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compressed-aprendendo ciencia e sobre a sua natureza

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realismo/antirrealismo em situações de ensino de Física, à luz da interface entre História e Filosofia<br />

da Ciência. Trata-se do conceito de linhas de força no pensamento de Michael Faraday.<br />

2. A NECESSIDADE DO DIÁLOGO ENTRE HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA<br />

Uma apresentação comparativa de várias propostas relativas à contribuição da História da<br />

Física para o ensino dessa ciência, desenvolvida por Seroglou e Koumaras (2001), revela que<br />

as questões da Epistemologia e da Filosofia têm sido menos contempladas; seu exame de usos<br />

para a História deixa claro o privilégio concedido pela literatura à dimensão cognitiva, que se<br />

refere ao ensino e aprendizagem do conteúdo científico da Física, de <strong>sua</strong> metodologia, e das<br />

dificuldades dos estudantes, em especial, o problema das concepções alternativas.<br />

Já a dimensão meta-cognitiva, que inclui o entendimento da <strong>natureza</strong> e dos fins da Ciência,<br />

recebe um número muito menor de contribuições. E Matthews (1988) ressalta que<br />

historiadores da Ciência têm sido mais ativos do que filósofos na produção de trabalhos<br />

visando a objetivos educacionais.<br />

Embora História e Filosofia sejam disciplinas distintas, com objetivos e métodos próprios,<br />

ao tratar de episódios históricos da Ciência é preciso levar em consideração que seus autores<br />

tomavam decisões metodológicas que eram um reflexo da epistemologia advogada por eles.<br />

Assim, a inter-relação entre esses campos não é uma contingência, pois já está implícita na<br />

própria forma como os cientistas trataram seus objetos de estudo. Do ponto de vista dos<br />

historiadores e filósofos da Ciência essa interdependência é um dado, pois ao construir seu<br />

relato o historiador seleciona e interpreta os fatos de acordo com <strong>sua</strong> posição epistemológica.<br />

Com respeito ao progresso da Ciência, por exemplo, temos duas posições distintas: a que<br />

analisa a História buscando rupturas, e a visão continuísta. Assim, ao passo que Thomas Kuhn<br />

vê o episódio da revolução copernicana como um paradigma de ruptura na história da Ciência<br />

(1970, pp. 95-97), Pierre Duhem destaca a dependência que a formulação final da teoria da<br />

gravitação universal, por Newton, tem de concepções que vinham sendo desenvolvidas desde<br />

a idade média (1991, pp. 220-252).<br />

Além disso, os manuais utilizados para ensino de Física também não são neutros. No que se refere<br />

ao debate em consideração aqui, enquanto alguns passam a ideia de que a Ciência tem caráter<br />

instrumentalista, lidando com representações matemáticas que visam à economia e à previsão, outros<br />

autores, pelo tipo de linguagem utilizada, induzem a crença de que termos teóricos da Física têm<br />

existência real, sem que isso seja devidamente problematizado. Tomemos como exemplo o conceito<br />

em foco neste trabalho, o de linhas de força. A abordagem típica dos manuais é a de que linhas de<br />

força são apenas uma representação geométrica útil do campo eletrostático, que permite inferir <strong>sua</strong><br />

direção, sentido e intensidade (p. ex. Hewitt, 2002). Por outro lado, Hewitt apresenta fotos do campo<br />

gerado por um par de condutores eletrizados, obtidas a partir de pedaços de linha de costura em<br />

suspensão no óleo que os circunda, e pede que se observe o alinhamento dos fios de linha com a<br />

direção do campo (p. 1. Em nosso entendimento esse artifício acaba por imprimir materialidade às<br />

linhas de força. Considere-se também a sugestão de ue lihas de força asce e cargas positivas e<br />

orre e cargas egativas (Paraná, 1998, p. 76); os teros ascer e orrer, mesmo que não<br />

intencionalmente, reforçam a perspectiva realista desse conceito.<br />

Finalmente, a própria linguagem da Ciência tem um cunho filosófico, pois se expressa

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