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Forte Príncipe da Beira - FunCEB

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Localizado à margem direitado Rio Guaporé, no Estado de Rondônia,desabrochando no meio <strong>da</strong>selva amazônica, ali está a majestosa relíquia<strong>da</strong> arquitetura militar luso-brasileira:o Real <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong>.Percorrendo o que resta de suas antigasinstalações, hoje em ruínas, cuja construçãocoube a D. Luiz de Albuquerque MelloPereira e Cáceres, iniciamos esta reportagemhomenageando nossos antepassados que,em região inóspita, erigiram esse marco <strong>da</strong>soberania nacional em terra tão distante.Suas muralhas testemunham aousadia e a perfeição dos seus construtores.Coronel de InfantariaPaulo Roberto Rodrigues TeixeiraRefletem a vontade e a determinação decorações cheios de fé, que acreditavam no seutrabalho, dispostos a enfrentar a adversi<strong>da</strong>de ea agressivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> selva: os animais selvagens,as doenças tropicais, a alimentaçãodifícil e, até mesmo, as ameaças de confrontocom povos vizinhos.Esse forte é símbolo <strong>da</strong> vontade nacional.Retrata bem a presença do homem e o seuesforço para preservar a integri<strong>da</strong>de territorial<strong>da</strong> colônia portuguesa na América.ANO II / Nº 445


HistóriaFoi durante o reinado de D. José I,Rei de Portugal, que o estadista, ministro epersonagem de destaque do governo,Sebastião José Carvalho e Mello, Marquêsde Pombal, lançou as bases <strong>da</strong> colonização <strong>da</strong>Amazônia. Decisões estratégicas de grandealcance foram toma<strong>da</strong>s, destacando-se a criação<strong>da</strong> Capitania de Mato Grosso e a construçãode um ver<strong>da</strong>deiro cordão de fortes e fortins,a fim de barrar as vias de penetração quedo oeste atingiam a região central <strong>da</strong> Amazônia.Essas fortalezas assinalaram e asseguraram aexpansão do território brasileiro para o nortee para o oeste. O <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong> erauma delas. Com a mesma finali<strong>da</strong>de,o <strong>Forte</strong> de Coimbra, localizado no sul deMato Grosso no barranco oeste doRio Paraguai, desempenhou ativo papel emoperações de guerra, defrontando, valentemente,forças poderosas. A primeira operação foiem 1801, quando combateu os espanhóis,a segun<strong>da</strong>, em 1864, reagindo heroicamente aosinvasores paraguaios. Também o Fortimde Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição, situado nasproximi<strong>da</strong>des do <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong>,no Rio Guaporé, por duas vezes, enfrentouos castelhanos, vencendo-os, ain<strong>da</strong> quecom menor poder de combate.O Real <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong>, baluarte<strong>da</strong> longínqua fronteira, impôs, por suaimponência e austeri<strong>da</strong>de, o respeito e o temorao inimigo, mantendo-se intocável46 ANO III / Nº 4


durante todo o período <strong>da</strong> história em quehouve ameaça externa.ConstruçãoA pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> construçãofoi lança<strong>da</strong> em 20 de junho de 1776 e as obrasforam concluí<strong>da</strong>s em agosto de 1783. Oprimeiro coman<strong>da</strong>nte foi o Capitão de DragõesJosé de Mello <strong>da</strong> Silva Villena. D. Luiz deAlbuquerque Mello Pereira e Cáceres criou essebaluarte, visando inicialmente à consoli<strong>da</strong>çãodo domínio português na calha doRio Guaporé, diante <strong>da</strong> ameaça expansionistado Vice-Reinado do Peru. A idéia não era umaconstrução similar a do <strong>Forte</strong> Coimbra,mas sim uma ver<strong>da</strong>deira fortaleza com todosos requisitos <strong>da</strong> Engenharia Militar. Para talempreita<strong>da</strong> foi escolhi<strong>da</strong> uma lomba <strong>da</strong> Serrados Parecis, dois quilômetros a montante deConceição, na margem direita do Rio Guaporé.A falta de recursos, as longas distâncias,a aproximação dos espanhóis, bem como to<strong>da</strong>sas dificul<strong>da</strong>des foram registra<strong>da</strong>s por D. Luizde Albuquerque quando disse:“A soberania e o respeito de Portugalimpõem que neste lugar se erga um forte, e isso éobra a serviço dos homens de El-Rei, nossosenhor e, como tal, por mais duro, por maisdifícil e por mais trabalho que isso dê... é serviçode Portugal. E tem que se cumprir.”O Real <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong> éum quadrado de conformi<strong>da</strong>de com o sistemaVauban ou de praças, que utiliza a fortificaçãoANO III / Nº 447


de bastiões, possuindo um perímetro de 970 metros, commuralhas de dez metros de altura, quatro baluartes, sendoca<strong>da</strong> um armado com 14 canhoneiras. Em torno do forte,um longo e profundo fosso obrigava o ingresso através somente<strong>da</strong> ponte elevadiça que conduzia à monumental eúnica porta com cerca de três metros de altura, aberta namuralha norte. No seu interior, existiam 14 residências, destina<strong>da</strong>sao coman<strong>da</strong>nte e aos demais oficiais, uma capela,um armazém e depósitos.As pedras usa<strong>da</strong>s na construção, inicialmente, foramtrazi<strong>da</strong>s de Belém, por via fluvial (rios Amazonas, Madeira e48ANO III / Nº 4


Guaporé); posteriormente, passaram a virde Albuquerque ou de Corumbá, em MatoGrosso, subindo a calha do Rio Paraguaie seus afluentes <strong>da</strong> margem direita e <strong>da</strong>lieram transporta<strong>da</strong>s por terra. Essas pedraspercorriam mais de mil quilômetros antesde atingir a área do forte. A mão-deobrafoi trazi<strong>da</strong> do Rio de Janeiro e deBelém. Mais de 1.200 homens, entre elesaproxima<strong>da</strong>mente mil escravos, trabalharamna construção, cujo término ocorreuseis anos depois, em agosto de 1783.As peças de artilharia levaram muitotempo para chegar ao destino. Dadosconfirmados em documentos registramque quatro de seus canhões – os de bronze,calibre 24 – foram enviados do Parásomente em 1825, sendo transporta<strong>da</strong>spelo Rio Tapajós, uma viagem que levoucinco anos para se completar.ANO III / Nº 449


AbandonoExiste um vazio histórico de mais de umséculo, após o término do primeiro comando doforte. Está registrado apenas que, em 1889, ano<strong>da</strong> Proclamação <strong>da</strong> República, o velho forte foidesativado, por medi<strong>da</strong> de economia do governorecém-instalado. A partir desta <strong>da</strong>ta, tiveram inícioos saques e as depre<strong>da</strong>ções, tanto por brasileirosquanto por bolivianos. Tudo que pudesse ser50ANO III / Nº 4


aproveitado e carregado foi retiradopelos que por lá transitaram. Canhõesforam espalhados ou até mesmo vendidospara navios ingleses em Antofagasta,na costa do Pacífico.RedescobertaEm 1914, Rondon, em suas exploraçõespela região, encontrou vestígios<strong>da</strong> fortificação e constatou o abandonodo rico e histórico patrimônio,já <strong>da</strong>nificado e depre<strong>da</strong>do. Restava apenasruína do que fora o majestoso Real<strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong>. Em 1930, ogeneral retornou em inspeção ao mesmolocal, deixando registra<strong>da</strong> sua passagemem uma placa alusiva à <strong>da</strong>taem que foi criado um contingenteespecial de fronteira.Entra<strong>da</strong> principal do <strong>Forte</strong>,vendo-se o General Rondone um grupo deoficiais e sol<strong>da</strong>dos em24 de abril de 1930Desde a passagem de Rondonpela região, o Exército esteve semprepresente. Primeiro, com o 4 o Pelotãode Fronteira; em 1954, com o 7 o Pelotãode Fronteira e, em 1977, com o 3 oPelotão Especial de Fronteira. Em1950, o monumental forte foi tombadopelo Instituto Patrimônio Históricoe Artístico Nacional (IPHAN).ANO III / Nº 451


Atualmente, o 1 o Pelotão de Infantaria deSelva Destacado, pertencente ao 3 o Batalhão <strong>da</strong>17 a Briga<strong>da</strong> de Infantaria de Selva, é o responsávelpela preservação e manutenção desse riquíssimopatrimônio histórico. Cinqüenta eoito homens que compõem o pequeno efetivodo pelotão lá estão, conscientes <strong>da</strong> missão devigiar a linha de fronteira, como fizeram asguarnições do passado, nas muralhas e nos baluartesdo <strong>Forte</strong>. Todos prontos para informare defendê-lo de qualquer tentativa contra a integri<strong>da</strong>dedo território nacional.Como fecho desta reportagem, transcrevemosa frase fixa<strong>da</strong> no pavilhão de comandodo pelotão, de autoria do General Rodrigo OtávioJordão Ramos, ex-coman<strong>da</strong>nte do Grupamentode Elementos de Fronteira (GEF), quesoube entender a grandiosi<strong>da</strong>de e responsabili<strong>da</strong>dedos que servem, trabalham e vivem naquelaregião, mas que não se esqueceu <strong>da</strong>quelesque pagaram um alto preço para conquistá-la.Coman<strong>da</strong>nte do Pelotão, 1 o Ten Gusmão,acompanhando o Re<strong>da</strong>tor-Chefe“Árdua é a missão de desenvolvere defender a Amazônia, muito mais difícil,porém, foi a dos nossos antepassadosem conquistá-la e mantê-la.”General Rodrigo OtávioVista parcial <strong>da</strong>s instalações do 1 o Pel de Fzo de Selva destacado,vendo-se ao fundo as ruínas do <strong>Forte</strong> Príncipe <strong>da</strong> <strong>Beira</strong>52 ANO III / Nº 4

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