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Discurso Seminário 100 anos da Segunda Conferência da Paz em ...

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Fun<strong>da</strong>ção Casa de Rui Barbosawww.casaruibarbosa.gov.brcontinenti a combater o adversário com to<strong>da</strong> a força <strong>da</strong> sua erudição – mobiliza<strong>da</strong>unilateralmente – e o peso <strong>da</strong> sua eloqüência que beneficiava de um talento retórico vivaz– muitas vezes prolixo, hiperbólico, <strong>em</strong> particular aos nossos olhos de agora – e ummanuseio ímpar <strong>da</strong> língua portuguesa; estilo advocatício, aliás, que permeia tudo o que feze que assinala de maneira marcante a sua atuação <strong>em</strong> Haia, onde, a expressão consagra<strong>da</strong>é típica do universo forense: defendeu a posição do Brasil e a golpes de oratória; posiçãoelabora<strong>da</strong> na maioria <strong>da</strong>s vezes por um seu companheiro de geração: José Maria <strong>da</strong> SilvaParanhos Júnior, o barão do Rio Branco.Porque, na<strong>da</strong> custa l<strong>em</strong>brar: a biografia de Rui Barbosa é parte <strong>da</strong> história de uma geraçãode valor excepcional que, entre outros feitos, encerrou a agen<strong>da</strong> do século XIX brasileiro,com a abolição <strong>da</strong> escravidão e a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s nossas fronteiras e abriu uma novapauta de desenvolvimento para o Brasil, onde estavam incluídos o estabelecimento deinstituições políticas e jurídicas modernas e a definição de uma política externa para o País.Neste contexto, avultam as participações de Joaquim Nabuco e o seu abolicionismorenitente, Rio Branco e a fixação de nossos limites e Rui Barbosa como idealizador doquadro institucional jurídico – o nosso regime federativo, a criação de um Supr<strong>em</strong>oTribunal, a introdução do hábeas corpus – para l<strong>em</strong>brar algumas <strong>da</strong>s suas contribuiçõesmaiores e que ain<strong>da</strong> serv<strong>em</strong> de base para muito do que ain<strong>da</strong> existe nas nossas estruturaspolíticas.Era uma geração composta também por nomes como Machado de Assis, André Rebouças,Tobias Barreto, Castro Alves e Sílvio Romero – e nomeio somente alguns dos maisconhecidos – que completou vinte ou trinta <strong>anos</strong> entre 1868 e 1878, “o [decênio] maisnotável de quantos no século XIX constituíram a nossa labuta espiritual”, 2 no dizer de umdeles: Silvio Romero. Eram os expoentes <strong>da</strong>quela "fulgurante plebe intelectual”,2Sílvio Romero. Reali<strong>da</strong>des e Ilusões no Brasil. Parlamentarismo e prsidencialismo e outros ensaios. (org.Hildon Rocha). Petrópolis: Editora Vozes Lt<strong>da</strong> e Governo do Estado de Sergipe, 1979. p. 162.JOSÉ ALMINO DE ALENCAR: <strong>Discurso</strong> lido na abertura do <strong>S<strong>em</strong>inário</strong> <strong>100</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong><strong>Conferência</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> <strong>em</strong> Haia. 3


Fun<strong>da</strong>ção Casa de Rui Barbosawww.casaruibarbosa.gov.bridentifica<strong>da</strong> por Gilberto Amado, composta, <strong>em</strong> parte, por “doutores pobres, jornalistasoradores que de todos os pontos do País surgiam com a pena, com a palavra e com a ação,<strong>em</strong> nome do pensamento liberal, para dominar a opinião”. Ain<strong>da</strong> Silvio Romero, no seudiscurso de recepção a Euclides <strong>da</strong> Cunha na Acad<strong>em</strong>ia Brasileira de Letras 3 (discurso, aliás,frequent<strong>em</strong>ente citado, mas que eu não resisto à tentação de incluí-lo), caracterizou aépoca e o espírito que animava essa geração, <strong>da</strong> seguinte maneira:Qu<strong>em</strong> não viveu nesse t<strong>em</strong>po não conhece por ter sentido diretamente <strong>em</strong> si as maisfun<strong>da</strong>s comoções <strong>da</strong> alma nacional. Até 1868 o catolicismo reinante não tinha sofridonestas plagas o mais leve abalo; a filosofia espiritualista, católica e eclética a mais insignificanteoposição; a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições monárquicas o menor ataque sério porqualquer classe do povo; a instituição servil e os direitos tradicionais do aristocratismoprático dos grandes proprietários a mais indireta opugnação; o romantismo, com seusdoces, eng<strong>anos</strong>os e encantadores cismares, a mais apaga<strong>da</strong> desavença reatora. Tudo tinhaadormecido à sombra do manto do príncipe ilustre que havia acabado com o caudilhismonas províncias e na América do Sul e preparado a engrenag<strong>em</strong> <strong>da</strong> peça política decentralização mais coesa que já uma vez houve na história <strong>em</strong> um grande país. De repente,por um movimento subterrâneo, que vinha de longe, a instabili<strong>da</strong>de de to<strong>da</strong>s as coisas s<strong>em</strong>ostrou, e o sofisma do império apareceu <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua nudez. A guerra do Paraguaiestava a mostrar a to<strong>da</strong>s as vistas os imensos defeitos de nossa organização militar e oacanhado de nossos progressos sociais, desven<strong>da</strong>ndo repugnant<strong>em</strong>ente a chaga <strong>da</strong>escravidão; e então a questão dos cativos se agita e logo após é segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> questãoreligiosa; tudo se põe <strong>em</strong> discussão: o aparelho sofístico <strong>da</strong>s eleições, o sist<strong>em</strong>a de arroxo[sic.] <strong>da</strong>s instituições policiais e <strong>da</strong> magistratura e inúmeros probl<strong>em</strong>as econômicos; opartido liberal, expelido do poder, comove-se desusa<strong>da</strong>mente e lança aos quatro ventos umprograma de extr<strong>em</strong>a d<strong>em</strong>ocracia, quase um ver<strong>da</strong>deiro socialismo; o partido republic<strong>anos</strong>e organiza e inicia uma propagan<strong>da</strong> tenaz que na<strong>da</strong> faria parar. Na política é um mundo3Em 18 de dez<strong>em</strong>bro de 1906.JOSÉ ALMINO DE ALENCAR: <strong>Discurso</strong> lido na abertura do <strong>S<strong>em</strong>inário</strong> <strong>100</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong><strong>Conferência</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> <strong>em</strong> Haia. 4


Fun<strong>da</strong>ção Casa de Rui Barbosawww.casaruibarbosa.gov.brinteiro que vacila. Nas regiões do pensamento teórico o travamento <strong>da</strong> peleja foi ain<strong>da</strong> maisformidável, porque o atraso era horroroso. 4Nessa “peleja” contra o “atraso horroroso,” a geração de 1870 se valeu fartamente <strong>da</strong>steorias que imperavam na Europa, marca<strong>da</strong>s pelos determinismos cientificistas <strong>da</strong> época –determinismos geográficos, raciais, de Buckle, de Gobineau, eiva<strong>da</strong>s do evolucionismo deSpencer e de Darwin. Mas, foram os que, apesar de ser<strong>em</strong> freqüent<strong>em</strong>ente os maiseruditos, atacaram diretamente a matéria bruta do Brasil, e evitando os esqu<strong>em</strong>atismosteóricos obtiveram resultados mais expressivos: dentre eles os três cujo papel políticosublinhamos acima: Nabuco, Rio Branco e Rui Barbosa. Nabuco, <strong>em</strong> seus livros maisimportantes – O abolicionismo e Um estadista no Império –, ao expor o cerne <strong>da</strong>s suasanálises sobre a socie<strong>da</strong>de brasileira do século XIX, praticamente não argumenta comcitações; não as utiliza como instrumentos de autori<strong>da</strong>de intelectual. Rio Branco e RuiBarbosa são, sobretudo, militantes <strong>da</strong> realpolitik quase <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po integral; quando estãofora se põ<strong>em</strong> preparados a retornar a ca<strong>da</strong> momento; e é na ver<strong>da</strong>de uma peça brilhantede atuação política a interação entre os dois durante a Segun<strong>da</strong> <strong>Conferência</strong> de Haia qu<strong>em</strong>arca o início <strong>da</strong> participação brasileira no concerto mundial <strong>da</strong>s nações e que aqui vi<strong>em</strong>oscelebrar.Celebrando-a, cumprimos, o que é mais do que natural, a liturgia de homenagear o nossopatrono, mas escolh<strong>em</strong>os fazê-lo hoje, entre outras ativi<strong>da</strong>des, <strong>em</strong> um s<strong>em</strong>inário que une aobservação do passado a uma análise do estado de coisas presente, compondo painéis quese debruçarão tanto sobre o papel de Rui naqueles primórdios <strong>da</strong> nossa modernadiplomacia quanto sobre os t<strong>em</strong>as <strong>em</strong>ergentes que permaneceram sob diversas formas atéa atuali<strong>da</strong>de.4Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>, p. 162-163.JOSÉ ALMINO DE ALENCAR: <strong>Discurso</strong> lido na abertura do <strong>S<strong>em</strong>inário</strong> <strong>100</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong><strong>Conferência</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> <strong>em</strong> Haia. 5


Fun<strong>da</strong>ção Casa de Rui Barbosawww.casaruibarbosa.gov.brConjurar o passado, escrutar o presente, especular sobre o futuro é o feijão-com-arroz d<strong>em</strong>uitos dos que se dedicam à análise <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e do comportamento humano. Entendo,assim, que o moto de Cícero, “a história mestra <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, na sua singeleza simplificadorapossa ser objeto <strong>da</strong>s críticas mais elabora<strong>da</strong>s dos nossos epist<strong>em</strong>ólogos cont<strong>em</strong>porâneos;no entanto, ele ain<strong>da</strong> não recebe o desdém dos políticos, dos legisladores, doscomunicadores sociais, esses homens práticos. E, certamente, ain<strong>da</strong> servia de divisa para osmestres <strong>da</strong> geração que homenageamos e que contribuíram para nos fazer como hojesomos.JOSÉ ALMINO DE ALENCAR: <strong>Discurso</strong> lido na abertura do <strong>S<strong>em</strong>inário</strong> <strong>100</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong><strong>Conferência</strong> <strong>da</strong> <strong>Paz</strong> <strong>em</strong> Haia. 6

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