Abraçando a tradiçãoEm 1961 vem para <strong>Vila</strong> <strong>Franca</strong> <strong>de</strong> <strong>Xira</strong> trabalhar para Inácio Mariada Costa, na rua Almirante Cândido dos Reis. Com o rosto visível <strong>de</strong>um orgulho passado, conta que veio “tomar conta <strong>de</strong> 22 mulheres”.Confessa que foi exigente com as costureiras, pois reconhece que émeticuloso, “ser alfaiate é uma segunda pele que se veste”, justifica.Sabendo talhar, cortar e executar qualquer peça e com toda a experiênciaacumulada foi tempo <strong>de</strong> estabelecer-se por conta própria.Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1972 abriu a Alfaiataria Palha. Nesse mesmo dia“tirei vinte e tal medidas!”. Além do habitual paletó e outras peças <strong>de</strong>cerimónia, abraçou a tradição do Concelho e passou a <strong>de</strong>dicar-se àsindumentárias típicas, nomeadamente trajes <strong>de</strong> equitação e <strong>de</strong> campino.Explica que o primeiro <strong>de</strong>morava entre cinco a seis dias a fazer,sendo mais caro do que o <strong>de</strong> campino. Geometricamente cortada, ounão fossem o esquadro, a régua (ainda do tempo do pai) e a fita métrica,algumas das principais ferramentas <strong>de</strong> trabalho, a acolchoadajaqueta era porventura a peça que requeria mais atenção. Levava-lhedois dias a fazer, já a calça dia e meio. Explica que para o traje <strong>de</strong> senhorafazia saia e acrescentava-lhe a calça, talvez por isso o mesmochegasse aos 1100,00€. A jaqueta com calça e colete para homematingia uns 800,00€. De toda a parte chegaram pedidos, mesmo <strong>de</strong>outros concelhos com tradição tauromáquica como a Golegã, a Moitae até <strong>de</strong> conterrâneos seus.Texto Ana Sofia CoelhoFotografia Ricardo Caetano20|Por altura da Feira da Golegã chegou a talhar 15 trajes curtos e recorda-se queo último que fez levou-o o cavaleiro Joaquim Bastinhas.Fi<strong>de</strong>lizou gerações, para o que contribuiu, como explica, o preceito no trabalho,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o molhar dos tecidos à rigorosa marcação com giz, do corte comprecisão milimétrica às provas. Como essencial no ofício fala <strong>de</strong> um pesadoferro a carvão que, a par <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> e afiada tesoura, contribuíram paratransformar tecido em fatos únicos e ajustados a cada cliente. Recusa as “mo<strong>de</strong>rnicescomo os mol<strong>de</strong>s ou a cola usados no pronto-a-vestir, isso não é seralfaiate”, replica, “o cliente que leva as minhas peças sabe que vai a 100%!”Com este brio no trabalho, a alfaiataria Palha conferiu brilho à Festa Brava.A elegância dos seus trajes encheu muitos olhos e engra<strong>de</strong>ceu a beleza <strong>de</strong>inúmeros eventos equestres e <strong>de</strong> índole tauromáquica.Passados 41 anos, na sua loja, as prateleiras ocupadas com fazendas, cachemiras,alpacas, lãs e <strong>de</strong> outros tecidos não <strong>de</strong>nunciam a mudança <strong>de</strong> costumesno ritual <strong>de</strong> mandar fazer o fato por medida. Francisco ainda corta e costura,“mas agora é mais para passar o tempo…” diz saudosista.“Sempre gostei muito disto. E nesta arte estamos sempre a apren<strong>de</strong>r, atéporque temos <strong>de</strong> estar atualizados com a moda”, remata, ainda hoje, apaixonadopela profissão.
Um negócio com passado, presente e futuroFoi há 25 anos que Alice Lambuça tomou conta do negócio dafamília, uma pequena retrosaria gerida até então pela mãe,que para além dos artigos próprios daquele ramo também funcionavacomo pronto-a-vestir, com produção própria.Enfrentando uma gran<strong>de</strong> concorrência <strong>de</strong> outros estabelecimentossemelhantes existentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Franca</strong> <strong>de</strong><strong>Xira</strong>, Alice Lambuça cedo sentiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversificaro negócio e respon<strong>de</strong>ndo ao seu gosto pela Festa Brava foitrazendo para a sua loja artigos relacionados com a mesma econfecionando peças <strong>de</strong> vestuário <strong>de</strong>stinadas aos seus atores.Sendo uma aposta ganha, uma vez que a procura <strong>de</strong>sses artigosfoi crescendo, o nome Casa Sónia foi ganhando clientesentre as gentes da Festa, Campinos, Forcados, Gana<strong>de</strong>ros,Toureiros, Equitadores e proprietários agrícolas que começarama procurar o estabelecimento para adquirir algumas peças<strong>de</strong> fardamento para os seus funcionários.De entre os seus clientes <strong>de</strong>staca alguns nomes sonantes,Nuno Casquinha, Família Ortigão Costa e a Ganadaria SesmariasVelhas do Guadiana.A proprietária reconhece que apesar <strong>de</strong> aficionada, no inícionão foi fácil uma vez que não conhecia a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>parte dos artigos e teve <strong>de</strong> adquirir esse conhecimento comos clientes que a ajudaram.Hoje, os principais artigos que ven<strong>de</strong>, conforme a mesmarefere,“são barretes, também as mantas lobeiras, calções <strong>de</strong>campino e forcado, meias e sapatos têm procura”, para alémdas peças que durante as Festas do Colete Encarnado e FeiraAnual ven<strong>de</strong> aos turistas e emigrantes, “sobretudo artigos quedigam <strong>Vila</strong> <strong>Franca</strong> <strong>de</strong> <strong>Xira</strong> ou Portugal”, cita.Sendo uma loja consi<strong>de</strong>rada especializada, a Casa Sónia já foialvo <strong>de</strong> uma reportagem <strong>de</strong> uma estação <strong>de</strong> televisão o quesegundo a sua proprietária foi muito bom para o negócio, aumentandoas visitas e com consequências muito positivas nasvendas.| 21