ANGOLA - Interfurniture
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“a crisE lEvou as EmPrEsas a Procurar<br />
mErcados altErNativos”<br />
O engenheiro Amaro Martins é o presidente do Conselho de Administração da Marjos. A empresa líder de mercado foi fundada em 1980 e dedica-se<br />
ao comércio e assistência técnica pós-venda de máquinas e ferramentas para a indústria da madeira. O engenheiro gere um volume de negócios na<br />
ordem 16,97 milhões e fala sobre a empresa, o mercado angolano e a atual crise económica.<br />
Eng. Amaro Martins<br />
“Há cerca de 15 anos tivemos uma presença<br />
muito forte em Angola. Montamos<br />
diversas infraestruturas em parceria com<br />
uma empresa de construção, numa altura<br />
em que decorriam os Jogos Pan-Africanos<br />
e era preciso montar uma “aldeia olímpica”.<br />
Durante alguns anos conseguimos ter<br />
muitos negócios em Angola. Chegamos a<br />
ter perto de 200 pessoas a trabalhar no<br />
país. Estes acontecimentos coincidiram<br />
com uma crise que por esta altura aconteceu<br />
em Portugal e as exportações caíram<br />
a pique. Apesar do mercado nacional ser<br />
bom, foi bloqueado. Por isso, apostamos<br />
forte no mercado angolano, que estava em<br />
crescimento, o que constituiu uma rampa<br />
de lançamento para a Marjos.”<br />
“Ser líder é estar numa posição delicada,<br />
porque quando crescemos no mercado<br />
nacional, e atingimos o topo, pretendemos<br />
continuar a crescer e, para isso, temos de<br />
procurar outros mercados. Foi essa a razão<br />
porque de há uns anos a esta parte fomos<br />
para o Brasil. O país constitui um mercado<br />
bastante competitivo e difícil, porque estamos<br />
a lidar com os nossos fornecedores e<br />
com os concorrentes dos nossos fornecedores<br />
e não temos apoios relativamente à<br />
exportação.”<br />
“A perspetiva do mercado angolano é infinita,<br />
desde que existem condições políticas,<br />
de segurança e de trabalho no país. A única<br />
vantagem que se pode tirar desta crise<br />
que actualmente se vive é que os nossos<br />
clientes do setor do mobiliário tiveram de<br />
ir à procura de novos mercados, por falta<br />
de mercado interno. E algumas empresas<br />
estão a fazer verdadeiros milagres porque<br />
estão a vender muito para França e Espanha,<br />
por exemplo. Nós fomos para o Brasil<br />
porque tínhamos uma estrutura preparada<br />
para atingir um volume de faturação, que<br />
começou a cair. Por isso, tivemos de ‘pegar<br />
nas malas’ e tentar entrar noutro mercado.”<br />
“Relativamente a Angola, estamos a analisar<br />
a evolução do mercado, da política, da<br />
segurança e também muitas empresas que<br />
têm ido para lá. Há já pessoas a ir para Lobito<br />
e Benguela para tentar fugir a essas dificuldades<br />
da capital. Mas vamos entrar no<br />
mercado angolano, isso é uma certeza. Só<br />
estamos à espera do momento certo para<br />
o fazer. Estou a falar em termos de projetos<br />
grandes, porque já temos negócios com o<br />
país, embora a uma escala reduzida.”<br />
“No que diz respeito às empresas portuguesas<br />
que se querem instalar em Angola,<br />
podemos estabelecer parcerias com as<br />
mesmas. Fazemos projetos de chave na<br />
mão, todo o serviço de montagem da unidade<br />
industrial. Ou seja, fazemos o mesmo<br />
que já fazemos em Portugal e no Brasil.<br />
Colocamos à disposição dessas empresas<br />
todo o nosso ‘know-how’, que resulta de<br />
uma experiência de quase 30 anos.”<br />
“Em Portugal, o número de novos projetos<br />
é quase nulo, temos alguns interessantes<br />
que ainda contamos fazer este ano. A grande<br />
dificuldade é o acesso ao financiamento.<br />
O governo deve apoiar as empresas<br />
que têm viabilidade com o acesso ao crédito<br />
e a companhias de leasing. No entanto,<br />
o apoio a novos projetos é demorado.<br />
Existem alguns apoios, nomeadamente às<br />
PME’s, mas o governo também não pode<br />
fazer muito mais. No entanto, se a grande<br />
bandeira do governo é a exportação, devia<br />
apoiar os negócios com linhas de crédito e<br />
seguros de crédito.<br />
A Marjos este ano atingiu um volume de<br />
vendas recorde com as exportações. Pela<br />
primeira vez vendemos mais para fora do<br />
que para o mercado nacional. É uma rela-<br />
ção de 70 por cento ao nível das exportações<br />
para 30 por cento das vendas no mercado<br />
nacional. O nosso grande mercado,<br />
neste momento é o Brasil.”<br />
“Segundo analistas, Portugal vai ser um<br />
dos últimos países a sair da crise. Enquanto<br />
as grandes potencias não recuperarem,<br />
dificilmente as coisas irão melhorar para<br />
Portugal. O grande desafio das empresas<br />
é aguentarem até as melhorias chegarem.<br />
E só as empresas com maior capacidade é<br />
que conseguem isso.<br />
O governo devia apoiá-las. As empresas<br />
que nasceram e cresceram nos anos de<br />
ouro estão menos preparadas para resistirem<br />
à crise. Mas a verdade é que as empresas<br />
que estavam bem, hoje continuam<br />
mais ou menos bem, a maior parte delas<br />
por irem à procura de mercados estrangeiros.<br />
As que estavam mais ou menos estão<br />
a ficar para trás. Umas já faliram e outras<br />
vão falir também.”<br />
“A Marjos preparou-se para enfrentar a crise.<br />
Fomos para o Brasil numa altura em<br />
que a economia atingiu o seu pico – 1999.<br />
Isto aconteceu porque a empresa tinha um<br />
estrutura que eu sabia que não seria suportada<br />
numa situação de crise. Por isso,<br />
tivemos de ir à procura de um mercado alternativo.<br />
Foi um grande passo que demos<br />
e que se reflete positivamente nos dias de<br />
hoje. Apesar de dependermos em grande<br />
parte das exportações, nunca vamos virar<br />
costas ao mercado nacional, que continua<br />
a ser o nosso mercado prioritário. As nossas<br />
raízes estão aqui. No entanto, temos<br />
de ir para fora, porque atualmente, o mercado<br />
nacional não comporta uma empresa<br />
como a Marjos.”<br />
“Às empresas que entram pela primeira vez<br />
no mercado angolano, aconselho que tenham<br />
muito cuidado com os investimentos.<br />
Façam tudo bem pensado, com um grande<br />
apoio jurídico. Não façam nada sem uma<br />
prospeção de mercado bem elaborada.<br />
construam um plano económico-financeiro<br />
e definam uma estratégia. ‘Não se lancem<br />
às escuras’. Não vão lá só porque outros já<br />
foram. Angola é um mercado onde é muito<br />
difícil entrar. Uma incursão não preparada<br />
pode resultar em falência.”<br />
“Portugal tem produto para competir com<br />
outros países. Existem grandes diferenças<br />
entre uma Export Home que era feita há<br />
dez anos atrás e outra que é feita agora.<br />
Os portugueses evoluíram de uma forma<br />
tremenda, sobretudo ao nível do design e<br />
da promoção dos produtos. Temos qualidade.<br />
As grandes empresas não têm problemas<br />
em exportar mobiliário. Mas são precisos<br />
apoios, é necessário que o mercado<br />
abra um pouco.”