Contacto<strong>de</strong>senvolvimento, se revela, porém, <strong>de</strong>sequilibrada e fonte <strong>de</strong> graves consequênciaspara ambos.É assim que po<strong>de</strong>mos falar da emergência, na nossa época, <strong>de</strong> um pensamento ediscurso ecológicos que, segundo Carvalho (cf.1994) preten<strong>de</strong>ndo constituir-senum mo<strong>de</strong>lo ou paradigma <strong>de</strong> interpretação do real, transversalmente aos nossossistemas habituais <strong>de</strong> interpretação, propõe, <strong>de</strong> uma forma contextualizada no<strong>de</strong>senvolvimento e nas outras problemáticas gerais das socieda<strong>de</strong>, uma reflexãoprofunda sobre as relações homem / natureza em nome <strong>de</strong> uma cidadania global –natural e humano.O mo<strong>de</strong>lo ecológico enquanto fundamento <strong>de</strong> uma educação paracidadania globalApresentaremos aqui, resumidamente, algumas propostas através das quais omo<strong>de</strong>lo ecológico propõe reconstruir o diálogo homem/natureza, criando as basespara uma cidadania global:i) Uma superação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ciência e mesmo <strong>de</strong> cientificida<strong>de</strong> que amo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> nos legou, através <strong>de</strong> um processo complexo <strong>de</strong>reconstrução do discurso legitimador que substitui a lógica doconfronto e do conflito por uma lógica que assenta na solidarieda<strong>de</strong> ena cumplicida<strong>de</strong> 53 . Neste sentido a tentativa <strong>de</strong> comunicar com anatureza, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com ela quem somos e a que título participamosda sua evolução, constituem a significação mais profunda quepo<strong>de</strong>mos atribuir à activida<strong>de</strong> científica.ii) Uma superação da concepção da natureza como sendo regida por leisfixas, universais imutáveis através da consi<strong>de</strong>ração da complexida<strong>de</strong>,do dinamismo, da imprevisibilida<strong>de</strong> da mesma, on<strong>de</strong> a novida<strong>de</strong> e oacaso tenham lugar. Esta nova maneira <strong>de</strong> encarar a naturezainviabiliza a concepção da mesma como uma realida<strong>de</strong> a serdominada, tornado possível a sua visão como, um mundo aberto aoqual pertencemos e em cuja construção e manutenção temos aobrigação <strong>de</strong> colaborar;iii) Uma nova i<strong>de</strong>ia do conhecimento não como algo acabado ou <strong>de</strong>finitivomas como algo em construção; sempre imperfeito, insuficiente efugidio ao controlo; sempre relativo e diverso, o que implica diálogo ecirculação da informação como espelhos da <strong>de</strong>mocratização social,natural, científico-cultural.53 Prigogine apud Damas 1997: 41116
Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Politicas da Educação e do Comportamentoiv) Uma nova i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento entendida não apenas comocrescimento económico mas adquirindo perspectiva como aspropostas pelos conceitos <strong>de</strong> eco<strong>de</strong>senvolvimento 54 e<strong>de</strong>senvolvimento sustentável 55 .v) Uma renovação do paradigma humanista 56 admitindo que oantropocentrismo afirmado pelo humanismo clássico e re<strong>de</strong>finidopelo renascentista constitui um valor da nossa civilização que a<strong>de</strong>marca do panteísmo ou panaturalismo mítico e do teocentrismomedieval e que os i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> consciência e vonta<strong>de</strong> da acçãohumana a ele inerentes são largamente ampliados pelos <strong>de</strong>54 O conceito <strong>de</strong> eco<strong>de</strong>senvolvimento foi lançado em 1972 na conferência sobre o meio ambienterealizado em Estocolmo. Este conceito apresenta-nos como i<strong>de</strong>ias chaves para o seu entendimento, adimensão dinâmica da natureza, o enquadramento da problemática ecológica <strong>de</strong>ntro do contexto dasatisfação das necessida<strong>de</strong> dos seres vivos e do <strong>de</strong>senvolvimento em geral em nome do equilíbrioeconómico e ecológico da nossa socieda<strong>de</strong>.Carvalho afirma-se num tal âmbito, o primado das necessida<strong>de</strong>s dos seres vivos em geral, semprivilégios para qualquer um <strong>de</strong>les, a par do respeito pelas gerações futuras, sempre em nome <strong>de</strong> umrelacionamento equilibrado e renovado do homem com a natureza (cf. Carvalho, 1994: 195)55 O conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável está estreitamente ligado ao <strong>de</strong> crescimento económicoe a questão dos <strong>de</strong>sequilíbrios tanto económicos (pobres e ricos) como ecológicos.Nesta perspectiva este conceito propõe um <strong>de</strong>senvolvimento em harmonia com as limitaçõesecológicas do nosso planeta. Isto é sem <strong>de</strong>struir o ambiente para que todos os seres vivos tenham achance <strong>de</strong> existir e viver bem, <strong>de</strong> acordo com as suas necessida<strong>de</strong>s com especial <strong>de</strong>staque para asgerações vindouras;Um equilíbrio entre a tecnologia e o ambiente rumo a uma equida<strong>de</strong> e uma maior justiça social.“Desenvolver <strong>de</strong> uma forma sustentável significa procurar conciliar o <strong>de</strong>senvolvimento económico epreservação ambiental e ainda melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e o fim da pobreza.”Http.://educar.sc.br/biologia/textos/m_a_tx2.html).56 Fundamentando numa atitu<strong>de</strong> filosófica que faz do homem o valor supremo e vê nele a medida <strong>de</strong>todas as coisas, o antropocentrismos e logo ai o humanismo têm sido recolocados com uma certaacuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da problemática ecológica. O pensamento ecológico levanta a questão da doutrinahumanística ou melhor do humanismo tradicional ter alimentado uma visão do homem atravessadopor uma lógica <strong>de</strong> individualismo e liberda<strong>de</strong> acompanhado <strong>de</strong> um pensamento <strong>de</strong> submissão danatureza à sua vonta<strong>de</strong> subjectivida<strong>de</strong>. Esta visão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que com o humanismo, o homemenquanto sujeito-rei, terá elevado ao lugar ocupado pela natureza no pensamento mítico e por Deusno pensamento teocentrismo medieval.Carvalho, A. (1996: 188-189) refere a esta problemática ao afirmar que “uma longa e persistenteconfusão, inaugurada por Hei<strong>de</strong>gger, entre o humanismo e o individualismo e por sua vez entre oindividualismo e o subjectivismo que faz com que do combate a estes dois reducionismoantropológicos, resulte numa culpabilização e um ataque sistemático ao humanismo enquanto suportei<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong> uma subjectivida<strong>de</strong> que aparece como activida<strong>de</strong>, como instancia cuja essência inclui oprojecto <strong>de</strong> submissão do real. Porem, conclui que “a existência <strong>de</strong> uma esfera normativa supraindividual constitui a dimensão essencial do humanismo” e, portanto, segundo ele, é in<strong>de</strong>fensável aconcepção <strong>de</strong> um indivíduo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tudo, bem como <strong>de</strong> um sujeito fechado e egocêntrico(…). (i<strong>de</strong>m.: 199)117