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Edima Aranha Silva - Campus de Três Lagoas

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PRODUÇÃO DE MORADIAS E EXPANSÃO DA PERIFERIA:NOVA DINÂMICA TERRITORIAL URBANA EM TRÊS LAGOAS/MS *ARANHA-SILVA, <strong>Edima</strong> **IntroduçãoO propósito <strong>de</strong>ste estudo é compreen<strong>de</strong>r e revelar a forma como a produção <strong>de</strong>moradias contribui para a expansão da periferia da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>/MS, por conseguinte,promove sua dinâmica territorial, em que atualmente, ocorrem intensas mudanças sociais,econômicas e políticas pela estruturação <strong>de</strong> um Parque Industrial.Simultâneo ao recente processo <strong>de</strong> industrialização aumentou a <strong>de</strong>manda porserviços públicos e moradias com a chegada <strong>de</strong> pessoas em busca <strong>de</strong> trabalho, e que, somados aodéficit habitacional já existente, tem pressionado o po<strong>de</strong>r público a <strong>de</strong>stinar investimentos paramelhoria da infraestrutura, dos equipamentos urbanos e, com mais vigor, para <strong>de</strong>finir nossosespaços para construção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> moradias.Nesse sentido, estão sendo criados novos loteamentos para construção <strong>de</strong>condomínios horizontais fechados e <strong>de</strong> conjuntos habitacionais populares, para moradores <strong>de</strong>classes sociais distintas e diferenciadas. Com isso, a periferia se expandiu e os problemasurbanos se intensificaram, seja pela precarieda<strong>de</strong> e falta <strong>de</strong> acesso aos serviços públicos, peladistância dos locais <strong>de</strong> trabalho, seja pela incapacida<strong>de</strong> em pagar para morar, seja ainda, pela esuper valorização da terra e intensa especulação imobiliária.A (re)estruturação, requalificação, (re)centralização <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ocorrersimultaneamente <strong>de</strong>vido o seu processo <strong>de</strong> expansão, o que torna o território urbano maiscomplexo, fragmentado e a interação social se dá por meio das relações interpessoais e coletivas.Os procedimentos metodológicos pautaram-se na revisão da literatura pertinente àtemática da pesquisa, cujo construto teórico possibilitou o entendimento da tessitura do território,bem como o papel e as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> diferentes agentes sociais que interagem <strong>de</strong> modoantagônico e combinado, com finalida<strong>de</strong>s específicas no processo <strong>de</strong> (re)fazer a cida<strong>de</strong>,territorializando alguns, <strong>de</strong>sterritorializando muitos e <strong>de</strong>lineando as multiterritorialida<strong>de</strong>surbanas. E ainda, evi<strong>de</strong>nciou-se que o papel do Estado, enquanto agente social, ao fazer e refazera cida<strong>de</strong> privilegia os atores sociais <strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r e do capital.* Trabalho vinculado a uma pesquisa financiada pela FUNDECT/MS e realizada junto ao LETUR/UFMS –Laboratório <strong>de</strong> Estudos Urbanos e do Território.** Doutora em Geografia, Professora do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação/Mestrado em Geografia/UFMS; Tutora PETGeografia/UFMS, Bolsista/FNDE/MEC – edimaranha@gmail.com403


Porque morar é precisoOs lotes <strong>de</strong>stinados às moradias populares nas cida<strong>de</strong>s brasileiras são muitopequenos, infringem a legislação urbanística, o que resulta na construção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>shabitacionais com área construída reduzidíssima, como pon<strong>de</strong>ra Villaça (1986, p. 61): “A cida<strong>de</strong>crescerá <strong>de</strong> forma caótica, sem o zoneamento ou a regulamentação dos loteamentos. Ao mesmotempo, entretanto, e contraditoriamente, se reconhece que, se os lotes <strong>de</strong>stinados aos loteamentospopulares for produzido segundo os requisitos da lei, ele será caro <strong>de</strong>mais para os pobres”.A falta <strong>de</strong> moradia para uma parcela significativa da população urbana força aorganização <strong>de</strong> movimentos pró moradias, por meio <strong>de</strong> ocupações <strong>de</strong> terras urbanas ociosas, sejapública ou privada, por meio <strong>de</strong> casas improvisadas, muitas vezes em áreas <strong>de</strong> risco, comoencostas, fundos <strong>de</strong> vale, antigos aterros sanitários ou lixões. E ainda, a ocupação se dá emprédios con<strong>de</strong>nados pela <strong>de</strong>fesa cível e que oferecem risco <strong>de</strong> morte para os ocupantes.Uma das características das <strong>de</strong>ficiências no or<strong>de</strong>namento territorial urbano é onotável crescimento <strong>de</strong> favelas ou <strong>de</strong> moradias improvisadas, tendo como conseqüências sociaisa explosão da violência urbana, e que se atribui, muitas vezes, às li<strong>de</strong>ranças populares aresponsabilida<strong>de</strong> por aquilo que é resultado <strong>de</strong> um processo alimentador da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social eda concentração <strong>de</strong> terra, renda e po<strong>de</strong>r (MARICATO, 1996).Ora, o solo e as benfeitorias são atributos do espaço urbano dos quais nenhumindivíduo po<strong>de</strong> dispensar. Não existe sem ocupar espaço; não se po<strong>de</strong> trabalhar sem ocupar umlugar e fazer uso <strong>de</strong> objetos materiais aí localizados; e não se po<strong>de</strong> viver sem moradia <strong>de</strong> algumaespécie (HARVEY, 1980). E é essa necessida<strong>de</strong> incondicional que acirra a disputa pela terraurbana, tornando-a uma mercadoria, com valor <strong>de</strong> troca e não valor <strong>de</strong> uso, ou seja, a terraurbana não cumpre seu papel social.Segundo Corrêa (1995, p.21), na socieda<strong>de</strong> capitalista não há interesses dasdiferentes frações do capital envolvidas na produção <strong>de</strong> imóveis em “produzir habitaçõespopulares. Isto se <strong>de</strong>ve, basicamente, aos baixos níveis dos salários das camadas populares, faceao custo <strong>de</strong> habitação produzida capitalisticamente”.A construção barata tem sido uma exigência intrínseca ao negócio imobiliário, pois“os níveis <strong>de</strong> remuneração dos trabalhadores não permitem aluguéis elevados. Os cortiços, ascasas coletivas, a autoconstrução, os conjuntos populares são, portanto, essenciais para areprodução da força <strong>de</strong> trabalho a baixos custos” (BONDUKI, 1998, p. 39).Para Lefebvre (1999), a questão da habitação popular po<strong>de</strong> ser apreendida à luz do<strong>de</strong>senvolvimento capitalista, que materializa na cida<strong>de</strong> os processos <strong>de</strong> trabalho e temimplicações severas na dinâmica territorial urbana.404


Nesse sentido, a <strong>de</strong>finição da proprieda<strong>de</strong> da terra não ocorre apenas no espaçoagrário, mas também no espaço urbano, e, com a intensificação do processo <strong>de</strong>urbanização/industrialização, esta questão se intensifica (RODRIGUES, 1998).A intervenção do Estado direta ou indiretamente, se torna necessária. Indiretamente,através do financiamento aos consumidores a as firmas construtoras, ampliando a <strong>de</strong>mandasolvável e viabilizando o processo <strong>de</strong> acumulação capitalista e, diretamente, o próprio Estado é oprodutor das unida<strong>de</strong>s habitacionais.Para Gomes (2002) é inegável, no entanto, que a intervenção do Estado em termos <strong>de</strong>habitação <strong>de</strong> interesse social, possibilita algumas condições para a constituição <strong>de</strong> uma cidadaniareal, embora através <strong>de</strong>ssa intervenção se reproduza a oposição entre dominantes e dominados <strong>de</strong>forma mais complexa, compreen<strong>de</strong>ndo uma participação subordinada dos dominados.O recente programa fe<strong>de</strong>ral “Minha Casa, Minha Vida” é insuficiente do ponto <strong>de</strong>vista quantitativo, além <strong>de</strong> reproduzir a prática <strong>de</strong> periferização da pobreza, afastando ostrabalhadores do mercado <strong>de</strong> trabalho, por conseguinte, precarizando ainda mais sua vida, peloencurtamento do seu tempo e da sua renda. Dito <strong>de</strong> outro modo, gasta-se muito tempo nopercurso entre casa-trabalho, e mais, do já tão pouco, dinheiro com o transporte urbano.As políticas <strong>de</strong> urbanização planejadas e conduzidas pelo Estado, por meio <strong>de</strong>programas diversos, apenas atenuam as distorções no processo <strong>de</strong> urbanização das cida<strong>de</strong>s, poisas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais presentes têm suas raízes na própria formação social e que é <strong>de</strong>correntedas relações sociais estabelecidas entre os moradores urbanos, não apenas em nível local e noespaço <strong>de</strong> moradia, mas fundamentalmente a partir das relações <strong>de</strong> trabalho. Pressupõe que aincapacida<strong>de</strong> do Estado em formular e implementar uma política habitacional consistente sejauma das causas da formação, expansão e consolidação <strong>de</strong> soluções informais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>moradia, entre elas, o padrão periférico <strong>de</strong> crescimento da cida<strong>de</strong>.Para Rodrigues (1998), espacialmente mudam as características da habitação. Hágran<strong>de</strong> diferenciação entre as moradias dos bairros, tamanhos dos lotes, das construções, da“conservação”, <strong>de</strong> acabamento das casas, as ruas – pavimentadas ou não –, se há iluminação,esgoto, <strong>de</strong>ntre outros. Para se ter noção da segregação espacial urbana. Ao mesmo tempo, háespaços servidos <strong>de</strong> infra-estrutura e outros com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupação, mas comrarefação <strong>de</strong> serviços. Isto significa que “a diversida<strong>de</strong> não se refere apenas ao tamanho ecaracterísticas das casas e terrenos, mas à própria cida<strong>de</strong>” (I<strong>de</strong>m, p.11). É reflexo econdicionante das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, que se materializam na dinâmica territorial urbana.Há crise habitacional sempre que se consi<strong>de</strong>ra a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar doscompradores, quando o ritmo da urbanização é tanto, que o ritmo das construções <strong>de</strong> habitação406


não a acompanha. O problema da moradia é concreto para quem conta com recursos limitados,pois a oferta <strong>de</strong> imóveis no mercado não é compatível com seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra.Com o recente processo <strong>de</strong> industrialização e a expansão do tecido urbano por meio<strong>de</strong> novos loteamentos para construção <strong>de</strong> moradias <strong>de</strong>vido o aumento da <strong>de</strong>manda Três <strong>Lagoas</strong>vivencia intensa especulação imobiliária, que segundo Rodrigues (1998), está relacionada com aocupação da cida<strong>de</strong>, cujos mecanismos po<strong>de</strong>m ser praticados <strong>de</strong> várias formas.A mais comum, por estar relacionada a um único grupo incorporador, refere-se aointerior da área loteada e diz respeito à retenção <strong>de</strong>liberada <strong>de</strong> lotes. Em geral, se ven<strong>de</strong>inicialmente os lotes pior localizados – em relação a equipamentos e serviços – para, em seguida,gradativamente e à medida que o loteamento vai sendo ocupado, colocar os <strong>de</strong>mais à venda. Asimples ocupação <strong>de</strong> alguns já faz aumentar o preço dos <strong>de</strong>mais lotes, valorizando o loteamento.Essa prática usual, uma queixa plangente, é uma forma <strong>de</strong> “ocupação programada,on<strong>de</strong> é comum <strong>de</strong>ixar-se lotes estrategicamente localizados para a instalação <strong>de</strong> serviços ecomércio <strong>de</strong> abastecimento diário – padarias, açougues, farmácias – os conjuntos comerciais”(I<strong>de</strong>m, p.21), ou como prefere Corrêa (1995), vão formando os centros comerciais secundáriosou subcentros comerciais. Esta multicentralida<strong>de</strong>, ou cida<strong>de</strong> polinucleada, como preferemCastells (1983) e Lefebvre (2004), já é realida<strong>de</strong> em Três <strong>Lagoas</strong> (ARANHA-SILVA, 2009).Cabe ao Estado, enquanto ator social produtor e or<strong>de</strong>nador da cida<strong>de</strong>, possibilitar aprodução <strong>de</strong> moradia digna aos moradores <strong>de</strong> todas as classes sociais, com infraestrutura básica eserviços públicos, pois se enten<strong>de</strong> que esse compromisso é uma prerrogativa para tornar ascida<strong>de</strong>s mais justas e humanas.Carlos (2004, p. 147) reforça essa discussão: “[...] a luta pela moradia não é a lutapor um „teto mais serviços‟, mas a luta pela vida contra as formas <strong>de</strong> apropriação privada”. Asformas <strong>de</strong> apropriação do espaço urbano apontam para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se transpor asdificulda<strong>de</strong>s e barreiras que se interpõem, notadamente, aos mais empobrecidos, e <strong>de</strong> se rever aconstrução por outra lógica, em que a cida<strong>de</strong> não seja vista apenas como algo intercambiável oucomo valor <strong>de</strong> troca, mas como local da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução da vida.Na concepção <strong>de</strong> Lefebvre (2004, p.116): “O direito à cida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser concebidocomo um simples direito <strong>de</strong> visita ou <strong>de</strong> retorno às cida<strong>de</strong>s [...] Só po<strong>de</strong> ser formulado comodireito à vida urbana, transformada, renovada”. Destarte, o problema da moradia apresenta-secomo resultado da apropriação diferenciada do espaço, pois uma parcela da população nãopossui condições <strong>de</strong> inserção no mundo da mercadoria. As condições <strong>de</strong> moradia revelam que:[...] a extrema <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> bem como a fragmentação dos lugares submetidos à apropriaçãoprivada. Neste plano também se revelam os atos que produzem a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos estritos407


limites da produção econômica, enquanto condição da produção/reprodução do capital [...](CARLOS, 2004, p. 140).Sobre os vazios urbanos, Rolnik (2010, p.10) <strong>de</strong>staca que ao mesmo tempo em que alógica <strong>de</strong> expansão horizontal urbana tem sido o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> urbanização da maioria dosmunicípios brasileiros, “um dos elementos que compõem esta lógica é a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vazios urbanos em áreas consolidadas e a consolidar”. Essa é uma realida<strong>de</strong> também vivenciadaem Três <strong>Lagoas</strong>, que tem se acentuado ainda mais, nos últimos 5 anos.Com a intencionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se expandir a malha urbana, se constata a existência <strong>de</strong>terrenos urbanos vazios e sem função social no interior da cida<strong>de</strong>, os quais se formam comoresultado <strong>de</strong> “processos <strong>de</strong>sarticulados <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong> loteamentos ou práticas conscientes <strong>de</strong>especulação imobiliária e permanecem como resquícios internos à cida<strong>de</strong>, dificultando alocomoção urbana e subutilizando a infraestrutura investida ao longo <strong>de</strong>stas áreas” (I<strong>de</strong>m, p. 11).Nessa perspectiva, Rolnik (2010) se posiciona contra os vazios urbanos e apontarazões pelas quais se <strong>de</strong>ve combater essa prática, a fim <strong>de</strong>:Cumprir a função social da proprieda<strong>de</strong>;• Utilizar todo o potencial investido na infraestrutura urbana já existente;• Evitar <strong>de</strong>sarticulações viárias;• Evitar que estes locais se transformem em lixões, becos e ou terrenos baldios inseguros;• Evitar o uso especulativo da terra;• Promover a utilização a<strong>de</strong>quada dos espaços da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com suas <strong>de</strong>mandas.Ora, se viver na cida<strong>de</strong> pressupõe, <strong>de</strong>ntre outros, o direito à moradia, enquantoterritório concebido e vivido, logo se concebe que muitos sujeitos urbanos se encontram<strong>de</strong>sterritorializados. O entendimento do território é que se trata <strong>de</strong> uma categoria geopolítica,cuja tessitura se dá pelas ações políticas e socioeconômicas e que remetem às relações <strong>de</strong> força epo<strong>de</strong>r. Para Santos (2007), o território é categoria fundante do trabalho; o lugar da residência,das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida, e, quanto maior a complexida<strong>de</strong> dasrelações externas e internas requer maior controle e regulação: “[...] e se levanta a necessida<strong>de</strong>do Estado: o Estado e os limites, o Estado e a produção, o Estado e a distribuição, o Estado e agarantia do trabalho [...]” (Id., p. 16).A partir <strong>de</strong>sse pressuposto, se enten<strong>de</strong> que o território po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido nas suas<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s a partir da idéia <strong>de</strong> que “a existência do dinheiro no território não se dá da mesmaforma. Há zonas <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsação e zonas <strong>de</strong> rarefação do dinheiro” (Ibid., p. 17). Ao configurarum dado território e nele estabelecer as relações <strong>de</strong> produção, as transações e a reprodução dosmeios produtivos, as empresas buscam o apoio do Estado.408


Nessa perspectiva, Três <strong>Lagoas</strong> se postula como um território-zona/território-re<strong>de</strong> <strong>de</strong>con<strong>de</strong>nsação (HAESBAERT, 2004) na medida em que viabiliza, sob a i<strong>de</strong>ologia e égi<strong>de</strong> do<strong>de</strong>senvolvimento, a reprodução ampliada do capital industrial nos contextos local, nacional einternacional. Três <strong>Lagoas</strong> tem sido propalada como o lócus do meio técnico-científicoinformacional(SANTOS 1994), o lugar <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Oportunida<strong>de</strong> para que os atoressociais que <strong>de</strong>têm o controle da terra e os meios <strong>de</strong> produção reproduzam <strong>de</strong> modo ampliado oseu capital, com base na superexploração da força <strong>de</strong> trabalho, exaustão do meio ambiente eempurrando as famílias dos trabalhadores e os mais empobrecidos para a periferia. A<strong>de</strong>mais,esses atores sociais, contam com o aparato estatal, o que lhes dá legitimida<strong>de</strong>.Ora, o urbano é cumulativo <strong>de</strong> todos os conteúdos, resultados da indústria, técnicas eriquezas, tradições ou rupturas do cotidiano. Lefebvre (2004, p.112) afirma que: “o urbano éforma e receptáculo, vazio e plenitu<strong>de</strong>, superobjeto e não objeto, Ele se liga, <strong>de</strong> um lado, à lógicada forma e, <strong>de</strong> outro, à dialética dos conteúdos”. A dinâmica territorial da cida<strong>de</strong> revela “o<strong>de</strong>senvolvimento das forças produtivas e as contradições na formação econômico social, poisestas ganham concretu<strong>de</strong> no território”(VIANA, 1982, p.125).A implantação <strong>de</strong> um pólo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial e o crescimento urbanoinduzido, como ocorre em Três <strong>Lagoas</strong>, nos permite apreen<strong>de</strong>r como se dá a tessitura <strong>de</strong>sseterritório, ou seja, qual a lógica do capital, os processos <strong>de</strong> concentração da força <strong>de</strong> trabalho eda sua reprodução ampliada, o funcionamento e as intervenções do aparato estatal.Para Capel (1984), o Estado enquanto agente or<strong>de</strong>nador do território <strong>de</strong>ve promovero equilíbrio <strong>de</strong> forças entre todos atores sociais. Todavia, suas práticas e estratégias se voltamcada vez menos para a conciliação dos interesses dos grupos excluídos.O po<strong>de</strong>r público municipal <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> busca se inserir nas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fluxo globais<strong>de</strong> capital, por meio da adoção <strong>de</strong> práticas que aproximam a gestão pública a uma gestãoempresarial do território na cida<strong>de</strong>. As estratégias objetivam tornar a cida<strong>de</strong> mais competitivapara atrair empresas, com vistas à diversificação da base econômica, antes pautadaprioritariamente na pecuária, agora na indústria, comércio e serviços.A Prefeitura Municipal apóia a formação <strong>de</strong> loteamentos <strong>de</strong>stinados aos condomínioshorizontais <strong>de</strong> luxo, pois estes criam empregos, geram altos valores <strong>de</strong> IPTU (Imposto Predial eTerritorial Urbano) e divulgam a imagem <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, que a gestão municipal<strong>de</strong>seja. Entretanto, loteamentos fechados ou condomínios horizontais, segundo Cal<strong>de</strong>ira (2000),consistem em enclaves fortificados, incrustados no complexo mosaico territorial urbano.Tais condomínios fechados são espaços <strong>de</strong> auto-segregação dos moradores maisricos, é a materialização do po<strong>de</strong>r e do dinheiro. Nesses enclaves fortificados, a cida<strong>de</strong> enquanto409


manifestação do urbano, caracterizada pela complexida<strong>de</strong> social, se revela contraditória, poisenquanto a maioria é empurrada para a periferia <strong>de</strong>sestruturada e <strong>de</strong>sassistida, alguns vivem emilhas <strong>de</strong> excelências (BHERING, 2002).De um lado, a segregação forçada e <strong>de</strong> outro, a auto segregação. É uma opção <strong>de</strong> seviver junto aos iguais, indiferentes à periferia dos pobres, on<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> famílias sereproduzem em exíguas moradias, sem escolas, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e, distantes dos centroscomerciais. Para estes, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> multicentralida<strong>de</strong> é fábula. Conforme Santos (2002) é adisseminação <strong>de</strong> uma liturgia <strong>de</strong> anticida<strong>de</strong>.Nesse contexto, longe é um lugar que existe, diferentemente do que o clássico <strong>de</strong>Bach (1990) inspira, as relações sociais revelam que a tessitura <strong>de</strong>sse território se vinculatambém, às escalas tempo e espaço.É necessário a intervenção do Estado, pois este, enquanto agente or<strong>de</strong>nador doterritório precisa acomodar da melhor forma os trabalhadores migrantes, pois pressupõe queestes, assumem papel vital na economia local, como força <strong>de</strong> trabalho barata, inclusive. Noentanto, “sem medidas apropriadas para integração social, para a moradia e para a educação,parece ser difícil manter ou ampliar o papel produtivo dos trabalhadores e evitar confrontospolíticos”, enfatiza, Baltrusis (2007, p.3).A socieda<strong>de</strong> urbana industrial é concebida por um processo em que se explo<strong>de</strong>m asantigas formas urbanas, a concentração da população acompanha a dos meios <strong>de</strong> produção e otecido urbano prolifera. A dinâmica territorial se torna complexa e contraditória e seu conteúdosocial se expressa concretamente na periferia expandida, na proliferação <strong>de</strong> conjuntoshabitacionais, na formação <strong>de</strong> suntuosos condomínios fechados, <strong>de</strong>ntre outras possibilida<strong>de</strong>s.Essa dinâmica territorial da cida<strong>de</strong> que consiste em um conjunto <strong>de</strong> transformaçõesque a socieda<strong>de</strong> vivencia passará do período em que predominam “as questões <strong>de</strong> crescimento e<strong>de</strong> industrialização, ao período on<strong>de</strong> a problemática urbana prevalecerá; em que a busca dassoluções e das modalida<strong>de</strong>s próprias da socieda<strong>de</strong> urbana passará ao primeiro plano”(LEFEBVRE, 1999, p. 33).São inúmeras as necessida<strong>de</strong>s e carências enfrentadas pelos grupos sociaisenvolvidos na busca por melhores condições <strong>de</strong> vida e trabalho, sob efeito das contradiçõesexpressas na relação capital e trabalho, que abrange o modo <strong>de</strong> produção e institui ascontradições no interior dos aparelhos do Estado (BEGA SANTOS, 2008). A<strong>de</strong>mais, os moradoresora se territorializam ora se <strong>de</strong>sterritorializam por e a partir das questões relacionadas com o uso eocupação do solo, com a apropriação e distribuição da terra urbana e dos equipamentos urbanos coletivos.410


Ora, a dinâmica territorial urbana se efetiva por meio das contradições e das complexida<strong>de</strong>sdos processos <strong>de</strong> produção, logo, a cida<strong>de</strong> é “como palco privilegiado das lutas <strong>de</strong> classe, pois o motor doprocesso é <strong>de</strong>terminado pelo conflito <strong>de</strong>corrente das contradições inerentes às diferentes necessida<strong>de</strong>s epontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes” (CARLOS, 2004, p. 23).Acida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser entendida como locus <strong>de</strong> moradia, <strong>de</strong> cidadania, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida eon<strong>de</strong> as relações sociais se materializam. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser “um modo <strong>de</strong> viver, pensar, mas tambémsentir. O modo <strong>de</strong> vida urbano produz idéias, comportamentos, valores, conhecimentos, formas <strong>de</strong> lazer, etambém uma cultura” (I<strong>de</strong>m, p. 26). Essa prática <strong>de</strong>lineia as multiterritorialida<strong>de</strong>s. Vivenciadas poralguns, <strong>de</strong> certo modo, muito menos por outros, enquanto que para muitos outros, essa condição é negada.Reestruturação e dinâmica territorial da cida<strong>de</strong>Na cida<strong>de</strong> há coexistência <strong>de</strong> espaços apropriados para diferentes usos e funções,com diferentes ritmos, diferentes tempos, logo, para enten<strong>de</strong>r a cida<strong>de</strong>, se <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r arelação do espaço e o tempo. A<strong>de</strong>mais, exerce um papel polarizador, seja no aspecto da naturezaseja do trabalho humano, como: ações e objetos, produtos e produtores, obras e criações, e parase organizar centraliza todas as criações em micro-espaços (SANTOS, 1988), cujo or<strong>de</strong>namentoterritorial acaba gerando as relações sociais, e, a partir do avanço e das pressões dos grupossociais é que a cida<strong>de</strong> vai se mo<strong>de</strong>lando <strong>de</strong> modo diferencial.Os grupos sociais, compreen<strong>de</strong>ndo classes e frações <strong>de</strong> classes, agem um com e/oucontra os outros, e que a constituição do território são resultados <strong>de</strong> suas interações e estratégias,logo, a estrutura e a forma do e no urbano revelam as múltiplas diferenças.A cida<strong>de</strong> possui uma forma <strong>de</strong>rivada das relações sociais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua formação inicial,portanto, o urbano possui conteúdos, os quais se constituem nas rugosida<strong>de</strong>s, ou seja, seuconteúdo material - casas, prédios, praças, viadutos, pontes - acumulado ao longo do tempo e querevelam concretamente a história, o seu passado, ou seja, há que se enten<strong>de</strong>r a relação dasespacialida<strong>de</strong>s e temporalida<strong>de</strong>s dominantes. As configurações territoriais por si mesmas nãodizem muito, estas, são evi<strong>de</strong>nciadas pelo fato <strong>de</strong> exprimirem concretamente as relações sociais,ao mesmo tempo, é a condição para que as relações entre os agentes sociais possam acontecer.Dessa forma, o urbano possui estruturas morfológicas e relações sociais que estãointerligadas, uma exercendo influência sobre a outra; <strong>de</strong> um lado existe a lógica da forma, e, <strong>de</strong>outro, a dialética dos conteúdos. O fenômeno urbano também não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como umobjeto ou como um sujeito, o urbano é isso, a forma e o conteúdo (LEFEBVRE, 2004).A compreensão <strong>de</strong> que a cida<strong>de</strong> é um território construído por meio das relações epráticas sociais e que as relações <strong>de</strong> interesses modificam os lugares, ajuda a compreen<strong>de</strong>r oprocesso <strong>de</strong> fragmentação e a consequente hierarquização dos lugares. Raffestin (1993, p. 143)411


expõe sobre a formação do território: “[...] o território se forma a partir do espaço, é resultado <strong>de</strong>uma ação conduzida por um ator sintagmático em qualquer nível. Ao se apropriar <strong>de</strong> um espaço,concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator territorializa o espaço”.O território é um espaço organizado, produzido, on<strong>de</strong> se projetou um trabalho e quepor conseqüência revela relações marcadas pelo po<strong>de</strong>r e interesses dos agentes sociais produtoresdo urbano. Nesse sentido, o território é uma categoria <strong>de</strong> análise, o território usado é o chão maisa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é o sentimento <strong>de</strong> pertencer aquilo que nos pertence.A fragmentação do espaço produz assim territórios hierarquizados, diferenciadosentre si, <strong>de</strong> acordo com seu grau <strong>de</strong> importância na cida<strong>de</strong>. Santos (2007) analisa dois pólos davida contemporânea: o dinheiro, que segundo o autor, tudo <strong>de</strong>smancha, e, o território que revelamaterialida<strong>de</strong>s que não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>smanchadas, conseqüentemente:Essa disparida<strong>de</strong> entre os diversos lugares da cida<strong>de</strong> é visível entre os bairrosluxuosos e as comunida<strong>de</strong>s sem infra-estrutura, na maioria das vezes localizadas nas periferiasgeométricas da cida<strong>de</strong>, é a segregação espacial forçada, pois do outro lado, há a segregaçãoespacial voluntária, que se consolida com as construção <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nciais luxuosos, dotados <strong>de</strong>infra-estrutura, entre outras amenida<strong>de</strong>s. É nessa separação <strong>de</strong> classes que se <strong>de</strong>finem territóriose as multiterritorialida<strong>de</strong>s, hierarquiza-se a cida<strong>de</strong>, através da construção material do espaço dasdiversas classes sociais.A partir da consolidação dos bairros, notadamente, os da classe social <strong>de</strong> alto status,surgem novas centralida<strong>de</strong>s, para, além <strong>de</strong> outros objetivos, aten<strong>de</strong>rem a essa população queresi<strong>de</strong> afastada da área central. A fragmentação do espaço urbano constitui um processo <strong>de</strong>(re)estruturação territorial, cujas áreas <strong>de</strong> concentração e diversificação <strong>de</strong> comércio e serviços<strong>de</strong>notam a que classe social seus usuários pertencem.As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento por parte da administração municipal tambémrevelam a ação do po<strong>de</strong>r público na produção da cida<strong>de</strong>. Assim elucida Rolnik (1988, p. 43):[...] além dos territórios específicos e separados para cada grupo social, além da separaçãodas funções morar e trabalhar, a segregação é patente na visibilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>tratamento por parte das administrações locais. [...] As imensas periferias sem água, luz ouesgoto são evidências claras <strong>de</strong>sta política discriminatória por parte do po<strong>de</strong>r público, umdos fortes elementos produtores da segregação.É necessário analisar a cida<strong>de</strong> além da rigi<strong>de</strong>z dos limites físicos e consi<strong>de</strong>rar quaissão e <strong>de</strong> que forma os atores sociais se apropriam e se organizam da e na cida<strong>de</strong>.A reestruturação urbana correspon<strong>de</strong>, segundo Gomes (2006, p. 4), a um processo <strong>de</strong>mudança no conjunto <strong>de</strong> usos e formas urbanas na escala intraurbana das cida<strong>de</strong>s, resultado door<strong>de</strong>namento territorial, associado à compreensão das novas lógicas locacionais e pelo sistema <strong>de</strong>412


mercado. A produção do espaço urbano são as construções das casas, prédios, bairros, indústriase a reprodução <strong>de</strong>sse mesmo espaço são as relações sociais estabelecidas nas produções.A partir da década <strong>de</strong> 1990 Três <strong>Lagoas</strong> passou por novo processo <strong>de</strong>(re)estruturação urbana. Os novos loteamentos se consolidaram na porção sul e su<strong>de</strong>ste eredirecionaram o crescimento da cida<strong>de</strong> para essa direção. A partir <strong>de</strong> 1997 houve aumento da<strong>de</strong>manda por moradia, infra-estrutura e serviços <strong>de</strong>correntes do aumento do fluxo <strong>de</strong>trabalhadores que chegou atraído pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego nas indústrias recém instaladas.<strong>Aranha</strong>-<strong>Silva</strong>; <strong>Silva</strong>; Leal (2006, p.2) elucidam que:A expansão do tecido urbano se intensificou com novos loteamentos e edificações ea<strong>de</strong>nsou-se por meio da verticalização; por conseguinte, aumentou o fluxo <strong>de</strong> pessoas,mercadorias e <strong>de</strong> veículos que requereu ampliação da malha viária, infra-estrutura,equipamentos, serviços públicos e a revitalização <strong>de</strong> prédios e praças.Atualmente (2010), Três <strong>Lagoas</strong>, por apresentar nos últimos 5 anos, elevadocrescimento <strong>de</strong>mográfico e industrial, passa por um momento <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>pequena para uma cida<strong>de</strong> média. O tamanho <strong>de</strong>mográfico possui nítidas relações com ascaracterísticas do espaço intra-urbano, que po<strong>de</strong> ser observado pela distância entre o centro e aperiferia da cida<strong>de</strong>. Da mesma forma a organização da cida<strong>de</strong> torna-se mais complexa, ou seja,há maior segmentação espacial. A cida<strong>de</strong> se reestrutura e sua periferia se esten<strong>de</strong>.A partir do ano <strong>de</strong> 2009, reorganizou-se política e administrativamente a divisão enomenclatura dos bairros. Em alguns casos, aqueles <strong>de</strong> menor extensão se inseriram nos <strong>de</strong>maior tamanho. Com isso, muitos bairros <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> existir, pelo menos no nome, mas nãopara os seus respectivos moradores. Ressaltando que o vazio da porção oeste ainda é gran<strong>de</strong> eque a Vila Piloto, a partir <strong>de</strong> 1990 foi reestruturada em 6 subáreas, compondo atualmente VilaPiloto I, II, III, IV, V e VI, cujos moradores são trabalhadores das indústrias e do comércio, ouseja, sua forma e conteúdo social contêm similarida<strong>de</strong> à Vila Piloto da década <strong>de</strong> 1960.Na medida em que ocorre a (re)estruturação territorial urbana há hierarquizaçãodos bairros, pois no atual processo <strong>de</strong> homogeneização o espaço é tido como mercadoria,entretanto quando o espaço equivale a proprieda<strong>de</strong> privada ele sofre o processo <strong>de</strong> fragmentação,<strong>de</strong>sse modo o acesso a terra na cida<strong>de</strong> está submetido ao mercado, on<strong>de</strong> a proprieda<strong>de</strong> privada dosolo urbano aparece como condição do <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo.A hierarquia espacial equivale à hierarquia social. É visível a diferença entre bairrosluxuosos e as comunida<strong>de</strong>s sem infra estrutura. Os bairros habitados por pessoas <strong>de</strong> menor po<strong>de</strong>raquisitivo estão em áreas periféricas ou não das cida<strong>de</strong>s, mas sem infra-estrutura e serviçospúblicos básicos, cujas moradias os submetem a dupla segregação, a espacial e da moradia.413


Nesse contexto, se inserem bairros do extremo norte e setor oeste como ao sul dalinha férrea, estes, são tidos como “do outro lado da linha”, que invariavelmente são <strong>de</strong>sprovidos<strong>de</strong> infra estrutura e serviços urbanos. Essa diferenciação espacial e falta <strong>de</strong> dotação <strong>de</strong> serviçosmotiva o discurso <strong>de</strong> que a linha férrea consiste obstáculo, <strong>Aranha</strong>-<strong>Silva</strong> (2008, p.3) contrapõeque “aos políticos e <strong>de</strong>magogos a linha férrea não os impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> irem à busca <strong>de</strong> votos <strong>de</strong> apoiodas centenas <strong>de</strong> famílias, que os elegeram”. Se os serviços urbanos são insuficientes <strong>de</strong>ve-se ao<strong>de</strong>scompromisso político e administrativo dos gestores públicos, os quais têm o papel <strong>de</strong>administrar a cida<strong>de</strong> em sua totalida<strong>de</strong> e não segmentada. Maricato (1996, p.56) elucida que:A segregação não é somente uma das faces mais importantes da exclusão social, mas parteativa e importante <strong>de</strong>la. À dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso aos serviços <strong>de</strong> infra-estrutura urbanossomam-se a menores oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> profissionalização, maior exposição á violência(marginal ou policial), discriminação racial, discriminação contra mulheres e crianças, difícilacesso à justiça oficial, difícil acesso ao lazer.A reprodução das cida<strong>de</strong>s segue a lógica atual do processo <strong>de</strong> reprodução do capital,que entra em contradição com a produção da cida<strong>de</strong> enquanto possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução davida. A tendência são formas arquitetônicas mo<strong>de</strong>rnas e símbolos que caracterizam o progresso,contudo, nesse processo <strong>de</strong> mudanças rápidas, a cida<strong>de</strong> muitas vezes se torna vulnerável,metamorfoseada, cujas mudanças <strong>de</strong>stroem os referenciais, os indivíduos per<strong>de</strong>m sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Sobre essa nova urbanização, enten<strong>de</strong>-se que o valor dos objetos supriu o valor doshomens e que as relações entre as pessoas são <strong>de</strong>terminadas pelas mercadorias. Ao analisar adinâmica territorial <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> apreen<strong>de</strong>m-se significativas mudanças na sua forma,estrutura, paisagem e conteúdo social. Há <strong>de</strong> certo modo, uma segmentação espacial e dasclasses sociais, ou seja, intensifica o processo <strong>de</strong> segregação.A especulação imobiliária, a precarieda<strong>de</strong> ou falta <strong>de</strong> infra-estrutura e <strong>de</strong> serviçospúblicos intensificaram os problemas urbanos. Tem-se o entendimento <strong>de</strong> que com a segregaçãoas condições <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> aos serviços e equipamentos urbanos passam a ser diferenciadas,ou seja, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da classe social e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo.A mudança nas relações entre os grupos sociais em Três <strong>Lagoas</strong> reflete, tanto sobre adinâmica territorial, quanto sobre a forma e a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> segregação, ou seja, no conteúdosocial da cida<strong>de</strong>. Essa segregação social se materializa no território por meio da segregaçãoespacial, posto que a territorialida<strong>de</strong> urbana “se dá em conflitos, a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>seja condiçõesmelhores <strong>de</strong> vida e o capital a valorização do espaço” (CARLOS, 2004).Uns sofrem a segregação forçada, são empurrados para a periferia e vão morar emáreas sem infra-estrutura e serviços básicos, enquanto que outros promovem a auto-segregação.Porque morar no Centro Principal já não é mais status, pois há uma profusão <strong>de</strong> lojas, veículos,414


uídos, pessoas e mercadorias tornando o ambiente do Centro Principal ina<strong>de</strong>quado para semorar. O i<strong>de</strong>al é morar bem, mas longe do centro, preferencialmente em condomínios fechados.O Estado, na figura do po<strong>de</strong>r público, exerce o papel <strong>de</strong> regulamentador dareprodução capitalista, criando condições propícias para a acumulação capitalista, por meio daimplantação <strong>de</strong> infraestrutura e do sancionamento <strong>de</strong> leis regulamentadoras do uso do solo, o quemodifica consi<strong>de</strong>ravelmente a territorialização e as territorialida<strong>de</strong>s urbanas.Com o crescimento populacional e nova dinâmica urbana <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> (introdução<strong>de</strong> capitais com diferentes e novas lógicas <strong>de</strong> atuação), houve expansão territorial da cida<strong>de</strong>,ampliando a diferenciação social e consentindo a prática da segregação urbana. Kowarick (2000)alu<strong>de</strong>, que o papel do Estado é fundante na (<strong>de</strong>s) e (re)territorialização urbana, por meio <strong>de</strong>volumosos investimentos no tecido urbano, criando novas periferias, que ampliam as manchasurbanas em núcleos <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> infra-estrutura e <strong>de</strong> serviços urbanos, nos quais os moradores<strong>de</strong> baixa renda obtêm sua moradia, seja pela autoconstrução seja nos conjuntos habitacionaisproduzidos pelo próprio Estado (Ver Figura 1).Figura 1: Vista parcial <strong>de</strong> conjuntos habitacionais em Três <strong>Lagoas</strong>Fotos: C. H. R. da <strong>Silva</strong>, 2009.O primeiro momento <strong>de</strong> ampliação da malha urbana em Três <strong>Lagoas</strong> <strong>de</strong>u-se a partir<strong>de</strong> 1961, com o aumento populacional advindo da construção da Usina Hidrelétrica Jupiá. Noperíodo <strong>de</strong> 1961 a 2007 foram criados 65 loteamentos, sendo que <strong>de</strong>stes, 55 (86%) loteamentosforam <strong>de</strong>stinados para formação <strong>de</strong> bairros populares, e 10 (16%) <strong>de</strong>les, para a formação <strong>de</strong>bairros resi<strong>de</strong>nciais para classe <strong>de</strong> médio e alto status, como indica o Quadro 1.Quadro 1: Loteamentos urbanos criados no período <strong>de</strong> 1961-200701 Bairro Colinos* 23 Jardim Glória 45 Parque Res. Osmar Dutra02 Bairro São Francisco 24 Jardim Guaporé 46 Parq. Res. Quinta da Lagoa*03 Bairro Alto Boa Vista 25 Jardim Mirassol 47 Parque São Carlos04 Jardim Alvorada 26 Jardim Morumbi* 48 Vila Alegre05 Jardim Angélica 27 Jardim Novo Aeroporto 49 Vila Benvindo415


06 Jardim Belém 28 Jardim Novo Alvorada 50 Vila das Acácias07 Jardim Brasília 29 Jardim Paineiras 51 Vila dos Ferroviários08 Jardim Campina 30 Jardim Paranapungá 52 Vila Frinéia09 Jardim Campo Novo 31 Jardim Planalto 53 Vila Guanabara10 Jardim Cangalha 32 Jardim Primavera 54 Vila Guanarabara II11 Jardim Caçula 33 Jardim Santa Júlia* 55 Vila Haro12 Jardim Capilé 34 Jardim Santa Morumbi 56 Vila Haro Júnior13 Jardim Corumbá 35 Jardim Santos Dumont* 57 Vila Oiti14 Jardim das Oliveiras 36 Jardim Taquaracy 58 Vila Popular15 Jardim dos Ipês I* 37 Loteat o . Nova Três <strong>Lagoas</strong>* 59 Vila Recanto16 Jardim dos Ipês II* 38 Loteamento Progresso 60 Vila Santa Ana17 Jardim dos Ipês III* 39 Loteamento Set Sul 61 Vila Santa Rita18 Jardim Dourados 40 Nova Ipanema 62 Vila São João19 Jardim Esmeralda 41 N. S a das Graças 63 Vila Viana20 Jardim Esperança 42 Novo Horizonte 64 Vila Virgínia21 Jardim Eunice 43 Parque das Mangueiras* 65 Vila Zucão22 Jardim Europa 44 Parque Paulista* Loteamentos <strong>de</strong>stinados para formação <strong>de</strong> bairros para moradores <strong>de</strong> médio e alto status.Fonte: Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>, 2009.A formação <strong>de</strong>sses 65 loteamentos expandiu a malha urbana <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> <strong>de</strong> modoconsi<strong>de</strong>rável, mas <strong>de</strong>ixando muitos lotes vazios, as manchas urbanas, que estrategicamente seconstituíram e ainda se constituem áreas <strong>de</strong> especulação imobiliária.No período <strong>de</strong> 1967, - implantação do primeiro conjunto habitacional - a 2009 foramconstruídos 29 conjuntos habitacionais, sendo um <strong>de</strong>les, Angelina Tebet, vertical, com 3pavimentos; 16 conjuntos foram construídos após o ano <strong>de</strong> 2000, dos quais, 6 foram concluídosmuito rapidamente no ano <strong>de</strong> 2008, como mostra o Quadro 2, ano que antece<strong>de</strong>u a construçãodas fábricas <strong>de</strong> papel e celulose (VCP, atual FIBRIA e International Papel). Evi<strong>de</strong>ncia que essesinvestimentos visaram amenizar a tensão gerada pela <strong>de</strong>manda por moradias. Apenas amenizar,pois o número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s habitacionais é muito pequeno em relação ao déficit habitacionalvigente em Três <strong>Lagoas</strong>.Quadro 2: Conjuntos habitacionais populares em Três <strong>Lagoas</strong> (1967-2010)ANOORDEM DENOMINAÇÃOCONSTRUÇÃO01 Jardim Alvorada 196702 Santo André 198103 Juscelino Kubitschek 198204 Jardim Caçula 198205 FICAM 198306 Osmar Ferreira Dutra 1983416


07 Vila Piloto I 198908 Angelina Tebet 198909 Vila Piloto II 199110 Vila Piloto III 199111 COONISUL 199112 São Carlos 199413 Jardim Flamboyant 199614 Vila Piloto IV 200215 Vila Piloto V 200416 Vila Piloto VI 200517 Vila Ver<strong>de</strong> 200618 Jardim Azaléia 200619 Jardim das Orquí<strong>de</strong>as 200620 Jardim dos Lírios 200721 Jardim dos Girassóis 200722 Jardim das Hortências 200723 Jardim das Orquí<strong>de</strong>as I 200724 Jardim das Orquí<strong>de</strong>as II 200825 Jardim das Violetas 200826 Jardim das Violetas I 200827 Jardim Imperial 200828 Jardim das Margaridas 200829 Jardim das Hortências I 2008Fonte: Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>, 2010.O Estado – via Prefeitura Municipal, Governo Estadual ou Governo Fe<strong>de</strong>ral –visando reduzir o valor dos investimentos a serem <strong>de</strong>stinados nas construções, via <strong>de</strong> regra,adquire terrenos aci<strong>de</strong>ntados, ou então muito periféricos, nas margens <strong>de</strong> rodovias e semnenhuma infra-estrutura, equipamentos urbanos e serviços públicos necessários. Essa estratégianovamente favorece os proprietários dos terrenos que permanecem vazios entre os bairros já bempovoados e os novos conjuntos habitacionais, com a valorização <strong>de</strong> suas terras.Para a construção dos conjuntos habitacionais em Três <strong>Lagoas</strong>, priorizaram-se ossetores norte, leste e sul da cida<strong>de</strong>, pois 6 conjuntos foram construídos no setor norte – SantoAndré, Juscelino Kubitscheck, FICAM, COOSUL, Angelina Tebet e Jardim Imperial; 7 situamsea leste da cida<strong>de</strong> – Jardim Alvorada, e as Vila Piloto I, II, III, IV, V e VI; e os <strong>de</strong>mais, numtotal <strong>de</strong> 16 conjuntos resi<strong>de</strong>nciais populares, notadamente os construídos após o ano <strong>de</strong> 2005,estão situados no setor sul. São os conjuntos habitacionais populares mais segregadosespacialmente na cida<strong>de</strong>, como <strong>de</strong>monstra a Figura 2.Para Souza (1996, p.54) “Os condomínios exclusivos são o símbolo máximo do quese po<strong>de</strong> <strong>de</strong>signar como auto segregação”, dito <strong>de</strong> outro modo, é a auto-exclusão, por vonta<strong>de</strong>própria, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conviver com apenas os seus semelhantes. Posto que “A cida<strong>de</strong> éheterogênea, abriga pessoas diferentes, havendo assim muitos contrastes” (CARLOS, 1997).417


A segregação é materializada pela segmentação do espaço e das classes sociais, que<strong>de</strong>termina o modo <strong>de</strong> viver das pessoas e <strong>de</strong>fine on<strong>de</strong> e como morar nas cida<strong>de</strong>s. Essasegregação, por meio da realida<strong>de</strong> em que cada indivíduo se territorializa, expressa tanto oselementos físicos e materiais da cida<strong>de</strong> como a forma, a estrutura e a paisagem, como também aimaterialida<strong>de</strong> subjetiva, o conteúdo social como as opiniões, sentimentos, vonta<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos econsumo diferentes, que mesmo morando tão próximos são distantes e que muitas vezes geraconflitos, que segundo Carlos (2004) “a problemática urbana não se reduz à cida<strong>de</strong>, mas refereseao homem, à sua vida, às suas lutas, ao seu mundo, e abre perspectivas para se pensar emtransformações”.Figura 1: Espacialização dos conjuntos habitacionais construídos mais recentes em Três <strong>Lagoas</strong>Org.: C. H. R. da <strong>Silva</strong>, 2009.A auto-segregação produz espaços luminosos como explica Santos (1994), que sãodotados <strong>de</strong> infra-estrutura, equipamentos e serviços privados, <strong>de</strong> uso exclusivo. A apropriaçãodos lugares públicos como forma <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> privada, separa os moradores daconvivência <strong>de</strong> outras pessoas, com cercas e muros, criando uma artificialida<strong>de</strong> no cotidiano daspessoas, como assevera Carlos (1997, p. 82):Assim fica evi<strong>de</strong>nte, na paisagem, na diferenciação dos bairros, nos gestos, nos olhos, nosilêncio, na expressão e nos traços do rosto das pessoas a contradição entre a produção418


coletiva do espaço e sua apropriação privada, fundada na contradição capital-trabalho. Uma(re)produção espacial que se dá em função dos interesses, necessida<strong>de</strong>s e objetivos <strong>de</strong> umaparcela da socieda<strong>de</strong> que personifica o capital e não a socieda<strong>de</strong> como um todo.A partir da década 1990 o rápido crescimento territorial da cida<strong>de</strong> se vislumbra peloa<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> suas construções, pelo processo <strong>de</strong> crescimento horizontal, mas também, pelocrescimento vertical permitindo a ocorrência <strong>de</strong> vazios urbanos no interior da cida<strong>de</strong>.Tais mudanças resultam da interferência direta do po<strong>de</strong>r público, que é o enteresponsável pelo sancionamento e cumprimento das leis que constituem o Plano DiretorMunicipal. Essa atuação confere ao po<strong>de</strong>r público o papel <strong>de</strong> um importante agente mo<strong>de</strong>ladordo território e atua sob os interesses dos <strong>de</strong>mais agentes, como proprietários fundiários,imobiliárias, incorporadoras e construtoras. Para Rodrigues (1989), quando se objetiva implantarloteamentos fora do perímetro urbano, o po<strong>de</strong>r público aprova mudanças no âmbito legislativo,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das necessida<strong>de</strong>s sociais. Formando gran<strong>de</strong>s extensões <strong>de</strong> áreas vazias <strong>de</strong>correntesda ampliação do perímetro urbano.Os profissionais especializados que chegaram em Três <strong>Lagoas</strong> para trabalhar nas diversasindústrias recém instaladas, principalmente na Votorantim Celulose e Papel – atual FÍBRIA – ena Internacional Papel, oriundos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s trouxeram consigo novos hábitos, como o <strong>de</strong>morar em condomínios fechados verticais ou horizontais. Com isso, passou a haver nova<strong>de</strong>manda no setor imobiliário, qual seja, residências em condomínios fechados, que até então nãohavia. É a evidência <strong>de</strong> que há estruturação <strong>de</strong> uma nova classe social, que busca na cida<strong>de</strong> arealização das suas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos. Essa <strong>de</strong>manda por espaços diferenciados para moraraqueceu o mercado imobiliário três-lagoense, seja pela pouca oferta <strong>de</strong> imóveis para ven<strong>de</strong>r oualugar, seja pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir novos espaços para se morar, até então inexistentes noano <strong>de</strong> 2007.No início <strong>de</strong> 2008, quatro proprietários fundiários e agentes imobiliários locaisassociados a empreen<strong>de</strong>dores do setor imobiliário – Campo Gran<strong>de</strong>/MS, Londrina e Curitiba/PR– lotearam terras, outrora rural, e incorporaram ao setor urbano, com aval do po<strong>de</strong>r públicomunicipal e iniciaram a construção <strong>de</strong> três condomínios fechados, que são: Alto dos Ipês e Portaldas Águas Resi<strong>de</strong>nce, no setor leste da cida<strong>de</strong> em direção ao rio Paraná e o Condomínio Villagedo Lago Resort & Resi<strong>de</strong>nce ao norte da cida<strong>de</strong>, próximo ao Balneário Municipal no rio Sucuriú.No início <strong>de</strong> 2010 já contavam com infra estrutura – pavimentação das ruas <strong>de</strong> acesso e internas,iluminação pública, água potável – serviço <strong>de</strong> paisagismo, cercados por muros altos, instalação<strong>de</strong> cerca elétrica, com seguranças nos portões <strong>de</strong> entrada.419


A especulação imobiliária se fundamenta pelo fato <strong>de</strong> que a moradia e a terra sãoelementos essenciais para reprodução da vida, além <strong>de</strong> ser símbolo <strong>de</strong> ascensão social,configurando-se, portanto, em um valor <strong>de</strong> troca. A dinâmica da produção e do uso do solourbano, <strong>de</strong> acordo com a valorização ou não <strong>de</strong> uma área, promove a auto-segregação espacial,ou seja, os moradores com alto po<strong>de</strong>r aquisitivo se <strong>de</strong>slocam do centro da cida<strong>de</strong> para setoresprivilegiados bastante afastados, formando os bairros nobres e os condomínios fechados.Os condomínios são espaços on<strong>de</strong> as construções se tornam sinônimos <strong>de</strong> status.Desta forma, tornando-se símbolos materiais <strong>de</strong> uma nova forma urbana, fazendo com que “ossignos da natureza e da cida<strong>de</strong> se convertem em signos <strong>de</strong> satisfação e alegria (individual), on<strong>de</strong>as necessida<strong>de</strong>s individuais são motivadas pelo consumo” (HENRIQUE 2004, p.189).Outro aspecto a consi<strong>de</strong>rar nessa expansão acelerada da malha urbana é o intensivoprocesso <strong>de</strong> fragmentação, pois além <strong>de</strong> aumentar as distâncias geométricas <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>,contribui para o fortalecimento das barreiras. E essas barreiras po<strong>de</strong>m ser entendidas comodificulda<strong>de</strong>s na e para a realização das articulações entre os diferentes setores da cida<strong>de</strong>, sendoum limite <strong>de</strong> diferenciação, que dificulta a mobilida<strong>de</strong> das pessoas e, por conseguinte, arealização <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> seus hábitos <strong>de</strong> consumo cotidianamente.Desse modo, apreen<strong>de</strong>u-se que <strong>de</strong>vido ao crescimento populacional há um a<strong>de</strong>nsamentodas áreas já loteadas, entretanto, a <strong>de</strong>manda por moradias motiva os empreen<strong>de</strong>doresimobiliários e o Estado a criarem novos loteamentos em áreas distantes do centro principal,ampliando ainda mais as diferenças da forma, estrutura e conteúdo social da cida<strong>de</strong> efortalecendo as barreiras que <strong>de</strong>limitam os enclaves (SILVA, 2002).Enfim, a produção <strong>de</strong> moradia promove a expansão da periferia da cida<strong>de</strong>, porconseguinte, nessa dinâmica territorial se <strong>de</strong>lineiam novas territorialida<strong>de</strong> urbanas.ConclusãoPor fim, para não concluir, evi<strong>de</strong>nciou-se que a primeira expansão da malha urbana <strong>de</strong>Três <strong>Lagoas</strong> ocorreu entre 1960-1970, com a construção da Usina Hidrelétrica Jupiá.Permanecendo em condição letárgica na década <strong>de</strong> 1980, assim como em todo o país foi<strong>de</strong>corrente do contexto político e econômico vigente.O segundo momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dinamismo territorial foi a partir <strong>de</strong> 1990 e permanece atéhoje (2010), com fortes indícios <strong>de</strong> que o ritmo <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> expansão do tecido urbanocontinuará, por conseguinte, a cida<strong>de</strong> vivencia intensa mudança estrutural e <strong>de</strong> conteúdo social,que se materializam na formação <strong>de</strong> novos e diferenciados bairros resi<strong>de</strong>nciais, como os420


conjuntos habitacionais populares e os condomínios fechados horizontais. A cida<strong>de</strong> se apresentadiferenciada, que por sua vez, segrega e exclui gran<strong>de</strong> parcela dos moradores.Esse recente processo <strong>de</strong> (re)estruturação, <strong>de</strong>corrente da implantação <strong>de</strong> indústrias<strong>de</strong>sconcentradas do estado <strong>de</strong> São Paulo, dá visibilida<strong>de</strong> à cida<strong>de</strong> em escala nacional, pela oferta<strong>de</strong> incentivos fiscais e <strong>de</strong> benefícios que. Por outro lado, tem acirrado o embate entre as classessociais que requerem mais moradias, serviços públicos e produtos diversos. Além <strong>de</strong> distúrbios econgestionamento no trânsito, do <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> violência e <strong>de</strong> crimes qualificados semprece<strong>de</strong>ntes na cida<strong>de</strong>.Enfim, a nova dinâmica territorial <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> se evi<strong>de</strong>ncia pela expansão do tecidourbano, pela segmentação do espaço, pela inserção <strong>de</strong> novos usos e costumes, pela valorização eespeculação imobiliária, pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução do capital <strong>de</strong> certos agentes sociais,mas que a diferenciação espacial gera a segregação e a exclusão <strong>de</strong> muitos.ReferênciasARANHA-SILVA, E; SILVA, D. R. A. da; LEAL, F. V. A. L. A (re)estruturação espacialurbana <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>-MS. II Simpósio Internacional sobre Cida<strong>de</strong>s Médias. Uberlândia, 2006.Anais... Uberlândia, CD-ROM. (Artigo Completo)______. O sentido da segregação espacial além dos trilhos da ferrovia. Jornal do Povo, Três<strong>Lagoas</strong>, p.2-2, 2008. Ca<strong>de</strong>rno opinião.______. A dinâmica sócio-espacial urbana e as novas centralida<strong>de</strong>s em Três <strong>Lagoas</strong>. Três<strong>Lagoas</strong>-MS: UFMS-CNPq, 2009. (Relatório <strong>de</strong> Pesquisa)BACH, R. Longe é um lugar que não existe. 19. ed.São Paulo: Record, 1990.BALTRUSIS, N. O crescimento da informalida<strong>de</strong> nas cida<strong>de</strong>s do 3º mundo. XIII CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Sociologia. GT02: Cida<strong>de</strong>s e processos pociais. 2007. Disponível em: Acessoem: 20 abr. 2010.BEGA SANTOS, R. Movimentos sociais urbanos. São Paulo: UNESP, 2008.BHERING, I. G. A. Condomínios fechados: os espaços da segregação e as novas configuraçõesdo urbano. 2002. 207 f. Dissertação (Mestrado em Análise critica e histórica da arquitetura eurbanismo) - Escola <strong>de</strong> Arquitetura, UFMG. Belo Horizonte, 2002.BONDUKI, N. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Liberda<strong>de</strong>, 1998.CALDEIRA, T. P. R. Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. SãoPaulo: Editora 34-EDUSP, 2000.CAPEL, H. Agentes y estratégias en la producción <strong>de</strong>l espacio urbano español. In: Revista <strong>de</strong>Geografia, São Paulo, VII (1-2), 1984.CARDOSO, A. L. Política nacional <strong>de</strong> urbanização e regularização <strong>de</strong> assentamentosprecários. Ministério das Cida<strong>de</strong>s. Brasília-DF, 2003.CARLOS, A. F. A. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1994.______. A cida<strong>de</strong>. São Paulo: Contexto, 1997.421


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