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REVISTA DA<br />
ORDEM DOS ENFERMEIROS<br />
N.º 52<br />
solidão<br />
COMBATER A<br />
Julho 2016 . ISSN 1646-26-29<br />
Entrevista Ana Rita Cavaco,<br />
“Os enfermeiros estão a perder<br />
o medo”<br />
De folga Visitámos Pombal<br />
com um enfermeiro surfista,<br />
fadista e atleta
2<br />
SUMÁRIO<br />
03<br />
EDITORIAL<br />
Ninguém está sozinho<br />
04<br />
PULSAÇÕES<br />
De sorriso na estra<strong>da</strong> a combater a solidão<br />
10<br />
POSICIONAMENTOS<br />
De salários indignos a acções inspectivas<br />
04<br />
20<br />
12<br />
18<br />
ENTREVISTA<br />
Ana Rita Cavaco, “Os enfermeiros<br />
estão a perder o medo”<br />
EVIDÊNCIAS<br />
Li<strong>da</strong>r “bem” com a morte melhora<br />
cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> em fim de vi<strong>da</strong><br />
20<br />
25<br />
26<br />
DE FOLGA<br />
Pombal: Da energia do mar<br />
à tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> serra<br />
FITA MÉTRICA<br />
À sua medi<strong>da</strong>...<br />
O ENFERMEIRO DA MINHA VIDA<br />
Conceição Queiroz: “Continuo a sentir<br />
uma gratidão imensa pelo Enf. Samuel”<br />
C<br />
M<br />
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FICHA TÉCNICA<br />
Director Ana Rita Cavaco<br />
Coordenação, re<strong>da</strong>cção e edição Filipe Mendonça e Luísa Neves<br />
Fotografias Júlio Pimentel e Arquivo OE<br />
Mora<strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Almirante Gago Coutinho, 75 – 1700-028 Lisboa<br />
T: 218 455 230 | F: 218 455 259<br />
Web www.ordemenfermeiros.pt<br />
Email revista@ordemenfermeiros.pt<br />
ISSN 1646-26-29<br />
Design gráfico Ideias com Peso<br />
Paginação e pré-impressão Ideias com Peso<br />
Impressão e distribuição Rainho&Neves, L<strong>da</strong>. – Artes Gráficas<br />
Periodici<strong>da</strong>de Trimestral<br />
Tiragem 2500 exemplares<br />
Distribuição gratuita aos membros <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
Depósito Legal nº 153540/00<br />
As afirmações e ideias expressas nos textos publica<strong>dos</strong> nesta revista<br />
são <strong>da</strong> inteira responsabili<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> autores <strong>da</strong>s mesmas.<br />
MORADAS<br />
<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
Sede<br />
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Região Autónoma <strong>da</strong> Madeira<br />
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ROE 52 Julho 2016<br />
EDITORIAL<br />
3<br />
ANA RITA CAVACO<br />
Bastonária<br />
<strong>da</strong> <strong>Ordem</strong><br />
<strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
NINGUÉM<br />
ESTÁ<br />
SOZINHO<br />
onheci o senhor Fernando<br />
sentado na varan<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua casa,<br />
em Mogadouro. Falou-me <strong>dos</strong><br />
enfermeiros que se tornaram “quase <strong>da</strong><br />
família”, que lhe arranjaram “as consultas<br />
no Porto” e que foram visitá-lo quando<br />
esteve internado em Bragança. A vi<strong>da</strong> do<br />
senhor Fernando confunde-se com os<br />
sorrisos e o profissionalismo <strong>da</strong> equipa de<br />
apoio ao domicílio do Centro de Saúde de<br />
Mogadouro.<br />
As histórias que se seguem são sobre<br />
vi<strong>da</strong>s assim, ampara<strong>da</strong>s por quem está<br />
onde tantas vezes não está mais ninguém.<br />
Queremos que o País enten<strong>da</strong> que aquilo<br />
que fazemos to<strong>dos</strong> os dias, de Norte a Sul,<br />
do Litoral ao Interior e regiões autónomas,<br />
é um serviço indispensável à coesão<br />
social e territorial. Não há Democracia<br />
sem Serviço Nacional de Saúde. Não há<br />
Serviço Nacional de Saúde sem enfermeiros.<br />
A conclusão só pode ser uma: não há<br />
Democracia sem enfermeiros.<br />
É por isso que a nossa revista, agora renova<strong>da</strong>, tem<br />
a ambição de fazer serviço público. Temos um formato<br />
novo, uma nova imagem e um posicionamento diferente.<br />
Queremos estar como prometemos: próximos<br />
<strong>dos</strong> enfermeiros e <strong>da</strong>s pessoas que precisam de nós.<br />
Ouvir e <strong>da</strong>r voz. Por estas páginas vão desfilar histórias<br />
de um País que não se resigna aos sucessivos<br />
cortes na Saúde. Exemplos de dedicação, profissionalismo<br />
e muito trabalho. Podíamos ter escolhido outro<br />
nome para esta renova<strong>da</strong> revista. Escolhemos o óbvio:<br />
“Cui<strong>da</strong>”. Porque cui<strong>da</strong>r é um verbo que sabemos conjugar<br />
como ninguém, sobretudo na primeira pessoa: eu<br />
cuido, nós cui<strong>da</strong>mos.<br />
A publicação deste número assinala também os<br />
primeiros seis meses de man<strong>da</strong>to <strong>da</strong> nova equipa <strong>da</strong><br />
<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong>. Têm sido tempos de estudo,<br />
de diagnóstico e combate. É com particular satisfação<br />
que vejo os enfermeiros a liderar o debate sobre saúde<br />
em Portugal. Estamos a viver um tempo novo. Saibamos<br />
aproveitar a maré e, como explica o enfermeiro<br />
Alexandre Frutuoso nas páginas 18 a 22, utilizar esta<br />
on<strong>da</strong> para garantir que ninguém, nem enfermeiros nem<br />
doentes, está sozinho. Pela saúde de to<strong>dos</strong>.
ROE 52 Julho 2016<br />
4 PULSAÇÕES<br />
DE SORRISO NA ESTRADA<br />
A COMBATER A SOLIDÃO<br />
Já lá vai o tempo em que eram confundi<strong>dos</strong> com o padeiro. “Era preciso buzinar”,<br />
recor<strong>da</strong> Maria José Valente, a enfermeira que as gentes de Nisa transformaram em Zézinha.<br />
Hoje, no Interior envelhecido e desertificado, há um País que espera na berma <strong>da</strong> estra<strong>da</strong><br />
pela visita <strong>dos</strong> enfermeiros. Ângela diz, sem medo, que ama os i<strong>dos</strong>os com quem se cruza nas<br />
estra<strong>da</strong>s de Baião porque decidiu que queria viver assim: a cui<strong>da</strong>r de quem já tanto deu.<br />
com grande estima que Rosária Pires, de 71 anos,<br />
habitante de Pé <strong>da</strong> Serra, Nisa (Alentejo), fala de<br />
Maria José Valente, enfermeira <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel<br />
de Saúde (UMS). “Tive a minha mãe 12 anos na minha<br />
casa. Morreu com quase 99 anos. E a Zézinha ia sempre<br />
ver-lhe a tensão e a diabetes ou <strong>da</strong>r injecções. Sempre<br />
me disse que se a minha mãe chegasse a ficar acama<strong>da</strong><br />
também estava disponível para me aju<strong>da</strong>r”.<br />
“A Maria José é uma queri<strong>da</strong> na maneira como<br />
executa o trabalho e para nós é uma amiga. Não é a<br />
“senhora enfermeira”, é a Zézinha”. É desta forma que<br />
Maria Almei<strong>da</strong>, de 68 anos, reforça o carinho que to<strong>dos</strong><br />
sentem por quem deles cui<strong>da</strong> e os arranca às “malhas”<br />
<strong>da</strong> solidão. Para a ex-emigrante em Paris, a existência<br />
<strong>da</strong> UMS “é essencial principalmente para as pessoas<br />
que não têm meio de transporte. E se é algo bom temos<br />
que aproveitá-lo”.<br />
Já Maria Correia, de 72 anos, e<br />
José Pereira, com 79 anos, salientam<br />
o valor <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de.<br />
“Assim temos sempre consulta,<br />
o que nem sempre acontece no<br />
Centro de Saúde de Nisa”, acrescenta<br />
a nossa entrevista<strong>da</strong>.<br />
O reconhecimento e o afecto<br />
transmiti<strong>dos</strong> pelas populações<br />
foram factores que levaram a<br />
enfermeira a optar por este projecto.<br />
“Gosto muito do contacto<br />
com as pessoas e fico contente<br />
com a confiança que elas depositam<br />
em mim”. Mas no início, em<br />
2007, não foi fácil: “as pessoas<br />
não conheciam a iniciativa e por isso era preciso buzinar<br />
para as trazer até nós. Mesmo assim havia quem, pensando<br />
que éramos o padeiro, não saía de casa ou dizia<br />
que não precisava de pão”, recor<strong>da</strong> sorrindo.<br />
Uma vez quebrado o “gelo” inicial, tudo se modificou.<br />
Há até casos em que pessoas de umas locali<strong>da</strong>des vão a<br />
outra ter com a enfermeira. Nazaré Gomes, de 66 anos,<br />
corrobora: “Melhor é impossível. Ain<strong>da</strong> há dias me senti<br />
maldisposta e fiquei mais tranquila depois de falar com<br />
a Enf.ª Zézinha”.<br />
E se hoje há um grupo que frequenta a ginástica e a<br />
hidroginástica em Nisa, “isso foi porque nós os incentivámos”,<br />
salienta Maria José Valente. Da mesma forma,<br />
alguns casos de doentes cardíacos sujeitos a pacemaker<br />
foram primariamente identifica<strong>dos</strong> pela equipa de<br />
Enfermagem.
5<br />
ZÉZINHA E ÂNGELA<br />
ESTÃO ONDE TANTAS<br />
VEZES NÃO ESTÁ<br />
MAIS NINGUÉM<br />
ÚNICO RECURSO<br />
Debaixo do telheiro do Centro Cultural<br />
e Recreativo “Os Amigos do Pé <strong>da</strong> Serra”<br />
estão mais de duas dezenas de pessoas<br />
a aguar<strong>da</strong>r vez para serem atendi<strong>da</strong>s pela<br />
enfermeira que to<strong>dos</strong> conhecem. É dia de<br />
avaliar o índice de massa corporal, medir<br />
a tensão arterial e promover, de forma personaliza<strong>da</strong>,<br />
hábitos de vi<strong>da</strong> saudáveis.<br />
«TIVE A MINHA MÃE<br />
12 ANOS NA MINHA<br />
CASA. MORREU COM<br />
QUASE 99 ANOS.<br />
E A ZÉZINHA IA<br />
SEMPRE VER-LHE<br />
A TENSÃO E A<br />
DIABETES OU DAR<br />
INJECÇÕES»<br />
Pé <strong>da</strong> Serra é uma locali<strong>da</strong>de do Alto Alentejo a oito<br />
quilómetros <strong>da</strong> sede de concelho e com pouco mais de<br />
100 habitantes. Para lá chegar, e combater a solidão a<br />
que está vota<strong>da</strong>, é necessário percorrer uma sinuosa<br />
e estreita estra<strong>da</strong>, esperando que o cruzamento com<br />
outros veículos fora <strong>da</strong>s “escapatórias” não ocorra.<br />
Depois do fecho de algumas extensões, a Uni<strong>da</strong>de<br />
Móvel de Saúde do Alentejo passou a ser o único<br />
recurso <strong>da</strong> população de outras 18 locali<strong>da</strong>des. Com<br />
ela, os “utentes sentem-se mais protegi<strong>dos</strong> porque<br />
é uma medi<strong>da</strong> de conforto fun<strong>da</strong>mental para o seu<br />
bem-estar”, explica António Diniz, Coordenador <strong>da</strong><br />
Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de do Centro de<br />
Saúde (CS) de Nisa.<br />
Na uni<strong>da</strong>de móvel fazem-se domicílios, rastreios,<br />
administra-se a vacina <strong>da</strong> gripe e vigiam-se doenças<br />
como a obesi<strong>da</strong>de, hipertensão e diabetes. Avalia-se o<br />
estado de saúde do i<strong>dos</strong>o e há também acções de sensibilização<br />
colectivas por ocasião de algumas efemérides.<br />
Nos casos em que isso se justifica, a enfermeira referencia<br />
o utente para o médico de família, o que facilita a marcação<br />
<strong>da</strong> consulta. “São pessoas muito i<strong>dos</strong>as cujas famílias<br />
não estão cá, por isso vivem em solidão. Logo, não vamos<br />
ser nós a complicar”, salienta Maria José Valente.<br />
Em nove anos a UMS do Alentejo tem <strong>da</strong>do provas:<br />
“há poucas pessoas acama<strong>da</strong>s porque são atempa<strong>da</strong>mente<br />
encaminha<strong>da</strong>s para casa <strong>dos</strong> familiares ou<br />
para o lar”. Na diabetes, por exemplo, “distribuímos
ROE 52 Julho 2016<br />
6 PULSAÇÕES<br />
Polivalência O volante <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Nisa<br />
pertence a João Ventura, que também aju<strong>da</strong><br />
a animar os tempos de espera <strong>dos</strong> utentes.<br />
Isolamento Os pouco mais de 100 habitantes<br />
de Pé <strong>da</strong> Serra encontram nesta iniciativa<br />
o conforto <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> e uma mão que os liga<br />
ao mundo.<br />
máquinas a to<strong>dos</strong> os utentes e fizemos-lhe o ensino para<br />
o autocontrolo <strong>da</strong> doença. Quando registam algum<br />
problema é que vêm ter connosco”.<br />
Segundo João Ventura, motorista e assistente operacional<br />
do CS, a uni<strong>da</strong>de – que resulta de uma parceria<br />
entre o CS de Nisa/Administração Regional de Saúde<br />
(ARS) do Alentejo e a Câmara Municipal local – “veio<br />
para suprimir lacunas e as pessoas têm demonstrado<br />
uma boa adesão”.<br />
BAIÃO: HÁ UM ANJO NA SERRA<br />
“Este serviço é muito importante. Somos quase to<strong>dos</strong><br />
i<strong>dos</strong>os e não temos transporte”. Além disso, “gosto<br />
de rever os amigos, vizinhos e as pessoas que cui<strong>da</strong>m<br />
de nós”, diz-nos Otília Briga, de 71 anos, habitante<br />
de Sacões, Baião (Douro). “Estou muito satisfeita”,<br />
sublinha, salientando as mais-valias de um cui<strong>da</strong>do<br />
diferenciado de proximi<strong>da</strong>de: “O apoio <strong>da</strong> Enf.ª Ângela<br />
é importante para continuar com a tensão vigia<strong>da</strong> e<br />
controla<strong>da</strong>. Há pessoas que têm aparelhos em casa,<br />
mas eu acho que é sempre melhor vir ter com a Enf.ª<br />
Ângela. Foi para isto que ela estudou muito”. Mais: “No<br />
ano passado tive uma hérnia e uma crise de dor ciática e<br />
nessa altura a Enf.ª Ângela foi ver-me a casa”.<br />
É dia de visita <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Saúde (UMS)<br />
do Centro de Saúde (CS) de Baião àquela pequena locali<strong>da</strong>de<br />
“crava<strong>da</strong>” nas encostas sinuosas <strong>da</strong> freguesia<br />
de Teixeira, a mais remota do concelho. No ponto de<br />
encontro, na berma <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> que serpenteia a Serra<br />
do Marão, já está um grupo de pessoas à espera de<br />
Ângela Pinto, enfermeira, e de Alfredo Ribeiro, motorista<br />
<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de. São eles quem lhes diz como estão de<br />
saúde, dão conselhos e um dedo de conversa.<br />
Para Rosa Borges, com 70 anos, “ter o serviço à porta<br />
é sempre melhor do que ir para longe. E a Enf.ª Ângela<br />
está sempre bem-disposta, é muito nossa amiga”.<br />
António Briga, de 75 anos, também é utente assíduo<br />
<strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Móvel de Baião. “Com 250€ de reforma não<br />
podemos gastar dinheiro a ir para Baião saber como está<br />
a nossa saúde”. E com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> Enf.ª Ângela sente-se<br />
mais acompanhado. “Isto é algo que deve ser mantido.<br />
Se tivermos algum problema de saúde no intervalo <strong>da</strong>s<br />
consultas com o médico podemos sempre recorrer à<br />
uni<strong>da</strong>de”.<br />
Os 14 quilómetros que separam Baião de Sacões<br />
parecem coisa pouca, mas o relevo desta região faz<br />
com que a viagem demore cerca de 30 minutos. E para<br />
os utentes é óptimo poderem ser acompanha<strong>dos</strong> com
7<br />
Atenção total Ângela não olha só para o corpo.<br />
Sabe que no cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> mente pode estar o segredo<br />
do envelhecimento saudável.<br />
Interaju<strong>da</strong> Alfredo Ribeiro, motorista <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de<br />
Móvel de Saúde de Baião, aju<strong>da</strong> a recolher<br />
os boletins de saúde <strong>da</strong>s pessoas que aguar<strong>da</strong>m<br />
por Ângela.<br />
regulari<strong>da</strong>de por uma enfermeira que já os conhece,<br />
sem terem de se deslocar à vila.<br />
«COM 250€<br />
DE REFORMA NÃO<br />
PODEMOS GASTAR<br />
DINHEIRO A IR<br />
PARA BAIÃO<br />
SABER COMO ESTÁ<br />
A NOSSA SAÚDE.<br />
ISTO É ALGO<br />
QUE DEVE SER<br />
MANTIDO. »<br />
Ângela é sinónimo de “anjo”, uma espécie de “anjo<br />
<strong>da</strong> guar<strong>da</strong>” que aju<strong>da</strong> as gentes <strong>da</strong> Serra do Marão a ter<br />
uma velhice mais protegi<strong>da</strong> e acompanha<strong>da</strong>. A enfermeira<br />
confirma: “especialmente para os que não têm<br />
recursos, sou a única profissional de saúde que consegue<br />
chegar mais perto deles, conversar com eles”.<br />
O momento também serve para fazer uma breve<br />
acção de sensibilização do grupo sobre os direitos <strong>dos</strong><br />
utentes e a importância de manter um bom estado físico<br />
e mental. “Tentamos esclarecer dúvi<strong>da</strong>s, reforçar a<br />
auto-estima e o pensamento positivo. No fundo, procuramos<br />
fomentar o envelhecimento saudável, reduzindo<br />
a solidão, favorecendo o convívio e contribuindo<br />
para a melhoria <strong>da</strong> saúde mental <strong>dos</strong> utentes”, explica<br />
Ângela Pinto.<br />
NA VIDA A RETRIBUIR COM CARINHO<br />
Quase a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população de Sacões é i<strong>dos</strong>a,<br />
tanto que nem existe ali jardim-de-infância ou escola.<br />
Mas o contacto com pessoas de i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s<br />
é um factor muito importante na motivação <strong>da</strong> enfermeira,<br />
que confessa que o convívio muito próximo com<br />
a avó paterna despertou nela o interesse e dedicação<br />
aos anciãos. “A socie<strong>da</strong>de é o que é porque devemos<br />
muito aos i<strong>dos</strong>os. Por isso temos de demonstrar-lhes a<br />
nossa gratidão e afirmar-lhes que eles têm muito valor.<br />
O i<strong>dos</strong>o também precisa que lhe digam que o amamos”.<br />
Ângela Pinto é especialista em Enfermagem de<br />
Saúde Comunitária e está na UMS de Baião desde 2008.<br />
Mas a iniciativa já existe desde 2006, como resultado
ROE 52 Julho 2016<br />
8 PULSAÇÕES<br />
ENFERMEIROS FAZEM<br />
CENTENAS DE QUILÓMETROS<br />
PARA NÃO DEIXAR<br />
NINGUÉM SOZINHO<br />
uma embalagem diferente por ser produzido<br />
por outro laboratório”.<br />
Na consulta os utentes são pesa<strong>dos</strong>,<br />
mede-se a tensão arterial, verifica-se o<br />
boletim de vacinação e dá-se a vacina<br />
contra o tétano ou contra a gripe. Alterações<br />
na medicação, medições pontuais à<br />
diabetes e ao colesterol – tudo é registado<br />
por Ângela Pinto. Sempre que a situação<br />
assim o exija são feitos curativos e administra<strong>dos</strong><br />
injectáveis. Junto <strong>da</strong>s senhoras<br />
também se explica como devem fazer a<br />
palpação para detecção precoce do cancro<br />
<strong>da</strong> mama.<br />
Fazer a “ponte” com o CS de Baião é<br />
outra <strong>da</strong>s vertentes deste trabalho. “Caso<br />
haja necessi<strong>da</strong>de referencia-se a pessoa para<br />
outro colega ou para a uni<strong>da</strong>de de saúde”<br />
mais indica<strong>da</strong> à resolução <strong>da</strong> situação<br />
clínica. E sempre que há activi<strong>da</strong>des festivas<br />
no centro de saúde a informação é transmiti<strong>da</strong>,<br />
apelando à participação de to<strong>dos</strong>.<br />
de uma parceria entre o CS de Baião/ARS do Norte e<br />
<strong>da</strong> Câmara Municipal de Baião (CMB). Inicialmente foi<br />
dota<strong>da</strong> de um médico e destina<strong>da</strong> maioritariamente “a<br />
utentes a descoberto”. Mas há já vários anos que a uni<strong>da</strong>de<br />
móvel é assegura<strong>da</strong> em exclusivo por enfermeiros.<br />
No dia-a-dia <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de móvel adoptam-se estratégias<br />
específicas no contacto com a população: a<br />
comunicação deve ser sobretudo oral, com linguagem<br />
muito simples, e as “acções de sensibilização não podem<br />
demorar muito tempo para manter eleva<strong>dos</strong> níveis de<br />
atenção. Também fazemos desenhos ou risquinhos<br />
nas embalagens para que possam reconhecer os medicamentos”,<br />
explica a enfermeira. “Isto é especialmente<br />
importante quando o fármaco, sendo o mesmo, tem<br />
“SINTO-ME MAIS TRANQUILA”<br />
À tarde, e depois de um rápido almoço fornecido<br />
pelo Jardim-de-Infância de Teixeira,<br />
segue-se mais uma locali<strong>da</strong>de: Várzea. O isolamento<br />
também aqui é bem visível através de vias de acesso<br />
sem asfalto e de um número considerável de casas<br />
fecha<strong>da</strong>s ou em ruínas.<br />
Alfredo Ribeiro conhece os recantos do concelho<br />
como se fossem os cantos <strong>da</strong> sua casa. Além de aju<strong>da</strong>r<br />
Ângela Pinto com a recolha <strong>dos</strong> cartões de utente e a<br />
reposição de algum material, o motorista <strong>da</strong> CMB está<br />
em permanente contacto com a população que aguar<strong>da</strong><br />
junto à carrinha. E também é ele que contacta os utentes<br />
habituais por telefone, geralmente na véspera <strong>da</strong> visita<br />
<strong>da</strong> UMS a determina<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de. Para Alfredo Ribeiro,<br />
o impacto <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de móvel é inegável: “Aqui sentimos<br />
o reconhecimento e amizade <strong>da</strong>s pessoas”, salienta.
9<br />
Isso mesmo é confirmado por<br />
Elvira Ribeiro, de 68 anos. “A uni<strong>da</strong>de<br />
móvel é uma coisa muito boa porque a<br />
Enf.ª Ângela vigia-me a saúde e sintome<br />
mais tranquila. Além disso posso<br />
pedir conselhos sobre os alimentos<br />
ou medicamentos em vez de os pedir<br />
à minha vizinha, que não tem estu<strong>dos</strong><br />
como eu”.<br />
O anúncio feito pelo padre durante<br />
uma missa fez com que Eulália <strong>da</strong><br />
Conceição, com 65 anos, tivesse<br />
conhecimento <strong>da</strong> iniciativa, há 10 anos,<br />
e desde aí tem sido uma utente assídua.<br />
Também Otília Fonseca, de 70<br />
anos, valoriza o contacto com a Enf.ª<br />
Ângela, alguém que conhece há muito<br />
e que faz com que “quando chegamos à<br />
Teixeira, o médico já tem lá a informação<br />
to<strong>da</strong>”. E dá um exemplo: o marido é<br />
doente cardíaco e nos últimos tempos<br />
tem sangrado do nariz. A presença <strong>da</strong><br />
Enf.ª Ângela vem mesmo a calhar para<br />
lhe explicar o que deve fazer.<br />
< ANTÓNIO DINIZ<br />
Coordenador <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
na Comuni<strong>da</strong>de do CS de Nisa<br />
A visita a Nisa revelou um problema que não é novo,<br />
mas que tem vindo a agravar-se: as condições<br />
do centro de saúde local não são as melhores.<br />
A uni<strong>da</strong>de está instala<strong>da</strong> no antigo hospital concelhio<br />
<strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia, onde “há infiltrações,<br />
dificul<strong>da</strong>des de climatização e de estrutura”,<br />
além de espaços inúteis que não se adequam<br />
ao funcionamento e operacionali<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
de um centro de saúde, explica António Diniz.<br />
Por isso, “é uma necessi<strong>da</strong>de imperiosa a construção<br />
de uma nova uni<strong>da</strong>de de saúde para os cerca de<br />
7.000 habitantes do concelho de Nisa”. Só assim se<br />
conseguirá “adequar os recursos e criar estruturas<br />
capazes de permitir um exercício profissional de<br />
quali<strong>da</strong>de, com natural reflexo na melhoria <strong>dos</strong><br />
cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> a prestar”, reforça o Coordenador <strong>da</strong><br />
Uni<strong>da</strong>de de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de do CS de Nisa.
ROE 52 Julho 2016<br />
10 POSICIONAMENTOS<br />
DE SALÁRIOS<br />
INDIGNOS<br />
A ACÇÕES<br />
INSPECTIVAS<br />
Iniciativas<br />
do segundo<br />
trimestre<br />
de 2016<br />
ANÚNCIO INDIGNO<br />
MOTIVA REACÇÃO<br />
E ACÇÃO JUDICIAL<br />
A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
solicitou ao Lar Via Sol a remoção<br />
imediata de ofertas de emprego<br />
indignas para a profissão e advertiu<br />
mesmo que irá agir a nível judicial<br />
caso haja usurpação de funções de<br />
Enfermagem. Em causa está um<br />
anúncio de emprego publicado<br />
no site Net-empregos que tinha<br />
como objectivo a contratação<br />
de um aluno de Enfermagem<br />
do 4º ano (possível usurpação)<br />
ou enfermeiro em início de<br />
carreira, por valores considera<strong>dos</strong><br />
absolutamente indignos para<br />
a profissão.<br />
SNS PRECISA DE GESTORES<br />
QUE DEFENDAM OS DOENTES<br />
“Os gestores de topo na Saúde têm<br />
de tomar uma decisão: ou estão<br />
do lado <strong>dos</strong> doentes, ou estão do<br />
lado de quem os nomeia”. Esta foi a<br />
principal ideia veicula<strong>da</strong> por Ana Rita<br />
Cavaco, Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>Enfermeiros</strong>, no fórum “Os Hospitais<br />
e a Reforma do Serviço Nacional<br />
de Saúde - Reformar. Transformar.<br />
Modernizar”.<br />
ORDEM AVANÇA COM<br />
FORMAÇÃO PROFISSIONAL<br />
A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
(OE) quer construir um plano<br />
de formação para os seus<br />
membros, de forma a promover<br />
o desenvolvimento profissional<br />
<strong>dos</strong> enfermeiros. “A aposta<br />
na formação profissional é<br />
fun<strong>da</strong>mental para a melhoria<br />
<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
presta<strong>dos</strong> à população”, refere<br />
Luís Barreira, Vice-presidente<br />
<strong>da</strong> OE, lembrando que uma<br />
<strong>da</strong>s atribuições <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> é<br />
“fomentar o desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> investigação<br />
em Enfermagem”.
11<br />
BASTONÁRIA DENUNCIA FECHO DE CAMAS<br />
O encerramento de camas por falta<br />
de enfermeiros nos hospitais de<br />
S. José e Santo António foi<br />
publicamente denunciado pela<br />
Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
(OE), no início de Junho. Ana Rita<br />
Cavaco defendeu que um despacho<br />
do Ministério <strong>da</strong> Saúde é a principal<br />
causa para estes encerramentos<br />
<strong>CUIDA</strong>DOS CONTINUADOS:<br />
FALTA DE ENFERMEIROS ATRASA<br />
“REVOLUÇÃO” NECESSÁRIA<br />
Faltam enfermeiros nas Uni<strong>da</strong>des de<br />
Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> na Comuni<strong>da</strong>de, reali<strong>da</strong>de<br />
que coloca em causa a prestação de<br />
cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> domiciliários. “É como fazer<br />
omeletes sem ovos” referiu Graça Silveira<br />
Machado, Vice-presidente <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>Enfermeiros</strong>, no âmbito do Encontro<br />
Nacional <strong>da</strong> Rede Nacional de Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
Continua<strong>dos</strong> Integra<strong>dos</strong> (RNCCI) que<br />
teve lugar, em Évora, de 6 a 7 de Junho, por<br />
ocasião do 10º aniversário <strong>da</strong> RNCCI.<br />
porque sem autonomia, os hospitais<br />
não conseguem substituir<br />
os enfermeiros em falta.<br />
Perante o alerta deixado pela<br />
Bastonária <strong>da</strong> OE, o Secretário<br />
de Estado <strong>da</strong> Saúde, Manuel Delgado,<br />
garantiu quase de imediato que<br />
as situações estavam a ser avalia<strong>da</strong>s<br />
caso a caso.<br />
<strong>Ordem</strong> e estu<strong>da</strong>ntes pedem<br />
redução de 30% <strong>da</strong>s vagas<br />
Num acordo inédito sobre<br />
esta matéria, a <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />
<strong>Enfermeiros</strong> (OE) e a Federação<br />
Nacional <strong>da</strong>s Associações de<br />
Estu<strong>da</strong>ntes de Enfermagem<br />
(FNAEE) solicitaram a Manuel<br />
Heitor, Ministro <strong>da</strong> Ciência,<br />
Tecnologia e Ensino Superior<br />
que haja uma redução em 30%<br />
no número de vagas <strong>dos</strong> cursos<br />
de Enfermagem. “Actualmente<br />
há enfermeiros suficientes<br />
para contratar e suprir as<br />
carências senti<strong>da</strong>s nos serviços<br />
de saúde. São pessoas para<br />
quem a principal opção tem<br />
sido emigrar”. Esta é a posição<br />
defendi<strong>da</strong> por Ana Rita Cavaco,<br />
Bastonária <strong>da</strong> OE, e corrobora<strong>da</strong><br />
pela FNAEE.<br />
Prisões motivam pedido<br />
de audiência a Ministra <strong>da</strong> Justiça<br />
A Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
pediu, no início de Junho uma audiência<br />
com carácter de urgência a Francisca Van<br />
Dunem, Ministra <strong>da</strong> Justiça, para debater<br />
o problema <strong>da</strong> falta de enfermeiros nas<br />
prisões. “É inaceitável que possam existir<br />
ci<strong>da</strong>dãos, seja qual for a sua situação,<br />
que se vejam priva<strong>dos</strong>” de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> de<br />
Enfermagem, afirma Ana Rita Cavaco.<br />
«A administração de um medicamento<br />
não pode ficar à responsabili<strong>da</strong>de de alguém<br />
que não tem competência para o efeito».<br />
Plataforma aju<strong>da</strong> enfermeiros<br />
Desde mea<strong>dos</strong> de Maio que a<br />
Plataforma de Mobili<strong>da</strong>de Profissional<br />
Global está disponível para receber<br />
currículos e promover oportuni<strong>da</strong>des<br />
de trabalho nacionais e internacionais em<br />
Enfermagem. Numa primeira fase, podem<br />
inscrever-se na plataforma os candi<strong>da</strong>tos<br />
migrantes licencia<strong>dos</strong> ou pós-gradua<strong>dos</strong><br />
em Enfermagem, bem como empresas<br />
nacionais e internacionais que preten<strong>da</strong>m<br />
recrutar enfermeiros. “É importante estar<br />
neste projecto”, refere Graça Silveira<br />
Machado, <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong>.<br />
Ordens vão participar<br />
em fiscalizações a uni<strong>da</strong>des de saúde<br />
A <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong> (OE) foi a anfitriã<br />
de uma reunião que juntou à mesma mesa<br />
a Inspecção Geral <strong>da</strong>s Activi<strong>da</strong>des em Saúde,<br />
<strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong> Farmacêuticos, <strong>Ordem</strong> <strong>dos</strong><br />
Médicos e a Enti<strong>da</strong>de Reguladora <strong>da</strong> Saúde.<br />
Objectivo: firmar um protocolo conjunto para<br />
a realização de acções inspectivas simples<br />
a uni<strong>da</strong>des de saúde, tendo em atenção<br />
o problema <strong>da</strong>s dotações inseguras de<br />
profissionais, nomea<strong>da</strong>mente de enfermeiros.<br />
Esta reunião de trabalho inédita decorreu<br />
na sede <strong>da</strong> OE, a 27 de Abril.
ROE 52 Julho 2016<br />
12 ENTREVISTA<br />
ANA RITA<br />
CAVACO<br />
Bastonária <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong><br />
<strong>dos</strong> <strong>Enfermeiros</strong><br />
«OS ENFERMEIROS<br />
ESTÃO A PERDER<br />
O MEDO PORQUE<br />
SENTEM QUE TÊM<br />
UMA ORDEM QUE<br />
OS DEFENDE»<br />
“A mu<strong>da</strong>nça começa em ca<strong>da</strong> um de nós, está em<br />
marcha e nota-se: os enfermeiros estão a liderar<br />
o debate sobre Saúde em Portugal e isso é histórico”,<br />
explica Ana Rita Cavaco. Palavras de quem diz “estar”<br />
Bastonária porque “ser” é outra coisa. “Temos o dever<br />
de proteger os doentes, defender os enfermeiros<br />
e garantir vi<strong>da</strong> longa ao nosso sistema de saúde.<br />
E vamos fazê-lo, doa a quem doer”. Este é o seu estilo,<br />
sem medo de palavras ou acções.
ROE 52 Julho 2016<br />
14 ENTREVISTA<br />
<strong>CUIDA</strong> – Qual o balanço que faz destes primeiros<br />
meses enquanto Bastonária?<br />
ANA RITA CAVACO – Faço um balanço positivo do<br />
ponto de vista <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de com os colegas que<br />
trabalham to<strong>dos</strong> os dias nos serviços e pelo facto de<br />
conseguirmos marcar a “agen<strong>da</strong>” <strong>da</strong> Saúde. Com<br />
esta equipa à frente <strong>da</strong> <strong>Ordem</strong> temos mobilizado<br />
o debate político porque há problemas graves para<br />
resolver. Os enfermeiros estão a liderar o debate<br />
sobre Saúde em Portugal e isso é histórico. Foi esse<br />
o compromisso que assumimos com as pessoas<br />
e se não o fizéssemos estaríamos a falhar perante<br />
o País.<br />
Já no que diz respeito às relações com o Governo,<br />
gostava que estivessem num patamar mais operacional.<br />
As intenções podem ser boas, mas há<br />
uma altura em que têm de se traduzir em actos<br />
que se sintam nos serviços. A classe política –<br />
e não apenas este Governo – tem que se habituar<br />
a cumprir o que diz que vai fazer. Isso é muito<br />
importante para termos confiança uns nos outros<br />
e gerirmos bem as nossas instituições.<br />
“TEMOS O DEVER DE<br />
PROTEGER OS DOENTES,<br />
DEFENDER OS ENFERMEIROS<br />
E GARANTIR LONGA VIDA AO<br />
NOSSO SISTEMA DE SAÚDE.<br />
E VAMOS FAZÊ-LO,<br />
DOA A QUEM DOER”<br />
<strong>CUIDA</strong> – Até onde é que a OE está disposta a ir<br />
para que a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Saúde mude definitivamente?<br />
ARC – Até onde for preciso. Os enfermeiros são<br />
pessoas simples que trabalham muito to<strong>dos</strong> os<br />
dias, com uma noção muito clara <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong>s pessoas e está na altura <strong>dos</strong> gestores <strong>da</strong>s<br />
uni<strong>da</strong>des de saúde também terem essa noção.<br />
Os conselhos de administração <strong>dos</strong> hospitais<br />
têm de perceber de uma vez por<br />
to<strong>da</strong>s que não são extensões do Governo<br />
e não podem esconder os problemas. Por<br />
isso, a OE irá sempre denunciar situações<br />
que colocam em risco a segurança<br />
<strong>da</strong>s pessoas para que elas se resolvam,<br />
porque queremos que o Serviço Nacional<br />
de Saúde (SNS) cresça, não que implu<strong>da</strong>.<br />
Os enfermeiros estão a perder o medo<br />
porque sentem que têm uma <strong>Ordem</strong> que<br />
os defende. Chegam-nos ca<strong>da</strong> vez mais<br />
denúncias sobre situações que colocam<br />
em risco a segurança <strong>da</strong>s pessoas.<br />
Os colegas começaram a entender que<br />
é assim que se faz a mu<strong>da</strong>nça, que a<br />
mu<strong>da</strong>nça começa em ca<strong>da</strong> um de nós.<br />
<strong>CUIDA</strong> – Dos relatos que lhe chegam<br />
directamente <strong>dos</strong> serviços, qual é o<br />
«sintoma» mais prevalente?<br />
ARC – Há pessoas que me dizem que estão de<br />
baixa por exaustão, outras falam em situações<br />
de grande stress psicológico que as<br />
chefias intermédias ou a gestão <strong>dos</strong> hospitais<br />
acabaram por agravar. Quem tem
15<br />
funções de chefia – quer seja intermédia ou de topo<br />
– tem de pensar como podem gerir esta reali<strong>da</strong>de<br />
e perceber se está a preveni-la ou se estão a ser catalisadores.<br />
Recordo que há princípios que se aplicam<br />
a to<strong>dos</strong> e por isso, ao contrário do que aconteceu<br />
em man<strong>da</strong>tos anteriores, se houver um enfermeiro<br />
a incumprir o que está estipulado pela <strong>Ordem</strong> tem<br />
de responder por isso, seja ou não chefe.<br />
<strong>CUIDA</strong> – No final do man<strong>da</strong>to, o que fará com que<br />
esta equipa tenha a sensação de “missão cumpri<strong>da</strong>”?<br />
ARC – Temos um plano de acção com 10 propostas<br />
e é evidente que as dotações seguras são prioritárias.<br />
Mas ficarei muito feliz se esta equipa<br />
conseguir mu<strong>da</strong>r a reali<strong>da</strong>de com a aplicação de<br />
outras propostas, nomea<strong>da</strong>mente no que diz respeito<br />
à atribuição de especiali<strong>da</strong>des, criação de<br />
novas especiali<strong>da</strong>des e de instrumentos que valorizem<br />
os enfermeiros na prática. Gostava que <strong>da</strong>qui<br />
a quatro anos os enfermeiros sentissem ain<strong>da</strong><br />
mais orgulho em ser enfermeiros, e não menos<br />
importante, que o nosso País percebesse de uma<br />
vez por to<strong>da</strong>s que não deixamos ninguém sozinho.<br />
Temos o dever de proteger os doentes, defender os<br />
enfermeiros e garantir vi<strong>da</strong> longa ao nosso sistema<br />
de saúde. E vamos fazê-lo, doa a quem doer.<br />
<strong>CUIDA</strong> – Qual é a receptivi<strong>da</strong>de do Ministério<br />
<strong>da</strong> Saúde à questão <strong>da</strong>s especiali<strong>da</strong>des?<br />
ARC – O senhor Ministro e os senhores secretários de<br />
Estado concor<strong>da</strong>m com modelo de especiali<strong>da</strong>des<br />
proposto pela OE e demostraram abertura para<br />
aju<strong>da</strong>r a <strong>Ordem</strong> a concretizá-lo. Por isso, vão haver<br />
novas especiali<strong>da</strong>des em Enfermagem: as que já<br />
estavam a ser trabalha<strong>da</strong>s, mas também algumas<br />
novas.<br />
<strong>CUIDA</strong> – E a receptivi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> governantes manteve-se<br />
relativamente ao reconhecimento<br />
remuneratório <strong>dos</strong> enfermeiros especialistas?<br />
ARC – Sim, há disponibili<strong>da</strong>de, mas mais uma vez<br />
temos de passar para propostas efectivas porque<br />
se isso não acontecer obriga a <strong>Ordem</strong> a ter outro<br />
tipo de actuação. Um especialista não tem o<br />
mesmo core de competência, por isso não pode ter<br />
a mesma remuneração. Não é assim em nenhuma<br />
profissão e nós não vamos ser a excepção.<br />
<strong>CUIDA</strong> – Será que a Saúde conseguirá, no actual<br />
man<strong>da</strong>to governativo, ter mais força do que as<br />
Finanças?<br />
ARC – É um questão de priori<strong>da</strong>des. Não podemos estar<br />
sistematicamente a falar de mais dinheiro para a<br />
banca, salários mais altos para os gestores e depois<br />
não termos um plano ou uma estratégia para a<br />
Saúde. Há muito dinheiro mal gasto que pode ser<br />
investido no básico. Estas questões têm sido debati<strong>da</strong>s<br />
com outras Ordens, nomea<strong>da</strong>mente com a<br />
<strong>dos</strong> Médicos e com a <strong>dos</strong> Farmacêuticos, e pensamos<br />
to<strong>dos</strong> <strong>da</strong> mesma forma: por que é que o<br />
poder político tem esta incapaci<strong>da</strong>de? Por que é que<br />
vivemos a Saúde ao dia e não a planeamos a vários<br />
anos? Pouparíamos muitos recursos que poderíamos<br />
investir na contratação de enfermeiros.<br />
“SE HOUVER UM<br />
ENFERMEIRO A<br />
INCUMPRIR O QUE ESTÁ<br />
ESTIPULADO PELA ORDEM<br />
TEM DE RESPONDER<br />
POR ISSO, SEJA OU<br />
NÃO CHEFE”<br />
<strong>CUIDA</strong> – Acredita que os enfermeiros vão voltar<br />
aos CODU (Centro de Orientação de Doentes<br />
Urgentes)?<br />
ARC – Vamos apresentar uma proposta ao Dr. Fernando<br />
Araújo, Secretário de Estado Adjunto<br />
e <strong>da</strong> Saúde, sobre Emergência Médica. Esta é uma<br />
área onde a <strong>Ordem</strong> tem alguma culpa do ponto a<br />
que chegámos porque devia, há muito tempo, ter<br />
regulamentado as competências <strong>dos</strong> enfermeiros<br />
de Emergência Pré-hospitalar (EPH), apesar <strong>dos</strong><br />
diversos pedi<strong>dos</strong> do anterior Presidente do INEM<br />
(Instituto Nacional de Emergência Médica) à anterior<br />
direcção <strong>da</strong> OE.<br />
Relativamente aos técnicos de emergência, consideramos<br />
que to<strong>da</strong> a gente tem direito a ter uma<br />
carreira – desde que não coli<strong>da</strong> com a nossa. Para<br />
se ser médico ou enfermeiro tem que se tirar os
ROE 52 Julho 2016<br />
16 ENTREVISTA<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
NÃO PODEMOS ESTAR<br />
SISTEMATICAMENTE<br />
A FALAR DE MAIS<br />
DINHEIRO PARA A BANCA,<br />
SALÁRIOS MAIS ALTOS<br />
PARA OS GESTORES<br />
E DEPOIS NÃO<br />
TERMOS UM PLANO<br />
OU UMA ESTRATÉGIA<br />
PARA A SAÚDE.<br />
respectivos cursos. É certo que a anterior direcção<br />
<strong>da</strong> OE ganhou uma providência cautelar, mas<br />
nunca avançou com o processo principal. Logo,<br />
foi uma conquista temporária e limita<strong>da</strong>.<br />
Na proposta que iremos apresentar ao Ministério<br />
incluímos a regulação de competências <strong>dos</strong><br />
enfermeiros de EPH e uma nova forma de funcionamento<br />
de determina<strong>dos</strong> meios onde existem<br />
enfermeiros.<br />
<strong>CUIDA</strong> – Costuma referir que “está Bastonária” e<br />
não que “é Bastonária”. O que mudou no seu<br />
dia-a-dia desde 30 de Janeiro?<br />
ARC – Mudou a minha disponibili<strong>da</strong>de para pessoas<br />
que não estão relaciona<strong>da</strong>s com a Enfermagem.<br />
Há amigos que me vêem muito menos, mas em<br />
contraparti<strong>da</strong> passei a estar em contacto quase 24<br />
horas por dia com enfermeiros porque respondo a<br />
to<strong>da</strong>s as solicitações. Não há um dia em que não<br />
respon<strong>da</strong> a várias mensagens de colegas, emails<br />
e passe horas ao telefone a tentar desbloquear as<br />
mais varia<strong>da</strong>s situações. De resto, continuo a ser<br />
a mesma pessoa. Seguramente que farei um bom<br />
man<strong>da</strong>to se não perder de vista que serei sempre<br />
enfermeira, serei sempre a Ana Rita e que <strong>da</strong>qui a<br />
quatro anos voltarei a exercer a minha profissão,<br />
como sempre fiz.<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
ROE 52 Julho 2016<br />
18 EVIDÊNCIAS<br />
LIDAR “BEM” COM<br />
A MORTE MELHORA<br />
<strong>CUIDA</strong>DOS EM FIM DE VIDA<br />
Serviços devem promover<br />
formação em Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
Paliativos<br />
Investigação conclui que os enfermeiros que se sentem mais à vontade<br />
com a morte dão melhor resposta aos utentes em fim de vi<strong>da</strong><br />
Que os enfermeiros são os profissionais de saúde que acompanham<br />
com maior proximi<strong>da</strong>de os doentes em final de vi<strong>da</strong> já ninguém tem<br />
dúvi<strong>da</strong>s. Mas Sara Serra procurou ir mais longe e saber se a atitude de<br />
colegas perante a morte influencia os cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> presta<strong>dos</strong>. E segundo<br />
a autora do estudo, a resposta é afirmativa. O enfermeiro que “encare<br />
a morte como uma parte integrante no ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> tem scores mais<br />
eleva<strong>dos</strong>” nos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> ao doente em fim de vi<strong>da</strong>.<br />
E apesar de a maioria <strong>dos</strong> inquiri<strong>dos</strong> ter uma postura positiva na<br />
altura de prestar cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> paliativos, a ver<strong>da</strong>de é que a investigadora<br />
também apurou que, individualmente, existe “uma clara dificul<strong>da</strong>de<br />
em li<strong>da</strong>r com os sentimentos do doente”. A este facto acresce a dificul<strong>da</strong>de<br />
em falar sobre a morte e em “envolver a família na prestação<br />
de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>”.<br />
Sara Serra verificou ain<strong>da</strong> que os “enfermeiros com formação em<br />
cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> no fim de vi<strong>da</strong> e luto têm propensão a atitudes negativas na<br />
Escala de FATCOD” (Frommelt<br />
Attitude Toward Care of the Dying<br />
Instrument), o que até parece paradoxal,<br />
podendo estar relacionado<br />
com questões religiosas, culturais<br />
ou até organizacionais.<br />
Para superar esta e outras<br />
dificul<strong>da</strong>des identifica<strong>da</strong>s, a enfermeira<br />
do Serviço de Medicina C<br />
do Centro Hospitalar e Universitário<br />
de Coimbra recomen<strong>da</strong><br />
“o desenvolvimento de um programa<br />
de formação em serviço<br />
na área <strong>dos</strong> cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> paliativos”<br />
e um ajustamento nas dinâmicas<br />
<strong>dos</strong> serviços que conduza a<br />
melhores atitudes face à morte.<br />
APESAR DE A<br />
MAIORIA DOS<br />
INQUIRIDOS TER<br />
UMA POSTURA<br />
POSITIVA, A<br />
VERDADE É<br />
QUE EXISTE<br />
“UMA CLARA<br />
DIFICULDADE EM<br />
LIDAR COM OS<br />
SENTIMENTOS<br />
DO DOENTE”<br />
Enf.ª Sara Serra,<br />
do Serviço de Medicina C<br />
do Centro Hospitalar e<br />
Universitário de Coimbra<br />
<strong>Enfermeiros</strong> casa<strong>dos</strong><br />
e divorcia<strong>dos</strong> têm maior<br />
pontuação nas dimensões “medo”<br />
e “evitamento”;<br />
<strong>Enfermeiros</strong> com um filho<br />
apresentam uma nota mais<br />
eleva<strong>da</strong> nas atitudes de<br />
evitamento perante a morte;<br />
<strong>Enfermeiros</strong> com sete ou mais<br />
anos de experiência apresentam<br />
atitudes de escape, mas também<br />
de aproximação;
19<br />
O estudo intitulado “Atitudes do enfermeiro em cui<strong>da</strong><strong>dos</strong><br />
diferencia<strong>dos</strong> face à morte e aos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> ao doente<br />
em fim de vi<strong>da</strong>” também analisou diversas variáveis do foro<br />
profissional e sociodemográfico.<br />
Foram 87 os enfermeiros de cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> diferencia<strong>dos</strong><br />
que constituíram, de forma voluntária, a amostra deste<br />
estudo. To<strong>dos</strong> exerciam funções em serviços de Medicina<br />
por se considerar que neles “os profissionais de Enfermagem<br />
estão expostos a um elevado índice de mortali<strong>da</strong>de”.<br />
A amostra foi maioritariamente composta por enfermeiras<br />
com i<strong>da</strong>de inferior a 31 anos, solteiras e sem filhos. Além <strong>da</strong><br />
licenciatura em Enfermagem, a maioria possuía em média<br />
nove anos de exercício profissional.<br />
Para recolher <strong>da</strong><strong>dos</strong> foi utilizado um questionário sociodemográfico<br />
padronizado, a Escala de Avaliação do Perfil<br />
de Atitudes acerca <strong>da</strong> Morte (EAPAM) e a versão traduzi<strong>da</strong><br />
e vali<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> Escala de FATCOD.<br />
Para a autora, esta é uma área que merece continuar a<br />
ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> face à importância que assume para os<br />
cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>, bem como a “fase incipiente” em que se encontra<br />
no panorama <strong>da</strong> investigação nacional.<br />
<strong>Enfermeiros</strong> com formação<br />
pós-gradua<strong>da</strong> apresentam atitudes<br />
de neutrali<strong>da</strong>de acerca <strong>da</strong> morte.<br />
<strong>Enfermeiros</strong> com Licenciatura apresentam<br />
atitudes de escape;<br />
<strong>Enfermeiros</strong> que nunca ou raramente<br />
contactam com a morte apresentam<br />
tendencialmente atitudes de aproximação;<br />
<strong>Enfermeiros</strong> sem formação subordina<strong>da</strong><br />
aos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> em fim de vi<strong>da</strong> apresentam<br />
um resultado mais elevado na dimensão<br />
“evitamento”;<br />
<strong>Enfermeiros</strong> com formação nesta área<br />
apresentam maior pontuação nas atitudes<br />
negativas <strong>da</strong> Escala FATCOD;<br />
Relação positiva entre atitudes positivas<br />
<strong>da</strong> FATCOD e a dimensão “neutrali<strong>da</strong>de”.<br />
>> Agentes influenciadores O estudo revelou<br />
que a i<strong>da</strong>de, estado civil, número de filhos, tempo<br />
de exercício profissional, habilitações profissionais<br />
e regulari<strong>da</strong>de de contacto com a morte<br />
influenciam as atitudes acerca <strong>da</strong> morte.<br />
>> Formação A formação também influencia<br />
as atitudes, pelo que é necessário investir nela.<br />
>> Escala traduzi<strong>da</strong> e vali<strong>da</strong><strong>da</strong> Este trabalho deu<br />
origem à tradução e vali<strong>da</strong>ção para a população<br />
portuguesa <strong>da</strong> Escala FATCOD (Frommelt Attitude<br />
Toward Care of the Dying Instrument).<br />
>> Novas dimensões A versão portuguesa organiza<br />
a FATCOD em quatro dimensões: atitudes de<br />
aproximação, atitudes de evicção, atitudes de<br />
desconforto/esmorecimento e atitudes assertivas.<br />
>> Perfil de Atitudes A nova escala, denomina<strong>da</strong><br />
de Perfil de Atitudes face aos Cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> aos<br />
Doentes em Fim-de-Vi<strong>da</strong> (PACDFV), possui<br />
29 itens pontua<strong>dos</strong> de 1 a 5.
ROE 52 Julho 2016<br />
20 DE FOLGA<br />
ALEXANDRE FRUTUOSO<br />
“Num raio de 35 quilómetros conseguimos ter uma grande<br />
varie<strong>da</strong>de de “cenários” que vão do Litoral ao Interior, passando<br />
pelo urbano. O difícil, por vezes, é escolher!”. É desta forma que<br />
Alexandre Frutuoso, especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica<br />
<strong>da</strong> ambulância de Suporte Intermédio de Vi<strong>da</strong> (SIV) de Avelar,<br />
apresenta Pombal, a ci<strong>da</strong>de onde vive.<br />
“Um concelho do mar à serra” é o lema e a oferta aos turistas<br />
é varia<strong>da</strong>. Na costa pode praticar activi<strong>da</strong>des náuticas, na ci<strong>da</strong>de<br />
visite o castelo e os museus, na serra aposte na realização de trails. Foi<br />
isso mesmo que fizemos com o nosso guia privilegiado.<br />
POMBAL<br />
DA ENERGIA DO MAR<br />
À TRANQUILIDADE DA SERRA<br />
Uma prancha que os pais lhe trouxeram<br />
do Brasil, quando tinha<br />
14 anos, despoletou o gosto pelo<br />
surf. Hoje, aos 36 anos, “apanhar on<strong>da</strong>s”<br />
continua a ser uma paixão, apesar <strong>da</strong><br />
preenchi<strong>da</strong> agen<strong>da</strong> de Alexandre Frutuoso<br />
não permitir i<strong>da</strong>s mais frequentes até à<br />
Praia do Osso <strong>da</strong> Baleia, num <strong>dos</strong> extremos<br />
do concelho de Pombal.<br />
O nosso dia começa lá, em pleno areal<br />
<strong>da</strong> Costa <strong>da</strong> Prata. As nuvens carrega<strong>da</strong>s<br />
e o vento forte ameaçam chuva, mas isso<br />
não demove quem anseia por entrar no<br />
mar e sentir o seu poder, a sua energia.<br />
Ao longe, um veleiro avança destemido<br />
em direcção à “intempérie”, mantendo-se<br />
firme na linha do horizonte.<br />
A praia possui um extenso areal e fora<br />
<strong>da</strong> época balnear é frequenta<strong>da</strong> essencialmente<br />
por pescadores desportivos e<br />
adeptos de desportos radicais. Nos dias<br />
mais quentes enche-se de veraneantes que<br />
procuram desfrutar do seu estatuto de<br />
Praia Doura<strong>da</strong> com Bandeira Azul. Localiza<strong>da</strong><br />
em plena Mata Nacional do Urso,<br />
a Osso <strong>da</strong> Baleia também conquistou<br />
o galardão de Praia Acessível devido às<br />
infra-estruturas existentes para pessoas<br />
com mobili<strong>da</strong>de reduzi<strong>da</strong>, incluindo<br />
cadeiras especiais para banhos de mar.<br />
Conciliar a prática do desporto e o contacto com a<br />
natureza está patente em todo o concelho, a começar na<br />
praia – onde há uma ciclovia até à Nazaré. Foi lá, na Praia<br />
<strong>da</strong> Consolação, que Alexandre Frutuoso cresceu e aprendeu<br />
que o mar fazia parte integrante <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. “Não<br />
consigo estar muito tempo longe <strong>da</strong> prancha, sinto-me<br />
incompleto”. O seu gosto pela prática desportiva levou-o<br />
a ponderar a possibili<strong>da</strong>de de tirar um curso superior<br />
nessa área, mas acabou por envere<strong>da</strong>r pela Enfermagem.<br />
Actualmente admite que manter-se activo o aju<strong>da</strong> a<br />
enfrentar os desafios <strong>da</strong> Enfermagem Pré-hospitalar: “O<br />
surf e a emergência têm aspectos em comum. Em ambos<br />
temos primeiramente que<br />
avaliar as condições de<br />
segurança, sermos proactivos<br />
e prevenir o risco.<br />
Depois, há que ter persistência<br />
e resiliência”.<br />
«O SURF E A<br />
EMERGÊNCIA<br />
TÊM ASPECTOS<br />
EM COMUM»<br />
Com estes princípios em mente, Alexandre Frutuoso<br />
analisa o estado do mar, faz exercícios de aquecimento e<br />
enfrenta a corrente à procura <strong>da</strong> melhor on<strong>da</strong>.<br />
Aliás, os locais em que trabalhou foram sempre<br />
junto <strong>da</strong> costa, “por causa do surf ” e essa opção de vi<strong>da</strong><br />
saiu reforça<strong>da</strong> depois de ter frequentado o curso no Instituto<br />
Piaget de Viseu. Esteve inicialmente em Peniche,<br />
passou por Cantanhede e depois de ter tirado o curso<br />
do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)<br />
rumou ao Hospital de Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha e ao de Peniche,<br />
sempre em Viatura Médica de Emergência e Reanimação<br />
(VMER) e SIV.
«NÃO CONSIGO<br />
ESTAR MUITO<br />
TEMPO LONGE<br />
DA PRANCHA,<br />
SINTO-ME<br />
INCOMPLETO»
ROE 52 Julho 2016<br />
22 DE FOLGA<br />
encerra à<br />
quarta-feira<br />
> GASTRONOMIA<br />
Durante o almoço saboreámos as especiali<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> região no Manjar do<br />
Marquês. Ficámos rendi<strong>dos</strong> aos “Filetes<br />
de pesca<strong>da</strong> com o nosso arroz<br />
de tomate” e aos “Nossos rojões com<br />
nabiça e morcela”. Imperdíveis!<br />
também há<br />
alcofas, carpetes,<br />
capachos,<br />
chapéus, etc<br />
< ARTESANATO<br />
Os cestinhos <strong>da</strong> Ilha são peças artesanais<br />
feitas com bracejo, típicas <strong>da</strong><br />
locali<strong>da</strong>de com o mesmo nome.<br />
ONDE COMER<br />
MANJAR<br />
DO MARQUÊS<br />
Estra<strong>da</strong> Nacional 1<br />
IC2 Km 151<br />
CAFETARIA<br />
DO CASTELO<br />
Castelo<br />
RESTAURANTE<br />
VINTAGE<br />
R. Alexandre<br />
Herculano, nº 5<br />
ONDE FICAR<br />
CARDAL<br />
HOTEL***<br />
Largo<br />
do Car<strong>da</strong>l<br />
HOTEL<br />
POMBALENSE***<br />
R. Alexandre<br />
Herculano, nº 26
23<br />
UM MOURO LENDÁRIO<br />
Pombal é um concelho com 60 mil habitantes, sendo que 15<br />
mil estão concentra<strong>dos</strong> na ci<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no séc. XII pelo<br />
mestre templário Gualdim Pais. Alexandre Frutuoso vive<br />
na ci<strong>da</strong>de há cerca de quatro anos. “A minha esposa, que<br />
também é enfermeira, é de cá e aqui temos mais apoio familiar<br />
para os nossos filhos”, explica.<br />
Chega<strong>dos</strong> à vila de Pombal, é incontornável começar a<br />
visita pelo seu “castelo altaneiro”. Quem estiver em boa<br />
forma física pode fazer o percurso a pé, mas existe acesso<br />
rodoviário até ao parque de estacionamento localizado a<br />
poucos metros <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> principal. Já dentro <strong>da</strong>s muralhas é<br />
possível visitar o posto de informações e visionar dois filmes:<br />
um em 3D, dedicado à história do castelo e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, e outro<br />
em animação, contando a len<strong>da</strong> de Al-Pal-Omar, o mouro<br />
que ao luar seduzia as raparigas “bonitas e pren<strong>da</strong><strong>da</strong>s” de<br />
Pombal. Reza a história que em retaliação, os templários<br />
fecharam Al-Pal-Omar no túnel que <strong>da</strong>va acesso ao seu<br />
palácio e por cima construíram o castelo.<br />
Ao longo <strong>dos</strong> séculos a i<strong>da</strong> ao alto do cerro durante as<br />
noites de Verão tornou-se um “ritual” entre namora<strong>dos</strong>, acabando<br />
imortalizado pelo poeta Costa Pereira:<br />
Oh! Meu Pombal<br />
Se o teu castelo falasse<br />
E um dia nos contasse<br />
O que tem visto ao luar<br />
Há tantos e tantos anos<br />
Amor, ciúmes, enganos<br />
Muito tinha que contar.<br />
Subindo à Torre de Menagem obtém-se uma vista panorâmica<br />
soberba que tem início no centro histórico e percorre<br />
to<strong>da</strong> a malha urbana, entrelaçando-se gradualmente com os<br />
arredores rurais, com as colinas circun<strong>da</strong>ntes e com a Serra<br />
de Sicó.<br />
Da<strong>da</strong> a situação geográfica de Pombal, a vila foi fortemente<br />
atingi<strong>da</strong> pelas invasões francesas, sendo que a acção<br />
devastadora <strong>da</strong>s tropas de Napoleão veio apressar o estado<br />
de degra<strong>da</strong>ção do castelo. E se é certo que a população recuperou<br />
desta “feri<strong>da</strong>”, também é ver<strong>da</strong>de que só no séc. XX, em<br />
pleno Estado Novo, se assistiu a uma intensa reconstrução.<br />
Mais recentemente foi construído um café “embutido”<br />
no cerro <strong>da</strong> muralha e em perfeita harmonia com a flora<br />
local – a Cafetaria do Castelo. Poderá retemperar forças<br />
num espaço cui<strong>da</strong><strong>dos</strong>amente decorado, onde a luz penetra<br />
de forma despreocupa<strong>da</strong> e a paisagem lhe transmite uma<br />
enorme tranquili<strong>da</strong>de.
ROE 52 Julho 2016<br />
24 DE FOLGA<br />
SURPRESAS CITADINAS<br />
Descendo a encosta do castelo, espera-nos uma visita<br />
ao centro histórico de Pombal. Começamos pela Praça<br />
Marquês de Pombal, onde não conseguimos ficar indiferentes<br />
à Igreja Matriz de São Martinho, que se ergue<br />
no topo <strong>da</strong> praça. Foi aqui que, em 1323, D. Diniz e o<br />
seu filho D. Afonso formalizaram publicamente o seu<br />
pacto de paz, sob a égide <strong>da</strong> Rainha Santa Isabel.<br />
À saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> igreja tem duas hipóteses: entra no edifício<br />
à esquer<strong>da</strong> – antiga prisão que hoje aloja o Museu<br />
Municipal Marquês de Pombal – ou opta pela direita,<br />
onde encontrará um antigo celeiro que alberga o Museu<br />
de Arte Popular Portuguesa. No primeiro caso, o visitante<br />
poderá conhecer o espólio de um antiquário local<br />
que recolheu pertences do estadista Sebastião José de<br />
Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de<br />
Pombal, Ministro de D. José I. No segundo, estão expostas<br />
cerca de 2 mil peças etnográficas de artesãos do<br />
Norte a Sul do País, incluindo artífices pombalenses.<br />
Seguindo pelas ruas Miguel Bombar<strong>da</strong> e do Cais<br />
rapi<strong>da</strong>mente chegamos ao Largo do Car<strong>da</strong>l. É aqui que<br />
se situam os Paços do Concelho, contíguos à magistral<br />
Igreja do Car<strong>da</strong>l, edifício barroco do séc. XVII.<br />
À noite a ci<strong>da</strong>de transforma-se com alguns espectáculos.<br />
O Café Concerto e o Teatro-Cine de Pombal<br />
apresentam com alguma regulari<strong>da</strong>de performances<br />
<strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s artes.<br />
Alexandre Frutuoso também se dedica a uma<br />
paixão que surgiu ain<strong>da</strong> em criança: o fado. Membro<br />
<strong>da</strong> Associação do Grupo de Fa<strong>dos</strong> Amador de Pombal,<br />
o enfermeiro decidiu investir em aulas de canto e<br />
estreou-se nestas lides há dois anos. Desde aí participou<br />
em várias competições, tendo chegado “à final de<br />
um concurso”. As actuações surgem numa média de<br />
duas vezes por mês e tem no coração um projecto que<br />
visa levar o fado a lares de i<strong>dos</strong>os.<br />
EXPLORAR OS TESOUROS SERRANOS<br />
No extremo Este <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de o terreno começa a elevarse,<br />
conduzindo à Serra de Sicó. É aqui que Alexandre<br />
Frutuoso gosta de participar em trails, uma activi<strong>da</strong>de<br />
que o conquistou recentemente. “A maioria <strong>dos</strong><br />
trilhos são em terra bati<strong>da</strong>, além de que temos a vantagem<br />
de desfrutar de uma paisagem magnífica e de<br />
aceder a locais que geralmente as outras pessoas não<br />
conhecem”.<br />
Mas a serra, composta por um maciço calcário com<br />
mais de 500 metros de altura, também oferece uma<br />
fauna e flora específicas, além de grutas, ravinas e a<br />
Aldeia do Vale, que preserva o seu aspecto medieval.<br />
ONDE IR<br />
CASTELO<br />
DE POMBAL<br />
MUSEU DE ARTE<br />
POPULAR PORTUGUESA<br />
Edifício do Celeiro<br />
do Marquês, Praça<br />
Marquês de Pombal<br />
MUSEU MUNICIPAL<br />
MARQUÊS DE POMBAL<br />
Edifício <strong>da</strong> Cadeia Velha,<br />
Praça Marquês de Pombal<br />
TEATRO-CINE<br />
DE POMBAL<br />
Praça Manuel<br />
Henriques Júnior<br />
CAFÉ<br />
CONCERTO<br />
Praça Manuel<br />
Henriques<br />
Júnior
ROE 52 Julho 2016<br />
FITA MÉTRICA<br />
25<br />
À SUA MEDIDA…<br />
Ain<strong>da</strong> vai a tempo de acertar a sua agen<strong>da</strong><br />
cultural e científica para os próximos meses.<br />
Estas são as nossas sugestões.<br />
CONFERÊNCIA<br />
Palliare –<br />
Cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> Pessoa<br />
com Demência<br />
8 e 9 de Setembro<br />
Escola Superior<br />
de Enfermagem<br />
do Porto<br />
MOSTRA COLECTIVA<br />
Quanto tempo<br />
falta?<br />
Até 29 de Julho<br />
Câmara Municipal<br />
do Porto<br />
ENCONTRO<br />
30th European<br />
Association for<br />
Cardio-thoracic<br />
Surgery Annual<br />
Meeting<br />
1 a 5 de Outubro<br />
Barcelona,<br />
Espanha<br />
TEATRO<br />
Gangsters<br />
na Broadway<br />
Até 31 de Julho<br />
Auditório do<br />
Casino<br />
do Estoril<br />
III CONGRESSO<br />
INTERNACIONAL<br />
DO CADIN<br />
Aprendizagem,<br />
Comportamento,<br />
Emoções<br />
em Tempos<br />
de Mu<strong>da</strong>nça<br />
20 a 22 de Outubro<br />
ISCTE-IUL, Lisboa<br />
EXPOSIÇÃO<br />
Abaixo as<br />
fronteiras! Vivam<br />
o design<br />
Até 25 de Setembro<br />
MACE, Elvas<br />
CONGRESSO<br />
INTERNACIONAL<br />
Desafios<br />
<strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de<br />
em Instituições<br />
de Ensino<br />
20 e 21 de Outubro<br />
Escola Superior<br />
de Enfermagem<br />
de Coimbra<br />
CONFERÊNCIA<br />
Parto na água<br />
7 de Setembro<br />
Hospital <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de<br />
Fernando Pessoa,<br />
Porto<br />
III JORNADAS<br />
DA USF DESCOBERTAS<br />
Quali<strong>da</strong>de<br />
em Saúde<br />
20 e 21 Outubro<br />
Hotel Vila Galé<br />
Ópera, Lisboa
ROE 52 Julho 2016<br />
26<br />
O ENFERMEIRO<br />
DA MINHA VIDA<br />
Conceição Queiroz<br />
“CONTINUO A SENTIR<br />
UMA GRATIDÃO IMENSA<br />
PELO ENF. SAMUEL”<br />
Samuel é o nome do enfermeiro que a jornalista <strong>da</strong> TVI recor<strong>da</strong><br />
com muito carinho por todo o apoio que lhe prestou durante<br />
o primeiro e único internamento <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>.<br />
enfermeiro <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> é o Enf. Samuel, que<br />
conheci quando fui interna<strong>da</strong> num hospital público<br />
há cerca de 16 anos, devido a uma pancreatite. De<br />
to<strong>dos</strong> os profissionais com quem tive oportuni<strong>da</strong>de de conviver,<br />
o Enf. Samuel era quem tinha uma postura diferente: talvez se<br />
preocupasse mais, apesar de os enfermeiros serem poucos e os<br />
recursos também. Ele conseguiu criar empatia e explicar-me<br />
qual a importância do enfermeiro: transmitia-me confiança e<br />
tranquili<strong>da</strong>de e isso era essencial. Perguntava-me como é que<br />
eu estava ou se precisava de alguma coisa, mesmo que eu não<br />
tivesse pedido na<strong>da</strong>. Era um “balde de água fria” quando me<br />
diziam que estava de folga.<br />
Hoje, quando olho para os enfermeiros, associo-os a protecção<br />
e a reabilitação porque foi o que senti na altura. A postura do<br />
Enf. Samuel fez-me perceber que este tipo de cui<strong>da</strong>do é “meio<br />
caminho an<strong>da</strong>do” para uma boa recuperação, alivia o sofrimento.<br />
A proximi<strong>da</strong>de entre nós foi ca<strong>da</strong> vez maior e a amizade<br />
manteve-se mesmo após de ter tido alta. Depois perdemos o<br />
contacto.<br />
Mas sei que o Enf. Samuel foi trabalhar para um hospital em<br />
Paris naquela grande vaga de emigração em que saíram milhares<br />
de enfermeiros de Portugal – entre 2008 e 2009. Surgiu a possibili<strong>da</strong>de<br />
de ganhar mais e de ter melhores condições de trabalho<br />
e ele não hesitou – com muita pena minha. É muito triste ver<br />
a quanti<strong>da</strong>de de enfermeiros que abandona o País e também me<br />
entristece muito vê-los desemprega<strong>dos</strong> ou a ganhar 800€. É contraditório<br />
porque ao mesmo tempo que os rácios estão abaixo<br />
<strong>dos</strong> recomen<strong>da</strong><strong>dos</strong> pela OCDE, temos enfermeiros no desemprego.<br />
Por que é que estes enfermeiros não são contrata<strong>dos</strong>?<br />
Continuo a sentir uma gratidão imensa pelo Enf. Samuel<br />
porque fez a diferença na forma como tratou de mim. Esta<br />
amizade é para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Não sei se regressou ou não a<br />
Lisboa, mas gostava muito de o encontrar simplesmente para lhe<br />
<strong>da</strong>r um grande abraço e dizer “obriga<strong>da</strong>”.<br />
00:14:56:04<br />
«ERA UM<br />
“BALDE DE<br />
ÁGUA FRIA”<br />
QUANDO ME<br />
DIZIAM QUE<br />
ESTAVA DE<br />
FOLGA.»<br />
Veja o filme no nosso<br />
Youtube.