Comunicação março 2011.pmd - Catedral São José
Comunicação março 2011.pmd - Catedral São José
Comunicação março 2011.pmd - Catedral São José
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O aprofundamento de um diálogo de muitos interlocutores<br />
Neri Mezadri,<br />
professor e coordenador pedagógico do Itepa<br />
Rene Zanandréa, padre da Diocese de Vacaria<br />
e diretor do Itepa<br />
Desde o nascimento do Itepa enfrentamos e perseguimos<br />
o desafio de manter um diálogo entre as forças<br />
mobilizadoras da ação evangelizadora nas Dioceses e o Instituto,<br />
responsável pela “reflexão acadêmica”. Sempre é bom<br />
reforçar a concepção de que a relação teoria-prática acontece<br />
de forma dialética e que não se trata de um espaço teórico<br />
e outro prática, mas que ambos se efetivam nos “dois espaços”,<br />
através de relações e mediações as mais diversas.<br />
Nos últimos anos, temos buscado, reciprocamente, esta<br />
aproximação também na perspectiva da reflexão teológicopastoral,<br />
principalmente a partir dos professores de<br />
Metodologia e Prática Pastoral e dos coordenadores de pastoral.<br />
Sabemos da necessidade de estreitar e estender para<br />
outras instâncias este diálogo. Temos certeza que, com o empenho<br />
dos responsáveis diretos e a colaboração de todos na<br />
perspectiva de sensibilizar-se aos apelos e necessidades emergentes,<br />
daremos passos significativos.<br />
O espaço que as equipes dos jornais e/ou boletins<br />
diocesanos têm propiciado ao Instituto é um destes sinais que<br />
podem nos manter em diálogo. Por parte do Itepa sempre<br />
encaramos esta provocação feita, abrindo-se a esta dinâmica.<br />
Por isso, também gostaríamos de contar com sugestões e observações<br />
das equipes e do público em geral, apontando, desde<br />
temáticas a serem abordadas até ponderações em relação aos<br />
pequenos artigos.<br />
Para 2011, estamos preparando um conjunto de artigos<br />
que vão abordar temáticas específicas a partir de preocupações<br />
dos nossos alunos quartanistas e condensados em seus<br />
trabalhos monográficos.<br />
Com enfoques diferentes, os temas estarão em diálogo<br />
com a problemática da Pastoral Urbana, tema do Congresso<br />
Teológico e que já está provocando trocas entre professores<br />
e alunos do Itepa e os coordenadores de pastoral das Dioceses.<br />
A questão estética sob a ótica juvenil, a realidade da família,<br />
os ministérios leigos, as relações de poder na<br />
evangelização, as experiências de comunidades de vivência e<br />
a dinâmica do Reino num contexto de globalização neoliberal<br />
estão entre as temáticas dos trabalhos monográficas dos alunos<br />
e que iremos partilhar com os leitores dos jornais<br />
diocesanos durante o ano.<br />
Fazemos votos de que as reflexões possam ter continuidade<br />
nas diversas comunidades espalhadas pelas cinco<br />
Dioceses mantenedoras do Itepa e que repercutam no compromisso<br />
e na eficácia da ação evangelizadora. Que os artigos<br />
sejam pequenos gestos e que consigamos fortalecer outras<br />
formas de diálogo, nesta tarefa coletiva e de mão dupla que é<br />
a ação evangelizadora.<br />
A lama das chuvas e o lodaçal da imoralidade<br />
Um início de ano chuvoso em muitos<br />
lugares, especialmente com a<br />
hecatombe na região serrana do Rio de<br />
Janeiro, no dia 12 de janeiro, primeiro ano<br />
do terremoto no Haiti, com a morte de<br />
quase mil pessoas, desaparecimento de<br />
outras e muita destruição, nos marcou<br />
com cenas impressionantes, exaustivamente<br />
repetidas pelos Meios de Comunicação.<br />
Cenas de casas e edifícios reduzidos<br />
a destroços, de casas “penduradas”<br />
nas encostas, mas, acima de tudo de pessoas<br />
em desespero e em atos heróicos<br />
de generosidade, arriscando a vida para<br />
salvar outras.<br />
Componente dessas cenas foi a<br />
lama. Lama que escorria pelas encostas,<br />
que desfigurava as casas, que impedia o<br />
deslocamento das pessoas e soterrou<br />
muitas delas.<br />
A lama aparece também em qualquer<br />
lugar, em menores proporções, é claro,<br />
mas sempre prejudicial, quando há<br />
uma chuva um pouco maior. Por causa<br />
do lixo jogado por aí, as bocas de lobo e<br />
os bueiros das cidades entopem, causando<br />
alagamentos. No meio rural, a destruição<br />
da mata ciliar e o destino incorre-<br />
to dado a dejetos faz com que os rios<br />
transbordem rapidamente e inundem residências,<br />
galpões e lavouras.<br />
Em Erechim, uma ONG, Eloverde,<br />
realiza mutirão de recuperação dos rios<br />
do município. Em janeiro e fevereiro, desenvolveu<br />
várias etapas deste trabalho no<br />
Rio Tigre, um dos abastecedores da barragem<br />
de captação de água da<br />
CORSAN. Retirou quase três toneladas<br />
de lixo. Na última estiagem mais prolongada,<br />
causando racionamento de água, na<br />
mesma barragem, apareceu muito entulho<br />
que a população havia jogado nos riachos<br />
que nela desembocam.<br />
Então, esta lama, sempre mais frequente,<br />
não é provocada apenas pela chuva.<br />
É resultado da irresponsabilidade das<br />
pessoas que não dão o devido destino ao<br />
lixo. As residências em lugares de risco,<br />
continuamente expostas às<br />
consequências das enxurradas, se devem<br />
à falta de políticas públicas de habitação<br />
segura. As pessoas constroem sua moradia<br />
nesses lugares por não terem condições<br />
para fazê-lo em lugar mais seguro.<br />
A própria Presidente do País, ao visitar<br />
as cidades atingidas no Rio de Janeiro,<br />
declarou que, no Brasil, a construção<br />
de residências em lugares de risco não é<br />
a exceção, mas a regra.<br />
Porém, não bastam políticas públicas<br />
de habitação e saneamento básico<br />
para evitar que a cada chuva a lama provoque<br />
estragos. É necessário uma verdadeira<br />
reeducação das pessoas para o<br />
procedimento correto com o lixo, para a<br />
redução de sua “pegada ecológica” (o<br />
termo designa espécie de cálculo entre o<br />
que uma nação tem para extrair da natureza<br />
e gastar, sem comprometer sua<br />
sustentabilidade).<br />
Neste sentido, a Campanha da<br />
Fraternidade deste ano, tratando especialmente<br />
do aquecimento global e das<br />
mudanças climáticas, será meio oportuno<br />
de conscientização a respeito dos cuidados<br />
com o meio ambiente a fim de se<br />
preservar as condições de vida no Planeta.<br />
Mas há outra lama a atormentar<br />
nossa vida. É a da imoralidade, arrasadora<br />
dos valores fundamentais da vida e<br />
causadora de destruição dos lares, da dignidade<br />
de cada pessoa humana. É a lama<br />
da corrupção eleitoral, com a compra de<br />
Março / 2011 – COMUNICAÇÃO DIOCESANA – 17