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Folha de sala - Culturgest

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No centro, a permuta ou a transformaçãodos elementos (que po<strong>de</strong>m, aliás,ser estruturas compreendidas numaestrutura) é interdita. Pelo menos,sempre foi interdita (utilizo esta palavra<strong>de</strong> propósito). Pensou-se sempre que ocentro, que por <strong>de</strong>finição é único, constituía,numa estrutura, precisamenteaquilo que, impondo a estrutura, escapaà estruturalida<strong>de</strong>. Eis porque, para umpensamento clássico da estrutura, ocentro po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado, paradoxalmente,<strong>de</strong>ntro da estrutura e fora daestrutura. Está no centro da totalida<strong>de</strong>e, no entanto, uma vez que o centronão lhe pertence, a totalida<strong>de</strong> tem o seucentro noutro ponto. O centro não é ocentro.Jacques Derrida, “A estrutura, o signoe o jogo no discurso das ciênciashumanas”[Luis Buñuel] dizia aos atores o mínimopossível, e reduzia as suas indicaçõessobretudo a movimentos físicos (“vaipara a direita”, “vai pelo corredor eentra nessa porta”, etc.). Recusava-sefrequentemente a respon<strong>de</strong>r às perguntasdos atores e era conhecido porsimplesmente <strong>de</strong>sligar o seu aparelho<strong>de</strong> audição no plateau.Artigo da Wikipedia sobre Luis BuñuelNão resta na sua mente mais nenhumadúvida sobre o lugar on<strong>de</strong> está, quemela é. É uma requerente diante doportão. A viagem que a trouxe aqui, aeste país, a esta cida<strong>de</strong>, que parecia terchegado ao fim quando o autocarroparou e a sua porta se abriu para apraça cheia <strong>de</strong> gente, não era o fim <strong>de</strong>tudo. Agora começa um processo <strong>de</strong>outro tipo. Exige-se <strong>de</strong>la um ato, umaqualquer afirmação prescrita mas in<strong>de</strong>finida,antes que a julguem boa e possapassar. Mas é este quem a vai julgar,este homem vermelhusco, entroncado,em cujo uniforme suspeito (militar?guarda civil?) ela não consegue <strong>de</strong>tetarnenhuma marca <strong>de</strong> patente mas sobrequem a ventoinha, não virando nempara a esquerda nem para a direita, <strong>de</strong>rramauma frescura que ela <strong>de</strong>seja quefosse <strong>de</strong>rramada sobre si?“Sou uma escritora”, diz ela. “Éprovável que não tenham ouvido falar<strong>de</strong> mim aqui, mas eu escrevo, ou escrevi,sob o nome Elizabeth Costello. A minhaprofissão não é acreditar, só escrever.Não me diz respeito. Faço imitações,como diria Aristóteles.”Faz uma pausa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ixa sair afrase seguinte, a frase que <strong>de</strong>terminaráse este vai ser o seu juiz, a pessoa certapara a julgar, ou, pelo contrário, meramenteo primeiro <strong>de</strong> uma longa linhaque leva até sabe-se lá que funcionáriosem traços distintivos em que chancelariaem que castelo. “Posso fazer umaimitação da crença, se quiser. Seriasuficiente para os seus propósitos?”J. M. Coetzee, Elizabeth CostelloTatebitati – Diz-se da pessoa que temdificulda<strong>de</strong>s em falar ou pronunciarcertas letras ou palavras.Eduardo Nobre, Dicionário <strong>de</strong> CalãoCão SolteiroNão é todos os dias que conhecemosuma pessoa que amamos. E encontrá--las na mesma cida<strong>de</strong> em que se vivepo<strong>de</strong>-se dizer que é raro! Antes <strong>de</strong> nosconhecermos eu já era uma espécie <strong>de</strong>admirador secreto gogoliano daquelecão solteiro. Seguia-lhes as pegadase os latidos. Quis o <strong>de</strong>stino que asconhecesse num teatro on<strong>de</strong> ia estrearo meu primeiro espetáculo (curiosamentetratava-se <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> Gogol),quando me ajudaram a arranjar a ficha<strong>de</strong> um can<strong>de</strong>eiro, porque perceberamque eu estava <strong>de</strong>sesperado com a minhafalta <strong>de</strong> jeito para dar fim àquilo. Masembora o que eu escrevo agora seja realno sentido em que aconteceu, o meuobjetivo é totalmente metafórico: alâmpada que me ajudaram a acen<strong>de</strong>r eraa que estava <strong>de</strong>ntro da minha cabeça, acabeça <strong>de</strong> alguém que ainda se comportavasegundo procedimentos artísticosmiméticos. Porque esse celibatário eramais do que um cachorro, um amanteou um professor: sem elas tenho acerteza <strong>de</strong> que não saberia o que querdizer estar vivo. Cão Solteiro é paramim o mais importante companheiro domundo. You pet it is!André e. TeodósioAndré e. TeodósioArtist, reference ornithologist, falsebiographer, 35 years old, ist Slim (factsdon’t) Fit (him): Art over Life. Mindover matter (here he comes). Headover Heels (he’s winning). A over Der(he leaves). Game over (we lose) – thismeans we really love him.André e. Teodósio é um <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iro:acorda e põe-se a pensar em coisas difíceis<strong>de</strong> executar num espetáculo teatral<strong>de</strong> estratégia mimética: o cair da noite,morrer, entradas e saídas narrativas,enfim, todo um pesa<strong>de</strong>lo para qualquerpessoa que queira fazer teatro e pensarmuito.Aqui os mecanismos confirmados doteatro não são rejeitados mas exauridose abandonados <strong>de</strong>pois à sua sorte / à suamorte – o ator é aquele que age numaficção hiper-real e <strong>de</strong>senvolve o seudiscurso através da citação, da anunciação,da enunciação, da nomeação,da enumeração ou <strong>de</strong> qualquer outraforma hiperbólica, fugindo a sete pés dametáfora – O corpo é o limite. (The skyis the limit) – Qualquer objeto imediatamentereconhecível é passível <strong>de</strong> serapropriado e concorre diretamente paraa criação <strong>de</strong> uma estética projetada noFuturo em esperança – O futuro é aquie agora, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar –O insulto é um meio <strong>de</strong> expressão comoqualquer outro. O Mal existe. Há quelidar com ele — A alma é uma mais-valia(mais valia estar quieta). Procura-se oSublime (um instantinho <strong>de</strong> beleza).Cão Solteiro89

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