ISSN 1677-6704Clínicas <strong>de</strong> Perio<strong>do</strong>ntia <strong>das</strong> Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>O<strong>do</strong>ntologias Brasileiras. Para tanto, avaliaremos seos professores-responsáveis pela ministração daDisciplina <strong>de</strong> Perio<strong>do</strong>ntia estão utilizan<strong>do</strong> ou não ocimento cirúrgico após os procedimentos <strong>de</strong> cirurgia.Avaliaremos ainda, quais são os tipos <strong>de</strong> feri<strong>das</strong>cirúrgicas que o professor-responsável não utiliza daproteção com cimento cirúrgico.MATERIAL E MÉTODOO levantamento <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi feito através <strong>de</strong>um questionário conten<strong>do</strong> 2 questões, aplica<strong>do</strong> a umapopulação alvo composta <strong>de</strong> 120 professoresresponsáveispelas Discipli<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Perio<strong>do</strong>ntia <strong>de</strong> suasrespectivas Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> O<strong>do</strong>ntologia, localiza<strong>das</strong>no Brasil, no ano <strong>de</strong> 2001.O instrumento foi composto <strong>de</strong> uma perguntaobjetiva que visava levantar da<strong>do</strong>s referentes àutilização ou não <strong>do</strong> cimento cirúrgico após osprocedimentos <strong>de</strong> cirurgias perio<strong>do</strong>ntais. Na segundaparte, através <strong>de</strong> uma questão aberta, visou levantarda<strong>do</strong>s sobre os tipos <strong>de</strong> feri<strong>das</strong> cirúrgicas que oprofessor-responsável não utiliza a proteção comcimento cirúrgico.Após a validação, este questionário foienvia<strong>do</strong>, e a correspondência <strong>de</strong>volvida pelosprofessores, não i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s, garantiu aautenticida<strong>de</strong> <strong>das</strong> respostas. A seguir, os da<strong>do</strong>s foramcoleta<strong>do</strong>s e tabula<strong>do</strong>s, o que permitiu a confecção databela e gráfico. A questão em aberto mereceu umaanálise quanti-qualitativa.RESULTADOTabela 1 – Distribuição da amostra, segun<strong>do</strong> a utilização <strong>do</strong>cimento cirúrgico após as cirurgias perio<strong>do</strong>ntais.Figura 1 - Gráfico da distribuição da amostra, segun<strong>do</strong> a utilização<strong>do</strong> cimento cirúrgico após as cirurgias perio<strong>do</strong>ntais.Resumo <strong>das</strong> respostas obti<strong>das</strong> com a questãoaberta:1 - Retalhos com cicatrização por primeira intenção(24 respostas)2 - Cirurgias on<strong>de</strong> não temos áreas cruentas expostas(7 respostas)3 - Retalhos perio<strong>do</strong>ntais em geral (9 respostas)4 - Retalhos perio<strong>do</strong>ntais, quan<strong>do</strong> as bor<strong>das</strong> <strong>das</strong> feri<strong>das</strong>estão coapta<strong>das</strong> (20 respostas)Obs.: 7 (sete) professores-responsáveis inverteram oobjetivo da questão e respon<strong>de</strong>ram afirmativamenteque utilizam <strong>do</strong> cimento cirúrgico após procedimentosem que teci<strong>do</strong>s ósseos e conjuntivo ficam expostos.5 (cinco) professores-responsáveis não respon<strong>de</strong>rama questão.DISCUSSÃOEmbora no início a pretensão fosse <strong>de</strong> queum maior número <strong>de</strong> entrevista<strong>do</strong>s pu<strong>de</strong>sse fazer parteda pesquisa, <strong>de</strong>linean<strong>do</strong> o papel <strong>de</strong> amostragem,somente 72 professores-responsáveis por discipli<strong>nas</strong><strong>de</strong> perio<strong>do</strong>ntia, <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 120 faculda<strong>de</strong>srespon<strong>de</strong>ram ao questionário, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong>, quemsabe o <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> alguns profissionais sobre umaquestão tão importante e ao mesmo tempo poucodiscutida na área o<strong>do</strong>ntológica.Porém, quanto a esses aspectos, há anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se que muitas faculda<strong>de</strong>ssão recém-implanta<strong>das</strong> e possivelmente nãoapresentam em sua gra<strong>de</strong> curricular a disciplina <strong>de</strong>perio<strong>do</strong>ntia.Outrossim, acredita-se que também tenhaocorri<strong>do</strong> negligência ou <strong>de</strong>sinteresse por parte <strong>de</strong>alguns professores, o que permitiu um estu<strong>do</strong> parcial,mas bastante oportuno, sobre os objetivos <strong>do</strong> trabalho.Os da<strong>do</strong>s da Tabela 1 mostram que 40professores da amostragem (55,6%) utilizam, àsvezes, o cimento cirúrgico após as cirurgiasperio<strong>do</strong>ntais; 25 profissionais (34,7%) afirmam o uso<strong>do</strong> cimento cirúrgico no pós-operatório; 7 (9,7%) <strong>de</strong>ramrespostas correspon<strong>de</strong>nte a uma negativa (não). Há<strong>de</strong> se inferir que o propósito da pergunta eposteriormente as respostas, envolvem aspectosliga<strong>do</strong>s primeiramente às características <strong>do</strong>sprofissionais, quanto aos resulta<strong>do</strong>s clínicos obti<strong>do</strong>snos seus pacientes. Contu<strong>do</strong> salientamos tambémque estas respostas estão alavanca<strong>das</strong> emconhecimentos basea<strong>do</strong>s nos experimentos relata<strong>do</strong>sna revisão da literatura, on<strong>de</strong> comparou-se o processo<strong>de</strong> cicatrização da ferida após cirurgia perio<strong>do</strong>ntal comou sem proteção <strong>de</strong> cimento cirúrgico em humanos.Assim, trabalhos clínicos e histológicos<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, mostram os <strong>de</strong>sencontros <strong>de</strong> opiniõesentre os pesquisa<strong>do</strong>res. MANN et al. 8 (1934)estudaram histologicamente o processo <strong>de</strong> cura <strong>de</strong>Revista O<strong>do</strong>ntológica <strong>de</strong> Araçatuba, v.24, n.1, p. 09-13, Janeiro/Julho, 200310
ISSN 1677-6704áreas gengivectomiza<strong>das</strong> e observaram umacicatrização satisfatória quan<strong>do</strong> o cimento cirúrgiconão foi usa<strong>do</strong>. Também ORBAN 12 (1941), no estu<strong>do</strong>que realizou em humanos, observou que quan<strong>do</strong> ocimento cirúrgico não era usa<strong>do</strong> <strong>de</strong>pois dagengivectomia, podia encontrar uma cicatrização maissatisfatória.Por sua vez, BERNIER e KAPLAN 3 (1947)<strong>de</strong>ixaram claro que o uso <strong>do</strong> cimento facilitava oprocesso <strong>de</strong> cicatrização, por proporcionar benefíciosprimários <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à ação com a superfície em contatocom a ferida, mas os contituintes <strong>das</strong> fórmulas <strong>do</strong>cimento pareceram adquirir uma importânciasecundária para os pesquisa<strong>do</strong>res.Contrarian<strong>do</strong> as proposições acima,WAERHAUG et al. 17 (1955) opinava que a aplicação<strong>do</strong> cimento cirúrgico não influenciava no resulta<strong>do</strong> dacicatrização.O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> BAER et al. 2 (1969), indicava queos cimentos cirúrgicos perio<strong>do</strong>ntais não exerciamqualquer influência perceptível sobre o final dacicatrização, após uma cirurgia perio<strong>do</strong>ntal.STAHL et al. 15 (1969) também reportaramdiferenças, não significantes, na seqüência <strong>do</strong> reparoentre as áreas protegi<strong>das</strong> e as não protegi<strong>das</strong> comcimento cirúrgico. É possível somar a estes autoresa pesquisa <strong>de</strong> JONES e CASSINGHAN 6 (1979), queem um estu<strong>do</strong> comparativo sobre cicatrização após acirurgia perio<strong>do</strong>ntal, concluíram que os resulta<strong>do</strong>s nãomostraram diferenças quanto aos parâmetrosestuda<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> o cimento perio<strong>do</strong>ntal foi ou nãousa<strong>do</strong>.Mais recentemente, alguns resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>sa partir <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s clínicos, bem como <strong>das</strong>experiências clínicas, sugerem que um cimentoperio<strong>do</strong>ntal po<strong>de</strong>, freqüentemente, ser <strong>de</strong>snecessárioapós os procedimentos à retalho e po<strong>de</strong> ser útil a suasubstituição pelo bochecho com clorexidina (SANZet al., 14 1989; VAUGHAN e GARNICK 16 , 1989) eListerine (YUKNA et al., 18 1986; ZAMBON et al., 191999).A nosso ver as respostas levam-nos araciocinar que o uso ou não <strong>do</strong> cimento cirúrgico estádiretamente liga<strong>do</strong> a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s procedimentoscirúrgicos, on<strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s conjuntivos possam ou nãoestar expostos.Na verda<strong>de</strong>, os resulta<strong>do</strong>s <strong>das</strong> respostas daquestão fechada apresentam-se similares aos estu<strong>do</strong>s<strong>de</strong> alguns pesquisa<strong>do</strong>res, uma vez que estes revelamrespostas muitas vezes contraditórias aos outros, oque <strong>de</strong>monstra não existir um consenso entre utilizarou não o cimento cirúrgico <strong>nas</strong> cirurgias perio<strong>do</strong>ntais,principalmente porque a literatura revela que esseprocedimento era a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> ou não em muitos <strong>do</strong>sestu<strong>do</strong>s, o que dificulta um direcionamento correto eespecífico. Têm-se 34,7% <strong>de</strong> usuários constantes;55,6% <strong>de</strong> usuários esporádicos (in<strong>de</strong>cisos oucoerentes com o tratamento necessário e específicoem cada caso, pois não a<strong>do</strong>tam uma forma única <strong>de</strong>trabalho); e firmemente posicionam-se como nãousuários 9,7% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s. Chega-se àconclusão <strong>de</strong> que apesar <strong>das</strong> respostas divergentesé pequeno o número daqueles que afirmam não utilizaro produto, portanto contrapon<strong>do</strong>-se aos que realmenteutilizam e há aqueles que esporadicamente tambéma<strong>de</strong>rem ao procedimento. Assim inferi<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se dizerque o cimento cirúrgico vem sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> <strong>nas</strong>cirurgias perio<strong>do</strong>ntais cuida<strong>do</strong>samente e quan<strong>do</strong>realmente necessário, ou seja, há uma afirmação dateoria aliada ao uso constante <strong>nas</strong> clínicas, sen<strong>do</strong>que cada profissional estabelece suas normas,basean<strong>do</strong>-se ou não em estu<strong>do</strong>s. Percebe-se aindaclaramente que nesta questão o que conta é aexperiência profissional adquirida e a necessida<strong>de</strong>particular <strong>de</strong> cada paciente.As respostas da questão em aberto mostramque <strong>do</strong>s 72 entrevista<strong>do</strong>s, na sua maioria, ao relacionarquais os procedimentos cirúrgicos produzem feri<strong>das</strong>que não precisam ser protegi<strong>das</strong>, o fazem quase comum consenso. Inferem que quan<strong>do</strong> os teci<strong>do</strong>sexpostos por procedimentos cirúrgicos cicatrizam porsegunda intenção, como é o caso <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s ósseo<strong>de</strong>snuda<strong>do</strong> e o teci<strong>do</strong> conjuntivo exposto, é que a área<strong>de</strong>ve ser protegida com cimento cirúrgico <strong>de</strong> injúriasadicionais durante a fase inicial <strong>de</strong> cicatrização.Segun<strong>do</strong> WAERHAUG et al. 17 (1957); LÖE eSILNESS 7 (1961); BAER e WERTHEIMER 1 (1961);FRISCH e BHASKAR 5 (1967); STAHL et al. 15 (1969);MILANEZI e HOLLAND 10 (1972); FARNOUSH 4 (1978);MILANEZI e HOLLAND 11 (1979); SACHS et al. 13 (1984),com a proteção <strong>das</strong> áreas cruentas,consequentemente, o <strong>de</strong>sconforto pós-operatório <strong>do</strong>paciente será diminuí<strong>do</strong>.Percebe-se nitidamente que cada profissionaltem um mo<strong>do</strong> diferente <strong>de</strong> agir, nem semprecorrespon<strong>de</strong>nte ao conteú<strong>do</strong> literário, mais coerentecom a sua experiência <strong>de</strong> trabalho, levan<strong>do</strong>-se emconsi<strong>de</strong>ração o caso <strong>de</strong> cada paciente e <strong>de</strong> suarecuperação pós-operatória.A nosso ver esses posicionamentos sãobasea<strong>do</strong>s em resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>sclínicos, bem como <strong>de</strong> experiências clínicas, quesugerem que um cimento perio<strong>do</strong>ntal po<strong>de</strong>,frequentemente, ser <strong>de</strong>snecessário ou até mesmoin<strong>de</strong>sejável após procedimentos à retalho.Trabalhos mais recentes sugerem até mesmoa sua substituição pelo bochecho <strong>de</strong> clorexidina(YUKNA et al., 18 1986; SANZ et al., 14 1989; VAUGHANe GARNICK, 16 1989) ou Listerine (ZAMBON et al., 191999), porque durante o pós-operatório a higiene bucal<strong>do</strong> paciente é ina<strong>de</strong>quada, e essas medi<strong>das</strong> químicas,que po<strong>de</strong>m reduzir a placa bacteriana melhoram aresposta cicatricial inicial.Queremos somar ainda ao inferi<strong>do</strong> naliteratura, o exposto por MANSON e ELEY 9 (1999)que as cirurgias à retalho não têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>proteção <strong>de</strong> cimento cirúrgico, porque durante osprocedimentos da cirurgia to<strong>do</strong> o espaço é utiliza<strong>do</strong>Revista O<strong>do</strong>ntológica <strong>de</strong> Araçatuba, v.24, n.1, p. 09-13, Janeiro/Julho, 200311