13.07.2015 Views

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

A Tripanossomíase Americana antes de Carlos Chagas - Instituto de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

C ristina B. M. F. Gu r g e l , Ch r i s t i a n e Va n e s s a Ma g d a l e n a , La r i s s a Fa b b r i Pr i o l ia tragédia que a mesma doença causara na construção da Ma<strong>de</strong>ira-Mamoré, a“ferrovia do diabo” (Souza, 2005). Respaldado por avanços que a ciência estavaalcançando a passos largos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final do século XIX, <strong>Chagas</strong> iniciou sua lutacontra os mosquitos transmissores. Contudo, em meio a um trabalho frenético,intrigou-se com outro inseto local, que a sabedoria popular chamara <strong>de</strong> “barbeiros”,pelo hábito <strong>de</strong> picar os rostos <strong>de</strong> suas vítimas. O senso <strong>de</strong> observação e a extremaperspicácia do cientista levaram a estudá-los e <strong>de</strong>scobrir, com a ajuda <strong>de</strong> seuscompanheiros do <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Manguinhos (posteriormente <strong>Instituto</strong> OswaldoCruz), que esses insetos podiam transmitir parasitas. Os protozoários por eleencontrados – Trypanosoma cruzi – foram estudados e <strong>de</strong>scritos como causadores<strong>de</strong> uma doença humana, após a constatação da sua presença no sangue <strong>de</strong> umamenina <strong>de</strong> dois anos com febre e hepatoesplenomegalia. O pesquisador <strong>de</strong>dicou-seentão a <strong>de</strong>linear os mecanismos <strong>de</strong> transmissão e vários aspectos da sintomatologiae patogenia da moléstia, que passou a ser conhecida como Doença <strong>de</strong> <strong>Chagas</strong>(Lewinsohn, 1979; Dias, 2000; Lewinsohn, 2003).<strong>Carlos</strong> <strong>Chagas</strong>, enviado a Minas Gerais com um objetivo específico, <strong>de</strong>frontousecom uma doença parasitária <strong>de</strong>sconhecida, então em franca expansão. Noentanto, o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos por ele observados teve origem muito anteriorà chegada dos trilhos da estrada <strong>de</strong> ferro.2.Tr y p a n o s o m a c r u z i e Do e n ç a d e Ch a g a s: o r i g e n sAs origens e causas <strong>de</strong> uma doença são difíceis <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntificadas apenaspor narrativas históricas ou mesmo médicas – por muito tempo os diversosmales foram julgados como fenômenos sobrenaturais, tanto por leigos quantopor médicos. Contudo, no transcorrer <strong>de</strong> séculos, quando a ciência finalmentetomou o lugar do fantástico, ela pô<strong>de</strong> apresentar, cada vez mais, respostascoerentes às perguntas até então envolvidas em mistério. No caso da Doença <strong>de</strong><strong>Chagas</strong>, a <strong>de</strong>scoberta e a elucidação <strong>de</strong> seus aspectos clínicos, fisiopatológicos epropedêuticos foram <strong>de</strong>senvolvidas graças aos avanços médicos que fervilharamno início do século XX e que não cessaram a partir <strong>de</strong> então, apesar <strong>de</strong> algunstropeços. Com o progresso nas últimas décadas, a ciência pô<strong>de</strong> usar a seu favoruma arma po<strong>de</strong>rosa na <strong>de</strong>scoberta e diagnóstico <strong>de</strong> doenças parasitárias: o estudodo DNA. Este foi o método usado para esclarecer o enigma das origens do agentecausador da Doença <strong>de</strong> <strong>Chagas</strong>.Os resultados das pesquisas sugerem que o Trypanosoma cruzi e o Trypanosomabrucei, causador da doença do sono, tiveram origem comum há cerca <strong>de</strong> 100milhões <strong>de</strong> anos, quando América e África estavam unidas. Des<strong>de</strong> então, apóssofrerem mutações e adaptações, cada parasita tornou-se exclusivo <strong>de</strong> cada828 – C a d . Sa ú d e Co l e t ., Rio d e Ja n e i r o , 17 (4): 827 - 839, 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!