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DA ESCUTA À ESCRITA: a construção do caso clínico em psicanálise

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Da escuta à escrita: a construção <strong>do</strong> <strong>caso</strong> clínico <strong>em</strong> psicanáliserecurso necessário à sist<strong>em</strong>atização meto<strong>do</strong>lógica. Por esse motivo, a escrita de um <strong>caso</strong>clínico é uma síntese probl<strong>em</strong>ática na opinião de alguns autores, pois muitas vezes ficareduzida a uma objetividade que, apoiada na teoria, confere senti<strong>do</strong>s n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre observáveisno <strong>caso</strong> examina<strong>do</strong> e estuda<strong>do</strong> (MOURA; NIKOS, 2001).Peres (2002) também traz questionamentos nesse senti<strong>do</strong>, pois apesar de entendera importância de falar da clínica, probl<strong>em</strong>atiza a questão da possibilidade de se relatar umaanálise, verdadeiramente. Sobre isso, l<strong>em</strong>bra que não há registros de Lacan acerca de seusanalisan<strong>do</strong>s, dele t<strong>em</strong>-se apenas o silêncio com relação a essa questão, e a autora reflete queesse silêncio não decorreu apenas de um cuida<strong>do</strong> ético. Exist<strong>em</strong>, portanto, dificuldades quantoà transmissão <strong>do</strong>s <strong>caso</strong>s clínicos, principalmente quan<strong>do</strong> se parte de pr<strong>em</strong>issas herdadas damedicina, cujos caminhos não são exatamente apropria<strong>do</strong>s para a prática psicanalítica.Através <strong>do</strong>s <strong>caso</strong>s clínicos s<strong>em</strong>pre se busca d<strong>em</strong>onstrar e ilustrar o fazer, pensar esaber psicanalítico, dentro de um padrão mínimo de compreensibilidade, mesmo saben<strong>do</strong> queo sujeito <strong>do</strong> inconsciente está s<strong>em</strong>pre a nos escapar. Por isso, a redução <strong>do</strong> relato aosparâmetros <strong>do</strong> já sabi<strong>do</strong> da teoria é, para Peres (2002), uma forma de lidar superegoicamentecom a clínica, impedin<strong>do</strong> o surgimento <strong>do</strong> novo, <strong>do</strong> excepcional e <strong>do</strong> singular de cada <strong>caso</strong>,porém a autora observa que é nesse ponto de conhecimento que se baseia grande parte <strong>do</strong>srelatos clínicos.Essas opiniões difer<strong>em</strong> das de outros autores, cujas colocações foram expostas aolongo deste trabalho, para os quais essa questão da seleção <strong>do</strong> material clínico e da criação deum personag<strong>em</strong> que jamais poderá ser exatamente o sujeito que nos procura é algo necessáriopara o distanciamento e para a elaboração <strong>do</strong> material clínico trazi<strong>do</strong> pelo paciente.Sen<strong>do</strong> assim, pode-se perceber o quão desafia<strong>do</strong>ra é a atividade de construção deum <strong>caso</strong> clínico e quão atentos dev<strong>em</strong>os estar <strong>em</strong> relação a to<strong>do</strong>s os aspectos envolvi<strong>do</strong>s nessaprodução, a fim de sustentar a ética proposta pela psicanálise e ao mesmo t<strong>em</strong>po contribuirpara os avanços necessários à sua teoria e técnica. De qualquer mo<strong>do</strong>, a escrita permanecesen<strong>do</strong> um instrumento de grande valor para o fazer psicanalítico, na medida <strong>em</strong> que permite oafastamento necessário para a elaboração <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, a retomada <strong>do</strong> lugar de analista com apossibilidade de realizar uma nova escuta a partir da teoria, independent<strong>em</strong>ente de suapublicação posterior.O escritor que se propõe a escrever um <strong>caso</strong> precisará, então, estar disposto acapturar o enigma <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, que muitas vezes encontra-se perdi<strong>do</strong> entre as teorias que seestabelec<strong>em</strong> sobre ele, descobrir e construir os significantes que o compõ<strong>em</strong>, devolver-lhes aPsicanálise & Barroco <strong>em</strong> revista v.10, n.2 : 42-61, dez.2012 56

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