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Português - Colégio Pedro II

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COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> – MECEXAME DE SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO1ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULAR – 2008Texto IO planeta sarado0510152025303545Com a aproximação do verão, a obsessão do povo desta cidade pelo corpo está beirando aloucura. Nas ruas, nas praias, nos escritórios, só se fala em calorias, corpo definido (tem tambémindefinido?), bíceps, tríceps. Sarados andam com sarados, barrigudinhos com barrigudinhos. Ascastas não se misturam. E ai de um não malhado que quiser se enturmar. Leva bola preta. Pedirsobremesa na frente de todo mundo no restaurante, nem pensar. É pior que tirar a roupa em público.Já se foi o tempo em que intelectual podia beber seu uísque em paz. Atualmente, atécronista acaba se sentindo pressionado a manter o corpinho. Eu mesmo confesso que passei acontar as calorias de um gomo de laranja. Corri, pedalei, nadei, não tomei o elevador e subi escadascorrendo imaginando que aquele esforço equivaleria a pelo menos uma empadinha de palmito. Tudoisso para tentar fugir da discriminação. Sim, porque do jeito que a coisa vai muito em breve ter unsquilinhos a mais já será considerado razão para não te dirigirem mais a palavra, te expulsarem doemprego, te banirem da cidade e te enviarem para um campo de concentração (spa?) onde vãoesconder os gordos. Movido por esse pânico, tento me adaptar.É mesmo comovente essa nova vontade de se adequar. Lutamos desesperadamente parater os mesmos corpos, os mesmos cabelos, os mesmos carros, as mesmas roupas. Gatinhas há dedois tipos: as aloiradas e as futuras aloiradas. Bolsa de mulher, então, só existe uma. Quanto aosgarotões, podemos listar três ou quatro variações do mesmo tema entre o loirinho surfista e omoreno. Já carros existem atualmente mais opções de marcas para escolher. O único problemaainda é o rosto. Esse, o cirurgião plástico precisa deixar nele sempre algum traço peculiar para quepossamos reconhecer nossos parceiros e parceiras na hora de levá-los para casa.Ainda naquele esforço de adaptação comprei um livro maluco de dieta em que homens emulheres no Tennessee, no Maine e no Texas (a maioria é sempre do Texas) declaram quemudaram completamente a vida depois que emagreceram. Eles eram gordos e pobres, trabalhavamem lanchonetes e estavam casados com outros gordos pobres que também trabalhavam emlanchonete e agora sarados ficaram ricos. É lógico: as boas oportunidades são imediatamenteoferecidas aos sarados. Em suma, eles se livraram de seus respectivos gordos pobres e viveramfelizes para sempre, levando a vida sexual da Madonna e aplicando seus milhões na Suíça. O autordo livro, um armário que aparece na capa, vai mais longe. Inspirado em Hitler (será que sabe?), elechega a falar de “humanidade do futuro” e de “nova raça”. Segundo ele, portanto, a naçãomusculosa irá dominar o mundo. Teremos fortões na Presidência, comandando os rumos deeconomia e revolucionando a medicina, a eletrônica, a astrofísica.No planeta sarado, a gordura há de ser a última atitude guerrilheira. Ser gordinho equivaleráa ter um corpo não globalizado, fora da ordem mundial, com relações diplomáticas rompidas com o“sistema” sociopolítico-corporal, uma espécie de auto-clube. Obesos e gordos criarão organizaçõesparamilitares e terroristas, lançarão carros-bomba contra as fábricas de adoçante e serãoperseguidos pela tropa de elite mais que sarada.Como no filme de Buñuel, só será permitida a indecência de comer massas e doces seestivermos trancados sozinhos em banheiros especiais. Proliferarão inferninhos proibidos à moda deChicago na época da lei seca. Num beco escuro, o capataz só deixa entrar pela portinha que leva aosubterrâneo quem souber a senha do dia. Uma vez lá dentro, aí sim, possuídos e bacantes,poderemos finalmente nos locupletar com quindões, churros e sundaes numa grande orgia canibal.CARNEIRO, João Emanuel. “O planeta sarado”. In: VEJA RIO, 27dez.2000.


Texto <strong>II</strong>COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULAREu, etiqueta0510152025303540Em minha calça está grudado um nomeque não é meu de batismo ou de cartório,um nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Em minha camiseta, a marca de cigarroque não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produtoque nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama coloridode alguma coisa não provadapor este provador de longa idade.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova e pente,meu corpo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes,gritos visuaisordens de uso, abuso, reincidência;costume, hábito, premência;indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.Estou, estou na moda.É doce estar na moda, ainda que a modaseja negar minha identidade,trocá-la por mil, açambarcandotodas as marcas registradas,todos os logotipos do mercado.Com que inocência demito-me de sereu que antes era e me sabiatão diverso dos outros, tão mim-mesmo,ser pensante, sentinte e solidáriocom outros seres diversos e conscientesde sua humana, invencível condição.Agora sou anúncio,ora vulgar ora bizarro,em língua nacional ou em qualquer língua(qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glória455055606570de minha anulação.Não sou – vê lá – anúncio contratado.Eu é que mimosamente pagopara anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas,e bem à vista exibo esta etiquetaglobal no corpo que desistede ser neste e sandália de uma essênciatão viva, independente,que moda ou suborno algum acomprometeOnde terei jogado forameu gosto e capacidade de escolher,minhas idiossincrasias tão pessoais,tão minhas que no rosto se espelhavam,e cada gesto, cada olhar,cada vinco da rouparesumia uma estética?Hoje sou costura, sou tecido,sou gravado de forma universalsaio da estamparia, não de casa,da vitrina me tiram, recolocam,objeto pulsante mas objetoque se oferece como signo de outrosobjetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim tão orgulhode ser não eu; mas artigo industrial;peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem.Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.ANDRADE, Carlos Drummond de.Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.2


COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULARTexto <strong>II</strong>IRio de Janeiro, Jornal O Globo, Revista, 23set.2007.QUESTÃO 1 (VALOR: 0,5)O cronista do texto I diz que comprou um livro de dietas cujo autor se inspira em Hitler. Hitlerfoi um líder nazista que pregava a raça pura, ariana e perfeita e, portanto, bania e exterminavaaqueles que, segundo ele, seriam imperfeitos.No quarto parágrafo do mesmo texto I, que expressão formada por um substantivo seguido deum adjetivo representaria, na “humanidade do futuro”, o projeto de Hitler no passado?____________________________________________________________________________QUESTÃO 2 (VALOR: 0,5)Transcreva, do segundo parágrafo do texto I, apenas a seqüência de orações coordenadas querevela a tentativa, por parte do cronista, de se enquadrar nos padrões de comportamento parao verão.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3


COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULARQUESTÃO 3 (VALOR: 0,5)As figuras de linguagem são recursos expressivos que desviam os elementos da linguagemcomum do seu uso normal. No quarto parágrafo do texto I, uma metáfora é utilizada parareferir-se a corpo musculoso, sarado. Transcreva a palavra que representa essa metáfora.____________________________________________________________________________QUESTÃO 4 (VALOR: 0,5)No último parágrafo do texto I, o cronista se inclui no grupo daqueles que não se subordinarãoe participarão da “atitude guerrilheira” contra o domínio dos sarados. Retire desse parágrafo asformas verbais que justificam essa afirmativa.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________QUESTÃO 5 (VALOR: 1,0)Observe os versos do texto <strong>II</strong>:“É doce estar na moda, ainda que a modaseja negar minha identidade...” (versos 29 e 30)a) Que valor semântico a locução conjuntiva “ainda que” estabelece entre as orações?____________________________________________________________________________b) Reescreva os versos acima, substituindo a locução conjuntiva “ainda que” por um articuladorsintático de valor semântico adversativo, de um único termo, fazendo apenas as alteraçõesnecessárias.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________QUESTÃO 6 (VALOR: 0,5)Ao abrir mão de sua identidade, o eu-lírico do texto <strong>II</strong> se transforma completamente. Em queele se transforma?____________________________________________________________________________QUESTÃO 7 (VALOR: 0,5)A palavra “roupa(s)” é empregada com equivalência semântica nos quatro fragmentos abaixo.O mesmo não ocorre em relação à equivalência sintática. Assinale a única alternativa em quea palavra roupa desempenha diferente função sintática.a) “Lutamos deseperadamente para ter (...) as mesmas roupas”.(l. 14-15, texto I)b) “ ...cada vinco da roupa / resumia uma estética?” (versos 60 e 61, texto <strong>II</strong>)c) “ não uso mais roupas de marca” (texto <strong>II</strong>I)d) “É pior que tirar a roupa em público”. (l. 5, texto I)4


COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULARQUESTÃO 8 (VALOR: 0,5)No texto <strong>II</strong>I, o personagem Rudson se propõe divulgar um produto em sua camisa desde quereceba por isso. Considere o fragmento delimitado entre os versos 28 e 46, do texto <strong>II</strong>, etranscreva, desse mesmo texto, o único verso que define essa forma de veiculação de umproduto.____________________________________________________________________________QUESTÃO 9 (VALOR: 0,5)Transcreva, do fragmento delimitado entre os versos 40 e 74, do texto <strong>II</strong>, os dois versos em quese constata a inversão da lógica do sistema capitalista, também citada no texto <strong>II</strong>I, ou seja, oindivíduo deve receber uma compensação financeira pela venda de um produto ou de suaforça de trabalho.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________REDAÇÃO (VALOR: 5,0)Os textos desta prova tratam de um grave problema das sociedades atuais: as imposições domundo globalizado, capitalista. Nesse mundo, as pessoas são pressionadas a consumir certasmarcas de produtos e seguir determinados padrões de beleza: o importante é acatar modelos,ainda que isso anule as diferenças individuais.Escreva um TEXTO DISSERTATIVO em que você defenda que as pessoas preservem as suascaracterísticas individuais ou apresente justificativas para que sigam o modelo socialdominante.Seu texto deverá:• conter obrigatoriamente argumentos que sustentem suas opiniões;• ter entre 20 e 25 linhas;• apresentar letra legível e não conter rasuras;• ter, no mínimo, três parágrafos;• estar de acordo com a norma padrão para a modalidade escrita;• ser em prosa;• ter um título.5


COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULARR A S C U N H O• Utilize este espaço para RASCUNHO (não será considerado para efeitos de correção)._____________________________________51015________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________20____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________25____________________________________________________________________________6


COLÉGIO PEDRO <strong>II</strong> - MEC PORTUGUÊS – 20081 a SÉRIE DO ENSINO MÉDIO REGULARR E D A Ç Ã O• Esta folha, com seu texto definitivo, será corrigida pela Banca Examinadora.• Passe o texto a limpo com atenção._____________________________________51015________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________20____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________25____________________________________________________________________________7

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