Os hábitos e costumes da nossa região são valores muito importantes. Eles representam umpatrimônio cultural que estava guarda<strong>do</strong> apenas na memória de alguns e que poderia seresqueci<strong>do</strong> com o passar <strong>do</strong>s tempos. É nesse contexto que escolhemos alguns costumes interessantespara ajudar a entender um pouco o que é o mosaico da nossa cultura.<strong>Um</strong> <strong>do</strong>s ingredientes da nossa tradição é o queijo <strong>Canastra</strong>, aprecia<strong>do</strong> por nós e por to<strong>do</strong>s os queexperimentam essa iguaria. O queijo é descrito pelos aprecia<strong>do</strong>res como um queijo de sabor ímparou até como o “melhor queijo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, modéstia à parte. O queijo tem esse nome por serproduzi<strong>do</strong> na região da Serra da <strong>Canastra</strong> e em alguns municípios vizinhos, não existin<strong>do</strong> queijoigual em nenhuma outra parte. O queijo <strong>Canastra</strong> se tornou uma “marca” conhecida nacional einternacionalmente.Trata-se de um queijo artesanal, feito de massa crua (leite cru), produzi<strong>do</strong> artesanalmente nosmunicípios de Bambuí, Medeiros, Piumhí, São Roque de Minas, Tapiraí, Vargem Bonita e Delfinópolis.É constituí<strong>do</strong> de leite puro, adiciona<strong>do</strong> de pingo (áci<strong>do</strong> lático), coalho e sal.58 |São as suas características peculiares que o identificam como produto artesanal. O que faz <strong>do</strong>queijo <strong>Canastra</strong> um produto único em relação a outros queijos, como o queijo <strong>do</strong> Serro ou oMinas Frescal é seu sabor levemente áci<strong>do</strong> e coloração características, provenientes <strong>do</strong> leite devacas na maioria das vezes mestiças, pastan<strong>do</strong> em regiões típicas <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>.O queijo <strong>Canastra</strong> característico é aquele que ficou maturan<strong>do</strong> durante 10 dias. Apresenta coramarelada e sua “casquinha” (quan<strong>do</strong> matura<strong>do</strong>) é de pelo menos <strong>do</strong>is milímetros.foto Fabiana Lopes Rocha
A fabricação <strong>do</strong> queijo<strong>Canastra</strong>Antigamente, o queijo era fabrica<strong>do</strong> de umaforma ainda mais artesanal que nos dias dehoje. Usava-se um coalho que era elabora<strong>do</strong>através <strong>do</strong> bucho de porco ou <strong>do</strong> couro devaca. Eles eram coloca<strong>do</strong>s para secar ao sol e,algum tempo depois, tiravam-se lascas e as colocavamde molho em quantidades necessáriaspara a coagulação <strong>do</strong> leite.O próximo passo ocorria após cinco dias demolho, quan<strong>do</strong> se tirava aproximadamente trêscolheres dessa água, despejan<strong>do</strong>-a em um recipienteconten<strong>do</strong> leite quente (35 0 º C a 40 0 º C). Aetapa seguinte era bater bastante até misturarbem. Depois de aproximadamente meia hora,a massa estava no ponto. Colocava-se a massadentro de fôrmas, que eram feitas de folhasde abacaxi, umas sobre as outras, amarradaspela extremidade. Gastava-se de cinco a seisfolhas para a altura <strong>do</strong> queijo de 700 gramas.As fôrmas também podiam ser feitas de palhade bananeira, madeira ou cabaças.Ocorreram várias mudanças no processode produção <strong>do</strong> queijo, levan<strong>do</strong> em consideração,principalmente, técnicas de higiene emanuseio. Hoje, o queijo <strong>Canastra</strong> é um tesourofinanceiro e artesanal daqui e sua famadeve-se ao sabor que vem <strong>do</strong> leite produzi<strong>do</strong>com a influência <strong>do</strong> tipo de vegetação e <strong>do</strong> climaencontra<strong>do</strong>s somente nesta região.Deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> queijo <strong>Canastra</strong>Aprenden<strong>do</strong> a fazer o queijo <strong>Canastra</strong>Deve-se tirar o leite com asseio, colocá-lo emum recipiente limpo e, daí, despejar o coalho(industrializa<strong>do</strong>) e o pingo. A utilização <strong>do</strong>“pingo” é de suma importância para caracterização<strong>do</strong> sabor e consistência da massa.Após a colocação <strong>do</strong> pingo, deve-se esperarcerca de 40 minutos. Quebre o leite já coagula<strong>do</strong>com uma pá de madeira, de preferência. Emalguns minutos, quan<strong>do</strong> a massa tiver desci<strong>do</strong>para o fun<strong>do</strong> e restar o soro em cima, retire osoro até a massa ficar um pouco firme. Coloquena banca e, em seguida, passe para a fôrma.Dentro da fôrma novamente, quebre bem amassa e prense o queijo com as mãos. Vire oqueijo e reforme colocan<strong>do</strong> um pouco mais demassa e volte a prensar. (Hoje em dia, a maioria<strong>do</strong>s produtores de queijo <strong>Canastra</strong> utilizamo pano de náilon para a etapa de prensagemcom o objetivo de dar um melhor acabamento.Após a etapa de prensagem, o queijo estápronto. Lave-o bem e coloque sal grosso porcima. Deixe até mais tarde, quan<strong>do</strong> deve-sevirar o queijo e colocar sal novamente. Nooutro dia, vire-o mais uma vez. Por fim, façao acabamento, coloque na prateleira e deixematurar.Atenção: Pingo é o soro recolhi<strong>do</strong> <strong>do</strong> queijo <strong>do</strong>dia, só que no perío<strong>do</strong> da noite, mais ou menossete horas após a fabricação. Deve ser renova<strong>do</strong>diariamente para a confecção <strong>do</strong> queijo <strong>do</strong>dia seguinte.| 59São muitos os alimentos deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> queijo <strong>Canastra</strong>. A seguir, algumas receitas deliciosas dePão de queijo (prato típico feito a base de polvilho e queijo <strong>Canastra</strong>); João Deita<strong>do</strong> (quitutefeito a base de mandioca – aipim – ralada e queijo <strong>Canastra</strong>); Ameixa de queijo (<strong>do</strong>ce a base dequeijo <strong>Canastra</strong>); e Mexi<strong>do</strong> de queijo (comida típica feita à base de queijo <strong>Canastra</strong>, consumi<strong>do</strong>no café da manhã).