13.07.2015 Views

DA ESCUTA À ESCRITA: a construção do caso clínico em psicanálise

DA ESCUTA À ESCRITA: a construção do caso clínico em psicanálise

DA ESCUTA À ESCRITA: a construção do caso clínico em psicanálise

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Débora Franke e Jerto Car<strong>do</strong>so da SilvaFreud, ao falar <strong>do</strong> objetivo de um escrito clínico, coloca que este serve para exporo que ele chama de estrutura, ou seja, aquilo que se encontra recoberto ou sobreposto pelascamadas de material clínico, não sen<strong>do</strong> visível “a olho nu”. O objetivo <strong>do</strong> relato é então o deselecionar esse material clínico, de mo<strong>do</strong> a contribuir para uma melhor compreensão dedeterminada estrutura (MEZAN, 1998).Nesse senti<strong>do</strong>, o relato de um <strong>caso</strong> clínico possui a peculiaridade de transmitir ateoria dirigin<strong>do</strong>-se à imaginação e <strong>em</strong>oção <strong>do</strong> leitor, de mo<strong>do</strong> que o jov<strong>em</strong> clínico, leitor <strong>do</strong><strong>caso</strong>, aprenderá a psicanálise de maneira ativa e concreta, pois imagina-se ocupan<strong>do</strong>alternadamente o lugar <strong>do</strong> terapeuta e <strong>do</strong> paciente. Essa é, então, a função didática <strong>do</strong> <strong>caso</strong>,transmitir a psicanálise através <strong>do</strong> relato de uma situação clínica, isso porque a observaçãoclínica e o conceito que ela ilustra estão tão imbrica<strong>do</strong>s que a observação substitui o conceitoe torna-se metáfora dele (NASIO, 2001).Quan<strong>do</strong> ocorre <strong>do</strong> <strong>caso</strong> ultrapassar seu papel de ilustração e metáfora, tornan<strong>do</strong>-segera<strong>do</strong>r de conceitos, chamamos a isso função heurística <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, conforme Nasio (2001).Isso se dá quan<strong>do</strong> um ex<strong>em</strong>plo clínico é tão frutífero que promove a produção de novashipóteses que enriquec<strong>em</strong> a trama da teoria. Quan<strong>do</strong> isso ocorre, conforme Moura e Nikos(2001) é porque a construção <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, mais <strong>do</strong> que descrever uma realidade psicológicaatravés <strong>do</strong> exame de uma história, traz à luz uma hipótese metapsicológica, e para que haja aconstrução <strong>do</strong> <strong>caso</strong> é preciso que a situação psicanalítica de supervisão sirva como espaço deinterlocução entre o analista e a alteridade supervisora, pois assim o supervisor cumpre afunção de alteridade na construção <strong>do</strong> <strong>caso</strong> clínico.Zanetti e Kupfer (2006) também traz<strong>em</strong> essa questão da supervisão na construção<strong>do</strong> <strong>caso</strong> clínico e acrescentam a ela o lugar da narração. Ao narrar um <strong>caso</strong> o analista relata aosupervisor o que o paciente falou e o que isso suscitou, provocou dentro da relaçãotransferencial, e fez com que se debruçasse nos enigmas que compõ<strong>em</strong> o <strong>caso</strong>. Nesses <strong>do</strong>isprocessos então, o de supervisão e o de construção <strong>do</strong> <strong>caso</strong> (escrita), o endereçamento <strong>do</strong>discurso, <strong>em</strong> forma de narração, a um outro/Outro <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> se supõe um saber é o quepermeia ambos, sen<strong>do</strong> práticas baseadas na palavra, na linguag<strong>em</strong>, e, portanto parceiras <strong>do</strong>processo analítico.Essa narração <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, seja na forma da supervisão ou <strong>do</strong> relato <strong>do</strong> <strong>caso</strong>, énecessária para que o analista possa voltar ao <strong>caso</strong> e ouvi-lo de um outro lugar, <strong>caso</strong> contráriopoderá ficar amarra<strong>do</strong> no sintoma, repetin<strong>do</strong> um posicionamento provoca<strong>do</strong> por essa captura,pouco poden<strong>do</strong> fazer pelo paciente (ZANETTI; KUPFER, 2006).Psicanálise & Barroco <strong>em</strong> revista v.10, n.2 : 42-61, dez.2012 47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!