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Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast)

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Artigo <strong>de</strong>Revisão<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r (<strong>Renast</strong>): reflexões sobre a estrutura <strong>de</strong> re<strong>de</strong><strong>do</strong>i: 10.5123/S1679-49742011000100010National Network for Whole Health Care Workers: Reflections About Network StructureLuís Henrique da Costa LeãoEscola <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz, Rio <strong>de</strong> Janeiro-RJ, BrasilLuiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> VasconcellosEscola <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz, Rio <strong>de</strong> Janeiro-RJ, BrasilResumoObjetivo: analisar a experiência <strong>de</strong> oito anos da <strong>Renast</strong> <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> diversos aspectos <strong>de</strong> sua dinâmica <strong>de</strong> funcionamento.Meto<strong>do</strong>logia: por meio <strong>de</strong> uma abordagem meto<strong>do</strong>lógica qualitativa, realizou-se uma revisão <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, aplicadaao campo da Saú<strong>de</strong>, nas bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s Scielo, Medline e Lilacs, e procurou-se <strong>de</strong>screver a criação e implementação da <strong>Renast</strong>a partir <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos primários. Resulta<strong>do</strong>: <strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amadurecimento da <strong>Renast</strong>, parasua efetiva estruturação em re<strong>de</strong>. Conclusão: consi<strong>de</strong>ra-se que a perspectiva <strong>de</strong> re<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser uma utopia para seu avanço.Palavras-chave: saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r; re<strong>de</strong>; re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.SummaryObjective: analyze the experience of eight years of RenasT thighlighting various aspects of their working dynamics.Metho<strong>do</strong>logy: through a qualitative metho<strong>do</strong>logical approach, a revision of the concept of network was <strong>do</strong>ne, applie<strong>do</strong>n the health, in Scielo, Medline and Lilacs data bases. Beyond, was realized the <strong>de</strong>scription of <strong>Renast</strong> creation andimplementation from primary <strong>do</strong>cuments. Result: <strong>de</strong>monstrate the need for maturation of <strong>Renast</strong> for its effectiveorganization in network. Conclusion: the network perspective may be an utopia for its <strong>de</strong>velopment.Key words: occupational health; network; <strong>Renast</strong>.En<strong>de</strong>reço para correspondência:Avenida Leopol<strong>do</strong> Bulhões, 1480, Manguinhos, Rio <strong>de</strong> Janeiro-RJ, Brasil. CEP: 21041-210E-mail: luis_leao@hotmail.comEpi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201185


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)IntroduçãoA proposta <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rno Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) surgiu em <strong>de</strong>corrência<strong>de</strong> uma revisão crítica que se fazia aos centros<strong>de</strong> referência e programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rque não estabeleciam vínculos mais sóli<strong>do</strong>s com asestruturas orgânicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, manten<strong>do</strong>-se isola<strong>do</strong>se marginaliza<strong>do</strong>s. Alguns, inclusive, foram cria<strong>do</strong>s e<strong>de</strong>sapareceram no <strong>de</strong>correr das décadas <strong>de</strong> 1980/90.Além disso, esses centros não dispunham <strong>de</strong> qualquermecanismo mais efetivo <strong>de</strong> comunicação e relaçãoentre si. Embora sua existência fosse consi<strong>de</strong>radaestratégica para a consolidação da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r no SUS, observava-se um esgotamento <strong>de</strong>sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contribuir para novos avanços. Assim,"se por um la<strong>do</strong>, a estratégia a<strong>do</strong>tada <strong>de</strong> nuclearas ações <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r em Centros <strong>de</strong>Referências permitiu avanços setoriais, acúmulo <strong>de</strong>experiências e conhecimentos técnicos, capacitação<strong>do</strong>s profissionais, facilitan<strong>do</strong>, ainda que <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>fragmenta<strong>do</strong>, a luta <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res por melhorescondições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho, por outro, tem contribuí<strong>do</strong>para manter a área à margem das políticas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> SUS, na medida que estes centros têm'fica<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora' <strong>do</strong> sistema como um to<strong>do</strong>". 1A marginalida<strong>de</strong> institucional e a falta <strong>de</strong> recursos,inclusive pela ausência <strong>de</strong> financiamento das ações,provocou um <strong>de</strong>bate, na coor<strong>de</strong>nação nacional <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, entre 1999 e 2002, no senti<strong>do</strong><strong>de</strong> rever a estrutura da área como um to<strong>do</strong>. Nessecontexto "tornou-se urgente e necessário, para aprópria sobrevivência da área, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>novas estratégias visan<strong>do</strong> romper com este 'gueto' emergulhar profundamente nas políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>SUS. Para tanto, <strong>de</strong>ve-se garantir a inserção <strong>de</strong> suaspráticas, tanto assistenciais como as <strong>de</strong> vigilância,em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo técnico-assistenciala<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo SUS". 1Em 1999, por exemplo, entre os dias 16 e 18<strong>de</strong> julho, foi realiza<strong>do</strong> em Brasília o “Encontro<strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r: Desafios para aconstrução <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo estratégico”, evento quereuniu representantes <strong>de</strong> vários órgãos públicos,setores governamentais, universida<strong>de</strong>s e movimentossindicais, como Ministério da Saú<strong>de</strong>, Ministério <strong>do</strong>Desenvolvimento, Central Única <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res(CUT), Conselho <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Secretários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>(Conass), Organização Pan-Americana da Saú<strong>de</strong>(OPAS), entre tantos outros.O encontro, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância social e política,contou com a presença <strong>de</strong> quase 500 pessoas. Seuobjetivo foi avaliar a trajetória da Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a promulgação da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, buscarcompreen<strong>de</strong>r o cenário que se vivia, à época, no mun<strong>do</strong><strong>do</strong> trabalho e propor novas formas <strong>de</strong> atuação paraa promoção da vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, subsidian<strong>do</strong>o planejamento <strong>de</strong> ações da área no Brasil, no quetange à vigilância, assistência, informação, formação<strong>de</strong> recursos humanos, entre outros. 2Naquele momento, pontos críticos da área foramnota<strong>do</strong>s, como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r em to<strong>do</strong>s os níveis da atenção, unificaras várias práticas por meio <strong>de</strong> protocolos, elaborarprojeto nacional <strong>de</strong> capacitação e formação, aumentara articulação entre gestores e movimentos sociais,criar novas meto<strong>do</strong>logias para a vigilância em saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, construir indica<strong>do</strong>res para o planejamentodas ações, rever o mo<strong>de</strong>lo calca<strong>do</strong> nos centros<strong>de</strong> referência, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua avaliação, e re<strong>de</strong>finirseu papel <strong>de</strong> pólo <strong>de</strong> difusão e <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> ações,entre outras coisas. 2Ten<strong>do</strong> como princípio formula<strong>do</strong>r básicoa i<strong>de</strong>ia da integração e harmonizaçãodas iniciativas institucionais <strong>do</strong> campo,a re<strong>de</strong> abriria espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate maisqualifica<strong>do</strong>s para a institucionalida<strong>de</strong> dasaú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no SUS.Havia um consenso entre os técnicos, na ocasião,<strong>de</strong> que a constituição <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> integra<strong>do</strong>ra po<strong>de</strong>riaservir como fator impulsiona<strong>do</strong>r da consolidação daárea no SUS, trazen<strong>do</strong> novos aportes para a constituição<strong>de</strong> uma cultura mais sólida <strong>do</strong> campo. Ten<strong>do</strong> comoprincípio formula<strong>do</strong>r básico a i<strong>de</strong>ia da integração eharmonização das iniciativas institucionais <strong>do</strong> campo, are<strong>de</strong> abriria espaços <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate mais qualifica<strong>do</strong>s paraa institucionalida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no SUS.Nesse senti<strong>do</strong>, em 2000, é realiza<strong>do</strong> um encontrosobre a criação da <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>rpor iniciativa <strong>de</strong> técnicos da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (Cosat), da Secretaria <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS). Ao mesmo tempo,outra proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong> era gestada por assessores da86Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 2011


Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> VasconcellosSecretaria <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong> (SAS) <strong>do</strong> mesmoMinistério da Saú<strong>de</strong>. A primeira proposta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>acabou se per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, e em meio a conflitos no âmbito<strong>do</strong> MS, em 2002, foi criada a <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção<strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (<strong>Renast</strong>), pela PortariaGM/MS n° 1.679, <strong>de</strong> 19/09/2002, proposta queexpressou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apenas um grupo. 3A <strong>Renast</strong>, cuja finalida<strong>de</strong> era criar uma re<strong>de</strong>, como opróprio nome preconiza, articulan<strong>do</strong> as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no contexto <strong>do</strong> SUS, conferin<strong>do</strong> organicida<strong>de</strong>aos serviços existentes no país e buscan<strong>do</strong>dar visibilida<strong>de</strong> à área na estrutura <strong>do</strong> SUS, foi sen<strong>do</strong>revista por meio <strong>de</strong> novas normativas, que tambémdispõem sobre sua estruturação. Em 2005, portanto,a <strong>Renast</strong> foi revista e ampliada, por meio da PortariaGM/MS n° 2.437, <strong>de</strong> 07/12/2005, e novamente em2009, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação ao Pacto PelaVida e em Defesa <strong>do</strong> SUS, com a Portaria n° 2.728,<strong>de</strong> 11/11/2009.Neste texto, a partir <strong>de</strong> uma breve discussão sobreo conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, aplicada ao campo da Saú<strong>de</strong>,procura-se resgatar a história da <strong>Renast</strong>, <strong>de</strong>batersua organização e dinâmica <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> asdificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua estruturação em re<strong>de</strong>.Meto<strong>do</strong>logiaNo que tange à meto<strong>do</strong>logia, esta é uma pesquisaqualitativa, <strong>de</strong> cunho bibliográfico, constituin<strong>do</strong> umarevisão crítica da literatura sobre os conceitos <strong>de</strong> re<strong>de</strong> eanálise <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos primários relaciona<strong>do</strong>s à <strong>Renast</strong>.Além <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> literatura em geral, comotextos, livros e <strong>do</strong>cumentos relaciona<strong>do</strong>s ao constructo“re<strong>de</strong>”, realizou-se uma revisão sobre o conceito <strong>de</strong>re<strong>de</strong> nas bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s in<strong>de</strong>xadas Scielo, Medline eLilacs, relacionan<strong>do</strong>-o com os temas “saú<strong>de</strong>” e “saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r”.Como estratégia <strong>de</strong> busca nessas bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s,utilizou-se os termos “re<strong>de</strong>”, “saú<strong>de</strong>”, “saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r”, fazen<strong>do</strong> os cruzamentos entre eles daseguinte maneira: re<strong>de</strong> AND Saú<strong>de</strong> e <strong>Re<strong>de</strong></strong> AND Saú<strong>de</strong><strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r. Em um segun<strong>do</strong> momento, realizou-sea busca por meio <strong>do</strong> termo “renast”, a fim <strong>de</strong> verificarpublicações específicas sobre essa temática.Como critérios <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> publicações encontradas,optou-se por analisar textos que tinhamcomo objeto o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> relaciona<strong>do</strong> à áreada Saú<strong>de</strong>, bem como textos cuja temática central eraa <strong>Renast</strong>. Foram excluídas diversas publicações queanalisavam problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, questões relativas àsaú<strong>de</strong> e trabalho que não analisavam a organizaçãodas ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na re<strong>de</strong> SUS, bem comotextos que não possuíam relação com a <strong>Renast</strong>. Esselevantamento bibliográfico, realiza<strong>do</strong> em fevereiro <strong>de</strong>2009, foi atualiza<strong>do</strong> em outubro <strong>de</strong>sse mesmo ano.Os artigos <strong>de</strong> periódicos, textos e <strong>do</strong>cumentos primáriosanalisa<strong>do</strong>s referem-se ao perío<strong>do</strong> entre 1988 enovembro <strong>de</strong> 2009. A publicação da Portaria n° 2.728,em novembro <strong>de</strong> 2009, foi o elemento <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação erecorte <strong>de</strong> tempo da presente investigação <strong>do</strong>cumental.Nas bases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s na internet, i<strong>de</strong>ntificamosgran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artigos relaciona<strong>do</strong>s à re<strong>de</strong>,nas mais variadas áreas <strong>do</strong> conhecimento. No entanto,quanto à relação entre “re<strong>de</strong>” e “saú<strong>de</strong>”, a produçãodiminui. Por exemplo: ao realizarmos a buscaatravés <strong>do</strong> <strong>de</strong>scritor “re<strong>de</strong>”, na base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s Scielo,são encontra<strong>do</strong>s 119 artigos; porém, ao cruzarmoscom o <strong>de</strong>scritor “saú<strong>de</strong>”, o número reduz para 23.Já na busca pelo cruzamento <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>” com “saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r”, nenhum artigo foi encontra<strong>do</strong>. NaLilacs, o número <strong>de</strong> artigos para “re<strong>de</strong>” e “saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r” i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> os critérios <strong>de</strong>stapesquisa é <strong>de</strong> 55. Destes, apenas um sobre a <strong>Renast</strong>,e alguns que mencionam os programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r e as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> em geral.Quanto à <strong>Renast</strong> propriamente dita, po<strong>de</strong>-se dizer quenão existem muitas análises e publicações, indican<strong>do</strong>que ainda é baixa a produção em torno <strong>de</strong>sse tema.Por exemplo, apenas três estu<strong>do</strong>s são encontra<strong>do</strong>s noLilacs, a partir da busca por “<strong>Renast</strong>”.Alguns livros e artigos não in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>s também foramimportantes para a realização da pesquisa sobreo conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, mostran<strong>do</strong> toda a polissemia <strong>do</strong>conceito. Por se tratar <strong>de</strong> um elemento <strong>de</strong> discussãoque permeia vários campos <strong>do</strong> saber, passan<strong>do</strong> pelabiologia, cibernética, filosofia, sociologia, antropologiae administração, fizemos uma revisão conceitual nessasáreas <strong>do</strong> saber, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a relação <strong>de</strong>ste constructocom o campo da Saú<strong>de</strong>, pois interessava, justamente,investigar a relação entre a origem e usos <strong>do</strong>s conceitos<strong>de</strong> re<strong>de</strong> e sua aplicação no âmbito da saú<strong>de</strong> pública.Fez-se necessário, também, utilizar a técnica <strong>de</strong>análise <strong>do</strong>cumental das fontes primárias utilizadasna pesquisa, como Leis e Portarias fe<strong>de</strong>rais, textos <strong>de</strong>encontros <strong>de</strong> profissionais <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong>,notícias veiculadas em canais <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong>,Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201187


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)informativos internos, relatórios <strong>de</strong> encontros regionais,estaduais e nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,entre outros.A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s foi efetuada por meio <strong>do</strong> méto<strong>do</strong><strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Conteú<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a proposta<strong>de</strong> Bardin. Essa técnica, <strong>de</strong> uso varia<strong>do</strong> e a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> àspesquisas qualitativas, permite a verificação da hipótesee questão levantadas e a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> que está por trás<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s manifestos em <strong>do</strong>cumentos e textos, bemcomo as condições <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> suas mensagens. 4Resulta<strong>do</strong>sSobre o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> – a palavra 're<strong>de</strong>'tornou-se familiar, recentemente, em vários contextos,sobretu<strong>do</strong>, na organização <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Contu<strong>do</strong>, na familiarida<strong>de</strong> da palavra, po<strong>de</strong>se escon<strong>de</strong>r a polissemia e a complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conceito,sen<strong>do</strong> utilizada <strong>de</strong> forma indistinta em diversoscampos. Nohria consi<strong>de</strong>ra que "esta proliferaçãoindiscriminada <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> ameaça relegáloao status <strong>de</strong> uma metáfora evocativa, aplicadatão espontaneamente que acaba significan<strong>do</strong>qualquer coisa". 5 Daí, a importância <strong>de</strong> transformara familiarida<strong>de</strong> em estranhamento, para favorecer acompreensão <strong>do</strong> conceito. Então, o que é uma re<strong>de</strong>?O que significa? Qual sua origem e conceituação?Mais recentemente, a expressão re<strong>de</strong> ganhou statusdiferencia<strong>do</strong> no vocabulário da aca<strong>de</strong>mia, em textos e<strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> organizações privadas e movimentossociais, e <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> relevante, como expressão na configuração<strong>de</strong> políticas públicas. Sua utilização, emboradiversa, imprime a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> vínculos, contatos, ligações,entrelaçamentos, acor<strong>do</strong>s, conexões, agenciamentos,colaborações, articulações <strong>de</strong> pessoas e instituições.Dessa forma, empresas, instituições e serviços públicostêm se organiza<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> novas configurações <strong>de</strong>serviços em re<strong>de</strong>s. Surgem, também, agrupamentos <strong>de</strong>movimentos sociais convergin<strong>do</strong> em re<strong>de</strong>s e atuan<strong>do</strong>em temas como justiça, meio ambiente, saú<strong>de</strong>, direitoshumanos, entre outros.O conceito mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> re<strong>de</strong> tem marca<strong>do</strong> presençana nova or<strong>de</strong>m econômica global e na organização <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> contemporâneo: "Conquanto as noções maistípicas <strong>do</strong> neoliberalismo – merca<strong>do</strong>, concorrência,privatização, individualismo, competitivida<strong>de</strong>, eficácia,eficiência, etc. – se mantenham e continuematé a assumir um lugar prepon<strong>de</strong>rante nos dias <strong>de</strong>hoje, a nova lógica reticular ou conexionista temvin<strong>do</strong> a incorporar outras noções, como as <strong>de</strong> re<strong>de</strong>,pacto, parceria, contrato, solidarieda<strong>de</strong>, inclusão,coesão social, entre outras, em torno <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al<strong>de</strong> colaboração, diálogo e consenso". 6O surgimento <strong>do</strong> pensamento sistêmico, na primeirameta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX, com a Teoria Geral <strong>do</strong>s Sistemas<strong>de</strong>senvolvida principalmente por Ludwig von Bertalanffy,além <strong>de</strong> representar uma revolução na história<strong>do</strong> pensamento científico oci<strong>de</strong>ntal, contribuiu para o<strong>de</strong>senvolvimento da noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> como organizaçãológica da vida. O pensamento sistêmico emerge comoarcabouço conceitual geral, para unificar várias disciplinascientíficas isoladas e fragmentadas. 7Aplica<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma pioneira na biologia e, posteriormente,na psicologia da gestalt e na ecologia, opensamento sistêmico é holístico e integra<strong>do</strong>r, opon<strong>do</strong>sefrontalmente ao pensamento mecanicista, reducionista,atomiza<strong>do</strong> e fragmentário. Entre essas matrizes<strong>de</strong> pensamento, há tensão entre as partes e o to<strong>do</strong>. Omecanicismo privilegia as partes, enquanto o sistêmico,o to<strong>do</strong>, pois o to<strong>do</strong> é mais <strong>do</strong> que a soma das partes.Capra 7 assinala: "De acor<strong>do</strong> com a visão sistêmica,as proprieda<strong>de</strong>s essenciais <strong>de</strong> um organismo, ousistema vivo são proprieda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> to<strong>do</strong>, que nenhumadas partes possui. Elas surgem das interaçõese das relações entre as partes. Essas proprieda<strong>de</strong>ssão <strong>de</strong>struídas quan<strong>do</strong> o sistema é disseca<strong>do</strong>, físicaou teoricamente, em elementos isola<strong>do</strong>s. Emborapossamos discernir partes individuais em qualquersistema, essas partes não são isoladas, e a natureza<strong>do</strong> to<strong>do</strong> é sempre diferente da mera soma <strong>de</strong> suaspartes". Po<strong>de</strong>mos inferir que as características-chaves<strong>do</strong> pensamento sistêmico são a mudança das partespara o to<strong>do</strong>, seus níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e a percepçãoda vida como re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações.A Teoria Geral <strong>do</strong>s Sistemas passou a ser aplicada àsteorias <strong>de</strong> administração, durante os anos 1960, comuma crescente difusão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s organizacionaisque enfocam as formas, vantagens e configurações <strong>de</strong>organizações em re<strong>de</strong>, intra e inter-organizacionais.A noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, <strong>de</strong> maneira geral, vem sen<strong>do</strong> i<strong>de</strong>alizadacomo um formato organizacional <strong>de</strong>mocráticoe participativo, segun<strong>do</strong> o qual as relações interinstitucionaiscaracterizam-se pela não-centralida<strong>de</strong>,não-hierarquização <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, ten<strong>de</strong>ntes à horizontalida<strong>de</strong>,complementarida<strong>de</strong> e abertas ao pluralismo<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. 888Epi<strong>de</strong>miol. 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Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> VasconcellosTrata-se <strong>de</strong> um arranjo organizacional, forma<strong>do</strong> porum grupo <strong>de</strong> atores que se articula para realizar objetivoscomplexos, inalcançáveis <strong>de</strong> forma isolada. Nessesenti<strong>do</strong>, os princípios fundamentais da aplicação <strong>do</strong>sconceitos <strong>de</strong> re<strong>de</strong> são a interação, o relacionamento,a ajuda mútua, o compartilhamento, a integração e acomplementarida<strong>de</strong>. 9Relevantes contribuições para a discussão <strong>do</strong> conceito<strong>de</strong> re<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser encontradas, também, nosescritos <strong>do</strong> pensa<strong>do</strong>r francês Edgar Morin, em seusestu<strong>do</strong>s sobre a complexida<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> esse autor,há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um pensamento que compreenda oconhecimento <strong>do</strong> to<strong>do</strong> e das partes como inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntee que examine fenômenos multidimensionais,em vez <strong>de</strong> isolar suas dimensões. Destarte, é precisosubstituir um pensamento que isola e separa por umpensamento que distingue e une. 11 Ou seja, um paradigmada complexida<strong>de</strong> que aspire ao conhecimentomultidimensional, oposto ao pensamento simplica<strong>do</strong>re mutila<strong>do</strong>r, que quer o uno e não o múltiplo, que caracterizou,inclusive, a formação da ciência mo<strong>de</strong>rna. 10"A visão simplificada diria: a parte está no to<strong>do</strong>. Avisão da complexida<strong>de</strong> diz: não apenas a parte estáno to<strong>do</strong>; o to<strong>do</strong> está na interior da parte que estáno interior <strong>do</strong> to<strong>do</strong>". 10A complexida<strong>de</strong> é, portanto, o que está junto, é oteci<strong>do</strong> composto por fios diferentes, que se transformamem uma só coisa, sem <strong>de</strong>struir, por outro la<strong>do</strong>,a varieda<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> daquilo que o tece. "Certamente,a ambição <strong>do</strong> pensamento complexo é darconta das articulações entre <strong>do</strong>mínios disciplinares,que são quebra<strong>do</strong>s pelo pensamento disjuntivo(que é um <strong>do</strong>s aspectos principais <strong>do</strong> pensamentosimplifica<strong>do</strong>r); este isola o que separa e oculta tu<strong>do</strong>que o liga, interage, interfere." 10No âmbito das ciências sociais existem autores quetratam da temática "re<strong>de</strong>s sociais". Contu<strong>do</strong>, a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais nasce mesmo na antropologia sociale a primeira aproximação po<strong>de</strong> ser atribuída a Lévi-Strauss, em sua análise etnográfica das estruturas <strong>de</strong>parentesco. Assim, o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> tem a ver coma concepção <strong>de</strong> algo que é construí<strong>do</strong> nas relações <strong>do</strong>cotidiano, como re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vizinhança, parentesco, amiza<strong>de</strong>.Ressaltam-se, neste campo, os estu<strong>do</strong>s das re<strong>de</strong>sprimárias, para indicar formas específicas <strong>de</strong> interaçãoentre os indivíduos <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s agrupamentos. 12Recentemente, por intermédio <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>sociólogo espanhol Manuel Castells, a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>ganha relevo. No primeiro volume ("A Socieda<strong>de</strong> das<strong>Re<strong>de</strong></strong>s") <strong>de</strong> sua obra "A era da informação: Economia,Socieda<strong>de</strong> e Cultura", o autor analisa a nova tendência<strong>do</strong> capitalismo, agora global, incrementa<strong>do</strong> pelasnovas tecnologias da informação e comunicação. Suapreocupação é caracterizar a dinâmica da socieda<strong>de</strong>na era da informação, pois a revolução da tecnologiae da informação vêm possibilitan<strong>do</strong> um arranjo emforma <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, em escala global. Como consequência,as re<strong>de</strong>s constituem a nova morfologia social da contemporaneida<strong>de</strong>.Essa nova estrutura social questionaa era industrial <strong>de</strong>senvolvida até então, pois o capitalse torna global e estrutura-se em torno <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong><strong>de</strong> fluxos financeiros. Em suas palavras: "o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong>sfluxos é mais importante que os fluxos <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r". 13Com o propósito <strong>de</strong> conceituar re<strong>de</strong>, Castells elegetrês principais componentes: um conjunto <strong>de</strong> nós interconecta<strong>do</strong>s;estruturas abertas <strong>de</strong> expansão ilimitada;e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser instrumento apropria<strong>do</strong> para ofuncionamento da economia capitalista. De acor<strong>do</strong> comseu pensamento, esse conjunto <strong>de</strong> nós interconecta<strong>do</strong>sé capaz <strong>de</strong> expandir-se integran<strong>do</strong> novos nós, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quehaja comunicação <strong>de</strong>ntro da re<strong>de</strong> e que os nós compartilhemos mesmos valores e objetivos. Para que a re<strong>de</strong>funcione e <strong>de</strong>sempenhe apropriadamente seu papel,<strong>do</strong>is <strong>de</strong> seus atributos são fundamentais: conectivida<strong>de</strong>,que é a capacida<strong>de</strong> estrutural <strong>de</strong> facilitar a comunicaçãosem ruí<strong>do</strong>s entre seus componentes; e coerência, quese refere à cooperação e ao compartilhar <strong>de</strong> objetivoscomuns entre os atores da re<strong>de</strong>.Percebe-se, assim, que o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> implicauma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceitos díspares, heterogêneos,liga<strong>do</strong>s uns aos outros por construtos comuns,tais como integração, nós, pontos, linhas, vínculos,conexão, que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> conceito a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>,ten<strong>de</strong> a consolidar a cultura da cooperação. 14No que tange à relação entre o termo re<strong>de</strong> e os serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no Brasil, é possível perceber mudanças<strong>de</strong> concepção, conforme <strong>de</strong>screvem Zambene<strong>de</strong>tti eSilva, 15 ao analisarem a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong>reforma sanitária e psiquiátrica <strong>do</strong> Brasil. Os autoresapontam, por exemplo, a importância da 3ª Conferência<strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS), realizada em 1963,on<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>bati<strong>do</strong>s os problemas <strong>de</strong> concentraçãopolítica, administrativa e geográfica <strong>do</strong>s dispositivosassistenciais, fazen<strong>do</strong> emergir a proposta <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> serviços médico-sanitários, cujapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização foi interrompida com o gol-Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201189


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)pe <strong>de</strong> 1964. "Em várias passagens <strong>de</strong>ssa Conferênciamenciona-se a palavra 're<strong>de</strong>' – re<strong>de</strong> hospitalar nacional,re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambulatórios, re<strong>de</strong> nosocomial, re<strong>de</strong>básica –, <strong>de</strong>signan<strong>do</strong> meramente um conjunto <strong>de</strong>serviços com características comuns. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> re<strong>de</strong>está fortemente vinculada à melhor distribuição<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, à constituição e ramificação<strong>de</strong>sses serviços pelo território nacional". 15Em 1977, nas discussões da 6ª CNS, na qual se falavaem expansão da assistência à saú<strong>de</strong>, a i<strong>de</strong>ia da articulaçãoentre os órgãos que executam ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>ganha relevo "não apenas como um mero conjunto<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> características semelhantes e bemdistribuí<strong>do</strong>s espacialmente, mas como um conjunto<strong>de</strong> serviços complementares uns aos outros, que<strong>de</strong>vem conformar um sistema, exigin<strong>do</strong> or<strong>de</strong>nação,normatização, racionalização. A re<strong>de</strong> confun<strong>de</strong>-secom a própria i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> 'sistema' ou <strong>de</strong> 'estrutura' eexpressa tanto o caráter <strong>de</strong> 'fazer circular' quanto o<strong>de</strong> 'controlar' a partir da articulação <strong>do</strong>s diferentesserviços situa<strong>do</strong>s nos estratos <strong>do</strong> sistema. Não setrata apenas <strong>de</strong> ter uma re<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> funcionar emre<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> articula<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista um viéstopológico-espacial". 15O SUS é, na verda<strong>de</strong>, uma gran<strong>de</strong>re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil, elaboradaem contraposição ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>assistência à saú<strong>de</strong> verticaliza<strong>do</strong>,fragmenta<strong>do</strong> e centraliza<strong>do</strong>, quecaracterizou a atuação em saú<strong>de</strong> porlongos anos.Nas 7ª e 8ª CNS (1980 e 1986), entretanto, ganhacorpo a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong> regionalizada e hierarquizada,ou seja, organizada em torno <strong>de</strong> um território espaciale em níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>. É esta a i<strong>de</strong>ia presentena construção <strong>do</strong> SUS, referenda<strong>do</strong> pela ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, conforme o seu artigo 198: "As açõese serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> integram uma re<strong>de</strong> regionalizadae hierarquizada e constituem um sistemaúnico, organiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as seguintes diretrizes:I – <strong>de</strong>scentralização, com direção única em cada esfera<strong>de</strong> governo; II – atendimento integral, com priorida<strong>de</strong>para as ativida<strong>de</strong>s preventivas, sem prejuízo <strong>do</strong>s serviçosassistenciais; III – participação da comunida<strong>de</strong>." 16O SUS é, na verda<strong>de</strong>, uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>do</strong> Brasil, elaborada em contraposição ao mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong> verticaliza<strong>do</strong>, fragmenta<strong>do</strong> ecentraliza<strong>do</strong>, que caracterizou a atuação em saú<strong>de</strong> porlongos anos. Ao longo da década <strong>de</strong> 1990, "foi possíveliniciar um processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> estruturaalternativa à lógica hierarquizada, marcada por<strong>de</strong>cisões centralizadas, típicas <strong>do</strong> "mo<strong>de</strong>lo INPS". Aarma mais eficiente para enfrentar a extrema verticalização<strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong>cisórias é sempre a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> re<strong>de</strong> que privilegia interações organizacionais". 17É no contexto da re<strong>de</strong> SUS que surge a <strong>Renast</strong>, cujopapel era unir e criar interações entre os serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Brasil e <strong>de</strong>maissegmentos da socieda<strong>de</strong> responsáveis e engaja<strong>do</strong>sna questão da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.Sobre o processo <strong>de</strong> construção da <strong>Renast</strong>– no <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1990, várias iniciativasforam tomadas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> consolidar a área <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no SUS. Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>stacadas:a realização da 2ª Conferência <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r, em 1994; a elaboração da Norma Operacional<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (Nost - Portaria3.908/98); a publicação da Portaria n° 3.120/98, queinstituiu a Instrução Normativa <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong><strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r; e da Portaria n° 1.339/99, que instituiua Listagem <strong>de</strong> Doenças Relacionadas ao Trabalho.Ao final da década, integrantes da área técnica (Cosat- Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r), abrigadana Secretaria <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Ministério daSaú<strong>de</strong>, formularam uma proposta para a constituição<strong>de</strong> uma <strong>Renast</strong>.Ten<strong>do</strong> em vista a dispersão das ações nos centrose programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, os técnicos daCosat propuseram a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> que agregasse,articulasse e integrasse os diversos programas eprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r distribuí<strong>do</strong>s nosesta<strong>do</strong>s e municípios brasileiros. Encontro ocorri<strong>do</strong>em Brasília, em agosto <strong>de</strong> 2000, com a participação<strong>de</strong> vários coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res e técnicos <strong>de</strong> programas,<strong>de</strong>bateu a criação da <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r. A estrutura apresentada e analisada noencontro propunha a organização em torno <strong>de</strong> núcleos<strong>de</strong> inteligência, em níveis nacional, estadual, regional,consorcial e municipal, os quais estabeleceriam re<strong>de</strong>s<strong>de</strong> formulações, informações, articulações, capacitações,estu<strong>do</strong>s, pesquisas e projetos estratégicos. 18A<strong>de</strong>mais, foi proposta a criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> virtual <strong>de</strong>90Epi<strong>de</strong>miol. Serv. 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Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Vasconcelloscomunicação, que contribuiria para consolidar a organizaçãoda re<strong>de</strong>. Uma das primeiras iniciativas nessadireção foi a criação <strong>do</strong> Info<strong>Re<strong>de</strong></strong>ST, um informativobimensal <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a "estabelecer um canal permanente<strong>de</strong> comunicação entre todas as instâncias <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r, tais como os centros, programase serviços municipais e estaduais <strong>do</strong> SUS, além<strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais setores com interesse nessas questõesou que venham participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> ações relacionadasà atuação na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, taiscomo universida<strong>de</strong>s, órgãos públicos, sindicatos eprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, entre outros". 19Preconizava-se também o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pesquisas multicêntricas concentradas em torno <strong>de</strong>eixos comuns e articula<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a evitar que seconstituíssem em experiências isoladas, pontuais e repetitivas.Era uma tentativa <strong>de</strong> integração entre projetosestratégicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r que vinham se<strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> em pesquisas dispersas pelo país, cujamesma fonte <strong>de</strong> financiamento não impedia a duplicação<strong>do</strong>s instrumentos e meios, sem qualquer controle.Uma vez configurada a re<strong>de</strong>, a Cosat, enquantocoor<strong>de</strong>nação técnica nacional, po<strong>de</strong>ria fortalecer cadaum <strong>do</strong>s projetos, particularmente, e seu conjunto, namedida em que impedisse sua duplicação, otimizan<strong>do</strong>a utilização <strong>de</strong> recursos financeiros e o intercâmbiotécnico-científico. 20A proposta original da <strong>Renast</strong> não se efetivou,contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> articulação naprópria estrutura ministerial. Até 2002 existiam duassecretarias no Ministério da Saú<strong>de</strong>: a Secretaria <strong>de</strong>Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SPS), na qual situava-se a Cosat,e a SAS, que abrigava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 uma assessoria <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> ocupacional. A fragmentação institucional no MSrefletia o próprio campo da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, cujadificulda<strong>de</strong> em estabelecer articulações e conexõeshavia suscita<strong>do</strong> o propósito <strong>de</strong> constituição da re<strong>de</strong>. 3Sem que fossem superadas as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>articulação interna, em 2002, e sob críticas <strong>de</strong>diversos setores – Cosat, Conass, CUT, entre outros–, por intermédio da Portaria n° 1.679/2002, foiinstituída a <strong>Renast</strong>, baseada na versão elaboradapela SAS. As críticas recaíam, principalmente, sobreo processo <strong>de</strong> elaboração, em que ficou patente a<strong>de</strong>sarticulação das áreas <strong>de</strong> política e assistência <strong>do</strong>MS e as divergências entre elas sobre o mo<strong>de</strong>lo dare<strong>de</strong>. Os técnicos da Cosat discordavam da tônicaassistencialista da <strong>Renast</strong>. 3Assim instituída, a <strong>Renast</strong>, textualmente, tinha opropósito <strong>de</strong> articular ações <strong>de</strong> promoção, prevençãoe recuperação da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res urbanos erurais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> vínculo empregatícioe tipo <strong>de</strong> inserção no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> formaregionalizada e hierarquizada. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se-ia<strong>de</strong> maneira articulada entre as esferas <strong>de</strong> governo (MSe secretarias estaduais e municipais) e a organização<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r articular-se-ia emtrês contextos: re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção básica e <strong>do</strong> programaSaú<strong>de</strong> da Família; re<strong>de</strong> <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r (estaduais e regionais); e ações na re<strong>de</strong>assistencial <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong>.Na <strong>Renast</strong>, os Cerest seriam serviços articula<strong>do</strong>resda re<strong>de</strong> e <strong>de</strong> retaguarda <strong>do</strong> SUS, conforme se lê notexto da Portaria n° 1.679. "Os Centros <strong>de</strong> Referênciaem Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>vem ser compreendi<strong>do</strong>scomo pólos irradia<strong>do</strong>res [...] assumin<strong>do</strong> a função<strong>de</strong> suporte técnico e científico [...]. Suas ativida<strong>de</strong>ssó fazem senti<strong>do</strong> se articuladas aos <strong>de</strong>mais serviçosda re<strong>de</strong> <strong>do</strong> SUS, orientan<strong>do</strong>-os e fornecen<strong>do</strong>retaguarda nas suas práticas, <strong>de</strong> forma que osagravos à saú<strong>de</strong> relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho possamser atendi<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>de</strong> atenção <strong>do</strong> SUS,<strong>de</strong> forma integral e hierarquizada. Em nenhumahipótese, os CRST po<strong>de</strong>rão assumir ativida<strong>de</strong>s queo caracterizem como porta <strong>de</strong> entrada <strong>do</strong> sistema<strong>de</strong> atenção". 21A Portaria n° 1.679, portanto, possibilitou a habilitação<strong>de</strong> centros <strong>de</strong> referência em to<strong>do</strong> o país.Especialmente por meio <strong>de</strong> incentivos financeiros,rubrica<strong>do</strong>s na alta complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> MS, gran<strong>de</strong> parte<strong>do</strong>s centros já existentes e outros tantos cria<strong>do</strong>s noperío<strong>do</strong> passaram a se habilitar na <strong>Renast</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>a receber um aporte mensal <strong>de</strong> recursos que se propunhaa financiar ações em sua área <strong>de</strong> abrangência,<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com critérios estabeleci<strong>do</strong>s na Portaria.Apesar <strong>de</strong>sse aporte financeiro e aumento <strong>de</strong> número<strong>de</strong> Cerest no Brasil, é possível dizer que a <strong>Renast</strong>,como estratégia <strong>de</strong> articulação das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no SUS, a par <strong>do</strong>s avanços, obteveresulta<strong>do</strong>s situa<strong>do</strong>s aquém das expectativas iniciais. 3,22Nos três anos seguintes, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetuarajustes e incorporar novas formas <strong>de</strong> atuação da<strong>Renast</strong> convergiu para a publicação da Portaria n°2.437/2005. O <strong>do</strong>cumento visava ampliar e fortalecera <strong>Renast</strong>, mediante: organização <strong>de</strong> serviços e municípios-sentinela;implementação <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> vigilância eEpi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201191


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)promoção da saú<strong>de</strong>; fortalecimento <strong>do</strong> controle social;e aumento <strong>do</strong> repasse financeiro.De acor<strong>do</strong> com o texto <strong>de</strong>ssa Portaria, o principalobjetivo da <strong>Renast</strong> seria integrar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços<strong>do</strong> SUS volta<strong>do</strong>s à assistência e à vigilância, a fim <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r. Dessemo<strong>do</strong>, os Cerests autuariam como unida<strong>de</strong>s especializadas<strong>de</strong> retaguarda técnica para as ações, conforme oanexo IV <strong>de</strong>ssa normativa. Nessa Portaria, foi a<strong>do</strong>tada,oficialmente, a nomenclatura <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> Referênciaem Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r, e recomendada sua <strong>de</strong>nominaçãoem to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração. 23Tanto a Portaria n° 1.679/2002 quanto a Portarian° 2.437/2005 estabeleciam a relação <strong>de</strong> profissionaisque <strong>de</strong>veriam compor os recursos humanos <strong>do</strong>s Cerest,fazen<strong>do</strong> parte da equipe médicos, enfermeiros, técnicos<strong>de</strong> segurança <strong>do</strong> trabalho, entre outros. A Portaria <strong>de</strong>2005 recomendava que os profissionais <strong>de</strong> nível superiorcomprovassem experiência (mínimo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos)em serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r ou especializaçãoem Saú<strong>de</strong> Pública ou Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação da Portaria n° 2.437ao Pacto pela Vida e <strong>de</strong> Gestão, <strong>de</strong> 2006, motivou a publicação<strong>de</strong> outra normativa: a Portaria n° 2.728/2009,que volta a dispor sobre a implementação da <strong>Renast</strong>. 24Em seu texto, ressalta a exigência <strong>de</strong> pactuação nascomissões intergestoras bipartite e tripartite (CIB eCIT), seguin<strong>do</strong> a lógica <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> sistema que buscao consenso interfe<strong>de</strong>rativo, consoante com o SUS.Contu<strong>do</strong>, várias iniciativas são elencadas na Portaria,como pontos <strong>de</strong> pactuação futura, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>realida<strong>de</strong>s contextuais muito distintas em nosso país.O fato vislumbra novas dificulda<strong>de</strong>s.A Portaria, todavia, mantém as mesmas diretrizes<strong>de</strong> inclusão, implementação e fomento da <strong>Renast</strong>, fatoque <strong>de</strong>monstra as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> implementação dasações propostas nas Portarias anteriores.Em síntese, a <strong>Renast</strong> é <strong>de</strong>finida como uma re<strong>de</strong>nacional <strong>de</strong> informação e práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, organizadacom o propósito <strong>de</strong> implementar ações assistenciais,<strong>de</strong> vigilância e <strong>de</strong> promoção, qualifican<strong>do</strong> a atenção àsaú<strong>de</strong> já exercida pelo SUS. Sua estrutura intenciona,a partir <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> referência, serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>retaguarda <strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong> e municípiossentinelaorganiza<strong>do</strong>s em torno <strong>de</strong> um da<strong>do</strong> território,estabelecer fluxos <strong>de</strong> atenção aos trabalha<strong>do</strong>res emto<strong>do</strong>s os níveis, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> articula<strong>do</strong> com as vigilânciassanitária, epi<strong>de</strong>miológica e ambiental. 1A organização <strong>de</strong> municípios-sentinela que propiciema produção, sistematização e disponibilização dainformação em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finida"a partir <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s epi<strong>de</strong>miológicos, previ<strong>de</strong>nciáriose econômicos, que indiquem fatores <strong>de</strong> riscossignificativos à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, oriun<strong>do</strong>s<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> trabalho em seus territórios" epactuada na CIB e na CIT, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Portaria n°2.728/2009.Até março <strong>de</strong> 2009, a <strong>Renast</strong> possuía 178 Ceresthabilita<strong>do</strong>s no Brasil, conforme essa mesma Portariaindica, 24 e diversos serviços médicos e ambulatoriais<strong>de</strong> média e alta complexida<strong>de</strong> constituintes da re<strong>de</strong>sentinela, responsáveis pelo diagnóstico <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças eaci<strong>de</strong>ntes relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho e pelo seu registrono Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Agravos <strong>de</strong> Notificação(Sinan), conforme preconiza a Portaria GM/MS n°777, <strong>de</strong> 28/04/04. 25Embora a <strong>Renast</strong> tenha si<strong>do</strong> concebida como re<strong>de</strong><strong>de</strong> informação, vigilância, capacitação, assistência,investigação, pesquisa, controle social, comunicaçãoe educação em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, sua trajetóriavem <strong>de</strong>notan<strong>do</strong> impasses e obstáculos para sua efetivaimplementação.Andra<strong>de</strong> e Kassawara, 22 em pesquisa <strong>de</strong> 2004,realizada em cinco Cerest regionais, três estaduais eum municipal, localiza<strong>do</strong>s em três esta<strong>do</strong>s brasileiros,verificaram concentração na assistência, inexistência<strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> capacitação, inexistência <strong>de</strong> um sistema<strong>de</strong> informação e falta <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> comunicação,entre outros problemas aponta<strong>do</strong>s pelos membrosentrevista<strong>do</strong>s nesses centros.Noutra pesquisa, realizada em 2006, em váriosmunicípios <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> da Bahia, gran<strong>de</strong> parte dasativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s Cerest se concentravam em "consultasem medicina <strong>do</strong> Trabalho". 26Em 2008, um encontro realiza<strong>do</strong> no Norte Fluminenseevi<strong>de</strong>nciou alguns pontos críticos na região:escassez <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> vigilância em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,baixa articulação intra-setorial, inexistência <strong>de</strong> pactosintersetoriais e baixa comunicação em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rentre os municípios da região. 27A análise <strong>de</strong> algumas normativas da <strong>Renast</strong> permiteperceber tentativas <strong>de</strong> mudanças para engendrar maioresarticulações no contexto da <strong>Re<strong>de</strong></strong>. Por exemplo, aPortaria n° 1.679 faz alusão a uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>caráter mais intra-setorial; já a 2.437 e a 2.728 ampliamessa visão sob uma lógica <strong>de</strong> re<strong>de</strong> intra e inter-setorial.92Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 2011


Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> VasconcellosTodavia, os exemplos acima cita<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstrama dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> ações em re<strong>de</strong>apenas por medidas normativas, sem maior participaçãodas partes envolvidas no processo, inclusive asrepresentações <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res.São ainda escassos os trabalhos analíticos sobrea estruturação e funcionamento da <strong>Renast</strong>. Com ainformação acumulada no convívio com profissionaise atores da área técnica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong>MS e <strong>do</strong>s Cerest, e a análise <strong>de</strong> textos e <strong>do</strong>cumentosrelaciona<strong>do</strong>s à <strong>Renast</strong>, é possível, entretanto, discutiro esta<strong>do</strong> das práticas da <strong>Renast</strong>.DiscussãoTen<strong>do</strong>-se refleti<strong>do</strong> sobre o senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> dapalavra re<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>scrição da <strong>Renast</strong>, discute-se aquia relação entre o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> e a configuraçãoda <strong>Renast</strong> – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta não tem atua<strong>do</strong>, a rigor, naperspectiva <strong>de</strong> re<strong>de</strong>. A <strong>Renast</strong>, assim, encontra dificulda<strong>de</strong>sem sua estruturação como re<strong>de</strong>. Para se chegar aessa conclusão, nossa reflexão se baseia nos seguintespontos <strong>de</strong> crise da <strong>Renast</strong>: 1) a ausência <strong>de</strong> uma concepção<strong>de</strong> integralida<strong>de</strong>; 2) a ênfase <strong>de</strong>sproporcionalem uma das partes da atenção – o assistencialismo; 3)a ausência <strong>de</strong> mecanismos visceralmente mais sóli<strong>do</strong>se compulsórios <strong>de</strong> articulação e comunicação; 4) aheterogeneida<strong>de</strong> da inserção institucional <strong>do</strong>s centros<strong>de</strong> referência; 5) o reconhecimento impróprio <strong>do</strong>smembros <strong>do</strong>s Cerest em relação a seu papel; e 6) aausência <strong>de</strong> uma missão estruturante. Vejamos um aum <strong>de</strong>sses pontos.1) A ausência <strong>de</strong> umaconcepção <strong>de</strong> integralida<strong>de</strong>O SUS tem como um <strong>de</strong> seus prima<strong>do</strong>s <strong>do</strong>utrináriosa questão da integralida<strong>de</strong>. De um la<strong>do</strong>, sua i<strong>de</strong>ia éfundamentada no contraponto ao mo<strong>de</strong>lo teóricoconceitualfragmenta<strong>do</strong>r e redutor da saú<strong>de</strong> à biologia,ao cuida<strong>do</strong> segmenta<strong>do</strong> e ao mo<strong>de</strong>lo assistencialhospitalocêntrico; 28 <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, "o princípio daintegralida<strong>de</strong> tem repercussões sobre o arranjo dasinstituições governamentais voltadas para formulare implementar as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>". 29Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a <strong>Renast</strong> preten<strong>de</strong> ser uma re<strong>de</strong><strong>de</strong> atenção integral, seus pilares estrutura<strong>do</strong>res dasações e serviços <strong>de</strong>veriam buscar, mais claramente,contrapor-se ao mo<strong>de</strong>lo fragmenta<strong>do</strong>r, inserin<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>forma mais ostensiva na formulação das políticas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> voltadas aos trabalha<strong>do</strong>res. Nessa perspectiva,a <strong>Renast</strong> <strong>de</strong>veria atuar como estratégia estruturante <strong>de</strong>ações e serviços menos assenta<strong>do</strong>s no mo<strong>de</strong>lo assistenciale mais nas práticas <strong>de</strong> vigilância da saú<strong>de</strong>, naatenção primária, na educação popular e na educaçãopermanente <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>como um to<strong>do</strong>, para ficar em alguns.Para ser coerente com a integralida<strong>de</strong>, a <strong>Renast</strong><strong>de</strong>ve à <strong>do</strong>utrina um comportamento holístico sobreas relações saú<strong>de</strong>-trabalho que, embora a Lei regente<strong>do</strong> SUS tenha aponta<strong>do</strong>, não foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>.Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar, entre as ativida<strong>de</strong>s previstas naLei Orgânica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a vigilância epi<strong>de</strong>miológicae sanitária, a promoção, a proteção, a assistência, arecuperação, a reabilitação, a realização <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s,pesquisas, avaliação e controle <strong>do</strong>s riscos e agravospotenciais, a normatização, a fiscalização e o controleda produção, a avaliação <strong>de</strong> impactos tecnológicos,a comunicação e informação sobre os riscos, a normatização,fiscalização e controle <strong>do</strong>s serviços nasinstituições e empresas públicas e privadas, a revisãoperiódica da listagem oficial <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças e, finalmente,a postura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r público garanti<strong>do</strong>r da recusa aotrabalho em situação <strong>de</strong> risco iminente à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res. 30A Portaria n° 2.728, <strong>de</strong> certa forma, aponta nadireção da integralida<strong>de</strong> ao preconizar a implantaçãodas ações <strong>de</strong> promoção, assistência e vigilânciaem saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r na re<strong>de</strong> SUS, inclusiveindican<strong>do</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> instrumentos quepossam favorecer a integralida<strong>de</strong>. Entretanto, a ênfaseda <strong>Renast</strong> tem se volta<strong>do</strong> ao assistencialismo, comoveremos adiante.2) A ênfase <strong>de</strong>sproporcional em umadas partes da atenção – o assistencialismoLourenço e Bertani 31 afirmam que apesar <strong>do</strong> camposaú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r ter si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> com a participação<strong>de</strong> vários atores sociais e políticos e <strong>de</strong> tersi<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> no plano legal, não foram efetivadasnovas práticas para além da assistência médica, salvoalgumas ações inusitadas, todavia focais. Embora seperceba, em algumas regiões, ações efetivas <strong>de</strong> vigilânciae capacitação, por exemplo, a tônica <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<strong>Renast</strong> recaiu sobre a assistência, conforme o própriotexto <strong>de</strong> sua fundação: Portaria n° 1.679; e o manual<strong>de</strong> gestão da <strong>Renast</strong>, <strong>de</strong> 2006.Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201193


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)A ênfase na assistência médica caracterizou a organizaçãoda <strong>Renast</strong> como favorece<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> uma lógicamecanicista (lógica das partes), em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> umaperspectiva holística (lógica <strong>do</strong> to<strong>do</strong>) mais condizentecom a real efetivação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> sua formulação,a ênfase assistencial refletia o financiamentoda <strong>Renast</strong> origina<strong>do</strong> na rubrica da alta complexida<strong>de</strong>ministerial. Uma tendência ao pre<strong>do</strong>mínio das ações<strong>de</strong> assistência em <strong>de</strong>trimento das ações <strong>de</strong> vigilânciae promoção da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>,impediu uma vocação <strong>de</strong> cunho mais preventivo. Seum <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fator componente da estrutura dare<strong>de</strong> retém maior ênfase, afrouxam-se os laços comoutros fatores, comprometen<strong>do</strong> a estrutura reticular.No processo <strong>de</strong> elaboração da Portaria n°1.679/2002, o foco assistencial da <strong>Renast</strong> já eraassinala<strong>do</strong>: "Apesar das críticas e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sencontrosinstitucionais observa<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> elaboração<strong>de</strong>sse instrumento, em particular à ênfase nasações assistenciais, a portaria foi apoiada pelosprofissionais e técnicos <strong>do</strong>s CRST e setores <strong>do</strong> movimento<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, que reconheceram nainiciativa uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> institucionalizaçãoe fortalecimento da Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r, no SUS". 32Nessa linha, a <strong>Renast</strong> passou a ser confundida comuma nova re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rparalela à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> já existente no SUS.No anúncio ministerial feito por ocasião <strong>do</strong> lançamentoda Portaria n° 1.679/2002, no Informe Saú<strong>de</strong>, ano VI,nº 182, <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002, lia-se: "Trabalha<strong>do</strong>resterão re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência no SUS". 33 Além da ênfasena assistência, o anúncio <strong>de</strong>nota uma perspectiva <strong>de</strong>compartimentalização e distanciamento das práticascorrentes da re<strong>de</strong> SUS.Conforme informações <strong>do</strong> próprio sítio eletrônicooficial <strong>do</strong> MS, acessadas no início <strong>de</strong> 2009,por exemplo, "os Centros <strong>de</strong> Referência prestamassistência aos trabalha<strong>do</strong>res que a<strong>do</strong>ecem ou seaci<strong>de</strong>ntam, promovem, protegem e recuperam ostrabalha<strong>do</strong>res, além <strong>de</strong> investigar as condições <strong>de</strong>segurança <strong>do</strong>s ambientes <strong>de</strong> trabalho". 34O Manual <strong>de</strong> Gestão e Gerenciamento da <strong>Renast</strong>,lança<strong>do</strong> em 2006 pelo MS, corrobora esse entendimentoao atribuir aos Cerest "ações assistenciaisindividuais, como atendimento, acolhimento <strong>do</strong>usuário, consultas, exames e orientações". 35A própria <strong>de</strong>nominação 'centro <strong>de</strong> referência',presente nas normativas da <strong>Renast</strong> (Portarias n° 1.679,2.437 e 2.728), carrega um senti<strong>do</strong> organizacional<strong>de</strong> perspectiva ambulatorial e curativa, ou mesmo <strong>de</strong>centro especializa<strong>do</strong> em tratamentos. A lógica assistencialistae o enfoque 'medicocêntrico', provenientesda cultura da <strong>do</strong>ença, por certo, está por trás <strong>de</strong>ssanomenclatura. O mo<strong>de</strong>lo favorece a convergência <strong>de</strong>ações assistenciais em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r para oscentros <strong>de</strong> referência e impe<strong>de</strong> a dispersão das açõessistêmicas a partir <strong>do</strong>s centros, na medida em que osserviços <strong>do</strong> SUS <strong>de</strong>mandam aos Cerest o atendimentoaos aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>entes <strong>do</strong> trabalho. Uma <strong>de</strong>sejadaação centrífuga para consolidar a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rno SUS acaba em ação centrípeta, que favorece oisolamento e a imobilida<strong>de</strong>.No ano 2000, a proposta original da <strong>Renast</strong>, formuladapela Cosat, estruturava não centros <strong>de</strong> referência esim núcleos <strong>de</strong> inteligência que fomentariam políticaslocais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, agregan<strong>do</strong> agentes esetores intra e inter-institucionais, atores e movimentossociais e instâncias públicas em torno da relaçãosaú<strong>de</strong>-trabalho, nos processos produtivos <strong>do</strong> seu raio<strong>de</strong> abrangência.Os técnicos da Cosat que se contrapunham à ênfaseno assistencialismo, à época da publicação da Portarian° 1.679/2002, emitiram parecer sobre esta, na qualassim se expressavam: "em síntese, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>atenção a partir da estruturação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> referência,funcionou e vem funcionan<strong>do</strong>, como porta<strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> casos e, muitas vezes, como clínicas<strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalho". 36Ainda que as Portarias n° 1.679, 2.437 e 2.728 proíbamexpressamente que os Cerests assumam funçõescorrespon<strong>de</strong>ntes aos Serviços Especializa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Segurançae Medicina <strong>do</strong> Trabalho, ou funcionem comoporta <strong>de</strong> entrada <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a nomenclaturae mo<strong>de</strong>lo Cerest favorece a ênfase na atuação maisassistencial que preventiva, principalmente em regiõeson<strong>de</strong> o controle social em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r estejaenfraqueci<strong>do</strong>, e os Cerests <strong>de</strong>sarticula<strong>do</strong>s em relaçãoàs estruturas das secretarias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.A Portaria GM/MS n° 1.956, <strong>de</strong> 14/08/2007, quedispõe sobre a coor<strong>de</strong>nação das ações relativas à saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no âmbito <strong>do</strong> Ministério da Saú<strong>de</strong>,<strong>de</strong>termina que a gestão e a coor<strong>de</strong>nação das ações<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r promovi<strong>do</strong>s pelo MS sejamexercidas pela Secretaria <strong>de</strong> Vigilância em Saú<strong>de</strong>. Estamudança, <strong>de</strong> cunho institucional, na área técnica daSaú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> representar um avanço na94Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 2011


Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Vasconcellosproposição das ações da <strong>Renast</strong>, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> auxiliarna implementação <strong>de</strong> ações sistemáticas <strong>de</strong> vigilânciaem saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r em <strong>de</strong>trimento das assistenciais,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das configurações regionaison<strong>de</strong> estejam inseri<strong>do</strong>s <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s Cerests. 373) A ausência <strong>de</strong> mecanismosvisceralmente mais sóli<strong>do</strong>s ecompulsórios <strong>de</strong> articulação e comunicaçãoA ligação entre os Cerest, cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicaçãoem re<strong>de</strong>, fazen<strong>do</strong>-os dialogar, permite a amplacirculação <strong>de</strong> informação e estabelece mecanismos<strong>de</strong> cooperação entre si, não é i<strong>de</strong>ntificada na <strong>Renast</strong>.A parceria e a conectivida<strong>de</strong> são ainda incipientes e<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ações voluntaristas <strong>de</strong> alguns técnicos<strong>de</strong>ssas instâncias. Nos últimos anos, foram realiza<strong>do</strong>salguns encontros, conferências e eventos sobre temas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r promovi<strong>do</strong>s pela coor<strong>de</strong>naçãonacional e pelos próprios Cerest, sem qualquer garantia<strong>de</strong> comunicação contínua e sistemática entre eles.Apesar das atuais possibilida<strong>de</strong>s oferecidas pelainformática, <strong>de</strong> rapi<strong>de</strong>z na comunicação e na estocageme circulação da informação, o que po<strong>de</strong>conferir eficácia às re<strong>de</strong>s, 11 entre os Cerest, não severificam mecanismos efetivos <strong>de</strong> comunicação coma missão <strong>de</strong> conectá-los permanentemente entre si. Ofato favorece o isolamento e o distanciamento entreesses serviços.Dissemina<strong>do</strong>s pelo território brasileiro, os centroscomponentes <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>Renast</strong> parecem manter suai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong> tão somente na uniformizaçãoda nomenclatura Cerest, cujas ativida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>suniformes,erráticas e inconsistentes, no senti<strong>do</strong> daconsolidação da política.O que se observa é um conjunto <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sarticula<strong>do</strong>s, sem efetivida<strong>de</strong>e sem constituir uma re<strong>de</strong>, sob a perspectiva sistêmica.Como vimos, o pensamento sistêmico consi<strong>de</strong>ra quenas partes isoladas umas das outras, não são encontradasas proprieda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> to<strong>do</strong>: "a natureza <strong>do</strong> to<strong>do</strong>é sempre diferente da mera soma <strong>de</strong> suas partes". 7O conjunto <strong>do</strong>s Cerest, no Brasil, não configura umsistema reticular e sim, tão-somente, um somatório<strong>de</strong> partes isoladas, <strong>de</strong>sconectadas e dispersas entre si,em que a lógica sistêmica não impera. De acor<strong>do</strong> comCastells, 13 sem conectivida<strong>de</strong> e coerência não existere<strong>de</strong>. É o caso <strong>do</strong>s Cerest, componentes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>relevância na <strong>Renast</strong>. Segun<strong>do</strong> a Portaria n° 2.728,inclusive, a implementação da <strong>Renast</strong> dar-se-ia pormeio da "estruturação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Centros Referênciaem Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r, entre outras ações,elencadas no texto". 24Des<strong>de</strong> o início da <strong>Renast</strong>, algumas iniciativas foramtomadas pelo MS no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabelecer mecanismos<strong>de</strong> informação e articulação, ainda que tímidas.Uma <strong>de</strong>las foi a criação <strong>do</strong> Observatório <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r em parceria com a Organização Panamericanada Saú<strong>de</strong>, que atendia a <strong>de</strong>mandas antigas como:organizar uma inteligência central para a <strong>Renast</strong>; estabelecerindica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e eventossentinela; e, entre outros, estabelecer indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>gestão e <strong>de</strong> avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s dispositivosda <strong>Renast</strong>. Segun<strong>do</strong> informações <strong>do</strong> próprio sítio eletrônico,38 em fevereiro <strong>de</strong> 2009, o observatório haviasi<strong>do</strong> visita<strong>do</strong> 86.121 vezes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003(1.360 visitas por mês, em média). Porém, só haviainformações sobre a <strong>Renast</strong> referentes ao ano <strong>de</strong> 2003.Mesmo <strong>de</strong>pois da publicação da Portaria <strong>de</strong> 2005, nãohavia si<strong>do</strong> inseri<strong>do</strong> algo novo. Por exemplo, no quadro"Envie-nos sua experiência", havia apenas um relato.Essa escassez <strong>de</strong> participação aponta para a ausência<strong>de</strong> intercâmbio, a fraca articulação e, enfim, a falta <strong>de</strong>uma perspectiva <strong>de</strong> re<strong>de</strong> entre os atores institucionaisda <strong>Renast</strong>.A criação da Biblioteca Virtual em Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r,outra iniciativa, po<strong>de</strong> contribuir para a pesquisa,disponibilizan<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s e outros recursos paraatualização das equipes <strong>do</strong>s Cerest e pesquisa<strong>do</strong>res daárea. Porém, a difusão <strong>de</strong> material na internet não ésuficiente para a estruturação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong>: "A ênfasena articulação, na comunicação e no financiamentoprecisa culminar num estágio superior, que é o<strong>do</strong> trabalho permanente da re<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong>,para além <strong>do</strong>s momentos ocasionais <strong>de</strong> reuniões eda mera difusão pela Internet". 39Em matéria <strong>de</strong> comunicação, o Ministério da Saú<strong>de</strong>,em 2007, <strong>de</strong>senvolveu um informativo <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>COSAT Informa! ..., com o objetivo <strong>de</strong> "orientar emanter informadas as equipes <strong>do</strong>s Centros <strong>de</strong> Referênciaem Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r sobre as ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, bem comosobre temas relevantes relaciona<strong>do</strong>s à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r". 40Inicia<strong>do</strong> em janeiro <strong>de</strong> 2007, o informativo tevecinco edições que funcionaram como um jornal muralpara os Cerest. A estratégia durou pouco tempo,Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 201195


<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)até a última edição, no mês <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> mesmo ano.Embora tenha si<strong>do</strong> uma boa iniciativa, são necessáriosoutros mecanismos horizontais <strong>de</strong> comunicação, maiscondizentes com a noção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>.Por certo, a disponibilização <strong>de</strong> recursos financeirosmensais da <strong>Renast</strong> para o funcionamento <strong>do</strong>sCerest <strong>de</strong>veria estabelecer mecanismos mais orgânicos<strong>de</strong> articulação e comunicação, exigin<strong>do</strong> contrapartidas<strong>de</strong> cada nível local nessa direção. A ausência <strong>de</strong>indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> re<strong>de</strong> éum fator central <strong>do</strong> problema. A tendência tem si<strong>do</strong><strong>de</strong> exigir indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong>s Cerest na linhaassistencial, o que agrava o problema.4) A heterogeneida<strong>de</strong> da inserçãoinstitucional <strong>do</strong>s centros <strong>de</strong> referênciaA falta <strong>de</strong> padronização da inserção <strong>do</strong>s Cerest nassecretarias estaduais e municipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ainda é umponto crítico da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no SUS, uma vezque, com a criação e implantação da <strong>Renast</strong>, persistemproblemas <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m.Ainda nos anos <strong>de</strong> 1999 e 2000, foi feita pela Cosat,por meio <strong>do</strong> informativo em re<strong>de</strong> (Info<strong>Re<strong>de</strong></strong>ST), umatentativa <strong>de</strong> levantamento da inserção institucional <strong>do</strong>sprogramas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, estima<strong>do</strong>s em 150à época. Seu objetivo era, a partir <strong>de</strong> um diagnóstico,avançar na padronização das estruturas que, inseridasem inúmeros locus, não guardavam qualquer coerênciapolítico-institucional entre si.Havia, ainda, uma discrepância <strong>de</strong> <strong>de</strong>nominaçõesque refletia, concretamente, a falta <strong>de</strong> uma perspectivacomum e integra<strong>do</strong>ra. 19 A questão se reportava aos primeirosprogramas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r da década<strong>de</strong> 1980, que surgiram como experiências isoladas e<strong>de</strong>sconectadas entre si.As inserções <strong>do</strong>s programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,anteriores à criação da <strong>Renast</strong>, eram muitovariadas, ora em setores <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica,<strong>de</strong> Vigilância Sanitária, da <strong>Re<strong>de</strong></strong> Assistencial, e mesmoliga<strong>do</strong>s diretamente à gestão.Com a <strong>Renast</strong>, as diversas <strong>de</strong>signações <strong>do</strong>s programas,como coor<strong>de</strong>nação, <strong>de</strong>partamento, divisão,núcleo, centro, entre outras, foi padronizada comoCerest, embora alguns centros ainda exibam outra<strong>de</strong>nominação, tais como o Cesat (Bahia) e o Nusat(Rio <strong>de</strong> Janeiro). Contu<strong>do</strong>, a esperada padronização<strong>de</strong> sua inserção institucional não ocorreu. O fato<strong>de</strong> as secretarias estaduais e municipais possuíremestruturas organizacionais bastante distintas entre sinão justifica a ausência <strong>de</strong> uma padronização mínima.A recomendação da Portaria n° 2.437 para a a<strong>do</strong>çãoda nomenclatura Cerest por parte <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s daFe<strong>de</strong>ração po<strong>de</strong> ser uma tentativa na direção da padronização.Porém, tanto esta Portaria da <strong>Renast</strong> quantoas outras, 1.679 e 2.728, não <strong>de</strong>terminam a inserçãopadrão <strong>do</strong>s Cerest.Desse mo<strong>do</strong>, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> a <strong>de</strong>signação Centro <strong>de</strong>Referência em Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r ter si<strong>do</strong> oficializada,não houve a homogeneização da inserção <strong>do</strong>sCerest nas estruturas <strong>do</strong> SUS. Os Cerest continuamvincula<strong>do</strong>s a distintas áreas <strong>do</strong> setor Saú<strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong>repercutir na gestão <strong>do</strong>s centros, trazen<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>sà integração institucional e, mesmo, à organização dasações, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua inserção.Trata-se <strong>de</strong> um ponto crítico para além da governabilida<strong>de</strong>da própria <strong>Renast</strong>, que <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> àsinstâncias <strong>de</strong> pactuação <strong>do</strong> SUS como parte da políticanacional para a área, o que é, isso sim, função da <strong>Renast</strong>.É preciso refletir sobre qual tipo <strong>de</strong> estruturaçãoda área po<strong>de</strong>ria melhor dar conta da complexida<strong>de</strong>da atenção à saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r. Conhecen<strong>do</strong>-seo <strong>de</strong>senho organizativo das estruturas existentes,po<strong>de</strong>-se a<strong>do</strong>tar um mo<strong>de</strong>lo mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> às diversasrealida<strong>de</strong>s, segun<strong>do</strong> a articulação em re<strong>de</strong>, o que atéhoje não foi realiza<strong>do</strong>. As inserções diferenciadas naestrutura <strong>do</strong> SUS, seja na assistência, na vigilânciaou em gerências diversas acarretam disparida<strong>de</strong>s nautilização <strong>do</strong>s recursos, na autonomia <strong>de</strong>cisória, noalcance das ações e nos níveis <strong>de</strong> interlocução intrae intersetoriais. 35) O reconhecimento <strong>do</strong>smembros <strong>do</strong>s Cerest em relação a seu papelConsi<strong>de</strong>ramos que, <strong>de</strong> uma maneira geral, existe umreconhecimento ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>s profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> inseri<strong>do</strong>s nos centros <strong>de</strong> referência da<strong>Renast</strong>. Não parece haver clareza da missão institucionalda <strong>Renast</strong>, ao contrário <strong>de</strong> outras re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>de</strong> âmbito nacional que "já superaram esta etapa <strong>do</strong><strong>de</strong>bate estrutural, como os programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> damulher, da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so, entreoutros, que concentram sua atuação no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e não na criação <strong>de</strong>instâncias executoras <strong>de</strong> ações assistenciais". 3Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a capacida<strong>de</strong> instalada da re<strong>de</strong>SUS é a responsável pelo atendimento da população,96Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 2011


Luís Henrique da Costa Leão e Luiz Carlos Fa<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Vasconcellosinclusive trabalha<strong>do</strong>ra, as estratégias <strong>de</strong> implementação<strong>de</strong> políticas públicas, como a <strong>Renast</strong>, por exemplo,<strong>de</strong>vem se pautar em "ações <strong>de</strong> inteligência da gestão,no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aprimorar as ações assistenciais,sim, mas também encontrar soluções para outrasquestões como normatização, informação, ensino,pesquisa, relações sociais e intersetoriais, <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> novas políticas". 3 A rigor, os profissionais <strong>do</strong>sCerest não atuam nessa linha, na parcela que lhescompete. É evi<strong>de</strong>nte que o problema não resi<strong>de</strong> nosprofissionais em si mas na própria fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>smecanismos <strong>de</strong> capacitação da <strong>Renast</strong>.Há uma tendência, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar comolouvável, <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong>s Cerest estabeleceremestratégias <strong>de</strong> acolhimento <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res. Ocorreque o acolhimento individualiza<strong>do</strong>, similar à assistênciaambulatorial comum, ten<strong>de</strong> a criar mais problemas<strong>do</strong> que soluções. Analisan<strong>do</strong> o trabalho <strong>do</strong> assistentesocial no campo da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, LúciaFreire, em sua tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> (1998), observa:"O assistente social, potencialmente, tanto po<strong>de</strong>contribuir para reforçar a alienação – no avesso <strong>do</strong>seu discurso humanista tradicional – como tambémpara elucidar e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar mediações em relaçãoa situações e processos sociais, no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seuentendimento mais amplo – no local <strong>de</strong> trabalho ena socieda<strong>de</strong> – e na direção <strong>do</strong> enfrentamento dascontradições, expressas na realida<strong>de</strong> cotidiana, posiçãoque tenho <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> avesso <strong>do</strong> avesso". 41Nessa linha, o profissional promotor da atençãointegral, seja o assistente social, o médico, o psicólogo,o fonoaudiólogo, entre os <strong>de</strong>mais membros<strong>do</strong>s Cerest, po<strong>de</strong> cair nessa armadilha <strong>do</strong> avesso <strong>do</strong>discurso. O contraponto à alienação <strong>de</strong>sse discursopassa pela revisão <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>s Cerest e da própria<strong>Renast</strong> como um to<strong>do</strong>, "na medida <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> fazer mediações com o coletivo <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res,sinalizan<strong>do</strong> para a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção sobreos processos <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong>s problemas. Buscar,enfim, o avesso <strong>do</strong> avesso". 36) A ausência <strong>de</strong> uma missão estruturanteA <strong>Renast</strong> é entendida como uma estratégia <strong>de</strong>implementação das ações e serviços no SUS, comrespeito às relações saú<strong>de</strong>-trabalho. Historicamente,a responsabilida<strong>de</strong> pública no trato com as questões<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no trabalho esteve à margem das políticas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e <strong>do</strong> aparato institucional da Saú<strong>de</strong>.A inclusão da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no espectro <strong>de</strong>atuação <strong>do</strong> SUS buscou trazer para seu âmbito essanova responsabilida<strong>de</strong> pública, cuja implementação<strong>de</strong> ações e serviços afins <strong>de</strong>veria acompanhar a construção<strong>do</strong> próprio sistema. Consi<strong>de</strong>ramos que esse é oobjetivo maior da <strong>Renast</strong>, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> auxiliar o SUSa se tornar apto a lidar com essas questões inéditas emseu cardápio executivo.A <strong>Renast</strong> não <strong>de</strong>ve ser entendida como uma estruturaperene, ou como um fim em si mesmo. É factívelcompreen<strong>de</strong>r que o êxito da missão estruturante dasações e serviços no sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>cretará o fimda necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir da <strong>Renast</strong>. Uma vez que a<strong>do</strong>ença e o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho sejam vistos peloSUS como agravos epi<strong>de</strong>miológicos <strong>de</strong> interesse dasaú<strong>de</strong> pública, que os sistemas <strong>de</strong> informações geremindica<strong>do</strong>res fiéis da realida<strong>de</strong>, que a vigilância sanitáriainclua o trabalho como categoria central a serobservada, que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como umto<strong>do</strong>, sejam capazes <strong>de</strong> reconhecer o trabalho como<strong>de</strong>terminante <strong>do</strong> processo saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença e que a gestão<strong>do</strong> SUS reconheça a magnitu<strong>de</strong>, a relevância e atranscendência <strong>do</strong> tema para um agir responsável emsaú<strong>de</strong> pública, estará concluída a missão da <strong>Renast</strong>.As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão da <strong>Renast</strong> com essesenti<strong>do</strong> <strong>de</strong>correm, em gran<strong>de</strong> parte, da própria atuação<strong>do</strong> SUS como um "sistema não sistêmico", 3 cuja missãoconstitucional <strong>de</strong> interpenetrar as <strong>de</strong>mais políticas públicas<strong>de</strong> interesse da saú<strong>de</strong> não é obe<strong>de</strong>cida. É com esseespírito que vemos a <strong>Renast</strong>, com uma missão provisóriana construção <strong>do</strong> SUS mas com um potencial inova<strong>do</strong>r<strong>de</strong> contribuição para atuações mais sistêmicas, tanto naperspectiva intra-setorial quanto intersetorial.O papel estruturante intra-setorial é bem evi<strong>de</strong>nte,aplican<strong>do</strong>-se às inúmeras variáveis <strong>de</strong> atenção no setorSaú<strong>de</strong> propriamente dito. Seja na atenção básica, namédia e alta complexida<strong>de</strong>, nas diversas vigilâncias,seja na educação permanente ou nas distintas políticasespecíficas, e ainda no controle social, a <strong>Renast</strong> é oponto focal <strong>de</strong> introjeção da relação saú<strong>de</strong>-trabalhonas práticas correntes <strong>do</strong> SUS.Na questão da intersetorialida<strong>de</strong>, a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,necessariamente, só avançará com a implicaçãodas diversas estruturas <strong>do</strong> aparelho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e dasocieda<strong>de</strong> que lhes dizem respeito – direto e indireto– no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas públicas e privativas.O <strong>de</strong>staque, nessa questão, fica por conta da socieda<strong>de</strong>organizada representativa <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, em cujoEpi<strong>de</strong>miol. Serv. 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<strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong> à Saú<strong>de</strong> (<strong>Renast</strong>)comprometimento com a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r noSUS resi<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> cultura eperenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas ações e serviços.Enfim, a <strong>Renast</strong> não <strong>de</strong>ve ser estruturante <strong>de</strong> siprópria em que seus centros passem a se ver inseri<strong>do</strong>sno SUS, em uma perspectiva <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> serviçosensimesma<strong>do</strong>s.Consi<strong>de</strong>rações finaisÉ possível dizer que no contexto da <strong>Renast</strong> há umculto à palavra re<strong>de</strong>, e não uma cultura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>.A falta <strong>de</strong> comunicação entre os Cerests, poucasarticulações intra e intersetoriais e o pre<strong>do</strong>mínio daconcepção assistencialista em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>revi<strong>de</strong>nciam o embasamento mecanicista, segmenta<strong>do</strong>e fragmenta<strong>do</strong> da <strong>Renast</strong>. A lógica das partes prevalece.Para avançar na perspectiva da re<strong>de</strong>, a <strong>Renast</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><strong>de</strong> uma matriz diferente, calcada em uma lógica<strong>do</strong> to<strong>do</strong>, na perspectiva sistêmica, integraliza<strong>do</strong>ra etotaliza<strong>do</strong>ra.O caminho para o avanço da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rno Brasil é a construção <strong>de</strong> estruturas condizentescom o paradigma sistêmico e holístico da concepção<strong>de</strong> re<strong>de</strong>, capaz <strong>de</strong> incentivar o estabelecimento <strong>de</strong>articulações múltiplas, a criação <strong>de</strong> projetos multicêntricose trans-disciplinares, ações intersetoriais etrans-setoriais, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong>comunicação e interlocução entre as instâncias governamentais,sociais, possibilitan<strong>do</strong> o protagonismo <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res como sujeitos <strong>de</strong> transformação, sob aperspectiva teórica das relações <strong>do</strong> trabalho com oprocesso saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença.Não há solução fácil para problemas crônicos <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m econômica e social, enfim, estrutural. Umautopia <strong>do</strong> pensamento sistêmico, algo que impulsiona àação e não <strong>do</strong> inatingível, esten<strong>de</strong>-se à prática medianteo estabelecimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s, integran<strong>do</strong> instituições,atores sociais, ações e serviços tão diversos entre si,no teci<strong>do</strong> social e político brasileiro, esta po<strong>de</strong> ser autopia da <strong>Renast</strong>.Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população brasileira <strong>de</strong>correntesdas condições <strong>de</strong> trabalho são fenômenos <strong>de</strong>dimensões profundas e complexas <strong>de</strong>mais para seremresolvidas, ou pelo menos, minimizadas por açõesassistenciais realizadas nos Cerest. Como o estabelecimento<strong>de</strong> conexões, é possível ao Esta<strong>do</strong> brasileirouma atuação mais eficaz, mais próxima <strong>de</strong> sua vocaçãoconstitucional que passa por garantir aos cidadãosdireito à saú<strong>de</strong> no trabalho e, enfim, à dignida<strong>de</strong>.O campo da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no Brasil temuma bela história <strong>de</strong> pessoas, instituições e movimentosorganiza<strong>do</strong>s que lutaram e lutam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ReformaSanitária da década <strong>de</strong> 1970, por sua concretizaçãoe institucionalização. Ao mesmo tempo, possui umahistória <strong>de</strong> invisibilida<strong>de</strong> e isolamento.'Fazer' saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com osprincípios funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo Operário Italiano,que engloba a participação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e atransformação das condições <strong>de</strong> trabalho e saú<strong>de</strong>,envolve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo entre órgãos governamentaise extra-governamentais, trabalha<strong>do</strong>res esuas representações, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a <strong>Renast</strong> como algonão estanque, fixo, imóvel. Se o SUS é uma construçãocontínua, repensada para aprimorar seu funcionamentoe eficiência, a <strong>Renast</strong> será parte <strong>de</strong>ssa construção namedida <strong>de</strong> impedir a cristalização <strong>de</strong> guetos e paralelismosao próprio SUS. "A concepção sistêmica <strong>de</strong> re<strong>de</strong>persegue a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> articulação intra e inter-setorialnos diversos níveis <strong>do</strong> SUS <strong>de</strong> forma a estabelecermecanismos <strong>de</strong> comunicação entre os setores próprios,entida<strong>de</strong>s e instituições que atuam na questãosaú<strong>de</strong> e trabalho, permitin<strong>do</strong>-lhes uma melhor<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> papéis, uma melhor compreensão dasrealida<strong>de</strong>s locais e garantin<strong>do</strong> a atuação conjuntana capacitação e na disseminação <strong>de</strong> conhecimentose informações." 42O campo da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rno Brasil tem uma bela história <strong>de</strong>pessoas, instituições e movimentosorganiza<strong>do</strong>s que lutaram e lutam,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Reforma Sanitária da década<strong>de</strong> 1970, por sua concretização einstitucionalização.A constituição <strong>de</strong> uma <strong>Re<strong>de</strong></strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Atenção <strong>Integral</strong>à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r que vá além <strong>de</strong> uma simplesnomenclatura mo<strong>de</strong>rna, que encarne e disseminea cultura <strong>de</strong> re<strong>de</strong> efetiva, que possibilite intervençõesnos <strong>de</strong>terminantes da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, queengendre ações <strong>de</strong> promoção, prevenção, assistênciabásica, cuida<strong>do</strong> e reabilitação é o nosso <strong>de</strong>sejo. E, porcerto, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os que têm compromisso com a saú<strong>de</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no Brasil.98Epi<strong>de</strong>miol. Serv. Saú<strong>de</strong>, Brasília, 20(1):85-100, jan-mar 2011


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