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um exame através dos gêneros crônica de opinião ... - revista Icarahy

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EXPRESSÕES NOMINAIS E RÓTULOS: UM EXAME ATRAVÉS DOSGÊNEROS CRÔNICA DE OPINIÃO E CARTA DOS LEITORESAna Cláudia Machado <strong>dos</strong> Santos ∗RESUMO: Este artigo preten<strong>de</strong> examinar o emprego <strong>de</strong> expressões nominais e rótulos,observando sua funcionalida<strong>de</strong> na construção arg<strong>um</strong>entativa do texto, assim como suacontribuição para o acompanhamento do projeto <strong>de</strong> dizer do produtor e o encaminhamento <strong>de</strong>senti<strong>dos</strong> possíveis a serem construí<strong>dos</strong> pelo leitor, ou seja, examinar o processamento <strong>dos</strong>mecanismos <strong>de</strong> referenciação no percurso interativo autor-texto-leitor. Para que se possa<strong>de</strong>senvolver esta proposta, busca-se analisar a associação entre os rótulos; como recursos<strong>um</strong>arizador e organizador <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> prece<strong>de</strong>ntes ou subseqüentes, investindo ao texto <strong>um</strong>aorientação arg<strong>um</strong>entativa, e o gênero opinativo.PALAVRAS-CHAVE: referenciação, rótulos, gênero, <strong>crônica</strong> <strong>de</strong> <strong>opinião</strong>, cartas do leitorABSTRACT: This paper intends to examine the use of nominal expressions and labels, lookingits functionality in the arg<strong>um</strong>entative construction of the text, as well as its contribution for thefollow up of the project of the producer and the pl<strong>um</strong>bing of possible meanings to beconstructed by the rea<strong>de</strong>r, in other words, examine the processing of the referencing mechanismin the interective course author - text - rea<strong>de</strong>r. In or<strong>de</strong>r to <strong>de</strong>velop this proposal, we intend toanalize the association among the labels as a s<strong>um</strong>marized and organizer resource of the previousor subsequent contents, providing the text an arg<strong>um</strong>entative orientation and opin gen<strong>de</strong>r.KEYWORDS: referencing , labels , gen<strong>de</strong>r , chronic of opinion , letters of the rea<strong>de</strong>rINTRODUÇÃOO estudo da referência textual tem sido alvo <strong>de</strong> inúmeras pesquisas por estudiosos<strong>de</strong> diferentes domínios do conhecimento. Este artigo se pauta no entendimento dalíngua como ativida<strong>de</strong> cognitiva, interativa e social; em texto como sistema que∗ Mestranda em Estu<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Linguagem pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fl<strong>um</strong>inense (UFF).


mobiliza operações e processos cognitivos, sendo lugar <strong>de</strong> interação entre sujeitos e daconstrução interacional <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong>, ou seja, a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a abordagem sociocognitiva e<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta textual-interativa; em sujeitos dialógicos que se constroem esão construí<strong>dos</strong> no texto na medida em que se comportam ativamente como construtoresda socieda<strong>de</strong> e em referência como processo discursivo, ou seja, a introdução <strong>de</strong>referentes e sua ativação, retomada, manutenção e <strong>de</strong>sfocalização, portanto como(re)construção <strong>de</strong> objetos-<strong>de</strong>-discurso no texto.Propõe-se <strong>um</strong> <strong>exame</strong> da funcionalida<strong>de</strong> das expressões nominais e <strong>dos</strong> rótulos naconstrução arg<strong>um</strong>entativa do texto, para tanto se analisa o percurso interativo <strong>de</strong>senti<strong>dos</strong> via autor-texto-leitor, acompanhando a construção do projeto <strong>de</strong> dizer doprodutor textual e o encaminhamento <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> possíveis a serem construí<strong>dos</strong> peloleitor.Tal <strong>exame</strong> preten<strong>de</strong> verificar também a associação entre os rótulos; como recursos<strong>um</strong>arizador e organizador <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> prece<strong>de</strong>ntes ou subsequentes, investindo aotexto <strong>um</strong>a orientação arg<strong>um</strong>entativa; e o gênero opinativo. Objetivando comprovar quea utilização <strong>de</strong>sse mecanismo dá ao texto maior ou menor grau <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong>.Para a análise foram selecionadas duas <strong>crônica</strong>s <strong>de</strong> <strong>opinião</strong> e alg<strong>um</strong>as cartas <strong>dos</strong>leitores que integram o corpo da <strong>revista</strong> Veja. Busca-se compreen<strong>de</strong>r, <strong>através</strong> <strong>dos</strong>mecanismos <strong>de</strong> referenciação, o percurso <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> entre autor e leitor com base nas<strong>crônica</strong>s opinativas, o posicionamento <strong>de</strong> alguns leitores em relação a primeira <strong>crônica</strong> ea réplica da autora, verificando as realizações possíveis.


PERCURSO INTERATIVO AUTOR-TEXTO-LEITORA referenciação <strong>de</strong>monstra que o processo arg<strong>um</strong>entativo da linguagem não seexplica por si só na materialida<strong>de</strong> lingüística, como se essa fosse transparente.Consi<strong>de</strong>ra-se, então, que a situação da enunciação prevalece sobre a da materialida<strong>de</strong>,visto que toda palavra traz sentido pelo que diz e pelo que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> dizer e, por issomesmo, a língua não po<strong>de</strong> ser entendida como representante idêntica da realida<strong>de</strong>.Neste artigo enten<strong>de</strong>-se que a aproximação entre os rótulos e o gênero opinativose dá na medida em que esse é baseado na arg<strong>um</strong>entação e aqueles, comointrinsecamente avaliativo-subjetivos, conduzem <strong>através</strong> da persuasão, a se concordarcom o projeto <strong>de</strong> dizer do autor.Escrevendo <strong>um</strong>a carta em primeira pessoa do singular o traço <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> é<strong>de</strong>terminante em <strong>de</strong>trimento das impressões do autor, suas opiniões e verda<strong>de</strong>s estãorepresentadas. O que percebemos nas <strong>crônica</strong>s é sempre a utilização <strong>de</strong> <strong>um</strong> eu que falapara <strong>um</strong> tu, n<strong>um</strong>a conversa íntima tratando <strong>de</strong> suas opiniões. Aí resi<strong>de</strong> a subjetivida<strong>de</strong>que, sob as vestes <strong>de</strong> conversa íntima, nos encaminha senti<strong>dos</strong>. Então o leitor reconheceo tom íntimo que é marcado no texto pelo uso da primeira pessoa, ou por <strong>de</strong>clarações,ou expressões comparativas e se reconhece ali.O projeto discursivo do autor é pontilhado <strong>de</strong> escolhas lingüísticas que são feitas apartir <strong>de</strong> seu projeto <strong>de</strong> dizer. A pessoalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrada na escolha das marcaslingüísticas reflete a subjetivida<strong>de</strong>, ou seja, seu ponto <strong>de</strong> vista revela seuposicionamento, sendo o texto continuamente construído na interação pela açãoconjunta entre sujeitos, esse processo envolve a subjetivida<strong>de</strong> inscrita, também, nasestratégias utilizadas pelo autor do texto e <strong>através</strong> das quais <strong>um</strong> estilo <strong>de</strong>sponta.


O autor utiliza as expressões nominais e os rótulos com o objetivo <strong>de</strong> assegurar<strong>um</strong> alcance interpretativo, tentando <strong>de</strong>limitar <strong>um</strong>a construção <strong>de</strong> sentido que dê conta <strong>de</strong>seu projeto <strong>de</strong> dizer, caso contrário não haveria comunicação possível. Para tanto éimprescindível que exista no texto marcas lingüísticas fortalecendo o propósito doprojeto <strong>de</strong> dizer, caso contrário o sentido po<strong>de</strong>ria ir <strong>de</strong> encontro às expectativas <strong>de</strong>compreensão <strong>de</strong>sejada.A partir <strong>de</strong> tais marcas cabe ao leitor i<strong>de</strong>ntificar qual seria o melhor caminho apercorrer e, consequentemente, qual é o melhor sentido a ser atribuído ao texto. Estasi<strong>de</strong>ntificações e escolhas se baseiam tanto no conhecimento compartilhado quanto nocontexto sociocognitivo e, <strong>de</strong>ssa forma, quanto mais mutuamente assimila<strong>dos</strong> evivencia<strong>dos</strong> maior é a compreensão das inferências textuais, o que faria do leitor o coautore tal processo <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> interativa da construção <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> no texto.Desse modo, “o locutor/autor, ao escolher a constituição para o seu texto <strong>de</strong>forma a viabilizar o seu projeto <strong>de</strong> dizer, ‘<strong>de</strong>sescolhe’ outras e, em certa medida,compromete-se com as estratégias escolhidas” (GERALDI, 1991:184) e com o seuprojeto <strong>de</strong> dizer por inteiro.ESTRATÉGIASO sentido <strong>de</strong> <strong>um</strong> texto não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas da materialida<strong>de</strong> lingüística, ou seja,da estruturação do texto em si. A introdução <strong>de</strong> referentes no discurso é <strong>um</strong> trabalhosobre possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dizer, trabalho para o qual concorrem simultaneamente asrealizações anteriores <strong>de</strong> cada palavra e trabalho criativo sobre ela, tanto para aprodução como para a compreensão textual.


Partindo do pressuposto <strong>de</strong> que o processamento do discurso é estratégico, o autor<strong>de</strong>ixa pistas no texto <strong>de</strong> forma a orientar a sua arg<strong>um</strong>entação e, portanto, oencaminhamento <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> para o leitor que, por sua vez, leva para o texto suassuspeitas que po<strong>de</strong>m ou não se confirmar. Para que tais pistas sejam reconhecidas se faznecessário que ambos – leitor e autor – compartilhem do mesmo contextosociocognitivo, caso contrário fica extremamente difícil construir alg<strong>um</strong> sentido, já quenão haveria elementos presentes no co(n)texto que viabilizassem essa construção.A introdução po<strong>de</strong> ser feita diretamente, por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>signaçãoou, indiretamente, por meio <strong>de</strong> inferências e com o caminhar do texto vão sendoutilizadas as estratégias <strong>de</strong> progressão referencial para que esses referentes sejammanti<strong>dos</strong> em foco e simultaneamente sejam acrescidas novas relações, ou seja, énecessário voltar aos referentes seja por remissões e ou retomadas.TIPOS DE ESTRATÉGIASO artigo aborda dois tipos <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> progressão textual: as expressõesnominais e os rótulos.As expressões nominais referenciais são unida<strong>de</strong>s lingüísticas usadas para<strong>de</strong>signar entida<strong>de</strong>s do mundo, essas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser analisadas como objetos-<strong>de</strong>discursojá que consi<strong>de</strong>ramos a progressão textual como construção e reconstrução <strong>dos</strong>mesmos. É o que <strong>de</strong>staca Koch (2002: 106):A função das expressões referenciais não é apenas referir. Pelo contrário, comomultifuncionais que são, elas contribuem para elaborar o sentido, indicando pontos <strong>de</strong> vista,Assinalando direções arg<strong>um</strong>entativas, sinalizando dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso ao referente erecategorizando os objetos presentes na memória discursiva.


Conforme Koch (2004: 255), as expressões nominaiscomo formas <strong>de</strong> remissão a elementos anteriormente apresenta<strong>dos</strong> no Texto ou sugeri<strong>dos</strong>pelo co-texto prece<strong>de</strong>nte, possibilitam a sua (re)ativação na memória do interlocutor, ouseja, a alocação ou focalização na memória ativa (ou operacional) este; por outro lado, aooporem <strong>um</strong>a recategorização ou refocalização <strong>dos</strong> referentes, elas têm, ao mesmo tempo,função preditiva.Os rótulos são os nomes da<strong>dos</strong> às expressões nominais que s<strong>um</strong>arizamconteú<strong>dos</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> texto por meio do processo <strong>de</strong> rotulação que se caracteriza peloencapsulamento <strong>de</strong> porções do cotexto operando <strong>um</strong>a tematização-remática, isto é, aomesmo tempo em que traz informação dada estabelece informação nova. O projeto <strong>de</strong>dizer do autor é salientado por essa estratégia na medida em que ela estabelece sua(re)construção ao longo do texto. Segundo Carvalho (2005: 62), a rotulação:é <strong>um</strong> importante recurso <strong>de</strong> progressão referencial, po<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> <strong>um</strong>a s<strong>um</strong>arizaçãotextual anafórica ou catafórica. Isto é, rótulos po<strong>de</strong>m seguir a porção <strong>de</strong> texto queencapsulam: rótulo prospectivo, ou po<strong>de</strong>m precedê-la: rótulo retrospectivo. Mas tambémpo<strong>de</strong>m ter <strong>um</strong> funcionamento duplo, ou seja, <strong>um</strong> rótulo po<strong>de</strong> ser, simultaneamente,retrospectivo e prospectivoA rotulação tem por objetivo sintetizar e res<strong>um</strong>ir porções <strong>de</strong> texto a que fazemremissão, apontando para o leitor como a extensão do discurso que foi encapsulada po<strong>de</strong>ser interpretada, direcionando-o ao novo objeto-<strong>de</strong>-discurso que será trabalhado nacontinuida<strong>de</strong> do texto. Os rótulos prospectivos têm a função nítida <strong>de</strong> apontar para oleitor qual direção ele tomará e quais expectativas o autor sugere ao leitor e comosinaliza Carvalho (2005:63): “a saturação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> rótulo, portanto, se realiza naseqüência do dizer, que <strong>de</strong>verá ter compatibilida<strong>de</strong> semântica com tal grupo nominal”.Já os rótulos retrospectivos irão s<strong>um</strong>arizar os encapsulamentos <strong>de</strong> porções anterioresn<strong>um</strong> movimento anafórico, <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> rótulos é importante ressaltar o que Carvalho(2005: 64) nos chama a atenção:


nem sempre se referem a extensões <strong>de</strong>limitáveis ou i<strong>de</strong>ntificáveis no discurso. Eles po<strong>de</strong>mdar referência difusa, o que significa que nem sempre é fácil reconhecer a sua base <strong>de</strong>referência, a não ser pela indicação <strong>de</strong> <strong>um</strong> elemento dêitico, que aponte <strong>um</strong>a mudança <strong>de</strong>direção assinalada pelo rótulo, mantendo a natureza coesiva <strong>de</strong>sta forma lingüística.Os rótulos retrospectivos e prospectivos s<strong>um</strong>arizam tanto as porções <strong>de</strong> texto quea prece<strong>de</strong>m quanto as que estão à frente e FRANCIS (1994/2003: 200 apudCARVALHO, 2005: 64) esclarece: “Ele funciona para trás e para frente: para trás, paraencapsular e reintroduzir como dada a situação <strong>de</strong>scrita no parágrafo prece<strong>de</strong>nte; e, parafrente, para avaliá-la”.Os rótulos po<strong>de</strong>m ter maior ou menor po<strong>de</strong>r organizador, <strong>de</strong> acordo com aextensão maior ou menor <strong>de</strong> discurso a que ele se refira e maior ou menorarg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong>, se o nome-núcleo utilizado provocar <strong>um</strong>a recategorização doreferente on<strong>de</strong> esteja incluída <strong>um</strong>a orientação avaliativa, impondo, assim, seu ponto <strong>de</strong>vista. O que po<strong>de</strong> indicar <strong>um</strong> novo arg<strong>um</strong>ento on<strong>de</strong> esteja embutido o seu projeto <strong>de</strong>dizer.O funcionamento textual-discursivo <strong>dos</strong> rótulos tanto dá conta do grau <strong>de</strong>arg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong> como <strong>de</strong> sua possibilida<strong>de</strong> manipulativa, <strong>um</strong>a vez que sãomultifuncionais, conforme já foi dito neste artigo. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser multifuncional,atuando tanto no texto como na construção <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> nos <strong>de</strong>monstra o quanto talestratégia é importante no percurso interativo autor-texto-leitor. A utilização maior o<strong>um</strong>enor <strong>de</strong> rótulos está diretamente relacionada à arg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong> e à condução doponto <strong>de</strong> vista da autora nas <strong>crônica</strong>s em análise.A escolha do rótulo está ligada ao projeto <strong>de</strong> dizer do autor, portanto aos senti<strong>dos</strong>que são encaminha<strong>dos</strong> e como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, o rótulo embute alg<strong>um</strong> grau <strong>de</strong>subjetivida<strong>de</strong>. Sempre existirá <strong>um</strong>a escolha e será sempre carregada <strong>de</strong> significado querseja em menor ou maior grau. Diante <strong>de</strong>sse fato, o rótulo será <strong>um</strong> meio eficiente <strong>de</strong>


manipulação do leitor já que ao se promover <strong>um</strong>a escolha, escolhe-se também como se<strong>de</strong>seja influenciar o leitor em sua interpretação e até mesmo levando-o a <strong>um</strong>a <strong>opinião</strong>.Segundo Carvalho (2005: 93):É justamente a função arg<strong>um</strong>entativa <strong>de</strong>ssas formas que auxilia na promoção do ponto <strong>de</strong>vista do produtor do texto, na medida em que elas são utilizadas para sinalizar e intensificarsuas opiniões. O enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>ssas expressões, isto é, a sua função coesiva não sópermite a i<strong>de</strong>ntificação do(s) propósito(s) comunicativo(s), como ainda faz o texto avançarpor meio do encapsulamento <strong>de</strong> informações e o estabelecimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> tema para osenuncia<strong>dos</strong> subsequentes.Existe <strong>um</strong>a relação entre a utilização <strong>de</strong> rótulos e o gênero opinativo, que é ocaso das <strong>crônica</strong>s bem como das cartas <strong>dos</strong> leitores examina<strong>dos</strong>, porém não é licitoafirmar que somente nesse tipo <strong>de</strong> gênero eles existam. Afirma-se que apesar <strong>de</strong> não sepo<strong>de</strong>r restringir os rótulos às questões <strong>de</strong> autoria e <strong>de</strong> gênero, existe <strong>um</strong>a associaçãoentre sua utilização e os <strong>gêneros</strong> em questão.GÊNERO CRÔNICA DE OPINIÃO E CARTA DO LEITORSegundo Koch, os indivíduos <strong>de</strong>senvolvem <strong>um</strong>a competência genérica porqueestão diariamente em contato com diversos <strong>gêneros</strong> discursivos e assim se consegue agir<strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada buscando o necessário para <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r senti<strong>dos</strong> a partir dai<strong>de</strong>ntificação <strong>dos</strong> <strong>gêneros</strong>. Dessa forma tal competência direciona a nossa compreensãosobre os <strong>gêneros</strong> discursivos materializa<strong>dos</strong> nos diferentes suportes <strong>de</strong> texto.A <strong>crônica</strong>, gênero primordialmente examinado neste artigo, carrega consigo acaracterística do hibridismo; <strong>um</strong> misto <strong>de</strong> jornalismo e literatura, o que a inclui entre os<strong>gêneros</strong> ditos literários. Ainda assim, opta-se por tratar, especificamente, daquelas quese constituirão em objeto da investigação como integrantes <strong>de</strong> <strong>um</strong> gênero <strong>de</strong> discurso.


O discurso em primeira pessoa é fundamental para dar veracida<strong>de</strong> e dimensãotemporal ao registro <strong>dos</strong> fatos. O cronista oferece ao leitor <strong>um</strong> texto com enormespossibilida<strong>de</strong>s, pois <strong>através</strong> <strong>de</strong> sua observação <strong>dos</strong> fatos ou mesmo <strong>de</strong> sua recriação,reinterpreta-os a sua maneira e materializa-os no jornal ou <strong>revista</strong> com <strong>um</strong>a intenção.Esse leitor po<strong>de</strong>rá construir vários significa<strong>dos</strong> para o texto e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contextosociocognitvo , da gama <strong>de</strong> implícitos, enfim, <strong>de</strong> todo o trabalho executado pelo cronistano encaminhamento <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>, po<strong>de</strong>rá ter sua sensibilida<strong>de</strong> atingida por algo que a<strong>crônica</strong> diz. Nesse processo o leitor tem <strong>um</strong> papel ativo, pois cabe a ele transformar oconteúdo que chega a suas mãos, refutando-o ou a<strong>de</strong>rindo a ele.Abordando o segundo gênero analisado, sabe-se que no espaço Carta do Leitorsão publicadas as manifestações <strong>dos</strong> pontos <strong>de</strong> vista <strong>dos</strong> leitores sobre <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong>assuntos da atualida<strong>de</strong>, usando elementos arg<strong>um</strong>entativos que visam justificá-los ouexplicá-los o que po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong>a característica recorrente <strong>de</strong>sse gênero textual. A análise<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> carta em alguns jornais e <strong>revista</strong>s evi<strong>de</strong>ncia que sua finalida<strong>de</strong> varia <strong>de</strong>acordo com o veículo que a publica.Foram examinadas as cartas <strong>dos</strong> leitores publicadas na <strong>revista</strong>, opinando sobre a<strong>crônica</strong> Família tem <strong>de</strong> ser careta, com o objetivo <strong>de</strong> investigar o percurso interativoautor-texto-leitor e enten<strong>de</strong>r como o leitor realizou o encaminhamento <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong>pretendido pela autora. Observa-se que, apesar <strong>de</strong> Lya Luft ter mencionado ainsatisfação do leitor quanto ao seu texto, mesmo assim não foi publicada carta alg<strong>um</strong>aque revelasse <strong>um</strong> sentido diferente daquele encaminhado pela autora. Foi verificado queas cartas ratificaram o projeto <strong>de</strong> dizer da autora, porém a realização da <strong>crônica</strong> réplica,por si só, já habilita a analisar que nem to<strong>dos</strong> os leitores assim o fizeram.


Nesse ponto é necessário <strong>de</strong>ixar registrado que, apesar <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os recursosemprega<strong>dos</strong> pela autora na tentativa <strong>de</strong> proteger o seu dizer, houve discordância porparte <strong>de</strong> alguns leitores, ou seja, o sentido pretendido por ela não foi compreendidocomo intencionado, pelo menos não <strong>de</strong> forma unânime. É interessante consi<strong>de</strong>rar que ao<strong>de</strong>senvolver o texto cada produtor reconhece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não ser entendido como<strong>de</strong>sejado, porém a elaboração <strong>de</strong> <strong>um</strong>a réplica como resposta as criticas feitas ao seutexto sugere que o ponto <strong>de</strong> discórdia foi aquele em que a autora baseou o seu projeto<strong>de</strong> dizer, por isso a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se escrever A volta da família careta.ANÁLISE DOS TEXTOSBusca-se respon<strong>de</strong>r se os senti<strong>dos</strong> encaminha<strong>dos</strong> ao leitor, realiza<strong>dos</strong> <strong>através</strong> <strong>dos</strong>textos por meio das expressões nominais e <strong>dos</strong> rótulos, foram processa<strong>dos</strong> indo <strong>de</strong>encontro ou ao encontro do projeto <strong>de</strong> dizer da autora.Apesar <strong>de</strong> observarmos que a utilização <strong>dos</strong> rótulos no corpus examinado ocorreuem número reduzido, a partir do cruzamento <strong>dos</strong> textos, comprovamos a tese <strong>de</strong> queessa estratégia promove <strong>um</strong> maior grau <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>monstra o jogo <strong>de</strong>senti<strong>dos</strong> encaminha<strong>dos</strong> ao leitor, na medida em que s<strong>um</strong>arizam conteú<strong>dos</strong> eencaminham <strong>um</strong>a leitura.A seguir examinaremos, respectivamente; a <strong>crônica</strong> Família tem <strong>de</strong> ser careta(anexo1), as cartas <strong>dos</strong> leitores (anexo 2) e a <strong>crônica</strong> A volta da família careta (anexo3).Na primeira <strong>crônica</strong>, intitulada Família tem <strong>de</strong> ser careta, a autora utiliza <strong>um</strong>maior número rótulos e a escolha lexical <strong>de</strong> seus nomes-núcleo evi<strong>de</strong>nciam a sua


postura diante do leitor a quem lança sua <strong>opinião</strong> e espera a a<strong>de</strong>rência ao seu ponto <strong>de</strong>vista. As expressões nominais se apresentam em menor número nessa <strong>crônica</strong>, sendocompostas <strong>de</strong> modificadores <strong>de</strong> caráter opinativo, <strong>de</strong>notando seu projeto <strong>de</strong> dizer queaquilata a aflição do tema família e impulsiona <strong>um</strong>a tomada <strong>de</strong> posição por parte doleitor na medida em que lança mão <strong>de</strong> termos como “incomparável”, “difícil”,“vagamente idiotizada”, “irresponsável”.Aliás, toda a escolha lexical da <strong>crônica</strong> tem <strong>um</strong> caráter <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafo crítico e sobreisso é essencial mencionar que sua produção se baseou n<strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> provocar equestionar. Essa é a tônica da <strong>crônica</strong> em questão, levantando a discussão <strong>de</strong> que se<strong>de</strong>ve reavaliar a maneira <strong>de</strong> educar filhos e se portar como família. São exemplos <strong>de</strong>escolhas: ‘pais sacrificiais’, ‘órfãos’, ‘moralismo e preconceito’, ‘castração’, ‘bomsenso’, ‘crias in<strong>de</strong>fesas’, ‘teorias insensatas’, ‘gravemente responsável’.O gênero <strong>crônica</strong> por si só sugere esse tom <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com o leitor, pois aoutilizar a primeira pessoa a autora expressa sua <strong>opinião</strong> e ratifica o tom <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>,conduzindo, então, à reflexão do gran<strong>de</strong> problema social que, segundo seu ponto <strong>de</strong>vista, se origina na família.Examina-se, ainda, que as frases interrogativas intencionam a pon<strong>de</strong>ração, orepensar <strong>de</strong> posturas e, conseqüentemente, objetivam a concordância com o sentidoprojetado.A utilização da anáfora encapsuladora com dêitico pronominal ‘isso’, por cincovezes ao longo do texto, teve a intenção <strong>de</strong> que, ao se retornar a porção que encapsula,promova-se <strong>um</strong> enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> suas idéias assegurando-as e, assim, fazer o leitorapreen<strong>de</strong>r o sentido pretendido.


O gênero Carta <strong>dos</strong> Leitores tem se caracterizado, principalmente, como <strong>um</strong>termômetro que afere grau <strong>de</strong> sucesso às <strong>crônica</strong>s, artigos e <strong>de</strong>mais publicações. Assim,enten<strong>de</strong>-se que as cartas <strong>de</strong> leitores po<strong>de</strong>m ser vistas sob o olhar da reescrita, quando sebusca compreen<strong>de</strong>r o papel das condições para publicação como <strong>um</strong> processo <strong>de</strong>constituição e reconstituição do sentido produzido. Sob esses termos, o redator,responsável pela seção Cartas <strong>dos</strong> Leitores, atua como intermediário entre oleitor/produtor da carta e o leitor da <strong>revista</strong>, na medida em que é ele que torna o texto dacarta produzida em texto publicável/publicado. A primeira questão a consi<strong>de</strong>rar nessalinha <strong>de</strong> raciocínio consiste no fato <strong>de</strong> que as cartas <strong>de</strong> leitores são abertas a <strong>um</strong> públicoleitor, mesmo que, a princípio, a sua <strong>de</strong>manda seja o redator, responsável pela seçãoon<strong>de</strong> elas serão publicadas.Ressalta-se esses fatos para que se possa enten<strong>de</strong>r o porquê da divergência entre oque foi publicado na seção Carta <strong>dos</strong> Leitores e o que a autora menciona na <strong>crônica</strong>réplica “Foi tão gran<strong>de</strong> e variado o número <strong>de</strong> e-mails, telefonemas e abordagenspessoais que recebi <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> escrever que família <strong>de</strong>veria ser careta (...)” . Fica claro,então, perceber que as cartas são publicadas sob o olhar <strong>de</strong> <strong>um</strong> redator, que está <strong>de</strong>acordo com o propósito da <strong>revista</strong>.Através da <strong>crônica</strong> A volta da família careta e das cartas <strong>dos</strong> leitores, verificou-seque a compreensão <strong>de</strong> alguns leitores foi <strong>de</strong> encontro ao alcance interpretativoencaminhado pela autora e, conseqüentemente, verifica-se o quanto é importante ser <strong>um</strong>leitor profissional para notar se <strong>de</strong>terminado texto passou pelo crivo do veículo <strong>de</strong>comunicação que o publicou, e, <strong>de</strong>sta forma, saber criticar, analisar, incorporar aoconhecimento ou, simplesmente, negar a informação.


Na segunda <strong>crônica</strong>, intitulada A volta da família careta, a utilização em menorquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rótulos, sendo esses, em sua maioria, metadiscursivos, isto é, rotulam nãoo conteúdo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a porção do texto (antece<strong>de</strong>nte ou subseqüente), mas <strong>um</strong> ato <strong>de</strong>enunciação, tais como: “assunto”, “duas coisas”, “tema”, enfatiza o cuidado que aautora teve ao arg<strong>um</strong>entar para que não fosse “mal compreendida” como na primeira e oquanto procura se filiar a <strong>um</strong>a postura <strong>de</strong> explicação, resposta, refutação típica <strong>de</strong> <strong>um</strong>aréplica, porém ass<strong>um</strong>indo <strong>um</strong> caráter avaliativo que evi<strong>de</strong>ncia o valor semântico <strong>de</strong> suaconvicção.Outra marca presente na réplica <strong>de</strong> Lya foi a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> parênteses utiliza<strong>dos</strong>,n<strong>um</strong>a tentativa <strong>de</strong> ratificar o sentido pretendido, inclusive empregando as palavras ‘oque significa’ no início das frases <strong>de</strong>monstrando sua preocupação com <strong>um</strong> possívelentendimento não a<strong>de</strong>quado ao seu projeto <strong>de</strong> dizer.A autora lança mão do recurso da <strong>de</strong>nominação reportada <strong>através</strong> do uso <strong>de</strong> aspaspara introduzir no texto citações <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>ixar evi<strong>de</strong>nciado o distanciamento <strong>de</strong> talconclusão, embora esteja integrado à enunciação. Após o emprego <strong>de</strong>sse recurso aautora utiliza a primeira pessoa do plural n<strong>um</strong>a tentativa <strong>de</strong> incluir o outro nas suasconsi<strong>de</strong>rações, conforme se percebe na transcrição abaixo. Essa foi a única vez em que aautora utilizou a primeira pessoa do plural em seu texto. Lya tenta dizer: eu e vocêpensamos assim: “a esquerda é inteligente e boa, a direita é grossa e arrogante. Mas, naverda<strong>de</strong>, tudo o que fazemos, até a forma como nos vestimos e moramos, é altamentepolítico, no sentido amplo <strong>de</strong> interesse no justo e no bom, e coerência com isso”.A utilização da ca<strong>de</strong>ia referencial marcada pela repetição lexical <strong>de</strong> ‘filho(s)’, quesó se modifica por duas vezes pelas expressões nominais ‘aquele ser h<strong>um</strong>ano’ e ‘essesque amamos’, ratifica o sentido encaminhando. Nessa acepção, as anáforas


correferenciais ‘n<strong>um</strong> equilíbrio’, ‘esse equilíbrio’ e ‘seu equilíbrio possível’ e ‘<strong>um</strong>fardo’, ‘o fardo’ também evi<strong>de</strong>nciam esse caráter ao repetir o lexema núcleo.Nessa <strong>crônica</strong> a autora empregou apenas <strong>um</strong>a vez <strong>um</strong>a frase interrogativa, quandoinicia suas justificativas acerca da família ter <strong>de</strong> ser careta, o que <strong>de</strong>nota sua precauçãoquanto aos ânimos <strong>dos</strong> leitores. Sua maior preocupação é explicar.A seleção lexical continua rigorosa e contun<strong>de</strong>nte, as palavras: ‘animal apolítico’,‘tragicamente irresponsáveis’, ‘cacife’, ‘roupeta’, ‘garanhões’, ‘enlouquecer suaamante’, ‘<strong>de</strong>sgraças’, comprovam o <strong>exame</strong> proposto e corroboram para confirmar o seuestilo.A utilização <strong>de</strong> seqüências en<strong>um</strong>erativas, tais como: ‘estreito, alienado,fiscalizador e moralista’, ‘sem auto-estima, sem amor, sem sentido <strong>de</strong> vida, semesperança e sem projetos’, ‘falta tempo, falta dinheiro, falta paciência e faltaentendimento’, evi<strong>de</strong>nciam o caráter <strong>de</strong> justificativa e reafirmam o propósito da <strong>crônica</strong>.Mais <strong>um</strong>a evidência do valor semântico <strong>de</strong> sua convicção é a utilização <strong>de</strong> verbos<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> proposicional, tais como: ‘acho’, ‘acredito’, ‘receio’ e do modalizador ‘épossível’, simbolizando <strong>um</strong> caráter <strong>de</strong> não comprometimento e relativização da verda<strong>de</strong>que partilha com sua apreensão <strong>de</strong> ser mal interpretada, afinal A volta da família caretapartiu da alegria <strong>dos</strong> que gostaram e da náusea <strong>dos</strong> que não concordaram ou nãoenten<strong>de</strong>ram.CRUZAMENTO DOS CONTEÚDOSem <strong>exame</strong>.A seguir faremos o cruzamento <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong>. Para verificar o percurso interativo


FAMÍLIA TEM DE SER CARETAA VOLTA DA FAMÍLIA CARETAEXPRESSÃONOMINAL<strong>um</strong>a gatinhavagamenteidiotizada<strong>um</strong> gatãoirresponsávelRÓTULOtítuloretrospectivoesse mal <strong>dos</strong>malesretrospectivoindignida<strong>de</strong>slegítimas em casosextremosretrospectivocoisas solitáriase tristesretrospectivo eprospectivoessa <strong>de</strong>sculparetrospectivoesse papelretrospectivo<strong>de</strong>sse jeitoretrospectivoa família ditacaretaprospectivoDÊITICOissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalassimanáforaencapsuladora comdêitico adverbialissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalEXPRESSÃONOMINALessetermonaqueleartigoaquele serh<strong>um</strong>anoesseequilíbrioo fardoesses queamamosRÓTULOassuntoretrospectivo<strong>de</strong>ssas duascoisasretrospectivoo temaretrospectivoDÊITICOissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalassimcatáforaencapsuladora comdêitico adverbialissoanáforaencapsuladoracom dêiticopronominalassimcatáforaencapsuladoracom dêiticoadverbialORDEM DEAPRESENTAÇÃODA CARTA01TEXTO DA CARTADos mais felizes e oportunos o artigo “Família tem <strong>de</strong> ser careta”(Ponto <strong>de</strong> vista, 14 <strong>de</strong> fevereiro), <strong>de</strong> Lya Luft, cujas opiniões sempresensatas merecem nosso aplauso. Ela teve a coragem <strong>de</strong> dizer o queAVALIAÇÃO DACRÔNICA:AO ENCONTRODE ENCONTRO AOSENTIDOENCAMINHADOAO ENCONTRO


020304muitos sentem mas não ass<strong>um</strong>em, "quem não estiver disposto a dizernão na hora certa e se fizer <strong>de</strong> vítima <strong>dos</strong> filhos que por favor nãofinja que é mãe ou pai".O artigo aborda com mestria a questão da paternida<strong>de</strong> e damaternida<strong>de</strong> responsáveis. Excelente para reflexão no lar, nasescolas, nas varas <strong>de</strong> família, entre os profissionais que lidam com aeducação e com questões familiares, nas igrejas que preparam cursos<strong>de</strong> noivos e trabalham com famílias. Educar requer renúncias,sacrifícios, <strong>de</strong>sprendimento e paciência.Lya Luft tem razão, a família precisa ser careta. Sou educadora, e écom<strong>um</strong> eu ouvir pais dizer que não sabem o que fazer, não po<strong>de</strong>mcom os filhos. Se tivessem dito não e corrigido (imposto limite) nahora certa, com certeza teriam "po<strong>de</strong>r" sobre elesÉ emocionante <strong>de</strong>parar com <strong>um</strong> texto <strong>de</strong>finitivo sobre família efilhos. Melhor ainda é ir, no <strong>de</strong>correr da leitura, constatando que averda<strong>de</strong> está ali, <strong>de</strong> forma cristalina, e ver nossos acertos com osfilhos. Só não enten<strong>de</strong> quem não quer. Que ninguém mais se habilitea escrever sobre o mesmo tema. O texto é mesmo <strong>de</strong>finitivo.AO ENCONTROAO ENCONTROAO ENCONTROA partir do cruzamento <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong>, ratifica-se que a utilização <strong>dos</strong> rótulos estádiretamente relacionada com o propósito maior ou menor <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entar, persuadir oleitor para a a<strong>de</strong>são do ponto <strong>de</strong> vista e que, <strong>de</strong>ssa maneira, a rotulação é a estratégiamais apropriada para encaminhar os senti<strong>dos</strong> com o objetivo <strong>de</strong> conduzir o leitor a<strong>de</strong>terminado entendimento.Observando a primeira <strong>crônica</strong>, verifica-se que o os rótulos utiliza<strong>dos</strong> estão emmaior número. Esse procedimento está <strong>de</strong> acordo com o objetivo da autora, já que emFamília tem <strong>de</strong> ser careta a proposta foi a <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entar, <strong>de</strong> persuadir o leitor, levandooa consi<strong>de</strong>rar que os motivos relaciona<strong>dos</strong> pela autora para que a família fosse caretasão os mais corretos e que, também, são os <strong>de</strong>le. Coerente, então, a partir do que seapresentou até aqui, pois o registro maior da estratégia <strong>de</strong> rotulação sob a forma <strong>de</strong>pistas na materialida<strong>de</strong> lingüística tem esse propósito.Apesar <strong>de</strong> o número reduzido <strong>de</strong> expressões nominais, a escolha lexical permiteevi<strong>de</strong>nciar o propósito arg<strong>um</strong>entativo da autora.Na segunda <strong>crônica</strong>, os rótulos foram inseri<strong>dos</strong> em menor número e possuem <strong>um</strong>caráter metadiscursivo o que <strong>de</strong>nota <strong>um</strong> grau menor <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entação. Já as expressões


nominais foram utilizadas em maior número e a escolha <strong>de</strong> seus nomes-núcleo<strong>de</strong>monstra a tônica dA Volta da família careta. Homologando essa análise, o uso <strong>de</strong>parênteses e a <strong>de</strong>nominação reportada expõem a preocupação da autora em não ser malcompreendida. Essa <strong>crônica</strong> ratifica o estilo da autora, que utiliza palavras contun<strong>de</strong>ntes.As marcas <strong>de</strong>ixadas na materialida<strong>de</strong> lingüística evi<strong>de</strong>nciam a busca <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>espíritos, o que não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, pois a autora continua buscando <strong>um</strong>aa<strong>de</strong>rência ao seu ponto <strong>de</strong> vista. Porém a constituição do texto com recursos <strong>de</strong> caráterexplicativo por meio <strong>de</strong> exposições, muitas vezes tendo o cuidado <strong>de</strong> ratificar asmesmas palavras da <strong>crônica</strong> anterior, como por exemplo: revirar gavetas, esvaziarbolsos linhas 10 e 11 da primeira <strong>crônica</strong> e revirar gavetas e mexer em bolsos linha 32da segunda <strong>crônica</strong>, <strong>de</strong>notam <strong>um</strong> cuidado maior com a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> <strong>um</strong> alcanceinterpretativo e <strong>um</strong> menor grau <strong>de</strong> arg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong>.Comprova-se, também, que apesar <strong>de</strong> a rotulação ser <strong>um</strong>a estratégiaextremamente hábil, não significa dizer que é condição segura para o sucesso doempreendimento, pois os senti<strong>dos</strong> nem sempre vão ao encontro do propósito do autor.No <strong>exame</strong> realizado foi comprovado que no processo <strong>de</strong> interação entre autor-textoleitor,para além das estratégias marcadas textualmente, interferem, entre outrosaspectos, os conhecimentos sociocognitivo-interacionalmente constituí<strong>dos</strong>, comprovadopela publicação da <strong>crônica</strong> réplica.O teor das cartas <strong>dos</strong> leitores e a réplica da autora <strong>de</strong>monstram <strong>um</strong>a interpretação“não-autorizada” e ao mesmo tempo evi<strong>de</strong>nciam o jogo i<strong>de</strong>ológico da <strong>revista</strong> ao fazer<strong>um</strong>a edição das cartas antes da publicação.


CONCLUSÃOAo longo do artigo procuramos respon<strong>de</strong>r às questões iniciais que o ensejaram everificamos que a realização do percurso interativo autor-texto-leitor na enunciação,aliás, a cada enunciação, po<strong>de</strong> ser compreendido pelo mesmo leitor <strong>de</strong> formasdiferentes. O autor encaminha os senti<strong>dos</strong> a partir das marcas lingüísticas <strong>de</strong>ixadas notexto e o leitor ao i<strong>de</strong>ntificar o gênero discursivo e perceber tais pistas aciona seucontexto sociocognitivo para costurar seus senti<strong>dos</strong> <strong>através</strong> das palavras e,conseqüentemente, construir seu conhecimento.Percebemos a importância das expressões nominais e <strong>dos</strong> rótulos para o estudo<strong>dos</strong> textos tanto na condução <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>, <strong>de</strong>monstrando como o autor representa suasubjetivida<strong>de</strong> <strong>através</strong> do estilo e da maneira como se utiliza <strong>de</strong>ssas estratégias, quanto naexpressão <strong>de</strong> seu ponto <strong>de</strong> vista, tentando conquistar a a<strong>de</strong>rência do leitor, <strong>através</strong> daarg<strong>um</strong>entativida<strong>de</strong> que emprega.Confirmamos que o autor, ao escolher o gênero discursivo como forma <strong>de</strong>expressão <strong>de</strong> seu ponto <strong>de</strong> vista, direciona a compreensão do leitor na medida em que abusca <strong>de</strong> senti<strong>dos</strong> se dá a partir da i<strong>de</strong>ntificação do gênero em questão, em virtu<strong>de</strong> dacompetência genérica que os indivíduos possuem, o que, invariavelmente, auxilia emuito, tanto o autor quanto o leitor. Em nosso estudo, a <strong>crônica</strong> se ratificou como <strong>um</strong>recurso para encaminhar <strong>um</strong> sentido ao leitor, <strong>através</strong> da intimida<strong>de</strong> sugerida <strong>de</strong> <strong>um</strong><strong>de</strong>sabafo entre amigos; <strong>um</strong>a maneira <strong>de</strong>, ao apresentar o seu ponto <strong>de</strong> vista, a autora secolocar no lugar do outro lhe dando voz e, conforme sua produção atestou, permitir semintrincações e estruturas complexas, inundar as mentes <strong>dos</strong> leitores.


Recebido em maio <strong>de</strong> 2009Aprovado em julho <strong>de</strong> 2009REFERÊNCIASCARVALHO, Maria Angélica Freire <strong>de</strong>. O funcionamento textual-discursivo <strong>dos</strong>rótulos em artigos <strong>de</strong> <strong>opinião</strong>, Tese <strong>de</strong> Doutorado, Campinas: IEL/UNICAMP, 2005.CARVALHO, Maria Angélica Freire <strong>de</strong>. Ler e compreen<strong>de</strong>r: Criação e cooperação. In:Revista Eletrônica Linha Mestra, Ano I, nº 03, julho/agosto. 2007.GERALDI, J. W. Portos <strong>de</strong> passagem. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1991.KOCH, I. G. V. A intertextualida<strong>de</strong> como fator da textualida<strong>de</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos da PUC. n.22, p. 39-46, 1986.______ . Intertextualida<strong>de</strong> e polifonia: <strong>um</strong> só fenômeno? D.E.L.T.A. v.7, n. 2, p. 529-541, 1991.______ . A coerência textual, 6. ed., São Paulo: Contexto, 1995.______ . O texto e a (inevitável) presença do outro. Letras - Revista do mestrado emLetras da UFSM (RS), p. 107-124, jan./jun., 1997.______ . O texto e a construção <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>, São Paulo: Contexto, 1997.______ . A inter-ação pela linguagem, 5. ed., São Paulo: Contexto, 2000.______ . Arg<strong>um</strong>entação e linguagem, 7. ed., São Paulo: Cortez, 2002.KOCH, I. G. V. Desvendando os segre<strong>dos</strong> do texto. São Paulo: Contexto. 2002.______ . Introdução à Lingüística Textual: trajetória e gran<strong>de</strong>s temas. São Paulo:Martins Fontes, 2004.KOCH, I. G. V.; ELIAS, Vanda Maria da Silva. Ler e Compreen<strong>de</strong>r: os senti<strong>dos</strong> dotexto. São Paulo: Contexto, 2006.KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coesão textual. 7. ed., São Paulo: Contexto,1994.


KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Rotulação: <strong>um</strong>a estratégia textual <strong>de</strong> construção <strong>dos</strong>entido. Cali<strong>dos</strong>cópio (UNISINOS), v. 4, p. 85-89, 2006.POSSENTI, Sírio. Indícios <strong>de</strong> autoria. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 20, n. 01, p.105-124, jan./jun. 2002.ANEXO 11510152025303540FAMÍLIA TEM DE SER CARETAEsperando <strong>um</strong>a reação <strong>de</strong> espanto ou contrarieda<strong>de</strong> ao título acima, tentoexplicar: acho, sim, que família <strong>de</strong>ve ser careta, e que isso há <strong>de</strong> ser <strong>um</strong> bemincomparável neste mundo tantas vezes fascinante e tantas vezes cruel. Dizendo isso nãofalo em rigi<strong>de</strong>z, que os <strong>de</strong>uses nos livrem <strong>de</strong>la. Nem em pais sacrificiais, que nosencherão <strong>de</strong> culpa e impedirão que a gente cresça e floresça. Não penso em frieza eomissão, que nos farão órfãos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, nem em controle doentio – que o <strong>de</strong>stinonão nos reserve esse mal <strong>dos</strong> males. Nem <strong>de</strong> longe aceito moralismo e preconceito,mesmo (ou sobretudo) disfarçado <strong>de</strong> religião, qualquer que seja ela, pois isso seria adiversão maior do <strong>de</strong>mônio.Falo em carinho, não castração. Penso em cuida<strong>dos</strong>, não suspeita. Imaginopresença e escuta, camaradagem e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, sobretudo senso <strong>de</strong> proteção. Não revirargavetas, esvaziar bolsos, ler e-mails, escutar no telefone, indignida<strong>de</strong>s legítimas em casosextremos, <strong>de</strong> drogas ou outras <strong>de</strong>sgraças, mas que em situação normal combinam comvelhos internatos, não com família amorosa. Falo em respeito com a criança ou oadolescente, porque são pessoas, em entendimento entre pai e mãe – também <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><strong>um</strong>a separação, pois naturalmente pessoas dignas preservam a elegância e não querem sevingar ou continuar controlando o outro <strong>através</strong> <strong>dos</strong> filhos.Interesse não é fiscalizar ou intrometer-se, bater ou insultar, mas acompanhar,observar, dialogar, saber. Vejo crianças <strong>de</strong> 10, 11 anos freqüentando festas noturnas coma aquiescência <strong>de</strong> pais irresponsáveis, ou porque os pais nem ao menos sabem on<strong>de</strong> elasandam. Vejo adolescentes e pré-adolescentes embriaga<strong>dos</strong> fazendo rachas alta noite oucambaleando pela calçada ao amanhecer, jogando garrafas em carros que passam,insultando transeuntes – on<strong>de</strong> estão os pais?Como não saber que sites da internet as crianças e os jovenzinhos freqüentam,com quem saem, on<strong>de</strong> passam o fim <strong>de</strong> semana e com quem? Como não saber o que sepassa com eles? Sei <strong>de</strong> meninas, quase crianças, parindo sozinhas no banheiro, e ninguémem casa sabia que estavam grávidas, nem mãe nem pai. Elas simplesmente não existiam,a não ser como eventual motivo <strong>de</strong> irritação.Não entendo a maior parte das coisas solitárias e tristes que vicejam on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriahaver acolhimento, alg<strong>um</strong>a segurança e paz, na família. Talvez tenhamos perdido o bomsenso. Não escutamos a voz arcaica que nos faria aten<strong>de</strong>r as crias in<strong>de</strong>fesas – e não medigam que crianças <strong>de</strong> 11 anos ou adolescentes <strong>de</strong> 15 (a não ser os monstros morais <strong>de</strong>que falei na <strong>crônica</strong> anterior) dispensam pai e mãe. Também não me digam que não têmtempo para a família porque trabalham <strong>de</strong>mais para sustentá-la. Andamos aflitos econfusos por teorias insensatas, trabalhando além do necessário, mas dizendo que é paradar melhor nível <strong>de</strong> vida aos meninos. Com essa <strong>de</strong>sculpa não os preparamos para estemundo difícil. Se acham que filho é tormento e chateação, mais <strong>um</strong>a carga do que <strong>um</strong>afelicida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>viam ter tido família. Pois quem tem filho é, sim, gravementeresponsável. Paternida<strong>de</strong> é função para a qual não há férias, 13º, aposentadoria. Não écargo para <strong>um</strong> fiscal tirano nem para <strong>um</strong> amiguinho a mais: é para ser pai, é para ser mãe.É preciso ser amorosamente atento, amorosamente envolvido, amorosamenteinteressado. Difícil, muito difícil, pois os tempos trabalham contra isso. Mas quem não


455055estiver disposto, quem não conseguir dizer "não" na hora certa e procurar se informarpara saber quando é a hora certa, quem se fizer <strong>de</strong> vítima <strong>dos</strong> filhos, quem se sentirsacrificado, aturdido, incomodado, que por favor não finja que é mãe ou pai. Descarteesse papel <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vez, encare a educação como função da escola, diga que hoje é todomundo <strong>de</strong>sse jeito, que não existe mais amor nem autorida<strong>de</strong>... e <strong>de</strong>ixe os filhos entreguesà própria sorte.Pois, se você se sentir assim, já não terá mais família nem filhos nem aconchegon<strong>um</strong> lugar para on<strong>de</strong> você e eles gostem <strong>de</strong> voltar, on<strong>de</strong> gostem <strong>de</strong> estar. Você vive <strong>um</strong>ailusão <strong>de</strong> família. Fundou <strong>um</strong> círculo infernal on<strong>de</strong> se alimentam rancores e reina o<strong>de</strong>samparo, on<strong>de</strong> to<strong>dos</strong> se evitam, não se compreen<strong>de</strong>m, muito menos se respeitam.Por tudo isso e muito mais, à família mo<strong>de</strong>rninha, com filhos nas mãos <strong>de</strong> <strong>um</strong>agatinha vagamente idiotizada e <strong>um</strong> gatão irresponsável, eu prefiro a família ditacareta: em que existe alg<strong>um</strong>a or<strong>de</strong>m, responsabilida<strong>de</strong>, autorida<strong>de</strong>, mas também carinho ecompreensão, bom h<strong>um</strong>or, sentimento <strong>de</strong> pertença, nunca sujeição.É bom começar a tentar, ou parar <strong>de</strong> brincar <strong>de</strong> casinha: a vida é dura e os meninos nãopediram para nascer.Funcionamento S<strong>um</strong>arizador <strong>dos</strong> Rótulos e <strong>dos</strong> NomesEncapsulamento ouS<strong>um</strong>arização- isso: linhas 2, 3, 8, 42, 53- assim: linha 49Rotulação- título: linha 1- esse mal <strong>dos</strong> males: linha 7- indignida<strong>de</strong>s legítimas em casosextremos: linha 12- coisas solitárias e tristes: linha 29- essa <strong>de</strong>sculpa: linha 36- esse papel: linha 46- <strong>de</strong>sse jeito: linha 47- a família dita careta: linha 54Nominalização-ANEXO 2CARTASEdição nº 1996 <strong>de</strong> 21/02/2007Dos mais felizes e oportunos o artigo "Família tem <strong>de</strong> ser careta"(Ponto <strong>de</strong> vista, 14 <strong>de</strong> fevereiro), <strong>de</strong> Lya Luft, cujas opiniões sempre sensatasmerecem nosso aplauso. Ela teve a coragem <strong>de</strong> dizer o que muitos sentem masnão ass<strong>um</strong>em, "quem não estiver disposto a dizer não na hora certa e se fizer <strong>de</strong>vítima <strong>dos</strong> filhos que por favor não finja que é mãe ou pai".Eustázio Alves Pereira Filho, Presi<strong>de</strong>nte do Conselho MunicipalAntidrogas <strong>de</strong> Santos (Comad), Santos, SPO artigo aborda com mestria a questão da paternida<strong>de</strong> e damaternida<strong>de</strong> responsáveis. Excelente para reflexão no lar, nas escolas, nas


varas <strong>de</strong> família, entre os profissionais que lidam com a educação e comquestões familiares, nas igrejas que preparam cursos <strong>de</strong> noivos e trabalhamcom famílias. Educar requer renúncias, sacrifícios, <strong>de</strong>sprendimento epaciência.Marcos Rodrigues, Recife, PELya Luft tem razão, a família precisa ser careta. Sou educadora, e écom<strong>um</strong> eu ouvir pais dizer que não sabem o que fazer, não po<strong>de</strong>m com os filhos.Se tivessem dito não e corrigido (imposto limite) na hora certa, com certezateriam "po<strong>de</strong>r" sobre eles.Tânia Regina Akiko Fugiwara Muchiutti, Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, SPÉ emocionante <strong>de</strong>parar com <strong>um</strong> texto <strong>de</strong>finitivo sobre família e filhos.Melhor ainda é ir, no <strong>de</strong>correr da leitura, constatando que a verda<strong>de</strong> está ali,<strong>de</strong> forma cristalina, e ver nossos acertos com os filhos. Só não enten<strong>de</strong> quemnão quer. Que ninguém mais se habilite a escrever sobre o mesmo tema. O textoé mesmo <strong>de</strong>finitivo.Marcon<strong>de</strong>s Serotini Filho, Barra Bonita, SPANEXO 31510152025A VOLTA DA FAMÍLIA CARETAFoi tão gran<strong>de</strong> e variado o número <strong>de</strong> e-mails, telefonemas e abordagenspessoais que recebi <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> escrever que família <strong>de</strong>veria ser careta, que resolvivoltar ao assunto, para alegria <strong>dos</strong> que gostaram e náusea <strong>dos</strong> que nãoconcordaram ou não enten<strong>de</strong>ram (ai da unanimida<strong>de</strong>, mãe <strong>dos</strong> medíocres).Atenção: na minha coluna não usei "careta" como quadrado, estreito, alienado,fiscalizador e moralista, mas h<strong>um</strong>ano, aberto, atento, cuida<strong>dos</strong>o. Obviamenteempreguei esse termo <strong>de</strong> propósito, para enfatizar o que <strong>de</strong>sejava.Houve quem dissesse que minha posição naquele artigo époliticamente conservadora <strong>de</strong>mais. Pensei em respon<strong>de</strong>r que minha <strong>opinião</strong>sobre família nada tem a ver com postura política, eu que me consi<strong>de</strong>ro <strong>um</strong>animal apolítico no sentido <strong>de</strong> partido ou <strong>de</strong> conceitos supera<strong>dos</strong>, como "aesquerda é inteligente e boa, a direita é grossa e arrogante". Mas, na verda<strong>de</strong>,tudo o que fazemos, até a forma como nos vestimos e moramos, é altamentepolítico, no sentido amplo <strong>de</strong> interesse no justo e no bom, e coerência com isso.E assim, sem me pensar <strong>de</strong> direita ou <strong>de</strong> esquerda, por ser interessada naminha comunida<strong>de</strong>, no meu país, no outro em geral, em tudo o que faço eescrevo (também na ficção), mostro que sou pelos <strong>de</strong>svali<strong>dos</strong>. Não apenas nosentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem auto-estima, sem amor,sem sentido <strong>de</strong> vida, sem esperança e sem projetos.O que tem isso a ver com minha idéia <strong>de</strong> família? Tem a ver, porque énela que tudo começa, embora não seja restrito a ela. Pois muito se confun<strong>de</strong>família frouxa (o que significa sem atenção), <strong>de</strong>scuidada (o que significa semamor), <strong>de</strong>sorganizada (o que significa aflição estéril) com o politicamentecorreto. Diga-se <strong>de</strong> passagem que acho o politicamente correto burro e fascista.Voltando à família: acredito profundamente que ter filho é serresponsável, que educar filho é observar, apoiar, dar colo <strong>de</strong> mãe e ombro <strong>de</strong>pai, quando preciso. E é também <strong>de</strong>ixar aquele ser h<strong>um</strong>ano crescer e<strong>de</strong>sabrochar. Não solto, não <strong>de</strong>sorientado e <strong>de</strong>samparado, mas amado com


30354045505560verda<strong>de</strong> e sensatez. Respeitado e cuidado, n<strong>um</strong> equilíbrio amoroso <strong>de</strong>ssas duascoisas. Vão me perguntar o que é esse equilíbrio, e terei <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r que cada<strong>um</strong> sabe o que é, ou sabe qual é seu equilíbrio possível. Quem não souber quenão tenha filhos.Também me perguntaram se nunca se justifica revirar gavetas e mexerem bolsos <strong>de</strong> adolescentes. Eventualmente, quando há suspeita séria <strong>de</strong> perigoscomo drogas, a relação familiar po<strong>de</strong> virar <strong>um</strong> campo <strong>de</strong> graves conflitos, emuita coisa antes impensável passa a se justificar. Deixar inteiramente à vonta<strong>de</strong><strong>um</strong> filho com problema <strong>de</strong> drogas é trágica omissão.Assim como não consi<strong>de</strong>ro bons pais ou mães os cobradores oupolicialescos, também não acho que os do tipo "amiguinho" sejam muito bonspais. Repito: pais que não sabem on<strong>de</strong> estão seus filhos <strong>de</strong> 12 ou 14 anos, quenunca se interessaram pelo que acontece nas festinhas (mesmo infantis), que nãoconhecem nomes <strong>de</strong> amigos ou da família com quem seus filhos passam fins <strong>de</strong>semana (não me refiro a nomes importantes, mas a seres h<strong>um</strong>anos confiáveis),que nada sabem <strong>de</strong> sua vida escolar, estão sendo tragicamente irresponsáveis.Pais que não arranjam tempo para estar com os filhos, para saber <strong>de</strong>les, paraconversar com eles... não tenham filhos. Pois, na hora da angústia, não são osamiguinhos que vão orientá-los e ampará-los, mas o pai e a mãe – se tiveremcacife. O que inclui risco, perplexida<strong>de</strong>, medo, consciência <strong>de</strong> não sermosinfalíveis nem onipotentes. Perdoem-me os pais que se queixam (são tantos!) <strong>de</strong>que os filhos são <strong>um</strong> fardo, <strong>de</strong> que falta tempo, falta dinheiro, falta paciência efalta entendimento do que se passa – receio que o fardo, o obstáculo e o estorvoa <strong>um</strong> crescimento saudável <strong>dos</strong> filhos sejam eles.Mães que se orgulham <strong>de</strong> vestir a roupeta da filha adolescente, <strong>de</strong>freqüentar os mesmos lugares e até <strong>de</strong> conquistar os colegas <strong>de</strong>las são patéticas.Pais que se consi<strong>de</strong>ram parceiros apenas porque bancam os garotões, i<strong>de</strong>m.Nada melhor do que <strong>um</strong>a casa on<strong>de</strong> se escutam risadas e se curte estar junto,on<strong>de</strong> reina a liberda<strong>de</strong> possível. Nada pior do que a falta <strong>de</strong> <strong>um</strong>a autorida<strong>de</strong>amorosa e firme.O tema é controverso, mas o bom senso, meio fora <strong>de</strong> moda, é maisimportante do que livros e <strong>revista</strong>s com receitas <strong>de</strong> como criar filho (comoagarrar seu homem, como enlouquecer sua amante...). É no velhíssimo instinto,na observação atenta e na escuta interessada que resta a esperança. Se nãopo<strong>de</strong>mos evitar <strong>de</strong>sgraças – porque não somos <strong>de</strong>uses –, é possível prepararmelhor esses que amamos para enfrentar seus naturais conflitos, fazendomelhores escolhas vida afora.Encapsulamento ouS<strong>um</strong>arização- isso: linhas 14, 20- assim: linhas 15, 38Rotulação- assunto: linha 3- <strong>de</strong>ssas duas coisas: linha29- o tema: linha 59Nominalização-

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