20.07.2015 Views

Português - Colégio Pedro II

Português - Colégio Pedro II

Português - Colégio Pedro II

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Texto <strong>II</strong>COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULAREu, etiqueta0510152025303540Em minha calça está grudado um nomeque não é meu de batismo ou de cartório,um nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Em minha camiseta, a marca de cigarroque não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoque nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provadapor este provador de longa idade.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova e pente,meu corpo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes,gritos visuaisordens de uso, abuso, reincidência;costume, hábito, premência;indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.Estou, estou na moda.É doce estar na moda, ainda que a modaseja negar minha identidade,trocá-la por mil, açambarcandotodas as marcas registradas,todos os logotipos do mercado.Com que inocência demito-me de sereu que antes era e me sabiatão diverso dos outros, tão mim-mesmo,ser pensante, sentinte e solidáriocom outros seres diversos e conscientesde sua humana, invencível condição.Agora sou anúncio,ora vulgar ora bizarro,em língua nacional ou em qualquer língua(qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glória455055606570de minha anulação.Não sou – vê lá – anúncio contratado.Eu é que mimosamente pagopara anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas,e bem à vista exibo esta etiquetaglobal no corpo que desistede ser neste e sandália de uma essênciatão viva, independente,que moda ou suborno algum acomprometeOnde terei jogado forameu gosto e capacidade de escolher,minhas idiossincrasias tão pessoais,tão minhas que no rosto se espelhavam,e cada gesto, cada olhar,cada vinco da rouparesumia uma estética?Hoje sou costura, sou tecido,sou gravado de forma universalsaio da estamparia, não de casa,da vitrina me tiram, recolocam,objeto pulsante mas objetoque se oferece como signo de outrosobjetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim tão orgulhode ser não eu; mas artigo industrial;peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem.Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.ANDRADE, Carlos Drummond de.Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!