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Texto completo em pdf - Instituto de Letras e Lingüística

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FROMM, Guilherme . Literatura estrangeira no curso <strong>de</strong> letras: probl<strong>em</strong>áticas. In:Guilherme Fromm; Maria Célia Lima-Hernan<strong>de</strong>s. (Org.). Domínios <strong>de</strong> Linguag<strong>em</strong> V:diálogo entre a universida<strong>de</strong>, a escola e a socieda<strong>de</strong>. São Paulo: Plêia<strong>de</strong>, 2005. p.155/160.Literatura estrangeira no curso <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>: probl<strong>em</strong>áticasGuilherme FrommOs cursos <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, nas faculda<strong>de</strong>s públicas ou particulares, apresentam muitasdiferenças entre si. As matrizes curriculares dificilmente pod<strong>em</strong> ser comparadas, dadasas ênfases sociais, regionais, etc. Uma das características que padronizam esses cursos,no entanto, é a presença da língua e literatura estrangeiras. Mesmo quando nãoobrigatório, os alunos acabam por fazer uma segunda língua tendo <strong>em</strong> vista a ampliação<strong>de</strong> conhecimentos e a questão mercadológica (quanto mais disciplinas eles sãolicenciados, mais facilmente acharão aulas).O ensino <strong>de</strong> uma língua estrangeira, todos sab<strong>em</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito do nível <strong>de</strong>conhecimento prévio dos alunos <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. No caso <strong>de</strong> línguas mo<strong>de</strong>rnas <strong>em</strong>menor projeção no momento, como o francês, o italiano e o al<strong>em</strong>ão, poucos já tiveramcontato, o que homogeneíza as dificulda<strong>de</strong>s no curso. O inglês, por outro lado, já esteveou está presente na vida da maioria dos alunos; isso acarreta diferentes níveis <strong>de</strong>conhecimento <strong>em</strong> um mesmo ambiente e dificulta a vida do professor, que t<strong>em</strong> que lidarcom classes superlotadas.O ensino <strong>de</strong> literatura, porém, não obe<strong>de</strong>ce a essa divisão anterior. Mesmo entreaqueles que têm um razoável conhecimento <strong>de</strong> inglês, pouco conhec<strong>em</strong> sobre asliteraturas escritas nessa língua. Tomar<strong>em</strong>os, então, o caso das literaturas <strong>de</strong> línguainglesa para nossa presente discussão. Esse texto é apenas uma reflexão acerca da nossaexperiência com literatura estrangeira <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula no ensino superior.A questão do t<strong>em</strong>poLer, seja qual for a disciplina, é uma questão complicada. Os alunos, na suagran<strong>de</strong> maioria, trabalham o dia todo (e muitos, no fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana, seja no comércio,seja <strong>em</strong> programas educativos que subsidiam o pagamento da sua faculda<strong>de</strong>). A poucadisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po para leitura t<strong>em</strong> que ser dividida entre várias disciplinas.Como exigir que o aluno leia textos <strong>em</strong> prosa na íntegra quando mal consegu<strong>em</strong> ler umartigo <strong>de</strong> jornal?


Uma das opções para diminuir o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> leitura e aumentar a eficiência <strong>de</strong> umaanálise literária, por ex<strong>em</strong>plo, seria o trabalho com poesia <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Pod<strong>em</strong>os, aoinvés <strong>de</strong> só trabalhar com Shakespeare dramaturgo, trabalhar também com oShakespeare poeta. Alguns sonetos pod<strong>em</strong> ser copiados para a lousa e analisados, <strong>em</strong>um processo analógico, com a distribuição <strong>de</strong> rimas, estrofes, o vocabulário envolvido eoutros t<strong>em</strong>as que os alunos tiveram <strong>em</strong> teoria literária ou têm <strong>em</strong> literaturas <strong>de</strong> línguaportuguesa.Obviamente a leitura <strong>de</strong> textos <strong>em</strong> prosa não <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scartada, mas <strong>de</strong>ve sercomedida. Qual o retorno que conseguimos ao pedirmos que os alunos leiam umromance <strong>de</strong> 600 páginas por mês? E se esse mesmo romance estiver no original?Embora soe como heresia para muitos, trabalhar com versões resumidas na línguaestrangeira faz com que o aluno entre <strong>em</strong> contato tanto com a língua estrangeira quantoa sua literatura <strong>de</strong> um modo menos traumático do ponto <strong>de</strong> vista da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> leitura.O conhecimento da línguaA heterogeneida<strong>de</strong> do conhecimento <strong>de</strong> língua inglesa, na sala <strong>de</strong> aula, po<strong>de</strong> serum fator complicador no ensino da mesma. Literaturas <strong>de</strong> língua inglesa, porém, assimcomo o Latim e Lingüística, nunca foram trabalhadas pelos alunos. Pod<strong>em</strong>os usar essalacuna a nosso favor, já que o conhecimento da área <strong>em</strong> específico está <strong>em</strong> construção.Há todo um vocabulário técnico a ser apreendido naquela língua (assim como adisciplina Introdução aos Estudos Literários trabalha com textos <strong>em</strong> língua portuguesa).Assim como num curso <strong>de</strong> língua inglesa instrumental, pod<strong>em</strong>os selecionaralguns alunos que dominam melhor a língua para auxiliar os outros. Dev<strong>em</strong>os tomarcuidado, porém, com os “amigos” que resolv<strong>em</strong> ajudar através da tradução. Insista nanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar t<strong>em</strong>po à leitura e explique que, por ser uma língua diferente, essetextos exige mais do leitor. Se técnicas <strong>de</strong> leitura já foram trabalhadas <strong>em</strong> aulas <strong>de</strong>língua, l<strong>em</strong>bre os alunos da utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicá-las à leitura.Traduções resolv<strong>em</strong>?Se o curso não preten<strong>de</strong> trabalhar com nada <strong>em</strong> língua inglesa, apenas traçar umpanorama <strong>de</strong> sua literatura, a bibliografia traduzida é abundante, inclusive com algumastraduções disponíveis pela Internet.


Trabalhar com traduções, porém, não é a mesma coisa que trabalhar com osoriginais. O aluno estará, ao ler um texto traduzido, observando a visão do tradutorsobre o texto original, ou seja, há um filtro no processo.Não há necessida<strong>de</strong>, quando trabalhamos com textos <strong>em</strong> língua estrangeira, <strong>de</strong>lermos apenas os cânones. Existe a possibilida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> conjunto com a disciplina <strong>de</strong>língua inglesa, <strong>de</strong> trabalharmos com versões simplificadas <strong>de</strong> clássicos ou novosautores, todos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma proposta “Easy Rea<strong>de</strong>rs” (leituras simplificadas). Essasleituras pod<strong>em</strong> ser trabalhadas do começo ao fim do curso, obe<strong>de</strong>cendo ao nível médioda turma. Acostumando-os a ler <strong>em</strong> inglês <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo (apesar das muitasdificulda<strong>de</strong>s, as quais os alunos faz<strong>em</strong> questão <strong>de</strong> nos apontar diariamente), pod<strong>em</strong>os tera esperança que muitos, por conta própria, se entusiasm<strong>em</strong> a ler os originais na íntegra.Disponibilida<strong>de</strong> da bibliografiaEncontrar originais ou versões simplificadas <strong>de</strong> obras literárias estrangeiras, nalíngua original, <strong>em</strong> bibliotecas públicas, não é das tarefas mais fáceis. Poucasbibliotecas dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> acervo.Atualmente, no entanto, pod<strong>em</strong>os encontrar diversos sites com esse tipo d<strong>em</strong>aterial na Internet. Cito como ex<strong>em</strong>plo o excelente site <strong>de</strong> poesias “plagiarist”(http://www.plagiarist.com), on<strong>de</strong> os alunos e professores pod<strong>em</strong> baixar centenas <strong>de</strong>obras a custo zero e o projeto Gutenberg (http://www.promo.net/pg), com milhares <strong>de</strong>livros disponíveis on-line, <strong>em</strong> várias línguas (português inclusive). O custo <strong>de</strong>impressão é caro, mas ter contato com obras originais é muito importante. Esses sitesserv<strong>em</strong> como fonte <strong>de</strong> consulta, também, para a atualização dos professores.Campo profissionalOs alunos perguntam, assim que começam a fazer estágio, on<strong>de</strong> pod<strong>em</strong> estagiar<strong>em</strong> literatura estrangeira. Descobr<strong>em</strong>, nesse momento, que quase nenhuma escolaministra essa disciplina, ou seja, não consegu<strong>em</strong> estágio e n<strong>em</strong> aulas no futuro. Já quenão há como fazer estágio externo, o professor <strong>de</strong>ve sugerir trabalhos valendo comoestágio interno.Uma das ativida<strong>de</strong>s que parec<strong>em</strong> ren<strong>de</strong>r b<strong>em</strong> é o trabalho com t<strong>em</strong>as.Escolh<strong>em</strong>os, certa vez, o t<strong>em</strong>a da literatura infanto-juvenil <strong>de</strong> aventura. Os alunos<strong>de</strong>veriam selecionar todos os autores, não importando a época, que tiveram suas obrasadaptadas para o cin<strong>em</strong>a, televisão, teatro ou quadrinhos. Cada grupo ficava responsável


por um autor e traçava um paralelo entre a obra original e suas adaptações. Foramlevantados s<strong>em</strong>elhanças e diferenças, julgadas quais adaptações melhor se comparavamao original e quais estavam mais atualizadas para os dias <strong>de</strong> hoje, mantendo o “espírito”da original. A proposta seguinte, que infelizmente não se concretizou <strong>de</strong>vido àsmudanças na matriz curricular, era o trabalho com livros <strong>de</strong> terror.Esses trabalhos também pod<strong>em</strong> servir como base para festas t<strong>em</strong>áticas como oHalloween e outras, além <strong>de</strong> apresentações nas s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>. Servirão paral<strong>em</strong>brar as origens <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas festas ou crenças e explicarão porque algumasadaptações faz<strong>em</strong> tanto sucesso (além <strong>de</strong> explicar que muitos filmes são adaptações,algo que muitos <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong>).Consi<strong>de</strong>rações finaisÉ bom que fique claro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, para os alunos, que literaturas <strong>de</strong> línguaestrangeira são um compl<strong>em</strong>ento cultural ao aprendizado da língua. Poucos po<strong>de</strong>rão se<strong>de</strong>dicar ao seu ensino, mas todos pod<strong>em</strong> se <strong>de</strong>liciar com o prazer da leitura. E esseprazer, parece-nos, per<strong>de</strong>u-se um pouco nos cursos <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, nos quais t<strong>em</strong>os ouvidoalunos se queixando que “t<strong>em</strong> que ler” (sic). Ele precisa ser resgatado e incentivado.O futuro professor <strong>de</strong> língua estrangeira <strong>de</strong>ve ter um background sobre aliteratura dos falantes daquele idioma para futuras referências aos seus alunos, parapo<strong>de</strong>r trabalhar com leituras simplificadas <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, para ter o prazer <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rpiadas, citações e músicas.

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