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A ENTRADA

Carta-Polis-AGO-Final

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ARTIGO / MEIO AMBIENTE<br />

Afinal,<br />

QUAL É O PIB DO BRASIL?<br />

“...só pode ser distribuído o que já foi produzido internamente, o<br />

que se ganhou de presente do exterior com a melhoria das relações de<br />

troca ou...“(Delfin Neto, F S P,11/03/15)<br />

Antônio Lício (*)<br />

PIB – Produto Interno Bruto – é um conceito econômico<br />

de valor, que expressa a soma da produção de<br />

bens e serviços “finais” num país ou região. Por “finais”<br />

denomina-se aqueles consumidos por famílias e governos<br />

mais os bens de capital, mais exportações menos importações,<br />

excluindo-se os bens intermediários. Para ser possível<br />

a soma de diferentes espécies – bananas, automóveis, maquinas,<br />

segurança, saúde, etc – esses bens e serviços são homogeneizados<br />

por seus preços multiplicados pelas quantidades<br />

produzidas. Outra metodologia de apuração é pelo “ v a -<br />

lor agregado”, quando se calcula os valores de venda ao longo<br />

de uma cadeia produtiva – agricultura, indústria, comercio,<br />

serviços - deduzindo-se os valores de aquisição do elo anterior.<br />

Os dois métodos conduzem ao mesmo resultado e no<br />

Brasil usa-se o segundo.<br />

A medida do PIB foi introduzida no mundo nos anos<br />

quarenta visando comparar diferentes estágios de renda de<br />

diferentes países. A Organização das Nações Unidas iniciou<br />

o processo com o estatístico inglês Colin Clark (1905-1989)<br />

e o economista americano Richard Stone, criando “manuais<br />

de cálculos” para que fossem adotados em todos os países e<br />

comparáveis entre si. Embora a intuição permita o fácil entendimento<br />

do conceito, um segundo conceito - PIB real -<br />

derivado do primeiro - PIB corrente - complicou a medida.<br />

O primeiro é a simples multiplicação de preços vezes quantidades<br />

em determinado período e o segundo, a evolução do<br />

primeiro ao longo do tempo, excluindo-se variações “inflacionarias”<br />

de preços. Aqui começam os problemas.<br />

Para anular os efeitos inflacionários sobre o PIB e assim<br />

ter o PIB “real”, os institutos de pesquisas (IBGE no Brasil)<br />

seguem os critérios da ONU que orientam que os preços<br />

sejam sempre aqueles de uma determinada base de tempo,<br />

vale dizer, as quantidades ano a ano são multiplicadas pelos<br />

mesmos preços de um único ano, no caso brasileiro, de 1995.<br />

Retiraram os preços de uma medida de valor introduzindo<br />

o conceito estatístico de “índice de quantum de Laspeyres”!<br />

Quando as variações de preços são realmente inflacionárias<br />

dentro de um país, está absolutamente correto; mas quando<br />

se trata de alterações de preços relativos internacionais (relações<br />

de trocas) e o país participa de comercio externo, a regra<br />

não mais funciona.<br />

O furo da regra pode ser mostrado com vários exemplos,<br />

mas imaginem um país tipo Catarem que o PIB integral se<br />

deriva direta ou indiretamente da produção de petróleo, cujos<br />

preços quadruplicaram entre 2000 e 2013, as quantidades<br />

mantiveram-se estáveis e a base de tempo foi o ano 2000. A<br />

regra diria que não houve aumento de PIB e renda nesse país,<br />

o que seria risível. Da mesma maneira, esses preços caíram<br />

50% a partir de 2014, reduzindo o PIB na mesma proporção.<br />

Imaginem agora um país chamado “Mato Grosso”, onde o<br />

PIB adviria na sua grande maioria de commodities como soja,<br />

milho, algodão e carnes, cujos preços internacionais aumentaram<br />

em pelo menos em 100% entre 2002-2013 (vide Anexo<br />

3)depois de décadas de queda. Se mantivesse as mesmas<br />

quantidades produzidas, esse “país” teria o dobro de receita<br />

e renda e poderia dobrar as compras externas de produtos<br />

CARTA POLIS | AGOSTO 2016<br />

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