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Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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devem estar ao nosso alcance rapi<strong>da</strong>mente. As funções do sentimento, do pensamento<br />

filosófico, existencial, psicológico e político perderam espaço e valor.<br />

A ilusão do prazer, <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de infinita, <strong>da</strong>s respostas para tudo é o alicerce de<br />

nossa socie<strong>da</strong>de, não existindo lugar para o desconhecido.<br />

Nossa cultura “favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro,<br />

a satisfação instantânea, resulta<strong>dos</strong> que não exigem esforços prolonga<strong>dos</strong>,<br />

receitas testa<strong>da</strong>s, garantias de seguro total e devolução do dinheiro...” 36 A<br />

subjetivi<strong>da</strong>de é permea<strong>da</strong> pelo efêmero, pelo que é descartavel, na<strong>da</strong> devendo<br />

se perpetuar e ser vivido em consonância com o tempo. Ca<strong>da</strong> indivíduo tem<br />

seu próprio ritmo de conquistas e de aprendizado; porém, não há mais espaço<br />

para as singulari<strong>da</strong>des.<br />

Na área <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> isto também se observa nas relações vinculares, na medicalização<br />

excessiva, na dicotomia entre o corpo biológico e o psicológico. O<br />

tempo de dedicação exigido e a própria natureza do trabalho fazem com que<br />

as profissões liga<strong>da</strong>s à <strong>saúde</strong> sejam vistas como uma espécie de sacerdócio e<br />

aqueles que as exercem como onipotentes: os que não adoecem, não sofrem e<br />

na<strong>da</strong> desconhecem. Ironicamente, aquele que cui<strong>da</strong> se distancia ca<strong>da</strong> vez mais<br />

<strong>da</strong>quilo que mais se depara, e do qual nunca pode fugir: a própria humani<strong>da</strong>de.<br />

Durante a formação acadêmica o aluno introjeta a “desafetação”, uma<br />

vez que o afeto pode colocá-lo em situações de intensa fragili<strong>da</strong>de e contato<br />

com a impotência humana. Devemos questionar que tipo de <strong>profissionais</strong><br />

estamos formando: aqueles sem sofrimento, angústia, dúvi<strong>da</strong>s, ou os que<br />

devem ser prepara<strong>dos</strong> para uma atuação profissional que os coloque diante<br />

<strong>da</strong>s questões mais humanas. Os estu<strong>da</strong>ntes, principalmente os do curso de<br />

Medicina, <strong>da</strong><strong>da</strong> a exigência do vestibular, ao ingressarem na facul<strong>da</strong>de já são<br />

corrompi<strong>dos</strong> por um sentimento de supremacia, o qual logo entra em falência,<br />

já nas primeiras avaliações.<br />

As frustrações podem ocorrer logo no início do curso, caso tenham baixo<br />

rendimento: como foram seleciona<strong>dos</strong> de acordo com um sistema de eleva<strong>da</strong><br />

exigência, acreditam que nunca falharão. Diante disto sentem-se inseguros,<br />

assusta<strong>dos</strong>, angustia<strong>dos</strong>, colocando em dúvi<strong>da</strong> sua própria vocação. Neste momento<br />

institui-se a necessi<strong>da</strong>de de medi<strong>da</strong>s “disciplinadoras”; o aluno é destituído<br />

de sua condição de sujeito, para tornar-se paciente. Se ele fica triste,<br />

ansioso, seus sentimentos devem ser diagnostica<strong>dos</strong> e ele deve ter a seu alcance<br />

aquilo que acredita ser eficiente num curto período de tempo: a medicação.<br />

Em nossa experiência no Repam (Retaguar<strong>da</strong> Emocional do Aluno, <strong>da</strong><br />

Facul<strong>da</strong>de de Ciências Médicas <strong>da</strong> Santa Casa de São Paulo) no atendimento<br />

<strong>dos</strong> alunos <strong>dos</strong> cursos de Medicina, Enfermagem e Fonoaudiologia, notamos<br />

que muitos alunos chegam preocupa<strong>dos</strong> em esconder que precisam de aju<strong>da</strong>,<br />

encarando seus problemas como um sintoma a ser tratado e não como algo a<br />

ser compreendido. Tornar-se humano, deparar-se com suas fragili<strong>da</strong>des não<br />

fazem parte de seu universo. Aos <strong>profissionais</strong> <strong>da</strong> <strong>saúde</strong>, principalmente ao<br />

9 A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> de <strong>saúde</strong><br />

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