13.07.2015 Views

mais interno de maior altitude, que limita lagoas de ... - rio.rj.gov.br

mais interno de maior altitude, que limita lagoas de ... - rio.rj.gov.br

mais interno de maior altitude, que limita lagoas de ... - rio.rj.gov.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>mais</strong> <strong>interno</strong> <strong>de</strong> <strong>maior</strong> altitu<strong>de</strong>, <strong>que</strong> <strong>limita</strong> <strong>lagoas</strong> <strong>de</strong> <strong>maior</strong>es dimensões, e um externo, <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>infe<strong>rio</strong>r.Os ecossistemas lênticos litorâneos possuem, <strong>de</strong> um modo geral, elevada produtivida<strong>de</strong> orgânica,servindo como criadouros para peixes e crustáceos jovens (André et al., 1981; Moraes et al.,1994). Diversos estudos <strong>de</strong>senvolvidos tanto em regiões tropicais como temperadas têm<strong>de</strong>monstrado <strong>que</strong> a ictiofauna marinha é composta essencialmente por espécies <strong>que</strong> penetram noestuá<strong>rio</strong> como juvenis, permanecendo nas águas a<strong>br</strong>igadas até um período <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento (Chao et al., 1982; Yanez-Arancibia et al., 1980).Segundo Esteves (1988), tais ecossistemas necessitam ser conservados para <strong>que</strong> seus múltiplosusos (recreação, pesca, abastecimento) sejam garantidos.3.2.5.1 Características Gerais das LagunasNa região em estudo, verifica-se a existência <strong>de</strong> um sistema lagunar <strong>que</strong> compreen<strong>de</strong> doissubsistemas, representados pelos conjuntos Jacarepaguá-Camorim-Tijuca e Lagoinha-Marapendi(do tupi mbará-pindi = mar limpo). Segadas-Vianna (1967) <strong>de</strong>screveu a origem <strong>de</strong>stas lagunascomo resultado do aprisionamento <strong>de</strong> água salgada por uma língua <strong>de</strong> areia, <strong>de</strong>stacando ainda oprocesso <strong>de</strong> entulhamento como parte dos ciclos evolutivos <strong>de</strong>stes sistemas, como resultado <strong>de</strong>sedimentos arenosos e do acúmulo <strong>de</strong> sedimentos arenosos ou argilosos <strong>que</strong> proce<strong>de</strong>m doscursos d’água <strong>que</strong> nelas <strong>de</strong>ságuam.Estes sistemas encontram-se so<strong>br</strong>e uma planície formada pelo entulhamento <strong>de</strong> antiga enseadapor sedimentos marinhos, como <strong>de</strong>monstrado por evidências geológicas e biológicas (cavida<strong>de</strong>sroídas por equinoi<strong>de</strong>s na Pedra <strong>de</strong> Itanhangá, fosseis conchilíferos marinhos coletados a seisquilômetros do mar, sob camada <strong>de</strong> aluviões, etc..) (Lamego, 1974).De acordo com Correa (1936) e Araújo (1980), a laguna do Camorim (atual Jacarepaguá) era umsistema <strong>de</strong> água salo<strong>br</strong>a, enquanto a Lagoa da Tijuca com suas margens cobertas commanguezal arbóreo, exibia predominantemente água salgada. A lagoa <strong>de</strong> Marapendi era umsistema dulcícola com características <strong>de</strong> lago costeiro.A cobertura nativa do entorno das <strong>lagoas</strong> eram as formações <strong>de</strong> mangue, campos inundados ematas paludiais. As principais espécies historicamente presentes nos manguezais são: o manguevermelho(Rhizophora mangle), mangue-<strong>br</strong>anco (Laguncularia racemosa) e o mangue siriúba oumangue-preto (Avicennia schaueriana) (Correa, 1936; Dansereau, 1947).A fauna associada ao manguezal consiste <strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>s grupos: os <strong>que</strong> o habitampermanentemente, em todo o seu ciclo vital (como os moluscos e os crustáceos) e a<strong>que</strong>les <strong>que</strong>freqüentam-no pe<strong>rio</strong>dicamente, para a<strong>br</strong>igo, <strong>de</strong>sova e alimentação na fase <strong>de</strong> crescimento(diversos peixes e mamíferos). Existem cerca <strong>de</strong> 67 espécies <strong>de</strong> peixes associadas a diversosmanguezais da costa <strong>br</strong>asileira (Aveline, 1980).Atualmente, as lagunas do complexo lagunar da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá vêm sofrendo umacelerado processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterização, <strong>de</strong>corrente, em especial, da ocupação acelerada e, emmuitos casos, irregular da Barra da Tijuca e <strong>de</strong> Jacarepaguá. Esta crescente ocupação do localvem agravando a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> nutrientes nos sistemas lagunares provenientes <strong>de</strong>efluentes domésticos e industriais lançados, em sua <strong>maior</strong>ia, sem tratamento em um complexo<strong>que</strong> possui baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> metabolização e/ou remoção dos rejeitos.32


Outros processos vêm contribuindo para a <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>stes ecossistemas, <strong>de</strong>stacando-seaterros irregulares das margens e <strong>de</strong>smatamentos, <strong>que</strong> reduzem progressivamente a coberturavegetal nativa; construções <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> comunicação, <strong>que</strong> alteraram o regime salino da lagoa <strong>de</strong>Marapendi (atualmente mesohalina), extinguindo a ictiofauna nativa (“os peixes <strong>que</strong> encontrei nasminhas excursões na lagoa <strong>de</strong> Marapendi são os <strong>que</strong> habitam águas fluviais”, Correa, 1936) edragagens mal dimensionadas. Quanto ao último aspecto, Moraes et al. (1994), reportaram <strong>que</strong>as dragagens realizadas na laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá por empresas particulares acarretaram umaumento excessivo da profundida<strong>de</strong>, chegando a 10 metros em algumas áreas.Os sinais da <strong>de</strong>gradação lagunar encontram-se bem documentados, tendo-se registradoeutrofização (Coelho e Fonseca, 1981), contaminação bacteriana (Zee et al., 1992), mortanda<strong>de</strong><strong>de</strong> peixes (Nehab e Barbosa, 1984; Coutinho, 1986; Andreata et al., 1992), proliferação <strong>de</strong>vetores e doenças (Nehab e Barbosa, op. cit.) e aumento da DBO (Coutinho, op. cit.). Em síntese,um quadro geral <strong>de</strong> péssima qualida<strong>de</strong> da água (Stranch et al., 1982).Moraes et al. (1994) ressalta a redução na mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes nos últimos anos, relacionandoo fato não a diminuição da poluição, mas sim a <strong>que</strong>da expressiva dos esto<strong>que</strong>s populacionais da<strong>maior</strong> parte das espécies originalmente presentes. Durante as mortanda<strong>de</strong>s, a savelha(Brevoortia pectinata), por possuir hábito alimentar planctófago, é a espécie <strong>mais</strong> afetada,totalizando a <strong>maior</strong> quantida<strong>de</strong> coletada pela COMLURB (Moraes et al., op cit.).FEEMA (1990) relata <strong>que</strong> em 1989 foram realizadas visitas <strong>de</strong> caráter técnico às lagunas <strong>que</strong>integram o complexo lagunar da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá, para uma reavaliação das condições<strong>de</strong>stes ecossistemas. Os principais problemas diagnosticados foram:− Degradação das áreas <strong>de</strong> proteção das lagunas, especialmente pelo lançamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos;− Assoreamento das <strong>lagoas</strong>, indicado pela formação <strong>de</strong> espigões e ilhas, impedindo o livretrânsito <strong>de</strong> pe<strong>que</strong>nas embarcações e propiciando o acréscimo <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>sparticulares;− Construções com total <strong>de</strong>srespeito à faixa marginal <strong>de</strong> proteção, invadindo o espelho d’água;− Represamento dos <strong>rio</strong>s poluídos, <strong>de</strong>vido a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vegetação aquática;− Desenvolvimento <strong>de</strong> condições anoxibióticas, em virtu<strong>de</strong> da alta concentração <strong>de</strong> esgoto e apresença <strong>de</strong> vegetação aquática em <strong>de</strong>composição;− Liberação <strong>de</strong> gases tóxicos <strong>de</strong> odor <strong>de</strong>sagradável;− Acréscimo <strong>de</strong> carga orgânica e nutrientes− Mortanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixesApesar dos impactos sofridos por estes sistemas, permanece nos mesmos uma ictiofaunadiversificada, quando comparada a outros sistemas lagunares e lacustres costeiros do Estado doRio <strong>de</strong> Janeiro (Bizerril et al., 1995). Assim, reunindo os dados disponíveis, são contabilizadas 67espécies como ocorrentes nas lagunas da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá, as quais encontram-selistadas no Quadro 3.4.33


Quadro 3.4 – Ictiofauna das lagunas da baixada <strong>de</strong> JacarepaguáELOPIFORMESLAGOA DATIJUCALAGOA DEMARAPENDILAGOA DEJACAREPAGUÁELOPIDAEElops saurus Linnaeus, 1766 X X -CLUPEIDAEBrevoortia aurea (Spix, 1829) X X XSardinella <strong>br</strong>asiliensis (Steindachner, 1879) X X XAnchoa januaria (Steindachner, 1879) X X -A. tricolor (Agassiz, 1829) X X -ERYTHRINIDAEHoplias malabaricus (Bloch, 1794) - - XARIIDAEGeni<strong>de</strong>ns geni<strong>de</strong>ns (Valenciennes, 1839)PIMELODIDAERhamdia sp.Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) - - XHypostomus punctatus Valenciennes, 1840GYMNOTIFORMESGYMNOTIDAEGymnotus carapo Linnaeus, 1758 - - XBELONIDAEStrongylura timucu (Wallbaum, 1792)POECILIIDAEPoecilia vivipara Schnei<strong>de</strong>r, 1801 X X XP. reticulata Peters, 1854Phallopthychus januarius (Hensel, 1868) X X XPhalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868) - - XANABLEPIDAEJenynsia multi<strong>de</strong>ntata (Jenyns, 1842) X X XATHERINIDAEXenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis (Quoy e Gaimard, 1824) X X XSYNGNATHIFORMESSYNGNATHIDAEOostethus lineatus (Kaup, 1856) X X -SYNBRANCHIDAESyn<strong>br</strong>anchus marmoratus Bloch, 1795BATRACHOIDIFORMESBATRACHOIDIDADEPorichthys porosissimus (Valenciennes, 1837)DACTYLOPTERIDAEDactyopterus volitans (Linnaeus, 1758) X - -PERCIFORMESURANOSCOPIDAEAstroscopus ygraecum (Cuvier, 1829) X - -Centropomus parallelus Poey, 1860C. un<strong>de</strong>cimalis (Bloch, 1792) X - -CARANGIDAECaranx bartholomei Cuvier, 1833 X - -(continua)34


(continuação, quadro 3.4)ELOPIFORMESLAGOA DA LAGOA DE LAGOA DETIJUCA MARAPENDI JACAREPAGUÁCaranx latus Agassiz, 1831 X - -Oligoplites saurus (Bloch e Schnei<strong>de</strong>r, 1801) X - -Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1758) X X -T. falcatus (Linnaeus, 1758) X - -Uraspis secunda (Poey, 1860) X - -Diapterus olisosthomus (Goo<strong>de</strong> e Bean, 1882) X X -D. rhombeus (Cuvier, 1829) X X XGerres ap<strong>rio</strong>n (Baird e Girard, 1824) X X XD. <strong>br</strong>asilianus (Cuvier, 1830) X X -G. gula Quoy e Gaimard, 1824 X X -G. lefroyi (Gunther, 1850) X X -G. melanopterus Bleeker, 1863 X X -Pomadasys croco Cuvier, 1830 X - -Archosargus rhomboidalis (Linnaeus, 1758) X - -A. probatocephualus (Walbaum, 1792) X - -Diplodus argenteus (Valenciennes, 1830) X - -Micropogonias furnieri (Desmarest, 1823) X X XParalonchurus <strong>br</strong>asiliensis (Steindachner, 1875) X - -Bairdiella ronchus (Cuvier, 1830) X - -SYNGNATHIFORMESChaetopterus faber (Broussonet, 1782) X - -Mugil curema Valenciennes, 1836 X X XM. liza Valenciennes, 1836 X X XTilapia rendalli Boulenger, 1896 X X XGeophagus <strong>br</strong>asiliensis (Quoy e Gaimard, 1824) X X XDormitator maculatus (Bloch, 1790) X X XEleotris pisonis (Gmelin, 1789) X X XAwaous tajasica (Lichtenstein, 1822) X X XBathygobius soporator (Valenciennes, 1837) X X -Ch<strong>rio</strong>lepis vespa Hasting e Bortone, 1881 - X -Gobionellus boleosoma (Jordan e Gilbert, 1882) X X XG. oceanicus (Pallas, 1770) X X XG. schufeldti (Jordan e Evermann, 1886) X X -G. stomatus Starks, 1913 X X -Micogobius meeki Evermann e Marsh, 1900 - X -Hypleurochilus fissicornis (Quoy e Gaimard, 1824) X - -PLEURONECTIFORMESAchirus lineatus (Linnaeus, 1758) X X XCitharichthys cf. spilopterus Gunther, 1862 X X -TETRAODONTIFORMESCatherine pullus (Ranzani, 1842) X - -Monacanthus ciliatus (Mitchill, 1818) X - -Sphoeroi<strong>de</strong>s greeleyi Gilbert, 1900 X - -Fonte: Bizerril, 199635


Algumas espécies, presentes em todas as lagunas, caracterizam-se por utilizar os estuá<strong>rio</strong>s comorotas <strong>de</strong> migração, como parte <strong>de</strong> suas estratégias reprodutivas e/ou alimentares. São exemplosos robalos (Centropomus parallelus, C. un<strong>de</strong>cimalis), as taínhas (Mugil liza), os paratis (M.curema) e o bagre-urutu (Geni<strong>de</strong>ns geni<strong>de</strong>ns). Outras, por fecharem o ciclo <strong>de</strong> vida nas lagunasda região, foram classificados por Andreata et al. (1990b) como sendo estuarino resi<strong>de</strong>ntes.Destes, os principais representantes são os peixe-reis (Xenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis) e algunsGobiidae (Gobionellus boleosoma, G. oceanicus).3.2.5.2 Biota da Laguna da TijucaA laguna da Tijuca é marcada por apresentar um regime mixomesohalino, <strong>de</strong> acordo com aclassificação <strong>de</strong> Müler, 1977 (apud Schaeffer, 1985). Consiste no sistema lagunar <strong>que</strong>, <strong>de</strong>ntro dabaixada <strong>de</strong> Jacarepaguá, exibe a <strong>maior</strong> ri<strong>que</strong>za <strong>de</strong> espécies, sendo marcado pelo predomínio <strong>de</strong>formas marinhas so<strong>br</strong>e as <strong>de</strong><strong>mais</strong> categorias ecológicas consi<strong>de</strong>radas (Figura 3.18).MarinhoEstuarino resi<strong>de</strong>nteDulcícolaFigura 3.18 – Representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies marinhas, dulcícolas eestuarino - na laguna da Tijuca, RJDos táxons ocorrentes no local, o peixe rei (Xenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis) e os barigudinhos (Poeciliavivipara, Jenynsia multi<strong>de</strong>ntata) <strong>de</strong>stacam-se como sendo os <strong>mais</strong> abundantes, verificando-senítida segregação <strong>de</strong> uso espacial influenciada pela salinida<strong>de</strong>. Assim, o peixe-rei é a espécie<strong>mais</strong> abundante nas áreas com <strong>maior</strong> influência salina, enquanto P. vivipara e J. multi<strong>de</strong>ntatapredominam nas áreas com menor salinida<strong>de</strong> (Bizerril et al., 1991).Além <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> peixes marinhos e estuarinas, a laguna ainda mantém grupos como o siriazul(Callinects danae) e diversas formas <strong>de</strong> camarões.Na laguna da Tijuca, os estudos <strong>de</strong>senvolvidos por Andreata et al. (1990), reconheceram aexistência <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s regiões ictiogeográficas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus limites, as quais encontram-se<strong>de</strong><strong>limita</strong>das na Figura 3.20. Tais unida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>finidas como:− Área 1 (T1) – Restrita ao canal da Joatinga, esta unida<strong>de</strong> é caracterizada por apresentarictiofauna composta por elementos marinhos acessó<strong>rio</strong>s e aci<strong>de</strong>ntais, os quais encontram-seassociados por espécies estuarino resi<strong>de</strong>ntes (Xenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis, Mugil liza,Gobionellus boleosoma), <strong>de</strong> ampla distribuição na laguna;36


LEGENDAUSODOSOLOECOBERTURAAu-ÁREAURBANAAc-ÁREAURBANANÃOCONSOLIDADAVp-VEGETAÇÃOEMPARQUEPÚBLICOSM-SOLOEXPOSTOEMINERAÇÕESCa-CAMPOANTRÓPICOCP-CULTURAEPASTAGEMAr-AFLORAMENTOROCHOSOF-FLORESTAFa-FLORESTAALTERADAB-ÁREAÚMIDACOMVEGETAÇÃOJ3 J2J1T3A-APICUMM-VEGETAÇÃODEMANGUER-VEGETAÇÃODERESTINGAPA-PRAIAEAREALCONVENÇÕESFERROVIALINHADEALTATENSÃOT2T1RIO /CANALAEROPORTO/AUTÓDROMORODOVIACURVADENÍVEL(100m)RIOSSUBTERRÂNEOS650000 660000 670000ZONASBIOGEOGRÁFICASJ1J2J3T1T2T3L.JACAREPAGUÁ-ZONA1DOMÍNIOSOCEÂNICOSL.JACAREPAGUÁ-ZONA2DOMÍNIOESTUARINOL.JACAREPAGUÁ-ZONA3ÁREADETRANSIÇÃOL.TIJUCA-ZONA1ÁREADETRANSIÇÃOLIMITEINTERMUNICIPALL.TIJUCA-ZONA2ZONADECONTATO-ECÓTONEL.TIJUCA-ZONA3DOMÍNIODULCÍCOLAÁREASDEMAIORIMPORTÂNCIAPARAAMANUTENÇÃO DABIODIVERSIDADEFIGURA3.19 -ZONASBIOGEOGRÁFICASDASLAGUNASSondotécnica


− Área 2 (T2) – Representa um trecho <strong>de</strong> transição entre um sistema eminentemente marinho(área 1) e um complexo com ictiofauna essencialmente lagunar (área 3);− Área 3 (T3) – Dentre as três áreas reconhecidas, a área 3 é caracterizada por exibir a menordiversida<strong>de</strong> biológica, possuindo suas ictiocenoses compostas essencialmente pelos gruposestuarinos resi<strong>de</strong>ntes, associados as espécies dulcícolas eurihalinas (Poecilia vivipara,Phallopthychus januarius, Jenynsia multi<strong>de</strong>ntata, Geophagus <strong>br</strong>asiliensis).Destas áreas, a unida<strong>de</strong> 1 e 2 <strong>de</strong>stacam-se por possuírem <strong>maior</strong>es níveis <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong>ambiental, refletindo a proximida<strong>de</strong> com o mar, <strong>que</strong> garante a renovação da água. Nestes locais,a presença <strong>de</strong> pessoas praticando a pesca esportiva com tarrafas é comum.O predomínio <strong>de</strong> espécies marinhas <strong>de</strong>termina a dominância no local <strong>de</strong> táxons com baixatolerância às intervenções antrópicas, como apresentado na Figura 3.20. Tais gruposconcentram-se preferencialmente na área 1, com uma redução gradual <strong>que</strong> acompanha asdiluições salinas no sentido A1-A32520151050Alta Média BaixaFigura 3.20 – Número <strong>de</strong> espécies nas diferentes categorias <strong>de</strong> tolerância as alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna da Tijuca, RJ3.2.5.3 Biota da Laguna <strong>de</strong> JacarepaguáNo estudo <strong>de</strong> Andreata et al. (1992), a laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá foi caracterizada como um sistemacom baixa concentração salina, com valores oscilando entre 1 e 8 ppm no período <strong>de</strong><strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o/90 a fevereiro/91. Este aspecto explica a baixa ri<strong>que</strong>za <strong>de</strong> espécies, em um arranjomarcado pela presença predominante <strong>de</strong> espécies estuarino-resi<strong>de</strong>ntes, como o peixe-rei(Xenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis) e Dormitator maculatus, associados a táxons dulcícolas eurihalinos(Figura 3.21).Grupos <strong>de</strong> peixes marinhos são raros e pouco freqüentes, <strong>limita</strong>ndo-se ao carapicu (Gerresap<strong>rio</strong>n), o bagre urutu (Geni<strong>de</strong>ns geni<strong>de</strong>ns), a savelha (Brevoortia pectinata) e a sardinha(Sardinella <strong>br</strong>asiliensis). Em termos quantitativos, as espécies Poecilia vivipara, Phallopthtychusjanuarius, Jenynsia multi<strong>de</strong>ntata (Barrigudinhos), X. <strong>br</strong>asiliensis, Tilapia rendalli e Geophagus<strong>br</strong>asiliensis são as <strong>mais</strong> abundantes.38


MarinhoDulcícolaEstuarino resi<strong>de</strong>nteFigura 3.21 – Representativida<strong>de</strong> das espécies marinhas, dulcícolas e estuarino-resi<strong>de</strong>ntesna laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá, RJAs alterações sofridas por essa laguna, tanto no <strong>que</strong> se refere a mudança em seu regime salinocomo às alterações na qualida<strong>de</strong> da água <strong>de</strong>rivadas do lançamento <strong>de</strong> efluentes domésticos eindustriais exerceu forte pressões seletivas so<strong>br</strong>e a ictiofauna local. Observa-se atualmente opredomínio <strong>de</strong> espécies dotadas <strong>de</strong> altos limites <strong>de</strong> valência ecológica, cujos hábitos oportunistasviabilizaram a manutenção <strong>de</strong> esto<strong>que</strong>s populacionais na área (Figura 3.22). São exemplos osPoeciliidae, Atherinidae, Cichlidae e grupos dulcícolas como os tamboatás (Callichthys calichthys)e mussuns (Syn<strong>br</strong>anchus marmoratus), <strong>mais</strong> comuns nas porções inte<strong>rio</strong>res da laguna.1614121086420Alta Média BaixaFigura 3.22 – Número <strong>de</strong> espécies nas diferentes categorias <strong>de</strong> tolerância as alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá, RJAssociando-se os dados apresentados por Andreata et al (1992) e por Bizerril (1996) com asinformações reunidas nas campanhas do presente estudo, é possível compartimentar a laguna <strong>de</strong>Jacarepaguá em três gran<strong>de</strong>s unida<strong>de</strong>s ictiofanísticas. Estas representam sistemas nos quais ascondições ambientais encontram-se refletidas em uma baixa diversida<strong>de</strong> faunística, compredomínio <strong>de</strong> grupos estuarinos (área 1 - J1) ou dulcícolas (área 3- J3) e um setor <strong>que</strong> aindaconcentra <strong>maior</strong> ri<strong>que</strong>za <strong>de</strong> espécies (área 2 - J2) (cf. Figura 3.19).39


3.2.5.4 Biotas das Lagunas <strong>de</strong> Marapendi e LagoinhaA lagoa <strong>de</strong> Marapendi é uma laguna comprida (10 km <strong>de</strong> extensão), estreita (largura <strong>de</strong> 20 a 800metros) e rasa, com peculiar morfologia em bolsões e estrangulamentos. A batimetria foilevantada através <strong>de</strong> sondagens pela SERLA em 1977, revelando profundida<strong>de</strong>s médias <strong>de</strong> 1,5metros (Cavalheira, 1993). So<strong>br</strong>e este sistema, Lamego (1974) <strong>de</strong>screve <strong>que</strong>:“ (..) é evi<strong>de</strong>ntemente uma laguna <strong>de</strong> origem idêntica (...) a do Camorim. Igualmente formada porlínguas <strong>de</strong> areia <strong>de</strong>ixadas pelo mar em seu recuo, foram estas poste<strong>rio</strong>rmente cobertas porargilas trazidas pelos <strong>rio</strong>s e córregos da serra extravasando em cheias periódicas (...).”De um sistema naturalmente dulcícola, a laguna <strong>de</strong> Marapendi exibe atualmente condiçõesmesohalinas <strong>de</strong>rivada da comunicação <strong>de</strong>ste sistema com a laguna da Tijuca, pelo canal <strong>de</strong>Marapendi. O canal artificial foi aberto como medida preventiva para evitar a propagação domosquito anofelino transmissor da fe<strong>br</strong>e amarela. Contudo, foi apenas na década <strong>de</strong> 50 <strong>que</strong>, coma retificação do Canal <strong>de</strong> Marapendi, a laguna tornou-se efetivamente salo<strong>br</strong>a (FEEMA, 1978,1984, apud. Cavalheira, 1993). Atualmente, o subsistema Lagoinha-Marapendi é influenciado pelamaré somente no Canal <strong>de</strong> Marapendi e no primeiro terço da lagoa <strong>de</strong> Marapendi (Zee et al.,1991).Segundo Saleg-Filho (1986, apud Cavalheira, 1993), o fitoplancton do subsistema lagunarLagoinha-Marapendi é dominado pela cianofícea Oscillatoria sp. Na porção central dominam asespécies Oscillatoria sp., Kephy<strong>rio</strong>n sp. e Peridinium sp.; na porção leste as espécies Oscillatoriasp., Kephysion sp., Oxytoxum sp. e Peridinium sp.; e no Canal <strong>de</strong> Marapendi Oscillatoria sp.,Kephysion sp., Nitzchia cloestrium e Peridinium. O zooplâncton tem <strong>maior</strong> abundância <strong>de</strong> gruposmeroplanctônicos do <strong>que</strong> holoplanctônicos. Os primeiros possuem como grupos <strong>mais</strong>representativos os nauplios e cipris <strong>de</strong> Cirripedia e larvas <strong>de</strong> Decapoda. No holoplanctôn os <strong>mais</strong>abundantes são os copépodas e os rotíferos.O estudo disponível so<strong>br</strong>e a estrutura da ictiofauna <strong>de</strong>ste sistema <strong>limita</strong>-se ao trabalho <strong>de</strong>Andreata et al (1990), conduzido em sua <strong>maior</strong> parte durante período no qual a comunicaçãoentre os dois sistemas ainda era precária, realizada através <strong>de</strong> tubulões com diâmetroaproximado <strong>de</strong> cinco metros, o <strong>que</strong> condicionava penetrações muito lentas <strong>de</strong> água <strong>de</strong> salinida<strong>de</strong><strong>mais</strong> elevada.Como resultado, foi verificada pe<strong>que</strong>na participação <strong>de</strong> espécies caracteristicamente marinhasentre os táxons amostrados na laguna <strong>de</strong> Marapendi. Os autores <strong>de</strong>stacam, contudo, <strong>que</strong> asamostragens complementares, realizadas após a retirada dos tubulões e da abertura dos canais,indicaram modificações expressivas na composição específica e nos padrões <strong>de</strong> abundância dasprincipais espécies. Neste momento, foi constatada a penetração <strong>de</strong> juvenis <strong>de</strong> espéciesmarinhas antes pouco abundantes, como pampos (Carangidae) e manjubas (Engraulididae), asquais passaram a constituir componentes importantes, enquanto grupos dulcícolas, como o acaráou caraúna (Geophagus <strong>br</strong>asiliensis) sofreram reduções evi<strong>de</strong>ntes na abundância e tiveram adistribuição restrita às áreas menos salinas. Uma atualização preliminar <strong>de</strong>ste aspecto, efetuadaconjugando as informações <strong>de</strong> Bizerril (1996) com os dados reunidos em campo é apresentadana Figura 3.23.40


MarinhoDulcícolaEstuarino resi<strong>de</strong>nteFigura 3.23 – Representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies marinhas, dulcícolas e estuarinoresi<strong>de</strong>ntes na laguna <strong>de</strong> Marapendi, RJDevido a precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações <strong>mais</strong> recentes so<strong>br</strong>e a laguna <strong>de</strong> Marapendi, é difícilprecisar a atual estrutura e o funcionamento da fauna aquática local. Entrevistas com pescadorese amostragens pontuais revelaram <strong>que</strong> os paratis (Mugil curema), as savelhas (Brevoortiapectinata), os siris (Callinectes danae), o peixe-rei (Xenomelaniris <strong>br</strong>asiliensis), pitus (Palaemonpandaliformis) e os carapicus (Gerres ap<strong>rio</strong>n), figuram entre os peixes <strong>mais</strong> capturados.No <strong>que</strong> se refere a tolerância da ictiofauna local as alterações ambientais, verifica-se umadistribuição praticamente eqüitativa das diferentes categorias consi<strong>de</strong>radas (Figura 3.24).Invariavelmente, espécies com baixa tolerância representam grupos marinhos (Brevoortia aurea,Trachinotus falcatus), para os quais a manutenção <strong>de</strong> eficientes sistemas <strong>de</strong> renovação da águamostra-se um aspecto essencial para a sua so<strong>br</strong>evivência no sistema em <strong>que</strong>stão.14121086420Alta Média BaixaFigura 3.24 – Número <strong>de</strong> espécies nas diferentes categorias <strong>de</strong> tolerância às alteraçõesambientais da ictiofauna da laguna <strong>de</strong> Marapendi, RJZee et al. (1991, 1992, apud Cavalheira, 1993) i<strong>de</strong>ntificaram três compartimentos bemcaracterísticos na laguna <strong>de</strong> Marapendi. O primeiro <strong>de</strong>les, representado pelo Canal <strong>de</strong> Marapendi,41


é influenciado pelo regime <strong>de</strong> marés. O segundo inicia-se do final do canal <strong>de</strong> Marapendi eprolonga-se até o segundo estrangulamento <strong>de</strong> leste para oeste, entre dois bolsões, numa regiãobastante estreita e <strong>de</strong> pouca profundida<strong>de</strong> (cerca <strong>de</strong> 40 cm, com maré baixa), ainda sob influência<strong>de</strong> maré. O terceiro compartimento vai <strong>de</strong>ste ponto até a extremida<strong>de</strong> oeste da laguna, on<strong>de</strong>localiza-se o Par<strong>que</strong> Municipal Ecológico, caracterizando-se pela inexistência <strong>de</strong> influência salina.Esta laguna <strong>de</strong>staca-se ainda, <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong><strong>mais</strong> <strong>que</strong> integram o complexo lagunar da baixada <strong>de</strong>Jacarepaguá, como a <strong>que</strong> exibe melhores condições ambientais, favorecida pelas condições <strong>de</strong>salinida<strong>de</strong> e pela ausência <strong>de</strong> <strong>rio</strong>s <strong>que</strong> po<strong>de</strong>riam carrear poluentes ao local. Assim, a sua porçãooeste, on<strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> Ruppia maritima são comuns, mostra-se bem preservada.Contudo, FEEMA (1990) ressalta ser razoável prever-se <strong>que</strong> o fenômeno <strong>de</strong> eutroficação po<strong>de</strong>ráocorrer, principalmente na face oeste, <strong>de</strong>vido à baixa profundida<strong>de</strong>, no momento em <strong>que</strong> ovolume <strong>de</strong> esgoto lançado na laguna atingir <strong>maior</strong>es proporções. Cavalheira (1993), analisando amacroinfauna bentônica da laguna verificou, neste segmento da biota local, sinais <strong>que</strong> indicamum grau acentuado <strong>de</strong> comprometimento por poluição orgânica.A Lagoinha apresenta uma reduzida dimensão, sendo precária a renovação <strong>de</strong> suas águas pormeio do canal das Taxas, única via <strong>de</strong> contato com a laguna <strong>de</strong> Marapendi. Na atualida<strong>de</strong>,encontra-se parcialmente coberta por macrófitas, <strong>de</strong>vido a elevada concentração <strong>de</strong> nutrientestrazidos pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> drenagem <strong>de</strong> águas pluviais. Como resultado há uma proliferação <strong>de</strong>macrófitas aquáticas como Eichhornia crassipes (aguapé), Thypha domingensis (taboa-do-<strong>br</strong>ejo)e da pteridófita Acrostichum aureum (samambaia-do-<strong>br</strong>ejo).Salienta-se <strong>que</strong> em <strong>de</strong>terminadas condições <strong>de</strong> elevada temperatura e aporte <strong>de</strong> nutrientes, areprodução da primeira espécie po<strong>de</strong> promover o inteiro reco<strong>br</strong>imento do espelho d’água <strong>de</strong>stape<strong>que</strong>na laguna.3.2.5.5 A Pesca LagunarA pesca artesanal existe em toda a zona costeira <strong>br</strong>asileira, do Amapá ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, e ospescadores envolvidos nesta ativida<strong>de</strong> operam em áreas próximas da costa e em águasprotegidas, baias e <strong>lagoas</strong> costeiras, <strong>que</strong> são comumente o criadouro para o camarão e outrasespécies <strong>de</strong> pescado marinho (Barroso, 1989).Pescadores profissionais encontram-se comumente associados em colônias, cujoestabelecimento foi resultado da missão <strong>de</strong> nacionalização da pesca e da organização <strong>de</strong> seusserviços no litoral do Brasil, <strong>de</strong>senvolvido entre 1919 e 1926 pelo cruzador José Bonifácio, <strong>que</strong>percorreu a costa <strong>br</strong>asileira do cabo Orange ao canal do Chuí.Nesta época, os pescadores da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá foram reunidos na Colônia Z 14,distribuindo-se em pe<strong>que</strong>nos portos <strong>que</strong> margeavam as <strong>lagoas</strong> da Tijuca e do Camorim.Possuíam ainda um núcleo na restinga <strong>de</strong> Jacarepaguá, on<strong>de</strong> podia-se verificar a presença <strong>de</strong>“várias casas <strong>de</strong> pescadores feitas <strong>de</strong> sopapo, entre as pitangueiras; à som<strong>br</strong>a <strong>de</strong>stas, mesas ebancos para turistas e forasteiros <strong>que</strong> ali vão saborear sua matalotagem” (Correa, 1936).Originalmente, a pesca local era abundante, figurando entre as principais espécies capturadas atainha (M. lisa), a corvina (Micropogonias furnieri), o robalo (Centropomus parallelus), a caraúna(Geophagus <strong>br</strong>asiliensis) e a traíra (Hoplias malabaricus). Entre os crustáceos, a coletaconcentrava-se no caranguejo do mangue (Uci<strong>de</strong>s cordatus), no camarão verda<strong>de</strong>iro, siris(Callinects danae) e em pitus <strong>de</strong> água doce. Capturava-se, <strong>mais</strong> por esporte do <strong>que</strong> para aalimentação, o jacaré-<strong>de</strong>-papo-amarelo (Caimam latirostris), utilizando-se anzol.42


Um panorama do cotidiano dos pescadores da região durante a década <strong>de</strong> 30 foi <strong>de</strong>scrito porCorrea (1936), estando o mesmo transcrito a seguir:“Os pescadores são <strong>br</strong>asileiros, predominando entre eles ca<strong>rio</strong>cas e fluminenses<strong>br</strong>onzeados pelo sol, rígidos <strong>de</strong> caracter, pat<strong>rio</strong>tas, audaciosos em sua técnica,conhecedores <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> sua profissão e da fauna marítima-fluvial,aliando-se qualida<strong>de</strong>s extraordinárias, físicas e morais, conquistadas á custa <strong>de</strong> suaárdua profissão.Pela manhã, secam as re<strong>de</strong>s nos varais e concertam as mesmas e as canoas.Durante o dia, fazem e tecem re<strong>de</strong>s feitas <strong>de</strong> cordéis em tecido filet, variando otamanho da malha e a grossura do fio <strong>de</strong> acordo com o tamanho da re<strong>de</strong> e aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peixe <strong>que</strong> se <strong>de</strong>stina.A re<strong>de</strong>, <strong>de</strong> quarenta <strong>br</strong>aças <strong>de</strong> comprimento, po<strong>de</strong> ser lançada por um só homem(....). As re<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> prontas, são tintas <strong>de</strong> preto pela ação da casca <strong>de</strong> aroeira(...). A casca fervida fornece uma tinta com <strong>que</strong> tingem as re<strong>de</strong>s, fortificando os fios eescurecendo-os, tonando-os assim, imperceptíveis aos peixes (..).Cada canoa leva dois tripulantes, um remador, <strong>que</strong> é <strong>de</strong>nominado mestre ou popeiro,e o lançador da re<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nominado marinheiro ou chumbeiro; trabalham com cincore<strong>de</strong>s, tendo cada uma quarenta <strong>br</strong>aças. Procuram o pes<strong>que</strong>iro, lugar on<strong>de</strong> afluem ospeixes, lançando a primeira re<strong>de</strong> e, logo a seguir, as outras ligadas entre si, on<strong>de</strong>trabalha uma boia.Mas a pescaria nesse recanto ca<strong>rio</strong>ca oferece aspectos cu<strong>rio</strong>síssimos, é feita á modagenuinamente nacional, isto é, como fazem os nossos indígenas no Amazonas e dointe<strong>rio</strong>r do nosso pais, diferente <strong>de</strong> todos os pescadores do Distrito Fe<strong>de</strong>ral”A so<strong>br</strong>epesca e o manejo ina<strong>de</strong>quado dos esto<strong>que</strong>s pes<strong>que</strong>iros já era observado na época, comopo<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciado no trabalho <strong>de</strong> Correa (1936), <strong>que</strong> <strong>de</strong>screve a pesca como particularmenteprodutiva na “piracema, <strong>que</strong> eles (os pescadores) dizem corrida, estação <strong>que</strong> se manifesta aarribação do peixe em gran<strong>de</strong>s cardumes, para <strong>de</strong>sova, ou <strong>de</strong>scida. Assim colhem pelamadrugada os pescadores, o peixe preso nas tralhas da re<strong>de</strong>”. Destaca ainda <strong>que</strong>“O bom êxito da pescaria também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da época em <strong>que</strong> ela é feita; na corrida éfacílima, durante os meses <strong>de</strong> agosto e setem<strong>br</strong>o em <strong>que</strong> aparecem cardumes <strong>de</strong>tainhas, pois é a época da <strong>de</strong>sova; elas me<strong>de</strong>m <strong>de</strong> cinqüenta a sessenta centímetros<strong>de</strong> comprimento. Na época regular é calculada a pesca quotidiana <strong>de</strong> cem peixes porcanoa, tendo a média <strong>de</strong> vinte tainhas, mas na corrida chegam a pescar cem tainhaspor canoa.”Assim, <strong>de</strong>vido ao incremento da ativida<strong>de</strong> pes<strong>que</strong>ira, os esto<strong>que</strong>s têm <strong>de</strong>monstrado variadosgraus <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> exploração. Como impactos poste<strong>rio</strong>res, o assoreamento e a poluição vêmreduzindo a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentação da pesca nos criadouros (Barroso, 1989). No casoespecífico da laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá, são particularmente freqüentes os blooms <strong>de</strong> Microcysts,uma alga cianofície, os quais usualmente se associam a mortanda<strong>de</strong>s expressivas <strong>de</strong> peixes43


Como conseqüência dos impactos antrópicos, atualmente a pesca nas <strong>lagoas</strong> da região é umaativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, atraindo poucos pescadores profissionais (Barroso e Bernar<strong>de</strong>s, 1995). Deum modo geral, os pescadores encontram-se organizados na colônia Z-13, <strong>que</strong> reúne 42 famílias.Registram-se ainda cerca <strong>de</strong> 8 associações <strong>de</strong> pescadores, algumas das quais, como aAssociação <strong>de</strong> Pescadores e Moradores da Vila Sonhada (Foto 3.5), não <strong>mais</strong> <strong>de</strong>dicadas àativida<strong>de</strong> pes<strong>que</strong>ira.Os profissionais <strong>que</strong> ainda se <strong>de</strong>dicam à pesca têm nesta ativida<strong>de</strong> a principal fonte <strong>de</strong> renda,pescando em embarcações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e armando re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emalhar (Foto 3.6), tanto no <strong>rio</strong> comonas <strong>lagoas</strong>. Contudo, a produtivida<strong>de</strong> atual é muito baixa, tendo sofrido gran<strong>de</strong> redução com oassoreamento da laguna da Tijuca e do canal do Camorim, <strong>que</strong> acabou por isolar a lagoa <strong>de</strong>Jacarepaguá, dificultando o acesso dos peixes.A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pescado capturado é baixa quando comparada a coligida em outras <strong>lagoas</strong>fluminenses (Barroso e Bernar<strong>de</strong>s, 1995), estando as espécies capturadas no local e a freqüênciadas mesmas apresentadas no Quadro 3.5.Quadro 3.5 - Ocorrência <strong>de</strong> pescado nas <strong>lagoas</strong> da baixada <strong>de</strong> JacarepaguáESPÉCIELAGOA DA LAGOA DE LAGOA DETIJUCA MARAPENDI JACAREPAGUÁTainha 2 2 0Tainhota 3 3 0Parati 3 3 0Carapeba 2 2 0Linguado 1 0 0Corvina 1 0 0Robalo 2 1 0Cocoroca 2 0 0Carapicu 2 1 0Savelha 1 3 1Galo 1 0 0Ubarana 1 2 0Manjuba 1 0 0Peixe-Rei 1 3 0Tilapia 0 2 3Bagre 1 1 0Acará 0 3 1Camarão rosa 1 1 0Camarão verda<strong>de</strong>iro 1 1 0Caranguejo do mangue 1 1 1Siri 2 2 0Samanguá 1 0 0Ostra 1 0 01- Raro; 2- Comum; 3- AbundanteFonte: Barroso e Bernar<strong>de</strong>s, 1995; Dados <strong>de</strong> 1994/1995.Desta forma, observa-se uma redução expressiva na ri<strong>que</strong>za <strong>de</strong> pescado no sentido Lagoa daTijuca – Marapendi – Jacarepaguá, como mostrado na Figura 3.25. Consi<strong>de</strong>rando a qualida<strong>de</strong>ambiental <strong>de</strong>stes sistemas, constata-se a nítida influência da <strong>de</strong>gradação so<strong>br</strong>e a produtivida<strong>de</strong>pes<strong>que</strong>ira.44


252120161510540L.T. L.M. L.J.Figura 3.25 – Número <strong>de</strong> espécies pescadas em cada uma das <strong>lagoas</strong> do ComplexoLagunar da Baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJEm termos qualitativos, as lagunas da Tijuca e Marapendi compõem um único complexopes<strong>que</strong>iro, fortemente distanciado (nível <strong>de</strong> discordância <strong>de</strong> 70%) da laguna <strong>de</strong> Jacarepaguá, o<strong>que</strong> reflete tanto as similarida<strong>de</strong>s gerais na composição <strong>de</strong> suas faunas aquáticas como tambémo melhor estado <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong>stes sistemas lênticos. (ver Figura 3.26)0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75Lagoa da TijucaLagoa <strong>de</strong> MarapendiLagoa <strong>de</strong> Jacarepaguá0.35 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75Figura 3.26 – Similarida<strong>de</strong> na composição do pescado das <strong>lagoas</strong> em estudo46


Consi<strong>de</strong>rando a freqüência <strong>de</strong> cada espécie capturada, obtém-se um arranjo similar (Figura 3.27),ilustrando a influência das características atuais das lagunas tanto no <strong>que</strong> se refere à composiçãoqualitativa do pescado, quanto aos esto<strong>que</strong>s (e subse<strong>que</strong>nte disponibilida<strong>de</strong>) das diferentespopulações ícticas.5.5 6 6.5 7 7.5 8Lagoa da TijucaLagoa <strong>de</strong> MarapendiLagoa <strong>de</strong> Jacarepaguá5.5 6 6.5 7 7.5 8Figura 3.27 – Similarida<strong>de</strong> entre as <strong>lagoas</strong> com base na contribuição<strong>de</strong> cada item <strong>de</strong> pescado3.2.6 Ecossistemas Paludiais e Biota AssociadaEcossistemas paludiais ocupavam no passado gran<strong>de</strong>s extensões na baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá.De acordo com Correa (1936), na baixada se localizavam os <strong>maior</strong>es alagados do Rio <strong>de</strong> Janeiro(então Distrito Fe<strong>de</strong>ral), conhecidos como “Campos <strong>de</strong> Sernambetiba”, “verda<strong>de</strong>ira lagoa cobertapor juncal”; com superfície aproximada <strong>de</strong> 79.427.000 m 2 . Situava-se em uma bacia formadapelas vertentes do Maciço da Pedra Branca e pelo seu contraforte meridional (Serras das Tocas,pico do Morgado, Morro da Ilha, Grota Funda, morro <strong>de</strong> Santo Antônio da Bica, das Piabas, BoaVista e Rangel), esten<strong>de</strong>ndo-se até a lagoa <strong>de</strong> Marapendi e a antiga lagoa do Camorim.Este vasto <strong>br</strong>ejal era originalmente cortado por diversos <strong>rio</strong>s (Morto, do Marinho, das Piabas, daVargem Pe<strong>que</strong>na e da Vargem Gran<strong>de</strong>). Correa (1936), ao <strong>de</strong>screver o <strong>rio</strong> Vargem Gran<strong>de</strong> comoum sistema <strong>que</strong> “nasce no Morro do Cabungy (vaso d’água) (...) e per<strong>de</strong>-se nas matas alagadas<strong>que</strong> circundam os campos <strong>de</strong> Sernambetiba”, revela <strong>mais</strong> uma variação do biótopo paludial nativoda região em estudo, ou seja, a presença <strong>de</strong> expressivas formações <strong>de</strong> matas paludiais oupaludosas 1 . As matas paludiais, usualmente se estabelecem na faixa <strong>de</strong> 5 metros acima do níveldo mar, vindo a substituir as formações submontanas. Consiste em mata perenifólia, com troncoseretos, em geral sem raízes tabulares, e com <strong>de</strong>nsa vegetação arbustiva no estrato infe<strong>rio</strong>r.Ocorrem, freqüentemente, gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> samambaias arborescentes e numerosaspalmeiras <strong>de</strong> tamanho médio, <strong>que</strong> em geral não saem do estrato infe<strong>rio</strong>r, e só muito raramentechegam ao dossel. A ri<strong>que</strong>za em lianas e epífitas (aráceas, <strong>br</strong>omeliáceas, orquidáceas,piperáceas, gesneriáceas e polipodáceas) é muito gran<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> umida<strong>de</strong> do solo éevi<strong>de</strong>nciada pela existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> marantáceas e musáceas.1 De acordo com IBGE (1991), estas matas são <strong>de</strong>signadas como “Floresta Aluvial”. Há autores <strong>que</strong> aclassificam como “Floresta Permanentemente Inundada”, consi<strong>de</strong>rando-as como um tipo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>vegetal <strong>de</strong> restinga (Araújo e Henri<strong>que</strong>s, 1984).47


O calor e a umida<strong>de</strong> favorecem o crescimento da vegetação e a coexistência <strong>de</strong> umamultiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies. O solo, freqüentemente turfoso contém musgos, gramíneas,ciperáceas e gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aráceas dos gêneros Anthurium e Phyllo<strong>de</strong>ndron ao lado <strong>de</strong>muitas <strong>br</strong>omélias <strong>de</strong>ndrícolas (gravatás).Nesses terrenos encharcados encontram-se, historicamente, além <strong>de</strong> várias palmeiras, a caixetaou tabebuia (Tabebuia cassinoi<strong>de</strong>s) cuja ma<strong>de</strong>ira, <strong>br</strong>anca e muito leve, é utilizada na fa<strong>br</strong>icação<strong>de</strong> tamancos, colheres <strong>de</strong> pau e objetos leves. As gran<strong>de</strong>s árvores da mata paludosa sãofreqüentemente cobertas por <strong>de</strong>nsas cortinas <strong>de</strong> barba-<strong>de</strong>-velho (Tillandisia usneoi<strong>de</strong>s) <strong>que</strong>chegam quase ao chão <strong>de</strong> galhos atulhados <strong>de</strong> gravatás e epífitas.Em áreas bem drenadas, plantas como o sangue <strong>de</strong> drago (Croton sp.), figueira do Brejo (Ficcusorganensis), bicuíba (Virola spp.) e angico-<strong>br</strong>anco (Parapipta<strong>de</strong>nia sp.), são evocadas comocaracterísticas.Na bacia em estudo, as formações <strong>de</strong> mata paludial eram bem representadas. Morros como o doUrubu e <strong>de</strong> Itaúna eram assinalados como ilhas circundadas por matas alagadiças <strong>de</strong>nsas, cheias<strong>de</strong> samambaias e fetos, com árvores repletas <strong>de</strong> barba <strong>de</strong> velho (Tillandsia usneoi<strong>de</strong>s) (Correa,1936; Araújo, 1980).Os alagadiços encontram-se bastante alterados pelos canais <strong>de</strong> drenagem e por aterros, emboraainda se evi<strong>de</strong>ncie extensos <strong>br</strong>ejais nas proximida<strong>de</strong>s da Grota Funda (Foto 3.7). Neste localverifica-se so<strong>br</strong>e o solo úmido e turfoso espécies como Cyperus polystachyos, C. surinamensis,Eleocharis mutata, E. caribaca, Scirpus robustus, Bacopa monnieri, Alternanthera philoxeroi<strong>de</strong>s,<strong>de</strong>ntre outras. Em <strong>de</strong>pressões <strong>mais</strong> profundas, Typha domingensis passa a representar aprincipal espécie, juntamente com as carófitas e Ultricullaria spp.As matas paludiais, por sua vez, encontram-se praticamente extintas na baixada, com algunsremanescentes <strong>mais</strong> expressivos no encontro da avenida das Américas com a Salvador Allen<strong>de</strong>(Foto 3.8; Foto 3.9).FEEMA (1989) <strong>de</strong>staca <strong>que</strong> a situação das áreas úmidas é a <strong>mais</strong> vulnerável, <strong>de</strong>ntre os <strong>de</strong><strong>mais</strong>ecossistemas <strong>que</strong> integram a baixada. Tais unida<strong>de</strong>s, embora pertencentes ao sistema lagunarnão foram incorporadas à faixa marginal <strong>de</strong> proteção.Impactos so<strong>br</strong>e as formações <strong>br</strong>ejosas certamente vem contribuindo para a <strong>de</strong>lapidação dadiversida<strong>de</strong> biológica associada à estes biótopos, tratando-se, possivelmente, <strong>de</strong> um dosprincipais processos <strong>que</strong> contribuiu para a extinção local <strong>de</strong> Spintherobolus <strong>br</strong>occae, um peixecaracterístico <strong>de</strong> <strong>br</strong>ejos e <strong>de</strong> pe<strong>que</strong>nos <strong>rio</strong>s <strong>de</strong> baixada (Sarraf, 1997).Os alagadiços da Barra da Tijuca reúnem uma fauna diversificada, na qual diversos anuros (e.g.,Leptodactyllus ocellatus, Hyla marginata, Ololygon similis e Trachycephalus nigromaculatusAparasphenodon <strong>br</strong>unoi, Hyla <strong>de</strong>cipens, H. bipunctata) e inverte<strong>br</strong>ados (e.g. Nepidae,Belostomatidae, Corixidae, Aeshinidae, Simulidae, Cullicinae, Chaoborinae, Plecoptera,Ephemeroptera, Hydrophilidae, Gyrinidae) po<strong>de</strong>m ser encontrados, coexistindo com umaictiofauna característica.48


Foto 3.7 – Detalhe dos campos paludiais(Visão a partir da Grota Funda).Matas paludiaisFoto 3.8 – Foto aérea ilustrando a presença <strong>de</strong> matas paludiais (em <strong>de</strong>sta<strong>que</strong>) no encontroda avenida das Américas e a Salvador Allen<strong>de</strong>49


Foto 3.9 – Detalhe <strong>de</strong> uma mata paludial da Barra da TijucaNo geral, as regiões <strong>br</strong>ejosas ainda mantém um total <strong>de</strong> 15 espécies <strong>de</strong> peixes (Quadro 3.6), dosquais a traíra (Hoplias malabaricus), lambaris (Hyphesso<strong>br</strong>ycon bifasciatus, H. reticulatus),tamboatás (Callichthys callicththys), mussuns (Syn<strong>br</strong>anchus marmoratus), barrigudinhos (Poeciliavivipara, Phalloceros caudimaculatus) e acarás (Geophagus <strong>br</strong>asiliensis) são as <strong>mais</strong> comuns.Quadro 3.6 – Ictiofauna <strong>de</strong> água doce dos <strong>br</strong>ejos da baixada <strong>de</strong> JacarepaguáCHARACIFORMES R. janeiroensis Costa, 1992R. ocellatus Hensel, 1868ERYTHRINIDAELeptolebias minimusHoplias malabaricus (Bloch, 1794)CRENUCHIDAEPOECILIIDAEC. interruptum Pellegrin, 1903 Poecilia vivipara Schnei<strong>de</strong>r, 1801CHARACIDAE.Phallopthychus januarius (Hensel, 1868)Hyphesso<strong>br</strong>ycon bifasciatus Ellis, 1911H. reticulatus Ellis, 1911Mimagoniates microlepis (Steindachner, 1876)SYNBRANCHIFORMESSILURIFORMESSYNBRANCHIDAESyn<strong>br</strong>anchus marmoratus Bloch, 1795CALLICHTHYIDAECICHLIDAECallichthys callichthys (Linnaeus, 1758) Tilapia rendalli Boulenger, 1896Geophagus <strong>br</strong>asiliensis (Quoy e Gaimard,CYPRINODONTIFORMES1824)RIVULIDAERivulus <strong>br</strong>asiliensis (Humboldt e Valenciennes,1812)Fonte: Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 1993.50


A composição da ictiofauna encontra-se bastante associada a perenida<strong>de</strong> da formação paludial.Assim sendo, o <strong>maior</strong> número <strong>de</strong> táxons é observado nos sistemas permanentes, enquanto <strong>que</strong><strong>br</strong>ejos sazonais (secam durante <strong>de</strong>terminados períodos do ano) exibem uma fauna <strong>mais</strong> po<strong>br</strong>e.Contudo, é importante <strong>de</strong>stacar a presença <strong>de</strong> uma espécie ameaçada <strong>de</strong> extinção (Leptolebiasminimus, Foto 3.10) neste último tipo <strong>de</strong> ecossistemas, ocorrendo apenas em pe<strong>que</strong>nosacúmulos <strong>de</strong> água associados a matas paludiais presentes no Par<strong>que</strong> Arruda Câmara e em áreasadjacentes.Foto 3.10– Leptolebias minimus, uma espécie <strong>de</strong> peixe ameaçada <strong>de</strong> extinção presenteapenas em ambientes <strong>de</strong> mata paludial (Modificado <strong>de</strong> Lacerda, 1988)Assim como o verificado para as ictiocenoses <strong>de</strong> <strong>rio</strong>s, a ictiofauna presente nos <strong>br</strong>ejos carece <strong>de</strong>espécies com distribuição geográfica <strong>limita</strong>da à baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá. Contudo, o peixe anual(Leptolebias minimus), por ocorrer apenas na região e em um ambiente alvo <strong>de</strong> fortes pressõesantrópicas em Itaguaí, próximo à UFRRJ (Lacerda, 1988; Costa, 1988), po<strong>de</strong> ser tratado comopraticamente endêmico da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá.Variações na ictiofauna po<strong>de</strong>m ser igualmente evi<strong>de</strong>nciadas quando se compara os dois gran<strong>de</strong>sbiótopos <strong>que</strong> integram os sistemas paludiais da região (i.e., matas paludiais e campos higrófilos)A ictiofauna <strong>de</strong> matas paludiais da Barra da Tijuca encontra-se relacionada na Quadro 3.7.Quadro 3.7 - Ictiofauna <strong>de</strong> água doce dos <strong>br</strong>ejos associados às matas paludiaisCHARACIFORMES R. janeiroensis Costa, 1992ERYTHRINIDAE R. ocellatus Hensel, 1868Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)Leptolebias minimusCHARACIDAESYNBRANCHIFORMESHyphesso<strong>br</strong>ycon bifasciatus Ellis, 1911SYNBRANCHIDAEH. reticulatus Ellis, 1911 Syn<strong>br</strong>anchus marmoratus Bloch, 1795SILURIFORMESCALLICHTHYIDAECallichthys callichthys (Linnaeus, 1758)CYPRINODONTIFORMESRIVULIDAERivulus <strong>br</strong>asiliensis (Humboldt e Valenciennes,1812)Fonte: Dados primá<strong>rio</strong>s; Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 1993.51


As matas encontram-se entremeadas por alagados e acúmulos <strong>de</strong> água nos canais <strong>de</strong> drenagem.Tais sistemas, com sua coloração amarronzada característica, <strong>de</strong>rivada da <strong>de</strong>composição <strong>de</strong>matéria vegetal, apresentam florística típica, com Eleocharis, Ultricularia e ninfeáceas se<strong>de</strong>stacando como as <strong>mais</strong> conspícuas (Foto 3.11).Foto 3.11 – Detalhe <strong>de</strong> alagado presente na borda <strong>de</strong> matas paludiais da Barra da Tijuca(encontro das avenídas das Américas e Salvador Allen<strong>de</strong>)Estes habitats mostram uma fauna menos diversificada do <strong>que</strong> a apresentada pelos camposhigrófilos, reunindo essencialmente grupos <strong>de</strong> pe<strong>que</strong>no porte (Figura 3.28). Espécies <strong>de</strong> médioporte restringem-se à traíra (Hoplias malabaricus). O único peixe <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte <strong>de</strong>stes sistemasé o mussum (Syn<strong>br</strong>anchus marmoratus), embora raramente atinja gran<strong>de</strong> tamanho na região.6543210Pe<strong>que</strong>no Médio Gran<strong>de</strong>Figura 3.28– Número <strong>de</strong> espécies em cada categoria <strong>de</strong> tamanho da ictiofauna <strong>de</strong> mataspaludiais da Barra da Tijuca, RJ52


Muitos dos peixes das matas paludiais possuem sua perpetuação associada a estratégiascomportamentais e fisiológicas <strong>que</strong> os permite so<strong>br</strong>eviver nas condições flutuantes <strong>de</strong>disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>que</strong> tanto caracterizam estes biótopos. É o caso do tamboatá(Callichthys callichthys) capaz <strong>de</strong> utilizar o oxigênio atmosférico, absorvido no trato digestivo, e ospe<strong>que</strong>nos rivulí<strong>de</strong>os não anuais (Rivulus spp.) <strong>que</strong> saltam ativamente a procura <strong>de</strong> acúmulos <strong>de</strong>água <strong>que</strong> garantam sua so<strong>br</strong>evivência.A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos provenientes das matas circundantes e do próp<strong>rio</strong> sistema aquático<strong>que</strong>, embora fortemente distrófico, reúne diversos inverte<strong>br</strong>ados, faz com <strong>que</strong> a guilda dosinsetívoros seja a dominante nestes sistemas (Figura 3.29).65643321001IliófagoOmnívoroPredador <strong>de</strong> Inverte<strong>br</strong>adosIctiófagoFigura 3.29 – Número <strong>de</strong> espécies por guilda tróficaNa borda da mata, em associação com <strong>br</strong>omeliáceas po<strong>de</strong>m ser observados algumas pererecas,notadamente Aparasphenodon <strong>br</strong>unoi, Hyla <strong>de</strong>cipens e H. bipunctata.Nos campos higrófilos <strong>que</strong> dominam a porção <strong>mais</strong> interna da baixada, ocorrem 9 espécies <strong>de</strong>peixes, relacionadas na Quadro 3.8. Comparativamente as matas paludiais, tais sistemas mantémum número menor <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, como se observa pela ausência <strong>de</strong> peixes da famíliaRivulidae.Quadro 3.8 – Ictiofauna dos campos higrófilosCHARACIFORMESCYPRINODONTIFORMESERYTHRINIDAEPOECILIIDAEHoplias malabaricus (Bloch, 1794) Poecilia vivipara Schnei<strong>de</strong>r, 1801Hoplerithrynus unitaeniatus .Phallopthychus januarius (Hensel, 1868)CHARACIDAESYNBRANCHIFORMESHyphesso<strong>br</strong>ycon bifasciatus Ellis, 1911SYNBRANCHIDAEH. reticulatus Ellis, 1911 Syn<strong>br</strong>anchus marmoratus Bloch, 1795SILURIFORMESCICHLIDAEGeophagus <strong>br</strong>asiliensis (Quoy e Gaimard,CALLICHTHYIDAE1824)Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)Fonte: Dados primá<strong>rio</strong>s; Bizerril, 1996; Bizerril e Araújo, 199353


Mantém-se o predomínio <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> pe<strong>que</strong>no porte, os quais, em sua totalida<strong>de</strong>, ocorrem em<strong>rio</strong>s como o Camorim e Paineiras. Assim, tem-se <strong>que</strong> este elemento da paisagem local representauma continuação das baixadas fluviais, exibindo um conjunto íctico <strong>que</strong> caracteriza-se pelafiltragem <strong>de</strong> espécies <strong>mais</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sistemas lóticos.Nas valas <strong>de</strong> drenagem <strong>que</strong> cortam os campos alagados, a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsa cobertura <strong>de</strong>Azolla sp. é comum. Nestes locais observa-se, juntamente com a ictiofauna, a ocorrência da rãcomum (Leptodactyllus ocellatus), Hyla marginata, Ololygon similis e Trachycephalusnigromaculatus, todos anfíbios <strong>que</strong>, na região da Barra da Tijuca, são comuns em áreasurbanizadas (Napoli, 1989).Na margem dos taboais vive a rã comum (Leptodactyllus ocellatus). No inte<strong>rio</strong>r dos aglomerados<strong>de</strong> T. dominguensis coexiste uma diversificada comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> anfíbios, com uma divisão <strong>de</strong> usoespacial <strong>que</strong> se iguala a apresenta por Napoli (1989) em seu estudo so<strong>br</strong>e os anuros da restingada Barra da Tijuca.Assim, nas porções <strong>mais</strong> baixas das taboas encontram-se Hyla <strong>de</strong>cipens e H. meridiana,enquanto as partes <strong>mais</strong> altas, acima <strong>de</strong> 1 metros, servem <strong>de</strong> a<strong>br</strong>igo para H. albomarginata.A manutenção dos níveis <strong>de</strong> água nestes sistemas é condição para a so<strong>br</strong>evivência da faunalocal. Este aspecto encontra-se refletido no estudo <strong>de</strong> Bizerril et al (1994) <strong>que</strong> verificaram, a partirda análise <strong>de</strong> interações entre diferentes taxocenoses dos campos higrófilos da Barra da Tijuca,<strong>que</strong> as variações ambientais possuem <strong>maior</strong> importância na estruturação das comunida<strong>de</strong>s do<strong>que</strong> interações como competição e predação.3.3 VEGETAÇÃO E FLORAA análise da vegetação e da flora apresentada neste item compreen<strong>de</strong> um esboço da vegetaçãooriginal da macrobacia da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá, assim como a <strong>de</strong>scrição da vegetação atual edo uso do solo, complementada por aspectos florísticos, ecológicos e fenológicos, e por umaanálise fitoconservacionista.Importa <strong>de</strong>stacar <strong>que</strong> flora é o conjunto <strong>de</strong> espécies vegetais <strong>de</strong> um ou <strong>mais</strong> tipos <strong>de</strong> vegetação,região ou local. Já a vegetação é uma forma <strong>de</strong> cobertura vegetal, cuja aparência é dada peloconjunto <strong>de</strong> plantas predominantes <strong>que</strong> revestem uma região ou local (Rizzini, 1979). Por suavez, as plantas são seres vivos do reino vegetal, e compreen<strong>de</strong>m as árvores, arbustos, cipós,ervas, cactos, gramas, trepa<strong>de</strong>iras e samambaias, <strong>de</strong>ntre outras.3.3.1 Esboço da Vegetação Original no Ano <strong>de</strong> 1500A bacia contribuinte da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá se insere no bioma da Mata Atlântica, <strong>que</strong>originalmente estendia-se por uma faixa <strong>de</strong> 3.500 km ao longo do litoral <strong>br</strong>asileiro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a costaleste do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, até o norte do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.Na meta<strong>de</strong> setent<strong>rio</strong>nal <strong>de</strong>ssa extensão, a Mata Atlântica apresentava-se numa faixa costeirarelativamente estreita, mas do sul da Bahia para o sul e para oeste, ela alargava-seprogressivamente, atingindo o sul <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul e Goiás, o leste do Paraguai e oextremo nor<strong>de</strong>ste da Argentina .54


Primitivamente, a Mata Atlântica co<strong>br</strong>ia pouco <strong>mais</strong> <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> km² (12% do territó<strong>rio</strong>nacional), sendo então o terceiro <strong>maior</strong> bioma do Brasil, suplantado apenas pela FlorestaAmazônica e pelo Cerrado. A antiga continuida<strong>de</strong> da mata foi perdida e, hoje, ela se resume afragmentos isolados <strong>de</strong> diversos tamanhos <strong>que</strong>, somados, perfazem cerca <strong>de</strong> 8,8% (35.000 km²)<strong>de</strong> sua cobertura original (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA, 1990) ou 5% (ConsórcioMata Atlântica, 1992).Como um todo, a Mata Atlântica é bastante antiga, acreditando-se <strong>que</strong> já estava configurada noinício do Terciá<strong>rio</strong> (Joly et al., 1991). Contudo, as flutuações climáticas <strong>mais</strong> recentes, ao longo doQuaterná<strong>rio</strong>, ocasionaram processos <strong>de</strong> expansão e <strong>de</strong> retração espacial da Mata Atlântica, apartir <strong>de</strong> regiões <strong>mais</strong> restritas <strong>que</strong> funcionaram como refúgios da fauna e flora.Esta hipótese admite <strong>que</strong> existem algumas regiões da Mata Atlântica <strong>que</strong> são claramente pontos<strong>de</strong> alta diversida<strong>de</strong>, a partir das quais ocorreu a irradiação <strong>de</strong> muitas espécies, conforme a mata<strong>de</strong> expandia. Estas regiões, <strong>que</strong> constituem os antigos refúgios, são as seguintes: sul da Bahia;região dos tabuleiros do Estado do Espírito Santo e região do litoral do Rio <strong>de</strong> Janeiro e norte <strong>de</strong>São Paulo (IBAMA, 1991)Nestas regiões é encontrado um consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> espécies endêmicas, associadas a umaelevada diversida<strong>de</strong> especifica. A bacia <strong>de</strong> Jacarepaguá ocupa uma posição bastante peculiar emrelação ao domínio Atlântico. Sua localização coinci<strong>de</strong> com uma das áreas <strong>de</strong> <strong>maior</strong> diversida<strong>de</strong>da formação atlântica.Estimativas dão conta <strong>que</strong> o Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, possuía na época do <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>imento, umacobertura florestal em 97% <strong>de</strong> seu territó<strong>rio</strong>. Dados publicados pela Fundação S.O.S MATAATLÂNTICA, obtidos a partir da análise <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> satélite entre 1985 e 1990, mostram <strong>que</strong>restavam em 1990 cerca <strong>de</strong> 896.324 ha <strong>de</strong> florestas, correspon<strong>de</strong>ndo a 20,24% da superfície doEstado.Em suma, dos 1.000.000 <strong>de</strong> km 2 da cobertura original da Mata Atlântica no país, o Estado do Rio<strong>de</strong>tinha 42.006 km² (97% da área do Estado), o <strong>que</strong> correspondia a 4,2% da superfície total dobioma. Dos 5% <strong>que</strong> hoje restam, o <strong>que</strong> totaliza 50.000 km 2 , o Estado a<strong>br</strong>iga 8.963,240 km 2 , o <strong>que</strong>equivale a 18% ou quase 1/5.O quadro abaixo apresenta o processo <strong>de</strong> redução histórica da Mata Atlântica no Estado do Rio<strong>de</strong> Janeiro.Quadro 3.9 – Redução da cobertura florestal no estado do Rio <strong>de</strong> JaneiroFonte:ANOÁREA(ha)% COBERTURA FLORESTALREMANESCENTE1500 4.294.000 97,001912 3.585.000 81.001960 1.106.700 25,001978 973.900 22,001985 937.100 21,171990 896.200 20,24Evolução dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados do Domínio da MataAtlântica Ecossistemas - Fundação S.O.S. Mata Atlântica / Instituto Nacional <strong>de</strong> PesquisasEspaciais, 1993.Entre 1985 e 1990, o Estado per<strong>de</strong>u 30.579 ha <strong>de</strong> florestas, 1.072 <strong>de</strong> restinga e 101 ha <strong>de</strong>mangues.55


O Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com superfície <strong>de</strong> 125.528 ha, possui três áreas <strong>de</strong> baixada(Guanabara, Sepetiba e Jacarepaguá) e diversas áreas <strong>de</strong> encostas, <strong>que</strong> fazem parte <strong>de</strong> trêsmaciços (Tijuca, Pedra Branca e Gericinó) e <strong>de</strong> algumas serras e morros isolados. A marcantepresença <strong>de</strong>stas encostas imprimiu um caráter fisionômico especial a cida<strong>de</strong>, <strong>que</strong> cresceu entre omar e as montanhas. A cota varia <strong>de</strong> 0 a 1.024m, atingindo altitu<strong>de</strong> máxima no Pico da PedraBranca.Segundo dados do IPLANRIO, a área total <strong>de</strong> serras, morros isolados e maciços é <strong>de</strong> 36.200 ha.É licito supor <strong>que</strong> o município possuía no mínimo, na época do <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>imento, cerca <strong>de</strong> 36.500ha <strong>de</strong> florestas em seu territó<strong>rio</strong>, sem contar neste cálculo as florestas das baixadas <strong>de</strong>Guanabara, Sepetiba e Jacarepaguá, situadas em terrenos secos e sujeitos a inundação. Osresultados <strong>de</strong> um levantamento recente da cobertura vegetal e do uso da terra no município sãomostrados no quadro abaixo.Quadro 3.10 – Superfície e proporção dos diferentes tipos <strong>de</strong> vegetaçãoe uso da terra no município do Rio <strong>de</strong> JaneiroTIPO DE ÁREASUPERFÍCIE(ha)PERCENTAGEM (%)EM RELAÇÃO AÁREA DO MUNICÍPIOÁreas Naturais 32.977 26,3Floresta 19.594 15,57Floresta Alterada 5.863 4,67Mangue 2.477 1,97Área Úmida com Vegetação 1.711 1,36Apicum 1.190 0,95Restinga 1.042 0,83Afloramento Rochoso 591 0,47Praias e Areais 554 0,44Áreas Antropizadas 92.551 73,7Área Urbana 46.373 37,94Campo Antrópico 25.599 20,38Área Urbana Não Consolidada 12.284 9,79Uso Agropastoril 5.260 4,19Solo Exposto 2.873 2,26Vegetação em Par<strong>que</strong>s Públicos (*) 198 0,16T o t a l 125.528 100,00Fonte: SMAC, 1997(*) - Vegetação plantada em gran<strong>de</strong>s praças e par<strong>que</strong>s públicosO quadro revela <strong>que</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro tem cerca <strong>de</strong> 73,7 % <strong>de</strong> seu territó<strong>rio</strong> ocupado por áreasurbanas, campos <strong>de</strong> ervas ru<strong>de</strong>rais e ativida<strong>de</strong>s agropastoris, restando aproximadamente 32.977ha <strong>de</strong> área naturais, o <strong>que</strong> correspon<strong>de</strong> a 26,3% da superfície total do município.No caso das florestas, restam 196 km². Para efeito comparativo, Pernambuco (1979), estimoucom base em imagens <strong>de</strong> satélite <strong>de</strong> 1978, <strong>que</strong> restavam no Rio <strong>de</strong> Janeiro cerca <strong>de</strong> 175,26 km²<strong>de</strong> florestas remanescentes acima da cota 100. Tendo em vista o Decreto 322/76, <strong>que</strong> fixou comozona especial <strong>de</strong> preservação da cobertura florestal as áreas acima da curva <strong>de</strong> nível da cota <strong>de</strong>56


100 metros, a quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> florestas <strong>que</strong> <strong>de</strong>veriam ser preservados atingiria cerca <strong>de</strong> 282km² (Pernambuco et al., 1979).Buscando-se obter um esboço da vegetação original da bacia <strong>de</strong> Jacarepaguá, foramimplementados os procedimentos <strong>de</strong>scritos a seguir.Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstituir a vegetação original do Brasil, o Projeto RADAMBRASIL (IBGE,1983), c<strong>rio</strong>u um mo<strong>de</strong>lo teórico baseado no levantamento e integração dos parâmetros <strong>de</strong> pelomenos três componentes do macroambiente:− clima, representado pelos dias secos, conforme a relação P ≤ 2 T (P=precipitação, emmilímetros; T = temperatura, em graus Celsius);− litologia, baseada nos mapas geológicos, <strong>que</strong> fornecem os componentes das rochas <strong>que</strong> dãoorigem aos solos <strong>de</strong> natureza argilosa ou arenosa;− relevo, cujas formas foram separadas diretamente so<strong>br</strong>e os mosaicos <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> radar.A análise integrada <strong>de</strong>sses três elementos, aliada à observação da vegetação primitivaremanescente e o exame <strong>de</strong> dados bibliográficas <strong>que</strong> possibilitam obter informações so<strong>br</strong>e avegetação nos séculos iniciais da ocupação humana no País, permitiu traçar os contornos e adistribuição espacial dos tipos <strong>de</strong> vegetação originais no territó<strong>rio</strong> <strong>br</strong>asileiro, o qual foram<strong>de</strong>signadas como “regiões fitoecológicas”.O mapa <strong>de</strong> vegetação na escala <strong>de</strong> 1:1.000.000 do Projeto RADAMBRASIL (Ururahy, Collares,Santos e Barreto, 1983), indica <strong>que</strong> a macrobacia da baixada <strong>de</strong> Jacarepaguá a<strong>br</strong>ange parcelasdas regiões fitoecológicas originais do bioma da Mata Atlântica constantes no quadro abaixo.Quadro 3.11 – Regiões fitoecológicas originais e formações correspon<strong>de</strong>ntesREGIÃO FITOECOLÓGICA FORMAÇÃO SUBFORMAÇÃOFloresta Om<strong>br</strong>ófila DensaTerras BaixasSubmontanaMontanaÁreas <strong>de</strong> Formação Pioneira Influência MarinhaFonte: Ururahy, Collares, Santos e Barreto, 1983Influência FluviomarinhaRestingaMangueEstes dados do Projeto RADAMBRASIL, conjugados as informações pedológicas, geológicas etopográficas e as observações registradas nas inspeções <strong>de</strong> campo, permitiram traçar um esboçoda vegetação original da bacia <strong>de</strong> Jacarepaguá, apresentado na figura 3.30. Tal esboço refere-sea cobertura vegetal supostamente existente no ano <strong>de</strong> 1.500.57

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!