Andréa Alice da Cunha Faria - Programa de Pós-Graduação em ...
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ANDRÉA ALICE DA CUNHA FARIA<br />
O USO DO DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO EM PROCESSOS DE<br />
DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM ESTUDO DE CASO<br />
VIÇOSA<br />
MINAS GERAIS - BRASIL<br />
SETEMBRO - 2000<br />
Tese apresenta<strong>da</strong> à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, como parte <strong>da</strong>s<br />
exigências do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<br />
<strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> Extensão Rural, para<br />
obtenção do título <strong>de</strong> “Magister<br />
Scientiae”.
ANDRÉA ALICE DA CUNHA FARIA<br />
O USO DO DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO EM PROCESSOS DE<br />
DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM ESTUDO DE CASO<br />
APROVADA: 21 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999.<br />
Tese apresenta<strong>da</strong> à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, como parte <strong>da</strong>s<br />
exigências do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<br />
<strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> Extensão Rural, para<br />
obtenção do título <strong>de</strong> “Magister<br />
Scientiae”.<br />
Marcos Affonso Ortiz Gomes Sheila Maria Doula<br />
Rosana Rodrigues Heringer Antônio Luiz <strong>de</strong> Lima<br />
Geraldo Magela Braga<br />
(Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Banca)
À minha mãe, <strong>Alice</strong>, in m<strong>em</strong>oriam,<br />
<strong>de</strong> qu<strong>em</strong> her<strong>de</strong>i, <strong>de</strong>ntre tantas coisas, o nome e a voz.<br />
À Cidinha e a to<strong>da</strong>s as segun<strong>da</strong>s mães<br />
que encontrei pelo mundo afora,<br />
obriga<strong>da</strong> pelo amor e pelo apoio incondicional <strong>da</strong>s mães.<br />
ii
AGRADECIMENTO<br />
A Deus, pela força para fazer esta pesquisa.<br />
A um número s<strong>em</strong> fim <strong>de</strong> pessoas, pelas incontáveis e incansáveis<br />
trocas <strong>de</strong> reflexões nos diversos momentos <strong>de</strong> convívio profissional e pessoal.<br />
Ao meu pai, <strong>em</strong> especial, por ter me <strong>de</strong>spertado a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
observar o mundo, a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, as relações, as pessoas, a economia, a<br />
política, e por ser, certamente, a pessoa com qu<strong>em</strong> há mais t<strong>em</strong>po divido<br />
minhas reflexões. Valeram to<strong>da</strong>s as “brigas”, que estimularam e orientaram os<br />
princípios <strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s idéias que discuto neste trabalho.<br />
À Vi<strong>da</strong>, por ter me <strong>da</strong>do (por me <strong>da</strong>r), além <strong>da</strong> Agronomia, a<br />
oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar, agir, estar na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. S<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> grupo, é claro, e<br />
com tantas pessoas, que seria impossível listar aqui. Só por Minas Gerais... as<br />
pessoas <strong>da</strong> Violeira, do CTA (é claro!), do grupo <strong>de</strong> almoço, do curso, <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, os professores, alunos, funcionários, o pessoal do PT,<br />
do CPT, e por aí vai.<br />
Um <strong>de</strong>staque especial aos “velhos” amigos, <strong>da</strong>qui e <strong>de</strong> outras ban<strong>da</strong>s,<br />
pela troca <strong>de</strong> idéias, realização <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> nossos projetos e pelos bons<br />
“workshops”, <strong>de</strong> preferência à beira-mar, é claro!...<br />
Como diz o ditado: “só existe uma coisa melhor que fazer novos<br />
amigos: conservar os velhos”. A todos, o meu carinho e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que nos<br />
torn<strong>em</strong>os “velhos amigos”.<br />
iii
Ao Centro <strong>de</strong> Tecnologias Alternativas <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM),<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong> que me abriu os espaços pelas Minas Gerais, apoiando-me <strong>em</strong><br />
diversos momentos <strong>da</strong> presente pesquisa.<br />
A Irene Guijt, que me <strong>de</strong>u a luz do fio condutor e a certeza do<br />
referencial <strong>de</strong> análise. [Irene Maria Guijt é pesquisadora visitante do<br />
Departamento <strong>de</strong> Comunicação e Inovação (antigo Departamento <strong>de</strong> Extensão<br />
Rural) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e Centro <strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Wageninger, Holan<strong>da</strong> e<br />
consultora do UICN - União Internacional para Conservação <strong>da</strong> Natureza,<br />
Suíça].<br />
À Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Tombos, através <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Agricultura,<br />
na pessoa <strong>de</strong> Margari<strong>da</strong> Pinheiro, que me convidou para assessorar a prática<br />
que é analisa<strong>da</strong> nesta tese.<br />
A Paulo Rigueira e Brilhante, do Departamento <strong>de</strong> Economia Rural <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, que me aju<strong>da</strong>ram com os <strong>da</strong>dos quantitativos,<br />
antes e <strong>de</strong>pois do trabalho <strong>de</strong> campo.<br />
A Elisa Cotta, que me ajudou na coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> tese.<br />
A Franklin Daniel Rothman, meu professor e orientador, que me<br />
conduziu <strong>em</strong> momentos difíceis e contribuiu para que eu pu<strong>de</strong>sse ver/enten<strong>de</strong>r<br />
um pouco mais do que as Ciências (<strong>em</strong> particular, as Sociais) têm a dizer.<br />
À minha gran<strong>de</strong> amiga Adriana Araújo Passos, pelo fun<strong>da</strong>mental apoio<br />
na revisão <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
iv
BIOGRAFIA<br />
ANDRÉA ALICE DA CUNHA FARIA, nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>em</strong> 28<br />
<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1965. É engenheira-agrônoma, forma<strong>da</strong> pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Rural do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRRJ), <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 1986.<br />
O trabalho com organizações populares na busca <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, fun<strong>da</strong>mentado no fortalecimento <strong>da</strong> participação<br />
popular, no apoio à agricultura familiar como base produtiva e referenciado<br />
cientificamente nos princípios e nas técnicas <strong>da</strong> agroecologia, po<strong>de</strong> resumir o<br />
i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> sua atuação profissional.<br />
A fim <strong>de</strong> aprimorar seus conhecimentos e sua prática profissional, <strong>em</strong><br />
1996, ingressou no curso <strong>de</strong> mestrado <strong>em</strong> Extensão Rural <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV), tendo <strong>de</strong>fendido tese <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999.<br />
Nos seus 14 anos <strong>de</strong> forma<strong>da</strong>, trabalhou durante oito anos e meio <strong>em</strong><br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s vincula<strong>da</strong>s direta ou indiretamente à Re<strong>de</strong> PTA (Projetos <strong>de</strong><br />
Tecnologias Alternativas), quase s<strong>em</strong>pre no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. A esta<br />
trajetória, somou-se uma atuação mais local, a partir <strong>de</strong> interações com<br />
dinâmicas municipais e através do uso <strong>de</strong> metodologias participativas <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento, no sentido <strong>de</strong> fortalecer a participação popular nas<br />
<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> interesse público. Por isto, este foi o objeto <strong>de</strong> estudo <strong>da</strong> sua<br />
dissertação <strong>de</strong> mestrado e t<strong>em</strong> se constituído campo prioritário <strong>de</strong> sua atuação<br />
profissional.<br />
v
CONTEÚDO<br />
vi<br />
Página<br />
EXTRATO ............................................................................................. viii<br />
ABSTRACT ........................................................................................... x<br />
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 1<br />
1.1. O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>mocrático ............................................................... 1<br />
1.2. Especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do <strong>de</strong>safio na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira .................. 8<br />
1.3. O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa e sua importância .............................. 12<br />
1.4. Objetivos .................................................................................... 15<br />
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................ 16<br />
2.1. Origens e fun<strong>da</strong>mentos do Diagnóstico Rural Participativo<br />
(DRP) ......................................................................................<br />
2.2. A teoria do conhecimento e a filosofia <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> Paulo<br />
Freire .........................................................................................<br />
3. APLICAÇÃO DO DRP PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE<br />
DESENVOLVIMENTO RURAL NO MUNICÍPIO DE TOMBOS, MI-<br />
NAS GERAIS .....................................................................................<br />
3.1. Caracterização <strong>da</strong> área <strong>de</strong> estudo ............................................. 39<br />
16<br />
31<br />
39
vii<br />
Página<br />
3.2. Antece<strong>de</strong>ntes históricos ............................................................. 41<br />
3.3. Definição dos objetivos, abrangência e enfoque do diagnóstico<br />
.......................................................................................<br />
3.4. Levantamento <strong>da</strong>s informações ................................................. 47<br />
3.5. Sist<strong>em</strong>atização e análise <strong>da</strong>s informações ................................ 49<br />
3.6. Formulação <strong>da</strong>s propostas <strong>de</strong> ação ........................................... 53<br />
3.7. Desdobramentos ....................................................................... 55<br />
4. METODOLOGIA ............................................................................... 58<br />
4.1. Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e população ............................................... 58<br />
4.2. Amostrag<strong>em</strong> .............................................................................. 59<br />
4.3. Coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos ......................................................................... 61<br />
4.4. Sist<strong>em</strong>atização e análise dos <strong>da</strong>dos ......................................... 62<br />
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................... 63<br />
6. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................. 78<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 84<br />
APÊNDICES ......................................................................................... 89<br />
APÊNDICE A ........................................................................................ 90<br />
APÊNDICE B ........................................................................................ 92<br />
APÊNDICE C ........................................................................................ 95<br />
APÊNDICE D ........................................................................................ 98<br />
APENDICE E ........................................................................................ 101<br />
APÊNDICE F ........................................................................................ 105<br />
42
EXTRATO<br />
FARIA, <strong>Andréa</strong> <strong>Alice</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>, M.S., Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa,<br />
set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000. O uso do Diagnóstico Rural Participativo <strong>em</strong><br />
processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local: um estudo <strong>de</strong> caso. Orientador:<br />
Franklin Daniel Rothman. Conselheiros: Fábio <strong>Faria</strong> Men<strong>de</strong>s e Geraldo<br />
Magela Braga.<br />
A presente pesquisa <strong>de</strong>senvolve, a partir <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> uma prática,<br />
reflexões a respeito <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações <strong>de</strong> um método <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento com enfoque participativo – o DRP (Diagnóstico<br />
Rural Participativo). Em 1998, a Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Tombos, Minas Gerais,<br />
Brasil, através <strong>de</strong> sua Secretaria <strong>de</strong> Agricultura, utilizou-se do DRP para<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento, objetivando a<br />
elaboração <strong>de</strong> um Plano Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural (PMDR). Esta é<br />
a prática analisa<strong>da</strong>. A fim <strong>de</strong> qualificar este estudo <strong>de</strong> caso, nove meses após a<br />
<strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s propostas para o PMDR <strong>de</strong> Tombos, realizou-se uma pesquisa<br />
com 121 pessoas, que participaram do diagnóstico e planejamento, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> captar a percepção que tiveram a respeito do trabalho realizado. As<br />
pesquisas participativas utilizam-se <strong>de</strong> instrumentos que buscam, através <strong>da</strong><br />
reflexão coletiva, estimular uma toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> postura ativa do indivíduo diante <strong>de</strong><br />
sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> transformá-la. Concluiu-se que o DRP utiliza-se <strong>de</strong><br />
técnicas <strong>de</strong> levantamento e análise <strong>da</strong>s informações, que são excelentes<br />
viii
instrumentos estimuladores <strong>de</strong>sta reflexão coletiva. No entanto, este potencial<br />
encontra-se condicionado a vários fatores relacionados ao sujeito e à<br />
efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> estratégia utiliza<strong>da</strong>, que são pontuados e discutidos.<br />
Inicialmente, resgata-se e analisa-se o pensamento acumulado <strong>em</strong> torno <strong>da</strong><br />
idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a partir do local, o que evi<strong>de</strong>ncia o papel fun<strong>da</strong>mental<br />
que a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> postura individual t<strong>em</strong> na <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Em segui<strong>da</strong>, posiciona-se o DRP <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s concepções metodológicas <strong>de</strong><br />
pesquisa participativa. A fim <strong>de</strong> permitir a construção <strong>de</strong> um referencial <strong>de</strong><br />
análise para a prática estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, expõ<strong>em</strong>-se alguns el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> teoria do<br />
conhecimento e <strong>da</strong> filosofia <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> Paulo Freire, através <strong>de</strong> uma<br />
síntese <strong>de</strong> sua proposição metodológica. Discute-se, então, como se<br />
expressam e se concretizam estas proposições no método estu<strong>da</strong>do. A análise<br />
dos <strong>da</strong>dos aponta para uma gran<strong>de</strong> potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> do DRP enquanto<br />
instrumento estimulador do processo <strong>de</strong> reflexão-ação. Entretanto, revela<br />
condicionantes importantes para que a sua utilização venha a contribuir para<br />
uma toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> postura ativa do indivíduo diante <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
ix
ABSTRACT<br />
FARIA, <strong>Andréa</strong> <strong>Alice</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>, M.S., Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa,<br />
Sept<strong>em</strong>ber 2000. The use of Participative Rural Diagnosis in local<br />
<strong>de</strong>velopment processes: a case study. Adviser: Franklin Daniel Rothman.<br />
Committee M<strong>em</strong>bers: Fábio <strong>Faria</strong> Men<strong>de</strong>s and Geraldo Magela Braga.<br />
Based on the analysis of a case study, this research reflects on the<br />
possibilities and limitations of a participation – oriented method of diagnosis and<br />
planning – PRD – Participative Rural Diagnosis. In 1988, the City Hall of<br />
Tombos, Minas Gerais, Brazil, represented by its Secretary of Agriculture,<br />
applied the PRD to trigger a process of diagnosis and planning aiming to<br />
elaborate a Municipal Plan of Rural Development (MPRD), which is analyzed in<br />
this work. In or<strong>de</strong>r to qualify this case study, a research was carried out nine<br />
months after the <strong>de</strong>finition of the proposals for Tombos‟ MPRD involving 21<br />
people to analyze their perceptions on the work <strong>de</strong>veloped. Participative<br />
research tools aim to stimulate individual action toward reality so as to change<br />
it. PRD uses assessment techniques and information analyses consi<strong>de</strong>red by<br />
this research to be excellent tools that stimulate collective thinking. However,<br />
this potential is conditioned to various factors related to the individual and to the<br />
effectiveness of the strategy used, that are i<strong>de</strong>ntified and discussed. Initially,<br />
accumulated individual reflections on local <strong>de</strong>velopment are collected and<br />
analyzed, making evi<strong>de</strong>nt the fun<strong>da</strong>mental role played by individual action in the<br />
x
<strong>de</strong>mocratization of society. Then DRP is applied within the context of the<br />
methodological concepts of participative research. In or<strong>de</strong>r to allow the<br />
construction of a referential of analysis for the studied practice, some el<strong>em</strong>ents<br />
from Paulo Freire‟s theory of knowledge and philosophy of education are<br />
explored, by means of a synthesis of his methodological proposition followed by<br />
a discussion of how this proposition is expressed and ren<strong>de</strong>red concrete in the<br />
method studied. Data analysis points to a great PRD potential as a stimulating<br />
tool in the reflection – action process. However, it reveals the need of important<br />
conditioners which will allow it to contribute for an individual action towards<br />
reality.<br />
xi
1.1. O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>mocrático<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
A busca pela compreensão do mundo ao seu redor, pela interpretação<br />
<strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong>s relações sociais s<strong>em</strong>pre foi alvo <strong>de</strong> interesse do ser humano.<br />
A História registra os movimentos <strong>de</strong>sta procura universal, a Cultura expressa-<br />
a <strong>de</strong> várias formas e a Ciência tenta compreendê-la.<br />
Agora é fim <strong>de</strong> século, época <strong>em</strong> que se encontram favoreci<strong>da</strong>s as<br />
reflexões sobre passado e futuro. É também o momento <strong>de</strong> fortalecimento <strong>da</strong>s<br />
expectativas <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça.<br />
No que se refere à organização política e social, “o século XX chega ao<br />
fim com as mesmas eleva<strong>da</strong>s aspirações com que começou: esten<strong>de</strong>r os<br />
benefícios do governo <strong>de</strong>mocrático a um número ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong> homens e<br />
mulheres” (HUNTINGTON, 1994:3).<br />
Este já antigo <strong>de</strong>safio, ao interagir com <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s condições<br />
econômicas e culturais, mostrou-se <strong>de</strong> forma diferente ao longo do t<strong>em</strong>po.<br />
Apesar dos riscos <strong>de</strong> uma classificação rígi<strong>da</strong> para fenômenos históricos,<br />
HUNTINGTON (1994) i<strong>de</strong>ntifica três gran<strong>de</strong>s períodos <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> regimes<br />
políticos autoritários para regimes mais <strong>de</strong>mocráticos, que ele chama <strong>de</strong><br />
“on<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização”.<br />
A primeira <strong>de</strong>las teve suas origens nas revoluções americana e<br />
francesa e começou a concretizar-se com o gradual surgimento <strong>de</strong> instituições<br />
39
<strong>de</strong>mocráticas nacionais, já no início do século XIX. Os Estados Unidos, a<br />
Suíça, a França, a Grã-Bretanha, a Itália, a Argentina, a Irlan<strong>da</strong>, a Islândia, a<br />
Espanha e o Chile são alguns dos mais <strong>de</strong> 30 países que, no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> 100<br />
anos, estabeleceram pelo menos instituições <strong>de</strong>mocráticas mínimas.<br />
Já no início do século XX, nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 20 e 30, o direcionamento<br />
político dominante foi no sentido oposto, com o retorno ou a introdução <strong>de</strong><br />
formas autoritárias <strong>de</strong> governo. Este período, <strong>de</strong>nominado por HUNTINGTON<br />
(1994) como a primeira on<strong>da</strong> reversa, refletiu a ascensão ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> figuras<br />
históricas como Mussolini (na Itália) e Hitler (na Al<strong>em</strong>anha), além <strong>de</strong> ter sido<br />
palco <strong>de</strong> diversos golpes militares <strong>em</strong> países como Lituânia, Polônia, Letônia,<br />
Estônia, Portugal, Brasil, Argentina, Uruguai, Espanha e Japão.<br />
A segun<strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização começou após a Segun<strong>da</strong> Guerra<br />
Mundial. Países como a Al<strong>em</strong>anha Oci<strong>de</strong>ntal, Itália, Áustria, Japão, Coréia,<br />
Turquia, Grécia, Uruguai, Brasil, Costa Rica, Argentina, Colômbia, Peru e<br />
Venezuela vivenciaram períodos <strong>de</strong> criação ou revigoramento <strong>de</strong> suas<br />
instituições <strong>de</strong>mocráticas. Mas, já no início dos anos 60, esta segun<strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mocratização havia se exaurido. A América Latina foi palco <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />
mais dramáticas. Golpes militares <strong>de</strong>rrubaram os governos civis <strong>de</strong> países<br />
como o Peru, o Brasil, a Bolívia, a Argentina, o Equador, o Uruguai e o Chile.<br />
Retrocessos aconteceram também na Coréia, na Indonésia, na Índia e na<br />
Grécia. Além disso, na África, 33 países que haviam se tornado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
entre 1956 e 1970, organizaram-se <strong>em</strong> governos autoritários.<br />
A terceira on<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização começou a se manifestar ain<strong>da</strong> na<br />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, na Europa, especialmente na Grécia e na Espanha. No final dos<br />
anos 70, a América Latina começa a vivenciar novos processos <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça e<br />
os militares são afastados do po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> países como Equador, Peru, Bolívia,<br />
Argentina, Uruguai, Brasil e Chile. Na Ásia, a Índia retoma o caminho<br />
<strong>de</strong>mocrático, assim como as Filipinas, a Coréia e o Paquistão. No final <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, o regime comunista começa a se abalar com a vitória do<br />
Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> na Polônia e seus efeitos ating<strong>em</strong> países como a Al<strong>em</strong>anha<br />
Oriental, a Tchecoslováquia, a Romênia e a Bulgária. No entanto, no Oriente<br />
Médio e na África, o movimento para a <strong>de</strong>mocracia nos anos 80 foi limitado,<br />
sendo o processo <strong>de</strong> redução do apartheid, iniciado pelo governo <strong>da</strong> África do<br />
Sul, o movimento mais expressivo.<br />
40
Em termos filosóficos, a orig<strong>em</strong> do pensamento <strong>de</strong>mocrático r<strong>em</strong>onta à<br />
Grécia antiga, entre os séculos VIII e V a.C., quando <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>u-se a busca<br />
pela construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> justa e <strong>de</strong> um pensamento racional, livre <strong>de</strong><br />
preconceitos (ABRÃO, 1999).<br />
Para muitos dos filósofos que <strong>de</strong>dicaram suas vi<strong>da</strong>s a estu<strong>da</strong>r as<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e a imaginar formas <strong>de</strong> organização mais justas, a idéia <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>mocracia surge quase como um corolário natural. A princípio, acreditavam<br />
que interesses e objetivos comuns podiam ser mais b<strong>em</strong> equacionados,<br />
quando os próprios interessados são partícipes <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>finições e estão<br />
envolvidos <strong>em</strong> sua execução. Restava <strong>de</strong>scobrir como equacioná-los. Porém, a<br />
concretização <strong>de</strong>sta idéia quase “natural” mostrou-se não tão simples quanto a<br />
sua i<strong>de</strong>alização, conforme relatado no breve histórico do estudo <strong>de</strong><br />
HUNTINGTON (1994). As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram tantas que levaram Jean-Jacques<br />
Rousseau a afirmar, ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1762, que “se existisse um povo <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses,<br />
governar-se-ia <strong>de</strong>mocraticamente. Governo tão perfeito não convém aos<br />
homens” (ROUSSEAU, 1999:151). No entanto, o antigo <strong>de</strong>safio permanece<br />
atual e, enquanto tal, requer compreensão mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> suas<br />
peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s no contexto <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Ain<strong>da</strong> no século VII a.C., foi a constituição <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s (pólis) que<br />
contribuiu <strong>de</strong> forma significativa para a instituição <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia. Este<br />
processo tornou a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mais “aglutina<strong>da</strong>” e complexa. A praça pública,<br />
chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> “ágora”, constituiu-se num espaço concreto <strong>da</strong>s transações<br />
comerciais e <strong>da</strong>s discussões sobre a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (ABRÃO, 1999).<br />
Ao longo do t<strong>em</strong>po, as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram crescendo e se<br />
complexificando, e o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>mocrático foi <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser aquele do vilarejo<br />
ou <strong>da</strong> tribo, para ser o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia <strong>da</strong> nação-Estado. Neste<br />
âmbito, a escolha dos representantes políticos através <strong>de</strong> eleições populares e<br />
o direito universal ao voto são os principais indicadores <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia<br />
conceitua<strong>da</strong>, hoje, como representativa. Segundo esta concepção, os<br />
mecanismos e processos <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong>stas representações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> guar<strong>da</strong>r os<br />
princípios <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>mocrático. Uma vez escolhidos, os<br />
“representantes do povo” tornam-se os responsáveis pela <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s<br />
políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e pela administração dos recursos públicos.<br />
41
Na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a idéia <strong>de</strong> que a ação local é aquela capaz <strong>de</strong> contribuir<br />
para o avanço <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia mais participativa do que representativa<br />
encontra-se bastante difundi<strong>da</strong> no mundo, inclusive no Brasil, um país <strong>de</strong><br />
dimensões continentais.<br />
A idéia não é nova. Sua orig<strong>em</strong> encontra-se na primeira meta<strong>de</strong> do<br />
século XIX, quando Tocqueville <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a relação entre governo local,<br />
participação e <strong>de</strong>mocracia, como corolário fun<strong>da</strong>mental do aprofun<strong>da</strong>mento<br />
<strong>de</strong>mocrático (CASTRO, 1991).<br />
Discute-se e difun<strong>de</strong>-se, hoje, a idéia <strong>de</strong> que é através <strong>da</strong> atuação do<br />
indivíduo no local on<strong>de</strong> vive e trabalha que os espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong>mocratizados, sejam estes espaços públicos ou não. Propõe-se uma visão<br />
que coloque o ser humano e os interesses coletivos como ponto central,<br />
convergindo para a potencialização <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos indivíduos<br />
(DOWBOR, 1996).<br />
BUARQUE (1997:2) <strong>de</strong>fine o <strong>de</strong>senvolvimento local como<br />
um processo endógeno <strong>de</strong> mobilização <strong>da</strong>s energias sociais na impl<strong>em</strong>entação<br />
<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças que elevam as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> no<br />
plano local (comunitário, municipal ou sub-regional), com base nas<br />
potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e no envolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nos processos <strong>de</strong>cisórios.<br />
Segundo SILVA (1997), o fenômeno cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> ressignificação<br />
do local resgata utopias ao trazer a perspectiva <strong>de</strong> que os espaços locais<br />
possam oportunizar à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ré<strong>de</strong>as do seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, com base <strong>em</strong> práticas ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong>mocráticas e<br />
solidárias.<br />
Nas diversas <strong>de</strong>finições e nos recentes estudos sobre experiências <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento local, encontra-se s<strong>em</strong>pre a idéia <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um plano<br />
<strong>de</strong> ação estratégico, coletivo, fruto <strong>da</strong> articulação do conjunto dos diversos<br />
atores sociais (DOWBOR, 1996; DESER, 1997; MARSIGLIA, 1996; COELHO,<br />
1996; SABOURIN, 1996).<br />
A dicotomia rural-urbano também é revista. Conforme afirma VEIGA<br />
(1997:1), “o <strong>de</strong>senvolvimento rural é parte integrante <strong>de</strong> uma única dinâmica –<br />
sistêmica – <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”. CAMPANHOLA e SILVA (1999:3), analisando<br />
o processo atual <strong>de</strong> valorização do <strong>de</strong>senvolvimento local, constatam que “o<br />
corte urbano-rural t<strong>em</strong> cedido espaço para o enfoque na economia local”.<br />
Compreen<strong>de</strong>-se que “as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s têm que ser recoloca<strong>da</strong>s no espaço rural a<br />
42
que pertenc<strong>em</strong>” (DOWBOR, 1998:42). Por isso, fala-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
local e não <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural ou urbano, pois enten<strong>de</strong>-se que um<br />
el<strong>em</strong>ento essencial do <strong>de</strong>senvolvimento urbano será a reconstrução <strong>da</strong> relação<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>-campo.<br />
São vários os fatores que contribuíram e influenciaram o renascer <strong>da</strong><br />
idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a partir do local.<br />
As duas últimas déca<strong>da</strong>s do século XX compõ<strong>em</strong> um cenário <strong>de</strong><br />
significativas mu<strong>da</strong>nças nas concepções sobre <strong>de</strong>senvolvimento econômico.<br />
Em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 cresc<strong>em</strong> as preocupações relaciona<strong>da</strong>s à<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e aos probl<strong>em</strong>as ambientais cont<strong>em</strong>porâneos, como a<br />
poluição, a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> ozônio, a erosão dos solos e a<br />
dilapi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s florestas e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> genética. Em 1987, a Comissão<br />
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento publica Nosso futuro comum,<br />
o famoso Relatório Brundtland, lançando à Humani<strong>da</strong><strong>de</strong> um novo <strong>de</strong>safio: o<br />
“<strong>de</strong>senvolvimento sustentável”. A Conferência <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s sobre Meio<br />
Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, reafirmou a importância do <strong>de</strong>safio<br />
para os diferentes setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> (EHLERS, 1996).<br />
O questionamento sobre os efeitos perversos do atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento econômico encontra reforço na crítica aos índices<br />
tradicionalmente utilizados para medir o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
cont<strong>em</strong>porâneas.<br />
Durante muito t<strong>em</strong>po, aceitou-se a idéia <strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
crescimento econômico eram sinônimos. Indicadores quantitativos, utilizados<br />
para medir o crescimento econômico, como o PIB (Produto Interno Bruto), o<br />
PNB (Produto Nacional Bruto) ou a Ren<strong>da</strong> Nacional, eram tomados<br />
diretamente como indicadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Em 1990, o <strong>Programa</strong> <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento<br />
(PNUD), com o objetivo <strong>de</strong> medir a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e o progresso humano,<br />
cria um novo indicador, o IDH 6 (Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano). A partir<br />
<strong>de</strong> então, sua divulgação anual t<strong>em</strong> gerado impacto sobre a opinião pública e<br />
as instituições acadêmicas, tanto que hoje a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional adota o<br />
6 O IDH utiliza-se <strong>de</strong> quatro indicadores: esperança <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> ao nascer; taxa <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong><br />
adultos; taxa combina<strong>da</strong> <strong>de</strong> matrícula nos ensinos fun<strong>da</strong>mental, médio e superior; e ren<strong>da</strong> per<br />
capita (PNUD, 1996:11).<br />
43
IDH como indicador para medir o progresso dos países <strong>em</strong> matéria <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O<br />
DESENVOLVIMENTO - PNUD, 1996).<br />
Outros fatos importantes para a valorização do <strong>de</strong>senvolvimento a<br />
partir do local foram a crise do Estado <strong>de</strong> B<strong>em</strong>-Estar Social ou Welfare States e<br />
as idéias <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do Estado. Conforme analisa CASTRO (1991),<br />
durante os anos 70, o aguçamento <strong>da</strong> crise fiscal e do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, aliado ao<br />
surgimento <strong>de</strong> novos focos <strong>de</strong> pobreza, explicita uma série <strong>de</strong> críticas ao<br />
welfare states. Essas críticas converg<strong>em</strong> pelo menos <strong>em</strong> relação a um aspecto:<br />
a busca <strong>de</strong> alternativas para a organização <strong>da</strong>s estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e para o<br />
modo <strong>de</strong> funcionamento do aparato público como forma <strong>de</strong> se opor ao<br />
estatismo exacerbado e à progressiva burocratização <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong><br />
sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> cotidianas.<br />
É nesse quadro que o <strong>de</strong>bate sobre a reestruturação do welfare state acaba<br />
situando a t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do Estado; <strong>da</strong> re<strong>de</strong>finição dos níveis<br />
<strong>de</strong> intervenção governamental; <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> prover políticas públicas,<br />
particularmente na área social (CASTRO, 1991:81).<br />
A vertente (neo)liberal que criticava a ingerência do Estado na<br />
economia ganha força com este <strong>de</strong>bate e passa a difundir suas idéias, segundo<br />
as quais<br />
<strong>de</strong>scentralizar significa transferir responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas para o setor<br />
privado, segundo a lógica <strong>da</strong> “eficiência” e do “lucro”, visando restaurar as<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais através <strong>da</strong> recomposição moral <strong>de</strong> regras <strong>de</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> obrigação para com o trabalho, <strong>de</strong>ntro do i<strong>de</strong>ário liberal <strong>de</strong><br />
igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (CASTRO, 1991:82).<br />
Entretanto, para as diferentes correntes do pensamento crítico, este<br />
<strong>de</strong>bate t<strong>em</strong> como principal objetivo a <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> administração pública.<br />
As propostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização <strong>da</strong>s políticas sociais, no campo progressista,<br />
prevê<strong>em</strong> a transferência <strong>de</strong> competências e funções para as esferas regionais<br />
e locais implicando maior divisão do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório (CASTRO, 1991:82).<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contexto que o local passa a ser valorizado e são as<br />
influências anteriormente pontua<strong>da</strong>s que justificam que concepções<br />
humanísticas, holísticas e <strong>de</strong>mocráticas estejam fort<strong>em</strong>ente vincula<strong>da</strong>s ao<br />
conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />
Em relação à administração dos espaços públicos, verificou-se que o<br />
reforço <strong>da</strong> gestão política local representa<br />
uma importante evolução <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia representativa, on<strong>de</strong> se é ci<strong>da</strong>dão<br />
uma vez a ca<strong>da</strong> quatro anos, para uma <strong>de</strong>mocracia participativa, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
44
parte <strong>da</strong>s opções concretas relaciona<strong>da</strong>s com as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e a<br />
organização do nosso cotidiano passam a ser geri<strong>da</strong>s pelos próprios ci<strong>da</strong>dãos<br />
(DOWBOR, 1998:42)<br />
Vale ressaltar, portanto, que se as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />
político-administrativa são el<strong>em</strong>entos importantes no processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização do Estado, não são absolutamente suficientes para que<br />
signifiqu<strong>em</strong> <strong>de</strong>mocratização do Estado. Esta pressupõe a participação ativa <strong>da</strong><br />
população nas <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong> coisa pública e muitos são os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> um<br />
processo genuinamente participativo.<br />
A <strong>de</strong>scentralização é uma forma <strong>de</strong> superação <strong>da</strong> ineficiência do<br />
gigantismo burocrático, é uma <strong>da</strong>s soluções político-institucionais. Outra<br />
solução é a participação e incorporação <strong>de</strong> atores na arena <strong>de</strong>cisória, para<br />
assegurar maior “transparência” e <strong>de</strong>mocratização no processo <strong>de</strong> formulação<br />
e execução <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> governo (CASTRO, 1991).<br />
Conforme afirma ANDRADE (1996:19), “o sentido <strong>de</strong>mocratizante <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização certamente está relacionado à existência <strong>da</strong> participação <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nas <strong>de</strong>cisões governamentais”.<br />
Não se po<strong>de</strong> ignorar aqui a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do termo “participação”. Em<br />
absoluto ele é um conceito fixo, único, auto-explicativo. Tanto é que existe uma<br />
vasta literatura a respeito do conceito <strong>em</strong> si e dos níveis <strong>de</strong> participação.<br />
Muitas buscam, através <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> tipologias 7 , revelar a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
termo. No entanto, na sua maioria, são <strong>de</strong> caráter classificatório, <strong>em</strong> que os<br />
níveis são or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> forma crescente segundo o grau <strong>de</strong> influência<br />
atribuído à população.<br />
Para os objetivos <strong>da</strong> discussão que se seguirá, interessa, no entanto,<br />
mais do que <strong>de</strong>senvolver uma classificação, discutir os condicionantes <strong>de</strong> um<br />
processo que possa promover, no indivíduo, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar.<br />
Algumas correntes <strong>de</strong> pensamento suger<strong>em</strong> que este seja o caminho<br />
<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> do processo <strong>de</strong>mocrático. Segundo SILVA (1997:22),<br />
É o processo pe<strong>da</strong>gógico (<strong>de</strong> aprendizado do processo <strong>de</strong>mocrático) que<br />
possibilita a superação dos entraves <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia representativa,<br />
principalmente o limite <strong>da</strong> apatia/alienação política dos ci<strong>da</strong>dãos no contexto <strong>de</strong><br />
excessiva distância entre governo e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
7 GUIJT (1999) faz uma análise crítica sobre a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> e as limitações <strong>de</strong>stas tipologias.<br />
45
Pesquisa realiza<strong>da</strong> por PUTNAM (1996) v<strong>em</strong> reforçar a idéia <strong>de</strong> que a<br />
postura do indivíduo diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> uma<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática. Entre os anos 70 e 90, o pesquisador e seus<br />
colaboradores <strong>de</strong>senvolveram uma longa pesquisa sobre a <strong>de</strong>mocracia italiana,<br />
através <strong>de</strong> um estudo comparativo entre o norte e o sul <strong>da</strong>quele país. A<br />
pesquisa indica que “o principal fator que explica o bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong> um<br />
governo é certamente até que ponto a vi<strong>da</strong> social e política <strong>de</strong> uma região se<br />
aproxima do i<strong>de</strong>al <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cívica” (PUTNAM, 1996:132). Como<br />
características <strong>de</strong>sta “comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cívica”, o autor aponta a cooperação, a<br />
confiança, a reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o civismo e a noção <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-estar coletivo, valores<br />
individuais e coletivos.<br />
A pesquisa constata, ain<strong>da</strong>, que “o contexto social e a história<br />
condicionam profun<strong>da</strong>mente o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>da</strong>s instituições” (PUTNAM,<br />
1996:191). Porém, conclui que “a consciência que ca<strong>da</strong> um t<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu papel e<br />
<strong>de</strong> seus <strong>de</strong>veres como ci<strong>da</strong>dão, alia<strong>da</strong> ao compromisso com a igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
política, constitui o cimento cultural <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cívica” (PUTNAM,<br />
1996:192).<br />
Esta constatação realça a importância <strong>da</strong>s posturas pessoais no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, reforçando a idéia <strong>de</strong> que<br />
processos que estimulam a “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência” do papel do indivíduo na<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> possam contribuir para a <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
1.2. Especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s do <strong>de</strong>safio na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira<br />
O atual processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização vivido pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira<br />
inicia-se com a “abertura política” <strong>em</strong> 1979, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um longo período <strong>de</strong><br />
vigência do regime militar.<br />
WEFFORT (1992:11) situa o Brasil, ao lado <strong>de</strong> outros países <strong>da</strong><br />
América Latina, como Argentina, Guat<strong>em</strong>ala e Peru, como uma “nova<br />
<strong>de</strong>mocracia”, on<strong>de</strong> a transição <strong>de</strong> um regime autoritário “levou a uma mistura<br />
<strong>da</strong>s instituições <strong>de</strong>mocráticas com importantes heranças <strong>de</strong> um passado<br />
autoritário recente”.<br />
46
No período <strong>da</strong> ditadura, a tendência generaliza<strong>da</strong> 8 , <strong>em</strong> relação à<br />
formulação dos instrumentos <strong>de</strong> política econômica, foi no sentido <strong>de</strong> reforçar o<br />
processo <strong>de</strong> centralização do Estado. Essa opção <strong>de</strong>correu <strong>de</strong> vários fatores<br />
ligados à lógica política <strong>da</strong> Revolução <strong>de</strong> 1964: a falta <strong>de</strong> tradição <strong>da</strong><br />
burocracia estatal <strong>em</strong> elaborar e conduzir políticas macroeconômicas; a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tirar a economia do País <strong>da</strong> estagnação no prazo mais curto<br />
possível; a escassez <strong>de</strong> recursos humanos experientes no trato <strong>da</strong>quelas<br />
políticas; e finalmente a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> os conflitos entre os objetivos e as<br />
metas <strong>da</strong>s diferentes políticas propostas ser<strong>em</strong> resolvidos na disputa aberta<br />
entre grupos sociais ou regiões, sob pena <strong>de</strong> ser ameaça<strong>da</strong> a consoli<strong>da</strong>ção do<br />
novo regime político. Estas condições exigiram a formação <strong>de</strong> quadros técnicos<br />
com po<strong>de</strong>r para <strong>de</strong>finir as condições <strong>da</strong> “estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>” do sist<strong>em</strong>a econômico a<br />
longo prazo (HADDAD, 1980). Os planejamentos eram e, <strong>em</strong> parte ain<strong>da</strong> são,<br />
centralizados através <strong>da</strong> formulação <strong>de</strong> políticas nacionais, a ex<strong>em</strong>plo dos<br />
gran<strong>de</strong>s projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (PINTO, 1981a).<br />
Ain<strong>da</strong> na primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 surg<strong>em</strong> algumas iniciativas<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização no âmbito <strong>da</strong>s administrações municipais. O livro<br />
organizado por HERMMAN NETO (1984) e editado pela Câmara <strong>de</strong> Deputados<br />
relata experiências <strong>de</strong> 22 municípios, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacam-se três experiências<br />
históricas <strong>de</strong> Piracicaba-SP, Boa Esperança-ES e Lages-SC, esta última<br />
também sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> por ALVES (1982). Ain<strong>da</strong> sob vigência <strong>da</strong> Constituição<br />
<strong>de</strong> 1969, que centralizou recursos tributários e concentrou po<strong>de</strong>r na esfera<br />
fe<strong>de</strong>ral (RICHA, 1984), mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong> luta <strong>de</strong>mocrática e<br />
<strong>em</strong>bala<strong>da</strong>s pela convicção <strong>de</strong> que é pelo município que a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia se exercita<br />
<strong>em</strong> sua plenitu<strong>de</strong>, algumas administrações municipais apostaram nas <strong>de</strong>cisões<br />
<strong>da</strong> maioria <strong>da</strong> população enquanto caminho para que as ações <strong>da</strong><br />
administração pública viess<strong>em</strong> a aten<strong>de</strong>r anseios mais amplos e não apenas<br />
<strong>de</strong> grupos ou classes (HERMMAN NETO, 1984).<br />
Estas experiências municipais <strong>da</strong>vam a <strong>de</strong>monstração clara <strong>de</strong> que a<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira, <strong>em</strong>ergente nesse mesmo processo revolucionário, estava<br />
8 Registram-se iniciativas, que, mesmo <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> centralização do Estado,<br />
procuraram incorporar a participação popular no planejamento <strong>da</strong>s ações. Trata-se,<br />
principalmente, dos <strong>Programa</strong>s <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural Integrado (PDRIs), política<br />
promovi<strong>da</strong> pelo Banco Mundial no contexto do I e II Plano Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento, na<br />
déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70 (ROTHMAN, 1987).<br />
47
criando uma nova forma <strong>de</strong> fazer a política, um novo meio <strong>de</strong> operar, <strong>de</strong><br />
maneira organiza<strong>da</strong>, no âmbito <strong>da</strong> mesma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> autoritária (RODRIGUES,<br />
1984:45).<br />
Esta foi uma <strong>da</strong>s faces <strong>da</strong> frente municipalista que conseguiu, com<br />
outros segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira e <strong>em</strong> um momento político mundial<br />
<strong>de</strong> valorização <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, impingir mu<strong>da</strong>nças na relação entre as três<br />
instâncias do Estado brasileiro na Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988.<br />
OAKLEY e MARSDEN (1982) observam que, nos anos 80, no contexto<br />
<strong>de</strong> poucos resultados alcançados pelas políticas e pelos programas norteados<br />
pela estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> vigor até então, parece ter havido um<br />
consenso internacional a respeito <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> participação do público-<br />
alvo para conseguir a redistribuição dos benefícios do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
PINTO (1987:79) observa que, a partir <strong>de</strong> 75, começaram a surgir,<br />
primeiro timi<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma forma muito presente, as palavras<br />
participação e planejamento participativo no âmbito do Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />
brasileiro. Este discurso foi se generalizando no Ministério <strong>da</strong> Educação, do<br />
Interior, <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, etc. “Isso abre um espaço, pelo menos um espaço <strong>de</strong><br />
legitimação, ao nível do discurso, para práticas participativas”.<br />
Dentro <strong>de</strong>ste contexto e influenciados por uma concepção mundial<br />
dominante que valoriza a <strong>de</strong>mocracia e a instituição do Estado mínimo como<br />
indicadores <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os constituintes brasileiros escreveram uma<br />
Constituição que reafirma o caráter <strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ração do País e estabelece um<br />
pacto, o Pacto Fe<strong>de</strong>rativo, fun<strong>da</strong>mentado i<strong>de</strong>ologicamente na <strong>de</strong>scentralização<br />
<strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e recursos.<br />
Conforme observa CACCIA-BAVA (1998:81):<br />
A participação popular na administração pública, pelo menos no discurso,<br />
tornou-se heg<strong>em</strong>ônica na cultura política brasileira recente, ou seja, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />
ser apanágio dos partidos <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> e dos movimentos sociais e passou a<br />
ser incluí<strong>da</strong> nas propostas <strong>de</strong> governos e no planejamento estratégico <strong>da</strong>s<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> orientação i<strong>de</strong>ológica dos gestores.<br />
No entanto, é a partir <strong>de</strong>sta Constituição que um novo caminho repleto<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>safios começa a surgir: o <strong>da</strong> tradução <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização<br />
político-administrativa do Estado <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização. Ao<br />
município, confere-se maior autonomia política e financeira, abrindo espaço<br />
para sua maior intervenção no campo econômico e, neste contexto, o<br />
planejamento municipal participativo volta a ganhar importância.<br />
48
A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 inaugura um processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização do Estado brasileiro, que acontece principalmente através <strong>de</strong><br />
uma reforma na política fiscal. Institui-se o Fundo <strong>de</strong> Participação dos<br />
Municípios (FPM) e transfer<strong>em</strong>-se, a esta instância, políticas que<br />
tradicionalmente eram coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s e, ou, executa<strong>da</strong>s pelos governos<br />
estaduais e fe<strong>de</strong>ral. Além <strong>de</strong>ste repasse e <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção própria, os<br />
municípios passaram a receber parcelas <strong>de</strong> recursos do ICMS 9 , do ITR 10 , dos<br />
Fundos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>da</strong> Assistência Social e Educação e, mais recent<strong>em</strong>ente, do<br />
PRONAF (<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Fortalecimento <strong>da</strong> Agricultura Familiar), <strong>de</strong>ntre outros<br />
como royalties etc. (DESER 11 , 1997).<br />
O município ganha <strong>de</strong>staque na nova Carta que conce<strong>de</strong> alguns avanços no<br />
sentido <strong>de</strong> maior autonomia municipal, <strong>de</strong>vido a maior eqüi<strong>da</strong><strong>de</strong> na distribuição<br />
dos recursos tributários entre as três esferas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, um certo incentivo ao<br />
planejamento, através <strong>da</strong> prerrogativa <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> Lei Orgânica, <strong>da</strong><br />
obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> do Plano Diretor para municípios com população superior a<br />
20.000 habitantes e do Orçamento Plurianual <strong>de</strong> Investimentos, além do<br />
incentivo a <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> alguns serviços públicos, tais como: saú<strong>de</strong>,<br />
assistência e educação (ANDRADE, 1996:4).<br />
A nova Constituição abriu espaço para a participação popular ao<br />
introduzir, no seu Artigo 29, tanto a “iniciativa popular <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> lei <strong>de</strong><br />
interesse específico do município, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>de</strong> bairros, através <strong>de</strong><br />
manifestação <strong>de</strong> pelo menos cinco por cento do eleitorado”, quanto a<br />
“cooperação <strong>da</strong>s associações representativas no planejamento municipal”. Este<br />
último mecanismo v<strong>em</strong> sendo pelo menos parcialmente garantido, através <strong>da</strong><br />
exigência <strong>de</strong> planos diretores e, ou, <strong>da</strong> vinculação <strong>de</strong> transferências<br />
orçamentárias à elaboração <strong>de</strong> planos municipais que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser formulados<br />
no âmbito <strong>de</strong> Conselhos, constituídos por representantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e<br />
do Estado, a ex<strong>em</strong>plo dos Conselhos <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista constitucional, o município é consi<strong>de</strong>rado como<br />
esfera autônoma entre as que compõ<strong>em</strong> a fe<strong>de</strong>ração (Arts. 10, 18 e 28), e<br />
confere-se a ele plena autonomia político-administrativa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a<br />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral não seja “feri<strong>da</strong>”. Do ponto <strong>de</strong> vista tributário, foram<br />
atribuídos novos recursos aos estados e municípios e instituí<strong>da</strong>s formas <strong>de</strong><br />
9 Imposto sobre a Circulação <strong>de</strong> Mercadorias e Serviços.<br />
10 Imposto Territorial Rural.<br />
11 DESER – Departamento Sindical <strong>de</strong> Estudos Rurais<br />
49
transferências mais automáticas (Arts. 158, 153 e 34). Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong>s<br />
políticas públicas, amplia-se a competência legislativa do município e a ele são<br />
atribuí<strong>da</strong>s novas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s (CASTRO, 1991).<br />
Na prática, foram repassa<strong>da</strong>s aos municípios mais as<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do que os recursos necessários para <strong>de</strong>senvolvê-las. A<br />
criação, via medi<strong>da</strong> provisória do Governo Fe<strong>de</strong>ral, do Fundo <strong>de</strong> Estabilização<br />
Fiscal (FEF), retirou boa parte dos recursos, que, por lei, <strong>de</strong>veriam ser<br />
<strong>de</strong>stinados aos municípios, criando limitações concretas para a realização do<br />
que foi i<strong>de</strong>alizado na Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Outras limitações advêm dos princípios que orientam as<br />
administrações municipais, que, <strong>de</strong> forma geral, são fort<strong>em</strong>ente influencia<strong>da</strong>s<br />
por uma lógica clientelista e altamente subordina<strong>da</strong> aos interesses <strong>da</strong>s<br />
oligarquias locais. Além disso, até as mu<strong>da</strong>nças inaugura<strong>da</strong>s pela nova<br />
Constituição, o papel dos governos municipais era extr<strong>em</strong>amente limitado.<br />
Suas responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s relacionavam-se a pequenas obras <strong>de</strong> infra-estrutura,<br />
como a conservação <strong>de</strong> ruas, estra<strong>da</strong>s e praças. Pouco discutia-se sobre o<br />
papel dos governos municipais na impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento econômico e social. Estas praticamente restringiam-se a<br />
incentivos para a instalação <strong>de</strong> indústrias (DESER, 1997).<br />
Embora as organizações sociais no Brasil sejam numerosas e<br />
atuantes, registra-se, até por ausência <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong> experiência<br />
<strong>de</strong> participação e discussão sobre políticas nos municípios (DESER, 1997). A<br />
atual conjuntura impõe, portanto, novos <strong>de</strong>safios também a estas organizações<br />
que<br />
precisam superar um discurso exclusivamente reivindicatório, evoluindo para o<br />
estabelecimento <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> parceria com outros agentes no processo <strong>de</strong><br />
planejamento, sendo capazes <strong>de</strong> elaborar e negociar projetos (SABOURIN,<br />
1996:113).<br />
1.3. O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pesquisa e sua importância<br />
A atual conjuntura política brasileira, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca-se o processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização do Estado, inaugurado pela Constituição <strong>de</strong> 1988, aponta<br />
para a intensificação <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> este processo levar a um outro: o<br />
<strong>da</strong> <strong>de</strong>mocratização dos espaços públicos, particularmente, os municipais. O<br />
50
diferencial entre estes dois processos dá-se através <strong>da</strong> participação <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> interesse público.<br />
Compreen<strong>de</strong>-se que um processo <strong>de</strong> reflexão coletiva possa contribuir<br />
para a <strong>de</strong>mocratização dos espaços públicos através <strong>de</strong> um estímulo à<br />
“toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência” do papel do indivíduo na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong>.<br />
As metodologias <strong>de</strong> pesquisa participativa mostram-se caminhos<br />
importantes para o enfrentamento <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que procuram<br />
<strong>de</strong>senvolver métodos e procedimentos que estimul<strong>em</strong> a ação humana sobre a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> reflexão coletiva. São diversos os<br />
métodos 12 <strong>de</strong>senvolvidos sob esta concepção, muitos <strong>de</strong>les num contexto<br />
político <strong>de</strong> oposição aos regimes totalitários <strong>da</strong> América Latina, dos anos 60 e<br />
70.<br />
Já na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 ocorre uma nova (e rápi<strong>da</strong>) expansão <strong>de</strong> novos<br />
métodos e enfoques participativos 13 no contexto do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável. Estes <strong>de</strong>linearam-se sob influência <strong>de</strong> várias concepções que<br />
colocam a participação, a pesquisa-ação e a educação <strong>de</strong> adultos na<br />
vanguar<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tentativas <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação <strong>da</strong> população excluí<strong>da</strong> (CORWALL<br />
et al., 1993). No entanto, esta rápi<strong>da</strong> irradiação <strong>da</strong>s também chama<strong>da</strong>s<br />
“metodologias participativas” parece estar sendo orienta<strong>da</strong>,<br />
predominant<strong>em</strong>ente, por uma razão instrumental, ou seja, pela atração<br />
12 PINTO (1986) enumera e dá algumas indicações sobre pesquisa-ação, pesquisa militante,<br />
auto-investigação, levantamento participativo, auto-diagnóstico, auto-avaliação e<br />
levantamento consciente.<br />
13 VALAREZO (1995) apresenta uma listag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 32 enfoques <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> 70. São eles: AEA – Agroecosyst<strong>em</strong>s Analysis; BA – Beneficiary Assessment; DELTA –<br />
Development Education Lea<strong>de</strong>rship Teams; D&D – Diagnosis and Design; DRP – Diagnóstico<br />
Rural Participativo; DRPP – Diagnóstico Rural Participativo y Planeamiento; DRR –<br />
Diagnóstico Rural Rápido; GRAAP – Groupe <strong>de</strong> recherche et d‟appui pour l‟autopromotion<br />
paysanne; IAP – Investigación Acción Participativa; IESA – Investigación y Extensión en<br />
Sist<strong>em</strong>as Agrícolas; IPA – Investigación Participativa Agrícola; MARP – Métho<strong>de</strong> Accéléré <strong>de</strong><br />
Recherche Participative; PALM – Participatory Analysis and Learning Methods; PD – Process<br />
Documentation; PRM – Participatory Research Methods; PTD – Participatory Technology<br />
Development; RA – Rapid Appraisal; RAAKS – Rapid Assessment of Agricultural Knowledge<br />
Syst<strong>em</strong>s; RAP – Rapid Assessment Procedure; RAT – Rapid Assessment Techniques; RCA –<br />
Rapid Catchment Analysis; REA – Rapid Ethnographic Assessment; RFSA – Rapid Food<br />
Security Assessment; RMA – Rapid Multi-perspective Appraisal; ROA – Rapid Organizational<br />
Assessment; SB – Samuhik Brahman (Joint trek); TD – Teatro para el Desarrollo; TFD –<br />
Training for Transformation; PAC – Planeamiento Andino Comunitario; ERP – Evaluación<br />
Rural Participativa; RRSA – Rapid Rural Syst<strong>em</strong>s Appraisal; e RCC – Manual <strong>de</strong><br />
Revitalización Cultural Comunitaria.<br />
51
exerci<strong>da</strong> pelas técnicas 14 mais do que pela abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> participativa <strong>em</strong> si<br />
(PETERSEN, 1999).<br />
Diante <strong>de</strong>sta preocupação, torna-se importante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
estudos que discutam potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações <strong>de</strong>stes métodos, resgatando<br />
e analisando os condicionantes <strong>de</strong> um processo participativo <strong>de</strong> reflexão<br />
coletiva.<br />
O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é um método <strong>de</strong> diagnóstico e<br />
planejamento com enfoque participativo, que, nas últimas déca<strong>da</strong>s, t<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>spertado gran<strong>de</strong> interesse. Em torno <strong>de</strong>le exist<strong>em</strong> muitas expectativas e<br />
também uma gran<strong>de</strong> variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no seu uso, característica própria <strong>de</strong> um<br />
método que v<strong>em</strong> sendo construído a partir <strong>da</strong> prática e <strong>da</strong> reflexão. Torna-se<br />
importante, portanto, discutir suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações. Pergunta-se:<br />
po<strong>de</strong> o DRP estimular um processo <strong>de</strong> reflexão coletiva? Por quê? Como? Em<br />
que condições?<br />
A hipótese que norteia a presente pesquisa é a <strong>de</strong> que um processo<br />
fun<strong>da</strong>mentado na reflexão coletiva é capaz <strong>de</strong> estimular o indivíduo a tomar<br />
uma postura ativa frente a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, participando e interferindo nas<br />
<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> interesse coletivo, el<strong>em</strong>ento básico <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>mocrático.<br />
FREIRE (1983) relata que uma ação que t<strong>em</strong> por objetivo<br />
probl<strong>em</strong>atizar o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas relações com o mundo e com os próprios<br />
homens, no sentido <strong>de</strong> possibilitar que estes aprofun<strong>de</strong>m sua toma<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
consciência <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que e com que estão, é um esforço <strong>de</strong> educação<br />
popular.<br />
Portanto, recorre-se à teoria do conhecimento e à filosofia <strong>da</strong> educação<br />
propostas por este educador brasileiro, <strong>de</strong> renome internacional, para analisar<br />
as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as limitações do DRP. Em síntese, procura-se i<strong>de</strong>ntificar e<br />
discutir os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> proposição metodológica <strong>de</strong> Paulo Freire presentes no<br />
DRP.<br />
14 KAPLAN (1975) enten<strong>de</strong> por técnicas “os procedimentos específicos utilizados por uma <strong>da</strong><strong>da</strong><br />
ciência ou utilizados <strong>em</strong> contextos particulares <strong>da</strong>s pesquisas próprias <strong>de</strong>sta ciência”.<br />
52
1.4. Objetivos<br />
Geral<br />
Analisar e discutir as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as limitações do uso do DRP<br />
<strong>em</strong> processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.<br />
Específicos<br />
Descrever uma prática <strong>de</strong> aplicação do DRP para a elaboração <strong>de</strong> um Plano<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento Rural.<br />
Pesquisar e analisar a percepção dos envolvidos na prática estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
Resgatar as origens e os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong>s metodologias <strong>de</strong> pesquisa<br />
participativa.<br />
Traçar um paralelo entre os el<strong>em</strong>entos do processo <strong>de</strong> reflexão-ação<br />
proposto pelo método Paulo Freire e o DRP.<br />
I<strong>de</strong>ntificar e analisar os el<strong>em</strong>entos do DRP que favorec<strong>em</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> reflexão coletiva.<br />
Discutir os condicionantes evi<strong>de</strong>nciados pelas análises anteriores,<br />
apontando potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações.<br />
53
2. REFERENCIAL TEÓRICO<br />
2.1. Origens e fun<strong>da</strong>mentos do Diagnóstico Rural Participativo (DRP)<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong> diagnósticos rurais participativos<br />
iniciou-se ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> conheci<strong>da</strong><br />
como Diagnóstico Rápido <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Rurais (DRSR).<br />
Segundo CONWAY (1993:15)<br />
o DRSR po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> sistêmica, mas s<strong>em</strong>i-estrutura<strong>da</strong>,<br />
conduzi<strong>da</strong> ao campo por uma equipe multidisciplinar, e planeja<strong>da</strong> para obter,<br />
rapi<strong>da</strong>mente, novas informações e hipóteses sobre a vi<strong>da</strong> rural (CONWAY,<br />
1993:15).<br />
Esta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> t<strong>em</strong> como berço as Ciências Agrárias, e seu <strong>de</strong>senvolvimento foi estimulado por<br />
uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, senti<strong>da</strong> por alguns profissionais <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> pesquisa e extensão, <strong>de</strong> melhorar sua<br />
compreensão a respeito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> pela população rural. Imaginavam que, assim, po<strong>de</strong>riam planejar<br />
melhor suas intervenções na área <strong>da</strong> geração <strong>de</strong> tecnologias e <strong>da</strong> formulação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
(CONWAY, 1993).<br />
Chambers, citado por CONWAY (1993), enumera alguns princípios que orientaram o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>. São eles:<br />
Otimização do processo <strong>de</strong> conhecimento ao se procurar estabelecer<br />
equilíbrio entre os custos <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> e a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> informação. Isso<br />
inclui os princípios <strong>da</strong> ignorância ótima – ignorar o que não é necessário<br />
saber - e os <strong>da</strong> imprecisão a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> - não medir na<strong>da</strong> com mais precisão<br />
do que a necessária.<br />
Valorização do diálogo, procurando estabelecer um ambiente tranqüilo e<br />
s<strong>em</strong> pressa. Isto significa que o pesquisador <strong>de</strong>ve procurar ouvir <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />
fazer discursos, investigar mais profun<strong>da</strong>mente <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> passar para o<br />
próximo tópico e não ser imponente ao tentar parecer importante. Dev<strong>em</strong>-se<br />
buscar as opiniões e preocupações <strong>da</strong>s pessoas do lugar.<br />
54
Triangulações <strong>da</strong>s informações, o que significa usar mais que um e, muitas<br />
vezes, três métodos ou fontes <strong>de</strong> informação diferentes, a fim <strong>de</strong> checá-la,<br />
mantendo uma postura investigativa.<br />
Valorização do aprendizado com a população rural, diretamente no local e<br />
face a face, procurando obter ganhos com o conhecimento físico, técnico e<br />
social autóctone.<br />
Aprendizado rápido e progressivo, através <strong>da</strong> exploração consciente, do uso<br />
flexível dos métodos, do senso <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> improvisação, <strong>da</strong><br />
repetição e do cruzamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos. Torna-se mais importante realizar o<br />
processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> a<strong>da</strong>ptando-se às situações do que seguir um<br />
programa pre<strong>de</strong>terminado.<br />
Para que seja possível avançar na compreensão <strong>da</strong> orig<strong>em</strong> e dos fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> um dos métodos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>stes princípios – o DRP, faz-se necessária uma breve passag<strong>em</strong> pela história<br />
recente <strong>da</strong>s Ciências Agrárias.<br />
Des<strong>de</strong> a crise <strong>da</strong> Revolução Ver<strong>de</strong>, no final dos anos 60, atores sociais<br />
e profissionais <strong>da</strong>s Ciências Agrárias passaram a rever seus objetivos e<br />
procedimentos 15 e a procurar novos métodos <strong>de</strong> trabalho. Este é um fato<br />
público e alguns <strong>de</strong> seus sinais encontram-se, hoje, expressos nos documentos<br />
oficiais <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas públicas brasileiras, como a EMBRAPA (Empresa<br />
Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária), a EMATER (Empresa <strong>de</strong> Assistência<br />
Técnica e Extensão Rural), várias Secretarias <strong>de</strong> Estado (municipais, estaduais<br />
ou fe<strong>de</strong>ral) e alguns Ministérios Públicos, como o <strong>da</strong> Agricultura e Meio<br />
Ambiente.<br />
Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, a busca por um processo <strong>de</strong> pesquisa e extensão<br />
rural mais eficiente, <strong>de</strong>mocrático e participativo, gerou a concepção <strong>de</strong> uma<br />
metodologia amplamente difundi<strong>da</strong> no meio agronômico, conheci<strong>da</strong> como<br />
FSR/E (Farming Syst<strong>em</strong> Research and Extension), <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pela CGIARs<br />
(International Agriculture Research Centers) e por uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
instituições agrícolas afins (MOLNAR, 1989).<br />
O FSR/E, ou Pesquisa e Extensão <strong>em</strong> Sist<strong>em</strong>as Agrícolas (PESA),<br />
nasce <strong>de</strong> uma crítica ao mo<strong>de</strong>lo dominante <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> tecnologia no<br />
mundo <strong>da</strong>s Ciências Agrárias.<br />
15 Este processo é <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>scrito e comentado no livro “Agricultura Sustentável:<br />
Origens e perspectivas <strong>de</strong> um novo paradigma”, <strong>de</strong> Eduardo Ehlers.<br />
55
A pretexto <strong>de</strong> minorar os probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong> fome e <strong>da</strong> pobreza no campo, a<br />
ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos países industrializados na procura por crescentes produções<br />
agrícolas foi transferi<strong>da</strong> para os países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />
suas condições ecológicas e socioeconômicas. Deste modo, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
transferência <strong>de</strong> tecnologias e suas técnicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrícola não<br />
levaram <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e o potencial dos camponeses<br />
locais (ALTIERI, 1989).<br />
No Brasil, pacotes tecnológicos gerados <strong>em</strong> condições ambientais e<br />
econômicas bastante diferentes <strong>da</strong>s do País foram transferidos e difundidos<br />
com o apoio dos sist<strong>em</strong>as oficiais <strong>de</strong> pesquisa e extensão. Muitas vezes, foram<br />
subsidiados através <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> crédito que vinculavam o financiamento à<br />
utilização <strong>da</strong>s tecnologias importa<strong>da</strong>s. No momento <strong>em</strong> que estes recursos<br />
públicos faltaram, revelou-se a insustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e ambiental dos<br />
pacotes tecnológicos.<br />
Segundo ALTIERI (1989), a nova metodologia – o FSR/E – busca,<br />
inicialmente, a compreensão dos sist<strong>em</strong>as agrícolas tradicionais. Uma equipe<br />
multidisciplinar reúne informações relevantes sobre <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> área (<strong>da</strong>dos<br />
<strong>de</strong> materiais publicados e não-publicados), conduz observações <strong>de</strong> campo e<br />
realiza entrevistas com produtores. De posse <strong>de</strong>stas informações, os<br />
pesquisadores formulam hipóteses sobre a razão <strong>de</strong> os produtores usar<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s práticas agrícolas.<br />
A interpretação <strong>de</strong>stas informações permite aos pesquisadores<br />
planejar<strong>em</strong> experimentos nas áreas dos produtores, sendo selecionado um<br />
grupo para aju<strong>da</strong>r no planejamento, nos testes e nas avaliações. Os<br />
experimentos são planejados para testar componentes tecnológicos<br />
particulares (como seleção <strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, métodos <strong>de</strong> cultivo e <strong>de</strong><br />
estabelecimento <strong>de</strong> culturas, estratégias <strong>de</strong> adubação e manejo <strong>de</strong> pragas)<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s práticas comuns dos produtores (ALTIERI, 1989). Trata-se, na<br />
maioria <strong>da</strong>s vezes, <strong>de</strong> experimentos que segu<strong>em</strong> os mesmos procedimentos<br />
metodológicos <strong>da</strong>queles utilizados nos campos experimentais, porém são<br />
realizados nas áreas dos produtores, com o seu acompanhamento.<br />
A gran<strong>de</strong> contribuição do FSR/E para as Ciências Agrárias e também<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento do DRP é justamente a idéia <strong>de</strong> que a pesquisa<br />
agrícola po<strong>de</strong> ser realiza<strong>da</strong> na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> rural e que, ao se incorporar a visão<br />
56
do produtor a respeito do seu sist<strong>em</strong>a produtivo, po<strong>de</strong> se garantir maior<br />
eficiência aos resultados <strong>de</strong> pesquisa. Logo <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, este pensamento<br />
incorpora uma visão ain<strong>da</strong> mais sistêmica, holística e também mais ecológica.<br />
É a fase <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> métodos <strong>de</strong> pesquisa sistêmica, ou seja,<br />
métodos que buscam a compreensão do todo <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e não dos<br />
produtos ou processos isola<strong>da</strong>mente.<br />
São vários os autores que participaram <strong>de</strong>sta construção, mas<br />
CONWAY (1993) ficou bastante conhecido por sua proposta metodológica para<br />
análise dos agroecossist<strong>em</strong>as.<br />
A Análise <strong>de</strong> Agroecossist<strong>em</strong>as (AAE) ou análise agroecológica,<br />
apesar <strong>de</strong> ter s<strong>em</strong>elhança com o FSR/E, difere <strong>de</strong>le nos seguintes aspectos<br />
(CONWAY, 1993:11):<br />
enfatiza o uso <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong> trabalho multidisciplinares combina<strong>da</strong>s com<br />
técnicas <strong>de</strong> diagnóstico rápido;<br />
fun<strong>da</strong>menta-se tanto <strong>em</strong> conceitos ecológicos quanto socioeconômicos;<br />
reconhece a importância <strong>da</strong>s trocas, no <strong>de</strong>senvolvimento agrícola, entre<br />
produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e equanimi<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
é aplicável não só aos sist<strong>em</strong>as agrícolas como também à análise e ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as mais amplos, <strong>em</strong> vilarejo, bacia hidrográfica,<br />
região e mesmo na nação.<br />
Os diagramas utilizados pela AAE foram <strong>de</strong>senvolvidos, <strong>em</strong> 1978, na<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Chiang Mai, no norte <strong>da</strong> Tailândia (CONWAY, 1993). Um<br />
grupo <strong>de</strong> pesquisadores envolvidos na Pesquisa <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as Agrícolas<br />
constatou que<br />
a análise multidisciplinar envolve mais do que a simples existência <strong>de</strong> uma<br />
equipe <strong>de</strong> pesquisa ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que trabalhe b<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto e<br />
que seja sensível às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma boa comunicação. A geração <strong>de</strong><br />
bons insights interdisciplinares requer, também, conceitos organizativos e<br />
procedimentos <strong>de</strong> trabalho relativamente formais, ou seja, s<strong>em</strong>i-estruturados<br />
(CONWAY, 1993:3).<br />
Movidos por esta constatação, o referido grupo <strong>de</strong> pesquisadores<br />
<strong>de</strong>senvolveu uma série <strong>de</strong> diagramas com o objetivo <strong>de</strong> captar a consi<strong>de</strong>rável<br />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> do agroecossist<strong>em</strong>a, através <strong>de</strong> sua representação <strong>em</strong> torno <strong>de</strong><br />
quatro padrões – espaço, t<strong>em</strong>po, fluxos e relações (CONWAY, 1993).<br />
Vários <strong>de</strong>stes diagramas (ou técnicas) apresentam relação com alguns<br />
conceitos <strong>da</strong> mat<strong>em</strong>ática, especialmente aqueles <strong>da</strong> teoria <strong>de</strong> conjuntos.<br />
57
Segundo LIPSCHUTZ (1973), conjunto é um conceito fun<strong>da</strong>mental <strong>em</strong><br />
todos os ramos <strong>da</strong> mat<strong>em</strong>ática. Intuitivamente, trata-se <strong>de</strong> uma lista, coleção<br />
ou classe <strong>de</strong> objetos b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos. Estes objetos po<strong>de</strong>m ser, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
números, pessoas, letras e rios. No caso <strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pela AAE,<br />
os conjuntos são, na sua maioria, formados por pessoas, produtos, fenômenos<br />
físicos e, ou, sociais.<br />
Na mat<strong>em</strong>ática, quando os conjuntos são representados por partes do<br />
plano, estas representações chamam-se diagramas. Têm a vantag<strong>em</strong> intuitiva<br />
<strong>da</strong> visualização <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. No caso <strong>em</strong> que se usam somente círculos,<br />
os diagramas são chamados <strong>de</strong> Euler ou <strong>de</strong> Venn (CASTRUCCI, 1986).<br />
Estes diagramas “foram introduzidos pela primeira vez por Euler <strong>em</strong><br />
Cartas a uma Princesa <strong>da</strong> Al<strong>em</strong>anha (1770-1772), para explicar tipos <strong>de</strong><br />
proposições <strong>de</strong> lógica” (CASTRUCCI, 1986:47). LIPSCHUTZ (1973) <strong>de</strong>staca<br />
que os chamados diagramas <strong>de</strong> Venn-Euler, ou simplesmente diagramas<br />
Venn, constitu<strong>em</strong>-se num meio simples e instrutivo <strong>de</strong> ilustrar as relações entre<br />
conjuntos. Utilizado como um instrumento do DRP ou <strong>da</strong> AAE, o diagrama <strong>de</strong><br />
Venn ilustra a relação entre os atores políticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />
são representados por círculos <strong>de</strong> diferentes tamanhos.<br />
Além <strong>de</strong>sta ferramenta, que traz explícito o nome <strong>de</strong> Venn, outras<br />
técnicas utiliza<strong>da</strong>s no DRP têm s<strong>em</strong>elhança com alguns conceitos<br />
mat<strong>em</strong>áticos. A matriz comparativa é um tipo <strong>de</strong> tabela <strong>de</strong> dupla entra<strong>da</strong>, que,<br />
por sua vez, é uma forma <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> produtos cartesianos. E o<br />
diagrama <strong>de</strong> fluxo ass<strong>em</strong>elha-se ao diagrama <strong>da</strong> árvore, uma forma <strong>de</strong><br />
representação <strong>de</strong> produtos cartesianos entre mais <strong>de</strong> dois conjuntos.<br />
Os diagramas, técnicas ou ferramentas 16 <strong>de</strong>senvolvidos pela AAE<br />
constitu<strong>em</strong>-se na sua contribuição mais visível para o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
DRP. Segundo CONWAY (1989), a elaboração <strong>de</strong> diagramas t<strong>em</strong> três<br />
vantagens principais sobre outros instrumentos <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong><br />
informações:<br />
Os questionamentos e as respostas são abertos. Ain<strong>da</strong> que o t<strong>em</strong>a geral do<br />
diagrama seja pre<strong>de</strong>terminado, os <strong>de</strong>talhes po<strong>de</strong>m ser, na prática,<br />
16 Todos estes termos são usados como sinônimos.<br />
58
preenchidos pelos agricultores, valorizando seu conhecimento e suas<br />
percepções.<br />
Os diagramas po<strong>de</strong>m captar informações <strong>de</strong> forma mais precisa, clara e<br />
sucinta do que se capta<strong>da</strong>s através <strong>de</strong> palavras. Isso facilita a análise <strong>da</strong>s<br />
informações.<br />
Os diagramas, ao captar<strong>em</strong> e apresentar<strong>em</strong> as informações <strong>de</strong> forma visual,<br />
torna-as passíveis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> checa<strong>da</strong>s, discuti<strong>da</strong>s e <strong>em</strong>en<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Os<br />
agricultores po<strong>de</strong>m facilmente examinar o que foi registrado e qualificar<br />
ain<strong>da</strong> mais as informações.<br />
Várias <strong>de</strong>stas técnicas <strong>de</strong> levantamento (e análise) <strong>de</strong> informações estão presentes <strong>em</strong> diversos<br />
métodos, que se reún<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>de</strong> DRSR. Um <strong>de</strong>les, que vai ter influência direta sobre o DRP, é<br />
o Diagnóstico Rápido Rural (DRR).<br />
Segundo MOLNAR (1989), o mais importante princípio para enten<strong>de</strong>r o<br />
DRR é que este não é um método para coletar informações por si, mas um<br />
criativo e estruturado uso <strong>de</strong> um particular rol <strong>de</strong> ferramentas para avaliar uma<br />
situação, um tópico, um probl<strong>em</strong>a ou um setor.<br />
O DRR nasce <strong>de</strong> uma análise b<strong>em</strong> pragmática a respeito do fracasso<br />
dos projetos 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> utilizar, <strong>de</strong> forma satisfatória, os<br />
métodos formais <strong>de</strong> pesquisa, que, freqüent<strong>em</strong>ente, apresentavam probl<strong>em</strong>as<br />
como longo t<strong>em</strong>po requerido para produzir resultados; alto custo <strong>de</strong><br />
administração; baixos níveis <strong>de</strong> confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos <strong>da</strong>dos <strong>de</strong>vido a erros <strong>de</strong><br />
entrevista e <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> questionários (erros que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong><br />
amostrag<strong>em</strong>); e certa irrelevância <strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s questões <strong>de</strong> pesquisa para os<br />
próprios propósitos específicos <strong>da</strong> ação (MOLNAR, 1989).<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> enfrentar estas limitações, o DRR utiliza-se <strong>de</strong><br />
ferramentas, muitas <strong>de</strong>las advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> AAE, que são: rápi<strong>da</strong>s, o que significa<br />
que os resultados po<strong>de</strong>m ser rapi<strong>da</strong>mente avaliados pelos tomadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão; ecléticas, pois permit<strong>em</strong> a utilização <strong>de</strong> diferentes recursos para a<br />
obtenção <strong>da</strong>s informações necessárias; holísticas, capazes <strong>de</strong> capturar a<br />
multidisciplinarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> situação local; e interativas, o que possibilita o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um diálogo entre pesquisadores e “clientes” 18 do projeto<br />
(MOLNAR, 1989).<br />
17<br />
Refere-se principalmente a projetos <strong>da</strong> FAO, que estavam sob sua avaliação. Na ocasião,<br />
Molnar era consultora <strong>da</strong> FAO.<br />
18<br />
A autora, <strong>em</strong> outro momento, explica a utilização do termo “clientes” <strong>da</strong> seguinte forma: “O<br />
termo “clientes” (clients) é preferível ao termo “beneficiários” (beneficiaries) porque isto<br />
59
Originalmente o DRR foi utilizado <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> seguinte dinâmica: as<br />
equipes <strong>de</strong> pesquisadores recolhiam e analisavam as informações; a<br />
população local participava <strong>da</strong> geração dos <strong>da</strong>dos e <strong>da</strong>s discussões acerca dos<br />
resultados obtidos pelos pesquisadores, no entanto, eram excluídos dos<br />
processos <strong>de</strong> análise <strong>da</strong>s informações (CORWALL et al., 1993).<br />
Entretanto, mais à frente, MOLNAR (1989) constata que algumas<br />
novas aplicações <strong>da</strong>s ferramentas do DRR como parte do planejamento <strong>de</strong><br />
ações na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> começam a surgir, <strong>de</strong>mostrando o gran<strong>de</strong> potencial,<br />
particularmente <strong>da</strong>s ferramentas interativas, para atingir os objetivos <strong>de</strong> um<br />
planejamento participativo.<br />
É então que começa a se diferenciar o DRR do DRP, trazendo este<br />
uma forte ênfase na participação <strong>da</strong> população na análise <strong>da</strong>s informações e<br />
no planejamento <strong>da</strong>s ações.<br />
Conforme relata Irene Guijt 19 ,<br />
é no ano <strong>de</strong> 1989 que, pela primeira vez, utiliza-se o termo PRA - Participatory<br />
Rural Appraisal (sigla do DRP, <strong>em</strong> inglês), ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> dois locais<br />
diferentes. Um <strong>de</strong>les nos r<strong>em</strong>ete à Índia, mais especificamente ao trabalho <strong>de</strong><br />
uma ONG (Organização Não Governamental) <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> AKRSP (Aga Khan<br />
Rural Support Program). Na ocasião, uma equipe <strong>de</strong> pesquisadores e<br />
extensionistas, entre eles, Jennifer McCracken, do IIED (International Institute<br />
for Environment and Development), buscou utilizar as técnicas <strong>de</strong> DRR<br />
(Diagnóstico Rural Rápido) num processo que envolve-se um maior número <strong>de</strong><br />
pessoas, <strong>de</strong>ixando que elas próprias utilizass<strong>em</strong> os métodos. Pela primeira vez<br />
não foram feitos mapas pelos pesquisadores, mas pelas pessoas <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. O outro registro <strong>da</strong> utilização do mesmo termo, também <strong>em</strong> 1989,<br />
refere-se a uma experiência <strong>de</strong> cooperação entre duas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Eggerton<br />
University, no Quênia e Clark University, nos Estados Unidos que começaram a<br />
ministrar cursos sobre PRA no sentido <strong>de</strong> permitir que as pessoas fizess<strong>em</strong> as<br />
análises através dos diagramas. Ambas experiências ain<strong>da</strong> viam o<br />
planejamento comunitário como um processo rápido, guar<strong>da</strong>ndo mais<br />
el<strong>em</strong>entos do DRR. Não foram experiências <strong>de</strong> DRP como um processo<br />
profundo e elaborado <strong>de</strong> planejamento, como compreen<strong>de</strong>-se hoje. A<br />
experiência <strong>da</strong> AKRSP transformou-se numa colaboração <strong>de</strong> longo prazo com<br />
as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas, <strong>em</strong> geral, as experiências do convênio, Eggerton/Clark<br />
University ain<strong>da</strong> são experiências rápi<strong>da</strong>s (<strong>de</strong> uma s<strong>em</strong>ana) e com pouca<br />
profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Exist<strong>em</strong> muitas similitu<strong>de</strong>s entre o DRR e o DRP, o que faz inclusive<br />
com que alguns autores (MOLNAR, 1989) consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> o DRP apenas um tipo<br />
implica relação ativa entre os técnicos do projeto e a população local, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> uma<br />
relação passiva somente “recebedora” <strong>de</strong> benefícios” (MOLNAR, 1989:3).<br />
19 Informação obti<strong>da</strong> <strong>em</strong> entrevista concedi<strong>da</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999.<br />
60
<strong>de</strong> DRR. Eles comungam <strong>de</strong> princípios s<strong>em</strong>elhantes que, segundo<br />
CHAMBERS e GUIJT (1995:5), são:<br />
Equilíbrio <strong>de</strong> tendências: <strong>de</strong> espaço, <strong>de</strong> pessoas (gênero, posição social), <strong>de</strong><br />
formação profissional, entre outras.<br />
Aprendizag<strong>em</strong> rápi<strong>da</strong> e progressiva: postura flexível, exploratória, interativa<br />
e inventiva.<br />
Inversão <strong>de</strong> valores: apren<strong>de</strong>r com as pessoas do lugar, extraindo e<br />
utilizando seus critérios e categorias, procurando, enten<strong>de</strong>ndo e valorizando<br />
seus conhecimentos.<br />
Ignorância ótima e imprecisão apropria<strong>da</strong>: não extrair mais informações do<br />
que a necessária e evitar medir quando comparar for suficiente. “Estamos<br />
capacitados para tomar medi<strong>da</strong>s absolutas, porém, <strong>em</strong> geral, o que se<br />
procura são tendências”.<br />
Triangulação: utilização <strong>de</strong> diferentes métodos e fontes <strong>de</strong> informações que,<br />
através <strong>de</strong> aproximações sucessivas, permitam a verificação <strong>da</strong> informação.<br />
Aprendizag<strong>em</strong> direta, com a população local.<br />
Busca <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e valorização <strong>da</strong>s diferenças.<br />
Para CHAMBERS (1994a), as diferenças entre o DRR e o DRP<br />
encontram-se no propósito e no processo. O DRR começou a ser utilizado<br />
como uma ferramenta mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> para os agentes<br />
externos (grifo nosso) e continua a sê-lo. O DRP, <strong>em</strong> geral, inicia um processo<br />
<strong>de</strong> “<strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramiento” 20 <strong>da</strong> população local, <strong>de</strong> forma que possa modificar suas<br />
condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. A intenção do DRP é permitir que a população local<br />
<strong>de</strong>senvolva sua própria análise sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e que este processo seja<br />
seguido <strong>de</strong> um planejamento e <strong>de</strong> uma ação coletiva.<br />
Definido como “uma família <strong>de</strong> enfoques e métodos dirigidos a habilitar<br />
a população rural a compartilhar, aumentar e analisar seu conhecimento sobre<br />
sua vi<strong>da</strong> e condições, para planejar e agir” (CHAMBERS, 1994a:953), o DRP<br />
surgiu no final dos anos 80, como resultado <strong>da</strong> busca por enfoques práticos e<br />
sistêmicos para a pesquisa e o planejamento no meio rural. Entretanto, sua<br />
20 Tradução, para o espanhol, do termo “<strong>em</strong>powerment” utilizado pelos americanos. Uma<br />
possível tradução para o português seria “reforço do po<strong>de</strong>r”, entretanto, o uso do termo<br />
revela também gran<strong>de</strong> similitu<strong>de</strong> com a utilização do termo “conscientização” pelas<br />
concepções <strong>de</strong> Educação Popular.<br />
61
concepção aponta também para a idéia <strong>de</strong> um planejamento <strong>de</strong>scentralizado e<br />
<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões que valorize a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social, a participação popular e o reforço do po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(CHAMBERS, 1994b).<br />
Percebe-se no DRP forte preocupação com o planejamento e a ação<br />
coletiva, colocando no centro do <strong>de</strong>bate a questão <strong>da</strong> participação <strong>da</strong><br />
população, enquanto condicionante <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>sta mesma população.<br />
CHAMBERS (1994a) relata que, no princípio dos anos 80, a direção<br />
metodológica (do DRR) estava marca<strong>da</strong> por agroecólogos, planejadores <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento e geógrafos. Des<strong>de</strong> então, têm-se recebido contribuições <strong>da</strong>s<br />
ciências sociais (antropologia, sociologia, psicologia, administração pública<br />
etc.) e <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento comunitário <strong>de</strong> diversos campos,<br />
especialmente <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>da</strong> agricultura.<br />
Este fato parece ter contribuído para a intensificação <strong>da</strong> influência <strong>de</strong><br />
outras correntes <strong>de</strong> pensamento (além do FSR/E e <strong>da</strong> AAE) <strong>em</strong> torno <strong>da</strong>s<br />
idéias que construíram e estão construindo o DRP. Po<strong>de</strong>-se falar no t<strong>em</strong>po<br />
presente – estão construindo – pois o DRP é, reconheci<strong>da</strong>mente por aqueles<br />
que se <strong>de</strong>dicam a estudá-lo, um método <strong>em</strong> construção (CHAMBERS, 1995;<br />
CORWALL et al., 1993; MEYER, 1997).<br />
Uma <strong>de</strong>las é a Antropologia Aplica<strong>da</strong>, que começa a ser reconheci<strong>da</strong><br />
nos anos 80 como uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> legítima e útil, especialmente por sua<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r profissionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento a apreciar<strong>em</strong> a riqueza<br />
e vali<strong>da</strong><strong>de</strong> do conhecimento popular (PRETTY et al., 1995)<br />
CHAMBERS (1994a:955) registra a influência <strong>da</strong> Antropologia Aplica<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> cinco eixos principais:<br />
a idéia <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> campo como uma arte flexível <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> uma<br />
ciência rígi<strong>da</strong>;<br />
o valor <strong>da</strong> permanência no campo, <strong>da</strong> observação participante s<strong>em</strong> pressa e<br />
<strong>da</strong>s conversas;<br />
a importância <strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s, dos comportamentos e consensos;<br />
a valorização <strong>da</strong> ética no processo <strong>de</strong> pesquisa; e<br />
a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> do conhecimento indígena.<br />
62
Outra corrente <strong>de</strong> influência sobre o DRP é, segundo CHAMBERS<br />
(1994a), a pesquisa-ação participativa, que possui muito <strong>da</strong>s idéias <strong>de</strong> Paulo<br />
Freire e <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> Educação Popular <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s na América Latina,<br />
na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60. Em relação à influência do pensamento <strong>de</strong> Paulo Freire,<br />
MEYER (1993:3) observa que:<br />
sua concepção <strong>de</strong> conscientização, tanto <strong>da</strong> população rural quanto do<br />
pesquisador, a crença na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> própria população analisar sua<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e construir projetos influenciou muito a filosofia do DRP.<br />
A pesquisa-ação participativa, ou simplesmente pesquisa-ação, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como<br />
um tipo <strong>de</strong> pesquisa social com base <strong>em</strong>pírica que é concebi<strong>da</strong> e<br />
realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> estreita associação com uma ação ou com a resolução <strong>de</strong><br />
um probl<strong>em</strong>a coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes<br />
representativos <strong>da</strong> situação ou do probl<strong>em</strong>a, estão envolvidos <strong>de</strong> modo<br />
cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 1986:14).<br />
PINTO (1986:39) ressalta<br />
o caráter <strong>de</strong> prática social que t<strong>em</strong> a metodologia, no qual a produção <strong>de</strong><br />
conhecimentos, orienta<strong>da</strong> pela teoria, se conjuga a uma prática<br />
pe<strong>da</strong>gógica mediante a qual busca-se a transformação, <strong>em</strong> primeiro lugar,<br />
<strong>da</strong> própria consciência <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, <strong>da</strong> própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
dos sujeitos do processo (PINTO, 1986).<br />
A pesquisa-ação nasce <strong>de</strong> uma crítica à pesquisa convencional <strong>em</strong><br />
relação (THIOLLENT, 1986:19):<br />
à participação dos “usuários” <strong>da</strong> pesquisa. Critica-se o fato <strong>de</strong> que, para a<br />
pesquisa, o usuário é mero informante e, para a ação, é mero executor;<br />
ao privilégio <strong>da</strong>do aos aspectos individuais, geralmente captados por<br />
questionários e entrevistas que não permit<strong>em</strong> que se tenha uma visão<br />
dinâmica <strong>da</strong> situação; e<br />
à distância entre os resultados <strong>de</strong> uma pesquisa convencional e as possíveis<br />
<strong>de</strong>cisões ou ações concretas. “Normalmente não há focalização <strong>da</strong> pesquisa<br />
na dinâmica <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>sta situação numa outra situação<br />
<strong>de</strong>seja<strong>da</strong>”.<br />
Em oposição a esta leitura, a pesquisa-ação propõe-se a ser uma<br />
pesquisa para a ação, na qual se conjugam dois objetivos principais<br />
(THIOLLENT, 1986:18):<br />
um objetivo prático, o <strong>de</strong> contribuir para o melhor equacionamento possível<br />
do probl<strong>em</strong>a consi<strong>de</strong>rado como central na pesquisa, com o levantamento <strong>de</strong><br />
soluções e propostas <strong>de</strong> ações correspon<strong>de</strong>ntes; e<br />
63
um objetivo <strong>de</strong> conhecimento, que significa obter informações qualitativas<br />
que seriam <strong>de</strong> difícil acesso por meio <strong>de</strong> outros procedimentos, aumentando<br />
o conhecimento sobre os aspectos e fenômenos sociais, como perspectivas,<br />
reivindicações, representações, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação ou <strong>de</strong> mobilização.<br />
PINTO (1986) consi<strong>de</strong>ra a pesquisa-ação uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa<br />
participativa, também chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> pesquisa participante por BRANDÃO (1986).<br />
Outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s cita<strong>da</strong>s por PINTO (1986) são: pesquisa militante, auto-<br />
investigação, levantamento participativo, auto-diagnóstico, auto-avaliação e<br />
levantamento consciente.<br />
As concepções <strong>de</strong> pesquisa participativa nasc<strong>em</strong>, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, “<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um amplo<br />
movimento, nas ciências sociais latino-americanas, <strong>de</strong> reação e recusa ao predomínio esterilizante do<br />
positivismo <strong>em</strong>piricista na prática <strong>da</strong>s ciências sociais” (PINTO, 1986:27).<br />
Este movimento reuniu pensadores 21 que conceberam o processo <strong>de</strong> pesquisa como uma prática<br />
social, portanto politicamente posiciona<strong>da</strong>. Compreen<strong>de</strong>ram eles que o conhecimento gerado através <strong>de</strong> uma<br />
“prática política, que torna possível e proveitoso o compromisso <strong>de</strong> grupos populares com grupos <strong>de</strong><br />
cientistas sociais, <strong>de</strong>ve ser um instrumento a mais no reforço do po<strong>de</strong>r do povo” (BRANDÃO, 1986:10).<br />
A referência ao termo participação, <strong>em</strong>butido na <strong>de</strong>signação “pesquisa participativa”, traz a idéia <strong>de</strong><br />
que é função <strong>da</strong> pesquisa participar <strong>da</strong> ação, ou seja, contribuir para o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> uma ação<br />
transformadora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Nas palavras <strong>de</strong> Carlos Rodrigues Brandão:<br />
A participação não envolve uma atitu<strong>de</strong> do cientista para conhecer melhor<br />
a cultura que pesquisa. Ela <strong>de</strong>termina um compromisso que subordina o<br />
próprio projeto científico <strong>de</strong> pesquisa ao projeto político dos grupos<br />
populares cuja situação <strong>de</strong> classe, cultura ou história se quer conhecer<br />
porque se quer agir (BRANDÃO, 1986:12).<br />
“A pesquisa participativa t<strong>em</strong> como perspectiva epist<strong>em</strong>ológica não conceber a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />
preexistente nos fatos (<strong>da</strong>dos) sociais” (PINTO, 1986:27). Para os que se i<strong>de</strong>ntificam com esta concepção, a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> se constrói a partir <strong>de</strong> aproximações sucessivas ao objeto pesquisado, que, enquanto objeto social,<br />
diferencia-se dos objetos naturais pelo fato <strong>de</strong> estar, constituído por sujeitos (PINTO, 1986).<br />
Criticam-se as pesquisas nas quais estes sujeitos são vistos como simples objetos <strong>de</strong> estudo.<br />
Os probl<strong>em</strong>as estu<strong>da</strong>dos não são nunca os probl<strong>em</strong>as vividos e sentidos<br />
pela população pesquisa<strong>da</strong>. É esta população <strong>em</strong> si mesma que é<br />
percebi<strong>da</strong> e estu<strong>da</strong><strong>da</strong> como um probl<strong>em</strong>a social do ponto <strong>de</strong> vista dos<br />
que estão no po<strong>de</strong>r (OLIVEIRA e OLIVEIRA, 1986:19).<br />
Em uma pesquisa tradicional “a população pesquisa<strong>da</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong><br />
passiva, enquanto simples reservatório <strong>de</strong> informações, incapaz <strong>de</strong> analisar a<br />
sua própria situação e <strong>de</strong> procurar soluções para seus probl<strong>em</strong>as” (BOTERY,<br />
1984:51).<br />
Os métodos <strong>de</strong>senvolvidos a partir <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>de</strong> DRSR partilham<br />
<strong>de</strong> críticas s<strong>em</strong>elhantes.<br />
21 A ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Orlando Fals-Bor<strong>da</strong>, João Bosco Pinto, Marcela Gajardo, Carlos Rodrigues<br />
Brandão, entre outros.<br />
64
CONWAY (1993:15), ao analisar as limitações <strong>da</strong>s pesquisas<br />
realiza<strong>da</strong>s com a população rural, observa que “a população local raramente é<br />
consulta<strong>da</strong> e, na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, essa consulta se dá através <strong>de</strong> canais<br />
fixos e formais, por ex<strong>em</strong>plo por meio <strong>de</strong> questionários elaborados com<br />
questões pre<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s”.<br />
CHAMBERS e GUIJT (1995:7) afirmam que<br />
um exercício <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> DRP não t<strong>em</strong> como fim a simples extração <strong>de</strong><br />
informações e formação <strong>de</strong> idéias mas sim a análise e aprendizag<strong>em</strong> por parte<br />
<strong>da</strong> população local. Trata-se <strong>de</strong> construir o processo <strong>de</strong> participação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate<br />
e comunicação e <strong>da</strong> resolução <strong>de</strong> conflitos. Isto significa que o processo cresce<br />
e evolui a partir <strong>da</strong>s características específicas do contexto local.<br />
Além <strong>de</strong>stes fun<strong>da</strong>mentos críticos, po<strong>de</strong>m-se perceber similitu<strong>de</strong>s<br />
importantes entre a pesquisa-ação (e <strong>de</strong> forma geral, as pesquisas<br />
participativas) e o DRP, especialmente no que se refere à idéia <strong>de</strong> que a<br />
pesquisa <strong>de</strong>va ser um instrumento gerador <strong>de</strong> ações ao permitir a mobilização<br />
<strong>de</strong> conhecimentos com o objetivo <strong>de</strong> fazer avançar a compreensão coletiva a<br />
respeito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser transforma<strong>da</strong>. Também a compreensão <strong>de</strong> que a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> se constrói a partir <strong>de</strong> aproximações sucessivas encontra-se<br />
relaciona<strong>da</strong> ao princípio do aprendizado progressivo presente na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> DRSR e her<strong>da</strong>do pelo DRP.<br />
As diferenças entre DRP e pesquisa-ação, por sua vez, refer<strong>em</strong>-se<br />
principalmente aos instrumentos <strong>de</strong> pesquisa utilizados.<br />
PINTO (1986:32) observa que quase to<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
pesquisa participativa utilizam, como instrumento <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong><br />
informações, o questionário. No entanto, diferent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong>s pesquisas<br />
tradicionais, os t<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> pesquisados e o próprio questionário são<br />
<strong>de</strong>finidos pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os <strong>da</strong>dos também são recolhidos por ela. Os<br />
técnicos aju<strong>da</strong>m apenas a <strong>da</strong>r forma aos questionários e a organizar os <strong>da</strong>dos.<br />
“Uma vez tabelados, os <strong>da</strong>dos são discutidos e analisados <strong>em</strong> conjunto,<br />
tirando-se conclusões compartilha<strong>da</strong>s e tomando-se <strong>de</strong>cisões com respeito às<br />
ações a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s”.<br />
Na pesquisa-ação, as principais técnicas 22 <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong><br />
informações utiliza<strong>da</strong>s são a entrevista coletiva nos locais <strong>de</strong> moradia ou <strong>de</strong><br />
22 Questionários convencionais também são aplicados, quando o número <strong>de</strong> pesquisados é<br />
gran<strong>de</strong>. Alguns pesquisadores recorr<strong>em</strong> também a técnicas antropológicas, como a<br />
observação participante, os diários <strong>de</strong> campo e as histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Alguns autores<br />
65
trabalho e a entrevista individual aplica<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo aprofun<strong>da</strong>do (THIOLLENT,<br />
1986). Diferent<strong>em</strong>ente disto, o DRP utiliza-se <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> técnicas que se<br />
constitu<strong>em</strong> diagramas visuais para a coleta <strong>de</strong> informações. Através <strong>da</strong> sua<br />
utilização,<br />
população local e profissionais constro<strong>em</strong> os diagramas e discut<strong>em</strong> os<br />
resultados. As informações são rapi<strong>da</strong>mente checa<strong>da</strong>s e seqüencialmente<br />
construí<strong>da</strong>s. São apropria<strong>da</strong>s conjuntamente, por todos os presentes (IIED,<br />
1998).<br />
Uma série <strong>de</strong> técnicas têm sido combina<strong>da</strong>s <strong>em</strong> seqüências muito<br />
diversas e com um surpreen<strong>de</strong>nte leque <strong>de</strong> aplicações.<br />
Estas experiências têm mostrado claramente que estes métodos apontam<br />
vantagens <strong>de</strong>vido a sua natureza flexível <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> rígi<strong>da</strong>; visual <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />
verbal; baseados <strong>em</strong> análises <strong>de</strong> grupo <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> individual; e na comparação<br />
mais do que na medição (CHAMBERS e GUIJT, 1995:6).<br />
Verifica-se que, nas pesquisas realiza<strong>da</strong>s através <strong>de</strong> questionários,<br />
mesmo que formulados pela população local, as informações são extraí<strong>da</strong>s ou<br />
transferi<strong>da</strong>s como palavras dos informantes para o questionário, on<strong>de</strong> se<br />
tornam posse do entrevistador. A informação torna-se priva<strong>da</strong> e <strong>de</strong> posse do<br />
entrevistador. O contraste com métodos visuais utilizados no DRP não po<strong>de</strong>ria<br />
ser maior. Todos que estão presentes são envolvidos na análise e no diálogo.<br />
População local e profissionais constro<strong>em</strong> os diagramas e discut<strong>em</strong> os<br />
resultados. As informações são rapi<strong>da</strong>mente checa<strong>da</strong>s e seqüencialmente<br />
construí<strong>da</strong>s. São apropria<strong>da</strong>s, conjuntamente, por todos os presentes<br />
(INTERNATIONAL INSTITUTE FOR ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT -<br />
IIED, 1998).<br />
Entrevistas também são utiliza<strong>da</strong>s pelo DRP, mas como um<br />
procedimento s<strong>em</strong>i-estruturado, no qual, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> um questionário, utiliza-se<br />
um roteiro <strong>de</strong> pontos que são investigados no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um diálogo. Estas<br />
entrevistas po<strong>de</strong>m ser individuais ou coletivas, mas, <strong>em</strong> geral, não se<br />
constitu<strong>em</strong> no principal instrumento <strong>de</strong> levantamento utilizado <strong>em</strong> um DRP. As<br />
técnicas visuais são os principais instrumentos utilizados tanto no levantamento<br />
quanto na análise <strong>da</strong>s informações.<br />
Em síntese, o DRP é fruto <strong>da</strong> influência <strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s correntes <strong>de</strong><br />
pensamento: uma advin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Ciências Sociais, on<strong>de</strong> localizam-se a<br />
recomen<strong>da</strong>m técnicas <strong>de</strong> grupo, como o sociodrama, com o qual é possível reproduzir<br />
certas situações sociais que viv<strong>em</strong> os participantes (THIOLLENT, 1986).<br />
66
Antropologia Aplica<strong>da</strong> e as Pesquisas Participativas, <strong>em</strong> especial a Pesquisa-<br />
ação, e outra advin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Ciências Agrárias, on<strong>de</strong> localizam-se o FSR/E, a<br />
AAE e as abor<strong>da</strong>gens <strong>de</strong> DRSR, <strong>em</strong> particular o DRR.<br />
As mu<strong>da</strong>nças no enfoque e nos métodos <strong>da</strong> pesquisa agrícola,<br />
<strong>de</strong>slocando-a <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> pesquisa para a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
rural e ampliando seu recorte <strong>de</strong> produtos para agrossist<strong>em</strong>as, evi<strong>de</strong>nciaram<br />
uma <strong>de</strong>scoberta importante para as Ciências Agrárias: a percepção <strong>da</strong><br />
existência <strong>de</strong> sujeitos, proprietários ou não, que se utilizam dos recursos<br />
naturais conforme suas condições e interesses. Sujeitos estes que estão<br />
imersos <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa teia <strong>de</strong> relações familiares, culturais<br />
e econômicas, on<strong>de</strong> a agricultura t<strong>em</strong> importância não apenas técnica, mas<br />
também como uma forma <strong>de</strong> sobrevivência e fonte <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e ren<strong>da</strong> para<br />
uma região. É como se fosse uma <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que a agricultura não é do<br />
técnico, e, sim, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Este “abrir” <strong>da</strong>s Ciências Agrárias t<strong>em</strong> se expressado através <strong>de</strong>:<br />
- uma interação ca<strong>da</strong> vez maior entre disciplinas do conhecimento, através <strong>da</strong><br />
integração <strong>de</strong> profissionais <strong>da</strong> área educacional e sociológica <strong>em</strong> trabalhos<br />
no meio rural; e<br />
- intervenções articula<strong>da</strong>s (não apenas no plano técnico) para a promoção do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, a partir <strong>da</strong> inserção do técnico na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local e <strong>da</strong><br />
interação com os agricultores e suas organizações.<br />
Em parte estas mu<strong>da</strong>nças ocorreram a partir <strong>de</strong> maior interação com o<br />
pensamento crítico <strong>da</strong>s Ciências Sociais, gerando ampla reflexão sobre qual<br />
<strong>de</strong>veria ser o papel do profissional <strong>da</strong>s “Ciências Agrárias”.<br />
As idéias <strong>de</strong> Paulo Freire, educador brasileiro <strong>de</strong> renome universal,<br />
interag<strong>em</strong> com este <strong>de</strong>bate. Em 1976, ele escreve o livro “Extensão ou<br />
Comunicação”, que foi (e é) amplamente lido pelos profissionais <strong>da</strong> área. O<br />
autor alerta que o trabalho do agrônomo não se esgota no domínio <strong>da</strong> técnica,<br />
“pois esta não existe s<strong>em</strong> os homens e estes não exist<strong>em</strong> fora <strong>da</strong> história, fora<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> transformar” (FREIRE, 1983:49).<br />
Conforme relatado anteriormente, as influências do pensamento <strong>de</strong><br />
Paulo Freire também estão presentes na raiz do DRP e, por isso, faz-se<br />
necessário o seu aprofun<strong>da</strong>mento, a fim <strong>de</strong> completar o referencial <strong>de</strong> análise<br />
<strong>de</strong>ste trabalho.<br />
67
2.2. A teoria do conhecimento e a filosofia <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> Paulo Freire<br />
Segundo GADOTTI (1996), o pensamento <strong>de</strong> Paulo Freire 23 , enquanto<br />
uma teoria do conhecimento, <strong>de</strong>ve ser entendido no contexto <strong>em</strong> que surgiu – o<br />
nor<strong>de</strong>ste brasileiro – on<strong>de</strong>, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus 30<br />
milhões <strong>de</strong> habitantes eram analfabetos. As primeiras experiências do método<br />
começaram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Angicos (RN), <strong>em</strong> 1963, on<strong>de</strong> 300 trabalhadores<br />
rurais foram alfabetizados <strong>em</strong> 45 dias.<br />
O método <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> Paulo Freire nasceu no interior do MCP –<br />
Movimento <strong>de</strong> Cultura Popular – do Recife que, no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50, criara<br />
os chamados círculos <strong>de</strong> cultura. Segundo o próprio Paulo Freire, os círculos<br />
<strong>de</strong> cultura não tinham uma programação feita a priori. A programação vinha <strong>de</strong><br />
uma consulta aos grupos que estabeleciam os t<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>batidos. Cabia<br />
aos educandos tratar a t<strong>em</strong>ática que o grupo propunha (...). Os resultados<br />
positivos obtidos com este trabalho com grupos populares no MCP levaram<br />
Paulo Freire a propor a mesma metodologia para a alfabetização. „Se é<br />
possível fazer isso, alcançar esse nível <strong>de</strong> discussão com grupos populares,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> eles ser<strong>em</strong> ou não alfabetizados, por que não fazer o<br />
mesmo numa experiência <strong>de</strong> alfabetização?‟, perguntava-se Paulo Freire. „Por<br />
que não engajar criticamente os alfabetizandos na montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> sinais gráficos enquanto sujeitos <strong>de</strong>ssa montag<strong>em</strong> e não enquanto objetos<br />
<strong>de</strong>la?‟. Essa intuição foi muito importante no <strong>de</strong>senvolvimento posterior <strong>da</strong> obra<br />
<strong>de</strong> Paulo Freire. Ele <strong>de</strong>scobrira que a forma <strong>de</strong> trabalhar, o processo do ato <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r, era <strong>de</strong>terminante <strong>em</strong> relação ao próprio conteúdo <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />
(...). A participação do sujeito <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> no processo <strong>de</strong> construção do<br />
conhecimento não é apenas algo mais <strong>de</strong>mocrático, mas <strong>de</strong>monstrou ser<br />
também mais eficaz (GADOTTI, 1996:82).<br />
Exilado no Chile, Paulo Freire encontrou um espaço político, social e<br />
educativo muito dinâmico, rico e <strong>de</strong>safiante, que lhe permitiu reestu<strong>da</strong>r seu<br />
método <strong>em</strong> outro contexto, avaliá-lo na prática e sist<strong>em</strong>atizá-lo teoricamente<br />
(GADOTTI, 1996).<br />
O pensamento <strong>de</strong> Freire po<strong>de</strong> ser dividido <strong>em</strong> duas fases distintas e<br />
compl<strong>em</strong>entares: o Paulo Freire latino-americano <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 60 e 70,<br />
autor <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia do Oprimido, e o Paulo Freire ci<strong>da</strong>dão do mundo, <strong>da</strong>s<br />
déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 80 e 90, dos livros dialogados, <strong>da</strong> sua experiência pelo mundo e <strong>de</strong><br />
sua atuação como administrador público <strong>em</strong> São Paulo. Seu pensamento não<br />
se limita à teoria educacional, é transdisciplinar e universal (GADOTTI, 1996).<br />
A universali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua obra <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>ssa aliança teoria-prática. Daí ser<br />
um pensamento vigoroso. Paulo Freire não pensa pensamentos. Pensa a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a ação sobre ela. Trabalha teoricamente a partir <strong>de</strong>la. É<br />
metodologicamente um pensamento s<strong>em</strong>pre atual (...) (GADOTTI, 1996:77).<br />
23 O Apêndice E traz um resumo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e obra <strong>de</strong> Paulo Freire.<br />
69
As principais teses <strong>da</strong> teoria do conhecimento e <strong>da</strong> filosofia <strong>da</strong><br />
educação <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s por Paulo Freire são (GADOTTI, 1996):<br />
A educação é ao mesmo t<strong>em</strong>po um ato político, um ato <strong>de</strong> conhecimento<br />
e um ato criador.<br />
Paulo Freire busca nas ciências (sociais e naturais), el<strong>em</strong>entos para,<br />
compreen<strong>de</strong>ndo mais cientificamente a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r intervir <strong>de</strong> forma mais<br />
eficaz nela (GADOTTI, 1996:80).<br />
A relação pe<strong>da</strong>gógica entre educador-educando é uma relação dialógica.<br />
Isso significa que aquele que educa está apren<strong>de</strong>ndo também. (...) A<br />
educação torna-se um processo <strong>de</strong> formação mútua e permanente<br />
(GADOTTI, 1996:80).<br />
A finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o objetivo maior <strong>da</strong> educação é a libertação do ser humano.<br />
A educação visa à libertação, à transformação radical <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para<br />
melhorá-la, para torná-la mais humana, para permitir que os homens e as<br />
mulheres sejam reconhecidos como sujeitos <strong>da</strong> sua história e não como<br />
objetos (GADOTTI, 1996:80).<br />
Em termos metodológicos, ele compreen<strong>de</strong> que o processo educativo<br />
<strong>de</strong>senvolve-se <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> três momentos, dialética e interdisciplinarmente<br />
entrelaçados: a investigação t<strong>em</strong>ática, pela qual aluno e professor buscam, no<br />
universo vocabular do aluno e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele vive, as palavras e os<br />
t<strong>em</strong>as centrais <strong>de</strong> sua biografia; a t<strong>em</strong>atização, pela qual eles codificam e<br />
<strong>de</strong>codificam esses t<strong>em</strong>as, buscando o seu significado social, tomando assim<br />
consciência do mundo vivido; e a probl<strong>em</strong>atização, na qual eles buscam<br />
superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica, partindo para a<br />
transformação do contexto vivido (GADOTTI, 1996).<br />
Exist<strong>em</strong> várias possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura do pensamento <strong>de</strong> Paulo<br />
Freire, mas “to<strong>da</strong>s elas se encontram numa concepção filosófica e<br />
metodológica particular do autor” (GADOTTI, 1996:78). O texto que se segue<br />
busca <strong>de</strong>stacar alguns dos el<strong>em</strong>entos centrais <strong>de</strong>sta concepção, a partir <strong>de</strong> sua<br />
estruturação <strong>em</strong> torno dos três momentos i<strong>de</strong>ntificados anteriormente:<br />
a) a investigação t<strong>em</strong>ática<br />
Paulo Freire compreen<strong>de</strong> que o conteúdo programático, seja <strong>da</strong><br />
alfabetização ou <strong>da</strong> prática política, <strong>de</strong>ve s<strong>em</strong>pre partir <strong>da</strong> situação presente,<br />
existencial, concreta. Isso porque, ao se propor às pessoas esta situação como<br />
probl<strong>em</strong>a, ela, por sua vez, o <strong>de</strong>safia “e, assim, lhe exige resposta, não só no<br />
nível intelectual, mas no nível <strong>da</strong> ação” (FREIRE, 1987:86). Porém, quais<br />
70
aspectos <strong>de</strong>sta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> compor o conteúdo programático? Paulo<br />
Freire introduz a idéia <strong>de</strong> universo t<strong>em</strong>ático, t<strong>em</strong>ática significativa ou, ain<strong>da</strong>,<br />
t<strong>em</strong>as geradores que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>ntificados pelo educador e educando, a<br />
partir <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> investigação. No livro “Pe<strong>da</strong>gogia do Oprimido”, ele<br />
discorre longamente sobre esta fase <strong>de</strong> investigação <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática significativa,<br />
que, conforme aponta, <strong>de</strong>ve guar<strong>da</strong>r as características do processo educativo<br />
que se seguirá.<br />
Para o autor, o diálogo entre educador e educando começa na busca<br />
<strong>de</strong>ste conteúdo programático. A dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong> começa antes do encontro entre<br />
o educador-educando e os educando-educadores <strong>em</strong> uma situação<br />
pe<strong>da</strong>gógica. Começa quando aquele se pergunta <strong>em</strong> torno do que vai dialogar<br />
com estes (FREIRE, 1987).<br />
Para o educador-educando, dialógico, probl<strong>em</strong>atizador, o conteúdo<br />
programático <strong>da</strong> educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto<br />
<strong>de</strong> informes a ser <strong>de</strong>positado nos educandos -, mas a <strong>de</strong>volução organiza<strong>da</strong>,<br />
sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> e acrescenta<strong>da</strong> ao povo <strong>da</strong>queles el<strong>em</strong>entos que este lhe<br />
entregou <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sestrutura<strong>da</strong> (FREIRE, 1987:83).<br />
Esta proposição refere-se tanto à alfabetização <strong>de</strong> adultos quanto à<br />
prática política. Como friza FREIRE (1987:102), “se, na etapa <strong>da</strong> alfabetização,<br />
a educação probl<strong>em</strong>atizadora e <strong>da</strong> comunicação busca e investiga a „palavra<br />
geradora‟, na pós-alfabetização busca e investiga o t<strong>em</strong>a gerador” para que, a<br />
partir <strong>de</strong>le, ocorra o segundo momento do processo educativo: a t<strong>em</strong>atização.<br />
b) a t<strong>em</strong>atização<br />
Paulo Freire enten<strong>de</strong> que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é funcionalmente domesticadora.<br />
Para que o indivíduo liberte-se <strong>de</strong>sta força domesticadora, faz-se necessária a<br />
sua imersão nela e a sua volta sobre ela. É por isso que só através <strong>da</strong> práxis<br />
autêntica, sendo ação e reflexão, é possível fazê-lo (FREIRE, 1987).<br />
A reflexão, se realmente reflexão, conduz à prática. Por outro lado, se o<br />
momento já é o <strong>da</strong> ação, esta se fará autêntica práxis se o saber <strong>de</strong>la<br />
resultante se faz objeto <strong>da</strong> reflexão crítica” E acrescenta: “A não ser assim, a<br />
ação é puro ativismo (FREIRE, 1987:52).<br />
Portanto, “a práxis é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para<br />
transformá-lo” (FREIRE, 1987:38).<br />
71
A t<strong>em</strong>atização é o esforço <strong>de</strong> propor aos indivíduos dimensões<br />
significativas <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, cuja reflexão e análise crítica lhes possibilita<br />
reconhecer a interação <strong>de</strong> suas partes como dimensões <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(FREIRE, 1987). Isto é alcançado através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> codificação e<br />
<strong>de</strong>codificação <strong>da</strong> situação existencial que implica uma i<strong>da</strong> <strong>da</strong>s partes ao todo e<br />
uma volta <strong>de</strong>ste às partes.<br />
Em face <strong>de</strong> uma situação existencial codifica<strong>da</strong> (situação <strong>de</strong>senha<strong>da</strong> ou<br />
fotografa<strong>da</strong> que r<strong>em</strong>ete, por abstração, ao concreto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> existencial), a<br />
tendência dos indivíduos é realizar uma espécie <strong>de</strong> „cisão‟ na situação que se<br />
lhes apresenta.(...) A cisão <strong>da</strong> situação figura<strong>da</strong> possibilita <strong>de</strong>scobrir a<br />
interação entre as partes do todo cindido (FREIRE, 1987:97).<br />
T<strong>em</strong>atizar é, no pensamento <strong>de</strong> Freire e <strong>de</strong> seus seguidores, um ato <strong>de</strong><br />
admiração, um ato <strong>de</strong> “ad-mirar”, no sentido <strong>de</strong> “mirar <strong>de</strong> longe”, abstrair.<br />
As codificações são representações, são objetos que mediatizam os<br />
sujeitos <strong>de</strong>codificadores. Segundo FREIRE (1987:108), “as codificações <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />
representar situações conheci<strong>da</strong>s pelos indivíduos”. Concretamente, são<br />
“aju<strong>da</strong>s visuais” como um <strong>de</strong>senho, uma foto, uma gravura, ou qualquer outro<br />
el<strong>em</strong>ento visual que esteja relacionado à t<strong>em</strong>ática escolhi<strong>da</strong>. A codificação é<br />
um recurso visual concreto, mas ela po<strong>de</strong> se tornar muito mais que isto num<br />
processo educativo libertador, como propõ<strong>em</strong> as concepções <strong>de</strong> educação<br />
popular: “A codificação é um objeto <strong>de</strong> conhecimento que, mediatizando<br />
educador e educandos, se dá a seu <strong>de</strong>svelamento”. (grifo nosso)<br />
Referindo-se, mais especificamente (mas não apenas) a um processo<br />
<strong>de</strong> alfabetização, FREIRE (1977:27) ex<strong>em</strong>plifica:<br />
Representando um aspecto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta dos camponeses, a<br />
codificação t<strong>em</strong> escrita <strong>em</strong> si a palavra geradora a ela referi<strong>da</strong> (referi<strong>da</strong> à<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>) ou a algum <strong>de</strong> seus el<strong>em</strong>entos. Ao <strong>de</strong>codificar<strong>em</strong> a codificação, com<br />
a participação do educador, os camponeses analisam sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
expressam, <strong>em</strong> seu discurso, os níveis <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> si mesmos (grifo<br />
nosso) <strong>em</strong> suas relações com a objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (FREIRE, 1977:27).<br />
A <strong>de</strong>codificação, portanto, é um processo <strong>de</strong> análise crítica <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> através do seu “distanciamento”. Esta análise é um exercício<br />
<strong>de</strong> abstração, através do qual, por meio <strong>de</strong> representações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
concreta, procura-se <strong>de</strong>svelar a razão <strong>de</strong> ser dos fatos (FREIRE, 1977). É,<br />
também, um processo <strong>de</strong> auto-análise, como alerta FREIRE (1987:99):<br />
É preciso que nos convençamos <strong>de</strong> que as aspirações, os motivos, as<br />
finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se encontram implicitados na t<strong>em</strong>ática significativa são<br />
aspirações, finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, motivos humanos. Por isso, não estão aí, num certo<br />
72
espaço, como coisas petrifica<strong>da</strong>s, mas estão sendo. São tão históricos quanto<br />
os homens. Não po<strong>de</strong>m ser captados fora <strong>de</strong>les, insistamos. Captá-los e<br />
entendê-los é enten<strong>de</strong>r os homens que os encarnam e a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a eles<br />
referi<strong>da</strong>. Mas, precisamente porque não é possível entendê-los fora dos<br />
homens, é preciso que estes também os enten<strong>da</strong>m. A investigação t<strong>em</strong>ática se<br />
faz assim, um esforço comum <strong>de</strong> consciência <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
autoconsciência, que a inscreve como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> do processo educativo,<br />
ou <strong>da</strong> ação cultural <strong>de</strong> caráter libertador.<br />
É, portanto, através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta “autoconsciência”,<br />
presente nas diferentes etapas do processo educativo, que ocorre “um<br />
reconhecimento do sujeito no objeto (a situação existencial concreta) e do<br />
objeto como situação <strong>em</strong> que está o sujeito” (FREIRE, 1987:97). Em outras<br />
palavras, ocorre a percepção <strong>de</strong> que o sujeito faz parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é o reflexo <strong>da</strong>s ações dos sujeitos, passível, portanto, <strong>de</strong><br />
transformações, também a partir <strong>de</strong> suas ações. A concretização <strong>de</strong>sta<br />
percepção é a realização <strong>da</strong> prática e <strong>da</strong> práxis.<br />
No entanto, a t<strong>em</strong>atização ocorre s<strong>em</strong>pre num ambiente coletivo <strong>de</strong><br />
educação, on<strong>de</strong> estão presentes os sujeitos <strong>de</strong>sta ação. Aqui situam-se<br />
algumas outras importantes discussões levanta<strong>da</strong>s por Paulo Freire <strong>em</strong> torno<br />
<strong>da</strong> relação educador-educando ou, como ele, também usa li<strong>de</strong>rança-massas.<br />
De imediato ele compreen<strong>de</strong> que:<br />
as duas situações são situações <strong>de</strong> “aprendizag<strong>em</strong>”. Para FREIRE<br />
(1987:56), educador e educando encontram-se numa tarefa <strong>em</strong> que ambos<br />
são sujeitos no ato “não só <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e, assim, criticamente<br />
conhecê-la”, mas também no ato <strong>de</strong> recriar este conhecimento e esta<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>da</strong> reflexão e <strong>da</strong> ação comum. Por este motivo, o autor,<br />
<strong>em</strong> vários momentos, utiliza-se <strong>da</strong>s expressões educador-educando e<br />
educando-educador. E explica:<br />
A razão <strong>de</strong> ser <strong>da</strong> educação libertadora está no seu impulso inicial conciliador.<br />
Daí que tal forma <strong>de</strong> educação implique na superação <strong>da</strong> contradição<br />
educador-educandos, <strong>de</strong> tal maneira que se façam ambos, simultaneamente,<br />
educadores e educandos (FREIRE, 1987:59).<br />
ao educador (ou à li<strong>de</strong>rança) cabe uma reflexão que critique a compreensão<br />
culturalmente construí<strong>da</strong> <strong>de</strong> que seu papel social seria levar ao educando<br />
73
uma mensag<strong>em</strong> “salvadora”, <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> conteúdo a ser <strong>de</strong>positado, e<br />
vislumbre o <strong>de</strong>sejo e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> diálogo, conhecer, não só a objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que estão, mas a consciência<br />
que tenham <strong>de</strong>sta objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>; os vários níveis <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> si mesmos e<br />
do mundo <strong>em</strong> que e com que estão (FREIRE, 1987:86).<br />
o coletivo é o ambiente do aprendizado. Paulo Freire chega a dizer que<br />
sozinho ninguém se educa. Certamente, não discor<strong>da</strong>ria que a meditação é<br />
uma forma <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, mas o que ele quer chamar a atenção é para o<br />
papel do reconhecimento coletivo. Para ele, a transformação do indivíduo<br />
dá-se no reconhecimento <strong>de</strong> uma situação existencial, que é coletiva.<br />
Para que aconteça a participação do indivíduo diante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
vivi<strong>da</strong>, é necessário, portanto, um processo <strong>de</strong> conquista, individual e coletiva,<br />
por parte tanto dos educandos quanto dos educadores 24 .<br />
FREIRE (1987) ressalta que o mero reconhecimento <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
que não leve a uma inserção (ação já) não conduz a nenhuma transformação<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> objetiva, precisamente porque o processo <strong>de</strong> análise crítica <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> não ocorre. O gran<strong>de</strong> diferencial apontado por ele encontra-se no<br />
grau <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>atização que o indivíduo e o grupo são capazes <strong>de</strong> vivenciar,<br />
nosso terceiro el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> discussão, porque é através <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>atização <strong>de</strong><br />
uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> que se torna possível imaginá-la diferente, construí<strong>da</strong>,<br />
planeja<strong>da</strong>. Torna-se possível, nas palavras <strong>de</strong> Freire, <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r o “inédito<br />
viável”, ou seja, aquilo que ain<strong>da</strong> não existe – é inédito, mas se torna possível<br />
(viável), inicialmente, na imaginação do indivíduo.<br />
c) a probl<strong>em</strong>atização<br />
Paulo Freire compreen<strong>de</strong> que a probl<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
vivi<strong>da</strong> traz a percepção <strong>da</strong>s razões (grifo nosso), que torna aquela situação<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência” é o objetivo final do processo <strong>de</strong><br />
probl<strong>em</strong>atização. A conscientização possibilita ao indivíduo inserir-se no<br />
processo histórico como sujeito e o inscreve na busca <strong>de</strong> sua afirmação<br />
enquanto pessoa (FREIRE, 1987).<br />
24 Existe uma vasta literatura a este respeito, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca-se o livro <strong>de</strong> Pedro D<strong>em</strong>o,<br />
“Participação é Conquista”, no qual o autor <strong>de</strong>senvolve a idéia <strong>de</strong> que a participação social é<br />
uma conquista coletiva, mas, antes <strong>de</strong> tudo, é uma conquista pessoal, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> indivíduo.<br />
74
Metodologicamente, FREIRE (1987) propõe que este momento ocorra<br />
no que ele chama <strong>de</strong> “círculos <strong>de</strong> investigação t<strong>em</strong>ática”, que são reuniões<br />
on<strong>de</strong> operacionaliza-se a <strong>de</strong>codificação do material anteriormente elaborado.<br />
No processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação, cabe ao investigador, auxiliar <strong>de</strong>sta, não apenas<br />
ouvir os indivíduos, mas <strong>de</strong>safiá-los ca<strong>da</strong> vez mais, probl<strong>em</strong>atizando, <strong>de</strong> um<br />
lado, a situação existencial codifica<strong>da</strong> e, <strong>de</strong> outro, as próprias respostas que<br />
vão <strong>da</strong>ndo aqueles no <strong>de</strong>correr do diálogo (FREIRE, 1987:113).<br />
Este processo promove a percepção <strong>da</strong> percepção anterior e o<br />
conhecimento do conhecimento anterior, promovendo, por sua vez, o<br />
surgimento <strong>de</strong> nova percepção e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novo conhecimento<br />
(FREIRE, 1987).<br />
O que antes já existia como objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas não era percebido <strong>em</strong> suas<br />
implicações mais profun<strong>da</strong>s e, às vezes, n<strong>em</strong> sequer era percebido, se<br />
„<strong>de</strong>staca‟ e assume o caráter <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>a, portanto, <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. A partir <strong>de</strong>ste<br />
momento, o „percebido <strong>de</strong>stacado‟ já é objeto <strong>da</strong> „admiração‟ dos homens, e,<br />
como tal, <strong>de</strong> sua ação e <strong>de</strong> seu conhecimento (FREIRE, 1987:71).<br />
A probl<strong>em</strong>atização leva à percepção dos probl<strong>em</strong>as vividos, o que<br />
Paulo Freire chama <strong>de</strong> situações-limites, e <strong>de</strong> suas razões. Esta percepção<br />
<strong>de</strong>safia o indivíduo e po<strong>de</strong> levar à idéia <strong>da</strong> transformação <strong>de</strong>sta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
através <strong>da</strong> superação <strong>da</strong> contradição <strong>em</strong> que se encontra o sujeito.<br />
Quando os probl<strong>em</strong>as se revelam para além <strong>da</strong>s “situações-limites”,<br />
surge o “inédito viável”, que é uma nova possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> solução para estes<br />
probl<strong>em</strong>as. Em outras palavras, “inédito viável” é a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ain<strong>da</strong> inédita<br />
<strong>da</strong> ação. É a “futuri<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica, que não po<strong>de</strong> ocorrer se não for<strong>em</strong><br />
supera<strong>da</strong>s as situações-limites, transformando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> com a práxis do<br />
indivíduo (o futuro a construir)” (JORGE, 1981:76).<br />
Este é o sentido <strong>da</strong> conscientização proposta por Freire enquanto um<br />
processo oposto ao <strong>da</strong> alienação.<br />
Quanto mais se probl<strong>em</strong>atizam os educandos, como seres no mundo e com o<br />
mundo, tanto mais se sentirão <strong>de</strong>safiados. Tão mais <strong>de</strong>safiados, quanto mais<br />
obrigados a respon<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>safio. Desafiados, compreen<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>safio na<br />
própria ação <strong>de</strong> captá-lo. Mas, precisamente porque captam o <strong>de</strong>safio como<br />
um probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> suas conexões com outros, num plano <strong>de</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> e não<br />
como algo petrificado, a compreensão resultante ten<strong>de</strong> a tornar-se<br />
crescent<strong>em</strong>ente crítica, por isto, ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong>saliena<strong>da</strong>. Através <strong>de</strong>la, que<br />
provoca novas compreensões <strong>de</strong> novos <strong>de</strong>safios, que vão surgindo no<br />
processo <strong>da</strong> resposta, se vão reconhecendo, mais e mais, como compromisso.<br />
Assim é que se dá o reconhecimento que engaja (FREIRE, 1987:70).<br />
75
Portanto, o resultado esperado <strong>de</strong>ste processo educativo é a inserção<br />
do indivíduo na sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> como um sujeito, um ator, participante e<br />
influenciador <strong>de</strong> seu próprio futuro.<br />
Po<strong>de</strong>m-se citar, ain<strong>da</strong>, alguns pressupostos do pensamento <strong>de</strong> Freire:<br />
- O Ser Humano, assim como os animais e os vegetais, são inacabados,<br />
estando <strong>em</strong> constante processo <strong>de</strong> transformação. Porém, aquele se sabe<br />
inacabado e, por isso, se educa (FREIRE, 1981).<br />
O hom<strong>em</strong> po<strong>de</strong> refletir sobre si mesmo e colocar-se num <strong>de</strong>terminado<br />
momento, numa certa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>: é um ser na busca constante <strong>de</strong> ser mais e,<br />
como po<strong>de</strong> fazer esta auto-reflexão, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir-se como um ser<br />
inacabado, que está <strong>em</strong> constante busca (FREIRE, 1981:27).<br />
- Existe uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> entre subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no ato <strong>de</strong> conhecer.<br />
“A reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta nunca é, apenas, o <strong>da</strong>do objetivo, o fato real, mas<br />
também a percepção que <strong>de</strong>la se tenha” (FREIRE, 1977:51)<br />
- Ninguém educa ninguém; o ser humano é sujeito <strong>de</strong> sua própria educação e<br />
se educa <strong>em</strong> comunhão com outras consciências (FREIRE, 1981).<br />
- A educação t<strong>em</strong> caráter permanente, pois ninguém sabe <strong>de</strong> forma absoluta.<br />
O saber se faz através <strong>de</strong> uma superação constante <strong>da</strong> ignorância (FREIRE,<br />
1981).<br />
76
3. APLICAÇÃO DO DRP PARA ELABORAÇÃO<br />
DE UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO RURAL<br />
NO MUNICÍPIO DE TOMBOS, MINAS GERAIS<br />
3.1. Caracterização <strong>da</strong> área <strong>de</strong> estudo<br />
O presente estudo foi realizado <strong>em</strong> Tombos, pequeno município (284<br />
km 2 ) <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata mineira (Figura 1). A economia local baseia-se no cultivo<br />
<strong>de</strong> café e na produção <strong>de</strong> leite, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que envolv<strong>em</strong> a maior parte <strong>da</strong> sua<br />
população (10.395 habitantes), <strong>da</strong> zona rural (3.258 habitantes) ou <strong>da</strong> zona<br />
urbana (7.137 habitantes) 25 .<br />
25 Dados do Censo D<strong>em</strong>ográfico <strong>de</strong> 1996.<br />
77<br />
Tombos nasceu no começo do<br />
século passado, quando o abastado<br />
Coronel Maximiano José Pereira <strong>de</strong><br />
Souza explorava as margens do Rio<br />
Carangola e <strong>de</strong>parou com três<br />
belíssimas cachoeiras que, <strong>em</strong><br />
seqüência, formavam uma única vista<br />
e as <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> tombos (Plano<br />
Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural –<br />
Tombos-MG).
Em 12 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1878, o território, na categoria <strong>de</strong> distrito, foi<br />
incorporado ao município <strong>de</strong> Carangola, com o nome <strong>de</strong> Tombos do Carangola,<br />
e assim permaneceu até a criação do município. Com a <strong>em</strong>ancipação política,<br />
<strong>em</strong> 7 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1923, o distrito torna-se município e vila, passando a<br />
<strong>de</strong>nominar-se simplesmente Tombos.<br />
78<br />
Figura 1 - Localização do município
3.2. Antece<strong>de</strong>ntes históricos<br />
79<br />
<strong>de</strong> Tombos – Minas Gerais.<br />
Tombos é um dos municípios <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata mineira que, durante os<br />
anos 70, viu crescer o movimento <strong>da</strong>s Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base (CEB),<br />
a partir <strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> Igreja Católica.<br />
Fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> concepção volta<strong>da</strong> para a evangelização,<br />
combina<strong>da</strong> com uma atuação prática sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, várias dioceses<br />
brasileiras estimularam a criação <strong>de</strong> movimentos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o auxílio <strong>da</strong>s<br />
populações pobres <strong>da</strong>s áreas rurais e urbanas. Este movimento ganhou<br />
expressão e, no ano <strong>de</strong> 1974, já se contava com cerca <strong>de</strong> 40.000 CEB<br />
organiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> diversos estados brasileiros.<br />
Em Tombos, um dos resultados <strong>de</strong>ste movimento foi a criação do<br />
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) <strong>de</strong> Tombos <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1985.<br />
O Centro <strong>de</strong> Tecnologias Alternativas <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM) foi<br />
criado <strong>em</strong> 1987, fruto <strong>de</strong> combinação entre a iniciativa <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />
profissionais <strong>da</strong>s Ciências Agrárias e <strong>de</strong> diversos Sindicatos <strong>de</strong> Trabalhadores<br />
Rurais (STR) <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata, com o objetivo <strong>de</strong><br />
construir uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentado para a Zona <strong>da</strong><br />
Mata mineira, que melhore as condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias, aumente a<br />
produção <strong>de</strong> alimentos e conserve os recursos naturais, principalmente os ricos<br />
r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> mata atlântica ain<strong>da</strong> existentes (http://soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>.uol.<br />
com.br/enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s/ctazm).<br />
O STR <strong>de</strong> Tombos é um dos parceiros do CTA-ZM. Des<strong>de</strong> 1988, esta<br />
parceria t<strong>em</strong> procurado construir uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural<br />
sustentado no município, <strong>em</strong> articulação com outros STR <strong>da</strong> região. Diversas<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação e experimentação participativa foram <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no<br />
sentido <strong>de</strong> apoiar a agricultura familiar do município.<br />
Com a eleição do Partido dos Trabalhadores para o Governo Municipal,<br />
<strong>em</strong> 1996, muitas <strong>da</strong>s pessoas que faziam parte do movimento sindical local<br />
passaram a ocupar espaço na Administração Pública, especialmente na<br />
Secretaria <strong>de</strong> Agricultura.<br />
Esta conjuntura trouxe novas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios. Como utilizar a<br />
estrutura <strong>da</strong> Administração Pública Municipal para o crescimento <strong>da</strong> proposta<br />
que estes atores sociais já vinham procurando construir enquanto socie<strong>da</strong><strong>de</strong>
civil? Esta foi a pergunta que originou, entre outras coisas, a proposta <strong>de</strong><br />
realização <strong>de</strong> um diagnóstico do município com vistas à elaboração <strong>de</strong> um<br />
Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural.<br />
Por parte <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Agricultura, a elaboração <strong>de</strong> um Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural po<strong>de</strong>ria contribuir não apenas para melhor organizar<br />
suas ações, mas também para facilitar a busca por recursos que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong><br />
viabilizar suas ações. Por parte do CTA-ZM, o Plano po<strong>de</strong>ria contribuir para<br />
uma <strong>de</strong>finição mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua intervenção no município <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste<br />
novo contexto político-administrativo.<br />
A assessoria para o <strong>de</strong>senvolvimento do diagnóstico e planejamento<br />
municipal foi constituí<strong>da</strong> pela autora <strong>de</strong>sta tese e pelo CTA-ZM, que,<br />
recent<strong>em</strong>ente, havia <strong>de</strong>finido Tombos como uma <strong>da</strong>s áreas prioritárias <strong>de</strong> seu<br />
trabalho. Um convênio entre esta enti<strong>da</strong><strong>de</strong> e o Governo Municipal <strong>de</strong>u<br />
concretu<strong>de</strong> à nova estratégia, cont<strong>em</strong>plando, entre outras coisas, a contratação<br />
<strong>de</strong> um técnico do CTA-ZM para trabalhar diretamente no município.<br />
A opção pelo uso do DRP para a elaboração do Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural <strong>de</strong>u-se tanto pelo acúmulo que o CTA-ZM e a<br />
assessoria já possuíam <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong>ste método quanto pelo<br />
conhecimento que as pessoas do STR tinham do seu uso <strong>em</strong> outras áreas <strong>de</strong><br />
atuação do CTA-ZM.<br />
3.3. Definição dos objetivos, abrangência e enfoque do diagnóstico<br />
80<br />
A proposta preliminar para a<br />
realização <strong>de</strong> um diagnóstico para<br />
elaboração do Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural <strong>de</strong> Tombos<br />
(Apêndice A) foi discuti<strong>da</strong> no dia<br />
11/02/1998, <strong>em</strong> reunião que contou<br />
com a presença do STR (Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais), <strong>da</strong><br />
EMATER, do CTA-ZM, <strong>da</strong> Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Agricultura e Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Ação Social, conforme<br />
documento interno (Apêndice B).<br />
Nesta ocasião, <strong>de</strong>senvolveu-se um<br />
<strong>de</strong>bate sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> real <strong>de</strong><br />
um plano, tendo <strong>em</strong> vista que a<br />
Secretaria Municipal <strong>de</strong> Agricultura já
estava realizando uma série <strong>de</strong> ações<br />
no meio rural. O <strong>de</strong>bate apontou<br />
como objetivo do trabalho a<br />
elaboração <strong>de</strong> um plano para<br />
reorientar as ações e <strong>de</strong>finir<br />
priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a partir <strong>de</strong> melhor<br />
compreensão <strong>da</strong>s questões<br />
estratégicas que impe<strong>de</strong>m o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do município. Além<br />
disso, <strong>de</strong>stacou a importância do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong><br />
forma que a população pu<strong>de</strong>sse<br />
aumentar sua compreensão a<br />
respeito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong> e fosse<br />
estimula<strong>da</strong> a participar <strong>da</strong>s ações.<br />
Foi realiza<strong>da</strong> também uma discussão sobre a abrangência do estudo a<br />
ser realizado. Já havia um consenso <strong>de</strong> que o planejamento <strong>de</strong>veria partir <strong>de</strong><br />
um diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porém, <strong>de</strong> que reali<strong>da</strong><strong>de</strong> se falava? Apenas a<br />
rural? E as (múltiplas) relações rural-urbana, como <strong>de</strong>veriam ser trata<strong>da</strong>s? Não<br />
se po<strong>de</strong>ria ignorar o fato <strong>de</strong> que muitas pessoas que moram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
trabalham no campo ou mantêm ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s liga<strong>da</strong>s à agricultura. Definiu-se,<br />
então, como abrangência do diagnóstico, a área on<strong>de</strong> existiam ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
agrícolas, o que significou um conjunto <strong>de</strong> 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais mais o<br />
entorno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A partir <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>finições, foi construí<strong>da</strong> uma estratégia <strong>de</strong> trabalho<br />
que pu<strong>de</strong>sse <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> atingir um universo tão gran<strong>de</strong>, diverso e disperso<br />
geograficamente. Constituiu-se, portanto, um Conselho <strong>de</strong> Elaboração do<br />
Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento, com pessoas <strong>de</strong> diversos segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
local e vincula<strong>da</strong>s às diversas áreas do conhecimento (saú<strong>de</strong>, educação, etc.).<br />
No âmbito <strong>de</strong>ste Conselho, seria iniciado o diagnóstico e, posteriormente, os<br />
participantes seriam envolvidos no trabalho <strong>de</strong> campo a ser realizado nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
O Conselho <strong>de</strong> Elaboração do Plano, também <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong><br />
Conselho Inicial, foi constituído por 45 pessoas (nove <strong>de</strong>las não resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong><br />
Tombos), segundo a seguinte composição:<br />
Li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> base:<br />
- Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) - 8<br />
- Associação <strong>de</strong> Produtores Rurais (APAT) - 5<br />
81
- Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> grupos (grupos <strong>de</strong> trabalho ligados à Secretaria <strong>de</strong><br />
Agricultura) - 7<br />
- Sindicato Rural - 2<br />
Governo:<br />
- Secretaria <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Educação - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Assistência Social - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Agricultura - 2<br />
Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s/Instituições:<br />
- EMATER (Empresa <strong>de</strong> Assistência Técnica e Extensão Rural) - 2<br />
- CTA-ZM (Centro <strong>de</strong> Tecnologias Alternativas <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata) - 4<br />
- UFV (Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa) - 6<br />
- SIAT (Serviço Integrado <strong>de</strong> Assistência Tributária e Fiscal) - 1<br />
Câmara <strong>de</strong> Vereadores: 2 representantes<br />
Esta <strong>de</strong>finição foi feita <strong>em</strong> reunião do CTA-ZM, <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong><br />
Agricultura, <strong>da</strong> APAT, <strong>da</strong> EMATER e do STR (Apêndice C), quando também<br />
constituiu-se formalmente uma equipe executiva com representantes <strong>de</strong>stas<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais a assessoria. À equipe executiva, coube a função <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> todo o processo.<br />
Ain<strong>da</strong> na mesma reunião, <strong>de</strong>finiu-se a proposta inicial <strong>de</strong> planejamento<br />
do trabalho, que consistiu <strong>em</strong>:<br />
Análise e sist<strong>em</strong>atização dos <strong>da</strong>dos secundários;<br />
I Encontro do Conselho (1.ª coleta e análise <strong>da</strong>s informações do grupo);<br />
II Encontro do Conselho (2.ª coleta e análise <strong>da</strong>s informações do grupo);<br />
Levantamento <strong>de</strong> campo: dois finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana para ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
III Encontro do Conselho (análise final <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as informações coleta<strong>da</strong>s);<br />
Encontro do Conselho e representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ain<strong>da</strong> não<br />
representa<strong>da</strong>s (elaboração <strong>da</strong> 1.ª versão do Plano), <strong>em</strong> duas etapas;<br />
Discussão do Plano com as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s 26 ;<br />
Encontro do Conselho e representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (finalização do<br />
Plano: operacionalização e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s); e<br />
26 Esta etapa foi suprimi<strong>da</strong> por falta <strong>de</strong> estrutura para realizar mais uma ro<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> reuniões.<br />
82
Re<strong>da</strong>ção e divulgação do Plano.<br />
Numa próxima reunião (Apêndice D), para analisar os <strong>da</strong>dos<br />
secundários, foi feito, pela equipe executiva, um <strong>de</strong>bate sobre o enfoque do<br />
diagnóstico. Partiu-se <strong>da</strong> constatação <strong>de</strong> que no meio rural (abrangência<br />
<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> para o diagnóstico) não exist<strong>em</strong> apenas questões relaciona<strong>da</strong>s à<br />
agricultura. Por outro lado, as questões relaciona<strong>da</strong>s à agricultura não se<br />
restring<strong>em</strong> ao espaço rural. A comercialização dos produtos envolve, muitas<br />
vezes, atores que têm sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> no meio urbano. Portanto, o que <strong>de</strong>ve ser<br />
enfocado num diagnóstico que t<strong>em</strong> por objetivo elaborar um Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural? A princípio, to<strong>da</strong>s as questões que se relacionam ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste “espaço”, como saú<strong>de</strong>, educação, estra<strong>da</strong>s, produção<br />
agropecuária. Entretanto, t<strong>em</strong>ia-se que, diante <strong>da</strong> tradicional postura<br />
assistencialista dos governos e <strong>da</strong> postura simplesmente reivindicatória <strong>da</strong><br />
população, um enfoque tão amplo trouxesse o risco <strong>de</strong> as discussões<br />
concentrar<strong>em</strong>-se nas questões mais visíveis, como estra<strong>da</strong>s, escolas ou postos<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a discussão sobre as questões mais estruturais,<br />
relaciona<strong>da</strong>s à produção propriamente dita. O risco foi assumido a partir <strong>da</strong><br />
compreensão <strong>de</strong> que, se as questões relaciona<strong>da</strong>s à produção foss<strong>em</strong><br />
relevantes, elas apareceriam no diagnóstico.<br />
Observou-se, porém, que o diagnóstico constituía-se numa iniciativa <strong>da</strong><br />
Secretaria <strong>de</strong> Agricultura e que, mesmo havendo o interesse <strong>de</strong> envolver as<br />
<strong>de</strong>mais Secretarias, não se po<strong>de</strong>ria garantir que elas viess<strong>em</strong> a comprometer-<br />
se com as propostas relaciona<strong>da</strong>s a sua área <strong>de</strong> intervenção.<br />
Estas preocupações levaram à <strong>de</strong>finição do seguinte enfoque para o<br />
diagnóstico: “Fazer um diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> rural <strong>em</strong> geral e traçar um<br />
plano para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas. As <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s nas<br />
outras áreas serão leva<strong>da</strong>s/discuti<strong>da</strong>s com as outras Secretarias” (Apêndice D).<br />
Tendo o objetivo, a abrangência e o enfoque <strong>de</strong>finidos, partiu-se para a<br />
realização do diagnóstico propriamente dito, que seguiu a estratégia resumi<strong>da</strong><br />
no Quadro 1.<br />
83
Quadro 1 - Síntese dos principais passos <strong>da</strong> estratégia utiliza<strong>da</strong> (FARIA,<br />
1999:52)<br />
O QUÊ? QUEM? PRODUTO(S)<br />
1 Discussão <strong>da</strong> proposta<br />
(2 reuniões)<br />
2 Levantamento e sist<strong>em</strong>atização<br />
dos <strong>da</strong>dos secun-<br />
dários<br />
3 Análise dos <strong>da</strong>dos secundários<br />
sobre o município<br />
(2 reuniões)<br />
4 Levantamento <strong>da</strong>s informações<br />
dos m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho (1 encontro <strong>de</strong> 2<br />
dias)<br />
5 Sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong>s informações<br />
do Conselho<br />
6 Correção e análise <strong>da</strong>s<br />
informações do Conselho<br />
(1 encontro <strong>de</strong> 2 dias)<br />
7 Levantamento <strong>da</strong>s informações<br />
<strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
rurais e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(2 finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana/comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />
Secretaria <strong>de</strong> Agricultura,<br />
EMATER, STR, APAT, CTA-<br />
ZM e assessoria<br />
Secretaria <strong>de</strong> Agricultura, CTA-<br />
ZM<br />
Equipe executiva (Secretaria <strong>de</strong><br />
Agricultura, EMATER, STR,<br />
APAT, CTA-ZM e assessoria)<br />
Conselho <strong>de</strong> Elaboração do<br />
Plano<br />
(cerca <strong>de</strong> 40 pessoas)<br />
Estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> UFV e alguns<br />
profissionais participantes do<br />
Conselho<br />
Conselho <strong>de</strong> Elaboração do<br />
Plano<br />
(cerca <strong>de</strong> 40 pessoas)<br />
Pesquisadores: m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho, estu<strong>da</strong>ntes e profissionais<br />
voluntários (54 pessoas)<br />
8 Sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong>s infor- Parte <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> pesquisadomaçõesres<br />
9 Análise geral <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> Conselho Ampliado com repre-<br />
rural do município a partir<br />
sentantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>da</strong> síntese elabora<strong>da</strong> (1<br />
encontro <strong>de</strong> 2 dias) (cerca <strong>de</strong> 55 pessoas)<br />
10 Aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> análise<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e formulação<br />
<strong>de</strong> propostas <strong>de</strong><br />
ação (2 encontros, num<br />
total <strong>de</strong> 3 dias)<br />
11 Apresentação <strong>da</strong>s propostas<br />
<strong>de</strong> ação <strong>em</strong> um<br />
encontro municipal (1 en-<br />
contro <strong>de</strong> 1 dia)<br />
12 Definição sobre encaminhamento<br />
<strong>da</strong>s propostas<br />
(1 encontro <strong>de</strong> 1 dia)<br />
13 Elaboração do Plano<br />
Operacional<br />
Conselho Ampliado com representantes<br />
<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
Participação aberta<br />
(236 pessoas inscritas)<br />
Conselho Ampliado com representantes<br />
<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
9 comissões, num total <strong>de</strong> 20<br />
pessoas envolvi<strong>da</strong>s<br />
84<br />
Formação <strong>de</strong> uma equipe executiva<br />
Formação <strong>de</strong> um Conselho <strong>de</strong><br />
Elaboração do Plano<br />
Síntese dos <strong>da</strong>dos secundários<br />
Primeiro roteiro geral para o<br />
diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Informações levanta<strong>da</strong>s através<br />
<strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong>s seguintes técnicas:<br />
mapa, diagrama <strong>de</strong> Venn,<br />
matriz histórica e diagramas <strong>de</strong><br />
fluxo.<br />
Síntese <strong>da</strong>s informações do<br />
Conselho<br />
Correções <strong>da</strong> síntese<br />
Sonhos e matriz <strong>de</strong> tipificação<br />
Novo roteiro para o levantamento<br />
<strong>da</strong>s informações nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
Informações levanta<strong>da</strong>s a partir<br />
<strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong>s seguintes técnicas:<br />
mapa, calendário sazonal,<br />
sonhos e entrevistas s<strong>em</strong>i-estrutura<strong>da</strong>s.<br />
Escolha dos representantes para<br />
elaborar, junto com o Conselho,<br />
uma primeira versão do Plano.<br />
Síntese <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s<br />
até o momento<br />
Matriz <strong>de</strong> relações lógicas<br />
Definição <strong>de</strong> uma missão para o<br />
futuro Conselho Municipal <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural, a ser<br />
criado.<br />
Propostas <strong>de</strong> ação<br />
Comentários e sugestões sobre<br />
as propostas <strong>de</strong> ação<br />
Formação <strong>de</strong> comissões para<br />
elaboração do Plano Operacional<br />
Plano Operacional
3.4. Levantamento <strong>da</strong>s informações<br />
Como po<strong>de</strong> ser observado no esqu<strong>em</strong>a apresentado, foram utiliza<strong>da</strong>s,<br />
<strong>de</strong> forma progressiva, três fontes para o levantamento <strong>da</strong>s informações: os<br />
<strong>da</strong>dos secundários, as informações dos m<strong>em</strong>bros do Conselho e as<br />
informações <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Os <strong>da</strong>dos secundários foram levantados por três integrantes <strong>da</strong><br />
equipe executiva, principalmente na Prefeitura Municipal e no IBGE. Os <strong>da</strong>dos<br />
obtidos foram analisados pela equipe executiva, que, tendo como referência o<br />
objetivo do diagnóstico, elaborou um roteiro geral para análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
As informações dos m<strong>em</strong>bros do Conselho foram levanta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> um<br />
encontro <strong>de</strong> dois dias. Num primeiro momento, organizaram-se três grupos,<br />
garantindo, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um, a presença <strong>de</strong> pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>da</strong><br />
administração municipal e <strong>de</strong> técnicos. Para a obtenção <strong>da</strong>s informações,<br />
foram utiliza<strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong> DRP.<br />
O primeiro grupo construiu um mapa do município; o segundo, uma<br />
matriz histórica, e o terceiro, um diagrama <strong>de</strong> Venn.<br />
O mapa é uma técnica que permite a visualização espacial <strong>de</strong> um<br />
lugar, seja ele uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, um município ou qualquer outro recorte <strong>de</strong><br />
interesse. Trata-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho gráfico do espaço que está sendo<br />
estu<strong>da</strong>do. Neste <strong>de</strong>senho, representam-se os el<strong>em</strong>entos que exist<strong>em</strong> naquele<br />
lugar (po<strong>de</strong> ser uma escola, um rio, diferentes plantios, formações rochosas,<br />
etc.). O diagnóstico e a discussão acontec<strong>em</strong> por ocasião <strong>da</strong> localização<br />
<strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos, que são representados no mapa por pedras, folhas e outros<br />
recursos disponíveis.<br />
Já a matriz histórica possibilita a análise <strong>de</strong> diversos aspectos <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao longo do t<strong>em</strong>po. As matrizes são utiliza<strong>da</strong>s para fazer<br />
comparações. No caso <strong>da</strong> matriz histórica, as comparações são feitas entre<br />
épocas i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s anteriormente como marcantes para aquela reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Risca-se, no chão, uma tabela <strong>de</strong> dupla entra<strong>da</strong>. No eixo horizontal, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, são coloca<strong>da</strong>s as épocas. Os aspectos ou fenômenos que serão<br />
“comparados” ao longo do t<strong>em</strong>po são, então, colocados no eixo vertical. A<br />
matriz po<strong>de</strong> ser preenchi<strong>da</strong> por pedras, a partir <strong>de</strong> um raciocínio comparativo<br />
que indique a “intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong> ocorrência do aspecto ou fenômeno analisado<br />
85
(ex<strong>em</strong>plo: êxodo rural), ou por palavras, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um raciocínio apenas<br />
<strong>de</strong>scritivo.<br />
O diagrama <strong>de</strong> Venn, por sua vez, é utilizado para discussão sobre as<br />
relações sociais. Trata-se <strong>de</strong> um diagrama <strong>de</strong> círculos <strong>de</strong> diferentes tamanhos,<br />
dispostos como um <strong>de</strong>senho, que é o produto final <strong>de</strong> uma discussão <strong>em</strong> grupo<br />
orienta<strong>da</strong> pela seguinte pergunta: quais os grupos (formais ou informais) que<br />
exist<strong>em</strong> aqui? Ca<strong>da</strong> círculo representa um grupo. Seu tamanho representa o<br />
po<strong>de</strong>r do grupo <strong>em</strong> questão, ou seja, sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> influência no cenário<br />
que está sendo estu<strong>da</strong>do. Isso é analisado comparativamente. As distâncias<br />
entre os círculos representam as interações entre os grupos por eles<br />
representados. Se são parceiros, ficam próximos, às vezes até <strong>de</strong>ntro. Se têm<br />
objetivos diferentes, contrastantes ou antagônicos, isso é representado pela<br />
distância maior ou menor entre os círculos, também <strong>de</strong>fini<strong>da</strong><br />
comparativamente.<br />
Após a socialização dos trabalhos, foram formados dois grupos <strong>de</strong><br />
mulheres e dois grupos <strong>de</strong> homens para levantamento dos principais<br />
probl<strong>em</strong>as que dificultam o <strong>de</strong>senvolvimento do meio rural <strong>de</strong> Tombos e<br />
priorização dos três consi<strong>de</strong>rados principais por ca<strong>da</strong> grupo.<br />
A partir <strong>da</strong> apresentação dos resultados, foram feitas a síntese e a<br />
priorização dos probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> plenária, on<strong>de</strong> utilizou-se um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
pontuação individual, cujos pontos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> somados, revelaram o principal<br />
probl<strong>em</strong>a na visão dos homens e <strong>da</strong>s mulheres separa<strong>da</strong>mente.<br />
Para que a análise <strong>de</strong>stes probl<strong>em</strong>as fosse <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>, <strong>em</strong>pregou-<br />
se, <strong>em</strong> dois grupos, uma outra técnica <strong>de</strong> DRP, o diagrama <strong>de</strong> fluxo, que<br />
permite a i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s causas e conseqüências <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado probl<strong>em</strong>a<br />
ou situação vivi<strong>da</strong>, representa<strong>da</strong> <strong>em</strong> um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> papel (tarjeta) por palavras<br />
ou <strong>de</strong>senhos. Esta representação é coloca<strong>da</strong> no chão e observa<strong>da</strong> pelos<br />
presentes. Diante <strong>da</strong>s perguntas sobre as causas e conseqüências <strong>da</strong>quela<br />
situação, novas tarjetas vão sendo produzi<strong>da</strong>s e localiza<strong>da</strong>s acima (se causas)<br />
ou abaixo (se conseqüências) <strong>da</strong> tarjeta localiza<strong>da</strong> inicialmente. São feitas<br />
ligações com setas. Foram encerrados os trabalhos <strong>de</strong>sta etapa com uma<br />
apresentação e discussão dos resultados dos grupos.<br />
As informações <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foram levanta<strong>da</strong>s<br />
<strong>em</strong> dois encontros (dois finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana) por comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Para esta etapa,<br />
86
contou-se com o apoio <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> 30 estu<strong>da</strong>ntes (<strong>da</strong> UFV) e profissionais<br />
colaboradores do CTA-ZM. Alguns já tinham trabalhado com o DRP e, para os<br />
<strong>de</strong>mais, foi realizado um pequeno treinamento. Para todos, foi realizado um<br />
repasse dos passos anteriores e <strong>da</strong> estratégia elabora<strong>da</strong>. Este grupo juntou-se<br />
às pessoas do Conselho, que tinham disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e foram monta<strong>da</strong>s nove<br />
equipes, totalizando 54 pesquisadores. O tamanho <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> equipe variou <strong>de</strong><br />
quatro a cinco pessoas; procurou-se equilibrar, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma, o número <strong>de</strong><br />
mulheres e <strong>de</strong> homens e o número <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros do Conselho e <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes<br />
ou profissionais.<br />
No primeiro encontro nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, utilizou-se a técnica do mapa.<br />
Foram realiza<strong>da</strong>s algumas entrevistas s<strong>em</strong>i-estrutura<strong>da</strong>s, que consist<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
entrevistas orienta<strong>da</strong>s por um roteiro <strong>de</strong> pontos, que vão sendo respondidos no<br />
<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um diálogo entre os pesquisadores e o “informante”.<br />
No segundo encontro, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> realiza<strong>da</strong>s novas entrevistas<br />
s<strong>em</strong>i-estrutura<strong>da</strong>s, foram utiliza<strong>da</strong>s as técnicas do calendário sazonal e <strong>de</strong><br />
“sonhos”. O calendário sazonal é uma técnica que permite a i<strong>de</strong>ntificação dos<br />
ciclos, sejam eles climáticos, agrícolas, <strong>de</strong> doenças, <strong>de</strong> recursos financeiros<br />
etc. É uma espécie <strong>de</strong> matriz, <strong>em</strong> cujo eixo horizontal localizam-se os meses e,<br />
no vertical, os aspectos que se <strong>de</strong>seja discutir.<br />
É importante ressaltar que a técnica dos sonhos não é uma técnica <strong>de</strong><br />
DRP. Ela é apenas um tipo <strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong> grupo que se presta também ao<br />
levantamento <strong>de</strong> informações, pois permite aos integrantes do grupo<br />
representar, através <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos ou recortes <strong>de</strong> revista, aquilo que imaginam<br />
ser um “futuro melhor”.<br />
3.5. Sist<strong>em</strong>atização e análise <strong>da</strong>s informações<br />
Após ca<strong>da</strong> etapa <strong>de</strong> levantamento <strong>da</strong>s informações, realizou-se a<br />
sist<strong>em</strong>atização 27 dos <strong>da</strong>dos a fim <strong>de</strong> permitir sua análise e o planejamento <strong>da</strong><br />
próxima etapa.<br />
Os <strong>da</strong>dos secundários foram analisados pela equipe executiva, que,<br />
tendo como referência o objetivo do diagnóstico, elaborou um roteiro geral para<br />
27 O termo sist<strong>em</strong>atização refere-se ao agrupamento <strong>de</strong> informações s<strong>em</strong>elhantes. No caso,<br />
este agrupamento é orientado pelo mesmo roteiro utilizado para a coleta <strong>da</strong>s informações.<br />
87
o diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Este trabalho <strong>de</strong>senvolveu-se a partir <strong>de</strong> leitura dos<br />
<strong>da</strong>dos. A ca<strong>da</strong> informação li<strong>da</strong>, procedia-se a uma discussão e anotava-se num<br />
cartaz os pontos obscuros que precisariam ser investigados no próprio<br />
município.<br />
As informações dos m<strong>em</strong>bros do Conselho <strong>de</strong> Elaboração do Plano<br />
foram sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> um documento, que foi lido, corrigido e<br />
compl<strong>em</strong>entado <strong>em</strong> reunião. Formaram-se três grupos e ca<strong>da</strong> um ficou com<br />
uma parte do documento. Ao mesmo t<strong>em</strong>po que os grupos realizavam suas<br />
correções e compl<strong>em</strong>entações, analisavam os <strong>da</strong>dos e retiravam os pontos<br />
que <strong>de</strong>veriam compor o novo roteiro para levantamento <strong>de</strong> campo. As<br />
sugestões <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo foram apresenta<strong>da</strong>s e “conserta<strong>da</strong>s” <strong>em</strong> plenária.<br />
Até aqui o processo <strong>de</strong> análise teve por objetivo principal checar a<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a segurança <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar pontos<br />
obscuros para a elaboração do roteiro <strong>da</strong> próxima etapa.<br />
Após o levantamento <strong>da</strong>s informações <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais e do<br />
entorno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a análise tomou outro caráter, já que <strong>de</strong>veria permitir uma<br />
leitura <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática vivi<strong>da</strong> a fim elaborar as propostas <strong>de</strong> ação.<br />
Como o volume <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos era muito gran<strong>de</strong>, cerca <strong>de</strong> 200 páginas com<br />
informações <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 23 páginas com as informações do Conselho e<br />
8 páginas com os <strong>da</strong>dos secundários, adotou-se o seguinte procedimento para<br />
a sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong>s informações:<br />
1) Inicialmente, <strong>de</strong> posse apenas <strong>da</strong>s sist<strong>em</strong>atizações <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as<br />
informações foram sintetiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> tarjetas, segundo os itens do roteiro.<br />
Foram utiliza<strong>da</strong>s três tipos <strong>de</strong> tarjetas para ca<strong>da</strong> it<strong>em</strong>: uma para uma breve<br />
<strong>de</strong>scrição (<strong>em</strong> preto), outra para os principais probl<strong>em</strong>as (<strong>em</strong> vermelho) e a<br />
terceira para as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (<strong>em</strong> azul). Este trabalho foi feito para ca<strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelos estu<strong>da</strong>ntes e profissionais que compuseram a equipe<br />
que a visitou.<br />
2) Após este trabalho, to<strong>da</strong>s as tarjetas, i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s com o nome <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, foram coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> um quadro, separa<strong>da</strong>s conforme os itens<br />
do roteiro.<br />
3) O próximo passo, também <strong>da</strong>do pelos estu<strong>da</strong>ntes e profissionais, foi a<br />
realização <strong>de</strong> uma síntese <strong>da</strong>s sínteses <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> it<strong>em</strong> do roteiro, mantendo<br />
os três tipos <strong>de</strong> tarjetas: <strong>de</strong>scrição, probl<strong>em</strong>as e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Para isso,<br />
88
foram formados dois grupos, <strong>de</strong> maneira que ca<strong>da</strong> um contivesse<br />
pesquisadores <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s visita<strong>da</strong>s. Um grupo trabalhou os<br />
itens recursos naturais e sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção, e o outro, história <strong>da</strong> posse<br />
<strong>da</strong> terra e relações <strong>de</strong> trabalho; outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas; dinâmica <strong>da</strong><br />
população; acesso a informação; educação; saú<strong>de</strong> e organizações. O<br />
produto final foi um conjunto <strong>de</strong> tarjetas com a síntese <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um dos itens<br />
do roteiro. Aquelas informações que não eram gerais traziam na frente o<br />
nome <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> havia sido coleta<strong>da</strong>. Este “método” ficou<br />
conhecido por SSS (síntese <strong>da</strong>s sínteses <strong>da</strong>s sist<strong>em</strong>atizações).<br />
4) Em segui<strong>da</strong>, esta síntese, ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> tarjetas, foi apresenta<strong>da</strong> e discuti<strong>da</strong> com<br />
a equipe executiva para preparação <strong>da</strong> próxima reunião do Conselho, que já<br />
estaria ampliado com a presença dos representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
5) Foi montado, então, pela assessoria e duas profissionais voluntárias, um<br />
documento com a “síntese <strong>da</strong>s sínteses <strong>da</strong>s sist<strong>em</strong>atizações” <strong>da</strong>s<br />
informações levanta<strong>da</strong>s nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, acresci<strong>da</strong> pelas informações<br />
coleta<strong>da</strong>s nas reuniões do Conselho. Foram, também, elabora<strong>da</strong>s tarjetas<br />
com os principais probl<strong>em</strong>as (24 probl<strong>em</strong>as, 24 tarjetas).<br />
Como pô<strong>de</strong> ser observado no Quadro 1, a análise <strong>da</strong>s informações<br />
obti<strong>da</strong>s começou <strong>em</strong> um encontro do Conselho Ampliado com representantes<br />
<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Num primeiro momento, foram formados três grupos para<br />
leitura, correção e compl<strong>em</strong>entação do documento com a “síntese <strong>da</strong>s sínteses<br />
<strong>da</strong>s sist<strong>em</strong>atizações”. As sugestões <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo foram apresenta<strong>da</strong>s e<br />
“conserta<strong>da</strong>s” <strong>em</strong> plenária.<br />
89<br />
Para iniciar a análise<br />
propriamente dita, foram<br />
apresenta<strong>da</strong>s as 24 tarjetas com os<br />
principais probl<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>ntificados.<br />
Formaram-se, então, dois grupos para<br />
a elaboração <strong>de</strong> uma matriz <strong>de</strong><br />
relações lógicas, outra ferramenta <strong>de</strong><br />
análise, que permite ao grupo o<br />
estabelecimento <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong><br />
causa e conseqüência entre os<br />
probl<strong>em</strong>as. Um grupo analisou 16<br />
probl<strong>em</strong>as e o outro, 14. Seis<br />
probl<strong>em</strong>as eram comuns, para<br />
garantir que fosse possível juntar as<br />
duas matrizes. O produto final está<br />
apresentado a seguir (Figura 2).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 T<br />
1 1 1 1 3<br />
2 1 1 2<br />
3 1 1 2<br />
4 1 1<br />
5 1 1<br />
6 1 1<br />
7 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9<br />
8 1 1<br />
9 1 1 2<br />
10 0<br />
11 1 1 2<br />
12 1 1<br />
13 1 1<br />
14 1 1 1 1 1 5<br />
15 1 1<br />
16 1 1<br />
17 1 1 1 3<br />
18 0<br />
19 0<br />
20 1 1 2<br />
21 1 1<br />
22 1 1<br />
23 1 1<br />
24 1 1<br />
T<br />
0 2 5 3 2 7 2 4 0 1 2 1 1 4 0 0 1 1 2 1 1 0 1 1 42<br />
LEGENDA<br />
1. Falta <strong>de</strong> assistência técnica e pouco conhecimento <strong>de</strong> técnicas alternativas.<br />
2. Probl<strong>em</strong>as na comercialização.<br />
3. Enfraquecimento <strong>da</strong> terra, erosão.<br />
4. Córregos poluídos, água diminuindo, minas <strong>de</strong>sprotegi<strong>da</strong>s.<br />
5. Artesanato: baixo preço e muita oferta.<br />
6. Êxodo rural e suas conseqüências: falta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e “envelhecimento do campo”.<br />
7. Pouca informação sobre o que acontece <strong>de</strong>ntro e fora do município.<br />
8. Pouca diversificação, ren<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte só do café e do leite.<br />
9. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos, falta <strong>de</strong> crédito.<br />
10. Turismo: cachoeiras poluí<strong>da</strong>s, falta <strong>de</strong> infra-estrutura e incentivo, que<strong>da</strong> no movimento.<br />
11. Uso <strong>de</strong> agrotóxicos para combater pragas e doenças.<br />
12. Poucas matas/<strong>de</strong>smatamento.<br />
13. Falta <strong>de</strong> organização e divisão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> por divergências político-partidárias e<br />
religiosas.<br />
14. Pouca participação e conhecimento sobre as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e suas atuações.<br />
15. Individualismo.<br />
16. Diminuição do número <strong>de</strong> colonos nas fazen<strong>da</strong>s.<br />
17. Probl<strong>em</strong>as na escola: conteúdo, sist<strong>em</strong>a multisseriado e compra <strong>da</strong> meren<strong>da</strong>.<br />
18. Baixo consumo <strong>de</strong> hortaliças.<br />
19. Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> atendimento do SUS e do Hospital.<br />
20. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento no biodigital: falta <strong>de</strong> duplas e não aceitação pelos evangélicos.<br />
90
21. Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saneamento: lixo e esgoto.<br />
22. Falta <strong>de</strong> opção <strong>de</strong> lazer.<br />
23. Infra-estrutura: má conservação <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, falta <strong>de</strong> luz e telefone.<br />
24. Jovens s<strong>em</strong> opção <strong>de</strong> trabalho e com falta <strong>de</strong> incentivo para continuar os estudos.<br />
Figura 2 - Matriz <strong>de</strong> relações lógicas, simplifica<strong>da</strong>.<br />
O agrupamento <strong>da</strong>s duas matrizes foi feito pela assessoria e duas<br />
profissionais voluntárias, com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma professora 28 do Departamento<br />
<strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> UFV. A intenção foi transformar a matriz num fluxo, porém,<br />
para isso, foi preciso realizar uma simplificação <strong>da</strong>s matrizes, tendo <strong>em</strong> vista<br />
que havia superposição <strong>de</strong> relações. O resultado <strong>de</strong>ste trabalho foi o fluxo<br />
geral dos principais probl<strong>em</strong>as (Figura 3), apresentado na próxima reunião do<br />
Conselho Ampliado.<br />
3.6. Formulação <strong>da</strong>s propostas <strong>de</strong> ação<br />
De posse <strong>de</strong>ste fluxo, os participantes do Conselho Ampliado<br />
começaram o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> análise com vistas à elaboração <strong>de</strong><br />
propostas <strong>de</strong> ação.<br />
Inicialmente foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s seis questões estratégicas (infra-estrutura,<br />
saneamento e lazer; agrotóxicos e terra; comercialização; educação; saú<strong>de</strong> e<br />
potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> região), como produto do trabalho <strong>de</strong> dois grupos <strong>de</strong><br />
homens e um grupo <strong>de</strong> mulheres, com posterior “consertação” <strong>em</strong> plenária. Em<br />
segui<strong>da</strong>, foram formados grupos <strong>de</strong> interesse, por questão estratégica, para<br />
análise dos probl<strong>em</strong>as relacionados a ca<strong>da</strong> questão.<br />
Num primeiro momento, a orientação metodológica adota<strong>da</strong> foi a <strong>de</strong><br />
buscar, no fluxo geral dos probl<strong>em</strong>as, aqueles relacionados à questão que<br />
estivesse sendo discuti<strong>da</strong> pelo grupo; montar a parte do fluxo referente a ela e<br />
ampliar a análise, acrescentando outras causas e, ou, conseqüências.<br />
Posteriormente, foram retira<strong>da</strong>s do documento-síntese as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
relaciona<strong>da</strong>s à questão estratégica discuti<strong>da</strong> pelo grupo e, individualmente,<br />
foram elabora<strong>da</strong>s as propostas. Estas foram, então, sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s no quadro,<br />
possibilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma discussão para <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s<br />
propostas do grupo.<br />
28 Trata-se <strong>da</strong> professora Lana Mara Rodrigues dos Santos, através <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> também foi<br />
possível i<strong>de</strong>ntificar a relação entre as técnicas do DRP e alguns conceitos mat<strong>em</strong>áticos.<br />
91
Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
investimentos,<br />
falta <strong>de</strong> crédito<br />
Poucas matas,<br />
<strong>de</strong>smatamento<br />
Falta <strong>de</strong> assistência<br />
técnica e pouco<br />
conhecimento <strong>de</strong><br />
técnicas alternativas<br />
Pouca diversificação,<br />
ren<strong>da</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />
café e do leite<br />
Enfraquecimento<br />
<strong>da</strong> terra, erosão<br />
Uso <strong>de</strong> agrotóxicos<br />
para combater<br />
pragas e doenças<br />
Pouca informação<br />
sobre o que<br />
acontece <strong>de</strong>ntro e<br />
fora do Município<br />
Probl<strong>em</strong>as na<br />
comercialização<br />
Artesanato: baixo<br />
preço e muita<br />
oferta<br />
Figura 3 - Fluxo geral dos principais probl<strong>em</strong>as.<br />
Córregos poluídos,<br />
água diminuindo,<br />
minas <strong>de</strong>sprotegi<strong>da</strong>s<br />
Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
saneamento:<br />
lixo e esgoto<br />
Falta <strong>de</strong> organização e<br />
divisão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
por divergências<br />
político-partidárias e<br />
religiosas<br />
Pouca participação<br />
e conhecimento<br />
sobre as enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
e suas atuações<br />
Probl<strong>em</strong>as na escola:<br />
conteúdo, sist<strong>em</strong>a<br />
multisseriado, compra<br />
<strong>da</strong> meren<strong>da</strong><br />
93<br />
Turismo, cachoeiras<br />
poluí<strong>da</strong>s, falta <strong>de</strong><br />
infra-estrutura e<br />
incentivo, que<strong>da</strong> no<br />
movimento<br />
Individualismo<br />
Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />
Biodigital:<br />
-Falta <strong>de</strong> duplas<br />
- Não aceitação<br />
pelos evangélicos<br />
Infra-estrutura: má<br />
conservação <strong>da</strong>s<br />
estra<strong>da</strong>s, falta <strong>de</strong><br />
luz, falta <strong>de</strong><br />
telefone<br />
Jovens s<strong>em</strong><br />
opção <strong>de</strong> trabalho<br />
e s<strong>em</strong> incentivo<br />
para continuar os<br />
estudos<br />
Baixo consumo<br />
<strong>de</strong> hortaliças<br />
Probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
atendimentos<br />
do SUS e<br />
Hospital<br />
Êxodo rural e suas<br />
conseqüências: falta <strong>de</strong><br />
mão –<strong>de</strong>-obra e<br />
envelhecimento do campo<br />
Falta <strong>de</strong> opção<br />
<strong>de</strong> lazer<br />
Diminuição do<br />
número <strong>de</strong><br />
colonos nas<br />
fazen<strong>da</strong>s
Em plenária, realizou-se uma exposição do trabalho <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo,<br />
sua sist<strong>em</strong>atização e a discussão para supressão e, ou, acréscimo <strong>de</strong><br />
propostas. Foram estas, então, as propostas posteriormente apresenta<strong>da</strong>s e<br />
discuti<strong>da</strong>s num encontro aberto à população.<br />
3.7. Desdobramentos<br />
Após o encontro, que contou com a presença <strong>de</strong> 236 pessoas inscritas,<br />
o Conselho Ampliado voltou a se reunir para apreciar as sugestões recolhi<strong>da</strong>s<br />
e elaborar o plano operacional.<br />
Formaram-se, então, sete comissões t<strong>em</strong>áticas (assistência técnica,<br />
formação/capacitação; crédito rural e subsídios para agricultores(as); saú<strong>de</strong> e<br />
assistência social; educação formal; meio ambiente e saneamento; infra-<br />
estrutura e obras; esporte, lazer e turismo), constituí<strong>da</strong>s por grupos <strong>de</strong><br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e secretarias municipais, relaciona<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a. Em uma nova<br />
série <strong>de</strong> reuniões, as comissões t<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong>finiram ações concretas, prazos e<br />
responsáveis para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s propostas aprova<strong>da</strong>s.<br />
Paralelamente, este mesmo Conselho Ampliado passou a discutir a<br />
constituição <strong>de</strong> um Conselho Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural (CMDR),<br />
que foi formalmente instituído pela Lei Municipal n.° 1.221, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro<br />
<strong>de</strong> 1998, enquanto um órgão consultivo e <strong>de</strong>liberativo <strong>da</strong> política <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento rural do município. Suas competências são (Lei Municipal n.°<br />
1.221, Art. 2.°):<br />
I - promover o entrosamento entre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelo<br />
Executivo Municipal e órgãos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas e priva<strong>da</strong>s volta<strong>da</strong>s para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento rural do município;<br />
II - apreciar o Plano Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural - PMDR,<br />
<strong>em</strong>itir parecer conclusivo atestando a sua viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> técnico-financeira, a<br />
legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ações propostas <strong>em</strong> relação às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s formula<strong>da</strong>s pelos<br />
agricultores, recomen<strong>da</strong>ndo a sua execução;<br />
município;<br />
III - fiscalizar a execução do PMDR, visando ao <strong>de</strong>senvolvimento do<br />
89
IV - sugerir ao Executivo Municipal e aos órgãos e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas e<br />
priva<strong>da</strong>s que atuam no município ações que contribuam para o aumento <strong>da</strong><br />
produção agropecuária e para a geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e ren<strong>da</strong> no meio rural;<br />
V - sugerir políticas e diretrizes às ações do Executivo Municipal no que<br />
concerne à produção, à preservação do meio ambiente, ao fomento<br />
agropecuário e à organização dos agricultores e à regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
abastecimento alimentar no município;<br />
VI - assegurar a participação efetiva dos seguimentos promotores e<br />
beneficiários nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agropecuárias <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no município;<br />
VII - promover articulações e compatibilizações entre as políticas<br />
municipais e as políticas estaduais e fe<strong>de</strong>rais volta<strong>da</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
rural;<br />
VIII - acompanhar e avaliar a execução do PMDR;<br />
IX - propor programas, projetos e ações, visando a <strong>de</strong>fesa e a<br />
promoção <strong>da</strong> agricultura familiar e quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos trabalhadores rurais<br />
do município;<br />
X - propor a celebração <strong>de</strong> convênios, contratos e acordos com as<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas e organizações não-governamentais <strong>de</strong> assessoria, <strong>de</strong><br />
pesquisa e <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s volta<strong>da</strong>s ao <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentado;<br />
XI - apresentar anualmente proposta orçamentária ao executivo,<br />
inerente ao seu funcionamento;<br />
XII - opinar sobre a distribuição <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> qualquer orig<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>stinados ao atendimento do meio rural; e<br />
XIII - avaliar permanent<strong>em</strong>ente as atuações <strong>da</strong> EMATER, do CTA e<br />
<strong>de</strong>mais órgãos e secretarias fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais, no que se refere<br />
ao Desenvolvimento Rural.<br />
Segundo o Regimento Interno, Art. 3.°, integram o Conselho Municipal<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento Rural:<br />
I - representantes dos agricultores familiares;<br />
municipal; e<br />
agropecuária;<br />
II - representantes do po<strong>de</strong>r executivo municipal e do po<strong>de</strong>r legislativo<br />
III - representantes dos órgãos públicos e privados ligados à produção<br />
90
Os m<strong>em</strong>bros do CMDR são <strong>de</strong>signados pelo prefeito municipal,<br />
conforme Lei Municipal n. o 1.221, mediante indicação dos titulares dos órgãos<br />
e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, respeitando-se a participação mínima <strong>de</strong> 50% dos m<strong>em</strong>bros<br />
representados por “agricultores familiares” (parágrafo único).<br />
A partir do plano operacional, diversas ações estão sendo<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e projetos para captação <strong>de</strong> recursos estão sendo elaborados.<br />
91
4. METODOLOGIA<br />
Um estudo <strong>de</strong> caso, <strong>em</strong>bora seja freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> natureza qualitativa<br />
na coleta e no tratamento dos <strong>da</strong>dos, po<strong>de</strong> também recorrer a métodos<br />
quantitativos ao centralizar-se no exame <strong>de</strong> certas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong><br />
suas relações e variações (BRUYNE et al., 1991).<br />
A fim <strong>de</strong> melhor qualificar o estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>senvolvido neste trabalho,<br />
foram utilizados métodos quantitativos para realizar uma pesquisa visando<br />
captar a percepção dos envolvidos na prática realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos. Os<br />
procedimentos são <strong>de</strong>scritos a seguir. Os <strong>da</strong>dos coletados foram<br />
supl<strong>em</strong>entados pela análise dos documentos produzidos no <strong>de</strong>correr do<br />
diagnóstico e planejamento <strong>em</strong> Tombos e por observações realiza<strong>da</strong>s durante<br />
o processo, tendo <strong>em</strong> vista a inserção <strong>da</strong> autora <strong>de</strong>sta tese na realização <strong>da</strong><br />
prática analisa<strong>da</strong>.<br />
4.1. Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> análise e população<br />
A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> análise compreen<strong>de</strong>u as pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os<br />
representantes <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s/instituições que participaram do processo <strong>de</strong><br />
92
diagnóstico e elaboração <strong>da</strong>s propostas para o Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Rural <strong>de</strong> Tombos.<br />
Como população-alvo, foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s as 255 pessoas que<br />
vivenciaram o processo, dividi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s: uma reuniu as 202<br />
pessoas <strong>da</strong>s 16 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e do entorno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que participaram <strong>da</strong>s<br />
reuniões, e a outra cont<strong>em</strong>plou as 53 pessoas que constituíram o Conselho<br />
Ampliado.<br />
Segundo BARBETTA (1994), população-alvo é o conjunto <strong>de</strong><br />
el<strong>em</strong>entos que se <strong>de</strong>seja abranger <strong>em</strong> um estudo. São os el<strong>em</strong>entos para os<br />
quais espera-se que as conclusões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> pesquisa sejam váli<strong>da</strong>s.<br />
A divisão <strong>da</strong> população-alvo <strong>da</strong> pesquisa, <strong>em</strong> duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, justifica-<br />
se pelo envolvimento diferenciado que seus el<strong>em</strong>entos tiveram no <strong>de</strong>correr do<br />
processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento.<br />
4.2. Amostrag<strong>em</strong><br />
Diante do gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> população-alvo, recorreu-se<br />
a um levantamento por amostrag<strong>em</strong> como forma <strong>de</strong> obter estimativas sobre a<br />
população, a partir <strong>de</strong> informações dos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> amostra.<br />
Em função <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> dos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> população-alvo,<br />
recorreu-se à técnica <strong>da</strong> amostrag<strong>em</strong> estratifica<strong>da</strong>, que consiste <strong>em</strong> dividir a<br />
população <strong>em</strong> subgrupos <strong>de</strong>nominados estratos, mais homogêneos que a<br />
população-alvo.<br />
Admitindo-se um erro amostral <strong>de</strong> 10%, utilizou-se a seguinte fórmula,<br />
proposta por BARBETTA (1994:58), para cálculo do tamanho <strong>da</strong> amostra <strong>em</strong><br />
ca<strong>da</strong> estrato:<br />
n0 = 1/E 2 0<br />
<strong>em</strong> que n0 = uma primeira aproximação para o tamanho <strong>da</strong> amostra; E 2 0 = erro<br />
amostral tolerável (no caso, 10%).<br />
Segundo esse autor, como é conhecido o tamanho <strong>da</strong> população,<br />
po<strong>de</strong>-se corrigir o cálculo anterior pela fórmula:<br />
n = N n0/N + n0,<br />
93
<strong>em</strong> que n = tamanho (número <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos) <strong>da</strong> amostra; N = tamanho (número<br />
<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos) <strong>da</strong> população.<br />
Aplicando estas fórmulas às duas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong><br />
apresenta<strong>da</strong>s anteriormente, obtêm-se os resultados apresentados nos<br />
Quadros 2 e 3.<br />
Quadro 2 - Número <strong>de</strong> participantes <strong>da</strong>s reuniões por comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e tamanho<br />
<strong>da</strong> amostra<br />
Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Número <strong>de</strong><br />
participantes<br />
94<br />
n calculado<br />
n<br />
arredon<strong>da</strong>do<br />
Água Santa 4 1,32 2<br />
Alto Catuné 11 3,64 4<br />
Banco 11 3,64 4<br />
Batatal 11 3,64 4<br />
Catuné 20 6,62 8<br />
Chave Santa Rosa 10 3,31 4<br />
Córrego dos Pereiras 17 5,63 6<br />
Gaviãozinho 11 3,64 4<br />
Igrejinha 22 7,28 8<br />
Mira Serra 23 7,62 8<br />
Pedra Bonita 8 2,65 4<br />
Perdição 17 5,63 6<br />
São Pedro 5 1,66 2<br />
Se<strong>de</strong> 10 3,31 4<br />
Serra dos Quintinos 10 3,31 4<br />
Serra Queima<strong>da</strong> 5 1,66 2<br />
Sertão 7 2,32 4<br />
Total 202 78<br />
Os arredon<strong>da</strong>mentos foram feitos para o primeiro número par<br />
imediatamente superior, pois houve o interesse <strong>de</strong> manter o mesmo número <strong>de</strong><br />
mulheres e homens <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> estrato.
Quadro 3 - Número <strong>de</strong> participantes <strong>da</strong>s reuniões por comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e tamanho<br />
<strong>da</strong> amostra<br />
Representantes<br />
Número <strong>de</strong><br />
participantes<br />
95<br />
n calculado<br />
n<br />
arredon<strong>da</strong>do<br />
Das comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s 18 12,4 14<br />
Das enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s/instituições 24 16,6 18<br />
Do Governo 3 2,1 3<br />
Total 53 43<br />
Em função do seu papel diferenciado <strong>de</strong> condução do processo <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento, os integrantes <strong>da</strong> equipe executiva não foram<br />
incluídos no plano <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong>. Todos os oito integrantes foram<br />
pesquisados. Portanto, a amostra final ficou composta por 78 pessoas <strong>da</strong>s 16<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e do entorno <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>; 14 representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s; 18<br />
representantes <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s; três representantes do governo e oito <strong>da</strong> equipe<br />
executiva, num total <strong>de</strong> 121 el<strong>em</strong>entos escolhidos por sorteio.<br />
4.3. Coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos<br />
Os <strong>da</strong>dos foram coletados <strong>em</strong> um formulário com perguntas “fecha<strong>da</strong>s<br />
e abertas” (Apêndice F). Um formulário é uma coleção <strong>de</strong> questões que são<br />
pergunta<strong>da</strong>s e as respostas anota<strong>da</strong>s pelo entrevistador, numa situação face a<br />
face com outra pessoa (GOODE e HATT, 1979).<br />
O formulário elaborado foi testado com dois el<strong>em</strong>entos que<br />
compuseram a amostra e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ajustado, aplicado individualmente ao<br />
conjunto <strong>da</strong> amostra (incluindo os dois el<strong>em</strong>entos utilizados para o teste).<br />
Contou-se com o apoio <strong>de</strong> mais uma pesquisadora, uma agrônoma que<br />
também participou do levantamento <strong>da</strong>s informações <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A
coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos realizou-se durante os meses <strong>de</strong> março e abril <strong>de</strong> 1999, nove<br />
meses após o encontro <strong>em</strong> que foram apresenta<strong>da</strong>s as propostas do Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural.<br />
Tendo <strong>em</strong> vista que a participação <strong>da</strong>s pesquisadoras no processo <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento po<strong>de</strong>ria interferir na expressão <strong>da</strong>s opiniões dos<br />
entrevistados, recorreu-se a um rodízio, <strong>de</strong> forma que ca<strong>da</strong> pesquisadora não<br />
voltasse à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que tinha estado durante o diagnóstico.<br />
4.4. Sist<strong>em</strong>atização e análise dos <strong>da</strong>dos<br />
As respostas dos formulários foram sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> tabelas do<br />
programa Microsoft Excel. Já as respostas <strong>da</strong>s perguntas “abertas” foram<br />
categoriza<strong>da</strong>s, recebendo ca<strong>da</strong> uma um código numérico, incluído nas tabelas.<br />
Este procedimento permitiu, posteriormente, a utilização do programa SPSS<br />
(Statistical Package for the Social Sciences) para análise dos <strong>da</strong>dos.<br />
O SPSS é um método estatístico voltado para as Ciências Sociais, que<br />
permite a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> freqüências e o cruzamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos. Técnicos do<br />
Departamento <strong>de</strong> Economia Rural auxiliaram neste procedimento.<br />
96
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Segundo PINTO (1981b), um processo que objetiva o envolvimento <strong>da</strong><br />
população no planejamento <strong>da</strong>s ações requer o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> dois<br />
vetores distintos e articulados. O primeiro refere-se à aquisição e produção<br />
<strong>de</strong> conhecimentos sobre uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social, os quais, refletidos e<br />
conscientizados por um grupo, motivam-no para uma ação coletiva. O segundo<br />
refere-se ao processo <strong>de</strong> organização, que, através <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação e<br />
articulação <strong>de</strong> novos atores sociais, <strong>de</strong>ve ocorrer ao longo do processo <strong>de</strong><br />
aquisição <strong>de</strong> conhecimentos.<br />
Esta proposição encontra-se <strong>em</strong> sintonia com a idéia <strong>de</strong> que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
constrói-se a partir <strong>de</strong> aproximações sucessivas, presentes nas concepções <strong>de</strong><br />
pesquisa participativa, e com o princípio <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> progressiva,<br />
presente no DRP.<br />
No diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Tombos, utilizou-se uma estratégia <strong>de</strong><br />
trabalho que foi envolvendo, progressivamente, maior número <strong>de</strong> pessoas, ao<br />
passo que ia se avançando no conhecimento sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> estudo. A<br />
articulação entre estes dois vetores (novas pessoas e novos conhecimentos)<br />
foi garanti<strong>da</strong> através <strong>da</strong> socialização <strong>da</strong>s informações e, principalmente, <strong>da</strong>s<br />
atualizações do roteiro <strong>de</strong> pesquisa.<br />
97
O diagnóstico propriamente dito começou com a <strong>de</strong>finição dos seus<br />
objetivos, <strong>da</strong> abrangência e do enfoque na equipe executiva, um conjunto <strong>de</strong><br />
oito pessoas. Aqui também ocorreu a primeira etapa do processo <strong>de</strong> aquisição<br />
<strong>de</strong> conhecimentos, a partir <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos secundários obtidos, o que<br />
resultou na formulação do primeiro roteiro <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> informações,<br />
bastante amplo.<br />
A segun<strong>da</strong> etapa do processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos<br />
aconteceu no Conselho <strong>de</strong> Elaboração do Plano, um grupo composto por cerca<br />
<strong>de</strong> 40 pessoas. Através <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> DRP, foram mobilizados os<br />
conhecimentos <strong>de</strong>ste grupo, que, analisados pelos próprios m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho, serviram <strong>de</strong> referência para a elaboração do segundo roteiro, este já<br />
mais específico, utilizado para orientar o levantamento <strong>da</strong>s informações nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Este procedimento permitiu não apenas aumento quantitativo dos<br />
envolvidos, mas também a ampliação do número <strong>de</strong> pessoas que se<br />
encontravam no papel <strong>de</strong> “leitores <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Se, para a formulação do<br />
primeiro roteiro, interferiram as idéias e os conceitos apenas <strong>da</strong>quele grupo que<br />
formava a equipe executiva, por ocasião <strong>da</strong> formulação do segundo roteiro<br />
foram as informações e as idéias <strong>de</strong> um conjunto b<strong>em</strong> maior (cerca <strong>de</strong> 40<br />
pessoas) que passaram a orientar o processo <strong>de</strong> pesquisa.<br />
A terceira etapa <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos ocorreu nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e também foi feita, basicamente, com técnicas <strong>de</strong> DRP. Ao final<br />
<strong>de</strong>ste processo, o Conselho foi ampliado com representantes <strong>da</strong>s<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e foi este fórum ampliado (cerca <strong>de</strong> 55 pessoas) que passou a<br />
realizar a leitura <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s, analisando-as e formulando as<br />
propostas <strong>de</strong> ação, posteriormente apresenta<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s num encontro<br />
aberto à população.<br />
Observa-se, portanto, que a estratégia utiliza<strong>da</strong> permitiu a articulação<br />
<strong>da</strong> incorporação <strong>de</strong> novas pessoas ao processo <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o<br />
avanço na aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos sobre esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. No<br />
entanto, a pesquisa realiza<strong>da</strong> preten<strong>de</strong>u avançar <strong>em</strong> direção a uma análise<br />
mais qualitativa do processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos gerado pela<br />
estratégia utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos.<br />
98
Segundo Paulo Freire, todo e qualquer processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> é<br />
fort<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do quanto a t<strong>em</strong>ática é significativa para o sujeito<br />
<strong>de</strong>ste processo, ou seja, para que se realize a aprendizag<strong>em</strong>, os conteúdos<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser relevantes para o(s) sujeito(s) do ato <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Por isso,<br />
segundo suas proposições, o primeiro momento <strong>de</strong> um processo educativo<br />
<strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong>finição <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática (ou dos conteúdos) por educador e educando.<br />
Um diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> já traz implícito, <strong>de</strong> forma geral, o que<br />
Paulo Freire chama <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática significativa. No caso, ela é a própria<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong>. Porém, mesmo que o t<strong>em</strong>a geral esteja <strong>de</strong>finido, ain<strong>da</strong> se faz<br />
necessário um recorte <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática, já que é impossível apreen<strong>de</strong>r a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em Tombos, este recorte foi iniciado no âmbito <strong>da</strong><br />
equipe executiva, quando se <strong>de</strong>finiram os objetivos, o enfoque e a abrangência<br />
do diagnóstico. A partir <strong>de</strong> então, os recortes foram feitos através <strong>da</strong>s<br />
atualizações do roteiro <strong>de</strong> pesquisa, realiza<strong>da</strong>s com o envolvimento <strong>de</strong> um<br />
número crescente <strong>de</strong> pessoas.<br />
Um roteiro constitui um instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição mais preciso dos<br />
el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática significativa que se <strong>de</strong>seja <strong>de</strong>svelar. Um DRP, como<br />
realizado <strong>em</strong> Tombos, t<strong>em</strong> no roteiro um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro “guia” tanto para a<br />
sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong>s informações já obti<strong>da</strong>s quanto para a i<strong>de</strong>ntificação dos<br />
“pontos obscuros”, que ain<strong>da</strong> necessitam <strong>de</strong> investigação e irão compor o<br />
“novo roteiro”, ou seja, é ele que orienta a <strong>de</strong>finição do que é ou não<br />
significativo para o conjunto envolvido no processo <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Em Tombos, as atualizações progressivas do roteiro permitiram o<br />
envolvimento ativo dos novos atores sociais envolvidos. Através <strong>de</strong>las, o grupo<br />
“perseguiu” as informações consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s necessárias, analisou-as e <strong>de</strong>scartou<br />
aquelas que não se mostravam relevantes para a pesquisa. Este procedimento<br />
fun<strong>da</strong>menta-se <strong>em</strong> um outro princípio do DRP: o <strong>da</strong> “ignorância ótima”. Diante<br />
do risco <strong>da</strong> pesquisa per<strong>de</strong>r-se no excesso <strong>de</strong> informações, este princípio<br />
propõe a idéia <strong>de</strong> um “nível <strong>de</strong> ignorância ótima”; ignorância no sentido <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sconhecimento, <strong>de</strong> “<strong>de</strong>scarte” <strong>da</strong>quilo que não t<strong>em</strong> relevância para a<br />
pesquisa. Isso torna-se particularmente importante quando o grupo envolvido<br />
na leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é gran<strong>de</strong> e, muitas vezes, não familiarizado com textos<br />
extensos.<br />
99
No entanto, o ato <strong>de</strong> recortar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é um ato <strong>de</strong> escolha, <strong>de</strong><br />
seleção, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarte, que está sujeito a erros e a <strong>de</strong>svios. A estratégia<br />
monta<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos procurou, através <strong>da</strong>s atualizações do roteiro, incorporar<br />
neste recorte número ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong> pessoas, como forma <strong>de</strong> diminuir os<br />
riscos <strong>de</strong> erros e <strong>de</strong>svios <strong>em</strong> relação aos t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> interesse coletivo, e<br />
também para que, no planejamento, o plano fosse um pacto ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro,<br />
legítimo e firmado entre o maior número possível <strong>de</strong> pessoas.<br />
Entretanto, ao analisar o alcance educativo <strong>da</strong> estratégia utiliza<strong>da</strong>,<br />
<strong>da</strong>dos coletados mostram uma forte correlação entre o momento <strong>em</strong> que as<br />
pessoas foram incorpora<strong>da</strong>s ao diagnóstico e o grau <strong>de</strong> percepção do processo<br />
<strong>em</strong> an<strong>da</strong>mento e, ou, o grau <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> obtido.<br />
Duas variáveis foram utiliza<strong>da</strong>s para medir o grau <strong>de</strong> percepção do<br />
indivíduo a respeito do processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento:<br />
a l<strong>em</strong>brança dos objetivos do trabalho: o momento <strong>da</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para<br />
a presente pesquisa aconteceu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 11 a 12 meses <strong>da</strong> etapa <strong>de</strong><br />
reuniões para levantamento <strong>de</strong> informações nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s;<br />
a noção do número <strong>de</strong> pessoas envolvi<strong>da</strong>s no trabalho: incluindo as pessoas<br />
que participaram do encontro final, este número passa <strong>de</strong> 400.<br />
O (a) senhor(a) l<strong>em</strong>bra qual era o objetivo <strong>da</strong>quele trabalho?<br />
Não l<strong>em</strong>bra ou l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> forma<br />
nebulosa<br />
L<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> forma satisfatória ou<br />
plenamente<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
100<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
40 33,0 38 48,7 1 7,1 1 3,4<br />
81 67,0 40 51,3 13 92,9 28 96,6<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
Quantas pessoas acham que foram envolvi<strong>da</strong>s no trabalho como um todo?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Não sabe dizer 42 34,7 42 53,9 - - - -
menos <strong>de</strong> 400 39 32,2 26 33,3 4 28,6 9 31,0<br />
mais <strong>de</strong> 400 40 33,1 10 12,8 10 71,4 20 69,0<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
Os <strong>da</strong>dos apresentados revelam que:<br />
67,0% <strong>da</strong>s pessoas l<strong>em</strong>bram <strong>de</strong> forma satisfatória ou plenamente dos<br />
objetivos do trabalho, porém, este índice é b<strong>em</strong> maior entre os m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho Inicial (96,6%) e representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (92,9%) do que<br />
entre aqueles que participaram apenas <strong>da</strong>s reuniões nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
(51,3%).<br />
34,7% <strong>da</strong>s pessoas não têm noção do número <strong>de</strong> pessoas envolvi<strong>da</strong>s no<br />
trabalho, to<strong>da</strong>s elas são pessoas que participaram apenas <strong>da</strong>s<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o que representa 53,9% <strong>de</strong>sta categoria. Enquanto isso,<br />
71,4% dos representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e 69,0% dos m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho Inicial têm uma noção real do número <strong>de</strong> pessoas envolvi<strong>da</strong>s<br />
(acima <strong>de</strong> 400), noção encontra<strong>da</strong> <strong>em</strong> 12,8% <strong>da</strong>s pessoas que participaram<br />
apenas do trabalho nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Para medir o grau <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s no<br />
processo, duas variáveis foram utiliza<strong>da</strong>s:<br />
a possível mu<strong>da</strong>nça no pensamento <strong>em</strong> relação à reali<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
a pergunta direta sobre o aprendizado <strong>de</strong> alguma coisa.<br />
O trabalho provocou alguma mu<strong>da</strong>nça no pensamento que você tinha sobre a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do município?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
101<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Sim 77 67,0 44 56,4 13 92,9 20 87,0<br />
Não 38 33,0 34 43,6 1 7,1 3 13,0<br />
Não se aplica 6 - - 6<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29
Os <strong>da</strong>dos apresentados permit<strong>em</strong> a observação <strong>de</strong> que o trabalho<br />
provocou algum tipo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça na imag<strong>em</strong> que 67,0% <strong>da</strong>s pessoas tinham a<br />
respeito <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, apesar disso não ter acontecido com 43,6% <strong>da</strong>s<br />
pessoas que participaram apenas <strong>da</strong>s reuniões nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Entre os<br />
representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e m<strong>em</strong>bros do Conselho Inicial, o índice <strong>de</strong><br />
mu<strong>da</strong>nça no pensamento sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ficou <strong>em</strong> torno dos 90%.<br />
Apren<strong>de</strong>u alguma coisa?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
102<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
sim 96 79,3 54 69,2 14 100,0 28 96,6<br />
não 25 20,7 24 30,8 - - 1 3,4<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
Po<strong>de</strong>-se observar que o índice <strong>de</strong> pessoas que mencionam algum tipo<br />
<strong>de</strong> aprendizado é alto: 96,6% dos m<strong>em</strong>bros do Conselho Inicial, 100% dos<br />
representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e 69,2% <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Entretanto, cerca <strong>de</strong> 1/3 (30,8%) <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> respon<strong>de</strong>m<br />
claramente que não apren<strong>de</strong>ram na<strong>da</strong>.<br />
Os <strong>da</strong>dos analisados até o momento indicam que o aprendizado e a<br />
percepção do trabalho realizado estão fort<strong>em</strong>ente relacionados ao momento<br />
<strong>em</strong> que a pessoa é envolvi<strong>da</strong> no processo, ou seja, ao seu grau <strong>de</strong> participação<br />
na estratégia utiliza<strong>da</strong>. Aqueles que participaram <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática<br />
significativa, através <strong>da</strong>s atualizações do roteiro e <strong>da</strong> leitura dos <strong>da</strong>dos obtidos,<br />
apreen<strong>de</strong>ram mais <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> investiga<strong>da</strong>.<br />
Quanto à formulação <strong>da</strong> estratégia utiliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos, a participação<br />
diferencia<strong>da</strong> justifica-se pelas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s operacionais <strong>de</strong> se envolver todos<br />
(no caso, cerca <strong>de</strong> 400 pessoas) <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as etapas do processo <strong>de</strong>
diagnóstico e planejamento, e também pela constatação <strong>de</strong> que o estímulo<br />
pessoal (inicial) para o envolvimento num trabalho como este é diferenciado.<br />
Os <strong>da</strong>dos, no entanto, revelam limitações na estratégia utiliza<strong>da</strong> e<br />
indicam a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma atenção especial tanto para a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
trabalho, a fim <strong>de</strong> <strong>da</strong>r prosseguimento ao envolvimento <strong>da</strong>s pessoas no<br />
processo, quanto para uma comunicação eficiente dos resultados obtidos,<br />
mesmo que parciais, como forma <strong>de</strong> manter o estímulo criado pelo processo <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento.<br />
A continui<strong>da</strong><strong>de</strong> é menciona<strong>da</strong>, <strong>de</strong> forma espontânea, como<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> por cerca <strong>de</strong> 1/3 <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s no processo.<br />
Quantos apontam a <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
como ponto fraco ou propõ<strong>em</strong> um<br />
processo mais constante<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
103<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
35 28,9 24 30,8 4 28,6 7 24,1<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
A pergunta a respeito do an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s propostas revelou uma<br />
frustração por parte dos envolvidos.<br />
Sabe como está o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s propostas?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Sim 29 24,0 10 12,8 3 21,4 16 55,2<br />
Não 92 76,0 68 87,2 11 78,6 13 44,8<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
Nove meses após o encontro que apresentou as propostas à<br />
população, 87,2% <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s não sabiam do seu
an<strong>da</strong>mento. O índice é alto também entre aqueles que as elaboraram. São<br />
78,6% dos representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e 44,8% dos m<strong>em</strong>bros do<br />
Conselho Inicial que não estavam acompanhando o encaminhamento <strong>da</strong>s<br />
propostas. Perguntados pelos motivos <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sconhecimento, a resposta<br />
mais freqüente foi que não houve mais reuniões sobre o assunto (63,6% dos<br />
representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e 38,5% dos m<strong>em</strong>bros do Conselho Inicial).<br />
Entre as pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a resposta mais freqüente foi que não<br />
conheciam as propostas (22,8%), além <strong>de</strong> uma parte significativa (26,1%)<br />
mencionar, espontaneamente, que não sabiam como ficar a par do an<strong>da</strong>mento,<br />
revelando um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação logo após a etapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s<br />
ações.<br />
Entretanto, o confronto <strong>de</strong>stes <strong>da</strong>dos com outro revela novas<br />
observações. Trata-se <strong>da</strong>s respostas à pergunta: o trabalho trouxe alguma<br />
coisa que po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r o município a se <strong>de</strong>senvolver?<br />
Você acha que o trabalho realizado <strong>em</strong> Tombos trouxe alguma mu<strong>da</strong>nça que<br />
aju<strong>de</strong> o município a se <strong>de</strong>senvolver?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
104<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
sim 96 79,3 58 74,4 12 85,7 26 89,7<br />
não 21 17,4 17 21,8 2 14,3 2 6,9<br />
não sabe 4 3,3 3 3,8 - - 1 3,4<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
O número <strong>de</strong> pessoas que respon<strong>de</strong>ram “sim” é alto <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
categorias, correspon<strong>de</strong>ndo a 74,4% <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 85,7%<br />
dos representantes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e 89,7% do Conselho Inicial.<br />
O que os <strong>da</strong>dos parec<strong>em</strong> revelar é que as pessoas perceb<strong>em</strong> as<br />
ações, mas não as relacionam com as propostas <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s, talvez até porque<br />
não as conheçam. Esta constatação traz à tona uma importante discussão<br />
sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma postura interna (<strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Agricultura e,
ou, <strong>da</strong> própria Prefeitura) e <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> comunicação que reforc<strong>em</strong> as<br />
etapas anteriores do processo para que seja percebi<strong>da</strong>, pelos envolvidos, a<br />
relação entre o planejamento e a execução <strong>da</strong>s ações.<br />
Outra questão que faz interface com esta discussão refere-se à<br />
articulação entre as ações <strong>da</strong>s diversas secretarias <strong>de</strong> uma Prefeitura. No<br />
momento <strong>da</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para esta pesquisa, um número razoável <strong>de</strong><br />
pessoas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (15,0%) “confundiu” o trabalho <strong>de</strong> diagnóstico a que<br />
se referia o formulário com o orçamento participativo realizado pela Secretaria<br />
<strong>de</strong> Planejamento, alguns meses após a conclusão do diagnóstico.<br />
A articulação entre as ações <strong>da</strong>s diversas secretarias <strong>de</strong> uma Prefeitura<br />
po<strong>de</strong>ria reforçar a percepção <strong>da</strong> relação entre planejamento e execução <strong>da</strong>s<br />
ações, tornando mais claros para a população os efeitos concretos do seu<br />
envolvimento, seja num diagnóstico ou numa consulta popular, além, também,<br />
<strong>de</strong> racionalizar recursos e esforços.<br />
Retomando o raciocínio <strong>de</strong> Paulo Freire, o processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />
prossegue a partir <strong>da</strong> t<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática significativa, realiza<strong>da</strong> com o<br />
auxílio <strong>de</strong> codificações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>senhos, fotos, gravuras ou palavras,<br />
que têm a função <strong>de</strong> mediar o diálogo educador-educando ou pesquisador-<br />
“informante”. O DRP utiliza-se <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> técnicas ou diagramas <strong>de</strong><br />
levantamento e análise <strong>de</strong> informações que codificam a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e são<br />
instrumentos eficazes para a t<strong>em</strong>atização. Entretanto, exist<strong>em</strong> diferenças e<br />
particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s interessantes.<br />
No caso do DRP, a codificação que será admira<strong>da</strong> é um registro visual<br />
que vai sendo construído <strong>em</strong> discussão coletiva. Não é uma foto n<strong>em</strong> um<br />
<strong>de</strong>senho trazido pelo educador ou pesquisador, como propõe Paulo Freire.<br />
Elas são construí<strong>da</strong>s através do diálogo. Durante a realização <strong>de</strong> um<br />
Diagrama <strong>de</strong> Venn, por ex<strong>em</strong>plo, os grupos, as instituições e, ou, as forças<br />
políticas são representa<strong>da</strong>s por círculos <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> diferentes tamanhos, que<br />
vão sendo dispostos no chão <strong>de</strong> acordo com as inter-relações que exist<strong>em</strong><br />
entre aquelas organizações. Ao final, o que se obtém é uma representação (ou<br />
codificação) <strong>da</strong> relação entre as partes (políticas) que compõ<strong>em</strong> aquela<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Durante o exercício, a atuação, os objetivos e a história <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
uma <strong>de</strong>stas partes são coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> discussão e probl<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s pelo próprio<br />
grupo e, ou, pelos pesquisadores. É claro que esta será apenas uma <strong>de</strong>ntre<br />
105
tantas representações possíveis. É a expressão <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong>quele grupo<br />
naquele momento. Entretanto, é importante observar que as técnicas utiliza<strong>da</strong>s<br />
pelo DRP permit<strong>em</strong>, com facili<strong>da</strong><strong>de</strong>, o diálogo, seja entre educador e educando<br />
ou pesquisador e “informante”, seja entre educandos ou entre “informantes”. As<br />
técnicas favorec<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong>, a <strong>de</strong>composição do todo <strong>em</strong> partes, para uma nova<br />
recomposição a partir <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A aceitação é realmente muito boa: os métodos são apontados, na<br />
experiência <strong>de</strong> Tombos, como um dos principais aspectos que favoreceram a<br />
participação <strong>da</strong>s pessoas nas reuniões, seja no Conselho ou nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Os <strong>da</strong>dos apresentados a seguir evi<strong>de</strong>nciam esta afirmação. Antes <strong>de</strong><br />
sua apreciação, faz-se necessário ressaltar que as porcentagens apresenta<strong>da</strong>s<br />
nas tabelas a seguir não somam 100% porque os entrevistados pu<strong>de</strong>ram<br />
mencionar mais <strong>de</strong> uma resposta para ca<strong>da</strong> questão “aberta” do formulário.<br />
Sendo assim, só seria possível que as porcentagens somass<strong>em</strong> 100% se o<br />
cálculo fosse feito sobre to<strong>da</strong>s as respostas. Porém, este procedimento<br />
mascararia as evidências levanta<strong>da</strong>s por uma pesquisa que teve por objetivo<br />
captar a percepção que as pessoas tiveram do processo realizado. Neste<br />
sentido, interessa saber quantos tiveram <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> percepção e não a<br />
freqüência <strong>da</strong>s percepções. Por isso, a porcentag<strong>em</strong> foi calcula<strong>da</strong> sobre o<br />
número total <strong>de</strong> pessoas que respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> questão do formulário.<br />
O que favoreceu a participação <strong>da</strong>s pessoas nas reuniões do Conselho?<br />
106<br />
Total Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Os métodos 13 30,2 - - 13 44,8<br />
O interesse <strong>da</strong>s pessoas 10 23,3 3 21,4 7 24,1<br />
O trabalho <strong>em</strong> grupos pequenos para <strong>de</strong>pois<br />
trocar informações 5 11,6 1 7,1 4 13,8<br />
Outras respostas 19 8 11<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 43 14 29
O que favoreceu a participação <strong>da</strong>s pessoas nas reuniões nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s?<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
107<br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Os métodos, as dinâmicas 24 20,2 13 16,7 3 21,4 8 29,6<br />
O interesse <strong>da</strong>s pessoas 22 18,5 15 19,2 2 14,3 5 18,5<br />
O assunto: a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s pessoas 17 14,3 11 14,1 4 28,6 2 7,4<br />
Pessoas se sentiram à vonta<strong>de</strong> 17 14,3 13 16,7 3 21,4 1 3,7<br />
Ter vindo gente <strong>de</strong> fora 16 13,4 13 16,7 2 14,3 1 3,7<br />
Foi tudo b<strong>em</strong> explicado 11 9,2 10 12,8 - - 1 3,7<br />
Convite, motivação, incentivo anterior 8 6,7 2 2,6 1 7,1 5 18,5<br />
Outras respostas 26 14 2 10<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 119 78 14 27<br />
Apesar do <strong>de</strong>staque <strong>da</strong>do aos métodos, é interessante observar que a<br />
participação parece ter diversos condicionantes, como o interesse <strong>da</strong>s<br />
pessoas, o tamanho dos grupos, o assunto, o ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração, a<br />
presença <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> fora, a clareza <strong>da</strong>s explicações e a motivação anterior.<br />
Portanto, os <strong>da</strong>dos reafirmam a inexistência <strong>de</strong> algo milagroso que, por si,<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie um processo participativo. Para que ele ocorra, é preciso a<br />
interação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> condições.<br />
No que se refere especificamente aos métodos utilizados, 52,9% do<br />
total <strong>da</strong>s pessoas entrevista<strong>da</strong>s qualificam as técnicas como muito boas ou<br />
excelentes e os principais motivos apontados são os seguintes:<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Estimula a participação, a troca <strong>de</strong><br />
idéias s<strong>em</strong> competição<br />
36 29,8 24 30,8 1 7,1 11 37,9<br />
Facilita o entendimento 23 19,0 12 15,4 5 35,7 6 20,7<br />
É leve, criativo, espontâneo 11 9,0 7 9,0 2 14,3 2 6,9<br />
Permite ver a relação entre as coisas,<br />
os probl<strong>em</strong>as<br />
7 5,8 - - 3 21,4 4 13,8<br />
Outras respostas 70 36 10 24
Total <strong>de</strong> pessoas 121 78 14 29<br />
A análise <strong>da</strong>s respostas obti<strong>da</strong>s à pergunta “Teve alguma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> participar <strong>da</strong>s dinâmicas?” revelou ain<strong>da</strong> que 60,3% <strong>da</strong>s pessoas<br />
entrevista<strong>da</strong>s que participaram <strong>da</strong>s reuniões nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s não tiveram<br />
nenhuma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> participar <strong>da</strong>s dinâmicas.<br />
Entretanto, 18,6% <strong>da</strong>s pessoas que participaram <strong>da</strong>s reuniões do<br />
Conselho consi<strong>de</strong>raram que os <strong>de</strong>bates travados durante a realização <strong>de</strong>stas<br />
dinâmicas foram dirigidos. Este <strong>da</strong>do coloca <strong>em</strong> discussão a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
efetivar, na prática, uma relação dialógica entre li<strong>de</strong>rança e massa, educador e<br />
educando ou pesquisador e “informante”.<br />
CARDOSO (1990), ao consi<strong>de</strong>rar que a <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s relações<br />
entre pesquisador e “informante” é um imperativo do processo <strong>de</strong> pesquisa,<br />
alerta para o fato <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>sproporção entre estes mundos impõe<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o estabelecimento <strong>de</strong> relações dialógicas e argumenta que a<br />
ética, entendi<strong>da</strong> como um acordo <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> normas e valores, é uma <strong>de</strong><br />
suas precondições. Através <strong>de</strong>la, o próprio diálogo torna-se um acordo, o <strong>da</strong><br />
aceitação <strong>de</strong> dialogar, e a relação pesquisador e “informante”, uma relação<br />
entre interlocutores comprometidos na (e com a) relação dialógica. Portanto,<br />
como os valores éticos são valores individuais, a eficiência <strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong><br />
DRP <strong>em</strong> estabelecer uma relação dialógica encontra-se (e s<strong>em</strong>pre se<br />
encontrará) fort<strong>em</strong>ente condiciona<strong>da</strong> pelo compromisso ético <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> as<br />
utiliza.<br />
Segundo Paulo Freire, a t<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando<br />
probl<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>, possibilita a percepção do todo através do reconhecimento <strong>da</strong><br />
interação entre as partes <strong>de</strong>ste todo, a compreensão <strong>de</strong> suas situações-limites<br />
(probl<strong>em</strong>as) e a percepção do “inédito viável” (o novo possível), estimulando a<br />
inserção crítica do sujeito na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong>.<br />
A pesquisa <strong>de</strong> campo revela que 39,7% <strong>da</strong>s pessoas entrevista<strong>da</strong>s<br />
mencionam como um dos aspectos positivos do diagnóstico a percepção do<br />
todo e <strong>de</strong>stacam a importância <strong>da</strong> visão geral <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, os<br />
<strong>da</strong>dos revelam uma diferença significativa <strong>em</strong> função do grau <strong>de</strong> participação<br />
no processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento. Enquanto 95,4% dos participantes<br />
do Conselho Ampliado (Conselho Inicial mais representantes <strong>da</strong>s<br />
108
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s) apontam para a importância <strong>de</strong> ter alcançado esta percepção do<br />
todo, apenas 9,0% <strong>da</strong>s pessoas que participaram <strong>da</strong>s reuniões nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s mencionam algo parecido. Esse <strong>da</strong>do é um indício <strong>de</strong> que a<br />
participação apenas na etapa <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> informações nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> foram utiliza<strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong> DRP, não foi suficiente para<br />
permitir o reconhecimento <strong>da</strong> interação <strong>da</strong>s partes no todo. Ela <strong>de</strong>mandou,<br />
para ser alcança<strong>da</strong>, um envolvimento nas <strong>de</strong>mais etapas do diagnóstico.<br />
Esta evidência interessa à discussão sobre as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limites<br />
do DRP enquanto um método que se propõe a “habilitar a população rural a<br />
compartilhar, aumentar e analisar seu conhecimento sobre sua vi<strong>da</strong> e<br />
condições, para planejar e agir,” permitindo a constatação <strong>de</strong> que a simples<br />
utilização <strong>da</strong>s ferramentas <strong>de</strong> DRP, por si, não garante que a população<br />
consiga “compartilhar, aumentar e analisar seu conhecimento sobre sua vi<strong>da</strong> e<br />
condições, para planejar e agir”. É preciso mais; é preciso que se estabeleça<br />
uma “estratégia educativa” eficiente, ou seja, um conjunto <strong>de</strong> passos<br />
or<strong>de</strong>nados <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> uma proposta.<br />
O que provavelmente aconteceu durante os trabalhos do Conselho, e<br />
não nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, foi uma maior eficiência <strong>da</strong> probl<strong>em</strong>atização <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ali ocorreram a análise geral <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a formulação <strong>de</strong><br />
propostas segundo processo <strong>de</strong>scrito anteriormente. Foram mais cinco dias <strong>de</strong><br />
reunião, com cerca <strong>de</strong> 55 pessoas on<strong>de</strong> foram utiliza<strong>da</strong>s técnicas <strong>de</strong> análise,<br />
como alguns diagramas <strong>de</strong> fluxo que discut<strong>em</strong> relação causa-efeito e uma<br />
matriz <strong>de</strong> relações (apresenta<strong>da</strong> anteriormente). Elas mostraram-se, também,<br />
ferramentas úteis e b<strong>em</strong> aceitas; 42,9% <strong>da</strong>s pessoas entrevista<strong>da</strong>s qualificam o<br />
método utilizado como “muito bom” ou “excelente”.<br />
Os principais motivos apontados foram:<br />
109<br />
Total Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Foi um trabalho profundo, extraído, b<strong>em</strong> apurado,<br />
era um resumo <strong>de</strong> tudo<br />
22 51,2 9 64,3 13 44,8<br />
Todos <strong>de</strong>ram opinião 12 27,9 5 35,7 7 24,1<br />
Aprofundou a compreensão dos probl<strong>em</strong>as 5 11,6 3 21,4 2 6,9<br />
Outras respostas 12 4 8
Total <strong>de</strong> pessoas 43 14 29<br />
Os aspectos <strong>de</strong>stacados como pontos positivos foram:<br />
110<br />
Total Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Perceber a relação entre os probl<strong>em</strong>as, no<br />
fluxo. Ter a visão geral.<br />
22 51,2 9 64,3 13 44,8<br />
Escrita individual <strong>da</strong>s propostas 12 27,9 3 21,4 9 31,0<br />
Estimula a participação, a troca <strong>de</strong> idéias 11 25,6 2 14,3 9 31,0<br />
Aprofun<strong>da</strong>mento nos grupos <strong>de</strong> interesse 7 16,3 1 7,1 6 20,7<br />
Pren<strong>de</strong>u a atenção, foi criativo 5 11,6 - - 5 17,2<br />
Outras respostas 6 2 4<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 43 14 29<br />
A supressão <strong>da</strong> etapa <strong>de</strong> retorno às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> se <strong>da</strong>ria a<br />
discussão <strong>da</strong>s propostas do Plano, talvez tenha contribuído para esta gran<strong>de</strong><br />
diferença <strong>em</strong> relação à percepção do todo. O encontro, momento <strong>em</strong> que se<br />
imaginou realizar esta discussão, foi bastante atribulado e acabou significando<br />
mais um momento <strong>de</strong> apresentação do que <strong>de</strong> discussão <strong>da</strong>s propostas. No<br />
entanto, mais do que tudo, os <strong>da</strong>dos apontam para a importância <strong>de</strong> uma etapa<br />
<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>atização que <strong>de</strong>ve ser garanti<strong>da</strong>, seja <strong>em</strong> que espaço for, para que<br />
se avance <strong>em</strong> direção à inserção crítica do sujeito frente a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Com a estratégia monta<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos, preten<strong>de</strong>u-se cont<strong>em</strong>plar as<br />
diferentes posições políticas <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um projeto comum: o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do município. Destaca-se, entretanto, que: 14,0% <strong>da</strong>s<br />
pessoas mencionaram a pouca participação <strong>de</strong> outras enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s no Conselho;<br />
11,6% consi<strong>de</strong>raram que o Conselho constituiu-se num grupo homogêneo; nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, 3,4% mencionaram a pouca participação <strong>de</strong> pessoas novas e a<br />
divisão partidária foi aponta<strong>da</strong> como uma <strong>de</strong> suas causas por 10,7 dos<br />
entrevistados.<br />
Apesar <strong>de</strong> nenhuma <strong>de</strong>stas<br />
taxas ser alta, consi<strong>de</strong>ra-se que elas<br />
apontam uma discussão <strong>de</strong><br />
relevância, particularmente <strong>em</strong>
111<br />
relação às iniciativas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mocratização dos espaços<br />
públicos. Os <strong>da</strong>dos levantados não<br />
permit<strong>em</strong> o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>sta<br />
análise, porém a superação dos<br />
probl<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>ntificados exige que as<br />
diferenças sejam encara<strong>da</strong>s como<br />
fonte <strong>de</strong> enriquecimento do <strong>de</strong>bate e<br />
do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que se preten<strong>de</strong> alcançar.<br />
Vale ressaltar que 90,9% dos<br />
entrevistados consi<strong>de</strong>raram válido o<br />
envolvimento <strong>de</strong> pessoas ou grupos<br />
com opiniões/posições políticas<br />
diferentes, tendo sido apontados<br />
como os principais motivos <strong>de</strong>sta<br />
vali<strong>da</strong><strong>de</strong> os seguintes:<br />
Total Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s Representante<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Conselho<br />
inicial<br />
Pessoas % Pessoas % Pessoas % Pessoas %<br />
Po<strong>de</strong>r enxergar mais, enriquecer a<br />
discussão<br />
44 40,0 27 40,3 6 42,9 11 37,9<br />
Os que pensam diferente po<strong>de</strong>m<br />
apren<strong>de</strong>r<br />
27 24,5 16 23,9 4 28,6 7 24,1<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento é para todos 15 13,6 5 7,5 3 21,4 7 24,1<br />
Grupo fica mais forte, facilita conseguir<br />
as coisas<br />
14 12,7 6 9,0 3 21,4 5 17,2<br />
Aju<strong>da</strong>ria a unir, podiam entrar num<br />
acordo<br />
13 11,8 11 16,4 - - 2 6,9<br />
Outras respostas 10 2 2 6<br />
Total <strong>de</strong> pessoas 110 67 14 29
6. RESUMO E CONCLUSÕES<br />
A realização <strong>de</strong> um diagnóstico participativo <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong><br />
t<strong>em</strong> o potencial <strong>de</strong> gerar ações que venham a transformar esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isto é<br />
factível porque um diagnóstico participativo é capaz <strong>de</strong> permitir que o indivíduo,<br />
através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> reflexão, atinja a compreensão dos motivos que<br />
geraram e mantêm <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a percepção <strong>de</strong> um novo possível<br />
ou do “inédito viável”, nas palavras <strong>de</strong> Paulo Freire.<br />
Quando este processo <strong>de</strong> reflexão é realizado num ambiente coletivo,<br />
que se propõe a planejar ações, o “inédito viável” individual transforma-se num<br />
plano <strong>de</strong> ação, pactuado entre os participantes. Sua tradução <strong>em</strong> ações<br />
concretas que venham efetivamente a transformar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do plano e do pacto, assim como <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
realização dos atores envolvidos.<br />
Uma evidência que po<strong>de</strong> ser percebi<strong>da</strong> ao se distanciar <strong>da</strong> primeira<br />
afirmação é a <strong>de</strong> que processos <strong>de</strong> diagnósticos participativos part<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
<strong>de</strong> uma proposição. E uma proposição é s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> alguém, <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong><br />
alguns atores sociais, sejam estes mais ou menos externos àquela reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Desta constatação <strong>em</strong>erge, portanto, a figura do sujeito <strong>de</strong> uma ação<br />
<strong>de</strong> diagnóstico, que é s<strong>em</strong>pre um sujeito historicamente posicionado. Po<strong>de</strong> ser,<br />
112
por ex<strong>em</strong>plo, uma Prefeitura, uma Organização Não-Governamental, uma<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou um Sindicato. Associados a esta figura, surg<strong>em</strong> os primeiros<br />
condicionantes <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> diagnóstico participativo.<br />
O primeiro <strong>de</strong>les refere-se à intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do(s) sujeito(s) que, <strong>em</strong><br />
algum momento, se concretiza como reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong><br />
ação. Se houver a intenção <strong>de</strong> promover um processo participativo <strong>de</strong><br />
transformação social e a concepção <strong>de</strong> que esta só se <strong>da</strong>rá a partir <strong>da</strong><br />
mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> postura do indivíduo frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong>, estes sujeitos<br />
apostarão e procurarão <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma ação que venha a se constituir num<br />
processo educativo.<br />
O segundo condicionante está associado à representação anterior<br />
histórica <strong>de</strong>ste(s) sujeito(s) no local on<strong>de</strong> se dá a intervenção. Consi<strong>de</strong>rando<br />
que um diagnóstico participativo propõe um processo <strong>de</strong> diálogo entre sujeitos,<br />
as representações que estes sujeitos faz<strong>em</strong> uns dos outros claramente<br />
interfer<strong>em</strong> no <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong>ste diálogo. Estas representações são cria<strong>da</strong>s tanto<br />
pelas ações anteriormente <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelo(s) sujeito(s) <strong>da</strong> intervenção<br />
naquela reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>em</strong> outras <strong>de</strong> conhecimento dos atores locais, quanto<br />
pelas expectativas cria<strong>da</strong>s <strong>em</strong> torno do que se imagina ser o potencial <strong>da</strong> ação<br />
<strong>da</strong>quele(s) sujeito(s). Isso significa dizer que nenhum processo <strong>de</strong> diagnóstico<br />
inicia-se do “zero”. Há, no mínimo, uma referência <strong>de</strong> ações anteriores e, ou,<br />
uma expectativa do que venham a ser as ações futuras.<br />
No caso <strong>de</strong> Tombos, <strong>em</strong> que o diagnóstico foi realizado pelo po<strong>de</strong>r<br />
público, a divisão partidária dificultou a participação <strong>da</strong>queles não afinados<br />
politicamente com a atual administração, conforme mostrado na análise dos<br />
<strong>da</strong>dos. Esta é uma questão particular ao fato <strong>da</strong> prática analisa<strong>da</strong> por esta<br />
pesquisa ser uma ação do po<strong>de</strong>r público e, portanto, merece maior estudo do<br />
ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong>s questões que envolv<strong>em</strong> o <strong>de</strong>safio do aprofun<strong>da</strong>mento<br />
<strong>de</strong>mocrático. Entretanto, as questões referentes à intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> e à<br />
representação histórica do(s) sujeito(s) repet<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> to<strong>da</strong> e qualquer<br />
proposta <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um diagnóstico participativo. Portanto, é uma<br />
questão que se coloca à própria proposta metodológica.<br />
A discussão <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por esta pesquisa foi, essencialmente,<br />
metodológica. Fun<strong>da</strong>menta-se na compreensão <strong>de</strong> que um método <strong>de</strong> trabalho<br />
não é, isola<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong>terminante do sucesso <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> intervenção,<br />
113
mas t<strong>em</strong> a sua importância ao propiciar um instrumental que, com habili<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
“bons propósitos”, po<strong>de</strong> conduzir a gran<strong>de</strong>s objetivos. Traçando um paralelo,<br />
po<strong>de</strong>-se dizer que é o conhecimento do que é possível fazer com um martelo<br />
que permite ao indivíduo “imaginar” algo produzido por ele. Por outro lado, é<br />
este mesmo conhecimento que permite ao indivíduo recorrer a esta ferramenta<br />
para concretizar algo “imaginado”, individual ou coletivamente.<br />
Os <strong>da</strong>dos discutidos anteriormente permit<strong>em</strong> a conclusão <strong>de</strong> que o<br />
DRP t<strong>em</strong> potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um processo educativo que gere nos<br />
indivíduos a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar na transformação <strong>de</strong> sua própria reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isto<br />
se dá através <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> que o método t<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma análise<br />
crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vivi<strong>da</strong>, através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação, <strong>de</strong><br />
segmentação, <strong>de</strong> separação <strong>da</strong>s partes que compõ<strong>em</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, para<br />
recompô-la, mais a frente, transforma<strong>da</strong>, inicialmente no pensamento, na<br />
imaginação, no indivíduo, e, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, no coletivo, através do planejamento<br />
<strong>de</strong> ações.<br />
A princípio, numa <strong>de</strong>mocracia, quanto maior o número <strong>de</strong> envolvidos<br />
num processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento, maior a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a força do<br />
plano. No entanto, a análise <strong>da</strong> prática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> <strong>em</strong> Tombos mostrou que<br />
exist<strong>em</strong> limitações <strong>em</strong> relação à participação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas<br />
<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as fases <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> diagnóstico. O envolvimento é<br />
diferenciado e limitado. Esta evidência aponta para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo após a <strong>de</strong>finição do plano <strong>de</strong> ações, que, além <strong>de</strong><br />
<strong>da</strong>r concretu<strong>de</strong> às propostas, continue, progressivamente, envolvendo maior<br />
número <strong>de</strong> pessoas. Isso para que o plano tenha e mantenha sua legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e reconhecimento político, el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais para que ele tenha força<br />
para se tornar reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incorporar novos atores ao processo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado<br />
pelo diagnóstico <strong>de</strong>man<strong>da</strong> uma concepção <strong>de</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao<br />
plano. É preciso ter a idéia <strong>de</strong> que um plano, um pacto não é algo fixo,<br />
imutável. Deve haver flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para incorporar tanto as visões <strong>da</strong>s pessoas<br />
que se integram ao processo quanto a dinâmica <strong>da</strong> conjuntura.<br />
A continui<strong>da</strong><strong>de</strong> justifica-se, também, pela própria característica <strong>de</strong> um<br />
processo educativo que é, por natureza, um processo contínuo. O processo <strong>de</strong><br />
apren<strong>de</strong>r é um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. O aprendizado ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro gera, <strong>em</strong><br />
114
essência, a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> “como apren<strong>de</strong>r” e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar<br />
apren<strong>de</strong>ndo e <strong>de</strong>scobrir novas coisas. Em outras palavras, quando se <strong>de</strong>seja<br />
permitir a realização <strong>de</strong> um processo educativo, é preciso prever continui<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
É preciso que o processo gere um continuum, um movimento, uma vonta<strong>de</strong> (e<br />
um caminho) para prosseguir. O diagnóstico <strong>de</strong>ve ser parte <strong>de</strong> uma estratégia<br />
educativa mais ampla.<br />
Outros aspectos <strong>de</strong> importância evi<strong>de</strong>nciados pela pesquisa são<br />
discutidos a seguir. Um <strong>de</strong>les é a constatação <strong>de</strong> que um processo <strong>de</strong><br />
diagnóstico e planejamento começa antes <strong>da</strong>s etapas <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong><br />
conhecimentos. O momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objetivos, abrangência e enfoque<br />
representa o primeiro recorte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Portanto, para que este recorte<br />
esteja harmonizado com os interesses coletivos, é necessário que seja feito por<br />
um conjunto representativo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isso requer, portanto, um trabalho<br />
inicial <strong>de</strong> articulação e sensibilização dos atores sociais. A estratégia do<br />
processo <strong>de</strong> diagnóstico e planejamento <strong>de</strong>ve ser concebi<strong>da</strong> com calma e<br />
profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois o alcance do trabalho estará fort<strong>em</strong>ente condicionado por<br />
ela.<br />
Outro aspecto evi<strong>de</strong>nciado pela pesquisa refere-se à importância <strong>de</strong><br />
um roteiro flexível, que, ao ser atualizado, incorpore <strong>de</strong> forma ativa novos<br />
atores sociais e oriente o processo <strong>de</strong> diagnóstico, permitindo a seleção do que<br />
é ou não relevante conhecer. Isso torna-se particularmente importante quando<br />
a pesquisa, ou seja, a leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, está sendo pratica<strong>da</strong> por um<br />
coletivo, muitas vezes heterogêneo <strong>em</strong> relação à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apreensão <strong>de</strong><br />
um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> informações escritas. A síntese e a visualização <strong>da</strong>s<br />
informações tornam-se recursos importantes para que as informações sejam<br />
apreendi<strong>da</strong>s pelo conjunto dos envolvidos no diagnóstico.<br />
Em relação às técnicas ou aos diagramas utilizados <strong>em</strong> um DRP, a<br />
pesquisa evi<strong>de</strong>nciou que se tratam <strong>de</strong> bons instrumentos <strong>de</strong> codificação e<br />
<strong>de</strong>codificação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>; apresentam gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> “mediatizar” o<br />
<strong>de</strong>bate <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente porque são construídos ao<br />
longo <strong>de</strong> um diálogo; permit<strong>em</strong> a visualização <strong>da</strong>s partes no todo; exerc<strong>em</strong> um<br />
papel importante na visualização <strong>da</strong>s informações que estão sendo discuti<strong>da</strong>s e<br />
probl<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s pelo grupo; são simples, <strong>de</strong> boa aceitação e favorec<strong>em</strong> a<br />
expressão <strong>da</strong>s opiniões individuais. Porém, são também fort<strong>em</strong>ente<br />
115
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>, dos propósitos e dos valores éticos <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> os<br />
utiliza. Como o objetivo <strong>de</strong> um diagnóstico participativo é estabelecer um<br />
diálogo, é necessário que os pesquisadores tenham conhecimento <strong>da</strong>s<br />
técnicas e principalmente disposição e habili<strong>da</strong><strong>de</strong> para o diálogo.<br />
O resultado <strong>da</strong> presente pesquisa evi<strong>de</strong>ncia que o uso <strong>de</strong>stas técnicas<br />
ou diagramas não é capaz, por si, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo <strong>de</strong> análise<br />
crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao ponto <strong>de</strong> gerar no indivíduo uma “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> postura”<br />
ativa frente a esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isso requer um processo mais profundo <strong>de</strong><br />
distanciamento e reflexão crítica sobre as razões que criam e mantêm a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> forma como ela é, ou seja, é fun<strong>da</strong>mental que o terceiro momento<br />
do método proposto por Paulo Freire seja realizado, o momento <strong>da</strong><br />
probl<strong>em</strong>atização.<br />
Essa evidência v<strong>em</strong> relativizar uma mística <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> rapi<strong>de</strong>z<br />
espera<strong>da</strong> <strong>em</strong> um DRP. Esta mística advém <strong>da</strong>s preocupações que inspiraram o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do DRR, contudo, percebe-se que, diante do objetivo <strong>de</strong> gerar<br />
uma “toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> postura” ativa do indivíduo frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (talvez uma boa<br />
tradução para o termo “<strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramiento”), é necessário um processo <strong>de</strong><br />
análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e planejamento <strong>da</strong>s ações que requer t<strong>em</strong>po e uma<br />
estratégia que garanta que o processo <strong>de</strong> reflexão crítica se realize. O<br />
diagnóstico, <strong>em</strong> si, <strong>de</strong>ve ser uma estratégia educativa.<br />
Outra questão refere-se à importância <strong>da</strong> comunicação. No momento<br />
do diagnóstico, envolve-se, mesmo que <strong>de</strong> forma diferencia<strong>da</strong>, um gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> pessoas. Entretanto, após a elaboração do plano, este<br />
envolvimento ten<strong>de</strong> a diminuir, já que o objetivo prático do diagnóstico (a<br />
elaboração do plano) é atingido. No entanto, o plano não é o fim, mas o<br />
começo <strong>da</strong> ação e, para sua concretização, faz-se necessário manter as<br />
pessoas <strong>em</strong> sintonia com os <strong>de</strong>sdobramentos do diagnóstico e estimulá-las a<br />
incorporar-se, ca<strong>da</strong> vez mais, nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que buscam a concretização <strong>da</strong>s<br />
ações. Torna-se, portanto, fun<strong>da</strong>mental que seja estabeleci<strong>da</strong> uma estratégia<br />
<strong>de</strong> comunicação capaz <strong>de</strong> garantir o fluxo <strong>da</strong>s informações sobre o an<strong>da</strong>mento<br />
(ou não) do plano <strong>de</strong> ação.<br />
As diferenças sociais e i<strong>de</strong>ológicas entre os atores do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
traz<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para que estas visões sejam compartilha<strong>da</strong>s num processo<br />
<strong>de</strong> diagnóstico e planejamento coletivo. Muitas são dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter<br />
116
político, influencia<strong>da</strong>s por um contexto histórico. A habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> enfrentá-las é<br />
algo a ser conquistado pelos indivíduos envolvidos no processo. A postura <strong>da</strong>s<br />
li<strong>de</strong>ranças po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante, facilitando ou dificultando esta “consertação”<br />
<strong>de</strong> visões. A pesquisa mostra que, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a diferença <strong>de</strong><br />
opiniões é valoriza<strong>da</strong> pelos envolvidos como algo que po<strong>de</strong> enriquecer as<br />
discussões e fortalecer o pacto, aumentando suas chances <strong>de</strong> ser<br />
concretizado. Em outras palavras, torna o plano mais legítimo e reforça o pacto<br />
estabelecido. Portanto, vale a pena enfrentar as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s advin<strong>da</strong>s <strong>de</strong>sta<br />
situação.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a presente pesquisa discutiu as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
limitações do uso do DRP, a partir do estudo <strong>de</strong> uma prática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pelo<br />
po<strong>de</strong>r público municipal, cab<strong>em</strong> aqui algumas consi<strong>de</strong>rações finais.<br />
A primeira refere-se à especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> caso que, não<br />
permitindo a generalização <strong>da</strong>s informações, <strong>de</strong>ve ser compreendido como<br />
uma fonte <strong>de</strong> indicações que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser contrasta<strong>da</strong>s com outros estudos <strong>de</strong><br />
caso, a fim <strong>de</strong> reafirmar ou contestar as conclusões ensaia<strong>da</strong>s anteriormente.<br />
Estudos comparativos sobre o uso do DRP <strong>em</strong> processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
local tornam-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para aprofun<strong>da</strong>r a discussão sobre suas<br />
potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e limitações.<br />
Outra questão é a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a prática analisa<strong>da</strong> por esta<br />
pesquisa constituir-se numa iniciativa do po<strong>de</strong>r público municipal. Com isto, a<br />
pesquisa, que foi direciona<strong>da</strong> principalmente para uma análise metodológica,<br />
tangenciou (mas não aprofundou) as discussões relativas aos <strong>de</strong>safios <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>mocratização dos espaços públicos. Situa-se aqui um amplo campo <strong>de</strong><br />
pesquisa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância no atual contexto político brasileiro <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização do Estado. Pesquisas sobre o papel do município no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento local e sobre os <strong>de</strong>safios gerados pela <strong>de</strong>scentralização<br />
político-administrativa do Estado po<strong>de</strong>m contribuir para maior compreensão<br />
dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização e para enriquecer a discussão sobre as<br />
contribuições que po<strong>de</strong>m advir <strong>da</strong>s metodologias participativas.<br />
117
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123
APÊNDICES<br />
124
APÊNDICE A<br />
PROPOSTA PRELIMINAR PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE<br />
DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL DE TOMBOS 41<br />
Doc.1<br />
PRINCIPAIS ETAPAS<br />
Acerto <strong>da</strong> proposta, formação <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
diretrizes, cronograma e outras questões operacionais.<br />
Levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos secundários sobre o município (ex<strong>em</strong>plo: IBGE,<br />
pesquisa UFJF).<br />
Diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> municipal:<br />
Subetapas: - levantamento inicial<br />
- sist<strong>em</strong>atização roteiro<br />
- aplicação <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> grupo<br />
- sist<strong>em</strong>atização<br />
- entrevistas<br />
- sist<strong>em</strong>atização<br />
Elaboração do Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento.<br />
Apresentação e discussão com a população.<br />
41 Elabora<strong>da</strong> por <strong>Andréa</strong>, discuti<strong>da</strong> com Ferrari e envia<strong>da</strong> por fax para Margari<strong>da</strong>, no final <strong>de</strong><br />
janeiro/98.<br />
125
Encaminhamentos: formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> trabalho.<br />
Acompanhamento e avaliação.<br />
Esta proposta referen<strong>da</strong>-se nas experiências <strong>de</strong> trabalho do CTA-ZM e na metodologia <strong>de</strong> Planejamento<br />
Estratégico Participativo (PEP), sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong> pelo Professor Joel Souto Maior (UFPb) e utiliza<strong>da</strong> pelo CEPAGRO (uma<br />
ONG <strong>de</strong> Santa Catarina).<br />
A metodologia reconhece a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do produto final (o Plano),<br />
porém ressalta a importância do processo, pois enten<strong>de</strong> que este caminho é<br />
<strong>de</strong>terminante na construção <strong>da</strong>s bases para impl<strong>em</strong>entação <strong>da</strong>s ações<br />
previstas no Plano.<br />
A realização <strong>de</strong>ste trabalho pressupõe e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do envolvimento <strong>da</strong>s<br />
diferentes organizações locais e do Po<strong>de</strong>r Público local, atores efetivos do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento municipal.<br />
A assessoria técnica prevista orienta o processo a contribuir para<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um movimento para o <strong>de</strong>senvolvimento do município.<br />
Prefeituras/PDR Tombos/Proposta 09/03/98 AA.<br />
126
Local: Tombos/MG.<br />
APÊNDICE B<br />
Reunião dia 11.02.1998.<br />
127<br />
Doc. 2<br />
Presentes: Ferrari, Glauco, Margari<strong>da</strong>, Derly, Luciana (Secretária <strong>de</strong> Ação<br />
Social), <strong>Andréa</strong>, Emerson, Batiá.<br />
Pauta:<br />
1 - Apresentação e discussão <strong>da</strong> proposta preliminar para elaboração do Plano<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento Municipal <strong>de</strong> Tombos.<br />
2 - Convênio Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Tombos e CTA.
Discussão sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Plano:<br />
PRINCIPAIS ETAPAS<br />
Acerto <strong>da</strong> proposta<br />
Levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos<br />
secundários (IBGE, pesquisa<br />
UFJF, etc.)<br />
Diagnóstico (várias etapas)<br />
Elaboração do Plano<br />
Apresentação e discussão<br />
com a população<br />
Encaminhamentos: formação<br />
<strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> trabalho<br />
Acompanhamento e avaliação<br />
Já exist<strong>em</strong> propostas tira<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, através dos grupos<br />
formados pela Prefeitura e através <strong>da</strong> pesquisa <strong>da</strong> UFJF.<br />
Então, por que um Plano?<br />
Porque não está tudo incluído. Lugares ficaram <strong>de</strong> fora, assuntos não foram<br />
b<strong>em</strong> explorados, como a pecuária.<br />
Porque o plano dá o rumo, <strong>de</strong>fine as questões estratégicas, <strong>de</strong>fine<br />
priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Porque não se conhec<strong>em</strong> as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s futuras. Por ex<strong>em</strong>plo, hoje 40<br />
produtores estão criando peixe. E <strong>da</strong>qui a dois anos, qual será a <strong>de</strong>man<strong>da</strong>?<br />
Porque é preciso planejar diferentes ações. Se todos produzir<strong>em</strong> uma coisa<br />
só, sobra.<br />
Porque é necessário analisar, estu<strong>da</strong>r, pensar b<strong>em</strong> nas ações.<br />
Porque é importante que os agricultores enten<strong>da</strong>m to<strong>da</strong> a ca<strong>de</strong>ia.<br />
Discussão sobre o rural e o urbano:<br />
128
O <strong>de</strong>senvolvimento envolve a população urbana também.<br />
Muitas pessoas moram na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas trabalham no campo ou têm<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s liga<strong>da</strong>s à agricultura.<br />
Existe um “muro” entre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e o campo, que precisa ser vencido.<br />
É importante também olhar para a região, ver as tendências regionais.<br />
Listag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s a ser<strong>em</strong> atingi<strong>da</strong>s pelo diagnóstico (18<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, to<strong>da</strong>s no meio rural. Exist<strong>em</strong> grupos estruturados apenas <strong>em</strong> 5):<br />
1) Catuné 1<br />
2) Catuné 2<br />
3) Alto Catuné<br />
4) Água Santa<br />
5) Igrejinha<br />
6) Banco<br />
7) Perdição<br />
8) Batatal<br />
9) Gaviãozinho<br />
10) São Pedro<br />
11) Córrego dos Pereiras<br />
12) Pedra Bonita<br />
13) Pedra Bonita<br />
14) Serra dos Quintinos<br />
15) Chave Santa Rosa<br />
16) Serra Queima<strong>da</strong><br />
17) Mira Serra<br />
18) Se<strong>de</strong> (proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />
129
2 - Convênio PMT e CTA:<br />
Tudo OK.<br />
Discussão com o Prefeito a partir <strong>de</strong> uma minuta elabora<strong>da</strong> pelo CTA.<br />
Prefeituras/PDR Tombos/Discussão <strong>da</strong> Proposta 09/03/98 AA.<br />
90
APÊNDICE C<br />
Doc. 3<br />
Reunião dia 02/03/98.<br />
Local: Tombos/MG.<br />
Presentes: Ferrari, Glauco, Margari<strong>da</strong>, Emerson (EMATER), Nice (EMATER),<br />
Márcia, Batiá (STR).<br />
Pauta:<br />
1 - Apresentação e discussão <strong>da</strong> proposta preliminar <strong>de</strong> planejamento.<br />
2 - Composição do Conselho e equipe executiva.<br />
3 - Datas.<br />
1 - Apresentação e discussão <strong>da</strong> proposta preliminar <strong>de</strong> planejamento (feita por<br />
Ferrari, Glauco e <strong>Andréa</strong> a partir <strong>da</strong> reunião <strong>de</strong> discussão <strong>da</strong> proposta <strong>de</strong><br />
trabalho, dia 11/02/98).<br />
Análise e sist<strong>em</strong>atização dos <strong>da</strong>dos secundários.<br />
I Encontro do Conselho (1.ª análise).<br />
II Encontro do Conselho (1.ª análise).<br />
Levantamento <strong>de</strong> campo:<br />
2 etapas <strong>de</strong> levantamento e sist<strong>em</strong>atização,<br />
10 equipes, 4 fins <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana.<br />
III Encontro do Conselho (análise final).<br />
91
Encontro do Conselho e representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ain<strong>da</strong> não<br />
representa<strong>da</strong>s (elaboração <strong>da</strong> 1.ª versão do Plano): 2 etapas.<br />
Discussão do Plano com as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Encontro do Conselho e representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (finalização do<br />
Plano: operacionalização e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s).<br />
Re<strong>da</strong>ção do Plano.<br />
Divulgação.<br />
Previsão: 22 dias/pessoa.<br />
Obs.: A equipe do levantamento <strong>em</strong> campo será tira<strong>da</strong> dos componentes do<br />
Conselho.<br />
2 - Composição do Conselho:<br />
Li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> base: - STR - 8<br />
- Associação - 5<br />
- Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> grupos - 7<br />
- Sindicato Rural - 2<br />
Governo: - Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (secretário + 1) - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Educação - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Assistência Social - 2<br />
- Secretaria <strong>de</strong> Agricultura - 2<br />
Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s: - EMATER - 2<br />
- CTA/ZM - 4<br />
- UFV - 6<br />
- SIAT - 1<br />
Câmara <strong>de</strong> Vereadores - 2<br />
Total: 45 pessoas, sendo 9 não resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Tombos<br />
Obs.: Discutiu-se sobre a pertinência <strong>de</strong> incluir representantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
s<strong>em</strong> grupo formado. Concluiu-se que seria pr<strong>em</strong>aturo incluí-los nos<br />
encontros iniciais. Fica a idéia <strong>de</strong> incluí-los no momento <strong>de</strong> elaboração<br />
do Plano, a partir <strong>de</strong> uma escolha <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Equipe executiva: Ferrari, Glauco, <strong>Andréa</strong>, Margari<strong>da</strong>, Derly, Emerson, Batiá e<br />
Márcia<br />
3 - Datas:<br />
92
- Reunião <strong>de</strong> preparação do I Encontro (equipe executiva): 11/03/98:<br />
Estudo dos <strong>da</strong>dos secundários, idéias para as técnicas, operacionalização<br />
do I Encontro do Conselho.<br />
- I Encontro do Conselho (1.ª análise):<br />
25 e 26 <strong>de</strong> março <strong>da</strong>s 9 às 18 h (dois dias inteiros)<br />
- II Encontro do Conselho (1.ª análise):<br />
14 e 15 <strong>de</strong> abril<br />
- Levantamento <strong>de</strong> campo:<br />
18 e 19 <strong>de</strong> abril (<strong>da</strong>ta com probl<strong>em</strong>a)<br />
25 e 26 <strong>de</strong> abril (9 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s)<br />
2 e 3 <strong>de</strong> maio (outras 9 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s)<br />
9 e 10 <strong>de</strong> maio (volta às primeiras 9 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s)<br />
16 e 17 <strong>de</strong> maio (volta às outras 9 comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s)<br />
Prefeituras/PDR Tombos/Planejamento 05/03/98 AA<br />
93
Doc. 4<br />
APÊNDICE D<br />
Reunião dia 11/03/98.<br />
Local: Tombos.<br />
Presentes: Derly, Margari<strong>da</strong>, Márcia, Glauco, Batiá, Emerson, <strong>Andréa</strong><br />
Pauta:<br />
1) Análise dos <strong>da</strong>dos secundários.<br />
2) Preparação do I Encontro do Conselho.<br />
1) Análise dos <strong>da</strong>dos secundários:<br />
Como tínhamos apenas os <strong>da</strong>dos brutos e a pesquisa <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora não havia chegado, não foi viável<br />
analisar os <strong>da</strong>dos. Marcamos outra <strong>da</strong>ta para esta análise (17/03/98, 9 h). Glauco e Márcia ficaram responsáveis pela<br />
sist<strong>em</strong>atização <strong>da</strong>s informações e distribuição para a equipe antes <strong>da</strong> reunião.<br />
Discutimos, então, sobre o objetivo final do trabalho. A questão coloca<strong>da</strong><br />
foi a seguinte: <strong>em</strong> alguns momentos falamos <strong>em</strong> Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Municipal e, <strong>em</strong> outras, <strong>em</strong> Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural. O que estamos<br />
querendo? Elaborar um Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Municipal ou um Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Rural? Qual a diferença? Surgiram outras questões: ou seria<br />
um Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Agrícola? O que enten<strong>de</strong>mos por rural? O que<br />
enten<strong>de</strong>mos por agrícola?<br />
Foram coloca<strong>da</strong>s várias opiniões. Entre elas:<br />
O rural é tudo aquilo relacionado à zona rural.<br />
O agrícola é aquilo relacionado ao uso <strong>da</strong> terra. São as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas.<br />
94
Na zona rural há as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas, mas, também, as questões <strong>da</strong><br />
saú<strong>de</strong>, <strong>da</strong> educação, dos direitos trabalhistas, <strong>da</strong> previdência, etc.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas estão na zona rural, mas reflet<strong>em</strong>-se também na<br />
zona urbana. Ex<strong>em</strong>plo: comercialização, uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra t<strong>em</strong>porária,<br />
etc.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> zona rural envolve to<strong>da</strong>s as questões, porém, se<br />
levantarmos tudo, na idéia <strong>de</strong> fazer um Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural, a<br />
agricultura po<strong>de</strong> sumir no meio <strong>de</strong> muitas outras <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s. Normalmente a<br />
população pensa nos serviços (ex<strong>em</strong>plo: posto médico, transporte escolar,<br />
estra<strong>da</strong>, etc.), pois t<strong>em</strong> to<strong>da</strong> uma tradição assistencialista. Corre-se o risco<br />
<strong>de</strong> não sair quase na<strong>da</strong> <strong>de</strong> agricultura.<br />
Além disso, o trabalho está sendo puxado pela Secretaria <strong>de</strong> Agricultura. As<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s outras áreas não po<strong>de</strong>rão ser atendi<strong>da</strong>s pela Secretaria. Isso<br />
po<strong>de</strong> gerar frustação. As outras Secretarias têm suas próprias formas <strong>de</strong><br />
fazer seu trabalho.<br />
Por outro lado, pensar num Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Agrícola, restringindo<br />
o diagnóstico à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas, po<strong>de</strong> frustar as<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que têm outras priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s. É preciso l<strong>em</strong>brar que a Secretaria<br />
<strong>de</strong> Agricultura é um pouco a “porta-voz” <strong>da</strong> zona rural.<br />
É preciso l<strong>em</strong>brar também que o diagnóstico não é um levantamento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s. É um estudo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas são<br />
importantes, elas vão aparecer e vão ter importância mesmo num<br />
diagnóstico geral <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não precisa restringir.<br />
A idéia é ter um diagnóstico <strong>da</strong> agricultura, mas, também, ouvir outras coisas<br />
e levar para qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> competência na área.<br />
A Secretaria precisa <strong>de</strong> um Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Agrícola para<br />
negociar projetos e recursos públicos.<br />
As idéias foram convergindo para o seguinte pensamento:<br />
Fazer um diagnóstico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> rural <strong>em</strong> geral e traçar um plano para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas. As <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s nas outras áreas<br />
seriam leva<strong>da</strong>s para as outras Secretarias e lá discuti<strong>da</strong>s. A <strong>de</strong>finição do<br />
nome mais apropriado ficou para um momento posterior, <strong>de</strong>pois que as<br />
idéias se assentar<strong>em</strong> melhor.<br />
95
2) Preparação do I Encontro do Conselho. Como não foi possível analisar os<br />
<strong>da</strong>dos, não <strong>de</strong>u para avançar na preparação do encontro. Ficou para o dia<br />
17.<br />
Prefeituras/PDR Tombos/Análise dos <strong>da</strong>dos secundários 1 12/03/98 AA.<br />
96
APÊNDICE E<br />
Paulo Freire?<br />
Paulo Reglus Neves Freire, conhecido no Brasil e no exterior apenas<br />
como Paulo Freire, nasceu <strong>em</strong> Recife, PE, <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1921.<br />
Começou a leitura <strong>da</strong> palavra, orientado pela mãe, escrevendo palavras com<br />
gravetos <strong>da</strong>s mangueiras, à sombra <strong>de</strong>las, no chão <strong>da</strong> casa on<strong>de</strong> nasceu<br />
(FREIRE, 1996).<br />
Ao lado <strong>de</strong> seus irmãos e irmãs, foi educado na tradição católica. A<br />
disposição paterna para o diálogo com a família, criando os filhos com<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas também com compreensão, talvez tenha contribuído para que<br />
nele se <strong>de</strong>senvolvesse certa perspectiva <strong>em</strong> relação à comunicação<br />
(GERHARDT, 1996)<br />
Aos 22 anos, ingressou na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Recife e, durante o<br />
período <strong>de</strong> formação acadêmica, tornou-se professor <strong>de</strong> língua portuguesa do<br />
Colégio Oswaldo Cruz (FREIRE, 1996).<br />
Ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 40, teve contato com a educação <strong>de</strong><br />
adultos/trabalhadores quando trabalhou no setor <strong>de</strong> Educação e Cultura do<br />
SESI, órgão recém-criado pela Confe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>da</strong> Indústria, através <strong>de</strong><br />
um acordo com o governo Vargas. Freire ocupou o cargo <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong>sse<br />
setor do SESI, <strong>de</strong> 1947 a 1954, e aí foi Superinten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> 1954 a 1957<br />
(FREIRE, 1996).<br />
97
Em 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1956, foi nomeado, pela Prefeitura do Recife,<br />
m<strong>em</strong>bro do Conselho Consultivo <strong>de</strong> Educação, ao lado <strong>de</strong> mais oito<br />
notáveis educadores pernambucanos. Alguns anos <strong>de</strong>pois, foi <strong>de</strong>signado<br />
para o cargo <strong>de</strong> Diretor <strong>da</strong> Divisão <strong>de</strong> Cultura e Recreação do<br />
Departamento <strong>de</strong> Documentação e Cultura <strong>da</strong> Prefeitura Municipal do<br />
Recife (FREIRE, 1996).<br />
Sua primeira experiência como professor <strong>de</strong> nível superior foi<br />
lecionando Filosofia <strong>da</strong> Educação na Escola <strong>de</strong> Serviço Social do Recife. Em<br />
fins <strong>de</strong> 1959, obteve o título <strong>de</strong> Doutor <strong>em</strong> Filosofia e História <strong>da</strong> Educação,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a tese “Educação e atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira”, e tornou-se professor<br />
efetivo <strong>de</strong> Filosofia e História <strong>da</strong> Educação <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Ciências<br />
e Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Recife, <strong>em</strong> 1961 (FREIRE, 1996).<br />
Paulo Freire, extrapolando a área acadêmica e institucional, também<br />
engajou-se nos movimentos <strong>de</strong> educação popular do início dos anos 60. Foi<br />
um dos fun<strong>da</strong>dores do Movimento <strong>de</strong> Cultura Popular (M.C.P.) do Recife e nele<br />
trabalhou, no sentido <strong>de</strong>, através <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> cultura popular, contribuir<br />
para a presença participativa <strong>da</strong>s massas populares na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira.<br />
Este primeiro movimento marcou profun<strong>da</strong>mente a formação do educador<br />
pernambucano (FREIRE, 1996).<br />
Através <strong>de</strong> suas concepções <strong>de</strong> educador popular progressista, Paulo<br />
Freire participou <strong>da</strong> campanha “De Pé no Chão Também se Apren<strong>de</strong> a Ler”,<br />
realiza<strong>da</strong> com sucesso pelo então governo popular do Prefeito Djalma<br />
Maranhão, <strong>de</strong> Natal, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Ao organizar e dirigir a campanha<br />
<strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> Angicos, também no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Freire ficou<br />
conhecido nacionalmente como educador voltado para as questões populares.<br />
Logo <strong>de</strong>pois, foi para Brasília a convite do recém-<strong>em</strong>possado Ministro <strong>da</strong><br />
Educação, Paulo <strong>de</strong> Tarso Santos, do governo Goulart, para realizar uma<br />
campanha nacional <strong>de</strong> alfabetização. Nasceu, assim, sob sua coor<strong>de</strong>nação, o<br />
<strong>Programa</strong> Nacional <strong>de</strong> Alfabetização, que, pelo “Método Paulo Freire”,<br />
tencionava alfabetizar, politizando, 5 milhões <strong>de</strong> adultos. Oficializado <strong>em</strong> 21 <strong>de</strong><br />
janeiro <strong>de</strong> 1964, tal <strong>Programa</strong> foi extinto pelo governo militar <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> abril do<br />
mesmo ano (FREIRE, 1996).<br />
Em set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1964, aos 43 anos, Paulo Freire, ameaçado pelo<br />
governo brasileiro, exilou-se na Bolívia. O golpe <strong>de</strong> Estado ocorrido no País<br />
98
pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua chega<strong>da</strong> logo o levou ao Chile, on<strong>de</strong> permaneceu<br />
<strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1964 a abril <strong>de</strong> 1969. Trabalhou <strong>em</strong> Santiago como assessor<br />
do Instituto <strong>de</strong> Desarollo Agropecuario e do Ministério <strong>de</strong> Educação do Chile e<br />
como consultor <strong>da</strong> UNESCO no Instituto <strong>de</strong> Capacitación e Investigación <strong>em</strong><br />
Reforma Agraria do Chile. De abril <strong>de</strong> 1969 a fevereiro <strong>de</strong> 1970, morou <strong>em</strong><br />
Cambridge, Massachusetts, <strong>da</strong>ndo aulas sobre suas próprias reflexões na<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Harvard, como professor convi<strong>da</strong>do. Em segui<strong>da</strong>, mudou-se<br />
para Genebra para ser Consultor Especial do Departamento <strong>de</strong> Educação do<br />
Conselho Mundial <strong>de</strong> Igrejas. A serviço do Conselho, viajou pela África, Ásia,<br />
Oceania e América (com exceção do Brasil), aju<strong>da</strong>ndo os países que tinham<br />
conquistado sua in<strong>de</strong>pendência política a sist<strong>em</strong>atizar<strong>em</strong> seus planos <strong>de</strong><br />
educação. Na Suíça, Paulo Freire foi também professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Genebra (FREIRE, 1996).<br />
99<br />
Paulo Freire retornou<br />
<strong>de</strong>finitivamente ao Brasil <strong>em</strong> junho <strong>de</strong><br />
1980. Em set<strong>em</strong>bro, tornou-se<br />
professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Campinas (UNICAMP), on<strong>de</strong> lecionou<br />
até o final do ano letivo <strong>de</strong> 1990. Em<br />
1.º <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1989 foi<br />
<strong>em</strong>possado como Secretário <strong>de</strong><br />
Educação do Município <strong>de</strong> São Paulo,<br />
na gestão <strong>da</strong> Prefeita Luiza Erundina<br />
<strong>de</strong> Sousa, cargo do qual se afastou<br />
<strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 1991. Voltou a lecionar<br />
na Pontifícia Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong><br />
São Paulo (PUC-SP). A partir <strong>de</strong><br />
1987, Freire passou a ser um dos<br />
m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> Júri Internacional <strong>da</strong><br />
UNESCO, que, a ca<strong>da</strong> ano, reúne-se<br />
<strong>em</strong> Paris para escolher os melhores<br />
projetos e experiências <strong>de</strong><br />
alfabetização dos cinco continentes<br />
(FREIRE, 1996).
Em 2 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1997, Paulo Freire nos <strong>de</strong>ixou, <strong>de</strong>ixando-nos suas<br />
realizações, seu ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e uma obra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> repercussão<br />
internacional.<br />
100
Um pouco <strong>da</strong> repercussão <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Paulo Freire<br />
A obra teórica <strong>de</strong> Paulo Freire 25 , reflexão sobre sua prática, t<strong>em</strong><br />
servido <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mento para trabalhos acadêmicos e inspirado práticas <strong>em</strong><br />
diversas partes do mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os mocambos do Recife às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
barakumins do Japão, passando pelas mais consagra<strong>da</strong>s instituições<br />
educacionais do Brasil e do exterior (FREIRE, 1996).<br />
O número <strong>de</strong> livros, dissertações <strong>de</strong> mestrado e teses <strong>de</strong> doutorado<br />
escritas sobre o pensamento <strong>de</strong> Paulo Freire ultrapassa a casa dos 300<br />
documentos. Segundo sua biobibliografia, organiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1996, eram, na<br />
época, 311 obras publica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> diversos idiomas.<br />
25 São 23 livros publicados (9 <strong>em</strong> diálogo com outros educadores), quase todos editados <strong>em</strong><br />
inglês, francês e espanhol e gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>les também <strong>em</strong> italiano e al<strong>em</strong>ão. A Pe<strong>da</strong>gogia<br />
do Oprimido foi traduzi<strong>da</strong> também para mais <strong>de</strong> duas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> idiomas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o japonês,<br />
o hindu e outras línguas orientais até o ídiche, o sueco, o holandês e outras línguas dos<br />
países europeus. Educação como prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> foi também traduzido para a língua<br />
basca e Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Esperança inclui, entre outras traduções, o dinamarquês (FREIRE,<br />
1996).<br />
101
APÊNDICE F<br />
ROTEIRO DE ENTREVISTAS<br />
1. O(a) senhor(a) se l<strong>em</strong>bra qual era a finali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o objetivo <strong>da</strong>quele trabalho?<br />
_____________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________<br />
_____________________________________________________________<br />
___ não l<strong>em</strong>bra ___ l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> forma satisfatória<br />
___ l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> forma nebulosa ___ l<strong>em</strong>bra plenamente<br />
1.1. Menciona plano, geração <strong>de</strong> propostas ou <strong>de</strong> ações: _____ (sim = 1,<br />
não = 2)<br />
1.2. Menciona etapas: _____ (sim = 1, não = 2)<br />
2. Quantas pessoas você acha que foram envolvi<strong>da</strong>s no trabalho como um todo:<br />
___ menos <strong>de</strong> 50 ___ <strong>de</strong> 200 a 300 ___ mais <strong>de</strong> 500. Quantas? _____<br />
___ <strong>de</strong> 50 a 100 ___ <strong>de</strong> 300 a 400<br />
___ <strong>de</strong> 100 a 200 ___ <strong>de</strong> 400 a 500<br />
3. O trabalho provocou alguma MUDANÇA no pensamento que você tinha<br />
sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do município:<br />
(sim = 1, não = 2, não se aplica = 3): _____ Se sim, qual(is)?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
102
4. APRENDEU alguma coisa nova: (sim = 1, não = 2): ____ Se sim, qual(is)?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
5. Percebeu se OUTRAS PESSOAS mu<strong>da</strong>ram seu pensamento ou apren<strong>de</strong>ram<br />
algo <strong>de</strong> novo: ___ (sim = 1, não = 2). Se sim, <strong>em</strong> que mu<strong>da</strong>ram ou o<br />
que apren<strong>de</strong>ram? (qu<strong>em</strong> e o quê)<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
Se não, por quê?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
6. Se faz parte <strong>de</strong> alguma enti<strong>da</strong><strong>de</strong>, o trabalho provocou alguma mu<strong>da</strong>nça no<br />
pensamento, ou seja, na forma <strong>de</strong> ver <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> que você faz parte:<br />
______ (sim = 1, não = 2, não se aplica = 3). Se sim, qual(is)?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
7. Percebeu se OUTRAS ENTIDADES mu<strong>da</strong>ram sua forma <strong>de</strong> pensar: (sim =<br />
1, não = 2): _____ Se sim, <strong>em</strong> que mu<strong>da</strong>ram ou o que apren<strong>de</strong>ram? (qu<strong>em</strong> e<br />
o quê)<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
Se não, por quê?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
8. Como avalia a participação <strong>da</strong>s pessoas no Conselho: _____ (excelente = 1,<br />
muito boa = 2, boa = 3, regular = 4, fraca = 5, não sabe = 6, não se aplica =<br />
7). Por quê?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
103
9. Na sua opinião, o que ajudou/favoreceu a participação <strong>da</strong>s pessoas no<br />
Conselho?<br />
a) ____________________________________________________ __ __<br />
b) ____________________________________________________ __ __<br />
c) ____________________________________________________ __ __<br />
d) ____________________________________________________ __ __<br />
10. E o que dificultou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
11. Como avalia a participação <strong>da</strong>s pessoas nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s: ___<br />
(excelente = 1, muito boa = 2, boa = 3, regular = 4, fraca = 5, não sabe<br />
= 6, não se aplica = 7). Por quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
12. Na sua opinião, o que ajudou/favoreceu a participação <strong>da</strong>s pessoas nas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
13. E o que dificultou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
14. O que achou <strong>de</strong> o trabalho nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s ter sido feito <strong>em</strong> duas visitas e<br />
não <strong>em</strong> uma só?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
15. Opinião sobre a utilização <strong>da</strong>s dinâmicas, <strong>de</strong>senhos, etc.: ___ Por quê?<br />
(excelente = 1, muito boa = 2, boa = 3, regular = 4, fraca = 5, não sabe = 6,<br />
não se aplica = 7)<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
104
16. O que gostou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
17. O que NÃO gostou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
O que achou <strong>de</strong> ter separado homens e mulheres?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
18. Sugestões para melhorar (se existir<strong>em</strong>)<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
19. Teve alguma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> participar <strong>da</strong>s dinâmicas, <strong>de</strong>senhos, etc.? ___<br />
(sim = 1, não = 2, não se aplica = 3). Se sim, qual(is)?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
20. Na sua opinião, ficou faltando algum assunto importante para ser discutido?<br />
___ (sim = 1, não = 2, não sabe = 3). Se sim, qual(is)?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
105<br />
21. Tomou conhecimento <strong>da</strong>s<br />
propostas que foram tira<strong>da</strong>s? ____<br />
(sim = 1, não = 2)<br />
22. Se sim, o que acha <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s propostas tira<strong>da</strong>s? ____ (excelente =<br />
1, muito boa = 2, boa = 3, regular = 4, fraca = 5, não sabe = 6, não se<br />
aplica = 7).<br />
23. Participou do momento <strong>em</strong> que foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s as propostas? ____ (sim =<br />
1, não = 2)
24. Se sim, o que achou <strong>da</strong> forma, do jeito com que as propostas foram<br />
tira<strong>da</strong>s? ____ Por quê? (excelente = 1, muito bom = 2, bom = 3, regular =<br />
4, fraco = 5, não sabe = 6, não se aplica = 7)<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
25. O que gostou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
e) ___________________________________________________ __ __<br />
26. O que não gostou?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
e) ___________________________________________________ __ __<br />
27. Sabe como está o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s propostas? ____ (sim = 1, não = 2). Se<br />
sim, COMO? Se não, POR QUÊ?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
28. Você acha que este trabalho envolveu pessoas com opiniões diferentes sobre<br />
a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>? (sim = 1, não = 2, poucas = 3): ___ Por quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
29. Se sim ou poucas, foi difícil trabalhar com pessoas ou grupos com opiniões<br />
diferentes? ___ (sim = 1, não = 2): ____. Por quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
30. Você acha que é válido envolver pessoas ou grupos com opiniões diferentes?<br />
____ (sim = 1, não = 2, não sabe = 3): ____ Por quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
31. Como você acha que foram encarados os conflitos <strong>de</strong> opinião?<br />
106
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
32. Como você qualificaria o trabalho realizado: ____ (excelente = 1, muito<br />
bom = 2, bom = 3, regular = 4, fraco = 5, não sabe = 6). Pontos positivos:<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
Pontos negativos:<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
33. Você acha que o trabalho realizado <strong>em</strong> Tombos trouxe alguma mu<strong>da</strong>nça<br />
que aju<strong>de</strong> o município a se <strong>de</strong>senvolver? ______ (sim = 1, não = 2, não<br />
sabe = 3). Se sim, o quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
34. O que mais lhe chamou a atenção no trabalho realizado?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
d) ___________________________________________________ __ __<br />
35. Você se sente capaz, hoje, <strong>de</strong> participar <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> um outro<br />
diagnóstico com menos ou mesmo SEM assessoria? ____ (sim = 1, não =<br />
2, não se aplica = 3). Por quê?<br />
a) ___________________________________________________ __ __<br />
b) ___________________________________________________ __ __<br />
c) ___________________________________________________ __ __<br />
36. Participação no diagnóstico: (sim = 1)<br />
____ na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ____ no Conselho ____ no Encontrão<br />
____ como representante <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ____ como pesquisador<br />
____ como equipe executiva<br />
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37. IDENTIFICAÇÃO<br />
Nome: _________________________________________________________<br />
Sexo: ____ ____ (hom<strong>em</strong> = 1, mulher = 2) I<strong>da</strong><strong>de</strong>: ____ ____ (até 17 anos =<br />
1, <strong>de</strong> 18 a 40 = 2, <strong>de</strong> 41 a 60 = 3, acima <strong>de</strong> 61 = 4)<br />
Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ou Enti<strong>da</strong><strong>de</strong>: _____________________________________ ____<br />
Grau <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>:_________________________________________ ____<br />
(nenhum = 1; apenas assina = 2; até 4. a série incompleta = 3; até 4. a série<br />
completa = 4; até 8. a série incompleta = 5; até 8. a série completa = 6; 2. o grau<br />
incompleto = 7; 2. o grau completo = 8; superior incompleto = 9; superior<br />
completo = 10).<br />
Participa <strong>de</strong> alguma organização? _____ (sim = 1, não = 2, apenas na<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> = 3).<br />
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