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O trauma no parto e nascimento sob a lente da ... - Editora Escuta

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Marcele Zveiter, Jane Márcia Progianti eOctavio Muniz <strong>da</strong> Costa VargensO <strong>trauma</strong> <strong>no</strong> <strong>parto</strong> e <strong>nascimento</strong><strong>sob</strong> a <strong>lente</strong> <strong>da</strong> enfermagem obstétrica*Exploramos a cena do <strong>parto</strong> e <strong>nascimento</strong> que, <strong>no</strong> modelo medicalizado, pode causarmarcas psíquicas importantes que ecoam na relação <strong>da</strong> mãe com o bebê.Entendemos a díade como protagonista e ambiente natural do <strong>parto</strong> e <strong>nascimento</strong>.Concluímos que o emprego de tec<strong>no</strong>logias de assistência que estabeleçam regrasbasea<strong>da</strong>s exclusivamente numa perspectiva <strong>da</strong> práxis científica pode imprimirdeman<strong>da</strong> maior do que a capaci<strong>da</strong>de de resposta <strong>da</strong> díade, constituindo fontepotencial de <strong>trauma</strong>.> Palavras-chave: Medicalização, <strong>parto</strong>, saúde <strong>da</strong> mulher, <strong>trauma</strong>artigos > p. 86-92pulsional > revista de psicanálise >a<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>86This article discusses the scene of childbirth and being born, which, in the medicalizedmodel, can leave strong psychic marks that echo in the mother’s relationship withher baby. Here the dyad is seen as the protagonist and natural environment forchildbirth and the author concludes that the use of tech<strong>no</strong>logies for health treatmentthat establish rules based exclusively on the perspective of scientific praxis mayrepresent a demand that is heavier than the dyad’s ability to correspond to it,constituting a potential source of <strong>trauma</strong>.> Key words: Medicalization, childbirth, woman’s health, <strong>trauma</strong>IntroduçãoO <strong>parto</strong> e o <strong>nascimento</strong> como uma celebração<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, foram prejudicados com a medicalização<strong>da</strong> dor (Progianti et al, 2003).Tal fato contribuiu para que a mulher perdessea capaci<strong>da</strong>de de reagir à dor do <strong>parto</strong>,passando a percebê-lo como um sofrimentoinsuportável ou inútil, a ponto de exigir a*> Trabalho vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Enfermagem, Mulher, Saúde e Socie<strong>da</strong>de(NEPEN-MUSAS), <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Enfermagem <strong>da</strong> UERJ.


pulsional > revista de psicanálise > artigosa<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>88feto <strong>no</strong> final do trabalho de <strong>parto</strong>; a ocitocinaé o hormônio responsável pelas contraçõesuterinas; e as endorfinas conferemuma sensação de bem-estar e diminuição <strong>da</strong>sensação dolorosa durante o trabalho de<strong>parto</strong>.Neste ponto chamamos a atenção para oambiente onde ocorre o <strong>parto</strong>. A sala cirúrgicaé estranha, com sua temperatura baixa,cheia de objetos e aparelhos que em na<strong>da</strong>se assemelham ao ambiente familiar. Osprofissionais paramentados, executandouma movimentação típica do ambiente cirúrgico,também são elementos na<strong>da</strong> familiares.O medo provoca a secreção de doseseleva<strong>da</strong>s de adrenalina em etapas bem anterioresà expulsão. O excesso de estímulossensoriais causa uma intensificação na ativi<strong>da</strong>deneocortical que, com o medo e a insegurança,interfere como inibidora <strong>da</strong>liberação de ocitocina (Odent, 2000). Destemodo, existe grande possibili<strong>da</strong>de de quea mulher atendi<strong>da</strong> <strong>no</strong> ambiente hospitalar,pela racionali<strong>da</strong>de médica tradicional, tenhaum funcionamento orgânico desfavorávelao processo fisiológico do <strong>parto</strong>. O tempo dotrabalho de <strong>parto</strong> pode ser aumentado pelafisiologia altera<strong>da</strong> de alguns elementos dosdiferentes períodos do <strong>parto</strong>, como, porexemplo, ritmo e intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s contrações,gradiente de distribuição <strong>da</strong> pressão namusculatura esquelética e movimentaçãovoluntária do esqueleto em geral. Entendemos,portanto, que a intensi<strong>da</strong>de dos esforçose percepção <strong>da</strong> dor são variantesindividuais, dependentes do ambiente, quecontribuem na percepção do que seja o tempovivido durante a experiência.Uma demora <strong>no</strong> trabalho de <strong>parto</strong> pode causar<strong>no</strong> bebê algumas conseqüências importantes.Segundo Winnicott (1990): “Do pontode vista do bebê, o <strong>nascimento</strong> a<strong>no</strong>rmal significaaquilo que do <strong>no</strong>sso ponto de vistachamamos de trabalho de <strong>parto</strong> prolongado”(p. 168). O tempo de <strong>parto</strong> é um problemainteressante por relacionar-se com o início<strong>da</strong> respiração e com a capaci<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong>bebê tem para tolerá-lo (ibid.).Cabe aqui uma reflexão: qual é o tempo deum trabalho de <strong>parto</strong> prolongado? O modelomedicalizado estabeleceu parâmetrospara determinar o tempo ideal de duraçãode um <strong>parto</strong>. Este foi definido com base emestudos estatísticos <strong>da</strong> cultura medicaliza<strong>da</strong>que analisaram a vitali<strong>da</strong>de do bebê a partirde uma escala quantifica<strong>da</strong> de valores eindicadores em relação ao tempo do trabalho.Esqueceram que ca<strong>da</strong> bebê é único e,portanto, tem tempo próprio para ca<strong>da</strong>coisa em sua vi<strong>da</strong>. Assim, pois, cui<strong>da</strong>r numaperspectiva humanística, <strong>no</strong>s obriga a negaresta idéia de tempo padronizado, basea<strong>da</strong>na quantificação estatística deprocessos huma<strong>no</strong>s não quantificáveis, etomar como <strong>no</strong>rte a aceitação do ritmo psicofisiológicodos fenôme<strong>no</strong>s <strong>da</strong> parturição vivenciadossingularmente por ca<strong>da</strong> mulher eca<strong>da</strong> bebê.Associa<strong>da</strong> à idéia de tempo prolongado, nestemodelo tradicional médico, está a idéiade desgaste físico e também do desgasteemocional ou psíquico <strong>da</strong> mulher e do bebê.Esta deman<strong>da</strong> energética, <strong>no</strong> entanto, sópode ser entendi<strong>da</strong> como desgaste quandovista de fora. Quando se respeita a singulari<strong>da</strong>dede ca<strong>da</strong> ser compreende-se esta de-


man<strong>da</strong> como parte essencial do processo fisiológico.Para Winnicott (1956), o estado mental modificado<strong>da</strong> mulher a torna capaz de suportartamanho desgaste. Chamou este estadode preocupação materna primária e o descreveucomo um enlouquecimento <strong>no</strong>rmal. 1No ambiente hospitalar medicalizado, quedesconsidera este momento especial <strong>da</strong> saúdemental <strong>da</strong> mulher como sendo de fortalezafeminina intensa e coloca-a na condiçãode fragili<strong>da</strong>de extrema, as intervençõese invasões tem seu emprego justificado.O bebê também passa por momentos de altademan<strong>da</strong> de energia, com a diminuição doaporte de oxigênio (que pode ser verificadopela diminuição <strong>no</strong> ritmo dos batimentoscardiofetais a ca<strong>da</strong> contração) e o acavalgamentodos ossos do crânio. Do mesmo modoque o organismo femini<strong>no</strong>, o feto dispõe demecanismos próprios para participar do momentodo <strong>parto</strong>. O organismo fetal está prontopara responder como sujeito ativo nacena do <strong>nascimento</strong> (Zveiter, 2003).Durante o <strong>parto</strong> fisiológico, o bebê percorreo caminho com movimentos ativos, um ver<strong>da</strong>deiro“ballet corporal”. Em ca<strong>da</strong> tempo,esses movimentos “preenchem” a vagina,fazendo progredir o trabalho de <strong>parto</strong>. Na<strong>no</strong>ssa compreensão, este momento podeser bastante prazeroso, constituindo umaexpressão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher (Progiantiet al., 2004). Para o bebê o momentodo <strong>nascimento</strong> é parte importante naconstituição de sua sexuali<strong>da</strong>de, uma vezque é aí que se marca a transição dos cui<strong>da</strong>dosmater<strong>no</strong>s, adotados quando ain<strong>da</strong><strong>no</strong> seu ventre, para aqueles proporcionadosao bebê quando já <strong>no</strong> mundo de relaçõessociais.O ambiente como determinantedo modo de cui<strong>da</strong>rEntendemos que mãe e bebê possuem entãouma fisiologia própria para este evento. Estafisiologia pode ser sustenta<strong>da</strong> ou modifica<strong>da</strong>em relação direta com a maneira como sedá o cui<strong>da</strong>do profissional. Este cui<strong>da</strong>do é baseadonum protocolo que descreve técnicasde clampeamento e secção do cordão umbilical,higiene, exame físico, instilação de nitratode prata <strong>no</strong>s olhos, aquecimento,apresentação do bebê à mãe e oferta doseio mater<strong>no</strong>. O modo de realização do protocolode cui<strong>da</strong>dos imediatos ao recém-nascidopode ser dirigido para uma facilitaçãodo estabelecimento do vínculo mãe-bebê.Contudo, o que ocorre na maioria <strong>da</strong>s vezesé que, <strong>no</strong> ambiente hospitalar tradicional, ofoco de atenção dos profissionais está dirigidopela lógica do risco.E que risco é esse? As possíveis intercorrências,como infecções e injúrias provoca<strong>da</strong>spelo processo do <strong>parto</strong>, o que acaba originandouma inversão na ordem do que seriaesperado pela fisiologia do <strong>parto</strong> e <strong>nascimento</strong>.Primeiramente a permeabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>svias aéreas e o corte do cordão umbilical,1> Esta de<strong>no</strong>minação está de acordo com o que Canguilhem postulou em 1943 como saúde: “... estar emboa saúde é poder cair doente e se recuperar, é um luxo biológico”.artigospulsional > revista de psicanálise >a<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>89


pulsional > revista de psicanálise > artigosa<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>90depois o aquecimento artificial <strong>no</strong> berço, calorirradiante, o que facilita o exame físico,o clampeamento do cordão e a prevenção deinfecções oftálmicas com a instilação de nitratode prata e depois, e somente depois, aapresentação do bebê à sua mãe com a ofertado seio mater<strong>no</strong>.Neste modo de entendimento do que sejacui<strong>da</strong>r do bebê desconsidera-se a fisiologiado <strong>parto</strong> e <strong>nascimento</strong> como um processointegrado dos sistemas, mãe e bebê(Zveiter, 2003). Esta lógica de atendimento,desde a ordenação <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong>des, é invasivae deman<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> mais energia tanto <strong>da</strong>mãe quanto do bebê. Esta deman<strong>da</strong> extra deenergia para responder à invasão do ambientepode constituir a base <strong>da</strong>s marcaspsíquicas que se farão representar em falhas<strong>no</strong> vínculo mãe-bebê (Progianti et al., 2004).Os efeitos <strong>da</strong>s intervenções <strong>no</strong><strong>nascimento</strong>A teoria <strong>da</strong>s relações precoces mãe-bebê deWinnicott (1990) fornece instrumental teóricopara discutir este tipo de questão, chegandoa formular recomen<strong>da</strong>ções <strong>sob</strong>re omodo como os bebês devem ser cui<strong>da</strong>dos nasala de <strong>parto</strong>. Os efeitos deste cui<strong>da</strong>do <strong>sob</strong>reo <strong>nascimento</strong>, a que Winnicott se refere,são niti<strong>da</strong>mente efeitos <strong>sob</strong>re aconstituição psíquica do bebê. Os métodosde quantificação do tempo e <strong>da</strong>s condiçõesfísicas em que se dá o <strong>parto</strong> não são suficientespara a conclusão <strong>sob</strong>re as conseqüênciaspsíquicas deste <strong>nascimento</strong>. Nascernão é, para o bebê, perceber que está seseparando do corpo <strong>da</strong> mãe (Winnicott,1949). Para inferir <strong>sob</strong>re seu estado mentalao <strong>nascimento</strong> é preciso considerar que durantea vi<strong>da</strong> intra-uterina existem repeti<strong>da</strong>sexperiências de intrusão do ambiente, como,por exemplo, as contrações de Braxton-Hicks (contrações de baixa intensi<strong>da</strong>de, queocorrem <strong>no</strong> último trimestre <strong>da</strong> gravidez. Elasnão são prenúncios de trabalho de <strong>parto</strong> efazem parte do desenvolvimento <strong>da</strong> gestação).Nesta situação de ação do ambiente, ofeto reage, mas ele experimenta, logo apósa contração, um relaxamento e o retor<strong>no</strong> àsituação anterior, quando não é necessárioreagir. É como se ele fosse se preparandolentamente para a experiência de intensi<strong>da</strong>demáxima: o <strong>nascimento</strong>. Portanto, <strong>no</strong><strong>nascimento</strong> fisiológico, a intrusão do ambientepode ser suporta<strong>da</strong> graças à experiênciaintra-uterina de um retor<strong>no</strong> a uma situaçãoem que não é preciso reagir (ibid.).Existe uma relação entre o que o bebê e amãe experimentam <strong>no</strong> <strong>parto</strong>. A mãe saudávelé capaz de se deixar levar pelo desenrolar<strong>da</strong>s fases do trabalho de <strong>parto</strong>, de modosemelhante ao que ocorre com o bebê. Mãee bebê vivenciam as conseqüências do trabalhode <strong>parto</strong> sem nenhuma possibili<strong>da</strong>dede prever o seu térmi<strong>no</strong>. Assim sendo, emboraa organização psíquica do bebê pareçaestar pronta para suportar a dor de modomais eficaz do que o adulto, as marcas destador podem deixar cicatrizes psicológicastraumáticas, que serão senti<strong>da</strong>s posteriormente(Spitz, 1965).Assistência como potencial de<strong>trauma</strong>Coloca-se aqui um problema: como é possíveltomar o <strong>nascimento</strong> como traumático


para o bebê? Ou ain<strong>da</strong>: como um <strong>parto</strong> podeser traumático a ponto de dificultar o vínculomãe-bebê?Enquanto se trabalha atendendo ao <strong>parto</strong><strong>no</strong> modelo medicalizado, o que se vê é o fenôme<strong>no</strong>biológico, as injúrias ao corpo e otempo cro<strong>no</strong>lógico do processo. Quanto aomodo como se apresenta a dinâmica e comose sucedem os períodos do <strong>parto</strong>, não é possívelisolar um momento como um fator derisco para o futuro aparecimento de um <strong>trauma</strong>.No entanto, a observação <strong>da</strong> interaçãomãe-bebê neste momento não se reduz aoque existe de visível nas trocas. É precisomanter uma “visão bifocal”, como disseCramer, com atenção para o modo como orecém-nascido se apresenta e, do mesmomodo, para a relação mãe-bebê. Como a <strong>no</strong>çãode risco se baseia em <strong>da</strong>dos obtidos retrospectivamente,a identificação de algunsfenôme<strong>no</strong>s como fatores de risco têm poucovalor nesse momento. Só num estudo retrospectivopode-se estabelecer a relaçãoentre o fator de risco biológico, os fatores deriscos sociais e os de riscos psicológicos determinadospelo ambiente (Cramer, 1987, p.48). Contudo, isso não significa que se devamabandonar os esforços de pesquisa quetentam estabelecer as situações de riscopara a aplicação de medi<strong>da</strong>s preventivas.Coloca-se aqui um problema para os profissionaisque se dedicam aos cui<strong>da</strong>dos necessáriosdurante o <strong>nascimento</strong> de um bebê.Dependendo <strong>da</strong> formação profissional, essaspessoas tendem a considerar uma <strong>da</strong>s vertentes:as ciências biomédicas ou a naturezados fenôme<strong>no</strong>s huma<strong>no</strong>s. No entanto, otema do <strong>nascimento</strong> é suficientementeabrangente para comportar amplas discussõesinterdisciplinares. As pesquisas <strong>no</strong> campo<strong>da</strong>s complicações decorrentes <strong>da</strong>sinjúrias do <strong>parto</strong>, distúrbios metabólicos,respiratórios e circulatórios, fun<strong>da</strong>mentam omanejo dos problemas mater<strong>no</strong>s e neonatais,porém as bases teóricas que estão portrás <strong>da</strong>s rotinas de cui<strong>da</strong>dos para o <strong>nascimento</strong>fisiológico, permanecem esparsas edesarticula<strong>da</strong>s (Kjellmer e Winberg, 1994).O cui<strong>da</strong>do que propomos, portanto, é fun<strong>da</strong>mentado<strong>no</strong> reconhecimento <strong>da</strong> mulher e dobebê como protagonistas <strong>da</strong> cena e <strong>no</strong> respeitoà singulari<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> díade. O cui<strong>da</strong>doque propomos prevê o emprego detec<strong>no</strong>logias não invasivas e potencializadorasdo cui<strong>da</strong>do mater<strong>no</strong>. O cui<strong>da</strong>do que propomosexige uma atitude sensível deacolhimento. Por pensarmos assim, rejeitamosa assistência sustenta<strong>da</strong> pelas rotinasrígi<strong>da</strong>s protocolares, pela intervenção desnecessária,pela invasão dos corpos, que sedesenvolve num ambiente que toma <strong>da</strong> mãee do bebê o direito de exercerem integralmentesuas potenciali<strong>da</strong>des.Considerações finaisNos cui<strong>da</strong>dos a serem implementados <strong>no</strong>atendimento ao <strong>parto</strong> fisiológico não cabe aidéia de sistematização. Deve-se considerarque tanto a mulher quanto a criança adquiriramas condições necessárias e devem sercapazes de passar pelo momento do <strong>parto</strong> e<strong>nascimento</strong>.A assistência que desconsidera este fato incorre<strong>no</strong> risco de representar uma deman<strong>da</strong>extra àquela que é intrínseca ao evento.Dito de outro modo, uma tec<strong>no</strong>logia de as-artigospulsional > revista de psicanálise >a<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>91


pulsional > revista de psicanálise > artigosa<strong>no</strong> XVIII, n. 182, junho/2005>92sistência que estabeleça regras basea<strong>da</strong>snuma perspectiva <strong>da</strong> práxis científica, desconsiderandoa mãe e o bebê como sujeitospreparados para responder eficientementeàs exigências fisiológicas do evento podeimprimir uma deman<strong>da</strong> maior que a capaci<strong>da</strong>dedeles responderem. Esta deman<strong>da</strong>exagera<strong>da</strong> é fonte potencial de <strong>trauma</strong> paraa díade.Justifica-se a intensificação do debate epesquisa de alternativas para o atendimentoa estes fatos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> saudável: parir enascer. Para uma redução dos riscos de umaintervenção traumática, o cui<strong>da</strong>do profissionalna cena do <strong>parto</strong> deve funcionar comoum facilitador para que o cui<strong>da</strong>do mater<strong>no</strong>possa se manifestar, com to<strong>da</strong> sua força eeficácia desde os primeiros momentos devi<strong>da</strong> do ser huma<strong>no</strong>.ReferênciasCRAMER, Bertrand. A psiquiatria do bebê: umaintrodução. In: A dinâmica do bebê. Porto Alegre:Artes Médicas, 1987. p. 24-74.GARDNER, Ernest et al. Anatomia, estudo regionaldo corpo huma<strong>no</strong>. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 1978.KJELLMER, I. e WINBERG, J. The neurobiology ofinfant-parent interaction in the newborn: anintroduction. Acta Paediatric Supplement, n.397, p. 1-2, 1994.ODENT, Michel. A cientificação do amor. SãoPaulo: Terceira Margem, 2000.PROGIANTI, Jane Márcia et al. Parto e <strong>nascimento</strong>:reflexões de enfermeiras obstétricas. EnfermagemAtual, Petrópolis, RJ, a<strong>no</strong> IV, n. 20,p. 23-6, mar.-abr./2004._____ Participação <strong>da</strong> Enfermeira <strong>no</strong> Processode Desmedicalização do Parto. RevistaEnfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3,p. 271-8, 2003.SPITZ, René A. (1965). O primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. SãoPaulo: Martins Fontes, 2000.WINNICOTT, Donald W. (1949). Birth memories,birth <strong>trauma</strong>, and anxiety In: Collected papers:pediatrics throw psycho-analysis. London:Tavistock, 1958. p. 174-93._____ (1956). Primary maternal preoccupation.In: Collected papers: pediatrics throwpsycho-analysis. London: Tavistock, 1958.p. 300-5._____ Experiência do <strong>nascimento</strong>. In: Naturezahumana, Rio de Janeiro: Imago, 1990. p.165-72.ZVEITER, Marcele. Contribuições ao documento<strong>da</strong> Organização Mundial de Saúde: cui<strong>da</strong>dos essenciaisao recém-nascido – comentários <strong>sob</strong>reas implicações psíquicas. 2003. 164p.Dissertação (mestrado em Saúde <strong>da</strong> Mulher e<strong>da</strong> Criança). Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz,Rio de Janeiro.Artigo recebido em <strong>no</strong>vembro de 2004Aprovado para publicação em março de 2005

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