Artigo - unitau
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UMA ANÁLISE DA INTERGENERICIDADE EM PEÇAS PUBLICITÁRIAS<br />
Adriana Milharezi ABUD<br />
Universidade de Taubaté - UNITAU<br />
Sílvia Regina Ferreira Pompeo ARAÚJO<br />
Universidade de Taubaté - UNITAU<br />
Resumo. O objetivo do trabalho é apresentar uma pesquisa sobre a presença da<br />
intergenericidade ou hibridização em gêneros publicitários. Entendemos hibridização<br />
como a confluência de dois gêneros. Nosso trabalho apóia-se nos estudos sobre<br />
leitura, na teoria bakhtiniana sobre os gêneros discursivos e nos estudos sobre<br />
comunicação. Este trabalho também pretende destacar a importância da<br />
intercambialidade do trabalho em sala de aula com as linguagens midiáticas. Para a<br />
realização da pesquisa, analisamos as peças publicitárias da revista Veja, nos meses<br />
de junho e julho de 2008, totalizando oito exemplares, e selecionamos as propagandas<br />
que apresentavam intergenericidade. A escolha pela revista foi por ela ser de ampla<br />
circulação nacional e apresentar periodicidade semanal. Mediante esse corpus,<br />
analisamos os outros gêneros presentes. Verificou-se a presença de cartas, bilhetes,<br />
histórias narrativas, histórias em quadrinhos e, predominantemente, o gênero mais<br />
utilizado foi a reportagem. Concluímos que os anúncios híbridos atualmente<br />
publicados são construídos com uma intencionalidade, revelando características de<br />
uma nova fase da linguagem publicitária. Por isso, propostas de trabalho em sala de<br />
aula com gêneros discursivos presentes nos meios de comunicação de massa podem<br />
constituir estratégias promissoras para desenvolver nos alunos a proficiência em<br />
leitura.<br />
Palavras-chave: intergenericidade, publicidade, gênero discursivo, leitura<br />
1. Introdução<br />
Devido à utilização em larga escala de computadores, conexões sem fio<br />
e outras tecnologias, comunicar-se e buscar informações tornou-se imperioso<br />
na atualidade. A veloz introdução de novas mídias na sociedade permite o<br />
contato com um vasto número de gêneros discursivos. A presença desses<br />
gêneros e, conseqüentemente, o estudo aprofundado que a Lingüística tem<br />
efetuado sobre essa modalidade comunicativa, permite elaborar um estudo<br />
com as linguagens midiáticas, que ocorrem de maneira complexa e dinâmica,<br />
propondo uma intercambialidade entre educação e comunicação, fazendo uso<br />
do suporte teórico proporcionado pela Lingüística. Citelli (2004, p. 140) afirma<br />
que:<br />
“dizer que os termos “comunicação” e “educação”<br />
aproximaram-se bastante em nosso tempo significa<br />
reconhecer, quando o campo de reflexão é a escola, que as<br />
experiências videotecnológicas já estão nas salas de aula,<br />
malgrado sob a forma de uma “não-presença”, pois tanto as
crianças como os professores vivem num espaço social<br />
mediatizado por mensagens televisivas, radiofônicas,<br />
jornalísticas, etc., capazes de provocar alterações nos<br />
comportamentos, criar referências para o debate público,<br />
influenciar na tomada de decisões, além de revelar, muitas<br />
vezes, os próprios limites do discurso pedagógico”<br />
Destacamos, de modo especial neste trabalho, a importância e a<br />
influência do discurso publicitário impresso, com sua dinamicidade e mudança<br />
adequadas ao tempo, refletindo a história das práticas sociais de linguagem.<br />
Os meios de comunicação de massa trazem em seu bojo um grande<br />
leque de propagandas que se misturam a outros gêneros expostos,<br />
provocando o que chamamos de intergenericidade ou hibridização. A<br />
hibridização ou intergenericidade evidencia-se como uma mistura de funções e<br />
formas de gêneros diversos num dado gênero. De acordo com Marcuschi<br />
(2006), nas formas híbridas há uma mescla de dois gêneros, em que um<br />
sempre está a serviço do outro, logo o gênero principal preserva sua função<br />
sócio-historicamente constituída.<br />
Entendemos, conforme Bakhtin (1992), que gênero discursivo abarca<br />
uma gama de recursos lingüísticos empregados com finalidades e sentidos<br />
específicos, numa relação dinâmica e complexa com o mundo.<br />
Diante do exposto, é fundamental uma breve explanação sobre o<br />
conceito de gênero discursivo.<br />
2. O conceito de gênero discursivo<br />
De acordo com as definições dos estudiosos Bakhtin (1992), Marcuschi<br />
(2006, 2008) e Fiorin (2006), os gêneros discursivos são tipos de enunciados<br />
relativamente estáveis, caracterizados por conteúdos temáticos, uma<br />
construção composicional e um estilo. Falamos sempre por meio de gêneros<br />
no interior de uma dada esfera de atividade. Conforme Marcuschi (2008, p.<br />
163):<br />
“A vivência cultural humana está sempre envolta em<br />
linguagem, e todos os nossos textos situam-se nessas<br />
vivências estabilizadas em gêneros. Nesse contexto, é central<br />
a idéia de que a língua é uma atividade sociointerativa de<br />
caráter cognitivo, sistemática e instauradora de ordens diversas<br />
na sociedade. O funcionamento de uma língua no dia-a-dia é,<br />
mais do que tudo, um processo de integração social. Claro que<br />
2
não é a língua que discrimina ou que age, mas nós que com<br />
ela agimos e produzimos sentidos.”<br />
O gênero estabelece, pois, uma interconexão da linguagem com a vida<br />
social. A linguagem penetra na vida por meio dos enunciados concretos e, ao<br />
mesmo tempo, pelos enunciados a vida se introduz na linguagem. Dessa<br />
forma, os gêneros estão sempre vinculados a um domínio da atividade<br />
humana, refletindo suas condições específicas e suas finalidades. Fiorin (2006,<br />
p. 69) afirma ainda que:<br />
“O gênero une estabilidade e instabilidade, permanência e<br />
mudança. De um lado, reconhecem-se propriedades comuns<br />
em conjuntos de texto; de outro, essas propriedades alteram-se<br />
continuamente. Isso ocorre porque as atividades humanas,<br />
segundo o filósofo russo, não são nem totalmente<br />
determinadas nem aleatórias. A reiteração possibilita-nos<br />
entender as ações e, por conseguinte, agir; a instabilidade<br />
permite adaptar suas formas a novas circunstâncias.”<br />
Assim, novas formas de perceber a realidade e de conceituá-la implicam<br />
o surgimento de outros gêneros e modificações dos já existentes. Os gêneros<br />
se imbricam e interpenetram para constituírem novos gêneros, numa interação<br />
intencional, evidenciando-se assim a plasticidade e dinamicidade dos gêneros.<br />
Isso fica comprovado no caso de um gênero que assume a função de outro,<br />
como é típico das publicidades. Diante desse fato, verificaremos a ocorrência<br />
da alteração do gênero discursivo propaganda, que tem se utilizado do<br />
cruzamento de diversos gêneros, ou seja, o gênero pode hibridizar-se, como<br />
um recurso argumentativo de que dispõe o publicitário para estimular o<br />
consumo de determinado produto e a que deve estar atento o leitor para a<br />
construção de seu sentido. Marcuschi (2008, p. 167) ainda afirma:<br />
“A publicidade opera de maneira particularmente produtiva na<br />
subversão da ordem instituída para chamar a atenção sobre<br />
um produto. Parece que desenquadrar o produto de seu<br />
enquadre normal é uma forma de reenquadrá-lo em novo<br />
enfoque para que vejamos de forma mais nítida no mar de<br />
ofertas de produtos.”<br />
Entendemos, portanto, a importância de se estabelecer algumas<br />
considerações sobre o gênero discursivo analisado: publicidade.<br />
3
3. Considerações sobre Publicidade e Propaganda<br />
Anúncio publicitário é uma das ferramentas da Publicidade e<br />
Propaganda para persuadir, apresentar e criar desejos de um serviço ou<br />
produto, a fim de obter resultados positivos. O anúncio, para atingir seus<br />
objetivos, necessita de algumas características indispensáveis, como: contexto<br />
de produção, momento em que o autor vai verificar se o anúncio está coeso, se<br />
o conteúdo temático é pertinente e se a maneira como está escrito é adequada<br />
ao público-alvo; o anúncio publicitário tanto pode ser verbal como não-verbal,<br />
com uma estrutura textual.<br />
O objetivo final de uma propaganda é vender um produto ou serviço,<br />
mas para isso, o profissional de propaganda necessita vencer alguns<br />
obstáculos. As peças publicitárias escritas estão contidas em revistas e jornais,<br />
mas os clientes em potencial não os lêem por causa dos anúncios, mas pelas<br />
matérias de redação. Além desse fator, há outro também relevante: em uma<br />
revista ou jornal há um grande número de anúncios, todos competindo pela<br />
atenção do leitor. Diante desse fato, Lund (apud Vestegaard e Schroder, 2004,<br />
p. 74) resume a tarefa do profissional de propaganda em cinco itens:1. Chamar<br />
atenção; 2. despertar o interesse; 3. estimular o desejo; 4. criar convicção; 5.<br />
induzir à ação.<br />
Para que isso ocorra, os elaboradores de peças publicitárias precisam<br />
dominar uma série de recursos próprios desse gênero discursivo, com suas<br />
particularidades. Sandmann (2000, p.13) elenca uma série de recursos que<br />
sintetizamos assim: recursos visuais – muitas vezes constitutivos do discurso<br />
publicitário além de representar um fator decisivo da propaganda; recursos<br />
lingüísticos, tais como metáfora, metonímia, pleonasmo, hipérbole entre outros;<br />
além da presença de recursos ortográficos, como grafias exóticas; aspectos<br />
fonéticos, como rima, ritmo, aliteração, paronomásia; aspectos morfológicos,<br />
com criações lexicais mais ou menos marginais, ressegmentações; aspectos<br />
sintáticos, como topicalização, paralelismo, simplicidade estrutural; aspectos<br />
semânticos, com a polissemia e homonímia, ambigüidade e a antonímia. O<br />
conhecimento desses recursos é fundamental para o profissional que pretende<br />
trabalhar com a criação de anúncios publicitários.<br />
4
Uma particularidade observada atualmente na construção de peças<br />
publicitárias é a presença constante da intergenericidade ou hibridização, ou<br />
seja, a mescla de dois gêneros. Para a construção da peça publicitária, o seu<br />
criador tem feito uso de outros gêneros discursivo dos quais lança mão para<br />
poder persuadir o seu leitor. A propaganda mantém a sua função social e<br />
histórica preservada e se serve de outro gênero para despertar o interesse do<br />
público-alvo ao qual é destinada. Complementarmente a esse pensamento<br />
Marcuschi (2008, p. 168) afirma:<br />
4. Objetivo<br />
“É bastante comum que nos órgãos de imprensa se usem as<br />
contaminações de gêneros ou se proceda à hibridização como<br />
forma de chamar mais a atenção e motivar a leitura. De algum<br />
modo, parece que essa estratégia tem o poder quase mágico<br />
de levar as pessoas a interpretarem muito mais e com mais<br />
intensidade o que ali está. Esse aspecto mereceria um estudo<br />
à parte.”<br />
O objetivo do presente trabalho é apresentar uma pesquisa sobre a<br />
presença da intergenericidade como confluência de dois gêneros, ou seja,<br />
quando passamos de um gênero a outro ou até mesmo inserimos um no outro,<br />
seja na fala ou na escrita, e a importância do trabalho com os meios de<br />
comunicação de massa em sala de aula, pois é importante fazer propostas de<br />
leitura, de acordo com as estratégias propostas por Kleiman (1999) e com<br />
gêneros discursivos que estejam presentes no cotidiano dos alunos, num<br />
comprometimento com um ensino crítico e esclarecedor das realidades<br />
comunicacionais. Marcuschi (2008, p 173) observa que:<br />
“Com efeito, quando nos indagamos a respeito dos limites da<br />
aula de língua, ou da inserção da aula de língua na vida diária,<br />
estamos nos indagando sobre o papel da linguagem e da<br />
cultura. Nessa visão, é possível dizer que a aula de língua<br />
materna é um tipo de ação que transcende o aspecto<br />
meramente interno ao sistema da língua e vai além da<br />
atividade comunicativa e informacional. O meio em que o ser<br />
humano vive e no qual ele se acha imerso é muito maior que<br />
seu ambiente físico e seu contorno imediato, já que está<br />
envolto também por sua história, sua sociedade e seus<br />
discursos. A vivência cultural humana está sempre envolta em<br />
linguagem e todos os textos situam-se nessas vivências<br />
estabilizadas simbolicamente. Isto é um convite claro para o<br />
ensino situado em contextos reais da vida cotidiana.”<br />
5
5. Metodologia e resultados<br />
Para a realização desta pesquisa, analisamos as peças publicitárias da<br />
revista Veja, no mês de junho e julho, totalizando oito exemplares, e<br />
selecionamos as propagandas que apresentaram intergenericidade. A revista<br />
foi escolhida por ser de ampla circulação e apresentar periodicidade semanal.<br />
Mediante esse corpus, analisamos os outros gêneros que estavam<br />
presentes nas propagandas. Verificou-se a presença de cartas, bilhetes,<br />
histórias narrativas, histórias em quadrinhos e, predominantemente, o gênero<br />
mais utilizado foi a reportagem, com a presença de fragmentos selecionados<br />
pelos publicitários, com características de quem fez leituras e anotações com<br />
marcadores de texto, além de destaques como círculos, setas e sublinhados,<br />
assemelhando-se às marcações comuns que as pessoas fazem quando<br />
pretender destacar algo do interesse.<br />
6. Considerações finais<br />
Conforme entendemos, os anúncios híbridos que atualmente vemos<br />
publicados nas revistas não são construídos aleatoriamente, além de revelar as<br />
características de uma nova era ou fase da linguagem publicitária, a qual<br />
acompanha o curso da história e sua evolução, consiste num recurso de<br />
sedução, que visa chamar a atenção do leitor em meio a um mundo de outros<br />
anúncios.<br />
Por isso, é importante fazer propostas de leitura com gêneros<br />
discursivos que se encontram presentes nos meios de comunicação de massa.<br />
Citelli (2004, p. 137) afirma:<br />
“é compreensível que o tema da educação, particularmente no<br />
seu âmbito formal, tenha se recolocado numa perspectiva<br />
diferenciada e que requisita, de maneira crescente, o<br />
estreitamento dialógico com informações e conhecimentos<br />
gerados em fontes indiretamente escolares.”<br />
Dessa forma, buscamos estabelecer um diálogo entre os veículos de<br />
comunicação de massa, os gêneros discursivos e a leitura de peça publicitária,<br />
que traz de uma forma única, diferentes ordens sígnico-discursivas. Perceber e<br />
apreender essas relações de produção de sentidos de mensagens midiáticas<br />
6
são importantes para que o discurso escolar possa desenvolver, com<br />
possibilidades múltiplas e mais proficientes, o entendimento da realidade<br />
circundante.<br />
Nosso objetivo com este texto foi o de apresentar uma pesquisa sobre a<br />
análise de anúncios publicitários, verificando a presença de intergenericidade e<br />
a possibilidade de se trabalhar com as linguagens midiáticas. Em relação à<br />
questão da intergenericidade, muitos são os problemas envolvidos e ainda não<br />
há trabalhos conclusivos sobre o tema. Marcuschi (2008, p.171) diz que seria<br />
oportuna uma discussão para identificar os aspectos novos envolvidos e a<br />
renovação da discussão dos gêneros, com um surgimento de maior reflexão<br />
sobre o papel dos propósitos (funções) e da forma (organização textual) para a<br />
determinação do gênero.<br />
Neste artigo, portanto, delineamos uma reflexão teórica associada a uma<br />
prática de análise, com o intuito de apresentar uma proposta de como as<br />
mensagens publicitárias são construídas, podendo sofrer alterações de acordo<br />
com sua função sócio-histórica e a importância do conhecimento<br />
interdisciplinar, incluindo o conhecimento lingüístico, para a depreensão das<br />
intenções comunicativas, que incorporam e representam o modo de ser, pensar<br />
e desejar do indivíduo, no tempo e no espaço da modernidade no/do mundo.<br />
Enfim, a publicidade consegue representar e refletir valores da dinâmica<br />
social, com seus hábitos e costumes, conforme Barbosa (2005, p. 180): “a<br />
significação publicitária reflete e refrata o continuum que em geral se chama<br />
realidade”.<br />
Referências<br />
BAKHTIN, M. M. A estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.<br />
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Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.<br />
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação. A linguagem em movimento. 3ª edição.<br />
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FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.<br />
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KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. Campinas, SP:<br />
Pontes, 1999.<br />
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São<br />
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VESTERGAARD, Torben & SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. São<br />
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