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REVISTA DE ARQUEOLOGIA - leiaufsc

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42INTRODUÇÃOEntre 1965 e 1970, Eurico T. Miller realizouprospecções na região do nordeste do RioGrande do Sul, enquanto integrante do ProgramaNacional de Pesquisas Arqueológicas (PRO-NAPA), tendo levantado na ocasião mais de 300sítios arqueológicos entre abrigos sob rocha,sítios a céu aberto, casas subterrâneas e sambaquis(Miller, 1967, 1974). Ao sistematizar osachados realizados no vale do rio Maquiné,Miller definiu a fase Humaitá a partir de doissítios “caracterizados por artefatos líticos lascadospor percussão e confeccionados a partir delascões destacados de grandes blocos de basalto,conservando grandes porções da crosta natural(...). Os sítios localizam-se acima de 700 mde altitude, nos patamares arredondados daencosta do planalto, próximos a sangas e juntoa grandes blocos de basalto”. Quanto aos artefatos,Miller enfatiza que “estão, em grande parte,trabalhados na face externa de lascões e quaseirreconhecíveis pelo efeito da decomposição.Os talhadores (“choppers”) e os lascões discoidaisunifaciais grandes, representam mais de50% dos artefatos”, estando também presentesnumerosas lascas (Miller, 1967:17-18).Partindo destes parâmetros estabelecidospor Miller nos anos iniciais do PRONAPA, ossítios líticos identificados no sul do Brasil nasúltimas quatro décadas vêm sendo classificadosem duas tradições tecnológicas. No entanto,ao analisar através de uma perspectiva sistêmicaas indústrias líticas aferidas à TradiçãoHumaitá, percebe-se que sua variabilidadeestá relacionada a diferentes estratégias deuso de um espaço regional que foi compartilhadoao longo do Holoceno por distintas sociedadescaçadoras coletoras e agricultoras. Aanálise crítica dos contextos regionais, cronológicose tecnológicos relacionados a estesconjuntos líticos revela uma realidade complexaque transcende a tipologia dos artefatos.O conceito de Tradição tecnológica, tal comoempregado neste caso, simplifica o entendimentodo significado da variabilidade artefatual,devendo esta problemática ser revistaatravés de perspectivas teórico-metodológicasde natureza contextual.O CONTEXTO DO PROBLEMAOs conceitos de Tradição e fase foram asferramentas metodológicas utilizadas pelasprimeiras gerações de arqueólogos brasileirosvinculados ao PRONAPA para propor umesquema preliminar do desenvolvimentohistórico-cultural da ocupação pré-colonialbrasileira. O PRONAPA consistia em um desdobramentopara o território nacional daspesquisas de Betty Meggers e Clifford Evansquanto às rotas de migração e difusão culturalrelacionadas à origem da agricultura e dacerâmica nas Terras Baixas da América doSul. Seguindo uma perspectiva histórico-cultural,sequências seriadas semelhantes parauma mesma região foram reunidas em fasesque, por sua vez, formavam Tradições, conceitosque expressariam os ritmos da distribuiçãoespaço-temporal da cultura materialde distintos grupos pré-históricos identificadosa partir das atividades do Programa.No entanto, no contexto histórico das pesquisasarqueológicas brasileiras, a aplicabilidadedos conceitos de fase e Tradição sofreucom a “tradução”, perdendo as conotaçõesoriginalmente utilizadas na arqueologia americana(Willey & Phillips, 1958). De acordocom Dias (2007a), a falta de reflexão teórica naarqueologia brasileira na década de 1960abriu margem para a consolidação de umavisão míope quanto à amplitude destes conceitos,estruturalmente limitada ao nível descritivode análise. No Brasil a definição de fasesdesconsiderou sua premissa subjacente,relacionada à comparação de aspectos cronológicose contextuais do registro arqueológicoque deveria orientar sua integração em umaTradição. Por sua vez, as Tradições passarama assumir conotações distintas da enfatizadaAdriana Schmidt Dias e Sirlei Elaine Hoeltz

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