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O Brasil e as Operações de Manutenção da Paz das ... - Funag

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O BRASIL E AS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDAS


MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORESMinistro <strong>de</strong> Estado Embaixador Celso AmorimSecretário-GeralEmbaixador Samuel Pinheiro GuimarãesFUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃOPresi<strong>de</strong>nteEmbaixadora Maria Stela Pompeu <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> FrotaINSTITUTO RIO BRANCO (IRBr)DiretorEmbaixador Fernando Guimarães ReisA Fun<strong>da</strong>ção Alexandre <strong>de</strong> Gusmão (<strong>Funag</strong>), instituí<strong>da</strong> em 1971, é uma fun<strong>da</strong>ção pública vincula<strong>da</strong> aoMinistério d<strong>as</strong> Relações Exteriores e tem a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> levar à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil informações sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional e sobre <strong>as</strong>pectos <strong>da</strong> pauta diplomática br<strong>as</strong>ileira. Sua missão é promover a sensibilização <strong>da</strong>opinião pública nacional para os tem<strong>as</strong> <strong>de</strong> relações internacionais e para a política externa br<strong>as</strong>ileira.Ministério d<strong>as</strong> Relações ExterioresEsplana<strong>da</strong> dos Ministérios, Bloco HAnexo II, Térreo, Sala 170170-900 Br<strong>as</strong>ília, DFTelefones: (61) 3411 6033/6034/6847Fax: (61) 3322 2931, 3322 2188Site: www.funag.gov.brO Instituto Rio Branco (IRBr), criado em abril <strong>de</strong> 1945, é órgão do Ministério d<strong>as</strong> Relações Exteriores (MRE)e tem como finali<strong>da</strong><strong>de</strong> o recrutamento, a formação e o aperfeiçoamento dos diplomat<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileiros. O IRBrorganiza, regularmente, o Concurso <strong>de</strong> Admissão à Carreira <strong>de</strong> Diplomata, e mantém o Curso <strong>de</strong> Formação,o Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Diplomat<strong>as</strong> (CAD) e o Curso <strong>de</strong> Altos Estudos (CAE).Setor <strong>de</strong> Administração Fe<strong>de</strong>ral SulQuadra 5, Lote 2/370170-900 Br<strong>as</strong>ília, DFTelefones: (61) 3325 7000 /5/6Site: www.mre.gov.br/irbr


Paulo Roberto Campos Tarrisse <strong>da</strong> FontouraO BRASIL E AS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDASXXXVII Curso <strong>de</strong> Altos EstudosINSTITUTO RIO BRANCO (IRBr)Br<strong>as</strong>ília 2005


Direitos <strong>de</strong> publicação reservados àFun<strong>da</strong>ção Alexandre <strong>de</strong> Gusmão (<strong>Funag</strong>)Ministério d<strong>as</strong> Relações ExterioresEsplana<strong>da</strong> dos Ministérios, Bloco HAnexo II, Térreo70170-900 Br<strong>as</strong>ília – DFTelefones: (61) 3411 6033/6034/6847/6028Fax: (61) 3322 2931, 3322 2188Site: www.funag.gov.brE-mail: pub1icacoes@funag.gov.brCapa:Tomie Ohtake“Sem Título, 1965.Óleo sobre tela, 156 x 117,5 cmEquipe TécnicaCoor<strong>de</strong>nação:CLAUDIO TEIXEIRAELIANE MIRANDA PAIVAAssistente <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação e Produção:ARAPUÃ DE SOUZA BRITOProg. Visual e Diagramação:PAULO PEDERSOLLIImpresso no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> 2005F684bFontoura, Paulo Roberto Campos Tarrisse <strong>da</strong>.O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e <strong>as</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> / Paulo RobertoCampos Tarrisse <strong>da</strong> Fontoura.– Br<strong>as</strong>ília : FUNAG, 1999.448 p.; 225 cm. – (Curso <strong>de</strong> Altos Estudos do Instituto Rio Branco)ISBN 85-87480-01-4Inclui bibliografia1. Nação Unid<strong>as</strong>. 2. <strong>Paz</strong>. 3. Mediação Internacional. 4. <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> – Relações MilitaresExteriores. I. Fun<strong>da</strong>ção Alexandre <strong>de</strong> Gusmão.II. Título. III. Série.CDD-241.231Depósito Legal na Fun<strong>da</strong>ção Biblioteca Nacional conforme Decreto n° 1.825 <strong>de</strong> 20.12.1907


SumárioÍNDICE DE TABELAS ..................................................................... 11LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................. 13INTRODUÇÃO ................................................................................. 23CAPÍTULO IRETROSPECTIVA HISTÓRICA ......................................................... 37A Liga d<strong>as</strong> Nações e sua experiência na manutenção <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong>egurança internacionais ................................................................. 41Origens ........................................................................................... 41Descrição do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva do Pacto<strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações ........................................................................ 43A proposta <strong>de</strong> dotar a Liga d<strong>as</strong> Nações <strong>de</strong> meioscoercitivos ...................................................................................... 44A experiência <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações na manutenção <strong>da</strong> paz ................... 46As Nações Unid<strong>as</strong> e sua experiência na manutenção <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong>egurança internacionais ................................................................. 52Origens ........................................................................................... 52Descrição do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 53O surgimento <strong>da</strong> Guerra Fria e su<strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> para a atuaçãod<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais ..... 58O frac<strong>as</strong>so <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> Estado-Maior ....................................... 60


A Resolução “Unidos para a <strong>Paz</strong>” .................................................... 62As operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong><strong>de</strong> 1948 a 1987 .............................................................................. 65A b<strong>as</strong>e jurídica d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 70Repercussão dos <strong>as</strong>pectos financeiros d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .......................................... 72As operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz fora do âmbito d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 75CAPÍTULO IIOPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARESOU DE SEGUNDA GERAÇÃO ........................................................ 83Fatores condicionantes .................................................................... 84Característic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazmultidisciplinares d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ou <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração ........... 95Evolução dos fun<strong>da</strong>mentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazd<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ......................................................................... 95O consentimento d<strong>as</strong> partes em conflito .......................................... 95O não-uso <strong>da</strong> força ......................................................................... 99O não-uso <strong>da</strong> força n<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> observação ............................... 99O não-uso <strong>da</strong> força n<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz ........................................... 102A imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> .............................................................................. 104O voluntariado dos países que contribuem com pessoal .................. 106Comparação entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz “clássic<strong>as</strong>”d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e <strong>as</strong> “multidisciplinares” .................................... 107


Principais atores ............................................................................. 109O papel do Conselho <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................. 109O papel <strong>da</strong> Assembléia Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ........................... 113As missões civis criad<strong>as</strong> pela Assembléia Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ..... 113Aprovação dos orçamentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazd<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ......................................................................... 116A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> normativa <strong>da</strong> Assembléia Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .... 117O Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e o Secretariado<strong>da</strong> Organização ............................................................................... 119O papel dos países que contribuem com pessoal ............................ 123Reembolso por pessoal cedido ........................................................ 124Reembolso pelo uso <strong>de</strong> equipamento do contingente e <strong>de</strong> bens<strong>de</strong> consumo .................................................................................... 125In<strong>de</strong>nizações por morte e invali<strong>de</strong>z .................................................. 127As <strong>de</strong>mais instânci<strong>as</strong> do sistema d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ..................... 128As Organizações Não-Governamentais .......................................... 129Retrospectiva d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1988 a 1999 ................................................................... 133CAPÍTULO IIIA SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DASOPERAÇÕES DE PAZ .................................................................... 143<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz robust<strong>as</strong>, operações <strong>de</strong>restauração <strong>da</strong> paz e operações <strong>de</strong> apoio à paz .............................. 144Tentativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ... 148


O sistema <strong>de</strong> Pronto Emprego d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ......................... 151Quartel-General <strong>de</strong> Missão Rapi<strong>da</strong>mente Desdobrável ....................... 159Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Pronto Emprego ............................................................ 161Força Ibero-Americana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> ........................................................ 163Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> ................................................................... 165Cooperação com organismos regionais ............................................ 168Organização do Tratado do Atlântico Norte e União <strong>da</strong>Europa Oci<strong>de</strong>ntal ............................................................................ 177A Organização dos Estados Americanos ......................................... 188Perspectiv<strong>as</strong> sobre a atuação dos organismos e arranjosregionais na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais ....... 191Aprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países africanos para participar<strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz .............................................. 193“Iniciativa Africana <strong>de</strong> Resposta a Crises” dos Estados Unidos<strong>da</strong> América ..................................................................................... 196“Aprimoramento d<strong>as</strong> Capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s African<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong><strong>da</strong> <strong>Paz</strong>” <strong>da</strong> França .......................................................................... 198“Inicitiva Africana <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>” do Reino Unido ................ 199Forç<strong>as</strong> Multinacionais ...................................................................... 200CAPÍTULO IVPARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃODA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS ..................................................... 209Retrospectiva <strong>da</strong> participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .......................................... 210


Pioneirismo ..................................................................................... 211O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ... 214O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Multinacionais autorizad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ..219Grupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> ............. 221Cessão <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ... 223Participação <strong>de</strong> oficiais br<strong>as</strong>ileiros em postos <strong>de</strong> chefia n<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................... 229Cessão <strong>de</strong> oficiais br<strong>as</strong>ileiros para o Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong><strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> do Secretariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ............ 231Cessão <strong>de</strong> observadores policiais para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................. 234Cessão <strong>de</strong> peritos eleitorais para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................................................................. 238Questões <strong>de</strong> segurança: morte e invali<strong>de</strong>z <strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileiros emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................... 243Legislação br<strong>as</strong>ileira sobre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ...... 247Participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nos esforços <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong> n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .............................................. 254Participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no sistema <strong>de</strong> Pronto Emprego d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 255Propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> aprimoramento do sistema <strong>de</strong> Pronto Empregofora do âmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................................................. 258Participação no Grupo <strong>de</strong> Amigos do Desdobramento Rápido eno Quartel-General <strong>de</strong> Missão Rapi<strong>da</strong>mente Desdobrável .................. 261Aprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países africanos na área <strong>de</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ................................................. 263


Repercussão na imprensa nacional <strong>da</strong> participação br<strong>as</strong>ileira emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> .................... 265Participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz ........... 269A política externa br<strong>as</strong>ileira e <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ... 273CONCLUSÃO ................................................................................. 279ANEXO .......................................................................................... 309BIBLIOGRAFIA ............................................................................... 403


Índice <strong>de</strong> Tabel<strong>as</strong>TABELA Nº 1 – Intervenções <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações ou <strong>da</strong>Conferência dos Embaixadores .......................................... 48, 49 e 50TABELA Nº 2 – <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1948 a 1987 ................................................ 66 e 67TABELA Nº 3 – Comparação entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz e clássic<strong>as</strong> e <strong>as</strong> multidisciplinares ........................................... 108TABELA Nº 4 – <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1988 a 1999 .............................. 134, 135, 136 e 137TABELA Nº 5 – Organismos regionais, sub-regionais e globaisconsultados pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ...................................173, 174 e 175TABELA Nº 6 – Forç<strong>as</strong> multinacionais criad<strong>as</strong> sob a égi<strong>de</strong> d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ...................................................... 202, 203, 204 e 205TABELA Nº 7 – Participação br<strong>as</strong>ileira n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1957 a 1999 ..................... 215, 216 e 217TABELA Nº 8 – Número <strong>de</strong> militares que participaram d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1989 a 1999 .............. 224TABELA Nº 9 – Oficiais br<strong>as</strong>ileiros que exerceram cargos <strong>de</strong>chefia n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ..... 229TABELA Nº 10 – Oficiais cedidos gratuitamente ao Departamento <strong>de</strong><strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> do Secretariado d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 232TABELA Nº 11 – Número e origem dos policiais militares br<strong>as</strong>ileirosque participaram d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 236


12 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 12 – Participação <strong>de</strong> peritos eleitorais br<strong>as</strong>ileiros emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>de</strong> verificação eleitoral d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> ............................................................................... 240TABELA Nº 13 – Militares e policiais br<strong>as</strong>ileiros falecidos n<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ..................................... 244TABELA Nº 14 – In<strong>de</strong>nização por morte ou invali<strong>de</strong>z <strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileirosem operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ............... 245


Lista <strong>de</strong> Abreviatur<strong>as</strong> e Sigl<strong>as</strong>AALCCABCACABqACNURACRFACRIAGNUAIEAANSPAPIAPSGASEANBMATTCACEUCCJRCDNCEDEAOComitê Jurídico Consultivo Afro-AsiáticoAgência <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira <strong>de</strong> CooperaçãoComissão Consultiva para Assuntos Administrativos eOrçamentáriosAlto Comissariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para RefugiadosForça Africana <strong>de</strong> Resposta a CrisesIniciativa Africana <strong>de</strong> Resposta a CrisesAssembléia Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Agência Internacional <strong>de</strong> Energia AtômicaAca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Segurança Pública <strong>de</strong> El SalvadorIniciativa Africana <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>Grupo <strong>de</strong> Apoio à <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> AfricanaAssociação d<strong>as</strong> Nações do Su<strong>de</strong>ste AsiáticoEquipe Britânica <strong>de</strong> Treinamento em Assessoria MilitarComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> África Central e União EconômicaComissão <strong>de</strong> Constituição e Justiça e <strong>de</strong> Re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Câmarados DeputadosComissão <strong>de</strong> Defesa Nacional <strong>da</strong> Câmara dos DeputadosComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Econômica dos Estados <strong>da</strong> África Oci<strong>de</strong>ntal


14 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURACEICICVCIJCIVPOLCMCComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Estados In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesComitê Internacional <strong>da</strong> Cruz VermelhaCorte Internacional <strong>de</strong> JustiçaObservador Policial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Comitê <strong>de</strong> Medid<strong>as</strong> Coletiv<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>COBRAMOZ Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para a Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>em MoçambiqueCOBRAVEM Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para a Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>em AngolaCOECOTERCPLPCRECREDENCREDENECSCECSNUDAEDAOPEquipamento <strong>de</strong> Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do Contingente e Bens <strong>de</strong>ConsumoComando <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> Terrestres do Ministério doExércitoComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Países <strong>de</strong> Língua PortuguesaComissão <strong>de</strong> Relações Exteriores <strong>da</strong> Câmarados DeputadosCâmara <strong>de</strong> Relações Exteriores e Defesa Nacional doConselho <strong>de</strong> GovernoComissão <strong>de</strong> Relações Exteriores e <strong>de</strong> Defesa Nacional <strong>da</strong>Câmara dos DeputadosConferência <strong>de</strong> Segurança e Cooperação na EuropaConselho <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Divisão <strong>de</strong> Assistência Eleitorald<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Departamento <strong>da</strong> África e Oriente Próximo do Ministériod<strong>as</strong> Relações Exteriores


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 15DICDIHDMZDNUDOIDOMREPDPKOECEMEECOMOGECOSOCEFEEMEEMFAEPCERCFABFALDFAIBRÁSDivisão <strong>de</strong> Informação Comercial do Ministério d<strong>as</strong> RelaçõesExterioresDireito Internacional HumanitárioZona Desmilitariza<strong>da</strong>Divisão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> do Ministério d<strong>as</strong> RelaçõesExterioresDepartamento <strong>de</strong> Organismos Internacionais do Ministériod<strong>as</strong> Relações ExterioresMissão do Representante do Secretário-Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> na República DominicanaDepartamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> doSecretariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Escola <strong>de</strong> Comando e Estado-Maior do ExércitoGrupo <strong>de</strong> Observadores Militares <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>Econômica dos Estados <strong>da</strong> África Oci<strong>de</strong>ntalConselho Econômico e Social d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Força <strong>de</strong> Fuzileiros <strong>da</strong> Esquadra <strong>da</strong> Marinha <strong>de</strong> GuerraEstado-Maior do ExércitoEstado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>Centro <strong>de</strong> Política EuropeuCoor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Assistência para Situações EmergenciaisForça Aérea <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiraDivisão <strong>de</strong> Administração e Logística <strong>de</strong> Campo d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>Destacamento <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro <strong>de</strong> Força Arma<strong>da</strong> Interamericana


16 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAFEBFML IFML IIFUNAGGRAPEMFAGTIICESPOIFORIGPMINTERFETIPTFKFORJIDLDCLEAForça Expedicionária <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiraPrimeira Força Multinacional no LíbanoSegun<strong>da</strong> Força Multinacional no LíbanoFun<strong>da</strong>ção Alexandre GusmãoGrupo <strong>de</strong> Apoio do Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>Grupo <strong>de</strong> Trabalho InterministerialInstituto Centro-Americano <strong>de</strong> Estudos Superiores <strong>de</strong>PolíciaForça <strong>de</strong> Implementação na Bósnia-HerzegovinaInspetoria-Geral d<strong>as</strong> Políci<strong>as</strong> Militares do Ministério doExércitoForça Multinacional para o Timor LesteForça Tarefa Policial InternacionalForça Multinacional do KosovoJunta Interamericana <strong>de</strong> DefesaPaíses <strong>de</strong> Menor Desenvolvimento RelativoLiga dos Estados ÁrabesMARMINCA Missão <strong>de</strong> Assistência para a Remoção <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> na AméricaCentralMASMissão <strong>de</strong> Apoio no SinaiMERCOSUL Mercado Comum do SulMDMICIVIHMinistério <strong>da</strong> DefesaMissão Civil Internacional no Haiti


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 17MINUGUAMINURCAMINURSOMIPONUHMISABMNAMOMEPMONUAMONUCMOSMREOCEOCHAOCIOEAOITOLPOMSONGMissão <strong>de</strong> Verificação do Acordo <strong>de</strong> Direitos Humanos d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> na Guatemala/Missão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> na GuatemalaMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a República CentroafricanaMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para o Referendo do SaaraOci<strong>de</strong>ntalMissão Policial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no HaitiMissão Inter-Africana para Monitorar a Implementação dosAcordos <strong>de</strong> Bangui na República CentroafricanaMovimento Não-AlinhadoMissão <strong>de</strong> Observadores Militares Equador-PeruMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em AngolaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na RepúblicaDemocrática do CongoMissão <strong>de</strong> Observação no SinaiMinistério d<strong>as</strong> Relações ExterioresOrganização <strong>de</strong> Cooperação Econômica do Mar NegroEscritório <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação para Assuntos HumanitáriosOrganização <strong>da</strong> Cooperação IslâmicaOrganização dos Estados AmericanosOrganização Internacional do TrabalhoOrganização para a Libertação <strong>da</strong> PalestinaOrganização Mundial <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>Organização Não-Governamental


18 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAONUONUCONUCAONUMOZONUSALOPDSOSCEOTANOUAOrganização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no CongoGrupo <strong>de</strong> Observadores d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na AméricaCentralOperação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em MoçambiqueMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em El SalvadorÓrgão sobre Política, Defesa e Segurança <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> África AustralOrganização <strong>de</strong> Segurança e Cooperação na EuropaOrganização do Tratado do Atlântico NorteOrganização <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> AfricanaP-3 Estados Unidos, França e Reino UnidoP-4 Estados Unidos, França, Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia e Reino UnidoP-5 China, Estados Unidos, França, Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia e ReinoUnidoPADCAPALOPSPEDPEUPMAPMDFPNUDPESCPrograma <strong>de</strong> Assistência à Remoção <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> na AméricaCentralPaíses Africanos <strong>de</strong> Língua Oficial PortuguesaPaíses em <strong>de</strong>senvolvimentoUni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Imposição <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>Programa Mundial <strong>de</strong> AlimentosPolícia Militar do Distrito Fe<strong>de</strong>ralPrograma d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para o DesenvolvimentoPolítica Externa e <strong>de</strong> Segurança Comum


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 19RDCRDMHQRECAMPRPCRRFRFISACEURSACLANTSADCSERESFORSGSGAPSGNUSHIRBRIGSFORSOFASOMATIARTSERepública Democrática do CongoQuartel-General <strong>de</strong> Missão Rapi<strong>da</strong>mente DesdobrávelAprimoramento d<strong>as</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s african<strong>as</strong> <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> pazRepública Popular <strong>da</strong> ChinaForça <strong>de</strong> Reação Rápi<strong>da</strong>República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> IugosláviaComando Aliado Supremo <strong>da</strong> EuropaComando Aliado Supremo do AtlânticoComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong>África AustralSecretaria <strong>de</strong> Estado d<strong>as</strong> Relações ExterioresForça <strong>de</strong> Estabilização para a Bósnia-HerzegovinaSecretário-Geral do Ministério d<strong>as</strong> Relações ExterioresSubsecretário-Geral <strong>de</strong> Assuntos Políticos do Ministério d<strong>as</strong>Relações ExterioresSecretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Pronto EmpregoForça <strong>de</strong> Estabilização na Bósnia HerzegovinaAcordo d<strong>as</strong> Prerrogativ<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Acordo d<strong>as</strong> Prerrogativ<strong>as</strong> <strong>da</strong> MissãoTratado Interamericano <strong>de</strong> Assistência RecíprocaTribunal Superior Eleitoral


20 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAUEUEOUNAMETUNAMICUNAMIRUNASOGUNAVEM IUNAVEM IIUnião EuropéiaUnião <strong>da</strong> Europa Oci<strong>de</strong>ntalMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Timor LesteMissão Avança<strong>da</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no CambojaMissão <strong>de</strong> Assistência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Ruan<strong>da</strong>Grupo <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Faixa <strong>de</strong>AouzouMissão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola IMissão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola IIUNAVEM III Missão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola IIIUNCROUNDOFUNEF IUNEF IIUNFICYPUNGOMAPUNICEFUNIFILUNIIMOGUNIKOMOperação <strong>de</strong> Restauração <strong>da</strong> Confiança d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>na CroáciaForça <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> SeparaçãoPrimeira Força <strong>de</strong> Emergência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Segun<strong>da</strong> Força <strong>de</strong> Emergência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Força <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> emChipreMissão <strong>de</strong> Bons Ofícios d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Afeganistãoe PaquistãoFundo d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a InfânciaForça Interina d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no LíbanoGrupo <strong>de</strong> Observadores Militares d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> Irã-IraqueMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> Iraque-Kuaite


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 21UNIPOMUNITAUNITAFUNMIBHUNMIHUNMIKUNMOGIPUNMOPUNMOTUNOGILUNOMIGUNOMILUNOMSAUNOMSILUNOMURUNOPSUNOSOM IMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> Índia-PaquistãoUnião Nacional para a In<strong>de</strong>pendência Total <strong>de</strong> AngolaForça Tarefa Unifica<strong>da</strong> na SomáliaMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Bósnia-HerzegovinaMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no HaitiMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a Administração Interinano KosovoGrupo <strong>de</strong> Observadores d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Índia ePaquistãoMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Península <strong>de</strong>PrevlakaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no TadjiquistãoGrupo <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no LíbanoMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na GeórgiaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na LibériaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na África do SulMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Serra LeoaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Ugan<strong>da</strong>-Ruan<strong>da</strong>Escritório d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para Acompanhamento <strong>de</strong>ProjetosOperação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Somália IUNOSOM II Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Somália IIUNOVEHMissão <strong>de</strong> Observação para a Verificação Eleitoral no Haiti


22 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAUNOVEMUNOVERUNPREDEPUNPROFORUNPSGUNSCOBUNSCOMUNSFUNSMIHUNTACUNTAGUNTEAUNTAESUNTMIHUNTSOUNYOMUPPARMissão <strong>de</strong> Observação para a Verificação Eleitoral naNicaráguaMissão <strong>de</strong> Observação para a Verificação do Referendo naEritréiaForça <strong>de</strong> Desdobramento Preventivo d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Força <strong>de</strong> Proteção d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Missão <strong>de</strong> Apoio Policial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na CroáciaComitê Especial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para os BálcãsComissão Especial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Força <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Nova GuinéOci<strong>de</strong>ntal/Irian Oci<strong>de</strong>ntalMissão <strong>de</strong> Apoio d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no HaitiAutori<strong>da</strong><strong>de</strong> Transitória d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no CambojaGrupo <strong>de</strong> Assistência <strong>de</strong> Transição d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Autori<strong>da</strong><strong>de</strong> Executiva Temporária d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>Administração Transitória d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para aEslavônia Oriental, Baranja e Sirmium Oci<strong>de</strong>ntalMissão Transitória d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no HaitiOrganização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a Supervisão <strong>da</strong>TréguaMissão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no IêmenUni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Planejamento Político e Alerta Precoce <strong>da</strong>União Européia


INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃOAten<strong>de</strong>ndo à recomen<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Banca Examinadora doXXXVIIº Curso <strong>de</strong> Altos Estudos do Instituto Rio Branco, a presentetese foi revisa<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo a que fosse transforma<strong>da</strong> emlivro a ser publicado pela Fun<strong>da</strong>ção Alexandre <strong>de</strong> Gusmão (FUNAG).Cert<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sagens foram retirad<strong>as</strong> do corpo do texto, m<strong>as</strong>, ao mesmotempo, tentou-se incorporar nele os eventos mais relevantes ocorridosno campo d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e<strong>as</strong>suntos afins, <strong>de</strong> janeiro a setembro <strong>de</strong> 1999. Foram tambémintroduzid<strong>as</strong> algum<strong>as</strong> alterações <strong>de</strong> expressão, sempre no esforço <strong>de</strong>concisão e clareza, buscando fugir <strong>da</strong> linguagem especializa<strong>da</strong>. Porfim, n<strong>as</strong> partes relativ<strong>as</strong> aos organismos regionais e às conclusões dolivro, o texto alonga-se um pouco n<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> à Organização doTratado do Atlântico Norte (OTAN) e à crise do Kosovo na RepúblicaFe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Iugoslávia (RFI) 1 . Tão forte é a influência <strong>da</strong> OTAN sobrea nova arquitetura <strong>da</strong> segurança internacional do século XXI, que édifícil evitar um mínimo <strong>de</strong> digressão.Esse exercício <strong>de</strong> revisão viu-se muito enriquecido peloscomentários do Embaixador Álvaro <strong>da</strong> Costa Franco, Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>Banca Examinadora do CAE, do Embaixador Alberto <strong>da</strong> Costa e Silva,Vice-Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Banca, e dos relatores <strong>da</strong> tese, o Ministro Edmundo1A RFI é composta pela República <strong>da</strong> Sérvia e pela República <strong>de</strong> Montenegro, nostermos <strong>da</strong> Constituição promulga<strong>da</strong> em 27/4/92. Kosovo e Vojvodina são provínci<strong>as</strong> <strong>da</strong>República <strong>da</strong> Sérvia. Neste livro, para simplificar a leitura, o Kosovo será caracterizadocomo sendo uma província <strong>da</strong> RFI.


26 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAS. Fujita e o professor Guido F. S. Soares, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo. Além disso, o trabalho não teria sido concluído sem a cooperaçãoe o apoio prestados pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, pelo Tribunal SuperiorEleitoral e pela equipe <strong>da</strong> Divisão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> do Ministériod<strong>as</strong> Relações Exteriores. Tenho especial dívi<strong>da</strong> para com minha família,cujo incentivo incessante e compreensão me permitiram elaborar a teseao longo do ano <strong>de</strong> 1998.O livro começa <strong>as</strong>sinalando que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz são os instrumentos mais visíveis criados pela Liga d<strong>as</strong> Naçõese pela Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (ONU) para atuar no campo<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais, <strong>de</strong>vido à inoperância dossistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança coletiva previstos em su<strong>as</strong> Cart<strong>as</strong> constitutiv<strong>as</strong>.Enquanto os méritos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> pela Liga foramofuscados pela impotência <strong>da</strong> Organização diante <strong>da</strong> escala<strong>da</strong> <strong>de</strong>conflitos que levou à eclosão <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, <strong>as</strong> missõescriad<strong>as</strong> pela ONU foram-se consoli<strong>da</strong>ndo gradualmente como umad<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> maior aceitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional para fazer prevalecer a paz e os meios pacíficos <strong>de</strong>solução d<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong>, sobretudo após o término <strong>da</strong> Guerra Fria.Des<strong>de</strong> 1948, cerca <strong>de</strong> 800 mil militares, policiais e civis foram cedidospor 110 Estados membros <strong>da</strong> ONU para servirem em 52 missões <strong>de</strong>observação e afins (compost<strong>as</strong> por pessoal <strong>de</strong>sarmado) ou forç<strong>as</strong><strong>de</strong> paz (integrad<strong>as</strong> por trop<strong>as</strong> armad<strong>as</strong>), que são <strong>as</strong> du<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> intervenção abrangid<strong>as</strong> pelo conceito <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz. Pelos serviços meritórios prestados em favor <strong>da</strong> paz mundial,ess<strong>as</strong> operações foram agraciad<strong>as</strong>, em 1988, com o prêmio Nobel<strong>da</strong> <strong>Paz</strong>.Este trabalho almeja analisar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz <strong>da</strong> ONU <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu surgimento até sua f<strong>as</strong>e atual, enfocandoantece<strong>de</strong>ntes históricos e <strong>as</strong> transformações <strong>de</strong>correntes do fim <strong>da</strong>Guerra Fria, bem como a ampliação do leque <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> emprego<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações por parte d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e o maior protagonismo


INTRODUÇÃO 27<strong>de</strong> alguns Membros permanentes do Conselho <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> (CSNU), sobretudo dos Estados Unidos, <strong>da</strong> Françae do Reino Unido. Enfatiza-se a <strong>de</strong>scrição d<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> paz multidisciplinares, que marcam a atuação <strong>da</strong> ONU nos anos90 e, entre <strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> atuais, ressalta-se particularmente a práticacrescente <strong>de</strong> <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte do CSNU aosorganismos regionais e sub-regionais, bem como a coalizões adhoc <strong>de</strong> países para intervirem, em nome d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, emconflitos regionais sob a roupagem <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais.Com b<strong>as</strong>e no panorama geral sobre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, o livro visa a examinar a participaçãobr<strong>as</strong>ileira ness<strong>as</strong> missões, acentuando a experiência adquiri<strong>da</strong> nosúltimos anos. Além disso, faz uma reflexão sobre os <strong>de</strong>safios e <strong>as</strong>perspectiv<strong>as</strong> que se abrem para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no futuro avaliando autili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse engajamento como categoria operacional <strong>de</strong> políticaexterna, <strong>as</strong> possíveis priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os riscos envolvidos. O livrobusca, ain<strong>da</strong>, resgatar o nosso patrimônio histórico-diplomático eservir, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> su<strong>as</strong> limitações, <strong>de</strong> texto <strong>de</strong> referência para osdiplomat<strong>as</strong> e o público em geral que venham a tratar do <strong>as</strong>suntonos próximos anos, ao consoli<strong>da</strong>r informações sobre questõesprátic<strong>as</strong> e operacionais, relativ<strong>as</strong> à participação br<strong>as</strong>ileira em forç<strong>as</strong><strong>de</strong> paz e missões <strong>de</strong> observação, com <strong>de</strong>staque para a interfaceexistente entre os órgãos formuladores e executores <strong>de</strong> políticaexterna nessa área.O trabalho soma-se ao livro publicado pela FUNAG em 1998sobre a tese <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> pelo Ministro Afonso Cardoso, em 1994, noXXVIIIº Curso <strong>de</strong> Altos Estudos, sob o título “Reflexão sobre aParticipação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>”. Oreferido livro, com b<strong>as</strong>e em <strong>da</strong>dos disponíveis até fins <strong>de</strong> 1993, foiimportante para fixar <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es conceituais <strong>de</strong> um tema até entãopraticamente ausente <strong>da</strong> literatura nacional especializa<strong>da</strong>. O presentetexto, porém, distingüe-se do Ministro Cardoso, procurando ampliá-lo


28 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAe, sempre que possível, atualizá-lo. Diferentemente do mencionadolivro, um dos objetivos do atual trabalho é o <strong>de</strong> apresentar umapesquisa histórica aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, seus antece<strong>de</strong>ntes e, especialmente, sobre aparticipação br<strong>as</strong>ileira ness<strong>as</strong> missões, inclusive aproveitando<strong>da</strong>dos disponíveis nos acervos do Arquivo Histórico do Itamaraty.Busca-se tratar dos <strong>as</strong>pectos operacionais relativos a ess<strong>as</strong>missões, que se foram aperfeiçoando, mormente no período <strong>de</strong>1995 a 1998; analisar <strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> marcantes ocorrid<strong>as</strong> a partir<strong>de</strong> 1994 e que, em última instância, po<strong>de</strong>rão levar a umare<strong>de</strong>finição dos mecanismos <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz; e apresentaro sistema br<strong>as</strong>ileiro <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> voluntários n<strong>as</strong> vertentesmilitar, policial e civil, tendo por b<strong>as</strong>e, sobretudo, a importanteexperiência adquiri<strong>da</strong> com o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> para Moçambique(ONUMOZ) e Angola (UNAVEM III) no período <strong>de</strong> 1994 a1997. O presente livro <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r tem<strong>as</strong> já tratados peloMinistro Cardoso, nota<strong>da</strong>mente no que tange ao estudocomparativo d<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> adotad<strong>as</strong> por outros países. Daí que osdois trabalhos são complementares e aju<strong>da</strong>m a criar uma literaturaespecializa<strong>da</strong> br<strong>as</strong>ileira sobre a matéria.Mais precisamente, os capítulos e a conclusão <strong>de</strong>ste livrodiscorrem sobre os seguintes <strong>as</strong>suntos:O capítulo I apresenta uma retrospectiva histórica d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong> forma a eluci<strong>da</strong>r su<strong>as</strong> origens,prece<strong>de</strong>ntes e característic<strong>as</strong> principais. São relembrad<strong>as</strong> <strong>as</strong>intervenções realizad<strong>as</strong> no âmbito <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações, habitualmentepouco citad<strong>as</strong> na literatura especializa<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo uma visão <strong>da</strong>continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do emprego <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações no século XX. Em segui<strong>da</strong>,comentam-se os fun<strong>da</strong>mentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazd<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, seus princípios e a evolução do conceito em su<strong>as</strong>primeir<strong>as</strong> quatro décad<strong>as</strong> <strong>de</strong> experiência (1948 a 1987): o períodod<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz “clássic<strong>as</strong>”. Indica-se


INTRODUÇÃO 29a origem ad hoc d<strong>as</strong> missões tanto na Liga como na ONU, à luz <strong>da</strong>inoperância dos mecanismos <strong>de</strong> segurança coletiva d<strong>as</strong> du<strong>as</strong>Organizações. Esses sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança coletiva são brevemente<strong>de</strong>scritos para mostrar <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> existentes entre eles — e entreseus instrumentos <strong>de</strong> ação — e <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Examinam-se também <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz criad<strong>as</strong> fora do âmbito <strong>da</strong>ONU e comentam-se <strong>as</strong> razões <strong>de</strong> seu surgimento e seus riscos,pontos que são <strong>de</strong>senvolvidos no capítulo III. Em suma, o capítulo I,além <strong>de</strong> introduzir o tema a partir <strong>de</strong> uma perspectiva histórica, fazreferênci<strong>as</strong> a <strong>as</strong>suntos correlatos importantes para a compreensão<strong>da</strong> matéria.O capítulo II concentra-se na análise d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz conhecid<strong>as</strong> como “multidisciplinares” ou <strong>de</strong>“segun<strong>da</strong> geração”, <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> no período <strong>de</strong> maior ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais(1989 a 1995). Embora haja alguns antece<strong>de</strong>ntes, particularmentea Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Congo (ONUC), po<strong>de</strong>-seafirmar que o aparecimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> missões, na escala atual, foiincentivado pelos <strong>de</strong>safios oriundos, por um lado, doequacionamento ou <strong>da</strong> continuação <strong>de</strong> conflitos her<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> GuerraFria (entre outros exemplos, em Angola, no Camboja, emMoçambique e na Namíbia) e, por outro, do reaparecimento <strong>de</strong>tensões latentes e do surgimento <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> crises inter e, mormente,intra-estatais (tais como na antiga Iugoslávia, na Somália e emRuan<strong>da</strong>). As característic<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz são analisad<strong>as</strong> à luz dos fatores que levaram ao aumento dopapel d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais. Apresentam-se <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz “clássic<strong>as</strong>” e <strong>as</strong> “multidisciplinares”. Detalhamse,ain<strong>da</strong>, os principais atores nel<strong>as</strong> envolvidos (Conselho <strong>de</strong>Segurança, Assembléia Geral, Secretariado <strong>da</strong> ONU, paísescontribuintes com pessoal e equipamentos, Agênci<strong>as</strong>, Program<strong>as</strong> e


30 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAFundos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> 2 , e organizações não-governamentais)e <strong>as</strong>pectos operacionais importantes, como seu funcionamento, ossistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> reembolso e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por morte e invali<strong>de</strong>z. Essesdois últimos <strong>as</strong>pectos são <strong>de</strong> especial relevância e repercussão porenvolverem restituições pelo uso do material empregado, reduzindo oscustos dos aportes efetuados pelos países que contribuem com pessoale equipamentos, ou por implicarem compensações às famíli<strong>as</strong> enlutad<strong>as</strong>ou aos inválidos. Também são enfocados os motivos do retraimento<strong>de</strong> Membros permanentes do CSNU quanto à criação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz a partir <strong>de</strong> 1994-95.O capítulo III, retomando o que foi introduzido no capítulo II,analisa a f<strong>as</strong>e atual d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, caracteriza<strong>da</strong> por maior cautela do CSNU quanto à criação<strong>de</strong> nov<strong>as</strong> missões, após <strong>as</strong> intervenções malsucedid<strong>as</strong> na Somália, emRuan<strong>da</strong> e na Bósnia-Herzegovina 3 . Iniciou-se um período <strong>de</strong> reflexãosobre o emprego <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações, objetivando superar <strong>as</strong> <strong>de</strong>ficiênci<strong>as</strong><strong>da</strong> ONU para li<strong>da</strong>r com conflitos. Comentam-se <strong>as</strong> cinco tendênci<strong>as</strong>então <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong>. A primeira visa a dotar <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz <strong>de</strong>maior po<strong>de</strong>r dissu<strong>as</strong>ório c<strong>as</strong>o sejam criad<strong>as</strong> para atuar em ambientesvoláteis, em que o consentimento <strong>da</strong>do pel<strong>as</strong> partes em conflito poss<strong>as</strong>er erodido, gerando dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o cumprimento do man<strong>da</strong>to esituações <strong>de</strong> insegurança para seus integrantes. Nesse contexto,apresenta-se o novo paradigma elaborado pelo Departamento <strong>de</strong>2As Agênci<strong>as</strong> são organismos intergovernamentais autônomos vinculad<strong>as</strong> à ONU medianteacordos especiais – a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a OrganizaçãoMundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), entre outros exemplos. Além <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> Agênci<strong>as</strong>, há uma série <strong>de</strong>Program<strong>as</strong> e Fundos criados pela ONU com propósitos específicos, <strong>de</strong> caráter econômico,social, humanitário etc. – por exemplo, o Programa d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para oDesenvolvimento (PNUD) e o Fundo d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a Infância (UNICEF).3A literatura especializa<strong>da</strong> cobriu amplamente os problem<strong>as</strong> enfrentados pela ONUnaqueles três países. Além dos trabalhos elaborados pelo DPKO sobre o <strong>as</strong>sunto, o livrodo Ministro Antônio Patriota O Conselho <strong>de</strong> Segurança após a Guerra do Golfo (1998)e o livro <strong>de</strong> Sean Murphy Humanitarian Intervention (1996) oferecem boa reflexão sobreos eventos ocorridos e su<strong>as</strong> implicações.


INTRODUÇÃO 31<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> do Secretariado <strong>da</strong> ONU (DPKO),bem como conceitos lançados por Estados membros, mormente o <strong>de</strong>operações <strong>de</strong> “restauração” <strong>da</strong> paz, proposto pelo Reino Unido, e o<strong>de</strong> “apoio à paz”, utilizado pela OTAN. A segun<strong>da</strong> tendência abor<strong>da</strong><strong>da</strong>enfatiza os esforços voltados para proporcionar à ONU maiorcapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> efetivos, nota<strong>da</strong>mente por meio <strong>de</strong> umsistema <strong>de</strong> pronto emprego (os <strong>de</strong>nominados stand-by arrangements)e do quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável (o chamadoRapidly <strong>de</strong>ployable mission headquarters). Paralelamente a isso sãoapresentad<strong>as</strong> <strong>as</strong> ações <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> por grupos <strong>de</strong> países para suprir<strong>as</strong> limitações do sistema <strong>de</strong> pronto emprego d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>mediante a composição <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pronto emprego ad hoc queseriam oferecid<strong>as</strong> à ONU, b<strong>as</strong>icamente a briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> pronto emprego(Stand-by Forces High Readiness Briga<strong>de</strong> – SHIRBRIG). A terceiratendência enfoca<strong>da</strong> no trabalho diz respeito às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> organismose arranjos regionais e sub-regionais, com <strong>de</strong>staque para a OTAN e aOEA. Realça-se a cooperação entre <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e essesorganismos, por vezes envolvendo <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte doCSNU em favor <strong>de</strong> missões a serem cumprid<strong>as</strong> por tais enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s oupor coalizões <strong>de</strong> países membros, em parceria ou não com operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. A quarta tendência analisa<strong>da</strong> refere-se à políticaadota<strong>da</strong> por países europeus e pelos Estados Unidos <strong>de</strong> treinar trop<strong>as</strong><strong>de</strong> países africanos a fim <strong>de</strong> capacitá-l<strong>as</strong> a participar <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>paz <strong>da</strong> ONU ou <strong>de</strong> um organismo regional ou sub-regional. Finalmente,a última tendência aponta<strong>da</strong> é o recurso crescente a forç<strong>as</strong> multinacionaisformad<strong>as</strong> por coalizões ad hoc <strong>de</strong> países para atuar, em nome d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, em conflitos regionais.O capítulo IV focaliza a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, pormenorizando o sistema <strong>de</strong>mobilização existente que permitiu reunir voluntários <strong>de</strong> qu<strong>as</strong>e todosos Estados br<strong>as</strong>ileiros e dos três Po<strong>de</strong>res <strong>da</strong> União. Esse exercício,<strong>de</strong>senvolvido no marco <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção do regime <strong>de</strong>mocrático, com


32 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAa presença atuante do Congresso Nacional e com a atenção crescentedos meios acadêmicos e <strong>da</strong> imprensa por tem<strong>as</strong> internacionais, vemviabilizando uma discussão transparente sobre a participação br<strong>as</strong>ileiraness<strong>as</strong> operações, respal<strong>da</strong>ndo <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> política externa<strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a melhor capacitar o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> a se fazer ouvir no <strong>de</strong>bate sobre<strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> paz e segurança n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Nesse capítulo,examina-se o relacionamento entre o Itamaraty e os <strong>de</strong>mais atoresenvolvidos, inclusive a mídia, cujo papel <strong>de</strong> difusor <strong>de</strong> informaçõesinfluencia a opinião pública. À luz <strong>da</strong> legislação vigente, são sugeridoscursos <strong>de</strong> ação frente aos empecilhos à participação br<strong>as</strong>ileira eminiciativ<strong>as</strong> como os arranjos <strong>de</strong> pronto emprego, que exigem prontareação às consult<strong>as</strong> formulad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobre cessão <strong>de</strong>pessoal para <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz. No final do capítulo, realiza-se, emcomplemento à atuação br<strong>as</strong>ileira no terreno, levantamento d<strong>as</strong> posiçõesadotad<strong>as</strong> pelo País quanto à conceituação, aos objetivos e àsperspectiv<strong>as</strong> futur<strong>as</strong> d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONUem foros como o Comitê Especial para <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong><strong>Paz</strong> <strong>da</strong> Assembléia Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e o Grupo Informal<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> “Amigos do Desdobramento Rápido”.Na conclusão, o trabalho preten<strong>de</strong> expor, com b<strong>as</strong>e nos <strong>da</strong>doslevantados e na experiência angaria<strong>da</strong>, <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> utilização eaperfeiçoamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> e os limites <strong>de</strong>sse instrumento para a política externabr<strong>as</strong>ileira. São explorad<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> ação realist<strong>as</strong> para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nesse campo,à luz <strong>da</strong> situação econômica vivi<strong>da</strong> pelo País, <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>recursos e materais, e dos princípios notiadores <strong>da</strong> relações internacionaisdo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> constantes no artigo 4 <strong>da</strong> Constituição, entre os quais, “soluçãopacífica <strong>de</strong> conflitos”, “<strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> paz”, a “auto<strong>de</strong>terminação dos povos”e a “cooperação entre os povos para o progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>” .Por fim, o Anexo é usado para reproduzir o texto do Pacto <strong>da</strong>Liga d<strong>as</strong> Nações e <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> do direito interno relativ<strong>as</strong> ao envio <strong>de</strong>contingentes militares ao exterior em tempo <strong>de</strong> paz.


INTRODUÇÃO 33Embora o livro centre sua análise n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, sempre que necessário são feit<strong>as</strong> referênci<strong>as</strong>aos <strong>de</strong>mais instrumentos empregados pela ONU no campo <strong>da</strong> paz e<strong>da</strong> segurança internacionais. Conviria, portanto, situar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz no contexto d<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>atuação <strong>da</strong> ONU. Tendo em vista que não existe consenso sobre acl<strong>as</strong>sificação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> categori<strong>as</strong> nem pronunciamento <strong>da</strong> AssembléiaGeral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (AGNU) sobre o <strong>as</strong>sunto, o livrofun<strong>da</strong>menta-se nos dois principais documentos existentes na matéria:“Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, apresenta<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral <strong>da</strong>ONU, Boutros Boutros-Ghali, em 17/6/92, e “Suplemento <strong>de</strong> UmaAgen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, divulgado em 3/1/95 4 . Nesses documentos,Boutros-Ghali cl<strong>as</strong>sificou <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s realizad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança em cinco categori<strong>as</strong> operacionais:diplomacia preventiva, promoção <strong>da</strong> paz, manutenção <strong>da</strong> paz,consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz e imposição <strong>da</strong> paz.A seguir, apresenta-se a <strong>de</strong>finição e comenta-se brevementeca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> categori<strong>as</strong>:• Diplomacia preventiva (preventive diplomacy) —compreen<strong>de</strong> <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a prevenir o surgimento <strong>de</strong>disput<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> partes, a evitar que <strong>as</strong> disput<strong>as</strong> existentes <strong>de</strong>generemem conflitos armados, e a impedir que estes, uma vez eclodidos, seal<strong>as</strong>trem. Contempla <strong>as</strong> diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação mencionad<strong>as</strong>no capítulo VI <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (solução pacífica d<strong>as</strong>controvérsi<strong>as</strong>) e outr<strong>as</strong> que venham a ser acor<strong>da</strong>d<strong>as</strong> entre osinteressados, tal como a iniciativa inovadora <strong>de</strong> emprego preventivo<strong>de</strong> trop<strong>as</strong> por parte <strong>da</strong> ONU na ex-República Iugoslava <strong>da</strong> Macedônia.Alguns autores preferem diferenciar entre a diplomacia preventivapropriamente dita e o emprego preventivo <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> (chamado <strong>de</strong>4Nações Unid<strong>as</strong>, doc. A/47/277-S/24111, <strong>de</strong> 1992, e Nações Unid<strong>as</strong>, doc. A/50/60-S/1995/1, <strong>de</strong> 1995.


34 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApreventive <strong>de</strong>ployment), pois a primeira seria uma ação consentid<strong>as</strong>em uso <strong>da</strong> força, enquanto o <strong>de</strong>sdobramento preventivo <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>seria uma ação consenti<strong>da</strong> com uso <strong>da</strong> força.• Promoção <strong>da</strong> paz (peacemaking) — <strong>de</strong>signa <strong>as</strong> açõesdiplomátic<strong>as</strong> posteriores ao início do conflito, para levar <strong>as</strong> parteslitigantes a suspen<strong>de</strong>r <strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a negociarem. As ações <strong>de</strong>promoção <strong>da</strong> paz b<strong>as</strong>eiam-se nos meios <strong>de</strong> solução pacífica <strong>de</strong>controvérsi<strong>as</strong> previstos no capítulo VI <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,os quais po<strong>de</strong>m incluir, em c<strong>as</strong>os extremos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do man<strong>da</strong>todos mediadores, o isolamento diplomático e a imposição <strong>de</strong>sanções, a<strong>de</strong>ntrando então n<strong>as</strong> ações coercitiv<strong>as</strong> previst<strong>as</strong> nocapítulo VII.• <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> paz (peacekeeping) — trata d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>slevad<strong>as</strong> a cabo no terreno com o consentimento d<strong>as</strong> partes em conflito,por militares, policiais e civis, para implementar ou monitorar a execução<strong>de</strong> arranjos relativos ao controle <strong>de</strong> conflitos (cessar-fogos, separação<strong>de</strong> forç<strong>as</strong> etc.) e sua solução (acordos <strong>de</strong> paz abrangentes ou parciais),em complemento aos esforços políticos realizados para encontrar um<strong>as</strong>olução pacífica e duradoura para o conflito. Nos anos 90, ess<strong>as</strong>operações p<strong>as</strong>saram a ser utilizad<strong>as</strong>, mormente, em contend<strong>as</strong> <strong>de</strong>natureza interna, caracterizad<strong>as</strong>, muit<strong>as</strong> vezes, por uma proliferação<strong>de</strong> atores ou pela falta <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> no local. Ness<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>,questiona-se o recurso indiscriminado às operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, visto que a situação volátil que enfrentam no terreno exigeca<strong>da</strong> vez mais que os integrantes disponham <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> para fazer cumpriro seu man<strong>da</strong>to e mesmo para auto<strong>de</strong>fesa.• Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz (post-conflict peace-building) — refereseàs iniciativ<strong>as</strong> executad<strong>as</strong> na seqüência <strong>da</strong> <strong>as</strong>sinatura <strong>de</strong> um acordo <strong>de</strong>paz, visando a fortalecer o processo <strong>de</strong> reconciliação nacional por meio


INTRODUÇÃO 35<strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong>stinados a recompor <strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong>institucionais, a recuperar a infra-estrutura física e a aju<strong>da</strong>r na retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica. Ess<strong>as</strong> ações, voltad<strong>as</strong> b<strong>as</strong>icamente para o<strong>de</strong>senvolvimento econômico e social do país anfitrião, são empreendid<strong>as</strong>preferencialmente por outros órgãos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, m<strong>as</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndod<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no terreno, po<strong>de</strong>m requerer a atuação militar.• Imposição <strong>da</strong> paz (peace-enforcement) — correspon<strong>de</strong> àsações adotad<strong>as</strong> ao abrigo do capítulo VII <strong>da</strong> Carta, incluindo o uso <strong>de</strong>força arma<strong>da</strong> para manter ou restaurar a paz e a segurançainternacionais em situações n<strong>as</strong> quais o CSNU tenha <strong>de</strong>terminado aexistência <strong>de</strong> uma ameaça à paz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão.Nesses c<strong>as</strong>os, o CSNU tem <strong>de</strong>legado a coalizões <strong>de</strong> país ouorganizações regionais e sub-regionais a execução m<strong>as</strong> não a conduçãopolítica do man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> intervenção. Muitos autores vêm criticando aabrangência <strong>de</strong>ssa categoria, que estaria abarcando, por exemplo, <strong>as</strong>intervenções em cenários <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>as</strong>tres humanitários, que mereceriamuma cl<strong>as</strong>sificação à parte.Em suma o livro, além <strong>de</strong> realizar uma reflexão sobre <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, almeja servir <strong>de</strong> manual e memóriaúteis para diplomat<strong>as</strong> e outros interessados na matéria, com umaconsoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> informações acerca <strong>de</strong> questões prátic<strong>as</strong> eoperacionais sobre <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz e com a apresentação <strong>de</strong> <strong>da</strong>dospormenorizados sobre a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ness<strong>as</strong> missões.Br<strong>as</strong>ília, 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1999.


CAPÍTULO IRETROSPECTIVA HISTÓRICA


RETROSPECTIVA HISTÓRICAOs organismos internacionais trouxeram, no século XX, algo<strong>de</strong> novo em matéria <strong>de</strong> paz e segurança internacionais: o sistema <strong>de</strong>segurança coletiva <strong>de</strong> alcance universal. Os fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong>Nações, em 1919, e d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, em 1945, centraram su<strong>as</strong>atenções em dois campos: a busca <strong>de</strong> instrumentos para promover <strong>as</strong>olução pacífica d<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong> e a preocupação em i<strong>de</strong>ntificarfórmul<strong>as</strong> para corrigir a conduta <strong>de</strong> Estados transgressores que<strong>de</strong>safi<strong>as</strong>sem a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, com a utilização <strong>de</strong> sançõese <strong>de</strong> meios militares 5 . Os sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança coletiva <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong>Nações e d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> serão <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong>no presente capítulo, não chegaram a ser implementados na prática,levando os Estados membros <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> organizações a<strong>de</strong>senvolverem mecanismos inovadores, que lhes permitissem atuar5Po<strong>de</strong>-se questionar a universali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a eficácia <strong>da</strong> Liga, pois embora estivesse compostapor 41 Estados Membros, em 1920, e 50, em 1924, sua composição sempre se ressentiu<strong>da</strong> falta <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong> e o seu sistema <strong>de</strong> segurança coletiva<strong>de</strong>pendia, em última instância, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões individuais. No c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, osEstados Membros p<strong>as</strong>saram <strong>de</strong> 51 em 1945 para 188 em 1999, m<strong>as</strong> a implementação d<strong>as</strong>medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança coletiva <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> harmonia entre os Membros permanentes doConselho <strong>de</strong> Segurança. Raymond Aron, na sua obra Paix et Guerre entre les Nations(1984), chega a questionar a idéia do conceito <strong>de</strong> segurança coletiva ao afirmar, na página704, que “quand les gran<strong>de</strong>s puissances sont d’accord, avec ou sans sécurité colective, iln’y a p<strong>as</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> guerre”. Por sua vez, Henry Kissinger no seu livro Diplomacy(1994), n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 246-250, faz um balanço negativo <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong>sse conceito, m<strong>as</strong>reconhece que <strong>as</strong> <strong>de</strong>ficiênci<strong>as</strong> do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva “...had not yet beenlearned in the innocent <strong>da</strong>ys when the concept of collective security w<strong>as</strong> first beingintroduced into diplomacy”.


40 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAno campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. Dentre os mecanismos<strong>de</strong>senvolvidos estão <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, cujaevolução histórica permite aferir com maior precisão seus fun<strong>da</strong>mentose limitações.O presente Capítulo buscará resgatar os princípios dos sistem<strong>as</strong><strong>de</strong> segurança <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações e d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, mencionando<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua implementação e <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> d<strong>as</strong> du<strong>as</strong>organizações no campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais até a consoli<strong>da</strong>ção do conceito e dos princípios d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Essa retrospectiva histórica nãopreten<strong>de</strong> ser exaustiva, pois ultrap<strong>as</strong>saria os limites <strong>de</strong>ste livro, m<strong>as</strong>busca <strong>de</strong>monstrar, entre outr<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>:- que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não estavam previst<strong>as</strong>nos instrumentos constitutivos <strong>da</strong>quel<strong>as</strong> Organizações e que seusurgimento (conceito, princípios e funções) foi resultado <strong>de</strong> lentoprocesso <strong>de</strong> evolução originado d<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> implementaçãodos sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança coletiva previstos nos mencionadosinstrumentos constitutivos;- que a Liga d<strong>as</strong> Nações e <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> não foram osúnicos órgãos a criarem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e<strong>da</strong> segurança internacionais;- que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não surgiram noâmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, possuindo antece<strong>de</strong>ntes nos anos 20 e30, ain<strong>da</strong> que sem o nome e os conceitos consoli<strong>da</strong>dos a partir dosanos 50;- que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz multidisciplinares(dit<strong>as</strong> <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração) não são fenômeno surgido no final dosanos 80, m<strong>as</strong> possuem antece<strong>de</strong>ntes tanto na Liga d<strong>as</strong> Nações, como


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 41n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> nos anos 60 (vi<strong>de</strong> tabela constante <strong>da</strong> página 100,que discreve <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> primeira e segun<strong>da</strong> gerações);- que <strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações financeir<strong>as</strong> são elementos importantes noprocesso <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões quanto ao lançamento <strong>de</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, sobretudo no âmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.A LIGA DAS NAÇÕES E SUA EXPERIÊNCIA NA MANUTENÇÃO DA PAZ E DASEGURANÇA INTERNACIONAISEmbora <strong>de</strong>stituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> resultados significativos no campo <strong>da</strong> paze <strong>da</strong> segurança, a Liga <strong>de</strong>u ensejo à aparição <strong>de</strong> idéi<strong>as</strong> concret<strong>as</strong>,respal<strong>da</strong>d<strong>as</strong> em nível governamental, sobre a criação <strong>de</strong> uma forçamilitar internacional permanente ou <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> pronto emprego<strong>de</strong> contingentes nacionais; ajudou a <strong>de</strong>senvolver uma consciênciajurídica contrária ao recurso à guerra n<strong>as</strong> relações internacionais e criouprece<strong>de</strong>ntes em matéria <strong>de</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> conflitos. Tais técnic<strong>as</strong>envolviam, entre outros <strong>as</strong>pectos, a administração temporária <strong>de</strong>territórios ou ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s por representantes especiais e o envio <strong>de</strong>observadores ou <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militares para cumprirem man<strong>da</strong>tos queiam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a manutenção <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e a supervisão <strong>de</strong> referendosaté o monitoramento <strong>da</strong> separação d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> beligerantes, aobservância <strong>de</strong> armistícios e cessar-fogos, a preservação <strong>de</strong> regiões<strong>de</strong>smilitarizad<strong>as</strong> ou zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> e a adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong><strong>de</strong> fortalecimento <strong>de</strong> confiança para reduzir tensões. Ess<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> se<strong>as</strong>semelhavam aos man<strong>da</strong>tos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong>ONU <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial.ORIGENSA criação do Pacto <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações <strong>de</strong>correu do conjunto<strong>de</strong> negociações que se realizaram entre os “Aliados e <strong>as</strong> Potênci<strong>as</strong>


42 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAAssociad<strong>as</strong>” na Conferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong> 18/1 a 28/4/1919,para selar a paz com a Alemanha 6 . Os trabalhos <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong>Re<strong>da</strong>ção do Pacto foram presididos pelo Presi<strong>de</strong>nte norte-americanoWoodrow Wilson, que tinha enunciado os chamados “14 princípiosbásicos <strong>da</strong> justiça internacional” em mensagem ao Congresso norteamericano,em 8/1/1918. Embora viessem à tona na Conferência <strong>de</strong>Paris vári<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> sobre a criação <strong>de</strong> um organismo internacional, ostrês projetos que tiveram influência <strong>de</strong>cisiva foram, além <strong>da</strong>quele doPresi<strong>de</strong>nte Wilson, o do General Jan Christiaan Smuts, representantedo domínio <strong>da</strong> África do Sul, e o do Lor<strong>de</strong> Robert Cecil, representantedo Império Britânico 7 .O projeto original do Pacto <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações, endossadopela Conferência <strong>de</strong> Paris em 14/2/1919, teve <strong>de</strong> ser revisto <strong>de</strong>forma a introduzir modificações sugerid<strong>as</strong>, sobretudo, peloPresi<strong>de</strong>nte estaduni<strong>de</strong>nse, para acomo<strong>da</strong>r a reação verifica<strong>da</strong> noCongresso dos EUA 8 . A gran<strong>de</strong> alteração recaiu sobre ocompromisso <strong>da</strong> Liga com a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e in<strong>de</strong>pendênciapolítica <strong>de</strong> seus membros, cujo <strong>de</strong>srespeito, nos termos dos artigos12, 13 e 15 do Pacto, acionaria a aplicação do sistema <strong>de</strong> segurançacoletiva previsto no artigo 16. Aten<strong>de</strong>ndo aos receios <strong>de</strong>congressist<strong>as</strong> norte-americanos <strong>de</strong> que os EUA po<strong>de</strong>riam ser6Macedo Soares, (1927), p. 60 e Thomson, (1976), p. 615. Os países <strong>de</strong>rrotados(Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria e Turquia), os países neutros e a Rússia nãoparticiparam do evento. O termo “Aliados e Potênci<strong>as</strong> Associad<strong>as</strong>” agrupou 27países in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que se fizeram representar em Paris, m<strong>as</strong> o total <strong>de</strong> participantespo<strong>de</strong>ria elevar-se a 32 se fossem contados, em separado, os domínios do ImpérioBritânico que tomaram parte d<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações (Austrália, África do Sul, Canadá,Índia e Nova Zelândia).7Macedo Soares, (1927), pp. 49-60; e Walters, (1952), pp. 15-24. Entre outros projetosapresentados, os autores citam: o <strong>da</strong> França, dos Países Baixos, <strong>da</strong> Áustria, <strong>da</strong> Itália, <strong>da</strong>Suíça e dos países escandinavos, além d<strong>as</strong> contribuições <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s não-governamentais,tal como a <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Alemã <strong>de</strong> Direito d<strong>as</strong> Gentes.8Todo o esforço foi em vão, pois o Presi<strong>de</strong>nte Wilson, apesar d<strong>as</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong>, não logrougranjear a maioria <strong>de</strong> 2/3 <strong>de</strong> votos necessária para fazer o Senado aprovar a ratificação doTratado <strong>de</strong> Versalhes em 19/12/1919 e 10/3/1920.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 43chamados a “intervir em to<strong>da</strong> parte” 9 , o texto do artigo 10 foi diluído,permitindo ao Conselho <strong>da</strong> Liga apen<strong>as</strong> recomen<strong>da</strong>r a mobilização<strong>de</strong> meios para o cumprimento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões, sempre que violadosos dispositivos do Pacto. Em razão <strong>da</strong> insistência européia, o textotambém acabou por enfatizar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter o statusquo territorial, introduzindo um elemento <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z no Pacto, quemuito contribuiu para o próprio <strong>de</strong>bilitamento <strong>da</strong> Liga ao longo dosanos 10 .Consoante acor<strong>da</strong>do, o texto foi incorporado ao Tratado <strong>de</strong>Versalhes, que foi <strong>as</strong>sinado pelos representantes alemães e pelos aliadosem 28/6/1919 11 . O n<strong>as</strong>cimento oficial <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações concretizou-secom a entra<strong>da</strong> em vigor do Tratado <strong>de</strong> Versalhes, em 10/1/1920.DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE SEGURANÇA COLETIVA DO PACTODA LIGA DAS NAÇÕESEm linh<strong>as</strong> gerais, o sistema <strong>de</strong> segurança coletiva do Pacto <strong>da</strong>Liga prescrevia que todos os seus membros se comprometiam arespeitar e a manter a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e a in<strong>de</strong>pendência política<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les contra a agressão externa (art. 10), ao mesmo tempoem que indicava mecanismos para a solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>,por intermédio <strong>da</strong> submissão dos litígios ao processo <strong>de</strong> arbitragem, auma solução judiciária ou ao exame pelo Conselho <strong>da</strong> Liga (art. 12).9Almei<strong>da</strong>, (1938), p. 43.10Prazeres, (1922), pp. 295-297.A fórmula inicial era <strong>de</strong> que os membros <strong>de</strong>veriam “...respeitar e preservar contra to<strong>da</strong> agressão ... a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e a in<strong>de</strong>pendênciapolítica”, <strong>de</strong>vendo “... o Conselho cui<strong>da</strong>r dos meios próprios para <strong>as</strong>segurar o cumprimento<strong>de</strong>ssa obrigação”. Na versão final, a Liga prescreve que seus membros se comprometem”...a respeitar e a manter contra to<strong>da</strong> a agressão...a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e a in<strong>de</strong>pendênciapolítica atual”, sendo que o Conselho”...recomen<strong>da</strong>rá os meios para <strong>as</strong>segurar ocumprimento <strong>de</strong>ssa obrigação”.11Thomson, (1976), pp. 614 e 626. O texto do Pacto <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações viria a figurar,como parte I, em todos os tratados internacionais celebrados em conseqüência <strong>da</strong> IGuerra Mundial. Ver texto integral do Pacto <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações no Anexo <strong>de</strong>ste livro.


44 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAOs membros obrigavam-se a não recorrer à guerra antes <strong>da</strong> expiraçãodo prazo <strong>de</strong> três meses após o anúncio <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão arbitral ou judicialou do relatório do Conselho (art. 12 in fine), bem como secomprometiam a não <strong>de</strong>clarar guerra a nenhum membro <strong>da</strong> Liga quetivesse aceito a sentença judicial ou arbitral (art. 13) ou que tivesseacolhido <strong>as</strong> recomen<strong>da</strong>ções do relatório do Conselho aprovado porunanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> (art. 15,§6). C<strong>as</strong>o os artigos 12, 13 e 15 fossem violados,o membro transgressor, consi<strong>de</strong>rado como tendo cometido um ato <strong>de</strong>guerra contra todos os Membros <strong>da</strong> Liga, ficaria sujeito às medid<strong>as</strong>coercitiv<strong>as</strong> previst<strong>as</strong> no Pacto, entre <strong>as</strong> quais o imediato rompimento<strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações comerciais ou financeir<strong>as</strong> (art. 16). Além disso, oConselho <strong>da</strong> Liga recomen<strong>da</strong>ria aos os efetivos militares, navais ouaéreos que <strong>de</strong>veriam se cedidos pelos Membros interessados paracompor uma força internacional <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a fazer respeitar oscompromissos <strong>da</strong> Liga (art. 16,§2). Na eventuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não sealcançar uma <strong>de</strong>cisão unânime sobre o <strong>as</strong>sunto naquele foro (<strong>as</strong> partesem conflito estavam excluíd<strong>as</strong> do processo <strong>de</strong> votação), os Membrospo<strong>de</strong>riam proce<strong>de</strong>r como julg<strong>as</strong>sem necessário para a manutenção dodireito e <strong>da</strong> justiça (art. 15,§7 — nesse c<strong>as</strong>o, contudo, não seria maisuma ação concerta<strong>da</strong> pela Liga, m<strong>as</strong> consenti<strong>da</strong>). O Pacto estipulavaque os árbitros ou juízes <strong>de</strong>veriam apresentar su<strong>as</strong> sentenç<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> razoável espaço <strong>de</strong> tempo e especificava o limite <strong>de</strong> seis mesespara a divulgação do relatório do Conselho (art. 12,§2). No entanto, aLiga não po<strong>de</strong>ria intervir nos <strong>as</strong>suntos que fossem do domínio internodos membros (art. 5,§8). Por fim, o Pacto explicitava que seusdispositivos po<strong>de</strong>riam ser aplicados a não-membros com ou semconsentimento (art. 17).A PROPOSTA DE DOTAR A LIGA DAS NAÇÕES DE MEIOS COERCITIVOSEm 1919, a França apresentou na Comissão <strong>de</strong> criação <strong>da</strong>Liga d<strong>as</strong> Nações proposta que, conquanto não tenha prosperado, lançou


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 45<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es <strong>da</strong> discussão, já no âmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, sobre autilização <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> permanentes sob o controle <strong>da</strong> Organização(standing forces) ou <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> pronto emprego que permaneceriamem seus países <strong>de</strong> origem (stand-by forces). Essa discussão voltou ater gran<strong>de</strong> importância nos anos 90, por oc<strong>as</strong>ião do <strong>de</strong>bate sobre <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.As idéi<strong>as</strong> apresentad<strong>as</strong> pela França b<strong>as</strong>eavam-se em estudoencomen<strong>da</strong>do pelo Governo francês a uma comissão <strong>de</strong> peritos em1917, sob a presidência <strong>de</strong> Léon Bourgeois. Em junho <strong>de</strong> 1918, acomissão concluiu su<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações, recomen<strong>da</strong>ndo, entre outr<strong>as</strong>sugestões, que a Liga cont<strong>as</strong>se com meios coercitivos para obrigar osEstados a honrarem <strong>as</strong> obrigações contraíd<strong>as</strong> 12 . A Organização <strong>de</strong>veriadispor <strong>de</strong> uma força militar permanente ou estar capacita<strong>da</strong> a mobilizar,quando necessário, contingentes nacionais para compor uma força militarinternacional. O trabalho propunha a criação <strong>de</strong> um Estado-Maior queteria a tarefa <strong>de</strong> organizar e treinar <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma força permanenteou coor<strong>de</strong>nar o treinamento e a mobilização <strong>de</strong> contigentes nacionais.O Estado-Maior teria a incumbência <strong>de</strong> manter planos atualizados parao emprego <strong>de</strong>ssa força, <strong>as</strong>sim como <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r pela condução d<strong>as</strong>operações no terreno. Ca<strong>da</strong> Estado <strong>de</strong>signaria um ou maisrepresentantes para os seus quadros e, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> serem <strong>as</strong> forç<strong>as</strong>militares acionad<strong>as</strong>, o coman<strong>da</strong>nte no teatro operacional seria um oficial<strong>de</strong>signado pela Organização. Ess<strong>as</strong> sugestões foram recebid<strong>as</strong> comceticismo pelo próprio Governo francês, que, mesmo <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> enviouao Presi<strong>de</strong>nte Wilson antes <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>.Na Conferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, Wilson comentou que “the UnitedStates would never ratify any treaty which put the force of theUnites States at the disposal of such a group or body” 13 ,acrescentando que tal força substituiria o militarismo nacional pelo12O livro <strong>de</strong> Kissinger Diplomacy, (1994), pp. 235-237, oferece maiores informaçõessobre o <strong>as</strong>sunto.13Verrier, (1981), p. 26.


46 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmilitarismo internacional. D<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> apresentad<strong>as</strong> pela França, aConferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> aproveitou somente a sugestão do estabelecimento<strong>de</strong> uma Comissão Permanente para <strong>as</strong> Questões Militares, Navais eAére<strong>as</strong>, que p<strong>as</strong>sou a constar do nono artigo do Pacto. Não obstante<strong>as</strong> reações negativ<strong>as</strong>, esse país voltou a insistir em dotar <strong>de</strong> meioscoercitivos a Liga nos anos 30, sempre tendo presente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> conter a Alemanha – planos Tardieu e Paul-Boncour, <strong>de</strong> 1932, e oplano Flandin, <strong>de</strong> 1936. Tais planos advogavam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> osEstados manterem contingentes militares em estado <strong>de</strong> prontidão e aconveniência <strong>de</strong> os arsenais nacionais serem limitados. Os Estadosnão podiam dispor <strong>de</strong> armamentos pesados, acima <strong>de</strong> certa tonelagemou calibre, que ficariam sob a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Liga 14 .A EXPERIÊNCIA DA LIGA DAS NAÇÕES NA MANUTENÇÃO DA PAZA Liga <strong>de</strong>sempenhou também ação internacional que repercutiusobre o acervo <strong>de</strong> instrumentos existentes no campo d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> <strong>de</strong>manejo <strong>de</strong> conflitos, pois teve <strong>de</strong> regulamentar dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s territoriais,jurídic<strong>as</strong> e financeir<strong>as</strong> oriund<strong>as</strong> <strong>de</strong> guerr<strong>as</strong>, além <strong>de</strong> intervir em conflitos<strong>de</strong> outra natureza, inclusive na América do Sul, n<strong>as</strong> questões <strong>de</strong> Letícia(sua intervenção, mormente entre fevereiro <strong>de</strong> 1933 e maio <strong>de</strong> 1934,foi coroa<strong>da</strong> <strong>de</strong> êxito, graç<strong>as</strong>, contudo, à mediação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>) e doChaco (sua tentativa <strong>de</strong> mediação, sobretudo entre novembro <strong>de</strong> 1934e fevereiro <strong>de</strong> 1935, não prosperou). Esses <strong>de</strong>sdobramentos levarama Liga a interpretar criativamente o artigo 11 do Pacto. De inspiraçãomoralista, o artigo tornou-se, ao longo dos anos, uma d<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong>angulares <strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações em matéria <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.Com efeito, o artigo 11 permitiu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>mecanismos inovadores para a atuação <strong>da</strong> Liga ao <strong>de</strong>terminar que14Para maiores informações, ver Margueritte, (1939), pp. 131-139; Walters, (1952), p.502 e Almei<strong>da</strong>, (1938), pp. 87-88 e 229.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 47to<strong>da</strong> guerra ou ameaça <strong>de</strong> guerra interessa a to<strong>da</strong> a Liga, que <strong>de</strong>veadotar <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> apropriad<strong>as</strong> para garantir a paz. O mesmo artigotambém dispõe que todo Membro <strong>da</strong> Liga tem o direito <strong>de</strong> chamar aatenção <strong>da</strong> Assembléia ou do Conselho para to<strong>da</strong> circunstânci<strong>as</strong>uscetível <strong>de</strong> atingir <strong>as</strong> relações internacionais e que ameace perturbara paz ou a boa harmonia entre <strong>as</strong> nações.Os membros <strong>da</strong> Organização acabaram atribuindo papelpreventivo à Liga, que p<strong>as</strong>sou a recomen<strong>da</strong>r a adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong>proporcionais às circunstânci<strong>as</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> conflito, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<strong>da</strong> existência <strong>de</strong> violação <strong>de</strong> uma d<strong>as</strong> situações previst<strong>as</strong> nos artigos12, 13 e 15 e sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> impor sanções extremad<strong>as</strong>,nos mol<strong>de</strong>s preconizados pelo artigo 16 do Pacto. O leque <strong>de</strong> açõescompreendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> exortações à paz até a persu<strong>as</strong>ão por meio <strong>da</strong>ameaça do uso <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong>. Em suma, o artigo 11 propiciou, aum tempo, i) superar <strong>as</strong> reserv<strong>as</strong> <strong>da</strong>queles que receavam tornar aOrganização uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> supranacional, com a constituição, atémesmo, <strong>de</strong> uma força militar permanente, e ii) conferir àOrganização, sempre sob a chancela d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong>presentes no Conselho, uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliação e <strong>de</strong>prevenção <strong>de</strong> conflitos na or<strong>de</strong>m internacional 15 . Os litígios tratadossob a égi<strong>de</strong> do artigo 11, aliados às soluções sugerid<strong>as</strong>, mormentepela Conferência dos Embaixadores <strong>de</strong> Paris para os arranjosterritoriais após a I Guerra Mundial 16 , criaram os prece<strong>de</strong>nteshistóricos para <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.A tabela n° 1 ilustra os episódios mais significativos ocorridosnos anos 20 e 30 que implicaram a intervenção <strong>da</strong> Liga ou <strong>da</strong> Conferênciados Embaixadores com meios militares e civis:15Almei<strong>da</strong>, (1938), p. 146-148. O autor relaciona 23 diferendos que foram examinadospelo Conselho com b<strong>as</strong>e no artigo 11.16A Conferência dos Embaixadores era integra<strong>da</strong> pelos Embaixadores do ImpérioBritânico, <strong>da</strong> Itália e do Japão acreditados junto ao Governo francês, além <strong>de</strong> contarcom a presença <strong>de</strong> um representante <strong>da</strong> França. A Conferência já estava per<strong>de</strong>ndoimportância em 1924.


48 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 1INTERVENÇÕES DA LIGA DAS NAÇÕES OUDA CONFERÊNCIA DOS EMBAIXADORES17As Comissões do Referendo eram enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s criad<strong>as</strong> ad hoc por sugestão <strong>da</strong> Conferênciados Embaixadores. Su<strong>as</strong> composições eram variáveis.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 4918O relatório foi elaborado por G<strong>as</strong>tão <strong>da</strong> Cunha, Embaixador do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em Paris eprimeiro Representante do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> na Liga. A Delegação Permanente do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em Genebr<strong>as</strong>ó foi cria<strong>da</strong> em março <strong>de</strong> 1924, tendo como seu titular o Embaixador Afrânio <strong>de</strong> MeloFranco.


50 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAFonte: Almei<strong>da</strong>, (1938); Walters, (1952); James (1990) e Ratner (1995).19O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> já não era mais membro <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações. O anúncio <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> <strong>de</strong>u-se em12/6/26 sob o Governo Artur Bernar<strong>de</strong>s, m<strong>as</strong> a <strong>de</strong>núncia só se efetivou sob o GovernoW<strong>as</strong>hington Luíz em 12/6/28, transcorrido o prazo <strong>de</strong> dois anos previsto no Pacto para osc<strong>as</strong>os <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia. O País p<strong>as</strong>sou então a adotar o que se <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “conceito <strong>de</strong>colaboração <strong>de</strong>sinteressa<strong>da</strong> do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> com a Liga d<strong>as</strong> Nações”, isto é, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> continuariaa participar d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Liga, quando convi<strong>da</strong>do e sempre que julg<strong>as</strong>se conveniente.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 51As missões <strong>da</strong> Liga ou <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> convocad<strong>as</strong> pela Conferênciados Embaixadores estavam atuando em sintonia com os princípios <strong>de</strong>imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e uso limitado <strong>da</strong> força que viriam a orientar <strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, sempre com o consentimento d<strong>as</strong>partes envolvid<strong>as</strong>. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que os Tratados <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> po<strong>de</strong>m ser vistoscomo resultantes <strong>de</strong> negociações entre <strong>de</strong>siguais, m<strong>as</strong> a ratificação dosatos internacionais correspon<strong>de</strong>, pelo menos formalmente, à expressão<strong>de</strong> consentimento. O êxito <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> missões precursor<strong>as</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u donível <strong>de</strong> cooperação granjeado no terreno e do engajamento dos paísesmais po<strong>de</strong>rosos no equacionamento <strong>da</strong> controvérsia, visto que taispaíses <strong>de</strong>tinham a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização militar e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãopara a imposição <strong>de</strong> sanções. Os custos <strong>de</strong> mobilização, manutençãoe repatriação <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> eram arcados pelos participantes ou pel<strong>as</strong> partesem conflito no terreno, fazendo com que, se, por um lado, a Liga nãoenfrent<strong>as</strong>se crises financeir<strong>as</strong> em função d<strong>as</strong> operações militares, poroutro, estava inteiramente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos Estados membros paraimplementá-l<strong>as</strong>.Tais iniciativ<strong>as</strong> não estavam previst<strong>as</strong> no Pacto e surgiram <strong>da</strong>necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrarem meios para atuar num ambiente em quea guerra não tinha sido proscrita e os cursos <strong>de</strong> ação imaginados pelosistema <strong>de</strong> segurança coletiva eram <strong>de</strong> difícil implementação – sanções eações militares. O professor Alan James, em sua obra Peacekeeping inInternational Politics, realça a importância <strong>de</strong>sses prece<strong>de</strong>ntes aoafirmar que “they provi<strong>de</strong> a very useful remin<strong>de</strong>r that the employmentof multinational military teams to engage in impartial and nonthreateningactivity is not an i<strong>de</strong>a which w<strong>as</strong> stumbled on only afterthe Second World War” 20 . Em suma, a primeira experiência mo<strong>de</strong>rna<strong>de</strong> criar uma organização universal <strong>de</strong> Estados <strong>de</strong>dicados à paz e àsegurança internacionais não prosperou nos mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sejados 21 , m<strong>as</strong>, a20James, (1990), p. 19.21Atribui-se o frac<strong>as</strong>so <strong>da</strong> Liga à sua não-universali<strong>da</strong><strong>de</strong> e às lacun<strong>as</strong> <strong>de</strong> seu sistema <strong>de</strong>segurança coletiva. Ess<strong>as</strong> <strong>de</strong>ficiênci<strong>as</strong> levaram ao ressurgimento d<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> política


52 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>de</strong>speito <strong>de</strong> su<strong>as</strong> falh<strong>as</strong>, estabeleceu prece<strong>de</strong>ntes no campo <strong>da</strong>cooperação multilateral para a solução <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong> tal modo que<strong>as</strong> origens d<strong>as</strong> diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>da</strong>tam <strong>de</strong>sse período. Esses prece<strong>de</strong>ntes conferemcontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ao longodo século XX.As Nações Unid<strong>as</strong> e sua experiência na manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionaisORIGENSA Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> resultou <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>negociação que ocorreu durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Estudospara reformar a Liga d<strong>as</strong> Nações estiveram em discussão nos anos 30,m<strong>as</strong> a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do conflito e <strong>as</strong> falh<strong>as</strong> do Pacto levaram <strong>as</strong> gran<strong>de</strong>spotênci<strong>as</strong> a consi<strong>de</strong>rar a criação <strong>de</strong> nova organização internacional.Tais idéi<strong>as</strong> p<strong>as</strong>saram a ganhar corpo na Conferência <strong>de</strong> DumbartonOaks, <strong>de</strong> agosto a outubro <strong>de</strong> 1944, quando China, EUA, Reino Unido<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e do equilíbrio entre alianç<strong>as</strong>. É emblemático <strong>de</strong>sse período o Tratado <strong>de</strong>Locarno <strong>de</strong> 1925. O Reino Unido e a Itália p<strong>as</strong>saram a atuar como garantes d<strong>as</strong>fronteir<strong>as</strong> entre Alemanha-Bélgica-França, ao p<strong>as</strong>so que <strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> entre Alemanha-Polônia-Tchecoslováquia ficaram <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> por meio <strong>da</strong> arbitragem. Ao mesmotempo, a França <strong>as</strong>sinava acordos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa mútua com países do Leste Europeu. AsAlianç<strong>as</strong> li<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> pela França e o Tratado <strong>de</strong> Locarno comprometiam o espírito d<strong>as</strong>egurança coletiva ao afirmar que os membros <strong>da</strong> Liga po<strong>de</strong>riam distinguir entrepartes dos arranjos territoriais em que estavam interessados em preservar, e outr<strong>as</strong>partes que não estavam dispostos a garantir. O colapso do sistema veio com oaparecimento <strong>da</strong> doutrina <strong>de</strong> apaziguamento, inspira<strong>da</strong> por Neville Chamberlain,segundo a qual <strong>as</strong> pretensões <strong>da</strong> Alemanha (Hitler) e <strong>da</strong> Itália (Mussolini) não eram<strong>de</strong>m<strong>as</strong>iad<strong>as</strong> e visavam somente a equilibrar um estado <strong>de</strong> situação que lhes era<strong>de</strong>sfavorável. Imaginava Chamberlain que, uma vez satisfeit<strong>as</strong> <strong>as</strong> pretensões <strong>de</strong>ssesdois países, a paz na Europa po<strong>de</strong>ria ser construí<strong>da</strong> sobre fun<strong>da</strong>ções realist<strong>as</strong>, e nãosobre b<strong>as</strong>es principist<strong>as</strong>, como propunha a alternativa do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva.Para uma boa reflexão sobre o tema, ver Diplomacy <strong>de</strong> Henry Kissinger (1994),págin<strong>as</strong> 246-318.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 53e União Soviética se reuniram para discutir o <strong>as</strong>sunto 22 . A arquiteturajurídica básica <strong>da</strong> Organização foi então <strong>de</strong>senha<strong>da</strong>, com a <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong> se atribuir a um órgão reduzido, no qual <strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong>gozariam <strong>de</strong> privilégios especiais, a condução prioritária dos <strong>as</strong>suntosafetos à paz e à segurança internacionais. As questões sobre acomposição <strong>de</strong> uma força internacional permanente ou <strong>de</strong> um sistema<strong>de</strong> arregimentação <strong>de</strong> contingentes nacionais, idéi<strong>as</strong> ventilad<strong>as</strong> pelaFrança na Conferência <strong>de</strong> Paris em 1919 e nos anos 30, foram tratad<strong>as</strong>em Dumbarton Oaks (ver subitem 1.1.3, supra). O Presi<strong>de</strong>nteFranklin Roosevelt rejeitou a noção <strong>de</strong> um “superstate with its ownpolice force and other paraphernalia of coercitive power” 23 . Ospontos não <strong>as</strong>sentados no <strong>de</strong>curso d<strong>as</strong> negociações, sobretudo osrelativos ao sistema <strong>de</strong> votação, foram levados para a Conferência<strong>de</strong> Ialta, em 11/2/45, à qual compareceram Churchill, Roosevelt eStalin. Na Conferência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, que se realizou em SãoFrancisco, <strong>de</strong> 25/4/45 a 26/6/45, o texto foi finalizado, preservandoseos pontos essenciais acor<strong>da</strong>dos entre os gran<strong>de</strong>s “vencedores” <strong>da</strong>Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial.DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE SEGURANÇA COLETIVA DA CARTADAS NAÇÕES UNIDASNo campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais,a Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> consagrou esses termos evitando usaroutros como “segurança coletiva” e “guerra”. No entanto, embora otermo “segurança coletiva” não esteja mencionado na Cartaexplicitamente, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que ela contempla tal sistema, pois,conforme conceitua o jurista Hans Kelsen, “falamos <strong>de</strong> segurança coletiva22Araújo, (1996) p. 328. As conversações <strong>de</strong> Dumbarton Oaks se realizaram em du<strong>as</strong> etap<strong>as</strong>:a primeira, envolvendo o Reino Unido, os Estados Unidos e a União Soviética (<strong>de</strong> 24/8 a 28/9/44) e, a segun<strong>da</strong>, o Reino Unido, os Estados Unidos e a China (<strong>de</strong> 29/9 a 7/10/44).23Ruggie, (1996), pp. 1-2; e Patriota, (1997), pp. 11-13.


54 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAquando a reação contra <strong>as</strong> violações do direito <strong>as</strong>sume o caráter <strong>de</strong>uma ação compulsória coletiva” 24 . Outra noção <strong>de</strong> segurança coletivacompatível com o sistema previsto na Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> é a <strong>da</strong>Comissão <strong>de</strong> Medid<strong>as</strong> Coletiv<strong>as</strong> cria<strong>da</strong> pela parte C <strong>da</strong> Resolução377(V) <strong>da</strong> AGNU <strong>de</strong> 3/11/50, que <strong>de</strong>finiu a segurança coletiva, emrelatório <strong>de</strong> 1951, como sendo “planos para um sistema <strong>de</strong> sançõesque possa evitar a ação <strong>de</strong> qualquer Estado tentado a cometer agressãoou, não o conseguindo, <strong>as</strong>segurar que o agressor tenha <strong>de</strong> se <strong>de</strong>frontarnão unicamente com sua vítima, m<strong>as</strong> com a força uni<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional” 25 .Cumpre salientar, antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>segurança coletiva constante <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> é reforçadopor um conjunto <strong>de</strong> propósitos e princípios, capitulados nos artigos 1e 2 <strong>da</strong>quele instrumento, que <strong>de</strong>ve nortear o relacionamento dos Estadosno cenário internacional.Em termos gerais, a Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ressalta queseus Membros <strong>de</strong>vem resolver controvérsi<strong>as</strong> por meios pacíficos <strong>de</strong>modo que não se perturbe a paz, a segurança e a justiça internacionais(art. 2,§3; art. 33). Eles <strong>de</strong>vem também evitar a ameaça ou o uso <strong>da</strong>força contra a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial ou a in<strong>de</strong>pendência política <strong>de</strong>outros Estados, ou qualquer outra ação incompatível com os propósitos<strong>da</strong> Organização (art. 2,§4). Devem, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong>r às Nações Unid<strong>as</strong> to<strong>da</strong><strong>as</strong>sistência, em qualquer ação adota<strong>da</strong> consoante a Carta, abstendose<strong>de</strong> prestar auxílio a qualquer Estado contra o qual a Organizaçãoaja, <strong>de</strong> modo preventivo ou coercitivo (art. 2,§5). No tocante àsegurança internacional, os Membros <strong>as</strong>sumem o compromisso <strong>de</strong>:acatar <strong>as</strong> sanções <strong>de</strong>cidid<strong>as</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> (CSNU), cuj<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m variar (art. 41);proporcionar ao Conselho, a seu pedido e <strong>de</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> comacordos especiais, forç<strong>as</strong> armad<strong>as</strong>, <strong>as</strong>sistência e facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s (art. 43);24Rodrigues, (1972), p. 48.25Rodrigues, (1972), pp. 48-49.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 55manter em prontidão contingentes <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> aére<strong>as</strong> nacionais, para acombinação <strong>de</strong> uma ação coercitiva internacional (art. 45); aceitar eimplementar <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões do CSNU (arts. 25 e 48), ao qual conferem aprincipal responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais (art. 24,§1). O CSNU, cujo sistema <strong>de</strong> votação implica odireito <strong>de</strong> veto para os seus Membros permanentes (art. 27), po<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberarsobre qualquer ameaça à paz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão (art. 39),sendo-lhe permitido, até mesmo, imiscuir-se em <strong>as</strong>suntos afetos à jurisdiçãointerna dos Estados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> estejam amparad<strong>as</strong> peloCapítulo VII (art. 2,§7). Os membros <strong>da</strong> ONU prestar-se-ão, a<strong>de</strong>mais,<strong>as</strong>sistência mútua para a execução d<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> pelo CSNU(art. 49). Constitui também obrigação dos mesmos comunicarimediatamente ao CSNU <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> adotad<strong>as</strong> no exercício do direito <strong>de</strong>legítima <strong>de</strong>fesa individual ou coletiva (art. 51), e to<strong>da</strong> ação empreendi<strong>da</strong>ou projeta<strong>da</strong> por acordos ou enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>menteautoriza<strong>da</strong> pelo CSNU no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> ações coercitiv<strong>as</strong>, para a manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais (arts. 53,§1 e 54). Finalmente, aCarta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> estabelece que a Organização <strong>de</strong>verá fazercom que mesmo os Estados que não sejam membros <strong>da</strong> ONU proce<strong>da</strong>m<strong>de</strong> acordo com seus princípios, na medi<strong>da</strong> necessária à manutenção <strong>da</strong>paz e <strong>da</strong> segurança internacionais (art. 2,§6).A fim <strong>de</strong> melhor compreen<strong>de</strong>r a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o alcance do sistema<strong>de</strong> segurança coletiva previsto na Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, caberiacompará-lo, ain<strong>da</strong> que <strong>de</strong> forma concisa, com o sistema <strong>de</strong> segurançacoletiva do Pacto <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações, <strong>de</strong>scrito no subitem 1.1.2, supra.É evi<strong>de</strong>nte que o regime <strong>de</strong> sanções <strong>da</strong> ONU é umaprimoramento em relação ao <strong>da</strong> Liga. O artigo 16 do Pacto erainflexível e estrito. O dispositivo autorizava a aplicação <strong>de</strong> sançõesapen<strong>as</strong> em circunstânci<strong>as</strong> <strong>de</strong> agressão, violados os artigos 12, 13 ou15 do Pacto constitutivo, e <strong>as</strong> concebia como remédio extremo. Emcontraparti<strong>da</strong>, o artigo 41 <strong>da</strong> Carta foi elaborado para remediar os<strong>de</strong>feitos do regime do Pacto. O texto proporciona ao CSNU ampla


56 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAflexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para impor sanções que po<strong>de</strong>m incluir “interrupçãocompleta ou parcial d<strong>as</strong> relações econômic<strong>as</strong>, dos meios <strong>de</strong>comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos,radiofônicos, ou <strong>de</strong> qualquer outra espécie, e o rompimento d<strong>as</strong>relações diplomátic<strong>as</strong>.” Além disso, os artigos 25 e 48 <strong>da</strong> Cartatornaram compulsória a execução do regime <strong>de</strong> sanções instituídopelo CSNU. Na época <strong>da</strong> Liga, ca<strong>da</strong> Estado <strong>de</strong>cidia soberanamentesobre a sua implementação, já que, embora o artigo 16 previaautomatici<strong>da</strong><strong>de</strong> e simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> na aplicação <strong>de</strong> sanções diplomátic<strong>as</strong>e econômic<strong>as</strong>, a II Assembléia <strong>da</strong> Organização tinha adotado, emsetembro <strong>de</strong> 1921, resolução pela qual afirmava ser <strong>da</strong> competência<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Membro <strong>de</strong>cidir se se verificara ou não uma violação doPacto 26 .No tocante ao uso <strong>da</strong> força, a mu<strong>da</strong>nça foi radical. A guerratornou-se um ilícito internacional com a proibição do recurso “àameaça ou ao uso <strong>da</strong> força”, dispondo o CSNU do monopólio dopo<strong>de</strong>r coercitivo para tomar <strong>as</strong> providênci<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> para obrigaro Estado faltoso a mu<strong>da</strong>r seu comportamento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitadosos requisitos dos artigos 39 (caracterização <strong>da</strong> violação: ameaça àpaz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão) e 41 (aplicação <strong>de</strong> sançõesnão-militares antes <strong>de</strong> se recorrer à força). Lembre-se que no Pacto<strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações a guerra ain<strong>da</strong> era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um recursolegítimo à disposição dos Estados, sinal <strong>de</strong> sua soberania. O Pactointroduziu apen<strong>as</strong> a idéia <strong>de</strong> prazo moratório: a guerra era uma opçãolegal para dirimir controvérsi<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não <strong>de</strong>veria ser preferi<strong>da</strong>. Erapreciso que se tent<strong>as</strong>se primeiro mecanismos <strong>de</strong> solução pacíficae, somente após o frac<strong>as</strong>so <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> equacionamento<strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong>corrido um prazo <strong>de</strong> 3 meses, tornava-se lícito26Os termos <strong>da</strong> Resolução nº 4 eram: “It is the duty of each Member of the League to<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> for itself whether a breach of the Covenant h<strong>as</strong> been committed. The fulfillment oftheir duties un<strong>de</strong>r Article 16 is required from Members of the League by the expressterms of the Covenant, and they cannot neglect them without breach of their Treatyobligations.”


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 57recorrer às arm<strong>as</strong>. Dentro do sistema <strong>da</strong> ONU, os únicos empregoslegítimos <strong>da</strong> força arma<strong>da</strong> <strong>de</strong>correm <strong>da</strong> aplicação do princípio <strong>da</strong>legítima <strong>de</strong>fesa individual ou coletiva (art. 51) ou do cumprimento<strong>de</strong> man<strong>da</strong>to aprovado pelo CSNU (arts. 42, 48, 53). Também seriapossível invocar o c<strong>as</strong>o do uso <strong>da</strong> força pelos movimentos <strong>de</strong>libertação nacional, que, para a Assembléia Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> (AGNU), p<strong>as</strong>saram a po<strong>de</strong>r recorrer legitimamente à lutaarma<strong>da</strong> para implementar seu direito <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminação 27 . OConselho <strong>da</strong> Liga limitava-se a recomen<strong>da</strong>r a adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong>militares, ao p<strong>as</strong>so que o CSNU po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a imposição <strong>de</strong>“bloqueios, embargos e outr<strong>as</strong> sanções coercitiv<strong>as</strong>”, emconsonância com o artigo 42 in fine, bem como mobilizar trop<strong>as</strong>sediad<strong>as</strong> nos Estados membros. Ess<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> seriam previamentei<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> por meio <strong>de</strong> acordos especiais <strong>as</strong>sinados entre o CSNUe os Estados membros ao amparo do artigo 43 (tipos <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>,grau <strong>de</strong> prontidão, localização geral e equipamentos disponíveis).Tanto a Liga como <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> previram a criação <strong>de</strong> umaComissão <strong>de</strong> Estado-Maior para acompanhar os <strong>as</strong>suntos militarese <strong>as</strong>sistir aos respectivos Conselhos.Na prática, o CSNU dispõe <strong>de</strong> um raio <strong>de</strong> ação bem maisamplo do que o Conselho <strong>da</strong> Liga, na medi<strong>da</strong> em que po<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong>qualquer “ameaça à paz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão”, além <strong>de</strong><strong>de</strong>liberar sobre <strong>as</strong>suntos internos dos Estados membros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aoamparo do Capítulo VII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Para <strong>da</strong>r maioragili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao sistema <strong>de</strong>cisório, a Carta rejeitou a <strong>de</strong>sacredita<strong>da</strong> regra<strong>da</strong> unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Atualmente, <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões são tomad<strong>as</strong> no CSNU pormaioria <strong>de</strong> pelo menos nove votos. N<strong>as</strong> questões não-processuais essa27A AGNU aprovou inúmer<strong>as</strong> resoluções sobre a matéria. Entre outr<strong>as</strong>, po<strong>de</strong>-secitar a Resolução nº 1514(XV), <strong>de</strong> 14/12/60, que contém a Declaração sobre Outorga<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência a Países e Povos Coloniais – conheci<strong>da</strong> com a Magna Carta <strong>da</strong><strong>de</strong>scolonização – e a Resolução nº 3103(XXVIII), <strong>de</strong> 1973, que insta os EstadosMembros a consi<strong>de</strong>rarem os conflitos envolvendo lut<strong>as</strong> <strong>de</strong> libertação nacional comoconflitos internacionais nos termos d<strong>as</strong> Convenções <strong>de</strong> Genebra <strong>de</strong> 1949.


58 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmaioria <strong>de</strong>ve incluir o voto afirmativo dos cinco Membrospermanentes (é o chamado direito <strong>de</strong> veto) 28 . Esses Membrospermanentes eram os gran<strong>de</strong>s “vencedores” do pós-guerra (EstadosUnidos, Reino Unido, União Soviética, França e China), cujo po<strong>de</strong>rcoercitivo era consi<strong>de</strong>rado necessário para <strong>da</strong>r à força coletiva <strong>da</strong>ONU a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> impor-se sobre eventuais agressores. Buscouse,com o veto, evitar os erros <strong>da</strong> Liga, que se esvaziara com aausência dos Estados Unidos e com o <strong>de</strong>sinteresse <strong>da</strong> maior parted<strong>as</strong> <strong>de</strong>mais gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong>. Há quem consi<strong>de</strong>re o veto como ofun<strong>da</strong>mento político do funcionamento <strong>da</strong> ONU, ain<strong>da</strong> que ferindo oprincípio básico <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica dos Estados. Daí não se po<strong>de</strong>rdissociar <strong>da</strong> ONU a idéia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.O SURGIMENTO DA GUERRA FRIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA AATUAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO CAMPO DA PAZ E DA SEGURANÇAINTERNACIONAIS.A Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> entrou em vigor em 24/10/45e em 10/1/46 reunia-se, em Londres, pela primeira vez, aAssembléia Geral <strong>da</strong>quela Organização. No entanto, já em janeiro<strong>de</strong> 1946 se percebia a dissipação do clima <strong>de</strong> harmonia entre <strong>as</strong>potênci<strong>as</strong> vencedor<strong>as</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial e o prenúnciodo clima <strong>de</strong> antagonismo <strong>da</strong> Guerra Fria: o Irã, no dia 19 <strong>de</strong> janeiro,protestou no Conselho <strong>de</strong> Segurança contra a interferência <strong>da</strong>União Soviética em seus <strong>as</strong>suntos internos e a União Soviética,28Cançado Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, (1990), p. 39. A letra do artigo 27 <strong>da</strong> Carta foi interpreta<strong>da</strong> <strong>de</strong>modo flexível, para não dizer contra legem, no sentido <strong>de</strong> que a abstenção <strong>de</strong> umdos Membros permanentes não seria consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> um veto, apesar <strong>de</strong> a Cartamencionar “voto afirmativo”. A CIJ endossou a tese <strong>de</strong> que a abstenção voluntáriaem 1971, no c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> “Conseqüênci<strong>as</strong> Jurídic<strong>as</strong> para os Estados <strong>da</strong> PresençaContinua<strong>da</strong> <strong>da</strong> África do Sul na Namíbia”, quando afirmou que a Resolução doCSNU <strong>de</strong> 1970, <strong>de</strong>clarando ilegal a presença continua<strong>da</strong> <strong>da</strong> África do Sul na Namíbia,não era inváli<strong>da</strong> em razão <strong>da</strong> abstenção na votação <strong>de</strong> dois <strong>de</strong> seus Membrospermanentes.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 59no dia 21, reclamou, por sua vez, <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> do ReinoUnido na Grécia 29 .Num mundo dividido em blocos antagônicos, a facul<strong>da</strong><strong>de</strong>do veto paralisou o processo <strong>de</strong>cisório do CSNU, uma vez quesubordinou a operacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva àunanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Membros permanentes 30 . B<strong>as</strong>ta <strong>as</strong>sinalar que entre1945 e 1990 o exército britânico compilou mais <strong>de</strong> 80 conflitosarmados no mundo, sendo que o CSNU atestou a ruptura <strong>de</strong> pazem apen<strong>as</strong> quatro oc<strong>as</strong>iões: guerra <strong>da</strong> Coréia em 1950 (favoreci<strong>da</strong>pela ausência <strong>da</strong> URSS do CSNU), guerra d<strong>as</strong> Malvin<strong>as</strong> em 1982,guerra Irã-Iraque em 1987 e guerra do Golfo em 1990 31 . Parailustrar a inoperância do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva previsto naCarta, cabe recor<strong>da</strong>r o comentário do Embaixador Carlos CaleroRodrigues, segundo o qual “por enquanto, o CSNU é uma coisa ea paz é outra. E, se não chegamos ao ponto <strong>de</strong> dizer que os doisnunca se encontram, os encontros, infelizmente, têm sido breves eaci<strong>de</strong>ntais” 32 .Essa inoperância do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva foi agrava<strong>da</strong>pelo aparecimento d<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> atômic<strong>as</strong>, que fez surgirem afirmações<strong>de</strong> que a Carta já tinha n<strong>as</strong>cido obsoleta, pois seus mecanismoscoercitivos pressupunham cenários tradicionais <strong>de</strong> confronto. Diante29Verrier, (1981), p. 1; Wellens, (1990), pp. 14-17 e 237/239; e White, (1993), p. 5;.No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> controvérsia iraniano-soviética, o CSNU aprovou, no período <strong>de</strong> janeiro amaio <strong>de</strong> 1946, <strong>as</strong> Resoluções 2, 3 e 5 e uma <strong>de</strong>cisão final adiando sine die o prosseguimento<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>ração do tema. No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Grécia, foram apen<strong>as</strong> emitid<strong>as</strong> DeclaraçõesPresi<strong>de</strong>nciais em 6/2 e 24/8/46.30Boutros-Ghali, (1993), p. 66; e White, (1993), p. 12. Boutros-Ghali, na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU, publicou artigo na revista The World To<strong>da</strong>y, <strong>as</strong>sinalando queo veto foi invocado 279 vezes durante a Guerra Fria. White transcreve estudo realizadosobre o uso do veto no período <strong>de</strong> 1946-86: URSS (121), EUA (57), Reino Unido (26),China (22) e França (16), perfazendo um total <strong>de</strong> 242 c<strong>as</strong>os em 40 anos..31United Kingdom Royal Army, (1994), p. 6. As Resoluções aprovad<strong>as</strong> sobre situações<strong>de</strong> “ruptura <strong>da</strong> paz” foram: Resolução nº 82(1950)/Coréia; Resolução nº 502(1982)/Malvin<strong>as</strong>; Resolução nº 589 (1987) / Irã-Iraque; e Resolução nº 660(1990)/Kuaite.32Rodrigues, (1972), p. 65.


60 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>de</strong>sse quadro, <strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> e médi<strong>as</strong> potênci<strong>as</strong> procuraram nov<strong>as</strong>fórmul<strong>as</strong> para contornar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do veto e permitir a atuação <strong>da</strong>Organização no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. Oimobilismo gerado pela Guerra Fria redundou no resgate <strong>da</strong> idéia douso <strong>de</strong> meios militares em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s voltad<strong>as</strong> para a promoção <strong>da</strong>paz, inspirado na prática <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações. Fora do âmbito <strong>da</strong> ONU,o mundo via florescerem os sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança regionais, dos quaisos exemplos mais bem-<strong>de</strong>lineados foram a Organização do Tratadodo Atlântico Norte (cria<strong>da</strong> em 4/4/1949) e o Pacto <strong>de</strong> Varsóvia (criadoem 14/5/1955).O FRACASSO DA COMISSÃO DE ESTADO-MAIORNo plano operacional, o antagonismo <strong>da</strong> Guerra Fria fez-sesentir na Comissão <strong>de</strong> Estado-Maior, que tinha sido convoca<strong>da</strong>pelo CSNU – Resolução 1(1946), <strong>de</strong> 25/1/46 – para elaborar osplanos relativos aos acordos previstos no artigo 43. Seus integranteseram representantes militares dos Membros permanentes que sereuniam a ca<strong>da</strong> quinzena. A Comissão logrou apresentar, em abril<strong>de</strong> 1947, relatório contendo 41 artigos e dois anexos, m<strong>as</strong> seusdispositivos, alguns dos quais obtidos por consenso em nível técnico,sofreram dur<strong>as</strong> objeções por parte <strong>de</strong> um ou mais Membrospermanentes 33 .Conquanto existissem divergênci<strong>as</strong> sobre os “princípios gerais”<strong>da</strong> força internacional, a discórdia principal centrou-se na distribuiçãodos aportes àquela força e na sua dimensão final. A URSS exigiaparticipação igualitária dos cinco Membros permanentes, o que limitari<strong>as</strong>obremaneira a dimensão <strong>da</strong> força, em razão <strong>da</strong> pequena capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> contribuição <strong>da</strong> República <strong>da</strong> China, sobretudo no que se refere àforça aérea, e rejeitava a idéia <strong>de</strong> que <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> alocad<strong>as</strong> pu<strong>de</strong>ssem33Grove, (1993), pp.176/179 e Verrier, (1981), p. xx (introduction).


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 61ficar sediad<strong>as</strong> fora do território sob jurisdição do país ofertante. Moscoureceava tanto a prepon<strong>de</strong>rância norte-americana n<strong>as</strong> operações militarescoletiv<strong>as</strong> quanto a livre circulação d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> estaduni<strong>de</strong>nses pelo mundo,sob a cobertura <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> ONU. Por sua vez, a França e a China,países às volt<strong>as</strong> com problem<strong>as</strong> internos, se opunham à limitação do uso<strong>de</strong> forç<strong>as</strong> eventualmente cedid<strong>as</strong> ao CSNU, <strong>de</strong>sejando preservar apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> convocá-l<strong>as</strong> diante <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais. Issogeraria insegurança quanto à real disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos recursos humanose materiais a serem cedidos pela França e pela China, visto que o conceito<strong>de</strong> “necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nacionais” é muito maleável. Tampouco havia consensoquanto ao prazo <strong>de</strong> cessão. A URSS <strong>de</strong>sejava fixar um prazo <strong>de</strong> trêsmeses, enquanto os <strong>de</strong>mais integrantes preferiam <strong>da</strong>r maior autonomia<strong>de</strong>cisória ao CSNU, à luz <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> situação no terreno.Em maio <strong>de</strong> 1947, enquanto o Relatório <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong>Estado-Maior ain<strong>da</strong> estava sendo examinado, o CSNU autorizou-a acriar uma subcomissão encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> discutir a composição edimensão i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> uma força internacional. É interessante comparar<strong>as</strong> sugestões apresentad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> três gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong> 34 :· Estados Unidos: Exército - 20 divisões (200 mil homens);Aeronáutica - 1.250 bombar<strong>de</strong>iros e 2.250 aviões <strong>de</strong> combate;Marinha - 3 encouraçados, 6 porta-aviões, 15 cruzadores, 84contratorpe<strong>de</strong>iros e 90 submarinos;· União Soviética: Exército - 12 divisões (120 mil homens);Aeronáutica - 600 bombar<strong>de</strong>iros e 300 aviões <strong>de</strong> caça; Marinha – 5ou 6 cruzadores, 24 contratorpe<strong>de</strong>iros e 12 submarinos;· Reino Unido: Exército - <strong>de</strong> 8 a 12 divisões (<strong>de</strong> 80 a 120 milhomens); Aeronáutica - 600 bombar<strong>de</strong>iros, 400 aviões <strong>de</strong> combate eoutros 200 aviões <strong>de</strong> uso variado; Marinha - 2 encouraçados, 4 porta-34Grove, (1993), pp. 179/181.


62 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAaviões, 6 cruzadores, 24 contratorpe<strong>de</strong>iros, 48 fragat<strong>as</strong>, 24 navios <strong>de</strong>remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong> e 12 submarinos.Enquanto a aplicação do veto tinha paralisado o processo <strong>de</strong>cisóriono CSNU, os insucessos <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> Estado-Maior acabaram porinviabilizar, no plano operacional, qualquer possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> implementaçãodo mecanismo <strong>de</strong> segurança coletiva nos mol<strong>de</strong>s previstos na Carta <strong>da</strong>ONU. A não-implementação dos “acordos especiais” previstos no art. 43<strong>da</strong> Carta evi<strong>de</strong>nciou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumentos alternativos aceitáveispara os cinco Membros permanentes do CSNU que permitissem a atuação<strong>da</strong> ONU no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. O principal<strong>de</strong>sses instrumentos foi o <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, embora tenham aparecido iniciativ<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> à criação <strong>de</strong> umexército “onusiano” ou uma força <strong>de</strong> pronto emprego, tais como a proposta<strong>de</strong> uma força policial, apresenta<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, Trygve Lie, em 1948 35 – que acabou servindo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo para acriação 43 anos <strong>de</strong>pois dos UN Guards que atuaram no norte do Iraqueem 1991 – e <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> sobre pronto emprego <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militares nacionais,constantes do relatório <strong>de</strong> 1951 <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> Medid<strong>as</strong> Coletiv<strong>as</strong> cria<strong>da</strong>pela parte C <strong>da</strong> Resolução 377(V) <strong>da</strong> AGNU em 1950 36 .A RESOLUÇÃO “UNIDOS PARA A PAZ”A questão <strong>da</strong> Coréia foi um divisor <strong>de</strong> águ<strong>as</strong> na história políticado pós-guerra e na história d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, pois tanto estabeleceu35Nações Unid<strong>as</strong>, (1948), doc. A/565 (1948). pp. xvii-xviiii. Brian Urquhart lembra no seu livro“Ralph Bunche: an American odyssey”, n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 161-62, que o Secretariado <strong>da</strong> ONU acaboumobilizando 40 voluntários em Nova Iorque e os enviou ao Oriente Próximo. Com efeito,embora a idéia <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma força policial não tivesse prosperado como <strong>de</strong>sejado em 1948,a AGNU tinha aceitado a sugestão <strong>de</strong> se reforçar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> limites menos ambiciosos, osquadros do Secretariado nesse campo. No entanto, Urquhart escreve que “The conduct of thesesoldiers of peace (without indoctrination, training, or discipline) on their first night on the townin Beirut w<strong>as</strong> such that they were immediately and permanently repatriated to New York.”36Gross, (1964), p. 110.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 63o prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção coercitiva não imagina<strong>da</strong>pelos fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> Carta, b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> na mobilização <strong>de</strong> “coalizõesad hoc” autorizad<strong>as</strong> pelo CSNU, como levou à adoção <strong>de</strong>procedimento que acabou por conferir maior importância àcompetência residual <strong>da</strong> AGNU no campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e<strong>da</strong> segurança internacionais.Esse procedimento consta <strong>da</strong> parte A <strong>da</strong> Resolução 377(V),<strong>de</strong> 3/11/50, que reforçou a <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> competência residual <strong>da</strong>AGNU em questões <strong>de</strong> paz e segurança 37 . Por ela se afirma que,quando o Conselho se achar impedido, pelo veto, <strong>de</strong> incumbir-se<strong>de</strong> su<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s em relação à manutenção <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong>egurança internacionais, a AGNU <strong>as</strong>sumirá ess<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,po<strong>de</strong>ndo ser convoca<strong>da</strong> em Sessão Especial <strong>de</strong>Emergência, na qual estará habilita<strong>da</strong> a fazer recomen<strong>da</strong>ções aosEstados membros em relação à adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> coletiv<strong>as</strong>, atémesmo no tocante ao uso <strong>da</strong> força nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> “ruptura <strong>da</strong> paz” e“ato <strong>de</strong> agressão”, <strong>de</strong>ixando-se <strong>de</strong> lado <strong>as</strong> situações <strong>de</strong> “ameaça àpaz”. Embora haja controvérsia jurídica sobre a legali<strong>da</strong><strong>de</strong> domecanismo 38 , vale a pena reproduzir a opinião do Embaixador CarlosCalero Rodrigues sobre o <strong>as</strong>sunto: “... a Carta atribui ao Conselhoresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s principais, m<strong>as</strong> não exclusiv<strong>as</strong> na manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais, (...) a AGNU po<strong>de</strong> fazerrecomen<strong>da</strong>ções sobre quaisquer <strong>as</strong>suntos incluídos n<strong>as</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>da</strong> Carta (art. 10). No entanto, não há como consi<strong>de</strong>rar obrigatóri<strong>as</strong>,do ponto <strong>de</strong> vista legal, <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões que a AGNU tome,substituindo-se ao CSNU. A eficácia <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões resi<strong>de</strong>, em37Os arts. 10 e 11 <strong>da</strong> Carta atribuem à AGNU amplos po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> discussão, consi<strong>de</strong>raçãoe recomen<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> qualquer <strong>as</strong>sunto situado <strong>de</strong>ntro dos propósitos <strong>da</strong> Carta ou que serelacione com a conservação <strong>da</strong> paz e segurança internacionais. O art. 14, por sua vez,faculta à AGNU recomen<strong>da</strong>r medid<strong>as</strong> para a solução <strong>de</strong> situações que lhe pareça prejudicialao bem-estar geral ou às relações amistos<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> nações. Esses três artigos são a b<strong>as</strong>edo po<strong>de</strong>r residual <strong>da</strong> AGNU nesse campo.38Cançado Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, (1990), pp. 27-28; e White, (1993), pp. 152-154.


64 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAúltima instância, na aceitação voluntária que lhe <strong>de</strong>rem os Estadosmembros.” 39A motivação dos EUA em patrocinar a Resolução nº 377(V)não era apen<strong>as</strong> a <strong>de</strong> encontrar um mecanismo que pu<strong>de</strong>sse ser invocadopara legitimar, por meio d<strong>as</strong> resoluções <strong>da</strong> Assembléia Geral, açõesmilitares conduzid<strong>as</strong> na Guerra <strong>da</strong> Coréia, m<strong>as</strong> também a <strong>de</strong> contornaros freqüentes vetos <strong>da</strong> União Soviética no CSNU em outros <strong>as</strong>suntos<strong>de</strong> interesse Governo norte-americano (o quadro parlamentar estavadominado, na época, pelos países oci<strong>de</strong>ntais) 40 . Além disso, o Governoestaduni<strong>de</strong>nse tentou resgatar, por meio <strong>de</strong>ssa resolução, <strong>as</strong> discussõessobre o mecanismo <strong>de</strong> segurança coletiva <strong>da</strong> Carta, mediante ainstituição <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> Observação <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong>Medid<strong>as</strong> Coletiv<strong>as</strong>.A Resolução nº 377(V) esvaziou-se com o tempo, <strong>de</strong>vido àsmu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> verificad<strong>as</strong> no quadro parlamentar d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> nosanos 50 e 60, reflexo, mormente, do movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização,dos cism<strong>as</strong> no bloco comunista e <strong>da</strong> revitalização <strong>da</strong> Europa, que levaramos EUA e a URSS a preferiram reservar para o CSNU <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisõesmais relevantes referentes à paz mundial. Essa resolução, entretanto,não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser manipula<strong>da</strong>, <strong>de</strong> forma inovadora, pelos Estadosmembros para con<strong>de</strong>nar politicamente <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> situações 41 . O39Rodrigues, (1972), p. 58.40A intervenção dos EUA e aliados na Coréia, sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU, não foi autoriza<strong>da</strong> pelaResolução nº 377, <strong>de</strong> 3/11/50. As Resoluções nº 82, <strong>de</strong> 25/6/50, nº 83, <strong>de</strong> 27/6/50, e nº 84,<strong>de</strong> 7/7/50, tod<strong>as</strong> do CSNU (aprovad<strong>as</strong> graç<strong>as</strong> à ausência <strong>da</strong> União Soviética), bem comoa Resolução nº 376, <strong>de</strong> 7/10/50, <strong>da</strong> AGNU já tinham fornecido o emb<strong>as</strong>amento legal paraa ação militar.41Afora esses episódios, a resolução serviu como instrumento para reforçar recomen<strong>da</strong>çõesjá aprovad<strong>as</strong> pela Assembléia Geral ou para con<strong>de</strong>nar, com mais veemência, países que,beneficiados pela invocação do veto no CSNU, não estavam sendo con<strong>de</strong>nados pelacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, apesar <strong>de</strong> terem praticado atos <strong>de</strong> agressão. No período <strong>de</strong>1950 a 1998, a Sessão Especial <strong>de</strong> Emergência foi convoca<strong>da</strong> 10 vezes para examinar <strong>as</strong>questões <strong>de</strong>: Suez e <strong>da</strong> Hungria, em 1956; do Líbano, em 1958; do Congo, em 1960; doOriente Médio, em 1967; do Afeganistão, em 1980; <strong>da</strong> Palestina, em 1980 e 82; <strong>da</strong>Namíbia, em 1981; <strong>da</strong> Situação dos Territórios Ocupados por Israel, em 1982; e dosNovos Assentamentos Ju<strong>de</strong>us em Jerusalém Oriental, em 1997, 98 e 99.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 65diálogo URSS-EUA fez com que a AGNU <strong>de</strong>ix<strong>as</strong>se <strong>de</strong> ter, a respeito,oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para exercer efetivamente sua competência residual namanutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. Com efeito, convémdistinguir entre a Sessão Especial <strong>de</strong> Emergência <strong>da</strong> AGNU previstapela Resolução 377(V) e o Comitê Especial sobre <strong>as</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong><strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>, órgão criado em 1965 para tratar dos <strong>as</strong>pectosgerais do <strong>as</strong>sunto, e a V Comissão, instância que examina os orçamentosd<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz (vi<strong>de</strong> página 108 e 109 paramaiores informações). Os dois últimos são foros b<strong>as</strong>icamenteoperacional-normativos, não se confundindo com uma sessão especial<strong>de</strong> emergência, na qual a AGNU tem autori<strong>da</strong><strong>de</strong> para fazerrecomen<strong>da</strong>ções sobre situações específic<strong>as</strong> <strong>de</strong> conflito.Mesmo <strong>as</strong>sim, a Resolução “Unidos para a <strong>Paz</strong>” teve gran<strong>de</strong>relevância para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, já que foi comb<strong>as</strong>e nela que a Assembléia Geral criou a I Força <strong>de</strong> Emergência d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> em 1956, após os vetos <strong>de</strong> França e Reino Unido noCSNU. Além disso, a Resolução foi também utiliza<strong>da</strong> para legitimar acondução d<strong>as</strong> ações <strong>da</strong> Operação <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Congoem 1960, quando o veto soviético impediu a adoção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões sobreo <strong>as</strong>sunto no CSNU.AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE1948 A 1987Deixando à margem <strong>as</strong> missões que envolveram o envio <strong>de</strong>comissões <strong>de</strong> bons ofícios, consulares e afins, como ocorreu na Ásia,no Oriente Médio e nos Bálcãs, foram criad<strong>as</strong> 13 operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, no período <strong>de</strong> 1948 a 1987. Ess<strong>as</strong> missões <strong>de</strong>observação, com pessoal <strong>de</strong>sarmado, e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, com pessoalarmado.


66 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 2OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASDE 1948 A 1987


Fonte: publicação The Blue Helmets d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.RETROSPECTIVA HISTÓRICA 67


68 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAEss<strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> contribuíram para que, em meados dosanos 70, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> som<strong>as</strong>sem rotin<strong>as</strong> e princípios suficientespara consoli<strong>da</strong>r um arcabouço doutrinário sobre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. Os mais importantes princípios estabelecidosforam: a importância <strong>da</strong> manutenção do comando e controle d<strong>as</strong>operações na Organização; a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> celebração <strong>de</strong> acordosou <strong>de</strong> memorandos <strong>de</strong> entendimento entre a ONU e os Estadosanfitriões, bem como entre a ONU e os países que contribuemcom recursos humanos e materiais, <strong>de</strong> modo a regular orelacionamento entre os interlocutores envolvidos; o requisitoindispensável do consentimento a ser outorgado por governoslegítimos para a presença <strong>da</strong> operação no terreno; o carátervoluntário <strong>da</strong> participação dos Estados membros ness<strong>as</strong> operações;a conveniência <strong>de</strong> se observar o conceito <strong>da</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> nacomposição d<strong>as</strong> operações, para reforçar o caráter multilateral <strong>da</strong>missão; a obediência ao princípio <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> no cumprimentodo man<strong>da</strong>to, <strong>de</strong> modo a evitar o envolvimento <strong>da</strong> missão no conflito;o uso <strong>da</strong> força em última instância e apen<strong>as</strong> em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> legítima<strong>de</strong>fesa; e a posse restrita <strong>de</strong> armamento, para <strong>as</strong> operações não seremvist<strong>as</strong> como ameaç<strong>as</strong> potenciais por alguma d<strong>as</strong> partes em conflito.O entendimento prevalecente era <strong>de</strong> que o respeito a essesfun<strong>da</strong>mentos faria com que os problem<strong>as</strong> que surgissem fossemsempre resolvidos a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente, com b<strong>as</strong>e na cooperação entreos integrantes d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>as</strong> partes emconflito, ao mesmo tempo em que aten<strong>de</strong>ria às preocupações dosEstados que contribuíam com pessoal e que precisavam prestarcont<strong>as</strong> aos seus públicos internos sobre ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s extern<strong>as</strong> <strong>de</strong> altorisco e <strong>de</strong> elevados custos. N<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, consolidou-se ummodus operandi que <strong>as</strong>segurou a prepon<strong>de</strong>rância do Conselho <strong>de</strong>Segurança na aprovação dos man<strong>da</strong>tos e do Secretariado <strong>da</strong>Organização na condução d<strong>as</strong> operações, com diminuição do po<strong>de</strong>rrelativo <strong>da</strong> Assembléia Geral.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 69Os convites <strong>de</strong> participação eram formulados peloSecretário-Geral <strong>da</strong> Organização, em procedimento sujeito ainfluênci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>. Isso permitiu à ONU, a um tempo, reafirmarsua in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> ação no cenário internacional mediante amobilização <strong>de</strong> contingentes militares cedidos por potênci<strong>as</strong>menores e af<strong>as</strong>tad<strong>as</strong>, geográfica e politicamente, do conflito, econvi<strong>da</strong>r países que estavam ganhando experiência no a<strong>de</strong>stramentoe na padronização <strong>de</strong> regr<strong>as</strong> <strong>de</strong> conduta em nível nacional. Comefeito, no período <strong>de</strong> 1948-86, cerca <strong>de</strong> 50 países ce<strong>de</strong>ram pessoalpara <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz, m<strong>as</strong> o núcleo <strong>de</strong> contribuintes envolvia,sobretudo, 12 países: Canadá (em 12 d<strong>as</strong> 13 operações criad<strong>as</strong>),Dinamarca (8), Finlândia (8), Noruega (7), Suécia (7), Austrália(6), Itália (6), Irlan<strong>da</strong> (6), <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> (6), Países Baixos (5), Índia (4) eNova Zelândia (4). Tal orientação serviu para obviar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>seus limites, o caráter não-sistemático d<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz. Doscinco Membros permanentes do CSNU, EUA, Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong>Rússia, França e Reino Unido praticamente não ce<strong>de</strong>ram pessoalàs missões <strong>de</strong> paz, ao p<strong>as</strong>so que a – República <strong>da</strong> China, entre1948 e 1971, e a República Popular <strong>da</strong> China, entre 1971 e 1988,não se engajaram no envio <strong>de</strong> contingentes 42 . Apesar <strong>de</strong> não serobrigatório, era conveniente haver consult<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>e o Estado anfitrião sobre a composição <strong>da</strong> operação, tendo emvista o princípio do consentimento e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conclusão<strong>de</strong> acordo ou arranjo para regular a presença <strong>da</strong> ONU.Embora mo<strong>de</strong>stos, certos países, como Canadá, EUA e Suíça,forneceram também aportes gratuitos no campo logístico (meios <strong>de</strong>transporte e equipamentos <strong>de</strong> comunicações, entre outr<strong>as</strong> contribuiçõesvoluntári<strong>as</strong>), aju<strong>da</strong>ndo a minorar a carência <strong>de</strong> material d<strong>as</strong> operaçõesconduzid<strong>as</strong> pela Organização.42A República Popular <strong>da</strong> China substituiu a República <strong>da</strong> China como “únicorepresentante legítimo <strong>da</strong> China n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>” em 1971, ex-vi Resolução nº 2758(XXVI) <strong>da</strong> Assembléia Geral <strong>da</strong> ONU. O início <strong>da</strong> participação <strong>da</strong> RPC em missões <strong>de</strong>paz <strong>de</strong>u-se em 1989/90 na UNTAG.


70 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAOs resultados d<strong>as</strong> intervenções <strong>da</strong> ONU refletiram, mormente,o nível <strong>de</strong> engajamento d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong> nos diferentes cenáriose a vonta<strong>de</strong> d<strong>as</strong> partes <strong>de</strong> alcançarem uma solução para os conflitos.Ess<strong>as</strong> condicionantes foram responsáveis pela coexistência <strong>de</strong>operações bem-sucedid<strong>as</strong>, como <strong>as</strong> do Irian Oci<strong>de</strong>ntal, do Congo, <strong>da</strong>região do Suez e <strong>da</strong> fronteira indo-paquistanesa 43 , com outr<strong>as</strong> <strong>de</strong>resultado questionável, como <strong>as</strong> do Iêmen e do Líbano, e com aquel<strong>as</strong>que ain<strong>da</strong> persistem no Oriente Próximo, em Cachemira e no Chipre.A BASE JURÍDICA DAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDASNa prática d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, o estabelecimento <strong>de</strong> missões<strong>de</strong> observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz não se fun<strong>da</strong>mentou explicitamente emdispositivos <strong>da</strong> sua Carta constitutiva. Tem-se partido do entendimento<strong>de</strong> que não é absolutamente imprescindível buscar um dispositivoespecífico na Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para o emprego <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadosmeios que se <strong>de</strong>stinem a realizar os propósitos <strong>da</strong> Organização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que não haja qualquer dispositivo na Carta, ou regra internacional geral,que impeça ou proíba a utilização dos meios pretendidos. Trata-se <strong>da</strong>doutrina dos “po<strong>de</strong>res implícitos”, que recebeu reconhecimento judicialna <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> Corte Internacional <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> 1949 no c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong>Reparações <strong>de</strong> Danos.Essa Doutrina, sem atribuir po<strong>de</strong>res extraordinários à ONU,permite à Organização operar com eficácia, no entendimento <strong>de</strong>que “os direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> como a ONU <strong>de</strong>vem<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> seus propósitos e funções, especificados ou implícitos43Po<strong>de</strong>-se sempre questionar o êxito <strong>da</strong> ONUC no Congo e <strong>da</strong> UNEF I entre o Egito eIsrael. No primeiro c<strong>as</strong>o, houve o recurso à força, m<strong>as</strong> foram preservad<strong>as</strong>, a dur<strong>as</strong> pen<strong>as</strong>,a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e a in<strong>de</strong>pendência política <strong>de</strong> um Estado recém-egresso docolonialismo. No segundo c<strong>as</strong>o, se por um lado, os <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> permanência <strong>da</strong> UNEF Iaju<strong>da</strong>ram a manter a paz em área <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, por outro, também serviram <strong>de</strong>pausa para os dois países se rearmarem e prepararem a “Guerra dos Seis Di<strong>as</strong>”. A guerraeclodiu em junho <strong>de</strong> 1967, quando <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> UNEF I estavam em f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> repatriamento.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 71em seus documentos constitutivos e <strong>de</strong>senvolvidos na prática” e <strong>de</strong>que “ à luz do direito internacional, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a Organizaçãocomo possuidora <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res que, embora não expressamenteconstantes <strong>da</strong> carta, são-lhe atribuídos pela necessária implicação <strong>de</strong>que são essenciais ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> su<strong>as</strong> taref<strong>as</strong>” 44 .Do ponto <strong>de</strong> vista administrativo, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz são órgãos subsidiários do CSNU, com b<strong>as</strong>e no artigo 29 <strong>da</strong>Carta, ou <strong>da</strong> AGNU, ao abrigo do artigo 22. Ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong> está soba autori<strong>da</strong><strong>de</strong> política do órgão colegiado que a criou e sob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong>administrativa do Secretário-Geral <strong>da</strong> Organização.Na medi<strong>da</strong> em que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não seenquadram estritamente no Capítulo VI (medid<strong>as</strong> que implicamconsentimento) e tampouco no Capítulo VII (medid<strong>as</strong> man<strong>da</strong>tóri<strong>as</strong>)<strong>da</strong> Carta, chegou-se a aventar a introdução na Carta <strong>de</strong> um novocapítulo intermediário – ou ao menos um novo artigo – que pu<strong>de</strong>sseregulamentar sua existência. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> propôs, por exemplo, na XIXAssembléia Geral a inclusão <strong>de</strong> um novo capítulo <strong>da</strong> Carta, nos seguintestermos: “... mediante a inclusão <strong>de</strong> um novo capítulo, que se chamaria‘<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>’ e que encontraria seu lugar entreos atuais capítulos VI e VII. Haveria <strong>as</strong>sim, numa gra<strong>da</strong>ção crescente,‘Solução Pacífica <strong>de</strong> Controvérsi<strong>as</strong>’, ‘Operação <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong><strong>Paz</strong>’ e ‘Ação Relativa a Ameaç<strong>as</strong> à <strong>Paz</strong>, Ruptura <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e Atos <strong>de</strong>Agressão’”. Dag Hammarskjöld, quando Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU,preferiu situá-l<strong>as</strong> em um imaginário “Capítulo VI e meio”, uma ponteentre a adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> para a solução pacífica d<strong>as</strong>controvérsi<strong>as</strong> e a aplicação <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> coercitiv<strong>as</strong>. Até hoje, porém, aCarta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> não foi emen<strong>da</strong><strong>da</strong> para prever e regulamentar44Cançado Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, (1990), pp. 26-36 e pp. 74-82; White, (1993), pp. 88-89 e p. 138.Ambos os autores discorrem sobre a personali<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica e <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, comentando <strong>as</strong> du<strong>as</strong> correntes teóric<strong>as</strong> mais divulgad<strong>as</strong> sobre o <strong>as</strong>sunto: a <strong>da</strong>doutrina dos “po<strong>de</strong>res inerentes” <strong>da</strong> Organização, que tomou forma após o pareceremitido pela CIJ em 1962 no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Cert<strong>as</strong> Despes<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU, e a <strong>da</strong> doutrina dos“po<strong>de</strong>res implícitos”, que foi objeto <strong>de</strong> parecer <strong>da</strong> CIJ em 1949 no c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Reparações<strong>de</strong> Danos.


72 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAexplicitamente <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. É forçosoreconhecer a respeito que se trata <strong>de</strong> um tema sujeito a muit<strong>as</strong>discussões, não havendo ain<strong>da</strong>, após 50 anos <strong>de</strong> prática, uma<strong>de</strong>finição aprova<strong>da</strong> pela Assembléia Geral sobre o alcance <strong>da</strong><strong>de</strong>finição <strong>de</strong> “operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz”.Esses fatos mostram que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paznão <strong>de</strong>vem ser confundid<strong>as</strong> com os instrumentos <strong>de</strong> solução pacíficaenumerados, <strong>de</strong> forma não exaustiva, no artigo 33 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> – negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem,solução judicial, recurso a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou acordos regionais. Taisoperações se <strong>de</strong>senvolveram à margem do texto legal, <strong>de</strong>vendo servist<strong>as</strong> como instrumentos a serviço <strong>de</strong> vários meios <strong>de</strong> solução pacífica,e não como substitut<strong>as</strong> <strong>de</strong>sses meios ou como fins em si mesm<strong>as</strong>.REPERCUSSÃO DOS ASPECTOS FINANCEIROS DAS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASA análise, ain<strong>da</strong> que breve, <strong>da</strong> questão do financiamento d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz permite visualizar outro importantecondicionante <strong>de</strong>sse instrumento. Qu<strong>as</strong>e todo o período <strong>da</strong> GuerraFria foi marcado pela crise financeira que se abateu sobre a Organizaçãopor conta d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. No fim dos anos 50,a França e a URSS, entre outros, retiveram su<strong>as</strong> contribuições,respal<strong>da</strong>ndo-se em interpretações <strong>da</strong> Carta. Para evitar taisinterpretações, a AGNU adotou, em 20/12/60, a Resolução 1583(XV),que reconhecia que o custeio <strong>da</strong> Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> no Congo era obrigaçãocoletiva dos Estados membros <strong>da</strong> ONU, nos termos do artigo 17,§2<strong>da</strong> Carta. A persistência <strong>da</strong> controvérsia fez a AGNU solicitar, pormeio <strong>da</strong> Resolução 1731(XVI), <strong>de</strong> 20/12/61, parecer consultivo àCorte Internacional <strong>de</strong> Justiça (CIJ) sobre o <strong>as</strong>sunto (“Cert<strong>as</strong> Despes<strong>as</strong>d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>”). Em seu parecer, emitido em 1962, a CIJ estipulouque <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> incorrid<strong>as</strong> pela ONUC e a UNEF I constituíam


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 73efetivamente “<strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>da</strong> Organização” à luz do artigo 17,§2. Essa<strong>de</strong>cisão implicava que o atr<strong>as</strong>o no pagamentos d<strong>as</strong> contribuições<strong>de</strong>vid<strong>as</strong> por conta d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>veriaacarretar a per<strong>da</strong> do direito <strong>de</strong> voto, conforme estipulado no artigo 19.Diante <strong>da</strong> crise financeira causa<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, a AGNU autorizou o Secretário-Geral a emitirbônus em 1962, no valor <strong>de</strong> US$ 200 milhões, resgatáveis em 25anos, com juros <strong>de</strong> 2% ao ano, para arcar com <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>da</strong>Organização nesse campo. Adotou-se também a prática <strong>de</strong> recorreraos recursos disponíveis na Conta <strong>de</strong> Capital (“Working Capital”–recursos que se <strong>de</strong>stinam a fazer face às <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> extraordinári<strong>as</strong> enão previst<strong>as</strong>, bem como a cobrir atr<strong>as</strong>os na coleta d<strong>as</strong> contribuiçõesdos Estados membros) e <strong>de</strong> estabelecer fundos voluntários quepermitissem, entre outr<strong>as</strong> vantagens, coletar contribuições <strong>de</strong> paísesinadimplentes na conta d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz que<strong>de</strong>sej<strong>as</strong>sem aportar recursos à Organização, sem comprometer su<strong>as</strong>posições <strong>de</strong> princípio a respeito <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses pagamentos.A situação tornou-se crítica quando a União Soviética e aFrança, ao tornarem-se <strong>de</strong>vedor<strong>as</strong> <strong>de</strong> importânci<strong>as</strong> superiores ao valor<strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> contribuições, p<strong>as</strong>saram a ficar sujeit<strong>as</strong> à per<strong>da</strong> <strong>de</strong>voto na Assembléia Geral por força do art. 19. O Governo soviético<strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>r que po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar a Organização c<strong>as</strong>o seu direito <strong>de</strong>voto fosse suspenso, em iniciativa que po<strong>de</strong>ria ser segui<strong>da</strong> por outrospaíses endivi<strong>da</strong>dos do Leste Europeu, gerando um clima <strong>de</strong>apreensão quanto ao futuro <strong>da</strong> Organização. Receava-se<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo <strong>de</strong> esvaziamento d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,nos mol<strong>de</strong>s sofridos pela Liga d<strong>as</strong> Nações nos anos 30. Diante<strong>de</strong>ssa situação, nenhum <strong>as</strong>sunto envolvendo votação foi apreciadodurante a XIX Assembléia Geral, em 1964-65, até que se cheg<strong>as</strong>sea um entendimento pelo qual o artigo não seria invocado e os custosfinanceiros <strong>da</strong> ONUC e <strong>da</strong> UNEF I seriam cobertos por meio <strong>de</strong>contribuições voluntári<strong>as</strong>.


74 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAA AGNU buscou superar o quadro <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto aofinanciamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz com a aprovação<strong>de</strong> uma escala especial em 1973, quando <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> UNEFII. Essa escala b<strong>as</strong>eou-se em três princípios: (1) necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>as</strong>segurar o financiamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz pormeio <strong>de</strong> contribuições man<strong>da</strong>tóri<strong>as</strong> dos Estados membros (aplicaçãodo artigo 17,§2 <strong>da</strong> Carta, consoante parecer consultivo <strong>da</strong> CIJ <strong>de</strong>1962); (2) papel político diferenciado na Organização dos cincoMembros permanentes do Conselho <strong>de</strong> Segurança, <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong>“responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais”, conforme a Resolução nº 1874, <strong>da</strong> IVSessão Especial <strong>da</strong> Assembléia Geral <strong>de</strong> 1963; e (3) a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pagamento, <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômicodos Estados membros.Em linh<strong>as</strong> gerais, os países foram distribuídos em quatrocategori<strong>as</strong> <strong>de</strong> países: Grupo A, composto pelos Membros permanentes,que p<strong>as</strong>saram a constituir uma categoria específica que, além <strong>de</strong> pagarquot<strong>as</strong> <strong>de</strong> percentual idêntic<strong>as</strong> às quot<strong>as</strong> para o orçamento, respon<strong>de</strong>mpelos <strong>de</strong>scontos conferidos aos países dos grupos C e D, <strong>de</strong>vido <strong>as</strong>u<strong>as</strong> “responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais”; Grupo B, países <strong>de</strong>senvolvidos,que pagam o mesmo percentual calculado para o Orçamento Regular;Grupo C, países em <strong>de</strong>senvolvimento, que contribuem com 20% dopercentual pago para o Orçamento Regular; e Grupo D, países <strong>de</strong>menor <strong>de</strong>senvolvimento relativo, que contribuem com 10% dopercentual pago para o Orçamento Regular 45 .O objetivo <strong>de</strong>ssa iniciativa era prover a ONU <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong>coleta <strong>de</strong> fundos em b<strong>as</strong>es estáveis e previsíveis. Não fosse <strong>as</strong>sim, acriação <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ficaria mais sujeita à boavonta<strong>de</strong> dos principais países contribuintes em fornecer financiamentodo que condiciona<strong>da</strong> por ameaç<strong>as</strong> à paz e à segurança internacionais. A45Em 1999, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> encontrava-se no Grupo “C” e respondia por 0,3028% do orçamentod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 75fórmula encontra<strong>da</strong> foi aprova<strong>da</strong> por ampla maioria na AGNU por meio<strong>da</strong> Resolução 3101 (XXVIII), <strong>de</strong> 11/12/73 46 . A expectativa era <strong>de</strong> quetod<strong>as</strong> <strong>as</strong> partes po<strong>de</strong>riam aceitá-la. No entanto, nos anos 70, a China ea URSS continuaram a acumular dívid<strong>as</strong> no orçamento d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, em quanto, nos anos 80, <strong>as</strong> restrições impost<strong>as</strong>pelos EUA ao pagamento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> contribuições a organismosinternacionais também afetaram <strong>as</strong> finanç<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU, tendo em vistaque os EUA são o principal contribuinte <strong>da</strong> Organização <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945.De qualquer modo, a escala especial <strong>de</strong> 1973 continua a ser utiliza<strong>da</strong> <strong>de</strong>forma ad hoc para calcular o rateio d<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU comoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, ain<strong>da</strong> que tenham ocorrido ajustes nadistribuição dos países entre <strong>as</strong> categori<strong>as</strong> B, C e D 47 .AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ FORA DO ÂMBITODAS NAÇÕES UNIDASNo período 1966-87, apen<strong>as</strong> a UNEF II, em 1973, e aUNIFIL, em 1978, foram criad<strong>as</strong> pela ONU, além <strong>de</strong> o CSNU teraprovado o estabelecimento <strong>da</strong> UNTAG em 1978 (a missão, entretanto,só veio a ser mobiliza<strong>da</strong> em 1989, quando <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>o permitiram). Essa inação <strong>da</strong> ONU po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>da</strong> a fatoresfinanceiros e às rivali<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre <strong>as</strong> superpotênci<strong>as</strong>, com o conseqüenterecurso a iniciativ<strong>as</strong> fora do âmbito <strong>da</strong> Organização, unilaterais ou emcoalizão.Em princípio, não há impedimentos para o estabelecimento <strong>de</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz fora do âmbito <strong>da</strong> ONU, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> querespeitados os princípios e os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações46Nações Unid<strong>as</strong>, (1973), doc. Yearbook of the United Nations – 1973, vol. 27, pp. 217-223.47Du<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz (UNTSO no Oriente Médio e UNMOGIP em Cachemira) são custead<strong>as</strong>pelo Orçamento Regular <strong>da</strong> ONU por razões históric<strong>as</strong>, enquanto outr<strong>as</strong>, são arcad<strong>as</strong>, em largamedi<strong>da</strong>, pelos Estados diretamente interessados (a UNFICYP em Chipre e a UNIKOM noKuaite). Em suma, nem tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz são ratead<strong>as</strong> por meio <strong>da</strong> escala especial <strong>de</strong> 1973.


76 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAUnid<strong>as</strong>. Com efeito, por serem consensuais, não estaria havendoviolação do dispositivo do artigo 2,§4, que ve<strong>da</strong> a ameaça ou o uso <strong>da</strong>força, nem do artigo 53, que requer a autorização prévia do Conselho<strong>de</strong> Segurança para ações coercitiv<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> por Organizaçõesregionais. No período entre <strong>as</strong> du<strong>as</strong> guerr<strong>as</strong> mundiais, tanto a Liga d<strong>as</strong>Nações quanto a Comissão dos Embaixadores compunham missõeseleitorais – missões para certificar a idonei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> referendos ouplebiscitos realizados em territórios que pertenceram ao antigosImpérios Alemão e Austro-Húngaro –, <strong>de</strong> divers<strong>as</strong> dimensões, queeram apoiad<strong>as</strong> militarmente, quando necessário, para <strong>as</strong>segurar arealização <strong>de</strong> pleitos em boa or<strong>de</strong>m.A história posterior à Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial revela,entretanto, que aos êxitos d<strong>as</strong> operações fora do âmbito d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> opuseram-se frac<strong>as</strong>sos e abusos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ressaltando aconveniência <strong>de</strong> que a ONU, por sua universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> eexperiência, conduza <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e, naimpossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo, <strong>as</strong> monitore, <strong>de</strong> modo a coibir manipulações.Entre os êxitos <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações no pós-Segun<strong>da</strong> Guerra,po<strong>de</strong>m ser realçados os c<strong>as</strong>os <strong>da</strong> Força Multinacional que, sob acondução do Reino Unido e integra<strong>da</strong> por pessoal <strong>de</strong> outros países <strong>da</strong>Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Britânica, supervicionou o processo <strong>de</strong> transição para ain<strong>de</strong>pendência e <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> eleições no Zimbábue em 1980, e o <strong>da</strong>Missão <strong>de</strong> Apoio no Sinai (MAS), com se<strong>de</strong> em W<strong>as</strong>hington, pararespal<strong>da</strong>r <strong>as</strong> negociações <strong>de</strong> paz entre Egito e Israel, <strong>de</strong> 1976 a 1982.Na mesma linha, se insere a Missão <strong>de</strong> Observação do Sinai (MOS),cria<strong>da</strong> em janeiro <strong>de</strong> 1982 em vista <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extensão doman<strong>da</strong>to <strong>da</strong> missão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (UNEF II), <strong>de</strong>vido à oposiçãosoviética. Os resultados positivos <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>rivam do fato<strong>de</strong> terem el<strong>as</strong> usufruído <strong>da</strong> cooperação d<strong>as</strong> partes interessad<strong>as</strong> e <strong>de</strong>terem contado com os recursos financeiros necessários, equipamentos<strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> tecnológica e excelente combinação <strong>de</strong> civis emilitares para cumprirem <strong>as</strong> taref<strong>as</strong> <strong>de</strong> que foram incumbid<strong>as</strong>.


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 77Na mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> idéi<strong>as</strong>, a Primeira Força Multinacional noLíbano (FML I) foi estabeleci<strong>da</strong> em meados <strong>de</strong> 1982 com trop<strong>as</strong> dosEUA, <strong>da</strong> França e <strong>da</strong> Itália, após terem os EUA vetado iniciativ<strong>as</strong>oviética <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> missão <strong>de</strong> observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Oman<strong>da</strong>to <strong>da</strong> FML I era o <strong>de</strong> supervisionar, com o consentimento doGoverno libanês e d<strong>as</strong> partes em conflito, a retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> Beirute earredores dos militantes <strong>da</strong> Organização para a Libertação <strong>da</strong> Palestina(OLP), que foram encurralados na capital libanesa pela ofensiva <strong>de</strong>Israel contra <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es palestin<strong>as</strong>, em junho <strong>de</strong> 1982. A operação foiconcluí<strong>da</strong> em agosto do mesmo ano, com a evacuação <strong>de</strong> 14.440militantes <strong>da</strong> OLP por mar, em navios que, além <strong>da</strong> ban<strong>de</strong>ira do Estado<strong>de</strong> origem, usaram a ban<strong>de</strong>ira d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Tais êxitos contr<strong>as</strong>tam com os inci<strong>de</strong>ntes verificados com aSegun<strong>da</strong> Missão Multinacional do Líbano II (FML II). Essa missão foimobiliza<strong>da</strong> em função dos m<strong>as</strong>sacres <strong>de</strong> palestinos nos campos <strong>de</strong>refugiados <strong>de</strong> Sabra e Chatila, em setembro <strong>de</strong> 1982. Seu man<strong>da</strong>toincluía aju<strong>da</strong>r o Governo libanês a manter a lei e a or<strong>de</strong>m, m<strong>as</strong> <strong>as</strong>facções em luta pouca ou nenhuma cooperação prestaram. As trop<strong>as</strong>cedid<strong>as</strong> pelo Reino Unido, pelos EUA, pela França e pela Itáliap<strong>as</strong>saram a ser vist<strong>as</strong> não como força imparcial, m<strong>as</strong> sim como partedo problema. Em outubro <strong>de</strong> 1982, carros-bomb<strong>as</strong> explodiram n<strong>as</strong>c<strong>as</strong>ern<strong>as</strong> dos fuzileiros dos EUA, matando 241 militares, e <strong>da</strong> França,causando 58 baix<strong>as</strong> fatais. A escala<strong>da</strong> <strong>de</strong> violência obrigou os paísesparticipantes a encerrar a operação em 1984, <strong>de</strong>ixando observadoresmilitares <strong>da</strong> UNTSO para monitorar a situação em Beirute, já que aURSS vetou no CSNU iniciativa para estabelecer missão <strong>de</strong> observaçãopara substituir a FML II. Em menor escala, foi também a erosão doprincípio <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, num ambiente <strong>de</strong> guerra civil, que levou aOrganização <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Africana a retirar a Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> Africanaque atuou no Cha<strong>de</strong> em 1981-82.Há também o registro <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> abusos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r realizadospela Síria, cuja intervenção no Líbano, em agosto <strong>de</strong> 1976, não foi


78 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAsolicita<strong>da</strong> pelo Governo legítimo (é ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o país estava a braçoscom uma guerra civil) nem pelo CSNU. Tal intervenção acabou sendolegitima<strong>da</strong> pela criação <strong>de</strong> uma Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> árabe em outubro domesmo ano, que incorporou <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> síri<strong>as</strong>. Por sua vez, o Governoindiano, aten<strong>de</strong>ndo a pedido do Governo cingalês, <strong>de</strong>spachou trop<strong>as</strong>para <strong>as</strong>segurar a lei e a or<strong>de</strong>m em Sri Lanka em 1987, <strong>de</strong>vido aorecru<strong>de</strong>scimento <strong>da</strong> ações <strong>da</strong> guerrilha tamil, m<strong>as</strong> só <strong>as</strong> retirou em março<strong>de</strong> 1990, apesar <strong>de</strong> <strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s em Colombo terem solicitado suarepatriação em julho <strong>de</strong> 1989. Nesse c<strong>as</strong>o, a partir <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1989,a presença d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> indian<strong>as</strong> naquele país p<strong>as</strong>sou a ser apen<strong>as</strong>tolera<strong>da</strong>. A Índia e a Síria, nesses episódios, adotaram postur<strong>as</strong>contrári<strong>as</strong> aos princípios e fun<strong>da</strong>mentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz.Outro exemplo, mais recente, <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ocorreu emfevereiro <strong>de</strong> 1998, quando a Nigéria, país que exerce a li<strong>de</strong>rança noGrupo <strong>de</strong> Observadores Militares (ECOMOG), braço armado <strong>da</strong>Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Econômica <strong>da</strong> África Oci<strong>de</strong>ntal (CEDEAO), extrapolouo man<strong>da</strong>to outorgado pelo CSNU à organização regional em SerraLeoa e <strong>de</strong>rrubou a junta militar que tomara o po<strong>de</strong>r com o golpe <strong>de</strong>estado <strong>de</strong> 25/5/97. A iniciativa permitiu o regresso do Presi<strong>de</strong>nte eleitoà Serra Leoa, no dia 10/3/98, m<strong>as</strong> a força tinha sido usa<strong>da</strong> sem oendosso prévio d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, nos termos do artigo 53,§1 <strong>da</strong>Carta <strong>da</strong> Organização, constituindo-se em prece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>licado,sobretudo à luz d<strong>as</strong> informações prestad<strong>as</strong>, entre outr<strong>as</strong> fontes, peloPresi<strong>de</strong>nte do Comitê Internacional <strong>da</strong> Cruz Vermelha, <strong>de</strong> que <strong>as</strong> trop<strong>as</strong>do ECOMOG não se <strong>de</strong>dicam apen<strong>as</strong> a garantir a lei, m<strong>as</strong> envolvemsediretamente no conflito.Essa breve retrospectiva ilustra alguns dos problem<strong>as</strong>enfrentados pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional nesse campo: muit<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong>operações escapam do âmbito <strong>da</strong> ONU, o que, se por um lado, po<strong>de</strong>trazer maior eficácia ao mecanismo, por outro, po<strong>de</strong> implicar sériosriscos <strong>de</strong> per<strong>da</strong> <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, tornando difícil a distinção entre


RETROSPECTIVA HISTÓRICA 79manutenção e imposição <strong>da</strong> paz. Essa questão é trata<strong>da</strong> com mais<strong>de</strong>talhe no capítulo III, após a análise d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geraçãono capítulo II.


CAPÍTULO IIOPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZMULTIDISCIPLINARES OUDE SEGUNDA GERAÇÃO


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZMULTIDISCIPLINARES OU DE SEGUNDA GERAÇÃOO final dos anos 80 e o início dos 90 representaram o período<strong>de</strong> maior ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong>paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. Des<strong>de</strong> 1988, foram criad<strong>as</strong> 38operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, ao p<strong>as</strong>so que, n<strong>as</strong> quatro décad<strong>as</strong>anteriores, <strong>de</strong> 1948 a 1987, haviam sido estabelecid<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> 13,conforme visto no capítulo anterior.A proliferação d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz ocorreusimultaneamente com a expansão do escopo <strong>da</strong> atuação do Conselho<strong>de</strong> Segurança. O CSNU p<strong>as</strong>sou a adotar critérios ca<strong>da</strong> vez maiselásticos para <strong>de</strong>finir o que constitui uma ameaça à paz e à segurança,visto que, nos anos 90, a qu<strong>as</strong>e totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conflitos em que <strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> têm intervindo é <strong>de</strong> natureza interna. As resoluções doConselho p<strong>as</strong>saram a conter expressões imprecis<strong>as</strong> como “likely toen<strong>da</strong>nger international peace” ou “seriously disturbinginternational peace” e a atribuir às missões <strong>de</strong> observação e forç<strong>as</strong><strong>de</strong> paz amplo leque <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s 48 .O presente capítulo buscará i<strong>de</strong>ntificar, entre outros pontos:48Para maiores informações, po<strong>de</strong>-se consultar, entre outr<strong>as</strong> obr<strong>as</strong>, Advisory Council onPeace and Security, (1995), p. 11; Ratner, (1995), pp. 35-37; Cardoso, (1994), pp. 70-71; e White, (1993), pp. 44-49.


84 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA· os principais fatores condicionantes do aumento d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, com <strong>de</strong>staque para o relacionamento entre <strong>as</strong>superpotênci<strong>as</strong>;· <strong>as</strong> funções exercid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> operações multidisciplinares e <strong>as</strong>distinções entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> primeira e <strong>as</strong> <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração;· a evolução dos principais fun<strong>da</strong>mentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz: consentimento, imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uso <strong>da</strong> força eparticipação voluntária;· os diferentes atores envolvidos n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, sobretudo n<strong>as</strong> multidisciplinares, realçando o papel que ca<strong>da</strong>um <strong>de</strong>sempenha. A questão dos acordos e d<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionaisserá trata<strong>da</strong> no capítulo III.FATORES CONDICIONANTESTrês fatores concorreram, em linh<strong>as</strong> gerais, para o aumentod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz: a) distensão política entre osEUA e a União Soviética e seu impacto sobre o papel d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> paz e segurança internacionais; b) o afloramento<strong>de</strong> antagonismos étnicos e religiosos; e c) a crescente universalizaçãodos valores <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e do respeito aos direitos humanos.No que tange ao primeiro e principal fator, é importante realçar,<strong>de</strong> início, o papel <strong>de</strong>sempenhado por Mikhaíl Gorbachev, que <strong>as</strong>sumiuo cargo <strong>de</strong> Secretário-Geral do Partido Comunista <strong>da</strong> URSS em março<strong>de</strong> 1985. Em 17/9/87, às vésper<strong>as</strong> <strong>da</strong> 42 a Assembléia Geral <strong>da</strong> ONU,Gorbachev publicou o artigo Reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e Garanti<strong>as</strong> para um MundoSeguro, no qual anunciou a nova política <strong>da</strong> URSS em relação àsNações Unid<strong>as</strong>, com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> ventilad<strong>as</strong>, ain<strong>da</strong> em 1986, durantea realização do XXVII Congresso do Partido Comunista <strong>da</strong> União


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 85Soviética, sobre a criação <strong>de</strong> um sistema universal <strong>de</strong> paz e segurança.Su<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> mestr<strong>as</strong> eram:(a) uma abor<strong>da</strong>gem multidisciplinar <strong>da</strong> segurança internacional,vista em su<strong>as</strong> dimensões política, militar, econômica, ecológica ehumanitária;(b) a busca <strong>de</strong> soluções para superar a corri<strong>da</strong> armamentista eacabar com a ameaça <strong>de</strong> uma guerra nuclear, com b<strong>as</strong>e em um conjunto<strong>de</strong> propost<strong>as</strong> apresentado pelo Governo soviético na área <strong>de</strong><strong>de</strong>sarmamento, em particular o Plano Gorbachev <strong>de</strong> eliminaçãocompleta <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> nucleares até o ano 2000; e(c) o fortalecimento <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campo<strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.No artigo, Mikhaíl Gorbachev reconhecia que a agen<strong>da</strong>internacional estava tornando-se ca<strong>da</strong> vez mais diversifica<strong>da</strong> e o mundo,inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Instava à valorização <strong>de</strong> mecanismos multilaterais paraa discussão <strong>de</strong> tem<strong>as</strong> que fossem <strong>de</strong> interesse comum. Sugeriu que oConselho <strong>de</strong> Segurança fosse revitalizado para atuar como principalguardião <strong>da</strong> segurança internacional, que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz fossem melhor aproveitad<strong>as</strong> e que o Secretário-Geral <strong>da</strong> ONUadot<strong>as</strong>se uma postura mais protagônica no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais, referen<strong>da</strong>ndo uma prática até então vista com<strong>de</strong>sconfiança pelo Governo soviético.O Chanceler Edvard Shevardnadze, no seu discurso no DebateGeral <strong>da</strong> 42 a Assembléia Geral, em 1987, referiu-se ao artigo <strong>de</strong>Gorbachev para <strong>de</strong>ixar claro que a implementação <strong>de</strong> um sistemaabrangente <strong>de</strong> paz e segurança internacionais era uma d<strong>as</strong> met<strong>as</strong> dopensamento <strong>de</strong> política externa <strong>da</strong> União Soviética. O Chanceler soviéticopropôs, até mesmo, a criação <strong>de</strong> uma Força Naval sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU


86 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApara substituir a presença <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> guerra dos EUA, <strong>da</strong> URSS e<strong>da</strong> União <strong>da</strong> Europa Oci<strong>de</strong>ntal (especificamente <strong>da</strong> Bélgica, PaísesBaixos e Reino Unido) na região do Golfo Pérsico. As belonaves tinhamsido enviad<strong>as</strong> para proteger e escoltar petroleiros e outros naviosmercantes que estavam sendo vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> colisões com min<strong>as</strong> ou alvos<strong>de</strong> ataques aéreos no contexto d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre o Irã e o Iraque<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980 49 . Tratava-se <strong>de</strong> explorar uma nova variante <strong>de</strong> atuaçãopara a ONU, <strong>de</strong> poucos antece<strong>de</strong>ntes, por envolver uma áreaoperacional marítima 50 . Conquanto a iniciativa <strong>de</strong> Moscou não tivesseprosperado na ONU, a URSS não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> aventar em 1989 e 1990a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a Força Naval sugeri<strong>da</strong> atuar na imposição <strong>de</strong>embargos marítimos <strong>de</strong>cididos pelo CSNU.Por sua vez, o Presi<strong>de</strong>nte Ronald Reagan, dos EUA, frisouem seu discurso no Debate Geral <strong>da</strong> 43ª Assembléia Geral d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, em 26/9/88, que: “... to<strong>da</strong>y the United Nations h<strong>as</strong>49Rikhye, (1994), pp. 195-197, e Staley II, (1994), p. 15. Dados publicados pelo Serviço<strong>de</strong> Documentação Geral <strong>da</strong> Marinha do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> revelam a dimensão do conflito: 313 naviosmercantes tinham sido alvejados no período <strong>de</strong> 1980-87, 93 dos quais pelos iranianos e223 pelos iraquianos, provocando mais <strong>de</strong> 100 baix<strong>as</strong> fatais. Os episódios <strong>de</strong> maiorrepercussão na imprensa ocorreram em 17/5/87, quando um caça Mirage iraquiano disparouinadverti<strong>da</strong>mente um míssil Exocet contra a fragata USS Stark, causando a morte <strong>de</strong> 37tripulantes e provocando séri<strong>as</strong> avari<strong>as</strong> no navio, e em 3/7/88, quando um Airbus iranianocom 290 pesso<strong>as</strong> a bordo foi aci<strong>de</strong>ntalmente abatido por míssil disparado do cruzadorUSS Vincennes sem <strong>de</strong>ixar sobreviventes.50Pugh, (1994), pp. 36-51 e Apêndice. O autor faz um histórico acerca do engajamento<strong>da</strong> Marinha <strong>de</strong> Guerra em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU ou fora <strong>de</strong>la nocampo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. No que concerne às operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, os seguintes c<strong>as</strong>os po<strong>de</strong>m ser inventariados: em 1948, o mediador d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> para o conflito <strong>da</strong> Palestina, Con<strong>de</strong> Folke Bernadotte, contou com oapoio <strong>de</strong> navios dos EUA (1 navio <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> carga, 1 porta-aviões, e 3contratorpe<strong>de</strong>iros) e <strong>da</strong> França (navio <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong>); <strong>de</strong> 1956/67, a UNEF I (Faixa<strong>de</strong> Gaza e Sinai) contou com a presença <strong>de</strong> um navio <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> tropa; e <strong>de</strong> 1962/63,a UNSF (Irian Oci<strong>de</strong>ntal) contou com uma frota <strong>de</strong> nove barcos <strong>de</strong> patrulha doados pelosPaíses Baixos e operados por paquistaneses. Posteriormente, a UNIIMOG (Irã/Iraque),<strong>de</strong> 1988/91, recorreu a botes para realizar parte <strong>de</strong> sua missão <strong>de</strong> supervisão do cessarfogo;a ONUCA (América Central), <strong>de</strong> 1990/92, contou com cinco barcos <strong>de</strong> patrulhatripulados e coman<strong>da</strong>dos pela Argentina para atuar no Golfo <strong>de</strong> Fonseca; e a UNTAC(Camboja), <strong>de</strong> 1992/94, chegou a dispor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40 embarcações, <strong>de</strong> diferentes calados,para atuar nos rios e no litoral.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 87the opportunity to live and breathe and work <strong>as</strong> never before (...)We are <strong>de</strong>termined that the United Nations shall succeed and servethe cause of peace for humankind” 51 . É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que semelhanteabertura em relação às Nações Unid<strong>as</strong> não precluía a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> dosEUA <strong>de</strong> continuarem a agir <strong>de</strong> forma unilateral, como ficou atestadocom a intervenção norte-americana no Panamá em 1989. Vind<strong>as</strong> dosEUA, que <strong>de</strong>têm gran<strong>de</strong> peso específico no CSNU e são os maiorescontribuintes <strong>da</strong> Organização, ess<strong>as</strong> <strong>de</strong>clarações sinalizaram uma novaperspectiva para o futuro d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.O Presi<strong>de</strong>nte George Bush, que <strong>as</strong>sumiu a C<strong>as</strong>a Branca em1989, <strong>de</strong>monstrou igual disposição <strong>de</strong> prosseguir na distensão entre <strong>as</strong>superpotênci<strong>as</strong>. No seu discurso na 44 a AGNU, em setembro <strong>da</strong>queleano, realçou os progressos registrados no relacionamento com a URSS,anunciando a realização <strong>de</strong> uma nova reunião <strong>de</strong> cúpula entre os doispaíses, que viria a materializar-se inicialmente sob o formato <strong>de</strong> umareunião informal em Malta, nos di<strong>as</strong> 2 e 3/12/89. Ain<strong>da</strong> no discurso,salientou que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong>mediador<strong>as</strong> em conflitos regionais e que a Organização <strong>de</strong>veria redobrarseu apoio aos esforços <strong>de</strong> paz em curso.Embora reconhecessem que na<strong>da</strong> era irreversível, <strong>as</strong>superpotênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ram a enten<strong>de</strong>r nessa oc<strong>as</strong>ião que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional <strong>de</strong>veria empenhar-se para <strong>as</strong>segurar que os avançoslogrados na distensão Leste-Oeste não fossem perdidos: a <strong>as</strong>sinaturados Acordos <strong>de</strong> Genebra <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1988 sobre o Afeganistão, cujaexecução iria permitir a retira<strong>da</strong> d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> soviétic<strong>as</strong> até 15/2/89; aconclusão <strong>de</strong> cessar-fogo entre o Irã e o Iraque; o início <strong>de</strong>entendimentos para resolver a questão do Camboja; a retoma<strong>da</strong> doscontatos para a solução <strong>de</strong> problem<strong>as</strong> na península <strong>da</strong> Coréia; <strong>as</strong> reaçõespositiv<strong>as</strong> à iniciativa do Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobre oSaara Oci<strong>de</strong>ntal; o renovado diálogo entre os lí<strong>de</strong>res d<strong>as</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>sgrega e turca em Chipre; e a <strong>as</strong>sinatura, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, dos51Nações Unid<strong>as</strong>, (1988), doc. A/43/PV.4, pp. 22 e 26.


88 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAAcordos entre Angola, Cuba e África do Sul sobre a repatriação <strong>de</strong>trop<strong>as</strong> cuban<strong>as</strong> <strong>de</strong> Angola e <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> sul-african<strong>as</strong> <strong>de</strong> Angola e <strong>da</strong>Namíbia, em eventos que contaram com a presença <strong>da</strong> ONU e queenvolveriam, na maioria dos c<strong>as</strong>os, o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. No ano seguinte, em outubro <strong>de</strong> 1990, oVice-Ministro dos Negócios Estrangeiros <strong>da</strong> URSS, VladimirPetrovsky, submeteu às Nações Unid<strong>as</strong> um memorando intituladoThe United Nations Organization in the post-confrontationalworld, no qual é apresenta<strong>da</strong> uma visão soviética atualiza<strong>da</strong> sobre opapel <strong>da</strong> Organização. Petrovsky entendia que o momento atual eraúnico, já que a substituição <strong>da</strong> rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> pela parceria e a <strong>as</strong>serção<strong>da</strong> supremacia do direito tinham aberto perspectiv<strong>as</strong> sem prece<strong>de</strong>ntespara <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Em particular, Petrovsky propôs que osistema <strong>de</strong> paz, segurança e cooperação previsto na Carta fosseresgatado, p<strong>as</strong>sando a advogar a convocação <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong>Estado-Maior menciona<strong>da</strong> no artigo 47 <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> ONU paradiscutir o <strong>as</strong>sunto.Em suma, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ganhavam maior margem <strong>de</strong> açãono campo <strong>da</strong> paz e segurança internacionais, em razão, sobretudo, docrescente entendimento entre Moscou e W<strong>as</strong>hington, que p<strong>as</strong>saram abuscar, nos organismos multilaterais, maior legitimação para <strong>as</strong> su<strong>as</strong>iniciativ<strong>as</strong>.Com efeito, sem os riscos <strong>de</strong> confrontações estratégic<strong>as</strong>, osEUA e a URSS p<strong>as</strong>saram a consi<strong>de</strong>rar a ONU como opção <strong>de</strong> açãopara resolver conflitos relacionados à paz e à segurança internacionais,nota<strong>da</strong>mente na promoção <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> em áre<strong>as</strong> do mundo emque não <strong>de</strong>sejavam atuar diretamente. Essa visão foi reforça<strong>da</strong> pelaEmbaixadora Ma<strong>de</strong>leine Albright, então Representante dos EUA juntoàs Nações Unid<strong>as</strong>, em pronunciamento feito na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Georgetown, em novembro <strong>de</strong> 1993, que <strong>de</strong>screveu <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>paz como instrumento para conter conflitos localizados que nãoameaç<strong>as</strong>sem a or<strong>de</strong>m internacional. O Governo norte-americano


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 89po<strong>de</strong>ria, <strong>as</strong>sim, centrar su<strong>as</strong> atenções n<strong>as</strong> questões que lhe eramessenciais, b<strong>as</strong>icamente a não-proliferação <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição emm<strong>as</strong>sa, o terrorismo, o relacionamento dos EUA no âmbito <strong>da</strong> OTAN,<strong>as</strong> relações com a União Européia, a China e a Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia,bem como com a situação dos países <strong>da</strong> Orla do Pacífico. O próprioPresi<strong>de</strong>nte William Clinton já tinha realçado, em setembro <strong>de</strong> 1993, noseu discurso na 48ª AGNU que o “fim <strong>da</strong> Guerra Fria não trouxe paranós o milênio <strong>da</strong> paz. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, simplesmente <strong>de</strong>stapou muitoscal<strong>de</strong>irões <strong>de</strong> animosi<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica, religiosa e territorial” 52 , conflitos estesque po<strong>de</strong>riam ser resolvidos por meio dos mecanismos multilateraisexistentes.Em alguns c<strong>as</strong>os, o papel <strong>de</strong> mediação <strong>da</strong> Organização serviutambém para oferecer “saíd<strong>as</strong> honros<strong>as</strong>” para a União Soviética e paraos EUA em <strong>de</strong>terminados conflitos localizados, fazendo com que <strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> pu<strong>de</strong>ssem enviar operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz aáre<strong>as</strong> tid<strong>as</strong> até então como “proibid<strong>as</strong>”, por se situarem na esfera <strong>de</strong>influência mais imediata d<strong>as</strong> superpotênci<strong>as</strong>. Entre outros exemplos,po<strong>de</strong>r-se-ia citar o envio <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Bons Ofícios d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>no Afeganistão e Paquistão (UNGOMAP) para supervisionar a retira<strong>da</strong>d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> soviétic<strong>as</strong> do Afeganistão, a Missão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> em Angola I (UNAVEM I) para monitorar a saí<strong>da</strong> d<strong>as</strong>trop<strong>as</strong> cuban<strong>as</strong> <strong>de</strong> Angola, <strong>as</strong>sim como o Grupo <strong>de</strong> Observadores d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> na América Central (ONUCA), a Missão <strong>de</strong>Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em El Salvador (ONUSAL) e aMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a Guatemala (MINUGUA),operações criad<strong>as</strong> para colaborar na implementação dos processos<strong>de</strong> paz na América Central. Como será visto mais adiante, osacontecimentos <strong>de</strong> 1994 acabariam por reverter <strong>as</strong> expectativ<strong>as</strong> dosmembros do CSNU, em particular dos EUA, com relação aoaproveitamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, pelo menosnos mol<strong>de</strong>s tradicionais, para equacionar conflitos regionais.52Comunicado à Imprensa divulgado pela Embaixa<strong>da</strong> dos EUA em Br<strong>as</strong>ília.


90 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAO segundo fator que contribuiu para a proliferação d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz foi o ressurgimento <strong>de</strong> tensões quese supunham superad<strong>as</strong>. O fim <strong>da</strong> rigi<strong>de</strong>z bipolar <strong>da</strong> Guerra Fria <strong>de</strong>uespaço para o ressurgimento <strong>de</strong> conflitos internos <strong>de</strong> fundo étnico,religioso ou nacionalista. Grupos étnicos p<strong>as</strong>saram a <strong>as</strong>pirar por maisautonomia, in<strong>de</strong>pendência ou por maior representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> no exercíciodo po<strong>de</strong>r central, sobretudo no continente africano, na região dosBálcãs, na Europa Oriental e na União Soviética.De fato, nos Bálcãs, após a morte do Marechal Josip BrozTito em 1980, <strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s em Belgrado foram incapazes <strong>de</strong>acomo<strong>da</strong>r os reclamos, ca<strong>da</strong> vez mais intensos, <strong>de</strong> su<strong>as</strong> minori<strong>as</strong>,levando ao violento processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smembramento do país queculminou na guerra civil <strong>da</strong> Bósnia-Herzegovina e, em 1998, nairrupção <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> violência no Kosovo. A ONU estabeleceu seisoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e três forç<strong>as</strong> multinacionais <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1992 para li<strong>da</strong>r com os problem<strong>as</strong> provocados pela fragmentação<strong>da</strong>quele país em cinco Estados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – Bósnia-Herzegovina,Croácia, Eslovênia, Iugoslávia e Macedônia –, e pela situaçãoespecial do Kosovo, na República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>da</strong> Iugoslávia. Já naEuropa Oriental, os anseios separatist<strong>as</strong> manifestaram-se na UniãoSoviética, estimulados pela implementação d<strong>as</strong> reform<strong>as</strong> políticoeconômic<strong>as</strong><strong>da</strong> perestroika, e nos países <strong>de</strong> sua esfera <strong>de</strong> influência,motivados pela revisão do padrão do relacionamento bilateral com aURSS, que abriu espaço para <strong>as</strong> oposições reivindicarem maiorautonomia 53 . Essa dinâmica separatista atingiu os próprios Estadosrecém-criados, a exemplo <strong>da</strong> Geórgia, do Tadjiquistão, do Azerbaijão53White, (1993), p. 17 e Celso A. Mello, (1985), p. 91. O Pacto <strong>de</strong> Varsóvia abandonoua “Doutrina <strong>de</strong> Brejnev” em 1989. De acordo com Celso A. Mello, a doutrina sustentavaque os Partidos Comunist<strong>as</strong>, além <strong>de</strong> serem responsáveis por seus povos, também o erampelo “movimento socialista como um todo”. Em nome do socialismo, a URSS <strong>de</strong>terminoua intervenção na Tchecoslováquia em 1968. No entanto, a URSS na<strong>da</strong> fez em 1989 par<strong>as</strong>ocorrer os governos comunist<strong>as</strong> dos países do Leste Europeu, que estavam a braços comdissidênci<strong>as</strong> intern<strong>as</strong>, incluindo reclamos por maior autonomia por parte <strong>de</strong> minori<strong>as</strong>étnic<strong>as</strong>.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 91e <strong>da</strong> própria Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia (os conflitos nos dois primeirospaíses <strong>de</strong>ram ensejo à criação <strong>de</strong> du<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz <strong>da</strong> ONU).No continente africano, a história <strong>de</strong> muitos países tambémtem sido marca<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>pendência, por tensões vinculad<strong>as</strong> arivali<strong>da</strong><strong>de</strong>s étnic<strong>as</strong>, tribais e, mesmo, <strong>de</strong> clãs. Po<strong>de</strong>-se afirmar queess<strong>as</strong> tensões, muit<strong>as</strong> <strong>de</strong>l<strong>as</strong> heranç<strong>as</strong> do p<strong>as</strong>sado, foram alimentad<strong>as</strong>pela própria colonização, que reuniu artificialmente, no mesmoterritório, povos e tribos diferentes e, por vezes, rivais. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,entretanto, que el<strong>as</strong> têm sido exacerbad<strong>as</strong>, n<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>, pela<strong>de</strong>terioração d<strong>as</strong> economi<strong>as</strong> nacionais, pelo precário funcionamentod<strong>as</strong> instituições do Estado, pela disputa por recursos naturais, pelosmovimentos migratórios em larga escala e pelo fácil acesso ao mercado<strong>de</strong> arm<strong>as</strong>. No seu relatório intitulado The causes of conflicts andthe promotion of durable peace and sustainable <strong>de</strong>velopment inAfrica, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1998, o Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>ressaltou que, em muitos países do continente africano, o Estado é aprincipal fonte empregadora, e, conseqüentemente, distribuidora <strong>de</strong>riquez<strong>as</strong>, e que os partidos políticos refletem, mormente, interessesregionais e étnicos, razão pela qual observou: “... the multi-ethniccharacter of most African States makes conflict even more likely,leading to an often violent politicization of ethnicity. In extremec<strong>as</strong>es, rival communities may perceive that their security, perhapstheir very survival, can be ensured only through control of Statepower. Conflict in such c<strong>as</strong>es becomes virtually inevitable” 54 .Na mesma linha do relatório <strong>da</strong> ONU vão os comentáriosfeitos pelo professor Kabengele Munanga, do Departamento <strong>de</strong>Antropologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, no Seminário “O DireitoInternacional dos Refugiados e a Lei 9.474/97”, realizado no Rio <strong>de</strong>Janeiro <strong>de</strong> 19 a 21/10/98. De acordo com o professor, os conflitos54Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. S/1998/318, parágrafo 12. Para uma análise maispormenoriza<strong>da</strong>, ver os parágrafos 7 a 15 do referido relatório.


92 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAna “África negra” refletem, sobretudo, conflitos pelo controle dopo<strong>de</strong>r, pois alguns segmentos étnicos se sentem menos representadosdo que outros na participação do po<strong>de</strong>r nacional. Com isso, osrepresentantes ou <strong>as</strong> li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> dos grupos alijados do po<strong>de</strong>rinstrumentalizam a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica – a politização <strong>da</strong> etnici<strong>da</strong><strong>de</strong>– na disputa pela distribuição do que os nigerianos <strong>de</strong>nominaram <strong>de</strong>“o bolo nacional”. As etni<strong>as</strong> excluíd<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sam então a taxar aquel<strong>as</strong>no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> anti<strong>de</strong>mocrátic<strong>as</strong> e tribais, que, por sua vez, acusamseus <strong>de</strong>safetos <strong>de</strong> procurar dividir o país motivados por interesses<strong>de</strong> seu grupo étnico. O professor observa que a maioria resultante<strong>da</strong> aplicação do princípio “uma pessoa, um voto” nem sempre garanteuma representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica equilibra<strong>da</strong> n<strong>as</strong> instânci<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisóri<strong>as</strong>do governo dos países africanos, no que diz respeito principalmenteaos grupos minoritários. Por isso, um dos maiores <strong>de</strong>safios dosdirigentes africanos atualmente, segundo Munanga, é o <strong>de</strong> criarestrutur<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> capazes <strong>de</strong> sobrepor-se a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s étnic<strong>as</strong> sem<strong>de</strong>struí-l<strong>as</strong>.Como terceiro fator do aumento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais, po<strong>de</strong>-semencionar o empenho mais efetivo dos países oci<strong>de</strong>ntais em favor <strong>de</strong>um i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong>mocrático b<strong>as</strong>eado no respeito aos direitos humanos, nopluralismo político e na liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão 55 . Esses preceitos<strong>de</strong>veriam nortear o tratamento internacional <strong>de</strong> questões relativ<strong>as</strong> àvi<strong>da</strong> social e à organização interna dos Estados. Seus fun<strong>da</strong>mentos55Um claro exemplo do consenso dos países oci<strong>de</strong>ntais sobre esses valores e <strong>da</strong> tentativa<strong>de</strong> universalizá-los foi a <strong>as</strong>sinatura, em 21/11/90, <strong>da</strong> Carta <strong>de</strong> Paris sobre a Nova Europa,pela qual os 34 membros <strong>da</strong> Conferência <strong>de</strong> Segurança e Cooperação na Europa (CSCE)<strong>da</strong> época reconheceram que o regime <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong>veria prevalecer como forma <strong>de</strong>Governo em todos os países <strong>da</strong> Europa e que a prestação <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência econômica<strong>de</strong>veria estar condiciona<strong>da</strong> à existência <strong>de</strong> regimes políticos <strong>de</strong>mocráticos. A Organização<strong>de</strong> Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), <strong>de</strong> 54 membros, e que suce<strong>de</strong>u a CSCE,<strong>as</strong>sinou acordo <strong>de</strong> cooperação com <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em maio <strong>de</strong> 1993, abrangendoativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na prevenção <strong>de</strong> conflitos e promoção dos valores <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e dos direitoshumanos, optando sempre pela solução pacífica d<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong>.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 93respal<strong>da</strong>vam-se no espírito e na letra <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,<strong>da</strong> Declaração Universal dos Direitos do Homem, do PactoInternacional sobre Direitos Civis e Políticos, bem como do PactoInternacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, quecompõem o cerne do arcabouço jurídico existente em matéria <strong>de</strong>proteção e promoção internacional dos direitos humanos. AConferência Mundial sobre os Direitos Humanos, realiza<strong>da</strong> em Vienaem 1993, referendou os princípios do i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong>mocrático, <strong>da</strong>ndolheum cunho realmente universal — estiveram presentes àConferência 171 Estados e 813 organizações não-governamentais(ONGs); além disso, o Fórum Paralelo d<strong>as</strong> ONGs mobilizou 2000organizações não-governamentais. Entre outros <strong>as</strong>pectos, aDeclaração <strong>de</strong> Viena, emana<strong>da</strong> <strong>da</strong> Conferência, realçou que aobservância dos direitos humanos contribui para a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e parao bem-estar necessários às relações pacífic<strong>as</strong> e amistos<strong>as</strong> entre <strong>as</strong>nações e, conseqüentemente, para a paz e a segurança. De acordocom Celso Lafer, essa Declaração foi o primeiro documento d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> que “explicitamente endossou a <strong>de</strong>mocracia como aforma <strong>de</strong> governo mais favorável para o respeito aos direitos humanose às liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s fun<strong>da</strong>mentais” 56 .Como corolário <strong>de</strong>ssa tendência, ressurgiu entre os paísesoci<strong>de</strong>ntais a idéia <strong>de</strong> revitalizar os mecanismos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>para promover os valores <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, nota<strong>da</strong>mente por meio <strong>da</strong>Comissão <strong>de</strong> Direitos Humanos, dos órgãos <strong>de</strong> monitoramento dosPactos sobre Direitos Humanos e <strong>da</strong> III Comissão <strong>da</strong> Assembléia Geral<strong>da</strong> ONU. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1988, a AGNU aprovou a Resolução 43/157 sobre a consoli<strong>da</strong>ção do princípio d<strong>as</strong> eleições periódic<strong>as</strong> egenuín<strong>as</strong>. A matéria p<strong>as</strong>sou a constar <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> Assembléi<strong>as</strong> Gerais,m<strong>as</strong>, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1991, foi aprova<strong>da</strong> a Resolução 46/137, <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> impacto normativo. A Resolução autorizava a indicação <strong>de</strong> um56Alves, (1994), p. XXXIV.


94 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAfuncionário <strong>de</strong> alto escalão para servir <strong>de</strong> ponto focal para <strong>as</strong>suntoseleitorais no Secretariado <strong>da</strong> ONU, bem como a composição <strong>de</strong>uma equipe <strong>de</strong> apoio para o <strong>as</strong>sessorar no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> su<strong>as</strong>funções. Tais <strong>de</strong>sdobramentos resultaram na criação <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong>Assistência Eleitoral (DAE), em abril <strong>de</strong> 1992 57 . Na vertente d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, os man<strong>da</strong>tos aprovados peloCSNU ou pela AGNU p<strong>as</strong>sariam a contemplar a reconciliaçãopolítica e a reconstrução nacional, fazendo do respeito aos direitoshumanos e <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> eleições por voto universal e secretofatores primordiais na busca <strong>de</strong> soluções para os conflitos tratadospela Organização. A importância atribuí<strong>da</strong> à promoção <strong>de</strong>ssesvalores p<strong>as</strong>sou a ser uma d<strong>as</strong> principais diferenç<strong>as</strong> d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz com relação às operaçõesclássic<strong>as</strong>.Em linh<strong>as</strong> gerais, a superação do confronto Leste-Oeste, aomesmo tempo que permitiu solucionar conflitos remanescentes doperíodo <strong>da</strong> lógica bipolar, a exemplo d<strong>as</strong> situações em Moçambique eNamíbia, parece ter contribuído para a emergência <strong>de</strong> contradiçõesadormecid<strong>as</strong>, cuj<strong>as</strong> motivações obe<strong>de</strong>cem a uma lógica própria eespecífica nem sempre correlacionáveis com o que ocorre no resto domundo. O CSNU, tendo à frente os Membros permanentes,incentivados, aliás, por um i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> valorização d<strong>as</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong>mocrátic<strong>as</strong> e dos direitos humanos, envolveu-se tanto noencaminhamento <strong>de</strong> solução dos conflitos originários <strong>da</strong> Guerra Fria,quanto no equacionamento dos conflitos que estavam latentes duranteo confronto Leste-Oeste e que eclodiram nos anos 90.57A Divisão <strong>de</strong> Assistência Eleitoral (DAE), órgão subordinado ao Subsecretário-Geral<strong>de</strong> Assuntos Políticos, <strong>de</strong>senvolveu du<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> atuação: 1) os componenteseleitorais d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong> missões civis, que obe<strong>de</strong>cem aman<strong>da</strong>tos aprovados pela Assembléia Geral ou pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança; e, 2) <strong>as</strong>missões <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência eleitoral, forma <strong>de</strong> cooperação técnica <strong>de</strong> pequeno porte sem anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> aprovação <strong>de</strong> um man<strong>da</strong>to específico <strong>da</strong> Assembléia Geral ou do Conselho<strong>de</strong> Segurança.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 95CARACTERÍSTICAS DAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZMULTIDISCIPLINARES DAS NAÇÕES UNIDAS OU DE SEGUNDA GERAÇÃOOs fatores condicionantes analisados, somados à harmoniacrescente entre os Membros permanentes do Conselho <strong>de</strong> Segurança,cuj<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> manifestações foram a aprovação <strong>da</strong> Resolução598(1987) sobre a guerra Irã-Iraque e <strong>da</strong> Resolução 660(1990) sobrea Guerra do Golfo, transformaram a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> ONU no campo <strong>da</strong>paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. Estava superado o imobilismo anteriorque levara o General George Sherry, <strong>as</strong>sistente do Secretário-Gerald<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, a afirmar em 1986 que a ONU “could engage inlittle more than imp<strong>as</strong>se management in the field of internationalpeace and security” 58 . O fato <strong>de</strong> 26 países terem-se voluntariado paraparticipar <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz no Afeganistão e naregião do confronto entre Irã e Iraque em 1987, muitos dos quais,como Hungria, Indonésia e Turquia, pela primeira vez, mostrou a vonta<strong>de</strong>política existente entre Estados membros para participar <strong>de</strong>sse esforçocoletivo <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> paz. A proliferação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> operaçõesprovocou uma evolução dos conceitos e princípios d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importânciano <strong>de</strong>bate ora em curso. A<strong>de</strong>mais, é útil não apen<strong>as</strong> distinguir <strong>as</strong>operações clássic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> multidisciplinares, m<strong>as</strong> também i<strong>de</strong>ntificar osatores envolvidos.Evolução dos fun<strong>da</strong>mentosd<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>O CONSENTIMENTO DAS PARTES EM CONFLITOEmbora <strong>da</strong>te <strong>de</strong> 1948 e 49, quando do envio d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong>missões <strong>de</strong> observação, o princípio do consentimento d<strong>as</strong> partes foi58Ratner, (1995), p. 10.


96 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAconsagrado com o <strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong> UNEF I no Egito em 1956 (crise<strong>de</strong> Suez). O Secretário-Geral Dag Hammarskjöld <strong>de</strong>ixou claro tratarse<strong>de</strong> elemento-chave d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, no seu relatório <strong>de</strong> 9/10/58,dirigido à Assembléia Geral sobre <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> adquirid<strong>as</strong> com aUNEF I 59 . Somente a expressão do consentimento <strong>as</strong>segura o respeitoao princípio <strong>de</strong> não-intervenção em <strong>as</strong>suntos internos dos Estadosmembros, constante do artigo 2,§7 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Naausência <strong>de</strong>sse consentimento, restaria à ONU não realizar a operaçãoou impô-la à força, ao amparo do capítulo VII e, portanto, fora docontexto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Em função do caráter intrusivo <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>estrangeir<strong>as</strong> no país anfitrião, é necessário regular juridicamente apresença dos integrantes d<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> observação e d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong>paz também à luz do princípio do consentimento. A ONU tem insistidona noção <strong>de</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> jurisdição civil e penal mediante aconclusão com o governo anfitrião <strong>de</strong> um acordo ou memorando <strong>de</strong>entendimento, <strong>de</strong>nominado “acordo d<strong>as</strong> prerrogativ<strong>as</strong> d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong>”(Status of Forces Agreement – SOFA), cabendo aos países <strong>de</strong> origemjulgar os <strong>de</strong>litos ou crimes perpetrados pelos seus nacionais integrantes<strong>da</strong> operação <strong>de</strong> paz. As negociações relativ<strong>as</strong> ao SOFA ou aomemorando <strong>de</strong> entendimento, contudo, são prolongad<strong>as</strong> por exigir,muit<strong>as</strong> vezes, a aprovação do Executivo e do Legislativo nos paísesanfitriões. As resistênci<strong>as</strong> centram-se, sobretudo, nos <strong>as</strong>pectos <strong>da</strong>imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> penal, haja vista <strong>as</strong> <strong>de</strong>núnci<strong>as</strong> que vêm sendo noticiad<strong>as</strong>pela imprensa sobre abusos cometidos por alguns integrantes d<strong>as</strong>missões <strong>de</strong> paz (tortur<strong>as</strong>, contrabando, abusos sexuais etc.). Essamorosi<strong>da</strong><strong>de</strong> fez com que a Assembléia Geral endoss<strong>as</strong>se, pela Resolução52/12(B), em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1997, a proposta do Secretário-Geral KofiAnnan no sentido <strong>de</strong> que o relacionamento jurídico entre os integrantesd<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais sejabalizado pela aplicação do mo<strong>de</strong>lo-padrão do SOFA adotado pela59Nações Unid<strong>as</strong>, (1958), doc. A/3943.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 97Organização até a conclusão <strong>de</strong> um acordo sobre o <strong>as</strong>sunto 60 . Éimportante <strong>as</strong>sinalar que a Convenção sobre Segurança do Pessoald<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e Pessoal Associado, que entrou em vigor em 15/1/99, refere-se no seu artigo 4º à <strong>as</strong>sinatura entre o Estado anfitrião ea ONU <strong>de</strong> um acordo que regule, inter alia, os privilégios e imuni<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo pessoal militar e policial <strong>da</strong> operação. A Convenção é um acordoquadroque visa tornar mais expedita a celebração dos SOFAs.Nos conflitos interestatais, o consentimento é <strong>da</strong>do por partesclaramente i<strong>de</strong>ntificáveis, que controlam seus territórios, havendo,portanto, interlocutores para negociar e buscar soluções para questõesespecífic<strong>as</strong>. Nos conflitos intra-estatais, por outro lado, o consentimentoé b<strong>as</strong>tante menos estável, na medi<strong>da</strong> em que é difícil i<strong>de</strong>ntificarinterlocutores com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressá-lo ou, se expresso, <strong>de</strong>implementá-lo. Na medi<strong>da</strong> em que uma d<strong>as</strong> partes em conflito nãoreconhece os instrumentos jurídicos internacionais existentes, tais como<strong>as</strong> Convenções <strong>de</strong> Genebra <strong>de</strong> 1949 e os Protocolos Adicionais <strong>de</strong>1977 sobre Direito Internacional Humanitário (DIH), nem os acordos<strong>as</strong>sinados com <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, os integrantes d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> contar com interlocutores capacitadosa resolver os problem<strong>as</strong> que surgem no terreno no transcurso <strong>de</strong> umaoperação e tornam-se vulneráveis a ataques. Po<strong>de</strong>-se questionar,portanto, a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> do SOFA em regiões controlad<strong>as</strong> por uma facçãorebel<strong>de</strong>. Na antiga Iugoslávia (Força <strong>de</strong> Proteção d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>— UNPROFOR), no Sul do Líbano (UNIFIL), na Somália(<strong>Operações</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Somália — UNOSOM I e II) e noCamboja (Autori<strong>da</strong><strong>de</strong> Transitória d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Camboja —UNTAC), por exemplo, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> buscaram sempre obter oconsentimento <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> partes envolvid<strong>as</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> su<strong>as</strong> ações, m<strong>as</strong> os acordos alcançados eram constantementeviolados ou renegados por milíci<strong>as</strong> ou partes insatisfeit<strong>as</strong>. No c<strong>as</strong>o do60O mo<strong>de</strong>lo-padrão consta do doc. A/45/594, <strong>de</strong> 1990, que foi elaborado com b<strong>as</strong>e naResolução nº 44/49 <strong>da</strong> Assembléia Geral, <strong>de</strong> 8/12/89.


98 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURACamboja, <strong>as</strong> eleições monitorad<strong>as</strong> pela ONU não pu<strong>de</strong>ram sequer serrealizad<strong>as</strong> nos territórios controlados pelo Khmer Vermelho ( cerca<strong>de</strong> 1/3 do país), à luz d<strong>as</strong> ameaç<strong>as</strong> <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> força contra os integrantes<strong>da</strong> Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> e eleitores.Esse tipo <strong>de</strong> conflito, que se <strong>de</strong>senvolve algum<strong>as</strong> vezes emambiente <strong>de</strong> contestação à própria presença d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, com oenvolvimento <strong>de</strong> atores não-representativos, que não respeitam <strong>as</strong>diretrizes <strong>da</strong> ONU nem respon<strong>de</strong>m à pressão internacional, motivadiscussões sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> real <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> uma operação<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz em uma operação <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz. Ospróprios países que contribuem com trop<strong>as</strong> po<strong>de</strong>riam não concor<strong>da</strong>rem manter seus contingentes na operação em seu novo formato, inclusive<strong>de</strong>vido a problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m constitucional. Adicionalmente, paraenfrentar situações <strong>de</strong> combate, o arsenal militar <strong>da</strong> operação precisariaincorporar, entre outros itens, armamento pesado.Para fazer frente a ess<strong>as</strong> situações, o Secretário-Geral <strong>da</strong> ONUsugeriu no seu documento “Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em 17/6/92, acriação <strong>de</strong> “uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz” (Peace EnforcementUnits) 61 , para c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violação a cessar-fogos, e no “Suplemento <strong>de</strong>Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em 3/1/95, o estabelecimento <strong>de</strong> uma “força<strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong>” (Rapid Reaction Force), que seria “... the SecurityCouncil’s strategic reserve for <strong>de</strong>ployment when there w<strong>as</strong> anemergency need for peace-keeping troops” 62 . Também foramexplorados novos conceitos <strong>de</strong> emprego <strong>da</strong> força <strong>as</strong>sociados ànecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dotar <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz <strong>de</strong> alguma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> açãoofensiva, tais como o d<strong>as</strong> “operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz robust<strong>as</strong>”,aventado pelo DPKO, o d<strong>as</strong> “operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz”, sugeridopelo Reino Unido, ou o d<strong>as</strong> “operações <strong>de</strong> apoio à paz”, proposto pelaOTAN, que po<strong>de</strong>m ser consensuais ou não. Ess<strong>as</strong> três últim<strong>as</strong>mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção serão mais bem elaborad<strong>as</strong> no capítulo III.61Nações Unid<strong>as</strong>, (1992), doc. A/47/277-S/24111, parágrafo 44.62Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. A/50/60-S/1995/1, parágrafo 44.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 99Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, são, grosso modo, dois os tipos <strong>de</strong> situaçãoenvolvendo o princípio do consentimento nos conflitos <strong>de</strong> naturezainterna: (a) ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> com o consentimento d<strong>as</strong> partesem conflito em apoio aos esforços levados a cabo para atingir ou mantera paz e promover a segurança e <strong>as</strong> condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>conflito existente ou potencial; e, (b) <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com o consentimentogenérico d<strong>as</strong> partes em conflito, m<strong>as</strong> em ambiente volátil e, <strong>de</strong> certomodo, hostil por parte <strong>da</strong> população ou d<strong>as</strong> partes beligerantes. Emborain<strong>de</strong>sejável, não se po<strong>de</strong> excluir, portanto, que <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, no<strong>de</strong>curso <strong>de</strong> sua permanência no terreno, tenham <strong>de</strong> recorrer, em<strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> e por períodos limitados, ao uso <strong>da</strong> força,o que não significa capacitá-l<strong>as</strong> a realizar operações militares coercitiv<strong>as</strong>.O estado <strong>de</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ao minar o princípio do consentimento, exigea reavaliação <strong>da</strong> permanência <strong>da</strong> força <strong>de</strong> paz. Tal <strong>de</strong>sdobramentorevela a cautela com que o CSNU <strong>de</strong>ve aprovar a criação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz para conflitos intra-estatais.O NÃO-USO DA FORÇAO princípio do não-uso <strong>da</strong> força exceto em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> legítima<strong>de</strong>fesa é o segundo elemento-chave d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua adoção em 1956, m<strong>as</strong> foram introduzid<strong>as</strong>, ao longodo tempo, modificações no alcance atribuído pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> aoprincípio <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong> forma a levar em conta <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>prevalecentes no terreno. Cumpre analisar a sua evolução n<strong>as</strong> du<strong>as</strong>vertentes d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>:<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> observação e <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz.O NÃO-USO DA FORÇA NAS MISSÕES DE OBSERVAÇÃOA questão foi suscita<strong>da</strong> inicialmente quando do estabelecimento<strong>da</strong> UNTSO no Oriente Médio em junho <strong>de</strong> 1948, cujo man<strong>da</strong>to era o


100 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>de</strong> supervisionar a trégua entre os países árabes e Israel. Ralph J. Bunche,inicialmente <strong>as</strong>sistente do mediador <strong>da</strong> ONU para a questão <strong>da</strong> Palestinae, <strong>de</strong>pois do <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinato <strong>de</strong>ste, seu sucessor no cargo, recebeu instruçõespara operacionalizar a missão <strong>de</strong> observação. Previu-se que osobservadores militares agiriam <strong>de</strong>sarmados, sendo <strong>as</strong> partes em conflitoresponsáveis por sua segurança, já que, ao consentirem na presença <strong>da</strong>missão, <strong>de</strong>veriam também velar pela integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física <strong>de</strong> seus integrantes.A regra vem sendo respeita<strong>da</strong> em operações <strong>de</strong>ssa natureza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,com uma única exceção: o coman<strong>da</strong>nte do componente militar do Grupo<strong>de</strong> Assistência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a transição <strong>da</strong> Namíbia (UNTAG)autorizou em 1989-90 observadores servindo em postos isolados amunirem-se <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> leves para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem dos animais selvagens.Esse compromisso d<strong>as</strong> partes em garantir a segurança dosobservadores militares não tem impedido a ocorrência <strong>de</strong> baix<strong>as</strong> fatais,<strong>de</strong>vido a doenç<strong>as</strong>, aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho ou outros fatores. Ainsegurança aumentou significativamente, entretanto, a partir do fim dosanos 80, nota<strong>da</strong>mente nos conflitos <strong>de</strong> caráter interno. Muitosobservadores têm sido molestados durante su<strong>as</strong> patrulh<strong>as</strong>, retidostemporariamente pelos mais diversos motivos, tomados como refénsou, mesmo, mortos: no Líbano, em julho <strong>de</strong> 1989, o chefe do grupo <strong>da</strong>UNTSO, servindo em Beirute, foi seqüestrado e, posteriormente,<strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinado; na Bósnia-Herzegovina, em maio <strong>de</strong> 1995, os militantesbósnios-sérvios usaram observadores militares como escudos humanospara <strong>de</strong>terem ataques aéreos <strong>da</strong> OTAN/ONU; na Guatemala, em julho<strong>de</strong> 1995, oficiais <strong>de</strong> ligação e outros funcionários civis d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> foram mantidos como reféns por camponeses <strong>de</strong>scontentescom a política <strong>de</strong> re<strong>as</strong>sentamento <strong>de</strong> refugiados n<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> rurais; noTadjiquistão, em fevereiro <strong>de</strong> 1997, cerca <strong>de</strong> 15 militares e civis foramseqüestrados por uma d<strong>as</strong> partes em luta; na Geórgia, em fevereiro <strong>de</strong>1998, quatro observadores foram retidos por uma d<strong>as</strong> facções rebel<strong>de</strong>se, em setembro <strong>de</strong> 1998, ônibus transportando observadores militaresfoi atacado por forç<strong>as</strong> não-i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong>, ferindo quatro oficiais.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 101Embora não diga respeito propriamente à questão do não-uso<strong>da</strong> força, é oportuno <strong>as</strong>sinalar que a política d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> é <strong>de</strong>não ce<strong>de</strong>r a pedidos <strong>de</strong> seqüestradores <strong>de</strong> integrantes <strong>de</strong> missões <strong>de</strong>observação ou <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz (por exemplo, exigência <strong>de</strong> liberação<strong>de</strong> prisioneiros mantidos por uma d<strong>as</strong> partes em conflito ou pagamentoem espécie). Houve apen<strong>as</strong> uma exceção, em setembro <strong>de</strong> 1997,quando dois observadores militares <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> na Geórgia (UNOMIG) foram liberados mediante opagamento <strong>de</strong> resgate. O episódio comprometeu a imagem d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, fazendo com que o Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU tivesse <strong>de</strong>afirmar: “... the payment of ransom which w<strong>as</strong> required to ensurethe hostages’ safe return is contrary to established United Nationspolicy, which dictates that the Organization should neither payransom nor make substantial concession for the rele<strong>as</strong>e ofhostages.” 63 Comentou-se na época que, na eventuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ocorrerem outros seqüestros, animados por esse exemplo, po<strong>de</strong>r-seiater <strong>de</strong> revisar a proibição <strong>de</strong> os observadores usarem arm<strong>as</strong> <strong>de</strong>pequeno porte para se proteger <strong>de</strong> criminosos comuns, uma vez que afalta <strong>de</strong> segurança tornava inaplicável o conceito do não-uso <strong>da</strong> força.É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que os observadores militares estarão sempre expostosa riscos em cenários on<strong>de</strong> predomina o vazio <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, sobretudoon<strong>de</strong> <strong>as</strong> ações d<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> observação se conjugam com outr<strong>as</strong>iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> caráter coercitivo. To<strong>da</strong>via, os autores consultadoscoinci<strong>de</strong>m em que dificilmente a proteção dos observadores estará maisbem garanti<strong>da</strong> se portarem arm<strong>as</strong> leves, visto que costumam trabalharindividualmente ou em parceria, por vezes em áre<strong>as</strong> remot<strong>as</strong>, on<strong>de</strong> aarma <strong>de</strong> fogo po<strong>de</strong>rá ser vista pela população local como ameaça e nãoinstrumento <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa. O Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, diante<strong>da</strong> <strong>de</strong>terioração <strong>da</strong> situação no Tadjiquistão, chegou a propor, emsetembro <strong>de</strong> 1997, proteger observadores e <strong>de</strong>mais funcionários <strong>da</strong> ONUmediante o envio <strong>de</strong> um batalhão <strong>de</strong> infantaria, m<strong>as</strong> a iniciativa não63Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. SC/6440.


102 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAprosperou por falta <strong>de</strong> consentimento d<strong>as</strong> partes em conflito para o<strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong> tropa. No entanto, em alguns c<strong>as</strong>os, como a <strong>da</strong>UNOMIG na Geórgia, o CSNU autorizou a contratação <strong>de</strong> seguranç<strong>as</strong>locais e do exterior para proteger <strong>as</strong> instalações <strong>da</strong> missão, cabendo aopaís anfitrião proteger os seus integrantes no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções,como último recurso para não retrair sua presença no terreno.Com efeito, nos c<strong>as</strong>os em que não há possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> garantira segurança <strong>de</strong> seu pessoal, a tendência <strong>da</strong> ONU é reduzir sua presençano terreno ou suspen<strong>de</strong>r <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> missão até que <strong>as</strong> condições<strong>de</strong> segurança melhorem. Tal atitu<strong>de</strong> repercute negativamente sobre ostrabalhos que <strong>as</strong> Agênci<strong>as</strong>, os Fundos e os Program<strong>as</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> realizam no país anfitrião em prol <strong>da</strong> população civil e <strong>da</strong>recuperação econômica do país (distribuição <strong>de</strong> alimentos, recuperação<strong>da</strong> infra-estrutura econômica etc.), m<strong>as</strong> não se cogita, por ora, aceitara idéia <strong>de</strong> armar observadores militares.O NÃO-USO DA FORÇA NAS FORÇAS DE PAZO conceito <strong>de</strong> emprego <strong>da</strong> força em operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz teve sua origem no estabelecimento d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> <strong>de</strong> engajamento(rules of engagement) para os integrantes <strong>da</strong> Primeira Força <strong>de</strong>Emergência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em 1956 (UNEF I). Foi re<strong>de</strong>finidoquando <strong>da</strong> <strong>de</strong>terminação d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Força <strong>de</strong> Emergênciaem 1973 (UNEF II).Em 1956, o Secretário-Geral Dag Hammarskjöld <strong>de</strong>terminouque o uso <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> pela força <strong>de</strong> paz se limitaria às situações <strong>de</strong> legítima<strong>de</strong>fesa, uma vez que sua presença era consenti<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> partes emconflito e que, conseqüentemente, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong>veriam serresolvid<strong>as</strong> pacificamente. Além disso, a UNEF I foi aprova<strong>da</strong> pelaAssembléia Geral, fora portanto <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> do Capítulo VII.Hammarskjöld expressou-se <strong>da</strong> seguinte forma no relatório <strong>de</strong> avaliaçãodos trabalhos <strong>da</strong> UNEF I em 1958: “A re<strong>as</strong>onable <strong>de</strong>finition seems


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 103to have been established in the c<strong>as</strong>e of UNEF, where the rule isapplied that men engaged in the operation may never take theinitiative in the use of armed force, but are entitled to respondwith force to an attack with arms including attempts to use forceto make them withdraw from positions which they occupy un<strong>de</strong>ror<strong>de</strong>rs from the Comman<strong>de</strong>r, acting un<strong>de</strong>r the authority of theAssembly and within the scope of its resolutions” 64 .Em 1973, o então Secretário-Geral Kurt Waldheim ampliou oalcance do conceito <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa ao indicar que “the Force willbe provi<strong>de</strong>d with weapons of a <strong>de</strong>fensive character only. It shallnot use force except in self-<strong>de</strong>fense. Self-<strong>de</strong>fense would inclu<strong>de</strong>resistance to attempts by forceful means to prevent (UNEF II) fromdischarging its duties un<strong>de</strong>r the Security Council’s man<strong>da</strong>te” 65 .Essa <strong>de</strong>finição, ao mesmo tempo em que respal<strong>da</strong>va o emprego <strong>da</strong>força em prol do cumprimento do man<strong>da</strong>to, aumentava <strong>as</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> confronto no terreno, o que po<strong>de</strong>ria comprometer a imagem <strong>de</strong>imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> força perante a população local e <strong>as</strong> partesantagônic<strong>as</strong>. O entendimento era <strong>de</strong> que não apen<strong>as</strong> <strong>as</strong> partes <strong>de</strong>veriamcooperar com a força <strong>de</strong> paz, m<strong>as</strong> também que a persistência <strong>de</strong>inci<strong>de</strong>ntes implicaria ação mais efetiva do Conselho <strong>de</strong> Segurança contraa parte recalcitrante.Nos anos 90, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz p<strong>as</strong>saram <strong>as</strong>er criticad<strong>as</strong> por não reagirem militarmente in loco a <strong>de</strong>terminadoseventos, mormente acontecimentos envolvendo o <strong>de</strong>srespeito ao DIHe aos direitos humanos. Embora <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz possam auxiliar noretorno <strong>de</strong> refugiados e no re<strong>as</strong>sentamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocados internos,fornecer aju<strong>da</strong> humanitária, escoltar comboios e supervisionar a açãodos quadros policiais, mediante visita às prisões, aos quartéis e arealização <strong>de</strong> rond<strong>as</strong> conjunt<strong>as</strong>, taref<strong>as</strong> usuais d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração, seus integrantes não estão64Nações Unid<strong>as</strong>, (1958), doc. A/3943, parágrafo 179.65Nações Unid<strong>as</strong>, (1973), doc. S/11052/Rev. 1, parágrafo 4(d).


104 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcapacitados a enfrentar exércitos ou milíci<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong>a agir como instrumento para <strong>de</strong>sanuviar tensões. El<strong>as</strong> não po<strong>de</strong>mrepresentar uma ameaça às partes antagônic<strong>as</strong>, nem ser percebid<strong>as</strong>como tal, mesmo porque são militarmente inferiores, contam comsistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> apoio logístico nem sempre a<strong>de</strong>quados e estão armad<strong>as</strong>com equipamentos leves, apropriados apen<strong>as</strong> para auto<strong>de</strong>fesa. Alémdisso, seria pouco provável que os países que contribuem com trop<strong>as</strong>ce<strong>de</strong>ssem sol<strong>da</strong>dos para participar <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> com alto risco <strong>de</strong>confronto armado. É importante recor<strong>da</strong>r que o man<strong>da</strong>to <strong>da</strong> força <strong>de</strong>paz só po<strong>de</strong>rá ser cumprido se houver cooperação d<strong>as</strong> partes paraencontrar uma solução duradoura para su<strong>as</strong> divergênci<strong>as</strong>.A IMPARCIALIDADEA primeira elaboração sobre o conceito <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> no âmbitod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz foi <strong>de</strong> Ralph J. Bunche, que, poroc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> UNTSO no Oriente Médio, enfatizou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> os observadores militares não emitirem juízos <strong>de</strong> valor sobre a situaçãoprevalecente no local. Esse conceito recebeu abor<strong>da</strong>gem mais exaustivano relatório apresentado pelo Secretário-Geral Dag Hammarskjöld àAssembléia Geral sobre a UNEF I em 1958 66 . Des<strong>de</strong> então, <strong>as</strong> Missões<strong>de</strong> Observação e Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>da</strong> ONU têm sido vist<strong>as</strong> como “neutr<strong>as</strong>”,“isent<strong>as</strong>”, “imparciais” ou “<strong>de</strong>stituíd<strong>as</strong> <strong>de</strong> preconceitos”.Nos últimos anos, o crescente envolvimento d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>em conflitos intra-estatais levou certos autores, como Henry Wisemane Steven Ratner, a profun<strong>da</strong>r os conceitos <strong>de</strong> “imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>” e“neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Segundo eles, <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> seriam imparciais apen<strong>as</strong>no cumprimento do man<strong>da</strong>to, m<strong>as</strong> não necessariamente neutr<strong>as</strong>, umavez que o man<strong>da</strong>to do CSNU é b<strong>as</strong>eado em uma <strong>de</strong>cisão política, porvezes <strong>de</strong>sfavorável a uma d<strong>as</strong> partes. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, o CSNU66Nações Unid<strong>as</strong>, (1958), doc. A/3943.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 105po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>terminar a imposição <strong>de</strong> sanções e eventualmente obrigar aForça <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> a adotar cert<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> contra elementos que estivessem<strong>de</strong>srespeitando o acordo celebrado, o que não comprometeria per sea “imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>” dos integrantes <strong>da</strong> operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz,ain<strong>da</strong> que não se pu<strong>de</strong>sse falar em “neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, em razão <strong>da</strong> toma<strong>da</strong><strong>de</strong> posição em relação às partes em litígio.A discussão sobre os conceitos <strong>de</strong> “imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>” e “neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong>”tem utili<strong>da</strong><strong>de</strong> operacional relativa para a condução d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. No terreno, o nível <strong>de</strong> credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> operação e <strong>as</strong>egurança <strong>de</strong> seus integrantes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong> população locale d<strong>as</strong> partes envolvid<strong>as</strong> quanto à isenção <strong>de</strong> sua atuação. Na Somália, em1992/93, e na antiga Iugoslávia, em 1993/95, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>cidiramreagir às violações d<strong>as</strong> resoluções do CSNU por meio do recurso extremodo uso <strong>da</strong> força, levando respectivamente o clã <strong>de</strong> Mohammed Ai<strong>de</strong>ed eos militantes bósnios-sérvios a consi<strong>de</strong>rarem <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU comoantagonist<strong>as</strong>, o que resultou em uma espiral <strong>de</strong> violência. C<strong>as</strong>o similar tinhavitimado <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> norte-american<strong>as</strong> e frances<strong>as</strong> <strong>da</strong> Força Multinacional IIno Líbano em 1984, <strong>as</strong> quais per<strong>de</strong>ram, no total, 299 homens, por teremsido i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> facções muçulman<strong>as</strong> e drus<strong>as</strong> como ten<strong>de</strong>ncios<strong>as</strong>à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cristã na guerra civil. O <strong>de</strong>safio d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração é o <strong>de</strong> preservar a imagem <strong>de</strong> isenção peranteo conflito e superar, ao mesmo tempo, os obstáculos interpostos aocumprimento <strong>de</strong> seu man<strong>da</strong>to, em um ambiente extremamente instável.Caberia citar, a respeito, uma d<strong>as</strong> lições aprendid<strong>as</strong> <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong>Assistência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Ruan<strong>da</strong>: “A peacekeeping missionshould strive to maintain impartiality in both perception and reality.(...) It is essential to explain that the United Nations <strong>de</strong>als impartiallywith all parties and authorities concerned and does not act in theinterests of any one of the parties” 67 . Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, embora seja o67Nações Unid<strong>as</strong>, (1996), publicação Comprehensive Report on Lesson Learned fromUnited Nations Assistance Mission for Rwan<strong>da</strong> (UNAMIR) - october 1993-April 1996,pp.16-17.


106 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAprincipal requisito para <strong>as</strong>segurar a confiança e a cooperação d<strong>as</strong> partesem conflito, a atuação imparcial não é suficiente, sendo necessário quevenha a ser percebi<strong>da</strong> como agindo <strong>de</strong>ssa forma.O VOLUNTARIADO DOS PAÍSES QUE CONTRIBUEM COM PESSOALDurante a Guerra Fria, o Secretariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>buscou imprimir um caráter multinacional às operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, preferindo não mobilizar pessoal dos Membros permanentesdo CSNU e limitando a presença <strong>de</strong> contingentes <strong>de</strong> um único país aum terço do efetivo total <strong>da</strong> operação. Foram exceções a composiçãoeminentemente paquistanesa <strong>da</strong> UNSF (Irian Oci<strong>de</strong>ntal), e a <strong>de</strong>signação<strong>de</strong> observadores militares dos Estados Unidos e <strong>da</strong> União Soviética naUNSTO e na UNEF II (amb<strong>as</strong> no Oriente Médio) , <strong>as</strong>sim como <strong>de</strong>trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> França e do Reino Unido na UNIFIL (Líbano) e na UNFICYP(Chipre). Em 1991, com o fim <strong>da</strong> Guerra Fria, a Missão <strong>de</strong> Observaçãod<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> Iraque-Kuaite (UNIKOM) foi a primeira Força <strong>de</strong><strong>Paz</strong> a contar com contingentes dos cinco Membros permanentes. Diante<strong>da</strong> crescente distensão Leste-Oeste, tal engajamento dos Membrospermanentes vinha sendo reclamado, por sinalizar a disposição d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>spotênci<strong>as</strong> em respal<strong>da</strong>r <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz e por motivar outros países ace<strong>de</strong>r pessoal e recursos às Nações Unid<strong>as</strong>.No entanto, o princípio <strong>da</strong> participação voluntária po<strong>de</strong> acarretarproblem<strong>as</strong> operacionais, na medi<strong>da</strong> em que os países contribuintes têm odireito <strong>de</strong> retirar su<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> ou observadores d<strong>as</strong> operações. Essa situaçãotem implicações graves nos cenários marcados pela instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong>condições <strong>de</strong> segurança, como ocorreu na Somália, em Ruan<strong>da</strong> e na Bósnia-Herzegovina. O SGNU acaba tendo que negociar tanto a manutenção doconsentimento no terreno com <strong>as</strong> partes antagônic<strong>as</strong>, como a permanênciados contingentes dos países que contribuem com pessoal 68 .68Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), publicação General Gui<strong>de</strong>lines for Peace-keeping Operations,p. 36.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 107Comparação entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz“clássic<strong>as</strong>” d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e <strong>as</strong> “multidisciplinares”Para melhor compreensão, a maioria dos autores consultadosprefere reunir <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz em dois grupos: <strong>as</strong>operações clássic<strong>as</strong> ou <strong>de</strong> primeira geração, que predominaram até1987 (<strong>as</strong> exceções <strong>de</strong>sse período foram a UNTEA no Irian Oci<strong>de</strong>ntal,entre 1962 e 1963, e a ONUC no Congo, entre 1960 e 1964, quepo<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> <strong>as</strong> precursor<strong>as</strong> d<strong>as</strong> operaçõesmultidisciplinares), e <strong>as</strong> <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração ou multidisciplinares, apartir <strong>de</strong> 1988 (mesmo que nesse período também tenham sido criad<strong>as</strong>operações que po<strong>de</strong>riam ser enquadrad<strong>as</strong> como <strong>de</strong> primeira geração).De modo resumido e esquemático, estão apresentad<strong>as</strong> na Tabelanúmero 3 <strong>as</strong> principais diferenç<strong>as</strong> entre os dois grupos <strong>de</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.


108 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 3COMPARAÇÃO ENTRE AS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ CLÁSSICAS E AS MULTIDISCIPLINARESFonte: MRE.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 109PRINCIPAIS ATORESPara se ter uma visão mais pormenoriza<strong>da</strong> d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz nos últimos anos, inclusive <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus <strong>as</strong>pectosoperacionais, a análise é dividi<strong>da</strong> segundo os principais atores envolvidos nacriação e execução <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> missões: Conselho <strong>de</strong> Segurança, AssembléiaGeral, Secretário Geral e países que contribuem com trop<strong>as</strong>. Além disso,serão examinad<strong>as</strong> brevemente <strong>as</strong> <strong>de</strong>mais instânci<strong>as</strong> do sistema d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> (agênci<strong>as</strong> especializad<strong>as</strong>, fundos e program<strong>as</strong>) e <strong>as</strong> organizaçõesnão-governamentais (ONGs) que também se envolvem n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração. Não são tratad<strong>as</strong> <strong>as</strong> partes emconflito, visto que, não obstante serem atores fun<strong>da</strong>mentais, su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>variam muito em ca<strong>da</strong> operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, o que requereria umestudo c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o que fugiria ao âmbito e dimensão <strong>de</strong>ste livro.O PAPEL DO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDASA ONU tem clara responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, sob os artigos 1 e 55, <strong>de</strong>promover a paz e o bem-estar humano. Para isso conta com váriosórgãos <strong>de</strong>liberativos, <strong>de</strong>ntre os quais o CSNU. O Conselho tem, peloartigo 24, “responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> primária pela manutenção <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong>egurança internacionais”, cabendo-lhe <strong>de</strong>terminar, com b<strong>as</strong>e em<strong>de</strong>cisões impregnad<strong>as</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações polític<strong>as</strong>, os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> “ameaçaà paz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão” <strong>de</strong> acordo com o artigo 39.O CSNU po<strong>de</strong> também criar órgãos subsidiários ao abrigo do artigo29, como <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Além disso, os membros<strong>da</strong> ONU, pelo artigo 25, têm a obrigação <strong>de</strong> cumprir <strong>as</strong> <strong>de</strong>terminaçõesdo Conselho.Tal articulação institucional vem sendo explora<strong>da</strong> pelo CSNU,mormente por alguns <strong>de</strong> seus Membros permanentes, para extrapolarsu<strong>as</strong> funções e ampliar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> situações em que haveria “ameaçaà paz e à segurança internacionais”, esten<strong>de</strong>ndo, <strong>as</strong>sim, a sua competência


110 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAnão apen<strong>as</strong> a diferentes tipos <strong>de</strong> “ameaç<strong>as</strong>”, m<strong>as</strong> também a todos os<strong>as</strong>pectos diretamente relacionados com o término d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aconsoli<strong>da</strong>ção do processo <strong>de</strong> pacificação política e <strong>de</strong> reconciliaçãonacional. Ess<strong>as</strong> questões muit<strong>as</strong> vezes não envolvem ameaç<strong>as</strong> à paz e àsegurança internacionais e <strong>de</strong>veriam ser <strong>da</strong> competência interna dos paísesanfitriões (portanto excluíd<strong>as</strong> <strong>da</strong> área <strong>de</strong> atuação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,<strong>de</strong> acordo com o artigo 2,§7 <strong>da</strong> Carta) ou tratados por outr<strong>as</strong> instânci<strong>as</strong>internacionais. Hoje em dia, em vista <strong>da</strong> repetição <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>ntes, mesmoque rotulados como c<strong>as</strong>os “excepcionais”, “singulares” ou “que não <strong>de</strong>vemconstituir prece<strong>de</strong>ntes”, po<strong>de</strong>-se dizer que <strong>as</strong> violações graves aos direitoshumanos e ao direito internacional humanitário p<strong>as</strong>saram a serconsi<strong>de</strong>rados como fatores suscetíveis <strong>de</strong> ameaçar a paz internacional.É interessante observar que a Declaração Presi<strong>de</strong>ncial adota<strong>da</strong>pelos Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo dos Estados membros doCSNU, por oc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong> reunião <strong>de</strong> cúpula <strong>de</strong> 31/1/92, já <strong>da</strong>va a enten<strong>de</strong>rque a expressão “ameaça à paz” p<strong>as</strong>saria a ser interpreta<strong>da</strong> <strong>de</strong> modoflexível: “A ausência <strong>de</strong> guerra e <strong>de</strong> conflitos militares entre Estadosnão <strong>as</strong>segura por si só a paz e a segurança internacionais. As fontesnão militares <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> n<strong>as</strong> esfer<strong>as</strong> econômica, social, humanitáriae ecológica têm-se convertido em ameaç<strong>as</strong> à paz e à segurança” 69 . Emsuma, essa prática vem ampliando gradualmente o espaço <strong>de</strong> atuaçãodo Conselho, por meio do uso exorbitante <strong>de</strong> su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> 70 .Em termos institucionais, o papel do Conselho quanto àsoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>sdobra-se em du<strong>as</strong> etap<strong>as</strong>. Em69Nações Unid<strong>as</strong>, (1992), doc. S/23500, <strong>de</strong> 31/1/92, p. 3.70Nos anos 90, o Capítulo VII <strong>da</strong> Carta p<strong>as</strong>sou a ser invocado para ação em situações <strong>de</strong>emergência humanitária e/ou <strong>de</strong> violações maciç<strong>as</strong> <strong>de</strong> direitos humanos (como na Somália,em Ruan<strong>da</strong> e na Bósnia-Herzegovina), para a restauração <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia (como no c<strong>as</strong>o doHaiti), para a imposição <strong>de</strong> regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento e não-proliferação <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>struição em m<strong>as</strong>sa (sanções contra o Iraque), para a fixação <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> fronteir<strong>as</strong>(como entre Iraque e Kuaite), para solicitar <strong>de</strong> extradição <strong>de</strong> suspeitos <strong>de</strong> atentadosterrorist<strong>as</strong> (sanções contra a Líbia) ou mesmo para o julgamento <strong>de</strong> crimes <strong>de</strong> guerra,crimes contra a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> e genocídio (como nos tribunais ad hoc criados para a ex-Iugoslávia e para Ruan<strong>da</strong>).


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 111um primeiro momento, o CSNU cria a operação por meio <strong>de</strong> votação,requerendo nove votos afirmativos, incluindo os dos Membrospermanentes, que, à luz <strong>da</strong> prática em vigor, po<strong>de</strong>m também absterse.Nessa f<strong>as</strong>e, no que tange aos textos dos projetos <strong>de</strong> resolução, osMembros permanentes buscam antes uma coor<strong>de</strong>nação prévia entresi – algo que po<strong>de</strong> tomar divers<strong>as</strong> configurações: a dos P-3 (EstadosUnidos, Reino Unido e França), a dos P-4 (os três anteriores e aFe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia) e a dos P-5 (os cinco permanentes). Em segui<strong>da</strong>,procuram esten<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>bate aos <strong>de</strong>mais segmentos do CSNU: o“caucus Não-Alinhado”– membros do Movimento Não-Alinhado(MNA) – e os “Non-Non” – membros do CSNU que não sãomembros permanentes, nem pertencem ao MNA –, mediante arealização <strong>de</strong> consult<strong>as</strong> informais no Conselho e a port<strong>as</strong> fechad<strong>as</strong> 71 .Outros interessados po<strong>de</strong>rão eventualmente ser ouvidos por meio <strong>da</strong>fórmula “Arria” 72 . Em um segundo momento, ocorre a convocaçãoformal do CSNU, mormente para referen<strong>da</strong>r resolução previamenteacor<strong>da</strong><strong>da</strong>, quando então seus membros po<strong>de</strong>rão eventualmentemodificar a linguagem <strong>de</strong> certos parágrafos secundários e manifestar<strong>as</strong> posições nacionais.As operações criad<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987 têm sido aprovad<strong>as</strong> por votaçõesunânimes, com <strong>as</strong> únic<strong>as</strong> exceções <strong>da</strong> UNIKOM entre Kuaite e Iraque, em1991, e a UNMIK no Kosovo, em 1999 73 . Além disso, o Conselho71Fujita, (1996). pp. 104-107.72Os membros do CSNU po<strong>de</strong>m reunir-se informalmente com ministros e outrosdignitários pela fórmula “Arria”. Trata-se <strong>de</strong> uma reunião solicita<strong>da</strong> por membro doCSNU que não aquele que exerce a presidência, po<strong>de</strong>ndo apen<strong>as</strong> ser realiza<strong>da</strong> por consenso.A reunião é fecha<strong>da</strong> e não tem registros, <strong>de</strong> modo a permitir uma conversa franca. Aprimeira reunião nesse formato foi proposta pelo então Representante Permanente <strong>da</strong>Venezuela, Embaixador Diego Arria, em 1993. A fórmula não <strong>de</strong>ve ser vista, entretanto,como substituto para a implementação mais satisfatória dos artigos 31 e 32 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, que tratam especificamente <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> membros não-permanentesn<strong>as</strong> reuniões do Conselho.73A UNIKOM foi estabeleci<strong>da</strong> pela Resolução nº 867(1991), com 12 votos a favor, 1contra (Cuba) e 2 abstenções (Equador e Iêmen), enquanto a UNMIK foi cria<strong>da</strong> pelaResolução nº 1244(1999), com 14 votos a favor e 1 abstenção (China).


112 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAsupervisiona o processo <strong>de</strong> implementação d<strong>as</strong> disposições constantesd<strong>as</strong> resoluções aprovad<strong>as</strong>, adotando <strong>de</strong>cisões a serem executad<strong>as</strong> peloSecretário-Geral <strong>da</strong> Organização. Tais <strong>de</strong>cisões envolvem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>smultidisciplinares nos campos militar, eleitoral, policial e humanitário.Nesse ambiente, o acesso à informação torna-se importante.O Secretário-Geral fornece relatórios periódicos, m<strong>as</strong> seu conteúdopo<strong>de</strong> vir a realçar apen<strong>as</strong> os <strong>as</strong>pectos positivos do processo <strong>de</strong> paz, ahesitar em apontar falh<strong>as</strong> <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> observação ou <strong>da</strong> força <strong>de</strong> paze, não raro, a minimizar <strong>as</strong> violações d<strong>as</strong> partes antagônic<strong>as</strong>. Alémdisso, os relatórios po<strong>de</strong>m ser modulados <strong>de</strong> acordo com entendimentoshavidos entre o Secretariado e os Membros permanentes 74 . Por isso,os membros do CSNU <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> fontes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes paraemb<strong>as</strong>ar su<strong>as</strong> posições.No plano político, po<strong>de</strong>-se dizer que, enquanto alguns Membrospermanentes só reconhecem como limites para sua atuação naqueleforo aqueles que <strong>de</strong>rivam do próprio interesse político ou financeiro,os países em <strong>de</strong>senvolvimento que integram temporariamente o CSNU,na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> membro não-permanente, ten<strong>de</strong>m a <strong>as</strong>sinalar anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> paz obe<strong>de</strong>çaa dois princípios fun<strong>da</strong>mentais: a aprovação <strong>de</strong> man<strong>da</strong>tos claros eexeqüíveis e a conveniência <strong>de</strong> uma ampla consulta aos Estadosmembros antes do lançamento <strong>de</strong> uma nova operação e mesmo narenovação <strong>de</strong> um man<strong>da</strong>to. Isso implicaria disciplinar melhor a atuaçãodo CSNU nesse campo, algo ca<strong>da</strong> vez mais necessário com a tendência74Os relatórios sobre a situação em Ruan<strong>da</strong> prepararam o terreno para a mobilização <strong>da</strong>operação “Turquesa”, li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pela França em 1994, enquanto os <strong>da</strong> Somália e Haiti, paraa criação d<strong>as</strong> operações “Restore Hope” e “Restore Democracy”, amb<strong>as</strong> coman<strong>da</strong>d<strong>as</strong>pelos EUA em 1992/93 e 1994, respectivamente. O episódio mais visível <strong>da</strong> influênciados EUA sobre o Secretariado ocorreu em fins <strong>de</strong> 1995, quando se discutia o futuro <strong>da</strong>antiga Iugoslávia após os acordos <strong>de</strong> Dayton. Era do interesse do Secretariado que aregião <strong>da</strong> Eslavônia Oriental fic<strong>as</strong>se também sob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forçamultinacional, tendo inclusive sido elaborado um relatório sobre o <strong>as</strong>sunto. No entanto,diante <strong>da</strong> reação negativa do Governo dos EUA, a proposta foi reformula<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo <strong>as</strong>ugerir a criação <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> paz sob comando e controle d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 113crescente do CSNU <strong>de</strong> adotar procedimentos e <strong>de</strong>cisões que nãoencontram paralelo na Carta, mediante a interpretação elástica epuramente política do que constitui uma ameaça à paz ou ruptura <strong>da</strong>paz para justificar <strong>as</strong> intervenções d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.O PAPEL DA ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDASA Assembléia Geral é o órgão mais <strong>de</strong>mocrático e representativo<strong>da</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> tem sido ofuscado pelo Conselho <strong>de</strong> Segurançana aprovação <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> primeira esegun<strong>da</strong> gerações. A AGNU estabeleceu du<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, a UNEFI em 1956 e a UNTEA em 1962, além <strong>de</strong> ter contribuído para acondução d<strong>as</strong> operações <strong>da</strong> ONUC em 1960. No entanto, não se<strong>de</strong>ve minimizar a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> que tem para criar missões civis, instrumentoca<strong>da</strong> vez mais usado, <strong>as</strong>sim como o papel que <strong>de</strong>sempenha para aaprovação dos orçamentos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz epara a consoli<strong>da</strong>ção dos <strong>as</strong>pectos conceituais e normativos. Recor<strong>de</strong>-seque o mecanismo <strong>de</strong> transferência dos <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> segurançapara a AGNU, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> paralisia do CSNU, prevista pela Resolução377(V) – “Unidos para a <strong>Paz</strong>” – não foi revogado.AS MISSÕES CIVIS CRIADAS PELA ASSEMBLÉIA GERALDAS NAÇÕES UNIDASO artigo 10 outorga à AGNU autori<strong>da</strong><strong>de</strong> para examinar e tecerrecomen<strong>da</strong>ções aos Estados membros e ao Conselho <strong>de</strong> Segurança sobrequalquer <strong>as</strong>sunto que esteja no âmbito <strong>da</strong> Carta e <strong>de</strong> seus órgãos, a menosque o CSNU esteja examinando a matéria conforme prescreve o artigo12. Os artigos 11 e 14 especificam que esses <strong>as</strong>suntos po<strong>de</strong>m incluirrecomen<strong>da</strong>ções relacionad<strong>as</strong> à manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais ou a qualquer outra situação que a AGNU julgueprejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistos<strong>as</strong> entre nações.


114 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAO artigo 13 esten<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> AGNU a tem<strong>as</strong>econômicos, sociais, culturais, educacionais, sanitários e <strong>de</strong> direitoshumanos. Por fim, o artigo 22 permite à AGNU criar órgãossubsidiários para o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções. No final dos anos80, os membros <strong>da</strong> ONU p<strong>as</strong>saram a interpretar esses artigos comoproporcionando à AGNU suficiente competência legal paraestabelecer missões civis, que atuariam em áre<strong>as</strong> não-militares.Em julho <strong>de</strong> 1989, o Secretário-Geral Javier Pérez <strong>de</strong> Cuéllarenviou para Manágua a Missão <strong>de</strong> Observação para a VerificaçãoEleitoral na Nicarágua, com b<strong>as</strong>e na Resolução 43/24 <strong>da</strong> AGNU, <strong>de</strong>15/11/88, que “urged the Secretary-General to give the fullestpossible support to the Central American Governments in theirefforts to achieve peace” 75 . O Conselho <strong>de</strong> Segurança manifestouseposteriormente pela Resolução 637, <strong>de</strong> 27/7/89, na qual somenteregistrou a criação <strong>da</strong> ONUVEN – “notes with appreciation theSecretary General’s agreement with Nicaragua to <strong>de</strong>ploy a UnitedNations election observer mission in that country” 76 –,convali<strong>da</strong>ndo o procedimento adotado. A AGNU tinha-sepronunciado sobre o estabelecimento <strong>de</strong> uma missão <strong>de</strong> observaçãopara supervisionar, pela primeira vez na história <strong>da</strong> Organização,eleição empreendi<strong>da</strong> em um país in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, fora, portanto, docontexto <strong>da</strong> <strong>de</strong>scolonização. No c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização,a realização <strong>de</strong> um referendo superviosionado pela ONU é visto comomeio para <strong>as</strong>segurar a livre manifestação do princípio <strong>de</strong>auto<strong>de</strong>terminação pela população local.Tal procedimento foi reiterado nos anos 90. A AGNUaprovou o estabelecimento <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Verificação Eleitoral noHaiti (UNOVEH), em outubro <strong>de</strong> 1990; <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Observaçãopara a Verificação do Referendo na Eritréia (UNOVER), em<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1992; <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Observação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>75Durch, (1993), p. 460.76White, (1993), p. 227.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 115na África do Sul (UNOMSA), em setembro <strong>de</strong> 1992, em umainiciativa adota<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU em apoio aresoluções genéric<strong>as</strong> <strong>da</strong> Assembléia; <strong>da</strong> Missão Civil Internacional noHaiti, em março <strong>de</strong> 1993 (MICIVIH, operação conjunta ONU/OEA);e <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Verificação dos Direitos Humanos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>na Guatemala, em setembro <strong>de</strong> 1994 (MINUGUA).O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> acabou firmando <strong>as</strong>regr<strong>as</strong> d<strong>as</strong> missões civis. El<strong>as</strong> são sempre <strong>de</strong>slocad<strong>as</strong> com oconsentimento d<strong>as</strong> partes, mesmo em situações anômal<strong>as</strong>, comoocorreu no Haiti, com <strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares <strong>de</strong> facto quepermaneceram no po<strong>de</strong>r entre 1991 e 1994, e na África do Sul, coma política <strong>de</strong> transição do apartheid para um regime <strong>de</strong>mocráticoentre 1992 e 1994, e on<strong>de</strong> não há necessariamente cessar-fogo ouacordo <strong>de</strong> paz firmados, como aconteceu no c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Guatemala até1996. Os integrantes <strong>da</strong> missão atuam <strong>de</strong>sarmados e sua influência éexerci<strong>da</strong> através <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> observadores civis. Pequeno número<strong>de</strong> militares <strong>de</strong>sarmados po<strong>de</strong>m também compor ess<strong>as</strong> missões,geralmente para servir como elemento <strong>de</strong> ligação entre <strong>as</strong> partes emconflito no interior do país anfitrião. Ao contrário d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> são cobert<strong>as</strong> pelo Orçamento Regular<strong>da</strong> Organização.Na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong> que a AGNU incorpore, na sua agen<strong>da</strong> <strong>de</strong>trabalho, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza, agindo em concerto com o CSNU.O êxito <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>da</strong> eficácia <strong>da</strong> Assembléia emcontinuar aprovando <strong>as</strong> resoluções pertinentes, o que tem ocorridopor consenso, e <strong>da</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong> em trabalhar em harmonia com oConselho <strong>de</strong> Segurança e com o Secretariado <strong>da</strong> Organização 77 .77O c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> paz na Guatemala (MINUGUA) serve para ilustrar o potencial <strong>de</strong>cooperação existente entre a AGNU, o CSNU e o Secretariado: a operação vem sendoprorroga<strong>da</strong> por resoluções <strong>da</strong> AGNU <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, m<strong>as</strong> o CSNU aprovou o <strong>de</strong>sdobramento<strong>de</strong> observadores militares quando surgiu a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> supervisionar a <strong>de</strong>smobilização<strong>de</strong> combatentes na Guatemala, <strong>de</strong> janeiro a maio <strong>de</strong> 1997. Uma vez concluí<strong>da</strong> a missão <strong>de</strong>observadores militares, o <strong>as</strong>sunto voltou à AGNU.


116 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAAPROVAÇÃO DOS ORÇAMENTOS DAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃODA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASIncumbe à Assembléia Geral a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprovartod<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>da</strong> Organização, aí incluíd<strong>as</strong> <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. O exame <strong>da</strong> matéria p<strong>as</strong>sa normalmente por cincof<strong>as</strong>es: (a) preparação <strong>de</strong> um orçamento preliminar pelo Secretário-Geral para informação dos membros do Conselho <strong>de</strong> Segurança; (b)proposta do orçamento <strong>de</strong>finitivo por parte do Secretariado; (c)consi<strong>de</strong>ração do orçamento pelo Comitê Consultivo em QuestõesAdministrativ<strong>as</strong> e Orçamentári<strong>as</strong> (ACABq); (d) exame conjunto <strong>da</strong>proposta <strong>de</strong> orçamento elabora<strong>da</strong> pelo Secretariado e do relatório doACABq pela V Comissão <strong>da</strong> AGNU; e (e) aprovação do orçamentopela AGNU.O Secretariado <strong>da</strong> ONU não precisa aguar<strong>da</strong>r a aprovaçãofinal do orçamento estimado para iniciar a operação. De modo a nãocomprometer, por motivos orçamentários, o encaminhamento <strong>de</strong>solução pacífica para o conflito, o Secretário-Geral está autorizado ag<strong>as</strong>tar, após aprovação <strong>da</strong> operação, até US$ 5 milhões dos recursosdisponíveis na conta d<strong>as</strong> “<strong>de</strong>spes<strong>as</strong> inesperad<strong>as</strong> e extraordinári<strong>as</strong>” doOrçamento Regular, <strong>as</strong>sim como recorrer ao Fundo <strong>de</strong> Reservaestabelecido em 1992, para não retar<strong>da</strong>r o <strong>de</strong>sdobramento do pessoal.Po<strong>de</strong>rá g<strong>as</strong>tar mais US$ 10 milhões <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o orçamento serendossado pelo ACABq, m<strong>as</strong> só po<strong>de</strong>rá coletar <strong>as</strong> contribuiçõesindividuais dos Estados membros quando o orçamento for formalmenteaprovado pelo plenário <strong>da</strong> AGNU.Na medi<strong>da</strong> em que os principais países atr<strong>as</strong>am o pagamento<strong>de</strong> su<strong>as</strong> cot<strong>as</strong>, o Secretariado precisa i<strong>de</strong>ntificar fontes provisóri<strong>as</strong> <strong>de</strong>custeio, o que vem consagrando a prática <strong>de</strong> recorrer aos recursosdisponíveis no orçamento regular. Reforça essa tendência o fato <strong>de</strong> osEstados membros não estarem dispostos a autorizar o Secretariado aemitir bônus para cobrir su<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> no orçamento d<strong>as</strong> operações


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 117<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, a exemplo do que foi feito nos anos 60, paraarcar com os g<strong>as</strong>tos <strong>da</strong> ONUC e <strong>da</strong> UNEF I, nem autorizar outr<strong>as</strong>fórmul<strong>as</strong> inovador<strong>as</strong>, tal como habilitar o Secretário-Geral a contrairempréstimos na re<strong>de</strong> bancária internacional.O po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> AGNU sobre <strong>as</strong>suntos orçamentários po<strong>de</strong>riaconstituir fonte <strong>de</strong> influência sobre o CSNU e sobre o Secretariado,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os Estados membros se envolvessem mais diretamente n<strong>as</strong>su<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações. No momento, a AGNU não costuma introduziralterações fun<strong>da</strong>mentais no orçamento proposto pelo Secretário-Gerale revisto pelo ACABq. A Assembléia tem-se limitado a oferecer aosEstados membros a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar esclarecimentos sobre<strong>as</strong>pectos específicos dos g<strong>as</strong>tos d<strong>as</strong> operações e reclamar pelos atr<strong>as</strong>osno pagamento dos reembolsos pela participação com pessoal ematerial.A CAPACIDADE NORMATIVA DA ASSEMBLÉIA GERALDAS NAÇÕES UNIDASA Assembléia Geral é o foro competente para consoli<strong>da</strong>r regr<strong>as</strong>e princípios vinculados às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Seuprincipal órgão <strong>de</strong> <strong>as</strong>sessoramento é o Comitê Especial sobre<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>. Esse Comitê foi criado pelaResolução 2006(XIX), no bojo <strong>da</strong> crise institucional pela qual p<strong>as</strong>savaa Organização na sessão <strong>da</strong> AGNU <strong>de</strong> 1964-65, <strong>de</strong>vido à recusa <strong>da</strong>URSS e <strong>de</strong> outros Estados membros <strong>de</strong> pagarem su<strong>as</strong> contribuiçõespara o custeio <strong>da</strong> UNEF I e <strong>da</strong> ONUC. Seu objetivo é fazer uma“avaliação abrangente <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a questão d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz em todos os seus <strong>as</strong>pectos”, ou seja, <strong>de</strong>liberar sobre <strong>as</strong>pectosgerais, tais como conceitos e princípios básicos, mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>financiamento, <strong>as</strong>pectos administrativos, organizacionais e <strong>de</strong> segurançados integrantes d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz e missões <strong>de</strong> observação. O Comitêreúne-se na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU, entre abril e maio <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ano, quando


118 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAelabora relatório, dividido, grosso modo, em du<strong>as</strong> partes: resumo dos<strong>de</strong>bates e recomen<strong>da</strong>ções. O tema é, subseqüentemente, apreciadopela AGNU, que aprova a resolução nº 51/136(1996), <strong>de</strong> endosso àspropost<strong>as</strong>, recomen<strong>da</strong>ções e conclusões contid<strong>as</strong> naquele relatório,sem transcrevê-l<strong>as</strong>, como era a praxe até 1994.É interessante observar que, até 1996, o Comitê só tinha 34membros, m<strong>as</strong>, com o aumento <strong>da</strong> importância d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, p<strong>as</strong>sou a haver pressão para a sua expansão. A práticaentão vigente era <strong>de</strong> que, além dos membros plenos, os <strong>de</strong>mais Estadosinteressados po<strong>de</strong>riam participar <strong>de</strong> seus trabalhos na condição <strong>de</strong>observadores, mediante a apresentação, a ca<strong>da</strong> sessão, <strong>de</strong> pedido específicopara tomar parte d<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações. Na medi<strong>da</strong> em que o relatório eraelaborado em b<strong>as</strong>es consensuais, os membros do Comitê alegavam que,na prática, não havia distinção entre membros plenos e observadores,razão pela qual resistiam à idéia <strong>de</strong> aceitar a ampliação <strong>da</strong> composição<strong>de</strong>sse foro. Diante do fato <strong>de</strong> que, em média, cerca <strong>de</strong> 80 países estavamcontribuindo com pessoal para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, oComitê acabou aprovando uma fórmula <strong>de</strong> conciliação pela qual os Estadosmembros que tinham contribuído ou estavam contribuindo com pessoalpara <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, bem como aqueles que tinhamsido observadores na sessão <strong>de</strong> 1996 <strong>da</strong>quele Comitê, po<strong>de</strong>riam tornarsemembros a partir <strong>de</strong> 1997. A AGNU referendou a fórmula apresenta<strong>da</strong>pelo relatório do Comitê Especial na forma <strong>da</strong> Resolução 51/136, <strong>de</strong> 13/12/96. Na 52 a AGNU, o Comitê p<strong>as</strong>sou a contar com 97 membros.É duvidoso que a eficácia do Comitê Especial tenha sidocomprometi<strong>da</strong> por sua ampliação, pois, <strong>da</strong><strong>da</strong> a natureza <strong>de</strong> seustrabalhos, é fun<strong>da</strong>mental que seus resultados gozem <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Éimportante construir uma agen<strong>da</strong> que permita aproximar os “principist<strong>as</strong>”(ou seja, os <strong>de</strong>fensores ortodoxos dos princípios internacionaistradicionais, tais como os <strong>de</strong> não-intervenção e soberania), nota<strong>da</strong>menteos membros do Movimento Não-Alinhado, e os “vanguardist<strong>as</strong>” (paísesinclinados a aceitar a relativização dos conceitos <strong>de</strong> não-intervenção e


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 119soberania), sob pena <strong>de</strong> esvaziar o Comitê e af<strong>as</strong>tar <strong>da</strong> AGNU <strong>as</strong>discussões sobre mecanismos para a manutenção <strong>da</strong> paz e segurançainternacionais. Outros elementos também contribuem para que osavanços conceituais sejam morosos, tais como um suposto “<strong>de</strong>ver <strong>de</strong>soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional”, o <strong>de</strong>senvolvimento do conceito d<strong>as</strong>“operações <strong>de</strong> apoio à paz” advogado pela OTAN e a própria atitu<strong>de</strong>do CSNU <strong>de</strong> ampliar sua <strong>de</strong>finição do que constitui uma “ameaça àpaz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong> agressão”. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, os avançosvêm sendo lentos no Comitê não <strong>de</strong>vido à ampliação <strong>de</strong> suacomposição, m<strong>as</strong> por causa <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos tem<strong>as</strong> nele tratados.Por fim, <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong> AGNU sobre questões administrativ<strong>as</strong>que concernem à Organização afetam também <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz ao fixarem, entre outr<strong>as</strong>, regr<strong>as</strong> sobre os níveis <strong>de</strong> remuneraçãodos funcionários civis, critérios <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por aci<strong>de</strong>ntes ocorridos no<strong>de</strong>sempenho d<strong>as</strong> funções no terreno, valores para os reembolsos porcessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e uso <strong>de</strong> equipamento por parte dos contingentes e osmontantes d<strong>as</strong> contribuições financeir<strong>as</strong> dos Estados membros.O SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS E O SECRETARIADODA ORGANIZAÇÃOOs encargos mais pesados do planejamento e execução d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz recaem sobre o Secretário-Geral <strong>da</strong>Organização, que dispõe <strong>de</strong> um Secretariado e <strong>de</strong> pessoal qualificadonos países anfitriões para o aju<strong>da</strong>r na administração d<strong>as</strong> diferentes taref<strong>as</strong>atribuíd<strong>as</strong> às missões <strong>de</strong> paz.Com efeito, o CSNU, ao criar uma nova operação, <strong>de</strong>termina<strong>as</strong> incumbênci<strong>as</strong> do Secretário-Geral. Cabe-lhe, normalmente, realizarconsult<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> com os países que contribuem com pessoal, <strong>as</strong>simcomo com <strong>as</strong> partes em conflito, para permitir a mobilização e aoperacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> observação ou força <strong>de</strong> paz. Nos anos90, cert<strong>as</strong> providênci<strong>as</strong> p<strong>as</strong>saram a ser levad<strong>as</strong> a cabo informalmente


120 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApelo Secretariado antes mesmo <strong>da</strong> adoção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão formal peloCSNU, tendo em vista a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar a implementação <strong>da</strong>resolução. Além disso, o Secretário-Geral <strong>de</strong>ve, após a aprovação <strong>da</strong>operação, manter o Conselho a par <strong>da</strong> evolução dos eventos no terreno,mediante a apresentação <strong>de</strong> relatórios periódicos, <strong>de</strong> cujo examepo<strong>de</strong>rão resultar nov<strong>as</strong> instruções.Na se<strong>de</strong>, o SGNU conta com a colaboração do conselheiro militare <strong>de</strong> Subsecretários-gerais, especialmente do Departamento <strong>de</strong> AssuntosPolíticos e do Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>. Esseúltimo Departamento foi criado em fins <strong>de</strong> 1992 e institucionalizado em1993, em resposta ao número crescente <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> auxílio e àcomplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> funções a serem <strong>as</strong>sumid<strong>as</strong> pelos integrantes d<strong>as</strong> nov<strong>as</strong>operações. Seus quadros são formados por pessoal contratado pel<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> e, até fevereiro <strong>de</strong> 1999, por militares cedidostemporariamente pelos Estados membros, sem ônus para a Organização.É importante elaborar sobre a questão dos militares cedidostemporariamente ao Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong><strong>Paz</strong> (os chamados gratis personnel ou officers on loan), pois elestêm formado, até agora, a espinha dorsal do DPKO e na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong>que, no futuro, voltem a ser empregados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo d<strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo Departamento para administrar <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz. De fato, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o início, o DPKO enfrentou carência <strong>de</strong> quadros especializados noSecretariado e a falta <strong>de</strong> recursos para contratá-los. Para suprir acrescente necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionários, o então chefe do Departamento,Kofi Annan, p<strong>as</strong>sou a solicitar aos Estados membros a cessão <strong>de</strong>pessoal civil e militar sem custos para a Organização, em iniciativaendossa<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> Resoluções 45/258, 47/71 e 49/250 <strong>da</strong> AGNU 78 .78É bom esclarecer que o universo <strong>de</strong> gratis personnel d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> abrange du<strong>as</strong>categori<strong>as</strong> distint<strong>as</strong> <strong>de</strong> pessoal: a categoria <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Tipo II inclui os militares cedidospara o DPKO, e a categoria conheci<strong>da</strong> como Tipo I é constituí<strong>da</strong> por peritos <strong>as</strong>sociados,peritos <strong>de</strong> cooperação técnica e consultores que trabalham b<strong>as</strong>icamente em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>cooperação técnica e program<strong>as</strong> <strong>de</strong> financiamento voluntário. Em março <strong>de</strong> 1997, havia334 funcionários on loan do Tipo II e 202 funcionários on loan <strong>de</strong> Tipo I, perfazendo umtotal <strong>de</strong> 536 funcionários on loan.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 121Esse procedimento, originalmente concebido como medi<strong>da</strong> provisória,transformou-se numa fórmula rotineira <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> pessoalespecializado pelo Secretariado.Contudo, o uso do pessoal cedido gratuitamente no DPKO enos outros Departamentos p<strong>as</strong>sou a ser criticado pelo Movimento Não-Alinhado, por virtualmente excluir os países em <strong>de</strong>senvolvimento, queencontram dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em qualificar pessoal e mantê-lo, com recursosnacionais, à disposição do Secretariado. Segundo <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1997, havia 128 militares cedidos ao DPKO, a maioria dos quaisproce<strong>de</strong>nte dos países <strong>de</strong>senvolvidos. Tal fato, que se repetia em outrosDepartamentos <strong>da</strong> ONU, estava gerando <strong>de</strong>sequilíbrio na distribuição<strong>de</strong> cargos e funções n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, com repercussão negativapara a imagem <strong>de</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Organização,consoante o artigo 101 <strong>da</strong> Carta.Essa controvérsia ganhou maior amplitu<strong>de</strong> com os reclamos <strong>da</strong>União Européia, do Canadá e do Japão <strong>de</strong> que o recurso indiscriminadoao pessoal cedido gratuitamente po<strong>de</strong>ria estar m<strong>as</strong>carando umplanejamento administrativo equivocado na área <strong>de</strong> recursos humanos.Tais <strong>de</strong>sdobramentos levaram o próprio Kofi Annan, já na quali<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU, a comprometer-se, no relatório intituladoRenewing the UN: A Programme for Reform, <strong>de</strong> 16/7/97, a apresentar,<strong>as</strong>sim que possível, plano para a diminuição gra<strong>da</strong>tiva <strong>de</strong> todo pessoalcedido gratuitamente no Secretariado, que seria substituído porfuncionários contratados segundo <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> administrativ<strong>as</strong> <strong>da</strong>Organização. No tocante aos militares cedidos ao DPKO, esse planoveio à baila em 1998, quando o SGNU observou que todos os oficiaiscedidos seriam repatriados a seus países <strong>de</strong> origem até fevereiro <strong>de</strong> 1999.Por sua vez, no terreno, o SGNU dispõe <strong>de</strong> pessoal qualificadoque é geralmente chefiado por um representante ou enviado pessoal/especial <strong>de</strong>signado pelo SGNU. Nos cenários on<strong>de</strong> há a presença <strong>de</strong>observadores ou forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, seus representantes ou enviados<strong>as</strong>sumem o controle <strong>de</strong> todos os componentes <strong>da</strong> operação e relatam


122 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAo an<strong>da</strong>mento dos eventos ao Secretário-Geral 79 . É interessantemencionar que o Secretário-Geral Boutros-Ghali, ao apresentar o seu“Suplemento <strong>de</strong> Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>” em janeiro <strong>de</strong> 1995, e oPresi<strong>de</strong>nte do CSNU, ao emitir “Declaração sobre o Suplemento <strong>de</strong>Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em fevereiro <strong>de</strong> 1995, instaram os Estadosmembros a <strong>de</strong>signarem nomes para integrar o banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos que aOrganização estava criando com potenciais candi<strong>da</strong>tos a representantesespeciais — missões <strong>de</strong> maior duração — ou enviados especiais —missões <strong>de</strong> menor duração — do SGNU. O Itamaraty optou por nãoparticipar do banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, preferindo examinar, c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, ospedidos <strong>de</strong> cessão que vierem a ser formulados pela ONU.Por fim, convém esclarecer que, em alguns episódios, o Secretário-Geral <strong>da</strong> Organização chegou a agir com certa autonomia em relação àAGNU e ao CSNU no que tange ao <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. Diante do pedido d<strong>as</strong> partes, em ações subseqüentementeendossad<strong>as</strong> formalmente pelos órgãos políticos, o SGNU <strong>de</strong>slocouobservadores militares para o Irian Oci<strong>de</strong>ntal em 1962 (UNTEA), para afronteira entre Arábia Saudita e Iêmen em 1963 (UNYOM), e, maisrecentemente, para o Afeganistão em 1988 (UNMOGIP) 80 .79Em fevereiro <strong>de</strong> 1999, o Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU tinha nomeado 44 pesso<strong>as</strong> paraacompanhar <strong>de</strong>terminados <strong>as</strong>suntos – por exemplo, “crianç<strong>as</strong> e conflitos armados” e“<strong>de</strong>slocados internos”– ou para representá-lo em países em conflito, <strong>de</strong>z dos quaistambém estavam chefiando operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Esses indivíduos, além dostítulos usuais <strong>de</strong> Representantes especiais ou pessoais, po<strong>de</strong>m eventualmente ganharoutros títulos, tais como o <strong>de</strong> Chefe <strong>de</strong> Missão Política ou o <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nador Especial.80No episódio do Irian Oci<strong>de</strong>ntal, o Secretário-Geral U. Thant <strong>de</strong>slocou observadoresmilitares à região conflituosa após a <strong>as</strong>sinatura do acordo entre <strong>as</strong> partes, em 15/8/62,para implementar o cessar-fogo. A ratificação do acordo ocorreu, entretanto, apen<strong>as</strong> em20/9/62, quando a AGNU aprovou a Resolução nº 1752(XVII), <strong>de</strong> 21/9/62, autorizando“ ... the Secretary-General to carry out the t<strong>as</strong>ks entrusted to him in the Agreement”. NoIêmen, em 1963, o Secretário-Geral U. Thant adotou o mesmo procedimento <strong>de</strong>spachando,<strong>de</strong>sta vez, observadores militares sem manifestação do CSNU, que somente di<strong>as</strong> <strong>de</strong>poisaprovou a Resolução nº 179 (1963), <strong>de</strong> 11/6/63, solicitando “ ... the Secretary-General toestablish the observation operation <strong>as</strong> <strong>de</strong>fined by him”. No c<strong>as</strong>o do Afeganistão, o CSNUapen<strong>as</strong> confirmou, e não autorizou, o envio <strong>de</strong> observadores militares (mesmo <strong>as</strong>sim seismeses após o seu <strong>de</strong>sdobramento no terreno) pela Resolução nº 622(1988), <strong>de</strong> 31/10/88(“Confirms its agreement to the me<strong>as</strong>ures ..., in particular the arrangement for the temporarydispatch to Afghanistan and Paquistan of military officers from existing UN operations”).


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 123O PAPEL DOS PAÍSES QUE CONTRIBUEM COM PESSOALNão há fórmula acor<strong>da</strong><strong>da</strong> para cl<strong>as</strong>sificar os países quecontribuem com pessoal. Segundo o critério temporal, os contribuintesclássicos são aqueles Estados que vêm aportando meios às missões<strong>de</strong> observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 50 e 60, como Austrália,<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, Canadá, Índia, Itália, Irlan<strong>da</strong>, Nova Zelândia e os paísesescandinavos. Os novos contribuintes englobam uma v<strong>as</strong>ta gama <strong>de</strong>países: industrializados, em <strong>de</strong>senvolvimento (PEDs) e <strong>de</strong> menor<strong>de</strong>senvolvimento relativo (LDCs).Conquanto a ONU esteja alcançando uma maioruniversali<strong>da</strong><strong>de</strong> na composição <strong>de</strong> su<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, estão aumentando os problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> comando, <strong>de</strong>vido àsdiferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> cultura (religião, idioma, nível educacional, entre outros),às <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> treinamento e <strong>de</strong> equipamentos dos contingentescedidos, apesar <strong>de</strong> todos os esforços no sentido <strong>de</strong> padronizarmaterial e a<strong>de</strong>stramento por meio <strong>de</strong> manuais. Além disso, a maioriados PEDs e dos LDCs costumam oferecer sobretudo pessoal, muit<strong>as</strong>vezes <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> armamentos nem um mínimo <strong>de</strong> apoio logístico.Isso po<strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>r a prática <strong>de</strong> os países pobres se especializaremna mera cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>, enquanto países ricos se limitariam afornecer equipamentos, sem arriscar a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus nacionais 81 . Entreoutros exemplos, em 1993, o Kuaite equipou um batalhão <strong>de</strong>Bangla<strong>de</strong>sh para atuar na fronteira Kuaite-Iraque (UNIKOM) e, em1994, a Alemanha forneceu material para um batalhão paquistanêsservir na antiga Iugoslávia (UNPROFOR). A<strong>de</strong>mais, os países ricosestão vendo su<strong>as</strong> indústri<strong>as</strong> beneficiarem-se com <strong>as</strong> compr<strong>as</strong> <strong>de</strong>material pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.81Cardoso, (1994). pp. 75-76. O autor observa que essa prática po<strong>de</strong> envolver <strong>de</strong>s<strong>de</strong> acriação <strong>de</strong> “sócios-atlet<strong>as</strong>” (acesso às operações <strong>de</strong> paz através <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>) atéa “ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> proteção” (c<strong>as</strong>o do Kuaite) em transação bilateral ain<strong>da</strong> que intermedia<strong>da</strong>pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.


124 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAO relacionamento entre a ONU e os países que contribuemcom pessoal costumava ser regulamentado por acordo <strong>de</strong> cessão<strong>de</strong>nominado Acordo d<strong>as</strong> Prerrogativ<strong>as</strong> <strong>da</strong> Missão (Stan<strong>da</strong>rd of MissionAgreement-SOMA), cujo mo<strong>de</strong>lo-padrão foi aprovado em 1990 82 .No entanto, <strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em muitos países para tramitar internamenteo acordo fizeram com que o Secretariado interrompesse essa prática 83 .A Organização p<strong>as</strong>sou a respal<strong>da</strong>r-se n<strong>as</strong> diferentes resoluções <strong>da</strong>Assembléia que abor<strong>da</strong>vam os direitos e <strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s existentesentre <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e os países que contribuem com pessoal eequipamentos. Por isso, cumpre analisar, separa<strong>da</strong>mente, os sistem<strong>as</strong><strong>de</strong> reembolso e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizações pela participação em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, tem<strong>as</strong> que, aliás, têm recebidoespecial atenção do Comitê Especial sobre <strong>as</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong><strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> nos últimos anos.REEMBOLSO POR PESSOAL CEDIDOÉ importante, <strong>de</strong> início, distinguir entre os países que contribuemcom pessoal: i) aqueles cujos valores <strong>de</strong> manutenção estão abaixo dosvalores <strong>de</strong> ressarcimento, ou seja, esses países lucram ao participard<strong>as</strong> operações (sobretudo, os países <strong>de</strong> menor <strong>de</strong>senvolvimentorelativo, como Bangla<strong>de</strong>sh, Paquistão e Nepal, e os países do lesteeuropeu); e ii) aqueles cujos g<strong>as</strong>tos estão acima dos valores <strong>de</strong>reembolso, ou seja, países que per<strong>de</strong>m recursos com su<strong>as</strong>participações (países industrializados e alguns em <strong>de</strong>senvolvimento).82O mo<strong>de</strong>lo-padrão consta do doc. A/45/594 e foi aprovado pela Resolução nº 45/75, 11/12/90.83As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a <strong>as</strong>sinatura <strong>de</strong> acordos SOMA po<strong>de</strong>m ser ilustrad<strong>as</strong> pelo episódio<strong>da</strong> cessão <strong>da</strong> tropa br<strong>as</strong>ileira à ONUMOZ em 1994: a tropa foi <strong>de</strong>sdobra<strong>da</strong> em junho/julho<strong>de</strong> 1994, o acordo <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> tropa foi celebrado por troca <strong>de</strong> not<strong>as</strong> em setembro em NovaIorque e a tropa regressou ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> até fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1994. A tramitação no Executivoesten<strong>de</strong>u-se até abril <strong>de</strong> 1995, quando, então, seguiu para o Congresso Nacional mesmoapós a repatriação <strong>da</strong> companhia br<strong>as</strong>ileira. O acordo só veio a ser aprovado pelo Congressomediante a promulgação do Decreto Legislativo nº 25, <strong>de</strong> 7/5/97.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 125Consta do livro The Evolution of UN peacekeeping estudo realizadopela ONU em 1991, segundo o qual n<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz coexistemtrop<strong>as</strong> cujos custos para os países <strong>de</strong> origem variam <strong>de</strong> US$ 280homem/mês até US$ 4.400 homem/mês. No entanto, o valor médiodo reembolso pago pela ONU é <strong>de</strong> US$ 988 homem/mês.Em linh<strong>as</strong> gerais, a prática segui<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> é <strong>de</strong>que o pessoal militar, policial e civil cedido para servir em missões <strong>de</strong>observação mantém seus vínculos trabalhist<strong>as</strong> e contratuais com su<strong>as</strong>organizações <strong>de</strong> origem. Recebe <strong>da</strong> ONU diári<strong>as</strong> <strong>de</strong> alimentação(que variam <strong>de</strong> país a país) e hospe<strong>da</strong>gem (que po<strong>de</strong>m ser substituíd<strong>as</strong>pelo oferecimento <strong>de</strong> alojamento), além <strong>de</strong> p<strong>as</strong>sagens <strong>de</strong> i<strong>da</strong> e <strong>de</strong>regresso ao país <strong>de</strong> origem. Os integrantes <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, por suavez, recebem diretamente d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> somente uma pequenaaju<strong>da</strong> diária, atualmente no valor <strong>de</strong> US$ 1,28, a título <strong>de</strong> “reembolso<strong>de</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> pessoais”, que é aumenta<strong>da</strong> para US$ 10,50 durante os15 di<strong>as</strong> <strong>de</strong> licença anual.Os <strong>de</strong>mais pagamentos são efetuados diretamente aosgovernos e consistem hoje nos seguintes reembolsos mensaisinalterados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1991, com b<strong>as</strong>e na aprovação <strong>da</strong> Resolução 46/185: (a) US$ 988,00 por militar, <strong>de</strong> qualquer patente; (b) bonificaçãoadicional <strong>de</strong> US$ 291 para g<strong>as</strong>tos envolvidos na cessão <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> maior especialização, extensiva, entretanto, a não mais <strong>de</strong> 25%do contingente mobilizado n<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s logístic<strong>as</strong> e a 10%, n<strong>as</strong> <strong>de</strong>maisuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s; (c) US$ 65,00 por <strong>de</strong>sg<strong>as</strong>te <strong>de</strong> equipamento e far<strong>da</strong>mentopessoais; e (d) US$ 5,00 por arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> uso pessoal e respectivamunição.REEMBOLSO PELO USO DE EQUIPAMENTO DO CONTINGENTE E DEBENS DE CONSUMOOutra questão que preocupa os Estados que contribuem comtrop<strong>as</strong> e equipamentos para operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU é o chamado


126 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA“reembolso pelo uso <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos contingentese bens <strong>de</strong> consumo”. Esse reembolso era b<strong>as</strong>eado na inspeção <strong>de</strong>todo o material por oc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> (o chamado “insurvey”),com listagem abrangente e avaliação do valor <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> item,<strong>de</strong> acordo com seu custo inicial, tempo <strong>de</strong> uso e estado <strong>de</strong> conservação.Quando o contingente <strong>de</strong>ixava a área <strong>da</strong> missão, nova inspeção eraleva<strong>da</strong> a cabo (o chamado “out-survey”) e o reembolso era calculadocom b<strong>as</strong>e no fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>preciação (30% do valor do bem no primeiroe segundo anos <strong>de</strong> uso, 20% nos anos seguintes). Esse sistema exigiagran<strong>de</strong> carga burocrática e os serviços <strong>de</strong> pessoal especializado emequipamentos militares, acarretando atr<strong>as</strong>os no reembolso.Pela Resolução 49/233 A, <strong>de</strong> 23/12/94, a AGNU autorizou oSecretário-Geral a rever, em colaboração com os Estados membros,essa sistemática. Em 11/4/96, a AGNU aprovou, pela Resolução 50/222, novo procedimento <strong>de</strong> reembolso por “Equipamento <strong>de</strong>Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do Contingente e Bens <strong>de</strong> Consumo” (<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong>COE — Contingent-Owned Equipment and Consumables) b<strong>as</strong>eadono conceito <strong>de</strong> le<strong>as</strong>ing, segundo o qual há acordo prévio sobre osequipamentos que ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> militar <strong>de</strong>ve colocar à disposição d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> 84 . C<strong>as</strong>o o país contribua com menos equipamentosque o estipulado, há redução na taxa <strong>de</strong> reembolso; por outro lado,qualquer contribuição superior à prevista no acordo p<strong>as</strong>sa a ser <strong>de</strong>inteira responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do país contribuinte. O sistema prevê, ain<strong>da</strong>,que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sem a reembolsar, como serviços, ofornecimento <strong>de</strong> equipamentos menores e <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo nãodiretamente relacionados ao equipamento principal 85 . O novo sistema<strong>de</strong> reembolso vige <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1/7/96.84O país contribuinte po<strong>de</strong> optar pelo “wet le<strong>as</strong>e”, pelo qual se compromete a fornecertanto o equipamento principal como sua manutenção, ou pelo “dry le<strong>as</strong>e”, c<strong>as</strong>o em que opaís fornece apen<strong>as</strong> o equipamento principal e <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>as</strong>sumem a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>por sua manutenção (para maiores <strong>de</strong>talhes, ver doc. A/50/807, <strong>de</strong> 8/12/95).85Neste c<strong>as</strong>o, o reembolso é calculado com b<strong>as</strong>e no tamanho do contingente, funçõesespecífic<strong>as</strong> e padrões estabelecidos, aplicando-se <strong>as</strong> tabel<strong>as</strong> <strong>de</strong> “custo <strong>de</strong> auto-suficiência”contid<strong>as</strong> no apêndice II, seção B do documento A/C.5/49/70, <strong>de</strong> 20/7/95.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 127INDENIZAÇÕES POR MORTE E INVALIDEZNos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte ou morte <strong>de</strong> pessoal a serviço <strong>da</strong>operação, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> comprometem-se a pagar in<strong>de</strong>nização,cujos valores máximos, para observadores, eram estipuladosinicialmente em US$ 50 mil ou du<strong>as</strong> vezes o valor do salário anualbásico do interessado. Porém, nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> colocad<strong>as</strong> àdisposição d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, existia forte iniqüi<strong>da</strong><strong>de</strong> no tratamentorelativo às in<strong>de</strong>nizações, visto que a Organização b<strong>as</strong>eava-se no sistema<strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizações adotado pelo país <strong>de</strong> origem do falecido ou inválido.Essa diferenciação <strong>de</strong> tratamento ficou patente n<strong>as</strong> intervenções d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> na Somália e na Bósnia-Herzegovina, quando os valores<strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizações por morte ou invali<strong>de</strong>z para militares proce<strong>de</strong>ntes dospaíses em <strong>de</strong>senvolvimento eram muito inferiores àqueles dos países<strong>de</strong>senvolvidos.As distinções ganharam dimensões polític<strong>as</strong> sensíveis no ComitêEspecial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e na AGNU, comacusações <strong>de</strong> que a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> alguns integrantes <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz valia mais que a <strong>de</strong> outros. Para solucionar oproblema, a AGNU aprovou, pela Resolução 52/218 E(II), <strong>de</strong> 17/6/97, um sistema <strong>de</strong> seguro individual com tax<strong>as</strong> uniformes e padronizad<strong>as</strong><strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por morte ou invali<strong>de</strong>z, que p<strong>as</strong>saram a ser aplicad<strong>as</strong>em c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ocorridos após 30/6/97 86 .Para fins <strong>de</strong> registro, cumpre <strong>as</strong>sinalar que <strong>de</strong> 1948 a 1987, ouseja em 40 anos, foram registrad<strong>as</strong> 754 baix<strong>as</strong> fatais, período em queprevaleceram contend<strong>as</strong> interestatais, e, a partir <strong>de</strong> 1988 até setembro<strong>de</strong> 1998, isto é em 11 anos, houve 827 mortes, quando p<strong>as</strong>saram a86A in<strong>de</strong>nização por morte no exercício <strong>de</strong> função oficial em uma operação <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz p<strong>as</strong>sou a ser padroniza<strong>da</strong> em US$ 50,000.00, enquanto a in<strong>de</strong>nização por invali<strong>de</strong>zp<strong>as</strong>sou a ser calcula<strong>da</strong> com b<strong>as</strong>e em percentuais que inci<strong>de</strong>m sobre o valor <strong>da</strong> in<strong>de</strong>nizaçãopor morte, <strong>de</strong> acordo com a tabela constante do Anexo I doc. A/49/906 e Corr.1. Vertambém os docs. A/48/945 e Corr.1; A/50/1009; A/49/664; A/50/684; A/51/646; A/52/410e Resolução nº 52/177, <strong>de</strong> 18/12/97.


128 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApredominar conflitos intra-estatais, perfazendo um total <strong>de</strong> 1.581falecimentos para o período <strong>de</strong> 1948-98 87 .AS DEMAIS INSTÂNCIAS DO SISTEMA DAS NAÇÕES UNIDASOs <strong>de</strong>mais atores d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> que interagem com <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz são os representantes d<strong>as</strong> Agênci<strong>as</strong>Especializad<strong>as</strong>, Fundos e Program<strong>as</strong>. Cumpre ressaltar a atuação doAlto Comissariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para Refugiados (ACNUR) eo Programa d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para o Desenvolvimento (PNUD),por su<strong>as</strong> implicações para o êxito <strong>da</strong> intervenção.O ACNUR tem responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s primári<strong>as</strong> pela proteção <strong>de</strong>refugiados, m<strong>as</strong> vem ganhando também crescente papel no tocante àsegurança dos <strong>de</strong>slocados internos 88 . Além disso, tem colaborado naimplementação <strong>de</strong> program<strong>as</strong> voltados para a rea<strong>da</strong>ptação dos excombatentesà socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil. Por sua vez, o PNUD é ca<strong>da</strong> vezmais ativo na organização <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoeconômico, que envolvem sobretudo iniciativ<strong>as</strong> para a recuperação<strong>da</strong> infra-estrutura e a retoma<strong>da</strong> d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômic<strong>as</strong>. Nessecontexto, a questão <strong>de</strong> retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> min<strong>as</strong> <strong>as</strong>sume importânciafun<strong>da</strong>mental para <strong>as</strong>segurar a consoli<strong>da</strong>ção do processo <strong>de</strong> paz poisfavorece a livre circulação <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong> no interior do país, arecuperação <strong>de</strong> campos para o cultivo <strong>de</strong> alimentos e o <strong>as</strong>sentamento<strong>de</strong> ex-combatentes nos locais <strong>de</strong> origem. O curso <strong>de</strong> ação adotado87Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), Fatalities by Mission and Appointment Type – September,1998, atualizado com <strong>da</strong>dos avulsos até junho <strong>de</strong> 1999. As baix<strong>as</strong> fatais ocorreram sobretudoem 8 conflitos: na antiga Iugoslávia <strong>as</strong> mortes somaram 252; no Congo, 250; no Líbano,229; em Chipre, 168; na Somália, 156; na Faixa <strong>de</strong> Gaza e Sinai (entre 1957 e 1967), 106;no Camboja, 84; e no Sinai, 55 (entre 1973 e 1979).88As questões dos refugiados e dos <strong>de</strong>slocados internos mesclam-se, razão pela qual oACNUR advoga que o problema só po<strong>de</strong>rá ser superado quando esses dois <strong>as</strong>pectos foremtratando simultaneamente. Pela Resolução n° 48/116, <strong>de</strong> 20/12/93, a AGNU autorizou oACNUR a atuar <strong>de</strong>ntro dos Estados sob du<strong>as</strong> condições: a) que haja uma solicitação formaldo Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ou <strong>de</strong> um dos principais órgãos <strong>da</strong> ONU; b) que oEstado envolvido tenha consentido com a presença do ACNUR no terreno.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 129pelo PNUD envolve, entre outros elementos, a execução <strong>de</strong>program<strong>as</strong> <strong>de</strong> treinamento para equipes locais, <strong>de</strong> forma a reduzircustos <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> empres<strong>as</strong> especializad<strong>as</strong> e aproveitar aexperiência dos combatentes <strong>de</strong>smobilizados. Alguns Estadosmembros têm cedido especialist<strong>as</strong> gratuitamente às Nações Unid<strong>as</strong>para implementar os program<strong>as</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento no terreno.As Agênci<strong>as</strong>, os Fundos e os Program<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong><strong>de</strong>sempenharam papel discreto n<strong>as</strong> operações clássic<strong>as</strong> ou <strong>de</strong> primeirageração, à exceção do apoio prestado à ONUC durante a permanência<strong>de</strong>ssa Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> no Congo no período <strong>de</strong> 1960-64. N<strong>as</strong> operaçõesmultidisciplinares ou <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> geração, esses atores contribuem paraque a ONU possa melhor aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência. Avarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interlocutores, mesmo <strong>de</strong>ntro do sistema d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, implica problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, a ponto <strong>de</strong> o Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ter <strong>as</strong>sinalado, no quadro <strong>de</strong> sua proposta<strong>de</strong> reforma <strong>da</strong> Organização, que todos os seus Fundos, program<strong>as</strong> e<strong>as</strong> agênci<strong>as</strong> no terreno precisam estar subordinados, em ca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o, aoseu representante especial, <strong>de</strong> modo a evitar <strong>de</strong>sperdícios e duplicação<strong>de</strong> esforços 89 . Além disso, propôs a criação do Escritório <strong>de</strong>Coor<strong>de</strong>nação para Assuntos Humanitários (Office of Coordinationfor Humanitarian Affairs-OCHA), em substituição ao Departamento<strong>de</strong> Assuntos Humanitários, e o estabelecimento do cargo <strong>de</strong>Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Assistência para Situações Emergenciais (EmergencyRelief Coordinator-ERC), hoje ocupado pelo br<strong>as</strong>ileiro Sérgio Vieira<strong>de</strong> Mello. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> sugestões foram referen<strong>da</strong>d<strong>as</strong> pela AGNU em fins<strong>de</strong> 1997.AS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAISNão resta dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que número crescente <strong>de</strong> atores nãogovernamentaisp<strong>as</strong>sa a atuar em áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> competência d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,89Nações Unid<strong>as</strong>, (1997), doc. A/51/950, action 4, p. 39.


130 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcontribuindo para o esforço coletivo <strong>de</strong> pacificação política. O ComitêInternacional <strong>da</strong> Cruz Vermelha (CICV) promove o DIH, divulgando su<strong>as</strong>norm<strong>as</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> local, além <strong>de</strong> prestar <strong>as</strong>sistência humanitária àpopulação civil. Organizações como Care, Mé<strong>de</strong>cins sans Frontières,Save the Children, InterAction, International Rescue Committee eOxfam colaboram na prestação <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência humanitária, enquanto outr<strong>as</strong>como Anistia Internacional e Human Rights Watch conduzem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>svoltad<strong>as</strong> para a difusão d<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> vigentes <strong>de</strong> proteção aos direitoshumanos e buscam monitorar <strong>as</strong> ações d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> policiais e ocomportamento dos integrantes d<strong>as</strong> operações <strong>da</strong> ONU 90 . Além disso,enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s como The Carter Center e National Democratic Institutefor International Affairs colaboram na preparação e na supervisão <strong>de</strong>eleições. Muit<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> organizações menos conhecid<strong>as</strong> também prestamalguma forma <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>, seja mediante o envio <strong>de</strong> instrutores para treinar amão-<strong>de</strong>-obra local, seja através <strong>da</strong> cessão temporária <strong>de</strong> especialist<strong>as</strong>dos mais variados campos, professores <strong>de</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, peritos emcontabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pública e <strong>as</strong>sistentes sociais, entre outros. Esse mosaico <strong>de</strong>atores, ao mesmo tempo em que permite aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>as</strong>populações <strong>as</strong>sistid<strong>as</strong>, gera complexos problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação.A dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação é senti<strong>da</strong> nota<strong>da</strong>mente na áreahumanitária. Embora já se manifest<strong>as</strong>se n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz nos anos 60, no Congo, e nos anos 70 e 80, no Líbano, nuncachegou à magnitu<strong>de</strong> e complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos problem<strong>as</strong> atuais 91 . Porexemplo, <strong>de</strong> acordo com o ACNUR, em fins <strong>de</strong> 1997, havia no mundoaproxima<strong>da</strong>mente 22 milhões <strong>de</strong> refugiados, repatriados e <strong>de</strong>slocadosinternos, cujo drama, transmitido pela imprensa televisiva e escrita,comove a opinião pública internacional. Esse movimento <strong>de</strong> pesso<strong>as</strong>ocorre, b<strong>as</strong>icamente, na Europa (Bálcãs), na África (região dos Gran<strong>de</strong>s90International Amnesty (1994) p. 1-45.91A UNIFIL, que atua no sul do Líbano, foi a primeira Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>da</strong> ONU a receber,em junho <strong>de</strong> 1982, man<strong>da</strong>to para cumprir taref<strong>as</strong> humanitári<strong>as</strong>. De acordo com a Resoluçãon° 511 (1982), os integrantes <strong>da</strong> missão foram incumbidos <strong>de</strong> proteger e <strong>de</strong> prover<strong>as</strong>sistência humanitária à população local que se encontrava na sua área <strong>de</strong> operações.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 131Lagos, Chifre <strong>da</strong> África e costa atlântica <strong>da</strong> África), e na Ásia (Cáuc<strong>as</strong>oe su<strong>de</strong>ste <strong>da</strong> Ásia) 92 .Os componentes militares d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz acabam sendoinstados a fornecer apoio logístico e a proteger o pessoal envolvidon<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> humanitária quando se <strong>de</strong>slocamno interior do país, em regiões <strong>de</strong> acesso difícil ou on<strong>de</strong> campeia obanditismo. Enquanto os coman<strong>da</strong>ntes militares d<strong>as</strong> operações vêminsistindo na importância <strong>de</strong> estabelecer-se um órgão centralizador d<strong>as</strong>ações, <strong>as</strong> ONGs resistem ao cerceamento <strong>de</strong> seus movimentos,preferindo um entendimento c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, à luz <strong>de</strong> su<strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>stópic<strong>as</strong>.A experiência br<strong>as</strong>ileira em Angola revelou que <strong>as</strong> ONGs e,mesmo, Agênci<strong>as</strong>, Fundos e Program<strong>as</strong> do sistema d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,tais como o Fundo d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a Infância (UNICEF) e oPrograma Mundial <strong>de</strong> Alimentos (PMA), correm um gran<strong>de</strong> risco aoagirem sozinhos, com b<strong>as</strong>e apen<strong>as</strong> em acertos verbais com <strong>as</strong> partesem conflito, pois seus veículos po<strong>de</strong>m ser saqueados e seus funcionáriosmolestados, roubados e seqüestrados no curso <strong>da</strong> operação. Por outrolado, quando recebem a proteção <strong>de</strong> comboios militares d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong>paz, <strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s fornecedor<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência correm o risco <strong>de</strong> seremi<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> com a missão, nem sempre percebi<strong>da</strong> como imparcial epor vezes ti<strong>da</strong> como adversária. O ACNUR, a Cruz Vermelha e, atémesmo, os funcionários do Departamento <strong>de</strong> Assuntos Humanitários— hoje extinto — reconheceram em seminários realizados 1997-98que somente em <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> oc<strong>as</strong>iões <strong>as</strong> missões humanitári<strong>as</strong> <strong>de</strong>vemser acompanhad<strong>as</strong> <strong>de</strong> aparato <strong>de</strong> segurança fornecido pela Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>.Mais precisamente, seus representantes <strong>as</strong>sinalaram na reunião<strong>de</strong> 1997 do Comitê Especial sobre <strong>as</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong><strong>Paz</strong> que era preciso separar os objetivos <strong>de</strong> uma Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, queobe<strong>de</strong>ce a man<strong>da</strong>to político do CSNU, por vezes contrário a uma d<strong>as</strong>92ACNUR, (1998), doc. A Situação dos Refugiados no Mundo 1997-98 contém <strong>da</strong>dosestatísticos atualizados n<strong>as</strong> pp. 295-304.


132 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApartes, dos <strong>de</strong> uma missão humanitária, volta<strong>da</strong> para a prestação <strong>de</strong><strong>as</strong>sistência à população civil, <strong>de</strong> forma neutra, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente doposicionamento <strong>de</strong> qualquer órgão político d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobreo conflito. Ess<strong>as</strong> preocupações estão refletid<strong>as</strong> no relatório doSecretário-Geral <strong>da</strong> ONU sobre a “Proteção <strong>da</strong> Assistência Humanitáriaa Refugiados e outros em Situações <strong>de</strong> Conflito”, divulgado em 22/9/98. No relatório, o SGNU observa que “... humanitarianorganizations have been concerned that the use of the military forhumanitarian activities, particularly in the context of Chapter VIIoperations, compromises their impartiality and neutrality, affectstheir ability to <strong>as</strong>sist victims on all si<strong>de</strong>s of the conflict and, attimes, even leads to incre<strong>as</strong>ed violence against United Nationsand other humanitarian personnel.” 93 .Os órgãos <strong>da</strong> ONU vêm produzindo um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><strong>de</strong>bates, resoluções, relatórios e recomen<strong>da</strong>ções sobre o <strong>as</strong>sunto, aexemplo <strong>da</strong> <strong>de</strong>claração presi<strong>de</strong>ncial adota<strong>da</strong> pelo CSNU, em 29/9/98, em seguimento ao <strong>de</strong>bate ocorrido naquele foro sobre o tema <strong>da</strong>“proteção aos integrantes d<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s prestador<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistênciahumanitária” 94 , m<strong>as</strong>, na prática, os resultados têm-se mantido muitoaquém do esperado, <strong>da</strong><strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do tema. Os registros doACNUR mostram que cerca <strong>de</strong> 150 funcionários <strong>da</strong> ONU foram<strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinados no período 1992-98 e que outros 50 se encontravam<strong>de</strong>tidos ou <strong>de</strong>saparecidos em abril <strong>de</strong> 1998. O Alto Comissário Adjuntod<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para Refugiados, Gerald Walzer, salientou noComitê Permanente <strong>da</strong> Organização do ACNUR, em abril <strong>de</strong> 1998,que era lamentável o fato <strong>de</strong> que pessoal humanitário, que <strong>as</strong>sistepesso<strong>as</strong> em necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, seja alvo <strong>de</strong>liberado <strong>de</strong> <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinatos,seqüestros e outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência.Espera-se que a experiência reuni<strong>da</strong> nos últimos anos contribuapara <strong>de</strong>finir rotin<strong>as</strong> capazes <strong>de</strong> aumentar a cooperação entre os93Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. S/1998/883, parágrafo 24.94Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. S/PRST/1998/30.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 133integrantes d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e o pessoal d<strong>as</strong>enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s não-governamentais. É significativo, a esse respeito, que <strong>as</strong><strong>de</strong>legações do DPKO que participaram do Terceiro Seminário d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> para Equipes <strong>de</strong> Assistência e Treinamento, realizadoem Itaipava, <strong>de</strong> 3 a 7/3/97, e do exercício “Forç<strong>as</strong> Unid<strong>as</strong> 97”,realizado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> 20 a 29/8/97, tivessem, entre seusintegrantes, especialist<strong>as</strong> no tratamento com ONGs, para enriquecer o<strong>de</strong>bate e mostrar <strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação existentes.RETROSPECTIVA DAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDAS DE 1988 A 1999Levantamento sucinto d<strong>as</strong> operações criad<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1988 a 1999<strong>de</strong>monstra a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> funções que p<strong>as</strong>saram a ser exercid<strong>as</strong>,<strong>as</strong>sim como a extensão do envolvimento <strong>da</strong> ONU. No total foram 39missões <strong>de</strong> paz, cujos componentes envolveram, em grau diferentes,civis, policiais e militares: 16 na África, 7 na América Central e Caribe,8 na Ásia e 8 na Europa.


134 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 4OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASDE 1988 A 1999


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136 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 137Fonte: publicação The Blue Helmets d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, boletins <strong>de</strong> atualização doDPKO e MRE.¹ É importante atentar para o fato <strong>de</strong> que <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz na Namíbia (UNTAG) e na fronteiraIrã-Iraque (UNIIMOG) foram criad<strong>as</strong> por resoluções aprovad<strong>as</strong> em 1978 e 1987, respectivamente.No entanto, <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> só permitiram o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações apartir <strong>de</strong> 1988.² A MINUGUA é uma missão híbri<strong>da</strong>, atuou como missão civil e como operção <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. Mais precisamente, a missão foi transforma<strong>da</strong> em operação <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> janeiro a maio <strong>de</strong> 1997, para supervisionar o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>smobilização dos combatentes na Guatemala.³ As Nações Unid<strong>as</strong> não consi<strong>de</strong>ram a UNAMET uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazpara aten<strong>de</strong>r a solicitação do Governo indonésio.


138 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAO CSNU reavaliou o uso d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz a partir <strong>de</strong>1994, verificando-se certo esgotamento <strong>da</strong> ânsia em fazer proliferaress<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>, em <strong>de</strong>corrência seja <strong>de</strong> seus altos custos — oorçamento geral chegou a US$ 3,6 bilhões em 1994, cerca <strong>de</strong> trêsvezes o valor anual do orçamento regular —, seja, em diversos c<strong>as</strong>os,<strong>de</strong> seus resultados questionáveis. A reavaliação por parte do CSNU<strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz<strong>de</strong>correu <strong>da</strong> concorrência <strong>de</strong> diversos fatores. De um lado, osacontecimentos na Somália, em Ruan<strong>da</strong> e na antiga Iugoslávia tinhamrepercutido negativamente junto à opinião pública e aos círculospolíticos e governamentais dos Estados Unidos 95 , <strong>da</strong> França e doReino Unido. A<strong>de</strong>mais, a China mantinha sua tradicional posturadiscreta na matéria e a Rússia centrava su<strong>as</strong> preocupações em<strong>as</strong>segurar, especialmente, a legitimação do envolvimento d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong><strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Estados In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (CEI) no seu entorno,algo que logrou em 1994, com o endosso <strong>da</strong>do pelo CSNU à presençad<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> CEI na Geórgia e no Tadjiquistão, m<strong>as</strong> sem o aporte95Manual Joint T<strong>as</strong>k Force Comman<strong>de</strong>r’s Handbook for Peace Operations dos EUA,(1995), p. 1 e Anexo A. No c<strong>as</strong>o dos EUA, o Governo “fez circular”, em fevereiro <strong>de</strong>1993, o texto <strong>de</strong> uma possível Presi<strong>de</strong>ntial Draft Directive 13 (PDD—13), que regulariaa participação <strong>de</strong> militares estaduni<strong>de</strong>nses em operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU. Essa diretrizpresi<strong>de</strong>ncial, que acabou não sendo <strong>as</strong>sina<strong>da</strong>, <strong>de</strong>terminava que os EUA não po<strong>de</strong>riamcomprometer su<strong>as</strong> trop<strong>as</strong>, a menos que houvesse: “...a clear and present <strong>da</strong>nger tointernational security, a <strong>de</strong>monstrable threat to US interests, and sufficient domesticsupport for the operation”. Posteriormente, com os eventos ocorridos na Somália —on<strong>de</strong> 18 militares norte-americanos per<strong>de</strong>ram a vi<strong>da</strong> e 75 ficaram feridos em outubro <strong>de</strong>1993, <strong>de</strong> acordo com os <strong>da</strong>dos divulgados pelo Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU no seu relatórioS/26738, parágrafos 70 a 74 —, na Bósnia-Herzegovina e em Ruan<strong>da</strong>, o Presi<strong>de</strong>nteClinton emitiu, em 1994, a Presi<strong>de</strong>ntial Decision Directive 25 (PPD-25-The ClintonAdministration’s Policy on Reforming Multilateral Peace Operations), que, além <strong>de</strong>incorporar <strong>as</strong> condicionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>as</strong>sinalad<strong>as</strong> em 1993, impunha outros requisitos, <strong>de</strong>ntreos quais “... that the UN man<strong>da</strong>te be extremely clear, that the disputants agree in advanceto a cessation of hostilities, and that the duration of the mission would be known inadvance “. No entanto, o Congresso, após <strong>as</strong> eleições <strong>de</strong> 1994, impôs ao Executivo aobrigação <strong>de</strong> obter a anuência prévia do Legislativo antes <strong>de</strong> apoiar, no CSNU, a criação<strong>de</strong> uma nova operação. O Congresso entendia que <strong>de</strong>via ser ouvido antes <strong>de</strong> os EUA<strong>as</strong>sumirem qualquer compromisso, pois a manifestação favorável do governo significavao pagamento <strong>de</strong> contribuições adicionais . O prazo <strong>de</strong> reação do Legislativo é <strong>de</strong> 15 di<strong>as</strong>.


OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 139financeiro almejado 96 . Esse retraimento <strong>da</strong> presença d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> em certos conflitos, levou a que somente em 1998 fossemestabelecid<strong>as</strong> du<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz — umaForça <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> (MINURCA, em abril, para atuar na República Centro-Africana) e uma Missão <strong>de</strong> Observação (UNOMSIL, em julho, emSerra Leoa) — e três outr<strong>as</strong> em 1999 — du<strong>as</strong> Missões <strong>de</strong>Observação (UNAMET, em junho, em Timor Leste; e MONUC,em agosto, na República Democrática do Congo) e uma Missão <strong>de</strong>Administração Interina (UNMIK, em junho, no Kosovo). Com efeito,a UNPSG era sucessora <strong>da</strong> UNTAES na Eslavônia Oriental; a própriaUNTAES e a UNMOP eram continuação <strong>da</strong> UNPROFOR na antigaIugoslávia; a MONUA tinha sucedido a UNAVEM III em Angola; aMINUGUA era <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> uma operação oriun<strong>da</strong> cria<strong>da</strong> pelaAGNU para atuar na Guatemala, e a UNSMIH, a UNTMIH e aMIPONUH eram seguimentos <strong>da</strong> UNMIH no Haiti.Olara A. Otunnu, o atual Representante Especial do Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU para Crianç<strong>as</strong> e Conflitos Armados 97 , já tinha percebido,em 1993, a tendência <strong>de</strong> retraimento do CSNU na aprovação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong>missões: “... le Conseil <strong>de</strong> Sécurité pourrait être amené, pour <strong>de</strong>sraisons pratiques, à adopter une politique d’engagement sélectif.Cela signifierait qu’il <strong>de</strong>vrait choisir plus soigneusement où et96Sutterlin, (1995), p. 98. A Resolução nº 937(1994) sobre a Abcásia na Geórgia, <strong>de</strong> 21/7/94, contém dispositivos como “welcomes the contribution ma<strong>de</strong> by the RussianFe<strong>de</strong>ration, and indications of further contributions from other members of the CIS, of apeacekeeping force, in response to the request of the parties (...) “e a Resolução nº968(1994) sobre o Tadjiquistão, <strong>de</strong> 16/12/94, que estabeleceu a UNMOT, menciona“Acknowledging positively the readiness of the collective peacekeeping forces of theCIS in Tadjikistan to work together with United Nations observers to <strong>as</strong>sist in maintainingthe ce<strong>as</strong>e-fire, (...) “. Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar que possa ter ocorrido uma troca <strong>de</strong> apoiosentre os EUA e a Rússia envolvendo a aprovação <strong>da</strong> Resolução nº 937, <strong>de</strong> 21/7/94, quereferendou a presença d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> CEI na Geórgia, e <strong>da</strong> Resolução nº 940, <strong>de</strong> 31/7/94,que autorizou a criação <strong>de</strong> uma Força Multinacional para intervir no Haiti (OperaçãoRestore Democracy).97Resolução nº 51/77, <strong>de</strong> 19/8/97. Olara Otunnu ocupou a presidência <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>da</strong><strong>Paz</strong> Internacional (think tank que atua na área <strong>de</strong> paz e segurança), antes <strong>de</strong> <strong>as</strong>sumir seuatual cargo n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.


140 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAquand intervenir et se concentrer sur les situations <strong>de</strong> conflit <strong>da</strong>nslesquelles une ingérence <strong>de</strong>s Nations unies peut se révéler efficaceet faire la différence. Alors que l’engagement sélectif est peut-êtrela solution <strong>de</strong>s problèmes du moment, il présente <strong>de</strong>s inconvénientsmajeurs en tant que politique à long terme. Dans le c<strong>as</strong> d’unengagement sélectif, il y aura <strong>de</strong>ux catégories <strong>de</strong> conflits: ceuxqui seront “adoptés” par les Nations unies et ceux qui tomberont<strong>da</strong>ns les lézar<strong>de</strong>s du système international. Cette <strong>de</strong>rnière catégorieregroupera les conflits dont on se sera désintéressé parce que tropcomplexes ou trop nombreux. Ces conflits suivront leur cours etseront les “tragédies oubliées” du mon<strong>de</strong>. C’est là un terribledilemme.” 98Esse dilema levou os Membros permanentes do Conselho aadvogarem maior reforço <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> nopreparo, mobilização, envio e manutenção <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz e missões<strong>de</strong> observação, bem como a sedimentação <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> recorrer aorganismos regionais e sub-regionais e a coalizões ad hoc paracumprirem os man<strong>da</strong>tos do CSNU, tem<strong>as</strong> estes que serão tratados noCapítulo III a seguir.98Otunnu, (1993), pp.597-610.


CAPÍTULO IIIA SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAISTENDÊNCIAS DAS OPERAÇÕES DE PAZ


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAISTENDÊNCIAS DAS OPERAÇÕES DE PAZA multiplicação <strong>de</strong> conflitos armados nos anos 90 avivou, nacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, o <strong>de</strong>bate sobre <strong>as</strong> limitações dos instrumentosconvencionais para prevenir crises ou solucionar conflitos e <strong>de</strong>spertou ointeresse por alternativ<strong>as</strong>, mais rápid<strong>as</strong> e eficazes, <strong>de</strong> limitar <strong>as</strong> perd<strong>as</strong> <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> human<strong>as</strong>, o sofrimento dos refugiados e <strong>de</strong>slocados internos e a<strong>de</strong>struição <strong>da</strong> infra-estrutura econômica. Tendo em vista a atual cautelado CSNU em criar nov<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, o presentecapítulo abor<strong>da</strong>rá <strong>as</strong> principais tendênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong>sse instrumentono futuro próximo. Serão tratados, entre outros, os seguintes pontos:· os novos conceitos <strong>de</strong> “operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz robust<strong>as</strong>”,“operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz” e “operações <strong>de</strong> apoio à paz”;· o reforço <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, especificamente <strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong><strong>de</strong> diminuir o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações;· a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> situação africana e <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong>aperfeiçoamento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países africanos em participar <strong>de</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz;· a crescente participação d<strong>as</strong> organizações regionais e subregionaisem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, com <strong>de</strong>staque para a


144 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAOTAN e para o relacionamento existente entre a ONU e a OEA nocampo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais; e· o crescente recurso às forç<strong>as</strong> multinacionais.OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ ROBUSTAS, OPERAÇÕES DERESTAURAÇÃO DA PAZ E OPERAÇÕES DE APOIO À PAZDiante <strong>da</strong> experiência adquiri<strong>da</strong>, sobretudo, no Camboja, naantiga Iugoslávia, em Ruan<strong>da</strong> e na Somália, o DPKO está<strong>de</strong>senvolvendo novo “paradigma” para <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, que procuraflexibilizar e a<strong>da</strong>ptar o conceito <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz a situaçõescomplex<strong>as</strong> em que, por vezes, é necessário o uso limitado <strong>da</strong> força.Seria uma opção intermediária entre <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz tradicionais, cujo emprego se teria revelado insuficiente para aten<strong>de</strong>ràs necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s atuais, e <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz. De acordocom Jarat Chopra, estudioso d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU, “Theblack and white options of non-military sanctions and grand-scaleenforcement were ina<strong>de</strong>quately sophisticated to respond to intr<strong>as</strong>tatebreaches of the peace” 99 .Tal opção intermediária ain<strong>da</strong> não se encontraria preenchi<strong>da</strong>conceitualmente. O DPKO parte do pressuposto <strong>de</strong> que os conflitosten<strong>de</strong>rão a ocorrer, mormente, no interior dos Estados, on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>rse vê, não raro, atomizado. As forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz po<strong>de</strong>riam incorporar n<strong>as</strong>su<strong>as</strong> fileir<strong>as</strong> contingentes suficientemente armados para <strong>de</strong>monstrarcapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar dissu<strong>as</strong>ória e, em última instância, habilitados a entrarem combate para superar resistênci<strong>as</strong> localizad<strong>as</strong>, sem que tal açãocomprometesse a imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> no cumprimento do man<strong>da</strong>to doCSNU. O paradigma explora a diferença entre o combate generalizadoe atritos localizados, fruto <strong>de</strong> ações isolad<strong>as</strong> <strong>de</strong> elementos irregulares,99Discurso proferido por Chopra na Conferência “Humanitarian Action and PeacekeepingOperations em 1997.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 145e sustenta que é possível preservar a imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a credibili<strong>da</strong><strong>de</strong>,no nível geral, junto às autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s que <strong>de</strong>têm o controle territorial,mesmo nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> repressão aos elementos irregulares. Introduztambém a noção <strong>de</strong> que <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz po<strong>de</strong>rão dispor <strong>de</strong> armamentosofensivos.Em novembro <strong>de</strong> 1997, o então Representante Permanente do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> junto às Nações Unid<strong>as</strong>, Embaixador Celso Amorim, entrevistousecom o Chefe do DPKO, Bernard Miyet, oc<strong>as</strong>ião em que este últimoopinou já não ser mais tão relevante a distinção entre operações <strong>de</strong>paz do capítulo VI e <strong>as</strong> do capítulo VII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Acrescentou que a ONU não po<strong>de</strong>ria participar <strong>de</strong> operações on<strong>de</strong>houvesse perspectiva <strong>de</strong> combates prolongados. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>,a situação atual po<strong>de</strong>ria comportar o aparecimento <strong>de</strong> novo tipo <strong>de</strong>operação em que, apesar <strong>de</strong> o uso <strong>da</strong> força ser autorizado, com b<strong>as</strong>epreferencialmente no capítulo VII <strong>da</strong> Carta, a força <strong>de</strong> paz continuariaa atuar <strong>de</strong> forma imparcial e, i<strong>de</strong>almente, m<strong>as</strong> não necessariamente,com o consentimento d<strong>as</strong> partes envolvid<strong>as</strong>, visto que <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisõesadotad<strong>as</strong> sob aquele capítulo são man<strong>da</strong>tóri<strong>as</strong>. C<strong>as</strong>o aprovad<strong>as</strong> sob ocapítulo VI, ess<strong>as</strong> operações teriam <strong>de</strong> contar com “regr<strong>as</strong> <strong>de</strong>engajamento” (rules of engagement) robust<strong>as</strong>, que permitissem apresença <strong>de</strong> armamento pesado. Não se <strong>de</strong>ve confundir o conceitoproposto com algum<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, que, <strong>de</strong>vidoà situação no terreno (ONUC no Congo e UNPROFOR na antigaIugoslávia), foram-se transformando <strong>de</strong> uma missão do capítulo VI emuma intervenção com <strong>as</strong>pectos coercitivos próprios do capítulo VII.As operações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz seriam reservad<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> para osc<strong>as</strong>os em que <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s empreendid<strong>as</strong> para restabelecer a paz nãocont<strong>as</strong>sem com o consentimento d<strong>as</strong> partes e que pu<strong>de</strong>ssem implicar ouso <strong>da</strong> força em gran<strong>de</strong> escala para “convencer” <strong>as</strong> partes a atuar <strong>de</strong>acordo com <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões do CSNU.O DPKO enten<strong>de</strong> que a UNTAES <strong>de</strong>veria servir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>loàs futur<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Seu <strong>de</strong>sdobramento foi


146 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAconsentido apesar <strong>de</strong> a missão ter sido cria<strong>da</strong> ao abrigo do capítuloVII e ter contado com gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dissu<strong>as</strong>ória. Nesse contexto,a Força <strong>de</strong> Implementação (IFOR) e a Força <strong>de</strong> Estabilização (SFOR),que foram <strong>de</strong>spachad<strong>as</strong> para a Bósnia-Herzegovina, e a ForçaMultinacional do Kosovo, que foi envia<strong>da</strong> à República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong>Iugoslávia, po<strong>de</strong>riam ser vist<strong>as</strong> como variantes <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo, poisreceberam o consentimento d<strong>as</strong> partes em conflito para seu<strong>de</strong>sdobramento no terreno, além <strong>de</strong> terem sido aprovad<strong>as</strong> sob a égi<strong>de</strong>do capítulo VII e estarem equipad<strong>as</strong> com armamentos pesados.Vão na mesma linha <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> ventilad<strong>as</strong> pelo Reino Unido sobre<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong> “operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz”, conforme antecipadona págin<strong>as</strong> 90 e 91. Ess<strong>as</strong> operações seriam equipad<strong>as</strong> com meiosofensivos capazes <strong>de</strong> reagir prontamente à eclosão <strong>de</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s,prevenindo a contaminação <strong>de</strong> to<strong>da</strong> uma região e <strong>as</strong>segurando,conforme o c<strong>as</strong>o, a prestação <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência humanitária, sobretudoem áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> banditismo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarticulação <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> estatal 100 .Vale mencionar que, por oc<strong>as</strong>ião do seminário sobre operações <strong>de</strong>paz realizado pelos Exércitos br<strong>as</strong>ileiro e britânico, em Br<strong>as</strong>ília, noperíodo <strong>de</strong> 23 a 25/3/98, os militares <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> United NationsTraining Team do Exército do Reino Unido comentaram que <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz, embora <strong>as</strong>semelhad<strong>as</strong> àquel<strong>as</strong> <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz robust<strong>as</strong>, se distinguiriam por estarem melhorhabilitad<strong>as</strong> a conduzir operações coercitiv<strong>as</strong>. Em tese, <strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz robust<strong>as</strong> po<strong>de</strong>riam ser administrad<strong>as</strong> pela ONU,ao p<strong>as</strong>so que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz seriam preferivelmente<strong>de</strong>legad<strong>as</strong> às forç<strong>as</strong> multinacionais.A OTAN, por sua vez, tem utilizado, nos últimos anos, oconceito bem mais amplo e impreciso <strong>de</strong> “operações <strong>de</strong> apoio à paz”.Po<strong>de</strong>m englobar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz clássic<strong>as</strong>, com100O conceito d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> paz foi apresentado pelo Governo britânicono documento Reply by the Government of the United Kingdom to the United NationsSecretary-General’s Supplement to An Agen<strong>da</strong> for Peace, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1996, pp. 3 e 4.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 147o consentimento d<strong>as</strong> partes, até ações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz, nãonecessariamente sob a égi<strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> 101 . N<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> apoio à paz, portanto, <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong> estariam capacitad<strong>as</strong> acumprir qualquer tarefa <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo CSNU, inclusive operar eminiciativ<strong>as</strong> aprovad<strong>as</strong> ao amparo do capítulo VI ou do capítulo VII <strong>da</strong>Carta.Essa elaboração <strong>de</strong> novos conceitos não é um exercíciomeramente acadêmico, <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> implicações prátic<strong>as</strong>. Nos últimosanos, os Membros permanentes do CSNU têm-se valido <strong>de</strong> su<strong>as</strong>prerrogativ<strong>as</strong> para ampliar o campo <strong>de</strong> atuação d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, mesmo na ausência <strong>de</strong> emb<strong>as</strong>amento jurídico sólidoe, freqüentemente, em violação do princípio <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>vem esgotartodos os recursos <strong>da</strong> negociação antes <strong>de</strong> recorrer a meios coercitivospara restaurar a paz e a segurança. Po<strong>de</strong>-se especular que, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>criação <strong>da</strong> UNTAES, aprova<strong>da</strong> sob o capítulo VII, e, maisrecentemente, <strong>da</strong> MINURCA, cuja resolução combina dispositivosaprovados sob os capítulos VI e VII — uso <strong>da</strong> força para garantir aproteção <strong>de</strong> seus integrantes e o cumprimento dos objetivosestabelecidos pelo CSNU —, a aprovação <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz sob o capítulo VII ou emb<strong>as</strong>ad<strong>as</strong> em seus dispositivos, algo aprincípio contraditório, po<strong>de</strong>rá ten<strong>de</strong>r a ser, no futuro, ca<strong>da</strong> vez maiscomum. Fica, <strong>as</strong>sim, relativiza<strong>da</strong> a distinção entre os capítulos VI eVII, na linha do pensamento do Chefe do DPKO.O General-<strong>de</strong>-Briga<strong>da</strong> Franklin Van Kappen, conselheiro militardo SGNU, e o Coronel Peter Leentjes, chefe <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Treinamento do DPKO, que participaram <strong>de</strong> seminários no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em101NATO, (1995), doc. SACLANT/SACEUR Ser/C-2. O documento, <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 11/12/95, contém a NATO Doctrine for Peace Support Operations. A nota introdutória esclareceque o presente documento atualiza o texto publicado em fevereiro <strong>de</strong> 1994, <strong>de</strong> modo arefletir “... current practices and policies, <strong>as</strong> well <strong>as</strong> experiences gained over the p<strong>as</strong>tyears”. Além disso , o Manual Joint T<strong>as</strong>k Force Comman<strong>de</strong>r’s Handbook for PeaceOperations dos EUA <strong>de</strong>ixa claro na parte introdutória que “... Although the UN Charterdoes not specifically cover peace operations, it makes inferences regarding the legal b<strong>as</strong>isto and for our participation in UN sponsored peace operations”.


148 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA1997, referiram-se, na oc<strong>as</strong>ião, às nov<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervençãocomo sendo vinculad<strong>as</strong> a um imaginário “capítulo VI e ¾”, emoposição ao “capítulo VI e meio” atribuído às operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz.Recor<strong>de</strong>-se, a propósito, que o SGNU sugeriu, em julho <strong>de</strong>1997, a idéia <strong>de</strong> criar uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz “robusta”sob o capítulo VI para intervir na República do Congo, a braços comuma crise institucional. As regr<strong>as</strong> <strong>de</strong> engajamento imaginad<strong>as</strong> para essaoperação envolveriam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> tanques, artilhariaantiaérea e metralhador<strong>as</strong> pesad<strong>as</strong> 102 . É compreensível conferir àsmissões <strong>de</strong> paz que atuam em ambientes voláteis algum armamentomais sofisticado para auto<strong>de</strong>fesa e para <strong>as</strong>segurar o cumprimento doman<strong>da</strong>to, m<strong>as</strong> isso não <strong>de</strong>ve significar criar uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militarprópria <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, équestionável <strong>as</strong>sociar o estabelecimento <strong>da</strong> missão aventa<strong>da</strong> pelo SGNUpara a República do Congo às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, vistoque <strong>as</strong> lições aprendid<strong>as</strong> indicam que a imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a cooperaçãod<strong>as</strong> partes e a construção <strong>de</strong> uma atmosfera <strong>de</strong> confiança constituemos elementos essenciais para <strong>as</strong>segurar o êxito <strong>da</strong> intervenção d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, não havendo a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se recorrer a blin<strong>da</strong>dosou a outr<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> pesad<strong>as</strong> para “manter” a paz.TENTATIVAS DE APRIMORAR A CAPACIDADE DE RESPOSTADAS NAÇÕES UNIDASDes<strong>de</strong> o início dos anos 90, o Secretariado <strong>da</strong> ONU preocupa-se,a um tempo, em reduzir o tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>102Em linh<strong>as</strong> gerais, <strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s na República do Congo envolviam <strong>as</strong> facções queapoiavam o Presi<strong>de</strong>nte Lissoula e <strong>as</strong> que respal<strong>da</strong>vam o ex-Presi<strong>de</strong>nte S<strong>as</strong>sou-Nguesso.Enquanto o CSNU <strong>de</strong>batia a questão <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz,trop<strong>as</strong> angolan<strong>as</strong> intervieram com êxito em favor <strong>de</strong> S<strong>as</strong>sou-Nguesso. Diante do fatoconsumado, o CSNU cingiu-se a emitir Declaração Presi<strong>de</strong>ncial con<strong>de</strong>nando interferênci<strong>as</strong>extern<strong>as</strong> na República do Congo e reiterando a importância <strong>de</strong> uma solução política quelev<strong>as</strong>se à reconciliação nacional.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 149manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> modo a evitar ao máximo a retoma<strong>da</strong> ou orecru<strong>de</strong>scimento dos conflitos e em dispor <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mobilização <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> intervenção, quando necessário, em apoio aoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz que estariam p<strong>as</strong>sando pordificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no terreno.De fato, a f<strong>as</strong>e inicial d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz(a <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> start-up ph<strong>as</strong>e) é sempre a mais crítica, pois <strong>as</strong> partesain<strong>da</strong> nutrem fortes <strong>de</strong>sconfianç<strong>as</strong> recíproc<strong>as</strong> e os contingentescedidos pelos Estados membros po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>morar muito tempo parachegarem ao terreno, por razões orçamentári<strong>as</strong> ou <strong>de</strong> procedimentoconstitucional. Ao mesmo tempo, acreditava-se que a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> mobilizar contingentes armados para aju<strong>da</strong>r missões no terrenoproporcionaria mais um instrumento <strong>de</strong> ação para o CSNU,reforçando a segurança dos integrantes d<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz e forç<strong>as</strong><strong>de</strong> paz.O Secretário-Geral Boutros-Ghali propôs inicialmente, nodocumento intitulado “Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em 17/6/92, a criação<strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Imposição <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> (Peace Enforcement Units-PEU),que seriam empregad<strong>as</strong> para conter <strong>as</strong> partes que viol<strong>as</strong>sem um cessarfogo,e no “Suplemento <strong>de</strong> Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em 3/1/95, oestabelecimento <strong>de</strong> uma Força <strong>de</strong> Reação Rápi<strong>da</strong> (Rapid ReactionForce-RRF), que operaria como reserva <strong>de</strong> contingência <strong>da</strong> ONUpara aju<strong>da</strong>r operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz em situações <strong>de</strong>licad<strong>as</strong>e para encurtar o tempo que me<strong>de</strong>ia entre a aprovação <strong>de</strong> umaresolução no CSNU e o <strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong> operação no terreno 103 .Em ambos os c<strong>as</strong>os, a FRR ou a PEU ficariam à disposição do CSNUpara <strong>de</strong>sdobramento imediato e urgente. As propost<strong>as</strong> não foram bemrecebid<strong>as</strong> pela gran<strong>de</strong> maioria dos Estados membros <strong>da</strong> Organização,quer por motivos financeiros, quer pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização103Embora não esteja vincula<strong>da</strong> à sugestão <strong>de</strong> Boutros-Ghali, a França, os Países Baixose o Reino Unido, após ouvir o Conselho <strong>de</strong> Defesa <strong>da</strong> OTAN, ofereceram às NaçõesUnid<strong>as</strong> uma Força <strong>de</strong> Reação Rápi<strong>da</strong>, em junho <strong>de</strong> 1995, integra<strong>da</strong> por 15 mil homens


150 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApolítica <strong>de</strong>sses contingentes pelo CSNU. Paralelamente, veio à tona aproposta <strong>de</strong> Sir Brian Urquhart, em 1993, <strong>de</strong> constituir uma ForçaMilitar Voluntária d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (UN Volunteer MilitaryForce) 104 , e, posteriormente, a proposta do Governo dos PaísesBaixos, em 1995, <strong>de</strong> compor uma Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Desdobramento Rápidod<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> (UN Rapid Deployment Briga<strong>de</strong>) 105 , iniciativ<strong>as</strong>que, por serem mais coerciv<strong>as</strong> do que <strong>as</strong> propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> Boutros-Ghali,também não evoluíram.No entanto, vêm ganhando espaço outr<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, como<strong>as</strong> preconizad<strong>as</strong> pelo DPKO e <strong>as</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> por grupos <strong>de</strong> paísesinteressados no <strong>as</strong>sunto visando a criar uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pronto empregomultinacionais. Embora existam vári<strong>as</strong> projetos regionais sendo<strong>de</strong>senvolvidos, tais como a Briga<strong>da</strong> Báltica 106 , envolvendo Estônia, Lituânia<strong>da</strong>queles três países, para reforçar a UNPROFOR. Na época, a missão <strong>da</strong> ONU estavaenfrentando séri<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para cumprir seu man<strong>da</strong>to e proteger seus integrantes,<strong>da</strong><strong>da</strong> a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> situação no terreno. A FRR atuaria sob <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns do comando <strong>da</strong>UNPROFOR, diferentemente d<strong>as</strong> ações realizad<strong>as</strong> por forç<strong>as</strong> multinacionais. O CSNUaceitou a oferta por meio <strong>da</strong> Resolução nº 998(1995), <strong>de</strong> 16/6/95. A Força colaborou comos esforços <strong>de</strong> reabertura d<strong>as</strong> estrad<strong>as</strong> <strong>de</strong> acesso a Sarajevo. Em fins <strong>de</strong> 1995, com a<strong>as</strong>sinatura do acordo <strong>de</strong> Dayton, os efetivos <strong>da</strong> RRF foram incorporados à IFOR. Paramaiores informações, ver o livro Le droit d’ingérence, <strong>de</strong> Mario Bettati, pp. 184-185, apublicação The Blue Helmets d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, pp. 558-559.104Urquhart, (1993), p. 102 , Urquhart, (1994), p. 28 e Roberts, (1995), pp. 52-55. AForça proposta por Urquhart, <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> cinco mil homens, seria recruta<strong>da</strong> à b<strong>as</strong>e dovoluntariado e manti<strong>da</strong> pela ONU ou outros países interessados a um custo estimado emUS$ 380 milhões/ano.105Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. A/49/886-S/1995/276. A Briga<strong>da</strong> proposta contaria comefetivos <strong>de</strong> dois a cinco mil homens, recrutados à b<strong>as</strong>e do voluntariado, a um custoestimado em US$ 300 milhões/ano.106O acordo criando a Força foi celebrado em Visby, na Dinamarca, em julho <strong>de</strong> 1994. Oobjetivo é estabelecer uma força <strong>de</strong> pronto emprego comum, sob o comando rotativo dostrês países bálticos. Busca-se também facilitar a integração <strong>de</strong>sses três países n<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong><strong>de</strong> cooperação européia no âmbito <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa. O projeto conta com a <strong>as</strong>sistência dos EUA,dos países nórdicos e <strong>de</strong> outros Estados europeus (Alemanha, França, Países Baixos eReino Unido). Carente <strong>de</strong> meios, qualquer emprego <strong>da</strong> Força Báltica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá<strong>de</strong> uma ação concerta<strong>da</strong> com a OTAN (a exemplo <strong>de</strong> sua participação na SFOR naBósnia-Herzegovina) ou com a UEO.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 151e Letônia, e a Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> Comum dos Bálcãs 107 , envolvendo Albânia,Bulgária, Grécia, Itália, Macedônia, Romênia e Turquia, serão expost<strong>as</strong>no livro <strong>as</strong> principais iniciativ<strong>as</strong> que dizem respeito ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, permitindo,ao mesmo tempo, dimensionar esse esforço que vem sendo empreendido.O SISTEMA DE PRONTO EMPREGO DAS NAÇÕES UNIDASAs discussões relativ<strong>as</strong> à criação <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos n<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, inventariando os recursos humanos e materiais que osEstados membros estariam dispostos a ce<strong>de</strong>r à Organização, remontamao início dos anos 50. A Resolução 377(V) <strong>da</strong> AGNU, <strong>de</strong> 3/11/50,recomendou aos Estados membros que fizessem um levantamento <strong>de</strong>seus recursos para <strong>de</strong>terminar o auxílio que po<strong>de</strong>riam prestar ao CSNUou à AGNU na manutenção <strong>da</strong> paz e segurança internacionais e quemantivessem, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus territórios, elementos d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> armad<strong>as</strong>para fins <strong>de</strong> cessão às Nações Unid<strong>as</strong>. Com b<strong>as</strong>e nessa recomen<strong>da</strong>ção,o relatório do Comitê <strong>de</strong> Medid<strong>as</strong> Coletiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> 1951 instou os Estadosmembros não apen<strong>as</strong> a manterem, no seio <strong>de</strong> su<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> armad<strong>as</strong>,elementos treinados e equipados para prestar serviços à ONU, m<strong>as</strong>também a adotarem medid<strong>as</strong> legislativ<strong>as</strong> e administrativ<strong>as</strong> que facilitemuma ação coletiva imediata. Tal relatório foi endossado pela AGNUpor meio <strong>da</strong> Resolução 503 A e B(VI), em 12/1/52. 108107O acordo criando a Força foi <strong>as</strong>sinado em Skopje, na Macedônia, em setembro <strong>de</strong>1998. O objetivo é compor uma Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> até 4000 homens, cujos componentes seriamdistribuídos entre os membros, em b<strong>as</strong>es rotativ<strong>as</strong>. Embora tenha como principal meta<strong>as</strong>segurar a paz regional por meio <strong>de</strong> ações na área <strong>de</strong> peacekeeping, peacemaking eemergênci<strong>as</strong> humanitári<strong>as</strong>, a Força po<strong>de</strong>ria teoricamente ser aloca<strong>da</strong> para qualquer partedo mundo, sempre atuando em parceira com a OTAN ou a UEO com b<strong>as</strong>e em man<strong>da</strong>to <strong>da</strong>ONU e <strong>da</strong> OCSE. Dos sete membros <strong>da</strong> Força, três são <strong>da</strong> OTAN (Itália, Grécia eTurquia) e quatro participam do programa “Parceria para a <strong>Paz</strong>” <strong>da</strong> OTAN (Albânia,Bulgária, Macedônia e Romênia) — todos, aliás, candi<strong>da</strong>tos a ingressarem no Tratado doAtlântico Norte. Os Estados Unidos e a Eslovênia são membros observadores. Em suma,a Força atua como elemento separado, m<strong>as</strong> não-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> OTAN.108Para maiores informações, ver Nações Unid<strong>as</strong>, (1951), doc. Yearbook of the UnitedNations — 1951, pp. 182-189.


152 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURANo mesmo sentido, o Secretário <strong>de</strong> Estado dos Estados Unidos,John Foster Dulles, enviou correspondência, em 18/11/58, aoSecretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, Dag Hammarskjöld, na qual<strong>as</strong>sinalou que “<strong>as</strong> you know the United States (...) h<strong>as</strong> a strong interestin the early establishment of standby arrangements for the UnitedNations Peace Force”, <strong>as</strong>sumindo o compromisso <strong>de</strong> engajar os EUAno <strong>de</strong>bate sobre o <strong>as</strong>sunto “with a view to <strong>de</strong>termining the termsand circumstances un<strong>de</strong>r which Member States would makeavailable personnel or material for UN field missions” 109 . Ess<strong>as</strong>iniciativ<strong>as</strong> não prosperaram em razão <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> custeio epolític<strong>as</strong>, relacionad<strong>as</strong> com o receio dos Estados membros <strong>de</strong> colocaremà disposição <strong>de</strong> uma organização internacional, sem um controle efetivo,homens e equipamentos.No entanto, o <strong>de</strong>bate ganhou nova dinâmica em 1992 com orelatório “Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>” do Secretário-Geral Boutros-Ghali. No relatório, recordou que poucos países haviam respondidoà consulta formula<strong>da</strong> em 1990 sobre a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursoshumanos e equipamentos para cessão e realçou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>que o exercício fosse renovado diante d<strong>as</strong> crescentes <strong>de</strong>mand<strong>as</strong>enfrentad<strong>as</strong> pela Organização na área d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz. Em oposição ao conceito <strong>de</strong> Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> Pronto Emprego(Stand-by Forces) empregado em 1990, que implicava a cessãoincondicional <strong>de</strong> pessoal e material às Nações Unid<strong>as</strong>, o relatóriousou a expressão sistema <strong>de</strong> pronto emprego (stand-byarrangements), sem contudo trabalhar o alcance do novo conceito:“Stand-by Arrangements should be confirmed, <strong>as</strong> appropriate,through exchanges of letters between the Secretariat and MemberStates concerning the kind and number of skilled personnel theywill be prepared to offer the United Nations <strong>as</strong> the needs of thenew operations arise” 110 .109Roberts, (1995), pp. 50-51.110Nações Unid<strong>as</strong>, (1992), doc. A/47/277-S/24111, parágrafo 51.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 153O DPKO convocou, no início <strong>de</strong> 1993, uma equipe <strong>de</strong>especialist<strong>as</strong>, integra<strong>da</strong> por sete militares, para <strong>de</strong>senvolver umamo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pronto emprego que fosse aceitável pelos Estadosmembros <strong>da</strong> Organização. Devi<strong>da</strong>mente autorizados pelo Secretariado<strong>da</strong> ONU e pela própria AGNU, por intermédio <strong>da</strong> Resolução 48/42,<strong>de</strong> 10/12/93, os membros <strong>da</strong> equipe fizeram exposições sobre o <strong>as</strong>suntonos países interessados, <strong>de</strong>ntre os quais o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>.O sistema b<strong>as</strong>eia-se em comprometimento condicional dosEstados membros com recursos específicos que po<strong>de</strong>riam sercolocados à disposição <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> em <strong>de</strong>terminado lapso <strong>de</strong> tempo, algo que difere <strong>da</strong>idéia d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> pronto emprego (stand-by forces) do início dosanos 90: “(Stand-by Forces) prerequisite is <strong>de</strong>fined <strong>as</strong> anunconditional political commitement of earmarked resources byMember States into the UN Stand-by Forces pool; where<strong>as</strong> theStand-by Arrangements System is b<strong>as</strong>ed on conditional pledges byMember States to contribute specific resources with agreed responsetime into the system” 111 . O sistema permite ao Secretariado inventariaros recursos humanos e materiais <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria, em princípio, disporpara compor operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, planejar a composiçãoe <strong>as</strong>pectos logísticos <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> heterogêne<strong>as</strong> e ganhar maior agili<strong>da</strong><strong>de</strong>no seu <strong>de</strong>sdobramento. Em contraparti<strong>da</strong>, os Estados membros retêmo po<strong>de</strong>r soberano <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir se participarão, ou não, <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>operação. Os recursos acor<strong>da</strong>dos permanecem no território e seuemprego ocorre apen<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, comman<strong>da</strong>to do CSNU, aprovado sob a égi<strong>de</strong> do Capítulo VI <strong>da</strong> Carta.Por ess<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>, o sistema <strong>de</strong> pronto emprego p<strong>as</strong>sou a seramplamente aceito pelos Estados membros, ao contrário d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>anteriores para aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>no campo d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.111Nações Unid<strong>as</strong>, (1997), doc. Annual Up<strong>da</strong>te Briefing to Member States on Stand-byArrangemenst - May, 1997, p. 1, parágrafo 4.


154 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAOs países a<strong>de</strong>rem voluntariamente ao sistema em quatro f<strong>as</strong>esprogressiv<strong>as</strong>: (1) expressam sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar do sistema; (2)apresentam lista genérica <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participação; (3) preenchem oformulário intitulado planning <strong>da</strong>ta sheet, no qual são especificad<strong>as</strong> <strong>as</strong>quantificações volumétric<strong>as</strong> do material cad<strong>as</strong>trado; e (4) <strong>as</strong>sinammemorando <strong>de</strong> entendimento com a ONU. O cumprimento d<strong>as</strong> diferentesf<strong>as</strong>es pelos Estados membros, à exceção <strong>da</strong> manifestação <strong>de</strong> interesse,era <strong>de</strong> difícil concretização <strong>de</strong>vido aos <strong>as</strong>pectos orçamentários e legaispróprios <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> país, tais como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consulta prévia aoLegislativo e aprovação <strong>de</strong> recursos financeiros. Essa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> eraexacerba<strong>da</strong> pelos reduzidos prazos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramento exigidos peloSecretariado, que, em 1993, variavam <strong>de</strong> 7 a no máximo 30 di<strong>as</strong>, conformeo tipo <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como resultado <strong>da</strong> experiência angaria<strong>da</strong> pelo DPKOna implementação do sistema <strong>de</strong> pronto emprego, reconheceu-se que osistema só ganharia universali<strong>da</strong><strong>de</strong> com a ampliação dos prazos <strong>de</strong><strong>de</strong>sdobramento e com uma maior flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do DPKO quanto à aceitaçãod<strong>as</strong> contribuições oferecid<strong>as</strong> (infantaria, logística, saú<strong>de</strong>, serviços <strong>de</strong>transporte etc.). Atualmente, o DPKO divi<strong>de</strong> os recursos oferecidos, <strong>de</strong>acordo com os prazos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramento, em quatro grupos: até 30 di<strong>as</strong>;<strong>de</strong> 30 a 60 di<strong>as</strong>; <strong>de</strong> 60 a 90 di<strong>as</strong> e mais <strong>de</strong> 90 di<strong>as</strong>.Essa evolução fez com que, em 1/7/99, 85 países já tivessemexpressado interesse em participar do sistema. Desse total, 24manifestaram somente sua disposição em a<strong>de</strong>rir ao Stand-by, 26 tinhamfornecido a chama<strong>da</strong> lista <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s (inclusive o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>), 11 tinhamindicado <strong>as</strong> quantificações volumétric<strong>as</strong> e 24 tinham <strong>as</strong>sinado omemorando <strong>de</strong> entendimento 112 . Na mesma <strong>da</strong>ta, os recursosoferecidos somavam 146.800 pesso<strong>as</strong>, 84.000 d<strong>as</strong> quaiscorrespondiam, à infantaria, 56.700 a equipes <strong>de</strong> apoio, 1.600 aobservadores militares, 2.050 a observadores policiais, e 2.450 a outr<strong>as</strong>112Os 24 países são: Alemanha, Áustria, Argentina, Bangla<strong>de</strong>sh, Bolívia, Cingapura,Dinamarca, Finlândia, França, Gana, Itália, Irlan<strong>da</strong>, Jordânia, Lituânia, Malásia, Nigéria,Nepal, Países Baixos, Quirguistão, Reino Unido, Romênia, Tunísia, Uruguai e Ucrânia.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 155categori<strong>as</strong> <strong>de</strong> pessoal. A flexibilização dos critérios reforçou o<strong>de</strong>sequilíbrio já esperado no leque <strong>de</strong> contribuições dos Estadosmembros, com gran<strong>de</strong>s ofert<strong>as</strong> na área <strong>de</strong> infantaria e carênci<strong>as</strong> emoutr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> estratégic<strong>as</strong>, mormente naqueles setores que exigem maiorespecialização e equipamentos, tais como serviços <strong>de</strong> comunicações,aportes <strong>de</strong> engenharia e transporte aéreo e marítimo. Quanto aos prazos<strong>de</strong> mobilização, consoante levantamento realizado pelo DPKO em1997, 41% dos recursos humanos e materiais oferecidos po<strong>de</strong>riamser <strong>de</strong>slocados em até 30 di<strong>as</strong>; 19%, num prazo <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> 30a 60 di<strong>as</strong>; 2%, <strong>de</strong> 60 a 90 di<strong>as</strong>; e 38%, em mais <strong>de</strong> 120 di<strong>as</strong>.Merece especial atenção a <strong>de</strong>claração presi<strong>de</strong>ncial do CSNU,emiti<strong>da</strong> em 14/7/97, na qual é solicitado que os Estados membrosforneçam policiais para o sistema <strong>de</strong> pronto emprego. O chefe doDPKO, Bernard Miyet, em recente Seminário sobre a participaçãodos policiais ness<strong>as</strong> operações salientou: “... Police is not just anappendix to peacekeeping operations, but rather an incre<strong>as</strong>inglycrucial tool for peace-building and institution-building” 113 . Ocomponente policial tornou-se, através dos anos, um dos principaiselementos d<strong>as</strong> operações conduzid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, já que aOrganização vem sendo insta<strong>da</strong> a participar <strong>de</strong> processos <strong>de</strong>restauração <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>da</strong> reconciliação nacional. No momento, <strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> têm três operações compost<strong>as</strong> em larga maioria ouqu<strong>as</strong>e que exclusivamente por policiais, com os seguinte contingentes:a IPTF que integra a UNMIBH na Bósnia-Herzegovina (2035policiais em março <strong>de</strong> 1999), a MIPONUH no Haiti (287 em março<strong>de</strong> 1999) e a UNAMET no Timor Leste (280 policiais em julho <strong>de</strong>1999).Na medi<strong>da</strong> em que os Estados membros estão geralmenteàs volt<strong>as</strong> com problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança pública, e que, ao contráriodos exércitos, <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> policiais não dispõem <strong>de</strong> reservist<strong>as</strong>, a113Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. PKO 69.


156 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcessão <strong>de</strong> policiais é sempre <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>. Outra variável inibidora eque afugenta potenciais contribuintes é o fato <strong>de</strong> que a Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>Policial do DPKO não está recebendo os recursos humanos efinanceiros necessários para respal<strong>da</strong>r o incremento <strong>da</strong> participação<strong>de</strong> policiais ness<strong>as</strong> operações. Não obstante ess<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s,po<strong>de</strong>-se estimar que, em meados <strong>de</strong> 1999, cerca <strong>de</strong> 2.700 policiaistenham sido cedidos por aproxima<strong>da</strong>mente 60 países, para servirem sete operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e uma missão civil, númerojá b<strong>as</strong>tante expressivo.No tocante ao aproveitamento do sistema <strong>de</strong> pronto emprego,os resultados ficaram muito aquém do esperado. De fato, <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong>na Bósnia-Herzegovina, em Ruan<strong>da</strong> e nos campos <strong>de</strong> refugiados noentão Zaire mostraram que a ONU po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>parar-se com umver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro cisma entre o man<strong>da</strong>to aprovado pelo CSNU e suacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizar efetivos militares, mesmo contando com obanco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Bósnia-Herzegovina, o Secretário-Geral, à luz <strong>da</strong>responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> atribuí<strong>da</strong> à UNPROFOR em 1993 para proteger <strong>as</strong>“seis áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança” (safe are<strong>as</strong>) estabelecid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Resoluções819(1993) e 824(1993), elaborou relatório em que arrola <strong>as</strong>necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> efetivos para cumprir a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente <strong>as</strong> nov<strong>as</strong>taref<strong>as</strong> 114 . Embora o Force Comman<strong>de</strong>r <strong>da</strong> UNPROFOR tivesserecomen<strong>da</strong>do a mobilização adicional <strong>de</strong> 34 mil homens, o SGNU<strong>as</strong>sinalou, no seu relatório divulgado em 14/6/93, que se po<strong>de</strong>ria iniciara proteção d<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança mediante a adoção <strong>de</strong> uma “opçãoleve” (light option) envolvendo a cessão <strong>de</strong> apen<strong>as</strong> mais 7.600 homens.114As seis áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>signad<strong>as</strong> como “áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> segurança” foram: Srebrenica (Res. 819/93),Bihac, Goraz<strong>de</strong>, Sarajevo, Tuzla e Zepa (Res. 824/93). O CSNU não <strong>de</strong>finiu claramenteo que era uma “área <strong>de</strong> segurança”, tornando <strong>de</strong>licado o exercício <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> regr<strong>as</strong><strong>de</strong> engajamento para <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> UNPROFOR. Mario Bettati, na página 231 <strong>de</strong> seu livroLe droit d’ingérence, consi<strong>de</strong>ra que a melhor <strong>de</strong>finição foi apresenta<strong>da</strong> pelo governofrancês: “zone encerclée, définie par un périmètre précis, où l’ai<strong>de</strong> humanitaire est <strong>as</strong>suréeet où l’on interdit toute agression”.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 157Em conseqüência, o CSNU autorizou o aumento <strong>da</strong> força <strong>da</strong>UNPROFOR nesse montante, por meio <strong>da</strong> Resolução 844 (1993), <strong>de</strong>18/6/93 115 . Apesar <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um número reduzido <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> (1/5do reforço recomen<strong>da</strong>do pela UNPROFOR) e <strong>da</strong> existência dos standbyarrangements — embora em f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção —, a ONU levoumais <strong>de</strong> um ano para obter trop<strong>as</strong> adicionais dos Estados membros 116 .Sobre Ruan<strong>da</strong>, <strong>as</strong> Resoluções 918 e 925, aprovad<strong>as</strong> em maioe junho <strong>de</strong> 1994, autorizaram o Secretário-Geral a enviar umcontingente militar <strong>de</strong> até 5.500 homens para reforçar a UNAMIR,m<strong>as</strong> conforme relatou Boutros-Ghali “... none of those Governmentspossessing the capacity to provi<strong>de</strong> fully trained and equippedmilitary units have offered so far to do so for the implementationof the Security Council’s resolutions to <strong>de</strong>al with the situation inRwan<strong>da</strong>” 117 . O banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> já contava comofert<strong>as</strong> totalizando 39.000 sol<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> infantaria. M<strong>as</strong> mesmo quandofinalmente foram oferecid<strong>as</strong> contribuições, est<strong>as</strong> estavam sujeit<strong>as</strong> acondicionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: “... while several Governments have respon<strong>de</strong>dpositively, their offers have been conditional” 118 . De qualquer forma,os potenciais países contribuintes <strong>de</strong> tropa apresentaram-se após osmeses trágicos <strong>de</strong> abril a agosto, período em que, segundo <strong>as</strong> estimativ<strong>as</strong><strong>da</strong> ONU, mais <strong>de</strong> 500.000 pesso<strong>as</strong> foram mort<strong>as</strong>.No que se refere ao então Zaire, o Secretariado <strong>da</strong> Organizaçãorecebeu, em fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1994, a incumbência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificarcursos <strong>de</strong> ação para <strong>de</strong>ter a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m que dominava os campos <strong>de</strong>115Nações Unid<strong>as</strong>, (1996), The Blue Helmets, pp. 525-526, e Murphy, (1996), pp. 206-207. O Relatório do SGNU consta do doc. S/25939, <strong>de</strong> 14/6/94.116Nações Unid<strong>as</strong>, (1997), doc. DPI/1851/Rev.4.117Nações Unid<strong>as</strong>, (1993), doc. S/1994/728. No estudo <strong>da</strong> OCDE intitulado Sol<strong>da</strong>ts à laRescousse é <strong>as</strong>sinalado que Gana chegou a oferecer trop<strong>as</strong>. A Res. n° 918 foi aprova<strong>da</strong> emmaio <strong>de</strong> 1994. Em meados <strong>de</strong> agosto havia apen<strong>as</strong> 1.624 homens no terreno. O total subiupara 4.270 somente em outubro. O período <strong>de</strong> maior violência esten<strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> maio aagosto <strong>de</strong> 1994.118Nações Unid<strong>as</strong>, (1994), doc. S/1994/923.


158 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURArefugiados ruan<strong>de</strong>nses situados no leste <strong>da</strong>quele país. Aventou apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma nova mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> operação <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a garantir a segurança e a distribuição <strong>da</strong>aju<strong>da</strong> humanitária naqueles campos. Obti<strong>da</strong> a anuência do Governo<strong>de</strong> Kinsh<strong>as</strong>a, estimou-se que uma força <strong>de</strong> até 5.000 homens serianecessária, m<strong>as</strong> o Secretário-Geral no seu relatório divulgado emjaneiro <strong>de</strong> 1995 <strong>as</strong>sinalou: “... I have consulted with about 60potential troop-contributing countries to <strong>as</strong>certain their readinessto make available the troops necessary to un<strong>de</strong>rtake such anoperation. As of 23 January, only one country had formally offere<strong>da</strong> unit. Un<strong>de</strong>r these circumstances, it is clear that the option of<strong>de</strong>ploying a peace-keeping force to address the security issues inthe refugee camps in Zaire is not fe<strong>as</strong>ible” 119 .Esses exemplos ilustram <strong>as</strong> limitações do sistema <strong>de</strong> prontoemprego. Para os Estados membros, o sistema tem a vantagem <strong>de</strong>garantir a prerrogativa soberana e discricionária dos governos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidirsobre a cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> em ca<strong>da</strong> operação específica. Oaprimoramento do sistema <strong>de</strong> pronto emprego po<strong>de</strong> ser visto atémesmo como solução intermediária entre os governos que <strong>de</strong>sejammanter o status quo e os que lançaram idéi<strong>as</strong> sobre a constituição <strong>de</strong>um exército permanente ou semipermanente, sob controle operacionale político d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Esta parece ser, inclusive, a melhor opçãopara se evitar, tanto quanto possível, <strong>de</strong>legar a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais a forç<strong>as</strong>multinacionais. É importante ter presente, por fim, que o total <strong>de</strong>participantes do sistema <strong>de</strong> pronto emprego não <strong>de</strong>verá ultrap<strong>as</strong>sar onúmero médio dos países — 70 a 90 — que já vêm normalmentetomando parte n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Para a ONU, contudo, o sistema precisaria ser aperfeiçoado,visto que, em última instância, su<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong> manutenção<strong>da</strong> paz ficam sujeit<strong>as</strong> às injunções polític<strong>as</strong> nacionais. Na medi<strong>da</strong> em119Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. S/1995/65, parágrafo 25; e Murphy, (1996), p. 60.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 159que os governos dificilmente abrirão mão do direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre oemprego <strong>de</strong> seus recursos militares ou aceitarão a criação <strong>de</strong> umexército “onusiano”, cresce a importância dos exercícios que vêm sendorealizados fora d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para aperfeiçoar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>reação rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Organização.QUARTEL-GENERAL DE MISSÃO RAPIDAMENTE DESDOBRÁVELEssa iniciativa, que foi proposta pelo Canadá em seu relatório<strong>de</strong> 1995 intitulado Towards a Rapid Reaction Capability for theUnited Nations, vem sendo <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> conjuntamente peloSecretariado <strong>da</strong> ONU e pelo Grupo “Amigos do DesdobramentoRápido” 120 . O Quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável(rapidly <strong>de</strong>ployable mission headquarters-RDMHQ) consiste em criarum grupo <strong>de</strong> oficiais apto a ser <strong>de</strong>slocado para o terreno imediatamenteapós a criação <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz pelo CSNU,a fim <strong>de</strong> organizar essa operação e comandá-la nos seus primeirosmeses. Isso evitaria o problema, verificado no p<strong>as</strong>sado, <strong>de</strong> contingentesmilitares e outros componentes <strong>da</strong> operação chegarem à área <strong>da</strong> missãoantes <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> comando estruturado.O núcleo do RDMHQ seria composto por oito funcionáriosdo DPKO, com <strong>de</strong>dicação exclusiva. Um grupo <strong>de</strong> oficiais préselecionado,<strong>de</strong>sempenhando outr<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no DPKO, ficaria emprontidão para <strong>as</strong>sistir a esse núcleo. Além disso, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, haveria um terceiro grupo <strong>de</strong> oficiais qualificados quepermaneceria nos seus países <strong>de</strong> origem em condições <strong>de</strong> ser convocadoem curto prazo. Não há ain<strong>da</strong> um número fixo para compor os escalões<strong>de</strong> apoio do RDMHQ, m<strong>as</strong> em 1998 se pensou em <strong>de</strong>terminar, alémdo núcleo básico <strong>de</strong> 8 oficiais permanentes, uma equipe <strong>de</strong> 29 oficiais120É um grupo informal composto por Estados Membros preocupados com oaprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz tempestivamente para o terreno. Reúne-se a nível ministerial, à margem <strong>da</strong> AGNU,durante o <strong>de</strong>bate geral anual.


160 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAque trabalhariam no DPKO e uma outra <strong>de</strong> 24 oficiais que ficariamsediados nos países <strong>de</strong> origem. O total <strong>de</strong> pessoal envolvido na iniciativ<strong>as</strong>eria <strong>de</strong> 61 voluntários.O SGNU estabeleceu o RDMHQ, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1995, aoabrigo <strong>da</strong> Resolução nº 50/30, que insta o Secretariado a adotarprovidênci<strong>as</strong> para aprimorar o DPKO. Na medi<strong>da</strong> em que o RDMHQnão estava explicitamente citado no texto, a resolução não aprovou aalocação <strong>de</strong> recursos financeiros para cobrir su<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong>operacionais, <strong>de</strong>ixando-o à mercê <strong>da</strong> coleta <strong>de</strong> fundos voluntários. Deacordo com informações prestad<strong>as</strong> pela Embaixa<strong>da</strong> do Canadá emBr<strong>as</strong>ília em 1999, os recursos angariados ain<strong>da</strong> são insuficientes paraconsoli<strong>da</strong>r a iniciativa <strong>de</strong> criação do Quartel-General. Tal situação viu-seagrava<strong>da</strong> com a repatriação dos oficiais cedidos gratuitamente aoDPKO pelos Estados membros em fevereiro <strong>de</strong> 1999, pois oSecretariado não conseguiu contratar substitutos civis no número<strong>de</strong>sejado. Isso <strong>de</strong>verá atr<strong>as</strong>ar a constituição do núcleo e <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong>apoio que ficariam sediados no DPKO, níveis essenciais para garantira operacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do RDMHQ.Cumpre esclarecer que essa iniciativa não guar<strong>da</strong> qualquersemelhança com o Military Staff Committee, a Comissão <strong>de</strong> Estado-Maior, que, como vimos no capítulo I, teve sua criação prevista peloartigo 47 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para operar como estadomaiorn<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz previst<strong>as</strong> no capítulo VII<strong>da</strong>quele instrumento. A utili<strong>da</strong><strong>de</strong> do RDMHQ, c<strong>as</strong>o venha a prosperar,será <strong>de</strong> dotar o DPKO com um núcleo qualificado <strong>de</strong> comando eplanejamento apto a atuar n<strong>as</strong> intervenções aprovad<strong>as</strong> pelo Conselho<strong>de</strong> Segurança ao amparo do capítulo VI e, mesmo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong>evolução d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz, ao abrigo do capítulo VII. A ausência<strong>de</strong> um estado-maior profissional vem sendo supri<strong>da</strong> precariamente nomomento pelos militares servindo no DPKO. Isso dificulta a ação militard<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e transfere aos coman<strong>da</strong>ntes dos componentesarmados d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz a tarefa <strong>de</strong> adotar providênci<strong>as</strong>


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 161administrativ<strong>as</strong>, legais e operacionais que, por não serem tomad<strong>as</strong>previamente, acabam dificultando o <strong>de</strong>sdobramento d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> para opaís anfitrião.BRIGADA DE PRONTO EMPREGOAs discussões sobre a criação <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Pronto Emprego(Stand-by Forces High Readiness Briga<strong>de</strong>-SHIRBRIG) iniciaram-seem 1995, por iniciativa <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> doze Estados membros <strong>da</strong>ONU li<strong>de</strong>rados pela Dinamarca 121 . Seus trabalhos foram inspiradospela Declaração Presi<strong>de</strong>ncial do Conselho <strong>de</strong> Segurança, emiti<strong>da</strong> emfevereiro <strong>da</strong>quele ano, sobre o “Suplemento <strong>de</strong> Uma Agen<strong>da</strong> para a<strong>Paz</strong>” apresentado pelo Secretário-Geral <strong>da</strong> Organização em 3/1/95.Nesse pronunciamento, ao comentar a proposta <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> umaForça <strong>de</strong> Reação Rápi<strong>da</strong>, o Presi<strong>de</strong>nte do CSNU <strong>as</strong>sinalou que oproblema <strong>de</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e material <strong>de</strong>veria serequacionado mediante o aperfeiçoamento do sistema dos stand-byarrangements.O grupo dos 12 i<strong>de</strong>alizou, em 1996, proposta <strong>de</strong> constituição<strong>de</strong> uma briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> 4.000 a 5.000 homens, que seria fraciona<strong>da</strong> emdivers<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s multinacionais para po<strong>de</strong>r atuar <strong>de</strong> forma integra<strong>da</strong>ou separa<strong>da</strong>, à luz d<strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Organização (contingentepolicial, serviços <strong>de</strong> logística, apoio médico e trop<strong>as</strong>, entre outroscomponentes). O emprego dos efetivos seria autorizado pelo Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU em cumprimento <strong>de</strong> man<strong>da</strong>tos aprovados pelo CSNUsob o Capítulo VI <strong>da</strong> Carta e estaria sujeito à anuência prévia dospaíses contribuintes. As forç<strong>as</strong> permaneceriam no território do Estadocontribuinte, seriam a<strong>de</strong>strad<strong>as</strong> com b<strong>as</strong>e nos mesmos métodos eprocedimentos disciplinares e teriam <strong>de</strong> usar equipamentos compatíveis.Todos os elementos <strong>da</strong> briga<strong>da</strong> <strong>de</strong>veriam ser capazes <strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocar121Os doze países eram: Áustria, Argentina, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia,Noruega, Países Baixos, Polônia, República Tcheca e Suécia.


162 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApara a área operacional num prazo <strong>de</strong> 15 a 30 di<strong>as</strong>, a contar <strong>da</strong>requisição. Seus componentes po<strong>de</strong>riam permanecer, no máximo, 6meses no terreno, proporcionando tempo para o Secretariado organizara<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente a montagem e o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. O país interessado financiaria sua participação naSHIRBRIG.Em reunião informativa realiza<strong>da</strong> em Ottawa sobre aSHIRBRIG, em 29/1/98, o Coronel sueco Jan-Erik Jacobson, Chefedo Estado-Maior <strong>da</strong> SHIRBRIG, salientou que, entre outr<strong>as</strong> met<strong>as</strong>, osi<strong>de</strong>alizadores <strong>da</strong> iniciativa procuravam alcançar maior universali<strong>da</strong><strong>de</strong>na composição <strong>de</strong> seus efetivos (provavelmente para evitar oscomentários <strong>de</strong> que estaria havendo uma “elitização” na participaçãoem operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU), bem como buscavamaportes em setores <strong>de</strong> maior especialização, particularmente nos campos<strong>de</strong> engenharia, logística e transporte, para evitar os <strong>de</strong>sequilíbriosverificados n<strong>as</strong> contribuições constantes do sistema <strong>de</strong> pronto emprego.De acordo com o Coronel Jacobson, 66 países já haviam manifestadointeresse em conhecer o funcionamento <strong>da</strong> SHIRBRIG ou a intenção<strong>de</strong> integrar a iniciativa.Não resta dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que o objetivo <strong>da</strong> SHIRBRIG é justificável:o aperfeiçoamento, em caráter complementar, do sistema <strong>de</strong> prontoemprego. O Movimento Não-Alinhado, porém, tem expressadopreocupação com a promoção <strong>da</strong> iniciativa, por consi<strong>de</strong>rá-la o possívelembrião <strong>de</strong> uma eventual “Briga<strong>da</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>” 122 . O MNAalega que nem todo membro <strong>da</strong> SHIRBRIG é membro do sistema <strong>de</strong>pronto emprego e que seu <strong>de</strong>senvolvimento escapa à competência <strong>da</strong>ONU. Na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>mais, que, no futuro, além <strong>de</strong> atuar ao amparodo capítulo VI, a briga<strong>da</strong> venha a envolver-se em operações aprovad<strong>as</strong>sob a égi<strong>de</strong> do capítulo VII. A SHIRBRIG foi formalmente instala<strong>da</strong>122Comunicado Final d<strong>as</strong> reuniões <strong>de</strong> cúpula do MNA em Cartagena, em 1995, e emDurban, em 1998, bem como os documentos GA/PK/150 e GA/PK/152 emitidos peloSecretariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em 1998.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 163em Copenhague, em 1998, e <strong>de</strong>verá tornar-se operacional em 1999.Cabe, agora, aos Estados membros <strong>da</strong> Organização exercer algumtipo <strong>de</strong> controle, para evitar abusos, m<strong>as</strong> sem inviabilizar a consoli<strong>da</strong>çãodo projeto.FORÇA IBERO-AMERICANA DE PAZEm setembro <strong>de</strong> 1997, a imprensa argentina divulgou notícia, àépoca confi<strong>de</strong>ncial, <strong>de</strong> que a Espanha estaria propondo a criação <strong>de</strong>uma “Força Ibero-Americana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>”. Conforme apurado, o <strong>as</strong>suntoteria sido objeto <strong>de</strong> son<strong>da</strong>gem preliminar junto à Chancelaria argentinaem julho <strong>da</strong>quele ano, a fim <strong>de</strong> prevenir eventuais suscetibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s emrelação ao projeto do Governo Menem <strong>de</strong> criação dos “capacetesbrancos” 123 . Com o vazamento <strong>da</strong> informação, a Chancelaria espanhola<strong>de</strong>cidiu oficializar a proposta junto às Chancelari<strong>as</strong> dos <strong>de</strong>mais paísesibero-americanos.A proposta espanhola seria um esforço para melhorar acapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> maneira rápi<strong>da</strong> eeficaz, a nov<strong>as</strong> situações <strong>de</strong> conflito. A Força, a ser construí<strong>da</strong> noquadro do sistema <strong>de</strong> pronto emprego, consistiria em uma briga<strong>da</strong>integra<strong>da</strong> por uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos países <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Ibero-Americanaque <strong>de</strong>la <strong>de</strong>sej<strong>as</strong>sem participar e contaria com uma célula <strong>de</strong> comandoe planejamento permanentes. Seria coloca<strong>da</strong> à disposição doSecretário-Geral <strong>da</strong> ONU para colaborar na composição <strong>de</strong>123Os “capacetes brancos” são uma iniciativa lança<strong>da</strong> em 1993 pelo Presi<strong>de</strong>nte CarlosMenem, <strong>da</strong> Argentina, <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um corpo internacional <strong>de</strong> voluntários para atuar naluta contra a fome e a pobreza, expandido, subseqüentemente, para abranger a prestação<strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência humanitária e <strong>de</strong> cooperação técnica para o <strong>de</strong>senvolvimento. A AGNUtem aprovado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, resoluções bienais sobre o <strong>as</strong>sunto. No entanto, a iniciativacarece <strong>de</strong> um maior engajamento operacional por parte dos <strong>de</strong>mais Estados membros,<strong>de</strong>vido à existência <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação na ONU (como a dos Voluntáriosd<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>), à priori<strong>da</strong><strong>de</strong> atribuí<strong>da</strong> pelos países a seus canais bilaterais <strong>de</strong><strong>as</strong>sistência e, mesmo, à <strong>as</strong>sociação <strong>da</strong> proposta a uma campanha argentina para projetara imagem <strong>de</strong> seu primeiro man<strong>da</strong>tário.


164 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAoperações aprovad<strong>as</strong> ao amparo do Capítulo VI <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>. Os países participantes manteriam sua prerrogativ<strong>as</strong>oberana <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre a cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> em ca<strong>da</strong> missãoespecífica. Os jornais argentinos divulgaram que a expectativa d<strong>as</strong>autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s espanhol<strong>as</strong> era <strong>de</strong> que a Força pu<strong>de</strong>sse ser compostapor até quatro mil homens.A iniciativa não encontrou, aparentemente, muito eco nacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Ibero-Americana. No entanto, o Uruguai chegou aintroduzir, quando exercia a presidência pro-tempore do MercadoComum do Sul (MERCOSUL), a idéia <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> uma “ForçaIbero-Americana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” na V Reunião do Mecanismo <strong>de</strong> Consulta eConcertação Política, realiza<strong>da</strong> em Buenos Aires, em 4/2/98. Ficouconsigna<strong>da</strong>, no parágrafo IV <strong>da</strong> Ata <strong>da</strong> reunião, a seguinte referência àiniciativa espanhola:“La Delegación Uruguaya se refirió a la iniciativa <strong>de</strong> Españapara establecer una Fuerza Iberoamericana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>. Señaló queese país informará sobre los <strong>as</strong>pectos organizativos <strong>de</strong> un seminariopara <strong>de</strong>terminar los alcances <strong>de</strong> la propuesta. Agregó que elUruguay ofreció ser se<strong>de</strong> <strong>de</strong>l mismo, aunque sin pronunciarse sobreel fondo <strong>de</strong> la cuestión”.Na medi<strong>da</strong> em que a proposta inicial não havia contado com oapoio esperado, a idéia <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> uma Força <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>de</strong> prontoemprego parece estar sendo revista pela Espanha. Não houve clim<strong>as</strong>equer para a realização do projetado seminário. O Governo espanhol<strong>de</strong>verá provavelmente adotar postura mais discreta sobre a matéria,visando talvez diluir a iniciativa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um amplo programa <strong>de</strong>cooperação na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, <strong>de</strong> forma a torná-la mais aceitável.Atribui-se ao vazamento à imprensa e à maneira apressa<strong>da</strong> <strong>de</strong> suadivulgação boa parte d<strong>as</strong> reserv<strong>as</strong> levantad<strong>as</strong> pelos países iberoamericanoscontra a proposta espanhola em 1997-98.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 165FORÇA LUSÓFONA DE PAZO Governo português, por meio do seu então Ministro <strong>da</strong>Defesa Nacional, Antônio Vitorino, chegou a aventar, em 1997, apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compor, com os países africanos <strong>de</strong> língua oficialportuguesa (PALOPs), uma “Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>”. A iniciativa,que não prosperou, teria por objetivo o oferecimento, sobcoor<strong>de</strong>nação portuguesa, <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> dos países lusófonos paraparticipação conjunta em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>.O <strong>as</strong>sunto veio ao conhecimento do Itamaraty por intermédio<strong>de</strong> convite formulado ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> pelo Governo moçambicano paraparticipar, em Maputo, em 16 e 17/9/97, do encontro preparatóriopara elaborar a agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma suposta I Reunião dos Ministros <strong>da</strong>Defesa <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Países <strong>de</strong> Língua Portuguesa (CPLP) 124 .Durante o encontro, a <strong>de</strong>legação portuguesa manifestou certa surpresapela presença br<strong>as</strong>ileira, já que, no seu entendimento, se tratava <strong>de</strong>um encontro preparatório envolvendo apen<strong>as</strong> os Ministérios <strong>da</strong>Defesa <strong>de</strong> Portugal e dos PALOPs, e não iniciativa adota<strong>da</strong> no quadro<strong>da</strong> CPLP. O Chefe <strong>da</strong> Delegação <strong>de</strong> Moçambique <strong>de</strong>ixoutransparecer que seu Governo havia convi<strong>da</strong>do o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> justamenteno intuito <strong>de</strong> enquadrar essa iniciativa <strong>de</strong> cooperação na área <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa, no contexto <strong>da</strong> CPLP, em que prevalece a obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong>do consenso no processo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Tal atitu<strong>de</strong> refletiaa preferência <strong>de</strong> Moçambique e <strong>de</strong>mais PALOPs por esquema <strong>de</strong>cooperação em que Portugal, antiga metrópole e maior provedora<strong>de</strong> recursos, não exercesse uma <strong>as</strong>cendência exclusiva nesseexercício. Ao final ficou acertado que o Governo português convi<strong>da</strong>riao Governo br<strong>as</strong>ileiro para participar, como observador, <strong>da</strong> I Reunião124A CPLP foi constituí<strong>da</strong> durante uma Reunião <strong>de</strong> Cúpula realiza<strong>da</strong> em Lisboa em 17/7/96. A Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é composta pelos seguintes países: Angola, <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, Cabo Ver<strong>de</strong>, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Princípe. No futuro, Timor Leste po<strong>de</strong>rápleitear seu ingresso na Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ao se tornar um país in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.


166 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAdos Ministros <strong>da</strong> Defesa <strong>de</strong> Portugal e dos PALOPs, que se realizouem Lisboa <strong>de</strong> 19 a 22/7/98, fora do âmbito <strong>da</strong> CPLP.Nessa reunião, não se tratou <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong>uma “Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>”, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> do oferecimento <strong>de</strong>preparação e treino <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares nos PALOPs para aatuação em operações humanitári<strong>as</strong> e <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, sob aégi<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU ou <strong>de</strong> mecanismos regionais, sem menção a exercícioscombinados, elemento indispensável à constituição <strong>de</strong> uma ForçaMultinacional <strong>de</strong> pronto emprego. Dad<strong>as</strong> <strong>as</strong> característic<strong>as</strong><strong>de</strong>sejad<strong>as</strong>, ess<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais, ao envolverem componentes<strong>de</strong> diferentes países participantes (infantaria, logística, saú<strong>de</strong>,comunicações, entre outros elementos), exigem uma integraçãomilitar afina<strong>da</strong> para po<strong>de</strong>rem ser <strong>de</strong>sdobrad<strong>as</strong> operacionalmenteem curto prazo, algo que se busca obter por intermédio <strong>da</strong>promoção <strong>de</strong> exercícios combinados periódicos. A títulocomparativo, n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, o DPKO não promove exercícios<strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento no terreno, m<strong>as</strong> funciona como um centropermanente <strong>de</strong> mobilização e <strong>de</strong> acompanhamento dos contingentescedidos, <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> manuais <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento e <strong>de</strong> padronização<strong>de</strong> equipamentos, buscando obviar <strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> combinarefetivos heterogêneos em matéria <strong>de</strong> idioma, disciplina e prátic<strong>as</strong>militares. Tais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são <strong>de</strong> elevado custo operacional e exigemquadros especializados.Ess<strong>as</strong> condicionantes certamente influenciaram o Governoportuguês no sentido <strong>de</strong> evoluir <strong>de</strong> uma montagem <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong>pronto emprego estrutura<strong>da</strong>, advoga<strong>da</strong> pelo Ministro <strong>da</strong> Defesa em1997, para uma linha menos ambiciosa <strong>de</strong> oferecimento <strong>de</strong> treinamentoe outr<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência militar para capacitar os paísesafricanos a participar <strong>de</strong> operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, nos mol<strong>de</strong>sd<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> que estão sendo implementad<strong>as</strong> pelos Estados Unidos,França e Reino Unido, que serão tratad<strong>as</strong> com mais profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> n<strong>as</strong>págin<strong>as</strong> 182 a 189 <strong>de</strong>ste capítulo.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 167Nessa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> idéi<strong>as</strong>, os PALOPs e Portugal <strong>as</strong>sinaram,durante a II Reunião dos Ministros <strong>da</strong> Defesa, realiza<strong>da</strong> em Praia, em24 e 25/5/99, acordo pelo qual <strong>as</strong>sumem o compromisso <strong>de</strong> aperfeiçoara moldura institucional no campo militar. Entre outr<strong>as</strong> providênci<strong>as</strong>, osMinistros propuseram-se a estabelecer um Secretariado Permanentepara <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa com se<strong>de</strong> em Lisboa e a estreitar orelacionamento entre seus setores militares com b<strong>as</strong>e no documentointitulado “Globalização <strong>da</strong> Cooperação Técnico-Militar”. No mesmoevento, que contou com a presença do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> como observador, osintegrantes <strong>da</strong> <strong>de</strong>legação portuguesa manifestaram a importância <strong>de</strong> o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ser incorporado ao exercício. A Declaração Final, após registrar avonta<strong>de</strong> dos Ministros em ver a cooperação no domínio <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa evoluirpara o seio <strong>da</strong> CPLP, remete para <strong>de</strong>cisão futura, no âmbito <strong>da</strong> CPLP, acriação <strong>de</strong> uma Comissão Interestatal <strong>de</strong> Defesa. Essa postura pareceindicar a preocupação portuguesa em evitar questionamentos sobre suapolítica africana nessa área, sobretudo <strong>de</strong>pois d<strong>as</strong> crític<strong>as</strong> formulad<strong>as</strong> contraa atuação <strong>de</strong> Portugal na crise institucional guiné-bissauense em 1998.De fato, nessa crise vári<strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s african<strong>as</strong>, nota<strong>da</strong>mente<strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Econômica <strong>da</strong> África Oci<strong>de</strong>ntal (CEDEAO),manifestaram <strong>de</strong>sagrado com o comportamento <strong>de</strong> Portugal nos meios<strong>de</strong> comunicação, chegando a afirmar que o Governo <strong>de</strong> Lisboa estavausando a CPLP como instrumento <strong>de</strong> política externa portuguesa naÁfrica. A CPLP tinha <strong>as</strong>sumido, juntamente com a CEDEAO, papel<strong>de</strong> mediadora entre <strong>as</strong> partes em conflito em Guiné-Bissau. Essaorganização sub-regional acabou enviando, ao amparo <strong>da</strong> Resoluçãonº 1216(1998), <strong>de</strong> 21/12/98, força militar para aju<strong>da</strong>r a promover apacificação política <strong>da</strong>quele país.Tudo indica que foi af<strong>as</strong>ta<strong>da</strong>, pelo menos por enquanto, a idéia<strong>de</strong> se criar uma Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>. No entanto, ficou em aberto apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se introduzir uma dimensão militar na CPLP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quetal <strong>de</strong>senvolvimento — algo talvez não <strong>de</strong>sejável — venha a reunir oconsenso <strong>de</strong> todos seus membros, pois, conforme <strong>as</strong>sinalado, <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões


168 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAnaquele foro são adotad<strong>as</strong> consensualmente. De qualquer forma, na<strong>da</strong>impe<strong>de</strong> que Portugal venha a ressuscitar a proposta <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong>uma Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, se <strong>as</strong>sim o <strong>de</strong>man<strong>da</strong>rem <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>polític<strong>as</strong>, pois <strong>as</strong> du<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação não são exclu<strong>de</strong>ntes.COOPERAÇÃO COM ORGANISMOS REGIONAISO regionalismo encontrou guari<strong>da</strong> no or<strong>de</strong>namento jurídico d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> em 1945. A cooperação entre a ONU e os organismosregionais, ou, como consta <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, entre a ONUe os acordos e <strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais 125 , encontra-se disciplina<strong>da</strong> nosartigos 33, 36, 37, 48, 52, 53 e 54 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Oartigo 33 <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> ONU prevê o “recurso a enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou acordosregionais” como um dos meios <strong>de</strong> solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>.Mesmo que uma controvérsia esteja sendo trata<strong>da</strong> no âmbito regional,o CSNU po<strong>de</strong>rá “recomen<strong>da</strong>r procedimentos ou métodos <strong>de</strong> soluçãoapropriados” (art. 36,§1). Além disso, c<strong>as</strong>o <strong>as</strong> partes não consigamchegar a uma solução nessa esfera, “<strong>de</strong>verão submeter o litígio aoConselho <strong>de</strong> Segurança” (art. 37). Os Estados membros, portanto,reconhecem o CSNU como órgão máximo e <strong>de</strong> última instância paraquestões relativ<strong>as</strong> à paz e à segurança internacionais. Tal noção é extraí<strong>da</strong>do capítulo VIII <strong>da</strong> Carta, que trata especificamente <strong>de</strong> acordos eenti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais. Fica claro, pelo art. 52, que se <strong>de</strong>veria recorrer aorganismos regionais, “antes <strong>de</strong> <strong>as</strong> submeter (<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong>) ao125Nações Unid<strong>as</strong>, (1990), publicação intitula<strong>da</strong> Manuel sur le règlement pacifique <strong>de</strong>sdifférends entre Etats, pp. 87-88 e 103-104. Para facilitar o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> idéi<strong>as</strong>, oSecretariado pon<strong>de</strong>ra nesse manual que o termo “acordos regionais” <strong>de</strong>ve ser entendidocomo se referindo a tratados multilaterais nos quais os Estados Membros concor<strong>da</strong>m emcanalizar su<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> por meio dos mecanismos previstos naqueles instrumentos,sem, contudo, criarem instituições permanentes ou organismos regionais dotados <strong>de</strong>personali<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica própria. A expressão “enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais” visaria, por sua vez, aabranger <strong>as</strong> organizações regionais estabelecid<strong>as</strong> por tratados internacionais, <strong>de</strong> naturezapermanente, dotad<strong>as</strong> <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> jurídica própria e <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a tratar <strong>de</strong> <strong>as</strong>suntosrelativos à manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 169Conselho <strong>de</strong> Segurança”. Por sua vez, o art. 53,§1 proíbe que umaação coercitiva seja leva<strong>da</strong> a efeito por esses acordos ou enti<strong>da</strong><strong>de</strong>sregionais “sem a autorização do Conselho <strong>de</strong> Segurança”, salvo nosc<strong>as</strong>os previstos no artigo 51 sobre auto<strong>de</strong>fesa individual ou coletiva 126 .O artigo 54 estabelece, ain<strong>da</strong>, que to<strong>da</strong> ação <strong>de</strong> organismos regionaispara a manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais <strong>de</strong>ve sercomunica<strong>da</strong> ao CSNU. Ain<strong>da</strong> que apen<strong>as</strong> o CSNU possa <strong>de</strong>cidir oemprego <strong>da</strong> força como último recurso para manter ou restabelecer apaz e a segurança internacionais, essa ação coercitiva po<strong>de</strong>rá serexecuta<strong>da</strong> pelos Membros <strong>da</strong> ONU “diretamente e, por seu intermédio,nos organismos internacionais apropriados <strong>de</strong> que façam parte” (art.48,§2), por <strong>de</strong>terminação do próprio Conselho <strong>de</strong> Segurança. Fica,<strong>as</strong>sim, <strong>as</strong>segurado aos acordos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais ampla autonomiapara promover a solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> é limita<strong>da</strong> <strong>as</strong>ua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ação quanto à execução <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> coercitiv<strong>as</strong>, semo prévio consentimento do CSNU. Essa foi a fórmula encontra<strong>da</strong> paraconciliar a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> prevista na Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e aautonomia dos acordos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais. A ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong><strong>de</strong>finições <strong>de</strong>ixa, entretanto, margem a muit<strong>as</strong> interpretações.Com efeito, o então Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU, Boutros-Ghali,afirmou, no capítulo VII <strong>de</strong> seu relatório “Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>” 127 ,que não existia uma <strong>de</strong>finição precisa dos termos “acordos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s”regionais, fazendo com que “this allows useful flexibility forun<strong>de</strong>rtakings by a group of States to <strong>de</strong>al with a matter appropriatefor regional action which also could contribute to the maintenanceof international peace and security through <strong>as</strong>sociations orentities”. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, isso po<strong>de</strong>ria abarcar “treaty-b<strong>as</strong>edorganizations, security and <strong>de</strong>fence organizations, organizationsfor general regional <strong>de</strong>velopment or for economic cooperation,126Em tese, há ain<strong>da</strong> <strong>as</strong> exceções do art 107 e do art. 53,§1 in fine sobre ações contra os“Estados Inimigos”.127Nações Unid<strong>as</strong>, (1992), doc. A/47/277-S/24111, parágrafos 63-65.


170 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAand groups created to <strong>de</strong>al with specific political, economic or socialissues”. De qualquer modo, a supremacia d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> diante<strong>de</strong> outr<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e acordos regionais está <strong>as</strong>segura<strong>da</strong> pelo artigo103 <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> ONU.Nos anos 90, os principais órgãos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>reconheceram a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dinamizar <strong>as</strong> relações <strong>de</strong> cooperaçãoentre a Organização e <strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais. A AGNU aprovou, em9/12/91, a Resolução 46/58, na qual o Comitê Especial sobre a Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e sobre o Fortalecimento do Papel <strong>da</strong> Organizaçãofoi instruído a examinar meios para enriquecer a cooperação existente,ao mesmo tempo em que os Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo reunidosno Conselho <strong>de</strong> Segurança, em 31/1/92, aprovaram DeclaraçãoPresi<strong>de</strong>ncial instando o Secretário-Geral a verificar a contribuição queos organismos regionais po<strong>de</strong>riam aportar aos trabalhos do CSNU nocontexto do Capítulo VIII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.O CSNU aprovou, subseqüentemente, outr<strong>as</strong> <strong>de</strong>claraçõespresi<strong>de</strong>nciais sobre o <strong>as</strong>sunto, tais como a <strong>de</strong> 28/5/93, em que expressadisposição <strong>de</strong> apoiar e facilitar os esforços empreendidos no campod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz pel<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais; a <strong>de</strong>3/5/94, na qual é <strong>as</strong>sinalado que um dos fatores a serem levados emconsi<strong>de</strong>ração, quando <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, é a existência <strong>de</strong> uma organização regional ou sub-regional prontae capaz <strong>de</strong> colaborar para a solução <strong>de</strong> conflitos; e a <strong>de</strong> 22/2/95, queapóia a intenção do Secretário-Geral <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r <strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionaisa <strong>de</strong>senvolverem su<strong>as</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> prevenção<strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> paz e <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz. Por sua vez, a AGNU aprovou a Resolução 49/57, <strong>de</strong> 9/12/94, que inclui a Declaração sobre o Fortalecimento <strong>da</strong>Cooperação entre <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e os Acordos ou Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>sregionais voltados para a <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e SegurançaInternacionais, que estimula os acordos e <strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais acoor<strong>de</strong>narem-se com a ONU na promoção <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 171peacekeeping e a treinarem contigentes militares e civis para participar<strong>de</strong> missões <strong>de</strong> paz.Em 1993, o SGNU realizou, no contexto d<strong>as</strong> reações doCSNU às recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>, consulta junto a 16enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s globais, regionais ou sub-regionais, incluindo a Organizaçãodo Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União <strong>da</strong> Europa Oci<strong>de</strong>ntal(UEO), que estavam cooperando ou tinham manifestado interesse emcooperar com a ONU no campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e segurançainternacionais 128 . Três d<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s consultad<strong>as</strong> eram <strong>de</strong> composiçãoregional; oito, sub-regional; e cinco, globais. Desse total, 11 sãoatualmente membros observadores <strong>da</strong> Assembléia Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> — Comitê Jurídico Consultivo Afro-Asiático (AALCC),Organização <strong>de</strong> Segurança e Cooperação na Europa (OSCE),Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Estados In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (CEI), Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> doCaribe (CARICOM), Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Britânica (Commonwealth), UniãoEuropéia (UE), Organização dos Estados Americanos (OEA),Organização <strong>de</strong> Cooperação Econômica do Mar Negro (OCE), Ligados Estados Árabes (LEA), Organização <strong>da</strong> Conferência Islâmica(OCI) e Organização <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Africana (OUA).Os <strong>da</strong>dos levantados pela ONU nos seus contatos com osacordos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais fizeram com que o Secretário-Geral<strong>as</strong>sever<strong>as</strong>se, no seu “Suplemento <strong>de</strong> Uma Agen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>”, em janeiro<strong>de</strong> 1995, que “it would not be appropriate to try to establish auniversal mo<strong>de</strong>l for the relationship between the United Nationsand regional organizations <strong>as</strong> their capacity for peacemaking andpeace-keeping varied consi<strong>de</strong>rably” 129 . Com efeito, apen<strong>as</strong> um terçodos organismos consultados conta com mecanismos voltados para tratard<strong>as</strong> questões <strong>de</strong> paz e segurança, muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> quais se limitam, entretanto,a li<strong>da</strong>r com os <strong>as</strong>pectos <strong>da</strong> diplomacia preventiva e <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong>128Nações Unid<strong>as</strong>, (1993), doc. S/25184 (Declaração Presi<strong>de</strong>ncial do CSNU) e doc. S/25996 e add. 1 a 5. (Relatório do SGNU).129Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. A/50/60-S/1995/1, parágrafos 87-88.


172 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApaz. Há c<strong>as</strong>os em que os instrumentos constitutivos dos acordos e d<strong>as</strong>enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais, ao permitirem o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> paz,ve<strong>da</strong>m a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do recurso ao emprego último <strong>da</strong> força comomeio para li<strong>da</strong>r com países faltosos. Finalmente, <strong>as</strong> alianç<strong>as</strong> militares,como a OTAN, dispõem <strong>de</strong> eleva<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar dissu<strong>as</strong>ória.Da<strong>da</strong> a importância que o regionalismo vem <strong>as</strong>sumindo no campod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, convém resumir, na tabela a seguir, <strong>as</strong>respost<strong>as</strong> recebid<strong>as</strong> pelo Secretariado <strong>da</strong> Organização após a menciona<strong>da</strong>consulta <strong>de</strong> 1993, atualizando <strong>as</strong> informações com os <strong>da</strong>dos disponíveis. Atabela ilustra a gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos e arranjos regionais e subregionaisque têm atuado, nos últimos anos, no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 173TABELA Nº 5OS ORGANISMOS GLOBAIS, REGIONAIS E SUB-REGIONAISCONSULTADOS PELAS NAÇÕES UNIDAS130São os seguintes os países que participam do Tratado <strong>de</strong> Segurança Coletivo: Armênia,Belarus, Cazaquistão, Rússia, Tadjiquistão e Quirguízia. Em 1999, Azerbaijão, Geórgia eUzbequistão não renovaram o Tratado, sendo que Ucrânia , Moldávia e Turcomenistãojamais a<strong>de</strong>riram ao instrumento.


174 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA131São os seguintes os nove países interessados em ingressar na OTAN: Albânia, Eslovênia,Eslovâquia, Bulgária, Estônia, Lutuânia, Letônia, Macedônia e Romênia.


Fonte: DPKO e MRE.A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 175


176 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURANão consta <strong>da</strong> tabela d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> o “Órgão sobre Política,Defesa e Segurança” (OPDS) <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong>África Austral (SADC) 132 , por ter sido criado após a realização <strong>da</strong>consulta em 1993. Esse órgão foi estabelecido pela Cúpula <strong>de</strong> Gaborone,em junho <strong>de</strong> 1996, em Botsuana. Ele é composto <strong>de</strong> três níveis (Cúpula<strong>de</strong> Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo, Comitê <strong>de</strong> Ministros e Comitê sobrePolítica, Defesa e Segurança) e atua n<strong>as</strong> seguintes áre<strong>as</strong>: a) prevenção,administração e resolução <strong>de</strong> conflitos; b) promoção <strong>da</strong> paz, manutenção<strong>da</strong> paz e imposição <strong>da</strong> paz; c) cooperação para segurança e <strong>de</strong>fesa; e d)cooperação político-diplomática. Conta com a participação <strong>de</strong> paísescom experiência nesse campo, tais como Zimbábue, Zâmbia, Namíbia,e com a África do Sul, <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilização logísticae recursos financeiros.Embora simbolicamente o OPDS tenha-se reunido pelaprimeira vez em Luan<strong>da</strong>, em outubro <strong>de</strong> 1996, para gestionar emfavor <strong>da</strong> paz em Angola, a estrutura operacional do órgão não estavaain<strong>da</strong> estabeleci<strong>da</strong> em 1999 <strong>de</strong>vido às divergênci<strong>as</strong> que envolvemseus dois maiores parceiros: Zimbábue, que advoga ampla autonomia<strong>de</strong>cisória, e África do Sul, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> maior subordinação àsinstânci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> superiores. Esse imp<strong>as</strong>se fez com que seusmembros tivessem <strong>de</strong> reunir-se, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros órgãos <strong>da</strong>SADC ou mesmo fora <strong>de</strong>le, para discutirem a situação política vivi<strong>da</strong>pelos países <strong>da</strong> Organização.Não obstante essa <strong>de</strong>sarticulação momentânea, África do Sule Botsuana lograram mobilizar uma missão <strong>de</strong> paz, ao abrigo <strong>da</strong> SADC,para intervir no Reino do Lesoto entre setembro <strong>de</strong> 1998 e maio <strong>de</strong>1999, a fim <strong>de</strong> conter distúrbios que estavam ameaçando a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>institucional do Governo lesotano recém-eleito — trata-se do primeiro132A SADC foi cria<strong>da</strong> em 17/8/92, em reunião realiza<strong>da</strong> em Windhoek, na Namíbia. AComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é integra<strong>da</strong> por 14 Estados membros: África do Sul, Angola, Botsuana,Lesoto, Maurício, Malaui, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo,Suazilândia, Seicheles, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 177engajamento militar sul-africano na era pós-apartheid. Embora sejaver<strong>da</strong><strong>de</strong> que a guerra civil que <strong>as</strong>sola a República Democrática do Congo(RDC) esteja sendo trata<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> mediação pessoais,como <strong>as</strong> do Coronel Moammar Ga<strong>da</strong>fi, <strong>da</strong> Líbia, do Presi<strong>de</strong>nte BenjaminMkapa, <strong>da</strong> Tanzânia, e do Presi<strong>de</strong>nte Fre<strong>de</strong>rick Chiluba, <strong>da</strong> Zâmbia, aÁfrica <strong>de</strong> Sul já manifestou estar em condições <strong>de</strong> oferecer trop<strong>as</strong> paracompor uma força multinacional africana, que contaria com a presença<strong>de</strong> países membros e não-membros <strong>da</strong> SADC, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a implementaro acordo <strong>de</strong> paz celebrado em Lusaca, em 10/7/99, sobre a RDC 133 .Ess<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>, somad<strong>as</strong> aos exercícios militares que vêm realizandocom os países vizinhos — Blue Crane e Blue Hungwe (vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong>188 e 189 para maiores e por menores) — e à consoli<strong>da</strong>ção do regime<strong>de</strong>mocrático, com a eleição, sem distúrbios, <strong>de</strong> Thabo Mbeki par<strong>as</strong>ubstituir Nelson Man<strong>de</strong>la na presidência <strong>da</strong> África do Sul em junho <strong>de</strong>1999, sugerem que o Governo <strong>de</strong> Pretória vai per<strong>de</strong>ndo <strong>as</strong> inibiçõesiniciais e começa a <strong>as</strong>sumir responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais diret<strong>as</strong> nos <strong>as</strong>suntos<strong>de</strong> paz e segurança regionais.ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE E DAUNIÃO DA EUROPA OCIDENTALPor seus engajamentos nos <strong>as</strong>suntos afetos à manutenção <strong>da</strong>paz e <strong>da</strong> segurança internacionais, conviria tratar mais <strong>de</strong>ti<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 134 e mencionar,133O conflito na RDC <strong>as</strong>sumiu dimensão regional, com a participação <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> <strong>de</strong> pelomenos seis países (Angola, Cha<strong>de</strong>, Namíbia e Zimbábue, do lado do Governo <strong>de</strong> Kinsh<strong>as</strong>a,e Ruan<strong>da</strong> e Ugan<strong>da</strong>, do lado do movimento rebel<strong>de</strong>). Há ain<strong>da</strong> outros países africanosoferecendo apoio político, <strong>da</strong>ndo guari<strong>da</strong> às forç<strong>as</strong> em luta e autorizando o trânsito <strong>de</strong>arm<strong>as</strong> em seus territórios. Em 10/7/99, foi <strong>as</strong>sinado um acordo <strong>de</strong> paz entre os seis paísesdiretamente engajados no conflito. Contudo, os principais grupos rebel<strong>de</strong>s firmaram ocessar-fogo somente em 31/8/99, trazendo, <strong>as</strong>sim, uma esperança <strong>da</strong> paz para a RDC.134A OTAN é integra<strong>da</strong> por 19 Estados Membros: Bélgica, Canadá, Dinamarca, EstadosUnidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países-Baixos, Portugal, ReinoUnido, Grécia (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1952), Turquia (1952), Alemanha (1955), Espanha (1982), RepúblicaTcheca (1999), Hungria (1999) e Polônia (1999).


178 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAain<strong>da</strong> que brevemente, a União <strong>da</strong> Europa Oci<strong>de</strong>ntal (UEO) 135 , alianç<strong>as</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que estão atualizando seus conceitos estratégicos <strong>de</strong> emprego<strong>de</strong> forç<strong>as</strong>.Na OTAN, a reunião <strong>de</strong> Cúpula <strong>de</strong> Roma, <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>1991, aprovou um novo “conceito estratégico” (chamado AllianceStrategic Concept), para atualizar os objetivos <strong>da</strong> Organização diantedos acontecimentos político-militares marcantes <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong>.Nesse contexto, o novo conceito estratégico enfatizou, entre outros<strong>as</strong>pectos, <strong>as</strong> questões <strong>de</strong> “diplomacia preventiva e manejo bemsucedido<strong>de</strong> crises” 136 . O Conselho do Atlântico Norte adotouposteriormente du<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões significativ<strong>as</strong>: em 4/6/92, em Oslo, foiacor<strong>da</strong>do que a Organização po<strong>de</strong>ria participar, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisõestomad<strong>as</strong> c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio à paz (peace supportoperations) que viessem a ser promovid<strong>as</strong> pela Conferência <strong>de</strong>Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), hoje Organização <strong>de</strong>Segurança e Cooperação na Europa (OSCE); e, em 17/12/92, emBruxel<strong>as</strong>, foi adota<strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão equivalente para eventuais pedidos d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>. Na Declaração adota<strong>da</strong> na reunião <strong>de</strong> Cúpula <strong>da</strong>OTAN em Bruxel<strong>as</strong>, em janeiro <strong>de</strong> 1994, seus Estados membroscomprometeram-se a trabalhar com os países <strong>da</strong> Europa Oriental noâmbito do programa <strong>de</strong> parceria para a paz (partnership for peace) afim <strong>de</strong> habilitá-los a “operar com forç<strong>as</strong> <strong>da</strong> OTAN em campos comooperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> busca (search), resgate (rescue)e operações humanitári<strong>as</strong>”. Além disso, p<strong>as</strong>saram a celebrar program<strong>as</strong><strong>de</strong> cooperação com países situados fora do contexto europeu, como135A UEO é composta por <strong>de</strong>z Estados membros — membros <strong>da</strong> OTAN e <strong>da</strong> UE:Bélgica, França, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha,Portugal e Grécia —; três Estados-<strong>as</strong>sociados — membros <strong>da</strong> OTAN, m<strong>as</strong> não <strong>da</strong> UE:Islândia, Noruega e Turquia —; nove Partes-<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> — não-membros <strong>da</strong> OTAN, nem<strong>da</strong> UE: Bulgária, Estônia, Eslováquia, Letônia, Lituânia, Romênia, Hungria, Polônia eRepública Tcheca (estes três últimos países a<strong>de</strong>riram à OTAN em abril <strong>de</strong> 1999); e cincoEstados-observadores — membros <strong>da</strong> OTAN e/ou <strong>da</strong> UE: Áustria, Dinamarca, Finlândia,Irlan<strong>da</strong> e Suécia.136Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. A/50/571, parágrafo 36.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 179o que foi entabulado com os países do Mediterrâneo a partir <strong>de</strong> 1995,envolvendo exercícios militares com b<strong>as</strong>e em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz. Na prática, ess<strong>as</strong> <strong>de</strong>clarações, somad<strong>as</strong> à atitu<strong>de</strong> protagônica<strong>de</strong> seus Estados membros, ampliaram o leque <strong>de</strong> ações <strong>da</strong> chama<strong>da</strong>Aliança Atlântica, sem implicar emen<strong>da</strong> ao Tratado <strong>de</strong> W<strong>as</strong>hington <strong>de</strong>1949. De fato, <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, tendo como respaldosomente o novo conceito estratégico, iam muito além do originalmenteprevisto no artigo 5º do Tratado constitutivo, qual seja, a promoção <strong>da</strong>legítima <strong>de</strong>fesa coletiva contra qualquer agressão cometi<strong>da</strong> contra um<strong>de</strong> seus Estados membros 137 .As “reform<strong>as</strong> branc<strong>as</strong>” do Tratado, ao ampliarem <strong>as</strong>possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção <strong>da</strong> Aliança Atlântica, redun<strong>da</strong>ramigualmente em uma maior interação entre a OTAN, os organismosintergovernamentais e Estados não-membros, a fim <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar maiorflui<strong>de</strong>z <strong>de</strong> contato no manejo conjunto <strong>de</strong> crises regionais. O aumento<strong>de</strong>ssa cooperação é atestado pelos diversos exercícios militaresrealizados na área <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 1994 entre os membros <strong>da</strong> OTAN e seus parceiros para a paz <strong>da</strong>Europa Oriental, <strong>as</strong>sim como pela participação <strong>da</strong> OTAN, em conjuntocom a UEO, em operações <strong>de</strong> apoio à ONU na antiga Iugoslávia<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992.No entanto, a re<strong>de</strong>finição do papel <strong>da</strong> OTAN está sujeita aconflitos entre os interesses estratégico-políticos <strong>da</strong> Organização e os<strong>de</strong> Estados não-membros, ou quando <strong>as</strong> ações adotad<strong>as</strong> pela OTANforem incompatíveis com <strong>as</strong> obrigações <strong>as</strong>sumid<strong>as</strong> por seus Estadosmembros em outr<strong>as</strong> organizações intergovernamentais. Tal fonte <strong>de</strong>137O art. 5 reza: “Les parties conviennent qu’une attaque armée contre l’une ou plusieursd’entre elles survenant en Europe ou en Amérique du Nord sera considérée comme uneattaque dirigée contre toutes les parties, et en conséquence elles conviennent que, si unetelle attaque se produit, chacune d’elles, <strong>da</strong>ns l’exercice du droit <strong>de</strong> légitime défense,individuelle ou collective, reconnu par l’article 51 <strong>de</strong> la Charte <strong>de</strong>s Nations Unies, <strong>as</strong>sisterala partie ou les parties ainsi attaquées en prenant aussitôt, individuellement et d’accor<strong>da</strong>vec les autres parties, telle action qu’elle jugera nécessaire, y compris l’emploi <strong>de</strong> laforce armée, pour rétablir et <strong>as</strong>surer la sécurité <strong>da</strong>ns la région <strong>de</strong> l’Atlantique Nord.”


180 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAatritos ficou evi<strong>de</strong>nte em fevereiro <strong>de</strong> 1995, quando o então Secretário-Geral <strong>da</strong> OTAN, Willy Claes, comentou que a OTAN era mais do queum agente executor d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, <strong>de</strong>vendo, por isso, conservarto<strong>da</strong> a sua in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e <strong>de</strong> ação. Claes já imagina quepo<strong>de</strong>riam ocorrer situações no futuro n<strong>as</strong> quais a OTAN seria obriga<strong>da</strong>a agir por sua própria iniciativa, sem man<strong>da</strong>to d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Está implícita nessa afirmação uma tensão entre <strong>as</strong> ambições <strong>da</strong>Organização na era pós-Guerra Fria e <strong>as</strong> prerrogativ<strong>as</strong> do CSNU comoúnico órgão autorizado pela Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> a permitir oemprego, por parte <strong>de</strong> acordo ou enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais, do uso <strong>da</strong> forçan<strong>as</strong> relações internacionais, exceto nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa previstosno seu artigo 51. Essa tensão fica níti<strong>da</strong> à luz do artigo 7º do Tratadodo Atlântico Norte, pelo qual <strong>as</strong> ações <strong>da</strong> OTAN <strong>de</strong>vem coadunar-secom a Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> 138 .O ativismo <strong>da</strong> OTAN foi reforçado pel<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões adotad<strong>as</strong>pela Reunião <strong>de</strong> Cúpula <strong>de</strong> Madri, em julho <strong>de</strong> 1997, na qual se<strong>de</strong>terminou que fosse feita revisão do conceito estratégico <strong>de</strong> 1991“conforme necessário”, <strong>de</strong> modo a moldá-lo às reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do pós-Guerra Fria e às su<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> atribuições <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e controle<strong>de</strong> crises. Entre outros <strong>de</strong>sdobramentos, foi aprofun<strong>da</strong>do o conceito,endossado na Reunião <strong>de</strong> Cúpula <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994, <strong>de</strong> “Força TarefaConjunta Combina<strong>da</strong>” (Combined Joint T<strong>as</strong>k Force), que implica o<strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> uma força multinacional, <strong>da</strong> qual também po<strong>de</strong>riamparticipar países que não integram a OTAN, em operações <strong>de</strong> duraçãolimita<strong>da</strong> — cuj<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> po<strong>de</strong>riam incluir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aju<strong>da</strong> humanitária atéações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz — <strong>de</strong>ntro ou fora <strong>da</strong> região <strong>da</strong> AliançaAtlântica 139 . Ao mesmo tempo, levou adiante a idéia <strong>de</strong> admitir oingresso <strong>da</strong> Polônia, <strong>da</strong> República Tcheca e <strong>da</strong> Hungria na Organização,138O art. 7 reza: “Le présent Traité n’affecte p<strong>as</strong> et ne sera p<strong>as</strong> interprété commeaffectant en aucune façon les droits et obligations découlant <strong>de</strong> la Charte pour les partiesqui sont membres <strong>de</strong>s Nations Unies ou la responsabilité primordiale du Conseil <strong>de</strong>Sécurité <strong>da</strong>ns le maintien <strong>de</strong> la paix et <strong>de</strong> la sécurité internationales.”139Para mais informações, ver Cragg (1996), pp. 7-10.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 181iniciativa torna<strong>da</strong> menos controversa após a celebração, em maio <strong>de</strong>1997, do “Ato Fun<strong>da</strong>dor sobre Relações Mútu<strong>as</strong>, <strong>de</strong> Cooperação e<strong>de</strong> Segurança” entre a OTAN e a Fe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia 140 . Continuarama ser estreitad<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações entre Estados membros e não-membros<strong>da</strong> OTAN na área <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Tal engajamento alcançou até mesmo o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, cuja Marinha,por intermédio <strong>de</strong> um Grupo-Tarefa, participou do exercício bianualLinked Sea 97, em maio <strong>de</strong> 1997, e do exercício, In<strong>de</strong>x-OpFor 99,em fevereiro <strong>de</strong> 99. O primeiro exercício que reuniu 83 navios <strong>de</strong> 12países <strong>da</strong> Aliança e do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, tinha por cenário a mobilização <strong>de</strong> umaforça multinacional li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pela OTAN para socorrer uma operação<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz que se encontrava em dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido aocrescente nível <strong>de</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s no terreno. O segundo, que mobilizou31 navios <strong>de</strong> 7 países <strong>da</strong> Aliança e do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, tinha como cenário acomposição <strong>de</strong> força multinacional coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pela OTAN para sustarhostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre dois países <strong>de</strong>vido à disputa por recursos naturais.Ain<strong>da</strong> em 1998, a Marinha do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> foi também convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a participar<strong>de</strong> dois outros exercícios <strong>da</strong> Aliança Atlântica em 1999: “Contex” e“Swordfish” 141 . Os convites formulados à Marinha indicam que háinteresse <strong>da</strong>quela Organização em estabelecer vínculos mais <strong>de</strong>nsoscom países do Atlântico Sul, a exemplo <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> em an<strong>da</strong>mentocom países <strong>da</strong> Europa Oriental e do Mediterrâneo, usando, até mesmo,como possíveis cenários para intervenções conjunt<strong>as</strong>, missões em apoioa operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, uma d<strong>as</strong>140Em maio <strong>de</strong> 1997, em Paris, a OTAN alcançou entendimento satisfatório com aFe<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> Rússia sobre <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> segurança por meio <strong>da</strong> <strong>as</strong>sinatura do Founding Acton Mutual Relations, Cooperation and Security between NATO and the RussianFe<strong>de</strong>ration. Tal documento, um marco na superação <strong>da</strong> Guerra Fria, estabelece <strong>as</strong> b<strong>as</strong>espara a cooperação mais estreita entre antigos adversários. O Ato celebrado não temcaráter vinculatório, m<strong>as</strong> abre espaço para uma incorporação pacífica <strong>de</strong> novos países <strong>da</strong>Europa Oriental à OTAN.141Tratam-se <strong>de</strong> exercícios que abrangem tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>da</strong> guerra naval, com o objetivo <strong>de</strong>aprimorar o a<strong>de</strong>stramento <strong>da</strong> força naval e do estado-maior embarcado. Navios <strong>de</strong> superficie,submarinos e diversos tipos <strong>de</strong> aeronaves (patrulha marítima, ataque, <strong>de</strong>fesa aérea, guerraelectrónica etc) participam d<strong>as</strong> manobr<strong>as</strong> acor<strong>da</strong>d<strong>as</strong>.


182 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação abrangi<strong>da</strong> pelo novo conceito extratégico <strong>da</strong>OTAN anunciado em abril <strong>de</strong> 1999.As nov<strong>as</strong> potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego <strong>da</strong> OTAN no campo <strong>da</strong>paz e segurança internacionais vieram à tona com a ação militar realiza<strong>da</strong>pela Aliança contra a República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Iugoslávia (RFI), sem oendosso do CSNU, no período <strong>de</strong> março a junho <strong>de</strong> 1999 142 . Oobjetivo <strong>da</strong> intervenção era o <strong>de</strong> fazer o Governo iugoslavo aceitar umplano prevendo ampla autonomia ao Kosovo, província multiétnica <strong>da</strong>RFI, m<strong>as</strong> com uma população predominantemente <strong>de</strong> origem albanesa.Essa intervenção claramente divi<strong>de</strong> opiniões.O Foreign Secretary do Reino Unido, Robin Cook, teceu um<strong>as</strong>érie <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações na Câmara dos Comuns para justificar osbombar<strong>de</strong>ios que começaram em 24/3/99. A rationale então expostamerece ser registra<strong>da</strong>, pois o Reino Unido geralmente busca conciliar<strong>as</strong> visões dos EUA e <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>mais parceiros europeus. SegundoCook, a ação <strong>da</strong> Aliança <strong>de</strong>veria ser vista como medi<strong>da</strong> excepcional ea última opção para evitar a transformação <strong>da</strong> crise do Kosovo emcatástrofe humanitária, já que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1989, <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> militares e policiaissérvi<strong>as</strong> vinham reprimindo <strong>de</strong> forma violenta a população <strong>de</strong> origemalbanesa <strong>da</strong>quela província. No entanto, Cook reconheceu que aconsciência d<strong>as</strong> atroci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que vinham sendo cometid<strong>as</strong> e acapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar <strong>da</strong> Aliança <strong>de</strong> intervir no Kosovo não foram <strong>as</strong> únic<strong>as</strong>142A campanha aérea, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> “Operation Allied Force”, durou 78 di<strong>as</strong>: <strong>de</strong> 24/3 a10/6/99. Treze países ce<strong>de</strong>ram cerca <strong>de</strong> 1.100 aviões: Alemanha, Bélgica, Canadá,Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal,Reino Unido e Turquia. Houve muito <strong>da</strong>nos involuntários, envolvendo morte <strong>de</strong> civis, ea <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> alvos <strong>de</strong> uso-dual ou não-militares, em locais, muit<strong>as</strong> vezes, distantes doKosovo (alvos <strong>as</strong>sociados, por exemplo, à infra-estrutura física e à re<strong>de</strong> energética). Apreocupação <strong>da</strong> OTAN parece ter sido a <strong>de</strong> minar a resistência <strong>da</strong> população sérvia e a <strong>de</strong>preservar a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus pilotos, instruindo-os a lançar mísseis ou bomb<strong>as</strong> <strong>de</strong> elevad<strong>as</strong>altitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> modo a evitar <strong>as</strong> bateri<strong>as</strong> antiaére<strong>as</strong> sérvi<strong>as</strong>. Esse curso <strong>de</strong> ação minimizou orisco <strong>de</strong> baix<strong>as</strong> e, conseqüentemente, <strong>de</strong> questionamentos sobre o engajamento <strong>da</strong> OTANno Kosovo pelos seus respectivos públicos internos. A OTAN per<strong>de</strong>u dois pilotos <strong>de</strong>helicópteros em um aci<strong>de</strong>nte na Albânia, enquanto <strong>as</strong> baix<strong>as</strong> <strong>da</strong> RFI variaram <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>2700 civis, policiais e militares (<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> RFI) a cerca <strong>de</strong> 5000 militares e policiais (<strong>da</strong>dos<strong>da</strong> OTAN).


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 183razões que levaram ao uso <strong>da</strong> força. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>veu-se também ànecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manter a respeitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> OTAN, <strong>da</strong> qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ma paz e a segurança <strong>de</strong> seus membros. Na oc<strong>as</strong>ião, aludiu ao fato <strong>de</strong>que, em outubro <strong>de</strong> 1998, a Aliança Atlântica havia garantido o arranjoacor<strong>da</strong>do entre o Embaixador Richard Holbrooke, dos EUA, e oGoverno do Presi<strong>de</strong>nte Slobo<strong>da</strong>n Milosevic, <strong>da</strong> RFI, sobre a situaçãono Kosovo. Lembrou que esse arranjo, endossado posteriormente pelaResolução nº 1203 (1998) do CSNU, envolvia o fim <strong>da</strong> repressão e aretira<strong>da</strong> significativa <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militares e policiais sob monitoramento<strong>de</strong> uma missão civil <strong>da</strong> OSCE (encarrega<strong>da</strong> <strong>da</strong> supervisão terrestre) e<strong>da</strong> OTAN (responsável pela verificação aérea), condições que nãoteriam sido cumprid<strong>as</strong> pelo Governo <strong>de</strong> Belgrado. Portanto, a inação<strong>da</strong> Aliança po<strong>de</strong>ria produzir piores resultados do que a ação militar, ao<strong>de</strong>stituir a OTAN <strong>de</strong> credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em eventuais situações futur<strong>as</strong> <strong>de</strong>ameaça à segurança <strong>de</strong> seus membros nos limites <strong>de</strong> su<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong>.A exposição do Chanceler britânico revela que, não obstanteseu <strong>as</strong>pecto humanitário — <strong>da</strong>dos do ACNUR revelam que havia, emjunho <strong>de</strong> 1999, 860 mil refugiados, sem contar os <strong>de</strong>slocados internos—, a crise do Kosovo está imbuí<strong>da</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações estratégic<strong>as</strong>,tendo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado um <strong>de</strong>bate sobre o papel <strong>da</strong> ONU na manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. As posições advogad<strong>as</strong> pelosmembros <strong>da</strong> OTAN representaram uma manifestação ostensiva <strong>de</strong><strong>de</strong>srespeito à Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e ao Conselho <strong>de</strong> Segurança,indicando que o CSNU teria uma responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> “primária” pelamanutenção <strong>da</strong> paz em algum<strong>as</strong> partes do mundo, m<strong>as</strong> seria apen<strong>as</strong>“secundária” em regiões sujeit<strong>as</strong> a arranjos especiais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.Essa linha <strong>de</strong> ação <strong>da</strong> OTAN foi consagra<strong>da</strong> pela adoção <strong>de</strong>um novo conceito estratégico em 24/4/99, por oc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong> Reunião <strong>de</strong>Cúpula realiza<strong>da</strong> em W<strong>as</strong>hington para comemorar os 50 anos <strong>da</strong> AliançaAtlântica. Tal conceito não exige emend<strong>as</strong> à Carta Constitutiva e,conseqüentemente, não precisa ser submetido à ratificação por partedos membros <strong>da</strong> Aliança Atlântica, movimento sempre moroso por


184 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAenvolver consult<strong>as</strong> aos Congressos Nacionais. Esse exercício <strong>de</strong> revisãoprocurou consoli<strong>da</strong>r, em essência, uma nova i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> para aOrganização, com b<strong>as</strong>e na experiência dos últimos anos e n<strong>as</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong>verificad<strong>as</strong> no cenário internacional.De acordo com seus termos, a OTAN, ao reconhecer que <strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> têm apen<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> primária (m<strong>as</strong> nãoexclusiva) n<strong>as</strong> questões afet<strong>as</strong> à manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais, ampliou o escopo <strong>de</strong> sua atuação geográfica. Emboracentra<strong>da</strong> no eixo euro-atlântico, a Aliança Atlântica po<strong>de</strong>rá intervir emoutros cenários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que surjam situações <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> queameacem a segurança <strong>de</strong> seus membros. O conceito estratégico arrola,b<strong>as</strong>icamente, os seguintes fatores <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que justificariam umenvolvimento <strong>da</strong> OTAN: terrorismo, não proliferação <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>struição em m<strong>as</strong>sa e <strong>de</strong> seus sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> lançamento, crimeorganizado, movimentos migratórios em m<strong>as</strong>sa, emergênci<strong>as</strong>humanitári<strong>as</strong> e interrupção no fornecimento <strong>de</strong> recursos “vitais”. Alémdisso, p<strong>as</strong>sará a promover a extensão <strong>de</strong> seus program<strong>as</strong> <strong>de</strong>cooperação a áre<strong>as</strong> geograficamente fora do âmbito do Tratado <strong>de</strong>W<strong>as</strong>hington e a participar em “operações <strong>de</strong> apoio à paz”. Essa postur<strong>as</strong>ignifica transformar a OTAN em uma organização político-militarvolta<strong>da</strong> para o manejo <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong> vocação crescentementeuniversal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente d<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> contid<strong>as</strong> no artigo 53 <strong>da</strong> Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, que sujeita o uso <strong>da</strong> força à anuência prévia doCSNU, salvo nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa. Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, não sepo<strong>de</strong>ria excluir um eventual <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong> Organização <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>rprogressivamente sua atuação a todo “o mundo oci<strong>de</strong>ntal”, emborapermaneça ain<strong>da</strong> não resolvi<strong>da</strong>, pelo menos no plano legal, a questão<strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso <strong>da</strong> força <strong>da</strong> OTAN, sem aval do CSNU.Na ausência <strong>de</strong> uma manifestação do CSNU para respal<strong>da</strong>rsu<strong>as</strong> ações, a Aliança Atlântica <strong>de</strong>verá provavelmente buscar legitimarsu<strong>as</strong> intervenções com b<strong>as</strong>e em interpretações flexíveis d<strong>as</strong> resoluçõesdo CSNU — como a justificativa alega<strong>da</strong> pelos EUA e pelo Reino


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 185Unido <strong>de</strong> que seus ataques aéreos contra o Iraque em 16/12/98,motivados pela interrupção <strong>da</strong> cooperação entre aquele país e osinspetores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento <strong>da</strong> ONU, estariam cobertos pelaResolução nº 687, <strong>de</strong> 1991 —, no conceito <strong>de</strong> “legítima <strong>de</strong>fesa” —argumento utilizado pelos EUA, pela África do Sul (durante o regimeracista do apartheid) e por Israel para justificar ataques fora <strong>de</strong> seusterritórios, a exemplo do que ocorreu em outubro <strong>de</strong> 1998 quando osEUA dispararam mísseis contra o Sudão e o Afeganistão comorepresália aos atentados terrorist<strong>as</strong> cometidos contra su<strong>as</strong> Embaixad<strong>as</strong>em Dar-Es-Salaam e Nairóbi — e no “<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional” — conceito que p<strong>as</strong>sou a abranger <strong>as</strong>pectos <strong>de</strong><strong>as</strong>sistência humanitária e <strong>de</strong> proteção a civis em conflitos internos apósa intervenção militar li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelos Estados Unidos, pela França e peloReino Unido, no norte do Iraque em 1991 (em favor dos curdos).No c<strong>as</strong>o do “<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>”, a alegação é <strong>de</strong> que aintervenção <strong>da</strong> OTAN visaria a salvaguar<strong>da</strong>r os direitos humanos ehumanitários que estariam sendo violados justamente pelo Estadoterritorial que <strong>de</strong>veria estar velando pelo bem-estar e pela segurança<strong>de</strong> seus ci<strong>da</strong>dãos — <strong>as</strong> situações existentes no Iraque e na Iugoslávia(Kosovo) po<strong>de</strong>riam ser enquadrad<strong>as</strong> nessa categoria — ou estariamsendo cometid<strong>as</strong> em razão <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o Estado fazer respeitara or<strong>de</strong>m e a lei intern<strong>as</strong> — a situação <strong>da</strong> Somália po<strong>de</strong>ria ser inseri<strong>da</strong>nessa categoria. Diante <strong>de</strong>sses cenários, a consciência humanitáriaexigiria que fosse torna<strong>da</strong> obrigatória a ingerência humanitária paranão comprometer a sobrevivência <strong>de</strong> povos ou <strong>de</strong> inteiros gruposétnicos. Nessa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> idéi<strong>as</strong>, a OTAN po<strong>de</strong>ria também argumentarque, ao contarem com membros que compartilham os valores<strong>de</strong>mocráticos, a Aliança Atlântica seria instrumento idôneo parapromover a paz e a or<strong>de</strong>m mundiais.Por fim, outra fonte alternativa <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> que os países <strong>da</strong>OTAN parecem preten<strong>de</strong>r utilizar para justificarem su<strong>as</strong> açõesunilaterais seriam <strong>as</strong> noções <strong>de</strong> força, eficácia e tempestivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>as</strong>


186 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcaracterizariam, em contr<strong>as</strong>te com os processos <strong>da</strong> diplomaciaparlamentar na ONU, em que interesses políticos conflitantes tornammorosos ou inibem, muit<strong>as</strong> vezes, uma toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> posição efetiva sobreconflitos que são veiculados diariamente pela mídia escrita e televisiva.No que tange à UEO, o conceito estratégico <strong>de</strong> emprego <strong>da</strong>força foi modificado com a Declaração <strong>de</strong> Petersberg, <strong>de</strong> 19/6/92,quando o Conselho <strong>de</strong> Ministros <strong>de</strong>finiu que a Organização apoiaria,c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> prevenção dos conflitos e <strong>de</strong> gestão d<strong>as</strong>crises, nota<strong>da</strong>mente <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz no âmbito <strong>da</strong>OSCE e d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. A UEO não dispõe <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> fix<strong>as</strong><strong>de</strong> comando nem forç<strong>as</strong> permanentes, fazendo com que, para ca<strong>da</strong>operação, ess<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> tenham <strong>de</strong> ser criad<strong>as</strong> <strong>de</strong> acordo com osrequisitos <strong>da</strong> missão e dos meios envolvidos. Des<strong>de</strong> 1994, entretanto,a OTAN e a UEO estão mantendo consult<strong>as</strong> para evitar duplicação <strong>de</strong>esforços e permitir que a UEO tenha acesso às estrutur<strong>as</strong> <strong>de</strong> comandoe planejamento existentes na OTAN.Na prática, o futuro <strong>da</strong> UEO <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> sua articulaçãocom a UE e a OTAN. Com o Tratado <strong>de</strong> Ma<strong>as</strong>tricht, <strong>de</strong> 1991, a UEOp<strong>as</strong>sou a ser vista como instrumento <strong>da</strong> UE na esfera <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, m<strong>as</strong> oTratado <strong>de</strong> Amsterdã <strong>de</strong> 1997 previu apen<strong>as</strong> no seu artigo 17 que a<strong>de</strong>finição progressiva <strong>de</strong> uma “política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa comum” po<strong>de</strong>riaconduzir a uma “<strong>de</strong>fesa comum”, se o Conselho <strong>as</strong>sim o <strong>de</strong>cidir (ouseja, uma coisa é discutir a adoção <strong>de</strong> uma política geral a ser cumpri<strong>da</strong>pelos Estados membros e outra é dotar a UE <strong>de</strong> meios próprios <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa).Embora a França e o Reino Unido tivessem frisado naDeclaração Conjunta <strong>de</strong> Saint Mallot, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998, anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a UE dispor <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar autônoma, oComunicado dos 50 anos <strong>da</strong> OTAN, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1999, dá margem adiferentes interpretações sobre a autonomia efetiva <strong>de</strong>ssa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>militar ao precisar que a UE <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> açãoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes “so that it can take <strong>de</strong>cisions and approve military


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 187action where the Alliance <strong>as</strong> a whole is not engaged” 143 . Essafórmula soma<strong>da</strong> à instituição <strong>de</strong> um “Alto Representante para a PolíticaExterna e <strong>de</strong> Segurança Comum (PESC)”, ao estabelecimento <strong>da</strong>Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Planejamento Político e Alerta Precoce (UPPAR) e àagilização do processo <strong>de</strong>cisório <strong>da</strong> PESC — com o abandono <strong>da</strong>regra <strong>da</strong> unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> em favor <strong>da</strong> adoção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões por maioriaqualifica<strong>da</strong> — ten<strong>de</strong>m a referen<strong>da</strong>r <strong>as</strong> informações que circularam noCentro <strong>de</strong> Política Européia (European Policy Centre — EPC) em1998 no sentido <strong>de</strong> que, com a entra<strong>da</strong> em vigor do Tratado <strong>de</strong>Amsterdã em maio <strong>de</strong> 1999, a UEO po<strong>de</strong>ria vir a ser dissolvi<strong>da</strong> emfuturo próximo ou <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> no limbo. Algum<strong>as</strong> <strong>de</strong> su<strong>as</strong> atribuições,<strong>de</strong>ntre <strong>as</strong> quais a prevenção e administração <strong>de</strong> conflitos, po<strong>de</strong>riamp<strong>as</strong>sar a ser tratad<strong>as</strong> na UE por intermédio <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Planejamento Político e Alerta Precoce, ao p<strong>as</strong>so que a <strong>de</strong>fesaterritorial <strong>da</strong> UE po<strong>de</strong>ria ficar a cargo <strong>da</strong> OTAN, mediante o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> européia no âmbito <strong>da</strong>quelaOrganização, para evitar duplicações <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> militares entre aOTAN e a UE.O Conselho <strong>da</strong> Europa 144 , reunido em Colônia nos di<strong>as</strong> 3 e 4/6/99, adotou uma <strong>de</strong>claração final e um conjunto <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> concret<strong>as</strong>que parecem seguir essa linha. Na <strong>de</strong>claração final, após afirmar que aUnião <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militares confiáveis para po<strong>de</strong>r intervir emcrises internacionais, sem prejuízo d<strong>as</strong> ações <strong>da</strong> OTAN, o Conselho<strong>da</strong> Europa solicitou ao Conselho <strong>de</strong> Assuntos Gerais <strong>da</strong> UE (foro emnível <strong>de</strong> Chanceleres) que arrol<strong>as</strong>se <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> que <strong>de</strong>veriam seradotad<strong>as</strong> para permitir à UE <strong>as</strong>similar <strong>as</strong> funções <strong>da</strong> UEO n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>diplomacia preventiva, promoção <strong>da</strong> paz e manutenção <strong>da</strong> paz. Alémdisso, aprovou a realização periódica <strong>de</strong> reuniões do Conselho <strong>de</strong>Assuntos Gerais com a presença dos Ministros <strong>de</strong> Defesa, o143OTAN, (1999), Comunicado dos 50 anos <strong>da</strong> OTAN, parágrafo 9(a), <strong>de</strong> 29/4/99.144O Conselho <strong>da</strong> Europa é integrado pelos Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo dos 15membros <strong>da</strong> UE.


188 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAestabelecimento <strong>de</strong> um órgão <strong>de</strong> gestão permanente em Bruxel<strong>as</strong>(Comitê Político e <strong>de</strong> Segurança <strong>da</strong> UE), bem como a instituição <strong>de</strong>um Estado-Maior Militar (Comitê Militar <strong>da</strong> UE). Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>,a UE estaria montando uma estrutura capaz <strong>de</strong> permitir o gerenciamento<strong>de</strong> crises, por intermédio <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Planejamento e Alerta Precoce— que seria o seu braço político — e através <strong>da</strong> instalação <strong>de</strong> umaaparato militar próprio — que seria se braço armado — para conduziroperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, po<strong>de</strong>ndo, <strong>as</strong>sim, substituir a UEOnessa área.No entanto, <strong>as</strong> discussões sobre o <strong>as</strong>sunto ain<strong>da</strong> prosseguem.Três visões distint<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong>: a <strong>da</strong> França, interessa<strong>da</strong>em criar uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> européia <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong>fesain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte 145 , com ampla capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar; a dos Estados Unidos,que <strong>as</strong>piram a preservar uma voz atuante no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa europeumediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> européia <strong>de</strong> segurançae <strong>de</strong>fesa no seio <strong>da</strong> OTAN, e a dos países neutros <strong>da</strong> UE (Áustria,Finlândia, Irlan<strong>da</strong> e Suécia, países que não são membros <strong>da</strong> UEO nem<strong>da</strong> OTAN) que receiam aprovar qualquer iniciativa que possa implicara criação <strong>de</strong> uma força arma<strong>da</strong> européia ou a obrigação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesacomum.A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOSTendo em vista sua importância para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, cumpre tecerbreves comentários a respeito <strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> OEA no campo <strong>da</strong>manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança regionais. Des<strong>de</strong> logo, <strong>de</strong>ve-se terpresente que não se trata <strong>de</strong> uma organização intergovernamentalapropria<strong>da</strong> para executar man<strong>da</strong>tos do CSNU que impliquem oemprego <strong>da</strong> força, uma vez que sua Carta fun<strong>da</strong>mental, após sucessiv<strong>as</strong>145É bom lembrar que a França <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> participar do componente militar <strong>da</strong> OTAN em1966, razão pela qual vem advogando uma maior in<strong>de</strong>pendência militar <strong>da</strong> UE comrelação à OTAN, que, para os franceses, está sob domínio excessivo dos EUA.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 189revisões, não po<strong>de</strong> ser vista como contemplando o uso <strong>de</strong> meioscoercitivos para manter a paz e a segurança internacionais (a únicaexceção é o uso <strong>da</strong> força nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa, individual oucoletiva, até que o CSNU tome conta <strong>da</strong> matéria — Artigo 51 <strong>da</strong>Carta <strong>da</strong> ONU; artigos 22 e 29 <strong>da</strong> Carta <strong>da</strong> OEA e artigo 3 do TratadoInteramericano <strong>de</strong> Assistência Recíproca-TIAR) 146 . Em suma opropósito <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> “garantir a paz e a segurança continentais”(art. 1) <strong>de</strong>ve se alcançado por “processos pacíficos” (art. 2), mesmoque isso possa levar, em c<strong>as</strong>os extremos a suspensão <strong>de</strong> um Estadomembro, cujo Governo tenha sido <strong>de</strong>posto pela força (art. 9) – é orecurso à pressão política, não às arm<strong>as</strong>.A cooperação entre a ONU e a OEA em matéria <strong>de</strong> paz esegurança <strong>de</strong>ve guiar-se pelos princípios básicos, arrolados peloSecretário-Geral <strong>da</strong> OEA, César Gaviria, em documento apresentadona reunião d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> com organizações regionais, que serealizou em Nova Iorque em 15 e 16/2/96: (a) estabelecimento <strong>de</strong>mecanismos <strong>de</strong> consulta, formais e informais; (b) respeito à primazia<strong>da</strong> ONU na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais,consoante a própria Carta <strong>da</strong> OEA (art. 24); (c) clara <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>divisão <strong>de</strong> trabalho, a fim <strong>de</strong> evitar duplicações e rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional;e (d) necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coerência dos Estados membros d<strong>as</strong> du<strong>as</strong>organizações ao tratarem <strong>de</strong> questões relativ<strong>as</strong> à paz e à segurançacontinentais (isto é, princípios consagrados na ONU <strong>de</strong>vem serrespeitados pelos Estados membros no âmbito <strong>da</strong> OEA). As emend<strong>as</strong>introduzid<strong>as</strong> na Carta <strong>da</strong> OEA pelo “Protocolo <strong>de</strong> W<strong>as</strong>hington”, queentrou em vigor em 26/9/97, não alteraram o quadro <strong>de</strong> cooperaçãoentre a ONU e a OEA no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança146Em 1965/66, a Carta <strong>da</strong> OEA amparou a mobilização <strong>de</strong> uma Força Interamericana <strong>de</strong><strong>Paz</strong> para intervir na República Dominicana. Nessa mesma época, o Governo C<strong>as</strong>teloBranco chegou a propor, sem êxito, a criação <strong>de</strong> uma força interamericana <strong>de</strong> paz permanentepara intervir em qualquer país latino-americano cujo regime <strong>de</strong>mocrático estivesse sendoameaçado por movimentos insurgentes. Essa força — uma espécie <strong>de</strong> standby forceregional — se tornaria o instrumento armado <strong>da</strong> OEA e <strong>as</strong>sumiria os encargos <strong>da</strong> segurançacoletiva no hemisfério.


190 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAinternacionais. 147 . Em 1998, intensificaram-se <strong>as</strong> discussões sobre <strong>as</strong>mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação existentes com representantes <strong>da</strong> OEAparticipando do “Seminário sobre Lições Aprendid<strong>as</strong> d<strong>as</strong> <strong>Operações</strong><strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” e <strong>da</strong> reunião sobre “Cooperação para Prevenção <strong>de</strong> Conflitos”,ambos eventos promovidos pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Em que pese o fato <strong>de</strong> a OEA não po<strong>de</strong>r agir como braçoarmado <strong>da</strong> ONU no continente americano, a menos que sua Cartaconstitutiva seja novamente emen<strong>da</strong><strong>da</strong>, na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong> que venha a criaroperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Est<strong>as</strong> operações, pautad<strong>as</strong> pelaimparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e consentimento, não ferem o princípio <strong>da</strong> nãointervençãoe po<strong>de</strong>m ser enquadrad<strong>as</strong> no contexto <strong>da</strong> promoção d<strong>as</strong>olução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>, visto que favorecem o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> entendimentos negociados para a solução <strong>de</strong>litígios 148 .O programa <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong> na América Central e a missão<strong>de</strong> direitos humanos no Haiti, que a OEA atualmente <strong>de</strong>senvolve emcombinação com a ONU, não esgotam su<strong>as</strong> opções <strong>de</strong> atuação. Emp<strong>as</strong>sado recente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> su<strong>as</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s materiais e financeir<strong>as</strong>,empreen<strong>de</strong>u outr<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na linha d<strong>as</strong> executad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>: na Nicarágua, no período <strong>de</strong> 1989-91, e no Suriname, em1991-92, a Organização colaborou no monitoramento <strong>de</strong> cessar-fogos,na <strong>de</strong>smobilização <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> em conflito e na implementação <strong>de</strong>program<strong>as</strong> <strong>de</strong> rea<strong>da</strong>ptação dos ex-combatentes à vi<strong>da</strong> civil; naGuatemala, em 1995-96, ajudou no equacionamento <strong>de</strong> conflitos em147O Protocolo cinge-se, grosso modo, a acrescentar ao elenco <strong>de</strong> propósitos essenciais<strong>da</strong> organização regional a erradicação <strong>da</strong> pobreza crítica e institui mecanismo adicional <strong>de</strong>promoção e <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia ao prever a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suspensão <strong>de</strong> um Estadomembro na hipótese <strong>de</strong> que “um Governo <strong>de</strong>mocraticamente constituído seja <strong>de</strong>postopela força”. O Governo br<strong>as</strong>ileiro ratificou o “Protocolo <strong>de</strong> W<strong>as</strong>hington” em 21/4/95.Após sua entra<strong>da</strong> em vigor em 1997, o texto do Protocolo foi incorporado ao or<strong>de</strong>namentojurídico br<strong>as</strong>ileiro pelo Decreto nº 2760, <strong>de</strong> 27/8/98.148O princípio <strong>de</strong> “não-intervenção”, agora flexibilizado com a entra<strong>da</strong> em vigor doProtocolo <strong>de</strong> W<strong>as</strong>hington, está consagrado no texto <strong>da</strong> Carta nos artigo 1,§2 in fine, art.2(b) e art. 19. Por sua vez, a primazia absoluta na busca <strong>de</strong> meios pacíficos para a soluçãod<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong> está registra<strong>da</strong> no texto pelo artigo 2(c) e pelo capítulo V.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 191nível comunitário; por fim, no período <strong>de</strong> 1990-96, enviou divers<strong>as</strong>missões <strong>de</strong> supervisão eleitoral na América Central, no Haiti, noParaguai, na Venezuela e no Suriname.Em janeiro <strong>de</strong> 1997, a Missão dos EUA junto à ONU chegoua aventar a hipótese <strong>de</strong> recorrer à Resolução nº 377(V) — mecanismoque permite transferir à Assembléia Geral po<strong>de</strong>res no campo <strong>da</strong> paz esegurança internacionais em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> paralisia do CSNU (vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong>58 a 61 para maiores explicações) — ou à OEA para criar uma missão<strong>de</strong> observação <strong>de</strong> monitoramento <strong>da</strong> <strong>de</strong>smobilização <strong>da</strong> guerrilhaguatemalteca. A iniciativa <strong>de</strong>veu-se ao veto inicial <strong>da</strong> China, no CSNU,à proposta <strong>de</strong> incorporação <strong>de</strong> um componente <strong>de</strong> observadoresmilitares na missão <strong>de</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Guatemala(MINUGUA). Eventualmente <strong>as</strong> resistênci<strong>as</strong> chines<strong>as</strong> foram superad<strong>as</strong>no CSNU, que aprovou a Resolução nº 1094, em 20/1/97, autorizandoa ampliação <strong>da</strong>quela missão. O episódio revela que a OEA po<strong>de</strong> servista como alternativa para o estabelecimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz.PERSPECTIVAS SOBRE A ATUAÇÃO DOS ORGANISMOS E ARRANJOS REGIONAISNA MANUTENÇÃO DA PAZ E DA SEGURANÇA INTERNACIONAISFora do âmbito <strong>da</strong> OTAN e <strong>da</strong> UEO, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> têmmantido, nos últimos anos, reuniões com outr<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais nointuito <strong>de</strong> explorar meios para aprofun<strong>da</strong>r a crescente cooperaçãoexistente na área <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.Entre outr<strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> cooperação, <strong>de</strong>cidiu-se: adotar indicadorescomuns <strong>de</strong> alerta precoce; estabelecer banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos d<strong>as</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>scomuns para prevenção <strong>de</strong> conflitos na área <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>organização; aprimorar o fluxo <strong>de</strong> informações; promover a troca <strong>de</strong>oficiais <strong>de</strong> ligação e incentivar o treinamento conjunto <strong>de</strong> pessoal naárea <strong>de</strong> prevenção. Na prática, entretanto, a experiência dos anos 90tem revelado que somente a OTAN, a CEI e a CEDEAO têm condições


192 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>de</strong> se engajarem em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção e mesmo <strong>de</strong> imposição<strong>da</strong> paz. No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> primeira, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório está mais diluído, enquanton<strong>as</strong> du<strong>as</strong> últim<strong>as</strong>, ten<strong>de</strong>rão sempre a prevalecer os interesses <strong>de</strong> seusmaiores patrocinadores: Rússia e Nigéria, respectivamente. O futuro <strong>da</strong>SADC nessa área é ain<strong>da</strong> uma incôgnita. Depen<strong>de</strong>rá, em última instância,<strong>da</strong> disposições <strong>da</strong> África do Sul em <strong>as</strong>sumir crescentes responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>sno campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança regionais. Já a UEO tem <strong>de</strong>monstradopouca agili<strong>da</strong><strong>de</strong> na execução d<strong>as</strong> operações, embora tenha contribuídopara monitorar, nos anos 90, o regime <strong>de</strong> sanções aplicado pela ONUcontra os países <strong>da</strong> antiga Iugoslávia e aju<strong>da</strong>do nos trabalhos <strong>de</strong> remoção<strong>de</strong> min<strong>as</strong> no estreito <strong>de</strong> Shatt al Arab, após a guerra do Golfo, em açãoque se enquadraria mais no contexto <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>paz do que <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz . Por sua vez, a vocação <strong>da</strong> OSCE,em linha com a Carta <strong>de</strong> Paris <strong>de</strong> 1990 e com <strong>as</strong> subseqüentesDeclarações sobre Direitos Humanos emitid<strong>as</strong> a respeito do <strong>as</strong>sunto,situa-se na área chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> segurança bran<strong>da</strong> (soft security) volta<strong>da</strong>para a prevenção <strong>de</strong> conflitos, estabelecimento <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> <strong>de</strong>mocrátic<strong>as</strong>e <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> direitos humanos. Finalmente, o potencial <strong>da</strong> OEA nocampo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança regionais ain<strong>da</strong> não temsido suficientemente explorado, talvez em razão dos sérios problem<strong>as</strong>financeiros que a Organização tem enfrentado.Em linh<strong>as</strong> gerais, convém ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ficar atento para a utilização<strong>da</strong> OTAN e <strong>de</strong> outros organismos e arranjos regionais <strong>de</strong> segurançacomo instrumentos coercitivos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, diante dos riscos <strong>de</strong>su<strong>as</strong> agend<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> prevalecerem sobre os interesses <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong>segurança internacionais <strong>da</strong> Organização. Diante d<strong>as</strong> ações realizad<strong>as</strong>pela OTAN na República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Iugoslávia em 1999, sem o respaldodo CSNU, parece muito váli<strong>da</strong> a posição apresenta<strong>da</strong> pelo EmbaixadorCelso Amorim, então Representante do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> junto às Nações Unid<strong>as</strong>,em seu discurso sobre o item 11 <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> (“Relatório d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo CSNU”) <strong>da</strong> 53ª AGNU, pronunciado no dia 11/10/98: “... it isunsettling to witness our commonly accepted b<strong>as</strong>is for legitimate


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 193international action in the field of peace and security — the U. N.Charter — being circumvented, for whatever re<strong>as</strong>ons. Without goinginto the individual merits of specific <strong>de</strong>cisions by regionalorganizations and other non-universal bodies, these waiversproclaimed outsi<strong>de</strong> the UN stan<strong>da</strong>rd are symptomatic of a lack ofconfi<strong>de</strong>nce in the Council’s judgement, which should be a matterfor reflection by all Member States. It would be truly dishearteningif the post cold war period, instead of setting the stage for an era ofgreater international cohesion, were to <strong>de</strong>generate into new patternsof fragmentation and spheres of influence, to the <strong>de</strong>triment of theprinciples and objectives of the UN Charter”.Tal amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação dos organismos e arranjos regionais esub-regionais po<strong>de</strong>ria ser atenua<strong>da</strong> mediante a adoção <strong>de</strong> um sistemaeficaz <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cont<strong>as</strong> ao CSNU — o que <strong>as</strong>seguraria aprimazia <strong>da</strong> ONU na avaliação do cumprimento d<strong>as</strong> resoluçõesaprovad<strong>as</strong> sobre os diferentes conflitos — e por meio <strong>da</strong> aprovação<strong>de</strong> man<strong>da</strong>tos precisos, que <strong>de</strong>limit<strong>as</strong>sem explicitamente <strong>as</strong> funções <strong>as</strong>erem <strong>de</strong>legad<strong>as</strong>. O Presi<strong>de</strong>nte do CSNU emitiu <strong>de</strong>claração em 30/11/98, relacionando sugestões para minimizar o problema, tais como a<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> funcionários civis para integrar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>legad<strong>as</strong>,a indicação <strong>de</strong> oficiais <strong>de</strong> ligação e uma maior troca <strong>de</strong> informaçõesentre a ONU e os países envolvidos. No entanto, c<strong>as</strong>o <strong>as</strong> propost<strong>as</strong>aventad<strong>as</strong> não venham a ser institucionalizad<strong>as</strong>, seus efeitos serão muitolimitados, com riscos <strong>de</strong> que os organismos e arranjos regionais e subregionaiscontinuem a agir <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>simpedi<strong>da</strong> no terreno.Aprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países africanos paraparticipar <strong>de</strong> operações e manutenção <strong>da</strong> pazA déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 <strong>as</strong>sistiu a um aumento <strong>de</strong> conflitos e <strong>de</strong> situações<strong>de</strong> emergência humanitária na África. Em 1998, <strong>as</strong> du<strong>as</strong> únic<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz criad<strong>as</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança


194 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAforam a MINURCA, para atuar na República Centro-Africana, e aUNOMSIL, em Serra Leoa, ao p<strong>as</strong>so que em 1999, foi estabeleci<strong>da</strong>a MUNUC, para servir na República Democrática do Congo. Nemsempre, porém, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> têm tido êxito, haja vista suaincapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver o problema <strong>da</strong> Somália e o do genocídio emRuan<strong>da</strong>. Os relatórios do Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU intituladosPreparedness for Conflict Prevention and Improving Peacekeepingin Africa, <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1995, e The Causes of Conflict andPromotion of Durable Peace and Sustainable Development inAfrica, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1998, <strong>as</strong>sim como a realização <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> ReuniãoMinisterial dos Membros do Conselho <strong>de</strong> Segurança sobre a África,em 24/9/98, e <strong>as</strong> sucessiv<strong>as</strong> <strong>de</strong>clarações presi<strong>de</strong>nciais emitid<strong>as</strong> peloCSNU sobre o <strong>as</strong>sunto, testemunham, entre outros exemplos, apreocupação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> nessa matéria.É nesse contexto que os países africanos têm buscado criar ourevigorar órgãos próprios para tratar <strong>da</strong> resolução <strong>de</strong> conflitos regionais.Os países <strong>de</strong>senvolvidos também têm <strong>de</strong>batido a questão,provavelmente motivados pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar cursos <strong>de</strong>ação capazes <strong>de</strong> af<strong>as</strong>tar o risco <strong>de</strong> terem <strong>de</strong> enviar trop<strong>as</strong>, sem <strong>de</strong>spertar,ao mesmo tempo, crític<strong>as</strong> intern<strong>as</strong> <strong>de</strong> que estariam abandonando aÁfrica à sua sorte. Por exemplo, a União Européia tem-se reunidocom a OUA periodicamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1993, alterna<strong>da</strong>menteem Adis Abeba e em Bruxel<strong>as</strong>, para aprofun<strong>da</strong>r a cooperação emmatéria <strong>de</strong> diplomacia preventiva. Os EUA, por sua vez, promoveram,com fins semelhantes, a Conferência Internacional sobre a DiplomaciaPreventiva e a <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> na África, cuj<strong>as</strong> sessões se realizaramem W<strong>as</strong>hington (maio <strong>de</strong> 1995), Bruxel<strong>as</strong> (janeiro <strong>de</strong> 1996) e Madri(junho <strong>de</strong> 1996).Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido vêmempreen<strong>de</strong>ndo, a<strong>de</strong>mais, esforços in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para a<strong>de</strong>strar trop<strong>as</strong><strong>de</strong> países africanos e, em alguns c<strong>as</strong>os, fornecer-lhes <strong>de</strong>terminadosequipamentos não-letais, com o objetivo <strong>de</strong> habilitá-l<strong>as</strong> a participar <strong>de</strong>


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 195operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Em maio <strong>de</strong> 1997, os três países<strong>as</strong>sinaram um memorando <strong>de</strong> entendimento em Nova Iorque lançando<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es <strong>de</strong> uma futura iniciativa conjunta na África. Essa seria b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong>em quatro princípios: a) melhora, a longo prazo, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dospaíses africanos <strong>de</strong> promover respost<strong>as</strong> coletiv<strong>as</strong> rápid<strong>as</strong> e eficazes acrises humanitári<strong>as</strong> e outr<strong>as</strong> crises (o que seria atingido por meio <strong>de</strong>esforços coor<strong>de</strong>nados e contínuos <strong>de</strong> treinamento, exercícios conjuntose <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> doutrina comum); b) legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong>veriam ser implementad<strong>as</strong> em consulta e coor<strong>de</strong>nação com aOrganização <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Africana e <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>; c) abertura(todos os países africanos e outros doadores estariam aptos a participar,com exceção dos que estão sob sanções do Conselho <strong>de</strong> Segurança<strong>da</strong> ONU); e d) transparência (por meio do estabelecimento <strong>de</strong> umórgão <strong>de</strong>liberativo em Nova Iorque <strong>de</strong>nominado Grupo <strong>de</strong> Apoio à<strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> Africana (African Peacekeeping Support Group-APSG), do qual fariam parte a ONU, a OUA, os países africanos epotenciais países doadores. Na oc<strong>as</strong>ião, os Governos estaduni<strong>de</strong>nse,britânico e francês acor<strong>da</strong>ram em criar não uma força africanapermanente <strong>de</strong> pronto emprego (standing African force), m<strong>as</strong> simuma “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong> atuação conjunta.Em reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a celebração do memorando <strong>de</strong> entendimentoentre os três países foi apen<strong>as</strong> um esforço <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>individuais, que terão continui<strong>da</strong><strong>de</strong> como program<strong>as</strong> nacionais. O APSGreuniu-se du<strong>as</strong> vezes: uma em 5/12/97 e outra em 26/5/98, sob acoor<strong>de</strong>nação do Chefe do Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong><strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>, Bernard Miyet. Além disso, uma reunião <strong>de</strong>trabalho informal realizou-se em 21/1/99. As <strong>de</strong>liberações nãoalcançaram resultados concretos, cingindo-se ao anúncio genérico <strong>da</strong>disposição dos doadores <strong>de</strong> participarem do esforço <strong>de</strong> treinamento.Vári<strong>as</strong> <strong>de</strong>legações african<strong>as</strong> e <strong>de</strong> outros continentes manifestaram quea iniciativa <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação dos três Estados estaria servindo <strong>de</strong> meroescudo para a preservação ou alargamento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> influência


196 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAno continente africano, além <strong>de</strong> criar condições que permitissem que otreinamento d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> african<strong>as</strong> e o apoio às mesm<strong>as</strong> tornem<strong>de</strong>snecessário o envio <strong>de</strong> militares seus, <strong>de</strong>cisão esta nem sempre bemcompreendi<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> opiniões públic<strong>as</strong>. Nos corredores d<strong>as</strong>e<strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU em Nova Iorque chegou-se a comentar, até mesmo,que a ACRI, a RECAMP e a API po<strong>de</strong>riam incentivar uma corri<strong>da</strong>armamentista na África, tendo em vista os problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>política existentes naquele Continente: diversos grupos étnicos disputamo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo país e muitos países nutrem <strong>de</strong>sconfianç<strong>as</strong>e inimiza<strong>de</strong>s recíproc<strong>as</strong>.É oportuno <strong>de</strong>screver, resumi<strong>da</strong>mente, <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> que vêmsendo executad<strong>as</strong> pelos EUA, França e Reino Unido na África, até omomento, por serem os principais protagonist<strong>as</strong> nesse campo <strong>de</strong>cooperação.“INICIATIVA AFRICANA DE RESPOSTA A CRISES”DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICAInicialmente <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Força Africana <strong>de</strong> Resposta aCrises (African Crisis Response Force-ACRF), essa iniciativa dosEUA objetivou, em meados <strong>de</strong> 1996, instituir, em seis meses, umaforça multinacional africana para atuar em situações <strong>de</strong> emergênciahumanitária — em um primeiro momento, a força <strong>de</strong>stinava-se a seremprega<strong>da</strong> em eventual crise no Burundi. A iniciativa foi sendomodifica<strong>da</strong>, com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> reações <strong>de</strong> diversos países europeus eafricanos son<strong>da</strong>dos pelos EUA, p<strong>as</strong>sando a objetivar o estabelecimentogradual <strong>de</strong> uma “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>” (e não <strong>de</strong> uma força) <strong>de</strong> resposta a criseshumanitári<strong>as</strong>, sendo conheci<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então como Iniciativa Africana<strong>de</strong> Resposta a Crises (African Crisis Response Initiative-ACRI). Talcapacitação seria cria<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> treinamento b<strong>as</strong>eado em doutrinacomum para operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz (que combina doutrin<strong>as</strong><strong>de</strong> operações <strong>de</strong> paz dos EUA, <strong>da</strong> OTAN, do Reino Unido, <strong>de</strong> países


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 197nórdicos, d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e até <strong>de</strong> países africanos) e <strong>de</strong> suprimento<strong>de</strong> equipamentos não-letais (sobretudo aparelhos <strong>de</strong> comunicação) quepermitiriam às uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversos países africanos trabalhar maiseficazmente em conjunto. As uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s treinad<strong>as</strong> e equipad<strong>as</strong>permaneceriam em seus países <strong>de</strong> origem e o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>ficaria condicionado à <strong>de</strong>cisão do governo participante <strong>da</strong> ACRI. OsEUA não preten<strong>de</strong>m financiar o emprego d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> african<strong>as</strong> treinad<strong>as</strong>,nem comandá-l<strong>as</strong>. A utilização <strong>da</strong> “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>” cria<strong>da</strong> pela ACRI e aforma <strong>de</strong> comando, controle e financiamento serão <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> pelosafricanos em ca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o concreto.O objetivo final <strong>da</strong> iniciativa é o <strong>de</strong> a<strong>de</strong>strar <strong>de</strong> 10 a 12 milefetivos africanos em um período <strong>de</strong> 5 a 7 anos. O programa <strong>de</strong>treinamento bilateral <strong>da</strong> ACRI iniciou-se em 21/7/97, com o<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 120 treinadores do exército dosEUA para o Senegal e Ugan<strong>da</strong>. Durante o ano <strong>de</strong> 1998, program<strong>as</strong> <strong>de</strong>treinamento semelhantes foram realizados em Benin, na Etiópia, emGana, no Malaui e em Mali, sendo que Côte d’Ivoire tambémmanifestou interesse em participar <strong>da</strong> programa <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento. Atéjaneiro <strong>de</strong> 1999, 3.600 sol<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> seis países (Benin, Gana, Mali,Malaui, Senegal e Ugan<strong>da</strong>) já tinham completado a primeira f<strong>as</strong>e dotreinamento <strong>da</strong> ACRI. Os EUA estariam adotando os seguintes critériospara a escolha dos países recipiendários: a) participação em operações<strong>de</strong> paz; b) governo <strong>de</strong>mocrático civil; c) não sujeição a sanções<strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>; e d)respeito aos direitos humanos. Tais critérios foram acor<strong>da</strong>dos entre oExecutivo e o Legislativo norte-americanos para o Congresso liberar<strong>as</strong> verb<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> a fim <strong>de</strong> operacionalizar a ACRI.Para <strong>da</strong>r mais <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao seu engajamento nessa área, osEUA estão ain<strong>da</strong> examinando, em 1999, a criação <strong>de</strong> um Centro <strong>de</strong>Estudos Estratégicos na África, com um orçamento inicial <strong>de</strong> US$ 40milhões. Entre su<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, se <strong>de</strong>stacaria a <strong>de</strong> oferecer cursos <strong>de</strong>treinamento na área <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.


198 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA“APRIMORAMENTO DAS CAPACIDADES AFRICANASDE MANUTENÇÃO DA PAZ” DA FRANÇAA França mantém, há muitos anos, program<strong>as</strong> <strong>de</strong>treinamento militar com países africanos, sobretudo francófonos. Apresença militar francesa na África montava, em janeiro <strong>de</strong> 1998, acerca <strong>de</strong> 8.100 homens, m<strong>as</strong> havia planos <strong>de</strong> reduzi-la para menos <strong>de</strong>6.000 homens até o final do mesmo ano. A França li<strong>de</strong>rou, em 1994, aforça multinacional <strong>de</strong> intervenção humanitária em Ruan<strong>da</strong>, a<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> “Operação Turquesa”, e atualmente provê apoio logísticoà Missão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na República Centro-Africana(MINURCA). Em março <strong>de</strong> 1997, a França promoveu manobr<strong>as</strong>militares conjunt<strong>as</strong> com o Togo, Benin, Burkina F<strong>as</strong>o e Níger, exercícioque simulou intervenção multinacional em uma situação <strong>de</strong> crisehumanitária, com a criação <strong>de</strong> zona <strong>de</strong> segurança para refugiados.Cerca <strong>de</strong> 20% <strong>da</strong> cooperação militar francesa com paísesafricanos p<strong>as</strong>sou a ser reorienta<strong>da</strong>, a partir <strong>de</strong> 1998, para a manutenção<strong>da</strong> paz. Esse novo tipo <strong>de</strong> cooperação insere-se na iniciativa chama<strong>da</strong>Aprimoramento d<strong>as</strong> Capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s African<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>(Renforcement <strong>de</strong>s capacités africaines <strong>de</strong> maintien <strong>de</strong> la paix-RECAMP), que visa a oferecer formação, treinamento e equipamentoa países africanos que <strong>de</strong>sejem participar <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz. O objetivo seria compor batalhões rapi<strong>da</strong>mente mobilizáveis<strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 600 homens para participarem <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz sob o Capítulo VI (com consentimento d<strong>as</strong> partesem conflito) ou VII (sem consentimento algum). Os métodos <strong>de</strong>treinamento são, em princípio, compatíveis com os adotados pelosEUA (ACRI) e pelo Reino Unido.Dois exercícios conjuntos com trop<strong>as</strong> no âmbito <strong>da</strong> RECAMPforam programados. O primeiro foi realizado em fevereiro <strong>de</strong> 1998,sob o nome <strong>de</strong> Guidimakha 1998, no Senegal. Tal exercício, quereuniu 3.500 homens, foi organizado pela França, em conjunto com


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 199Mali, Mauritânia e Senegal. Houve participantes do Cabo Ver<strong>de</strong>, Gana,Guiné, Guiné-Bissau, Reino Unido e EUA. Foram também convi<strong>da</strong>dosobservadores militares <strong>de</strong> países <strong>de</strong> fora do continente africano, doisdos quais br<strong>as</strong>ileiros. O segundo exercício, que <strong>de</strong>verá envolvermanobr<strong>as</strong> militares similares, será realizado no Gabão em janeiro <strong>de</strong>2000, sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Gabon-2000.Além dos exercícios Guidimakha 98 e Gabon-2000, a Françapreveria a implementação dos seguintes projetos <strong>da</strong> RECAMP durante1999: a) estocagem <strong>de</strong> equipamento para um batalhão <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz no Senegal (o material também po<strong>de</strong>rá ser utilizado por outrosEstados <strong>da</strong> sub-região); b) estabelecimento <strong>de</strong> um hospital médicocirúrgico<strong>de</strong> campanha <strong>de</strong> 1.000 leitos, a ser sediado em Dacar; e c)criação <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Formação Zambakro em Côte d’Ivoire, aberta auni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e estagiários africanos, francófonos ou não.“INICIATIVA AFRICANA DE MANUTENÇÃO DA PAZ” DO REINO UNIDOO Reino Unido lançou sua Iniciativa Africana <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong><strong>da</strong> <strong>Paz</strong> (African Peacekeeping Initiative-API) em setembro <strong>de</strong> 1994.Seu objetivo era melhorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> africana em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, em apoio às organizaçõesregionais e sub-regionais african<strong>as</strong>, mediante o provimento <strong>de</strong> apoiologístico e treinamento. O treinamento inclui uma série <strong>de</strong> exercíciosem Camberley e Adis Abeba, além <strong>de</strong> seminários sobre prevenção <strong>de</strong>conflitos e missões <strong>de</strong> paz na África, já realizados em divers<strong>as</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>safrican<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, tais como Gaborone, Harare, Cairo e Acra. OReino Unido ajudou Gana e Zimbábue a <strong>de</strong>senvolverem dois centrosregionais <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento para operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Os dois eventos <strong>de</strong> maior envergadura <strong>da</strong> iniciativa britânica,até o momento, foram a <strong>as</strong>sistência presta<strong>da</strong> para a promoção <strong>de</strong> doisexercícios militares. O primeiro em abril <strong>de</strong> 1997 <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> BlueHungwe, que contou com cerca <strong>de</strong> 1.700 homens <strong>de</strong> nove países


200 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmembros <strong>da</strong> SADC (África do Sul, Botsuana, Lesoto, Malaui,Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia e Zimbábue). O segundoem abril <strong>de</strong> 1999 chamado <strong>de</strong> Blue Crane, com a participação <strong>de</strong>4.500 homens <strong>de</strong> doze países membros <strong>da</strong> SADC (África do Sul,Angola, Botsuana, Lesoto, Maurício, Malaui, Moçambique, Namíbia,Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue), além <strong>de</strong> Alemanha,Bélgica, EUA, França, Itália, Índia e Reino Unido. Essa colaboração épresta<strong>da</strong>, b<strong>as</strong>icamente, por meio <strong>da</strong> Equipe Britânica <strong>de</strong> TreinamentoMilitar (British Military Advisor Training Team - BMATT), quedispõe <strong>de</strong> uma se<strong>de</strong> no Zimbábue <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980.FORÇAS MULTINACIONAISNão se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar no presente livro o papeld<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais que vêm sendo empregad<strong>as</strong> historicamentepelo CSNU <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Guerra <strong>da</strong> Coréia. Criad<strong>as</strong> para atuar, sobretudo,em situações <strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz, ess<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> têm proliferado nosanos 90: operações “Tempesta<strong>de</strong> no Deserto” (Iraque-Kuaite),“Turquesa” (Ruan<strong>da</strong>)”, “Restaurar a Esperança” (Somália), “Restaurara Democracia” (Haiti), “Esforço Conjunto” (Bósnia-Herzegovina),“Vigilância Conjunta (1996-98)/Forja Conjunta (1998-99)” (Bósnia-Herzegovina), “Operação Alba” (Albânia), “MISAB” (RepúblicaCentro-Africana), “Guar<strong>da</strong> Conjunta” (Província do Kosovo <strong>da</strong>República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Iugoslávia) e “Operação no Timor Leste”(Indonésia).Ess<strong>as</strong> operações atuam com b<strong>as</strong>e em man<strong>da</strong>tos aprovados peloCSNU, m<strong>as</strong>, contrariamente às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, nãosão gerid<strong>as</strong> pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Os paísesintegrantes d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais mantêm o comando operacional<strong>de</strong> seus efetivos, arcam com os seus custos <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong>vemmanter o CSNU a par <strong>da</strong> evolução <strong>de</strong> su<strong>as</strong> ações mediante o envio <strong>de</strong>relatórios periódicos por intermédio do Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 201Em termos formais, o CSNU mantém o controle político <strong>da</strong> operação,cabendo aos países participantes <strong>de</strong> uma força multinacional cumprirem<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> pelo man<strong>da</strong>to aprovado pelo Conselho, m<strong>as</strong><strong>as</strong> disposições são redigid<strong>as</strong> em uma linguagem genérica, <strong>da</strong>ndo margema interpretações diferenciad<strong>as</strong>.Muit<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais foram precedid<strong>as</strong>,acompanhad<strong>as</strong> ou sucedid<strong>as</strong> por operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong>ONU (na Bósnia-Herzegovina, no Haiti, em Ruan<strong>da</strong>, na Somália, noIraque-Kuaite e em Timor Leste), o que levou a comparações in<strong>de</strong>vid<strong>as</strong>que consi<strong>de</strong>ravam est<strong>as</strong> bem menos eficientes do que aquel<strong>as</strong>. De fato,a ONU enfrenta problem<strong>as</strong> na condução <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> imposição,<strong>de</strong>vido, entre outros fatores, à falta <strong>de</strong> equipamentos a<strong>de</strong>quados, àheterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares colocad<strong>as</strong> à sua disposiçãoem termos <strong>de</strong> preparo, disciplina e idioma, e à pouca integração d<strong>as</strong>uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> comando. Para tais ações, <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais ten<strong>de</strong>ma ser realmente mais eficientes. O próprio Secretário-Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> afirmou, em 1997, no seu relatório Renewing the UN: aprogramme for reform, que a Organização “... does not have, atthis point in its history, the institutional capacity to conduct militaryenforcement me<strong>as</strong>ures un<strong>de</strong>r Chapter VII”. No entanto, paraoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, a ONU tem <strong>de</strong>monstrado, no seumeio século <strong>de</strong> experiência, inigualável aptidão e, sobretudo,legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> única organização universalvolta<strong>da</strong> para a manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.A fim <strong>de</strong> proporcionar visão mais clara d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais,apresenta-se, a seguir, tabela nº 6 sobre “<strong>as</strong> forç<strong>as</strong>” <strong>de</strong>legad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, no período 1950 até setembro <strong>de</strong> 1999 149 .149A operação “Provi<strong>de</strong> Comfort” <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> auxílio humanitário ao curdos no nortedo Iraque não foi autoriza<strong>da</strong> expressamente pelo CSNU. Os seus participantes interpretama Resolução 688 (1991) como sendo suficientemente ampla para amparar legalmente su<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, nota<strong>da</strong>mente o recurso ao uso <strong>da</strong> força, apesar <strong>de</strong> não haver referênci<strong>as</strong> aocapítulo VII naquela resolução. A operação esten<strong>de</strong>u-se, mormente, <strong>de</strong> 5/4 a 31/7/91, apóso que <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>da</strong> coalizão ad hoc <strong>de</strong>ixaram o território iraquiano. A coalizão foi capitanea<strong>da</strong>pela França, pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido e contou com a presença <strong>de</strong> 20 mil


202 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 6FORÇAS MULTINACIONAIS CRIADAS SOB A ÉGIDE DAS NAÇÕES UNIDAShomens fornecidos por 13 países. Gradualmente um contingente <strong>de</strong> guard<strong>as</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> (UN Guards) substituiu <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong>, com b<strong>as</strong>e em um memorando <strong>de</strong>entendimento <strong>as</strong>sinado entre a ONU e o Governo <strong>de</strong> Bagdá em 18/4/91 e renegociado emnovembro do mesmo ano. Para maiores informações, ver os livros HumanitarianIntervention, <strong>de</strong> Sean Murphy, pp. 169-177, e Le doit díngérence, <strong>de</strong> Mario Bettati, pp.126-129 e 187-192.150O Yearbook of the United Nations — 1950 reproduz, n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 226-228, <strong>as</strong> ofert<strong>as</strong>dos 39 Estados que contribuíram para a composição do Comando Unificado, um dosquais era o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>. O Governo Eurico G<strong>as</strong>par Dutra <strong>as</strong>sumiu o compromisso <strong>de</strong> oferecero suprimento gratuito <strong>de</strong> produtos até a soma <strong>de</strong> Cr$ 50 milhões. No entanto, os EUArealizaram, em 1951, gestões para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviar trop<strong>as</strong> para a Coréia, por meio doSecretário <strong>de</strong> Estado, Dean Acheson, e do envio <strong>de</strong> carta do Presi<strong>de</strong>nte Truman ao entãorecém empossado Presi<strong>de</strong>nte Getúlio Varg<strong>as</strong>. Ess<strong>as</strong> gestões, respal<strong>da</strong>d<strong>as</strong> subseqüentementepor pedido <strong>de</strong> cessão formulado pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, Trygve Lie,em 27/6/51, geraram campanh<strong>as</strong> <strong>de</strong> contestação no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, dividindo a opinião pública, osmeios c<strong>as</strong>trenses e a cl<strong>as</strong>se política. O Presi<strong>de</strong>nte Varg<strong>as</strong>, empenhado em um amploprograma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, tentou negociar um acordo envolvendo compensaçõeseconômic<strong>as</strong>, e mesmo o fornecimento <strong>de</strong> equipamentos militares, em troca <strong>de</strong> umengajamento militar br<strong>as</strong>ileiro na Guerra <strong>da</strong> Coréia. O General Góis Monteiro chegou <strong>as</strong>er enviado a W<strong>as</strong>hington para tratar <strong>da</strong> matéria. No entanto, diante <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> receptivi<strong>da</strong><strong>de</strong>


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 203norte-americana às <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> formulad<strong>as</strong> e <strong>da</strong> crescente impopulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do temainternamente, o Presi<strong>de</strong>nte Varg<strong>as</strong> acabou <strong>de</strong>scartando a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r trop<strong>as</strong> aoComando Unificado em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1951. Para relatos mais pormenorizados, consultaros livros A Presença dos EUA no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, <strong>de</strong> Moniz Ban<strong>de</strong>ira, pg. 226-234, e ColdWarriors — Brazilian-American Relations, 1945-1964, <strong>de</strong> W. Michael Weis, pg.44-48.


204 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA151O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> foi consultado sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r trop<strong>as</strong>. No entanto, os trabalhos<strong>de</strong> constituição <strong>da</strong> Força Muntinacional foram suspensos com o término <strong>da</strong> situação <strong>de</strong>emergência no Zaire.


A SITUAÇÃO ATUAL E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 205Fonte: The Military Balance, coleção Yearbook of the United Nations e MRE.Em suma, <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais têm <strong>de</strong>sempenhado papelimportante para a manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais,quando respeitam os man<strong>da</strong>tos aprovados do CSNU e não são movid<strong>as</strong>por agend<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> no <strong>de</strong>senrolar d<strong>as</strong> ações no terreno. A tendênciaé <strong>de</strong> que ess<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> sejam integrad<strong>as</strong> por países que tenham interessesespecíficos em jogo, o que justificaria internamente os g<strong>as</strong>tos e riscosincorridos com o envio <strong>de</strong> tropa. Por isso, <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> ventilad<strong>as</strong> pela<strong>de</strong>claração presi<strong>de</strong>ncial do CSNU <strong>de</strong> 30/11/98 sobre <strong>as</strong> missões <strong>de</strong>paz conduzid<strong>as</strong> por organismos regionais e sub-regionais também<strong>de</strong>veriam ser aplicad<strong>as</strong> às forç<strong>as</strong> multinacionais ad hoc. O papelcomplementar <strong>de</strong>sempenhado pel<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionais <strong>de</strong>verá ser152O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> colocou à disposição <strong>da</strong> Força Multinacional para o Timor Leste um pelotãoreforçado <strong>de</strong> Policiais do Exército.


206 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAintensificado nos próximos anos, nota<strong>da</strong>mente em situações que exijamo <strong>de</strong>sdobramento rápido <strong>de</strong> numerosos contingentes fortementearmados, uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comando e vultosos recursos, requisitos que <strong>as</strong>operações conduzid<strong>as</strong> pela ONU não estão apt<strong>as</strong> a cumprir. Tal fatotraz à baila nov<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a manutenção <strong>da</strong>paz e <strong>da</strong> segurança internacionais m<strong>as</strong>, ao mesmo tempo, envolve novosriscos, na linha dos que foram mencionados n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 166 a 182para os organismos regionais e sub-regionais.


CAPÍTULO IVPARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDAS


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES DEMANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASO <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> participa <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> paz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 30 e,no âmbito <strong>da</strong> ONU, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957. O presente capítulo apresentarálevantamento <strong>de</strong> <strong>as</strong>pectos relacionados com o <strong>as</strong>sunto, abor<strong>da</strong>ndo,entre outros tem<strong>as</strong>:- um breve registro histórico <strong>da</strong> participação br<strong>as</strong>ileira n<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e missões civis d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, com menção a antece<strong>de</strong>nte históricos;- os trabalhos do Grupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial sobreoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz;- a prática recente <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> militares, policiais e civisem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e em missões civis;- os diferentes <strong>as</strong>pectos orçamentários e legais naparticipação <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e <strong>de</strong> observadores em missões <strong>de</strong> paz <strong>da</strong>ONU;- a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> diferentes iniciativ<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong>para o aperfeiçoamento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong> d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>;


210 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA- a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> aprimoramento<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países africanos em operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz;- a cessão <strong>de</strong> militares ao DPKO;- a participação br<strong>as</strong>ileira em postos <strong>de</strong> chefia em operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz;- a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>paz;- o tratamento dispensado pela imprensa à participação recentedo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU;- <strong>as</strong> posições advogad<strong>as</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, n<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> eoutros foros, sobre tem<strong>as</strong> vinculados às operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz.Retrospectiva <strong>da</strong> participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>É importante iniciar a presente exposição com uma breveretrospectiva <strong>da</strong> atuação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, resgatando a para fins <strong>de</strong> registro histórico,participação pioneira do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> no exterior, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> um organismo internacional.Além disso, convém mencionar o envolvimento do País em du<strong>as</strong> missões<strong>de</strong> paz realizad<strong>as</strong> fora do âmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> — na RepúblicaDominicana em 1965-66 e na fronteira entre o Equador e o Peru em1995-99 —, bem como o seu engajamento na Força Multinacionalautoriza<strong>da</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança <strong>da</strong> ONU para atuar em TimorLeste em 1999.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 211PIONEIRISMODois episódios marcam o início <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> militaresbr<strong>as</strong>ileiros em iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> organismos internacionais voltad<strong>as</strong> para amanutenção <strong>da</strong> paz: a presença <strong>de</strong> um oficial <strong>da</strong> Marinha na Comissão<strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações que administrou a região <strong>de</strong> Letícia, entre 1933-34, e <strong>de</strong> três oficiais, um <strong>da</strong> Marinha, um <strong>da</strong> Aeronáutica e outro doExército, na Comissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para os Bálcãs, que operouna Grécia, <strong>de</strong> 1947 a 1951.O Capitão-<strong>de</strong>-Fragata Alberto <strong>de</strong> Lemos B<strong>as</strong>tos, <strong>da</strong> Marinha,foi <strong>de</strong>signado pelo Governo br<strong>as</strong>ileiro para integrar a Comissão <strong>da</strong>Liga d<strong>as</strong> Nações que, com apoio <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 150 militares cedidospela Colômbia, administrou território em litígio entre esse país e o Peruna região <strong>de</strong> Letícia por qu<strong>as</strong>e um ano, <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1933 a maio <strong>de</strong>1934 153 . Os militares cedidos à Comissão usavam insígni<strong>as</strong> para indicarque estavam atuando sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações. Embora, àépoca, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> já não mais fizesse parte <strong>da</strong> Liga, foi convi<strong>da</strong>do a compora Comissão, já que se tinha empenhado em mediar o conflito e era oprincipal país amazônico, com fronteira contígua à zona conturba<strong>da</strong>.N<strong>as</strong> instruções ao oficial br<strong>as</strong>ileiro, o Itamaraty <strong>de</strong>stacava que suaatuação <strong>de</strong>veria se pautar pela estrita observância <strong>da</strong> “imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>”,um dos princípios b<strong>as</strong>ilares <strong>de</strong> conduta dos integrantes d<strong>as</strong> futur<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Mais especificamente, <strong>as</strong> instruçõesrezavam:“Vossa Senhoria <strong>de</strong>verá ter sempre presente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>absoluta em que se encontra o nosso país <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>sviar um sómomento <strong>da</strong> sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> perfeita imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> no litígio (...)” 154 .153Para maiores informações, ver Barros, (1938), pp. 21-25; Costa, (1942), pp. 5-230;Mello Franco, (1995), pp. 1448-1484; Carvalho, (1959), pp.322-327; e James (1990),pp. 145-147.154Mello Franco, (1955), p. 1463.


212 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAParalelamente à contribuição br<strong>as</strong>ileira para a Comissão <strong>da</strong>Liga, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que veio a ser chama<strong>da</strong> posteriormente <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> colaborou ativamente para o esforço<strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> paz entre Colômbia e Peru 155 . Graç<strong>as</strong> aos esforços<strong>de</strong> mediação retomados pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, o acordo sobre o litígio foialcançado em 25/5/34, antes, portanto, do término do man<strong>da</strong>to <strong>da</strong>Comissão <strong>da</strong> Liga. Naquela <strong>da</strong>ta, coroando os esforçosdiplomáticos br<strong>as</strong>ileiros, foi celebrado, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, emcerimônia presidi<strong>da</strong> pelo Chefe do Governo Provisório, GetúlioVarg<strong>as</strong>, o Protocolo <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> entre Colômbia e Peru. Dandoseguimento ao seu empenho na solução pacífica do diferendo, oGoverno br<strong>as</strong>ileiro, por intermédio do General-<strong>de</strong>-Divisão CândidoRondon, p<strong>as</strong>sou a presidir a Comissão cria<strong>da</strong> pelos anexos doProtocolo <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> para velar pela execução dos acordos especiaissobre navegação, alfân<strong>de</strong>g<strong>as</strong> e comércio, entre outros, que se<strong>de</strong>stinavam a fomentar a confiança entre os dois países vizinhos,medid<strong>as</strong> que se enquadrariam no conceito atual <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção<strong>da</strong> paz. A participação br<strong>as</strong>ileira nesses episódios, além <strong>de</strong> marcaro início do engajamento do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nesse gênero <strong>de</strong> operação, servetambém como referência para mostrar a disposição do País <strong>de</strong>empreen<strong>de</strong>r ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s voltad<strong>as</strong> para a promoção e consoli<strong>da</strong>ção<strong>da</strong> paz.Mais <strong>de</strong> uma déca<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois, já sob a égi<strong>de</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviou o Capitão-Tenente John An<strong>de</strong>rsen Munro,<strong>da</strong> Marinha, o Capitão Camarão Telles Ribeiro, <strong>da</strong> Aeronáutica, eo Capitão Hervê Pedroso, do Exército, à Grécia para servir naDelegação <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira <strong>da</strong> Comissão Especial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>para os Bálcãs (UNSCOB). A Comissão foi cria<strong>da</strong> em 21/10/47pela Resolução 109(II) <strong>da</strong> Assembléia Geral para cooperar com155O mediador br<strong>as</strong>ileiro foi o Chanceler Afrânio <strong>de</strong> Mello Franco, que, mesmo após terrenunciado à p<strong>as</strong>ta d<strong>as</strong> Relações Exteriores em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1933, continuou exercendoesse papel até a solução do litígio.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 213<strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s regionais no problema dos refugiados e monitorar <strong>as</strong>ituação na fronteira entre a Grécia, em guerra civil, e a Albânia, aBulgária e a Iugoslávia, países que, segundo relatório <strong>de</strong> umaComissão <strong>de</strong> Investigação <strong>da</strong> ONU, estariam intervindo na guerragrega 156 . Tal Comissão <strong>de</strong> Investigação contou com a participaçãodo General Anor Teixeira dos Santos e do Primeiro SecretárioAntônio Men<strong>de</strong>s Viana, ao p<strong>as</strong>so que integraram a UNSCOB, alémdos militares acima citados, os Ministros V<strong>as</strong>co Leitão <strong>da</strong> Cunha eSilvio Rangel <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro que foram, sucessivamente, os chefes <strong>da</strong><strong>de</strong>legação br<strong>as</strong>ileira à Comissão Balcânica. A participação d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> <strong>de</strong>u-se nos anos <strong>de</strong> 1948-49, quandoentão “à vista <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> verba a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>” o Ministério<strong>da</strong> Guerra comunicou que não po<strong>de</strong>ria mais ce<strong>de</strong>r militares àUNSCOB. Em termos <strong>de</strong> trabalho conjunto, trata-se do primeiroepisódio on<strong>de</strong> interagiram, no terreno, os quadros do Itamaraty ed<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, em prol <strong>da</strong> participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> emativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s conduzid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> para amanutenção <strong>da</strong> paz e segurança internacionais.A UNSCOB possuía <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> d<strong>as</strong> missões<strong>de</strong> observação, à exceção do fato <strong>de</strong> que seus integrantes eramconsi<strong>de</strong>rados representantes <strong>de</strong> seus respectivos países <strong>de</strong> origem,reportando-se diretamente à Assembléia Geral e não ao SGNU. Emque pese não ter tido gran<strong>de</strong> impacto sobre a evolução <strong>da</strong> guerra civilgrega, a UNSCOB estabeleceu prece<strong>de</strong>nte e gerou uma série <strong>de</strong>ensinamentos, aproveitados pela ONU para <strong>de</strong>finir <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> d<strong>as</strong> missões<strong>de</strong> observação na Cachemira 157 e na Palestina.156Para maiores informações, White (1993), pp. 216-217; Durch (1993), pp. 77-83; eJames (1990), pp. 87-92.157O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> foi consultado em 1949 sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> militares paracompor o Grupo <strong>de</strong> Observadores d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> na Índia e no Paquistão(UNMOGIP), missão <strong>de</strong> paz que atua até hoje n<strong>as</strong> regiões <strong>de</strong> Jammu e Cachemira. Naoc<strong>as</strong>ião, o Ministério <strong>da</strong> Guerra manifestou que, por falta <strong>de</strong> recursos financeiros, nãoestaria em condições <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r pessoal às Nações Unid<strong>as</strong>.


214 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAO BRASIL NAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZDAS NAÇÕES UNIDASO <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> participou <strong>de</strong> 23 operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>de</strong>du<strong>as</strong> missões civis d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, além <strong>da</strong> contribuição<strong>da</strong><strong>da</strong>, nos anos 90, para compor os quadros <strong>de</strong> especialist<strong>as</strong> <strong>da</strong> ComissãoEspecial d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a eliminação d<strong>as</strong> arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struiçãoem m<strong>as</strong>sa do Iraque (UNSCOM), que não é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma missão<strong>de</strong> paz propriamente dita, m<strong>as</strong> sim uma missão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento 158 .Diferentemente dos anos 60, quando a contribuição br<strong>as</strong>ileiraenvolvia apen<strong>as</strong> a cessão <strong>de</strong> militares — nota<strong>da</strong>mente o envio <strong>de</strong> tropapara atuar no Egito (UNEF I) e a prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio aéreo noCongo (ONUC) —, nos anos 90 o aporte br<strong>as</strong>ileiro ganhou novo impulso,visto que, além <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> militares — principalmente por intermédio doenvio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> para servir em Angola (UNAVEM III 159 ) e Moçambique(ONUMOZ 160 ) —, colocou à disposição <strong>da</strong> Organização civis e policiais158A UNSCOM encarrega-se <strong>da</strong> inspeção, supervisão <strong>da</strong> <strong>de</strong>struição e monitoramento alongo prazo dos program<strong>as</strong> iraquianos <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> químic<strong>as</strong>, biológic<strong>as</strong> e <strong>de</strong> mísseis <strong>de</strong> alcancesuperior a 150 quilômetros, <strong>de</strong> acordo com a Resolução nº 687 (1991), <strong>de</strong> 3/4/91. Nãoapen<strong>as</strong> a UNSCOM, m<strong>as</strong> também a Agência Internacional <strong>de</strong> Energia Atômica (AIEA)colaboram com o Conselho <strong>de</strong> Segurança para cumprir os objetivos previstos na Resoluçãonº 687 em relação à neutralização do arsenal <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em m<strong>as</strong>sa do Iraque.159É interessante lembrar que em maio <strong>de</strong> 1993, quando surgiram perspectiv<strong>as</strong> promissor<strong>as</strong>para a cessação <strong>de</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre o Governo angolano e a UNITA, a ONU chegou <strong>as</strong>olicitar ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> a mobilização <strong>de</strong> uma briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> infantaria. O Ministério do Exércitoenviou ao Itamaraty, em 7/7/93, levantamento preliminar sobre o <strong>as</strong>sunto. As hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>scontinuad<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> partes em conflito não permitiram que a matéria prosper<strong>as</strong>se. Emmeados <strong>de</strong> 1995, após a <strong>as</strong>sinatura do Protocolo <strong>de</strong> Lusaca em novembro <strong>de</strong> 1994, o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviou um contingente integrado por um batalhão <strong>de</strong> infantaria, uma companhia <strong>de</strong>engenharia e dois postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> avançados, para servir no eixo Vila Nova-Cuito-Chitembo-Andulo-Luena-Lumeje (tropa e postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>), no setor oriental <strong>de</strong> Angola,e em Calomboloca (engenharia), a leste <strong>de</strong> Luan<strong>da</strong>.160As consult<strong>as</strong> foram entabulad<strong>as</strong> em setembro <strong>de</strong> 1993 para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> substituir ocontingente italiano na ONUMOZ, mediante a cessão <strong>de</strong> um batalhão <strong>de</strong> infantaria <strong>de</strong>850 homens. No entanto, o contingente italiano só foi parcialmente repatriado em fins <strong>de</strong>1993. Este fato e a evolução favorável do processo <strong>de</strong> paz levou o SGNU a reformular opedido feito ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> para que envi<strong>as</strong>se então apen<strong>as</strong> uma companhia <strong>de</strong> infantaria <strong>de</strong>170 homens, a fim <strong>de</strong> atuar na Zambésia, na região central <strong>de</strong> Moçambique.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 215proce<strong>de</strong>ntes dos Três Po<strong>de</strong>res e dos Estados/Distrito Fe<strong>de</strong>ral, semmencionar a cessão gratuita <strong>de</strong> 11 oficiais d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> para servirno Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.A contribuição ofereci<strong>da</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> à ONU po<strong>de</strong> ser ilustra<strong>da</strong>pela tabela abaixo que contém <strong>da</strong>dos aproximados sobre <strong>as</strong>participações br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e missõescivis <strong>da</strong> ONU, com breve <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua natureza 161 . O levantamento<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> relacionar o engajamento br<strong>as</strong>ileiro na Grécia em 1948/49(UNSCOB) e no programa iraquiano <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento, em 1991-98(UNSCOM).TABELA Nº 7PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃODA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1957 a 1999 1161A publicação The Blue Helmets d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>as</strong>sinala equivoca<strong>da</strong>mente quemilitares br<strong>as</strong>ileiros teriam participado <strong>da</strong> UNAMIR. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ce<strong>de</strong>u umauni<strong>da</strong><strong>de</strong> médica e observadores militares para servirem na UNOMUR. Amb<strong>as</strong> operaçõescobriram o mesmo conflito: a UNAMIR <strong>de</strong>ntro do território <strong>de</strong> Ruan<strong>da</strong> e a UNOMURna fronteira entre Ruan<strong>da</strong> e Ugan<strong>da</strong>, m<strong>as</strong> atuando apen<strong>as</strong> do lado ugan<strong>de</strong>nse <strong>da</strong> fronteira.Em 1993, a ONU subordinou a estrutura <strong>de</strong> comando <strong>da</strong> UNOMUR à UNAMIR. Foraisso, ca<strong>da</strong> uma d<strong>as</strong> operações continuou a ser regula<strong>da</strong> por man<strong>da</strong>to próprio com seuspróprios quadros <strong>de</strong> pessoal. Maiores pormenores po<strong>de</strong>m ser obtidos no doc. S/26488,<strong>de</strong> 24/9/93.


216 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA162Em 1995, os Exércitos do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e <strong>da</strong> Argentina <strong>de</strong>cidiram promover a cooperaçãobilateral mediante um acordo pelo qual dois militares br<strong>as</strong>ileiros p<strong>as</strong>sariam a serincorporados no batalhão argentino rm Chipre e dois militares argentinos no batalhãobr<strong>as</strong>ileiro em Angola.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 217Fonte: MRE.¹ Os números referem-se às vag<strong>as</strong> preenchid<strong>as</strong> por br<strong>as</strong>ileiros. Durante o turno <strong>de</strong> serviço,o voluntário po<strong>de</strong> servir em mais <strong>de</strong> uma missão, preenchendo, nesse c<strong>as</strong>o, mais <strong>de</strong> umavaga.² Os <strong>da</strong>dos arrolados referem-se somente a pesso<strong>as</strong> cedid<strong>as</strong> por meio ou com oconhecimento do Governo br<strong>as</strong>ileiro. No entanto, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m contratarci<strong>da</strong>dãos br<strong>as</strong>ileiros, em b<strong>as</strong>es temporári<strong>as</strong>, ou <strong>de</strong>slocar nacionais br<strong>as</strong>ileiros que estejamservindo na Organização como funcionários internacionais.Como se po<strong>de</strong> verificar <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> tabela n° 7, a participaçãobr<strong>as</strong>ileira em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>po<strong>de</strong> ser dividi<strong>da</strong> em dois gran<strong>de</strong>s momentos: o período <strong>de</strong> 1957 a1967, caracterizado pela participação em seis operações, d<strong>as</strong> quais se<strong>de</strong>staca a contribuição para a UNEF I, no Sinai e na Faixa <strong>de</strong> Gaza; eo período <strong>de</strong> 1989 até hoje, com participação mais varia<strong>da</strong>, <strong>da</strong> qual serealça a contribuição para a UNAVEM III, em Angola. Esses doisperíodos correspon<strong>de</strong>m aos dois momentos <strong>de</strong> maior ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ONUno campo <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais: o auge


218 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAd<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz “clássic<strong>as</strong>” e o período d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong> “segun<strong>da</strong> geração”.Em ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses gran<strong>de</strong>s momentos, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tambémparticipou <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz fora do âmbito d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>. No primeiro período, salienta-se a participaçãobr<strong>as</strong>ileira na Força Interamericana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> na República Dominicanaem 1965-66. A intervenção foi autoriza<strong>da</strong> pelo X Reunião <strong>de</strong> Consult<strong>as</strong>dos Ministros d<strong>as</strong> Relações Exteriores d<strong>as</strong> Repúblic<strong>as</strong> American<strong>as</strong>,em 5/6/65, mediante a aprovação <strong>de</strong> resolução pela qual se resolveu“solicitar dos Governos dos Estados membros, que estejam emcondições <strong>de</strong> fazê-lo, o fornecimento à OEA, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> su<strong>as</strong>possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> contingentes militares, navais, aéreos ou <strong>de</strong> polícia,com o fim <strong>de</strong> formar com eles uma Força Interamericana que funcionarásob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta Reunião <strong>de</strong> Consulta” e se estabeleceu umComando Unificado <strong>da</strong> OEA, a fim <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar uma ação coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>e eficaz dos efetivos cedidos. A Força foi composta por 22 mil homensdos EUA (a maioria dos quais já se encontrava no terreno), 1.450 do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> 163 e 440 <strong>de</strong> outros países (Costa Rica, Hondur<strong>as</strong>, Nicarágua eParaguai). O comando geral tocou ao General Hugo Pan<strong>as</strong>co Alvim atéjaneiro <strong>de</strong> 1966 e <strong>de</strong>pois ao General Álvaro Alves <strong>de</strong> Silva Braga. Ocontingente br<strong>as</strong>ileiro, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Destacamento <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro <strong>de</strong> ForçaArma<strong>da</strong> Interamericana, (FAIBRÁS) foi chefiado pelo General C. MeiraMatos. A tropa br<strong>as</strong>ileira foi repatria<strong>da</strong> entre 31/8 e 20/9/66, após arealização <strong>de</strong> eleições na República Dominicana em 1/1/66 e a subseqüenteposse do Presi<strong>de</strong>nte J. Balaguer em 1/7/66. Os EUA mantiveram, contudo,um contingente <strong>de</strong> 12.500 homens na República Dominicana.No período atual, cumpre ressaltar a bem-sucedi<strong>da</strong>participação br<strong>as</strong>ileira na MOMEP, Missão <strong>de</strong> Observadores Militares163O efetivo total colocado à disposição <strong>da</strong> Força Interamericana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> pelo<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> somou cerca <strong>de</strong> 3.000 homens, <strong>de</strong>vido à realização <strong>de</strong> rodízios <strong>de</strong> tropa.Ver no anexo do livro o Decreto Legislativo nº 38, <strong>de</strong> 20/5/65 e o Decreto nº56.308, <strong>de</strong> 21/5/65 que criaram a FAIBRÁS.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 219na Cordilheira do Condor, região em litígio entre Equador e Peru 164 .De 1995 a 1999, a MOMEP supervisionou a separação d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong>equatorian<strong>as</strong> e peruan<strong>as</strong>, criou e monitorou uma zona <strong>de</strong>smilitariza<strong>da</strong> einstituiu medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> fomento <strong>da</strong> confiança mútua. No campodiplomático, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> li<strong>de</strong>rou <strong>as</strong> negociações que resultaram na <strong>as</strong>sinatura<strong>de</strong> um acordo <strong>de</strong> global e <strong>de</strong>finitivo <strong>de</strong> paz entre o Equador e o Peruno Palácio Itamaraty, em Br<strong>as</strong>ília, em 26/10/98. No campo militar, o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> exerceu a Coor<strong>de</strong>nadoria-Geral <strong>da</strong> MOMEP durante todo operíodo em que a missão esteve <strong>de</strong>sdobra<strong>da</strong> no terreno, além <strong>de</strong> tercedido observadores militares —cerca <strong>de</strong> 20 oficiais d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> em quatro anos — e <strong>as</strong>sumido os encargos <strong>da</strong> organizaçãodo apoio logístico entre novembro <strong>de</strong> 1997 a maio <strong>de</strong> 1999 —envolvendo cerca <strong>de</strong> 60 homens do Exército, quatro helicópteros doExército e um avião <strong>da</strong> Força Aérea <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira.O BRASIL NAS FORÇAS MULTINACIONAIS AUTORIZADASPELAS NAÇÕES UNIDASO <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não tem tradição em matéria <strong>de</strong> participação em forçamultinacionais autorizad<strong>as</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurança. Conforme<strong>as</strong>sinalado n<strong>as</strong> not<strong>as</strong> que acompanham a Tabela nº 6, o Governo GetúlioVarg<strong>as</strong> apesar d<strong>as</strong> pressões polític<strong>as</strong> exercid<strong>as</strong> pelos Estados Unidos,respon<strong>de</strong>u negativamente à consulta formula<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, em junho <strong>de</strong> 1951, no sentido <strong>de</strong> que o País ce<strong>de</strong>ssetrop<strong>as</strong> para participar <strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Coréia. A participação br<strong>as</strong>ileira cingiuseao oferecimento gratuito <strong>de</strong> produtos até o valor <strong>de</strong> CR$ 50 milhões.Décad<strong>as</strong> <strong>de</strong>pois, sob o Governo Fernando Henrique Cardoso,o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> foi consultado, em 1996, sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporarmilitares combatentes à Força Multinacional para o Zaire (hoje,164A MOMEP era integra<strong>da</strong> pelos quatro Países Garantes do Protocolo do Rio<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1942 entre Equador e Peru: <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, Argentina, Chile e EstadosUnidos <strong>da</strong> América.


220 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURARepública Democrática do Congo) no contexto <strong>de</strong> uma intervençãohumanitária para socorrer refugiados e <strong>de</strong>slocados internos que se viramapanhados em meio a uma guerra civil com ramificação internacionais.As Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e o Itamaraty estu<strong>da</strong>ram opções <strong>de</strong> engajamento,m<strong>as</strong> a Força acabou não sendo mobiliza<strong>da</strong> <strong>de</strong>vido à superação d<strong>as</strong>ituação <strong>de</strong> emergência no Zaire.Em 1999, entretanto, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ce<strong>de</strong>u, com a autorização doCongresso Nacional, pelotão reforçado <strong>de</strong> 50 Policiais do Exército armadoe um oficial <strong>de</strong> Estado-Maior a fim <strong>de</strong> compor uma Força Multinacional<strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a intervir em Timor Leste, o período <strong>de</strong> cessão foi estimadoquatro meses ao custo <strong>de</strong> R$ 12.000,00. Tal intervenção objetivava<strong>as</strong>segurar que fosse efetivamente implementa<strong>da</strong> a vonta<strong>de</strong> do povotimorense expressa na consulta popular realiza<strong>da</strong> em 30/9/99 sobre o statusdo território. O pronunciamento popular, legitimado pelo comparecimento<strong>de</strong> 98,5% <strong>da</strong> população votante, foi favorável aos partidários <strong>da</strong>in<strong>de</strong>pendência com 78,5% dos votos, contra 21,5% dos partidários àproposta <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Indonésia.Logo após o anúncio do resultado d<strong>as</strong> urn<strong>as</strong> a situação <strong>de</strong>segurança <strong>de</strong>teriorou-se rapi<strong>da</strong>mente e gerou grave emergênciahumanitária. As milíci<strong>as</strong> pró-integracionist<strong>as</strong> lançaram on<strong>da</strong> <strong>de</strong> violênciacontra a população timorense, causando gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> vítim<strong>as</strong>. Os<strong>da</strong>dos eram imprecisos, m<strong>as</strong> calculava-se que gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>timorenses tivessem sido <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinados e mais <strong>de</strong> 300.000 (<strong>de</strong> umapopulação <strong>de</strong> 850.000 habitantes) teriam sido forçados a <strong>de</strong>ixar seuslares em setembro <strong>de</strong> 1999. Diante <strong>de</strong>sses fatos, o Conselho <strong>de</strong>Segurança, com b<strong>as</strong>e no Capítulo VII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ecom o consentimento <strong>da</strong> Indonésia, aprovou a Resolução nº 1264 (1999)pela qual os Estados membros foram autorizados a compor uma forçamultinacional para intervir em Timor Leste e tomar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> medid<strong>as</strong>necessári<strong>as</strong> para cumprir seu man<strong>da</strong>to. O objetivo era fazer cessar aviolência, proteger e apoiar a Missão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Timor Leste(UNAMET) e a facilitar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência humanitária.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 221No que tange à mobilização <strong>de</strong> Forç<strong>as</strong> Multinacionais éimportante frizar que o país interessado <strong>de</strong>ve oferecer meios compatíveiscom <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s operacionais <strong>de</strong>ssa força, que são <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> porum comando unificado composto pelos país participantes. Muit<strong>as</strong>variáveis são levad<strong>as</strong> em conta, tais como a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> meios<strong>de</strong> alta tecnologia (logística, comunicações), a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> forneceruni<strong>da</strong><strong>de</strong>s especializad<strong>as</strong> oneros<strong>as</strong> (transporte e saú<strong>de</strong>), a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> pronto emprego do contingente oferecido (algo influenciado pelalocalização geográfica do país ofertante e pela sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mobilização <strong>de</strong> efetivos) e a existência <strong>de</strong> exigênci<strong>as</strong> legais (b<strong>as</strong>icamente,se há a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consulta prévia ao Congresso).Nos termos <strong>da</strong> Resolução nº 1264 (1999), a Força <strong>de</strong>verá sersucedi<strong>da</strong>, <strong>as</strong>sim que possível, por operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz<strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a aju<strong>da</strong>r <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> a administrar o Timor Leste até <strong>as</strong>ua in<strong>de</strong>pendência. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>verá também estar presente nessa missão<strong>de</strong> paz. Recor<strong>de</strong>-se que <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> multinacionaisautorizad<strong>as</strong> pela ONU e <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazconduzid<strong>as</strong> pela ONU foram tratad<strong>as</strong> no Capítulo III, no item relativoàs Forç<strong>as</strong> Multinacionais.Em suma, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não soma muita experiência em engajamentosem Forç<strong>as</strong> Multinacionais, pois envolve óbices <strong>de</strong> participação em razãod<strong>as</strong> condicionantes financeir<strong>as</strong> e legais. N<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> paraa confecção do livro, foram i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> três oc<strong>as</strong>iões em queo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> viu-se frente à possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>: noc<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Coréia o pedido foi <strong>de</strong>clinado, o pedido foi<strong>de</strong>clinado, no do Zaire a missão não prosperou e no do Timor Leste oGoverno br<strong>as</strong>ileiro enviou um contingente <strong>de</strong> Policiais do Exército.GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL SOBRE OPERAÇÕES DE PAZA ausência <strong>de</strong> uma estrutura para acompanhar a evolução d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz no Governo Fe<strong>de</strong>ral fez com que o


222 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAItamaraty, diante do aumento <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros cedidos entre1989 e 1992 para servir em operações na América Central, em Angolae na antiga Iugoslávia, coor<strong>de</strong>n<strong>as</strong>se o estabelecimento <strong>de</strong> um Grupo<strong>de</strong> Trabalho Interministerial (GTI) para tratar do <strong>as</strong>sunto em maio <strong>de</strong>1993.O GTI contou com a participação <strong>de</strong> representantes doItamaraty, do Ministério <strong>da</strong> Justiça, d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e doCongresso Nacional e foi incumbido, entre outr<strong>as</strong> taref<strong>as</strong>, <strong>de</strong> examinarmeios para: (i) aumentar a influência do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nos órgãos d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> que li<strong>da</strong>m com operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, porintermédio <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros ao Secretariado; (ii) tornarmais flui<strong>da</strong> a coor<strong>de</strong>nação entre o Ministério <strong>da</strong> Justiça (na época,responsável pela indicação <strong>de</strong> policiais), <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e oItamaraty no que tange à <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> militares, <strong>as</strong>sim como entreo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Itamaraty no que toca à<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> observadores eleitorais; (iii) atualizar a legislaçãovigente relativa ao envio <strong>de</strong> contingentes armados ou <strong>de</strong>sarmados <strong>de</strong>br<strong>as</strong>ileiros ao exterior; (iv) aproveitar <strong>as</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperaçãobilateral que venham a ser i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> no curso <strong>da</strong> implementaçãodos processos <strong>de</strong> paz; e (v) examinar os diferentes <strong>as</strong>pectosrelacionados à criação <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> elite n<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>,a<strong>de</strong>strado e equipado para aten<strong>de</strong>r aos pedidos <strong>de</strong> colaboração <strong>da</strong>ONU.Esse <strong>de</strong>bate foi alimentado pelo próprio aumento dos pedidosfeitos pelo Secretariado d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. O amplo leque <strong>de</strong> recursoshumanos e equipamentos solicitados pela Organização gerou anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> instituir-se um sistema <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> quadrosenvolvendo os Três Po<strong>de</strong>res e os Estados br<strong>as</strong>ileiros, bem como <strong>de</strong>aumentar o engajamento do Itamaraty nos diferentes foros d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> que tratam <strong>da</strong> matéria. Os resultados do GTI são apresentadosà medi<strong>da</strong> que forem analisados os vários <strong>as</strong>pectos do envolvimentobr<strong>as</strong>ileiro em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 223CESSÃO DE MILITARES BRASILEIROS EM OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZAs <strong>de</strong>liberações do GTI levaram <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> aincorporarem <strong>de</strong>finitivamente, entre su<strong>as</strong> funções, o atendimento <strong>as</strong>olicitações <strong>de</strong> participação em missões <strong>de</strong> paz. O então EMFA, emsubstituição ao Exército, p<strong>as</strong>sou a ser o ponto focal no Governo Fe<strong>de</strong>ralpara processar, em coor<strong>de</strong>nação com o Itamaraty, os pedidos <strong>de</strong> cessão<strong>de</strong> observadores militares ou <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>.No EMFA, o tema foi dividido entre du<strong>as</strong> subchefi<strong>as</strong>, uma paracui<strong>da</strong>r do envio <strong>de</strong> observadores militares (a 2ª Subchefia) e outrapara tratar <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> (a 3ª Subchefia). No Ministério doExército, o tema ficou afeto à 5ª Subchefia do Estado-Maior; naMarinha, à Subchefia <strong>de</strong> Logística e Mobilização e, subseqüentemente,à Subchefia <strong>de</strong> Estratégia do Estado Maior <strong>da</strong> Arma<strong>da</strong>; e naAeronáutica, à 1ª Subchefia <strong>da</strong>quele Estado-Maior. Devido à criaçãodo Ministério <strong>da</strong> Defesa, em junho <strong>de</strong> 1999, — que levou à extinçãodo EMFA — ajustes estão sendo realizados no sistema <strong>de</strong> mobilização,planejamento e acompanhamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz por parte d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.Essa articulação institucional permitiu aprimorar o sistemabr<strong>as</strong>ileiro <strong>de</strong> participação ness<strong>as</strong> operações, viabilizando a cessão <strong>de</strong>4760 homens dos três comandos militares no período <strong>de</strong> 1989-99,nos termos apresentados na tabela 8.


224 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 8NÚMERO DE MILITARES QUE PARTICIPOU DAS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1989 A 1999¹Fonte: MRE.¹ Os números referem-se às vag<strong>as</strong> preenchid<strong>as</strong> por br<strong>as</strong>ileiros. Durante o turno <strong>de</strong> serviço,o voluntário po<strong>de</strong> servir em mais <strong>de</strong> uma missão, preenchendo, nesse c<strong>as</strong>o, mais <strong>de</strong> umavaga.De 1989 a 1993, os voluntários eram b<strong>as</strong>icamenteobservadores militares. A partir <strong>de</strong> 1994 trop<strong>as</strong> também p<strong>as</strong>saram <strong>as</strong>er cedid<strong>as</strong> às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, exigindo um trabalho<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e um constante acompanhamento dos militares noexterior, taref<strong>as</strong> facilitad<strong>as</strong> pela estrutura organizacional que se foiconsoli<strong>da</strong>ndo após <strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações do GTI em 1993. Entre outrosbenefícios, foram introduzid<strong>as</strong> rotin<strong>as</strong> e i<strong>de</strong>ntificados pontos focais n<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e no Ministério d<strong>as</strong> Relações Exteriores aju<strong>da</strong>ndo <strong>as</strong>uperar <strong>as</strong> <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong>s normalmente <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao rodízioperiódico <strong>de</strong> seus quadros <strong>da</strong> tabela <strong>de</strong> pessoal.No tocante à <strong>de</strong>signação e ao preparo dos observadoresmilitares, a seleção é feita em regime <strong>de</strong> voluntariado e o a<strong>de</strong>stramentocorre por conta <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Comando Militar. O DPKO elabora manuaisespecíficos para ca<strong>da</strong> operação, que são rep<strong>as</strong>sados às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 225por intermédio do Itamaraty. O Estado-Maior do Exército (EME) vemaperfeiçoando a realização <strong>de</strong> estágios, com duração <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> trêsseman<strong>as</strong>, em Br<strong>as</strong>ília, para os voluntários <strong>da</strong> Corporação que servirãocomo observadores militares ou oficiais <strong>de</strong> estado-maior. Os militaresrecebem treinamento mais especializado em processamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dose <strong>as</strong>sistem a aul<strong>as</strong> <strong>de</strong> inglês, com ênf<strong>as</strong>e no jargão técnico d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Além disso, são instruídos sobre <strong>as</strong> rotin<strong>as</strong>administrativ<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU, bem como recebem informações maispormenorizad<strong>as</strong> sobre o país anfitrião e <strong>as</strong> peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> missão.Esses cursos têm sido <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para a preparação dosmilitares do Exército e po<strong>de</strong>riam ser estendidos para beneficiar tambémos voluntários <strong>da</strong> Aeronáutica e <strong>da</strong> Marinha. A experiência angaria<strong>da</strong>pelo Exército tem possibilitado, até mesmo, que seus voluntáriosrecebam instrução por correspondência, reduzindo custos e agilizandoa preparação <strong>de</strong> seus efetivos para cumprirem missões <strong>de</strong> paz.No que tange à mobilização e ao preparo <strong>de</strong> militares par<strong>as</strong>ervirem em contingentes armados, o Exército buscou distribuir entreos diferentes comandos militares <strong>de</strong> área (Sul, Su<strong>de</strong>ste, Leste, Planalto,Oeste, Nor<strong>de</strong>ste e Amazônico) a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> indicar pessoal. Talprática permite, a um tempo, a<strong>de</strong>strar o maior número possível <strong>de</strong>oficiais e sol<strong>da</strong>dos profissionais <strong>da</strong> corporação e manter elevado omoral <strong>da</strong> tropa, já que o processo <strong>de</strong> seleção é aberto ao voluntariadoe o preparo do contingente fica por conta do comando <strong>de</strong> áreaescolhido, que treina seus integrantes com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> diretrizes recebid<strong>as</strong>do Comando <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> Terrestres (COTER). O Exército nãoseleciona praç<strong>as</strong> que estejam realizando apen<strong>as</strong> o serviço militarobrigatório <strong>de</strong> um ano. Após a liberação dos recursos orçamentários,o prazo <strong>de</strong> constituição do contingente é <strong>de</strong> 60 a 90 di<strong>as</strong>, <strong>de</strong> forma apermitir a reunião do material e suprimento necessários, <strong>as</strong>sim como aadoção d<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> administrativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> pessoal. Nesseperíodo, o contingente realiza exercícios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento específicosao cenário <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> tropa e promove a necessária a<strong>de</strong>quação


226 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAd<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares aos padrões organizacionais <strong>da</strong> ONU. O prazo<strong>de</strong> mobilização foi reduzido com a criação do Batalhão <strong>de</strong> Ação Rápi<strong>da</strong>,no bojo do programa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> força terrestre.No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Marinha, compete à Força <strong>de</strong> Fuzileiros <strong>da</strong>Esquadra (EFE), com se<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro, sempre em regime <strong>de</strong>voluntariado, proporcionar quadros para os contingentes armados.Embora não sejam a<strong>de</strong>strados para participar especificamente <strong>de</strong>ss<strong>as</strong>operações, su<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s treinam a execução <strong>de</strong> ações característic<strong>as</strong><strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, tais como controle <strong>de</strong> áre<strong>as</strong>, opatrulhamento e a guar<strong>da</strong> <strong>de</strong> instalações, capacitando-<strong>as</strong> a integrareventuais contingentes formados para colaborar com <strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>. O prazo <strong>de</strong> mobilização também é <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 60 a 90di<strong>as</strong>, contados a partir <strong>da</strong> liberação dos recursos orçamentários. Éoportuno <strong>as</strong>sinalar que a Marinha também colabora com o transporte<strong>da</strong> tropa.No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Aeronáutica, sua contribuição tem-se limitado àcessão <strong>de</strong> observadores militares e oficiais <strong>de</strong> estado-maior, além <strong>de</strong>prestar apoio logístico à nossa tropa no exterior, mormente no campodo transporte aéreo. Na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong>, entretanto, que sua infantaria,a<strong>de</strong>stra<strong>da</strong> para garantir instalações <strong>da</strong> Força Aérea, possaeventualmente integrar um contingente armado.Diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar a prestação <strong>de</strong> apoiologístico e compor contingentes armados, envolvendo frações <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>do Exército e <strong>da</strong> Marinha, o EMFA — hoje superado pelo Ministério<strong>da</strong> Defesa — e os Estados-Maiores dos comandos militaresprocuraram aprimorar a coor<strong>de</strong>nação interna nesse campo. No âmbitodo então EMFA, adotou-se a prática <strong>de</strong> criar uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apoiopara ca<strong>da</strong> operação envolvendo o envio <strong>de</strong> tropa, o chamado Grupo<strong>de</strong> Apoio do EMFA (GRAPEMFA). Até hoje, foram estabelecid<strong>as</strong>du<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s: a primeira, em 1993, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a apoiar a tropabr<strong>as</strong>ileira na ONUMOZ em Moçambique (o contingente <strong>de</strong>slocou-se,entretanto, somente em meados <strong>de</strong> 1994), e a segun<strong>da</strong>, em 1995,


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 227para apoiar a tropa que serviu na UNAVEM III em Angola. Aexperiência d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> na gestão dos contingentesbr<strong>as</strong>ileiros ness<strong>as</strong> operações foi muito útil para i<strong>de</strong>ntificar entravesadministrativos e operacionais, levando, entre outros exemplos, àadoção <strong>da</strong> Portaria nº 3.796-SC/3 do EMFA, em 1996, para oenquadramento disciplinar dos integrantes <strong>da</strong> UNAVEM III, e àelaboração <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> preventiv<strong>as</strong>, como a diretriz relativa ao plano<strong>de</strong> repatriamento do contingente br<strong>as</strong>ileiro <strong>da</strong> UNAVEM III em c<strong>as</strong>o<strong>de</strong> emergência.Embora não integr<strong>as</strong>se formalmente os dois GRAPEMFA, oItamaraty p<strong>as</strong>sou a ser convi<strong>da</strong>do a participar <strong>de</strong> su<strong>as</strong> reuniões. Essainteração permitiu consoli<strong>da</strong>r canais <strong>de</strong> diálogo com <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>e estabelecer um clima <strong>de</strong> confiança mútua, elementos indispensáveisem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s envolvendo situações <strong>de</strong> risco.No que concerne à parte financeira, vale salientar que, emborao custo <strong>de</strong> participação <strong>de</strong> observadores militares seja absorvido pelopróprio orçamento d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> é oneroso,exigindo a aprovação pelo Congresso Nacional <strong>de</strong> créditossuplementares. Isso <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> materiale <strong>da</strong> ausência <strong>de</strong> uma legislação específica sobre a remuneração <strong>de</strong>militares que servem em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Com efeito,não apen<strong>as</strong> a redução do orçamento militar nos últimos anos temresultado em uma crescente obsolescência dos equipamentos d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, por falta <strong>de</strong> reposição ou manutenção 165 , m<strong>as</strong> tambéma inexistência <strong>de</strong> uma legislação salarial apropria<strong>da</strong> faz com que osvoluntários selecionados ganhem os respectivos soldos e aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> custo,nos termos <strong>da</strong> Lei nº 5.809, <strong>de</strong> 10/10/72, que “dispõe sobre a165Skidmore, (1998). O professor Thom<strong>as</strong> Skidmore comenta no seu livro “Uma Históriado <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>” que, entre outros fatores, a crise financeira vivi<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> servepara ilustrar o <strong>de</strong>clínio <strong>da</strong> influência dos militares na vi<strong>da</strong> pública br<strong>as</strong>ileira após 1985.Por exemplo, na página 302, o autor observa que “com exceção <strong>de</strong> um ano (1990), osmilitares <strong>as</strong>sistiram entre 1985 e 1993 a uma diminuição <strong>de</strong> ¼ <strong>de</strong> sua cota. Claramente, o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> havia entrado numa nova era.”


228 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAretribuição e direitos do pessoal civil e militar em serviço <strong>da</strong> União noexterior, e dá outr<strong>as</strong> providênci<strong>as</strong>”.A tropa que serviu na ONUMOZ custou R$ 29.504.612,00(por cerca <strong>de</strong> 6 meses) e na UNAVEM III, R$ 236.647.332,00 (poraproxima<strong>da</strong>mente 2 anos), perfazendo um total <strong>de</strong> R$ 266.151.944,00,recursos estes aprovados pelo Legislativo antes do <strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong>tropa ou ao longo <strong>de</strong> sua permanência no terreno. Desse total, R$102.086.435,00 cobriram <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> “pessoal” e R$ 164.065.509,00foram g<strong>as</strong>tos na rubrica “outr<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> correntes e capital”. Osvalores não utilizados foram restituídos ao Tesouro Nacional. Uma d<strong>as</strong>preocupações d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> foi sempre a <strong>de</strong> prestar cont<strong>as</strong>sobre <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> incorrid<strong>as</strong>, <strong>de</strong> modo a não <strong>da</strong>r margem a crític<strong>as</strong> oususpeit<strong>as</strong> <strong>de</strong> malversação <strong>de</strong> fundos.O ônus financeiro incorrido pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz éatenuado quando se tem presente o fato <strong>de</strong> que a manutenção <strong>de</strong>ssatropa e seu a<strong>de</strong>stramento no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> implicaria, <strong>de</strong> qualquer modo, em<strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> custeio e que os recursos foram empregados mormentepara adquirir equipamentos <strong>de</strong> empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, não havendo ev<strong>as</strong>ão<strong>de</strong> divis<strong>as</strong>. Recor<strong>de</strong>-se, a<strong>de</strong>mais, que o custeio d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz é uma obrigação imposta a todos os Estadosmembros, conforme explicado no capítulo I. C<strong>as</strong>o o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nãoparticipe, em nível a<strong>de</strong>quado, a contribuição br<strong>as</strong>ileira será usa<strong>da</strong> parareembolsar <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> terceiros países. Até o momento, cerca <strong>de</strong>US$ 36 milhões foram reembolsados até 1/7/99, m<strong>as</strong> ain<strong>da</strong> há recursosa serem recebidos, cujo pagamento está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo doequacionamento satisfatório dos problem<strong>as</strong> financeiros por que p<strong>as</strong>saa ONU.À parte d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> intern<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> paramobilização, preparo e <strong>as</strong>sistência dos contingentes br<strong>as</strong>ileiros emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, foram adotad<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> para melhoracompanhar a evolução d<strong>as</strong> operações d<strong>as</strong> quais o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> participavae <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses nacionais. Assim, o Itamaraty e <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 229Armad<strong>as</strong> empenharam-se, nos últimos anos, em incrementar a presençabr<strong>as</strong>ileira em diferentes ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, especialmente na ocupação <strong>de</strong> postos-chave tanto no terreno comono DPKO, em Nova Iorque, o que será analisado a seguir.PARTICIPAÇÃO DE OFICIAIS BRASILEIROS EM POSTOS DE CHEFIANAS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASO GTI i<strong>de</strong>ntificou a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> vir a preenchercargos <strong>de</strong> chefia n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> paz como meio <strong>de</strong>resguar<strong>da</strong>r os interesses d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> a serem cedid<strong>as</strong> às Nações Unid<strong>as</strong>,<strong>as</strong>sim como para motivar a oficiali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos comandos militares notratamento do <strong>as</strong>sunto. A tabela, abaixo, relaciona o nome <strong>de</strong> algunsdos oficiais br<strong>as</strong>ileiros que ocuparam cargos <strong>de</strong> chefi<strong>as</strong> n<strong>as</strong> missões <strong>de</strong>paz <strong>da</strong> ONU.TABELA Nº 9NÚMERO DE MILITARES QUE PARTICIPOU DAS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1989 A 1999¹Fonte: publicação The Blue Helmets d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e MRE.


230 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAA experiência acumula<strong>da</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> revela que a seleção <strong>de</strong>militares para cargos <strong>de</strong> chefia respon<strong>de</strong> a critérios eminentementepolíticos, num processo em que interagem, em graus distintos, interessesdos principais países que contribuem com trop<strong>as</strong>, do Secretariado,d<strong>as</strong> partes em conflito, dos países vizinhos ao conflito e do paísconvi<strong>da</strong>do a fazer a cessão do oficial-general. Além disso, o DPKObusca garantir certa proporcionali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre efetivos cedidos e osquadros <strong>de</strong> pessoal nos comandos regionais e no estado-maior <strong>da</strong>missão, m<strong>as</strong> isso não significa necessariamente que serão oferecidosao país que aporta número significativo <strong>de</strong> pessoal postos mais elevadosna ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comando. Em Angola, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> indicou 43 militares para oestado-maior e os comandos regionais, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> um pequenonúmero <strong>de</strong>sses militares ocupou efetivamente cargos <strong>de</strong> chefia naUNAVEM III, apesar <strong>de</strong> o País ter sido, juntamente com a Índia, umdos principais contribuintes <strong>de</strong> tropa. Por outro lado, na Guatemala,em Moçambique e na antiga Iugoslávia on<strong>de</strong>, em contr<strong>as</strong>te, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>teve engajamento menos expressivo, o Exército foi convi<strong>da</strong>do a ce<strong>de</strong>rum oficial-superior para ser o subcoman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> MINUGUA e doisoficiais-generais para ocuparem cargos <strong>de</strong> comando na ONUMOZ ena UNPROFOR.Em tese, a participação <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros no planejamentod<strong>as</strong> ações, mediante a <strong>as</strong>sunção <strong>de</strong> cargos outros <strong>de</strong> direção, permitiriaaju<strong>da</strong>r a a<strong>de</strong>quar o emprego d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> à sua real capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>operacional, preservando o equipamento próprio nacional (porexemplo, atribuindo aos contingentes br<strong>as</strong>ileiros taref<strong>as</strong> <strong>de</strong> patrulhamentoem zon<strong>as</strong> que contam com infra-estrutura física a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> — estrad<strong>as</strong><strong>as</strong>faltad<strong>as</strong>, menores ameaç<strong>as</strong> <strong>de</strong> min<strong>as</strong> etc.) e reduzindo custos(favorecendo o <strong>de</strong>sdobramento <strong>da</strong> tropa em locais <strong>de</strong> fácil acesso paraa prestação <strong>de</strong> apoio logístico).Embora a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> influência do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no processo <strong>de</strong>seleção seja limita<strong>da</strong>, é importante que o Secretariado incorporemilitares br<strong>as</strong>ileiros aos estados-maiores e aos escalões <strong>de</strong> maior


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 231responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos comandos regionais d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>de</strong> que o país venha a participar, sobretudo quando envolver acessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>. De acordo com o Comando o Exército e o Ministério<strong>da</strong> Defesa — enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s sucessor<strong>as</strong> do Ministério do Exército e doEMFA — esta é uma d<strong>as</strong> principais lições do engajamento <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> na ONUMOZ em Moçambique e na UNAVEM III emAngola.CESSÃO DE OFICIAIS BRASILEIROS PARA O DEPARTAMENTO DE OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DO SECRETARIADO DAS NAÇÕES UNIDASDiante <strong>da</strong> crescente presença do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, o GTI consi<strong>de</strong>rou, em 1993,que a cessão gratuita <strong>de</strong> oficiais para o DPKO, sem ônus para a ONU,<strong>de</strong>veria ser explora<strong>da</strong> para tentar influenciar o planejamento e aexecução d<strong>as</strong> diferentes operações d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, bem comopara velar pelos interesses d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> no tocante aoprocessamento <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> reembolso e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização por mortee invali<strong>de</strong>z. Depois <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> gestões, e cre<strong>de</strong>nciado então peloengajamento d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> do Exército n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz emMoçambique (1994) e, subseqüentemente, do Exército e <strong>da</strong> Marinhaem Angola (1995-97), o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> foi formalmente convi<strong>da</strong>do a integrar oDPKO em 1994. Para fins <strong>de</strong> registro, segue tabela contendo o nomee <strong>as</strong> funções exercid<strong>as</strong> pelos oficiais cedidos gratuitamente ao DPKO.


232 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 10OFICIAIS CEDIDOS GRATUITAMENTE AO DEPARTAMENTO DEOPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DO SECRETARIADODAS NAÇÕES UNIDAS 1Fonte: MRE.1Os militares cedidos po<strong>de</strong>m ter exercido mais <strong>de</strong> uma função no DPKO durante seuturno <strong>de</strong> serviço.Essa tabela mostra que os militares do Exército, <strong>da</strong> Marinha e<strong>da</strong> Aeronáutica vêm atuando em vári<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s no DPKO. Comoresultado, tiveram acesso a informações sobre a montagem <strong>de</strong> missões<strong>de</strong> observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz 166 e pu<strong>de</strong>ram acelerar a tramitaçãointerna dos pedidos <strong>de</strong> reembolso e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizações. Em 30/6/98, o166Em 9/1/98, o SGNU enviou missão técnica a Serra Leoa, que incluiu o Major MarceloEschilleti Rodrigues. Em 2/12/96, missão técnica foi <strong>de</strong>spacha<strong>da</strong> para a Guatemala, coma participação do Capitão-<strong>de</strong>-Corveta Paulo César D’Império. Da mesma forma, o MajorRoberto Rover Batista participou <strong>de</strong> missões técnic<strong>as</strong> para coletar <strong>da</strong>dos na Guatemala,em setembro <strong>de</strong> 1994, e no Haiti, em novembro <strong>de</strong> 1994.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 233<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> era o quinto maior contribuinte <strong>de</strong> pessoal cedido gratuitamente,com sete militares cedidos, após os EUA (11), a França (10), a Itália(9) e o Reino Unido (8).No entanto, tendo em vista a controvérsia em relação à presençado pessoal cedido gratuitamente ao Secretariado <strong>da</strong> ONU nos últimosanos, o SGNU <strong>de</strong>cidiu, em 1998, que os militares cedidos servindo noDPKO teriam seus turnos <strong>de</strong> serviço encerrados até fins <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1999, nos termos relatados n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 112 a 114.Nesse contexto, é importante o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> preservar alguma forma<strong>de</strong> representação no Departamento. Po<strong>de</strong>r-se-ia, por exemplo, explorarmelhor a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> aberta para que os Estados membros indiquempossíveis substitutos civis para serem contratados pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.De fato, tendo em conta o nível <strong>de</strong> especialização exigido, o DPKO<strong>de</strong>verá preencher a maioria <strong>de</strong> seus quadros com militares licenciados,<strong>da</strong> reserva ou que <strong>de</strong>ixaram a carreira. Os candi<strong>da</strong>tos submetidos pel<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> em 1998 não foram aproveitados, mostrando anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se empreen<strong>de</strong>r gestões polític<strong>as</strong> em favor <strong>de</strong> militaresbr<strong>as</strong>ileiros para serem contratados, algo que me parece esteja sendofeito por muitos outros países interessados em colocar seus nacionaisna estrutura do Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>.Tais contratados, sobretudo os licenciados, po<strong>de</strong>riam serinstruídos a atentar não apen<strong>as</strong> para <strong>as</strong> questões <strong>de</strong> reembolsos e <strong>de</strong>in<strong>de</strong>nizações envolvendo br<strong>as</strong>ileiros, m<strong>as</strong> também buscar informaçõesprivilegiad<strong>as</strong> sobre a mobilização <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz,acompanhar <strong>as</strong> discussões intern<strong>as</strong> sobre a evolução dos conceitos <strong>de</strong>emprego <strong>da</strong> força e informar, na medi<strong>da</strong> do possível, sobre a realização<strong>de</strong> licitações internacionais 167 .167Com relação às concorrênci<strong>as</strong> internacionais, a ONU adquiriu bens e serviços <strong>da</strong>or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> US$ 399 milhões em 1997 para viabilizar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Trata-se <strong>de</strong> um mercado pouco explorado pel<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. Tão-somente aNorberto O<strong>de</strong>brecht, em empreendimento conjunto com a Raytheon Service Company,venceu uma concorrência realiza<strong>da</strong> pela ONU no valor <strong>de</strong> US$ 40 milhões para prestarserviços <strong>de</strong> logística à UNAVEM III em Angola.


234 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURACESSÃO DE OBSERVADORES POLICIAIS PARA AS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASO Grupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong><strong>Paz</strong> <strong>de</strong>bruçou-se sobre a questão dos observadores policiais, <strong>da</strong><strong>da</strong>a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos problem<strong>as</strong> envolvidos para a cessão <strong>de</strong>ssetipo <strong>de</strong> observador às missões <strong>de</strong> observação, forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz emissões civis. O Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong><strong>Paz</strong> <strong>da</strong> ONU <strong>de</strong>scartou a utilização <strong>de</strong> policiais d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>, por respon<strong>de</strong>rem apen<strong>as</strong> pelo policiamento militar, e<strong>de</strong> forç<strong>as</strong> policiais que atuam em trajes civis, como a políciafe<strong>de</strong>ral. No enten<strong>de</strong>r do DPKO, os policiais colocados àdisposição d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz exercem funçõescivis, m<strong>as</strong>, por integrarem estrutur<strong>as</strong> militares, precisam estarfar<strong>da</strong>dos para serem facilmente i<strong>de</strong>ntificados pel<strong>as</strong> partes emconflito, pelos <strong>de</strong>mais integrantes <strong>da</strong> operação e pela populaçãolocal.Na medi<strong>da</strong> em que dispõem <strong>de</strong> quadros que atuamuniformizados, possuem a<strong>de</strong>stramento militar e realizam policiamentoostensivo, <strong>as</strong> corporações d<strong>as</strong> Políci<strong>as</strong> Militares dos Estados e doDistrito Fe<strong>de</strong>ral (DF) p<strong>as</strong>saram a ser vist<strong>as</strong> como potenciais contribuintes<strong>de</strong> pessoal. Contatad<strong>as</strong> a respeito, <strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais mostraramreceptivi<strong>da</strong><strong>de</strong> à idéia <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>rem pessoal para <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz. OGTI verificou, em 1993, contudo, que não havia sido estabelecido naadministração pública um sistema <strong>de</strong> acompanhamento compatível com<strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s emergentes. Era preciso indicar um órgão capaz <strong>de</strong>manter, em estreita coor<strong>de</strong>nação com o Itamaraty, contato permanentecom os Estados para tramitar pedidos <strong>de</strong> cessão, <strong>de</strong> substituição, <strong>de</strong>prorrogação ou <strong>de</strong> repatriação, além <strong>de</strong> zelar pela parte disciplinar e<strong>de</strong> instrução.No âmbito do GTI, os Ministérios <strong>da</strong> Justiça, d<strong>as</strong> RelaçõesExteriores e do Exército acor<strong>da</strong>ram em que a Inspetoria-Geral d<strong>as</strong>


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 235Políci<strong>as</strong> Militares do Ministério do Exército (IGPM) - hoje Comandodo Exército - p<strong>as</strong>saria a intermediar <strong>as</strong> consult<strong>as</strong> entre o Itamaraty eos Estados, tendo em vista que, pelo artigo 144,§6 <strong>da</strong> Constituição,<strong>as</strong> Políci<strong>as</strong> Militares são “forç<strong>as</strong> auxiliares e reserva do Exército”, eque, pelo Decreto nº 88.777, <strong>de</strong> 30/9/83, o Estado-Maior do Exércitoestá incumbido <strong>de</strong> exercer o controle e a coor<strong>de</strong>nação d<strong>as</strong> políci<strong>as</strong>militares 168 . Em contr<strong>as</strong>te com a Secretaria <strong>de</strong> Segurança do Ministério<strong>da</strong> Justiça, a IGPM dispunha <strong>de</strong> pessoal e <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> comunicaçãomais ágeis com <strong>as</strong> corporações d<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais, po<strong>de</strong>ndo<strong>as</strong>sumir os trabalhos <strong>de</strong> mobilização e <strong>de</strong> monitoramento dos efetivospoliciais colocados à disposição d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz.Durante <strong>as</strong> discussões sobre a participação br<strong>as</strong>ileira nocomponente policial d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, foi tambémobservado que dificilmente os Ministérios do Orçamento e Gestão e<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> empenhariam recursos financeiros <strong>da</strong> União para custearo envio dos policiais militares d<strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais. O financiamentotinha <strong>de</strong> seguir o procedimento introduzido em 1991, pelo qual <strong>as</strong>uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> origem dos policiais — e não o Governo Fe<strong>de</strong>ral— arcavam com os soldos, enquanto <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, como <strong>de</strong>hábito, respondiam pelos custos <strong>de</strong> transporte e pelo pagamento <strong>de</strong>diári<strong>as</strong>. Essa prática apresenta inconvenientes. Em primeiro lugar porquelimita a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprometimento do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, já que a <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong> cessão cabe aos governadores. Em segundo lugar, porque <strong>as</strong>discrepânci<strong>as</strong> <strong>de</strong> soldos entre policiais militares <strong>de</strong> diferentes Estadosservindo n<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz levaram bom número <strong>de</strong> voluntários arecorrer à Justiça contra o Governo <strong>de</strong> seus Estados <strong>de</strong> origem e atémesmo contra o Governo Fe<strong>de</strong>ral, na busca <strong>de</strong> compensaçõesfinanceir<strong>as</strong>.168Esse <strong>de</strong>creto, além <strong>de</strong> aprovar o Regulamento para <strong>as</strong> políci<strong>as</strong> militares e corpos <strong>de</strong>bombeiros, estabelece os princípios e <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> que <strong>de</strong>vem reger a aplicação do Decreto-Lei nº 667, <strong>de</strong> 2/7/69, modificado pelo Decreto-Lei nº 1.406, <strong>de</strong> 24/6/75 e pelo Decreto-Lei nº 2.010, <strong>de</strong> 12/1/83.


236 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAEssa situação não impediu, entretanto, que o Governo Fe<strong>de</strong>rallogr<strong>as</strong>se intermediar a mobilização <strong>de</strong> 287 policiais militares em 22Estados e no DF para participar <strong>de</strong> nove operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz e <strong>de</strong> uma missão civil no período <strong>de</strong> 1991 a 1999.TABELA Nº 11NÚMERO E ORIGEM DOS POLICIAIS MILITARES BRASILEIROS NASOPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ E NAS MISSÕES CIVISDAS NAÇÕES UNIDAS¹Fonte: MRE.¹ Os números referem-se às vag<strong>as</strong> preenchid<strong>as</strong> por br<strong>as</strong>ileiros. Durante o turno <strong>de</strong> serviço, ovoluntário po<strong>de</strong> servir em mais <strong>de</strong> uma missão, preenchendo número equivalente <strong>de</strong> vag<strong>as</strong>.A IGPM foi <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong> em 1998 p<strong>as</strong>sando o Comando <strong>de</strong><strong>Operações</strong> Terrestres a intermediar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, os contatos entre osEstados e o Governo Fe<strong>de</strong>ral. A IGPM/COTER e o Itamaraty fizeramvári<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> infrutífer<strong>as</strong> ao longo dos anos para agilizar o processo


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 237<strong>de</strong> envio <strong>de</strong> policiais militares mediante o estabelecimento <strong>de</strong> um banco<strong>de</strong> <strong>da</strong>dos que conteria nomes <strong>de</strong> possíveis voluntários. A própria carreirados policiais, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> funcional, os custos envolvidos e ointeresse dos governadores em examinar, sujeito a critérios políticos,os pedidos <strong>de</strong> cessão c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o têm impedido qualquer compromissoantecipado dos Estados. A IGPM/COTER em razão <strong>da</strong> falta <strong>de</strong>recursos e <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do relacionamento entre o Exército e <strong>as</strong>políci<strong>as</strong> militares, não tem condições <strong>de</strong> interferir <strong>de</strong>cisivamente noprocesso <strong>de</strong> seleção, limitando-se a instar os governos estaduais arespeitarem os requisitos d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, especialmente no tocanteao domínio <strong>da</strong> língua <strong>de</strong> trabalho <strong>da</strong> missão, à i<strong>da</strong><strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> cessãoe à experiência profissional, e enviando-lhes manuais e outrosdocumentos <strong>de</strong> instrução rep<strong>as</strong>sados pelo Itamaraty.Não obstante o empenho <strong>da</strong> IGPM/COTER, a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r d<strong>as</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s estaduais tem resultado na indicação <strong>de</strong> policiaismilitares nem sempre qualificados, alguns dos quais foram repatriadospor motivos <strong>de</strong> indisciplina e falta <strong>de</strong> aptidão para o trabalho no terreno.Nota-se também, nos últimos anos, <strong>de</strong>sinteresse crescente, por partedos governadores, em colocar policiais militares à disposição d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>vido não só à questão <strong>de</strong> remuneração, m<strong>as</strong> tambémà carência <strong>de</strong> quadros.Não obstante esses óbices, conviria ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> manter algumaparticipação <strong>de</strong> policiais militares n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, até porque existe, conforme <strong>as</strong>sinalado n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 145 e 146,tendência <strong>de</strong> o componente policial vir a <strong>as</strong>sumir papel crescente n<strong>as</strong>futur<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz.Contudo, é preciso estu<strong>da</strong>r form<strong>as</strong> para aperfeiçoar a seleçãoe o preparo dos voluntários a serem cedidos pelos Estados, <strong>de</strong> modoa evitar a sua repatriação por falta <strong>de</strong> domínio do idioma <strong>da</strong> missão(geralmente, o inglês) ou por conduta profissional ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>. OItamaraty po<strong>de</strong>ria, por exemplo, incentivar a discussão em curso naPMDF sobre a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um núcleo <strong>de</strong> ensino sobre


238 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz na Aca<strong>de</strong>mia <strong>da</strong> Polícia Militar <strong>de</strong>Br<strong>as</strong>ília. A PMDF é a Corporação que ce<strong>de</strong> mais oficiais às missões<strong>de</strong> paz, alguns dos quais tendo exercido cargos importantes no terreno,nota<strong>da</strong>mente na UNPROFOR na antiga Iugoslávia e na ONUSAL emEl Salvador. Nessa Corporação encontram-se, portanto, oficiais comlarga experiência <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> estado-maior, cujo aproveitamentopermitiria melhor capacitar os policiais militares br<strong>as</strong>ileiros a atuaremn<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz. O estabelecimento <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> treinamento<strong>de</strong> observadores policiais colocaria o País em linha com os países que,como o Canadá, a Espanha e os países nórdicos, ministram cursospara policiais interessados em participar d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU ou <strong>de</strong> outros organismos regionais.CESSÃO DE PERITOS ELEITORAIS PARA AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃODA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASO Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também participou dostrabalhos do GTI em 1993. Verificou-se, na oc<strong>as</strong>ião, que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> estavahabilitado a ce<strong>de</strong>r pessoal qualificado para tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>cooperação eleitoral <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Até o momento,o Governo br<strong>as</strong>ileiro contribuiu com peritos eleitorais para cinco operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, bem como para uma missão civil, razão pela qualé importante abor<strong>da</strong>r esse <strong>as</strong>pecto <strong>da</strong> participação br<strong>as</strong>ileira. Trata-se <strong>da</strong>principal participação <strong>de</strong> civis br<strong>as</strong>ileiros em tais operações.O Itamaraty adotou a prática <strong>de</strong> recorrer aos seus própriosquadros, <strong>as</strong>sim como aos do TSE e do Congresso Nacional 169 .Diferentemente do pessoal do Itamaraty e do Congresso Nacional,requisitado <strong>de</strong> forma esporádica, o TSE teve <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptar sua estrutura169O Congresso Nacional ce<strong>de</strong>u o professor Walter <strong>da</strong> Costa Porto para integrar oTribunal <strong>da</strong> Justiça Eleitoral em Moçambique em 1994. O Itamaraty enviou, por sua vez,o Ministro José Antônio M. <strong>de</strong> Carvalho e Conselheiro Arnaldo C. D’Oliveira par<strong>as</strong>upervisionar <strong>as</strong> eleições na África do Sul em 1994 e os Secretários Márcio F. do N<strong>as</strong>cimentoe Byron A. Santos, em Moçambique em 1994.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 239funcional para aten<strong>de</strong>r às solicitações <strong>da</strong> ONU e <strong>da</strong> OEA. A limitação<strong>de</strong> seus quadros em Br<strong>as</strong>ília levou o Gabinete do Presi<strong>de</strong>nte, juntamentecom a Divisão <strong>de</strong> Recursos Humanos, a adotar a política <strong>de</strong> mobilizarfuncionários e técnicos junto aos tribunais estaduais eleitorais,empreen<strong>de</strong>ndo uma iniciativa <strong>de</strong> âmbito nacional. Regr<strong>as</strong> intern<strong>as</strong> foramestabelecid<strong>as</strong> com vist<strong>as</strong> a regulamentar a cessão <strong>de</strong> pessoal, que, noc<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, tem envolvido, até o momento, o envio <strong>de</strong>peritos eleitorais para <strong>de</strong>sempenhar funções como monitores ouobservadores <strong>de</strong> pleitos supervisionados pela Organização. Osmonitores <strong>as</strong>sinam contratos temporários <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços como Secretariado <strong>da</strong> ONU, enquanto os observadores não estabelecemqualquer vínculo trabalhista com a Organização, recebendo apen<strong>as</strong>p<strong>as</strong>sagens <strong>de</strong> i<strong>da</strong> e volta, além <strong>de</strong> fazerem jus a diári<strong>as</strong> <strong>de</strong> manutenção,cujo valor varia <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> hospe<strong>da</strong>gem. O salário,o seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>mais encargos legais correm por conta do órgão<strong>de</strong> origem.A tabela número 12 apresenta o número e a origem dosbr<strong>as</strong>ileiros que serviram como peritos eleitorais em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz ou em missões civis d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.


240 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATABELA Nº 12PARTICIPAÇÃO DE PERITOS ELEITORAIS BRASILEIROS EM OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ E DE VERIFICAÇÃO ELEITORALDAS NAÇÕES UNIDASFonte: MRE.¹ procuradores, diplomat<strong>as</strong> e outros.Em 1993, como resultado d<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações do Grupo <strong>de</strong>Trabalho Interministerial, o TSE relacionou 69 especialist<strong>as</strong> voluntários,proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> variados Estados e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral (DF), paraintegrarem o cad<strong>as</strong>tro geral <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Assistência Eleitoral (DAE)d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Os funcionários cad<strong>as</strong>trados são colocados àdisposição d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> mediante prévia autorização do TSE edo Itamaraty, po<strong>de</strong>ndo ser convi<strong>da</strong>dos a supervisionar ou a aju<strong>da</strong>r naorganização <strong>de</strong> eleições no contexto <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz e <strong>de</strong> missões civis, <strong>as</strong>sim como a <strong>as</strong>sinar contratos <strong>de</strong> trabalhocom o Secretariado <strong>da</strong> Organização para participarem <strong>de</strong> missõestécnic<strong>as</strong> <strong>de</strong> menor porte ou prestar serviços <strong>de</strong> consultoria.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 241Depen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> su<strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a ONU tem recorrido àorganização “Voluntários d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>” para mobilizar peritoseleitorais. Essa enti<strong>da</strong><strong>de</strong> mantém bancos <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos com ci<strong>da</strong>dãosinteressados em prestar apoio às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> nocampo sócio-econômico. O Governo Fe<strong>de</strong>ral não po<strong>de</strong>responsabilizar-se pel<strong>as</strong> qualificações dos ci<strong>da</strong>dãos br<strong>as</strong>ileiros queintegram aquele banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, pois seus nomes não foramprocessados por órgãos governamentais. Na área eleitoral, os nomesteriam que ser tramitados pelo TSE.É comum que governos estrangeiros convi<strong>de</strong>m, além doGoverno br<strong>as</strong>ileiro, enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s representativ<strong>as</strong> d<strong>as</strong>ocie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil ou expoentes do Po<strong>de</strong>r Legislativo e do Po<strong>de</strong>r Judiciáriopara observarem os processos eleitorais realizados em seus países.Tradicionalmente o Itamaraty só <strong>de</strong>signa observadores governamentaispara o acompanhamento <strong>de</strong> eleições no exterior, que compõem missõesmobilizad<strong>as</strong> e coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> por organismos multilaterais, o que no c<strong>as</strong>od<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ocorre no contexto d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong> missões civis. Essa prática tem evitado que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> sejapressionado, mesmo que indiretamente, a atestar a lisura <strong>de</strong> pleitos,em gesto carregado <strong>de</strong> implicações polític<strong>as</strong>. A posição br<strong>as</strong>ileira <strong>de</strong>não-envolvimento, entretanto, não exclui que ci<strong>da</strong>dãos br<strong>as</strong>ileirosvenham a colaborar a título pessoal ou na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representantes<strong>de</strong> órgãos não governamentais.A atuação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> na vertente eleitoral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>foi diversifica<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1992 a 1994, quando acumulou v<strong>as</strong>ta experiênciainternacional e logrou montar um sistema <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> pessoalpara integrar missões não apen<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU, m<strong>as</strong> também <strong>da</strong> OEA e <strong>de</strong>outros organismos internacionais. Essa experiência foi posta em práticaem 1999 quando o TSE, em pouco tempo hábil, mobilizou uma amplagama <strong>de</strong> voluntários <strong>de</strong> seus quadros em Br<strong>as</strong>ília e dos tribunais regionaispara aten<strong>de</strong>r a pedido <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> peritos eleitorais para aju<strong>da</strong>r <strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> a preparar a consulta popular que foi realiza<strong>da</strong> no Timor


242 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURALeste em 30/8/99. O TSE relacionou cerca <strong>de</strong> 30 voluntários, m<strong>as</strong>,diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a ONU respeitar o critério <strong>de</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong>na composição <strong>de</strong> su<strong>as</strong> missões — no total, 67 países ce<strong>de</strong>ram peritoseleitorais para a UNAMET —, somente 13 funcionários pu<strong>de</strong>ramser aproveitados, três dos quais não pu<strong>de</strong>ram embarcar por motivos<strong>de</strong> força maior. O episódio pôs em evidência também a serie<strong>da</strong><strong>de</strong> doprocesso <strong>de</strong> seleção do TSE, envolvendo, por exemplo, prov<strong>as</strong>escrit<strong>as</strong> e orais <strong>de</strong> inglês para os potenciais candi<strong>da</strong>tos. A cessão <strong>de</strong>pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong>squalificad<strong>as</strong>, além <strong>de</strong> prejudicar os trabalhos <strong>da</strong> ONUno terreno, repercute negativamente sobre a imagem do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> juntoà Organização.Com a sua participação nessa vertente eleitoral, o Itamaratyconseguiu <strong>da</strong>r sustentação ao discurso br<strong>as</strong>ileiro <strong>de</strong> valorização doprimado do Direito e <strong>da</strong> solução pacífica d<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong> semcomprometer o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> com opiniões sobre a lisura dos processoseleitorais. Ao mesmo tempo, conferiu maior visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> doméstica àsações <strong>de</strong> política externa, haja vista que a cessão <strong>de</strong> representantesdos Estados fez com que o tema extrapol<strong>as</strong>se o círculo <strong>da</strong> justiçaeleitoral, com cobertura na imprensa local <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Estado, revelandoo amplo efeito multiplicador <strong>da</strong> iniciativa conjunta do Ministério d<strong>as</strong>Relações Exteriores e do Tribunal Superior Eleitoral. No momento, nocad<strong>as</strong>tro <strong>da</strong> DAE constam voluntários do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>da</strong> Bahia,do Espírito Santo, do Mato Grosso do Sul, do Maranhão, <strong>de</strong> Min<strong>as</strong>Gerais, do Pará, do Paraná, <strong>de</strong> Pernambuco, do Piauí, do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul, <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong> Santa Catarina e <strong>de</strong> Sergipe.Conviria estabelecer um procedimento para atualizar eenriquecer a lista dos voluntários do TSE e dos tribunais eleitoraisregionais constante do cad<strong>as</strong>tro <strong>da</strong> DAE. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que a realização<strong>de</strong> eleições organizad<strong>as</strong> e supervisionad<strong>as</strong> pela ONU está-seesc<strong>as</strong>seando, m<strong>as</strong> há um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> apoio eleitoral<strong>de</strong> menor envergadura sendo <strong>de</strong>senvolvido pela Organização em favor<strong>de</strong> países que precisam consoli<strong>da</strong>r su<strong>as</strong> <strong>de</strong>mocraci<strong>as</strong>, nota<strong>da</strong>mente na


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 243África, no Leste Europeu e no Cáuc<strong>as</strong>o 170 . Na ausência <strong>de</strong> quadros, aDAE recorre aos nomes relacionados no seu banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos parapreencher <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação, sem ônus para o Estado<strong>de</strong> cessão do pessoal. Em suma, pelos bons resultados colhidos internae externamente, seria oportuno ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> manter essa prática <strong>de</strong> cessão<strong>de</strong> peritos eleitorais para missões conduzid<strong>as</strong> sob a égi<strong>de</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> ou por outros organismos regionais ou sub-regionais, bem comoacolher, na medi<strong>da</strong> do possível, os pedidos <strong>de</strong> cessão do pessoalcad<strong>as</strong>trado no banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Assistência Eleitoral <strong>da</strong>ONU, para realizar missões <strong>de</strong> cooperação técnica.QUESTÕES DE SEGURANÇA: MORTE E INVALIDEZ DE BRASILEIROSEM OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASApesar <strong>de</strong> poucos br<strong>as</strong>ileiros terem falecido em razão <strong>da</strong>participação em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,<strong>as</strong> fatali<strong>da</strong><strong>de</strong>s costumam ser veiculad<strong>as</strong> pela imprensa em tonsemocionais, repercutindo fortemente junto à opinião pública e aoscírculos políticos. Essa cobertura <strong>da</strong> imprensa po<strong>de</strong> afetar o apoiointerno à participação br<strong>as</strong>ileira ness<strong>as</strong> operações.Tal implicação fez com que o Governo sempre lev<strong>as</strong>se emconsi<strong>de</strong>ração os <strong>as</strong>pectos <strong>de</strong> segurança existentes no terreno quando<strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> engajar-se em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz. Dos 11.663 militares, policiais militares e civis que já participaram<strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>de</strong> missões civis, ocorreramapen<strong>as</strong> 12 baix<strong>as</strong> fatais entre militares e policiais militares, a maioriaem razão <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. No entanto, não se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scartar apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que alguns poucos voluntários tenham sido repatriadosapós contrair doença, vindo a falecer no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>.170No período <strong>de</strong> 1989-97, especialist<strong>as</strong> eleitorais d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> foram <strong>de</strong>stacadospara atuar em mais <strong>de</strong> 70 Estados Membros. Para maiores informações, ver os docs.Main Types of Assistance Activities and Member States’ Requests for Electoral Assistanceto the United Nations System elaborados pela DAE.


244 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAOs <strong>da</strong>dos apresentados a seguir são uma tentativa <strong>de</strong>consoli<strong>da</strong>ção d<strong>as</strong> informações disponíveis sobre baix<strong>as</strong> sofrid<strong>as</strong> emmissões <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU por voluntários br<strong>as</strong>ileiros.TABELA Nº 13MILITARES E POLICIAIS BRASILEIROS FALECIDOS NAS OPERAÇÕESDE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASFonte: DPKO, EMFA/MD, MREO Itamaraty tem também acionado o Secretariado <strong>da</strong> ONU afim <strong>de</strong> obter o pagamento <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizações não apen<strong>as</strong> para os militarese policiais falecidos, m<strong>as</strong> também para os que sofreram ferimentos no<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções. Essa é uma d<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho maissensíveis para o Itamaraty, diante <strong>da</strong> expectativa d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong><strong>de</strong> que os interesses d<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong> sejam atendidos pela ONU.Os processos são geralmente morosos, mesmo para os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> morte,obrigando a Missão do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> junto às Nações Unid<strong>as</strong> a efetuar repetid<strong>as</strong>gestões a fim <strong>de</strong> acelerar a tramitação dos pedidos encaminhados.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 245Espera-se que essa lentidão venha a ser supera<strong>da</strong> com a aplicação <strong>da</strong>tabela única <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> compensações financeir<strong>as</strong> aprova<strong>da</strong> em1997 (vi<strong>de</strong> página 119 e 120 para maiores explicações).TABELA Nº 14INDENIZAÇÃO POR MORTE OU INVALIDEZ DE BRASILEIROS EMOPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASFonte: DPKO e MRE.Os esforços internos são complementados pela insistência do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nos foros internacionais na <strong>as</strong>sinatura prévia <strong>de</strong> um Acordo d<strong>as</strong>Prerrogativ<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> (SOFA) entre a ONU e o país anfitrião antesdo <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Conformevisto n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 88 e 89, o SOFA é um instrumento que visa a regularos privilégios e <strong>as</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do pessoal militar, policial e civil d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, contendo dispositivos relativos à questão <strong>de</strong> segurança.Além d<strong>as</strong> habituais garanti<strong>as</strong> relativ<strong>as</strong> à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentação eà inviolabili<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> instalações <strong>da</strong> missão, o país anfitrião <strong>as</strong>sume o


246 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcompromisso <strong>de</strong> velar pela integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física do pessoal <strong>da</strong> ONU e <strong>de</strong>processar nacionais que cometam crimes contra os integrantes <strong>da</strong> missão<strong>de</strong> paz. Ess<strong>as</strong> preocupações constam <strong>da</strong> Convenção sobre a Segurançado Pessoal <strong>da</strong> ONU e do Pessoal Associado, que ain<strong>da</strong> carece <strong>de</strong>maior aceitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> universal 171 .Consciente, entretanto, d<strong>as</strong> limitações <strong>de</strong> qualquer acordo <strong>de</strong>ssetipo em um ambiente volátil, caracterizado, muit<strong>as</strong> vezes, pela pulverização<strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> no terreno, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> advoga igualmente a aplicação dos princípiosdo DIH n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, mesmo que haja dúvid<strong>as</strong>legais quanto à aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> à ONU — já que apen<strong>as</strong> Estadospo<strong>de</strong>m ser Partes-Contratantes dos Acordos <strong>de</strong> Genebra <strong>de</strong> 1949 e <strong>de</strong>seus Protocolos Adicionais <strong>de</strong> 1977 172 — e aos integrantes <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz — que não se enquadram perfeitamente na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>“não combatentes” ou “civis” objeto dos instrumentos do DIH 173 .Não obstante ess<strong>as</strong> in<strong>de</strong>finições, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enten<strong>de</strong> que <strong>as</strong> norm<strong>as</strong>e princípios do DIH <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados aplicáveis às missões <strong>de</strong>observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, cabendo aos países que contribuem comtropa velar para que seus efetivos estejam cientes dos textos do DIH.Nesse sentido, o Governo br<strong>as</strong>ileiro acolheu favoravelmente o boletimdivulgado pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, em 10/8/99, sobreos princípios e <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> fun<strong>da</strong>mentais do DIH que <strong>de</strong>veriam ser171A Convenção está apensa à Resolução nº 49/59 <strong>da</strong> AGNU. A Convenção, que entrouem vigor em 15/1/99, conta com 25 ratificações e 43 <strong>as</strong>sinatur<strong>as</strong>, <strong>de</strong> acordo com <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>ONU <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>as</strong>sinou o diploma em 3/2/95 e seu texto está sendoapreciado pelo Congresso Nacional.172Um conjunto <strong>de</strong> acordos compõe o DIH, m<strong>as</strong> sua essência consta d<strong>as</strong> Convenções <strong>de</strong>Genebra <strong>de</strong> 1949 e <strong>de</strong> seus Protocolos Adicionais <strong>de</strong> 1977. Entre outr<strong>as</strong> Convenções, há ain<strong>da</strong>:a Convenção sobre Bens Culturais <strong>de</strong> 1954; a Convenção sobre os Efeitos dos Conflitos noMeio Ambiente <strong>de</strong> 1976; a Convenção sobre Cert<strong>as</strong> Arm<strong>as</strong> Convencionais <strong>de</strong> 1980 e seusProtocolos Adicionais; e a Convenção sobre Min<strong>as</strong> Antipessoal <strong>de</strong> 1999. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ratificou osinstrumentos do DIH e reconhe a competência <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> Verificação <strong>de</strong> Fatos constantedo artigo 90 do Protocolo I <strong>de</strong> 1977. O professor Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo <strong>de</strong> Estudos<strong>da</strong> Violência <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, é um dos peritos <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> Comissão.173Para maiores informações, ver <strong>as</strong> publicações do Comitê Internacional <strong>da</strong> Cruz Vermelh<strong>as</strong>obre a Applicability of international humanitarian law to United Nations peace-keeping forces,<strong>de</strong> 1993, e os Simpósios Humanitarian Action and Peace-Keeping Operations, <strong>de</strong> 1994.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 247observados em ações <strong>de</strong> imposição ou em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> força emlegítima <strong>de</strong>fesa por operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Em que pese to<strong>da</strong> a preocupação normativa sobre o <strong>as</strong>sunto, <strong>as</strong>egurança do pessoal d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito <strong>da</strong> forçamoral que seus integrantes exerçam sobre os diferentes atores no terrenoe dos cui<strong>da</strong>dos com que o CSNU e o DPKO proce<strong>da</strong>m no estabelecimentoe no acompanhamento <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Apermanência <strong>de</strong> uma missão <strong>de</strong> paz no terreno ao mesmo tempo emque o CSNU <strong>de</strong>termina a imposição <strong>de</strong> embargos, sanções econômic<strong>as</strong>e outr<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> coercitiv<strong>as</strong> contra <strong>as</strong> partes em conflito po<strong>de</strong>rá resultarno aumento <strong>da</strong> insegurança <strong>de</strong> seus integrantes, c<strong>as</strong>o a operação <strong>de</strong>ixe<strong>de</strong> ser vista como imparcial. Diante disso, compete ao Itamaratyacompanhar atentamente a situação através <strong>de</strong> su<strong>as</strong> embaixad<strong>as</strong> e <strong>da</strong>Missão junto à ONU, tendo em vista a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar cont<strong>as</strong>aos meios políticos e à opinião pública, sobretudo quando vêm à tonaepisódios que geram apreensões doméstic<strong>as</strong> quanto à segurança dosvoluntários cedidos pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz,mesmo que não resultem em baix<strong>as</strong>. Em outros c<strong>as</strong>os, a imprensa <strong>de</strong>uampla cobertura aos episódios <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> como reféns <strong>de</strong> observadoresmilitares br<strong>as</strong>ileiros na antiga Iugoslávia em maio <strong>de</strong> 1995, e docerceamento <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> um pelotão <strong>da</strong> companhia br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>ediado em Andulo em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1995, que <strong>de</strong>correram, em gran<strong>de</strong>medi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> resoluções ou <strong>de</strong>cisões adotad<strong>as</strong> pela ONU consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong>injust<strong>as</strong> ou parciais por uma d<strong>as</strong> partes em conflito.LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZNo bojo do atual processo <strong>de</strong> reestruturação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>, foram aprovados a Lei Complementar nº 97, <strong>de</strong> 9/6/99 (quetrata d<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego dos meios militares) e o Decreto nº3080, <strong>de</strong> 10/6/99 (que dispõe sobre a estrutura do Ministério <strong>da</strong> Defesa)A emen<strong>da</strong> constitucional nº 23, <strong>de</strong> 02/09/99 (que a<strong>da</strong>pta a Constituição


248 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAà criação do Ministério <strong>da</strong> Defesa). Essa legislação abordouexpressamente a questão <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros emoperações <strong>de</strong> paz. Doravante, o Ministério <strong>da</strong> Defesa respon<strong>de</strong>rá pelainstrumentalização dos engajamentos <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros ness<strong>as</strong>missões, em substituição ao EMFA, que foi extinto, cabendo aoItamaraty <strong>as</strong>sessorar o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República quanto à escolha doscenários <strong>de</strong> participação e fazer a interface necessária com <strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> sobre o <strong>as</strong>sunto. Tais <strong>de</strong>sdobramentos estão em linha com <strong>as</strong>priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> pela Política <strong>de</strong> Defesa Nacional, lança<strong>da</strong> peloPresi<strong>de</strong>nte Fernando Henrique Cardoso, em 1996, na qual, entre su<strong>as</strong>diretrizes, consta a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, “<strong>de</strong> acordo com os interesses nacionais”. As norm<strong>as</strong> aprovad<strong>as</strong>são bem mais precis<strong>as</strong> do que o texto <strong>da</strong> Lei nº 2.953, <strong>de</strong> 17/11/56,que se refere a qualquer envio <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong> ao exterior em tempo<strong>de</strong> paz 174 .Com efeito, a Lei Complementar faz menção ao emprego d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> paz — art. 15 — e <strong>de</strong> su<strong>as</strong>ubordinação operacional ao Ministério <strong>da</strong> Defesa — arts. 11 e 15(II)—, ao p<strong>as</strong>so que o Decreto discorre sobre <strong>as</strong> diferentes uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s doMinistério <strong>da</strong> Defesa que se responsabilizarão pelo tratamento do<strong>as</strong>sunto: O Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa, que será <strong>as</strong>sessorado pel<strong>as</strong>Subchefia <strong>de</strong> <strong>Operações</strong>, Logística e Inteligência — arts. 8, 11, 12 e13 — e a Secretaria Político-Estratégica e <strong>de</strong> Assuntos Internacionais,que será <strong>as</strong>sessora<strong>da</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> Assuntos Internacionais— art. 18. No entanto, a legislação que entrou em vigor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>examinar a matéria em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, fazendo com que norm<strong>as</strong> adicionaistenham <strong>de</strong> ser aprovad<strong>as</strong> para cobrir <strong>as</strong> <strong>de</strong>ficiênci<strong>as</strong> observad<strong>as</strong> naprática. Entre outros <strong>as</strong>pectos, a questão <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> licitações ea alocação <strong>de</strong> recursos no orçamento d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> precisariamser tratad<strong>as</strong>. A Câmara <strong>de</strong> Relações Exteriores e Defesa Nacional do174Ver no Anexo <strong>de</strong>ste livro os textos integrais <strong>da</strong> Lei nº 2.953, <strong>de</strong> 17/11/56, <strong>da</strong> LeiComplementar nº 97, <strong>de</strong> 9/6/99, e do Decreto nº 3080, <strong>de</strong> 10/6/99.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 249Conselho <strong>de</strong> Governo (CREDEN) po<strong>de</strong>ria ser um dos canaisempregados para aprimorar a legislação existente, por ter entre seusobjetivos “formular polític<strong>as</strong>, estabelecer diretrizes, aprovar eacompanhar” <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz 175 .Diante <strong>de</strong>ssa limitação, a Lei nº 2.953, <strong>de</strong> 17/11/56, continuaa ser a única norma no direito interno que regulamenta efetivamenteo envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> ao exterior em tempo <strong>de</strong> paz. Tal lei ocondiciona à autorização do Congresso Nacional. Não há lei quediscipline o envio <strong>de</strong> observadores militares, policiais e civis (pessoal<strong>de</strong>sarmado) para operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. O Governochegou a encaminhar, em 27/12/93, projeto <strong>de</strong> lei sobre a remessa<strong>de</strong> tropa ao exterior, à luz d<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações ocorrid<strong>as</strong> no GrupoInterministerial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>. A experiência colhi<strong>da</strong> naadministração do dia-a-dia dos contingentes armados br<strong>as</strong>ileiros queserviram na ONUMOZ em Moçambique, em 1994, e na UNAVEMIII em Angola, em 1995/97, logo revelou, entretanto, que seus termosestavam <strong>de</strong>f<strong>as</strong>ados. Diante d<strong>as</strong> omissões verificad<strong>as</strong>, o Itamaratysugeriu a retira<strong>da</strong> do projeto <strong>de</strong> lei nº 4.380/94 do Legislativo, algoque acabou se realizando somente em fins <strong>de</strong> 1998.É interessante acompanhar os diferentes p<strong>as</strong>sos percorridospelo projeto <strong>de</strong> lei nº 4.380 até a sua retira<strong>da</strong> <strong>de</strong>finitiva em 1998,uma vez que novos esforços terão <strong>de</strong> ser empreendidos paracompletar a legislação adota<strong>da</strong> em 1999.Em agosto <strong>de</strong> 1994, a Comissão <strong>de</strong> Relações Exteriores(CRE) 176 — hoje extinta —acolheu o projeto com du<strong>as</strong> emend<strong>as</strong>,uma d<strong>as</strong> quais sujeitaria à anuência prévia do Congresso a <strong>de</strong>signação<strong>de</strong> qualquer observador militar e policial. Subseqüentemente, oprojeto <strong>de</strong> lei foi encaminhado à Comissão <strong>de</strong> Defesa Nacional175O CREDEN foi criado pelos Decretos nº 1.895, <strong>de</strong> 6/5/96, e nº 2009, <strong>de</strong> 19/9/96, cujostextos estão reproduzidos no Anexo <strong>de</strong>ste livro.176Na Câmara dos Deputados, a Comissão <strong>de</strong> Relações Exteriores e a Comissão <strong>de</strong> DefesaNacional foram extint<strong>as</strong> em fins <strong>de</strong> 1996 para <strong>da</strong>r lugar à criação <strong>da</strong> Comissão <strong>de</strong> RelaçõesExteriores e <strong>de</strong> Defesa Nacional (CREDENE)— Resolução nº 15/96, <strong>de</strong> 12/12/96.


250 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA(CDN) — igualmente extinta —, que o rejeitou em outubro <strong>de</strong> 1995,e à Comissão <strong>de</strong> Constituição e Justiça e <strong>de</strong> Re<strong>da</strong>ção (CCJR). Nessainstância, o relator <strong>da</strong> matéria, Deputado Jairo Carneiro, emitiu parecer,em outubro <strong>de</strong> 1997, consi<strong>de</strong>rando inconstitucional o projetoapresentado pelo Executivo.A CDN e o relator <strong>da</strong> CCJR alegam que “o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>armad<strong>as</strong> para o cumprimento <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> paz patrocinad<strong>as</strong> pororganismos internacionais” dispensa a consulta prévia ao Legislativo,visto que a Constituição <strong>de</strong> 1988 não havia previsto essa competênciapara o Congresso e que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, ao ratificar a Carta d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, havia <strong>as</strong>sumido a obrigação <strong>de</strong> aceitar e executar <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisõesdo CSNU, à luz do art. 25 <strong>de</strong> sua Carta. Em razão <strong>de</strong>sse dispositivo<strong>da</strong> Carta, o Congresso já teria aprovado antecipa<strong>da</strong>mente qualquerato <strong>de</strong>terminado pelo CSNU. Tal interpretação, porém, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>raa existência <strong>da</strong> Lei nº 2.953, <strong>de</strong> 17/11/56, que, <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong>Consultori<strong>as</strong> Jurídic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e do Itamaraty consultad<strong>as</strong>na época, não foi revoga<strong>da</strong> por lei posterior ou por dispositivoconstitucional, além <strong>de</strong> não tocar nos c<strong>as</strong>os dos voluntários <strong>de</strong>sarmados,cuja situação <strong>de</strong>veria ser preferivelmente regulamenta<strong>da</strong> por lei. Comb<strong>as</strong>e nessa lei, o Executivo solicitou autorizações não apen<strong>as</strong> para enviartrop<strong>as</strong> ao Egito (Faixa <strong>de</strong> Gaza e Sinai), em 1956, à RepúblicaDominicana, em 1965, a Moçambique, em 1994, a Angola, em 1994e 1996, e a Timor Leste, em 1999, m<strong>as</strong> também para participar comtrop<strong>as</strong> do exercício militar combinado “Operação Cruzeiro do Sul”,em 1996 e 1998, e para enviar uma força arma<strong>da</strong> para colaborar comos trabalhos <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Observadores Militares Equador-Peru(MOMEP), em 1998 177 .177Os Decretos Legislativos foram: nº 61/56 (UNEF I); nº 38/65 (OEA/JID — RepúblicaDominicana); nº 15/94 (ONUMOZ); nº 31/94 (UNAVEM); nº 70/96 (Renovação naUNAVEM III); nº 97/96 (Operação Cruzeiro do Sul, biênio 1996-97); nº 66/98 (OperaçãoCruzeiro do Sul, biênio 1998-99); e nº 88/98 (Missão <strong>de</strong> Observadores Militares Equador-Peru) e nº 5/99 (Força Muntinacional para o Timor Leste). Os textos dos <strong>de</strong>cretoslegislativos constam do Anexo <strong>de</strong>ste livro.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 251Outro fator a ser levado em consi<strong>de</strong>ração é que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> incorreem <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> para mobilizar, equipar e manter seus contingentes noexterior, algo que vai muito além <strong>da</strong> obrigação <strong>de</strong> pagar contribuições<strong>de</strong>vid<strong>as</strong> à ONU por força do art. 19 <strong>de</strong> sua Carta. O País não está, <strong>de</strong>modo algum, obrigado a enviar trop<strong>as</strong>, razão pela qual esses g<strong>as</strong>tosnão são impostos pela ONU, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Estado.Tendo em vista que o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> traduz-se em encargos gravosospara a União, que não gozam <strong>de</strong> autorização prévia, o Congresso teráque se pronunciar, pelo menos, sobre os créditos suplementaresnecessários para custear tal envio.Além do projeto <strong>de</strong> lei preparado pelo Executivo em 1993,dois outros projetos <strong>de</strong> lei e uma emen<strong>da</strong> constitucional também foramelaborados sobre o <strong>as</strong>sunto. Os projetos <strong>de</strong> lei foram apresentadospelo então Senador Itamar Franco (projeto <strong>de</strong> lei nº 184), em 1982, epelo Deputado João Fagun<strong>de</strong>s (projeto <strong>de</strong> lei nº 4.843), em 1994. Oprojeto <strong>de</strong> emen<strong>da</strong> constitucional foi introduzido pelo Deputado JoséGenoíno, em 1997. Nos três projetos era reforçado o controle doLegislativo no tocante ao envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> para integrar operações <strong>de</strong>paz <strong>de</strong> organizações internacionais d<strong>as</strong> quais o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> fosse membro,mostrando que, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> omissão, uma lei adicional, regulamentandoa Lei Complementar nº 97, <strong>de</strong> 1999, po<strong>de</strong>ria ser aprova<strong>da</strong> peloCongresso.Esses projetos <strong>de</strong> lei e a proposta <strong>de</strong> emen<strong>da</strong> constitucional,que acabaram não prosperando, continham os seguintes dispositivos:- artigo 1º do projeto <strong>de</strong> lei 184/82 estipulava que: “Aparticipação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> em qualquer operação internacional,isola<strong>da</strong>mente, em conjunto com forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> outros países ou integrandoforça multinacional, será precedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> autorização legislativa.”;- artigo 2º do projeto <strong>de</strong> lei 4.843/94 dispunha que: “Antes <strong>de</strong>aceitar os pedidos <strong>de</strong> que trata o artigo 1º [... pedido <strong>de</strong> envio <strong>de</strong>


252 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAfrações d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> para participar <strong>de</strong> missão <strong>de</strong> paz...], <strong>as</strong>condições que se espera encontrar no exterior e <strong>as</strong> razões que o Po<strong>de</strong>rExecutivo julgue a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong> para aceitar tal pedido <strong>de</strong>verão,circunstancia<strong>da</strong>mente, ser submetid<strong>as</strong> ao Congresso Nacional que <strong>as</strong>aceitará ou não, terminativamente”.- A proposta <strong>de</strong> emen<strong>da</strong> constitucional nº 498, <strong>de</strong> 1997, propunhaampliar <strong>as</strong> atribuições do Congresso Nacional previst<strong>as</strong> no art. 49. Deacordo com o exposto, seria <strong>da</strong> competência do Legislativo “autorizar oenvio <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militares para o exterior” e “acompanhar a execução dosprogram<strong>as</strong> e projetos relacionados à <strong>de</strong>fesa nacional”, além <strong>de</strong> advogaro término <strong>da</strong> subordinação d<strong>as</strong> Políci<strong>as</strong> Militares estaduais ao entãoMinistério do Exército mediante a supressão <strong>da</strong> expressão “forç<strong>as</strong>auxiliares” no texto do inciso 6 do art. 144 <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral.Convém <strong>as</strong>sinalar que o Regimento Interno <strong>da</strong> Câmara dosDeputados previu, em seu artigo 151(1), alínea “a”, que <strong>as</strong> proposiçõessobre <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra, celebração <strong>de</strong> paz, ou remessa <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> para o exterior teriam tramitação urgente naquele foro 178 . ORegimento Interno do Senado limita-se, entretanto, a <strong>as</strong>sinalar, em seuartigo 103, que a Comissão <strong>de</strong> Relações Exteriores e Defesa Nacional<strong>de</strong>verá emitir parecer sobre <strong>as</strong>suntos referentes à Organização d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s internacionais <strong>de</strong> qualquer natureza, nãohavendo, conseqüentemente, uma norma no Senado que discipline aapreciação do tema.Em suma, até o momento, o Governo tem partido <strong>da</strong> premissa<strong>de</strong> que o envio <strong>de</strong> observadores militares, policiais e civis não requer aaprovação legislativa, por não se tratar <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong> e não implicarencargos financeiros adicionais. No entanto, a participação <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> está disciplina<strong>da</strong> pela Lei nº 2.953, <strong>de</strong> 17/11/56, segundo aqual qualquer envio <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> autorização do178Resolução <strong>da</strong> Câmara dos Deputados nº 19, <strong>de</strong> 1989.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 253Congresso Nacional. A Lei Complementar nº 97, <strong>de</strong> 9/6/99, teve omérito <strong>de</strong> introduzir <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz no or<strong>de</strong>namento jurídiconacional, m<strong>as</strong> não elaborou norm<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> sobre o <strong>as</strong>sunto. Cabe,além disso, ao Legislativo aprovar a liberação <strong>de</strong> créditos suplementarespara o custeio dos contingentes armados, uma vez que o setoreconômico-financeiro do Governo não vem aceitando a sugestão <strong>de</strong>inclusão <strong>de</strong> uma rubrica no orçamento d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> para cobriros g<strong>as</strong>tos envolvidos e condiciona o exame <strong>da</strong> matéria a umamanifestação prévia do Congresso. Amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> solicitações sãoencaminhad<strong>as</strong> ao Congresso via Presidência <strong>da</strong> República. No primeiroc<strong>as</strong>o, o pedido po<strong>de</strong> ser elaborado pelo Itamaraty, em conjunto com<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, ao p<strong>as</strong>so que no segundo, <strong>de</strong>ve ser preparadopelo Ministério do Orçamento e Gestão. Esse procedimento faz comque o Congresso seja ouvido du<strong>as</strong> vezes, restringindo a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong> participar em missões <strong>de</strong> paz no âmbito <strong>da</strong> ONU ou fora<strong>de</strong>le, por causa <strong>da</strong> morosi<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo <strong>de</strong>cisório interno.Com vist<strong>as</strong> a melhor capacitar o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> a respon<strong>de</strong>r às consult<strong>as</strong>formulad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobre a cessão <strong>de</strong> pessoal eequipamentos, seria recomendável que o Executivo e o Legislativoestabelecessem um sistema <strong>de</strong> co-responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, diante d<strong>as</strong>ensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> matéria e <strong>da</strong> eventual necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong>créditos suplementares para viabilizar a participação br<strong>as</strong>ileira ness<strong>as</strong>operações. Não se trata <strong>de</strong> compartilhar custos políticos, m<strong>as</strong> sim <strong>de</strong><strong>da</strong>r transparência e sustentação política a ess<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong>, em ummomento em que, ca<strong>da</strong> vez mais, setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileira p<strong>as</strong>sama se interessar por tem<strong>as</strong> internacionais. No intuito <strong>de</strong> criar um canalfluido <strong>de</strong> comunicação com o Congresso, o Itamaraty adotou a prática,sobretudo no período <strong>de</strong> 1993-96, <strong>de</strong> enviar mensagens do Presi<strong>de</strong>nte<strong>da</strong> República às du<strong>as</strong> C<strong>as</strong><strong>as</strong> Legislativ<strong>as</strong>, relatando a evolução <strong>da</strong>participação dos contingentes armados e <strong>de</strong>sarmados br<strong>as</strong>ileiros n<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qualquerdispositivo normativo. Essa transparência n<strong>as</strong> ações adotad<strong>as</strong> pelo


254 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAGoverno sublinha a disposição do Executivo <strong>de</strong> manter o Legislativoatualizado sobre <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> nessa área, algo valorizado pelosparlamentares quando a imprensa p<strong>as</strong>sa a cobrir <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> situações<strong>de</strong>licad<strong>as</strong> envolvendo nossos contingentes.PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NOS ESFORÇOS DE CRIAÇÃO DE UMA CAPACIDADEDE REAÇÃO RÁPIDA NAS NAÇÕES UNIDASO Governo br<strong>as</strong>ileiro opõe-se às propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> umaforça permanente ou semipermanente que ficaria sob o controleoperacional e político d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, como foi proposto, em linh<strong>as</strong>gerais, pelo então Secretário-Geral Boutros-Ghali no relatório “UmaAgen<strong>da</strong> para a <strong>Paz</strong>” (cujo parágrafo 44 trata d<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong> “uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> imposição <strong>da</strong> paz”), <strong>de</strong> 17/6/92, e no “Suplemento <strong>de</strong> Uma Agen<strong>da</strong>para a <strong>Paz</strong>” (cujo parágrafo 44 trata <strong>da</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> “força <strong>de</strong> reaçãorápi<strong>da</strong>”), <strong>de</strong> 3/1/95. Outros exemplos <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> paraestabelecer alguma forma <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> coercitiva permanente para<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> são <strong>as</strong> sugestões apresentad<strong>as</strong> por Sir BrianUrquhart, em 1993, <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um exército <strong>de</strong> voluntários sob aguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Organização (Voluntary Individually-Recruited UNForce) 179 e <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> introduzid<strong>as</strong> pelo governo holandês, em 1995, <strong>de</strong>constituir uma Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Intervenção Rápi<strong>da</strong> (UN Rapid DeploymentBriga<strong>de</strong>) 180 .Além d<strong>as</strong> implicações orçamentári<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>comando, uma força permanente <strong>de</strong>ssa natureza po<strong>de</strong>ria ser manipula<strong>da</strong>pelo CSNU em favor dos interesses <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong>, colocandoem risco a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus integrantes sem que os países contribuintestivessem controle sobre seu emprego. Des<strong>de</strong> que ressalva<strong>da</strong>, porém,a estrita observância do princípio do consentimento prévio d<strong>as</strong> partes,o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> é favorável a que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>senvolvam capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>179Urquhart, (1994), p. 102 e Roberts (1995), pp. 52-55.180Nações Unid<strong>as</strong>, (1995), doc. A/49/886-S/1995/276.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 255<strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong>, tendo em vista a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir-se o tempoentre a criação <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz pelo CSNU eseu total <strong>de</strong>sdobramento no terreno. Essa lentidão operacional po<strong>de</strong>ensejar o recru<strong>de</strong>scimento do conflito, acarretando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>revisões nos man<strong>da</strong>tos e comprometendo a eficácia <strong>da</strong> missão.É interessante recapitular, nesse contexto, a participação do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no sistema <strong>de</strong> pronto emprego (Stand-By Arrangements) e n<strong>as</strong>iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong> d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> fora do âmbito <strong>da</strong> ONU. Convém também recor<strong>da</strong>r oenvolvimento do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> n<strong>as</strong> discussões realizad<strong>as</strong> no Grupo Informaldos Amigos do Desdobramento Rápido (Friends of RapidDeployment), que tem por objetivo i<strong>de</strong>ntificar meios para aperfeiçoaros mecanismos <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, com<strong>de</strong>staque para o estabelecimento do Quartel-General <strong>de</strong> MissãoRapi<strong>da</strong>mente Desdobrável.PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO SISTEMA DE PRONTO EMPREGODAS NAÇÕES UNIDASEmbora já em 1991 o EMFA — hoje, extinto com a criaçãodo Ministério <strong>da</strong> Defesa — fosse consultado sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cessão <strong>de</strong> homens e equipamentos às Nações Unid<strong>as</strong>, a participaçãodo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no sistema <strong>de</strong> pronto emprego <strong>da</strong> ONU, chamado <strong>de</strong> Stand-By Arrangements (vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong> 141 a 148), ganhou impulso somenteem 1993 após a criação do Grupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial sobre<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>. O Itamaraty enviou avisos aos Ministros Militarese <strong>da</strong> Justiça encaminhando a documentação elabora<strong>da</strong> pela equipeespecial convoca<strong>da</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong><strong>da</strong> <strong>Paz</strong>. Os Tenentes-Coronéis Alberto Nieto (Argentina) e Jean-RobertHinse (Canadá), membros <strong>da</strong> equipe especial do DPKO, visitaram o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> a fim <strong>de</strong> expor às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> pronto empregoem <strong>de</strong>senvolvimento para <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> tinham


256 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAevoluído do conceito <strong>de</strong> “forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> pronto emprego” (Stand-ByForces) para o <strong>de</strong> “arranjos <strong>de</strong> pronto emprego” (Stand-ByArrangements). Ess<strong>as</strong> informações serviram para orientar aapreciação do tema pela Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, bem como para subsidiar<strong>as</strong> discussões do GTI.No entanto, os <strong>de</strong>bates permaneceram inconclusivos. OExército e a Marinha chegaram a indicar ao EMFA, em fins <strong>de</strong> 1993,os seus efetivos que po<strong>de</strong>riam ser cad<strong>as</strong>trados na ONU 181 , m<strong>as</strong> <strong>as</strong>exigênci<strong>as</strong> intern<strong>as</strong> para liberação <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong> anuência préviado Legislativo para o emprego <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> no exterior eramincompatíveis com os prazos <strong>de</strong> mobilização propostos pelo DPKO:até 7 di<strong>as</strong>, até 14 di<strong>as</strong> e até 30 di<strong>as</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Diante <strong>de</strong>sse cenário, o Governo br<strong>as</strong>ileiro limitou-se a manifestar àsNações Unid<strong>as</strong>, em 1994, seu interesse em integrar o sistema <strong>de</strong>pronto emprego, comprometendo-se a indicar posteriormente <strong>as</strong>uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os recursos que colocaria sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong> Organização.O <strong>as</strong>sunto ficou em comp<strong>as</strong>so <strong>de</strong> espera até 1997, quando oDPKO, ao rever seus prazos <strong>de</strong> mobilização — até 30 di<strong>as</strong>; entre30 e 60 di<strong>as</strong>; entre 60 e 90 di<strong>as</strong>; mais <strong>de</strong> 90 di<strong>as</strong> —, <strong>de</strong>u novo alentoàs discussões. Dispunha-se agora <strong>de</strong> mais tempo para obter osrecursos financeiros e a autorização do Congresso, ao mesmo tempoem que o Exército, principal força envolvi<strong>da</strong> n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, tinha implementado seu projeto <strong>de</strong> criação doBatalhão <strong>de</strong> Ação Rápi<strong>da</strong> 182 . Essa força po<strong>de</strong>ria ser cad<strong>as</strong>tra<strong>da</strong> comouma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pronto emprego junto ao DPKO, fazendo com que181No c<strong>as</strong>o do Exército, tratava-se <strong>de</strong> um batalhão <strong>de</strong> infantaria com observadores militares.No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Marinha, <strong>de</strong> um Grupamento Operativo <strong>de</strong> Fuzileiros Navais, escalão batalhão,<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> até 850 homens.182O Batalhão <strong>de</strong> Infantaria Motorizado sediado em São Leopoldo foi indicado para sera uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pronto emprego do Exército, sendo treinado para participar <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz e, mesmo, <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência humanitária. O Batalhão foi organizado comum Comando e Estado-Maior e seis Companhi<strong>as</strong>, sendo uma Companhia <strong>de</strong> Comando eApoio, uma Companhia <strong>de</strong> Serviços e quatro Companhi<strong>as</strong> <strong>de</strong> Fuzileiros (uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong>mecaniza<strong>da</strong>), perfazendo um efetivo <strong>de</strong> 796 homens.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 257<strong>as</strong> especificações d<strong>as</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e d<strong>as</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s volumétric<strong>as</strong> (istoé, <strong>da</strong>dos referentes ao espaço ocupado pelo material para fins <strong>de</strong>transporte), etap<strong>as</strong> que prece<strong>de</strong>m à <strong>as</strong>sinatura do memorando <strong>de</strong>entendimento com a ONU, pu<strong>de</strong>ssem ser obtid<strong>as</strong> facilmente.Em 9/12/97, realizou-se reunião no então EMFA para retomar <strong>as</strong><strong>de</strong>liberações sobre a matéria. Acordou-se que o Itamaraty reconvocaria oGrupo <strong>de</strong> Trabalho Interministerial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> imediatamenteapós <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> terem completado os trabalhos <strong>de</strong> composiçãodo contingente que po<strong>de</strong>ria ser oferecido às Nações Unid<strong>as</strong>. Esse mo<strong>de</strong>loabrangeria o quantitativo <strong>de</strong> pessoal, material e equipamentos, permitindoao Governo br<strong>as</strong>ileiro aten<strong>de</strong>r às etap<strong>as</strong> relativ<strong>as</strong> à capacitação e aoquantitativo volumétrico do sistema <strong>de</strong> pronto emprego.Em julho <strong>de</strong> 1998, o Itamaraty recebeu os <strong>da</strong>dos sobre <strong>as</strong>“capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s” oferecid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>. Ess<strong>as</strong> “capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s”dimensionam a contribuição efetiva que ca<strong>da</strong> comando militar estava dispostoa fazer, pelo menos no ano p<strong>as</strong>sado, ao sistema <strong>de</strong> pronto emprego d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>: (i) um batalhão <strong>de</strong> infantaria do Corpo <strong>de</strong> Fuzileiros Navais,constituído <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> comando e serviços, du<strong>as</strong> companhi<strong>as</strong><strong>de</strong> fuzileiros navais motorizad<strong>as</strong> e uma companhia <strong>de</strong> fuzileiros navaismecaniza<strong>da</strong>, com efetivo total <strong>de</strong> 823 militares; (ii) um batalhão <strong>de</strong> infantariado Exército, constituído <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> comando e apoio, trêscompanhi<strong>as</strong> <strong>de</strong> fuzileiros motorizad<strong>as</strong> e uma companhia <strong>de</strong> fuzileirosmecaniza<strong>da</strong>, com efetivo total <strong>de</strong> 850 militares; (iii) uma companhia <strong>de</strong>engenharia do Exército, constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> um pelotão <strong>de</strong> comando e serviço,um pelotão <strong>de</strong> manutenção e suprimento <strong>de</strong> água, um pelotão <strong>de</strong> engenharia<strong>de</strong> construção, um pelotão <strong>de</strong> engenharia <strong>de</strong> pontes e um pelotão <strong>de</strong>engenharia <strong>de</strong> combate, com efetivo total <strong>de</strong> 200 militares; (iv) uma clínicamédica para o comando <strong>da</strong> missão do Corpo <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Marinha, comefetivo total <strong>de</strong> 20 militares; (v) um posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> avançado do Exército,com efetivo total <strong>de</strong> 20 militares; (vi) 20 oficiais do Exército para serviremno quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável ou no Estado-Maior<strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>; (vii) 20 observadores militares do


258 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAExército; (viii) 15 observadores militares <strong>da</strong> Marinha; (ix) 7 oficiais <strong>da</strong>Marinha para atuarem no quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente<strong>de</strong>sdobrável ou no Estado-Maior <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>;(x) 3 observadores militares <strong>da</strong> Aeronáutica; e (xi) dois oficiais <strong>da</strong> Aeronáuticapara exercerem funções no quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente<strong>de</strong>sdobrável ou no Estado-Maior <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>.As Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> estão agora empenhad<strong>as</strong> em fornecer os<strong>da</strong>dos volumétricos, mediante o preenchimento do documento chamado“planning <strong>da</strong>ta sheet”, para fins <strong>de</strong> encaminhamento ao DPKO.Esse engajamento crescente representa a evolução natural <strong>da</strong>participação dos Estados membros no sistema <strong>de</strong> pronto emprego atéa celebração <strong>de</strong> um memorando <strong>de</strong> entendimento com a ONU. Óbicesremanescentes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m legal e orçamentária não impe<strong>de</strong>m o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong><strong>de</strong> ir galgando etap<strong>as</strong> no nível <strong>de</strong> seu compromisso com o sistema <strong>de</strong>pronto emprego d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Na vertente orçamentária, po<strong>de</strong>rse-iaestu<strong>da</strong>r a inclusão <strong>de</strong> créditos contingenciados no Orçamento <strong>da</strong>União. Os recursos seriam liberados pelo Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República nomomento em que fosse <strong>de</strong>cidido o envio <strong>de</strong> tropa para uma operação.Na vertente legal, caberia avaliar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>sinar o memorando<strong>de</strong> entendimento, ad referendum do Congresso Nacional, cujaaprovação subseqüente pelo Legislativo po<strong>de</strong>ria ser interpreta<strong>da</strong> comoautorização para o envio <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong> ao exterior nos níveisarrolados. Eventuais ajustes introduzidos pelos parlamentares nos níveis<strong>de</strong> engajamento d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> po<strong>de</strong>riam ser objeto <strong>de</strong>negociações posteriores com a ONU, já que o DPKO também estáinteressado em contar com o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no seu banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DO SISTEMA DE PRONTO EMPREGOFORA DO ÂMBITO DAS NAÇÕES UNIDASDiferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aprimorar o sistema <strong>de</strong> prontoemprego vêm sendo <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> por países interessados, com maior


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 259ou menor grau <strong>de</strong> êxito, entre <strong>as</strong> quais, são <strong>de</strong> especial interesse parao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, a Briga<strong>da</strong> <strong>de</strong> Pronto Emprego (SHIRBRIG), a “Força Ibero-Americana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” e a “Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>”, cuj<strong>as</strong> principaiscaracterístic<strong>as</strong> foram <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong> no capítulo III, Quanto à SHIRBRIG (aúnica iniciativa fora do âmbito do DPKO capaz <strong>de</strong> incrementarefetivamente a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no campo <strong>da</strong>manutenção <strong>da</strong> paz), a participação br<strong>as</strong>ileira se afigura difícil n<strong>as</strong> atuaiscircunstânci<strong>as</strong>. Como se recor<strong>da</strong>, tem como requisito principal o<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> recursos humanos e materiais no prazo máximo <strong>de</strong>30 di<strong>as</strong>. No entanto, conforme <strong>as</strong>sinalado pelo Exército, o prazo <strong>de</strong>tramitação interna dos pedidos <strong>de</strong> cessão gira em torno <strong>de</strong> três meses,em razão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprovação legislativa e <strong>da</strong> alocação <strong>de</strong>recursos pela área econômico-financeira do Governo. Outrossim, háain<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mais 60 a 90 di<strong>as</strong> para adquirir equipamentose mobilizar a tropa. Tendo em vista que, até o momento, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nãotem condições <strong>de</strong> preencher esse requisito, nunca chegou a ser discutidoo eventual interesse br<strong>as</strong>ileiro em vir a integrar, no futuro, a SHIRBRIG,nem o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> pronunciou-se sobre o <strong>as</strong>sunto nos foros internacionais.As <strong>de</strong>mais iniciativ<strong>as</strong>, <strong>de</strong> cunho restrito a <strong>de</strong>terminadoagrupamento <strong>de</strong> países, não chegaram a prosperar. No entanto, seu<strong>de</strong>sdobramento envolveu gestões em diferentes níveis junto ao Governobr<strong>as</strong>ileiro, com o Itamaraty tendo agido para evitar a geração <strong>de</strong>expectativ<strong>as</strong> que pu<strong>de</strong>ssem ser frustrad<strong>as</strong> ou a adoção <strong>de</strong> medid<strong>as</strong>incompatíveis com a política externa do País.Embora a proposta <strong>da</strong> “Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” talvez nãovenha mais à baila, pelo menos nos mol<strong>de</strong>s originais, os Países Africanos<strong>de</strong> Língua Oficial Portuguesa (PALOPs) parecem interessados emenquadrar alguma forma <strong>de</strong> cooperação militar no âmbito <strong>da</strong> CPLP,diante <strong>da</strong> iniciativa aprova<strong>da</strong> durante a II Reunião dos Ministros <strong>da</strong>Defesa dos PALOPs e <strong>de</strong> Portugal, realiza<strong>da</strong> em maio <strong>de</strong> 1999, <strong>de</strong>submeter à consi<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> CPLP a idéia <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma “ComissãoInterestatal <strong>de</strong> Defesa”. Por ser uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>


260 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAprecipuamente na i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> lingüística, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nutre muit<strong>as</strong> reserv<strong>as</strong>quanto à conveniência <strong>da</strong> incorporação <strong>de</strong> uma vertente militar naquelaComuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, e enquanto persistir a regra do consenso para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>cisões naquele foro, será necessária a obtenção <strong>da</strong> anuência <strong>de</strong> todosos seus membros para implementar qualquer medi<strong>da</strong> não previstaoriginalmente nos seus estatutos. Tendo em mente o que vem sendopraticado pelos Estados Unidos, pela França e pelo Reino Unido na África,po<strong>de</strong>-se inferir que a cooperação militar pretendi<strong>da</strong> pelos PALOPs, sevier a prosperar, inclinar-se-ia mais para o a<strong>de</strong>stramento <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> do quepara compor uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares integrad<strong>as</strong> a serem oferecid<strong>as</strong> à ONU.Cumpre <strong>as</strong>sinalar, aliás, que nenhum país africano <strong>de</strong> línguaportuguesa manifestou interesse em a<strong>de</strong>rir ao sistema <strong>de</strong> prontoemprego e que apen<strong>as</strong> quatro países latino-americanos, além do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>,se mostraram dispostos, até julho <strong>de</strong> 1999, a participar do sistema <strong>de</strong>pronto emprego <strong>da</strong> ONU (Argentina, Bolívia, Guatemala e Uruguai).Antecipa-se, portanto, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s operacionais para a implementação<strong>de</strong> qualquer força <strong>de</strong> pronto emprego envolvendo os países latinoamericanose os países <strong>de</strong> língua portuguesa <strong>da</strong> África que tenha porb<strong>as</strong>e esse sistema. Nem mesmo Espanha e Portugal <strong>as</strong>sinarammemorandos <strong>de</strong> entendimento com a Organização, regulando suaparticipação no sistema <strong>de</strong> pronto emprego.Como já foi visto nos págin<strong>as</strong> 150 a 157, a SHIRBRIG éuma iniciativa que vem ganhando maturi<strong>da</strong><strong>de</strong>, reflexo <strong>de</strong> trabalho<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação iniciado em 1994, ao p<strong>as</strong>so que a “Força Ibero-Americana <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” e a “Força Lusófona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>” parecem maisferrament<strong>as</strong> para estreitar o relacionamento bilateral no campo militardo que mecanismos voltados para reforçar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reaçãorápi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ONU. À margem <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações polític<strong>as</strong>, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>enfrenta, nos três c<strong>as</strong>os, condicionantes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m legal eorçamentária que tornam difícil especificar os prazos <strong>de</strong><strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e, portanto, inviabilizam qualquerengajamento no momento.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 261PARTICIPAÇÃO NO GRUPO DE AMIGOS DO DESDOBRAMENTO RÁPIDOE NO QUARTEL-GENERAL DE MISSÃO RAPIDAMENTE DESDOBRÁVELO <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem participado dos trabalhos do grupo informal <strong>de</strong>países que contribuem com trop<strong>as</strong>, conhecido como “Amigos doDesdobramento Rápido” 183 , que, como visto no capítulo III, tem porpropósito aju<strong>da</strong>r <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> a <strong>de</strong>senvolver uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>reação rápi<strong>da</strong>. O Ministro <strong>de</strong> Estado d<strong>as</strong> Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, participou <strong>da</strong> II reunião ministerial<strong>da</strong>quele foro, à margem <strong>da</strong> 52 ª AGNU, <strong>da</strong>ndo início a participaçãobr<strong>as</strong>ileira em setembro <strong>de</strong> 1996. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem <strong>de</strong>fendido que o grupo<strong>de</strong>ve, a um tempo, <strong>da</strong>r maior divulgação a seus trabalhos e <strong>as</strong>segurarque todos os seus participantes estejam em condições <strong>de</strong> contribuirefetivamente com su<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> n<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações. O objetivo é evitar queapen<strong>as</strong> um núcleo <strong>de</strong> países, geralmente membros <strong>da</strong> OTAN, venha apreparar propost<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> ação. Não obstantereconhecer a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo e <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> su<strong>as</strong> reuniões, o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> continua a enten<strong>de</strong>r que o Comitê Especial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong><strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> é o foro por excelência para discutir todos os<strong>as</strong>pectos afetos às forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz e às missões <strong>de</strong> observação.O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> favorece, especificamente, o estabelecimento doquartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável (RDMHQ),principal proposta discuti<strong>da</strong> no âmbito do Grupo <strong>de</strong> Amigos doDesdobramento Rápido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995, para aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> reação <strong>da</strong> ONU em situações <strong>de</strong> crise. Com a criação <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>do RDMHQ no Departamento <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>,em julho <strong>de</strong> 1996, o Secretariado iniciou consult<strong>as</strong> com os Estadosmembros sobre a mobilização <strong>de</strong> pessoal para preencher os quadrosdo quartel-general, que po<strong>de</strong>riam totalizar 61 voluntários. O núcleo do183O Grupo era composto por 25 países em 1997: <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, Alemanha, Argentina, Austrália,Bangla<strong>de</strong>sh, Chile, Dinamarca, Egito, Finlândia, Indonésia, Irlan<strong>da</strong>, Jamaica, Japão,Jordânia, Malásia, Nicarágua, Nova Zelândia, Noruega, Países Baixos, Polônia, República<strong>da</strong> Coréia, Senegal, Suécia, Ucrânia e Zâmbia.


262 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAquartel-general já estaria preenchido, m<strong>as</strong> na<strong>da</strong> impe<strong>de</strong> que, no futuro,o País venha a participar <strong>da</strong> iniciativa, visto que o seu <strong>de</strong>senvolvimentoprevê ain<strong>da</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> um nível <strong>de</strong> apoio intermediário <strong>de</strong>até 29 militares que ficariam sediados no DPKO exercendo outr<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s — idéia, agora, algo perfura<strong>da</strong> com a repatriação dosmilitares on loan do DPKO, conforme visto no subitem 4.3.2 supra— e <strong>de</strong> um grupo integrado por outros 24 militares que permaneceriamnos países <strong>de</strong> origem prontos para serem <strong>de</strong>slocados imediatamenteapós a criação <strong>de</strong> uma operação pelo CSNU. É forçoso reconhecer,contudo, que a implementação Quartel-General viu-se prejudica<strong>da</strong> como regresso que dos militares cedidos gratuitamente ao DPKO. Estesiriam constituir a b<strong>as</strong>e do quatro pessoal do DRMHO (Vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong>112 a 114).Diferentemente do sistema <strong>de</strong> pronto emprego, pressupõe-seque os oficiais cedidos para o Estado-Maior estarão sempre à disposiçãodo DPKO, que po<strong>de</strong>rá convocá-los in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> consultaaos Estados <strong>de</strong> origem. Tal fato não <strong>de</strong>ve inibir a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>no RDMHQ, uma vez que a idéia central é que o Quartel-Generalvenha a atuar em situações em que haja consentimento d<strong>as</strong> partes erespeito aos princípios <strong>de</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e não-uso <strong>da</strong> força, tesesesposad<strong>as</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>. Além disso, os seus integrantes não estarãodiretamente envolvidos n<strong>as</strong> operações propriamente <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz, por se <strong>de</strong>dicarem apen<strong>as</strong> à área <strong>de</strong> planejamento, o que reduzo risco <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos oficiais cedidos e eventuais questionamentos sobreos <strong>as</strong>pectos legais <strong>da</strong> cessão.Ain<strong>da</strong> que privilegie o Comitê Especial, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não <strong>de</strong>veria<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> participar liminarmente do Grupo <strong>de</strong> Amigos doDesdobramento Rápido ou <strong>de</strong> seminários, cursos e outros eventosque tratem dos <strong>as</strong>pectos d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Taisgrupos ou reuniões ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>senvolver propost<strong>as</strong> que po<strong>de</strong>rão vir <strong>as</strong>er absorvid<strong>as</strong> posteriormente pela estrutura do DPKO, a exemplo <strong>da</strong>RDMHQ, que o Secretário-Geral estabeleceu com b<strong>as</strong>e na Resolução


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 26350/30, por enten<strong>de</strong>r que se tratava <strong>de</strong> um aprimoramento do sistema<strong>de</strong> pronto emprego. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>veria continuar trabalhando peloestabelecimento, sem <strong>de</strong>svirtuamentos, do quartel-general, e abor<strong>da</strong>routros tem<strong>as</strong> operacionais vinculados às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz <strong>de</strong> especial interesse para <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, tais como o custodo transporte interno dos contribuintes <strong>de</strong> tropa e outros tem<strong>as</strong>logísticos.APRIMORAMENTO DA CAPACIDADE DOS PAÍSES AFRICANOS NA ÁREADE OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZO Conselheiro Militar do Secretário-Geral <strong>da</strong> ONU, General<strong>de</strong>-Briga<strong>da</strong>Franklin Van Kappen, comentou, à margem <strong>da</strong> 52 a AGNU,que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>veria esten<strong>de</strong>r sua participação a outros países africanosque não fossem somente os <strong>de</strong> língua portuguesa. Essa ampliação <strong>de</strong>área <strong>de</strong> engajamento respon<strong>de</strong>ria aos críticos que, segundo VanKappen, se estariam referindo ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> como “os novos portugueses”,com conotações neocolonialist<strong>as</strong>. Tal afirmação, soma<strong>da</strong> às freqüentescomparações com outros países <strong>da</strong> América do Sul (Argentina eUruguai), parece ter por objetivo induzir o Governo br<strong>as</strong>ileiro a aumentarsua participação n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, nota<strong>da</strong>mentecom trop<strong>as</strong>. O envolvimento do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> na África mostra, contudo, que oGoverno não tem <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> fora doâmbito dos PALOPs, sempre em consonância com seus interesses epossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Nos anos 90, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> autorizou a transferência temporária<strong>de</strong> observadores militares servindo na UNAVEM II em Angola paraatuar na UNOMIL na Libéria, enviou peritos eleitorais à UNOMSA ece<strong>de</strong>u observadores militares e equipe médica à UNOMUR.No tocante ao preparo <strong>de</strong> contigentes africanos, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tevemais contatos com <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> norte-americana (ACRI) e francesa(RECAMP), cujos <strong>de</strong>talhes foram apresentados n<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 180 a185. Em agosto <strong>de</strong> 1997, foi realiza<strong>da</strong> reunião no Itamaraty com


264 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>de</strong>legação dos EUA, chefia<strong>da</strong> pelo Embaixador Marshall McCallie,Coor<strong>de</strong>nador Especial <strong>da</strong> ACRI, com a presença <strong>de</strong> representantesd<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e <strong>da</strong> então Secretaria <strong>de</strong> Assuntos Estratégicos.O chefe <strong>da</strong> <strong>de</strong>legação br<strong>as</strong>ileira, Embaixador Ivan Cannabrava,Subsecretário-Geral <strong>de</strong> Assuntos Políticos (SGAP), afirmou que o<strong>as</strong>sunto interessa ao Governo br<strong>as</strong>ileiro, <strong>as</strong>sim como qualquer iniciativaque conte com a aprovação africana. Enfatizou, na oc<strong>as</strong>ião, aimportância <strong>de</strong> que os interesses africanos, especialmente <strong>da</strong> OUA e<strong>da</strong> SADC, sejam levados em consi<strong>de</strong>ração, o que, segundo oEmbaixador McCallie, estaria sendo feito. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> participou d<strong>as</strong> du<strong>as</strong>reuniões do Grupo <strong>de</strong> Apoio a ser estabelecido em Nova Iorque(APSG). Tendo em vista que o a<strong>de</strong>stramento visava, sobretudo, apreparar sol<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> infantaria, o Exército colocou-se à disposiçãopara examinar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar cooperação, à luz d<strong>as</strong>condições financeir<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> treinamento requerid<strong>as</strong>.Posteriormente, durante <strong>as</strong> consult<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> realizad<strong>as</strong> emjaneiro <strong>de</strong> 1998 entre <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e França, em Br<strong>as</strong>ília, o Governo francêsesten<strong>de</strong>u convite ao Governo br<strong>as</strong>ileiro para enviar observadores àrealização do exercício Guidimakha 1998, em uma região remota doSenegal. Foram <strong>de</strong>signados dois oficiais, um do Exército e outro <strong>da</strong>Marinha. Os militares br<strong>as</strong>ileiros não participaram <strong>da</strong> f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> planejamentonem <strong>da</strong> f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> avaliação d<strong>as</strong> lições aprendid<strong>as</strong>, limitando-se a <strong>as</strong>sistir os<strong>de</strong>sdobramentos dos contingentes no terreno. Em termos operacionais,a impressão <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> foi a <strong>de</strong> que o exercício realizado <strong>as</strong>semelha-se à“Operação Cruzeiro do Sul”, exercício militar <strong>de</strong> simulação <strong>de</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz que envolve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996, os Exércitos do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>,Argentina, Uruguai (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997) e Paraguai (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998). O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong><strong>de</strong>verá ser convi<strong>da</strong>do a participar do segundo exercício <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong>“Gabon-2000”, a ser realizado em janeiro <strong>de</strong> 2000 no Gabão. Aparticipação <strong>de</strong> militares br<strong>as</strong>ileiros em tais exercícios permite auferir <strong>as</strong>diferentes tátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> emprego existentes entre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileirae francesa no campo d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 265Em que pese ao aumento, nos anos 90, d<strong>as</strong> situações <strong>de</strong> conflitoe <strong>de</strong> emergênci<strong>as</strong> humanitári<strong>as</strong> no continente africano, o Governobr<strong>as</strong>ileiro não está em condições, por ora, <strong>de</strong> oferecer uma contribuiçãosignificativa nessa área, por razões orçamentári<strong>as</strong> e operacionais. Noentanto, uma linha <strong>de</strong> ação plausível po<strong>de</strong>ria ser a <strong>as</strong>sinatura <strong>de</strong> acordosquadro<strong>de</strong> cooperação militar com países selecionados (para troca <strong>de</strong>informações, <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> engenharia, ampliação dointercâmbio <strong>de</strong> bolsist<strong>as</strong> n<strong>as</strong> instituições militares recíproc<strong>as</strong> etc.). Essesacordos po<strong>de</strong>riam conter cláusula sobre a cooperação na área <strong>de</strong>treinamento para operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Isso realçaria adisposição do País em contribuir para o aprimoramento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> reação rápi<strong>da</strong> africana, sem comprometer-se, contudo, com suaimplementação imediata, haja vista a carência <strong>de</strong> recursos financeirosexistente no momento. Esse gesto político ressaltaria o real engajamentodo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no processo em curso e traduziria em ações concret<strong>as</strong>, ain<strong>da</strong>que maturad<strong>as</strong> a médio e longo prazos, <strong>as</strong> manifestações do País emfavor <strong>da</strong> melhor capacitação dos países africanos em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz.REPERCUSSÃO NA IMPRENSA NACIONAL DA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRAEM OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ DAS NAÇÕES UNIDASA política externa está se tornando, ca<strong>da</strong> vez mais, tema <strong>de</strong>interesse <strong>da</strong> imprensa nacional. Com a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> prática <strong>de</strong> o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>ce<strong>de</strong>r trop<strong>as</strong> para participar d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, em1994, o Itamaraty buscou meios para <strong>da</strong>r maior divulgação às açõesdo Governo Fe<strong>de</strong>ral nesse campo. Nos episódios dos falecimentos dosargento <strong>da</strong> Polícia Militar <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> Gerais, Adilson Barbosa, emoutubro <strong>de</strong> 1992 em Angola, e do capitão <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar do RioGran<strong>de</strong> do Sul, E<strong>de</strong>mur Wagner, em julho <strong>de</strong> 1993 em El Salvador, amídia escrita e televisiva noticiou esses acontecimentos <strong>de</strong> forma<strong>de</strong>scontinua<strong>da</strong> e fragmenta<strong>da</strong>. Na medi<strong>da</strong> em que a cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>


266 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAenvolvia maiores riscos <strong>de</strong> segurança e maiores recursos orçamentários,era imperioso <strong>da</strong>r a maior transparência possível às açõesgovernamentais que estavam sendo adotad<strong>as</strong> para enviar contingentemilitar armado a Moçambique (ONUMOZ) e preparar o terreno paraa eventual participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em Angola (UNAVEM III).Em 1994, alguns jornais <strong>de</strong> São Paulo e do Rio Gran<strong>de</strong> do Sulmostraram disposição <strong>de</strong> <strong>da</strong>r cobertura à parti<strong>da</strong> dos contingentes do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>. O envio <strong>de</strong> jornalist<strong>as</strong> e fotógrafos ao terreno d<strong>as</strong> operaçõesera, entretanto, consi<strong>de</strong>rado investimento <strong>de</strong> custo elevado, já quep<strong>as</strong>sagens e diári<strong>as</strong> tinham <strong>de</strong> ser cobert<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> interessad<strong>as</strong>.O gargalo operacional foi superado com o uso dos vôos <strong>de</strong> suprimentod<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> para levar convi<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> empres<strong>as</strong> <strong>de</strong> comunicação. Afórmula aventa<strong>da</strong> era o único meio <strong>de</strong> proporcionar aos periodist<strong>as</strong>acesso às trop<strong>as</strong> na África em condições <strong>de</strong> segurança. Tanto <strong>as</strong>embaixad<strong>as</strong> como a Missão do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> junto às Nações Unid<strong>as</strong> foramacionad<strong>as</strong> para facilitar a obtenção d<strong>as</strong> autorizações necessári<strong>as</strong>. Osjornalist<strong>as</strong> tiveram acesso <strong>de</strong>simpedido aos integrantes do contingentebr<strong>as</strong>ileiro e pu<strong>de</strong>ram participar <strong>de</strong> su<strong>as</strong> operações diári<strong>as</strong> <strong>de</strong>patrulhamento e manter contatos com a população civil <strong>da</strong> regiãosupervisiona<strong>da</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>.A cobertura <strong>da</strong> mídia centrou sua atenção na colaboraçãopresta<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> em favor <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais, enaltecendo a iniciativa do Governo Fe<strong>de</strong>ral, emboranão <strong>de</strong>ix<strong>as</strong>sem <strong>de</strong> registrar que o aumento do soldo era um dos incentivosque mais atraíam os voluntários para servir na ONUMOZ e naUNAVEM III 184 . O EMFA — hoje extinto com a criação do Ministério<strong>da</strong> Defesa —p<strong>as</strong>sou então a consi<strong>de</strong>rar recomendável o envio <strong>de</strong>184De acordo com os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> DNU foram visitad<strong>as</strong> a ONUMOZ (Jornal do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, OGlobo, Folha <strong>de</strong> São Paulo, Zero Hora, Gazeta Mercantil, Manchete, Istoé, além <strong>de</strong> umaequipe do programa Documento Especial do SBT; a UNAVEM III (Jornal do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, OGlobo, Folha <strong>de</strong> São Paulo, Zero Hora, Correio Braziliense, Manchete, Istoé,Playboy, além <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> televisão <strong>da</strong> Manchete) e a UNPROFOR (equipe doprograma Globo Repórter <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Globo).


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 267representantes <strong>da</strong> mídia às se<strong>de</strong>s d<strong>as</strong> missões br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> e concluiupela conveniência <strong>de</strong> realizar um programa com a Radiobrás paradivulgar notíci<strong>as</strong> sobre a participação <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> ness<strong>as</strong>operações.Como resultado <strong>de</strong>sse esforço, é hoje melhor a interação entreo Itamaraty e os órgãos <strong>de</strong> imprensa quando do surgimento <strong>de</strong> situaçõesmais complicad<strong>as</strong>, tais como a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> reféns na Bósnia-Herzegovinae na Guatemala, em maio e julho <strong>de</strong> 1995 respectivamente, o supostocerco a trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> sediad<strong>as</strong> em Andulo, em Angola, em <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1995 e o falecimento do cabo Ala<strong>da</strong>rque dos Santos, em Vila Nova,em Angola, em maio <strong>de</strong> 1997. Na medi<strong>da</strong> em que os meios <strong>de</strong>comunicação <strong>de</strong> m<strong>as</strong>sa são importantes instrumentos <strong>de</strong> persu<strong>as</strong>ão, épreciso estar em condições <strong>de</strong> esclarecer <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong> situações queocorrem no terreno, já que el<strong>as</strong> costumam atrair ampla publici<strong>da</strong><strong>de</strong>,criando condições para uma exploração <strong>de</strong>sencontra<strong>da</strong> pela mídiaescrita e televisiva se os episódios não forem a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>menteesclarecidos ou tratados n<strong>as</strong> <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> proporções. Trata-se <strong>de</strong> evitarque <strong>as</strong> notíci<strong>as</strong> sejam apresentad<strong>as</strong> em cores alarmantes ao públicobr<strong>as</strong>ileiro e influenciem, <strong>de</strong> forma inapropria<strong>da</strong>, o processo <strong>de</strong>cisóriosobre o envio <strong>de</strong> contingentes br<strong>as</strong>ileiros às missões <strong>de</strong> paz. Éimportante, a<strong>de</strong>mais, mostrar que o Itamaraty tem domínio do <strong>as</strong>suntoe que está tomando tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> para acompanhar oan<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> situação.Na maioria dos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> “seqüestro” ou <strong>de</strong> “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> reféns”<strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileiros, não há ameaça a sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física, uma vez que <strong>as</strong>forç<strong>as</strong> <strong>de</strong>tentor<strong>as</strong> <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> local geralmente solicitam aosobservadores militares, policiais e civis <strong>da</strong> ONU que permaneçam nosseus alojamentos ou n<strong>as</strong> instalações <strong>da</strong> missão até serem autorizados avoltarem a su<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s normais. Além disso, são fatos isolados,que não <strong>de</strong>vem ser entendidos como ameaça à integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física dos<strong>de</strong>mais membros <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> paz, os episódios <strong>de</strong> banditismo comoaquele que vitimou o cabo <strong>da</strong> Marinha Ala<strong>da</strong>rque Santos em Vila Nova.


268 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURATod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> situações preocupam o Itamaraty, sobretudo <strong>as</strong> queimplicam o cerceamento <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento, já que,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo d<strong>as</strong> razões que motivaram tal <strong>de</strong>cisão pel<strong>as</strong> partes emconflito, os voluntários br<strong>as</strong>ileiros po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>parar-se com cenários<strong>de</strong> crescente instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e ameaça a sua segurança. To<strong>da</strong>via, não se<strong>de</strong>ve antecipar a evolução dos fatos, tendo em mente que a opiniãopública no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>as</strong>socia os termos “seqüestro” e “refém” a atos <strong>de</strong>muita violência.Há evi<strong>de</strong>ntemente c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> perigo mais imediato, como atoma<strong>da</strong> <strong>de</strong> reféns <strong>da</strong> ONU por militantes bósnios-sérvios para seremusados como escudos humanos contra ataques aéreos <strong>da</strong> OTAN naBósnia-Herzegovina — cerca <strong>de</strong> 400 observadores militares, um dosquais o capitão do Exército Harley Alves, cuj<strong>as</strong> fotos, mostrando-oacorrentado, foram amplamente divulgad<strong>as</strong> pelo imprensa nacional einternacional. Nesses e em outros c<strong>as</strong>os, o Itamaraty procura fornecer<strong>da</strong>dos confiáveis, com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> informações enviad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> embaixad<strong>as</strong>ou pela Missão do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> junto às Nações Unid<strong>as</strong>.É certo que a <strong>de</strong>cisão política <strong>de</strong> participar d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, sempre sujeita a algum risco, não po<strong>de</strong> ser dita<strong>da</strong>pelo receio do Governo à eventual reação <strong>da</strong> opinião pública br<strong>as</strong>ileiraante possíveis aci<strong>de</strong>ntes envolvendo noss<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> e nossosobservadores. O Governo <strong>de</strong>ve, entretanto, fomentar complementarmente,junto à opinião pública, maior consciência sobre tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> possíveisimplicações e conseqüênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> engajamento, divulgandoinformações a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong> e tempestiv<strong>as</strong>. Po<strong>de</strong>r-se-ia mesmo adotar umapolítica <strong>de</strong> sensibilização dos formadores <strong>de</strong> opinião, por meio <strong>de</strong> artigospublicados em periódicos especializados, o que já tem sido feito nosúltimos anos n<strong>as</strong> revist<strong>as</strong> Política Externa (USP/Editora <strong>Paz</strong> e Terra),Humani<strong>da</strong><strong>de</strong>s (UnB), Parceri<strong>as</strong> Estratégic<strong>as</strong> (Centro <strong>de</strong> EstudosEstratégicos/SAE), Tecnologia e Defesa e Força Aérea. Ess<strong>as</strong>publicações oferecem canal <strong>de</strong> diálogo para que o Itamaraty mostre oque faz o Governo nesse campo <strong>de</strong> política externa.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 269PARTICIPAÇÃO DO BRASIL EM ATIVIDADES DE CONSOLIDAÇÃO DA PAZÉ essencial que <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> “manutenção <strong>da</strong> paz” sejamacompanhad<strong>as</strong> <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> “consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz”, <strong>de</strong> modo a evitara retoma<strong>da</strong> dos conflitos, recuperar a economia e garantir agovernabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática do país anfitrião. A normalização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>política, a inserção dos <strong>de</strong>smobilizados na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, ore<strong>as</strong>sentamento dos refugiados e <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocados internos, a retoma<strong>da</strong><strong>da</strong> produção e a reconciliação nacional são met<strong>as</strong> que só serãoalcançad<strong>as</strong> no contexto <strong>da</strong> geração <strong>de</strong> empregos, <strong>de</strong> recuperação <strong>da</strong>infra-estrutura física, <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> policiais e militares,<strong>de</strong> reaproveitamento d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> aráveis e <strong>de</strong> reorganização <strong>da</strong> estruturado Estado.Em sintonia com essa preocupação <strong>de</strong> buscar consoli<strong>da</strong>r a paz,o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem prestado aju<strong>da</strong> ao país anfitrião por canais bilaterais emultilaterais. Entre outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> colaboração, o MRE tem prestado<strong>as</strong>sistência nos setores <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> quadros militares e policiais enos trabalhos <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong>. Tal exercício tem ultrap<strong>as</strong>sado aesfera do Po<strong>de</strong>r Executivo, p<strong>as</strong>sando a envolver <strong>as</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>raisna cessão <strong>de</strong> policiais especializados.Arrolam-se, à guisa <strong>de</strong> ilustração, algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>cooperação <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> em parceria com o Itamaraty, no período<strong>de</strong> 1993-99, ain<strong>da</strong> que nem tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> tenham <strong>de</strong>corrido <strong>de</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU:- O Exército e a Marinha vêm participando <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong>Assistência para a Remoção <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> na América Central(MARMINCA) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação em 1993. Essa missão faz parte doPrograma <strong>de</strong> Assistência à Remoção <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> na América Central(PADCA), criado pela OEA, em 1991, a pedido dos países <strong>da</strong> regiãoafetados por min<strong>as</strong>. A Junta Interamericana <strong>de</strong> Defesa (JID) coor<strong>de</strong>na<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s operacionais <strong>da</strong> equipe internacional, que, em junho <strong>de</strong>


270 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA1999, era composta por 28 militares cedidos por <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> (10) 185 ,Argentina (4), Colômbia (5), El Salvador (3), Guatemala (2) e Venezuela(4). Tradicionalmente o maior contingente <strong>da</strong> MARMINCA é br<strong>as</strong>ileiroe seus integrantes são cedidos sem ônus. Os oficiais br<strong>as</strong>ileiros atuamem quatro países no momento: Costa Rica, Guatemala, Hondur<strong>as</strong> eNicarágua.- O Exército vem <strong>de</strong>signando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995, dois tenentescoronéispara servirem como instrutores no Centro <strong>de</strong> Estudos Militaresdo Estado-Maior <strong>da</strong> Defesa Nacional <strong>da</strong> Guatemala, dois tenentescoronéispara atuarem como instrutores na Escola <strong>de</strong> Comando eEstado-Maior do Exército <strong>de</strong> El Salvador e um tenente-coronel par<strong>as</strong>ervir na Escola <strong>de</strong> Comando e Estado-Maior do Exército <strong>de</strong>Hondur<strong>as</strong>. O Exército, além <strong>de</strong> pagar os soldos, arca com os custos<strong>de</strong> viagem dos militares br<strong>as</strong>ileiros.- As Políci<strong>as</strong> Militares do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, em 1995 e,posteriormente, em 1999, e a <strong>da</strong> Bahia, entre 1996 e 1998, colocaramà disposição <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Segurança Pública <strong>de</strong> ElSalvador (ANSP) oficiais e suboficiais para atuarem como instrutorese como consultores. Os policiais militares br<strong>as</strong>ileiros, com qualificaçõesna área <strong>de</strong> ensino, participaram <strong>da</strong> formação dos membros <strong>da</strong> novapolícia nacional civil <strong>de</strong> segurança pública <strong>de</strong> El Salvador, nos termosdo Acordo <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>as</strong>sinado em 1992 entre o Governo salvadorenho ea guerrilha. A cooperação ofereci<strong>da</strong> exorbitou os limites <strong>da</strong> ANSP em1998, quando um tenente-coronel <strong>da</strong> Polícia Militar <strong>da</strong> Bahia foicontratado para prestar serviços <strong>de</strong> consultoria <strong>de</strong>stinados a criar ofuturo Instituto Centro-Americano <strong>de</strong> Estudos Superiores <strong>de</strong> Polícia(ICESPO), em São Salvador. Policiais salvadorenhos já estiveram185O Capitão-<strong>de</strong>-Corveta Rui Xavier <strong>da</strong> Silva foi vítima, em 16/5/97, <strong>da</strong> explosão <strong>de</strong> umamina antipessoal na fronteira <strong>de</strong> Hondur<strong>as</strong> com a Nicarágua. O oficial foi operado nosEUA e, subseqüentemente, repatriado para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 271estagiando na Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Polícia <strong>da</strong> Bahia e na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>da</strong> Bahia em 1997.- O Exército ce<strong>de</strong>u, em novembro <strong>de</strong> 1997, o major médicoDerli <strong>da</strong> Silva Gouvea para servir durante um ano na Escola Técnica<strong>de</strong> Ação contra Min<strong>as</strong> <strong>de</strong> Angola, no âmbito do projeto <strong>de</strong> apoio aoPrograma Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>de</strong> Capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s n<strong>as</strong>Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Remoção <strong>de</strong> Min<strong>as</strong> financiado pelo Escritório d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> para Acompanhamento <strong>de</strong> Projetos (United Nations Officefor Project Services-UNOPS). O Exército respon<strong>de</strong>u pelo pagamentodo soldo e pel<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> transporte, hospe<strong>da</strong>gem e alimentação.No campo <strong>da</strong> cooperação volta<strong>da</strong> para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz,merecem especial registro <strong>as</strong> negociações realizad<strong>as</strong> em 1997 para oestabelecimento <strong>de</strong> uma Missão <strong>de</strong> Cooperação Militar em Angola. Aorigem <strong>da</strong> iniciativa remonta à visita realiza<strong>da</strong> pelo Presi<strong>de</strong>nte FernandoHenrique Cardoso a Angola, em novembro <strong>de</strong> 1996. Na oc<strong>as</strong>ião, osenhor Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, em atendimento à solicitação doPresi<strong>de</strong>nte José Eduardo dos Santos, manifestou a disposição br<strong>as</strong>ileira<strong>de</strong> manter uma companhia <strong>de</strong> engenharia reforça<strong>da</strong> naquele país, apósa retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> UNAVEM III, <strong>de</strong> modo a colaborar efetivamente para areconstrução nacional angolana. A missão militar seria composta porpessoal e material mobilizados pelo Ministério do Exército — agoraComando do Exército — e contaria com um escritório <strong>de</strong> ligação,uma companhia <strong>de</strong> engenharia e um <strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Tal <strong>de</strong>cisão foi adota<strong>da</strong> na reunião <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãointerministerial realiza<strong>da</strong> em março <strong>de</strong> 1997 para discutir <strong>as</strong>pectospolíticos, legais e orçamentários relativos à iniciativa presi<strong>de</strong>ncial. Emcolaboração com o Exército, o Itamaraty redigiu projeto <strong>de</strong> acordopara criar e regulamentar a presença <strong>de</strong>ssa missão em Angola, que foisubseqüentemente negociado com o Governo angolano. Os recursosnecessários para custear a missão foram estimados em R$


272 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA38.125.207,00 por um ano. É importante ter em mente que aimplementação <strong>da</strong> iniciativa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em um primeiro momento, <strong>da</strong><strong>as</strong>sinatura do acordo e posterior aprovação legislativa. Apen<strong>as</strong> apósa sua ratificação, a obtenção <strong>de</strong> autorização legislativa para o envio<strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e a liberação dos recursos necessários é que a missãopo<strong>de</strong>ria ser envia<strong>da</strong>, sempre tendo em vista a situação prevalecenteno terreno.As ações empreendid<strong>as</strong> revelam o potencial <strong>de</strong> cooperaçãoexistente nesse campo para ser explorado em benefício doestreitamento d<strong>as</strong> relações bilaterais. Em Angola, o engajamento <strong>de</strong>militares br<strong>as</strong>ileiros em iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz aju<strong>da</strong> aprojetar imagem positiva do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> nesse país, situado em regiãoprioritária para a política externa br<strong>as</strong>ileira e dotado <strong>de</strong> condiçõesnaturais que permitem antever perspectiv<strong>as</strong> promissor<strong>as</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento. Na América Central, on<strong>de</strong> uma presença maior doPaís é condiciona<strong>da</strong> por limitações econômico-financeir<strong>as</strong>, pela falta<strong>de</strong> transporte e pelos <strong>de</strong>sequilíbrios <strong>da</strong> oferta exportável <strong>de</strong> bens eserviços, <strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> criad<strong>as</strong> na área <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz aju<strong>da</strong>ma dinamizar esse relacionamento. No entanto, é preciso estar atentopara o fato <strong>de</strong> que a oferta <strong>de</strong> cooperação centra<strong>da</strong> no campo militarpo<strong>de</strong>ria talvez <strong>da</strong>r um vezo excessivamente militarista às relaçõesbilaterais, ante a pouca <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos vínculos em outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>cooperação.Em outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, conviria que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> busc<strong>as</strong>se sempremanter, após a retira<strong>da</strong> d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, presençaproporcional às potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do relacionamento bilateral. Éimportante levar em conta que os gran<strong>de</strong>s países doadores <strong>de</strong> equipamentose recursos financeiros, <strong>de</strong>ntre os quais o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não se inclui, capitalizammenos simpatia e reconhecimento do que os que mantêm homens no campo,como o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>. Resta saber até que ponto o Itamaraty <strong>de</strong>seja centrar su<strong>as</strong>relações bilaterais na vertente militar e examinar qual a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>comprometimento d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> corporações policiais


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 273estaduais <strong>de</strong> prestar cooperação diante <strong>da</strong> carência <strong>de</strong> recursosorçamentários e d<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> capacitação técnica.A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃODA PAZA política do Governo br<strong>as</strong>ileiro com relação às operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não se limita à participação com trop<strong>as</strong>,observadores militares, policiais e civis. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> participa tambémativamente <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> discussões em diversos foros, sobretudo no ComitêEspecial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> <strong>da</strong> AssembléiaGeral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Embora tivesse participado <strong>de</strong> seustrabalhos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> optou por se retirar do Comitê Especialem 1977, já que não vinha participando d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o término <strong>da</strong> UNEF I na Faixa <strong>de</strong> Gaza e no Sinai em1967. Com a retoma<strong>da</strong> do engajamento br<strong>as</strong>ileiro nos anos 90, oItamaraty voltou a participar do Comitê Especial, inicialmente naquali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> membro observador e, a partir <strong>de</strong> 1997, como membropleno, graç<strong>as</strong> à aprovação <strong>da</strong> Resolução 51/135 <strong>da</strong> AGNU, em<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996.Nesse foro, a política externa br<strong>as</strong>ileira para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz tem-se pautado, entre outr<strong>as</strong>, pel<strong>as</strong> seguintes linh<strong>as</strong>:- O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> consi<strong>de</strong>ra que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> pazsão um instrumento útil para aju<strong>da</strong>r na solução pacífica d<strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong>.As operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz po<strong>de</strong>m aju<strong>da</strong>r a promovernegociações político-diplomátic<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não <strong>as</strong> substituem.- Apesar <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz não são uma panacéia para qualquer tipo <strong>de</strong> situação, comobem ensinaram <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> na Somália, em Ruan<strong>da</strong> e na Bósnia-Herzegovina. O respeito aos princípios tradicionais do consentimento


274 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAd<strong>as</strong> partes, <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e do não-uso <strong>da</strong> força, a não ser emc<strong>as</strong>os <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa, parece ser a forma mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong> garantira legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a eficácia d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU, bem comoa segurança <strong>de</strong> seus integrantes.- As operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz po<strong>de</strong>m também serutilizad<strong>as</strong> para prevenir a eclosão <strong>de</strong> um conflito, como no exemplobem-sucedido <strong>da</strong> UNPREDEP, que evitou que o conflito na antigaIugoslávia se al<strong>as</strong>tr<strong>as</strong>se para a ex-República Iugoslava <strong>da</strong> Macedônia.Po<strong>de</strong>m, ain<strong>da</strong>, ser extremamente eficazes na construção <strong>da</strong> confiançaentre <strong>as</strong> partes em conflito, <strong>as</strong>sim como para monitorar e implementaracordos <strong>de</strong> paz abrangentes, como foram os c<strong>as</strong>os do UNTAG, naNamíbia, <strong>da</strong> ONUMOZ, em Moçambique, e <strong>da</strong> UNAVEM III, emAngola. As operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz multidisciplinares ou <strong>de</strong>segun<strong>da</strong> geração <strong>de</strong>sempenham também papel importante n<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz, o que contribui para evitar aretoma<strong>da</strong> d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.- No entanto, é forçoso reconhecer que, em certos c<strong>as</strong>os, arígi<strong>da</strong> observância <strong>de</strong>sses princípios não tem sido possível, como quandose verifica o colapso <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> central do país <strong>as</strong>sistido, sem quehaja partes claramente i<strong>de</strong>ntificáveis para <strong>da</strong>rem seu consentimento.Nesses c<strong>as</strong>os, o uso <strong>da</strong> força — sempre limitado, judicioso e b<strong>as</strong>eadoem man<strong>da</strong>to claro do Conselho <strong>de</strong> Segurança — <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>radocomo último recurso. Para esses c<strong>as</strong>os excepcionais, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>a elaboração, pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, <strong>de</strong> regr<strong>as</strong> precis<strong>as</strong> <strong>de</strong> engajamentopara regular a atuação dos integrantes <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz. Diante <strong>da</strong> permanência <strong>de</strong>ssa situação volátil, o CSNU teria<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> missão <strong>de</strong> paz e sua substituição por outramissão <strong>de</strong> natureza mais coercitiva ampara<strong>da</strong> no capítulo VII <strong>da</strong> Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, já que a situação estaria mais para a imposição <strong>da</strong>paz do que para a manutenção <strong>da</strong> paz.


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 275- Além <strong>da</strong> clareza e realismo dos man<strong>da</strong>tos aprovados peloConselho <strong>de</strong> Segurança, o sucesso d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos a<strong>de</strong>quados. Aincompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos man<strong>da</strong>tos com os meios para implementá-lospo<strong>de</strong> comprometer seriamente a credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e eficiência <strong>da</strong>Organização no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais.- A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos a<strong>de</strong>quados está intimamente<strong>as</strong>socia<strong>da</strong> à questão do financiamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz <strong>da</strong> ONU. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> consi<strong>de</strong>ra que ess<strong>as</strong> operações, enquanto <strong>de</strong>spes<strong>as</strong><strong>da</strong> Organização, <strong>de</strong>vem ser financiad<strong>as</strong> por contribuições obrigatóri<strong>as</strong>dos Estados membros, com b<strong>as</strong>e no artigo 17,§2 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem <strong>de</strong>fendido a manutenção <strong>da</strong> atual escala especial<strong>de</strong> contribuições para o financiamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz. O eventual<strong>de</strong>sequilíbrio na distribuição dos países pel<strong>as</strong> quatro categori<strong>as</strong> quecompõem a escala especial <strong>de</strong>ve ser ajustado c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, após análisedos pedidos, à luz <strong>da</strong> situação econômica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> solicitante.- O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> valoriza os esforços para reduzir o tempo entre acriação <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz pelo Conselho <strong>de</strong>Segurança e seu total <strong>de</strong>sdobramento no terreno. Essa <strong>de</strong>mora po<strong>de</strong><strong>da</strong>r ensejo ao recru<strong>de</strong>scimento do conflito, acarretando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> revisões nos man<strong>da</strong>tos e comprometendo a eficácia <strong>da</strong> missão. Porisso, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> favorece o sistema <strong>de</strong> pronto emprego, que permite aoSecretariado <strong>da</strong> ONU planejar uma operação com recursos previstossem contudo alijar os Estados membros <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão soberana sobrea cessão <strong>de</strong> recursos humanos e materiais para uma operação específica.Ain<strong>da</strong> que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tenha interesse em participar <strong>de</strong>sse sistema, seuefetivo engajamento está condicionado à superação <strong>de</strong> condicionanteslegais e orçamentári<strong>as</strong>. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> também é favorável à implementaçãodo quartel-general <strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável, que visa aestabelecer no âmbito do DPKO uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Estado-Maior <strong>de</strong>


276 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAprontidão para ser envia<strong>da</strong> ao terreno no momento <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> umaoperação <strong>de</strong> paz.- A tendência atual <strong>de</strong> recorrer a organismos regionais esub-regionais para compor operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz trazalguns riscos, pois a missão po<strong>de</strong>rá ser mais facilmente <strong>de</strong>svirtua<strong>da</strong>em benefício dos interesses <strong>de</strong> alguma potência ou <strong>de</strong> paísesvizinhos. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que essa cooperação se b<strong>as</strong>eie no capítuloVIII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>— cujo artigo 53 proíbe açõescoercitiv<strong>as</strong> por parte <strong>de</strong> organismos ou arranjos regionais semautorização do CSNU — e nos princípios norteadores d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU.- O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> reconhece que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> não dispõem dosrecursos humanos, materiais e logísticos, nem <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comandonecessários para intervir a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente em conflitos que exijam açãomilitar propriamente dita, ou seja, ação <strong>de</strong> imposição (peace enforcement).Dotar <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong> tais recursos, criando uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>intervenção permanente, implicaria séri<strong>as</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, conformemencionado anteriormente. Portanto, nesses c<strong>as</strong>os, resulta praticamenteinevitável a intervenção <strong>de</strong> uma aliança militar ou coalizão ad hoc, sob ali<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> um país ou países, para impor a paz e restaurar a segurançacom b<strong>as</strong>e no Capítulo VII <strong>da</strong> Carta. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem sustentado que ess<strong>as</strong>alianç<strong>as</strong> ou coalizões, sempre que autorizad<strong>as</strong> pelo CSNU, <strong>de</strong>vem atuarcom b<strong>as</strong>e em man<strong>da</strong>tos claros e realist<strong>as</strong> e observar estritamente o princípio<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> (accountability) perante o CSNU;- A evolução no processo <strong>de</strong> consulta entre os países quecontribuem com trop<strong>as</strong> e o CSNU é sau<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> como positiva.Pela sua natureza não-institucional, esse entendimento continua,entretanto, aquém do <strong>de</strong>sejado. Em 1994 e 1996, <strong>de</strong>vido às reserv<strong>as</strong>levantad<strong>as</strong> por alguns Membros permanentes, o Conselho limitou-se a


PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS OPERAÇÕES 277aprovar <strong>de</strong>clarações presi<strong>de</strong>nciais sobre o <strong>as</strong>sunto 186 . Na 52 ª AGNUa posição br<strong>as</strong>ileira foi reafirma<strong>da</strong> em discurso pronunciado pelo<strong>de</strong>legado uruguaio, em nome do MERCOSUL, nos seguintes termos:“... los países contribuyentes <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> tienen el <strong>de</strong>recho <strong>de</strong>ser escuchados por el Consejo <strong>de</strong> Seguri<strong>da</strong>d y que este <strong>de</strong>recho<strong>de</strong>be ser reconocido “<strong>de</strong> jure” y no solamente “<strong>de</strong> facto”. Por lotanto, a efectos <strong>de</strong> hacer más efectiva esta práctica, el Consejo <strong>de</strong>Seguri<strong>da</strong>d <strong>de</strong>bería formalizar o institucionalizar estos mecanismos<strong>de</strong> consulta <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sus regl<strong>as</strong> <strong>de</strong> procedimiento”.O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem mantido postura in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e equilibra<strong>da</strong>, semendossar <strong>as</strong> oscilações <strong>de</strong> alguns países oci<strong>de</strong>ntais que, até 1993,preconizavam o uso d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU como panacéiapara todo e qualquer conflito e que, a partir <strong>de</strong> 1994, p<strong>as</strong>saram a serrefratários à criação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> operações, preferindo a <strong>de</strong>legação <strong>de</strong>man<strong>da</strong>tos com b<strong>as</strong>e no capítulo VII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> aforç<strong>as</strong> multinacionais ou, conforme o c<strong>as</strong>o, a organismos regionais esub-regionais, consi<strong>de</strong>rados mais “eficientes” que a ONU. Se o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>no âmbito <strong>da</strong> ONU não respal<strong>da</strong>, por um lado, a política conservadora<strong>de</strong> muitos países do Movimento Não-Alinhado, que não admitem adiscussão <strong>de</strong> novos conceitos e instrumentos <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong>Organização, por outro, tampouco referen<strong>da</strong> <strong>as</strong> posições dos países<strong>de</strong>senvolvidos mais intervencionist<strong>as</strong>, que buscam, não raro, conferirlegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> a su<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> nacionais ou <strong>de</strong> bloco. Nessa linha, o Paísconsi<strong>de</strong>ra que os imp<strong>as</strong>ses entre o MNA e alguns países <strong>de</strong>senvolvidosacabam contribuindo para o esvaziamento do Comitê Especial sobre<strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e, em última instância, <strong>da</strong> ONUcomo um todo, razão pela qual é preciso fugir <strong>de</strong> radicalismos que emna<strong>da</strong> contribuem para privilegiar <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> como o locus i<strong>de</strong>alpara se discutir <strong>as</strong>suntos relativos à paz e à segurança internacionais.186Nações Unid<strong>as</strong>, doc. S/PRST/1994/22, <strong>de</strong> 1994, e doc. S/PRST/1996/13, <strong>de</strong> 1995.


278 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAAlém disso, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> optou por aperfeiçoar mecanismos<strong>de</strong>stinados a aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, amelhorar o diálogo entre os países que contribuem com pessoal e oSecretariado <strong>da</strong> ONU, a monitorar <strong>as</strong> ações d<strong>as</strong> coalizões ad hoc oud<strong>as</strong> missões criad<strong>as</strong> por organismos regionais e sub-regionais para atuarem conflitos localizados. Enfatizou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong>man<strong>da</strong>tos claros e exeqüíveis e a institucionalização <strong>de</strong> uma escala <strong>de</strong>contribuições permanente para financiar o orçamento d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Reconheceu, a<strong>de</strong>mais, que, em c<strong>as</strong>osexcepcionais, cert<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesamais sofisticados quando atuam em ambientes mais voláteis, m<strong>as</strong> cujapermanência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> situação no terreno, já queess<strong>as</strong> operações visam a “manter” a paz e não a “impor” a paz. Nessecontexto, o discurso e a prática br<strong>as</strong>ileira em matéria <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz são coerentes e se complementam, em prol <strong>da</strong>valorização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e <strong>da</strong> boa condução <strong>da</strong> política externa.


CONCLUSÃO


CONCLUSÃOA Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> preconiza a via pacífica para <strong>as</strong>olução <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>, instando os Estados a abdicarem do uso <strong>da</strong>força n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> relações interestatais. Em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> conduta ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>,a Carta prevê um conjunto <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> que o CSNU, em nome dosEstados membros <strong>da</strong> Organização, po<strong>de</strong>rá adotar contra o Estado ouEstados responsáveis pela ameaça à paz, ruptura <strong>da</strong> paz ou ato <strong>de</strong>agressão — entre outr<strong>as</strong>, sanções econômic<strong>as</strong>, isolamento diplomáticoe, em última instância, ações militares. No entanto, diante <strong>da</strong> inoperância<strong>de</strong> seu sistema <strong>de</strong> segurança coletiva, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz (peacekeeping) p<strong>as</strong>saram a ser amplamente aceit<strong>as</strong> pelacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional como uma d<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> mais importantes <strong>de</strong>administração <strong>de</strong> conflitos <strong>da</strong> ONU. Embora essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>intervenção não esteja contempla<strong>da</strong> explicitamente na Carta, enten<strong>de</strong>se,com b<strong>as</strong>e na doutrina dos “po<strong>de</strong>res implícitos”, que seu emprego élegítimo, pois visa a aten<strong>de</strong>r aos propósitos colimados pela ONU,favorecendo a solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong> mediante a presença<strong>de</strong> um terceiro imparcial, geralmente um contingente, armado ou<strong>de</strong>sarmado, no terreno.No imediato pós-Guerra Fria, o termo “peacekeeping” foiusado <strong>de</strong> forma genérica, ultrap<strong>as</strong>sando os limites <strong>de</strong> sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,para englobar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que são promovid<strong>as</strong> tendo porobjetivo prevenir, manter e restaurar a paz, inclusive <strong>as</strong> que seenquadram no âmbito <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> humanitária internacional presta<strong>da</strong> aEstados ou regiões. Essa el<strong>as</strong>tici<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso do conceito <strong>de</strong>


282 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmanutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>correu, sobretudo, <strong>da</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Membrospermanentes do CSNU, que buscaram usar a ONU como instrumento<strong>de</strong> su<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> extern<strong>as</strong> e instância legitimadora <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> nacionaise regionais. Nesse contexto, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz foramempregad<strong>as</strong> como uma espécie <strong>de</strong> panacéia para aju<strong>da</strong>r na solução <strong>de</strong>todo e qualquer conflito regional, tornando-se a face mais visível d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> perante a opinião pública.Porém, com <strong>as</strong> intervenções malsucedid<strong>as</strong> na Somália, emRuan<strong>da</strong> e na antiga Iugoslávia, o CSNU p<strong>as</strong>sou a atuar com mais cautelana criação <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz. Tal fato po<strong>de</strong>ser ilustrado pelos seguintes <strong>da</strong>dos: em 1988 havia cinco operações,mobilizando 9.750 pesso<strong>as</strong> e um orçamento <strong>de</strong> US$ 230 milhões; em1994, auge <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong>sse instrumento, havia 17 operações com73.393 pesso<strong>as</strong> e um orçamento <strong>de</strong> US$ 3,6 bilhões; já em 1999,apesar <strong>de</strong> ain<strong>da</strong> estarem em curso 17 operações <strong>de</strong> paz e 1 missãocivil, est<strong>as</strong> contavam com cerca <strong>de</strong> 12.000 pesso<strong>as</strong> e um orçamentoprojetado <strong>de</strong> US$ 700 milhões. Esses números e valores <strong>de</strong>verãoaumentar, entretanto, no segundo semestre <strong>de</strong> 1999, haja vista o<strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> três nov<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz — em Timor Leste(UNAMET), no Kosovo (UNMIK) e na República Democrática doCongo (MONUC) — e ampliações <strong>de</strong> du<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> — em Serra Leoa(UNOMSIL) e no Saara Oci<strong>de</strong>ntal (MINURSO), <strong>da</strong>ndo margem àexpectativa <strong>de</strong> que haja uma renova<strong>da</strong> confiança n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz na vira<strong>da</strong> do século XX.Po<strong>de</strong>-se dizer que os mesmos países que, até 1994,preconizavam o uso qu<strong>as</strong>e indiscriminado d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, p<strong>as</strong>saram a adotar postura oposta, não apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>vidoaos custos elevados d<strong>as</strong> missões, em termos <strong>de</strong> recursos humanos efinanceiros, m<strong>as</strong> também por terem verificado que <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU, embora possam abrigar man<strong>da</strong>tosmultidisciplinares, hoje algo incontr<strong>as</strong>tável, dificilmente serão bemsucedid<strong>as</strong> se forem violados seus princípios tradicionais do


CONCLUSÃO 283consentimento d<strong>as</strong> partes, <strong>da</strong> imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e do uso <strong>da</strong> força somenteem c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa.A mídia e a opinião pública p<strong>as</strong>saram a criticá-l<strong>as</strong>, sobretudo apartir <strong>de</strong> 1994, <strong>de</strong> forma freqüentemente improce<strong>de</strong>nte, ao<strong>de</strong>sconhecerem seus man<strong>da</strong>tos e su<strong>as</strong> limitações operacionais.Conforme <strong>as</strong>sinalado pelo General-<strong>de</strong>-Divisão In<strong>da</strong>r Jit Rikhye, umdos mais experientes Coman<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> Força que a ONU já teve: “Theblame for lack of progress in peacemaking h<strong>as</strong> often been attributedto a failure of peacekeeping, which is an unfair judgement, forpeacekeeping can only provi<strong>de</strong> a suitable climate for negotiations;it is not a panacea by itself” 187 . Com efeito, a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz está justamente em proporcionar condiçõespara a evolução d<strong>as</strong> conversações polític<strong>as</strong> ou, mormente nos anos90, em monitorar a execução <strong>de</strong> um acordo previamente concluído,sem mencionar os benefícios paralelos d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong>, <strong>de</strong> recuperação <strong>da</strong> infra-estrutura física, etc. Noentanto, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não <strong>de</strong>vem ser confundid<strong>as</strong>com o processo <strong>de</strong> promoção <strong>da</strong> paz (peacemaking), que está voltadopara <strong>as</strong> negociações polític<strong>as</strong> <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a encontrar uma solução<strong>de</strong>finitiva para o conflito. Apesar d<strong>as</strong> crític<strong>as</strong> e do fato <strong>de</strong> não seremapropriad<strong>as</strong> para qualquer tipo <strong>de</strong> conflito, po<strong>de</strong>-se afirmar que <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz continuam sendo instrumento <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para que a ONU cumpra seu propósito fun<strong>da</strong>mentalprevisto no artigo 1(1) <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> ao respal<strong>da</strong>r seusinstrumentos promotores <strong>da</strong> solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>.A fim <strong>de</strong> manter a eficácia e legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>nesse campo, é conveniente que se preservem <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz na sua forma consagra<strong>da</strong> pela experiência <strong>da</strong> ONUnos últimos 50 anos, apen<strong>as</strong> com aperfeiçoamentos nos sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong>planejamento, <strong>de</strong>slocamento e condução <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> missões, mormenteatravés do sistema <strong>de</strong> pronto emprego e do quartel-general <strong>de</strong> missão187In<strong>da</strong>r Jit Rikhye, (1994), p. 173


284 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURArapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável, e que el<strong>as</strong> sejam utilizad<strong>as</strong> somente par<strong>as</strong>ituações em que são a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong>. Para outr<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>, caberiadiscutir outros instrumentos, com rótulos próprios, cuja aceitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>e eficácia seriam testad<strong>as</strong> ao longo do tempo. Entre os novosinstrumentos que têm sido consi<strong>de</strong>rados, <strong>de</strong>stacam-se <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong>grupos <strong>de</strong> países para aprimorar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, mediante o oferecimento <strong>de</strong> efetivos por meio <strong>de</strong>sistem<strong>as</strong> previamente montados — nota<strong>da</strong>mente a SHIRBRIG —, <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> “apoio à paz” <strong>da</strong> OTAN e <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz “robust<strong>as</strong>” do DPKO. Nos dois últimos c<strong>as</strong>os, <strong>as</strong> missões <strong>de</strong>paz, por envolverem a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> armamento pesado, teriam<strong>de</strong> ser aprovad<strong>as</strong>, <strong>de</strong> preferência, ao amparo do capítulo VII <strong>da</strong> Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Ess<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção, porém,correm o risco <strong>de</strong> afetar a respeitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> conquista<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz n<strong>as</strong> cinco últim<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>, já que a populaçãona área <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações e mesmo a opinião públicainternacional nem sempre compreen<strong>de</strong>m <strong>as</strong> tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong>para diferenciar <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz dos outros mecanismos empregadospela ONU no manejo <strong>de</strong> crises regionais.No momento, po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar no CSNU uma clara tendência<strong>de</strong> utilização d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, sob o comandodo SGNU, somente em cenários <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> baixa intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> enos quais haja o consentimento dos principais atores no terreno com apresença d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> e observadores <strong>da</strong> ONU, mesmo que a operaçãoseja consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “robusta” e esteja ampara<strong>da</strong> no capítulo VII <strong>da</strong> Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>. Já nos cenários mais complexos, nota<strong>da</strong>mentenos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> maior intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> com riscos <strong>de</strong> envolvimento<strong>de</strong> trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> missão em situações <strong>de</strong> combate, existe virtual consensono CSNU <strong>de</strong> que a ONU não dispõe dos recursos humanos, materiaise financeiros nem <strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong> comando necessários para intervirmilitarmente. Nesses c<strong>as</strong>os, que costumam exigir ações <strong>de</strong> imposição(peace-enforcement), a tendência é que o CSNU continue autorizando


CONCLUSÃO 285coalizões ad hoc <strong>de</strong> Estados membros, ou enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou arranjosregionais ou sub-regionais, para agir com b<strong>as</strong>e no capítulo VII <strong>da</strong> Cartad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.O recurso a essa prática <strong>de</strong>correu do <strong>de</strong>scrédito que se seguiuà exagera<strong>da</strong> expectativa quanto às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.A <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> man<strong>da</strong>tos a forç<strong>as</strong> multinacionais visava igualmente amitigar <strong>as</strong> crític<strong>as</strong> surgid<strong>as</strong> em torno <strong>da</strong> questão <strong>de</strong> “seletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong>conflitos regionais por parte do Conselho, segundo a qual algunsconflitos mereceriam tratamento multilateral, ao p<strong>as</strong>so que outros seriamesquecidos e <strong>de</strong>ixados à própria sorte. Tal posição po<strong>de</strong>rá, entretanto,comprometer a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU, c<strong>as</strong>o não seja respeita<strong>da</strong> <strong>as</strong>upremacia <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> diante dos outros acordosinternacionais, sobretudo no que diz respeito ao direito do recurso àforça, e não sejam criados mecanismos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong>cont<strong>as</strong> para supervisionar <strong>as</strong> ações empreendid<strong>as</strong>, em seu nome, porcoalizões ad hoc ou outros organismos intergovernamentais. Conformevisto, a <strong>de</strong>claração presi<strong>de</strong>ncial do CSNU <strong>de</strong> 30/11/98 188 , ao mesmotempo em que indica procedimentos que po<strong>de</strong>riam ser adotados, par<strong>as</strong>uperar esse problema, evi<strong>de</strong>ncia também a relutância <strong>de</strong> certosMembros permanentes em institucionalizar regr<strong>as</strong> precis<strong>as</strong> sobre o<strong>as</strong>sunto por meio <strong>de</strong> uma resolução man<strong>da</strong>tória. O importante épreservar a ONU não apen<strong>as</strong> como o locus i<strong>de</strong>al para se discutir osmecanismos <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais, emvista <strong>de</strong> sua universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> e experiência reunid<strong>as</strong> nosúltimos 50 anos, m<strong>as</strong> também como única fonte legitimadora doemprego <strong>da</strong> força fora <strong>da</strong> hipótese <strong>de</strong> legítima <strong>de</strong>fesa individual oucoletiva prevista no artigo 51 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Os riscos <strong>de</strong> erosão <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ONU vieram à tona <strong>de</strong>forma cristalina nos últimos anos, quando os EUA e seus aliados <strong>da</strong>Aliança Atlântica p<strong>as</strong>saram a atuar ca<strong>da</strong> vez mais resolutamente em188Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. S/PRST/1998/35.


286 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAcenários consi<strong>de</strong>rados estratégicos ou impostos por interesses políticose/ou por movimentos algo erráticos <strong>de</strong> su<strong>as</strong> opiniões públic<strong>as</strong>doméstic<strong>as</strong>, mesmo que em <strong>de</strong>srespeito à Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Nesse contexto, a mera ameaça <strong>de</strong> ações unilaterais já enfraquece aONU, pois obriga o CSNU a aprovar o man<strong>da</strong>to, sob pena <strong>de</strong> ser<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rado e per<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>r diante dos acontecimentos, a exemplo<strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> Resolução nº 1203 (1998), <strong>de</strong> 24/10/98, sobre <strong>as</strong>ituação <strong>da</strong> RFI (Kosovo), m<strong>as</strong> que acabou sendo insuficiente paraimpedir o início d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s em 24/3/99, quando a OTAN começoua bombar<strong>de</strong>ar a República Fe<strong>de</strong>ral <strong>da</strong> Iugoslávia (RFI), em ação militarque não foi endossa<strong>da</strong> previamente pelo CSNU (vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong> 171 a175 sobre o <strong>as</strong>sunto).Tais eventos indicam que alguns Membros permanentes doCSNU enten<strong>de</strong>m que a ação na ONU não lhes limita a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>atuar <strong>de</strong> forma unilateral ou por coalizões ad hoc, em iniciativ<strong>as</strong> nãonecessariamente autorizad<strong>as</strong> pela Organização. Para esses países,nota<strong>da</strong>mente os EUA, <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> são vist<strong>as</strong> como uminstrumento opcional <strong>de</strong> intervenção, para a promoção <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>em áre<strong>as</strong> do mundo on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>sejam envolver-se diretamente, ouseja, a ONU vale pelo que po<strong>de</strong> oferecer em circunstânci<strong>as</strong> concret<strong>as</strong>e específic<strong>as</strong>, algo distinto <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> entregar a uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pela manutenção <strong>da</strong> paz e segurançamundiais. O risco <strong>da</strong> aceitação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ação é o progressivoempobrecimento do sistema <strong>de</strong> segurança coletiva d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,que seria relegado primordialmente a taref<strong>as</strong> <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz e<strong>da</strong> segurança em áre<strong>as</strong> restrit<strong>as</strong> do mundo, on<strong>de</strong> não existiriam arranjos<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa atuantes. Recor<strong>de</strong>-se que a intervenção <strong>da</strong> OTAN em 1999na RFI tem, entre seus prece<strong>de</strong>ntes mais imediatos, a atuação <strong>da</strong>CEDEAO em Serra Leoa em 1998 (vi<strong>de</strong> págin<strong>as</strong> 73 e 74).A preocupação com o enfraquecimento do CSNU e su<strong>as</strong>conseqüênci<strong>as</strong> foi sublinha<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,Kofi Annan, em discurso proferido na Assembléia Nacional francesa,


CONCLUSÃO 287em 8/12/98, antes mesmo <strong>da</strong> intervenção <strong>da</strong> OTAN no Kosovo, nosseguintes termos 189 :“When peacekeeping operations become necessary,I wish to reaffirm that, while regional organizationsundoubtedly have an important role to play, any militaryintervention by the international community must remainsubject to the approval of the Security Council.Dispensing with its <strong>as</strong>sent, <strong>as</strong> some are tempted to do,would mean setting an unfortunate prece<strong>de</strong>nt. It would callin question the very first article of the Charter of theOrganization, which provi<strong>de</strong>s for effective collective me<strong>as</strong>uresfor the prevention and removal of threats to the peace. Weshould then not be far from a return to the system of spheresof influence b<strong>as</strong>ed on the individual interests of States, ratherthan on the principle of sharing of responsibilities”.Em tom mais contun<strong>de</strong>nte, o SGNU frisou em discurso proferidoem 17/5/99, quando então a intervenção <strong>da</strong> OTAN na RFI granjeava,que “the c<strong>as</strong>e of Kosovo h<strong>as</strong> c<strong>as</strong>t into sharp relief the fact thatMember States and regional organizations sometimes takeenforcement action without Security Council authorization”,acrescentando “... that unless the Security Council is restored to itspreeminent position <strong>as</strong> the sole source of legitimacy on the use offorce, we are on a <strong>da</strong>ngerous path to anarchy.” 190 Essepronunciamento foi feito, em Haia, durante <strong>as</strong> Comemorações doCentenário <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> Primeira Conferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> <strong>de</strong> 1899,diante <strong>de</strong> uma platéia expressiva <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s mundiais.Embora tenha ocorrido uma violação d<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> e um <strong>de</strong>srespeito à autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do CSNU, po<strong>de</strong>r-se-ia189Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. SG/SM/6823, p. 3.190Nações Unid<strong>as</strong>, (1999), doc SG/SM/6997.


288 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAargumentar que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> viram seu papel em boa parteresgatado na crise do Kosovo pelo fato <strong>de</strong> que a solução acor<strong>da</strong><strong>da</strong>entre <strong>as</strong> partes envolvid<strong>as</strong> acabou sendo referen<strong>da</strong><strong>da</strong> pela ONU. Noentanto, essa percepção precisa ser matiza<strong>da</strong>, à luz do teor <strong>da</strong> Resoluçãonº 1244(1999) do CSNU <strong>de</strong> 10/6/99. Seus termos atribuem aoComan<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Força Multinacional ampla margem <strong>de</strong> manobra semconsulta ao CSNU. Além disso, a resolução não fixa periodici<strong>da</strong><strong>de</strong>para a apresentação <strong>de</strong> relatórios sobre <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos paísesengajados no terreno, <strong>de</strong> modo a permitir o acompanhamento <strong>de</strong> su<strong>as</strong>ações pelo CSNU (accountability), nem <strong>de</strong>fine prazo <strong>de</strong> encerramentopara a missão, cuja continuação, pelo texto adotado, dispensa oconcurso do CSNU (vi<strong>de</strong> tabela <strong>de</strong>scritiva sobre forç<strong>as</strong> multinacionaisconstante d<strong>as</strong> págin<strong>as</strong> 191 a 193). Por fim, o processo <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>resolução <strong>as</strong>sumiu contornos pouco transparentes, cabendo aosmembros não-permanentes do CSNU endossar, na prática, uma<strong>de</strong>cisão toma<strong>da</strong> alhures — ou seja, a negociação substantiva <strong>da</strong> criserealizou-se em outro foro. Essa <strong>de</strong>cisão envolve, aliás, um elenco <strong>de</strong>providênci<strong>as</strong> que <strong>de</strong>verão ser implementad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>,resultando em uma distribuição d<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeir<strong>as</strong> <strong>de</strong>uma ação militar unilateral.Essa resolução ten<strong>de</strong> antes a pôr em evidência o af<strong>as</strong>tamentodo Conselho n<strong>as</strong> negociações relativ<strong>as</strong> a questões que “ameaçam ouviolam a paz e segurança internacionais”, algo que era visível durante aGuerra Fria e, mesmo, nos anos 90 — <strong>as</strong> negociações <strong>de</strong> paz doCamboja foram realizad<strong>as</strong> em Paris, <strong>as</strong> <strong>da</strong> Bósnia-Herzegovina emDayton, <strong>as</strong> <strong>de</strong> Angola em Lusaca, entre outros exemplos.No c<strong>as</strong>o do Kosovo, o prolongamento <strong>da</strong> intervenção fez comque os bombar<strong>de</strong>ios comprometessem paradoxalmente objetivos queos justificaram ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o processo <strong>de</strong> limpeza étnica em gran<strong>de</strong>escala, agravando mais a situação <strong>da</strong>queles que a intervenção <strong>da</strong> AliançaAtlântica se <strong>de</strong>stinava a proteger. Originalmente a meta <strong>de</strong>clara<strong>da</strong> doataque fora a <strong>de</strong> “convencer” o Governo <strong>da</strong> RFI a <strong>as</strong>sinar os acordos <strong>de</strong>


CONCLUSÃO 289Rambouillet sobre a situação no Kosovo 191 , p<strong>as</strong>sando, subseqüentemente,a ser uma intervenção para estancar uma crise humanitária que estavagerando milhares <strong>de</strong> refugiados e <strong>de</strong>slocados internos, com implicaçõessobre a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Bálcãs e sobre a eventual necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>acolhimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong>senraizad<strong>as</strong> nos países <strong>da</strong> própriaOTAN. Essa ação bélica colocou, a<strong>de</strong>mais, os membros <strong>da</strong> OTANcontra o Direito Internacional Humanitário na medi<strong>da</strong> em que seusataques iam <strong>de</strong>struindo a infra-estrutura física <strong>da</strong> RFI, impondo, <strong>as</strong>sim,sacrifícios <strong>de</strong>snecessários à população civil durante a campanha área emesmo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> cessação d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>vido ao elevado nível<strong>de</strong> <strong>de</strong>struição verificado (pontes, estrad<strong>as</strong>, refinari<strong>as</strong>, prédios públicosetc.), conforme <strong>de</strong>nunciado pela Alta Comissária <strong>de</strong> Direitos Humanosd<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, Mary Robinson, em tom comedido, e pela HumanRights Watch e por outr<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s promotor<strong>as</strong> <strong>de</strong> direitos humanos,em tons mais contun<strong>de</strong>ntes 192 .É interessante verificar que circulam análises nos meios militarese políticos dos países <strong>da</strong> OTAN, reproduzidos em revist<strong>as</strong>especializad<strong>as</strong>, indicando que a intervenção <strong>da</strong> Aliança na RFI, apesardos <strong>da</strong>nos colaterais causados à população civil, ao meio ambiente e àinfra-estrutura <strong>de</strong> um país soberano, <strong>de</strong>veria ser vista como um êxito.191A Conferência <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, realiza<strong>da</strong> em Rambouillet, na França, <strong>de</strong>stinava-se a pôrfim à violência no Kosovo, com b<strong>as</strong>e em proposta <strong>de</strong> acordo prepara<strong>da</strong> por umgrupo <strong>de</strong> países oci<strong>de</strong>ntais (Alemanha, EUA, França, Itália e Reino Unido) e aRússia. Na Conferência, os mediadores (EUA, UE e Rússia), a <strong>de</strong>legação <strong>da</strong> RFIe a <strong>de</strong>legação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> albanesa do Kosovo não lograram um acordo<strong>de</strong>finitivo sobre o <strong>as</strong>sunto, apesar <strong>de</strong> terem realizado du<strong>as</strong> ro<strong>da</strong>d<strong>as</strong> <strong>de</strong> negociação:a primeira, <strong>de</strong> 6 a 22/2/99, e a segun<strong>da</strong>, <strong>de</strong> 15 a 19/3/99. No final, os representantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> albanesa <strong>as</strong>sinaram o acordo,ao p<strong>as</strong>so que os <strong>da</strong> RFI se retiraram <strong>da</strong> Conferência. O enviado norte-americanoRichard Holbrooke viajou até Belgrado <strong>de</strong> 21 a 23/3/99 para tentar retomar odiálogo com Milosevic, m<strong>as</strong>, diante <strong>da</strong> intransigência iugoslava, <strong>de</strong>clarouencerrad<strong>as</strong> <strong>as</strong> negociações com a RFI. Os ataques <strong>da</strong> OTAN contra a Iugosláviainiciaram-se no dia 24/3/99.192Invocaram o <strong>de</strong>srespeito aos art. 52-56 do Protocolo Adicional I d<strong>as</strong>Convenções <strong>de</strong> Genebra <strong>de</strong> 1949.


290 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADo ponto <strong>de</strong> vista militar, a ação logrou a retira<strong>da</strong> d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong>iugoslav<strong>as</strong> <strong>de</strong> Kosovo e o ingresso “consentido” na província <strong>de</strong>trop<strong>as</strong> <strong>da</strong> Aliança, sob o seu comando e controle. Do ângulo político,foi manti<strong>da</strong> a coesão entre os 19 membros <strong>da</strong> OTAN, não obstante<strong>as</strong> dissensões verificad<strong>as</strong> durante a campanha militar, bem como selogrou manter, na maioria dos países, respaldo popular aosbombar<strong>de</strong>ios contra a RFI e se alcançou um entendimento com aRússia, sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar concessões militaressignificativ<strong>as</strong>. No relacionamento com a ONU, a OTAN conseguiupreservar seus interesses, tendo, no final <strong>da</strong> campanha militar, obtidoo endosso do CSNU para sua permanência na RFI como uma forçamultinacional, esvaziando, <strong>as</strong>sim, <strong>as</strong> crític<strong>as</strong> sobre a “legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>”<strong>da</strong> iniciativa. A<strong>de</strong>mais, à medi<strong>da</strong> que venham à tona <strong>as</strong> atroci<strong>da</strong><strong>de</strong>scometid<strong>as</strong> pelos sérvios contra os albaneses e que se restabeleçaum ambiente seguro para o retorno dos refugiados e <strong>de</strong>slocadosinternos, <strong>de</strong>verá ser incrementa<strong>da</strong> “a posteriori” a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> moral<strong>da</strong> ação militar.No entanto, a miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> interlocutores que buscaram obter ofim d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>as</strong> crescentes dúvid<strong>as</strong> levantad<strong>as</strong> pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>internacional diante <strong>da</strong> ação <strong>da</strong> OTAN no Kosovo <strong>de</strong>veriam fazer osprincipais membros <strong>da</strong> Aliança refletirem sobre os eventos incorridos,tratando a intervenção realiza<strong>da</strong> mais como “exceção” do que como“prece<strong>de</strong>nte”. Seus <strong>de</strong>sdobramentos irão muito além do término doconflito (estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> nos Bálcãs, implicações sobre o relacionamentoentre a UE e os EUA, repercussão sobre a política <strong>de</strong> aproximação <strong>da</strong>OTAN com a Rússia, efeitos sobre a China, implicações sobre osprocessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento, alimentação <strong>de</strong> ressentimentos contra osEUA etc.), mostrando os inconvenientes políticos, os elevados custosfinanceiros e a falta <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativ<strong>as</strong> militares adotad<strong>as</strong>sem o aval do CSNU, mesmo que consigam convencer seus públicosinternos sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter agido <strong>de</strong>ssa ou <strong>da</strong>quela forma. ACarta <strong>da</strong> ONU veta a intervenção nos negócios internos <strong>de</strong> um Estado


CONCLUSÃO 291soberano, a não ser que haja autorização expressa do CSNU sob oCapítulo VII <strong>da</strong> Carta constitutiva, como aconteceu, por exemplo, naGuerra do Golfo, em 1991, e na Guerra <strong>da</strong> Bósnia-Herzegovina, em1992-95.Não obstante o quadro <strong>de</strong> incertez<strong>as</strong> exposto, <strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz não per<strong>de</strong>ram sua serventia. Sejam el<strong>as</strong>conduzid<strong>as</strong> pela ONU, por organismos regionais ou sub-regionais, oupor forç<strong>as</strong> multinacionais, <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz <strong>de</strong>verão ser empregad<strong>as</strong>,a médio e longo prazos, sobretudo em cenários africanos — atualmente,<strong>de</strong> acordo com o SGNU, mais <strong>de</strong> 60 por cento dos trabalhos doCSNU são <strong>de</strong>dicados a examinar situações surgid<strong>as</strong> na África 193 . Paraesses cenários, entretanto, os países europeus e os EUA não parecemestar inclinados a ce<strong>de</strong>r trop<strong>as</strong>, ante a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> baix<strong>as</strong> nos seuscontingentes e a falta <strong>de</strong> um interesse mais direto na questão, preferindoprestar apoio logístico e a<strong>de</strong>strar trop<strong>as</strong> <strong>de</strong> outros países, <strong>de</strong> modo a<strong>da</strong>r uma satisfação ao público interno <strong>de</strong> que não estão abandonandoo continente africano à sua sorte — no âmbito, por exemplo, <strong>de</strong>iniciativ<strong>as</strong> como a ACRI e a RECAMP, que <strong>de</strong>vem ser interpretad<strong>as</strong>mais como extensões d<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> nacionais do que como iniciativ<strong>as</strong>multilaterais propriamente dit<strong>as</strong>.A ênf<strong>as</strong>e do <strong>de</strong>bate atual em sistem<strong>as</strong> que proporcionem maiorese mais bem treinados contingentes para operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz revela a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> que os países industrializados conferem à soluçãodos conflitos, mais do que à sua prevenção, apesar <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a retóricaembuti<strong>da</strong> nos discursos em prol <strong>da</strong> recuperação econômica dos paísesafetados. O CSNU tampouco tem <strong>de</strong>monstrado a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> preocupaçãoem realmente atacar <strong>as</strong> caus<strong>as</strong> profund<strong>as</strong> dos conflitos (<strong>as</strong> chamad<strong>as</strong>root causes of conflicts), especialmente <strong>de</strong> cunho econômico-social,não obstante o artigo 65 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> prever apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> o Conselho solicitar informações e <strong>as</strong>sistência do193Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. SG/SM/6807-AFR/116, p. 3.


292 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAECOSOC, facul<strong>da</strong><strong>de</strong> esta lembra<strong>da</strong> pelo Secretário-Geral <strong>da</strong> ONUno seu discurso sobre <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> organização na 53 a AGNU 194 .A experiência dos anos 90 <strong>de</strong>monstrou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz serem complementad<strong>as</strong> com iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> maislongo prazo no campo sócio-econômico, que p<strong>as</strong>saram a ser chamad<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz. Tal fato realça a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seaperfeiçoar a cooperação entre o Conselho <strong>de</strong> Segurança e oECOSOC, sob pena <strong>de</strong> <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> per<strong>de</strong>rem credibili<strong>da</strong><strong>de</strong>c<strong>as</strong>o continuem a conferir ênf<strong>as</strong>e aos <strong>as</strong>pectos militares <strong>da</strong> solução <strong>de</strong>conflitos. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o i<strong>de</strong>al seria que <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> centr<strong>as</strong>semmais esforços na execução <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s voltad<strong>as</strong> para a prevenção<strong>de</strong> conflitos, aproveitando, por exemplo, <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> constantes dorelatório sobre a Agen<strong>da</strong> para o Desenvolvimento aprovado pelaAGNU em 20/6/97, <strong>de</strong> modo a reduzir <strong>as</strong> tensões alimentad<strong>as</strong> porrazões sócio-econômic<strong>as</strong>.Nos primeiros meses <strong>de</strong> 1999, algum<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong>foram tomad<strong>as</strong> nesse sentido pela ONU. O ECOSOC aprovou acriação <strong>de</strong> um Grupo Consultivo ad hoc, integrado pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, Canadá,Indonésia, Letônia e Maurício, com o man<strong>da</strong>to <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir um programa<strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência internacional para o <strong>de</strong>senvolvimento do Haiti, enquantoo CSNU autorizou o estabelecimento <strong>de</strong> um Escritório <strong>da</strong> ONU emGuiné-Bissau para empreen<strong>de</strong>r ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s voltad<strong>as</strong> para a consoli<strong>da</strong>ção<strong>da</strong> paz naquele país. Fora do âmbito d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, m<strong>as</strong>mostrando preocupação com os <strong>as</strong>pectos sócio-econômicos <strong>de</strong> maislongo prazo nos Bálcãs, a União Européia abraçou a idéia lança<strong>da</strong>originalmente pela Alemanha <strong>de</strong> implementar um “Pacto <strong>de</strong> Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>para a Europa do Su<strong>de</strong>ste”.Tendo em vista o cenário atual e <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> utilizaçãod<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU no futuro próximo,cumpre refletir sobre a relevância <strong>de</strong>sse instrumento para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e,particularmente, para a política externa br<strong>as</strong>ileira.194Nações Unid<strong>as</strong>, (1998), doc. SG/2048-GA/9443.


CONCLUSÃO 293O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, além <strong>de</strong> ter sido o único país latino-americano aparticipar d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> guerr<strong>as</strong> mundiais 195 , mobilizou sua diplomacia, ain<strong>da</strong>nos anos 30 e 40, para buscar soluções pacífic<strong>as</strong> para conflitosenvolvendo seus vizinhos — questão <strong>de</strong> Letícia em 1932/34, guerrado Chaco em 1932/38 e conflito Equador/Peru em 1941/42 — e jáostenta extenso currículo <strong>de</strong> participações em missões <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU.Aos exemplos históricos <strong>de</strong> participações n<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz no Sinai/Faixa <strong>de</strong> Gaza e no Congo, agregam-se <strong>as</strong> atuações recentes <strong>de</strong> grupos<strong>de</strong> observadores militares, policiais e civis nos Bálcãs, na África Australe na América Central. Soma-se a esse capital político o fato <strong>de</strong> o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>ter <strong>de</strong>senvolvido uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa sóbria, caracteriza<strong>da</strong> atualmentepor um nível discreto <strong>de</strong> g<strong>as</strong>tos militares per capita, em função <strong>de</strong> umainserção regional e internacional tradicionalmente pacífica. Tendo emvista que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, pelo seu patrimônio <strong>de</strong> realizações, já é um importanteator internacional no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança, não parecerianecessário nem razoável cogitar em um aumento <strong>da</strong> participaçãobr<strong>as</strong>ileira em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU além do queo País já vem fazendo nos últimos anos.Além <strong>de</strong> uma postura mais protagônica nessa área nãonecessariamente acrescentar divi<strong>de</strong>ndos políticos adicionais a um paíscomo o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, cumpre ter em mente que os recursos necessários para195Na I° Guerra Mundial, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviou, em janeiro <strong>de</strong> 1918, <strong>de</strong>z aviadores aoReino Unido (dois dos quais se aci<strong>de</strong>ntaram e oito foram incorporados, apósintenso treinamento, em uma esquadrilha mista <strong>da</strong> Royal Air Force, compostapor pilotos britânicos e norte-americanos, para realizar missões <strong>de</strong> patrulhamentono Canal <strong>da</strong> Mancha), uma frota <strong>de</strong> oito navios <strong>da</strong> Divisão Naval em <strong>Operações</strong><strong>de</strong> Guerra (contudo, <strong>de</strong>vido à uma série <strong>de</strong> vicissitu<strong>de</strong>s,a frota chegou a Gibraltar,em 10/11/18, na véspera <strong>da</strong> cessação d<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, com apen<strong>as</strong> um cruzadore três contratorpe<strong>de</strong>iros) e uma missão médica militar (que, integra<strong>da</strong> por 161civis e militares, se instalou no Hospital Franco-<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro, em Paris, em setembro<strong>de</strong> 1918 e foi <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong> gradualmente até meados <strong>de</strong> 1919). Na II° Guerra Mundial,o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviou à Itália, entre julho <strong>de</strong> 1944 e fevereiro <strong>de</strong> 1945, a ForçaExpedicionária <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira (FEB) que foi forma<strong>da</strong> por cerca <strong>de</strong> 25.350 voluntáriose, em setembro <strong>de</strong> 1944, um Grupo Aviação <strong>de</strong> Caça que foi composto poraproxima<strong>da</strong>mente 350 voluntários (43 dos quais aviadores).O recém-criado


294 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAo envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> para forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz sempre po<strong>de</strong>rão serinvestidos internamente em projetos <strong>de</strong> relevância econômico-social.No momento <strong>de</strong>licado por que p<strong>as</strong>sa o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, <strong>as</strong> condicionantesfinanceir<strong>as</strong> constituem tema <strong>de</strong> alto grau <strong>de</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em vista doseu potencial <strong>de</strong> repercussão junto ao Congresso Nacional e à opiniãopública. Nesse contexto, o envolvimento crescente do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> custos elevados e com riscospara seus integrantes, po<strong>de</strong>ria ser objeto <strong>de</strong> questionamentos, sobretudoquando se tem presente que, ca<strong>da</strong> vez mais, os centros acadêmicos, acl<strong>as</strong>se política, a mídia e a população em geral <strong>de</strong>monstram maiorinteresse pelos tem<strong>as</strong> internacionais, fazendo com que se amplie o <strong>de</strong>batesobre <strong>as</strong> ações adotad<strong>as</strong> pelo Itamaraty em matéria <strong>de</strong> política externa.Por outro lado, o Governo br<strong>as</strong>ileiro não <strong>de</strong>ve adotar a posturaoposta <strong>de</strong> rejeitar to<strong>da</strong> e qualquer participação em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, alheando-se <strong>de</strong> compromissos inerentes à suacondição <strong>de</strong> Membro <strong>da</strong> ONU e <strong>de</strong> ator global com responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>spela manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais. O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> éatualmente um dos poucos países que vê refletido em seu universonacional gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> problemática em discussão no plano multilateral(direitos humanos, meio ambiente, <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais, drog<strong>as</strong>,<strong>as</strong>sentamento humano etc.), tornando-o vulnerável aos elementos <strong>de</strong>dissu<strong>as</strong>ão, <strong>de</strong> pressão ou mesmo <strong>de</strong> ação direta a serem introduzidosno modus operandi d<strong>as</strong> organizações internacionais.O País tem, portanto, cre<strong>de</strong>nciais que o habilitam e até oimpelem a participar ativamente do <strong>de</strong>bate sobre o reor<strong>de</strong>namento doMinistério <strong>da</strong> Aeronáutica (20/1/41), além <strong>de</strong> organizar o Grupo <strong>de</strong> Aviação <strong>de</strong>Caça, ce<strong>de</strong>u à FEB uma esquadrilha <strong>de</strong> ligação e observação, como órgão integrante <strong>da</strong> artilharia divisionária do Exército. Os efetivos br<strong>as</strong>ileiros, que giraram emtorno <strong>de</strong> 25.700 voluntários, estiveram em combate por 239 di<strong>as</strong>. Ocorreram cerca<strong>de</strong> 2.000 baix<strong>as</strong>, 451 d<strong>as</strong> quais fatais (443 <strong>da</strong> FEB e 8 aviadores). Esse esforço foicomplementado pela cooperação presta<strong>da</strong> no patrulhamento aéreo e marítimono Atlântico Sul, envolvendo a cessão <strong>de</strong> b<strong>as</strong>es militares aos EUA no nor<strong>de</strong>ste.Em ambos conflitos mundiais, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, afora apreen<strong>de</strong>r navios inimigos em seusportos, forneceu alimentos, matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> e artigos industriais às forç<strong>as</strong> aliad<strong>as</strong>.


CONCLUSÃO 295mundo pós-Guerra Fria, que incluem a questão <strong>da</strong> paz e segurançamundiais. Essa participação ativa visa a evitar que a or<strong>de</strong>m mundialseja construí<strong>da</strong> em <strong>de</strong>trimento dos interesses nacionais. As discussõesocorrid<strong>as</strong> em 1997 e 1998 sobre o uso <strong>da</strong> força pela OTAN oucoalizões ad hoc sem o necessário respaldo do CSNU e,posteriormente, os bombar<strong>de</strong>ios <strong>da</strong> OTAN contra a RFI ao arrepiodo artigo 53 <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> salientam os riscos <strong>de</strong> que oreor<strong>de</strong>namento mundial, no campo <strong>da</strong> paz e segurança, seja <strong>de</strong>senhadoapen<strong>as</strong> tendo em vista os interesses d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s potênci<strong>as</strong>.Aos países <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong>svinculados <strong>de</strong> esquem<strong>as</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,como o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, interessa o fortalecimento do sistema multilateral, únicab<strong>as</strong>e plausível para a construção <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m internacional que nãose fun<strong>da</strong>mente na <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> e na força. Especificamente, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong><strong>de</strong>ve continuar valorizando <strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> — organização <strong>de</strong> maioruniversali<strong>da</strong><strong>de</strong> e legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> no campo <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança —,bem como seu principal instrumento <strong>de</strong> atuação nessa área, <strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.A participação n<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> ONU representaigualmente uma indicação do grau <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que o país <strong>de</strong>seja<strong>as</strong>sumir nos <strong>as</strong>suntos afetos à paz e à segurança. Existe, entre os Estadosmembros d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, um amplo consenso <strong>de</strong> que aOrganização <strong>de</strong>ve ser reforma<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo a refletir a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> eaperfeiçoar o seu funcionamento. Um dos elementos principais <strong>de</strong>ssareforma é <strong>da</strong>r maior legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> ao Conselho <strong>de</strong> Segurança pelaatribuição <strong>de</strong> maior representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> aos países em <strong>de</strong>senvolvimento.Não se trata <strong>de</strong> extinguir o CSNU, m<strong>as</strong>, ao contrário, <strong>de</strong> fortalecê-lo,tornando-o mais transparente e legítimo, já que sua estrutura, her<strong>da</strong><strong>da</strong>do pós-Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, não acompanhou a evolução <strong>da</strong>conjuntura internacional. Se em 1945 havia 51 Estados membros paraum CSNU composto por 11 membros (correspon<strong>de</strong>ndo a 22,6% <strong>da</strong>composição <strong>da</strong> Organização), hoje são 188 Estados para um CSNUintegrado por 15 membros (ou 7,9% do total). O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> já <strong>de</strong>ixou


296 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAclaro que <strong>as</strong>sumirá su<strong>as</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s como Membro permanentedo CSNU c<strong>as</strong>o <strong>as</strong>sim o <strong>de</strong>seje a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional. Nessesentido, também é natural que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>monstre interesse em participar<strong>de</strong> modo ativo na manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais,competência precípua do Conselho.No que diz respeito à legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> interna, po<strong>de</strong>-se afirmar quea participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ness<strong>as</strong> operações está <strong>de</strong> acordo com o espírito<strong>da</strong> Constituição <strong>de</strong> 1988. De fato, no artigo 4º <strong>da</strong> Carta magnaencontram-se os princípios que regem <strong>as</strong> relações internacionaisbr<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> e que são perfeitamente congruentes com o espírito queanima <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, tais como: a promoção <strong>da</strong>paz, a solução pacífica dos conflitos e a cooperação entre os povospara o progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Além disso, a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>em tais operações é elemento importante <strong>da</strong> Política <strong>de</strong> Defesa Nacionaldo atual Governo, que arrola, entre outros objetivos, o <strong>de</strong> “contribuirpara a manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurança internacionais” e, como uma<strong>de</strong> su<strong>as</strong> diretrizes, “participar <strong>de</strong> operações internacionais <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> acordo com os interesses nacionais” 196 . A LeiComplementar nº 97, <strong>de</strong> 9/6/99, que dispõe sobre <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> geraispara a organização, o preparo e o emprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>,salienta que “o emprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Pátria e nagarantia dos po<strong>de</strong>res constitucionais, <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m, e na participaçãoem operações <strong>de</strong> paz, é <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>República” 197 , fazendo com que a utilização <strong>de</strong> meios militares p<strong>as</strong>s<strong>as</strong>sea ser expressamente uma d<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> prevista em lei.A crítica <strong>de</strong> que a participação com trop<strong>as</strong> em forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz éonerosa e <strong>de</strong> que os recursos para financiá-la po<strong>de</strong>m ser empregadosno campo social proce<strong>de</strong> apen<strong>as</strong> em parte, pois não leva em196A Política <strong>de</strong> Defesa Nacional foi lança<strong>da</strong> pelo Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República em1996.197Artigo 15 <strong>da</strong> Lei Complementar nº 97, <strong>de</strong> 9/6/99.


CONCLUSÃO 297consi<strong>de</strong>ração outros <strong>as</strong>pectos relevantes. Como Membro <strong>da</strong> ONU, o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong> paga contribuições anuais obrigatóri<strong>as</strong> tanto para o orçamentoregular como para o orçamento d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Esses recursos são em parte rep<strong>as</strong>sados para os países que contribuemcom pessoal e equipamento. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que os reembolsos <strong>da</strong> ONUsempre serão menores do que <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> com o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>. Porém, a maior parte dos g<strong>as</strong>tos <strong>de</strong>correntes do envio <strong>de</strong>contingentes armados será paga a br<strong>as</strong>ileiros ou empres<strong>as</strong> no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>,ou seja, praticamente não existe uma ev<strong>as</strong>ão <strong>de</strong> recursos <strong>da</strong> economiabr<strong>as</strong>ileira, e os equipamentos adquiridos serão usados posteriormentepel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.A<strong>de</strong>mais, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participação <strong>de</strong> empres<strong>as</strong>br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> n<strong>as</strong> licitações promovid<strong>as</strong> pela ONU para fornecer bens eserviços às operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz po<strong>de</strong>ria ser uma vertentemelhor explora<strong>da</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>. Embora não seja um pré-requisito paraparticipar d<strong>as</strong> concorrênci<strong>as</strong> promovid<strong>as</strong> pela ONU, os países quece<strong>de</strong>m pessoal criam, por meio <strong>da</strong> interação com o Secretariado, canaisfluidos <strong>de</strong> comunicação e costumam ter acesso a informaçõesprivilegiad<strong>as</strong>. Para dimensionar esse mercado, cumpre mencionar que,em 1995, a ONU g<strong>as</strong>tou US$ 399 milhões com a contratação <strong>de</strong>fornecimento <strong>de</strong> bens e prestação <strong>de</strong> serviços para <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz.A única empresa br<strong>as</strong>ileira que já venceu licitação para prestar apoioàs operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz foi a Norberto O<strong>de</strong>brecht que,em parceria com a Raytheon Service Company, ganhou concorrênciapara fornecer apoio logístico à UNAVEM III. O contrato, que seesten<strong>de</strong>u <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1995 a fevereiro <strong>de</strong> 1998, era <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>aproxima<strong>da</strong>mente US$ 40 milhões, mais do que o montante dosreembolsos recebidos pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> por conta <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> noss<strong>as</strong>trop<strong>as</strong> na ONUMOZ e na UNAVEM III, que somou, até julho <strong>de</strong>1999, cerca <strong>de</strong> US$ 36 milhões. O exemplo <strong>da</strong> Norberto O<strong>de</strong>brechtrevela o potencial ain<strong>da</strong> pouco explorado pel<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>nesse campo.


298 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAPara <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, a participação br<strong>as</strong>ileira em operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, e especialmente em forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, traz muitosbenefícios. Propicia a<strong>de</strong>stramento aos integrantes d<strong>as</strong> corporaçõesmilitares, facultando aos oficiais e sol<strong>da</strong>dos a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participar<strong>de</strong> operações militares <strong>de</strong> envergadura; permite adquirir equipamentoscom recursos extra-orçamentários e proporciona experiência naorganização <strong>de</strong> operações complex<strong>as</strong>, aumentando <strong>as</strong>sim a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do País. Não há exercício <strong>de</strong> simulação, por melhor que seja,que possa comparar-se ao aperfeiçoamento obtido pelo empregooperacional <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> em situações reais. Além <strong>de</strong> oferecer a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> acelerar o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e profissionalização <strong>de</strong> seusefetivos, a participação n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz promovea valorização dos militares perante a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, projetando uma imagempositiva d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> junto à opinião pública.Da mesma maneira, <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz aju<strong>da</strong>ma melhorar a imagem dos policiais militares estaduais. O contato mantidocom o pessoal d<strong>as</strong> missões e com os representantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civilorganiza<strong>da</strong> nos países anfitriões, mormente nos setores <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>humanitária e <strong>de</strong>fesa dos direitos humanos, aprimoram a formação dosoficiais br<strong>as</strong>ileiros. Alguns <strong>de</strong>les, ao regressarem ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, sãoaproveitados como instrutores n<strong>as</strong> Aca<strong>de</strong>mi<strong>as</strong> <strong>de</strong> Polícia, difundindo aexperiência adquiri<strong>da</strong> n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Esses <strong>da</strong>dos indicam que a questão para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não é tantoparticipar ou não d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, m<strong>as</strong> sim qualo grau <strong>de</strong> compromisso <strong>de</strong>sejável para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, em um momento emque o CSNU está <strong>de</strong>legando, ca<strong>da</strong> vez mais, a organismos regionais esub-regionais ou a coalizões ad hoc a execução <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz e em que o País p<strong>as</strong>sa por um sério processo <strong>de</strong>ajuste econômico e fiscal. O Governo precisa manter uma posiçãoequilibra<strong>da</strong> que permita ao <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> continuar participando d<strong>as</strong> missões<strong>de</strong> paz, à luz d<strong>as</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> recursos financeiros e humanos.Para tanto, é necessário adotar política criteriosa <strong>de</strong> escolha d<strong>as</strong>


CONCLUSÃO 299operações n<strong>as</strong> quais haja efetivo interesse nacional em participar.As própri<strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>linead<strong>as</strong> acima sobre o futuro d<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU <strong>as</strong>sinalam que será muitodifícil que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> venha a ter, nos próximos anos, possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> em nível semelhante ao recente engajamento naUNAVEM III em Angola. O mais provável é que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> venha areceber b<strong>as</strong>icamente convites do Secretariado <strong>da</strong> ONU para fornecercontingentes limitados <strong>de</strong> observadores policiais e militares ou uni<strong>da</strong><strong>de</strong>sespecializad<strong>as</strong> mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong> (postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, policiais d<strong>as</strong> ForçarArmad<strong>as</strong>, equipe <strong>de</strong> remoção <strong>de</strong> min<strong>as</strong> etc.). A participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>nesses termos parece uma solução váli<strong>da</strong>, tendo em vista a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração permanente <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong> recursos limitados, sobretudodiante dos altos custos <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares armad<strong>as</strong> ou especializad<strong>as</strong>.Em 1999, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> enviou uma equipe médica à MONUA emAngola. Seus integrantes participaram <strong>da</strong> campanha nacional <strong>de</strong>vacinação <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> naquele país granjeando simpati<strong>as</strong> e oreconhecimento do Governo angolano pelo trabalho humanitáriorealizado. Da mesma forma, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> ce<strong>de</strong>u à UNAMET monitoreseleitorais do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais RegionaisEleitorais, oficiais e suboficiais d<strong>as</strong> Políci<strong>as</strong> Militares Estaduais e militares<strong>de</strong>sarmados para aju<strong>da</strong>r na organização e supervisão <strong>da</strong> consultapopular que se realizou no Timor Leste sobre o status <strong>da</strong>quele território,bem como <strong>de</strong>verá ce<strong>de</strong>r observadores militares para atuar naMINURSO no Saara Oci<strong>de</strong>ntal, a fim <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r na promoção <strong>de</strong> umreferendo naquele território sobre o seu futuro. Esses engajamentosreafirmam, por meio <strong>de</strong> ações concret<strong>as</strong>, o compromisso br<strong>as</strong>ileiro emprol do movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolonização e dos processos <strong>de</strong> normalização<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> institucional na África. Em todos esses c<strong>as</strong>os a participaçãobr<strong>as</strong>ileira está-se <strong>da</strong>ndo ou se <strong>da</strong>rá sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do envio <strong>de</strong>trop<strong>as</strong>. O futuro emprego <strong>de</strong> contingentes armados br<strong>as</strong>ileiros emoperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, ain<strong>da</strong> que não possa ser <strong>de</strong>scartado,<strong>de</strong>ve ser visto como algo <strong>de</strong> dimensões relativamente limitad<strong>as</strong>.


300 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADiante <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong>, compete ao Itamaraty, como órgãoresponsável pelo <strong>as</strong>sessoramento do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República naformulação <strong>da</strong> política externa br<strong>as</strong>ileira, avaliar cui<strong>da</strong>dosamente <strong>de</strong>quais missões <strong>de</strong> observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz interessa ao País participar.No intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir os cenários para os quais o Governo <strong>de</strong>ve enviarbr<strong>as</strong>ileiros, seria especialmente importante que o Itamaraty continu<strong>as</strong>sea analisar se a missão foi autoriza<strong>da</strong> a <strong>de</strong>sempenhar su<strong>as</strong> funções sob ocapítulo VI ou VII <strong>da</strong> Carta d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>; se <strong>as</strong> partes no terrenoconsentem na presença <strong>da</strong> missão; quais <strong>as</strong> condições <strong>de</strong> segurança(existência <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> irregulares, banditismo etc.), qual o tipo <strong>de</strong> terrenoe clima (ess<strong>as</strong> variáveis inci<strong>de</strong>m diretamente sobre o tipo e volume <strong>de</strong>equipamento, o far<strong>da</strong>mento e o apoio logístico necessários); se <strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> (trop<strong>as</strong>, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s especializad<strong>as</strong> e observadoresmilitares), os Governos estaduais (observadores policiais) e os <strong>de</strong>maisórgãos (sobretudo observadores e consultores eleitorais) estão aptosa aten<strong>de</strong>rem às exigênci<strong>as</strong> operacionais <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> pela ONU; se existemimplicações legais e se há encargos financeiros que exigirão o pedido<strong>de</strong> créditos suplementares ao Congresso Nacional. As preocupaçõescom esses <strong>as</strong>pectos operacionais e políticos têm evitado que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>participe indiscrimina<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> qualquer operação <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz e têm contribuído para que ess<strong>as</strong> participações venham sendobem-sucedid<strong>as</strong>. O Governo br<strong>as</strong>ileiro tem mantido postura <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>coerência e prudência na <strong>de</strong>finição d<strong>as</strong> operações n<strong>as</strong> quais teminteresse <strong>de</strong> tomar parte e na escolha do tipo <strong>de</strong> pessoal que preten<strong>de</strong>aportar à ONU.O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem-se preocupado, com acerto, em integraroperações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> quais hajaclaro consentimento d<strong>as</strong> partes e, se possível, em que haja outroselementos favoráveis, tais como o idioma, a afini<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural e aexistência <strong>de</strong> condições climátic<strong>as</strong> e geográfic<strong>as</strong> semelhantes àsbr<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, <strong>de</strong> modo a proporcionar melhores resultados operacionaispara a ONU e melhores condições <strong>de</strong> segurança para os militares,


CONCLUSÃO 301policiais e civis br<strong>as</strong>ileiros. Ess<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação têmlevado o Itamaraty a aprimorar também a coor<strong>de</strong>nação existente comForç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e outros órgãos <strong>da</strong> administração fe<strong>de</strong>ral, a fim <strong>de</strong>garantir a participação continua<strong>da</strong> e diversifica<strong>da</strong> <strong>de</strong> pessoal com amaior transparência possível, na linha <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> diplomacia pública.O êxito <strong>de</strong>ssa política po<strong>de</strong> ser medido pelo fato <strong>de</strong> que, além d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e do Itamaraty, praticamente todos os Estados <strong>da</strong>Fe<strong>de</strong>ração, o Distrito Fe<strong>de</strong>ral, o Congresso Nacional, o TribunalSuperior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais ce<strong>de</strong>ram pessoalàs missões <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> que, até hoje, ocorreram apen<strong>as</strong> 12 baix<strong>as</strong>fatais br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>, qu<strong>as</strong>e tod<strong>as</strong> por aci<strong>de</strong>ntes na área <strong>da</strong> missão, apesar<strong>de</strong> o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> já ter participado <strong>de</strong> 23 operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paze <strong>de</strong> du<strong>as</strong> missões civis, no período <strong>de</strong> 1957-99, mediante a cessão <strong>de</strong>11.669 pesso<strong>as</strong>.Nos últimos anos, a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> tem sido o engajamento n<strong>as</strong>missões <strong>da</strong> ONU que atuam na América Central e nos países africanos<strong>de</strong> língua oficial portuguesa (PALOPs), cujo relacionamento com o<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, no plano bilateral, tem esbarrado, com maior ou menor grau,em dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s vinculad<strong>as</strong> a óbices econômico-financeiros, falta <strong>de</strong>transporte e <strong>de</strong>sequilíbrios n<strong>as</strong> balanç<strong>as</strong> comerciais. Tal posição nãoimpediu, entretanto, que o País, sempre que os interesses <strong>de</strong> políticaexterna <strong>as</strong>sim o ditaram, aten<strong>de</strong>sse a pedidos <strong>de</strong> pessoal para servirem outros cenários, o que tem sido feito, até agora, apen<strong>as</strong> porintermédio <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> observadores militares, peritos eleitorais euni<strong>da</strong><strong>de</strong>s médic<strong>as</strong>, com os pedidos <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> sendorejeitados.Essa política <strong>de</strong>ve implicar também o acompanhamento atentod<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> existentes para aperfeiçoar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reação d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>. As propost<strong>as</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes formulad<strong>as</strong> por grupos<strong>de</strong> países como a SHIRBRIG e outr<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> similares <strong>de</strong>vem servist<strong>as</strong> com prudência para evitar que o País <strong>as</strong>suma compromissosque fujam a su<strong>as</strong> reais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s em termos <strong>de</strong> política externa ou


302 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAmesmo que venham a competir, no futuro, com a própria ONU. N<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> <strong>de</strong>ve continuar privilegiando a adoção <strong>de</strong>medid<strong>as</strong> para fortalecer a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a ONU mobilizar missões <strong>de</strong>observação e forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz, por meio do aprimoramento <strong>de</strong> seu sistema<strong>de</strong> pronto emprego (Stand-By Arrangements) e do quartel-general<strong>de</strong> missão rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sdobrável, talvez <strong>as</strong> melhores opçõesexistentes para diminuir o recurso às coalizões ad hoc, além <strong>de</strong>participar <strong>de</strong> foros in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, tais como o Grupo Informal dos“Amigos <strong>de</strong> Desdobramento Rápido”, seminários e colóquios, paratroca <strong>de</strong> experiênci<strong>as</strong>. Consoante a prática vigente, o País <strong>de</strong>veexaminar, c<strong>as</strong>o a c<strong>as</strong>o, sem se vincular a qualquer esquema <strong>de</strong>mobilização <strong>de</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, outros tipos possíveis<strong>de</strong> intervenção, como os <strong>de</strong>correntes dos esforços <strong>de</strong> mediação bemsucedidospara resolver o conflito entre Equador e Peru, que implicaramo <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> uma missão <strong>de</strong> observadores na região litigiosa,ou a participação criteriosa em forç<strong>as</strong> multinacionais legalmenteconstituíd<strong>as</strong>, como a que está atuando no Timor Leste, com oconsentimento <strong>da</strong> Indonésia e autoriza<strong>da</strong> pelo Conselho <strong>de</strong> Segurançad<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.À luz <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> orçamentária, o Itamaraty <strong>de</strong>veriaigualmente procurar <strong>as</strong>segurar, após a retira<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, a contribuição para ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção<strong>da</strong> paz, algo que tem sido feito com muito êxito em países <strong>da</strong> AméricaCentral, <strong>de</strong> forma a <strong>da</strong>r mais conteúdo às relações bilaterais e a a<strong>de</strong>quara prática br<strong>as</strong>ileira à tradicional crítica ao vezo excessivamente militaristad<strong>as</strong> ações <strong>da</strong> ONU nesse campo em <strong>de</strong>trimento dos <strong>as</strong>pectos sócioeconômicos.Para que o Itamaraty possa <strong>de</strong>sempenhar com ain<strong>da</strong> maioreficácia o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e coor<strong>de</strong>nação <strong>da</strong> participação br<strong>as</strong>ileiraem operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz, conviria aperfeiçoar suacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhar a evolução d<strong>as</strong> missões <strong>de</strong> observação eforç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz no terreno. Po<strong>de</strong>r-se-ia aumentar a coor<strong>de</strong>nação existente


CONCLUSÃO 303entre <strong>as</strong> diferentes divisões do Ministério que li<strong>da</strong>m com missões criad<strong>as</strong><strong>de</strong>ntro e fora <strong>da</strong> ONU. Embora seja <strong>da</strong> competência do Subsecretário-Geral <strong>de</strong> Assuntos Políticos fazer <strong>as</strong> recomen<strong>da</strong>ções necessári<strong>as</strong> àsinstânci<strong>as</strong> superiores no Itamaraty sobre o engajamento br<strong>as</strong>ileiro emmissões <strong>de</strong> paz, a interação no plano operacional po<strong>de</strong>ria seraperfeiçoa<strong>da</strong> para que <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> adquirid<strong>as</strong> sejam compartilhad<strong>as</strong>por todos os que li<strong>da</strong>m com o <strong>as</strong>sunto, sobretudo se for levado emconsi<strong>de</strong>ração que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do fato <strong>de</strong> a missão ter sidocria<strong>da</strong> sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> um acordo ou <strong>de</strong> uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> multilateral, os<strong>as</strong>pectos legais e orçamentários são similares. Outra proposta, talvezmais eficaz, seria concentrar o tratamento <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>paz e <strong>de</strong> questões correlat<strong>as</strong> em um ponto focal específico, aproveitandoa estrutura <strong>de</strong> uma divisão existente. Tal proposta evitaria atomizar amatéria e diluir a memória pel<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> do Ministério, facilitando,inclusive, os contatos com os interlocutores d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.Tal esforço <strong>de</strong> organização interna na Secretaria <strong>de</strong> Estado d<strong>as</strong>Relações Exteriores (SERE) <strong>de</strong>veria também envolver o Departamento<strong>de</strong> Promoção Comercial (DPR), em vista do potencial existente para acolocação <strong>de</strong> bens e serviços br<strong>as</strong>ileiros em operações <strong>de</strong> manutenção<strong>da</strong> paz conduzid<strong>as</strong> pela ONU. A Divisão <strong>de</strong> Informação Comercial(DIC), em colaboração com a DNU, po<strong>de</strong>ria divulgar <strong>as</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>scomerciais i<strong>de</strong>ntificad<strong>as</strong> junto à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> empresarial, <strong>as</strong>sim comofornecer outr<strong>as</strong> informações, tal como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cad<strong>as</strong>tramentod<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> na Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Transporte eLicitações (Procurement and Transportation Services) <strong>da</strong> ONU, e,mesmo, aju<strong>da</strong>r o Secretariado <strong>da</strong> ONU a verificar, quando solicitadoe se for consi<strong>de</strong>rado factível, <strong>da</strong>dos sobre empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> quevenham a participar <strong>de</strong> su<strong>as</strong> licitações.Em complemento a esses esforços organizacionais na SERE,<strong>as</strong> Embaixad<strong>as</strong> <strong>de</strong>vem, além <strong>de</strong> prestar o auxílio possível aoscontingentes br<strong>as</strong>ileiros, continuar explorando politicamente aparticipação br<strong>as</strong>ileira no plano bilateral, bem como rep<strong>as</strong>sar <strong>as</strong>


304 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAinformações obtid<strong>as</strong> pelos nossos voluntários à SERE. Tais informaçõessão importantes para subsidiar a atuação <strong>da</strong> Missão junto às NaçõesUnid<strong>as</strong>, sobretudo quando o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> estiver ocupando um <strong>as</strong>sento nãopermanenteno CSNU.Paralelamente, a Missão junto às Nações Unid<strong>as</strong> <strong>de</strong>veriacontinuar a advogar, n<strong>as</strong> diferentes instânci<strong>as</strong> <strong>da</strong> ONU, uma melhoradministração pelo Secretariado d<strong>as</strong> muit<strong>as</strong> <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> operações,<strong>de</strong> modo a que sejam superados os problem<strong>as</strong> experimentados nop<strong>as</strong>sado. Além <strong>de</strong> cobrar do Secretariado <strong>da</strong> ONU soluções para <strong>as</strong>questões <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> à prestação <strong>de</strong> apoio logístico aos contingentes noterreno, ao pagamento d<strong>as</strong> in<strong>de</strong>nizações por morte ou invali<strong>de</strong>z e aosreembolsos <strong>de</strong>vidos por conta <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> pessoal e equipamentos,seria particularmente importante a realização <strong>de</strong> gestões para garantir, namedi<strong>da</strong> do possível, que br<strong>as</strong>ileiros exerçam cargos <strong>de</strong> chefia n<strong>as</strong>operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz existentes e sejam contratados comofuncionários do DPKO. Tratar-se-ia <strong>de</strong> evitar que o País per<strong>de</strong>sse oespaço conquistado naquele <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994 pelos oficiaiscedidos, cujos últimos turnos <strong>de</strong> serviço se encerraram em fins <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 1999. A Missão <strong>de</strong>veria também continuar a <strong>de</strong>nunciar, no ComitêEspecial sobre <strong>Operações</strong> <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> e na V Comissão, apouca transparência do processo <strong>de</strong> licitação existente para a aquisição<strong>de</strong> bens e serviços para <strong>as</strong> missões <strong>de</strong> paz, e emprestar, sempre quefactível, o peso do Governo br<strong>as</strong>ileiro aos pleitos d<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>n<strong>as</strong> concorrênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> que participam para fornecer bens e serviços àsoperações <strong>de</strong> paz <strong>da</strong> Organização.Fora do Itamaraty, também conviria estu<strong>da</strong>r form<strong>as</strong> <strong>de</strong>aprimorar o sistema <strong>de</strong>cisório vigente, <strong>de</strong> modo a conferir maior agili<strong>da</strong><strong>de</strong>à reação br<strong>as</strong>ileira às consult<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> e a favorecer oexame <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> participação do País em outr<strong>as</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>contribuição, em iniciativ<strong>as</strong> que, além <strong>da</strong> cessão <strong>de</strong> pessoal, po<strong>de</strong>mimplicar a prestação <strong>de</strong> apoio logístico e a doação <strong>de</strong> equipamentos.No que diz respeito à seleção <strong>de</strong> voluntários, a situação mereceria


CONCLUSÃO 305exame cui<strong>da</strong>doso conforme o tipo <strong>de</strong> pessoal a ser cedido. No c<strong>as</strong>odo envio <strong>de</strong> observadores policiais e eleitorais, o custeio, como foivisto no capítulo IV, é arcado pel<strong>as</strong> corporações ou órgãos interessados,fazendo com que a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprometimento esteja diretamente<strong>as</strong>socia<strong>da</strong> aos interesses <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Por sua vez, no c<strong>as</strong>o doenvio <strong>de</strong> observadores militares, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s especializad<strong>as</strong> e trop<strong>as</strong>, <strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> iniciaram processo <strong>de</strong> aperfeiçoamento <strong>de</strong> suacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento aos pedidos <strong>da</strong> ONU. Além disso, aexperiência angaria<strong>da</strong> pelo então EMFA – hoje extinto - nos trabalhosdos Grupos <strong>de</strong> Apoio à tropa br<strong>as</strong>ileira em Moçambique(COBRAMOZ), em 1994, e em Angola (COBRAVEM), em 1995-97, foi útil para criar rotin<strong>as</strong> capazes <strong>de</strong> facilitar, agora sob o comandooperacional do Ministério <strong>da</strong> Defesa, eventuais participações <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> em missões <strong>de</strong> paz, não apen<strong>as</strong> sob a égi<strong>de</strong> d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>. Os gran<strong>de</strong>s óbices continuam sendo a questão do pagamentodos soldos que, ao se b<strong>as</strong>earem na Lei nº 5.809, <strong>de</strong> 10/10/72, que fixaa retribuição e direitos do pessoal civil e militar em serviço <strong>da</strong> União noexterior, tornam <strong>as</strong> trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> oneros<strong>as</strong>, e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>aprovação <strong>de</strong> créditos suplementares para a aquisição do material, àluz d<strong>as</strong> recomen<strong>da</strong>ções do DPKO.No que se refere às possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> apoiologístico e cessão <strong>de</strong> equipamentos, cumpre reconhecer que essaquestão nunca foi trata<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma exaustiva, já que a carência <strong>de</strong>material e a conjuntura orçamentária não favorecem contribuiçõesbr<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> <strong>de</strong>ssa natureza. Os pedidos nesse campo <strong>de</strong>verão serexaminados em ca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o, à luz dos interesses <strong>de</strong> política externa, aexemplo do que ocorreu em novembro <strong>de</strong> 1997 quando o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong><strong>as</strong>sumiu gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo fornecimento <strong>de</strong> apoiologístico à Missão <strong>de</strong> Observadores Militares Equador-Peru(MOMEP). Com o estabelecimento do Ministério <strong>da</strong> Defesa, ess<strong>as</strong> eoutr<strong>as</strong> questões <strong>de</strong>verão ter uma abor<strong>da</strong>gem mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>,contribuindo para <strong>da</strong>r celeri<strong>da</strong><strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong>cisório interno.


306 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAComo foi visto no capítulo IV, uma d<strong>as</strong> condicionantes que dificultama participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em iniciativ<strong>as</strong> como o sistema <strong>de</strong> pronto empregoé a falta <strong>de</strong> uma legislação atualiza<strong>da</strong> sobre operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente d<strong>as</strong> discussões jurídic<strong>as</strong> sobre a competência doExecutivo em enviar trop<strong>as</strong> armad<strong>as</strong> ao exterior, permanece a conveniênciapolítica <strong>de</strong> que o Governo busque a co-responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Legislativoantes <strong>de</strong> se engajar em missões que envolvam a cessão <strong>de</strong> contingentesarmados, preservando, em contraparti<strong>da</strong>, sua autonomia na <strong>de</strong>signação<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong>sarmado. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> encurtar os prazos <strong>de</strong> mobilizaçãonão <strong>de</strong>ve levar o Governo a tomar <strong>de</strong>cisões isolad<strong>as</strong>. Em um quadro <strong>de</strong><strong>de</strong>mocratização, <strong>de</strong>ve haver <strong>de</strong>bate que dê sustentação política efetiva àslinh<strong>as</strong> <strong>da</strong> projeção externa do Governo e não simplesmente um consensop<strong>as</strong>sivo do Legislativo.A experiência colhi<strong>da</strong> nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> para Angola,Moçambique e Timor Leste mostrou que o Legislativo está aberto aodiálogo e que o Itamaraty e <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m trabalhar <strong>de</strong>uma forma entrosa<strong>da</strong> com <strong>as</strong> du<strong>as</strong> C<strong>as</strong><strong>as</strong> do Congresso nos <strong>as</strong>suntosafetos ao <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> contingentes armados em forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> pazcriad<strong>as</strong> pela ONU ou em forç<strong>as</strong> multinacionais autorizad<strong>as</strong> pela ONU.A tramitação <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> autorização para o envio <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> noCongresso po<strong>de</strong>ria ser agiliza<strong>da</strong> mediante um acordo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> naCâmara dos Deputados e, subseqüentemente, no Senado,procedimento que permitiria levar o <strong>as</strong>sunto diretamente ao plenário,sem inibir <strong>as</strong> discussões quanto ao seu mérito. Além disso, po<strong>de</strong>r-se-iaestu<strong>da</strong>r possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que os setores econômicos e financeiro dogoverno aceit<strong>as</strong>sem a idéia <strong>de</strong> prover recursos contingenciados noorçamento do Ministério <strong>da</strong> Defesa. Esses recursos seriam liberadosem c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, permitindo agilizar a mobilização efetivos paraparticipar <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> paz e afins.Na ausência <strong>de</strong> uma solução para a questão financeira, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>corre o risco <strong>de</strong> <strong>as</strong>sumir um compromisso com a ONU que po<strong>de</strong> vir anão cumprir, anulando os divi<strong>de</strong>ndos que o País viesse a extrair <strong>de</strong> sua


CONCLUSÃO 307participação em um esforço <strong>de</strong> pacificação internacional promovido pel<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>. Daí que, sempre que julgado conveniente, os Ministros<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e do Orçamento e Gestão po<strong>de</strong>riam ser convocados paraparticipar d<strong>as</strong> <strong>de</strong>liberações <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong> Relações Exteriores e DefesaNacional do Conselho <strong>de</strong> Governo, com b<strong>as</strong>e no art. 2,§1 do Decretonº 1895/96, a fim <strong>de</strong> engajar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, os setores <strong>da</strong> área econômicae financeira nos projetos que vierem a ser aprovados naquele foro nocampo d<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Em suma, cumpre ao Itamaraty continuar atuando comresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e pragmatismo, tendo sempre em mente adisponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileira <strong>de</strong> recursos humanos e financeiros e seusinteresses <strong>de</strong> política externa. É importante que o engajamento do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>n<strong>as</strong> operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz seja visto como o <strong>de</strong> um paísmilitante <strong>da</strong> paz, em iniciativ<strong>as</strong> que reafirmem sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> ei<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> própri<strong>as</strong> no contexto mundial. O fato <strong>de</strong> o País estar na 51ªposição entre os contribuintes <strong>de</strong> pessoal para <strong>as</strong> operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz <strong>da</strong> ONU em 1/7/99 não <strong>de</strong>ve ser visto como algonecessariamente negativo. O importante é não se <strong>de</strong>ixar levar porqualquer apelo <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> e <strong>de</strong> equipamentos. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>participar <strong>de</strong>verá resultar sempre do exame <strong>de</strong> situações concret<strong>as</strong>,levando em conta a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliação dos divi<strong>de</strong>ndos multi ebilaterais a serem auferidos com o envolvimento pretendido d<strong>as</strong>mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação solicitad<strong>as</strong>. Tais fatos fazem com que nãose <strong>de</strong>va adotar critérios rígidos para a escolha <strong>de</strong> área <strong>de</strong> intervenção,embora se possa <strong>de</strong>finir, em linh<strong>as</strong> gerais, algum<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> prioritári<strong>as</strong>,como tem sido feito, até o momento, com a primazia atribuí<strong>da</strong> à cessão<strong>de</strong> pessoal para servir em missões na América Latina e nos PALOPs.Além disso, <strong>de</strong>ve-se dimensionar a participação br<strong>as</strong>ileira n<strong>as</strong> missõestendo em conta, inclusive, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir para operações<strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> paz, outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação que po<strong>de</strong>igualmente prestigiar o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e lhe trazer benefícios a médio e longoprazos nos países <strong>as</strong>sistidos.


308 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAConsi<strong>de</strong>rando-se os diferentes interesses do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, que serefletem em uma agen<strong>da</strong> internacional ampla e dinâmica, a presençado País no cenário internacional tem <strong>de</strong> ser universal, capaz <strong>de</strong> contribuirpara o enriquecimento do multilateralismo não apen<strong>as</strong> no plano d<strong>as</strong>idéi<strong>as</strong>, como também no plano <strong>da</strong> ação. Nesse contexto, <strong>as</strong> operações<strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz <strong>de</strong>vem ser encarad<strong>as</strong> pelo Itamaraty como umacategoria operacional <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para a política externabr<strong>as</strong>ileira. Os caminhos trilhados nos últimos anos criaram uma m<strong>as</strong>sacrítica <strong>de</strong> experiênci<strong>as</strong> que po<strong>de</strong>rá ser aproveita<strong>da</strong> pelo Governo paraconsoli<strong>da</strong>r os ganhos auferidos até agora nos empreendimentos <strong>de</strong>política externa voltados para o manejo <strong>de</strong> crises e conflitos regionaise mundiais. A experiência br<strong>as</strong>ileira habilita o País a continuarcontribuindo ativamente para essa importante questão <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>internacional contemporânea, sempre <strong>de</strong> acordo com seus interesses ena medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> su<strong>as</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.


ANEXO


ANEXOÍNDICE DE DOCUMENTOSPACTO DA LIGA DAS NAÇÕES ..................................................... 313POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL .................................................. 331LEI Nº 2.953, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1956 .............................. 341DECRETO LEGISLATIVO Nº 61, DE 1956 ....................................... 343DECRETO LEGISLATIVO Nº 38, DE 20 DE MAIO DE 1965 .............. 345DECRETO Nº 56.308, DE 21 DE MAIO DE 1965 ............................. 346DECRETO LEGISLATIVO Nº 15, DE 1994 ....................................... 347DECRETO LEGISLATIVO N° 31, DE 1994 ....................................... 348DECRETO DE 13 DE JUNHO DE 1994 ........................................... 349DECRETO DE 30 DE MARÇO DE 1995 ......................................... 351DECRETO Nº 1.895, DE 6 DE MAIO DE 1996 ................................ 353DECRETO LEGISLATIVO Nº 70, DE 1996 ....................................... 356DECRETO LEGISLATIVO Nº 97, DE 1996 ....................................... 357DECRETO Nº 2.009, DE 19 DE SETEMBRO DE 1996 .................... 358


LEI COMPLEMENTAR Nº 90, DE 1º DE OUTUBRO DE 1997 ........... 359DECRETO LEGISLATIVO Nº 66, DE 1998 ....................................... 362DECRETO LEGISLATIVO N° 88, DE 1998 ....................................... 363LEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUnhO DE 1999 ................. 364DECRETO Nº 3080, DE 10 DE JUNHO DE 1999 ............................. 373DECRETO Nº 5, DE 1999 ............................................................... 402


PACTO DA LIGA DAS NAÇÕES 198As Alt<strong>as</strong> Partes Contratantes,consi<strong>de</strong>rando que, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> cooperaçãoentre <strong>as</strong> nações e para a garantia <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais, importa aceitar cert<strong>as</strong> obrigações <strong>de</strong> não recorrer àguerra,manter abertamente relações internacionais fun<strong>da</strong>d<strong>as</strong> sobrea justiça e a honra,observar rigorosamente <strong>as</strong> prescrições do direitointernacional, reconhecid<strong>as</strong> doravante como norma efetiva <strong>de</strong>procedimento dos governos,fazer reinar a justiça e respeitar escrupulosamente tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>obrigações dos tratados n<strong>as</strong> relações mútu<strong>as</strong> dos povos organizados,198O Pacto é a primeira parte do Tratado <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>, entre <strong>as</strong> Potênci<strong>as</strong> aliad<strong>as</strong> e <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong>,<strong>de</strong> um lado, e a Alemanha, <strong>de</strong> outro, firmado em Versalhes, em 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1919. OTratado <strong>de</strong> Versalhes foi sancionado pelo Decreto 3.875, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1919,publicado no Diário Oficial <strong>de</strong> 12 do dito mês. Ratificado pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1919. Depósito <strong>da</strong> ratificação br<strong>as</strong>ileira, em Paris, em 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1920. Promulgadopelo Decreto 13.990, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1920. O Pacto <strong>da</strong> Liga é também a primeira partedos <strong>de</strong>mais Tratados <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> celebrados após o término <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial.Fonte <strong>da</strong> qual este texto do Pacto foi extraído: Vicente Marotta Rangel (org.), Direito erelações internacionais (São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1988).


314 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAadotam o presente Pacto, que institui a Liga <strong>da</strong> Nações.Artigo 1º1. São Membros originários <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> Nações aqueles entre ossignatários cujos nomes figuram no Anexo ao presente Pacto, bem comoos Estados, igualmente indicados no Anexo, que tiverem acedido aopresente Pacto sem nenhuma reserva, por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração <strong>de</strong>posita<strong>da</strong>no Secretariado, <strong>de</strong>ntro dos dois meses seguintes à entra<strong>da</strong> em vigor doPacto, e a qual será notifica<strong>da</strong> aos <strong>de</strong>mais Membros <strong>da</strong> Liga.2. Todo Estado, Domínio ou Colônia que se governe livrementee não esteja <strong>de</strong>signado no Anexo, po<strong>de</strong>rá tornar-se Membro <strong>da</strong> Liga, sesua admissão for aprova<strong>da</strong> pelos dois terços <strong>da</strong> Assembléia, contantoque dê garanti<strong>as</strong> efetiv<strong>as</strong> <strong>da</strong> sua sincera intenção <strong>de</strong> observar os seuscompromissos internacionais e <strong>de</strong> que aceita <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> estabelecid<strong>as</strong> pelaLiga no tocante às su<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> e armamentos militares, navais e aéreos.3. Todo Membro <strong>da</strong> Liga po<strong>de</strong>rá, após aviso prévio <strong>de</strong> doisanos, retirar-se <strong>de</strong>la, contanto que, nesse momento, tenhapreenchido tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> su<strong>as</strong> obrigações internacionais, inclusive <strong>as</strong> dopresente Pacto.Artigo 2ºA ação <strong>da</strong> Liga, tal como se <strong>de</strong>fine no presente Pacto, é exerci<strong>da</strong>por uma Assembléia e por um Conselho, <strong>as</strong>sistidos <strong>de</strong> um Secretariadopermanente.Artigo 3º1. A Assembléia será composta <strong>de</strong> Representantes dosMembros <strong>da</strong> Liga.


ANEXO 3152. Ela se reunirá em époc<strong>as</strong> fixad<strong>as</strong> e, em qualquer outraoc<strong>as</strong>ião, quando <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> o exijam, na Liga ou em qualqueroutro lugar que possa ser <strong>de</strong>signado.3. A Assembléia po<strong>de</strong>rá tratar <strong>de</strong> to<strong>da</strong> questão que entre naesfera <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga ou que atinja a paz do mundo.4. Ca<strong>da</strong> Membro <strong>da</strong> Liga não po<strong>de</strong>rá contar mais <strong>de</strong> trêsrepresentantes na Assembléia e só disporá <strong>de</strong> um voto.Artigo 4º1. O Conselho será composto <strong>de</strong> Representantes d<strong>as</strong> PrincipaisPotênci<strong>as</strong> aliad<strong>as</strong> e <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong>, bem como <strong>de</strong> Representantes <strong>de</strong> quatrooutros Membros <strong>da</strong> Liga. Esses quatro Membros <strong>da</strong> Liga serão<strong>de</strong>signados livremente pela Assembléia e n<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> que lhe aprouverescolher. Até a primeira <strong>de</strong>signação pela Assembléia, os Representantes<strong>da</strong> Bélgica, do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, <strong>da</strong> Espanha e <strong>da</strong> Grécia serão Membros doConselho.2. Com a aprovação <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong> Assembléia, o Conselhopo<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>signar outros Membros <strong>da</strong> Liga, cuja representação, noConselho, será <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então permanente. Com a mesma aprovação,ele po<strong>de</strong>rá aumentar o número dos Membros <strong>da</strong> Liga a serem escolhidospela Assembléia para terem Representantes no Conselho.2 bis. A Assembléia fixará, por maioria <strong>de</strong> dois terços, <strong>as</strong> regr<strong>as</strong>concernentes às eleições dos Membros não permanentes do Conselhoe, especialmente, <strong>as</strong> que digam respeito à duração <strong>de</strong> seu man<strong>da</strong>to eàs condições <strong>de</strong> reelegibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. 199199O parágrafo 2 bis foi acrescentado, por força <strong>de</strong> emen<strong>da</strong>, que entrou em vigor em 29 <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 1926.


316 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA3. O Conselho reunir-se-á quando <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> o exigirem,e ao menos uma vez por ano, na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga ou em qualquer outrolugar que, porventura, for <strong>de</strong>signado.4. O Conselho tomará conhecimento <strong>de</strong> to<strong>da</strong> questão que entrarna esfera <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga ou que interessar à paz do mundo.5. Todo Membro <strong>da</strong> Liga, que não representado no Conselho,será convi<strong>da</strong>do a enviar um Representante para ali tomar <strong>as</strong>sento, quandoalguma questão que o interesse particularmente for submeti<strong>da</strong> ao Conselho.6. Ca<strong>da</strong> Membro <strong>da</strong> Liga representado no Conselho disporáapen<strong>as</strong> <strong>de</strong> um voto e só terá um Representante.Artigo 5º1. Salvo disposição expressamente contrária <strong>de</strong>ste Pactoou d<strong>as</strong> cláusul<strong>as</strong> do presente Tratado, <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong> Assembléiaou do Conselho serão tomad<strong>as</strong> pela unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Membros<strong>da</strong> Liga representados na reunião.2. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> questões <strong>de</strong> processo que se suscitarem n<strong>as</strong>reuniões <strong>da</strong> Assembléia ou do Conselho, inclusive a <strong>de</strong>signação d<strong>as</strong>Comissões incumbid<strong>as</strong> <strong>de</strong> inquéritos sobre <strong>as</strong>suntos particulares, serãoresolvid<strong>as</strong> pela Assembléia ou pelo Conselho e <strong>de</strong>cidid<strong>as</strong> pela maioriados Membros <strong>da</strong> Liga representados na reunião.3. A primeira reunião <strong>da</strong> Assembléia e a primeira reunião do Conselhoserão convocad<strong>as</strong> pelo Presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos <strong>da</strong> América.Artigo 6º1. O Secretariado permanente será estabelecido na se<strong>de</strong> <strong>da</strong>


ANEXO 317Liga, e compreen<strong>de</strong>rá um Secretário-Geral, bem como os secretáriose <strong>de</strong>mais pessoal que forem necessários.2. O primeiro Secretário-Geral está <strong>de</strong>signado no Anexo.Depois, o Secretário-Geral será nomeado pelo Conselho com aaprovação <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong> Assembléia.3. Os secretários e <strong>de</strong>mais pessoal do Secretariado serãonomeados pelo Secretário-Geral, com a aprovação do Conselho.4. O Secretário-Geral <strong>da</strong> Liga funcionará nessa quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, emtod<strong>as</strong> <strong>as</strong> reuniões <strong>da</strong> Assembléia e do Conselho.5. As <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>da</strong> Liga serão suportad<strong>as</strong> pelos Membros <strong>da</strong>Liga, na proporção <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> pela Assembléia. 200Artigo 7º1. A se<strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga será em Genebra.2. O Conselho po<strong>de</strong>rá, em qualquer momento, <strong>de</strong>cidirestabelecê-la noutro lugar.3. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> funções <strong>da</strong> Liga ou dos serviços que a ela sepren<strong>de</strong>m, inclusive o Secretariado, serão acessíveis igualmente a homense mulheres.4. Os Representantes dos Membros <strong>da</strong> Liga e seus agentesgozarão, no exercício <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções, dos privilégios e imuni<strong>da</strong><strong>de</strong>sdiplomátic<strong>as</strong>.200Este parágrafo constitui emen<strong>da</strong> que entrou em vigor em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1924.


318 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA5. Os edifícios e terrenos ocupados pela Liga ou seus serviçosou para su<strong>as</strong> reuniões serão invioláveis.Artigo 8º1. Os Membros <strong>da</strong> Liga reconhecem que a manutenção <strong>da</strong> pazexige a redução <strong>de</strong> armamentos nacionais ao mínimo compatível coma segurança nacional e com a execução d<strong>as</strong> obrigações internacionaisimpost<strong>as</strong> por uma ação comum.2. O Conselho, levando em conta a situação geográfica e <strong>as</strong>condições especiais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Estado, preparará os planos <strong>de</strong>ssaredução, para exame e <strong>de</strong>cisão dos diversos governos.3. Esses planos <strong>de</strong>verão ser objeto <strong>de</strong> novo exame e,eventualmente, <strong>de</strong> revisão, <strong>de</strong> <strong>de</strong>z em <strong>de</strong>z anos, pelo menos.4. Após sua adoção pelos diversos governos, o limite dosarmamentos <strong>as</strong>sim fixado não po<strong>de</strong>rá ser ultrap<strong>as</strong>sado sem oconsentimento do Conselho.5. Consi<strong>de</strong>rando que a fabricação priva<strong>da</strong> <strong>de</strong> munições e <strong>de</strong>material <strong>de</strong> guerra suscita gran<strong>de</strong>s objeções, os Membros <strong>da</strong> Ligaincumbirão o Conselho <strong>de</strong> aconselhar <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> para evitaros seus maléficos efeitos, levando em conta <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dosMembros <strong>da</strong> Liga que não possam fabricar <strong>as</strong> munições e o material<strong>de</strong> guerra necessários para sua segurança.6. Os Membros <strong>da</strong> Liga comprometem-se a permutar, <strong>da</strong> maneiramais franca e mais completa, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> informações relativ<strong>as</strong> aos seusarmamentos, aos seus program<strong>as</strong> militares, navais e aéreos, e à condiçãod<strong>as</strong> su<strong>as</strong> indústri<strong>as</strong> suscetíveis <strong>de</strong> serem utilizad<strong>as</strong> para a guerra.


ANEXO 319Artigo 9ºSerá constituí<strong>da</strong> uma Comissão permanente para <strong>da</strong>r pareceresao Conselho sobre a execução d<strong>as</strong> disposições dos arts. 1° e 8° e, <strong>de</strong>modo geral, sobre <strong>as</strong> questões militares, navais e aére<strong>as</strong>.Artigo 10Os Membros <strong>da</strong> Liga comprometem-se a respeitar e a mantercontra to<strong>da</strong> agressão externa a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial e a in<strong>de</strong>pendênciapolítica atual <strong>de</strong> todos os Membros <strong>da</strong> Liga. Em c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> agressão, <strong>de</strong>ameaça ou <strong>de</strong> perigo <strong>de</strong> agressão, o Conselho recomen<strong>da</strong>rá os meios<strong>de</strong> se <strong>as</strong>segurar o comprimento <strong>de</strong>ssa obrigação.Artigo 111. Fica expressamente <strong>de</strong>clarado que to<strong>da</strong> guerra ou ameaça <strong>de</strong>guerra, atinja diretamente, ou não, algum dos Membros <strong>da</strong> Liga, interessaa to<strong>da</strong> Liga, e esta <strong>de</strong>ve adotar <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> apropriad<strong>as</strong> para salvaguar<strong>da</strong>reficazmente a paz d<strong>as</strong> nações. Em tal c<strong>as</strong>o, o Secretário-Geral convocaráimediatamente o Conselho, a pedido <strong>de</strong> qualquer Membro <strong>da</strong> Liga.2. Fica, igualmente, <strong>de</strong>clarado que todo Membro <strong>da</strong> Liga temo direito <strong>de</strong> chamar a atenção <strong>da</strong> Assembléia ou do Conselho, a títuloamistoso, para to<strong>da</strong> circunstância suscetível <strong>de</strong> atingir <strong>as</strong> relaçõesinternacionais e que ameace perturbar a paz ou a boa harmonia entre<strong>as</strong> nações, <strong>da</strong> qual a paz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>.Artigo 12 2011. Todos os Membros <strong>da</strong> Liga concor<strong>da</strong>m em que, se entre201O artigo contém <strong>as</strong> emend<strong>as</strong> que entraram em vigor em 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1924.


320 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAeles surgir uma controvérsia suscetível <strong>de</strong> produzir uma ruptura,submeterão o c<strong>as</strong>o seja ao processo <strong>de</strong> arbitragem ou a uma soluçãojudiciária, seja ao exame do Conselho. Concor<strong>da</strong>, também, em quenão <strong>de</strong>verão, em c<strong>as</strong>o algum, recorrer à guerra, antes <strong>da</strong> expiração doprazo <strong>de</strong> três meses após a <strong>de</strong>cisão arbitral ou judiciária, ou o relatóriodo Conselho.2. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> hipóteses previst<strong>as</strong> neste artigo, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>veráser proferi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro em prazo razoável, e o relatório do Conselho<strong>de</strong>verá ser apresentado <strong>de</strong>ntro em seis meses a <strong>da</strong>tar do dia em que acontrovérsia lhe tenha sido submeti<strong>da</strong>.Artigo 13 2021. Os membros <strong>da</strong> Liga concor<strong>da</strong>m em que se entre eles surgiruma controvérsia, que, na sua opinião, seja suscetível <strong>de</strong> solução arbitralou judiciária, e que se não possa resolver, <strong>de</strong> maneira satisfatória, pelavia diplomática, a questão será integralmente submeti<strong>da</strong> à solução arbitralou judiciária.2. Entre <strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong> geralmente suscetíveis <strong>de</strong> soluçãoarbitral ou judiciária, <strong>de</strong>claram-se <strong>as</strong> relativ<strong>as</strong> à interpretação <strong>de</strong> umtratado, a qualquer ponto <strong>de</strong> direito internacional, à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> todofato que, se verificado, constituiria a ruptura <strong>de</strong> um compromissointernacional, ou à extensão ou à natureza <strong>da</strong> reparação <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> porsemelhante ruptura.3. A causa será submeti<strong>da</strong> à Corte Permanente <strong>de</strong> JustiçaInternacional, ou a qualquer jurisdição ou tribunal <strong>de</strong>signado pel<strong>as</strong> partesou previsto em su<strong>as</strong> convenções anteriores.202Este artigo também foi emen<strong>da</strong>do e <strong>as</strong> su<strong>as</strong> emend<strong>as</strong> entraram em vigor em 26 <strong>de</strong>setembro <strong>de</strong> 1924.


ANEXO 3214. Os Membros <strong>da</strong> Liga comprometem-se a executar <strong>de</strong> boafé <strong>as</strong> sentenç<strong>as</strong> proferid<strong>as</strong> e a não recorrer à guerra contra nenhumMembro <strong>da</strong> Liga que com el<strong>as</strong> se conformar. Em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> não execução<strong>da</strong> sentença, o Conselho proporá <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> que lhe <strong>de</strong>vam <strong>as</strong>seguraro efeito.Artigo 14O Conselho é incumbido <strong>de</strong> preparar um projeto <strong>de</strong> CortePermanente <strong>de</strong> Justiça Internacional e <strong>de</strong> o submeter aos Membros <strong>da</strong>Liga. Essa Corte conhecerá <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> controvérsi<strong>as</strong> <strong>de</strong> caráterinternacional que <strong>as</strong> partes lhe submetam. Também <strong>da</strong>rá pareceresconsultivos sobre to<strong>da</strong> controvérsia ou questão a ela submeti<strong>da</strong> peloConselho ou a Assembléia.Artigo 151. Se entre os Membros <strong>da</strong> Liga surgir algumacontrovérsia suscetível <strong>de</strong> produzir uma ruptura e se essa nãofor submeti<strong>da</strong> ao processo <strong>da</strong> arbitragem ou à solução judiciáriaprevista no art. 13, os Membros <strong>da</strong> Liga concor<strong>da</strong>m em quesubmeterão o c<strong>as</strong>o ao Conselho. Para este fim, b<strong>as</strong>tará que um<strong>de</strong>les dê notícia ao Secretário-Geral, que adotará tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>disposições para a realização <strong>de</strong> um inquérito e um examecompletos. 2032. No mais breve prazo possível, <strong>as</strong> partes <strong>de</strong>verão comunicarao Secretário-Geral a exposição <strong>da</strong> respectiva causa, com todos osfatos pertinentes e documentos justificativos. O Conselho po<strong>de</strong>ráor<strong>de</strong>nar a sua publicação imediata.203A re<strong>da</strong>ção do parágrafo obe<strong>de</strong>ce à emen<strong>da</strong> que entrou em vigor em 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong>1924.


322 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA3. O Conselho esforçar-se-á por levar a efeito a solução <strong>da</strong>controvérsia. Se o conseguir, publicará, na medi<strong>da</strong> em que o julgar útil,uma exposição sobre os fatos, <strong>as</strong> explicações que estes comportem eos termos <strong>da</strong> solução.4. Se a controvérsia não tiver podido ser resolvi<strong>da</strong>, o Conselhoredigirá e publicará um relatório, adotado ou por unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou pormaioria <strong>de</strong> votos, para <strong>da</strong>r a conhecer <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> <strong>da</strong> controvérsiae <strong>as</strong> soluções que ele recomen<strong>de</strong> como <strong>as</strong> mais eqüitativ<strong>as</strong> e <strong>as</strong> maisapropriad<strong>as</strong> ao c<strong>as</strong>o.5. Todo Membro <strong>da</strong> Liga representado no Conselho po<strong>de</strong>ráigualmente publicar uma exposição dos fatos <strong>da</strong> controvérsia e com <strong>as</strong>su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> conclusões.6. Se o relatório do Conselho for aceito unanimemente,não se contando no cálculo <strong>de</strong>ssa unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> o voto dosRepresentantes d<strong>as</strong> partes, os Membros <strong>da</strong> Liga comprometem-sea não recorrer à guerra contra a parte que se conformar com <strong>as</strong>conclusões do relatório.7. No c<strong>as</strong>o em que o Conselho não consiga fazer aceitar seu relatóriopor todos os seus Membros, exclusive os Representantes <strong>de</strong> qualquer d<strong>as</strong>partes litigantes, os Membros <strong>da</strong> Liga reservam-se o direito <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>rcomo julgarem necessário para a manutenção do direito e <strong>da</strong> justiça.8. Se uma d<strong>as</strong> partes preten<strong>de</strong>r e o Conselho reconhecer que acontrovérsia versa sobre uma questão que o direito internacional <strong>de</strong>ixaà competência exclusiva <strong>de</strong>ssa parte, o Conselho o consignará numrelatório, m<strong>as</strong> sem recomen<strong>da</strong>r nenhuma solução.9. Em todos os c<strong>as</strong>os previstos no presente artigo, o Conselhopo<strong>de</strong>rá submeter a controvérsia à Assembléia. A Assembléia <strong>de</strong>verá


ANEXO 323igualmente tomar reconhecimento <strong>da</strong> controvérsia a requerimento <strong>de</strong>qualquer d<strong>as</strong> partes; esse requerimento <strong>de</strong>verá ser apresentado no prazo<strong>de</strong> quatorze di<strong>as</strong>, a contar do momento em que a controvérsia tiversido submeti<strong>da</strong> ao Conselho.10. Em to<strong>da</strong> questão submeti<strong>da</strong> à Assembléia, <strong>as</strong> disposiçõesdo presente artigo e do art. 12, relativ<strong>as</strong> à ação e aos po<strong>de</strong>res doConselho, aplicar-se-ão igualmente à ação e aos po<strong>de</strong>res <strong>da</strong> Assembléia.Fica entendido que um relatório apresentado pela Assembléia, com aaprovação dos representantes dos Membros <strong>da</strong> Liga representadosno Conselho e <strong>da</strong> maioria dos outros Membros <strong>da</strong> Liga, excluídos, emca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o, Representantes d<strong>as</strong> partes, terá o mesmo efeito que umrelatório do Conselho, adotado pela unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos seus Membros,excetuados os Representantes d<strong>as</strong> partes.Artigo 161. Se algum Membro <strong>da</strong> Liga recorrer à guerra, contrariamenteaos compromissos <strong>as</strong>sumidos nos arts. 12, 13 ou 15, ele será ipsofacto consi<strong>de</strong>rado como tendo cometido um ato <strong>de</strong> guerra contratodos os outros Membros <strong>da</strong> Liga. Estes se comprometem aromper imediatamente, com ele tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações comerciais oufinanceir<strong>as</strong>, a proibir tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações entre seus nacionais e osdo Estado que tiver rompido o Pacto e a fazer que cessem tod<strong>as</strong><strong>as</strong> comunicações financeir<strong>as</strong>, comerciais ou pessoais entre osnacionais <strong>de</strong>sse Estado e os <strong>de</strong> qualquer outro Estado, Membroou não <strong>da</strong> Liga.2. Nesse c<strong>as</strong>o, o Conselho terá o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>r aosdiversos governos interessados os efetivos militares, navais ou aéreos,pelos quais os Membros <strong>da</strong> Liga contribuirão, respectivamente, para <strong>as</strong>forç<strong>as</strong> armad<strong>as</strong> <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a fazer respeitar os compromissos <strong>da</strong> Liga.


324 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA3. Os Membros <strong>da</strong> Liga concor<strong>da</strong>m, além disto, em se prestar,uns aos outros, apoio mútuo, na aplicação d<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> econômic<strong>as</strong> efinanceir<strong>as</strong> a serem tomad<strong>as</strong>, em virtu<strong>de</strong> do presente artigo, a fim <strong>de</strong> que sereduzam, ao mínimo, <strong>as</strong> perd<strong>as</strong> e os inconvenientes que <strong>da</strong>í possam resultar.Eles se prestarão igualmente apoio mútuo na resistência a qualquer medi<strong>da</strong>especial dirigi<strong>da</strong> contra um <strong>de</strong>les pelo Estado que tiver rompido o Pacto. Etomarão <strong>as</strong> disposições necessári<strong>as</strong> para facilitar a p<strong>as</strong>sagem, através doseu território, d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> todo Membro <strong>da</strong> Liga que participar <strong>de</strong> umaação comum <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a fazer respeitados os compromissos <strong>da</strong> Liga.4. Todo Membro <strong>da</strong> Liga que se tornar culpado <strong>da</strong> violação <strong>de</strong>algum dos compromissos resultantes do Pacto po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>la ser excluído.A exclusão será pronuncia<strong>da</strong> pelo voto <strong>de</strong> todos os outros Membros<strong>da</strong> Liga representados no Conselho.Artigo 171. Em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> controvérsia entre dois Estados, dos quais sóum seja Membro <strong>da</strong> Liga ou dos quais nenhum faça parte <strong>de</strong>sta, oEstado ou os Estados estranhos à Liga serão convi<strong>da</strong>dos a aceitar <strong>as</strong>obrigações impost<strong>as</strong> a seus Membros para os fins <strong>de</strong> solução <strong>da</strong>controvérsia, n<strong>as</strong> condições que o Conselho consi<strong>de</strong>rar just<strong>as</strong>. Se talconvite for aceito, <strong>as</strong> disposições dos arts. 12 a 16 serão aplicad<strong>as</strong>,com <strong>as</strong> modificações que o Conselho julgar necessári<strong>as</strong>.2. Des<strong>de</strong> a remessa <strong>de</strong>sse convite, o Conselho abrirá uminquérito sobre <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> <strong>da</strong> controvérsia e proporá <strong>as</strong> medid<strong>as</strong>que, no c<strong>as</strong>o <strong>da</strong>do, lhe parecem melhores e mais eficazes.3. Se o Estado convi<strong>da</strong>do, recusando aceitar <strong>as</strong> obrigações <strong>de</strong>Membro <strong>da</strong> Liga para os fins <strong>de</strong> solução <strong>da</strong> controvérsia, recorrer à guerracontra um membro <strong>da</strong> Liga, <strong>as</strong> disposições do art. 16 ser-lhe-ão aplicáveis.


ANEXO 3254. Se <strong>as</strong> du<strong>as</strong> partes convi<strong>da</strong>d<strong>as</strong> recusarem aceitar <strong>as</strong> obrigações<strong>de</strong> Membro <strong>da</strong> Liga para os fins <strong>de</strong> solução <strong>da</strong> controvérsia, o Conselhopo<strong>de</strong>rá tomar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> e fazer tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> propost<strong>as</strong> suscetíveis<strong>de</strong> prevenir <strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>terminar a solução do conflito.Artigo 18Todo tratado ou compromisso internacional concluído no futuropor um Membro <strong>da</strong> Liga <strong>de</strong>verá ser imediatamente registrado peloSecretariado e publicado por ele, logo que possível. Nenhum <strong>de</strong>ssestratados ou compromissos internacionais será obrigatório antes <strong>de</strong> tersido registrado.Artigo 19De tempos a tempos, a Assembléia po<strong>de</strong>rá convi<strong>da</strong>r osmembros <strong>da</strong> Liga a proce<strong>de</strong>rem a novo exame dos tratados quese tenham tornado inaplicáveis, bem como d<strong>as</strong> situaçõesinternacionais cuja manutenção possa pôr em perigo a paz domundo.Artigo 201. Os Membros <strong>da</strong> Liga reconhecem, ca<strong>da</strong> qual no que lhe dizrespeito, que o presente Pacto revoga tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> obrigações ou acordosentre si, incompatíveis com seus termos, e se comprometem,solenemente, a não contrair, no futuro, outros, semelhantes.2. Se, antes <strong>da</strong> sua entra<strong>da</strong> na Liga, algum Membro tiver<strong>as</strong>sumido obrigações incompatíveis com os termos do Pacto, esse<strong>de</strong>verá adotar medid<strong>as</strong> imediat<strong>as</strong> para se <strong>de</strong>sligar <strong>de</strong> taisobrigações.


326 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArtigo 21Os compromissos internacionais, tais como os tratados <strong>de</strong>arbitragem, e os acordos regionais, como a doutrina <strong>de</strong> Monroe,<strong>de</strong>stinados a <strong>as</strong>segurar a manutenção <strong>da</strong> paz, não serão consi<strong>de</strong>radoscomo incompatíveis com nenhuma d<strong>as</strong> disposições do presente Pacto.Artigo 221. Os seguintes princípios serão aplicados às colôni<strong>as</strong> eterritórios que, em conseqüência <strong>da</strong> guerra, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> estar sob <strong>as</strong>oberania dos Estados que os governavam prece<strong>de</strong>ntemente e quesão habitados por povos ain<strong>da</strong> não capazes <strong>de</strong> se dirigir, n<strong>as</strong> condiçõesparticularmente difíceis do mundo mo<strong>de</strong>rno. O bem-estar e o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sses povos constituem sagra<strong>da</strong> missão <strong>de</strong>civilização, e convém incorporar ao presente Pacto garanti<strong>as</strong> para o<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> tal missão.2. O melhor método <strong>de</strong> se realizar praticamente esse princípioé confiar a tutela <strong>de</strong>sses povos às nações <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> que, em razãodos seus recursos, <strong>da</strong> sua experiência ou <strong>da</strong> sua posição geográfica,sejam <strong>as</strong> mais indicad<strong>as</strong> para <strong>as</strong>sumir tal responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e queconsintam em aceitá-la; el<strong>as</strong> exerceriam essa tutela na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Man<strong>da</strong>tári<strong>as</strong> e em nome <strong>da</strong> Liga.3. O caráter do man<strong>da</strong>to <strong>de</strong>verá diferir, conforme o grau<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do povo, a situação geográfica do território,su<strong>as</strong> condições econômic<strong>as</strong> e quaisquer outr<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>análog<strong>as</strong>.4. Cert<strong>as</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que outrora pertenciam ao ImpérioOtomano, atingiram tal grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que sua existência,


ANEXO 327como nações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, po<strong>de</strong>rá ser reconheci<strong>da</strong> provisoriamente,sob a condição <strong>de</strong> que os conselhos e o auxílio <strong>de</strong> um Man<strong>da</strong>tárioguiem sua administração até o momento em que sejam capazes <strong>de</strong> seconduzir sozinh<strong>as</strong>. Os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>verão ser tomadosem consi<strong>de</strong>ração na escolha do Man<strong>da</strong>tário.5. O grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em que se acham outros povos,especialmente os <strong>da</strong> África central, exige que o Man<strong>da</strong>tário aí <strong>as</strong>sumaa administração do território, em condições que, com a proibição <strong>de</strong>abusos, tais como o tráfico <strong>de</strong> escravos, o comércio <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> e o doálcool, garantam a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong> religião, sem outr<strong>as</strong>limitações além d<strong>as</strong> que po<strong>de</strong> exigir a manutenção <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m pública edos bons costumes e a proibição <strong>de</strong> estabelecer fortificações ou b<strong>as</strong>esmilitares ou navais e <strong>de</strong> instruir militarmente os indígen<strong>as</strong>, a não serpara a polícia ou a <strong>de</strong>fesa do território, e que <strong>as</strong>segurem aos outrosMembros <strong>da</strong> Liga condições <strong>de</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>as</strong> troc<strong>as</strong> e o comércio.6. Finalmente, há territórios, tais como o Sudoeste africano ecert<strong>as</strong> ilh<strong>as</strong> do Pacífico austral, que, <strong>de</strong>vido à fraca <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suapopulação, à sua contigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica com o território doMan<strong>da</strong>tário, ou a outr<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong>, não po<strong>de</strong>riam ser mais bemadministrad<strong>as</strong> do que, sob <strong>as</strong> leis do Man<strong>da</strong>tário, como parte integrantedo território <strong>de</strong>ste, sob ressalva d<strong>as</strong> garanti<strong>as</strong> acima, no interesse <strong>da</strong>população indígena.7. Em qualquer <strong>de</strong>sses c<strong>as</strong>os, o Man<strong>da</strong>tário <strong>de</strong>verá enviar umrelatório anual ao Conselho sobre os territórios <strong>de</strong> que tenha o encargo.8. O grau <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, fiscalização ou administração a serexercido pelo Man<strong>da</strong>tário, se não tiver constituído objetivo <strong>de</strong> algumaconvenção anterior, entre os Membros <strong>da</strong> Liga, será expressamente<strong>de</strong>finido, em ca<strong>da</strong> c<strong>as</strong>o, pelo Conselho.


328 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA9. Uma Comissão permanente será incumbi<strong>da</strong> <strong>de</strong> receber eexaminar os relatórios anuais dos Man<strong>da</strong>tários e <strong>de</strong> <strong>da</strong>r o seu parecer aoConselho, sobre tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> questões relativ<strong>as</strong> à execução dos man<strong>da</strong>tos.Artigo 23Sob a reserva e na conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> disposições d<strong>as</strong>convenções internacionais atualmente existentes ou que foremulteriormente celebrad<strong>as</strong>, os Membros <strong>da</strong> Liga:a) esforçar-se-ão por <strong>as</strong>segurar e manter condições <strong>de</strong> trabalhoeqüitativ<strong>as</strong> e human<strong>as</strong> para o homem, a mulher e a criança, nos seuspróprios territórios, bem como em todos os países aos quais seesten<strong>da</strong>m su<strong>as</strong> relações <strong>de</strong> comércio e <strong>de</strong> indústria e, para este fim,fun<strong>da</strong>rão e manterão <strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> organizações internacionais;b) comprometem-se a <strong>as</strong>segurar o tratamento eqüitativo d<strong>as</strong>populações indígen<strong>as</strong>, nos territórios submetidos à sua administração;c) encarregam a Liga <strong>da</strong> fiscalização geral dos acordos relativosao tráfico d<strong>as</strong> mulheres e crianç<strong>as</strong> e ao tráfico do ópio e <strong>de</strong> outr<strong>as</strong>drog<strong>as</strong> nociv<strong>as</strong>;d) encarregam a Liga <strong>da</strong> fiscalização geral do comércio d<strong>as</strong>arm<strong>as</strong> e munições com os países on<strong>de</strong> a fiscalização <strong>de</strong>sse comércioseja indispensável ao interesse comum;e) adotarão <strong>as</strong> disposições necessári<strong>as</strong> para <strong>as</strong>segurar e mantera liber<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> comunicações e do trânsito, bem como o tratamentoeqüitativo do comércio <strong>de</strong> todos os Membros <strong>da</strong> Liga, ficandoentendido que <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais d<strong>as</strong> regiões <strong>de</strong>v<strong>as</strong>tad<strong>as</strong> durantea guerra <strong>de</strong> 1914-1918 <strong>de</strong>verão ser tomad<strong>as</strong> em consi<strong>de</strong>ração;


ANEXO 329f) esforçar-se-ão por tomar medid<strong>as</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m internacional<strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a prevenir e combater <strong>as</strong> enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Artigo 241. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> repartições internacionais anteriormenteestabelecid<strong>as</strong> por tratados coletivos serão post<strong>as</strong>, se <strong>as</strong> partescontratantes nisso <strong>as</strong>sentirem, sob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga. Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong>repartições internacionais e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> comissões para a solução <strong>de</strong>questões <strong>de</strong> interesse internacional, que forem ulteriormente criad<strong>as</strong>,serão post<strong>as</strong> igualmente sob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga.2. Em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> questões <strong>de</strong> interesse internacional regulad<strong>as</strong>por convenções gerais, m<strong>as</strong> não submetid<strong>as</strong> à fiscalização <strong>de</strong> comissõesou <strong>de</strong> repartições internacionais, o Secretariado <strong>da</strong> Liga <strong>de</strong>verá, se <strong>as</strong>partes o pedirem e se o Conselho consentir, reunir e distribuir tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>informações úteis e prestar to<strong>da</strong> a <strong>as</strong>sistência necessária ou <strong>de</strong>sejável.3. O Conselho po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>cidir a inclusão n<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> do Secretariado<strong>de</strong> to<strong>da</strong> repartição ou comissão posta sob a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Liga.Artigo 25Os Membros <strong>da</strong> Liga comprometem-se a encorajar e favorecer oestabelecimento e a cooperação d<strong>as</strong> organizações voluntári<strong>as</strong> <strong>da</strong> CruzVermelha, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente autorizad<strong>as</strong>, que tenham por fim a melhoria <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>,a <strong>de</strong>fesa preventiva contra <strong>as</strong> enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e o alívio dos sofrimentos no mundo.Artigo 261. As emend<strong>as</strong> ao presente Pacto entrarão em vigor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>as</strong>ua ratificação pelos Membros <strong>da</strong> Liga cujos Representantes compõem


330 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAo Conselho e pela maioria <strong>da</strong>queles cujos representantes formam aAssembléia.2. Todo Membro <strong>da</strong> Liga tem a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> não aceitar <strong>as</strong>emend<strong>as</strong> feit<strong>as</strong> ao Pacto; m<strong>as</strong>, nesse c<strong>as</strong>o, <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> fazer parte <strong>da</strong>Liga.ANEXO DO PACTO DA LIGA DAS NAÇÕESI. Membros originários <strong>da</strong> Liga <strong>da</strong> Nações, signatários do Tratado <strong>de</strong><strong>Paz</strong>:Estados Unidos <strong>da</strong> AméricaHaitiBélgicaHedjazBolíviaHondur<strong>as</strong><strong>Br<strong>as</strong>il</strong>ItáliaImpério BritânicoJapãoCanadáLibériaAustráliaNicaráguaÁfrica do SulPanamáNova ZelândiaPeruÍndiaPolôniaChinaPortugalCubaRomêniaEquador Estado servo-croata-eslovenoFrançaSiãoGréciaTcheco-EslováquiaGuatemalaUruguaiESTADOS CONVIDADOS A ADERIR AO PACTOArgentinaChilePaíses BaixosPérsia


ANEXO 331ColômbiaDinamarcaEspanhaNoruegaParaguaiSalvadorSuéciaSuíçaVenezuelaII. Primeiro Secretário-Geral <strong>da</strong> Liga d<strong>as</strong> NaçõesO honorable Sir James Eric Drummond, K.C.M.G., C.B.POLÍTICA DE DEFESA NACIONALGoverno Fernando Henrique Cardoso1. INTRODUÇÃO1.1 Diante do novo quadro mundial <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios eoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, é necessário promover no <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s própri<strong>as</strong>, flexíveis e criativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> pensamento estratégico,apt<strong>as</strong> a aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do País.1.2 As transformações ocorrid<strong>as</strong> no plano interno, bem como<strong>as</strong> verificad<strong>as</strong> no contexto regional e global, tornaram necessário eoportuno explicitar uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional, emana<strong>da</strong> do maisalto nível do Estado, que reflita os anseios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e sirva comomarco referencial para <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>de</strong>correntes.1.3 A Política <strong>de</strong> Defesa Nacional, volta<strong>da</strong> para ameaç<strong>as</strong>extern<strong>as</strong>, tem por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> fixar os objetivos para a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Nação,bem como orientar o preparo e o emprego <strong>da</strong> capacitação nacional,em todos os níveis e esfer<strong>as</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, e com o envolvimento dossetores civil e militar.


332 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA1.4 A Política <strong>de</strong> Defesa Nacional, tema <strong>de</strong> interesse d<strong>as</strong>ocie<strong>da</strong><strong>de</strong> como um todo, tem como premiss<strong>as</strong> os fun<strong>da</strong>mentos,objetivos e princípios estipulados na Constituição Fe<strong>de</strong>ral e está emconsonância com a atitu<strong>de</strong> externa do País, que se fun<strong>da</strong>menta na busca<strong>da</strong> solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong> e do fortalecimento <strong>da</strong> paz e d<strong>as</strong>egurança internacionais.1.5 O perfil br<strong>as</strong>ileiro — ao mesmo tempo continental emarítimo; equatorial, tropical e subtropical; <strong>de</strong> longa fronteiraterrestre com a qu<strong>as</strong>e totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos países sul-americanos e <strong>de</strong>extensos litoral, zona econômica exclusiva e plataforma continental— confere ao País profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> geo-estratégica e torna complexaa tarefa <strong>de</strong> planejamento geral <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. As ampl<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es<strong>de</strong>mográfic<strong>as</strong> e territoriais, bem como a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursosnaturais, <strong>as</strong>sentad<strong>as</strong> na diversifica<strong>da</strong> fisiografia nacional, conformamcenários diferenciados que <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m, ao mesmo tempo, umapolítica geral e integra<strong>da</strong> e uma abor<strong>da</strong>gem específica para ca<strong>da</strong>c<strong>as</strong>o.1.6 A implementação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa sustentável,volta<strong>da</strong> para a paulatina mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autoproteção,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoque fortaleça a <strong>de</strong>mocracia, reduza <strong>as</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e os<strong>de</strong>sequilíbrios regionais e compatibilize <strong>as</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s nos campospolítico, social, econômico e militar, com <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e<strong>de</strong> ação diplomática.1.7 Nesse processo, cabe conciliar <strong>as</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa com a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> meios, mediante aprovação <strong>de</strong>recursos pelo Congresso Nacional e, sempre que possível, com oenvolvimento dos segmentos acadêmico, científico-tecnológico eindustrial do País.


ANEXO 3332. O QUADRO INTERNACIONAL2.1 Com o fim <strong>da</strong> confrontação Leste-Oeste, verifica-se, noatual processo <strong>de</strong> reacomo<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>, o surgimento <strong>de</strong> umambiente internacional multipolar in<strong>de</strong>finido e instável, gerado pela falta<strong>de</strong> correspondência entre os centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estratégico-militar,político e econômico, cuja evolução ain<strong>da</strong> é difícil <strong>de</strong> se prever.2.2 O término <strong>da</strong> Guerra Fria tornou obsolet<strong>as</strong> <strong>as</strong>generalizações simplificador<strong>as</strong> <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> bipolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ológicae militar, até então vigente. Atualmente, apesar <strong>de</strong> serem reduzidos osriscos <strong>de</strong> um confronto nuclear em escala planetária, <strong>de</strong>sapareceu arelativa previsibili<strong>da</strong><strong>de</strong> estratégica.2.3 Os conflitos localizados que ocorrem na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> emqu<strong>as</strong>e todos os continentes, o recru<strong>de</strong>scimento <strong>de</strong> extremismos étnicos,nacionalist<strong>as</strong> e religiosos, bem como o fenômeno <strong>da</strong> fragmentaçãoobservado em diversos países, tornam evi<strong>de</strong>nte o fato <strong>de</strong> que continuama Ter relevância conceitos tradicionais como soberania, auto<strong>de</strong>terminaçãoe i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> nacional.2.4 Nesta f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> transição, em que se estabelecem nov<strong>as</strong>regr<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> e econômic<strong>as</strong> <strong>de</strong> convivência entre <strong>as</strong> nações,caracteriza<strong>da</strong> pela ausência <strong>de</strong> paradigm<strong>as</strong> claros e pela participaçãocrescente <strong>de</strong> atores não-governamentais, o País procura <strong>de</strong>terminar,livre <strong>de</strong> matrizes i<strong>de</strong>ológic<strong>as</strong>, sua inserção estratégica e su<strong>as</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong>sno campo <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa.2.5 O quadro <strong>de</strong> incertez<strong>as</strong> que marca o atual contexto mundialimpõe que a <strong>de</strong>fesa continue a merecer o cui<strong>da</strong>do dos governosnacionais e que a expressão militar permaneça <strong>de</strong> importância capitalpara a sobrevivência dos Estados como uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Não


334 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAé realista conceber um Estado <strong>de</strong> razoável porte e influênciainternacional que possa abdicar <strong>de</strong> uma força <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa confiável. AsForç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> são instrumento para o exercício <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>auto<strong>de</strong>fesa, direito esse, aliás, inscrito na Carta <strong>da</strong> Organização d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong>.2.6 A América do Sul, distante dos focos mundiais <strong>de</strong> tensão,é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a região mais <strong>de</strong>smilitariza<strong>da</strong> do mundo. Are<strong>de</strong>mocratização ocorri<strong>da</strong> no continente ten<strong>de</strong> a reduzir aprobabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> conflitos. Os contenciosos regionaistêm sido administrados em níveis toleráveis.2.7 Para o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, país <strong>de</strong> diferentes regiões intern<strong>as</strong> e <strong>de</strong>diversificado perfil, ao mesmo tempo amazônico, atlântico, platino edo Cone Sul, a concepção <strong>de</strong> espaço regional extrapola a m<strong>as</strong>sacontinental sul-americana e inclui, também, o Atlântico Sul.2.8 Assim, ao examinar <strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> estratégic<strong>as</strong> <strong>da</strong>região, importa reter que o mosaico <strong>de</strong> países e sub-regiões que acompõem é extremamente complexo, o que exige uma inserçãoregional múltipla, b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> em uma política <strong>de</strong> harmonização <strong>de</strong>interesses.2.9 Há mais <strong>de</strong> um século sem se envolver em conflito comseus vizinhos, o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem trabalhado no sentido <strong>de</strong> promover maiorintegração e aproximação entre os países do continente, e, emconseqüência, adquirido credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional.2.10 O fortalecimento do processo <strong>de</strong> integração proporcionadopelo Mercosul, o estreitamento <strong>de</strong> relações com os vizinhos amazônicos– <strong>de</strong>senvolvido no âmbito do Tratado <strong>de</strong> Cooperação Amazônica - , aintensificação <strong>da</strong> cooperação com os países africanos <strong>de</strong> língua


ANEXO 335portuguesa e a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Zona <strong>de</strong> <strong>Paz</strong> e <strong>de</strong> Cooperação noAtlântico Sul – resultado <strong>de</strong> uma ação diplomática positiva e concreta– conformam um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro anel <strong>de</strong> paz em torno do País, viabilizandoa concentração <strong>de</strong> esforços com vist<strong>as</strong> à consecução <strong>de</strong> projetonacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong> combate às <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais.2.11 O País não está, no entanto, inteiramente livre <strong>de</strong> riscos.Apesar <strong>de</strong> conviver pacificamente na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, po<strong>de</strong>ser compelido a envolver-se em conflitos gerados externamente, comoconseqüência <strong>de</strong> ameaç<strong>as</strong> ao seu patrimônio e aos seus interesses vitais.2.12 No âmbito regional, persistem zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> quepo<strong>de</strong>m contrariar interesses br<strong>as</strong>ileiros. A ação <strong>de</strong> bandos armadosque atuam em países vizinhos, nos lin<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Amazônia br<strong>as</strong>ileira, e ocrime organizado internacional são alguns dos pontos a provocarpreocupação.2.13 A capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar e a diplomacia são expressões d<strong>as</strong>oberania e <strong>da</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> nacionais, o e <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> tem <strong>de</strong>monstrado, <strong>de</strong>forma consistente e clara, sua <strong>de</strong>terminação em viver em paz e harmonia,segundo os princípios e <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> do direito internacional e em respeitoaos compromissos <strong>as</strong>sumidos.3. OBJETIVOS3.1 Do exame d<strong>as</strong> situações acima, emerge a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>se explicitarem priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s estratégic<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>, <strong>de</strong>correntes dointeresse nacional e dos objetivos básicos <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa nacional.3.2 Em que pese a conjuntura favorável no entorno imediato,<strong>de</strong>ve-se manter um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa a<strong>de</strong>quado à preservação d<strong>as</strong>oberania nacional e do estado <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> direito. Esse é o sentido


336 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>da</strong> formulação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional, com recursos paraimplementá-la, que integre <strong>as</strong> visões estratégic<strong>as</strong> <strong>da</strong> cunho social,econômico, militar e diplomático, e que conte com o respaldo <strong>da</strong>Nação.3.3 São objetivos <strong>da</strong> Defesa Nacional:a. a garantia <strong>da</strong> soberania, com preservação <strong>da</strong> integri<strong>da</strong><strong>de</strong>territorial, do patrimônio e dos interesses nacionais;b. a garantia do estado <strong>de</strong> Direito e d<strong>as</strong> instituições <strong>de</strong>mocrátic<strong>as</strong>;c. a preservação <strong>da</strong> coesão e <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Nação;d. a salvaguar<strong>da</strong> d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, dos bens e dos recursos br<strong>as</strong>ileirosou sob jurisdição br<strong>as</strong>ileira;e. a consecução e a manutenção dos interesses br<strong>as</strong>ileiros noexterior;f. a projeção do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> no concerto d<strong>as</strong> nações e sua maiorinserção no processo <strong>de</strong>cisório internacional; eg. a contribuição para a manutenção <strong>da</strong> paz e <strong>da</strong> segurançainternacionais.4. ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA4.1 O escopo <strong>de</strong> atuação do Estado br<strong>as</strong>ileiro na área <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa tem como fun<strong>da</strong>mento a obrigação <strong>de</strong> prover segurança à Nação,tanto em tempo <strong>de</strong> paz, quanto em situação <strong>de</strong> conflito.4.2 Para tanto, a presente política é centra<strong>da</strong> em uma ativadiplomacia volta<strong>da</strong> para a paz e uma postura estratégica dissu<strong>as</strong>ória<strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>fensivo, b<strong>as</strong>eado n<strong>as</strong> seguintes premiss<strong>as</strong>:- fronteir<strong>as</strong> e limites perfeitamente <strong>de</strong>finidos e reconhecidosinternacionalmente;- estreito relacionamento com os países vizinhos e com a


ANEXO 337comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional, em geral, b<strong>as</strong>eado na confiança e no respeitomútuos;- rejeição à guerra <strong>de</strong> conquista; e- busca <strong>da</strong> solução pacífica <strong>de</strong> controvérsi<strong>as</strong>, com o uso <strong>da</strong>força somente como recurso <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa.4.3 A vertente preventiva <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa br<strong>as</strong>ileira resi<strong>de</strong> navalorização <strong>da</strong> ação diplomática como instrumento primeiro <strong>de</strong> solução<strong>de</strong> conflitos e na existência <strong>de</strong> uma estrutura militar <strong>de</strong> credibili<strong>da</strong><strong>de</strong>capaz <strong>de</strong> gerar efeito dissu<strong>as</strong>ório eficaz.4.4 o caráter <strong>de</strong>fensivo não implica que, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> conflito, <strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> tenham que se limitar estritamente à realização <strong>de</strong>operações ofensiv<strong>as</strong>. No contexto <strong>de</strong> um plano mais amplo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, ea fim <strong>de</strong> repelir uma eventual agressão arma<strong>da</strong>, o País empregará todopo<strong>de</strong>rio militar necessário, com vist<strong>as</strong> à <strong>de</strong>cisão do conflito no prazomais curto possível e com o mínimo <strong>de</strong> <strong>da</strong>nos à integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e aos interessesnacionais, impondo condições favoráveis ao restabelecimento <strong>da</strong> paz.4.5 É essencial o fortalecimento equilibrado <strong>da</strong> capacitaçãonacional no campo <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa, com o envolvimento dos setores industrial,universitário e técnico-científico. O <strong>de</strong>senvolvimento científico etecnológico é fun<strong>da</strong>mental para a obtenção <strong>de</strong> maior autonomiaestratégica e <strong>de</strong> melhor capacitação operacional d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.4.6 O po<strong>de</strong>ria militar <strong>de</strong>ve estar fun<strong>da</strong>mentado na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, no potencial dos recursos nacionais e d<strong>as</strong> reserv<strong>as</strong>mobilizáveis, com o propósito <strong>de</strong> inibir possíveis intenções <strong>de</strong><strong>de</strong>srespeito às regr<strong>as</strong> <strong>de</strong> convivência pacífica entre <strong>as</strong> Nações, AsForç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> <strong>de</strong>verão estar ajustad<strong>as</strong> à estatura político-estratégica<strong>da</strong> Nação e estruturad<strong>as</strong>, <strong>de</strong> forma flexível e versátil, para atuar, compresteza e eficácia, em diferentes áre<strong>as</strong> e cenários.


338 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA4.7 Às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, que têm sua missão atribuí<strong>da</strong> pelaCarta Magna, cabe <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Nação, sempre que necessário,<strong>as</strong>segurando a manutenção <strong>de</strong> sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e soberania. Para tanto,é essencial manter o contínuo aprimoramento <strong>da</strong> integração d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>, em seu preparo e emprego, bem como na racionalizaçãod<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s afins.5. DIRETRIZES5.1 Para consecuções dos objetivos <strong>da</strong> Política <strong>de</strong> DefesaNacional, <strong>as</strong> seguintes diretrizes <strong>de</strong>verão ser observad<strong>as</strong>:a. contribuir ativamente para a construção <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>minternacional, b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> no estado <strong>de</strong> direito, que propicie a paz universale regional e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>;b. participar crescentemente dos processos internacionaisrelevantes <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão;c. aprimorar e aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>no cenário internacional;d. promover a posição br<strong>as</strong>ileira favorável ao <strong>de</strong>sarmamento global,condicionado ao <strong>de</strong>smantelamento dos arsenais nucleares e <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> arm<strong>as</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>struição em m<strong>as</strong>sa, em processo acor<strong>da</strong>do multilateralmente;e. participar <strong>de</strong> operações internacionais <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>paz, <strong>de</strong> acordo com os interesses nacionais;f. contribuir ativamente para o fortalecimento, a expansão e <strong>as</strong>olidificação <strong>da</strong> integração regional;g. atuar para a manutenção <strong>de</strong> um clima <strong>de</strong> paz e cooperaçãoao longo d<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> nacionais, e para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> na AméricaLatina e na região do Atlântico Sul;h. intensificar o intercâmbio com <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> naçõesamig<strong>as</strong>;i. manter a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> em açõessubsidiári<strong>as</strong> que visem à integração nacional, à <strong>de</strong>fesa civil e ao


ANEXO 339<strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico do país, em harmonia com sua<strong>de</strong>stinação constitucional;j. proteger a Amazônia br<strong>as</strong>ileira, com o apoio <strong>de</strong> to<strong>da</strong> <strong>as</strong>ocie<strong>da</strong><strong>de</strong> e com a valorização <strong>de</strong> presença militar;l. priorizar ações para <strong>de</strong>senvolver e vivificar a faixa <strong>de</strong> fronteira,em especial n<strong>as</strong> regiões norte e centro-oeste;m. aprimorar a organização, o aparelhamento, o a<strong>de</strong>stramentoe a articulação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, <strong>as</strong>segurando-lhes <strong>as</strong> condições,os meios orgânicos e os recursos humanos capacitados para ocumprimento <strong>da</strong> sua <strong>de</strong>stinação constitucional;n. aperfeiçoar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comando, controle e inteligência <strong>de</strong>todos os órgãos envolvidos na <strong>de</strong>fesa nacional, proporcionando-lhescondições que facilitem o processo <strong>de</strong>cisório, na paz e em situações <strong>de</strong>conflito;o. aprimorar o sistema <strong>de</strong> vigilância, controle e <strong>de</strong>fesa d<strong>as</strong>fronteir<strong>as</strong>, d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> jurisdicionais, <strong>da</strong> plataforma continental edo espaço aéreo br<strong>as</strong>ileiros, bem como dos tráfegos aéreo emarítimo;p. garantir recursos suficientes e contínuos que proporcionemcondições eficazes <strong>de</strong> preparo d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e <strong>de</strong>mais órgãosenvolvidos na <strong>de</strong>fesa nacional;q. fortalecer os sistem<strong>as</strong> nacionais <strong>de</strong> transporte, energia ecomunicações;r. buscar um nível <strong>de</strong> pesquisa científica, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentotecnológico e <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong> modo a minimizar a<strong>de</strong>pendência externa do País quanto aos recursos <strong>de</strong> naturezaestratégica e <strong>de</strong> interesse para sua <strong>de</strong>fesa;s. promover o conhecimento científico <strong>da</strong> região antártica e aparticipação ativa no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>stino;t. aprimorar o Sistema <strong>de</strong> Mobilização para aten<strong>de</strong>r àsnecessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do País, quando compelido a se envolver em conflitoarmado; e


340 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAu. sensibilizar e esclarecer a opinião pública, com vist<strong>as</strong> a criare conservar uma mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Defesa Nacional, por meio <strong>de</strong> incentivoao civismo e à <strong>de</strong>dicação à Pátria.Presidência <strong>da</strong> República, 1996


ANEXO 341LEI Nº 2.953, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1956O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,Fixa norm<strong>as</strong> para remessa <strong>de</strong>trop<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> para o exterior.Faço saber que o Congresso Nacional <strong>de</strong>creta e eu sanciono <strong>as</strong>eguinte Lei:Art. 1º – A remessa <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong> terrestre, naval ou aéreapara fora do território nacional, sem <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra e emcumprimento <strong>de</strong> obrigações <strong>as</strong>sumid<strong>as</strong> pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> como membro <strong>de</strong>organizações internacionais ou em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratados, convenções,acordos, resoluções <strong>de</strong> consulta, planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, ou quaisquer outrosentendimentos diplomáticos ou militares só será feita, nos termos <strong>da</strong>Constituição, com autorização do Congresso Nacional.Parágrafo único – O disposto neste artigo não se aplica nosc<strong>as</strong>os constitucionais <strong>de</strong> repulsa a inv<strong>as</strong>ão ou a agressão estrangeira.(Constituição Fe<strong>de</strong>ral Art. 7º, II e Art. 87, VIII in fine).Art. 2º – Não necessita <strong>da</strong> autorização prevista no artigo anterioro movimento <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> terrestres, navais e aére<strong>as</strong> processado <strong>de</strong>ntro<strong>da</strong> zona <strong>de</strong> segurança aérea e marítima, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelos órgãos militarescompetentes, como necessária à proteção e à <strong>de</strong>fesa do litoral br<strong>as</strong>ileiro.Art. 3º – Esta lei entrará em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação,revogad<strong>as</strong> <strong>as</strong> disposições em contrário.Rio <strong>de</strong> Janeiro, 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1956; 135º <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência e 68º <strong>da</strong> República.


342 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAJUSCELINO KUBITSCHEKNereu RamosAntônio Alves CâmaraHenrique LottJosé Carlos <strong>de</strong> Macedo SoaresJosé Maria AlkmimLúcio MeiraMário MeneghettiClóvis SalgadoParsifal BarrosoHenrique FleiussMaurício <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros


ANEXO 343DECRETO LEGISLATIVO Nº 61, DE 1956Autoriza o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Repúblicaa contribuir com um contingentemilitar para formação ou integração<strong>da</strong> Força Internacional <strong>de</strong>Emergência, e dá outr<strong>as</strong> providênci<strong>as</strong>.Art. 1º – É o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República autorizado a tomar <strong>as</strong>medid<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> para que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> contribua com um contingentemilitar do valor <strong>de</strong> um batalhão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, pare a formação ouintegração <strong>da</strong> Força Internacional <strong>de</strong> Emergência instituí<strong>da</strong> emconseqüência <strong>da</strong> Resolução <strong>da</strong> Assembléia Geral d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1956, com o objetivo <strong>de</strong> manter apaz e a segurança internacional na região compreendi<strong>da</strong> entre ocanal <strong>de</strong> Suez e a linha <strong>de</strong> armistício entre Israel e o Egito fixa<strong>da</strong> namesma Resolução.Art. 2º – O contingente br<strong>as</strong>ileiro que integrar a ForçaInternacional <strong>de</strong> Emergência, em operação no Egito, não participará<strong>de</strong> qualquer ação que signifique a homologação <strong>de</strong> conquista territorialobti<strong>da</strong> com o uso <strong>da</strong> força e permanecerá o tempo que for julgadonecessário ao cumprimento <strong>de</strong> sua missão.Art. 3º – O <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> não formará ou integrará a Força Internacional<strong>de</strong> Emergência se <strong>da</strong> mesma participarem trop<strong>as</strong> <strong>de</strong> qualquer d<strong>as</strong> naçõesenvolvid<strong>as</strong> n<strong>as</strong> operações militares do Egito.Art. 4º – O Governo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro não <strong>de</strong>terminará medid<strong>as</strong> <strong>de</strong>restrição à liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> opinião, relacionad<strong>as</strong> com informações ecomentários <strong>de</strong> imprensa e rádio, em torno do contingente militar quese incorporar à Força Internacional <strong>de</strong> Emergência.


344 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArt. 5º – É também autorizado o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República apermitir o trânsito, pelo território nacional, <strong>de</strong> contingentes militaresintegrantes <strong>da</strong> Força Internacional <strong>de</strong> Emergência, que se <strong>de</strong>stinem àregião a que se refere o artigo 1º, em cumprimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação <strong>da</strong>Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>, ou que <strong>da</strong>li regressem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>executá-la.Art. 6º – Este Decreto Legislativo entrará em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação, revogad<strong>as</strong> <strong>as</strong> disposições em contrário.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 22 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1956.APOLÔNIO SALLESVice-Presi<strong>de</strong>nte do Senado Fe<strong>de</strong>ral, no exercício <strong>da</strong> Presidência


ANEXO 345DECRETO LEGISLATIVO Nº 38, DE 20 DE MAIO DE 1965Autoriza o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Repúblicaa enviar contingente d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> à República Dominicana,e dá outr<strong>as</strong> providênci<strong>as</strong>.Art. 1º – É o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República autorizado a enviarcontingente militar d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> que não exce<strong>da</strong>, em valor, aum grupamento tático com elemento <strong>de</strong> comando, bem como <strong>de</strong> apoiologístico e <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> aére<strong>as</strong> e navais indispensáveis para, na forma <strong>da</strong>Resolução adota<strong>da</strong>. em 6 <strong>de</strong> março corrente pela X Reunião <strong>de</strong> Consultados Ministros d<strong>as</strong> Relações Exteriores d<strong>as</strong> Repúblic<strong>as</strong> American<strong>as</strong>,integrar Força Interamericana na República Dominicana.Art. 2º – O contingente a que se refere o artigo anterior, <strong>de</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong>pacificadora, nos termos do ato que instituiu a Força Interamericana,permanecerá em território dominicano durante o período que a Organizaçãodos Estados Americanos, pelos seus órgãos específicos, julgar necessárioa normalização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> institucional <strong>da</strong>quela República e à restauração doambiente <strong>de</strong> paz social e dos direitos humanos, mediante entendimentod<strong>as</strong> facções em litígio e a livre constituição <strong>de</strong> um governo rigorosamentefiel aos postulados <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia representativa.Art. 3º – Este Decreto Legislativo entrará em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1965.AURO MOURA ANDRADEPresi<strong>de</strong>nte do Senado Fe<strong>de</strong>ral


346 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO Nº 56.308, DE 21 DE MAIO DE 1965Cria o Destacamento <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro <strong>de</strong> ForçaArma<strong>da</strong> Interamericana – FAIBRÁS.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando <strong>da</strong> atribuiçãoque lhe confere o artigo 87, inciso I, <strong>da</strong> Constituição, <strong>de</strong>creta:Art. 1º – De acordo com o Decreto Legislativo nº 38, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>maio <strong>de</strong> 1965, fica criado o Destacamento <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro <strong>de</strong> Força Arma<strong>da</strong>Interamericana – FAIBRÁS – para integrar Força Interamericana naRepública Dominicana.Art. 2º – A composição do FAIBRÁS, <strong>de</strong>ntro do valor máximoconstante do Decreto Legislativo <strong>de</strong> que trata o artigo anterior, seráfixa<strong>da</strong> em Instruções que serão baixad<strong>as</strong> ao Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>.Art. 3º – O Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> fica encarregadodo trato <strong>de</strong> todos os <strong>as</strong>suntos relativos ao FAIBRÁS, em entendimentocom os Ministérios Militares.Art. 4º – Este <strong>de</strong>creto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> sua publicação,ficando revogad<strong>as</strong> <strong>as</strong> disposições em contrário.Br<strong>as</strong>ília, 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1965, 144º <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e 77º <strong>da</strong> República.H. CASTELO BRANCOPaulo BosísioArthur <strong>da</strong> Costa e SilvaEduardo Gomes


ANEXO 347DECRETO LEGISLATIVO Nº 15, DE 1994O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Aprova o pedido <strong>de</strong> autorizaçãopara que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> possa colocar àdisposição <strong>da</strong> Operação d<strong>as</strong>Nações Unid<strong>as</strong> para Moçambique– ONUMOZ, pelo prazo <strong>de</strong> umano, um batalhão <strong>de</strong> infantaria.Art. 1º – É aprovado o pedido <strong>de</strong> autorização para que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>possa colocar à disposição <strong>da</strong> ONUMOZ, pelo prazo <strong>de</strong> um ano, umbatalhão <strong>de</strong> infantaria, que teria como fim único cooperar com <strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong> na restauração <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, na manutenção <strong>da</strong> segurança<strong>da</strong> população, no respeito aos direitos humanos, na distribuição <strong>de</strong>aju<strong>da</strong> humanitária e no estabelecimento <strong>de</strong> clima <strong>de</strong> paz e conciliaçãoque permitam o funcionamento <strong>de</strong> eleições livres em Moçambique.Parágrafo único – São sujeitos à apreciação do CongressoNacional quaisquer atos que impliquem revisão <strong>de</strong>ste pedido, bem comoquaisquer atos que, nos termos do art. 49, I, <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral,acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.Art. 2º – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1994.Senador HUMBERTO LUCENAPresi<strong>de</strong>nte


348 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO LEGISLATIVO N° 31, DE 1994O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Autoriza o envio <strong>de</strong> contingentemilitar para o processo <strong>de</strong>pacificação política <strong>de</strong> Angola.Art. 1° – É concedi<strong>da</strong> autorização para o envio <strong>de</strong> contingentemilitar para o processo <strong>de</strong> pacificação política <strong>de</strong> Angola.Art. 2° – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1994.Senador HUMBERTO LUCENAPresi<strong>de</strong>nte


ANEXO 349DECRETO DE 13 DE JUNHO DE 1994Cria Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para aOperação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> emMoçambique (COBRAMOZ).O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso d<strong>as</strong> atribuiçõesque lhe confere o art. 84, inciso IV <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral, e tendoem vista o disposto no Decreto Legislativo nº 15, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1994,DECRETA:Art. 1° – É criado pelo prazo <strong>de</strong> um ano, a contar <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>início <strong>da</strong> missão na região <strong>de</strong> emprego, o Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para aOperação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Moçambique (COBRAMOZ)compreen<strong>de</strong>ndo 1 (uma) Companhia <strong>de</strong> Infantaria, dota<strong>da</strong> <strong>de</strong> apoiologístico, cuj<strong>as</strong> missão, organização e <strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação e controle serão fixad<strong>as</strong>, sob a coor<strong>de</strong>nação do Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, pelos Ministérios <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica.Parágrafo único – Excluem-se <strong>da</strong> missão do COBRAMOZquaisquer atos que impliquem modificação <strong>da</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> expressa nopresente artigo ou quaisquer outros atos que acarretem encargos oucompromissos gravosos ao patrimônio nacional, todos sujeitos àapreciação do Congresso Nacional, nos termos do art. 49, I <strong>da</strong>Constituição Fe<strong>de</strong>ral.Art. 2° – A participação na missão objeto do presenteDecreto será consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como prestação <strong>de</strong> serviço nacionalrelevante.


350 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArt. 3º – Este Decreto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação.Art. 4º – Revogam-se <strong>as</strong> disposições em contrário.Br<strong>as</strong>ília, 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1994; 173º <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência e 106º <strong>da</strong> República.ITAMAR FRANCORubens RicuperoCelso Luiz Nunes AmorimArnaldo Leite PereiraBeni Ver<strong>as</strong>


ANEXO 351DECRETO DE 30 DE MARÇO DE 1995Autoriza o envio e a permanência<strong>de</strong> Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro paraintegrar a Missão <strong>de</strong> Verificaçãod<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola –III (COBRAVEM).O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso d<strong>as</strong> atribuiçõesque lhe confere o art. 84, inciso IV <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral, e tendoem vista o disposto no Decreto Legislativo nº 31, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1994,DECRETA:Art. 1° – Ficam autorizados o envio e a permanência, peloprazo <strong>de</strong> um ano, a contar <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> início <strong>da</strong> missão na região <strong>de</strong>emprego, <strong>de</strong> um Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para integrar a Missão <strong>de</strong>Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola – III (COBRAVEM),compreen<strong>de</strong>ndo um batalhão <strong>de</strong> infantaria e uma companhia <strong>de</strong>engenharia, dotados <strong>de</strong> apoio logístico, e dois postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>avançados, cuja missão, organização e necessári<strong>as</strong> medid<strong>as</strong> <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação e controle serão fixad<strong>as</strong>, sob a coor<strong>de</strong>nação do Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, pelos Ministérios <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica.Parágrafo único – Excluem-se <strong>da</strong> missão do COBRAVEMquaisquer atos que impliquem modificação <strong>da</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> expressa nopresente artigo ou quaisquer outros atos que acarretem encargos oucompromissos gravosos ao patrimônio nacional, todos sujeitos àapreciação do Congresso Nacional, nos termos do art. 49, inciso I, <strong>da</strong>Constituição Fe<strong>de</strong>ral.


352 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArt. 2° – A participação na missão objeto do presente Decretoserá consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como prestação <strong>de</strong> serviço nacional relevante.Art. 3º – Este Decreto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação.Br<strong>as</strong>ília, 30 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1995; 174º <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendênciae 107º <strong>da</strong> República.FERNANDO HENRIQUE CARDOSOLuiz Felipe LampreiaBenedito Onofre Bezerra Leonel


ANEXO 353DECRETO Nº 1.895, DE 6 DE MAIO DE 1996Cria a Câmara <strong>de</strong> RelaçõesExteriores e Defesa Nacional, doConselho <strong>de</strong> Governo.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso d<strong>as</strong> atribuiçõesque lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, <strong>da</strong> Constituição,DECRETA:Art. 1° – Fica cria<strong>da</strong> a Câmara <strong>de</strong> Relações Exteriores e DefesaNacional, do Conselho <strong>de</strong> Governo, com o objetivo <strong>de</strong> formularpolític<strong>as</strong>, estabelecer diretrizes, aprovar e acompanhar os program<strong>as</strong>a serem implantados, no âmbito d<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong> correlacionad<strong>as</strong>, inclusiveaquel<strong>as</strong> pertinentes:I – à cooperação internacional em <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> segurança e<strong>de</strong>fesa;II – à integração fronteiriça;III – às populações indígen<strong>as</strong> e aos direitos humanos;IV – às operações <strong>de</strong> paz;V – ao narcotráfico e a outros <strong>de</strong>litos <strong>de</strong> configuraçãoi nternacional;VI – à imigração;VII – às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> inteligência.


354 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArt. 2° – A Câmara <strong>de</strong> Relações Exteriores e Defesa Nacionalserá integra<strong>da</strong> pelos seguintes membros:I – Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Justiça;II – Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Marinha;III – Ministro <strong>de</strong> Estado do Exército;IV – Ministro <strong>de</strong> Estado d<strong>as</strong> Relações Exteriores;V – Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Aeronáutica;VI – Ministro <strong>de</strong> Estado Chefe do Estado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>;VII – Ministro <strong>de</strong> Estado Chefe <strong>da</strong> C<strong>as</strong>a Civil <strong>da</strong> Presidência<strong>da</strong> República;VIII – Chefe <strong>da</strong> C<strong>as</strong>a Militar <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República;IX – Secretário <strong>de</strong> Assuntos Estratégicos <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República.Parágrafo único – Po<strong>de</strong>rão ser convi<strong>da</strong>dos a participar d<strong>as</strong>reuniões <strong>da</strong> Câmara representantes <strong>de</strong> outros órgãos do Governonecessários ao exercício <strong>de</strong> su<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>.Art. 3° – A C<strong>as</strong>a Militar <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República exercerá<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Secretaria Executiva <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong> RelaçõesExteriores e Defesa Nacional, do Conselho <strong>de</strong> Governo.Art. 4° – Este Decreto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação.


ANEXO 355Br<strong>as</strong>ília, 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996; 175º <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendênciae 108º <strong>da</strong> República.FERNANDO HENRIQUE CARDOSOMilton SeligmanMauro César Rodrigues PereiraZenildo <strong>de</strong> LucenaLuiz Felipe LampreiaLelio Viana LoboClóvis <strong>de</strong> Barros CarvalhoBenedito Onofre Bezerra Leonel


356 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO LEGISLATIVO Nº 70, DE 1996Aprova a renovação do prazo <strong>de</strong>permanência do contingente militar br<strong>as</strong>ileiroCOBRAVEM na UNAVEM-III.O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Art. 1° – É concedi<strong>da</strong> a renovação, por um ano, do prazo <strong>de</strong>permanência do contingente militar br<strong>as</strong>ileiro – COBRAVEM na Missão<strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola – UNAVEM-III, a contardo encerramento do atual turno <strong>de</strong> serviço.Parágrafo único – São sujeitos à aprovação do CongressoNacional quaisquer atos que impliquem revisão do teor <strong>da</strong> autorizaçãoconcedi<strong>da</strong>, bem como quaisquer ajustes complementares que, nostermos do art. 49, I, <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral, acarretem encargos oucompromissos gravosos ao patrimônio nacional.Art. 2° – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1996.Senador JOSÉ SARNEYPresi<strong>de</strong>nte do Senado Fe<strong>de</strong>ral


ANEXO 357DECRETO LEGISLATIVO Nº 97, DE 1996O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Autoriza o <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> doExército <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para o exteriore a permanência <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militaresestrangeir<strong>as</strong> em território nacional.Art. 1º – É autorizado o <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> do Exército<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para o exterior e a permanência temporária <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> militaresestrangeir<strong>as</strong> em território nacional, por oc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong> realização <strong>de</strong>exercícios combinados <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> paz entre <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> e Argentina, noquarto trimestre dos anos <strong>de</strong> 1996 e 1997.Art. 2º – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1996.Senador JOSÉ SARNEYPresi<strong>de</strong>nte do Senado Fe<strong>de</strong>ral


358 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO Nº 2.009, DE 19 DE SETEMBRO DE 1996Acresce artigo ao Decreto nº1.895, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996, quecria a Câmara <strong>de</strong> RelaçõesExteriores e Defesa Nacional, doConselho <strong>de</strong> Governo.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso d<strong>as</strong> atribuiçõesque lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, <strong>da</strong> Constituição,DECRETA:Art. 1° – O Decreto nº 1.895, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1996, p<strong>as</strong>sa avigorar acrescido do seguinte art. 4º, renumerando-se o atual para art.5º:“Art. 4º – Fica criado o Comitê Executivo <strong>da</strong> Câmara <strong>de</strong>Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Conselho <strong>de</strong> Governo,integrado pelos Secretários Executivos dos Ministérios, ou ocupantes<strong>de</strong> cargos equivalentes, inclusive dos órgãos <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong>República, cujos titulares compõem a referi<strong>da</strong> Câmara.”Art. 2° – Este Decreto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação.Br<strong>as</strong>ília, 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1996; 175º <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência e 108º <strong>da</strong> República.FERNANDO HENRIQUE CARDOSOClóvis <strong>de</strong> Barros Carvalho


ANEXO 359LEI COMPLEMENTAR Nº 90, DE 1º DE OUTUBRO DE 1997Determina os c<strong>as</strong>os em que forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong>possam transitar pelo território nacional ou nelepermanecer temporariamente.O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA no exercício docargo <strong>de</strong> PRESIDENTE DA REPÚBLICAFaço saber que o Congresso Nacional <strong>de</strong>creta e eu sanciono <strong>as</strong>eguinte Lei Complementar:Art. 1° – Po<strong>de</strong>rá o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Republica permitir que forç<strong>as</strong>estrangeir<strong>as</strong> transitem pelo território nacional ou nele permaneçamtemporariamente, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> autorização do CongressoNacional, nos seguintes c<strong>as</strong>os:I – para a execução <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento ouaperfeiçoamento ou <strong>de</strong> missão militar <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> pessoal, carga ou <strong>de</strong>apoio logístico do interesse e sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> instituição pública nacional;II – em visita oficial ou não oficial programa<strong>da</strong> pelos órgãosgovernamentais, inclusive <strong>as</strong> <strong>de</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> cientifica e tecnológica;III – para atendimento técnico, n<strong>as</strong> situações <strong>de</strong> ab<strong>as</strong>tecimento,reparo ou manutenção <strong>de</strong> navios ou aeronaves estrangeir<strong>as</strong>;IV – em missão <strong>de</strong> busca e salvamento.Parágrafo único – À exceção dos c<strong>as</strong>os previstos neste artigo,o Presi<strong>de</strong>nte República <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>da</strong> autorização do Congresso


360 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURANacional para permitir que forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> transitem ou permaneçamno território nacional, quando será ouvido, sempre, o Conselho <strong>de</strong>Defesa Nacional.Art. 2° – Em qualquer c<strong>as</strong>o, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo ou não <strong>da</strong>manifestação do Congresso Nacional, a permanência ou trânsito <strong>de</strong>forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> no território nacional só po<strong>de</strong>rá ocorrerobservados os seguintes requisitos, à exceção dos c<strong>as</strong>os previstosnos incisos III e IV do artigo anterior, quando caracteriza<strong>da</strong> situação<strong>de</strong> emergência:I – que o tempo <strong>de</strong> permanência ou o trecho a ser transitadotenha sido previamente estabelecido;II – que o <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> mantenha relações diplomátic<strong>as</strong> com o país aque pertençam <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong>;III – que a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do trânsito ou <strong>da</strong> permanência no territórionacional haja sido plenamente <strong>de</strong>clara<strong>da</strong>;IV – que o quantitativo do contingente ou grupamento, bemcomo os veículos e equipamentos bélicos integrantes <strong>da</strong> força hajamsido previamente especificados;V – que <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> não provenham <strong>de</strong> paísesbeligerantes, circunstância a ser prevista em lei especial.Parágrafo único – Implicará em crime <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> oato <strong>de</strong> autorização do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República sem que tenham sidopreenchidos os requisitos previstos nos incisos <strong>de</strong>ste artigo, bem comoquando a permissão não seja precedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> autorização do CongressoNacional nos c<strong>as</strong>os em que se fizer necessária.


ANEXO 361Art. 3° – Verifica<strong>da</strong> hipótese em que seja necessária aautorização do Congresso Nacional para o trânsito ou permanência<strong>de</strong> forç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> no território nacional, observar-se-ão os seguintesprocedimentos:I – o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República encaminhará mensagem aoCongresso Nacional, que tramitará na forma <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretolegislativo, instruí<strong>da</strong> com o conteúdo d<strong>as</strong> informações <strong>de</strong> que tratam osincisos I a V do artigo anterior;II – a matéria tramitará em regime <strong>de</strong> urgência com precedênci<strong>as</strong>obre qualquer outra na Or<strong>de</strong>m do Dia que não tenha preferênciaconstitucional.Art. 4° – Para os efeitos <strong>de</strong>sta Lei Complementar, consi<strong>de</strong>ramseforç<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> o grupamento ou contingente <strong>de</strong> força arma<strong>da</strong>,bem como o navio, a aeronave e a viatura que pertençam ou estejam <strong>as</strong>erviço <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> forç<strong>as</strong>.Art. 5° – Esta Lei Complementar entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> suapublicação.Art. 6° – Revogam-se <strong>as</strong> disposições em contrário.Br<strong>as</strong>ília, 1°. <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1997; 176° <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e109°, <strong>da</strong> República.MARCO ANTONIO DE OLIVEIRA MACIELWal<strong>de</strong>mar Nicolau Canell<strong>as</strong> JuniorGleuber VieiraJoão Augusto <strong>de</strong> Médicis


362 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO LEGISLATIVO Nº 66, DE 1998O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Autoriza o Po<strong>de</strong>r Executivo a<strong>de</strong>spachar trop<strong>as</strong> do Exército <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiropara o exterior, nos terceiros trimestres<strong>de</strong> 1998 e <strong>de</strong> 1999, com o objetivo<strong>de</strong> participar, em conjunto com osExércitos Argentino, Uruguaio eParaguaio, em exercícios combinados<strong>de</strong> Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>.Artigo único – É o Po<strong>de</strong>r Executivo autorizado a <strong>de</strong>spachartrop<strong>as</strong> do Exército <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para o exterior, nos terceiros trimestres<strong>de</strong> 1998 e <strong>de</strong> 1999, com o objetivo <strong>de</strong> participar, em conjunto com osExércitos Argentino, Uruguaio e Paraguaio, em exercícios combinados<strong>de</strong> Forç<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Paz</strong>.Parágrafo único – Os exercícios a que se refere este artigoterão por estrita finali<strong>da</strong><strong>de</strong> o preparo do Exército <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiro para aparticipação em missões <strong>de</strong> <strong>Manutenção</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong>, sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong>Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1998.Senador RONALDO CUNHA LIMAPrimeiro-Secretário, no exercício <strong>da</strong> Presidência


ANEXO 363DECRETO LEGISLATIVO N° 88, DE 1998O Congresso Nacional <strong>de</strong>creta:Autoriza o envio, pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, <strong>de</strong> trop<strong>as</strong>armad<strong>as</strong> e equipamentos, para oexterior, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prestarapoio logístico necessário à realizaçãodos trabalhos <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong>Observadores Militares Equador/Peru(MOMEP).Art. 1º – É autorizado o Po<strong>de</strong>r Executivo a enviar trop<strong>as</strong>armad<strong>as</strong> e equipamentos, para o exterior, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prestarapoio logístico necessário à realização dos trabalhos <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong>Observadores Militares Equador/Peru (MOMEP).Parágrafo único – São sujeitos à apreciação do CongressoNacional quaisquer atos que impliquem revisão <strong>de</strong>sta autorização.Art. 2º – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Senado Fe<strong>de</strong>ral, em 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998.Senador ANTONIO CARLOS MAGALHÃESPresi<strong>de</strong>nte


364 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURALEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUNHO DE 1999O Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> RepúblicaDispõe sobre <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> gerais para aorganização, o preparo e o empregod<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.Faço saber que o Congresso Nacional <strong>de</strong>creta e eu sanciono <strong>as</strong>eguinte lei complementar:CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES PRELIMINARESSeção IDestinação e atribuiçõesArt. 1º – As Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, constituíd<strong>as</strong> pela Marinha, peloExército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes eregulares, organizad<strong>as</strong> com b<strong>as</strong>e na hierarquia e na disciplina, sob aautori<strong>da</strong><strong>de</strong> suprema do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República e <strong>de</strong>stinam-se à <strong>de</strong>fesa<strong>da</strong> Pátria, à garantia dos po<strong>de</strong>res constitucionais e, por iniciativa <strong>de</strong>qualquer <strong>de</strong>stes, <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m.Parágrafo único – Sem comprometimento <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>stinaçãoconstitucional, cabe também às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> o cumprimento d<strong>as</strong>atribuições subsidiári<strong>as</strong> explicitad<strong>as</strong> nesta lei complementarSeção IIDo Assessoramento ao Coman<strong>da</strong>nte SupremoArt. 2º — O Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, na condição <strong>de</strong>


ANEXO 365Coman<strong>da</strong>nte Supremo d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, é <strong>as</strong>sessorado:I — no que concerne ao emprego <strong>de</strong> meios militares, peloConselho Militar <strong>de</strong> Defesa; eII — no que concerne aos <strong>de</strong>mais <strong>as</strong>suntos pertinentes à áreamilitar, pelo Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa.§ 1º O Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa é composto pelosComan<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong> Aeronáutica e pelo Chefedo Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa.§ 2º Na situação prevista no Inciso I <strong>de</strong>ste artigo, o Ministro <strong>de</strong>Defesa integrará o Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa na condição <strong>de</strong> seu Presi<strong>de</strong>nte.CAPÍTULO IIDA ORGANIZAÇÃOSeção ID<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>Art.3º — As Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> são subordinad<strong>as</strong> ao Ministro<strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, dispondo <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> própri<strong>as</strong>.Art. 4º — A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem,singularmente, <strong>de</strong> um Coman<strong>da</strong>nte, nomeado pelo Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>República, ouvido o Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, o qual, no âmbito<strong>de</strong> su<strong>as</strong> atribuições, exercerá a direção e a gestão <strong>da</strong> respectiva Força.Art. 5º — Os cargos <strong>de</strong> Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica são privativos <strong>de</strong> oficiais-generais do último posto <strong>da</strong>respectiva Força.


366 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA§ 1º É <strong>as</strong>segura<strong>da</strong> aos Coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica precedência hierárquica sobre os <strong>de</strong>mais oficiaisgeneraisd<strong>as</strong> três Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.§ 2º Se o oficial-general indicado para o cargo <strong>de</strong> Coman<strong>da</strong>nte<strong>da</strong> sua respectiva Força estiver na ativa, será transferido para a reservaremunera<strong>da</strong>, quando empossado no cargo.§ 3º São <strong>as</strong>segurad<strong>as</strong> aos Coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> prerrogativ<strong>as</strong>, direitos e <strong>de</strong>veres do ServiçoAtivo, inclusive com a contagem <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> serviço, enquantoestiverem em exercício.Art. 6º— O Po<strong>de</strong>r Executivo <strong>de</strong>finirá a competência dosComan<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong> Aeronáutica para a criação,a <strong>de</strong>nominação, a localização e a <strong>de</strong>finição d<strong>as</strong> atribuições d<strong>as</strong>organizações integrantes d<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.Art. 7º — Compete aos Coman<strong>da</strong>ntes d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> apresentarao Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa a Lista <strong>de</strong> Escolha, elabora<strong>da</strong> naforma <strong>da</strong> lei, para a promoção aos postos <strong>de</strong> oficiais-generais e indicaros oficiais-generais para a nomeação aos cargos que lhes são privativos.Parágrafo único. O Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa,acompanhado do Coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> Força, apresentará os nomesao Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, a quem compete promover os oficiaisgeneraise nomeá-los para os cargos que lhes são privativos.Art. 8º — A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem <strong>de</strong>efetivos <strong>de</strong> pessoal militar e civil, fixados em lei, e dos meios orgânicosnecessários ao cumprimento <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>stinação constitucional eatribuições subsidiári<strong>as</strong>.


ANEXO 367Parágrafo único. Constituem reserva d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> opessoal sujeito a incorporação, mediante mobilização ou convocação,pelo Ministério <strong>da</strong> Defesa, por intermédio <strong>da</strong> Marinha, do Exército e<strong>da</strong> Aeronáutica, bem como <strong>as</strong> organizações <strong>as</strong>sim <strong>de</strong>finid<strong>as</strong> em lei.Seção IIDa Direção Superior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>Art. 9º — O Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa exerce a direçãosuperior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, <strong>as</strong>sessorado pelo Conselho Militar <strong>de</strong>Defesa, órgão permanente <strong>de</strong> <strong>as</strong>sessoramento, pelo Estado-Maior <strong>de</strong>Defesa, pel<strong>as</strong> Secretari<strong>as</strong> e <strong>de</strong>mais órgãos, conforme <strong>de</strong>finido em lei.Art. 10 — O Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa, órgão <strong>de</strong><strong>as</strong>sessoramento do Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, terá como Chefeum oficial-general do último posto, <strong>da</strong> ativa, em sistema <strong>de</strong> rodízioentre <strong>as</strong> três Forç<strong>as</strong>, nomeado pelo Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, ouvido oMinistro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa.Art. 11 — Compete ao Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa elaborar oplanejamento do emprego combinado d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e <strong>as</strong>sessoraro Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa na condução dos exercícios combinadose quanto à atuação <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> paz, além <strong>de</strong>outr<strong>as</strong> atribuições que lhe forem estabelecid<strong>as</strong> pelo Ministro <strong>de</strong> Estado<strong>da</strong> Defesa.CAPÍTULO IIIDO ORÇAMENTOArt. 12 — O orçamento do Ministério <strong>da</strong> Defesa contemplará<strong>as</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional, explicitad<strong>as</strong> na Lei <strong>de</strong>Diretrizes Orçamentári<strong>as</strong>.


368 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA§ 1º O orçamento do Ministério <strong>da</strong> Defesa in<strong>de</strong>ntificará <strong>as</strong>dotações própri<strong>as</strong> <strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong> Aeronáutica.§ 2º A consoli<strong>da</strong>ção d<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> orçamentári<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>será feita pelo Ministério <strong>da</strong> Defesa, obe<strong>de</strong>cendo-se <strong>as</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong>sestabelecid<strong>as</strong> na política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional, explicitad<strong>as</strong> na Lei <strong>de</strong>Diretrizes Orçamentári<strong>as</strong>.§ 3º A Marinha, o Exército e a Aeronáutica farão a gestão, <strong>de</strong>forma individualiza<strong>da</strong>, dos recursos orçamentários que lhes forem<strong>de</strong>stinados no orçamento do Ministério <strong>da</strong> Defesa.CAPÍTULO IVDO PREPAROArt. 13 — Para o cumprimento <strong>da</strong> <strong>de</strong>stinação constitucionald<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, cabe aos Coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exércitoe <strong>da</strong> Aeronáutica o preparo <strong>de</strong> seus órgãos operativos e <strong>de</strong> apoio,obe<strong>de</strong>cid<strong>as</strong> <strong>as</strong> polític<strong>as</strong> estabelecid<strong>as</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Defesa.Art. 14 — O preparo d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> é orientado pelosseguintes parâmetros básicos:I — permanente eficiência operacional singular e n<strong>as</strong> diferentesmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes;II — procura <strong>da</strong> autonomia nacional crescente, através <strong>da</strong>contínua nacionalização <strong>de</strong> seus meios, nela incluíd<strong>as</strong> pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento e o estímulo à indústria nacional;III – correta utilização do potencial nacional, mediantemobilização criteriosamente planeja<strong>da</strong>.


ANEXO 369CAPÍTULO IVDO EMPREGOArt. 15 — O emprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Pátriae na garantia dos po<strong>de</strong>res constitucionais, <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m, e naparticipação em operações <strong>de</strong> paz, é <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Presi<strong>de</strong>nte<strong>da</strong> República, que <strong>de</strong>terminará ao Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa aativação <strong>de</strong> órgãos operacionais, observa<strong>da</strong> a seguinte forma <strong>de</strong>subordinação:I — diretamente ao Coman<strong>da</strong>nte Supremo, no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>Comandos Combinados, compostos por meios adjudicados pel<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e, quando necessário, por outros órgãos;II — diretamente ao Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, para fim<strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento, em operações combinad<strong>as</strong>, ou quando <strong>da</strong>participação br<strong>as</strong>ileira em operações <strong>de</strong> paz;III — diretamente ao respectivo Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Força,respeita<strong>da</strong> a direção superior do Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, noc<strong>as</strong>o <strong>de</strong> emprego isolado <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> uma única Força.§ 1º Compete ao Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República a <strong>de</strong>cisão doemprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, por iniciativa própria ou em atendimentoa pedido manifestado por quaisquer dos po<strong>de</strong>res constitucionais, porintermédio dos Presi<strong>de</strong>ntes do Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral, do SenadoFe<strong>de</strong>ral ou <strong>da</strong> Câmara dos Deputados.§ 2º A atuação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, na garantia <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong>or<strong>de</strong>m, por iniciativa <strong>de</strong> qualquer dos po<strong>de</strong>res constitucionais, ocorrerá<strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> diretrizes baixad<strong>as</strong> em ato do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>República, após esgotados os instrumentos <strong>de</strong>stinados à preservação


370 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m pública e <strong>da</strong> incolumi<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e do patrimônio,relacionados no art. 144 <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral.CAPÍTULO VDAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARESArt. 16 — Cabe às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, como atribuiçãosubsidiária geral, cooperar com o <strong>de</strong>senvolvimento nacional e a <strong>de</strong>fesacivil, na forma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelo Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República.Art. 17 — Cabe à Marinha, como atribuições subsidiári<strong>as</strong> particulares:I) orientar e controlar a Marinha Mercante e su<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>scorrelat<strong>as</strong>, no que interessa à <strong>de</strong>fesa nacional;II) prover a segurança <strong>da</strong> navegação aquaviária;III) contribuir para a formulação e condução <strong>de</strong> polític<strong>as</strong>nacionais que digam respeito ao mar; eIV) implementar e fiscalizar o cumprimento <strong>de</strong> leis eregulamentos no mar e águ<strong>as</strong> interiores, em coor<strong>de</strong>nação com outrosórgãos do Po<strong>de</strong>r Executivo, fe<strong>de</strong>ral ou estadual, quando se fizernecessária, em razão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>.Parágrafo único. Pela especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> atribuições, é <strong>da</strong>competência do Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Marinha o trato dos <strong>as</strong>suntos dispostosneste artigo, ficando <strong>de</strong>signado como “Autori<strong>da</strong><strong>de</strong> Marítima”, para esse fim.Art. 18 – Cabe à Aeronáutica, como atribuições subsidiári<strong>as</strong>particulares:


ANEXO 371I) orientar, coor<strong>de</strong>nar e controlar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aviação Civil;II) prover a segurança <strong>da</strong> navegação aérea;III) contribuir para a formulação e condução <strong>da</strong> PolíticaAeroespacial Nacional;IV) estabelecer, equipar e operar, diretamente, ou medianteconcessão, a infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária;V) operar o Correio Aéreo Nacional.Parágrafo único. Pela especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> atribuições, é <strong>da</strong>competência do Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Aeronáutica o trato dos <strong>as</strong>suntosdispostos neste artigo, ficando <strong>de</strong>signado como “Autori<strong>da</strong><strong>de</strong>Aeronáutica”, para esse fim.CAPÍTULO VIIDAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAISArt. 19 — Até que se proce<strong>da</strong> à revisão dos atos normativospertinentes, <strong>as</strong> referênci<strong>as</strong> legais a Ministério ou a Ministro <strong>de</strong> Estado<strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong> Aeronáutica p<strong>as</strong>sam a ser entendid<strong>as</strong>como a Comando ou a Coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>, respectivamente,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não coli<strong>da</strong>m com atribuições do Ministério ou Ministro <strong>de</strong>Estado <strong>da</strong> Defesa.Art. 20 — Os ministérios <strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong>Aeronáutica serão transformados em Comandos, por oc<strong>as</strong>ião <strong>da</strong>criação do Ministério <strong>da</strong> Defesa.Art. 21 — Lei criará a Agência Nacional <strong>de</strong> Aviação Civil,


372 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAvincula<strong>da</strong> ao Ministério <strong>da</strong> Defesa, órgão regulador e fiscalizador <strong>da</strong>Aviação Civil e <strong>da</strong> infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária,estabelecendo, entre outr<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong> institucionais, quais, <strong>de</strong>ntre <strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e procedimentos referidos nos incisos I e IV do art. 18,serão <strong>de</strong> sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Art. 22 — Esta Lei Complementar entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Art. 11 – Revoga-se a Lei Complementar nº 69, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1991.Br<strong>as</strong>ília, em 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999; 178º ano<strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência e 111º <strong>da</strong> República.FERNANDO HENRIQUE CARDOSOÉlcio Álvares


ANEXO 373DECRETO Nº 3.080, DE 10 DE JUNHO DE 1999.Aprova a Estrutura Regimental e oQuadro Demonstrativo dos Cargos emComissão do Grupo-Direção eAssessoramento Superiores - DAS doMinistério <strong>da</strong> Defesa, e dá outr<strong>as</strong>providênci<strong>as</strong>.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso d<strong>as</strong> atribuiçõesque lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, <strong>da</strong> Constituição, e nos termosdo art. 3º <strong>da</strong> Lei Complementar nº 97, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999,D E C R E T A :Art. 1º Ficam aprovados a Estrutura Regimental e o QuadroDemonstrativo dos Cargos em Comissão do Grupo-Direção eAssessoramento Superiores - DAS do Ministério <strong>da</strong> Defesa, na formados Anexos I e II a este Decreto.Art. 2º Em <strong>de</strong>corrência do disposto no artigo anterior, ficamremanejados <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Gestão, do Ministério do Orçamento eGestão, para o Ministério <strong>da</strong> Defesa, trezentos e quarenta e três cargosem comissão sendo: três <strong>de</strong> Natureza Especial, e trezentos e quarentado Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, <strong>as</strong>simdistribuídos: três DAS 101.6; doze DAS 101.5; quarenta e sete DAS101.4; sessenta e dois DAS 101.3; quatro DAS 101.2; cinco DAS102.5; onze DAS 102.4; vinte e seis DAS 102.3; oitenta e dois DAS102.2 e oitenta e oito DAS 102.1.Art. 3º Os regimentos internos dos órgãos do Ministério <strong>da</strong>Defesa serão aprovados pelo Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa e


374 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURApublicados no Diário Oficial <strong>da</strong> União, no prazo <strong>de</strong> noventa di<strong>as</strong>contados <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong>ste Decreto.Art. 4º Este Decreto entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> sua publicação.Br<strong>as</strong>ília, 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1999; 178º <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendênciae 111º <strong>da</strong> República.


ANEXO 375ANEXO I DO DECRETO Nº 3080ESTRUTURA REGIMENTAL DO MINISTÉRIO DA DEFESACAPÍTULO IDA NATUREZA E COMPETÊNCIAArt. 1º O Ministério <strong>da</strong> Defesa, órgão <strong>da</strong> administração direta, tema seu cargo a direção superior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> com vist<strong>as</strong> ao cumprimento<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>stinação constitucional e <strong>de</strong> su<strong>as</strong> atribuições subsidiári<strong>as</strong>.Art. 2º O Ministério <strong>da</strong> Defesa tem como área <strong>de</strong> competênciaos seguintes <strong>as</strong>suntos:I - política <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional;II - política e estratégia militares;III - doutrina e planejamento <strong>de</strong> emprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;IV - projetos especiais <strong>de</strong> interesse <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa nacional;V - inteligência estratégica e operacional no interesse <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa;VI - operações militares d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;VII - relacionamento internacional d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;VIII - orçamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa;IX - legislação militar;X - política <strong>de</strong> mobilização nacional;


376 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAXI - política <strong>de</strong> ciência e tecnologia n<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;XII - política <strong>de</strong> comunicação social n<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;XIII - política <strong>de</strong> remuneração dos militares e pensionist<strong>as</strong>;XIV - fomento às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento e<strong>de</strong> produção e exportação em áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> interesse <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa;XV - atuação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> na preservação <strong>da</strong> or<strong>de</strong>mpública, no combate a <strong>de</strong>litos transfronteiriços ou ambientais, na <strong>de</strong>fesacivil e no <strong>de</strong>senvolvimento nacional;XVI - logística militar;XVII - serviço militar;XVIII - <strong>as</strong>sistência à saú<strong>de</strong>, social e religiosa d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;XIX - constituição, organização, efetivos, a<strong>de</strong>stramento eaprestamento d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> navais, terrestres e aére<strong>as</strong>;XX - política marítima nacional;XXI - segurança <strong>da</strong> navegação aérea e do tráfego aquaviárioe salvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana no mar;XXII - política aeronáutica nacional e atuação na políticanacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s aeroespaciais; eXXIII - infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica eaeroportuária.


ANEXO 377CAPÍTULO IIDA ESTRUTURA ORGANIZACIONALArt. 3º O Ministério <strong>da</strong> Defesa tem a seguinte estruturaorganizacional:I - órgãos <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência direta e imediata ao Ministro <strong>de</strong> Estado<strong>da</strong> Defesa:a) Gabinete do Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa;b) Assessoria Especial;II - órgão <strong>de</strong> <strong>as</strong>sessoramento superior: Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa;III - órgãos setoriais:a) Secretaria <strong>de</strong> Controle Interno;b) Consultoria Jurídica;IV - órgão <strong>de</strong> <strong>as</strong>sessoramento: Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa:a) Vice-Chefia do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa:1. Subchefia <strong>de</strong> Comando e Controle;2. Subchefia <strong>de</strong> Inteligência;3. Subchefia <strong>de</strong> <strong>Operações</strong>;4. Subchefia <strong>de</strong> Logística;


378 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAV- órgãos específicos singulares:a) Secretaria Político-Estratégica e <strong>de</strong> AssuntosInternacionais:1. Departamento <strong>de</strong> Política e Estratégia;2. Departamento <strong>de</strong> Inteligência Estratégica;3. Departamento <strong>de</strong> Assuntos Internacionais;b) Secretaria <strong>de</strong> Logística e Mobilização:1. Departamento <strong>de</strong> Logística;2. Departamento <strong>de</strong> Mobilização;3. Departamento <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia;c) Secretaria <strong>de</strong> Organização Institucional:1. Departamento <strong>de</strong> Pessoal;2. Departamento <strong>de</strong> Administração e Legislação;3. Departamento <strong>de</strong> Orçamento e Finanç<strong>as</strong>;VI - Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>:a) Comando <strong>da</strong> Marinha;b) Comando do Exército;


ANEXO 379c) Comando <strong>da</strong> Aeronáutica;VII - órgãos <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência e <strong>de</strong> apoio:a) Escola Superior <strong>de</strong> Guerra;b) Hospital d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;c) Ordinariado Militar;d) Representação <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira na Junta Interamericana <strong>de</strong> Defesa;e) Centro <strong>de</strong> Catalogação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.CAPÍTULO IIID<strong>as</strong> COMPETÊNCIAS DOS ÓRGÃOSSeção IDo Órgão <strong>de</strong> Assistência Direta e Imediata ao Ministro <strong>de</strong>Estado <strong>da</strong> DefesaArt. 4º Ao Gabinete do Ministro compete:I - <strong>as</strong>sistir ao Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa em suarepresentação funcional e pessoal, especialmente no preparoe <strong>de</strong>spacho do seu expediente pessoal;II - propor a Política <strong>de</strong> Comunicação Social do Ministério<strong>da</strong> Defesa e elaborar o Plano <strong>de</strong> Comunicação Social;III - acompanhar <strong>as</strong> proposições legislativ<strong>as</strong> em tramitaçãono Congresso Nacional <strong>de</strong> interesse do Ministério <strong>da</strong> Defesa


380 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAe <strong>as</strong>sessorar o Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa n<strong>as</strong> consult<strong>as</strong>e requerimentos formulados pelo Congresso Nacional e porseus membros;IV - coor<strong>de</strong>nar a atuação d<strong>as</strong> <strong>as</strong>sessori<strong>as</strong> parlamentares e<strong>de</strong> comunicação social d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>; eV - exercer a coor<strong>de</strong>nação <strong>da</strong> administração interna doMinistério <strong>da</strong> Defesa, em especial quanto a orçamento efinanç<strong>as</strong>, patrimônio, instalações, recursos humanos,informática, comunicações e transporte.Seção IIDo Órgão <strong>de</strong> Assessoramento SuperiorArt. 5º Ao Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa compete:I - <strong>as</strong>sessorar o Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República, no que concerneao emprego <strong>de</strong> meios militares; eII - <strong>as</strong>sessorar o Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa, no queconcerne aos <strong>as</strong>suntos pertinentes à área militar.§ 1º O Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa é secretariado pelo Vice-Chefe do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa.§ 2° O Conselho Militar <strong>de</strong> Defesa será apoiado peloEstado-Maior <strong>de</strong> Defesa, no âmbito <strong>de</strong> suacompetência.Seção IIIDos Órgãos Setoriais


ANEXO 381Art. 6º À Secretaria <strong>de</strong> Controle Interno, órgão setorial doSistema <strong>de</strong> Controle Interno do Po<strong>de</strong>r Executivo, com atuação n<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, por meio dos órgãos <strong>de</strong> controle interno d<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong>, e nos <strong>de</strong>mais órgãos do Ministério <strong>da</strong> Defesa, compete:I - exercer o controle e a fiscalização d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>programação financeira e <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> direitos ehaveres, garanti<strong>as</strong> e obrigações sob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> doMinistério <strong>da</strong> Defesa, órgãos subordinados e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>svinculad<strong>as</strong>;II - exercer o controle e a fiscalização d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>registro e tratamento d<strong>as</strong> operações relativ<strong>as</strong> à gestãoorçamentária, financeira e patrimonial sob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>do Ministério <strong>da</strong> Defesa, órgãos subordinados e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>svinculad<strong>as</strong>;III - exercer o controle e a fiscalização d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>srelacionad<strong>as</strong> ao cumprimento d<strong>as</strong> met<strong>as</strong> previst<strong>as</strong> no PlanoPlurianual, à execução dos program<strong>as</strong> <strong>de</strong> governo eorçamentos, à gestão dos administradores, bem como àsoperações <strong>de</strong> crédito, avais, garanti<strong>as</strong>, direitos e haveressob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Ministério <strong>da</strong> Defesa, dos órgãossubordinados e d<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s vinculad<strong>as</strong>;IV - editar norm<strong>as</strong> sobre matéri<strong>as</strong> <strong>de</strong> sua competência; eV - exercer a coor<strong>de</strong>nação d<strong>as</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ControleInterno dos órgãos subordinados e d<strong>as</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s vinculad<strong>as</strong>.Art. 7º À Consultoria Jurídica do Ministério <strong>da</strong> Defesa, órgãosetorial <strong>da</strong> Advocacia-Geral <strong>da</strong> União, compete:


382 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAI - <strong>as</strong>sessorar o Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa em <strong>as</strong>suntos<strong>de</strong> natureza jurídica;II - exercer a coor<strong>de</strong>nação d<strong>as</strong> <strong>as</strong>sessori<strong>as</strong> jurídic<strong>as</strong> d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> ou dos órgãos a ela vinculados;III - fixar a interpretação <strong>da</strong> Constituição, d<strong>as</strong> leis, dostratados e dos <strong>de</strong>mais atos normativos a ser uniformementesegui<strong>da</strong> em su<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> atuação e coor<strong>de</strong>nação, quandonão houver orientação normativa do Advogado-Geral <strong>da</strong>União;IV - elaborar estudos e pareceres por solicitação do Ministro<strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa;V - <strong>as</strong>sistir a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>as</strong>sessora<strong>da</strong> no controle internoquanto à legali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos atos a serem por ela praticados oujá efetivados, e <strong>da</strong>queles oriundos <strong>de</strong> órgão sob suacoor<strong>de</strong>nação jurídica; eVI - examinar, prévia e conclusivamente, no âmbito doMinistério, por meio <strong>de</strong> sua estrutura própria ou por intermédiod<strong>as</strong> <strong>as</strong>sessori<strong>as</strong> jurídic<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, os textos <strong>de</strong>edital <strong>de</strong> licitação como os dos respectivos contratos ouinstrumentos congêneres, a serem publicados e celebrados,bem como os atos pelos quais se vá reconhecer ainexigibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou <strong>de</strong>cidir a dispensa, <strong>de</strong> licitação.Seção IVDo Órgão <strong>de</strong> AssessoramentoArt. 8º Ao Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa compete:


ANEXO 383I - formular a doutrina e o planejamento do empregocombinado d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - planejar e acompanhar <strong>as</strong> operações militares <strong>de</strong>emprego combinado d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;III - formular a Política para o Sistema Militar <strong>de</strong> Comandoe Controle;IV - formular a doutrina comum <strong>de</strong> InteligênciaOperacional;V - estabelecer diretrizes para a atuação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> grave perturbação <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m públicae <strong>de</strong> apoio às ações <strong>de</strong> combate aos <strong>de</strong>litos transfronteiriçosou ambientais;VI - estabelecer diretrizes para a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacionad<strong>as</strong> com a <strong>de</strong>fesa civil; eVII - planejar e acompanhar a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz.Art. 9º À Vice-Chefia do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa competecoor<strong>de</strong>nar e supervisionar <strong>as</strong> ações d<strong>as</strong> Subchefi<strong>as</strong>, secun<strong>da</strong>r o Chefedo Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa e, no seu impedimento, substituí-lo.Art. 10. À Subchefia <strong>de</strong> Comando e Controle do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa compete propor <strong>as</strong> diretrizes gerais para o SistemaMilitar <strong>de</strong> Comando e Controle e supervisionar seu funcionamento.Art. 11. À Subchefia <strong>de</strong> Inteligência do Estado-Maior <strong>de</strong>


384 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADefesa compete:I - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a doutrina comum <strong>de</strong> InteligênciaOperacional, gera<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - propor diretrizes para o emprego <strong>da</strong> criptologia noâmbito d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>; eIII - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a doutrina comum <strong>de</strong> empregod<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Guerra Eletrônica, Telecomunicações,Cartografia, Meteorologia e Imagem como apoio àativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência.Art. 12. À Subchefia <strong>de</strong> <strong>Operações</strong> do Estado-Maior <strong>de</strong>Defesa compete:I - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a doutrina <strong>de</strong> empregocombinado d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>;II - elaborar o planejamento do emprego combinado d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> para ca<strong>da</strong> uma d<strong>as</strong> hipóteses <strong>de</strong> empregoprevist<strong>as</strong> na Estratégia Militar <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira e acompanhar acondução d<strong>as</strong> operações combinad<strong>as</strong> <strong>de</strong>correntes;III - planejar e acompanhar a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> em operações <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong> paz;IV - propor diretrizes para a atuação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> grave perturbação <strong>da</strong> or<strong>de</strong>mpública e <strong>de</strong> <strong>de</strong>litos transfronteiriços ou ambientais;V - preparar planos para a atuação combina<strong>da</strong> d<strong>as</strong>


ANEXO 385Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, propondo os limites para seu emprego,nos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> grave perturbação <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m pública;VI - acompanhar o emprego isolado e planejar o empregocombinado d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> no apoio às ações contraos <strong>de</strong>litos transfronteiriços ou ambientais; eVII - propor diretrizes para a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacionad<strong>as</strong> com a <strong>de</strong>fesa civil.Art. 13. À Subchefia <strong>de</strong> Logística do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesacompete participar <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> doutrina <strong>de</strong> emprego combinado,do planejamento e do acompanhamento d<strong>as</strong> operações e <strong>de</strong> outr<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sob o <strong>as</strong>pecto <strong>da</strong> logística.Art. 14. Os cargos <strong>de</strong> Chefe, <strong>de</strong> Vice-Chefe e d<strong>as</strong> Subchefi<strong>as</strong>do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa serão <strong>de</strong> provimento exclusivo <strong>de</strong> militares.Seção VDos Órgãos Específicos SingularesArt. 15. À Secretaria Político-Estratégica e <strong>de</strong> AssuntosInternacionais compete:I - formular <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es <strong>da</strong> Política <strong>de</strong> Defesa Nacional;II - formular a Política e a Estratégia Militares;III - formular o dimensionamento global dos meios <strong>de</strong>Defesa;IV - supervisionar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência Estratégica <strong>de</strong>Defesa;


386 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAV - formular diretrizes gerais para a integração do sistema<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional;VI - orientar a condução dos <strong>as</strong>suntos internacionais queenvolvam <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, em estreita ligação com oMinistério d<strong>as</strong> Relações Exteriores;VII - Orientar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> estudos <strong>da</strong> EscolaSuperior <strong>de</strong> Guerra e estabelecer diretrizes gerais para <strong>as</strong>mesm<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s n<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, relativ<strong>as</strong> aoemprego combinado e conjunto d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>VIII - estabelecer diretrizes para orientar a atuação dosadidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa no trato dos <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> caráter políticoestratégico,e, em consonância com <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>,dos adidos militares, bem como o relacionamento dos adidosmilitares estrangeiros no br<strong>as</strong>il; eIX - avaliar a situação estratégica e o cenário internacional,n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> interesse do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>.Art. 16. Ao Departamento <strong>de</strong> Política e Estratégia compete:I - estu<strong>da</strong>r e propor os fun<strong>da</strong>mentos:a) para a formulação <strong>da</strong> Política <strong>de</strong> Defesa Nacional;b) <strong>da</strong> Política Militar <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira;c) <strong>da</strong> Estratégia Militar <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira;d) para o dimensionamento, em termos globais, dos


meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa; eANEXO 387e) d<strong>as</strong> diretrizes gerais para a integração do sistema <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa nacional;II - acompanhar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> estudos <strong>da</strong>Escola Superior <strong>de</strong> Guerra;III - propor diretrizes específic<strong>as</strong> para o ensino relacionadoao emprego combinado e conjunto d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> paraorientação d<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> <strong>de</strong> altos estudos militares; eIV - propor critérios e medid<strong>as</strong> para a supervisão e oestabelecimento <strong>de</strong> representações militares br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> noexterior, <strong>de</strong> comissões militares estrangeir<strong>as</strong> no País e seusrelacionamentos com <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>.Art. 17. Ao Departamento <strong>de</strong> Inteligência Estratégicacompete:I - manter o exame corrente <strong>da</strong> situação estratégica;II - conduzir a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência Estratégica <strong>de</strong>Defesa;III - acompanhar a evolução do cenário internacional, comênf<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> interesse estratégico do País; eIV - propor diretrizes para orientar a atuação dos Adidos<strong>de</strong> Defesa, no trato dos <strong>as</strong>suntos <strong>de</strong> caráter políticoestratégicoe, em consonância com <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>,orientar a atuação dos Adidos Militares.


388 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAArt. 18. Ao Departamento <strong>de</strong> Assuntos Internacionaiscompete:I - conduzir os <strong>as</strong>suntos internacionais que envolvam <strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - estu<strong>da</strong>r a participação do <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> em operações <strong>de</strong>manutenção <strong>da</strong> paz, <strong>de</strong> acordo com os interesses nacionais;III - propor medid<strong>as</strong>, na esfera militar, no sentido <strong>de</strong>aprimorar e aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação do<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>;IV - propor diretrizes gerais que orientem a atuação e orelacionamento com os Adidos Militares estrangeiros no<strong>Br<strong>as</strong>il</strong>;V - propor norm<strong>as</strong> para o planejamento e acompanhar aexecução d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> representaçõesmilitares br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> no exterior; eVI - manter-se a par <strong>da</strong> atuação dos representantesbr<strong>as</strong>ileiros em organismos internacionais, por força d<strong>as</strong>atribuições <strong>da</strong> Autori<strong>da</strong><strong>de</strong> Marítima e <strong>da</strong> Autori<strong>da</strong><strong>de</strong>Aeronáutica.Art. 19. À Secretaria <strong>de</strong> Logística e Mobilização compete:I - formular e supervisionar a Política <strong>de</strong> Ciência e Tecnologian<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - formular a Política <strong>de</strong> Mobilização Nacional;


ANEXO 389III - estabelecer diretrizes gerais para a logística e a mobilizaçãomilitares;IV - supervisionar o Programa <strong>de</strong> Mobilização Nacional;V - orientar, controlar e fomentar a produção e a exportação<strong>de</strong> material <strong>de</strong> emprego militar;VI - coor<strong>de</strong>nar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativ<strong>as</strong> ao Serviço Militar;VII - coor<strong>de</strong>nar a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> n<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacionad<strong>as</strong> com o <strong>de</strong>senvolvimento nacional; eVIII - estabelecer <strong>as</strong> diretrizes para a fiscalização <strong>de</strong> material<strong>de</strong> emprego militar.Art. 20. Ao Departamento <strong>de</strong> Logística compete:I - conduzir a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> catalogação;II - planejar e coor<strong>de</strong>nar a padronização dos itens comuns àsForç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;III - propor métodos e diretrizes para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em termos <strong>de</strong> aproveitamento comum, dos meios<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dimensionados pela análise estratégico-operacional;IV - propor diretrizes relativ<strong>as</strong> à obtenção e distribuição <strong>de</strong>bens e serviços;V - propor a regulamentação para o controle e o fomento <strong>da</strong>produção <strong>de</strong> material <strong>de</strong> emprego militar;


390 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAVI - controlar a exportação <strong>de</strong> material <strong>de</strong> emprego militar;VII - propor <strong>as</strong> diretrizes para a fiscalização <strong>de</strong> material <strong>de</strong>emprego militar; eVIII - planejar e coor<strong>de</strong>nar o apoio isolado ou integradod<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> ações <strong>de</strong> natureza comum relativ<strong>as</strong>ao <strong>de</strong>senvolvimento nacional.Art. 21. Ao Departamento <strong>de</strong> Mobilização compete:I - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a Política <strong>de</strong> Mobilização Nacional;II - propor norm<strong>as</strong> legais para a implantação do Sistema <strong>de</strong>Mobilização Nacional;III - conduzir o Programa <strong>de</strong> Mobilização Nacional;IV - propor diretrizes para a padronização <strong>de</strong> procedimentos,visando à utilização dos recursos humanos e materiais diversosmobilizáveis;V - propor diretrizes para a padronização <strong>de</strong> procedimentose planejar a utilização d<strong>as</strong> instalações e bens móveismobilizáveis;VI - propor diretrizes para a padronização <strong>de</strong> procedimentose planejar a utilização dos serviços civis <strong>de</strong> apoio mobilizáveis; eVII - planejar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Serviço Militar.Art. 22. Ao Departamento <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia compete:


ANEXO 391I - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a Política <strong>de</strong> Ciência e Tecnologian<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, com participação <strong>de</strong> seus respectivossetores;II - elaborar o Plano Gerencial <strong>de</strong> Pesquisa eDesenvolvimento por área tecnológica dos projetos <strong>de</strong>interesse comum d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;III - coor<strong>de</strong>nar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cartografia <strong>de</strong> interessemilitar em território nacional;IV - controlar o aerolevantamento no território nacional; eV - prover e manter o sistema <strong>de</strong> comunicações militarespor satélite.Art. 23. À Secretaria <strong>de</strong> Organização Institucional compete:I - estabelecer diretrizes para <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativ<strong>as</strong> a<strong>as</strong>sistência à saú<strong>de</strong>, <strong>as</strong>sistência religiosa e <strong>as</strong>sistência socialpara <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - estabelecer diretrizes gerais e coor<strong>de</strong>nar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>srelativ<strong>as</strong> ao Desporto Militar comum às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;III - estabelecer diretrizes gerais <strong>de</strong> orientação para <strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> instrução especializa<strong>da</strong> e outr<strong>as</strong> <strong>de</strong> ensino, emseus <strong>as</strong>pectos comuns a mais <strong>de</strong> uma Força;IV - elaborar diretrizes relacionad<strong>as</strong> com a mo<strong>de</strong>rnização ea racionalização <strong>de</strong> procedimentos administrativos comunsàs Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;


392 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAV - elaborar diretrizes gerais para aplicação <strong>de</strong> norm<strong>as</strong>relativ<strong>as</strong> à administração <strong>de</strong> pessoal, <strong>de</strong> material e <strong>de</strong>serviços;VI - elaborar diretrizes para o planejamento, a execução eo controle orçamentário e a gestão financeira;VII - consoli<strong>da</strong>r os planos plurianuais e <strong>as</strong> propost<strong>as</strong>orçamentári<strong>as</strong> e complementações d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> edo Ministério <strong>da</strong> Defesa;VIII - formular a legislação militar comum às Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>; eIX - formular a política <strong>de</strong> remuneração dos militares epensionist<strong>as</strong>.Art. 24. Ao Departamento <strong>de</strong> Pessoal compete:I - propor diretrizes gerais e norm<strong>as</strong> <strong>de</strong> procedimentos, emconsonância com o disposto pela Administração Fe<strong>de</strong>ral,para <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacionad<strong>as</strong> com a administração e ocontrole do pessoal civil ativo, inativo e pensionist<strong>as</strong> doMinistério <strong>da</strong> Defesa e d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>;II - propor diretrizes gerais e norm<strong>as</strong> <strong>de</strong> procedimentos paraativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativ<strong>as</strong> ao pessoal militar <strong>da</strong> reserva, reformadose respectivos pensionist<strong>as</strong>;III - propor diretrizes gerais para <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistênciaà saú<strong>de</strong>, <strong>as</strong>sistência social e <strong>as</strong>sistência religiosa d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>;


ANEXO 393IV - propor diretrizes gerais e exercer a coor<strong>de</strong>nação d<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativ<strong>as</strong> ao <strong>de</strong>sporto militar comum às Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>; eV - propor diretrizes gerais <strong>de</strong> orientação para <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> instrução especializa<strong>da</strong> comuns a mais <strong>de</strong> uma Força.Art. 25. Ao Departamento <strong>de</strong> Administração e Legislaçãocompete:I - promover e orientar <strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização eracionalização dos procedimentos administrativos;II - analisar e propor, com a participação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong>, a legislação <strong>de</strong> interesse militar;III - propor <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es para a política <strong>de</strong> remuneração dosmilitares e <strong>de</strong> seus pensionist<strong>as</strong>; eIV - propor a legislação referente à remuneração do pessoalmilitar e <strong>de</strong> seus pensionist<strong>as</strong>.Art. 26. Ao Departamento <strong>de</strong> Orçamento e Finanç<strong>as</strong> compete:I - exercer <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> órgão setorial do Ministério <strong>da</strong>Defesa na estrutura do Sistema <strong>de</strong> Planejamento, Orçamentoe Finanç<strong>as</strong> do Governo Fe<strong>de</strong>ral;II - propor <strong>as</strong> diretrizes gerais relativ<strong>as</strong> ao planejamento,à execução e ao controle orçamentário d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>Armad<strong>as</strong> e acompanhar e avaliar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ss<strong>as</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s; e


394 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAIII - analisar e propor a consoli<strong>da</strong>ção dos planos plurianuaise d<strong>as</strong> propost<strong>as</strong> orçamentári<strong>as</strong> e complementações d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e do Ministério <strong>da</strong> Defesa.Seção VIDos Órgãos <strong>de</strong> Estudo, <strong>de</strong> Assistência e <strong>de</strong> ApoioArt. 27. Aos órgãos <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> <strong>as</strong>sistência e <strong>de</strong> apoiocompete, respectivamente, <strong>de</strong>senvolver estudos e avaliações em su<strong>as</strong>áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> atuação, prestar <strong>as</strong>sistência, <strong>de</strong> acordo com su<strong>as</strong> atribuições,e realizar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especializad<strong>as</strong> <strong>de</strong> apoio.§ 1º A Escola Superior <strong>de</strong> Guerra e a Representação <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eirana Junta Interamericana <strong>de</strong> Defesa integram a estrutura <strong>da</strong>Secretaria Político-Estratégica e <strong>de</strong> Assuntos Internacionais.§ 2º O Hospital d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> integra a estrutura <strong>da</strong>Secretaria <strong>de</strong> Organização Institucional.§ 3º O Ordinariado Militar vincula-se diretamente aoMinistro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa.§ 4º O Centro <strong>de</strong> Catalogação d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> integraa estrutura <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Logística e Mobilização.CAPÍTULO IVDAS FORÇAS ARMADASSeção ID<strong>as</strong> Disposições Comuns às Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>Art. 28. As Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> organizam-se nos Comandos <strong>da</strong>


ANEXO 395Marinha, do Exército e <strong>da</strong> Aeronáutica, subordinados ao Ministro <strong>de</strong>Estado <strong>da</strong> Defesa, dispondo <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> e organizações própri<strong>as</strong>,<strong>de</strong>finid<strong>as</strong> em legislação específica.Art. 29. Aos Coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Marinha, do Exército e <strong>da</strong>Aeronáutica, nos termos <strong>da</strong> legislação em vigor e consoante <strong>as</strong> diretrizesdo Ministro <strong>da</strong> Defesa, compete:I - exercer o Comando <strong>da</strong> respectiva Força;II - executar o planejamento, a orientação, a coor<strong>de</strong>naçãoe o controle operacional e administrativo d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sprópri<strong>as</strong> <strong>da</strong> Força;III - realizar a avaliação d<strong>as</strong> organizações integrantes <strong>da</strong>Força;IV - zelar pela aptidão <strong>da</strong> Força ao cumprimento <strong>de</strong> suamissão constitucional e <strong>de</strong> su<strong>as</strong> atribuições subsidiári<strong>as</strong>;V - exercer <strong>as</strong> atribuições que lhe forem expressamente<strong>de</strong>legad<strong>as</strong>, admiti<strong>da</strong> a sub<strong>de</strong>legação; eVI - formular a legislação específica e aprovar <strong>as</strong> norm<strong>as</strong>própri<strong>as</strong> <strong>da</strong> respectiva Força.Seção IIDo Comando <strong>da</strong> MarinhaArt. 30. Ao Comando <strong>da</strong> Marinha compete:I - formular a política naval e a doutrina militar naval;


396 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAII - propor a constituição, a organização e os efetivos, bemcomo executar o aprestamento d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> navais;III - formular o planejamento estratégico e executar oemprego d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Navais na <strong>de</strong>fesa do País;IV - orientar e realizar estudos e pesquis<strong>as</strong> <strong>de</strong> seu interesse;V - contribuir para a formulação e condução <strong>de</strong> polític<strong>as</strong>nacionais que digam respeito ao mar;VI - orientar e controlar a marinha mercante e su<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>scorrelat<strong>as</strong>, no que interessa à <strong>de</strong>fesa nacional;VII - prover a segurança <strong>da</strong> navegação aquaviária e <strong>as</strong>alvaguar<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana no mar;VIII - produzir material bélico <strong>de</strong> seu interesse;IX - realizar o a<strong>de</strong>stramento militar e a supervisão <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramentocivil no interesse <strong>da</strong> segurança <strong>da</strong> navegação nacional;X - executar a inspeção naval; eXI - implementar e fiscalizar o cumprimento <strong>de</strong> leis eregulamentos, no mar e n<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> interiores, emcoor<strong>de</strong>nação com outros órgãos do Po<strong>de</strong>r Executivo,fe<strong>de</strong>ral ou estadual, quando se fizer necessária, em razão <strong>de</strong>competênci<strong>as</strong> específic<strong>as</strong>.Seção IIIDo Comando do Exército


ANEXO 397Art. 31. Ao Comando do Exército compete:I - formular a política e a doutrina militar terrestre;II - propor a constituição, a organização e os efetivos,bem como aparelhar e a<strong>de</strong>strar <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> terrestres;III - realizar estudos e pesquis<strong>as</strong> <strong>de</strong> seu interesse;IV - formular o planejamento estratégico no queconcerne à ação do Exército e executar ações relativ<strong>as</strong>à <strong>de</strong>fesa do País;V - participar na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> fronteira marítima e na<strong>de</strong>fesa aérea;VI - participar no preparo e na execução <strong>da</strong> mobilizaçãoe <strong>de</strong>smobilização nacionais;VII - fiscalizar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s envolvendo arm<strong>as</strong>,munições, explosivos e outros produtos <strong>de</strong> interessemilitar; eVIII - produzir material bélico <strong>de</strong> seu interesse.Seção IVDo Comando <strong>da</strong> AeronáuticaArt. 32. Ao Comando <strong>da</strong> Aeronáutica compete:I - formular e conduzir a política aeronáutica nacional,civil e militar;


398 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAII - propor a constituição, a organização e os efetivos, bemcomo aparelhar e a<strong>de</strong>strar a Força Aérea <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira;III - formular o planejamento estratégico e executar açõesrelativ<strong>as</strong> à <strong>de</strong>fesa do País, no campo aeroespacial;IV - contribuir para a formulação e condução <strong>da</strong> políticanacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>saeroespaciais;V - operar o Correio Aéreo Nacional;VI - orientar, coor<strong>de</strong>nar e controlar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aviaçãocivil;VII - estabelecer, equipar e operar, diretamente ou medianteconcessão, a infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica eaeroportuária;VIII - incentivar e realizar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e<strong>de</strong>senvolvimento relacionad<strong>as</strong> com <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>saeroespaciais;IX - estimular a indústria aeroespacial; eX - prover a segurança <strong>da</strong> navegação aérea.CAPÍTULO VDAS ATRIBUIÇÕES DOS CHEFES E DIRIGENTES DOS ÓRGÃOSSeção IDo Chefe do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa


ANEXO 399Art. 33. Ao Chefe do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa incumbe:I - planejar, orientar, coor<strong>de</strong>nar e controlar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>satribuíd<strong>as</strong> ao Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa;II - realizar a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho d<strong>as</strong> Subchefi<strong>as</strong> doEstado-Maior <strong>de</strong> Defesa;III - zelar pela a<strong>de</strong>quação e atualização d<strong>as</strong> ações atribuíd<strong>as</strong>ao Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa; eIV - exercer <strong>as</strong> atribuições que lhe forem <strong>de</strong>legad<strong>as</strong>,admitindo-se a sub<strong>de</strong>legação.Seção IIDos SecretáriosArt. 34. Aos Secretários incumbe:I - planejar, orientar, coor<strong>de</strong>nar e controlar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>satribuíd<strong>as</strong> às su<strong>as</strong> secretari<strong>as</strong>;II - realizar a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos <strong>de</strong>partamentos<strong>de</strong> su<strong>as</strong> secretari<strong>as</strong>;III - zelar pela a<strong>de</strong>quação e atualização d<strong>as</strong> ações atribuíd<strong>as</strong>às su<strong>as</strong> secretari<strong>as</strong>; eIV - exercer <strong>as</strong> atribuições que lhes forem <strong>de</strong>legad<strong>as</strong>,admiti<strong>da</strong> a sub<strong>de</strong>legação.Seção III


400 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADos Demais DirigentesArt. 35. Ao Chefe <strong>de</strong> Gabinete, ao Consultor Jurídico, aosDiretores <strong>de</strong> Departamento e aos <strong>de</strong>mais dirigentes incumbe planejar, dirigir,coor<strong>de</strong>nar e orientar a execução d<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no âmbito d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> áre<strong>as</strong><strong>de</strong> competência e exercer outr<strong>as</strong> atribuições que lhes forem cometid<strong>as</strong>.CAPÍTULO VIDAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIASArt. 36. O provimento dos cargos do Ministério <strong>da</strong> Defesaobservará:I - <strong>de</strong> Chefe do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa será ocupado poroficial-general <strong>da</strong> ativa, do último posto, em sistema <strong>de</strong> rodízioentre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>;II - <strong>de</strong> Secretários serão ocupados por civis ou por oficiaisgenerais<strong>da</strong> ativa, do último posto, em sistema <strong>de</strong> rodízioentre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>;III - <strong>de</strong> Coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Escola Superior <strong>de</strong> Guerra e o <strong>de</strong>Vice-Chefe do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa serão ocupadospor oficiais-generais <strong>da</strong> ativa, do penúltimo posto, em sistema<strong>de</strong> rodízio entre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>;IV - <strong>de</strong> Subchefes do Estado-Maior <strong>de</strong> Defesa serãoocupados por oficiais-generais <strong>da</strong> ativa, do penúltimo oudo primeiro posto, em sistema <strong>de</strong> rodízio entre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>;V - <strong>de</strong> Chefe <strong>de</strong> Gabinete do Ministro <strong>da</strong> Defesa e os <strong>de</strong>Chefes <strong>de</strong> Departamento serão ocupados por civis ou por


ANEXO 401oficiais-generais <strong>da</strong> ativa, do penúltimo ou do primeiro posto,em sistema <strong>de</strong> rodízio entre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>; eVI - <strong>de</strong> Subcoman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Escola Superior <strong>de</strong> Guerra, <strong>de</strong>Chefe <strong>da</strong> Delegação <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eira na Junta Interamericana <strong>de</strong>Defesa e <strong>de</strong> Diretor do Hospital d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> serãoocupados por oficiais-generais <strong>da</strong> ativa do primeiro posto,em sistema <strong>de</strong> rodízio entre <strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>.Art. 37. O Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa será substituídointerinamente, em su<strong>as</strong> ausênci<strong>as</strong> do território nacional ou por motivo<strong>de</strong> féri<strong>as</strong>, por um dos Coman<strong>da</strong>ntes d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong>, por ele indicado.Art. 38. O inciso VII do art. 5º do Decreto nº 980, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong>novembro <strong>de</strong> 1993, p<strong>as</strong>sa a vigorar com a seguinte re<strong>da</strong>ção:“VII - administrados pel<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> e pelo Ministério<strong>da</strong> Defesa, incluídos os órgãos que lhes são subordinados;” (NR)Art. 39. O Ministro <strong>de</strong> Estado <strong>da</strong> Defesa baixará os atoscomplementares necessários à implementação <strong>de</strong>ste Decreto.


402 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURADECRETO LEGISLATIVO N° 5, DE 1999 – CNAutoriza o Po<strong>de</strong>r Executivo a enviar trop<strong>as</strong> d<strong>as</strong>Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> p<strong>as</strong>ra integrarem aforça multinacional <strong>da</strong> Organização d<strong>as</strong> NaçõesUnid<strong>as</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> restaurar a paz e <strong>as</strong>egurança no Timor Leste, proteger e apoiar aMissão d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> no Timor Leste(Unamet) no cumprimento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> funções efacilitar <strong>as</strong> operações <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> humanitária.O CONGRESSO NACIONAL <strong>de</strong>creta:Art. 1° – É o Po<strong>de</strong>r Executivo, nos termos <strong>da</strong> Lei nº 2.953, <strong>de</strong>17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1956, e d<strong>as</strong> disposições constitucionais eregimentais pertinentes, autorizado a enviar pelotão reforçado <strong>de</strong> atécinqüente policiais d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> br<strong>as</strong>ileir<strong>as</strong> para integrar a forçamultinacional <strong>da</strong> Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em sua missão noTimor Leste.Art. 2º – Esta autorização é váli<strong>da</strong> pelo prazo <strong>de</strong> duração <strong>da</strong>força multinacional <strong>da</strong> Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em missão noTimor Leste.Art. 3° – Este Decreto Legislativo entra em vigor na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>sua publicação.Congresso Nacional, em 16 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1999.Senador ANTÔNIO CARLOS MAGALHÃESPresi<strong>de</strong>nte


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420 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURAem conjunto com os Exércitos argentino, uruguaio e paraguaio, emexercícios combinados <strong>de</strong> paz. Diário Oficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 19ago. 1998. n° 158-E, seção 1, p. 1._________. Decreto Legislativo n° 88, <strong>de</strong> 1998. Autoriza o envio,pelo <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>, <strong>de</strong> trop<strong>as</strong> armad<strong>as</strong> e equipamentos, para o exterior, com afinali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar apoio logístico necessário à realização dostrabalhos <strong>da</strong> Missão <strong>de</strong> Observadores Militares Equador/Peru(MOMEP). Diário Oficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 3 <strong>de</strong>z. 1998. n° 233-E, seção 1, p. 1._________. Decreto s/nº, <strong>de</strong> 13 jun. 1994. Cria Contingente <strong>Br<strong>as</strong>il</strong>eiropara a Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Moçambique (COBRAMOZ).Diário Oficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 14 jun. 1994. n° 111, seção 1, p. 8505._________. Decreto s/nº, <strong>de</strong> 13 jun. 1994. Cria Comissão Especial noEstado-Maior d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong>, para opinar sobre a aquisição <strong>de</strong>equipamentos e materiais <strong>de</strong>stinados à força <strong>de</strong>signa<strong>da</strong> para operações emMoçambique. Diário Oficial <strong>da</strong> União. Br<strong>as</strong>ília, 14 jun. 1994. n° 111._________. Decreto s/nº, <strong>de</strong> 13 junho <strong>de</strong> 1994. Cria contingentebr<strong>as</strong>ileiro para a Operação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Moçambique.Diário Oficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 14 jun. 1994. n° 111_________. Decreto s/nº, <strong>de</strong> 30 março <strong>de</strong> 1995. Autoriza o envio e apermanência <strong>de</strong> contingente br<strong>as</strong>ileiro – COBRAVEM para integrar aMissão <strong>de</strong> Verificação d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> em Angola III. DiárioOficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 31 mar. 1995. n° 63, seção 1, p. 4592._________. Decreto nº 1.895, <strong>de</strong> 6 maio 1996. Cria a Câmara <strong>de</strong>Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Conselho <strong>de</strong> Governo.Diário Oficial <strong>da</strong> União, Br<strong>as</strong>ília, 7 maio 1996. seção 1, nº 87, p.7721.


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BIBLIOGRAFIA 443Commercial Arbitration and European Law – T.M.C. Asser Institut,1990. 691p


TESES DO CAE


TESES DO CAE JÁ PUBLICADAS PELA FUNAGNA COLEÇÃO CURSO DE ALTOS ESTUDOS DO IRBR1 - ORGANIZAÇÃO MARÍTIMA INTERNACIONAL (IMO) - VISÃO POLÍTICADE UM ORGANISMO ESPECIALIZADO DAS NAÇÕES UNIDASLuiz Henrique Pereira <strong>da</strong> Fonseca2 - DIPLOMACIA CULTURAL - SEU PAPEL NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRAEdgard Telles Ribeiro3 - O BRASIL E O NOVO DIREITO DO MARLuiz Augusto <strong>de</strong> Araújo C<strong>as</strong>tro4 - A CRISE DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASILVal<strong>de</strong>mar Carneiro Leão5 - NAVEGANTES, BANDEIRANTES, DIPLOMATASSynésio Sampaio Goes6 - HISTÓRIA E INFORMAÇÃO DIPLOMÁTICAJosé Antônio <strong>de</strong> Macedo Soares7 - A TENTATIVA DO CONTROLE DO PODER ECONÔMICO NAS NAÇÕES UNIDASAdhemar G. Bahadian8 - FRONTEIRAS NA AMAZÔNIA: UM ESPAÇO INTEGRADOPedro Motta Pinto Coelho


448 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA9 - NATUREZAS MORTAS - A FILOSOFIA POLÍTICA DO ECOLOGISMOJoão Almino10 - PROTEÇÃO DE PATENTES DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS: O CASOBRASILEIROMaria Stela Pompeu <strong>Br<strong>as</strong>il</strong> Frota11 - A CONFERÊNCIA DE LANCARSTER HOUSE: DA RODÉSIA AO ZIMBÁBUEClodoaldo Hugueney Filho12 - O RECURSO À SEÇÃO 301 DA LEGISLAÇÃO DE COMÉRCIONORTE AMERICANA E A APLICAÇÃO DE SEUS DISPOSITIVOS CONTRAO BRASILRégis P. Arslanian13 - O GERENCIAMENTO COSTEIRO NO BRASIL E A COOPERAÇÃOINTERNACIONALRenato Xavier14 - ORDEM, HEGEMONIA E TRANSGRESSÃOGeorges Lamazière15 - O CONSELHO DE SEGURANÇA APÓS A GUERRA DO GOLFO: AARTICULAÇÃO DE UM NOVO PARADIGMA DE SEGURANÇA COLETIVAAntônio <strong>de</strong> Aguiar Patriota16 - O BRASIL NAS OPERAÇÕES DE PAZ DAS NAÇÕES UNIDASAfonso José Sena Cardoso17 - COMÉRCIO E MEIO AMBIENTE: ATUAÇÃO DIPLOMÁTICA BRASILEIRAEM RELAÇÃO AO SELO VERDELeonil<strong>da</strong> Beatriz C. G. A. Corrêa


TESES DO CAE 44918 - EM NOME DA DEMOCRÁCIA - A OEA E A CRISE HAITIANA (1991-1994)Irene Pessoa <strong>de</strong> Lima Câmara19 - CIDADANIA E GLOBALIZAÇÃO: A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA EAS ONG’SMiguel Darcy <strong>de</strong> Oliveira20 - O TRATAMENTO NACIONAL DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROSFernando Paulo <strong>de</strong> Mello Barreto21 - POLÍTICA INDIGENISTA BRASILEIRA E PROMOÇÃO INTERNACIONALDOS DIREITOS DAS POPULAÇÕES INDÍGENASEnio Cor<strong>de</strong>iro22 - CÚPULA DAS AMÉRICAS DE 1994: PAPEL NEGOCIADOR DO BRASIL,EM BUSCA DE UMA AGENDA HEMISFÉRICAFernando Sim<strong>as</strong> Magalhães23 - A DIPLOMACIA BRASILEIRA E OS TEMAS SOCIAIS: O CASO DA SAÚDEErnesto Otto Rubarth24 - AS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS NAS NAÇÕES UNIDASRicardo Neiva Tavares25 - O BRASIL E AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DE PAZ DAS NAÇÕES UNIDASPaulo Roberto C. Tarrisse <strong>da</strong> Fontoura26 - OCDE: UMA VISÃO BRASILEIRADenis Fontes <strong>de</strong> Souza Pinto27 - A QUESTÃO DE TIMOR-LESTE: ORIGENS E EVOLUÇÃOJoão Solano C. <strong>da</strong> Cunha


450 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA28 - O GÁS NO MERCOSUL: UMA PERSPECTIVA BRASILEIRAFrancisco M. B. <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>29 - PROMOÇÃO DO BRASIL COMO DESTINO TURÍSTICOJoão <strong>de</strong> Mendonça Lima Neto30 - PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DIPLOMÁTICOSSérgio Eduardo Moreira Lima31 - TRATADOS DE EXTRADIÇÃO: CONSTRUÇÃO, ATUALIDADE E PROJEÇÃODO RELACIONAMENTO BILATERAL BRASILEIROAppio Claudio Acquarone32 - COOPERAÇÃO JUDICIÁRIA POR VIA DIPLOMÁTICASusan Kleebank

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