tecnologia <strong>da</strong> Geoinformação, enquanto Sistemas de<br />

Geoinformação, as demais ciências e áreas de conhecimento é a Cartografia, uma vez que a<br />

Cartografia é a ciência responsável pela representação do espaço físico e a base de <strong>da</strong>dos<br />

espaciais é emprega<strong>da</strong> para alimentar o sistema. Deve-se observar que em se tratando de SIG,<br />

todo e qualquer <strong>da</strong>do descritivo deve possuir sua posição espacial referencia<strong>da</strong> a um sistema de<br />

referência, com Datum, sistema de coordena<strong>da</strong>s e sistemas de projeção cartográfica.<br />

Discordo do prefixo GEO, pois ao se trabalhar com fotogrametria terrestre, por exemplo,<br />

utiliza-se um sistema de referência local. Mas, utilizo em concordância com o grupo de pesquisa<br />

que atuo. Na minha opinião seria Sistema de Informações Espaciais, como é empregado em<br />

alguns países <strong>da</strong> Europa e parte do Canadá.<br />

Resposta 2-E:<br />

Não concordo com a afirmação de que o prefixo “geo” sinalize “o papel central <strong>da</strong><br />

geografia no seu corpo de conhecimentos”. Geo, no caso, é usado pelo seu significado original,<br />

que é a referência à Terra. Mais genericamente, poderíamos estar falando de “sistemas de<br />

informação espaciais”, mas como o espaço de trabalho é em geral a Terra, ficamos com “sistemas<br />

de informação geográficos”. Observe que, com essa tradução para a sigla SIG, estou afirmando<br />

que são os SISTEMAS DE INFORMAÇÃO que são GEOGRÁFICOS, e não que a<br />

INFORMAÇÃO é GEOGRÁFICA sempre, o que a meu ver é um erro.<br />

Quanto à afirmação central <strong>da</strong> pergunta, novamente não concordo. No geoprocessamento,<br />

que é mesmo formado por um conjunto de técnicas e ferramentas, a análise espacial é apenas uma<br />

dessas técnicas ou ferramentas. A parcela relativa à percepção e representação do espaço pode ser<br />

conduzi<strong>da</strong> por técnicas liga<strong>da</strong>s à modelagem de <strong>da</strong>dos (como em qualquer banco de <strong>da</strong>dos),<br />

apoia<strong>da</strong> por uma percepção específica do componente espacial dos fenômenos e enti<strong>da</strong>des.<br />

A noção de padrões vem novamente <strong>da</strong> informática, que busca conseguir ganhos de<br />

produtivi<strong>da</strong>de na construção de sistemas de informação, no caso geográficos, pela constatação <strong>da</strong><br />

existência de semelhanças entre aplicações distintas e pela criação de recursos que permitam<br />

explorá-las. Por exemplo, embora existam diferenças entre prefeituras, é sabido que as aplicações<br />

252


de SIG volta<strong>da</strong>s para o ambiente urbano podem ser muito semelhantes entre duas ci<strong>da</strong>des<br />

diferentes. Por que não aproveitar o esforço de desenvolvimento voltado para uma ci<strong>da</strong>de e<br />

aplicá-lo à outra, mu<strong>da</strong>ndo apenas os aspectos particulares detectados?<br />

Não acredito que seja necessário ou conveniente considerar o geoprocessamento como<br />

ciência, porém há aspectos inovadores no âmbito do geoprocessamento que podem vir a<br />

configurar uma área científica. Vide as últimas conferências na área <strong>da</strong> “Ciência <strong>da</strong> Informação<br />

Geoespacial”. Se a Ciência <strong>da</strong> Informação é, de fato, uma ciência distinta <strong>da</strong><br />

Computação/Informática, então a Ciência <strong>da</strong> Informação Espacial, ou Geoespacial, é uma<br />

especialização dela em que há pontos de interesse comum com a Geografia e a Cartografia, por<br />

exemplo.<br />

Resposta 2-F:<br />

Ao meu ver o Geoprocessamento, mais especificamente os Sistemas de Informação<br />

Geográfica, são poderosas ferramentas analíticas que podem modelar problemas e <strong>da</strong>dos para<br />

extrair informação e em determina<strong>da</strong>s instâncias conhecimento (Inteligência Espacial).<br />

O Geoprocessamento stricto sensus, no meu entendimento, não é ciência e sim tecnologia,<br />

poderá se envolver em pesquisa integra<strong>da</strong> através de outras áreas do conhecimento, que fazem<br />

ciência, como a Geografia, a Agronomia, a Geologia, por exemplo.<br />

253


Terceira Pergunta: O geoprocessamento assume uma característica interdisciplinar que<br />

parece inconteste. Por conta disso, seu desenvolvimento vem se <strong>da</strong>ndo em centros de produção<br />

científica de diferentes origens.<br />

A tomar por referência os programas de mestrado e doutorado arrolados pela Capes em<br />

sua página na Internet, há diversi<strong>da</strong>de na distribuição por Programas, por Áreas e até por Grandes<br />

Áreas (Ciências Exatas e <strong>da</strong> Terra, Ciência Humanas, Ciências Sociais Aplica<strong>da</strong>s, Engenharias e<br />

Outras).<br />

Se por um lado, a multiplici<strong>da</strong>de de enfoques pode ser profun<strong>da</strong>mente criadora, por outro,<br />

ela coloca o desafio de se evitar que os diversos desenvolvimentos do conhecimento sobre<br />

geoprocessamento acabem por criar perspectivas irreconciliáveis.<br />

Parece natural que os pesquisadores de uma área concentrem-se por demais nas questões<br />

que lhe são diretamente afetas, a despeito <strong>da</strong> relevância <strong>da</strong>quele desenvolvimento para o<br />

geoprocessamento como um todo. Assim, a informática eventualmente concentra-se em questões<br />

de processamento e análise de <strong>da</strong>dos que, afinal, podem não ser reconhecidos como importantes<br />

pela geografia, assim como pode a cartografia buscar aperfeiçoamentos de sua linguagem de<br />

representação, sem que haja, por parte <strong>da</strong> informática, a identificação <strong>da</strong> relevância desse<br />

desenvolvimento.<br />

A figura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em rede pode ser muito útil à ilustração desta reflexão. Se a rede de<br />

atores sociais <strong>da</strong> produção científica for articula<strong>da</strong> e entender que, como nas redes que se<br />

pretendem harmônicas, não há hierarquia entre os pontos no<strong>da</strong>is, ou seja, não deve haver<br />

prevalência <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> geografia, <strong>da</strong> cartografia ou <strong>da</strong> informática, a produção científica<br />

do geoprocessamento tende a convergir, ca<strong>da</strong> vez mais, para um paradigma único. Mas no<br />

entanto, se por um certo tipo de perspectiva autocentra<strong>da</strong>, as diversas comuni<strong>da</strong>des decidem se<br />

desarticular <strong>da</strong> rede, por não reconhecerem como váli<strong>da</strong>s, perspectivas diversas <strong>da</strong> sua própria,<br />

parece inevitável que haja um atrofiamento do desenvolvimento científico, bem como uma<br />

ver<strong>da</strong>deira cacofonia acerca <strong>da</strong>s definições sobre a natureza científica e tecnológica do<br />

geoprocessamento (ou <strong>da</strong> geoinformação? Ou <strong>da</strong> geomática? Já há cacofonia?).<br />

Como o(a) Sr.(a) observa a rede ampla de produção do conhecimento sobre<br />

geoprocessamento no Brasil nos dias de hoje?<br />

254


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 3.<br />

Resposta 3-A:<br />

De fato, para a construção do geoprocessamento é sempre necessário contar com a<br />

multidisciplinari<strong>da</strong>de. Este aspecto é, a meu ver, um dos mais interessantes dessa área, pois não<br />

apenas permite, de fato exige a quebra de barreiras entre as áreas compartimentaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

ciência. A meu ver, é uma <strong>da</strong>s várias áreas de pesquisa atuais que se beneficiam do<br />

aprofun<strong>da</strong>mento compartimentalizado de temas que não vinham sendo tratados<br />

interdisciplinarmente. Acredito que, <strong>da</strong> perspectiva dos avanços científicos, é essa<br />

compartimentalização que é maléfica, e não a “cacofonia”. Seria muito interessante, para o<br />

geoprocessamento, que suas facili<strong>da</strong>des e recursos se tornassem conhecidos e acessíveis de modo<br />

generalizado para estu<strong>da</strong>ntes e pesquisadores de áreas como saúde pública, educação, transportes,<br />

engenharia, arquitetura e diversas outras, para que essas pessoas pudessem começar a utilizar tais<br />

recursos em sua vi<strong>da</strong> cotidiana. Acredito que a popularização crescente do geoprocessamento,<br />

viabiliza<strong>da</strong> pela maior disponibili<strong>da</strong>de de ferramentas e <strong>da</strong>dos, pode vir a ter um impacto<br />

semelhante ao do uso <strong>da</strong>s planilhas eletrônicas – que são uma ferramenta de uso geral para a qual<br />

não há padrões predeterminados de aplicação, ca<strong>da</strong> classe ou grupo de usuários as usa <strong>da</strong> maneira<br />

que considera mais útil para seus propósitos.<br />

Enfim, acho que qualquer tentativa de enquadramento (engessamento) <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

científica, seja pelo fomento à interdisciplinari<strong>da</strong>de, seja pelo fomento às ativi<strong>da</strong>des<br />

compartimentaliza<strong>da</strong>s, é maléfico. Não vejo na<strong>da</strong> de errado em ter aplicações e projetos de<br />

geoprocessamento ora classificados como ciências exatas e <strong>da</strong> terra, ora como sociais aplica<strong>da</strong>s.<br />

É isso mesmo.<br />

Resposta 3-B:<br />

Acho bastante interessante, como a ciência <strong>da</strong> computação inovou e fez surgir novas áreas<br />

e desenvolveu outras que pareciam fa<strong>da</strong><strong>da</strong>s ao esquecimento, as Tecnologias <strong>da</strong> Geoinformação<br />

ao serem aplica<strong>da</strong>s nas mais diversas áreas do conhecimento possibilitam aos pesquisadores<br />

buscarem soluções para problemas que existem a séculos ou mesmos os que surgiram a partir do<br />

255


desenvolvimento <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des. Atuando no espaço urbano pode-se vislumbra uma série de<br />

estudos como segurança e saúde pública, planejamento em transportes, localização de<br />

equipamentos urbanos para melhor servir a população, entre outros. Discordo apenas destes<br />

trabalhos serem tratados por um único profissional que deveria ter conhecimento do todo que<br />

envolve uma aplicação em Tecnologias <strong>da</strong> Geoinformação. O engenheiro cartógrafo teve sua<br />

inserção revitaliza<strong>da</strong> no mercado de trabalho a partir do desenvolvimento destas tecnologias, o<br />

geógrafo tem a oportuni<strong>da</strong>de de atuar em um novo campo trabalho, a partir de uma formação<br />

complementar.<br />

No Brasil o que acontece, na minha opinião, é que ao incorporar computadores e<br />

programas pensou-se ter resolvido to<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong> produção de documentos cartográficos. Os<br />

SIG são utilizados apenas como visualizadores de “mapas bonitos”. Existe muito mais por trás<br />

disto, existe uma ignorância cartográfica no País, ou melhor, existem os analfabetos cartográficos<br />

que utilizam os documentos cartográficos com se conhecessem a ciência que os embasa. Por isto,<br />

creio que tem-se levado ao descrédito as Tecnologias <strong>da</strong> Geoinformação e a falência muitos SIG<br />

construídos sem a estruturação necessária.<br />

Resposta 3-C:<br />

Aqui, de fato, temos um problema. Mas se tomamos geoprocessamento não como<br />

ciência, mas como me disse certa vêz um amigo espanhol, arquiteto, no Rio de janeiro, quando<br />

tentava lhe dizer que eu, um engenheiro eletricista de formação, trabalhando com sistemas<br />

computacionais, estava ali em um evento <strong>da</strong> FIOCRUZ, na área de epidemiologia: “ Ah, então<br />

entendi, você trabalha com uma tecnologia fronteiriça! ”. É isso, é proprie<strong>da</strong>de intrínsica ao<br />

geoprocessamento estar sempre na fronteira. E neste sentdo, não consigo observar uma rede tão<br />

ampla na produção de conhecimento em geoprocessamento, quando caracterizado como este<br />

elemento insrumental em várias fronteiras.<br />

Temos um produção grande e desigual de aplicações basea<strong>da</strong>s na manipulação direta de<br />

<strong>da</strong>dos espaciais em meio digital, um grande uso de exercícios de cartografia digital, e bastante<br />

experimentos de mimetização do processo antigo <strong>da</strong> análise do overlay analógico, mas o uso<br />

efetivo do geoprocesamento como um instrumento para aju<strong>da</strong>r a pensar o problema tendo o<br />

espaço de fato como uma variável na análise quantitativa está na sua infância, e será este tipo de<br />

256


uso, que poderá fornecer o ambiente adequado para a produção de conhecimento de fato sobre<br />

geoprocessamento no Brasil.<br />

Resposta 3-D:<br />

Merece atenção o termo interdiscilinar. Recorrendo ao Novo Dicionário <strong>da</strong> Língua<br />

Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holan<strong>da</strong> Ferreira – 2ª Edição, 1986, o sentido do termo é ser<br />

`comum a duas ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento´. No entanto, ao se verificar o<br />

sentido do termo multidisciplinar – `referente a, ou que abrange muitas disciplinas´, pode-se<br />

concluir que a aplicação dos termos conjuntamente, ou seja, multi-interdisciplinar, provavelmente<br />

retrate mais a reali<strong>da</strong>de do que seja efetivamente o geoprocessamento. Com to<strong>da</strong> certeza, o<br />

emprego <strong>da</strong>s técnicas pertencentes ao geoprocessamento estão associa<strong>da</strong>s a diferentes áreas do<br />

conhecimento, podendo ser comuns a algumas delas.<br />

Em assim sendo, reconhecendo que não existe patrão ou dono ou man<strong>da</strong>nte no<br />

geoprocessamento, tanto a ampla disseminação do seu emprego quanto o amplo investimento em<br />

seu estudo e pesquisa são de todo desejável e relevante ao contexto do país. Ca<strong>da</strong> distinta área do<br />

conhecimento tem de evoluir independente do geoprocessamento – e é bom que o faça, de modo<br />

a desenvolver seu conhecimento, sendo óbvio que este conhecimento também deverá contribuir<br />

para o desenvolvimento do geoprocessamento.<br />

Se assim não for, acredito irá ocorrer não um atrofiamento do aspecto científico – até<br />

porque este aspecto está correlacionado às ciências propriamente ditas, portanto independente do<br />

geoprocessamento – mas sim uma per<strong>da</strong> de credibili<strong>da</strong>de dos aspectos científicos desenvolvidos,<br />

por se tornarem mais distantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como um todo e, desta forma, maximizando per<strong>da</strong>s e<br />

minimizando ganhos dos investimentos em recursos humanos, financeiros e técnicos – situação<br />

paradoxal ao que se procura sempre atingir !<br />

Resposta 3-E:<br />

Apesar dos esforços para a abor<strong>da</strong>gem multidisciplinar e o incentivo por parte dos órgãos<br />

de fomento para a submissão de projetos que envolvam equipes híbri<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> há uma tendência<br />

a haver uma certa desintegração <strong>da</strong>s diversas áreas relaciona<strong>da</strong>s ao Geoprocessamento, a ótica de<br />

257


ca<strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem, até mesmo por uma questão de formação, sempre tende a prevalecer em<br />

detrimento as demais.<br />

Resposta 3-F:<br />

Me parece importante nesse ponto separar projetos de geoprocessamento voltado para<br />

aplicações especificas e outros de desenvolvimento. Os projetos de desenvolvimento tem<br />

geralmente a composição preconiza<strong>da</strong> na pergunta 1 (informática, cartografia e geografia), com<br />

pesos diferentes dessas disciplinas em função do objetivo final, sendo a geografia geralmente um<br />

complemento, não tido como não essencial ao projeto. Já nos projetos de aplicação, existe maior<br />

interdisciplinari<strong>da</strong>de, quase se invertendo a relação entre as disciplinas de base e outras<br />

“complementares“, isto e, os interessados no projeto não fazem parte desse núcleo e se apropriam<br />

aos poucos desse conhecimento. (Minha perspectiva particular de trabalho e exatamente essa, de<br />

trabalhar o geoprocessamento com pessoas <strong>da</strong> saúde publica). Os técnicos de outras áreas devem<br />

incorporar a técnica e suas limitações, ao mesmo tempo em que aprendem a elaborar hipóteses<br />

que serão trata<strong>da</strong>s pelo geoprocessamento. Isso exige um dialogo permanente entre profissionais<br />

de diversas disciplinas.<br />

Me parece que no Brasil, depois <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, com o aumento <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de<br />

<strong>da</strong>dos espaciais, de computadores de baixo custo e de programas amigáveis, há uma proliferação<br />

muito grande de pequenos projetos de geoprocessamento, o que parece saudável e uma<br />

decorrência natural do desenvolvimento <strong>da</strong> área. Talvez em momentos anteriores fosse necessário<br />

o envolvimento de diversas instituições e a concentração de esforços (verba e pessoal) para<br />

realizar projetos, o que não é imprescindível hoje.<br />

Claro que nesse caso o que pode haver é uma per<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de desses projetos, pela<br />

falta de integração entre instituições e disciplinas. Além disso, observa-se uma maior<br />

competitivi<strong>da</strong>de, no mal sentido do termo, dos centros de pesquisa. Como controlar essa<br />

quali<strong>da</strong>de e evitar a sobreposição de projetos? Os mecanismos existem: Consulta a pareceristas<br />

para o financiamento de projetos, publicação de resultados segundo padrões éticos e técnicos,<br />

veiculação de resultados em congressos científicos, etc. Esses não são mecanismos exclusivos<br />

dos projetos de geoprocessamento, mas de todos os projetos de pesquisa. Se esses meios são<br />

258


eficazes e adequados, é uma questão muito mais difícil de responder e envolve to<strong>da</strong> a<br />

comuni<strong>da</strong>de acadêmica hoje.<br />

259


Quarta Pergunta: Uma <strong>da</strong>s questões metodológicas de maior importância ao<br />

geoprocessamento refere-se às modelagens.<br />

Dentre as diversas modelagens que uma aplicação complexa e abrangente de<br />

geoprocessamento contempla, a que parece guar<strong>da</strong>r maior importância, pelo seu papel na gênese<br />

do sistema, é a modelagem temática, aqui entendi<strong>da</strong> como a observação <strong>da</strong> dinâmica espacial de<br />

um fenômeno, subordina<strong>da</strong> a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> escala de análise.<br />

Nas reflexões que dão substância a essa modelagem, a equipe idealizadora do sistema<br />

precisa perscrutar a dinâmica espacial do fenômeno, segundo categorias de análise<br />

essencialmente defini<strong>da</strong>s pela geografia, de forma a discriminar quais objetos geográficos serão<br />

representados (e com que atributos); de que forma as diversas classes de objetos irão se articular<br />

nas análises idealiza<strong>da</strong>s (um preâmbulo <strong>da</strong>s relações topológicas), e ain<strong>da</strong>, que ações<br />

identifica<strong>da</strong>s no espaço deveriam ser representa<strong>da</strong>s no sistema, e de que forma elas podem ser<br />

apreendi<strong>da</strong>s e representa<strong>da</strong>s.<br />

Esta modelagem permite definir a forma de aquisição de <strong>da</strong>dos, bem como inspira a<br />

elaboração <strong>da</strong>s modelagens subseqüentes, <strong>da</strong>s quais resultarão a construção <strong>da</strong> representação do<br />

espaço e as análises de informações geográficas que irão lançar luz sobre o fenômeno estu<strong>da</strong>do.<br />

No que tange à aquisição de <strong>da</strong>dos, que se torna ca<strong>da</strong> vez mais poderosa, parece que a<br />

evolução <strong>da</strong> tecnologia se faz a um ritmo ca<strong>da</strong> vez mais acelerado. O mesmo se dá em relação às<br />

análises, no âmbito <strong>da</strong>s quais a informática tem viabilizado instrumentos ca<strong>da</strong> vez mais<br />

complexos. No entanto, as questões que dizem respeito à avaliação qualitativa do espaço, que<br />

estão afetas ao conhecimento geográfico, parecem não despertar o mesmo interesse que estes<br />

instrumentos de alta tecnologia vêm despertando.<br />

Haveria então, hipoteticamente, uma assimetria entre a crescente capaci<strong>da</strong>de de construir<br />

representações e análises do espaço geográfico, que tem se potencializado a ca<strong>da</strong> dia, e o<br />

interesse por entender efetivamente a natureza do espaço, para mais eficazmente se servir <strong>da</strong><br />

tecnologia disponível, que não parece estar na agen<strong>da</strong>.<br />

O(A) Sr.(a) considera que, em geral, a construção do conhecimento sobre o<br />

geoprocessamento tem <strong>da</strong>do pouca atenção à geografia e ao entendimento <strong>da</strong> natureza do espaço,<br />

e que, por conta disso, corre-se o risco de se produzir muita informação e pouco conhecimento?<br />

260


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 4.<br />

Resposta 4-A:<br />

Não só <strong>da</strong> Geografia, mas <strong>da</strong>s ciências que irão <strong>da</strong>r o suporte para a solução dos<br />

problemas que geram a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s modelagens – ou <strong>da</strong>s reais questões a resolver. Acredito<br />

que aconteceu com o geoprocessamento o que ocorre com os fatos ´novos´, ou seja: é mais<br />

imediato – e mais fácil – adquirir equipamentos, estu<strong>da</strong>r, desenvolver, disponibilizar e aplicar<br />

partes do que o todo, apresentar e vender tecnologias sem efetivamente o responsável pela<br />

aquisição estar ciente ou preparado para decidir sobre sua real necessi<strong>da</strong>de, entre outros fatos.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, passado o deslumbramento do discurso <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de – que de ver<strong>da</strong>de não era<br />

e não é tão novi<strong>da</strong>de assim, afinal geoprocessamento é tão antigo quanto à humani<strong>da</strong>de – tendose<br />

que demonstrar os resultados prometidos, o retorno aos investimentos feitos, etc. é claro que as<br />

modelagens passam a ter, neste momento, maior evidência, pois ca<strong>da</strong> vez mais começam<br />

efetivamente a fazer de todo processo. Esse novo passo começa a se tornar mais transparente, seja<br />

pelo comportamento dos presentes e dos expositores aos eventos na área, pelos responsáveis<br />

pelos projetos, seja pelos desenvolvimentos nos meios acadêmicos e de produção, etc.<br />

Atualmente, já se nota uma saudável preocupação em aproveitar muito mais o conjunto de<br />

<strong>da</strong>dos e informações existentes – um investimento já feito pela socie<strong>da</strong>de, que precisa <strong>da</strong>r retorno<br />

em todo seu potencial, buscando formas de compatibiliza-los e de garantir sua interoperabili<strong>da</strong>de<br />

para produção de conhecimento, do que a produção totalmente nova de <strong>da</strong>dos e informações, para<br />

posterior produção de conhecimento.<br />

Resposta 4-B:<br />

Concordo completamente. Nas respostas anteriores afirmei que os projetos tem se<br />

desenvolvido com ou sem geografia. Mas isso não é o que desejamos. Gostaríamos que os<br />

projetos fossem desenvolvidos a partir de questões espaciais e que o geoprocessamento aju<strong>da</strong>sse<br />

a respondê-las. Alem <strong>da</strong> analise espacial estar grandemente desenvolvi<strong>da</strong>, me parece que há uma<br />

sobrevalorização <strong>da</strong> fase de aquisição de <strong>da</strong>dos, exatamente pela falta de clareza de objetivos e<br />

limitações dos projetos.<br />

261


Vou relatar um só caso que considero emblemático. Uma aluna de mestrado estava<br />

mapeando casos de leptospirose no Rio de Janeiro, o que conseguiu depois de um grande esforço<br />

de busca de endereços. Numa segun<strong>da</strong> etapa precisava de ‘cama<strong>da</strong>s’ que aju<strong>da</strong>ssem a entender a<br />

distribuição espacial <strong>da</strong> doença. Depois de algumas semanas de busca, veio com um CD-Rom<br />

repleto de informações, como a localização de postes, lotes, construções, curvas de nível, quadras<br />

etc. Quando coloca<strong>da</strong>s sobrepostas essas informações ‘poluiram’ o mapa final. O excesso de<br />

<strong>da</strong>dos não permitiu ver o problema <strong>da</strong> leptospirose. Falei para ela o que digo a todos; é preciso<br />

levantar hipóteses e buscar <strong>da</strong>dos que permitam sua comprovação, não ao contrario, dos <strong>da</strong>dos<br />

para o problema. A própria escala de trabalho deve ser compatível com o problema trabalhado.<br />

Por exemplo, para se estu<strong>da</strong>r o efeito do clima sobre a saúde vamos fazê-lo na escala global. Não<br />

precisamos portanto de postes na escala local. Do mesmo modo, temos alguns problemas que se<br />

manifestam mais fortemente na escala local, na qual os <strong>da</strong>dos de quadras podem ser importantes<br />

(ver Barcellos e Bastos, 1996).<br />

Infelizmente, a maior parte dos projetos partem <strong>da</strong> premissa de que se necessita a maior<br />

quanti<strong>da</strong>de de informações, com a maior escala e precisão possível. Primeiro precisamos saber o<br />

que queremos e depois como obter os <strong>da</strong>dos.<br />

Da mesma maneira, a analise espacial deve ser condiciona<strong>da</strong> as hipóteses e concepções<br />

sobre espaço geográfico, não ao contrario. Nesse caso, ‘o progresso técnico esta a adiante <strong>da</strong><br />

criação e <strong>da</strong> teoria’ (Rojas et al., 1999). Por exemplo, em que casos se pode interpolar <strong>da</strong>dos?<br />

Essas técnicas foram desenvolvi<strong>da</strong>s principalmente para fenômenos contínuos no espaço, mas<br />

tem também sido aplica<strong>da</strong>s para <strong>da</strong>dos sociais. Isso faz algum sentido do ponto de vista <strong>da</strong><br />

geografia? Como ‘suavizar’ <strong>da</strong>dos de uma favela com o seu entorno? Esse tipo de técnica esta<br />

disponível em programas de geoprocessamento mas sua adequação vai depender do problema<br />

estu<strong>da</strong>do e de uma concepção (ideológica) do espaço urbano.<br />

Resposta 4-C:<br />

Acho, sim, que seria útil para as pessoas que trabalham com geoprocessamento poder<br />

contar com um melhor entendimento <strong>da</strong> natureza do espaço e <strong>da</strong>s questões típicas <strong>da</strong> Geografia.<br />

Porém, como disse anteriormente, não concordo que a Geografia detenha um “monopólio” desse<br />

262


entendimento, e acho que aos geógrafos deve também ser útil uma melhor compreensão <strong>da</strong><br />

representação computacional de objetos e fenômenos, algo essencialmente conduzido pela área<br />

de bancos de <strong>da</strong>dos. Essa área tem obtido muitos resultados interessantes do ponto de vista não<br />

apenas <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> natureza dos fenômenos reais, mas também do estabelecimento de<br />

linguagens e recursos para a sua codificação e para o desenvolvimento de consenso entre<br />

diferentes perspectivas ontológicas a respeito dos mesmos fenômenos. Na área de ciência <strong>da</strong><br />

informação geoespacial, a área – ain<strong>da</strong> embrionária – de sistemas de informação baseados em<br />

ontologias pode ser de muito interesse para pesquisadores <strong>da</strong> área de geografia. Não me consta<br />

(mas não é minha área de interesse principal) que <strong>da</strong> área de Geografia tenha emergido nenhuma<br />

linguagem ou padrão para a codificação e sistematização dos modelos; observo que para isso é<br />

usa<strong>da</strong> a linguagem natural, que é inerentemente subjetiva, ambígua, redun<strong>da</strong>nte e dependente de<br />

aspectos culturais. Os esforços na área de bancos de <strong>da</strong>dos espaciais e ontologias para codificar,<br />

comparar, integrar, sistematizar e consoli<strong>da</strong>r o conhecimento (algo às vezes denominado de<br />

“Information and knowledge management”) são totalmente diferentes do enfoque tradicionalista<br />

<strong>da</strong> Geografia, e por isso dão a impressão de que a dispensam totalmente, o que não é ver<strong>da</strong>de.<br />

Há, sim, desenvolvimento e interesse na avaliação qualitativa do espaço.<br />

Resposta 4-D:<br />

Este é um cui<strong>da</strong>do que se deve ter: gerar conhecimento - modelar o problema,<br />

contextualizá-lo, fazer um projeto para modelagem de <strong>da</strong>dos e modelagem espacial, tendo em<br />

vista a solução do problema em foco. Os <strong>da</strong>dos utilizados e, conseqüentemente, a informação<br />

gera<strong>da</strong> devem ser de quali<strong>da</strong>de e foca<strong>da</strong> no problema modelado, todo este processo deve ser<br />

dinâmico e integrado visando a geração de inteligência espacial - conhecimento.<br />

Resposta 4-E:<br />

Na pergunta reside parte do problema, acredito. É necessário caracterizar o que é<br />

informação e o que é conhecimento neste contexto. As análises quantitativas sobre universo de<br />

<strong>da</strong>dos coletados ou medidos com referência espacial e temporal não são objetos estranhos a<br />

geografia. A chama<strong>da</strong> revolução quantitativa na geografia, explorava já nos anos 70 este caminho<br />

263


e o fazia, como estrategicamente necessário a sua época, de maneira contundente, até para que<br />

pudesse ser ouvi<strong>da</strong>, no seio de uma ciência que se caracetrizava por exercitar todo o tempo um<br />

universo de discurso qualitativo. As análises sobres estas manipulações, transformações e<br />

representações espaço-temporais procurou também revelar razões de causa-efeito e interrelações<br />

mais complexas entre os atores sociais, institucionais, individuais e o território que habitavam.<br />

Como nos ensinou o Professor Milton Santos, o território é um produto <strong>da</strong> disputa social.<br />

(INCOMPLETO)<br />

Resposta 4-F:<br />

Concordo plenamente, como afirmei anteriormente, a utilização de programas e<br />

computadores oriundo <strong>da</strong> Eletrônica e <strong>da</strong> Ciência <strong>da</strong> Computação, trouxe para os profissionais<br />

que atuam na área uma resposta imediatista e intempestiva, é como se não fosse mais necessário<br />

planejar para se construir. Os sistemas estão sendo empregados indiscrimina<strong>da</strong>mente, o aporte<br />

financeiro investido é incomensurável. Eu creio que é necessário e urgente incorporar aos<br />

currículos dos cursos de Engenharia Cartográfica uma disciplina com conteúdo de Modelagem de<br />

Dados Espaciais, e nos cursos de pós-graduação devem ser desenvolvidos estudos do tipo de<br />

metodologia de análise de sistema que melhor se a<strong>da</strong>pta as características dos <strong>da</strong>dos espaciais, e<br />

conseqüentemente ao desenvolvimento de sistemas aplicativos com base em SIG.<br />

264


Quinta Pergunta: Em geral, a produção científica do geoprocessamento sinaliza que seu<br />

grande salto qualitativo em relação às formas precedentes de representação do espaço geográfico,<br />

se dá em razão <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de se efetuar análises espaciais.<br />

A rigor, a análise efetiva do espaço geográfico se configura em um processo cognitivo,<br />

que só adquire real substância, no contexto <strong>da</strong> construção intelectual de um <strong>da</strong>do analista.<br />

Os muito significativos processos de análise de <strong>da</strong>dos que o geoprocessamento pode<br />

produzir são, em última instância, produtores de informação significativa, capazes de instilar na<br />

reflexão de um observador qualificado, uma melhor compreensão de um <strong>da</strong>do fenômeno. Tratase<br />

portanto de informação, e não de conhecimento. Pode-se considerar que é uma informação<br />

prenhe de conhecimento, mas que continua sendo, para todos os efeitos, tão-somente informação,<br />

até que um analista qualificado a decodifique e a transforme em bem efetivo.<br />

A questão que parece emergir <strong>da</strong> assunção desta perspectiva como váli<strong>da</strong> é a seguinte: que<br />

conhecimentos preexistentes deve ter o receptor <strong>da</strong> informação, para que ela se possa transformar<br />

em conhecimento relevante?<br />

Esta parece ser uma questão de grande importância, porque uma <strong>da</strong>s maiores<br />

transformações trazi<strong>da</strong>s pelo geoprocessamento foi a emergência <strong>da</strong>s preocupações com a<br />

questão espacial numa série de ativi<strong>da</strong>des que, antes, muito pouco refletiam sobre o espaço.<br />

Assim como a crescente complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social foi, aos poucos, incorporando o tempo,<br />

através de relógios, calendários e horários, uma <strong>da</strong>s principais transformações que o<br />

geoprocessamento vem promovendo parece ser a incorporação cotidiana do espaço a uma série<br />

de ativi<strong>da</strong>des.<br />

O(A) Sr.(a) considera que a popularização do uso de informações espaciais, tanto em<br />

contextos mais complexos, onde análises de <strong>da</strong>dos espaciais dão sofisticação à percepção do<br />

espaço, quanto em contextos mais cotidianos, nos quais um "palmtop" com GPS pode vir a se<br />

tornar quase o equivalente a um relógio de pulso, deve ensejar uma maior disseminação de<br />

conhecimentos sobre o espaço e sobre suas representações, de forma a melhor qualificar os<br />

usuários na interpretação <strong>da</strong>s informações?<br />

265


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 5.<br />

Resposta 5-A:<br />

Sim, as inclusões digital e espacial, farão com que estes conceitos, já muitas vezes<br />

intuitivos (de espaço, direção etc), se materializem em informações úteis no cotidiano <strong>da</strong>s pessoas<br />

nos mais diversificados níveis de utilização: do GPS de bolso, palms, mapas digitais em totens,<br />

atlas digitais escolares até o uso de satélites e outras tecnologias mais complexas. A exemplo do<br />

que ocorreu com a disseminação <strong>da</strong> telefonia móvel, Internet etc.<br />

Resposta 5-B:<br />

Acho que cabe a nos não so ensinar geoprocessamento e analise espacial, mas<br />

principalmente a elaborar questões. Essas questões vão ser encaminha<strong>da</strong>s pelo<br />

geoprocessamento, usando GPS, Palmtop, o que seja, se forem pertinentes.<br />

Outra historia ilustrativa: outro dia eu estava nas margens <strong>da</strong> Lagoa Rodrigo de Freitas<br />

com um GPS. Um esportista parou ao meu lado e perguntou se realmente aquilo era um GPS. Ele<br />

já havia ouvido falar do equipamento e sabia que precisava <strong>da</strong>quilo, mas não sabia exatamente<br />

para que. Perguntei a ele se ele tinha um barco (não) ou se fazia passeios pela mata em que podia<br />

se perder (não). Que problemas as pessoas acham que podem ser resolvidos com GPS? A simples<br />

posse do GPS ou o desenvolvimento de projetos de geoprocessamento parece para muitos de nos<br />

uma simples pressão consumista.<br />

Resposta 5-C:<br />

Na minha opinião esta questão é de simples resposta, não adianta ao usuário ter um<br />

relógio de pulso se ele não sabe ler as horas. Acredito que a evolução tecnológica é uma grande<br />

alia<strong>da</strong> <strong>da</strong> disseminação do conhecimento, a medi<strong>da</strong> em que o homem descobre novos modos de<br />

olhar o mundo entende que precisa saber mais para observar melhor. A era <strong>da</strong> informação é<br />

agora, poucos tem conhecimento, a era do conhecimento está por vir.<br />

266


Resposta 5-D:<br />

Acho que uma maior popularização do uso de informações espaciais depende<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente do desenvolvimento <strong>da</strong>s formas e recursos para promover a interação de um<br />

usuário leigo com essas informações. De que adianta um palmtop com GPS se o usuário não sabe<br />

ler um mapa? Existem pesquisas que procuram desenvolver interfaces mais naturais para tal<br />

usuário, usando recursos como a visualização 3D, consultas basea<strong>da</strong>s em “rabiscos” e “sketches”<br />

mal-traçados, animação e linguagem natural. Em que pese a universali<strong>da</strong>de aparente do mapa<br />

como interface, existem muitas outras possibili<strong>da</strong>des para promover a transmissão de informação<br />

geográfica para um usuário.<br />

Enfim, acho que a tecnologia buscará formas de evitar que a falta de algum conhecimento<br />

por parte do usuário o impeça de se beneficiar <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de informação, geográfica ou<br />

não. A real sofisticação <strong>da</strong> tecnologia quanto à percepção do espaço se <strong>da</strong>rá fazendo com que a<br />

comunicação com as pessoas ocorra de forma mais natural do ponto de vista cognitivo, e não ao<br />

contrário, em que a tecnologia exija que as pessoas disponham de uma série de conhecimentos<br />

preexistentes para que possam se beneficiar <strong>da</strong> informação. Esta segun<strong>da</strong> situação se assemelha à<br />

reali<strong>da</strong>de atual, mas considero que é uma situação transitória: quantos usuários conhecem as<br />

funções de todos os botões do controle remoto de seu videocassete? É justamente por isso que as<br />

TVs mais recentes têm menos botões e mais funções “on-screen”, interativas.<br />

Resposta 5-E:<br />

Do meu ponto de vista, isso vai acontecer sim, só que não exatamente num enfoque mais<br />

presente na interpretação <strong>da</strong>s informações, mas sim em uma maior capaci<strong>da</strong>de de exigi-las – com<br />

quali<strong>da</strong>de adequa<strong>da</strong>, na maior necessi<strong>da</strong>de de tê-las e de fazer uso delas – de forma mais direta,<br />

contínua e correta.<br />

267


Sexta Pergunta: O historiador Eric Hobsbawm usa um termo muito expressivo para falar<br />

do cinema e de seu impacto na cultura e nas artes <strong>da</strong> vira<strong>da</strong> do séc.XIX para o séc.XX: ele o<br />

chama de "fotografia em movimento".<br />

Uma <strong>da</strong>s grandes críticas que sempre foram feitas às representações do espaço refere-se à<br />

sua natureza estática e fixa no tempo; de forma similar a uma fotografia.<br />

Com alguma liber<strong>da</strong>de, pode-se especular que to<strong>da</strong>s as condições científicas e técnicas<br />

para que as representações do espaço se ponham em movimento já existem. A "Animated<br />

Cartography" já dispõe de vasto material para análise na Internet, assim como há diversos<br />

produtores de software que divulgam a construção de ambientes virtuais em três dimensões, que<br />

permitem imaginar que, num futuro próximo, a integração dinâmica de imagens de diversas<br />

perspectivas pode produzir representações espaciais tridimensionais que muito se assemelharão à<br />

observação direta do espaço.<br />

Questões éticas à parte, não por irrelevância destas, mas sim por não serem o objeto deste<br />

questionário, a questão que emerge dessa perspectiva de evolução remete a uma reflexão sobre<br />

qual a natureza do conhecimento que irá subsidiar esta forma futura de representação do espaço,<br />

na qual espaço e tempo estarão finalmente integrados.<br />

Especulações sobre o futuro são sempre imperfeitas, porque, em reali<strong>da</strong>de, tratam-se de<br />

uma projeção à frente dos cenários do presente e do passado mais recente, não incorporando, por<br />

razões óbvias, as revoluções criativas e o inesperado, que, de uma forma ou de outra, acabam<br />

sempre por acontecer.<br />

No entanto, mesmo em face desta ressalva, qual é o cenário futuro que o(a) Sr.(a) imagina<br />

para o geoprocessamento? Que conhecimentos serão necessários nestes contextos futuros?<br />

268


<strong>Respostas</strong> à Pergunta de número 6.<br />

Resposta 6-A:<br />

Acho que a popularização e um fato irreversível. Pela Internet, Palmtop ou outros meios<br />

vamos ter maior acesso a mapas. O numero de usuários tende a aumentar, mas deve ser<br />

acompanhado por um processo de aprendizado para se ler mapas corretamente.<br />

Do outro lado, isso vai exigir um maior esforço dos técnicos de desenvolvimento, para<br />

preparar bases de fácil acesso a população e meios de divulgação.<br />

Resposta 6-B:<br />

É difícil prever os caminhos trilhados pela tecnologia, a questão dos Serviços Baseados<br />

em Localização (palms, GPS), o foco na informação e não em mapas materializados; a utilização<br />

de satélites de alta resolução são apenas alguns dos inúmeros caminhos em evolução, que em<br />

breve farão parte do passado, pois outras novas tecnologias emergirão. Concordo que é difícil<br />

fazer especulações futuras quando se fala em Geotecnologia.<br />

Resposta 6-C:<br />

O futuro eu imagino terá o geoprocessamento como instrumento básico de formação<br />

educacional e profissional e de trabalho, funcionado como agente integrador de diferentes áreas<br />

de conhecimento, participando como elemento básico na gestão do Estado – seja em nível<br />

municipal, estadual ou federal, em questões de natureza ambiental, territorial, social, enfim,<br />

deverá estar tão integrado à socie<strong>da</strong>de que poderá passar despercebido, mas não esquecido –<br />

talvez até passe por uma `promoção´: de geoprocessamento para geotecnologias !<br />

Em termos de conhecimento, sem tentar maiores especifici<strong>da</strong>des, acredito na expansão<br />

<strong>da</strong>s áreas hoje evidencia<strong>da</strong>s, bem como na agregação de um maior número de áreas de<br />

conhecimento, pela característica multi-interdisciplinar do geoprocessamento. Exemplificando: a<br />

tecnologia GPS até pouco tempo era dedica<strong>da</strong> a questão do posicionamento, de determinação de<br />

coordena<strong>da</strong>s. Evoluiu, passando a ser relevante no contexto de tempo, que pode ser, inclusive,<br />

269


visto como uma coordena<strong>da</strong>. Entretanto, seu desenvolvimento se expandiu de tal modo que,<br />

atualmente, já serve a pesquisa e estudo <strong>da</strong> Meteorologia. Isso ocorre devido ao fato <strong>da</strong><br />

exploração <strong>da</strong> tecnologia ao seu enfoque original já apresentar uma certa consoli<strong>da</strong>ção – o que de<br />

forma nenhuma apresenta estagnação, permitindo desta forma que outras áreas de conhecimento<br />

usufruam suas potenciali<strong>da</strong>des.<br />

Resposta 6-D:<br />

Eu creio que não conhecimento dispensável quando se trata de Tecnologias <strong>da</strong><br />

Geoinformação, pois a ca<strong>da</strong> momento vejo algo novo sendo incorporado. Estudos relativos ao<br />

cumprimento de legislação tipo uso e ocupação do solo, estudos de ventilação em grandes<br />

aglomerados urbanos, estudos relacionados ao socorro de emergência médica em domicílio nas<br />

áreas de baixa ren<strong>da</strong> que não possuem endereço, entre tantos outros. É necessário que ca<strong>da</strong><br />

profissional atue dentro <strong>da</strong> sua área de conhecimento, em conjunto com os outros. Diante desta<br />

afirmação, creio que o conhecimento mais necessário para o homem é sobre o próprio homem,<br />

reconhecer a humil<strong>da</strong>de em ca<strong>da</strong> um de nós e aceitar a afirmação do grande filósofo Sócrates,<br />

“Só sei que na<strong>da</strong> sei”.<br />

Resposta 6-E:<br />

Certamente os aspectos temporais apresentam um desafio importante e interessante para o<br />

geoprocessamento, uma vez que nossos atuais paradigmas de visualização de informação são<br />

inerentemente 2D e estáticos, conforme afirmado na pergunta. Mesmo as representações<br />

tridimensionais são apenas projeções no plano, que requerem outros recursos para se tornarem<br />

realmente úteis – e aí entra parte do uso de animação. Acho que recursos para visualização de<br />

fenômenos temporais são necessários, juntamente com recursos para que possamos manter<br />

nossos bancos de <strong>da</strong>dos atualizados sem ter que jogar fora a informação anterior. Novos recursos<br />

de interface com o usuário são também bastante necessários, assim como mais ferramentas para<br />

análise segui<strong>da</strong> de predição de tendências e comportamentos. Em to<strong>da</strong>s essas áreas, existe uma<br />

grande necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atuação de pessoas especializa<strong>da</strong>s nos aspectos computacionais de ca<strong>da</strong><br />

problema, trabalhando em cooperação muito próxima com os especialistas nas áreas de aplicação,<br />

270


sejam eles historiadores, urbanistas, geólogos, sanitaristas, epidemiólogos ou ecólogos. Não<br />

imagino que seja possível progredir muito com o geoprocessamento sem tal cooperação.<br />

Referências bibliográficas constantes nas respostas:<br />

Barcellos, C. & Bastos, F.I. (1996) Geoprocessamento, ambiente e saúde, uma união possível?<br />

Cadernos de Saúde Pública. 12(3): 389-397<br />

Barcellos, C.; Ramalho, W.M. (2002) Situação atual do geoprocessamento e <strong>da</strong> análise de<br />

<strong>da</strong>dos espaciais em saúde no Brasil. Revista Informática Pública. 4(2):221-230.<br />

Rojas, L.I.; Barcellos, C.; Peiter, P. (1999) Utilização de mapas no campo <strong>da</strong> Epidemiologia<br />

no Brasil: reflexões sobre trabalhos apresentados no IV Congresso Brasileiro de<br />

Epidemiologia. Informe Epidemiológico do SUS. 8(2): 25-35.<br />

271

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