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pedagogia empresarial ea educação de adultos - Portal ANPED SUL

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EDUCAÇÃO CORPORATIVA: UM DESAFIO PEDAGÓGICORosane Santos RibeiroDocente do curso <strong>de</strong> Pedagogia – ULBRA/CanoasResumoAo levarmos a Pedagogia para o contexto organizacional, on<strong>de</strong> o trabalho assumecontornos <strong>de</strong> “trabalho do conhecimento”, surgem novos <strong>de</strong>safios: Como facilitarprocessos educacionais para aqueles que já ingressaram na vida adulta? Como<strong>de</strong>flagrar um ambiente propício à criação <strong>de</strong> conhecimento? Como minimizar apropensão dos profissionais em r<strong>ea</strong>girem <strong>de</strong>fensivamente e/ou passivamente frent<strong>ea</strong>o aprendizado? Como manter a ética da ação pedagógica em um processo d<strong>ea</strong>prendizagem que reflita a r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> do trabalho, ou seja, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>competências voltadas para resultados, e, ao mesmo tempo, possua caráter <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento humano? Frente a tais <strong>de</strong>safios, este trabalho propõe a reflexãosobre a educação do adulto no contexto da aprendizagem organizacional e o papeldo Pedagogo Empresarial nesse ambiente. E, é neste cenário que se abre umespaço para o Pedagogo Empresarial empreen<strong>de</strong>r ações, que promovamefetivamente a educação do trabalhador, em todas as suas dimensões: o apren<strong>de</strong>r aconhecer, o apren<strong>de</strong>r a fazer, o apren<strong>de</strong>r a ser e o apren<strong>de</strong>r a conviver.Palavras-chave: Educação <strong>de</strong> Adultos; Aprendizagem Organizacional; PedagogiaEmpresarial; Educação CorporativaIntroduçãoPara falarmos sobre aprendizagem e educação no ambiente organizacional,é importante que (re)visitemos o cenário industrial do início do século passado, on<strong>de</strong>o processo <strong>de</strong> produção é concebido sob a abordagem da engenharia e a formaçãoprofissional é voltada para o exercício da tarefa, o saber fazer (know-how).Nesse contexto, on<strong>de</strong> o trabalho é organizado sob a perspectiva <strong>de</strong> divisão e<strong>de</strong> especialização; a dimensão humana é representada pelo trabalhador, que porsua vez é concebido como homo economicus; e a dimensão pedagógica pelotreinamento, que tem como objetivo o domínio <strong>de</strong> conhecimentos instrumentaisbásicos.A <strong>de</strong>manda é pelo treinamento do trabalhador em <strong>de</strong>terminadas habilida<strong>de</strong>s,ou seja, o objetivo é capacitar para a r<strong>ea</strong>lização da tarefa <strong>de</strong> acordo com o padrão e


3O treinamento que, inicialmente, tratava-se <strong>de</strong> uma questão meramenteoperacional ad hoc, adquiriu, com o passar do tempo, o status <strong>de</strong> atividad<strong>ea</strong>dministrativa, para, então, tornar-se “parte integral da estratégia da empresa”(CHIAVENATO, 1998).Ficam, para trás, os conceitos da Era Industrial, on<strong>de</strong> todo o aprendizadogira em torno <strong>de</strong> um maior domínio das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção, com o surgimentoda Era do Conhecimento, on<strong>de</strong> o sistema <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> cada vez mais dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação e na qualificação dos trabalhadores.A missão da organização passa a ser o alvo, a ser r<strong>ea</strong>lizado pelo sujeito, e,não mais, a r<strong>ea</strong>lização <strong>de</strong> tarefas, o que exige do trabalhador uma visão sistêmica,uma maior qualificação profissional, em termos <strong>de</strong> competências técnica, intra einterpessoal, e mais criativida<strong>de</strong>. “Nesse processo <strong>de</strong> mudança o que se dá é umanova aprendizagem on<strong>de</strong> estão incluídos novos valores, novas habilida<strong>de</strong>s, novosconhecimentos e novas atitu<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>-se dizer que toda vez que se <strong>de</strong>flagra umprocesso <strong>de</strong> mudança, uma oportunida<strong>de</strong> pedagógica se configura”. (BOMFIN, 1995,p.18).O paradigma emergente é o do homo educandus (aquele que está empermanente aprendizagem), fundamentado na visão <strong>de</strong> homem como sujeito do<strong>de</strong>senvolvimento político, social e econômico, como um potencial a ser <strong>de</strong>senvolvidoem toda a sua plenitu<strong>de</strong>, nas diversas esferas <strong>de</strong> expressão do comportamentohumano e ao longo da vida.Treinamento e Educação CorporativaNa literatura especializada encontra-se uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados para apalavra treinamento (BOMFIN, 1995; CHIAVENATO, 1998).Chiavenato (1998) verificou que alguns autores enten<strong>de</strong>m treinamento comoum meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s específicas para <strong>de</strong>terminados cargos oufunções. Outros especialistas ampliam este conceito sob o ponto <strong>de</strong> vista daeducação. Há, ainda, “aqueles que se referem a uma ár<strong>ea</strong> genérica chamada<strong>de</strong>senvolvimento, a qual divi<strong>de</strong>m em educação e treinamento: o treinamento comopreparo da pessoa para o cargo, enquanto o propósito da educação é o <strong>de</strong> prepararas pessoas para o ambiente <strong>de</strong>ntro ou fora <strong>de</strong> seu trabalho”.(p. 493)


6ter mais informações não provoca essas alterações. Talvez muito, muito raramente(Senge, 1999).Argyris (2000) salienta que a maioria das pessoas <strong>de</strong>fine aprendizado <strong>de</strong>forma muito restrita, como sendo a “solução <strong>de</strong> problemas”, concentrando-se apenasem i<strong>de</strong>ntificar e corrigir erros no ambiente externo. Ele consi<strong>de</strong>ra importante aresolução <strong>de</strong> problemas, mas afirma que as pessoas também <strong>de</strong>vem refletir <strong>de</strong>modo crítico sobre o seu próprio comportamento, i<strong>de</strong>ntificando o reflexo <strong>de</strong>ste sobreos outros indivíduos e sobre os processos organizacionais, e atuarem efetivamentena mudança <strong>de</strong> suas próprias práticas.Ao se referir às organizações <strong>de</strong> aprendizagem, Senge (1990) propõe cincodisciplinas, que <strong>de</strong>vem ser temas permanentes <strong>de</strong> estudo e prática do aprendizadoorganizacional.A primeira disciplina refere-se ao domínio pessoal, que significa esclarecer <strong>ea</strong>profundar continuamente as aspirações e objetivos pessoais. Para o autor, estadisciplina é fundamental por ser a base espiritual das organizações d<strong>ea</strong>prendizagem.A segunda disciplina consiste na reflexão sobre os mo<strong>de</strong>los mentais, por setratarem <strong>de</strong> idéias profundamente arraigadas, que influenciam as atitu<strong>de</strong>s daspessoas e fundamentam seus atos e <strong>de</strong>cisões, sem que essas, na maioria dasvezes, tenham consciência sobre isto.Morin confirma essa concepção <strong>de</strong> Senge, quando afirma que “para articulare organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas domundo é necessária a reforma do pensamento. Entretanto, esta reforma éparadigmática e, não, programática: é uma questão fundamental da educação, jáque se refere a nossa aptidão para organizar o conhecimento”. (2002 p.35).A terceira disciplina aponta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver, entre osintegrantes da organização, uma visão compartilhada sobre objetivos, valores ecompromissos.A quarta disciplina envolve o aprendizado em grupo, que começa com o“diálogo”, on<strong>de</strong> as pessoas apren<strong>de</strong>m a i<strong>de</strong>ntificar fatores <strong>de</strong> interação que estejamprejudicando o aprendizado em grupo, o que é vital porque a unida<strong>de</strong> fundamental<strong>de</strong> aprendizagem nas organizações mo<strong>de</strong>rnas é o grupo, não os indivíduos.


7O pensamento sistêmico como a quinta disciplina, implica o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> analisar e uma linguagem para <strong>de</strong>screver e compreen<strong>de</strong>r asinterligações da vida, as coisas em seu todo ao invés <strong>de</strong> partes. Esta é a disciplinaque integra as outras quatro, fundindo-as em um conjunto coerente <strong>de</strong> teoria eprática.Senge (1990) afirma que toda aprendizagem organizacional <strong>de</strong>ve envolvertanto a aquisição <strong>de</strong> novos conhecimentos como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novoscomportamentos – implicando um novo modo <strong>de</strong> “pensar” e uma nova forma <strong>de</strong>“fazer”.Assim, para aten<strong>de</strong>r às inovações sociais, culturais, econômicas, políticas etecnológicas, é necessário que as organizações invistam em educação e em<strong>de</strong>senvolvimento profissional (Bomfin, 1995, p.18). Além disto, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>rque o aprendizado organizacional é o aprendizado <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s compostas porpessoas adultas.A Educação <strong>de</strong> Adultos no Contexto da Aprendizagem OrganizacionalDe um modo geral, a educação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> po<strong>de</strong> ser caracterizada <strong>de</strong> duasformas: como um processo <strong>de</strong>stinado a suprir a carência escolar daqueles que nãousufruíram o sistema <strong>de</strong> ensino formal; e como a dimensão que tem por objetivo oaperfeiçoamento e/ou reciclagem <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> que já dominam <strong>de</strong>terminadosconhecimentos e habilida<strong>de</strong>s.Neste trabalho, a educação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong>, abordada sob a perspectiva dobinômio: educação e trabalho, é entendida como um processo <strong>de</strong> educaçãopermanente, que visa ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los mentais, nas dimensões: cognitiva, biopsicossociais, políticas eeconômicas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ocorra, se no ambiente organizacional ou nosistema <strong>de</strong> ensino formal.Quando se trata da educação do trabalhador, faz-se necessária a criação <strong>de</strong>condições que minimizem a propensão do adulto em r<strong>ea</strong>gir <strong>de</strong>fensivamente e/oupassivamente frente ao aprendizado. Para tanto, é fundamental que o aprendizadoseja significativo, <strong>de</strong> tal modo que o aprendiz adulto possa relacioná-lo com os seusobjetivos, aspirações e forma <strong>de</strong> vida e que, além disto, ele tenha consciência sobre


8o reflexo que os novos conhecimentos po<strong>de</strong>m lhe acarretar e a relevância da novaaprendizagem em relação às suas experiências <strong>de</strong> vida.Historicamente, houve uma inclusão do processo educacional no ambiente <strong>de</strong>trabalho. Devido a este fato foi natural a transferência <strong>de</strong> princípios, métodos eobjetivos do ensino formal tradicional (voltado para a educação <strong>de</strong> crianças <strong>ea</strong>dolescentes) para o ambiente organizacional (MATTOS, 1985).Knowles (1973) já salientava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o educador ter bem clara adiferença entre a educação <strong>de</strong> crianças e a <strong>de</strong> <strong>adultos</strong>, já que o adulto tem acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer opções, <strong>de</strong>cidir e tomar iniciativas. Para ilustrar, o autorreconhece como educadores <strong>de</strong> <strong>adultos</strong>, os gran<strong>de</strong>s pensadores da história dahumanida<strong>de</strong>, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Lao Tse, Confúcio etc., e salientaque esses gran<strong>de</strong>s mestres ensinavam com base no pressuposto <strong>de</strong> que aaprendizagem é um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong> e que, por isto,utilizavam procedimentos metodológicos que envolviam o “diálogo” e o “apren<strong>de</strong>rfazendo”.Os programas <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> <strong>de</strong>vem levar em consi<strong>de</strong>ração algunsprincípios nort<strong>ea</strong>dores, tais como:1. Princípio da autodiretivida<strong>de</strong>O aprendiz adulto <strong>de</strong>ve ser respeitado como um indivíduo que possui acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se autodirigir e <strong>de</strong> dirigir a própria vida e, portanto, <strong>de</strong> ser sujeito daprópria aprendizagem. O adulto rejeita qualquer situação em que se sinta tratadocomo criança, ou seja, quando as condições são incoerentes com a sua situação <strong>de</strong>indivíduo autônomo.2. Princípio da experiênciaO adulto, ao entrar em um processo <strong>de</strong> aprendizagem, traz consigo umadiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências e <strong>de</strong> aprendizados construídos ao longo <strong>de</strong> sua vida.Neste sentido, ele é menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> professor, <strong>de</strong> especialistas e <strong>de</strong> livrostexto.Ao longo <strong>de</strong> sua vida, o adulto <strong>de</strong>senvolve hábitos, que, muitas vezes einconscientemente, dificultam o aparecimento <strong>de</strong> idéias criativas e a adoção <strong>de</strong>inovações. Por isto, um dos objetivos da aprendizagem <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> é justamente acriação <strong>de</strong> novas maneiras <strong>de</strong> pensar (mudanças nos mo<strong>de</strong>los mentais) e <strong>de</strong> agir.3. Princípio da prontidão para a aprendizagem


9Os fios condutores para a aprendizagem vinculam-se à clareza que o adultotem sobre os objetivos que preten<strong>de</strong> atingir e à riqueza <strong>de</strong> suas experiênciaspregressas.4. Princípio da aplicabilida<strong>de</strong>O interesse em apren<strong>de</strong>r do adulto é <strong>de</strong>spertado à medida que ele consegueperceber o potencial <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> do aprendizado na solução <strong>de</strong> problemas doseu dia-a-dia.Por isso, segundo Knowles (1973), todo o planejamento <strong>de</strong> programaseducacionais, dirigido a aprendizes <strong>adultos</strong>, <strong>de</strong>ve envolver:1. Diagnóstico das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem – on<strong>de</strong> todos <strong>de</strong>vemse envolver, tantos os participantes e o facilitador, como a instituição e acomunida<strong>de</strong>.O aprendiz adulto tem condições para r<strong>ea</strong>lizar a diagnose <strong>de</strong> suas própriasnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. As necessida<strong>de</strong>s da organização também <strong>de</strong>vemser levadas em consi<strong>de</strong>ração e estas <strong>de</strong>vem ser negociadas com os aprendizes.Planejamento participativo – o aprendiz adulto <strong>de</strong>ve ser envolvido naformulação dos objetivos, os quais <strong>de</strong>vem retratar os aprendizados esperados, emfunção das necessida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas. O id<strong>ea</strong>l é que sejam envolvidos noplanejamento todos aqueles que serão afetados pelas ações educacionais, incluindoparticipantes, facilitador, representantes da instituição e da comunida<strong>de</strong>.2. Estrutura do programa – o programa <strong>de</strong>ve ser estruturado em blocos,contendo variados tipos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s – plenário, pequenos grupos, equipes porprojetos, leituras etc. A experiência educacional a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>ve ter uma seqüência,ou seja, cada ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>senvolvida a partir dos acontecimentosanteriores, <strong>de</strong>ixando claro a inter-relação entre cada etapa ou ativida<strong>de</strong>.Todo o programa <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> <strong>de</strong>ve iniciar com a apresentaçãodos objetivos <strong>de</strong> aprendizagem e a i<strong>de</strong>ntificação das expectativas e necessida<strong>de</strong>sdos participantes. É claro que as necessida<strong>de</strong>s e expectativas da organizaçãopromotora em relação aos resultados <strong>de</strong> aprendizagem também que <strong>de</strong>vem serlevadas em consi<strong>de</strong>ração.


11Nesse contexto, ora apresentado, emerge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> especialistas emeducação e, mais especificação, em educação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong> para que as organizaçõesconsigam tornar efetivos os processos educacionais por elas <strong>de</strong>senvolvidos.Mas, antes <strong>de</strong> falarmos sobre o Pedagogo Empresarial e a educação d<strong>ea</strong>dultos, convém apresentarmos a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alguns conceitos que, implícita ouexplicitamente, estarão presentes na reflexão proposta.Knowles (1973) que, por duas décadas, organizou suas idéias em torno daeducação <strong>de</strong> <strong>adultos</strong>, fora do ambiente do ensino formal, contesta a <strong>pedagogia</strong>como ciência para essa ár<strong>ea</strong> da educação. Por isto, o autor adotou a expressão“andragogia” (do grego anner, andros = homem, pessoa psicologicamente madura,adulto, e, agogus = guiar, conduzir), <strong>de</strong>finida como sendo a “arte e ciência d<strong>ea</strong>uxiliar, seres humanos maduros a apren<strong>de</strong>r”.Andragogia não é uma palavra nova, pois, por volta <strong>de</strong> 1833, já era utilizadana Alemanha, e, nos anos 60, na Iugoslávia, França e Holanda. Em 1970, aUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amsterdã criou o Departamento <strong>de</strong> Ciências Pedagógicas eAndragógicas. Mas, é recente o reconhecimento <strong>de</strong>ssa teoria e da sua respectivatecnologia, cujos princípios fun<strong>de</strong>m-se com os da formação profissional, on<strong>de</strong> oindivíduo é visto como alguém que está sempre em busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e d<strong>ea</strong>perfeiçoamento (Knowles, 1973).Embora, a origem do termo “<strong>pedagogia</strong>” (do grego país, paidós = criança; e,agogus = guiar, conduzir) nos conduza à educação <strong>de</strong> crianças, consi<strong>de</strong>ramos que a<strong>pedagogia</strong> é a “ciência da e para a educação, que estuda a educação, a instrução eo ensino”.Segundo Gadotti (1998 p. 21): “O pensamento pedagógico surge com areflexão sobre a prática da educação, como necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistematizá-la eorganizá-la em função <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados fins e objetivos”. Desta forma, po<strong>de</strong>-se dizerque “educação é prática e experiência, enquanto que <strong>pedagogia</strong> é teoria epensamento” (EBOLI, 2002).Entendo que a “educação como objeto <strong>de</strong> estudo da Pedagogia” (LIBÂNEO,1990); que “<strong>pedagogia</strong> refere-se ao processo que vai do ovo fecundado ao adulto,na hipótese <strong>de</strong> o adulto ser o objetivo visado”(LIMA, 1987); e que, tradicionalmente,a formação <strong>de</strong> especialistas em educação tem se dado nos cursos <strong>de</strong> Pedagogia,po<strong>de</strong>-se dizer que o pedagogo é o profissional indicado para aten<strong>de</strong>r a crescentenecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão sobre as práticas da educação corporativa, on<strong>de</strong> um


13Eboli (2002) salienta que os responsáveis pela concepção <strong>de</strong> programaseducacionais nas organizações <strong>de</strong>vem i<strong>de</strong>ntificar com clareza os objetivos daeducação corporativa. Para tanto, a autora classifica as estratégias utilizadas nosprogramas <strong>de</strong> educação corporativa, segundo algumas categorias (ver quadroabaixo), e sugere alguns questionamentos preliminares:- Será que através da educação corporativa preten<strong>de</strong>-se adaptar e integraros indivíduos aos valores e princípios da cultura vigente? Ou preten<strong>de</strong>-se reproduzilose disseminá-los?- Ou os programas <strong>de</strong>vem estimular uma leitura crítica da cultura e r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong><strong>empresarial</strong>, e favorecer a formação <strong>de</strong> uma nova mentalida<strong>de</strong> e modo <strong>de</strong> pensar,que estimule a mudança organizacional?- Ou todas as anteriores, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da situação e do público-alvo dosprogramas?Estratégias utilizadas nos programas <strong>de</strong> educação corporativaEstratégia <strong>de</strong> Integração Estratégia <strong>de</strong> Reprodução Estratégia <strong>de</strong>TransformaçãoAplicada principalmente Fundamental nas ações e Utilizada nas ações enas ações e programas programas educacionais programas educacionais,educacionais voltados para dirigidos para os lí<strong>de</strong>res, visando i<strong>de</strong>ntificar asos novos colaboradores da gestores empresariais e discrepâncias entre aempresa; objetiva o formadores <strong>de</strong> opinião; cultura atual <strong>de</strong>clarada e aalinhamento cultural. enfatiza os traços culturais praticada na empresa,vigentes, i<strong>de</strong>ntificados para que seja possível acomo alavancadores do formulação <strong>de</strong> um projetosucesso <strong>empresarial</strong>. <strong>de</strong> mudança etransformação rumo a umanova cultura <strong>empresarial</strong>.Fonte: Eboli, 2002Essas reflexões são fundamentais para que as ações educacionais nãocaiam no <strong>de</strong>scrédito. É muito comum a existência <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educacionaissem a mínima afinida<strong>de</strong> com a cultura e as práticas organizacionais, o que éagravado quando os participantes <strong>de</strong>sses programas ainda são selecionados combase no perfil e nas funções que <strong>de</strong>sempenham. O que ocorre é que as pessoasparticipam <strong>de</strong> processos que lhes parecem dissociados da sua r<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> e, mais


14ainda, ao retornarem encontram resistências no grupo e na própria chefia que nãoparticipou do mesmo processo.Po<strong>de</strong>-se dizer que uma das tarefas do Pedagogo Empresarial é i<strong>de</strong>ntificarestratégias que integrem as expectativas e necessida<strong>de</strong>s tanto dos indivíduos e dosgrupos como da organização. “Mas é indiscutível a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> termosconsciência <strong>de</strong> que as ações e programas educacionais não são neutros em relaçãoao mo<strong>de</strong>lo social e cultural vigente nas organizacionais e muito menos no que dizrespeito às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r” (Eboli, 2002).E, nessa perspectiva, o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio do Pedagogo Empresarial é o <strong>de</strong>manter a ética da ação pedagógica em um processo <strong>de</strong> aprendizagem que reflita ar<strong>ea</strong>lida<strong>de</strong> do trabalho, ou seja, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências voltadas pararesultados, e, ao mesmo tempo, possua caráter <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano.Embora seja crescente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem organizacional,constata-se que algumas organizações ainda apresentam dificulda<strong>de</strong>s para criarcondições, que favoreçam a implementação <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> aprendizagempermanente, que propicie a construção <strong>de</strong> conhecimento e o <strong>de</strong>senvolvimentointegral do trabalhador. A ação pedagógica <strong>de</strong>ve estar “revestida do carátereducativo do ser humano total (...) e o caráter educativo do ato pedagógico naempresa <strong>de</strong>ve romper com a famosa divisão social do trabalho on<strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento etreinamento são para quem executa e o <strong>de</strong>senvolvimento para quem pensa”.(BOMFIN, 1995, p.19).E, é neste cenário que se abre um espaço para o Pedagogo Empresarialempreen<strong>de</strong>r ações, que promovam a educação do trabalhador, em todas as suasdimensões: o apren<strong>de</strong>r a conhecer, o apren<strong>de</strong>r a fazer, o apren<strong>de</strong>r a ser e oapren<strong>de</strong>r a conviver.Referências Bibliográficas


15ANTUNES, Celso. Glossário para Educadores (as). Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.ARGYRIS, Chris. Ensinando Pessoas Inteligentes a Apren<strong>de</strong>r. In: HOWARD,Robert et al. Aprendizado Organizacional: gestão <strong>de</strong> pessoas para a inovaçãocontínua. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2000.BOMFIN, David. Pedagogia no Treinamento. RJ: Qualitymark, 1995.CARAVANTES, Geraldo R. Teoria Geral da Administração: pensando e fazendo.Porto Alegre: AGE, 2000.CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração. São Paulo: McGraw-Hill,Makron Books, 1993. 2 v.CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. Ed. compactada. SP: Atlas, 1998.DEL PINO, Mauro A. B. Educação, Trabalho e Novas Tecnologias: astransformações nos processos <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> valorização do capital. Pelotas, RS:Universitária/UFPel, 1997.DI DIEGO, Elaine. Treinamento ou Desenvolvimento <strong>de</strong> Recursos Humanos?Programa <strong>de</strong> Eficácia Gerencial. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Recursos Humanos. Porto Alegre:UFRGS/PPGA, mar. 1993.EBOLI, Marisa. A mudança <strong>de</strong> foco em T&D. Revista T&D: <strong>de</strong>senvolvendopessoas. São Paulo, p. 18, mai. 2000.__________. Adaptar, Reproduzir ou Transformar. Revista T&D: <strong>de</strong>senvolvendopessoas. São Paulo, fev/2002.FARIAS NETO, Diogo <strong>de</strong> A. Educação <strong>de</strong> Adultos: comunitária e popular. Ca<strong>de</strong>rnos<strong>de</strong> Educação Permanente, n.1, mai-jul. 1984.GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. SP: Ática, 1998._______. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,2000.GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: a teoria das inteligências múltiplas.Porto Alegre: ArtMed, 1994.HOWARD, Robert et al. Aprendizagem Organizacional: gestão <strong>de</strong> pessoas para ainovação contínua. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2000.KNOWLES, Malcolm S. The Adult L<strong>ea</strong>rner: a neglected species. Houston, Texas:Gulf Publishing Company, 1973.___________. Program Planning for Adults as L<strong>ea</strong>rners. Adult L<strong>ea</strong><strong>de</strong>rship. Fev.1967.


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