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Folha de Sala - Culturgest

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Cena 14O CAMINHO PARA AS INVASÕESESTAVA ABERTO. DEPOIS DA ÁUSTRIA,SEGUIU-SE A CHECOSLOVÁQUIA, APOLÓNIA, A DINAMARCA, A NORUEGA,A HOLANDA, A BÉLGICA, A FRANÇA, AROMÉNIA, A BULGÁRIA E A GRÉCIA.Notas1. PrefácioA Resistível Ascensão <strong>de</strong> Arturo Ui,escrita na Finlândia em 1941, representauma tentativa para tornar a ascensão <strong>de</strong>Hitler inteligível ao mundo capitalista,transpondo essa ascensão para umaesfera que lhe é perfeitamente familiar.O verso branco ajuda a apreciar oheroísmo das personagens.2. ComentáriosHoje em dia ridicularizar os gran<strong>de</strong>scriminosos políticos, vivos ou mortos,é normalmente consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>sapropriadoe não construtivo. Diz-se que atéa gente comum é sensível neste aspecto,não só porque também eles estavamimplicados nos crimes em questão masporque aqueles que sobreviveram entreas ruínas não conseguem rir <strong>de</strong>stascoisas. Também não serve <strong>de</strong> muitoesmurrar portas abertas (e já há muitasassim entre as ruínas): apren<strong>de</strong>u-‐se alição, porquê então continuar a martelálaàs pobres criaturas? Se por outro ladonão se apren<strong>de</strong>u a lição, é arriscadoencorajar um povo a rir-se <strong>de</strong> umpotentado <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> já ter por uma vezfracassado quando se tratava <strong>de</strong> o levarsuficientemente a sério; e por aí adiante.É relativamente fácil afastar asugestão <strong>de</strong> que a arte tem <strong>de</strong> tratara brutalida<strong>de</strong> com pinças; que se <strong>de</strong>ve© Henrique Figueiredo<strong>de</strong>dicar a regar as frágeis sementes daconsciência; que <strong>de</strong>via ensinar a usara mangueira <strong>de</strong> jardim aos que antesseguravam em bastões <strong>de</strong> borracha, etc.Também é possível objectar ao termo"povo", usado para significar algo "maiselevado" do que a população, e mostrarcomo remete para o conceito <strong>de</strong> mámemória <strong>de</strong> Volksgemeinschaft, ou "asensação <strong>de</strong> ser um povo", que une carrascoe vítima, patrão e empregado. Masisto não quer dizer que seja aceitávela sugestão <strong>de</strong> que a sátira não se <strong>de</strong>veintrometer em assuntos sérios. As coisassérias são a sua preocupação específica.Os gran<strong>de</strong>s criminosos políticos<strong>de</strong>vem ser completamente <strong>de</strong>smascaradose expostos ao ridículo. Porque nãosão nada gran<strong>de</strong>s criminosos políticos,mas autores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s crimes políticos,o que é algo <strong>de</strong> muito diferente.Não há razão para ter medo <strong>de</strong>truísmos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam verda<strong>de</strong>. Seo colapso dos empreendimentos <strong>de</strong>Hitler não é prova <strong>de</strong> que era estúpido,a sua escala também não é garantia<strong>de</strong> que fosse um gran<strong>de</strong> homem.No geral, as classes que controlam oestado mo<strong>de</strong>rno servem-se <strong>de</strong> pessoastremendamente medianas para os seusempreendimentos. Nem sequer noimportantíssimo campo da exploraçãoeconómica é necessário algum talentoespecial. Um trust <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> marcoscomo o I. G. Farben serve-se da inteligênciaexcepcional apenas quando apo<strong>de</strong> explorar; os exploradores propriamenteditos, uma mão-cheia <strong>de</strong> pessoasque na sua maioria chegaram ao po<strong>de</strong>r<strong>de</strong>vido ao berço, têm uma certa astúciae brutalida<strong>de</strong> enquanto grupo mas nãovêem inconvenientes comerciais na falta<strong>de</strong> educação, nem sequer na presençaentre eles do ocasional indivíduo amável.Têm a tratar-lhes dos assuntos políticospessoas muitas vezes marcadamentemais estúpidas do que eles. (…) É aamplitu<strong>de</strong> dos seus empreendimentosque dá a tais pessoas a sua aura <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>za. Mas esta aura não os tornapor isso mais eficazes, já que significaapenas que há uma vasta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pessoas inteligentes disponíveis, com oresultado <strong>de</strong> que as guerras e as crisesse tornam exibições da inteligência dapopulação inteira.Para além disto é um facto que ocrime em si provoca frequentementeadmiração. Nunca ouvi a pequenaburguesia da minha cida<strong>de</strong>-natal falar <strong>de</strong>outro modo que não com um entusiasmorespeitoso sobre um homemchamado Kneisel, que era um assassinoem série, <strong>de</strong> tal modo que ainda hoje melembro do seu nome. (…)É esta reverência por assassinos quetem <strong>de</strong> ser afastada. A simples lógicaquotidiana nunca se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar embasbacarassim que se põe a passear pelosséculos; aquilo que se aplica às pequenassituações <strong>de</strong>ve também aplicar-se àsgran<strong>de</strong>s. O pequeno velhaco a quem osgovernantes permitem que se torne umvelhaco em gran<strong>de</strong> escala po<strong>de</strong> ocuparuma posição especial na velhacaria, masnão na nossa atitu<strong>de</strong> face à história.Enfim, há verda<strong>de</strong> no princípio <strong>de</strong> quea comédia é menos susceptível que atragédia <strong>de</strong> omitir levar suficientementea sério o sofrimento humano.EpílogoPor isso aprendam a ver e não a fitar.Aprendam a agir e não falar, só falar.Por um <strong>de</strong>stes foi quase o mundoconquistado!Mas os povos reagiram, foi controlado.Não se julguem porém livres do perigo –Inda dá frutos a cova <strong>de</strong>ste inimigo!

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