12.07.2015 Views

Cap´ıtulo 15 Rudimentos da Teoria das Equaç˜oes a Derivadas ...

Cap´ıtulo 15 Rudimentos da Teoria das Equaç˜oes a Derivadas ...

Cap´ıtulo 15 Rudimentos da Teoria das Equaç˜oes a Derivadas ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo <strong>15</strong>Proprie<strong>da</strong>des de Algumas Funções EspeciaisConteúdo<strong>15</strong>.1 Discussão Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 665<strong>15</strong>.1.1 Relações de Ortogonali<strong>da</strong>de . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 666<strong>15</strong>.1.1.1 Condições de Contorno e a Origem <strong>da</strong>s Relações de Ortogonali<strong>da</strong>de . . . . . . . . . . . 671<strong>15</strong>.1.2 Fórmulas de Rodrigues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 675<strong>15</strong>.2 Proprie<strong>da</strong>des de Algumas Funções Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 677<strong>15</strong>.2.1 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Legendre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 677<strong>15</strong>.2.2 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Legendre Associados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 681<strong>15</strong>.2.2.1 As Funções Harmônicas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 687<strong>15</strong>.2.2.2 Fórmula de Adição de Funções Harmônicas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 690<strong>15</strong>.2.3 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Hermite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 693<strong>15</strong>.2.3.1 As Funções de Hermite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 696<strong>15</strong>.2.4 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Tchebychev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 700<strong>15</strong>.2.5 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Laguerre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 700<strong>15</strong>.2.6 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Laguerre Associados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 704<strong>15</strong>.2.7 Proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Funções de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 707<strong>15</strong>.2.8 Proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Funções de Bessel Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 723<strong>15</strong>.3 Exercícios Adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 726APÊNDICES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 727<strong>15</strong>.A Provando (<strong>15</strong>.54) a Força Bruta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 727Este capítulo dá continui<strong>da</strong>de ao Capítulo 14 e concentra-se no estudo de proprie<strong>da</strong>des especiais de algumas <strong>da</strong>sfunções lá apresenta<strong>da</strong>s como soluções de equações diferenciais de interesse. Nossos principais objetivos são adedução <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de de certas funções, a dedução <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s fórmulas de Rodrigues e derelações de recorrência para as mesmas e também a determinação de suas funções geratrizes. Essas proprie<strong>da</strong>des,que serão devi<strong>da</strong>mente defini<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s na Seção <strong>15</strong>.1, são úteis para a resolução de equações diferenciais,especialmente aquelas provenientes de problemas envolvendo equações diferenciais parciais submeti<strong>da</strong>s a certas condiçõesiniciais e/ou de contorno. Exemplos de aplicações a problemas físicos são discutidos no Capítulo 20, página 877. Ain<strong>da</strong>que nosso tratamento seja tão completo quanto possível, dentro do escopo relativamente limitado que pretendemos ter,repetimos aqui a recomen<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s referências lista<strong>da</strong>s no Capítulo 14 à página 604.<strong>15</strong>.1 Discussão PreliminarNa próxima seção, a Seção <strong>15</strong>.2, tencionamos apresentar ao leitor certas proprie<strong>da</strong>des de algumas <strong>da</strong>s funções encontra<strong>da</strong>scomo solução de equações diferenciais de interesse em Física, proprie<strong>da</strong>des essas cuja utili<strong>da</strong>de maior manifesta-seespecialmente, como mencionado, na resolução de equações diferenciais parciais submeti<strong>da</strong>s a certas condições iniciaise/ou de contorno. Na presente seção prepararemos o terreno discutindo algumas idéias gerais.As idéias gerais que apresentaremos envolvem 1. as chama<strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de, que generalizam aquelasbem-conheci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong>s séries de Fourier; 2. as chama<strong>da</strong>s fórmulas de Rodrigues, úteis para a obtenção de relaçõesde recorrência entre funções e 3. as chama<strong>da</strong>s funções geratrizes 1 , <strong>da</strong>s quais outras proprie<strong>da</strong>des úteis são extraí<strong>da</strong>s, comopor exemplo representações integrais para certas funções.Os exemplos principais dos quais trataremos a seguir, na Seção <strong>15</strong>.2, envolvem os polinômios de Legendre, de Hermitee de Laguerre e as funções de Bessel, to<strong>da</strong>s de importância na resolução de problemas do Eletromagnetismo, de MecânicaQuântica, <strong>da</strong> Mecânica dos Fluidos e de outras áreas.1 A noção de função geratriz foi introduzi<strong>da</strong> na Seção 6.1, página 258.665


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 667/2117Corolário <strong>15</strong>.1 Seja O ⊂ R um aberto e seja x 0 um ponto de O. Seja u : O → C uma função diferenciável. Então, umacondição necessária e suficiente para que existam constantes reais α 1 e α 2 , ambas não-simultaneamente nulas, ou seja,(α 1 , α 2 ) ≠ (0, 0) tais que α 1 u(x 0 )+α 2 u ′ (x 0 ) = 0 para algum x 0 ∈ O é que valha u(x 0 )u ′ (x 0 )−u ′ (x 0 )u(x 0 ) = 0. 2Prova. Se existirem constantes reais α 1 e α 2 , ambas não-simultaneamente nulas, tais que α 1 u(x 0 )+α 2 u ′ (x 0 ) = 0 paraalgum x 0 ∈ O, então, adotando f = g = u em ( (<strong>15</strong>.2) segue ) que u(x 0 )u ′ (x 0 ) − u ′ (x 0 )u(x 0 ) = 0. Reciprocamente, seu(x 0 )u ′ (x 0 )−u ′ (x 0 )u(x 0 ) = 0 então a matrix u(x0 ) u ′ (x 0 )não tem inversa e, portanto, pelo Corolário 9.1, página 349,⎛ ⎞u(x 0 ) u ′ (x 0 )γ 1existe um vetor não-nulo ⎜ ⎟⎝ ⎠ ∈ C2 tal queγ 2⎛ ⎞⎛⎞ ⎛ ⎞⎜u(x 0 ) u ′(x 0 )⎟⎜γ 1⎟⎝ ⎠⎝⎠ = 0⎜ ⎟⎝ ⎠ . (<strong>15</strong>.3)u(x 0 ) u ′ (x 0 ) γ 2 0Isso afirma que γ 1 u(x 0 )+γ 2 u ′ (x 0 ) = 0 e que γ 1 u(x 0 )+γ 2 u ′ (x 0 ) = 0. Tomando o complexo conjugado dessas igual<strong>da</strong>des,obtemos⎛ ⎞⎛⎞ ⎛ ⎞⎜u(x 0 ) u ′(x 0 )⎟⎜γ 1⎟⎝ ⎠⎝⎠ = 0⎜ ⎟⎝ ⎠ . (<strong>15</strong>.4)u(x 0 ) u ′ (x 0 ) γ 2 0Somando e subtraindo (<strong>15</strong>.3) de (<strong>15</strong>.4) obtemos⎛ ⎞⎛⎞ ⎛ ⎞⎜u(x 0 ) u ′(x 0 )⎟⎜Re(γ 1 )⎟⎝ ⎠⎝⎠ = 0⎜ ⎟⎝ ⎠u(x 0 ) u ′ (x 0 ) Re(γ 2 ) 0e⎛ ⎞⎛⎞ ⎛ ⎞u(x 0 ) u⎜′ (x 0 )Im(γ 1 )⎟⎜⎟⎝ ⎠⎝⎠ = 0⎜ ⎟⎝ ⎠ .u(x 0 ) u ′ (x 0 ) Im(γ 2 ) 0Como (γ 1 , γ 2 ) ≠ (0, 0) então ou (α 1 , α 2 ) = ( Re(γ 1 ), Re(γ 2 ) ) ou (α 1 , α 2 ) = ( Im(γ 1 ), Im(γ 2 ) ) (ou ambos) são vetores⎛reais não-nulos. ⎞Assim, ⎛ ⎞provamos ⎛ ⎞ que existem constantes reais α 1 e α 2 , ambas não-simultaneamente nulas, tais que⎜u(x 0 ) u ′(x 0 )⎟⎜α 1⎟⎝ ⎠⎝⎠ = 0⎜ ⎟⎝ ⎠ , e, portanto, tais que α 1u(x 0 )+α 2 u ′ (x 0 ) = 0.u(x 0 ) u ′ (x 0 ) α 2 0• Convenções sobre intervalos. Alguma notaçãoEm muitas <strong>da</strong>s equações diferenciais de interesse em Física a variável x é restrita a uma região J ⊂ R <strong>da</strong> reta real,sendo J um intervalo fechado (tal como [a, b]), aberto (tal como (a, b)) ou semi-aberto (tal como (a, b] ou [a, b)).Podem também ocorrer intervalos infinitos, tais como J = (−∞, ∞), ou semi-infinitos, como J = (0, ∞) ou J = [0, ∞).Denotaremos por J 0 o interior do intervalo J, ou seja, J 0 é o maior intervalo aberto contido em J. Por exemplo, seJ = [a, b] teremos J 0 = (a, b), se J = [0, ∞) então J 0 = (0, ∞) e se J é aberto então J 0 = J.Daqui para frente vamos escrever o intervalo J 0 , finito ou não, na forma J 0 := (A, B) ⊂ R e, portanto, (A, B) poderepresentar intervalos finitos, como por exemplo (0, 1), semi-infinitos, como por exemplo (0, ∞) ou ain<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a retareal (−∞, ∞).∫ B∫ bPara uma função f conveniente, vamos denotar por f(x)dx o limite lim f(x)dx, caso este exista. Os limitesa→AA+ ab→B −lim e lim representam os limites laterais à esquer<strong>da</strong> e à direita, respectivamente.x→Y − x→Y +• A forma canônica de LiouvilleAté aqui escrevemos nossas equações lineares homogêneas de segun<strong>da</strong> ordem na formay ′′ (x)+a(x)y ′ (x)+b(x)y(x) = 0


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 668/2117(agora já adotando como variável x ∈ J). Em muitos problemas de interesse essa equação pode ser escrita de outraforma, denomina<strong>da</strong> por alguns autores de forma canônica de Liouville, e que será importante para o que segue:onde,(p(x)y ′ (x)) ′ +q(x)y(x)+µr(x)y(x) = 0, (<strong>15</strong>.5)1. p(x) é real, contínua e diferenciável em J 0 e p(x) > 0 para todo x ∈ J 0 .2. q é real e contínua em J.3. r(x) é real e contínua em J 0 e r(x) > 0 para todo x ∈ J 0 .(<strong>15</strong>.6)4. µ é uma constante.As condições de positivi<strong>da</strong>de de p e r em J 0 são as mais importantes. Note-se que não excluiremos que p e r possam seanular (ou mesmo divergir) nos extremos do intervalo J 2 .Como o leitor pode facilmente constatar, a relação entre essas funções é a seguinte:a(x) = p′ (x)p(x) , b(x) = 1p(x) (q(x)+µr(x)) .Da<strong>da</strong>s a(x) e b(x), a primeira relação acima fixa p(x) (a menos de uma constante), a saber,(∫ x)p(x) = exp a(x ′ )dx ′ +const. .0Já a segun<strong>da</strong> nem sempre fixa q(x) e r(x) univocamente, tudo dependendo <strong>da</strong> condição de positivi<strong>da</strong>de sobre r(x), quefoi menciona<strong>da</strong> acima, ou de qual parâmetro se deseja tomar por µ. Na maioria dos casos, porém, q e r podem ser fixadosunivocamente, o que ficará claro nos exemplos que seguem.Várias <strong>da</strong>s equações diferenciais de segun<strong>da</strong> ordem <strong>da</strong>s quais tratamos no Capítulo 14 podem ser escritas na formacanônica em algum intervalo J conveniente 3 . Vamos a alguns exemplos que nos interessarão:ˆ A equação do oscilador harmônico simples: y ′′ (x)+λy(x) = 0. Aqui p(x) = 1, q(x) = 0, r(x) = 1 e µ = λ.Vários tipos de intervalos J aparecem em problemas. No problema <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> vibrante, por exemplo, pode-se adotarJ = [0, L], L sendo o comprimento <strong>da</strong> cor<strong>da</strong>.ˆ A equação de Legendre (1 − x 2 )y ′′ (x) − 2xy ′ (x) + λ(λ + 1)y(x) = 0 é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervaloJ = [−1, 1] e pode ser escrita na forma canônica de Liouville como((1−x2 ) y ′ (x) ) ′+λ(λ+1)y(x) = 0 .Aqui p(x) = (1−x 2 ), q(x) = 0, r(x) = 1 e µ = λ(λ+1).Note que p(x) > 0 em J 0 = (−1, 1), mas anula-se nos extremos x = ±1. Já a função r(x) é positiva em todoJ = [−1, 1].ˆ A equação de Hermite y ′′ (x) − 2xy ′ (x) + λy(x) = 0, é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = (−∞, ∞) epode ser escrita na forma canônica de Liouville como(e −x2 y ′ (x)) ′+λe−x 2 y(x) = 0 .Aqui p(x) = e −x2 , q(x) = 0, r(x) = e −x2 e µ = λ.Note que p(x) > 0 e r(x) > 0 em todo J = (−∞, ∞).2 O caso em que p e r permanecem finitas e positivas nos extremos do intervalo J é particularmente importante no chamado Problema deSturm-Liouville regular, tratado no Capítulo 17, página 803.3 A conveniência é dita<strong>da</strong> pelo problema físico subjacente.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 669/2117ˆ A equação de Tchebychev(1−x 2 )y ′′ (x)−xy ′ (x)+λ 2 y(x) = 0 étipicamenteconsidera<strong>da</strong>nointervaloJ = [−1, 1]e pode ser escrita na forma canônica de Liouville como(√ ) ′1−x2 y ′ (x) +λ2 1√ y(x) = 0 . 1−x2Aqui p(x) = √ 1−x 2 , q(x) = 0, r(x) = 1/ √ 1−x 2 e µ = λ 2 .Note que p(x) > 0 em J 0 = (−1, 1), mas anula-se nos extremos x = ±1. Já a função r(x) é positiva em todoJ = (−1, 1), mas diverge nos extremos x = ±1. No entanto, r é integrável no intervalo J, isto é, ∫ 1−1 r(x)dx éfinita.ˆ A equação de Laguerre xy ′′ (x)+(1−x)y ′ (x)+λy(x) = 0 é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = [0, ∞) epode ser escrita na forma canônica de Liouville como(xe −x y ′ (x) ) ′+λe −x y(x) = 0 .Aqui p(x) = xe −x , q(x) = 0, r(x) = e −x e µ = λ.Note que p(x) > 0 em J 0 = (0, ∞), mas anula-se no extremo x = 0. Já a função r(x) é positiva em todoJ = [0, ∞).ˆ A equação de Bessel de ordem ν, escrita na forma x 2 y ′′ (x) + xy ′ (x) + (α 2 x 2 − ν 2 )y(x) = 0, é tipicamenteconsidera<strong>da</strong> no intervalo J = [0, 1] e pode ser escrita no intervalo (0, 1] na forma canônica de Liouville como(xy ′ (x)) ′ − ν2x y(x)+α2 xy(x) = 0 .Aqui p(x) = x, q(x) = − ν2x , r(x) = x e µ = α2 .Note que p(x) > 0 em J 0 = (0, 1), mas anula-se no extremo x = 0, o mesmo valendo para r(x).A equação de Bessel esférica também podem ser escrita na forma canônica de Liouville. Porém, a mesma podeser facilmente transforma<strong>da</strong> em uma equação de Bessel e, portanto, seu tratamento é um caso particular do <strong>da</strong>quelasequações. Vide Seção <strong>15</strong>.2.8, página 723.• O operador de LiouvilleA forma canônica de Liouville (<strong>15</strong>.5) sugere a introdução de uma notação muito conveniente. Seja uma função udefini<strong>da</strong> em J que seja pelo menos duas vezes diferenciável. Sob as hipóteses (<strong>15</strong>.6) definimos o chamado operador deLiouville 4 , denotado por L, como sendo o operador diferencial <strong>da</strong>do porou seja,(Lu)(x) := (p(x)u ′ ) ′ +q(x)u , (<strong>15</strong>.7)L := d (p(x) d )+q(x) .dx dxDefinimos também o operador diferencial denotado por M porA equação (<strong>15</strong>.5) fica simplifica<strong>da</strong> na formaM := − 1r(x) L = − 1r(x)ddx(p(x) d )−− q(x)dx r(x) .(Lu)(x)+λr(x)u(x) = 0 , ou seja, (Mu)(x) = λu(x) . (<strong>15</strong>.8)Se λ for um número tal que a equação (<strong>15</strong>.8) for satisfeita para alguma função u λ , então diz-se que λ é um autovalor eu λ é dito ser a auto-função associa<strong>da</strong> ao autovalor λ. Essa nomenclatura surge por analogia com os conceitos de autovalor4 Essa nomenclatura não é universal, talvez por causar uma certa confusão com um outro operador, também dito de Liouville, que ocorre naMecânica Clássica: L := ∂H ∂∂p ∂q − ∂H ∂, com H sendo a função Hamiltoniana, q e p sendo coordena<strong>da</strong>s de posiçãoemomento, respectivamente.∂q ∂p


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 670/2117e auto-vetor de matrizes na álgebra linear. Estritamente falando λ e u λ são auto-valores, respectivamente, auto-funções,do operador M.• O Lema de GreenO seguinte resultado elemetar sobre o operador L, por vezes, denominado Lema de Green 5 , será importante no quesegue.Lema <strong>15</strong>.2 Seja J ≡ (A, B) ⊂ R um intervalo como descrito acima e sejam u e v funções duas vezes diferenciáveisdefini<strong>da</strong>s em um intervalo finito [a, b] ⊂ J, com A < a < b < B. Sejam p, q e r satisfazendo as condições enumera<strong>da</strong>sem (<strong>15</strong>.6). Então,∫ bav(x) (Lu)(x) dx−∫ ba( ) ( )(Lv)(x) u(x) dx = p(b) v(b)u ′ (b)−v ′ (b)u(b) −p(a) v(a)u ′ (a)−v ′ (a)u(a) . (<strong>15</strong>.9)Se u e v forem defini<strong>da</strong>s em J 0 , forem duas vezes diferenciáveis e satisfizerem as condições que os limites laterais( ) ( )lim p(a) v(a)u ′ (a)−v ′ (a)u(a) e lim p(b) v(b)u ′ (b)−v ′ (b)u(b)a→A + b→B −existem e satisfazementão teremos, conseqüentemente,o que equivale a dizer que( )lim p(a) v(a)u ′ (a)−v ′ (a)u(a)a→A +∫ BA∫ BAv(x) (Lu)(x) dx =v(x) (Mu)(x) r(x)dx =( )= lim p(b) v(b)u ′ (b)−v ′ (b)u(b) , (<strong>15</strong>.10)b→B −∫ BA∫ BA(Lv)(x) u(x) dx , (<strong>15</strong>.11)(Mv)(x) u(x) r(x)dx . (<strong>15</strong>.12)2Prova. Usando-se integração por partes, temos∫ bv(x) (Lu)(x) dx =∫ baa∫ bv(x)(p(x)u ′ ) ′ dx+av(x)q(x)u(x) dx∫ b= −av ′ (x)(p(x)u ′ ) dx+vpu ′ ∣ ∣∣ba + ∫ bav(x)q(x)u(x) dx=∫ ba∣u(pv ′ ) ′ dx+vpu ′ ∣∣b∫ a −v′ pu∣ b b+aav(x)q(x)u(x) dxou seja,∫ bav(x) (Lu)(x) dx−∫ ba=(Lv)(x) u(x) dx =∫ ba∣(Lv)(x) u(x) dx+vpu ′ ∣∣ba −v′ pu∣ b , (<strong>15</strong>.13)a( )∣vpu ′ ∣∣−v ′ b ( ) ( )pu = p(b) v(b)u ′ (b)−v ′ (b)u(b) −p(a) v(a)u ′ (a)−v ′ (a)u(a) .aNota para o estu<strong>da</strong>nte mais avançado. Se V for um espaço vetorial de funções duas vezes diferenciáveis satisfazendo (<strong>15</strong>.10), então(<strong>15</strong>.11) informa-nos que o operador L é um operador simétrico em V com relação ao produto escalar 〈f, g〉 = ∫ BA f(x)g(x)dx e (<strong>15</strong>.12)informa-nos que o operador M é um operador simétrico em V com relação ao produto escalar 〈f, g〉 r = ∫ BA f(x)g(x)r(x)dx. ♣5 George Green (1793–1841).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 671/2117<strong>15</strong>.1.1.1 Condições de Contorno e a Origem <strong>da</strong>s Relações de Ortogonali<strong>da</strong>deVamos nos interessar por equações diferenciais como Lu + µru = 0 defini<strong>da</strong>s em um intervalo J = (A, B), nãonecessariamentefinito, como descrevemos acima, com as soluções u satisfazendo as condições que os limites laterais( ) ( )lim p(a) u(a)u ′ (a)−u ′ (a)u(a) e lim p(b) u(b)u ′ (b)−u ′ (b)u(b)a→A + b→B −existam e satisfaçam( )lim p(a) u(a)u ′ (a)−u ′ (a)u(a)a→A +( )= lim p(b) u(b)u ′ (b)−u ′ (b)u(b) . (<strong>15</strong>.14)b→B −Há várias condições sob as quais (<strong>15</strong>.14) é satisfeita. Listemos alguns dos casos que ocorrem em equações de interesse:I J = (A, B) é um intervalo finito ou não, lim p(A) = lim p(B) = 0 mas o produto u(x)u ′ (x) não diverge nosa→A + b→B −limites x → A + e x → B − . Essas condições implicam (<strong>15</strong>.14), ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de sendo nulos.II J = [A, B] é um intervalo finito, p(A) e p(B) são ambos finitos mas u satisfaz condições de contorno em A e emB do formaα 1 u(A)+α 2 u ′ (A) = 0 , (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>)β 1 u(B)+β 2 u ′ (B) = 0 , (<strong>15</strong>.16)onde α 1 , α 2 , β 1 , β 2 são constantes reais fixa<strong>da</strong>s, sendo (α 1 , α 2 ) ≠ (0, 0) e (β 1 , β 2 ) ≠ (0, 0).PeloCorolário<strong>15</strong>.1, página667, essascondiçõesimplicamqueu(A)u ′ (A)−u ′ (A)u(A) = 0eu(B)u ′ (B)−u ′ (B)u(B) =0, o que implica (<strong>15</strong>.14), ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de sendo nulos.III J = (A, B) é um intervalo finito e vale uma combinação dos casos anteriores. Por exemplo, lima→A +p(A) = 0 com oproduto u(x)u ′ (x) não divergindo no limite x → A + e, além disso, existem constantes reais (β 1 , β 2 ) ≠ (0, 0) taisque β 1 u(B)+β 2 u ′ (B) = 0.As condições (<strong>15</strong>.14) são, portanto, mais gerais que condições como I ou II, acima. A Proposição <strong>15</strong>.1, adiante,aponta algumas de suas conseqüências.• Reali<strong>da</strong>de dos autovalores, simplici<strong>da</strong>de e reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s autofunçõesProposição <strong>15</strong>.1 Seja um intervalo (não necessariamente finito) J = (A, B), como descrito acima, e sejam p, q e rfunções defini<strong>da</strong>s em J, satisfazendo as condições enumera<strong>da</strong>s em (<strong>15</strong>.6).Considere-se o problema de determinar uma constante µ e uma solução u <strong>da</strong> equação diferencial Lu(x)+µr(x)u(x) = 0defini<strong>da</strong> em J, com u satisfazendo as condições que os limites( ) ( )lim p(a) u(a)u ′ (a)−u ′ (a)u(a) e lim p(b) u(b)u ′ (b)−u ′ (b)u(b)a→A + b→B −existam e satisfaçam( )lim p(a) u(a)u ′ (a)−u ′ (a)u(a)a→A +( )= lim p(b) u(b)u ′ (b)−u ′ (b)u(b) . (<strong>15</strong>.17)b→B −Então, valem os seguintes fatos:a. µ ∈ R,b. A solução u é única a menos de uma constante multiplicativa,c. A solução u é múltipla de uma solução real.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 672/2117Conseqüentemente, to<strong>da</strong> solução <strong>da</strong> equação Lu(x)+µr(x)u(x) = 0 com µ ∈ R sob as condições (<strong>15</strong>.17) é múltipla deuma única solução real <strong>da</strong> equação Lu(x)+µr(x)u(x) = 0. Note-se que funções reais satisfazem trivialmente as condições(<strong>15</strong>.17). 2Prova. Parte a. Consideremos (a, b) um intervalo finito contido em J e seja a expressão ( µ − µ )∫ ba |u(x)|2 r(x)dx.Podemos escrevê-la como( ) ∫ bµ−µ |u(x)| 2 r(x) dx =a( ) ∫ bµ−µ u(x)u(x)r(x) dxa=∫ b(µu(x)r(x))u(x) dx−∫ baau(x) ( µr(x)u(x) ) dx= −∫ ba(Lu)(x)u(x) dx+∫ bau(x)(Lu)(x) dx( ) ( )(<strong>15</strong>.9)= p(b) u(b)u ′ (b)−u ′ (b)u(b) −p(a) u(a)u ′ (a)−u ′ (a)u(a) .Por (<strong>15</strong>.17), o lado direito converge a zero nos limites b → B − e a → A + . Como ∫ ba |u(x)|2 r(x)dx > 0 para todos a e bcom A < a < b < B, concluímos que µ = µ, provando que µ ∈ R.Parte b. Sejam u 1 , u 2 tais que Lu 1 + µru 1 = 0 e Lu 2 + µru 2 = 0 para um <strong>da</strong>do µ, ambas satisfazendo as condiçõesmenciona<strong>da</strong>s no enunciado. Como vimos na parte a, µ é real. Considere-se a função⎛ ⎞u 1 (x) u ′ 1W 12 (x) = det⎜(x)⎟⎝ ⎠ = u 1(x)u ′ 2 (x)−u′ 1 (x)u 2(x) .u 2 (x) u ′ 2(x)Vamos em primeiro lugar mostrar que p(x)W 12 (x) é constante, ou seja, que (pW 12 ) ′ = 0. De fato,(pW 12 ) ′ = p ′ W 12 +pW ′ 12 = p ′ (u 1 u ′ 2 −u ′ 1 u 2)+p(u 1 u ′ 2 −u ′ 1 u 2) ′= p ′ (u 1 u ′ 2 −u′ 1 u 2)+p(u ′ 1 u′ 2 +u 1u ′′2 −u′′ 1 u 2 −u ′ 1 u′ 2 )= p ′ (u 1 u ′ 2 −u ′ 1 u 2)+p(u 1 u ′′2 −u ′′1 u 2)= u 1 (p ′ u ′ 2 +pu′′ 2 )−u 2(p ′ u ′ 1 +pu′′ 1 )= u 1 (pu ′ 2 )′ −u 2 (pu ′ 1 )′= −u 1 (qu 2 +µru 2 )+u 2 (qu 1 +µru 1 )= 0 . (<strong>15</strong>.18)Agora, p(x)W 12 (x) = p(x) ( u 1 (x)u ′ 2(x)−u 2 (x)u ′ 1 (x)) e, portanto, pelas hipóteses (<strong>15</strong>.17), seus limites b → B − e a → A +existem e anulam-se, provando que p(x)W 12 (x) = 0 para todo x. Pelas hipóteses em (<strong>15</strong>.6), p é positivo em J 0 e,portanto, W 12 (x) = 0 para todo x.Isso diz que as duas linhas que formam a matriz cujo determinante é W 12 (x) são, para ca<strong>da</strong> x ∈ [a, b], proporcionaisuma a outra, ou seja, existe γ(x) tal que, por exemplo,u 1 (x) = γ(x)u 2 (x) e u ′ 1 (x) = γ(x)u′ 2 (x)para todo x. Derivando a primeira e comparando à segun<strong>da</strong>, conclui-se que γ(x) é constante, ou seja, não depende de x.Assim, verificamos que as funções u 1 e u 2 são múltiplas entre si. Com isso, mostramos que se tivermos duas auto-funçõescom o mesmo auto-valor as auto-funções são múltiplas uma <strong>da</strong> outra e o subespaço que ambas geram tem dimensão 1.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 673/2117Parte c. Como p, q, r são reais e também µ (pela parte a), então se u é solução de Lu+µru = 0 seu complexo conjugadou também o é. Fora isso, se u satisfaz as condições (<strong>15</strong>.17), seu complexo conjugado u também as satisfaz. Logo, pelaparte b, existe uma constante γ ∈ C tal que u = γu.A equação u = γu implica u = γu e, portanto |γ| = 1, ou seja, γ = e iθ , para θ ∈ R. Decompondo u em suas partesreal e imaginária, u = v+iw, concluímos que v−iw = (cosθ+isenθ)(v+iw), ou seja, valem (1−cosθ)v = −sen(θ)w e(1+cosθ)w = −sen(θ)v. Agora, se cosθ = 1, então a segun<strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de ( implica w = 0 e, portanto, u = v. Se cosθ ≠ 1,então a primeira igual<strong>da</strong>de implica v = − senθ1−cosθ w e , portanto, u = − senθ1−cosθ)w. +iOs resultados <strong>da</strong> Proposição <strong>15</strong>.1 podem ser parafraseados <strong>da</strong> seguinte forma. Considere-se o problema de determinaros autovalores µ e autofunções u <strong>da</strong> equação Lu+µru = 0 sob condições que impliquem a condições (<strong>15</strong>.17), tais como ascondições I ou II <strong>da</strong> página 671. Então os autovalores são reais, simples (ou seja, não-degenerados: para ca<strong>da</strong> autovaloro espaço <strong>da</strong>s correspondentes autofunções é unidimencional) e as autofunções podem ser toma<strong>da</strong>s reais.• Problemas de autovalores e relações de ortogonali<strong>da</strong>deNo teorema a seguir consideraremos funções reais u 1 e u 2 defini<strong>da</strong>s em um intervalo (não necessariamente finito)J = (A, B), que satisfaçam as condições de os limites() ()lim p(a) u 1 (a)u ′ 2a→A (a)−u′ 1 (a)u 2(a) e lim p(b) u 1 (b)u ′ 2 + b→B (b)−u′ 1 (b)u 2(b)−existirem e satisfazerem()lim p(a) u 1 (a)u ′ 2(a)−u ′ 1(a)u 2 (a)a→A +()= lim p(b) u 1 (b)u ′ 2(b)−u ′ 1(b)u 2 (b) . (<strong>15</strong>.19)b→B −Há várias condições sob as quais (<strong>15</strong>.19) é satisfeita. Listemos alguns dos casos que ocorrem em equações de interesse:I’ J = (A, B) é um intervalo finito ou não, lim p(A) = lim p(B) = 0 mas o produto u 1 (x)u ′ 2(x) − u ′ 1(x)u 2 (x)a→A + b→B −não diverge nos limites x → A + e x → B − . Essas condições implicam (<strong>15</strong>.19), ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de sendonulos.II’ J = [A, B] é um intervalofinito, p(A) e p(B) sãoambos finitos mas tanto a funçãou 1 quantoa função u 2 satisfazemcondições de contorno em A e em B do formaα 1 u(A)+α 2 u ′ (A) = 0 , (<strong>15</strong>.20)β 1 u(B)+β 2 u ′ (B) = 0 , (<strong>15</strong>.21)onde α 1 , α 2 , β 1 , β 2 são constantes reais fixa<strong>da</strong>s, sendo (α 1 , α 2 ) ≠ (0, 0) e (β 1 , β 2 ) ≠ (0, 0).PeloLema<strong>15</strong>.1, página666, particularmentepor(<strong>15</strong>.1), essascondiçõesimplicamqueu 1 (A)u ′ 2 (A)−u′ 1 (A)u 2(A) = 0e u 1 (B)u ′ 2(B)−u ′ 1(B)u 2 (B) = 0, o que implica (<strong>15</strong>.19), ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de sendo nulos.III’ J = (A, B) é um intervalo finito e vale uma combinação dos casos anteriores. Por exemplo, lima→A +p(A) = 0com o produto u 1 (x)u ′ 2 (x)−u′ 1 (x)u 2(x) não divergindo no limite x → A + e, além disso, existem constantes reais(β 1 , β 2 ) ≠ (0, 0) tais que tanto a função u 1 quanto a função u 2 satisfazem β 1 u(B)+β 2 u ′ (B) = 0.Conseqüentemente, as condições (<strong>15</strong>.19) são mais gerais que condições como I’ ou II’, acima. O seguinte resultadoaponta uma <strong>da</strong>s conseqüências <strong>da</strong>s hipóteses de (<strong>15</strong>.19) e expressa uma <strong>da</strong> mais importantes proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s soluções<strong>da</strong>s equações diferenciais discuti<strong>da</strong>s acima: as chama<strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de.Teorema <strong>15</strong>.1 Considere-se a equação diferencial Lu(x) + µr(x)u(x) = 0 defini<strong>da</strong> no intervalo (não necessariamentefinito) J = (A, B), com p, q e r satisfazendo as condições enumera<strong>da</strong>s em (<strong>15</strong>.6). Sejam λ 1 e λ 2 ∈ R com λ 1 ≠ λ 2 esuponhamos que u 1 e u 2 sejam funções reais não-nulas que satisfazemLu 1 (x)+λ 1 r(x)u 1 (x) = 0 e Lu 2 (x)+λ 2 r(x)u 2 (x) = 0 , (<strong>15</strong>.22)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 674/2117em J = (A, B) e suponhamos ain<strong>da</strong> que os limites()lim p(a) u 1 (a)u ′a→A +2(a)−u ′ 1(a)u 2 (a)e()lim p(b) u 1 (b)u ′ 2(b)−u ′ 1(b)u 2 (b)b→B −existam e satisfaçam()lim p(a) u 1 (a)u ′ 2a→A (a)−u′ 1 (a)u 2(a)+()= lim p(b) u 1 (b)u ′ 2b→B (b)−u′ 1 (b)u 2(b) . (<strong>15</strong>.23)−Então,∫ BAu 1 (x) u 2 (x) r(x) dx = 0 . (<strong>15</strong>.24)2Prova. Seja (a, b), com A < a < b < B, qualquer intervalo finito contido em J 0 . Consideremos a expressão∫ b(λ 1 −λ 2 ) u 1 (x)u 2 (x)r(x)dx .aComo λ 1 e λ 2 são reais, isso pode ser escrito por (<strong>15</strong>.22) como∫ ba∫ b(λ 1 r(x)u 1 (x)) u 2 (x) dx−au 1 (x) (λ 2 r(x)u 2 (x)) dx=∫ ba∫ bu 1 (x) (Lu 2 )(x) dx− (Lu 1 )(x) u 2 (x) dxa() ()= p(b) u 1 (b)u ′ 2 (b)−u′ 1 (b)u 2(b) −p(a) u 1 (a)u ′ 2 (a)−u′ 1 (a)u 2(a) ,sendo que na última igual<strong>da</strong>de usamos (<strong>15</strong>.9), lembrando que, no caso presente, to<strong>da</strong>s as funções e constantes são reais.Conseqüentemente, tem-se pelas hipóteses,∫ B(λ 1 −λ 2 ) u 1 (x)u 2 (x)r(x)dxA() ()= lim p(b) u 1 (b)u ′ 2(b)−u ′ 1(b)u 2 (b) − lim p(a) u 1 (a)u ′b→B − a→A +2(a)−u ′ 1(a)u 2 (a)= 0 .Como λ 1 ≠ λ 2 , isso implica∫ BAu 1 (x)u 2 (x)r(x)dx = 0, como queríamos provar.A relação (<strong>15</strong>.24) diz-nos que u 1 e u 2 são ortogonais em relação ao produto escalar real〈f, g〉 r:=∫ BAf(x)g(x)r(x) dx , (<strong>15</strong>.25)definido no conjunto de to<strong>da</strong>s as funções f : J → R tais que ∫ BA f(x)2 r(x) dx < ∞. Essas relações de ortogonali<strong>da</strong>de sãodesuma importância em aplicações, especialmente na resolução de equaçõesdiferenciais sob certas condiçõesde contorno.O leitor interessado em exemplos pode passar diretamente à Seção <strong>15</strong>.2, página 677. Aplicações à solução de equaçõesdiferenciais parciais de interesse em Física serão vistas no Capítulo 20, página 877.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 675/2117<strong>15</strong>.1.2 Fórmulas de RodriguesAs idéias desta pequena seção serão melhor ilustra<strong>da</strong>s nos exemplos <strong>da</strong> Seção <strong>15</strong>.2.Consideremos a equação diferencial (p(x)y ′ (x)) ′ + q(x)y(x) + µr(x)y(x) = 0, ou seja, Ly + µry = 0, com p, q e rsatisfazendo as condições enumera<strong>da</strong>s em (<strong>15</strong>.6) e suponhamos também que r seja uma função infinitamente diferenciávelde x. Consideremos que o intervalo J onde a equação é considera<strong>da</strong> seja J = [−1, 1]. Para n = 0, 1, 2, ..., sejamdefini<strong>da</strong>s as funções( )p n (x) := 1 d nr(x) dx n r(x)(1−x 2 ) n . (<strong>15</strong>.26)É fácil ver que se m < n, então∫ 1−1x m p n (x) r(x) dx = 0 , (<strong>15</strong>.27)ou seja, ca<strong>da</strong> p n é ortogonal, segundo o produto escalar 〈·, ·〉 rdefinido em (<strong>15</strong>.25), a todos os polinômios de grau menorque n. Para provar (<strong>15</strong>.27), basta escrever∫ 1∫ ( )1x m p n (x) r(x) dx = x m dndx n r(x)(1−x 2 ) n dx−1e fazer n vezes integração por partes, lembrando que a expressão dkfator (1−x 2 ) que se anula em ±1.−1dx k (r(x)(1 − x 2 ) n ), com k < n, sempre contém umE. <strong>15</strong>.1 Exercício importante. Faça isso! 6Se as funções p n forem elas mesmas polinômios de grau n, o que ocorre em vários casos, concluímos que∫ 1−1p m (x) p n (x) r(x) dx = 0 ,sempre que m ≠ n. Isso significa que os polinômios p n (x) são ortogonais dois-a-dois segundo o produto escalar 〈·, ·〉 rnointervalo J = [−1, 1].Várias equações diferenciais do tipo mencionado acima, defini<strong>da</strong>s em um intervalo finito [−1, 1], têm soluções polinomiais,como por exemplo, a equação de Legendre e de Tchebychev. Como as mesmas, pelo Teorema <strong>15</strong>.1, são ortogonaisem relação ao produto escalar 〈·, ·〉 rno intervalo J = [−1, 1] 6 , as considerações acima sugerem que as soluções polinomiaispossam ser escritas, a menos de uma constante multiplicativa, na forma (<strong>15</strong>.26). Isso é, de fato, ver<strong>da</strong>de para váriasequações importantes (como as de Legendre e Tchebychev) e <strong>da</strong> expressão (<strong>15</strong>.26) será possível obter várias proprie<strong>da</strong>des<strong>da</strong>queles polinômios. Isso será melhor discutido nos exemplos que trataremos na Seção <strong>15</strong>.2.A expressão (<strong>15</strong>.26) é denomina<strong>da</strong> fórmula de Rodrigues 7 .E. <strong>15</strong>.2 Exercício. Generalize a fórmula de Rodrigues (<strong>15</strong>.26) para um intervalo J = [a, b] finito arbitrário. Sugestão:procure uma transformação linear que mapeie bijetivamente [−1, 1] em [a, b]. 6Asfórmulasde Rodrigues podem ser generaliza<strong>da</strong>s para equaçõesdiferenciais defini<strong>da</strong>s em intervalosnão-finitos, comoJ = (0, ∞) ou J = (−∞, ∞). Tratemos disso.Para o caso J = (0, ∞) devemos supor novamente que r(x) seja infinitamente diferenciável, mas devemos ain<strong>da</strong> suporque r(x) seja limita<strong>da</strong> em x = 0 e que r(x) e to<strong>da</strong>s as suas deriva<strong>da</strong>s r (m) (x) caiam no infinito mais rápido que qualquerpotência, ou seja lim x→∞ x k r (m) (x) = 0 para todo k ≥ 0 e m ≥ 0. Definimos, nesse caso,p n (x) := 1 d n (r(x) dx n r(x)x n) . (<strong>15</strong>.28)6 Veremos isso explicitamente nos exemplos <strong>da</strong> Seção <strong>15</strong>.27 Benjamin Olinde Rodrigues (1794–1851). Rodrigues foi banqueiro e matemático amador, nascido na França, mas de origem ju<strong>da</strong>icoportuguesa.Encontrou a fórmula que leva seu nome apenas para o caso dos polinômios de Legendre. A generalização aqui apresenta<strong>da</strong> éposterior. Rodrigues também deu contribuições para a teoria dos quatérnions e para o grupo SO(3) (vide Proposição 21.5, página 1028).Apesar de banqueiro, Rodrigues foi líder do partido socialista francês.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 676/2117É fácil ver que se m < n, entãoPara ver isso, escrevemos novamente∫ ∞0∫ ∞0x m p n (x) r(x) dx =x m p n (x) r(x) dx = 0 , (<strong>15</strong>.29)∫ ∞0x m dndx n (r(x)x n )dxe fazemos ( integração por partes, usando que lim x→∞ x k r (m) (x) = 0 para todos k ≥ 0 e m ≥ 0 e que a expressãod kdxr(x)x), n com k < n, sempre contém um fator x que se anula em 0.kE. <strong>15</strong>.3 Exercício importante. Complete os detalhes. 6Em certos exemplos, como na equação de Laguerre, as funções p n são polinômios na variável x. Nesses casos, temosentão que∫ ∞0p m (x) p n (x) r(x) dx = 0 ,sempre que m ≠ n. Isso significa que os polinômios p n (x) são ortogonais dois-a-dois segundo o produto escalar 〈·, ·〉 rnointervalo J = (0, ∞). Como antes, isso sugere que as soluções polinomiais de certas equações diferenciais defini<strong>da</strong>s nointervalo J = (0, ∞) possam ser escritas, a menos de uma constante multiplicativa, na forma sugeri<strong>da</strong> pela fórmula deRodrigues (<strong>15</strong>.28). Veremos que tal é o caso para os polinômios de Laguerre e isso nos permitirá obter algumas relaçõesúteis sobre aqueles polinômios.Para o caso J = (−∞, ∞) devemos supor novamente que r(x) seja infinitamente diferenciável, mas devemosain<strong>da</strong> supor que r(x) e to<strong>da</strong>s as suas deriva<strong>da</strong>s r (m) (x) caiam no infinito mais rápido que qualquer potência, ou sejalim |x|→∞ |x| k |r (m) (x)| = 0 para todo k ≥ 0 e m ≥ 0. Definimos, nesse caso,p n (x) := 1 d n ( )r(x) dx n r(x) . (<strong>15</strong>.30)É fácil ver que se m < n, entãoPara ver isso, escrevemos novamente∫ ∞−∞∫ ∞−∞x m p n (x) r(x) dx =x m p n (x) r(x) dx = 0 , (<strong>15</strong>.31)∫ ∞−∞( )x m dndx n r(x) dxe fazemos integração por partes, usando que lim |x|→∞ |x| k |r (m) (x)| = 0 para todos k ≥ 0 e m ≥ 0.E. <strong>15</strong>.4 Exercício importante. Complete os detalhes. 6Em certos exemplos, como na equação de Hermite, as funções p n são polinômios na variável x. Nesses casos, temosentão que∫ ∞−∞p m (x) p n (x) r(x) dx = 0 ,sempre que m ≠ n. Isso significa que os polinômios p n (x) são ortogonais dois-a-dois segundo o produto escalar 〈·, ·〉 rnointervalo J = (−∞, ∞). Como antes, isso sugere que as soluções polinomiais de certas equações diferenciais defini<strong>da</strong>s nointervalo J = (−∞, ∞) possam ser escritas, a menos de uma constante multiplicativa, na forma sugeri<strong>da</strong> pela fórmula deRodrigues (<strong>15</strong>.30). Veremos que tal é o caso para os polinômios de Hermite e isso nos permitirá obter algumas relaçõesúteis sobre os mesmos.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 677/2117<strong>15</strong>.2 Proprie<strong>da</strong>des de Algumas Funções EspeciaisVamos agora então reunir o conhecimento acumulado acima para obter várias proprie<strong>da</strong>des úteis de algumas <strong>da</strong>s funçõesespeciais que encontramos como soluções de equações diferenciais de interesse. As várias identi<strong>da</strong>des que provaremos podemser obti<strong>da</strong>s de diferentes modos, de sorte que o leitor certamente encontrará na literatura demonstrações alternativasàquelas aqui apresenta<strong>da</strong>s.<strong>15</strong>.2.1 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Legendre• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de LegendreA equação de Legendre (( 1−x 2) y ′ (x) ) ′+ λ(λ + 1)y(x) = 0, é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = [−1, 1].Aqui, p(x) = (1 − x 2 ), q(x) = 0, r(x) = 1 e µ = λ(λ + 1). A função p(x) anula-se nos extremos ±1 do intervaloJ = [−1, 1].Os polinômios de Legendre P m (x) foram definidos em (14.14), página 608, porP m (x) :=⌊m/2⌋∑a=0(−1) a (2m−2a)!2 m (m−a)!(m−2a)!a!x m−2a , (<strong>15</strong>.32)onde ⌊m/2⌋ é o maior inteiro menor ou igual a m/2, e são soluções <strong>da</strong> equação de Legendre com µ = m(m+1), sendo(as únicas) soluções <strong>da</strong> equação de Legendre que permanecem limita<strong>da</strong>s nos pontos ±1.Como p(x) anula-se nos extremos ±1 e os P m (x) são limitados nesses pontos, vale para os polinômios de Legendre arelação (<strong>15</strong>.23) e concluímos pelo Teorema <strong>15</strong>.1, página 673, quepara todo n ≠ m, com m, n = 0, 1, 2, 3, .... Notemos que isso implica∫ 1−1∫ 1P n (x)P m (x) dx = 0 (<strong>15</strong>.33)−1x k P m (x) dx = 0 (<strong>15</strong>.34)para todo k < m, pois os monômios x k podem ser escritos como combinações lineares dos polinômios P n ’s com n < m.Para calcular as integrais de (<strong>15</strong>.33) no caso n = m, podemos elegantemente usar as relaçõeseP ′ n+1(x) = (2n+1)P n (x)+P ′ n−1(x) , n ≥ 0 , (<strong>15</strong>.35)P n (1) = 1 , P n (−1) = (−1) n , n ≥ 0 , (<strong>15</strong>.36)as quais serão demonstra<strong>da</strong>s mais abaixo (relações (<strong>15</strong>.41) e (<strong>15</strong>.45), respectivamente) como conseqüência <strong>da</strong> fórmula deRodrigues para os polinômios de Legendre. De fato, por integração por partes, tem-se∫ 1−1∫P n (x)P n+1(x) ′ dx = P n (x)P n+1 (x) ∣ 1 1− P n(x)P ′ n+1 (x) dx .−1Por (<strong>15</strong>.36), P n (x)P n+1 (x) ∣ 1 = −1 1+(−1)2n = 2. Por (<strong>15</strong>.34), ∫ 1−1 P′ n (x)P n+1(x)dx = 0, pois P n ′ (x) é seguramente umpolinômio de grau n−1. Assim,∫ 1∫ 12 = P n (x)P n+1(x) ′ dx (<strong>15</strong>.35)= P n (x) [ (2n+1)P n (x)+P n−1(x) ′ ] ∫ 1dx = (2n+1) P n (x) 2 dx ,−1−1−1pois, novamente por (<strong>15</strong>.34), ∫ 1−1 P n(x)P n−1 ′ (x) dx = 0, já que P′ n−1 (x) é um polinômio de grau n−2. Isso provou que∫ 1−1P n (x)P m (x) dx =−122n+1 δ n,m , (<strong>15</strong>.37)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 678/2117para todos m, n ≥ 0. Estas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de Legendre. Para uma outrademonstração, vide Exercício E. <strong>15</strong>.28, página 726.Emmuitassituaçõespráticaséconvenienteexpressar(<strong>15</strong>.37)através<strong>da</strong>mu<strong>da</strong>nçadevariávelx = cosθ, com0 ≤ θ ≤ π.Ficamos com ∫ π2P n (cosθ)P m (cosθ) sen(θ) dθ =2n+1 δ n,m , (<strong>15</strong>.38)para todos m, n ≥ 0.0Na Seção 35.6, página 1724, é demonstra<strong>da</strong> a importante proprie<strong>da</strong>de de completeza dos polinômios de Legendre noespaço de Hilbert L 2 ([−1, 1], dx).• Fórmula de Rodrigues para os polinômios de LegendrePelas nossas considerações gerais sobre as fórmulas de Rodrigues <strong>da</strong> Seção <strong>15</strong>.1.2, página 675, podemos presumir queos polinômios P m , por serem ortogonais entre si (vide (<strong>15</strong>.33)), possam ser expressos na forma (<strong>15</strong>.26) com r(x) = 1, ouseja,d m (P m (x) = K mdx m (1−x 2 ) m) ,onde K m são constantes que dependem <strong>da</strong> normalização adota<strong>da</strong>. De fato, essa pressuposição é correta pois, escrevendo(1−x 2 ) m = ∑ m ma=0(a)(−1) m−a x 2m−2a (binômio de Newton) e notando qued m (dx m x 2m−2a) =(justifique!), concluímos facilmente que⎧⎪⎨⎪⎩(2m−2a)!(m−2a)! xm−2a , para 0 ≤ a ≤ ⌊m/2⌋0, para ⌊m/2⌋+1 ≤ a ≤ md m (dx m (1−x 2 ) m) = dm ∑m ( mdx a)m (−1) m−a x 2m−2aa=0= dm⌊m/2⌋∑( mdx a)m (−1) m−a x 2m−2aa=0(<strong>15</strong>.39)=∑( ) m (2m−2a)!(−1) m−a a (m−2a)! xm−2a⌊m/2⌋a=0= (−1) m 2 m m!⌊m/2⌋∑a=0(−1) a (2m−2a)!2 m (m−a)!(m−2a)!a! xm−2a= (−1) m 2 m m! P m (x) .Assim, K m = (−1) m /(2 m m!) e1 d m (P m (x) =2 m m! dx m (x 2 −1) m) , (<strong>15</strong>.40)como pressuposto. Essa expressão é conheci<strong>da</strong> como fórmula de Rodrigues para os polinômios de Legendre e é váli<strong>da</strong>para todo m ≥ 0, inteiro.De (<strong>15</strong>.40) outras relações úteis podem ser extraí<strong>da</strong>s, nosso próximo assunto.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 679/2117• Relações de recorrência para os polinômios de LegendreVamos aqui demonstrar as seguintes relações váli<strong>da</strong>s para os polinômios de Legendre:P n+1 ′ (x) = (2n+1)P n(x)+P n−1 ′ (x) , (<strong>15</strong>.41)P ′ n+1(x) = xP ′ n(x)+(n+1)P n (x) , (<strong>15</strong>.42)nP n (x) = xP n ′ (x)−P′ n−1 (x) , (<strong>15</strong>.43)(n+1)P n+1 (x) = (2n+1)xP n (x)−nP n−1 (x) , (<strong>15</strong>.44)P n (1) = 1 , P n (−1) = (−1) n . (<strong>15</strong>.45)To<strong>da</strong>s as relações acima têm aplicações (vimos isso quando provamos as relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os P n ’s). Arelação (<strong>15</strong>.44) é particularmente interessante por permitir determinar os P n ’s recursivamente a partir dos dois primeiros:P 0 (x) = 1 e P 1 (x) = x.Comecemos por provar (<strong>15</strong>.41). Como ddx (x2 −1) n+1 = 2(n+1)x(x 2 −1) n , segue <strong>da</strong> fórmula de Rodrigues para P n+1queP ′ n+1(x) ===12 n+1 (n+1)!12 n n!12 n n!d n+1 [dx n+1 2(n+1)x(x 2 −1) n]d n [dx n (x 2 −1) n +2nx 2 (x 2 −1) n−1]d n [dx n (2n+1)(x 2 −1) n +2n(x 2 −1) n−1]= (2n+1)P n (x)+P ′ n−1 (x) ,provando (<strong>15</strong>.41). Por outro lado, começando pela primeira linha obti<strong>da</strong> acima, e usando-se a regra de Leibniz, tem-seP ′ n+1 (x) = 12 n n!=12 n n!d n+1 [dx n+1 x(x 2 −1) n]n+1∑( )( )( )n+1 dp dn+1−pp dx px dx n+1−p(x2 −1) np=0=12 n n! x dn+1dx n+1(x2 −1) n + (n+1)2 n n!d ndx n(x2 −1) n= xP ′ n (x)+(n+1)P n(x) ,provando (<strong>15</strong>.42). A relação (<strong>15</strong>.43) é obti<strong>da</strong> subtraindo-se (<strong>15</strong>.42) de (<strong>15</strong>.41). Por fim, para obter (<strong>15</strong>.44), multiplicamos(<strong>15</strong>.41) por x e escrevemos(2n+1)xP n (x) = xP ′ n+1(x)−xP ′ n−1(x)=(xP′n+1 (x)−P ′ n (x)) +P ′ n (x)−xP′ n−1 (x)(<strong>15</strong>.43)= (n+1)P n+1 (x)+ ( P ′ n(x)−xP ′ n−1(x) )(<strong>15</strong>.42)= (n+1)P n+1 (x)+nP n−1 (x) .Disso (<strong>15</strong>.44) segue imediatamente.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 680/2117Por fim, vamos provar (<strong>15</strong>.45) por indução. Como P 0 (x) = 1 e P 1 (x) = x, as relações acima valem para n = 0 en = 1. Supondo-as váli<strong>da</strong>s para n−1 e n, teremos por (<strong>15</strong>.44) que (n+1)P n+1 (1) = (2n+1)−n = (n+1), o que implicaP n+1 (1) = 1 e (n+1)P n+1 (−1) = −(2n+1)(−1) n +n(−1) n = (n+1)(−1) n+1 , o que implica P n+1 (−1) = (−1) n+1 . Issoencerra a demonstração de (<strong>15</strong>.41)-(<strong>15</strong>.45).• A função geratriz dos polinômios de LegendreA função geratriz 8 dos polinômios de Legendre é∞∑L(x, t) := P n (x)t n =n=01√1−2tx+t2 , (<strong>15</strong>.46)váli<strong>da</strong> para |t| < 1 e |x| ≤ 1. Essa relação tem diversas demonstrações, a mais elegante sendo a seguinte (de [116]).Calculando-se ∂ ∂tL(x, t) e usando-se (<strong>15</strong>.44), tem-se∂∞∂t L(x, t) = ∑∞∑nP n (x)t n−1 = (n+1)P n+1 (x)t nn=1n=0(<strong>15</strong>.44)=∞∑n=0[](2n+1)xP n (x)−nP n−1 (x) t n∞∑ ∞∑ ∞∑= 2x nP n (x)t n +x P n (x)t n − nP n−1 (x)t nn=0 n=0 n=0∞∑ ∞∑ ∞∑= 2x nP n (x)t n +x P n (x)t n − (n+1)P n (x)t n+1n=0 n=0 n=0= 2xt ∂ ∞∑∞∑P n (x)t n +(x−t) P n (x)t n −t 2 ∂ ∞∑P n (x)t n∂t∂tn=0n=0n=0= (2xt−t 2 ) ∂ L(x, t)+(x−t)L(x, t) .∂tE. <strong>15</strong>.5 Exercício. Verifique! 6Assim, L(x, t) satisfaz a equação diferencialO lado direito é − 1 ∂2∂t ln( 1−2xt+t 2) . Logo,1 ∂ (x−t)L(x, t) =L(x, t) ∂tL(x, t) =1−2xt+t 2 .exp(l(x))√1−2tx+t2 ,onde l(x) é, em princípio, uma função arbitrária. Lembrando, porém, que L(x, 0) = P 0 (x) = 1 para todo x, obtem-sede imediato que l(x) = 0 para todo x. Isso estabelece (<strong>15</strong>.46), como queríamos.• Representações integrais para os polinômios de LegendreA bem-conheci<strong>da</strong> Fórmula Integral de Cauchy, afirma que, para uma função f analítica em um domínio abertosimplesmente conexo D, valef (n) (z) = n! ∫f(w)dw , (<strong>15</strong>.47)2πi C (w −z)n+18 A noção de função geratriz foi introduzi<strong>da</strong> na Seção 6.1, página 258.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 681/2117para todo z ∈ D, onde a curva C é uma curva diferenciável fecha<strong>da</strong> inteiramente conti<strong>da</strong> em D e dá precisamente umavolta no sentido anti-horário em torno de z. Combinando a fórmula de Rodrigues e a Fórmula Integral de Cauchy,obtem-se imediatamenteP l (z) =∫12 l+1 πi C(w 2 −1) ldw , (<strong>15</strong>.48)(w −z)l+1onde C é uma curva fecha<strong>da</strong> e diferenciável no plano complexo <strong>da</strong>ndo uma volta em torno de z no sentido anti-horário.Essa expressão é conheci<strong>da</strong> como representação integral de Schläfli 9 dos polinômios de Legendre.Uma conseqüência dessa representação é a seguinte expressão:P l (z) = 12π∫ π−π(z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ)) ldφ, (<strong>15</strong>.49)váli<strong>da</strong> para |z| < 1. A demonstração dessa expressão será apresenta<strong>da</strong> mais adiante como caso particular de umaidenti<strong>da</strong>de mais geral (expressão (<strong>15</strong>.59), abaixo), váli<strong>da</strong> para os polinômios de Legendre associados. Como a equação deLegendre é invariante pela mu<strong>da</strong>nça l → −(l+1) (verifique que l(l+1) é levado em si mesmo por essa transformação!),vale também a identi<strong>da</strong>de 10 P l (z) = 12π∫ π−π(1) l+1dφ . (<strong>15</strong>.50)z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ)Para z real no intervalo [−1, 1], podemos escrever, como é comum em aplicações, z = cos(θ) com 0 ≤ θ ≤ π e com issoas duas identi<strong>da</strong>des acima ficamP l (cos(θ)) = 1 ∫ π () ldφ∫1 π1cos(θ)+isen(θ) cos(φ) = ()2π −π2πl+1dφ .−πcos(θ)+isen(θ) cos(φ)Usando o binômio de Newton podemos usar a primeira identi<strong>da</strong>de para escrever P l (cos(θ)) como um polinômio emcosθ e senθ:P l (cos(θ)) = 1 l∑( li2π p)p( ) l−p ( ) p∫ π ( pdφcos(θ) sen(θ) cos(φ))−πp=0==⌊l/2⌋∑q=0⌊l/2⌋∑q=0(−1) q2 2q ( l2q)( 2qq) (cos(θ)) l−2q (sen(θ)) 2q(−1) q l!( ) l−2q ( 2q2 2q (l−2q)!(q!) 2 cos(θ) sen(θ)).<strong>15</strong>.2.2 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Legendre AssociadosNa Seção 14.3.1, página 651, introduzimos a equação de Legendre associa<strong>da</strong> (14.<strong>15</strong>6) e mostramos que para λ = l ∈ N 0e µ = m ∈ N 0 a mesma possui soluções <strong>da</strong> formaPl m (z) := (1−z 2 m/2 dm)dz mP l(z) , (<strong>15</strong>.51)para z ∈ C com |z| < 1, onde P l é o polinômio de Legendre de grau l. É claro que P ml(z) é nulo se m > l (pois P l éum polinômio de grau l). A relação (<strong>15</strong>.51), como dissemos na Seção 14.3.1, define os chamados polinômios de Legendreassociados 11 , ain<strong>da</strong> que eles não sejam exatamente polinômios na variável z.9 Ludwig Schläfli (1814–1895).10 Esse argumento envolvendo a transformação l → −(l+1) é ain<strong>da</strong> incompleto, mas pode-se provar que o lado direito de (<strong>15</strong>.50) é de fatoigual ao esquerdo, pois é regular e satisfaz a equação de Legendre. Deixamos os detalhes como exercício.11 O leitor deve ser advertido que, lastimavelmente, não há uniformi<strong>da</strong>de na literatura quanto à definição dos polinômios de Legendreassociados. Alguns autores (e.g., [160]) introduzem um fator (−1) m no lado direito de (<strong>15</strong>.51). Assim, algumas <strong>da</strong>s expressões que obtemosaqui podem diferir <strong>da</strong>s correspondentes encontra<strong>da</strong>s em alguns textos e o leitor deve compará-las cui<strong>da</strong>dosamente. A definição que seguimosé a recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> pela American Mathematical Society.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 682/2117Vimos também que, devido à fórmula de Rodrigues para os polinômios de Legendre, podemos escrever P ml(z) comoPl m (z) = 1 (2 l l! (1−z2 m/2 dl+m)dz l+m (z 2 −1) l) , (<strong>15</strong>.52)para z ∈ C com |z| < 1 e 0 ≤ m ≤ l. Lá notamos também que essa expressão faz sentido mesmo para m inteiro negativo,mas tal que −l ≤ m ≤ l. Assim, definimostambém com 0 ≤ m ≤ l e para z ∈ C com |z| < 1. Afirmamos queP −ml(z) = 1 (2 l l! (1−z2 −m/2 dl−m)dz l−m (z 2 −1) l) , (<strong>15</strong>.53)P −ml(z) = (−1) m (l−m)!(l+m)! Pm l (z) . (<strong>15</strong>.54)Essa relação é importante por mostrar que P −ml(z) é também uma solução <strong>da</strong> equação de Legendre associa<strong>da</strong>, por serproporcional a Pl m (z). Fora isso a expressão acima é relevante para as chama<strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas, <strong>da</strong>s quaistrataremos mais abaixo.Apresentaremos duas demonstrações de (<strong>15</strong>.54), ambas instrutivas. Uma “a força bruta”, usando diretamente asdefinições, é desenvolvi<strong>da</strong> no Apêndice <strong>15</strong>.A, página 727. Uma segun<strong>da</strong>, mais gentil, será vista logo abaixo e usa umarepresentação integral dos polinômios de Legendre associados.• Representações integrais para os polinômios de Legendre associadosNossa intenção agora é obter algumas representações integrais úteis para os polinômios de Legendre associados mas,en passant, encontraremos uma outra demonstração mais gentil <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.54).As expressões (<strong>15</strong>.52) e (<strong>15</strong>.53) envolvem deriva<strong>da</strong>s do tipo dkdz(z 2 −1) l para k = l+m e k = l−m, respectivamente.kProcuremosprimeiramenteexpressar genericamente dk (z 2 −1) l emtermos decertasintegrais. Tomemosprovisoriamentedz kz real no intervalo aberto −1 < z < 1. Pela Fórmula Integral de Cauchy (<strong>15</strong>.47), podemos escrever 12d kdz k(z2 −1) l = k! ∫(w 2 −1) ldw , (<strong>15</strong>.55)2πi C (w −z)k+1onde C é uma curva fecha<strong>da</strong> e diferenciável no plano complexo, <strong>da</strong>ndo uma volta em torno de z no sentido anti-horário.Escolhemos a curva C <strong>da</strong><strong>da</strong> por C := {w ∈ C| |w−z| = (1−z 2 ) 1/2 }, de modo que podemos escrever todo ponto w deC na formaw = z +i(1−z 2 ) 1/2 e iφcom −π ≤ φ ≤ π. Com isso, a integral em w sobre C pode ser escrita como uma integral em φ e para isso, usa-sedw = −(1−z 2 ) 1/2 e iφ dφ ,w −z = i(1−z 2 ) 1/2 e iφ ,w 2 −1 = −(1−z 2 )(e 2iφ +1)+2iz(1−z 2 ) 1/2 e iφ(= 2 i(1−z 2 ) 1/2) 2eiφ( e iφ +e −iφ= 2i(1−z 2 ) 1/2 e iφ( )z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ) .2)+2iz(1−z 2 ) 1/2 e iφ12 As idéias que se seguem provavelmente originam-se dos trabalhos de Schläfli. Nossas fontes são [116] e [270], que seguimos com a<strong>da</strong>ptações.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 683/2117Assim,d kdz k(z2 −1) l = k! ∫(w 2 −1) ldw2πi C (w −z)k+1( )) l∫= −(1−z 2 1/2 k! π(2i(1−z 2 ) 1/2 e iφ z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ)) (2πi −π i(1−z2 ) 1/2 e iφ) e iφ dφk+1e assim,pois∫ π−π= (1−z 2 ) (l−k)/2 2l i l−k k!2π∫ π−π(z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ)) le i(l−k)φ dφd kdz k(z2 −1) l = (1−z 2 ) (l−k)/2 2l i l−k ∫k! π (lz +i(1−z 2 ) 1/2 ( )cos(φ))cos (l−k)φ dφ , (<strong>15</strong>.56)2π −π(lz +i(1−z 2 ) cos(φ)) 1/2 sen ((l−k)φ) dφ = 0, pelo fato de o integrando ser uma função ímpar.Aplicando (<strong>15</strong>.56) às expressões (<strong>15</strong>.52) e (<strong>15</strong>.53) de Pl m e P −ml(adotando k = l+m e k = l−m, respectivamente),chegamos a∫Pl m (z) = i−m (l+m)! π (lz +i(1−z 2 ) 1/2 ( )cos(φ))cos −mφ dφ ,2πl! −πe comparando-as, extraímos que∫P −ml(z) = i+m (l−m)! π (lz +i(1−z 2 ) 1/2 ( )cos(φ))cos +mφ dφ ,2πl! −πP ml (z) = (−1) m (l+m)!(l−m)! P−m l(z) . (<strong>15</strong>.57)Com isso, encontramos uma segun<strong>da</strong> demonstração de (<strong>15</strong>.54). As identi<strong>da</strong>des acima foram prova<strong>da</strong>s para z real em−1 < z < 1, mas valem para todo z complexo com |z| < 1 (e mesmo em z = ±1), pois lá Pl m (z) e P −ml(z) têm umaextensão analítica única.Coletemos o que provamos acima. Aplicando (<strong>15</strong>.55) à definição (<strong>15</strong>.52) de P ml(z), agora para todo m ∈ Z com−l ≤ m ≤ l, chegamos à expressãoPl m (z) = (l+m)!2 l+1 πil! (1−z2 )∫Cm/2 (w 2 −1) ldw , (<strong>15</strong>.58)(w −z)l+m+1onde C é uma curva fecha<strong>da</strong> e diferenciável no plano complexo <strong>da</strong>ndo uma volta em torno de z no sentido anti-horário.Essa expressão generaliza a representação de Schläfli (<strong>15</strong>.48) para os polinômios de Legendre. Como conseqüência,estabelecemos também logo acima a representação integral∫Pl m (z) = i−m (l+m)! π (lz +i(1−z 2 ) 1/2 ( )cos(φ))cos mφ dφ , (<strong>15</strong>.59)2πl! −πváli<strong>da</strong> para |z| < 1 e para todo l ∈ N 0 e todo m ∈ Z com −l ≤ m ≤ l.Assim como a equação de Legendre, a equação de Legendre associa<strong>da</strong> é invariante pela transformação l → −(l +1).Assim, vale também 13P ml (z) =i m ∫l! π2π(l −m)! −π1(z +i(1−z 2 ) 1/2 cos(φ)) l+1cos ( mφ ) dφ , (<strong>15</strong>.60)13 Esse argumento envolvendo a transformação l → −(l+1) é ain<strong>da</strong> incompleto, mas pode-se provar que o lado direito de (<strong>15</strong>.60) é de fatoigual ao esquerdo, pois é regular e satisfaz a equação de Legendre associa<strong>da</strong>. Deixamos os detalhes como exercício.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 684/2117onde acima usamos o fato que (l+m)!l!= (l + m)(l + m − 1)···(l + 1) é levado pela transformação l → −(l + 1) em(−1−l +m)(−2−l+m)···(−l) = (−1) m (l)(l +1)···(l−m+1) = l!(l−m)! .Em aplicações é comum tomar-se z real no intervalo [−1, 1] e escrever z = cos(θ) com 0 ≤ θ ≤ π. Com isso, as duasidenti<strong>da</strong>des acima ficamP ml (cos(θ)) = i−m (l+m)!2πl!∫ π−π(cos(θ)+isen(θ)cos(φ)) lcos(mφ)dφ , (<strong>15</strong>.61)P ml (cos(θ)) =i m ∫l! π2π(l−m)! −π1(cos(θ)+isen(θ)cos(φ)) l+1cos ( mφ ) dφ . (<strong>15</strong>.62)Através do binômio de Newton, a primeira identi<strong>da</strong>de pode ser usa<strong>da</strong> para expressar P ml (cos(θ)) como um polinômio emcosθ e senθ:Plm ( )cos(θ)= i−m (l+m)!2πl!−m+|m| (l+m)!= i2 |m| l!l∑p=0( l ( ) l−p ( ) p∫ π ( pcosip) p ( )cos(θ) sen(θ) cos(φ))mφ dφ ,−π⌊ l−|m|2 ⌋∑q=0⌊ l−|m|2= i −m+|m| (l+m)! ∑⌋2 |m|q=0(−1) q ( ) ( )l 2q +|m| (cos(θ) ) l−2q−|m| ( ) 2q+|m|sen(θ)2 2q 2q +|m| q(−1) q ( ) l−2q−|m| ( ) 2q+|m|cos(θ) sen(θ) . (<strong>15</strong>.63)2 2q (l−2q −|m|)!(q +|m|)!q!Note que i −m+|m| = 1 se m ≥ 0 e i −m+|m| = (−1) m se m < 0, de modo que P ml (cos(θ)) é real se 0 ≤ θ ≤ π. Notetambém que podemos colocar ( sen(θ) ) |m|em evidência em (<strong>15</strong>.63) e escrever(sen(θ)) 2q=(1 −(cos(θ)) 2 ) q, obtendona somatória um polinômio em cos(θ).A expressão (<strong>15</strong>.63) é por vezes utiliza<strong>da</strong> na prática para expressar as funções harmônicas esféricas (que definiremosabaixo) como polinômios em cosθ e senθ. Logo adiante faremos uso <strong>da</strong> mesma no estudo <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s funções P ml .• A função geratriz dos polinômios de Legendre associadosUsando (<strong>15</strong>.51), (<strong>15</strong>.46) e a identi<strong>da</strong>de, váli<strong>da</strong> para m ≥ 0,(prove-a!) é fácil mostrar queváli<strong>da</strong> para todo m ≥ 0.d mdx m(1−2tx+t2 ) −1 2 = (2m)!2 m m! tm (1−2tx+t 2 ) −m− 1 2∞∑l=0P ml+m (x)tl = (2m)!2 m m!(1−x 2 ) m 2(1−2tx+t 2 ) m+1 2, (<strong>15</strong>.64)E. <strong>15</strong>.6 Exercício. Mostre isso. 6Aexpressão(<strong>15</strong>.64)étambémdenomina<strong>da</strong>função geratriz dos polinômios de Legendre associados. Aexpressão(<strong>15</strong>.64)tem poucas aplicações diretas, mas pode ser usa<strong>da</strong> para demonstrar outras relações sobre os polinômios de Legendreassociados.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 685/2117• Relações de recorrência para os polinômios de Legendre associadosOs polinômios de Legendre associados satisfazem uma série de relações de recorrência. Listemos as mais relevantes:[ ]P m+1 2mxl(x) = √1−x2 Pm l (x)− l(l+1)−m(m−1) P m−1l(x) ,P m+1l+1 (x) = (2l+1)√ 1−x 2 P ml (x)+P m+1l−1 (x) ,(2l+1) √ 1−x 2 P ml (x) = (l+m)(l+m−1)P m−1l−1 (x)−(l−m+1)(l−m+2)Pm−1 l+1 (x) ,(2l+1)xP ml (x) = (l+m)P ml−1(x)+(l−m+1)P ml+1(x) ,2 √ 1−x 2 ddx Pm l (x) = P m+1l(x)−(l+m)(l−m+1)P m−1l(x) .Asdemonstraçõespodemserobti<strong>da</strong>s<strong>da</strong>seguinteforma: 1.apartir<strong>da</strong>srelaçõesderecorrênciadospolinômiosdeLegendre(<strong>15</strong>.41)-(<strong>15</strong>.45) com uso <strong>da</strong> definição (<strong>15</strong>.51); 2. a partir de (<strong>15</strong>.52) ou, em alguns casos, 3. com o uso <strong>da</strong> função geratriz(<strong>15</strong>.64). Deixamos as demonstrações como exercício.E. <strong>15</strong>.7 Exercício. Prove to<strong>da</strong>s as relações acima. Sugestão: tente por conta própria seguir as sugestões do últimoparágrafo. Senão, consulte a literatura supracita<strong>da</strong>, mas com as seguintes precauções: a. diferentes textos apresentamdefinições diferentes dos Pl m , o que conduz a relações de recorrência distintas <strong>da</strong>s de acima; b. nem todos os livros-texto 14provam to<strong>da</strong>s as relações e c. alguns contêm erros. 6• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de Legendre associadosObteremos agora relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de Legendre associados, relações essas de grandeimportância na Análise Harmônica e que inspiram a definição <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas.A equação de Legendre associa<strong>da</strong> (14.<strong>15</strong>6) é considera<strong>da</strong> na maioria <strong>da</strong>s aplicações no intervalo [−1, 1], como jámencionamos. A mesma, em analogia com a equação de Legendre, pode ser escrita como((1−x 2 )y ′ (x)) ′ +l(l+1)y(x)− m2y(x) = 0 , (<strong>15</strong>.65)1−x2 onde aqui já nos restringimos ao caso l ∈ N 0 , m ∈ Z com −l ≤ m ≤ l. Como se vê, temos aqui p(x) = (1 −x 2 ), maspodemos fazer as seguintes escolhas1) q(x) = − m21−x2, r(x) = 1, µ = l(l+1) ,2) q(x) = l(l+1), r(x) =11−x 2, µ = −m2 .Analisaremos essas duas opções em separado. O caso 1 é o mais interessante, especialmente devido a sua aplicação paraas funções harmônicas esféricas. O caso 2 não é de grande interesse e o leitor pode dispensar sua leitura, se o desejar <strong>15</strong> .Caso 1) A primeira questão que aqui se coloca é se a condição (<strong>15</strong>.23) é satisfeita para funções Pl m (x) e Pl m ′ (x) coml ≤ l ′ , ou seja, se(p(x) Pl m (x)(Pl m ′ (x))′ −Pl m ′ (x)(Pm l (x)) ′)∣ 1∣ = 0 , (<strong>15</strong>.66)−1com l ≤ l ′ . A maneira mais fácil de discutir isso é escrever x = cos(θ) e, comoddx Pm l (x) = − 1′ sen(θ)ddθ Pml ′ (cosθ),14 Segundo o Houaiss, “livros-textos” ou “livros-texto” são dois plurais gramaticalmente corretos para “livro-texto”, assim como “espaçostempos”e “espaços-tempo” são plurais aceitáveis para “espaço-tempo”.<strong>15</strong> O caso 2 é um tanto patológico (pois a função r(x) diverge em ±1 e não é integrável) e é evitado por quase todos os livros-texto.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 686/2117e p(x) = sen(θ) 2 , (<strong>15</strong>.66) fica(sen(θ) Pl m (cosθ) d dθ Pm l ′ (cosθ)−Pm l (cosθ) d )∣ ∣∣θ=π′dθ Pm l (cosθ) . (<strong>15</strong>.67)θ=0Agora, por (<strong>15</strong>.63), P ml (cosθ) é um polinômio trigonométrico, e assim o é também d dθ Pm l (cosθ). Logo, ambos são finitosem θ = 0 e θ = π. Como, porém, senθ anula-se nesses extremos, concluímos que (<strong>15</strong>.67) é nula, confirmando a vali<strong>da</strong>dede (<strong>15</strong>.23) no caso em questão. Concluímos assim, pelo Teorema <strong>15</strong>.1, página 673, que deve valersempre que l ≠ l ′ .∫ 1P m−1l (x)P m ′ (x) dx = 0 (<strong>15</strong>.68)lInteressamo-nos agora pelo caso l ′ = l. Caso l = l ′ = 0 vale P0 0(x) = 1 e ∫ 1−1 (P0 0 )2 dx = 2. Para calcular∫ 1−1 (Pm l (x)) 2 dx com l > 0 podemos proceder de diferentes maneiras, a mais direta sendo a seguinte. Usando (<strong>15</strong>.54) eas expressões (<strong>15</strong>.52) e (<strong>15</strong>.53) para Pl m e P −ml, respectivamente, escrevemos∫ 1Pl m (x)Pl m (x) dx = (−1) m (l+m)! ∫ 1Pl m (x)P −ml(x) dx(l−m)! −1−1=int. por partes l−m vezes=(−1) m ∫(l +m)! 1( )( )dl+m d2 2l (l!) 2 (l −m)! −1 dx l+m(x2 −1) l l−mdx l−m(x2 −1) l dx(−1) l ∫(l +m)! 1( ) d2l2 2l (l!) 2 (l −m)! −1 dx 2l(x2 −1) l (x 2 −1) l dx===(2l)! (l +m)!2 2l (l!) 2 (l −m)!(2l)! (l +m)!2 2l (l!) 2 (l −m)!22l+1(l+m)!(l−m)! .∫ 1−1(1−x 2 ) l dx( ) 2(2l)!!(2l+1)!!Na terceira linha aplicamos integração por partes l−m vezes. Isso é justificado pois, como facilmente se vê por indução,deriva<strong>da</strong>s como dpdx(x 2 −1) l , com 0 ≤ p < l são proporcionais a (x 2 −1) l−p e, por isso, os termos de fronteira se anulam.p(2l)!Na última passagem usamos o fato que(2l+1)!!= (2l)!!2l+1 e o fato que (2l)!! = 2l l!. Na penúltima passagem usamos aidenti<strong>da</strong>de ∫ 1(1−x 2 ) l dx = 2 (2l)!!−1 (2l+1)!! , (<strong>15</strong>.69)a qual pode ser prova<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte forma. Seja A l := ∫ 1−1 (1−x2 ) l dx. Então, para l > 0,A l :=∫ 1−1(1−x 2 ) l dx =∫ 1−1( ) dx(1−x 2 ) l dxdx∣int. por partes= x(1−x 2 ) l ∣∣1−1} {{ }= 0∫ 1+2l x 2 (1−x 2 ) l−1 dx = −2lA l +2lA l−1 .−1Assim, A l = 2l2l+1 A l−1 e como A 0 = 2, segue (<strong>15</strong>.69).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 687/2117Demonstramos, assim, as relações de ortogonali<strong>da</strong>de∫ 1−1P ml (x)P ml ′ (x) dx = 22l+1(l+m)!(l−m)! δ l, l ′ , (<strong>15</strong>.70)váli<strong>da</strong>s para todo l, l ′ ∈ N 0 e m, m ′ ∈ Z com −l ≤ m ≤ l e −l ′ ≤ m ′ ≤ l ′ .a mu<strong>da</strong>nça de variáveis x = cosθ:É por vezes útil expressar essas relações com∫ π0P ml (cosθ)P ml ′ (cosθ) senθ dθ = 22l+1(l+m)!(l−m)! δ l, l ′ . (<strong>15</strong>.71)Essa forma <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Legendre associados será particularmente relevante para asfunções harmônicas esféricas, como veremos adiante.Caso 2) A primeira questão que aqui se coloca é se a condição (<strong>15</strong>.23) é satisfeita para funções P ml (x) e P m′l (x), com|m| ≠ |m ′ | (lembre-se o leitor que µ = −m 2 e, portanto µ ≠ µ ′ equivale a |m| ≠ |m ′ |), ou seja, se( ) ′p(x) Pl m (x)(Pl m′(x) −Pm ′l (x)(Pl m (x)) ′)∣ ∣1= 0 . (<strong>15</strong>.72)−1sempre que |m| ≠ |m ′ |. A mesma análise feita para o caso 1 mostra que isso é ver<strong>da</strong>deiro, confirmando a vali<strong>da</strong>de de(<strong>15</strong>.23) no caso em questão. Concluímos assim, pelo Teorema <strong>15</strong>.1, página 673, que deve valer∫ 1−1P ml (x)P m′l (x)∫1π1−x 2 dx = 0, ou seja,0P ml (cosθ)P m′l (cosθ)1dθ = 0, (<strong>15</strong>.73)sen(θ)sempre que |m| ≠ |m ′ |. A expressão (<strong>15</strong>.63) ensina-nos que Pl m (cosθ) é proporcional a (senθ) |m| . Logo, como |m| ≠ |m ′ |,sempre haverá no produto Pl m (cosθ)Pl m′1(cosθ) pelo menos um fator senθ para compensar osenθ, o que mostra que ointegrando em (<strong>15</strong>.73) é limitado. O caso |m ′ | = |m| é um tanto patológico (a integral diverge se m = m ′ = 0), difícil dedemonstrar e sem conseqüências práticas relevantes, de modo que nos limitamos a apresentar o resultado final 16 :∫ 1−10, se |m⎧⎪ ′ | ≠ |m|,Pl m 1 ⎨ ∞, se m ′ = m = 0,(x)Pl m′(x)1−x 2 dx = (−1) mm , se −m′ = m > 0,⎪ 1 (l+m)! ⎩m (l−m)! , se m′ = m > 0.(<strong>15</strong>.74)Note o leitor que a condição m > 0 só pode ocorrer se l > 0.Como já dissemos, as relações (<strong>15</strong>.74) são menos importantes na prática que as de (<strong>15</strong>.70). Essas inspiram umadefinição importante: a <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas.<strong>15</strong>.2.2.1 As Funções Harmônicas EsféricasNo espaço R n , n ≥ 2, o conjunto de pontos que distam de uma uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> origem formam a assim chama<strong>da</strong> esferaunitária 17 , denota<strong>da</strong> por S n−1 :{S n−1 := (x 1 , ..., x n ) ∈ R n∣ }∣ (x1 ) 2 +···+(x n ) 2 = 1 .O conjunto S 1 ⊂ R 2 é o círculo unitário e seus pontos podem ser descritos por um único ângulo ϕ com −π ≤ ϕ ≤ π:{ (cosϕ,S 1 ):= senϕ ∈ R 2 , −π ≤ ϕ ≤ π}.16 Para uma referência mais detalha<strong>da</strong>, vide [176], pag. 74.17 Há aqui um abuso de linguagem, pois S n−1 é, estritamente falando, a superfície <strong>da</strong> esfera.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 688/2117Como se vê, os pontos correspondentes a ϕ = ±π são identificados. O conjunto S 2 ⊂ R 3 é a esfera unitária e seus pontospodem ser descritos por dois ângulos: ϕ e θ, com −π ≤ ϕ ≤ π e 0 ≤ θ ≤ π:{ (sen(θ)cos(ϕ),S 2 ):= sen(θ)sen(ϕ), cos(θ) ∈ R 3 , −π ≤ ϕ ≤ π, 0 ≤ θ ≤ π}.Novamente, os pontos correspondentes a ϕ = ±π são identificados e para os pontos correspondentes a θ = 0 e θ = π oângulo ϕ é indeterminado.Aschama<strong>da</strong>sFunções Harmônicas Esféricas,ousimplesmenteHarmônicas Esféricas(ouain<strong>da</strong>Harmônicos Esféricos),são as funções defini<strong>da</strong>s por√Yl m (θ, ϕ) := (−1) m 2l+1 (l−m)!4π (l+m)! Pm l (cos(θ)) e imϕ , (<strong>15</strong>.75)onde 0 ≤ θ ≤ π, −π ≤ ϕ ≤ π, l ∈ N 0 e m ∈ Z com −l ≤ m ≤ l. Note-se queY 0l (θ, ϕ) =√2l+14π P l(cos(θ)) , (<strong>15</strong>.76)onde P l são os polinômios de Legendre. As funções harmônicas esféricas foram introduzi<strong>da</strong>s por Mehler 18 .Mais uma vez o leitor deve ser advertido <strong>da</strong> existência de outras convenções sobre a definição <strong>da</strong>s funções harmônicasesféricas. Essas funções são emprega<strong>da</strong>s em diversas áreas de pesquisa, como na Física Atômica, no Eletromagnetismo,na Geofísica, na Geodesia, na Sismologia, no estudo do magnetismo terrestre e planetário e, mais modernamente, naCosmologia, no estudo <strong>da</strong> radiação cósmica de fundo. Assim, diferentes comuni<strong>da</strong>des empregam por vezes convençõesdiferentes quanto à normalização <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas. A que adotamos é a mais freqüentemente emprega<strong>da</strong>na Física Quântica, mas mesmo lá há excessões: alguns autores substituem o fator (−1) m por i m na definição (<strong>15</strong>.75).Outros não incluem o fator (−1) m na definição <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas, mas sim na definição dos polinômiosde Legendre associados o que, afinal, resulta no mesmo. O fator de fase (−1) m , que adotamos em (<strong>15</strong>.75) é denominadofase de Condon-Shortley 19 em referência aos autores de um texto clássico sobre espectros atômicos (ref. [47]).As funções harmônicas esféricas são solução <strong>da</strong> equação diferencial parcial(1 ∂(senθ) ∂Y )senθ ∂θ ∂θ (θ, ϕ) 1 ∂ 2 Y+(senθ) 2 ∂ϕ2(θ, ϕ)+l(l+1)Y(θ, ϕ) = 0 , (<strong>15</strong>.77)que é encontra<strong>da</strong> quando <strong>da</strong> resolução <strong>da</strong> equação de Helmholtz ou de Laplace em três dimensões em coordena<strong>da</strong>sesféricas, assim como no problema do átomo de hidrogênio na Mecânica Quântica ou qualquer outro problema quânticoem três dimensões no qual o potencial seja esfericamente simétrico. Vide equação (20.45) e seguintes.É um exercício relevante verificar que, devido à relação (<strong>15</strong>.54), tem-se, com a definição acima,As primeiras funções harmônicas esféricas sãoY ml(θ, ϕ) = (−1) m Y −ml(θ, ϕ) . (<strong>15</strong>.78)Y0 0 1(θ, ϕ) = √ , (<strong>15</strong>.79)4πY −22=Y −11 (θ, ϕ) =√<strong>15</strong>32π( sen θ) 2e −2iϕ , Y−12√38π senθe−iϕ , Y 01 (θ, ϕ) =√ √334π cosθ , Y 1 1 (θ, ϕ) = −8π senθeiϕ , (<strong>15</strong>.80)√ √<strong>15</strong>= senθ cosθ e −iϕ , Y2 0 5( 3 = ( ) 21)√ √cosθ − , Y 1 <strong>15</strong>2 = − senθ cosθe iϕ , Y 2 <strong>15</strong>2 = ( ) 2e 2iϕ senθ .8π4π 2 28π32π(<strong>15</strong>.81)• Relação com séries de FourierNo círculo unitário S 1 valem as bem-conheci<strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de∫ ∫ πe m ′ e m dl = e m ′(ϕ) e m (ϕ) dϕ = δ m,m ′ (<strong>15</strong>.82)S 118 Gustav Ferdinand Mehler (1835–1895).19 Edward Uhler Condon (1902–1974). George H. Shortley (?–?).−π


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 689/2117onde, para m ∈ Z,e m (ϕ) := 1 √2πe imϕ , −π ≤ ϕ ≤ π ,dl = dϕ sendo a medi<strong>da</strong> de comprimento do círculo unitário S 1 . Usando as relações de ortogonali<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.82) e asrelações de ortogonali<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.71), é fácil constatar que∫ ∫ π ∫ πYl m dΩ = Yl m′ (θ, ϕ) Y m′ l (θ, ϕ) sen(θ)dθdϕ = δ m,m ′ δ l,l ′ (<strong>15</strong>.83)Yl m′′S 2−π0para todos l, l ′ ∈ N 0 e todos m, m ′ ∈ Z com −l ′ ≤ m ′ ≤ l ′ e −l ≤ m ≤ l, onde dΩ = sen(θ)dθdϕ é a medi<strong>da</strong> de áreana esfera unitária S 2 em coordena<strong>da</strong> polares. Essas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas,as quais desempenham um relevante papel na resolução de problemas envolvendo certas equações diferenciais parciaisem três dimensões que tenham simetria esférica. As funções harmônicas esféricas surgem na importante solução de umproblema fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Mecânica Quântica, o problema do átomo de hidrogênio. As formas dos orbitais eletrônicos,de importância fun<strong>da</strong>mental no estudo de átomos e moléculas e suas ligações químicas, estão intimamente relaciona<strong>da</strong>sàs funções Y ml(θ, ϕ) e aos polinômios de Laguerre associados.Como se percebe <strong>da</strong> comparação de (<strong>15</strong>.82) com (<strong>15</strong>.83), as funções harmônicas esféricas desempenham na esferaunitária S 2 o mesmo papel que as funções e m desempenham no círculo S 1 : formam um conjunto ortonormal em relaçãoà medi<strong>da</strong> de área dΩ = sen(θ)dθdϕ. Assim como as funções e m formam um conjunto ortonormal completo para asfunções defini<strong>da</strong>s em S 1 , o que nos permite expressar funções f(ϕ), periódicas de período 2π, contínuas por partes ouapenas de quadrado integrável, em termos de uma série de Fourier:f(ϕ) =∞∑m=−∞c m e m (ϕ) com c m :=∫ π−πe m (ϕ) f(ϕ) dϕ ,as funções harmônicas esféricas também formam um conjunto ortonormal completo para as funções defini<strong>da</strong>s em S 2 .Assim, em um sentido a ser precisado, to<strong>da</strong>s as funções f(θ, ϕ) defini<strong>da</strong>s em S 2 , e que sejam contínuas por partes ouapenas de quadrado integrável, podem ser escritas em termos de uma série envolvendo funções harmônicas esféricas.Essa série é <strong>da</strong><strong>da</strong> porf(θ, ϕ) =∞∑l∑l=0 m=−lc l,m Y ml (θ, ϕ), com c l,m :=∫ π ∫ π−π0Y ml(θ, ϕ) f(θ, ϕ) sen(θ)dθdϕ ,e é uma espécie de generalização para a esfera S 2 <strong>da</strong> série de Fourier. Essas considerações justificam a denominação de“funções harmônicas esféricas” para as funções Y ml .As funções harmônicas esféricas também desempenham um papel na teoria de representações do grupo SO(3). Hátambémgeneralizações<strong>da</strong>sfunçõesharmônicasesféricasparaasesferas S n comn ≥ 3. Essasgeneralizaçõessãoestu<strong>da</strong><strong>da</strong>s,por exemplo, em [116].• A pari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricasA transformação que leva ca<strong>da</strong> vetor ⃗x ∈ R 3 no vetor −⃗x ∈ R 3 é freqüentemente denomina<strong>da</strong> operação de pari<strong>da</strong>deou inversão de pari<strong>da</strong>de ou troca de pari<strong>da</strong>de. Trata-se, evidentemente, de uma reflexão em torno <strong>da</strong> origem. No contexto<strong>da</strong> Mecãnica Quântica é importante estu<strong>da</strong>r como funções de on<strong>da</strong> transformam-se por tal reflexão. Para coordena<strong>da</strong>sesféricas (r, θ, ϕ) a inversão de pari<strong>da</strong>de é a transformação (r, θ, ϕ) ↦−→ (r, π −θ, ϕ+π). Verifique!Vamos determinar a forma como as funções harmônicas esféricas transformam-se pela inversão de pari<strong>da</strong>de. Com atransformação θ ↦→ π −θ, temos cos(θ) ↦→ −cos(θ) e sen(θ) ↦→ sen(θ). Com isso, vemos imediatamente de (<strong>15</strong>.63) que( )cos(π −θ) = (−1) l−|m| P m ( )cos(θ) .P mlAo mesmo tempo, é claro que e im(ϕ+π) = (−1) m e imϕ . Segue desses dois fatos e <strong>da</strong> definição (<strong>15</strong>.75) <strong>da</strong>s funçõesharmônicas esféricas queYlm ( )π −θ, ϕ+π = (−1) l Yl m (θ, ϕ) , (<strong>15</strong>.84)pois −|m| + m é sempre um número par (igual a 0 ou a 2m, caso m seja positivo ou negativo, respectivamente). Aexpressão (<strong>15</strong>.84) indica a forma como as funções harmônicas esféricas transformam-se por troca de pari<strong>da</strong>de.l


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 690/2117<strong>15</strong>.2.2.2 Fórmula de Adição de Funções Harmônicas EsféricasOapolinômiosde Legendre e as funçõesharmônicasesféricaspossuem umaproprie<strong>da</strong>de especial utiliza<strong>da</strong> naEletrostática(na chama<strong>da</strong> expansão de multipolos, vide página 692) e na Mecânica Quântica, o chamado teorema de adição defunções harmônicas esféricas, ou fórmula de adição de funções harmônicas esféricas. No que segue apresentaremos ademonstração dessa proprie<strong>da</strong>de. Começamos com uma observação sobre o operador Laplaciano.• Invariância por rotações do Laplaciano( Consideremos um sistema de coordena<strong>da</strong>s Cartesianas em R 3 onde ca<strong>da</strong> ponto do espaço é descrito por uma triplax1)x 2 defini<strong>da</strong>s em relação a um sistema de coordena<strong>da</strong>s ortonormais ˆx, ŷ e ẑ. Por uma rotação desse sistema dex 3( x′ )1( x1)coordena<strong>da</strong>s, as coordena<strong>da</strong>s de ca<strong>da</strong> ponto do espaço são transforma<strong>da</strong>s segundo = R x 2 , onde R é umax 3matriz ortogonal, ou seja, satisfazendo R T R = RR T = 1. Assim, para ca<strong>da</strong> i = 1, 2, 3 vale x ′ i =x ′ 2x ′ 33∑R ij x j . Note quepara todos a e b vale ∂ x′ a∂x b= R ab , que são constantes. Com isso, é fácil ver que o operador Laplaciano em coordena<strong>da</strong>sCartesianas é invariante por rotações. De fato,∆ =3∑∂ 2∂x 2 k=1 k=3∑3∑3∑k=1 l=1 m=1∂ x ′ l∂x k∂ x ′ m∂x k∂∂∂x ′ l∂x ′ m==3∑3∑3∑k=1 l=1 m=13∑3∑3∑l=1 m=1(k=1R lk R mk∂∂x ′ lR lk R T km)∂∂x ′ m∂∂∂x ′ l∂x ′ mj=1=3∑ 3∑ (RRT ) lml=1 m=1∂ ∂∂x ′ l∂x ′ m=3∑3∑l=1 m=1δ lm∂∂x ′ l∂∂x ′ m=3∑l=1∂ 2∂x ′2l= ∆ ′ ,como queríamos provar. O operador Laplaciano pode ser escrito em coordena<strong>da</strong>s esféricas como∆ = 1 (∂r 2 r 2 ∂ )+ 1 ∂r ∂r r 2L2 , onde L 2 := 1 (∂(senθ) ∂ )1 ∂ 2+senθ ∂θ ∂θ (senθ) 2 ∂ϕ 2 . (<strong>15</strong>.85)Como a coordena<strong>da</strong> radial é invariante por rotações, concluímos que(L 2 = (L 2 ) ′ 1 ∂, ou seja, (senθ) ∂ )+senθ ∂θ ∂θ1 ∂ 2 ((senθ) 2 ∂ϕ 2 = 1 ∂senθ ′ ∂θ ′ (senθ ′ ) ∂ )∂θ ′ +1 ∂ 2(senθ ′ ) 2 ∂ϕ ′2 .Acima θ e θ ′ são os ângulos polares em relação aos eixos definidos por ẑ e ẑ ′ , respectivamente, e ϕ e ϕ ′ são os correspondentesângulos azimutais.O estu<strong>da</strong>nte familiarizado com a Mecânica Quântica há de perceber que o uso <strong>da</strong> notação L 2 para denotar a parteangular do operador Laplaciano provém <strong>da</strong> forma do operador momento angular orbital (ao quadrado) em coordena<strong>da</strong>sesféricas de um sistema composto por uma partícula.Para o que segue o estu<strong>da</strong>nte deve recor<strong>da</strong>r também que, segundo (<strong>15</strong>.77) (vide também a equação (20.45) e seguintes,página 891), as funções harmônicas esféricas satisfazem L 2 Yl m (θ, ϕ) = l(l+1)Yl m (θ, ϕ).• Fórmula de adição de funções harmônicas esféricasSejam ˆn e ˆn ′ dois versores em R 3 . Suas coordena<strong>da</strong>s Cartesianas em relação a algum sistema de referência ortogonaldefinidoportrêsversores ˆx, ŷ eẑ podemserescritasemtermosdosângulospolareazimutaldeumsistemadecoordena<strong>da</strong>sesféricas obti<strong>da</strong>s <strong>da</strong> maneira usual a partir do eixo definido por ẑ comoˆn := ( sen(θ)cos(ϕ), sen(θ)sen(ϕ), cos(θ) ) e ˆn ′ := ( sen(θ ′ )cos(ϕ ′ ), sen(θ ′ )sen(ϕ ′ ), cos(θ ′ ) ) .


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 691/2117Seja θ ′′ o ângulo entre as direções que estes vetores definem, de sorte que ˆn · ˆn ′ = cosθ ′′ . Naturalmente, escrevendoexplicitamente o produto escalar ˆn· ˆn ′ em termos <strong>da</strong>s componentes de ˆn e ˆn ′ , obtemosexpressão essa que relaciona θ ′′ aos ângulos θ, ϕ, θ ′ e ϕ ′ .cosθ ′′ = cosθ cosθ ′ + senθ senθ ′ cos(ϕ ′ −ϕ) ,Se realizarmos uma rotação do sistema de coordena<strong>da</strong>s de modo a fazer o versor ˆn coincidir com o novo eixo ẑ ′′ , ascoordena<strong>da</strong>s que descreverão o vetor ˆn serão (0, 0, 1) e, como o ângulo entre ˆn e ˆn ′ é preservado, as coordena<strong>da</strong>s quedescreverão o vetor ˆn ′ serão ( sen(θ ′′ )cos(ϕ ′′ ), sen(θ ′′ )sen(ϕ ′′ ), cos(θ ′′ ) ) .Denotamos por (L 2 ) ′ o operador diferencial definido em (<strong>15</strong>.85) referente às coordena<strong>da</strong>s θ ′ e ϕ ′ e por (L 2 ) ′′ correspondenteooperadordiferencial referente àscoordena<strong>da</strong>s θ ′′ e ϕ ′′ . Como mencionamos acima, a invariânciado Laplacianopor rotações de sistemas de coordena<strong>da</strong>s implica (L 2 ) ′ = (L 2 ) ′′ .Sendo uma função contínua de θ ′ e ϕ ′ , a função P l (cosθ ′′ ) = P l(cosθ cosθ ′ + senθ senθ ′ cos(ϕ ′ −ϕ) ) pode serdesenvolvi<strong>da</strong> em série de funções harmônicas esféricasP l (cosθ ′′ ) =∞∑n∑n=0m=−nmas só comparecem acima termos com n = l, a saber, tem-sec nm (θ, ϕ) Y m n (θ ′ ,ϕ ′ ) (<strong>15</strong>.86)P l (cosθ ′′ ) =l∑m=−lc lm (θ, ϕ) Y ml (θ ′ , ϕ ′ ) . (<strong>15</strong>.87)Para provar√(<strong>15</strong>.87) notamos que P l (cosθ ′′ ) satisfaz (L 2 ) ′′ P l (cosθ ′′ ) = l(l + 1)P l (cosθ ′′ ) pois, devido a (<strong>15</strong>.76), tem-seP l (cosθ ′′ ) =l (θ′′ , ϕ ′′ ). Dessa forma,4π2l+1 Y 0l(l+1)∞∑n∑n=0m=−nAssim, estabelecemos quec nm (θ,ϕ)Y m n (θ ′ , ϕ ′ ) = l(l+1)P l (cosθ ′′ ) = (L 2 ) ′′ P l (cosθ ′′ ) = (L 2 ) ′ P l (cosθ ′′ )∞∑=∞∑n∑n=0m=−nn∑n=0m=−nc nm (θ, ϕ)(L 2 ) ′ Y m n (θ ′ , ϕ ′ ) =∞∑n∑n=0m=−n[ ]l(l+1)−n(n+1) c nm (θ, ϕ) Yn m (θ ′ , ϕ ′ ) = 0 ,c nm (θ, ϕ)n(n+1)Y m n (θ ′ , ϕ ′ ) .o que implica que para todos θ e ϕ tem-se c nm (θ, ϕ) = 0 sempre que n(n+1) ≠ l(l +1), ou seja, sempre que n ≠ l (aoutra solução para n <strong>da</strong> equação n(n+1)−l(l +1) = 0 é n = −l−1, que é negativa e, portanto, deve ser descarta<strong>da</strong>).Isso estabeleceu (<strong>15</strong>.87).De maneira totalmente análoga é possível estabelecer queY ml (θ ′ , ϕ ′ ) =l∑q=−la m lq(θ, ϕ)Y ql (θ′′ , ϕ ′′ ) . (<strong>15</strong>.88)Por (<strong>15</strong>.86) e usando as relações de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas, temosc lm (θ, ϕ) =√Lembrandopor(<strong>15</strong>.76)queP l (cosθ ′′ ) =esféricas, obtemos,∫P l (cosθ ′′ )Yl m (θ ′ , ϕ ′ )dΩ (<strong>15</strong>.88)=4π2l+1 Y 0l∑∫a m lq (θ, ϕ)q=−lP l (cosθ ′′ )Y ql (θ′′ , ϕ ′′ ) dΩ ′′ .l (θ′′ , ϕ ′′ )eusandoasrelaçõesdeortogonali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>sfunçõesharmônicasc lm (θ, ϕ) =√4π2l+1 am l0(θ, ϕ) . (<strong>15</strong>.89)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 692/2117No caso em que ˆn = ˆn ′ tem-se, naturalmente, θ = θ ′ e ϕ = ϕ ′ , mas também tem-se θ ′′ = 0. A expressão (<strong>15</strong>.88)afirma, então, quel∑Yl m (θ, ϕ) = a m qlq(θ, ϕ) Yl (0, ϕ′′ ) .Agora, pela definição (<strong>15</strong>.75), valeComo P ql√4π2l+1 Y mq=−lY ql (0, ϕ′′ ) = (−1) q √2l+14πm(1) = 0 para q ≠ 0 e P0 l (1) = 1, obtemos Yl (θ, ϕ) =l (θ, ϕ). Levando isso a (<strong>15</strong>.89), obtemosPortanto, obtemos por (<strong>15</strong>.86)√(l−q)!(l+q)! Pq l (1) eiqϕ′′ .c lm (θ, ϕ) = 4π2l +1 Y ml(θ, ϕ) ,P l (cosθ ′′ ) = 4π2l+1l∑m=−lComo P l (cosθ ′′ ) é real, podemos escrever isso também na formaP l (cosθ ′′ ) = 4π2l+1l∑m=−l√2l+14πY ml(θ, ϕ)Y ml (θ ′ , ϕ ′ ) .a m l0(θ, ϕ) e, portanto, a m l0 (θ, ϕ) =Y ml(θ ′ , ϕ ′ )Y ml (θ, ϕ) . (<strong>15</strong>.90)Esta é a chama<strong>da</strong> fórmula de adição <strong>da</strong>s funções harmônicas esféricas ou teorema de adição <strong>da</strong>s funções harmônicasesféricas. Note que (<strong>15</strong>.90) afirma também queou seja,P l (cosθ ′′ ) =l∑m=−lP l (cosθ ′′ ) = P l (cosθ)P l (cosθ ′ )+2(l−m)!(l+m)! Pm l (cosθ)P ml (cosθ ′ )e im(ϕ′ −ϕ) , (<strong>15</strong>.91)Para o caso em que θ = θ ′ e ϕ = ϕ ′ tem-se θ ′′ = 0 e a relação (<strong>15</strong>.90) informa quel∑m=−ll∑m=1(l−m)!(l+m)! Pm l (cosθ)P ml (cosθ ′ ) cosm(ϕ ′ −ϕ) . (<strong>15</strong>.92)|Yl m (θ, ϕ)| 2 = 2l+1 , (<strong>15</strong>.93)4πrelação esta váli<strong>da</strong> para todos θ e ϕ. Essa relação é por vezes denomina<strong>da</strong> regra de soma de quadrados de funçõesharmônicas esféricas.• Aplicação à Eletrostática. Expansão de multipolosApresentaremos aqui uma aplicação <strong>da</strong> fórmula de adição de harmônicos esféricos à Eletrostática.Sejam ⃗x e ⃗x ′ dois vetores em R 3 cujas componentes Cartesianas escritas em termos de um sistema de coordena<strong>da</strong>sesféricas sejam⃗x = ( rsen(θ)cos(ϕ), rsen(θ)sen(ϕ), rcos(θ) ) e ⃗x ′ = ( r ′ sen(θ ′ )cos(ϕ ′ ), r ′ sen(θ ′ )sen(ϕ ′ ), r ′ cos(θ ′ ) ) .Naturalmente, para ⃗x ≠ ⃗x ′ vale1‖⃗x−⃗x ′ ‖ = 1⎪⎨√ =‖⃗x‖2 +‖⃗x ′ ‖ 2 −2⃗x·⃗x ′ ⎪⎩⎧1r√1−2 ( r ′r1)cosθ′′+ ( r ′r) 2, se r ′ < r ,1 1√r ′ 1−2 ( )rr cosθ′′+ ( ), se r < r ′ ,r 2 ′ r ′


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 693/2117onde θ ′′ é o ângulo entre ⃗x e ⃗x ′ (de sorte que ⃗x·⃗x ′ = rr ′ cosθ ′′ ).Usando a expressão (<strong>15</strong>.46), página 680, a fórmula <strong>da</strong> função geratriz dos polinônios de Legendre, escrevemos∑⎧⎪ ∞ r ′lr l+1 P l(cosθ ′′ ) , se r ′ < r ,1 ⎨l=0‖⃗x−⃗x ′ ‖ = ∞∑ r l⎪ ⎩ r ′l+1 P l(cosθ ′′ ) , se r < r ′ .Podemos agora fazer uso <strong>da</strong> fórmula de adição (<strong>15</strong>.90) e obter∞∑ l∑4π⎧⎪1 ⎨l=0 m=−l‖⃗x−⃗x ′ ‖ = ⎪ ⎩4π∞∑l∑l=0 m=−ll=01( ) (r ′l Yl m (θ2l+1′ , ϕ ′ Y m )l(θ, ϕ))r l+1 , se r ′ < r ,(12l+1Y ml(θ ′ , ϕ ′ )r ′l+1)(r l Y ml (θ, ϕ) ) , se r < r ′ .(<strong>15</strong>.94)O interesse na expressão acima reside no fato de que as contribuições de ⃗x e ⃗x ′ ocorrem de forma fatoriza<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong>termo <strong>da</strong>s somas em l e m (os fatores entre parênteses).Vams agora aplicar as expressões acima à Eletrostática (como referências gerais citamos [126], [90] ou [223]). Seja<strong>da</strong><strong>da</strong> uma distribuição de cargas ρ(⃗x ′ ) e vamos supor que ao potencial elétrico φ(⃗x) não é imposta nenhuma condiçãode contorno, exceto anular-se no infinito. Sabemos que em tal caso a equação de Poisson 20 ∆φ = − ρ ǫ 0tem por soluçãoφ(⃗x) = 14πǫ 0∫ρ(⃗x ′ )‖⃗x−⃗x ′ ‖ d3 ⃗x ′ se ρ decair a zero suficientemente rápido no infinito.Se ρ tiver suporte compacto, de forma que para algum R > 0 tenha-se ρ(⃗x ′ ) = 0 para todo ⃗x ′ com ‖⃗x ′ ‖ > R, entãopara todo ⃗x satisfazendo ‖⃗x‖ > R podemos usar (<strong>15</strong>.94) (para o caso r ′ < r) e escreverφ(⃗x) = 1 ∑∞ l∑( )Q lm Yml (θ, ϕ)ǫ 0 2l+1 r l+1 , (<strong>15</strong>.95)ondeQ lm :=∫( )ρ(⃗x ′ ) r ′l Yl m (θ ′ , ϕ ′ ) d 3 ⃗x ′ =l=0 m=−l∫ ∞ ∫ π ∫ 2π000ρ(r ′ , θ ′ , ϕ ′ ) (r ′ ) l+2 Y ml(θ ′ , ϕ ′ ) senθ ′ dϕ ′ dθ ′ dr ′ . (<strong>15</strong>.96)A expansão (<strong>15</strong>.95) é denomina<strong>da</strong> expansão de multipolos para o potencial φ. Os coeficientes Q lm <strong>da</strong>dos em (<strong>15</strong>.96) sãodenominados momentos de multipolo.Usando que Y0 0 = √ 14π, vemos que primeiro termo <strong>da</strong> expansão de multipolos (correspondente ao termo com l = 0) éQ√ 00 1ǫ 0 4π r sendo que, por (<strong>15</strong>.96), Q ∫00 = √ 14π ρ(⃗x ′ ) d 3 ⃗x ′ = Q √total4π, sendo Q total a carga total <strong>da</strong> distribuição ρ. Percebemosque o primeiro termo <strong>da</strong> expansão de multipolos corresponde à bem-conheci<strong>da</strong> Lei de Coulomb 21 e podemos assimcompreender os demais como sendo correções a essa lei para distribuições de carga gerais ρ.Mais detalhes sobre usos <strong>da</strong> expansão de multipolos na Eletrostática podem ser encontrados em bons livros deEletromagnetismo (e.g. [126], [90] ou [223]).<strong>15</strong>.2.3 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Hermite• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de Hermite( ′A equação de Hermite e −x2 y (x)) ′ + λe−x 2 y(x) = 0 é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = (−∞, ∞). Aqui20 Siméon Denis Poisson (1781–1840).21 Charles Augustin de Coulomb (1736–1806).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 694/2117p(x) = e −x2 , q(x) = 0, r(x) = e −x2 e µ = λ. Note que p(x) > 0 e r(x) > 0 em todo J = (−∞, ∞). Os polinômios deHermite H m (x) foram definidos 22 em (14.20) porH m (x) :=⌊m/2⌋∑k=0(−1) k m!k!(m−2k)! (2x)m−2k . (<strong>15</strong>.97)onde ⌊m/2⌋ é o maior inteiro menor ou igual a m/2, e são soluções <strong>da</strong> equação de Hermite com µ = 2m.Como p(x) decai a zero para x → ±∞ e os H m (x) são polinômios, vale para os polinômios de Hermite a relação(<strong>15</strong>.23) e concluímos pelo Teorema <strong>15</strong>.1 que∫ ∞−∞H n (x)H m (x) e −x2 dx = 0 (<strong>15</strong>.98)para todo n ≠ m, com m, n = 0, 1, 2, 3, .... Para calcular as integrais acima no caso n = m, podemos elegantementeusar as relaçõesH n+1 (x) = 2xH n (x)−2nH n−1 (x) , (<strong>15</strong>.99)as quais serão prova<strong>da</strong>s mais abaixo (expressão (<strong>15</strong>.106)). Seja A n := ∫ ∞−∞ (H n(x)) 2 e −x2 dx. Tem-se que2nA n−1 =(<strong>15</strong>.99)==(<strong>15</strong>.99)=∫ ∞−∞∫ ∞−∞∫ ∞−∞∫ ∞−∞(2nHn−1 (x) ) H n−1 (x) e −x2 dx(2xHn (x) ) ∞H n−1 (x) e dx−∫ −x2 H n+1 (x)H n−1 (x) e −x2 dx−∞} {{ }=0 por (<strong>15</strong>.98)H n (x) ( 2xH n−1 (x) ) e −x2 dx∫ ∞H n (x)H n (x) e −x2 dx+(2n−2) H n (x)H n−2 (x) e −x2 dx−∞} {{ }=0 por (<strong>15</strong>.98)= A n .Logo, A n = (2n)A n−1 , ou seja, A n = (2n)!!A 0 = 2 n n!A 0 . Como A 0 = ∫ ∞−∞ e−x2 dx = √ π, concluímos que∫ ∞−∞H n (x)H m (x) e −x2 dx = 2 n n! √ π δ n,m , (<strong>15</strong>.100)para todos m, n ≥ 0. Estas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Hermite.Na Seção 35.6, página 1724, é demonstra<strong>da</strong> a importante proprie<strong>da</strong>de de completeza dos polinômios de Hermite noespaço de Hilbert L 2 (R, e −x2 dx).• A função geratriz exponencial dos polinômios de HermiteVamos aqui considerar a função geratriz exponencial dos polinômios de Hermite e provar que a mesma satisfaz∞∑n=0H n (x)n!t n = e 2xt−t2 . (<strong>15</strong>.101)22 Advertência. Nestas notas usamos a chama<strong>da</strong> “definição física” dos polinômios de Hermite. Há uma outra convenção, usa<strong>da</strong> especialmentena <strong>Teoria</strong> <strong>da</strong>s Probabili<strong>da</strong>des, que difere <strong>da</strong> definição usa<strong>da</strong> em Física por um fator constante e por um reescalonamento do argumento.O leitor deve, por isso, ter cui<strong>da</strong>do ao comparar nossas expressões com outras usa<strong>da</strong>s em textos <strong>da</strong> <strong>Teoria</strong> <strong>da</strong>s Probabili<strong>da</strong>des.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 695/2117Usando-se diretamente (<strong>15</strong>.97) e separando-se na soma n’s pares de n’s ímpares, segue que∞∑n=0H n (x)n!t n ===∞∑m=0∞∑m=0k=0∞∑H 2m (x)(2m)!m∑∞∑k=0 m=kt 2m +∞∑m=0(−1) k (2x) 2m−2k t 2mk!(2m−2k)!(−1) k (2x) 2m−2k t 2mk!(2m−2k)!H 2m+1 (x)(2m+1)! t2m+1++∞∑m∑m=0k=0∞∑∞∑k=0m=k(−1) k (2x) 2m+1−2k t 2m+1k!(2m+1−2k)!(−1) k (2x) 2m+1−2k t 2m+1k!(2m+1−2k)!m→m+k==∞∑ ∞∑ (−1) k (2x) 2m t 2m+2k ∞∑ ∞∑ (−1) k (2x) 2m+1 t 2m+1+2k+k!(2m)!k!(2m+1)!k=0 m=0(∑ ∞)((−1) k t 2k ∑ ∞k=0k!( ∞)∑ (2xt) n= e −t2 n!n=0m=0k=0m=0) ((2xt) 2m ∑ ∞+(2m)!k=0)((−1) k t 2k ∑ ∞k!m=0)(2xt) 2m+1(2m+1)!= e 2xt−t2 ,como queríamos provar.• Fórmula de Rodrigues para os polinômios de HermitePelas nossas considerações gerais sobre as fórmulas de Rodrigues, podemos presumir que os polinômios H m , por seremortogonais entre si (vide (<strong>15</strong>.98)), possam ser expressos na forma (<strong>15</strong>.30) com r(x) = e −x2 , ou seja,dn x2H n (x) = K n e ,dx ne−x2ondeK m sãoconstantesquedependem<strong>da</strong>normalizaçãoadota<strong>da</strong>. Defato, essapressuposiçãoécorretapois, multiplicando(<strong>15</strong>.101) por e −x2 , obtem-see −(x−t)2 =∞∑ H m (x)e −x2t m . (<strong>15</strong>.102)m!m=0Encarando o lado direito como a expansão em série de Taylor em t, em torno de t = 0, <strong>da</strong> função do lado esquerdo,concluímos queH n (x)e −x2 = dndt ne−(x−t)2 ∣∣∣∣t=0,dpara todo n ≥ 0. Com a mu<strong>da</strong>nça de variável u = x−t,dt = − ddu, ficamos comAssim,H n (x)e −x2 = (−1) n d ndu ne−u2 ∣∣∣∣u=x= (−1) n dndx ne−x2 .H n (x) = (−1) n dn x2e , (<strong>15</strong>.103)dx ne−x2para todo n ≥ 0. Essa é a fórmula de Rodrigues dos polinômios de Hermite.E. <strong>15</strong>.8 Exercício. Prove as relações de ortogonali<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.100) usando a relação (<strong>15</strong>.103), a relação (<strong>15</strong>.97) e integraçãopor partes. 6


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 696/2117• Relações de recorrência para os polinômios de HermiteTomando-se a deriva<strong>da</strong> em x de (<strong>15</strong>.103), é elementar constatar queAo mesmo tempo,H ′ n (x) = 2xH n(x)−H n+1 (x) . (<strong>15</strong>.104)H n+1 (x) = (−1) n+1 dn+1 x2edx n+1e−x2( )= (−1) n+1 dn x2 dedx n dx e−x2(= 2(−1) n dn x2edx n xe −x2)Leibniz= 2(−1) n e x2 n ∑p=0( np) ( dpdx p x ) ( dn−pdx n−p e−x2 )= 2(−1) n e x2 (x dndx n (e −x2) +n dn−1dx n−1 (e −x2))= 2xH n (x)−2nH n−1 (x) .Assim, H n+1 (x) = 2xH n (x)−2nH n−1 (x). Note que, como H 0 (x) = 1 e H 1 (x) = 2x, essa identi<strong>da</strong>de vale também paran = 0. Reunindo isso com (<strong>15</strong>.104), somos conduzidos a H ′ n (x) = 2nH n−1(x), n ≥ 0. Resumindo, obtemos as seguintesrelações:H ′ n(x) = 2xH n (x)−H n+1 (x) , (<strong>15</strong>.105)H n+1 (x) = 2xH n (x)−2nH n−1 (x) , (<strong>15</strong>.106)H ′ n(x) = 2nH n−1 (x) , (<strong>15</strong>.107)váli<strong>da</strong>s para todo n ≥ 0. Estas expressões são bastante úteis. A relação (<strong>15</strong>.106), por exemplo, permite obter recursivamentetodos os H n ’s a partir de H 0 (x) = 1 e H 1 (x) = 2x.Segue facilmente de (<strong>15</strong>.107) que para a p-ésima deviva<strong>da</strong> de H n tem-sep=0H (p)n (x) = 2 p n!(n−p)! H n−p(x) (<strong>15</strong>.108)para todo p ∈ {0, ..., n}. Verifique! Essa relação tem a seguinte conseqüência: usando-se a expansão em série deTaylor, segue que∞∑ 1n∑ 1H n (x+y) =p! H(p) n (x)yp =p! H(p)(<strong>15</strong>.108)n∑ 1 n!n (x)yp =p! 2p (n−p)! H n−p(x)y pe, portanto,váli<strong>da</strong> para todos x e y ∈ C e n ∈ N 0 .p=0H n (x+y) =n∑p=0p=0( np)H n−p (x)(2y) p , (<strong>15</strong>.109)<strong>15</strong>.2.3.1 As Funções de HermiteAs chama<strong>da</strong>s funções de Hermite são defini<strong>da</strong>s porh n (x) := c n H n (x)e −x2 /2 , (<strong>15</strong>.110)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 697/2117com x ∈ N, n ∈ N 0 e ondec n :=1√2n n! √ π .Como podemos aprender na Seção 20.7, página 942, essas funções são as auto-funções normaliza<strong>da</strong>s do operador Hamiltonianopara o oscilador harmônico unidimensional. De acordo com (<strong>15</strong>.100), essas funções satisfazem∫ ∞−∞h n (x)h m (x) dx = δ n,m (<strong>15</strong>.111)para todos n, m ∈ N 0 , como facilmente se verifica. Na Seção 35.6.2, página 1726, aprendemos também que essas funçõesformam uma base ortonormal completa no espaço de Hilbert L 2 (R, dx).E. <strong>15</strong>.9 Exercício. Usando as relações (<strong>15</strong>.105)–(<strong>15</strong>.107) e a definição (<strong>15</strong>.110), obtenha as relaçõesh ′ n (x) = xh n(x)− √ 2(n+1)h n+1 (x) , (<strong>15</strong>.112)√n+1hn+1 (x) = √ 2xh n (x)− √ nh n−1 (x) , (<strong>15</strong>.113)h ′ n (x) = √ 2nh n−1 (x)−xh n (x) , (<strong>15</strong>.114)para todo n ≥ 0. De (<strong>15</strong>.112) e (<strong>15</strong>.114) obtenha também√ √n n+1h ′ n (x) = 2 h n−1(x)− h n+1 (x) . (<strong>15</strong>.1<strong>15</strong>)2Usando a fórmula de Rodrigues (<strong>15</strong>.103) para os polinômios de Hermite H n , podemos escreverh n (x) = (−1) n c n e x2 /2 dndx ne−x2 . (<strong>15</strong>.116)6Essa fórmula pode ser reescrita de uma forma que é mais conveniente para certos propósitos.se f é uma função infinitamente diferenciável, valee x2 /2 d ( ) d ( )dx f(x) = dx −x e x2 /2 f(x) .É muito fácil perceber queVerifique! Assim, tem-se a seguinte relação operatorial:e x2 /2 ddx = ( ddx −x )e x2 /2que nos permite escrever e x2 /2 d ndx= ( dn dx −x) nex 2 /2 . Com isso obtemos a fórmula de Rodrigues para as funções deHermite:(h n (x) = c n x− d ) ne −x2 /2 , (<strong>15</strong>.117)dxváli<strong>da</strong> para todo n ∈ N 0 . A relação (<strong>15</strong>.117) pode ser também demonstra<strong>da</strong> por indução a partir de (<strong>15</strong>.112). Faça-o!Na Seção 36.2.2, página 1768, provamos que as funções de Hermite são auto-funções <strong>da</strong> transforma<strong>da</strong> de Fourier, asaber, que valeF[h n ] = (−i) n h n .para todo n ∈ N 0 .*


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 698/2117Em livros de Mecânica Quântica o estu<strong>da</strong>nte poderá aprender que algumas <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des dos polinômios deHermite e <strong>da</strong>s funções de Hermite que obtivemos acima podem ser prova<strong>da</strong>s com o uso dos chamados operadores decriação e aniquilação.• Outras proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s funções de Hermite. A fórmula de MehlerVamosdemonstrar mais algumas identi<strong>da</strong>des úteisarespeito de funções de Hermite e polonômiosde Hermite 23 . Nossoponto de parti<strong>da</strong> é a relaçãoe −x2 = √ 1 ∫ ∞e −s2 +2isx ds . (<strong>15</strong>.118)π−∞Essa identi<strong>da</strong>de pode ser facilmente demonstra<strong>da</strong> por integração complexa. Neste texto são apresenta<strong>da</strong>s outras demonstrações<strong>da</strong> mesma, por exemplo, na Proposição 36.8, página 1762, e no Exercício E. 36.42, página 1829.Usando (<strong>15</strong>.118) em (<strong>15</strong>.116), obtemosh n (x) = (−2i)n c n e x2 /2√ π∫ ∞−∞s n e −s2 +2isx ds . (<strong>15</strong>.119)E. <strong>15</strong>.10 Exercício. Justifique por que é permitido diferenciar (<strong>15</strong>.118) sob o símbolo <strong>da</strong> integral. Algum conhecimento <strong>da</strong>teoria <strong>da</strong>s Trasforma<strong>da</strong>s de Fourier pode aju<strong>da</strong>r. Vide Seção 36.2, página 1755. 6Aexpressão(<strong>15</strong>.119) éuma representação integral <strong>da</strong>s funções de Hermite. Paraospolinômiosde Hermiteela significaH n (x) = (−2i)n e x2√ πque é uma representação integral dos polinômios de Hermite.∫ ∞Por motivos que revelaremos adiante, vamos agora considerar a expressãoU(x, x, z) :=−∞s n e −s2 +2isx ds , (<strong>15</strong>.120)∞∑h n (x)h n (y)z n (<strong>15</strong>.121)n=0com x, y ∈ R e z ∈ C com |z| < 1. Antes de prosseguirmos, façamos um breve comentário sobre a convergência dessasérie. Temos por (<strong>15</strong>.119) que|h n (x)| ≤ 2 2n c n e x2 /2∫ ∞√ s n e −s2 ds (7.17)= 2n/2 Γ ( )n+12 /2ππ 3/4 (n!) 1/2 ex2 ,0onde Γ é a função gama de Euler (Capítulo 7, página 272). Usando na fórmula acima as aproximações de Stirling (7.70)e (7.78) para n! e Γ ( )n+12 , respectivamente, obtemos a estimativa assintótica |hn (x)| ≤ ( 2 1/4 π −1/2) n −1/4 e x2 /2 (váli<strong>da</strong>para todo n grande o suficiente). No que concerne à dependência em x esta é uma estimativa muito grosseira para |h n (x)|(é possível provar que para todo x ∈ R e todo n ∈ N 0 vale |h n (x)| ≤ K, onde K ≈ 1,086), mas ela é suficiente paraestabelecer que a série no lado direito de (<strong>15</strong>.121) é absolutamente convergente para x, y ∈ R e z ∈ C com |z| < 1.Retornando a (<strong>15</strong>.121), usando (<strong>15</strong>.119) e a definição de c n , temos+y 2 )/2 ∞∑(∫ ∞)(∫ ∞)U(x, x, z) = e(x2 z n (−1) n (2) 2n c 2 n s n e −s2 +2isx ds t n e −t2 +2ity dtπ−∞−∞= e(x2 +y 2 )/2π 3/2= e(x2 +y 2 )/2π 3/2n=0∫ ∞ ∫ ∞e −s2 −t 2 +2i(sx+ty)−∞ −∞∫ ∞ ∫ ∞−∞−∞(∑ ∞)(−2zst) ndsdtn!n=0e −s2 −t 2 +2i(sx+ty)−2zst dsdt (<strong>15</strong>.122)23 Seguiremos as indicações de [21].


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 699/2117E. <strong>15</strong>.11 Exercício. Prove isso e justifique a troca de ordem <strong>da</strong>s integrais com a somatória em n efetua<strong>da</strong> acima. 6Desejamos agora calcular a integral dupla do lado direito de (<strong>15</strong>.122). Isso é obtido por completamento de quadradose há mais de uma forma de fazê-lo. Sugerimos escrever-se(−s 2 −t 2 +2i(sx+ty)−2zst = − s+ ( zt−ix )) 2 (− 1−z2 )( t−i y −xz ) 2 ( −x 2 +2xyz −y 2 )1−z 2 +1−z 2 .E. <strong>15</strong>.12 Exercício. Proveisso. Issopodeserfeitopartindo-sedoladoesquerdoechegando-seaodireitoporcompletamentode quadrados ou expandindo-se o lado direito e constatando-se que é igual ao esquerdo. 6Com isso, temosU(x, x, z) (<strong>15</strong>.122)=Agora,e (x2 +y 2 )/2∫ ∞ ∫ ∞π 3/2 −∞ −∞e −s2 −t 2 +2i(sx+ty)−2zst dsdt= 1 (π exp − (1+z2 )(x 2 +y 2 )∫ [ ()−4xyz ∞3/2 2(1−z 2 exp − ( 1−z 2)( t−i y −xz ) ) 2 (∫ ∞ ( ) 2) ]) −∞1−z 2 e − s+(zt−ix)ds dt .−∞∫ ∞−∞( ) 2e − s+(zt−ix)ds = √ π e∫ ∞−∞exp(− ( 1−z 2)( t−i y −xz ) ) 21−z 2 dt =√ π√1−z2 .Vide Corolário 36.1, página 1763, em particular, vide (36.40) . Note-se que Re(1−z 2 ) > 0, pois estamos supondo |z| < 1.Assim, obtemos(1U(x, x, z) =π 1/2√ 1−z exp − (1+z2 )(x 2 +y 2 ))−4xyz2 2(1−z 2 ,)ou seja,(∞∑h n (x)h n (y)z n 1= √n=0 π ( 1−z 2) exp − (1+z2 ) ( x 2 +y 2) )−4xyz2(1−z 2 (<strong>15</strong>.123))para x, y ∈ R e z ∈ C com |z| < 1. Essa relação é por vezes denomina<strong>da</strong> fórmula de Mehler 24 . Usando-se (<strong>15</strong>.110),obtemos disso também(∞∑ H n (x)H n (y)z n 1( −z22 n = √n!exp x 2 +y 2) )+2xyz1−z2 1−z 2 . (<strong>15</strong>.124)n=0Verifique! O lado esquerdo <strong>da</strong> expressão (<strong>15</strong>.123) é relevante na Mecânica Quântica (<strong>da</strong>í nosso interesse pela mesma) porestar relaciona<strong>da</strong> ao chamado propagador do oscilador harmônico unidimensional. Vide página 944.É fácil constatar que (<strong>15</strong>.123) pode ser reescrita como∞∑[h n (x)h n (y)z n 1= √ exp − 1 ( 1−zπ(1+z)(1−z) 4 1+z (x+y)2 + 1+z )]1−z (x−y)2 . (<strong>15</strong>.125)n=0Verifique! No limite formal z → 1 a expressão do lado direito aproxima-se de uma seqüência delta de Dirac (compare-secom (36.122), página 1788, com o parâmetro n que ocorre naquela expressão substituido por 1/ √ 2(1−z)) e obtemos∞∑h n (x)h n (y) = δ(x−y) , (<strong>15</strong>.126)n=0(δ sendo a distribuição delta de Dirac). Essa relação deve ser entendi<strong>da</strong> no sentido de distribuições tempera<strong>da</strong>s (Seção36.3, página 1784) e é uma manifestação <strong>da</strong> completeza <strong>da</strong>s funções de Hermite em L 2 (R, dx), demonstra<strong>da</strong> na Seção35.6.2, página 1726.24 Gustav Ferdinand Mehler (1835–1895).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 700/2117<strong>15</strong>.2.4 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de TchebychevOs polinômios de Tchebychev foram introduzidos na Seção 14.1.5, página 613 (vide particularmente a página 614). Ospolinômios de Tchebychev desempenham um papel importante na teoria <strong>da</strong>s aproximações de funções contínuas porpolinômios, mas no tratamento resumido que aqui prentedemos vamos mencionar apenas as relações de ortogonali<strong>da</strong>deque eles satisfazem.• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de TchebychevOs polinômios de Tchebychev podem ser expressos no intervalo [−1, 1] porT m (x) = cos ( marccos(x) ) ,para m ∈ N 0 . Os polinômios de Tchebychev são solução <strong>da</strong> equação de Tchebychev(1−z 2 )y ′′ (z)−zy ′ (z)+m 2 y(z) = 0para m ∈ N 0 . Como já observamos (vide página 669), a forma canônica de Liouville <strong>da</strong> equação de Tchebychev é(√ ) ′1−x2 y ′ (x) +m2 1√ y(x) = 0 .1−x2Assim, identificamos p(x) = √ 1−x 2 , q(x) = 0, r(x) = 1/ √ 1−x 2 e µ = m 2 . Por nossas considerações anteriores, devem∫ 11valer relações de ortogonali<strong>da</strong>de do tipo T m (x)T n (x) √ dx = K nδ m,n para certas constantes K n . De fato, a1−x2mu<strong>da</strong>nça de variáveis y = arccos(x) permite-nos escrever∫ 1−1Logo,T m (x)T n (x)√1−x2dx =∫ 1−1−1cos ( marccos(x) ) cos ( narccos(x) )√1−x2∫ 1−1= 1 2∫ π−πdx y=arccos(x)=∫ πcos(my)cos(ny)dy (35.63)=0cos(my)cos(ny)dy⎧⎪⎨⎪⎩πδ 0,m , n = 0, m ∈ N 0 .π2 δ n,m , n, m ∈ N ,1T m (x)T n (x) √ dx = K nδ m,n , (<strong>15</strong>.127)1−x2com K 0 = π/2 e K n = π para n > 0. Essas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Tchebychev. Devidoàs mesmas, os polinômios de Tchebychev normalizados Q n (x) := T n (x)/ √ K n , n ∈ N 0 , compõe um conjunto ortonormalcompleto no espaço de Hilbert L 2 ((−1, 1),1 √1−x 2 dx ). Disso trataremos na Seção 35.6.1, página 1724.<strong>15</strong>.2.5 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Laguerre• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de LaguerreA equação de Laguerre (xe −x y ′ (x)) ′ + λe −x y(x) = 0 é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = [0, ∞). Para elatem-se p(x) = xe −x , q(x) = 0, r(x) = e −x e µ = λ. Note que p(x) > 0 em J 0 = (0, ∞), e anula-se em x = 0 e no infinito.Além disso, r(x) > 0 em todo J = [0, ∞). Os polinômios de Laguerre foram definidos em (14.140) porm∑L m (x) := (−1) n m! ( mxn! n)n (<strong>15</strong>.128)n=0e representam soluções <strong>da</strong> equação de Laguerre em J = [0, ∞) para µ = m. É bastante claro que para os polinômios deLaguerre vale a condição (<strong>15</strong>.23) e, portanto, pelo Teorema <strong>15</strong>.1, segue que∫ ∞0L n (x)L m (x) e −x dx = 0 (<strong>15</strong>.129)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 701/2117para todo n ≠ m, com m, n = 0, 1, 2, 3, .... Notemos também aqui que (<strong>15</strong>.129) implica∫ ∞0x k L m (x) e −x dx = 0 (<strong>15</strong>.130)para todo k < m, pois os monômios x k podem ser escritos como combinações lineares dos polinômios L n ’s com n < m.Para calcular as integrais de (<strong>15</strong>.129) no caso m = n podemos fazer uso <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>deque será demonstra<strong>da</strong> mais abaixo (expressão (<strong>15</strong>.135)). Com ela, vê-se que(n+1)∫ ∞0L n (x) 2 e −x dx =L ′ n+1 (x) = (n+1)L′ n (x)−(n+1)L n(x) , (<strong>15</strong>.131)(<strong>15</strong>.131)∫ ∞0( )L n (x) (n+1)L n (x) e −x dx∫ ∞= (n+1) L n (x)L ′ n(x) e −x dx−0} {{ }=0 por (<strong>15</strong>.130)∫ ∞0L n (x)L ′ n+1(x) e −x dx∣ ∫int. por partes= −L n (x)L n+1 (x)e −x ∣∣∞ ∞+ L ′ n(x)L n+1 (x) e −x dx0 0} {{ }=0 por (<strong>15</strong>.130)∫ ∞− L n (x)L n+1 (x) e −x dx0} {{ }=0 por (<strong>15</strong>.129)= L n (0)L n+1 (0)(<strong>15</strong>.128)= (n+1)(n!) 2 .Concluímos assim que∫ ∞0L n (x)L m (x) e −x dx = (n!) 2 δ n,m (<strong>15</strong>.132)para todos n, m ≥ 0. Estas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de para os polinômios de Laguerre.• Fórmula de Rodrigues para os polinômios de LaguerrePela ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Laguerre (<strong>15</strong>.129), podemos presumir, sob a luz <strong>da</strong>s considerações <strong>da</strong> Seção<strong>15</strong>.1.2, página 675, que os polinômios de Laguerre satisfazem, por (<strong>15</strong>.28), uma relação como1 d m (L m (x) := K mr(x) dx m r(x)x m) (= K m e x dmdx m x m e −x) , (<strong>15</strong>.133)onde K m é uma constante dependente <strong>da</strong> normalização adota<strong>da</strong>. De fato, pela regra de Leibniz,(e x dmdx m x m e −x) ∑m ( ( ) ( )m d= ep) x m−p dpdx m−pxm dx pe−xp=0=m∑( ) m m!(−1) p p p!p=0x p (<strong>15</strong>.128)= L m (x) .Assim, K m = 1 e concluímos que(L m (x) = e x dmdx m x m e −x) , (<strong>15</strong>.134)para todo m ≥ 0. Esta é a fórmula de Rodrigues para os polinômios de Laguerre.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 702/2117• Relações de recorrência para os polinômios de LaguerrePor (<strong>15</strong>.134), é elementar constatar queEstabelecemos assim que(L ′ m+1(x) = e x dm+1dx m+1 x m+1 e −x) +e x dm+1 d(x m+1dx m+1 e −x)dx= L m+1 (x)+(m+1)e x dm+1dx m+1 (x m e −x) −e x dm+1dx m+1 (x m+1 e −x)((<strong>15</strong>.134)= (m+1)e x dm+1dx m+1 x m e −x) = (m+1)e x ddx= (m+1)e x d ( )e −x L m (x)dx= −(m+1)L m (x)+(m+1)L ′ m (x) .d m (dx mx m e −x)L ′ m+1 (x) = (m+1)L′ m (x)−(m+1)L m(x) , (<strong>15</strong>.135)m ≥ 0. Essa é uma <strong>da</strong>s fórmulas de recorrência para os polinômios de Laguerre, a qual empregamos acima para provaras relações de ortogonali<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.132) no caso m = n. Há uma segun<strong>da</strong>, <strong>da</strong> qual trataremos agora. Pela fórmula deRodrigues valeL m (x)(<strong>15</strong>.134)= e x dmdx m (x m e −x) = e x dmdx m [x(x m−1 e −x)]∑m Leibniz= e xp=0( mp) ( dpdx px ) dm−pdx m−p (x m−1 e −x)Estabelecemos queo que também implica (fazendo m → m+1)= e x x dmdx m (x m−1 e −x) +me x dm−1dx m−1 (x m−1 e −x)= e x x d (e −x L m−1 (x) ) +mL m−1 (x)dx= −xL m−1 (x)+xL ′ m−1 (x)+mL m−1(x) .L m (x) = −xL m−1 (x)+xL ′ m−1 (x)+mL m−1(x) (<strong>15</strong>.136)L m+1 (x) = −xL m (x)+xL ′ m (x)+(m+1)L m(x) . (<strong>15</strong>.137)Multiplicando ambos os lados de (<strong>15</strong>.136) por −m e somando o resultado a (<strong>15</strong>.137), teremos:L m+1 (x)−mL m (x) = −xL m (x)+xL ′ m (x)+(m+1)L m(x)+mxL m−1 (x)−mxL ′ m−1 (x)−m2 L m−1 (x) . (<strong>15</strong>.138)Por (<strong>15</strong>.135), os termos xL ′ m(x)−mxL ′ m−1(x) valem x(L ′ m(x)−mL ′ m−1(x)) (<strong>15</strong>.135)= −mxL m−1 (x). Introduzindo isso devolta a (<strong>15</strong>.138), inferimos queL m+1 (x) = (2m−x+1)L m (x)−m 2 L m−1 (x) .Resumindo nossas conclusões, estabelecemos as seguintes relações:L ′ m+1(x) = (m+1)L ′ m(x)−(m+1)L m (x) , (<strong>15</strong>.139)L m+1 (x) = (2m−x+1)L m (x)−m 2 L m−1 (x) . (<strong>15</strong>.140)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 703/2117Essas relações são denomina<strong>da</strong>s fórmulas de recorrência para os polinômios de Laguerre. A relação (<strong>15</strong>.140), em particular,permite obter recursivamente todos os L m (x)’s a partir de L 0 (x) = 1 e L 1 (x) = 1−x.• A função geratriz exponencial dos polinômios de LaguerrePartindo de (<strong>15</strong>.128) obtemos para a função geratriz exponencial dos polinômios de LaguerreL(x, t) :=∞∑m=0L m (x)m!t mo seguinte desenvolvimento 25 :L(x, t) =∞∑ m∑(−1) n 1 ( mxn! n)n t m =m=0n=0=∞∑ ∞∑(−1) n 1 ( mxn! n)n t m (<strong>15</strong>.141)n=0m=n(∞∑(−1) n xn ∑ ∞ ( )mtn! n)m . (<strong>15</strong>.142)n=0m=nAgora,∞∑( mn)m=nt m m→m+n===Leibniz==t nn!t nn!t nn!t nn!t nn!∞∑m=0∞∑m=0(m+n)!m!d ndt n tm+nd n ( ) tndt n 1−tt m= tnn!(d n ∑∞dt n t nm=0n∑( ( ) ( )n dp dn−pp)dt ptn dt n−p(1−t)−1p=0p=0t m )n∑( ) ( ) ( )n n! (n−p)!p (n−p)! tn−p (1−t) n−p+1=t n1−tn∑( ) ( ) n−p n t=p 1−tp=0t n1−t(1+ t ) n=1−tt n(1−t) n+1 .Retornando com isso a (<strong>15</strong>.142), temosL(x, t) =11−t∞∑ (−1) nn=0n!( ) n xt,1−te assim concluímos queL(x, t) =Essa é a função geratriz exponencial dos polinômios de Laguerre.(exp − xt )1−t1−t. (<strong>15</strong>.143)25 Assumimos |t| e |x| pequenos o suficiente para justificar as diversas manipulações que faremos.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 704/2117<strong>15</strong>.2.6 Proprie<strong>da</strong>des dos Polinômios de Laguerre AssociadosA equação de Laguerre associa<strong>da</strong>xy ′′ +(m+1−x)y ′ +(n−m)y = 0 , (<strong>15</strong>.144)com m e n inteiros com 0 ≤ m ≤ n, é tipicamente considera<strong>da</strong> no intervalo J = [0, ∞). A mesma pode ser ser leva<strong>da</strong> àforma canônica (<strong>15</strong>.5), transformando-se em(x m+1 e −x y ′ (x)) ′ +(n−m)x m e −x y(x) = 0 .Tem-se, portanto, p(x) = x m+1 e −x , q(x) = 0, r(x) = x m e −x e µ = n − m. Uma alternativa talvez melhor é tomar-sep(x) = x m+1 e −x , q(x) = −mx m e −x , r(x) = x m e −x e µ = n. Note-se que p(x) e r(x) são os mesmos em ambas asescolhas.Os polinômios de Laguerre associados foram definidos em (14.165) e expressões seguintes por 26( )L (m)n (x) = dmdx mL n(x) = dmdx m e x dndx n(xn e −x )com 0 ≤ m ≤ n. O polinômio L (m)ndefinição, tem-sen−m∑= (−1) m (−1) kn!k!k=0( ) nx k , (<strong>15</strong>.145)m+ké a única solução de (<strong>15</strong>.144) que é regular em x = 0. É de se notar que, por essaL (0)n (x) = L n(x) (<strong>15</strong>.146)para todo n ≥ 0 e, portanto, os polinômios de Laguerre são polinômios de Laguerre associados.E. <strong>15</strong>.13 Exercício. Mostre queL (m)n (x) = (−1)m n!(n−m)! ex −m dn−m (x x ndx n−m e −x) .6É bastante elementar constatar que, com m fixo, as funções L (m)nJ = [0, ∞). Assim, vale que∫ ∞0com n ≥ m satisfazem (<strong>15</strong>.23) para o intervaloL (m)n (x)L(m) n ′ (x) xm e −x dx = 0 (<strong>15</strong>.147)sempre que n ≠ n ′ . Para calcular a integral acima no caso n ′ = n fazemos uso <strong>da</strong> relação (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>4), que será demonstra<strong>da</strong>logo adiante. Tomando (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>4), substituindo n → n−1 e multiplicando-a por n −1 L (m)n (x), obtemos(n−m)( ) 2L (m)nn(x) (m)= (2n−m−x−1)L n−1 (x)L(m) n (x)−(n−1)2 L (m)n−2 (x)L(m) n (x) .Tomando (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>4) e multiplicando-a por (n+1) −1 L (m)n−1 (x), obtemos(n+1−m)) 2L (m)n+1n+1(x)L(m) n−1 (x) = (2n−m−x+1)L(m) n (x)L(m) n−1 (x)−n2( L (m)n−1 (x) .Subtraindo uma expressão <strong>da</strong> outra, obtemos(n−m)(L (m)n (x)n) 2−(n+1−m)n+1L (m)n+1 (x)L(m) n−1 (x)) 2= −2L (m)n−1 (x)L(m) n (x)−(n−1)2 L (m)n−2 (x)L(m) n (x)+n2( L (m)n−1 (x) .26 Mais uma vez advertimos o leitor do fato de haver várias convenções distintas quanto à definição dos polinômios de Laguerre associadosna literatura. Para comparação, polinômios de Laguerre associados definidos em [160], que denotamos aqui por L L m n (x), diferem dos nossosL (m)n (x) <strong>da</strong> seguinte forma: L L m n (x) = (−1)m(n+m)! L(m) n+m (x).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 705/2117Multiplicando agora esta expressão por x m e −x , integrando entre 0 e ∞ e usando (<strong>15</strong>.147), ficamos com∫ ∞0(L (m)n (x)) 2x m e −x dx =n 3(n−m)∫ ∞0(L (m)n−1 (x) ) 2x m e −x dx .A indução pode ser feita diminuindo n até atingir o valor m, de onde extraímos que∫ ∞0(L (m)n (x)) 2x m e −x dx =(n!) 3(m!) 3 (n−m)!∫ ∞0(L (m)m (x)) 2x m e −x dx .Pela última igual<strong>da</strong>de em (<strong>15</strong>.145), tem-se L (m)m (x) = (−1) m m!. Ao mesmo tempo, ∫ ∞0x m e −x dx = m!. Assim,∫ ∞Essa expressão pressupõe, naturalmente, 0 ≤ m ≤ n.Concluímos assim que com nossas definições∫ ∞00(L (m)n (x) ) 2x m e −x dx =L (m)n (x)L(m) n ′ (x) xm e −x dx =(n!)3(n−m)! .(n!) 3(n−m)!Essas são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Laguerre associados.δ n, n ′ . (<strong>15</strong>.148)Comentário para o leitor mais avançado. Chamamos à atenção do leitor o fato que as relações de ortogonali<strong>da</strong>de (<strong>15</strong>.148)não são as relações de ortogonali<strong>da</strong>de ( <strong>da</strong> parte radial <strong>da</strong>s auto-funções de energia do átomo de hidrogênio. Para ca<strong>da</strong>l ≥ 0 as funções ρ l e − ρ (2l+1)2p L ρp+l p), com p ≥ l+1, satisfazem as relações de ortogonali<strong>da</strong>de,∫ ∞0[ ( )][ (ρ l e − ρ2p ′ L (2l+1) ρp ′ +lp ′ ρ l e − ρ (2l+1)2pρLp+lp)]ρ 2 2p 2l+4 ((p+l)!) 3dρ = δ p,p ′ , (<strong>15</strong>.149)(p−l−1)!as quais discutiremos na Seção 20.8, página 944. Lamentavelmente, alguns livros-texto discutem incorretamente esseponto quando tratam do átomo de hidrogênio. Uma exceção, um tanto surpreendentemente, é [10].• Uma conseqüência de (<strong>15</strong>.148) emprega<strong>da</strong> no estudo do átomo de hidrogênioAs relações (<strong>15</strong>.148) implicam um resultado que é usado no contexto do átomo de hidrogênio. Trata-se do seguinte:no caso n = n ′ (<strong>15</strong>.148) diz-nos que∫ ∞0(L (m)n (x)) 2x m e −x dx =(n!) 3(n−m)! .No problema do átomo de hidrogênio surge a necessi<strong>da</strong>de de se determinar a integral∫ ∞0(L (m)n (x) ) 2x m+1 e −x dx (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>0)que difere <strong>da</strong> anterior pois o fator x m é substituído por x m+1 . Essa última integral pode ser calcula<strong>da</strong> empregando-se arelaçãoxL (m)n(x) = −(n+1−m) L (m)n+1n+1(x)+(2n−m+1)L(m) n (x)−n2 L (m)n−1 (x) ,que será prova<strong>da</strong> logo abaixo (expressão (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>4)). Inserindo-a em (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>0) e usando as relações de ortogonali<strong>da</strong>de(<strong>15</strong>.148), obtem-se facilmente∫ ∞0(L (m)n (x) ) 2x m+1 e −x dx =(n!) 3(2n−m+1) . (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>1)(n−m)!Essa expressão será usa<strong>da</strong> quando <strong>da</strong> normalização <strong>da</strong>s auto-funções de energia do átomo de hidrogênio.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 706/2117• Relações de recorrência para os polinômios de Laguerre associadosSe explorarmos a primeira igual<strong>da</strong>de em (<strong>15</strong>.145), que define os polinômios L (m)n , algumas fórmulas de recorrênciapara os polinômios de Laguerre associados podem ser obti<strong>da</strong>s diretamente <strong>da</strong>quelas dos polinômios de Laguerre lista<strong>da</strong>sem (<strong>15</strong>.139)-(<strong>15</strong>.140) simplesmente diferenciando-as m vezes em relação a x. Como facilmente se constata, obtem-seL (m+1)n+1 (x) = (n+1)L (m+1)n (x)−(n+1)L (m)n (x) , (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>2)L (m)n+1 (x) = (2n−x+1)L(m)onde, em (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>2), usamos o fato evidente que L (m)ln (x)−mL (m−1)n′ (m+1) (x) = Ll(x).Tomando (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>2) e trocando m → m − 1, obtem-se L (m−1)n (x) = − 1(<strong>15</strong>.<strong>15</strong>3), obtem-se(x)−n 2 L (m)n−1 (x) , (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>3)(n+1) L(m) n+1(x) + L(m) n (x). Inserindo isso em(n+1−m)L (m)n+1 (x) = (n+1)(2n−m−x+1)L(m) n (x)−n 2 (n+1)L (m)n−1 (x) . (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>4)Essas relações são denomina<strong>da</strong>s fórmulas de recorrência para os polinômios de Laguerre associados.• A função geratriz exponencial dos polinômios de Laguerre associadosA partir <strong>da</strong> definição (<strong>15</strong>.145) e de (<strong>15</strong>.143) é elementar constatar que a função geratriz exponencial dos polinômiosde Laguerre associados é <strong>da</strong><strong>da</strong> porL as. (x, t) :=∞∑l=mA soma acima começa com l = m pois dmdx m L l (x) = 0 caso m > l.• A equação de Laguerre generaliza<strong>da</strong>L (m)l(x)t l = (−1)m t m (l! (1−t) m+1 exp − xt )1−tA assim denomina<strong>da</strong> equação de Laguerre generaliza<strong>da</strong> é a equação diferencialzy ′′ (z)+(α+1−z)y ′ (z)+ny(z) .. (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>5)comn ∈ N 0 eα > −1, real. Trata-sedeumavariante<strong>da</strong>equaçãodeLaguerreassocia<strong>da</strong>, poisαaquinãoénecessariamenteum inteiro.E. <strong>15</strong>.14 Exercício. Mostre que essa equação tem uma solução <strong>da</strong> forma de um polinômionL α n (z) := ∑( ) n Γ(n+α+1)(−1) k k Γ(k +α+1) zk ,k=0onde Γ é a função Gama de Euler, apresenta<strong>da</strong> no Capítulo 7, página 272. 6E. <strong>15</strong>.<strong>15</strong> Exercício. Mostre que(L α n(x) = e x −α dnxdx n x n+α e −x) ,x > 0. 6E. <strong>15</strong>.16 Exercício. Mostre que ∫ ∞L α n(x)L α m(x) x α e −x dx = 00se m ≠ n. Calcule a integral no caso m = n. 6


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 707/2117E. <strong>15</strong>.17 Exercício. Para α = m, inteiro, mostre queL α n (x) = (−1)m(n−m)! L (m)nn!(x) . 6<strong>15</strong>.2.7 Proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Funções de BesselNa presente seção apresentaremos algumas <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des mais importantes e mais emprega<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s funções de Bessel,especialmente as de ordem inteira. Devido à sua importância em um sem-número de problemas aplicados, as funções deBessel e de Neumann têm sido intensamente estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s nos últimos duzentos anos e foi coletado um enorme conjunto deinformações sobre as mesmas, gerando uma vasta literatura. Por isso, nossas pretensões aqui são relativamente modestas.Um texto clássico sobre o assunto é [262]. Outros excelentes são [270], [116] e [160], mas to<strong>da</strong>s as referências lista<strong>da</strong>s àpágina 604 tratam do assunto com maior ou menor grau de profundi<strong>da</strong>de.No estudo <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s funções de Bessel J ν (x) procederemos de um modo ligeiramente diferente do quefizemos acima. Isso se dá por várias razões. Uma delas é que as funções de Bessel não são polinômios, ao contrário doscasos de acima. Outra é a natureza <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de dessas funções.• OrigensAs funções de Bessel surgem em vários problemas <strong>da</strong> Física-Matemática, especialmente envolvendo a resolução decertas equações diferenciais em coordena<strong>da</strong>s cilíndricas. O mais célebre desses problemas é aquele que estu<strong>da</strong> as vibraçõesde uma membrana circular (um tambor), problema encontrado em vários livros-texto e que estu<strong>da</strong>mos na Seção 20.6,página 940. Esse problema foi tratado pela primeira vez por Euler 27 em 1764, antecedendo a Bessel. Em ver<strong>da</strong>de, certasfunções de Bessel surgiram antes ain<strong>da</strong>, em 1703, na resolução <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> equação de Riccati 28 por Jacob Bernoulli 29(vide nota histórica à página 510) e em 1732, em trabalhos de Daniel Bernoulli 30 sobre o problema <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> vibrantee suas variantes (vide problema <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> pendura<strong>da</strong> na Seção 20.5.2, página 933). O trabalho do astrônomo Bessel 31no qual as funções que levam seu nome foram (re)encontra<strong>da</strong>s é bem posterior e <strong>da</strong>ta de 1817, tendo sido publicado em1824 32 .O problema que conduziu Bessel não foi o de resolver uma equação diferencial, mas o de determinar coeficientes deFourier que descrevem a trajetória de um planeta em movimento periódico em uma órbita elíptica em torno do Sol eobedecendo a segun<strong>da</strong> lei de Kepler 33 , segundo a qual o raio-vetor que conecta o Sol ao planeta em questão varre áreasiguais em tempos iguais 34 . Bessel obteve para esses coeficientes uma expressão integral que é a representação integral<strong>da</strong>s funções de Bessel que apresentamos em (<strong>15</strong>.186), mais abaixo. Posteriormente, identificou-se que esses coeficientesrepresentavam as funções previamente trata<strong>da</strong>s por Daniel Bernoulli e Euler, mas as mesmas acabaram sendo nomea<strong>da</strong>sem honra a Bessel (segundo [113], o nome de Bessel foi atribuído à equação diferencial por Schlömilch 35 em 1857 eLipschitz 36 em 1859). Em seu trabalho, na ver<strong>da</strong>de, Bessel estendeu resultados anteriores de Lagrange 37 , de 1769, o qualtambém dedicou-se à questão de determinar os coeficientes de Fourier que expressam como função do tempo a distânciaao Sol de um planeta em órbita elíptica, calculando os três primeiros 38 .A determinação desses coeficientes de Fourier não é um mero exercício acadêmico, pois é importante para cálculos, viateoria de perturbações, <strong>da</strong> influência gravitacional que os planetas exercem entre si e <strong>da</strong> conseqüente previsão de desvios<strong>da</strong>s suas órbitas elípticas. O estudo matemático de perturbações periódicas ou quase-periódicas em sistemas mecânicos27 Leonhard Euler (1707–1783).28 Iacopo Francesco Riccati (1676–1754).29 Jacob Bernoulli (1654–1705).30 Daniel Bernoulli (1700–1782).31 Friedrich Wilhelm Bessel (1784–1846).32 F. W. Bessel, “Untersuchungen des Theils der planetarischen Störungen, welcher aus der Bewegung der Sonne entsteht”. BerlinerAbhandlungen, 1–52 (1824).33 Johannes Kepler (<strong>15</strong>71–1630).34 Como todo estu<strong>da</strong>nte de Física bem sabe, isso é conseqüência <strong>da</strong> conservação do momento angular sob uma força central.35 Oscar Xavier Schlömilch (1823–1901).36 Rudolf Otto Sigismund Lipschitz (1832–1903).37 Joseph-Louis Lagrange (1736–1813).38 Outras informações históricas sobre o desenvolvimento <strong>da</strong>s funções de Bessel podem ser encontra<strong>da</strong>s em [262].


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 708/2117(ou em equações diferenciais, em geral) é um vasto assunto de pesquisa que tem desafiado inúmeros pesquisadores até aatuali<strong>da</strong>de.Bessel é também autor de dois outros importantes feitos científicos, a proposição <strong>da</strong> existência de estrelas binárias ea medição <strong>da</strong> distância ao Sol de uma outra estrela.Bessel foi um dos primeiros a propor a existência de estrelas binárias, prevendo em 1834 a existência de uma companheira<strong>da</strong> estrela Sirius. Tal previsão foi possível em função de medi<strong>da</strong>s de alta precisão, que Bessel produziu duranteanos, <strong>da</strong> posição de várias estrelas. Tais medi<strong>da</strong>s indicavam um movimento elíptico periódico de Sirius cuja origem nãopoderia ser explica<strong>da</strong> em termos de movimentos <strong>da</strong> Terra ou do sistema solar. Bessel propôs que esse movimento eradevido à presença de uma outra estrela menos brilhante nas proximi<strong>da</strong>des de Sirius e que ambas orbitavam em torno docentro de massa comum, explicando assim as observações. Em 1840, Bessel anunciou a observação de tais movimentosperiódicos em outra estrela, a estrela Procyon.A existência <strong>da</strong> companheira de Sirius foi confirma<strong>da</strong> por observações feitas em 1862 por A. G. Clark 39 e a de Procyonem 1896, por J. M. Schaeberle 40 , ambas após a morte de Bessel. As estatísticas atuais indicam que cerca de metade <strong>da</strong>sestrelas <strong>da</strong> nossa galáxia é composta por estrelas binárias. Há também sistemas triplos de estrelas (α Centauri sendo oexemplo mais popularmente conhecido), quádruplos (ǫ Lyrae) etc.Um problema matemático, levantado pela primeira vez por Laplace 41 em 1785 e ain<strong>da</strong> hoje em aberto, ao qualnomes como o de Poincaré 42 deram importantes contribuições, é o de saber se sistemas múltiplos como esses, ou como onosso próprio sistema solar, são estáveis. Esse problema deu origem a uma importante área de pesquisa atual, a teoriados sistemas dinâmicos 43 . Métodos como os que Bessel e outros empregaram para a detecção de sistemas binários sãoempregados hoje em dia na detecção de planetas orbitando estrelas, outro tema atual de pesquisa.Bessel foi também o primeiro, em 1838, a determinar a distância ao Sol de uma outra estrela, usando para tal ométodo de paralaxe. A estrela em questão foi 61 Cygni e Bessel calculou sua distância ao Sol como sendo cerca de 10anos-luz. O valor atualmente aceito é de cerca de 10,7 anos-luz, ou 3,3 parsecs 44 . Com esse trabalho, Bessel contribuiupara o estudo <strong>da</strong>s escalas de distância cosmológicas, tarefa em implementação até os nossos dias.• Relações de recorrência para as funções de BesselSeja a função de Bessel J ν (x) defini<strong>da</strong> em (14.106) porJ ν (x) :=∞∑k=0(−1) kk!Γ(k +1+ν)( x2) 2k+ν. (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>6)Consideremos provisoriamente ν diferente de 0 ou de um inteiro negativo (pois Γ(x) diverge se x é um inteiro negativo.Vide Capítulo 7, página 272). Multiplicando J ν por x ν e diferenciando em relação a x, obtem-seddx (xν J ν (x)) = ddx∞∑k=0(−1) kk!Γ(k +1+ν)( 12) 2k+ν(x) 2k+2ν=∞∑k=0(−1) k (k +ν)k!Γ(k +1+ν)( 12) 2k+ν−1(x) 2k+2ν−1= x ν ∞ ∑k=0= x ν J ν−1 (x) .(−1) kk!Γ(k +ν)( x2) 2k+ν−139 Alvan Graham Clark (1832–1897).40 John Martin Schaeberle (1853–1924).41 Pierre-Simon Laplace (1749–1827).42 Jules Henri Poincaré (1854–1912).43 Em ver<strong>da</strong>de, boa parte <strong>da</strong> topologia moderna foi cria<strong>da</strong> por Poincaré no seu tratamento do problema de estabili<strong>da</strong>de.44 Um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano e corresponde a aproxima<strong>da</strong>mente 9,4610 12 km, ou 9,5 trilhões de quilômetros.Um parsec é definido como a distância de um objeto cuja paralaxe em relação à Terra seja de um segundo de arco, uma medi<strong>da</strong> de distânciausa<strong>da</strong> tradicionalmente na Astronomia. Um parsec corresponde a aproxima<strong>da</strong>mente 3,262 anos-luz, ou 3,0910 13 km.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 709/2117Multiplicando J ν por x −ν e diferenciando em relação a x, obtem-se analogamented (x −ν J ν (x) ) =dx=ddx∞∑k=1∞∑k=0(−1) kk!Γ(k +1+ν)(−1) k(k −1)!Γ(k +1+ν)( 12) 2k+ν(x) 2k( 12) 2k+ν−1(x) 2k−1Provamos assim que, para ν ≠ 0, −1, −2, −3...,= x −ν ∞ ∑k=1(−1) k(k −1)!Γ(k +1+ν)∑k→k+1∞= −x −ν (−1) kk!Γ(k +2+ν)k=0= −x −ν J ν+1 (x) .( x2) 2k+ν−1( x2) 2k+ν+1d (x ν J ν (x) ) = x ν J ν−1 (x) edxd (x −ν J ν (x) ) = −x −ν J ν+1 (x) . (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>7)dxAdotando-se a já menciona<strong>da</strong> definição J −m (x) = (−1) m J m (x), para m inteiro positivo ou zero, vemos que a expressãoacima também vale para ν = 0, −1, −2, −3....E. <strong>15</strong>.18 Exercício. Mostre isso! 6Para ν = 0, a segun<strong>da</strong> relação em (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>7) diz-nos quee para ν = 1, a primeira relação em (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>7) diz-nos queExpandindo as deriva<strong>da</strong>s em (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>7), teremos queou seja,J ′ 0 (x) = −J 1(x) , (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>8)xJ 0 (x) = d (xJ1 (x) ) . (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>9)dxx ν J ′ ν (x)+νxν−1 J ν (x) = x ν J ν−1 (x) ex −ν J ′ ν (x)−νx−ν−1 J ν (x) = −x −ν J ν+1 (x) ,xJ ′ ν (x) = xJ ν−1(x)−νJ ν (x) e xJ ′ ν (x) = νJ ν(x)−xJ ν+1 (x) . (<strong>15</strong>.160)Somando e subtraindo essas duas expressões uma <strong>da</strong> outra obtemos as seguintes relações importantes:J ′ ν(x) = 1 2J ν+1 (x) = 1 x( )J ν−1 (x)−J ν+1 (x) , (<strong>15</strong>.161)( )2νJ ν (x)−xJ ν−1 (x) . (<strong>15</strong>.162)Essas relações, váli<strong>da</strong>s para todo ν ∈ C, são denomina<strong>da</strong>s relações de recorrência <strong>da</strong>s funções de Bessel. A segun<strong>da</strong> delaspermite, por exemplo, obter to<strong>da</strong>s as funções J m com m inteiro positivo a partir de J 0 e J 1 . Na ver<strong>da</strong>de, por (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>8),basta conhecer J 0 e sua deriva<strong>da</strong>.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 711/2117e por indução. Apresentamos uma prova direta de (<strong>15</strong>.171) para o caso geral. Pela definição de J µ , tem-se∫ 1t µ+1( 1−t 2) ∫ (ν−µ ( ) 1∞(<strong>15</strong>.<strong>15</strong>6)Jµ xt dt = t µ+1( 1−t 2) ν−µ−1∑00k=0(−1) kk! Γ(k +1+µ)( ) ) 2k+µ xtdt2como queríamos mostrar.=(7.38)===∞∑k=0∞∑k=0(−1) k ( x) 2k+µ∫ 1k! Γ(k +1+µ) 20t 2k+2µ+1( 1−t 2) ν−µ−1dt(−1) k ( x 2k+µ 1 Γ(k +µ+1)Γ(ν −µ)k! Γ(k +1+µ) 2)2 Γ(k +ν +1)Γ(ν −µ)2Γ(ν −µ)2( x2) µ−ν ∞ ∑( x2k=0) µ−νJν (x) ,(−1) k ( x) 2k+νk! Γ(k +1+ν) 2E. <strong>15</strong>.20 Exercício. Justifique a troca de integral pela somatória realiza<strong>da</strong> na segun<strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de acima e enten<strong>da</strong> por quefazemos a restrição Re(ν) > Re(µ) > −1. 6De (<strong>15</strong>.171), para µ = 0 e Re(ν) > 0, tem-se o seguinte caso particular relevante de (<strong>15</strong>.171):J ν (x) = 2 ( x) ν∫ 1Γ(ν) 20t ( 1−t 2) ν−1J0(xt)dt , (<strong>15</strong>.172)válido para Re(ν) > 0 e para todo x ∈ C. Usando a primeira relação em (14.121), obtemos também, tomando-se µ = 1/2em (<strong>15</strong>.171),J ν (x) = √ 1 2( x) ν−1∫ 1t ( 1−t 2) ν−3/2sen(xt) dt , (<strong>15</strong>.173)π Γ(ν −1/2) 2para Re(ν) > 1/2 e x ∈ C. Usando a segun<strong>da</strong> relação em (14.121), obtemos também, tomando-se µ = −1/2 em (<strong>15</strong>.171),para Re(ν) > −1/2 e x ∈ C.J ν (x) = √ 1 2( x) ν∫ 1π Γ(ν +1/2) 200(1−t2 ) ν−1/2cos(xt) dt , (<strong>15</strong>.174)E. <strong>15</strong>.21 Exercício. Verifique! 6Mais adiante (vide eqs. (<strong>15</strong>.202) e (<strong>15</strong>.203)) usaremos (<strong>15</strong>.173) e (<strong>15</strong>.174) para obter certas transforma<strong>da</strong>s de Fourierrelaciona<strong>da</strong>s às funções de Bessel.• A função geratriz <strong>da</strong>s funções de BesselA determinação <strong>da</strong> função geratriz <strong>da</strong>s funções de Bessel é importante, entre outras razões, por nos permitir obterrepresentações integrais para as funções de Bessel, representações essas que possuem grande relevância em váriasaplicações.Tomemos as funções de Bessel de ordem inteira defini<strong>da</strong>s porJ m (x) :=∞∑k=0(−1) kk!(k +m)!( x) 2k+m, (<strong>15</strong>.175)2


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 712/2117para m ≥ 0, convencionando-se que J −m (x) = (−1) m J m (x) (vide (14.124) e a discussão que lhe acompanha). Vamosaqui considerar a função geratriz defini<strong>da</strong> porJ(x, t) :=∞∑m=−∞t m J m (x)para t ≠ 0 e vamos provar que∞∑m=−∞( ( xt m J m (x) = exp t− 1 )). (<strong>15</strong>.176)2 tDessa importante relação serão extraídos vários fatos úteis sobre as funções de Bessel de ordem inteira. Antes deprovarmos isso, mostremos que J(x, t) está bem defini<strong>da</strong>. Por (<strong>15</strong>.175), valede modo que|J(x, t)| ≤ |J 0 (x)|+|J m (x)| ≤∞∑k=01k!(k +m)!∞∑|t| m |J m (x)|+m=1∣ x 2∞∑1∣t∣m=1∣ 2k+m ≤ 1 ∣ x ∣ m ∑∞m! 2mk=01k!∣ x 2|J m (x)| ≤ |J 0 (x)|+e |x/2|2 ∞ ∑∣ 2k = 1 ∣ x ∣ m e |x/2|2 ,m! 2m=11m!∣xt2m ∑∞ ∣ +e |x/2|2sendo que as últimas somas são convergentes para todo x ∈ C e todo t ∈ C com t ≠ 0, o que prova que J(x, t) é analíticapara todo x ∈ C e todo t ∈ C com t ≠ 0.Podemos com isso demonstrar (<strong>15</strong>.176) de modo bem simples, tomando a deriva<strong>da</strong> parcial em relação a x de J(x, t),derivando termo a termo na soma (o que é permitido, devido à analitici<strong>da</strong>de) e usando (<strong>15</strong>.161):∂∞∂x J(x, t) = ∑m=−∞m=11m!∣ x 2t∣ m ,t m J ′ m(x) (<strong>15</strong>.177)(<strong>15</strong>.161)=k=m−1,l=m+1==12t2∞∑m=−∞∞∑k=−∞t m J m−1 (x)− 1 2t k J k (x)− t−12∞∑m=−∞∞∑l=−∞t m J m+1 (x) (<strong>15</strong>.178)t l J l (x) (<strong>15</strong>.179)(1t− 1 )J(x, t) . (<strong>15</strong>.180)2 t∂Assim, J(x, t) satisfaz a equação diferencial∂x J(x, t) = ( 12 t−1t)J(x, t), cuja solução geral é( ( xJ(x, t) = f(t)exp t− 1 )),2 tpara alguma função f(t). Agora, como J m (0) = 0 para m ≠ 0 e J 0 (0) = 1, segue que J(0, t) = 1, o que implica f(t) = 1,provando (<strong>15</strong>.176).Estu<strong>da</strong>ndo a demonstração acima o leitor poderá reconhecer a importância de definir-se J −m (x) = (−1) m J m (x), param inteiro positivo.• Fórmula de adição <strong>da</strong>s funções de BesselUma <strong>da</strong>s relações mais úteis que advêm de (<strong>15</strong>.176) é a seguinte:J m (x+y) =∞∑n=−∞J n (x)J m−n (y) , (<strong>15</strong>.181)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 713/2117váli<strong>da</strong> para todo m ∈ Z e todos x, y ∈ C. Essa expressão é denomina<strong>da</strong> por alguns autores fórmula de adição <strong>da</strong>sfunções de Bessel (a “adição”, aqui, refere-se à adição dos argumentos <strong>da</strong> função no lado esquerdo). As funções de Besselsatisfazem várias outras relações de adição do tipo de acima e remetemos o leitor à literatura supracita<strong>da</strong> (por exemplo,à referência [116]) para generalizações.A demonstração de (<strong>15</strong>.181) é obti<strong>da</strong> de (<strong>15</strong>.176) calculando-se o produto J(x, t)J(y, t) de duas formas: por um lado,( ( xJ(x, t)J(y, t) = exp t− 1 )) ( ( yexp t− 1 ))2 t 2 t( ( x+y= exp t− 1 ))2 t=∞∑m=−∞t m J m (x+y) . (<strong>15</strong>.182)Por outro lado,J(x, t)J(y, t) =( ∞∑k=−∞t k J k (x))( ∞∑l=−∞t l J l (y)Comparando-se (<strong>15</strong>.182) a (<strong>15</strong>.183) obtem-se (<strong>15</strong>.181).)=∞∑k=−∞∞∑l=−∞t k+l J k (x)J l (y) =∞∑m=−∞t m ( ∞∑n=−∞Se em (<strong>15</strong>.181) tomarmos y = −x e m = 0, e usarmos que J n (x) = J −n (−x) e que J 0 (0) = 1, obteremos1 =∞∑n=−∞( ) 2 (J n (x) = J 0 (x)) 2+2 ∞ ∑n=1J n (x)J m−n (y))(<strong>15</strong>.183)(J n (x)) 2. (<strong>15</strong>.184).Como J n (x) é real para x ∈ R, isso ensina-nos que |J 0 (x)| ≤ 1 e |J n (x)| ≤ 1 √2, para todo x ∈ R e n > 0, n inteiro.E. <strong>15</strong>.22 Exercício. Justifique! 6É possível estabelecer limites superiores mais precisos para |J n (x)|, mas não trataremos disso aqui.• Representações integrais <strong>da</strong>s funções de BesselJá obtivemos em (<strong>15</strong>.171), (<strong>15</strong>.172), (<strong>15</strong>.173) e (<strong>15</strong>.174) algumas relações integrais envolvendo funções de Bessel.Trataremos de obter mais algumas outras agora.A relação (<strong>15</strong>.176) tem vários usos, um deles é o de fornecer uma representação integral para as funções de Bessel,com a qual outras proprie<strong>da</strong>des podem ser obti<strong>da</strong>s. A relação (<strong>15</strong>.176) foi prova<strong>da</strong> para todo x ∈ C e t ∈ C com t ≠ 0.Tomemos t com |t| = 1, ou seja, tomemos t <strong>da</strong> forma t = e iϕ , com −π ≤ ϕ ≤ π. Obtemos,e ixsen(ϕ) =∞∑m=−∞J m (x)e imϕ . (<strong>15</strong>.185)O ponto interessante é que podemos interpretar o lado direito como sendo a série de Fourier na variável ϕ <strong>da</strong> funçãoperiódica de período 2π do lado esquerdo, de onde tiramos queJ m (x) = 12π∫ π−πe ixsen(ϕ) e −imϕ dϕ = 12π∫ π−πe ixsen(ϕ)−imϕ dϕ ,para todo m ∈ Z. Usando e ia = cos(a)+isen(a), tem-seJ m (x) = 1 ∫ πcos(xsen(ϕ)−mϕ) dϕ+ i ∫ πsen (xsen(ϕ)−mϕ) dϕ .2π −π2π −πA segun<strong>da</strong> integral do lado direito é nula, pois o integrando é uma função ímpar em ϕ. Como o integrando <strong>da</strong> primeiraintegral do lado direito é uma função par em ϕ, segue queJ m (x) = 12π∫ π−πcos(xsen(ϕ)−mϕ) dϕ = 1 π∫ π0cos(xsen(ϕ)−mϕ) dϕ , (<strong>15</strong>.186)váli<strong>da</strong> para todo m ∈ Z. Essa expressão é a importante representação integral <strong>da</strong> função de Bessel J m (x), m ∈ Z.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 714/2117Tomando-se t = ie iϕ em (<strong>15</strong>.176), obtem-sede onde se extraie disso se obtémÉ fácil obter de (<strong>15</strong>.188) quee ixcos(ϕ) =J m (x) = (−i)m2πJ m (x) = (−i)m2πJ 2m (x) = (−1)m2πJ 2m+1 (x) = (−1)m2π∫ π∞∑m=−∞∫ π−π∫ π−π∫ π−π−πi m J m (x)e imϕ . (<strong>15</strong>.187)e ixcos(ϕ)−imϕ dϕ , (<strong>15</strong>.188)e ixcos(ϕ) cos(mϕ) dϕ . (<strong>15</strong>.189)( )cos xcos(ϕ)−2mϕ dϕ ,para todo m = 0, 1, 2, .... De (<strong>15</strong>.188) segue, em particular, a relaçãoJ 0 (x) = 12π( )sen xcos(ϕ)−(2m+1)ϕ dϕ .Aplicações dessa identi<strong>da</strong>de encontram-se nos Exercícios E. <strong>15</strong>.23 e E. <strong>15</strong>.24.E. <strong>15</strong>.23 Exercício. Seja f : R 2 → C integrável e sejaF[f](⃗p) := 12π∫ π∫−πe ixcos(ϕ) dϕ . (<strong>15</strong>.190)R 2 f(⃗x)e −i⃗p·⃗x d 2 ⃗xsua transforma<strong>da</strong> de Fourier, onde ⃗x = (x 1 , x 2 ), ⃗p = (p 1 , p 2 ) e ⃗p ·⃗x = p 1 x 1 + p 2 x 2 . Suponha que f depen<strong>da</strong> apenas <strong>da</strong>coordena<strong>da</strong> radial: f(⃗x) = f(r), com r = ‖⃗x‖ = √ x 2 1 +x2 2 . Mostre queF[f](⃗p) =∫ ∞0f(r)J 0 (pr)rdr ,onde p = |⃗p|. Sugestão: use (<strong>15</strong>.190). 6⎧⎪⎨ f 0 , 0 ≤ r ≤ RE. <strong>15</strong>.24 Exercício. Seja f : R 2 → C defini<strong>da</strong> por f(⃗x) = f(r) = , sendo f 0 e R constantes com⎪⎩ 0, r > RR > 0. Mostre queF[f](⃗p) = f 0Rp J 1(pR) .Sugestão: De (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>7) segue que xJ 0 (x) = (xJ 1 (x)) ′ . 6• Proprie<strong>da</strong>des adicionaisDe (<strong>15</strong>.185) podemos extrair mais algumas relações de interesse. Mostremos algumas aqui. Separando a parte real ea parte imaginária de ambos os lados de (<strong>15</strong>.185), teremos( )cos xsen(ϕ)=∞∑m=−∞J m (x)cos(mϕ) ,( )sen xsen(ϕ)=∞∑m=−∞J m (x)sen(mϕ) .


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 7<strong>15</strong>/2117Usando que J −m (x) = (−1) m J m (x), obtemos alguns cancelamentos que conduzem a( )cos xsen(ϕ)( )sen xsen(ϕ)Em particular, para ϕ = π/2, isso diz-nos que= J 0 (x)+2= 2∞∑J 2k (x)cos(2kϕ) , (<strong>15</strong>.191)k=1∞∑J 2k−1 (x)sen ( (2k −1)ϕ ) . (<strong>15</strong>.192)k=1cos(x) = J 0 (x)+2sen(x) = 2Tomando ϕ = 0 em (<strong>15</strong>.191), segue também a identi<strong>da</strong>de∞∑(−1) k J 2k (x) , (<strong>15</strong>.193)k=1∞∑(−1) k+1 J 2k−1 (x) . (<strong>15</strong>.194)k=11 = J 0 (x)+2∞∑J 2k (x) .De (<strong>15</strong>.191)-(<strong>15</strong>.192), obtem-se também, usando as bem-conheci<strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções seno eco-seno,⎧∫1 πcos ( xsenϕ ) ⎪⎨ J m (x), m parcos(mϕ)dϕ =.π 0⎪⎩ 0, m ímpark=1∫1 πsen ( xsenϕ ) sen(mϕ)dϕ =π 0⎧⎪⎨⎪⎩0, m parJ m (x), m ímpar.Outras identi<strong>da</strong>des podem ser obti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s várias apresenta<strong>da</strong>s de acima, ou com os mesmos métodos, masencerramos aqui nossa apresentação <strong>da</strong>s mesmas, convi<strong>da</strong>ndo o leitor a um passeio à literatura pertinente às funções deBessel. Nossa intenção agora é a de discutir as relações de ortogonali<strong>da</strong>de para as funções de Bessel.E. <strong>15</strong>.25 Exercício. Usando (14.41), mostre a partir de (<strong>15</strong>.191) que vale a identi<strong>da</strong>decos(x √ )1−u 2= J 0 (x)+2∞∑J 2k (x)T 2k (u) , (<strong>15</strong>.195)onde T m é o m-ésimo polinômio de Tchebychev. 6k=1• A transforma<strong>da</strong> de Fourier de J mSeguindo a convenção que adotamos no Capítulo 36, página 1745, definimos a transforma<strong>da</strong> de Fourier F[f] de umafunção de uma variável f e a transforma<strong>da</strong> de Fourier inversa F −1 [f] porF[f](p) = 1 √2π∫ ∞−∞A relação (<strong>15</strong>.189) pode ser escrita na formae −ipx f(x)dx e F −1 [f](p) = 1 √2π∫ ∞J m (x) = (−i)mπ∫ π0−∞e ipx f(x)dx .e ixcos(ϕ) cos(mϕ) dϕ . (<strong>15</strong>.196)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 716/2117Adotando m ∈ N 0 , com a mu<strong>da</strong>nça de variáveis ϕ = arccosu, isso ficaJ m (x) = (−i)mπ∫ 1−1e ixu cos ( marccos(u) ) 1√1−u2du(14.41)= (−i)mπonde T m é o m-ésimo polinômio de Tchebychev (vide página 614). Definamos uma função Ĵm porĴ m (u) := (−i) m √2π∫ 1−1e ixu √ T m(u)du , (<strong>15</strong>.197)1−u2T m (u)√1−u2 χ [−1, 1](u) , (<strong>15</strong>.198)onde χ [−1, 1] é a função característica do intervalo [−1, 1]:⎧⎪⎨ 1 , u ∈ [−1, 1] ,χ [−1, 1] (u) :=⎪⎩ 0 , u ∉ [−1, 1] .(<strong>15</strong>.199)Então, (<strong>15</strong>.197) traduz-se na afirmação quee, portanto,J m (x) = F −1[ Ĵ m](x) (<strong>15</strong>.200)F[J m ](u) = Ĵm(u) = (−i) m √2πT m (u)√1−u2 χ [−1, 1](u) . (<strong>15</strong>.201)Essa expressão determina a transforma<strong>da</strong> de Fourier <strong>da</strong>s funções de Bessel de ordem m ∈ N 0 . A função Ĵm é integrável,ouseja, umelementodeL 1 (R, dx)(justifique!) e, portanto, (<strong>15</strong>.200)estábemdefini<strong>da</strong>. As funçõesJ m nãosãointegráveisem R, nem de quadrado integrável, mas a expressão (<strong>15</strong>.201) é váli<strong>da</strong> no sentido de distribuições tempera<strong>da</strong>s. Vide Seção36.3.6, página 1806.• Mais algumas transforma<strong>da</strong>s de Fourier relaciona<strong>da</strong>s a funções de BesselÉ fácil constatar que a expressão (<strong>15</strong>.173), página 711, pode ser escrita na formaJ ν (x) =√2( x) ν−1∫ 1 ∞√ χ [−1, 1] (t)t ( 1−t 2) ν−3/2e ixt dt ,iΓ(ν −1/2) 2 2π −∞para Re(ν) > 1/2, com χ [−1, 1] defini<strong>da</strong> em (<strong>15</strong>.199). Disso concluímos que para Re(ν) > 1/2 vale[ ]Jν (x) χ [−1, 1] (t)Fx ν−1 (t) = −i2 ν−3/2 Γ(ν −1/2) t( 1−t 2) ν−3/2, (<strong>15</strong>.202)no sentido de distribuições. Usando (<strong>15</strong>.174), página 711, escrevemosJ ν (x) =√2( x) ν∫ 1 ∞√ χ [−1, 1] (t) ( 1−t 2) ν−1/2e ixt dt ,Γ(ν +1/2) 2 2π −∞para Re(ν) > −1/2 e obtemos, novamemte no sentido de distribuições,[ ]Jν (x)Fx v (t) =χ [−1, 1] (t) (1−t2 ) ν−1/2, (<strong>15</strong>.203)2 ν−1/2 Γ(ν +1/2)para Re(ν) > −1/2. Observe-se que (<strong>15</strong>.202) é obti<strong>da</strong> de (<strong>15</strong>.203) por derivação e multiplicação por i, como esperado.E. <strong>15</strong>.26 Exercício. Verifique e justifique as afirmativas de acima. 6• Zeros <strong>da</strong>s funções de BesselAntesdeentrarmosnadiscussãosobreasrelaçõesdeortogonali<strong>da</strong>deparaasfunçõesdeBesselemJ = [0, 1]precisamosfazer alguns comentários sobre os zeros <strong>da</strong>s funções de Bessel. Os seguintes teoremas são válidos:


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 717/2117Teorema <strong>15</strong>.2 Ca<strong>da</strong> função J n (z), com n ∈ Z, possui zeros complexos e possui uma coleção infinita enumerável dezeros reais, todos simples, exceto z = 0, que é um zero de ordem |m| de J m (z) para m ∈ Z, m ≠ 0. Os zeros de J n (z),com n ∈ Z, não possuem pontos de acumulação em R. Como J n (x) = (−1) n J n (−x), vemos que os zeros de J n (x) sãosimétricos em relação ao ponto x = 0. Fora isso, como J −n (x) = (−1) n+1 J n (x), os zeros de J n (x) coincidem com os deJ −n (x). Por fim, os zeros positivos <strong>da</strong>s funções de Bessel de ordem inteira positiva possuem a seguinte proprie<strong>da</strong>de dealternância: entre dois zeros positivos sucessivos de J n existe um zero de J n−1 e um de J n+1 , para todos n ≥ 0. 2Teorema <strong>15</strong>.3 Seja ν real e suponha que |argz| < π. Então J ν (z) possui uma coleção infinita enumerável de zerosreais e positivos e um número 2N(ν) de zeros conjugados complexos, sendo que1. N(ν) = 0 se ν > −1 ou ν = −1, −2, −3, ...,2. N(ν) = m se −m−1 < ν < m, m = 1, 2, 3, ....Os zeros reais positivos de J ν (z), com ν real, não possuem pontos de acumulação em R + . 2Teorema <strong>15</strong>.4 Para ν ≥ 0 a função J ′ ν(z) possui apenas zeros simples, exceto em z = 0 e entre dois zeros sucessivosde J ′ ν (z) há exatamente um zero de J ν(z). 2O teorema seguinte é particularmente útil na resolução de problemas envolvendo condições de contorno mistas.Teorema <strong>15</strong>.5 Para A e B reais e ν real com ν > −1 a equaçãoAJ ν (z)+BzJ ′ ν (z)para |argz| < π possui uma coleção enumerável de zeros reais positivos e no caso em que ν + A/B ≥ 0, também nãopossui raízes complexas. Caso ν +A/B < 0, AJ ν (z)+BzJ ′ ν(z) possui duas raízes imaginárias puras. 2Foi demonstrado por Siegel 46 em 1929 que se m, n ∈ N 0 com m ≠ n, então J m (x) e J m (x) não possuem zeroscomuns, exceto x = 0.Os enunciados acima foram extraídos de [160], [116] e [110] e suas demonstrações podem ser encontra<strong>da</strong>s em [262]ou (parcialmente) em [116]. Não as apresentaremos aqui, mas o leitor não deve ser desestimulado a estudá-las pois asmesmas são elementares e utilizam-se essencialmente apenas do material que já apresentamos aqui.• As relações de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções de Bessel no intervalo [0, 1]Em muitos problemas, por exemplo, naquele em que estu<strong>da</strong>mos os modos de vibração de uma membrana circular,estamos interessados nas soluções <strong>da</strong> equação de Bessel em um intervalo finito fechado. Consideraremos, para fixar idéias,o caso em que o intervalo é J = [0, 1]. Em uma tal situação encontraremos relações de ortogonali<strong>da</strong>de, as quais sãomuito importantes na resolução de certos problemas envolvendo equações diferenciais parciais submeti<strong>da</strong>s a condiçõesiniciais e de contorno.Devido aos comentários que fizemos acima sobre os zeros <strong>da</strong>s funções de Bessel consideraremos no que segue apenaso caso em que ν é real.Seja para um <strong>da</strong>do α ∈ R a função f α (x) := J ν (αx). É fácil verificar que f α(x) é solução <strong>da</strong> equação(xy ′ (x)) ′ − ν2x y(x)+α2 xy(x) = 0 . (<strong>15</strong>.204)E. <strong>15</strong>.27 Exercício importante. Verifique isso. 6Como α aparece eleva<strong>da</strong> ao quadrado na expressão acima podemos sem per<strong>da</strong> de generali<strong>da</strong>de considerar α > 0 (ocaso α = 0 é trivial, pois corresponde a uma função constante: f 0 (x) = J ν (0)).46 Carl Ludwig Siegel (1896–1981).


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 718/2117Nosso principal resultado será o seguinte teorema, o qual estabelece uma classe bastante geral de relações de ortogonali<strong>da</strong>depara as funções de Bessel. Essas relações de ortogonali<strong>da</strong>de são de suma importância nas aplicações dessasfunções à solução de certas equações diferenciais submeti<strong>da</strong>s a certas condições iniciais e de contorno.Teorema <strong>15</strong>.6 Seja ν ≥ 0 e sejam fixados certos números reais A, B com (A, B) ≠ (0, 0) satisfazendo ν +A/B ≥ 0,caso B ≠ 0 (vide Teoremas <strong>15</strong>.2-<strong>15</strong>.5). Seja também Z ν A,B o conjunto de todos os números α > 0 tais queAJ ν (α)+BαJ ′ ν(α) = 0 , (<strong>15</strong>.205)ou seja,Z ν A,B := {α > 0| AJ ν (α)+BαJ ′ ν (α) = 0 }. (<strong>15</strong>.206)Pelo Teorema <strong>15</strong>.5, esse conjunto é não-vazio e enumerável. Então, a condição (<strong>15</strong>.23) do Teorema <strong>15</strong>.1, página 673,com J = [0, 1], é satisfeita para to<strong>da</strong>s as funções f α (x) = J ν (αx) com α ∈ Z ν A,B e, portanto, para α, β ∈ Zν A,B comα ≠ β valem as relações de ortogonali<strong>da</strong>de (com r(x) = x)ou seja,∫ 10∫ 10f α (x)f β (x)xdx = 0 ,para todos α, β ∈ Z ν A,B com α ≠ β. Para todos α, β ∈ Zν A,B , tem-se∫ 10J ν (αx)J ν (βx)xdx =J ν (αx)J ν (βx)xdx = 0 . (<strong>15</strong>.207)(<strong>15</strong>.165)−(<strong>15</strong>.167)=δ α,β2δ α,β2[ ) ](J ν ′ (α))2 +(1− ν2α 2 (J ν (α)) 2[ (Jν(α) ) 2−Jν−1 (α)J ν+1 (α)]. (<strong>15</strong>.208)Essa expressão é denomina<strong>da</strong> relação de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções de Bessel. Note que há uma relação de ortogonali<strong>da</strong>depara ca<strong>da</strong> tripla (ν, A, B) com ν ≥ 0 e (A, B) ≠ (0, 0) e ν + A/B ≥ 0, B ≠ 0, pois ca<strong>da</strong> tripla (ν, A, B) fixa oconjunto W ν A,B .Incidentalmente, a evidente positivi<strong>da</strong>de do lado esquerdo de (<strong>15</strong>.208) quando α = β implica que(Jν (α) ) 2> Jν−1 (α)J ν+1 (α) (<strong>15</strong>.209)para todo α ∈ Z ν A,B e tal deve ser ver<strong>da</strong>deiro para todo A, B.A relação (<strong>15</strong>.205) corresponde a condições de contorno freqüentemente encontra<strong>da</strong>s na resolução de equações diferenciaisparciais <strong>da</strong> Física, como por exemplo no problema de propagação de on<strong>da</strong>s em uma membrana circular (um tambor).No caso A = 1, B = 0 o conjunto Z ν 1,0 coincide com o dos zeros <strong>da</strong> função de Bessel J ν(x). No caso A = 0, B = 1 oconjunto Z ν 0,1 coincide com o dos zeros <strong>da</strong> função J′ ν(x).Em particular, se ν ≥ 0 e α ν k é o k-ésimo zero <strong>da</strong> função J ν(x) no intervalo (0, ∞), então∫ 10J ν(ανk x ) J ν(ανl x ) xdx = δ k,l(J ′ ν (αν k ))22= δ k,l(J ν+1 (α ν k ))22. (<strong>15</strong>.210)Analogamente, se ν ≥ 0 e βk ν é o k-ésimo zero <strong>da</strong> função J′ ν (x) no intervalo (0, ∞), então∫ 10(J ν βνk x ) (J ν βνl x ) ( ) 2 νxdx = δ k,l(1−βk) ν(J ν (β ν k ))22. (<strong>15</strong>.211)Dessa relação percebemos incidentalmente que βk ν > ν para todo k, pois o lado esquerdo é certamente positivo quandok = l. 2


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 719/2117Prova do Teorema <strong>15</strong>.6. Podemos encarar a equação (<strong>15</strong>.204) como sendo <strong>da</strong> forma canônica (<strong>15</strong>.5) para o intervaloJ = (0, 1] com p(x) = x, q(x) = − ν2x , r(x) = x e µ = α2 . Perguntemo-nos agora se para duas funções f α (x) := J ν (αx)e f β (x) := J ν (βx) a condição (<strong>15</strong>.23) do Teorema <strong>15</strong>.1, página 673 é satisfeita nos extremos do intervalo J = (0, 1], ouseja, se () ()p(1) f α (1)f β(1)−f ′ α(1)f ′ β (1) − lim p(x) f α (x)f ′x→0β(x)−f α(x)f ′ β (x) = 0 ,isto é, se(J ν (α)βJ ′ ν (β)−αJ′ ν (α)J ν(β))− limx→0x(J ν (αx)βJ ′ ν (βx)−αJ′ ν (αx)J ν(βx)) = 0 .Dado que o primeiro termo <strong>da</strong> expansão (<strong>15</strong>.<strong>15</strong>6) de J ν (x) é proporcional a x ν , e que, conseqüentemente, o primeirotermo <strong>da</strong> expansão de J ν ′(x) é proporcional a xν−1 teremos que()lim x J ν (αx)βJ ν(βx)−αJ ′ ν(αx)J ′ ν (βx) ∝ lim xx ν x ν−1 = 0x→0 x→0sempre que ν > 0. Para ν = 0 a relação acima também é váli<strong>da</strong>, pois o primeiro termo <strong>da</strong> expansão de J 0 (x) é constante,mas o primeiro termo <strong>da</strong> expansão de J 0 ′ (x) é proporcional a x. Para ν < 0 o limite x → 0 <strong>da</strong> expressão acima é singular.Concluímos que para ν ≥ 0 vale() ()p(1) f α (1)f β ′ (1)−f′ α (1)f β(1) − lim p(x) f α (x)f β ′ (x)−f′ α (x)f x→0β(x) = J ν (α)βJ ν ′ (β)−αJ′ ν (α)J ν(β) .Procuramos agora identificar condições sob as quais o lado direito se anula, o que nos garantirá a aplicabili<strong>da</strong>de doteorema de ortogonali<strong>da</strong>de, Teorema <strong>15</strong>.1.Um caso óbvio é aquele no qual α e β são zeros <strong>da</strong> função de Bessel J ν . Outro caso óbvio é aquele no qual α e β sãozeros de J ′ ν , a deriva<strong>da</strong> <strong>da</strong> função de Bessel J ν. Um caso mais geral está na seguinte proposição.Proposição <strong>15</strong>.2 Suponhamos que para certos números A e B com (A, B) ≠ (0, 0) existam constantes reais α e β taisqueAJ ν (α)+BαJ ν ′ (α) = 0 e (<strong>15</strong>.212)AJ ν (β)+BβJ ′ ν(β) = 0 . (<strong>15</strong>.213)Então,J ν (α)βJ ′ ν(β)−αJ ′ ν(α)J ν (β) = 0 .2Prova. As relações (<strong>15</strong>.212)-(<strong>15</strong>.213) podem ser expressas em forma matricial como⎛ ⎞⎛⎞ ⎛ ⎞J ν (α) αJ ν ′ (α)A0=.⎜ ⎟⎜⎟ ⎜ ⎟⎝ ⎠⎝⎠ ⎝ ⎠J ν (β) βJ ν(β)′ B 0Como por hipótese (A, B) ≠ (0, 0), a relação acima só é possível se a matriz 2×2 do lado esquerdo for não-inversível,ou seja, se tiver determinante nulo. Assim, devemos ter⎛ ⎞J ν (α) αJ ν ′ (α)0 = det= J ν (α)βJ ν(β)−αJ ′ ν(α)J ′ ν (β) ,⎜ ⎟⎝ ⎠J ν (β) βJ ν(β)′que é o que queríamos estabelecer.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 720/2117Comessa proposição, fica estabelecido queacondição(<strong>15</strong>.23) do Teorema<strong>15</strong>.1, página673, com J = [0, 1], ésatisfeitapara to<strong>da</strong>s as funções f α (x) = J ν (αx) com α ∈ Z ν A,B e, portanto, para α, β ∈ Zν A,B com α ≠ β valem as relações deortogonali<strong>da</strong>de (com r(x) = x)∫ 10f α (x)f β (x)xdx = 0ou seja,∫ 10J ν (αx)J ν (βx)xdx = 0 ,para todos α, β ∈ Z ν A,B com α ≠ β.Passemos à questão de provar (<strong>15</strong>.208) para o caso em que α = β. Isso pode ser feito de diversas maneiras, a maisdireta sendo a seguinte. Escrevamos a equação (<strong>15</strong>.204) na formaMultiplicando-a por 2y ′ (x), obtemosx 2 y ′′ (x)+xy ′ (x)+ ( α 2 x 2 −ν 2) y(x) = 0 . (<strong>15</strong>.214)0 = 2x 2 y ′ (x)y ′′ (x)+2x(y ′ (x)) 2 +2 ( α 2 x 2 −ν 2) y(x)y ′ (x)= x 2 ddx (y′ (x)) 2 +2x(y ′ (x)) 2 + ( α 2 x 2 −ν 2) ddx (y(x))2= d (x 2 (y ′ (x)) 2) + ( α 2 x 2 −ν 2) ddxdx (y(x))2e, portanto,0 = d (x 2 (y ′ (x)) 2) + d [ (α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2] −2α 2 x (y(x)) 2 . (<strong>15</strong>.2<strong>15</strong>)dx dxIntegrando-se ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de entre 0 e 1, obtem-se0 =(x 2 (y ′ (x)) 2)∣ ∣1[(+ α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2]∣ ∫∣110 0 −2α2 x (y(x)) 2 dx . (<strong>15</strong>.216)Como f α (x) = J ν (αx) é solução de (<strong>15</strong>.214), podemos adotar y(x) = J ν (αx), acima. Assim,0(x 2 (y ′ (x)) 2)∣ ∣ ∣1[(α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2]∣ ∣ ∣100= α 2( x 2 (J ′ ν (αx))2)∣ ∣ ∣1=0= α 2 (J ′ ν (α))2 .(α 2 −ν 2) (J ν (α)) 2 +ν 2 (J ν (0)) 2 =(α 2 −ν 2) (J ν (α)) 2 ,pois ν 2( J ν (0) ) 2= 0 para todo ν ≥ 0 (por que?). Portanto, (<strong>15</strong>.216) fica∫ 12α 2 x ( J ν (αx) ) 2dx = α2 ( J ν(α) ′ ) 2+(α 2 −ν 2) (Jν (α) ) 2,0o que conduz à primeira linha de (<strong>15</strong>.208) no caso α = β. A identi<strong>da</strong>de)(J ν(α)) ′ 2 +(1− ν2α 2 (J ν (α)) 2 = ( J ν (α) ) 2−Jν−1 (α)J ν+1 (α)segue diretamente de (<strong>15</strong>.165)–(<strong>15</strong>.167). Com isso, o Teorema <strong>15</strong>.6 está demonstrado.• Generalizações <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções de Bessel e NeumannAlgumas vezes li<strong>da</strong>mos com problemas envolvendo a equações de Bessel em intervalos como [R 1 , R 2 ] com 0 < R 1


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 721/2117Teorema <strong>15</strong>.7 Sejam 0 < R 1 < R 2 < ∞ e S νn (x) defini<strong>da</strong> no intervalo [R 1 , R 2 ] por⎧ ( ) ( ) ( ) ( )µνn R 1 µνn ρ µνn R 1 µνn ρJ −ν J ν −J ν J −ν , para ν ∉ Z ,R ⎪⎨ 2 R 2 R 2 R 2S νn (x) :=( ) ( ) ( ) ( )⎪⎩ µmn R 1 µmn ρ µmn R 1 µmn ρN m J m −J m N m , para ν = m ∈ Z ,R 2 R 2 R 2 R 2onde, para ν ∉ Z, µ νn é o n-ésimo zero em (0, ∞) <strong>da</strong> função( ) ( )R1 R1J −ν x J ν (x)−J ν x J −ν (x)R 2 R 2e para ν = m ∈ Z, µ mn é o n-ésimo zero em (0, ∞) <strong>da</strong> função( ) ( )R1 R1N m x J m (x)−J m x N m (x) .R 2 R 2Pelas definições, S νn (R 1 ) = S νn (R 2 ) = 0 para todo ν ∈ R e todo n ∈ N. Além disso, S νn (x) é solução <strong>da</strong> equação deBesselx 2 y ′′ (x)+xy ′ (x)+ ( α 2 x 2 −ν 2) y(x) = 0 (<strong>15</strong>.217)no intervalo [R 1 , R 2 ], com α = µνnR 2, também para todo ν ∈ R e todo n ∈ N.Então, as funções S νn (x) satisfazem as relações de ortogonali<strong>da</strong>depara n ≠ n ′ e todo ν ∈ R, com∫ R2R 1S νn (x)S νn ′(x)xdx = 0 (<strong>15</strong>.218)∫ R2R 1(S νn (x)) 2xdx= Kνn (<strong>15</strong>.219)para todo ν ∈ R e todo n ∈ N, ondeK νn = 1 ( ) ( ) ] 2{(R 2 )[J 2 R 1−ν µ νn J ν ′ 2 R (µ R 1νn)−J ν µ νn J −ν ′2 R (µ νn)2[ ( ) ( ) ( ) ( )] } 2−(R 1 ) 2 R 1J −ν µ νn J ν′ R 1 R 1µ νn −J ν µ νn J ′ R 1−ν µ νnR 2 R 2 R 2 R 2para ν ∉ Z eK mn = 1 2( ) ( ) ] 2{(R 2 )[N 2 R 1m µ mn J m ′ R (µ R 1mn)−J m µ mn N m ′2 R (µ mn)2[ ( ) ( ) ( ) ( )] } 2−(R 1 ) 2 R 1N m µ mn J m′ R 1 R 1µ mn −J m µ mn N ′ R 1m µ mnR 2 R 2 R 2 R 2para ν = m ∈ Z. 2Prova. As relações (<strong>15</strong>.218) seguem diretamente do Teorema <strong>15</strong>.1, página 673 pelo fato que S νn (R 1 ) = S νn (R 2 ) = 0 paratodo ν ∈ R e todo n ∈ N.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 722/2117Para demonstrar (<strong>15</strong>.219) consideraremos apenas o caso ν ∉ Z, pois o caso ν = m ∈ Z é tratado identicamente.Nosso ponto de parti<strong>da</strong> é a equação (<strong>15</strong>.2<strong>15</strong>), página 720:0 = d (x 2 (y ′ (x)) 2) + d [ (α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2] −2α 2 x (y(x)) 2 , (<strong>15</strong>.220)dx dxváli<strong>da</strong> para qualquer solução de (<strong>15</strong>.217) (vide página 720). Integrando-se ambos os lados <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de entre R 1 e R 2 ,obtem-se0 =(x 2 (y ′ (x)) 2)∣ R∣ 2+[(α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2]∣ ∫R R2∣ 2−2α 2 x (y(x)) 2 dx . (<strong>15</strong>.221)R 1 R 1 R 1Como( ) ( ) ( ) ( )µmn R 1 µmn µmn R 1 µmny(x) = S νn (x) := J −νm J νm x −J νm J −νm x ,R 2 R 2 R 2 R 2é solução de (<strong>15</strong>.217) com α = µmnR 2temos, para essa y,(x 2 (y ′ (x)) 2)∣ ∣ ∣R 2R 1=(x 2 (S ′ νn(x)) 2)∣ ∣ ∣R 2R 1=[(R 2 ) 2 (S ′ νn(R 2 )) 2 −(R 1 ) 2 (S ′ νn(R 1 )) 2] ,[(α 2 x 2 −ν 2) (y(x)) 2]∣ ∣ ∣R 2R 1=[(α 2 x 2 −ν 2) (S νn (x)) 2]∣ ∣ ∣R 2R 1= 0 ,pois S νn (x) anula-se em R 1 e em R 2 . Portanto, (<strong>15</strong>.221) ficao que conduz à2α 2 ∫ R2R 1x (S νn (x)) 2 dx =[(R 2 ) 2 (S ′ νn (R 2)) 2 −(R 1 ) 2 (S ′ νn (R 1)) 2] ,∫ R2x (S νn (x)) 2 dx = (R 2) 2 [R 12(µ mn ) 2 (R 2 ) 2 (S νn(R ′ 2 )) 2 −(R 1 ) 2 (S νn(R ′ 1 )) 2]como queríamos provar.= 1 2( ) ( ) ] 2{(R 2 )[J 2 R 1−νm µ mn J ν ′ R 1R m(µ mn )−J νm µ mn J −ν ′2 R m(µ mn )2[ ( ) ( ) ( ) ( )] } 2−(R 1 ) 2 R 1J −νm µ mn J ν ′ R 1 R 1R mµ mn −J νm µ mn J ′ R 1−ν2 R 2 R mµ mn ,2 R 2• Comentário sobre a equação de Bessel no intervalo J = [0, ∞)Seja a equação de Bessel x 2 y ′′ (x) + xy ′ (x) + (x 2 − ν 2 )y(x) = 0 e consideremo-la agora no intervalo semi-infinitoJ = [0, ∞). A mesma pode ser escrita como(xy ′ (x)) ′ − ν2xy(x)+xy(x) = 0 , (<strong>15</strong>.222)e aqui temos p(x) = x e poderíamos adotar q(x) = x, r(x) = 1 x e µ = −ν2 . Há, porém, uma diferença marcante emrelação aos casos anteriormente tratados. Para as funções J ν (x), mesmo com ν inteiro, não vale a relação (<strong>15</strong>.23), poislim x→∞ p(x)J ν (x)J ν ′(x) não se anula e, portanto, o Teorema <strong>15</strong>.1 não se aplica nesse caso. De fato, J ν (x) comporta-separa x → ∞ como√2 cos ( x− νπ 2J ν (x) ≈− )π4√ .π x


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 723/2117Infelizmente, não apresentaremos a demonstração dessa expressão assintótica nestas Notas. O leitor poderá encontrá-laem vários textos, por exemplo, em [262], [270], [116] e mesmo em [<strong>15</strong>4]. Em [116], por exemplo, encontra-se demonstra<strong>da</strong>a expressão assintótica mais detalha<strong>da</strong>√2 cos ( x− νπ 2J ν (x) ≈− )π4√π x∞ ∑r=0(−1) r Γ ( )ν +2r + 1 2(2r)!Γ ( )ν −2r + 1 2( ) 2r 12x√2 sen ( x− νπ 2−− )π4√π x∞ ∑r=0(−1) r Γ ( ν +2r+ 3 2(2r +1)!Γ ( ν −2r− 1 2))( ) 2r+1 1,2xváli<strong>da</strong> para x → ∞. Com isso, percebemos que não devem valer para as funções de Bessel com ν’s diferentes relações deortogonali<strong>da</strong>de envolvendo integrais em J = [0, ∞).<strong>15</strong>.2.8 Proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Funções de Bessel EsféricasAs funções de Bessel e Neumann esféricas de ordem ν foram defini<strong>da</strong>s em (14.129) e (14.130) porj ν (z) :=√ π2z J ν+ 1 2 (z) , n ν(z) :=√ π2z N ν+ 1 (z) . (<strong>15</strong>.223)2Por serem fortemente relaciona<strong>da</strong>s às funções de Bessel, suas proprie<strong>da</strong>des podem ser facilmente deduzi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>desestu<strong>da</strong><strong>da</strong>s acima <strong>da</strong>quelas funções.Por (14.106), tem-sej ν (z) =√ π2∞∑k=0(−1) kk!Γ(k +1+ν +1/2)Pela fórmula de duplicação (14.27), podemos escrever isso como( z2) 2k+ν.Em particular, para ν = l ∈ N 0 , valej ν (z) = 2 ν ∞ ∑k=0j l (z) = 2 l ∞ ∑k=0(−1) k Γ(k +1+ν)k!Γ(2(k +1+ν)) z2k+ν .(−1) k (k +l)!k!(2k +2l+1)! z2k+l .• Relações de recorrência para as funções de Bessel esféricasFórmulas de recorrência para as funções de Bessel esféricas também podem ser obti<strong>da</strong>s <strong>da</strong>quelas para as funções deBessel lista<strong>da</strong>s em (<strong>15</strong>.163)-(<strong>15</strong>.168). Analisando-as, é imediato ver que de (<strong>15</strong>.163) e (<strong>15</strong>.164) segue facilmente qued (x ν+1 j ν (x) ) = x ν+1 j ν−1 (x) edxDe (<strong>15</strong>.165) e (<strong>15</strong>.166) segue facilmente qued (x −ν j ν (x) ) = −x −ν j ν+1 (x) . (<strong>15</strong>.224)dxDessas duas relações segue facilmente quexj ′ ν(x) = xj ν−1 (x)−(ν +1)j ν (x) e xj ′ ν(x) = νj ν (x)−xj ν+1 (x) . (<strong>15</strong>.225)j ′ ν(x) = 1 2j ν+1 (x) = 1 x(j ν−1 (x)− j )ν(x)−j ν+1 (x) , (<strong>15</strong>.226)x()(2ν +1)j ν (x)−xj ν−1 (x) , (<strong>15</strong>.227)


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 724/2117para todo ν. Usando (<strong>15</strong>.227), é fácil ver que (<strong>15</strong>.226) pode ser reescrita comopara todo ν.Resumindo nossas conclusões, obtivemos que(2ν +1)j ′ ν (x) = νj ν−1(x)−(ν +1)j ν+1 (x) (<strong>15</strong>.228)d (x ν+1 j ν (x) ) = x ν+1 j ν−1 (x) , (<strong>15</strong>.229)dxd (x −ν j ν (x) ) = −x −ν j ν+1 (x) , (<strong>15</strong>.230)dxxj ′ ν(x) = xj ν−1 (x)−(ν +1)j ν (x) , (<strong>15</strong>.231)xj ′ ν (x) = νj ν(x)−xj ν+1 (x) , (<strong>15</strong>.232)(2ν +1)j ′ ν(x) = νj ν−1 (x)−(ν +1)j ν+1 (x) , (<strong>15</strong>.233)j ν+1 (x) = 1 xExpressões análogas são váli<strong>da</strong>s para as funções n ν (x).()(2ν +1)j ν (x)−xj ν−1 (x) . (<strong>15</strong>.234)Com o uso <strong>da</strong>s relações de recorrência acima é possível obter para as funções de Bessel esféricasoanálogo<strong>da</strong> expressão(<strong>15</strong>.170).• A relação entre j n e j 0 , n ∈ NA expressão (<strong>15</strong>.230) diz-nos queDisso segue imediatamente que( 1x1 d (x −ν j ν (x) ) = −x −(ν+1) j ν+1 (x) .xdx) nd (x −ν j ν (x) ) = (−1) n x −(ν+n) j ν+n (x) , (<strong>15</strong>.235)dxváli<strong>da</strong> para todo ν, x ∈ C e n ∈ N 0 . No caso particular em que ν = 0, obtem-se,( n ( ) n( 1j n (x) = (−1) n x n d1(j 0 (x)) = (−1)xdx) n x n d senx), (<strong>15</strong>.236)xdxxváli<strong>da</strong> para todo x ∈ C e n ∈ N 0 . A expressão (<strong>15</strong>.236) guar<strong>da</strong> certa semelhança com as fórmulas de Rodrigues.Para as funções de Neumann esféricas tem-se uma expressão análoga:( ) n(cosx 1n n (x) = (−1) n+1 x n d). (<strong>15</strong>.237)xdxxAs primeiras funções de Bessel esféricas sãoj 0 (x) = senxxe as primeiras funções de Neumann esféricas sãon 0 (x) = − cosxx, j 1 (x) = senxx 2 − cosxx ,j 2(x) = (3−x 2 ) senxx 3 −3 cosxx 2 (<strong>15</strong>.238), n 1 (x) = − cosxx 2 − senx , n 2 (x) = −(3−x 2 ) cosxxx 3 −3 senxx 2 . (<strong>15</strong>.239)• Relações de ortogonali<strong>da</strong>de para as funções de Bessel esféricas no intervalo [0, 1]As relações de ortogonali<strong>da</strong>de para as funções de Bessel esféricas podem ser prova<strong>da</strong>s diretamente <strong>da</strong>quelas expressasno Teorema <strong>15</strong>.6.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 725/2117Observemos em primeiro lugar que o conjunto Z ν+1/2A,BZ ν+1/2A,B:=pode ser caracterizado em termos de j ν como{Z ν+1/2A,B:= α > 0∣que, pela definição (<strong>15</strong>.206), é}{α > 0| AJ ν+1/2 (α)+BαJ ν+1/2 ′ (α) = 0(A+ B ) }j ν (α)+Bαj ′2ν(α) = 0 .Assim, ao li<strong>da</strong>rmos com problemas que possuem condições de contorno do tipoo conjunto de α’s que satisfazem isso é Z ν+1/2A−B/2,B .Aj ν (α)+Bαj ′ ν (α) = 0Isso mostra que podemos √ aplicar diretamente as conclusões do√Teorema <strong>15</strong>.6, tomando o cui<strong>da</strong>do √ (de substituir: 1.)ν2αpor ν+1/2, 2. J ν (α) porπ j 2αxν(α), 3. (na integral) J ν (αx) porπ j ν(αx) e 3. e J ν(α) ′ 2por jν(α)π 2 √ α +√ αj ν(α)′ .Após algumas contas elementares, obtem-se o seguinte:Teorema <strong>15</strong>.8 Seja ν ≥ 0, sejam fixados certos númerosreais A, B com(A, B) ≠ (0, 0) satisfazendo ν+1/2+A/B ≥ 0,caso B ≠ 0 (vide Teoremas <strong>15</strong>.2-<strong>15</strong>.5) e seja definidoW ν A,B := {α > 0| Aj ν(α)+Bαj ν ′ (α) = 0} = Zν+1/2A−B/2,B .Pelo Teorema <strong>15</strong>.5, esse conjunto é não-vazio e enumerável. Para todos α, β ∈ W ν A,B , tem-se∫ 10j ν (αx)j ν (βx)x 2 dx =(<strong>15</strong>.232−(<strong>15</strong>.234)=δ α,β2δ α,β2[ ( ) 21 jν (α)α 2 √ α +√ αj ν(α)′ +(1− (ν + 1 )2 )2 (jνα 2 (α) ) ]2[ (jν(α) ) 2−jν−1 (α)j ν+1 (α)]. (<strong>15</strong>.240)Essa expressão é denomina<strong>da</strong> relação de ortogonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s funções de Bessel esféricas. Note que há uma relação deortogonali<strong>da</strong>de para ca<strong>da</strong> tripla (ν, A, B) com ν ≥ 0 e (A, B) ≠ (0, 0), pois ca<strong>da</strong> tripla (ν, A, B) fixa o conjunto Z ν A,B .No caso A = 1, B = 0 o conjunto W ν 1,0 coincide com o dos zeros <strong>da</strong> função de Bessel esférica j ν(x). No casoA = 0, B = 1 o conjunto W ν 0,1 coincide com o dos zeros <strong>da</strong> função j ′ ν(x).Em particular, se ν ≥ 0 e α ν k é o k-ésimo zero <strong>da</strong> função j ν(x) no intervalo (0, ∞), então∫ 100j ν(ανk x ) j ν(ανl x ) x 2 dx = δ k,l(j′ν (α ν k )) 22= δ k,l(jν+1 (α ν k )) 22. (<strong>15</strong>.241)Analogamente, se ν ≥ 0 e βk ν é o k-ésimo zero <strong>da</strong> função j′ ν (x) no intervalo (0, ∞), então∫ 1(j ν βνk x ) (j ν βνl x ) ( ) (x 2 ν(ν +1) jν (βk ν dx = δ k,l 1− )) 2(βk ν . (<strong>15</strong>.242))2 2Dessa relação percebemos incidentalmente que β ν k > √ ν(ν +1) para todo k, pois o lado esquerdo é certamente positivoquando k = l. 2É instrutivo considerar a relação (<strong>15</strong>.241) no caso ν = 0, quando j 0 (x) = sen(x)xe, portanto, α 0 k= kπ, com k > 0inteiro. Como j 0 ′ cos(x)(x) =x− sen(x)x, (<strong>15</strong>.241) está dizendo que2∫ 1( ) 2 cos(kπ)=ou seja,0sen(kπx)sen(lπx)klπ 2∫ 10dx = δ k,l2kπsen(kπx)sen(lπx) dx = 1 2 δ k,l .12(kπ) 2 δ k,l ,Essa é uma relação bem conheci<strong>da</strong> que, evidentemente, pode também ser prova<strong>da</strong> por meios mais elementares.


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 726/2117<strong>15</strong>.3 Exercícios AdicionaisE. <strong>15</strong>.28 Exercício-dirigido. A idéia deste exercício é provar as relações de ortogonali<strong>da</strong>de dos polinômios de Legendreusando diretamente a fórmula de Rodrigues, expressão (<strong>15</strong>.40), página 678.a. Usando a fórmula de Rodrigues para os polinômios de Legendre, mostre que∫ 1para todo 0 ≤ m < n, m inteiro. Sugestão: integração por partes.−1x m P n (x)dx = 0 (<strong>15</strong>.243)b. Mostre quepara todo n ∈ N 0 .∫ 1−1(x 2 −1) n dx = (−1) n22n+1 (n!) 2(2n+1)!c. Mostre que∫ 1−1x n P n (x)dx = 2n+1 (n!) 2(2n+1)! . (<strong>15</strong>.244)Sugestão: use a fórmula de Rodrigues, integração por partes e a expressão do item b.d. Usando (<strong>15</strong>.243) e (<strong>15</strong>.244) mostre a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações de ortogonali<strong>da</strong>de∫ 1−1P n (x)P m (x)dx =22n+1 δ n,m .Sugestão: use a fórmula de Rodrigues ou a expressão (<strong>15</strong>.32) para obter o coeficiente de maior grau dos polinômios deLegendre.6E. <strong>15</strong>.29 Exercício. Prove que no intervalo (−1, 1) vale|x| = P 0(x)2Sugestão: para calcular integrais como+ 5P 2(x)8∫ 10+∞∑m=2(−1) m+1 (4m+1)(2m−3)!2 2m−1 (m+1)!(m−2)!P 2m (x) . (<strong>15</strong>.245)xP 2m (x)dx pode-se usar (<strong>15</strong>.41) e/ou (<strong>15</strong>.44), integração por partes e os fatosque P n (1) = 1, ∀n ∈ N 0 , e P 2m (0) = (−1)m (2m−1)!!2 m , ∀m ∈ N 0 , m ≥ 1, o qual segue de (<strong>15</strong>.32). 6m!


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 727/2117Apêndices<strong>15</strong>.A Provando (<strong>15</strong>.54) a Força BrutaA idéia é tomar (<strong>15</strong>.52), escrever (z 2 −1) l = (z−1) l (z+1) l e aplicar a regra de Leibniz. Tudo está resumido nas seguinteslinhas auto-explicativas, acompanha<strong>da</strong>s de uns poucos comentários ao final:P ml (z) :==(1−z 2 ) m/22 l l!(1−z 2 ) m/22 l l!d l+m (dz l+m (z 2 −1) l)d l+m (dz l+m (z −1) l (z +1) l)Leibniz=(∗)===(1−z 2 ) m/22 l l!(1−z 2 ) m/22 l l!(1−z 2 ) m/22 l l!(1−z 2 ) m/22 l l!l+m∑( ) l+m dp (p dz p (z −1) l) d l+m−p (dz l+m−p (z +1) l)p=0l∑( ) l+m dp (p dz p (z −1) l) d l+m−p (dz l+m−p (z +1) l)p=ml∑( )( )( )l+m l!p (l−p)! (z l!−1)l−p(p−m)! (z +1)p−mp=ml∑( ) l+m (l!) 2p (l−p)!(p−m)! (z −1)l−p (z +1) p−mp=m(∗∗)= (−1) m(z2 −1) m (1−z 2 ) m/2(1−z 2 ) m 2 l l!l∑( ) l+m (l!) 2p (l−p)!(p−m)! (z −1)l−p (z +1) p−mp=m=p→p+m=(−1) m (1−z 2 ) −m/22 l l!(−1) m (1−z 2 ) −m/22 l l!l∑( ) l+m (l!) 2p (l−p)!(p−m)! (z −1)l−p+m (z +1) pp=ml−m∑p=0( ) l+mp+m(l!) 2(l−p−m)!p! (z −1)l−p (z +1) p+m=(−1) m (1−z 2 ) −m/22 l l!l−m∑p=0(l +m)!(l!) 2(l−p)!(p+m)!(l−p−m)!p! (z −1)l−p (z +1) p+m= (−1) m(l+m)! (1−z 2 ) −m/2(l−m)! 2 l l!l−m∑p=0(l−m)!(l!) 2(l−p)!(p+m)!(l−p−m)!p! (z −1)l−p (z +1) p+m


JCABarata. Notas para um Curso de Física-Matemática. Versão de 9 de março de 20<strong>15</strong>. Capítulo <strong>15</strong> 728/2117= (−1)m(l +m)! (1−z 2 ) −m/2(l −m)! 2 l l!= (−1)m(l +m)! (1−z 2 ) −m/2(l −m)! 2 l l!l−m∑( )( )( )l−m l!p (l−p)! (z l!−1)l−p(p+m)! (z +1)p+mp=0l−m∑( )( )( )l−m dp dl−m−pp dz p(z −1)l dz l−m−p(z +1)lp=0como queríamos provar.Leibniz= (−1)m(l +m)!(l −m)!(1−z 2 ) −m/22 l l!= (−1)m(l +m)! (1−z 2 ) −m/2(l −m)! 2 l l!d l−mdz l−m ((z −1) l (z +1) l)d l−mdz l−m(z2 −1) l = (−1) m (l+m)!(l−m)! P−m l(z) ,Nopontoindicadopor(∗)acima, usamosofatoque dpdz(z−1) l = 0sep > l e dl+m−pp dz(z−1) l = 0sel+m−p > l. Ambasl+m−pas condições juntas implicam m ≤ p ≤ l, <strong>da</strong>í a mu<strong>da</strong>nça nos limites <strong>da</strong> soma. No ponto indicado por (∗∗) multiplicamosto<strong>da</strong> a expressão por 1 = (−1) m (z 2 −1) m(1−z 2 ). Na linha seguinte o fator (z 2 −1) m é escrito como (z−1) m (z+1) m e distribuídom1dentro <strong>da</strong> soma. Fora isso, usamos também que(1−z 2 )(1−z 2 ) m/2 = (1−z 2 ) −m/2 .m

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!