11.07.2015 Views

Variabilidade da composição química da suberina de ... - ESAC

Variabilidade da composição química da suberina de ... - ESAC

Variabilidade da composição química da suberina de ... - ESAC

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Variabili<strong>da</strong><strong>de</strong></strong> <strong>da</strong> Composição Química <strong>da</strong> Suberina <strong>de</strong> Cortiças Amadias <strong>de</strong> VáriasOrigens GeográficasSantos, S. 1 , Rodrigues, J. 2 & Graça, J. 11 Instituto Superior <strong>de</strong> Agronomia, Departamento <strong>de</strong> Engenharia Florestal,Tapa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 1349-017 Lisboa, Portugal2 Instituto <strong>de</strong> Investigação Científica Tropical, Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Tecnologia Florestal,Tapa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong>, 1349-017 Lisboa, PortugalIntroduçãoA <strong>suberina</strong> é o principal biopolímero constituinte <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s celulares <strong>da</strong> cortiça (Quercussuber L.), representando ca. <strong>de</strong> 50% <strong>da</strong> sua massa seca. Como tal, as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> cortiçaenquanto material são <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s por este biopolímero. A <strong>suberina</strong> é uma macromoléculaconstituí<strong>da</strong> por monómeros ligados entre si por ligações éster incluindo dois grupos principais<strong>de</strong> monómeros: o glicerol, molécula pequena tri-álcool e os compostos alifáticos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ialonga, cuja estrutura tem afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com a dos ácidos gordos. Estes últimos incluem duasfamílias, os ω-hidroxiácidos (compostos com um grupo álcool numa extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia eum grupo ácido na outra) e os α,ω-diácidos (compostos com dois grupos ácidos, um em ca<strong>da</strong>extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia). Estes ω-hidroxiácidos e α,ω-diácidos possuem ca<strong>de</strong>iashidrocarbona<strong>da</strong>s, ou satura<strong>da</strong>s, ou com uma substituição (epóxido, insaturação ou grupo diol)a meio <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia. Variações na proporção relativa <strong>de</strong>stes monómeros na composição <strong>da</strong><strong>suberina</strong> po<strong>de</strong>rão significar diferenças na estrutura <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> e eventualmente nasproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do material cortiça no seu todo.Material & MétodosForam analisa<strong>da</strong>s treze pranchas <strong>de</strong> cortiça amadia crua, com nove anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>,provenientes <strong>de</strong> treze <strong>da</strong>s catorze zonas <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cortiça <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s em PortugalContinental. A cortiça foi moí<strong>da</strong>, e utiliza<strong>da</strong> a fracção granulométrica 40-60 mesh, livre <strong>de</strong>extractivos. A análise dos constituintes <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> foi feita após <strong>de</strong>spolimerização pormetanólise utilizando uma solução 30 mM <strong>de</strong> metóxido <strong>de</strong> sódio em metanol seco, durantetrês horas, sob refluxo. Os monómeros foram analisados na forma <strong>de</strong> ésteres metílicos, éterestrimetilsilílicos (<strong>de</strong>rivados MeTMS), após <strong>de</strong>rivatização com piridina e BSTFA. A análisequalitativa (i<strong>de</strong>ntificação dos monómeros) foi feita por cromatografia gasosa acopla<strong>da</strong> aespectrometria <strong>de</strong> massa. A análise quantitativa dos monómeros foi feita por cromatografiagasosa com <strong>de</strong>tector <strong>de</strong> ionização <strong>de</strong> chama. Foram adicionados padrões internos (1,12-do<strong>de</strong>canodiol para a quantificação do glicerol e ácido 12-hidroxiocto<strong>de</strong>ca-nóico éster metílicopara a quantificação dos monómeros alifáticos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia longa) <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente calibrados para aquantificação dos monómeros (Graça e Pereira, 2000). Na análise estatística foram aplicadosos softwares Unscrambler V. 8.0 (PCA, análise por componentes principais) e Statistica 6.0(coeficiente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Pearson).Resultados & DiscussãoA composição <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> é domina<strong>da</strong> por nove monómeros: o glicerol; o α,ω-diácido com18 carbonos <strong>de</strong> comprimento <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia (18C) com uma insaturação no meio <strong>de</strong>sta (α,ωdiácido18C 9-insaturado) e o correspon<strong>de</strong>nte ω-hidroxiácido (ω-hidroxiácido 18C 9-insaturado) ; o α,ω-diácido 18C com um grupo epóxido (diácido 18C 9-epóxido) o respectivoω-hidroxiácido (ω-hidroxiácido 18C 9-epóxido); o α,ω-diácido 18C com um grupo vic-diol1


(α,ω-diácido 18C 9,10-diol) e o correspon<strong>de</strong>nte ω-hidroxiácido (ω-hidroxiácido 18C 9,10-diol); o α,ω-diácido 22C saturado e o respectivo ω-hidroxiácido 22C saturado. Estesmonómeros no seu todo representam cerca <strong>de</strong> 80% <strong>da</strong> composição <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>, pelo que aanálise <strong>da</strong> sua variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> feita aqui se restringe a estes monómeros.Na Figura 1 apresenta-se um cromatograma típico <strong>da</strong> composição em monómeros <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>.counts13.33123.15330.81834.01325000039.59446.49220000039.27415000010000050000011.43223.86223.48027.85129.27929.69131.33332.09533.51534.11935.45536.06936.43636.93437.29637.61038.15539.799 40.17041.13140.85241.391 41.91442.25542.14643.79543.58945.34346.00748.26248.75552.74352.42658.72359.74660.66663.52920 30 40 50 60Figura 1. Cromatograma <strong>da</strong> mistura <strong>de</strong> monómeros <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> <strong>da</strong> cortiça. Tempos <strong>de</strong> retenção ei<strong>de</strong>ntificação dos principais monómeros:min13.33 – Glicerol23.15 – 1,12-do<strong>de</strong>canodiol (padrão interno para o glicerol)30.82 – Ácido 12-hidroxiocto<strong>de</strong>canóico éster metílico (padrão interno para os monómerosalifáticos)33.52 – Diácido 18C 9-insaturado34.01 – Hidroxiácido 18C 9-insaturado39.27 – Diácido 18C 9-epóxido39.59 – Hidroxiácido 18C 9-epóxido41.91 – Diácido 18C 9,10-diol42.15 – Hidroxiácido 18C 9,10-diol46.01 – Diácido 22C saturado46.49 – Hidroxiácido 22C saturadoEm relação às abundâncias relativas dos monómeros, o glicerol é um dos principaismonómeros presente na cortiça amadia (valor médio 13,2%), estando os ω-hidroxiácidos(36,8%) em teores superiores aos α,ω-diácidos (29,6%). A variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> nos teores dosmonómeros <strong>da</strong>s várias cortiças amadias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s é relativamente gran<strong>de</strong>, sendo os <strong>de</strong>sviospadrão mais elevados relativos ao α,ω-diácido epóxido, ao glicerol e ao ω-hidroxiácidoepóxido (Quadro 1).Foi analisa<strong>da</strong> a existência <strong>de</strong> correlação entre os monómeros <strong>de</strong> forma agrupa<strong>da</strong>, em função<strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia (Quadro 2). Foram agrupados os monómeros em conjuntos, glicerol,α,ω-diácidos e ω-hidroxiácidos, e os pares homólogos com a mesma substituição a meio <strong>da</strong>ca<strong>de</strong>ia, saturados, insaturados, epóxido e diol. Observou-se uma forte correlação negativa2


(assinala<strong>da</strong> a negrito no Quadro 2) entre os monómeros epóxido e o glicerol (-0,73), entre osmonómeros saturados e os epóxido (-0,62) e entre os monómeros diácido e o glicerol (-0,60).A correlação sendo negativa, significa que quando aumenta a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> relativa <strong>de</strong> um grupodiminui a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> do outro.Quadro 1. <strong>Variabili<strong>da</strong><strong>de</strong></strong> <strong>da</strong> composição <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> <strong>da</strong> cortiça amadia, expressa em percentagem dosprincipais monómeros analisadosMonómero Média Mínimo Máximo Desvio padrãoGlicerol 13,2 10,8 17,7 1,8Diácido 18C insaturado 6,1 4,6 8,9 1,1Hidroxiácido 18C insaturado 11,2 8,5 12,7 1,2Diácido 18C epóxido 13,9 17,5 9,6 2,4Hidroxiácido 18C epóxido 10,5 12,8 7,3 1,7Diácido 18C diol 6,3 4,2 9,2 1,6Hidroxiácido 18C diol 3,6 2,0 5,1 0,9Diácido 22C saturado 3,4 2,6 4,4 0,6Hidroxiácido 22C saturado 11,5 12,7 10,0 0,7Quadro 2. Correlação entre os principais grupos <strong>de</strong> monómeros <strong>da</strong> cortiça amadiaGlicerolSomadosdiácidosSoma doshidroxiácidosSoma dosepóxidosSomadosdióisSoma dossaturadosSoma dosinsaturadosGlicerol 1.00 -0.60 -0.55 -0.73 -0.24 0.12 0.01Soma dos diácidos -0.60 1.00 -0.21 0.24 0.29 0.15 0.10Soma dos hidroxiácidos -0.55 -0.21 1.00 0.40 0.18 0.00 0.08Soma dos epóxidos -0.73 0.24 0.40 1.00 -0.28 -0.62 -0.11Soma dos dióis -0.24 0.29 0.18 -0.28 1.00 0.47 -0.47Soma dos saturados 0.12 0.15 0.00 -0.62 0.47 1.00 -0.09Soma dos insaturados 0.01 0.10 0.08 -0.11 -0.47 -0.09 1.00Fez-se também a análise por componentes principais (PCA) dos monómeros estu<strong>da</strong>dos. Estetipo <strong>de</strong> análise estatística dá-nos o modo <strong>de</strong> distribuição <strong>da</strong>s amostras, tentando relacionardiversas variáveis entre si, mostrando quais as que mais influenciam esta mesma distribuição.Os valores são representados como uma nuvem <strong>de</strong> pontos, atravessa<strong>da</strong> por um eixo – x – aprimeira componente principal, que explica a maior percentagem <strong>da</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Perpendicularmente a esta fica o eixo dos y, a segun<strong>da</strong> componente principal. Nestes gráficos,a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é explica<strong>da</strong> sobre estas duas primeiras componentes principais que fornecem amaior parte <strong>da</strong> informação sobre a distribuição <strong>da</strong>s amostras. A Figura 2 apresenta adistribuição <strong>da</strong>s treze amostras <strong>de</strong> cortiça amadia, em função <strong>da</strong> sua composição monomérica(2 análises por amostra). A Figura 3 apresenta a distribuição dos monómeros na sua formaagrupa<strong>da</strong> e a Figura 4, a distribuição <strong>de</strong>stes últimos na forma individualiza<strong>da</strong>.3


Figura 2. Comparação entre cortiças amadias, consi<strong>de</strong>rando os monómeros individualizados: distribuição <strong>da</strong>samostras <strong>de</strong> cortiça amadia nas duas primeiras componentes principais.Figura 3. Comparação entre cortiças amadias, consi<strong>de</strong>rando os monómeros individualizados: distribuição dosmonómeros agrupados nas duas primeiras componentes principais4


Figura 4. Comparação entre cortiças amadias, consi<strong>de</strong>rando os monómeros individualizados: distribuição dosmonómeros individuais nas duas primeiras componentes principaisA gran<strong>de</strong> dispersão <strong>da</strong> nuvem <strong>de</strong> pontos ao longo <strong>da</strong>s duas primeiras componentes principaisna Figura 2, é novamente indício <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> regista<strong>da</strong> nas diferentes amostras <strong>de</strong>cortiça amadia analisa<strong>da</strong>s, relativamente à composição monomérica <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>. Cruzandoesta informação com a forneci<strong>da</strong> nas Figuras 3 e 4, <strong>de</strong>staca-se o facto <strong>de</strong> serem os monómerosepóxido (grupo mais próximo <strong>da</strong> primeira componente principal na Figura 3), os principaisresponsáveis pela variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> observa<strong>da</strong>, em particular o diácido epóxido (Figura 4).Este trabalho mostrou a gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> existente quanto às abundâncias relativas dosprincipais constituintes <strong>da</strong> <strong>suberina</strong> à semelhança <strong>de</strong> resultados obtidos com outras técnicas(Bento et al. 2001).As correlações observa<strong>da</strong>s entre grupos <strong>de</strong> monómeros (nomea<strong>da</strong>mente entre os monómerosepóxido e o glicerol, entre os monómeros saturados e os epóxidos e entre os monómerosdiácido e o glicerol) sugerem que exista alguma forma <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre eles naestrutura <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>. A variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> observa<strong>da</strong> na estrutura <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>, <strong>de</strong>ixa supor tambémque as próprias características <strong>da</strong> cortiça possam <strong>de</strong> algum modo ser influencia<strong>da</strong>s pelacomposição <strong>da</strong> <strong>suberina</strong>.Referências BibliográficasGraça, J. e Pereira, H. (2000). Methanolysis of bark suberins: analysis of glycerol and acidmonomers. Phytochemical Analysis, 11:45-51.Bento, M., Pereira, H., Cunha, M., Moutinho, A., van <strong>de</strong>r Berg, K. and Boon, J. (2001). Astudy of variability of suberin composition in cork from Quercus suber L. using thermallyassisted transmethylation GC-MS. Journal of Analytical and Applied Pyrolysis, 57:45-55.Trabalho financiado pelo Projecto POCTI AGR/46419/2002 e incluído nas activi<strong>da</strong><strong>de</strong>s doCentro <strong>de</strong> Estudos Florestais-BioPol .5

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!