Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 6O grupo das bactérias mesófilas é formado por um grande número de microrganismos, patogênicos esaprófitas, sendo que estes podem ser prejudiciais ou benéficos ao homem e aos alimentos,dependendo de sua aplicabilidade. Como exemplo, pode-se citar os microrganismos que fermentam oleite: dependendo do produto final desejado, isto é, leite propriamente dito, leite fermentado ou iogurte,os microrganismos envolvidos no processo podem ser considerados benéficos ou prejudiciais.Assim, a pesquisa sobre a quantidade de mesófilas num dado alimento depende do que se desejadescobrir, já que sua presença é certa, salvo em raros casos de esterilidade total do produto. Nesteestudo em particular, o grupo foi usado como indicador de condições higiênicas de produção, poisvalores acima dos estipulados pela legislação 6 são indicadores de más condições de higiene e podemfavorecer não somente a deterioração prematura do alimento por ação de bactérias saprófitas, comoindicar a possível presença de microrganismos patogênicos.2.3. Água no FrangoComo todo alimento de origem animal, a musculatura do frango é constituída de proteínas, entreoutras substâncias menos abundantes, com exceção da água que é o principal constituinte de todosos seres vivos. Estas proteínas possuem a propriedade de reter uma considerável quantidade de águadevido às suas características físicas.Durante o processo de industrialização do frango, especificamente no momento que antecede ocongelamento, o produto deve ser submetido a etapas de pré-resfriamento denominadas “pré-chiller” e“chiller” por imersão em água gelada. Este processo também tem como função a exposição dacarcaça a um choque térmico que reduz a flora de microrganismos existente no produto, auxiliando noprocesso de redução de riscos de contaminação de bactérias patogênicas, bem como aumento dalongevidade produto, pela redução de saprófitas.Neste momento, as proteínas são hidratadas e o tecido muscular incorpora uma certa quantidade deágua que deverá sair do frango antes que este seja congelado, caso contrário, a água incorporadacongelará juntamente com o produto que terá seu peso excedido ao que seria normal pela presençado gelo.Através da Portaria SDA nº 210, de 10 de novembro de 1998, a Secretaria de Defesa Agropecuáriado Ministério da Agricultura determina que <strong>frangos</strong> <strong>congelados</strong> sem tempero não devam conter maisde 6% de água além de sua úmidade natural. A Portaria também descreve a metodologia dequantificação de água perdida pós-descongelamento, denominada Drip Test ou Dripping Test(Pasqualetto, 2001).Desde que foi publicada a Portaria, vários trabalhos foram realizados no sentido de avaliar a perda deágua por desgelo em carcaças de aves congeladas, destacando-se Souza et al (2000) que, apósaplicarem a metodologia para Drip Test em <strong>frangos</strong> coletados no comércio, verificaram que 82,4%deles apresentavam água acima dos limites estabelecidos.Semelhantemente, Pasqualetto et al (2001) analisando 84 amostras coletadas nos estados de Goiás,Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal, verificaram que 78,57% encontravam-se forados limites estabelecidos, isto é, acima dos 6% definidos pela legislação.Essa situação é conhecida pelo MAPA, que em 2003, através do DIPOA (Departamento de Inspeçãode Produtos de Origem Animal) constatou que o teor de água de 48 amostras (32%) estava acima doestabelecido pela legislação vigente (6%), o que é bastante preocupante sob o ponto de vistaeconômico para os consumidores, já que as marcas que apresentaram o problema continham até 23%de água, isto é, quase quatro vezes mais do que o percentual permitido. Como informado pelo próprioMAPA, o excesso de água não interfere na qualidade do produto, contudo lesa o consumidor queacaba comprando água a preço de frango.6 3,0 x 10 6 UFC/g estipulado pelo Decreto Estadual nº 12.486, de 20 de outubro de 1.978, NTA 3, Item 7 (característicasmicrobiológicas).
Teste Comparativo – Frangos Congelados 7O Idec reconheceu a importância desse trabalho, mas considerou que um dos aspectos maisimportantes não foi revelado: o nome das empresas e respectivas marcas que apresentaramproblemas durante o período de fiscalização. Desta forma, o instituto, em carta à SDA – Secretaria deDefesa Agropecuária e ao DIPOA – Depto. de Inspeção de Produtos de Origem Animal, solicitou adivulgação da lista com os nomes das empresas em questão para que o consumidor pudesse estarciente do problema e se prevenisse, evitando ser lesado, conforme o que determina o Código deDefesa do Consumidor. Até o momento, nenhum dos órgãos não atendeu ao pedido do Idec..Este trabalho teve os seguintes objetivos:3. OBJETIVOS1. Verificar a qualidade higiênico-sanitária de algumas marcas de aves congeladas expostas àvenda em supermercados da Grande São Paulo;2. Verificar o teor de água (expresso em índices percentuais) resultante do descongelamento deaves congeladas;3. Verificar se os rótulos dos produtos analisados encontram-se de acordo com normas vigentes,isto é, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (CDC – Código de Defesa do Consumidor),Portaria MAPA nº 371, de 02 de janeiro de 2001, Resolução RDC nº 13, de 02 de janeiro de2001 e Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002;4. Avaliar as condições de atendimento dos Serviços de Atendimento ao Consumidor – SAC dasempresas envolvidas no trabalho;5. Gerar sugestões e orientações aos segmentos interessados, isto é, consumidores, fabricantese órgãos de fiscalização, no sentido de alcançar melhorias significativas para o setor,favorecendo assim o elo mais frágil desta cadeia, os consumidores.4.1. Avaliação de rotulagem4. METODOLOGIAPara esta etapa do trabalho foram avaliados vinte itens de rotulagem, sendo que 19 obrigatóriossegundo a legislação vigente e um não obrigatório: Informações sobre a empresa fabricante: razão social, endereço, cidade, unidadefederativa, país de origem, inscrição no órgão responsável e SAC 7 ; Informações sobre o produto: denominação de venda, conteúdo líquido, data deembalagem, data de validade, lote e informações nutricionais; Orientações ao consumidor:Prazos de validade: através da Resolução 259/02, os fabricantes se vêemobrigados a informar os prazos de validade correspondentes às temperaturasmínimas e máximas possíveis, isto é, refrigeração (4,0ºC), congelamento emcongelador comum (-4,0ºC) e congelamento em freezer (-12,0ºC);Frases obrigatórias: a Resolução 13/01 obriga a inclusão das seguintes frases narotulagem de aves congeladas ou resfriadas, como forma de prevenção contrapossíveis contaminações por Salmonella sp, considerando que o produto é umdos reservatórios naturais do microrganismo:7 SAC foi o único item não obrigatório pela legislação pesquisado na avaliação de rotulagem.