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1. CUIDA Revista da Ordem dos Enfermeiros

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REVISTA DA<br />

ORDEM DOS ENFERMEIROS<br />

N.º 52<br />

solidão<br />

COMBATER A<br />

Julho 2016 . ISSN 1646-26-29<br />

Entrevista Ana Rita Cavaco,<br />

“Os enfermeiros estão a perder<br />

o medo”<br />

De folga Visitámos Pombal<br />

com um enfermeiro surfista,<br />

fadista e atleta


2<br />

SUMÁRIO<br />

03<br />

EDITORIAL<br />

Ninguém está sozinho<br />

04<br />

PULSAÇÕES<br />

De sorriso na estra<strong>da</strong> a combater a solidão<br />

10<br />

POSICIONAMENTOS<br />

De salários indignos a acções inspectivas<br />

04<br />

20<br />

12<br />

18<br />

ENTREVISTA<br />

Ana Rita Cavaco, “Os enfermeiros<br />

estão a perder o medo”<br />

EVIDÊNCIAS<br />

Li<strong>da</strong>r “bem” com a morte melhora<br />

cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> em fim de vi<strong>da</strong><br />

20<br />

25<br />

26<br />

DE FOLGA<br />

Pombal: Da energia do mar<br />

à tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serra<br />

FITA MÉTRICA<br />

À sua medi<strong>da</strong>...<br />

O ENFERMEIRO DA MINHA VIDA<br />

Conceição Queiroz: “Continuo a sentir<br />

uma gratidão imensa pelo Enf. Samuel”<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Director Ana Rita Cavaco<br />

Coordenação, re<strong>da</strong>cção e edição Filipe Mendonça e Luísa Neves<br />

Fotografias Júlio Pimentel e Arquivo OE<br />

Mora<strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Almirante Gago Coutinho, 75 – 1700-028 Lisboa<br />

T: 218 455 230 | F: 218 455 259<br />

Web www.ordemenfermeiros.pt<br />

Email revista@ordemenfermeiros.pt<br />

ISSN 1646-26-29<br />

Design gráfico Ideias com Peso<br />

Paginação e pré-impressão Ideias com Peso<br />

Impressão e distribuição Rainho&Neves, L<strong>da</strong>. – Artes Gráficas<br />

Periodici<strong>da</strong>de Trimestral<br />

Tiragem 2500 exemplares<br />

Distribuição gratuita aos membros <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

Depósito Legal nº 153540/00<br />

As afirmações e ideias expressas nos textos publica<strong>dos</strong> nesta revista<br />

são <strong>da</strong> inteira responsabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> autores <strong>da</strong>s mesmas.<br />

MORADAS<br />

<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

Sede<br />

Aveni<strong>da</strong> Almirante Gago Coutinho, 75 – 1700-028 Lisboa<br />

T: 218 455 230 | F: 218 455 259 | mail@ordemenfermeiros.pt<br />

Região Autónoma <strong>dos</strong> Açores<br />

Rua Dr. Armando Narciso, 2 – 9500-185 Ponta Delga<strong>da</strong><br />

T: 296 281 868 | F: 296 281 848 | sracores@ordemenfermeiros.pt<br />

Região Autónoma <strong>da</strong> Madeira<br />

Rua Visconde Cacongo, 35, Sta Maria Maior – 9060-036 Funchal<br />

T: 291 241 765 | F: 291 237 212 | srmadeira@ordemenfermeiros.pt<br />

Centro<br />

Av. Bissaya Barreto, 185 – 3030-076 Coimbra<br />

T: 239 487 810 | F: 239 487 819 | srcentro@ordemenfermeiros.pt<br />

Norte<br />

Rua Latino Coelho, 352 – 4000-314 Porto<br />

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Sul<br />

Rua Castilho, 59 - 8º Esq. – 1250-068 Lisboa<br />

T: 213 815 550 | F: 213 815 559 | srsul@ordemenfermeiros.pt


ROE 52 Julho 2016<br />

EDITORIAL<br />

3<br />

ANA RITA CAVACO<br />

Bastonária<br />

<strong>da</strong> <strong>Ordem</strong><br />

<strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

NINGUÉM<br />

ESTÁ<br />

SOZINHO<br />

onheci o senhor Fernando<br />

sentado na varan<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua casa,<br />

em Mogadouro. Falou-me <strong>dos</strong><br />

enfermeiros que se tornaram “quase <strong>da</strong><br />

família”, que lhe arranjaram “as consultas<br />

no Porto” e que foram visitá-lo quando<br />

esteve internado em Bragança. A vi<strong>da</strong> do<br />

senhor Fernando confunde-se com os<br />

sorrisos e o profissionalismo <strong>da</strong> equipa de<br />

apoio ao domicílio do Centro de Saúde de<br />

Mogadouro.<br />

As histórias que se seguem são sobre<br />

vi<strong>da</strong>s assim, ampara<strong>da</strong>s por quem está<br />

onde tantas vezes não está mais ninguém.<br />

Queremos que o País enten<strong>da</strong> que aquilo<br />

que fazemos to<strong>dos</strong> os dias, de Norte a Sul,<br />

do Litoral ao Interior e regiões autónomas,<br />

é um serviço indispensável à coesão<br />

social e territorial. Não há Democracia<br />

sem Serviço Nacional de Saúde. Não há<br />

Serviço Nacional de Saúde sem enfermeiros.<br />

A conclusão só pode ser uma: não há<br />

Democracia sem enfermeiros.<br />

É por isso que a nossa revista, agora renova<strong>da</strong>, tem<br />

a ambição de fazer serviço público. Temos um formato<br />

novo, uma nova imagem e um posicionamento diferente.<br />

Queremos estar como prometemos: próximos<br />

<strong>dos</strong> enfermeiros e <strong>da</strong>s pessoas que precisam de nós.<br />

Ouvir e <strong>da</strong>r voz. Por estas páginas vão desfilar histórias<br />

de um País que não se resigna aos sucessivos<br />

cortes na Saúde. Exemplos de dedicação, profissionalismo<br />

e muito trabalho. Podíamos ter escolhido outro<br />

nome para esta renova<strong>da</strong> revista. Escolhemos o óbvio:<br />

“Cui<strong>da</strong>”. Porque cui<strong>da</strong>r é um verbo que sabemos conjugar<br />

como ninguém, sobretudo na primeira pessoa: eu<br />

cuido, nós cui<strong>da</strong>mos.<br />

A publicação deste número assinala também os<br />

primeiros seis meses de man<strong>da</strong>to <strong>da</strong> nova equipa <strong>da</strong><br />

<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong>. Têm sido tempos de estudo,<br />

de diagnóstico e combate. É com particular satisfação<br />

que vejo os enfermeiros a liderar o debate sobre saúde<br />

em Portugal. Estamos a viver um tempo novo. Saibamos<br />

aproveitar a maré e, como explica o enfermeiro<br />

Alexandre Frutuoso nas páginas 18 a 22, utilizar esta<br />

on<strong>da</strong> para garantir que ninguém, nem enfermeiros nem<br />

doentes, está sozinho. Pela saúde de to<strong>dos</strong>.


ROE 52 Julho 2016<br />

4 PULSAÇÕES<br />

DE SORRISO NA ESTRADA<br />

A COMBATER A SOLIDÃO<br />

Já lá vai o tempo em que eram confundi<strong>dos</strong> com o padeiro. “Era preciso buzinar”,<br />

recor<strong>da</strong> Maria José Valente, a enfermeira que as gentes de Nisa transformaram em Zézinha.<br />

Hoje, no Interior envelhecido e desertificado, há um País que espera na berma <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />

pela visita <strong>dos</strong> enfermeiros. Ângela diz, sem medo, que ama os i<strong>dos</strong>os com quem se cruza nas<br />

estra<strong>da</strong>s de Baião porque decidiu que queria viver assim: a cui<strong>da</strong>r de quem já tanto deu.<br />

com grande estima que Rosária Pires, de 71 anos,<br />

habitante de Pé <strong>da</strong> Serra, Nisa (Alentejo), fala de<br />

Maria José Valente, enfermeira <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel<br />

de Saúde (UMS). “Tive a minha mãe 12 anos na minha<br />

casa. Morreu com quase 99 anos. E a Zézinha ia sempre<br />

ver-lhe a tensão e a diabetes ou <strong>da</strong>r injecções. Sempre<br />

me disse que se a minha mãe chegasse a ficar acama<strong>da</strong><br />

também estava disponível para me aju<strong>da</strong>r”.<br />

“A Maria José é uma queri<strong>da</strong> na maneira como<br />

executa o trabalho e para nós é uma amiga. Não é a<br />

“senhora enfermeira”, é a Zézinha”. É desta forma que<br />

Maria Almei<strong>da</strong>, de 68 anos, reforça o carinho que to<strong>dos</strong><br />

sentem por quem deles cui<strong>da</strong> e os arranca às “malhas”<br />

<strong>da</strong> solidão. Para a ex-emigrante em Paris, a existência<br />

<strong>da</strong> UMS “é essencial principalmente para as pessoas<br />

que não têm meio de transporte. E se é algo bom temos<br />

que aproveitá-lo”.<br />

Já Maria Correia, de 72 anos, e<br />

José Pereira, com 79 anos, salientam<br />

o valor <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de.<br />

“Assim temos sempre consulta,<br />

o que nem sempre acontece no<br />

Centro de Saúde de Nisa”, acrescenta<br />

a nossa entrevista<strong>da</strong>.<br />

O reconhecimento e o afecto<br />

transmiti<strong>dos</strong> pelas populações<br />

foram factores que levaram a<br />

enfermeira a optar por este projecto.<br />

“Gosto muito do contacto<br />

com as pessoas e fico contente<br />

com a confiança que elas depositam<br />

em mim”. Mas no início, em<br />

2007, não foi fácil: “as pessoas<br />

não conheciam a iniciativa e por isso era preciso buzinar<br />

para as trazer até nós. Mesmo assim havia quem, pensando<br />

que éramos o padeiro, não saía de casa ou dizia<br />

que não precisava de pão”, recor<strong>da</strong> sorrindo.<br />

Uma vez quebrado o “gelo” inicial, tudo se modificou.<br />

Há até casos em que pessoas de umas locali<strong>da</strong>des vão a<br />

outra ter com a enfermeira. Nazaré Gomes, de 66 anos,<br />

corrobora: “Melhor é impossível. Ain<strong>da</strong> há dias me senti<br />

maldisposta e fiquei mais tranquila depois de falar com<br />

a Enf.ª Zézinha”.<br />

E se hoje há um grupo que frequenta a ginástica e a<br />

hidroginástica em Nisa, “isso foi porque nós os incentivámos”,<br />

salienta Maria José Valente. Da mesma forma,<br />

alguns casos de doentes cardíacos sujeitos a pacemaker<br />

foram primariamente identifica<strong>dos</strong> pela equipa de<br />

Enfermagem.


5<br />

ZÉZINHA E ÂNGELA<br />

ESTÃO ONDE TANTAS<br />

VEZES NÃO ESTÁ<br />

MAIS NINGUÉM<br />

ÚNICO RECURSO<br />

Debaixo do telheiro do Centro Cultural<br />

e Recreativo “Os Amigos do Pé <strong>da</strong> Serra”<br />

estão mais de duas dezenas de pessoas<br />

a aguar<strong>da</strong>r vez para serem atendi<strong>da</strong>s pela<br />

enfermeira que to<strong>dos</strong> conhecem. É dia de<br />

avaliar o índice de massa corporal, medir<br />

a tensão arterial e promover, de forma personaliza<strong>da</strong>,<br />

hábitos de vi<strong>da</strong> saudáveis.<br />

«TIVE A MINHA MÃE<br />

12 ANOS NA MINHA<br />

CASA. MORREU COM<br />

QUASE 99 ANOS.<br />

E A ZÉZINHA IA<br />

SEMPRE VER-LHE<br />

A TENSÃO E A<br />

DIABETES OU DAR<br />

INJECÇÕES»<br />

Pé <strong>da</strong> Serra é uma locali<strong>da</strong>de do Alto Alentejo a oito<br />

quilómetros <strong>da</strong> sede de concelho e com pouco mais de<br />

100 habitantes. Para lá chegar, e combater a solidão a<br />

que está vota<strong>da</strong>, é necessário percorrer uma sinuosa<br />

e estreita estra<strong>da</strong>, esperando que o cruzamento com<br />

outros veículos fora <strong>da</strong>s “escapatórias” não ocorra.<br />

Depois do fecho de algumas extensões, a Uni<strong>da</strong>de<br />

Móvel de Saúde do Alentejo passou a ser o único<br />

recurso <strong>da</strong> população de outras 18 locali<strong>da</strong>des. Com<br />

ela, os “utentes sentem-se mais protegi<strong>dos</strong> porque<br />

é uma medi<strong>da</strong> de conforto fun<strong>da</strong>mental para o seu<br />

bem-estar”, explica António Diniz, Coordenador <strong>da</strong><br />

Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de do Centro de<br />

Saúde (CS) de Nisa.<br />

Na uni<strong>da</strong>de móvel fazem-se domicílios, rastreios,<br />

administra-se a vacina <strong>da</strong> gripe e vigiam-se doenças<br />

como a obesi<strong>da</strong>de, hipertensão e diabetes. Avalia-se o<br />

estado de saúde do i<strong>dos</strong>o e há também acções de sensibilização<br />

colectivas por ocasião de algumas efemérides.<br />

Nos casos em que isso se justifica, a enfermeira referencia<br />

o utente para o médico de família, o que facilita a marcação<br />

<strong>da</strong> consulta. “São pessoas muito i<strong>dos</strong>as cujas famílias<br />

não estão cá, por isso vivem em solidão. Logo, não vamos<br />

ser nós a complicar”, salienta Maria José Valente.<br />

Em nove anos a UMS do Alentejo tem <strong>da</strong>do provas:<br />

“há poucas pessoas acama<strong>da</strong>s porque são atempa<strong>da</strong>mente<br />

encaminha<strong>da</strong>s para casa <strong>dos</strong> familiares ou<br />

para o lar”. Na diabetes, por exemplo, “distribuímos


ROE 52 Julho 2016<br />

6 PULSAÇÕES<br />

Polivalência O volante <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Nisa<br />

pertence a João Ventura, que também aju<strong>da</strong><br />

a animar os tempos de espera <strong>dos</strong> utentes.<br />

Isolamento Os pouco mais de 100 habitantes<br />

de Pé <strong>da</strong> Serra encontram nesta iniciativa<br />

o conforto <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> e uma mão que os liga<br />

ao mundo.<br />

máquinas a to<strong>dos</strong> os utentes e fizemos-lhe o ensino para<br />

o autocontrolo <strong>da</strong> doença. Quando registam algum<br />

problema é que vêm ter connosco”.<br />

Segundo João Ventura, motorista e assistente operacional<br />

do CS, a uni<strong>da</strong>de – que resulta de uma parceria<br />

entre o CS de Nisa/Administração Regional de Saúde<br />

(ARS) do Alentejo e a Câmara Municipal local – “veio<br />

para suprimir lacunas e as pessoas têm demonstrado<br />

uma boa adesão”.<br />

BAIÃO: HÁ UM ANJO NA SERRA<br />

“Este serviço é muito importante. Somos quase to<strong>dos</strong><br />

i<strong>dos</strong>os e não temos transporte”. Além disso, “gosto<br />

de rever os amigos, vizinhos e as pessoas que cui<strong>da</strong>m<br />

de nós”, diz-nos Otília Briga, de 71 anos, habitante<br />

de Sacões, Baião (Douro). “Estou muito satisfeita”,<br />

sublinha, salientando as mais-valias de um cui<strong>da</strong>do<br />

diferenciado de proximi<strong>da</strong>de: “O apoio <strong>da</strong> Enf.ª Ângela<br />

é importante para continuar com a tensão vigia<strong>da</strong> e<br />

controla<strong>da</strong>. Há pessoas que têm aparelhos em casa,<br />

mas eu acho que é sempre melhor vir ter com a Enf.ª<br />

Ângela. Foi para isto que ela estudou muito”. Mais: “No<br />

ano passado tive uma hérnia e uma crise de dor ciática e<br />

nessa altura a Enf.ª Ângela foi ver-me a casa”.<br />

É dia de visita <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Saúde (UMS)<br />

do Centro de Saúde (CS) de Baião àquela pequena locali<strong>da</strong>de<br />

“crava<strong>da</strong>” nas encostas sinuosas <strong>da</strong> freguesia<br />

de Teixeira, a mais remota do concelho. No ponto de<br />

encontro, na berma <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> que serpenteia a Serra<br />

do Marão, já está um grupo de pessoas à espera de<br />

Ângela Pinto, enfermeira, e de Alfredo Ribeiro, motorista<br />

<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de. São eles quem lhes diz como estão de<br />

saúde, dão conselhos e um dedo de conversa.<br />

Para Rosa Borges, com 70 anos, “ter o serviço à porta<br />

é sempre melhor do que ir para longe. E a Enf.ª Ângela<br />

está sempre bem-disposta, é muito nossa amiga”.<br />

António Briga, de 75 anos, também é utente assíduo<br />

<strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Baião. “Com 250€ de reforma não<br />

podemos gastar dinheiro a ir para Baião saber como está<br />

a nossa saúde”. E com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> Enf.ª Ângela sente-se<br />

mais acompanhado. “Isto é algo que deve ser mantido.<br />

Se tivermos algum problema de saúde no intervalo <strong>da</strong>s<br />

consultas com o médico podemos sempre recorrer à<br />

uni<strong>da</strong>de”.<br />

Os 14 quilómetros que separam Baião de Sacões<br />

parecem coisa pouca, mas o relevo desta região faz<br />

com que a viagem demore cerca de 30 minutos. E para<br />

os utentes é óptimo poderem ser acompanha<strong>dos</strong> com


7<br />

Atenção total Ângela não olha só para o corpo.<br />

Sabe que no cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> mente pode estar o segredo<br />

do envelhecimento saudável.<br />

Interaju<strong>da</strong> Alfredo Ribeiro, motorista <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de<br />

Móvel de Saúde de Baião, aju<strong>da</strong> a recolher<br />

os boletins de saúde <strong>da</strong>s pessoas que aguar<strong>da</strong>m<br />

por Ângela.<br />

regulari<strong>da</strong>de por uma enfermeira que já os conhece,<br />

sem terem de se deslocar à vila.<br />

«COM 250€<br />

DE REFORMA NÃO<br />

PODEMOS GASTAR<br />

DINHEIRO A IR<br />

PARA BAIÃO<br />

SABER COMO ESTÁ<br />

A NOSSA SAÚDE.<br />

ISTO É ALGO<br />

QUE DEVE SER<br />

MANTIDO. »<br />

Ângela é sinónimo de “anjo”, uma espécie de “anjo<br />

<strong>da</strong> guar<strong>da</strong>” que aju<strong>da</strong> as gentes <strong>da</strong> Serra do Marão a ter<br />

uma velhice mais protegi<strong>da</strong> e acompanha<strong>da</strong>. A enfermeira<br />

confirma: “especialmente para os que não têm<br />

recursos, sou a única profissional de saúde que consegue<br />

chegar mais perto deles, conversar com eles”.<br />

O momento também serve para fazer uma breve<br />

acção de sensibilização do grupo sobre os direitos <strong>dos</strong><br />

utentes e a importância de manter um bom estado físico<br />

e mental. “Tentamos esclarecer dúvi<strong>da</strong>s, reforçar a<br />

auto-estima e o pensamento positivo. No fundo, procuramos<br />

fomentar o envelhecimento saudável, reduzindo<br />

a solidão, favorecendo o convívio e contribuindo<br />

para a melhoria <strong>da</strong> saúde mental <strong>dos</strong> utentes”, explica<br />

Ângela Pinto.<br />

NA VIDA A RETRIBUIR COM CARINHO<br />

Quase a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população de Sacões é i<strong>dos</strong>a,<br />

tanto que nem existe ali jardim-de-infância ou escola.<br />

Mas o contacto com pessoas de i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s<br />

é um factor muito importante na motivação <strong>da</strong> enfermeira,<br />

que confessa que o convívio muito próximo com<br />

a avó paterna despertou nela o interesse e dedicação<br />

aos anciãos. “A socie<strong>da</strong>de é o que é porque devemos<br />

muito aos i<strong>dos</strong>os. Por isso temos de demonstrar-lhes a<br />

nossa gratidão e afirmar-lhes que eles têm muito valor.<br />

O i<strong>dos</strong>o também precisa que lhe digam que o amamos”.<br />

Ângela Pinto é especialista em Enfermagem de<br />

Saúde Comunitária e está na UMS de Baião desde 2008.<br />

Mas a iniciativa já existe desde 2006, como resultado


ROE 52 Julho 2016<br />

8 PULSAÇÕES<br />

ENFERMEIROS FAZEM<br />

CENTENAS DE QUILÓMETROS<br />

PARA NÃO DEIXAR<br />

NINGUÉM SOZINHO<br />

uma embalagem diferente por ser produzido<br />

por outro laboratório”.<br />

Na consulta os utentes são pesa<strong>dos</strong>,<br />

mede-se a tensão arterial, verifica-se o<br />

boletim de vacinação e dá-se a vacina<br />

contra o tétano ou contra a gripe. Alterações<br />

na medicação, medições pontuais à<br />

diabetes e ao colesterol – tudo é registado<br />

por Ângela Pinto. Sempre que a situação<br />

assim o exija são feitos curativos e administra<strong>dos</strong><br />

injectáveis. Junto <strong>da</strong>s senhoras<br />

também se explica como devem fazer a<br />

palpação para detecção precoce do cancro<br />

<strong>da</strong> mama.<br />

Fazer a “ponte” com o CS de Baião é<br />

outra <strong>da</strong>s vertentes deste trabalho. “Caso<br />

haja necessi<strong>da</strong>de referencia-se a pessoa para<br />

outro colega ou para a uni<strong>da</strong>de de saúde”<br />

mais indica<strong>da</strong> à resolução <strong>da</strong> situação<br />

clínica. E sempre que há activi<strong>da</strong>des festivas<br />

no centro de saúde a informação é transmiti<strong>da</strong>,<br />

apelando à participação de to<strong>dos</strong>.<br />

de uma parceria entre o CS de Baião/ARS do Norte e<br />

<strong>da</strong> Câmara Municipal de Baião (CMB). Inicialmente foi<br />

dota<strong>da</strong> de um médico e destina<strong>da</strong> maioritariamente “a<br />

utentes a descoberto”. Mas há já vários anos que a uni<strong>da</strong>de<br />

móvel é assegura<strong>da</strong> em exclusivo por enfermeiros.<br />

No dia-a-dia <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de móvel adoptam-se estratégias<br />

específicas no contacto com a população: a<br />

comunicação deve ser sobretudo oral, com linguagem<br />

muito simples, e as “acções de sensibilização não podem<br />

demorar muito tempo para manter eleva<strong>dos</strong> níveis de<br />

atenção. Também fazemos desenhos ou risquinhos<br />

nas embalagens para que possam reconhecer os medicamentos”,<br />

explica a enfermeira. “Isto é especialmente<br />

importante quando o fármaco, sendo o mesmo, tem<br />

“SINTO-ME MAIS TRANQUILA”<br />

À tarde, e depois de um rápido almoço fornecido<br />

pelo Jardim-de-Infância de Teixeira,<br />

segue-se mais uma locali<strong>da</strong>de: Várzea. O isolamento<br />

também aqui é bem visível através de vias de acesso<br />

sem asfalto e de um número considerável de casas<br />

fecha<strong>da</strong>s ou em ruínas.<br />

Alfredo Ribeiro conhece os recantos do concelho<br />

como se fossem os cantos <strong>da</strong> sua casa. Além de aju<strong>da</strong>r<br />

Ângela Pinto com a recolha <strong>dos</strong> cartões de utente e a<br />

reposição de algum material, o motorista <strong>da</strong> CMB está<br />

em permanente contacto com a população que aguar<strong>da</strong><br />

junto à carrinha. E também é ele que contacta os utentes<br />

habituais por telefone, geralmente na véspera <strong>da</strong> visita<br />

<strong>da</strong> UMS a determina<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de. Para Alfredo Ribeiro,<br />

o impacto <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de móvel é inegável: “Aqui sentimos<br />

o reconhecimento e amizade <strong>da</strong>s pessoas”, salienta.


9<br />

Isso mesmo é confirmado por<br />

Elvira Ribeiro, de 68 anos. “A uni<strong>da</strong>de<br />

móvel é uma coisa muito boa porque a<br />

Enf.ª Ângela vigia-me a saúde e sintome<br />

mais tranquila. Além disso posso<br />

pedir conselhos sobre os alimentos<br />

ou medicamentos em vez de os pedir<br />

à minha vizinha, que não tem estu<strong>dos</strong><br />

como eu”.<br />

O anúncio feito pelo padre durante<br />

uma missa fez com que Eulália <strong>da</strong><br />

Conceição, com 65 anos, tivesse<br />

conhecimento <strong>da</strong> iniciativa, há 10 anos,<br />

e desde aí tem sido uma utente assídua.<br />

Também Otília Fonseca, de 70<br />

anos, valoriza o contacto com a Enf.ª<br />

Ângela, alguém que conhece há muito<br />

e que faz com que “quando chegamos à<br />

Teixeira, o médico já tem lá a informação<br />

to<strong>da</strong>”. E dá um exemplo: o marido é<br />

doente cardíaco e nos últimos tempos<br />

tem sangrado do nariz. A presença <strong>da</strong><br />

Enf.ª Ângela vem mesmo a calhar para<br />

lhe explicar o que deve fazer.<br />

< ANTÓNIO DINIZ<br />

Coordenador <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

na Comuni<strong>da</strong>de do CS de Nisa<br />

A visita a Nisa revelou um problema que não é novo,<br />

mas que tem vindo a agravar-se: as condições<br />

do centro de saúde local não são as melhores.<br />

A uni<strong>da</strong>de está instala<strong>da</strong> no antigo hospital concelhio<br />

<strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia, onde “há infiltrações,<br />

dificul<strong>da</strong>des de climatização e de estrutura”,<br />

além de espaços inúteis que não se adequam<br />

ao funcionamento e operacionali<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

de um centro de saúde, explica António Diniz.<br />

Por isso, “é uma necessi<strong>da</strong>de imperiosa a construção<br />

de uma nova uni<strong>da</strong>de de saúde para os cerca de<br />

7.000 habitantes do concelho de Nisa”. Só assim se<br />

conseguirá “adequar os recursos e criar estruturas<br />

capazes de permitir um exercício profissional de<br />

quali<strong>da</strong>de, com natural reflexo na melhoria <strong>dos</strong><br />

cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> a prestar”, reforça o Coordenador <strong>da</strong><br />

Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de do CS de Nisa.


ROE 52 Julho 2016<br />

10 POSICIONAMENTOS<br />

DE SALÁRIOS<br />

INDIGNOS<br />

A ACÇÕES<br />

INSPECTIVAS<br />

Iniciativas<br />

do segundo<br />

trimestre<br />

de 2016<br />

ANÚNCIO INDIGNO<br />

MOTIVA REACÇÃO<br />

E ACÇÃO JUDICIAL<br />

A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

solicitou ao Lar Via Sol a remoção<br />

imediata de ofertas de emprego<br />

indignas para a profissão e advertiu<br />

mesmo que irá agir a nível judicial<br />

caso haja usurpação de funções de<br />

Enfermagem. Em causa está um<br />

anúncio de emprego publicado<br />

no site Net-empregos que tinha<br />

como objectivo a contratação<br />

de um aluno de Enfermagem<br />

do 4º ano (possível usurpação)<br />

ou enfermeiro em início de<br />

carreira, por valores considera<strong>dos</strong><br />

absolutamente indignos para<br />

a profissão.<br />

SNS PRECISA DE GESTORES<br />

QUE DEFENDAM OS DOENTES<br />

“Os gestores de topo na Saúde têm<br />

de tomar uma decisão: ou estão<br />

do lado <strong>dos</strong> doentes, ou estão do<br />

lado de quem os nomeia”. Esta foi a<br />

principal ideia veicula<strong>da</strong> por Ana Rita<br />

Cavaco, Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>Enfermeiros</strong>, no fórum “Os Hospitais<br />

e a Reforma do Serviço Nacional<br />

de Saúde - Reformar. Transformar.<br />

Modernizar”.<br />

ORDEM AVANÇA COM<br />

FORMAÇÃO PROFISSIONAL<br />

A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

(OE) quer construir um plano<br />

de formação para os seus<br />

membros, de forma a promover<br />

o desenvolvimento profissional<br />

<strong>dos</strong> enfermeiros. “A aposta<br />

na formação profissional é<br />

fun<strong>da</strong>mental para a melhoria<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

presta<strong>dos</strong> à população”, refere<br />

Luís Barreira, Vice-presidente<br />

<strong>da</strong> OE, lembrando que uma<br />

<strong>da</strong>s atribuições <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> é<br />

“fomentar o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> investigação<br />

em Enfermagem”.


11<br />

BASTONÁRIA DENUNCIA FECHO DE CAMAS<br />

O encerramento de camas por falta<br />

de enfermeiros nos hospitais de<br />

S. José e Santo António foi<br />

publicamente denunciado pela<br />

Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

(OE), no início de Junho. Ana Rita<br />

Cavaco defendeu que um despacho<br />

do Ministério <strong>da</strong> Saúde é a principal<br />

causa para estes encerramentos<br />

<strong>CUIDA</strong>DOS CONTINUADOS:<br />

FALTA DE ENFERMEIROS ATRASA<br />

“REVOLUÇÃO” NECESSÁRIA<br />

Faltam enfermeiros nas Uni<strong>da</strong>des de<br />

Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de, reali<strong>da</strong>de<br />

que coloca em causa a prestação de<br />

cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> domiciliários. “É como fazer<br />

omeletes sem ovos” referiu Graça Silveira<br />

Machado, Vice-presidente <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>Enfermeiros</strong>, no âmbito do Encontro<br />

Nacional <strong>da</strong> Rede Nacional de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

Continua<strong>dos</strong> Integra<strong>dos</strong> (RNCCI) que<br />

teve lugar, em Évora, de 6 a 7 de Junho, por<br />

ocasião do 10º aniversário <strong>da</strong> RNCCI.<br />

porque sem autonomia, os hospitais<br />

não conseguem substituir<br />

os enfermeiros em falta.<br />

Perante o alerta deixado pela<br />

Bastonária <strong>da</strong> OE, o Secretário<br />

de Estado <strong>da</strong> Saúde, Manuel Delgado,<br />

garantiu quase de imediato que<br />

as situações estavam a ser avalia<strong>da</strong>s<br />

caso a caso.<br />

<strong>Ordem</strong> e estu<strong>da</strong>ntes pedem<br />

redução de 30% <strong>da</strong>s vagas<br />

Num acordo inédito sobre<br />

esta matéria, a <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />

<strong>Enfermeiros</strong> (OE) e a Federação<br />

Nacional <strong>da</strong>s Associações de<br />

Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />

(FNAEE) solicitaram a Manuel<br />

Heitor, Ministro <strong>da</strong> Ciência,<br />

Tecnologia e Ensino Superior<br />

que haja uma redução em 30%<br />

no número de vagas <strong>dos</strong> cursos<br />

de Enfermagem. “Actualmente<br />

há enfermeiros suficientes<br />

para contratar e suprir as<br />

carências senti<strong>da</strong>s nos serviços<br />

de saúde. São pessoas para<br />

quem a principal opção tem<br />

sido emigrar”. Esta é a posição<br />

defendi<strong>da</strong> por Ana Rita Cavaco,<br />

Bastonária <strong>da</strong> OE, e corrobora<strong>da</strong><br />

pela FNAEE.<br />

Prisões motivam pedido<br />

de audiência a Ministra <strong>da</strong> Justiça<br />

A Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

pediu, no início de Junho uma audiência<br />

com carácter de urgência a Francisca Van<br />

Dunem, Ministra <strong>da</strong> Justiça, para debater<br />

o problema <strong>da</strong> falta de enfermeiros nas<br />

prisões. “É inaceitável que possam existir<br />

ci<strong>da</strong>dãos, seja qual for a sua situação,<br />

que se vejam priva<strong>dos</strong>” de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> de<br />

Enfermagem, afirma Ana Rita Cavaco.<br />

«A administração de um medicamento<br />

não pode ficar à responsabili<strong>da</strong>de de alguém<br />

que não tem competência para o efeito».<br />

Plataforma aju<strong>da</strong> enfermeiros<br />

Desde mea<strong>dos</strong> de Maio que a<br />

Plataforma de Mobili<strong>da</strong>de Profissional<br />

Global está disponível para receber<br />

currículos e promover oportuni<strong>da</strong>des<br />

de trabalho nacionais e internacionais em<br />

Enfermagem. Numa primeira fase, podem<br />

inscrever-se na plataforma os candi<strong>da</strong>tos<br />

migrantes licencia<strong>dos</strong> ou pós-gradua<strong>dos</strong><br />

em Enfermagem, bem como empresas<br />

nacionais e internacionais que preten<strong>da</strong>m<br />

recrutar enfermeiros. “É importante estar<br />

neste projecto”, refere Graça Silveira<br />

Machado, <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong>.<br />

Ordens vão participar<br />

em fiscalizações a uni<strong>da</strong>des de saúde<br />

A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong> (OE) foi a anfitriã<br />

de uma reunião que juntou à mesma mesa<br />

a Inspecção Geral <strong>da</strong>s Activi<strong>da</strong>des em Saúde,<br />

<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> Farmacêuticos, <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />

Médicos e a Enti<strong>da</strong>de Reguladora <strong>da</strong> Saúde.<br />

Objectivo: firmar um protocolo conjunto para<br />

a realização de acções inspectivas simples<br />

a uni<strong>da</strong>des de saúde, tendo em atenção<br />

o problema <strong>da</strong>s dotações inseguras de<br />

profissionais, nomea<strong>da</strong>mente de enfermeiros.<br />

Esta reunião de trabalho inédita decorreu<br />

na sede <strong>da</strong> OE, a 27 de Abril.


ROE 52 Julho 2016<br />

12 ENTREVISTA<br />

ANA RITA<br />

CAVACO<br />

Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong><br />

<strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />

«OS ENFERMEIROS<br />

ESTÃO A PERDER<br />

O MEDO PORQUE<br />

SENTEM QUE TÊM<br />

UMA ORDEM QUE<br />

OS DEFENDE»<br />

“A mu<strong>da</strong>nça começa em ca<strong>da</strong> um de nós, está em<br />

marcha e nota-se: os enfermeiros estão a liderar<br />

o debate sobre Saúde em Portugal e isso é histórico”,<br />

explica Ana Rita Cavaco. Palavras de quem diz “estar”<br />

Bastonária porque “ser” é outra coisa. “Temos o dever<br />

de proteger os doentes, defender os enfermeiros<br />

e garantir vi<strong>da</strong> longa ao nosso sistema de saúde.<br />

E vamos fazê-lo, doa a quem doer”. Este é o seu estilo,<br />

sem medo de palavras ou acções.


ROE 52 Julho 2016<br />

14 ENTREVISTA<br />

<strong>CUIDA</strong> – Qual o balanço que faz destes primeiros<br />

meses enquanto Bastonária?<br />

ANA RITA CAVACO – Faço um balanço positivo do<br />

ponto de vista <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de com os colegas que<br />

trabalham to<strong>dos</strong> os dias nos serviços e pelo facto de<br />

conseguirmos marcar a “agen<strong>da</strong>” <strong>da</strong> Saúde. Com<br />

esta equipa à frente <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> temos mobilizado<br />

o debate político porque há problemas graves para<br />

resolver. Os enfermeiros estão a liderar o debate<br />

sobre Saúde em Portugal e isso é histórico. Foi esse<br />

o compromisso que assumimos com as pessoas<br />

e se não o fizéssemos estaríamos a falhar perante<br />

o País.<br />

Já no que diz respeito às relações com o Governo,<br />

gostava que estivessem num patamar mais operacional.<br />

As intenções podem ser boas, mas há<br />

uma altura em que têm de se traduzir em actos<br />

que se sintam nos serviços. A classe política –<br />

e não apenas este Governo – tem que se habituar<br />

a cumprir o que diz que vai fazer. Isso é muito<br />

importante para termos confiança uns nos outros<br />

e gerirmos bem as nossas instituições.<br />

“TEMOS O DEVER DE<br />

PROTEGER OS DOENTES,<br />

DEFENDER OS ENFERMEIROS<br />

E GARANTIR LONGA VIDA AO<br />

NOSSO SISTEMA DE SAÚDE.<br />

E VAMOS FAZÊ-LO,<br />

DOA A QUEM DOER”<br />

<strong>CUIDA</strong> – Até onde é que a OE está disposta a ir<br />

para que a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Saúde mude definitivamente?<br />

ARC – Até onde for preciso. Os enfermeiros são<br />

pessoas simples que trabalham muito to<strong>dos</strong> os<br />

dias, com uma noção muito clara <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong>s pessoas e está na altura <strong>dos</strong> gestores <strong>da</strong>s<br />

uni<strong>da</strong>des de saúde também terem essa noção.<br />

Os conselhos de administração <strong>dos</strong> hospitais<br />

têm de perceber de uma vez por<br />

to<strong>da</strong>s que não são extensões do Governo<br />

e não podem esconder os problemas. Por<br />

isso, a OE irá sempre denunciar situações<br />

que colocam em risco a segurança<br />

<strong>da</strong>s pessoas para que elas se resolvam,<br />

porque queremos que o Serviço Nacional<br />

de Saúde (SNS) cresça, não que implu<strong>da</strong>.<br />

Os enfermeiros estão a perder o medo<br />

porque sentem que têm uma <strong>Ordem</strong> que<br />

os defende. Chegam-nos ca<strong>da</strong> vez mais<br />

denúncias sobre situações que colocam<br />

em risco a segurança <strong>da</strong>s pessoas.<br />

Os colegas começaram a entender que<br />

é assim que se faz a mu<strong>da</strong>nça, que a<br />

mu<strong>da</strong>nça começa em ca<strong>da</strong> um de nós.<br />

<strong>CUIDA</strong> – Dos relatos que lhe chegam<br />

directamente <strong>dos</strong> serviços, qual é o<br />

«sintoma» mais prevalente?<br />

ARC – Há pessoas que me dizem que estão de<br />

baixa por exaustão, outras falam em situações<br />

de grande stress psicológico que as<br />

chefias intermédias ou a gestão <strong>dos</strong> hospitais<br />

acabaram por agravar. Quem tem


15<br />

funções de chefia – quer seja intermédia ou de topo<br />

– tem de pensar como podem gerir esta reali<strong>da</strong>de<br />

e perceber se está a preveni-la ou se estão a ser catalisadores.<br />

Recordo que há princípios que se aplicam<br />

a to<strong>dos</strong> e por isso, ao contrário do que aconteceu<br />

em man<strong>da</strong>tos anteriores, se houver um enfermeiro<br />

a incumprir o que está estipulado pela <strong>Ordem</strong> tem<br />

de responder por isso, seja ou não chefe.<br />

<strong>CUIDA</strong> – No final do man<strong>da</strong>to, o que fará com que<br />

esta equipa tenha a sensação de “missão cumpri<strong>da</strong>”?<br />

ARC – Temos um plano de acção com 10 propostas<br />

e é evidente que as dotações seguras são prioritárias.<br />

Mas ficarei muito feliz se esta equipa<br />

conseguir mu<strong>da</strong>r a reali<strong>da</strong>de com a aplicação de<br />

outras propostas, nomea<strong>da</strong>mente no que diz respeito<br />

à atribuição de especiali<strong>da</strong>des, criação de<br />

novas especiali<strong>da</strong>des e de instrumentos que valorizem<br />

os enfermeiros na prática. Gostava que <strong>da</strong>qui<br />

a quatro anos os enfermeiros sentissem ain<strong>da</strong><br />

mais orgulho em ser enfermeiros, e não menos<br />

importante, que o nosso País percebesse de uma<br />

vez por to<strong>da</strong>s que não deixamos ninguém sozinho.<br />

Temos o dever de proteger os doentes, defender os<br />

enfermeiros e garantir vi<strong>da</strong> longa ao nosso sistema<br />

de saúde. E vamos fazê-lo, doa a quem doer.<br />

<strong>CUIDA</strong> – Qual é a receptivi<strong>da</strong>de do Ministério<br />

<strong>da</strong> Saúde à questão <strong>da</strong>s especiali<strong>da</strong>des?<br />

ARC – O senhor Ministro e os senhores secretários de<br />

Estado concor<strong>da</strong>m com modelo de especiali<strong>da</strong>des<br />

proposto pela OE e demostraram abertura para<br />

aju<strong>da</strong>r a <strong>Ordem</strong> a concretizá-lo. Por isso, vão haver<br />

novas especiali<strong>da</strong>des em Enfermagem: as que já<br />

estavam a ser trabalha<strong>da</strong>s, mas também algumas<br />

novas.<br />

<strong>CUIDA</strong> – E a receptivi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> governantes manteve-se<br />

relativamente ao reconhecimento<br />

remuneratório <strong>dos</strong> enfermeiros especialistas?<br />

ARC – Sim, há disponibili<strong>da</strong>de, mas mais uma vez<br />

temos de passar para propostas efectivas porque<br />

se isso não acontecer obriga a <strong>Ordem</strong> a ter outro<br />

tipo de actuação. Um especialista não tem o<br />

mesmo core de competência, por isso não pode ter<br />

a mesma remuneração. Não é assim em nenhuma<br />

profissão e nós não vamos ser a excepção.<br />

<strong>CUIDA</strong> – Será que a Saúde conseguirá, no actual<br />

man<strong>da</strong>to governativo, ter mais força do que as<br />

Finanças?<br />

ARC – É um questão de priori<strong>da</strong>des. Não podemos estar<br />

sistematicamente a falar de mais dinheiro para a<br />

banca, salários mais altos para os gestores e depois<br />

não termos um plano ou uma estratégia para a<br />

Saúde. Há muito dinheiro mal gasto que pode ser<br />

investido no básico. Estas questões têm sido debati<strong>da</strong>s<br />

com outras Ordens, nomea<strong>da</strong>mente com a<br />

<strong>dos</strong> Médicos e com a <strong>dos</strong> Farmacêuticos, e pensamos<br />

to<strong>dos</strong> <strong>da</strong> mesma forma: por que é que o<br />

poder político tem esta incapaci<strong>da</strong>de? Por que é que<br />

vivemos a Saúde ao dia e não a planeamos a vários<br />

anos? Pouparíamos muitos recursos que poderíamos<br />

investir na contratação de enfermeiros.<br />

“SE HOUVER UM<br />

ENFERMEIRO A<br />

INCUMPRIR O QUE ESTÁ<br />

ESTIPULADO PELA ORDEM<br />

TEM DE RESPONDER<br />

POR ISSO, SEJA OU<br />

NÃO CHEFE”<br />

<strong>CUIDA</strong> – Acredita que os enfermeiros vão voltar<br />

aos CODU (Centro de Orientação de Doentes<br />

Urgentes)?<br />

ARC – Vamos apresentar uma proposta ao Dr. Fernando<br />

Araújo, Secretário de Estado Adjunto<br />

e <strong>da</strong> Saúde, sobre Emergência Médica. Esta é uma<br />

área onde a <strong>Ordem</strong> tem alguma culpa do ponto a<br />

que chegámos porque devia, há muito tempo, ter<br />

regulamentado as competências <strong>dos</strong> enfermeiros<br />

de Emergência Pré-hospitalar (EPH), apesar <strong>dos</strong><br />

diversos pedi<strong>dos</strong> do anterior Presidente do INEM<br />

(Instituto Nacional de Emergência Médica) à anterior<br />

direcção <strong>da</strong> OE.<br />

Relativamente aos técnicos de emergência, consideramos<br />

que to<strong>da</strong> a gente tem direito a ter uma<br />

carreira – desde que não coli<strong>da</strong> com a nossa. Para<br />

se ser médico ou enfermeiro tem que se tirar os


ROE 52 Julho 2016<br />

16 ENTREVISTA<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

NÃO PODEMOS ESTAR<br />

SISTEMATICAMENTE<br />

A FALAR DE MAIS<br />

DINHEIRO PARA A BANCA,<br />

SALÁRIOS MAIS ALTOS<br />

PARA OS GESTORES<br />

E DEPOIS NÃO<br />

TERMOS UM PLANO<br />

OU UMA ESTRATÉGIA<br />

PARA A SAÚDE.<br />

respectivos cursos. É certo que a anterior direcção<br />

<strong>da</strong> OE ganhou uma providência cautelar, mas<br />

nunca avançou com o processo principal. Logo,<br />

foi uma conquista temporária e limita<strong>da</strong>.<br />

Na proposta que iremos apresentar ao Ministério<br />

incluímos a regulação de competências <strong>dos</strong><br />

enfermeiros de EPH e uma nova forma de funcionamento<br />

de determina<strong>dos</strong> meios onde existem<br />

enfermeiros.<br />

<strong>CUIDA</strong> – Costuma referir que “está Bastonária” e<br />

não que “é Bastonária”. O que mudou no seu<br />

dia-a-dia desde 30 de Janeiro?<br />

ARC – Mudou a minha disponibili<strong>da</strong>de para pessoas<br />

que não estão relaciona<strong>da</strong>s com a Enfermagem.<br />

Há amigos que me vêem muito menos, mas em<br />

contraparti<strong>da</strong> passei a estar em contacto quase 24<br />

horas por dia com enfermeiros porque respondo a<br />

to<strong>da</strong>s as solicitações. Não há um dia em que não<br />

respon<strong>da</strong> a várias mensagens de colegas, emails<br />

e passe horas ao telefone a tentar desbloquear as<br />

mais varia<strong>da</strong>s situações. De resto, continuo a ser<br />

a mesma pessoa. Seguramente que farei um bom<br />

man<strong>da</strong>to se não perder de vista que serei sempre<br />

enfermeira, serei sempre a Ana Rita e que <strong>da</strong>qui a<br />

quatro anos voltarei a exercer a minha profissão,<br />

como sempre fiz.<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


ROE 52 Julho 2016<br />

18 EVIDÊNCIAS<br />

LIDAR “BEM” COM<br />

A MORTE MELHORA<br />

<strong>CUIDA</strong>DOS EM FIM DE VIDA<br />

Serviços devem promover<br />

formação em Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

Paliativos<br />

Investigação conclui que os enfermeiros que se sentem mais à vontade<br />

com a morte dão melhor resposta aos utentes em fim de vi<strong>da</strong><br />

Que os enfermeiros são os profissionais de saúde que acompanham<br />

com maior proximi<strong>da</strong>de os doentes em final de vi<strong>da</strong> já ninguém tem<br />

dúvi<strong>da</strong>s. Mas Sara Serra procurou ir mais longe e saber se a atitude de<br />

colegas perante a morte influencia os cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> presta<strong>dos</strong>. E segundo<br />

a autora do estudo, a resposta é afirmativa. O enfermeiro que “encare<br />

a morte como uma parte integrante no ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> tem scores mais<br />

eleva<strong>dos</strong>” nos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> ao doente em fim de vi<strong>da</strong>.<br />

E apesar de a maioria <strong>dos</strong> inquiri<strong>dos</strong> ter uma postura positiva na<br />

altura de prestar cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> paliativos, a ver<strong>da</strong>de é que a investigadora<br />

também apurou que, individualmente, existe “uma clara dificul<strong>da</strong>de<br />

em li<strong>da</strong>r com os sentimentos do doente”. A este facto acresce a dificul<strong>da</strong>de<br />

em falar sobre a morte e em “envolver a família na prestação<br />

de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>”.<br />

Sara Serra verificou ain<strong>da</strong> que os “enfermeiros com formação em<br />

cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> no fim de vi<strong>da</strong> e luto têm propensão a atitudes negativas na<br />

Escala de FATCOD” (Frommelt<br />

Attitude Toward Care of the Dying<br />

Instrument), o que até parece paradoxal,<br />

podendo estar relacionado<br />

com questões religiosas, culturais<br />

ou até organizacionais.<br />

Para superar esta e outras<br />

dificul<strong>da</strong>des identifica<strong>da</strong>s, a enfermeira<br />

do Serviço de Medicina C<br />

do Centro Hospitalar e Universitário<br />

de Coimbra recomen<strong>da</strong><br />

“o desenvolvimento de um programa<br />

de formação em serviço<br />

na área <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> paliativos”<br />

e um ajustamento nas dinâmicas<br />

<strong>dos</strong> serviços que conduza a<br />

melhores atitudes face à morte.<br />

APESAR DE A<br />

MAIORIA DOS<br />

INQUIRIDOS TER<br />

UMA POSTURA<br />

POSITIVA, A<br />

VERDADE É<br />

QUE EXISTE<br />

“UMA CLARA<br />

DIFICULDADE EM<br />

LIDAR COM OS<br />

SENTIMENTOS<br />

DO DOENTE”<br />

Enf.ª Sara Serra,<br />

do Serviço de Medicina C<br />

do Centro Hospitalar e<br />

Universitário de Coimbra<br />

<strong>Enfermeiros</strong> casa<strong>dos</strong><br />

e divorcia<strong>dos</strong> têm maior<br />

pontuação nas dimensões “medo”<br />

e “evitamento”;<br />

<strong>Enfermeiros</strong> com um filho<br />

apresentam uma nota mais<br />

eleva<strong>da</strong> nas atitudes de<br />

evitamento perante a morte;<br />

<strong>Enfermeiros</strong> com sete ou mais<br />

anos de experiência apresentam<br />

atitudes de escape, mas também<br />

de aproximação;


19<br />

O estudo intitulado “Atitudes do enfermeiro em cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

diferencia<strong>dos</strong> face à morte e aos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> ao doente<br />

em fim de vi<strong>da</strong>” também analisou diversas variáveis do foro<br />

profissional e sociodemográfico.<br />

Foram 87 os enfermeiros de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> diferencia<strong>dos</strong><br />

que constituíram, de forma voluntária, a amostra deste<br />

estudo. To<strong>dos</strong> exerciam funções em serviços de Medicina<br />

por se considerar que neles “os profissionais de Enfermagem<br />

estão expostos a um elevado índice de mortali<strong>da</strong>de”.<br />

A amostra foi maioritariamente composta por enfermeiras<br />

com i<strong>da</strong>de inferior a 31 anos, solteiras e sem filhos. Além <strong>da</strong><br />

licenciatura em Enfermagem, a maioria possuía em média<br />

nove anos de exercício profissional.<br />

Para recolher <strong>da</strong><strong>dos</strong> foi utilizado um questionário sociodemográfico<br />

padronizado, a Escala de Avaliação do Perfil<br />

de Atitudes acerca <strong>da</strong> Morte (EAPAM) e a versão traduzi<strong>da</strong><br />

e vali<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> Escala de FATCOD.<br />

Para a autora, esta é uma área que merece continuar a<br />

ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> face à importância que assume para os<br />

cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>, bem como a “fase incipiente” em que se encontra<br />

no panorama <strong>da</strong> investigação nacional.<br />

<strong>Enfermeiros</strong> com formação<br />

pós-gradua<strong>da</strong> apresentam atitudes<br />

de neutrali<strong>da</strong>de acerca <strong>da</strong> morte.<br />

<strong>Enfermeiros</strong> com Licenciatura apresentam<br />

atitudes de escape;<br />

<strong>Enfermeiros</strong> que nunca ou raramente<br />

contactam com a morte apresentam<br />

tendencialmente atitudes de aproximação;<br />

<strong>Enfermeiros</strong> sem formação subordina<strong>da</strong><br />

aos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> em fim de vi<strong>da</strong> apresentam<br />

um resultado mais elevado na dimensão<br />

“evitamento”;<br />

<strong>Enfermeiros</strong> com formação nesta área<br />

apresentam maior pontuação nas atitudes<br />

negativas <strong>da</strong> Escala FATCOD;<br />

Relação positiva entre atitudes positivas<br />

<strong>da</strong> FATCOD e a dimensão “neutrali<strong>da</strong>de”.<br />

>> Agentes influenciadores O estudo revelou<br />

que a i<strong>da</strong>de, estado civil, número de filhos, tempo<br />

de exercício profissional, habilitações profissionais<br />

e regulari<strong>da</strong>de de contacto com a morte<br />

influenciam as atitudes acerca <strong>da</strong> morte.<br />

>> Formação A formação também influencia<br />

as atitudes, pelo que é necessário investir nela.<br />

>> Escala traduzi<strong>da</strong> e vali<strong>da</strong><strong>da</strong> Este trabalho deu<br />

origem à tradução e vali<strong>da</strong>ção para a população<br />

portuguesa <strong>da</strong> Escala FATCOD (Frommelt Attitude<br />

Toward Care of the Dying Instrument).<br />

>> Novas dimensões A versão portuguesa organiza<br />

a FATCOD em quatro dimensões: atitudes de<br />

aproximação, atitudes de evicção, atitudes de<br />

desconforto/esmorecimento e atitudes assertivas.<br />

>> Perfil de Atitudes A nova escala, denomina<strong>da</strong><br />

de Perfil de Atitudes face aos Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> aos<br />

Doentes em Fim-de-Vi<strong>da</strong> (PACDFV), possui<br />

29 itens pontua<strong>dos</strong> de 1 a 5.


ROE 52 Julho 2016<br />

20 DE FOLGA<br />

ALEXANDRE FRUTUOSO<br />

“Num raio de 35 quilómetros conseguimos ter uma grande<br />

varie<strong>da</strong>de de “cenários” que vão do Litoral ao Interior, passando<br />

pelo urbano. O difícil, por vezes, é escolher!”. É desta forma que<br />

Alexandre Frutuoso, especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica<br />

<strong>da</strong> ambulância de Suporte Intermédio de Vi<strong>da</strong> (SIV) de Avelar,<br />

apresenta Pombal, a ci<strong>da</strong>de onde vive.<br />

“Um concelho do mar à serra” é o lema e a oferta aos turistas<br />

é varia<strong>da</strong>. Na costa pode praticar activi<strong>da</strong>des náuticas, na ci<strong>da</strong>de<br />

visite o castelo e os museus, na serra aposte na realização de trails. Foi<br />

isso mesmo que fizemos com o nosso guia privilegiado.<br />

POMBAL<br />

DA ENERGIA DO MAR<br />

À TRANQUILIDADE DA SERRA<br />

Uma prancha que os pais lhe trouxeram<br />

do Brasil, quando tinha<br />

14 anos, despoletou o gosto pelo<br />

surf. Hoje, aos 36 anos, “apanhar on<strong>da</strong>s”<br />

continua a ser uma paixão, apesar <strong>da</strong><br />

preenchi<strong>da</strong> agen<strong>da</strong> de Alexandre Frutuoso<br />

não permitir i<strong>da</strong>s mais frequentes até à<br />

Praia do Osso <strong>da</strong> Baleia, num <strong>dos</strong> extremos<br />

do concelho de Pombal.<br />

O nosso dia começa lá, em pleno areal<br />

<strong>da</strong> Costa <strong>da</strong> Prata. As nuvens carrega<strong>da</strong>s<br />

e o vento forte ameaçam chuva, mas isso<br />

não demove quem anseia por entrar no<br />

mar e sentir o seu poder, a sua energia.<br />

Ao longe, um veleiro avança destemido<br />

em direcção à “intempérie”, mantendo-se<br />

firme na linha do horizonte.<br />

A praia possui um extenso areal e fora<br />

<strong>da</strong> época balnear é frequenta<strong>da</strong> essencialmente<br />

por pescadores desportivos e<br />

adeptos de desportos radicais. Nos dias<br />

mais quentes enche-se de veraneantes que<br />

procuram desfrutar do seu estatuto de<br />

Praia Doura<strong>da</strong> com Bandeira Azul. Localiza<strong>da</strong><br />

em plena Mata Nacional do Urso,<br />

a Osso <strong>da</strong> Baleia também conquistou<br />

o galardão de Praia Acessível devido às<br />

infra-estruturas existentes para pessoas<br />

com mobili<strong>da</strong>de reduzi<strong>da</strong>, incluindo<br />

cadeiras especiais para banhos de mar.<br />

Conciliar a prática do desporto e o contacto com a<br />

natureza está patente em todo o concelho, a começar na<br />

praia – onde há uma ciclovia até à Nazaré. Foi lá, na Praia<br />

<strong>da</strong> Consolação, que Alexandre Frutuoso cresceu e aprendeu<br />

que o mar fazia parte integrante <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. “Não<br />

consigo estar muito tempo longe <strong>da</strong> prancha, sinto-me<br />

incompleto”. O seu gosto pela prática desportiva levou-o<br />

a ponderar a possibili<strong>da</strong>de de tirar um curso superior<br />

nessa área, mas acabou por envere<strong>da</strong>r pela Enfermagem.<br />

Actualmente admite que manter-se activo o aju<strong>da</strong> a<br />

enfrentar os desafios <strong>da</strong> Enfermagem Pré-hospitalar: “O<br />

surf e a emergência têm aspectos em comum. Em ambos<br />

temos primeiramente que<br />

avaliar as condições de<br />

segurança, sermos proactivos<br />

e prevenir o risco.<br />

Depois, há que ter persistência<br />

e resiliência”.<br />

«O SURF E A<br />

EMERGÊNCIA<br />

TÊM ASPECTOS<br />

EM COMUM»<br />

Com estes princípios em mente, Alexandre Frutuoso<br />

analisa o estado do mar, faz exercícios de aquecimento e<br />

enfrenta a corrente à procura <strong>da</strong> melhor on<strong>da</strong>.<br />

Aliás, os locais em que trabalhou foram sempre<br />

junto <strong>da</strong> costa, “por causa do surf ” e essa opção de vi<strong>da</strong><br />

saiu reforça<strong>da</strong> depois de ter frequentado o curso no Instituto<br />

Piaget de Viseu. Esteve inicialmente em Peniche,<br />

passou por Cantanhede e depois de ter tirado o curso<br />

do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)<br />

rumou ao Hospital de Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha e ao de Peniche,<br />

sempre em Viatura Médica de Emergência e Reanimação<br />

(VMER) e SIV.


«NÃO CONSIGO<br />

ESTAR MUITO<br />

TEMPO LONGE<br />

DA PRANCHA,<br />

SINTO-ME<br />

INCOMPLETO»


ROE 52 Julho 2016<br />

22 DE FOLGA<br />

encerra à<br />

quarta-feira<br />

> GASTRONOMIA<br />

Durante o almoço saboreámos as especiali<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> região no Manjar do<br />

Marquês. Ficámos rendi<strong>dos</strong> aos “Filetes<br />

de pesca<strong>da</strong> com o nosso arroz<br />

de tomate” e aos “Nossos rojões com<br />

nabiça e morcela”. Imperdíveis!<br />

também há<br />

alcofas, carpetes,<br />

capachos,<br />

chapéus, etc<br />

< ARTESANATO<br />

Os cestinhos <strong>da</strong> Ilha são peças artesanais<br />

feitas com bracejo, típicas <strong>da</strong><br />

locali<strong>da</strong>de com o mesmo nome.<br />

ONDE COMER<br />

MANJAR<br />

DO MARQUÊS<br />

Estra<strong>da</strong> Nacional 1<br />

IC2 Km 151<br />

CAFETARIA<br />

DO CASTELO<br />

Castelo<br />

RESTAURANTE<br />

VINTAGE<br />

R. Alexandre<br />

Herculano, nº 5<br />

ONDE FICAR<br />

CARDAL<br />

HOTEL***<br />

Largo<br />

do Car<strong>da</strong>l<br />

HOTEL<br />

POMBALENSE***<br />

R. Alexandre<br />

Herculano, nº 26


23<br />

UM MOURO LENDÁRIO<br />

Pombal é um concelho com 60 mil habitantes, sendo que 15<br />

mil estão concentra<strong>dos</strong> na ci<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no séc. XII pelo<br />

mestre templário Gualdim Pais. Alexandre Frutuoso vive<br />

na ci<strong>da</strong>de há cerca de quatro anos. “A minha esposa, que<br />

também é enfermeira, é de cá e aqui temos mais apoio familiar<br />

para os nossos filhos”, explica.<br />

Chega<strong>dos</strong> à vila de Pombal, é incontornável começar a<br />

visita pelo seu “castelo altaneiro”. Quem estiver em boa<br />

forma física pode fazer o percurso a pé, mas existe acesso<br />

rodoviário até ao parque de estacionamento localizado a<br />

poucos metros <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> principal. Já dentro <strong>da</strong>s muralhas é<br />

possível visitar o posto de informações e visionar dois filmes:<br />

um em 3D, dedicado à história do castelo e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, e outro<br />

em animação, contando a len<strong>da</strong> de Al-Pal-Omar, o mouro<br />

que ao luar seduzia as raparigas “bonitas e pren<strong>da</strong><strong>da</strong>s” de<br />

Pombal. Reza a história que em retaliação, os templários<br />

fecharam Al-Pal-Omar no túnel que <strong>da</strong>va acesso ao seu<br />

palácio e por cima construíram o castelo.<br />

Ao longo <strong>dos</strong> séculos a i<strong>da</strong> ao alto do cerro durante as<br />

noites de Verão tornou-se um “ritual” entre namora<strong>dos</strong>, acabando<br />

imortalizado pelo poeta Costa Pereira:<br />

Oh! Meu Pombal<br />

Se o teu castelo falasse<br />

E um dia nos contasse<br />

O que tem visto ao luar<br />

Há tantos e tantos anos<br />

Amor, ciúmes, enganos<br />

Muito tinha que contar.<br />

Subindo à Torre de Menagem obtém-se uma vista panorâmica<br />

soberba que tem início no centro histórico e percorre<br />

to<strong>da</strong> a malha urbana, entrelaçando-se gradualmente com os<br />

arredores rurais, com as colinas circun<strong>da</strong>ntes e com a Serra<br />

de Sicó.<br />

Da<strong>da</strong> a situação geográfica de Pombal, a vila foi fortemente<br />

atingi<strong>da</strong> pelas invasões francesas, sendo que a acção<br />

devastadora <strong>da</strong>s tropas de Napoleão veio apressar o estado<br />

de degra<strong>da</strong>ção do castelo. E se é certo que a população recuperou<br />

desta “feri<strong>da</strong>”, também é ver<strong>da</strong>de que só no séc. XX, em<br />

pleno Estado Novo, se assistiu a uma intensa reconstrução.<br />

Mais recentemente foi construído um café “embutido”<br />

no cerro <strong>da</strong> muralha e em perfeita harmonia com a flora<br />

local – a Cafetaria do Castelo. Poderá retemperar forças<br />

num espaço cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>amente decorado, onde a luz penetra<br />

de forma despreocupa<strong>da</strong> e a paisagem lhe transmite uma<br />

enorme tranquili<strong>da</strong>de.


ROE 52 Julho 2016<br />

24 DE FOLGA<br />

SURPRESAS CITADINAS<br />

Descendo a encosta do castelo, espera-nos uma visita<br />

ao centro histórico de Pombal. Começamos pela Praça<br />

Marquês de Pombal, onde não conseguimos ficar indiferentes<br />

à Igreja Matriz de São Martinho, que se ergue<br />

no topo <strong>da</strong> praça. Foi aqui que, em 1323, D. Diniz e o<br />

seu filho D. Afonso formalizaram publicamente o seu<br />

pacto de paz, sob a égide <strong>da</strong> Rainha Santa Isabel.<br />

À saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> igreja tem duas hipóteses: entra no edifício<br />

à esquer<strong>da</strong> – antiga prisão que hoje aloja o Museu<br />

Municipal Marquês de Pombal – ou opta pela direita,<br />

onde encontrará um antigo celeiro que alberga o Museu<br />

de Arte Popular Portuguesa. No primeiro caso, o visitante<br />

poderá conhecer o espólio de um antiquário local<br />

que recolheu pertences do estadista Sebastião José de<br />

Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de<br />

Pombal, Ministro de D. José I. No segundo, estão expostas<br />

cerca de 2 mil peças etnográficas de artesãos do<br />

Norte a Sul do País, incluindo artífices pombalenses.<br />

Seguindo pelas ruas Miguel Bombar<strong>da</strong> e do Cais<br />

rapi<strong>da</strong>mente chegamos ao Largo do Car<strong>da</strong>l. É aqui que<br />

se situam os Paços do Concelho, contíguos à magistral<br />

Igreja do Car<strong>da</strong>l, edifício barroco do séc. XVII.<br />

À noite a ci<strong>da</strong>de transforma-se com alguns espectáculos.<br />

O Café Concerto e o Teatro-Cine de Pombal<br />

apresentam com alguma regulari<strong>da</strong>de performances<br />

<strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s artes.<br />

Alexandre Frutuoso também se dedica a uma<br />

paixão que surgiu ain<strong>da</strong> em criança: o fado. Membro<br />

<strong>da</strong> Associação do Grupo de Fa<strong>dos</strong> Amador de Pombal,<br />

o enfermeiro decidiu investir em aulas de canto e<br />

estreou-se nestas lides há dois anos. Desde aí participou<br />

em várias competições, tendo chegado “à final de<br />

um concurso”. As actuações surgem numa média de<br />

duas vezes por mês e tem no coração um projecto que<br />

visa levar o fado a lares de i<strong>dos</strong>os.<br />

EXPLORAR OS TESOUROS SERRANOS<br />

No extremo Este <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de o terreno começa a elevarse,<br />

conduzindo à Serra de Sicó. É aqui que Alexandre<br />

Frutuoso gosta de participar em trails, uma activi<strong>da</strong>de<br />

que o conquistou recentemente. “A maioria <strong>dos</strong><br />

trilhos são em terra bati<strong>da</strong>, além de que temos a vantagem<br />

de desfrutar de uma paisagem magnífica e de<br />

aceder a locais que geralmente as outras pessoas não<br />

conhecem”.<br />

Mas a serra, composta por um maciço calcário com<br />

mais de 500 metros de altura, também oferece uma<br />

fauna e flora específicas, além de grutas, ravinas e a<br />

Aldeia do Vale, que preserva o seu aspecto medieval.<br />

ONDE IR<br />

CASTELO<br />

DE POMBAL<br />

MUSEU DE ARTE<br />

POPULAR PORTUGUESA<br />

Edifício do Celeiro<br />

do Marquês, Praça<br />

Marquês de Pombal<br />

MUSEU MUNICIPAL<br />

MARQUÊS DE POMBAL<br />

Edifício <strong>da</strong> Cadeia Velha,<br />

Praça Marquês de Pombal<br />

TEATRO-CINE<br />

DE POMBAL<br />

Praça Manuel<br />

Henriques Júnior<br />

CAFÉ<br />

CONCERTO<br />

Praça Manuel<br />

Henriques<br />

Júnior


ROE 52 Julho 2016<br />

FITA MÉTRICA<br />

25<br />

À SUA MEDIDA…<br />

Ain<strong>da</strong> vai a tempo de acertar a sua agen<strong>da</strong><br />

cultural e científica para os próximos meses.<br />

Estas são as nossas sugestões.<br />

CONFERÊNCIA<br />

Palliare –<br />

Cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> Pessoa<br />

com Demência<br />

8 e 9 de Setembro<br />

Escola Superior<br />

de Enfermagem<br />

do Porto<br />

MOSTRA COLECTIVA<br />

Quanto tempo<br />

falta?<br />

Até 29 de Julho<br />

Câmara Municipal<br />

do Porto<br />

ENCONTRO<br />

30th European<br />

Association for<br />

Cardio-thoracic<br />

Surgery Annual<br />

Meeting<br />

1 a 5 de Outubro<br />

Barcelona,<br />

Espanha<br />

TEATRO<br />

Gangsters<br />

na Broadway<br />

Até 31 de Julho<br />

Auditório do<br />

Casino<br />

do Estoril<br />

III CONGRESSO<br />

INTERNACIONAL<br />

DO CADIN<br />

Aprendizagem,<br />

Comportamento,<br />

Emoções<br />

em Tempos<br />

de Mu<strong>da</strong>nça<br />

20 a 22 de Outubro<br />

ISCTE-IUL, Lisboa<br />

EXPOSIÇÃO<br />

Abaixo as<br />

fronteiras! Vivam<br />

o design<br />

Até 25 de Setembro<br />

MACE, Elvas<br />

CONGRESSO<br />

INTERNACIONAL<br />

Desafios<br />

<strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de<br />

em Instituições<br />

de Ensino<br />

20 e 21 de Outubro<br />

Escola Superior<br />

de Enfermagem<br />

de Coimbra<br />

CONFERÊNCIA<br />

Parto na água<br />

7 de Setembro<br />

Hospital <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de<br />

Fernando Pessoa,<br />

Porto<br />

III JORNADAS<br />

DA USF DESCOBERTAS<br />

Quali<strong>da</strong>de<br />

em Saúde<br />

20 e 21 Outubro<br />

Hotel Vila Galé<br />

Ópera, Lisboa


ROE 52 Julho 2016<br />

26<br />

O ENFERMEIRO<br />

DA MINHA VIDA<br />

Conceição Queiroz<br />

“CONTINUO A SENTIR<br />

UMA GRATIDÃO IMENSA<br />

PELO ENF. SAMUEL”<br />

Samuel é o nome do enfermeiro que a jornalista <strong>da</strong> TVI recor<strong>da</strong><br />

com muito carinho por todo o apoio que lhe prestou durante<br />

o primeiro e único internamento <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />

enfermeiro <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> é o Enf. Samuel, que<br />

conheci quando fui interna<strong>da</strong> num hospital público<br />

há cerca de 16 anos, devido a uma pancreatite. De<br />

to<strong>dos</strong> os profissionais com quem tive oportuni<strong>da</strong>de de conviver,<br />

o Enf. Samuel era quem tinha uma postura diferente: talvez se<br />

preocupasse mais, apesar de os enfermeiros serem poucos e os<br />

recursos também. Ele conseguiu criar empatia e explicar-me<br />

qual a importância do enfermeiro: transmitia-me confiança e<br />

tranquili<strong>da</strong>de e isso era essencial. Perguntava-me como é que<br />

eu estava ou se precisava de alguma coisa, mesmo que eu não<br />

tivesse pedido na<strong>da</strong>. Era um “balde de água fria” quando me<br />

diziam que estava de folga.<br />

Hoje, quando olho para os enfermeiros, associo-os a protecção<br />

e a reabilitação porque foi o que senti na altura. A postura do<br />

Enf. Samuel fez-me perceber que este tipo de cui<strong>da</strong>do é “meio<br />

caminho an<strong>da</strong>do” para uma boa recuperação, alivia o sofrimento.<br />

A proximi<strong>da</strong>de entre nós foi ca<strong>da</strong> vez maior e a amizade<br />

manteve-se mesmo após de ter tido alta. Depois perdemos o<br />

contacto.<br />

Mas sei que o Enf. Samuel foi trabalhar para um hospital em<br />

Paris naquela grande vaga de emigração em que saíram milhares<br />

de enfermeiros de Portugal – entre 2008 e 2009. Surgiu a possibili<strong>da</strong>de<br />

de ganhar mais e de ter melhores condições de trabalho<br />

e ele não hesitou – com muita pena minha. É muito triste ver<br />

a quanti<strong>da</strong>de de enfermeiros que abandona o País e também me<br />

entristece muito vê-los desemprega<strong>dos</strong> ou a ganhar 800€. É contraditório<br />

porque ao mesmo tempo que os rácios estão abaixo<br />

<strong>dos</strong> recomen<strong>da</strong><strong>dos</strong> pela OCDE, temos enfermeiros no desemprego.<br />

Por que é que estes enfermeiros não são contrata<strong>dos</strong>?<br />

Continuo a sentir uma gratidão imensa pelo Enf. Samuel<br />

porque fez a diferença na forma como tratou de mim. Esta<br />

amizade é para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Não sei se regressou ou não a<br />

Lisboa, mas gostava muito de o encontrar simplesmente para lhe<br />

<strong>da</strong>r um grande abraço e dizer “obriga<strong>da</strong>”.<br />

00:14:56:04<br />

«ERA UM<br />

“BALDE DE<br />

ÁGUA FRIA”<br />

QUANDO ME<br />

DIZIAM QUE<br />

ESTAVA DE<br />

FOLGA.»<br />

Veja o filme no nosso<br />

Youtube.

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