12.07.2015 Views

80 Anos de Caio Porfírio Carneiro - Linguagem Viva

80 Anos de Caio Porfírio Carneiro - Linguagem Viva

80 Anos de Caio Porfírio Carneiro - Linguagem Viva

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ANO XVIII Nº 227 Julho <strong>de</strong> 2008<strong>80</strong> <strong>Anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Caio</strong> Porfírio <strong>Carneiro</strong>Rosani Abou Adal<strong>Caio</strong> Porfírio <strong>Carneiro</strong>completou <strong>80</strong> anos, nodia 1 <strong>de</strong> julho, que foramcomemorados com uma festasurpresa, organizada pela UniãoBrasileira <strong>de</strong> Escritores e amigos.O evento festivo aconteceu no dia25 <strong>de</strong> junho, na se<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong>,que ele administra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1963.O nosso querido Dom Porfírio<strong>Carneiro</strong> recebeu uma placa <strong>de</strong> pratada UBE pelos serviços prestadosà entida<strong>de</strong> e as nossas Letras. Foihomenageado pelo Mutirão Culturalda UBE, que foi representado peladiretora Sueli Carlos, com um diploma<strong>de</strong> mérito cultural. Recebeuum opúsculo dos amigos sobre suavida e obra.Fazer uma festa em homenagemao autor <strong>de</strong> Trapiá não é tãofácil, porque é impossível reunir todosos seus amigos. Entretanto apresença dos ex-presi<strong>de</strong>ntes ClaudioWiller e Fábio Lucas, do atualpresi<strong>de</strong>nte Levi Bucalem Ferrari, <strong>de</strong>ex-diretores, membros da atual diretoriae <strong>de</strong> sócios pu<strong>de</strong>ram representaro universo <strong>de</strong> amigos escritoresque <strong>Caio</strong> conquistou, ao longo<strong>de</strong>sses anos, como secretárioadministrativo da entida<strong>de</strong>.Conheci <strong>Caio</strong> Porfírio <strong>Carneiro</strong>,em 1986, na antiga se<strong>de</strong> daUnião Brasileira <strong>de</strong> Escritores, localizadana Rua 24 <strong>de</strong> Maio, 250 – 13ºandar, em São Paulo. Ele me foiapresentado pela poeta e militanteecológica Clei<strong>de</strong> Veronesi e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>então, a nossa amiza<strong>de</strong> se consolidou.Freqüentei as reuniões boêmias,promovidas todas as quartas nobarzinho da entida<strong>de</strong>. As saudosasboemias literárias tinham <strong>Caio</strong>como anfitrião e eram conduzidaspelo tio Franco, como todos o chamavamcarinhosamente, o administradordo barzinho da UBE.O nosso “chá das sete” eraregado à loirinha, pastéis <strong>de</strong> tira-gostoe <strong>de</strong> um bom papo literário. <strong>Caio</strong>e eu marcávamos o ponto todas asquartas até o horário do fechamentodo prédio, às 22 horas. Depois,esticávamoscomos amigosaté o BarBrahma ouaté o Bexigae aboemia literáriaseguiaaté aúltima condução.Eu<strong>Caio</strong> com a placa da UBEsaia correndopara pegar o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro metrôe <strong>Caio</strong> tomava um táxi.Sauda<strong>de</strong>s dos amigos que jáse foram e das boemias literáriasque estão precisando <strong>de</strong> um novolocal e <strong>de</strong> um anfitrião paracomandá-las. Atualmente tudo émais difícil, existem inúmeros contratemposcomo a violência nasruas da cida<strong>de</strong>, os altos preços, aLei seca, a falta <strong>de</strong> tempo etc.Todos esses anos que convivocom o <strong>Caio</strong> e, mais intensamente,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano 2000, em que sousua parceira <strong>de</strong> trabalho na secretariaadministrativa da UBE, nuncao vi mal-humorado. Às vezes é meioLuzia Elaine <strong>de</strong> Souza RomanLuzia Elaine <strong>de</strong> Souza RomanRosani e <strong>Caio</strong>agitado e fala aceleradamente quandoestá preocupado com o caixa daentida<strong>de</strong>. Ele sempre disse que cuidae administra melhor o dinheiro daUBE que o <strong>de</strong>le.Dom Porfírio <strong>Carneiro</strong> todosos dias me ensina uma lição <strong>de</strong>vida, sobre a arte <strong>de</strong> fazer um conto– esse é o gênero em que ele émestre – e sobre como “rimar prefeituracom rapadura”.Sempre me surpreendo comsuas criações, entretanto conviverao seu lado diariamenteé mais que uma lição<strong>de</strong> vida. Sou feliz e eternamentegrata por tê-locomo amigo e como“chefe” ao longo <strong>de</strong>ssesanos.Tem dias que eleparece um menino maroto,<strong>de</strong> barbicha branca,com os óculos caídosna ponta do nariz,com seu pacote <strong>de</strong> biscoito <strong>de</strong>sequilhos. Des<strong>de</strong> que o conheço,sempre esteve munido do seu biscoitofavorito, em companhia <strong>de</strong> papéis,canetas e <strong>de</strong> amigos.Parece que nunca envelheceporque nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser jovem.A jovialida<strong>de</strong> está no seu espírito eé esse o segredo para se viver bem.<strong>Caio</strong> não é da era digital. Ficafascinado ao ver um computador,mas a máquina <strong>de</strong> escrever e a canetasão as companheiras da criaçãoliterária. Tem en<strong>de</strong>reço eletrônico(caio@ube.org.br), mas sou euque digito e envio as mensagens.Ele fica sentado ao meu lado ditandoo texto e vai corrigindo os erros<strong>de</strong> digitação tudo ao mesmotempo. Às vezes fala como seestivesse proferindo um discursosem interrupção, maisveloz que o computador e tentoacompanhá-lo tropeçandonas letras.Dom Porfírio é amigoaté <strong>de</strong>baixo d’água. Nuncasoube dizer não quando alguémpe<strong>de</strong> um favor. Se algumcompanheiro tem algumproblema ou está doente, ficamais preocupado que paracom ele mesmo. É emotivo,mas sempre com os pés no chãoporque é realista.Quando morre algum amigodo nosso convívio, logo trata <strong>de</strong>tomar as providências necessárias.Percebo que ele fica agitado, abatidoe triste, contudo a sua imensaforça interior lhe dá ânimo para suportarcom resignação a situação.<strong>Caio</strong> nunca foi em velórios. Temtrauma <strong>de</strong> infância e sempre diz,brincando, que só irá ao <strong>de</strong>le porqueserá obrigado.<strong>Caio</strong> aos 21 anosO humor do <strong>Caio</strong> ésurpreen<strong>de</strong>nte. Adoracontar piadas e cantar.Sabe <strong>de</strong> cor todas asmúsicas <strong>de</strong> DorivalCaymmi, Jorge Faraj, entreoutros. É a memóriaviva da nossa Literaturae da história da UBE. Àsvezes tenho a impressãoque ele é a própria história.Não sei dizer qualé seu melhor livro.Trapiá, livro <strong>de</strong> estréia, alcançouvárias edições e agora foiadotado pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>raldo Ceará. Os Meninos e o Agrestefoi agraciado com o Prêmio AfonsoArinos, da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong>Letras, como o melhor livro <strong>de</strong> contosdo ano. O Casarão foi laureadocom o Prêmio Jabuti, da CâmaraBrasileira do Livro e recebeu MençãoHonrosa do Pen Clube <strong>de</strong> SãoPaulo. O Sal da Terra e Chuva - Os<strong>de</strong>z cavaleiros foram adaptadoscom roteiro técnico para o cinema.Cheguei a conclusão que todos osseus livros são uma obra-prima.Tenhoseus livros autografados,inclusivetodasas edições doTrapiá. A primeiraediçãodo livro <strong>de</strong> estréiaé uma rarida<strong>de</strong>,masconsegui adquiri-lanum sebo,em São Paulo.Estava olhando uma estante fazendouma garimpagem e, eis que <strong>de</strong>repente, cai um livro sobre a minhacabeça. Para minha surpresa era aprimeira edição do Trapiá. Não quisolhar mais nada e também não importeicom o preço. Paguei a conta.Fui logo embora com medo que oproprietário da livraria se arrepen<strong>de</strong>sse.A maior rarida<strong>de</strong> que guardocomigo é a sua amiza<strong>de</strong>.Obrigada, meu amigo.1ª ediçãoRosani Abou Adal é escritora, jornalista,publicitária, membro da UBE e daAca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> Campos doJordão e 2ª vice-presi<strong>de</strong>nte do Sindicatodos Escritores no Estado <strong>de</strong> São Paulo.


Página 2 - Julho <strong>de</strong> 2008A Comissão <strong>de</strong> Trabalho Rejeitou aRegulamentação da Profissão <strong>de</strong> EscritorA Comissão <strong>de</strong> Trabalho, <strong>de</strong> Administração e Serviço Público rejeitouo Projeto <strong>de</strong> Lei nº 4641/98, <strong>de</strong> autoria do <strong>de</strong>putado Antonio CarlosPannunzio (PSDB-SP), que estabelece as normas e regulamenta a profissão<strong>de</strong> escritor. A proposta tramita em caráter conclusivo e ainda seráanalisada pela Comissão <strong>de</strong> Constituição, <strong>de</strong> Justiça e <strong>de</strong> Cidadania.O Projeto <strong>de</strong> Lei do <strong>de</strong>putado Pannunzio <strong>de</strong>fine como escritor “aqueleque, individualmente ou em colaboração, houver criado obra intelectualescrita, <strong>de</strong> qualquer gênero ou natureza, sob qualquer forma ou processotécnico no País ou no exterior”.O parecer contrário foi apresentado pelo <strong>de</strong>putado Ta<strong>de</strong>u Filippelli(PMDB-DF), que argumentou as ativida<strong>de</strong>s dos escritores não constituemuma profissão única e que só é viável quando indispensável para aproteção do interesse público, como no caso do médico.Conforme o CBO - Classificação Brasileira <strong>de</strong> Ocupações, do Ministériodo Trabalho e Emprego, o código 2615 é referente aos Profissionaisda escrita, que inclui poetas, autor-roteirista, crítico, escritor <strong>de</strong> ficção,escritor <strong>de</strong> não ficção e redator <strong>de</strong> textos técnicos.A classificação do CBO não estabelece a regulamentação da profissão,apenas a classifica. A profissão dos profissionais da escrita tambémnão é regulamentada, pois não consta da Listagem das ProfissõesRegulamentadas: normas regulamentadoras, relacionadas no site do Ministériodo Trabalho e Emprego.Esperamos que a Comissão <strong>de</strong> Constituição, <strong>de</strong> Justiça e <strong>de</strong> Cidadaniaaprove o Projeto <strong>de</strong> Lei e que a profissão seja regulamentada.Aproveitamos o ensejo para dar nosso apoio ao Sindicato dos Jornalistasno Estado <strong>de</strong> São Paulo e à Fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Jornalistasna luta pela obrigatorieda<strong>de</strong> do diploma. Esperamos que os onze ministrosdo Supremo Tribunal Fe<strong>de</strong>ral votem a favor da obrigatorieda<strong>de</strong> dodiploma para a profissão <strong>de</strong> Jornalista.Deixamos nosso protesto a todos os que votaram pela não necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> formação superior para o exercício da profissão <strong>de</strong> jornalista,porque queremos uma socieda<strong>de</strong> mais digna e justa.CUPOM DE ASSINATURANome: ___________________________________________En<strong>de</strong>reço: _________________________________________Cida<strong>de</strong>: _______________________________Estado: ____Bairro: ______________________________ CEP: _______E-mail: ___________________ :__________Assinatura Anual: R$ 42,00 - Semestral: R$ 21,00Envie cheque nominal ou vale postal à Rua Herval, 902 -São Paulo - SP - 03062-000 - Telefax: (11) 2693-0392E-mail: linguagemviva@linguagemviva.com.brPeriodicida<strong>de</strong>: mensal - Site: www.linguagemviva.com.brEditores: Adriano Nogueira (1928-2004) e Rosani Abou Adal (MTB: 18194)Rua Herval, 902 – São Paulo – SP – 03062-000E-mail: linguagemviva@linguagemviva.com.brPublicida<strong>de</strong>: Rosani Abou Adal – Telefax: (11) 2693-0392CGC: 61.831.012/0001-52 – CCM: 96954744 – I.E.: 113.273.517.110Distribuição: Encarte no jornal A Tribuna Piracicabana, distribuído emlivrarias, faculda<strong>de</strong>s, professores, escolas, escritores, entida<strong>de</strong>s,assinantes, espaços culturais e bibliotecas.Impresso nas oficinas <strong>de</strong> A Tribuna Piracicabana - R Tira<strong>de</strong>ntes, 647- Piracicaba – SP – 13400-760Os artigos e poemas assinados são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> dos autores.LINGUAGEM VIVAFAZENDA MORRO AZULPaulo BomfimO Conselho Estadual <strong>de</strong> Cultura,por mim dirigido nos anos 70,<strong>de</strong>ntro das comemorações doCinqüentenário da Semana <strong>de</strong> ArteMo<strong>de</strong>rna, patrocinou um filme <strong>de</strong>Carlos Augusto Calil sobre BlaiseCendras.Trinta e um anos mais tar<strong>de</strong>,a figura do colecionador <strong>de</strong> aventurasvolta a se encontrar comigo atravésdas informações que CarlosCelso Orcesi da Costa me fornecesobre sua fazenda Morro Azul, cenáriodo romance “La Tour EiffelSi<strong>de</strong>rále” publicado por Cendras em1949. “C’est la fazenda <strong>de</strong>l’Empereur, elle est tout en marbre,il n’y a pas d’autre pareille dans toutle Brésil”.O local que recebeu duas vezesa visita <strong>de</strong> D. Pedro II, está tambémpresente no poema queOswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> a ela <strong>de</strong>dica nolivro “Pau Brasil”.“PassarinhosNa casa que ainda espera oImperadorAs antenas palmeiras escutamBuenos AiresPelo telefone sem fiosPedaços <strong>de</strong> céu nos camposLadrilhos no céuO ar sem venenoO fazen<strong>de</strong>iro na re<strong>de</strong>E a Torre Eiffel noturna e si<strong>de</strong>ral”Foi contemplando aquele céuestrelado que Luiz Bueno <strong>de</strong>Miranda <strong>de</strong>scobre em 1914 a cons-Livros <strong>de</strong> todas as áreasimportados diretamente da Itália.DivulgaçãoCarlos Augusto Caliltelação que batiza com o nome <strong>de</strong>“La Tour Eiffel”, em visão proféticada contra-ofensiva do Marne que sedava naquele exato momento.Essa <strong>de</strong>scoberta que seriamotivo <strong>de</strong> comunicado <strong>de</strong> CamilleFlamarion à Socieda<strong>de</strong> Astronômica<strong>de</strong> Paris, é também mencionadapelo Professor Adrian Roig emtrabalho publicado na Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> Montpellier.Morro Azul e seu firmamentofazem parte da literatura universal.O achado si<strong>de</strong>ral do fazen<strong>de</strong>iropaulista Luiz Bueno <strong>de</strong> Miranda,astrônomo amador apaixonado,também, pela estrela SarahBernhardt, brilha sobre a casa-gran<strong>de</strong>,as palmeiras e o jequitibá <strong>de</strong> cincoséculos da proprieda<strong>de</strong> fundadapelo Briga<strong>de</strong>iro Jordão.Ali, a História e a lenda seamam em paz.Paulo Bomfim é escritor, poetae membro da Aca<strong>de</strong>miaPaulista <strong>de</strong> Letras.Aceitam-se encomendas.Enviamos por se<strong>de</strong>x a cobrar para todo o Brasil.Rua Luiz Coelho, 340 - Loja 2 - São Paulo -SP - 01309-000 - Telefax: 11 3159-3446Tels.: 11 3259-8915 • 3257-9270litalia@livrariaitaliana.com.brwww.livrariaitaliana.com.br


Página 3 - Julho <strong>de</strong> 2008Monumento a Maria BethâniaRODOLFO ALONSOEn el aire, en el mar,en lo neto <strong>de</strong>l díao la precisa noche,sin crepúsculo nunca,en Brasil que es un mundo,en el mundo, en el mundocrepitante y velozhay lugar para un mundo:la voz que usa tu cuerpo.Hay tono, hay <strong>de</strong>nsidad,hay gravedad, hay timbre,hay palabra que cantay hay música que expresael latido que sientes.Rige, Bethânia, or<strong>de</strong>nael caos en sentido,la altura en cante hondo,la intensidá en aliento.Ruge, Bethânia, ruge,feroz <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,no hay poesía en los libros,no alcanza la lectura,oír no es suficiente,y nada es suficienteni siquiera la música.Porque <strong>de</strong>l pueblo viene,<strong>de</strong>l humus <strong>de</strong> lo humano,<strong>de</strong> la lengua hecha cantola luz que te oscurece,el resplandor orgánico:la luz que usa tu cuerpo.Rodolfo Alonso é poeta etradutor da poesia brasileirana Argentina. TraduziuOlavo Bilac entre outrospoetas brasileiros.Música é perfume.M. B.Versão <strong>de</strong>An<strong>de</strong>rson Braga HortaNos ares ou nos mares,na niti<strong>de</strong>z do diaou na precisa noite,sem crepúsculo nunca,no Brasil que é um mundo,no mundo, neste mundocrepitante e velozhá lugar para um mundo:a voz que usa teu corpo.Há tom, há <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>,há gravida<strong>de</strong>, há timbre,há palavra que cantae há música que expressaa pulsação que sentes.Rege, Bethânia, or<strong>de</strong>naa poesia do mundo,torna o caos em sentido,a altura em canto fundo,e faz do intenso, alento.Ruge, Bethânia, ruge,feroz <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,não há poesia nos livros,a leitura não basta,ouvir é insuficiente,e nada é suficiente,nada, nem mesmo a música.Porque do povo emana,vem do húmus do humano,da língua feita cantoa luz que te escurece,o resplendor orgânico:a luz que usa teu corpo.An<strong>de</strong>rson Braga Horta é escritor,poeta, tradutor, crítico literárioe membro da AssociaçãoNacional <strong>de</strong> Escritores.RoupaEuropéiaAv. São Luís, 218 – 01046-000 – São Paulo – SPTels: (11) 3129-9511O POETA DA FEIRAEly Vieitez LisboaEstava eu no stand dos Autoreslocais, na 8ª Feira do Livro <strong>de</strong>Ribeirão Preto, quando, <strong>de</strong>licada esutilmente, um senhor dirigiu-se amim. “Posso lhe oferecer meu livro?”.Eu não conhecia AlfredoRossetti. Recebi a gentileza, agra<strong>de</strong>cendo.O título da obra encantoume:“Colheita dos Ventos”. Bela metáfora,semântica rica.Ora, o título <strong>de</strong> um livro é <strong>de</strong>suma importância e po<strong>de</strong> até influenciarno <strong>de</strong>stino da obra. Ele fisgao leitor, seduzindo-o. Já se disse:quando há uma surpresa, aconteceuma conquista. O que surpreen<strong>de</strong>nos poemas <strong>de</strong> Rossetti? Umvocabulário muito rico, às vezeserudito, concisão, jogos semânticos,originalida<strong>de</strong>, ritmo. O poema“Exprimir “( pág. 9) é exemplo expressivo:“Qualquer palavra / lavra/ quando a palavra / livra”. Na mesmapágina, o último verso do poema“Ausência” é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza:“_ É que longe <strong>de</strong> ti a aurora turva”.Veja-se, semanticamente, a riqueza<strong>de</strong> significados do substantivoaurora (vida, felicida<strong>de</strong>, amor) e overbo intransitivo “turva”, que po<strong>de</strong>riaser visto como uma verbalizaçãodo adjetivo. O Poemeto 12, da página18, é uma pequena obra-prima:sonhos, i<strong>de</strong>ais, mudança. Opoeta visto sinedoquicamente: “Pequenaparte <strong>de</strong> mim po<strong>de</strong> ser sauda<strong>de</strong>”;o verso final é precioso:“mas o resto : susto constante”.Assim é o poeta Alfredo Rossetti,que vive entre livros, trabalha comovoluntário na Biblioteca PadreEucli<strong>de</strong>s e mantém o site Sítio daPoesia. Um quixote com seus temasvários, às vezes tirando inspiraçãodo cotidiano, da Natureza.Usa termos raros, como no poema“Ermo”: “com olhos cor <strong>de</strong> tisneassisto” (o grifo é nosso). Olhosescurecidos pelo calor, pelo fogo daS e b oLINGUAGEM VIVAvida? Olhos <strong>de</strong>fuligem, expressãoque<strong>de</strong>tona o sentido<strong>de</strong> mancha,nódoa, mácula.E como emliteratura nadaé fortuito, casual, não terá o poetausado o verbo com a regência <strong>de</strong>transitivo direto (assisto teu caminhar)para enriquecer a abrangênciado sentido, até o verso final, “rumoao meu abandono”?“Colheita dos Ventos” é umainesgotável fonte do mais puro lirismo,alicerçado na realida<strong>de</strong>, no sonhoe na arte (Repartido I, II e III).Filosofia, auto-análise,universalismo, pequenos poemasnotáveis: “Na avenida da língua portuguesa/ Deus / passeia em rimas/ com ateus”(página 44). Ou os versosfinais do poema “Além do rio”(página 55): “A alma quando leve, /basta-se”.O livro termina com excelenteshaicais, gênero sintético e difícil.O poema “Persona” é um verda<strong>de</strong>iroconfiteor: “A chave da minhavida só a poesia <strong>de</strong>strava. / Sintoestar sempre entre a aparência e anévoa / e um verso, ao qual recorro,se a dor crava. / Quando verda<strong>de</strong>,/ não sou carne nem espírito. /Apenas palavras” (página 67).Em uma leitura rápida <strong>de</strong>scobrem-setesouros no livro <strong>de</strong> AlfredoRossetti. “Colheita dos Ventos” é ummanancial <strong>de</strong> lirismo, criativida<strong>de</strong>,inspiração rica, sensibilida<strong>de</strong>. O Poetada Feira sabe usar bem a armamaior: a palavra. Ritmo, esmeradalinguagem figurada, inteligência, cultura.O verda<strong>de</strong>iro poeta que, comum dístico fecha o poema “Desconforto”,semanticamente criativo:“São os eternos vetos ao meu coração/ ou me roubaram a aurora?”.Ely Vieitez Lisboa é escritora.E-mail: elyvieitez@uol.com.brLivraria BrandãoCompram-se bibliotecas e lotes <strong>de</strong>livros usados. Ven<strong>de</strong>m-se obras <strong>de</strong> 2ªmão, <strong>de</strong> todas as áreas doconhecimento humano.Telefax: (11) 3214-3325 - 3214-3647 - 3214-3646 - Fax: (Todos)Ramal 23 - São Paulo: Rua Cel. Xavier <strong>de</strong> Toledo, 234 - s/loldbook@terra.com.br - www.lbusedbookshop.com.br


Página 4 - Julho <strong>de</strong> 2008Diálogo fantástico com uma barata famosaLINGUAGEM VIIVAMaria Lúcia Silveira RangelNaquela noite havia sonhadocom papai; ele levantava a mão numgesto <strong>de</strong> advertência, como costumavafazer, apregoando em vozautoritária:– Filha minha não casa semdiploma; precisa prover sua subsistência,não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> marido.Isso, porque eu estava namorandofirme o Jorge e não havia terminadoo curso na faculda<strong>de</strong>.Se ele tivesse vivido mais umpouco, penso que se <strong>de</strong>siludiriacom seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “classe médiaintelectualizada” ao ver sua filha professoratão <strong>de</strong>smerecida e mal remunerada..Acor<strong>de</strong>i com a cabeça pesada,o corpo dolorido, mas <strong>de</strong>cidi continuara rotina habitual..Leciono no período noturno <strong>de</strong>uma Escola Estadual, vizinha aobairro on<strong>de</strong> moro, o que facilita minhavida.Os filhos já criados sabempreparar seus lanches e Jorge jantao prato requentado. Apesar da indisposição,resolvi fazer pão caseiro,que os meninos apreciam.Assim, fui ao supermercadocomprar os ingredientes.Na cozinha, comecei a prepararo pão: água morna, sal, açúcar,fermento para levedar; ao me voltar,<strong>de</strong>parei uma barata parada juntoaos meus pés, com aquele jeitosorrateiro que elas possuem. Ora,tenho pavor <strong>de</strong>sses insetos, não ou-Especializada emimportação direta <strong>de</strong>livros portugueses.sando sequer matá-los, tal a náuseaque me provocam suasvísceras esbranquiçadas; levei tamanhosusto que a tigela escapoumedas mãos e a mistura caiu justamentesobre a maldita barata.Então, para meu pasmo e horror,a barata começou a crescer;cresceu <strong>de</strong>vagar mas constante.Até alcançar mais ou menos ummetro e meio, ocupando gran<strong>de</strong>espaço na cozinha exígua, quaseme imprensando contra a pare<strong>de</strong>.Aterrorizada, esperando queela avançasse sobre mim e me atacasse,ia abrir a porta e sair correndo,quando ela falou com voz sumida,vinda do mais profundo <strong>de</strong> seuinterior, uma voz gemente, cheia <strong>de</strong>ressonâncias, quase inaudível:– Sei que está com medo <strong>de</strong>mim; aliás, todos me temem por algummotivo: ou por ser um insetoasqueroso, que vive na imundície,ou por minha própria aparência repelente.Mas não tenho culpa <strong>de</strong> serassim, até posso dizer que soumenos maléfica que o rato que traza peste ou que a aranha que envenena.Apesar disso, todos procuramme <strong>de</strong>struir – as mulheres sobemnas ca<strong>de</strong>iras e põem-se a gritarquando me vêem e é preciso queapareça um cavalheiro para me esmigalhare acalmar a dama <strong>de</strong> seufaniquito.Até os ambientalistas, que emnome do equilíbrio ecológico evitammatanças inúteis, também não meprotegem, permitindo que eu sejaLivros <strong>de</strong> todas as áreas <strong>de</strong> editoras portuguesas,Cds, artesanato e galeria <strong>de</strong> arte.Desconto <strong>de</strong> 10% para advogados, juristas,professores e estudantes.Aceitamos encomendas <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> editoras nacionais.Prazo <strong>de</strong> entrega: 15 dias.Galeria Louvre, loja 20 - Av São Luis, 192 - Centro - São Paulo -SPE-mail: coimbramartins@uol.com.brTel.: (11) 3120-5820 – Telefax: 3258-9105Tel.: (11) 2796-5716Profa. SoniaRevisão - DigitaçãoAulas particularesvítima <strong>de</strong> perseguição sistemática.Embora o pavor me dominasse,lembrei-me da Metamorfose,obra lida quando cursava o Colégio<strong>de</strong> Aplicação, e tive certeza <strong>de</strong> queera ela própria que estava diante <strong>de</strong>mim.Lá permanecia ela equilibradasobre as pernínhas curtas e frágeis,as costas abauladas e escuras,a boca rasgada entre as mandíbulasfortes.Juntando coragem, pois estavaquase <strong>de</strong>smaiando <strong>de</strong> medo,perguntei:– Você é a barata do Kafka?– Claro que sou; ainda não mehavia reconhecido? Talvez seja eua barata mais famosa do mundonunca se ouviu falar <strong>de</strong> outra; nãohá em obra alguma, nem na Bíblia,nem em Homero, nem naRamaiana, referência sobre umabarata... Precisava aparecer Kafkapara me tornar conhecida no mundointeiro...Lembrei-me da Metamorfoseguardada em minha estante: A históriado pobre Gregor Samsahostilizado e sacrificado pela família– a bela e implacável Irmã Grete,a bondosa mas alheada Mãe,o Paidominador e mesquinho – no momentoque, transformado em barata,não conseguiu mais sustentá-la.Lembrei-me quanto ficara impressionadacom a cruel conotação socialque emanava do livro,criticandoa valorização dos bens materiais:Apesar do medo, ousei perguntar,continuando aquele diálogofantástico:– Por que você aparece justamenteem minha cozinha?– Porque <strong>de</strong> vez em quandofico enfarada <strong>de</strong> estar presa no livro,então resolvo dar uma voltinha;hoje apareci por aqui pensando quenão seria notada e que pu<strong>de</strong>sse encontrarno lixo alguma fruta podre.Eu, conversando com umabarata! Parecia que fazia parte <strong>de</strong>uma cena surrealista! Não era possívelque fosse verda<strong>de</strong>!Um calafrio percorreu meucorpo; tateei minha fronte: escaldava;a gripe me <strong>de</strong>rrubara...Estonteada, abandonei tudo,fechei a porta e fui para meu leito: ofrio gelava meus pés e minhasmãos, a garganta seca e ar<strong>de</strong>ntepedia um copo <strong>de</strong> água, mas eu nãotinha coragem <strong>de</strong> voltar à cozinha.Permaneci <strong>de</strong>itada bem coberta,imaginando se teria disposição<strong>de</strong> dar minhas aulas <strong>de</strong> LiteraturaBrasileira; um torpor tomoume;adormeci.Acor<strong>de</strong>i sentindo meu maridoapalpar minha testa.– Está se sentindo melhor?Os sintomas haviam diminuídoe o mal estar abrandara..Ele disse:– Matei uma barata na cozinha.– Por que? Era a barata doKafka...– Você está <strong>de</strong>lirando com afebre...– Como conseguiu? Ela eraenorme.....– Nada disso; tamanho normal...Você <strong>de</strong>ixou tudo em completa<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m; que aconteceu?Minha cabeça ainda continuavadoendo; voltei-me para o ladosem respon<strong>de</strong>r.Quando a gripe me <strong>de</strong>ixou,corri à estante, à procura da obra<strong>de</strong> Kafka; i<strong>de</strong>ntifiquei capa, retirei-ada prateleira. Ao abrir o livro, constatei,surpresa e <strong>de</strong>solada , quesuas páginas estavam em branco...Maria Lúcia Silveira Rangel éescritora e crítica literária.portsonia@ig.com.br


Página 5 - Julho <strong>de</strong> 2008PONTESRaquel NaveiraCarlos NejarPonte é símbolo universal<strong>de</strong> passagem. Duas pontesda minha terra, o sul <strong>de</strong>Mato Grosso, marcaram a geografia<strong>de</strong> minha infância: aPonte Velha, que unia os municípios<strong>de</strong> Aquidauana e <strong>de</strong> Anastácio e aponte sobre o rio Apa, com Bela Vistado Brasil <strong>de</strong> um lado e Bela Vistado Paraguai <strong>de</strong> outro.A Ponte Velha era <strong>de</strong> ferro ecobre, uma espécie <strong>de</strong> espada <strong>de</strong>aço sobre águas pardacentas. Dosdois lados, a imensidão do mundo, omistério do mato, a flora humil<strong>de</strong> doscerrados, o aroma dos cajus vermelhose amarelos, os seixos, os troncosretorcidos, on<strong>de</strong> choravam asjuritis. A Ponte Velha era um divisor<strong>de</strong> espaços e atravessávamos asserras azuis entre suspiros <strong>de</strong> pássaros.Sobre o rio Apa e sua ponte,escrevi este poema: “Olhe no mapa/Aqui entre o sul <strong>de</strong> Mato Grosso/ E oParaguai,/ À beira duma cida<strong>de</strong> chamadaBela Vista,/ Passa o rio Apa.//Se conheço o Apa?/ Ah! Amigo!/Quando criança/ Não havia ponte,/Ele me parecia tão largo.../ Atravessávamosem pequenos barcos,/ Minhaavó <strong>de</strong> sombrinha <strong>de</strong> estampa/E aquele ar <strong>de</strong> quem usava perfumefrancês.// Rio Apa.../ Lembro-me dassavanas secas,/ Dos pés <strong>de</strong> cedro,/Das laranjeiras amargas/ Ardidas <strong>de</strong>sol;/ Um som misterioso nas margens:/Gemidos,/ Gritos <strong>de</strong> guerra,/Cordas <strong>de</strong> harpa.// Ao longe/ Via aescadaria <strong>de</strong> uma igreja,/ Uma santana lapa;/ Na ribanceira,/ Um marco:/Jovens rapazes/Mortos no Apa.// Pescavanas águas turvas,/ Entre osmorros <strong>de</strong> formigas,/ Envolto numacapa// Porque às vezes faz muito frio/No Apa.// Se conheço o Apa?/ Ah!Amigo!/ Está vendo este mapa/ Estefilete azul?/ Ficou gravado pra sempre,/Artéria em meu coração.”O livro chegou às mãos doembaixador e intelectual MárioGibson Barbosa, que me enviou umacarta datada <strong>de</strong> 04 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1998,na qual ele, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> transcrever opoema “Rio Apa”, <strong>de</strong>clarou: “Poisbem: hoje existe a ponte. E sou eu opai <strong>de</strong>la. Quando Embaixador noParaguai, em 1967, visitei oficialmenteBela Vista, on<strong>de</strong> fui recebido compompa e circunstância, pela guarniçãomilitar local. Espantou-me, então,a inexistência <strong>de</strong> uma ponte sobre orio Apa, <strong>de</strong>marcador <strong>de</strong> nossa fronteiracom o Paraguai, sem a qual ficavainterrompido o sistema viário daregião. Por minha própria iniciativa,pedi pessoalmente a MárioAndreazza, Ministro dos Transportesno Governo Costa e Silva, que construíssea ponte, explicando-lhesua absoluta necessida<strong>de</strong>.Ele ace<strong>de</strong>uprontamente- e meses<strong>de</strong>pois lá estava a ponte...Desculpe-me narrar-lheesse fato em que apareçocomo protagonista.Mas não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>fazê-lo, diante da emoçãoque me trouxe o seu belo poema.”Ponte Velha foi também o nome<strong>de</strong> uma coleção coor<strong>de</strong>nada no Brasilpelo poeta Carlos Nejar, da Aca<strong>de</strong>miaBrasileira <strong>de</strong> Letras e em Portugal,pelo poeta António Osório, como apoio do Instituto Camões epublicada pela Editora Escrituras <strong>de</strong>São Paulo. Ponte estabelecida entreesses dois países irmãos, unidospela história, pela língua e por antigaslembranças. Foi, ao mesmo tempo,uma nova ponte, dinâmica, on<strong>de</strong>transitaram novas idéias e poemas,envoltos por esse idioma belo e ru<strong>de</strong>,impregnado da estética da melancoliadas gran<strong>de</strong>s viagens iniciáticaspelos mares do mundo e da alma.No dia 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2004,na Livraria Lima Barreto, um localagradável na Vila Madalena, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>do jornalista Miguel <strong>de</strong>Almeida, num clima <strong>de</strong> fados e vinhos,aconteceu o lançamento <strong>de</strong>ssacoleção, com a presença da poetaportuguesa Rosa Alice Branco,uma intelectual ativa em seu país,on<strong>de</strong> presi<strong>de</strong> a Limiar, selo editorial,revista <strong>de</strong> cultura e cooperativa <strong>de</strong>eventos literários. Como foi bom ouvila!O seu sotaque português ao leros poemas encantou-me e me fezviajar por terras distantes. As ricaspossibilida<strong>de</strong>s do idioma materno,esse <strong>de</strong> Camões e Fernando Pessoa.Em seguida, a professora daUSP, Nelly Novaes Coelho, formadora<strong>de</strong> espíritos por gerações, <strong>de</strong>uuma aula <strong>de</strong> literatura portuguesa, <strong>de</strong>amiza<strong>de</strong> e respeito pelas tradições eabertura a novas realida<strong>de</strong>s e caminhos.Neta <strong>de</strong> portugueses, estudiosada literatura portuguesa, amanteda cultura lusa, ergui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempreentre Portugal e Brasil, no meu imaginário,uma ponte levadiça, um arcoíris,uma passarela por on<strong>de</strong> percorreramas musas da Poesia, coroadas<strong>de</strong> flores e revestidas pela peleda língua portuguesa.Há uma ponte que realmenteme fascina: a natureza daquele queé Ponte entre o homem e Deus, omediador, o Sumo Pontífice: Jesus.Só Ele é a luz na travessia da passagemda terra ao céu, do estado humanoao estado supra-humano, dacontingência à imortalida<strong>de</strong>. É poressa Ponte móvel, porém segura,que caminho sobre o abismo.Raquel Naveira é escritora, poeta eprofessora universitária.O vento e o casteloDo alto, o rio parece umaenorme serpente branca que searrasta. Os blocos <strong>de</strong> gelo <strong>de</strong>scemlentamente na direção do OceanoAtlântico. Aqui na janela, no décimo- segundo andar do castelo, oChateau Frontenac, vemos umvarandão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, o“promena<strong>de</strong> <strong>de</strong>s governeurs” ou o“Terasse Dufferin”, que margeia openhasco, sugerindo um passeioelegante e perigoso. O vento doinverno, como o hálito letal daserpente, <strong>de</strong>rruba um casal<strong>de</strong>savisado e afugenta um grupo <strong>de</strong>adolescentes. À esquerda da torreon<strong>de</strong> me encontro esten<strong>de</strong>m-se,com rara <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za as ruas dacida<strong>de</strong> velha, a Vieux Québec. Elascontinuam iluminadas para as jádistantes festas <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano. Àdireita, <strong>de</strong>pois do “promena<strong>de</strong>”,ergue-se a cida<strong>de</strong>la, parte <strong>de</strong> umcomplexo <strong>de</strong> fortificações que noschega, praticamente intacto, doslabirintos e batalhas do passado. Ali,ingleses e franceses, movidospelas forças da cobiça e do<strong>de</strong>stino, odiaram-se e se mataram.Ainda po<strong>de</strong>mos ouvir os ecos doscombates nos gemidos do ventoenfurecido.MULHERESEunice ArrudaMulheresmecanizadassimulamvozesDe passos durose roupas levesalargam a tar<strong>de</strong><strong>de</strong> fumaça eobjetivosTêm pressa – nãosonhosMulheres mecanizadasgeram filhos ecriam oabstratoEunice Arruda é escritora,poeta e membro da UBE.Rodolfo Kon<strong>de</strong>rLINGUAGEM VIIVAPrecisamente aqui on<strong>de</strong>o rio se estreita, os franceses,sob o comando <strong>de</strong> Champlin, fundarama cida<strong>de</strong>, em 1608. No finaldo século 18, os francesesentregaram sua colônia à Inglaterra.Do alto do ChateauFrontenac, vemos a enormeserpente branca que se arrasta.De um lado, o “Terrasse Dufferin”e a cida<strong>de</strong>la. Do outro, a VieuxQuebec e o porto. Em ambas asmargens do rio Saint Lawrence,ou Saint Laurent, existe um fascinantelaboratório em que convivemdiferentes religiões, diversasetnias, idiomas variados. Osegredo da caminhada até o sucessoatual é um só: a aceitaçãoda diversida<strong>de</strong>. A valorizaçãodo multiculturalismo. E a fórmula<strong>de</strong> Quebec também vale paraenten<strong>de</strong>rmos melhor o próprioCanadá – e, em nosso permanentejogo <strong>de</strong> espelhos, o Brasil.Rodolfo Kon<strong>de</strong>r é escritor,professor, jornalista, tradutor,diretor do MASP e diretorcultural da UNIFMU.


Página 6 - Julho <strong>de</strong> 2008Prêmio Sesc <strong>de</strong> Literatura2008, categorias conto e romance,promovido pelo Serviço Social doComércio, <strong>de</strong>stinado a textos inéditos,escritos em língua portuguesa,está com inscrições abertas atéo dia 15 <strong>de</strong> agosto. Po<strong>de</strong>rão concorrerautores brasileiros ou estrangeirosresi<strong>de</strong>ntes no Brasilcom apenas uma obra em cadacategoria, que <strong>de</strong>verá ser enviadaseparadamente e com pseudônimodiferente. O autor não po<strong>de</strong>rãoter nenhum livro publicado na categoriainscrita. Os originais <strong>de</strong>verãoser enviados em quatro vias,sem ilustrações, datilografados emespaço duplo ou digitados em papelA4, em apenas um lado da folha,fonte Times New Roman, tamanho12, estilo normal, na corpreta, parágrafo <strong>de</strong> alinhamentojustificado, espaço entrelinhas duploe margens <strong>de</strong> 2,5 cm. Enviaras quatro vias enca<strong>de</strong>rnadas comfolha <strong>de</strong> rosto, que <strong>de</strong>verá constaro título da obra e o pseudônimo doautor. Em envelope lacrado, emanexo, <strong>de</strong>verão ser enviados osdados do autor: pseudônimo,nome, data <strong>de</strong> nascimento, título daobra, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, CPF, en<strong>de</strong>reçocompleto, telefone, e-mail e currículoresumido. Os romances <strong>de</strong>verãoter entre 130 e 400 laudas eos contos, entre 70 e 200 laudas.O resultado será divulgado em janeiro<strong>de</strong> 2009. Premiação: O vencedor<strong>de</strong> cada categoria terá suaobra publicada e distribuída pelaEditora Record, com direito a 10%Concursosdo valor <strong>de</strong> capa da obra quandoda sua comercialização em livrarias.As inscrições po<strong>de</strong>rão serfeitas nas Unida<strong>de</strong>s do Sesc <strong>de</strong>todo o Brasil. A relação das unida<strong>de</strong>se o regulamento completoestá disponível no sitewww.sesc.com.brPrêmio Casa das Américasé <strong>de</strong>stinado a autores do Brasilcom livros publicados em português,nos anos 2007 e 2008,em primeira edição, nos gênerosromance, conto e poesia. As inscriçõesestão abertas até o dia 31<strong>de</strong> outubro. Po<strong>de</strong>rão participarautores brasileiros, naturais ounaturalizados, que <strong>de</strong>verão enviarum exemplar da obra por gênero.Não po<strong>de</strong>rão concorrer autoreslaureados no gênero em quetenham obtido o Prêmio Casa dasAméricas, após o ano 2000.Premiação: 3.000 dólares ou oseu equivalente na moeda nacionale a publicação da obra, comtiragem <strong>de</strong> 10.000 exemplares,pela Casa das Américas, se amesma não estiver comprometidacom outra editora <strong>de</strong> língua espanhola.Os originais não serão<strong>de</strong>volvidos. Os livros <strong>de</strong>verão serenviados à Casa das Américas,3ra. y G, El Vedado, La Habana10400, Cuba ou nas Embaixadas<strong>de</strong> Cuba. Informações através doe-mail: cil@casa.cult.cu . O regulamentoestá disponível no sitewww.casa<strong>de</strong>lasamericas.com/premios/literario/liminar.php?pagina=liminarDébora Novaes <strong>de</strong> CastroPoemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL -MOMENTOS - SINFONIA DO INFINITO –COLETÂNEA PRIMAVERA -CATAVENTO - AMARELINHA.Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO.Haicais: SOPRAR DAS AREIAS –ALJÒFARES – SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS –Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...Opções <strong>de</strong> compra: via telefax (11) 5031-5463Correio: Rua Ática, 119 - ap. 122 - São Paulo Cep 04634-040 -E-mail: <strong>de</strong>bora_nc@uol.com.br e Site: www.vipworkcultural.com.br(ESCREVER)POR QUE ESCREVEMOS?Emanuel Me<strong>de</strong>iros VieiraComeçamos escrevendo paraviver e acabamos escrevendo paranão morrer.Para quem edifica palavrasmal rompe a aurora, escrever éinadiável e urgente, mesmo quenada externamente nos obrigue aisso. Mas a necessida<strong>de</strong> interna évisceral, orgânica, chama e fogo,flecha, algo colado à pele.Não conseguimos escapar<strong>de</strong>sse apelo.Escrevemos para perdurar,para vencer a poeira do tempo, para<strong>de</strong>spistar a morte, para regar nossosfantasmas e (por que não?),para amar e se amado.A literatura é o refúgio da sincerida<strong>de</strong>num mundo <strong>de</strong> pose.“A literatura é um apelo <strong>de</strong>fogo, on<strong>de</strong> mora meu <strong>de</strong>sespero, aminha inquietação e o meu paraíso”,escreveu alguém.Eu sei: tento escrever um hino<strong>de</strong> amor à palavra.Qual a maior viagem (interior)que po<strong>de</strong>mos fazer, senão aquelaque é um mergulho no livro, nestacriação <strong>de</strong> outros mundos, nessaperegrinação às áfricas interiores?“Se o mundo dos objetos palpáveise vida prática, não é mais realque o mundo das ficções, dos sonhose dos labirintos, então po<strong>de</strong> serque o autor <strong>de</strong> artifícios verbais tenhamais direito à condição <strong>de</strong>Vestibular &ConcursosSonia Adal da Costa1- Nadou 100 metros livres oulivre e correu 100 metros raso ourasos?São 100 metros livre e são 100metros rasos.No atletismo, o adjetivo rasosse refere aos 100 metros. Na natação,livre é o nado, é o estilo, a modalida<strong>de</strong>.Da mesma forma:São 100 metros peito ou borboleta.2 – Zero grau ou zero graus?O numeral zero <strong>de</strong>ixa a palavraseguinte no singular.É zero hora.3 – Menas ou menos?Menas não existe.LINGUAGEM VIVA<strong>de</strong>miurgo que qualquer outro candidato”,escreveu Samuel Titan Jr.,falando sobre Borges..Hoje, a realida<strong>de</strong> chamadavirtual fica sendo mais importanteque o humano propriamente dito.Uma personalida<strong>de</strong> não apareceporque é boa, mas é boa porqueaparece.Vivemos uma mudança <strong>de</strong>época e não uma época <strong>de</strong> mudanças.Ou está inapelavelmente <strong>de</strong>cretadoque não há nada mais afazer, que o <strong>de</strong>stino já rabiscou todosos <strong>de</strong>stinos?Queremos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> consumidoresou <strong>de</strong> cidadãos?Aceita-se passivamente ummundo on<strong>de</strong> são as coisas que comandame não os valores.Queremos pessoas abúlicas,inertes, numa globalização on<strong>de</strong> imperaa uniformida<strong>de</strong> e não a igualda<strong>de</strong>?A literatura é um sonho doeterno. Sua morte tem sido <strong>de</strong>cretadadiariamente.Mas por que ela continua tãoviva?Pois há <strong>de</strong>ntro do homemuma se<strong>de</strong> <strong>de</strong> infinito que nenhummo<strong>de</strong>lo meramente mercantil po<strong>de</strong>saciar.Emanuel Me<strong>de</strong>iros Vieira éescritor e poeta.www.xavi.com.brIsto é <strong>de</strong> menos importância.4 – Aluga-se ou alugam-seapartamentos?O certo é alugam-se apartamentos.Neste caso concorda com o sujeitoapartamentos. É o mesmo queeu dissesse que apartamentos sãoalugados.Sonia Adal da Costa, professora<strong>de</strong> cursos preparatórios paraconcursos públicos e vestibular,formada pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo, é pós-graduada emTeatro Infanto-Juvenil pela Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo.portsonia@ig.com.br


Página 7 - Julho <strong>de</strong> 2008Livros e LançamentosDireito Fundamental à Moradia, <strong>de</strong> LoreciGottschalk Nolasco, Editora Pillares, 2<strong>80</strong> páginas, SãoPaulo. A autora é advogada, escritora, professora <strong>de</strong>Direito Constitucional na Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> MatoGrosso do Sul, coor<strong>de</strong>nadora do Curso <strong>de</strong> Direito eMestre em Direito pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília. A obraanalisa as restrições e os limites à aplicação do direito àmoradia, em face da Constituição vigente.ONDE COMPRAR:Editora Pillares: www.editorapillares.com.brVida Livros: http://www.vidalivros.com.br/loja/product_info.php?products_id=569&osCsid=d0b0c37a87b19b4298964c723407b200Livraria Saraiva: http://www.livrariasaraiva.com.br/pesquisaweb/pesquisaweb.dll/pesquisa?ID=BD12516D7D<strong>80</strong>6051036010864&FILTRON1=X&ESTRUTN1=0301&ORDEMN2=E&PALAVRASN1=direito+fundamental+%E0+moradia&image2.x=18&image2.y=14 -Livraria Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/catalogo/busca.asp?tipo_pesq=titulo&palavra=direito+fundamental+%E0+moradia&sid=8918811091065609975997732&k5=556A8EB&uid=&lastreg=&parceiro=13013350 Poemas Escolhidos pelo Autor, <strong>de</strong> AricyCurvello, Edições Galo Branco, 90 páginas, Rio <strong>de</strong> Janeiro.O autor, advogado, escritor e poeta, tem trabalhospublicados em importantes antologias nacionais e no exterior(Portugal, França e Espanha). A obra reúne poemasque foram escolhidos pelo autor dos livros Os DiasSelvagens te Ensinam, Vida Fu(n)dida, Mais que os Nomesdo Nada, O Acampamento e Menos que os Nomes<strong>de</strong> Tudo (ainda inédito). Edições Gallo Branco:www.edicoesgalobranco.com.br - Tel.: (21) 2283-1742.Ninguém Escreve, romance <strong>de</strong> Marcos SatoruKawanami, Editora Morais, 142 páginas, Nhan<strong>de</strong>ara (SP).O autor é escritor, poeta e professor <strong>de</strong> Português e Inglês.A obra, uma trilogia humanística, um romance panorâmicodo século XX, é dividida em três partes: românticae subjetiva, anti-romântica e caricatural (baseadaem um samba <strong>de</strong> Noel Rosa) e a terceira tem compromissohistórico e social. Marcos Satoru Kawanami: RuaDr. Edmilson Pessoa Cavalcanti, 1357 - Nhan<strong>de</strong>ara - SP- 15190-000. Tel.: (17) 3472-2989. E-mail:mskawanami@bol.com.brBEIJOS ENGOLIDOS, poemas <strong>de</strong> JurandirPinoti, SSUA Editora, 88 páginas, São Paulo. Oautor, advogado, poeta e escritor, foi laureado como poema O poste pela Secretaria da Cultura doEstado <strong>de</strong> São Paulo, em 1987. A obra reúne poemascontemporâneos, que exploram temas variadose <strong>de</strong>monstram que o autor tem domínio daarte <strong>de</strong> fazer versos. ONDE COMPRAR: LIVRA-RIA DA VILA: http://www.livrariadavila.com.br - SSUAEDITORA LTDA.: http://www.ssuaeditora.com.br/page01.asp - Tels.: (11) 3742-1934 e 9902-28<strong>80</strong>.Indicador ProfissionalGenésio Pereira FilhoAdvogadoAv. Briga<strong>de</strong>iro Luiz Antonio, 300 - Cjs. 62/64 -São Paulo - SP - 01318-903 Tel.: (11) 3107-7589O Planeta é dos JovensRaymundo Farias <strong>de</strong> OliveiraLi no jornal <strong>Linguagem</strong> <strong>Viva</strong>,editado por Rosani Abou Adal, minhaamiga e poeta, a notícia do falecimento<strong>de</strong> Joaquim <strong>de</strong> Montezuma<strong>de</strong> Carvalho, lá em Lisboa, no velhobairro <strong>de</strong> Alfama, on<strong>de</strong> vivia a escrevermonumentais ensaios, compulsivamente.Advogava, lia e escrevia...Assim ele viveu. Respirava cultura,erudição, sabedoria e inteligência– tudo sem arrogância ou pedantismo.Fiquei triste com a notícia. Nossaamiza<strong>de</strong> nasceu em 1983, quando,por sugestão <strong>de</strong> um amigo comum,Guido Fi<strong>de</strong>lis, enviei-lhe meulivro Poemas da Madrugada. A partirdaí, nasceu nossa intensa amiza<strong>de</strong>epistolar e o intercâmbio <strong>de</strong> nossostextos e sonhos. Remeti-lhe todosos livros que publiquei. Ele enviava-meseus ensaios torrenciais;muitos <strong>de</strong>les publicados no jornal diárioPrimeiro <strong>de</strong> Janeiro, da cida<strong>de</strong>do Porto, e na revista RepertórioLatino-americano (BuenosAires).Um belo dia, surpreen<strong>de</strong>u-mecom a cópia xerográfica <strong>de</strong> minhacrônica Noite Triste, on<strong>de</strong> falei <strong>de</strong>Gar<strong>de</strong>l e Lepera, vertida para o espanhole publicada em Buenos Aires,na revista Repertório Latino-americano,editada pelo poeta e embaixadorargentino aposentado, FranciscoR. Bello. Pronto. Estava abertaa porta da revista aos meus textos,que lá foram traduzidos e publicados,enquanto viveu o poeta FranciscoR. Bello e sua monumental revistatribuna <strong>de</strong> poetas, cronistas eensaístas <strong>de</strong> todos os países daAmérica Latina.De outra feita, pediu-me umacrônica sobre o centenário do livroSó, do poeta romântico portuguêsAntonio Nobre. Com o beneplácitodo prof. Antonio Queirós, que cuidavada edição especial da revista Ca<strong>de</strong>rnosdo Tâmega alusiva aoacontecimento, tive a honra e a emoção<strong>de</strong> contemplar “O centenário <strong>de</strong>um livro triste”, <strong>de</strong> minha autoria, estampadaentre muitos outros trabalhos<strong>de</strong> autores portugueses e bra-Tel.: (11) 2693-0392LINGUAGEM VIVAsileiros (poesias e ensaios) na belarevista lusitana. Em outra oportunida<strong>de</strong>,pediu-me que enviasse um poemaà Dra. Nassalette Miranda, coor<strong>de</strong>nadorado Ca<strong>de</strong>rno Literário dojornal O Primeiro <strong>de</strong> Janeiro (Porto).Enviei e foi publicado. Por minhaconta, enviei outro, também publicadocom belíssima ilustração.Assim era e assim foi Joaquim<strong>de</strong> Montezuma <strong>de</strong> Carvalho para mim.Um mestre amigo e um incentivadorgeneroso. Quando passei por Lisboa,em 1987, não tive condições emocionais<strong>de</strong> encontrá-lo. Voltamos <strong>de</strong> Fátima(minha mulher Anna Maria e eu)muito abalados. A sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossofilho Paulo, falecido tragicamente,inundou nossos corações lá em Fátima,Nazaré, Óbidos e chegamos “machucados”ao Penta Hotel, em Lisboa.Liguei para Montezuma e expliquei taiscircunstâncias, e que, na manhã seguinte,seguiríamos para Madri.No ano passado recebi maisuma surpresa <strong>de</strong> Montezuma. Na obraDo Tempo e dos Homens – Vol. I -Da história literária à história da cultura(<strong>de</strong> sua autoria), sob o selo doInstituto Piaget, 501 páginas, honroumecom um ensaio (capítulo 14, págs.95 a 100) on<strong>de</strong> transcreve e faz apreciaçõescríticas sobre algumas <strong>de</strong>minhas crônicas constantes do livroSob o Céu <strong>de</strong> Jerusalém. Na cartaque me escreveu em 23/07/07, quasenuma espécie <strong>de</strong> murmúrio <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida,balbuciou: “... fui operado àvesícula. Agora ando a tratar os intestinos,com problemas <strong>de</strong>obstipação doentia. É assim a ida<strong>de</strong>.O planeta é dos jovens...”Meu amigo literário partiu em 6<strong>de</strong> março passado e <strong>de</strong>ixa-nos a todosos seus leitores espalhados pelomundo da língua portuguesa e espanholaum vazio incomensurável, profundoe dolorido. Ele nunca ausentou-se<strong>de</strong> sua juventu<strong>de</strong> e não se ren<strong>de</strong>ujamais à solidão da velhice ociosa.Resta-nos agora a leitura <strong>de</strong> suaobra majestosa, num comovente silêncio<strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.Raymundo Farias <strong>de</strong> Oliveira é escritore Procurador do Estado aposentado.Anuncie no <strong>Linguagem</strong> vivawww.linguagemviva.com.brlinguagemviva@linguagemviva.com.br


Página 8 - Julho <strong>de</strong> 2008ThalitaRebouçasassinou contratocom aEditorialPresença, <strong>de</strong>Portugal, paralançar acoleção Falasério, Mãe!, Thalita Rebouçasem 2009. Ostítulos da coleção, publicados noBrasil pela Editora Rocco, ven<strong>de</strong>rammais <strong>de</strong> 44 mil exemplares. Na BienalInternacional do Livro, Thalita lançaráFala sério, amiga!.<strong>Caio</strong> Porfírio <strong>Carneiro</strong>,escritor, crítico literário e secretárioadministrativo da União Brasileira <strong>de</strong>Escritores, completou, no dia 1 <strong>de</strong>julho, <strong>80</strong> anos. Amigos do autor <strong>de</strong>Trapiá e membros da diretoriaorganizaram uma festa surpresa nase<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong>, no dia 25 <strong>de</strong>junho. <strong>Caio</strong> foi agraciado com umaplaca <strong>de</strong> prata, oferecida pela UBE,em homenagem aos serviçosprestados à entida<strong>de</strong> e à cultura.Também recebeu dos amigos umopúsculo sobre sua vida e obra.O Projeto <strong>de</strong> Lei dosenador Flávio Arns (PT-PR) foiaprovado pela Comissão <strong>de</strong> Ciência,Tecnologia, Inovação, Comunicaçãoe Informática do Senado, que<strong>de</strong>termina ao Po<strong>de</strong>r Públicodisponibilizar através da internet umportal com arquivos digitais <strong>de</strong> livrosdidáticos, científicos, técnicos eliterários em braile. O projeto, quealterou a Lei 10.098/00 (Lei <strong>de</strong>Acessibilida<strong>de</strong>), prevê a liberação <strong>de</strong>obras <strong>de</strong> domínio público e das queforem autorizadas pelos <strong>de</strong>tentoresdos direitos autorais. Os usuáriosterão direito <strong>de</strong> imprimir uma cópiaem braile ou baixar arquivos queconvertem a mesma em áudio.A Fundação Cultural CarlosDrummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> realiza oevento Portais <strong>de</strong> Minas – Exposição<strong>de</strong> Arte Aldravista, da artista plásticaDéia Leal, até o dia 30 <strong>de</strong> julho, emMariana - MG.A Casa <strong>de</strong> Cultura Pra Saberpromove cursos e saraus poéticos.Informações pelo telefone (11)3062-9970 ou através do sitewww.prasaber.com . A Casa <strong>de</strong> CulturaPra Saber fica na Rua Artur <strong>de</strong>Azevedo, 726, em São Paulo.O Instituto Butantan, órgãoda Secretaria <strong>de</strong> Estado da Saú<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo, realiza quinzenalmente,aos sábados, das 10 às 16 horas,o Espaço <strong>de</strong> Leitura, que temcomo objetivo exercitar a leitura econhecer autores e obras. O eventoacontece na Alameda, junto ao Museu<strong>de</strong> Rua, na Avenida Vital Brasil,1500, no Butantã, em São Paulo.Carlos LuzNotíciasReprodução Integral <strong>de</strong>Obras Esgostadas é permitidapara uso exclusivo <strong>de</strong> estudantes,conforme o substitutivo ao Projeto<strong>de</strong> Lei 5046/05, do <strong>de</strong>putado AntonioCarlos Men<strong>de</strong>s Thame (PSDB-SP), que foi aprovado pela Comissão<strong>de</strong> Educação e Cultura, no dia18 <strong>de</strong> junho. O relator do projetofoi o <strong>de</strong>putado Rodrigo RochaLoures. A proposta alterou a Lei9.610/98, sobre direitos autorais,que apenas permite a reprodução<strong>de</strong> pequenos trechos, para uso privadodo copista.Margaret Atwood foi agraciadacom foi o Prêmio Príncipe dasAstúrias <strong>de</strong> Letras 2008. A escritoracana<strong>de</strong>nse concorreu a fase finalcom o espanhol Juan Goytisolo,o britânico Ian McEwan e o albanêsIsmail Kadaré.A Vida Imperial na Cida<strong>de</strong>Esmeralda, <strong>de</strong> RajivChandrasekaran, consi<strong>de</strong>rado umdos melhores livros <strong>de</strong> 2007 peloNew York Times e vencedor doPrémio Samuel Johnson para nãoficção,foi lançado pela Edições 70.Capitu Mandou Flores,obra organizada por Rinaldo <strong>de</strong>Fernan<strong>de</strong>s, com apresentação <strong>de</strong>Nelson <strong>de</strong> Oliveira, foi lançada pelaGeração Editorial.A Escola Estadual AstolfoDutra está organizando sua biblioteca.Os novos autores interessadosem doar livros <strong>de</strong>verão enviálosacompanhados <strong>de</strong> cópias <strong>de</strong>resenhas, matérias ou qualquermaterial disponível que possa subsidiaro trabalho <strong>de</strong> análise dos alunos.O material <strong>de</strong>verá ser enviadoà Rua Marlene, 123 - Bairro DicoLeite, Cataguases – MG - 36772-456. Informações através do telefone(32) 3421.3088 ou pelo e-mailee.astdutra@hotmail.com .A Biblioteca Municipal <strong>de</strong>Lyon (França) disponibilizará obrasdo seu acervo para pesquisas edownload no site do Google BookSearch. Estarão disponíveis obrasem latim, italiano, Inglês, alemão eespanhol.O Prêmio Jabuti, que teveum total <strong>de</strong> 2.141 inscritos nas 20categorias, divulgará os resultadosda primeira seleção no dia 28 <strong>de</strong>agosto. A segunda seleção serádivulgada no dia 23 <strong>de</strong> setembro eo resultado final acontecerá na cerimônia<strong>de</strong> premiação, no dia 31 <strong>de</strong>outubro, na Sala São Paulo.O Pocket Ouro, que reunirálivros <strong>de</strong> bolso <strong>de</strong> clássicos a bestsellers,será lançado pela Ediouro.As obras serão distribuídas em bancas,supercados e livrarias .A 18ª Convenção Nacional<strong>de</strong> Livrarias, promovida pela AssociaçãoNacional <strong>de</strong> Livrarias, acontecerá<strong>de</strong> 11 a 13 <strong>de</strong> agosto, noHotel Holiday Inn, Rua ProfessorMilton Rodrigues, 100, no ParqueAnhembi, em São Paulo. No eventoserá apresentado o Anuário <strong>de</strong> Livrarias2008, que abrigará informaçõessobre o segmento. Inscriçõese informações pelo telefone (11)3337-5419 ou através do e-mailadriana@anl.org.br .A Feira do Livro <strong>de</strong> Frankfurt,que acontecerá <strong>de</strong> 15 a 19 <strong>de</strong>outubro, contará com as presenças<strong>de</strong> Orhan Pamuk, laureado com oNobel <strong>de</strong> Literatura <strong>de</strong> 2006 e dopresi<strong>de</strong>nte turco, Abdullah Gul, naabertura do evento.O Guia do Programa Nacionaldo Livro Didático, que é <strong>de</strong>stinadoà alfabetização <strong>de</strong> jovens eadultos, está disponível no site doFundo Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimentoda Educação - www.fn<strong>de</strong>.gov.br -<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> julho a 11 <strong>de</strong> agosto.Raquel Naveira ministrou ocurso Oficina Poética: Uma FormaLivre <strong>de</strong> se Expressar e Escrever naEscola do Escritor.A Escola do Escritor promoverácursos durante a 20ª Bienal Internacionaldo Livro <strong>de</strong> São Paulo,que acontecerá <strong>de</strong> 14 a 24 <strong>de</strong> agosto<strong>de</strong> 2008, no Pavilhão doAnhembi. Informações através dotelefax: (11) 3034-2981 ou atravésdo site www.escoladoescritor.com.brAté o Próximo Sonho, romance<strong>de</strong> Euzébio, psicografado porÁlvaro Basile Portughesi, foi lançadopela Edições Clareon.O Canal do Livro, uma iniciativada empresa Retoque Assessoriae Comunicação que transformaobras literárias em ferramentaseducativas, foi escolhido pelo Ministérioda Cultura para integrar oBanco Mundial <strong>de</strong> RecursosMultimídia. Obras estarão disponíveisgratuitamente para downloadatravés do site ww.livroclip.com.BrA Filosofia no Ensino Médio,curso ministrado pelos professoresLídia Maria Rodrigo, RenêTrentin Silveira, Silvio Gallo eRoberto Gotto, acontecerá nosdias 2 e 9 <strong>de</strong> agosto, das 9 às 17horas,<strong>Linguagem</strong>no auditório José<strong>Viva</strong><strong>de</strong>Anchieta, na Edições Loyola, Rua1822 nº 347, em São Paulo. O preçodo curso é <strong>de</strong> R$ 120,00 e incluicertificado, material <strong>de</strong> apoio, cafée almoço. Informações através dosite www.loyola.com.br/cursos ou noE-mail cursos@loyola.com.br oupelo telefone (11) 2914-1922, ramal274.LINGUAGEM VIVAAlberico RodriguesAlberico Rodrigues lançaráBanquete <strong>de</strong> Contos e Poesias e a Evocaçãodo Zé Batalha - Teatro Rural Brasileiro,no dia 27 <strong>de</strong> julho, domingo, das16 às 21 horas, no Espaço CulturalAlberico Rodrigues, Praça BeneditoCalixto, 159, em São Paulo. Informaçõespelos telefones (11) 3064-3920 e 3064-9737. Site www.espacoalberico.com.brBeatriz Helena Ramos Amaralparticipou do Congresso Internacionalda Abralic - Associação Brasileira <strong>de</strong> LiteraturaComparada, que aconteceu <strong>de</strong>13 a 17 <strong>de</strong> julho, apresentando a comunicaçãointitulada Literatura e outrasartes na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: paradoxaisconvergências. Beatriz também autografouo livro Luas <strong>de</strong> Júpiter.Dicta&Contradicta, revista <strong>de</strong>cultura, criada pelo Instituto <strong>de</strong> Formaçãoe Educação, patrocinada pelo BancoFator e Instituto Bovespa, apresentaensaios aprofundados sobre temasligados especialmente às artes, à literaturae à filosofia. A revista, com periodicida<strong>de</strong>semestral, dispõe <strong>de</strong> artigosinéditos traduzidos das revistas TheNew Criterion e First Things.Malabia, revista editada pelo escritore professor uruguaio Fe<strong>de</strong>ricoNoga, apresenta, na edição <strong>de</strong> julho,texto <strong>de</strong> Nelson Hoffmann, intituladoUma outra face do poeta Aricy Curvello.Site: www.revistamalabia.com.ar/História da Imprensa no Brasil,livro organizado pelas historiadorasTania Regina <strong>de</strong> Luca e Ana LuizaMartins, que conta os 200 anos da história<strong>de</strong> imprensa no Brasil, foi lançadopela Editora Contexto.Costa Senna lançou o livro CaminhosDiversos sob os Signos do Cor<strong>de</strong>l,pela Global Editora, com apoio daAção Educativa.Filippo Muratori lançou Jovensviolentos – Quem são, o que pensam,como ajudá-los? pela Edições Paulinas,Coleção Caminhos da Psicologia.Sonetos, <strong>de</strong> Guilherme <strong>de</strong>Almeida, foi lançado em co-edição coma Imprensa Oficial do Estado <strong>de</strong> SãoPaulo, Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras eAca<strong>de</strong>mia Paulista <strong>de</strong> Letras.O Fantasticon 2008 - Simpósio<strong>de</strong> Literatura Fantástica está com aprogramação atualizada através do sitewww.universofantastico.com.br

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!