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Contextos educativos não formais

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motivar os adultos para a aprendizagem<br />

<strong>Contextos</strong> Educativos Não Formais:<br />

Reconhecimento, Valorização<br />

e Capacidade Motivacional<br />

Relatório Nacional<br />

aprendizagem<br />

motivar os adultos para a aprendizagem<br />

age<br />

motivar os adultos<br />

para a aprendizagem<br />

motivar<br />

motivar os adultos paraaa<br />

a aprendizagem<br />

os adultos<br />

para a aprendizagem<br />

motivar os adultos para a aprendizagem<br />

motivar os adultos para a aprendizagem


PROGRAMA SOCRATES – GRUNDTVIG<br />

MOTIVAR OS ADULTOS PARA A APRENDIZAGEM<br />

<strong>Contextos</strong> Educativos Não Formais:<br />

Reconhecimento, Valorização e Capacidade Motivacional<br />

Relatório Nacional<br />

Direcção-Geral de Formação Vocacional<br />

Lisboa, 2007


Ficha técnica<br />

Título<br />

<strong>Contextos</strong> Educativos Não Formais: Reconhecimento, Valorização e Capacidade<br />

Motivacional<br />

Relatório Nacional<br />

© Direcção-Geral de Formação Vocacional<br />

(1ª edição, Fevereiro 2007)<br />

Autor<br />

António Inácio Correia Nogueira<br />

Coordenação<br />

Maria Teresa Braz Gonçalves<br />

Maria do Carmo Gregório<br />

Capa e paginação<br />

Jacinta Gonçalves<br />

As opiniões expressas neste relatório são da responsabilidade do autor e não reflectem<br />

necessariamente a opinião da Direcção-Geral de Formação Vocacional ou do Ministério da<br />

Educação<br />

Direcção-Geral de Formação Vocacional<br />

Av. 24 de Julho, nº 138<br />

1399-026<br />

Tel. 21 3943700 Fax. 21 3943799<br />

www.dgfv.min-edu.pt<br />

ISBN: 972-8743-27-0<br />

ISBN: (13 dig.): 978-972-8743-27-7


Nota Prévia<br />

O presente documento “<strong>Contextos</strong> Educativos Não Formais: Reconhecimento,<br />

Valorização e Capacidade Motivacional” é o resultado do trabalho de observaçãoacção<br />

realizado no âmbito do projecto transnacional Motivar os Adultos para a Aprendizagem<br />

(MAPA) – Programa SOCRATES – GRUNDTVIG.<br />

Este projecto, coordenado pela Direcção-Geral de Formação Vocacional, decorre entre<br />

2004 e 2007 e desenvolve-se em parceria com três instituições de diversos países europeus:<br />

Centre Université-Economie d’Education Permanente de (CUEEP), Lille<br />

França, Istituto di Richerche Economiche e Social del Friuli Venezia Giulia (IRES),<br />

Itália, Ishop Sprog-Org integrationscenter (ISI), Dinamarca. Participa também no<br />

projecto, enquanto “partner silence”, a Fondation pour le Développement de l’Education<br />

Permanente, com sede em Genebra, Suiça.<br />

Tendo como público-alvo os adultos com baixos níveis de qualificação e como campo<br />

de observação instituições promotoras de educação não formal dos diferentes países<br />

parceiros, o projecto MAPA pretende identificar as práticas e as medidas que possam<br />

reforçar a motivação dos adultos para a aprendizagem a partir de actividades de<br />

educação não formal.<br />

À semelhança do realizado nos demais países parceiros do projecto, em Portugal, foi<br />

desenvolvido um trabalho de observação e análise de actividades de educação não<br />

formal, dirigidas a públicos adultos, promovidas por quatro instituições cuja colaboração<br />

foi inestimável:<br />

- Centro Comunitário de Inserção Caritas – Diocesana de Coimbra – Um projecto<br />

com mulheres<br />

- FormAjuda – Gabinete de formação e de Projectos da Ajuda – Educação para a<br />

Sexualidade;<br />

- Município de Constância – Clube S@bER + – Educação pelo Movimento;<br />

- Solidários – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário – Educação<br />

Transgeracional.<br />

Através do empenho demonstrado em querer “fazer melhor”, a partir da reflexão<br />

sobre as suas práticas, estas instituições provaram, no dizer de António Inácio Correia<br />

Nogueira, o autor, “que é possível melhorar as práticas em Portugal, se investirmos,<br />

persistentemente, em projectos desta natureza”.<br />

Ao analisar e reflectir sobre este tipo de práticas, o presente documento põe em<br />

evidência a importância das actividades de educação não formal na motivação de<br />

públicos pouco escolarizados para a aprendizagem ao longo da vida.<br />

A Direcção


A elaboração deste relatório só foi possível graças à empenhada<br />

participação das quatro instituições integradas no projecto, dos<br />

seus agentes e participantes.<br />

No entanto, não seríamos justos se não viéssemos a evidenciar os<br />

apoios imprescindíveis prestados por Maria Teresa Braz Gonçalves,<br />

da Direcção-Geral de Formação Vocacional, e por todos os elementos<br />

das equipas institucionais que participaram no projecto:<br />

Augusta Marques, Cláudia Dias, Cristina Fernandes Cabral, Glória<br />

Pinto, Maria Isabel Cartaxo, Júlia Maria Lopes Amorim, Luís Filipe<br />

Correia Dias, Luísa Pinhal, Oriana Brás e Vilma Silva<br />

A todos, os meus agradecimentos<br />

Inácio Nogueira<br />

OBS: Tentou reproduzir-se, fielmente, alguns documentos produzidos pelas instituições<br />

durante a fase de observação-acção.<br />

5


Índice<br />

Capítulo I ................................................................................................................. 9<br />

Da natureza do não formal aos questionamentos pertinentes<br />

1. O não formal no contexto português: visitação rápida e contextualizadora ................ 11<br />

2. O não formal: reflexões e resultados recolhidos em torno desta centralidade ............ 12<br />

3. Os caminhos da investigação-acção: seus constrangimentos e “coisas boas” ............. 14<br />

Bibliografia ................................................................................................................. 18<br />

Anexos A e B .............................................................................................................. 19<br />

Capítulo II ................................................................................................................ 23<br />

As respostas institucionais da Solidários – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário<br />

1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da actividade objecto de<br />

observação ............................................................................................... 25<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido .......................................................... 26<br />

3. O não formal pela voz da instituição ...................................................................... 36<br />

Apoios documentais ..................................................................................................... 40<br />

Capítulo III .............................................................................................................. 41<br />

As respostas institucionais da Caritas Diocesana de Coimbra - Centro Comunitário de Inserção<br />

1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da actividade objecto de<br />

observação ............................................................................................... 43<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido .......................................................... 44<br />

3. A opinião da instituição sobre os papéis da educação não formal ............................. 48<br />

Capítulo IV................................................................................................................ 49<br />

As respostas institucionais da FormAjuda – Gabinete de Formação e de Projectos da Ajuda<br />

1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da actividade objecto de<br />

observação ............................................................................................... 51<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido .......................................................... 53<br />

3. As competências pessoais, relacionais, de contextos específicos e técnicas adquiridas<br />

pelos participantes ................................................................................................ 74<br />

4. Conclusões da observadora externa ....................................................................... 75<br />

Apoios documentais ..................................................................................................... 76<br />

7


Capítulo V ................................................................................................................ 77<br />

As respostas institucionais do Município de Constância - Clube S@bER+<br />

1. Breve apresentação da actividade objecto de observação ....................................... 79<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido ......................................................... 79<br />

3. Sobre a educação não formal ............................................................................... 84<br />

Apoios documentais ................................................................................................... 86<br />

Anexo A ..................................................................................................................... 87<br />

Capítulo VI .............................................................................................................. 89<br />

O reconhecimento, a valorização e a capacidade motivacional das actividades de educação<br />

não formal.................................................................................................................. 91<br />

Instituições e equipas participantes ............................................................................. 95<br />

8


CAPÍTULO I<br />

Da natureza do não formal<br />

aos questionamentos pertinentes<br />

9


1. O não formal no contexto português: visitação rápida e<br />

contextualizadora<br />

1.1. Façamos alguma reflexão sobre a educação não formal em Portugal, de forma<br />

a situarmos as quatro Instituições que participam no projecto “Motivar os Adultos<br />

para a Aprendizagem” (MAPA).<br />

Aparecem hoje, no País, muitas pessoas e organizações interessadas em estudar as<br />

características dos contextos <strong>educativos</strong> in<strong>formais</strong>, mas sobretudo dos não <strong>formais</strong>,<br />

enquanto “instâncias de reprodução ou mudança social”. Na realidade, existem em<br />

Portugal, “unidades sociais, onde é possível encontrar e identificar processos de<br />

educação e aprendizagem, susceptíveis de interessar ao sociólogo da educação”. As<br />

associações democráticas para o desenvolvimento são um exemplo, e apresentam algumas<br />

das características da educação não formal: promovem, sobretudo, a socialização<br />

e a solidariedade, visam o desenvolvimento, preocupam-se com a mudança<br />

social, são pouco formalizadas ou insuficientemente hierarquizadas, favorecem a participação,<br />

proporcionam a investigação-acção e projectos de desenvolvimento e são,<br />

por natureza, formas de participação descentralizada.<br />

1.2. Está também a emergir um novo movimento social que vai substituindo o associativismo<br />

tradicional, ou seja, as colectividades e associações culturais e recreativas<br />

que surgiram na década de 40, do século XIX. Na realidade, nos últimos vinte ou<br />

trinta anos, tem-se assistido ao nascimento de algumas iniciativas que suscitam o reforço<br />

da sociedade civil. Para que tal tenha acontecido, houve a contribuição de acontecimentos<br />

históricos e sociais importantes e decisivos, como a Revolução de Abril,<br />

a entrada na Comunidade Europeia, as transformações sociais e económicas que viabilizaram<br />

o reforço da classe média, a terciarização da economia, o aumento da escolaridade<br />

e o acesso a um espectro formativo alargado por parte da população.<br />

Embora ainda continue a ter preponderância o movimento associativo mais tradicional,<br />

tipo cultural/recreativo e desportivo (onde o futebol, a música e o folclore são<br />

centralidades mobilizadoras), e o associativismo corporativo e socioprofissional, observa-se<br />

o nascimento de associações ligadas ao património ambiental e histórico-cultural,<br />

aos transportes, à segurança rodoviária, à saúde, ao lazer e às questões cívicas<br />

e identitárias.<br />

Para além desta ambivalência associativa, disseminaram-se pelo País outras organizações<br />

que intervêm no local/regional, desenvolvendo trabalho, nomeadamente, no<br />

âmbito do desenvolvimento local e da solidariedade; há-as também de natureza assistencial/humanitária<br />

e de educação-formação, portadoras de interessantes dinâmicas,<br />

motivações e também de novos ensaios organizacionais e de mobilização.<br />

Por exemplo, num levantamento feito pela Associação Animar (organização que<br />

federa um número alargado de associações de desenvolvimento local), mostra-se<br />

que uma percentagem alargada destas associações declararam ter actividades de<br />

educação e/ou formação para todas as idades da vida, inclusive no âmbito da Educação<br />

de Adultos.<br />

11


1.3. Existem, pois, hoje, em Portugal, os Terceiros Lugares Educativos e um Terceiro<br />

Sector, por excelência locais de educação não formal ou informal. Foram-se aperfeiçoando<br />

nas duas últimas décadas, com especial incidência nos anos 90, dando<br />

respostas organizadas e alternativas ao sistema formal de ensino, no âmbito da<br />

Educação-Formação. Recolocaram também a questão da participação cívica e introduziram<br />

o debate na territorialização da educação, desenvolvimento local, direitos<br />

humanos, solidariedade social e outros.<br />

1.4. É neste movimento, dos Terceiros Lugares Educativos e do Terceiro Sector, que<br />

se enquadram as quatro instituições parceiras do projecto.<br />

São quatro Instituições que prestam bens e serviços colectivos, segundo uma orientação<br />

de familiaridade e proximidade com a comunidade, sendo sensíveis às necessidades<br />

locais.<br />

Todas são organizadas e <strong>formais</strong>, assumindo pelo menos um grau mínimo de institucionalização,<br />

embora muitas vezes cultivem a informalidade em relação à comunidade.<br />

Três são privadas, mantendo graus diversos de independência perante o Estado. A<br />

quarta está intimamente ligada a uma autarquia local. Poder-se-á dizer que todas são<br />

autónomas, controlando as suas próprias actividades. De uma forma geral, não são<br />

voluntaristas, já que envolvem uma componente de trabalho voluntário pouco<br />

significativo.<br />

2. O não formal: reflexões e resultados recolhidos em torno<br />

desta centralidade<br />

2.1. Uma das grandes conquistas investigativas do Projecto MAPA, em Portugal, foi<br />

a aceitação, por parte de todas as instituições participantes, de um conceito de<br />

educação não formal forjado em redor de uma intencionalidade educativa emergente<br />

dos interesses e necessidades dos adultos, de metodologias que utilizam (activas,<br />

participativas e construtivistas), nas escassas ou nulas exigências académicas e<br />

administrativas para a inclusão, nos conteúdos contextualizados e na pouca uniformidade<br />

de tempos e espaços. A partir daqui, as instituições escolheram as actividades<br />

em observação, enformadas por este conceito.<br />

Era desejável que todas as instituições se regessem por um conceito cuidadosamente<br />

construído. Não foi fácil levar a cabo esta contenda, mas conseguiu-se, e da discussão<br />

havida retirámos múltiplos ensinamentos.<br />

Primeiro, concluiu-se que as actividades de animação sociocultural e socioeducativas,<br />

nas Instituições em apreço, estão centradas no sector não formal. No entanto, projectam-se<br />

quer pelos contextos em que actuam, quer pelas actividades que promovem,<br />

nos outros sectores: formal e informal.<br />

Constatou-se, também, a dificuldade que sempre temos quando queremos enquadrar,<br />

univocamente, os processos <strong>educativos</strong> e os factores sociais em limites taxonómicos.<br />

No entanto, concluiu-se pela não invalidez desses processos. Foi este princípio que<br />

permitiu às instituições traçar as localizações das realidades educativas e sociais, es-<br />

12


colher as actividades em observação através dos seus descritores e criar um discurso<br />

analítico comum.<br />

Por outro lado, concluiu-se que a educação formal, a não formal e a informal não<br />

devem, de modo algum, entender-se ou utilizar-se, como se se tratasse de cânones<br />

metodológicos ou de compartimentos estanques. Reflectiu-se muito, sobretudo na<br />

conveniência de conseguir, tanto quanto possível, conexões entre os três sectores<br />

<strong>educativos</strong> e abrir a fronteira entre, sobretudo, a educação formal e a não formal.<br />

APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA<br />

Formal Não Formal Informal<br />

Fig. 1. A convergência das educações paralelas<br />

No quadro das instituições em observação, há claras situações de interacção entre o<br />

formal e o não formal, principalmente, na FormAjuda e na Solidários, o que contribui,<br />

decisivamente, para capultar os adultos para outros contextos formativos. Nas outras<br />

duas Instituições, a observação-acção desenvolvida permitiu a emergência fortalecida<br />

da intencionalidade educativa da actividade e, ao fazê-lo, conquistaram-se, porventura,<br />

novos quadros motivadores de aprendizagem para os participantes-adultos.<br />

Foi também importante, durante a observação-acção, dar uso intensivo aos conceitos<br />

de educação e pedagogia no não formal. Se assim não fosse, estaríamos a contribuir<br />

para que se instalassem práticas difusas e a considerar que os adultos não devem ser<br />

sujeitos de educação; dir-se-ia que tínhamos regredido, estando ainda a pensar no<br />

anacronismo de que as crianças bem podem ser educáveis, mas que, quanto aos<br />

adultos, apenas são animáveis ou dinamizáveis. Por outras palavras, é determinante<br />

acentuar o valor da intencionalidade educativa no não formal. Esta deve estar bem<br />

expressa, tanto para crianças como para adultos. No nosso caso, esteve esbatida<br />

nalgumas actividades. A observação-acção recolocou-a num lugar mais sedutor.<br />

2.2. A investigação feita permite-nos afirmar que as instituições assumem um conceito<br />

de educação que extravasa do conceito formal para o conceito não formal e informal,<br />

ou em sentido contrário. O primeiro é entendido como escolar,<br />

institucionalizado e regulado. O segundo e objecto do nosso estudo, é considerado<br />

menos regulado e liberto das peias de uma escolarização rígida. No entanto, é<br />

planificado sistematicamente e intencional. Deixa-se para o terceiro, a menor intencionalidade<br />

e a falta de planificação sistemática.<br />

O processo investigativo revela-nos também que as instituições escolhidas se formatam<br />

num quadro educativo conceptualmente integrador. Refiro-me ao desenvolvimento<br />

de projectos facilitadores do desenvolvimento da Educação e Formação ao<br />

Longo da Vida, na perspectiva do Conselho da União Europeia (1995), que releva a<br />

13


promoção do desenvolvimento pessoal e o sentido da iniciativa das pessoas, a sua<br />

integração na vida activa e na sociedade, a sua participação no processo de decisão<br />

democrática e a sua aptidão à adaptabilidade, às mudanças económicas, tecnológicas<br />

e sociais.<br />

As instituições, no seu conjunto, desenvolvem actividades que privilegiam as extensões<br />

verticais e horizontais de Educação de Adultos:<br />

- a formação de base ou geral;<br />

- a formação orientada para o trabalho (actualização, reconversão e renovação<br />

de conhecimentos de tipo profissional);<br />

- a formação para o exercício dos direitos e das responsabilidades cívicas ou<br />

para a participação social;<br />

- a formação para o desenvolvimento pessoal.<br />

3. Os caminhos da investigação-acção: seus constrangimentos<br />

e “coisas boas”<br />

3.1. Cumpre-nos contextualizar, de forma sintética, todo o percurso investigativo<br />

efectuado. Para o efeito, explicitam-se, de forma esquemática, as três partes dos<br />

caminhos da investigação-acção.<br />

Os Caminhos da Investigação-Acção<br />

Parte I<br />

Construção do Projecto Nacional e definição dos seus<br />

objectivos operacionalizadores (a partir do Projecto<br />

Transnacional)<br />

Escolha de instituições protagonistas de actividades não<br />

<strong>formais</strong>, que melhor pudessem entronizar os objectivos<br />

do Projecto e, também, as suas linhas de intervenção<br />

mais significativas<br />

Definição dos questionamentos de partida, da metodologia<br />

e operacionalização da reflexão-acção<br />

Elaboração de documentos teóricos enquadradores e<br />

facilitadores da “teoria da prática”<br />

14


Parte II<br />

Reflexão participada em torno do conceito de educação<br />

não formal<br />

Construção de uma grelha conceptual para descrição da<br />

actividade seleccionada em cada instituição (descritores)<br />

Escolha das actividades não <strong>formais</strong> (tendo em<br />

consideração os descritores e o conceito norteador<br />

de educação não formal)<br />

Construção de um documento orientador da observação<br />

participada das actividades de educação não formal<br />

Concepção dos instrumentos provisórios de observação,<br />

de entrevista, de inquérito e de reflexão-acção<br />

Parte III<br />

(Re)construção participada dos instrumentos provisórios<br />

por cada instituição (tendo em consideração as especificidades<br />

próprias de cada actividade, verificadas em observações<br />

pré-teste)<br />

Observação das actividades e corporização do processo<br />

de reflexão-acção<br />

Análise instrumental e consequente cruzamento de<br />

dados, no âmbito da trilogia investigava definida:<br />

agente, participante e actividade<br />

Caracterização das actividades de educação não formal,<br />

do perfil do agente que as protagoniza, e do grau de<br />

satisfação/ motivação dos participantes na esteira da<br />

Aprendizagem ao Longo da Vida<br />

Apresentação dos primeiros resultados provisórios do<br />

projecto<br />

Aprofundamento dos resultados obtidos a partir de uma<br />

grelha de referência<br />

15


3.2. O aprofundamento dos resultados obtidos foi efectuado a partir de um documento<br />

conceptualizado para o efeito, e que passa a constituir Anexo A ao presente<br />

capítulo.<br />

3.3. Poderemos hoje dizer que o acto investigativo encetado teve alguns constrangimentos<br />

e também “coisas boas”. Começaremos pelas últimas:<br />

- a participação e o empenhamento das Instituições e dos seus actores;<br />

- os bons trabalhos apresentados pelas Instituições em suporte escrito e digital;<br />

- as reuniões interinstitucionais profícuas em sede de reflexão e partilha;<br />

- o processo de observação-acção, actuante sobre algumas actividades e que<br />

perseguiu um duplo objectivo: o de as melhorar fundamentalmente as intencionalidades<br />

educativas e as metodologias e o de ampliar o conhecimento<br />

sobre o assunto em causa;<br />

- a interpretação de realidades e dos contextos formativos;<br />

- a criação de duas figuras que confrontaram ideias e desbloquearam situações<br />

- o observador interno (instituição) e o observador externo (consultor);<br />

- a natureza reflexiva empreendida: uma reflexão crítica sobre o próprio<br />

processo de reflexão-acção e sobre os resultados obtidos, servindo até para<br />

avaliar a formação de uma das Instituições;<br />

- a natureza cíclica do processo executada de forma recorrente, a três passos:<br />

Fig. 2. A recorrência do processo<br />

- a tentativa de dar resposta aos questionamentos de partida (veja-se Anexo B<br />

ao presente capítulo), que foi quase sempre conseguida.<br />

Os constrangimentos estiveram centrados na complexidade da observação e da reflexão-acção.<br />

São actos complexos e as dificuldades aumentam sempre que o observador<br />

é também agente da Instituição, como foi o caso. Para colmatar algumas<br />

lacunas constatadas, procedeu-se, no final, ao aprofundamento dos resultados,<br />

através da realização de uma investigação-acção institucional (Anexo A).<br />

16


Podemos, agora, enumerar, os constrangimentos mais significantes:<br />

- a adaptação dos instrumentos ao contexto a observar;<br />

- a observação pré-teste e a requalificação dos instrumentos;<br />

- a reflexão-acção com os agentes;<br />

- a triangulação dos dados obtidos.<br />

Interna<br />

Externa<br />

Observação<br />

Triangulação Instrumental<br />

Fig. 3. – A complexidade da observação.<br />

17


Bibliografia<br />

Holpe, Cristiane Vandenplas.(2000). Desenvolvimento psicológico na idade adulta e<br />

durante a velhice. Porto: Edições ASA.<br />

Lima, Licínio C. (Org).(1994). Educação de adultos: Fórum I. Braga: Universidade do<br />

Minho/Unidade de Educação de Adultos.<br />

Ludke, Menga & André, Marli.(1986). Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas.<br />

São Paulo: E.P.U.<br />

Nogueira, Inácio.(1996). Para uma educação permanente à roda da vida. Lisboa: Instituto<br />

de Inovação Educacional.<br />

Osório, Agustín R.(2003). Educação permanente e educação de adultos. Lisboa: Instituto<br />

Piaget.<br />

Trilha, Jaume (Coord).(1998). Animação cultural: Teorias programas e âmbitos.<br />

Lisboa: Instituto Piaget.<br />

18


ANEXO A<br />

Ficha de trabalho:<br />

Projecto MAPA<br />

Investigação-Acção Institucional<br />

Chegou a hora de darmos resposta a questões que corporizem conceitos e processos<br />

que vêm sendo sujeitos ao amadurecimento crítico e reflexivo colectivo. É também<br />

chegado o momento de (re)escrevermos a história de vida das nossas quatro actividades/práticas,<br />

de uma forma mais sistematizada e fundamentada, já que foram<br />

sendo enriquecidas com muitos ingredientes que agora lhe dão outra substância.<br />

A reflexão-acção introduziu vitaminas nos seus processos e intenções.<br />

Este trabalho que agora se pede só pode ter frutos se for realizado num grupo de reflexão<br />

e crítica. Coordenado pelo observador interno de cada Instituição, nele deverão<br />

tomar assento:<br />

- um elemento da direcção da Instituição ou do poder local;<br />

- o agente responsável pela actividade/prática;<br />

- um participante da actividade (escolhido para que possa dar contribuições<br />

e respostas significativas aos questionamentos que lhe dizem respeito);<br />

- O observador externo (consultor), sempre que o observador interno considere<br />

necessária a sua presença.<br />

Por outro lado, o consultor estará sempre disponível na forma presencial, ou a distância,<br />

para resolver qualquer problema relacionado com o trabalho que agora<br />

começa.<br />

As respostas aos questionamentos de aprofundamento serão para apresentar em<br />

Constância (de uma forma organizada e sistematizada, para que se possa tirar partido<br />

investigativo da sua apresentação).<br />

Questões em aprofundamento no grupo de reflexão e crítica<br />

Sobre a educação não formal (ENF) em geral<br />

Qual a sua função? Que efeitos produz? Produzirá competências identificáveis? Quais?<br />

Poderão ser validadas? Como?<br />

Será que a ENF serve para a aquisição de competências sociais e também profissionais?<br />

E de autonomia da pessoa (integração/socialização)?<br />

Como podemos fazer evoluir a ENF? Em que direcção? Com que melhoramentos? O<br />

que podemos fazer para que haja o reconhecimento e a valorização do não formal<br />

(NF)?<br />

19


Sobre a actividade /prática<br />

Peça-se ao agente que a descreva, por escrito, detalhadamente. Será que é uma boa<br />

prática? Que ingredientes tem para que assim seja?<br />

Alguns dos ingredientes de uma boa prática:<br />

- há a presença de uma intenção educativa e identificaram-se, antecipadamente,<br />

as competências visadas? Que intenção? Que competências?<br />

- organizou-se a actividade em função da intenção educativa e das competências<br />

visadas? Como?<br />

- pensou-se em como fazer as coisas (método), no por que se desenvolveu<br />

a actividade (causas) e no para quê (utilidade)?<br />

- houve aquisições/saberes realizados pelos participantes? Quais?<br />

- houve reflexão-acção? Que alterações e ajustamentos foram efectuados ao<br />

longo do seu desenvolvimento?<br />

- houve motivação dos participantes? Que estratégias foram encetadas para<br />

optimizar a motivação dos participantes?<br />

- Que esforço foi feito, ou poderá ainda ser feito, para encaminhar os participantes<br />

para as diversas modalidades de educação formal ou para programas<br />

de validação de competências?<br />

Sobre os agentes da ENF<br />

Quais são as competências educativas e sociais do agente/agentes da actividade?<br />

Que percepção têm sobre as competências e saberes adquiridos pelos participantes?<br />

Para além das competências sociais e educativas enumeradas, verifique se o agente<br />

foi capaz:<br />

- de formular correctamente a intenção educativa em termos de competências<br />

(definir os objectivos, para quê?);<br />

- de organizar a actividade para que a aprendizagem das competências tenha<br />

lugar;<br />

- de avaliar a progressão da aquisição dessas competências;<br />

- de contribuir para as validar.<br />

Sobre os participantes da ENF<br />

Qual a sua percepção sobre os saberes adquiridos e sobre as competências identificáveis?<br />

Enumeraram-nas? Quais?<br />

20


ANEXO B<br />

21


Legenda da Figura 4<br />

A – Porque se revelou Não Formal?<br />

B – A intenção educativa está claramente definida e existem técnicas de reforço à sua<br />

concretização?<br />

C – E estratégias de motivação?<br />

D – Que metodologias de Educação de Adultos (EA) estão presentes?<br />

E – A reflexão-acção é feita? Como?<br />

F – O que resultou daí?<br />

G – Quem são e que perfil têm?<br />

H – Que formação em EA?<br />

I – Têm predisposição para a reflexão-acção?<br />

J – Que competências precisam de adquirir para motivarem os adultos para a aprendizagem?<br />

L – Qual o seu perfil ideal?<br />

M – Quem são e que perfil têm?<br />

N – Qual o seu grau de satisfação?<br />

O – Que envolvência na prática?<br />

P – Que saberes conquistaram?<br />

Q – Que competências adquiriram?<br />

R – Que motivações existem para outras aprendizagens mais <strong>formais</strong>?<br />

22


CAPÍTULO II<br />

As respostas institucionais da Solidários - Fundação<br />

para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário<br />

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1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da<br />

actividade objecto de observação<br />

1.1. A Fundação Solidários tem como objectivo o apoio ao desenvolvimento de experiências<br />

cooperativas e comunitárias, geradoras de espaços de intervenção, que<br />

permitam aos cidadãos serem protagonistas do seu desenvolvimento pessoal, social<br />

e das suas comunidades.<br />

Outras das suas prerrogativas estão ligadas à criação do próprio emprego e ao envolvimento<br />

em projectos orientados para o desenvolvimento local e de educação/formação<br />

de adultos. Trabalha, essencialmente, com mulheres de um território situado<br />

na freguesia de Couto Esteves, concelho de Sever do Vouga, caracterizado por decréscimo<br />

populacional, envelhecimento, pobreza e isolamento.<br />

1.2. O Projecto de Educação Transgeracional, onde estiveram inseridas as actividades<br />

em observação (designadas por VougaBio II, Mostra de Produtos e Iniciativas Locais),<br />

tinha como objectivo central a recriação de eventos, que pudessem despoletar o aumento<br />

da auto-estima comunitária e dinâmicas de desenvolvimento local, envolvendo<br />

actores e instituições locais. Um outro objectivo emergente daquela centralidade é o<br />

de contribuir para a inserção social e profissional de formandas e ex-formandas de<br />

cursos de Educação/Formação para Adultos, promovidos pela Solidários, numa<br />

perspectiva de acompanhamento pós-formação, muito direccionada para as dimensões<br />

do empreendorismo e do culto da aprendizagem ao longo da vida. Apostava-se<br />

também na aprendizagem de conteúdos ligados à produção, condicionamento e conservação<br />

de sementes, à biodiversidade, ao equilíbrio ambiental e à segurança<br />

genética e alimentar. Os pilares metodológicos e técnicos estariam centrados em<br />

redor de oficinas de sensibilização ambiental, debates, animação, mostras diversas<br />

e visitas guiadas a uma quinta experimental de agricultura biológica.<br />

1.3. O público-alvo foi diverso: crianças de quatro escolas do 1º ciclo do ensino<br />

básico, formandas e ex-formandas, suas famílias e comunidade em geral. Houve um<br />

conjunto de reuniões preparatórias com o público-alvo, antecedendo os dois dias da<br />

actividade, dinamizados por formadores internos. Durante o desenrolar da actividade,<br />

também houve a participação de animadores externos convidados.<br />

A construção gradual da actividade, nas reuniões preparatórias, foi efectuada de uma<br />

forma participativa/interactiva. Balizou-se em entrevistas e contactos personalizados,<br />

escritos e presenciais; reuniões para auscultação de expectativas e propostas de participação<br />

na animação; sessões de leitura de textos e partilha de ideias sobre os<br />

temas a debater; discussão das formas de animação e de participação na organização<br />

da intervenção nos diferentes espaços da exposição; debate sobre o formato da avaliação<br />

das sessões preparatórias e do evento.<br />

Foram realizadas duas reuniões preparatórias com a(o)s ex-formanda(o)s dos cursos<br />

de Formação Profissional e de Educação e Formação de Adultos, num total de 26 participantes,<br />

para as quais foram definidos os objectivos:<br />

- organizar a participação na exposição (...);<br />

- organizar a animação;<br />

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- preparar a participação nos debates sobre as sementes, sobre a floresta sustentável<br />

e agricultura biológica.<br />

A primeira reunião permitiu auscultar as expectativas dos participantes e definir formas<br />

e níveis de participação, mediante a divisão do grupo em subgrupos, segundo o<br />

tipo de actividades a realizar. Para cumprimento do último objectivo foi seleccionado<br />

um conjunto de textos e materiais pedagógicos que permitiram reflectir sobre<br />

questões como: patenteamento de sementes, importância das sementes de variedades<br />

locais e da floresta, para assegurar a biodiversidade e o desenvolvimento sustentável,<br />

preparando os presentes para os debates.<br />

Na segunda reunião voltamos aos temas a debater, uma vez que o assunto das<br />

patentes tinha ficado pouco claro e procurámos exemplos mais próximos da realidade<br />

portuguesa. Por outro lado, esta reunião teve um carácter mais prático, uma vez que<br />

se realizou na ante véspera do evento, a(o)s formanda(o)s tinham mais claro como<br />

tudo iria decorrer, quais as suas tarefas e funções. Assim, foi feito o ponto da situação<br />

relativamente a cada actividade e alguns grupos ensaiaram o que iriam apresentar na<br />

animação, enquadrada nos temas da Mostra. (in, Relatório de observação).<br />

Existia a intenção de mobilizar as seguintes competências: saber trabalhar em grupo<br />

e gerir o tempo; aprender a ser empreendedor e a valorizar-se a si próprio; apresentar-se<br />

em público, lendo, cantando, representando ou declamando; expor produtos;<br />

estimar quantidades; motivar os outros à participação; “aprender a aprender” os<br />

modos e os tempos da produção biológica, tudo numa perspectiva de aprendizagem<br />

ao longo da vida.<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido<br />

2.1. Relativamente à pesquisa de dados e à investigação-acção<br />

Para entendimento do real foram utilizados pelo observador interno os seguintes<br />

instrumentos investigativos: grelhas de observação, inquéritos por questionário, entrevistas,<br />

relatórios de participantes e análise documental. A triangulação de dados<br />

foi efectuada de forma criteriosa, estando todos os resultados apurados expressos em<br />

suportes escritos e digitais, produzidos pela Instituição. Da sua análise, transcorre um<br />

grande empenhamento salpicado de reflexões meritórias e corajosas em torno da<br />

actividade e dos seus actores.<br />

As grelhas de observação foram utilizadas no decorrer da actividade e nas sessões<br />

de preparação que a precederam. Como é expresso pelo observador interno, pretendia-se,<br />

essencialmente, observar o seu desenvolvimento, possibilitando o confronto<br />

entre o ideal e o real.<br />

O inquérito por questionário foi passado a todos os participantes, e as entrevistas<br />

semi-estruturadas a quatro dos agentes envolvidos no processo. As entrevistas foram<br />

realizadas cerca de quinze dias após a actividade, “num clima de bastante à vontade<br />

e de uma forma muito livre”. Foram objecto de gravação áudio e, posteriormente,<br />

transcritas pelo observador interno. A análise documental incidiu, exaustivamente,<br />

sobre todos os documentos caracterizadores da actividade.<br />

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Houve também uma reflexão-avaliação realizada com todos os agentes, que serviu<br />

para se tomarem decisões relativamente a empreendimentos futuros. É de exaltante<br />

significado a realização desta reflexão para a acção.<br />

O observador externo também fez a sua observação, confrontando os seus resultados<br />

com os do observador interno.<br />

2.2. Relativamente à intencionalidade educativa e à actividade<br />

2.2.1. Constata-se que a actividade explicita a intencionalidade educativa. Contudo,<br />

a sua formulação apresenta-se um pouco difusa, o que torna difícil fazer a sua leitura:<br />

os objectivos são em número exagerado, as aprendizagens e as competências a<br />

adquirir também.<br />

Os agentes tinham conhecimento pleno da intenção educativa da actividade,<br />

nomeadamente através do discurso dos documentos e dos objectivos formulados à<br />

priori. Para os participantes, não foi tão claramente entendível, nem tão conscientemente<br />

assumida. Constatou-se que há necessidade de fazer essa transferência comunicativa<br />

de uma forma mais clara, concreta e explícita. Há que planificar melhor,<br />

como sugerem os agentes, para que haja amadurecimento de ideias.<br />

Vejamos o que se explicita no relatório da Instituição:<br />

(...) nas várias sessões de preparação (...) foi comunicada a intenção educativa<br />

(apesar de não muito explícita), todavia os objectivos e as competências a adquirir não<br />

chegaram aos participantes de uma forma clara e consciente.<br />

Constata-se que a actividade decorreu num clima de boa relação e inter-ajuda, mas<br />

com a consciência, ainda pouco reflectida, de que as práticas não <strong>formais</strong> podem ser<br />

espaços para “aprender a aprender”. Identificaram-se, no decorrer da actividade, estratégias<br />

pedagógicas motivadoras e facilitadoras da aprendizagem. Verificou-se também<br />

que, por parte dos agentes, existiram preocupações de inclusão-participação,<br />

reforço da auto-estima/valorização e construção de um clima de interacção/emoção<br />

que provocasse a curiosidade dos participantes por alguns conceitos mais estruturados<br />

cientificamente. No entanto, faltou uma ponte pedagógica que tornasse mais<br />

significativa a aprendizagem e conseguisse atingir o desiderato.<br />

No entanto, é certo, que a comunidade se sentiu mais valorizada, as pessoas adquiriram<br />

mais capacidade de organização, de trabalhar em grupo, de autonomia e alguns<br />

conhecimentos sobre sementes.<br />

Vejamos o que constatou o observador interno:<br />

Podemos considerar que os participantes se poderão dividir em dois grupos, os ex-formandos<br />

(de diversos cursos) e as actuais formandas. Os tempos de preparação e algumas<br />

das tarefas foram diferentes e portanto poderemos considerar que não existe<br />

propriamente a identidade de um grupo (...). Todavia quer dentro de cada um dos grupos,<br />

quer entre os grupos, as dinâmicas interactivas foram positivas e contributivas<br />

para o sucesso do evento.<br />

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O grupo de ex-fornandos interagiu sem qualquer conflito, respeitando a diferença,<br />

procurando cada um cumprir o melhor possível o seu papel, contribuindo para um<br />

clima de inter-ajuda, organizando-se cooperativamente, numa postura colaborante<br />

para que tudo corresse pelo melhor.<br />

O grupo de formandas teve mais dificuldades em se organizar e interagir, dificuldades<br />

que superou, perante a mediação de alguns agentes que, através do entusiasmo com<br />

que conseguiram contagiar as participantes, permitiu que os conflitos na altura<br />

emergentes fossem colocados em segundo plano, passando todas as pessoas a<br />

unirem-se, colaborando cooperativamente em função de objectivos comuns, os quais<br />

acabaram por alcançar com êxito. É de salientar que todo o clima favorável ao trabalho<br />

em grupo se tornou possível graças à forte empatia e proximidade afectiva existente<br />

entre a Fundação e os participantes, entre os agentes e as pessoas. Existem laços<br />

afectivos que se foram construindo, relações de confiança que se foram fortalecendo<br />

e esta rede permite que as pessoas, sentindo-se reconhecidas na sua identidade, contribuam<br />

todas para um clima favorável, acolhedor e promotor de bem-estar.<br />

E acrescenta ainda:<br />

(...) sobre o ambiente é nítida a existência de uma boa relação entre todos, um clima<br />

de cooperação e ajuda, sendo desejável que houvesse uma consciência mais profunda<br />

de que há momentos de aprendizagem e de fomento do aprender a aprender.<br />

Destas palavras discorre, de imediato, uma constatação de relevo para o nosso estudo:<br />

a Solidários preocupa-se com as suas ex-formandas, apelando-lhes que continuem<br />

curiosas pelo saber, através da participação em actividades não <strong>formais</strong>, e,<br />

com estas aproximações, mantém-nas motivadas para futuras aprendizagens. Por<br />

outro lado, incentiva as actuais formandas a desformalizarem os saberes, aproximando-as<br />

da comunidade.<br />

2.2.2. Sobre as metodologias e técnicas utilizadas, a observação leva-nos a pensar<br />

que estas se aproximaram da mensagem construtivista, utilizando também técnicas<br />

de animação sociocultural. Houve participação/acção, questionamento dos participantes,<br />

envolvimento do grupo e dos recursos comunitários. O processo investigativo<br />

demonstra-nos que os agentes tinham um conhecimento prévio da comunidade, e<br />

pretenderam ir ao encontro daquilo que consideravam importante para o desenvolvimento<br />

e valorização da mesma. O relatório de observação, da responsabilidade<br />

do observador interno, expressa a seguinte opinião:<br />

(...) sobre as metodogias, técnicas e modelos de acção, utiliza-se com frequência o<br />

método participativo-activo, questionando os participantes sobre a sua opinião, utilizando<br />

técnicas para promover o envolvimento do grupo, tendo em atenção os recursos<br />

da comunidade. Todavia, apesar desta postura, a participação e o envolvimento<br />

dos participantes poderia ter sido mais interventora.<br />

Foram construídos inúmeros suportes pedagógicos e de animação, motivadores e<br />

criativos. Também se utilizaram materiais para leitura, com o intuito de sensibilizar<br />

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os participantes para as problemáticas em estudo. Na opinião dos agentes, a<br />

compreensão dos conceitos, postos em jogo, poderia ter sido melhor conseguida se<br />

esses materiais e suportes pedagógicos fossem de cariz mais visual, apelando à intervenção<br />

directa e espontânea dos participantes.<br />

Todo o processo foi sujeito a avaliação. É certo que foi uma avaliação pouco sistematizada,<br />

embora preocupada em reflectir sobre a pertinência dos assuntos tratados.<br />

Desta e da observação feita, transvaza a certeza de que os participantes adquiriram<br />

competências sociais: autonomia, auto-conceito renovado e auto-confiança que baste<br />

que as arroja a intervir e a falar em público. Também aprenderam algumas técnicas<br />

para conservar as sementes e, porventura, ficaram sensibilizadas para os novos desafios<br />

formativos sobre educação ambiental.<br />

2.2.3. Das entrevistas aos agentes ressaltaram frases que são paradigmáticas de<br />

tudo o que temos vindo a afirmar e podem reforçar toda a substância do discurso<br />

anterior. Podemos também constatar que todos eles revelam um grau máximo de<br />

satisfação relativamente ao evento, tendo a percepção de que todos os participantes<br />

ficaram também satisfeitos e disponíveis para continuar a cooperar em actos formativos<br />

próximos, quer <strong>formais</strong> ou não <strong>formais</strong>. Há frases que são paradigmáticas de<br />

tudo o que se tem vindo a afirmar e podem mesmo reforçar o conteúdo do discurso<br />

anterior:<br />

(...) a questão das sementes surgiu porque fomos sendo alertados ao longo dos últimos<br />

tempos, sobre a questão da biodiversidade, sobre a questão dos produtos alimentares<br />

transgénicos e sobre um conhecimento que depois fomos tendo de que<br />

havia alguém já com esta preocupação. E pareceu-nos que este elemento, a semente,<br />

que é uma coisa material, que nós vemos, que nós observamos, tem uma certa mística.<br />

Também tínhamos o objectivo de valorizar a comunidade e acho que isso conseguimos,<br />

(...) envolvendo as pessoas e valorizando aquilo que elas sabem fazer (...)<br />

Provocar um espaço onde as pessoas podem realmente ter iniciativa (...).<br />

A metodologia, foi tentar entusiasmar as pessoas, integrá-las e fazê-las participar o<br />

máximo possível (...) ir construindo a própria actividade em conjunto com elas. (...).<br />

(...) tentamos centrar a metodologia nas pessoas, de maneira a que as pessoas se envolvam<br />

e possam participar, mas participar de uma forma que não seja só participar<br />

porque são convidadas a participar, mas participar de uma forma convincente e<br />

consciente que possa levar a aumentar o seu grau de autonomia.<br />

(...) nós não viemos ali dizer (...) como é que vai ser. Temos as linhas gerais, temos<br />

o enquadramento e a seguir as pessoas podem fazer propostas e isso eu acho que é<br />

também ir ao encontro das pessoas e fazer com que elas sintam aquilo como delas,<br />

porque se for nosso, não vai, não vai ficar semente. Se sentirem como delas, isso fica.<br />

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Eu acho que é necessário as pessoas sentirem-se importantes (...). Sentirem-se (...)<br />

valorizadas (...).<br />

(...) não sei se as pessoas querem aprender no sentido mais profundo do termo ou<br />

se é só curiosidade, mas curiosidade também é uma boa motivação para aprender.<br />

(...) algumas daquelas pessoas têm muita curiosidade e há uma vontade de aprender<br />

coisas novas. (...).<br />

Ora eu penso que envolver as pessoas para além das actividades de formação é um<br />

desafio que nós temos que continuar.<br />

(...) Reconhecem quem reconhece o valor que elas têm (...).<br />

Havia muitos sorrisos (...) alguma coisa quer dizer.<br />

As palavras dizem tudo: o reconhecimento, o envolvimento, a curiosidade e o sorriso<br />

serão, porventura, motores para novas aprendizagens.<br />

2.2.4. Vejamos, agora, como viram os outros intervenientes a actividade e como a<br />

transcrevem nos seus relatórios. Para contextualizar a situação, apresenta-se um excerto<br />

do relatório de uma das participantes:<br />

(...) Na preparação das actividades as formandas trabalharam activamente com colaboração<br />

dos formadores das diversas áreas.<br />

Fez-se cartazes com diversas e variadas sementes e auxiliares da agricultura biológica.<br />

Preparou-se um desfile, onde as formandas iam vestidas de legumes biológicos, uma<br />

canção, um poema, algumas quadras e uma peça de teatro onde entram as pragas,<br />

os auxiliares e o não uso de produtos químicos em agricultura biológica.<br />

(...) No Sábado, dia 25, as pessoas começaram por fazer uma apreciação global às<br />

bancas que estavam instaladas no recinto, lá fora, bancas de sementes, artesanato,<br />

legumes biológicos entre outras. (...) Uma formanda leu também umas quadras sobre<br />

as sementes e a sua importância.<br />

De seguida, o Sr. José Brás iniciou a oficina das sementes com uma breve síntese, passando<br />

a palavra ao Eng. José Miguel Fonseca, que ia dar início ao debate "As Sementes".<br />

(...) Seguiu-se a recitação de um poema com uma representação teatral<br />

sobre a semente intitulada a "Ervilha", da responsabilidade das formandas (...) Em<br />

seguida, as pessoas dirigiram-se para uma prova de variadíssimas qualidades de<br />

saladas, bolos, petiscos, etc., feitos pelas formandas. Cantaram-se canções.<br />

(...) Domingo, dia 26, começa com uma exposição lá fora. (...) Seguiu-se a representação<br />

de uma peça de teatro sobre a árvore, com as ex-formandas. De seguida, realizaram-se<br />

os debates sobre "Agricultura biológica" e "Gestão sustentável",<br />

assegurados pelos Eng. Joaquim Morgado e Eng. Manuel José Fernandes, respectivamente.<br />

As pessoas gostaram e foram muito participativas.<br />

Seguiu-se o desfile de hortícolas biológicas, organizado e representado pelas formandas.<br />

(...) Cantaram-se canções pelas ex-formandas, enquanto nos preparávamos para<br />

fazer uma peça de teatro sobre a agricultura biológica, as pragas, os seus auxiliares<br />

e dois agricultores. Contamos com escaravelhos, caracóis, joaninhas, ouriço-cacheiro,<br />

rato e até a andorinha.<br />

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Depois de terminado, fez-se a visita guiada à quinta para apreciarmos os produtos<br />

biológicos.<br />

2.3. Relativamente aos agentes<br />

2.3.1. Quatro agentes participaram na actividade. Dois deles são jovens, funcionárias da<br />

Instituição, com formação nas áreas das ciências sociais e humanas e com experiência<br />

de trabalho com pessoas adultas. Estão envolvidas em vários projectos na instituição,<br />

sendo uma delas mediadora de um Curso de Educação e Formação de<br />

Adultos. Os outros dois, com uma larga experiência de trabalho com adultos, desempenham<br />

funções de responsabilidade dentro da Fundação, tendo já assumido a organização<br />

e coordenação de diversos eventos.<br />

São pessoas que encorajam à participação, têm uma atitude de escuta “activa” e<br />

propiciam climas acolhedores e motivadores da aprendizagem.<br />

Ao longo de todo o processo de observação e de reflexão-acção foram participativas<br />

e entusiastas. São adeptas da reflexão antes da acção, na acção e sobre a acção, que<br />

consideram importante para melhorar as práticas e reflectir sobre as mesmas.<br />

Inventariaram para si próprias, um rol de competências pertinentes e fundamentais,<br />

conducentes ao sucesso de actividades não <strong>formais</strong>:<br />

- ter capacidade de comunicação;<br />

- receber bem os participantes, ouvi-los e valorizá-los muito;<br />

- fazer tudo para que os participantes não percam o entusiasmo inicial;<br />

- elaborar um plano de actividades com metodologias que incentivem a iniciativa<br />

dos participantes e que contribua para um maior desenvolvimento de<br />

competências de autonomia, de trabalho de equipa, de organização e de comunicação;<br />

- saber desenvolver um trabalho de projecto que incentive o acto de “aprender<br />

a aprender”.<br />

Sobre os agentes e o seu perfil, o observador interno escreve:<br />

Pensamos que o perfil do agente, assim como as competências que este é capaz de<br />

mobilizar, constituem um factor determinante para o menor ou maior sucesso deste<br />

tipo de actividades de educação não formal. Interrogados sobre as suas qualidades e<br />

apesar da dificuldade que temos sempre de falar de nós próprios, os agentes referem<br />

a sua capacidade de ouvir, de entusiasmar, de se envolverem empaticamente com as<br />

pessoas, de as valorizar, aumentando a sua capacidade e o desejo de aprender, e de<br />

as reconhecerem na sua autenticidade. A figura do agente é de extrema importância<br />

neste tipo de iniciativas, onde todos se relacionam com todos de uma forma muito<br />

próxima e onde a confiança, as emoções e a comunicação se jogam numa dinâmica<br />

permanente, constituindo um ingrediente determinante nestes percursos de aprendizagem<br />

(...).<br />

Por outro lado, releva-se o facto de a instituição ter sido capaz de observar os comportamentos<br />

dos seus agentes. A instituição considera que os agentes são capazes<br />

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de formular correctamente uma intenção educativa em termos de competências pessoais,<br />

sociais e de indução de dinâmicas de desenvolvimento local, mas com dificuldade<br />

no que concerne às competências profissionais (no caso em apreço, deveriam<br />

ter sido identificadas de forma menos abrangente). Quanto à organização da actividade,<br />

e para que a aprendizagem tenha lugar de forma significativa, a instituição<br />

sugere aos agentes que adaptem e melhorem os suportes pedagógicos, revejam o<br />

formato e a duração do evento, reúnam previamente com os oradores, avaliem a<br />

progressão da aquisição de competências e contribuam, decisivamente, para a sua<br />

validação.<br />

Em síntese: todos os agentes se destacam pela capacidade que têm para mobilizar<br />

e encorajar os adultos a participar em actividades <strong>formais</strong> e não <strong>formais</strong>. Sabem ouvir<br />

e criam um clima favorável e motivador para a aprendizagem. Falta, a alguns deles,<br />

conhecimentos ao nível da didáctica da educação de adultos e da animação socioeducativa,<br />

que lhes permitiria gerir melhor o tempo, percepcionar melhor o "sentir" dos<br />

participantes, explicitar melhor a intenção educativa e conduzir técnicas e metodologias<br />

construtivistas que incentivem o acto de “aprender a aprender”. São pessoas<br />

predispostas a processos avaliativos e fazem a reflexão-acção com muito entusiasmo.<br />

Cultivam o mito do aprender sempre e do fazer, fazendo, reflectido.<br />

2.3.2. Foi a partir deste processo reflexivo posto em acção e das constatações já<br />

eventadas que foi possível aos actores da instituição definirem o perfil do “bom”<br />

agente. Para isso, arquitectaram um naipe de competências que se consubstancializam<br />

em redor de palavras forjadas na acção, como sejam: ouvir, entusiasmar, envolver,<br />

ser empático, comunicar, valorizar, reconhecer, estimular/motivar, planificar, preparar,<br />

estar receptivo à reflexão-acção e ser capaz de reformular no decurso da acção.<br />

2.3.3. Por outro lado, a instituição (mostrando que é uma instituição que aprende e<br />

partilha o conhecimento), partindo das competências de que os seus agentes são<br />

detentores, foi capaz de arrolar e propor, generalizando, um conjunto de competências<br />

ideais para os agentes da educação não formal:<br />

Competências relacionais<br />

Ouvir com disponibilidade e abertura, sem ideias pré-concebidas sobre os aprendentes;<br />

Entusiasmar as pessoas para que crenças pessoais negativas (“não sou capaz”) e<br />

compressores sociais (“a minha condição social não me permite”) sejam por elas ultrapassados;<br />

Envolver, ser empático(a) significa interessar-se pela pessoa, pelos seus problemas,<br />

alegrias, projectos, mantendo uma postura adequada ao tipo de relacionamento<br />

criado na interacção com ela;<br />

Comunicar de forma diferenciada, tendo em conta as várias modalidades de comunicação<br />

dos aprendentes;<br />

Reconhecer e valorizar cada pessoa não apenas com palavras significativas para<br />

uma comunicação assertiva/positiva, mas também com a congruência do sentir,<br />

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evelado pelas diferentes formas de comunicação não verbal (olhar, sorriso, tensão<br />

muscular, gestos, distância corporal);<br />

Estimular/motivar partindo dos anseios e projectos das pessoas, daquilo que elas<br />

reconhecem como sendo útil aprender, levá-las a desenvolver o gosto por outras<br />

aprendizagens enriquecedoras para as suas vidas.<br />

Competências organizacionais<br />

Planificar, preparar, implica ter uma visão estratégica dos projectos, definir os resultados<br />

a alcançar, imaginar tudo a funcionar, organizar, estabelecer tarefas e seu encadeamento,<br />

tempos, recursos...;<br />

Reflexão-acção significa avaliar, envolvendo todos os participantes no processo<br />

para, em função dos resultados da reflexão, reformular no decurso da acção, podendo<br />

ainda beneficiar das alterações introduzidas antes de concluída.<br />

2.4. Relativamente aos participantes<br />

2.4.1. Cerca de 94% dos participantes da actividade são do género feminino e a<br />

maioria tem mais de 40 anos. Aproximadamente metade é portadora do 9°ano de escolaridade,<br />

e dos restantes, a maioria possui o 6°ano de escolaridade.<br />

No que respeita à situação profissional, são essencialmente desempregados. Das<br />

pessoas que já estiveram empregadas, os sectores mais representativos do seu trabalho<br />

foram a actividade agrícola e o serviço doméstico. As pessoas com outra situação<br />

profissional são formandas ou praticam agricultura familiar de subsistência.<br />

Cerca de 67% da população já participou em actividades de educação formal e não<br />

formal, sendo cerca de 60% na Solidários/Casa da Fonte.<br />

Os participantes referem, em primeiro lugar, os cursos de educação/ formação (que<br />

identificam como actividades do mesmo género desta, de educação não formal) e,<br />

em segundo lugar, a participação em oficinas e actividades de cariz sociocultural,<br />

como intercâmbios culturais, festas de catequese, etc.<br />

Relativamente à actividade em causa, a maioria considera-se muito satisfeita por ter<br />

participado. O grau de satisfação revela-se mais elevado à medida que se viabilizam<br />

as seguintes razões: os métodos utilizados serem atractivos e activos; trabalhar-se<br />

em grupo; serem dadas oportunidades para pensar por si próprio; permitir ganhar<br />

autonomia e confiança em si; sentir-se mais motivado para aprender; conhecer pessoas<br />

interessantes; aprender coisas úteis para a vida.<br />

As pessoas também apresentaram os motivos que as levam a participar: para aprender,<br />

o gostarem deste tipo de actividades e a sua utilidade para o dia-a-dia.<br />

No que respeita às memórias positivas e mais significativas que a actividade lhes<br />

deixou, a maioria refere o convívio, seguido do debate sobre as sementes. Sobre as<br />

aprendizagens, cerca de 80% dos participantes faz referência à preservação, colheita<br />

e conservação das sementes.<br />

Todas as pessoas (100%) se consideram motivadas para continuar a participar neste<br />

tipo de acontecimentos. É de referir que, por motivos técnicos, nem todos os participantes<br />

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foram inquiridos sobre este questão.<br />

A motivação mais significativa (cerca de 64%) é aprender coisas novas; o convívio<br />

aparece de seguida, apenas com cerca de 14%.<br />

O processo investigativo leva-nos também a concluir que os participantes são um<br />

público de meia-idade, maioritariamente feminino e que trabalha na agricultura.<br />

Gosta de aprender, de conviver e está fortemente motivado para continuar a estar<br />

presente nestas actividades, promovidas pela Solidários, com quem possui uma<br />

ligação afectiva forte e propiciadora de motivação para a aprendizagem.<br />

Os participantes revelam que adquiriram competências e conhecimentos:<br />

- preservação, colheita e conservação de sementes (80,95%);<br />

- conhecimento de novas sementes (89,52%);<br />

- modo de produção biológico (4,76%);<br />

- como organizar uma actividade (4,76%);<br />

- competências de animação e comunicação;<br />

- preparação do espaço da exposição e das provas;<br />

- adaptação a novas situações.<br />

2.4.2. Por fim, é importante revelar alguns dados, resultantes do cruzamento instrumental,<br />

e constatar algumas opiniões dos agentes sobre os participantes, expressas<br />

pelo observador interno:<br />

No que respeita a esta questão, todos os agentes consideraram que as pessoas<br />

revelaram um forte empenho e participação. Isto reflecte-se através da adesão em<br />

termos de presença (apesar de todas as actividades da vida pessoal dos participantes,<br />

nomeadamente, o facto de se estar no tempo das regas), do entusiasmo revelado, do<br />

contentamento nos rostos das pessoas e dos comentários que se foram fazendo ouvir.<br />

É revelador deste empenho o facto de as pessoas trabalharem para uma iniciativa<br />

para a qual não existiam contrapartidas monetárias (...).<br />

2.5. Conclusões do observador interno:<br />

Após a análise e interpretação dos referidos instrumentos, sobre os quais fomos<br />

tecendo alguma reflexão, emergiram alguns pontos que julgamos dignos de referência.<br />

Iniciando por um olhar abrangente sobre a actividade, podemos concluir que esta<br />

significa um dia diferente, um dia de partilha e sobretudo de momentos felizes. Porém,<br />

à medida que vamos aprofundando a nossa reflexão, vão surgindo alguns pontos<br />

merecedores de atenção especial: quem são os participantes, as suas motivações e<br />

necessidades; quem são os agentes, qual o perfil desejável; a intencionalidade educativa<br />

e o reconhecimento claro da mesma por parte de todos os intervenientes.<br />

(...) Assim, pensando nos agentes, podemos perguntar qual o seu perfil. Somos de<br />

opinião que os nossos agentes são pessoas com características adequadas: têm capacidade<br />

de envolver, de entusiasmar, de escutar e de reconhecer. Deveriam ser mais<br />

meticulosos e "técnicos" na preparação e organização das actividades, nomeadamente<br />

no que respeita à clarificação e especificação da intenção educativa (...).<br />

34


Sobre os participantes, podemos dizer que são pessoas inseridas numa comunidade<br />

rural, muito acolhedoras e muito reconhecidas por quem as reconhece enquanto pessoas,<br />

na sua autenticidade e valores. Pessoas com fortes laços afectivos à Fundação, laços<br />

de amizade, confiança e de cumplicidade, que se foram construindo ao longo de uma<br />

relação/interacção já de alguns anos. São pessoas sempre muito disponíveis para<br />

participar em actividades colectivas e, especificamente, se as mesmas forem promovidas<br />

pela Solidários. A sua auto-estima tem crescido e com ela o sentimento<br />

de valorização da sua cultura e da sua comunidade, bem como o interesse pelo que<br />

se passa para além da mesma.<br />

No que respeita à actividade, conforme podemos inferir a partir da definição<br />

construída, trata-se claramente de uma actividade de educação não formal. Existe<br />

um território educativo, um conjunto de actividades com contornos flexíveis e processos<br />

<strong>educativos</strong> com alguma arquitectura construtivista que têm em conta a biografia,<br />

neste caso, a identidade da comunidade.<br />

Por fim, pensamos ser indispensável reflectir sobre a intencionalidade educativa, pois<br />

se utilizarmos a metáfora do sistema solar, esta será o Sol, em torno do qual giram<br />

os planetas, que neste caso são os agentes, os participantes e as práticas, existindo<br />

entre eles interacções várias, sendo o Sol um elemento indispensável à vida do planeta.<br />

Portanto, segundo esta lógica, podemos considerar a intencionalidade educativa,<br />

o elemento em torno do qual os restantes elementos realizam as suas trajectórias.<br />

A intencionalidade educativa é o ingrediente essencial deste processo designado por nós<br />

(todos) de educação não formal, e é sobre ele que recaem os principais constrangimentos<br />

da actividade (...).<br />

Fig. 5. Intenção Educativa: a centralidade do não formal<br />

Em suma: a opinião unânime de todos os actores intervenientes é de que a actividade<br />

foi bem sucedida e o grau de satisfação dos participantes foi enorme.<br />

Julga-se que a intencionalidade educativa não foi suficientemente clara e precisa<br />

entre os agentes, facto que contribuiu para que a mesma não conseguisse ser apropriada,<br />

da melhor forma, pelos participantes, o que, em termos de aprendizagem,<br />

poderá ter tido algumas repercussões menos positivas. No entanto, as pessoas desenvolveram<br />

competências de carácter pessoal, relacional e relativas às situações<br />

específicas de gestão e divulgação dos recursos comunitários que estavam contidas<br />

no programa educativo do evento. Adquiriram conhecimentos e valores necessários<br />

35


para se envolverem na protecção e no melhoramento do seu ambiente imediato e<br />

para serem consumidores responsáveis.<br />

2.6. A VougaBio como prática motivadora da aprendizagem<br />

Após ter concluído todo o processo de observação, o observador interno reuniu com<br />

a equipa de agentes e, posteriormente, também com o observador externo. Reflectiram,<br />

dialogaram, compararam dados da observação e chegaram a algumas conclusões/sugestões<br />

que, postas em prática, poderiam transformar a VougaBio numa<br />

prática protagonizadora integral dos objectivos do projecto MAPA.<br />

É preciso, pois:<br />

- definir de forma clara a intencionalidade educativa. Deve ser menos<br />

abrangente (para além das competências sociais/transversais) e deve ser<br />

sentida e identificada como necessidade educativa por parte dos participantes;<br />

- dar um papel mais activo aos participantes na construção da intencionalidade<br />

educativa, compreendendo-a, claramente;<br />

- identificar melhor as competências visadas;<br />

- planificar a actividade de forma mais organizada e sistematizada, no cumprimento<br />

das funções da educação não formal;<br />

- organizar as sessões em função da intenção educativa e das competências<br />

visadas;<br />

- continuar a conceber estratégias de aprendizagem motivadoras e a construir<br />

materiais pedagógicos e de animação de qualidade (atente-se no “estendal<br />

da aprendizagem” utilizado na actividade);<br />

- continuar a saber comunicar e a utilizar metodologias activas e participativas,<br />

cada vez mais aperfeiçoadas, propiciadoras do construtivismo que se<br />

requer e capazes de catalizar energias;<br />

- tornar a aprendizagem significativa;<br />

- persistir na reflexão-acção-reflexão;<br />

- construir redes e solidariedades facilitadoras do encaminhamento dos participantes<br />

para a educação formal ou Centros de Reconhecimento, Validação<br />

e Certificação de Competências - Centros Novas Oportunidades.<br />

3. O não formal pela voz da instituição<br />

Releve-se, por último, o valoroso trabalho reflexivo dos actores da instituição quando<br />

se disponibilizam a problematizar as funções, os efeitos e as competências que a<br />

educação não formal permite desenvolver. Dão-nos ainda achegas sobre as formas<br />

de a fazer evoluir e ser reconhecida. Tudo isto reforça a ideia de que estamos na<br />

presença de uma Instituição aprendente, postura importante para a afirmação da<br />

educação ao longo da vida.<br />

36


3.1. Quanto às funções da educação não formal<br />

A instituição concretiza-as:<br />

Estimular a aprendizagem.<br />

Promover a autonomia na aprendizagem.<br />

Facilitar a participação.<br />

Partir da pessoa para o seu desenvolvimento global.<br />

Diversificar formas de aprendizagem.<br />

Aumentar o acesso à aprendizagem.<br />

Aumentar oportunidades de inserção no mercado de trabalho.<br />

E, em seguida, argumenta a seu favor:<br />

Estimular a aprendizagem porque, não estando vinculada a programas curriculares<br />

rígidos, permite diversificar formas de aprendizagem, adequando os métodos aos estilos<br />

cognitivos e modalidades de comunicação (auditiva, visual, cinestésica) dos<br />

aprendentes. Parte da pessoa para o seu desenvolvimento global, promovendo a autonomia<br />

na aprendizagem.<br />

Facilitar a participação dado que, os contextos de educação não formal são sentidos<br />

pelos aprendentes como espaços em que têm algo a sugerir, a propor e realizar,<br />

sem o receio de estar a intrometer-se num assunto em que quem sabe são os “professores”,<br />

e sem o pânico associado às avaliações.<br />

Aumentar o acesso à aprendizagem, porque ergue poucas barreiras em termos<br />

de exigências prévias aos participantes, por exemplo habilitações, situação face ao<br />

emprego, podendo aumentar as oportunidades de inserção no mercado de trabalho.<br />

3.2. Quanto aos efeitos da educação não formal<br />

A instituição aponta-os:<br />

Participação.<br />

Autonomia.<br />

Auto estima.<br />

Coesão social.<br />

Indução de dinâmicas de desenvolvimento local.<br />

Acesso à informação.<br />

E, em seguida, metodiza:<br />

A participação aumenta porque são criados espaços em que há abertura e confiança,<br />

nos quais os aprendentes preparam e treinam a sua participação, por exemplo,<br />

imaginando-se nas situações em que vão participar activamente ou avaliando antes,<br />

para se sentirem mais serenos no confronto com ideias diferentes ou situações inesperadas.<br />

A autonomia resulta da compreensão e do sentimento que os aprendentes adquirem<br />

de que podem/têm direito a expressar as suas opiniões, a exercer o poder da palavra,<br />

a tomar decisões e a assumir as responsabilidades que daí advêm.<br />

37


A auto estima é mais facilmente fortalecida em contextos de aprendizagem não formal<br />

porque, não havendo programas e avaliações <strong>formais</strong>, evita-se a tentação de<br />

comparações entre os aprendentes, que, em muitos casos, criam ansiedade, baixa de<br />

auto estima e mal estar nos grupos de aprendizagem.<br />

A quantidade de informação produzida, o tipo de linguagens e suportes em que<br />

esta está disponível, dificultam o acesso dos aprendentes à informação. O contexto<br />

de educação não formal facilita o acesso a informação útil para os aprendentes porque<br />

se selecciona informação, se descodificam linguagens técnicas e se proporciona uma<br />

aproximação entre os aprendentes e certas fontes de informação (por exemplo,<br />

convidando um representante de um organismo oficial a explicar os requisitos e<br />

procedimentos legais para levar por diante um projecto de criação de auto emprego).<br />

Consideramos a coesão social como um efeito da aprendizagem não formal por<br />

duas ordens de razões:<br />

- porque os aprendentes (oriundos de meios socialmente desprestigiados ou estigmatizados<br />

que, nestas actividades, são acolhidos e valorizados) mudam a imagem que<br />

têm de si próprios e levam a que alguns dos que os rodeiam também os olhem de<br />

outro modo;<br />

- porque, facilitando aprendizagens orientadas para saberes e competências relacionados<br />

com projectos de vida, se abrem perspectivas de integração social ou profissional.<br />

A indução de dinâmicas de desenvolvimento local é fruto do trabalho com cada<br />

aprendente e, através dele, com a comunidade a que pertence, permitindo tomar<br />

consciência das fragilidades e potencialidades endógenas, individuais e colectivas, e<br />

fertilizar essas potencialidades com recursos externos (ex: informação, conhecimentos<br />

técnicos,...).<br />

3.3. Quanto às competências que a educação não formal permite desenvolver<br />

A instituição enumera-as:<br />

Relacionamento interpessoal.<br />

Comunicação assertiva.<br />

Trabalho em equipa.<br />

Competências pessoais (autonomia, auto estima, auto confiança).<br />

Competências técnicas (desde que esteja claro o que se quer atingir).<br />

Compreensão do mundo à sua volta (sociedade, política, ecologia, cultura, economia).<br />

Abertura ao diferente.<br />

3.4. Quanto ao que é decisivo para fazer evoluir a educação não formal<br />

A instituição é peremptória:<br />

Diversificar e aumentar os recursos.<br />

Clarificar o que se pretende em termos de competências e em termos <strong>educativos</strong>.<br />

Valorizar e difundir os seus efeitos.<br />

38


3.5. Quanto ao que é necessário empreender para promover o seu reconhecimento<br />

A instituição argumenta:<br />

Valorizar as competências que produziu.<br />

Demonstrar a sua utilidade e valor para as pessoas enquanto indivíduos e para a sociedade,<br />

divulgando exemplos na sociedade portuguesa e na UE.<br />

39


Apoios documentais<br />

Relatórios da observação e da reflexão-acção apresentados pela Solidários, da<br />

responsabilidade de Luísa Pinhal.<br />

Trabalhos de reflexão e aprofundamento produzidos pela equipa representativa da<br />

Solidários no projecto (Oriana Brás e Vilma Silva).<br />

Suportes CD, produzidos pela Solidários.<br />

40


CAPÍTULO III<br />

As respostas institucionais da Caritas Diocesana<br />

de Coimbra - Centro Comunitário de Inserção<br />

41


1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da<br />

actividade objecto de observação<br />

1.1. O Centro Comunitário de Inserção tem como entidade promotora a Caritas<br />

Diocesana de Coimbra e desenvolve o seu trabalho com mulheres em situação de<br />

risco social agravado: toxicodependentes, prostitutas, vítimas de violência, desempregadas<br />

de longa duração e jovens em risco. Trabalha numa zona da cidade de Coimbra,<br />

onde existem muitas mulheres marcadas pelo sofrimento e com filhos menores.<br />

A maior parte delas vêm de famílias muito disfuncionais e com inúmeras dificuldades<br />

económicas. Algumas procuram a Instituição; outras são enviadas por entidades parceiras;<br />

muitas recolhem-se porque houve um trabalho de rua motivador.<br />

Institucionalmente, acredita-se que fazendo um acompanhamento intensivo e persuasivo<br />

a estas mulheres, é possível criar-lhes um projecto alternativo de vida. Tem-se<br />

a convicção de que este percurso de mudança é construído em pequenas etapas,<br />

quantas vezes obstaculizadas por surpreendentes imprevistos e acidentes. O descontentamento<br />

com a sua imagem e reputação, a falta de auto-estima, a baixa motivação<br />

para a mudança, a falta de qualificação escolar e profissional que lhes dificulta o<br />

acesso ao mercado de trabalho, são alguns condicionantes redutores. Na perspectiva<br />

do Centro, urge treinar competências sociais e, ao mesmo tempo, “realizar um trabalho<br />

exaustivo e paciente paralelo, que conduza à sua autonomização, ao reforço<br />

da informação relativa a comportamentos de risco, ao desenvolvimento das competências<br />

comunicativas que ajudem a identificar, enfrentar e resolver situações –<br />

problemas do quotidiano.”<br />

Em suma, é preciso apoiar psicossocialmente, treinar competências sociais e profissionais,<br />

promover a ligação e educação familiar destas mulheres, utilizando metodologias<br />

e técnicas diversificadas: atendimento individual, trabalhos de grupo orientado,<br />

estudos de caso, simulações e muitos outros.<br />

Como se pode constatar pelas figuras 6, 7 e 8, o público em apreço tem, maioritariamente,<br />

idades entre os 20 e os 30 anos, baixa escolaridade e é oriundo de famílias<br />

multiproblemáticas.<br />

Fig. 6. Idades<br />

43


Fig. 7. Escolaridade<br />

Fig. 8. Antecedentes Familiares<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido<br />

2.1. Relativamente à pesquisa de dados e à investigação-acção<br />

Para entendimento do real, foram utilizados pelo observador interno os seguintes<br />

instrumentos investigativos: grelhas de observação, inquéritos por questionário e entrevistas.<br />

Houve, por vezes, dificuldade em efectuar a triangulação de dados.<br />

As grelhas de observação foram utilizadas no decorrer da actividade. Foi realizada<br />

44


uma pré-observação e três observações pelo observador interno, que veio a manter<br />

um diálogo construtivo com o agente, com quem acordou a criação de situações formativas<br />

bem próximas da realidade vivencial das utentes (para que estas se sentissem<br />

motivadas a participar e a serem sujeitos activos no processo de aprendizagem).<br />

O inquérito por questionário foi feito a quatro participantes, e as entrevistas semi-estruturadas<br />

ao agente envolvido no processo. Houve também várias reuniões de reflexão-avaliação,<br />

realizadas entre o agente e o observador interno, e entre este e o<br />

observador externo. Estes encontros favoreceram a tomada de decisões relativamente<br />

a empreendimentos futuros. O observador externo também fez a sua observação,<br />

confrontando os seus resultados com os do observador interno.<br />

2.2. Relativamente à intencionalidade educativa e à actividade<br />

2.2.1. A actividade em observação não tinha expressa nenhuma intencionalidade<br />

educativa, já que emergia do propósito global do Centro. Esta foi definida numa das<br />

reuniões de reflexão-acção: aprender a ser assertiva. O conceito acabou por ser arquitectado<br />

pelas próprias participantes no final de um processo educativo construtivista:<br />

É aprender a dizer no momento exacto o que se pensa, o que se sente e o que se<br />

quer, de uma forma firme, não desistindo nunca, tendo cuidado como se fala para não<br />

ofender as outras pessoas.<br />

A intenção educativa relaciona-se, pois, com o treino e a aprendizagem de competências<br />

sociais, com vista à modificação de comportamentos disfuncionais e à sua<br />

substituição por comportamentos mais eficazes, “com base numa filosofia assertiva”.<br />

Ao mesmo tempo, treinam-se outras competências básicas, não verbais e verbais:<br />

contacto visual, sorriso e expressão facial, distância para comunicar, gestos, tom de<br />

voz, postura, utilização de rituais de agradecimento e de saudação, dar e receber<br />

elogios, fazer e recusar pedidos, manifestar desagrado e desacordo, iniciar e manter<br />

um diálogo, lidar com a crítica destrutiva e construtiva.<br />

2.2.2. As actividades são previamente preparadas em função das competências a<br />

desenvolver e da aprendizagem das mesmas, sempre em contexto de simulação.<br />

Num grupo que apresenta interesses reduzidos e baixa motivação para a aprendizagem<br />

e que oferece grande resistência à mudança, trabalhar a sua motivação é uma<br />

constante. Justifica-se, pois, a utilização de técnicas de modificação de comportamentos<br />

e de modelação, que propiciem aprendizagens para a vida, facilitadoras da integração<br />

social e profissional.<br />

2.2.3. A actividade desenvolve-se numa perspectiva construtivista e centra-se num<br />

estudo de caso. Os participantes assumem papéis diversos: protagonistas do caso ou<br />

observadores. Parte-se sempre do concreto (vivências) para o abstracto (construção<br />

do conceito) com a intervenção dos participantes. O método interrogativo e de<br />

descoberta estão presentes.<br />

Usa-se a autoscopia para simular realidades e o microensino para discutir e visualizar<br />

45


atitudes, comportamentos e representações sociais.<br />

O recurso à dramatização de práticas, que estão próximas das vivências daquelas<br />

mulheres, foi extremamente motivador para a aprendizagem, assim como o reforço<br />

social (elogio).<br />

No final, agente e participantes arquitectaram o conceito em aprendizagem e o<br />

agente expressou o seu nome teórico: assertivo.<br />

Está-se longe de um contexto escolar. A sala de formação é bastante familiar, muito<br />

parecida com uma “sala de estar” de qualquer casa de uma família média e própria<br />

para a realização de jogos <strong>educativos</strong>.<br />

O jogo educativo pode ajudar a mudar comportamentos e atitudes, desde que os<br />

papéis de representação e de observação sejam desempenhados em alternância e se<br />

criem espaços para desenvolver o espírito crítico, o que nem sempre foi o caso. Aliás,<br />

este poderá ter sido o ponto fraco da actividade.<br />

2.2.4. É quase certo que houve “aquisições” por parte dos participantes.<br />

Houve, por exemplo, a identificação de novos estilos de comportamento, associados<br />

às diversas situações do quotidiano e a aprendizagem do conceito de assertividade<br />

e da sua importância num contexto de interacção social. Depois, tudo isto se repercute<br />

nas sessões de informação realizadas no Centro de Actividades (e que têm<br />

a participação das mesmas mulheres) e no encaminhamento das participantes para<br />

as diversas modalidades de educação formal, para programas de validação de<br />

competências ou na integração profissional em empresas de inserção ligadas ou não<br />

à instituição.<br />

2.3. Relativamente aos agentes<br />

2.3.1. A agente que anima a actividade tem habilitações académicas superiores na<br />

área da psicologia e do social e experiência de trabalho com adultos em situação de<br />

risco. Tem uma postura informal, serena, mas firme; o seu discurso inspira confiança.<br />

Aplica metodologias construtivistas e técnicas motivadoras adequadas ao público e<br />

à consecução da intencionalidade educativa. Tem predisposição para a reflexão-acção<br />

(sempre muito disponível, acha que deve "aperfeiçoar" as competências já adquiridas).<br />

Adopta o seu saber ao público e ao contexto onde actua. Após diagnóstico prévio das<br />

competências intra e interpessoais relativas ao grupo, do conhecimento das “realidades”<br />

e das suas problemáticas mais comuns e frequentes, trabalha as mesmas em<br />

contexto protegido, reparador e neutro, através da simulação, de forma a facilitar a<br />

observação, análise e modificação de comportamentos.<br />

2.3.2. Utiliza um conjunto diversificado de métodos: interrogativo (questiona-as permanentemente),<br />

descoberta (tenta que as participantes cheguem a conclusões) e<br />

simulações/modelação de realidades. A actividade está sempre bem planificada e<br />

prevê um conjunto de estratégias alternativas, já que a amiúde, há a necessidade da<br />

sua reestruturação na hora (ou porque alguma participante não se encontra emocionalmente<br />

bem, ou devido ao reduzido número de elementos presentes).<br />

46


A agente faz registos e avaliações, sessão a sessão, e entrega à Instituição uma avaliação<br />

mensal do conjunto das actividades desenvolvidas.<br />

2.3.3. Fruto da observação e da reflexão interna efectuada, a Instituição propõe<br />

algumas prerrogativas definidoras do perfil ideal do agente para a educação não<br />

formal:<br />

Saber planificar.<br />

Adoptar o seu saber ao público e ao contexto onde actua.<br />

Possuir um discurso inspirador de confiança.<br />

Ser interactivo e possuir o dom da palavra próxima e dialogante.<br />

Possuir um leque de competências pessoais e relacionais (postura não muito formal,<br />

ser assertivo, bem disposto e mobilizador dos outros pelas atitudes).<br />

Ter conhecimentos sobre os processos de aprendizagem de adultos em processo de<br />

exclusão social.<br />

Ser capaz de avaliar a progressão da aquisição de competências.<br />

Achar que deve aperfeiçoar sempre as competências já adquiridas.<br />

2.4. Relativamente aos participantes<br />

2.4.1. As quatro mulheres em observação, na actividade, pertencem a grupos<br />

económicos e socialmente desfavorecidos e encontram-se em processo de exclusão<br />

social no que respeita à escolaridade, formação profissional, emprego e habitação.<br />

Duas encontram-se em situações de risco social agravado, uma desempregada de<br />

longa duração e outra beneficiária de apoios específicos para jovens em risco.<br />

Uma das participantes ainda não tem 20 anos e é mãe-solteira. Possui o 7º ano de<br />

escolaridade e acha que é importante “aprender a tomar atitudes assertivas”. Gosta<br />

imenso das sessões, “porque quer mudar a vida” e encontrar um trabalho “onde me<br />

aguente”.<br />

Entre os 36 anos e os 40 anos estão duas outras participantes. Uma delas é casada,<br />

tem cinco filhos, possui o 6º ano de escolaridade e está desempregada. Está a<br />

“aprender a controlar os impulsos e a lidar com as críticas das pessoas (...) aprender<br />

coisas acerca da vida, ganhar autonomia e confiança em mim.” A outra também é<br />

casada, tem três filhos, o 4º ano de escolaridade, está desempregada e a “aprender<br />

coisas para a vida.”<br />

A última tem mais de 40 anos, é divorciada, tem quatro filhos, está desempregada<br />

e tem o 4º ano de escolaridade. Já frequentou outros cursos, “mas gostava de aprender<br />

mais porque não consegue compreender bem”.<br />

São unânimes em dizer que estão motivadas para continuar a participar noutras<br />

actividades. Gostam da agente enquanto pessoa, pela sua postura informal, por ser<br />

uma pessoa calma, bem disposta e comunicativa. Inspira-lhes confiança, é clara, e<br />

esclarece as dúvidas.<br />

2.4.2. É convicção geral de que na actividade em observação foram adquiridas, pelas<br />

articipantes, competências relacionais importantes, facilitadoras da sua integração<br />

47


social e escolar noutras actividades mais formalizadas: por exemplo, ser assertivo,<br />

lidar com conflitos, comunicar, expressar sentimentos construtivamente, ser capaz de<br />

fazer negociações e compromissos.<br />

3. A opinião da instituição sobre os papéis da educação não<br />

formal<br />

Fruto da sua experiência e reflexão, a Instituição formulou algumas respostas aos<br />

questionamentos de aprofundamento propostos (veja-se, Anexo A, Capítulo I). Este<br />

posicionamento, confirma a sua disponibilidade para ser aprendente, o que aliás, já<br />

havia revelado ao longo de todo o processo de observação.<br />

Que função?<br />

“Desenvolver a capacidade das utentes, enriquecendo os seus<br />

conhecimentos e melhorando as suas qualificações profissionais<br />

de modo a satisfazer as suas necessidades. Garantir a aquisição<br />

de saberes e conhecimentos a um público com baixo nível de escolaridade<br />

e fraca qualificação profissional (no nosso caso poderá ser<br />

em pessoas muitas vezes em risco de exclusão social).”<br />

Que efeitos<br />

produzidos?<br />

“Os efeitos são normalmente de nível prático e pessoal, sobretudo<br />

na aquisição de estilos de vida saudáveis.”<br />

Que competências<br />

identificáveis?<br />

“Capacitação das utentes de saberes, treino de competências e<br />

aptidões, no sentido de se inserirem profissionalmente. Criar<br />

condições que favoreçam a conclusão da escolaridade básica.<br />

Fomentar a aprendizagem de actividades lúdicas/ocupacionais.<br />

Estimular a criatividade e o interesse por novas aprendizagens.”<br />

Poderão ser<br />

validadas?<br />

“Na medida em que através da inserção profissional são<br />

aplicáveis à vida prática.”<br />

Será que a educação<br />

não formal serve para a<br />

aquisição de competências<br />

sociais e também<br />

profissionais e de autonomia<br />

da pessoa (integração/socialização)?<br />

“Sim. Como já referimos, pretende desenvolver a capacidade<br />

das utentes, enriquecer os seus conhecimentos e melhorar as<br />

suas qualificações profissionais de modo a satisfazer as suas necessidades.”<br />

Como podemos fazer<br />

evoluir a educação não<br />

formal? Em que<br />

direcção? Com que<br />

melhoramentos?<br />

“O que podemos fazer para que haja o reconhecimento e a<br />

valorização do não formal? “Cuidar da avaliação das acções.<br />

Cuidar da escolha do agente. Continuar com a aplicação prática<br />

em novas actividades o mais possível, de modo a que o seu reconhecimento<br />

chegue por parte dos organismos governamentais.”<br />

48


CAPÍTULO IV<br />

As respostas institucionais<br />

da FormAjuda – Gabinete de Formação<br />

e de Projectos da Ajuda<br />

49


1. Breve apresentação da instituição e do modelo teórico da<br />

actividade objecto de observação<br />

1.1. A FormAjuda é uma empresa vocacionada para o desenvolvimento de projectos<br />

de formação e consultoria em diversas áreas e com capacidade para conceber intervenções,<br />

programas, instrumentos e suportes formativos. Desenvolve um trabalho<br />

multiinstitucional em parceria com grandes empresas, autarquias, instituições de<br />

solidariedade social e organizações não governamentais, em amplas zonas geográficas.<br />

No âmbito e objecto do projecto MAPA, desenvolve Cursos de Educação e Formação<br />

de Adultos (cursos EFA), como por exemplo o de Assistente Familiar e de<br />

Apoio à Comunidade, que encerra um percurso de formação Básico 2+3, destinado<br />

a conferir uma dupla certificação: escolar (3º ciclo do ensino Básico) e profissional<br />

(nível 2).<br />

Os cursos EFA investem em adultos pouco qualificados, oferecem percursos de educação<br />

e formação que conduzem à certificação escolar básica e à formação profissionalizante<br />

e dão corpo a processos de reconhecimento e validação de<br />

competências, adquiridas ao longo da vida. A construção, a gestão curricular e a<br />

programação das áreas curriculares são suportadas por unidades de competência<br />

(referencial de competências-chave) e pelo referencial do Instituto de Emprego e<br />

Formação Profissional (para a formação profissionalizante). A profissão de fé do projecto<br />

EFA é a educação e a formação ao longo da vida, assente na trilogia: Aprender<br />

a Viver Juntos (solidariedade, tolerância, coesão), Aprender a Crescer Juntos (liberdade,<br />

iniciativa, autonomia, excelência) e Aprender a Aprender Juntos (partilha,<br />

comunicação, descoberta, participação). Daqui nasce a necessidade de desenvolvimento<br />

de uma arquitectura curricular transversal que o currículo EFA contempla e que<br />

proporciona a integração curricular, construída em redor de temas de vida, projectos<br />

individuais de formação e trabalhos de vida (veja-se Figura 9).<br />

51


INTEGRAÇÃO CURRICULAR<br />

Uma teoria de concepção curricular que está preocupada em aumentar<br />

as possibilidades de integração pessoal e social, através da organização de um<br />

currículo em redor de problemas e de questões significativas, identificadas de<br />

forma colaborativa pelos formandos e formadores, independentemente das linhas<br />

de demarcação das áreas de estudo, ou seja, as áreas são recursos do centro<br />

organizador.<br />

PLANIFICAÇÃO COLABORATIVA<br />

IDENTIFICAÇÃO DOS CENTROS<br />

DE ORGANIZAÇÃO<br />

(Não o que queremos estudar<br />

mas, fundamentalmente,<br />

com o que é que<br />

estamos preocupados)<br />

QUESTÕES<br />

OU<br />

PREOCUPAÇÕES<br />

(Acerca de si próprio,<br />

acerca da comunidade próxima,<br />

acerca do mundo)<br />

IDENTIFICAÇÃO DOS CENTROS DE ORGANIZAÇÃO OU TEMAS DE<br />

VIDA<br />

DISCUSSÃO/ CONSENSO SOBRE A SUA LISTAGEM<br />

TRABALHO DE VIDA<br />

52


1.2. O tema de vida, Educação para a Sexualidade – Importância do Planeamento<br />

Familiar, foi objecto da nossa observação-reflexão e teve como destinatários últimos<br />

as crianças e os jovens (e também os seus familiares) que frequentam creches,<br />

jardins-de-infância e atelier de tempos livres de Matosinhos e Marco de Canavezes e<br />

também os técnicos destas instituições. Pretendia-se sensibilizá-los e fazê-los adquirir<br />

um conjunto de conhecimentos sobre a temática abordada.<br />

O tema foi protagonizado pelos participantes do curso que colocaram ao serviço da<br />

comunidade os saberes adquiridos nas áreas disciplinares do currículo formal e as<br />

competências também aí alcançadas ou já validadas no processo de reconhecimento<br />

e validação de competências. Os participantes transformaram-se em agentes, através<br />

da integração curricular, aplicaram os conhecimentos já adquiridos e desformalizaram-nos,<br />

aproximando-os do real.<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido<br />

2.1. Relativamente à pesquisa de dados e à investigação-acção<br />

Para entendimento do real foram utilizados pelo observador interno os seguintes<br />

instrumentos investigativos: grelhas de observação, inquéritos por questionário, entrevistas,<br />

conversas in<strong>formais</strong> e análise documental. A triangulação de dados foi efectuada<br />

e todos os resultados apurados constam de suportes CD e escritos, produzidos<br />

pela instituição.<br />

As grelhas de observação foram utilizadas no decorrer da actividade. A primeira teve<br />

como objectivo validar os instrumentos de observação – pré-observação. A segunda,<br />

teve como fim observar a actividade, com o intuito de identificar características do<br />

não formal e reflectir sobre os resultados obtidos.<br />

O inquérito por questionário foi passado aos participantes em duas actividades e as<br />

entrevistas semi-estruturadas aos agentes envolvidos no processo. A análise documental<br />

incidiu sobre todos os documentos caracterizadores da actividade e ainda se<br />

realizaram várias conversas in<strong>formais</strong> e entrevistas não estruturadas para aprofundar<br />

a problemática.<br />

Foram efectuadas reflexões sobre a acção e para a acção, no final das duas actividades<br />

observadas. Aí se confrontou o ideal com o real, na tentativa de melhorar e recriar<br />

as sessões seguintes.<br />

O observador externo também fez a sua observação, confrontando os seus resultados<br />

com os do observador interno, daí resultando alguns ajustamentos, ainda que pouco<br />

significativos.<br />

2.2. Relativamente à intencionalidade educativa e à actividade<br />

2.2.1. Os objectivos centrais da actividade estavam formulados à partida, e eram três:<br />

- informar as populações jovens relativamente à sexualidade, em particular<br />

ao planeamento familiar e à gravidez;<br />

53


- identificar quais os mitos existentes em relação à gravidez;<br />

- conhecer as fases da gravidez e do nascimento.<br />

A intencionalidade educativa cimentou-se no circuito da perspectiva integradora que<br />

enforma o currículo dos Cursos EFA, na transversalidade educativa Educação para a<br />

Saúde e Sexualidade e no propósito da intervenção comunitária para a prevenção<br />

primária.<br />

Pretendia-se que os participantes adquirissem, numa primeira fase (curricular formal),<br />

saberes e competências transversais sobre a saúde e a sexualidade (gravidez e<br />

planeamento familiar) e fossem capazes, posteriormente, no decorrer da actividade<br />

integradora (constituída como mostra de competências relacionais, pessoais e outras<br />

relativas à situação específica), de os transmitir à comunidade de forma activa e participativa.<br />

2.2.2. Os agentes trabalharam como equipa pedagógica e a cultura curricular interáreas<br />

está patente nos seus discursos.<br />

A actividade integradora teve como intencionalidade educativa a transmissão de<br />

saberes e competências ao nível da educação sexual e da prevenção de comportamentos<br />

de risco. A minha participação centrou-se na organização e estruturação da actividade<br />

com o grupo e com a equipa pedagógica, prestando apoio em todas as acções<br />

desenvolvidas.<br />

Agente de Cidadania e Empregabilidade, (CE):<br />

A intencionalidade educativa residiu na aquisição e no desenvolvimento de conhecimentos<br />

sobre o planeamento familiar e gravidez, através de um conjunto de actividades<br />

realizadas em sala que visaram a construção de suporte informático e outros<br />

materiais sobre essa temática. Como formadora de CE, a minha participação na<br />

construção curricular foi transversal, uma vez que o módulo pretende ser aglutinador<br />

de todos os saberes e competências adquiridos.<br />

Agente de Tecnologias de Informação e Comunicação:<br />

Claro que existiu intencionalidade educativa! O objectivo era transmitir informações<br />

sobre planeamento familiar e a gravidez a um determinado público-alvo. Para que tal<br />

acontecesse foi fundamental organizar saberes e estruturar ideias (trabalho desenvolvido<br />

pelos módulos de CE, e de Formação Profissional) e, só depois, construir um<br />

suporte informático para a apresentação. Foi nesta fase que o meu módulo teve um<br />

papel mais relevante.<br />

Agente de Matemática para a Vida:<br />

A intenção educativa foi sensibilizar, em primeiro lugar, o grupo para a temática, em<br />

segundo, conhecer como se efectua o planeamento familiar e adquirir uma linguagem<br />

mais cuidada sobre a questão – Como nascem os bebés? A estratégia utilizada foi a<br />

de elaboração de materiais que auxiliassem no estudo em questão, nomeadamente<br />

a construção de questionários para aplicar ao cidadão comum (estatística).<br />

54


Agente de Linguagem e Comunicação:<br />

A intenção educativa consistiu no desenvolvimento de competências dos formandos,<br />

enquanto futuros assistentes familiares e de apoio à comunidade, uma vez que vão<br />

trabalhar com crianças e jovens, logo podem intervir ao nível da prevenção primária.<br />

A minha participação foi contínua e consistiu na orientação e correcção dos textos<br />

escritos pelo grupo, nomeadamente o guião dos fantoches e o texto exposto em<br />

powerpoint.<br />

2.2.3. A actividade observada era constituída por três momentos fulcrais. O primeiro,<br />

centrado em redor da dramatização de histórias de vida, em que o cenário levava o<br />

espectador a uma consulta de planeamento familiar, onde se simulavam, através da<br />

representação teatral, duas situações: a da jovem que inicia a sua vida sexual e pretende<br />

começar a tomar a pílula e a da senhora que descobre, através de exames, que<br />

é seropositiva. O segundo quadro, utiliza os fantoches para uma conversa que relata<br />

um dia na escola; utiliza uma linguagem próxima das vivências, do conhecimento<br />

empírico e do saber feito senso comum dos jovens, dando respostas a questionamentos,<br />

como por exemplo, como nascem os bebés. Por último, aparece o conhecimento<br />

científico a dar o contributo final, apresentado através de um PowerPoint. Por fim,<br />

seguiu-se um debate centrado em torno de conteúdos diversificados, como os procedimentos<br />

de uma gravidez saudável, os sinais, sintomas e cura do HIV, consultas<br />

de planeamento familiar, métodos contraceptivos, cuidados necessários para que um<br />

filho nasça saudável, importância dos cuidados durante a gravidez.<br />

2.2.4. O processo metodológico funcionou alicerçado em perguntas de partida<br />

problematizadoras, sempre do concreto para o abstracto, do senso comum para o<br />

conhecimento científico. Foram utilizadas técnicas criativas e motivadoras de animação<br />

socioeducativa e os participantes vestiram o papel de agentes e de actores<br />

interventivos. O espaço da acção estava organizado de forma equilibrada; houve o<br />

cuidado de arquitectar cenários e de fazer escolhas musicais que ajudaram a sensibilizar<br />

o público. Estamos em presença de uma forma interessante e eficaz de desformalizar<br />

o formal, através de temas de vida, temas geradores ou temas<br />

integradores, tão caros à educação de adultos. Uma actividade quase construtivista.<br />

2.2.5. A realização desta actividade ocorreu em três locais distintos: num infantário,<br />

onde foi efectuada a apresentação de uma das suas partes – os fantoches; no Auditório<br />

dos Bombeiros de Marco de Canaveses, – apresentação de três momentos a<br />

uma assistência composta por crianças e técnicos acompanhantes; na Junta de<br />

Freguesia de Matosinhos – apresentação integral da prática a um público onde se podiam<br />

ver crianças, jovens, técnicos, educadores e participantes de outro Curso EFA.<br />

É de salientar que durante todo o processo desenvolvido foi possível verificar que<br />

existiu trabalho em equipa e cumplicidade entre participantes e agentes.<br />

Os participantes exprimiram-se sobre a sua participação nesta nova experiência e<br />

pronunciaram algumas frases que pressagiam perspectivas de educação e formação<br />

ao longo da vida e a convicção de que adquiriram novas competências e aprendizagens:<br />

55


(...) cada vez aprendo mais comigo e com os que me rodeiam;<br />

A vida é feita de aprendizagem, de novas situações e de interesses (...);<br />

Estou motivada para continuar e se possível tirar o 12° ano para poder aprender coisas<br />

novas todos os dias, é esse o meu objectivo;<br />

Aprendi a concentrar-me e a controlar o meu nervosismo;<br />

Acho que controlei a minha auto-confiança;<br />

Para superar os medos e os receios e para mostrar que sou capaz;<br />

(...) o que me levou a esta sessão foi mostrar o que aprendi (...);<br />

Um do aspectos mais motivadores é sentirmos que a nossa opinião também pode ser<br />

considerada, o que nem sempre acontece;<br />

Aprendi o quanto são importantes as consultas de planeamento familiar e poder transmitir<br />

essa informação a outros.<br />

2.2.6. O observador interno foi um regulador do desenvolvimento da prática e<br />

apresentou, por isso, algumas propostas de alteração. Este foi um dos resultados<br />

dos procedimentos de reflexão-acção levados a efeito, e cujo desígnio era o melhoramento<br />

da qualidade e eficácia do processo educativo.<br />

Apresentam-se algumas dessas propostas-sugestões:<br />

- operacionalizar de forma mais convincente a intenção educativa, transmitindo-a<br />

de forma clara aos participantes;<br />

- gerir de forma mais eficaz o papel e a participação de cada agente na actividade<br />

(o que fazer, quanto tempo e o momento adequado para a sua intervenção);<br />

- delimitar o tempo de preparação da prática não formal, de forma a evitar a<br />

desmotivação e o cansaço dos participantes;<br />

- implementar um momento formal de reflexão-acção conjunto (equipa<br />

pedagógica e grupo de formação);<br />

- adequar o público (que assiste) à prática não formal;<br />

- fomentar a auto-avaliação quer dos participantes quer dos agentes;<br />

- disseminar de forma mais incisiva outras actividades na comunidade envolvente.<br />

2.3. Relativamente aos Agentes<br />

2.3.1. A actividade em observação esteve entregue a uma equipa pedagógica composta<br />

por vários agentes, formadores da componente básica e profissionalizante do<br />

Curso EFA. Esta equipa e o grupo de participantes desenvolveram o processo integrador<br />

da prática, sob a liderança de um agente aglutinador de vontades e coordenador<br />

do trabalho de projecto – o mediador.<br />

Os agentes envolvidos possuem formação superior em engenharia zootécnica,<br />

sociologia, psicologia, matemática, gestão de recursos humanos e história de arte e<br />

entre dois a quatro anos de experiência em Cursos EFA. Possuem todos alguma<br />

56


formação, já que é preocupação da instituição levar os seus agentes a participarem<br />

em seminários/acções de formação desenvolvidos pela Direcção-Geral de Formação<br />

Vocacional.<br />

Para além das suas competências técnicas, a observadora interna considera que todos<br />

eles se comportam como agentes de desenvolvimento que produzem motivações no<br />

adulto para o acto de aprender. São também credores de um perfil social centrado<br />

na abertura à reflexão-acção e na sensibilidade às causas dos desfavorecidos.<br />

2.3.2. A observadora interna porfiou em desenhar o perfil global de um agente capacitado<br />

para o desenvolvimento de um projecto de integração curricular, fundamentada<br />

na sua experiência de observadora participante. Definiu-lhe, para isso, três<br />

vertentes específicas. A saber:<br />

- a académica – de grau superior;<br />

- a técnica – possuir conhecimentos aprofundados das metodologias incertas<br />

num processo de integração curricular ou de desenvolvimento de trabalhos<br />

de projecto com adultos pouco escolarizados.<br />

- a socioprofissional:<br />

- boa capacidade de comunicação – possuir um discurso público, construído<br />

de forma entendível por participantes e agentes e respeitador da multiplicidade<br />

de ritmos de aprendizagem;<br />

- bom planificador/organizador – capaz de estruturar e organizar a informação<br />

e planificar com os outros agentes as diversas actividades a<br />

realizar;<br />

- boa liderança – capaz de potenciar e aglutinar os saberes e as competências<br />

da equipa alargada de agentes e explorar/identificar competências/saberes<br />

nos participantes que contribuam para a boa execução da actividade;<br />

- empatia que baste – capaz de se colocar no lugar do outro, sem misturar<br />

papéis;<br />

- disponibilidade para o outro – capaz de ouvir/escutar/incentivar o sentir<br />

crítico e reflexivo;<br />

- saber trabalhar em equipa – capaz de se relacionar com os outros e de optimizar<br />

as potencialidades de cada um;<br />

- ser responsável – capaz de fazer a reflexão-acção com o grupo de<br />

trabalho;<br />

- ser um motivador – capaz de utilizar as metodologias adequadas que incitem<br />

os participantes a “aprender a aprender”.<br />

2.3.3. A observadora interna realizou entrevistas semi-estruturadas a todos os<br />

agentes. Transcreve-se na íntegra a entrevista ao mediador. Aí se abordam<br />

problemáticas relacionadas com o empenho e a participação dos participantes, com<br />

as dinâmicas interactivas e ambientais do grupo de trabalho, o conhecimento da<br />

intenção educativa e das competências a adquirir, a articulação entre intenções<br />

57


educativas, metodologias, técnicas e suportes pedagógicos, e, por fim, fala-se sobre<br />

a motivação e grau de satisfação na perspectiva do agente.<br />

Da sua leitura e do discurso simples da entrevista, tirar-se-ão alguns ensinamentos,<br />

considerando as seguintes questões:<br />

Como surgiram as actividades?<br />

Uma vez que estamos num Curso de Educação e Formação de Adultos, e faz parte do<br />

modelo a existência de temas de vida, que traduzem interesses reais dos<br />

formandos/participantes por determinadas áreas, foi feito um levantamento, durante<br />

o módulo de aprender com autonomia e com a ajuda do mediador, de questões<br />

geradoras. Depois de identificados os temas e as respectivas questões geradoras foi<br />

feito o planeamento das actividades e adaptando os currículos às referidas temáticas.<br />

Que entendimento faz da forma como os participantes reagirem às actividades<br />

propostas?<br />

As actividades foram propostas pelos próprios participantes, logo a reacção foi boa,<br />

de entusiasmo para colocarem as “mãos na massa.<br />

O que será necessário para melhorar a participação e empenho?<br />

Foi identificado como ponto menos positivo o tempo demasiado na preparação da<br />

actividade, o que provocou ansiedade e cansaço.<br />

Em sua opinião, o contexto formativo é propício à aprendizagem? Porquê?<br />

Será preciso melhorar? Como?<br />

Sem dúvida. Porque é um contexto extremamente "descontraído" os participantes<br />

sentem-se confiantes para apresentar dúvidas, de forma a que todos os participantes<br />

e agentes possam tirar conclusões sobre situações de vida.<br />

A sua postura é propícia a uma interacção saudável e motivadora?<br />

Poder-se-à melhorar? Em quê e como?<br />

Penso que sim. Tenho uma postura aberta e transmissora de confiança.<br />

A melhoria é sempre possível, na medida em que cada participante é um ser único e<br />

tem necessidades específicas. Em cada situação é necessário adoptar-se uma postura<br />

adequada às especificidades dos adultos.<br />

As actividades foram preparadas tendo em conta as intenções educativas e<br />

as competências a adquirir? Fale-me então nalguns dos objectivos fundamentais<br />

e das previsíveis competências a adquirir. Foram definidos a partir<br />

de quê?<br />

Sim, tendo por base a construção curricular. Pretendia-se adquirir para além das competências<br />

de trabalho em grupo, competências ao nível da proactividade, autonomia<br />

e auto-estima e ainda adquirir conhecimentos na óptica da animação, planeamento<br />

familiar e gravidez. As competências foram definidas a partir dos interesses e motivações<br />

dos participantes.<br />

Que interesses, necessidades e vivências conhecia antecipadamente dos<br />

participantes? Como as inventariou?<br />

Os interesses, necessidades e vivências foram identificados em debate aberto com os<br />

participantes, para que cada um expressasse os seus interesses, desejos e motivações.<br />

58


Transmite aos participantes as intenções educativas e as competências a<br />

adquirir?<br />

Sim, mas depende de cada situação. Em certas situações, são transmitidas aos participantes,<br />

logo de início. Noutras situações, os participantes só as conhecem no final<br />

da actividade, através do método da descoberta.<br />

Quais foram as metodologias utilizadas? Porquê?<br />

Método activo, interrogativo (brainstorming), expositivo, demonstrativo e o método<br />

da descoberta. São utilizadas consoante o estilo/ritmo de aprendizagem de cada participante.<br />

(...)<br />

O processo resultou? Quais foram os pontos fortes e fracos? Assim sendo,<br />

o que é preciso mudar?<br />

Sim. Como pontos fortes, a motivação, o aumento da auto-estima e a aquisição de<br />

competências. Como pontos fracos, a gestão de tempo. Aspectos a melhorar: a gestão<br />

de tempo e, nalguns casos, uma melhor gestão de conflitos entre os participantes.<br />

Qual o balanço desta sessão (comparação com o plano de sessão)?<br />

Muito positivo. Os objectivos foram totalmente atingidos, pois conseguiu-se a transmissão,<br />

à comunidade, de conhecimentos sobre planeamento familiar e gravidez. Além<br />

disso, foi possível manter uma audiência de mais de cem crianças atentas e animadas, no<br />

caso da apresentação de Marco de Canaveses.<br />

Quais foram, no seu entendimento, os grandes constrangimentos desta<br />

sessão? E as facilidades?<br />

Os constrangimentos, no caso de Marco de Canaveses, foram a acústica do próprio<br />

espaço e a falta de condições de som. Como facilidades, registaram-se a segurança<br />

dos participantes face à plateia.<br />

Acha que os participantes estão motivados para continuar a participar?<br />

Porquê?<br />

Sim. Porque existiu aumento da motivação para a aprendizagem e da auto-estima.<br />

Que contribuição teve para esse estado emocional?<br />

Motivei, incentivando para um bom trabalho e para o próximo trabalho e incutindo a<br />

necessidade de não guardar as competências adquiridas para nós, mas transmiti-las<br />

à comunidade.<br />

O que deve continuar a fazer para alterar ou dar continuidade a esse quadro<br />

descrito?<br />

Manter e melhorar, conforme já foi referido.<br />

Consegue estabelecer uma relação entre a sua participação e o grau<br />

de satisfação dos seus participantes?<br />

Sim. A minha participação, conforme já foi referido, teve influência no aumento da<br />

auto-estima e da auto-confiança dos participantes (...) e penso que o grau de satisfação<br />

é muito positivo.<br />

59


2.4. Relativamente aos participantes<br />

2.4.1. A actividade em observação foi frequentada maioritariamente por mulheres.<br />

Fig.10. Género dos participantes<br />

A faixa etária mais afigurada é a dos com mais de 40 anos, seguindo-se a do intervalo<br />

entre os 31 e os 35 anos. As restantes têm uma representatividade mais baixa. O<br />

grupo etário dos 36 aos 40 anos não está representado neste universo.<br />

Fig.11. Idade dos participantes<br />

60


No que diz respeito à situação profissional de cada participante, no período anterior<br />

à integração no curso EFA, esta é muito heterogénea e carece de representatividade.<br />

Fig.12. Profissão dos participantes antes da frequência do Curso<br />

O nível de escolaridade é baixo; metade do grupo possui o 2º ciclo do Ensino Básico<br />

(6º ano) e a outra metade possui apenas o 1º ciclo do Ensino Básico (4º Ano).<br />

Fig.13. Nível de escolaridade dos participantes<br />

61


O percurso formativo dos participantes também é pouco significativo, já que apenas<br />

25% havia frequentado, anteriormente, outras actividades de formação.<br />

Fig. 14. Condição formativa dos participantes<br />

2.4.2. Ao avaliar-se o grau de satisfação na frequência da presente actividade,<br />

constata-se que, no domínio do espaço/instalações e dos materiais de apoio disponibilizados,<br />

as opiniões dividem-se apenas entre a categoria Satisfeito (50%) e Muito<br />

Satisfeito (50%).<br />

Fig.15. Espaço/instalações e materiais de apoio<br />

62


Tal facto leva-nos a concluir que os participantes se sentem satisfeitos com as instalações<br />

e com o material de apoio disponibilizado, factores que podem ter contribuído<br />

para uma maior motivação.<br />

Os participantes consideram que os agentes também tiveram um papel preponderante<br />

nesse desenvolvimento. A maioria (83%) está Muito Satisfeito com a sua postura.<br />

Também se encontram satisfeitos com o seu empenho no que se refere à promoção<br />

da sua aprendizagem.<br />

Fig.16. Empenho dos agentes na promoção da aprendizagem dos participantes<br />

Ao observarem-se os resultados referentes à forma como o agente agiu durante<br />

a actividade, verifica-se que a maioria dos participantes (75%) afirma sentir-se Muito<br />

Satisfeito e 17% Satisfeito com os seus modos de actuação.<br />

Fig.17. Modos de agir dos agentes<br />

63


2.4.3. Pergunta-se também se o seu grau de satisfação está relacionado com as formas<br />

de relacionamento agente-participante. As opiniões dividem-se: 42% não têm<br />

opinião; 41% sentem-se Muito Satisfeitos e 17% não respondem à questão.<br />

Fig.18. Relacionamento agente-participante<br />

No que concerne ao apoio individual prestado pelos agentes, sempre que o participante<br />

o solicitou, as opiniões repartem-se: 58% ficaram Muito Satisfeitos, 17%<br />

Satisfeitos, 17% sem opinião e 8% não respondeu.<br />

Fig.19. Apoio individual oferecido aos participantes pelos agentes<br />

64


Apesar da repartição dos resultados e de alguma neutralidade nas respostas, a maioria<br />

dos participantes ficou satisfeita com o apoio individual oferecido pelos agentes.<br />

2.4.4. Os participantes gostaram de trabalhar em grupo e aí encontraram motivação<br />

para aprender: 50% afirmam sentirem-se Muito Satisfeitos, 33% Satisfeitos e 17%<br />

não têm opinião.<br />

Fig.20. Trabalho em grupo e o seu poder motivacional<br />

Quanto à forma como foi promovida a sua participação na escolha de assuntos,<br />

actividades e temas de discussão, as opiniões dos participantes revelam um grau de<br />

satisfação elevado: 50% estão Muito Satisfeitos, 42% estão Satisfeitos e 8% não<br />

responderam. Há satisfação, pois, pela possibilidade que lhes é dada de serem sujeitos<br />

activos no processo de aprendizagem. Desta forma são tratados como adultos.<br />

Fig.21. Centralidade do processo de aprendizagem nos participantes<br />

65


Constata-se também que os participantes gostaram de “aprender a partir das coisas<br />

que já sabiam”, a partir das suas vivências, do concreto para o abstracto: 50% sentese<br />

Muito Satisfeitos com esta opção e os restantes 50% mostram-se Satisfeitos.<br />

Fig.22. Aprendizagem do concreto para o abstracto<br />

A maioria dos participantes também está muito satisfeita porque adquiriu, durante o<br />

desenvolvimento e preparação da actividade, conhecimentos úteis para a vida: 75%<br />

mostram-se Muito Satisfeitos, sendo que os restantes 25% estão Satisfeitos. Deste<br />

modo, é de supor que considerem que o tipo de conteúdos que têm adquirido ao<br />

longo da actividade lhes seja de grande utilidade e aplicabilidade para a vida quotidiana.<br />

Fig.23. Aplicabilidade e importância dos conteúdos na vida quotidiana dos participantes<br />

66


No que concerne à aquisição de competências para a resolução de problemas do<br />

quotidiano, 33% mostram-se Muito Satisfeitos, 33% Satisfeitos, 17% não têm opinião<br />

e os restantes 17% não responderam à questão. Daqui se poderá deduzir que os<br />

participantes consideraram importante a aquisição de competências que lhes vão<br />

permitir a resolução de problemas do seu dia-a-dia.<br />

Fig.24. Competências adquiridas e a resolução de situações do dia-a-dia<br />

2.4.5. Os participantes gostaram de participar em debates: 42% mostram-se Satisfeitos,<br />

33% não têm opinião, 17% sentem-se Muito Satisfeitos e 8% não responderam.<br />

Fig.25. Importância da participação em debates<br />

67


Apreciaram também a oportunidade que lhes foi dada de “pensar por si próprios”,<br />

porventura de emitir as suas opiniões e de fazer as suas criticas: 59% ficaram Muito<br />

Satisfeitos, 25% Satisfeitos, 8% sem opinião e 8% não responderam.<br />

Fig.26. Desenvolvimento do pensamento crítico<br />

A actividade também deu aos participantes a oportunidade de conhecer em muitas<br />

pessoas e instituições: 59% mostram-se Muito Satisfeitos; 25% sentem-se Satisfeitos,<br />

8% não têm opinião e 8% não responderam.<br />

Fig.27. Possibilidade de conhecer novas pessoas e instituições<br />

68


Também tiveram possibilidades de se mostrar em público e de “fazerem coisas de que<br />

os outros gostam”. Aprovaram a experiência e os dados revelam que 42% deles<br />

ficaram Muito Satisfeitos, 33% Satisfeitos, 17% não têm opinião e 8% (apenas 1)<br />

Pouco Satisfeitos.<br />

Fig.28. Importância de se mostrar em público e de fazer “coisas” que os outros apreciam<br />

O quadro seguinte reafirma o anterior. Os participantes ao serem interpelados sobre<br />

o grau de satisfação que sentiram por terem apresentado o seu trabalho a terceiros,<br />

50% mostram-se Muito Satisfeitos, 42% Satisfeitos e 8% não têm opinião.<br />

Fig.29. Importância de mostrar a terceiros o trabalho desenvolvido<br />

69


2.4.6. Os participantes foram também questionados sobre se na actividade desenvolvida<br />

lhes foi dada a oportunidade de aprenderem e de fazerem aquilo que mais<br />

lhes interessava. Pelas respostas, verifica-se que 59% ficaram Muito Satisfeitos, 33%<br />

Satisfeitos e 8% não responderam.<br />

Conjugando as respostas a este questionamento com outras já dadas anteriormente<br />

poderemos afirmar que estamos perante múltiplos factores geradores de motivação<br />

para aprendizagem.<br />

Fig.30. Aprender o que mais interessa para a vida<br />

Os participantes consideram que a actividade desenvolvida lhes fez ganhar mais autonomia<br />

e mais confiança em si próprios. Estas competências são consideradas facilitadoras<br />

e geradoras de motivação para a frequência de outras actividades. Por<br />

este facto, 59% revelam-se Muito Satisfeitos, 33% Satisfeitos e 8% não têm opinião.<br />

Fig.31. Ganhar mais autonomia e mais confiança em si próprios.<br />

70


O quadro que se segue releva as afirmações anteriores. Constatou-se a existência de<br />

uma crescente motivação para aprender: 58% dos participantes mostram-se Muito<br />

Satisfeitos, 25% Satisfeitos e 17% não responderam.<br />

Fig.32. Crescente motivação para aprender<br />

2.4.7. A actividade também serviu para que os participantes se relacionassem uns<br />

com os outros e aprofundassem essa relação: 58% sentem-se Muito Satisfeitos por<br />

isso, 17% Satisfeitos, 17% não têm opinião e 8% não responderam.<br />

. Fig.33. Importância das relações inter-pessoais<br />

71


A actividade foi importante para muitos aprenderem a gerir conflitos: 50% sentemse<br />

Muito Satisfeitos, 25% estão Satisfeitos, 17% não têm opinião e 8% não responderam.<br />

A satisfação existente, compatibilizada com o bom relacionamento inter par,<br />

pode estimular a motivação para a aprendizagem.<br />

Fig. 34 Aprendizagem da gestão de conflitos<br />

Por outro lado, há uma elevada satisfação quando se confrontam os participantes<br />

com a afirmação “consegui adquirir/desenvolver competências necessárias para o<br />

meu futuro pessoal e profissional”. A maioria (75%) mostra-se Muito Satisfeito com<br />

essa possibilidade, 17% mostra-se Satisfeito e 8% não responderam.<br />

Fig. 35. Desenvolvimento de competências importantes para enfrentar o futuro pessoal e profissional<br />

72


Este último domínio parece ser aquele em que a percentagem de participantes Muito<br />

Satisfeitos é maior. De facto, é unânime a opinião de que os conhecimentos e competências<br />

adquiridos na actividade são importantes e necessários para o futuro pessoal<br />

e profissional de todos.<br />

2.4.8. Os motivos que levaram os participantes a associarem-se a esta formação<br />

são diversos. A maioria refere-se ao facto da actividade pertencer à vertente integradora<br />

do curso que frequenta e ainda ao facto de ter como objectivo obter uma<br />

dupla certificação e concluir o 9º ano de escolaridade. No entanto, outros vão mais<br />

além e afirmam que estiveram lá para se tornarem pessoas mais confiantes, capazes<br />

de superarem os seus próprios medos e receios, consequência de uma autoconfiança<br />

fragilizada.<br />

Os aspectos mais positivos da actividade são, para quase todos, a união do grupo, a<br />

compreensão e a camaradagem entre os colegas, o auto controlo que se foi<br />

adquirindo e o aumento de autoconfiança. Sentem-se, nesta altura, mais seguros e<br />

capazes de controlarem o nervosismo. Neste campo, acentuam a contribuição que<br />

tiveram os agentes no apoio à conquista de uma renovada autoestima.<br />

2.4.9. Após a realização desta actividade integradora, 92% dos participantes estão<br />

redobradamente motivados para realizar o estágio profissional e concluir o Curso EFA.<br />

Importa saber as razões porque o querem concluir. Houve uma heterogeneidade de<br />

respostas: estarem a aprender cada vez mais; por encararem a vida como uma<br />

aprendizagem e, por essa razão, sentirem-se motivados para continuar; por terem<br />

como principal objectivo concluir o 9º ano de escolaridade; por acharem que o curso<br />

pode abrir portas ao mercado de trabalho; pela importância do grupo e pelo que têm<br />

aprendido com ele; porque ficaram aptos a cuidar de crianças; e, por último, por<br />

sentirem que o curso é uma mais valia para atingirem os objectivos pessoais e profissionais.<br />

Em síntese, poderemos afirmar que houve uma total adesão dos participantes à<br />

actividade, o grau de satisfação foi elevado e houve a apropriação de saberes e<br />

competências.<br />

73


Fig. 36. Motivação para concluir o curso<br />

3. Competências pessoais, relacionais, de contexto específico<br />

e técnicas adquiridas pelos participantes<br />

3.1. O participante desta actividade teve um duplo papel. Numa primeira fase, foi<br />

actor de um processo de ensino-aprendizagem que lhe facilitou a apropriação de<br />

conhecimentos e competências aplicáveis. Numa segunda fase, aplicou os conhecimentos<br />

e as competências anteriormente adquiridas a novas situações. Tornou-se,<br />

então, agente e assumiu o papel de animador e de transmissor de informação sobre<br />

planeamento familiar e gravidez.<br />

3.2. Da análise deste duplo percurso, foi possível conjecturar sobre as competências<br />

adquiridas pelos participantes. Assim o fez o observador interno.<br />

Competências Técnicas<br />

Apoiar os filhos e outros adolescentes nas áreas do planeamento familiar e da<br />

sexualidade, nomeadamente sobre mecanismos fisiológicos da gestação, desde a concepção<br />

até ao nascimento do bebé;<br />

Intervir de forma tecnicamente correcta nos seus futuros postos de trabalho (creches<br />

e infantários);<br />

Expressar publicamente informação, desde que prepare a comunicação;<br />

Aprender a aprender.<br />

Competências Transversais (no contexto específico)<br />

Iniciativa – ser capaz de demonstrar interesse e empenho pelos temas e/ou tarefas<br />

em contexto;<br />

Relações Interpessoais – ser capaz de se relacionar com os outros, aceitando<br />

e respeitando as características individuais de cada um, tendo em vista a resolução<br />

de uma tarefa e/ou tema;<br />

Pesquisa – seleccionar informação;<br />

Autonomia – ser capaz de analisar situações/informações simples e escolher a melhor<br />

resposta ou actuação;<br />

Adaptação às mudanças – ser capaz de se adaptar/ ser flexível a novas situações<br />

74


ou a imprevistos que ocorram numa planificação previamente elaborada;<br />

Responsabilidade – ser capaz de assumir os resultados dessas respostas e/ou das<br />

actuações;<br />

Criatividade – ser capaz de criar novas formas de actuação face aos temas e/ou<br />

tarefas propostas;<br />

Espírito crítico – ser capaz de propor alternativas eficazes para uma actuação mais<br />

adequada após feita a reflexão-acção.<br />

4. Conclusões da observadora interna<br />

Com a presente investigação verificou-se que a existência de práticas não <strong>formais</strong><br />

motivam o adulto para a aprendizagem, incentivando a procura de saberes/competências<br />

afim de lhe permitir uma resolução eficaz em situações do quotidiano.<br />

Da análise e discussão dos dados emerge uma conclusão primordial para a compreensão<br />

do sucesso de práticas não–<strong>formais</strong>. O estabelecimento da relação empática surge<br />

como um importante impulsionador para a motivação da aprendizagem. Esta relação,<br />

conceptualizada pelos os agentes como uma estratégia de intervenção eficaz, é a<br />

força motriz para o desenvolvimento de todo o processo educativo. É através da relação<br />

empática que se atinge uma intencionalidade educativa capaz de promover a<br />

aquisição de conhecimentos/competências por parte dos participantes que encontram<br />

nesta relação a base estruturante para o desenvolvimento intra-pessoal.<br />

Com esta investigação, identificou-se uma necessidade metodológica. Os instrumentos<br />

utilizados para observação deverão ser adaptados à prática não formal, a fim<br />

de se poder avaliar de uma forma mais objectiva a intencionalidade educativa destas<br />

práticas.<br />

75


Apoios Documentais<br />

- Relatório/Síntese da observação, da reflexão-acção e de aprofundamento apresentado<br />

pela equipa institucional (Glória Pinto e Cristina Fernandes Cabral)<br />

- Suportes disquetes e CD produzidos pela instituição<br />

- Trabalho de observação efectuado por Cristina Fernandes Cabral<br />

76


CAPITULO V<br />

As respostas institucionais<br />

do Município de Constância – Clube S@bER +<br />

77


1. Breve apresentação da actividade objecto de observação<br />

1.1. Assiste-se ao progressivo envelhecimento da população em Portugal. Os gastos<br />

com a saúde e com apoios e cuidados médicos à doença atingem valores preocupantes.<br />

A população activa não reconhece no sistema geral de segurança social um<br />

futuro garantido. Estamos perante uma situação onde a luta por uma vida mais<br />

saudável não é apenas um apelo de inquestionável recorte civilizacional, mas também<br />

seguramente, uma exigência política e económica, num mundo caracterizado por desequilíbrios,<br />

constrangimentos e desigual distribuição da riqueza e de bem-estar.<br />

No contexto dos pressupostos acima eventados, que compaginam o projecto em<br />

apreço, o Município de Constância, através do Clube S@bER+ e da Organização Local<br />

de Educação e Formação de Adultos, desenvolve o projecto "Educação pelo Movimento",<br />

de forma articulada com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Desportivo<br />

para o Concelho de Constância.<br />

Cerca de 40 participantes da freguesia de Montalvo, de escalões etários diferenciados,<br />

constituíram-se como grupo em observação.<br />

O projecto emerge em redor de três objectivos centrais: criar o gosto e o hábito pela<br />

realização de actividade física; melhorar a qualidade de vida; promover o encorajamento<br />

à participação noutras actividades educativas <strong>formais</strong> e in<strong>formais</strong>.<br />

Daqui discorre a sua intencionalidade educativa (que foi sendo construída e interiorizada<br />

ao longo do processo de observação-acção) e que se unifica em redor da seguinte<br />

frase-chave: Educação para a Saúde/ Saúde pela Educação.<br />

Esta frase é dinâmica, pois pretende criar, por um lado, uma estratégia educativa<br />

que motive os participantes a escolher novos contextos formativos; por outro, mobiliza-os<br />

a serem disseminadores dos saberes adquiridos no seu meio familiar e local.<br />

Nos interstícios deste vaivém, é fomentada a cultura física num contexto intergeracional,<br />

permitindo aos participantes desenvolver competências psicomotoras e práticas<br />

de higiene e de alimentação equilibrada. Pretende também consciencializar os<br />

participantes para a necessidade de correcção de todos os movimentos associados<br />

ao seu bem-estar individual, e melhora-lhes a postura corporal e a resistência muscular.<br />

As actividades do projecto não estão comprometidas com as formalidades do sistema<br />

regular de ensino. Foram construídas a partir dos interesses das pessoas; integramse<br />

num processo de aprendizagem flexível; têm subjacente a lógica da participação<br />

voluntária; vivem um clima, onde os ritmos de aprendizagem são diferenciados; são<br />

direccionadas para a construção de valores e práticas culturais.<br />

2. O conhecimento do praticado e do reflectido<br />

2.1. Relativamente à pesquisa de dados e à investigação-acção<br />

Para entendimento do real foram utilizados pelo observador interno os seguintes<br />

instrumentos investigativos: planos de sessão, grelhas de observação, inquéritos por<br />

questionário, entrevistas, conversas in<strong>formais</strong> e análise documental. A triangulação<br />

de dados foi efectuada e todos os resultados apurados constam de suportes CD e escritos,<br />

produzidos pelo projecto.<br />

79


As grelhas de observação foram utilizadas no decorrer da actividade. O inquérito por<br />

questionário foi passado aos participantes de três sessões, e as entrevistas semi-estruturadas<br />

ao agente envolvido no processo. A análise documental incidiu sobre todos<br />

os documentos caracterizadores da actividade e nos planos de sessão produzidos<br />

pelo agente.<br />

Foram efectuadas reflexões sobre a acção e para a acção, no final das três sessões<br />

observadas, entre o observador interno e o agente. Aí se confrontou o ideal com o<br />

real, na tentativa de melhorar e recriar as actividades seguintes.<br />

O observador externo também fez a sua observação, confrontando os seus resultados<br />

com os do observador interno, daí resultando algumas alterações significativas.<br />

A intenção educativa da prática, embora indicada de forma incipiente no início do<br />

projecto, foi sendo aprofundada, paulatinamente, quer pelo (s) agente (s), quer pelos<br />

coordenadores locais da investigação-acção.<br />

2.2. Relativamente à intencionalidade educativa e à actividade<br />

2.2.1. As actividades, quando em ambiente de interior, foram desenvolvidas em<br />

instalações cedidas pela Casa do Povo. Trata-se de uma sala ampla, preparada para<br />

eventos recreativos e culturais, com condições técnicas e de climatização insuficientes.<br />

O calor foi motivo de desconforto. No entanto, o espírito de grupo, a convivialidade,<br />

a interajuda e o prazer da simples participação atenuaram as limitações<br />

tangíveis de um espaço com condições precárias para a prossecução da prática. Embora<br />

a disposição espacial facilite a interacção e a comunicação, a falta de recursos<br />

e de meios disponíveis dificultam algumas aprendizagens.<br />

2.2.2. As actividades em observação contextualizaram-se em redor de exercícios<br />

aeróbios que utilizam coreografias com músicas rítmicas; exercícios em grupo, destinados<br />

a promover a interacção social e a afectividade; exercícios isométricos e de<br />

flexibilidade articular e alongamento muscular. Pretender-se-ia, com todos eles, melhorar<br />

a condição física e a qualidade de vida dos participantes.<br />

Na primeira observação, constatou-se que as virtualidades da transversalidade educativa<br />

não estavam expressas e que as práticas nesse contexto eram difusas. Não se<br />

entendia o porquê educativo do que se fazia, e, sendo assim, os participantes não<br />

seriam sujeitos de aprendizagem.<br />

Por outras palavras, a intencionalidade educativa estava bem pouco clara e houve que<br />

reconstruí-la aproveitando o processo de observação-acção.<br />

2.2.3. Foi então assumida a transversalidade, Educação para a Saúde/Saúde pela<br />

Educação, que foi sendo devidamente consolidada, sobretudo após as reflexões produzidas<br />

nos contextos da observação externa/interna.<br />

A assumpção desta perspectiva educativa releva que é através do conhecimento que<br />

cada um pode vir a ser responsável activo e consciente da sua saúde e, previsivelmente,<br />

da saúde da comunidade em que se insere.<br />

80


2.2.4. Depois desta fase, as actividades em apreço foram, então, consideradas “boas<br />

práticas” pelos actores institucionais, por diversos motivos:<br />

- pelo acréscimo de participantes que se foi verificando e pela sua disseminação<br />

a outras localidades do concelho;<br />

- porque a concretização das actividades e a metodologia inerente a cada<br />

uma das sessões foi programada de acordo com as solicitações dos<br />

munícipes;<br />

- porque se tornaram actividades importantes para o quotidiano dos participantes<br />

envolvidos, consciencializando-os dos benefícios da prática da<br />

actividade física regular num contexto de educação para a saúde;<br />

- porque as actividades servem de centro motivador e de encaminhamento<br />

dos participantes para modalidades de educação formal ou não formal, promovidas<br />

pelos serviços culturais do Município, por associações locais ou pela<br />

Organização Local de Educação e Formação de Adultos;<br />

- porque permitiram o desenvolvimento de sentimentos de valorização e de<br />

reconhecimento social, factores essenciais para a assunção da autonomia,<br />

da auto-estima e do saber-estar.<br />

2.3. Relativamente aos agentes<br />

2.3.1. As actividades tiveram dois agentes no decorrer do desenvolvimento do projecto.<br />

O agente em observação era detentor de um bacharelato no contexto da animação<br />

desportiva e lazer e estava a realizar um estágio profissional com o intuito de terminar<br />

a sua licenciatura. Apesar de jovem, já possuía uma história de vida profissional bastante<br />

diversificada.<br />

A sua proposta de trabalho inicial, intitulada “Educação pelo Movimento”, contextualizou-se<br />

em redor do documento que abaixo se transcreve e de uma calendarização<br />

objectivada (com observação) designada por “Mesociclo”:<br />

Objectivo: O objectivo deste projecto é o de criar o gosto e o hábito pela realização<br />

de actividade física. O sedentarismo é o principal inimigo da saúde. Com a inserção<br />

destas sessões no quotidiano das pessoas, o objectivo principal é o de melhorar a<br />

sua qualidade de vida.<br />

Programa:<br />

- Montalvo: todas as quartas-feiras, em três horários diferentes. 1º entre as 17h45min<br />

e as 18h30min, 2º entre as 18h30min e as 19h15min, e por último entre as<br />

19h15min e as 20h00.<br />

Houve necessidade de dividir uma única sessão de uma hora por três sessões de<br />

45 minutos, devido ao número de inscritos ser demasiado para uma aula proveitosa.<br />

- Constância: todas as sextas-feiras, entre as 18h30min e as 19h30min.<br />

Objectivo das sessões: a realização de cada sessão é regida de acordo com o objectivo<br />

principal. Os objectivos principais são o aumento da flexibilidade, da força, aumento<br />

81


da resistência cardio-respiratória, o aumento da resistência muscular localizada e por<br />

fim o melhoramento da composição corporal com a transformação da massa gorda em<br />

massa muscular.<br />

Apesar de cada sessão se reger por um objectivo principal, os outros objectivos<br />

poderão estar, ou não, também presentes nessa sessão.<br />

Mesociclo<br />

Fevereiro Março Abril Maio Junho<br />

Objectivo<br />

principal:<br />

Aumento<br />

da resistência<br />

cárdio-respiratória<br />

Objectivo<br />

principal:<br />

Aumento da<br />

flexibilidade<br />

Objectivo<br />

principal:<br />

Aumento da<br />

força<br />

Objectivo<br />

principal:<br />

Aumento da<br />

resistência<br />

muscular localizada<br />

Objectivo<br />

principal:<br />

Aumento da<br />

flexibilidade<br />

Objectivo<br />

secundário:<br />

Aumento da<br />

flexibilidade<br />

Objectivo<br />

secundário:<br />

Aumento da<br />

resistência<br />

cárdio-respiratória<br />

Objectivo<br />

secundário:<br />

Aumento da<br />

resistência cárdio-respiratória<br />

Objectivo<br />

secundário:<br />

Aumento<br />

da resistência<br />

cárdio-respiratória:<br />

Objectivo<br />

secundário:<br />

Aumento<br />

da resistência<br />

cárdio-respiratória<br />

Observação: um objectivo do qual nunca prescindo é a noção da posição corporal,<br />

deste modo tento que as pessoas tenham sempre a consciência da posição correcta<br />

da coluna. Uma postura correcta consciencializada traz proveito para todas a tarefas<br />

do nosso dia-a-dia, além de um melhor bem-estar.<br />

2.3.2. O documento poderá estar correctamente elaborado no contexto da pedagogia<br />

do movimento, mas revela algumas debilidades na conceptualização e percepção<br />

da intencionalidade educativa da actividade.<br />

A observação das sessões a que se procedeu e as consequentes reflexões sobre a<br />

acção operacionalizaram algumas alterações que se vieram a reflectir no pendor<br />

educativo e sociológico das actividades. Os planos de sessão, elaborados pelo agente,<br />

vieram a espelhar esta nova realidade, já que se notam cada vez mais estruturados.<br />

Nesses documentos de planificação, o agente predispõe-se a falar em “distrair os<br />

adultos das canseiras”, “melhorar a participação das pessoas e fazê-las lidar umas<br />

com as outras”, “aumentar a sua capacidade de resistência cardio vascular”, “sensibilizá-las<br />

para uma melhor postura corporal e melhores hábitos alimentares e higiénicos”,<br />

“reforçar os participantes com instruções de exemplos de bons hábitos<br />

alimentares, higiénicos e socialização”. Para além de tudo isto, já pensa em “interagir<br />

com os participantes, questionando acerca dos hábitos desportivos e a sua importân-<br />

82


cia. Ensinar o modo de captação da frequência cardíaca através da pressão de dois<br />

dedos na artéria do pescoço. A análise dessa frequência cardíaca correspondente à<br />

intensidade de esforço.”<br />

Este agente, na última observação, era uma pessoa satisfeita com o seu desempenho,<br />

embora tivesse a convicção de que era preciso melhorar as actividades, criando<br />

“situações de discussão de ideias”.<br />

Terminado o seu estágio, o agente em observação foi substituído por uma professora<br />

de Educação Física com habilitações académicas e experiência profissional adequadas<br />

ao desenvolvimento da componente educativa da actividade. Possuía experiência<br />

adquirida em projectos de natureza técnica e desportiva e em acções de voluntariado<br />

e de projectos de integração social e educativa.<br />

Sobre a actividade explicita a seguinte opinião:<br />

Considero que a actividade/prática “Educação pelo Movimento” tem todos os ingredientes<br />

para se tornar uma referência na educação para adultos na nossa região. Não<br />

só pela participação em massa da população, perfazendo um conjunto bastante<br />

heterogéneo, mas sobretudo pelas competências desenvolvidas e pelas experiências<br />

adquiridas.<br />

Não é recorrente existir numa qualquer acção desta natureza uma intenção educativa<br />

tão evidente e que tem vindo a ser assimilada progressivamente por todos os<br />

participantes.<br />

A minha experiência tem-me levado a diferentes estádios evolutivos no que concerne<br />

à expressão físico-motora e técnica-desportiva. No entanto, tem sido bastante gratificante<br />

integrar um projecto desta natureza. Não só pela cultura física, mas a premissa<br />

assumida de Educação para a Saúde/Saúde pela Educação é de facto um recurso ao<br />

alcance de todos e que cabe a cada um a criação de um projecto de vida projecto de<br />

vida tão equilibrado, ambicioso e harmonioso quanto possível.<br />

Tenho me divertido e sobretudo aprendido imenso.<br />

Existem documentos produzidos pelos agentes que aclaram a forma como explicitam<br />

a intencionalidade educativa de cada sessão. O Anexo do presente capítulo, também<br />

produzido no âmbito da actividade, discrimina o conjunto de benefícios da actividade<br />

física para o adulto, o que vem reforçar e tornar obrigatória a ideia de que é<br />

preciso comunicar o desígnio educativo em cada acção.<br />

2.3.3. O observador interno, em consequência da observação-acção desenvolvida,<br />

inventariou prerrogativas facilitadoras da caracterização do perfil do agente em observação.<br />

De entre elas, transcrevemos as seguintes:<br />

(...) Procurou auscultar os diferentes estádios evolutivos dos participantes preocupando-se<br />

com o desenvolvimento psicomotor do grupo (...).<br />

Depois de cada reflexão, procurou sistematizar as sessões, fazendo auto e heteroanálises<br />

em que reconheceu os aspectos positivos e negativos de cada sessão (...).<br />

Geriu a solidariedade intergeracional (...) de acordo com as suas necessidades, valores<br />

e preferências (...).<br />

83


2.3.4. Por outro lado, o observador interno, também considera que há muitos aspectos<br />

a melhorar. Por exemplo:<br />

A intenção educativa da prática deverá ser comunicada e expressa em todas as<br />

sessões, de forma explícita e directa.<br />

O agente deverá sensibilizar os participantes para os objectivos gerais e específicos<br />

da prática, consciencializando sistematicamente os participantes para a correcção dos<br />

movimentos associados ao bem-estar individual e a uma vida sã.<br />

A prática deverá ser intercalada com sessões de esclarecimento promovidas e/ou dinamizadas<br />

pelo agente (...).<br />

2.4. Relativamente aos participantes<br />

2.4.1. A maioria dos participantes provém de cursos e actividades de educação e formação<br />

de adultos que se realizam na freguesia de Montalvo. Muitos deles têm escolaridades<br />

baixas, embora haja excepções. Há, por exemplo, uma licenciada<br />

participante. O grupo é intergeracionalmente heterogéneo em idades e género.<br />

Participam na actividade porque querem melhorar a sua condição física (42%), perder<br />

peso e resolver algumas questões de saúde (32%), como por exemplo, artroses,<br />

asma, bronquites, diabetes, hérnias, osteoporose, tendinites, problemas de coluna e<br />

cardiovasculares, entre outras. Estes interesses e necessidades são denunciadores<br />

da importância de uma intencionalidade educativa bem expressa e participada.<br />

O convívio preenche 26% das preferências. São as mulheres que se demonstram<br />

mais preocupadas com questões relativas à saúde e perca de peso. Ao contrário, os<br />

homens elegem a melhoria da condição física como objectivo a atingir.<br />

Para muitos, a actividade serve também para “desanuviar um pouco do dia-a-dia” e<br />

também “por ser boa para a saúde e motivo de estética”. Gostam “de tudo do professor<br />

que é muito empenhado”.<br />

O grau de satisfação pelas actividades é elevado, excepto no que diz respeito ao<br />

equipamento e espaço. No entanto, poucos referem o pendor educativo e transversal<br />

da actividade, pelo que o observador interno alvitra alguns aspectos a melhorar:<br />

Aliar as práticas à melhoria dos seus projectos de vida (...); (...) consciencializar-se da<br />

influência que pode exercer no seu meio familiar e local; interiorizar a intencionalidade<br />

educativa; (...) ser mais interventivo e participar assiduamente na identificação de<br />

factores críticos de sucesso da prática (...).<br />

3. Sobre a educação não formal<br />

Baseado no quadro da observação-acção realizada, o observador interno reflectiu, por<br />

fim, sobre o panorama da educação não formal e produziu literatura sobre a sua<br />

função, efeitos, competências identificáveis produzidas e, também, sobre os melhoramentos<br />

a introduzir, para que haja o seu reconhecimento e valorização.<br />

84


Qual a sua função?<br />

Na actividade “Educação Pelo Movimento” a função primordial foi a consciencialização da<br />

correcção dos movimentos do quotidiano, transferindo a aprendizagem para formas<br />

indutoras de bem-estar individual, de uma vida sã e de coesão social.<br />

Que efeitos produz ?<br />

Os efeitos produzidos resultam da transferabilidade da aprendizagem, quer pelo<br />

agente, quer pelos participantes, para práticas rotineiras e de indagação social, assumindo<br />

as premissas do saber-fazer.<br />

A diversificação das formas de aprendizagem é facilitadora da promoção da autonomia<br />

e da democratização no acesso a esta e a outras práticas. Existe claramente um contrato<br />

pedagógico entre agente e participantes, evidenciado pela disseminação da<br />

prática, da sua evolução espacial e diacrónica e pela comunicação da(s) intenção(ões)<br />

educativas e das competências essenciais.<br />

Produzirá competências identificáveis? Quais?<br />

Através de uma avaliação directa, intuitiva e dialogante é notória a assunção de competências<br />

relacionais, de sociabilização e de coordenação.<br />

A motivação para continuar, a expectativa generalizada, a coesão intergeracional, a<br />

auto-estima, a auto confiança, o bem-estar, o entusiasmo, a empatia, a comunicação,<br />

a valorização de projectos de vida, a indução de dinâmicas de desenvolvimento social<br />

e de acesso constante à informação constituem, entre outras, competências e<br />

evidências.<br />

Poderão ser validadas? Como?<br />

Através do contrato pedagógico assumido desde o dealbar da prática entre agente e<br />

participantes, a validação das competências identificáveis será determinada pela independência<br />

funcional dos sujeitos, existindo desejos concretos de participação em<br />

outras práticas desenvolvidas quer no âmbito do Clube S@bER +, quer nos diferentes<br />

cursos ministrados pela Organização Local de Educação e Formação de Adultos, quer,<br />

inclusive, em acções de auto-formação e de auto-aprendizagem e/ou de consequente<br />

encaminhamento para Centros RVCC da região.<br />

Com que melhoramentos?<br />

Através da promoção individual e pelo assomo em prosseguir com a consolidação e/ou<br />

aperfeiçoamento de projectos individuais no âmbito do conceito de aprendizagem ao<br />

longo da vida. Tenderá a consolidar a relação entre os sujeitos e as organizações<br />

locais de educação, de cultura e de formação.<br />

O que podemos fazer para que haja o reconhecimento e a valorização<br />

do não formal?<br />

Assumir e disseminar activamente os conceitos decorrentes do projecto MAPA, estimular,<br />

divulgar e expandir as nossas práticas, valorizar as biografias individuais de agentes<br />

e participantes, valorizar a perspectiva construtivista a todos os agentes envolvidos são<br />

fundamentos essenciais para o reconhecimento e valorização do não-formal.<br />

Projectos desta índole, construídos a partir dos interesses das pessoas e não comprometidos,<br />

tenderão a uma aplicação territorial generalizada. Desde que assumidos seriamente<br />

por observadores, interlocutores, agentes, participantes e demais sujeitos ou<br />

instituições, a educação não-formal progressivamente alargará o seu âmbito de aplicação<br />

sempre que associada a uma intenção educativa.<br />

85


Apoios Documentais<br />

- Relatório/Síntese da observação, da reflexão-acção e de aprofundamento apresentado<br />

pela equipa institucional (Júlia Maria Lopes Amorim, Luís Filipe Correia Dias e<br />

Maria Isabel Cartaxo).<br />

- Suportes CD produzidos pelo projecto.<br />

- Trabalho de observação-acção efectuado por Luís Filipe Correia Dias<br />

86


ANEXO A<br />

Benefícios da actividade física no adulto<br />

- Reduz o risco de morte por doenças cardiovasculares;<br />

- Reduz o risco de desenvolver hipertensão arterial;<br />

- Reduz o risco de desenvolver cancro do cólon;<br />

- Reduz o risco de desenvolver diabetes;<br />

- Ajuda a diminuir a tensão arterial nas pessoas com hipertensão arterial;<br />

- Ajuda a manter a saúde óssea, muscular e articular;<br />

- Reduz os sintomas de ansiedade e depressão;<br />

- Ajuda a prevenir e a tratar depressões;<br />

- Aumenta a auto-estima;<br />

- Aumenta o bem-estar;<br />

- Dá a oportunidade de estabelecer interacções sociais;<br />

- Ajuda a controlar o peso, desenvolvendo a massa muscular e diminuindo a massa gorda;<br />

- Melhora o equilíbrio;<br />

- Apura a coordenação motora;<br />

- Promove a independência funcional;<br />

- Reduz o número e a gravidade das quedas prevenindo as fracturas osteopóricas;<br />

- Aumenta o auto-domínio;<br />

- Aumenta a auto-eficácia.<br />

87


CAPÍTULO VI<br />

O reconhecimento, a valorização<br />

e a capacidade motivacional<br />

das actividades de educação não formal<br />

89


O reconhecimento, a valorização e a capacidade motivacional<br />

das actividades de educação não formal<br />

1. O Projecto MAPA demonstra a emergência em Portugal de um novo movimento<br />

social que vai substituindo o associativismo tradicional. São, nalguns casos, verdadeiros<br />

Terceiros Lugares Educativos que introduziram o debate na territorialização<br />

da educação. Cultivam actividades de educação não formal, formal e informal, entrelaçadas<br />

na procura de um conceito de educação que extravase do conceito formal<br />

para o conceito não formal e informal, ou em sentido contrário.<br />

2. O desenvolvimento do processo investigativo revelou-nos que as instituições<br />

participantes se formatam num quadro educativo conceptualmente integrador. Referimo-nos<br />

ao desenvolvimento de actividades não <strong>formais</strong> facilitadoras do desenvolvimento<br />

pessoal e do sentido da iniciativa das pessoas. Há outras que contribuem para<br />

a integração dos participantes na vida activa e na sociedade.<br />

3. No quadro das instituições em observação, há claras situações de interacção entre<br />

o formal e o não formal, que configuram quadros motivacionais interessantes, capazes<br />

de capultar adultos com baixas escolaridades para outros contextos formativos.<br />

Apostar neste cenário é fundamental para Portugal, quando se quer remediar, a<br />

tempo, a baixa qualificação de alguns estratos desfavorecidos da população.<br />

4. As práticas observadas também privilegiam as extensões verticais e horizontais de<br />

educação de adultos. Constata-se a infusão de temas transversais/competências<br />

transversais: educação ambiental, educação para a assertividade, educação para a<br />

saúde, educação sexual, educação do consumidor, educação familiar, educação para<br />

as tecnologias da informação, educação para a iniciativa e empreendorismo.<br />

5. A educação formal, a não formal e a informal não são entendidas ou utilizadas<br />

pelas instituições em apreço, como se se tratasse de cânones metodológicos ou de<br />

compartimentos estanques. O Projecto MAPA deixa-nos a convicção de que é útil<br />

para a política educativa portuguesa introduzir conexões, cada vez mais fortes, entre<br />

os três sectores <strong>educativos</strong> e abrir a fronteira entre, sobretudo, a educação formal e<br />

a não formal.<br />

6. As actividades desenvolvidas, nalgumas das instituições do projecto, estão<br />

formatadas nessas conexões que produzem situações motivadoras e promotoras de<br />

outras aprendizagens junto dos participantes. Isto consegue-se, como nos foi dado<br />

provar, porque praticam uma cultura de intimidade, familiaridade e proximidade com<br />

a comunidade e com os participantes. Os adultos-educandos, por serem tratados<br />

como adultos, ficam ligados afectivamente aos agentes e às instituições. São muitas<br />

vezes participantes em actividades <strong>formais</strong> que concluem; regressam voluntariamente<br />

para participar em actividades não <strong>formais</strong>, e, motivados pela experiência, pela participação<br />

ou pelos conhecimentos adquiridos, regressam ao formal. Há aqui um<br />

vaivém formativo que julgamos ser necessário explorar e incentivar.<br />

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7. O Projecto MAPA, em Portugal, construiu um conceito de educação não formal,<br />

assumido por todas as instituições participantes, forjado em redor de uma intencionalidade<br />

educativa emergente dos interesses e necessidades dos adultos, nas<br />

metodologias que utilizam (activas, participativas e construtivistas), nas escassas ou<br />

nulas exigências académicas e administrativas para a inclusão, nos conteúdos contextualizados<br />

e na pouca uniformidade de tempos e espaços.<br />

8. O Projecto MAPA adoptou um processo investigativo baseado na observaçãoacção/intervenção<br />

que foi actuante sobre algumas actividades e perseguiu um triplo<br />

objectivo: de as melhorar (fundamentalmente as intencionalidades educativas, as<br />

metodologias, a proposição de objectivos e de competências realistas); de as avaliar<br />

(como foi feito numa instituição por vontade própria); e de ampliar o conhecimento<br />

sobre o assunto em causa. Neste contexto, fez-se alguma “teoria da prática” e partiu-se<br />

para a definição do perfil do agente ideal de educação não formal.<br />

9. O Projecto MAPA foi capaz de criar equipas interinstitucionais que tiveram um<br />

posicionamento positivo, face à investigação-acção. Provou-se que já existem, hoje<br />

em Portugal, algumas instituições aprendentes. Mas são precisas mais e muito mais,<br />

se se quer qualificar os recursos humanos. Em situação de aprofundamento e reflexão<br />

crítica, cada instituição, mostrando que aprende e partilha o conhecimento, foi<br />

capaz de alicerçar um rol de competências relacionais e organizacionais ideais para<br />

os agentes da educação não formal. Por outro lado, foram capazes de problematizar<br />

as funções, os efeitos e as competências que permitem desenvolver as actividades<br />

de educação não formal e o que é necessário empreender para promover o seu<br />

reconhecimento.<br />

10. As actividades em observação transmitiram-nos a convicção de que vai longe o<br />

tempo do construtivismo romântico na educação não formal, em que se desprezavam<br />

os conteúdos científicos e os processos cognitivos. Constata-se a valorização do<br />

conhecimento substantivo. O processo educativo é centrado no adulto, mas não se<br />

esquece a sua intencionalidade educativa, os objectivos, os conteúdos e as competências<br />

a adquirir pelos participantes.<br />

11. Há uma ideia quase consensual de que é importante ir ao encontro dos interesses<br />

dos adultos e partir de coisas concretas para elevar o seu grau de abstracção. Já não<br />

se aceita a versão radical de que cada adulto avança por si, pois, naturalmente, apenas<br />

se pretende o desenvolvimento dos seus interesses. Hoje já não existe a ideia,<br />

mesmo trabalhando com adultos pouco escolarizados, de que a redução ao concreto<br />

basta.<br />

12. O uso de competências, como conceito unificador, já se faz sentir nestas actividades,<br />

mas ainda existem muitas formulações ambíguas e vagas que dificultam uma<br />

avaliação objectiva ou uma orientação precisa do processo formativo. Notam-se lacunas<br />

na combinação entre a instrução abstracta e as diversas ilustrações concretas<br />

que conseguem despertar o adulto e motivá-lo para perceber, imaginar e realizar<br />

aplicações.<br />

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13. A observação das actividades certificou-nos de que, na maior parte das situações,<br />

se iniciou o processo de aprendizagem com a criação de condições emocionais propícias,<br />

e também se utilizou aquilo que o participante já sabia ou fazia, o concreto-real,<br />

como ponto de partida. Também nos permitiu constatar, embora só nalguns casos,<br />

que os agentes já se aperceberam que uma competência a adquirir é da ordem do<br />

saber mobilizar, pelo que orientaram a aprendizagem pondo em acção estratégias<br />

adequadas.<br />

14. Algumas “boas práticas” puderam ser observadas: o trabalho por temas<br />

globalizadores; a abordagem dos saberes como recursos a mobilizar; o trabalho por<br />

problemas e estudo de caso; a negociação de projectos e o estabelecimento de contratos<br />

didácticos; o questionamento do participante sobre o modo como agiria para<br />

realizar uma actividade ou resolver um problema, ou sobre a maneira como utilizava<br />

o que já conhecia ou os recursos colocados à sua disposição. Procurar situações ou<br />

contextos de utilização dos conhecimentos e simular práticas com os participantes<br />

foram outras estratégias observadas.<br />

15. Também foi positivo constatar a forma como se desdramatizavam os erros dos<br />

participantes e como deles se partia para criar oportunidades de aprendizagem ou<br />

como se encorajava na procura de soluções. Os agentes também sugeriam pistas de<br />

acção e propunham hipóteses de trabalho a explorar. Na maior parte das situações,<br />

vivia-se um clima liberto de pressões e havia o cuidado de conceber ambientes<br />

materiais e espaciais favoráveis. Os suportes pedagógicos eram sugestivos, tornando<br />

significativas as aprendizagens.<br />

16. Os agentes em observação destacaram-se pela capacidade que tiveram para mobilizar<br />

e encorajar os adultos a participar nas actividades não <strong>formais</strong>. Sabem ouvir<br />

e criam um clima favorável e motivador para a aprendizagem. Estão receptivos à reflexão-acção,<br />

o que é fundamental. Falta, a alguns deles, conhecimentos ao nível da<br />

“didáctica” da Educação de Adultos e da Animação Socioeducativa, que lhes permitiria<br />

planificar melhor, percepcionar melhor o "sentir" dos participantes, explicitar melhor<br />

a intenção educativa e conduzir técnicas e metodologias que incentivassem o acto de<br />

aprender. É que, nos dias de hoje, não basta (embora seja importante) sensibilizar<br />

para criar espírito de equipa ou elevar a auto-estima. Hoje, na sociedade do conhecimento,<br />

adquirir competências para a aprendizagem permanente é fundamental.<br />

17. As instituições arriscaram-se a definir o perfil do agente para a educação não formal,<br />

em redor de um naipe de competências que se consubstancializam num conjunto<br />

de palavras forjadas na acção, como sejam: ouvir, entusiasmar, envolver, ser<br />

empático, comunicar, valorizar, reconhecer, estimular/motivar, saber, planificar,<br />

preparar, arquitectar, ensinar e reformular (ser receptivo à reflexão- acção). Ou seja,<br />

o agente deve saber-saber, investigar, programar, arquitectar, inovar e avaliar. Há pois<br />

um conjunto de competências transversais que deve possuir (de cidadania, de resolver<br />

problemas, tomar iniciativas, colaborar com actores comunitários), aliadas a<br />

outras de índole científica, pedagógica e de animação (adaptar estratégias pedagógicas,<br />

organizar ambientes e conduzir os processos de aprendizagem).<br />

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18. Os actores institucionais também conceptualizaram o conjunto de prerrogativas<br />

que deve possuir uma actividade para que seja considerada uma “boa prática” de<br />

educação não formal. Em primeiro lugar, considera-se necessário que, no seu âmago,<br />

se dê um papel activo aos participantes na construção da intencionalidade educativa,<br />

identificando-a e compreendendo-a, claramente. Depois, deve possuir uma planificação<br />

organizada e sistematizada, onde estejam identificadas as competências<br />

visadas e os objectivos a perseguir. Posteriormente, urge conceber estratégias de<br />

aprendizagem motivadoras, construir materiais pedagógicos e de animação de qualidade,<br />

utilizar a comunicação e as metodologias adequadas que catalizem energias<br />

necessárias à passagem do vivenciado-concreto para o abstracto-aprendido. Por fim,<br />

devem construir-se mecanismos de reflexão-acção-reflexão e as redes de solidariedade<br />

facilitadoras do encaminhamento dos participantes para a educação formal<br />

ou Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências - Centros<br />

Novas Oportunidades.<br />

19. O Projecto MAPA revela-nos também que as actividades foram bem sucedidas.<br />

Na realidade, o grau de satisfação dos participantes, maioritariamente mulheres, foi<br />

enorme e quase todos se consideram motivados para continuar a participar neste<br />

tipo de acontecimentos. Estamos certos de que adquiriram, fundamentalmente,<br />

conhecimentos ao nível da ética global e diversas competências relacionais, pessoais<br />

e outras respeitantes às situações específicas que o programa e a intencionalidade<br />

educativa de cada actividade propunham.<br />

20. A observação-acção desenvolvida no âmbito do Projecto MAPA deixa-nos a todos<br />

a ideia de que com projectos desta natureza se pode ir muito mais longe ao nível dos<br />

conhecimentos, das atitudes, das capacidades e das competências que os adultos<br />

pouco escolarizados podem adquirir. Por exemplo, tudo o que em seguida se discrimina<br />

pode ser adquirido em actividades não <strong>formais</strong> de qualidade: capacidade de aprendizagem<br />

permanente, capacidade de análise, capacidade de inovação e criatividade,<br />

atitudes de autonomia na tomada de decisões, atitudes para suportar problemas<br />

complexos, competências ecológicas, tecnológicas e de planificação.<br />

21. O Projecto MAPA reafirma aquilo que alguma literatura da educação de adultos<br />

vem reconhecendo. As actividades de educação não formal, pela sua especificidade<br />

própria e pelos argumentos que encerram, estão vocacionadas para motivar adultos<br />

pouco escolarizados para a aprendizagem permanente. Para isso, urge reconhecer e<br />

valorizar, em Portugal, as práticas que se assumem seriamente e que encerrem em<br />

si uma intencionalidade educativa clara e atingível face aos recursos disponíveis.<br />

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Instituições e equipas participantes<br />

Caritas Diocesana de Coimbra - Centro Comunitário de Inserção<br />

Cláudia Dias<br />

Augusta Marques<br />

FormAjuda – Gabinete de Formação e de Projectos da Ajuda, Lda.<br />

Glória Pinto<br />

Cristina Fernandes Cabral<br />

Município de Constância - Clube S@bER +<br />

Júlia Maria Lopes de Amorim<br />

Luís Filipe Correia Dias<br />

Maria Isabel Cartaxo<br />

Solidários – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário<br />

Vilma Silva<br />

Oriana Brás<br />

Luísa Pinhal<br />

A consulta da documentação apresentada nos “Apoios documentais” de cada capítulo,<br />

poderá ser feita no Centro de Recursos em Conhecimento (CRC) da Direcção-Geral<br />

de Formação Vocacional.<br />

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