11.07.2015 Views

1. lembrem de mim como de um que ouvia a chuva como quem ...

1. lembrem de mim como de um que ouvia a chuva como quem ...

1. lembrem de mim como de um que ouvia a chuva como quem ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>1.</strong><strong>lembrem</strong> <strong>de</strong> <strong>mim</strong><strong>como</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong><strong>que</strong> <strong>ouvia</strong> a <strong>chuva</strong><strong>como</strong> <strong>que</strong>m assiste missa<strong>como</strong> <strong>que</strong>m hesita, mestiça,entre a pressa e a preguiça2.já me matei faz muito tempome matei quando o tempo era escassoe o <strong>que</strong> havia entre o tempo e o espaçoera o <strong>de</strong> semprenunca mesmo o sempre passomorrer faz bem à vista e ao baçomelhora o ritmo do pulsoe clareia a almamorrer <strong>de</strong> vez em quandoé a única coisa <strong>que</strong> me acalma3.<strong>um</strong> homem com <strong>um</strong>a doré muito mais elegantecaminha assim <strong>de</strong> lado<strong>como</strong> se chegando atrasadoandasse mais adiantecarrega o peso da dor<strong>como</strong> se portasse medalhas<strong>um</strong>a coroa <strong>um</strong> milhão <strong>de</strong> dólaresou coisa <strong>que</strong> os valha


ópios é<strong>de</strong>ns analgésicosnão me to<strong>que</strong>m nessa dorela é tudo <strong>que</strong> me sobrasofrer, vai ser minha última obra4 e 5.LÁPIDE 1epitáfio para o corpoAqui jaz <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> poeta.Nada <strong>de</strong>ixou escrito.Este silêncio, acreditosão suas obras completas.LÁPIDE 2epitáfio para a almaaqui jaz <strong>um</strong> artistamestre em disfarcesvivercom a intensida<strong>de</strong> da artelevou-o ao infarte<strong>de</strong>us tenha penados seus disfarces6.Aço e FlorQuem nunca viu<strong>que</strong> a flor, a faca e a fera


tanto fez <strong>como</strong> tanto faz,e a forte flor <strong>que</strong> a faca fazna fraca carne,<strong>um</strong> pouco menos, <strong>um</strong> pouco mais,<strong>que</strong>m nunca viua ternura <strong>que</strong> vaino fio da lâmina samurai,esse, nunca vai ser capaz.7.a estrela ca<strong>de</strong>nteme caiu ainda <strong>que</strong>ntena palma da mão8.paremeu confessosou poetacada manhã <strong>que</strong> nasceme nasce<strong>um</strong>a rosa na faceparemeu confessosou poetasó meu amor é meu <strong>de</strong>useu sou o seu profeta9.


<strong>de</strong>sta vez não vai ter neve <strong>como</strong> em petrogrado a<strong>que</strong>le diao céu vai estar limpo e o sol brilhandovocê dormindo e eu sonhandonem casacos nem cossacos <strong>como</strong> em petrogrado a<strong>que</strong>lediaapenas você nua e eu <strong>como</strong> nascieu dormindo e você sonhandonão vai mais ter multidões gritando <strong>como</strong> em petrogrado[a<strong>que</strong>le diasilêncio nós dois murmúrios azuiseu e você dormindo e sonhandonunca mais vai ter <strong>um</strong> dia <strong>como</strong> em petrogrado a<strong>que</strong>ledianada <strong>como</strong> <strong>um</strong> dia indo atrás do outro vindovocê e eu sonhando e dormindo10.para a liberda<strong>de</strong> e lutame enterrem com os trotskistasna cova com<strong>um</strong> dos i<strong>de</strong>alistason<strong>de</strong> jazem a<strong>que</strong>les<strong>que</strong> o po<strong>de</strong>r não corrompe<strong>um</strong>e enterrem com meu coraçãona beira do rioon<strong>de</strong> o joelho feridotocou a pedra da paixão1<strong>1.</strong>


en la lucha <strong>de</strong> clasestodas las armas son buenaspiedrasmochespoemas12.WITH THE MANaquino oestetodo homem tem <strong>um</strong> preço<strong>um</strong>a cabeça a prêmioíndio bom é índio mortosem empregoreferênciaou en<strong>de</strong>reçotenho toda a liberda<strong>de</strong>pra traçar meu enredonascin<strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> pe<strong>que</strong>nacheia <strong>de</strong> buracos <strong>de</strong> balasporres <strong>de</strong> uís<strong>que</strong>gran<strong>de</strong>s <strong>como</strong> o grand cayontiroteios noturnosentre pistoleiros brilhantes<strong>como</strong> o ouro da califórniame segue <strong>um</strong>a estrelano peito do xerife <strong>de</strong> <strong>de</strong>nver13.


mancheteCHUTES DE POETANÃO LEVAM PERIGO À META14.POESIA: “words set to music”(Dantevia Pound), “<strong>um</strong>a viagem ao<strong>de</strong>sconhecido” (Maiakóvski), “cernese medulas” (Ezra Pound), “a fala doinfalável” (Goethe), “linguagemvoltada para a sua própriamaterialida<strong>de</strong>” (Jakobson),“permanente hesitação entre som esentido” (Paul Valery), “fundação doser mediante a palavra” (Hei<strong>de</strong>gger),“a religião original da h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>”(Novalis), “as melhores palavras namelhor or<strong>de</strong>m” (Coleridge), “emoçãorelembrada na tranqüilida<strong>de</strong>”(Wordsworth), “ciência e paixão”(Alfred <strong>de</strong> Vigny), “se faz compalavras, não com idéias” (Mallarmé),“música <strong>que</strong> se faz com idéias”(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), “<strong>um</strong>fingimento <strong>de</strong>veras” (FernandoPessoa), “criticismo of life” (MathewArnold), “palavra-coisa” (Sartre),“linguagem em estado <strong>de</strong> purezaselvagem” (Octavio Paz), “poetry is toinspire” (Bob Dylan), “<strong>de</strong>sign <strong>de</strong>linguagem” (Décio Pignatari), “loimpossible hecho possible” (GarciaLorca), “aquilo <strong>que</strong> se per<strong>de</strong> na


tradução (Robert Frost), “a liberda<strong>de</strong>da minha linguagem” (PauloLeminski)...15.<strong>que</strong>ro a vitóriado time <strong>de</strong> várzeavalentecovar<strong>de</strong>a <strong>de</strong>rrotado campeão5 X 0em seu próprio chãocirco<strong>de</strong>ntrodo pão16.eu <strong>que</strong>ria tantoser <strong>um</strong> poeta malditoa massa sofrendoenquanto eu profundo meditoeu <strong>que</strong>ria tantoser <strong>um</strong> poeta socialrosto <strong>que</strong>imadopelo hálito das multidõesem vez


olha eu aquipondo salnesta sopa rala<strong>que</strong> mal vai dar para dois17.po<strong>de</strong>m ficar com a realida<strong>de</strong>esse baixo astralem <strong>que</strong> tudo entra pelo canoeu <strong>que</strong>ro viver <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>eu fico com o cinema americano18.quando eu tiver setenta anosentão vai acabar esta minha adolescênciavou largar da vida loucae terminar minha livre docênciavou fazer o <strong>que</strong> meu pai <strong>que</strong>rcomeçar a vida com passo perfeitovou fazer o <strong>que</strong> minha mãe <strong>de</strong>sejaaproveitar as oportunida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> virar <strong>um</strong> pilar da socieda<strong>de</strong>e terminar meu curso <strong>de</strong> direitoentão ver tudo em sã consciênciaquando acabar esta adolescência19.


<strong>de</strong> ouvidodi vidi doentreover&ovidrodu vi do20.simeu quis a prosaessa <strong>de</strong>usasó diz besteirasfala das coisas<strong>como</strong> se novasnão quis a prosaapenas a idéia<strong>um</strong>a idéia <strong>de</strong> prosaem esperma <strong>de</strong> trova<strong>um</strong> gozo<strong>um</strong>a gosma<strong>um</strong>a poesia porosa2<strong>1.</strong>coraçãoPRA CIMAescrito em baixo


FRÁGIL22.nada <strong>que</strong> o solnão expli<strong>que</strong>tudo <strong>que</strong> a luamais chi<strong>que</strong>não tem <strong>chuva</strong><strong>que</strong> <strong>de</strong>sbote essa flor23.o novonão me choca maisnada <strong>de</strong> novosob o solapenas o mesmoovo <strong>de</strong> semprechoca o mesmo novo24.quatro dias sem te vere não mudaste nadafalta açúcar na limonadame perdi da minha namoradana<strong>de</strong>i na<strong>de</strong>i e não <strong>de</strong>i em nada


sempre o mesmo poeta <strong>de</strong> bostaper<strong>de</strong>ndo tempo com a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>25.<strong>um</strong> diaa gente ia ser homeroa obra nada menos <strong>que</strong> <strong>um</strong>a ilíada<strong>de</strong>poisa barra pesandodava pra ser aí <strong>um</strong> rimbaud<strong>um</strong> ungaretti <strong>um</strong> fernando pessoa qual<strong>que</strong>r<strong>um</strong> lorca <strong>um</strong> eluárd <strong>um</strong> ginsbergpor fimacabamos o pe<strong>que</strong>no poeta <strong>de</strong> província<strong>que</strong> sempre fomospor trás <strong>de</strong> tantas máscaras<strong>que</strong> o tempo tratou <strong>como</strong> a flores26.moinho <strong>de</strong> versosmovido a ventoem noites <strong>de</strong> boemiavai vir o diaquando tudo <strong>que</strong> eu digaseja poesia27.veré dor


ouviré dorteré dorper<strong>de</strong>ré dorsó doernão é dor<strong>de</strong>lícia<strong>de</strong> experimentador28.o pauloleminskié <strong>um</strong> cachorro louco<strong>que</strong> <strong>de</strong>ve ser mortoa pau a pedraa fogo a pi<strong>que</strong>senão é bem capazo filhodaputa<strong>de</strong> fazer choverem nosso pi<strong>que</strong>ni<strong>que</strong>29.cansei da frase polidapor anjos da cara pálidapalmeiras batendo palmasao passarem paradasagora eu <strong>que</strong>ro a pedrada<strong>chuva</strong> <strong>de</strong> pedras palavrasdistribuindo pauladas30.


apagar-mediluir-me<strong>de</strong>smanchar-meaté <strong>que</strong> <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> <strong>mim</strong><strong>de</strong> nós<strong>de</strong> tudonão reste mais<strong>que</strong> o charme30.ascenção apogeu e <strong>que</strong>da da vida paixãoe mortedo poeta enquanto ser <strong>que</strong> chora enquantochove lá fora e alguém cantaa última esperança da luz e pegar o primeiro trempara muito além das serras <strong>que</strong> azulam nohorizontee o separam da aurora da sua vida3<strong>1.</strong>Amor, então,também acaba?Não, <strong>que</strong> eu saiba.O <strong>que</strong> eu seié <strong>que</strong> se transforman<strong>um</strong>a matéria-prima<strong>que</strong> a vida se encarrega<strong>de</strong> transformar em raiva.Ou em rima.32.


HAIEis <strong>que</strong> nasce completoe, ao morrer, morre germe,o <strong>de</strong>sejo, analfabeto,<strong>de</strong> saber <strong>como</strong> reger-me,ah, saber <strong>como</strong> me ajeitopara <strong>que</strong> eu seja <strong>que</strong>m fui,eis o <strong>que</strong> nasce perfeitoe, ao crescer, diminui.33.KAIMínimo templopara <strong>um</strong> <strong>de</strong>us pe<strong>que</strong>no,aqui vos guarda,em vez da dor <strong>que</strong> peno,meu extremo anjo <strong>de</strong> vanguarda.De <strong>que</strong> máscarase gaba sua lástima,<strong>de</strong> <strong>que</strong> vagase vangloria sua história,saiba <strong>que</strong>m saiba.A <strong>mim</strong> me bastaa sombra <strong>que</strong> se <strong>de</strong>ixa,o corpo <strong>que</strong> se afasta.34.as coisas estão pretas


<strong>um</strong>a <strong>chuva</strong> <strong>de</strong> estrelas<strong>de</strong>ixa no papelesta poça <strong>de</strong> letras35.duas folhas na sandáliao outonotambém <strong>que</strong>r andar36.nem toda horaé obranem toda obraé primaalg<strong>um</strong>as são mãesoutras irmãsalg<strong>um</strong>asclimaEueuquando olho nos olhossei quando <strong>um</strong>a pessoaestá por <strong>de</strong>ntroou está por fora<strong>que</strong>m está por fora


não segura<strong>um</strong> olhar <strong>que</strong> <strong>de</strong>mora<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> meu centroeste poema me olhaIncenso Fosse Músicaisso <strong>de</strong> <strong>que</strong>rerser exatamente aquilo<strong>que</strong> a gente éainda vainos levar além(in "Distraído Venceremos" Ed. Brasiliense, 1987)Distâncias Mínimas<strong>um</strong> texto morcegose guia por ecos<strong>um</strong> texto texto cego<strong>um</strong> eco anti anti anti antigo<strong>um</strong> grito na pare<strong>de</strong> re<strong>de</strong> re<strong>de</strong>volta ver<strong>de</strong> ver<strong>de</strong> ver<strong>de</strong>com <strong>mim</strong> com com consigoouvir é ver se se se se se


Haicaia estrela ca<strong>de</strong>nteme caiu ainda <strong>que</strong>ntena palma da mãocortinas <strong>de</strong> sedao vento entrasem pedir licençaAmor Bastantequando eu vi vocêtive <strong>um</strong>a idéia brilhantefoi <strong>como</strong> se eu olhasse<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> diamantee meu olho ganhassemil faces n<strong>um</strong> só instantebasta <strong>um</strong> instantee você tem amor bastante<strong>um</strong> bom poemaleva anoscinco jogando bola,mais cinco estudando sânscrito,seis carregando pedra,nove namorando a vizinha,sete levando porrada,


quatro andando sozinho,três mudando <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>z trocando <strong>de</strong> assunto,<strong>um</strong>a eternida<strong>de</strong>, eu e você,caminhando juntoAcor<strong>de</strong>i bemolacor<strong>de</strong>i bemoltudo estava sustenidosol faziasó não fazia sentidoAlialisóalisese aliceali se vissequanto alice viue não dissese aliali se dissessequanta palavraveio e não <strong>de</strong>scealibem ali


<strong>de</strong>ntro da alicesó alicecom aliceali se pareceNada me <strong>de</strong>movenada me <strong>de</strong>moveainda vou sero pai dos irmãos KaramazovSesenemforterrasetransformarNão Discutonão discutocom o <strong>de</strong>stinoo <strong>que</strong> pintar


eu assinoUm homem com <strong>um</strong>a dor<strong>um</strong> homem com <strong>um</strong>a doré muito mais elegantecaminha assim <strong>de</strong> lado<strong>como</strong> se chegasse atrasadoandasse mais adianteRosa Rilke Raimundo CorreiaUma pálpebra,Mais <strong>um</strong>a, mais outras,Enfim, <strong>de</strong>zenasDe pálpebras sobre pálpebrasTentando fazerDas minhas trevasAlg<strong>um</strong>a coisa a maisQue lágrimas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!