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O CARANGUEJO UCA (CRUSTACEA: DECAPODA) CHAMA ... - USP

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O <strong>CARANGUEJO</strong> <strong>UCA</strong> (<strong>CRUSTACEA</strong>: <strong>DECAPODA</strong>)<strong>CHAMA</strong>-MARÉ OU <strong>CHAMA</strong>-MULHER?Pedro A. P. Rodrigues, Clarissa Barbosa-Oliveira, Julia Stuart & Renê A. RochaINTRODUÇÃOA seleção de caracteres diretamente relacionadosao sucesso reprodutivo dos indivíduos édenominada seleção sexual e foi descrita pelaprimeira vez por Darwin (1871). Dois processosestão relacionados a esse tipo de seleção: (a) seleçãointra-sexual, na qual ocorre competição entreindivíduos do mesmo sexo pela obtenção de cópulaspor meio de combates ou territorialidade; (b) seleçãointer-sexual, na qual há favorecimento em um dossexos de caracteres morfológicos relacionados àatração de indivíduos do sexo oposto (Andersson1994).Machos de caranguejos do gênero Uca apresentamuma quela hipertrofiada (Borges et al. 2007) que éutilizada em brigas entre machos e em exibiçõespara a fêmea (Pope 2000). Os machos utilizam aquela maior na exibição de diferentescomportamentos, um deles denominado chamamaré,que corresponde à repetição de ummovimento circular ascendente e descendente destaquela na frente do corpo. Ruppert & Barnes (1996)sugerem que o movimento chama-maré estárelacionado com a atração de fêmeas receptivas.Nossos objetivos neste trabalho foram: (a)descrever os diferentes comportamentos exibidospor machos de Uca sp. interagindo com fêmeas ecom outros machos e (b) identificar em que situaçãoo movimento chama-maré é utilizado. Em relaçãoao segundo ponto, nossa hipótese é que omovimento chama-maré está relacionado comcorte e, portanto, deva ser realizado somente napresença de fêmeas.os caranguejos estavam ativos (10:00 às 12:00 h).Descrevemos os diferentes comportamentosobservados e registramos a freqüência apenas daocorrência do movimento chama-maré (de agoraem diante referido como Ch), de acordo com apresença ou a ausência da fêmea. Só consideramosa fêmea presente quando ela estava na frente domacho e a uma distância de até 15 cm.RESULTADOSOs machos realizaram Ch 30 vezes quando haviafêmeas em seu campo visual e apenas duas quandonão havia. Além de Ch, observamos outros setecomportamentos em machos nas interações commachos e fêmeas (Figura 1). Observamos por duasvezes machos que estavam em Luta mudarem decomportamento na presença de fêmeas: elesinterrompiam suas lutas e passavam a executarCh.Chama-maré (Ch): movimento circular ascendente edescendente da quela maior na frente do corpo. Exibidoem interações macho-fêmea e macho-macho.MATERIAIS & MÉTODOSRealizamos o estudo no manguezal do Rio Perequê,ao norte do Parque Estadual da Ilha do Cardoso,município de Cananéia, litoral sul do estado de SãoPaulo (25º10’S, 47º59’O). Observamos e filmamosos caranguejos em uma área de alta densidade deUca sp., durante a maré baixa. Analisamos um totalde 35 min de filmes gravados pela manhã, enquantoAbanar: movimento lateral repetitivo da quela maior.Exibido apenas em interações macho-macho.1


Emparelhar quelas: um macho encosta sua quela maiorna quela maior de outro macho. Exibido apenas eminterações macho-macho.Luta: pinçamento entre duas quelas maiores. Exibidoapenas em interações macho-macho.Cercar indivíduo: estender a quela maior em direção aoutro caranguejo e girar seu corpo acompanhando odeslocamento do outro indivíduo. Exibido apenas eminterações macho-fêmea.Figura 1. 1 Comportamentos observados em interaçõesde Uca sp. Caranguejos com olhos pedunculadosrepresentam vista frontal dos indivíduos, enquantocaranguejos marcados com pontos brancos na carapaçaProteção de território: um macho se interpõe entre suatoca e um indivíduo impedindo com a quela maior oacesso do intruso à toca. Exibido em interações machofêmeae macho-macho.Finçada rápida: a extensão rápida da quela maior emdireção a outro indivíduo. Exibido apenas em interaçõesmacho-macho.Ch + Pinçada rápida: realização de Ch antes ou depoisda Pinçada rápida. Exibido apenas em interações machofêmea.DISCUSSÃOComo Ch ocorreu com maior freqüência eminterações entre machos e fêmeas, estecomportamento deve estar associado ao cortejo,como sugerido por Borges et al. (2007) e Ruppert& Barnes (1996). Se Ch realmente esteja envolvidocom a corte, este comportamento deve envolveralgum custo energético, caso contrário os machosdeveriam executá-lo constantemente para atrairo maior número de fêmeas. A mudança decomportamento de luta para Ch observada emcampo pode ser outra evidência de que Ch estejaenvolvido na corte, indicando também que é maisvantajoso executar o Ch do que lutar quandofêmeas são avistadas. Em condições controladas,Pope (2000) encontrou que o comportamento Ché exibido em maior freqüência na presença defêmeas do que na presença de machos, o quereforça a idéia de que Ch está relacionado aocomportamento de corte. Por outro lado, há duaspossibilidades para ocorrência de Ch na ausênciade fêmeas próximas das tocas dos machos: (a) adetecção de fêmeas pelos machos pode ocorrer auma distância maior do que a utilizamos (15 cm)ou (b) os machos realizariam Ch para intimidaroutros machos que se aproximem das suas tocas(Crane 1975).Alguns dos outros comportamentos observados,como Abanar, Luta e Proteção de território, são2


exclusivos de interação macho-macho. Como jáobservado por Borges et al. (2007), em Uca sp. aquela maior está envolvida também em disputasentre machos. É possível que machos maiorestenham melhor desempenho em interaçõesagonísticas com outros machos e que, portanto, otamanho da quela maior também esteja sujeito àseleção intra-sexual.Concluímos, portanto, que as fêmeas são umestímulo visual importante para a exibição de Chem Uca sp. Este comportamento deve ter sido coselecionadocom o aumento de uma das quelas, poisquelas grandes podem ser vantajosas tanto paraseleção inter-sexual (quelas maiores facilitam avisualização do Ch pela fêmea) quanto para intrasexual(quelas maiores são vantajosas em lutas).Pope D. 2000. Testing function of fiddler crab clawwaving by manipulating social kicontext.Behavioral Ecology and Sociobiology 47: 432-427.Ruppert E.E. & Barnes R.D. 1996. Invertebratezoology. Saunders College Publishing, FortWorth.Orientador: Marco Aurélio R. MelloAGRADECIMENTOSGostaríamos de agradecer a Marco Aurélio Mellopela orientação, a Camila Castanho pela ajuda emcampo e na análise dos vídeos e a Gustavo Requena(Billy Rubina) por fornecer parte de bibliografia.Agradecemos também a todos os professores,revisores, e colegas do Curso de Campo Ecologiada Mata Atlântica pelas discussões sobre o tema eaos cursos de Pós-Graduação em Ecologia daUniversidade Estadual de Campinas e daUniversidade de São Paulo pelo financiamento docurso.REFERÊNCIASAndersson, M. 1994. Sexual selection. PrincetonUniversity Press, New York.Borges A., Menezes C., Pinto L.P. & Vettorazzo V.2007. Seleção sexual no tamanho da quela dochama-maré Uca sp. (Crustacea: Decapoda).Prática de Pesquisa em Ecologia da MataAtlântica. Em: Livro do Curso de Campo“Ecologia da Mata Atlântica 2007” (G. Machado,P.I.K. Prado & A.A. Oliveira eds.). Disponívelem: .Crane J. 1975. Fiddler crabs of the world(Ocypodidae: genus Uca). Princeton UniversityPress, Princeton.Darwin C. 1871. The descent of man and selectionin relation to sex. John Murray, London.Genoni G.P. 1985. Food limitation in salt marshfiddler crabs Uca rapax (Smith) (Decapoda:Ocypodidae). Journal of Experimental MarineBiology and Ecology 87: 97-110.3

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