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Aqui, se olvida o ftuo tempo - Sociedade Brasileira de Hepatologia

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MEMORIA DAHEPATOLOGIA BRASILEIRAOS PIONEIROSSBH - 2005


2<strong>Aqui</strong>, <strong>se</strong> <strong>olvida</strong> o fátuo <strong>tempo</strong>.Declina-<strong>se</strong> reconhecido,pegadas especiais:marcas que alguns pés <strong>de</strong>ixaram no soloao <strong>de</strong>sbravá-lo.Nosso espanto<strong>de</strong>svendar:<strong>de</strong>trás <strong>de</strong>stas,tantas.Juntas,tantas ombreadas.Outras,<strong>se</strong> transfiguraramem caminhos.Íntimas do reapren<strong>de</strong>r contínuo,<strong>se</strong> fizeram herda<strong>de</strong>s.Neste lugar:inolvidáveis traços,heranças memoráveis.Waldir Pedrosa Amorim


3ÍndicePrefácio 4Autores 8Histórico da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> 11Amaury Domingues Coutinho 24Clementino Fraga Filho 45Fernando Guerra Alvariz 58Gilberta Benzabath 80Jorge <strong>de</strong> Toledo 85Jorge Pereira Lima 91José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros 99Luis Caetano da Silva 106Luiz Carlos da Costa Gayotto 117Silvano Raia 136Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s 147Waldomiro Dantas 154Zilton <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> 162


4PrefácioAinda na primeira reunião da diretoria da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> eleitapara o biênio 2003-2005, que integro com especial carinho, recebi o aceno do interes<strong>se</strong> dasua presi<strong>de</strong>nte, professora Edna Strauss, para que coor<strong>de</strong>nas<strong>se</strong> o projeto <strong>de</strong> um livrobiográfico sobre os pioneiros da <strong>Hepatologia</strong> no Brasil. Sua idéia estava <strong>de</strong>lineada e pronta<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, com a <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> e o singular espírito <strong>de</strong> equipe com que conduziu até o fima presidência da SBH. Tributo-lhe com amiza<strong>de</strong> e respeito a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança inataque <strong>se</strong> <strong>de</strong>sdobrou nos frutos <strong>de</strong>sta atual gestão.Vislumbrei sua importância e <strong>se</strong>u alcance, e <strong>de</strong> pronto os acatei como uma meritóriatarefa que teria implicações científicas, humanas e educativas significativas no <strong>se</strong>io dacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hepatologistas nacionais, com repercussões incluídas fora do <strong>se</strong>u âmbito.Posteriormente, a professora Edna e eu mantivemos contatos freqüentes,especialmente por e-mail, e elaboramos uma proposta com critérios a <strong>se</strong>rem apreciadosnuma reunião da diretoria, que ocorreu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador.Além disto, a professora Edna con<strong>se</strong>guiu a adoção da idéia pelo dr. RolfZelmanowics, fraterno amigo do professor Gayotto, para tornar o trabalho publicável sobforma <strong>de</strong> livro eletrônico (e-book), confeccionado pelo portal ABC da Saú<strong>de</strong>.Na mencionada reunião <strong>de</strong> Salvador, <strong>de</strong>ntre outros assuntos aprovamos os <strong>se</strong>guintesaspectos sobre a obra e os critérios para escolha dos hepatologistas <strong>de</strong> vulto que figurariamno livro:TÍTULO DA OBRA:MEMÓRIA DA HEPATOLOGIA BRASILEIRA – OS PIONEIROSEDITORES : Waldir Pedrosa Amorim e Edna StraussOBJETIVOS1. Homenagear biograficamente os principais personagens da hepatologia brasileira pelos<strong>se</strong>us méritos.2. Brindar os hepatologistas nacionais, membros da SBH, e a pessoas ou instituiçõesinteressadas, com uma obra <strong>de</strong> valor histórico para a hepatologia (<strong>se</strong>nsu stricto) e para amedicina (<strong>se</strong>nsu lato).


53. Valorizar a especialida<strong>de</strong> contando a história dos primeiros médicos que começaram aexercê-la no Brasil, suas dificulda<strong>de</strong>s e suas conquistas.4) Po<strong>de</strong>r constituir parte <strong>de</strong> um Projeto Cultural, em que houves<strong>se</strong> participação simultâneaou não, <strong>de</strong> outras especialida<strong>de</strong>s médicas, contribuindo para o registro histórico damedicina, recuperando os feitos <strong>de</strong> importantes lí<strong>de</strong>res do século passado.CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA ESCOLHA DOS MÉDICOS INDICADOS:a) ter ida<strong>de</strong> superior a 70 anos, admitindo-<strong>se</strong> mortos eminentes com ida<strong>de</strong> inferior.b) ter contribuído efetivamente com o início da especialida<strong>de</strong>, <strong>se</strong>u progresso e sua difusão,e <strong>de</strong> preferência ter tido ou ainda ter participação associativa.c) <strong>se</strong>r nome <strong>de</strong> con<strong>se</strong>nso e/ou com aceitação dos hepatologistas <strong>de</strong> <strong>se</strong>u estado <strong>de</strong> origem,repre<strong>se</strong>ntados pelos membros da diretoria da SBH em suas respectivas regiões.d) não limitar numericamente os indicados. Incluir os que preenches<strong>se</strong>m os critérios acimaelencados.Isto posto, foram con<strong>se</strong>nsualmente escolhidos os treze hepatologistas nacionais quecompõem a pre<strong>se</strong>nte obra, ficando <strong>de</strong>cidido que os autores das biografias <strong>se</strong>riamconsultados entre aqueles ligados profissional e parentalmente aos mesmos (no caso filhosmédicos hepatologistas) e/ou discípulos em exercícios profissionais afins na hepatologia.Enten<strong>de</strong>ndo a disponibilida<strong>de</strong>, afinida<strong>de</strong> e habilida<strong>de</strong> para escrever os trabalhosbiográficos, optou-<strong>se</strong> pela participação <strong>de</strong> um ou mais colaboradores para cada biografia.Elaboramos um pequeno roteiro e para termos um ponto <strong>de</strong> partida, Dra. Edna e Dr.Avancini ficaram com a incumbência <strong>de</strong> redigir a biografia do saudoso professor LuisCarlos da Costa Gayotto e Dr. Waldir e Dra. Ana Lúcia a do também inesquecívelprofessor Amaury Domingues Coutinho.Concluídas, estas duas primeiras biografias pu<strong>de</strong>ram <strong>se</strong>rvir <strong>de</strong> perfil retocável paraque as <strong>de</strong>mais fos<strong>se</strong>m <strong>de</strong><strong>se</strong>nca<strong>de</strong>adas por <strong>se</strong>us autores.Trabalhamos neste projeto até qua<strong>se</strong> às vésperas do nosso XVIII CongressoBrasileiro em Campos do Jordão, com prazer e obstinação, pela grandiosida<strong>de</strong> que o <strong>se</strong>uconteúdo encerra, e pelos liames que mobilizou sob vários aspectos: afetivos, históricos,culturais, sociais, éticos, políticos e morais, a quem <strong>de</strong>le participou como cronista das vidas,ou como inspirador da homenagem, da memória, do exemplo e da gratidão.


6Embora aparentemente simples, perdurou qua<strong>se</strong> dois anos <strong>de</strong> elaboração até que <strong>se</strong>reunis<strong>se</strong>m fotos, informações, <strong>de</strong>poimentos etc. e estes fos<strong>se</strong>m agrupados, num trabalhoartesanal. Nele, <strong>se</strong> fez questão <strong>de</strong> manter o texto integral dos que os escreveram. Não sãotextos <strong>de</strong> profissionais da escrita, <strong>se</strong>não <strong>de</strong> pessoas cuja intimida<strong>de</strong> com o biografado, oratransformou-<strong>se</strong> em torrente, ora em difícil tarefa <strong>de</strong> discorrer sobre quem <strong>se</strong> quer bem e <strong>se</strong>admira.Como os leitores terão a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constatar, não <strong>se</strong> trata <strong>de</strong> um pódio para osvencedores, nem uma coluna vã para os notáveis. A leitura <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>stas histórias <strong>de</strong> vidamédica encerra lições <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> renúncia, <strong>de</strong>tenacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> altruísmo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação, na maioria das vezes, <strong>de</strong> toda uma existência.A vaida<strong>de</strong> no médico, no professor, no pesquisador muitas vezes é apenas o véu quedisfarça a consciência dos limites, que mais do que ninguém ele foi precocemente exposto ainternalizar.Esta obra é também especialmente <strong>de</strong>votada aos que continuam a árdua einsubstituível tarefa <strong>de</strong> educar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a educar na medicina. Os exemplos daquiemanados dizem <strong>de</strong> pessoas i<strong>de</strong>alistas que vislumbraram um mundo que não <strong>se</strong> encerrariaquando suas vidas profissionais findas<strong>se</strong>m. Dizem <strong>de</strong> pessoas que enxergaram repercussõessociais nos <strong>se</strong>us atos e que pugnaram por um mundo melhor e mais progressista.Não existe neutralida<strong>de</strong> na ciência, ao contrário, nela resi<strong>de</strong> uma força maior e maiscontun<strong>de</strong>nte que repercute, influencia e gera conhecimento. O conhecimento, por suanatureza, não admite o preconceito nem a inércia.Por fim, ressaltamos a importância que <strong>de</strong>ram todos os ilustres homenageados àriqueza do trabalho e do convívio associativo. Alguns fundaram outros, em algum momentoforam presi<strong>de</strong>ntes da SBH, e qua<strong>se</strong> a totalida<strong>de</strong> também o foram <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>srepre<strong>se</strong>ntativas.


7Este é um momento em que a SBH busca <strong>se</strong> firmar como especialida<strong>de</strong> médica,como também um instante on<strong>de</strong> tem <strong>se</strong> fortalecido e sido reconhecida no cenário nacional einternacional. A pesquisa nacional, os estudos multicêntricos brasileiros, os con<strong>se</strong>nsos, aprodução científica sobre as enfermida<strong>de</strong>s autóctones, en<strong>se</strong>jam um campo <strong>de</strong> conhecimentoe <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência que só a duras penas era possível conquistar no passado recente.Desfrutem, portanto, <strong>de</strong>stas páginas montadas tijolo a tijolo pelos nossos pioneiros.Waldir Pedrosa Amorim


8AUTORESAna Lúcia CoutinhoProfessora Adjunta Doutora da UFPE. Pesquisadora Adjunta do Centro <strong>de</strong>Pesquisa Ageu Magalhães-Fiocruz.Ângelo Alves <strong>de</strong> MattosProfessor Titular da Disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia e do Curso <strong>de</strong> PósGraduação em <strong>Hepatologia</strong> da Fundação Faculda<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> CiênciasMédicas <strong>de</strong> Porto Alegre. Vice-Presi<strong>de</strong>nte da SBH- Biênio 2003-2005.Carlos Eduardo Brandão MelloProfessor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ) e da Escola <strong>de</strong>Medicina e Cirurgia - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro(UNIRIO). Doutor e Livre Docente em Medicina - Gastroenterologia pelaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UNIRIO).Chefe do Ambulatório <strong>de</strong> Doenças do Fígado do Hospital UniversitárioGaffrée e Güinle (HUGG) - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro(UNIRIO).Cláudio Gusmão <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>sChefe do Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> da Santa Casa do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Doutor emMedicina pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo. – UNIFESP. Professor daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Gama Filho-RJ. Professor daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Fundação-Técnico Educacional Sousa Marques.Membro Titular da SBH.Cláudio Lacerda <strong>de</strong> MeloProfessor Titular <strong>de</strong> Cirurgia abdominal da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco eChefe do Serviço <strong>de</strong> Cirurgia Geral e Transplante <strong>de</strong> Fígado do HospitalUniversitário Oswaldo CruzEdna StraussProfessora Livre-Docente em Gastroenterologia pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<strong>de</strong> Ribeirão Preto, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Professora <strong>de</strong> Pós-graduaçãono Departamento <strong>de</strong> Patologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP. Presi<strong>de</strong>nteda <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. Biênio 2003-2005.


9Esther DantasDoutora em Gastroenterologia pela UNIFESP; Gastroenterologista doHospital da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.Fernando Wendhau<strong>se</strong>n PortellaEx-Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> (1997-1999). Ex-Professor Auxiliar <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Clínica Médica (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio<strong>de</strong> Janeiro). Fundador e Primeiro Presi<strong>de</strong>nte do Grupo <strong>de</strong> Fígado do Rio <strong>de</strong>Janeiro (1991). Ex-Re<strong>se</strong>arch Fellow do Royal Free Hospital <strong>de</strong> Londres(Dame Professor Sheila Sherlok). Ex-Diretor dos cursos anuais <strong>de</strong>Gastroenterologia e <strong>Hepatologia</strong> do Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> da Santa Casa daMi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ex-Chefe do Serviço <strong>de</strong> Medicina Interna doHospital do Andaraí (Rio <strong>de</strong> Janeiro). Ex-Professor Auxiliar <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong>Clínica Médica (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro)Flair José CarrilhoLivre-docente pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.Doutor em GastroenterologiaClínica - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Titular do Departamento <strong>de</strong>Gastroenterologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP.Helma Pinchemel CotrimProfessora Adjunta Doutora da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFBAHenrique Sérgio Moraes CoelhoProfessor Adjunto Doutor do Departamento <strong>de</strong> Clínica Medicada UFRJ. Chefedo <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho-UFRJ. Coor<strong>de</strong>nador Clínico do Programa <strong>de</strong> Transplante Hepático do HospitalUniversitário-UFRJ.João Galizzi FilhoHepatologista e Presi<strong>de</strong>nte Eleito da S.B.H.José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros JúniorEspecialista em Gastroenterologia pela Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong>Gastroenterologia.Luiz Antônio R <strong>de</strong> FreitasPesquisador titular da Fundação Oswaldo CruzProfessor Adjunto <strong>de</strong> Patologia da UFBA


10Luiz Pereira LimaProfessor Titular da Fundação Faculda<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Ciências Médicas <strong>de</strong>Porto Alegre. Chefe do Dpto. <strong>de</strong> Cirurgia da Fundação Faculda<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Ciências Médicas <strong>de</strong> Porto AlegreManoel do Carmo Pereira SoaresMédico graduado pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará, pós-graduado emMedicina Tropical. Chefe da Seção <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> do Instituto EvandroChagas/Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>/Ministério da Saú<strong>de</strong>.Milton dos Reis ArantesProfessor-Adjunto, Mestre e Doutor - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Chefe do Serviço <strong>de</strong> Gastroenterologia do Hospital São Vicente <strong>de</strong> Paulo –Rio <strong>de</strong> Janeiro. Chefe da 4ª e 20ª Enfermarias do Hospital Geral da Santa Casada Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> JaneiroRaymundo ParanáProfessor Adjunto Doutor <strong>de</strong> Gastro-<strong>Hepatologia</strong> da UFBA.Livre-Docente em <strong>Hepatologia</strong> Clinica pela UFBARicardo Cerqueira AlvarizProfessor Assistente <strong>de</strong> Gastroenterologia da UERJ.Venâncio Avancini Ferreira AlvesProfessor Titular <strong>de</strong> Patologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina da USPWaldir Pedrosa Dias <strong>de</strong> AmorimEx-Professor Adjunto <strong>de</strong> Gastroenterologia da UFPB. Membro Titular daSBH. Hepatologista pela Associação Médica <strong>Brasileira</strong>. Fundador e PrimeiroPresi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Paraibana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e do Grupo <strong>de</strong> Fígado eHipertensão Portal da UFPB. Clínico do Grupo Integrado <strong>de</strong> TransplanteHepático – João Pessoa - PB. 1º Tesoureiro da SBH – Biênio 2003-2005.


11HISTÓRICO DA HEPATOLOGIA E DA S.B.H. “SOCIEDADEBRASILEIRA DE HEPATOLOGIA”José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros e Edna StraussSummaryHepatology is a new specialty that started in the last century, having Hans Popper in theUnited States and Sheila Sherlock in the United Kingdom as its most brilliant initialrepre<strong>se</strong>ntatives. The <strong>de</strong>tection of the Australian antigen by Blumberg in 1965 hasdramatically enhanced the <strong>de</strong>velopment of Hepatology. Among other importantachievements, liver transplantation was one of the most rewarding. Thomas <strong>de</strong> FiqueiredoMen<strong>de</strong>s at Santa Casa in Rio <strong>de</strong> Janeiro created the Brazilian Society of Hepatology in1967. Since its foundation, a biennial meeting has been held in different cities of Brazil. Asummary of the most important aspects of all previous meetings are pre<strong>se</strong>nted. More thanone hundred of the most important hepatologists from all over the world have come toBrazil and this emphasizes the fruitful relationship between the Brazilian Society and theLatin America and International Associations for the Study of the Liver. Members of theAssociation are scattered all around the country and in five States, there are alreadyregional branches, with groups of hepatologists <strong>de</strong>veloping educational and scientificactivities.PRIMÓRDIOS DA HEPATOLOGIA NO MUNDO E NO BRASILA hepatologia é uma especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evolução recente, tendo praticamente nascidoem Eppinger, na quarta década do século <strong>de</strong>zenove. Dame Sheila Sherlock, em <strong>se</strong>uconhecido livro didático, cita relatos <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong> hepatopatias pelos Babilônios(2.000 a.C), na China (1.000 a.C)) e por Hipócrates (460 a.C). Ela consi<strong>de</strong>ra que Frerichsfoi o pai da mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong>, pois em 1858, publicou o primeiro tratado sobredoenças do fígado. (Enciclopédia Britânica – Vol. 09-pag.924, 1065).A partir da meta<strong>de</strong> do século passado houve, em todo o mundo, gran<strong>de</strong><strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> estudos sobre as doenças do fígado, tendo como colunas mestras HansPopper, na Patologia e Sheila. Sherlock, na Clínica. Versada inicialmente pelos clínicosgerais, mais tar<strong>de</strong> passou para o domínio dos gastroenterologistas. O acúmulo <strong>de</strong>conhecimentos e a diversida<strong>de</strong> das questões práticas, entretanto, <strong>de</strong>u origem, maisrecentemente, à figura do hepatologista.A <strong>de</strong>scoberta do antígeno Austrália (ou antígeno <strong>de</strong> superfície da hepatite B) porBlumberg em 1965 foi a pedra angular para o <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da mo<strong>de</strong>rna hepatologia,dando início a uma série enorme <strong>de</strong> pesquisas para a aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos etotal caracterização dos diferentes vírus causadores <strong>de</strong> hepatites. O vírus da hepatite B(VHB), que acomete 350 milhões <strong>de</strong> pessoas em todo o mundo, evolui <strong>de</strong> forma crônica atéa cirro<strong>se</strong>, <strong>se</strong>ndo ainda causa <strong>de</strong> câncer hepático. O <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> uma vacina eficazcontra esta infecção viral foi pioneiro na profilaxia <strong>de</strong> câncer. De fato, a vacina contra ahepatite B foi a primeira, em toda a medicina, capaz <strong>de</strong> prevenir um tipo <strong>de</strong> câncer, ocâncer hepático causado pelo VHB. Dentre os cinco vírus plenamente i<strong>de</strong>ntificados ecomprovadamente causadores <strong>de</strong> doenças hepáticas agudas e crônicas (A, B, C, D e E),


certamente a epi<strong>de</strong>mia silenciosa ocasionada pela hepatite C vem assustando a todos nosúltimos 20 anos. Com prevalência <strong>de</strong> 1% a 3% em todo o mundo, <strong>se</strong>u índice <strong>de</strong>cronicida<strong>de</strong> varia <strong>de</strong> 60% a 80% dos casos, po<strong>de</strong>ndo haver evolução para cirro<strong>se</strong> e câncer.No Brasil, na América Latina, assim como em várias estatísticas mundiais a cirro<strong>se</strong> pelovírus da hepatite C (VHC) é a causa mais freqüente <strong>de</strong> transplante hepático.Além dos vírus, vários outros agentes etiológicos têm sido responsabilizados pordoenças hepáticas, <strong>de</strong>stacando-<strong>se</strong> entre eles o alcoolismo crônico, levando à cirro<strong>se</strong> em20% dos casos. Mais recentemente, <strong>de</strong>scobriu-<strong>se</strong> que a alteração metabólica causada peloálcool, qual <strong>se</strong>ja a esteato-hepatite, po<strong>de</strong> ter outras origens, não alcoólicas. Assim,assistimos na última década, o crescimento do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> esteato<strong>se</strong> hepática eesteato-hepatite não-alcoólica (NASH), consi<strong>de</strong>radas por muitos como a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>stenovo milênio, pela sua crescente prevalência em obesos, diabéticos e hiperlipêmicos.Na área da terapêutica o fortalecimento da <strong>Hepatologia</strong> como Especialida<strong>de</strong> foiextraordinário nos últimos anos, acompanhando o <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento tecnológico e amultiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisas nas mais variadas áreas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a farmacologia,farmacodinâmica e farmacocinética passando por procedimentos endoscópicos, terapêuticaintervencionista e variadas técnicas cirúrgicas. Mas o apogeu das conquistas, assim comona cardiologia e na nefrologia, foi <strong>se</strong>guramente a realização do transplante hepático, que <strong>se</strong>tornou uma realida<strong>de</strong> clínica, uma esperança <strong>de</strong> vida a milhares <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong><strong>se</strong>nganados.Com a perspectiva do transplante, as condutas terapêuticas das diferentes complicações dadoença hepática crônica avançada, adquiriram novo enfoque. A melhor caracterizaçãofisiopatológica <strong>de</strong>stas complicações possibilita, atualmente, uma gama imensa <strong>de</strong> medidasque recuperam os pacientes em fa<strong>se</strong> crítica, alongando <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong> <strong>de</strong> vida, à espera dotratamento <strong>de</strong>finitivo pelo transplante <strong>de</strong> fígado.A pluralida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> temas <strong>de</strong>ntro da área da <strong>Hepatologia</strong> faz com que jáexistam sub-especialida<strong>de</strong>s. Em gran<strong>de</strong>s <strong>se</strong>rviços <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> dos Estados Unidos eEuropa os estagiários que buscam aprimorar conhecimentos, principalmente através do<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> pesquisas científicas, precisam optar entre diferentes áreas como:hepatites virais, colesta<strong>se</strong>s crônicas, doenças auto-imunes, complicações da hipertensãoportal, doenças metabólicas ou genéticas. Além disso, a <strong>Hepatologia</strong> faz interface comoutras especialida<strong>de</strong>s, existindo assim a Hepato-Patologia, a <strong>Hepatologia</strong> Pediátrica e aCirurgia <strong>de</strong> Fígado e Transplante Hepático. O laboratório clínico, a biologia molecular, o<strong>se</strong>xames <strong>de</strong> imagem e a radiologia intervencionista constituem áreas <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong>fundamental importância, com profissionais especificamente <strong>de</strong>dicados ao diagnóstico etratamento <strong>de</strong> doenças hepáticas.No Brasil, a história da <strong>Hepatologia</strong> não foi diferente <strong>de</strong> outros paí<strong>se</strong>s. Os nomesmaiúsculos na Medicina Interna formaram gastroenterologistas que trouxeram valiosacolaboração em diversas te<strong>se</strong>s relacionadas com hepatopatias. As várias escolas brasileiras,do norte ao sul, formaram mestres, orientando-os para o estudo da especialida<strong>de</strong>. Mesmo<strong>se</strong>ndo uma temerida<strong>de</strong>, citaremos alguns nomes que marcaram nossa história médica. Pelomuito que fizeram, pelos discípulos que dis<strong>se</strong>minaram e que <strong>se</strong> tornaram hepatologistas,impõe-<strong>se</strong>-nos a lembrança <strong>de</strong> Amauri Coutinho, Djalma Vasconcelos, Clementino Fraga,Prado Valadares, Fernan<strong>de</strong>s Pontes, Cintra do Prado, Melo Campos, Caio B. Dias, RomeuCançado, João Galizzi, Nereu Almeida Júnior, Jorge Pereira Lima e Waldomiro Dantas.No Rio <strong>de</strong> Janeiro, tivemos Thomas <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s, fundador e primeiro presi<strong>de</strong>nteda SBH, Clementino Fraga Filho, lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> brilhante escola e ainda José Lopes Pontes,Castro Barbosa, Wal<strong>de</strong>mar Podkameni e Ernani Aboim, entre outros. Em São Paulo, a12


13<strong>Hepatologia</strong> como especialida<strong>de</strong> <strong>se</strong>dimentou-<strong>se</strong> graças à <strong>de</strong>dicação e entusiasmo <strong>de</strong> LuizCaetano da Silva, que juntamente com Silvano Raia, que voltava <strong>de</strong> um estágio com SheilaSherlock, criaram a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado, escola <strong>de</strong> uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> hepatologistas que <strong>se</strong>espalharam por todo o país.HISTÓRICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA –SBH.Em 15 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1967, na Santa Casa do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Figueiredo Men<strong>de</strong>s reuniu-<strong>se</strong>com outros cinco colegas, a saber: Wal<strong>de</strong>mar Podkameni e Jorge <strong>de</strong> Toledo (do Rio <strong>de</strong>Janeiro), José Fernan<strong>de</strong>s Ponte e Luiz Caetano da Silva (<strong>de</strong> São Paulo) e Nereu <strong>de</strong> AlmeidaJúnior ( <strong>de</strong> Minas Gerais) para a fundação da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. Foiindicado como primeiro presi<strong>de</strong>nte Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s. Mestre versátil, clínico,gastroenterologista e finalmente hepatologista. I<strong>de</strong>alizador e realizador, havia antesproduzido uma série <strong>de</strong> monografias, <strong>de</strong>nominada Biblioteca <strong>de</strong> Gastroenterologia, queprimava pela atualização.Participando intensamente da vida científica do país, organizou congressos, jornadas,simpósios, viajou e criou o Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> na Santa Casa do Rio <strong>de</strong> Janeiro, berçoda publicação Mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong>, com 30 anos <strong>de</strong> circulação. Mas <strong>se</strong>u espírito sonhadornão tinha limites.Prece<strong>de</strong>ndo o primeiro congresso, publicou o boletim oficial da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, intitulado OFígado. O primeiro número, circulou em 1968, apre<strong>se</strong>ntado pelo mestre. Nele publicou otrabalho ‘’Metabolismo da Birrilubina’’, <strong>de</strong> autoria a Professora Vera Maria <strong>de</strong> NiemeyerRibeiro. No mesmo boletim manifestava a esperança do transplante hepático e noticiava arealização, pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP, entre 28 <strong>de</strong> julho e 02 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1968,do Simpósio Internacional <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, com a pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> A. Martini, Bárbara Billing,Hans Popper, Jacques Caroli, J. Fraston, L. Kreet, Peter Scheuer, Ricardo. Katz e VictorPeres. Nesta ocasião histórica Silvano Raia fundava, em São Paulo, a “<strong>Socieda<strong>de</strong></strong>Latinoamericana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>” que mais tar<strong>de</strong> passou a <strong>se</strong>r <strong>de</strong>nominada “AsociacionLatinoamericnacda para el Estudio <strong>de</strong>l Higado”( ALEH).I CongressoEm 16/11/1969 era instalado o I Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, em Caxambu, e aalocução inicial foi do Professor Clementino Fraga Filho.Os temas <strong>se</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveram em curso, coor<strong>de</strong>nado por Luiz Caetano, painéis, mesasredonda<strong>se</strong> tema livres. Silvano Raia, em conferência magistral, manifestou o que é lícitoesperar do transplante <strong>de</strong> fígado.O primeiro convidado estrangeiro foi W. Stanley Hartrof (Canadá), cujo tema foi ‘’ O<strong>se</strong>feitos do álcool sobre o fígado’’.Em <strong>se</strong> tratando do primeiro congresso, citaremos todos os participantes dos temas oficiais:Mitja Polack, José Daniel Lopes, Manlio B. Speranzini, Fernando Guerra Alvariz, TomazImperatriz Pricolli, Renato Dani, Mário Barreto Correa Lima, Pedro Razo, José CarlosVinhaes, Maria A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Gonçalves Borges, Boavista Nery, Carlos Serapião, OswaldoGouveia, Nereu <strong>de</strong> Almeida Júnior, Dahir Ramos <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Gilberto Nagli, Henrique


14Walter Pinotti, Jorge Toledo, Célio Nogueira, Djalma Vasconcelos, Amauri Coutinho,Wilson Abrantes, Hernani Aboim, J. Fernan<strong>de</strong>s Pontes, Moysés Mincis, Zilton Andra<strong>de</strong> eSérgio Bigalho. A <strong>se</strong>ssão oficial <strong>de</strong> fundação da SBH foi realizada na noite <strong>de</strong> 20/11/1969 eassinada a Ata da Fundação, cujos signatários passaram a <strong>se</strong>r os fundadores.São Paulo – José Carlos Cunha, José Fernan<strong>de</strong>s Pontes, Luiz Caetano da Silva, MoysésMincis, Sivano Raia, Tomaz Imperatriz Pricolli.Rio e Janeiro – Antônio Boavista Néri, Carlos Cruz Lima, Clementino Fraga Filho,Hernani Aboim, Elza Freitas, Fernando Guerra Alvariz, Flávio San-Juan, Jorge A. Toledo,José Figueiredo Penteado, Mário Barreto Corrêa Lima, Miguel Houaiss, Nelson Passarelli,Sérgio Ramos, Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s, Vera Maria Ribeiro, Vilela Predas,Wal<strong>de</strong>mar Podkameni.Minas Gerais – José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros. Manlio Speranzini (Uberlândia), Nereu <strong>de</strong>Almeida Júnior, Renato Dani, Sérgio A. Bicalho.Pernambuco – Amaury Coutinho, Rui João Marques.Goiás – Roberto Daher.Rio Gran<strong>de</strong> do Sul – Jorge Pereira Lima, José Martins Job.Bahia – Cícero Aldolfo da Silva, Geraldo Milton Silveira, Zilton Andra<strong>de</strong>.Fato Pitoresco: A <strong>se</strong>ssão foi interrompida para assistirmos, pela TV, à marcação domilésimo gol do Pelé.A parte social foi marcada por agradável congraçamento, quando foram evi<strong>de</strong>nciadas, entreoutras, as qualida<strong>de</strong>s artísticas das estimadas colegas Edna Strauss e Eponina Leme. Foieleito o <strong>se</strong>gundo presi<strong>de</strong>nte, o consagrado hepatologista Luis Caetano da Silva, quechamaremos o ‘’Padrinho da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>’’. Realizou inicialmenteesplêndido simpósio <strong>de</strong> 05 a 08 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1970, em Campos do Jordão.Foram discutidos temas <strong>de</strong> diagnóstico e terapêutica, com inovação da roda-viva da<strong>Hepatologia</strong> (programa <strong>de</strong> perguntas e respostas com sli<strong>de</strong>s). Estudaram-<strong>se</strong> normas esugestões para o funcionamento da nova socieda<strong>de</strong>.II CongressoGuarujá, 13 a 17/10/1971.Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Caetano da Silva.Secretário Adjunto: Joel Carlos Cunha.Temas Principais: Hepatites Agudas e Crônicas, Avanços em Cirurgia Hepática. Temas <strong>de</strong>Terapêuticas, roda-viva e temas livres foram incluídos.A gran<strong>de</strong> discussão <strong>se</strong> fazia em torno das hepatites persistentes e agressiva.


15III CongressoRecife, 13 a 17/11/1973.Presi<strong>de</strong>nte: Amaury Coutinho. Secretário-Adjunto: Donald Huggins.Amaury Coutinho, mestre cuja memória é imortal, projetou a medicina brasileirainternacionalmente e contribuiu com estudos fundamentais sobre esquistossomo<strong>se</strong>. Aconferência inaugural foi do Professor Clementino Fraga Filho. Os temas principaisversaram especialmente sobre a esquistossomo<strong>se</strong>, roda-vida <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e apre<strong>se</strong>ntação,pelo Professor Carvalho Luz (Bahia), da técnica da filtração <strong>de</strong> vermes no sistema porta.Pela primeira vez, foi abordado o antígeno Austrália.Convidamos estrangeiros: Thomas Starz e Robert Schaeig (USA).IV CongressoBelo Horizonte, 09 a 13/11/1975.Presi<strong>de</strong>nte: Renato Dani.Secretário-Adjunto: José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros.Renato Dani também fundador e um dos organizadores do I Congresso. ProfessorUniversitário e lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conceituada residência <strong>de</strong> Gastroenterologia. Ex-presi<strong>de</strong>nte daFBG, com trabalhos internacionais. Congresso bastante movimentado, marcou a transiçãodo antígeno Austrália para HBsAg.As hepatites continuaram <strong>se</strong>ndo ventiladas com interes<strong>se</strong>, salientando-<strong>se</strong> já os estudosimunológicos e ênfa<strong>se</strong> para esquistossomo<strong>se</strong>.V CongressoSalvador, 07 a 10/09/1977.Presi<strong>de</strong>nte: Zilton Andra<strong>de</strong>.Secretário-Adjunto: Geraldo Milton Silveira.Zilton Andra<strong>de</strong> tem sido uma das figuras exponenciais da SBH, além <strong>de</strong> hepatopatologistainternacional e conferencista renomado.A conferência <strong>de</strong> abertura foi do Professor Figueiredo Men<strong>de</strong>s. O Congresso <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveuconferências, mesas-redondas, temas livres e importantes cursos <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> biópsiahepática. Marco principal, já <strong>se</strong> falava em antígenos teciduais da Hepatite B.Convidados Estrangeiro: Alton Sutnick, Carrol Leevy, Harold Conn e D. Warren (USA);Jean Alexis Grimald (França); Dietrich Lorens (Alemanha).VI CongressoRio <strong>de</strong> Janeiro, 12 a 22/09/1979.Presi<strong>de</strong>nte Jorge Toledo.Secretário-Adjunto: Sérgio F. Ramos.Toledo, mestre por excelência no ensino, na ética e no cavalheirismo. Seguiu a tradição dasmesas-redondas, simpósios, conferências e atualizações em métodos diagnósticos. AHepatite Não A-Não B estão em foco, e iniciado no temário o estudo da <strong>Hepatologia</strong>infantil.


16Convidados estrangeiro: Bergita Stardvik (Suécia); Alex Mowat (Inglaterra); RicardoLicastro, Jorge Findor, Eduardo Carpaneto (Argentina); Heuben Dubous (Austrália)HaroldConn (USA).VII CongressoPorto Alegre - 06 a 09/09/1981Presi<strong>de</strong>nte: Jorge Pereira Lima.Secretária-Adjunta: Themis Reverbel da Silva.Pereira Lima é uma inesquecível lembrança <strong>de</strong> um dos mais laureados mestres da ClínicaMédica, da Gastroenterologia e da <strong>Hepatologia</strong>, e conhecimento humanístico notável.A conferência inaugural foi do Professor Zilton Andra<strong>de</strong>. Discutidos os avanços daHepatites Não A-Não B e gran<strong>de</strong>s ênfa<strong>se</strong> para a <strong>Hepatologia</strong> Pediátrica, graças á atuação da<strong>se</strong>cretária Themis e á pre<strong>se</strong>nça, no Brasil, do Professor Alagille, da França. Inicia-<strong>se</strong>também o estudo da peritonite espontânea. Organizado um atraente e bem elaboradoprograma social.Convidados estrangeiros: V. Perez (Argentina); Harold Conn (USA); Rolf Teschke(Alemanha); Daniel Alagille (França).VIII CongressoCaldas Novas, 31/10 a 03/11/1083.Presi<strong>de</strong>nte: Roberto R. Daher.Secretário-Adjunto: Heitor Rosa.Daher é um dos pioneiros da infectologia e da <strong>Hepatologia</strong> no Centro-Oeste. Tambémpre<strong>se</strong>nte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras horas. A conferência <strong>de</strong> abertura foi do Prof. FigueiredoMen<strong>de</strong>s: '' Um super-vírus muda a história.''Convidados estrangeiros: Ian Bouchier (Inglaterra); James Maynard (USA), que trouxeimportante contribuição sobre imunização da Hepatite B.Foi instituído o fórum <strong>de</strong> pesquisa. Conferência, temas livres e mesas-redondas completamo programa.IX CongressoSão Paulo, 06 a 10/04/1986.Presi<strong>de</strong>nte: Silvano Raia.Secretária-Adjunta: Edna StraussSilvano Raia, cirurgião que <strong>se</strong>mpre abrilhantou os congressos brasileiros, abordando, commaestria, aspectos cirúrgicos, especialmente no tratamento da hipertensão portal e nasres<strong>se</strong>cções hepáticas e o pioneirismo do transplante.O conclave <strong>se</strong> realizou em parceria com a IX Jornada Latino-Americana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> econtou com a colaboração <strong>de</strong> Luiz Caetano da Silva, Edna Strauss, Sérgio Mies e LuizCarlos C. Gayotto e Oscar Fay. Luiz Carlos da Costa Gayotto assumia nes<strong>se</strong> congresso aPresidência da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latinoamericana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> (biênio 1986-1988)Tratando-<strong>se</strong> evento internacional, a participação estrangeira foi maciça: Hugo Tano, OscarFay e Osvaldo Koch (Argentina); Pedro Grassi, Simon Becker e Miguel Garassini


17(Venezuela); Cristian Trepo e Jean Grimaux (França); José H.Vilar, Jorge Findor, Fe<strong>de</strong>ricoVilamil, Isabel Badia, Margarita Romanet e Roberto Zeillicoff (Argentina); José MariaSanches Tapias e Vicente Arroyo (Espanha); Ricardo Katz (Chile); Niels Tygstrup(Dinamarca); Marcos Rogkinds e David Kershenobich (México); Roberto Grosmann eFeron Kalintmain (USA).O temário foi um dos mais importantes e diversificados com conferências, cursos, temaslivres e apre<strong>se</strong>ntação <strong>de</strong> pôsteres. Saliente-<strong>se</strong> a apre<strong>se</strong>ntação <strong>de</strong> Silvano sobre transplanterealizado com êxito.X CongressoBelo Horizonte, 06 a 09/04/1988.Presi<strong>de</strong>nte: José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros.O ponto alto do conclave foi a pre<strong>se</strong>nça da Sheila Sherlock, Maria Rizzetto e Adrian DiBiscegli.Foram realizados cursos <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> clínica, cirúrgica e infantil, enfatizada a HepatiteNãoA - Não B e conferido o prêmio ''Jorge <strong>de</strong> Toledo''.O presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong> Minas Gerais, João Galizza Filho,outorgou o título <strong>de</strong> Membro Honorário a Sheila Sherlock e Mário Rizzetto. A Aca<strong>de</strong>miaMineira <strong>de</strong> Medicina, na pessoa <strong>de</strong> <strong>se</strong>u presi<strong>de</strong>nte, José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros, conce<strong>de</strong>u otítulo <strong>de</strong> Membro Honorário à Prof. Dame Sheila Sherlock.XI CongressoFoz do Iguaçu, 03 a 06/04/1991.Presi<strong>de</strong>nte: Marcial Carlos Ribeiro.Realizou o congresso juntamente com a Jornada Latino-Americana Extra <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,com a colaboração <strong>de</strong> Edna Strauss pela Associação Latinoamericana para Estudo doFígado (ALEF) e Luiz Carlos da Costa Gayotto, então presi<strong>de</strong>nte da AssociaçãoInternacional do Estudo do Fígado (IASL). Marcial realizou também programas com aEscola Francesa <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. O Congresso, além dos temas clássicos, abordou o temadas hepatites, e a <strong>de</strong>scoberta do vírus responsável pela Hepatite C.Convidados estrangeiros: David Van Thial (USA); Raul Poupon, Bernard Nordlinger eDidier Lebrec (França);Marcos Rojkind e David Kerschnobisch (México); Oscar Fay(Argentina); Miguel Garassini (Venezuela); Assad Safary (Bélgica); Minor Vargas (CostaRica).XII CongressoSalvador, 22 a 25/09/1993.Presi<strong>de</strong>nte: Luiz Guilherme Costa Lyra.Secretária-Adjunta: Helma Contrin.Lyra, lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> pesquisa e estudo clínico, com projeção internacional.Introdução do Curso Pré-Congresso e do café da manhã com especialista. A conferênciainaugural foi do Prof. Figueiredo Men<strong>de</strong>s. De<strong>se</strong>nv<strong>olvida</strong>s as mesas-redondas, conferências,pôsteres e temas livres, e enfatizada a esteato-hepatite.


18Convidados estrangeiros: Hugo Tanno, Oscar Fay e Marcelo Silva (Argentina); KhazalParadis (Canadá); Cristian Trepo (França), Eugene Schiff (USA); Jordi Bruix (Espanha);Paul Mac Master (Inglaterra).XIII CongressoFlorianópolis, 06 a 09/09/1995Presi<strong>de</strong>nte: Waldomiro Dantas.Secretária-Adjunta: Esther B. Dantas Corrêa.O saudoso Waldomiro era professor da Clínica Médica, Gastroenterologia e <strong>Hepatologia</strong>.Figura <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na medicina científica e associativa do Brasil.Foram apre<strong>se</strong>ntadas rápidas <strong>se</strong>ssões clínicas, fórum sobre carcinoma hepatocelular, e umdos temas principais passava a <strong>se</strong>r a terapêutica da Hepatite C e o tratamento da hipertensãoportal pelo TIPS. Apre<strong>se</strong>ntação <strong>de</strong> pôsteres, temas livres, programação social incluindoesportiva.Convidados Estrangeiros:Charles Men<strong>de</strong>lhall (USA); Vicente Arroyo (Espanha); JorgeFindor (Argentina); Misael Uribe, Jorge Luiz Poo (México) : Eduardo Fenacchi (Uruguai).XIV CongressoCaldas Novas, 05 a 09/10/1997.Presi<strong>de</strong>nte: Heitor Rosa.Secretário-Adjunto: Roberto Daher.Heitor Rosa, o incansável. Após realizar o gran<strong>de</strong> congresso <strong>de</strong> Gastroenterologia, volta aorganizar o <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, mais vez na aprazível Pousada do Rio Quente. O presi<strong>de</strong>nte,além <strong>de</strong> mestre da medicina, é também literato.Instalado com o Curso Pré Congresso, <strong>se</strong>guido das clássicas <strong>se</strong>ssões <strong>de</strong> pôsteres, temaslivres, introduzindo as conferências ''State-of-art''.Convidados estrangeiros: Luiz Po<strong>de</strong>sta e Jorge Findor (Argentina): Jorge Bruix e Jo<strong>se</strong>pPeres (Espanha); Guadalupe Garcia-Tsao (USA); Misael Uribe (México).Foi prestada carinhosamente homenagem a Figueiredo Men<strong>de</strong>s..XV CongressoRio <strong>de</strong> Janeiro, 10 a 13/10/1999.Presi<strong>de</strong>nte: Fernando W. Portella.Scretário-Adjunto: João Luiz Pereira.Portella é um dos mais atuantes membros da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> e repre<strong>se</strong>nta a escola <strong>de</strong> Sherlock.A abertura foi realizada pelo Prof. Clementino Fraga Filho.Mantidos o curso Pré-Congresso, o café da manhã com especialistas e os temas livres; e, bastante discutidos, otratamento da Hepatite C, transplante e esteato-hepatite. Conferido o prêmio ''JovemPesquisador'' - Figueiredo Men<strong>de</strong>s.Convidados estrangeiros: Henri Bismuth (França); Assad Safary (Bélgica); Adrian DiBisceglie, Jill Smith e Tereza Wright (USA); Fre<strong>de</strong>rico Vilamil e David Kravetz(Argentina); Avidan Neumann (Israel).


19XVI CongressoVitória, 28/04 a 01/05/2001.Presi<strong>de</strong>nte: Carlos Sandoval Gonçalves.Secretária-Adjunta: Maria da Penha Zago Gomes.Sandoval é a expressão da <strong>Hepatologia</strong> capixaba e gran<strong>de</strong> conhecedor <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> fígado.Organizou mo<strong>de</strong>rno congresso, marcado pela atualização. Excelente curso Pré-Congressocoor<strong>de</strong>nados pelo Prof. Adávio <strong>de</strong> Oliveira e Silva e cursos paralelos <strong>de</strong> Cirurgia Hepática,<strong>Hepatologia</strong> Infantil Clínica.A conferência inaugural foi do Prof. Luiz Caetano da Silva. Encontro com especialistas,con<strong>se</strong>nso <strong>de</strong> hepatites, conferências, hepatites pôr droga e esteato-hepatite.Em plena ebulição estava o tratamento da Hepatite C.Convidados estrangeiros: Vicente Arroyo (Espanha); Hugo Tano (Argentina); PatrickMarcelim (França); Jenny Heathcote (Canadá).XVII CongressoRecife, 16 a 19/10/2003.Presi<strong>de</strong>nte: Victorino Spinelli Barreto.Secretária-Adjunta:Leila Beltrâo Pereira.Victorino Spinelli é uma das colunas mestras da SBH; e Recife, pela <strong>se</strong>gunda vez, recebeuos hepatologistas. Spinelli, <strong>se</strong>guindo a tradição do <strong>se</strong>u mestre Amaury; realizou ocongresso, marcado por cursos clínicos e cirúrgico, almoço com especialistas, estudos dashepatites auto-imunes e por drogas, doenças metabólicas e o indispensável <strong>de</strong>bate sobre otratamento da Hepatite C. Na <strong>se</strong>ssão inaugural foi prestada homenagem a Jorge PereiraLima, tendo sido orador Angelo Alves <strong>de</strong> Mattos (RS).Convidados estrangeiros: Willes Maddrey, James Boyer e Ningel Heaton (USA); ErwinSablon (Bélgica); Nedim Hadztc (Inglaterra).Conferido, também, o prêmio Figueiredo Men<strong>de</strong>s ao melhor trabalho do Forum “JovemPesquisador”XVIII CongressoCampos <strong>de</strong> Jordão, S.P. 18 a 22/10/2005.Presi<strong>de</strong>nte: Edna StraussSecretário-Adjunto: Maurício BarrosEdna Strauss foi a primeira mulhes a assumir a presidência da SBH e logo no início <strong>de</strong> suagestão realizou, juntamente com Luiz Lyra ex-presi<strong>de</strong>nte da SBH, o Congresso Mundial <strong>de</strong>Fígado ou <strong>se</strong>ja a reunião da “International Association for the Study of the Liver”, pelaprimeira vez no Brasil – 16 a 19 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004. O evento foi um sucesso <strong>de</strong> público etambém <strong>de</strong>ixou alguns recursos financeiros para a SBH. Fez questão <strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver umasérie <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s durante sua gestão e talvez a mais marcante tenha sido a realização do“Con<strong>se</strong>nso sobre condutas nas Hepatites B e C”, que aconteceu em São Paulo em 26 e 27<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2005


20O congresso em Campos <strong>de</strong> Jordão é marcado pelos já tradicionais cursos clínico, cirúrgicoe pediátrico Na <strong>se</strong>ssão inaugural são prestadas homenagens a Waldomiro Dantas e LuizCarlos da Costa Gayotto, falecidos nes<strong>se</strong> biênio. Também são homenageados todos os expresi<strong>de</strong>ntesda SBH. De inovação a discussão <strong>de</strong> casos clínicos <strong>se</strong> faz pela manhã, comocasos interativos e no horário <strong>de</strong> almoço acontecem os simpósios <strong>de</strong> laboratóriosfarmacêuticos. O transplante hepático ganha local <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, logo no primeiro dia doCongresso e a Mesa Redonda trata do polêmico tema dos critérios para alocar pacientes aotransplante, ou <strong>se</strong>ja, cronologia versus gravida<strong>de</strong>. Além das conferências vão para <strong>se</strong>ssãoPlenária os Temas Selecionados, correspon<strong>de</strong>ndo aos melhores trabalhos científicos<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvidos no país. Temas livres são discutidos em <strong>se</strong>ssões paralelas e aos Pôsteres dá<strong>se</strong>especial atenção, com visita e discussão por dois <strong>de</strong>batedores, especificamente<strong>de</strong>terminados.Convidados estrangeiros: Rodrigo Vianna (EUA), Roger Butterworth (Canadá), LeonardoPinchuk (Argentina) Thierry Poynard (França), Helena Cortez Pinto (Portugal), JeanMichel Pawlotsky (França) e Adrian Gadano (Argentina).Conferido, também, o prêmio Figueiredo Men<strong>de</strong>s ao melhor trabalho do Fórum “JovemPesquisador”.QUADRO ASSOCIATIVOSegundo os Estatutos da SBH existem 10 categorias <strong>de</strong> membros, a saber:1. Membros Fundadores2. Membros Titulares – que exercem a <strong>Hepatologia</strong> por mais <strong>de</strong> 5 anos3. Membros Associados – que exercem a <strong>Hepatologia</strong> por mais <strong>de</strong> 2 anos4. Membros Colaboradores – não médicos que exerçam ativida<strong>de</strong>s ligadas à <strong>Hepatologia</strong>por mais <strong>de</strong> 5 anos5. Membros Honorários – médicos renomados, geralmente estrangeiros.6. Membros Eméritos – titulares com mais <strong>de</strong> 65 anos e relevantes <strong>se</strong>rviços à <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>7. Membros Correspon<strong>de</strong>ntes – médicos diplomado e/ou vivendo no Exterior, exercendo a<strong>Hepatologia</strong> há mais <strong>de</strong> 5 anos.8. Membro Benemérito – não-médicos que tenham prestado relevantes <strong>se</strong>rviços a SBH9. Membro Benfeitor – pessoa física ou jurídica que contribua com doações10. Membro Iniciante – médico formado há pelo menos 2 anos, com interes<strong>se</strong> em<strong>Hepatologia</strong> *.* Esta última categoria foi criada recentemente pela Diretoria 2003-2005, <strong>de</strong>vendo <strong>se</strong>rsubmetida à aprovação na próxima As<strong>se</strong>mbléia Geral da SBH.A admissão <strong>de</strong> novos membros, <strong>se</strong>gundo os Estatutos atuais, exige um pedido formal dointeressado, apre<strong>se</strong>ntado por dois membros titulares, que <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r analisado pela Comissão<strong>de</strong> Admissão e apre<strong>se</strong>ntado para aprovação na As<strong>se</strong>mbléia Geral, que <strong>se</strong> realiza a cada doisanos, durante o Congresso da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>. Além da comprovação <strong>de</strong> que exerce a<strong>Hepatologia</strong> pelo <strong>tempo</strong> estipulado, o candidato <strong>de</strong>ve apre<strong>se</strong>ntar <strong>se</strong>u currículo on<strong>de</strong> constemtrabalhos publicados na área <strong>de</strong> doenças do fígado ou apre<strong>se</strong>ntação <strong>de</strong> te<strong>se</strong>.


21A distribuição atual (julho <strong>de</strong> 2005) do quadro associativo da SBH é o <strong>se</strong>guinte:- Membros Fundadores n = 36- Membros Titulares n = 162- Membros Associados n = 248- Membros Iniciantes n = 80Total n = 526Nos três últimos Congressos da Especialida<strong>de</strong> (1999 no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2001 em Vitória e2003 em Recife) o comparecimento variou <strong>de</strong> 600 a 900 participantes. Este dado nos fazsupor que o número <strong>de</strong> sócios po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r incrementado e a criação do Membro Iniciante, que<strong>de</strong>pois passará a Associado tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivar a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> maior número <strong>de</strong>colegas às ativida<strong>de</strong>s da SBH.PRINCIPAIS ATIVIDADES EXTRACONGRESSO DA SBH1. Educação ContinuadaAs diferentes Diretorias da SBH têm <strong>se</strong> interessado em educação continuada, promovendoCursos, Simpósios ou outras ativida<strong>de</strong>s, com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgar os conhecimentos daárea, particularmente novos métodos diagnósticos e condutas terapêuticas.No Rio <strong>de</strong> Janeiro, o grupo regional que li<strong>de</strong>ra a <strong>Hepatologia</strong> vem promovendo um Curso<strong>de</strong> Educação Continuado há 5 anos, com programa básico <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e duração <strong>de</strong> oitome<strong>se</strong>s. Experiência <strong>se</strong>melhante foi iniciada em São Paulo, a partir <strong>de</strong> 2004, em ativida<strong>de</strong>conjunta da SBH com a APEF (Associação Paulista para o Estudo do Fígado).Acompanhando a evolução tecnológica, a SBH realizou o primeiro Curso <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>pela Internet, com o apoio do Laboratório Roche, no <strong>se</strong>gundo <strong>se</strong>mestre <strong>de</strong> 2004 e primeiro<strong>de</strong> 2005. Diversos membros da SBH foram convidados, prepararam suas aulas e cerca <strong>de</strong>500 pessoas fizeram o Curso, tendo recebido Certificado da SBH aqueles que completaramo Curso e alcançaram pontuação suficiente no processo <strong>de</strong> avaliação. Ainda pela Internet,com o patrocínio do Laboratório Glaxo, foi preparado pela SBH um Curso Monotemáticosobre Hepatites Virais, que teve início ainda no primeiro <strong>se</strong>mestre <strong>de</strong> 2005, <strong>de</strong>vendoterminar até o final do ano. Os que concluírem o Curso, passarem nos testes e enviarem“Casos Clínicos” participam <strong>de</strong> um concurso, com direito a passagens e estadia para oCongresso Americano <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, a <strong>se</strong>r realizado no final do ano <strong>de</strong> 2005.Outra ativida<strong>de</strong> da SBH, muito apreciada pelos sócios <strong>de</strong> centros menores, são ativida<strong>de</strong>s“pre<strong>se</strong>nciais” favorecendo regiões mais distantes e carentes. Vários presi<strong>de</strong>ntes fizeramCursos, com diferentes patrocínios <strong>de</strong> vários laboratórios farmacêuticos. Nesta gestão(2003-2005), apoiados pelo Laboratório Shering-Plough, optamos pelo mo<strong>de</strong>lo da FBG <strong>de</strong>“Casos Clínicos Interativos” que foram preparados e são ministrados por 5 hepatologistas<strong>de</strong> SBH, <strong>de</strong> forma bem dinâmica e participativa em 10 cida<strong>de</strong>s brasileiras, contemplandotodas as cinco regiões do país e fugindo dos gran<strong>de</strong>s centros, on<strong>de</strong> há <strong>se</strong>mpre aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos e outras formas <strong>de</strong> aprendizado.


22Além do Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, outros Estados estão criando <strong>se</strong>us grupos regionais.Um dos mais antigos é o do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, juridicamente estabelecido como AGEF –“Associação Gaúcha para o Estudo do Fígado”. No Ceará foi criado grupo <strong>se</strong>melhante emais recentemente também em Minas Gerais e no Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Cada um <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s grupospromove <strong>se</strong>us cursos, reuniões regulares e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> incentivo ao <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da<strong>Hepatologia</strong>.2. PublicaçõesAo longo <strong>de</strong> <strong>se</strong>us 37 anos <strong>de</strong> existência a SBH tem contribuído <strong>de</strong> diferentes formas para adivulgação <strong>de</strong> conhecimentos, através <strong>de</strong> publicações. Figueiredo Men<strong>de</strong>s no Rio <strong>de</strong>Janeiro editava fascículos regulares com temas <strong>de</strong> fígado além da Revista: “Mo<strong>de</strong>rna<strong>Hepatologia</strong>” com artigos <strong>de</strong> revisão, pelos especialistas nacionais e eventualmente doexterior.A partir <strong>de</strong> meados dos anos 90, por <strong>de</strong>cisão em As<strong>se</strong>mbléia Geral, a GED“Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva” passou a <strong>se</strong>r a Revista Oficial da SBH. CadaDiretoria nomeia um Editor <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, o qual compõe o Corpo Editorial para analisarartigos originais e outros, a <strong>se</strong>rem publicados pela Revista.Compêndios <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> foram publicados, sob os auspícios <strong>de</strong> várias das Diretorias daSBH. Outros compêndios surgiram como: “Doenças do Fígado e Vias Biliares” - EditoresGayotto LCC e Alves VAF; “Doenças do Fígado” – Editores Silva A.O. e D’AlbuquerqueLAC; “Fígado e Vias Biliares” – Editores Kalil A, Coelho J e Strauss E.Boletim da SBH - um boletim informativo vem <strong>se</strong>ndo editado regularmente nos últimos 10anos, a cargo do Professor José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros, a memória viva da SBH, pois foi oúnico <strong>de</strong> <strong>se</strong>us membros a estar em todos <strong>se</strong>us Congresso, com participação ativa.Revistas <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> <strong>de</strong> Nível Internacional- Hepatology – é revista mensal, com o maior fator <strong>de</strong> impacto na área (>10), publicadapela Associação Americana para o Estudo <strong>de</strong> Doenças Hepáticas (AASLD).- Journal of Hepatology – é a revista mensal da Associação Européia para o Estudo doFígado (EASL)- Liver International – é revista bimensal publicada pela Associação Internacional para oEstudo do Fígado (IASL)Além <strong>de</strong>ssas três revistas, que lidam exclusivamente com <strong>Hepatologia</strong> existem outras <strong>de</strong>menor porte ou que <strong>se</strong> associam com a Gastroenterologia, ligadas ou não a diferentesAssociações Científicas.


233. Campanha <strong>de</strong> esclarecimento à populaçãoAssim como outras Associações Médicas, a SBH engajou-<strong>se</strong>, durante a atual gestão, emCampanha <strong>de</strong> esclarecimento junto à população. Estas Campanhas, que procuram<strong>se</strong>nsibilizar a mídia e divulgar informações relevantes sobre um problema médico têm sidoum importante instrumento <strong>de</strong> conscientização popular para problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mpassar <strong>de</strong>spercebidos até fa<strong>se</strong>s avançadas da doença, pela escas<strong>se</strong>z <strong>de</strong> sintomas. Odiagnóstico precoce <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> câncer tem sido o principal alvo <strong>de</strong>ssas campanhas,com gran<strong>de</strong> sucesso. No caso da <strong>Hepatologia</strong>, o tema escolhido nesta gestão foi a HepatiteB. Além <strong>de</strong> entrevistas em rádios e televisão, artigos em jornais fizemos até uma pas<strong>se</strong>atano Rio <strong>de</strong> Janeiro. Foi criada uma página na Internet (www.hepab.com.br) e um telefone0800 para respon<strong>de</strong>r questões específicas <strong>de</strong> hepatite B. O conhecido ator <strong>de</strong> televisão –Stenio Garcia, cuja esposa teve hepatite B – empresta sua imagem para a Campanha, queestá <strong>se</strong>ndo também divulgada em “busdoor” . Foi criado um logo e um refrão – HEPA -Hepatite B, preste atenção!4. As<strong>se</strong>ssoria técnico-científica a órgãos governamentaisA SBH respon<strong>de</strong> pareceres e fornece as<strong>se</strong>ssoria, <strong>se</strong>mpre que solicitada, para questõestécncas e científicas ligadas à <strong>Hepatologia</strong>, junto a organismos governamentais. Neste ano<strong>de</strong> 2005, a pedido do Ministério da Saú<strong>de</strong>, estabeleceu os critérios para <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>“Hepatopatia Grave”, que passou a constar do Manual <strong>de</strong> Perícia Médica, para obtenção <strong>de</strong>i<strong>se</strong>nção <strong>de</strong> Imposto <strong>de</strong> Renda <strong>de</strong> apo<strong>se</strong>ntados e pensionistas. Mais recentemente foichamada a opinar, junto ao Senado Fe<strong>de</strong>ral, sobre duas Propostas <strong>de</strong> Lei, que lidam comquestões das Hepatites Virais. Membros da SBH têm sido escolhidos para participar da“Comissão Nacional <strong>de</strong> Hepatites Virais”, também uma ativida<strong>de</strong> consultiva, assim como<strong>de</strong> reuniões sobre as normas para o Transplante Hepático.5. Ativida<strong>de</strong>s junto a AMB – Associação Médica <strong>Brasileira</strong>; CNRM -Comissão Nacional <strong>de</strong> Residência Médica e CFM – Con<strong>se</strong>lho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Medicina.Des<strong>de</strong> 1990 a AMB reconhece a <strong>Hepatologia</strong> como Especialida<strong>de</strong> Médica e 122 títulos <strong>de</strong>Especialista foram concedidos a médicos <strong>de</strong> diversas regiões do país. Des<strong>de</strong> 2002, com acriação da CME – Comissão Mista <strong>de</strong> Especialida<strong>de</strong>s – a <strong>Hepatologia</strong>, embora reconhecidapela AMB, passou a <strong>se</strong>r consi<strong>de</strong>rada pela CME apenas como “Área <strong>de</strong> Atuação” daGastroenterologia. Os processos com pedido <strong>de</strong> revogação <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong> e volta à condição<strong>de</strong> Especialida<strong>de</strong>, juntamente com a criação da Residência Médica em <strong>Hepatologia</strong> foramelaborados e estão <strong>se</strong>ndo analisados pelas referidas Comissões. Em nível <strong>de</strong> AMB, a SBHcontinua participando das reuniões do con<strong>se</strong>lho científico com todas as Especialida<strong>de</strong>sMédicas e foi recentemente convocada a participar também do Comissão Nacional <strong>de</strong>Acreditação (CNA) que estipula as normas e analisa os critérios para revalidação do Título<strong>de</strong> Especialista, em implantação no país a partir <strong>de</strong> 2006.


24AMAURY DOMINGUES COUTINHO1918 1995O professor Amaury Coutinho, pernambucano, professor catedrático da Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco (UFPE), foi um dos fundadores da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong> e um dos <strong>se</strong>us presi<strong>de</strong>ntes. Suas contribuições científicas foram relevantes emundialmente conhecidas especialmente nos campos da esquistossomo<strong>se</strong> mansônica, comcerca <strong>de</strong> <strong>se</strong>s<strong>se</strong>nta e nove trabalhos publicados no Brasil e no exterior; dos estudoshemodinâmicos da hipertensão portal; das doenças tropicais como a filario<strong>se</strong>, e dahematologia. Foi pioneiro e incentivador <strong>de</strong> avanços tecnológicos, tanto no âmbito clínicocomo laboratorial. Professor e educador médico, foi diretor do Centro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>da UFPE, on<strong>de</strong> prestou valiosa contribuição ao ensino, especialmente à Residência Médicae à integração docente-assistencial. Foi i<strong>de</strong>alizador e coor<strong>de</strong>nador do Projeto Vitória, umarica experiência <strong>de</strong> integração da universida<strong>de</strong> com a comunida<strong>de</strong> da Zona da Mata <strong>de</strong>Pernambuco, que propiciou uma marca social relevante na formação <strong>de</strong> médicos,odontólogos, nutricionistas e assistentes sociais. Seu último trabalho foi sobre a “Históriada Filario<strong>se</strong> na Cida<strong>de</strong> do Recife”, terminado enquanto tomava vasodilatadores e <strong>se</strong>ntiadores anginosas. Como Virgílio, quis que a morte o surpreen<strong>de</strong>s<strong>se</strong> em pleno trabalho.


25AMAURY DOMINGUES COUTINHO1918 1995Professor Amaury Coutinho, a native of Pernambuco and full professor at the Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco (UFPE), was one of the foun<strong>de</strong>rs, and a presi<strong>de</strong>nt, of the BrazilianSociety of Hepatology (SBH). He ma<strong>de</strong> important and world-famous contributions toscience, particularly in the fields of mansonic schistosomiasis. Approximately sixty-ninestudies were published in Brazil and abroad concerning hemodynamic studies in portalhypertension, tropical di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>s such as filariasis, and hepatology in general. He pioneeredand was a driving force behind technological advances both in clinical and laboratoryenvironments. As well as being a lecturer and medical educator, he was director of theCentro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> at UFPE, where his contribution to teaching, in particular toMedical Resi<strong>de</strong>ncy and teaching care integration was invaluable. He conceived andcoordinated the Vitória Project, a highly fruitful experiment to integrate the university withthe Zona da Mata region in Pernambuco that had an important social impact on the trainingof doctors, odontologists, nutritionists and social workers. His last study was about the“History of Filariasis in the City of Recife”, and was completed while he was takingvasodilators and suffering from angina pains. Like Virgil, he wished for <strong>de</strong>ath to take himby surpri<strong>se</strong> while he was hard at work.


26PROFESSOR AMAURY DOMINGUES COUTINHO1918-1995Autores: Waldir Pedrosa Amorim e Ana Lúcia CoutinhoPRÓLOGOPessoas existem, que pelo <strong>se</strong>u caráter e pelos <strong>se</strong>us atos, marcam positivamente o <strong>se</strong>u<strong>tempo</strong> e <strong>se</strong>m <strong>se</strong> notar, construtivamente esten<strong>de</strong>m e influem silentes sobre oscon<strong>tempo</strong>râneos e os pósteros. O poeta T. S. Eliot fala que um vaso chinês em um canto <strong>de</strong>uma sala, imóvel, assim mesmo incomoda e causa o movimento inerente ao <strong>se</strong>u existirpeculiar.Uma das características mais po<strong>de</strong>rosas da vida humana talvez <strong>se</strong>ja a da coerência eda honra<strong>de</strong>z. Existem pessoas cuja trajetória vai revelando ao longo dos anos o edifícioharmônico e <strong>se</strong>nsato do <strong>se</strong>u existir. Elas mantêm-<strong>se</strong> como ícones <strong>se</strong>mpre atuaisin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do <strong>tempo</strong> que passa e da morte que suprime. O professor Amaury Coutinho éuma <strong>de</strong>ssas pessoas. Assim o <strong>de</strong>monstram, como veremos adiante, alguns atributos <strong>de</strong> suavida, aqui compiladas das palavras <strong>de</strong> <strong>se</strong>us pares, <strong>de</strong> <strong>se</strong>us amigos, <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> <strong>se</strong>usalunos e colaboradores, <strong>de</strong> sua família e <strong>de</strong> sua filha Ana Lúcia Coutinho, médica,professora e pesquisadora como ele.Tive o prazer <strong>de</strong> cumprir o meu internato durante o curso médico na saudosaEnfermaria Santa Ana do Hospital Pedro II chefiada por ele. Posteriormente, já comoprofessor, pu<strong>de</strong> conhecê-lo melhor nas reuniões e congressos da então <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> Educação Médica (ABEM), tornada <strong>de</strong>pois <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Escolas Médicas.Era um homem progressista, atualizado e tinha uma atitu<strong>de</strong> científica não só diante dapesquisa acadêmica, como também uma atitu<strong>de</strong> dialética diante da vida e dos feitos quemarcaram sua trajetória singular. Tive a honra <strong>de</strong> <strong>se</strong>r proposto por ele, como membroaspirante da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> (SBH) no <strong>se</strong>u memorável congressobrasileiro em São Paulo. Acredito que certas pessoas nos influenciam como paradigmas <strong>de</strong>vida e <strong>de</strong> conduta, <strong>de</strong> modo a<strong>tempo</strong>ral. Pu<strong>de</strong> <strong>se</strong>r porta voz <strong>de</strong> uma homenagem que lhefizemos na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba durante o I Curso <strong>de</strong> Atualização em<strong>Hepatologia</strong>, que repre<strong>se</strong>ntava naquela universida<strong>de</strong> o embrião das ativida<strong>de</strong>s formais nahepatologia como especialida<strong>de</strong>. À época, <strong>de</strong>ixou-nos gravado em ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong>poimentos


27sobre a pesquisa, a educação médica e a hepatologia, juntamente com os professoresFernando Guerra Alvariz, Zilton Andra<strong>de</strong> e Vitorino Spinelli. A SBH da qual participocomo membro <strong>de</strong> sua diretoria, teve a feliz idéia, emanada <strong>de</strong> sua presi<strong>de</strong>nte, professoraEdna Strauss <strong>de</strong> reverenciar aqueles que <strong>de</strong> forma significativa foram os pioneiros dahepatologia brasileira. Amaury Coutinho foi um <strong>de</strong>stes, <strong>se</strong>ndo também um <strong>de</strong> <strong>se</strong>uspresi<strong>de</strong>ntes. Envai<strong>de</strong>cida por tê-lo como um dos pioneiros da hepatologia brasileira, aSBH neste trabalho compartilha com todos, um exemplo <strong>de</strong> vida a <strong>se</strong>r refletido.Amaury e Ana junho <strong>de</strong> 1945 Amaury - Ana - filhos 1981 Amaury - Ana -Netos 1994DADOS BIOGRÁFICOSO Professor Amaury Domingues Coutinho faleceu no Recife, on<strong>de</strong> <strong>se</strong>mpre viveu, a26 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1995, <strong>de</strong>z dias após completar 77 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Acabara <strong>de</strong> escrever no diado <strong>se</strong>u último internamento: “História da Filario<strong>se</strong> na Cida<strong>de</strong> do Recife”, <strong>se</strong>u <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>irotrabalho científico, publicado na Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Medicina Tropical após o <strong>se</strong>ufalecimento. Dedicou mais <strong>de</strong> 55 anos <strong>de</strong> sua vida ao exercício da clínica, do ensino, dapesquisa e à administração universitária.Descen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma família tradicional, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo per<strong>de</strong>u <strong>se</strong>u pai e foi educadopela mãe, D. Ester e por <strong>se</strong>us <strong>de</strong>dicados tios Ageleu e José Domingues. Ele e Maurício, <strong>se</strong>uirmão gêmeo, foram os caçulas <strong>de</strong> uma prole <strong>de</strong> cinco filhos.Casou com Anna, que <strong>se</strong>gundo os amigos, dava o toque <strong>de</strong> bom humor e alegria ao casal.Tiveram <strong>se</strong>is filhos: Luciano, economista e pesquisador, mestre em economia pelaUSP, Ph.D pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cornell, EUA, professor titular da UNICAMP.Ana Lúcia , médica e pesquisadora, mestre em medicina tropical e doutora em medicinapela UFPE, professora adjunta da UFPE.


28Sérgio, físico e pesquisador, mestre em física pela UNICAMP e doutor física pela UFPE,pós-doutorado no Imperial College of Science and Tecnology, Londres e Université <strong>de</strong>Paris Sud, França, professor adjunto da UFPE.Sonia, arquiteta, mestre em planejamento e gestão organizacional da UPE e dauniversida<strong>de</strong> autônoma <strong>de</strong> Madrid, <strong>se</strong>cretária <strong>de</strong> planejamento, transporte e meio ambiente<strong>de</strong> Olinda, PE.Rejane, arte-educadora e pesquisadora, mestre e doutora em artes, pela USP, professoraassistente na UNESP.Solange, <strong>de</strong>signer e pesquisadora, mestre pelo London College of Printing e Ph.D pelaUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Reading, Inglaterra, professora adjunta da UFPE.Como <strong>se</strong> vê, não interferiu na escolha da profissional dos <strong>se</strong>us filhos, mas como legadoplantou neles o gosto pela Universida<strong>de</strong> e pelo ensino e pesquisa. Dos <strong>se</strong>is filhos, cinco sãoprofessores universitários com mestrado e doutorado, e a única que não é professora fezmestrado e herdou a capacida<strong>de</strong> organizacional, política e <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança.TRAJETÓRIADes<strong>de</strong> o Ginásio do Recife, <strong>se</strong>mpre foi excelente aluno.Completou o curso médico na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do Recifeaos 21 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Aluno brilhante, primeiro lugar entre osque <strong>se</strong> diplomaram em 1939, continuou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então ligado àFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, <strong>se</strong>mpre estudando, pesquisando eensinando. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formado foiassistente efetivo da Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>Farmacologia e em <strong>se</strong>guida daFisiologia, ao mesmo <strong>tempo</strong> colaborava na 1ª Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ClínicaMédica, a princípio como médico estagiário e <strong>de</strong>pois comoassistente voluntário. A partir <strong>de</strong> 1949 foi sucessivamenteauxiliar técnico e professor assistente da mesma ca<strong>de</strong>ira, tendono ano <strong>se</strong>guinte <strong>se</strong> submetido a concurso para professor livredocente.Durante todo es<strong>se</strong> <strong>tempo</strong> <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> também à práticaprofissional privada e previ<strong>de</strong>nciária, granjeando a justa A Cátedra


29reputação <strong>de</strong> clínico <strong>de</strong> notável competência e elevado <strong>se</strong>ntido ético e humano. Sempre<strong>se</strong>quioso <strong>de</strong> novos e mais vastos conhecimentos, realizou vários estágios e cursos <strong>de</strong>aperfeiçoamento no Brasil e no exterior, chegando a permanecer <strong>de</strong>z me<strong>se</strong>s nos EstadosUnidos, com uma bolsa <strong>de</strong> Kellogg´s Foundation, estagiando em <strong>se</strong>rviços altamentequalificados <strong>de</strong> Gastroenterologia, Alergia e Hematologia, com a obtenção <strong>de</strong> diplomas <strong>de</strong>pós-doutoramento. Em 1960, com quarenta e dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, submeteu-<strong>se</strong> a concursopara professor catedrático <strong>de</strong> clínica médica (1ª Ca<strong>de</strong>ira), <strong>se</strong>ndo classificado em primeirolugar. Seu primeiro empenho como professor foi a reorganização da cátedra, tanto do ponto<strong>de</strong> vista das instalações físicas e equipamentos como da ativida<strong>de</strong> médica e docente, para oque contou com o valioso apoio <strong>de</strong> um púgilo <strong>de</strong> brilhantes colaboradores.FACULDADE DE MEDICINA, HOSPITALDAS CLÍNICAS, PROGRAMA DE SAÚDECOMUNITÁRIA E SUA ATUAÇÃONo âmbito da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, eespecialmente do Hospital das Clínicas, sua atuação<strong>se</strong>mpre foi no <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> renovar e aperfeiçoar asorganizações médicas e docentes e os <strong>se</strong>us modos <strong>de</strong>funcionamento.Em 1959, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ob<strong>se</strong>rvar por <strong>de</strong>legação do Con<strong>se</strong>lho Administrativo da referidaFaculda<strong>de</strong> os <strong>se</strong>rviços <strong>de</strong> residência médica do Hospital das Clínicas <strong>de</strong> São Paulo, doHospital do IPASE do Rio <strong>de</strong> Janeiro e do Hospital das Clínicas da Universida<strong>de</strong> da Bahia,organizou o Programa <strong>de</strong> Internato e Residência, permanecendo como <strong>se</strong>u Supervisordurante <strong>de</strong>z anos. Foi também Chefe do Serviço <strong>de</strong> Residência do Hospital das Clínicas eCoor<strong>de</strong>nador das suas Reuniões Médico-Científicas <strong>se</strong>manais <strong>de</strong> 1959 a 1964.Participou ainda <strong>de</strong> várias outras Comissões ligadas à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina ou aoCentro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>, e em todas essas funções sua preocupação constante <strong>se</strong>mprefoi a <strong>de</strong> aprimorar e mo<strong>de</strong>rnizar o aprendizado da Medicina, tanto em nível <strong>de</strong> graduação,como <strong>de</strong> pós-graduação, especialmente sob a forma <strong>de</strong> Residência. Sob es<strong>se</strong> aspecto ésignificativo o <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pelos temas <strong>de</strong> Educação Médica, como nos atestam <strong>se</strong>usvários trabalhos e conferências <strong>de</strong>dicados aos mesmos, e sua assídua participação nos


30Congressos da Associação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Educação Médica. Uma <strong>de</strong> suas contribuiçõesinovadoras da maior significação foi <strong>se</strong>m dúvida o Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Comunitária daUniversida<strong>de</strong> (Projeto Vitória), do qual foi o Coor<strong>de</strong>nador Geral <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação emjulho <strong>de</strong> 1975.O PROFESSORComo Professor, sua ativida<strong>de</strong> <strong>se</strong>mpre extrapolou os limitesda própria cátedra, disciplina, <strong>de</strong>partamento ou centro. Além<strong>de</strong> cursos regulares <strong>de</strong> Clínica Médica na Escola <strong>de</strong>Enfermagem, e <strong>de</strong> dietoterapia no Instituto <strong>de</strong> Fisiologia eNutrição, ministrou uma série <strong>de</strong> cursos extracurriculares,principalmente sobre hematologia e hepatologia. Colaborou em vários outros cursos,clínicos ou cirúrgicos. Participou ainda <strong>de</strong> inúmeras comissões examinadoras <strong>de</strong> concursos,tanto para professor catedrático ou titular como para livre-docente, assistente <strong>de</strong> ensino,doutoramento e mestrado.No âmbito central da universida<strong>de</strong> teve ocasião <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> vários colegiados,como o Con<strong>se</strong>lho Universitário, Con<strong>se</strong>lho <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa, Câmara <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong>Graduação, Comissão Especial <strong>de</strong> Organização <strong>de</strong> Concursos <strong>de</strong> Pessoal do MagistérioSuperior.ATUALIZAÇÃO – INVESTIGAÇÃOAtivida<strong>de</strong>s Universitárias no Brasil e ExteriorTrabalhou em várias universida<strong>de</strong>s americanas: Cornell Nova York, Michigan (AnnArbor), New England Center Hospital (Boston), on<strong>de</strong> foi admitido na fechada e dignaAmerican Medical Association.Nestes estágios, fundamentou <strong>se</strong>us antigos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> professor e pesquisador econtribuiu com os primeiros passos para a criação da Residência Médica na Universida<strong>de</strong>do Recife, uma <strong>de</strong> suas gran<strong>de</strong>s realizações.Em 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1960, após brilhante concurso, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a te<strong>se</strong> “AHipertensão Porta na Síndrome Hepatoesplênica Esquistossomótica:. Estudo Clínico eHemodinâmico”, conquistou a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da UFPE., substituindo oProfessor Fernando Simões Barbosa.


31O pesquisador: inovador, amante do conhecimento e da suatransmissão.As reuniões clínicas das <strong>se</strong>xtas-feiras eram <strong>de</strong> nível excepcional,geralmente com casos da enfermeira e comentadores do próprio<strong>se</strong>rviço ou convidados especiais.O Professor Amaury Coutinho foi pioneiro e incentivador <strong>de</strong>avanços tecnológicos, tanto no âmbito clínico como laboratorial.Foi o responsável pela montagem <strong>de</strong> várias técnicas emlaboratório <strong>de</strong> bioquímica e <strong>de</strong> radioisótopos. Po<strong>de</strong>mos afirmar,<strong>se</strong>m medo <strong>de</strong> exageros, que houve duas etapas no ensino da Clínica Médica em Recifeantes e <strong>de</strong>pois do Professor Amaury Coutinho. Lutou para estabelecer vínculos dauniversida<strong>de</strong> com organismos internacionais, a OMS, a OPAS, as Fundações Macy eKellogg e recebeu inúmeros visitantes ilustres, <strong>se</strong>mpre pleiteando melhorias para o ensino ea pesquisaAlém <strong>de</strong> estudioso constante e <strong>de</strong> professor atuante e renovador foi também uminvestigador incansável e fecundo. Disto dá prova sua bagagem <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong>trabalhos e pesquisas, das quais a gran<strong>de</strong> maioria foi publicada em periódico<strong>se</strong>specializados nacionais e estrangeiros ouem livros coletivos e anais <strong>de</strong> congressos.Através dos mesmos, trouxe contribuiçõesoriginais e valiosas nos campos daHematologia, da <strong>Hepatologia</strong> eespecialmente da Esquistossomo<strong>se</strong>, à qual<strong>de</strong>dicou <strong>se</strong>s<strong>se</strong>nta e nove trabalhos.Tudo isto <strong>se</strong>m mencionar sua extraordináriaativida<strong>de</strong> no plano da atualização edivulgação, repre<strong>se</strong>ntada por muitas <strong>de</strong>zenasBoston –1955 Fundação<strong>de</strong> palestras e conferências pronunciadas em


32universida<strong>de</strong>s, hospitais e socieda<strong>de</strong>s médicas e os cento e tantos relatórios e comunicaçõesapre<strong>se</strong>ntados em simpósios, <strong>se</strong>minários, mesas redondas, painéis e grupos <strong>de</strong> trabalho emocasiões diversas no Brasil e no estrangeiro.Sua participação nas reuniões e congressos <strong>se</strong>mpre foi bastante intensa, tendocomparecido a inúmeros congressos internacionais e nacionais, <strong>de</strong>dicados principalmente àMedicina Tropical, à Gastroenterologia, à <strong>Hepatologia</strong> e a Educação Medica.Nas suas viagens ao estrangeiro interessava-<strong>se</strong> também em visitar centros médicos ehospitais <strong>de</strong> ensino das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s sul-americanas, norte-americanas e européias.Com toda essa experiência <strong>de</strong> cientista objetivo e <strong>de</strong> professor i<strong>de</strong>alista, que tantoconhece a organização e as técnicas <strong>de</strong> ensino dos gran<strong>de</strong>s centros, com as limitações eemperros da estrutura universitária, em agosto <strong>de</strong> 1980 tomou pos<strong>se</strong> como diretor do Centro<strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>. Nesta ocasião foi saudado pelo Professor Galdino Loreto em nomedo Con<strong>se</strong>lho Departamental que afirmou: “V. Excia. é <strong>se</strong>m dúvida, por todos os títulos, apessoa indicada para enfrentar neste momento o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio que é a Diretoria do Centro<strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>.”O Homem sábio, austero, e afeito aos <strong>de</strong>safiosNo <strong>se</strong>u discurso <strong>de</strong> pos<strong>se</strong> como diretor do Centro <strong>de</strong> Ciências daSaú<strong>de</strong> da UFPE revelou <strong>de</strong> viva voz quem era e como concebia aimportância do <strong>se</strong>u trabalho educacional e social:“Nunca almejei qualquer posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque e não pleiteei, emnenhum momento, o pre<strong>se</strong>nte cargo. Já <strong>se</strong> foi o <strong>tempo</strong> em que ainvestidura em um cargo <strong>de</strong>sta natureza era privilégio ehonraria”.“Estou perfeitamente consciente da difícil tarefa que tenho pela frente, face aos<strong>tempo</strong>s atuais <strong>de</strong> grave cri<strong>se</strong> da universida<strong>de</strong> brasileira em geral e <strong>de</strong> nossa universida<strong>de</strong>em particular e esta impressão é compartilhada por amigos e colegas, a ponto <strong>de</strong> alguns<strong>de</strong>les, mais francos, me terem dito que não me parabenizavam pela investidura no cargoporém estavam solidários comigo na provação do pesado encargo”.“É <strong>de</strong> minha formação aceitar, <strong>se</strong>m consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pessoal e <strong>se</strong>mcompensações outras, encargos e responsabilida<strong>de</strong>s que tem surgido freqüentemente no


33<strong>de</strong>curso <strong>de</strong> minha vida profissional, <strong>se</strong> bem que alguns <strong>de</strong>les tenham sido realmente,inovadores e gratificantes”.“Como elemento, sobretudo, congregador, coor<strong>de</strong>nador, catalisador e estimulador,a posição <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong> Centro po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r ainda consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> influência”.“Para o bom <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho do trabalho <strong>de</strong> direção do Centro, é necessário <strong>se</strong>nso <strong>de</strong>equilíbrio, estudo cuidadoso dos problemas, i<strong>se</strong>nção <strong>de</strong> propósitos, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>iniciativa e <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> fazer as coisas necessárias que, espero, não mefaltarão. Por outro lado, procurarei respeitar as atribuições e competências dos <strong>de</strong>mais<strong>se</strong>tores, em todos os níveis, porém não é <strong>de</strong> minha índole ficar omisso naquilo que mecompete ou <strong>de</strong>vo fazer, <strong>se</strong>ja no plano administrativo e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, <strong>se</strong>ja no planoparticipativo dos colegiados”.O cidadão consciente e entusiasta“Com ba<strong>se</strong>, sobretudo, em recentedocumento (nº 04) da Comissão <strong>de</strong> EnsinoMédico do Ministério da Educação e Cultura,<strong>de</strong>stacarei, entre os diversos fatorescondicionantes da cri<strong>se</strong> nacional dos hospitais <strong>de</strong>ensino, os três <strong>se</strong>guintes: a) ausência <strong>de</strong> uma<strong>de</strong>finição política do MEC em relação aoshospitais <strong>de</strong> ensino; b) Ausência <strong>de</strong> planejamentoInauguração da Enfermaria Sta. Annaa<strong>de</strong>quado aliado a uma administração anacrônica altamente ineficaz; c) insuficiência <strong>de</strong>recursos financeiros”.“Não obstante <strong>se</strong>r crítico da realida<strong>de</strong> universitária e educacional em nosso País,não sou, felizmente dado a <strong>de</strong>rrotismos, mas, ao contrário, estou geralmente imbuído <strong>de</strong>uma do<strong>se</strong> necessária <strong>de</strong> entusiasmo, <strong>se</strong>m chegar, contudo, ao otimismo radical <strong>de</strong> que nosfala, em recente entrevista, o Professor Darcy Ribeiro. É essa pequena chama, por vezesmenosprezada por alguns colegas, que me anima no trabalho cotidiano e fastidioso e queme leva a ver <strong>se</strong>mpre uma luz ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> esperança no final do túnel, como nos ensina, emforma grandiosa, o incomparável D. Hél<strong>de</strong>r Câmara.”


34Os propósitos do educador e dirigente institucional <strong>de</strong> visão“Instituição do maior número possível <strong>de</strong> pessoaldocente em <strong>tempo</strong> integral no hospital, comremuneração condigna. Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>ntido, <strong>de</strong>veria,<strong>se</strong>r encontrada uma solução, adotada já emalguns paí<strong>se</strong>s, para dupla remuneração, porinstituições diferentes (MEC e MPAS) dacategoria <strong>de</strong> Docentes Clínicos, pela sua duplatarefa <strong>de</strong> ensino e prestação <strong>de</strong> <strong>se</strong>rviços.”Visita do Professor Jaques“In<strong>se</strong>rção do Hospital Universitário em umsistema assistencial <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> regionalizado e hierarquizado no qual ele funcionaria,sobretudo, como hospital <strong>de</strong> referência e <strong>de</strong> nível terciário <strong>de</strong>ntro do sistema que contariacom outras unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> nível <strong>se</strong>cundário e primário, da esfera previ<strong>de</strong>nciária ouestadual <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.“A meta do consórcio entre Hospital Universitário e outras unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>rprioritariamente o atendimento das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> e a formaçãoa<strong>de</strong>quada e ampla <strong>de</strong> recursos humanos para o <strong>se</strong>tor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.“Em relação ao Projeto Vitória, do qual fui, até hoje, <strong>se</strong>u Coor<strong>de</strong>nador Geral, vem<strong>se</strong> constituindo, há cerca <strong>de</strong> cinco anos, um expressivo campo experimental <strong>de</strong> umPrograma <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Comunitária e <strong>de</strong> Integração Docente-assistencial, já <strong>de</strong> repercussãonacional. Ele vem <strong>se</strong>ndo mantido graças a importante convênio estabelecido entre a UFPEe a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Estado, com apoio do Ministérioda Educação e do Ministério da Saú<strong>de</strong>, além da FundaçãoKellogg. Para mim, foi uma notável e gratificanteexperiência, em companhia <strong>de</strong> um grupo pioneiro e i<strong>de</strong>alista,multidisciplinar, constituído <strong>de</strong> alguns poucos médicos,enfermeiros, assistentes sociais, odontólogos, nutricionistas,fisioterapeutas e outros mais, aos quais, aproveito aoportunida<strong>de</strong> para agra<strong>de</strong>cer a valiosa cooperação. Estou <strong>se</strong>guro que, continuando com omesmo grupo em sua Coor<strong>de</strong>nação, o Projeto Vitória alcançará novos êxitos e progressosno difícil trabalho a que <strong>se</strong> propôs”.


35Amaury Coutinho por ele mesmo“Pela minha já longa vivência universitária, com participação ativa em qua<strong>se</strong>todos os colegiados e em funções <strong>de</strong> comando ou <strong>de</strong> as<strong>se</strong>ssoria, completada agora pelaminha curta e recente experiência como diretor <strong>tempo</strong>rário <strong>de</strong>ste Centro reconhecendo agran<strong>de</strong> importância social da medicina e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar o subsistema utilizador<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, repre<strong>se</strong>ntando, sobretudo, pelo INAMPS e a Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> doEstado, procurarei fortalecer os programas docente-assistenciais na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,notadamente o Projeto Vitória e o Projeto Várzea”.“Tendo sido o primeiro coor<strong>de</strong>nador do programa <strong>de</strong> internato e residência <strong>de</strong>nossa universida<strong>de</strong>, mantendo o mesmo interes<strong>se</strong> que antes por esta insubstituível forma <strong>de</strong>treinamento <strong>de</strong> graduação e pós-graduação na área médica, prometendo todo o meu apoiopara as iniciativas que vi<strong>se</strong>m o <strong>se</strong>u constante aperfeiçoamento”.“Atuando também como pesquisador clínico, estarei pronto a estimular os planos<strong>de</strong> pesquisa na Área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, procurando, na medida do possível, o apoio do CNPqatravés <strong>de</strong> sua Agência Regional recém-inaugurada e <strong>de</strong> outros órgão financiadores”.“Como professor, <strong>se</strong>cundarei os esforços daqueles envolvidos em cursos <strong>de</strong> pósgraduação,<strong>se</strong>ja do tipo <strong>de</strong> mestrado e doutorado, <strong>se</strong>ja os <strong>de</strong> especialização,aperfeiçoamento ou atualização, com vistas à educação continuada dos graduados”.A apo<strong>se</strong>ntadoriaApo<strong>se</strong>ntado da UFPE compulsoriamente, o professorAmaury Coutinho continuou com suas ativida<strong>de</strong>scomo pesquisador no Centro <strong>de</strong> Pesquisas AggeuMagalhães. À época foi saudado pela professoraGilda Kelner com uma bela e carinhosa peça, cujotrecho transcrevemos:“Dispensar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um professor, em pleno domínio <strong>de</strong> suas gran<strong>de</strong>scapacida<strong>de</strong>s e com uma experiência inestimável, acumulada durante longo período <strong>de</strong>trabalho e <strong>de</strong> estudo”.


36“A luta pelo po<strong>de</strong>r passa também pela luta entre as ida<strong>de</strong>s. Dizem que os velhos dãobrinquedos à juventu<strong>de</strong>, para mantê-la afastada do po<strong>de</strong>r e a juventu<strong>de</strong> dá medalhas aosmais velhos para fazê-la ce<strong>de</strong>r o <strong>se</strong>u lugar. A con<strong>de</strong>coração abrange, ao mesmo <strong>tempo</strong>, umahomenagem e um expurgo, que fica disfarçado, dissimulado, não dito.”“Esta homenagem repre<strong>se</strong>nta uma tentativa <strong>de</strong> dar e conhecer aos mais jovens atrajetória <strong>de</strong> uma das mais brilhantes carreiras da Medicina pernambucana. É o oposto, doexpurgo, é a inclusão <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong> sua história entre nós”.AMAURY COUTINHO ATRAVÉS DE ALGUNS DOS QUECOMPARTILHARAM A SUA CONVIVÊNCIA(ENXERTOS DE DEPOIMENTOS E HOMENAGENS) Professora Gilda KelnerA aparência introspectiva, pouco risonho um tanto cerimonioso no trato, avesso aoelogio fácil e resistente a acordos e conchavos, tão freqüentes em nossa socieda<strong>de</strong> e emnossa época, dão conta <strong>de</strong> um Amaury Coutinho pouco real. Ao contrário, no dia-a-dia ,freqüentemente trancado em <strong>se</strong>u gabinete <strong>de</strong> trabalho, o Professor Amaury Coutinho é umpreocupado constante por todos que o cercam e por tudo que lhe diz respeito, em relaçãoaos colegas, alunos e pacientes.A sua introspecção é o estado <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> sua intelectualida<strong>de</strong>, voltada para o<strong>se</strong>studos, pesquisas, elaboração <strong>de</strong> planos, ajustamentos <strong>de</strong> programas e regimentos<strong>de</strong>dicados à vida da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. Pouquíssimos sabem da contribuição àestruturação <strong>de</strong> nossa escola, elaborada ao longo <strong>de</strong> muitos anos, pelo Professor AmauryCoutinhoProfessor Rostand ParaísoAmaury Coutinho era, já naquela época, um clínico geral <strong>de</strong> reconhecido saber umhomem que <strong>se</strong> distinguiu não só pela sua cultura médica e humanística, mas pela suaabnegação e pela pertinácia que <strong>se</strong>mpre foram suas in<strong>se</strong>paráveis qualida<strong>de</strong>s. Era tambémum pesquisador nato, firmando-<strong>se</strong> através <strong>de</strong> <strong>se</strong>us estudos e pesquisas, como a maiorautorida<strong>de</strong> brasileira em esquistossomo<strong>se</strong>, em todas suas formas, intestinal, hepatoesplênicae pulmonar. Sua te<strong>se</strong> sobre aquela doença, assunto supostamente esgotado, surpreen<strong>de</strong>u atodos nós pelos caminhos e perspectivas que abria aos patologistas e clínicos e teve, pelospesquisadores <strong>de</strong> todo o mundo, o <strong>se</strong>u valor <strong>de</strong>vidamente reconhecido.Professor Salomão KelnerDe todas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r reiterada à da pesquisa, quando ele mais <strong>se</strong> realizava,con<strong>se</strong>guindo sua plenitu<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> sua apo<strong>se</strong>ntadoria do Centro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>,em 1988, e passou a integrar o Centro Aggeu Magalhães, como bolsista especial do CNPq.


37Escrevia <strong>de</strong> preferência <strong>se</strong>us trabalhos na sua granja, em Al<strong>de</strong>ia. A granja Santa Anna,eratambém <strong>se</strong>u refúgio, muito arborizada, gran<strong>de</strong> área ver<strong>de</strong>, piscina, enorme chuveiro, climaadorável e, silêncio, só interrompido pelo canto dos passarinhos ou pela pre<strong>se</strong>nça dos netos.Fez <strong>se</strong>guidoresGran<strong>de</strong>s nomes da Medicina pernambucanatrabalharam sob sua supervisão: Luiz Ignácio <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> Lima, Santos Moura, Alci<strong>de</strong>s Temporal,Cyro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Lima, Ruy Pereira, Igeval Paes,Victorino Spinelli, Guilherme Robalinho, OvídioMontenegro, Rostand Paraíso, Paulo Meireles emuitos outros. Também muito contribuiu para aformação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s clínicos, que trabalham fora doâmbito da Universida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>m <strong>se</strong>r citados, entreoutros, Francisco Trinda<strong>de</strong> Barreto, Fre<strong>de</strong>ricoWan<strong>de</strong>rley, Luiz Fernando Maciel, Oscar CoutinhoNetto, E<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oliveira, Ney Cavalcanti, Severino Lins, Aluísio e Meirone Costa e Silva,Reginaldo Albuquerque. Com es<strong>se</strong> pessoal gabaritado, sob sua supervisão, as reuniõesclínicas <strong>se</strong>manais <strong>se</strong> <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolviam em alto nível, com a pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> toda equipe, resi<strong>de</strong>nte<strong>se</strong> estagiários, além <strong>de</strong> médicos interessados. Professor Naftale Kaltz“Já no fim da década <strong>de</strong> 40 começavam as suas importantes contribuições na área <strong>de</strong>esquistossomo<strong>se</strong>, tendo iniciado com estudo para o conhecimento dos aspectos clínicos ehemodinâmicos da hipertensão do sistema portal na síndrome hepatoesplênicaesquistossomótica...” “Muitos outros trabalhos científicos <strong>se</strong>guiram-<strong>se</strong> no mesmo assunto,tendo posteriormente estudado também a terapêutica da esquistossomo<strong>se</strong> nas formasgraves. Todas as recentes drogas quimioterápicas, tais como, niridazole, hycanthone,oxamniquine e por fim, praziquantel foram avaliadas pelo Professor Amaury.” “Com visãomo<strong>de</strong>rna e <strong>se</strong>mpre na frente no campo on<strong>de</strong> estudava, mais recentemente incorporou oultra-som como equipamento para melhor conhecer a avaliação das formas graves após aterapêutica específica na clínica.” “Estes estudos, em parceria com sua filha, tambémmédica, Ana Lúcia, davam-lhe gran<strong>de</strong> prazer e emoção.”“Pai e marido exemplar, contou também com a colaboração importante <strong>de</strong> sua esposaAnna, <strong>se</strong>ja pela percepção aguda <strong>se</strong>ja pela crítica bem humorada que são características<strong>de</strong>sta mulher que durante cinco décadas acompanhou o Professor Amaury.”“O Professor Amaury, bom amigo e companheiro, <strong>de</strong> fino humor, muitas vezes acanhado,<strong>se</strong>mpre discreto, muito ob<strong>se</strong>rvador, entre todos aqueles que o conheceram e que <strong>se</strong>mpre oadmiramos.” “Bendita <strong>se</strong>ja sua memória.” Professor José Rodrigues Coura“... Luísa Deane escreveu em um dos <strong>se</strong>us <strong>de</strong>vaneios a <strong>se</strong>guinte estrofe do <strong>se</strong>u verso ÚltimaVoz em Pedra e Nuvem”.“Quando eu morrer, recolhe por favor, os meus sonhos pelos cantos, e reconstrói meucorpo com infinita paciência.” Assim era Amaury Coutinho, construía e reconstruía com


38infinita paciência e gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação os <strong>se</strong>us sonhos, trabalhando e trabalhando novamenteantes que os pássaros cantas<strong>se</strong>m para aqueles que vêem renascer a própria luz. Professor Aluízio PrataUma vida <strong>de</strong>dicada à medicinaPertencia àqueles cujo esforço no passado tornava o pre<strong>se</strong>nte possível.Sempre procurou manter-<strong>se</strong> atualizado, adotando o lema <strong>de</strong> um importante congressointernacional sobre educação médica, que ele mesmo citava, Medicine: a life-long study.Tranqüilo, cordial e correto, transmitia a impressão <strong>de</strong> <strong>se</strong>r homem em paz consigo mesmo.Honesto e justo, embora <strong>de</strong> temperamento re<strong>se</strong>rvado, sabia cobrar a mesma conduta aos<strong>se</strong>us amigos. Poucos clínicos o igualavam na equanimida<strong>de</strong>, o dom tão festejado porWilliam Osler. Tinha uma vida austera e <strong>se</strong>m <strong>de</strong>slizes. Mesmos nos momentos difíceis<strong>se</strong>mpre procurou manter uma linha <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> opiniões. Exerceucom dignida<strong>de</strong> e bom <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho todas as funções para as quais foi indicado.Logo <strong>se</strong> tornou conhecido fora <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> e do Brasil. Inicialmente, por <strong>se</strong>us trabalhossobre eosinofilia tropical. Depois, pelas suas melhores contribuições científicas, referentesà esquistossomo<strong>se</strong>, principalmente em relação ao comprometimento hepático. Ultimamentevinha <strong>se</strong> <strong>de</strong>dicando, novamente, ao estudo da filario<strong>se</strong>. Seu último trabalho foi sobre a“História da Filario<strong>se</strong> na cida<strong>de</strong> do Recife”, terminado enquanto tomava vasodilatadores e<strong>se</strong>ntia dores anginosas. Como Virgílio, quis que a morte o surpreen<strong>de</strong>s<strong>se</strong> em pleno trabalho. Professor Marcionilo <strong>de</strong> Barros Lins (ex-reitor da UFPE)O amor a PernambucoAmaury Coutinho amava Pernambuco como poucos. A história da medicina terá amanhãmuito que exaltar <strong>de</strong> sua obra <strong>de</strong> pesquisador médico e homem <strong>de</strong> visão social. Po<strong>de</strong>mosdizer que Amaury Coutinho <strong>de</strong>dicou sua vida ao trabalho. Para ele, era difícil <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>comparecer à enfermaria, ao laboratório, reuniões, tudo que tives<strong>se</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suasativida<strong>de</strong>s na busca <strong>de</strong> novos saberes.CÂMARA MUNICIPAL DE RECIFE Paulo Dantas, vereador.O homem solidário e <strong>de</strong>mocrataMerecida homenagem ao professor que contribuiu com <strong>de</strong>staque para a formação <strong>de</strong>gerações <strong>de</strong> médicos em Pernambuco. Mais do que professor, dirigente universitário queem muitas oportunida<strong>de</strong>s, exercendo funções proeminentes, colocou o <strong>se</strong>u saber,competência e <strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> a <strong>se</strong>rviço da renovação e do fortalecimento da UFPE. E queper<strong>se</strong>guiu com <strong>de</strong>terminação a idéia-força da integração docente-assistencial como motorda formação <strong>de</strong> uma consciência crítica na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>alizando e dirigindo o “ProjetoVitória” hoje extinto, uma rica experiência <strong>de</strong> integração da Universida<strong>de</strong> com o acomunida<strong>de</strong> da Zona da Mata <strong>de</strong> Pernambuco, propiciadora <strong>de</strong> uma marca social relevantena formação <strong>de</strong> médicos, odontólogos, nutricionistas, assistentes sociais. O Projeto Vitóriatalvez tenha sido uma das mais expressivas realizações do professor Amaury Coutinho emtoda a sua obra acadêmica. Elemento dinâmico e consistente no <strong>se</strong>ntido <strong>de</strong> tornar ainstituição universitária permeável às necessida<strong>de</strong>s e às aspirações do povo; e <strong>de</strong> assinalar agraduação, a residência médica e a especialização <strong>de</strong> profissionais do <strong>se</strong>tor saú<strong>de</strong> pelo


39vínculo com a realida<strong>de</strong> social. O esclarecimento dos fatores multicausais das doenças erauma referência fundamental e criadora.Certamente há múltiplos aspectos através dos quais todos os que conviveram com oprofessor Amaury Coutinho haverão <strong>de</strong> manter viva na memória a sua contribuiçãoprofissional e acadêmica. Menciono mais um: o da sua conduta <strong>se</strong>rena e aliada do<strong>se</strong>studantes que, na década <strong>de</strong> 60, ousaram <strong>se</strong> levantar contra a ditadura militar, pelaliberda<strong>de</strong> para o povo; e em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma Universida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong>mocrática e <strong>de</strong> boaqualida<strong>de</strong>. Naqueles <strong>tempo</strong>s difíceis, na Congregação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, no <strong>se</strong>uCon<strong>se</strong>lho Técnico ou em tantas instâncias formais ou informais existentes, o movimentoestudantil <strong>se</strong>mpre contou com a solidarieda<strong>de</strong> do professor Amaury Coutinho.Senhor Presi<strong>de</strong>nte, Senhores Vereadores: Amaury Coutinho, médico, professor, <strong>de</strong>mocrata,estará <strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte na vida intelectual e acadêmica <strong>de</strong> Pernambuco. Professor Victorino SpinelliCOMEMORAÇÃO DOS 10 ANOS DE PESQUISA EM FILARIA NO CENTRO DEPESQUISAS AGGEU MAGALHÃESNesta data o Professor Victorino Spinelli <strong>de</strong>dicou ao professor Amaury Coutinho este<strong>de</strong>scontraído poema:Além da inigualável D. AnaViveu duas paixões sériasUma <strong>de</strong>las schistosomaA outra wuchereriaWuchereria teve a honraDe tirar-lhe a virginda<strong>de</strong>Mas, casou com SchistosomaAo entrar na Universida<strong>de</strong>Casamento, como poucosRegado a intensa paixãoCem “filhos” e um gran<strong>de</strong> exemploPara a próximo geraçãoQuando, pela compulsóriaO casamento acabouRepetiu-<strong>se</strong> a velha estariaVoltou ao primeiro amorE a ele <strong>se</strong> <strong>de</strong>dicouE com tal intensida<strong>de</strong>Que todo o mundo <strong>se</strong> espantouTanta energia, naquela ida<strong>de</strong>Parecia correr contra o <strong>tempo</strong>


40Por saber limitada a vidaProcurando dar complementoA uma obra interrompida16 “filhos” em 6 anosParecia como no inícioDois, “nascidos” após sua morteComo ele e <strong>se</strong>u irmão MaurícioEste um exemplo <strong>de</strong> vidaQue a todos impressionaMas, quem foi a querida?Wuchereria ou Schistosoma?CONDOLÊNCIAS E HOMENAGENS PÓSTUMASOrganização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Dr. K.E. MottDear Dra. Coutinho,It is with great sadness that I have learned of the tragic <strong>de</strong>ath of Professor AmauryCoutinho. He was a personal friend since my days in Bahia. We will miss his lea<strong>de</strong>rshipand interest in the training of future investigators in tropical medicine in Brazil. Plea<strong>se</strong>convey my condolecences to his family, friends and to your staff.Yours sincerely, Dr. K.E. Mott(Chief, Shistosomiasis and other tremato<strong>de</strong> Infections-Division of Control of TropicalDi<strong>se</strong>a<strong>se</strong>s)Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>Dr. C. P. RamachandranCondolence message for Mrs. Amaury CoutinhoDear Dra. Coutinho,It is with very great sadness that we have learned of the passing away of professor AmauryD. Coutinho of your institute. Plea<strong>se</strong> convey our <strong>de</strong>epest sympathies to Mrs. Coutinho andfamily for this profound loss. Professor Coutinho was a man of truth, kindness andconviction; a world renowned clinical parasitologist that the scientific community will missfor generations to come. Our thoughts are with all of you at this hour of bereavement.Personal regards.Yours sincerely, Dr. C.P. Ramachandran.


41National Institutes of HealthThomas B. NutmanDear Mrs.CoutinhoI was terribly sad<strong>de</strong>ned to hear of your husband’s <strong>de</strong>ath. It certainly came as a shock to me,and I know how <strong>de</strong>vastated you must be. While I only met him the one time I was inRecife. I will never forget his humanity, his hospitality, and his concern for tho<strong>se</strong> aroundhim. I will also always remember the day he, you and I spent together touring Recife andOlinda. Plea<strong>se</strong> extend my sympathies to the rest of your family and know that he will bemis<strong>se</strong>d greatly by all of his admires here in the United States.Sincerely yours, Thomas B. Nutman.CÂMARA MUNICIPAL DO JABOATÃO DOS GUARARAPESVereador: Ulis<strong>se</strong>s Tenório <strong>de</strong> Albuquerque Neto.Senhora Presi<strong>de</strong>nta:Com os nossos respeitosos cumprimentos, vimos comunicar a V. Sa., e os <strong>de</strong>maisfamiliares, a aprovação do REQUERIMENTO Nº 365/95, <strong>de</strong> autoria do Exmo. Sr.Vereador Dr. ULISSES TENORIO DE ALBUQUERQUE NETO, fazendo consignar nosAnais <strong>de</strong>ste Po<strong>de</strong>r Legislativo VOTO DE PROFUNDO PESAR, e um minuto <strong>de</strong> silêncio,pelo falecimento, no dia 26 <strong>de</strong> Abril último, do ilustre e querido genitor <strong>de</strong> V. As. , oProfessor Amaury Coutinho, componente do Corpo Docente da UFPE. Sem outro assunto,no momento, aproveitamos o en<strong>se</strong>jo para externar os elevados protestos <strong>de</strong> estima e apreço.Fraternalmente.FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCOAos vinte e <strong>se</strong>te do mês <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> mil novecentos e noventa e cinco, às <strong>de</strong>zes<strong>se</strong>te horas, nasala Gilberto Freyre do Con<strong>se</strong>lho Diretor, <strong>se</strong><strong>de</strong> da Fundação Joaquim Nabuco, à avenida 17<strong>de</strong> Agosto 2187, Casa Forte, Recife, Pernambuco, realizou-<strong>se</strong> a 180ª Reunião Ordinária doCon<strong>se</strong>lho da FUNDAJ, com a pre<strong>se</strong>nça dos <strong>se</strong>guintes Con<strong>se</strong>lheiros: Dr. Nilzardo CarneiroLeão, Presi<strong>de</strong>nte, em exercício, do Con<strong>se</strong>lho Diretor; Dr. Arthur Reynaldo Maia Alves;Dra. Maria Berna<strong>de</strong>te Neves Pedrosa; Dr. Marcionilo <strong>de</strong> Barros Lins; Dr. Mário Lacerda <strong>de</strong>Melo; Dr. Sílvio Campos Paes Barreto; Dr. Josué Souto Maior Mussalém; Dr. PauloRodolfo <strong>de</strong> Rangel Moreira; Dr. Antônio Freitas da Silva, repre<strong>se</strong>ntante dos <strong>se</strong>rvidores daFUNDAJ; Dr. Luiz Antônio Barreto, repre<strong>se</strong>ntante da Confe<strong>de</strong>ração Nacional da Indústria– CNI; Dr. Fernando <strong>de</strong> Mello Freyre, Presi<strong>de</strong>nte da FUNDAJ. Aberta a <strong>se</strong>ssão, o <strong>se</strong>nhorPresi<strong>de</strong>nte, em exercício, do Con<strong>se</strong>lho Diretor indagou <strong>se</strong> todos haviam recebidoantecipadamente a ata da reunião anterior. Ante a resposta afirmativa <strong>de</strong> todos, a ata foiposta em vocação, <strong>se</strong>ndo aprovada por unanimida<strong>de</strong>.A <strong>se</strong>guir, o Con<strong>se</strong>lheiro Sylvio Campos Paes Barreto, solicitou que fos<strong>se</strong> consignado emata <strong>de</strong> pesar pelo recente falecimento do professor Amaury Coutinho, voto subscrito peloCon<strong>se</strong>lheiro Marconilo <strong>de</strong> Barros Lins e aprovado <strong>de</strong> imediato pelos pre<strong>se</strong>ntes.


42COMPLEXO DE AMBULATÓRIOS DO CENTRO DE PESQUISASAGGEU MAGALHÃES/FIOCRUZ-MS (CpqAM)Ilma SenhoraAnna CoutinhoPrezada Senhora:A Diretoria do Centro <strong>de</strong> PESQUISAS Aggeu Magalhães/FIOCRUZ-MS, tem o prazer <strong>de</strong>comunicar-lhe que, por <strong>de</strong>cisão unânime <strong>de</strong> <strong>se</strong>us Con<strong>se</strong>lhos Técnicos - Científico eDeliberativo, em sua última reunião realizada no dia 10 do corrente mês, uma homenagempóstuma <strong>de</strong>verá <strong>se</strong>r prestada à memória do Professor AMAURY D. COUTINHO, porocasião das comemorações dos 45 anos <strong>de</strong> Fundação <strong>de</strong>ste Centro. A referida homenagemrepre<strong>se</strong>nta o reconhecimento <strong>de</strong> nossa instituição à atuação do saudoso colega, como nossopesquisador e Consultor Científico, tendo contribuído, através <strong>de</strong> <strong>se</strong>us trabalhos e do <strong>se</strong>uexemplo como chefe <strong>de</strong> equipe, como mestre e como pessoa, para o reconhecimento dosvalores éticos que <strong>de</strong>vem nortear o nosso trabalho e para o crescimento do nosso Centro. Ahomenagem em tela ocorrerá no próximo dia 04 <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro, às 16:00 horas, e constará daoposição <strong>de</strong> uma placa conferido o nome do Professor Amaury D. Coutinho ao complexo<strong>de</strong> Ambulatórios do CpqAM. Solicitamos a V.Sª. , pois, a gentileza <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r o convite atoda a família e aos amigos do nosso saudoso colega.Atenciosas saudações,Dra. Eridan M. Coutinho / Dr. Rômulo Maciel FilhoDiretora/CPqAM Vice-diretor/ CPqAMPOLICLÍNICA PROFESSOR AMAURY COUTINHOPrefeitura da Cida<strong>de</strong> do RecifeA Prefeitura da Cida<strong>de</strong> do Recife através da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong>Policlínica Professor Amaury Coutinho, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>u sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> localizado naCampina do Barreto.Jarbas Vasconcelos, Prefeito da Cida<strong>de</strong> do Recife.Várias outras homenagens em simpósios e congressos alusivas ao professor AmauryCoutinho foram consignadas. Em vida inúmeros prêmios, distinções e reconhecimentos <strong>se</strong><strong>se</strong>guiram: Prêmio Diário <strong>de</strong> Pernambuco,1939, Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong> (1958-59), Presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Alergia (1964), Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>Honra do Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Nutrição (1967), Medalha do CNPQ.(1981), Medalha <strong>de</strong>Mérito São Lucas (1983), Prêmio Alfred Jurzyhowski da Aca<strong>de</strong>mias Nacional <strong>de</strong> Medicina(1985), são apenas exemplos dos muitos que o Professor Amaury foi alvo.Recentemente, a SBH na gestão do professor Victorino Spinelli, instituiu o Curso<strong>de</strong> Educação Continuada Professor Amaury Coutinho.


43A GRATIDÃO DA FAMÍLIAAGRADECIMENTO NA INAUGURAÇÃO POLICLÍNICA AMAURY COUTINHO– RECIFE, 29/08/96. POR SUA FILHA, DRA ANA LUCIA COUTINHOExcelentíssimo Senhor, Dr. Jarbas Vasconcelos, prefeito da cida<strong>de</strong> do Recife, Dr.Guilherme Robalinho, <strong>se</strong>cretário municipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s pre<strong>se</strong>ntes, meus<strong>se</strong>nhores e minhas <strong>se</strong>nhoras.É com gran<strong>de</strong> emoção que agra<strong>de</strong>ço, em meu nome e em nome <strong>de</strong> minha família,esta homenagem prestada in memoriam a meu pai, Amaury Coutinho.Entendo que o objetivo <strong>de</strong>sta homenagem <strong>se</strong>ja o <strong>de</strong> perpetuar o <strong>se</strong>u nome para queoutras pessoas que não o conheceram e <strong>de</strong> gerações futuras possam ter acesso ao <strong>se</strong>uprojeto <strong>de</strong> vida e a sua contribuição às questões médico sociais.A fra<strong>se</strong> <strong>de</strong> meu pai que escolhemos para <strong>se</strong>r o lema <strong>de</strong>sta casa: “Em todas asunida<strong>de</strong>s do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais simples até as mais complexas, o focoprincipal <strong>de</strong> atenção, <strong>de</strong>ve incidir sobre o doente”, encontra-<strong>se</strong> num artigo <strong>se</strong>u publicadona Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Educação Médica em 1979, revelando sua preocupação pelo socialno contexto da medicina.Estudo continuado, Ensino médico e Pesquisa foram as três ativida<strong>de</strong>s que <strong>se</strong>mpre oacompanharam. Mesmo durante férias, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ler, estudar ou escrever algumtrabalho científico.Em <strong>se</strong>u pronunciamento quando <strong>se</strong> apo<strong>se</strong>ntou da universida<strong>de</strong>, “<strong>de</strong>finiu-<strong>se</strong> <strong>de</strong>temperamento introspectivo e tímido, mas <strong>se</strong> consi<strong>de</strong>rava um homem <strong>de</strong> trabalho eorganização; <strong>de</strong> ações concretas; <strong>de</strong> per<strong>se</strong>verança e otimismo nos propósitos e realizações;<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s claras e <strong>de</strong>finidas”.Em relação ao <strong>se</strong>u trabalho na universida<strong>de</strong>, aceitava <strong>se</strong>m pensar em benefíciospessoais, todos os encargos e responsabilida<strong>de</strong>s que surgiam, enfrentando os obstáculoscom entusiasmo, e <strong>se</strong>mpre vislumbrava “uma luz ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> esperança”, que ajudava aosmais jovens a continuar a luta. Manteve <strong>se</strong>mpre uma linha <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s eopinião frente aos problemas políticos e universitários, mas participava das discussõesacatando <strong>de</strong>mocraticamente as soluções <strong>de</strong>cididas pela maioria.Seus amigos Salomão Kelner, Marcionilo Lins e Rostand Paraiso do Recife, AluízioPrata, mineiro atualmente radicado em São Paulo, José Rodrigues Coura do Rio <strong>de</strong> Janeiroe Naftale Katz <strong>de</strong> Minas Gerais, escreveram sobre ele após sua morte, exaltando asprincipais realizações que vocês irão conhecer num fol<strong>de</strong>r que <strong>se</strong>rá distribuído.Como pai, foi exemplar. Sempre me perguntei como uma pessoa que não conheceuo próprio pai, pois este faleceu quatro me<strong>se</strong>s antes <strong>de</strong> <strong>se</strong>u nascimento, pô<strong>de</strong> <strong>se</strong>r um paicomo Ele foi: <strong>se</strong>nsível, <strong>se</strong>mpre atento às dificulda<strong>de</strong>s e problemas <strong>de</strong> cada um, sabendointervir na hora certa, <strong>se</strong>m impor <strong>se</strong>us <strong>de</strong><strong>se</strong>jos, aceitando nossas <strong>de</strong>cisões e nosincentivando. Cada em <strong>de</strong> <strong>se</strong>us filhos tem muito <strong>de</strong> sua influência no gosto pelo estudo,ensino, pesquisa e na organização.Após sua apo<strong>se</strong>ntadoria na UFPE, em março <strong>de</strong> 1988, foi trabalhar comopesquisador convidado no Centro <strong>de</strong> Pesquisas Aggeu Magalhães. Foram <strong>se</strong>te anos <strong>de</strong>intensa produção científica, tendo publicado vários trabalhos e orientado inúmeras te<strong>se</strong>s <strong>de</strong>pós-graduação. Dizia que os jovens o incentivavam, mas era a sua experiência, organizaçãoe coragem que incentivava e encantava os jovens que <strong>de</strong>le <strong>se</strong> aproximavam.


44A sua paixão pelo trabalho foi tal, que não aceitou os con<strong>se</strong>lhos <strong>de</strong> <strong>se</strong>u médico eamigo Ovídio Montenegro, <strong>de</strong> reduzir suas ativida<strong>de</strong>s. Acho que sabia que <strong>se</strong>u fim estavapróximo. Quando lhe pedia para <strong>de</strong>scansar e <strong>se</strong> poupar, dizia que <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong> era curto para oque ainda tinha <strong>de</strong> fazer. Trabalhou até ao fim. Sairá publicado em <strong>se</strong>tembro próximo, naRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Medicina Tropical, o trabalho científico que acabou <strong>de</strong> escrever no dia<strong>de</strong> <strong>se</strong>u último internamento: “História da Filario<strong>se</strong> na cida<strong>de</strong> do Recife”.Agora o que importa realmente é o que ficou em cada um que teve a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sua convivência. É a memória individual, o que foi implantado, dividido, compartilhado. Aícada um guarda <strong>de</strong> uma forma diferente, porque as emoções foram e são distintas.Obrigado, Ana LúciaO poeta recifen<strong>se</strong> Carlos Pena Filho, assim escreve o <strong>se</strong>u poema <strong>de</strong>nominadoTestamento do Homem Sensato, que escolhemos para finalizar esta biografia:Quando eu morrer, não faças disparatesnem fiques a pensar: “Ele era assim...”mas <strong>se</strong>nta-te num banco <strong>de</strong> jardim,calmamente comendo chocolates.Aceita o que te <strong>de</strong>ixo, o qua<strong>se</strong> nada<strong>de</strong>stas palavras que te digo aqui:foi mais longa a vida que eu vivi,para <strong>se</strong>r em lembranças prolongada.Porém, <strong>se</strong>, um dia, só, na tar<strong>de</strong> em queda,surgir uma lembrança <strong>de</strong>sgarrada,ave que nasce e em vôo <strong>se</strong> arremeda,<strong>de</strong>ixa-a pousar em teu silêncio, levecomo <strong>se</strong> apenas fos<strong>se</strong> imaginada,como uma luz, mais que distante, breve.


45CLEMENTINO FRAGA FILHO11-08-1917Clementino Fraga, foi <strong>de</strong>nominado por Figueiredo Men<strong>de</strong>s Patriarca da <strong>Hepatologia</strong><strong>Brasileira</strong>, por sua ativida<strong>de</strong> pioneira, exercida ainda na década <strong>de</strong> 30. Seu filho, pioneiroda <strong>Hepatologia</strong> no Brasil, iniciou sua formação clínica no <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> <strong>se</strong>u pai e mestre. Foicatedrático da 2 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica e chefe da 9 a Enfermaria da Santa Casa daMi<strong>se</strong>ricórdia. Foi catedrático da 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong>Medicina. Convidado por Figueiredo Men<strong>de</strong>s, proferiu a conferência <strong>de</strong> abertura do ICongresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, realizado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxambu, Minas Gerais, em1969. Além da relevante produção científica, com cerca <strong>de</strong> 450 publicações, <strong>de</strong>dicouespecial atenção à educação médica. Foi presi<strong>de</strong>nte da Associação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> EducaçãoMédica. Entre 1966 e 1969, foi vice-reitor e reitor da Universida<strong>de</strong> do Brasil e em 1974,nomeado Diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. Criou o <strong>se</strong>tor <strong>de</strong> Medicina Psicossomática,entregando sua chefia a Danilo Perestrello, pioneiro em <strong>se</strong>us trabalhos sobre Medicina daPessoa.Cícero Adolpho da Silva, professor <strong>de</strong> Medicina, ao saudá-lo por ocasião dos <strong>se</strong>us80 anos, relembrou a afirmação <strong>de</strong> Paul Milliez, clínico francês, no momento <strong>de</strong> suaapo<strong>se</strong>ntadoria: “Muitos crêem <strong>de</strong>ver algum reconhecimento ao médico que sou; <strong>de</strong> fato, souapenas <strong>se</strong>u <strong>de</strong>vedor. Dar-me a eles me permitiu dar a mim mesmo a impressão <strong>de</strong> ter sidoútil, e minha vida ganhou o <strong>se</strong>ntido que não teria <strong>se</strong> não fos<strong>se</strong>m eles”.


46CLEMENTINO FRAGA FILHO11-08-1917Clementino Fraga was called the Patriarch of Brazilian Hepatology by Figueiredo Men<strong>de</strong>sbecau<strong>se</strong> of the pioneering work he carried out as early as the 1930s. His son, pioner ofBrazilian Hepatology, started his clinical training un<strong>de</strong>r his father, who was also histeacher. He held the 2 nd Department of Internal Medicine and was head of the 9 th Ward ofthe Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia. He held the 1 st Department of Internal Medicine of theFaculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina. Following an invitation by Figueiredo Men<strong>de</strong>s, he<strong>de</strong>livered the opening speech at the 1 st Brazilian Congress of Hepatology in the city ofCaxambu, Minas Gerais in 1969. In addition to his scientific work, with over 450 paperspublished, he was particularly committed to medical education. He was presi<strong>de</strong>nt of theBrazilian Association for Medical Education. Between 1966 and 1969, he was vice-rectorand rector of the Universida<strong>de</strong> do Brasil, and was appointed director of the Faculty ofMedicine in 1974. He <strong>se</strong>t up the Department of Psychosomatic Medicine and appointedDanilo Perestrello, a pioneer in the field of “medicine of the person”, as <strong>de</strong>partment head.When congratulating him on his 80 th birthday, the professor of medicine Cícero Adolpho daSilva recalled the words of the French doctor Paul Milliez on his retirement: “Many feelthey owe me some recognition as a doctor; in fact, I am merely in <strong>de</strong>bt to them. By givingmy<strong>se</strong>lf to them, I was able to give my<strong>se</strong>lf the feeling that I had been u<strong>se</strong>ful, and my lifeacquired a meaning which it would not otherwi<strong>se</strong> have .”


47CLEMENTINO FRAGA FILHO11-08-1917Autores: Milton dos Reis Arantes e Fernando Wendhau<strong>se</strong>n PortellaOrigens Baianas <strong>de</strong> um Carioca <strong>de</strong> CoraçãoClementino Fraga Filho nasceu em Salvador, a 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1917. Filho <strong>de</strong>Clementino Fraga e Olindina da Silva Fraga, prece<strong>de</strong>ram-lhe os irmãos Maria Oliva e HélioFraga. O pai, nascido no Recôncavo Baiano, aos 17 anos entrou para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina da Bahia, da qual foi professor substituto <strong>de</strong> Clínica Médica aos 30 anos, apósbrilhante concurso, que <strong>se</strong> tornou marco na história da Medicina brasileira. Em 1914,passou a professor catedrático. Permaneceu em Salvador até 1921, quando partiu para oRio, eleito <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral. Quatro anos <strong>de</strong>pois, foi transferido para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina do Rio <strong>de</strong> Janeiro, na vaga <strong>de</strong> Azevedo Sodré.Quando chegou ao Rio, Fraga Filho tinha a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 4 anos. Fez os cursos primárioe <strong>se</strong>cundário sob a orientação <strong>de</strong> jesuítas, no Colégio Santo Inácio. Em 1934, iniciou suagraduação na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da então Universida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro,diplomando-<strong>se</strong> em 1939. Na mesma Faculda<strong>de</strong>, <strong>se</strong>is anos antes, concluira sua formaçãoHélio Fraga, que <strong>se</strong> distinguiu na Tisiologia e dirigiu o Serviço Nacional <strong>de</strong> Tuberculo<strong>se</strong>.Foi professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRJ, exercendo o cargo <strong>de</strong> Reitor <strong>de</strong>ssaUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1973 a 1977.Ainda estudante, Fraga Filho iniciou a prática docente como Auxiliar <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong>História Natural e Botânica no Curso Pré-Médico. Mereceu o Prêmio Berchon Des Essarts,pela obtenção das melhores notas ao longo do curso. Foi orador da sua turma e, em <strong>se</strong>udiscurso, afirmou: “A formação do médico exige preparo técnico e capacida<strong>de</strong> moral,inteligência dócil e esclarecida no estudo. A companhia dos livros lhe <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r fiel, pelavida afora, da alvorada ao crepúsculo. Mas é <strong>de</strong> sua alma que <strong>se</strong> pe<strong>de</strong>m os <strong>se</strong>us melhoresdotes, que lhe hão <strong>de</strong> <strong>se</strong>r norma e guia nas relações com pacientes e colegas”.Clementino Fraga Filho tem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1943, a companhia <strong>de</strong> Izar Gordilho Fraga,carinhosamente conhecida por Zazá, pelos amigos, colegas e alunos. Dos <strong>se</strong>us três filhos –Clementino Fraga Neto, Mário e Eduardo Gordilho Fraga, este último <strong>se</strong>guiu a carreira


48médica. Graduado em 1975, pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRJ, estagiou no Serviço daProfessora Sheila Sherlock, em Londres, e pros<strong>se</strong>gue sua carreira docente nessa instituiçãouniversitária.O Pai, Patriarca da <strong>Hepatologia</strong>Foi Figueiredo Men<strong>de</strong>s quem <strong>de</strong>nominouClementino Fraga o Patriarca da<strong>Hepatologia</strong> <strong>Brasileira</strong>, por sua ativida<strong>de</strong>pioneira, exercida ainda na década <strong>de</strong> 30.Catedrático da 2 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ClínicaMédica e Chefe da 9 a Enfermaria da SantaCasa da Mi<strong>se</strong>ricórdia, publicou, pelaEditora Melhoramentos, <strong>de</strong> São Paulo, olivro Doenças do Fígado, que teve trê<strong>se</strong>dições em Português e uma em língua espanhola. No dizer do autor, o texto “não é, nempo<strong>de</strong> <strong>se</strong>r, trabalho <strong>de</strong> erudição”. Tinha o objetivo <strong>de</strong> associar as noções mais atuais aosconceitos clássicos sobre as doenças hepáticas. Foi <strong>se</strong>u Chefe <strong>de</strong> Clínica, José <strong>de</strong> PaulaLopes Pontes, o autor da te<strong>se</strong> Valor Semiológico da Urobilinúria, <strong>de</strong>fendida em 1938.Josué Montello, em A Lição <strong>de</strong> Clementino Fraga Filho, ressaltou a importância dopai na vida <strong>de</strong> Fraga Filho: “Tal pai, tal filho. Bem sabemos pela doutrina dos educadores edos biógrafos, que na origem <strong>de</strong> toda vocação está um exemplo. Mas o bom <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho<strong>de</strong>sta vocação, para que <strong>se</strong>ja mais do que uma vida imitada, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da aptidão que acorrespon<strong>de</strong>. Só a aptidão permite ir além do paradigma, com o encontro a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> umanova personalida<strong>de</strong>, que <strong>se</strong>gue o exemplo, mas não <strong>se</strong> subordina a este <strong>se</strong>rvilmente, para <strong>se</strong>rele próprio, fiel ao mo<strong>de</strong>lo, mas autônomo, na sua expansão e na sua afirmação.” FragaFilho nunca escon<strong>de</strong>u o propósito <strong>de</strong> imitar o pai, como, aliás, <strong>de</strong>clarou no discurso <strong>de</strong>pos<strong>se</strong> da cátedra <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina.O Interes<strong>se</strong> pela <strong>Hepatologia</strong>A formação clínica <strong>de</strong> Fraga Filho iniciou-<strong>se</strong> no Serviço <strong>de</strong> <strong>se</strong>u pai e mestre, on<strong>de</strong>havia interes<strong>se</strong> especial pela patologia hepática, conforme alusão anterior.


49Em 1944, já Assistente da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina, a qual consagrou toda asua ativida<strong>de</strong> universitária, apre<strong>se</strong>ntou, em concurso para a docência-livre, a te<strong>se</strong>Contribuição ao estudo da exploração funcional do fígado: função glicídica, resultado doestudo <strong>de</strong> 68 pacientes, 12 dos quais com cirro<strong>se</strong> <strong>de</strong> Laennec. Como docente-livre,publicou, ainda nessa década vários trabalhos, entre os quais Etiopatogenia e Clínica dasIcterícias, Fisiopatologia e Clínica da Insuficiência Hepática, Provas FuncionaisHepáticas e Terapêutica das Cirro<strong>se</strong>s Hepáticas.No final da década, em associação com José Rodrigues da Silva e Nilton Costa,realizou as primeiras biópsias hepáticas por punção, no Brasil, utilizando a agulha <strong>de</strong> Vim-Silverman, publicando, com os co-autores, os resultados obtidos. Datam <strong>de</strong>ssa mesmaépoca, os primeiros cursos <strong>de</strong> extensão universitária em <strong>Hepatologia</strong> no Brasil, queministrou no Rio <strong>de</strong> Janeiro e na Universida<strong>de</strong> da Bahia.Em 1951, publicou um primeiro estudo sobre fígado e imunida<strong>de</strong> - AnticorposHeterólogos na Hepatite por Vírus, em colaboração com Paulo <strong>de</strong> Góes, Manoel BrunoLobo e J. Ciribelli Guimarães.Em 1954, apre<strong>se</strong>ntou a te<strong>se</strong> Hepatite por Vírus em concurso para a cátedra.Analisava analogias e diferenças entre as hepatites “infecciosas e por soro homólogo”,como eram então <strong>de</strong>nominadas, com apoio em estudo histopatológico <strong>de</strong> material colhidopor biópsia numa amostra <strong>de</strong> 34 pacientes. Pela primeira vez, era realizada biópsia emhepatite aguda. No concurso, classificou-<strong>se</strong> em <strong>se</strong>gundo lugar, tendo obtido, da ComissãoExaminadora, duas indicações para primeiro. O resultado lhe valeu, por parte daCongregação da Faculda<strong>de</strong>, moção assinada por 38 dos 41 professores catedráticos, parapreenchimento efetivo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> novas provas, <strong>de</strong> vaga já existente. Fragaagra<strong>de</strong>ceu a honraria e manifestou a intenção <strong>de</strong> <strong>se</strong> submeter a novas provas.Em 1955, corridos 16 anos da sua formatura, assumiu o cargo <strong>de</strong> ProfessorCatedrático da 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina. Sua te<strong>se</strong> -Estudo sobre Coagulação Sangüínea em Patologia Hepática – teve a colaboração <strong>de</strong> HaitiMoussatché, Halley Pacheco, Antônio Luiz Boavista Nery e Domingos <strong>de</strong> Paola. Trabalhooriginal com intensa investigação <strong>de</strong> pesquisa apre<strong>se</strong>ntado no Congresso Mundial <strong>de</strong>


50Gastrenterologia, no Canadá. Em <strong>se</strong>u discurso <strong>de</strong> pos<strong>se</strong>, ressaltou: “Hoje, em Medicina, aunida<strong>de</strong> é o grupo e não mais o indivíduo”.A 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica: uma escola <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>Entre 1956 e 1978, <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu-<strong>se</strong> a 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica. Funcionando na4 a e 20 a Enfermarias da Santa Casa, adquiriu gran<strong>de</strong> prestígio pela excelência da suaativida<strong>de</strong> educacional e pelo pioneirismo das pesquisas clínicas. Um ambiente estimulantereunia professores experimentados e jovens médicos em início <strong>de</strong> carreira do magistério.Bem aparelhado, com intensa produção científica e aplicação <strong>de</strong> novos conceitos emeducação médica, o Serviço do Professor Clementino Fraga Filho tornou-<strong>se</strong> um póloexportador <strong>de</strong> conhecimentos para locais distantes do Brasil. Isso ajudou a valorização daClínica Médica no confronto com o avanço das especialida<strong>de</strong>s.O grupo <strong>de</strong> professores e pesquisadores reunidos por Fraga Filho teve repercussãoimportante na <strong>Hepatologia</strong> brasileira.Manifestações disso foram as ediçõe<strong>se</strong>speciais do Jornal Brasileiro <strong>de</strong>Medicina: em 1968, Patologia eClínica das Doenças do Fígado e, em1971, <strong>Hepatologia</strong>, ambas reunindotrabalhos da autoria <strong>de</strong> váriosintegrantes <strong>de</strong>s<strong>se</strong> grupo, que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ofinal da década <strong>de</strong> 50, vinhaproduzindo trabalhos nessa área.Na década <strong>de</strong> 60, distinguem-<strong>se</strong> três trabalhos: em 1964, Circulating Anti-LiverAntibodies in Liver Di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>, publicado em O Hospital, em co-autoria com Jorge <strong>de</strong> Toledoe A. Oliveira Lima; em 1966, Hepatite Aguda Alcoólica, em colaboração com ospatologistas Manoel Barreto Neto, José <strong>de</strong> Oliveira Pereira e Hygino Carvalho Hércules,divulgado na Revista Médica Argentina, a propósito <strong>de</strong> três casos clínicos com biópsiahepática; em 1968, Hepatites Prolongadas e Hepatites Crônicas, artigo consi<strong>de</strong>radooriginal, em que <strong>se</strong> discutiam as diversas peculiarida<strong>de</strong>s evolutivas das hepatites, publicadoem O Hospital.


51Consi<strong>de</strong>rado, por Figueiredo Men<strong>de</strong>s, pioneiro da <strong>Hepatologia</strong> e lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> brilhante escola,foi por ele convidado para proferir a Conferência <strong>de</strong> Abertura do I Congresso Brasileiro <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong>, realizado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxambu, Minas Gerais, em 1969.Trinta anos <strong>de</strong>pois, por convite <strong>de</strong> um discípulo <strong>se</strong>u, Fernando Portella, coube-lhe,novamente, a Conferência <strong>de</strong> Abertura do XV Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,ocorrido no Rio <strong>de</strong> Janeiro.Nos quadros da 1ª Ca<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong>vem <strong>se</strong>r relembrados: Antônio Luiz Boavista Nery,que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u te<strong>se</strong> <strong>de</strong> docência-livre sobre transamina<strong>se</strong>s, primeiro trabalho sobre o teste noBrasil, feito com a colaboração <strong>de</strong> Pascoal Granato, chefe do Laboratório <strong>de</strong> PatologiaClínica do Serviço. Isaac Vaissman, em trabalho sobre Fígado e Diabetes e José AdolphoFaustino Porto, que estudou hipogonadismo em hepatopatias.Jorge <strong>de</strong> Toledo, um dos homenageados no livro Pioneiros da <strong>Hepatologia</strong> foi umdistinguido mestre e pesquisador do Serviço. Foi o fundador, com Figueiredo Men<strong>de</strong>s eoutros hepatologistas, da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, da qual foi presi<strong>de</strong>nte,organizando <strong>se</strong>u VI Congresso Brasileiro, realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em sua extensacontribuição, ressalte-<strong>se</strong>: Auto-agressão nas Hepatopatias (1961), o primeiro <strong>de</strong> uma série<strong>de</strong> trabalhos, com a orientação <strong>de</strong> Oliveira Lima, voltados para os aspectos imunológicos dadoença hepática. Outro trabalho marcante foi sua te<strong>se</strong> Hepatites Não-A, Não-B, compublicação póstuma em 1988.Oliveira Lima chefiava o Setor <strong>de</strong> Imunologia, outra iniciativa da 1ª Ca<strong>de</strong>ira. Sobsua li<strong>de</strong>rança, <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveram-<strong>se</strong> trabalhos sobre imunopatologia hepática. Com <strong>se</strong>uscolaboradores, Oswaldo Seabra, Alfeu Tavares França e Gilberto Soares,publicaram-<strong>se</strong>, na década <strong>de</strong> 70, vários estudos relativos ao antígeno Austrália e àincidência <strong>de</strong> auto-anticorpos na hepatite crônica ativa. Flávio Fraga <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u, como te<strong>se</strong><strong>de</strong> docência-livre, Hepatites e Alterações Imunológicas.


52Fernando Portella e Carlos Sandoval Gonçalves fizeram parte <strong>de</strong>sta Escola. Portellaestagiou no Serviço <strong>de</strong>Sheila Sherlock, em cujaLiver Unit pesquisou asalterações <strong>de</strong> sais biliaresna colesta<strong>se</strong>, estudando, emparticular, cirro<strong>se</strong> biliarprimária. Deixando a 1 aClínica Médica, agregou-<strong>se</strong>a Figueiredo Men<strong>de</strong>s, na 8 aEnfermaria da Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia, on<strong>de</strong> teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicar os primeirostrabalhos sobre dissolução <strong>de</strong> cálculos biliares no Brasil, simultaneamente com MoacyrPádua Villela, em São Paulo. Foi fundador, em 1991, e primeiro presi<strong>de</strong>nte do Grupo <strong>de</strong>Fígado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Presidiu e organizou o XV Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Sandoval tornou-<strong>se</strong> professor <strong>de</strong> Gastrenterologia daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo, sobressaindo por <strong>se</strong>us estudos em hepatitealcoólica e carcinoma hepatocelular. Organizou e presidiu o XVI Congresso Brasileiro <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong>, em Vitória.Além dos eminentes profissionais citados, ecos da 1ª Ca<strong>de</strong>ira, na prática, ou noensino da Gastrenterologia e da <strong>Hepatologia</strong>, na clínica e em métodos complementares <strong>de</strong>diagnóstico foram, ou são: Alice Junqueira Moll, Cleber Vargas, Dejano T. Sobral, EponinaLemme, Félix Zyngier, Hélio Luz, José Carlos Vinháes, José Flávio Ernesto Coelho, LuizLeite Luna, Marcus Túlio Haddad, Paschoal O. Granato, Raul Reis Gonçalves e SérgioRoberto Viegas <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.O MédicoClementino Fraga Filho realizou-<strong>se</strong> tanto na assistência clínica quanto nasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> professor, pesquisador e administrador. Valorizou a relação médico-pacientena clínica privada e no <strong>se</strong>rviço universitário. Criou o Setor <strong>de</strong> Medicina Psicossomática,entregando sua chefia a Danilo Perestrello, pioneiro em <strong>se</strong>us trabalhos sobre Medicina daPessoa.


53Sensibilida<strong>de</strong>, empatia e <strong>de</strong>dicação foram algumas das características quepermitiram a Fraga Filho manter gran<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> na clínica privada até os dias <strong>de</strong> hoje,contando com o carinho e a admiração dos <strong>se</strong>us pacientes. Entre estes, Vinicius <strong>de</strong> Morais,que o chamava o Profeta do Fígado. Para Fraga, “conhecer a pessoa que tem a doença é tãoimportante quanto conhecer a doença que tem a pessoa”. Cícero Adolpho da Silva,professor <strong>de</strong> Medicina, amigo baiano <strong>de</strong> longa data, ao saudá-lo por ocasião dos <strong>se</strong>us 80anos, relembrou a afirmação <strong>de</strong> Paul Milliez, e que tanto agrada Clementino Fraga Filho:O clínico francês, no momento <strong>de</strong> sua apo<strong>se</strong>ntadoria, afirmou: “Muitos crêem <strong>de</strong>ver algumreconhecimento ao médico que sou; <strong>de</strong> fato, sou apenas <strong>se</strong>u <strong>de</strong>vedor. Dar-me a eles mepermitiu dar a mim mesmo a impressão <strong>de</strong> ter sido útil, e minha vida ganhou o <strong>se</strong>ntido quenão teria <strong>se</strong> não fos<strong>se</strong>m eles”.Pre<strong>se</strong>nça no Ensino MédicoAlém da marcada produção científica, com cerca <strong>de</strong> 450 publicações, como autorúnico e em parceria com <strong>se</strong>us colaboradores, Fraga Filho <strong>de</strong>dicou especial à educaçãomédica. Foi membro atuante e Presi<strong>de</strong>nte da Associação <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Educação Médica(ABEM). Temas <strong>de</strong> vanguarda, como ensino relevante, articulação ensino/<strong>se</strong>rviço,formação geral do médico e interdisciplinarida<strong>de</strong> foram algumas <strong>de</strong> suas preocupações.Em torno <strong>de</strong>stes temas, teve notória participação em encontros nacionais e internacionais <strong>de</strong>educação médica, tendo sido alçado à Vice-Presidência da Fe<strong>de</strong>ração Pan-Americana <strong>de</strong>Faculda<strong>de</strong>s e Escolas <strong>de</strong> Medicina, com <strong>se</strong><strong>de</strong> em Caracas.Atuou, intermitentemente, entre 1972 e1989, na Comissão <strong>de</strong> Especialistas doEnsino Médico do Ministério daEducação. Teve <strong>de</strong>cisiva influência naelaboração <strong>de</strong> quatro dos <strong>se</strong>isdocumentos produzidos, com importantecontribuição para a reorientaçãopedagógica do ensino médico no País.Participou também da ComissãoNacional <strong>de</strong> Reformulação da Educação


54Superior e do Con<strong>se</strong>lho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Fraga Filho contou em sua extensa trajetória no ensino médico com a colaboração<strong>de</strong>dicada <strong>de</strong> Alice Rosa, Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Ensino da 1 a Clínica Médica, mais tar<strong>de</strong>,Diretora Adjunta para o Ensino <strong>de</strong> Graduação da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRJ eDiretora Executiva da ABEM. Alice Rosa foi impulsionadora da reforma do ensino naFaculda<strong>de</strong>, <strong>se</strong>ndo a principal autora do livro Ensino Médico: Atualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> UmaExperiência”, publicado em 1995, em co-autoria com Fraga Filho e Lopes Pontes. Nele,analisam-<strong>se</strong> as mudanças do ensino na continuida<strong>de</strong> do <strong>tempo</strong> em que es<strong>se</strong>s dois mestres <strong>se</strong>suce<strong>de</strong>ram na Direção da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRJ. Antes, em 1980, também com acolaboração <strong>de</strong> Alice Rosa, publicou Fraga Filho, sob o patrocínio da Secretaria daEducação Superior do MEC, o livro Temas <strong>de</strong> Educação Médica.O AdministradorEntre 1966 e 1969, Fraga Filho foi Vice-Reitor e Reitor da Universida<strong>de</strong> do Brasil.Em 1974, foi nomeado Diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. Na ocasião, já compunha aComissão <strong>de</strong> Implantação do Hospital Universitário, cuja presidência exerceu <strong>de</strong> 1974 a1978.Em 1977, Deolindo Couto, em<strong>se</strong>u discurso no ato inauguralda Sala das Congregações doCentro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> daUFRJ, prestou homenagem aFraga e a <strong>se</strong>u irmão, Reitor àépoca, em sua manifestação:“O comando apto e hábil <strong>de</strong>Clementino Fraga Filho e o<strong>de</strong><strong>se</strong>nganado patrocínio <strong>de</strong>Hélio Fraga conferem aos dois irmãos pre<strong>de</strong>stinados lugar <strong>de</strong> realce no ensino médicobrasileiro. Recebendo a herança <strong>de</strong> construções inacabadas, a <strong>de</strong>speito do esforço <strong>de</strong>pre<strong>de</strong>cessores solícitos, <strong>de</strong>ram caráter prioritário ao projeto, cuja execução <strong>se</strong> estáultimando”.


55Inaugurado o hospital, foi nomeado DiretorGeral, cargo que ocupou até 1985. Aexperiência está registrada no livro AImplantação do Hospital Universitário daUFRJ, com nova edição, em 2000,comemorativa do Jubileu <strong>de</strong> Prata da FundaçãoUniversitária José Bonifácio.Durante o período <strong>de</strong> Reitoria, con<strong>se</strong>guiram-<strong>se</strong>a aprovação do Plano <strong>de</strong> Reestruturação daUniversida<strong>de</strong> do Brasil, a incorporação<strong>de</strong>finitiva do campus da Praia Vermelha aopatrimônio da Universida<strong>de</strong> e a participaçãoda UFRJ nos estudos relativos à ReformaUniversitária.Um fato político <strong>de</strong>ste período exigiu <strong>de</strong> Fraga Filho a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> suasqualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e, ao mesmo <strong>tempo</strong>, habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação. Em pleno regimeautoritário, estudantes brasileiros, especialmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro, iniciaram<strong>de</strong>monstrações, às vezes violentas, contra as instituições, inclusive universitárias. Estemovimento, inspirado na onda <strong>de</strong> revolta estudantilque agitava a Europa, centralizada em Paris, reuniumilhares <strong>de</strong> estudantes no Teatro <strong>de</strong> Arena eadjacências, exigindo a pre<strong>se</strong>nça dos membros doCon<strong>se</strong>lho Universitário, que iniciava <strong>se</strong>ssão nopalácio da Reitoria. Zuenir Ventura, em <strong>se</strong>u livro1969, O Ano Que Não Terminou relatou o episódioem que o Reitor <strong>se</strong> <strong>de</strong>frontou com a polícia quecercara o campus: “Clementino iria <strong>de</strong>monstrar umgran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sassombro não só diante dos estudantes,como mais tar<strong>de</strong> ao enfrentar a polícia”. A qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> hábil negociador foi confirmada quando obteve a retirada da milícia após gestões juntoao Governador do Estado”.


56Durante os 65 anos <strong>de</strong> trabalho nas enfermarias da Santa Casa, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina e no Hospital Universitário, Fraga Filho foi <strong>de</strong>dicado aos doentes, leal aos <strong>se</strong>usamigos e colegas e justo com <strong>se</strong>us chefiados. Prova disso é a ligação <strong>se</strong>mpre afetuosa com<strong>se</strong>us Chefes <strong>de</strong> Clínica, Nelson Nogueira e Jorge Toledo, com alunos e ex-alunos e <strong>de</strong>maiscolaboradores. Exemplo especial é a atenção constante com sua fiel <strong>se</strong>cretária, IcléaGiordano, que, por mais <strong>de</strong> 50 anos, o acompanha, na Santa Casa, no Hospital Universitárioe na clínica particular.O Retorno à Santa CasaCumprida a carreira na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Clementino FragaFilho retornou à Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1986, retomando suasativida<strong>de</strong>s na 4 a e 20 a Enfermarias, tradicionais centros <strong>de</strong> assistência e ensino nos <strong>tempo</strong>sda 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica.Em suas primeiras iniciativas, sobressai a criação do Curso <strong>de</strong> Especialização emClínica Médica, inovador na inclusão em sua organização curricular das disciplinas:Epi<strong>de</strong>miologia Clínica, Ética na Prática Clínica, Psiquiatria para o Clínico. Aprovado peloMEC, sua execução <strong>se</strong> iniciou em 1994.Em 1996, por inspiração <strong>de</strong> <strong>se</strong>u antigo e fiel colaborador e, no momento, <strong>se</strong>u Chefe<strong>de</strong> Clínica, Milton Arantes, <strong>de</strong>u início ao programa <strong>de</strong> educação continuada emGastroenterologia.- Três Manhãs na Santa Casa – que <strong>se</strong> vem realizando, anualmente, noHospital Geral da Santa Casa. Aconferência <strong>de</strong> abertura versouTransplante Hepático e foiproferida pelo cirurgião JoséRoberto Nery, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Miami, pre<strong>se</strong>ntes estavam quatropacientes brasileiros por eleoperados, três dos quais sobcuidados <strong>de</strong> Milton Arantes.Em 1998, teve início outra


57ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação médica continuada - o Clube do Fígado, que <strong>se</strong> reúne, mensalmente,com a participação <strong>de</strong> médicos <strong>de</strong> outros hospitais.No campo da investigação, em 1999, em parceria com o Departamento <strong>de</strong> Virologiada FIOCRUZ, conduzido à época por Clara Yoshida, a equipe médica do Serviço, sob ali<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Milton Arantes, realizou pesquisa <strong>de</strong> marcadores virais das hepatites, <strong>se</strong>ndocoletados, <strong>de</strong> funcionários do Hospital Geral da Santa Casa, mais <strong>de</strong> 1000 soros, <strong>se</strong>ndovacinada a comunida<strong>de</strong> contra o vírus da hepatite B.No ano <strong>se</strong>guinte, a mesma equipe, também com o apoio da FIOCRUZ, executoutrabalho <strong>se</strong>melhante, após <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hepatite A no berçário do Instituto RomãoDuarte, pertencente à Santa Casa. Pesquisaram-<strong>se</strong> marcadores virais naquela comunida<strong>de</strong>,em amostra <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 400 soros, vacinando-<strong>se</strong> essa comunida<strong>de</strong> contra hepatite B.Hoje, por indicação <strong>de</strong> Clementino Fraga Filho, o Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica échefiado por Milton Arantes, um <strong>de</strong> <strong>se</strong>us ex-alunos e constantes colaboradores, que chegoua chefiar o Serviço <strong>de</strong> Gastrenterologia do Hospital Universitário da UFRJ, e exerceu aPresidência da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastrenterologia do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no biênio 2003/04. Teveoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aperfeiçoar-<strong>se</strong> em estágios realizados na Inglaterra, em Cambridge, on<strong>de</strong>estudou fibro<strong>se</strong> hepática, e na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bristol, na qual <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu sua te<strong>se</strong> <strong>de</strong>doutorado, sobre testes respiratórios e doenças gastrintestinais, sob a orientação <strong>de</strong> RichardHarvey e Allan Read.Nos campos da Gastrenterologia e da <strong>Hepatologia</strong>, ressaltem-<strong>se</strong> duas das iniciativasda nova Chefia do Serviço: a prestação permanente <strong>de</strong> <strong>se</strong>rviços, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, à população <strong>de</strong>rua assistida pelas Irmãs Missionárias da Carida<strong>de</strong> Teresa <strong>de</strong> Calcutá, como contrapartidada execução <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa: pesquisa <strong>de</strong> marcadores virais em hepatites, AIDS,alcoolismo e uso <strong>de</strong> outras drogas, que <strong>se</strong> complementam com a vacinação contra hepatiteB; a coor<strong>de</strong>nação, compartilhada com Alfredo Burke, Chefe da 22ª Enfermaria, do Curso<strong>de</strong> Especialização em Doenças Digestivas, aprovado pelo MEC.Clementino Fraga Filho faz lembrar o pensamento do poeta: “O valor das coisas nãoestá no <strong>tempo</strong> em que elas duram, mas na intensida<strong>de</strong> com que elas acontecem. Por isso,existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. (FernandoPessoa)


58FERNANDO GUERRA ALVARIZ20-09-1924O Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1933, iria ganhar o migrante Fernando Alvariz nascido no Rio Gran<strong>de</strong>do Sul. O então Hospital do IAPETEC, atual Hospital Bom Sucesso, incorporaria o médicoAlvariz. Seu diferencial, a forte <strong>de</strong>dicação ao <strong>se</strong>rviço público, o constante espírito científicoe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistematização extraídos da experiência, das correlações clinicas que <strong>se</strong>plasmaram nos ensinamentos transmitidos nas inúmeras aulas e conferências proferidas.Iniciou sua formação em Washington e posteriormente em Nova Iorque no hospital MountSinai, junto a Hans Popper. No hospital Mount Sina participavam famosos membros dostaff, como Crohn, que <strong>de</strong>screveu a doença que leva <strong>se</strong>u nome e Moscowicz, pioneiro nacaracterização da púrpura trombocitopênica trombótica. Ali foi apre<strong>se</strong>ntado ao Prof. ZiltonAndra<strong>de</strong>, um brilhante professor <strong>de</strong> Patologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Salvador. Logo<strong>se</strong> tornaram amigos e Zilton re<strong>se</strong>rvava diariamente algum <strong>tempo</strong>, após o almoço, paratreinar o colega. Chegavam diariamente ao hospital, dos mais diversos paí<strong>se</strong>s, consultasacompanhadas por lâminas histológicas <strong>de</strong> biópsias hepáticas, que eram entregues porPopper a Zilton, que chamava Alvariz a acompanhá-lo. Participou <strong>de</strong> congressos e estágio<strong>se</strong>m universida<strong>de</strong>s, como a John’s Hopkins, Chicago e Northwestern. Freqüentou tambémalguns cursos, como o <strong>de</strong> Gastroenterologia do Prof. Bockus, patrocinado pelo AmericanCollege of Physicians. Livre Docente em Gastroenterologia da Escola <strong>de</strong> Pós-GraduaçãoMédica da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi também professor daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da atual Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Foipresi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia e membro fundador da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. Alvariz continua, aos 80 anos, a trabalhar normalmente. Duranteos 54 anos <strong>de</strong> vida médica, <strong>de</strong>dicou o melhor <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong>, entusiasmo e assiduida<strong>de</strong> àmedicina pública, que consi<strong>de</strong>ra a forma socialmente mais justa <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong>.


59FERNANDO GUERRA ALVARIZ20-09-1924In 1933, Rio <strong>de</strong> Janeiro was to become home to Fernando Alvariz, who was born in RioGran<strong>de</strong> do Sul. As a doctor, Alvariz was to join the then Hospital do IAPETEC, nowknown as Hospital Bom Sucesso. He stood out by his fervent <strong>de</strong>dication to public <strong>se</strong>rvice,his constant spirit of scientific enquiry and his ability to draw systematically upon theexperience and clinical correlations that mol<strong>de</strong>d his teaching in countless lectures andconferences he <strong>de</strong>livered. He trained initially in Washington and sub<strong>se</strong>quently at MountSinai hospital in New York with Hans Popper. Many famous members of staff wereworking in Mount Sinai hospital, including Crohn, who <strong>de</strong>scribed the di<strong>se</strong>a<strong>se</strong> that bears hisname, and Moscowicz, a pioneer in the characterization of thrombotic thrombocytopenicpurpura. While at Mount Sinai Hospital, Alvariz was introduced to Prof. Zilton Andra<strong>de</strong>, abrilliant professor of pathology at the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Salvador. They soonbecame friends, and Zilton always kept some time free after lunch to train his colleague.Every day, patients and ca<strong>se</strong>s from a wi<strong>de</strong> range of countries would arrive at the hospitaltogether with histological sli<strong>de</strong>s of liver biopsies. Popper would give the sli<strong>de</strong>s to Zilton,who called Alvariz to work with him. Alvariz took part in congres<strong>se</strong>s and training programsin universities such as John Hopkins, Chicago and Northwestern. He also atten<strong>de</strong>d variouscour<strong>se</strong>s, such as Prof. Bockus’ gastroenterology cour<strong>se</strong> sponsored by the AmericanCollege of Physicians. A Livre-Docente (habilitated professor) in gastroenterology at thePostgraduate Medical School of the Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro, healso lectured at the Faculty of Medical Sciences of the now Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio<strong>de</strong> Janeiro. He was presi<strong>de</strong>nt of the Brazilian Fe<strong>de</strong>ration of Gastroenterology and afounding member of the Brazilian Society of Hepatology. At the age of 80, Alvarizcontinues to work as usual. During the 54 years his medical career has spanned, Alvariz hascommitted him<strong>se</strong>lf enthusiastically to public medicine, which he consi<strong>de</strong>rs the mostsocially just form of health care.


60FERNANDO GUERRA ALVARIZ20-09-1924Autor: Ricardo Alvariz ( filho)Infância – a família:Alvariz nasceu a 20 <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1924, na pequeninacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Quarai, na zona pecuária do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,fronteira à cida<strong>de</strong> uruguaia <strong>de</strong> Artigas. Terceiro e últimofilho <strong>de</strong> Olegário Alvariz e A<strong>de</strong>lina Guerra Alvariz, ambos<strong>de</strong> famílias tradicionais da zona agro-pastoril da fronteirariogran<strong>de</strong>n<strong>se</strong> com o Uruguai. Passou sua primeira infânciaem Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, on<strong>de</strong> <strong>se</strong>u paiera gerente do Banco Peloten<strong>se</strong>. Em 1931 o estado sofriaséria cri<strong>se</strong> econômica, reflexo mundial da que <strong>se</strong> iniciara em1929, agravada por mudanças e per<strong>se</strong>guições políticas coinci<strong>de</strong>ntes com a vitória darevolução <strong>de</strong> 1930. Como con<strong>se</strong>qüência, o po<strong>de</strong>roso Banco Peloten<strong>se</strong> fechou as portas, nomomento em que o pai <strong>de</strong> Alvariz era promovido a Diretor. Isso, e a saú<strong>de</strong> do primogênito,que não tolerava os rigorosos invernos que <strong>se</strong> <strong>se</strong>guiram, levaram a família a migrar para oRio <strong>de</strong> Janeiro, aí fixando-<strong>se</strong> a partir <strong>de</strong> 1933.Instrução e Estágio hospitalar no curso médico:Na então Capital Fe<strong>de</strong>ral Alvariz completou o curso primário e cumpriu as <strong>de</strong>mai<strong>se</strong>tapas do currículo (na época, cursos ginasial e pré-médico) no Externato São José, dosmaristas, e colégios Aldridge e Andrews. Em 1944 iniciou o curso médico na entãoFaculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil (FNM-UB), atual UFRJ.Decepcionado com a qualida<strong>de</strong> das aulas matinais após o <strong>se</strong>gundo ano, aceitousugestão do amigo Oswaldo Franco <strong>de</strong> Gouveia, indo estagiar na 9ª Enfermaria da SantaCasa <strong>de</strong> Mi<strong>se</strong>ricórdia, velho hospital on<strong>de</strong> pontificavam gran<strong>de</strong>s vultos da medicinabrasileira. Lá permaneceu, pelas manhãs, durante todo o resto do curso médico, com gran<strong>de</strong> entusiasmo e total assiduida<strong>de</strong>. A enfermaria era chefiada pelo Prof. Aleixo <strong>de</strong> Brito,homem <strong>de</strong> invulgar cultura médica e brilhante raciocínio clínico, além <strong>de</strong> excepcional


61comunicador. O Prof. Aleixo era, no entanto, algo autoritário e às vezes ru<strong>de</strong>, com algumafreqüência admoestando publicamente alunos ou assistentes surpreendidos em alguma falhaou <strong>de</strong>satenção, o que já ocasionara a saída <strong>de</strong> alguns jovens e valorosos internos e médicos.Dotado <strong>de</strong> pouca tolerância para críticas públicas, pensava Alvariz em lá permanecersomente até que, eventualmente,chegas<strong>se</strong> a sua vez. Isso, no entanto,jamais ocorreu. Ao contrário, oProf. Aleixo <strong>se</strong>mpre tratou-o com amaior elegância e distinção,inclusive indicando-o para Monitorda Faculda<strong>de</strong> e, ainda no quinto ano,promovendo-o à função <strong>de</strong>assistente, com três leitos a <strong>se</strong>uencargo, fato que antes nunca ocorrera. O estágio regular na Santa Casa <strong>se</strong>rviu paraexacerbar o gosto e o entusiasmo do jovem aluno pela Clínica Médica, levando-o amergulhar nos livros e a matricular-<strong>se</strong> em vários cursos <strong>de</strong> extensão.Na época em que Alvariz cursava a FNM não existiam hospitais-escola no Rio <strong>de</strong>Janeiro, nem, obviamente, CTI. A Santa Casa era um bom lugar para estudar moléstiasclínicas, especialmente crônicas. Ficava, porém, faltando a prática em emergências, o quelevava a maioria a tentar estágios nos hospitais municipais <strong>de</strong> pronto-socorro. Eram, àépoca, <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, <strong>se</strong>ndo as equipes geralmente chefiadas pelos melhores cirurgiõesda cida<strong>de</strong>. A prova <strong>de</strong> admissão para Auxiliar <strong>de</strong> Médico <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s hospitais era <strong>de</strong> extremorigor, exigindo preparo <strong>de</strong> vários me<strong>se</strong>s <strong>de</strong> estudo intensivo. Aprovado em terceiro lugar,po<strong>de</strong> Alvariz escolher, em 1948, o hospital <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>de</strong><strong>se</strong>jo, o Getulio Vargas. Ali encontroujovens e interessados médicos, um ambiente acolhedor, e um admirável chefe da equipe, napessoa do Dr. Julio San<strong>de</strong>rson <strong>de</strong> Queiroz, recentemente falecido. Além da gran<strong>de</strong>habilida<strong>de</strong> cirúrgica e sólidos conhecimentos médicos, tinha ele vasta cultura geral, posiçãopolítica avançada e outras qualida<strong>de</strong>s que o tornavam alvo <strong>de</strong> profunda admiração <strong>de</strong> todos.Rigoroso e disciplinado cumpridor <strong>de</strong> suas tarefas, passou Alvariz a contar com total apoio,confiança e amiza<strong>de</strong> dos membros da equipe, especialmente do <strong>se</strong>u chefe. Tanto este comoo jovem cirurgião Saulo Pinto Moreira – futuro prefeito <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora e Ministro Interino


62da Saú<strong>de</strong> – vendo <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong>, inclusive pelos casos cirúrgicos, qui<strong>se</strong>ram torná-locirurgião. Após cerca <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> treinamento, recebeu autorização para realizar váriasintervenções <strong>de</strong> urgência.Assim transcorreram os <strong>se</strong>is anos <strong>de</strong> estudo e treinamento <strong>de</strong> Alvariz como estudante <strong>de</strong>medicina, nos quais encontrou ajuda e amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos superiores, com particular<strong>de</strong>staque para Aleixo <strong>de</strong> Brito, na área clínica, e Julio San<strong>de</strong>rson na cirúrgica, por eleadmirados como os principais faróis a orientá-lo nos caminhos iniciais da profissão queapaixonadamente abraçara. Foi uma fa<strong>se</strong> muito feliz, morando com os pais – os doisirmãos haviam casado – na agradável e <strong>se</strong>gura Copacabana <strong>de</strong> então. O <strong>tempo</strong> livre era<strong>de</strong>dicado à praia e outras diversões habituais aos rapazes da época. A solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong>formatura, no Teatro Municipal, ocorreu em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1949.Características pessoais:Nesta altura, cabe <strong>de</strong>screver alguns traços da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alvariz, trazidos doberço, como <strong>de</strong> regra. Timi<strong>de</strong>z, perfeccionismo e autocrítica rigorosa marcaram o <strong>se</strong>ucaráter. Assinale-<strong>se</strong>, ainda, sua simplicida<strong>de</strong>, apreço pela boa ética e pela disciplina, à qual<strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> submeteu e que procurou manter nas várias chefias que veio a exercer. Taiscaracterísticas não favoreciam maior brilho social, que nunca cortejou. A vida no hospital,uma constante, o convívio e a amiza<strong>de</strong> dos alunos e colegas, e a certeza <strong>de</strong> que estavadando o máximo para manter-<strong>se</strong> atualizado, bastavam-lhe. Após constituir família, esposa equatro filhos completaram, <strong>de</strong> forma harmônica, <strong>se</strong>u i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida, ainda que simples e <strong>de</strong>acordo com a maneira pouco lucrativa que escolhera para exercer a medicina. Incansáveltrabalhador, como fora o pai, negou-<strong>se</strong> a encerrar sua ativida<strong>de</strong> diária no hospitaluniversitário quando, ao completar 70 anos, em plena capacida<strong>de</strong> física e intelectual, foicompulsoriamente apo<strong>se</strong>ntado. Dentre <strong>se</strong>us <strong>de</strong>feitos, po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r citado um certo e disfarçadoorgulho, que estimulava mais sua autocrítica e <strong>de</strong>dicação ao trabalho e ao estudo. Nuncasolicitou favores em benefício próprio, nem buscou formas paralelas <strong>de</strong> promoção fácil,procurando afastar-<strong>se</strong> dos que o fizes<strong>se</strong>m ultrapassando o respeito aos preceitos éticos.Todos os cargos que exerceu resultaram <strong>de</strong> concursos públicos ou correspon<strong>de</strong>ram aconvites. Jamais os solicitou.


63Casamento:Em 17 <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1959, casou-<strong>se</strong> Alvariz com MariaAparecida Naldoni Cerqueira, sobrinha <strong>de</strong> um constante e saudosoamigo. A cerimônia, muito simples, por <strong>de</strong>cisão dos noivos, tevelugar na a ntiga matriz <strong>de</strong> Aparecida. Pre<strong>se</strong>ntes estavam o Prof.Américo Piquet Carneiro, um dos padrinhos, familiares do Rio,Poços <strong>de</strong> Caldas e São Paulo, e <strong>de</strong> maior número <strong>de</strong> colegas eamigos do que imaginara. Em 20 <strong>de</strong> junho do ano <strong>se</strong>guinte nasceua primeira filha, Mônica (engenheira). Nos quatro anos <strong>se</strong>guintes foi a família enriquecidacom o nascimento <strong>de</strong> mais três filhos: Alexandre (arquiteto), Ricardo e Ângela (médicos).Pós-graduação - Re<strong>se</strong>arch Fellow do Hospital Mount Sinai:Insatisfeito com os laudos das biópsias hepáticas que fazia, e <strong>de</strong><strong>se</strong>joso <strong>de</strong> assimilar einterpretar <strong>se</strong>us achados, teve Alvariz dificulda<strong>de</strong> em obter, na sua cida<strong>de</strong>, o auxilio quealmejava. Lera o magnífico livro Liver: Structure and Function, <strong>de</strong> Popper e Schaffner, <strong>de</strong>1957, que <strong>se</strong> tornou como que a Bíblia dos médicos com interes<strong>se</strong> específico em fígado.Decorrido pouco mais <strong>de</strong> um ano, veio Schaffner ao Rio. Alvariz assistiu à suaesclarecedora conferência na Santa Casa, indagando-lhe ao final sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>estagiar no Mount Sinai Hospital <strong>de</strong> Nova York,on<strong>de</strong> aqueles dois autores trabalhavam. Schaffnerrecebeu com atenção <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> e, após cerca <strong>de</strong><strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s e algumas dêmarches, foi-lheconcedida uma mo<strong>de</strong>sta bolsa para estagiar por umano como re<strong>se</strong>arch fellow, com Popper eSchaffner, naquele hospital.Em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1960 embarcou paraWashington, ali permanecendo por um mês, num curso obrigatório sobre a realida<strong>de</strong> dopaís. Sobrava bastante <strong>tempo</strong> para confraternizar com estudantes <strong>de</strong> todo o mundo, reunidosàs noites em casa a isso <strong>de</strong>stinada, e para conhecer e maravilhar-<strong>se</strong> com a belíssima e entãotranqüila cida<strong>de</strong> e suas riquezas culturais. Tornou-<strong>se</strong> amigo <strong>de</strong> Marcílio Marques Moreira,


64<strong>se</strong>cretário da Embaixada <strong>Brasileira</strong>, <strong>de</strong>pois renomado economista e Ministro da Fazenda,que gentilmente levou-o a inúmeros pontos turísticos e históricos, e a várias reuniões.Outro dos amigos lá feitos, Olympio Faissol Filho, hoje um dos mais <strong>de</strong>stacadosodontólogos do país, muito o ajudou em <strong>de</strong>svendar <strong>de</strong>talhes da cida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>pois, na busca<strong>de</strong> apartamento <strong>de</strong> aluguel acessível para morar em Nova York.Após um mês em Washington, viajou para Nova York, on<strong>de</strong> <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntou ao Prof.Fenton Schaffner, no magnífico hospital Mount Sinai. Foi logo levado à pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> HansPopper, chefe do Serviço <strong>de</strong> Patologia, consi<strong>de</strong>rado, até morrer, o maior dos hepatologistas.Ju<strong>de</strong>u austríaco, con<strong>se</strong>guira fugir à per<strong>se</strong>guição nazista, indo para os Estados-Unidos.O trabalho <strong>de</strong> Alvariz, como o <strong>de</strong> Don Anthony, o outro re<strong>se</strong>arch fellow recémadmitido, um simpático americano com quem fez logo amiza<strong>de</strong>, consistia em visitar eanotar em ficha própria todos os dados dos pacientes hepáticos nas diversas enfermarias, eapre<strong>se</strong>ntá-los nas visitas coletivas. Foram-lhe franqueados um potente foto-microscópio, oarquivo <strong>de</strong> lâminas histológicas <strong>de</strong> Popper, e rolos <strong>de</strong> filmes para documentar os achado<strong>se</strong>m transparências.O horário <strong>de</strong> trabalho era <strong>de</strong> 8:30 às 17:00 h, mas às <strong>se</strong>gundas e terças- feirasprolongava-<strong>se</strong> até cerca da meia-noite. Às <strong>se</strong>gundas, para participar da reunião <strong>se</strong>manal <strong>de</strong>pesquisa, <strong>de</strong> Popper, e às terças, na <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Médica ou Cirúrgica, on<strong>de</strong> todos oscasos <strong>de</strong> óbito eram discutidos. Pela <strong>se</strong>ssão <strong>de</strong> pesquisa passavam os gran<strong>de</strong>s estudiosos dofígado, americanos e estrangeiros em visita a Nova York. Havia uma <strong>se</strong>ssão <strong>se</strong>manal naPatologia, na qual Popper, <strong>de</strong> avental e luvas, <strong>se</strong>gurando fígados nas mãos, mostrava<strong>de</strong>talhes macroscópicos das lesões. Popper era acessível e logo passou a levar Anthony eAlvariz, em <strong>se</strong>u próprio carro, para assistir freqüentes <strong>se</strong>ssões anatomo-clínicas emhospitais da área <strong>de</strong> NY, das quais era o relator. Outras <strong>se</strong>ssões <strong>se</strong>manais, com discussão<strong>de</strong> casos e diversas patologias clínicas, eram <strong>de</strong> alto nível. Delas participavam famososmembros do staff, como Crohn, que <strong>de</strong>screveu a doença que leva <strong>se</strong>u nome, e Moscowicz,pioneiro na caracterização da púrpura trombocitopênica trombótica.Faltava a Alvariz, nos primeiros dias, alguém que <strong>se</strong> dispu<strong>se</strong>s<strong>se</strong> a ajudá-lo nainterpretação dos achados <strong>de</strong> histologia hepática. Foi quando Augusto Paulino Neto, jáencerrando <strong>se</strong>u estágio em pâncreas com o Prof. Dreiling, apre<strong>se</strong>ntou-lhe o Prof. ZiltonAndra<strong>de</strong>, um brilhante Professor <strong>de</strong> Patologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Salvador,


65estagiando no Mount Sinai. Simples e mo<strong>de</strong>sto, suas elevadas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter eprofundo conhecimento especializado encantaram Alvariz, como haviam <strong>de</strong>spertado aadmiração <strong>de</strong> Popper. L ogo tornaram-<strong>se</strong> amigos e Zilton re<strong>se</strong>rvava diariamente algum<strong>tempo</strong>, após o almoço, para treinar o colega, revendo e comentando <strong>de</strong>scrição feita porAlvariz dos achados nas lâminas histológicas que lhe havia previamente fornecido.Chegavam diariamente ao hospital, dos mais diversos paí<strong>se</strong>s, consultas acompanhadas porlâminas histológicas <strong>de</strong> biópsias hepáticas. Todas eram, <strong>de</strong> pronto, entregues por Popper aZilton, que chamava Alvariz para ob<strong>se</strong>rvá-las e <strong>de</strong>pois acompanhá-lo na avaliação finalcom aquele professor.Assim que chegou a NY, teve Alvariz adifícil tarefa <strong>de</strong> procurar, <strong>de</strong>ntro doorçamento <strong>de</strong> que dispunha, inferior aosalário mínimo do país, apartamentopara morar com a esposa e a primeirafilha, que vira nascer pouco antes <strong>de</strong>viajar, e que pronto chegariam doBrasil. Após alguns transtornos,encontrou ótimo local em apart-hotelsituado na rua 73W, próximo aoRiversi<strong>de</strong> Park e à Broadway. Pas<strong>se</strong>ios no Riversi<strong>de</strong> e no Central Park, visitas aos gran<strong>de</strong>smagazines e outros locais públicos, eram diversões simples e <strong>se</strong>m dispêndio, muitoapreciadas. Logo veio o inverno, o mais rigoroso dos últimos 40 anos, trazendo algumadificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> locomoção fora do metrô, mas oferecendo o belo espetáculo, inédito para ocasal, da neve a cair suavemente e a branquear toda a cida<strong>de</strong>. A TV, além <strong>de</strong> ótimo passa<strong>tempo</strong>,permitia-lhes acompanhar espetáculos como os da campanha <strong>de</strong> Kennedy àpresidência e as <strong>se</strong>ssões da ONU. O Natal foi passado no apartamento <strong>de</strong> Zilton, junto comsua família.No início <strong>de</strong> 1961 recebeu Alvariz a visita <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> professores da UERJ.Piquet e Jayme Landmann, com as esposas, optaram por hospedar-<strong>se</strong> no <strong>se</strong>u hotel.Conversando com Piquet, expôs-lhe Alvariz <strong>se</strong>u pensamento quanto à subdivisão doServiço no Hospital do IAPETC, a fim <strong>de</strong> permitir o maior <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> cada sub-


66especialida<strong>de</strong> clínica, tudo sob o comando do Chefe da Clínica Médica, tal como ocorria noHospital dos Servidores do Estado (HSE), no Rio <strong>de</strong> Janeiro.Dentro do programa <strong>de</strong> <strong>se</strong>u estágio, participou também Alvariz <strong>de</strong> congressos emvários estados, além <strong>de</strong> visitas ou estágios <strong>de</strong> uma a duas <strong>se</strong>manas em universida<strong>de</strong>s, comoa John’s Hopkins (Baltimore, 1961), Chicago e Northwestern (Chicago, 1961). Muitasvisitas a hospitais, em NY e Washington (Walter Reed), e ao National Institutes of Health,em Bethesda. Freqüentou também alguns cursos, como o <strong>de</strong> Gastroenterologia do Prof.Bockus, patrocinado pelo American College of Physicians, com duração <strong>de</strong> uma <strong>se</strong>mana(Phila<strong>de</strong>lphia, 1961).Finalizadas as ativida<strong>de</strong>s do estágio, inclusive a entrega dos diplomas no PublicHeath Department, embarcou Alvariz para o Brasil, em 4/7/61. A esposa, que enfrentaracom alegria as durezas <strong>de</strong> viver em NY com muita limitação financeira, havia regressadoum mês antes, por estar grávida do <strong>se</strong>gundo filho, Alexandre.Livre-Docência:Alvariz vinha preparando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da década<strong>de</strong> 60, uma te<strong>se</strong> sobre hepatite aguda grave,<strong>de</strong>stinada a disputar o anunciado concurso <strong>de</strong> LivreDocência na Faculda<strong>de</strong> Fluminen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina(Hepatite Aguda Grave, Te<strong>se</strong>, PontifíciaUniversida<strong>de</strong> Católica, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 1974).Nela estudou 25 casos <strong>de</strong> hepatite aguda grave, <strong>de</strong>etiologia viral ou medicamentosa, repre<strong>se</strong>ntando 3,76% dos casos <strong>de</strong> hepatite atendido<strong>se</strong>ntre janeiro <strong>de</strong> 1950 e junho <strong>de</strong> 1974, no Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica do H ospital doIAPETC, que passaremos a <strong>de</strong>nominar como Hospital Geral <strong>de</strong> Bonsucesso (HGB), nomeque posteriormente recebeu, em caráter <strong>de</strong>finitivo. Todos os casos, cuja mortalida<strong>de</strong>atingiu 84%, foram acompanhados pessoalmente pelo autor. Como o concurso da FFMsofres<strong>se</strong> sucessivos adiamentos, e aten<strong>de</strong>ndo ao gentil empenho do Prof. Geraldo Siffert,<strong>de</strong>cidiu-<strong>se</strong> a utilizá-la na disputa do título <strong>de</strong> Livre Docente em Gastroenterologia da Escola<strong>de</strong> Pós-Graduação Médica da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Foi


67aprovado em primeiro lugar, no conjunto das cinco provas (títulos, escrita, prática, aula,<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> te<strong>se</strong>) realizadas em 1975, com banca presidida pelo ilustre Prof. Pedro Nava.Ativida<strong>de</strong>s como médico e professor:NO HOSPITAL GERAL DE BONSUCESSOAos <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s <strong>de</strong> formado, foi Alvariz convidado pelo Professor Américo PiquetCarneiro, chefe do Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica do HGB, a integrar sua equipe. Era umhospital gran<strong>de</strong> e mo<strong>de</strong>rno, recém construído, com cerca <strong>de</strong> 700 leitos, <strong>de</strong>stinadoinicialmente a aten<strong>de</strong>r os <strong>se</strong>gurados do Instituto <strong>de</strong> Apo<strong>se</strong>ntadoria e Pensões dosEmpregados em Transportes e Cargas. Lá trabalhavam, além do Prof. Piquet, outrasgran<strong>de</strong>s figuras da medicina brasileira, com <strong>de</strong>staque para os dois filhos do gran<strong>de</strong> OswaldoCruz, Oswaldo Cruz Filho e Walter Oswaldo Cruz, na Bacteriologia e Hematologia, GelliPereira, pesquisador <strong>de</strong> escol, <strong>de</strong>pois radicado em Londres, Flávio Aprigliano, precursor daendoscopia per-oral no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Sérgio Franco, que montou o melhor laboratório <strong>de</strong>Bioquímica da cida<strong>de</strong>, Darcy Magalhães, exímio cirurgião e ginecologista, e notáveisortopedistas, como Oscar Rudge, Vicente Rondinelli e Luis Paulo Tovar. Rondinelli eTovar, ex-campeões <strong>de</strong> futebol, além Jamil Haddad, jovem ortopedista, ex-campeão carioca<strong>de</strong> basquete e futuro <strong>se</strong>nador e ministro da Saú<strong>de</strong>, tornaram-<strong>se</strong> gran<strong>de</strong>s amigos <strong>de</strong> Alvariz, e<strong>se</strong>us companheiros na prática do ski aquático. Às quartas-feiras havia uma “pelada” nocampo do vizinho Abrigo Cristo Re<strong>de</strong>ntor, também freqüentada pelos internos, além <strong>de</strong>alguns médicos e funcionários do hospital.A admiração e amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alvariz pelo Prof. Piquet foi <strong>se</strong> consolidando com oconvívio diário. Aos poucos foi ob<strong>se</strong>rvando, naquele homem <strong>de</strong> exterior suave e mo<strong>de</strong>sto,qualida<strong>de</strong>s exponenciais, difíceis <strong>de</strong> reunir num mesmo indivíduo. Profundamenteestudioso e inteligente, <strong>se</strong>us amplos conhecimentos ultrapassavam o campo médico,abrangendo vasta cultura geral e humanística. Muito fino no trato e rigorosamente ético,parecia antes um colega mais velho que todos respeitavam e acatavam, do que um chefeimpositivo. Muito religioso, ia à missa e comungava diariamente, era Irmão leigo daOr<strong>de</strong>m Beneditina, foi o primeiro a receber a hóstia das mãos do Papa, na sua primeiravisita ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>se</strong>ndo amigo e companheiro <strong>de</strong> intelectuais católicos do nível <strong>de</strong>Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção. Jamais, porém, externava sua profunda


68religiosida<strong>de</strong> ou fazia pro<strong>se</strong>litismo. Muito justo, não distinguia, no trabalho, a posiçãoreligiosa ou política <strong>de</strong> cada um, e não indagava a respeito. Era, no entanto, ótimoob<strong>se</strong>rvador, <strong>de</strong>terminado e inflexível no cumprimento <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s, e dotado<strong>de</strong> coragem para agir <strong>se</strong>mpre que necessário. Isso <strong>de</strong>monstrou, por exemplo, quando, em1968, já então Professor Catedrático e Diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas (FCM),viu <strong>se</strong>u gabinete invadido por militares em busca <strong>de</strong> estudantes envolvidos nasmanifestações <strong>de</strong> 1968, contra o regime militar.Aos poucos foi o Prof. Piquet <strong>de</strong>monstrando gran<strong>de</strong> empatia e confiança em relaçãoa Alvariz, a quem entregava a responsabilida<strong>de</strong> do Serviço em eventuais afastamentos,oficializando-o como <strong>se</strong>u Substituto Automático em 1955. Essa confiança era plenamenteretribuída, tendo Alvariz feito do hospital sua <strong>se</strong>gunda casa. Participava, ainda, comoProfessor-Assistente, do Curso Equiparado <strong>de</strong> Clínica Médica da FNM-UB, atual UFRJ,ministrado por Piquet, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Livre Docente. O curso era dado no próprio Serviçodo HGB e os alunos, atraídos pelas excepcionais qualida<strong>de</strong>s didáticas <strong>de</strong> Piquet, e pelaestrutura hospitalar que não encontravam na Faculda<strong>de</strong>, faziam fila, alguns <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a véspera,para nele inscrever-<strong>se</strong>.A procura por estágio no Serviço, como Interno Voluntário, foi crescendo. Agran<strong>de</strong> maioria era encaminhada para Alvariz, que <strong>se</strong> via ro<strong>de</strong>ado por estudantes <strong>se</strong>quiosos<strong>de</strong> aprendizado na prática clínica. Médicos hoje famosos <strong>se</strong>guiram es<strong>se</strong> caminho, nessaépoca ou pouco <strong>de</strong>pois. Dentre eles, Moy<strong>se</strong>s Sklo, que atingiu a chefia do importante<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Medicina Social na Universida<strong>de</strong> John’s Hopkins, Emilio Francischettique, bastante jovem, foi Professor Titular em São José do Rio Preto, e <strong>de</strong>pois em Taubaté,até prestar concurso e assumir uma Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica na UERJ, Hesio Cor<strong>de</strong>iro,futuro Reitor da UERJ e hoje Diretor da Escola Médica da Universida<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá,Luiz Felippe Mattoso, gran<strong>de</strong> radiologista, Antonio Tufic Simão que, no Hospital dosServidores do Estado (HSE), criou e chefiou o primeiro Centro <strong>de</strong> Tratamento Intensivo doRio <strong>de</strong> Janeiro, João Bosco Magalhães Rios, dos mais <strong>de</strong>stacados alergistas da cida<strong>de</strong>, emuitos outros.O interes<strong>se</strong> <strong>de</strong> Alvariz pelas hepatopatias cresceu com a ida para o HGB, on<strong>de</strong> oshepatopatas repre<strong>se</strong>ntavam proporção significativa dos numerosos casos internados. Emoutubro <strong>de</strong> 1952 apre<strong>se</strong>ntava, juntamente com Piquet, na I Jornada Médica <strong>de</strong> Cataguazes,


69estudo com série <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hepatite viral aguda. Em 1954 passou a realizar biópsiashepáticas percutâneas. Consi<strong>de</strong>rável parte <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong> e <strong>de</strong> <strong>se</strong>us estudos, porém, tinhampor objeto outras áreas clínicas, pois a cada dia <strong>de</strong>via aten<strong>de</strong>r casos das mais diversasafecções. Era um gran<strong>de</strong> <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> Clínica Médica, com mais <strong>de</strong> <strong>se</strong>tenta leitos, e o Prof.Piquet não era apologista da sua subdivisão em <strong>se</strong>tores especializados, idéia que começavaa empolgar Alvariz.Estudava-<strong>se</strong> muito e para isso ia-<strong>se</strong>, com muita freqüência, à casa <strong>de</strong> Piquet e aalgumas bibliotecas médicas da cida<strong>de</strong>, especialmente do vizinho Instituto Oswaldo Cruz edo HSE. Os jovens médicos e internos voluntários permaneciam em <strong>tempo</strong> integral nohospital, discutiam cada caso em rounds e <strong>se</strong>ssões. Pouco, no entanto, era apre<strong>se</strong>ntado emcongressos ou publicado, em parte por falta <strong>de</strong> <strong>tempo</strong> livre ou por autocrítica, às veze<strong>se</strong>xagerada. Dos poucos trabalhos publicados na década <strong>de</strong> 50, vale citar o <strong>de</strong> Piquet eAlvariz, relatando um dos primeiros casos <strong>de</strong> mielite esquistossomótica da literaturauniversal (Hospital 1955;47:237-253). Em 1960, estimulado por San<strong>de</strong>rson, escreveuAlvariz uma revisão didática sobre funções e provas funcionais hepáticas, objeto <strong>de</strong> cursoanual noturno que vinha dando por solicitação do Diretório Acadêmico (Rev Med EstadoGuanabara 1960;27:281-332), e que teve boa acolhida, especialmente entre alunos <strong>de</strong> vária<strong>se</strong>scolas médicas. Es<strong>se</strong> texto teve o mérito <strong>de</strong>,mais adiante, en<strong>se</strong>jar sua aproximação comThomaz Figueiredo Men<strong>de</strong>s, incansável eagregador hepatologista que <strong>de</strong><strong>se</strong>java fundar a<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e organizar oPrimeiro Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,ativida<strong>de</strong>s pioneiras das quais Alvariz, por eleconvocado, participou.Na parte social, Piquet organizava reuniões em sua casa ou na <strong>de</strong> <strong>se</strong>u irmão José.Chegou, em duas ocasiões, a formar grupo <strong>de</strong> rapazes e moças, por ele escolhidos, com oobjetivo <strong>de</strong> confraternização através <strong>de</strong> agradáveis reuniões e excursões. Alvariz<strong>de</strong>sconfiava que um dos objetivos era facilitar o fim do celibato daqueles jovens, tendo,porém, permanecido imune.


70Piquet aspirava à Cátedra, o que o levou a disputar por duas vezes uma Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>Clínica Médica da então FNM da Universida<strong>de</strong> do Brasil. Para isso preparou doutas te<strong>se</strong>s,uma sobre “Doenças do Colágeno”, outra sobre a “Síndrome <strong>de</strong> Cruveilhier-Baumgarten”,mas não era ainda a sua vez. Nessa fa<strong>se</strong>, teria forçosamente <strong>de</strong> afastar-<strong>se</strong> um pouco dasativida<strong>de</strong>s do hospital, inclusive usando algumas licenças a que podia recorrer. Alvarizpassou a respon<strong>de</strong>r pela maior parte das responsabilida<strong>de</strong>s da Clínica Médica. Em 1959,Piquet assumiu uma das Ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas(FCM) da então Universida<strong>de</strong> da Guanabara, hoje UERJ. Fora vitorioso nas provas, comte<strong>se</strong> versando sobre colesta<strong>se</strong> prolongada na hepatite viral aguda. Alvariz foi nomeadoInstrutor <strong>de</strong> Ensino e, mais tar<strong>de</strong>, Assistente <strong>de</strong> Clínica Médica da mesma Faculda<strong>de</strong>. Àfalta <strong>de</strong> hospital próprio, aulas teóricas e prática hospitalar processavam-<strong>se</strong> no Serviço <strong>de</strong>Piquet, no HGB. A <strong>se</strong>guir, no entanto, Piquet con<strong>se</strong>guiu com o Governador CarlosLacerda, <strong>se</strong>u amigo, fos<strong>se</strong> o Hospital Pedro Ernesto cedido à Faculda<strong>de</strong>, a primeira do Rio<strong>de</strong> Janeiro a contar com es<strong>se</strong> benefício.Entre agosto <strong>de</strong> 1960 e Julho <strong>de</strong> 1961, fez Alvariz um estágio <strong>de</strong> pós-graduação emhepatopatias no Mount Sinai Hospital, <strong>de</strong> Nova York, por muitos anos a Meca do estudo da<strong>Hepatologia</strong>, <strong>de</strong>talhado noutro tópico.Poucos dias após <strong>se</strong>u regresso <strong>de</strong>s<strong>se</strong> estágio, o Prof. Piquet, ouvidos os <strong>de</strong>maisassistentes reunidos em <strong>se</strong>ssão, <strong>de</strong>cidiu aceitar a reorganização do Serviço e a criação <strong>de</strong><strong>se</strong>tores especializados, <strong>se</strong>g undo sugerira Alvariz,. A inauguração do HospitalUniversitário Pedro Ernesto (HUPE) obrigou Piquet a licenciar-<strong>se</strong> do HGB, tendo naocasião acon<strong>se</strong>lhando Alvariz, <strong>se</strong>u substituto, a trocá-lo pelo HUPE, assim como a prepararte<strong>se</strong> para disputar a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Doenças Infecciosas e Parasitárias, em prova a <strong>se</strong>rbrevemente realizada.Alvariz preferiu recusar o honroso convite, embora mantendo ativida<strong>de</strong> em <strong>tempo</strong>parcial no HUPE. Suas razões foram compreendidas por Piquet, não ocasionando qualquerarranhão numa amiza<strong>de</strong> que perdurou até a morte do gran<strong>de</strong> mestre. Os principais motivos<strong>de</strong>ssa recusa foram, <strong>de</strong> um lado, algumas dificulda<strong>de</strong>s existentes no Pedro Ernesto, como aexistência <strong>de</strong> cinco clínicas médicas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e <strong>se</strong>m ambulatório e, <strong>de</strong> outro, oentusiasmo pelo trabalho <strong>de</strong> reorganização do Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica do HGB. Estavaele em curso, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alvariz, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1955 fora nomeado substituto automático


71do Chefe do Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica, <strong>se</strong>ndo posteriormente efetivado nessa chefia, porocasião da apo<strong>se</strong>ntadoria <strong>de</strong> Piquet.O HGB apre<strong>se</strong>ntava gran<strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong> e contava com vários médicos e <strong>se</strong>rviços<strong>de</strong> incontestável valor. Dentre eles, além dos anteriormente citados, como Sérgio Franco,com <strong>se</strong>u atualíssimo laboratório <strong>de</strong> Bioquímica, <strong>de</strong>vem <strong>se</strong>r mencionados Paulo Dacorso e,<strong>de</strong>pois, Euzenir Sarno, que <strong>de</strong>ram nova vida à Patologia. Os Setores da Clínica Médica iam<strong>se</strong>ndo organizados – Endocrinologia, Hematologia, Gastroenterologia, Nefrologia,Pneumologia e Reumatologia – contando com jovens <strong>de</strong>dicados e eficientes médicos.Foram <strong>se</strong>ndo implantados, <strong>de</strong>ntre outros avanços, o transplante renal, a fibro-endoscopiadigestiva alta e baixa, a laparoscopia, as provas <strong>de</strong> função respiratória e um pequenolaboratório, que cresceu e <strong>se</strong> mostrou <strong>de</strong> enorme valia quando, algum <strong>tempo</strong> <strong>de</strong>pois, o Dr.Sergio Franco <strong>de</strong>cidiu afastar-<strong>se</strong>. Para isso, especialmente no que tange aos testeshepáticos, Alvariz teve que adquirir certa prática nas técnicas bioquímicas, transferindo otrabalho, <strong>de</strong>pois, à eficiente e <strong>de</strong>dicada <strong>se</strong>cretária Maria <strong>de</strong> Fátima. O Dr. João LuisPereira, que lá trabalhava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> estudante, <strong>de</strong>u também valiosa contribuição, especialmentena pesquisa dos marcadores do vírus B da hepatite. Nos <strong>de</strong>mais <strong>se</strong>tores, diversos médicos<strong>se</strong>guiram conduta <strong>se</strong>melhante.Após alguns anos <strong>de</strong> luta do corpo médico do HGB, duas reivindicações, ambas <strong>de</strong>primordial importância, foram atendidas. Uma foi a criação da Residência Médica que,<strong>de</strong>ntre inúmeras vantagens, veio a resolver o grave problema do atendimento nos plantões.Outra vitória <strong>de</strong>cisiva foi a abertura do ambulatório que, funcionando basicamente à tar<strong>de</strong>,com aproveitamento dos médicos que já atuavam pela manhã, repre<strong>se</strong>ntou uma forma <strong>de</strong>trabalho em <strong>tempo</strong> integral, <strong>de</strong> capital importância. Es<strong>se</strong>s fatos levaram Alvariz a <strong>de</strong>mitir<strong>se</strong>da faculda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> mantinha ativida<strong>de</strong> parcial, para o cumprimento da qual agora lhefaltava <strong>tempo</strong>.No que tange à <strong>Hepatologia</strong> que, juntamente com a Gastroenterologia, ficava sob acoor<strong>de</strong>nação direta <strong>de</strong> Alvariz, a existência <strong>de</strong> ambulatório e laboratório próprios foiextraordinariamente benéfica. Colhia-<strong>se</strong> sangue dos pacientes a cada consulta, evitando-<strong>se</strong>assim, na gran<strong>de</strong> maioria das vezes, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno para colheita. Os examesbioquímicos e, quando era o caso, <strong>de</strong> forma algo pioneira, os marcadores virais entãoexistentes, eram prontamente realizados. Os soros, por outro lado, eram sistematicamente


72estocados a baixa temperatura, dando-<strong>se</strong> início a uma soroteca que veio a assumir gran<strong>de</strong>sproporções. Es<strong>se</strong> sistema trouxe muitas vantagens, inclusive, ganhando-<strong>se</strong> <strong>tempo</strong> para odiagnóstico. Alvariz exemplificava com a i<strong>de</strong>ntificação precoce <strong>de</strong> evolução à formafulminante, <strong>de</strong> dois casos <strong>de</strong> hepatite aguda aparentemente benigna, através do que elechamava <strong>de</strong> “sinal da cruz”: queda progressiva das transamina<strong>se</strong>s e simultânea elevação dabilirrubina. Convocados, foram os dois prontamente internados, passando a <strong>se</strong>rintensivamente medicados, apesar do que ambos entraram em franca encefalopatia, da qual,felizmente, um saiu e obteve a cura.O hospital recebia gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hipertensão porta, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>mpreocasionada por cirro<strong>se</strong> ou esquistossomo<strong>se</strong>, com alta mortalida<strong>de</strong> por hemorragia digestivaalta. Não havia ainda o tratamento endoscópico, tendo que recorrer-<strong>se</strong> a toda hora ao usodas sondas-balão. Muitas vezes impunha-<strong>se</strong> o tratamento cirúrgico, que não era aindarealizado no HGB. Con<strong>se</strong>guiu Alvariz, vezes <strong>se</strong>m conta, a colaboração, <strong>se</strong>m qualquercontrapartida material, do Prof. Pedro Abdalla, exímio cirurgião do HSE, com largaexperiência nas cirurgias <strong>de</strong> anastomo<strong>se</strong> porto-cava e similares, o que ajudou a salvarmuitas vidas. Acabou <strong>se</strong>ndo con<strong>se</strong>guida a sua transferência para o HGB, on<strong>de</strong> assumiu achefia <strong>de</strong> importante Clínica Cirúrgica.Na era anterior ao <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da ultra-sonografia e da colangiografiaendoscópica retrógrada, o diagnóstico das icterícias colestáticas estava sujeito a erros ouretardo, muitas vezes com sérias con<strong>se</strong>qüências. Em 1964, Alvariz passou a realizarcolangiografias percutâneas transhepáticas, por método e com agulha próprios, o quepermitia o rápido esclarecimento <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s casos. Seus bons resultados foram publicados,tendo ele sido solicitado por colegas <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s e estados a <strong>de</strong>monstrar <strong>se</strong>u método.Des<strong>de</strong> o início da década <strong>de</strong> 60, os médicos dos vários <strong>se</strong>tores passaram a freqüentarregularmente os congressos das especialida<strong>de</strong>s clínicas, e a apre<strong>se</strong>ntar <strong>se</strong>us resultados. NaGastroenterologia, vários trabalhos foram apre<strong>se</strong>ntados, <strong>de</strong>zes<strong>se</strong>te <strong>de</strong>les <strong>se</strong>ndo publicado<strong>se</strong>m revistas nacionais. Num era relatado o <strong>se</strong>gundo caso <strong>de</strong> esteato<strong>se</strong> aguda da gravi<strong>de</strong>zpublicado no país, com ampla documentação dos achados <strong>de</strong> necropsia (O Hospital1965;68:1055-1070). Outro, sobre a lesão hepática pelo antimonial usado no tratamento daesquistossomo<strong>se</strong>, foi reproduzido em compêndio do Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Marinha <strong>de</strong>


73Guerra dos Estados-Unidos. Nas décadas <strong>se</strong>guintes, essas ativida<strong>de</strong>s foram crescendo,inclusive com publicações em periódicos estrangeiros.Ao lado <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s fatos positivos, outros, negativos, surgiam <strong>de</strong> quando em vez, qua<strong>se</strong><strong>se</strong>mpre <strong>de</strong>vidos à influência da má política partidária na direção do hospital. Nessas fa<strong>se</strong>s,exacerbava-<strong>se</strong> habitualmente a corrupção que <strong>se</strong>ntíamos existir, exemplificada, <strong>de</strong> formainacreditável, pela compra <strong>de</strong> <strong>se</strong>ringas <strong>de</strong> 500ml, pouco usadas, em quantida<strong>de</strong> tal quecorrespon<strong>de</strong>ria ao consumo <strong>de</strong> 400 anos! De outra feita, Alvariz <strong>de</strong>nunciou a compra <strong>de</strong>kits para <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> enzimas hepáticas, fornecidos por firma suspeita, tendo aapuração do fato esclarecido tratar-<strong>se</strong> <strong>de</strong> material roubado do INAMPS e ao mesmoposteriormente revendido!Dois gran<strong>de</strong>s problemas não médicos, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> influências políticas espúrias,teve Alvariz que enfrentar nos longos anos em que conduziu a Clínica Médica do HGB. Oprimeiro, em 1980, originou-<strong>se</strong> da entrega do controledo hospita l a grupo político <strong>de</strong> baixo nível, quepassou a <strong>de</strong>sorganizar tudo, a favorecer protegidos <strong>de</strong>pouca <strong>se</strong>rieda<strong>de</strong> ou capacida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>mitir muitos dosmelhores médicos, com longa folha <strong>de</strong> <strong>se</strong>rviçosprestados ao hospital. Diante disso, <strong>de</strong>cidiu Alvarizprocurar a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Medicina e Cirurgia do RJ, <strong>de</strong> cujo Con<strong>se</strong>lho Superior eramembro, <strong>se</strong>ndo os fatos <strong>de</strong>nunciados <strong>de</strong> forma ética no jornal <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>. Daí resultoua <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> Alvariz da Chefia da Clínica, por or<strong>de</strong>m direta do chefe político ao diretorpor ele nomeado. Es<strong>se</strong> fato revoltou médicos e <strong>de</strong>mais funcionários que, em reuniãopermanente, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ravam qualquer <strong>de</strong>terminação do diretor, ao <strong>tempo</strong> em que osresi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>claravam-<strong>se</strong> em greve. Tudo repercutiu vivamente na imprensa, rádio e TV,originando <strong>de</strong>svanecedoras manifestações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagravo <strong>de</strong> várias personalida<strong>de</strong>s eentida<strong>de</strong>s médicas. Em uma <strong>se</strong>mana a <strong>de</strong>missão foi <strong>de</strong>sfeita e, pouco <strong>de</strong>pois, substituído odiretor.O <strong>se</strong>gundo problema <strong>de</strong>correu do <strong>de</strong>scontrole administrativo <strong>de</strong> um governo fe<strong>de</strong>ralque acabou sofrendo impeachment. Temeroso com reclamações transmitidas emreportagem <strong>de</strong> TV, feitas por alguns pacientes que, <strong>de</strong> vários municípios, afluíam em massaao hospital, ultrapassando sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento pronto, <strong>de</strong>cidiu-<strong>se</strong> o diretor por


74absurda solução. Determinou que os ambulatórios da Clínica Médica, todos altamentereferenciados e aten<strong>de</strong>ndo enorme clientela com afecções que exigiam tratamentoespecializado, fos<strong>se</strong>m transformados em ambulatórios <strong>de</strong> “Pronto Atendimento”. Trata-<strong>se</strong><strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong>stinado a aten<strong>de</strong>r a problemas mais simples, com consultasgeralmente super-rápidas e mais vezes não resolutivas, que alguns alcunhavam <strong>de</strong> “papafila”.Tendo Alvariz <strong>se</strong> oposto a essa medida, embora oferecendo uma cota extra <strong>de</strong>sacrifício dos médicos do <strong>se</strong>u Serviço, previamente consultados, para ampliação <strong>de</strong>s<strong>se</strong>Pronto Atendimento, passou a <strong>se</strong>r per<strong>se</strong>guido pelo então diretor, até <strong>se</strong>r <strong>de</strong>mitido da chefia.Chegando <strong>de</strong> Sidnei, on<strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntara o Brasil no Congresso Mundial <strong>de</strong>Gastroenterologia, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong>Gastroenterologia, <strong>de</strong>cidiu-<strong>se</strong> Alvariz a apre<strong>se</strong>ntar <strong>se</strong>u imediato pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão docargo <strong>de</strong> médico, com perda <strong>de</strong> todas as vantagens adquiridas em muitos anos <strong>de</strong> trabalho.À última hora, porém, essa perda foi evitada por outra “loucura” do mesmo governo: foraposto, na honrosa companhia <strong>de</strong> Pedro Abdalla e outras figuras exponenciais do HGB e <strong>de</strong>outros hospitais, como Julio San<strong>de</strong>rson, José Wa<strong>se</strong>n da Rocha e Alci<strong>de</strong>s Caltabiano, em“disponibilida<strong>de</strong> remunerada”. Trata-<strong>se</strong> <strong>de</strong> uma situação absurda e suspeita, em que ofuncionário percebe integralmente o salário, mas não po<strong>de</strong> apre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> ao trabalho!Numa medida indigna, a direção do HGB ofereceu ao Instituto Oswaldo Cruz os <strong>se</strong>tefreezers com milhares <strong>de</strong> soros acumulados por Alvariz. A Diretora do Instituto <strong>de</strong>Virologia do IOC, após consultá-lo e da forma mais ética possível, aceitou-os somente para,ato contínuo, a ele <strong>de</strong>volver-lhes, o que foi feito. Infelizmente, porém, num requinte <strong>de</strong>inqualificável <strong>de</strong>srespeito pelo trabalho <strong>de</strong> anos, haviam eles sido <strong>de</strong>sligados da correnteelétrica durante a sua ausência, com perda <strong>de</strong> todos os soros.Assim que ficou em disponibilida<strong>de</strong> remunerada, passou Alvariz a atuar em <strong>tempo</strong>integral na FCM, à qual voltara após <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> afastamento, como <strong>se</strong>rá relatado.Transcorridos dois anos, adquiriu o <strong>tempo</strong> necessário e apo<strong>se</strong>ntou-<strong>se</strong> do HGB, não maisvoltando ao <strong>se</strong>u amado hospital, exceto <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois, quando foi homenageado, <strong>se</strong>ndoentão batizada com <strong>se</strong>u nome a ala principal da Clínica Médica, palco <strong>de</strong> <strong>se</strong>us esforços pormuitos anos.


75Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da atual Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio<strong>de</strong> Janeiro e Hospital Universitário Pedro Ernesto:A atuação <strong>de</strong> Alvariz como professor da FCM dividiu-<strong>se</strong> em duas fa<strong>se</strong>s. Aprimeira, em <strong>tempo</strong> parcial, transcorreu entre agosto <strong>de</strong> 1959 e agosto <strong>de</strong> 1970, inicialmentecomo Instrutor <strong>de</strong> Ensino, <strong>de</strong>pois como Professor Assistente <strong>de</strong> Clínica Médica. Demitiu<strong>se</strong>voluntariamente em 1970, ao constatar que, com a criação do ambulatório no HGB, nãolhe sobrava <strong>tempo</strong> para bem exercer essa ativida<strong>de</strong>.Passados <strong>de</strong>z anos, em janeiro <strong>de</strong> 1981, voltou Alvariz à FCM, aten<strong>de</strong>ndo a umhonroso convite feito durante almoço que lhe foi oferecido pelos Diretores e Vice-Diretores, tanto da FCM como do HUPE, juntamente com os Professores EmílioFrancischetti, antigo aluno que assumira uma Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica, Jayme Landman eAmérico Piquet Carneiro. O convite era para assumir a chefia da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Gastroenterologia do Hospital Universitário, o que foi recusado para não <strong>de</strong>slocar ovaloroso colega Edson Jurado. Assumiu-o posteriormente, por solicitação <strong>de</strong>s<strong>se</strong> mesmocolega.Des<strong>de</strong> sua nomeação para a FCM, no entanto, passou Alvariz a atuar intensamente,nas aulas e <strong>se</strong>ssões da Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica do Prof. Emilio Francischetti, <strong>de</strong> iníciocomo Professor Auxiliar e, logo a <strong>se</strong>guir, como Professor Adjunto. Fundou o ambulatório<strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, até então inexistente, e iniciou, juntamente com os Profs. José FernandoRibeiro e Silvio Gurfinkel, laboriosa pesquisa que revelou a impressionante incidência <strong>de</strong>hepatite viral em 49% dos doentes recebendo hemotransfusão durante cirurgias cardíacas.Assumindo a Coor<strong>de</strong>nação da Seção <strong>de</strong> Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva, <strong>de</strong>poi<strong>se</strong>levada à condição <strong>de</strong> Disciplina autônoma, promoveu Alvariz, com o apoio do entãoDiretor do HUPE, Prof. Ricardo Donato, total ampliação e reforma nas suas pequenas eina<strong>de</strong>quadas instalações. Passou, então, a Disciplina a contar com uma enfermaria <strong>de</strong> <strong>se</strong>isleitos, quatro mo<strong>de</strong>rnas salas <strong>de</strong> exames, sala <strong>de</strong> espera e <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendências.Paralelamente, novos vi<strong>de</strong>oendoscópios foram recebidos. O ambulatório <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,pessoalmente coor<strong>de</strong>nado por Alvariz, sofreu acréscimo no número <strong>de</strong> salas, <strong>de</strong> médicos e<strong>de</strong> clientes. Con<strong>se</strong>guiu-<strong>se</strong> ampliar para <strong>se</strong>is o número <strong>de</strong> Resi<strong>de</strong>ntes da Disciplina.Criaram-<strong>se</strong> <strong>se</strong>ssões clínicas <strong>se</strong>manais <strong>de</strong> Gastroenterologia e mensais <strong>de</strong> PatologiaHepática.


76Compulsoriamente apo<strong>se</strong>ntado em <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1994, continuou Alvariz a exercer,diariamente, as ativida<strong>de</strong>s não remuneradas que lhe eram franqueadas na UERJ, com ênfa<strong>se</strong>na coor<strong>de</strong>nação do movimentado ambulatório <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> por ele criado. Foi, mesmo,escolhido para repre<strong>se</strong>ntante do Hospital na Câmara Técnica <strong>de</strong> Hepatite da SecretariaEstadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e responsável único pelo tratamento da hepatite crônica pelo vírus C noHUPE. Em <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 2004, não tendo logrando a correção <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s surgidas,<strong>de</strong>cidiu transferir-<strong>se</strong> para a enfermaria <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> da Santa Casa do Rio <strong>de</strong> Janeiro,aceitando gentil convite do Dr. Cláudio Figueiredo Men<strong>de</strong>s.Na Escola <strong>de</strong> Pós-Graduação Médica da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católicado Rio <strong>de</strong> Janeiro:Alvariz foi Professor Associado na área <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong>ssa Escola <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1970. Em 1975, após tornar-<strong>se</strong> Livre-Docente, assumiu a regência das Ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>Gastroenterologia I e IV.Outros:Professor Visitante da Faculda<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José do Rio Preto(agosto 1971).Professor <strong>de</strong> Farmacologia da Escola <strong>de</strong> Enfermagem Luiza <strong>de</strong> Marillac, daPontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio <strong>de</strong> Janeiro, entre 1954 e 1962.Produção científica:Não cabe aqui mais que um breve resumo quanto à produção científica dobiografado:Publicações – Em número <strong>de</strong> 71, 40 em periódicos nacionais e 12 estrangeiros, 15 emlivros nacionais e 2 estrangeiros. Versaram sobre hepatites, agudas e/ou crônicas (29)esquistossomo<strong>se</strong> (16); Insuficiência hepática aguda grave (5), aí incluída sua Te<strong>se</strong> <strong>de</strong>Docência, Cirro<strong>se</strong>s (5) Exploração funcional hepática e diagnóstico das icterícias (4);Álcool e fígado (2), Colangiografia transparieto-hepática (2), Distúrbios da Coagulação nashepatopatias (2), Icterícia por neomicina (1), Metamorfo<strong>se</strong> gorda aguda do fígado nagravi<strong>de</strong>z (1), Lesões hepáticas na febre tifói<strong>de</strong> (1), outros temas (3).Conferências – 267, <strong>se</strong>ndo 75 em congressos – com <strong>de</strong>staque para a Conferência Nacional,no XXIX Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Gastroenterologia (Belo Horizonte, 1984) – e 192 outras,fora <strong>de</strong> congressos.


77Cursos organizados:Vários foram levados a termo em <strong>se</strong>u estado ou fora <strong>de</strong>le. Destes, <strong>de</strong>stacamos osrealizados nos <strong>se</strong>guintes locais, nos quais lhe coube ministrar todas as aulas: Faculda<strong>de</strong>Regional <strong>de</strong> Medicina, São José do Rio Preto, SP (5 aulas), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará,Fortaleza, 1976 (9 aulas) e 1978 (7 aulas), <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Paraen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia, Belém(4 aulas), Associação Médica <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, Campo Gran<strong>de</strong> (4 aulas), São Luiz,MA (2 aulas), Manaus, AM (2 aulas).Temas livres - Participação em 113 temas livres e em 2 posters em congressos,<strong>de</strong>ntre os quais assinalamos: O Repouso na Hepatite Aguda a Vírus, ComprometimentoHepático na Febre Tifói<strong>de</strong> e Hepatite Aguda a Vírus HBsAg positivo e negativo: EstudoComparativo, no XIV Congresso Panamericano <strong>de</strong> Gastroenterologia (Caracas, 1975),Posttransfusion Hepatitis, no Congresso Mundial <strong>de</strong> Gastroenterologia (São Paulo, 1986),Importance of Age at Transmission on Evolution of Chronic Viral C Hepatitis no XXXVIIMeeting Anual das International (IASL) e European (EASL) Associations for the Study ofthe Liver (poster, Madrid, 2002), e Prevalence of cirrhosis in chronic C Viral Hepatitis;Study of 406 Liver Biopsies in Correlation to Age at Contagion and Duration of Infection,no XVIII Meeting da IASL (Tema Livre, Salvador, 2004).Orientador <strong>de</strong> várias te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> Mestrado, tendo participado <strong>de</strong> 22 banca<strong>se</strong>xaminadoras em provas para concessão <strong>de</strong>s<strong>se</strong> título nas <strong>se</strong>guintes universida<strong>de</strong>s: UFRJ (7),PUC-RJ (6), UERJ (5), UniRio (2), Universida<strong>de</strong> Gama Filho (1), Escola Paulista <strong>de</strong>Medicina (1).Hepatitis Scientific Memoranda – Convidado pelo Prof. Girish Vyas, da EscolaMédica da Universida<strong>de</strong> da Califórnia (São Francisco), Alvariz integrou es<strong>se</strong> grupointernacional <strong>de</strong> estudos em hepatite, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1976 até sua extinção, em 1990, período emque encaminhou diversas contribuições ao <strong>se</strong>u boletim.<strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s médicas:Alvariz participa das <strong>se</strong>guintes socieda<strong>de</strong>s médicas:<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Medicina e Cirurgia do Rio <strong>de</strong> Janeiro - <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, tendo sido membro <strong>de</strong><strong>se</strong>u Con<strong>se</strong>lho Superior entre 1984 e 2004.


78<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia do Rio <strong>de</strong> Janeiro (antiga <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong>Gastroenterologia e Nutrição), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1964. Exerceu diversos cargos <strong>de</strong> Diretoria, <strong>de</strong>ntre osquais o <strong>de</strong> Membro da Comissão <strong>de</strong> Admissão (1972/1983), Vice-Presi<strong>de</strong>nte (1984/1985),Presi<strong>de</strong>nte Eleito (1986/1987), Presi<strong>de</strong>nte (1988/1989), Membro do Con<strong>se</strong>lho Diretor(1990/1991).Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação. Foi <strong>se</strong>u Presi<strong>de</strong>nte entrejunho <strong>de</strong> 1988 e <strong>de</strong>zembro 1990, cabendo-lhe adaptá-la ao funcionamento da nova <strong>se</strong><strong>de</strong>, emSão Paulo e ao novo estatuto. Nessa função, viu-<strong>se</strong> honrado com a colaboração <strong>de</strong>valorosos colegas, <strong>de</strong>ntre os quais o saudoso Prof. Agostinho Betarello e Luiz <strong>de</strong> PaulaCastro, responsáveis pelo FAPERJ, órgão recém criado na estrutura da FBG. De acordocom o estatuto, foi Membro do Con<strong>se</strong>lho Consultivo e Fiscal no período <strong>de</strong> 1991 a 1998, ePresi<strong>de</strong>nte do mesmo Con<strong>se</strong>lho em 1991/1992.<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> – Sócio Fundador.<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latinoamericana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> – Membro Titular <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1977.International Association for the Study of the Liver (IASL), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1990.European Association for the Study of the Liver (EASL), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001.Distinções:Homenagem dos formandos <strong>de</strong> 1963 e 1965 da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da UERJTítulo <strong>de</strong> Cidadão do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, concedido em 1980 pela As<strong>se</strong>mbléiaLegislativa do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Membro Correspon<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Cearen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina (1990)Homenageado em Sessão Especial do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da UERJ, porocasião <strong>de</strong> sua apo<strong>se</strong>ntadoria compulsória, em 1994.Membro Emérito do Grupo <strong>de</strong> Fígado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (1998).Homenagem no aniversário do Hospital <strong>de</strong> Bonsucesso, em 2002, tendo sido inauguradaplaca com <strong>se</strong>u nome no hall <strong>de</strong> entrada do Serviço <strong>de</strong> Clínica Médica.Con<strong>de</strong>coração como Oficial da Or<strong>de</strong>m do Mérito Aeronáutico (2002).


79Consi<strong>de</strong>rações finais:Alvariz continua, aos 80 anos, a trabalhar normalmente. Priorizou, <strong>se</strong>mpre, amedicina ativa, junto aos doentes, tanto na escola médica como no hospital previ<strong>de</strong>nciário.Durante os 54 anos <strong>de</strong> vida médica, <strong>de</strong>dicou o melhor <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong>, entusiasmo eassiduida<strong>de</strong> à medicina pública, que consi<strong>de</strong>ra a forma socialmente mais justa <strong>de</strong>atendimento à saú<strong>de</strong>. Não esquece os muitos anos passados no Hospital Universitário daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas e no Hospital Geral <strong>de</strong> Bonsucesso, no qual labutou por 40anos, qua<strong>se</strong> 30 dos quais como chefe da Clínica Médica. Lamenta que a ênfa<strong>se</strong> oficialtenha, afinal, caminhado no rumo da privatização da assistência médica. Em <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong>2004 <strong>de</strong>cidiu transferir-<strong>se</strong> para a 8ª Enfermaria da Santa Casa, fundada pelo <strong>se</strong>uinesquecível amigo e gran<strong>de</strong> hepatologista, Thomaz Figueiredo Men<strong>de</strong>s, aten<strong>de</strong>ndo a gentilconvite <strong>de</strong> Cláudio, <strong>se</strong>u filho e continuador. Preten<strong>de</strong> permanecer “vivendo a medicina,estudando, apreen<strong>de</strong>ndo e, <strong>se</strong>mpre que possível, ensinando”, enquanto Deus permitir, pois,assim <strong>se</strong>ndo, não lhe parece justo <strong>de</strong>sprezar toda a experiência acumulada para entregar-<strong>se</strong>ao ócio, ainda que com dignida<strong>de</strong>. Faz questão <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a Ele, à sua família, à ajudados gran<strong>de</strong>s mestres, entre os quais <strong>de</strong>staca Américo Piquet Carneiro, Aleixo <strong>de</strong> Brito, JulioSan<strong>de</strong>rson e Zilton Andra<strong>de</strong>, aos colegas <strong>de</strong> jornada e a outros <strong>de</strong>dicados colaboradores eamigos, <strong>de</strong>ntre os quais <strong>de</strong><strong>se</strong>jaria fos<strong>se</strong> citado o Prof. Emilio Francischetti, pelo apoiorecebido na sua volta à FCM. Diz <strong>se</strong>ntir-<strong>se</strong> feliz e realizado, mesmo não tendo podidoconcretizar tudo o que sonhou, e ter sofrido algumas injustiças e incompreensões, queprefere encarar como acon<strong>se</strong>lhava o poeta: as amargas não.


80GILBERTA BENSABATH30-07-1924Natural do Acre, vive em Belém do Pará <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Graduou-<strong>se</strong> pelaFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e Cirurgia do Pará em 1949, cursou especialização em Saú<strong>de</strong>Pública em 1950 e 1959 pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Higiene <strong>de</strong> São Paulo e Departamento Nacionalda Criança, respectivamente, além <strong>de</strong> especialização em Microbiologia pelo InstitutoNacional <strong>de</strong> Microbiologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Médica do ServiçoEspecial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública (SESP) e pesquisadora e diretora do Instituto Evandro Chagas(IEC). Foi chefe da Seção <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia <strong>de</strong> 1979 até a sua apo<strong>se</strong>ntadoria compulsóriaem agosto <strong>de</strong> 1994. Atuou nos estudos pioneiros das arboviro<strong>se</strong>s e das hepatites virais.Destacam-<strong>se</strong> os <strong>se</strong>us trabalhos realizados ao longo da rodovia Transamazônica e nosmunicípios <strong>de</strong> Sena Madureira e Boca do Acre, no alto Purus, Amazônia oci<strong>de</strong>ntalbrasileira. Por mais <strong>de</strong> 15 anos, coor<strong>de</strong>nou estudos sobre a etiologia, epi<strong>de</strong>miologia easpectos clínico-epi<strong>de</strong>miológicos da hepatite <strong>de</strong> Lábrea, além da profilaxia das hepatitesvirais. Atuou no diagnóstico laboratorial das hepatites virais na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale, nosEUA, em 1970, on<strong>de</strong> examinou as primeiras amostras <strong>de</strong> soro <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> inquérito naAmazônia brasileira. Em 1985, como visitante do Hepatitis Branch do Centers for Di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>Control (CDC), Atlanta, pesquisou técnicas <strong>de</strong> laboratório nos estudos das hepatites B eDelta. Suas publicações <strong>de</strong> 1987, tendo as co-autorias <strong>de</strong> Hadler, Soares, Fields e Maynard,ratificariam a importância das infecções pelo vírus da hepatite Delta e <strong>de</strong>finiriam o perfiletiológico da febre negra <strong>de</strong> Lábrea e das hepatites fulminantes da Amazônia oci<strong>de</strong>ntalbrasileira. Chefia atualmente o Serviço <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia do IEC, função à qual vem<strong>de</strong>dicando a maior parte <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> ampliar a interface entre apesquisa epi<strong>de</strong>miológica e a rotina em saú<strong>de</strong> pública. A hepatologia nacional éengran<strong>de</strong>cida pela sua insuperável contribuição à compreensão da nosologia autóctone epelo esmero com que norteia estas ativida<strong>de</strong>s.


81GILBERTA BENSABATH30-07-1924Gilberta Bensabath was born in Acre, and has lived in Belém do Pará since the age of five.She graduated from the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e Cirurgia do Pará in 1949 and completedspecialization cour<strong>se</strong>s in public health in 1950 and 1959 in the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Higiene <strong>de</strong>São Paulo and the National Children’s Department, respectively, as well as a specializationcour<strong>se</strong> in microbiology at the National Microbiology Institute of the Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>raldo Rio <strong>de</strong> Janeiro. She was a doctor in the Special Public Health Service (SESP) andre<strong>se</strong>archer and director of the Evandro Chagas Institute (IEC). She was head of theEpi<strong>de</strong>miology Section from 1979 until her compulsory retirement in August 1994. She wasinvolved in pioneering studies of arboviru<strong>se</strong>s and viral hepatitis. Particularly noteworthyare the studies she carried out along the Transamazon highway and in the municipalities ofSena Madureira and Boca do Acre on the upper Purus in the western Brazilian Amazon.For over 15 years, she coordinated studies into the etiology, epi<strong>de</strong>miology andclinicoepi<strong>de</strong>miological aspects of Labrea hepatitis, as well as the prophylaxis of viralhepatitis. In 1970, she was involved in the laboratory diagnosis of viral hepatitis in theUniversity of Yale in the USA, where she examined the first samples of <strong>se</strong>rum obtainedfrom a survey in the Brazilian Amazon. In 1985, as a visiting re<strong>se</strong>archer at the HepatitisBranch of the Centers for Di<strong>se</strong>a<strong>se</strong> Control (CDC) in Atlanta, Georgia, she re<strong>se</strong>archedlaboratory techniques in the study of hepatitis B and hepatitis Delta. Published in 1987, theworks she coauthored with Hadler, Soares, Fields and Maynard were to confirm theimportance of infections cau<strong>se</strong>d by the hepatitis Delta virus and to <strong>de</strong>fine the etiologicalprofile of Labrea black fever and the <strong>de</strong>vastating hepatitis of the western Brazilian Amazon.She currently heads the Epi<strong>de</strong>miological Service of the IEC, and has been <strong>de</strong>dicating thegreater part of her time to this role in or<strong>de</strong>r to boost collaboration between epi<strong>de</strong>miologicalre<strong>se</strong>arch and routine work in public health. Brazilian hepatology is greatly enriched by herunsurpas<strong>se</strong>d contribution to our un<strong>de</strong>rstanding of autochthonous nosology and by thetremendous diligence she brings to her lea<strong>de</strong>rship of the<strong>se</strong> activities.


82Gilberta Bensabath30-07-1924Graduação em Medicina, 1949Gilberta Bensabath nasceu no município <strong>de</strong> Cruzeiro do Sul,Acre, a 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1924, filha <strong>de</strong> Marcos Bensabath eNautilia Costa Bensabath. Residiu nessa cida<strong>de</strong> até aos cincoanos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando por problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua mãe, afamília mudou-<strong>se</strong> para Belém do Pará.Teve educação <strong>de</strong> nível primário e <strong>se</strong>cundário realizadas emcolégios públicos: Grupo Escolar José Veríssimo e ColégioEstadual Paes <strong>de</strong> Carvalho, em Belém do Pará,respectivamente. Graduada em Medicina pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina e Cirurgia do Pará em 1949, cursou Especialização em Saú<strong>de</strong> Pública em 1950 e1959 pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Higiene <strong>de</strong> São Paulo e Departamento Nacional da Criança,respectivamente. Cursou Especialização em Microbiologia pelo Instituto Nacional <strong>de</strong>Microbiologia da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1963.Médica do Serviço Especial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública – SESP, integrou-<strong>se</strong> à equipe <strong>de</strong>pesquisadores do Instituto Evandro Chagas – IEC a partir <strong>de</strong> 1960. Assumiu a Diretoria<strong>de</strong>ste Instituto no período <strong>de</strong> 1975 a 1979. Foi chefe da Seção <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia do IEC apartir <strong>de</strong> 1979 até à sua apo<strong>se</strong>ntadoria compulsória em agosto <strong>de</strong> 1994.Enquanto pesquisadora, no período <strong>de</strong> 1960 a 1975, sua área <strong>de</strong> atuação vinculou-<strong>se</strong>aos estudos pioneiros das arboviro<strong>se</strong>s (febre amarela,febre do oropouche e outras) e das hepatites virais(então em estudos etiológicos incipientes), tanto emtrabalhos <strong>de</strong> laboratório como <strong>de</strong> campo. Nesta fa<strong>se</strong><strong>de</strong>stacam-<strong>se</strong> os <strong>se</strong>us trabalhos realizados ao longo darodovia Transamazônica e nos municípios <strong>de</strong> SenaMadureira e Boca do Acre, no alto Purus, Amazôniaoci<strong>de</strong>ntal brasileira. O hepatopatologista LeônidasBraga Dias foi <strong>se</strong>u gran<strong>de</strong> colaborador nes<strong>se</strong>s estudos.Em Boca do Acre, durante mais <strong>de</strong> 15 anos, viria a


83coor<strong>de</strong>nar estudos sobre a etiologia, epi<strong>de</strong>miologia, aspectos clínico-epi<strong>de</strong>miológicos dahepatite <strong>de</strong> Lábrea, além da profilaxia das hepatites virais.Na condição <strong>de</strong> pesquisadora visitante <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveuativida<strong>de</strong>s em diagnóstico laboratorial das hepatites virais naUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale, EEUU, em 1970, oportunida<strong>de</strong> na qualexaminou, mediante técnica <strong>de</strong> imunodifusão em gel, asprimeiras amostras <strong>de</strong> soro <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> inquérito naAmazônia brasileira - região do Purus - para o então “antígenoAustrália”. Publicação <strong>de</strong> 1973, ao lado <strong>de</strong> Boshell, incluiria a referida região comohiperendêmica com referência ao mencionado antígeno, posteriormente conhecido como“antígeno <strong>de</strong> superfície do vírus da hepatite B”. Em 1985, como visitante do HepatitisBranch do Centers for Di<strong>se</strong>a<strong>se</strong> Control – CDC, Atlanta, <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu ativida<strong>de</strong>s sobretécnicas <strong>de</strong> laboratório nos estudos das hepatites B e Delta. Decorrente <strong>de</strong>ste intercâmbio,publicações <strong>de</strong> 1987, tendo as co-autorias <strong>de</strong> Hadler, Soares, Fields e Maynard,ratificariam a importância das infecções pelo vírus da hepatite Delta, bem como <strong>de</strong>finiriamo perfil etiológico da febre negra <strong>de</strong> Lábrea e das hepatites fulminantes da Amazôniaoci<strong>de</strong>ntal brasileira.Entre 1989 e 1994 coor<strong>de</strong>nou estudos sobre a imunogenicida<strong>de</strong>, eficácia eefetivida<strong>de</strong> da vacina contra a hepatite B junto ao município <strong>de</strong> Boca do Acre. A soroteca –exemplarmente analisada e acondicionada no IEC – e as informações advindas <strong>de</strong>s<strong>se</strong><strong>se</strong>studos, constituem sólida referência tanto para a memória, como para estudossub<strong>se</strong>qüentes sobre a hepatite B na Amazônia.Bensabath tem produção técnico-científicaque contribui ao conhecimento e constituiparte da história da hepatologia tropical,tanto em capítulos <strong>de</strong> livros como na forma<strong>de</strong> publicações em revistas, nestas somam<strong>se</strong>cerca <strong>de</strong> 70 trabalhos distribuídos em50 anos do Instituto Evandro Chagas, Belém, Pará, periódicos nacionais e internacionais.Entre as distinções e honrarias, e para citar apenas algumas das mais lembradas porGilberta, ressaltam-<strong>se</strong> o reconhecimento como Médico do Ano, pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Médico-


84Cirúrgica do Pará, a distinção como Oficial da Or<strong>de</strong>m do Mérito Médico, em 1997, além <strong>de</strong>Repre<strong>se</strong>ntante do Pará na comemoração dos 50 anos da Associação Médica <strong>Brasileira</strong>.Nes<strong>se</strong> contexto, re<strong>se</strong>rva carinho especial pelo título <strong>de</strong> Cidadã Bocacren<strong>se</strong>, conferido pelaCâmara Municipal <strong>de</strong> Boca do Acre, em 1989, mercê do “reconhecimento aos inestimáveis<strong>se</strong>rviços prestados ao município”. Mais recentemente – junho <strong>de</strong> 2005 –, foi homenageadacomo Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Honra do VII Simpósio Brasileiro <strong>de</strong> Vacinas, em reconhecimento àssuas ativida<strong>de</strong>s ligadas ao estudo e à implementação da vacina contra a hepatite B naAmazônia.Na sua obstinação pelo trabalho em saú<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000foi <strong>de</strong>signada chefe do recém-criado Serviço <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia do IEC, função que exerceatualmente e à qual vem <strong>de</strong>dicando a maior parte <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> ampliar ainterface entre a pesquisa epi<strong>de</strong>miológica e a rotina em saú<strong>de</strong> pública.Ao referir-<strong>se</strong> à Dra. Gilberta Bensabath, um <strong>se</strong>u con<strong>tempo</strong>râneo, colega e tambémpatologista e hepatologista histórico, Leônidas Braga Dias, assinalou que “poucas pessoa<strong>se</strong>m nosso país, raras mulheres, terão galgado o <strong>se</strong>u prestígio científico, o que honra ainstituição em que trabalha, honra a Amazônia, mas que não aquebrantou a sua modéstia,que não lhe modificou o espontâneo riso, marca <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>”. Acrescentamos,com a certeza que os colegas hão <strong>de</strong> fazer coro, que a hepatologia brasileira re<strong>se</strong>rva lugarespecial e <strong>de</strong>vido à Dra. Gilberta.


85JORGE DE ALCKMIN TOLEDO12-05-1920 18-08-1985Nascido em Santa Rita <strong>de</strong> Sapucaí, Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, ingressou na Faculda<strong>de</strong>Nacional <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil em 1939 e lá <strong>se</strong> graduou em 1944. Em1947 foi Assistente Voluntário da 4 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica. Foi influenciado eestimulado para o exercício da gastroenterologia pela figura do Prof. Figueiredo Men<strong>de</strong>s,recém-chegado dos Estados Unidos. Em 1951, fez o Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação emGastroenterologia, do Professor Henry Leroy Bockus. Ao regressar ao Brasil, reintegrou-<strong>se</strong>ao <strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> Wal<strong>de</strong>mar Berardinelli na 4 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica e juntamente comFigueiredo Men<strong>de</strong>s coor<strong>de</strong>nou inúmeros estudos e simpósios em Gastroenterologia. Em1956, foi convidado pelo Professor Clementino Fraga Filho a continuar como assistente na1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica, na 20 a Enfermaria da Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong>Janeiro. Em 1960 foi nomeado Professor Auxiliar <strong>de</strong> Ensino da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina eem 1962 conquistou a Livre Docência em Clínica Médica. Em 1966 foi promovido aProfessor Assistente e em 1971 a Professor Adjunto, cargo que exerceu até a sua morte. Foichefe do Serviço <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong> 1963 a 1967. Foi coor<strong>de</strong>nador do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Gastroenterologia em 1972 e o responsável pela linha <strong>de</strong> pesquisa emhepatites. Orientou dis<strong>se</strong>rtações <strong>de</strong> mestrado e foi membro <strong>de</strong> inúmeras bancas <strong>de</strong>mestrado, doutorado e livre-docência na UFRJ e em outras universida<strong>de</strong>s. Publicou mais <strong>de</strong>70 artigos e trabalhos, nas áreas <strong>de</strong> Gastroenterologia e <strong>Hepatologia</strong>. O <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong>particular pela hepatite não-A, não-B culminou com a produção da te<strong>se</strong> para o concurso <strong>de</strong>professor titular da disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia da UFRJ. Foi membro <strong>de</strong> diversassocieda<strong>de</strong>s médicas, em particular a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, da qual foimembro fundador e presi<strong>de</strong>nte no biênio 1978-1979.


86JORGE DE ALCKMIN TOLEDO12-05-1920 18-08-1985Jorge <strong>de</strong> Alckmin Toledo was born in Santa Rita <strong>de</strong> Sapucaí, Minas Gerais. He entered theNational Faculty of Medicine in the Universida<strong>de</strong> do Brasil in 1939 and graduated fromthere in 1944. In 1947, he was Voluntary Assistant to the 4 th Department of ClinicalMedicine. He was influenced and stimulated to move into gastroenterology by Prof.Figueiredo Men<strong>de</strong>s, who had recently returned from the United States. In 1951, he atten<strong>de</strong>dthe postgraduate cour<strong>se</strong> in gastroenterology given by Professor Henry Leroy Bockus. Onreturning to Brazil, he rejoined Wal<strong>de</strong>mar Berardinelli’s team in the 4 th Department ofClinical Medicine and coordinated countless Gastroenterology studies and symposiatogether with Figueiredo Men<strong>de</strong>s. In 1956, he was invited by Professor Clementino FragaFilho to continue as assistant to the 1 st Department of Clinical Medicine in the 20 th Ward ofthe Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro. In 1960, he was appointed AuxiliaryProfessor in the Faculty of Medicine, and in 1962, he conquered his Livre-Docência(professorial habilitation) in Internal Medicine. In 1966, he was promoted to AssistantProfessor and in 1971, to Associate Professor, a position he held until his <strong>de</strong>ath. He washead of the Gastroenterology Service from 1963 to 1967. He was coordinator of thepostgraduate cour<strong>se</strong> in gastroenterology in 1972 and was responsible for hepatitis re<strong>se</strong>arch.He supervi<strong>se</strong>d masters dis<strong>se</strong>rtations and was a member of countless review panels formasters, doctorates and Livres-Docências (professorial habilitations) at UFRJ and otheruniversities. He published over 70 papers and studies in gastroenterology and hepatology.His personal interest in non-A non-B hepatitis culminated in his thesis for the examinationfor the position of titular professor of gastroenterology at UFRJ. He was a member ofvarious medical societies, in particular the Brazilian Society of Hepatology, of which hewas a founding member and presi<strong>de</strong>nt in the biennium from 1978 to 1979.


87JORGE DE ALCKMIN TOLEDO12-05-1920 18-08-1985Autores: Carlos Eduardo Brandão Mello e Henrique Sérgio Moraes CoelhoJORGE TOLEDO nasceu a 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1920,em Santa Rita <strong>de</strong> Sapucaí, Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, filho<strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Castro Toledo e Gabriela <strong>de</strong> AlckminToledo.Ingressou na Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> do Brasil, hoje Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ) em 1939e lá <strong>se</strong> graduou em 1944.Durante <strong>se</strong>u curso médico foi interno da 5 aCa<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong>, Serviço doProfessor Annes Dias, no Hospital Moncorvo Filho e, com a morte do ilustre mestrepermaneceu no <strong>se</strong>rviço, sob a orientação do Professor Luiz Capriglione.Em 1947, a convite do Professor Wal<strong>de</strong>mar Berardinelli, voltou à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina, como Assistente Voluntário da 4 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica, com <strong>se</strong><strong>de</strong> na SantaCasa da Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Nessa fa<strong>se</strong>, <strong>se</strong>us pendores pela Gastroenterologiaforam <strong>de</strong> sobremodo influenciados e estimulados pela figura do Professor Thomaz <strong>de</strong>Figueiredo Men<strong>de</strong>s, recém-chegado dos Estados Unidos. Daquele convívio e amiza<strong>de</strong>nasceu o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> aprimorar <strong>se</strong>us conhecimentos médicos em centros mais <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvidos.Em 1951, após <strong>se</strong>leção, foi aceito pela The Graduate School of Medicine, daUniversida<strong>de</strong> da Pensilvânia, como aluno do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação emGastroenterologia, sob a li<strong>de</strong>rança do mais prestigiado especialista da época, ProfessorHenry Leroy Bockus. Lá enriqueceu sua formação médica e acadêmica no período <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 1951 a maio <strong>de</strong> 1952.Ao regressar ao Brasil, reintegrou-<strong>se</strong> ao Serviço <strong>de</strong> Wal<strong>de</strong>mar Berardinelli na 4 aCa<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina e juntamente comFigueiredo Men<strong>de</strong>s coor<strong>de</strong>naram inúmeros estudos e simpósios em Gastroenterologia.


88Em 1956, recebeu do Professor Clementino Fraga Filho o honroso convite paracontinuar como assistente na 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica, que <strong>se</strong> instalava na 20 aEnfermaria da Santa Casa da Mi<strong>se</strong>ricórdia do Rio <strong>de</strong> Janeiro.A 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica <strong>de</strong>spontava como um dos melhores centros <strong>de</strong> ensino epesquisa em Clínica Médica do país, graças a invulgar capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> <strong>se</strong>u chefe– Professor Clementino Fraga Filho, que a todos estimulava e orientava.Em 1960 foi nomeado Professor Auxiliar <strong>de</strong> Ensino da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e em1962 conquistou a Docência Livre em Clínica Médica, tendo apre<strong>se</strong>ntado a te<strong>se</strong> queversava sobre a Auto-agressão nas Hepatopatias.Em 1966 foi promovido à clas<strong>se</strong> <strong>de</strong> Professor Assistente e em 1971 à ProfessorAdjunto, cargo que exerceu até a sua morte.Ocupou a chefia do Serviço <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong> 1963 a 1967 e a chefia <strong>de</strong>Clínica da 1 a Ca<strong>de</strong>ira a partir <strong>de</strong> 1967. Em 1974, emsubstituição ao Professor Clementino Fraga Filho,<strong>de</strong>signado Diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, assumiu aChefia da 1 a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica.Em 1978, quando da transferência do <strong>se</strong>rviçopara o Hospital Universitário da UFRJ, passou a chefiaro Serviço <strong>de</strong> Gastroenterologia do recém inauguradoHospital, cargo que exerceu até a sua morte prematura.Jorge Toledo foi <strong>de</strong>signado coor<strong>de</strong>nador doCurso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Gastroenterologia em1972 e o responsável pela linha <strong>de</strong> pesquisa emHepatites.Foi orientador <strong>de</strong> cinco te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> mestrado sobre temas <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> dos <strong>se</strong>guintesmédicos Marcus Túlio Haddad, Alice Junqueira Moll, Henrique Sérgio Moraes Coelho,José Fernando dos Santos Ribeiro e José Mentor Ramos <strong>de</strong> Almeida. Foi o orientador date<strong>se</strong> <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong> Carlos Eduardo Brandão Mello, e com sua morte prematura, foisubstituído por Henrique Sérgio Moraes Coelho.Foi membro <strong>de</strong> inúmeras bancas <strong>de</strong> Mestrado, Doutorado e Livre Docência naUFRJ e em outras Universida<strong>de</strong>s. Sua produção técnico-científica foi marcada pela


89continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicações e participações em congressos, simpósios, jornadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1948.Publicou mais <strong>de</strong> 70 artigos e trabalhos, <strong>de</strong> preferência nas áreas <strong>de</strong>Gastroenterologia e <strong>Hepatologia</strong>. Nestes estudos <strong>de</strong>stacava-<strong>se</strong> o interes<strong>se</strong> especial pelasdoenças auto-imunes do fígado, em particular as hepatites auto-imunes e a cirro<strong>se</strong> biliarprimária.Não menos marcante, foi o <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pelas hepatites crônicas virais, emparticular as hepatites não-A, não-B, culminando com a produção da te<strong>se</strong> para o concurso<strong>de</strong> professor titular da disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia da UFRJ.Juntos participamos da tarefa <strong>de</strong> <strong>se</strong>lecionar e acompanhar os pacientes da te<strong>se</strong> porqua<strong>se</strong> três anos. Daquele convívio qua<strong>se</strong> que diário, além das idéias e projetos, surgiu aamiza<strong>de</strong> sincera e <strong>de</strong>spreocupada que nos uniu até hoje.Foi membro <strong>de</strong> diversas socieda<strong>de</strong>s médicas, em particular a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, da qual foi membro fundador e presi<strong>de</strong>nte no biênio 1978-1979. Nestacondição organizou e presidiu o VI Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, realizado no Rio<strong>de</strong> Janeiro, em 1979. Foi presi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia do Rio <strong>de</strong> Janeirono biênio 1970-1971 e membro da American Gastroenterological Association.Foi casado com Dona Lucilla, com quem teve 3 filhos, e à quem <strong>de</strong>dicou em <strong>se</strong>uúltimo livro e te<strong>se</strong> a poesia: À Lucilla, esposa amada, por tudo que repre<strong>se</strong>nta em minhavida, <strong>de</strong>dico o que em mim há <strong>de</strong> mais terno e puro, reduzido à expressão mais simples <strong>de</strong>um beijo.Jorge Toledo faleceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985, <strong>de</strong>ixando emtodos os <strong>se</strong>us discípulos e admiradores o exemplo <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação ao ensino médico e aFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e da cordialida<strong>de</strong> e gentileza no convívio com os <strong>se</strong>us pares ealunos.Lamentavelmente, não teve <strong>tempo</strong> para pre<strong>se</strong>nciar o crescente interes<strong>se</strong> atual peloestudo das doenças hepáticas e, em particular, pela hepatite viral não-A, não-B, hojeconhecida como hepatite C, no cenário da mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong>.Seu fascínio e entusiasmo pelas doenças do Fígado foram extremamentecontagiosos, <strong>de</strong>ixando no <strong>se</strong>rviço que coor<strong>de</strong>nava uma legião <strong>de</strong> estudiosos no assunto, quemais recentemente criaram e organizaram o Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> do Hospital


90Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFRJ, hojechefiado por Henrique Sérgio Moraes Coelho.


91JORGE ESCOBAR PEREIRA LIMA13-05-1927 29-04-2003Nascido em Pelotas, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, aprovado no vestibular <strong>de</strong> Medicina, aos 16 anos,colou grau aos 22 anos, como primeiro aluno da turma. Em 1954 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u livre-docênciacom te<strong>se</strong> sobre ”Bantina uma contribuição ao <strong>se</strong>u estudo”. Iniciou, <strong>de</strong>ntro da MedicinaInterna, uma diferenciação em Gastroenterologia e <strong>se</strong>dimentou este estudo em bolsa nosEstados Unidos, durante dois anos, no Mount Sinai em Nova Iorque. Retornando a PortoAlegre, rapidamente fez nome e foi convidado para organizar e chefiar a disciplina <strong>de</strong>Gastroenterologia da Faculda<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Medicina. Inaugurou a <strong>se</strong>guir, um <strong>se</strong>rviçopioneiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> no sul do país, a enfermaria 42. Como bolsista, foi a Paris estudarcom Jacques Caroli durante 1 ano, introduzindo a laparoscopia em nosso meio. Formougerações <strong>de</strong> médicos nas diversas faculda<strong>de</strong>s em que atuou, porém foi na FFFCMPA que<strong>de</strong>dicou a maior parte <strong>de</strong> sua vida ao ensino e <strong>de</strong>ixou marcas in<strong>de</strong>léveis. Após suaapo<strong>se</strong>ntadoria, per<strong>se</strong>verou no ensino, no Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Hepatologia</strong>, on<strong>de</strong>teve <strong>se</strong>mpre participação marcante, <strong>de</strong>liciando a todos com sua experiência e sabedoria. Liacom voracida<strong>de</strong>, era critico das letras e adorava política. Cumpriu, tanto na Fe<strong>de</strong>ração<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia (1966-1967), como na <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> (1980-1981), todas as etapas possíveis, chegando a presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ambas entida<strong>de</strong>s. Dentro <strong>de</strong> suafaculda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> titular da Disciplina, foi chefe <strong>de</strong> Departamento e Diretor <strong>de</strong> Escola(1989-1992). Com aproximadamente 100 artigos completos publicados em periódicosnacionais e internacionais, 31 capítulos <strong>de</strong> livros e mais <strong>de</strong> 700 conferências e trabalhosoriginais apre<strong>se</strong>ntados no país e no exterior, mostrou como o amor à ciência po<strong>de</strong> permitirque uma vida tenha tal pujança.


92JORGE ESCOBAR PEREIRA LIMA13-05-1927 29-04-2003Born in Pelotas, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Jorge Escobar Pereira Lima pas<strong>se</strong>d his universityentrance examination at the age of 16 and had his <strong>de</strong>gree conferred at the age of 22, comingfirst in his year. In 1954, he <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d his Livre-Docência (professorial habilitation) withthe thesis “A contribution to the study of Banthine”. Within internal medicine, heestablished the study of gastroenterology as a specialty, and a scholarship for two years inthe United States allowed him to consolidate his studies at Mount Sinai in New York. Onhis return to Porto Alegre, he soon ma<strong>de</strong> a name for him<strong>se</strong>lf, and was invited to <strong>se</strong>t up andhead the teaching of gastroenterology in the Faculda<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Medicina. Followingthis, he inaugurated a pioneering hepatology <strong>se</strong>rvice, ward 42, in the south of the country.He went to Paris on a scholarship to study with Jacques Caroli for 1 year, and introducedlaparoscopy to Brazil. He trained generations of doctors in the various colleges where heworked. It was at FFFCMPA, however, that he <strong>de</strong>dicated the greater part of his life toteaching and left his in<strong>de</strong>lible mark. Following his retirement, he continued teaching on thepostgraduate hepatology cour<strong>se</strong>, where he always ma<strong>de</strong> a striking contribution and<strong>de</strong>lighted all with his experience and wisdom. He was a voracious rea<strong>de</strong>r and a literarycritic, and loved politics. He ascen<strong>de</strong>d through all possible stages of both the BrazilianFe<strong>de</strong>ration of Gastroenterology (1966-1967) and the Society of Hepatology (1980-1981),and became presi<strong>de</strong>nt of both bodies. Within his faculty, as well as being titular professor,he was head of <strong>de</strong>partment and director of the college (1989-1992). With around 100completed articles published in Brazilian and international journals, 31 chapters in booksand more than 700 conferences and original studies <strong>de</strong>livered in Brazil and abroad, JorgeEscobar Pereira Lima showed that the love of science can go hand in hand with a life full ofvigor.


93Jorge Escobar Pereira Lima13 -05-1927 29-04-2003Autores: Ângelo Alves <strong>de</strong> Mattos e Luiz Pereira LimaGran<strong>de</strong> Médico, Gran<strong>de</strong> Professor e Gran<strong>de</strong> AmigoEscrever sobre Jorge EscobarPereira Lima é um prêmio para qualquerum que o tenha conhecido. Homembrilhante, que, por tudo que foi, pensamosainda permanecer entre nós. Por outrolado, é <strong>se</strong>mpre difícil escrever sobre umpai. Mais difícil ainda torna-<strong>se</strong> escreversobre o pai. E que pai! Assim, a tarefa quea nós foi incumbida pela Professora EdnaStrauss transcen<strong>de</strong> em muito a razão, ésobre afeto do filho saudoso e <strong>de</strong> quempreten<strong>de</strong>u <strong>se</strong>r <strong>se</strong>u discípulo mais dileto.Deste modo, na <strong>de</strong>scrição que <strong>se</strong>gue,haverá uma mescla <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s, amor,juntamente com o sumário <strong>de</strong> sua vidaprofissional.Jorge Escobar Pereira Lima nasceu em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1927, em Pelotas – RS. Filho<strong>de</strong> pediatria, Luiz Pereira Lima, que perenizou <strong>se</strong>u nome em estátua na cida<strong>de</strong>, rendidacomo homenagem pelas mães peloten<strong>se</strong>s. Cedo era alfabetizado, aos quatro anos, e, <strong>de</strong>zanos mais tar<strong>de</strong>, vem a Porto Alegre para iniciar o pré-médico à época. É aprovado novestibular <strong>de</strong> Medicina, aos 16 anos, colando grau em 1949, ou <strong>se</strong>ja, aos 22 anos, comoprimeiro aluno da turma. Recebe, por isso, o prêmio Raul Leite e medalha <strong>de</strong> ouro. Passoua juventu<strong>de</strong> e adolescência estudando, e foi estudando que conheceu Suely na AliançaFrancesa – sua mulher como costumava chamá-la. Ingressa na Cátedra <strong>de</strong> PropedêuticaClínica como voluntário. Em 1954 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> livre-docência com te<strong>se</strong> sobre ”Bantina uma


94contribuição ao <strong>se</strong>u estudo”. Inicia, <strong>de</strong>ntro da Medicina Interna, uma diferenciação emGastroenterologia e <strong>se</strong>dimenta este estudo em bolsa nos Estados Unidos, durante dois anos,no “Mount Sinai” <strong>de</strong> Nova Iorque. Neste período, veio apenas uma vez ao Brasil paraenterro <strong>de</strong> <strong>se</strong>u pai. Foi <strong>se</strong>mpre um estóico. É claro, o filho, <strong>se</strong>ntia muito a falta do paidistante. Imaginem para ele que era só afeto. Entretanto, a necessida<strong>de</strong> qua<strong>se</strong> vital <strong>de</strong>estudar fez pagar preço tão alto. Volta a Porto Alegre, e só aí inicia sua clínica emconsultório. Rapidamente fez nome e é convidado para organizar e chefiar a disciplina <strong>de</strong>gastroenterologia da Faculda<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Medicina, hoje Fundação Faculda<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Ciências Médicas <strong>de</strong> Porto Alegre (FFFCMPA). Dedicou-<strong>se</strong> muito, e como reconhecimentofoi eleito paraninfo da primeira turma médica <strong>de</strong>sta faculda<strong>de</strong>. Inaugura, a <strong>se</strong>guir, um<strong>se</strong>rviço pioneiro <strong>de</strong> hepatologia no sul do país, a enfermaria 42.Como bolsista, vai a Paris estudar com JaquesCaroli durante 1 ano introduzindo a laparoscopia emnosso meio. Àquele <strong>tempo</strong> obviamente <strong>se</strong>m ví<strong>de</strong>o, comanestesia local e com óptica direta. Foi um avanço <strong>se</strong>mpar.A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> formar gerações <strong>de</strong> médicos nasdiversas faculda<strong>de</strong>s em que atuou (UFRGS e PUCRS),foi na FFFCMPA que <strong>de</strong>dicou a maior parte <strong>de</strong> sua vidaao ensino. Esta foi a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>u coração. Nela,como Professor Titular (1964-1993), <strong>de</strong>ixou marcasin<strong>de</strong>léveis, assim como em todos os que tiveram o privilégio <strong>de</strong> <strong>se</strong>u convívio. Mesmo apóssua apo<strong>se</strong>ntadoria, per<strong>se</strong>verou no ensino, no Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Hepatologia</strong>,on<strong>de</strong> teve <strong>se</strong>mpre participaçãomarcada, <strong>de</strong>liciando a todos com suaexperiência e sabedoria. Creioimportante relembrar a todos asaudosa Enfermaria 42 da Irmanda<strong>de</strong>Santa Casa <strong>de</strong> Mi<strong>se</strong>ricórdia <strong>de</strong> PortoAlegre. Acredito que viva até hoje.Esteio maior da <strong>Hepatologia</strong> em nosso


95Estado, foi referencial para todos os amantes do estudo das doenças do fígado. Lá tambémnasceu a Gastroenterologia Infantil, subespecialida<strong>de</strong> que, na época, talvez não gozas<strong>se</strong> <strong>de</strong>tanto prestígio, mas que con<strong>se</strong>guiu firmar-<strong>se</strong> e hoje é vista como uma nova ciência.Publicações sucediam-<strong>se</strong> e tornou-<strong>se</strong> um conferencista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> didática, embasadaem conhecimento específico,ornada com uma cultura geralvasta e sólida. Lia comvoracida<strong>de</strong>, era critico dasletras e adorava política.Trocava cultura com <strong>se</strong>ugran<strong>de</strong> amigo <strong>de</strong> todas as horas,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua adolescência – PauloBrossard <strong>de</strong> Souza Pinto – que foi <strong>se</strong>nador pelo Rio Gran<strong>de</strong> e Ministro do Estado. Foi porele homenageado, em artigo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> emoção, publicado em Zero Hora logo após <strong>se</strong>upassamento. Vale a pena reproduzi-lo em parte, pois além <strong>de</strong> pérola literária, reflete o<strong>se</strong>ntimento <strong>de</strong> uma amiza<strong>de</strong> singular.“... Assim as amiza<strong>de</strong>s antigas, tanto mais antigas, maior a ausência e angústia que elas noscausam exatamente quando <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> existir. Parece que o perfume <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>s<strong>se</strong><strong>se</strong>ntido por excelência <strong>de</strong>sinteressado <strong>se</strong> percebe com certa objetivida<strong>de</strong> quando a lei damorte afirma sua cogência. O amor supõe uma atração múltipla que <strong>se</strong> converte empermanência individual e social. A amiza<strong>de</strong> é mais mo<strong>de</strong>sta, não nasce necessariamente dosvínculos <strong>de</strong> sangue, embora não haja incompatibilida<strong>de</strong> e impedimentos entre o fatobiológico e o <strong>se</strong>ntimento humano. Mas a amiza<strong>de</strong> <strong>se</strong> transforma em ligação permanenteque, muitas vezes, prevalece, no <strong>tempo</strong>, sobre o próprio amor. E para <strong>se</strong>r breve, nas agrurasda vida, a amiza<strong>de</strong> é um dos viáticos do homem, muitas vezes incomparável eindispensável. ... Morando no mesmo quarto da pensão, posso dizer que o professor JorgeEscobar Pereira Lima era um estudante excepcional. E estudante continuou, como <strong>se</strong> nãofos<strong>se</strong> uma sumida<strong>de</strong> em <strong>se</strong>u ofício, como <strong>se</strong> não dominas<strong>se</strong>, como poucos, a ciência queprofessava... Afinal <strong>de</strong> contas, foram 60 anos <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> fraternal. Em todos os <strong>se</strong>ntidos foiuma existência exemplar e cheia <strong>de</strong> benemerências”.


96Cumpriu, tanto na Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia (1966-1967), como na<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> (1980-1981), todas as etapas possíveis, chegando a Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ambas entida<strong>de</strong>s. Mas era o estudo sua gran<strong>de</strong> paixão. Esperava os finais <strong>de</strong> <strong>se</strong>mana para<strong>de</strong>vorar os livros, na vã esperança <strong>de</strong> não <strong>se</strong>r interrompido, mesmo por sua família. Quandoentrava em <strong>se</strong>u gabinete avisava: “Não me interrompam”. Era autoritário, como todohomem <strong>de</strong> baixa estatura, daí, talvez, sua gran<strong>de</strong> paixão por Napoleão Bonaparte. Sabiatudo do Imperador francês, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as táticas <strong>de</strong> guerra até a vida <strong>de</strong> suas amantes.Em 1983, já com vasta clínica, e ponto <strong>de</strong> referência na <strong>Hepatologia</strong>, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> realizar<strong>se</strong>u sonho acadêmico. Voltou a <strong>de</strong>dicar-<strong>se</strong> para sua verda<strong>de</strong>ira paixão intelectual.Financeiramente estável, vai aos Estados Unidos, justamente para o Mount Sinai, estudar ereviver com Fenton Schaffner, durante 6 me<strong>se</strong>s, o fígado e suas lâminas. Na <strong>Hepatologia</strong>,gostava mesmo era da patologia clínica.Era Professor brilhante. A ciência e a arte jorravam em suas aulas. Usava amaiêutica, técnica i<strong>de</strong>alizada por Sócrates, on<strong>de</strong> multiplicando perguntas sobre o tema, oprofessor induz o raciocínio através <strong>de</strong> um enca<strong>de</strong>amento lógico sobre o eixo fundamental.Só um profundo conhecedor do assunto versado é capaz <strong>de</strong> utilizar tal técnica.Dentro <strong>de</strong> sua Faculda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> Titular da Disciplina, foi chefe <strong>de</strong> Departamentoe Diretor <strong>de</strong> Escola (1989-1992). Aí, com idéias inovadoras e por vezes polêmicas,imprimiu uma administração diferenciada. Talvez suas idéias <strong>de</strong> vanguarda não fos<strong>se</strong>mcompreendidas na ocasião. Hoje, no mínimo, trazem reflexões a todos nós. Sua passagempela direção da Escola foi um marco no <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da mesma. Nessa ocasião,iniciou-<strong>se</strong> uma transformação física em nossa Faculda<strong>de</strong>, que, por tudo que repre<strong>se</strong>ntou,creio <strong>de</strong> forma merecida, homenageou-o ainda em vida, quando da inauguração do novoauditório, tendo <strong>se</strong>u nome lavrado <strong>de</strong>finitivamente em <strong>se</strong>u pórtico principal – “AuditórioProfessor Jorge Escobar Pereira Lima”. Ali foi velado na sua <strong>de</strong>spedida da vida, mas não dalembrança <strong>de</strong> <strong>se</strong>us amigos e familiares.Médico, professor, pesquisador, sábio. Era amado por muitos. Invejado por tantosoutros. Certamente os enten<strong>de</strong>mos. E teve, sim, teve também o <strong>de</strong>samor <strong>de</strong> alguns.Certamente os <strong>de</strong>sculpamos. Amor e <strong>de</strong>samor. Sentimentos a princípio antagônicos, mas<strong>se</strong>ntimentos. No fim, ambos confun<strong>de</strong>m-<strong>se</strong>. Por isso, nossa compreensão. Afetos híbridosnão nos surpreen<strong>de</strong>m quando falamos em sua figura. Não po<strong>de</strong>ria <strong>se</strong>r diferente para um


97homem com suas características. Inteligência ágil, erudição invejável, ironia aguçada e,enfim, a genialida<strong>de</strong> que a poucos Deus conce<strong>de</strong>u. Eram estas as características que amuitos amedrontavam. Dele, então, não <strong>se</strong> aproximavam. E, assim, não o entendiam. Eramessas as qualida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>spertavam <strong>se</strong>ntimentos contraditórios. No entanto, lhe negar apaternida<strong>de</strong> intelectual <strong>de</strong>ntro da <strong>Hepatologia</strong> ninguém ousaria.Creio ter conhecido bem meu velho amigo. Dele sinto sauda<strong>de</strong>s. Ficou um vazio,que creio, não mais <strong>se</strong>rá preenchido. Só as lembranças o atenuam. Aprendi a conhecê-lo no<strong>de</strong>correr dos anos, embora nunca tives<strong>se</strong> con<strong>se</strong>guido saborear por inteiro <strong>se</strong>u livro <strong>de</strong> vida.Com ele muito aprendi. Aprendi que é preciso per<strong>se</strong>verar no estudo. Isso testemunheiinúmeras vezes em sua casa. Era uma constante. Sentado em uma fria biblioteca,literalmente <strong>de</strong>vorava toda a ciência que teimava em renovar-<strong>se</strong> dia-a-dia. Era um estudioso<strong>se</strong>m fim. Esta per<strong>se</strong>verança trouxe-lhe um currículo que a todos traria inveja. Comaproximadamente 100 artigos completos publicados em periódicos nacionais einternacionais, com 31 capítulos <strong>de</strong> livros e com mais <strong>de</strong> 700 conferências e trabalhosoriginais apre<strong>se</strong>ntados no país e no exterior, mostrou como o amor à ciência po<strong>de</strong> permitirque uma vida tenha tal pujança. Com ele aprendi o espírito crítico. Certamente moldou opesquisador, ensinando-me a compulsão do fazer científico. Com ele aprendi a amiza<strong>de</strong>.Realmente fui <strong>se</strong>u amigo. Até quando suas palavras já não soavam com tanto vigor, e <strong>se</strong>usorriso a doença esmaecia, estive junto a ele. Mas é do espírito vivo, do eterno <strong>de</strong>safiointelectual e dos momentos <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> que a amiza<strong>de</strong> cria que <strong>se</strong>mpre me lembrarei.Nascido em Pelotas, que carinhosamente chamava <strong>de</strong> “pequena Paris”, viveu emPorto Alegre a maior parte <strong>de</strong> <strong>se</strong>us dias. <strong>Aqui</strong> foi brilhante, como <strong>se</strong>ria em qualquer lugaron<strong>de</strong> tives<strong>se</strong> vivido. Era um virtuoso. E, quem sabe, como jocosamente gostava <strong>de</strong> intitular<strong>se</strong>,o maior hepatologista das três Américas.Jorge Escobar Pereira Lima morreu aos 75 anos, em 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2003, ludibriadopor sua paixão intelectual, traído por nódulos metastáticos no fígado que tanto conhecia. Demodo lento, gradativo, progressivo com vias biliares constrangidas. Não teve em sua morteo privilégio da ignorância sobre o prognóstico <strong>de</strong> sua enfermida<strong>de</strong>. Os dias eram contados,sua voz esvanecia e nós, sua família, <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong><strong>de</strong>ntos <strong>de</strong> suas palavras sábias, passávamos<strong>de</strong> maneira egoísta a suplicar-lhe que falas<strong>se</strong> mais para po<strong>de</strong>rmos sorver a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais conhecimentos e palavras <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> amor. Dizia que passava pela vida <strong>se</strong>m guias,


98e que não tinha medo <strong>de</strong> morrer, mas temia profundamente a possibilida<strong>de</strong> do medo <strong>de</strong><strong>se</strong>ntir sauda<strong>de</strong>s da família.• ÂNGELO ALVES DE MATTOS , SEU DISCÍPULOAs lembranças que guardo, as revivo em minhas orações. Muito obrigado Dr. Jorge.Muito obrigado por tudo o que nos ensinaste. Muito obrigado por permitir a perenida<strong>de</strong> doconhecimento que tão bem soubeste a todos transmitir.• LUIZ PEREIRA LIMA, SEU FILHOA profunda dor que sinto ao escrever, só é abrandada pelo prazer incomensurável <strong>de</strong>reviver meu pai em meu punho e lembrá-lo para <strong>se</strong>us inúmeros discípulos, plasmando umpouco <strong>de</strong> sua vida neste livro sobre os pioneiros da <strong>Hepatologia</strong> brasileira.


99JOSÉ DE LAURENTYS MEDEIROS25-09-1928Em 1944 transferia-<strong>se</strong> para Belo Horizonte o filho do pedreiro e comerciante José <strong>de</strong>Almeida Me<strong>de</strong>iros e da italiana Luiza. Ingressou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> MinasGerais em 1948, graduando-<strong>se</strong> em 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1953. Na Santa Casa <strong>de</strong> Mi<strong>se</strong>ricórdia<strong>de</strong> Belo Horizonte estagiou em vários <strong>se</strong>rviços. Iniciou, em 1955, uma <strong>de</strong>dicada trajetóriana tarefa <strong>de</strong> formar novos profissionais, ingressando como Professor Assistente naFCMMG. Foi Assistente <strong>de</strong> Semiologia em 1969 e chefe da Disciplina em 1978. Em 1979recebeu do Ministério da Educação e Cultura o Título <strong>de</strong> Professor, <strong>de</strong>vido ao “NotórioSaber”. Em 1963, foi convidado por Luiz <strong>de</strong> Paula Castro para compor a diretoria da<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia e Nutrição <strong>de</strong> Minas Gerais. Consultado por Wal<strong>de</strong>marPodkameni sobre a realização do I° Congresso Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> na cida<strong>de</strong> mineira<strong>de</strong> Caxambu, tomou como meta e afinco a responsabilida<strong>de</strong> e a participação na suarealização. Orgulha-<strong>se</strong> <strong>de</strong> ter participado <strong>de</strong> todos os congressos da SBH. Ao lado <strong>de</strong> Nereu<strong>de</strong> Almeida Júnior, foi o pioneiro da <strong>Hepatologia</strong> em Minas Gerais, qua<strong>se</strong> como autodidatana especialida<strong>de</strong>. Presi<strong>de</strong>nte da SBH, realizou em 1988 o congresso brasileiro com as<strong>de</strong>stacadas pre<strong>se</strong>nças da Profa. Sheila Sherlock, do Dr. Mario Rizzetto e Dr. Adrian diBisceglie. Continua como importante colaborador da SBH, <strong>se</strong>ndo o responsável pela edição<strong>de</strong> <strong>se</strong>u Boletim. Publicou inúmeros trabalhos técnicos e científicos, além <strong>de</strong> capítulos emlivros <strong>de</strong> gastroenterologia e hepatologia. Sua maior obra literária foi, <strong>se</strong>m dúvida, aconcepção e publicação, em parceria com o Professor Mario Lopez, do livro: “SemiologiaMédica – As Ba<strong>se</strong>s do Diagnóstico Clínico”, hoje na 5ª Edição e adotado por vários cursos<strong>de</strong> Medicina no Brasil.


100JOSÉ DE LAURENTYS MEDEIROS25-09-1928In 1944, the son of the stonemason and tra<strong>de</strong>r José <strong>de</strong> Almeida Me<strong>de</strong>iros and his Italianwife Luiza moved to Belo Horizonte. He entered the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> MinasGerais in 1948 and graduated on 8 December, 1953. He trained in various <strong>de</strong>partments inthe Santa Casa <strong>de</strong> Mi<strong>se</strong>ricórdia <strong>de</strong> Belo Horizonte. In 1955, he joined the FCMMG asassistant lecturer, and embarked in a spirit of <strong>de</strong>dication on the task of training new doctors.He was assistant professor in <strong>se</strong>miology in 1969 and head of subject (Disciplina) in 1978.In 1979, he received the title of Professor from the Ministry of Education and Culture inrecognition of the title “Notório Saber”. In 1963, he was invited by Luiz <strong>de</strong> Paula Castro tobe a director of the Minas Gerais Society of Gastroenterology and Nutrition. Whenconsulted by Wal<strong>de</strong>mar Podkameni about holding the 1 st Brazilian Congress of Hepatologyin Caxambu, Minas Gerais, he tenaciously <strong>se</strong>t him<strong>se</strong>lf the goal of being involved in, andresponsible for, making the event happen. He is proud to have taken part in all of the SBHcongres<strong>se</strong>s. Together with Nereu <strong>de</strong> Almeida Júnior, he pioneered hepatology in MinasGerais, and was almost completely <strong>se</strong>lf-taught in this specialty. As presi<strong>de</strong>nt of the SBH, hewas responsible for the 1988 congress, in which the eminent Prof. Sheila Sherlock, Dr.Mario Rizzetto and Dr. Adrian di Bisceglie took part. José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iroscontinues to be an important member of the SBH, and is responsible for editing thesociety’s newsletter. He has published countless technical and scientific papers, as well aschapters in books on gastroenterology and hepatology. His greatest written achievement hasbeen, without any doubt, to conceive and publish, together with Professor Mario Lopez, thebook “Semiologia Médica – As Ba<strong>se</strong>s do Diagnóstico Clínico”, which is now in its 5 thedition and has been cho<strong>se</strong>n for u<strong>se</strong> in various medicine cour<strong>se</strong>s in Brazil.


101José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros25-09-1928Autores: José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros Júnior e João Galizzi FilhoPrimavera <strong>de</strong> 1928. Nascia a 25 <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro, à Rua Cel. JoãoAlves n° 170, na pequenina cida<strong>de</strong> mineira <strong>de</strong> Pará <strong>de</strong> Minas, ofilho do pedreiro e comerciante José <strong>de</strong> Almeida Me<strong>de</strong>iros e daitaliana Luiza <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros, o pequeno José, quepassou a <strong>se</strong>r carinhosamente chamado por todos os <strong>se</strong>us <strong>de</strong> Zezé.Criança esperta, educada, curiosa pelo saber, teve, através <strong>de</strong> suaprimeira professora Dona Orozina, ainda em Pará <strong>de</strong> Minas, oscontatos iniciais com os livros e a leitura, ativida<strong>de</strong>s das quaisnão <strong>se</strong> <strong>se</strong>parou até hoje.Muito cedo, aos 6 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sofreu a primeira gran<strong>de</strong> perda, a <strong>de</strong> <strong>se</strong>u queridopai, vítima, naquela época, <strong>de</strong> uma pneumonia, que, pelos relatos atuais ba<strong>se</strong>ados em <strong>se</strong>usconhecimentos <strong>de</strong> Semiologia, tenha sido provavelmente associada a valvulopatia aórtica.Coube a tarefa <strong>de</strong> sua educação à sua mãe, Luiza, e a <strong>se</strong>us queridos e inesquecíveis tios,também italianos, Hector, Mathias, Maria, Joaninha e Rufina, ainda em Pará <strong>de</strong> Minas,on<strong>de</strong> permaneceu até 1943. Em 1944 transferiu-<strong>se</strong> para Belo Horizonte, passando aconviver sob a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>us tios paternos, Edmundo, Mário, Jésus, Antônio esuas esposas, que moravam na capital das alterosas. Destaque especial para sua avó paternaCianinha que, além <strong>de</strong> proteção, lhe <strong>de</strong>u enorme incentivo na continuação dos estudos.Terminou o curso ginasial no Colégio Marconi em 1947, lembrando-<strong>se</strong> ainda, comsauda<strong>de</strong>s, dos professores Paulo <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Química e o <strong>se</strong>mpre prestigiado Diretor doreferido e tradicional educandário mineiro, Professor Velloso.Ingressou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> MinasGerais no ano <strong>de</strong> 1948, aprovado em 13° lugar,graduando-<strong>se</strong> em 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1953. Durante<strong>se</strong>u curso, teve o privilégio <strong>de</strong> conhecer econviver, na saudável relação aluno/mestre, comas maiores referências da Medicina Mineira em


102todos os <strong>tempo</strong>s, como Alfredo Balena, Amílcar Martins, A<strong>de</strong>lmo Lodi, Oscar Versiani,João Affonso Moreira,João Afonso Moreira Filho, Moacyr Junqueira, Luigi Bogliolo,Nereu <strong>de</strong> Almeida Júnior, João Galizzi e José Malheiros Santos, entre outros ilustres, aosquais ren<strong>de</strong>mos também nossa homenagem. Destacam-<strong>se</strong>, em especial, dois Mestres queviriam a <strong>se</strong>r suas âncoras, referências e espelhos, tanto na conduta humana quantoprofissional: Oswaldo <strong>de</strong> Mello Campos e Caio Benjamin Dias. Com o primeiro, Prof.Mello Campos, <strong>de</strong> <strong>se</strong>mblante sisudo e austero, apren<strong>de</strong>u a admirar a Semiologia Médica,com a magia do conhecimento pelas pontas dos <strong>de</strong>dos, <strong>se</strong>mpre aliada ao raciocínio clínico ecientífico. Com o <strong>se</strong>gundo, <strong>se</strong>u querido Dr. Caio, mais meigo, com a aparência do tutor quecuida com afeto e atenção <strong>de</strong> <strong>se</strong>us pupilos, foi introduzido na Clínica Médica, vindo a <strong>se</strong>r,posteriormente, <strong>se</strong>u assistente direto. Dr. Caio transformou-<strong>se</strong>, também, no gran<strong>de</strong>con<strong>se</strong>lheiro <strong>de</strong> todas as horas, como um irmão mais velho que ele nunca teve, relação estacultivada com muito carinho e amor até os dias atuais.Em sua vida acadêmica foi levado, em 1949, pelas mãos <strong>de</strong> José Malheiros Santos,para a Santa Casa <strong>de</strong> Mi<strong>se</strong>ricórdia <strong>de</strong> Belo Horizonte, uma “Casa do Saber Médico”, porcujos corredores passaram gerações <strong>de</strong> médicos,humanistas e cientistas. Nesta Casa, estagiou em vários<strong>se</strong>rviços, tendo o privilégio <strong>de</strong> ter sido, por algum<strong>tempo</strong>, assistente <strong>de</strong> Lucas Monteiro Machado,ginecologista e obstetra, responsável pela nova escolada especialida<strong>de</strong> que surgia em Belo Horizonte e queviria a <strong>se</strong>r o fundador da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> CiênciasMédicas <strong>de</strong> Minas Gerais (FCMMG), em 1951, para on<strong>de</strong> levaria também <strong>se</strong>u novoassistente. Ainda na Santa Casa recebeu, em 1958, sua primeira enfermaria, a princípiocomo Clínica Médica, vindo a <strong>se</strong> transformar, posteriormente, na 1ª Clínica <strong>de</strong>Gastroenterologia, por on<strong>de</strong> já passaram algumas centenas <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes e milhares <strong>de</strong>estagiários. Alguns <strong>de</strong>stes médicos resi<strong>de</strong>ntes são hoje membros <strong>de</strong> renome <strong>de</strong>ntro daespecialida<strong>de</strong>, como Luiz Gonzaga Vaz Coelho, Maria do Carmo Friche Passos e LucianaDias Moretzohn, entre outros. Ainda na Santa Casa <strong>de</strong> Belo Horizonte, ocupou qua<strong>se</strong> todosos cargos médicos existentes, <strong>se</strong>ndo hoje, ao lado <strong>de</strong> Arlindo Pollizi e Nereu <strong>de</strong> AlmeidaJúnior, <strong>de</strong>cano <strong>de</strong>sta centenária instituição.


103Iniciou, em 1955, uma <strong>de</strong>dicada trajetória na árdua mas glorificante tarefa <strong>de</strong> formarnovos profissionais, ingressando como Professor Assistente na FCMMG. Iniciava, então,uma nova paixão em sua profissão, que <strong>se</strong>ria sua carreira acadêmica. Recebeu, em 1961, aresponsabilida<strong>de</strong> pelo estágio dos novos alunos, transformando-<strong>se</strong> em Assistente <strong>de</strong>Semiologia em 1969 e chefe da Disciplina em 1978, com a apo<strong>se</strong>ntadoria <strong>de</strong> <strong>se</strong>u queridoRegozino Macedo. Em 1979 recebeu do Ministério da Educação e Cultura o Título <strong>de</strong>Professor, <strong>de</strong>vido ao “Notório Saber”. Nesta respeitável Faculda<strong>de</strong>, permanece comoProfessor Chefe <strong>de</strong> Semiologia até os dias atuais, <strong>se</strong>ndo um dos docentes mais atuantes equeridos por todos os que o conhecem e com ele trabalham no dia a dia, lecionandoincansavelmente, num verda<strong>de</strong>iro sacerdócio.Voltando ao ano <strong>de</strong> 1963, foi convidado por Luiz <strong>de</strong> Paula Castro para compor adiretoria da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterogia e Nutrição <strong>de</strong> Minas Gerais (SGNMG),aumentando <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> e <strong>se</strong> aproximando mais <strong>de</strong>sta especialida<strong>de</strong>. Veio a <strong>se</strong>r presi<strong>de</strong>nteda SGNMG por dois mandatos, participando com regularida<strong>de</strong> dos Congressos daFe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia (FBG), on<strong>de</strong> fez vasto círculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s,inúmeras vivas e outras já na sauda<strong>de</strong>, como Figueiredo Men<strong>de</strong>s, Waldomiro Dantas, LuizCarlos Gayotto, Jorge Pereira Lima e Jorge Toledo. Durante o Congresso da FBG <strong>de</strong> 1968,em Recife, conheceu a atual presi<strong>de</strong>nte da SBH, Dra. Edna Strauss. Consultado porWal<strong>de</strong>mar Podkameni sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização do I° Congresso Brasileiro <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong> na cida<strong>de</strong> mineira <strong>de</strong> Caxambu, tomou como meta e com afinco aresponsabilida<strong>de</strong>, assinando, ao lado <strong>de</strong> T. Figueiredo Men<strong>de</strong>s, Luiz Caetano da Silva,Silvano Raia, Amaury Coutinho, Fernando Alvariz, Zilton Andra<strong>de</strong>, Fernan<strong>de</strong>s Pontes,Jorge Toledo, Sérgio Bicalho, Nereu <strong>de</strong> Almeida Júnior e outros não menos ilustres, a ata<strong>de</strong> fundação da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, em 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1969.Orgulha-<strong>se</strong> <strong>de</strong>, juntamente com Luiz Caetano da Silva, ter participado <strong>de</strong> todos os <strong>se</strong>usCongressos, <strong>se</strong>ndo o último em Recife, no ano <strong>de</strong> 2003. Membro atuante em váriasdiretorias, foi indicado para a presi<strong>de</strong>ncia da entida<strong>de</strong>, cargo que assumiu em 1986, emsubstituição ao Dr. Silvano Raia. No Congresso sob sua responsabilida<strong>de</strong>, em BeloHorizonte, 1988, teve como fato marcante as pre<strong>se</strong>nças da Professora Sheila Sherlock, daInglaterra, do Dr. Mario Rizzetto, da Itália e <strong>de</strong>scobridor do Vírus da hepatite Delta e doDr. Adrian di Bisceglie, dos Estados Unidos da América. José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros,


104continua como importante colaborador da SBH, <strong>se</strong>ndo o responsável pela edição <strong>de</strong> <strong>se</strong>uBoletim, o que faz com a costumeira eficiência.Ao lado <strong>de</strong> Nereu <strong>de</strong> Almeida Júnior, foi o pioneiro da <strong>Hepatologia</strong> em MinasGerais, qua<strong>se</strong> como autodidata na especialida<strong>de</strong>, <strong>se</strong>ndo <strong>se</strong>guido por João Galizzi Filho, queteve o privilegio <strong>de</strong> trabalhar, emLondres, com Dame Sheila Sherlock,abrindo, assim, caminho para outroshepatologistas mineiros. Quando darecente fundação da Associação Mineirapara o Estudo do Fígado (AMEF), foiescolhido por aclamação para <strong>se</strong>r oprimeiro timoneiro, em reconhecimentoaos esforços para o <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da<strong>Hepatologia</strong> em Minas Gerais.Como repre<strong>se</strong>ntante <strong>de</strong> clas<strong>se</strong>, esteve pre<strong>se</strong>nte na Associação Médica <strong>de</strong> MinasGerais (AMMG) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954, assumindo vários cargos em diversas diretorias, com<strong>de</strong>staque para a gestão <strong>de</strong> José Gilberto Alves<strong>de</strong> Souza quando, como presi<strong>de</strong>nte do Con<strong>se</strong>lhoCientífico, realizou mais <strong>de</strong> 100 jornadasmédicas pelos rincões do estado <strong>de</strong> MinasGerais. Isto valeu-lhe a eleição, porunanimida<strong>de</strong>, para a presidência da entida<strong>de</strong> no ano <strong>de</strong> 1976 e posteriormente, para vicepresi<strong>de</strong>nteda Associação Médica <strong>Brasileira</strong> (AMB) por dois mandatos, <strong>de</strong> 1978 a 1981.Orgulha-<strong>se</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>r, atualmente, o responsável pelo Centro <strong>de</strong> Memória da AMMG, querecebeu <strong>se</strong>u nome, em reconhecimento aos relevantes <strong>se</strong>rviços prestados à instituição.Membro da Aca<strong>de</strong>mia Mineira <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1973, ocupa a ca<strong>de</strong>ira n° 85, quetem como patrono o Dr. José Alves <strong>de</strong> Castilho Júnior, tendo nela sucedido <strong>se</strong>u gran<strong>de</strong>amigo e conterrâneo Dr. Murilo Drummond <strong>de</strong> Salles e Silva. Foi <strong>se</strong>u presi<strong>de</strong>nte por trêsmandatos con<strong>se</strong>cutivos, justificando as palavras do gran<strong>de</strong> Professor Hilton Rocha: “Seracadêmico não é <strong>se</strong>r escritor, nem <strong>se</strong>r poeta. Mas é <strong>se</strong>r Médico”.


105Já publicou inúmeros trabalhos técnicos e científicos, em revistas e jornais <strong>de</strong>medicina <strong>de</strong> todo o país, além <strong>de</strong> vários capítulos em livros <strong>de</strong> gastroenterologia ehepatologia. Mas sua maior obra literária foi, <strong>se</strong>m dúvida, a concepção e publicação, emparceria com o Professor Mario Lopez, do livro: “Semiologia Médica – As Ba<strong>se</strong>s doDiagnóstico Clínico”, hoje na 5ª Edição e adotado por várias das Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Medicinado Brasil.Ao longo dos anos, fruto <strong>de</strong> <strong>se</strong>u caráter, lealda<strong>de</strong>, humanismo e <strong>de</strong>dicaçãoinabalável ao juramento <strong>de</strong> “Hipócrates”, com profundo respeito aos pacientes, recebeuinúmeras Láureas, Insígnias e Con<strong>de</strong>corações, entre elas os Títulos <strong>de</strong> Cidadão Honorário<strong>de</strong> Belo Horizonte e <strong>de</strong> Membro da Aca<strong>de</strong>mia Fluminen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina, do InstitutoMineiro <strong>de</strong> História da Medicina e da Aca<strong>de</strong>mia Paraminen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Letras.Figura humana <strong>se</strong>nsível e afeita às coisas simples, José Laurentys tem duas paixõesque faz questão <strong>de</strong> não escon<strong>de</strong>r: <strong>se</strong>u amor pela música em geral, e <strong>de</strong>ntre os clássicos,especialmente por Beethoven; como <strong>de</strong>sportista é torcedor do Cruzeiro, Botafogo e doPalmeiras, o que revelam os traços <strong>de</strong> um homem que transita com sabedoria pelas belasruas do cotidiano.Casado com Maria da Penha <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros, tem quatro filhos: Júnior,também médico, Luiz Carlos e Lúcio Flávio, engenheiros e Fernando Antônio,comerciante, e <strong>se</strong>is netos, todos orgulhosos e agra<strong>de</strong>cidos à <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong> e, em especial, à Dra. Edna Strauss, sua Presi<strong>de</strong>nte, pela <strong>de</strong>ferência elembrança <strong>de</strong> incluírem <strong>se</strong>u querido Laurentys nos Anais <strong>de</strong>sta reconhecida <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, naqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vulto.As realizações <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Laurentys Me<strong>de</strong>iros nos campos profissional, acadêmico eassociativo são, <strong>se</strong>m dúvida, o reflexo maior <strong>de</strong> <strong>se</strong>us invulgares entusiasmo, li<strong>de</strong>rança,dinamismo e criativida<strong>de</strong>.


106LUIS CAETANO DA SILVA04-07-1927Nascido em Vista Alegre do Alto, São Paulo, realizou o curso médico na FMUSP, <strong>de</strong> 1946a 1951. Em 1948 freqüentou Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Terapêutica Clínica, on<strong>de</strong> teve os primeiroscontatos com a Gastroenterologia, nas visitas à enfermaria, que eram realizadas pelo Prof.José Fernan<strong>de</strong>s Pontes. Em 1961, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u sua te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutoramento, intitulada "Estudo daHiperbilirrubinemia Pós-Anastomo<strong>se</strong> Porto-Cava em Pacientes com Esquistossomo<strong>se</strong>Hepato-Esplênica e Cirro<strong>se</strong> Hepática". Fez concurso para Livre-Docência no ano <strong>de</strong> 1974.com a te<strong>se</strong>: "Anticorpos e Eosinófilos Circulantes na Esquistossomo<strong>se</strong> Mansônica.Contribuição ao Estudo <strong>de</strong> Efeitos da Quimioterapia". Participou das ativida<strong>de</strong>s didáticas ecientíficas do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia, tendo sidopresi<strong>de</strong>nte do mesmo. Em 1958 recebeu bolsa do British Council para estágio no Serviçoda Profa. Sheila Sherlock. Retornando ao Brasil, <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu estudos sobre <strong>Hepatologia</strong>que resultaram em te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutoramento e no livro “Cirro<strong>se</strong> Hepática". Em 1968, passou acolaborar na orientação clínica <strong>de</strong> pacientes cirúrgicos do Prof. Silvano Raia. Foi presi<strong>de</strong>nteda <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latino-Americana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>.Em 1978 assumiu a responsabilida<strong>de</strong> do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em GastroenterologiaClínica (FMUSP). A partir <strong>de</strong> 1984 coor<strong>de</strong>nou o <strong>se</strong>tor relacionado ao Instituto <strong>de</strong> MedicinaTropical e ao Departamento <strong>de</strong> Gastroenterologia, do projeto “Vários aspectos das hepatitespor vírus no Brasil”, coor<strong>de</strong>nado pelo saudoso Prof. Luiz Carlos da Costa Gayotto.Publicou vários trabalhos no Brasil e no exterior, editou livros e escreveu capítulos <strong>de</strong>livros no Brasil e no exterior; orientou te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> mestrado, doutorado e colaborou em livredocências,além <strong>de</strong> participar em conferências, mesas redondas e simpósios.


107LUIS CAETANO DA SILVA04-07-1927Luis Caetano da Silva was born in Vista Alegre, São Paulo, and studied medicine atFMUSP from 1946 to 1951. In 1948, he atten<strong>de</strong>d the Department of Clinical Therapy,where he had his first contact with gastroenterology during the visits to the ward carried outby Prof. José Fernan<strong>de</strong>s Pontes. In 1961, he <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d his doctoral thesis “A Study ofPortal-Cava Postanastomosis Hyperbilirubinemia in Patients with HepatosplenicSchistosomiasis and Hepatic Cirrhosis.” He sat an examination for Livre-Docência(professorial habilitation) in 1974, with the thesis “Circulating Antibodies and Eosinophilsin Mansonic Schistomosiais. A Contribution to the Study of the Effects of Chemotherapy.”He took part in teaching and scientific activities at the Brazilian Institute for the Study andRe<strong>se</strong>arch of Gastroenterology, and became presi<strong>de</strong>nt of this organization. In 1958, hereceived a scholarship from the British Council to study with Prof. Sheila Sherlock. Onreturning to Brazil, he exten<strong>de</strong>d his study of hepatology, and this resulted in his doctoralthesis and the book “Cirro<strong>se</strong> Hepática”. In 1968, he started also to assist Silvano Raia’ssurgical patients concerning the clinical guidance. He was presi<strong>de</strong>nt of the BrazilianSociety of Hepatology and the Latin American Society of Hepatology. In 1978, he tookover responsibility for the postgraduate cour<strong>se</strong> in clinical gastroenterology (FMUSP). From1984, he coordinated the area related to the Institute of Tropical Medicine and theDepartment of Gastroenterology in the project “Various aspects of viral hepatitis in Brazil”coordinated by the much-mis<strong>se</strong>d Prof. Luiz Carlos da Costa Gayotto. He has published arange of studies in Brazil and abroad, edited books, and written chapters of books in Braziland abroad. He has also supervi<strong>se</strong>d masters and doctoral the<strong>se</strong>s and assisted with Livres-Docências (professorial habilitations), as well as taking part in conferences, round tablesand symposia.


108LUIZ CAETANO DA SILVA04-07-1927Autor: Flair José CarrilhoO Prof. Dr. Luiz Caetano da Silva, filho <strong>de</strong> D. FranciscaSeixas Caetano da Silva e do Dr. Aurélio Caetano daSilva, nasceu em 4/7/1927 em Vista Alegre do Alto, SãoPaulo.INTERESSE PELA MEDICINAO interes<strong>se</strong> do nosso homenageado pela medicina remontaà infância, graças à influência marcante <strong>de</strong> <strong>se</strong>u pai, Dr.AURÉLIO, que, formado pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Bahia, mudou-<strong>se</strong>, já casado, parao interior do Estado <strong>de</strong> São Paulo, instalando-<strong>se</strong> em um vilarejo, então <strong>de</strong>n ominado VistaAlegre. Lá clinicou por muitos anos, educando <strong>se</strong>usfilhos em regime <strong>de</strong> internato na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Bebedouro. Durante a infância e adolescência emVista Alegre, o Prof. CAETANO pô<strong>de</strong> acompanhar<strong>de</strong> perto a vida atribulada <strong>de</strong> um clínico <strong>de</strong> interior,cuja <strong>de</strong>dicação aos pacientes e compreensão dosproblemas sócio-econômicos próprios <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>pequena, forneceram aos <strong>se</strong>us filhos a verda<strong>de</strong>iradimensão da profissão <strong>de</strong> médico. Explica-<strong>se</strong>, <strong>de</strong>sta<strong>de</strong>dicação do Dr. AURÉLIO, porque dois <strong>de</strong> <strong>se</strong>usquatro filhos viriam mais tar<strong>de</strong> a graduar-<strong>se</strong> pelaFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP.CLÍNICA MÉDICAO Prof. Luiz Caetano da Silva realizou o curso médico na FMUSP, <strong>de</strong> 1946 a 1951,tendo iniciado <strong>se</strong>us primeiros contatos com a clínica em 1948, quando freqüentou a 1a.


109Clínica Médica, <strong>de</strong> março a outubro <strong>de</strong> 1948.O interes<strong>se</strong> pela clínica geral persistiu após sua formatura, durante os dois anos <strong>de</strong>residência e, ulteriormente, como assistente do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas(1954 e 1955). A participação dos assistentes nos plantões era muito produtiva, nãosomente sob o ponto <strong>de</strong> vista assistencial como <strong>de</strong> ensino. Após atendimento dosnumerosos pacientes com problemas clínicos que afluíam ao Pronto Socorro, o Prof.CAETANO reunia os resi<strong>de</strong>ntes e estudantes para discussão do diagnóstico e da condutaem cada caso, muitas vezes ao longo da noite, após o término das ativida<strong>de</strong>s diárias. Tal<strong>de</strong>dicação valeu-lhe uma homenagem pelos graduandos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUSP, turma <strong>de</strong> 1955, da qual muito <strong>se</strong> orgulha.Contratado para o Serviço <strong>de</strong> Gastroenterologia, continuou, não obstante,<strong>de</strong>monstrando gran<strong>de</strong> interes<strong>se</strong> pela clínica médica. No ano <strong>de</strong> 1976, organizou cincoCursos <strong>de</strong> Orientação em Clínica Médica, on<strong>de</strong> <strong>se</strong> abordavam temas práticos como odiagnóstico e a terapêutica das gran<strong>de</strong>s síndromes e das enfermida<strong>de</strong>s mais freqüentes.A partir <strong>de</strong> 1958, graças ao intenso intercâmbio com as Disciplinas <strong>de</strong> Cirurgia ecom a Disciplina <strong>de</strong> Hematologia, preparou sua Te<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutoramento, intitulada"ESTUDO DA HIPERBILIRRUBINEMIA PÓS-ANASTOMOSE PORTO-CAVA EMPACIENTES COM ESQUISTOSSOMOSE HÉPATO-ESPLÊNICA E CIRROSEHEPÁTICA". Esta te<strong>se</strong>, <strong>de</strong>fendida em 1961, <strong>se</strong>rviu <strong>de</strong> ba<strong>se</strong> para a publicação <strong>de</strong> três<strong>de</strong>stacados trabalhos em revista<strong>se</strong>strangeiras. O assunto <strong>de</strong>spertou interes<strong>se</strong>entre os pesquisadores que estudavam ometabolismo do pigmento biliar, <strong>se</strong>ndocitado em publicações internacionais.A <strong>de</strong>dicação do nosso homenageadoà clínica culminou com Concurso paraLivre-Docência em Clínica Médica no ano<strong>de</strong> 1974, tendo sido aprovado com grau 10 e distinção. A te<strong>se</strong> correspon<strong>de</strong>nte intitulava-<strong>se</strong>"ANTICORPOS E EOSINÓFILOS CIRCULANTES NA ESQUISTOSSOMOSEMANSÔNICA. CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE EFEITOS DA QUIMIOTERAPIA".Este trabalho recebeu o "Prêmio Professor Ovídio Pires <strong>de</strong> Campos" do HOSPITAL DAS


110CLÍNICAS em março <strong>de</strong> 1975 e <strong>de</strong>u origem a três trabalhos publicados em revistasnacionais.GASTROENTEROLOGIAEm fins <strong>de</strong> 1948 passou a freqüentar a Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Terapêutica Clínica, então sob ali<strong>de</strong>rança do Prof. Cantídio <strong>de</strong> Moura Campos. Nesta clínica, em 1950, teve os primeiroscontatos com a Gastroenterologia, nas visitas à enfermaria, que eram realizadas inclusiveaos domingos pelo Prof. JOSÉ FERNANDES PONTES que, na ocasião li<strong>de</strong>rava o recémcriadogrupo <strong>de</strong> Gastroenterologia. Essas visitas caracterizavam-<strong>se</strong> pelo questionamento,pela curiosida<strong>de</strong> científica sobre temas então polêmicos tais com a síndrome pósgastrectomia,as enterocolites crônicas ("dispepsias fermentativas e putrefativas"),etiopatogenia da cirro<strong>se</strong> hepática e da pancreatite crônica e a síndrome póscolecistectomia.Constituíam-<strong>se</strong>, assim, as ba<strong>se</strong>s para a formação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>gastroenterologistas que iria consolidar-<strong>se</strong> ulteriormentente.Além da influencia <strong>de</strong>s<strong>se</strong>s mestres, <strong>de</strong>ve também <strong>se</strong>r lembrado o importante papel<strong>de</strong><strong>se</strong>mpenhado em sua formação pelo Dr. DIRCEU PFUHL NEVES, que além <strong>de</strong> clínicopossuía invejável aptidão para a pesquisa.O Prof. LUIZ CAETANO interessou-<strong>se</strong>, na ocasião, por aspectos da bioquímica doaparelho digestivo. Teve, então, oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> familiarizar-<strong>se</strong> com técnicas <strong>de</strong>laboratório ligadas a enzimas, em particular à p<strong>se</strong>udocolinestera<strong>se</strong> e proteínas séricas.Além das provas conhecidas como <strong>de</strong> turvação e floculação, <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> intensamente àeletrofore<strong>se</strong> <strong>de</strong> proteínas, graças aos conhecimentos e ao interes<strong>se</strong> <strong>de</strong> GÜNTHERHOXLER, experiente bioquímico que trabalhava na 1a. Clínica Médica.Com a extinção da Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Terapêutica Clínica em 1960, passou a exercer suasativida<strong>de</strong>s na 1a. Divisão <strong>de</strong> Clínica Médica (Prof. ANTONIO BARROS DE ULHÔACINTRA) do Hospital das Clínicas da FMUSP.Em 1963, transferiu-<strong>se</strong> com o grupo <strong>de</strong> gastroenterologistas que pertencera àTerapêutica Clinica para a 2ª. Divisão <strong>de</strong> Clínica Médica (Prof. LUIZ VENEREDÉCOURT). Em 1965, o Prof. AGOSTINHO BETTARELLO foi indicado para a Chefiada Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong>ssa Clínica.


111Em 1967, com a criação da "Enfermaria Geral do Hospital das Clinicas”, o mesmogrupo <strong>de</strong> gastroenterologistas transferiu-<strong>se</strong> para es<strong>se</strong> <strong>se</strong>rviço, dirigido pelo Prof. AdjuntoBERNARDINO TRANCHESI.A “Enfermaria Geral” constituiu etapa importante a <strong>se</strong>r referida, porque ali <strong>se</strong><strong>se</strong>meavam ba<strong>se</strong>s para o pensamento e estruturação da gastroenterolog ia <strong>de</strong>ntro daclínica médica. Assim, além do aspecto multidisciplinar da enfermaria, as ativida<strong>de</strong>s dogrupo foram direcionadas para a mo<strong>de</strong>rnização da chamada "propedêutica armada" emGastroenterologia, que permitiu o <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância naespecialida<strong>de</strong>.O interes<strong>se</strong> pela Gastroenterologia tem persistido durante a carreira do Prof. LUIZCAETANO. Participou, <strong>de</strong>starte, das ativida<strong>de</strong>sdidáticas e científicas do Instituto Brasileiro <strong>de</strong>Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia(lBEPEGE), tendo sido Presi<strong>de</strong>nte do mesmo nosperíodos 1963-1966 e 1966-1969 . Vários projetos <strong>de</strong>estudo sobre Gastroenterologia foram ali<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvidos, tornando esta instituição bastante conhecida no meio especializado nacionale latino-americano. Além disso, o Curso <strong>de</strong> Mestrado em Gastroenterologia <strong>de</strong>ssaInstituição foi reconhecido pelo Con<strong>se</strong>lho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação. O Prof. LUIZ CAETANODA SILVA colaborou administrativa e cientificamente com essa instituição até 1976.Em 1985 apre<strong>se</strong>ntou Memorial à Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP, tendo sidoindicado para o Cargo <strong>de</strong> Professor Adjunto.No ano <strong>de</strong> 1986, por iniciativa dos professores da Disciplina <strong>de</strong> Cirurgia doAparelho Digestivo e Glândulas Anexas e da Disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia Clínica,proce<strong>de</strong>u-<strong>se</strong> à união <strong>de</strong> ambas as Disciplinas, que redundou na formação do atualDepartamento <strong>de</strong> Gastroenterologia da FMUSP. Des<strong>de</strong> então, o Prof CAETANOincrementou <strong>se</strong>us contatos com cirurgiões do Departamento, colaborando com o Prof.BETTARELLO nas ativida<strong>de</strong>s administrativas, didáticas e científicas.HEPATOLOGIAEm 1958 recebeu bolsa do «BRITISH COUNCIL' para estágio no


112"POSTGRADUATE MEDICAL SCHOOL, HAMMERSMITH HOSPITAL", em Londres,no Serviço da Profa. SHEILA SHERLOCK, on<strong>de</strong> permaneceu por <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s. Durante esteperíodo, entrou em contato com especialistas <strong>de</strong> renome e teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitarcentros <strong>de</strong> pesquisa como “RlGSHOSPITALET” <strong>de</strong> Copenhagem e o "UNIVERSITYHOSPITAL" <strong>de</strong> Edinburgh.Retornando ao Brasil o Prof. CAETANO <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu principalmente estudos sobreHEPATOLOGIA, os quais resultaram em te<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutoramento já mencionada e no livro“CIRROSE HEPÁTICA", editora Sarvier, publicado em 1969.A partir <strong>de</strong> 1957, preocupado com o problema da hipertensão portal e <strong>de</strong> <strong>se</strong>usaspectos cirúrgicos, propôs-<strong>se</strong> a mediar maior entendimento entre clínicos e cirurgiões.Importantes trabalhos resultaram <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, ba<strong>se</strong>ados no estudo da "síndrome pósanastomo<strong>se</strong>porto-sistêmica", em pacientes operados pelos Profs. EDMUNDOVASCONCELOS, NICOLAU DE MORAES BARROS, PALMIRO ROCHA, FABIO S.GOFFI, MASSAYUKI OKUMURA, HENRIQUE WALTER PINOTTl, JORGE S.GUIMARÃES e SILVANO RAIA, entre outros. Além da te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutoramento e <strong>de</strong> váriosartigos publicados no exterior, vale mencionar a indicação, em nosso meio, da primeiracolectomia total com anastomo<strong>se</strong> íleo-retal, para tratamento <strong>de</strong> encefalopatia portosistêmicarebel<strong>de</strong> ao tratamento clínico.Em 1968, com a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior aproximaçãoentre clínicos e cirurgiões o Prof. DA SILVA passou acolaborar na orientação clínica <strong>de</strong> pacientes cirúrgicos doProf. SILVANO RAlA. Tornava-<strong>se</strong>, assim, concreta apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong> constituir uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado nosmol<strong>de</strong>s da existente em Londres. Com este objetivo,tratou-<strong>se</strong> <strong>de</strong> dividir a <strong>Hepatologia</strong> em <strong>se</strong>tores e convidaram-<strong>se</strong> colegas interessadospreferentemente com experiência. Finalmente, <strong>de</strong>finiram-<strong>se</strong> os campos merecedores <strong>de</strong>maior interes<strong>se</strong> por parte do grupo <strong>de</strong> estudo. As ativida<strong>de</strong>s foram divididas em três áreas<strong>de</strong> trabalho: a) <strong>se</strong>tor clínico - Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica (Prof. LUIZ VENEREDÉCOURT); b) <strong>se</strong>tor cirúrgico - Departamento <strong>de</strong> Clínica Cirúrgica (Prof. EURYCLIDESJ. ZERBINI), Disciplina <strong>de</strong> Cirurgia do Aparelho Digestivo e Glândulas Anexas (Prof.ARRlGO RAIA); c) <strong>se</strong>tor experimental da FMUSP (Prof. SILVANO RAIA).


113Como resultado do pleno entrosamento entre as áreasclínicas e cirúrgicas, foram criadas diversas linhas <strong>de</strong>investigação que culminaram com a publicação <strong>de</strong>trabalhos no país e no exterior, além <strong>de</strong> dis<strong>se</strong>rtações <strong>de</strong>mestrado e te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> doutoramento .O contínuo interes<strong>se</strong> pela <strong>Hepatologia</strong> e suas contribuiçõesnessa importante área da Gastroenterologia, conduziram-no à eleição para Presi<strong>de</strong>nte da<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Latino Americana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> nosbiênios 1970-1971 e 1971-1972, respectivamente.Em 1978 assumiu a responsabilida<strong>de</strong> do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação emGastroenterologia Clínica, Disciplina <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> Clínica (FMUSP). O curso vem <strong>se</strong>realizando regularmente e abrange temas ligados a aspectos básicos como imunologia,etiopatogênia e mecanismos <strong>de</strong> lesão do hepatócito e fisiopatologia das principaissíndromes em doenças hepáticas, além dos aspectos terapêuticos em <strong>Hepatologia</strong>.A partir <strong>de</strong> 1984 assumiu a Coor<strong>de</strong>nação do Setor relacionado ao Instituto <strong>de</strong>Medicina Tropical e ao Departamento <strong>de</strong> Gastroenterologia, do projeto “Vários aspectosdas hepatites por vírus no Brasil”, subvencionado pela Financiadora <strong>de</strong> Estudos e Projetos– FINEP e coor<strong>de</strong>nado pelo saudoso Prof. LUIZ CARLOS DA COSTA GAYOTTO.PESQUISAS EXPERIMENTAIS E CLÍNICAS EM ESQUISTOSSOMOSEO interes<strong>se</strong> do Prof. CAETANO DA SILVA em pesquisa sobre esquistossomo<strong>se</strong>mansônica foi <strong>de</strong>spertado em 1964, quando o Prof. CARLOS DA SILVA LACAZ, oconvidou a trabalhar no Instituto <strong>de</strong> Medicina Tropical <strong>de</strong> São Paulo (IMT).Dedicou-<strong>se</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, ao estudo <strong>de</strong> anticorpos séricospelas técnicas <strong>de</strong> imunodifusão e <strong>de</strong> imunoeletrofore<strong>se</strong>,em colaboração com o Prof. RUBENS GUIMARÃESFERRI, então Chefe do Laboratório <strong>de</strong> Imunoquímica daFMUSP. Re sultados <strong>de</strong>sta pesquisa foram publicados em1965.Graças ao <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento no Laboratório <strong>de</strong> Sorologia do IMT <strong>de</strong> novas técnicassorológicas, particularmente <strong>de</strong> imunofluorescência e <strong>de</strong> hemaglutinação passiva, foram


114aprofundados os estudos dos anticorpos séricos em pacientes com esquistossomo<strong>se</strong>mansônica.Na ocasião tornou-<strong>se</strong> patente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um ambulatório no IMT,para que os pacientes com formas benignas <strong>de</strong> esquistossomo<strong>se</strong> pu<strong>de</strong>s<strong>se</strong>m beneficiar-<strong>se</strong>com a terapêutica e com o <strong>se</strong>guimento clínico-sorológico, evitando os entraves burocrático<strong>se</strong>ntão existentes. Os pacientes com forma hepatesplênica ou outras doenças gravesconcomitantes eram enviados ao Hospital das Clínicas da FMUSP.Na rotina ambulatorial do IMT executavam-<strong>se</strong> exames parasitários e sorológicosantes e em diferentes períodos pós-tratamento. Desta forma, adquiriu-<strong>se</strong> experiência comdiferentes quimioterápicos.Com o progredir dos conhecimentos sobre a farmacologia das diferentes drogas, oProf. DA SILVA <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> ao estudo da resistência do S. mansoni às mesmas, queresultaram em duas comunicações internacionais.Em 1970 o Prof. DA SILVA foi contratado para ocargo <strong>de</strong> Professor Assistente Doutor pelo Departamento<strong>de</strong> Patologia da FMUSP, com funções no IMT, junto aoLaboratório <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. Os resultados dasinvestigaçõ es sobre imunologia da Esquistossomo<strong>se</strong>,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1963 foram apre<strong>se</strong>ntados e publicados a nível nacional e no exterior.Em 1976 foi convidado pelo então Ministro da Saú<strong>de</strong>, Dr. PAULO DE ALMEIDAMACHADO, para ob<strong>se</strong>rvação e análi<strong>se</strong> do Plano Especial <strong>de</strong> Combate à Esquistossomo<strong>se</strong>(PECE) iniciado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Touros, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Des<strong>de</strong> então, passou ainteressar-<strong>se</strong> também por aspectos epi<strong>de</strong>miológicos da enfermida<strong>de</strong> e pelo PECE,particularmente no Estado <strong>de</strong> Alagoas, tendo <strong>se</strong> <strong>de</strong>slocado várias vezes para o interiordaquele Estado, com intuito <strong>de</strong> ob<strong>se</strong>rvar o andamento do projeto.Graças a <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> em trabalho <strong>de</strong> campo foi convidado pela organizaçãoMundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), para participar <strong>de</strong> uma reunião em Genebra, Suíça, em 1980.Em 1982, foi <strong>de</strong>signado oficialmente pela SUCAM, em Brasília, para avaliar o PECE emAlagoas.


115GRUPO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS DE ALCOOLISMO EFARMACODEPENDÊNCIAS (GREA)Tendo em vista a gran<strong>de</strong> importância repre<strong>se</strong>ntada pelo alcoolismo como causa <strong>de</strong>numerosos distúrbios no terreno da Gastroenterologia, participou na formação <strong>de</strong> umGrupo interdisciplinar, o GREA, constituído por psiquiatras, psicólogos, neurologistas,hematologistas e gastroenterologistas. À partir <strong>de</strong> 1986 passou a exercer as funções <strong>de</strong>Supervisor do GREA no HCFMUSP.CHEFIA DA DISCIPLINA DE GASTROENTEROLOGIA CLÍNICA DODEPARTAMENTO DE GASTROENTEROLOGIA DA FMUSPCom o falecimento do Prof. AGOSTINHO BETTARELLO surgiu a necessida<strong>de</strong> dasubstituição interina da Chefia da Disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia Clínica.Por orientação da Chefia do Departamento <strong>de</strong> Gastroenterologia foi solicitado que<strong>se</strong> realizas<strong>se</strong> uma consulta aos membros da Disciplina, quanto ao nome que <strong>de</strong>veria <strong>se</strong>rapreciado pelo Con<strong>se</strong>lho do Departamento. Esta consulta, realizada através <strong>de</strong> votação<strong>se</strong>creta, resultou na indicação unânime do Prof. LUIZ CAETANO DA SILVA para o cargo<strong>de</strong> Professor Regente da Disciplina <strong>de</strong> Gastroenterologia Clínica da FMUSP.ATIVIDADES DIDÁTICASO Prof. LUIZ CAETANO DA SILVA ministrou 95 aulas à nível <strong>de</strong> graduação, 315à nível <strong>de</strong> pós-graduação lato <strong>se</strong>nso e 64 à nível estrito <strong>se</strong>nso na FMUSP e em outrasfaculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medicina, 40 aulas em cursos e congressos médicos nacionais e 7internacionais. Coor<strong>de</strong>nou e organizou 27 cursos na FMUSP e 17 em outras faculda<strong>de</strong>s.ATIVIDADES CIENTIFÍCASPUBLICAÇÕESPublicou 120 trabalhos em revistas científicas no Brasil e 45 no exterior, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ute<strong>se</strong>s <strong>de</strong> Doutoramento e Livre-docência; editou 3 livros, Cirro<strong>se</strong> hepática, Hepatitesagudas e crônicas, e O Fígado sofre calado; escreveu 32 capítulos <strong>de</strong> livros no Brasil e 15no exterior; publicou temas-livres na forma <strong>de</strong> “abstract” em 27 revistas nacionais e em 72revistas no exterior tais como, Hepatology e Gastroenterology. Entre as sua publicações,


116várias <strong>de</strong>las receberam mais <strong>de</strong> 100 citações por outros trabalhos publicados conformecitações no Science Citation In<strong>de</strong>x, indicando o alto impacto científico <strong>de</strong> suas publicações.Durante sua vida acadêmica têm orientado te<strong>se</strong>s, <strong>se</strong>ndo 15 à nível <strong>de</strong> Mestrado, 22 ànível <strong>de</strong> Doutoramento e colaborou em 8 Livre-docências. Além disso, participou no<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> ensino e pesquisas, e na formação <strong>de</strong> discípulos, muitos dosquais ocupando posições importantes em nosso país.Apre<strong>se</strong>ntou 195 comunicações em congressos médicos no Brasil e no Exterior eteve 230 participações em conferências, mesas redondas e simpósios.Além <strong>de</strong> médico clínico, gastroenterologista, hepatologista, pesquisador e cientista,professor e orientador, a convivência com o LUIZ CAETANO me mostrou outros aspectosque merecem <strong>se</strong>r mencionados:• A mentalida<strong>de</strong> jovem e o gosto pela convivência com os jovens, pela vida e pelo que faz;• O contagiante estímulo que dá aos <strong>se</strong>us discípulos (lí<strong>de</strong>r natural);• O comportamento ético que impõe no relacionamento com os doentes, <strong>se</strong>us pares e nacondução <strong>de</strong> <strong>se</strong>us trabalhos científicos;• A permanente acolhida aos colegas iniciantes ou mesmo aos mais experientesprovenientes <strong>de</strong> vários pontos do Brasil e da América Latina que <strong>de</strong>monstraraminteres<strong>se</strong> em apren<strong>de</strong>r <strong>Hepatologia</strong>;• A humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir e o respeito à opinião dos colegas, mesmo os mais jovens, nasdiscussões <strong>de</strong> casos clínicos e projetos <strong>de</strong> pesquisa.Diante do exposto, nada mais justo que esta homenagem ao gran<strong>de</strong> vulto e mestreda <strong>Hepatologia</strong> brasileira – o Professor LUIZ CAETANO DA SILVA.


117LUIZ CARLOS DA COSTA GAYOTTO25-04-1933 22-04-2004Nascido em São Paulo, filho <strong>de</strong> médico, Gayotto entrou para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUSP aos 17 anos. Após a residência médica em Cirurgia Geral mudou-<strong>se</strong> paraFlorianópolis, on<strong>de</strong> além da cirurgia começou a <strong>de</strong>dicar-<strong>se</strong> à anatomia-patológica. <strong>se</strong>ndoconvidado a participar da Disciplina <strong>de</strong> Patologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina. Em1972 foi para o Royal Free Hospital especializar-<strong>se</strong> em Patologia Hepática com o <strong>de</strong>stacadoProf. Peter Scheuer, tornando-<strong>se</strong> amigo também da emérita e inesquecível professora SheilaSherlock. Defen<strong>de</strong>u em Londres sua te<strong>se</strong> <strong>de</strong> PhD em 1975. Voltando para o Brasil, mudou<strong>se</strong>para São Paulo ocupando cargo <strong>de</strong> professor no Departamento <strong>de</strong> Patologia da FMUSP.Trabalhava também com o Prof. Silvano Raia na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado. Nessas duas funçõesfez a integração clínico-cirúgica-patológica. Tornou-<strong>se</strong> Professor Titular <strong>de</strong> Patologia em1990, logo após brilhante período <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s associativas como Presi<strong>de</strong>nte da “SociedadLatinoamericana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>” , tornando-<strong>se</strong> a <strong>se</strong>guir, o primeiro latinoamericano aocupar o alto posto <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte da “International Association for the Study of the Liver”(1990-1992) Gayotto foi ainda um gran<strong>de</strong> administrador. Dirigiu a Divisão <strong>de</strong> AnatomiaPatológica do Hospital das Clínicas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1986 até sua apo<strong>se</strong>ntadoria, tendo sido Diretordo Laboratório Central do Hospital das Clínicas, Chefe do Departamento <strong>de</strong> Patologia eDiretor do Instituto <strong>de</strong> Medicina Tropical. Como pesquisador era curioso e irriquieto,minucioso ao extremo, interessando-<strong>se</strong> por diferentes assuntos. Dedicando-<strong>se</strong> à PatologiaHepatica, nunca perdia <strong>de</strong> vista os aspectos clínicos e os cuidados terapêuticos com opaciente. Coor<strong>de</strong>nou importante projeto multicentrico <strong>de</strong> pesquisa sobre “Hepatites Viraisno Brasil” após con<strong>se</strong>guir os indispensáveis recursos junto à FINEP. De<strong>se</strong>nvolveutrabalhos <strong>de</strong> campo, em algumas regiões da Amazonia ( Amazonas, Pará e Rondônia) assimcomo no Nor<strong>de</strong>ste (Alagoas). Além <strong>de</strong> inúmeras publicações científicas, i<strong>de</strong>alizou e foi oEditor, juntamente com Prof. Venâncio A. Ferreira Alves, <strong>de</strong> um Compendio sobre“Doenças do Fígado e Vias Biliares” Seu colega <strong>de</strong> Faculda<strong>de</strong> e também Pioneiro da<strong>Hepatologia</strong>, o cirurgião Silvano Raia, assim o <strong>de</strong>fine: “Era reto por essência, generoso poríndole, <strong>de</strong>spretensioso por constituição, superiormente inteligente por genética e graças atodos es<strong>se</strong>s atributos exerceu marcante li<strong>de</strong>rança sobre toda nossa geração”


118LUIZ CARLOS DA COSTA GAYOTTO25-04-1933 22-04-2004Born in São Paulo and the son of a doctor, Gayotto entered the Faculty of Medicine at USPat the age of 17. After completing resi<strong>de</strong>ncy in general surgery, he moved to Florianópolis,where as well as working in surgery, he began to <strong>de</strong>dicate him<strong>se</strong>lf to pathological anatomy.He was invited to lecture in the pathology <strong>de</strong>partment in the Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SantaCatarina. In 1972, he went to the Royal Free Hospital to specialize in hepatic pathologyun<strong>de</strong>r the renowned Prof. Peter Scheuer, and also became a friend of the eminent andunforgettable Professor Sheila Sherlock. He <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d his PhD thesis in London in 1975.On his return to Brazil, he moved to São Paulo and took up the post of professor in theDepartment of Pathology at FMUSP. He also worked with Prof. Silvano Raia in the LiverUnit. In the<strong>se</strong> two roles he brought together clinical, surgical and pathological activities. Hebecame titular professor of pathology in 1990, shortly after a brilliant period oforganizational activities as presi<strong>de</strong>nt of the Latin American Society of Hepatology.Following this, he became the first Latin American to hold the post of presi<strong>de</strong>nt of theInternational Association for the Study of the Liver (1990-1992). As a great administratorhe was responsible for the Division of Pathological Anatomy of the Hospital das Clínicasfrom 1986 until his retirement, director of the Central Laboratory of the Hospital dasClínicas, head of the Pathology Department and director of the Institute of TropicalMedicine. He coordinated an important multicentered re<strong>se</strong>arch project “Viral Hepatitis inBrazil” after successfully obtaining the required funding from FINEP. He carried out fieldwork in <strong>se</strong>veral regions of the Amazon (the states of Amazonas, Pará and Rondônia), aswell as in the Northeast (the state of Alagoas). In addition to publishing countless scientificpublications, he was editor, together with Prof. Venâncio A. Ferreira Alves, of aCompendium of “Doenças do Fígado e Vias Biliares”. The surgeon Silvano Raia, whostudied in university with him, and another pioneer of hepatology, <strong>de</strong>fined him as follows:“He was upright, generous by nature, unpretentious by constitution, genetically of superiorintelligence, and thanks to all of the<strong>se</strong> attributes he exerted striking lea<strong>de</strong>rship over all ourgeneration.”


119Luiz Carlos da Costa Gayotto25-04-1933 22-04-2004Autores: Edna Strauss e Venâncio Avancini Ferreira AlvesGayotto, Exemplo <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong>PrólogoO pioneiro é naturalmente um lí<strong>de</strong>r. Apenas oespírito <strong>de</strong>sbravador, aliado a uma gran<strong>de</strong>capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, con<strong>se</strong>gue superar asadversida<strong>de</strong>s inerentes às ativida<strong>de</strong>s inovadoras,que fogem da rotina, penetrando em <strong>se</strong>ndas aindanão exploradas. Um dos pioneiros da <strong>Hepatologia</strong><strong>Brasileira</strong>, o professor Luiz Carlos da CostaGayotto, além <strong>de</strong> vários outros atributos, tambémnos <strong>se</strong>rve como excepcional exemplo <strong>de</strong>integrida<strong>de</strong>. Para melhor compreen<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong>, lembramos que o <strong>se</strong>rhumano compartilha reações instintivas com racionalida<strong>de</strong>. Desta forma, ele exprime empalavras o <strong>se</strong>u pensamento, que nem <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> coaduna com os <strong>se</strong>us atos, já que estescostumam <strong>se</strong>r comandados pelos <strong>se</strong>ntimentos. Ser íntegro, portanto, é pensar e falar, <strong>se</strong>ntire agir na mesma linha. Isto significa, fundamentalmente não enganar, não chantagear, nãodissimular , mas sim , positivamente agir continuamente <strong>de</strong> acordo com o <strong>se</strong>u modo <strong>de</strong>pensar, colocando em prática aquilo que apregoa como verda<strong>de</strong>iro. Tendo convivido porlongo <strong>tempo</strong> com Gayotto, pu<strong>de</strong>mos, como outros , testemunhar que a integrida<strong>de</strong> foi asua forma <strong>de</strong> viverPrimórdiosGayotto nasceu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo em 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1933, ocasião em que <strong>se</strong>upai, também médico, recém havia lutado contra Getúlio, na revolução constitucionalista dospaulistas. Per<strong>de</strong>u a mãe biológica muito cedo, mas encontrou na <strong>de</strong>dicada tia, que <strong>se</strong>u pai


120posteriormente <strong>de</strong>sposou, uma educação exigente e eficiente. Certamente teve a influênciapaterna quando da escolha da profissão, já que nutria por ele gran<strong>de</strong> respeito e carinho.Inteligente, criativo e estudioso, Gayotto entrou para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina daUSP aos 17 anos. Des<strong>de</strong> os <strong>tempo</strong>s <strong>de</strong> estudante, distinguiu-<strong>se</strong> pela personalida<strong>de</strong> brilhantee carismática. Defendia <strong>se</strong>us pontos <strong>de</strong> vista com muita <strong>de</strong>terminação, <strong>de</strong>spertando reaçõesvivas no meio acadêmico. Seu compromisso com a verda<strong>de</strong>, a qualquer preço, foi umamarca na sua vida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os <strong>tempo</strong>s <strong>de</strong> Faculda<strong>de</strong>, conforme atestam <strong>se</strong>us con<strong>tempo</strong>râneos.O MédicoGraduado pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicinada Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo em 1956A graduação em Medicina ocorreu em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1956, <strong>se</strong>guida <strong>de</strong> residência médica em Cirurgia,ainda no Hospital das Clínicas da FMUSP. Parainiciar sua vida profissional <strong>de</strong>cidiu sair <strong>de</strong> SãoPaulo e foi para Florianópolis, on<strong>de</strong> um tio médicolhe <strong>de</strong>u acolhida e compartilhou as dificulda<strong>de</strong>siniciais <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> médico-cirúrgica. Durante17 anos, exerceu a profissão como cirurgião, <strong>se</strong>ndomuito requisitado, <strong>de</strong>vido sua extrema <strong>de</strong>dicaçãoaos pacientes. Com <strong>se</strong>u espírito vivaz e irrequieto,entretanto, não <strong>se</strong> restringiu a examinar, operar ecuidar intensivamente <strong>de</strong> <strong>se</strong>us pacientes. Querendoir além, passou a acompanhar o diagnóstico macro emicroscópico das peças cirúrgicas. Como tudo que fez na vida, <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> com ardor a estatarefa e logo foi convidado a participar da Disciplina <strong>de</strong> Patologia, ajudando na resolução<strong>de</strong> intrincados diagnósticos anatomopatológicos, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina.A política nacional e a especialização em Patologia HepáticaHomem engajado no <strong>se</strong>u <strong>tempo</strong>, Gayotto <strong>se</strong>mpre mostrou-<strong>se</strong> profundamenteinteressado e participante <strong>de</strong> tudo que acontecia ao <strong>se</strong>u redor. Seis anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegar aFlorianópolis, corria o ano <strong>de</strong> 1964 e houve o golpe militar, com instalação da ditadura emtodo o país. Logo a <strong>se</strong>guir, durante suas ativida<strong>de</strong>s como presi<strong>de</strong>nte da Associação Médica<strong>de</strong> Santa Catarina, Gayotto teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>r conhecido por sua li<strong>de</strong>rança e


121capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho para a comunida<strong>de</strong>. Assim, sua projeção estadual fez com que <strong>se</strong>unome fos<strong>se</strong> sugerido para ocupar o cargo <strong>de</strong> Secretário <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Estado. Por outro lado,Gayotto não era homem <strong>de</strong> compactuar com injustiças e per<strong>se</strong>guições. Como cidadãoíntegro , falava e atuava <strong>de</strong> acordo com suas convicções. Embora cristão convicto, ligado àárea esquerda da Igreja Católica, após o convite, <strong>se</strong>u nome foi vetado pelas altas cúpulas dogoverno militar.Exercendo sua ativida<strong>de</strong> médica predileta, o<strong>de</strong>safio do diagnóstico histológico.Tolhido em sua carreira ascen<strong>de</strong>nte eprofundamente <strong>de</strong>scontente com os rumosda política nacional, Gayotto resolveu daruma guinada em sua vida, indo estagiar naInglaterra, fazendo especialização emPatologia Hepática com Peter Scheuer, aos40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, levando mulher e 4 filhosmenores. Cativou os ingle<strong>se</strong>s pelacomunicação franca, inteligência criativa e<strong>de</strong>dicação ao trabalho, fazendo ali sua te<strong>se</strong> econquistando o título <strong>de</strong> “Philosophy Doctor” (PhD). Além do natural alargamento <strong>de</strong>horizontes, pelo choque das diversida<strong>de</strong>s culturais, que ocorre com todas as pessoas lúcidasque passam algum <strong>tempo</strong> na Europa, enriqueceu <strong>se</strong>u círculo <strong>de</strong> amigos, incluindo a saudosae memorável Professora Sheila Sherlock.O ProfessorA atração por ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino começou cedo na vida <strong>de</strong> Gayotto. Durante avida acadêmica <strong>de</strong>u aulas em cursinhos <strong>de</strong> preparação para vestibular, pois lhe agradavacompartilhar o conhecimento. Em Florianópolis não <strong>de</strong>morou a incorporar-<strong>se</strong> à Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Medicina, colaborando, em 1962, com o professor . Arthur Pereira e Oliveira, com aorganização da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Patologia, ministrando aulas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira turma <strong>de</strong> alunos ,que chegavam ao terceiro ano médico naquele ano. Gayotto <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> dirigiu com muitorespeito e gratidão ao doutor Arthur , pelos valiosos ensinamentos iniciais nesta área daMedicina, que <strong>de</strong>pois abraçaria com entusiasmo.


122Sua Te<strong>se</strong> <strong>de</strong> Ph.D., <strong>de</strong>fendida na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres em 1975, foi aprovadapela Comissão Julgadora composta pelos professores Peter Scheuer, Ken Weinbren e PeterAnthony. Foi revalidada, na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina como Livre-Docência ,e na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, como Doutorado, em 1976 .Sua brilhante carreira acadêmica foi con<strong>se</strong>qüência natural <strong>de</strong> sua contínua ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> pesquisa, <strong>se</strong>ndo em 1985 aprovado , com a rara unanimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grau 10 emtodas as cinco provas completas do processo <strong>de</strong> Livre-Docência na FMUSP, tendo naComissão Julgadora os professores Thales <strong>de</strong> Brito, Manoel Barreto Netto, Mário RubensMontenegro, Moacyr <strong>de</strong> Pádua Vilella e Silvano Raia.Após concurso para ProfessorAdjunto, em 1986, Gayottoatingiu o ápice da carreiraacadêmica em 1990, quandofoi aprovado com graumáximo como ProfessorTitular do Departamento <strong>de</strong>Patologia na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina da USP.Durante concurso <strong>de</strong> Livre Docência, na sala da Congregaçãoda Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP, em 1985.Mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tornar-<strong>se</strong> Professor Titular <strong>de</strong> Patologia, em 1990 continuou suaenorme <strong>de</strong>dicação às ativida<strong>de</strong>s na graduação, tanto em aulas teóricas, como <strong>se</strong>minários <strong>de</strong>lâminas e discussões anátomo-clínicas.Como professor <strong>de</strong> pós-graduação ministrava um Curso <strong>de</strong> Patologia Hepática acada dois anos, muito procurado por pós-graduandos <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento,não apenas da patologia , ainda que a exigência fos<strong>se</strong> gran<strong>de</strong>, com início <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s às 14hs e término frequentemente após as 22:00 horas . O fato é que, tanto os alunos, como nós,os colaboradores do curso, praticamente não percebíamos o <strong>de</strong><strong>se</strong>nrolar <strong>de</strong>ssas horas, dianteda forma extremamente interativa, com <strong>se</strong>minários e discussões li<strong>de</strong>radas por nosso


123professor .. Além do grupo <strong>de</strong> patologistas, clínicos e cirurgiões que o ro<strong>de</strong>avam,. eleconvidava para ministrar aulas ou mo<strong>de</strong>rar <strong>se</strong>minários, profissionais <strong>de</strong> outras áreas,procurando inovar constantemente, atualizando conceitos e compartilhando experiênciaspráticas na solução dos problemas médicos.Convites para proferir palestras e conferências no Brasil e no exterior foram <strong>se</strong>avolumando com o <strong>tempo</strong>, pois Gayotto tinha o dom da palavra e con<strong>se</strong>guia transmitirconceitos com gran<strong>de</strong> maestria, mesmo para não iniciados. Os temas versavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> apatologia tropical até as doenças inflamatórias crônicas intestinais, <strong>de</strong> alterações genéticaspara doenças metabólicas da infância. Na preparação <strong>de</strong> cada aula, Gayotto <strong>se</strong> esmerava aomáximo, procurando inclusive in<strong>se</strong>rir uma foto alusiva ao congresso do qual participava ouà cida<strong>de</strong> para on<strong>de</strong> fora convidado. Os assuntos mais freqüentes abordados, obviamente,relacionavam-<strong>se</strong> com patologia hepática, como as hepatites crônicas, a hepatotoxicida<strong>de</strong>por drogas e a cirro<strong>se</strong> hepática. Sua última aula, uma conferência magistral proferidadurante o Congresso da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, aconteceu em outubro <strong>de</strong>2003 e ficará na memória <strong>de</strong> todos nós. Além da abordagem perfeita do tema, cirro<strong>se</strong>hepática, ele nos <strong>de</strong>u uma lição do que <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r uma conferência “State of the Art”autêntica. Recebeu, ao final, uma verda<strong>de</strong>ira ovação e durante vários minutos nós oaplaudimos <strong>de</strong> pé!A famíliaGayotto conheceu sua futura esposa, Maria Leonor, ainda nos <strong>tempo</strong>s acadêmicos,durante uma apre<strong>se</strong>ntação no teatro da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e casou-<strong>se</strong> logo após aformatura. Eles tiveram quatro filhos, 3 <strong>de</strong>les nascidos em Florianópolis, para on<strong>de</strong> haviam<strong>se</strong> mudado após a Residência Médica em Cirurgia. Quando <strong>de</strong> <strong>se</strong>u estágio na Inglaterra, noinício dos anos 70, levou consigo toda a família, pois nunca dispensou o alegre e saudávelconvívio doméstico. A carreira brilhante e as múltiplas ativida<strong>de</strong>s nas quais <strong>se</strong> envolveununca impediram que ele <strong>se</strong> <strong>de</strong>dicas<strong>se</strong> com carinho tanto à esposa quanto aos filhos e,posteriormente, aos netos, enorme motivação até <strong>se</strong>us últimos momentos <strong>de</strong>sta vida.ostava <strong>de</strong> ir com a esposa a cinema, teatro, concertos ou levá-la para dançar. Atleta najuventu<strong>de</strong>, tendo participado da equipe <strong>de</strong> basquete da FMUSP, foi <strong>se</strong>mpre um incentivadordos esportes, <strong>se</strong>ndo freqüentemente acompanhado pelos filhos.


124No aconchego da família, recebendo o carinho <strong>de</strong> filhos e netosNa última década , passava as férias <strong>de</strong> janeiro, sistematicamente, com toda afamília reunida em uma casa <strong>de</strong> praia, na Juréia, litoral <strong>de</strong> São Paulo. Voltava revigoradopara o trabalho!O amigoConta-nos o psiquiatra Paulo Gaudêncio que sua amiza<strong>de</strong> por Gayotto teve inícionos <strong>tempo</strong>s <strong>de</strong> Faculda<strong>de</strong>. Ainda calouro, Gaudêncio foi chamado a opinar sobre aadmissão <strong>de</strong> aluno proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outra Instituição. Ao apre<strong>se</strong>ntar um parecer favorável, suaproposta foi calorosamente rechaçada pelos colegas e apenas um veterano, Luiz Carlos daCosta Gayotto, teve a coragem e a autenticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levantar-<strong>se</strong> e apoiá-lo em sua análi<strong>se</strong>contra a discriminação existente na época. Gaudêncio <strong>de</strong>fine o que é <strong>se</strong>r amigo e ocomportamento <strong>de</strong> Gayotto: “ … <strong>se</strong> eu estou errado, amigo fala para mim e inimigo fala <strong>de</strong>mim. E o resto é resto. Gayotto jamais <strong>se</strong> omitiu, jamais foi resto. Não me lembro <strong>de</strong> tê-loouvido falar mal <strong>de</strong> ninguém. Sei que falou muita coisa para muita gente e diretamente,olho no olho, como amigo. Foi, por isso, amado e respeitado por muitos, infelizmente nãopor todos”.


125De fato, Gayotto foi mestre em fazer amigos, pois embora soubes<strong>se</strong> argumentar combrilhantismo e contundência, também sabia ouvir, pon<strong>de</strong>rava os argumentos apre<strong>se</strong>ntados,<strong>de</strong>monstrando <strong>se</strong>mpre respeito e consi<strong>de</strong>ração pelo <strong>se</strong>u interlocutor. Era temido pelospo<strong>de</strong>rosos quando <strong>de</strong>nunciava injustiças ou apontava irregularida<strong>de</strong>s, mas admirado eamado pelos pacientes, discípulos e funcionários.Nos <strong>tempo</strong> em que trabalhou junto à APLUB, ele e <strong>se</strong>u gran<strong>de</strong>amigo Rolf Zelmanowicz, la<strong>de</strong>iam dois diretores da entida<strong>de</strong>.Outro gran<strong>de</strong> amigo<strong>de</strong> Gayotto foi certamenteRolf Zelmanowicz, médico eempresário gaucho, o qualassim <strong>se</strong> expressa sobre ele:“...a sua alegria contagiantena hora do lazer, quandodançava, quando ia ao teatro,a concertos populares oueruditos ou assistia aos maisvariados esportes, quandoaplaudia o talento e ahabilida<strong>de</strong> dos homens, eraconjugada com <strong>se</strong>u amor ao trabalho, eficiente, <strong>de</strong>dicado, sério, honesto e científico, on<strong>de</strong>exercia uma li<strong>de</strong>rança nata.”Sua última orientanda na pós-graduação, Gabriela Coral, que graças a ele fez ametamorfo<strong>se</strong> <strong>de</strong> clínica para a patologista <strong>de</strong> fígado, assim <strong>se</strong> exprime sobre o amadomestre: “…tinha raras qualida<strong>de</strong>s humanas , que <strong>se</strong> combinavam <strong>de</strong> forma única: era umhomem <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> forte e pre<strong>se</strong>nça marcante, mas ao mesmo <strong>tempo</strong>, possuía<strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> aguçada e um amor puro por tudo que fazia.”O cirurgião Silvano Raia era da mesma turma na Faculda<strong>de</strong> e fizeram juntos aresidência em Cirurgia. Ambos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s fortes, certamente diferentes, <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong><strong>de</strong>ram muito bem. O retorno <strong>de</strong> Gayotto para São Paulo, em 1976, <strong>de</strong>veu-<strong>se</strong> em parte ao<strong>se</strong>sforços <strong>de</strong> Silvano, junto à FMUSP. Gayotto nunca <strong>se</strong> esqueceu <strong>de</strong>ste fato, <strong>se</strong>ndo-lhe fielcompanheiro, mesmo frente às gran<strong>de</strong>s adversida<strong>de</strong>s e lutas intestinas ocorridas no meioacadêmico. Silvano, ao escrever sobre Gayotto no Boletim da SBH, após discorrer sobre


126<strong>se</strong>us feitos <strong>de</strong>stacou que “.todas essas iniciativas e <strong>se</strong>us méritos <strong>se</strong> mostram menoresquando comparados com os traços humanos e <strong>de</strong> caráter com que os exerceu. Era reto poressência, generoso por índole, <strong>de</strong>spretensioso por constituição, superiormente inteligentepor genética e graças a todos es<strong>se</strong>s atributos exerceu marcante li<strong>de</strong>rança sobre toda nossageração.”O hepato-patologistaCom sua mudança <strong>de</strong>finitiva para São Paulo em 1976, Gayotto foi contratado comoprofessor <strong>de</strong> Patologia pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP, iniciando nova fa<strong>se</strong> <strong>de</strong> vida,<strong>de</strong>dicada exclusivamente à Anatomia Patológica, em especial à Patologia Hepática. Seupassado clínico-cirúrgico levou-o a incentivar o indispensável diálogo entre clínicos epatologistas, visando o aperfeiçoamento do diagnóstico. Trabalhou inicialmente na Unida<strong>de</strong><strong>de</strong> Fígado, que ficava no terceiro andar da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, <strong>se</strong>ndo uma mescla <strong>de</strong>laboratórios <strong>de</strong> pesquisa, como o laboratório bioquímico, <strong>de</strong> coagulação e <strong>de</strong> examesGayotto e Sheila Sherlock, la<strong>de</strong>ados por Alfredo Martin(Costa Ricca) e Roberto Zeilicoff (Argentina) duranteCongresso Latinoamericano <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> em Me<strong>de</strong>llin,Colombia 1988.radiológicos hepáticos, com umasala <strong>de</strong> cirurgia experimental,salas <strong>de</strong> reuniões e parteadministrativa. Sua primeira salana Faculda<strong>de</strong>, quando não eraainda Livre-Docente, ficava atrásdo centro cirúrgico experimentalda Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado. Emambiente minúsculo, colocou suamesa, uma estante <strong>de</strong> livros e amesa auxiliar com o microscópio.Assim que <strong>se</strong> instalou em SãoPaulo, reuniu colaboradores,estando entre eles a médica Edna Strauss e os acadêmicos Venâncio A.F Alves e WolfgangLöscher, formando o que ele <strong>de</strong>nominou “Grupo <strong>de</strong> Patologia Hepática” ou simplesmenteGPH.. Venâncio recorda, com sauda<strong>de</strong>s, que nessa pequena sala …”examinávamos aslâminas <strong>de</strong> biópsia hepática, muitas vezes sob o sol dos belos finais <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, que a gran<strong>de</strong>


127vidraça filtrava” . Rapidamente, Gayotto aglutinou clínicos, cirurgiões e patologistas emtorno <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa, orientando alunos em iniciação científica e na pós-graduação.Con<strong>se</strong>guiu, <strong>de</strong> forma exemplar, unir ativida<strong>de</strong> acadêmica <strong>de</strong> investigação com aativida<strong>de</strong> assistencial <strong>de</strong><strong>se</strong>nv<strong>olvida</strong> no Hospital das Clínicas. Chamou os clínicos para umareunião <strong>se</strong>manal com os patologistas, on<strong>de</strong> os casos <strong>de</strong> fígado eram apre<strong>se</strong>ntados. Além doensino aos resi<strong>de</strong>ntes, esta reunião prestava-<strong>se</strong> ao importante diálogo entre o médico quecuidava do paciente e o patologista, que lhe fornecia dados <strong>de</strong> morfologia hepática. Dentroou fora da Universida<strong>de</strong>, Gayotto <strong>de</strong>u o exemplo <strong>de</strong> procurar o clínico, esmiuçar asinformações e mesmo sugerir questionamentos aos pacientes, em busca <strong>de</strong> fatore<strong>se</strong>tiológicos ou outros esclarecimentos.No final dos anos 70, na mesma clínica da Av. Europa em que estavam SilvanoRaia e Luiz Caetano da Silva, Luiz Carlos Gayotto iniciou ativida<strong>de</strong> privada emlaboratório <strong>de</strong> Patologia. Embora fizes<strong>se</strong> patologia geral, tornou-<strong>se</strong> conhecido por suaenorme contribuição especializada em patologia hepática, recebendo número crescente <strong>de</strong>biópsias <strong>de</strong> fígado. Posteriormente, fazendo socieda<strong>de</strong> com Venância Avancini F. Alves eMaria Regina Vianna, outra discípula da FMUSP, mudaram-<strong>se</strong> para o Hospital OswaldoCruz, criando o CICAP, laboratório <strong>de</strong> patologia e citopatologia, ao qual <strong>se</strong> juntaram outros<strong>de</strong> <strong>se</strong>us discípulos com o passar dos anos.Ao longo dos anos 80, Gayotto consolidou-<strong>se</strong> como importante referência nacionalem patologia hepática. Aproveitando as reuniões <strong>se</strong>manais do grupo clínico-patológicoformado por ele <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua chegada à cida<strong>de</strong>, agregou patologistas <strong>de</strong> todo o Brasil parareuniões a cada dois ou três me<strong>se</strong>s, dando-lhe o nome <strong>de</strong> Clube <strong>de</strong> Hepatopatologia,atualmente oficializado pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Patologia como Clube <strong>de</strong> PatologiaHepática Luiz Carlos Gayotto . Trazendo <strong>se</strong>us casos interessantes, díficeis ou complicadospara revisão conjunta, patologistas <strong>de</strong> diferentes Estados, do norte ao sul do país acorrem aSão Paulo para esta reunião. Convocando também os clínicos, sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Gayotto,este grupo elaborou o Con<strong>se</strong>nso sobre a nova classificação das Hepatites Crônicas,aprovada posteriormente pelas <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Patologia e <strong>Hepatologia</strong>, como suaclassificação oficial, testada e amplamente utilizada em nosso meio. Nos dois últimos anos,<strong>de</strong>ntro das finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste Clube, Gayotto tinha dado início a novo protocolo, para <strong>de</strong>finir


128melhor os critérios histopatológicos <strong>de</strong> estadiamento das doenças gordurosas do fígado,incluindo esteato<strong>se</strong> e esteato-hepatite não alcoólica.O administradorAinda em Santa Catarina, quando cirurgião, em 1970,Gayotto foi incumbido pelofuturo governador Colombo Machado Salles a organizar a Fundação Hospitalar <strong>de</strong> SantaCatarina, criada pela lei 4547 , <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970, para coor<strong>de</strong>nar a ativida<strong>de</strong> dosnumerosos hospitais públicos e das unida<strong>de</strong>s assistenciais do Estado.Assim que chegou a SãoPaulo, preocupado com educação emgeral do nosso povo, colaborou com<strong>se</strong>u amigo Rolf Zelmanowicz,dirigente da Associação dosProfissionais Liberais Universitáriosdo Brasil (APLUB), administrandona filial <strong>de</strong> São Paulo as bolsas <strong>de</strong>estudantes universitários, que eramComo Diretor do IMT, Gayotto inaugura o Laboratório<strong>de</strong> Sorologia em 1997contemplados com um créditoeducativo.Quando Silvano Raia criou a Fundação do Fígado, para garantir suporte financeiroaos projetos <strong>de</strong> pesquisa, , chamou Luiz Carlos Gayotto para <strong>se</strong>r um dos Diretores <strong>de</strong>ssaFundação. Gayotto <strong>de</strong>dicou sua enorme energia a mais esta relevante função , vendorecompensado <strong>se</strong>us esforços com a realização dos primeiros transplantes <strong>de</strong> fígado.Posteriormente, em substituição a Thales <strong>de</strong> Brito assumiu a Diretoria da Divisão<strong>de</strong> Anatomia Patológica (DAP), responsável pelo diagnóstico <strong>de</strong> peças cirúgicas e biópsiasproce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> todo o complexo do Hospital das Clínicas. Passou, assim, a chefiar ospatologistas das diversas áreas <strong>de</strong> especialização e incentivou ativamente o crescimento daatuação integrada ( “as interfaces”) com as diversas clínicas do Hospital , para facilitar odiálogo clínico-patológico. Nesta ocasião, a DAP ocupava mo<strong>de</strong>stas instalações no


129primeiro andar (sub-solo) do Prédio dos Ambulatórios, junto ao Hospital das Clínicas, emespaço acanhado, com acomodações pouco apropriadas. Procurando transformar sonhoem realida<strong>de</strong>, Gayotto li<strong>de</strong>rou <strong>se</strong>us assistentes na elaboração <strong>de</strong> um novo projeto. O sonhoera ambicioso pois a Divisão passaria <strong>de</strong> 76m² a 1700m², valorizando assistência, ensino epesquisa além da parte administrativa, com espaço individualizado para cada um dosmédicos Um dos <strong>se</strong>gredos para o sucesso da empreitada foi a “<strong>de</strong>scoberta”, feita emconjunta com <strong>se</strong>u colaborador Luiz Heraldo Câmara Lopes, <strong>de</strong> área não utilizada coberturado mesmo Prédio dos Ambulatórios, logo acima do Centro Cirúrgico. Assim, <strong>se</strong>m o<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> qualquer outro <strong>se</strong>rviço hospitalar, foi instalado o novo laboratório, frutodo i<strong>de</strong>alismo e árduo trabalho <strong>de</strong> Gayotto para convencer os gestores e con<strong>se</strong>guir os fundosnecessários à sua construção. Após sua inauguração em 1991 <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu um árduotrabalho, como <strong>se</strong>u Diretor, até sua apo<strong>se</strong>ntadoria compulsória , em abril <strong>de</strong> 2003.Embora muito ativo nas li<strong>de</strong>s acadêmicas, não <strong>de</strong>scuidou dos <strong>de</strong>mais encargosadministrativos. Foi também Diretor do Laboratório Central do Hospital das Clínicas daFMUSP,. Posteriormente, assumiu a posição <strong>de</strong> Diretor Geral do Instituto <strong>de</strong> MedicinaTropical da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina (IMT), centro <strong>de</strong> pesquisas conjuntas dosDepartamentos <strong>de</strong> Patologia, <strong>de</strong> Moléstias Infecciosas, <strong>de</strong> Dermatologia e <strong>de</strong> MedicinaPreventiva da FMUSP . Sua <strong>de</strong>cidida li<strong>de</strong>rança conferiu ao IMT novo regimento, comstatus privilegiado <strong>de</strong>ntre os Institutos da USP, o que atualmente lhe confere arcabouçojurídico para os gran<strong>de</strong>s avanços em pesquisas <strong>de</strong>sta relevante área da Medicina no Brasil.Gayotto foi, ainda, eleito, pelos <strong>se</strong>us pares, Membro do Con<strong>se</strong>lho Diretor doComplexo HC. Este importante con<strong>se</strong>lho tem voz ativa em todas as <strong>de</strong>cisõesadministrativas <strong>de</strong>ste que é um dos maiores complexos hospitalares da América Latina.Freqüentemente Gayotto era convocado a redigir pareceres ou intermediar conflitos,contribuindo, também neste plano, para o progresso <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> InstituiçãoO pesquisadorComo professor, atuando na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, o envolvimento compesquisas era algo absolutamente natural na vida <strong>de</strong> Gayotto. Além da patologia hepáticapropriamente dita, interessava-<strong>se</strong> por hepatologia em geral, procurando <strong>se</strong>mpre estarcercado <strong>de</strong> clínicos e cirurgiões. Era freqüentemente procurado por médicos do Hospital


130das Clínicas ou mesmo <strong>de</strong> outras Faculda<strong>de</strong>s para opinar sobre planos <strong>de</strong> pesquisa, estando<strong>se</strong>mpre disponível. Para garantir concentração aos temas <strong>de</strong> pesquisa, agendava reuniões às7:00 da manhã ou mesmo aos sábados, mas gostava mesmo era <strong>de</strong> convidar o interessadopara as reuniões do <strong>se</strong>u grupo nas tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quinta feira. No gran<strong>de</strong> anfiteatro que criou naDivisão <strong>de</strong> Anatomia Patológica, cada projeto era minuciosamente avaliado, surgindocríticas produtivas e sugestões para o melhor aproveitamento dos dados. Durante oandamento <strong>de</strong> um trabalho científico ou mesmo após <strong>se</strong>u término, quando da análi<strong>se</strong> final,também gostava <strong>de</strong> reunir todo o grupo para as consi<strong>de</strong>rações. Os jovens expositoressabiam que es<strong>se</strong> era o teste mais difícil, mas todos <strong>se</strong>mpre soubemos que as críticasacirradas eram o melhor preparo para a argüição acadêmica.anja dalação local,dos anos 70.Em expedição na Amazônia Gayotto, com a camisa da APLUBcercado pelos habitantes locaisAtravés da APLUB, em1979, Gayotto tomouconhecimento <strong>de</strong> surto <strong>de</strong>hepatite viral e da maiorprevalência <strong>de</strong> tumoreshepáticos na Amazônia.Após uma viagem inicial <strong>de</strong>rastreamento da situação,organizou uma expediçãocom médicos, enfermeira etécnicos para coleta<strong>de</strong>sangue da população local,para avaliar marcadores <strong>de</strong>hepatites virais. Faz outras expedições, tanto ao Estado do Amazonas como ao Pará,incluindo a visita a uma tribo indígena com coleta <strong>de</strong> sangue dos mesmos. Nessas ocasiões,a equipe médica fazia também o atendimento dos habitantes locais e Gayotto chegou aoperar <strong>de</strong> urgência uma criança, improvisando condições e salvando-lhe a vida.Com sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aglutinar pessoas e <strong>se</strong>u raciocínio vivo em <strong>de</strong>tectar aspriorida<strong>de</strong>s médicas, em 1982 elaborou um gran<strong>de</strong> projeto multicêntrico para o estudo dashepatites no Brasil, quando ainda não era conhecida a hepatite C.


131Con<strong>se</strong>guiu recursos junto à FINEP e provi<strong>de</strong>nciou que os laboratóriosfos<strong>se</strong>mequipados para o <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento das investigações, que resultaram, além da formação <strong>de</strong>numerosos jovens pesquisadores, em volumosa produção científica, compreen<strong>de</strong>ndo 64publicações em periódicos e livros, 12 te<strong>se</strong>s acadêmicas e 112 apre<strong>se</strong>ntações emcongressos .Preocupado com a questão das hepatites virais , apre<strong>se</strong>ntou suas pesquisas emCongressos e junto a OPAS, da qual foi con<strong>se</strong>lheiro “ad hoc”, chamando atenção para oproblema e incentivando a adoção <strong>de</strong> medidas preventivas, incluindo a nova vacina parahepatite B. Desta forma, passou a fazer parte, juntamente com Figueiredo Men<strong>de</strong>s eHermann Schatzmayer da primeira Comissão Nacional <strong>de</strong> Hepatites junto ao Ministério daSaú<strong>de</strong>. Esta Comissão teve influência marcante para o início da vacinação na Amazônia,que posteriormente <strong>se</strong> esten<strong>de</strong>u para todo o país.O lí<strong>de</strong>r associativoAinda em Florianópolis, <strong>de</strong>vido sua natural li<strong>de</strong>rança, foi eleito Presi<strong>de</strong>nte daAssociação Médica <strong>de</strong> Santa Catarina, quando <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu intenso trabalho por todo oEstado, visitando as diversas comunida<strong>de</strong>s, incentivando os médicos a <strong>se</strong> unirem na soluçãodos problemas <strong>de</strong> clas<strong>se</strong>.Ao chegar em São Paulo, procurando congregar os hepatologistas da cida<strong>de</strong>, criouem meados dos anos oitenta o Clube do Fígado, fazendo reuniões mensais, uma <strong>de</strong>las coma pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> Sheila Sherlock e Roger Williams. Após vários me<strong>se</strong>s, passou essa funçãopara Hoel Sette Junior, que pros<strong>se</strong>guiu por algum <strong>tempo</strong>. Desta <strong>se</strong>mente, plantada porGayotto, nasceria mais tar<strong>de</strong> a Associação Paulista para o Estudo do Fígado (APEF), queatualmente congrega os colegas do Estado <strong>de</strong> São Paulo interessados em doenças hepáticas.Gayotto filiou-<strong>se</strong> à <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e participava ativamente <strong>de</strong>todos os <strong>se</strong>us Congressos Nacionais. Fez parte da Diretoria da SBH, auxiliando narealização do X Congresso, que ocorreu na capital paulista em 1986. Bem antes disso,Gayotto esteve pre<strong>se</strong>nte quando da fundação e primeiro Encontro Científico da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>Latinoamericana <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> em 1968, chegando à sua presidência em 1986. Dinâmicoe criativo, procurou repetir em nível latinoamericano a visita aos associados, com finalida<strong>de</strong><strong>de</strong> integrá-los, como fizera em Santa Catarina. Sob a égi<strong>de</strong> da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, li<strong>de</strong>rou alguns


132inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos, entre eles um sobre etiologia das doenças hepáticas. Tendoviajado pelos diversos rincões, revitalizou a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, fazendo valer <strong>se</strong>us direitos junto à<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Internacional – IASL. Escolhido por <strong>se</strong>us pares como o candidato à presidênciada IASL, contou ainda com apoios internacionais <strong>de</strong>cisivos, como a prof. Sheila Sherlock eDavid Kershenobich. Seu nome foi aceito e ele <strong>se</strong> tornou o primeiro latinoamericano aocupar es<strong>se</strong> alto cargo diretivo.Durante os anos em que participou do Comitê Executivo da IASL, comopresi<strong>de</strong>nte-eleito, presi<strong>de</strong>nte e ex-presi<strong>de</strong>nte, procurou <strong>se</strong>dimentar a posição da AméricaLatina como parceira das Associações congêneres nos <strong>de</strong>mais continentes e interferiuativamente em <strong>de</strong>cisões internacionais. Vale mencionar sua atuação firme ao rejeitar aproposta <strong>de</strong> in<strong>se</strong>rir a Africa do Sul na Associação Européia. Defen<strong>de</strong>u esforços paraviabilizar a reestruturação da Associação Africana para o Estudo do Fígado, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte eúnica repre<strong>se</strong>ntante dos paí<strong>se</strong>s <strong>de</strong>s<strong>se</strong> continente, o que <strong>se</strong> concretizou. Merecidashomenagens lhe foram prestadas tanto na Africa do Sul como no Egito.Presi<strong>de</strong>nte da IASL e <strong>de</strong> <strong>se</strong>u Congresso bienal, em Brighton – Inglaterra, 1992, ro<strong>de</strong>ado porNeil McIntyre e Joan Rodés.


133A arte <strong>de</strong> escreverAlém <strong>de</strong> bem educado, Gayotto era um erudito. Dormia pouco e lia muito,interessando-<strong>se</strong> por temas diversificados. Como peculiarida<strong>de</strong>, entretinha-<strong>se</strong> com dois outrês livros ao mesmo <strong>tempo</strong>. Gostava da leitura no idioma original, freqüentemente inglês,mas podia fazê-lo também em espanhol, francês ou italiano. Falava fluentemente eministrava palestras em inglês e espanhol. Valorizava também a literatura nacional, assimcomo a música e as artes em geral .A precisão com que redigia qualquer texto, fizeram-no muito requisitado no meioacadêmico. Os membros do <strong>se</strong>u grupo qua<strong>se</strong> invariavelmente solicitavam sua revisão emtrabalhos científicos, relatórios ou capítulos <strong>de</strong> livros. A preocupação com a perfeição dotexto, não só na forma como também no conteúdo, em termos da melhor metodologiapossível, fizeram com que suas publicações tenham sido menos abundantes do quepo<strong>de</strong>riam, já que ele recusava expor ou liberar conteúdos bons, porém ainda com algumasimperfeições. Por outro lado, tudo que escreveu e publicou é <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>.Gayotto no lançamento do<strong>se</strong>u livro ”Gayotto – Doençasdo Fígado e Vias Biliares”.Ao <strong>se</strong>u lado os co-editores:Luiz Caetano da Silva, EdnaStrauss, Venâncio AvanciniFerreira Alves e FlairCarrilho.Na virada do século, resolveu impulsionar todo <strong>se</strong>u grupo multidisciplinar a umnovo projeto, a edição <strong>de</strong> um Tratado sobre Doenças do Fígado e Vias Biliares. VenâncioAvancini Ferreira Alves, <strong>se</strong>u discípulo <strong>de</strong> primeira hora, sócio e continuador <strong>de</strong> sua obra


134em São Paulo foi escolhido para acompanhá-lo como Editor e os <strong>de</strong>mais clínicos, que<strong>se</strong>mpre estiveram ao <strong>se</strong>u lado nos projetos <strong>de</strong> pesquisa, participaram da empreitada comoco-editores. No “melhor estilo Gayotto” a organização do livro <strong>de</strong>u muito trabalho, pois onível <strong>de</strong> exigência era muito elevado. Felizmente, o projeto chegou a bom termo, dando aoquerido mestre uma grata <strong>se</strong>nsação <strong>de</strong> realização pessoal e a Menção Honrosa no PrêmioJabuti , <strong>de</strong>ixando para os médicos e estudantes <strong>de</strong> medicina brasileiros importantereferência médica na língua- mãe.A doençaDurante toda a vida Gayotto gozou <strong>de</strong> excelente saú<strong>de</strong> e apenas na última décadaapre<strong>se</strong>ntava excesso <strong>de</strong> peso, que contrabalançava com exercícios físicos e longascaminhadas. Em maio <strong>de</strong> 2002, numa manhã <strong>de</strong> sábado ele nota a urina muito escura e apre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> icterícia discreta. Oito me<strong>se</strong>s antes ele fora submetido a uma colecistectomialaparoscópica <strong>de</strong>vido cálculos biliares. Como bom clínico que <strong>se</strong>mpre foi particularmentepreocupado com diagnósticos, ele fez três hipóte<strong>se</strong>s: cálculo residual <strong>de</strong> colédoco, colesta<strong>se</strong>por medicamentos ou neoplasia <strong>de</strong> cabeça <strong>de</strong> pâncreas.Encarar o diagnóstico <strong>de</strong> tumor maligno é certamente um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio na vida <strong>de</strong>qualquer pessoa. Acostumado a tomar <strong>de</strong>cisões rápidas, Gayotto fez com que fos<strong>se</strong>provi<strong>de</strong>nciada sua internação e a realização dos diferentes exames que confirmaram otumor, <strong>se</strong>ndo agendada a cirurgia para a <strong>se</strong>gunda feira <strong>se</strong>guinte, ou <strong>se</strong>ja, com menos <strong>de</strong> 3dias do início <strong>de</strong> sintomas. Submeter-<strong>se</strong> a uma cirurgia extensa, com pós-operatório<strong>de</strong>morado foi apenas o início do <strong>se</strong>u calvário. Nos dois me<strong>se</strong>s que esteve hospitalizadorecebeu inúmeras <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> afeto, consi<strong>de</strong>ração e carinho da família, colegas eamigos. A recuperação foi lenta e gradativa e ele voltou ao Hospital das Clínicas, comfinalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> completar <strong>se</strong>u período, arrumar suas coisas, já que em abril <strong>de</strong> 2003 estaria <strong>se</strong>apo<strong>se</strong>ntando, aos 70 anos .Conforme previamente programado, fizemos para ele uma gran<strong>de</strong> festa <strong>de</strong><strong>de</strong>spedida no dia 10 <strong>de</strong> abril. De início houve um <strong>se</strong>minário clínico-patológico, centrado naexposição <strong>de</strong> temas <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> diversos <strong>de</strong> <strong>se</strong>us discípulos que posteriormente haviam <strong>se</strong>tornado professores em várias universida<strong>de</strong>s do Brasil e mesmo do exterior,especificamente Uruguai , Peru e Argentina. À noite, o jantar - homenagem, por a<strong>de</strong>são,


135agregou mais <strong>de</strong> 200 pessoas, entre familiares, médicos, resi<strong>de</strong>ntes, funcionários e os maisdiversos admiradores. Os então presi<strong>de</strong>ntes da SBH, Dr. Victorino Spinelli e da SBP,Fernando Augusto Soares, entregaram-lhe placas, em agra<strong>de</strong>cimento pelos <strong>se</strong>rviçosprestados. Gayotto estava feliz.Porém tanto os <strong>se</strong>us médicos, como ele próprio sabiam que as perspectivas futura<strong>se</strong>ram pouco animadoras. Após quimioterapia e radioterapia , ele foi submetido a uma<strong>se</strong>gunda laparotomia em meados <strong>de</strong> 2003, que não revelava metásta<strong>se</strong>s. Ele <strong>se</strong> recuperourapidamente e passou por um período <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, praticamente <strong>se</strong>m dores, com pesoestável, voltando a dar aulas, assumir compromissos e continuando o trabalho <strong>de</strong> dar os<strong>se</strong>us laudos no Hospital Oswaldo Cruz. Nes<strong>se</strong> período, ministrou cursos em Portugal e, porfim, compareceu ao Congresso da SBH, dando a brilhante aula, já mencionada. Durante asférias <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2004, entretanto, voltou da praia <strong>de</strong>vido ao ressurgimento das dores.Conversou com os diferentes médicos que cuidavam <strong>de</strong>le e durante algum <strong>tempo</strong> postergoua realização <strong>de</strong> exames. Mantinha muita força interior aliada à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver, jamais <strong>se</strong>entregou à doença. Com a realização dos exames e o diagnóstico das metásta<strong>se</strong>s, mantevea <strong>se</strong>renida<strong>de</strong> e continuou sua rotina <strong>de</strong> vida e trabalho. Queria comparecer ao congresso daIASL, que <strong>se</strong> realizava na Bahia em março <strong>de</strong> 2004. Até o final, continuava <strong>se</strong>ndo o amigoe o con<strong>se</strong>lheiro <strong>de</strong> todos nós, preocupando-<strong>se</strong> com os problemas <strong>de</strong> cada um e procurandonos orientar para a melhor solução.EpílogoGayotto faleceu em 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2004, ro<strong>de</strong>ado por <strong>se</strong>us familiares. A notícia dofalecimento correu célere e muitos compareceram ao velório e ao enterro. Condolênciaschegaram <strong>de</strong> todo o país e do exterior. No dizer <strong>de</strong> Victorino... ”há homens bons que<strong>de</strong>ixam sauda<strong>de</strong>s, outros, verda<strong>de</strong>iras lacunas e marcas in<strong>de</strong>léveis no meio em queviveram.” Iremos mais além, Gayotto está vivo em cada um dos <strong>se</strong>us discípulos, em cadaum dos <strong>se</strong>us admiradores. Ele foi um verda<strong>de</strong>iro paradigma. A sua imagem, <strong>se</strong>u<strong>se</strong>nsinamentos, sua alegria contagiante, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, sua busca pela perfeiçãoe fundamentalmente <strong>se</strong>u exemplo <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong>, viverão conosco para <strong>se</strong>mpre!


136SILVANO MÁRIO ATILIO RAIA01-09-1930Foi aluno da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 1951 a 1956.Trabalhou junto ao <strong>se</strong>rviço do Professor Edmundo Vasconcelos, responsável maior pela suaformação cirúrgica e <strong>de</strong> professor. Sob sua orientação, trabalhou durante 8 anos, em<strong>tempo</strong> integral. Nes<strong>se</strong> período, instrumentou cirurgias e foi assistente das ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>Embriologia, Anatomia <strong>de</strong>scritiva, Anatomia topográfica, Anatomia patológica e Clínicacirúrgica, De 1964 e 1966 estagiou no <strong>se</strong>rviço da Profa. Sheila Sherlock, obtendo o título <strong>de</strong>PhD pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres. Voltando ao Brasil, <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> à criação e àconsolidação da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado, grupo interdisciplinar que funcionou na FMUSP-HCaté 2002. Introduziu no país a valorização do sangue portal para o trofismo das célulashepáticas, realizando as primeiras <strong>de</strong>rivações portocavas <strong>se</strong>letivas. Realizou o primeiroestudo prospectivo controlado sobre os efeitos das técnicas empregadas para tratamentocirúrgico das varizes <strong>de</strong> esôfago sangrantes causadas pela esquistossomo<strong>se</strong> mansônica.Realizou as primeiras res<strong>se</strong>cções regradas <strong>de</strong> fígado. De<strong>se</strong>nvolveu um sistema <strong>de</strong> perfusãoextra-corpórea <strong>de</strong> fígado isolado <strong>de</strong> porco com sangue humano, obtendo <strong>de</strong><strong>se</strong>mpenhofuncional inédito na literatura. Realizou o primeiro transplante hepático bem sucedido noBrasil e no Hemisfério Sul. Descreveu e realizou o primeiro transplante <strong>de</strong> fígadointervivos da literatura, que permitiu, em muitos centros nacionais e do exterior, reduzir amortalida<strong>de</strong> na lista <strong>de</strong> espera pediátrica em até 50%. Em 1967 criou a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígadodo Hospital das Clínicas, cujos <strong>se</strong>tores experimental e clínico constituem-<strong>se</strong> em centro <strong>de</strong>referência da hepatologia cirúrgica no país. Junto a ele <strong>se</strong> formaram ou <strong>se</strong> aprimorarammuitos dos atuais expoentes da hepatologia do Brasil. Como Diretor da FMUSP, criou aDisciplina <strong>de</strong> Informática Médica, instituiu a Fundação Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina quepermitiu ao Hospital das Clínicas atingir o nível <strong>de</strong> excelência que mantém até hoje.


137SILVANO MÁRIO ATILIO RAIA01-09-1930Silvano Mário Atilio Raia was a stu<strong>de</strong>nt of the Faculty of Medicine of the Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo from 1951 to 1956. He worked un<strong>de</strong>r Professor Edmundo Vasconcelos, who hadthe most responsibility for his training as a surgeon and a lecturer. He worked full-time for8 years un<strong>de</strong>r his guidance. During that time, he assisted with instrumentation in varioussurgical operations and was assistant lecturer in embryology, <strong>de</strong>scriptive anatomy,topographical anatomy, pathological anatomy and clinical surgery. He trained un<strong>de</strong>rProfessor Sheila Sherlock and was awar<strong>de</strong>d a PhD by the University of London. On hisreturn to Brazil, he <strong>de</strong>dicated him<strong>se</strong>lf to <strong>se</strong>tting up and consolidating the Liver Unit, aninterdisciplinary group that operated at FMUSP-HC until 2002. He introduced to Brazil anappreciation of the value of portal blood in trophism of hepatic cells, and carried out thefirst <strong>se</strong>lective portal-cava shunts. He carried out the first controlled prospective study intothe effects of the techniques u<strong>se</strong>d in the surgical treatment of bleeding varices in theesophagus cau<strong>se</strong>d by mansonic schistosomiasis.He carried out the first anatomical liver re<strong>se</strong>ctions. He <strong>de</strong>veloped the first extracorporalperfusion of a liver isolated from a pig using human blood, and achieved a <strong>de</strong>gree offunctional performance previously unheard of in the literature. He carried out the firstsuccessful liver transplant in Brazil and the southern hemisphere. He <strong>de</strong>scribed and carriedout the first live liver transplant in the literature, allowing the mortality rate in pediatricwaiting lists in many Brazilian and over<strong>se</strong>as centers to be reduced by up to 50%. In 1967,he <strong>se</strong>t up the Liver Unit in the Hospital das Clínicas, who<strong>se</strong> experimental and clinical<strong>de</strong>partments are a center of reference for surgical hepatology in Brazil. It was un<strong>de</strong>r hisguidance that many of the current luminaries of hepatology in Brazil trained or perfectedtheir skills. As director of FMUSP, he introduced medical informatics as a subject andfoun<strong>de</strong>d the Fundação Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, which enabled the Hospital das Clínicas toachieve the level of excellence that is its hallmark.


138Autor: Cláudio Lacerda <strong>de</strong> MeloSILVANO MÁRIO ATTILIO RAIA01-09-1930IntroitoEm abril <strong>de</strong> 2005, a Professora Edna Strauss, Presi<strong>de</strong>nte da<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, dando continuida<strong>de</strong> ao<strong>se</strong>u felicíssimo projeto <strong>de</strong> reverenciar os pioneiros dahepatologia brasileira, solicitou-me que escreves<strong>se</strong> os traçosbiográficos do Professor Silvano Raia para publicação emforma <strong>de</strong> artigo. De pronto, ocorreu-me que, entre tantosdiscípulos ilustres, alguns <strong>de</strong>les inclusive com muito maisaptidão literária, o privilégio da escolha do meu nome<strong>de</strong>veria <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> circunstâncias <strong>de</strong>sconhecidas da maioriados que fazem a comunida<strong>de</strong> dos hepatologistas brasileiros. A eles <strong>de</strong>vo, portanto, umabreve explicação.Conheci pessoalmente o Prof. Silvano Raia em março <strong>de</strong> 1987, em <strong>se</strong>ugabinete, na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.Chegando <strong>de</strong> Pernambuco para ficar por dois anos, apre<strong>se</strong>ntei uma carta <strong>de</strong> recomendaçãodo meu mestre e <strong>se</strong>u amigo, o Prof. Salomão Kelner. Manifestei o meu <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> estagiarna sua unida<strong>de</strong>, que vivia momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> evidência após a realização dos primeirostransplantes <strong>de</strong> fígado bem sucedidos do Hemisfério Sul. Nervoso, dis<strong>se</strong>-lhe que pretendiarealizar curso <strong>de</strong> doutorado em cirurgia naquela faculda<strong>de</strong>, produzindo te<strong>se</strong> sob suaorientação. Lembro que, daquela figura marcante, carismática, vivendo o auge da suacarreira, em vez <strong>de</strong> entrevista, ouvi uma única pergunta expressiva da sua personalida<strong>de</strong>objetiva, direta e que faz da “ sínte<strong>se</strong> a expressão máxima da inteligência humana” :Filho, você é bom ?Trabalhei durante quatro anos na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado. Nela fiz toda a minhaformação <strong>de</strong> cirurgião hepatologista, com treinamento em transplante, angiografia,laparoscopia e terapia intensiva. Participando <strong>de</strong> um grupo cirúrgico que fazia medicina


139avançada, modificando paradigmas, com ênfa<strong>se</strong> ao trabalho multidisciplinar, tive aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r “ por osmo<strong>se</strong> ”, na convivência diária com cirurgiões,hepatologistas, patologistas, angiografistas, imagenologistas, intensivistas e infectologistas,a maioria <strong>de</strong>les trabalhando em <strong>tempo</strong> integral na unida<strong>de</strong>, ora em ativida<strong>de</strong>s clínicas, oraem pesquisa.Eram <strong>tempo</strong>s difícies. De um lado, o preço da curva <strong>de</strong> aprendizado que o mundopagava naquele momento histórico do <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento dos programas <strong>de</strong> transplantehepático. Do outro, as dificulda<strong>de</strong>s organizacionais, políticas, financeiras e sobretudoculturais próprias <strong>de</strong> um país em <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento. Nes<strong>se</strong> contexto, na condição <strong>de</strong>assistente direto do professor, cuidando dos <strong>se</strong>us pacientes públicos e privados, elaborandoartigos com ele e preparando suas conferências, tive o privilégio <strong>de</strong> participar da suaintimida<strong>de</strong>, testemunhando a sua gigantesca tarefa <strong>de</strong> comandar aquela nave. Cresceu aindamais a minha admiração por ele, agora associada a um profundo <strong>se</strong>ntimento <strong>de</strong> gratidão.Consolidou-<strong>se</strong> uma gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, resistente ao <strong>tempo</strong> e à distância.DADOS BIOGRÁFICOSSilvano Mário Atilio Raia nasceu em 1 o <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1930,filho <strong>de</strong> Paulo e Lina, italianos , que haviam <strong>se</strong> conhecido ecasado no Brasil, on<strong>de</strong> viveram por 47 anos, até a morte <strong>de</strong> suamãe, em 1973. Tem apenas um irmão, Aldo, três anos maisvelho, que veio a <strong>se</strong> tornar um renomado advogado em SãoPaulo.Seu pai, <strong>de</strong> origem simples, foi o vigésimo primeiro filho <strong>de</strong> suaavó. Nasceu em 1890, chegando ao Brasil aos 18 anos paratrabalhar na farmácia Raia, <strong>de</strong> <strong>se</strong>u irmão mais velho João, emAraraquara. Poucos anos <strong>de</strong>pois foi para São Paulo, on<strong>de</strong> fez curso colegial intensivo e<strong>de</strong>pois ingressou na antiga Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina, situada na Rua Con<strong>se</strong>lheiro Nébias.Não tendo meios para pagar as mensalida<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong> <strong>se</strong>r o primeiro da turma, Paulo Raiafazia, <strong>de</strong>liberadamente, os exames em <strong>se</strong>gunda época, dando aulas para os colegasreprovados, obtendo assim os recursos para salda r a conta da faculda<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r prestar o<strong>se</strong>xames. Foi um gran<strong>de</strong> anatomista e <strong>de</strong>pois cirurgião. Exerceu amplamente a profissão na


140colônia italiana <strong>de</strong> São Paulo, economizando <strong>se</strong>mpre, o que lhe garantiu in<strong>de</strong>pendênciafinanceira durante os 100 anos que viveu.Sua mãe nasceu em 1896, chegando ao Brasil em 1920 com <strong>se</strong>us pais e <strong>se</strong>u irmãomédico. Conheceu o pai do professor e trêsme<strong>se</strong>s <strong>de</strong>pois estavam casados. Foi <strong>se</strong>mpre<strong>de</strong>votada à família, doce e enérgica ao mesmo<strong>tempo</strong>. De<strong>se</strong>mpenhou <strong>de</strong> formar magistral opapel mediterrâneo <strong>de</strong> esposa e mãe,transmitindo aos dois filhos uma forma <strong>de</strong>amorização que os acompanha até hoje.Silvano Raia <strong>de</strong>cidiu <strong>se</strong>r médico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, período em que o <strong>se</strong>ubrilhantismo já <strong>se</strong> evi<strong>de</strong>nciava. No colégio São Luiz, on<strong>de</strong> estudou durante 11 anos,recebeu o prêmio <strong>de</strong> excelência conferido ao melhor aluno dos cursos ginasial e colegial.Foi aluno da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 1951 a 1956. Des<strong>de</strong>o <strong>se</strong>gundo ano trabalhou junto ao <strong>se</strong>rviço do Professor Edmundo Vasconcelos, responsávelmaior pela sua formação cirúrgica e <strong>de</strong> professor. Sob sua orientação, trabalhou durante 8anos, em <strong>tempo</strong> integral. Nes<strong>se</strong> período, instrumentou cirurgias e foi assistente das ca<strong>de</strong>iras<strong>de</strong> embriologia (1 ano), anatomia <strong>de</strong>scritiva (1 ano) anatomia topográfica (1 ano), anatomiapatológica (2 anos) e clínica cirúrgica (2 anos). Nes<strong>se</strong> <strong>se</strong>rviço, foi responsável pelo ensinodo aparelho digestivo no curso <strong>de</strong> graduação.De 1964 e 1966 estagiou no <strong>se</strong>rviço da Professora Sheila Sherlock, em Londres,obtendo o Título <strong>de</strong> PhD pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres, consolidando sua formação <strong>de</strong>hepatologista. Voltando ao Brasil, <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> à sua carreira universitária naFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. À vida acadêmica <strong>se</strong> entregou <strong>de</strong>corpo e alma até a sua apo<strong>se</strong>ntadoria, em <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 2000, construindo um dos maisprofícuos currículos universitários dos nossos <strong>tempo</strong>s. Tão logo retomou suas ativida<strong>de</strong>sneste país, <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> à criação e à consolidação da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado, grupointerdisciplinar que li<strong>de</strong>ra até hoje e que funcionou na FMUSP-HC até 2002, quandotransferiu-<strong>se</strong> para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.


141PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕESEm muitos aspectos a vida do Professor Silvano Raia <strong>se</strong> confun<strong>de</strong> com a história dacirurgia <strong>de</strong> fígado no Brasil. Introduziu no País a valorização do sangue portal para otrofismo das células hepáticas, realizando as primeiras <strong>de</strong>rivações portocavas <strong>se</strong>letivas.Realizou o primeiro estudo prospectivo controlado sobre os efeitos das técnica<strong>se</strong>mpregadas para tratamento cirúrgico das varizes <strong>de</strong> esôfago sangrantes causadas pelaEsquistossomo<strong>se</strong> Mansônica. O <strong>se</strong>guimentodurante 10 anos dos 96 pacientes <strong>de</strong>s<strong>se</strong> estudocontra-indicaram formalmente a anastomo<strong>se</strong>espleno-renal que era muito empregada entrenós para tratamento das hemorragias daparasito<strong>se</strong>, valorizando a <strong>de</strong>sconexão ázigoportalmais esplenectomia, preconizada hámuito pelo saudoso Professor Salomão Kelner, no Recife.Realizou as primeiras res<strong>se</strong>cções regradas <strong>de</strong> fígado. De<strong>se</strong>nvolveu um sistema <strong>de</strong>perfusão extra-corpórea <strong>de</strong> fígado isolado <strong>de</strong> porco com sangue humano, obtendo<strong>de</strong><strong>se</strong>mpenho funcional inédito na literatura. Realizou o primeiro transplante hepático bemsucedido no Brasil e no Hemisfério Sul. Descreveu e realizou o primeiro transplante clínico<strong>de</strong> fígado intervivos da literatura, que permitiu, em muitos centros nacionais e do exterior,reduzir a mortalida<strong>de</strong> na lista <strong>de</strong> espera pediátrica em até 50%. Em 1967 criou a Unida<strong>de</strong><strong>de</strong> Fígado do Hospital das Clínicas, cujos <strong>se</strong>tores experimental e clínico constituem-<strong>se</strong> emcentro <strong>de</strong> referência da hepatologia cirúrgica no País.Na formação e li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> sua equipe superou o conceito magister dixit,substituindo-o pelo da chefia emergencial. Cada área é dirigida pelo membro que mais sabee mais experiência tem no <strong>se</strong>tor. Ao vértice da pirâmi<strong>de</strong> cabe escolher quais temas e linhas<strong>de</strong> pesquisa mais pertinentes para o grupo e para o meio naquele <strong>de</strong>terminado momento.Como metodologia <strong>de</strong> trabalho, valorizou e exerceu a alternância <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sclínicas com ativida<strong>de</strong>s experimentais realizadas pela mesma equipe para atingir o mesmoobjetivo. O emprego <strong>de</strong>s<strong>se</strong> binômio permitiu <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver técnicas em mo<strong>de</strong>los animaispara, em <strong>se</strong>guida, aplicá-las no homem e, por outro lado, esclarecer, em mo<strong>de</strong>los animais,dúvidas surgidas na tal ativida<strong>de</strong> clínica. Es<strong>se</strong> tipo <strong>de</strong> trabalho explica o caráter pioneiro da


142equipe, <strong>se</strong>ja no exercício <strong>de</strong> técnicas inéditas, <strong>se</strong>ja na realização <strong>de</strong> estudos controlados <strong>de</strong>diversas variáveis cirúrgicas, fisiológicas e clínicas <strong>de</strong>finidas durante os programa<strong>se</strong>xperimental e clínico.Junto a ele <strong>se</strong> formaram ou <strong>se</strong> aprimoraram muitos dos atuais expoentes dahepatologia do Brasil, responsáveis por centros que adotam a mesma metodologia daUnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado, visando objetivos <strong>se</strong>melhantes. Confirmaram que “ A mente humanaque <strong>se</strong> alarga para uma nova idéia jamais retorna às dimensões primitivas ”. Entre outrosvale <strong>de</strong>stacar: Edna Strauss (USP), Hoel Sette Jr (USP), João Luiz Carneiro (Vitória), JoséRoberto Nery (Miami – EUA), Leila Beltrão Pereira (Recife), Luiz Caetano da Silva (USP),Luiz Carlos da Costa Gayotto (USP), Orlando Castro e Silva ( Ribeirão Preto – USP),Paulo Celso Bosco Massarollo ( Santa Casa – SP) e Sérgio Mies (Hospital Einstein – SP)Es<strong>se</strong> último, Sérgio Mies, tem exercido papel es<strong>se</strong>ncial na vida profissional doProfessor Silvano Raia. Ao <strong>se</strong>u lado nas últimas quatro décadas, tem dividido com ele asresponsabilida<strong>de</strong>s no comando da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado. Em 2001, na condição <strong>de</strong> candidatodo Professor à sua sucessão como titular da Disciplina Cirurgia Experimental e Transplante<strong>de</strong> Fígado, foi vencido em concurso público pelo Professor Marcel Cerqueira CésarMachado.Um concurso histórico, em que brilharam es<strong>se</strong>s dois gigantes da cirurgia brasileira.Lamentavelmente, à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, faltou visão e coragem política paraimpedir que o Professor Sérgio Mies e toda a sua gran<strong>de</strong> equipe, uma enorme massa críticaformada por ele e sobretudo pelo Professor Raia às custas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> investimento pessoal einstitucional saís<strong>se</strong>m para <strong>se</strong> estabelecer em hospital privado <strong>de</strong> São Paulo. Que<strong>de</strong>sperdício ! A USP tinha que reconhecer o Professor Marcel Machado como legítimovencedor do concurso e, ao mesmo <strong>tempo</strong>, criar espaço para a continuida<strong>de</strong> daquele grupoque fez história naquela instituição e que ainda tinham muito a dar, nas suas ativida<strong>de</strong>sprecípuas <strong>de</strong> ensino, pesquisa e assistência. Para confirmar isso, a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígadorealizou, em 2004, 105 transplantes <strong>de</strong> fígado, o maior número do país. Operações que<strong>de</strong>veriam ter sido realizadas no HC-USP.A criativida<strong>de</strong> do Professor Silvano Raia <strong>se</strong> tornou aparente também em váriaslinhas <strong>de</strong> pesquisa. Descreveu a primeira técnica capaz <strong>de</strong> <strong>se</strong>parar em nível celular abilirrubina indireta da bilirrubina conjugada (único autor – Nature (Lond) 1965; 205: 304);


143técnica para duo<strong>de</strong>nografia hipotônica com duplo contraste (Gut 1966; 7: 120); estudoradiográfico do ducto torácico (Radiology 1969; 4: 50). Com <strong>se</strong>us assistentes <strong>de</strong>screveusistema <strong>de</strong> perfusão isolada <strong>de</strong> fígado <strong>de</strong> porco, fita hemostática para res<strong>se</strong>cções <strong>de</strong> fígado,técnica para res<strong>se</strong>cção dos <strong>se</strong>gmentos V e VI, exclusão vascular hepática <strong>se</strong>gmentar etécnica para anastomo<strong>se</strong> esplenocava.Sua li<strong>de</strong>rança e visão em assuntos gerais <strong>se</strong> <strong>de</strong>fine, como professor, na criação dosLIM – Laboratórios <strong>de</strong> Investigação Médica da FMUSP. Entre eles o Laboratório <strong>de</strong>Investigação Clínica e Experimental em <strong>Hepatologia</strong>, carinhosamente apelidado <strong>de</strong> NASApela comunida<strong>de</strong> acadêmica. Como Diretor da FMUSP, criou a Disciplina <strong>de</strong> InformáticaMédica. Instituiu a Fundação Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina em convênio com a Secretaria <strong>de</strong>Estado da Saú<strong>de</strong> para pagamento dos procedimentos SUS, que permitiu ao Hospital dasClínicas atingir o nível <strong>de</strong> excelência que mantém até hoje.Obteve da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> São Paulo a concessão <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> um terreno emlocalização privilegiada, no qual projetou o Instituto do Fígado. Es<strong>se</strong> projeto, ao qual tem<strong>se</strong> <strong>de</strong>dicado com toda a sua criativida<strong>de</strong> e tenacida<strong>de</strong>, nos últimos <strong>tempo</strong>s certamente <strong>se</strong>tornará motivo <strong>de</strong> orgulho para a medicina brasileira.CONSIDERAÇÕES FINAISO professor Silvano Raia <strong>se</strong>mpre lutou pelos <strong>se</strong>us i<strong>de</strong>ais. Inovando muitas vezes,orientou <strong>se</strong>us passos prevendo o futuro e modificando o pre<strong>se</strong>nte. Exemplo <strong>de</strong> suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luta foi a participação no concurso para Professor Titular <strong>de</strong> CirurgiaExperimental. Somente con<strong>se</strong>guiu inscrever-<strong>se</strong> por mandado judicial já que fora preterido,pouco antes, no concurso para Professor Adjunto, <strong>se</strong>m provas públicas. Venceu o concursopor unanimida<strong>de</strong> <strong>se</strong>ndo indicado unanimemente pelos cinco membros da banca.Sua <strong>de</strong>terminação e sua visão <strong>de</strong> futuro são evi<strong>de</strong>ntes na <strong>se</strong>qüência <strong>de</strong> suas iniciativas relacionadas ao transplante <strong>de</strong> fígado noBrasil. Em 1967 criou a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado.Durante es<strong>se</strong> ano e o <strong>se</strong>guinte, <strong>de</strong><strong>se</strong>jandomotivar a comunida<strong>de</strong> médica brasileira emrelação ao novo procedimento bem comoestimular a direção do Hospital das Clínicas


144da FMUSP para o programa <strong>de</strong> transplantes que propunha, ministrou conferências sobretransplante <strong>de</strong> fígado em São Paulo, Belém do Pará, Salvador, Recife, Fortaleza, PortoAlegre, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Belo Horizonte. De 1968 a 1985 realizou mais <strong>de</strong> 400 cirurgias emanimais preparando sua equipe para, em 1 o <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1985, realizar o primeirotransplante clínico <strong>de</strong> sucesso no Hemisfério Sul. Des<strong>de</strong> então a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígadoacumulou uma casuística que hoje inclui cerca <strong>de</strong> 840 transplantados e preparou cirurgiõe<strong>se</strong> clínicos que permitiram difundir a nova técnica em vários centros no Brasil.No conjunto, sua biografia justifica a citação <strong>de</strong> T.E Lawrence ; “ Todos os homenssonham, mas não da mesma maneira. Aqueles que sonham à noite, no recesso obscuro <strong>de</strong>suas mentes, acordam percebendo que tudo <strong>de</strong>sapareceu. Mas os que sonham durante o diasão homens perigosos. Po<strong>de</strong>m lidar com <strong>se</strong>us sonhos <strong>de</strong> olhos abertos e torná-losrealida<strong>de</strong>.”DEPOIMENTOS DE SUAS FILHAS ANA BEATRIZ E ANA PAULAAna Beatriz filha mais velha. Na minha infância disputei meu pai com aFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina. Queria tê-lo por mais <strong>tempo</strong> perto <strong>de</strong> mim. Hoje percebo quevaleu. A qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua convivência compensou o menor <strong>tempo</strong>. Sempre me estimuloucriando condições para que eu me <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolves<strong>se</strong> do ponto <strong>de</strong> vista humano e profissional.Seu exemplo <strong>de</strong> trabalho marcou minha vida e induziu minha escala <strong>de</strong> valores. Tenho porele um amor único e imenso.Ana Paula, filha mais nova. Amo meu pai. Sinto-o cada vez mais próximo e assimposso ve-lo melhor e admirá-lo mais no <strong>se</strong>u amor por nós, na sua inteligência, na suagran<strong>de</strong> visão, na sua persistência e na sua <strong>de</strong>dicação a todos que o procuram solicitandoajuda.Só hoje percebo como soube nos educar. Abriu omundo para mim e para minha irmã nos ensinando comoentendê-lo. O exemplo <strong>de</strong> sua carreira pioneira comoprofessor <strong>de</strong> medicina <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>rvir <strong>de</strong> inspiração aosjovens médicos. Orgulho-me <strong>de</strong> <strong>se</strong>r sua filha.DEPOIMENTO DO PROF. DR. SÉRGIO MIESConheci o Silvano <strong>de</strong> forma muito superficial no início domeu curso médico, na década <strong>de</strong> 60. Na ocasião, nãotinha carro próprio, mas freqüentemente ia à Faculda<strong>de</strong>com um carro <strong>de</strong> meu pai, uma Kombi. Naquela época,no Brasil, os únicos carros nacionais disponíveis eram oJeep Wyllis, a Kombi e o “Fusquinha”, conhecido naépoca como Sedan VW. O Silvano, recém <strong>se</strong>parado <strong>de</strong>


sua primeira mulher, precisava <strong>de</strong> um carro um pouco maior para transportar uma belíssimamesa <strong>de</strong> rádica que tinha um tabuleiro <strong>de</strong> xadrez entalhado na sua tampa. E ele só tinha umcarro esporte, um Porsche. Por indicação <strong>de</strong> colegas ele me encontrou no porão daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da USP, no Centro Acadêmico Oswaldo Cruz e me pediu a Kombiemprestada por algumas horas. Ele falou comigo <strong>de</strong> tal forma que não pu<strong>de</strong> recusar. Fiqueiaté com a impressão que ele estava fazendo um favor pra mim! Assim é o Silvano.Passaram-<strong>se</strong> alguns anos, completei o internato e, no final da Residência Médica,cumprida no Serviço do gran<strong>de</strong> cirurgião Edmundo Vasconcelos, recebi um telefonema: erao Silvano me convidando a trabalhar com ele no HC, no Grupo <strong>de</strong> Fígado e HipertensãoPortal, embrião da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fígado. Era um domingo <strong>de</strong> manhã e eu estava terminando avisita aos internados. Fiquei confuso, pois tinha outros projetos e outros convites. Ele soubeme mostrar as vantagens <strong>de</strong> trabalhar com ele. E lá fui eu. Comecei fazendo cirurgiaexperimental em animais, especialmente em porcos, mas, lá, tinha <strong>de</strong> tudo: porcos,cachorros e até vitela! Foi uma fa<strong>se</strong> muito rica da minha vida on<strong>de</strong> realizávamos perfusãoisolada <strong>de</strong> fígado. Foram muitos anos <strong>de</strong> trabalho on<strong>de</strong> ele operava numa sala e eu emoutra, duas vezes por <strong>se</strong>mana. Lembro que uma vez, um dos dois animais a <strong>se</strong>rem operadosmorreu na entubação traqueal. Não po<strong>de</strong>ríamos interromper a experiência. E não havia maisporcos no Biotério da Faculda<strong>de</strong>! Pegamos o Geraldo, funcionário que trabalhava conoscohavia anos, o Silvano e eu e fomos rapidamente no <strong>se</strong>u Porsche (ele novamente) paraFranco da Rocha, local <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinham os porcos. Escolhemos um com cerca <strong>de</strong> 40kg,colocamos num saco <strong>de</strong> estopa e voltamos rapidamente para São Paulo, pela Estrada Velha<strong>de</strong> Campinas. Para os que não sabem, esta estrada é constituída somente por curvas, umaatrás da outra! E lá vínhamos nós rapidamente nas curvas, cantando pneus, com o Geraldo<strong>se</strong>gurando o porco meio atravessado no espaço exíguo que existia atrás dos bancosdianteiros do Porsche. Bem, numa <strong>de</strong>ssas curvas o Geraldo per<strong>de</strong>u o equilíbrio e foi umaconfusão danada: Geraldo tentando <strong>se</strong>gurar o porco solto <strong>de</strong>ntro do pequeno Porsche! Um<strong>de</strong>sastre!Foram centenas <strong>de</strong> porcos e <strong>de</strong> perfusões que resultaram numa tecnologia que foifundamental para o projeto “transplante <strong>de</strong> fígado”, <strong>se</strong>mpre em pauta e <strong>se</strong>mpre sonhado. OSilvano já havia realizado duas tentativas anteriores à minha entrada no grupo. E euparticipei da quinta tentativa no HC em 1971, uma vez que outra equipe havia tambémtentado o procedimento por duas ocasiões. Todas <strong>se</strong>m sucesso. Nessa época es<strong>se</strong>sinsucessos eram gerais em todo o mundo. E foi ele quem impulsionou a perfusão isolada eo <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> outras técnicas <strong>de</strong> assistência hepática, pois, na época, aimunossupressão e a rejeição eram os gran<strong>de</strong>s fantasmas dos transplantes. Quando surgiramnovas drogas imunossupressoras, nós já estávamos preparados para o transplante clínico.Tínhamos realizados o procedimento em porcos, em cães e em cadáveres. Sempre com ocontagiante entusiasmo do Silvano que não admitia <strong>de</strong>rrota. Até um insucesso era vistocomo uma enorme oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento. E era mesmo! Mesmo que tenham sidoum insucesso clínico, as nossas perfusões isoladas foram objeto <strong>de</strong> diversas te<strong>se</strong>s <strong>de</strong>doutorado, a minha, e inclusive a <strong>se</strong>gunda <strong>de</strong>le <strong>de</strong> Livre-docência em CirurgiaExperimental. Assim foi o Silvano a vida inteira: realizou não uma, mas duas te<strong>se</strong>s <strong>de</strong>Livre-Docência. A primeira foi clínica, em 1978, em hipertensão portal, num dos primeiro<strong>se</strong>studos prospectivos realizados na cirurgia brasileira.Em 1980 Silvano fez concurso para professor titular <strong>de</strong> Cirurgia Experimental naFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e foi aprovado. Três anos <strong>de</strong>pois era o diretor da Faculda<strong>de</strong>! E eu145


146brincava: <strong>de</strong> doutor a diretor em cinco anos! E ele viu claramente essa possibilida<strong>de</strong> anosantes. E soube aproveitá-la.O mesmo aconteceu com os transplantes. O reconhecimento como um procedimentoclínico foi publicado em janeiro <strong>de</strong> 1984. E no ano <strong>se</strong>guinte, sob a batuta do Silvano,estávamos realizando o primeiro transplante clínico com sucesso no Brasil e em toda aAmérica Latina. E em que dia? Exatamente no dia 1º <strong>de</strong> <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 1985. E que dia eraes<strong>se</strong>s? Era o dia em que o Silvano completava 55 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>! Não foi planejado não.Simplesmente o primeiro doador cadáver <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um longo mês <strong>de</strong> espera aconteceu nodia do aniversário <strong>de</strong>le! Veja-<strong>se</strong> que a sorte também o favoreceu. Mas precisamos <strong>se</strong>rjustos: ele <strong>se</strong>mpre estava pronto quando a sorte passava. Será que era sorte mesmo?O mesmo aconteceu por ocasião do primeiro transplante intervivos <strong>de</strong> fígado: forammuitos me<strong>se</strong>s <strong>de</strong> treinamento em cadáveres. E <strong>de</strong> <strong>se</strong>leção <strong>de</strong> potenciais receptores. Foi umaativida<strong>de</strong> frenética com um entusiasmo que garantia um sucesso inevitável, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntedo resultado final: mol<strong>de</strong>s da anatomia hepática, dis<strong>se</strong>cções, discussões <strong>de</strong> protocolos,exames <strong>de</strong> pacientes e <strong>de</strong> potenciais doadores, e assim vai. E o primeiro caso foi uminsucesso! O paciente faleceu no <strong>se</strong>xto dia <strong>de</strong> pós-operatório <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma <strong>se</strong>ssão <strong>de</strong>hemodiáli<strong>se</strong> para controlar uma insuficiência renal <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma transfusãoincompatível. Vamos enfrentar essa <strong>de</strong>rrota, dizia o Silvano! Enfim, em julho <strong>de</strong> 1989realizamos a <strong>se</strong>gunda tentativa, com o mesmo entusiasmo, no que viria a <strong>se</strong>r consi<strong>de</strong>rado oprimeiro transplante intervivos do mundo.A partir daí, a casuística foi aumentando, o método foi <strong>se</strong>ndo aperfeiçoado e osresultados foram progressivamente melhorando <strong>de</strong> forma que hoje, vinte anos após aqueleresultado pioneiro, o transplante hepático é uma realida<strong>de</strong> na Medicina brasileirabeneficiando pacientes <strong>de</strong> todo o País e mesmo da América Latina. Esta conquista <strong>se</strong>mdúvida <strong>se</strong> <strong>de</strong>ve à persistência, à força e à obstinação do Silvano. Foi ele quem plantou essa<strong>se</strong>mente que <strong>se</strong> dis<strong>se</strong>minou. Praticamente todos os grupos que realizam o transplante noPaís passaram pela sua escola. Saú<strong>de</strong> a ele!DEPOIMENTO DO PROF. DR. ORLANDO CASTRO E SILVA JRMeu primeiro contato profissional com o professor Silvano Raia foi em fins <strong>de</strong>1986, um ano <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le e sua equipe terem feito, em São Paulo, o primeiro transplanteclínico <strong>de</strong> fígado bem sucedido da América Latina. Fui conversar com ele, pois queria meespecializar em hepatologia cirúrgica, e saí <strong>de</strong> sua sala engajado em sua equipe <strong>de</strong>transplante <strong>de</strong> fígado clínico e experimental. Hoje, qua<strong>se</strong> 20 anos <strong>de</strong>pois, es<strong>se</strong> fato aindarepre<strong>se</strong>nta para mim um marco... a expressão máxima <strong>de</strong> confiança, <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>cisãorápidas, própria dos gran<strong>de</strong>s lí<strong>de</strong>res.Outros exemplos <strong>se</strong> <strong>se</strong>guiram ao longo dos vários anos<strong>de</strong> convívio,como habilida<strong>de</strong> cirúrgica,versatilida<strong>de</strong> político-universitária e o “jeito fácil <strong>de</strong>resolver problemas” <strong>de</strong> qualquer natureza, próprios <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> professor universitário.De inteligência invejável, conversar, pleitear, discutir com ele eram diligências que exigiampreparo emocional e intelectual <strong>de</strong> horas ou dias. Mesmo assim, com muitos argumentos,rigorosamente arquitetados, às vezes saía <strong>de</strong> sua sala, com a nítida impressão <strong>de</strong> que,simplesmente, não havia dito nada. Anos <strong>de</strong>pois, em Ribeirão Preto, junto com uma gran<strong>de</strong>equipe, montei o terceiro Grupo <strong>de</strong> transplante <strong>de</strong> fígado do interior do estado <strong>de</strong> São Pauloe tornei-me professor Titular do Departamento <strong>de</strong> Cirurgia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Gran<strong>de</strong> parte do que fiz, em minha li<strong>de</strong>universitária, teve o Professor Silvano como paradígma do administrador, do professor e dolí<strong>de</strong>r, acima <strong>de</strong> tudo.


147THOMAZ DE FIGUEIREDO MENDES10-08-1911 01-05-1996Nasceu em Minas Gerais na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mutuca, atualmente <strong>de</strong>nominada Elói Men<strong>de</strong>s.Ingressou na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil em 1931. Em 1950, tornou<strong>se</strong>Chefe do Departamento <strong>de</strong> Gastroenterologia da 4ª Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil, Serviço do Professor Berardinelli, on<strong>de</strong>permaneceu até 1955. Participou do programa <strong>de</strong> aperfeiçoamento profissional do Instituteof Inter-American Affairs e do Curso <strong>de</strong> Gastroenterologia da Universida<strong>de</strong> da Pensilvânia,on<strong>de</strong> conheceu o Prof. Henry Bockus, que exerceu gran<strong>de</strong> influência em sua vidaprofissional e pessoal. Em 1956 foi nomeado Chefe <strong>de</strong> Clínica do Departamento <strong>de</strong>Gastroenterologia. Em 1960, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concurso, alcançou a Livre Docência <strong>de</strong> ClínicaMédica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina. No mesmo ano tornou-<strong>se</strong> professor adjuntoda mesma disciplina. Em 1967, congregando amigos da mesma área <strong>de</strong> atuação, FigueiredoMen<strong>de</strong>s fundou a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, órgão máximo da hepatologia noBrasil, e que atua, <strong>de</strong> maneira cada vez mais firme, na <strong>de</strong>fesa dos interes<strong>se</strong>s daespecialida<strong>de</strong> e na divulgação <strong>de</strong> novos conhecimentos sobre as doenças do fígado.Trabalhou com o Professor Cruz Lima, na 7ª enfermaria do Hospital Geral da Santa Casado Rio <strong>de</strong> Janeiro até 1974, quando fundou o primeiro Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> do Brasil. Asua opção pela hepatologia foi marcada, inicialmente, pelo interes<strong>se</strong> pela esquistossomo<strong>se</strong>mansônica, doença que marcava profundamente o Brasil nos meados do século XX. Foi oi<strong>de</strong>alizador da primeira e ainda única revista brasileira <strong>de</strong> hepatologia, <strong>de</strong>nominada“Mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong>”, que mantém nome e formato original até hoje. Foi professor,além da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Medicina daUniversida<strong>de</strong> Gama Filho e da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques.


148THOMAZ DE FIGUEIREDO MENDES10-08-1911 01-05-1996Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s was born in the city of Mutuca, now known as ElóiMen<strong>de</strong>s. He entered the Faculty of Medicine at the Universida<strong>de</strong> do Brasil in 1931. In1950, he became head of the Department of Gastroenterology of the 4th Department ofClinical Medicine in the Faculty of Medicine at the Universida<strong>de</strong> do Brasil un<strong>de</strong>r ProfessorBernar<strong>de</strong>lli, where he remained until 1955. He took part in the professional <strong>de</strong>velopmentprogram of the Institute of Inter-American Affairs and the gastroenterology cour<strong>se</strong> at theUniversity of Pennsylvania, where he met Prof. Henry Bockus, who exerted a greatinfluence on his professional and personal life. In 1956, he was appointed clinical head ofthe Department of Gastroenterology and after sitting an examination in 1960, he reachedhis Livre-Docência (professorial habilitation) in clinical medicine in the Faculda<strong>de</strong>Nacional <strong>de</strong> Medicina. He became associate professor of this subject in the same year. In1967, together with friends working in the same field, Figueiredo Men<strong>de</strong>s foun<strong>de</strong>d theBrazilian Society of Hepatology, which is the most important body in the field ofhepatology in Brazil, and acts with increasing resolve in <strong>de</strong>fen<strong>se</strong> of the profession and inthe dis<strong>se</strong>mination of new information about liver di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>s. He worked with Professor CruzLima in the 7th ward of the Hospital Geral da Santa Casa do Rio <strong>de</strong> Janeiro until 1974,when he foun<strong>de</strong>d the first Hepatology Service in Brazil. His choice of hepatology wasinitially marked by an interest in mansonic schistosomiasis, a di<strong>se</strong>a<strong>se</strong> that had a profoun<strong>de</strong>ffect on Brazil in the mid-twentieth century. He was the driving force behind “Mo<strong>de</strong>rna<strong>Hepatologia</strong>”, the first, and to this day, only Brazilian journal of hepatology, which retainsits original name and layout to this day. He lectured not only at the Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>raldo Rio <strong>de</strong> Janeiro, but also at the Faculties of Medicine at the Universida<strong>de</strong> Gama Filho andthe Fundação Técnico-Educacional Souza Marques.


149Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s10-08-1911 01-05-1996Autores - Cláudio Gusmão <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s e Norah Gusmão <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>sThomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s, um dos mais<strong>de</strong>stacados hepatologistas do Brasil, nasceu em Minas Geraisno dia 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1911. Sua cida<strong>de</strong> natal <strong>se</strong> chamava,naquela época, Mutuca. Atualmente <strong>de</strong>nominada ElóiMen<strong>de</strong>s, a primeira “gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>” conhecida por Thomazlocaliza-<strong>se</strong> no sul <strong>de</strong> Minas Gerais, próximo a Varginha, eainda guarda as características das cida<strong>de</strong>s mineiras dointerior, tranqüilida<strong>de</strong> e religiosida<strong>de</strong>. Tudo gira em torno dagran<strong>de</strong> Igreja matriz. Figueiredo Men<strong>de</strong>s não nasceu próximo ao centro do município e simem uma fazenda, aliás, como era o hábito naquela época. A fazenda, <strong>de</strong>nominada “PedraBranca”, ainda existe, porém com algumas modificações. Apesar das alterações, impostaspelo <strong>tempo</strong>, a <strong>se</strong><strong>de</strong> da fazenda <strong>de</strong>ixa transparecer, através do ranger das tábuas do <strong>se</strong>uassoalho, os primeiros anos do futuro médico. Banhos no rio Ver<strong>de</strong>, a poucos metros dacasa, leite fresco pela manhã e muita liberda<strong>de</strong> para crescer sonhando com algo mais. Asprimeiras letras foram ensinadas por <strong>se</strong>us pais, Adélia <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s e JoséBenedicto Men<strong>de</strong>s. Brincava e estudava na própria fazenda, que, além da criação <strong>de</strong> gado,possuía plantação <strong>de</strong> café.Quando ainda aprendia os primeiros passos, sua família mudou-<strong>se</strong> para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Fama, conhecida inicialmente pelo nome <strong>de</strong> “Vila da Fome”. O nome inicial do lugarejofoi cunhado por viajantes que, assim dizem, tiveramgran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para encontrar algo para saciar suafome durante uma longa jornada, fato que os motivou aescrever em um muro a queixa que daria nome a futuracida<strong>de</strong>. A família permaneceu em Fama por algunsanos. Durante este período nasceu sua única irmã,Maria da Conceição Men<strong>de</strong>s. Em Fama, começou aFazenda da Pedra Branca – 2005


150freqüentar a escola primária, não <strong>se</strong> afastando, porém, da fazenda, que visitava comregularida<strong>de</strong>.Na década <strong>de</strong> 20, tornou-<strong>se</strong> necessária uma escola melhor, fato que justificou amudança do adolescente Figueiredo Men<strong>de</strong>s e alguns primos para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.No Colégio do Sagrado Coração <strong>de</strong> Jesus da Or<strong>de</strong>m dos Salesianos, na capital paulista,Thomaz cresceu fisica e culturalmente.No período paulista <strong>de</strong> sua vida, estudou muito e, orientado pelos padres Salesianos,começou a <strong>se</strong> interessar pela medicina. Como São Paulo era muito mais distante que hoje,tendo em vista as condições das estradas, as visitas à família <strong>se</strong> restringiam aos finais <strong>de</strong><strong>se</strong>mana, quando, então, colocava em dia a prosa com <strong>se</strong>us pais Adélia e José Benedicto.Mais alguns anos <strong>se</strong> passaram e, <strong>de</strong>ssa vez, toda a família <strong>se</strong> mudou novamente.Foram para Lorena e Guaratinguetá, no estado <strong>de</strong> São Paulo. O Colégio São Joaquim,também Salesiano, foi o escolhido para a continuação dos estudos do jovem Thomaz. Naépoca já estava <strong>de</strong>cidido a <strong>se</strong>guir sua vocação, a medicina. Optou, então, pelo vestibularpara a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil, atual Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral doRio <strong>de</strong> Janeiro, que <strong>se</strong> localizava na Praia Vermelha, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Após aprovação no concurso e início dos estudos médicos, em 1931, o entãouniversitário Figueiredo Men<strong>de</strong>s passou a trabalhar como redator no Diário Carioca. Nosanos <strong>se</strong>guintes, além <strong>de</strong> ganhar conhecimentos médicos, <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolveu sua capacida<strong>de</strong>literária, tornando-<strong>se</strong> gran<strong>de</strong> amante dos livros. Tal fato marcaria sua vida futura, ao<strong>de</strong>spertar sua ainda <strong>de</strong>sconhecida capacida<strong>de</strong> para elaboração <strong>de</strong> textos, principalmentemédicos.Depois <strong>de</strong> longos anos <strong>de</strong> estudos intensos, Thomaz trouxe sua família para o Rio <strong>de</strong>Janeiro, tornando, mais fortes ainda, <strong>se</strong>us vínculos com a cida<strong>de</strong> que escolheu para<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolver suas ativida<strong>de</strong>s médicas.Durante o período universitário,conviveu e apren<strong>de</strong>u muito com o Professor Wal<strong>de</strong>mar Berardinelli,homem <strong>de</strong> extraordinária capacida<strong>de</strong> intelectual e gran<strong>de</strong> formaçãoética. Aproximadamente 15 anos após o término dos estudosuniversitários, em 1950, tornou-<strong>se</strong> Chefe do Departamento <strong>de</strong>Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s– 1960Gastroenterologia da 4ª Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Medicina da Universida<strong>de</strong> do Brasil, Serviço do Professor


151Berardinelli, on<strong>de</strong> permaneceu até 1955 .Objetivando a ampliação dos conhecimentos adquiridos até aquele momento,Figueiredo Men<strong>de</strong>s viajou para os Estados Unidos, on<strong>de</strong> participou do programa <strong>de</strong>aperfeiçoamento profissional do Institute of Inter-American Affairs e do Curso <strong>de</strong> Gastroenterologiada Universida<strong>de</strong> da Pensilvânia, tendo aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer Henry Bockus, o qualexerceu gran<strong>de</strong> influência sobre sua vidaprofissional e pessoal. Bockus era um homemextremamente inteligente, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> preparo e <strong>de</strong>extraordinária formação moral. stava no auge <strong>de</strong> suacarreira e gozava <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> fama no meio médico.Era um professor <strong>de</strong>dicado e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> influênciasobre <strong>se</strong>us alunos, que conhecia em <strong>de</strong>talhes,mesmo <strong>se</strong>ndo <strong>de</strong> diferentes origens. Ficavaorgulhoso do grupo <strong>de</strong> alunos que tinha e eraFigueiredo Men<strong>de</strong>s e Henry Bockusgran<strong>de</strong> amigo <strong>de</strong> todos. Durante o Congresso Mundial <strong>de</strong> Gastroenterologia <strong>de</strong> 1958 emWashington, Figueiredo Men<strong>de</strong>s fundou a Associação <strong>de</strong> ex-alunos <strong>de</strong> Bockus, cujo nome,“Bockus International Society”, mantém, até nossos dias, vivos, em <strong>se</strong>us <strong>se</strong>guidores, o<strong>se</strong>nsinamentos do mestre.Após <strong>se</strong>u retorno ao Brasil, retomou suas ativida<strong>de</strong>s habituais <strong>se</strong>m nunca <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>comparecer aos mais importantes encontrosnacionais e internacionais na área dahepatologia.Em 1956 foi nomeado Chefe <strong>de</strong>Clínica do Departamento <strong>de</strong>Gastroenterologia, cujo responsável era oProfessor Carlos Cruz Lima. Em 1960,Fig. 5 – Figueiredo Men<strong>de</strong>s e Edna Strauss<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concurso, alcançou a DocênciaLivre <strong>de</strong> Clínica Médica da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Medicina. No mesmo ano tornou-<strong>se</strong>professor adjunto da mesma disciplina.


152No final da década <strong>de</strong> 60, em 1967, congregando amigos da mesma área <strong>de</strong> atuação,Figueiredo Men<strong>de</strong>s fundou a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, órgão máximo dahepatologia no Brasil, e que atua, <strong>de</strong> maneira cada vez mais firme, na <strong>de</strong>fesa dos interes<strong>se</strong>sda especialida<strong>de</strong> e na divulgação <strong>de</strong> novos conhecimentos sobre as doenças do fígado.Trabalhou com o Professor Cruz Lima, na 7ª enfermaria do Hospital Geral da SantaCasa do Rio <strong>de</strong> Janeiro até 1974, quando fundou o primeiro Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> doBrasil, que passou a funcionar na 8ª enfermaria do mesmo hospital. No mesmo ano chegouao posto <strong>de</strong> Titular <strong>de</strong> Gastroenterologia da Escola <strong>de</strong> Graduação Médica Carlos Chagas.Em 1978, coroando anos <strong>de</strong> intensos trabalhos <strong>de</strong>dicados a medicina, tornou-<strong>se</strong> membrotitular da Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Medicina.À frente do Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> da Santa Casa organizou diversos cursos, dosquais participavam nomes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no cenário nacional e internacional dahepatologia. Os eventos, organizados anualmente no mesmo mês, transformaram maio nomês da hepatologia carioca. Estes cursos contribuíram imensamentepara a difusão dos conhecimentos sobre hepatologia, função hoje<strong>de</strong><strong>se</strong>mpenhada por profissionais, que foram assíduos freqüentadoresdas aulas, como professores ou alunos e <strong>se</strong> reúnem regularmente noGrupo <strong>de</strong> Fígado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.A opção <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s pela hepatologia foi marcada,inicialmente, pelo interes<strong>se</strong> pela esquistossomo<strong>se</strong> mansônica, doençaque marcava profundamente o Brasil <strong>de</strong> meados do século XX eainda hoje <strong>se</strong> faz pre<strong>se</strong>nte nas áreas mais pobres da nossa nação.Durante muitos anos divulgou o conhecimento brasileiro sobre adoença, possibilitando a troca <strong>de</strong> experiências com outras naçõesacometidas pelo mesmo problema e <strong>de</strong>monstrando a capacida<strong>de</strong> dahepatologia brasileira.Norah Gusmão <strong>de</strong> FigueiredoMen<strong>de</strong>sAtuou, também, como escritor <strong>de</strong> inúmeros livros médicos. A gran<strong>de</strong> maioria sobredoenças do fígado. Foi o i<strong>de</strong>alizador da primeira e ainda única revista brasileira <strong>de</strong>hepatologia, <strong>de</strong>nominada “Mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong>”, que mantém nome e formato original atéhoje. Seus artigos permitem que médicos <strong>de</strong> diferentes regiões do Brasil <strong>se</strong> atualizem,através <strong>de</strong> artigos elaborados por hepatologistas brasileiros <strong>de</strong> renome.


153Na Santa Casa, como Chefe da 8ª enfermaria por mais <strong>de</strong> 20 anos, <strong>de</strong>monstrou suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança ao criar e manter por anos uma equipe médica trabalhando emtorno das doenças hepáticas. Foi Professor, além da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong>Janeiro, das faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Gama Filho e da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques. Formou inúmeros médicos, que hoje multiplicam osconhecimentos adquiridos pelos mais diferentes hospitais, muitos dos quais abraçaram aespecialida<strong>de</strong> e continuam ligados ao i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s através da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>. O Serviço <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> continua atuante, mantendo osprincípios do gran<strong>de</strong> mestre que ainda hoje <strong>se</strong> faz pre<strong>se</strong>nte em nossas ativida<strong>de</strong>sprofissionais.No âmbito familiar, como dito inicialmente, após migrar para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, porforça da profissão, trabalhou por longos anos até encontrar sua esposa. Em 1963, já commais <strong>de</strong> 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, casou-<strong>se</strong> com Norah Gusmão <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s. Nos anosque <strong>se</strong> <strong>se</strong>guiram ao matrimônio, teve 4 filhos, Flávio, Analista <strong>de</strong> Sistemas, Cláudio,Médico Hepatologista, Márcio, Advogado e Marcelo, Economista. Não chegou a conheceros netos, que já são 4, Fernanda e Rodrigo (filhos <strong>de</strong> Flávio e Danielle Lima <strong>de</strong> FigueiredoMen<strong>de</strong>s), João Pedro (filho <strong>de</strong> Marcelo e Flávia Turano <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s) e Thomaz(filho <strong>de</strong> Márcio e Viviane Martins <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s). Teria sido um avô carinhoso e<strong>de</strong>dicado, com certeza.Ao falecer em 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996, Thomaz <strong>de</strong> Figueiredo Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ixou umgran<strong>de</strong> legado, saibamos aproveitá-lo.


154WALDOMIRO DANTAS03-11-1933 23-12-2003Nascido em uma fazenda em Jundiá, Rio <strong>de</strong> Janeiro, o empobrecimento rural trouxe suafamília para Macaé e <strong>de</strong>pois Niterói. Em 1953 ingressou na Faculda<strong>de</strong> Fluminen<strong>se</strong> <strong>de</strong>Medicina. Para sustentar os estudos exerceu várias profissões, entre elas a <strong>de</strong> repórter e <strong>de</strong>escriturário. Colou grau em medicina em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1958, <strong>se</strong>ndo aceito comoestagiário do Hospital <strong>de</strong> Ipanema. Em 1959 chegou a Santa Catarina. Adotou Florianópoli<strong>se</strong> lá fez sua clínica, recebendo reconhecimento dos pacientes, dos colegas, e do estado como título <strong>de</strong> Cidadão Honorário. Em 1962 ingressou na então Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>Santa Catarina. Foi professor da primeira turma. Em 1966 foi promovido a ProfessorAssistente, e em 1980 foi nomeado após concurso público Professor Titular doDepartamento <strong>de</strong> Clínica Médica. Em 1977 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Te<strong>se</strong> <strong>de</strong> Livre Docência na UFSC -"Efeitos do Preparo para Restossigmoidoscopia sobre a Mucosa Retal". Além <strong>de</strong> Chefe doDepartamento <strong>de</strong> Clínica Médica, coor<strong>de</strong>nou o Mestrado em Medicina Interna. Fez estágio<strong>se</strong>m Charlotesville e Richmond na Virginia, e em Londres, no Royal Free Hospital, no<strong>se</strong>rviço da Profa. Sheila Sherlock. Foi editor dos Arquivos Catarinen<strong>se</strong>s <strong>de</strong> Medicina.Criou e presidiu a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia. Participou com mais <strong>de</strong> 200conferências nos eventos <strong>de</strong> gastroenterologia e hepatologia. Entre 1993 e 1995 foipresi<strong>de</strong>nte da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, levando a Florianópolis o CongressoBrasileiro. Naquele congresso foi lançada a primeira edição do Compêndio <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>do qual foi editor. Foi presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia e coor<strong>de</strong>nouo Fundo <strong>de</strong> Aperfeiçoamento em Gastroenterologia. Participou em capítulos <strong>de</strong> livros epublicações científicas em periódicos nacionais e estrangeiros. Trabalhou, como <strong>se</strong>mpre,até <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 2003, quando complicações agudas <strong>de</strong> uma doença crônica provocaram <strong>se</strong>ufalecimento.


155WALDOMIRO DANTAS03-11-1933 23-12-2003Waldomiro Dantas was born on a farm in Jundiá, Rio <strong>de</strong> Janeiro, but rural impoverishmentbrought his family to Macaé and then Niterói. In 1953, he entered the Faculda<strong>de</strong>Fluminen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina. To support him<strong>se</strong>lf during his studies, he held a number ofdifferent positions, including tho<strong>se</strong> of reporter and clerk. His <strong>de</strong>gree in medicine wasconferred on December 27, 1958, when he was accepted for training at the Hospital <strong>de</strong>Ipanema. He arrived in Santa Catarina in 1959. Having ma<strong>de</strong> Florianópolis his home and<strong>se</strong>t up a practice there, he went on to receive recognition from patients, colleagues and thestate, with the title of Honorary Citizen. In 1962, he joined the Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>Santa Catarina. He taught the first stu<strong>de</strong>nts who were to graduate from the cour<strong>se</strong>. In 1966,he was promoted to assistant professor, and in 1980 he was appointed titular professor ofthe Department of Clinical Medicine after sitting a public examination. In 1977, he<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d his Livre-Docência (professorial habilitation) with the thesis “The Effects ofPreparation for Rectosigmoidoscopy on Rectal Mucosa". In addition to being head of theDepartment of Clinical Medicine, he also coordinated the masters cour<strong>se</strong> in internalmedicine. He trained in Charlottesville and Richmond in Virginia, and in the Royal FreeHospital in London un<strong>de</strong>r Prof. Sheila Sherlock. He was editor of the ArquivosCatarinen<strong>se</strong>s <strong>de</strong> Medicina. He created, and was presi<strong>de</strong>nt of, the Santa Catarina Society ofGastroenterology. He took part in gastroenterology and hepatology events in over 200conferences. He was presi<strong>de</strong>nt of the Brazilian Society of Hepatology between 1993 and1995, and brought the Brazilian Congress of Hepatology to Florianópolis. The first editionof the Compendium of Hepatology, of which he was the editor, was launched at thecongress. He was presi<strong>de</strong>nt of the Brazilian Fe<strong>de</strong>ration of Gastroenterology, andcoordinated the Fund for Advances in Gastroenterology. He contributed to chapters ofbooks and to scientific publications in Brazilian and foreign journals. He worked as usualuntil September, 2003, when he died as a result of acute complications of a chronic di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>.


156Waldomiro Dantas03-11-1933 23-12-2003Autora : Esther Dantas (filha)Waldomiro Dantas nasceu em uma fazenda em Jundiá, entãomunicípio <strong>de</strong> Inadaiassú, hoje Cassimiro <strong>de</strong> Abreu, Rio <strong>de</strong>Janeiro, em 3 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1932. Foi registrado apena<strong>se</strong>m fevereiro <strong>de</strong> 1933.Filho <strong>de</strong> Elesbão Fernan<strong>de</strong>s Dantas e <strong>de</strong> sua <strong>se</strong>gunda esposaMarina Mendonça Dantas, per<strong>de</strong>u a mãe aos 3 anos. Foicriado por irmãs do primeiro casamento, o que fez com quelogo procuras<strong>se</strong> a in<strong>de</strong>pendência.O empobrecimento rural trouxe a família para Macaé e <strong>de</strong>pois Niterói.Formação MédicaEm 1953 ingressou na Faculda<strong>de</strong> Fluminen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina. Para sustentar o<strong>se</strong>studos exerceu várias profissões, entre elas a <strong>de</strong> repórter e <strong>de</strong> escriturário.Colou grau em medicina em 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1958, <strong>se</strong>ndo aceito como estagiáriodo Hospital <strong>de</strong> Ipanema. Seu então preceptor, Estanislau Kaplan falaria sobre ele: "Tenhomuito orgulho <strong>de</strong> ter contribuído para a formação profissional <strong>de</strong> Waldomiro Dantas. Logo<strong>de</strong> início eram evi<strong>de</strong>ntes a sua assiduida<strong>de</strong>, disciplina, <strong>se</strong>rieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicação e profundointeres<strong>se</strong> pela medicina. Suas ob<strong>se</strong>rvações clínicas eram excelentes. Nosso convívio eramutuamente vantajoso, porque Waldomiro era aquele tipo <strong>de</strong> médico jovem que, com suacuriosida<strong>de</strong> e interes<strong>se</strong> estimulava o médico mais velho. Ele também possuía gran<strong>de</strong> visãodo conjunto da medicina interna, com interes<strong>se</strong> em vários temas próprios do internistacomo febre obscura entre outros."Anos <strong>de</strong>pois, já em Santa Catarina, procurou no exterior o aperfeiçoamento, comestágios em Charlotesville e Richmond na Virginia, e em Londres, no Royal Free Hospital,no <strong>se</strong>rviço da Dame Sheila Sherlock.


157Contribuição à Santa CatarinaEm 1959 chegou a SantaCatarina, como Primeiro Tenentedo Corpo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Marinha naEscola <strong>de</strong> Aprendizes emMarinheiros, nos arredores <strong>de</strong>Florianópolis. De residênciainicialmente provisória, adotouFlorianópolis e aqui fez sua clínica,recebendo reconhecimento dos pacientes, dos colegas, e do estado com o Título <strong>de</strong> CidadãoHonorário.Em 1962 ingressou na então Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Santa Catarina, inauguradaem 1960 e <strong>de</strong>pois incorporada à Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, como Instrutor <strong>de</strong>Ensino Superior. Foi professor da primeira turma. Em 1966 foi promovido a ProfessorAssistente, e em 1980 foi nomeado após concurso público Professor Titular doDepartamento <strong>de</strong> Clínica Médica. Em 1977 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Te<strong>se</strong> <strong>de</strong> Livre Docência na UFSC ("Efeitos do Preparo para Restossigmoidoscopia sobre a Mucosa Retal"), recebendo otítulo <strong>de</strong> Doutor em Ciências. Além <strong>de</strong> Chefe do Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica, li<strong>de</strong>rouo movimento <strong>de</strong> criação do Mestrado em Medicina Interna, <strong>se</strong>ndo <strong>se</strong>u coor<strong>de</strong>nador nosdifíceis anos <strong>de</strong> instalação, configurando importante contribuição ao <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento doensino médico no estado.Chefiou os Serviços <strong>de</strong> Gastroenterologia do Hospital <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> da Irmanda<strong>de</strong> doSenhor dos Passos e do Hospital Universitário da UFSC .Na Associação Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina atuou como primeiro <strong>se</strong>cretário (1963-1965), <strong>de</strong>legado efetivo (1966-1991), presi<strong>de</strong>nte do Departamento <strong>de</strong> Clínica Médica(1975-1979) e da Comissão Científica (1979-1985), mas foi como editor dos ArquivosCatarinen<strong>se</strong>s <strong>de</strong> Medicina que prestou significativo <strong>se</strong>rviço à cultura médica do estado,fazendo florescer a revista, primeiro veículo para a divulgação da produção local. Criou epresidiu a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia.


158Con<strong>se</strong>lheiro do Con<strong>se</strong>lhoRegional <strong>de</strong> Medicina do Estado<strong>de</strong> Santa Catarina <strong>de</strong> 1968 a 1978,assumiu a presidência daqueleórgão entre 1970 a 1973, quandoda aquisição da <strong>se</strong><strong>de</strong> própria. Entre1984 e 1989 foi o repre<strong>se</strong>ntantecatarinen<strong>se</strong> no Con<strong>se</strong>lho Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Medicina, tendo participado daelaboração do Código <strong>de</strong> Ética Médica <strong>de</strong> 1988, ainda vigente.Fundou e foi o primeiro presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Catarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> Medicina, em 1996,contribuindo para o culto da iátrica e da história da medicina no estado.Contribuição nacionalParticipou assiduamente na programaçãocientífica <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> gastroenterologia e <strong>de</strong> hepatologia, regionais ounacionais, com mais <strong>de</strong> 200 conferências.Entre 1993 e 1995 foi presi<strong>de</strong>nte da<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>, levando àFlorianópolis o Congresso Brasileiro. Naquele congresso foi lançada a primeira edição doCompendio <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> do qual foi editor, sucesso absoluto <strong>de</strong> vendas, reprisado com a<strong>se</strong>gunda edição.Entre 1998 e 2000 foi presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia ecoor<strong>de</strong>nou o Fundo <strong>de</strong> Aperfeiçoamento em Gastroenterologia.Didata reconhecido, sua contribuição científica principal envolveu conferencias ecapítulos <strong>de</strong> livros, mais significativa que a produção <strong>de</strong> artigos originais em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong>s locais. Assim contribuiu com os principais textos nacionais da especialida<strong>de</strong>,com cerca <strong>de</strong> 39 capítulos, 8 editorias, e 2 monografias, além <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 95 trabalhosoriginais em periódicos nacionais e 6 em periódicos estrangeiros.


159EpílogoExemplo em técnica e ética, austero, fiel, dono <strong>de</strong> um silêncio loquaz, <strong>se</strong> permitiapoucos luxos, incluindo viagens para o interior <strong>de</strong> Portugal e uma casa na beira da Lagoa daConceição, na Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina, on<strong>de</strong> estudava e escrevia nos finais <strong>de</strong> <strong>se</strong>mana.Possuía apenas uma excentricida<strong>de</strong>: não comer arroz.Trabalhou, como <strong>se</strong>mpre, até <strong>se</strong>tembro <strong>de</strong> 2003, quando complicações agudas <strong>de</strong>uma doença crônica provocaram <strong>se</strong>u falecimento em 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003, aos 70 anos.Ficaram sua esposa Fortunata, <strong>se</strong>us quatro filhos Marina, Luiz Fernando, Esther eMarcelo e <strong>se</strong>us quatro muito estimados netos Lucas, Marcela, Catarina e Luna.DEPOIMENTO DE CARLOS SANDOVAL GONÇALVEZDepoimento <strong>de</strong> Carlos Sandoval Gonçalvez, feito em 23 <strong>de</strong> abril<strong>de</strong> 2004, no mesmo dia em que ocorria o velório <strong>de</strong> Luiz Carlosda Costa Gayotto, compadre e gran<strong>de</strong> companheiro <strong>de</strong>Waldomiro Dantas. O <strong>de</strong>poimento foi lido, como uma justaHomenagem ao ex-Presi<strong>de</strong>nte da FBG, durante reunião dasdiversas unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas das <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>s Regionais <strong>de</strong> Gastroenterologia, promovidapela Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia, em são PauloConheci Waldomiro Dantas em Recife, em julho <strong>de</strong> 1969, durante um CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Gastroenterologia, exatamente no dia em que o homem pisou pela primeiravez na Lua. A partir <strong>de</strong> então, e por mais <strong>de</strong> três décadas, ficamos unidos por fraternaamiza<strong>de</strong>. Mais que isto: nossas famílias também ficaram amigas; por duas vezes,Waldomiro e Nata foram a Cachoeiro <strong>de</strong> Itapemirim, minha terra natal, conhecer e visitarmeus pais. Ao longo <strong>de</strong> todos estes anos, além <strong>de</strong> encontros freqüentes em Congressos,estivemos inúmeras vezes juntos, em Florianópolis e em Vitória. Na última visita à Vitória,numa Jornada em agosto <strong>de</strong> 2002, Waldomiro recebeu o título <strong>de</strong> Sócio Honorário <strong>de</strong> nossa<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia, e ele <strong>se</strong> <strong>se</strong>ntiu honrado, quando na verda<strong>de</strong> honradosficamos nós , gastroenterologistas do E. Santo, em tê-lo com membro.Waldomiro Dantas teve uma exemplar carreira <strong>de</strong> médico e <strong>de</strong> professor, e foi umdos mais completos especialistas do país, dominando igualmente muito bem agastroenterologia e a hepatologia. Não foi por acaso que presidiu a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong>


160<strong>Hepatologia</strong> e <strong>de</strong>pois a Fe<strong>de</strong>ração <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Gastroenterologia, repetindo o que fizeraFigueiredo Men<strong>de</strong>s, Pereira Lima, Renato Dani, Luiz Lyra, e o que faria <strong>de</strong>pois HeitorRosa. Jorge Pereira Lima, figura <strong>de</strong> brilhantismo invulgar, faleceu antes <strong>de</strong> <strong>se</strong>u gran<strong>de</strong>amigo Waldomiro, em abril <strong>de</strong> 2003.2003, triste ano para a Gastroenterologia, para a <strong>Hepatologia</strong>, para a Medicina brasileira!Waldomiro Dantas enfrentou uma longa doença com coragem e dignida<strong>de</strong>, mas comresignação e esperança. Durante um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompensação, em 2001, me dizia, aofim <strong>de</strong> uma carta, que “afinal, tenho que agra<strong>de</strong>cer a Deus pelos9 anos <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> manifestações clínicas, e tenho queprocurar forças para enfrentar o futuro”. Mas poucas <strong>se</strong>manas<strong>de</strong>pois, já melhor, me escrevia <strong>de</strong> novo, pedindo que<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ras<strong>se</strong> o pessimismo anterior, e já marcando umencontro para o próximo Curso em Barcelona – on<strong>de</strong> estivemosjuntos , no Curso e num jantar memorável no “7 Puertas”.Durante a sua doença, e durante sua vida, Waldomiro teve umapoio <strong>de</strong>dicado <strong>de</strong> sua família, <strong>de</strong> <strong>se</strong>us filhos e <strong>de</strong> sua mulher.Ele não <strong>se</strong>ria o homem que foi não teria feito o que fez, não fos<strong>se</strong> a pre<strong>se</strong>nça constante e<strong>se</strong>rena <strong>de</strong> Fortunata, admirável figura <strong>de</strong> mulher e companheira. E <strong>de</strong> <strong>se</strong>us filhos Marina,Luiz Fernando, Esther e Marcelo.A mim, a lembrança que fica é a do amigo Waldomiro. Amigo leal, generoso,amigo dos <strong>tempo</strong>s difíceis, e também das horas felizes, como naquela tar<strong>de</strong> em sua casa dalagoa, última vez que lá estive, Waldomiro ainda bem, um bom vinho e uma conversa solta,<strong>de</strong>scontraída, alegre, <strong>se</strong>m lembrar <strong>de</strong> problemas e doenças.O exemplo e a lembrança <strong>de</strong> Waldomiro Dantas persistirão, pois já <strong>se</strong> dis<strong>se</strong> que “ohomem não <strong>se</strong> suprime quando morre, ele <strong>se</strong> confun<strong>de</strong>, ele não <strong>se</strong> per<strong>de</strong>, re-encontra-<strong>se</strong>, e amorte <strong>se</strong> torna uma troca suprema, último dom <strong>de</strong> uma vida cumprida a uma vida que <strong>se</strong>continua”. Busco em “Terre <strong>de</strong>s Hommes” palavras <strong>de</strong> Saint Exupéry sobre Guillomet, quebem <strong>se</strong>rvem a Waldomiro: “um <strong>de</strong>stes <strong>se</strong>res amplos, que aceitam o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> cobrir largoshorizontes com suas folhagens... Porque <strong>se</strong>r homem é precisamente <strong>se</strong>r responsável, é <strong>se</strong>ntirque colocando uma pedra estamos ajudando a construir o mundo”.


161Waldomiro colocou sua pedra, cumpriu sua tarefa, ajudou a construir o mundo. Eeste <strong>se</strong>ntimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido é exatamente o que da à nossa vida e à nossa mortetoda significação que as enobrecem.


162ZILTON ARAÚJO ANDRADE14-05-1924Zilton Andra<strong>de</strong> nasceu na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo Antônio <strong>de</strong> Jesus, Bahia. Foi estudar emSalvador, on<strong>de</strong> concluiu o curso médico em 1950. Na Fundação Gonçalo Muniz, Salvador-BA. (FGM) conviveu com o gran<strong>de</strong> parasitologista Samuel Pessoa, <strong>se</strong>u primeiro preceptorna iniciação científica. Fez residência em anatomia patológica na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tulaneem Nova Orleans nos Estados Unidos. Em 1956, mudou-<strong>se</strong> para a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Ribeirão Preto. Em São Paulo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a sua te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutorado retornando à Bahia paraoutra vez ocupar a patologia do Hospital das Clínicas. Em 1958 iniciou o programa <strong>de</strong>residência médica na Bahia. Surgia o patologista mo<strong>de</strong>rno que raciocinava em conjuntocom a clínica. Em 1959 tornou-<strong>se</strong> livre docente. No período <strong>de</strong> 1960 a 1961 foi para oServiço <strong>de</strong> Anatomia Patológica do Mount Sinai Hospital para um pós-doutorado com oDr. Hans Popper. Em 1974 prestou concurso para professor titular <strong>de</strong> Anatomia Patológicada Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFBA. Suas contribuições na patologia da esquistossomo<strong>se</strong>são excepcionais. Continua per<strong>se</strong>guindo a compreensão dos mecanismos patogênicos dadoença <strong>de</strong> Chagas, da esquistossomo<strong>se</strong> e da fibro<strong>se</strong> hepática em mo<strong>de</strong>los experimentais.Apesar do conhecimento sobre a patogêne<strong>se</strong> das gran<strong>de</strong>s en<strong>de</strong>mias, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a soluçãopara os problemas tropicais é uma socieda<strong>de</strong> mais justa e com oportunida<strong>de</strong>s iguais paratodos os homens. Tem inúmeras publicações <strong>de</strong> artigos em revistas científicas, capítulos <strong>de</strong>livro e orientação <strong>de</strong> dis<strong>se</strong>rtações <strong>de</strong> mestrado e te<strong>se</strong>s <strong>de</strong> doutorado. Foi presi<strong>de</strong>nte daSBH. Nos anos repressivos da ditadura militar, <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> mostrou ao lado dos movimento<strong>se</strong>studantis, do médico e da socieda<strong>de</strong> organizada nas lutas pelas liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas epor uma socieda<strong>de</strong> mais justa. Foi aí também um espelho para os <strong>se</strong>us discípulos.


163ZILTON ARAÚJO ANDRADE14-05-1924Zilton Andra<strong>de</strong> was born in the town of Santo Antônio <strong>de</strong> Jesus, Bahia. He went toSalvador to study, where he graduated in medicine in 1950. In the Fundação GonçaloMuniz (FGM) in Salvador, Bahia, he worked with the great parasitologist Samuel Pessoa,who was his first mentor during his scientific training. He atten<strong>de</strong>d a resi<strong>de</strong>ncy program inanatomical pathology at the University of Tulane, New Orleans, in the United States. In1956, he moved to the Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto. He <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d his doctoral thesis inSão Paulo and returned to Bahia to once again take up a post in pathology at the Hospitaldas Clínicas. In 1958, he started the medical resi<strong>de</strong>ncy program in Bahia. The mo<strong>de</strong>rnpathologist, who combines reasoning with clinical work, was born. In 1959, he became aLivre-Docente (habilitated professor). From 1960 to 1961, he went to the PathologicalAnatomy Service at Mount Sinai Hospital for a post-doctoral program un<strong>de</strong>r Dr. HansPopper. In 1974, he sat a public examination for the position of titular professor ofpathological anatomy in the Faculty of Medicine of UFBA. His contributions to thepathology of schistosomiasis are exceptional. He continues to <strong>se</strong>ek to enhance ourun<strong>de</strong>rstanding of the pathological mechanisms of Chagas’ di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>, schistosomiasis andhepatic fibrosis in experimental mo<strong>de</strong>ls. In spite of his knowledge of the pathogenesis ofmajor en<strong>de</strong>mic di<strong>se</strong>a<strong>se</strong>s, he believes that the solution to tropical problems lies in a fairersociety with equal opportunities for all people. He has had countless papers published inscientific journals, has written chapters of books, and has supervi<strong>se</strong>d masters dis<strong>se</strong>rtationsand doctoral the<strong>se</strong>s. He has been presi<strong>de</strong>nt of the SBH. During the years of repressionun<strong>de</strong>r the military dictatorship, he was always on the si<strong>de</strong> of the stu<strong>de</strong>nt movements,doctors and society in the struggle for <strong>de</strong>mocratic rights and a fairer society. In this regard,he was also like a mirror to his disciples.


164ZILTON ARAÚJO ANDRADE14/05/1924Autores: Raymundo Paraná, Helma Pinchemel Cotrim, Luiz Antônio R <strong>de</strong> Freitas.O Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> nasceu em14/05/1924 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo Antônio<strong>de</strong> Jesus. Seu pai, funcionário públicoestadual, oferecia-lhe uma vida digna,mas mo<strong>de</strong>sta. Na infância mostrouinteres<strong>se</strong> pela leitura, e a preferia emlugar dos folguedos. Sua professora,Áurea Bittencourt, percebeu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedoa sua esperteza e a sua inteligência acima da média.Ao terminar o curso primário, a Profa. Áurea procurou o Sr. Flávio, pai do Prof.Zilton e insistiu para que ele vies<strong>se</strong> estudar em Salvador, pois <strong>se</strong>gundo ela, permanecernum cida<strong>de</strong> pequena era consi<strong>de</strong>rado um <strong>de</strong>sperdício diante da inteligência do Prof. Zilton.Como educadora, a Prof.a Áurea previa o futuro brilhante <strong>de</strong>s<strong>se</strong> aluno.O Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> veio para Salvador para o tradicional Colégio Ipiranga nocentro da cida<strong>de</strong>. Posteriormente cursou o antigo curso científico no Colégio da Bahia, amais tradicional e eficiente instituição pública <strong>de</strong> ensino médio na época. A sua inclinaçãopela leitura nunca sofreu solução <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> cedo, mostrou interes<strong>se</strong> pelasciências biológicas e <strong>de</strong>dicou parte da sua ávida leitura a biografia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cientistas.Entusiasmou-<strong>se</strong> com a leitura do livro “Caçadores <strong>de</strong> Micróbio” <strong>de</strong> Paul <strong>de</strong> Cruiff queconta as façanhas dos cientistas na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> agentes biológicos <strong>de</strong> doenças humanas.O conteúdo das suas leituras já <strong>de</strong>nunciava o pesquisador emergente.Ao entrar na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong>parou-<strong>se</strong> com uma escola tradicional,contudo muito teórica, qua<strong>se</strong> <strong>se</strong>m ativida<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong> pesquisa. Naquela época, <strong>se</strong>guindoo mo<strong>de</strong>lo do Instituto Oswaldo Cruz do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Dr. Otávio Mangabeira Filho criouem Salvador o Instituto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, posteriormente chamado <strong>de</strong> Fundação GonçaloMuniz. Neste momento, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> via uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter um campo <strong>de</strong>


165prática naquela instituição ao fazer concurso para Técnico <strong>de</strong> Laboratório e assim obter o<strong>se</strong>u primeiro emprego. O emprego no instituto propiciou ao Prof. Zilton o convívio comimportantes cientistas brasileiros. Em 1949 conheceu o gran<strong>de</strong> Pasitologista Prof. SamuelPessoa. Naquele momento, Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> percebeu a importância do cientista nasocieda<strong>de</strong> e reforçou a sua visão global <strong>de</strong> homem preconizando à ciência voltada para obenefício do povo e para os problemas sociais.O Dr. Samuel Pessoa foi o <strong>se</strong>u primeiro preceptor na iniciação científica, quandoestudaram juntos a ocorrência <strong>de</strong> filario<strong>se</strong> em Salvador e publicaram o primeiro trabalho.Trabalharam em Pedra Furada, uma remota região da Penisula Itapagipana.O Prof. Samuel Pessoa<strong>de</strong>ve ter sido tãoimportante na vida doProf. Zilton quanto eletem sido nas nossasvidas, pois além <strong>de</strong>nosso professor nagradução e na pósgraduação, o Prof Ziltoncontinua nossoorientador e consultor científico. Diante <strong>de</strong> um mestre nunca nos <strong>se</strong>ntimos maduros e esta éa nossa posição <strong>de</strong> reverência ao Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> até a atualida<strong>de</strong>.Neste momento em diante o Prof. Zilton <strong>de</strong>dicou-<strong>se</strong> aos estudos das doenças queatingiam a faixa mais pobre na nossa população. Seu estudo in<strong>de</strong>pendia das suas crençasreligiosas ou i<strong>de</strong>ológicas mais <strong>de</strong>monstrava sua forte preocupação pelo social e <strong>se</strong>uinteres<strong>se</strong> por uma ciência <strong>de</strong>mocrática cujo retorno ao bem estar da população fos<strong>se</strong> oprincipal objetivo. Ainda na Fundação Gonçalo Muniz o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> encantou-<strong>se</strong>pela Anatomia Patológica.Naquela época, o ensino <strong>de</strong> anatomia patológica na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina estavaainda ba<strong>se</strong>ado no campo teórico com poucas ativida<strong>de</strong>s práticas. Ainda estudante, o Prof.Zilton trabalhou com o Prof. Paulo Daccorso Filho, vindo do Rio <strong>de</strong> Janeiro e encantou-<strong>se</strong>ainda mais pela patologia. Quando o Prof. Daccorso retornou, Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> ficou


166responsável pelo Laboratório <strong>de</strong> Patologia e logo começou a ter os <strong>se</strong>us primeiros alunos .Dentre os <strong>se</strong>us alunos mais <strong>de</strong>stacados encontravam-<strong>se</strong> a Dra. Sônia Andra<strong>de</strong> que maistar<strong>de</strong> tornou-<strong>se</strong> a sua esposa e companheira. Estavam também o Prof. Sérgio Santana,patologista, posteriormente <strong>se</strong> tornou o <strong>se</strong>u parceiro no Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica doHospital das Clínicas.Concluio o curso médico em1950, e foi através do Prof.Daccorso e do Prof. MangabeiraFilho que o Prof. ZiltonAndra<strong>de</strong> resolveu fazerResidência em AnatomiaPatológica na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Tulane em New Orleans nosEstados Unidos. Ao voltar àBahia encontrou o Instituto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública em situação precária e com dis<strong>se</strong>nçõesinternas. Estes entraves não foram suficientes para barrar a trajetória brilhante do Prof.Zilton Andra<strong>de</strong>. Fiel ao <strong>se</strong>u i<strong>de</strong>al, trabalhou algum <strong>tempo</strong> no Hospital das Clínicas emconjunto com Profs. Clarival Valadres, Jorge Studart, Silvany Filho e Sérgio Santana.Neste período, foi estruturado o Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ralda Bahia que posteriormente <strong>se</strong> tornou um Centro <strong>de</strong> Referência brasileiro em PatologiaHumana.Em 1956, mudou-<strong>se</strong> para a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto. Lá, qua<strong>se</strong> a Bahia oper<strong>de</strong>u para <strong>se</strong>mpre. Foi em São Paulo que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a sua te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutorado e a convite doProf. Edgar Santos voltou a Bahia para outra vez ocupar a Patologia do Hospital dasClínicas.Como Professor <strong>de</strong> instituição pública mereceu o reconhecimento <strong>de</strong> todos comoum homem <strong>de</strong>dicado ao <strong>se</strong>rviço público, cumpridor dos <strong>de</strong>veres e comprometido com amelhoria da instituição. Sempre trabalhou em regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação exclusiva a universida<strong>de</strong>e à ciência.Em 1958iniciou o <strong>se</strong>u programa <strong>de</strong> residência médica na Bahia e neste momento o<strong>se</strong>rviço <strong>de</strong> anatomia patológica do Hospital das Clínicas <strong>se</strong> <strong>de</strong>stacou ao receber patologistas


167<strong>de</strong> diversas regiões do País. A existência <strong>de</strong> uma rotina na anatomia patológica, aliado aprática <strong>de</strong> necrópsias completas <strong>de</strong> qua<strong>se</strong> 100% dos casos <strong>de</strong> óbitos, das <strong>se</strong>ssões anátomoclínica<strong>se</strong> das <strong>se</strong>ssões <strong>de</strong> óbito, trouxe o início <strong>de</strong> duas décadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> conhecimento dapatologia brasileira.O Programa <strong>de</strong> Residência Médica em Anatomia Patológica consolidou-<strong>se</strong>rapidamente e a Escola <strong>de</strong> Patologia da Bahia ganhou notorieda<strong>de</strong> nacional e internacional.Dentre os gran<strong>de</strong>s méritos do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> está a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rar a suaequipe competente e produtiva e introduzir o novo conceito da anatomia patológica naBahia e no Brasil. Foi pelas mãos do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> que a patologia tornou-<strong>se</strong> umaespecialida<strong>de</strong> dinâmica e interativa com as outras especialida<strong>de</strong>s, principalmente com aMedicina Tropical e a <strong>Hepatologia</strong>. A patologia não mais <strong>se</strong> restringia ao porão dasnecrópsias ou a minúscula sala <strong>de</strong> microscopia e passou também a freqüentar a<strong>se</strong>nfermarias do Hospital Universitário.Surgia então o patologista mo<strong>de</strong>rno, aquele que raciocinava em conjunto com aClínica e que interpretava os achados anátomo-patológicos à luz da patogenê<strong>se</strong>s dasdoenças.Este aspecto fomentou o crescimento científico pelo interes<strong>se</strong> na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>novos mecanismos patogênicos das doenças mais comuns que atingiam a população pobreno nosso Estado. Daí em diante, a patologia baiana floresceu com li<strong>de</strong>rança para todo oPaís.O resultado disso é que a imensa maioria dospatologistas que hoje trabalham em instituições públicas eprivadas do Estado e muitos fora do Estado da Bahia foramalunos do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> ou alunos dos <strong>se</strong>us alunos.No período <strong>de</strong> 1960 a 1961 o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> foi paraNova York, Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica do MountSinai Hospital para um pós-doutorado com o Dr. HansPopper. Todos os hepatologistas tem conhecimento que oProf. Popper foi uma das figuras mais importantes para o<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da patologia hepática no mundo.


168Ao retornar <strong>de</strong> Nova York, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> estava ainda mais capacitado nainterpretação das biópsias hepáticas, fato que <strong>se</strong> tornou fundamental para o<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento da hepatologia baiana, hoje consolidada com gran<strong>de</strong> contribuição naliteratura médica brasileira e mundial.Como orientador nato, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> <strong>se</strong>mpre incentivou a pós-graduação ea publicação dos diversos artigos do nosso grupo. Até hoje, temos a nossa <strong>se</strong>ssão anátomoclínica<strong>de</strong> fígado às quartas-feiras no Auditório da Fundação Oswaldo Cruz <strong>de</strong> Salvadoron<strong>de</strong> ainda po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>sfrutar o prazer do aprendizado da patologia hepática com o Prof.Zilton Andra<strong>de</strong>. Temos ainda o prazer <strong>de</strong> ob<strong>se</strong>rvar o <strong>se</strong>u Laboratório <strong>de</strong> PatologiaExperimental repleto <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> graduação e pós-graduação todos satisfeitos pelacontinuada <strong>de</strong>dicação do Prof. Zilton aos <strong>se</strong>us discípulos.Em 1959 o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> tornou-<strong>se</strong> Livre Docente. Des<strong>de</strong> já <strong>se</strong> mostrava<strong>de</strong>fensor do trinômio ensino, pesquisa e extensão. Em 1974 prestou concurso para Prof.Titular <strong>de</strong> Anatomia Patológica da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da UFBA. Des<strong>de</strong> então,estruturou um curso que há mais <strong>de</strong> 30 anos é consi<strong>de</strong>rado pelos estudantes <strong>de</strong> Medicinacomo curso mais bem estruturado da gra<strong>de</strong> curricular.Des<strong>de</strong> cedo, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> já previa o que hoje as escolas médicas estão<strong>de</strong>scobrindo. O aluno <strong>de</strong>ve <strong>se</strong>r participativo no processo <strong>de</strong> aprendizado. Isto <strong>se</strong> resume noapren<strong>de</strong>r o que <strong>se</strong> precisa para a sua prática. Esta tarefa tornava-<strong>se</strong> fácil nas mãos do Prof.Zilton Andra<strong>de</strong> cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar o complexo no simples, <strong>de</strong> transmitir osconceitos com clareza era reconhecido por todos.Movido por uma verda<strong>de</strong>ira saga científica, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> iniciou umacarreira <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s publicações nacionais e internacionais. A época em que esteve à frenteno Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica, explorou <strong>de</strong> forma competente o material que lhechegava às mãos. Dele resultou um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> publicações relacionados à patologia<strong>de</strong> Esquistossomo<strong>se</strong>, Doença <strong>de</strong> Chagas, Leishimanio<strong>se</strong> Humana e Hepatites Virais.Naquela época os dados da literatura nes<strong>se</strong>s assuntos eram carentes. Es<strong>se</strong> aspectoincentivou o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> na procura <strong>de</strong> novas respostas mesmo quando o assuntoparecia esgotado.Foi através do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> que foram introduzidas em nosso meio váriastécnicas especiais <strong>de</strong> coloração histopatológicas, a imunofluorescência, a histoquímica e a


169microscopia eletrônica. Suas contribuições na patologia da esquistossomo<strong>se</strong> sãoexcepcionais. Seus estudos sobre Doença <strong>de</strong> Chagas permitiram a compreensão dasarritmias cardíacas nesta doença. Suas contribuições na patologia hepática permitiram o<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento <strong>de</strong> uma clínica forte na área <strong>de</strong> hepatologia na Bahia, principalmente nocampo das Hepatites Virais.O Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> publicou em várias outras áreas. As primeiras referênciassobre Pneumonite no Calazar surgiram a partir do <strong>se</strong>u trabalho. Foi através do Prof. ZiltonAndra<strong>de</strong> que já chamou a atenção a respeito das lesões cutâneas da Leischmanio<strong>se</strong> <strong>se</strong>remresultado <strong>de</strong> mecanismo <strong>de</strong> hiper<strong>se</strong>nsibilida<strong>de</strong> do Hospe<strong>de</strong>iro.O estudo da patologia humana levou o Prof. Zilton a iniciar incursões <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<strong>se</strong>xperimentais <strong>de</strong> doenças humanas. Hoje continua per<strong>se</strong>guindo a compreensão dosmecanismos patogênicos da Doença <strong>de</strong> Chagas, da Esquistossomo<strong>se</strong> e da Fibro<strong>se</strong> do Fígadoem mo<strong>de</strong>los experimentais no <strong>se</strong>u produtivo Laboratório <strong>de</strong> Pesquisa no Centro <strong>de</strong> PesquisaGonçalo Muniz da Fundação Oswaldo Cruz.Como cidadão <strong>de</strong>dicado ao <strong>se</strong>u povo, no auge da sua carreira, o Prof. ZiltonAndra<strong>de</strong> nunca <strong>se</strong> afastou dos <strong>se</strong>us conceitos sobre a socieda<strong>de</strong> brasileira. Apesar doconhecimento crescente sobre a patogêne<strong>se</strong> das nossas gran<strong>de</strong>s en<strong>de</strong>mias, <strong>de</strong>fendia ele quea solução para os problemas tropicais, mormente das infecções parasitárias <strong>se</strong>ria umasocieda<strong>de</strong> mais justa e as oportunida<strong>de</strong>s iguais para todos os homens, fato que <strong>se</strong> reverteriada melhoria das condições <strong>de</strong> vida da população brasileira.Além das suas 250 publicações <strong>de</strong> artigos em revistas científicas, escreveu 32capítulos <strong>de</strong> livro, editou um livro, orientou muitas dis<strong>se</strong>rtações <strong>de</strong> Mestrado e te<strong>se</strong>s <strong>de</strong>Doutorado. Ao longo da sua vida foi chefe do Serviço <strong>de</strong> Anatomia Patológica do HUPES,do Departamento <strong>de</strong> Anatomia Patológica <strong>de</strong> Medicina Legal da UFBA, Diretor doCPqGM da Fiocruz e Chefe atual do Laboratório <strong>de</strong> Patologia Experimental no Centro <strong>de</strong>Pesquisa Gonçalo Muniz, FIOCRUZ-BA.O Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> foi consultor da OMS fazendo parte <strong>de</strong> Comitês Experto daCAPES e do CNPq. Es<strong>se</strong>s dois últimos ele mantématé os dias atuais.


170O Prof. Zilton foi Presi<strong>de</strong>nte da<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Patologia,<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> MedicinaTropical e da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>Latinoamericana <strong>de</strong> Patologia. FoiCon<strong>se</strong>lheiro do CREMEB e éMembro da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Medicinada Bahia.Nosso Professor foi agraciado com vários prêmios <strong>de</strong> honrarias <strong>de</strong>stacando-<strong>se</strong> oprêmio Alfred Jurzykowski da Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Medicina, prêmio nacional <strong>de</strong>Ciência e Tecnologia do CNPq, or<strong>de</strong>m do mérito científico pela Presidência da República emuitos outros.Nos anos repressivos da ditadura militar, Prof. Zilton <strong>se</strong>mpre <strong>se</strong> mostrou ao lado dosmovimentos estudantis, do médico e da socieda<strong>de</strong> organizada nas lutas pelas liberda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>mocráticas e por uma socieda<strong>de</strong> mais justa. Foi aí também o espelho para os <strong>se</strong>usdiscípulos.Juntamente com a Dr.a Sônia Andra<strong>de</strong> , sua companheira por mais <strong>de</strong> 20 anos,li<strong>de</strong>rou o Curso <strong>de</strong> Pós-graduação e Patologia na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia. O objetivodo curso foi formar professores-pesquisadores e pesquisadores lí<strong>de</strong>res. Não haviadoutorado e as dis<strong>se</strong>rtações <strong>de</strong> Mestrado foram trabalhos <strong>de</strong> pesquisa original que hoje<strong>se</strong>riam facilmente reconhecidas como te<strong>se</strong> <strong>de</strong> doutorado.O curso <strong>de</strong> patologia da Bahia alcança hoje dimensão nacional graças ao trabalho doProf. Zilton e da Prof.a Sônia Andra<strong>de</strong>. Para cá vieram patologistas <strong>de</strong> vários Estados doBrasil. Os resultados <strong>de</strong>s<strong>se</strong> curso da avaliação atual são altamente favoráveis. Patologistasformados na Bahia são hoje professores em várias escolas médicas do Norte e do Sul doPaís. Muitos são pesquisadores ilustres <strong>de</strong> Instituto <strong>de</strong> Pesquisa como a Fiocruz do Rio <strong>de</strong>Janeiro. Na Bahia, as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> patologias das duas escolas médicas mais tradicionais temcomo Professores Titulares <strong>se</strong>us ex-alunos : Prof. Manoel Barral Neto da UFBA eMitermayer Galvão dos Reis e Bernardo Galvão da Escola Bahiana <strong>de</strong> Medicina.


171As <strong>se</strong>mentes plantadas do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> floresceram, <strong>de</strong>ram frutos,garantiram a continuida<strong>de</strong> do mestre através <strong>de</strong> cada um dos <strong>se</strong>us discípulos e dosdiscípulos <strong>de</strong> <strong>se</strong>us discípulos. Todos nós temos um pouco do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> nasnossas veias. O Prof. Zilton <strong>se</strong> imortalizou através dos <strong>se</strong>us alunos e discípulos.Em 1984, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong>, ao apo<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> da UFBA, assumiu a Direção noCentro <strong>de</strong> Pesquisa Gonçalo Muniz na Fiocruz. Neste momento, firmou convênio com aUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia que possibilitou a transferência o curso <strong>de</strong> patologia humanada UFBA para o Centro <strong>de</strong> Pesquisa Gonçalo Muniz, fato que incentivou ainda mais o<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento científico da Bahia.O Centro Gonçalo Muniz cresceu muito e <strong>se</strong> tornou o marco referencial naformação <strong>de</strong> pesquisadores no País. O curso foi consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> elevado conceito pelaCapes e possibilitou que muitos <strong>de</strong> <strong>se</strong>us alunos passas<strong>se</strong>m por período <strong>de</strong> formação noExterior intensificando cada vez mais intercâmbios científicos.Apo<strong>se</strong>ntado da UFBA e do CPqGM por força da Lei que obriga apo<strong>se</strong>ntadoriacompulsória <strong>de</strong> 70 anos, o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> continua pesquisando, ensinando epublicando. Para todos nós, <strong>se</strong>us alunos e discípulos, é motivo <strong>de</strong> orgulho vê-lo,acompanhado da Prof.a Sônia Andra<strong>de</strong>, chegar todos os dias às 08:00hs da manhã e sópartir as 18:00 hs. Mantêm-<strong>se</strong> atualizado, participa das <strong>de</strong>cisões importantes dando suasopiniões centradas e equilibradas e li<strong>de</strong>ra o nosso grupo <strong>de</strong> estudo em doenças do fígadorecentemente reconhecido como grupo <strong>de</strong> excelência no Brasil, através do financiamentoPRONEX, do CNPq e da FAPESB.Na li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>ste grupo o Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> continua nos ensinando, no<strong>se</strong>stimulando a produzir cientificamente. O resultado disso são as diversas publicações naliteratura médica internacional que faz o nosso grupo um dos mais produtivos no País naárea <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>.Percebemos aí a perspicácia da inclinação científica do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong>.Sempre aberto, passou a conhecer os novos conceitos da patologia hepática principalmenteadquiridos nos últimos anos no campo das hepatites virais. Mostrou-<strong>se</strong> aberto para melhorcompreen<strong>de</strong>r a nova doença Esteato-Hepatite Não Alcoólica e hoje nos ajuda a interpretaros nossos achados anátomo-patológicos nesta importante en<strong>de</strong>mia.


172Por tudo isso nós, <strong>se</strong>us discípulos, consi<strong>de</strong>ramos Prof. Zilton uma figura humanaparticular, um exemplo que norteou as nossas vidas científicas.É um homem gentil, polido,atencioso e nem por isso <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>se</strong>r austero. Além disso, tem uma cultura humanísticaformidável e é apaixonado por história e por assuntos variados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> política até as artes.Trata-<strong>se</strong> também <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong>dicado a sua família e a sua companheira <strong>de</strong>longa data, Prof.a Sônia Andra<strong>de</strong>. Sua relação com a Prof.a Sônia <strong>se</strong> torna também mo<strong>de</strong>lopara todos nós chefes <strong>de</strong> família.O Prof. Zilton jamais interferiu na carreira da Prof.a Sônia que, além <strong>de</strong> exemplaresposa e mãe, é Professora e Pesquisadora produtiva com gran<strong>de</strong> contribuição acompreensão da patologia das doenças tropicais, principalmente das Doenças <strong>de</strong> Chagas.O Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> e a Prof.a Sônia Andra<strong>de</strong> tiveram 6 filhos. A vida lhesre<strong>se</strong>rvou adversida<strong>de</strong>s e gran<strong>de</strong>s sofrimentos, mas também lhes trouxe gran<strong>de</strong>s alegrias queajudaram a manter a altivez e a continuida<strong>de</strong> da per<strong>se</strong>guição <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al que formaramjuntos.Somos <strong>se</strong>us discípulos e mais do que isso <strong>se</strong>us admiradores e até hoje po<strong>de</strong>mos dizerque somos os <strong>se</strong>us eternos orientandos.Exemplos como do Prof. Zilton Andra<strong>de</strong> infelizmente são raros no Brasil. Por issonos <strong>se</strong>ntimos honrados em <strong>de</strong>sfrutar do privilégio do convívio com o nosso mestre amigo.Nesta oportunida<strong>de</strong>, agra<strong>de</strong>cemos a <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> pelo justo espaço<strong>de</strong>dicado a homenagem <strong>de</strong>ste gran<strong>de</strong> Professor e Pesquisador brasileiro.

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