EAESP/FGV/NPP - NÚCLEO DE PESQUISAS E PUBLICAÇÕES 32/34de longo prazo, com uma certa auto<strong>no</strong>mia frente à empresa que os subsidia (como oc<strong>as</strong>o do ICI).O impulso recente <strong>da</strong>do ao marketing cultural favorece que a aveni<strong>da</strong> Paulista sejaidentifica<strong>da</strong> ao me<strong>no</strong>s como espaço de uma intensificação <strong>da</strong> relação entre empresa ecultura, como atesta uma recente matéria na grande imprensa:“O a<strong>no</strong> de 1994 deve ser lembrado como um marco na história do investimentoempresarial em cultura <strong>no</strong> Br<strong>as</strong>il. É nisso que acreditam produtores <strong>culturais</strong> e empresáriosouvidos pela Folha. Uma expressão concreta dessa crença, manifesta<strong>da</strong> ao longo doa<strong>no</strong>, foi o surgimento de diversos espaços <strong>culturais</strong> vinculados a empres<strong>as</strong> em São Paulo.Seus sobre<strong>no</strong>mes são: Citibank, Fiat, Real, Safra, Caixa Econômica Federal e BancoNacional. Qu<strong>as</strong>e todos apareceram neste a<strong>no</strong> e se situam na aveni<strong>da</strong> Paulista” ( 99 ).Mapea<strong>da</strong> pelo relatório, essa dimensão vem se tornando ca<strong>da</strong> vez mais visível <strong>no</strong>contexto urba<strong>no</strong>, o que coloca por sua vez a possibili<strong>da</strong>de de se pensar a aveni<strong>da</strong> sobum outro par de oposição: enquanto <strong>as</strong> <strong>ativi<strong>da</strong>des</strong> <strong>culturais</strong> ligad<strong>as</strong> à esfera eminentementepública ou sem fins lucrativos, como o M<strong>as</strong>p, C<strong>as</strong>a d<strong>as</strong> Ros<strong>as</strong> ou Galeria <strong>da</strong> Consolação,enfrentam, em diferentes níveis, inúmeros percalços materiais para a viabilização deseus projetos, há, por outro lado, um setor privatizado que, sob diferentes estratégi<strong>as</strong>,vem se tornando, ain<strong>da</strong> que potencialmente, um espaço de inúmer<strong>as</strong> <strong>ativi<strong>da</strong>des</strong> <strong>culturais</strong>.O campo do marketing cultural, entretanto, depende de leis que favoreçam ouimpulsionem o patrocínio de <strong>ativi<strong>da</strong>des</strong> artístic<strong>as</strong>, como <strong>no</strong> p<strong>as</strong>sado, a lei Sarney e a leiRouanet, ou a mais recente Lei Mendonça, que não foram abor<strong>da</strong>d<strong>as</strong> nesse relatório,m<strong>as</strong> que têm uma importância central. Para se ter uma idéia somente abor<strong>da</strong>ndo o espaço<strong>da</strong> Paulista, pode-se dizer que o ICI se beneficiou d<strong>as</strong> três acima citad<strong>as</strong>, <strong>as</strong>sim como oBanco Nacional em 1992, <strong>no</strong> c<strong>as</strong>o do patrocínio do “Som do Meio Dia” ( 100 ).Indo além, à medi<strong>da</strong> que se expandirem <strong>as</strong> <strong>ativi<strong>da</strong>des</strong> <strong>culturais</strong> patrocinad<strong>as</strong> porempres<strong>as</strong>, deverão se refinar os medidores <strong>da</strong> relação custo/benefício, ou seja, há atendência a se pensar a cultura enquanto um produto, que deve acarretar retor<strong>no</strong>sinstitucionais ou mesmo materiais para o financiador ( 101 ), o que, tendo como horizonte99 - D.PIZA. “Empres<strong>as</strong> descobrem cultura como negócio”. Folha de São Paulo. S.Paulo, 26/12/1994, p. 5-1.100 - Dados <strong>da</strong> entrevista com Y. SARKOVAS, op. cit.; ver também “Os promeiros beneficiados pela lei Marcos Mendonça. Com pagamentoparcelado”. Jornal <strong>da</strong> Tarde, S.Paulo, 28/11/1991, s.p.101- Ver E.C. BONASSA. “Fiesp procura <strong>no</strong>va mentali<strong>da</strong>de cultural “Folha de São Paulo. S.Paulo, 14/02/1995, p. 5-3.RELATÓRIO DE PESQUISA Nº 6 /1995
EAESP/FGV/NPP - NÚCLEO DE PESQUISAS E PUBLICAÇÕES 33/34o espaço <strong>da</strong> Paulista, pode significar uma maior importância do ponto de vista culturala depender, obviamente, <strong>da</strong> disposição d<strong>as</strong> empres<strong>as</strong> e de uma certa “profissionalização”dos produtores <strong>culturais</strong> ( 102 ).Os distintos quadros organizacionais ligados à cultura e levantados aqui relacionamsediretamente com o tipo de instituição enfoca<strong>da</strong>, podendo dessa forma ser separa<strong>da</strong>pelo me<strong>no</strong>s em três grupos:1 - No primeiro deles está o M<strong>as</strong>p, com um alto grau de complexi<strong>da</strong>de e cujo estudodetalhado mereceria, como foi dito, um trabalho à parte; a C<strong>as</strong>a d<strong>as</strong> Ros<strong>as</strong>, queforneceria um contraponto m<strong>as</strong> que, infelizmente, não pode ser devi<strong>da</strong>mentepesquisa<strong>da</strong>, por motivos alheios à minha vontade; um outro desdobramento possívelseria entender como, <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> Secretaria Municipal de Cultura, projetos como“O Som do Meio Dia” ou a Galeria Consolação são ou foram implementados, osproblem<strong>as</strong> com mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> de gestão, etc.2 - As federações possuem estrutur<strong>as</strong> em muito semelhantes em função de trajetóri<strong>as</strong>históric<strong>as</strong> que a aproximam, com razoável na tradição em promoções <strong>culturais</strong>, embora,em se tratando de aveni<strong>da</strong> Paulista, o SESI venha realizando <strong>ativi<strong>da</strong>des</strong> há décad<strong>as</strong>,enquanto que, <strong>no</strong> c<strong>as</strong>o SESC, há um projeto relativamente recente, que ain<strong>da</strong> precis<strong>as</strong>e legitimar frente à administração para sua continui<strong>da</strong>de;3 - Quanto aos bancos, há form<strong>as</strong> muito distint<strong>as</strong> de promoção cultural, sendo que orelatório levantou mais detalha<strong>da</strong>mente pelo me<strong>no</strong>s três c<strong>as</strong>os: o ICI, com uma enti<strong>da</strong>dedota<strong>da</strong> de uma certa auto<strong>no</strong>mia, uma política cultural de longo prazo e a produçãodos próprios projetos <strong>culturais</strong>, sem financiar terceiros; o Citibank, que, ao me<strong>no</strong>snuma etapa inicial, articulou seu espaço cultural através de uma empresa especializa<strong>da</strong>em marketing cultural; o Real, que, dentro de sua própria estrutura, vem promovendoeventos com uma certa regulari<strong>da</strong>de; nesse c<strong>as</strong>o, ain<strong>da</strong> é precipitado propor umatipologia, pois os quadros organizacionais variam em amplitude, auto<strong>no</strong>mia eregulari<strong>da</strong>de, além de ser necessário um prazo maior para se avaliar os resultados<strong>culturais</strong> advindos do crescimento do marketing institucional.102- Ver José Carlos G. DURAND. “A delica<strong>da</strong> fronteira entre empresa e cultura”in M. MENDONÇA ( coord.) . Uma saí<strong>da</strong> para a arte, op. cit.,p. 31-39.RELATÓRIO DE PESQUISA Nº 6 /1995