CÂMARA DE TORTURA NO QUARTEL DA PM - Nosso Tempo Digital
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Resoluções do l 1 Congresso Nacional<br />
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra<br />
---1<br />
o absurdo a que chegou a imprensa<br />
Inacreditável<br />
1uàflt0 ao critério de seleção de acontecimentosou<br />
bertura, como também quanto ao<br />
ituações dignas de co<br />
'spaço dedicado a cada tema O absurdo maior est'½<br />
nvariavelmenite ligado ao descaso em relação ao<br />
-novimentos populares Por exemplo, a ÇonfederaÇ0<br />
os Professor do Brasil reuniu uns 4 mil profissiona'<br />
o ensino em Vitória, no mês de ;aneirO num congresso<br />
que durou quase uma semana A imprensa quase que<br />
o fato Em Curitiba, o Movimento dos<br />
desconhece u<br />
Trabalhadores Rurais Sem Terra reuniu umas 1 500<br />
pessoas em seu primeiro congresso na( onal, que durou<br />
quase não tomou conhecimefl<br />
três dias, mas a imprensa<br />
0,enquaflt0 questiúncula s de Curitiba enchiam páginas<br />
e páginas nos jornais do<br />
Paraná e até de outros estados.<br />
"<strong>Nosso</strong> <strong>Tempo</strong>", por sua parte. fei o que pôde e<br />
publicou matéria sobre os dois fatos \as faltou publicar<br />
algo muito importante - o documento final do<br />
Congresso dos Sem Terra Por isso, á que aquele<br />
documento não perdeu - e não vai perder tão<br />
facilmente - sua atualidade e<br />
importância anui está ele,<br />
seguido de um histórico da luta dos sem terra<br />
Os 1.500 delegados, represen<br />
tando todos os estados do Brasil,<br />
reunidos em Curitiba-PA, nos dias<br />
29, 30 e 31 de janeiro de 1985, no<br />
1 Congresso Nacional dos Trabalhadores<br />
Rurais Sem Terra,<br />
EXIGEM:<br />
EM RELAÇÃO À DISTRIBU/ÇÃO<br />
E USO <strong>DA</strong>S TERRAS<br />
Que a terra seja para quem<br />
nela trabalha.<br />
Que a Reforma Agrária seja<br />
feita sob controle dos trabalhadores.<br />
Que os trabalhadores rurais<br />
tenham o poder de decidir como<br />
se vai dividir as terras, como se<br />
vai cultivar e também sobre a<br />
forma de ttulação.<br />
Que o governo legalize todas<br />
as terras que forem ocupadas.<br />
Que o tamanho máximo das<br />
propriedades seja fixado de<br />
acordo com as regiões, não<br />
devendo ultrapassar a 500 hectares.<br />
Que o governo desaproprie<br />
todas as propriedades acTma de<br />
500 ha.<br />
Que na distribuição das terras<br />
se respeitem as necessidades de<br />
cada família, de acordo com cada<br />
região.<br />
Que o Estado garanta todas<br />
as condições de produção e de<br />
assistência nas terras distribuídas,<br />
Que o governo estimule a<br />
produção para o atendimento das<br />
necessidades de todo o povo.<br />
Que o governo garanta que a<br />
produção respeite a preservação<br />
do meio ambiente.<br />
Que o governo aplique, no<br />
mínimo, 5% do orçamento da<br />
União para a reforma agrária.<br />
Que o governo distribua<br />
imediatamente todas as terras nas<br />
mãos dos governos Federal e<br />
Estadual.<br />
Que os assentamentos sejam<br />
nos Estados e regiões de origem<br />
dos trabalhadores.<br />
Que os governos estaduais<br />
possam realizar desapropriação<br />
para a Reforma Agrária.<br />
SOBRE AS MUL TINA CIONAIS<br />
Ex propriação de todas 'as<br />
terras das multinacionais e<br />
proibição de estrangeiros terem<br />
terra daqui para a frente no<br />
Brasil.<br />
COL ONIZAçà O<br />
Fim de toda e qualquer<br />
colonização dr seja pelo<br />
governo, empresa privada Ou<br />
cooperativas.<br />
Assistência adequada, em<br />
todos os níveis, nos projetos de<br />
colonização já existentes.<br />
SOBRE OS ORGÃOS<br />
GOVERNAMENTAIS<br />
O que queremos em relação<br />
ao Ministério Extraordinário para<br />
Assuntos Fundiários (MEAF),<br />
INCRA, e aos Institutos de Terra<br />
de cada Estado (GETAT, SU<strong>DA</strong>M.<br />
CO<strong>DE</strong>VASF, JICAI:<br />
Extinção do MEAF, GETAT,<br />
SU<strong>DA</strong>M, CO<strong>DE</strong>VASF e SU<strong>DE</strong>NE<br />
e os Institutos de Terra dos<br />
Estados.<br />
Criação de novos organismos<br />
com a participação dos trabalhadores,<br />
tendo autonomia em<br />
relação ao Governo Federal.<br />
Criação de um fórum de<br />
Justiça Agrária dentro do poder<br />
Judiciário, com a participação<br />
dos trabalhadores.<br />
ESTA TU TO <strong>DA</strong> TERRA<br />
O Estatuto da Terra não<br />
presta. Exigimos que seja extinto.<br />
Exigimos que sejam criadas<br />
novas leis, com a participação dos<br />
trabalhadores, a partir da prática e<br />
da luta dos mesmos.<br />
EM RELAÇÃO À VIOLENCIA<br />
<strong>NO</strong> CAMPO<br />
Que o Governo implante a<br />
Reforma Agrária com a participação<br />
dos trabalhadores como<br />
única forma de acabar com a<br />
violência no meio rural.<br />
Exigimos segurança para a<br />
nossa luta de organização do<br />
Movimento Sem Terra.<br />
Exigimos que o Governo<br />
Federal assuma a apuração de<br />
todos os assassinatos e punição<br />
dos mandantes e executores dos<br />
crimes.<br />
ExymO ue acabe a vioIn<br />
cia nas ocupacões de terra.<br />
Corfisco dos bens dos<br />
mandantes dos crimes em favoi<br />
das uh imas e dos trabalhadores.<br />
Que se resolvam os prcble<br />
mas da terra sem o uso da policia<br />
Que 3 governo respeite os<br />
direitos do trabalhador rural.<br />
Que o governo apoie a luta e<br />
os organismos dos trabalhadores<br />
Que a Justiça seja igual para<br />
todos.<br />
Que o Governo faça controle<br />
dos cartórios de registro de<br />
imóveis para evitar a falsificação<br />
de registros.<br />
Que a repressão policial sela<br />
utilizada contra a criminalidade e<br />
não contra os trabalhadores.<br />
Exigimos o desmantelamento<br />
de todos os organismos de<br />
repressão, inclusive os paramilitares.<br />
Exigimos autonomia do Poder<br />
Judiciário e a criação de uma<br />
Justiça Agrária.<br />
Consderamos os Governos<br />
Estadual e Federal os responsáveis<br />
por todos os atos de violência<br />
e assassinatos de trabalhadores e<br />
exigimos que o governo acabe<br />
com as ameaças e pressões<br />
contra os trabalhadores.<br />
Curitiba, 31 de janeiro de 1995.<br />
O Movimento Sem Terra<br />
nasceu a partir das lutas<br />
concretas que os trabalhadores<br />
rurais sem terra foram desenvolvendo<br />
ce forma isolada nos<br />
estados da região sul. Tais lutas<br />
surgiram com o processo de<br />
abertura política, com e maior<br />
mobilização popular existente em<br />
todos os setores da sociedade<br />
brasileira e a grande concentração<br />
da terra.<br />
Em 1 979, houve as lutas das<br />
Fazendas Macali e Brilhante,<br />
relacionadas com a Reserva<br />
Irdigena de Nonoai, no Rio<br />
Grande do Sul. No Paraná, se<br />
desenvolvia uma intensa luta dos<br />
agricultores que perderam a terra<br />
com a construção da Barragem<br />
de Itaipu, mais tarde Movimento<br />
dos Agricultores Sem Terra do<br />
Oeste do Paraná -. MASTRO.<br />
Em 1980, em Santa Catarina, mais<br />
de 300 famílias ocuparam a<br />
Fazenda Burro Branco, no município<br />
de Campo Erè. Em São<br />
Paulo, cerca de 400 famílias<br />
ocuparam a Fazenda Primavera,<br />
em Andradina. E no Mato Grosso<br />
do Sul se desenvolvia uma<br />
intensa luta pela resistência na<br />
terra por parte de milhares de<br />
famílias que trabalhavam como<br />
arrendatários nas fazendas dos<br />
municípios de Navirai, Glória de<br />
Dourados e todo o sul do Estado.<br />
Posteriormente, em 1981,<br />
surgiu o acampamento de Encruzilhada<br />
Natalino, transformada<br />
mais tarde em Nova Ronda Alta,<br />
que catalizou as atenções de toda<br />
a opinião pública nacional.<br />
servindo de estimulante a todos<br />
os trabalhadores rurais sem terra<br />
tia região sul do pais.<br />
Dessas lutas, vitórias e<br />
conquistas, que apesar de isoladas<br />
representavam a exstêrcia<br />
de milhares de famílias sem terra<br />
etietam a disposcãc<br />
grarde de lutar e conquistar os<br />
om<br />
41<br />
\ '- u<br />
A Cruz de Ronda Afta ficou como símbolo da luta dos sem terra<br />
História de um movimento<br />
li<br />
tão novo quanto forte<br />
seus direitos, nasceu a necessidade<br />
dos trabalhadores se conhecerem,<br />
se encontrarem e discutirem<br />
suas experiências concretas.<br />
Passaram, assim, a organizar,<br />
dentro do Sindicalismo Rural, o<br />
Movimento dos Trabalhadores<br />
Rurais Sem Terra.<br />
A CPT e os sindicatos<br />
autênticos passaram a estimular<br />
o intercâmbio e o contato entre<br />
os trabalhadores rurais envolvidos<br />
nas lutas concretas. Foram<br />
realizadas diversas reuniões como<br />
experiências e aos poucos foram<br />
crescendo com a participação<br />
cada vez maior das pessoas 1de tal<br />
forma que em julho de 1982<br />
realizou-se, no município de<br />
Medianeira, no Paraná, o primeiro<br />
grande encontro de trabalhadores<br />
sem terra da região sul do pais -<br />
SP, MS, PR, SC, e RS.<br />
Em seguida, setembro de<br />
1982, aconteceu o primeiro<br />
encontro de caráter nacional,<br />
onde participaram cerca de 16<br />
estados do pais, na cidade de<br />
Goiânia, com o objetivo de trocar<br />
experiências.<br />
Esses dois primeiros encontros<br />
reuniram apenas trabalhadores<br />
envolvidos em lutas concre<br />
tas.<br />
A partir de janeiro de 1983 foi<br />
realizada uma ampla reunião em<br />
Chapecó, Santa Catarina, onde<br />
os trabalhadores decidiram formalizar<br />
mais essa nascente<br />
articulação, criando a Comissão<br />
Regional Provisória. Da Comiss'ão<br />
passaram a fazer parte dois<br />
avradores 'epresentantes dos<br />
movimentos de sem terra de cada<br />
estado e tendo por função a<br />
articulação das lutas e o estimulo<br />
a que mais lavradores se<br />
urganizassem na base pela<br />
conquista de seus direitos sagra<br />
dos da terra, garantidos pela<br />
Constituição brasileira.<br />
Durante todo o ano de 1983, a<br />
organização dos sem terra avançou<br />
e se expandiu de forma<br />
orgânica. Nas bases surgiram<br />
núcleos de sem terra e, a partir<br />
deles, Comissões Municipais.<br />
Realizaram-se assembléias municipais,<br />
concentrações, surgindo<br />
novas ocupações de terra. A nível<br />
de articulação e Comissão Regional<br />
passou a se reunir periodicamente<br />
a cada 3 meses.<br />
A medida que foram avançando<br />
os movimentos de base,<br />
foram surgindo novas formas de<br />
articulação a nível estadual.<br />
Alguns Estados fizeram encontros<br />
e congressos estaduais. Em<br />
janeiro passado, foi organizado o<br />
Encontro Nacional dos Sem Te,rraj<br />
que teve por missão continuar<br />
articulando os sem terra do sul do<br />
pais e aumentar a vinculaço com<br />
as lutas do norte.<br />
Agora, o Movimento Sem<br />
Terra está praticamente consolidado<br />
em todos os estados do sul<br />
e está se articulando com os<br />
demais estados que possuem<br />
características diferentes e aos<br />
POUCOS estão se integrando,<br />
romo é o caso dos estados do Rio<br />
de Janeiro, Bahia, Minas Gerais,<br />
Espírito Santo e Goiás.<br />
Em cada estado, o Movimento<br />
Sem Terra tem uma estrutura<br />
de organização própria, sem ser<br />
rigida, imposta de cima para<br />
baixo, mas surgida de acordo<br />
com as necessidades e características<br />
da luta desenvolvida.<br />
A estrutura básica, no entanto,<br />
do Movimento é possuir<br />
núcleos de agricultores a nível de<br />
comunidade rural (capela, linha,<br />
distrito, etc.). Depois, a nível<br />
municipal, uma comissão de<br />
representantes, eleitos em assembléia<br />
e depois. Comissões Regioais<br />
ou Estaduais. De cada<br />
Estado, por fim dois lavradores<br />
são escolhidos para participarem<br />
na Comissão Regional Sul, que é<br />
a articulação maior.<br />
1<br />
o.<br />
L1<br />
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5<br />
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